Estafa #2 PUNK ZINE - Niilismos, Indivíduo e Coletivo

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EST A FA s o m s i l i Ni I nd i v i d u o e o v i t e l o C

De z20 23 N# 0 2 A pe ri o di c o


po r :G u a i a n a i s Esta edição, ao contrário da possa ter algum alcance. anterior, surgiu de forma mais Nesta publicação, venho com um orgânica. O volume #1 texto que escrevi recentemente (https://issuu.com/rafaniihil/d sobre a individualidade dentro ocs/estafa_zine_n_01_3_) do coletivo, e, como sabia que a precisou ser apressado para Rafa queria fazer o volume #2, estar pronto até o dia da dei o sinal verde pra ela oficina de zine #2 que ocorreria começar a escrever. A Rafa em julho de 2023 na Casa Punk, acabou largando os outros e, no final acabou não rolando. textos que estava trabalhando Porém esse prazo acabou dando o pelo caminho para contribuir gás necessário para concluir a com o Estafa ao destrinchar os publicação. Na data que tipos de niilismo, e, não menos aconteceria o evento já estavam importante, com diversas artes. algumas edições impressas, e, Nunca planejamos uma inclusive uma delas, periodicidade para o Estafa e encadernada e arquivada na acredito que esse lugar esteja biblioteca da Casa punk, onde reservado para quando, e se, nós inicialmente foi o único quisermos publicar esse tipo de contato dos punx com este zine. textos mais reflexivos, ou Até então, só havia enviado o então, isso pode ser apenas um arquivo PDF para alguns amigos, pretexto para compartilhar como não utilizo redes sociais nossos desenhos sem a empáfia de não pensei em alguma forma de criar um artbook. divulgação, e, também não achei que a veiculação desse material valha o inconveniente de me inserir nas mesmas. A Rafa passou meses sem pensar nesse assunto, até que em novembro, enquanto produzia o zine Alimária #1 (https://issuu.com/rafaniihil/d ocs/alimari_1_revisado) decidiu hospedar o arquivo no issuu, e, pra nossa surpresa, houve uma boa repercursão, pra gente isso Guai anai s seria lido apenas por meia duzia de pessoas, é muito louco imaginar que em 2023, um zine composto por algumas reflexões 01


po r :G u a i a n a i s A organização dentro do meio (indivíduo pensante) dar o punk é algo primordial para se primeiro passo para colocar construir um modelo alternativo essa engrenagem em movimento. à “sociedade”. Dessa forma, é Pode-se iniciar esse processo muito comum que em regiões onde fazendo algo que você gostaria existe um grande número de de “consumir”, inicialmente não indivíduos punks se formem importa se vai agradar outras diversos grupos com interesses pessoas ou se vai chamar diferentes, e, dependendo da atenção, é muito importante situação, até grupos com desfrutar o processo e se interesses análogos. satisfazer com o resultado Os coletivos têm um papel final para que tenha motivação essencial tanto na movimentação para continuar em atividade. E, da cena punk, como no se isso trazer uma discussão crescimento individual de seus relevante depois de concluído, membros: Gigs, zines, bandas ótimo! etc, geralmente são idealizados em grupo, e, ideologias, valores, interesses pessoais, são os que os unem. Através dos materiais produzidos e eventos organizados ao longo dos anos de existência da cultura punk, principalmente em regiões do globo onde o punk nunca se tornou cultura de massas, está documentado (nos flyers de eventos, encartes de discos, artigos de jornais/ matérias de tv cobrindo protestos idealizados por punks) que a construção coletiva que faz o punk resistir e se renovar. Contudo, na dinâmica da vivência punk, faz-se necessário em diversas situações, as ações individuais. Dentro de grupos punks,pode ocorrer estagnação dos mesmos,e cabe ao punk 02


Também é importante reconhecer punk tem o caráter contestador e os conhecimentos específicos, avesso ao senso comum, ele um punk que possui um ideologicamente se constrói do conhecimento único em um grupo, indivíduo ao coletivo. Seguir (Arte, instrumento musical, cegamente um grupo é o oposto da edição de alguma mídia, etc...) proposta punk, que repugna e não só pode somar com o mesmo, execra comportamentos de seitas como também pode passar adiante presentes em religiões e em com o intuito de fortalecer o facções políticas que voltam a coletivo. E isso não diz se popularizar nos dias de hoje. respeito apenas aos A construção coletiva deve conhecimentos materiais ou partir do indivíduo para as práticos: as capacidades massas e não ao contrário, se filosóficas e culturais podem existe castração de opiniões ser utilizadas para enriquecer dentro de um grupo, esse o todo através de discussões, coletivo para nada serve. Para ser punk só é preciso fazer o debates e publicações. A individualidade se mostra na punk! honestidade que habita em si enquanto punk. Não existe razão em se prender em um coletivo que segue o caminho oposto que você deseja trilhar, ou pior, não segue para lugar nenhum, ser honesto consigo mesmo e não se dobrar as vontades de um todo pode também ter um papel no fortalecimento das ideias de que você acredita. Se não existe espaço, não existe valor em estar em um grupo. Ninguém precisa de outro alguém para ser punk, e se você seguir sua caminhada é possível que encontre outro coletivo com os mesmo ideais. Visto de longe o punk pode aparentar algo uniforme (fulano é reconhecido como membro de gangue ”x” ou coletivo ”y”), porém, como originalmente o 03


Po r :R a f a pelo ceticismo à religiões ou crenças, aos valores morais infundados, pelo ódio ao sistema econômico-social, pelo ódio às instituições, ódio às segregações, ódio ao capitalismo e ao totalitarismo, e, também ao desencantamento às ideologias e utopias ofertadas com propostas otimistas e/ou progressistas. O que é oferecido pelo sistema, é essa totalidade de valores obtidos pelo fracasso civilizatório. Não havendo a vontade do “tudo” que há na Os conceitos de “niilismos” totalidade da civilização, e conversam diretamente com a esse “tudo” ao punk, é nada. O ideia de indivíduo Punk: a nada designa NADA*, e, é isso o quebra dos valores morais que temos em mãos! imputados por uma construção de civilização que não tem sentido A definição etimológica de faz com que haja uma relação Niilismo, vem do termo “Nihil” descomplicada e compreensível do latim, que traduz “Nada”. Os “ismos”, por sua vez, denotam entre o Punk e os Niilismos. concepção de ideias, Falo de Niilismos no plural, não uma correntes, só por existir diversas propensões, interpretações da ideia de credulidade, predisposições ou niilismo, mas também para doutrinas, teoria. Sendo assim, identificar as formas que o entendemos etimologicamente a niilismo é manifestado no transcrição de Niilismo como: a processo de individuação do propensão à “Nada”; à teoria do “Nada”; à ideia de “Nada”. Cada Punk. O punk rompe com tudo o que não um desses exemplos, ao “nada” é significações faz sentido na sua ideia e atribuído observação de mundo. Ele diferentes. O “nada” pode ser ressignifica às suas ações literalmente nada, como também voltando-as ao indivíduo e ao pode ser o que para o indivíduo coletivo, uma vez que há a representa o que é “nada”. E o quebra do indivíduo punk com a “Nada/NIHIL” deve ser entendido de acordo com o contexto que a sociedade. Essa quebra ocorre 04


sua ideia refere, ou seja, o tudo o que o entorno social não valor que o indivíduo tirou, e, é tudo o que o ser categoriza o NADA: Se o “nada” é tem, a emancipação enquanto tudo o que surge de valor da indivíduo punk ressignifica sociedade, e - que para o punk - seus sentidos para existir: é na é nada, e, “nada” significa sua ruptura com a sociedade e nada, ou “nada” nada significa, com o “tudo” ofertado que ele o punk é propenso ao Niilismo ou quer o “nada”. Esse “nada” é o o Niilismo propenso ao punk. interesse vazio/nulo por tudo o que é proveniente da sociedade. O punk, marginal pensante que Sendo assim, temos a primeira reflete sua condição ao “nada” e passagem ao Niilismo no Punk. o nada é a condição proposta socialmente a todos que estão às O Niilismo é o sentimento margens da sociedade. Cabe ao legítimo proveniente do punk como indivíduo se rompimento com os valores dissociar da ideia do Niilismo morais universais, com a das crenças do senso comum (do ser resignado totalidade à nada, passivo à própria compartilhadas. Sendo niilista ausência de sentido na vida), à e punk, você tem que estar transformar-se num Niilista preparado para existir a sua ativo, aquele que por não ver própria existência e ser a sua sentido na existência de mundo própria essência, ausente do comum (civilização, sistema, mundo da vida social. sociedade), ressignifica a sua existência como punk à todo Quando o “tudo” no mundo social momento. As culturas sociais é negado e reduzido à nada não bastam ao punk, e, o punk no (civilização, valores morais, seu modo de vida criador, princípios religiosos, crenças sistemas de transforma sua existência e, universais, assim, constrói sua cultura com organizações antropocêntricas, outras invenções base no seu caráter gerador, dentre marginal, artístico e humanas), é possível que o filosófico pertencente ao punk indivíduo se entenda numa apatia extrema até a si mesmo. em sua essência. Na ausência de sentido, o O tipo de niilismo que não indivíduo punk pode fazer da sua transforma o indivíduo é um existência o seu próprio niilismo da decadência, ele é sentido, ser o seu único autor passivo e indiferente à da vida. Uma vez que a vida é existência, porque ele não se 05


ressignifica. E dele não se torna parte do indivíduo, e o um nada. Essa extrai nenhuma criação ou indivíduo, produção, porque o indivíduo é decadência no niilismo leva a aniquilado em seu próprio lados mais intensos de uma significado: o “nada” se torna a existência falida, a apatia toma conta de seu significado e vontade de nada. o indivíduo fica preso à própria insignificância de si no mundo. Um punk niilista cansado, está doente de si. E, não haverá uma superação dessa decadência se o indivíduo não se reinventar. Restará ao niilista decadente/inativo à definhar-se em suas próprias auto-alienações para suprir a sua ausência de significados, caindo em “loopings” de vícios (que podem ser morais, de hábitos ou químicos). A ausência de tudo o que interessa e o não interessar-se em nada, torna o punk niilista decadente, um punk depressivo que busca a todo instante estar alienado a si mesmo, por aceitar a sua insignificância como algo “estável” a si. Se reinventar é um exercício do punk e a reinvenção do indivíduo enquanto sujeito que rompe com a civilização é fundamental para se tornar um niilista punk, Podemos enxergar vários hardcore e ativo. indivíduos punks no niilismo a reinvenção decadente, que se aniquila em Porém, sua própria passividade frente não-reflexiva, pode levar a à sua realidade e frente ao diversos equívocos negativos à mundo, pelo anseio à nada. Tendo concepção de niilismo. O niilismo no punk como ruptura, como resultado que,o nada se 06


também é o rompimento do ego. carente para que suas ações em Não do ego enquanto “ser”, nem torno do rompimento de tudo, enquanto “indivíduo”, nem exceto do “ego”, busquem um enquanto “sujeito”, mas sim do público-seguidor, pois este, “ego” enquanto o Eu moral. não consegue romper com a O punk niilista defeituoso é o percepção do outro na sua que não rompe com o ego e vive o vaidade e fantasia. rompimento com a sociedade em prol de uma compensação Em contraposição com o punk imaginária para-si. Geralmente, niilista defeituoso e egóico, põem o “ser punk” enquanto há também punx niilistas que em “entidade” ou “fantasia” de sua ruptura, passam pelo suas próprias ambições no punk. processo de aniquilação do ego, aniquilam também o Um exemplo disso são os porém indivíduos que fogem do mundo “indivíduo” e o “ser”, se real e justificam suas ações tornando um indivíduo em prol da merdas/irrefletidas para se ação do outro. legitimar enquanto punk em atitudes fora de contextos, O punk niilista em prol da ação afirmando que fizeram (ou do outro, é aquele indivíduo que fazem) é pelo punk, ausente de si, busca a ação na independentemente se é legítimo ação do outro. Ele não acredita pro punk. O egocentrismo é uma numa ação do agora, e, portanto, primeira característica que aniquila-se no “agora” para foge da própria reflexão de si refugiar-se numa possível ação mesmo enquanto ruptura, que não futura de outro niilista. faz auto-análises de si, para Geralmente, esse punk pode ter que suas ações sejam validadas uma noção de coletivo num numa estrutura que o próprio niilismo que rompe com o resto indivíduo criou. Rompendo com a da civilização, mas que não foca civilização, põe um papel no nem em “si”, nem no “agora”, mas “punk” como entidade sim no “outro” que possa fazer supra-real, elevando o seu ego por ele e/ou no “depois” que como o “portador” dessa poderá ou não acontecer. O fantasia: para consigo, para refúgio desse punk niilista é com o entorno. O punk que não adiar sua reconstrução e se rompe com o ego, não rompe com a apoiar num futuro que independe percepção dos outros sobre si, e da sua ação. Ele rompe, mas se isso não o torna autêntico, pelo nega como sujeito da própria contrário, o punk niilista reconstrução de universo defeituoso é um indivíduo individual. Ele se aproxima 07


filosoficamente do punk Todos os tipos de niilismos são niilista decadente, mas não tem legítimos, e podem estar (ou como subterfúgio a não) em processo de evolução auto-destruição, mas sim, a e/ou reconstrução de si enquanto compensação no outro ou no indivíduos, dentro das suas depois, dando um “tanto faz” no formas de ruptura. Todos os punx que acontecer. Esse tipo de niilistas que tem a noção de seu niilista não se apropria de si niilismo estão em processos como significado de sua própria diferentes em seu próprio história, e para ele, também não niilismo. Punks niilistas têm as importa. capacidades necessárias para perceber suas condições perante o mundo da vida, e cabe somente à sua ressignificação evoluir-se para um niilista ativo Hardcore. O niilismo hardocore - assim que eu o chamarei - no Punk, é quando o niilismo é essencialmente voltado para a quebra civilizatória/moral e a renúncia de tudo o que não acrescenta nada na sua construção enquanto indivíduo, enquanto punk e enquanto hardcore. Um punk niilista ativo é essencialmente Hardcore! Ele estabelece que a civilização, as sociedades, e tudo o que pertence à elas não pertence a si, então, surge a ideia de criação própria, da autonomia, da autogestão que podemos até relacioná-la ao anarquismo essencial do indivíduo e a realização de universo próprio. No niilismo ativo há a execução da sua própria compreensão de mundo e de realidade, que cabe 08


a si mesmo reinventá-la e para que o punk baste em si ressignificá-la de acordo com a mesmo. forma mais legítima de se existir dentro do contexto em que nascemos e fomos circunscritos a viver. Mudar a realidade (não das coisas, mas de si), é ser liberto da própria condição humana-social imputada pelo entorno civilizatório. O niilismo real e que vive o hardcore, redireciona a sua destruição aos valores morais e aos valores derivados da moralidade como um todo, e não a ausência de si como o sujeito detentor da própria vida. Di ogeneseRaf a O rompimento com o todo ressignifica uma vivência limpa das ações civilizatórias inerentes à individualidade do punk, e retoma a necessidade da cria(ação) e da cria(atividade) de existência e de essência: artística, cultural, destrutiva, desconstrutiva e construtiva, reflexiva, filosófica, imaginativa concreta e real, pautada na ação. A evolução do indivíduo punk no seu processo de individuação a partir do niilismo - restaura concepções próprias do “eu”, sem influências as externas sociais/morais para interromper o exercício de liberdade do ser. Ser o autor de sua própria essência é o campo de domínio de uma existência hardcore para-si, e, isso é suficiente 09


Est af a,Dezembr o2023 I deal i zaçãoGuai anai seRaf a Ar t espági na2,cont r acapa,di agr amaçãoeedi ção:Guai anai s Revi são:Guai anai seRaf a DesenhosCapaepági nas4,6,9,10:Raf a T ext oAI mpor t ânci aDaI ndi vi dual i dadeNaConst r uçãoCol et i va:Guai anai s T ext oNi i l i smosNoPunk:O NadaÀRessi gni f i cação:Raf a

Raf aeGuai anai s

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