MORADORES DO BAIRRO JARDIM AMÉRICA LUTAM PELA PRESERVAÇÃO DA ÚLTIMA ÁREA VERDE NA REGIÃO OESTE DE BELO HORIZONTE PÁGINA 8 Reprodução Google Earth
ANTIGO PRÉDIO DA FAFICH É PONTO DE REFERÊNCIA EM QUADRINHOS PARA TODAS AS IDADES E GOSTOS EM BH PÁGINA 10
A QUADRINISTA LAERTE COUTINHO CONTA SOBRE SUA JORNADA PROFISSIONAL E DISCUTE A QUESTÃO DOS TRANSGÊNEROS PÁGINA 16
Rafaella Rodinistzky
Claudia Ferreira
marco jornal
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 43 . Edição 314 . Julho de 2015
As cores de um belo horizonte
Fotos por Guilherme Cambraia
Da sua inauguração em 1897 até os dias atuais, Belo Horizonte mudou a sua paisagem. Aos imponentes prédios em Art Déco, agregou construções que revelam sua face moderna. Mantém cores vivas nos Aglomerados, em contraste com o cinza dos edifícios nas áreas centrais. PÁGINA 15
Eleições suspensas e incerteza no DCE
Raízes da tradição permanecem fortes Moradores do Alto dos Pinheiros vivenciaram uma grande perda. Uma das árvores-símbolo da praça do Chuí foi suprimida pela Prefeitura de
O futuro do Diretório Central dos Estudantes vai ser decidido a partir de agosto. Um novo processo eleitoral deve ser realizado durante o reinício do período letivo. Em junho, a eleição para a nova diretoria foi suspensa devido à liberação de uma liminar pela Justiça. Para chapas de oposição, a situação chegou a esse ponto porque faltou transparência no processo e prestação de contas durante a gestão da chapa Viva Voz, que já se encerrou. Até a próxima votação, o DCE ficará sob responsabilidade do Conselho de Diretórios Acadêmicos. PÁGINA 3
Duas gerações, dois problemas A população brasileira está envelhecendo de maneira muito rápida, a ponto de a quantidade de idosos já ser maior que a de crianças. Devido a esse fator, o Ministério da Previdência Social propôs um novo cálculo para a aposentadoria. O MARCO aborda, ainda nessa edição, as pretensões do midiativismo. Com o agitado período de manifestações no Brasil, as mídias alternativas e independentes ganharam destaque. PÁGINA 5
Rafaella Rodinistzky
Bairro
DomCabral
50 Anos
BH porque estava comprometida com cupim. O Dom Cabral cultiva suas tradições através de eventos voltados para a comunidade, como o Mega Bazar, organizado pela Creche Bom Pastor. A cultura se mantém devido à união entre moradores e instituições locais e conta com o apoio voluntário de pessoas conhecidas na comunidade. Já no Coreu, o comércio, que tem um perfil flutuante, possui outra forma de envolvimento com os moradores. PÁGINAS 4 e 7
LEIA AINDA
Importantes formas de inclusão Devido à lei de cotas, que obriga empresas a contratarem determinado número de portadores de deficiência e vigora desde 1991, deficientes fisícos e mentais ganharam o direito de entrar no mercado de trabalho. Apesar do avanço, ainda há muitos problemas envolvendo a inclusão dessas pessoas. Esportes adaptados também ganham visibilidade na capital, como a esgrima para cadeirantes, que oferece aos portadores uma forma de exercício e interação. PÁGINA 9
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Cultura
editorial
Tela urbana: as cores de Belo Horizonte
Olhar atento para o passado e o futuro 13ª Semana Nacional de Museus teve, como tema, a sustentabilidade. 37 museus de Belo Horizonte participaram das mostras AMANDA SANTOS CAMILA VIEIRA TAMIRIS CIRÍACO
WINICYUS GONÇALVES 5° PERÍODO
4º PERÍODO
Belo Horizonte já foi conhecida como a Cidade Jardim por causa da farta arborização planejada por seus fundadores. Hoje o verde das árvores se mistura ao cinza dos prédios e ao colorido das flores. Esta edição traz uma reportagem especial sobre as cores da cidade e seus aspectos estéticos e urbanísticos. Após 117 anos de sua fundação, a capital, como muitas metrópoles, mantém áreas desbotadas, onde o cinza arranha o azul do céu. Porém, cores variadas compõem a paleta (gama de cores preferida por determinado artista ou de uma escola artística) urbana no verde dos parques, no colorido das flores às intervenções artísticas, unindo o natural ao cultural. Também nesta edição, o MARCO encerra a série sobre os 50 anos do Dom Cabral, com um olhar sobre as diferenças entre o cinquentenário bairro e seu vizinho Coração Eucarístico. Durante o semestre, quatro reportagens contaram a história do Dom Cabral, através de seus comerciantes e moradores, como os professores José Milton e Ércio Sena, da PUC Minas, o ex-líder comunitário Humberto Perez, e de D. Maria Antônia Vieira, que ajudou no desenvolvimento do bairro. Para além da abordagem comunitária, o jornal vai contar qual é a situação dos hippies em Belo Horizonte, cuja história é documentada no filme “Malucos de Estrada”, de 2009. Outros temas abordados são a criação dos parklets, extensões do passeio para uso público, que estão sendo instalados pela Prefeitura para o lazer na Região Central, o consumo de café e as razões de sua preferência entre os jovens. Tenha uma ótima leitura!
A Semana dos Museus movimentou muitas cidades brasileiras entre 18 e 24 de maio. Esta foi uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (Ibraim) em homenagem ao dia internacional dos museus, comemorado no dia 18 . Os eventos aconteceram em todo o país, trazendo dias de conscientização e sensibilização. Dentre a grande variedade de museus de BH, 37 participaram da semana. A programação do Museu Minas e Metal ofereceu palestras sobre diversos temas com especialistas de várias áreas do conhecimento, leituras de poesia, oficinas e atividades coletivas, contação de histórias, bate papo com artistas e exibição de documentários. J á no Memorial Minas Vale houveram mostras e exposições de jovens artistas mineiros e eventos culturais. As exposições interativas e coloridas, tornaram tudo ainda mais atrativo para o visitante, que ao andar pelas salas, podia ouvir as histórias sobre o Brasil retratadas nas telas, com a ajuda de um fone de ouvido
Museu das Minas e do Metal teve participação ativa durante a Semana
entregue na recepção. Todos os anos, os museus definem uma temática, para que em seguida possam promover uma reflexão acerca dela. “A cada ano é um número maior de museus que participa, que se envolve. É bem interessante trazer uma dinâmica um pouco diferente, mobilizar outras pessoas e instituições”, diz Mabel Faleiro, coordenadora do serviço educativo do Memorial Minas Vale. Mabel explica, também, qual é a relação dos museus com o tema escolhido: “Normalmente quando a gente fala em sustentabilidade, essa palavra remete
à preservação do silvestre e dos rios. Mas tem uma outra sustentabilidade, que estávamos propondo junto com o Ibraim: a sustentabilidade social e cultural.” A temática de sustentabilidade trouxe, além do enfoque social e cultural, os assuntos políticos. A questão das culturas indígenas, o que elas representam para o Brasil e como vivem atualmente foi um dos tópicos escolhidos para os debates. A cartografia do país também foi algo explorado pelas exposições desse ano. Por meio dessas atividades, a maioria com entrada
Sede histórica do Governo do Estado, o Palácio da Liberdade é um dos cartões postais de BH e uma das obras principais do conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade. O Palácio passou por uma restauração para ser aberto ao público com novo projeto museográfico em 2013, mas atualmente está fechado para visitas. Os mineiros terão acesso novamente ao local no segundo semestre. O prédio, construído em 1897, vem passando por mais reformas, que incluem obras de revitalização e planejamento para projetos culturais a serem adotados no local. Segundo a Assessoria de Comunicação do Palácio, estão previstas exposições e atividades para o público.
Na edição passada, na matéria da página 6 intitulada “Mercearia tem projeto de incentivo à leitura” ,não foram dadas as assinaturas às seguintes alunas: Bárbara Ferreira e Isabela Catarina, ambas do 1º Período de Jornalismo. Ainda na mesma edição, na matéria da página 5, sob o título “Criminalidade no bairro São Gabriel preocupa” não foi dada a assinatura à aluna Dâmaris Tomaz Almeida, do 3° período.
expediente jornal marco
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Monitores de Jornalismo: Ana Clara Scavassi, Ana Clara Rodrigues, Bárbara Souto, Débora Assis, Mariana Campolina, Winicyus Gonçalves Monitores de Fotografia: Lucas Félix dos Santos, Guilherme Cambraia Monitor de Diagramação: Rafaella Rodinistzky CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares
franca, para colocar em debate um tema tão atual e de suma importância como é a sustentabilidade, os museus abriram mais um espaço cultural: “Criar conexões, possibilidade de interação e diálogo com a sociedade, sendo um local aberto para reflexões. É isso que os museus propuseram, ao pensarem a programação cultural de maio e as atividades diferenciadas focadas no tema da 13ª Semana de Museus”, diz Paola Oliveira, da Assessoria de Comunicação do Museu das Minas e do Metal.
Palácio fechado para visitas
errata
Editor: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais
Guilherme Cambraia
Guilherme Cambraia
(Ana Clara Machado, 5° período)
Forum dos Leitores
Educação no Brasil O sistema brasileiro de educação precisa ser repensado. O desempenho negativo de menos 7,3% em matemática e menos 9,7% na redação apontados pelo último Enem indica isso. Se as falhas
forem na formação dos professores ou do próprio sistema educacional é difícil dizer. Os jovens devem ler mais, frequentar as bibliotecas e ficar menos tempo no celular, no computador ou no Facebook. Fazer um bom curso fundamental não é luxo ou manias dos mais velhos. Tirar um diploma não é tudo. As empresas ou organismos públicos exigem mais. A vida
profissional não perdoa as ineficiências e incompetências. É preciso, com urgência, fazer alguma coisa a mais em benefício do Brasil. José Eloy dos Santos Cardoso, professor da PUC Minas, economista e jornalista.
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Campus
ANA CLARA RODRIGUES MARIANA CAMPOLINA 5º PERÍODO
Os estudantes da PUC têm um grande desafio pela frente: retomar o Diretório Central dos Estudantes (DCE), com base em um processo mais participativo e transparente. A última eleição, prevista para ser realizada no início de junho, foi marcada por denúncias de irregularidades, o que terminou em um clima de tumulto e descontentamento. A Justiça expediu uma liminar que suspendeu o pleito no dia 2 de junho, aplicando uma multa de dois mil reais/ dia por eventual descumprimento da ordem. A CONFUSÃO
Urnas de votação foram espalhadas pelo campus Coração Eucarístico no dia marcado para a votação, o que motivou tumulto e protestos. Estudantes que não concordavam com a realização das eleições se reuniram ao redor dos pontos de votação, reivindicando o recolhimento das urnas e hostilizando aqueles que tentavam votar. Seguranças foram colocados no local a fim de tentar evitar agressões, porém, em meio à confusão, alguns estudantes saíram feridos, e acusações partiam dos dois lados. “A galera começou a tumultuar e pedir que entregássemos a urna, mas não podemos nem colocar a mão nela. As urnas, a segurança e tudo relacionado ao processo eleitoral são de responsabilidade da Junta (eleitoral)”, afirma um representante da chapa “Dialogue Já”, única chapa na disputa. Porém, segundo a oposição, os seguranças con-
Futuro do DCE é incerto Problemas durante o processo eleitoral geraram discussão acerca da transparência da última gestão e mobilizam estudantes a proporem mudanças
tratados não poderiam estar dentro do campus, independentemente de quem os contratou, devido ao regulamento da própria Universidade. Um estudante de direito, que representa a chapa “Dialogue Já” afirma que as agressões partiram exclusivamente dos opositores e que a função dos seguranças era apenas garantir a segurança do local e impedir danos às urnas, o que iria ocasionar a invalidação do processo eleitoral. Diante da confusão, a Polícia Militar foi acionada e o processo eleitoral suspenso. ASSEMBLEIA
No dia 3, diante de tanta confusão, os grupos opositores convocaram os alunos que são contrários ao processo liderado pelo DCE, para uma assembleia em frente à entidade. Da assembleia, participaram integrantes das chapas impugnadas, simpatizantes, membros de Diretórios Acadêmicos (DAs) e até ex-filiados à atual gestão do DCE. A maioria dos representantes presentes diz que o DCE não dá aos diretórios acadêmicos a assistência jurídica e financeira necessária, o que dificulta a representatividade em relação à Junta Eleitoral. Além disso, algumas pessoas alegam ter sido enganadas pela direção do DCE, antes do dia da eleição. Segundo uma estudante do primeiro período de direito, foi pedido a ela que assinasse
Alunos se reúnem em frente ao DCE para discutir problemas e propostas
uma lista para a validação de uma nova chapa. “Pediram todos os dados, incluindo cópia de CPF, identidade, login e senha do SGA”. Ela completa: “Nós ficamos desconfiados e ouvimos falar que era a mesma chapa do atual presidente do DCE e pedimos para rasgar as fichas, porque não apoiamos eles. Só ficamos sabendo o que era realmente na assembleia”. Durante a reunião, foram levantados outros pontos em busca de uma alternativa para a atual situação: uma decisão do Conselho de DAs que pode, mediante adesão de um terço de representantes de Diretórios Acadêmicos, realizar um novo processo eleitoral, ou convocar-se uma assembleia geral, através dos DAs ou por pedido de um sexto dos estudantes da PUC.
Gestão eficiente exige transparência A maior dificuldade encontrada pelos alunos e o Conselho de DAs é ter acesso à prestação de contas do DCE. A disponibilização desses comprovantes deveria ser permitida sem burocracia, como explica Thainá Nogueira, presidente do DA de Comunicação Social: “Em quase dois anos de gestão essas notas fiscais nunca ficaram disponíveis para os alunos, nem quando a gente vai lá pedir.” Por isso, segundo a estudante, é necessário recorrer à Justiça, em uma manobra muito mais complicada, para obter tais documentos. “Essa é a transparência do DCE hoje”, completa Thainá. Segundo Kleberth Mendes, presidente da gestão T.E.I.A, entre os anos de 2007 e 2008, além das prestações de contas mensais, eram realizadas reuniões periódicas com o Conselho de DAs. Além disso, para uma melhor representação dos alunos e seus interesses, é preciso
ouvir, mesmo que não seja possível agradar a todos. “É necessário construir pontes para estabelecer políticas reais que possam representar a todos de forma efetiva e produtiva”, afirma Kleberth. Ele destaca também a pluralidade de ideias como um importante fator para uma gestão eficaz. “Na gestão T.E.I.A as concepções políticas eram antagônicas, mas tínhamos um norte, uma meta, a que convergiam as diversas vozes que representavam o espectro que se formava no todo da universidade.” Diante de todos esses acontecimentos, chega ao fim a gestão atual do DCE, Viva Voz. Sendo assim, torna-se necessária a convocação do Conselho de DAs, órgão que passará a gerir o DCE e ficará responsável por realizar uma nova eleição. Esse processo só pode ser conduzido durante o período letivo, portanto, a partir de agosto.
Guilherme Cambraia
Processo eleitoral De acordo com o estatuto do DCE, a Junta Eleitoral é responsável por elaborar um edital que definirá como será realizada cada eleição, a fim de que os processos ocorram de forma democrática. Sendo assim, quatro chapas estudantis se inscreveram para participar do pleito deste ano. Dessas, três foram impugnadas por não atenderem a todos os pré-requisitos estipulados pelo edital vigente. Esses critérios de objeção se basearam em razões diversas, desde o preenchimento incorreto da documentação de inscrição, até a inclusão de calouros e não contribuintes do DCE. A “Dialogue Já”, chapa apoiada pela situação, foi, então, a única chapa que correspondeu a todos as exigências do edital, estando apta a participar das eleições para a próxima gestão. Essa situação causou a revolta de alunos de chapas de oposição, que consideravam injusto que o processo eleitoral ocorresse com uma única chapa. A fim de postergar a votação, esses alunos conseguiram, no Ministério Público, obter uma liminar que impedia a realização das eleições até segunda ordem. Esta medida foi adotada tendo-se em vista que a PUC acompanhou o processo sem interferir na situação. A Universidade disse, em nota, que “O DCE se constitui como uma associação autônoma, com personalidade jurídica própria, e que por isso a Universidade não pode praticar, em relação a essa representação estudantil, atos de gestão”. Segundo membros das chapas opositoras, a liminar foi expedida e continua em vigor, pois o próprio DCE não possui documentos regulares e não consegue comprová
-los. Ainda segundo eles, apesar de se abster de algumas ações diretas, a PUC pode cortar o repasse de verbas que é destinado ao Diretório. Na semana seguinte, em uma segunda nota, a Universidade se comprometeu a adotar “as medidas necessárias e cabíveis no que diz respeito ao cometimento de atos de violência e desrespeito ao normal funcionamento das rotinas acadêmicas”. E acrescenta a nota: “Cabe lembrar ainda que atos e comportamentos que possam ter significado constrangimento ou tenham atingido a integridade de membros da comunidade acadêmica e da própria Instituição serão devidamente apurados pelos setores responsáveis e tratados com rigor de acordo com o estabelecido pelas Normas Acadêmicas e pelo Regimento da Universidade, independentemente de quaisquer contextos ou circunstâncias a que estejam vinculados”. RESISTÊNCIA Diante desse cenário, o atual presidente do DCE, Pedro Duarte, cuja chapa foi impugnada, declarou apoio à “Dialogue Já”. Segundo um integrante desta chapa, o apoio foi justificável, pois, “se não houvesse votação e ela não atingisse o quórum mínimo, o DCE ficaria fechado no próximo semestre”. Entretanto, segundo um representante de uma chapa opositora e estudante de direito, isso não é real, porque os DAs e o DCE são autônomos por lei. Por isso, o Ministério Público vai interferir no processo. O andamento do caso dependerá em certa medida da Justiça. Para uma nova eleição será preciso esclarecer melhor a situação da atual gestão e permitir um processo mais transparente para o DCE da PUC Minas.
A sede do Diretório ficou fechada após confusão durante eleição
Guilherme Cambraia
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DomCabral
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Comunidade
Anos
O verdadeiro significado de coletividade Bazar ajuda a arrecadar fundos que são revertidos em melhorias para a Creche Bom Pastor RAFAELLA RODINISTZKY 5° PERÍODO
O convite chega à distância. A advogada Ilainda Vieira, que já cantou em bandas, é a voz que conduz a comunidade ao “Bazar da Creche Bom Pastor”. Com o microfone em mãos, a moça anima quem passa pela rua e cumprimenta conhecidos. “A música é a alma da pessoa”, afirma. Ela conta que, há 12 anos, anima os eventos da comunidade com suas melodias e locuções. Ao seu lado está uma das senhoras mais queridas do Dom Cabral, sua mãe, Maria Antônia Vieira, mais conhecida como Dona Mariinha. Aos 81 anos, a senhorinha sente bastante orgulho por participar das atividades da comunidade com seu carrinho de pipoca. Para ela, a Creche Bom Pastor é parte de sua história pessoal, já que filhos, netos e bisnetos passaram por lá. “A creche é tudo para mim, eles me jogam para cima”, diz, sorrindo.
As roupas penduradas na entrada da creche criam uma espécie de túnel do tempo no ambiente colorido e pueril do jardim de infância. Lá dentro, há bancas e araras de roupas em bom estado de conservação. Algumas peças nunca foram usadas, segundo Luiz José de Figueredo, ministro da Eucaristia da Paróquia Bom Pastor e membro da diretoria da creche. O “Mega Bazar” é o primeiro evento da nova direção da Creche Bom Pastor, que estava representada pela vice-presidente Sandra Vasconcelos, segunda secretária Agner Gonçalves e conselheira fiscal, Maria de Lurdes Lopes. As três se revezavam entre os corredores para dar atenção a quem chegava. Mães e filhos, netos e avós se confundiam entre as bancas; algumas famílias optaram por levar caixas de papelão para facilitar o carregamento das compras. As consumidoras pediam opiniões sobre as
peças escolhidas e desbravavam as araras, enquanto dois senhores se restringiam a um único cabideiro, sem muita troca de palavras. Ilarida entra no ambiente entoando “Pagode Russo”, de Luiz Gonzaga, ao mesmo tempo em que a pergunta “quanto?” disputava o espaço com sua música. Sandra Vasconcelos explica que o bazar acontece há muitos anos e que já é esperado pela comunidade, principalmente agora em meio às dificuldades financeiras enfrentadas por parte da população: “Fizemos esse mega-bazar devido à situação econômica do país. As pessoas preferem comprar peças usadas pela falta de renda mesmo”. CORDIALIDADE O clima de confiança remonta ao das pequenas cidades do interior. É comum uma visitante do bazar pedir para guardar determinada peça até buscar o dinheiro em casa. Sandra guarda o pedido debaixo da
“Mega Bazar” já é evento de tradição na comunidade, atraindo muitas famílias
mesa e aguarda o retorno da cliente. Além do bazar ajudar a comunidade a adquirir roupas de boa qualidade e com preço acessível, o dinheiro arrecadado é revertido em melhorias na creche, que abriga cerca de 94 crianças entre um e seis anos. A meta a ser cumprida é a construção do segundo andar do prédio para a “ala do soninho”, espaço de descanso dos pequenos. Coletividade é a caracte-
rística que fica após a visita ao “Bazar da Creche Bom Pastor” e as comemorações continuam. “Os eventos programados são a quadrilha com as barraquinhas da creche nos dias 4 e 5 de julho, vai ter bingo especial, as crianças vão dançar, vamos envolver toda a família da creche; temos também o baile que vai acontecer em outubro e o primeiro ‘bingão’ da creche que vai ser em novembro”, conta o quarteto de diretores.
Rafaella Rodinistzky
Cada um à sua maneira contribui para o bem-estar e crescimento da comunidade. Ilarida e Dona Mariinha são voluntárias e aguardam, como retorno, o carinho dos moradores do antigo bairro. A diretoria da creche não se importa em dedicar sábados e domingos à arrecadação de fundos para a melhoria do ambiente de estudo e convivência daqueles que serão o futuro do Dom Cabral. Que a tradição não morra.
Comércio na região do Coreu tem perfil flutuante BÁRBARA SOUTO 4º PERÍODO
O bairro Coração Eucarístico, ou “Coreu” como é conhecido, diferentemente do seu vizinho Dom Cabral, possui um comércio com maior rotatividade. Além da constante alternância dos moradores, as altas e baixas nas vendas e serviços são determinados pelos períodos letivos e de férias da Universidade. Já no Dom Cabral, como foi apresentado na edição 313 do MARCO, o comércio cresceu junto com o bairro e mantém o seu perfil tradicional e familiar. No Coreu, há um comércio em constante mudança. Abrem-se e fecham-se lojas de tempos em tempos. Os estabelecimentos mais tradicionais estão ligados à alimentação, aos medicamentos, ao lazer e aos salões de beleza. Já os flutuantes são as boutiques, lojas de cosméticos e lanches. O sócio de um estabelecimento alimentício da região concorda com a dificuldade que novos empreendedores têm se firmar no local. “É algo recorrente no bairro, com a chegada das
Relação frágil
O bairro Coração Eucarístico apresenta dificuldades em relação aos negócios
férias muitos estabelecimentos fecham pela falta de movimento”, comenta. Essa característica de fluidez dificulta a existência de uma associação de comerciantes: “O comércio tem uma rotatividade grande, é difícil manter um associativismo”, conclui. Os comércios alimentícios, mais tradicionais, estão no bairro há mais tempo e já possuem, inclusive, uma clientela fixa, “alunos e professores fazem uma ‘ficha’ aqui, uma fidelização. Só pagam no final do mês”. “É imensa a quantidade de estabelecimentos que fecham durante as férias, lojas de sucos, boutiques, cosméticos. Mas é igualmente
imensa a quantidade de estabelecimentos que abrem”, comenta o funcionário de uma padaria tradicional do bairro. A característica de fluidez do comércio da região não impede que novos investidores tentem abrir seu comércio na região. “Não se vê lojas com placas de ‘aluga-se’, o local é disputadíssimo”, acrescenta. PREÇOS ALTOS “Eu gosto muito de morar no Coração Eucarístico, é uma região muito boa de Belo Horizonte, mas tem um defeito: na época das férias o bairro ‘morre’, porque é movido pela universidade”, comenta Letícia Bueno, estudante de Relações
Lucas Félix
Públicas, moradora em uma república do bairro. “Acho o comércio fraco, com poucas opções e preços elevados”, conclui. “A região tem boas lojas, mas carece de variedade. O preço é relativamente alto, as opções boas e baratas são poucas”, comenta Gilvan Meireles, morador da região, que veio de Barbacena para cursar Jornalismo. Ambos os estudantes concordam com a qualidade de vida, devido à divisão entre a parte residencial e a área onde se localizam os comércios e bares. “Nas ruas residenciais você não acha comércio, isso tem o lado bom, que é o de sossego”, comenta Gilvan.
Enaldo Souza Lima, professor da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas, explica a diferença entre o comércio de bairros, como o Dom Cabral, e o comércio flutuante, como o do Coração Eucarístico. É que o comércio de um bairro tradicional tem uma sustentação maior, uma vez que se cria uma relação de fidelidade com os moradores que dá aos comerciantes uma perspectiva de crescimento e mudanças para aquele bairro. Há uma troca maior. Já no Coreu, essa relação com os moradores é menor. A PUC Minas, além de ser uma referência no bairro, é também um fator de fixação dos moradores. Estudantes, principalmente vindos do interior, e professores da Universidade compõem boa parte do perfil do bairro. A população estudantil dita o ritmo da atividade comercial durante os meses do período letivo. O bairro possui uma quantidade notável de bares e restaurantes, devido a esse público jovem. Em contrapartida, o Coreu fica mais vazio no período de férias, que é considerado de baixa temporada para os comerciantes. Há uma redução no faturamento de quase todos os setores, uma vez que muitos alunos residentes em repúblicas retornam para suas cidades. Os preços e ofertas são próximos, não há concorrência efetiva. Por isso, os comerciantes estipulam os preços no patamar que desejam. Além disso, há uma tendência à ‘gourmetização’, isto é, sofisticar os produtos para lhes conferir um valor e preço mais elevados. Os preços elevados e a baixa concorrência são fatores que influenciam a fluidez do comércio, devido à idealização de um público desconhecido. O professor acredita, também, que os comerciantes partem de um raciocínio ideal: estudantes da PUC são, em geral, de classe média. “O erro é essa idealização. Esses empresários, micro, pequenos, médios, imaginam um perfil que eles não conhecem efetivamente”, diz o professor. “E, desta forma, propõem estabelecimentos que não possuem uma conexão efetiva com o público”, conclui.
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Comunicação
Mídia alternativa ganha espaço Grupos de midiativistas procuram canal para criar uma mídia livre. Essa nova forma de imprensa obteve maior visibilade durante o período de manifestações no país, em 2013 JÉSSICA DE ALMEIDA 3° PERÍODO
Antigamente não era possível noticiar um protesto de rua por tantos ângulos diferentes. Hoje, com o advento de câmeras, celulares, blogs e mensagens de texto, as manifestações encontraram sua maneira própria de se comunicar . Foi refutada a versão de que a grande mídia noticiava todos os protestos. Na época, a mídia corporativa já havia se posicionado sobre os protestos quando os midiativistas (ou midialivristas, o termo não é um consenso) começaram a surgir. Rapidamente se organizaram e se espalharam pelo país, para narrar de forma independente e imparcial as demandas de quem estava nas ruas. A medida que os protestos ascendiam, vários grupos de midiativistas, além de ativistas independentes de coletivos, foram criados, como o BH nas Ruas e a Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). Atualmente, o último tem mais de 300 mil seguidores no Facebook. O MO (Maria Objetiva), com quase 5 mil seguidores no Facebook, está incluído no F.R.A.U.D.I (Frente Revolucionária do Audiovisual), “um coletivo de coletivos” que converge jornalistas, cinegrafistas, fotógrafos e quaisquer pessoas interessadas em atuar com mídia livre. Os ativistas já atuavam de forma independente, mas quiseram ir mais longe e promovem até oficinas livres como o Rolê Fotográfi-
co e workshops. “O objetivo é criar um espaço onde cada qual, com seu projeto pessoal, coletivo, ou canal, possa somar suas habilidades para construir uma mídia livre de forma coletiva e autogestionada”, disse Perla Gomes, jornalista e membro da F.R.A.U.D.I. Passado o período de jornada de protestos, o desafio é se manter financeiramente. “A ideia é que futuramente os coletivos possam se manter através de projetos e iniciativas criadas individual ou coletivamente, cobrindo pautas que perpassam pelo âmbitos culturais e políticos de Belo Horizonte e região, dando maior importância à pautas ligadas às ações de movimentos sociais e ocupações urbanas e ainda produzir pautas voltadas para o jornalismo investigativo”, esclareceu Perla. Outros coletivos haviam surgido antes da onda de manifestações, mas passaram a ser mais acessados como o Centro de Mídia Independente, que carrega o slogan “Se você odeia a mídia, então seja a mídia”. A visibilidade foi importantíssima para que o número de midiativistas aumentasse nas ruas. A partir de junho de 2013, grande parte da população, manifestante e não-manifestante, voraz por informações reais, passou a explorar a mídia alternativa. Thiago Rodrigues, designer e fotógrafo, registrou toda a movimentação de rua em BH em 2013 e 2014 com sua câmera. Para ele, a mídia corporativa deixou de contemplar a grande
Midiativistas “entram no acontecimento” para registrar maiores detalhes da notícia
população. “Aquilo que for de importância coletiva, naturalmente vai emergir e provocar algum debate público, mas sem a antiga pretensão do protagonismo narrativo praticado pelos grandes canais de mídia”, opinou Thiago. O designer e fotógrafo disse acreditar que o “caos está tão organizado que a crise está do lado de quem ainda crê na manutenção das grandes estruturas de mídia”. “Em algum momento, mulheres e homens passarão de consumir a produzir ativamente novas narrativas”, concluiu. NOVO MODELO Em entrevista à revista Caros Amigos, o jornalista e professor Jacir Zanatta afirmou que o padrão de jornalismo atual é semelhante ao praticado antes da ditadura militar, e que a perspectiva é
crucial na postura do profissional. “Quando o jornalista ia para o embate contra o regime, ele ficava do lado da manifestação. Com toda essa reviravolta, onde está o jornalista agora? Atrás do policial. Então o que ele vê? A manifestação avançando. Ele não registra o rosto do policial que vai descer a borracha e spray de pimenta”, analisou. Sendo assim, os ativistas perceberam que não partilhavam do mesmo trabalho feito pelos jornalistas e, por isto, se articularam para organizar sua própria maneira de fazer comunicação. “Não só para ser mais uma fonte de informação, o midiativismo está oferecendo uma alternativa de pensar e agir diferente [...] o que estão tentando dizer é que o velho modelo não serve mais”, afirmou Zanatta à Caros Amigos.
Para Alessandra Girard, coordenadora do curso de Comunicação Social da PUC Minas na Unidade São Gabriel, “o velho modelo” está, sim, obsoleto e a prova disso é a crise instaurada não no jornalismo, mas na forma de fazer negócio dos veículos. “A crise é no modelo de negócio dos veículos, na forma com que essas informações e conteúdo vêm sendo distribuídos e produzidos quando levamos em consideração a maneira enviesada com que muitas vezes isso se dá pelos interesses embutidos no processo”, disse. A jornalista Perla Gomes concorda. “Se é em momentos de crise que acontecem as grandes mudanças, com o jornalismo não está sendo diferente. O aparecimento das Mídias Livres e de profissionais que se denominam midiativis-
Coletivo Maria Objetiva
tas está recorrente no ciberespaço, muitas vezes até migrando para revistas, impressos e criando canais de TV e rádio na internet”, concluiu. Não é possível falar em jornalismo plural, sem mencionar o monopólio da mídia na “mão” das quatro principais famílias que mediam boa parte da mídia corporativista brasileira: Marinho, Civita, Mesquita e Frias. “A sociedade e a democracia só têm a ganhar com o exercício de liberdade de expressão e informação que o midiativismo traz, em especial por que ajuda a construir o sujeito político, uma vez que o permite fazer parte ativamente da construção dessa sociedade ao registrá-la e passá-la adiante”, analisou Alessandra Girard.
Dieese apresenta novo cálculo para aposentadoria ANA CLARA SCAVASSA SARA CRISTINA DIAS TIAGO LEÃO 5° E 6º PERÍODOS
No Brasil o envelhecimento está ocorrendo de forma muito rápida. Avalia-se que hoje a população que está em torno de 20 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, na próxima década passará para 30 milhões de pessoas. A proporção de pessoas da terceira idade, como Dona Maria, Rodrigues, vem crescendo mais rapidamente que a proporção de crianças. Os fatores que influenciam este crescimento são: a queda da taxa de fecundidade e o aumento da longevidade da população. Em Belo Horizonte, segundo o censo do IBGE de 2010, já são 461.753 pes-
soas com mais de 60 anos para uma população de 2.375.151 habitantes. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), declarou que o novo cálculo de aposentadoria (85/95), proposto pelo Ministério da Previdência Social, é medida positiva. O cálculo consiste em somar o tempo de contribuição de 30 anos, juntamente com a idade mínima; sendo mulheres aos 55 anos, e homens aos 60 anos. Segundo o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre, o fim do fator previdenciário é uma discussão das centrais, desde 1998, quando o governo FHC propôs uma nova reforma da Previdência, porém, a prática
não aconteceu. Silvestre explicou também, que o fator previdenciário nada mais é do que um redutor do valor da aposentadoria por tempo de contribuição. A nova fórmula 85/95, apresenta também mudanças no pacote de aperto aos benefícios sociais, incluindo seguro-desemprego e abono salarial. Maria Liesse Pereira Dias, 53, auxiliar de enfermagem, vai se aposentar em dois anos, e se sente tranquilizada por não ser atingida pela nova reforma, pois, servidores públicos terão regime diferente de aposentadoria. A servidora pública disse: “Para pessoas que são novas no mercado de trabalho, creio que essa fórmula dificultou para os mesmos quan-
do aposentarem”. O presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Adílson Araújo, elogiou a iniciativa de diálogo proposto pelo novo ministro, Carlos Gabas, mas ressaltou que a proposta 85/95 ainda não é um acordo. “Por enquanto, o único consenso que existe entre governo e centrais sindicais é de que é preciso pôr fim ao fator previdenciário. É um entulho criado pelo governo FHC que lesa os trabalhadores, principalmente aqueles que começaram a trabalhar mais cedo. Quanto a proposta da 85/95 é preciso estabelecer as regras”, afirmou. Contrapondo à declaração do ministro, que disse em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, que a reforma visa beneficiar o
Dona Maria se preocupa com orçamento
trabalhador que entra mais cedo no mercado, o presidente do CTB alegou que o governo não considerou o fato de o trabalhador também possuir mais tempo de contribuição. “Queremos uma proposta que faça justiça com os traba-
Mariana Campolina
lhadores e garanta as suas conquistas. Por isso, esperamos que o governo faça o debate. Não vamos nos furtar ao direito de negociar”, disse Adilson Araújo em entrevista ao Portal Vermelho.
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WINICYUS GONÇALVES 5° PERÍODO
Os pedestres que passam pela Rua Coração Eucarístico de Jesus encontram um cenário desagradável e de mau cheiro, principalmente no trecho entre a Praça da Federação e a PUC Minas. Sacos de lixo, caixas, restos de alimentos e até documentos ficam nas calçadas, atrapalhando a passagem dos pedestres. Durante a noite e o início da manhã, comerciantes e moradores da região colocam todo o lixo produzido durante o dia em frente aos seus estabelecimentos, prédios e casas. A grande quantidade de lixo fica sobre uma calçada muito estreita, impedindo a passagem dos pedestres, como estudantes da PUC Minas. A situação é mais complicada às segundas-feiras, quando os restaurantes precisam se desfazer do lixo de domingo. Ademir Ferreira, funcionário de uma mercearia da região, diz que há mais de cinco anos o lixo é colocado em frente ao estabelecimento juntamente com sacos de lixo de residências próximas. “Desde quando comecei a trabalhar aqui a situação sempre foi essa”, afirma. Segundo ele, é normal que os prédios residenciais também concentrem o lixo no local, inclusive para facilitar o trabalho do caminhão de coleta da Prefeitura. “Não temos
Espaço Urbano outro lugar onde deixar as sacolas. A calçada é muita estreita para colocar uma lixeira, ou mesmo uma caçamba”, diz. Já Cícero da Silva, que trabalha em um restaurante no bairro, afirma que os próprios fiscais da prefeitura teriam orientado os comerciantes a colocar o lixo ao lado do poste. “Um deles até me disse que quem deixar qualquer sacola antes das 18 horas toma uma multa de R$ 400”, conta. Cícero completa que as lixeiras do bairro são insuficientes para a demanda de lixo do bairro. A assessoria de imprensa da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) informou que a coleta de lixo domiciliar na região é realizada às segundas-feiras, quartas e sextas. A superintendência ainda esclarece que pneus, colchões, móveis e outros produtos que não são levados pelo caminhão de lixo podem ser entregues, gratuitamente, nas Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs). Os endereços dos locais se encontram no site da PBH. Para Valter Freitas, presidente da Associação dos Moradores do Coração Eucarístico (AmoCoreu), é preciso uma ação mais intensiva da prefeitura nos bairros Coração Eucarístico e Dom Cabral para a instalação de lixeiras coletivas e aluguel de caçambas. “O acúmulo
Lixo acumulado causa transtorno Entulho e mau cheiro nas calçadas atrapalham a passagem de pedestres no bairro Coração Eucarístico
Lixeiras já não comportam a quantidade de resíduos das residências e comércio
do lixo nas calçadas afeta diretamente os moradores, mas talvez nem seja o maior problema. A prefeitura precisa organizar mais a questão da coleta no Coração Eucarístico, Dom Cabral e dos bairros próximos”, diz. O Decreto Municipal nº 983, de 2004, estipula que sacolas contendo restos de comida ou algum outro material devem ser deixadas na calçada, em frente à própria loja que as produziu. Quem descumpre a lei é notificado e, se não corrigir o problema, pode receber uma
multa de R$ 100 até R$ 1,1 mil, dependendo da quantidade de lixo deixada no local. Já o recolhimento de deposições clandestinas, é feito diariamente de segunda a sábado e, conforme a demanda, até duas vezes por dia. A população pode denunciar o descarte irregular de resíduos ligando para o telefone 156 de atendimento ao cidadão. PRAÇA Pouco tempo depois de reformada por meio de uma parceria entre a
PUC Minas e a Prefeitura de Belo Horizonte, a Praça da Federação, localizada no bairro Coração Eucarístico, tem sinais de sujeira. Não é preciso chegar muito perto para notar a sujeira em que se transformou seu jardim, mesmo estando cercado. São embalagens, sacolas plásticas, papéis, garrafas e até palitos de picolé. Porém, o que mais espanta é que grande parte da sujeira se encontra a poucos centímetros das lixeiras que foram instaladas no local.
Igor Passarini
Em 2011, a praça foi reformada com o plantio de novas árvores, gramado e flores, conserto dos bancos, lixeiras, postes e instalação de mesas com tabuleiros de jogos. Mas as mudanças parecem não ter sido suficientes para conscientizar a população em relação ao respeito com o meio -ambiente, já que as pessoas ignoram até mesmo a presença de placas com os dizeres “Adote o verde” em duas áreas da praça, continuando a sujá-la.
Parklets ocupam vagas de estacionamentos nico em mineração Callazan de Jesus. “Essas pracinhas serão ótimas, principalmente, para os mais idosos. A população de hoje é muito velha e ela precisa de lugares para um lazer. Os idosos que jogam dama aqui no centro terão um lugar mais confortável para jogarem.” A vendedora Regina Alves gostou da proposta já que poderá fazer seus horários de almoço em um lugar mais confortável e completa “poderei ler um livro ou ouvir uma música”. Funcionários da Prefeitura instalam “vagas móveis” no centro da cidade
NAYARA OLIVEIRA 3º PERÍODO Os Parklets ou Varandas Urbanas são espaços criados pela Prefeitura com o intuito de gerar lazer para a população belo-horizontina. Esses espaços começaram a ser instalados em maio em estacionamentos de ruas e avenidas da Região Centro-Sul da capital mineira. Apesar da ideia de convívio urbano, problemas como insegurança pública, vandalismo e o fato de ocuparem as poucas vagas de carros existentes na cidade fazem a população reclamar da iniciativa.
Parceria entre a Prefeitura e a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH) foi firmada para a instalação de duas varandas na região Centro-Sul da capital, uma na Rua dos Goitacazes, entre as ruas Espírito Santo e Rio de Janeiro, e outra na Avenida Bandeirantes, entre as ruas Ribeiro Junqueira e Júlio Vidal. A primeira tem prazo estimado de 10 a 15 dias. Em seguida, será montada a varanda da Avenida dos Bandeirantes, que deve ser inaugurada entre 15 e 20 de junho, segundo a Prefeitura. A Varanda Urbana foi estabelecida por meio do
Guilherme Cambraia
Decreto 15.895/15, que definiu regras e condições para a instalação. Os lojistas da região central se mostram empolgados com o mobiliário. Eles acreditam que essa nova instalação trará maiores lucros para os comércios ao redor. A atendente Sabrina Mendes, dorou a ideia. “Vai ser ótimo ter essas Varandas, ainda mais se tiver mesinhas, assim mais pessoas poderão consumir no local, aumentando o lucro da loja”, afirma. Moradores do centro da cidade também gostaram da ideia, como o morador e téc-
MAIS SEGURANÇA Alguns moradores se mostraram inseguros com a nova instalação. Eles afirmam que a Varanda Urbana poderá ser alvo de assaltantes, vandalismo e moradia para moradores de rua. “A ideia é maravilhosa, o problema é a educação do pessoal em conservar essas instalações. Se não tiver policiais por perto, essas Varandas correm o risco de virar local para assaltantes e moradores de rua”, afirma a professora Marlúcia Porto. Insatisfeita, a moradora da região há 15 anos, Andréia Silveira, fala: “Deveria investir mais em segurança primeiro”.
Segundo Eduardo Bernis, secretário municipal de Desenvolvimento: “Não só a segurança, mas também as manutenções das Varandas são de responsabilidades para quem instalou [A CDL-BH e um grupo de lojas parceiras são responsáveis pela manutenção dos espaços]. A prefeitura é responsável, apenas, pela segurança publica da cidade”. E completa: “O que é melhor, você criar uma cultura, algo novo e moderno para a população, ou você deixar de fazer porque poderá ser vandalizado?”
estacionamento para privilegiar essas Varandas Urbanas, mas dar uma dinâmica diferente naquela região para as pessoas que circulam por ali ou que moram em seu entorno”. Além disso, Eduardo explica que é irrelevante, pois para haver um problema de estacionar teriam que ser criadas centenas de parklets. “A prefeitura está analisando parcerias com empresas para a construção de estacionamentos subterrâneos”, conclui.
MOTORISTAS Alguns motoristas, mesmo gostando da ideia da Varanda Urbana, mostraram-se aborrecidos, pois estas Varandas irão ocupar as vagas de estacionamento público. O gerente e motorista Luiz José Medeiros achou a ideia bacana, mas argumentou: “Esses Parklets irão atrapalhar bastante os motoristas que utilizam essas vagas. Belo Horizonte não tem muitos lugares para estacionar e com esses Parklets irão ficar mais escassos”. No entanto, Eduardo Bernis, afirma: “A ideia não é tirar definitivamente o
INSTALAÇÃO A instalação de uma Varanda Urbana vai depender de quem fizer um requerimento a ser apresentado à Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana, por intermédio da Central de Atendimento Presencial – BH Resolve. A documentação a ser levada consta no site da prefeitura (www.portalpbh.pbh.gov.br/pbh/). Além disso, o interessado que obtiver a autorização arcará com todas as responsabilidades, desde a instalação, manutenção, segurança e remoção dos Parklets.
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Comunidade
Bairro
DomCabral
50 Anos
Moradores desaprovam corte de árvore Quem passava pela Praça do Chuí, no bairro Alto dos Pinheiros, procurou pela árvore que marcava a paisagem do local. O Guapuruvu amanheceu no chão entre protestos DÉBORA ASSIS RAFAELLA RODINISTZKY 3° E 5° PERÍODOS
Schizolobium parayba é o nome científico do Guapuruvu, árvore de grande porte que pode atingir cerca de 30 metros de altura. De tronco cinzento e copa ampla, o arbóreo presenteia os olhos de quem o observa no mês de agosto quando suas flores amarelas se espalham sobre a grama. Até o dia 14 de junho, a Praça do Chuí localizada no bairro Alto dos Pinheiros, tinha um Guapuruvu. A árvore querida pelos moradores remonta a histórias dos tempos juninos, em que a cascata e o estandarte de São João ficavam pendurados para as comemorações. Flávio Cravo, músico nascido e criado no bairro, se lembra
de seu lugar favorito para se esconder quando brincava de esconde-esconde com amigos durante a infância, o Guapuruvu. Ele lamenta a perda da árvore que marcou seu tempo de criança e as festas da comunidade: “O bairro não perdeu somente uma sombra qualquer, perdeu parte de sua história. História essa que ficará na memória de quem a conheceu, de quem brincou em volta dela ou de qualquer pessoa que tenha passado por aquela praça e visto tamanha exuberância. Plantemos mais árvores e mais belas histórias”. Na manhã seguinte ao corte, mensagens de indignação foram encontradas no tronco, já serrado em diversos pedaços. Em cada um deles recados como “o bairro está em luto”; “mais amor, menos dinheiro”;
“mais verde”. Palavras da alma da comunidade que não compreendia o que estava acontecendo com a árvore que levou décadas para crescer e, em menos de um dia, chegou ao chão. REPLANTIO As árvores, assim como todos os seres vivos, passam por todos os quatro estágios de desenvolvimento: nascimento, crescimento, reprodução e morte. O Guapuruvu da Praça do Chuí chegou ao seu último estágio. “Apresentava-se com extenso ocamento, necrosamento do lenho, por ataque de cupins, reduzindo e comprometendo a sua estabilidade,” segundo a Gerência de Comunicação da Regional Noroeste. Após uma análise técnica realizada por dois engenheiros agrônomos
A comunidade se queixa da supressão do Guapuruvu
da Gerência Regional de Jardins e Áreas Verdes da Região Noroeste, foi decidido fazer o corte da árvore para que danos pessoais e materiais fossem evitados caso ocorresse uma queda do Guapuruvu. “No local serão plantadas quatro mudas arbóreas (dois Ipês rosados e duas Sibipirunas) recompondo e melhorando a arborização da praça,” afirmou a Assessoria de Comunicação da Regional Noroeste.
Rafaella Rodinistzky
Um pé de quê? No Brasil, o Guapuruvu é encontrado da Bahia até Santa Catarina, na floresta pluvial da encosta atlântica. A sua característica marcante é a florescência no final de agosto. Suas flores são em tom amarelo, o que faz com que ela seja confundida com o Ipê. Devido ao uso de sua semente por moradores da zona rural do Triângulo Mineiro, a árvore foi estudada por um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia com o objetivo de obter comprovação de seu efeito antiofídico (combate ao veneno de cobras e outros animais peçonhentos).
Livros retratam parte da história de bairros de BH então desconhecidos, transformando o que é ordinário em extraordinário.
Estádio do Mineirão também é retratado nos livros sobre os bairros de BH
LUIZ HENRIQUE BRAZ 2º PERÍODO
Do Mineirão à Lagoinha. Do Maletta ao Morro do Papagaio. A coletânea de livros sobre bairros e os diversos lugares de Belo Horizonte intitulada “BH – Cidade de Cada um” apresenta a cidade de outro ângulo. Com linguagem simples, direta e bem mineira, os livros apresentam ao leitor as pequenas histórias escondidas nos bairros de Belo Horizonte. O projeto que busca retratar essas histórias é coordenado por dois jornalistas - José Eduardo Gonçalves e Sílvia Rubião –, com apoio da lei de incentivo municipal. Iniciou-se em 2004, ano em que foram lançados três livros: Mercado Central, de Fernando Brant; Estádio Independência, de Jairo Anatólio Lima; e Lagoinha, de Wander Piroli.
José Eduardo explica que a coleção é uma declaração de afeto à cidade: “Nós sentimos que existia uma brecha no mercado. Uma oportunidade no mercado editorial. Porque quase não temos livros, guias, coisas dedicadas a Belo Horizonte. É uma cidade muito carente. Outro aspecto é que é uma cidade também muito fácil de ser criticada. ‘Belo Horizonte não tem isso, não tem aquilo’ – e nós gostamos da cidade. A gente acha que a cidade ainda está em formação, que tem muitos defeitos, mas que é uma cidade que acolheu muita gente do interior. É uma cidade basicamente feita por gente do interior. E que seria bacana a gente ao mesmo tempo ter uma produção assim que pegasse um nicho do mercado, e que também fosse uma declaração de afeto a cidade. Foi uma coisa que a
Guilherme Frossard
gente quis: criar uma coisa afetiva, onde pudéssemos envolver as pessoas, valorizando aquilo que a cidade tem.” Construídos através de pesquisa e da vivência dos autores em seus bairros, os livros resgatam lembranças e memórias de bairros como Santo Antônio e Santa Tereza. Eliane Marta Teixeira Lopes, autora do livro sobre o bairro Santo Antônio, conta que a redação do livro se deu justamente pela sua vivência no bairro, já que nasceu e sempre morou no Santo Antônio. “Foi a minha vivência e convivência no bairro, leitura e pesquisa, e a conversa com moradores antigos e novos que me permitiram lembrar de fatos e de outros moradores do bairro,” explica a autora. Os livros reúnem variados casos – ou no “mineirês”, causos - de personagens da vida real, até
AUTORES Questionado sobre a escolha dos autores, José Eduardo afirma que ela é feita de forma muito simples, e que existem duas formas. Uma é o processo boca a boca: Eles vão conversando com amigos, e de repente um nome aparece. A outra é quando são procurados. Mas antes de tudo quem quer escrever um livro para a coleção deve ter uma ligação muito próxima e afetiva com o lugar. “Não dá para ter uma coleção dessas sem o mercado central. Começamos a pesquisa, a conversar com os amigos. Aí de repente aparece um nome.” José Eduardo Gonçalves conta que sempre recebe propostas, que são previamente analisadas. E que inclusive, ocorreu um caso em que um autor enviou o primeiro capítulo sobre um livro onde o escritor falava mal do bairro, o que não é a intenção dos livros. “A gente quer uma coleção para cima, para falar de coisas legais,” completa. Segundo o coordenador do projeto tudo surgiu muito naturalmente, como foi o caso do primeiro livro, Lagoinha, de Wander Pirolli, já falecido. A escolha do autor se deu justamente porque toda a obra do escritor estava em torno da Lagoinha. Para ele, foi “o começo perfeito”.
SITE O projeto ainda conta com um site www.bhdecadaum.com.br , onde é possível encontrar outras histórias sobre os bairros de Belo Horizonte, saber um pouco da vida de cada autor e enviar suas próprias histórias para serem publicadas no site. Conforme o próprio coordenador do projeto, apesar da falta de dedicação ao site, ainda existiria um grande potencial a ser explorado – fotos da cidade, a abordargem sobre os famosos autores mineiros, como Drummond – e que a ideia da página na web é justamente ser um espaço democrático onde as pessoas possam contribuir com suas histórias. IDEIA E EXPECTATIVAS José Eduardo afirma que a coletânea de livros não se esgota, ainda existe muita coisa a ser contada sobre os lugares, bairros, pontos e referências da cidade. A coleção que conta com 27 livros, ganhará mais um: O livro sobre o viaduto Santa Tereza, do autor João Perdigão que será lançado no segundo semestre desse ano. Para ele, a ideia da coletânea não é ser um livro didático de história ou um livro complexo, de historiador: “Um historiador talvez escrevesse um livro de história muito maior, muito mais completo. Nós não temos essa intenção de escrever um livro completo
em termos de história. Mas tudo que é história que está aí, está verdadeiro. Fatos narrados, datas, nomes das pessoas. Tudo que está aí é verdade,” observa José Eduardo. O caráter simplista e de livro de bolso – que também faz parte da ideia da coleção – ajuda na acessibilidade do livro: “A gente queria fazer algo simples. Não é um livro com fotografias por dentro que fique caro. Não é um livro grandão, com capa dura. A gente queria fazer quase como um livro de bolso mesmo. Um livro para circular bastante para ser bem acessível,” afirma o coordenador do projeto. Quanto ao reconhecimento, José Eduardo explica que a coleção é muito querida e que apesar do alcance ser municipal, existem alguns leitores de outras cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que já moraram em BH e que acompanham os livros. O papel da mídia também é fundamental na divulgação dos lançamentos. Sobre a coleção, a escritora Eliane Lopes acrescenta: “A memória de uma cidade, construída no dia a dia de seus moradores e dirigentes, exige cuidados e vontade de preservação. Certamente a Coleção BH - a cidade de cada um colabora para que cada leitor busque a sua identificação com o que foi lembrado pelo autor/a e estimula a que cada um narre a sua própria”.
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Meio Ambiente
Moradores buscam preservação O terreno é a última área verde restante na região oeste de BH e é alvo de construtora para novo empreendimento. População propõe criação de parque comunitário no local GUILHERME CAMBRAIA 5º PERÍODO
Belo Horizonte, sem dúvida, já foi em outros tempos, uma região muito mais arborizada e cheia de verde, se comparada ao que é hoje. No dia a dia estamos sempre cercados pela “selva de pedra”, composta por muito concreto e tonalidades acinzentadas, são poucas as áreas verdes que ainda restam. Tais áreas tendem cada vez mais a serem destruídas pela especulação mobiliária que engole a capital. Em 2011 uma área verde de 21.528,56 m², a única da região oeste da capital, localizada no bairro Jardim América, foi preterida pela construtora Masb, para construção de um empreendimento de grande porte. A mata, que fica na Avenida Barão Homem de Melo, próximo ao número 600, é um inventário familiar não finalizado. Dessa forma, a construtora, através de uma solicitação à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, conseguiu uma permissão para usufruir do terreno. Entretanto, a área é considerada muito importante por moradores da região, que iniciaram em 2012, quando se tornou de conhecimento público o interesse da construtora, uma luta pela preservação da mata, batizada também de Chácara Jardim América. Anito Mário Custódio Mendes, nascido e criado no bairro Nova Granada, e João Batista da Silva, morador da região há 35 anos, coordenadores do movimento, propuseram um abaixo-assinado contra a ação da construtora, sugerindo a criação do Parque Ecológico Jardim América. O parque, que
seria uma área comum para todos os moradores da região, é uma forma de preservar o meio ambiente e criar uma nova área de lazer para as pessoas. O abaixo-assinado, que começou em outubro de 2012, reuniu quase mil assinaturas e foi enviado à Prefeitura e ao Ministério Público. Desde então, os coordenadores criaram o Grupo Organizado de Moradores e Usuários do Jardim América (GOM&UJA), e vêm ganhando cada vez mais apoiadores que buscam a preservação do meio ambiente e da ecologia da região, que é crucial para manter a qualidade de vida dos moradores. “Nós temos o apoio da associação Nova Suíça, que respalda a todas nossas necessidades, pois nós não temos CNPJ”, diz Anito, ao dar ênfase ao grande apoio que eles vêm recebendo nos últimos anos. “Nós temos chamado muita atenção da população, nossos movimentos chegaram até o Ministério Público de Proteção ao Meio Ambiente, o qual entrou com uma proposição civil, que está paralisada até hoje. Temos grande esperança no judiciário, que com certeza levará em conta essa crise hídrica que estamos atravessando, e talvez tenham ideia do quanto aquela mata é importante,” declarou Anito Mário, ao ser questionado sobre as repercussões das ações do GOM&UJA. MOBILIZAÇÃO
O movimento conta com duas páginas no Facebook: “Criação do Parque Ecológico Jardim América”, e “Parque Jardim América”, que juntas, acumulam cerca de 5 mil curtidas. É pelas mídias sociais a principal
forma de divulgação, e onde os participantes se organizam para realizar os movimentos. Dentre eles, acontecem os “Abraços”, movimento no qual as pessoas se reúnem na Chácara para protestar em prol da criação do Parque, que já contaram com quase 2 mil pessoas. Já foram realizadas também, ocupações culturais, um protesto no qual uma das pistas da Avenida Barão Homem de Melo foi fechada, e alguns movimentos ecumênicos. Além da preservação do meio ambiente, é importante considerar outras questões levantadas pelos moradores do bairro. A infraestrutura da região é extremamente precária. A chegada de um empreendimento, que segundo o projeto da construtora contará com duas torres de 23 andares cada uma, chegando a 226 apartamentos, e mais de 700 vagas de garagem, trará muitas dificuldades. “Nós, nos últimos dois anos recebemos dez espigões, tipo aqueles com vinte e três, dezoito, treze, quinze andares cada, não recebemos nenhuma linha de ônibus, nenhum ponto de taxi, nada, só mais cargas agregando, fora o trânsito que vai ficar mais insuportável do que já é. Além disso, a população tem aumentado todo dia, estão desmanchando as casas e construindo prédios, ficará inviável daqui uns 10 anos, por isso, nós achamos que há a necessidade de preservar aquele pedaço ali”, destaca João Batista. Os participantes e os idealizadores dos movimentos destacam, portanto, uma série de pontos que são fundamentais ao discutir a questão da utilização da área ver-
Moradores lutam pela preservação da chácara
de para construção de empreendimentos. João Felipe de Paula, que é professor e morador do Jardim América há cerca de 4 anos, é a favor dos movimentos, e aponta os principais argumentos considerados por ele relevantes quanto à construção das duas torres. “O primeiro ponto a ser des-
tacado é o fato de a região ser muito carente quando se trata de área verde, portanto devemos preservá-la, o segundo ponto, é a importância ambiental que ela tem pra região, o terceiro é pela questão da infraestrutura, o quarto é pelo dever que nós temos de preservar o meio ambiente para nós e para
Guilherme Cambraia
futuras gerações, e o ultimo é que pode-se fazer ali, uma desapropriação para utilidade pública. O governo tem esse poder, embora a área seja privada, ele pode fazer até transferência do direito de construir, ou seja, não acarretaria em nenhum prejuízo para o proprietário”, destaca o professor.
Negociações e propostas Tendo em vista a grande aceitação dos movimentos e a força que eles vêm adquirindo, a construtora afirmou por meio de nota que vai transformar 27% do terreno em área pública, e outros 15% serão usados para a criação de uma Reserva Particular Ecológica. Mas isso não agradou aos moradores. “15% eles já têm que deixar por lei, e nós não estamos preocupados apenas com a preservação da ecologia ali, nós estamos preocupados com uma gama de coisas, o número de pessoas que vão vir, a quantidade de carros, a quantidade de lixo que eles vão produzir, para onde vão levar o esgoto, e a quantidade de água a ser gasta”, protesta Anito Mário diante do projeto proposto pela construtora. Entretanto, a Masb afirmou que segue todos os parâmetros das leis de uso e ocupação do solo, e que o empreendimento seria devidamente comportado pela região. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) informou, por meio de nota, que o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) em reunião ordinária realizada no dia 26/11/2014 concedeu uma licença prévia à construtora. A nota
informa ainda que o projeto da forma como está, atende a legislação municipal vigente e afirmou que há um ganho em área verde maior do que normalmente se pede na referida legislação. “Serão preservadas 416 árvores nesta área e suprimidas 275 para as edificações com o posterior plantio de 1.356 como compensação ambiental”, informa a SMMA. No entanto, o projeto de lei proposto pelos moradores para a implantação do parque ecológico fez com que o juiz responsável pelo caso determinasse a continuidade do licenciamento ambiental, não permitindo, por enquanto, o início de qualquer obra até o julgamento do mérito. Recentemente, o projeto de lei recebeu um parecer favorável da Comissão de Administração Pública da Câmara Municipal. O relator da proposição, vereador Juliano Lopes alegou que a aprovação da matéria se faz necessária uma vez que “do ponto de vista da gestão pública, a criação de parques é uma alternativa viável para a minoração dos efeitos da incessante urbanização que afeta as grandes metrópoles”. O projeto, portanto, segue para análise da Comissão de Orçamento e Finanças Públicas..
Chácara Jardim América
Anito Mário e João Batista coordenam o movimento
Guilherme Cambraia
A área verde é a única área remanescente da antiga Fazenda das Goiabeiras, uma das grandes fazendas que deram origem à capital. A grande quantidade de jardins e roseiras que existiam na fazenda, deu nome ao bairro Jardim América em 1929. Segundo o biólogo Cássio Nunes existem espécies de pássaros nunca catalogadas em outras regiões da cidade ali dentro, além de vegetação característica da Mata Atlântica e do Cerrado. A diversidade da mata conta também com a presença de árvores já em ex-
tinção no Brasil, como o Jacarandá Bahiano, e por isso ela é considerada pelos moradores da região muito importante histórica e ecologicamente. A luta está em andamento até hoje, e no bem-estar dos moradores da região e da cidade de Belo Horizonte, o GOM&UJA e seus apoiadores querem manter a preservação da área e deixar intacta parte da história da capital. O parque ecológico, além de uma área de lazer comum a todos, seria um refúgio para toda a fauna e flora da região.
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Inclusão
Difícil mercado para deficientes Empresas contratantes buscam funcionários com deficiências menos graves, limitando as oportunidades para aqueles que procuram empregos e inclusão no mercado de trabalho ANA SOUZA ANA PAULA PIMENTA SILVIA SENNA 1º PERÍODO
A deficiência, ainda hoje, é um assunto delicado, permeado de mitos e tabus. A propaganda sobre inclusão social é ampla e funciona bem na teoria, porém na prática a história é outra. No Brasil, 24% da população são pessoas com limitações aparentes ou não aparentes, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE. O preconceito, a falta de acessibilidade e o desemprego são alguns desafios a serem vencidos na vida desses 45 milhões de brasileiros. Criada em 1991, a Lei de Cotas, que obriga empresas a contratarem pessoas portadoras de deficiência já sofreu várias alterações, melhorou a situação, mas não é o bastante. Essa cota de vagas varia de 2% a 5%, dependendo da quantidade de empregados de cada empresa. Um caso exemplar é o Instituto Ester Assumpção, parceiro da PUC Minas, que conta com cerca de 300 deficientes cadastrados, dentre eles deficientes físicos, mentais e múltiplos. O instituto fica localizado à Rua Paulo de Freitas, no Centro de Betim e existe desde o ano de 1987. Segundo o superinten-
dente Oswaldo Barbosa, o Instituto possibilita às empresas contratantes acessibilidade arquitetônica e atitudinal para que possam receber o contratado de forma inclusiva. Oswaldo enfatiza que para haver inclusão precisa-se de autonomia e, muitas vezes o local não apresenta rampas, elevadores ou banheiros adaptados. Além disso, os funcionários da companhia, normalmente, não são acostumados a ter um contato direto com pessoas com deficiência. Um claro exemplo disso é o estudante de direito e parceiro do Instituto Ester Assumpção, David Pena Ramos César, 25 anos. Ele tem uma síndrome rara e ainda pouco conhecida pela ciência, chamada Síndrome de Hanhart, que se caracteriza pela ausência completa ou parcial dos braços e pernas. Apesar de toda a dificuldade física, David César já estagiou no Tribunal de Justiça, no Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA/BH). David, que hoje é palestrante, conta sobre o preconceito vindo das próprias empresas contratantes, que tentam admitir pessoas com deficiências menos graves e limitadoras, os chamados “deficientes menos deficientes”. Segundo ele, o drama
maior se deve às empresas que não contratam por não quer se adaptar à chegada das pessoas com deficiência. ADAPTAÇÃO Juntos, David César e o Instituto acreditam em um novo mecanismo de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho: o emprego apoiado. O emprego apoiado consiste na lógica de incluir o deficiente para depois capacitá-lo para a atividade que ele irá exercer. Dessa maneira, haveria mais oportunidade para as pessoas com deficiência, já que o foco estaria no que eles são capazes de fazer, e não o contrário. Assim como David, a fonoaudióloga Lívia Bhering, de 32 anos, que se especializou no tratamento de pessoas surdas, acha que a lei não é suficiente para garantir os direitos dos deficientes no mercado de trabalho: “A lei é interessante, garante a inserção, mas não garante a permanência de uma pessoa com deficiência em uma empresa.” Por outro lado, as empresas que precisam cumprir a lei de cotas alegam ter suas próprias dificuldades. Entre elas destacam-se a baixa escolaridade da pessoa com deficiência - como mostra a pesquisa realizada pelo Instituto Ester Assumpção, em
David César espera mais que o cumprimento das leis
que 73,8% dos deficientes da cidade de Betim não estudam - e a falta de preparo dos demais funcionários. Contudo, Diego Souza, analista de desenvolvimento humano da empresa Brennand Cimentos, em entrevista ao Instituto Ester Assumpção, destaca a preocupação de algumas companhias na adaptação dos novos funcionários e traz à tona que o que deve ser en-
xergado são as capacidades dos deficientes, ao invés de suas limitações. Segundo Diego, “a dificuldade só existe também a partir do momento em que a gente consegue ver só a dificuldade. Se a gente passa a ver além da dificuldade, a gente começa a encontrar meios para vencer esse obstáculo. Ela é um obstáculo até o momento em que a gente quebra o preconceito”.
Lucas Félix
Apesar da existência da Lei de Cotas há mais de 20 anos, no Brasil apenas 40% das empresas cumprem o número de vagas definido para os portadores de deficiência. Para Oswaldo Barbosa, esse percentual só existe porque iniciou-se uma fiscalização dentro das empresas. “Se não tivesse lei, nenhuma empresa estaria contratando”, completa.
Esgrima adaptada abre chance para cadeirantes JÚLIA DEMOLIN ROSCOE 1º PERÍODO
A esgrima é um esporte pouco conhecido no Brasil, sua forma em cadeira de rodas é pouco conhecida. Em Belo Horizonte, o Barroca Tênis Clube oferece aulas da atividade tanto em sua prática convencional, quanto em cadeira de rodas, para crianças, jovens e adultos. O desafio é vivido por alunos e treinadores. A esgrima trabalha com o equilíbrio, agilidade, concentração, a precisão de movimentos e a sagacidade. É um esporte muito mais de estratégia do que de força, uma vez que a coordenação motora é essencial para a execução dos ataques e das defesas. A habilidade de fintar e prever os golpes também é muito necessária. Essas características permitem que haja jogos equilibrados entre homens e mulheres. Atletas paraplégicos, amputados ou com paralisia cerebral podem praticar a modalidade, incluindo os que conseguem locomoverse sem o auxílio de cadeira de rodas, sendo necessário apenas o movimento da parte superior do corpo. Assim, essa forma de es-
grima abrange mais pessoas com deficiência física. TEMPO E PRECISÃO Para esses atletas, há algumas modificações na forma de jogar. Os praticantes não se locomovem pela pista de jogo, assim sendo, as jogadas são feitas apenas com os membros superiores, ao contrário da forma convencional em que os esgrimistas utilizam as pernas para a defesa e o ataque. Com isso, o tempo e a precisão dos movimentos tornam-se mais importantes. A distância entre os cadeirantes é estabelecida no início do jogo de acordo com as medidas de alcance de cada um e as cadeiras ficam presas a uma base de apoio que regula essa distância. Nos combates com espada, como meio de segurança, os jogadores têm a parte inferior do corpo coberta por uma espécie de manta metalizada que protege essa área. Ademais, os outros equipamentos (jaqueta, máscara, luva, arma) são iguais aos da esgrima convencional, variando para destros e canhotos. A esgrima é um dos poucos esportes adaptados em
que os cadeirantes podem competir em igualdade com os demais atletas. Para isso, os jogadores sem deficiência sentam-se em uma cadeira de rodas e combatem como se fossem cadeirantes, sem haver desvantagem. Assim “pode haver uma verdadeira inclusão”, diz Kleber Castro, treinador de esgrima adaptada no Barroca Tênis Clube. Kleber começou há cinco anos a dar aula de esgrima adaptada ao ver que inexistia essa modalidade em Belo Horizonte. Ele enfatiza a função social do esporte: “Estar aqui e ver outra pessoa que também tem dificuldade com a cadeira, também tem as mesmas doenças, também tem as mesmas infecções, também se alimenta mal, coloca ele [deficiente] em um patamar de mais igualdade com a comunidade.” Quanto aos benefícios físicos diretos da esgrima, o treinador cita o equilíbrio, a concentração e a força, dizendo que a mobilidade e a autonomia dos atletas aumentam, por exemplo, ao trocar da cadeira de rodas convencional para a dos jogos.
Esporte adaptado já tem competições no Brasil
GRATUIDADE Atualmente, no Barroca Tênis Clube são oferecidas, no total, dez vagas gratuitas para as aulas de esgrima adaptada. Uma das alunas, Helaine Miguela, tem problema nas pernas, mas consegue andar sem o auxilio de cadeira de rodas, entrou no mundo dos esportes em 2007. Começou relutante com o basquete para cadeirantes e percebeu que não era a única com dificuldades. “Vi naquele esporte uma salvação”, ela diz ao revelar o início do seu amor pelo esporte adaptado. “Ele me recuperou de uma depressão. Eu não me aceitava e passei
a me aceitar”, completa. Após tentar outras atividades, optou pela esgrima no final de 2014. “A esgrima para mim está sendo de uma importância porque ela está dando continuidade a tudo isso.” Helaine participou de seu primeiro combate esgrimista no início deste ano e se inspira nos exemplos de outros deficientes que superaram as dificuldades por meio do esporte. Ela diz que a esgrima “é como um remédio que trata a gente aos pouquinhos.” No Brasil, há competições de esgrima adaptada com os três tipos de armas: florete, espada e sabre; sen-
Lucas Félix
do que a modalidade com sabre está se desenvolvendo na categoria masculina e ainda não existe na feminina. Para essas competições, os atletas deficientes são classificados em três categorias. A categoria A é para aqueles que possuem total controle do tronco; a B é para os que têm o controle mais restrito, podendo perder o equilíbrio; e a C que destina-se aos atletas que sofreram lesão medular alta ou possuem paralisia cerebral. Anualmente, há dois torneios estaduais em Minas Gerais e três nacionais no Brasil.
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Cultura
Quadrinhos para gente grande No bairro Santo Antônio, a Gibiteca Antônio Gobbo atrai admiradores de HQs. Frequentado por pessoas de todas as idades, o espaço oferece amplo acervo e atividades gratuitas RAFAELLA RODINISTZKY 5° PERÍODO
No Brasil, quando se pensa em histórias em quadrinhos a primeira imagem que vem à mente é a da “Turma da Mônica”, do quadrinista Maurício de Souza, associada aos tempos de leitura da infância. Porém, os quadrinhos estão além da fase pueril e possuem um público adulto consolidado e ávido por novas histórias. Em Belo Horizonte, no bairro Santo Antônio, um bom exemplo é a Gibiteca Antônio Gobbo, uma das maiores do país e da América Latina, seu acervo de mais de 18 mil exemplares abrange todos os públicos. O espaço fica na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, no antigo prédio da Faculdade de Ciências Humanas (Fafich) da UFMG. Caminhando pelos corredores da biblioteca de quadrinhos é possível encontrar a famosa “Turma da Mônica” ao lado de trabalhos consagrados como o do argentino Quino, criador da menina “Mafalda”, de Laerte Coutinho com “Laertevisão”, de seu filho Rafael Coutinho, em parceria com Daniel Galera, representando o novo quadrinho nacional com “Cachalote” e sem contar os super-heróis da Marvel e da DC Comics. Para os aficionados pela 9ª arte, encontrar graphic novels de Joe Sacco, Neil Gaiman e Will Eisner é um sonho possível na Gibiteca Antônio Gobbo. Além do amplo acervo de quadrinhos, o espaço oferece atividades gratuitas aos seus frequentadores, como o “Clube de leitura” e o “Conversa
em quadrinhos”. O clube é um espaço para discussão de obras e autores de várias nacionalidades e estilos a cada 15 dias, já o “Conversa em quadrinhos” é um momento mensal para conversar com o próprio autor sobre o quadrinho por ele criado. Afonso Andrade, coordenador dos encontros na Gibiteca, explica que tais eventos só foram possíveis após uma série de modificações efetuadas em 2011, ano de surgimento do clube de leitura: “A Gibiteca ficava fechada, não tinha empréstimo. Então, foi feita uma série de mudanças, principalmente no acervo e nessas mudanças houve a tentativa de fazer a integração da Gibiteca com o resto da biblioteca para que houvesse um maior acesso e transformá-la em um ponto de referência de quadrinhos na cidade.” CLUBE É ABERTO Afonso explica que os temas dos próximos encontros são escolhidos após cada reunião, sempre escutando sugestões dos participantes. Após a decisão o nome da obra ou do autor escolhido fica disponível no grupo do Facebook “Clube de leitura da Gibiteca Antônio Gobbo” para que os participantes tenham acesso e estudem o material para o encontro seguinte. Se a pessoa não leu a sugestão da semana, não está proibida de participar das discussões.“Nada impede a pessoa de participar e isso acontece sempre. Hoje mesmo teve gente que mandou mensagem que vem, mas não tinha lido os livros e não tem problema nenhum. É a oportunidade da pessoa
É possível encontrar obras de diversos quadrinistas na Gibiteca Antônio Gobbo
ter um contato e se interessar em ler o autor”, afirma Andrade. Flávio Túlio Cerqueira frequenta o clube desde o início, em 2011, e conta que com os encontros pode ampliar sua visão sobre o universo dos quadrinhos, lendo obras e autores que normalmente não leria por conta própria. O analista ambiental de 37 anos começou sua trajetória nas narrativas gráficas com “Turma da Mônica” e confessa que mantém até hoje a leitura de gibis da turminha. Aos 16 anos, Cerqueira passou a praticar desenho e entrar nas histórias de super-heróis, parando de ler quadrinhos com a chegada da faculdade. “Passei a participar do clube, passei a ler com mais frequência, principalmente as obras que são discutidas aqui no clube de leitura”, explica.
Rafaella Rodinistzky
Fanzines: imprensa artesanal e alternativa Fanzine, uma abreviação de fanatic magazine, significa revista feita por fãs. Ele é fruto de uma mídia artesanal e pode ser elaborado sem conhecimentos profissionais de arte. Pode-se considerá-lo como uma imprensa alternativa feita para divulgar todo tipo de tema, geralmente com uma postura política ou crítica em relação ao assunto escolhido, como música, cinema, feminismo, sentimentos, questões sociais, poesia, games, estilo de vida e preconceito. A perspectiva “do it
yourself ” (faça você mesmo) possibilita aos indivíduos o deslocamento de sua condição de espectador/leitor para a de produtor/autor de conteúdo da cultura, com essas novas formas de publicação. Empoderado de tais conhecimentos, o próximo passo é colocar a ideia no papel. E é isso que os coletivos belo-horizontinos estão fazendo. Quase que quinzenalmente a cidade recebe feiras de produtos gráficos como a “Espanca!” e o “Kamelô Gráfico” que buscam mais do que a simples venda de fan-
Falta de oportunidade O administrador Fabiano Dutra de Oliveira, 37 anos, encontrou nas reuniões a oportunidade de mesclar sua graduação em artes plásticas com a paixão pelos quadrinhos. Por meio do clube de leitura, Dutra criou o fanzine “Coletivo 1204” com mais três frequentadores e pretende continuar o projeto futuramente, já que um de seus sonhos é trabalhar com quadrinhos e desenho animado. Porém, ele lamenta a desvalorização dos quadrinhos no Brasil e vê o “Clube de Leitura da Gibiteca Antônio Gobbo” como um dos poucos espaços da cidade que os valorizam: “É muito difícil achar pessoas que têm esse interesse pelo quadrinho como arte, que dá o devido valor a ele. O quadrinho é muito marginalizado aqui no Brasil, em geral, ele não é tratado como deveria ser. As pessoas veem o quadrinho como se fosse algo só infantil e de pouco valor, aquela coisa menor do que a literatura, sem o valor expressivo que tem.” Para participar dos encontros basta comparecer à Biblioteca Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, Rua Carangola – 288, Santo Antônio. As reuniões acontecem quinzenalmente aos sábados a partir das 10h e para conferir a discussão da semana basta enviar um convite no Facebook para o grupo “Clube de Leitura da Gibiteca Antônio Gobbo”. A Zica: irreverência em forma de fanzine
Rafaella Rodinistzky
zines, a troca de experiências e ideias entre os produtores de conteúdo. DIVERSIDADE Os coletivos sempre presentes e de origem mineira são “A Zica” com mistura de temas improváveis como o seu último trabalho “Funk, dinossauro e Rússia”; “ZiNas” composto por sete mulheres que abordam movimentos feministas e de cultura underground e por último a “Polvilho Edições” que acredita em uma configuração editorial alternativa pautada no trabalho coletivo e autoral. Existem também os trabalhos individuais das mais variadas abordagens, confirmando a diversidade em construção que as feiras de publicações independentes apresentam. Os eventos são itinerantes e geralmente ocupam locais underground de Belo Horizonte, como o Edifício Ancangelo Maletta e o Viaduto de Santa Teresa. Para acompanhar o calendário de atividades gráficas da cidade, uma boa dica são as páginas no Facebook dos coletivos e artistas independentes da cidade.
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Música
CALEBE OLIVEIRA 2º PERÍODO
Os finais de tarde das quintas-feiras ganham tom festivo nos arredores do Cine Theatro Brasil Vallourec, localizado na Praça Sete, área central de Belo Horizonte. É o “Música na Varanda”, evento semanal promovido pelo Cine Theatro Brasil no qual artistas de diferentes estilos musicais se apresentam, como o próprio nome diz, na varanda do centro cultural. A primeira edição do evento aconteceu em agosto de 2014, e de lá para cá o “Varanda” já contou com a participação de cantores e bandas de MPB, samba, jazz e até mesmo forró. Segundo Sandra Campos, gestora de planejamento e programação do Cine Theatro, o intuito do evento é criar uma espécie de diálogo entre o centro cultural e o público local. O horário em que o Varanda acontece, das 18 às 19 horas, coincide propositalmente com o momento em que muitas pessoas estão passando pela região voltando do trabalho. Em meio ao corre-corre vários transeuntes e vizinhos são
Cine Theatro no ritmo da Praça Sete de Setembro “Música na Varanda” atrai quem passa pelo centro cultural. Evento acontece às quintas-feiras e dá visibilidade a artistas de diversos estilos surpreendidos pela música e pelo ambiente intimista e convidativo da varanda. O público assiste aos espetáculos no quarteirão fechado da rua Carijós, se resguardando do local de intenso trânsito e movimentação. De acordo com o curador do evento Augusto Rennó, a ideia inicial era incentivar novos artistas e dar a eles visibilidade, além de promover gratuitamente o acesso direto do público à cultura, por meio da música. É ele quem faz a seleção das atrações de cada edição do Varanda, e a qualidade é um fator primordial na escolha dos artistas. A cantora convidada na edição do dia 28 de maio foi Selmma Carvalho. Ela disse que a iniciativa é uma inovação no meio cultural da capital, e que propostas
como essa precisam surgir com mais frequência. “A música desarma as pessoas”, disse ela, ao se referir ao estado de humor de muitas pessoas que passam pela região nos fins de tarde. Cristiane Herculano, auxiliar administrativo, é uma das frequentadoras assíduas do Varanda. Para ela, a iniciativa é excelente e os artistas convidados são sempre muito bons. De acordo com a equipe do Cine Theatro Brasil responsável pelo evento, o feedback do público tem sido bastante positivo, o que só tem motivado a continuidade dessa intervenção cultural. Augusto afirma que muitas atrações especiais e de qualidade ainda vêm por aí, e convida todos para prestigiarem o “Música na Varanda”.
Música proporciona ambiente convidativo para os transeuntes
Bárbara Miiller
Projeto oferece aulas de música aos moradores DÉBORA ASSIS 3º PERÍODO
Com 75 anos de idade, José Dário Moura, ou Maestro Dário, mantém uma escola de música na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora no bairro João Pinheiro, Regional Noroeste de Belo Horizonte. Dário conta que o projeto foi criado por ele a pedido da antiga empresa Vale do Rio Doce, no Pará. Ele o trouxe para a capital mineira em 2000, logo quando a empresa foi privatizada. “Nós temos um nível básico e depois vem mais dois anos de formação profissio-
nal, mais técnica,” afirma o maestro. A escola conta com nove professores que dão aula de instrumentos de cordas friccionadas, dedilhadas, de sopro, palheta, bocal, percussão e técnica vocal. “A formação de técnica vocal vai a critério do aluno. Se ele quiser uma formação em canto erudito o professor é credenciado para isso”, completa José Dário. Ele conta que já se formaram, desde 2000, mais de 70 alunos na escola, e muitos deles seguiram a carreira de músico. Para tornar as aulas mais acessíveis ao bolso do aluno,
Dário ensina teclado para os seus alunos
Lucas Félix
no projeto buscam-se instituições como o espaço das igrejas. “Isso aí não vem a acarretar na mensalidade do aluno. Então ele paga uma taxa só para a manutenção dos professores, luz, água, entre outras necessidades,” afirma Dário. Ele acrescenta que quando há interesse de alguma igreja em inscrever alguns seminaristas na escola, a instituição dá os recursos necessários para as aulas. Já passaram cerca de 40 seminaristas pela escola de música. INSTRUMENTOS Para as aulas, o maestro diz que é recomendado que os alunos tenham seus próprios instrumentos para atividades extraclasse e por questão de higiene própria, porque instrumentos de sopro, por exemplo, passariam de aluno para aluno, colocando em risco a saúde deles. Os alunos são divididos por faixas etárias, como recomenda a Ordem dos Músicos do Conselho Regional de Minas Gerais. Apesar da ajuda da Igreja N. Sra. Auxiliadora e dos alunos, o projeto ainda tem dificuldades. Dário diz que nem todos os alunos têm condições de pagar uma taxa e, por isso, contribuem com um valor mínimo. A igreja apenas cede o espaço e, muitas vezes, eles não conseguem receber todos que desejam fazer as aulas, pois a capacidade dos locais é pequena. Após a abertura da escola no bairro João Pinheiro, muitas pessoas se interessaram pelo projeto e ele se
Escola oferece aulas de instrumentos de corda como o violão
expandiu para os bairros Padre Eustáquio, Carlos Prates, Barreiro e para o Bairro da Graça. Os nove professores dão aulas em todas as unidades, e por isso, elas acontecem a cada dia da semana em uma das escolas. No bairro João Pinheiro, a escola funciona todas as terças-feiras. Jorge Oliveira, 54 anos, estuda teclado. Ele diz que procurou a escola porque queria aprender mais sobre o instrumento, já que o ganhou de presente de aniversário. Jorge conta
que é importante aprender a teoria nas aulas de música para entender como a prática musical funciona. Pedro Arthur, 12 anos, faz aula de violão e sempre se interessou por instrumentos de corda como guitarra. Por isso, decidiu começar a estudar o violão, para ter uma base. “Eu acho que a música ajuda a disciplinar, ajuda as pessoas a terem um novo rumo,” diz Jorge. “A música é ‘auto adestradora’ do ser humano,” concorda o maestro. Para Dário, Jorge e Pe-
Lucas Félix
dro, ela direciona as pessoas para os bons caminhos. Os três afirmam que a música é essencial para a formação de cultura, além de ser uma escolha profissional. Jorge Oliveira diz que as aulas incentivam os alunos a terem uma boa relação uns com os outros. “A gente pode perceber isso nos próprios alunos,” conta Jorge. Ele diz que criou uma grande relação de amizade com Pedro Arthur.
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NATHÁLIA PEREIRA PATRÍCIA DA CRUZ 5º PERÍODO
O café sempre foi uma bebida que dividiu opiniões, mas vem ganhado bastante destaque no mercado. É o que aponta pesquisa do Instituto Mineiro de Agro -pecuária (IMA) que registrou um aumento de mais de 350% no consumo de café “fora do lar” em Minas Gerais. O consumo da bebida em Belo Horizonte apresenta índices elevados, em consonância com a criação recente de diversas cafeterias especializadas nos grãos considerados gourmet, como são chamados em grãos de qualidade superior. De acordo com dados do Sindicato da Indústria de Café de Minas Gerais (Sindicafé), o estado é responsável por metade da produção nacional, o que confere grande importância para a bebida na região. Cada vez mais, os cafeicultores do Cerrado mineiro apostam na industrialização do grão de alta qualidade para atender à demanda do mercado interno. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o consumo de cafés gourmet no Brasil vem crescendo anualmente em 15%, desde 2010, em contraposição a uma taxa de apenas 3% dos cafés tradicionais. O Cerrado mineiro é
Comportamento considerado a “Colômbia brasileira” dos cafés especiais. Atualmente, a região produz, em média, seis milhões de sacas por ano, o equivalente a 12% da produção total brasileira, estimada em 50 milhões de sacas. Por mais que os números sejam crescentes, a produção de café na região ainda é bem recente, datando dos anos 70. Apesar do pouco tempo de cultivo, a lavoura do Cerrado apresenta um desempenho superior ao das mais antigas, de São Paulo, Paraná e do sul de Minas. A produtividade média dos cafezais da região é de 40 sacas por hectare, equanto a média brasileira é em torno de 24 sacas. SEM CRISE O mercado de café continua registrando números positivos, apesar do contexto global de crise. No último ano, o Brasil exportou 5.095.656 sacas a mais do que em 2013, aumentando o lucro bruto dos exportadores brasileiros em US$1.458.864. Dada a importância do grão para o setor primário de Minas Gerais, o café age como termômetro da economia do estado, ao lado da mineração. Dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) demonstram que o agronegócio de café gera em torno de 4 milhões de empregos
“Gourmetização” do cafezinho mineiro Fatores econômicos explicam o crescimento do número de cafeterias e do consumo de marcas especiais da bebida
Cafeterias estão cada vez mais amplas e modernas para receber clientes
no estado. Além do cultivo, o estado também tem tradição na pesquisa e no melhoramento de grãos. Em 1974, foi criada a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Ela iniciou pesquisas sobre melhoramento de grãos, aumento da eficiência de cultivo e promove eventos, como o Expocafé, para que produtores conheçam novas formas e tecnologias de cultivo.
Arquivo Cafeteria Kahlúa
Grãos diferenciados Individualmente, os produtores têm investido em grãos diferenciados, que são vendidos tanto para cafeterias locais quanto para grandes clientes, como a Nestlé. A empresa lançou, recentemente, um novo blend (nova mistura) para a cafeteira Nespresso, que combina grãos do Sul e Cerrado mineiro. A fazenda “Recanto Machado”, no sul do estado, é uma das fornecedoras dos grãos, e uma das proprietárias, Maria Selma Magalhães, que cuida do negócio há 29 anos, descende do dono original da fazenda, criada em 1896. Hoje, a produção do “Recanto Machado” conta com 170 hectares plantados e é responsável por enviar dois contêineres de grãos à Nespresso. CURSOS A Academia do Café, inaugurada em BH em abril de 2011, é um espaço especializado em treinamento de profissionais na área do café, e conta com laboratório certificado pela Specialty Coffee Asso-
Funcionária prepara dezenas de xícaras de café por dia
ciation of America (SCAA). A Academia visa promover cursos para formação de provadores, baristas e torradores de café profissionais. Criada para ser um espaço de treinamento, aprendizado e formação técnica, a Academia é, ainda, um laboratório onde será possível avaliar e selecionar lotes especiais que serão fornecidos para o mercado interno e externo. Ela é coordenada por Bruno Souza. Criado em maio de 1993, o Café Kahlúa já conta com 18 anos de mercado, e mistura tradição e modernidade, oferecendo cafés de diversas partes do mundo. Com o diferencial de torrar e moer os grãos do café na hora, a casa oferece saborosas bebidas que podem se transformar em drinques criativos preparados pelos baristas do local durante todo o dia. De acordo com o proprietário, Ruimar de Oliveira Júnior, o objetivo principal do ambiente é implantar no Brasil essa ideia lançada pela rede Starbucks: desfrute o ambiente pelo tempo que quiser, como se fosse a sua sala de estar.
Guilherme Cambraia
Maiores consumidores A pesquisa da mestranda em agronegócio pela Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (Fead), Zirlene Santos, demonstrou que os maiores consumidores de café em BH são jovens entre 20 e 30 anos. Em sua maioria, são mulheres, que representaram 77,55% dos entrevistados. Demonstrando essa maioria, um grupo de jovens se reúne em cafeterias belo-horizontinas para discutir clássicos da literatura. As estudantes de História na UFMG, Luciana Bessa, Lorene Santos e Ariane Oliveira, criaram o clube de leitura a partir de uma conversa casual sobre livros. “Surgiu de uma conversa sobre livros e filmes. Comentei sobre o filme “O clube de leitura Jane Austen”
e tivemos o start de começar um também”, conta Luciana. A decisão de se encontrarem em cafeterias foi conjunta, e todas concordam que o ambiente é muito agradável para conversas longas. Marianna Gray, estudante de Letras que também integra o clube, conta: “Embora não beba café, sempre gostei de cafeterias, pois costumam ser aconchegantes. De uns tempos para cá, não estava com muito tempo para simplesmente sentar à mesa de uma cafeteria e passar a tarde. O clube tem me incentivado a fazer isso com mais frequência; uma vez ao mês, mais ou menos.” Segundo elas, preços mais altos em um bom café, servido em am-
bientes agradáveis, podem valer a pena. Entre a preferência por cafés tradicionais no dia a dia, experimentam versões gourmet com frequência. Para as reuniões do grupo, a localização das cafeterias também é um fator importante, assim como a qualidade e o preço dos cafés. “O espaço, ambiente e decoração é o que chama a atenção no primeiro momento. O bom atendimento é essencial, e claro preço amigo com produtos saborosos. Não adianta servir o melhor café da cidade a baixo custo se o atendimento e o espaço deixarem a desejar. No final é uma combinação disso tudo que atrai os clientes e o sucesso”, completa Luciana.
Ambiente é agradável para leitura
Guilherma Cambraia
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Comportamento
ALINE RODRIGUES ANE GUIMARÃES 1º PERÍODO
O coletivo Beleza da Margem lançou no começo deste ano a segunda parte do documentário Malucos de Estrada. Ele retrata a realidade dos “hippies”, como são chamados pelo senso comum, e sua jornada por todo o Brasil. O documentário mostra a história de pessoas que viajam pelas cidades e vendem seu artesanato ou sua arte. O coletivo nasceu em Belo Horizonte e existe há seis anos. É coordenado por Rafael Lage e composto pelos próprios “malucos de estrada”. O grupo vem desenvolvendo um inventário audiovisual voltado à pesquisa e registro sobre a reconfiguração do movimento hippie no Brasil, bem como ações políticas pela livre manifestação artística no espaço público. A segunda parte desse documentário foi realizada com ajuda financeira coletiva e explica porque os integrantes se autodenominam “malucos”. Seu grupo é apenas uma adaptação do movimento hippie americano dos anos
Novos hippies são vistos à margem da sociedade Coletivo de Belo Horizonte lança segunda parte de documentário que conta a história da reconfiguração do movimento hippie no Brasil e suas manifestações
Novos hippies brasileiros se caracterizam pela venda de artesanato
60, mas representa uma mescla cultural com influências indígenas e afro -brasileiras. Essas pessoas sobreviveram ao contexto político da ditadura e vêm resistindo à alienação coletiva, ou seja, à venda do seu trabalho no mercado
convencional. O documentário mostra também que a maioria delas é guiada por esse desejo de viajar, passando grande parte de sua vida na estrada. Ao contrário do que muitos pensam, a situação atual dos hippies não
A Praça Sete é um ponto de venda apreciado pelos novos hippies
Lucas Félix
Lucas Félix
é de total repressão e nem de pobreza. Não é porque vendem sua arte na rua, sentados pelas calçadas, que podem ser considerados mendigos, como muitos preferem denominá-los. Os “malucos de BR” têm uma rotina como a de qualquer outro trabalhador. Celsio (nome fictício) conta, por exemplo, que acorda às 4h30 e após praticar Yoga, pega um ônibus às 6h para o centro de Belo Horizonte, onde vende seu artesanato feito de durepoxi. Natural de São Paulo, Celsio cursou faculdade e se formou em Jornalismo por influência do pai, que também é jornalista. Filho único, não saiu de casa por falta de recursos ou por uma relação familiar ruim, mas porque buscava liberdade
e sonhava em viajar por todo o Brasil. Hoje, com 40 anos, tem uma vida confortável, faz planos e não pretende abandonar a vida que leva: “Acabei de comprar um lote em Milho Verde, perto de Diamantina, vocês conhecem? Vou construir uma pousada lá.” VIOLÊNCIA
O documentário apresenta também inúmeras cenas gravadas desde 2009, da repressão policial sofrida por esses artesãos. Fiscais e policiais cortavam o cabelo dos “malucos”, tomavam seu artesanato, sua fonte de renda e muitas vezes os agrediam. Wesley (40), pai de uma filha de 12 anos, guarda a lembrança de quando policiais quebraram uma vértebra de sua coluna
por encontrarem com ele um pequeno pedaço de um cigarro de maconha. Hoje, Wesley diz que está satisfeito com a mudança que vem ocorrendo na sociedade. As pessoas não os olham com tanto desprezo e preconceito e as autoridades belorizontinas agora aceitam que sua arte seja exposta na rua. Mas, ainda assim, de acordo com Wesley, a presença de policiais o incomoda, transmite medo em vez de segurança. A questão das drogas é presente na vida dos “malucos”. Enquanto alguns dizem, sem receio e sem tabu, que consomem maconha e ao mesmo tempo, trabalham e vivem de arte, outros usam drogas pesadas, como a cocaína e o crack, e alguns deixam o vício. Gramish 30 anos, natural de São Luiz, no Maranhão, foi viciado em crack. “Eu vivi na escuridão, mas um dia uma luz iluminou a minha aura”. Ele afirma que, ao se deparar com a situação na qual se encontrava, decidiu mudar. Livrou-se do vício por conta própria. Depois disso, conheceu sua esposa e tiveram uma filha chamada Safira, que hoje tem três anos. Eles vivem viajando e Gramish tem belas lembranças e conta ótimas histórias dos 18 países que conheceu.
Aplicativo propõe forma inovadora de humor RODOLFO REZENDE 1° PERÍODO
Um novo formato de comédia vem tomando conta das redes sociais e disseminando uma nova maneira de ser engraçado. Através de um aplicativo para celular chamado “Vine”, os usuários conseguem fazer curtos vídeos de seis segundos com pequenos cortes de cenas e depois os compartilham pela própria plataforma ou por outras como o Facebook. Alguns jovens começaram a fazer vídeos pelo aplicativo com um tom cômico, usando ironias e sátiras aos comportamentos que nos cercam no dia a dia. Alguns deles já têm milhões de seguidores nas redes sociais. É o caso do carioca Victor Meyniel, 17 anos, que no início de 2014 come-
çou a produzir vídeos pelo “Vine”, motivado por amigos que diziam que o aplicativo era a “cara” dele. Este ano, ele vem produzindo vídeos curtos para fãs que o seguem pelo Snapchat, Facebook e Instagram e já acumula cerca de um milhão e meio de seguidores que acompanham seu trabalho. Meyniel já foi entrevistado no Programa do Jô, da Rede Globo. Ele, que ainda termina o ensino médio, está em turnê pelo país com seu stand-up de comédia baseado nos personagens que incorpora em seus pequenos vídeos. Em entrevista exclusiva ao MARCO, o jovem foi questionado se essa maneira de fazer comédia não tem certo tempo de “validade”, uma vez que Meyniel ressalta que o aplicativo que o lançou, o Vine, estava deixando de despertar interesse em
seus usuários. O carioca respondeu que talvez tenha um limite sim e que cabe a ele acompanhar o ritmo do tempo e se inovar a cada momento. Lucas Rangel, mineiro de 18 anos, começou também a produzir “vines” e hoje já recebe cerca de 30 mil reais mensalmente por merchandising em seus vídeos cômicos. Agências publicitárias intermediam empresas e viners (usuários do aplicativo) que vivem da renda obtida com a ferramenta. Brittany Furlan, uma das mais famosas, com mais de 8,3 milhões de seguidores, chega a ganhar 20 mil dólares, cerca de 60 mil reais por campanha, de acordo com a revista New Yorker. Ela costuma postar um esquete de humor por dia quase sempre autodepreciativa, assim como os
cômicos usuários brasileiros. O estilo de comédia que os viners vêm divulgando é chamado de “nonsense”, que é um termo norte-americano para designar a comédia sem senso, na tradução literal; ela é feita sem roteiros, de modo es-
pontâneo, com muitas sátiras e ironias, além de ser autocrítica. A comédia talvez nunca tenha sido tão requisitada como atualmente. A tecnologia abriu o horizonte para que mais pessoas possam fazer o que gostam. Com tantos aplicativos,
há muita acessibilidade e facilidade para fazê-la. Segundo dados da plataforma “Vine”, hoje são feitos cerca de 3.000 vídeos por dia no estilo cômico por usuários que se inspiram nos que já fazem sucesso. Para os que curtem comédia, aproveitem a temporada.
Victor Meyniel ficou conhecido na internet por seus vídeos cômicos
Arquivo pessoal
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Futebol
Sócio torcedor não é solução Apesar de grande adesão, programas geram renda insuficiente para abater dívidas de clubes brasileiros. Falta de planejamento e controle financeiro das equipes é determinante RAFAEL POLCARO WINICYUS GONÇALVES 5º PERÍODO
Criados para aumentar as receitas dos clubes, os programas de sócio-torcedor ainda não surtiram o efeito desejado entre os grandes times brasileiros. Bastante difundido na Europa, onde existe o futebol mais caro do mundo, o modelo ainda se desenvolve no Brasil. O problema é que, apesar da grande adesão dos torcedores, os gastos dos clubes aumentaram. E as dívidas também. Um recente levantamento da Procuradoria Geral da Fazenda revela que 103 clubes brasileiros, juntos, devem mais de R$ 2 bilhões ao setor público. Segundo a Pluri Consultoria, a receita dos clubes brasileiros subiu muito nos últimos anos, passando de R$ 805 milhões em 2003 para R$ 2,7 bilhões em 2014. A previsão é de que supere R$ 2,9 bilhões em 2015. No mesmo período, as dívidas passaram de R$ 1,2 bilhão para R$ 4,7 bilhões. O Botafogo é o mais endividado: R$ 845,5 milhões. Muitos clubes reconheceram dívidas antigas com diferentes órgãos públicos. Entretanto, houve,
especialmente nos últimos quatro anos, um aumento constante do endividamento bancário e de outros tipos de empréstimos. No Brasil, o “Movimento por um futebol melhor”, lançado em 2013, foi o responsável pela expansão do projeto do sócio-torcedor. Surgido da união entre dez grandes empresas, 18 supermercados e 25 clubes, ele tem o objetivo de auxiliar os times na busca por recursos que possam ser investidos apenas na melhoria do seu futebol e estrutura. A principal diferença entre o modelo nacional e o europeu é que o filiado não ganha desconto apenas no ingresso, mas em vários produtos de empresas que fazem parte do projeto. As vantagens não se restringem à compra de ingressos. Clubes que estão com o programa consolidado dão vários benefícios aos torcedores que não apenas o desconto na compra de ingressos. Oferecem vantagens como locais privilegiados no estádio, livre acesso aos centros de treinamento, entrada em campo com os atletas, direito a uma tarde de autógrafos ou de tirar fotos com os seus ídolos, entre outras vantagens.
MINEIROS Cruzeiro e Atlético ocupam, respectivamente, o quinto e o nono lugares no ranking nacional dos clubes que têm programas de sócio-torcedor. No time celeste o número de filiados passou de 10 mil em 2012, para 70 mil em 2015, desempenho alcançado principalmente graças à reinauguração do Mineirão, no início de 2013. Já o Galo, que tinha pouco mais de 5 mil sóciostorcedores em 2012, agora conta com cerca de 40 mil. Porém, esse número não cresce tanto quanto poderia pelo fato de o clube utilizar como casa o estádio Independência, que tem capacidade para apenas 23 mil pessoas. O diretor de Marketing do Cruzeiro, Marcone Barbosa, considera que o programa Sócio do Futebol tem alcançado um resultado satisfatório desde a reabertura do Mineirão. Ele espera que mais torcedores venham aderir ao programa. No Atlético, o diretor de Comunicação, Domenico Bhering, ressalta que o programa “Galo na Veia” tem potencial para se tornar um dos maiores do país. Contudo, ainda precisa
Com capacidade limitada, Independência impede crescimento de programas
de ajustes. A limitação, de acordo com Bhering, é a capacidade restrita do estádio do Independência, o que exige outras alternativas para além do direito de assistir jogos. Anna Estevam, de 21 anos, é sócia do futebol do Atlético desde 2013. Mensalmente, ela paga R$ 70 e se diz satisfeita com o valor. Anna aderiu ao progra-
ma para ajudar o time e, ao mesmo tempo, usufruir de benefícios, como as visitas ao centro de treinamento, sorteio de camisas oficiais, descontos em supermercado, além da venda antecipada de ingressos e os descontos. Ela, como não é estudante, não tem direito à meia-entrada. A administradora de empresas Ariane Mendes
Lucas Félix
faz parte do programa de sócios do Cruzeiro há nove meses. Ela aderiu motivada pela boa fase do time no Campeonato Brasileiro. Segundo ela, os benefícios oferecidos, como os descontos em supermercados e a facilidade de compra dos ingressos são muito práticos, tendo em vista que ela também é estudante. (Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Econômico)
Gestão amadora impede crescimento Reinauguração do Mineirão não aqueceu economia dos clubes
Lucas Félix
Programa de clube gaúcho é exemplo O Internacional de Porto Alegre continua sendo o time com o maior número de sócios no Brasil: mais de 130 mil. Em seguida, vem o Palmeiras, com cerca de 105 mil, número que teve um aumento expressivo após a inauguração de sua nova arena. Os dois clubes figuram entre os dez primeiros do ranking mundial, ficando à frente de clubes como a Inter, de Milão, e do Manchester United, da Inglaterra, segundo a Pluri Consultoria. O programa do Internacional tem sido modelo para outros clubes brasileiros. Na década de 1990, o clube gaúcho não tinha uma estrutura que se destacasse no cenário nacional, tampouco conquistas internacionais. Após um intenso trabalho de marketing, criou seu programa de sócio-torcedor.
Dessa forma, conseguiu se estruturar e contratar atletas de ponta, chegando à conquista da sua primeira copa Libertadores e do Mundial Interclubes em 2006. É o único clube que conquistou todas as competições entre as organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Confederação Sul Americana de Futebol (Conmebol) e Fifa. Contudo, apesar do panorama favorável pós-Copa do Mundo, com estádios novos, o Campeonato Brasileiro tem uma média baixa de público se comparada à dos campeonatos europeu e norte-americano. Nos Estados Unidos, a média de público por partida em 2014 foi de 19.147 torcedores, superior à média de 16.555 do Campeonato Brasileiro.
O especialista em gestão esportiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Roberto Dias Martins, afirma que os programas de sócio-torcedor não devem ser pensados como a “salvação” dos clubes. Para ele, devem ser pensadas, também, outras alternativas de financiamento e patrocínio. Para Roberto, o que prevalece nos clubes brasileiros ainda são ações baseadas em experiências pessoais dos dirigentes, não centradas em resultados e sem uma visão estratégica, o que, segundo ele, caracteriza uma gestão amadora dos clubes. O ideal, segundo Roberto Martins, é que os clubes busquem, cada vez mais, uma gestão profissional, com a análise de indicadores financeiros combinada com bons resultados em campo. Otimista, ele acredita que os clubes brasileiros estão no caminho certo. “Portanto, a sociedade espera que a gestão amadora praticada pelos dirigentes brasileiros possa ser eliminada e o futebol obtenha o lugar destaque pelo que ele representa para a cultura do povo brasileiro”, complementa Roberto. Nos primórdios do futebol, a principal receita dos clubes era a bilheteria. Com a televisão, somaram-se a ela os direitos de transmissão e a venda de patrocínio. Hoje, também compõem a receita a venda de direitos federativos de jogadores, de produtos licenciados e, em alguns casos, a utilização dos estádios por terceiros. Já as principais despesas são os salários, a compra de jogadores e a construção de estádios
e instalações. Roberto elogia as práticas de clubes americanos quanto ao controle financeiro. Segundo ele, as ligas americanas (beisebol, futebol americano e basquete, por exemplo) são muito mais estáveis financeiramente. Os principais campeonatos possuem uma série de mecanismos que mantêm tanto o equilíbrio competitivo quanto a estabilidade financeira, incluindo regras mais igualitárias para divisão de rendas dos jogos, maior tributação dos times com grandes receitas e a adoção de tetos salariais, pontos já defendidos na Europa. A Pluri Consultoria afirma que o futebol responde por 0,8% (R$ 36 bilhões) do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O faturamento dos 20 maiores clubes foi, em 2011, de R$ 2,2 bilhões, tendo sido o Corinthians o clube de maior receita (R$ 290 milhões) no último ano analisado. Em 2011, a soma das receitas anuais dos 20 maiores clubes era de R$ 800 milhões, valor que subiu para R$ 3,1 bilhões em 2012, representando um crescimento de 287%. Roberto afirma que governo deveria induzir os clubes de futebol a adotar procedimentos sustentáveis, combinando resultado esportivo com resultado financeiro. Além disso, deveria reforçar a necessidade de os clubes darem maior transparência às suas finanças e, ao mesmo tempo, adotarem procedimentos contábeis mais eficientes. Tudo para encorajar mais investidores a investir nos clubes.
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Cidade
Cores
da paisagem urbana
Lucas Félix
A vivacidade de parques e praças da capital mineira contrasta com a homogeneidade das edificações acinzentadas, constituindo um cenário de tonalidades diversificadas JENIFFER PASSOS BORGES 6º PERÍODO
Prédios e casas, bairros e aglomerados, ruas e avenidas, praças e parques, pessoas e automóveis. Esse é o cenário atual que compõe a cidade chamada de Belo Horizonte. Com seus 331.401km², a capital mineira foi mudando ao longo dos anos, desde a sua inauguração, em 1897, e adquirindo traços expressivos, que caracterizam a paisagem atual. Por volta de 1900 os novos prédios, trazidos pelo progresso, enfeitavam as ruas de BH. Com forte influência do Art Déco - movimento que influenciou a arquitetura, a decoração, o design e o desenho industrial – muitos espaços da cidade, na época, foram ganhando fama. Alguns exemplos são o prédio da Prefeitura de BH à Avenida Afonso Pena e o Cine Brasil na Praça Sete. Suas belas praças e parques atribuíram a BH o apelido de “cidade jardim”. Ainda no modernismo, Belo Horizonte seguia uma linha de cores mais neutras e harmonizadas. Essa fase foi substituída pelo Pós Modernismo e, no final da década de 70 e início da década de 80, as formas e as cores mais vibrantes passa-
ram a integrar a cidade. O casal de arquitetos mineiros Éolo Maia e Jô Vasconcellos, juntamente com o também arquiteto Sylvio de Podestá, foram os pioneiros dessa tendência na capital, assinando obras como o edifício residencial Barca do Sol, no bairro São Lucas, e o antigo Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves que hoje, abriga o Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães. Este é também conhecido como Rainha da Sucata, na Praça da Liberdade, no Lourdes. NOVA ROUPAGEM Nesses edifícios é possível observar vigas e colunas a mostra, a presença de cores e formas mais ousadas e outros elementos marcantes nas construções dessa época. Estas características definiram a transição para uma nova paisagem na cidade, como explica o arquiteto, urbanista e professor da PUC Minas Manoel Teixeira de Azevedo Júnior. Hoje, é possível observar uma mistura de estilos entre as persistentes construções de décadas passadas e a nova roupagem da cidade, com edificações modernas, grafites nos muros e os espaços resultantes da nova dinâmica da agitada BH. Esses fatores foram deter-
minantes para a mudança na relação com as cores da cidade que, agora, passam a ter significados mais expressivos. “Belo Horizonte, de modo geral, não é uma cidade colorida”, acrescenta o arquiteto Manoel Teixeira de Azevedo Júnior. “Podemos observar o azul do céu de BH, que em algumas épocas do ano tem um azul forte e limpo, e na vegetação dos parques e praças, sobretudo em épocas de floração. Esses elementos contrastam com a arquitetura da cidade pouco colorida.” Ao relacionar BH com outras cidades brasileiras de cores mais vivas, como algumas no Nordeste, ele nota a evidente atuação das influências culturais. No estado de Minas Gerais, a capital, em relação às cidades do interior e às cidades históricas, possui “cores mais esmaecidas e pouco chamativas”, afirma o arquiteto. Ele continua: “Se observarmos o tratamento das edificações mais antigas da cidade, verificamos que as cores neutras são predominantes como, por exemplo, nas secretarias da capital. Elas não têm cores muito fortes, pois eram revestidas de pó de pedra, um material cinza muito usado no estilo Art Déco.”
Lucas Félix
Demonstrações artísticas são facilmente encontradas pelas pessoas em BH
Guilherme Cambraia
Os tons da capital e a dinâmica das regiões
Guilherme Cambraia
Manoel Teixeira, prof. da PUC
A relação de cor com a cidade também está ligada a uma dinâmica entre regiões. Nos bairros da zona Sul, por exemplo, a paisagem é influenciada pelo mercado imobiliário. Prédios altos com formas mais retas e de cores neutras são a grande aposta desse setor. O arquiteto Manoel Teixeira de Azevedo Júnior explica: “A indústria prefere a padronização repetindo formas menos chamativas. O uso intenso do vidro também se destaca, ele apenas reflete o que está em volta, repetindo as cores da cidade.” Já nas regiões periféricas, nos aglomerados e bairros mais pobres, a ação de pintura e manutenção das casas é feita pelos próprios moradores, sem a intervenção de empresas do setor imobiliário bem como do trabalho dos fiscais de planejamento urbano. O que se percebe, afirma o arquiteto “é a grande diversidade de cores quando o acabamento das casas é concluído, já que muitas vezes isso não
acontece e a cor predominante é o laranja forte dos tijolos.” Intervenções artísticas isoladas, espalhadas por BH, dão toque de cor e caracterizam a identidade da cidade. Exemplo de uma herança do Modernismo é o painel de Mário Silésio, no prédio da sede do Detran, à avenida João Pinheiro. E, com uma nova abordagem, o artista plástico Rogério Fernandes, com painéis em diversas áreas da cidade, dentre elas em tapumes na Rua da Bahia, em Lourdes, e pinturas no Centro Cultural Cento e Quatro, à avenida dos Andradas, centro, o artista integra a cena contemporânea de intervenções na cidade. O grafite é outra intervenção em que a cor aparece. E eles estão espalhados por toda a cidade. Para o grafiteiro Dinho Bento, “as intervenções urbanas são importantes manifestações da identidade artística contemporânea.” Segundo o
arquiteto Manoel Teixeira de Azevedo Júnior, “o grafite é uma interessante expressão plástica e possui cunho de agressividade e de certa revolta em relação à cidade, o que é explicável numa situação de uma sociedade desigual.” A poluição também é um elemento bastante visível e se dá pelo acúmulo de resíduos descartados pela população. Para o fotojornalista Guilherme Dardanhan, Belo Horizonte assume uma imagem marginalizada com o excesso de faixas, cartazes sobrepostos, pichações, publicidade em muitos lugares e espaços visivelmente descuidados. Guilherme fala sobre os problemas gerados pela ineficiência administração pública quanto à manutenção dos espaços comuns da cidade: “Temos passeios irregulares, tudo feito sem planejamento” e continua “reflexo da falta de compromisso dos gestores públicos.”
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Entrevista
LAERTE COUTINHO
Desenquadrando paradigmas Laerte Coutinho nasceu em São Paulo no ano de 1951 e é uma das principais quadrinistas do Brasil. Entrou na Universidade de São Paulo (USP) para cursar a Escola de Comunicação e Artes e por lá iniciou-se em Música e Jornalismo. Porém, não concluiu nenhuma das graduações. Seu primeiro trabalho profissional foi a participação na revista SIBLA com a personagem Leão, em 1970. Entre as principais publicações de que participou, destacam-se “O Pasquim” e “Balão”. Laerte foi colaboradora de veículos conhecidos, como os jornais “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S. Paulo”. Algumas de suas personagens mais populares são: Overman, Piratas do Tietê e Muriel. Em 2010, Laerte se percebeu transgênera e passou a se vestir publicamente com roupas e acessórios que, tradicionalmente, só são utilizados no Brasil pelas mulheres. Em 2012 fundou a Associação Brasileira de Transgêneros (Abrat), organização que busca auxiliar pessoas transgêneras, seus familiares e amigos. Em 2013, a artista foi homenageada no Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) sediado em Belo Horizonte e, agora, inicia um novo projeto na televisão, o programa de entrevistas “Transando com Laerte”. RAFAELLA RODINISTZKY 5° PERÍODO
Durante o período em que estudou na Faculdade de Comunicação, como você notava as discussões de gênero, direitos das mulheres, representatividade das minorias? Chegou a participar de algum movimento estudantil? Entrei em 69, fiz música, saí, entrei de novo em 70 e tantos, fiz mais três anos de Jornalismo e desisti. Naquela época minha preocupação e percepção se dava sobre a orientação sexual. Havia começado minha vida sexual um pouco antes – com homens, o que me enchia de pânico, porque me fazia vislumbrar um destino de estigma e vergonha. Convivi por algum tempo com uma comunidade de estudantes bastante diversa - gente gay, lésbica, hippie, anarquistas de vários contornos. Acabei indo para uma turma mais - vamos dizer - conservadora, do ponto de vista de “costumes”, embora com uma visão transformadora da sociedade. Por algum motivo, essa forma me pareceu acolhedora. Dentro dela, no Partido Comunista Brasileiro, PCB, participei da vida estudantil, em muitas atividades. Quanto às discussões que você menciona, acho que o feminismo era bastante claro - já as demandas LGBT e a discussão sobre drogas eram considerados tópicos secundários, face às urgências da luta por democracia política. É o que me parece, visto com os olhos que tenho hoje.
O fato de você ter usado o banheiro feminino e uma cliente de um restaurante se sentir incomodada por isso gerou polêmica. O brasileiro está pronto para discutir a identidade de gênero? Essas muralhas existem para serem derrubadas mesmo. Para não sair da história do banheiro, veja a quantidade de movimentos e ações no país todo, buscando o direito de pessoas trans de usarem o espaço que lhes pareça mais adequado. Mesmo sob bombardeio incessante de colunistas de direita, esse direito vem sendo reconhecido em toda parte. Não me sinto bem em análises genéricas, mas vejo o Brasil como uma cultura cheia de contradições e “bi-polaridades”,se posso usar esse termo. Grandes contravenções e transgressões convivendo com estruturas repressivas e cruéis. No Brasil pratica-se alguma forma de transgeneridade desde a colônia, pelo que sei. Claro, discutir o tema são outros quinhentos, mas não acho que as discussões devam ser encetadas só depois que as pessoas estiveram prontas. Ou elas já estão prontas ou nunca estarão.
Você acredita que a sua transgeneridade atrai maior curiosidade do que seu trabalho, à primeira vista? Como você costuma lidar com a situação? Às vezes atrai, sim (a transgeneridade mais do que meu trabalho) - e isso não me incomoda. Sinto que há uma inquietação sobre o tema e partilho dela. Também me inquieta, alvoroça, traz perguntas. Por outro lado, entendo que esse meu movimento vem sendo visto à luz da profissional por quem sou conhecida há décadas. São coisas que não estão divididas.
Como compara a luta dos transgêneros de hoje com a luta histórica dos negros americanos por direitos civis? A luta das travestis, transexuais, de todas as pessoas transgênero tem relação com a luta dos negros por direitos civis, assim como tem a ver com as lutas do feminismo através da história. Na defesa do projeto de lei que criminaliza a homotransfobia, inclusive, evoca-se a luta contra o racismo e a necessidade que houve de elaborar leis específicas para este tipo de agressão. Isso não tem desfecho, tem rearranjos. Conflitos exigem acertos, mas não terminam, vão mudando. A população negra alcançou o gozo de direitos que antes lhes eram negados, mas isso não quer dizer que tudo virou harmonia e paz. Veja o que rolou em Ferguson, no Missouri.
Como analisa a problematização sobre gênero no cenário político?
Rafael Roncato
cretino que lhe rende votos. Fora isso, o uso do nome social é uma pseudoconquista - pode representar algum tipo de conforto, mas não se trata de uma mudança real no modo como a pessoa trans é vista. Essa mudança só acontece quando se consegue o direito de modificar o registro oficial, sem necessidade de passar por cirurgia. É o que estabelece o PL 5002, a Lei João W. Nery, proposta por Jean Wyllys e Érica Kokay.
O Brasil está seguindo em frente em relação às políticas de gênero ou estamos presos ao mesmo ponto? Acho que não estamos presos no mesmo ponto, não. O modo como se amplia o espaço de direitos civis não corresponde a uma gincana, ou a uma corrida linear, trata-se mais de um tabuleiro de “War”, se precisamos de uma metáfora. Aprofunda-se o debate, aumenta-se a mobilização, criam-se programas localizados, luta-se por garantir conquistas, por projetos de lei, por influência, por visibilidade e por tratamento correto na imprensa. Não acho que estamos presos nem presas.
Em junho estreou o seu programa de entrevistas “Transando com Laerte”, no Canal Brasil. Como surgiu a ideia do nome? Há algum significado em especial? Quis recuperar o sentido que o verbo “transar” já teve, no passado - quando exprimia trocas entre pessoas, de ideias ou de coisas; ou ações criativas, ou eventos interessantes. Também quis usar a partícula “trans”, que me diz respeito pessoalmente.
É a primeira vez em que vejo serem colocaVocê vai entredas as questões de gêvistar figuras nero no debate político, No Brasil pratica-se conhecidas e seja como necessidade alguma forma de queridas pelo de uma legislação antransgeneridade despúblico como ti-homotransfobia, seja de a colônia, pelo Tom Zé, Marisa na discussão sobre o que sei. Claro que Orth e Xico Sá. projeto de lei João W. discutir o tema são Quais são suas Nery, do deputado Jean expectativas? Wyllys, seja nos direioutros quinhentos. As 26 entrevistas já estos da população trans tão gravadas e na mão no que se refere à saúdo Canal Brasil. Minha de, trabalho, moradia expectativa é em relação a como as etc. Isso é muito saudável e promissor. pessoas vão recebê-las. Em cada entrevista foi abordado um tema diferente. O direito de usar o “nome
social” é uma grande vitória. Como você nota a luta contrária a esse direito? O pastor Marco Feliciano (PSC-SP) reagiu, propondo um decreto no Congresso Nacional
Marco Feliciano é um oportunista que corteja o atraso e o preconceito que ele percebe na população. Ele precisa fazer essas coisas para manter a fama de
É possível o surgimento de um novo “O Pasquim” ou “Balão”? Não precisamos esperar ressurgimentos. Épocas diferentes ensejam criações diferentes. Já existem, nesse sentido, novos Pasquins e Balões. Sob a forma de blogs, coletivos, edições especiais, etc.
Os quadrinhos de “Muriel” refletem suas experiências diárias de alguma forma? Refletem e não refletem. Muriel tem vida própria também. Tento não fazer dela apenas um boneco para uso de mensagens ativistas. Não é muito fácil pra mim.
Quais quadrinhos você destaca como defensores da libertação de gênero? Gosto muito do trabalho da Alison Bechdel, particularmente a série terminada “Dykes to Watch Out For” - que se debruça mais sobre a população lésbica, mas também contempla todo o universo queer americano. Tem o excelente Malu, de Cordeiro de Sá, história baseada na experiência pessoal de Agatha Lima.
Há algum machismo entre os quadrinistas? Acho o termo “machista” discutível, mas entendo o que está na pergunta. E não, não acho. Tem muito mais autores do que autoras, claro - assim como na literatura, na música ou no cinema. Acho que é algo que vem se modificando, com o tempo, devido ao aumento da participação de mulheres em todas as atividades, aumento esse impulsionado por lutas, ideias e movimentos sócio-econômicos.
Qual é o seu objetivo com a Associação Brasileira de Transgêneros? Como é sua atuação na ONG? A Abrat - Associação Brasileira de Transgêneros - é uma tentativa de estimular o debate, as ideias e os gestos em torno da transgeneridade e da melhoria das condições de vida das pessoas trans. Somos três pessoas, apenas, nossa página-fórum reune duas mil e tantas pessoas, mas a ação da Abrat é o conjunto das iniciativas de Márcia Rocha, Maitê Schneider e Laerte.
Como fundadora da Abrat, quais são os projetos para a causa? Pensa na publicação de materiais didáticos informativos sobre a questão da transgeneridade? Sim, pensamos em ações desse tipo bem como integrar e agitar o debate sobre a transgeneridade e ações como o “TransEmprego” (www.transempregos.com.br). Em termos de luta por legislação, nosso principal interesse é na aprovação da lei João W. Nery. Estruturar-se melhor como entidade e contribuir para o avanço dos direitos civis da população transgênero no Brasil.