Revista Plano B #04

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ANO 1  N° 4  Julho 2012

AUDIOVISUAL Cena cinematográfica ganha impulso, mas ainda está longe do ideal

Entrevista Marivaldo dos Santos leva sua arte para o Nordeste de Amaralina

Literatura Poesia baiana alcança novos leitores com o auxílio da Web




A terra mãe de Glauber Rocha ainda não tem tanto apreço pela chamada “sétima arte”. Com exceção de algumas poucas manifestações, a exemplo do Festival 5 Minutos, não há muito o que comemorar quando se fala das produções cinematográficas locais. O resultado disso é que a Bahia acaba navegando contra a correnteza, indo de encontro ao que está sendo disseminado em solo tupiniquim – desde a retomada, o cinema nacional bateu recordes de exibição e de público. Apesar de todas as adversidades, há quem continue tentando sobreviver e fazer o cinema baiano chegar ao patamar de outrora, inovador, orgânico, surpreendente. E a turma se destaca, mesmo com pouquíssimos investimentos, com o talento que parece enraizado em quem nasce por aqui. Há de se elogiar a insistência, por exemplo, dos cineastas que promovem seus curtas pela internet ou que divulgam a

cultura popular nos bairros periféricos da capital e do interior. Outros tantos resolveram apostar em novas linguagens, como vídeos feitos com celular, numa tentativa de fortalecer a indústria de audiovisual ao ponto que os investidores enxerguem a Bahia como um polo cinematográfico a ser explorado. Mas será que somente essas iniciativas darão resultados? Existe a necessidade latente de se revigorar o setor, melhorar os equipamentos, oferecer cursos especializados, reduzir o preço do ingresso. E existe público interessado nisso. Uma prova de que o que é produzido aqui pode ser atraente foi o documentário “Bahêa Minha Vida”, que levou mais de 75 mil pessoas às salas de cinema, sendo o mais visto do Brasil em 2011. Ou ainda a adaptação do livro Capitães de Areia, pelas hábeis mãos de Cecília Amado – que ganhou prêmios no exterior e está cotado para faturar o Brazilian Film Festival de Miami. Pelo visto não falta qualidade ou criatividade para que haja um ressurgimento daquele “cinema novo baiano”. Ao que parece, falta mesmo é abandonar velhos hábitos, de exaltação à mediocridade (que acabam por engavetar bons projetos), para que a cultura dessa terra chamada Bahia possa ser representada para além de um estilo musical, uma dança ou manifestação folclórica. Boa leitura!

EXPEDIENTE EDição JULHO 2012 TiragEM 5.000 ExEmplarEs DistRiBuição gRatuita

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PATROCÍNIO Projeto contemplado pelo EDITAL DE APOIO À PUBLICAÇÃO DE PERIÓDICOS 2009



ENTREVISTA

CAPA

LITERATURA

A trajetória do baiano que faz parte de uma das maiores companhias artísticas da atualidade

Produções locais reforçam o processo de recuperação do audiovisual baiano

Novos escritores se apropriam da linguagem digital para disseminar poemas

MÚSICA

ARTES VISUAIS

MODA

OPINIÃO

Puramente regional - do rock com samba ao forró com música sertaneja

Apesar de talentosos, escultores carecem de apoio e investimento

Mercado se adapta e roupas com tamanhos grandes invadem as prateleiras

Julia Lima destaca as qualidades do audiovisual produzido por aqui.

CIDADANIA

TURISMO

PATRIMÔNIO

planoB indica

PROFISSÃO

OPINIÃO

Pescador desenvolve projeto premiado para preservação da fauna marinha

Turismo indígena: conhecimento ancestral na Costa do Descobrimento

Dificuldade e sabedoria são traços fortes dos pescadores da Península Itapagipana

Confira nossas sugestões sobre o que rola pela Bahia

Entre quadros e esculturas, o curador é quem comanda

Nelson Antônio lista quem são os cineastas que têm fortalecido o novo cinema baiano.



MÚSICA Música regional

Sertão amplificado: OS NOVOS TONS DA MÚSICA REGIONAL tExto

ANDRÉ ÁVILA

Dizem que o regionalismo na música está em extinção. Mas existem os que acreditam na renovação do cenário e nomes como Bruno Bezerra e a Tabuleiro Musiquim reforçam o time da nova cara da música produzida em terras baianas. Assim como a diversidade cultural da região, a música nordestina sempre demonstrou uma grande variação sonora e despontou grandes nomes de diferentes ritmos para o cenário nacional. Com a explosão do Axé Music na década de 1990, algumas pessoas passaram a associar, e até rotular, a música nordestina, e principalmente a baiana, ao ritmo. Mas nem todos navegam no mesmo sentido. No final de 2011, Silvio de Carvalho (voz e guitarra), Bruno Balbi (guitarra), Filipe Coelho (contrabaixo), Felipe Dieder (bateria) e Diego Cerqueira (percussão), todos músicos de bandas conhecidas do cenário underground baiano, resolveram se reunir num projeto novo, batizado de Tabuleiro Musiquim. “Eu acho que a minha geração tem um lance muito forte com o Axé. A gente viveu todo esse período de anos atrás es-

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cutando essas coisas e eu acho que tem muito disso no nosso som. Mas também vejo alguma coisa ligada ao sertão e a música de caras como Jackson do Pandeiro, Batatinha...” pontua o vocalista Silvio de Carvalho, que reforça: “A música se transforma em cada região e quem foge disso vira cover de alguma coisa”. Essa mistura resultou num som que vai do samba ao rock, pegando referências na música eletrônica e com uma pitada de percussão e ijexá. A banda apresenta um repertório completamente autoral com identificação no cotidiano da Bahia. Isso tudo resulta em uma sonoridade muito complicada para se rotular, mas muito simples de entender. “Hoje na Tabuleiro posso tocar tudo que eu quiser, a ideia do grupo me dá uma liberdade que não via em outros projetos. Acho que nós buscamos justamente essa ligação entre a música nordestina e baiana”, conta Silvio.


Música regional MÚSICA

para ouvir www.

tabuleiro musiquim .com

Nina Fonseca

Desta reunião surgiu um EP que conta com quatro faixas. Uma delas, “Abelha Brejeira”, está concorrendo no Festival de Música da Educadora FM. O nome da banda, dado por um amigo, simboliza bem a representatividade cultural do tabuleiro, aliado ao musiquim, que é uma expressão atribuída aos músicos de fim de semana. Em fase de preparação do seu primeiro disco, o grupo segue divulgando o EP e o clipe da música “No Carnaval”, pela internet. A Tabuleiro faz parte de uma nova leva do cenário independente, que traz a cultura local como inspiração tanto nos ritmos quanto nas letras. “Eu acho incrível o cenário atual da música baiana. Tem muita gente boa fazendo coisas maravilhosas, que talvez não sejam muito notadas hoje, mas com certeza futuramente serão. Acho que existe hoje um movimento em Salvador que vai gerar ainda muita curiosidade”, afirma o vocalista. O movimento a que Silvio se refere é relativamente recente. Algumas bandas como Suinga, Pirigulino Babilake, Maglore e Radiola vêm carregando a bandeira regional em suas composições e reabrindo o gosto para esse tipo de manifestação, utilizando para isso a experimentação com sonoridades já enraizadas no imaginário popular. “A Radiola foi justamente a banda que me deu o primeiro estalo para começar a compor pensando e trazendo à tona as coisas e os ritmos da Bahia”, revela o músico.

« Hoje na Tabuleiro posso tocar tudo que eu quiser, a ideia do grupo me dá uma liberdade que não via em outros projetos. Acho que nós buscamos justamente essa ligação entre a música nordestina e baiana » Silvio dE CaRvalho vocalista da tabuleiro musiquim

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MÚSICA Música regional

« Hoje eu consigo usar toda a bagagem que adquiri nesses anos de estrada como experiência (...) A música é muito maior do que qualquer denominação »

« Hoje eu consigo usar toda a bagagem que adquiri nesses anos de estrada como experiência (...) A música é muito maior do que qualquer denominação »

BRUNO BEZERRA, caNtoR, coMPositoR, MultiiNstRuMENtista E PoEta

para ouvir www.myspace.com/

bruno

bezerra

Eduardo Quintela

VIOLA CAIPIRA COM ARPEJOS DE GUITARRA Assim como a Tabuleiro Musiquim, Bruno Bezerra encontrou na canção regional tradicional sua verdadeira identidade artística. “Na verdade, a minha influência musical começou em casa mesmo. Minha mãe nasceu na Paraíba e nós sempre íamos para lá. Ela nunca cantou profissionalmente, mas sempre cantarolava em casa algumas músicas da região, além dos clássicos de nomes como Luiz Gonzaga. Então todo esse regionalismo é algo que sempre esteve no meu subconsciente e se manifestou de uma forma natural, quando eu tive liberdade para pôr em prática”. Nascido em Feira de Santana, Bruno Bezerra já tocou em bandas de rock e heavy metal. Mudou-se para São Paulo, em 1999, retornando para Salvador em 2002. Seis anos mais tarde, o cantor, compositor,

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Música regional MÚSICA

multi-instrumentista e poeta finalizou a gravação do seu EP Forró a Véra. O disco tem nove faixas que misturam o tradicional forró pé-de-serra, e a música poular nordestina, a influências variadas como Beatles, unindo assim o espírito regional com a pegada do Rock.“Há três anos que eu vivo só de música e hoje tenho liberdade, por exemplo, de tocar a viola caipira com uma pegada mais encorpada de guitarra”. Algumas músicas deste EP foram finalistas em concursos variados, sendo executadas, inclusive, em algumas rádios de fora do país. “Eu gravei um programa de televisão chamado ‘Estrada da Vida’, que é exibido no Japão. Depois disso, as músicas começaram a tocar na Kalapalo, que é uma rádio online japonesa”. A partir daí, começaram a se difundir em algumas rádios da Europa. “Nem sei direito como foi”, conta com surpresa o cantor que teve músicas tocadas em Portugal, Espanha e Itália. Bezerra está nos preparativos para gravação do seu novo disco, que se chamará Sertanato, uma expressão base-

ada no poema homônimo de Adauto Borges. “Acho que essa expressão me define bem”, revela, antes de começar a recitar o poema e reafirmar que não se prende a rótulos. “Hoje eu consigo usar toda a bagagem que adquiri nesses anos de estrada como experiência. Gosto muito de rock progressivo, já toquei em banda pop, gravei disco de forró e estou para gravar um de música sertaneja de raiz. A música é muito maior do que qualquer denominação”. Além do novo CD, previsto para ser lançado em 2013, o artista também prepara um conto baseado na cultura do cordel, previsto para sair em setembro próximo.

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ENTREVISTA Marivaldo dos Santos

RitMo baiano na Broadway tExto

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FABio FRaNco FOTOS

MaRcElo saNtaNa

O percussionista Marivaldo dos Santos, cria do bairro de Nordeste de Amaralina, em nenhum momento se esquivou das oportunidades que a vida lhe ofereceu. Se desde a infância a música já fazia parte do seu dia a dia, quando adulto se aproveitou da curiosidade – ficou encantado com uma apresentação de Hip Hop na primeira edição do Rock in Rio, em 1985 – para ir a terra do Tio Sam conhecer novas sonoridades, ampliar sua percepção de mundo e se tornar um artista mais completo. De repente se viu tocando no Stomp, um dos mais inovadores grupos artísticos da atualidade, e decidiu fazer uso da sua imagem e do seu talento para ajudar os jovens do bairro onde nasceu.


Marivaldo dos Santos ENTREVISTA

« Agora é uma época boa de ajudar porque tem eleição. Você vai ver muita coisa aqui, mas e depois? E a ajuda para isso aqui continuar? Porque eu estou começando, mas eu não vou conseguir sozinho » MARIVALDO DOS SANTOS

Como surgiu o convite para participar do Stomp? E como é fazer parte desse processo de globalização da cultura, por meio de um dos grupos musicais contemporâneos mais aclamados? Faz 16 anos que ingressei no grupo. O Stomp é uma companhia e como qualquer outra você precisa participar de uma audição. Na época em que eu fiz, tinha mais de duas mil pessoas concorrendo. Eu acredito que foi um pouquinho de sorte com um pouquinho de talento, até porque Nova York é uma metrópole cultural do mundo em termos de arte e música. Então todo mundo que é bom quer ir para lá. E tive sorte, porque não é só talento. Tinha muita gente boa no dia da seleção e o cara te escolher é porque naquele dia você estava iluminado. A interação de diferentes elementos culturais com a interpretação e a música é uma característica do Stomp. Antes de participar do grupo você já tinha tido contato com algum tipo de manifestação artística mais complexa? E como se deu esse mergulho em novas experiências? Ajudou o fato de eu ter participado de grupos de dança, ser percussionista e jogar capoeira. Até porque aqui na Bahia todo mundo dança (risos). Quando fui para os Estados Unidos minha intenção era aprofundar meus conhecimentos no Hip Hop, depois que vi uma apresentação do Run DMC, no Rock in Rio, na década de 1980. Fiquei pensando ‘que ideia é essa aí, diferente’. Fiquei pirado e naquela época no Brasil ainda não tinha muita coisa nesse sentido. Aí pintou a oportunidade, através da minha irmã, que é coreógrafa, para

participar de um espetáculo chamado ‘Tenda dos Milagres’, lá nos Estados Unidos. Chegando lá mudou tudo. Quando parei para pensar passaram-se 20 anos e eu ainda estava lá. Como surgiu o projeto Quabales? Essa ideia do projeto já tinha nascido fazia um tempo. E sempre que eu viajava com o Stomp, acabava ministrando cursos em favelas, comunidades carentes. Inclusive eu já vim para o Brasil só com esse intuito. Aí deu aquele estalo e pensei em criar algo no bairro em que eu nasci. Fazer algo no Nordeste que envolvesse o lance da música. Então eu criei o Quabales, instrumento percussivo composto de quatro lados, que dá nome ao projeto. Em seguida comecei a articular com os líderes comunitários, dei curso para os meninos, junto com a galera do Stomp, e realizamos o primeiro arrastão no carnaval de 2011. Depois fiz um investimento para recuperar a sede (onde atualmente funciona o projeto) e estamos na estrada. Enfim, oficialmente o Quabales existe há pouco mais de oito meses. Você mora nos EUA e convive com uma realidade um pouco diferente da nossa. De algum modo essa interferência social e cultural amplifica seu modo de pensar enquanto artista e cidadão brasileiro? Que traços da cultura norte-americana você toma como exemplo para sua carreira e para o Quabales? A participação no último disco de Daniela Mercury (Canibália) é um exemplo de como meu trabalho sofreu influências. Tudo começou lá fora, com a intenção de fazer uma coisa

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ENTREVISTA Marivaldo dos Santos

« É uma felicidade total ensinar essa garotada. Você já chega em casa com a mente tranquila. E esse tipo de ação social dá resultado, até porque já participamos de um projeto semelhante na nossa juventude. Estamos retribuindo agora. E os alunos do Quabales percebem. Por isso sempre dizemos que aqui é uma família, que é como se fosse a casa deles »

« Atuar no Quabales é uma experiência única, porque fomos criados no bairro e para nós é um prazer, um orgulho. Também trazemos varias experiências musicais aqui para o projeto e transmitimos para as crianças. Até porque a Bahia sempre foi responsável por ditar ritmos novos. Quem sabe daqui a cinco anos o Quabales não desponte com a grande novidade musical do Brasil? » Denis Conceição, músico profissional há 21 anos que já

Marcos CostA (Marquinhos Show), músico pro-

participou do Balé Folclórico da Bahia, tocou com Capital

fissional há 18 anos, já tocou com Jammil E É o Tchan

Inicial e atualmente está no Natiruts

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Marivaldo dos Santos ENTREVISTA

nova, uma mistura entre Bahia e Estados Unidos. E aqui no projeto temos dois professores, Marquinhos e Denis, que fazem a parte básica, rítmica, descobrindo os talentos. Depois que o time estiver legal, eu venho e agrego essa mistura, vou começar a apresentar para os meninos essa linguagem do Stomp. Essa é a ideia fundamental do Quabales. Da formatação do projeto a sua execução você contou com o apoio do governo ou empresas privadas? Eu não tenho nenhum patrocínio, investimento do poder público. Basicamente o governo sou eu mesmo, mas tenho o apoio de Ivete Sangalo e da Caco de Telha. Essa parceria veio porque somos amigos há algum tempo, expliquei do que se tratava e ela ajudou com camisas, divulgação na mídia, etc. Mas em se tratando de grana, eu coloco do meu bolso. Em que medida a sua experiência enquanto músico de um grupo reconhecido mundialmente influenciou na decisão de criar um projeto social para jovens? Moro nos Estados Unidos há cerca de 20 anos. Já toquei como muita gente, a exemplo de Lauryn Hill, Sting... Também sou compositor, produtor, inclusive participei desse último disco de Daniela. Então tem toda essa bagagem que juntei e trouxe aqui para o projeto. O que falta para que as comunidades carentes de Salvador não sejam apenas divulgadas na mídia como áreas de crimes e tráfico de drogas? Por eu trabalhar lá fora e atuar com um grupo que é mundialmente reconhecido e respeitado, estou usando um pouco dessa imagem para fazer acontecer o projeto social. Tem um

amigo que tem um projeto há mais de 10 anos e quando foi que a mídia esteve por lá para reconhecer o trabalho dele? A divulgação na Bahia tem muito do lance de autopromoção. Eu sei que quando falam do Quabales é o nome do Stomp que está por trás. Eles acham interessante essa coisa do cara que veio de Nova York para cá. Eu estou me usando disso: eles querem notícia e eu quero divulgar o que acontece aqui no bairro, o lado positivo. Você pode observar que os meninos são esforçados, não querem entrar no mundo do crime, participam todos os dias das aulas. Então falta o olhar governamental, o olhar desprovido de preconceito, de querer ajudar. Agora é uma época boa de ajudar porque tem eleição. Você vai ver muita coisa aqui, mas e depois? E a ajuda para isso aqui continuar? Porque eu estou começando, mas eu não vou conseguir sozinho. Bandas percussivas surgem aos montes na Bahia. Projetos sociais com essa temática também. Então porque você resolveu arriscar com algo que é tão ramificado e tão comum por aqui? Existem vários grupos percussivos por aqui, mas que só tocam percussão. O Quabales não é só música. Vamos inserir movimento, aprendizado. Fechamos com uma professora de dança para ensinar sapateado aos meninos. E futuramente vou trabalhar a imagem do grupo, para que possa fazer suas apresentações, ganhar sua própria grana. E também tem o fato de que eu vou trabalhar com aquilo que entendo que é percussão. Essa linguagem que trago do Stomp é o que vai fazer o diferencial no mundo percussivo, esse lance de percussão performática, usando instrumentos não convencionais como baldes, vassouras.

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ARTES VISUAIS Escultura

MAIS QUE UM Dono de traços típicos do trabalho artesanal, o escultor desenvolve toda a sua sensibilidade tendo como base apenas a matéria inanimada. Por trás das mãos calejadas e das ferramentas desgastadas, está a primorosa capacidade de criar a partir de elementos comuns algo capaz de aguçar todos os sentidos do observador. tExto FOTOS

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FABio FRaNco MaRcElo saNtaNa ERivaN MoRais

A linha entre o que é trabalho e o que é arte, em se tratando do que se entende por escultura, ainda é tênue. O escultor, a depender do tipo de material que é utilizado para fazer suas peças, cria desde simples utensílios para decoração a obras de primorosa qualidade estética. E tudo isso leva em consideração, invariavelmente, mais que apenas a sensibilidade do criador A Bahia viu surgir ao longo dos anos nomes de extrema complexidade artística, a exemplo dos mestres Francisco Chagas, Manuel Inácio da Costa, Didi, Boaventura da Silva Filho (mais conhecido como Louco), Tatti Moreno, Mário Cravo Jr. e Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, esse último um exímio criador de carrancas. Mas


Escultura ARTES VISUAIS

CONCEITO ESTÉTICO continua ativa a fornada de novos e habilidosos escultores, que mantêm vivo o legado da nossa terra. “Hoje, a arte contemporânea é uma obra questionadora, provocadora. A arte de uma forma geral não é para ser compreendida, mas para ser sentida, dependendo do grau de conhecimento e sensibilidade de cada um! A arte tem que estar onde o povo está e os espaços alternativos se configuram com uma boa oportunidade para o público a perceba!”, sustenta Leonel Mattos, um dos principais expoentes da arte contemporânea na Bahia – com mais de 40 anos de carreira, coleciona prêmios e dezenas de obras espalhadas por todo o país. Em Salvador, é comum se deparar com algum trabalho curioso exposto nas calçadas, em pequenas lojas no Centro Histórico ou em galerias situadas em bairros nobres. De madeira,

metal, resina, vidro ou de argila, os objetos vão surgindo quase que por um passe de mágica. E pensar que algumas dessas matérias-primas simplesmente são descobertas por aí, pelas ruas da cidade, descartadas como lixo. Luiz Cláudio Campos é exemplo de quem tem o olhar aguçado para descobrir a arte onde aparentemente não há nada. Natural de Ilhéus, o artista, que também é professor, começou a esculpir em papel. “Hoje eu posso desenvolver meu trabalho em vidro, papel, resina, materiais transparente. Trabalho por apropriação, incorporando diferentes elementos em minhas obras. Essa é uma característica muito presente no artista contemporâneo. Tanto que às vezes vejo um pedaço de vidro na rua e percebo que existe uma memória ali, que me seduz, que pode ser transformada e me aproprio dele”, diz.

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ARTES VISUAIS Escultura

« Temos vários grandes escultores na Bahia, mas só alguns são reconhecidos. Aqui estamos órfãos, não temos nenhuma instituição que revele lá fora, nem aqui mesmo. É preciso fazer um levantamento urgente da nossa arte para ver o que estamos produzindo. Estamos com uma grande produção escondida » LEoNEl Matos

COMO EXPOR? Apesar da grande produção artística, poucos são os escultores que conseguem alcançar os espaços destinados à divulgação cultural. E o interessante é que não faltam museus, espaços a céu aberto, instituições públicas, bibliotecas. O que existe na verdade é uma burocracia desenfreada e uma certa falta de interesse em mostrar os novos (ou não tão novos) talentos locais. “Temos vários grandes escultores na Bahia, mas só alguns são reconhecidos. Aqui estamos órfãos, não temos nenhuma instituição que revele lá fora, nem aqui mesmo. É preciso fazer um levantamento urgente da nossa arte para ver o que estamos produzindo. Estamos com uma grande produção escondida, sem espaço para mostrar. Temos uma lei para a instalação de esculturas em novos prédios e praças recém construídas, mas nada é colocado! Ou seja, a lei não funciona!”, brada Leonel Mattos, que também é presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos e Visuais da Bahia (SINAPEV-BA), cobrando mais espaço para seu trabalho e dos seus pares. Luiz Cláudio pontua também que falta conhecimento do povo baiano com relação ao que é arte e que, acima de tudo, falta criar nas novas gerações o desejo de apreciar as nossas manifestações artísticas. “As pessoas daqui precisam buscar conhecimento. Em outros países, e até aqui mesmo no Brasil, você consegue encontrar pais com seus filhos em museus ou excursões escolares. Aqui em Salvador

não. Ainda tem gente que fala que arte é uma coisa chata. Como chata? Arte é a significação da sua existência enquanto cidadão, enquanto membro integrante de uma sociedade. Arte é história”. E em se tratando de fomento, Leonel é categórico quanto à precariedade do que é destinado para escultores baianos. “Os editais aqui na Bahia são uma vergonha de dez mil reais, que nos forçam a preparar projetos insignificantes, com exceção dos editais da Caixa Cultural e dos Correios. Além disso, temos ainda a mentalidade de valorizar o que vem de fora e esquecer de investir na produção dos artistas locais. Precisamos promover mudanças, a exemplo desse diretores de museus, que nada fazem”, dispara.

« As pessoas daqui precisam buscar conhecimento. Em outros países, e até aqui mesmo no Brasil, você consegue encontrar pais com seus filhos em museus ou excursões escolares. Aqui em Salvador não. Ainda tem gente que fala que arte é uma coisa chata. Como chata? (...) Arte é história » Luis CláuDio caMPos

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Escultura ARTES VISUAIS

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MODA

Elegância tamanho

tExto FOTOs

GG

FABio FRaNco MARCELO SANTANA

Recentemente o mundo da moda deixou de lado seus preconceitos e abriu os olhos para uma realidade cada dia mais comum: as pessoas estão ficando mais gordinhas. Essa mudança de paradigma abriu as portas para a chamada moda Plus Size,conceito que está começando a ganhar espaço na Bahia. De uns tempos pra cá, um termo começou a ganhar força entre as mulheres brasileiras: o “Plus Size”. Mas o que é isso? O fenômeno é crescente e surgiu nos Estados Unidos, onde cerca de 99 milhões de pessoas estão acima do peso. Naturalmente a moda acompanhou essa evolução e desenvolveu um novo conceito estético, que além de priorizar o conforto e acompanhar as tendências mundiais das grandes grifes, busca valorizar as curvas dos gordinhos e gordinhas. Na Bahia, a moda Plus Size chegou com tanta força que até um grande evento já foi realizado em Salvador, chamado GG Fashion Day. A iniciativa partiu da designer de moda Lívia Chaves e dos administradores do site Gordinhas Lindas, que está no ar desde 2008. “Me associei ao pessoal do blog com o objetivo de levar uma mensagem de aceitação e valorização desse biotipo tão maltratado e discriminado. Como resultado

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foram duas edições do GG Fashion Day, com a participação da cantora Nara Costa como madrinha do evento. O resultado foi um bando de mulher feliz, sabe?! Acho que deu pra salvar casamentos, namoros, relações, quiçá, até vidas”, relembra Lívia.

MERCADO EM ALTA No Brasil, algumas lojas de departamento já perceberam o crescimento do mercado Plus Size e resolveram investir em peças grandes. E em solo baiano também existem empreendedores dispostos a arriscar nessa nova possibilidade de negócio, a exemplo do empresário Jair Barreto, proprietário da Gordinho Elegante, especializa em roupa masculina. “Trabalho com calças e bermudas com tamanho entre 54 e 70 (algumas acima disso, chegando a 80) e camisas com numeração entre 06 e 12”. Sempre antenada, Luciana Almeida, co-administradora do site Gordinhas Lindas, acredita que a internet tem ajudado no desenvolvimento do setor. “Não acreditamos que a moda Plus Size é uma tendência, mas uma realidade já consolidada no mercado online e em vários estados brasileiros, que começaram a investir com mais intensidade na confecção de roupas com numeração acima do 48, aliando qualidade, preço e beleza. A indústria está em fase de adequação, mas não há como negar que muito já foi feito”. Apesar do aparente crescimento, Jair diz que a indústria nacional ainda não se adaptou bem a esse público consumidor. “Só para se ter uma ideia, apenas 10% das marcas produzem peças para gordos. Dou como exemplo uma grife famosa que fabrica pelos menos 50 opções para outros tamanhos e para a linha especial apenas três ou quatro modelos. E aqui na Bahia é pior. Por isso, acabo indo para Santa Catarina e São Paulo, que realmente são polos de produção”. Essa realidade é compartilhada


MODA

por Lívia: “Não conheço nem tenho notícias de nenhuma empresa que fabrique produtos do vestuário ou calçadista especificamente para Plus Size aqui na Bahia”. Essa deficiência na produção tem como resultado imediato o acréscimo no preço das roupas. “Normalmente a fábrica vende esse tipo de produto de 30 a 40% mais caro. Por isso o preço final para o consumidor acaba ficando alto. Além disso, existe o problema do corte. Você não pode costurar uma camisa na mesma proporção, porque, na maioria dos casos, o homem tende a ficar com um volume maior no abdômen, mas nos ombros e braços as medidas são menores”, sustenta Jair. Para quem deseja conhecer um pouco mais do universo da moda Plus Size, Luciana sugere a visita ao Fashion Weekend Plus Size, principal evento de moda GG do país, que ocorrerá nos dias 18 e 19 de agosto, em São Paulo. “O relato dos participantes é incrível: as pessoas percebem o quanto são bonitas, amadas, respeitadas e importantes. É um up na autoestima”.

NOVAS MEDIDAS O crescimento do mercado consumidor de roupas em tamanhos maiores também chamou a atenção do Comitê Brasileiro de Normalização Têxtil e Vestuário, que está uma finalizando uma nova regra para o setor, prevendo a produção de itens do vestuário com numeração a partir de 46 – no Brasil as roupas são fabricadas com medidas entre 36 e 44. A ideia é que os novos tamanhos sejam baseados na largura das costas e cintura. Onde comprar Sozuki Casual e Festa Av. Paulo VI, 832, Shopping Paulo VI - Pituba Contato: (71) 3353-3538 | www.sozuki.com.br Gordinho Elegante Rua Belo Horizonte, 64, Barra Master - Barra Contato: (71) 3264-2121 / 8744-6123

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MODA

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MODA

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CAPA Audiovisual

Projetos de revitalização de espaços de produção e exibição, atrelados a programas de apoio, são os primeiros passos para alavancar a produção audiovisual baiana, que tem destaque no Brasil pela história antiga, mas passou por maus bocados nas últimas décadas. tExto

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PIETRO RAÑA


Audiovisual CAPA

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Andrew Kemp


Produção CAPA Audiovisual cinematográfica local teve relativo crescimento na última década, mas setor ainda carece de investimentos.

Andrew Kemp

Quase 50 anos após o lançamento de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, drama de diretor baiano Glauber Rocha, apontado como marco do Cinema Novo e uma das produções locais de maior destaque em todo o mundo, o cenário audiovisual na Bahia busca sua reinvenção. Nas últimas décadas, houve uma baixa na produção e uma crise se estabeleceu no setor. Os motivos dessa conjuntura foram diversos, mas a mudança no contexto socioeconômico e cultural em Salvador colaborou de forma importante para esse panorama. A vida moderna favoreceu a criação de lugares de compra e entretenimento, como os shoppings, que polarizaram o público e levaram à decadência espaços como a região do centro da capital. Com isso, os grandes cinemas como Jandaia, Glauber Rocha e Cine Excelsior perderam fôlego. A inserção de salas de exibição em shoppings, com um “circuito

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comercial”, mais voltado à massificação da cultura norte-americana, foi um segundo ponto crucial. As produções locais e até algumas nacionais já não entravam em circuito por falta de espaço. Entre 1973 e 2000, para se ter um exemplo, apenas três produções de longa duração foram realizadas na Bahia. Com a produção em baixa e a classe artística em ebulição, começaram as discussões sobre os rumos do audiovisual na Bahia, um estado que exporta tantos talentos, mas que havia parado no tempo. Órgãos municipais e estaduais, preocupados com as consequências negativas e com o impacto para o turismo e a economia, resolveram desenvolver programas de revitalização de determinadas regiões em Salvador, tais como a Barroquinha e o Comércio. Pegando carona nesses projetos, empresas privadas, de olho numa reinvenção da cena audiovisual, pretendem reintegrar à cidade espaços já consagrados e voltar a movimentar a produção local. É o exemplo do hoje abandonado Jandaia. O espaço, que de tão imponente e grandioso recebeu até Carmen Miranda, hoje está entregue às baratas e ratos, que passeiam pelos escombros do edifício na Baixa dos Sapateiros. Alguns empresários, grupos de estudantes e até organizações não-governamentais entraram com pedidos de tombamento do espaço, numa luta pela recuperação do Cine Jandaia. Mas, embora as iniciativas, inclusive públicas, apontem para a requalificação, ainda não se conseguiu fechar um acordo com os proprietários do local, que não moram na Bahia. A iniciativa privada também foi fator decisivo para a transformação do Trapiche Barnabé, no Comércio, que está passando por um processo de revitalização cujo objetivo é o aquecimento da produção cinematográfica.


Audiovisual CAPA Acervo Secult

O PANORAMA ATUAL E OS CURTAS “A produção cinematográfica e audiovisual na Bahia está sendo feita geralmente pela dependência de editais ou num cenário de produção independente que é, via de regra, perverso para com o realizador e com os demais profissionais envolvidos. Não há sustentabilidade ainda. Mas, estamos ocupando espaço dentro do cenário nacional e novidades virão por aí”. Essa é a síntese do panorama atual da produção audiovisual na Bahia por Carollini Assis, Diretora Institucional da Associação Baiana de Cinema e Vídeo, que avalia também que o caminho apenas começou a ser trilhado. “Em novembro passado, tivemos um momento muito especial e simbólico: quatro filmes baianos estavam nas salas do circuito comercial – ‘Filhos de João’, de Henrique Dantas; ‘Bahêa Minha Vida’, do Márcio Cavalcante; ‘Jardim das Folhas Sagradas’, de Póla Ribeiro, e ‘Capitães da Areia’, de Cecília Amado. Tal fato reafirma que ali é o nosso espaço, que podemos estar ali, ocupando as salas de um circuito que é dominado pelas majors”, avalia Carollini. Mas se produzir longas ainda é uma missão difícil, mesmo com todo o apoio que existe hoje em dia, a produção de curtas nunca foi tão profícua. Nos últimos cinco anos, o Festival 5 Minutos, um dos mais importantes do país, habilitou em sua seleção mais de 1.200 produções nacionais, sendo cerca de 1.000 delas baianas. Isso representa quase 85% do total. “A produção de curtas e de outros produtos é constante no cenário audiovisual, principalmente agora com o uso de novas tecnologias, principalmente a móvel. Já existem prêmios no país direcionados a filmes feitos com celular”, explica Carollini, que aponta a criação de novos cursos universitários na área de Cinema e Audiovisual como responsáveis diretos pelo grande êxito da área de produção de curtas.

CAPITÃES DE AREIRA (2009) de Cecília Amado

O HOMEM QUE NÃO DORMIA (2011) de Edgard Navarro

JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS (2011) de Pola Ribeiro

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CAPA Audiovisual

Trapiche Barnabé, onde funcionaria um centro de audiovisual referência na Bahia, ainda se encontra em reforma.

Marcelo Santana

PoLO DE CINEMA, NOVAS POSSIBILIDADES! O prédio do Trapiche Barnabé, que ocupa uma área de aproximadamente 3.500 metros quadrados, foi o espaço pensado inicialmente para ocupar um Centro de Audiovisual de referência no Norte e Nordeste. O projeto de revitalização do espaço foi apresentado à sociedade em 2006, com o objetivo de reinserir Salvador no mercado nacional cinematográfico. Entretanto, pela existência de uma ideia semelhante por parte do Governo do Estado, o projeto sofreu adaptações e ajustes, mas está em pleno vapor num espaço ao lado do Barnabé, que foi apelidado de “Trapiche Pequeno” por ter uma área menor (dois mil metros quadrados). De acordo com Diana Gurgel, Diretora Executiva do projeto, embora tenha sofrido os ajustes, o edifício, onde hoje funciona o Centro de Audiovisual, está na ativa há cerca de quatro anos. Desde a inauguração, já foram realizadas várias produções completas, entre elas o longa ‘Coleção Invisível’, que foi finalizado em 2011 pela Ondina Filmes e Santa Luzia Filmes, com previsão de distribuição para março de 2013. “Nós ampliamos o projeto para ser o primeiro prédio na Bahia com aparato de fomento à Indústria Criativa. Montamos uma estrutura que conta com estúdios, produtoras, designers, jornalistas, profissionais de dança, fotógrafos, produtoras de vídeo e tudo

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o que esteja ligado a produções criativas, além de ser o único em Salvador abastecido por energia eólica”, afirma. Sobre o projeto inicial, Diana conta que a principal diferença, com relação ao estágio atual, é a ausência de salas de exibição e de espaços de exposição no Trapiche Pequeno. “Já recuperamos a fachada principal do Trapiche Barnabé e estamos definindo os últimos passos do projeto para ele. O audiovisual mudou muito nesses últimos cinco anos e tivemos que nos adaptar a essa nova realidade. A maioria das salas agora é digital e não usa mais película. Por isso o projeto precisou ser todo revisto”, explica. O fruto de todo esse empreendimento partiu da mente do cineasta francês Bernard Attal, que comprou os espaços e agora segue em busca de despertar o interesse de grupos estrangeiros para investir na produção cultural baiana.

OUTROS INCENTIVOS Os incentivos para mudar esse panorama não partiram apenas dos projetos de revitalização de cinemas e regiões da cidade. Algumas iniciativas foram direto na fonte, buscando apoio para a realização de produções audiovisuais desde a raiz. Órgãos governamentais de apoio à cultura se movimentaram para aquecer o segmento que, entre 2007 e 2011, rece-


« Acho importante informar que a Bahia está, neste momento, com 60 filmes de longa metragem entre as fases de preparação e distribuição. Há poucos anos, o Brasil inteiro produzia de 25 a 30 por ano » CaRolliNi Assis, DiREtoRa INstitucioNal Da Associação BaiaNa DE CiNEMa E VíDEo

beu, através de programas como o Fundo de Cultura e o FazCultura, um investimento de R$ 21,5 milhões de reais. A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, através da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e da Diretoria de Audiovisual (Dimas), criou ações de apoio aos diversos setores que envolvem a cadeia produtiva: produção, difusão, formação e memória. Com isso, aquele dado alarmante dos três longas produzidos entre 1973 e 2000, mudou. Somente em 2011, quatro filmes, contemplados pelos projetos criados pela Dimas, foram finalizados, entre eles “O Homem que não dormia”, de Edgard Navarro, e “Jardim das Folhas Sagradas”, de Póla Ribeiro. Já em 2012, apenas no primeiro semestre, foram finalizadas duas produções que já estavam em andamento. “Acho importante informar que a Bahia está, neste momento, com 60 filmes de longa metragem entre as fases de preparação e distribuição. Há poucos anos, o Brasil inteiro produzia de 25 a 30 por ano”, diz Carollini Assis. De acordo com dados da Funceb, a preocupação com o segmento não está apenas em fomentar a produção, mas em algo maior. O órgão trabalha agora para a criação do Instituto do Audiovisual, que amplie o alcance das políticas públicas já existentes. Para isso, em 2012 foram abertos editais para apoio à produção audiovisual no valor de R$ 4,5 milhões de reais. As iniciativas representam um começo, para um mercado que pode ser ainda maior. “O que nós precisamos é de fortalecimento para todas as áreas do setor audiovisual e cinematográfico na Bahia. Sabemos dos esforços da Secretaria de Cultura para isso. Temos uma política de incentivo realizada através da Demanda Espontânea / Fundo de Cultura. Este ano o valor para Audiovisual foi de R$ 4,5 milhões. É pouco, tendo em vista que Pernambuco, aqui ao nosso lado, investe pelo menos R$ 11,5 milhões”, defende Carollini Assis.

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OPINIÃO

Um olhar sobre o cinema baiano Júlia Lima Formada em Jornalismo pela UFBA, pós-graduada em Cinema e Vídeo na London College of Communication (LCC). Mestra em Direção Cinematográfica na Universidad San Pablo C.E.U. (Madrid). Selecionada para a Mostra competitiva do Festival 5 Minutos (2012) | juliacinema@yahoo.com.br Arquivo pessoal

Me foi pedido que escrevesse a respeito do panorama atual do cinema baiano, a partir da minha própria experiência. Em primeiro lugar, apresento em minha defesa – e a meu favor - o fato de ter estado nos últimos anos produzindo, estudando e vivenciando cinema fora da Bahia, até mesmo do Brasil. Se por um lado não assisti a algumas conquistas do nosso cinema, por outro, apresento o olhar aguçado do forasteiro que adentra com o seu cavalo uma cidade que deixara há muitos anos, e a examina com o devido cuidado, na ânsia de apreender essas novas informações no mínimo de tempo possível, até por questões de sobrevivência. E sim, eu tenho sobrevivido aqui. Não dos louros da produção cinematográfica – que são ínfimos para a maioria de nós -, mas de eventos ligados a ela, como a Oficina de Direção de Atores recentemente ministrada por mim na Casa de Cinema da Bahia, que deverá contar com uma nova edição. A ideia de realizá-la nasceu da observação crítica de filmes brasileiros e baianos que, ao meu ver, deixam muito a desejar em alguns aspectos, em relação à maioria dos filmes europeus, assim como de países vizinhos, como Chile e Argentina. Dois grandes problemas vêm sendo apontados no cinema do Brasil, e os estendo, sobretudo, à Bahia: a má direção de atores e redação dos roteiros. “Faltam bons roteiristas”, costumam afirmar críticos e realizadores. E faltam também verdadeiros diretores de cinema, que não se restringem à direção de fotografia e delegam a direção de atores aos “preparadores de elenco”. Quando um país chega ao ponto de financiar – e inventar – um cargo não-existente na equipe técnica de um filme como os “preparadores de elenco”, algo anda muito mal. Nada contra escolas como a da Fátima Tole-

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do, mas boa parte dos diretores do mundo inteiro não conta com isso – e em geral, produzem algo com resultado superior. “Mas os atores aqui vêm do teatro, é mais difícil dirigi-los”, defendem-se os diretores da Bahia. Isso é verdade, sobretudo aqui, onde a produção cinematográfica é incipiente em relação ao Sudeste - e tenho acompanhado isso de perto. Mas atores com maior facilidade para as câmeras existem aqui, sim; e é da responsabilidade do diretor essa busca. Se esse mesmo diretor não soube testar, não soube selecionar as pessoas certas para os papéis mais relevantes do filme, resultando numa atuação ruim ou medíocre, a culpa não é do ator! E é exatamente isso que vem ocorrendo em boa parte do cinema baiano: os problemas já nascem ainda na etapa de pré-produção. Vemos belas fotografias, planos-sequência até mesmo memoráveis, mas basta o ator abrir a boca para querermos sair correndo da sala de exibição. O problema da direção de atores, assim como o do roteiro e alguns outros, só pode ser resolvido a partir do momento em que ele é aceito por toda a cadeia de produção desse cinema. Somente assim certos diretores e roteiristas buscarão estudar e se profissionalizar, o que logicamente resultará num cinema melhor. Iniciativas como a recente criação da Coopercine Bahia (Cooperativa de Cinema da Bahia) prometem sanar essas questões na medida em que propõem uma maior profissionalização do meio, e maior produção de filmes auto-sustentada. Mas todo esse processo exige dos realizadores uma certa humildade. Sempre acreditei que estou aprendendo a fazer cinema até o último dia da minha vida; a cada vez que revejo Fellini, Kubrick ou Coppola, lembro do quanto é necessário me aprimorar infinitamente mais.


CIDADANIA

EDUCAÇÃO

VEM DE BERÇO Através de iniciativas coletivas e muito simples, a exemplo do projeto Maré Global, é possível preservar o meio ambiente, melhorar a qualidade de vida e ensinar à juventude como eternizar as riquezas naturais do Brasil. tExto Fotos

PIETRO RAÑA ACERVO PRO-MAR

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CIDADANIA

Modernidade, tecnologia, economia aquecida e consumo desenfreado. Esses fatores, resultantes de um modo “moderno” de vida, têm causado impactos dos mais profundos ao meio ambiente. Hoje, acompanhamos fenômenos como o aumento no aquecimento global, o derretimento das calotas polares e a imensa poluição, seja ela visual, sonora ou química. Em um ano de muitos movimentos em favor da sustentabilidade, o mundo parou para debater como simples ações cotidianas podem transformar paisagens e alterar a vida de gerações. A expressão mais falada da atualidade, a sustentabilidade, trouxe à tona um importante conceito até então pouco pensado por aqui: “educação ambiental”. Mas você sabia que educação ambiental é lei? No Brasil, desde 1999, a Lei Nº 9.795, em um de seus artigos, prevê que: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. Infelizmente nem sempre a teoria vira prática. Mas, na Bahia, já são muitos os projetos que deixaram o lado burocrático e que hoje se estabeleceram na rotina das pessoas, como é o caso do Maré Global, projeto desenvolvido pela Organização Sócio-Ambientalista Pró-Mar, em parceria com uma empresa privada. O programa já beneficiou mais de 27 mil pessoas. A

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Pró-Mar já atua há 12 anos, tendo como principal objetivo preservar a fauna e a flora das Ilhas de Itaparica e Boipeba. Segundo o assessor de comunicação Lucas Gaspari, as linhas prioritárias de ação do projeto hoje são: sensibilização, educação ambiental, monitoramento dos recifes de coral e apoio à criação de áreas marinhas protegidas. Como resultado dessas ações, já se verifica uma nova realidade na comunidade local: a recuperação e conservação da biodiversidade marinha na área dos recifes; o envolvimento comunitário nas políticas de proteção ambiental; e a criação de alternativas de renda para a comunidade local, em função da recuperação do estoque pesqueiro e do ecoturismo. Com uma sede localizada em Mar Grande e mais três bases avançadas localizadas em pontos estratégicos, como no Club Med Itaparica – visando sensibilizar os visitantes sobre a importância da


CIDADANIA

preservação – e também no atracadouro da cidade, a instituição promove ações dentro das escolas, levando noções de educação ambiental, preservação e reaproveitamento; e de cuidados com as áreas marinhas. Esse braço de atuação, da educação ambiental em si, é um dos mais importantes do trabalho, porque cria um senso de união na comunidade, despertando em crianças e jovens a reflexão sobre o cuidado coletivo com o mundo em que vivemos. Além da conscientização através da teoria, a Pró-Mar também desenvolve atividades práticas. Todas as segundas-feiras, um mutirão coordenado pela entidade realiza uma limpeza de 20 minutos numa faixa de praia e os números são alarmantes: de janeiro a abril desse ano, foi coletada mais de meia tonelada de lixo numa área de 200 metros quadrados de praia, em frente à sede da organização.

Ilustração baseada na pintura'The Great Wave off Kanagawa' (1829–3182) de Katsushika Hokusai.

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CIDADANIA

A VIDA COMO EXEMPLO A Pró-Mar desenvolve um trabalho que já é fundamental para a comunidade onde está inserida, mas o interessante disso é que o ponto de partida para o projeto está na história de vida do seu fundador, José Roberto Caldas Pinto ou Zé Pescador, como é conhecido por todos. Filho de um comerciante com uma professora pública, Zé conta que escolheu a pesca como profissão, mas não tinha consciência dos riscos que uma conduta irresponsável podia gerar ao meio ambiente e até mesmo para sua própria vida. Ele pescava com bomba, utilizava técnicas proibidas e o estalo veio com um questionamento da filha. Um dia, durante a pesca de lagosta em período de reprodução, a filha

de Zé olhou para o pai e indagou o motivo de ele estar tirando a vida de tantos filhotes. A pergunta, inocente e ao mesmo tempo crítica, fez com que ele mudasse sua postura diante da natureza e, hoje, se tornasse peça chave para a sua proteção. De agente destruidor a exemplo de conservador, Zé se tornou referência em cases apresentados pelo mundo, pelos principais palestrantes e estudiosos do meio ambiente.

Pró-Mar www.promar.org.br contato@promar.org.br (71) 3633-4249 Endereço Av. Vital Soares, 13, Ilhota, Vera Cruz | CEP 44.470-000

O PROJETO MARÉ GLOBAL FOI VENCEDOR, NA CATEGORIA PROJETOS COOPERATIVOS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, DO 9º PRÊMIO FIEB DESEMPENHO AMBIENTAL, EM 2011. 34


LITERATURA

Em tempos de crise nas editoras e padronização no mercado cultural, a rede tem se consolidando como local mais interessante para encontrar boas e variadas opções no cenário literário da Bahia. Em contrapartida, a liberdade de expressão virtual pode descaracterizar a arte na forma de produção. tExto ANDRÉ ÁVILA

No início dos anos 2000, o poeta baiano James Martins criou o recital Pós-Nada, com o objetivo de projetar uma atualização do modo de apresentação da poesia em outros formatos. “Todos os poetas que eu conhecia ignoravam solenemente, na hora de recitar, a existência de microfones, da poesia concreta, do cinema, da simultaneidade, etc. No Pós-Nada eu trouxe tudo isso para a récita, não como efeitos adorativos, mas de maneira estrutural”, conta. James aprendeu a ler ouvindo rádio, a partir dos toques da música popular brasileira, cuja tradição literária é sofisticadíssima. Daí veio à poesia e aos livros. Muitos críticos e poetas locais apontam o seu Recital Pós-Nada no início dos anos 2000, como o ponto de partida para a criação de uma teia de blogs e livretos na atual cena literária baiana.

Embora tenha um blog, o poeta se mantém distante da ferramenta. “Meu blog de poemas foi criado por um amigo e eu até tentei atualizá-lo uma época, mas desisti por ficar um tanto frustrado por não existirem, ou por não saber manipular, os recursos que queria”. E acrescenta: “Surpreende-me que, mesmo escondidinho, algumas pessoas encontram esse blog e comentam sobre os poemas. Coisas da internet!”. Essas “coisas da internet” a que James se refere exemplificam o poder de propagação que a rede tem em questão de segundos. “A internet tem sido a ferramenta mais eficaz para o fluxo de informações que os meios de comunicação tradicionais desprezaram, na ânsia de ganhar dinheiro rápido”, afirma o poeta.

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LITERATURA

OUTRO LADO DA REDE Diferente de James, a publicitária Ludimila Ventura atualiza constantemente seu blog. Antes de se formar em Publicidade, ela sonhava em fazer Jornalismo, pois sempre cultivou o hábito de escrever. Acabou se encontrando na função de redatora publicitária. “Mas até então, nem sonhava em escrever poesia, prosa, ou qualquer coisa do gênero. Não achava que eu tinha talento”. Ao longo da faculdade e no contato direto com a profissão de redatora, ela se viu imersa em diversas influências literárias que ultrapassavam o universo da propaganda. Foi quando decidiu criar um blog de textos soltos com uma amiga. “Um exercício, uma brincadeira de escrever, que me fez

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ter vontade de ir adiante e assumir sozinha, e com um pouco de coragem, o meu próprio blog”, conta Ludimila, que hoje abastece de poemas o blog Varanda de Letras. Mas a instantaneidade da internet também tem seus pontos negativos. A rapidez do fluxo de informações pode descaracterizar principalmente a literatura e a poesia. “Na internet, tanto faz se Clarice Lispector disse, ou se foi o João Caminhoneiro quem disse. Ninguém sabe. Não se vai atrás da fonte”, desabafa Ludimila, antes de ressaltar: “Enquanto houver corpos, cabeças e corações de verdade, vai existir lugar e inspiração para a poesia. Seja ela numa livraria ou numa zona Wi-Fi”.


LITERATURA

De Machado de Assis à rede mundial de computadores Os registros contam que o português Bento Teixeira foi o autor da primeira obra, propriamente literária, publicada e escrita no Brasil. Trata-se do poema épico “Prosopopéia”, marco inicial da poesia baiana, em 1601. O barroco ainda teve a representação de Gregório de Matos e, mais tarde, a poesia lírica e abolicionista de Castro Alves contagiaria as plateias do Teatro São João - que depois veio a se chamar Xisto Bahia. Muita coisa mudou de lá para cá. A década de 1960 veio e a ditadura militar influenciou o modo de produção cultural no Brasil. Ao norte do globo terrestre, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos dava início aos estudos do que viria

a ser o maior fenômeno midiático do século XX, a internet. Voltando aos tempos atuais, há quem diga que a internet e a tecnologia são a salvação para a proliferação de alguns meios culturais. Tanto James Martins, quanto Ludimila Ventura não têm a pretensão de lançar livros atualmente. James inclusive já recebeu proposta. Diferente da indústria fonográfica, por exemplo, os poetas não procuram espaço na internet para poder ganhar as livrarias. “Poesia é linguagem e, como tal, obedece a critérios próprios. A poesia só consegue mudar alguma coisa quando consegue se modificar enquanto modo de dizer, pensar e ser”, enfatiza James Martins.

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TURISMO

Rita Barreto

Cultura indĂ­gena para brilhar os olhos 38


TURISMO

Primeiros moradores do Brasil são responsáveis por aquecer a economia e movimentar o turismo na Costa do Descobrimento, explorando seus usos e costumes, suas crenças e, acima de tudo, promovendo a integração com turistas de todo o mundo. tExto Fotos

PiEtRo RaÑa AcERvo sEtuR-Ba

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TURISMO

“Você já foi à Bahia, nêga? Não? Então vá”. Os versos do saudoso Dorival Caymmi anunciam as belezas, riquezas e potenciais da Bahia. E quando o assunto é turismo, serve como um belo convite tanto a brasileiros quanto a visitantes de outros países. Uma das regiões preferidas no estado é a Costa do Descobrimento, formada por cidades como Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Arraial D´Ajuda, Trancoso, Belmonte e Caraíva. Quando se fala em Porto Seguro, por exemplo, todos lembram

imediatamente de Carnaval, música, axé, barracas de praia e grupos de jovens. Mas a região, que é cercada por atrativos naturais como praias, recifes de corais, manguezais e rios navegáveis, não fica restrita apenas à prática de turismo de aventura, nem do ecoturismo. A bola da vez é o etnoturismo ou, no caso, turismo indígena. Historicamente, a Costa do Descobrimento foi o primeiro ponto de encontro entre os portugueses colonizadores e os índios, que já habitavam o local. A região foi tombada, em 1999, como Patrimônio Natural Mundial pela Unesco. Lá fica o Parque Nacional de Monte Pascoal, uma reserva que ainda é fruto de polêmica, mas que segue sendo um local para a manutenção da cultura e o resgate de tradições indígenas que

É comum nas cidades que fazem parte da Costa do Descobrimento, encontrar índios pelas ruas, em convivência pacífica e harmoniosa com os moradores (...) Mas mesmo o contato diário com os moradores e as facilidades da tecnologia não fizeram com que os índios perdessem seus hábitos

Além do contato com a natureza, o visitante acaba aprendendo sobre os hábitos e costumes dos povos indígenas. Jota Freitas

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TURISMO

ultrapassaram séculos e hoje estão entre os maiores valores do lugar. Outra reserva importante na região, e que se destaca pelos programas de valorização cultural, é a Reserva da Jaqueira, que fica em Coroa Vermelha, também Porto Seguro. É comum nas cidades que fazem parte da Costa do Descobrimento, encontrar índios pelas ruas, em convivência pacífica e harmoniosa com os moradores. Desde o século XIX, os Pataxós são grande maioria no local. Mas mesmo o contato diário com os moradores e as facilidades da tecnologia não fizeram com que os índios perdessem seus hábitos e continuassem produzindo riquezas culturais. Jarros, pratos, objetos de barro, cerâmica e de tecido, redes, esteiras e outras peças artesanais estão entre os atrativos indígenas e agregam valor ao turismo na região. Negociados diretamente nas aldeias, onde se pode constatar uma manutenção de culturas e rituais, como o Toré e o Kamunguerê, ou mesmo em feiras livres nos centros de cada município, as peças chamam a atenção pela forma rudimentar de ser feita e ao mesmo tempo pela perfeição do acabamento. Esse é o traço mais conhecido do chamado turismo indígena. Isso porque, muitos visitantes ficam nas áreas urbanas e têm acesso à cultura indígena apenas através das feiras de artesanato.

Em 1998, foi criada a Associação Pataxó de Ecoturismo, visando ampliar a valorização da cultura indígena e disseminação de projetos culturais. A Associação funciona em Santa Cruz Cabrália (BR 367, km 77, Conjunto Cultural Pataxó, CEP: 45807000). Os telefones são (73) 3672-1058 ou (73) 9993-7394

Rita Barreto

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TURISMO

VISITE A JAQUEIRA Esse cuidado com a preservação das tradições indígenas na Reserva da Jaqueira segue como um dos pontos de luta do povo nativo, que hoje ocupa aproximadamente oitocentos hectares de área na Costa (cerca de 85 campos de futebol). Além de possibilitar a negociação direta dos produtos de artesanato, o turismo indígena permite também passeios guiados pelas áreas de preservação e aldeias. Assim, o visitante entende melhor o processo de produção das peças e conhece o dia a dia dos índios, acompanhando alguns rituais, danças típicas e compreendendo melhor a história dos primeiros habitantes do Brasil. “Dessa forma, a gente engloba várias vertentes em uma: o etnoturismo em si, a sustentabilidade, a afirmação da cultura indígena e também a preservação ambiental”, explica Juari Pataxó, que é Coordenador de Eventos Culturais Indígenas Pataxó, da Superintendência de Assuntos dos Povos Indígenas de Porto Seguro. Os passeios pelas áreas indígenas são uma verdadeira viagem no tempo!

João Ramos

São compostos de trilhas ecológicas guiadas pelos próprios Pataxós, que mostram a riqueza da mata preservada e também os poderes das plantas medicinais. Ainda tem palestra e o chamado “ritual de integração com o homem branco”, que começa com os indígenas, que chamam os visitantes para a roda e fazem uma dança usando incenso de plantas, feito na própria aldeia. É uma forma de mostrar a união e agradecer. No final do passeio, que pode durar até quatro horas, os visitantes são convidados a experimentar um peixe assado em folha de patioba. “O interessante de tudo isso é que começamos o trabalho na Reserva da Jaqueira, mas hoje esse programa está sendo adotado também por outras aldeias da região, como a Aldeia Velha, que também fica em Porto Seguro”, conta Juari, satisfeito com os rumos do programa.

Jota Freitas

« O interessante de tudo isso é que começamos o trabalho na Reserva da Jaqueira, mas hoje esse programa está sendo adotado também por outras aldeias da região » Os passeios custam R$ 35,00 por pessoa, pagos diretamente aos índios, caso o visitante vá diretamente à aldeia. As agências de turismo das cidades têm parceria com a Reserva da Jaqueira e estão autorizadas a oferecer pacotes com visitas pelo local.

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Juari Pataxó, Coordenador de Eventos Culturais Indígenas Pataxó


PATRIMÔNIO

Seja pela devoção ou pela simples necessidade de sobreviver, os pescadores resistem às condições do mar da Baia de Todos os Santos, mantendo vivos os conhecimentos dos antepassados e atuando para preservar o ambiente marinho para as gerações futuras. tExto Fotos

FABio FRaNco MaRcElo saNtaNa

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PATRIMÔNIO

O oficio é tão antigo quanto a existência do homem – existem relatos até na Bíblia. Inicialmente a pesca era nada mais que um meio de sobrevivência, de busca de alimento, mas coube aos anos transformar uma mera atividade em um dos elementos mais tradicionais da cultura brasileira, especialmente na Bahia, que já contou em verso e prosa a vida dos pescadores. Além de cultivar o trabalho artesanal, o homem do mar também luta para perpetuar suas tradições e afirmação da identidade através dos relatos dos mais velhos, que em alguns casos são os próprios pais, avôs, tios, amigos... Essa difusão de saberes e fazeres dos pescadores ainda é feita oralmente, em conversas no litoral ou durante a arrumação da embarcação para mais uma estadia em alto-mar. “Comecei a pescar desde a infância, mas aprendi a profissão com alguns amigos. É um trabalho atribulado, que exige muito, mas que garante a nossa sobrevivência. Imagine que todo dia é uma batalha, principalmente quando tem ventania. É uma vida cruel e que as pessoas não dão valor”, se ressente o pescador Washington Lopes Rosário, 41 anos, que reside na região da Península Itapagipana. Quanto a passar a

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Debaixo de sol forte ou de chuva, a labuta dos pescadores locais é diária e na maioria das vezes não compensa financeiramente.

tradição adiante ele é enfático: “Quero que meus filhos estudem para conseguir algo melhor”. Comandante do barco “Deus Te Ama”, Washington conta que pescaria “é momento” e reclama dos atravessadores. “A vida no mar é uma aventura. Você tem que carregar o barco, colocar óleo, comprar gelo. Tudo com dinheiro do próprio bolso. Você passa dias em alto-mar e quando retorna ainda precisa vender o resultado da pescaria para os atravessadores. E justamente nesse processo que o quilo do peixe aumenta. Costumo negociar o Vermelho por R$ 10, R$ 11, mas o atravessador vende por até R$ 17”, revela. Marisqueiro e pescador, Aroldo Santos Pires, 41 anos, é daqueles que prefere negociar o resultado do seu trabalho


PATRIMÔNIO

direto com o cliente. Pai de oito filhos e avô de três netos, Aroldo às vezes conta com a companhia deles, quando estão de férias da escola, na labuta diária pelo mar da capital. “Aproveito para ensinar sobre as dificuldades da vida. Sobre com é difícil conseguir o peixe, o marisco, o siri e ter que vender por um valor que não cobre o esforço”.

PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL Nos últimos anos, os pescadores locais precisaram lidar com uma dura realidade, a questão ambiental. Raimundo Silva, conhecido como Cunha, 53 anos, um dos mais antigos da área de Itapagipe, se entristece a comparar seu início no mar com o momento atual. “Comecei a pescar aos 15 anos. Pescava com linha no dedo. Hoje mudei de técnica (apneia) e a quantidade de peixe diminuiu bastante. A área da Ribeira é boa para pesca, mas tem muita gente sem consciência que joga bomba no mar. Eu sempre digo: bombeiro é bombeiro, pescador é pescador!”. Cunha reclama da falta de fiscalização e que após a extinção do Centro de Recursos Ambientais (CRA) todo mundo

“faz e acontece”, sem respeitar sequer os banhistas. E ainda aponta duas outras causas para a diminuição da fauna marinha: “Existe uma fábrica aqui perto da marina que toda semana dá uma descarga e despeja um líquido vermelho na água. Você pode ver que essa área aqui próxima a Sorveteria da Ribeira tem uma água com cor amarelada, com lodo. Também tem um esgoto da invasão do Bate Estaca que desagua aqui, mesmo depois de uma grande obra da Conder. Aliás, na época diziam que esse esgoto jamais cairia pela área. Sem falar que aqui ninguém faz mutirão para limpar a praia como na Barra”. Washington também reclama da fiscalização, principalmente pela grande quantidade de lanchas na região. “A Capitania dos Portos deveria ser mais flexível com os pescadores, porque tem muita gente irregular por aí com lancha e jet ski e que nem são parados. Outro dia tive um problema com meu barco e fiquei à deriva. Liguei durante três dias para a capitania para conseguir ajuda. Enquanto isso, havia um cara que estava dando a volta ao mundo e foi acompanhado por dois navios, duas fragatas...”, esclarece o pescador.

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PATRIMÔNIO

« Gosto de pescar e ainda tem o fato de que eu faço isso para sobreviver mesmo. Quando vou para o mar tento pegar bastante peixe, porque consigo vender uma parte. Caso contrário, levo o resultado do meu trabalho para casa. É o nosso sustento » IsraEl AlvEs dos SaNtos JR, JOVEM PESCADOR MORADOR DE PLATAFORMA

NOVA GERAÇÃO Pelas ruas calmas do bairro da Ribeira, o jovem Israel Alves dos Santos Jr, de 17 anos, filho de pescador e morador de Plataforma, no subúrbio ferroviário, caminha procurando o melhor lugar para pescar. O estudante conta que o desejo pelo ofício surgiu por volta dos 12 anos. Usando a técnica da linha no dedo, se aprimorou e hoje pesca por apneia. “Comecei a pescar sozinho, depois de ver alguns amigos saírem e retornarem com boas quantidades de peixe. Meu pai foi pescador, até saí algumas vezes com ele, mas aprendi mesmo com a turma.” Seu pai abandonou a atividade – foram mais de 30 anos, mas o rapaz diz que não pretende deixar essa arte tão cedo. “Gosto de pescar e ainda tem o fato de que eu faço isso para sobreviver mesmo. Quando vou para o mar tento pegar bastante peixe, porque consigo vender

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uma parte. Caso contrário, levo o resultado do meu trabalho para casa. É o nosso sustento”. Com o dinheiro da pescaria, Israel comprou seu equipamento, composto por óculos de mergulho com respirador e arpão. “Gosto desse contato mais direto. Também pesco no dedo, porque não suporto vara de pescar, mas prefiro mesmo é mergulhar”, finaliza.


planoB indica

Guilherme Adriani

Foto divulgação

Foto divulgação

Música

exposição

dança

Thathi lança seu novo CD “HabiThathi”

Newton Mesquita no Rodin Bahia

Espetáculo Bailares

Gravado no Rio de Janeiro, com produção e direção musical da própria Thathi e Robertinho de Recife, “HabiThati” é um trabalho autoral, onde a jovem cantora mostra seu talento para as composições e surpreende como arranjadora e musicista, gravando todas as guitarras e violões do álbum. As canções passeiam pelas experiências vividas pela artista: falam de amor, do ofício de cantar e das relações cotidianas, com influência de nomes como Rita Lee, Chico Buarque e Lulu Santos. Livraria cultura R$ 19,90

O arquiteto e artista plástico Newton Mesquita, que tem obras em museus da Europa, nas Américas e por todo Brasil, apresenta a exposição “Fazendo Gente”, composta por imagens de homens vestidos e mulheres nuas, com figuras inteiras e em grandes proporções. Nas pinturas, figuras famosas são valorizadas através do anonimato. Com curadoria de Luciana Bellomo Gallo e de Denisson Oliveira, a mostra conta com 52 telas em acrílico Palacete das Artes Rodin Bahia Até 02 de setembro Gratuito

O Centro de Cultura Maestro Miro recebe a Trupe Mandhala, grupo experimental de Dança Étnica Contemporânea – que reúne bailarinas com o objetivo de fazer estudos e fusões entre estilos variados de dança – para apresentar o resultado de mais de 10 workshops gratuitos que vêm sendo realizados desde julho em Feira de Santana. As apresentações incluem Dança Afro, Kuduro, Balé, Street Dance, Ragga, Jazz e Danças Regionais. Centro de Cultura Maestro Miro (Feira de Santana) 18 de agosto, 19h Gratuito

show

Salvador recebe Mostra SESC de Música Ano 1 De 11 a 16 de setembro, acontece a Mostra SESC de Música, criada para valorizar a qualidade e a efervescência de músicos e compositores baianos. O projeto tem o objetivo de difundir e estimular a produção musical no estado, contemplando o público com a diversidade de expressão da música baiana. Sem caráter competitivo, a Mostra SESC de Música terá três workshops, ministrados por especialistas, e shows de artistas selecionados por uma curadoria importante, assinada pelos grandes maestros e mestres Aderbal Duarte, Letieres Leite e Zeca Freitas. Teatro SESC Casa do Comércio 11 a 16 de setembro Gratuito Divulgação

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PROFISSÃO Nonono nono

EM NOME DA

ARTE tExto

ANDRÉ ÁVILA FOTOS

MaRcElo saNtaNa

Glauber Rocha diria que “curar é coisa de médicos e doutores”. Mas a palavra ganha outro sentido quando se trata do curador, do latim tutor, que significa "aquele que tem uma administração a seu cuidado". Profissão de fundamental importância no mundo das artes visuais. Entre a composição de uma obra e sua exposição está a figura do curador, profissão que exige muito conhecimento em Comunicação, Literatura, Filosofia e História da Arte. Seu papel é preparar, conceber e montar as mostras, para criar uma harmonia, fazendo com que obras distintas, de um ou mais artistas, dialoguem com o público. “Requer, acima de tudo, uma atitude de não querer ser mais importante que o artista. O curador é a pessoa que vai dar um direcionamento a uma exposição de um determinado trabalho”, define Justino Marinho, artista e curador baiano. Graduado em Contabilidade e em Ciências Econômicas, Marinho já se mantinha ligado ao mundo das artes visuais. “Sou de uma geração que começou a fazer arte no final da década de 1960. Assisti as Bienais Nacionais da Bahia (1966 e 1968). Isso foi fundamental para me tornar um artista”. A partir daí, dedicou-se as aulas de História da Arte e começou a escrever sobre o assunto em jornais baianos, até que, em 1992, começou a encarar o antigo “hobby” de curadoria como algo mais direto e específico. Sobre o rótulo de crítico, pontua: “Prefiro dizer que fui um colunista de arte”.

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Nessa época, Justino Marinho se incorporou à equipe da Fundação Cultural do Estado da Bahia, que implantou os Salões Regionais de Artes Plásticas da Bahia, onde ficou durante 10 anos. “Desde 2003 não atuo mais como contador, nem como economista. Só me dedico à arte”, conta Marinho, que além de ter exposto obras na Europa e na Ásia e acumular vários prêmios, também escreveu para algumas revistas editadas no Sudeste. Sobre a rotina de trabalho de um curador, ele pontua que engloba ver o máximo de exposições possíveis, fazer pesquisas, trocar experiências, visitar museus e conhecer o local de trabalho dos artistas. Para exercer a profissão, que não tem uma graduação específica, Marinho aconselha: “Existe a necessidade de muita leitura sobre o assunto e de observação sobre outras curadorias”.


Nonono nono PROFISSÃO

ORIGEM Não há um registro exato de quando a prática da curadoria foi estabelecida. A imagem do curador-chefe, que surgiu no Brasil na década de 1960, representava o profissional responsável por cuidar apenas do acervo de determinada instituição. Com o passar dos anos, esse personagem foi ganhando autoridade para exercer a atual função e, ao mesmo tempo, a desconfiança dos artistas. Contudo, os próprios artistas começaram a requisitar o serviço em suas exposições e, desde meados dos anos de 1980, o curador se consolidou como profissão. A partir daí, vieram os arte-educadores, os produtores, os comunicadores visuais e uma série de novos profissionais que hoje estão envolvidos na realização de uma exposição. O crescimento do serviço beneficiou o meio. “Da mesma forma, o espaço onde a obra era apresentada foi ficando mais sofisticado. Uma exposição que era realizada com quase nenhuma verba no passado, hoje custa uma fortuna. Porém o resultado é melhor”, confirma Veranice Gornik.

Um olhar feminino sobre a profissão Nascida em São Paulo, Veranice Gornik cresceu no meio artístico, mas formou-se em Administração de Empresas, em Ciências Sociais e em cursos de História da Arte. Em 1981, já morando em Salvador, decidiu se tornar curadora. “Percebi a necessidade de interagir entre a Bahia e as outras capitais brasileiras, trazendo artistas ainda não conhecidos pelo público baiano e realizando grandes exposições na capital soteropolitana”. A curadora faz parte de um grupo restrito de mulheres que atuam na profissão. Para ela, o olhar feminino ajuda. “Em todas as áreas de atuação a mulher sempre foi obstruída pelo homem. A mulher agrega à profissão um olhar mais entrelaçado com o poético e acredito que sua sensibilidade está mais próxima da leitura feita pelo público, o grande juiz”

Mercado local À frente da galeria Prova do Artista, localizada no Rio Vermelho, Veranice revela que a Bahia ainda não tem um apreço forte pelas artes. “Acredito que a Bahia ainda não despertou para as artes plásticas como vemos em outras capitais, porém tudo indica que caminhamos para que isso venha a acontecer”. Justino, que se identifica com a arte desde cedo, compartilha da mesma opinião. “São poucos aqueles que conseguem sobreviver, dignamente, só fazendo artes visuais ou só fazendo curadoria. O mercado de arte aqui, sobretudo nos

últimos anos, tornou-se muito difícil para os artistas locais. Embora haja algumas boas galerias, não existe um público consumidor e conhecedor. Não temos colecionadores expressivos e não temos instituições significativas. Os artistas, sobretudo os mais jovens, têm muita dificuldade em mostrar, de forma profissional, o seu trabalho” O curador acredita que para ser reconhecido nacionalmente é necessário ter algum representante ou até mesmo ir morar no Sudeste. O mesmo vale para os que querem ser reconhecidos internacionalmente. “Essa história de fazer uma exposição por lá (fora da Bahia) e voltar para cá, achando que conseguiu alguma coisa, é fantasia. Aliás, o mercado de arte hoje, está muito mais para a fantasia do que para a realidade”.

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OPINIÃO

Bons nomes na Bahia Nelson Antônio A. Correia Filho Diretor e cineasta com ênfase em vídeos de bolso. Vencedor da categoria MICROCONTO e finalista da categoria FOTOJORNALISMO no festival MOBILEFEST (2009). Vencedor do Festival do Minuto no mês de abril (2009), no tema “Ser Nordestino” e finalista no CURTASE na categoria vídeos de bolso (2009). nelsonjhorys@yahoo.com.br | youtube.com/jhorys Arquivo pessoal

Recentemente foi lançando pelo Ministério da Cultura, por meio da Cinemateca Brasileira, um box comemorativo alusivo aos 100 anos de cinema na Bahia, contendo 12 DVDs, organizado pelo cineasta Joel de Almeida e pelos pesquisadores Rubens Machado Jr., Carlos Alberto Mattos e Maria do Socorro Carvalho, que regatam 30 títulos representativos do centenário da sétima arte no estado. Mas o bonde não para e me pergunto o que acontecerá nos próximos anos? A cena audiovisual baiana procura andar com as próprias pernas, porém ainda depende de editais, uma triste realidade presente em todo Brasil! O número de realizadores aumentou sensivelmente, com qualidade (algumas vezes sem), mas com boas ideias. Com o auxílio da web, grupos se formaram como o Inconseqüentes, GURUCAS, Cooperativa de Cinema, entre tantos outros, numa tentativa de fortalecer a cena local. Vejamos o grupo Inconsequentes, que além de Daniel Lisboa, conta com Mateus Viana, Naia Prata e uma legião de ativistas culturais e atores da cena baiana, produzindo filmes! Não somente os diretores, mas diversos profissionais em cada setor são formados, atuando como operador de áudio, editores, fotógrafos, produtores e assistentes. As produtoras de cinema e vídeo se alastram pela cidade, absorvendo, inclusive, demandas de fora do estado, porque cada vez mais o cenário baiano reflete confiança pelo Brasil! A expressão “novíssima onda baiana”, para designar o crescimento da produção local das décadas passadas, pode ainda ser utilizada para falar da nossa produção atual, que continua na balada! Observamos um cenário restrito e concorrido, levando os realizadores às filas em editais e concorrentes em festivais.

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Pelo Brasil a fora, temos vídeos e filmes selecionados. Um grande exemplo é o curta-metragem 'Menino do Cinco', de Marcelo Matos e Wallace Nogueira, que levou seis prêmios em Gramado este ano! Ou seja, mesmo com as dificuldades, surgem novos nichos de produção, como os vídeos de bolso e trabalhos feitos com dispositivos móveis, que angariam bons nomes para fomentar o audiovisual baiano. Só para se ter uma idea do quão próspero é o cenário, posso citar alguns nomes que se destacaram recentemente com suas produções: Edgar Navarro, os irmãos Lisboa, Di Rocha, Claudio Marques, Pola, Jorge Alfredo, João Rodrigo, Attal, Lula Oliveira, Violeta, Gabriela, Mateus, Caó Cruz, Leon, Rafael Jardim, Ernesto e Paula Gomes, Shopia, oriundos da FTC e UFRB... enfim centenas de realizadores, perdão pelos não citados! Quanto a lista dos longas que obtiveram destaque nos últimos anos, produzidos na Bahia ou pelo chamado Cinema Baiano, essa é muito mais longa (e vale a pena conferir cada um deles): 3 Histórias da Bahia (2001), de Sérgio Machado, Edyala Iglesias e José Araripe Jr.; Samba Riachão (2001), de Jorge Alfredo; Cascalho (2004), de Tuna Espinheira; Esses Moços (2005), de José Araripe Jr.; Eu Me Lembro (2005), de Edgard Navarro; Cidade das Mulheres (2005), de Lázaro Farias; Pau Brasil (2009), de Fernando Belens; Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano (2009), de Henrique Dantas; Jardim das Folhas Sagradas (2010), de Pola Ribeiro; Trampolim do Forte (2010), de João Rodrigo Mattos; Bahêa, Minha Vida (2011), de Márcio Cavalcante, e Eu me Lembro (2005) e O Homem Que Não Dormia (2011), de Edgard Navarro.


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