Revista Plano B #05

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a dramaturgia como instrumento de exploração da cultura popular

TEATRO DE BONECOS Artes Visuais

Museu

Idosos descobrem o poder rejuvenescedor da pintura e mudam de vida

Peças de origem sacra revelam a grandiosidade artística dos séculos XVI, XVII e XVIII ANO 1  N° 5 Agosto 2012




O entendimento geral a cerca do papel da arte enquanto instrumento de representação da sociedade, atualmente se confunde com outra característica que tem chamado a atenção dos estudiosos: o poder da arte como fator de mobilidade social. Da música erudita ao teatro, todas as representações culturais têm se mostrado como facilitadoras no processo de inserção de novos públicos.

uma sociedade sábia e culturalmente desenvolvida? Será que essas políticas, fomentadas por membros da sociedade civil, serão suficientes para quebrar a barreira do senso comum, proporcionando um avanço intelectual a inúmeros brasileiros?

Bons exemplos disso são iniciativas que se apropriam de conceitos próprios da educação, da cidadania, permitindi tanto aos expectadores, quanto aos criadores, a possibilidade de interagirem dentro do universo da cultura. Isso tem ocorrido através de oficinas, workshops, bate-papos, que permitem um fluxo cada vez mais intenso de informações, amplificando o conhecimento necessário para a democratização da nossa cultura.

Faltam aparatos para que as ações sócio-educativas não fiquem apenas no papel ou que tenham curta duração. Assim como uma boa leitura, um espetáculo teatral ou um concerto musical requer imaginação e conhecimento por parte do espectador, da mesma forma, o acesso à cultura requer, na maioria dos casos, apenas interesse e vontade de fazer acontecer. 2012 é um bom ano para refletir sobre isso (teremos eleições em breve).

Essas ações afirmativas superam a regra geral da “falta de recursos” e da “dificuldade de acesso a cultura”. Mas será que é possível continuar, a longo prazo, somente com boas intenções, visto que os investimentos (da iniciativa privada e do poder público) são imprescindíveis para a formação de

Boa leitura

EXPEDIENTE EDição AGOSTO 2012 TiragEM 5.000 ExEmplarEs DistRiBuição gRatuita

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PATROCÍNIO Projeto contemplado pelo EDITAL DE APOIO À PUBLICAÇÃO DE PERIÓDICOS 2009



CAPA Companhias teatrais apostam na poética da manipulação de bonecos para alcançar novos públicos

MÚSICA Com pitadas eletrônicas e sinfonias, grupos musicais dão nova cara ao pagode

TURISMO Cairu, onde belezas naturais se confundem com a história secular do Brasil

PROFISSÃO Conheça o roadie, o profissional que atua nos bastidores dos espetáculos

OPINIÃO Serginho aposta na educação para garantir o acesso do povo à cultura

CIDADANIA

ENTREVISTA

PATRIMÔNIO

MODA

planoB indica

OPINIÃO

Projetos formam jovens cidadãos através do esporte

Maria Teresa Matos descreve a importância histórica do Arquivo Público

Símbolo da identidade nacional, a cachaça ganha status de bebida Premium

Cabelos afros sugerem retomada às origens e fortalecimento da cultura africana

Confira nossas sugestões sobre o que rola pela Bahia

Pedro Codier explica o que é Netnografia e sua aplicação no mundo vistual

ARTES VISUAIS

MUSEU

Entre tintas e telas, pessoas da terceira idade recuperam o prazer de viver

Instituições baianas preservam vasto acervo de peças com temática religiosa



ARTES VISUAIS Arteterapia

Aos 66 anos, Aldinho Mendonça se sente mais leve, mais jovem e mais paciente depois que começou a se dedicar integralmente à pintura. Mais que um hobby, a paixão pelos pincéis e telas se transformou numa terapia rejuvenescedora! tExto

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PiEtRo RaÑa FOTOS

MaRcElo saNtaNa


Arteterapia ARTES VISUAIS

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ARTES VISUAIS Arteterapia

Tudo começou na Península Itapagipana, em Salvador, onde nasceu. Aos 13 anos, Aldinho Mendonça deu sua primeira prova pública de talento, pintando um painel na fachada de uma casa, retratando pontos turísticos de Salvador de uma forma bem particular. “Essa casa fica na Cidade Baixa e até hoje a fachada está lá do jeito que eu a pintei”, conta. Do painel passou a artes em camisetas, depois desenhos de roupas, design em sacolas e muitas outras. “Eu acho que já nasci com o dom. Nunca tomei curso, sou autodidata”, explica o jovem senhor de 66 anos, que esbanja simpatia e simplicidade. Quando o assunto é a profissão, Aldinho mostra personalidade: é admirador de nomes consagrados como Carybé, Carlos Bastos, Genaro Carvalho, Calasans Neto e conta que em suas obras, gosta de falar da Bahia sem cair no lugar comum. “Sempre pinto imagens que falem alguma coisa da Bahia, mas nada do tipo capoeira, berimbau e acarajé”. Morando na Barra desde os 19 anos, Aldinho resolveu há apenas três anos se dedicar inteiramente às artes. “Não queria perder esse dom. Considero que foi uma espécie de renascimento para mim. Eu me sinto mais leve, mais bonito, mais acessível e mais paciente. Espero que essa adolescência perdure bastante”, brinca. Do primeiro painel pra cá, muita coisa mudou! Mas a certeza de que a arte é um meio de inclusão e de promoção de qualidade de vida, se fortalece a cada dia.

« Não queria perder esse dom. Considero que foi um renascimento pra mim. Eu me sinto mais leve, mais bonito, mais acessível e mais paciente. Espero que essa adolescência perdure bastante » AldiNho MENDoNça, ARtista Plástico

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Arteterapia ARTES VISUAIS

Arteterapia Quando fala em “adolescência que perdure”, Aldinho ri e brinca. Mas a brincadeira tem um fundo de verdade! De acordo com a psicóloga Janine Soub, “a arte pode ser usada como uma ferramenta terapêutica, pois revela potencialidades criativas da pessoa, além de ser um recurso para expressão de suas produções subjetivas”. Janine trabalha há aproximadamente cinco anos no Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (CREASI), que é um centro de especialidade geriátrica e gerontológica vinculado à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. “Manter-se ativo é a principal recomendação para a qualidade de vida e o bem estar do idoso”, completa Janine, confirmando que a postura de Aldinho é mesmo positiva e rejuvenescedora. E o melhor de tudo: a arteterapia na terceira idade ajuda também a pessoas em tratamento de doenças. “Os benefícios estão na descoberta de potencialidades que muitas vezes não acreditamos existir, algumas suprimidas pela própria condição de adoecimento. Sabe-se que a arte nos ajuda a enfrentar medos e angústias, como via simbólica da expressão de nossa subjetividade. Não à toa, é utilizada como um dispositivo terapêutico na saúde mental. Na arteterapia com idosos, por exemplo, podemos observar que existe um mundo possível após o luto, a aposentadoria, as perdas físicas e sociais do envelhecimento, aspectos que o idoso enfrenta nessa etapa da vida, servindo-se de um recurso terapêutico para a manutenção de suas capacidades”, conclui a psicóloga.

Os estudos atuais na área mostram que os novos desafios ao longo da vida estimulam cognitivamente, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades, com aumento e/ou manutenção das capacidades funcionais do ser humano, o que pode se caracterizar como um fator atenuante nas perdas decorrentes do processo de envelhecimento. “Aprender algo na velhice também nos mostra que o desenvolvimento humano é um devir constante”, diz Janine. Para saber mais sobre o trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (CREASI), basta acessar www.saude.ba.gov.br/creasi ou ligar para (71) 3270-5757. A sede do CREASI fica na Av. ACM, s/n, Ed. Prof. Dr. José Maria de Magalhães Netto, no Iguatemi.

Exposição Esbanjando saúde e bem estar após ter decidido viver em parceria com a arte, Aldinho Mendonça se prepara agora para expor seus trabalhos em Brasília. Para a mostra, ele está selecionando algumas obras que já apresentou em Salvador, em setembro de 2011, quando expôs 48 pinturas em óleo sobre tela, no Palacete das Artes Rodin Bahia. “Fiz uma coletiva no Rodin e fui muito bem aceito. A crítica foi favorável e agora estou selecionando algumas peças para levar a Brasília. A expectativa é a melhor possível. Vou mostrar mais da Bahia”. Para a exposição na capital federal, Aldinho antecipa que levará peças da homenagem que fez aos artistas baianos das décadas de 1940 e 1950, além de outras que retratam anjos barrocos. Para conhecer o trabalho de Aldinho Mendonça, basta ir até o ateliê do artista. Fica na Rua Teixeira Leal, Edifício Embaixador, na Graça, em Salvador. O contato é (71) 8844-2212 ou aldomendonca@oi.com.br

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MÚSICA Inovação no pagode

Marcelo Santana

Não vale descer até o

CHÃO Foto divulgação

Em meio a uma crise existencial, o pagode baiano apresenta novos artistas que tentam desmistificar o caráter apelativo e puramente sexual das composições, com a inclusão de sonoridades modernas e tratando de temas mais próximos ao cotidiano dos jovens da periferia. tExto

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FABIO FRANCO


Inovação no pagode MÚSICA

Originalmente criado no Rio de Janeiro para designar o samba que acontecia no melhor estilo “fundo de quintal”, o pagode migrou para os bairros da periferia de Salvador, onde encontrou terreno fértil para se adaptar e despontar, na última década, como o ritmo preferido dos baianos. Talvez pela levada simples, recheada de percussividade, ou pelas composições do tipo “chiclete”, essa manifestação musical ocupou o espaço que antes era de domínio exclusivo da Axé Music. A nova onda se espalhou pela capital e elevou ao status de estrelas nacionais vários dos músicos que atuavam na divulgação do ritmo. Com o crescimento, o foco de atuação mudou: se na sua origem o pagode trazia uma levada mais romântica e social, atualmente é alvo constante de críticas pelo caráter ofensivo das composições, pelas coreografias com contexto sexual e, acima de tudo, por denegrir a imagem da mulher. O assunto é tão polêmico que foi alvo de investida de legisladores para o não financiamento, com dinheiro público, de shows com grupos musicais que tratam a mulher de maneira discriminatória. Nesse cenário conturbado, alguns nomes têm apostado na inovação para eliminar um pouco da descrença que envolve o pagode baiano, a exemplo da Mr. Bobby, banda que nasceu no bairro de Cajazeiras, sob a batuta do músico Bobby. Apesar de trabalhar com as raízes primordiais do pagode (sensualidade e bom humor), o grupo nutre uma preocupação com a sonoridade e, principalmente, com aquilo que está sendo transmitido para o público. “Costumo dizer que nós viemos para quebrar paradigmas. O pagode infelizmente não é tratado como merece e decidimos mostrar toda a sua riqueza. Criou-se uma cultura de copiar o que dá certo e as bandas começam a criar uma homogeneidade, mas infelizmente voltado para um lado que deprecia o ritmo. Nós somos essencialmente diferentes, pois buscamos fugir dessa mesmice”, alfineta.

« O pagode infelizmente não é tratado como merece e decidimos mostrar toda a sua riqueza. Criou-se uma cultura de copiar o que dá certo e as bandas começam a criar uma homogeneidade (...) Nós somos essencialmente diferentes, pois buscamos fugir dessa mesmice » BOBBY, VOCALISTA DA MR. BOBBY

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MÚSICA Inovação no pagode

Marcelo Santana

Sobre a incorporação de outros elementos no repertório, Bobby pontua que já havia realizado experimentações, mas ninguém tinha levado isso muito a sério. “Essa ideia é antiga, mas tornou-se mais nítida quando um amigo meu veio dos EUA. Tudo começou a criar corpo com a ajuda de Nilsinho Leão. Pesquisamos, criamos e tentamos aplicar num projeto antigo, mas não deu certo. Continuei estudando e resolvi criar a Mr. Bobby, assim a ideia deixou de ser uma ‘maluquice’ e se transformou numa realidade que vem dando certo”. Na linha de frente, Bobby divide os vocais com Nilo Ramos e com o DJOY Felipe, um DJ que comanda o som através de um joystick. “Quando qualquer pessoa escuta a palavra DJ, automaticamente pensa em um cara com pick-ups, mixer e notebook. Aí mora a surpresa, quando se deparam com um cara com um joystick. Meu irmão faz o papel de DJOY, controlando e fazendo montagens ao vivo nos nossos shows”, explica o vocalista.

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Pagode com orquestra Se a ideia é inovar, o trombonista Hugo San foi muito mais radical. Integrante da Orkestra Rumpilezz, que por si só já provocou uma reviravolta em toda a música baiana, o instrumentista resolveu pincelar seus conhecimentos em música clássica com a levada do pagodão. O resultado disso é a Sanbone Pagode Orquestra, projeto criado em 2009 com a participação de 25 músicos e que pretende popularizar a música erudita. “Nosso grande propósito é oferecer música de boa qualidade e despertar no público o gosto pela música erudita, utilizando o apelo essencialmente popular do pagode, enquanto gênero musical. Acreditamos que o pagode (Samba), é tão bom quanto as sinfonias, rondós, concertos, óperas, jazz e qualquer outra manifestação musical”. Hugo vê no pagode mais que um ritmo musical. O maestro defende que essa linguagem tornou-se o meio ideal para levar a música erudita para outros públicos. “Nossa sociedade, aquela que vive nos guetos, não tem a oportunidade de conviver e apreciar estas iniciativas e decidir se gosta de um ou de outro estilo. O leque de opções é muito limitado e a escolha acaba se tornando óbvia. Assim, considerando o pagode como elemento facilitador, por ser um dos produtos musicais mais consumidos pela faixa de público que se quer atingir (jovens em situação de vulnerabilidade social e restrição de conhecimento), criamos um cenário propício à ‘sedução’ desse público para o contato e consequente familiarização de uma música que, ao tempo em que não se afasta do seu universo habitual, traz elementos totalmente novos e qualitativamente superiores”. Com participações em festivais como Mercado Cultural e Origem da Terra, a banda já colhe os primeiros frutos: a composição ‘Sinfonia Primeira de Pagode’, foi premiada no Festival de Música da Educadora FM e no Festival Nacional de Música da Associação de Rádios Públicas do Brasil. “Após algumas apresentações, percebemos que o público responde de maneira positiva e entra na nossa viagem


Inovação no pagode MÚSICA

« Nosso grande propósito é oferecer música de boa qualidade e despertar no público o gosto pela música erudita, utilizando o apelo essencialmente popular do pagode, enquanto gênero musical » HUGO SAN, cRiaDoR da SaNBoNE PagoDE ORquEstRa

musical, assim como nós, que estamos em cima do palco. Existe uma sintonia entre orquestra e público que nos leva a crer que o nosso propósito está sendo plenamente atingido”. Sobre o fato de trabalhar prioritariamente com um estilo musical tão marcado pelas críticas, Hugo usa da sensibilidade artística para resgatar a verdadeira essência do pagode, que em sua opinião reside no “agrupamento de pessoas para fazer e ouvir boa música”. Para que essa formula dê o resultado previsto, o maestro se inspira em nomes como Villa Lobos e Arthur Moreira Lima, que também se utilizaram da cultura popular para difundir a música erudita nacional, e, acima de

tudo, defende uma mudança estrutural nas camadas sociais através de uma política educacional forte. “Acreditamos que a mudança só acontecerá através da educação e o nosso instrumento para isso é a música. É preciso que a base seja consistente. Queremos levar a nossa música também para aquelas pessoas, notadamente de camadas sociais mais baixas, para as quais o acesso ao conhecimento e à informação se restringe ao que a grande mídia impõe, formando um ciclo vicioso segundo o qual não se permite o alcance de um panorama mais amplo de informações e saberes a uma parte da população, que, por sua vez, vai progressivamente se afastando e se desinteressando por novos níveis de conhecimento, tornando-se reféns”, desabafa Hugo San.

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TURISMO Cairu

Baixo

ParaĂ­so Cultural no

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Cairu TURISMO

Sul

Único município arquipélago do Brasil e um dos mais antigos do país, Cairu é palco de ricas manifestações culturais, que o tornam historicamente singular. O Reisado, uma dança de origem portuguesa, é um dos destaques. tExto

PiEtRo RaÑa FOTOS

ACERVO PREFEITURA DE CAIRU

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TURISMO Cairu

Quando se fala em Cairu, muita gente pensa imediatamente em Morro de São Paulo. De fato, a ilha, que faz parte do município localizado há 308 quilômetros de Salvador, é um dos destinos mais lembrados por brasileiros e turistas de todo o mundo. Praias de águas cristalinas, uma vila movimentada com bares, barracas de bebidas, muita música, agito e paquera. Mas existem muito mais atrativos culturais espalhados pelo município. Cairu, que em Tupi Guarani quer dizer Casa do Sol, é um município-arquipélago fluvial, composto por 36 ilhas e situado na bacia do Rio Una, que possui construções históricas como a Igreja e o Convento de Santo Antônio – o mais importante monumento arquitetônico da Ordem Franciscana, um dos primeiros do Brasil e marco do Barroco brasileiro – datados de 1654; a Igreja de Nossa Senhora da Luz, com imagens sacras e seus altares de cedro em estilo barroco dos séculos XVII e XVIII. Sem falar nas três bicas da Fonte Grande, tombadas pelo Patrimônio Histórico em 1943. Além de edificações antigas, que a torna especialmente única, a cidade respira cultura nas manifestações de rua. Reinado, Chegança, Congos, Barquinha, Marujada, Dendoca... esses são apenas alguns dos grupos de arte popular que

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alimentam o folclore local e preservam tradições seculares, fazendo bonito diante de baianos, brasileiros e estrangeiros. Outro grande destaque é a Filarmônica do Centro Popular Cairuense, que contabiliza 100 anos de história. Cercada por manguezais, a cidade reserva bons pontos de mergulho, em especial nas Pedras da Benedita, Tatiba e Tatimirim, localizadas, respectivamente, a cinco, sete e três milhas da costa. Com extensão de 452,9 quilômetros quadrados, o município tem população aproximada de 15 mil habitantes (Senso IBGE 2010), número que chega a triplicar na alta estação. A atividade econômica da localidade está baseada na pesca, na agricultura e, principalmente, no turismo. Para acolher seus visitantes, possui uma infraestrutura hoteleira com cerca de 300 hotéis e pousadas, e mais de 20 mil leitos.

Festejos com conotação religiosa resgatam tradições de séculos passados.


Cairu TURISMO

Além de edificações antigas, que a torna especialmente única, a cidade respira cultura nas manifestações de rua.

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TURISMO Cairu

Reisado rei.sa.do sm (reis+ado) Dança popular profano-religiosa de origem portuguesa, com que se comemora a véspera e o Dia de Reis. Também conhecido como Folia de Reis, o festejo instalou-se no Brasil no período colonial. Atualmente é dançado em qualquer época do ano e os temas variam de acordo com o local e a época em que são encenados. Amor, guerra e religião são os mais comuns. O Reisado se compõe de várias partes e tem diversos personagens como o rei, o mestre, contramestre, figuras e moleques. Os instrumentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro.

Reisado de São Benedito Uma celebração da cultura Todos os anos, o dia 09 de janeiro é dedicado ao Reisado de São Benedito, festa em louvor ao padroeiro da cidade, que é uma tradição desde os tempos do Brasil Império. Rica em sincretismo religioso, onde gente simples vira rei, com vestimentas abundantemente adornadas com miçangas e lantejoulas, e os negros relembram através da dança seus antepassados, simulando o combate entre mouros e cristãos. Para conservar a tradição centenária, a administração municipal de Cairu prepara sempre uma programação especial para o Reisado, que começa com uma missa solene em louvor ao padroeiro na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. A celebração atrai moradores e turistas em agradecimento aos feitos do santo protetor. Além da programação reli-

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giosa, a festa conta também com a apresentação de diversos grupos folclóricos da região, animando as ruas e praças da cidade, gratuitamente. Depois da cerimônia eucarística, os grupos de cultura popular Reinado, Chegança, Congos, Barquinha, Marujada e Dendoca desfilam pelas ruas da cidade, mostrando todo o seu colorido e musicalidade, seguidos pela filarmônica. Durante a celebração do Reisado, outras manifestações culturais da região, como a Fanfarra de Cairu, grupos de capoeira e puxada de rede Samba Nossa Senhora da Penha, o Samba Quilombola, o Zambiapunga e o Boi Malhado também abrilhantam a festa. O ponto alto da programação é a tradicional descida da bandeira de São Benedito, que ocorre na praça central da cidade, em frente ao centenário Convento de Santo Antônio.



PROFISSÃO

PROTAGONISTAS DO

SUCESSO tExto

PiEtRo RaÑa FOTOS

JOSÉ SILVA E ARQUIVO PESSOAL JEFFERSON RASTA

Os roadies se valorizaram e provaram seu profissionalismo, mostrando que são muito mais do que meros carregadores de equipamentos. Esses profissionais atualmente passeiam por diferentes funções e são considerados verdadeiros magos que ajustam as engrenagens para que os grandes artistas se apresentem ao público. Sabe aquele show perfeito que você assistiu, daquele artista que você é fã?! E aquela peça de teatro do tipo “megaprodução” que esteve em cartaz e foi linda?! Sabe quem estava lá e, mesmo sendo tudo impecável, você não percebeu? Pois é... o roadie. Ele é o personagem que quase sempre passa despercebido, mas é indispensável para que os aplausos venham no final de qualquer espetáculo artístico. O nome é meio estranho, mas se justifica bem. A expressão vem do inglês Road, que quer dizer estrada, associada à terminação diminutiva “ie”. Seria, ao pé da letra, algo como “estradinha”. É uma apologia ao fato de os roadies estarem sempre

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nas estradas, durantes as turnês de grandes artistas nos Estados Unidos e na Europa, nas décadas passadas. Nesse tempo, a função primordial era carregar equipamentos e montar toda a aparelhagem nos palcos. O tempo passou e o sentido mudou... “Hoje o roadie pode e deve ser responsável por tudo! Pode chegar a fazer a Direção de Palco”, explica Jefferson Rasta, que hoje é roadie do grupo Cabeça de Nós Todos, mas que na bagagem tem 14 participações Festival de Verão, 16 no PercPan e apresentações ao lado de nomes nacionais e internacionais, como Gilberto Gil. “O roadie é o primei-


PROFISSÃO

ro a chegar e o último que volta para casa. Ele se prepara para o show, administra o equipamento, segue o mapa, aguarda o horário do show e depois desmonta tudo e deixa no estúdio”.

Rotina pesada O ponto de vista é ratificado por outro grande personagem dessa história, o roadie Antônio Carlos dos Santos, mais conhecido como Cobra. “Um roadie tem que ter habilidades específicas. Precisa saber afinar e tocar os instrumentos, para a passagem de som; precisa saber como funcionam os equipamentos; saber que tipo de microfone é melhor para cada instrumento e por aí vai. É um trabalho que exige muita atenção, muita inteligência e muita tranquilidade”. Há 14 anos na profissão, Cobra conta um pouco de sua história. “Meu irmão era percussionista da banda Tiete Vip´s e na época ele sempre contava sobre a rotina. Eu, muito curio-

so, resolvi acompanhá-lo e fiquei encantado com o dia a dia. Resolvi então ser um roadie. Pedi demissão da empresa que trabalhava e me joguei”, explica Cobra, que há quatro anos é roadie da banda Seu Maxixe, chamando a atenção para um fato que nem todos atentam. “O trabalho do roadie não é importante apenas no momento do show, mas em todos os momentos de uma banda. Temos que estar sempre nos ensaios e também em apresentações como rádio, tevê e também nas famosas canjas”, conta. No Brasil, a profissão tem apenas 50 anos, mas definitivamente cresceu. Dos grandes grupos até artistas de barzinho, hoje todos contam com pelo menos um roadie para auxiliar e viabilizar as apresentações. E para quem quer seguir a área, já existem cursos profissionalizantes. A dica fundamental, segundo Rasta, é simples: “batalhe, seja pontual e lembre-se de tudo (supermemória)”.

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CAPA Teatro de bonecos

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Teatro de bonecos CAPA

Técnica apurada e muita dedicação são elementos imprescindíveis para quem trabalha com a manipulação de bonecos no teatro. Atuando para a plateia através de um personagem cênico, quem domina essa arte precisa ter muita sensibilidade no trabalho corporal e uma mente bastante criativa. tExto

FABio FRaNco

Rejane Carneiro

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CAPA Teatro de bonecos

« Trabalhamos com bonecos de tamanhos variados e construídos de maneiras diferentes. Desde minúsculas figuras dentro de caixas cênicas até bonecos em escala humana» OLGA GÓMEZ DiREtoRa E FuNDaDoRa Da Cia A RoDa Rejane Carneiro

“Comecei a construir bonecos quando cheguei ao Brasil, há 26 anos. Um amigo tinha um ateliê no Forte de Santo Antônio e me emprestava as ferramentas. Depois pensei em fazer com eles uma peça de teatro e escolhi um cordel que me pareceu cheio de imagens. Foi um processo lento que nunca teria acontecido se não tivesse encontrado as pessoas certas para realizar o trabalho”. As palavras definem bem as inquietações artísticas de Olga Gómez, diretora e fundadora da Cia. A Roda, grupo baiano que trabalha desde 1997 com o teatro de bonecos. Nascida na Argentina, Olga fez do ofício um prazer diário. Das suas mãos surgem pássaros, homens, insetos, flores e um sem-número de personagens que aguçam a imaginação de jovens e adultos durante os espetáculos. “Trabalhamos com bonecos de tamanhos variados e construídos de maneiras diferentes. Desde minúsculas figuras dentro de caixas cênicas até bonecos em escala humana”. Nesses 15 anos de formação, a companhia acumulou prêmios, inclusive o de ‘Melhor Espetáculo Infantil’ como a montagem "O Pássaro do Sol", em 2010, no Prêmio Braskem de Teatro. “O grupo surgiu a partir do encontro de quatro artistas visuais – apaixonados por animação – que queriam fazer teatro de bonecos. Atualmente Olga e eu estamos à frente das ações da companhia que, além da pesquisa tenta difundir o teatro de animação de bonecos por meio da produção de espetáculos e também por meio de atividades de formação como oficinas, estágios e laboratórios”, conta Marcus Sampaio, integrante da Cia. A Roda. Outra representante baiana, igualmente premiada – acaba de ser escolhida como o Melhor Espetáculo Infantil de 2012, a peça "As Rimas de Catarina", também se debruça pelas inúmeras possibilidades artísticas da manipulação de marionetes no palco. Sob a batuta de Bira Freitas e Jorge Baía, da Cia. Rapsódia de Teatro, surge o boneco Disposto, um verdadeiro encrenqueiro, que dialoga durante todo o tempo com os atores, numa mescla de técnicas circenses e do Clown. “No espetáculo quem manipula o boneco Bené, que é um artista de circo chamado Disposto, é o ator Jorge Baía utilizando a técnica do ventriloquismo. O boneRejane Carneiro

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Teatro de bonecos CAPA

co sempre desperta um encanto e essa característica fica evidenciada especialmente por ser uma peça infanto-juvenil. A forma como o boneco foi inserido na estória pela dramaturga Ilma Nascimento, e como os outros personagens se relacionam com ele, é muito harmoniosa. Então o público recebe muito bem”, diz o ator Bira Freitas. Sem papas na língua, Bira é categórico ao afirmar que a cena teatral baiana ainda carece, e muito, de investimentos e divulgação. Se o cenário fosse outro, as diversas formas de fazer teatro, incluído o teatro de bonecos, apareceriam de forma mais pungente. “No nosso caso, o Prêmio Braskem possibilitou novas temporadas já que o espetáculo foi montado de forma independente, sem apoio financeiro de empresas ou órgãos oficiais. E foi muito bom observar o olhar desta comissão para o teatro infantil, pois ‘As Rimas de Catarina’ recebeu indicação em cinco categorias do Prêmio (texto, direção, espetáculo, figurino e ator) a mesma quantidade do espetáculo adulto com maior número de indicações”.

Alessandra Nohvais

« O boneco sempre desperta um encanto e essa característica fica evidenciada especialmente por ser uma peça infanto-juvenil » BIRA FREITAS, atoR Da cia RaPsóDia

As primeiras impressões sobre a arte de manipular marionetes datam de 3.000 anos atrás. Essa expressão artística se desenvolveu principalmente no Oriente e na Europa, onde se encontram alguns dos importantes tipos de teatro de bonecos do mundo. Em território americano, as primeiras aparições dessa manifestação ocorreram no século XVI, no período das Grandes Navegações. No Brasil, os primeiros exemplares apareceram na época colonial, baseadas nos bonecos de luva por-

tugueses e espanhóis. Pouco tempo depois chegaram os primeiros modelos alemães. Essa mescla de diferentes orientações teatrais fez nascer, no Nordeste, a versão brasileira dessa arte: o mamulengo – que inclusive serviu de base para um espetáculo recente da Cia. Rapsódia de Teatro, intitulado a ‘A árvore dos Mamulengos’. No caso da Cia. A Roda, essa integração de culturas também se torna evidente. “O nosso último espetáculo ‘O Pássaro do Sol’, veio satisfazer uma antiga vontade de pesquisar o universo do teatro de sombras, que é de origem asiática. Assim voltamos os olhares para esta estética de comunicação indireta, onde nem sequer é o objeto que é mostrado ao público, senão um fenômeno, sua sombra”, pontua Olga.

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CAPA Teatro de bonecos

Oficinas promovem integração de jovens com o universo da criação de bonecos. Rejane Carneiro

Arte social A Cia. A Roda também realiza um trabalho de desenvolvimento cultural com crianças de escolas públicas através do projeto Caminhos da Arte, promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Salvador. A iniciativa, que no primeiro semestre de 2012 chegou a aproximadamente 10 mil estudantes, promove a integração entre o público potencial e as artes cênicas, abordando uma linguagem nova, em se tratando de teatro de bonecos, e ao mesmo tempo comum para a garotada. “Essa ação é bem mais ampla do que parece porque insere as crianças em um contexto que muitas vezes elas jamais experimentariam. E não falo apenas de quando a peça começa, mas desde o momento em que eles se sentam nas poltronas vermelhas da sala de espetáculo e um universo completamente novo se descor-

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tina para eles. O resultado foi tão bom que recebemos um novo convite para continuar apresentando ‘O Pássaro do Sol’ no próximo mês de setembro, desta vez no Teatro SESC-SENAC Pelourinho”, revela, entre sorrisos, Marcus. Outro projeto que merece comentários são as oficinas de manipulação e criação de bonecos. A última aconteceu entre março e abril deste ano, com


Rejane Carneiro

Diversidade de técnicas permeia trabalho de companhias baianas. Marcio Lima

a presença de 25 pessoas que participaram gratuitamente de aulas com bonecos de madeira originais que estiveram nos espetáculos da Cia. A Roda. “No momento não estamos realizando as oficinas. Mas gostaria de realizar uma ação onde o resultado fosse a construção de um processo de trabalho coletivo, que reunisse dentre os participantes, diferentes capacidades e finalizasse com apresentações públicas. Isto demanda um período de trabalho maior e um esforço por entender o que significa animar bonecos ou figuras de sombra”, idealiza Olga Gómez.


OPINIÃO

Reconhecendo a cultura baiana Sergio Nunes (Seginho) Vocalista da banda Adão Negro e Bacharel em Letras pela Universidade Federal da Bahia @BandaAdaoNegro Foto divulgação

O filósofo Friederich Von Schiller (1759–1805) proferiu a seguinte frase: “Para amar a sabedoria, você já tem que ser sábio”. Uma analogia com esta máxima pode servir para responder o que está faltando para o baiano ter acesso à diversidade cultural. Para valorizar a cultura, você tem que ser culto em alguma extensão. Imaginemos um cidadão comum que não teve acesso a uma sólida formação acadêmica e que está sujeito a uma extensa e intensa publicidade que não considera a ética como um critério. O que ele (a) verá na televisão aberta? Big Brother? Novela? Não tendo igualmente recursos também para comprar CDs ou DVDs de diversos artistas, ele (a), consequentemente, ouve o que se toca nas rádios e demais instâncias publicitárias do país. Que estilo de música ouvirá com assustadora regularidade? Pagode? Sertanejo? Se ele (a) olha para a sua comunidade e todos, ou quase todos, valorizam o que se vê e se ouve nos veículos midiáticos, seu juízo, em termos do estilo artístico, que é efetivamente valorizado, não terá parâmetros para projetar um desejo de observar as alternativas e desfrutar de uma extensa produção cultural já existente no nosso estado. Ele (a) não irá ao TCA quando houver um espetáculo de apenas R$1,00. Mas irá ao camarote no carnaval por R$ 300,00 ou mais. Ele (a) pagará a perder de vista. Mas fará isso amarradão(ona) e feliz da vida. Com o tempo, fixa-se nas cabeças desses pobres, mas felizes cidadãos, a noção de que tudo o que vai para a TV, para a rádio e demais instâncias publicitárias é bom por definição. Portanto, o que não se vê, nem se ouve, não existe ou é menor e não vale tanto quanto. Vejam, por exemplo, os anúncios atuais de shows de música na Bahia: quase invariavelmente, a expressão “open bar” figura como protagonista, com os ca-

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racteres maiores do que os nomes dos artistas. O que mostra que as pessoas se relacionam cada vez menos com o resultado estético produzido pelo artista. Outro aspecto novo é o resultado do impacto das novas tecnologias na fruição estética da música per si. Com a chegada do áudio digital, as formas de ouvir música mudaram, à medida que rapidamente extinguia-se a empresa fonográfica e, com ela, um vultoso investimento de gravadoras, causando devastadoras consequências na circulação do capital na cadeia de atividades em torno da música, desde o processo de sua criação até as formas do consumidor pagar pelo produto música. Com isso, apelando para o ditado que diz “farinha pouca, meu pirão primeiro”, vemos que o decimal investimento restante ficou reservado a uma plutocracia artística, dificultando ainda mais a sobrevivência daqueles que não tocam os estilos vigentes do mercado. Do ponto de vista do público, tomo o comentário de um amigo, lembrando como nos reuníamos para apenas ouvir (sem a experiência visual, hoje quase indissociável) o último lançamento daquele artista de quem gostávamos, enquanto degustávamos o prazer sensorial de tocar, ver e rever a capa e o encarte do álbum, num processo (ou ritual) de reflexão e compartilhamento de ideias... Imersos em um processo de introspecção tão necessário para o crescimento e desenvolvimento de nós mesmos enquanto GENTE. Encaremos os fatos: isso não existe mais. Agora, completamente imbuído de grande cinismo, apresento dois finais alternativos para esse texto. O primeiro é: o que falta para ter acesso à diversidade cultural na Bahia é o que sempre faltou ao povo brasileiro: educação pública de qualidade, o senso crítico decorrente de tal processo e uma certa dose de vontade de fazê-lo. O segundo é: tudo está em seu lugar, graças a DEUS. Façam as suas apostas...


CIDADANIA

TREINANDO PARA A

Projetos sociais desenvolvidos na capital utilizam o esporte como mecanismo para despertar em jovens carentes o interesse em educação e novas possibilidades profissionais. Mesmo com poucos recursos, as ações conseguem formar cidadãos e verdadeiros campeões, que também passam adiante todo o conhecimento adquirido ao longo dos anos.

VIDA

tExto

FABIO FRANCO

Durante as aulas, a turma também recebe noções Amante das ondas desde a infância, o surfista João Cerqueira – prade educação ambiental e cidadania. Para participar ticante da modalidade há mais de 20 anos, foi buscar na garotada do projeto é necessário estar matriculado na escola que ficava ociosa pela orla de Salvador a inspiração para a criação e frequentar regularmente as aulas. “Sou muito rido projeto “Ondina Surf Show”. Com pouco dinheiro, mas com boa goroso com o lance da escola. Quem não estiver vontade de sobra, João dá aulas para um grupo de aproximadamente estudando não pode participar das atividades 12 jovens, todos os fins de semana. “Já atendemos mais de 300 crianças. do projeto”, sentencia João. Mas o que tira Apesar da grande procura, precisei limitar o número de alunos para dar mesmo o sono do surfista é a falta de investiuma qualidade maior ao trabalho”. mento do poder público. “O que impede a liDo início despretensioso, o Ondina Surf Show conseguiu projetar grangação com algum órgão público é a falta de des valores no esporte. “O projeto começou com três garotos que estavam de interesse deles com projetos de trabalho bobeira na praia tentando surfar com um pedaço de prancha. Quando oferesócio-educativo. Meu trabalho é totalci uma prancha usada, um deles pediu para que eu os ensinasse as técnicas. mente voluntário e bastante acolhedor Tempos depois, um desses moleques (Adilsinho), participou da seletiva Billabong para as crianças, mesmo com as difiMundial Amador de Surf, em 2005. Fiquei muito feliz, porque naquela época eu culdades encontradas”, desabafa. não pensava em trabalhar com o social, foi tudo meio que espontâneo”, conta.

Acervo Ondina Surf Show

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CIDADANIA

Cidadania no ringue Trajetória semelhante teve o lutador Uanderson Carvalho, hoje com 26 anos, que enxergou no Kickboxing a chance de oferecer um destino melhor a jovens e crianças carentes de Salvador. Com apenas 16 anos, deu início a primeira turma do que hoje é o projeto Operação kickboxing, iniciativa desenvolvida para inclusão social de crianças, adolescentes e adultos moradores dos bairros da Liberdade, Barbalho e Mata Escura. “Na época, com 16 anos, ensinava apenas para que meu professor percebesse meu desempenho. Meu amadurecimento foi rápido e logo me vi em situações adversas e conflitos. Ainda muito jovem solucionava problemas familiares de alunos, envolvimento com drogas, dificuldades na escola e até abuso sexual. Todos esses fatores influenciaram na forma de aplicar meus métodos”, revela o instrutor. Uanderson conta que teve que vencer vários obstáculos para alcançar bons resultados no projeto, a começar pelo preconceito em torno do esporte. “Era complicado lidar com essa situação, agravada pelo nome da minha equipe (Associação Desportiva Pitbull). Mas com o passar dos anos, nosso trabalho se tornou referência e hoje somos convidados para ensinar em escolas e espaços sociais. Atualmente a arte marcial não é foco do meu trabalho, e sim um instrumento, pois é muito difícil, aqui na Bahia, o professor investir no alto rendimento de um atleta. O retorno, principalmente para o atleta, nem sempre acontece. Não há apoio nem patrocínio”. Reunindo seus alunos sempre nos fins de semana em escolas públicas dos bairros de atuação do projeto, o professor dedica suas aulas ao ensinamento de dois estilos de luta (Light Contact e Full Contact), contando com o acompanhamento de instrutores e professores

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Acervo Ondina Surf Show

« Alguns projetos eliminam alunos que não possuem boas notas, nem bom histórico de conduta. É exatamente esse público que queremos, pois se não dermos oportunidade de inserção desses jovens num contexto social, quem o fará? » UANDERSON CARVALHO, LUTADOR E INSTRUTOR DE KICKBOXING

formados no Operação Kickboxing. “Meu maior objetivo sempre foi favorecer a inclusão social de pessoas carentes através do esporte, desenvolvendo, sobretudo, a conscientização dos jovens praticantes sobre o seu papel enquanto cidadão. Alguns projetos eliminam alunos que não possuem boas notas, nem bom histórico de conduta. É exatamente esse público que queremos, pois se não dermos oportunidade de inserção desses jovens num contexto social, quem o fará?”, questiona o professor.


CIDADANIA

« o jogo em time possui muitas conotações educativas: ensina a considerar o outro um recurso, além de criar senso de solidariedade e de competição » PAOLA CIGARINI cooRDENaDoRa gERal Do cENtRo

PARA AJUDAR

EDUCATIVO JOÃO PAULO II

Centro Educativo João Paulo II Rua 1º de novembro s/n - Plataforma Tel.: (71) 3398-0382 Operação Kick Boking (71) 8892-7240 ou 8146-4621 ansinhopitbull@hotmail.com Ondina Surf Show (71) 9116-2086 ou 9997-3217 surfshow@pop.com.br

Acervo Centro Educativo João Paulo II

Base na educação Se falta apoio de órgãos públicos locais para que projetos baseados no esporte dêem certo, a situação se inverte quando o incentivo vem de fora do país. No bairro de Plataforma funciona um projeto que mescla reforço escolar e atividades esportivas, tudo isso com apoio da entidade italiana Fondazione Umano Progresso. O Centro Educativo João Paulo II atende (atualmente) cerca de 180 alunos, da 1ª a 6ª série, complementando o ensino da escola regular (pública, na maioria das vezes) com 3 horas de aula por dia, além de desenvolver atividades semanais com arte, esporte e informática. “As atividades desportivas complementam o reforço escolar, que é o nosso foco principal. Estaremos dando um enfoque mais forte na área esportiva em outubro. Estamos criando três times de futebol masculino (cada uma de faixa de idade diferente) e três times de handball feminino (seguindo o mesmo critério da idade). E num segundo momento, facilitaremos a participação em torneios escolares na cidade de Salvador. Hoje as atividades de esporte acontecem na forma de torneios de futebol internos, sem o apoio de profissional qualificado”, revela Paola Cigarini, coordenadora geral do centro. A ideia de criar uma atividade exclusivamente esportiva nasceu do alto envolvimento dos alunos nas ações propostas pelos professores no horário do recreio. “Entendemos que o jogo em time possui muitas conotações educativas: ensina a considerar o outro um recurso, além de criar senso de solidariedade e de competição.

Durante os jogos, agrupamos alunos de faixas etárias diferentes, justamente para ensiná-los a respeitar os menores e para aprender a lidar com todos”. Assim como tantas outras iniciativas, o Centro Educativo João Paulo II também carece de recursos financeiros para se manter em funcionamento. Paola comenta que os recursos ofertados dependem de projetos, que são breves e não continuativos. “Além da dificuldade orçamentária, também é complicado conseguir a participação da sociedade civil, pois existe uma grande distância entre as realidades da cidade de Salvador e nem sempre é fácil criar pontes. Sem falar que achar profissionais que topam participar de trabalhos sociais não é tarefa das mais fáceis, visto que esse tipo de iniciativa exige muita dedicação pessoal”.

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MUSEU

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MUSEU

religio sidade EM EXPOSIÇÃO tExto

FABio FRaNco

Sérgio Benutti

As imagens de deuses mitológicos, quase sempre celestiais, há tempos povoam a imaginação dos artistas, especialmente dos escultores e pintores. O apogeu desse culto ao sagrado aconteceu séculos atrás, mas esse legado não foi esquecido e hoje, peças baseadas na religião cristã, tais como oratórios, santos e crucifixos, se integraram aos acervos de importantes museus baianos. O privilégio de ser a primeira capital brasileira deu a Salvador mais que desenvolvimento social e econômico. Ainda no período colonial, a cidade recebeu milhares de peças de arte, oriundas do continente europeu, cunhadas com base na estética religiosa, evidenciando o cuidado com as formas e a nobreza dos materiais utilizados. Essa migração cultural fez efervescer entre os artistas locais o desejo de criar seguindo esse conceito. Como resultado, entre os séculos XVI e XVII, a produção cultural-religiosa baiana alcançou crescimento expressivo entre os artistas sacros e membros do clero, tais como beneditinos, freiras e monges. “De maneira geral, as peças de arte sacra produzidas no Brasil seguiram os mesmos padrões estéticos adotados na Europa, fato que se justifica pelo processo de colonização e pelas relações comerciais que foram estabelecidas na época, assim como, pela implantação do Catolicismo como religião oficial do Brasil. Na Regência de D. João VI, foram criadas escolas de arte e ofícios na Colônia, as primeiras instaladas no Rio de Janeiro e na Bahia, onde artistas franceses ministravam aulas para a elite da sociedade colonial e trabalhavam, por encomenda, para as famílias abastadas”, comenta a museóloga e coordenadora do Solar Ferrão, Osvaldina Cézar Soares.

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MUSEU

Matheus Pereira

Séculos depois, tais peças deixaram o ambiente restritamente religioso e passaram a compor o acervo de vários museus locais, espalhados por todo o estado da Bahia. Na capital, o principal expoente dessa vertente artística é o Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia (MAS/UFBA), localizado entre as ruas com calçamento de pedra do bairro do Dois de Julho. O próprio edifício onde ficam expostas as peças já revela a riqueza dos elementos religiosos em sua composição, que tem características renascentistas: o museu está instalado no Convento de Santa Teresa D'Ávila, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e declarado “Patrimônio da Humanidade” pela UNESCO, em 1985. Grande parte dos exemplares expostos no museu pertence à Arquidiocese de São Salvador. Datadas dos séculos XVI, XVII, XVIII e parte do século XIX, as obras apresentam características do estilo neoclássico e Barroco. “O MAS/UFBA encontra-se consolidado e reconhecido como um dos mais importantes museus do gênero nas Américas, não somente pela sua rara e preciosa coleção de Arte Sacra Cristã, como também por ela estar abrigada em um dos mais destacados conjuntos arquitetônicos seiscentistas do país”, pontua a coordenadora do Setor de Exposição do MAS, Edjane Cristina Rodrigues da Silva. O Museu de Arte Sacra reúne aproximadamente 5.000 peças, apresentadas em coleções que estão sob sua guarda pelo regime jurídico de comodato, pertencentes a Igrejas e Irmandades Religiosas de todo o Estado. Composto por peças representativas dos séculos XVI ao XX, o acervo está dividido em categorias: Imaginária, Pintura, Ourivesaria, Mobiliário, Têxteis e Azulejaria, dentre outros.

Longe da capital

Sérgio Benutti

Fora de Salvador, outros museus também atuam de maneira a difundir essa tipologia de arte. Na cidade de Cachoeira, o visitante pode conhecer o Museu de Arte Sacra do Recôncavo ou da Ordem Terceira do Carmo, com acervo composto por obras com clara influência oriental. No litoral sul da Bahia está o Museu de Arte Sacra de Porto Seguro, instalado na Igreja de Nossa Senhora de Misericórdia, construída no século XVI, e o Museu de Arte Sacra São Jorge dos Ilhéus, situada na Igreja Matriz de São Jorge, uma das mais antigas do país e tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC), onde é possível vislumbrar uma imagem secular de São Jorge, além de documentos e artefatos dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Sérgio Benutti

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MUSEU

Matheus Pereira

Outro importante santuário de preservação das artes sacras é o museu Abelardo Rodrigues, situado no Pelourinho. O acervo – organizado pelo advogado pernambucano Abelardo Rodrigues, totalizando 808 peças, entre imaginária, oratórios, telas, crucifixos, entre outros, todos de origem brasileira – foi alvo de disputa judicial pelos estados da Bahia e Pernambuco, após a morte de seu fundador. De acordo com documentos da época, o Governo da Bahia fez uma proposta de compra das peças e a concretizou junto à família de Abelardo. Contudo, o então governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros, determinou, por meio de decreto, que as peças deveriam ser desapropriadas. O embate chegou à justiça e somente em 1975 foi decidido que todo o acervo deveria ficar em terras baianas. “O Museu Abelardo Rodrigues, assim como as demais coleções abrigadas no Solar Ferrão (Arte Africana Claudio Masella, Arte Popular, Instrumentos Musicais Tradicionais Emília Biancardi) é bastante frequentado pelo público e, pelo caráter didático que apresenta, viabiliza a realização de atividades educativas com as escolas do Centro Histórico do Pelourinho e de outras localidades”, avalia Osvaldina Soares.

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MODA

BLACK POWER na cabeça tExto FOTOs

MAIARA BONFIM MARCELO SANTANA

“Quando a gente coloca um penteado afro, a gente se transforma”, assim a trançadeira Luzinete de Jesus, ou melhor, Valda – que não é seu nome de batismo, mas foi o desejado por sua mãe – revela o “Black Power” ou o poder do cabelo afro na afirmação da identidade africana e valorização da autoestima. “Agora até na novela estão colocando. Também os cantores, vários músicos estão usando. Mas ainda tem gente com preconceito, metida a dondoca, que acha que trança/dread estraga o cabelo, que fica fedendo... Quem não lava que fica fedendo. Isso tudo é história”, dispara Valda. Há 12 anos nesse ofício, a trançadeira Valda conta que não teve professor. “Ninguém quer ensinar nada a ninguém. Eu aprendi sozinha, olhando os outros e fazendo na minha filha. Naquela época eu não tinha condição de pagar um curso”, relata sem pudores. Atualmente, ela arruma uns sete cabelos por dia e conta que em época de festa, como o carnaval, fica uma fila esperando. “Aí você tem que ser rápida porque é a oportunidade de ganhar mais dinheiro”, explica a trançadeira, que trabalha quase todos os dias da semana, das nove horas da manhã até quase dez da noite, no Pelourinho.

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SALÃO YALOBÊ Rua da Paciência, 223 Tel: (71) 3321-5301

“Aqui a gente vai trançando, olhando quem passa, admirando a paisagem. Meus clientes gostam”, revela. E em seguida afirma: “É preciso conquistar o cliente. Se eu pudesse, botava um cafezinho e fechava para ninguém tomar sol”. Para fazer um tererê (trancinha decorada com fios coloridos e miçanga), Valda cobra R$10. Os penteados mais elaborados chegam a custar R$200. Já para fazer um dread, ela conta: “Tem gente que cobra até R$500”. “Eu achava que por ser Pelourinho seria mais caro. Mas estava errado. E ela ainda trança bem melhor”, justifica Nadson Conceição que, há mais de um ano, sai de Simões Filho para vir arrumar o cabelo com Valda.

Livre e linda Aos dez anos de idade, Viviane Carvalho começou a alisar o cabelo. Entre as justificativas estão a facilidade em pentear as madeixas e a ditadura da moda que aproxima o conceito de belo ao padrão branco. “Tinha a necessidade adolescente de me afirmar na sociedade”, relembra a fisioterapeuta, que atualmente trabalha com estética. Nesse meio tempo, ela já fez de tudo um pouco: permanente afro, tranças com fibra, tintura, relaxamento com guanidina, escova inteligente e progressiva. “Difícil mesmo é dizer o que eu nunca fiz!”, brinca Viviane. Durante 13 anos, esteve dependente de salões de beleza e fazia escova e chapinha todos os fins de semana.


MODA

DREAD amarrado (com cabelo natural ou sintético) e original (com o próprio cabelo). Podem ser feitos com agulha de crochê ou cera. Ainda podem ser usados fios de lã para decorar. TRANÇAS Trançado solto, Trançado camaleão (vários desenhos diferentes, rente à raiz) e Tiara (mais rápido de fazer).

Vendo o desgaste causado pelos processos químicos e diante de uma necessidade de mudança, Viviane radicalizou. “Sempre dizia que quando terminasse a faculdade iria cortar meu cabelo, deixar natural, mudar mesmo. E assim eu fiz”. E acrescenta: “Me sinto quebrando regras. Sou mulher, negra, fisioterapeuta e de cabelos cacheados. Tenho maturidade e personalidade suficientes para ser ‘diferente’”. Hoje, aos 25 anos, ela está livre da química e vive seu melhor momento. “Meu cabelo mostra exatamente como me sinto, porque ter uma beleza natural encanta, fascina e ilumina!”.

Rasta, não. Meu cabelo é enrolado! Jean Santos, 30 anos, pedagogo, não corta o cabelo há mais de sete anos, mas não gosta de ser chamado de rasta. “A palavra rasta remete ao movimento Rastafári que surgiu na Jamaica em meados da década de 1920. Eles tinham crenças e ideologias próprias. Eu respeito a singularidade deste povo, mas penso que aqui nós temos cabelo enrolado ou trançado”, defende seu ponto de vista. O pedagogo se queixa que muitas pessoas fazem associações com os estereótipos que são difundidos e falam sempre dos mesmos temas na hora de puxar uma conversa. “Não sou obrigado a usar sandália de couro, curtir reggae, frequentar terreiros ou fumar. As pessoas acham que eu sou capoeirista, cantor, dançarino, percursionista ou grafiteiro”, pontua. Jean conta que fica reflexivo quando as pessoas o ‘idealizam’. “Não é porque sou negro e uso meu cabelo assim que estou limitado a ter uma dessas profissões. Respeito, gosto e curto o cenário artístico baiano, mas uma parte da humanidade vê isso como um produto folclórico da Bahia. Eu tenho uma identidade, me reconheço como baiano, soteropolitano, negro e morador de uma localidade periférica. Não sou um folclórico”, arremata.

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ENTREVISTA Arquivo público

GUARDIÃO DO PATRIMÔNIO DOCUMENTAL DA

BAHIA tExto

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MAIARA BONFIM FOTOS

aRcERVo APB

Em 16 de janeiro de 1890, no alvorecer da instalação do regime republicano no Brasil, o então governador, Manoel Victorino Pereira, criou o Arquivo Público da Bahia (APB). Tinha como finalidade primeira “[...] recolherem-se, quanto antes, em certo e determinado lugar todos os papéis e documentos históricos, administrativos, judiciários, e legislativos deste Estado, disseminados nos diversos arquivos públicos das diferentes repartições [...]”. Atualmente, o APB ocupa a posição de segunda mais importante instituição arquivística do Brasil. Maria Teresa de Britto Matos, doutora em Educação e especialista em Arquivologia, que dirige, há cinco anos, o Arquivo Público da Bahia, é quem fala a Plano B sobre o órgão.


Arquivo público ENTREVISTA

Em termos gerais, qual a principal importância do APB? Desde 1890, o Arquivo Público da Bahia é o guardião do patrimônio documental da Bahia. Ao longo desses 122 anos foram integrados acervos públicos (dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo) e privados. São documentos raros, manuscritos originais, produzidos à época do Brasil Colonial, quando Salvador foi sede do Governo Geral do Estado do Brasil (1549-1763). A condição de capital aliada à localização geográfica estratégica fez da Cidade do Salvador, também, a capital do Atlântico Sul, para onde convergiam documentos oficiais provenientes da Coroa Portuguesa.

patrimônio documental custodiado pelo Arquivo Público da Bahia. Em face dos seus significados, o Ministério da Cultura, reconheceu a inscrição dos mesmos no Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO.

O Arquivo Público da Bahia possui título de segunda mais importante instituição arquivística do Brasil, o que isso significa? Isso acontece em razão de custodiar um acervo documental – 25 km aproximadamente – de valor inestimável, sobretudo aquele produzido e acumulado ao longo de 214 anos, período em que a cidade do Salvador foi a sede do governo do Estado do Brasil, de 1549 a 1763. Os Conjuntos Documentais “Tribunal da Relação do Estado do Brasil (1652-1822)” e “Livros de Registros de Entrada de Passageiros no Porto da Cidade de Salvador (1855-1964)” são exemplos da importância do

Existe política de aproximação do público com o APB? Além de pesquisadores, quem pode se interessar pelos documentos aí guardados? Existem ações educativas e culturais que visam sensibilizar novos públicos. As ações educativas, com o atendimento das instituições educacionais, são visitas guiadas que ressaltam a importância do acervo custodiado pelo APB para a sociedade, tanto no seu potencial para pesquisa, quanto na sua utilidade pública. E as ações culturais, notadamente por meio de exposições virtuais, a exemplo da “Independência do Brasil na Bahia” e “Insurreição de Escravos Malês”.

Sobre a questão da preservação do material, já existe muita coisa digitalizada? A digitalização foi institucionalizada no ano passado (2011), após a aquisição de uma máquina digitalizadora/microfilmadora, tamanho A0. Até o momento, o percentual de documentos digitalizados é bastante reduzido.

Acervo guarda relíquias históricas como o registro de imigrantes chegados à Bahia em 1855

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ENTREVISTA Arquivo público

O Arquivo Nacional realizará de 12 de setembro a 31 de dezembro de 2012, em sua sede no Rio de Janeiro, exposição comemorativa em homenagem aos 20 anos de existência do programa Memória do Mundo da UNESCO e aos cinco anos de instalação do Comitê Nacional do Programa Memória do Mundo. O Arquivo Público da Bahia / Fundação Pedro Calmon foram convidados a participar em razão de custodiar dois conjuntos documentais que estão registrados.

Serviços Atendimento presencial Sala de Consulta de Manuscritos e Impressos; Sala de Consulta de Microfilmes e Biblioteca Francisco Vicente Vianna.

Atendimento à distância Realiza levantamento preliminar do acervo nos instrumentos de pesquisa disponíveis para consulta presencial.

Atendimento às instituições educacionais São oferecidas visitas técnicas ou monitoradas.

Transcrição paleográfica e emissão de certidões Atendem demanda para a comprovação de direitos e esclarecimentos de situações, predominando os pedidos decorrentes de exigências administrativas e judiciais.

Atendimento e orientação aos órgãos da administração pública direta e indireta do poder executivo estadual Orientação na área da sua especialidade - a arquivística. Endereço: Ladeira das Quintas dos Lázaros, 50 Baixa de Quintas Contato: (71) 3116-2160 | apb.fpc@fpc.ba.gov.br

Um documento lido fora do contexto em que foi criado pode provocar interpretações errôneas por parte do leitor. Para equilibrar essa diferença de épocas, existe no APB uma política de arquivamento tendo como base a conjuntura do período em que os documentos foram preparados? O acervo custodiado pelo APB/FPC encontra-se organizado em conformidade com o princípio de proveniência, estabelecido pela teoria arquivística. Os documentos de arquivo apresentam-se sob inúmeras formas e nos mais variados suportes materiais. Não é o tipo, nem a forma, nem o conteúdo informativo, que caracterizam um documento de arquivo, mas sim a sua origem. A proveniência é, portanto, o elemento mais importante a identificar em um conjunto de documentos.

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Quais documentos do APB, em sua opinião, podem ser classificados como os mais importantes? Temos a Coleção de Regimentos Reais, século XVI ao XIX; a Conjuração Baiana de 1798; os registros sobre captura e pedido de soltura de escravos (século XIX); Dossiê sobre aldeamentos e missões indígenas (1770-1807); a Independência do Brasil na Bahia (1822-1823); a Rebelião Escrava dos Malês (1835); a Revolta da Sabinada (1837); as Falas e os Relatórios de Presidentes da Província da Bahia; Auto de perguntas da Revolta de Canudos (1897); Marcas e patentes de fábricas (1888-1924); além da coleção de periódicos, como o Diário Oficial do Estado da Bahia (1915-2008), A Bahia (1899-1911), A Tarde (1915-1988), Diário da Bahia (1833-1945), Idade d’Ouro do Brazil (1821) e O Imparcial (1847-1947).


PATRIMÔNIO

O elixir dos

TRÓPICOS Água que passarinho não bebe... Marvada... Branquinha... Cana... Pinga... Aguardente... Seja qual for o nome, a cachaça já faz parte do imaginário popular e se tornou obrigatória em botecos e restaurantes dos mais sofisticados. E pensar que nas suas origens, esse símbolo nacional era relegado aos animais, em forma de ração, e chegou a ter a venda proibida pela monarquia portuguesa. tExto

FABio FRaNco

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PATRIMÔNIO

Criada a partir da moenda da cana-de-açúcar, a cachaça brasileira tem uma história que se confunde com a própria formação do país. Nos tempos do Brasil Colônia, a produção açucareira despontou como principal manufatura agrícola, afinal de contas os portugueses já dominavam a sua exploração em outros territórios colonizados. E a bebida típica do novo país surgiu meio que por acaso, durante o fabrico do açúcar: no processo restava um subproduto, que, depois de fermentado, ganhava considerável teor alcoólico e era dado aos animais. Logo os odores e sabores chamaram a atenção dos escravos, que então passaram a consumir o caldo de gosto adocicado (batizado de cagassa, como afirmam Acervo Cachacaria Água Doce

A

coloração da cachaça pode mudar a depender do tipo de levedura utilizada na fermentação e do material onde foi armazenada ou envelhecida. Aquelas que não passam pelo processo de envelhecimento são as chamadas branca, prata ou amarela (que recebe a adição de extratos de madeira ou caramelo). Já aquelas conhecidas como cachaça ouro, incorporaram a coloração da madeira em que estiveram, após a destilação. O processo é semelhante ao armazenamento do whisky. E além da coloração, a cachaça também acaba adquirindo aromas e sabores, decorrentes do processo de envelhecimento nos tonéis de madeira.

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alguns pesquisadores). A notícia se espalhou e a cachaça angariava seus primeiros apreciadores. Mas onde originalmente a cachaça foi criada? A disputa pelo titulo é acirrada: os primeiros engenhos foram erguidos na região Sudeste, inicialmente no litoral de São Paulo, espalhando-se depois pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, onde foi instalado o engenho Ceregype, o mais importante do período colonial. Em pouco tempo, os engenhos ou “casas de cozer méis”, como eram chamadas, se alastraram por todo o território nacional. Era o empurrão que faltava para a “marvada” cair no gosto popular! Por consequência do crescimento do consumo, a fabricação da cachaça precisou ser melhorada, sendo incorporados o alambique e os processos de filtragem e destilação. Hoje, só para se ter uma ideia, estima-se que o número de produtores de cachaça em todo país ultrapasse a marca dos 40 mil. “A produção brasileira de cachaça supera a marca de um bilhão de litros por ano e a Bahia é o segundo maior produtor do país. O consumo por aqui só cresce e muita gente já aprendeu a apreciar nossa cachacinha”, brinca Edson Souza, bartender especializado em Mixologia Molecular (processo de criação de drinques com base em técnicas da gastronomia molecular, que incluem combinação e intensidade de sabores, aromas, texturas, entre outros). A aguardente produzida por aqui tem chamado mesmo a atenção dos apreciadores, principalmente pela qualidade. Quem afirma isso é o comerciante José Oliveira, conhecido como Zé, que trabalha há anos num dos boxes da Feira de São Joaquim. “Quem mais compra cachaça baiana é o pessoal do sul do país. Também tem a turma dos navios, que estão de passagem. Costumo vender em média 20 garrafas por mês. E olha que a branquinha baiana é a melhor”, confirma entre risos.


« Tem gente que prefere whisky, vodca, mas porque não consumir a bebida que é genuinamente brasileira? É engano achar que a cachaça é de segunda categoria. Existem exemplares brasileiros que são vendidos a R$ 500,00 a garrafa » EDSON SOUZA BaRtEnDEr EsPEcializaDO EM Mixologia MolEculaR

Puramente nacional Os tempos mudaram e o consumo dessa bebida tipicamente brasileira também. Assim como o whisky, o gin, a vodca e o rum, o aguardente de cana-de-açúcar se transformou em objeto de adoração por especialistas e ganhou um ar de requinte e sofisticação. Prova disso é que foi-se o tempo em que o termo “cachaceiro” era apenas uma maneira pejorativa para denominar os consumidores. Hoje, esses mesmos apreciadores são chamados cachaciers (nome inspirado na palavra sommelier, que denomina os profissionais especializados em vinhos). “Comecei a me interessar pela cachaça há muito tempo atrás. Viajei pelo país para conhecer as variedades da bebida. Sou daqueles que apostam no produto nacional. Tem gente que prefere whisky, vodca, mas porque não consumir a bebida que é genuinamente brasileira? É engano achar que a cachaça é de segunda categoria. Existem exemplares brasileiros que são vendidos a R$ 500,00 a garrafa. E falo sem sombra de dúvidas que hoje os principais apreciadores da cachaça são das classes A e B, pessoas que inclusive montam bares próprios em casa”, conta Edson. O advogado Paulo Cesar Freitas, 53 anos, faz parte dessa estimativa. Acostumado a bebericar nas horas de lazer, Paulo reitera que a cachaça baiana não deixa a desejar em nenhum aspecto quando comparada com destilados de outros países. “Existem exemplares artesanais que são maravilhosos, mas são pouco conhecidos. Alguns até com produção orgânica. E também existem detalhes que influenciam no sabor da bebida, especialmente o terreno e o clima onde a cana-de-açúcar foi cultivada, além dos locais de armazenamento do produto final”.

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PATRIMÔNIO

Qualidade indiscutível Para saber se a cachaça é realmente de qualidade, vale partir do básico, que é a leitura do rótulo. “Ali estão as informações principais, como origem, processo de fabricação, local de armazenagem, etc.”. Com o tempo, outra característica fundamental a ser avaliada é o sabor. “Normalmente a cachaça de boa procedência costuma manter o sabor por mais tempo na boca. Também tem a questão da acidez, do aroma, mas somente com o hábito é possível adquirir o paladar apurado”, sugere o bartender. E uma informação valiosa surge em meio a conversa: a melhor cachaça do Brasil é baiana. Em 2011, uma importante revista de circulação nacional reuniu um grupo de especialistas, além de consumidores amadores, que, numa eleição às cegas, apontaram a Serra das Almas, produzida em Rio de

Contas, na Chapada Diamantina, como a melhor cachaça do país. “Temos outras cachaças de extrema qualidade produzidas por aqui, em cidades como Abaíra e Itarantim. Elas ainda seguem aquele preceito da produção artesanal, com alambiques revestidos com parafina, para não haver alteração de sabor”, confirma Edson Souza. Se você ficou com vontade de tomar aquele trago no fim de semana, vale uma dica importante do nosso especialista em cachaça. “Para conhecer cachaça boa é preciso curiosidade. Você precisa conhecer a cultura da região na qual a bebida foi produzida. Cada cidade tem suas particularidades, suas técnicas. Vale inclusive viajar e fazer tours por fazendas de produção espalhadas pelo interior. Um bom lugar para começar é pela cidade de A baíra. O pessoal de lá sabe o que faz”. Acervo Cachacaria Água Doce

U

m fato curioso sobre a cachaça aconteceu na década de 1630. Com o crescimento do consumo, os produtores portugueses sentiram-se ameaçados com a possibilidade do produto nacional ocupar o posto da bagaceira, uma bebida de origem lusitana, feita do bagaço da uva. No ano de 1635, por decreto real, foi proibido o comércio e produção da cachaça, para garantir a exclusividade do consumo da bagaceira. Mesmo assim, a cachaça continuou circulando clandestinamente, tornando-se inclusive moeda de troca entre os comerciantes. Em 1659, um novo decreto de proibição foi estabelecido, com restrições mais severas ao produto nacional. O resultado foi imediato: em 1660, os produtores do Rio de Janeiro iniciaram uma revolta que culminou na tomada do governo geral da cidade, fato esse que ficou conhecido como a Revolta da Cachaça. Um ano depois, em 13 de Setembro de 1661, o decreto foi anulado e a cachaça foi finalmente legalizada como produto genuinamente brasileiro. Para relembrar a data, em 2009, o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), criou o Dia Nacional da Cachaça, comemorado no dia 13 de setembro.

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planoB indica

Foto divulgação

Foto divulgação

Foto divulgação

Música

teatro

Show

Choro do Uirapuru

Ópera Carmem

III CACHOEIRADOC

O grupo Choro do Uirapuru, formado pelos violões de Carlos Chenaud e Robson Barreto, pelo saxofonista Marcelo Bagano e pela cantora e pandeirista Ana Tomich, se apresenta na Varanda do SESI com o melhor do samba e do choro instrumental. Os músicos trazem um repertório inspirado no melhor do cancioneiro nacional, com destaque para canções como “1 X O” de Pixinguinha, “São Jorge” de Hermeto Pascoal, “Alma dos Violinos” de Alcir Pires e Lamartine Babo, e “Você Abusou” de Antonio Carlos e Jocafi. Varanda do Sesi - Rio Vermelho 27 de setembro, às 22h R$ 10

Entre os dias 13 e 17 de setembro, o TCA recebe a ópera “Carmem”, do compositor francês Georges Bizet, em celebração aos 30 anos de fundação da Associação Lírica da Bahia (ALBA). A montagem mantém texto original e aborda a história de uma bela cigana que enxerga o amor e a paixão como sentimentos livres. Carmen é vivida pelas mezzo-sopranos Aurhelia Varak (França) e Mere Oliveira (São Paulo). O cast conta com 15 solistas e um elenco formado por quase 200 pessoas. Teatro Castro Alves 13 a 17 de setembro R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia)

Entre 04 e 08 de dezembro, acontece no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a terceira edição do Festival de Documentários de Cachoeira. Com foco em documentários de curta, média e longa-metragem, produzidos a partir de 2011, o evento abrigará quatro exibições – Mostra Competitiva Nacional, Mostra Competitiva Bahia, Mostras Especiais, Ciclo de Conferências e Oficinas. Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) 04 a 08 de Dezembro contato@cachoeiradoc.com.br Gratuito

Exposições

Capoeira – luta, dança e jogo da liberdade A mostra itinerante “Capoeira – luta, dança e jogo da liberdade” apresenta fotografias de André Cypriano, fruto de uma pesquisa para o livro homônimo – com textos de Rodrigo de Almeida e Letícia Pimenta – lançado em 2009. Os trabalhos resgatam a história da capoeira, desde seu surgimento no Brasil Colonial até os dias de hoje, ressaltando aspectos de promoção e valorização da cultura nacional, além de sua função de agregação social. A exposição é composta por 40 fotografias, além de 10 ilustrações (de autoria de Debret e Auguste Earle, entre outros) e de textos explicativos. Solar Ferrão Até 30 de setembro Gratuito - Acesso para deficientes físicos Foto divulgação

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OPINIÃO

Netnografia: o estudo da influência do consumidor 2.0 Pedro Cordier Formado em Marketing, Pós-Graduado em Jornalismo Digital e Especialista em Comunicação, Criatividade e Conectividade. CEO da StartUp Equilibra Digital, apontado como "o melhor perfil de Profissional de Comunicação no Twitter", pelo site Midiatismo | @PedroCordier Arquivo pessoal

Com o crescimento e a evolução do mercado digital, as empresas estão começando a perceber que a internet não é um modismo passageiro. Muito pelo contrário! Faz-se necessário aprofundar o conhecimento sobre essa revolução nos hábitos, gostos, culturas e, até mesmo, das crenças do novo consumidor. Enquanto algumas empresas ainda parecem estar paralisadas diante de tamanhas mudanças, outras já estão buscando monitorar e, principalmente, entender o que está se falando a respeito da sua marca, seus produtos e serviços, além, é claro, do que está sendo dito sobre a concorrência. A evolução natural de todo esse processo (que iniciou por volta de 1970 e começou a alcançar a população em 1990, quando Tim Bernes-Lee desenvolveu a World Wide Web, possibilitando a utilização de uma interface gráfica e a criação de sites mais dinâmicos e visualmente interessantes) trouxe novas possibilidades de análise e, junto com elas, surgiu a Netnografia, que, segundo a Wikipedia, “é o ramo da Etnografia que analisa o comportamento de indivíduos na Internet”. Através do método netnográfico, as conversas nas redes sociais online são analisadas para que o sentimento e o comportamento de um determinado público, em relação a um assunto específico (marca, serviço, produto, tema), seja construído, gerando uma fonte de inteligência para as empresas. A comunicação, criatividade e conectividade que pulsam nos ambientes digitais online, evidenciam as possibilidades de colaboração e aprendizado coletivo. Por isso, esses ambientes são bastante propícios para encontrar pessoas reunidas em prol de interesses comuns. O Orkut, por exemplo, ainda sobrevive graças às milhares de comunidades que ainda concentram atividades intensas sobre marcas, eventos, artistas e comunidades de interesses comuns.

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Além das redes sociais mais “tradicionais”, como Orkut e Facebook, começam a surgir diversas outras redes como o Instagram (fotografia) e o Pinterest (imagens), que agregam interesses de pessoas sobre os mais diversos assuntos, tendo como ponto em comum, o estímulo visual. Outro hábito bastante inerente ao estudo netnográfico é a motivação que as pessoas têm em discutir a informação e a compartilhar suas percepções (interesses, dúvidas, sugestões, preferências e insatisfações) sobre ela. O grau de conhecimento dessas pessoas e o conteúdo proveniente desse compartilhamento de ideias é tamanho, que chega ao ponto de superar o próprio conhecimento dos desenvolvedores dos produtos.

A utilização da Netnografia Se uma empresa deseja realizar um estudo netnográfico, deve definir o tema para a investigação e o objetivo para a pesquisa. Ao lançar um novo aplicativo na área de música, por exemplo, pode definir como tema de investigação, a utilização desse aplicativo pelas pessoas e buscar comentários e opiniões sobre o assunto em fóruns, blogs especializados e em menções nas redes sociais online. A netnografia tem um grande potencial para fornecer informações interessantes que podem culminar em insights para a estratégia de comunicação e atuação de uma marca no ambiente digital e, até mesmo, no mundo dos átomos. Se a sua empresa ainda não percebeu o potencial colaborativo e o poder de compartilhamento do consumidor 2.0, é bom encomendar uma boa pesquisa netnográfica e começar a prestar atenção nesse “pequeno detalhe” que está fazendo toda a diferença no resultado de negócios dos mais diversos tamanhos e áreas de atuação. #FicaDica




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