Transcendente #2

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HETERONORMATIVIDADE?

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Editores: Carolina An drade; Nathália Pereira ; Rafael Polcaro; Rafaell a Rodinistzky Projeto gráfico: Rafa

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Convidados: Eduard o de Jesus; Jordana An drade; Meryl Dith; Nathália Sc hiavon; Patrícia da Cr uz; Ralf Prince; Sarah Qu eiroz; Thalita Lefèr

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Capa: Thalita Lefèr

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Editorial Interrogações, conteúdos e propostas. Transcendente, em sua segunda edição, inicia uma reflexão sobre a identidade e os fatores que a constituem.

? CONSTR UCAO SOCIAL?

-BINARIO?

A Teoria Queer fornece as lentes para encarar o gênero, a sexualidade e a identidade como performance, linguagem, comunicação. A partir dessa possibilidade interpretativa, Transcendente também investiga as interlocuções de aspectos queer, LGBTQI e periféricos com a música, a arte, o cinema e a cidade. A teoria sai do ambiente acadêmico e navega pela cultura, pelo uso de diferentes linguagens para a construção da individualidade, seja por meio da poesia, do protesto, dos quadrinhos, das letras de música e riffs de guitarra, da moda ou do cinema. De que formas o uso e reconhecimento do segmento de roupas genderless (sem gênero) pode favorecer o reconhecimento das identidades não-binárias? Como os corpos e, consequentemente, a identidade que eles constituem e representam podem navegar e interagir com a cidade? O curta cearense “Virgindade” (2014) utiliza a estética do cinema com o potencial de representar uma cidade vibrante pelo desejo e pela intensidade da experiência? Os espaços urbanos são únicos a cada quarteirão. A vivência queer pode ser fundamentalmente diferente entre a Praça da Liberdade e a Praça da Estação. O sarau no Baixo Centro de Belo Horizonte pode ser tão político quanto o movimento das paradas LGBTs. Os corpos - e individualidades que representam - ocupam, se materializam e se fazem vistos, presentes. Se fazem, também, ouvidos, entre riffs, rebeldia e muito glamour, em que a não-binariedade e as identidades autênticas ultrapassam as barreiras do gênero, seja ele musical ou sexual. Sem o som, a imagem, a ilustração e a linguagem, o queer não se constitui, não conversa. Entre essas e outras pautas, conheça, questione, transcenda.


mergulhe transcen


06 Entre riffs, rebeldia e muito, muito glamour Rafael Polcaro Ralf Prince

nda

30 Coliseu Queer Rafaella Rodinistzky Jordana Andrade

16 Genderless Nathália Schiavon

36 Ru Paul Rafaella Rodinistzky

39 Amor é aceitação Maryl Dith

20 24

Sexo na cidade, mas não é sex in the city Eduardo de Jesus

Genderless: a revolução queer no mercado da moda Carolina Andrade

32 38 Créditos Finais

PATRÍCIA DA CRUZ ILUSTRA O ÍNDICE behance.net/patricia_cruz

Pisciana de 21 anos, estudante de Design Gráfico. Adoro me aventurar na cozinha, fazer ilustrações de qualidade duvidosa, planejar viagens que (provavelmente) não vão acontecer e comer. Sonho que um dia vou poder unir o Design e a cozinha abrindo uma confeitaria hipster em Nova York. Eu já mencionei que sou pisciana?

Sobre corpos, espaços e cores Nathália Pereira Sarah Queiroz


Entr rebe muit


re riffs, eldia e muito, to glamour Por Rafael Polcaro

“Não tem nada a ver com opção sexual, mas com virilidade. Não tem nada a ver com machismo, mas com intensidade. O que seria de nós? Sem plumas ou paetês? Sem glam rock? Sem Ney Matogrosso? Sem David Lee Roth? Sem a viadagem, o rock seria o que? O que seria do rock? Sem Little Richard, o que seria do rock? Sem Freddie Mercury, o que seria do rock? Sem Rob Halford, o que seria do rock?”

pejorativas, mostra como os LGBTTQ’s foram e continuam sendo fundamentais para historia do rock e de todos os seus subgêneros, reafirmando mais uma vez que a música é um sentimento sem identidade, que não precisa de rótulo algum, apenas de emoção e atitude.

cenário machista e preconceituoso. COMO TUDO COMEÇOU (Tutti frutti, aw rooty)

Para começar a nossa jornada, faço a você leitor, uma pergunta: quem é o rei do rock? Provavelmente 99% das pessoas infelizmente Uma evolução de vários rit- dirão que é Elvis Presley. mos, mas principalmente um Mas, para mim os verdafilho da música negra ameri- deiros pais e eternos reis cana, o rock infelizmente sempre serão: Chuck Berry, cresceu e se consolidou negro e de origem simples, como um estilo excludente, e Little Richard, negro, de O primeiro parágrafo traz constituído em grande parte origem simples e bissexual. versos da canção “O Que por músicos brancos, ho- Pessoas que não tinham Seria do Rock?”, do álbum mens e héteros. Por isso, apoio algum da sociedade “Todos os Dias a Cerveja resolvi escrever sobre al- em que viviam na época Salva Minha Vida” (2014), guns importantes nomes do para chegarem ao estrelato, da banda paulista Velhas rock, que assumiram publi- mas mesmo assim, pelo seu Virgens, uma letra que ape- camente a sua homossexu- profundo talento e fé em si sar de apresentar palavras alidade e desafiaram esse mesmos, presentearam o

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Dos ternos coloridos às camisas cheias de lantejoulas, Richard sempre chamou a atenção com seu visual

worldofwonder.net

mundo com belíssimas canções e melodias que inspiraram gerações de músicos. Criado em uma família religiosa, com dois tios e o avô pastores, Richard frequentava muito a igreja e por isso conseguiu lapidar bastante o seu talento musical ao participar de apresentações cantando música gospel, que acabaram o levando a aprender a tocar piano ainda jovem, mas seus pais nunca o apoiaram. Aos 13 anos de idade ele foi expulso de casa pelo pai, que não aceitava a sua sexualidade. “Ele me colocou para fora e me disse que de sete garotos que ele tinha, eu era o que estava estragando tudo, porque eu

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era gay”, diz. Assim, Richard foi adotado por uma família branca, dona do “Tick Tock Club”, onde mais tarde, ele faria sua primeira apresentação como músico.

Brothers e Elvis Presley, que por não serem negros, tinham total apoio da mídia americana e por isso ainda são mais lembrados hoje em dia.

O começo foi difícil. Chuck Berry, Bo Diddley, Fats Domino e Little Richard, os principais fundadores do estilo, eram taxados como “pessoas de cor” nos Estados Unidos, que ainda vivia em uma sociedade com divisão racial explícita, e não conseguiam ter suas canções tocadas nas estações de rádio, que eram presididas por homens brancos.

Segundo Little Richard, os pais da época não queriam que “seus filhos reverenciassem e tivessem como herói um cara negro”, pois em tempos de segregação racial era inaceitável que uma pessoa negra fosse mais importante que uma branca.

Logo após Richard lançar duas de suas maiores canções: “Tutti-Frutti” e “Long Tall Sally”, Pat Boone, cantor Dessa maneira, o estilo gan- romântico dos anos 50, fez hou mais força só quando covers dessas duas músicas apareceram cantores como e de outras feitas por músiGene Vincent, The Everly cos negros. As suas versões


eram mais tocadas nas rádios, não porque eram melhores que as originais, mas porque o intérprete era branco. Segundo Richard, os jovens preferiam a sua versão das músicas porque eram puro rock and roll, cruas e rasgadas ao invés da melosa versão de Boone. Por isso, enquanto os garotos e garotas colocavam o seu single na agulha da vitrola para tocar, deixavam a capa do disco de Boone a vista, para que não levassem bronca dos pais, por estarem escutando a música de um rapaz que além de negro e usar maquiagem, era “afeminado”. Além disso, a letra original de “Tutti-Frutti”, tinha um refrão com conotação sexual que dizia: “Tutti Frutti, good booty! (boa bunda)”, que foi alterado para “Tutti frutti, aw rooty” (expressão que significa “tudo certo”), a partir do conselho de pessoas envolvidas na sua carreira, que queriam uma letra mais “pura”. Cheia reviravoltas, da tristeza à felicidade, do vício à sobriedade e do fracasso ao sucesso, a vida de Little Richard é uma verdadeira confusão. Para você ter uma noção, em 1957, em seu auge, ele subitamente desistiu de sua carreira após uma turnê na Austrália. Ele teria

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1981.w

Little Richar

d e sua banda

tido uma visão em um sonho, em que o “apocalipse” vinha até ele e que ele tinha visto a sua condenação. Nesse sonho, ele se via em um avião que era coberto pela escuridão e começava a pegar fogo, então ele orava a deus e prometia que se a aeronave conseguisse aterrissar em segurança, ele iria mudar seu comportamento. Alguns dias depois, ao fazer um show ao ar livre, ele presenciou no céu, o satélite russo “Sputinik” caindo. Relacionando esse momento com o sonho que havia tido, ele deu fim a sua carreira e se tornou um pastor, inclusive gravando em 1959 um disco gospel,

ordpres

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nos anos 50

chamado “God Is Real”, voltando ao rock apenas em 1964, mas sem sucesso, já que o mundo se rendia aos Beatles, que representavam a renovação do estilo. Já com mais 80 anos, ainda em atividade, mas sem produzir canções inéditas, o músico ainda faz apresentações regulares que relembram sua carreira. O cantor se define como um “alien bissexual” e afirma que não há problema algum em ser religioso e homossexual: “Eu fui gay a minha vida toda e sei que deus é um deus do amor, não do ódio”. Transcendente {09}


THE ROCKET MAN

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Em uma década tão importante para a cultura mundial, a música não poderia ficar de fora. Além da evolução do rock com Beatles e Rolling Stones, surgia no fim dos anos 60, Reginald Kenneth Dwight, ou apenas, Elton John, um dos artistas solo mais bem sucedidos da história do rock. O músico começou a tocar piano aos três anos de idade, passando por várias academias de música em sua infância e adolescência. Com a ajuda de sua mãe e do padrasto, aos 15 anos, ele começou a {10} Transcendente

1 se apresentar aos finais de semana em um pub próximo a sua casa, tocando covers de Ray Charles, Jim Reeves e já canções autorais. Logo, Elton formou a Blueslogy, que existiu de 1962 a 1967, tocando blues, soul e rythm & blues, mas não obtendo sucesso. Além de ser um grande aprendizado para o músico, foi dessa banda que ele tirou a ideia para o seu nome artístico, escolhido por ele a partir do nome dos integrantes: Elton Dean (saxofonista) e Long John Baldry (líder da banda). A sua estreia foi em 1969 com o disco Empty Sky, que já mostrava o potencial de Elton, mas não conseguiu conquistar o mercado. Já o começo da década de 70 representou o início da de-

colagem do músico, que lançou 12 álbuns de estúdio, quase todos alcançando bons lugares nas paradas mundiais, com grandes hits como “Your Song”, “Tiny Dancer”, “Rocket Man” e “Crocodile Rock”. Mas foi com o disco “Goodbye Yellow Brick Road”, sua obra prima, que ele entrou na história da música como um dos maiores gênios quando se trata de melodia para as canções, já que Elton, quase não compõe letras, por isso, a sua parceira com o letrista Bernie Taupin que escreveu praticamente todos os seus sucessos, é uma das mais interessantes, pois um completa a necessidade do outro na composição da canção como um todo. Na mesma época, Elton

Foto 01: disney.wikia.com; foto 02: performingsongwriter.com; foto 03: Getty Images

o fim da década de 60, os movimentos de contracultura ganhavam força e o moralismo instaurado nas sociedades começava a ser contestado de forma mais agressiva. Pensamentos libertários e contra o preconceito já eram significativos e foram fundamentais para a mudança de pensamento principalmente das futuras gerações. Entre os principais coletivos estavam o Flower Power, que defendia a não-violência e o fim da guerra do Vietnã, o movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos que lutava contra a segregação racial e a geração beat, inspirada no livro The Road de Jack Kerouac, que contestava a sociedade de consumo vigente.


LIKE A ROCKET MAN 1. Elton John ao vivo em sua fase Glam; 2. Elton em 1970, durante sua primeira turnê nos Estados Unidos; 3. Família completa: Elton, David e os dois filhos, Zachary e Elijah

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começou a transformar seu visual, se aproximando do movimento Glam Rock, surgido na Inglaterra e liderado por bandas como o T.Rex, The Sweet, Slade e David Bowie, que foi marcado pelos trajes e performances com muitos cílios postiços, purpurinas, saltos altos, batons, lantejoulas, paetês e trajes elétricos dos cantores. Ligou-se muito essa expressão artística à androginia e ao glamour das estrelas que esbanjavam energia sexual. Desse disco, que está em praticamente em todas as listas dos maiores álbuns de todos os tempos, as faixas mais lembradas são “Goodbye Yellow Brick Road”, “Saturday’s Alright For Fighting” (que segundo o próprio Elton é um dos maiores riffs

da história, feito por Davey Johnstone, guitarrista de sua banda até hoje) e “Candle In The Wind” que foi feita em homenagem a Marylin Monroe e que ganhou uma curiosa versão para o funeral da princesa Diana, em que Elton interpretou a música em homenagem a ela, que era sua amiga pessoal. O terceiro artista que mais vendeu álbuns nos Estados Unidos, ficando atrás apenas de Elvis e dos Beatles, não dedicou sua carreira apenas à música. Fã fanático do Watford Football Club, realizou seu sonho de infância nos anos 70 ao comprar o time de futebol, investindo grandes quantias no clube, ajudando-o a subir três divisões do campeonato inglês, até alcançar o pelotão de elite do país. Em 1987,

Elton vendeu o clube conti nuando presidente, comprando-o novamente em 1997. Hoje, o artista continua tendo uma parte do time, mas sem ter a mesma importância na diretoria. Em 1976, o astro se declarou bissexual em entrevista à Rolling Stone, tendo se casado em 1984 com a engenheira de som, Renate Blauel, mas o casamento durou apenas quatro anos. Desde o início dos anos 90, Elton tem um relacionamento com o diretor de cinema David Furnish, que foi celebrado em 2005, quando os dois se casaram no civil e em 2014 quando oficializaram a união, celebrada com os dois filhos nascidos de uma barriga de aluguel: Zachary e Elijah. Em 2012, Elton explicou porque a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo é tão importante: “Há uma grande diferença entre chamar alguém de “parceiro” e de “marido”. Parceiro é uma palavra reservada por exemplo, a uma pessoa com quem você joga tênis. Não chega nem perto de descrever o amor que sinto por David”. Além de grandes ativistas da causa LGBTTQ, o casal mantém a Elton John AIDS Foundation, criada em 1992 para ajudar na conscientização e combate à doença. Transcendente {11}


METAL HEAD

THE METAL GOD!

Se o Black Sabbath foi a

banda responsável por criar o heavy metal e tudo o que veio depois do seu nascimento, foi o Judas Priest quem definiu o que seria o gênero visualmente e musicalmente para as próximas décadas, permanecendo até hoje como uma das principais bandas do estilo.

O metal nada mais é do que a evolução do rock and roll para algo mais agressivo e pesado, que assim como o rock também serve como elemento de contestação e rebeldia, porém a níveis {12} Transcendente

mais elevados, servindo de oposição principalmente à religião, discutindo a imposição da moralidade religiosa e a sua prática do medo, para angariar mais fiéis. Por isso, sempre ouvimos que o tal do “rock paulera”, é coisa do diabo. Não é possível falar de Judas, sem falar de Rob Halford, sem dúvida um dos maiores cantores de metal de todos os tempos, que potencializou o talento de seus companheiros de banda, com a sua absurda capacidade de alcançar facilmente notas agudas. Ele se juntou á banda em

1973, após ser indicado pela namorada do baixista Ian Hill, que disse conhecer um irmão de sua amiga que cantava “divinamente bem”. Assim que a banda o conheceu e ouviu a diversidade de timbres que Halford conseguia alcançar, ele foi imediatamente aceito. Após um ano com o vocalista, a banda lança “Rocka Rolla”, seu álbum de estreia, que trazia uma pegada mais leve, que se aproximava do blues rock, mas que já mostrava o grande talento do grupo, que além de um grande vocal, contava com dois geniais guitarristas: K.K Downing e Glenn Tipton,

Foto 01: crypticrock.com; foto 02: instagram.com/robhalfordlegacy

1. Judas Priest na primeira metade dos 2. “Eu sou um metaleiro e o fim do aba jovens LGBT’s depende de mim”


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em sincronia o mesmo riff e faziam solos alternados e conjuntos, contrariando as bandas da época, que também tinham dois guitarristas, mas um responsável pelos solos e outro apenas pela base. Apesar disso, a banda apenas se consagrou mundialmente com o álbum “British Steel” (1980), que tem todas as faixas tidas como clássicos para fãs como eu, mas em especial “Breaking The Law” e “Living After Midnight”, além de “Metal Gods”, que inspirou o apelido “Metal God” de Rob Halford, carinhosamente dado pelos fãs.

s anos 70; andono de

acompanhados também pelos talentosos Ian Hill e John Hinch (baterista). Após o primeiro disco, a banda ainda lançou os ótimos “Sad Wings of Destiny” (1976), “Sin After Sin” (1977), “Stained Class” (1978). Mas foi em “Killing Machine” (1978), lançado nos EUA e em outros mercados menores como “Hell Bent For Leather” (Em tradução literal: “O Inferno se curva ao couro”) para ter um nome menos agressivo e mais comercial. A banda não só deixou o som mais pesado como também transformou seu visual, bem condizente com o título do

álbum, influenciado por Rob Halford, passando a usar roupas de couro, com correntes e spikes de metal. Dessa forma, a banda iniciaria uma grande transformação em todo o heavy metal, introduzindo um visual a princípio interpretado pelo grande público como de motociclistas, mas que na verdade era fruto da cena gay sadomasoquista, frequentada por Halford, que após algumas compras em sex shops, trouxe o novo visual para a banda. Além disso, os músicos também introduziram o conceito das “guitarras gêmeas”, em que Downing e Tipton tocavam

Já consagrado, o grupo foi uma das principais influências para o início da New Wave Of The British Heavy Metal (A nova onda do metal britânico), movimento que chegava como uma resposta do metal ao punk que havia derrubado o estilo na época. Entre as principais bandas estavam o Iron Maiden, Saxon, Angel Witch, Tygers Of Pan Tang, Venom, Motörhead e Def Leppard. Com o sucesso mundial da banda, potencializado com o crescimento desse movimento, o Priest foi atacado constantemente nos anos 80 por grupos conservadores e religiosos, chegando Transcendente {13}


estava em uma teia muito emaranhada. Nós ouvimos que exista infiltração de grupos cristãos extremos, que estavam pressionando para que fossem atrás desse caso, dizendo que éramos responsáveis.”

até a enfrentar uma extensa batalha judicial nos tribunais americanos que quase levou a banda à falência, onde eram acusados pelos pais de dois adolescentes pela tentativa de suicídio dos jovens, por terem supostamente inserido mensagens subliminares no disco Stained Class, que teriam levado os dois fãs da banda a se suicidarem. Mesmo que os jovens Raymond Belknap, 18 anos, e James Vence, 20 anos, tenham cometido suicídio após uma noite de muita bebedeira e uso de drogas, ignorando esses fatos e outros possíveis fatores psicológicos, os envolvidos na acusação e a mídia americana preferiram valorizar o detalhe de {14} Transcendente

que os garotos eram fãs da banda e a ouviam no fatídico dia. Como resolução o juiz do caso alegou que não estava comprovado que eles teriam inserido tais mensagens e que não era possível que algo do tipo poderia ter levado os garotos a se matarem. Em declaração recente, Halford diz como o sensacionalismo feito pela mídia na época apoiado por grupos conservadores radicais só levou sofrimento a todos os envolvidos. “Havia essa tensão e tristeza na corte, porque bem no centro desse assunto, tinham dois rapazes que tinham perdido a vida de forma trágica. A parte mais profunda dessa história foi que a acusação

Com toda a publicidade em cima do caso, a banda também acabou sendo vítima de mais um movimento conservador, o Parents Music Resource Center, comitê criado por esposas de políticos do alto escalão do governo americano, que propuseram a criação de uma etiqueta que seria colocada nos discos que teriam músicas contendo conteúdo impróprio para crianças. O PMRC defendeu também que o rock e o metal eram os principais responsáveis pela deterioração dos valores familiares nos Estados Unidos, já que as bandas atuais traziam muitas letras com conotações sexuais, violentas e ocultistas. Sendo vítima de tantas acusações moralistas na década de 80, Halford preferiu não assumir publicamente sua homossexualidade para não inflamar mais ainda os ataques feitos principalmente pela mídia americana contra a banda. Segundo ele, desde que descobriu a sexualidade, sempre soube que era gay e não tinha prob-


lema algum com isso e que apenas teria a assumido em 1998 em entrevista a MTV, aos 46 anos de idade, pois a sociedade e o meio musical no século XX ainda eram muito homofóbicos, o que levou ele a se privar de muitas coisas na sua primeira passagem no Judas Priest de 1973 a 1991. Na época da declaração de Halford, a MTV saiu às ruas questionando os fãs sobre o fato do cantor ter assumido ser gay. A maioria reagiu normalmente, dizendo que já desconfiavam disso e que não tinham problema algum, pois o importante é a música

e não a opção sexual do músico. Mas infelizmente, algumas pessoas expuseram a sua ignorância, dizendo que “ele nunca deveria ter saído do armário, já que os fãs do Judas Priest não são homossexuais”. Em entrevista concedida ao The Guardian, o cantor disse se arrepender por não ter se declarado gay publicamente antes. “Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito por mim, me pergunto porque não o fiz antes. Acho que eu criei um medo ilusório de que eu iria me destruir, que ninguém iria me olhar mais como um

cantor de metal e por minha conexão com o Judas, eu iria acabar destruindo também a carreira da banda, foi tudo uma paranoia criada por mim mesmo. Isso não afetou o Priest, as vendas de discos não caíram, o comparecimento aos shows não caiu. O amor incondicional aceitará você do jeito que você é, e eu acho que isso foi uma benção que eu tive dos fãs”. Após seguir carreira solo e montar duas bandas nos anos 90, Halford retornou ao Priest e segue até hoje na liderança de uma das maiores bandas do gênero.

RAFAEL ESCREVE ENTRE RIFFS, REBELDIA E MUITO, MUITO GLAMOUR cinemafilia.tumblr.com + rocknrollgarage.tumblr.com

Um filho do interior de Minas Gerais que não perde o sotaque. Jornalista, apaixonado por rock e heavy metal, cinema, batata frita e por tudo que acalme a alma e contribua para o descobrimento de novos pontos de vista sobre a vida.

RALF PRINCE ILUSTRA FREDDY MERCURY ralfpart.tumblr.com

Artista que usa da intimidade como principal fonte de criação para seus trabalhos e poesias. Em busca de manifestar o homoerotismo e suas adversidades, provoca reflexões acerca de tabus sociais e liberdade de expressão. Formado em Artes Visuais, possui linha de pesquisa voltada para questões de gênero e sexualidade.

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Genderless

Por Nathรกlia Schiavon

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NATHÁLIA SCHIAVON ILUSTRA GENDERLESS nataliaschi.tumblr.com + facebook.com/nataliaschiii

Natália Schiavon, 20 anos, estudante de design gráfico em Bauru (SP). Ama ilustração, quadrinho e desenho animado. Tem mania de olhar pra uma câmera imaginária como se estivesse no The Office.

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Só não sei da saudade a fina flor que fabrica. Ser, eu sei. Quem sabe,

0,7 – Curitibas Conheço esta cidade como a palma da minha pica. Sei onde o palácio sei onde a fonte fica,

0,5 - explicando tudo Esse pequeno ensaio toma o curta “Virgindade” (Ceará, 2014) de Chico Lacerda como um ponto de partida e de chegada. A memória, a cidade e a sexualidade são temas que vão ser desenvolvidos mais adiante, mas que antes iluminam uma série de breves comentários, fora de ordem, sobre cidade e cinema. A ideia é que o filme de Lacerda, ao mostrar a cidade nas tramas subjetivas da sexualidade e do desejo acaba por gerar uma potente visão do urbano.

Por Eduardo de Jesus

0,9 – informações úteis: a. O Burj Khalifa em Dubai nos Emirados Árabes, edifício mais alto do mundo, é uma intervenção urbana e arquitetônica que serve para demonstrar o poder econômico do capital no mundo árabe, constituindo assim uma imagem que pode ser facilmente colocada em circulação nas midiatizações do espaço urbano. Recebe cerca de 4,7 milhões de turistas por ano. b. “As cidades já não esperam mais pela chegada do turista – elas também estão começando a juntar-se à circulação global, a repro-

os poderes constituídos, a cidade contemporânea tornou-se o palco de um amplo sistema de visibilidade do capital, dos modos de vida globais homogêneos (mas não universais) que se espraiam pelo mundo. E sua imagem?

cidade-sexo, mas nao e sex in the city

Cartaz do curta Virgindade

-


Essa é uma parte da estreita relação entre cinema e cidade. Outra parte possível, é a cidade filmada. Ao longo da história do cinema a cidade tem sido protagonista. Múltipla, fragmentada e em tensa relação direta com

1 - cinema e cidade Cidade e cinema estão na mesma trama, como parte de uma mesma raiz da modernidade ligada ao urbano. Os museus de cera, os panoramas e as exibições de cadáveres em Paris no século XIX ativavam a cidade e pareciam preparar os sentidos para a chegada do cinema. Paris, no último terço do século XIX, se transformou no centro europeu da jovem indústria do entretenimento. Ao se instalar na cidade o cinema reconfigurou espaços de lazer, modos de encontro e formas de entretenimento criando novas dinâmicas que, de algum modo, davam prosseguimento a esses primeiros espetáculos. Cidade-cinema-espetáculo.

(Paulo Leminsky em La vie em close)

esta cidade me significa.

Nesse contexto emergem muitas visões da cidade no cinema. Uma que aqui nos interessa é aquela que faz da cidade do cinema um território de resistência, explicitando os poderes que de um lado, transformaram a cidade em um campo de múltiplas especulações e, de outro, fazem da experiência urbana um estranho conforto instalado em um espaçolixo (junkspace).

2. imagens da cidade O local passa ser distribuído globalmente, como já havia afirmado anteriormente Guattari: “a cidade-mundo do capitalismo contemporâneo se desterritorializou, seus diversos constituintes se espargiram sobre toda a superfície de um rizoma multipolar urbano que envolve o planeta” (2000, p. 171). Distribuição como serviço e arquitetura, mas sobretudo como imagem.

duzir-se em escala mundial e expandir-se em todas as direções” (GROYS, 2015, 134). c. O turismo é uma linha de força na constituição das experiências urbanas contemporâneas.

1,15 – sobre a cidade do cinema, em plano geral Ao colocar o espaço urbano em primeiro plano alguns filmes fazem surgir nas imagens uma outra visão da cidade. Representações que acionam as diversas cama-

São muitos os filmes recentes que tratam da cidade e das questões espaciais, como “Avenida Brasília Formosa” (2010) e “Um lugar ao sol” (2009) de Gabriel Mascaro, “Recife frio” (2009), “O som ao redor” (2012) e “Aquarius” (2016) de Kleber Mendonça, “O céu sobre os ombros” (2011) de Sérgio Borges, “A cidade é uma só” (2011) e “Branco sai, preto fica” (2014) de Adirley Queirós, “O porto” (2013) de Clarissa Campolina, Julia de Simone, Luiz Pretti e Ricardo Pretti, entre outros. A questão é emergente e parece sinalizar um desejo de apropriar e dar sentido ao espaço urbano com outras experiências menos ligadas aos mercados e especulações. Assim como a “Praia da Estação” (Belo Horizonte) e “Ocupe Estelita” (Recife) o cinema também deseja, outra cidade, como Robert Park nos ensinou. 2,25 – cidade, city, cité Sabendo de todas as forças imperiosas com as quais o capital maneja o espaço urbano, é importante vermos como o cinema, a produção audiovisual e as próprias dinâmicas da comunicação globalizada como um todo, reforçam e acabam por dar os contornos da imagem da cidade que se quer ativar.

das de sentido em múltiplas acumulações no espaço urbano. História e memória coletiva são atravessados por visões subjetivas e experiências pessoais. O invisível e o fora de campo atravessam e ecoam na imagem, que ganha novos sentidos. Nas potentes experiências sensíveis entre nós e a cidade, ativamos processos de territorialização e desterritorialização para além dos espaços construídos mostrando como a cidade pode resistir aos controles e se oferecer em outras experiências. Algo sempre escapa entre nós, o outro e a cidade liberando os imaginários. Imagens da cidade que ampliam o sentido e a importância dos espaços construídos, para além do visível.


Cena do curta Virgindade

Longe de inventar outra cidade ou de apontar outras formas de experiência, muitas vezes, o cinema e a produção audiovisual celebram a produção do espaço ligada exclusivamente ao consumo e ao entretenimento. Formas muito controladas e planejadas de se engajar no devir da experiência estética que o urbano pode nos permitir. Nesse sentido, estratégias e formulações do marketing como local branding e nation branding resultam em cidades imaginadas na força do planejamento estratégico para se orientarem a públicos bem configurados e a determinados tipos de experiência. 3,0 – o retorno a cidade subjetiva O curta de Chico Lacerda na aparentemente simplicidade e leveza de seus longos

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planos fixos e abertos da cidade, embalados por uma narração de tom pessoal, aciona uma visão potente do espaço urbano. No filme, a cidade torna-se uma espécie de confluência de tempos e espaços atravessados pelo passado, trazidos pela memória, mas na visualidade do presente. É no atravessamento entre o que a cidade foi e o que ela é que descobrimos – acionando o fora de campo e as tensões da diferença entre o que vemos e o que é narrado – que pouco a pouco a cidade em sua dinâmica surge diante de nós. A descoberta da sexualidade é tramada em sintonia com as mudanças da cidade. Corpo, cidade e desejo em processos de descoberta. Uma cidade que ao contrário de monumentos ou atrativos turísticos revela-se no filme

em imagens ordinárias de espaços comuns, que ganham um melancólico relevo pela experiência e pela memória. Territórios que passam a fazer sentido porque integram-se fortemente às narrativas da vida, por isso significam e nos convocam a fabular as mudanças da cidade. Os elementos invisíveis da cidade – memória, história, afeto, experiência – que parecem recobrir os espaços físicos, se mostram a nós pelo confronto entre a locução e o que vemos na imagem. As dinâmicas da cidade atravessam, junto com a memória pessoal, a narrativa do filme. Entre o que é narrado e o que vemos nas imagens emerge um potente fora de campo que nos fala da cidade e de suas dinâmicas. Onde era cinema, hoje supermercado ou loja de eletrodoméstico; a casa de Henrique, uma das paixões, que vivia perto da casa da avó, tornou-se um inóspito edifício. Assim em seu rigoroso conjunto de planos estáticos, sempre acompanhado da locução e de ruídos do ambiente, o filme passa a explorar paisagens urbanas absolutamente comuns, que se constroem em uma narrativa que une suas espacialidades relacionais cheias de formas subjetivas e sexuais. Em certo momento, esse rigor passa da


cidade aos corpos. É nítida a marca dessa passagem pela entrada da trilha sonora, que revela um outro fora de campo, desta vez tendo os corpos como formas de paisagem. Embalados pela suave e romântica canção de Gorky´s Zygot Mynci surgem muitos homens nus em diversas poses e enquadramentos, espaços urbanos e paisagens naturais. (I need your sweet, sweet love I need it in my heart I know I’ve taken And to give to you I can find so hard) Detalhes de uma nuca, um peito cabeludo ou uma bunda formam a multiplicidade desses corpos, objetos de desejo que remetem ao tempo presente daquelas memórias ditas anteriormente. A sequência funciona como uma espécie de videoclipe que no meio

do filme – entre as paixões adolescentes e as diversas formas de buscar imagens e textos que pudessem ativar fantasias sexuais e trazer muita excitação – faz o tempo presente do desejo emergir. Passado e presente se encontram no desejo e na cidade. Movimentos entre os tempos já que a cidade se mostra outra diante da memória que a locução aciona e o desejo ganha forma, sem maiores preocupações ou pudores. Relacionando o clipe no tempo presente com toda a força memorialista da locução e as imagens atuais da cidade o filme parece enfatizar que a experiência, o desejo e a memória são vetores centrais para perceber as potências relacionais do espaço urbano. Todo esse trânsito tanto entre o tempo passado e o presente, quanto entre

as formas da fabulação da memória (na locução) e a eminência do presente (nas imagens) fazem da cidade do filme uma reterritorialização da imagem da cidade. Percebida agora não mais na força do espetáculo ou da midiatização, tampouco na forma absoluta de seu espaço construído, a cidade atravessa e é atravessada pelo desejo entre os corpos e os espaços fazendo ecoar na imagem a intensidade da experiência. Referências GUATTARI, Félix. Restauração da cidade subjetiva. In: Caosmose – um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 1992. GROYS, Boris. A cidade na era da reprodução turística. In: Arte poder. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015.

EDUARDO DE JESUS ESCREVE CIDADE-SEXO, MAS NÃO É SEX IN THE CITY É graduado em comunicação social pela PUC Minas, mestre em comunicação pela UFMG e doutor em artes pela ECA/USP. É professor do programa de pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas. Atuou em diversas edições do Festival Videobrasil e em projetos da Associação Cultural Videobrasil. Entre suas curadorias estão FIF – Festival Internacional de Fotografia (Belo Horizonte, 2013 e 2015), esses espaços (Belo Horizonte, 2010), Densidade Local, em parceria com Gunalan Nadarajan, para o Festival Transitio-MX (Cidade do México, 2008) e Mostra Fiat Brasil (2006). Tem publicado textos, ensaios e resenhas em torno da produção artística contemporânea.

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G queer


Genderless: a revolução no mercado da moda Envolta em avanços, polêmicas e questionamentos, tendência de vestuário sem gênero parece “profetizar” o futuro da moda Por Carolina Andrade “Para ser insubstituível, deve-se sempre ser diferente”, foi com esta premissa que Coco Channel criou, na década de 20, roupas para mulheres baseadas no vestuário masculino. Mal imaginava a estilista que tal frase seria tão atual um século após ser dita, e que principalmente tal ideal de moda seria tão debatido e polemizado em pleno século XXI. O conceito de uma moda fluida e sem gêneros tomou conta do imaginário coletivo do mercado mundial de moda nos últimos anos. E ao contrário de muitas outras tendências efêmeras, as peças sem gênero parecem ter chegado para ficar. Este fenômeno tem chamado muita atenção da mídia e dos sociólogos, afinal a moda sempre foi um excelente termômetro social. Por meio dela é possível recontar

em prol de um vestuário sem etiquetas é uma grande evolução que diz muito sobre a sociedade em que vivemos hoje. Sociedade esta de maior consciência coleNão entenda mal, entrar em tiva, que começa a desperuma loja e procurar a seção tar para as causas LGBTTQ feminina ou masculina de com pautas que até então acordo com o sexo do con- não haviam sido tão explorasumidor ainda é a principal das, como o questionamenrealidade no mundo contem- to da imposição social de porâneo. Apesar das roupas ter que se vestir de acordo unissex existirem a um longo com a forma que a societempo, as poucas e especí- dade julga mais adequada. ficas peças para ambos os sexos criadas com este ró- Claramente, a moda é cítulo são em sua maioria fei- clica e passível de difertas com padronagens monó- entes interpretações, o que tonas e neutras. Realidade torna todo o burburinho em que não acrescenta nem torno da tendência gendermodifica em nada em um less algo questionável. Mas mundo dual de vestidos e mesmo com todas as dúvisaias cor de rosa para meni- das e polemicas uma coisa nas e peças conservadora- é claramente definitiva, o mente azuis para meninos. simples ato de repensar o guarda-roupa tradicionalTrabalhar o conceito de mente aceito fomenta na fundir as duas realidades produção de moda brasileira histórias, transitar entre diferentes culturas e tempos e entender o desenvolvimento político, econômico e cultural de diferentes civilizações.

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MODA GENDERLESS Chamada de Agender ou Genderless a tendência de roupas sem gênero vai além dos rótulos, propondo uma produção de moda nãobinária com peças livres de distinção de identidade de gênero. Diferente das produções padronizadamente neutras que até então eram chamadas de unissex, a moda Genderlees propõe quase o caminho inverso. Nela não importa os rótulos sociais ou as cores, pois saias, camisas, sapatos de salto alto, vestidos, acessórios, calças, são vestimentas para seres humanos, não peças destinadas especificamente ao corpo dos homens ou das mulheres. As linhas que delineiam o formato desta tendência, assim como o mundo, ainda são muito fluidas e mutáveis. Mas o conceito simples de gênero dado pelas sociólogas Raewyn Connel e Rebecca Pearse ajuda a entender este fenômeno. Segundo elas, “De maneira geral, gênero diz respeito ao jeito com que as sociedades humanas lidam com os corpos humanos e sua continuidade e com as consequências desse “lidar” {26} Transcendente

para nossas vidas pessoais e nosso destino coletivo”. Ter em vista este conceito ajuda a entender que, ao contrário de padronizar, a moda Genderless questiona a imposição de formas, modelagens e cores para os sexos, afinal, não há nenhuma característica específica na constituição do corpo masculino que o impeça de usar vestidos, assim como não há nada na estrutura física feminina que a iniba de usar ternos. Há apenas o preconceito, a intolerância ao diferente e a perpetuação de julgamentos sociais retrógados. Vale lembrar ainda, que o conceito da tendência genderless não está necessari-

amente ligado à orientação sexual de nenhum individuo. Apesar da demanda por roupas sem gênero ainda ser significativamente maior pelo público LGBTTQ, as peças genderless são uma forma de expressão que diz mais sobre a forma com que as pessoas se colocam no mundo e vivencia suas experiências, do que sobre suas preferências sexuais. A ODISSEIA DAS MARCAS DE MODA Homens e mulheres correndo livres e nus na natureza, pegando peças de roupas ao longo do caminho sem se importarem com suas estampas ou modelagens. Casais de namorados de diferentes orientações se-

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e mundial um debate importantíssimo sobre liberdade de expressão, quebra de tabus, evolução social e fim das barreiras de gênero.


xuais trocando de roupa um com o outro por diversão e demostrando contentamento por poder se vestir de forma livre e inusitada. Entrecortando as cenas, as frases de efeito, “Misture, ouse, divirta-se”, “Girls can be boys and boys can be girls”, “Tudo lindo & Misturado”.

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É difícil pensar tais cenas sendo transmitidas em emissoras abertas e em horários nobres no Brasil. Principalmente se levarmos em conta o destaque que as correntes políticas de extrema direita e as religiões conservador-

as têm ganhado nos últimos anos. Mas por mais espantoso que seja, estas são as premissas dos comerciais da C&A, uma das maiores, mais populares e rentáveis lojas de fast fashion (lojas populares de grande porte que tem uma política de mercado onde os produtos são fabricados, consumidos e descartados rapidamente) atuantes no país.

quando as araras das multimilionárias empresas de fast fashion C&A, Zara, Riachuelo, Topshop e Forever 21 foram discretamente sendo preenchidas com peças genderless. Ironicamente, o fenômeno que começou tímido acabou ganhando muita repercussão no Brasil justamente pela contra campanha feita por personalidades conservadoras do país.

Parece um pouco distante da realidade da maior parte da população quando apenas os poderosos nomes da moda como Saint Laurent, Louis Vuitton, Hermès, Commes des Garçons e Gucci começam a trabalhar o conceito de moda sem gênero em suas coleções. As peças de alta costura destas grifes são de difícil acesso e altos valores, por isso não parecem afetar tanto o vestuário popular.

O debate acalorado que mobilizou as redes sociais foi intenso mas rápido, e ao contrário do que queriam os conservadores só serviu para fomentar ainda mais a visibilidade queer no Brasil. Mesmo com toda a hostilidade dos avessos a tendência, o debate foi um grande passo para a sociedade brasileira, pois se é difícil debatermos este panorama hoje, é inimaginável pensar tal cenário se quer sendo problematizado há poucos anos atrás.

Porém engana-se quem acredita neste cenário. Mesmo não sendo consumidas pela maior parte da população, as peças feitas pelas grandes grifes são indicadores de tendência do mercado. As lojas populares fazem todos os anos suas coleções inspiradas nos conceitos mostrados nos desfiles das grandes grifes nacionais e internacionais. Conhecendo este panorama, os ávidos por moda não tiveram nenhuma surpresa

AVANÇO SOCIAL OU APROPRIAÇÃO CULTURAL? Fomentar o debate sobre questões de gênero e sexualidade é vital para que haja desenvolvimento social inclusivo. Mas quando se trata da tendência de moda genderless tal debate tem sido extremamente problematizado, e até mesmo criticado nas redes sociais pela própria comunidade queer. Transcendente {27}


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Diferente dos questionamentos dos grupos conservadores que se incomodam com a tendência pelo simples fato dela não perpetuar um padrão social conhecido e tradicional, para ativistas queer a pergunta é: a moda genderless é um avanço para o movimento social LGBTTQ ou uma apropriação cultural desrespeitosa e efêmera do assunto feita pelo mercado capitalista? Tal questão que tem perturbado os ativistas é legitima, pois praticamente nada no mundo da moda é feito sem interesse comercial. Tal afirmação pode ser facilmente comprovada pela multiplicidade de etiquetas explorando exaustivamente o tema.

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Analisando apenas o último ano, por exemplo, é fácil encontrar nas peças publicitarias das grandes lojas, banners, outdoors, selos e etiquetas enfeitados com os termos plurissex, genderless, gender-bender, agender e unissex. Teoricamente todos deveriam ter o mesmo significado e representar a mesma causa. Mas no competitivo mercado da moda cada marca se sente compelida a deixar sua “cara”, seu próprio conceito e principalmente seu nome nas tendências. Outros grandes problemas da tendência são a pouca variedade de estampas e

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tamanhos, e principalmente a modelagem. Teoricamente a modelagem das peças deveriam servir tanto para mulheres, quanto para homens. O problema é que várias marcas ainda não compreenderam que temos corpos com proporções diferentes e que as roupas genderless deveriam contemplar toda esta diversidade. Quando marcas utilizam das demandas da comunidade queer como forma de fazer dinheiro e promover uma imagem politicamente correta para o mundo, o incomodo parece ser bem fundamentado. O principal temor está fortemente ligado ao conceito de uma apropriação cultural imoral, em que mais uma vez um grande nome mercadológico se sobrepõe a uma causa legitima. Em um cenário perfeito, o

ideal seria que os grandes nomes do mercado incorporassem causas sociais com o simples proposito de dar voz aos que não possuem o privilégio de tê-las. Contudo é ingenuidade acreditar que de apenas boas intenções vive o mundo. Assim sendo, entre vários possíveis males é fácil enxergar o lado positivo e notar que o simples fato de haver um debate sobre o tema já abre portas para quebra de paradigmas. O otimismo não é infundado, pois parece que após um longo tempo de estagnação no vestuário popular e excentricidades apenas performáticas nas passarelas, a moda de fato deu o primeiro passo significativo rumo a um mundo sem barreiras de gênero na forma de se vestir e comportar.

CAROL ESCREVE GENDERLESS: A REVOLUÇÃO QUEER NO MUNDO DA MODA carolbandrade.wordpress.com

Carolina Andrade é jornalista graduada pela PUC Minas. Viciada em música, moda, séries e livros descobriu no jornalismo um nicho de mercado abrangente que a permite se reinventar constantemente e interagir com o mundo das artes por meio da escrita.

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COliseu queer Por Rafaella Rodinistzky Anfiteatro. Termo que deriva do grego antigo, amphi “em ambos os lados” ou “em torno” e theatron “lugar para a visão”. Coliseu, o maior anfiteatro e mais conhecido de todos, era utilizado para combates entre gladiadores, simulações de batalhas marítimas, execuções, caça a animais selvagens e encenações dramáticas. As arquibancadas da edificação eram divididas em três partes de acordo com a estratificação social: o pódio para as classes mais abastadas, a maeniana para a média e os pórticos para as mulheres e a plebe. O Baixo Centro de Belo Hori-

zonte formou seu próprio Coliseu com aqueles que compõem os pórticos. A plebe da capital mineira é composta por poetas vagabundos, mulheres negras, travestis, “sapatonas”, “viados”, hippies, favelados: os marginais. Mas não se engane, aqueles que vivem à margem não querem se adaptar ao padrão social imposto, mas desfrutar as diferenças de cada indivíduo ali presente, sem manual ou código de postura. A regra é uma só: tenha orgulho de quem você é. E às margens deste espaço que oferece um “lugar para a visão de ambos os lados”,

o pórtico vai ao centro com a arma que tem: a voz. A mesma que não é ouvida quando seus representantes lidam com o preconceito e com a truculência militar – ah, às margens do teatro de arena contemporâneo, guardas municipais e policiais acompanham a movimentação, só que com outro tipo de arma. Porém, aqueles que portam a voz e que estão ao centro não se intimidam e atacam rima após rima os homens fardados que estão sempre à espreita e sem direito de resposta. A resposta vem depois, em números, 77% dos jovens assassinados no Brasil são


negros. Para uns dados, para outros mais um membro da família que é derrotado no teatro de arena da vida. Uma mulher negra, de dreads compridos e saia transparente pede respeito para “as mina, as mona, as mana, as gay, as trans”. O objetivo final do Coliseu da Antiguidade era matar o oponente. No coliseu queer de Belo Horizonte, o esforço é maior. Além de se manter vivo só com a fala, é preciso transportá-la além das arquibancadas, onde o lugar de discurso é dominado pela heteronormatividade. “Machistas não passarão” é o grito daquela moça que pedia respeito e que agora se digladia contra a rima de um dos participantes que colocava as mulheres como objeto de seu prazer. “Não leve para o lado pessoal”, ela avisa. Aqui não há divisão social tripla, a diversidade do pórtico se mistura. Cabelos coloridos, penteados e cortes que chamam a atenção de quem não

faz parte do meio, homens de vestidos e acessórios que são atribuídos às mulheres pelas normas da sociedade, roupas de comprimentos e cortes que do lado de fora seriam tachados como ousados, assim como demonstrações de afeto entre pessoas do mesmo sexo, quase uma aberração para os seres humanos mais ortodoxos. “De nariz arrebitado, eu sou veado. De bunda empinada, eu sou veado. De barba grossa e unha feita, eu sou veado. De cintura fina e peito cabeludo, eu sou veado”. Distribuindo bananas às pessoas acomodadas nas arquibancadas, duas figuras que confrontam a rigidez da binariedade, desafiam a masculinidade dos homens cis que chegam ao centro. Uma folha com o conteúdo das aspas acima, e muito mais, é entregue a eles, que interpretam da maneira que lhes convém os versos de reafirmação. Enquanto o público come as bananas, as performers fa-

zem delas alimento de olhares: chupam, lambem, andam por todo o círculo observando as reações, até que dividem a fruta com alguém. Acontece ali um ritual antropofágico. Após vários homens interpretarem o texto - uns lendo rapidamente, outros em tom de deboche, de maneira séria, olhando nos olhos, desviando o olhar, parados, andando, tensos, relaxados - a autora, dona de cabelos verdes curtos e vestido vermelho, vem afirmar que é “viado” sim, de peito cabeludo, de unhas feitas, de veias aparentes, sobrancelhas finas, ombros largos. “EU SOU VIADO”. Às 22h o sarau termina e o teatro de arena deve ser entregue às autoridades. Sob protesto, participantes e espectadores se levantam e se encaminham para a rua, onde realmente devem sobreviver com a única arma que têm: a voz. Porém, é melhor ser gladiador de teatro de arena do que escravo daquilo que é visto como padrão do lado de fora.

RAFAELLA ESCREVE COLISEU QUEER

jornalidades.tumblr.com + rafaellarodinistzky@gmail.com

Jornalista com um pé na área criativa. Perseguidora de ocupações urbanas, amante do universo gráfico e, principalmente, das histórias em quadrinhos independentes. Você tem um minuto para ouvir a palavra dos fanzines?

JORDANA ANDRADE ILUSTRA VIADUTO DE SANTA TEREZA facebook.com/jordanaandrade

Ilustradora, designer, tatuadora, fotógrafa, figurinista e bota na conta aí qualquer outra profissão “hype” mas que não dá dinheiro nenhum. Consegue ser acumuladora e maníaca de limpeza ao mesmo tempo, não perguntem como. Concilia sua agenda (e talvez até a sua vida) conforme as séries que tem de assistir. Muito feminista, tem até tatuagem sobre o assunto. Transcendente {31}


SOBRE CORPOS ESPAcOS E O asfalto.

O semáforo.

O cenário se compõe, a cidade cresce e se agiganta, lançando sombras sobre os corpos. Em uma fotografia, o indivíduo é figurante, no seu dia-a-dia, é transeunte, perante os outros, é julgado. Ando por Belo Horizonte e observo suas paisagens, de cimento, carne e osso. Se a cidade pulsa com o frio bater do coração semafórico, cada identidade que circula por essas paisagens navega em um espaço de diálogo e coexistência. À primeira vista, inúmeras vidas se trombam, existências periféricas, sexualidades diversas e não binarismos surgem no horizonte. Na Praça da Liberdade, coração verde da capital, o preconceito fica à espreita. Liberdade, liberdade, um grito homofóbico à esquerda. Morte do espírito, luto em roxo, identidades expostas. A arte é resistência, pulsante e presente na cidade. Do viaduto às galerias, a expressividade questiona a heteronormatividade. Publicações feministas e LGBTs ocupam feiras independentes, o jogo lúdico desafia o preconceito que surge na infância e ocupa o Parque Municipal, se transforma em dança e música. Querem existir, querem dizer. Mas novamente, ouço. Ouço que a pintura de duas mulheres se beijando é suja, imoral. Tentam calar a arte, luto em azul.

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A rua.


E CORES Por Nathália Pereira

O preconceito exige silêncio, censura. Cria uma encenação odiosa e inventa uma agenda, uma ideologia para culpar aqueles a quem quer sufocar. Nas escolas, as identidades têm de ser moldadas, assim desejam os censores. Autoritariamente acusam o debate aberto dizem que as crianças não podem conhecer a existência LGBT, dizem que professor não é educador. As identidades queer nascem e crescem desamparadas, caladas, são tornadas diferentes, ostracizadas desde a escola. Calam sua própria natureza, luto em verde. E sobre os corpos periféricos? Negros, LGBTs, mulheres das favelas, têm seus gritos de existência ainda mais sufocados, abafados por uma convergência de injustiças históricas e ainda tão presentes. Chego ao baixo centro de BH, vejo e ouço a resistência. A periferia tem tanto a dizer, se desloca até o viaduto para ser reconhecida, faz rap, poesia, convive. Contra a norma vigente, a periferia tenta não ser obscurecida, e por vezes é sufocada dentro de sua própria comunidade. Carece de visibilidade, roubam-lhe o sol, luto em amarelo.


Dia 17 de maio de 1990. Somente nesse dia a homossexualidade deixou de ser tratada como patologia médica, por determinação da Organização Mundial da Saúde. Há menos de 30 anos, milhões de identidades eram marcadas, etiquetadas como doentias. A gravidade desse discurso reverbera, há quem ainda pregue sobre curas e doenças. A saúde gay e lésbica é tabu. Os conhecimentos sobre saúde trans são gravemente precários. Saúde e vida, direitos básicos, luto em laranja. Vida. Há dois anos, um jovem era torturado em Betim, em nome da “purificação”. Ao ser socorrido, sobreviveu. Em BH, faltam estatísticas de mortes e espancamentos, ainda ofuscadas pelo preconceito que se escorre até mesmo nos números. Em 2015, segundo estatísticas do GGB (Grupo Gay da Bahia), 318 lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e bissexuais morreram por homofobia no Brasil. Estimase que a cada 28 horas, um LGBT morre de forma violenta no Brasil. Morte, luto em vermelho. Ainda assim, o movimento vive, supera o luto. Resistência. Conquista. Reafirmação. Mobilização. Em roxo, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. O movimento LGBT é difuso, pode ter Q,

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I, TT e +. Identidades únicas se mobilizam sob uma mesma bandeira de arco-íris para lutarem por reconhecimento, visibilidade e direitos. Em um dia comum na Praça da Estação, o vai e vem de

pessoas é acinzentado. No dia 17 de julho de 2016, milhares se reúnem para reivindicar equidade. As seis cores são estendidas, lado a lado, em uma única marcha. O tema da 19a parada foi


“Democracia é respeitar a identidade de gênero”, requerendo, especialmente, as pautas transexuais. As paradas LBGTs se consolidaram na década de 1970, e até hoje são um dos movimentos da comunidade que mais recebem atenção e exposição midiática. A parada belo horizontina foi criada por representantes de um coletivo lésbico, ainda nos

anos 1990. A festa na Praça da Estação reacende o espírito, celebra a arte, música e dança, naturaliza as identidades contra a norma opressora, torna visível uma minoria, clama por direitos à saúde LGBTTQ e celebra a vida de cada identidade. Ainda há muito a ser feito. Enquanto a marcha segue para a praça Raul Soares, os contrastes são evidenci-

A bandeira do arco-íris tem seus primeiros registros no século XVI. Já foi sinal de esperança, já foi símbolo de culturas e tribos andinas, é bandeira de uma divisão federal da Rússia. No movimento LGBTTQ, foi repaginada em 1978 pelo artista Gilbert Baker, e começou a ser amplamente usada nas paradas e movimentos. Existem no mínimo outros 20 símbolos e bandeiras para representar as mais diversas identidades, entre lésbicas, bissexuais, gays, transgêneros, travestis, intersexuais, genderqueer e não-binários, assexuais, pansexuais e outros. Ainda assim, como símbolo mais reconhecido do movimento, cada cor da bandeira do arco-íris tem um significado específico:

ados. Cada pessoa ali presente navega pela cidade de uma outra forma no seu dia-a-dia. Espaço e corpo. Espaço e identidade. O próprio corpo é um espaço, que está sempre em diálogo com o lugar que ocupa. A Raul Soares do fim de tarde daquele 17 de julho não é a mesma de um outro dia qualquer. A marcha segue, o movimento luta.

ROXO – ESPÍRITO; AZUL – ARTES e o amor pelo artístico; VERDE – NATUREZA; AMARELO – SOL, a luz e a claridade da vida; LARANJA – SAÚDE e cura; VERMELHO – VIDA, vivacidade.

NATHÁLIA ESCREVE SOBRE CORPOS, ESPAÇOS E CORES nathaliacomunic@gmail.com

Jornalista que acredita na palavra como meio para a mudança. Pesquisadora de causas, se interessa por uma nova dialética do gênero e da sexualidade. Se aventurou pela pesquisa em sustentabilidade, e (des)enquadra perspectivas transversais entre a ciência e o fazer político.

SARAH QUEIROZ ILUSTRA SOBRE CORPOS, ESPAÇOS E CORES facebook.com/noventeiseis

Estudante de artes plásticas da UEMG, participa, observa e questiona as interações: dos sujeitos na cidade, das perspectivas em si mesmas, da aquarela ao nanquim. Com proposta de trabalhos originais e manuais, ilustra a cidade, a Transcendente, e quem sabe, ilustra VOCê. Transcendente {35}


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“We all came into this world naked. The rest is all drag� RuPaul


creditos finais THALITA LEFÈR ILUSTRA A CAPA DA TRANSCENDENTE amarelocriativo.com.br

Thalita Lefèr é designer, ilustradora e a mente empreendedora por trás dos projetos de comunicação Amarelo Criativo, Diário dum Designer e The Creative Thinker.

RAFAELLA RODINISTZKY ILUSTRA RU PAUL (p. 36) jornalidades.tumblr.com + rafaellarodinistzky@gmail.com

Jornalista com um pé na área criativa. Perseguidora de ocupações urbanas, amante do universo gráfico e, principalmente, das histórias em quadrinhos independentes. Você tem um minuto para ouvir a palavra dos fanzines?

MERYL DITH ILUSTRA AMOR É ACEITAÇÃO (p. 39) pagina-1.tumblr.com

Meryl Dith, 20 anos, ilustradora , fotografa e etc diz: “nunca se limite.”

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