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(sf.) ato de entreabrir; descobrimento do cĂŠu em um dia enevoado. 1


Autora PATRÍCIA DEL REY BRASILIA, DF, BRAZIL

A natureza multifocada da ventania vermelha sobre a cidade cinza rega esse substântivo feminino. Ora poeta, ora atriz. Adjetivar é sempre uma propaganda enganosa. VISUALIZAR MEU PERFIL COMPLETO

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(sf.) ato de entreabrir; descobrimento do cĂŠu em um dia enevoado.


F i c h a c ata l o g r รก f i c a


Sumário Bissexual

Vide a bula Q u a rta - f e i r a , F e v e r e i r o 2 7 , 2 0 0 8

7

8

9

19

Sábado, Junho 13, 2009

24

E s ta m pa r i a s d e a z u l e j o s

Vênus em Áries Domingo, Setembro 16, 2007

Terça-feira, Fevereiro 10, 2009

Caipirinha

Mensalmente Q u a rta - f e i r a , J a n e i r o 1 6 , 2 0 0 8

18

M e u 1 º C o n to E r ó t i c o

Ta k e 1 Terça-feira, Novembro 25, 2008

Sábado, Julho 28, 2007

10

Segunda-feira, Fevereiro 16, 2009 25

11

Q u i n ta - f e i r a , J u l h o 3 1 , 2 0 0 8

O amor odeia clichês S á b a d o , A g o s to 2 5 , 2 0 0 7

Era cedo, era sábado.

To n s u r To n S e x ta - f e i r a , S e t e m b r o 0 7 , 2 0 0 7

13

14

16

Segunda-feira, Março 31, 2008

29

Q u i n ta - f e i r a , A g o s to 0 9 , 2 0 0 7

30

Ao meu desconhecido

Descanso Terça-feira, Novembro 13, 2007

27

F o r m ata ç ã o

Dolorida Sábado, Maio 31, 2008

Sábado, Maio 31, 2008

3x4

P r a z o d e Va l i d a d e Domingo, Outubro 21, 2007

26

17

S á b a d o , A g o s to 1 1 , 2 0 0 7

31

3


Querer :

...

Verbo transitivo -

Sábado, Julho 05, 2008

45

Verbo intransitivo P o e ta e P o e t i s a

S u b s ta n t i v o m a s c u l i n o S e x ta - f e i r a , J u n h o 1 3 , 2 0 0 8

33

34

35

36

39

40

41

SEGU N DA - F EIRA , OUTUBRO 0 6 , 2 0 0 8

Terça-feira, Setembro 30, 2008

Sábado, Novembro 01, 2008

42

53

55

57

d a i m a g e m d o e s p e l h o d i s to r c i d o Q u i n ta - f e i r a , S e t e m b r o 1 8 , 2 0 0 8

Ep i fa n i a Sábado, Julho 05, 2008

52

Aq u e l a pa r t e q u e s e e s c o n d e at r á s

Ao Novo Chefe Terça-feira, Junho 24, 2008

S e x ta - f e i r a , S e t e m b r o 2 6 , 2 0 0 8

S o b r e p o e m a s e c i c at r i z e s

s EM T Í TULO Segunda-feira, Outubro 13, 2008

50

Ato d e d e p i l a r I

Haiku Terça-feira, Junho 24, 2008

Domingo, Maio 18, 2008

C i m e n to U r b a n o

Baile de Máscaras Q u a rta - f e i r a , J u n h o 2 5 , 2 0 0 8

49

Á g u a N o va

Canalha Q u a rta - f e i r a , J u n h o 1 8 , 2 0 0 8

Terça-feira, Setembro 09, 2008

Pa p e l d e pa r e d e

Novelinha Clichê Sábado, Maio 03, 2008

46

En t r e l i n h a s

O G ato TERÇA - F EIRA , OUTUBRO 3 0 , 2 0 0 7

Sábado, Julho 12, 2008

43

P r ín c i p e d a I l h a

58


S e g u n d a - f e i r a , A g o s to 1 1 , 2 0 0 8

59

75

Da sua Boca...Silêncio

Desabafo Q u a rta - f e i r a , M a i o 0 7 , 2 0 0 8

Q u a r ta - f e i r a , M a i o 1 3 , 2 0 0 9

60

P é s f o rt e s , pa s s o s l a r g o s .

SÁBADO , J ULHO 2 8 , 2 0 0 7

76

Domingo, Abril 05, 2009

78

Ruas sem esquinas. P o e m i n h a s In s o s s o s

Um coração que pulsa... Terça-feira, Setembro 02, 2008

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Pa r a M i n h a V ó A l a r a nj a d a Q UARTA - F EIRA , J ULHO 0 2 , 2 0 0 8

S e x ta - f e i r a , A b r i l 0 3 , 2 0 0 9

79

Domingo, Maio 31, 2009

81

Segunda-feira, Março 23, 2009

82

SEXTA - F EIRA , J ULHO 1 1 , 2 0 0 8

83

63

Segunda-feira, Dezembro 15, 2008 66

U r a n o c o nj u n ç ã o S o l Domingo, Novembro 16, 2008

67

Ta k e 2 Segunda-feira, Dezembro 01, 2008 84

R e - Pa rt i d o Domingo, Fevereiro 01, 2009

68

In s ô n i a SEXTA - F EIRA , ABRIL 0 3 , 2 0 0 9

Terça-feira, Março 17, 2009

86

70

In c o m p l e to - c o m o a v i d a Q u i n ta - f e i r a , M a i o 2 1 , 2 0 0 9

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Com Licença Poética do Carlos D r u m m o n d d e An d r a d e Segunda-feira, Maio 04, 2009

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Quarta-feira, Fevereiro 27, 2008

Vide a bula É recomendado pros fortes. E também para os que precisam perder o medo de altura. Aos que tiveram problemas no coração, mas fizeram a gentileza de esquecê-los num lugar do passado. Para os que gostam de poesia, pipoca e pornografia. Aos católicos, ateus, budistas e evangélicos. Para as virgens, pras putas. Brancos, amarelos, vermelhos, negros e verdes com bolinhas roxas. Aqueles que sofrem da ausência de brisa e excesso de tempestades. Ideal pra qualquer ser humano vivo. Combate a problemas de auto-estima, apatia e frieira. Apagador de mágoas. Criador de sonhos. Remédio infalível em caso de tédio profundo, depressão ou intoxicação por excesso de lágrimas e chocolate em madrugadas frias. Perfeito pra solidão de domingo e festa chata de sábado. Droga muito rara - difícil de ser encontrada. Deve ser dosada ao gosto do paciente: para uns, o vidro todo num gole só. Pra outros, doses mínimas diárias sobre o por do sol. O medicamento reage rápido. Costuma dar uma vontade enorme de andar de mãos dadas, inventar apelidos clichês e fazer programas de índio. Efeito lisérgico sobre o paciente. Cara de Bobo. Muitas vezes acarreta um estado de insanidade temporária. Felicidade Instantânea. É recomendado durante o tratamento dormir abraçado todos os dias e aproveitar cada segundo. Pois não se sabe ao certo quanto tempo a droga dura - pode ser eterno ou efêmero. É recomendável que o paciente aproveite e sorria. Vai saber quando você encontra outro frasco desses perdido na farmácia? f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 5 : 2 6 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

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Terça-feira, Novembro 25, 2008

Take 1 (...) pingou a última gota do teu perfume favorito entre seios e beijou o espelho de uma forma egoísta antes de sair do banheiro. Vestido preto balonê de tafetá, cabelos cuidadosamente bagunçados. Nos olhos, a mistura borrada exata entre rímel e as noites mal dormidas. Tinha um visual desgastado encantador. Parecia à beira de um abismo mesmo quando sorria. A dor que impregnava sua pele a tornava ainda mais bonita. O que seria da mulher sem uma dor? Passou pela sala, desligou o som que tocava a mesma música de ontem. Caçou inutilmente a chave do carro. Revirou algumas bolsas, encontrou 10 reais e colocou em sua carteira vazia. Talvez fosse a hora de buscar um emprego fixo. Tomou um gole no gargalo da garrafa de Vodka e assaltou a chave-reserva em cima da estante. Desceu a escada apressada, entrou no carro bagunçado e acendeu um cigarro como companhia. Tragou e assoprou com as mesmas ilusões banais. Lembrou de alguém que já devia ter esquecido. Errou duas vezes o caminho antes de chegar ao lugar marcado. Teve ódio de si mesma. Suspirou fundo, olhou pra frente e voltou a dirigir de forma descuidada pelas ruas largas. (...) f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 1 : 4 8 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s , U m b i g o

1 pontos de vista: Tatiana disse... Adorei.vamos gravar? 25 de Novembro de 2008 18:39

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Quarta-feira, Janeiro 16, 2008

Mensalmente Há um vulcão escondido De onde brota sangue grosso. Forte, quente e vivo. Lágrimas de algo que foi morto. Ele jorra aos montes. Escorre entre as minhas pernas Limpando a dor ou o amor antigo. E muitas vezes, suja o meu vestido. O sangue se esparrama pelo chão, Não faz cerimônias ou concessões Apenas me afoga em seus braços lânguidos. E reafirma algo que tento esconder. Não há fruto, não há semente Nem espera ou desespero Apenas uma mulher que colore De vermelho, o banheiro. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 2 : 1 2 : 0 0

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Domingo, Setembro 16, 2007

Vênus em Áries Não gosto de pausas. Nem de três pontos. Ou desse tempo que se busca uma certeza sobre algo que nasce incerto. Eu simplesmente detesto o discurso pronto, revisado e sem nenhum erro de português. Prefiro me deliciar com rimas soltas, poesias sem sentidos e principalmente frases corridas, que nascem sem vírgula ou respiração. Quando você vê, ela já se perdeu pelo mundo... Eu sou acostumada com amores improvisados, vínculos imaginários e tendências suicidas. E se eu me perco, é pra tentar me encontrar. Uma tentativa, um risco e um pulo. Rabisco letras soltas por aí pra quem sabe um dia encontrar alguém que ligue as letras, desligue os três pontos e me leia inteira! f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 4 : 0 7 : 0 0 Marcadores: Poesia

2 pontos de vistas Anônimo disse... É lindo demais e é fácil demais colocar minha cabeça pra funcionar. Eu entro aqui. E fico... e fico... e olho as fotos, e reparo nas cores, passo a mão pelas suas respiração que ficou perdida aqui. Procuro em tudo seus três pontos íntimos. Tiro a sua roupa, desenho mais bolinhas, reparo tudo até embaixo. Descubro seu ponto G, assim eu acredito, e toco nele quando escrevo. Com um só efeito contrário: sou eu quem gozo. 19 de Setembro de 2007 22:09

Patrícia Del Rey disse... talvez não seja só você... Andava com saudade do seu olhar, da maneira que você me toca e me tira dessa realidade que insiste em bater na minha porta. Suas palavras anônimas sempre me arrastam para um lugar mágico... Um lugar onde não é preciso usar máscaras,nem implorar migalhas... um lugar assim, onde a poesia goza e o meu corpo te devora. 20 de Setembro de 2007 00:48

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Sábado, Agosto 25, 2007

O amor odeia clichês Noite de sexta-feira, sozinha no meu quarto, de banho tomado, tento escolher um entre todos os meus vestidos preferidos: Qual daria mais sorte, o branco de bolinhas pretas ou o preto de bolinhas brancas? Sigo com a dúvida cruel até o telefone que toca desesperadamente. Esboço um sorriso. Será que é? Bem que podia ser hoje. Bem que podia ser agora. Um amor novinho em folha. Um amor imaturo. Desses que transformam as calçadas em nuvens. É a minha mãe! Quem poderia ser? Também que idéia. Alguém já viu amor fazer chamadas por telefone?! Parece que ele nunca chega na hora certa. Agora, por exemplo, que eu estou toda perfumada, escutando jazz e pronta para me entregar! Mas esse danado do amor costuma sempre chegar antes do esperado. Sabe naquele momento em que você acabou de se filiar ao partido das solteiras convictas e quer sair por ai, beijando todas as bocas? Então. Lá está ele. Porém estamos ocupadas demais com a nossa liberdade e nem percebemos a visita. Ou pior, ele chega bem atrasado. E te encontra assim, amarga, desconfiada, cheia de olheiras... Sem coragem de apostar. O amor então dá meia volta volver. Não espera a nossa certeza. Ele é assim: apressado. Ou você segura ele, ou ele demora muito a passar. Às vezes passo meses procurando, mas amor se esconde bem. O amor é como tesoura de unhas e nunca está onde a gente pensa. Quantas vezes eu fiquei hipnotizada por um babaca a festa toda, enquanto o amor estava ali, olhando diretamente pra mim, me chamando para dançar? Ultimamente acredito que o amor está em todos os lugares, eu que não sei procurar direito. Ele pode está até aqui, lendo essas bobagens que eu escrevo... Imprevisível. “Mas será que o amor prefere o branco de bolinhas pretas ou o preto de bolinhas brancas?” f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 6 : 1 4 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

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3 pontos de vistas: Anônimo disse... Estou apaixonado por você. 2 6 d e A g o s to d e 2 0 0 7 0 1 : 2 0

Anônimo disse... E essa paixão é preta de bolinhas brancas de bolinhas pretas. Pro que der e vier, eu fico... larara... lararaarara... rarrraaa. 2 6 d e A g o s to d e 2 0 0 7 0 1 : 2 3

Patrícia Del Rey disse... Paixão Anônima (do Lat. passione anonymu, s.f ): ato de sentir algo ambíguo; de dialogar através da poesia; Deixar a autora do blogger curiosa; O único sentimento caracterizado por ser preto de bolinhas brancas de bolinhas pretas! 2 6 d e A g o s to d e 2 0 0 7 2 2 : 2 4

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Sexta-feira, Setembro 07, 2007

Ton sur Ton Palavras presas na minha boca, poemas que devem ser escritos, uma confusão de sentidos que pulsam enquanto escorre sangue entre as minhas pernas e sobre o teu lençol. Ton sur ton. Eu perdida entre tantos vermelhos... batom, peruca, salto alto e... sangue. Muito sangue pra lavar e benzer o nascimento de algo novo. Algo tão eterno quanto o agora. Algo que não se fala, que se confunde ou se esconde sobre a margem de uma razão caduca e antiquada. Um medo bobo que dá de querer voar e cair de cara no chão. Besteira. Bobagem. Pra que pensar nisso, quando tenho tão perto de mim a loucura que é sentir seus lábios sobre a minha pele cansada? Mistura de sentidos. Cheiros, gêneros, oposições astrológicas e sobretudo conjunção de corpos! Não só os celestiais, mas os nossos, esses que se adaptam muito bem um ao outro! Talvez seja o ascendente em comum ou simplesmente as cores que combinam. Ton sur ton. Tenho vontade de derramar não apenas sangue, mas litros de palavras suspiradas que pingariam gota a gota sobre o teu corpo libriano... Essas minhas palavras bobas, efêmeras, fugazes que correm o mundo atrás de poesias como você.

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Domingo, Outubro 21, 2007

Prazo de Validade Sabia que ia ser rápido, afinal você era daqueles amores perecíveis. Tipo orgânico: alto e tesudo. O ultimo pedaço do bolo de chocolate. Esses que devem ser consumidos logo que se abre a embalagem, porque senão vem outra e come. Eu comecei pelas beiradas, lambendo a cobertura com gosto. Devorando aos poucos, sem muita pressa e saboreando tua boca carnuda. Parte por parte, da minha refeição favorita: homens como você. Acho que foram umas 7 ou 8 mordidas em noites espaçadas, ou seja, pouco tempo pra ficar de barriga cheia. Talvez tenha sido esse o meu problema, o meu enorme apetite. Quis te comer aos poucos, um pedaço por dia. Mas o teu prazo de validade era curto. Muito curto. Você gosta de ser devorado por bocas diferentes diariamente, já eu gosto sempre do mesmo prato. Então foi isso, um dia virei pro lado e outro gato já tava comendo o meu pedaço de bolo. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 6 : 5 7 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

3 pontos de vistas: o bolo disse... Não me importo em ser um pedaço de bolo. Com cobertura. Perecível.Que diga que eu devo ser consumido logo senão vem outra e come, também não me importo, pois os papéis já foram inversos e disso você sabia muito bem, inclusive defendeu tal postura por aqui mesmo.Não, o problema não foi o apetite, mas sim a ótica: um pedaço de bolo do seu tipo favorito, pra satisfazer a sua fome.É essa a imagem que você tem de mim. Mas e a minha fome? E as minhas vontades? Talvez eu tenha prazo de validade. Talvez eu já estivesse estragado. Talvez tenha sido até melhor não comer mais, pra não ter uma congestão. Mas sou senhor de meus granulados e meu recheio, e me dou a quem bem entender. Afinal, o pedaço não era seu. A festa acabou, e o bolo também. A amizade não precisa. Beijos sinceros.

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27 de Outubro de 2007 14:38

Patrícia Del Rey disse... Desculpe, Bolo. O problema não foi apenas o meu apetite solitário, mas essa grave disfunção visual. Vontade de matar a fome, minhas farras alimentares Alias se te defino assim, como um pedaço de bolo do meu tipo favorito, não é para te subjugar, mas sim uma tentativa de elogio rápido e comestível. Como você mesmo lembrou, eu já tinha tentado roubar esse pedaço antes. Esses devem ser doados pelo dono, sem que a faminta se importe com o prazo de validade. Porque esse negócio de prazo é uma besteira, quando boca e bolo querem, vai sempre existir uma geladeira. 27 de Outubro de 2007 18:44 Oops disse...

se não acabasse o bolo acabaria a fome... a vida é assim. 2 9 DE OUTUBRO DE 2 0 0 7 2 2 : 1 8

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Sábado, Maio 31, 2008

Dolorida Ama-dor Bebe-dor Consumi-dor Destila-dor Escorre-dor Facilita-dor Grava-dor Habilita-dor Investiga-dor Joga-dor Lastima-dor Media-dor Navega-dor Ouvi-dor Perde-dor Queima-dor Refrigera-dor Seca-dor Tritura-dor Usufrui-dor Vence-dor Xinga-dor Zela-dor Com – puta - dor f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 4 : 5 9 : 0 0 Marcadores: Poesia

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Terça-feira, Novembro 13, 2007

Descanso Solitária. Deitada em um casulo pequeno. Despovoada de esperança ou amores. Ela, inteira. Ela, fragmento. Uma por uma, isoladamente. Sem choro, nem vela. Apenas um corpo que aprende a caminhar f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 1 : 3 6 : 0 0 Marcadores: Pequenos Poemas

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Sábado, Julho 28, 2007

Bissexual De tanto destilados, acabei do outro... f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 2 : 1 1 : 0 0 Marcadores: Frases, Poesia

1 pontos de vistas: Aquariano Biófilo disse... Demorei pra entender mas quando caiu a ficha, caí na gargalhada... muito bom mesmo =) bj na boca 31 de Julho de 2007 19:15

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Terça-feira, Fevereiro 10, 2009

Meu 1º Conto Erótico Era quarta-feira. Um dia antes de começar o carnaval. E nossos corpos estavam sedentos de toque, suor, cachaça. A fantasia ficou pronta às duas da tarde. Éramos oito mocinhas fantasiadas de biquíni preto de bolinhas brancas. Num visual retro bem moderninho, seguíamos a procura de um bloco pré-carnavalesco que sairia na Praça General Osório. Engraçado que ao encontrar a folia, já três das bolinhas foram abduzidas por uns marinheiros do Rio Grande do Sul. Eu e as outras continuamos a nossa caminhada entornando caipirinhas, beijando desconhecidos e cantando marchinhas de carnaval. Na metade do bloco, começou a cair o céu. Era água pra todos os lados, a gente nadava e se amassava com qualquer um. Lembro que estava aos beijos com um palhaço carioca quando a mão da Carol me puxou e entramos as duas em um pub irlandês. A Carol ainda não tinha desenvolvido a técnica de fazer xixi em qualquer lugar e achou que a Irlanda seria uma boa opção. Ao entrar no bar, encharcadas e com um palmo de tecido preto de bolinhas brancas cobrindo o corpinho, viramos alvo de todos os olhares da platéia. O bar estava atolado de gringos branquelos, casaizinhos sem sal e um barman delicioso. Enquanto a minha amiga correu para sua redenção, eu tratei de sentar no balcão e pedir uma caipirinha de morango com gengibre. Adoro gengibre e todas as suas variações. O barman delicioso amassava as frutinhas, enquanto eu jogava charme fazendo perguntas idiotas.

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Tinha um sotaque de paulista e um corpo super definido. “Quantas horas ele devia perder na academia pra ficar daquele jeito? Um homem desse só serve pra trepar mesmo... Alias deve ter um fôlego! “ Tenho que admitir que depois das várias doses entornadas no tal bloco de carnaval, antes de chegar à Irlanda, fez com que esse fato, de só saber trepar, já me deixasse bem atiçada. Minha bebida ficou pronta, minha amiga chegou. Rapidamente, Carol foi convencida pela bunda de Rodrigo (ou seria Marcelo?) que devíamos esquecer o lamaçal carnavalesco e nos mantermos ali, assediando a apetitosa caipirinha da noite. Descobrimos no terceiro copo que Marcelo (ou seria Rodrigo?) tinha se mudado para o rio há dois anos, era formado em direito e acabava de romper um namoro conturbado com uma menina qualquer. Nosso barman gostoso estava triste de dá dó, e nós duas, subindo pelas paredes. Algumas horas depois estávamos íntimas da nossa presa e ela fazia questão de não demonstrar preferência por nenhuma de nós. Atenciosa, jogando charme e entupindo a gente de cachaça, a noite foi passando depressa. De repente, só estávamos eu e Carol no pub. Uma moça acabando de passar o pano no chão e os garçons indo embora. Rodrigo (ou seria Marcelo?) tinha a obrigação de trancar o estabelecimento e pediu pra gente esperar. Puxei minha comparsa num canto. O que faríamos com um homem daquele tamanho, e ainda por cima carente? Sugeri a divisão de irmã. Tinha certeza que ninguém ia sair no prejuízo, mas Carol era avessa a mulheres. Era daquelas pessoas que morrem de vontade de experimentar, mas não têm coragem de dar o primeiro passo. Expliquei que isso era uma bobagem, ainda mais depois da quantidade de álcool que tínhamos no sangue. “Pra que pensar no amanhã, quando o hoje tá de pernas abertas?”

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Às vezes acho que devia ter sido publicitária. Joguei um pouquinho da minha filosofia barata de boteco e Carol estava convencida, apenas me pediu para eu manter a minha boca longe. “Nada de lambeções!”, disse meio que nervosa, meio que excitada. Bom, dei uma risada e continuei o plano. O Marcelo voltou da cozinha e pediu pra gente fechar a conta. Pagamos a bagatela de 45 reais e 72 centavos. Ainda bem que a chuva não tinha molhado o meu cartão de crédito. A medrosa da Carol começou a se despedir de Rodrigo, e eu via a chance do ménage à tróis dos sonhos escorrer pela privada. Precisava fazer algo muito rápido. Foi aí que soltei o convite pra esticarmos a noite no meu apê alugado em Copa. O Barman olhou pra mim com os olhos brilhantes. E cinco minutos depois, estávamos andando os três pelo calçadão. Chegamos à minha pequena casa. Mais vodca, jazz na vitrola e um sofá de couro branco. Surpreendo Carol com um beijo, Rodrigo enfia a língua dentro da gente. As mãos começam a dançar sobre os corpos e as nossas fantasias de bolinhas enfeitam o chão. Três corpos nus, destituídos de regras e cobertos de vontades. Orifícios são lambidos, peitos abertos, mordidas aprovadas. Uma língua macia me lambe, outra certifica meu batimento cardíaco. Beijos são trocados numa variação rítmica intensa. Meus dedos dialogam com os segredos de Carol, a minha boca busca sugar todo gosto de Marcelo. Minha alma pertence ao infinito. Entradas, saídas, encontros, despedidas. Tudo parece rodar sobre as nossas cabeças, naquele pequeno apartamento. O suor transforma um corpo em algo leve, liso e altamente adaptado ao outro corpo. Ao outro não, aos outros. Acendesse um incenso hedonista, que abarca todos os cheiros e recheios daquela sala. Em pé, no meio, entregue. Ela beijava os meus lábios, meus ombros e meus seios. Ele lambia a minha nunca, as minhas costas e me chupava incansavelmente. 21


Fui desmontando até o chão, e aquelas bocas me seguiram. Conversavam. Arrancavam pedaços. As mãos dele puxaram o meu quadril, e me conduziam até seu pau. Aberta, escancarada, eu recebia aquela benção. Travava o objeto do meu desejo entre as minhas pernas. Ele metendo com tal facilidade, num crescente, enquanto eu cravava as minhas unhas pretas com força nas tuas costas e o jazz tocava ao fundo. Somos partes espalhadas sobre o chão. Somos líquidos escorrendo pelas paredes. Estamos sós, inteiros, submersos. Somos três vozes que ecoam todos os desejos do mundo. Devia ser onze horas da manhã quando escutei a porta bater. Manhã de Carnaval. Marcelo/Rodrigo tinha se soltado do nosso emaranhado de corpos, e desaparecido. Carol permanecia pelada e apagada com a cabeça no pufe, e eu me levantei como pude, e fui pegar um copo d’água. Abri a geladeira, achei uma lata de coca, enchi o copo de gelo e encharquei minha ressaca. Sorri, sozinha, por dez minutos. Era carnaval. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 0 : 1 6 : 0 0 M a r c a d o r e s : L a Va l e n t i n a

4 pontos de vistas: Adalto disse... Soberbo... 11 de Fevereiro de 2009 01:16

Klotz disse... Agora que você já conhece o caminho que passa pelos pubs irlandeses, você já pode escrever o segundo, o terceiro e vários outros contos eróticos. Estimule sua veia publicitária, alguma grande agência irá contratá-la. 11 de Fevereiro de 2009 11:36

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An么nimo disse... sorriu sozinha por 10 minutos, e o pobre do barman chorou de saudade pelo resto da vida. 11 de Fevereiro de 2009 19:27

daniel disse... esse conto 茅 um atentado contra meu projeto de ser monge... 7 de Maio de 2009 00:21

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Sábado, Junho 13, 2009

Caipirinha Sim, eu tive sumida. Me perdi no meio da multidão. Acabei em outro bloco: Cachaça, gelo e limão! Esqueci do seu ritmo, cantei o samba errado. Desandei com a harmonia Acabei sem você do lado. Rasguei minha fantasia, Na serpentina, me enrolei. Joguei confete na sua cerveja, E todos os foliões beijei. Acordei na Quarta Feira, Sem meu pierrot , nem perdão . Eu aqui, sem eira nem beira. Cachaça, gelo e limão! f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 7 : 5 3 : 0 0

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Segunda-feira, Fevereiro 16, 2009

Estamparias de azulejos Acordei com dor de cabeça. Passei os olhos desatentos sobre o jornal. Tomei um café frio e comi o pedaço, igualmente frio, de uma pizza de ontem. Era tarde. Havia louça por lavar. Havia roupa por estender. Havia comida por fazer. Preferir o silêncio da chuva rala que molhava a janela. A ausência se fazia presente em cada tom dos azulejos azuis dessa cozinha por arrumar. E eu não entendia você. Encostado no balcão, com as ironias de sempre, de braços abertos, pedindo poesia pra sobremesa. Uma letrinha qualquer, uma rima solta. “Apenas mais um gole do nosso passado que estar por vir, querida.” Metáforas são pimentas nos olhos. O tempo nem sempre escorre pelas beiradas. Às vezes, um amor não passa. Deixa desejos que pulsam entres os olhares escondidos num bloco de carnaval carioca. Você sabia que eu não gostava do sorriso dela. Era falso, exagerado, estranho. Aquelas mãos de dedos finos e brancos apresentavam um cheiro de anticéptico irritante. Politicamente correta, a tua perfeita. Enquanto nesse tempo todo, ela tinha a chave da casa, eu tentava arrombar sua janela. E agora, você decide virar estamparia do meu azulejo? f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 0 : 4 9 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s , U m b i g o

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Quinta-feira, Julho 31, 2008

Nasceu vento. Podia ser marola, mas preferiu ser furacão. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 1 : 4 6 : 0 0 Marcadores: Frases, Pequenos Poemas

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Sábado, Maio 31, 2008

Era cedo, era sábado. “Demasiado, demasiado esforço. Imaginou a cidade lá fora, com gentes falando sempre alto demais, sem parar entrando e saindo dos lugares, bebendo, comendo coisas, pagando contas, dançando alucinadamente, querendo ser felizes antes da segunda-feira: urgente.” Caio Fernando Abreu

Era cedo, nem oito horas da noite. Noite de sábado. Mais uma de tantas que já foram e tantas que virão. Aquele dia que a única coisa que queríamos era ficar bem servida na cama, em companhia de um bom filme do Bertolucci e com mãos habilidosas debaixo dos lençóis. Talvez alguns arranhões nas costas e mordidas na nuca também seriam providenciais para noites como essas. Tinha nojo de sair nas noites de sábado. Sempre os mesmos bares, esbarrando com as mesmas pessoas, a mesma babaquice de sempre. “ Oi, meu amor! Como você tá? “ - responderia com um sorriso falso e com uma vontade imensa de trucidar a voz chata que incomodava. Como ficar bem nesse mundo torto e sem graça? Ir pra alguma festa num dia desses é um verdadeiro atestado de burrice, essa cidade está repleta de moleques por todos os lados que parecem brotar de chocadeiras histéricas. Não, não é só porque era sábado que daria o trabalho de tentar caçar inutilmente numa floresta vazia. Preferia ficar com seus autores favoritos. Quem sabe fumar unzinho pra relaxar. Ou se masturbar até o corpo dizer chega e depois olhar para lado e encontrar a cama vazia. O seu vazio de costume. Era cedo, nem oito horas da noite. Daqui a pouco o telefone ia começar a pipocar ligações que 27


buscavam informações de qual seria a boa de hoje, ou o que ela iria fazer nessa noite estrelada. Ou pior, algum ex-qualquer-coisa querendo relembrar os velhos tempos. Ela não era dessas pessoas que costumam olhar pra trás. Preferia ficar onde estava: enrolada no seu edredom preto, nua, sozinha e bem despenteada. Estava cansada de passar maquiagem nas olheiras das noites perdidas, de olhar pra multidão faminta, de ser a mulher bonita e interessante da maravilhosa noite de sábado. Desgraça! Porque não passamos da sexta-feira direto para o domingo? Na verdade, isso pouco importava nesse momento. Domingo ou sábado, sabia que o vazio seria o mesmo. O vazio que não passava nunca, que impedia de se adaptar essa cidade, a esse país, a essa vida. Porque pra ela não era tão fácil como para os outros? Porque esse romantismo babaca de historia infantil? Porque ela, uma mulher moderna e inteligente, não podia dar uma boa trepada com qualquer um - dos milhões que correm atrás dela - e esquecer de tudo em seguida? Porque esse vazio insistia em corroer seu peito, fazendo se sentir a criatura mais sozinha e infeliz da noite de sábado? Não era excesso de moralismo católico ou de novelas clichês. Mesmo porque, nunca tinha ido à igreja, a não ser de passagem, em casamentos e missas de sétimo dia. Mesmo assim, nunca se sentiu bem num lugar onde o pé direito era enorme e havia quadrinhos com cenas de torturas pregadas por todos os lados. Ela gostava do belo, mesmo esse seu belo sendo sempre muito peculiar. E quanto à televisão, odiava tudo que vinha daquele quadrado escroto: o som, a seqüência das imagens, o consumismo desvairado, as mocinhas, a solidão pré-anunciada. Era como se quando ligasse aquela maquina mortífera saísse de lá um manual da felicidade urbana instantânea: Compre, Case, Reze, Beba, Seja feliz. Definitivamente, a falta que sentia não era resultado do grande quantidade de merda desse nosso mundo. Essa falta vinha de outro lugar qualquer, um lugar escondido, perdido, obscuro. Um lugar que não existia nas noites de sábado. Mesmo assim, muitas vezes, em dias normais ou sábados 28


estranhos, ela procurava uma solução pra sua falta. Já tinha chegado muito perto de solucionar várias vezes. Chegava a visualizar a sua meta, direcionava o foco, apressava a sua mão e na hora h, no momento que tudo estava pronto a ser realizado e tinha uma enorme certeza que a solução estava ali bem próxima dos seus dedos, ela agarrava com um sorriso infantil algo tão exato como nada. E o que parecia cheio, rapidamente se extinguia. E ela, de novo, era preenchia daquele vazio intimo. O vazio que a impedia de ser igual aos outros, que impregnava seu belo rosto, que a visitava nas noites de sábado. Mas era cedo, nem oito horas da noite, e sábado sorria ironicamente para moça nua enrolada num edredom... f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 9 : 2 7 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

Segunda-feira, Março 31, 2008

3x4 Todas e nenhuma. Dentro de um pote, fora da validade, da Avon. Em cima da estante vermelha, estilo anos 20, num filme PB de quinta. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 2 : 2 5 Marcadores: Pequenos Poemas

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Quinta-feira, Agosto 09, 2007

Formatação Coração Côncavo: Aberto para Preenchimento! f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 2 : 1 1 : 0 0 Marcadores: Frases

3 pontos de vistas: Anônimo disse... Coração fechado, entreaberto para você. 1 0 d e A g o s to d e 2 0 0 7 2 3 : 5 6

Patrícia Del Rey disse... Entreaberto (adjetivo): aberto incompletamente; meio aberto; que principiou a desabrochar. 1 1 d e A g o s to d e 2 0 0 7 0 2 : 3 2

Cirilo disse... Coração Côncavo: Aberto para Preenchimento! Lembro dessa frase!!! Nasceu na Área 51, né?! Massa que publicou! Me amarrei!!! Beijão 2 7 d e A g o s to d e 2 0 0 7 0 2 : 1 9

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Sábado, Agosto 11, 2007

Ao meu desconhecido Ando me exibindo por ai, para rostos anônimos que correm as ruas sem esquinas. Mostro pedaços soltos, letras miúdas, rimas perdidas... Ando tão menina! Longe do medo, coberta por uma esperança boba que me abraça, eu sigo pela praça! E lá vou eu, rebolando a minha poesia solta pela calçada. Os meus passos tentam prestar atenção em cada número que se apresenta e, às vezes, no meio de tanta face diferente, eu acabo perdida nas minhas entrequadras. E quando me vejo assim, no meio dessa confusão, fecho os meus olhos. E de repente: tudo acontece! Ultimamente, eu costumo sonhar com o desconhecido! De cara velada, ele me pega pela mão e me arrasta para longe... Suspensa! E vai me guiando para um lugar onde não preciso mais pisar no chão, segurar os meus pertences e muito menos me preocupar com números chatos. Ele me faz rir, fazendo cócegas no meu ego inflado e me deixa assim: curiosa e exibida! Eu tento manter os meus olhos fechados e busco uma pista qualquer que me leve ao seu esconderijo. Um desconhecido íntimo. Anônimo. Misterioso. Mas de repente, meus olhos já estão abertos e sopram a realidade: “Quando a gente não sabe onde pisa, é sempre melhor ficar de letras caladas.” f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 1 : 1 1 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

2 pontos de vistas: Anônimo disse... Cria coisas só para me mostrar. Ah, então estamos lidando com uma artista fã do anonimato? 1 1 d e A g o s to d e 2 0 0 7 1 2 : 4 6

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PatrĂ­cia Del Rey disse... Costumo criar coisas para ME mostrar, mas jĂĄ que vc quer ver, quem sou eu para tampar? hahaha... E quanto o anonimato, posso te dizer que ando ansiosa para descobrir por onde ele anda...rs 1 1 d e A g o s to d e 2 0 0 7 1 4 : 3 0

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Sexta-feira, Junho 13, 2008

Querer : Verbo transitivo Verbo intransitivo - Substantivo masculino Dialogar com seus olhos Beijar seus cabelos Teus pêlos nas minhas coxas Você me deixando frouxa. Tua barba na minha nuca Teu gosto no meu umbigo Teu som no meu ouvido Quero muito mais, Muito mais do que a gente tem sido. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 9 : 0 3 : 0 0 Marcadores: Poesia

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TERÇA-FEIRA, OUTUBRO 30, 2007

O Gato Lá estava eu, deitada na sua cama: Entreaberta para você. Fazia poses de 5, 10, 15 minutos... E esperava que teu corpo desenhasse figuras abstratas sobre a minha pele. Ou quem sabe, um gato de nanquim sobre as minhas costas? Um gato desenhado com as suas unhas secas. Mas a sua cama estava vazia de você... Eu até tentava, com a minha mão esquerda, puxar o que restava de ti: o cheiro, suor, cabelos e as suas segundas intenções. Eu queria ser a tua tela em branco. Você não estava na sua cama. Você tinha lançado vôo para algum outro dormitório longe dali. Talvez tivesse saído para comprar tintas novas... ou comida para o gato que devia ter sido pintado sobre o meu corpo. Enquanto isso, a espera dançava em na sua cama. Aquela cama vazia, com o lençol que continuava branco e sem pedaços de você. Eu, deitada, sem os meus desenhos e com uma esperança tola. Esperança de um dia, virar ponta seca e furar o teu corpo, a tua cama e matar esse gato imaginário que grita nas noites de calor. F RESTAS DE PATR Í CIA DEL REY ÀS 2 3 : 4 7 : 0 0 MARCADORES : CO N TOS

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Sábado, Maio 03, 2008

Novelinha Clichê Primeiro Ato: Moço são três pontos ou ponto final? Seu silêncio vai gerar mil poesias. Segundo Ato: Aqui é o Ponto Final. A passageira deve descer, pois o ônibus vai pra garagem. Último Ato: É moça... mais uma vez... você errou o lugar !!! E lá segue a moça com sua eterna companheira fria numa noite escura na cidade sem esquina... f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 5 : 1 4 : 0 0 Marcadores: Poesia

1 pontos de vistas: Espera disse... a minha nova cidade tem esquina...mas tb n sei se acabou...ou ainda tem algo por vir...se tem ponto final, ou é uma reticência p tomar fôlego ... 10 de Maio de 2008 21:17

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Quarta-feira, Junho 18, 2008

Canalha “Beijei um canalha!” - ela disse de olhos fechados a si mesmo no meio da madrugada. Nem nomes, nem poemas, nem perfumes. Apenas um corpo desconhecido e descabelado que introduzia sem pudor aquele gosto específico nos seus lábios secos. O gosto característico de uma espécie rara, quase extinta no mundo atual. O gosto de um canalha perfeito. Digo desses autênticos. Rodriguianos. Convencionais. Escorregadios. Com a voz rouca, cara de carente e as mãos macias. Um canalha de marca maior... Num primeiro momento, além de surpresa com a descoberta, ela ficou extremamente excitada com a possibilidade de ser transportada para um novo lugar. Ou melhor, um antigo lugar. Um lugar preto e branco. Nouvelle Vague com banquinhos e música francesa ao fundo. Não que ela fosse romântica, ainda mais com ícone desses do seu lado, mas é que só conseguia imaginar tipos como esses nos filmes antigos. “Não é que canalhas existem?” pensou enquanto esboçava um sorriso no canto da boca. Não que ela fosse masoquista ou maluca. Pelo contrário, a constatação de que havia beijado o tal moço fazia dela, a mulher mais feliz do mundo naquela pista suada de sábado. Era como se ela tivesse dançando abraçada com a verdadeira identidade secreta masculina. O estereótipo que tinha sido alertada tantas vezes pela sua avó, pela vizinha fofoqueira, pelas revistas clichês. Ali, ao alcance das tuas mãos, um canalha! Bingo! Enfim, resposta certa! Nada mais de conversas doces, presentes doados ou um futuro delicadamente planejado. Mesmo porque, para os canalhas, o futuro não existe. O que existe é essa pista lotada, cheia de bocas e bundas, essa música gritando, a cerveja gelada no corpo quente. E cá pra nós, um homem desses não engana ou assusta as mulheres. Talvez garotas. Mas não mulheres. “Eu tenho medo dos cordeiros, e não do lobo mau.” - ela repetia nos dias de caçada. E o que é um canalha, senão um belo lobo mau? Ele escan-

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cara tua fome, pede cafuné e te garante uma noite deliciosa se você permitir. “Sim... Mil vezes sim...” - sussurrava ao pé do ouvido transformando seu canalha em presa. A música continuava alta, os corpos cansados dançavam e ela era engolida lentamente pelo seu par fora de moda. Carona, casa, quarto, cama, corpo, cansaço, canalha. “Qual era mesmo o nome dele? ”- ela tentava se lembrar, no dia seguinte, esbarrando com o sorriso apaixonado do moço ao lado, que insistia em dar mais um beijo depois de uma noite quente na cidade fria. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 5 : 2 5 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

3 pontos de vistas: Em defesa dos Sedutores disse... O canalha é um mito. Só existe canalha quando vocês, senhoritas, são Santas. Uma coisa não existe sem a outra. O que existe sim são vagabundos que não fazem as coisas direito. Oras! Depois sobra pros cavalheiros que se recusam a vender gato por lebre sem abrir mão do romantismo. Santa pede Demo, Demo pede Santa. Diabo é coisa careta e redundante. Já existe o ser Humano. Pode haver coisa mais filha da puta do que isso? Agora pergunto e respondo a minha própria pergunta: Patrícia Del Rey é santa? NÃO. Patrícia Del Rey quer uma vaga no estacionamento exclusivo do Reino de Jesus Cristo Nosso Senhor Passa o Visa Amem? NÃO. GRAÇAS A DEUS. Você encontrou um cavalheiro de responsa. Os vagabundos que se cuidem. Bom te ver em plena forma, garota. Cordialmente desconhecido, Dom Casanova Enfilófio das Quebrada Braba. 20 de Junho de 2008 17:34

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Patrícia Del Rey disse... É importante deixar claro que isto é uma obra de ficção.Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência...rs Além do mais, como Patrícia, acredito nas forças dos canalhas.. E quando falo canalhas, não falo de gênero, falo de ginga. Por isso, meus caros, já dizia Fernando Pessoa: “ O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente” beijo 20 de Junho de 2008 18:44

Que beleza disse... ahã...Sei. Foi bom desabafar nessa tua praia que, diga-se de passagem, está um primor literário tanto na dor quanto na alegria. Beijo no teu coração que, pelo visto, esta mais leve. Cordialmente anônimo, Dom Casano...oras você sabe porra... 20 de Junho de 2008 21:08

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Quarta-feira, Junho 25, 2008

Baile de Máscaras Acenaram as mãos. Sem intimidade. Sem contato. Sem cheiro. Sem retrato. Sem beijo. Sem gemido. Sem verdade. Sem sentido. Sem estilo. Encenaram as mãos. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 2 : 5 6 : 0 0 Marcadores: Pequenos Poemas, Poesia

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Terça-feira, Junho 24, 2008

Haiku Espia a espera, Espia como pia, Espera da moça, na cama vazia. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 7 : 0 6 : 0 0 Marcadores: Pequenos Poemas

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Segunda-feira, Outubro 13, 2008

Meus poemas podem mentir, minha buceta não. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 1 : 0 3 : 0 0 Marcadores: Frases

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Terça-feira, Junho 24, 2008

Ao Novo Chefe Antes de você começar, é preciso limpar a cozinha. Deixar a geladeira vazia. Jogar o resto de comida fora. Esquecer de todas as outras que foram embora. Se deliciar com o momento presente. Escolher com calma, cada ingrediente: Açúcar, afeto, chocolate e ervas finas. Sair por ai, à caça de boas meninas. Deixar ser escolhido pela mais adocicada. Aquela que parece meio doida, meio enluarada. Ter um beijo roubado, um nome trocado, sorriso encabulado. Depois cobrir a moça com o teu desejo sedento. Ir adicionando água, farinha e fermento. E amassar, amassar, amassar devagar. Para que a massa cresça uniforme. Sem pressa, sem medo, sem embolar. Pensar direitinho com o que rechear: Se quer doce, se quer amarga. Se quer seca, se quer molhada. Se quer rápida, se quer demorada. Aquecer o forno, escolher o grau. Esparramá-la em sua assadeira. E após assar, decidir como servir: Em pedaços ou inteira? Ah, por favor, depois de jantar, lamba os beiços e lave as mãos! f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 2 : 0 7 : 0 0 Marcadores: Poesia

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Sábado, Julho 05, 2008

Epifania Era paisagem. Depois, passos. Na boca, paladar. Você em pedaços. Pele, pêlo, pau. Falando assim, parece banal. Mas não é. É por do sol. Poesia improvisada no temporal. Dizem que a cidade é seca. E depois da pele, vem a posse. - Não é o prazer? -Prazer é o ato de ficar perdida a noite inteira dentro de você... f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 2 : 4 6 : 0 0 M a r c a d o r e s : L a Va l e n t i n a

2 pontos de vistas: Perdição disse... Sabe que eu nunca esperei estar do outro lado da poesia!!!!!=)!!!muito boa Paty.....vc sabe que eu gosto da forma como sua poesia rima/soa mesmo quando as rimas ficam assim, tácitas! 9 de Julho de 2008 00:59

Poeta Anônimo disse... E eu que achava que tão belas palavras tinham como endereço certo o meu braço aberto... 9 de Julho de 2008 17:01

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Sábado, Julho 05, 2008

... perdição é embalada na verdade, Entreaberta, as minhas as pernas, te espera com saudade. Se a sua

f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 2 : 5 0 : 0 0 Marcadores

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Sábado, Julho 12, 2008

Poeta e Poetisa Ele surgiu de repente, calça xadrez e copo na mão. Ela derretendo o fitava, sem saber se chegava ou não. Apressado, já fez o convite: cama quente, lençol macio. Um cuidado para moça fada E um não para o moço vadio. Depois veio outro encontro. Rostos reconhecidos,nomes trocados. E na mistura do acaso com desejo, Deram o primeiro de muitos beijos. Regados a pizza e poesia. Trocaram autores favoritos, Poetas, boêmios e loucos Sussurros ao pé do ouvido. Por do sol sabor Haagen Dazs Demonstrações públicas de afeto Poeta e Poetiza tremendo de vontade Pintura exposta no espelho do teto Desejo saciado e multiplicado

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Um sabor de quero mais Viagem trocada ao inverso A saudade aqui já se faz. O tempo passa rápido Poetas preferem o talvez Verdadeiros e espontâneos Não tem medo de mais uma vez. Pode ser que tudo passe e no futuro, desencontro Quem não arrisca, não petisca Ele não quer passar do ponto Pode ser que tudo dure e no futuro, o encontro Quem não arrisca, não petisca Ela não quer passar do ponto Poesia se faz com rima Amor com liberdade Ele vai voar pelo mundo Ela vai ficar na vontade

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Tudo na vida tem seu fim E também o seu começo O momento é de se caminhar Mesmo sem saber o endereço. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 1 : 1 3 : 0 0 Marcadores: Poesia

1 pontos de vistas: Perdição disse... sua resposta e muito rapida, nao da pra concorrer com a sua infinita inspiração nao....lembrei de ti ontem, ao ler o correio, o caderno de cultura. Acontecera em bsb uma mostra de cinema com os filmes do Jose Dumont!!!beijos...beijos 15 de Julho de 2008 05:17

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Terça-feira, Setembro 09, 2008

Entrelinhas Tem lama na minha garganta. E a minha voz tá mais rouca que o normal. Sinto que não adianta esticar as minhas mãos para tentar agarrar o que certamente não quer ser meu. Meus cabelos estão longos com essa espera inútil. E a saudade continua a mesma. É como se não tivesse chegado. É como tivesse se perdido por ai. É como houvesse uma música arranhada dentro do meu disco favorito. Essa esperança morta me beija ao amanhecer. Os meus versos são rasgados um a um. Meu desejo é destruído lentamente de uma forma tola e dolorosa. Tenho uma fome insaciável. Tenho uma dor muda. Tenho uma tática falida. Recebo um beijo no canto da boca que atiça a minha língua nervosa. Gritos seriam providenciais nesse instante. Eu conheço bem a previsão do futuro e chego a sentir saudade daquele passado inventado. Pra onde foi, em? Pra onde foi a poesia que estava aqui? A ausência que cobre o meu peito me deixa ainda mais bonita. E eu sou atacada por olhares indesejados. Todas as bocas querem a minha. Todas as mãos, os meus pedaços. Mas eu ainda tenho como foco aquele mesmo vazio. É como se a minha pele quisesse redescobrir o cheiro daquela rima perdida, a fuga aumentasse o desejo do caçador pela presa e o quase beijo me levasse a um desespero agradável. É, talvez a loucura seja um caminho sem volta. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 0 : 0 1 : 0 0 Marcadores: Umbigo

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Domingo, Maio 18, 2008

Papel de parede Primeiro preciso falar desse rasgo. Um rasgo grande nas costas, de fora a fora, despercebido a olho nu. Marcando algo que foi arrancado de forma rápida, descuidada e dolorida. Ao todo, tenho cerca de oito roxos espalhados pelas pernas, uma queimadura pequena debaixo do queixo e esse rasgo nas costas. Feridas abertas para quem quer ver. Como cuidar disso tudo isso assim, sozinha? Pele exausta de pancadas diárias. Ainda há uma espera infantil. Boba agoniada. Espera por seu cuidado. Ou palavras. Ou explicações. Ou abraços. Ou qualquer coisa sua. Olhando assim, de fora, parece ser patético demais para uma mulher interessante como eu. Uma mulher que não sabe cuidar dos próprios machucados. Florais de Bach, meditações, porre homérico, um beijo numa boca imunda qualquer. Dizem que passa, que melhora. Dizem tantas coisas a respeito do meu rasgo. Palavras inúteis. Eu continuo com ele aqui, aberto. E quando ele começar a cicatrizar, vai deixar de lembrança uma marca. A marca vai desbotar com o tempo, vai impedir que eu lembre a dor do corte, vai me colocar de novo em perigo. Mas por enquanto, ele está escancarado sobre as minhas costas. E perco muito sangue vivo, principalmente quando vejo a sua indiferença em relação à profundidade desse meu rasgo. Dói, minha grande queda. Agora me encontro aqui: caída nessa calçada suja. Um anjinho caído? Não, uma mulher puta. Entregue ao acaso e sem nenhum casinho interessante pra trepar. E pra piorar, eu ainda não consigo entender direito o porquê dessa queda. Já procurei motivos plausíveis para entender o ato de escancarar os seus braços e me deixar cair pela janela do seu quarto sem dizer pelo menos boa viagem. E eu não tinha pára-quedas. Despenquei feito um abacate maduro do pé. Junto ao concreto, estatelada no chão, esbarro com o seu sorriso feliz lá no alto. Não que você seja um homem sádico ou daquelas pessoas que riem da desgraça dos outros. Não, você é um homem bom, age com sinceridade e inclusive não esconde a sua dança bonita com seu novo par. Já eu, moça falsa, tento encenar com muita maquiagem e vodca barata, 49


esse corte nojento que grita nas noites frias. Grita, xinga, berra e pede vingança. Poderia tentar educar bem esse meu filhote, meu rasgo de estimação, para que ele fosse um bom moço como você, que soubesse dizer fodasse de uma forma suave e romântica. Bom , nesse momento, você deve está se questionando como uma queda curta pode doer tanto? Será que é manha de poeta triste? É um aborto mesmo. Aborto aberto, que sangra e dá medo de novos braços, mesmo que estes, sejam os seus. Foi meu cheiro? Meu latim barato? O medo do encontro? Ou apenas seu cansaço? Sigo sozinha com o coração abortado. E todos os dias, ao amanhecer, depois da minha insônia diária, tento vomitar o que resta de você em mim. O olhar de palavras bonitas, a escova de dente doada, o banho quente no seu chuveiro. Vomitar tudo pra ver se o rasgo melhora. Podíamos ter sido algo mais que dois corpos perdidos nessa humanidade imunda. Não quero com essas palavras tolas tentar uma volta, criar clima ou fazer o papel de vitima. Se me coloquei de frente para aquela janela, solta ao por do sol, entregue aos seus braços, foi porque no fundo, queria voar. Não cair, mas voar sobre o céu imenso da cidade cimento. E agora ando em companhia do meu rasgo aberto que se mistura com doses generosas de destilados, sorrisos falsos e olhares desfocados para a multidão faminta. Dói, pesa e me deixa de lápis borrado! Para que tentar esconder o que está na cara? Papel de parede de cores frias. Meu triste papel mofado com rasgo de fora a fora. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 1 : 5 6 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

1 pontos de vistas: Anônimo disse... os rasgos fortalecem a alma.. 20 de Maio de 2008 14:19

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Sexta-feira, Setembro 26, 2008

Água Nova Depois de secos meses, ela decide benzer as linhas da cidade. O cheiro de terra molhada invade o asfalto amplo e fica mais fácil sorrir sem motivo. É como se a preguiça convidasse o nosso corpo cansado da aridez quase eterna para dar uma voltinha no parque. Trilha sonora leve, brisa calma. O céu antes colorido, fica todo cinza - cinzaazulado – e de repente, a noite visita o dia. É mágico ver o sol ceder espaço imediato para nossa escuridão urbana. Ai, ela vem e me abraça. Deságua desejos. Traz a certeza que o fim é sempre começo de algo novo. Limpa, invade o peito, encharca os olhos. A chuva molha todas as frestas. Me acalma a pele. Suavemente eu me dissolvo e sou levada pelo destino incerto das lágrimas celestes. Os traços da cidade ficam borrados. Pessoas intocadas buscam o toque urgentemente. E o meu confortável edredom preto me abraça. Espaço duplo para um corpo só. Mas a moça se exibe e dança sobre os meus antigos vidros embaçados. Ela lava minha alma. Sou água nova sobre a cidade cimento. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 0 : 2 0 : 0 0 M a r c a d o r e s : CO N TOS , UMBIGO

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SEGUNDA-FEIRA, OUTUBRO 06, 2008

Cimento Urbano Toque: ato ou efeito de tocar; contacto; pancada; percussão; som; ato de tocar instrumentos; som que determina a execução de operações ou manobras militares; sabor ou cheiro especial de certos vinhos; vestígio; inspiração; esmero num trabalho artístico; aperto de mão como cumprimento; mancha que constitui indício de apodrecimento na fruta. É triste. O tempo escoou esse nosso substantivo masculino. Não sei se saiu de moda, mas o certo é que cada vez mais estamos imbuídos em uma solidão urbana eterna. Vivemos no mundo embalado a vácuo. Não sei tocar, nem sei ser tocada. Parece estranho olhando de fora. Mas é mais normal do que se imagina. Enquanto a visão sobra no mercado, o tato desapareceu das prateleiras. Talvez seja culpa do medo em excesso. Toque, rasgos, mãos. O contato é sempre contagioso e muitas peles estão doentes. Há algum tempo, olhando pelo espelho, descobri uma mancha cinza no meio das minhas costas. Era o começo dessa tal praga. De forma rápida, a mancha se espalhou pelo corpo e a pele ficou assim: coberta de cimento urbano. E não há chuva que consiga penetrar o concreto, a cara feia, o bico mimado. Somos cobertos de um egoísmo medroso que envergonha própria espécie. Fechada, mesmo com a fachada aberta, nos trancamos em ilusões momentâneas. E como se os toques não passassem de pequenos espasmos em corpos efêmeros e desconhecidos. Sozinhos, seguimos nos nossos carros poluentes pelas ruas largas da cidade planejada. Será que esse era o plano? Uma cidade rodeada de monumentos brancos, tempo seco e espaço. Muito espaço. Brasília expande o espaço entre os corpos. É preciso sair, é

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preciso dançar, é preciso chegar perto. Ou você se força a fazer isso, ou amplitude te afoga. Temos que por o concreto disponível para ser martelado, mesmo que doa, sangre e rasgue. Se livrar dessa epidemia contemporânea. E tocar. Mas como tocar??? Som das palavras soltas. Saborear o gosto de uma erva dividida. Cheirar a visita efêmera da chuva. E principalmente dialogar com as mãos. Cuidar para que elas não esmaguem. Ou deixem escorrer. Arrancar a casca. A minha, a sua, a nossa. E se atirar de novo. E mais uma vez. E outra. E ter coragem. Ser Vinicius. Aceitar o vício. E abrir as pernas. E gritar de vez em quando. Essa é a minha tentativa poética de medicamento. Temos que agir rápido, porque a doença está se alastrando. Precisamos colorir essas peles acinzentadas. Eu ainda não sei remover a minha mancha. Nem dissolver o concreto. Mas acredito no poder das minhas mãos. E das suas também. F RESTAS DE PATR Í CIA DEL REY ÀS 2 1 : 3 3 : 0 0 MARCADORES : OUTRAS PALAV RAS , UMBIGO

2 PONTOS DE VISTAS : Anônimo disse... Fiquei curioso pra te conhecer um pouco mais, ainda hoje à noite. Gostei desse post, em particular. Beijo, Ricardo 8 DE N O V EMBRO DE 2 0 0 8 0 4 : 1 8

Patrícia Del Rey disse... Oi, Ricardo... Só vi seu comentário hoje! Que bom que apareceu para me ler... Depois me add no msn pra gente conversar mais sobre o nosso cimento urbano! beijo 1 2 DE N O V EMBRO DE 2 0 0 8 0 9 : 5 2

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Terça-feira, Setembro 30, 2008

Ato de depilar I Fazem caras e bocas, cAbelo, pêlO, peNteLHo Crescem sem vergonha Se exibem no meu espelho. Íntimos do tempo, Escancaram o não toque. Me enchem de raiva E pedem sempre retoque Se alongam com a espera, Se alisam com a preguiça, Emaranhado de quereres, É a vida que enguiça. Gilete, Pinça, Cera Exterminar o natural. Arrancar memórias póstumas. Minha atitude feminina e banal. Os poros estão abertos, os pêlos cobrem o chão. Por que meus problemas não são arrancados com uma boa depilação?

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Sem pêlos, só pele. Estarei a dançar. Macia me machuco A espera de um tocar. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 3 : 3 5 : 0 0 Marcadores: Poesia

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Sábado, Novembro 01, 2008

Sobre poemas e cicatrizes Ambos temos uma cicatriz no joelho direito. Não que sejamos companheiros, longe disso, eu mal o conheço. Algumas letras, a fama imunda e o desejo latente. Esse foi o resumo apresentado do poeta. Lógico que ainda há o cheiro característico de boemia, a prepotência intrigante de escritor, o mistério dos olhos pretos. Mas o que mais me fascina não é o frasco, nem o perfume. É a tal cicatriz. Uma espécie de rabisco que marca um tombo ou uma queda específica daquele outro corpo dolorido. A quelóide exposta de uma saudade antiga e amarga. Ele tem um desenho parecido com o meu que cobre o seu joelho direito inteiro. É isso que me enche de vontade. Queria mergulhar naquela ferida semi-aberta para conhecer o que ele esconde atrás da pele. Qual é dor que o faz tão interessante? Meu espelho distorcido que apareceu face a face nos últimos dias. Ele faz questão de encostar a sua pele sobre a minha. Sempre há um pedaço que lambe suavemente outra parte qualquer. Mesmo sem nenhuma intimidade, os olhares se cruzam. É um toque de cotovelo que esquenta o meu corpo. Ou uma música que enche os meus olhos. E ainda há um imã que me arrasta para a sua cicatriz. Espero um próximo passo que nunca chegava. Ficamos na superfície. Um jogo esdrúxulo se estala sobre as nossas almas. Preciso criar rimas, superlotar o querer, aquecer em banho-maria. Podia apressar o tempo ou improvisar um beijo, mas prefiro ficar com a dúvida certa daqueles olhos. É como se eles escondessem algo tão profundo que eu nem mesmo saberei como tocar. Deliciosamente imaturo dentro de uma casca intelectualizada, o homem da cicatriz. Meu joelho tenta correr para a sua poesia aos domingos. Acredito que palavras são remédios. E a cada rima, recebo uma cura. Todas as marcas podem ser apagadas, menos aquelas que vão nos unir. Nossos joelhos cortados enchem a minha cabeça de imagens cruas. E entre essas duas pequenas cicatrizes, eu peço que a vida volte a sangrar. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 4 : 5 5 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

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Quinta-feira, Setembro 18, 2008

Aquela parte que se esconde atrás da imagem do espelho distorcido.

Escancarada, repetitiva e deitada na sua cama. Faço poses descom-

passadas

teus olhos seletivos apreciem a minha obra inacabada. Eu, um emaranhado de traços e letras. O caos orgânico urbano. A mistura exata entre a virgem e a puta. Entregue. Saudosa. Inteira. Deitada. À espera de você, minha rima boemia. Do gosto embriagado. Dos desenhos derretidos. Da voz grave. Eu danço um jazz rouco sobre a sua cama vazia - caço o cheiro, suor, cacho de cabelo - quero ser a tua tela em branco. Mas por enquanto é o silêncio que me pinta. enquanto suplico que

f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 3 : 2 9 : 0 0

2 pontos de vistas: Princesa Sisi disse... te pinto com o silencio dos olhos. 21 de Setembro de 2008 20:49

Thiago disse... ... (se desse pra comentar com um sentimento, com uma surpresa, eu comentava). 25 de Setembro de 2008 17:45

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Segunda-feira, Agosto 11, 2008

Príncipe da Ilha O que escrever de você, paisagem muda? Fica parado como dois de paus. Quieto no seu pedestal. Distribuindo sorrisos rápidos para as milhares de súditas abobadas. “Toda moça quer ser rainha”, diz a lenda. Pobre engaiolado, deve ser difícil ser alvo de tantas miras. Mas será que é por isso que você se permanece trancado ai em cima? Ou será medo de pisar no chão frio?Sempre achei que príncipes deviam ser guerreiros. Mas cadê o seu rugido? Cadê a mão debaixo do meu vestido? Cadê o fogo sem sentido? Nada. Você tem uma paz que me desconcerta. Plácido azul bebê. Sua selva é politicamente correta. Não há quedas, nem decidas. Você sempre mantém esses olhos calmos de brisa. Parece que foge de tudo que vibra, que tem cheiro e que é vermelho como eu. Cadê o humano adormecido nessa alma iluminada? Quero tua carne, mesmo que ela seja podre. O gosto do beijo. Ver o seu lado mais feio. Cansei do teu meio. Quero teu excesso. Mas parece que o príncipe prefere continuar no seu reino seguro de tons pasteis. Quando é que você vai deixar que as minhas mãos imundas te apresente a liberdade? Vou abolir a monarquia, destruir o seu trono e te embebedar com a minha poesia vadia. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 2 : 5 1 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

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Quarta-feira, Maio 07, 2008

Desabafo Vontade de vomitar tudo. De gritar para os quatro cantos. Desentupir a garganta, o coração e a cabeça. Esquecer toda essa dor envolvida e embalada pra viagem. Porque o mundo resolveu despencar, logo agora, que eu tava tão ocupada? Pais acidentados, pé na bunda, britadeira no ouvido e uma tentativa de suicídio básica. Todos esses ingredientes dançam sobre a minha cabeça pesada. E como pesa essa cabeça, essa mala e esses sonhos tolos. Será que ela não vem? Risos nervosos de uma desconcentração infantil. Sorriso falso. Lugar falso. E só a dor é verdadeira. Será? Falta entrega, disponibilidade, risco. Você luta com o mundo inteiro pra fazer isso? E as lágrimas que deviam aparecer no palco, caem no banheiro infectado de formigas sedentas. Da onde vem todas essas formigas ridículas? Choro, grito, esperneio pra o meu espelho velho, que de mágico não tem nada. Onde tão as respostas? Imagem torta e embasada. Só. De novo só. Errei o lugar, a pessoa, a esperança, a porra toda. “Agora mesmo, tinha certeza, que você estava a minha volta”. Por favor, volta. Quero a sua música ao amanhecer. Espera. “Espera que passa”. E a espera, passa? Não, pulsa. É como se não adiantasse fugir, mudar o foco, olhar para lado... Estamos todos no mesmo barco furado. A garganta entupida pede pra falar, mas a voz não sai. E eu continuo parada, com a mesma mascara de sempre, enquanto o mundo vai se dissolvendo rapidamente. Quer saber? Queria mesmo era um doce, ou então, morrer um pouco de vez em quando. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 1 : 0 3 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

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2 pontos de vistas: Espera disse... eu prefiro morrer um pouco de vez em quando 10 de Maio de 2008 21:15

Uma menina colorida, disse... Estava procurando algo que se parecesse com meu dia de hoje. Encontrei aqui. Mas n達o morre n達o. E escreve sempre. beijo 20 de Maio de 2008 12:04

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Terça-feira, Setembro 02, 2008

Em caso de dor, movimento. Minha fumaça corre com vento. Esse amor vai se perder no tempo. A comida sempre vira excremento. Tem excesso de palavra, meu silêncio. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 1 : 3 4 : 0 0 Marcadores: Pequenos Poemas

Segunda-feira, Dezembro 22, 2008

Pés fortes, passos largos. Ruas sem esquinas. Um coração que pulsa... Minhas lágrimas são poemas que brotam em manhãs cinzas. A beleza dos meus olhos vem das noites não dormidas. E se meu coração grita, é porque gosto de gritar. Não me venha com esse olhar de coitadinha... Porque das minhas cicatrizes, cuido eu. A dor é o que eu tenho de mais verdadeiro. Ela não só move meu mundo, como acelera meus passos. Eu sou o eterno beijo que está para acontecer. Se não te agrada, mude de calçada. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 5 : 5 6 : 0 0 Marcadores: Umbigo

1 pontos de vistas: pree disse... posso usar o “mude de calçada?” inspiradora, tu. 22 de Dezembro de 2008 23:04

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QUARTA-FEIRA, JULHO 02, 2008

Para Minha Vó Alaranjada Ela tem um gênio do cão. Um gênio do cão e um tumor no cérebro. Um tumor do tamanho de uma laranja foi o que o médico disse nessa terça feira de manhã. O mais estranho é que desde pequena, eu conheci laranjas de todos os tamanhos. E pra ser bem sincera, isso me dá um pouco de medo. Um pouco não, muito medo. Na verdade, me parece invasivo demais, pensar que alguém resolveu, de uma hora pra outra, abrir a cabeça dela para colher uma simples fruta. Será que a laranja já está madura pra ser arrancada do pé? Será que ela não vai sentir falta daquela companhia secreta? Será que os pensamentos ainda vão ter o gosto cítrico? Ela sempre foi a minha cara. Quer dizer, eu que sempre fui a cara dela. Todo mundo fala. O jeito de andar, de escrever, de levar a vida. Desde pequena, minha mãe já falava. Não sei se foi por isso, ou pelo acaso do destino, que me deram o mesmo nome que o dela: Lúcia. Significa luz. Mas não uma luz qualquer. Lúcia é uma luz bonita, mesclada, suave e forte ao mesmo tempo. A luz ideal. Pele morena, cabelos com cachos grisalhos e um sorriso apaixonado. Lembro das nossas tardes. Ela contando dos amores que teve, de como conheceu “ele” no festival de cinema da década de 50, de como era difícil uma mulher trabalhar fora naquele tempo. Nós temos os mesmos signos, só que ao inverso. Ela é libra ascendente peixes, e eu peixes ascendente libra. Ah, e lógico. Ela agora tem uma laranja a mais também. Uma laranja que vai ser retirada do pomar daqui a duas semanas. Eu ainda não tenho laranja, nem morango, nem maracujá. Só tenho meu amor por ela mesmo. Quando eu era pequena, a coisa que eu mais desejava na minha vida era correr para os braços e para a casa dela. Lá tudo era permitido! Tinha gato, cachorro, papagaio. A gente podia ser o que quiser, brincar do que quiser, se vestir do que quiser. Só não podia comer o que quiser. A comida de lá, era ruim. Ela me obrigava tomar sopas horrorosas. Eu fingia que tomava, joga fora, sofria na hora da mesa... Mas mesmo assim, valia à pena agüentar a sopa pra ficar do seu lado. De noite, subíamos para o terraço e olhávamos 62


as estrelas, e ela contava de quando quase foi abduzida por um disco voador. Acho que é por isso que eu morro de vontade de ser abduzida até hoje. Depois, quando íamos dormir, ela limpava os nossos pés com um paninho molhado. E o melhor, ela sempre deixava eu dormir com um gato. Minha mãe odiava gatos, dizia que eu tinha alergia, mas nunca tive isso quando dormia com o gato na cama dela. Acho que a cama dela era antialérgica. Bom, depois o tempo passou. E veio a adolescência, e eu continuava a correr para os braços dela. Ela fazia cada fantasia de carnaval! Cada ano, um bloco diferente. Melindrosas, diabas, onçinhas. Nem todos os confetes do mundo, poderiam expressar a minha alegria de passar o carnaval com ela. Ai depois, o tempo passou de novo. E eu virei adulta. Uma adulta que se especializava em correr para os braços dela. Quando eu chego perto dela, tenho vontade de ficar abraçada o dia inteiro. De falar de teatro, de sonhos, de astrologia. De ver como ela é moderna mesmo tendo nascido nos anos 30. “Moderna demais”- a minha mãe fala. E agora essa: inventar de criar laranja na cabeça. Vê se pode? Mas tudo bem. Nada de ruim acontece com ela. Nem comigo. Somos Lúcia. E Lúcia significa luz. Quer saber? Eu tenho certeza que daqui a duas semanas, estaremos todos tomando suco de laranja em pleno carnaval, bem do jeito que ela gosta. F RESTAS DE PATR Í CIA DEL REY ÀS 2 2 : 4 0 : 0 0 MARCADORES : CO N TOS

3 PONTOS DE VISTAS : Len disse... Você tem um pomar de pitangas dentro de você menina. Azedas mas se tiradas na hora certa doces e vermelhas. Você pitanga, sua vó laranja, o amor lixias. Escuta uma música: new slang- the shins. Sabe-se lá o porque mas acho que ela se ancaixa a você nesse momento. 6 DE J ULHO DE 2 0 0 8 1 9 : 5 6

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Adriana Lodi disse... Amiga serão muitas jarras a serem entornadas sucos de tudo, de vida! fabulosa declaração de amor! te adoro dinha 8 DE J ULHO DE 2 0 0 8 2 3 : 0 3

AB disse... Minha vó já se foi. Mas era como a sua, só que cozinhava muito bem , o que era vantagem. A menos de cinco anos de morrer, com mais de oitenta, ainda subia em cajueiro; minha mãe minha mãe não dá conta nem de andar direito. As velhinhas eram mais duráveis. Finge que a sua subiu num pé de laranja pra retirar esse fruto podre pra árvore continuar dando bons frutos. Torço por vocês. 1 3 DE J ULHO DE 2 0 0 8 0 9 : 5 9

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Segunda-feira, Dezembro 15, 2008

Primeiro é preciso descolorir, desbotar todas as cores antigas e apagar o que o tempo esqueceu. Tomar um banho de Água Raz dos pés a cabeça. Limpar as frestas, os poemas, o rosto inteiro. Virar página em branco sem nenhum traço ou encanto. Pálida de mim. Ficar assim, apagada e quieta, vestida de vazios. E depois de beijar o silêncio, aceitar a espera necessária da primeira gota de tinta nova sobre a pele antiga. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 5 : 2 5 : 0 0 Marcadores: Pequenos Poemas, Umbigo

2pontos de vistas: Flor de Bela Alma disse... Vamos descascar as palavras! Ou lembrar de Octavio Paz: “ Pensar o vazio para que o ser aflore...” 17 de Dezembro de 2008 01:09

O Silva disse... por onde vou... levo minhas cores... em busca de peles, beijos e silêncio... logo passo por aí... logo não estou mais... leve e livre é quem vive na impermanência e na delícia das cores e das trocas... totalmente entregue ao momento... e nada mais... 17 de Dezembro de 2008 12:41

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Domingo, Novembro 16, 2008

Urano conjunção Sol Quando ele chegar, me cobrirei de verdades provisórias e terei asas nos pés cansados. Serei abraçada pela coragem da ventania. Cortarei todos os meus pêlos crescidos. Esses que diariamente pensam sobre a minha cabeça alada e me impedem de partir pra longe. Meus fios serão transformados em saudosas lembranças. E livre de posses, marcarei peles. Dançarei um tango sobre a neve fresca da Terra do Fogo ao entardecer. Grávida de mim, aquário imenso, vou lamber o sêmen doce do meu acaso. Correr solta com o vento, atrás de cura para as lágrimas secas. Vou me perder num beijo do planeta difuso. Eu, submersa e incontínua. Serei apenas letra exposta sobre o teto estrelado do mundo, quando Urano chegar. Urano Conjunção Sol - do final de abril 2009 até meados de dezembro 2010. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 0 : 3 9 : 0 0

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Domingo, Fevereiro 01, 2009

Re-Partido Meu coração é uma soma de todos os pedaços doados pelas ruas sem esquinas. É ausência de um constante pulsar específico. É a mistura de sotaques que se instala num peito vazio e grávido. Bobo, poeta, escroto. Meu coração sua a cada rima, se despede a cada encontro. Embalado para presente. Ao viajante, outra parte. Re-partida. Reticências. Mais uma vez... meu coração, não é meu. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 2 : 4 6 : 0 0

3 pontos de vistas: Anônimo disse... O passado ainda vale? 1 de Fevereiro de 2009 23:56

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isaBela araújo silvA disse... é preciso parar de entregar o presente à qq esquina, sem perder a poesia. valorizar o pacote. surpreender os interlocutores. 2 de Fevereiro de 2009 12:37

Jardineiro disse... asas.vôos. Brasília entra pela porta entreaberta e desperta quanto ao coração? não se preocupe ele foi apenas passear. 3 de Fevereiro de 2009 12:06

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Terça-feira, Março 17, 2009

Obscena, se enrosca sobre a minha pele enquanto durmo. Caminha nas pontas dos pés, e me morde o pescoço. Lambe as costas, beija as dobras, arranca o juízo. Você e a sua juba imensa, entrelaçada, aos meus pedaços. Cheia, felpuda, grisalha. Naquele quarto suado, as mãos ainda abraçam os corpos. O cheiro se espalha por toda a casa. Nossa cortina improvisada exibe o show para os vizinhos. Você, enorme, dentro de mim. E eu, fazendo o café da manhã. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 2 : 2 1 : 0 0 M a r c a d o r e s : L a Va l e n t i n a , U m b i g o

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Quinta-feira, Maio 21, 2009

Incompleto - como a vida. “Estava chovendo no eixo monumental, quando me senti com 15 anos. Errei duas vezes o caminho antes de chegar a na minha casa. Ainda precisava jogar as roupas na mala, depilar, tirar dinheiro e voltar agir com serenidade. Ninguém morre de amor. Em menos de quatro horas, eu estaria atravessando o centro do país em busca de eternizar algo que nascerá em dias ébrios. Os minutos escorregam do relógio quando se está com pressa. Na plataforma da rodoferroviaria, estava a mesma personagem do parágrafo acima. A mochila desarrumada nas costas, uma garrafa de água com gás, dois maços de cigarros de canela e uma enorme barra de chocolate meio amargo. Havia uma fila brasiliense para entrar no ônibus. Viajantes estranhos se entreolhavam e trocavam poucas palavras. Ela acendeu um cigarro para celebrar o costume da sua cidade, e conseguiu enfim respirar depois do longo dia. Sentei do lado da única certeza: minha vontade de ver mais partes dele. Desde que nos separamos, sentia teu corpo me abraçando todas as noites. Soltava algumas palavras, me beijava de forma doce e permanecia ali, entre as minhas pernas, até eu adormecer. Parecia ser intenso demais para apenas seis dias de convivência carnavalesca. Como podia estar entregue aos braços de algo tão efêmero? As minhas perguntas imaginárias avançavam os sinais vermelhos. Daria o mundo pra entender cada métrica que se escondia por trás da barba do destinatário. Lá podia estar

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o inicio ou o final de uma longa espera. Não havia bússola, nem mapas. Nos últimos tempos, eu era uma náufraga que vagava sozinha em uma estrada longa e comprida. Ele se fazia presente a cada momento de descuido da sua realidade. Seriam 937 km ou 14 horas até chegar ao destino escolhido. Curvas, asfaltos, dramins. Ela costumava enjoar fácil. É preciso de concentração e paciência para seguir. Viajar de ônibus agonia a alma dos mortais. Aquela intimidade forçada de roncos e barulhos estranhos por todos os lados. Talvez fosse bom levar um livro de companhia mesmo sabendo do risco de deslocar a retina. Enfim, estava feito. Não havia porque se arrepender. Nem todas as torturas rodoviárias iriam impedi-la de dar aquele passo. Conversou com as estrelas mesmo sem abrir a cortina ao anoitecer. Leu algumas rimas. O suficiente para a superdosagem do remédio de enjôo acomodasse o corpo pequeno na poltrona desconfortável. A tal poltrona, que por quase uma hora, ela tentou convencer a se inclinar de forma servil, para que seus cabelos castanhos repulsassem. Não adiantou apertar botão, nem rezar a Ave Maria ou brincar de quebra-cabeça. Foram precisos quatro comprimidinhos brancos e vinte três poesias e meia para que a paz fabricada reinasse sobre a terra. “ f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 3 : 4 9 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

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Segunda-feira, Maio 04, 2009

Com Licença Poética do Carlos Drummond de Andrade Tinha um desvio no meio do caminho, Assim como a pedra, tinha o desvio. Tinha um grupo de amigos, tinha uma filha E principalmente tinha uma fuga. Eu estava no meio, como coadjuvante. O que entender desse meu amante? Que não me come, que não me beija. Que não me surpreende no meio do banho. Há de ser um fim de grande tamanho Que se segue nesse meu caminho. Eu que vim de longe, eu que viajei o mundo Eu que me perdi seu corpo em poucos segundos... Conjuguei a palavra saudade,calcei pedra por pedra desse chão. Agora me fala o que eu faço para colar esse meu coração? Não sou poesia fria, não sou mulher calada. E mesmo com corpo em chamas, ele me cobre de nevoada. Eu que não tenho casaco, eu que não tenho morada. Eu que segui por esse caminho e perdi em sua cilada. Há uma cozinha fria, há as lágrimas no colchão Minha confusão de sentidos me jogou no meio da contra mão. Não se pode esperar promessas ou construir castelos de areia. Somos benzidos pela vida incerta, pelo canto da sereia.

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As palavras sopram verdades na cara da poeta. São cartas, curvas, precipícios e setas E, no meio da estrada, minha dúvida resiste: Subo, desço, desvio ou sigo? (quando amanhecer eu decido!) Palavras abortadas espontaneamente na madrugada do dia 19 de abril f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 3 : 1 2 : 0 0 Marcadores: Poesia

2 pontos de vistas: Camila disse... bravíssima! muita benção nesse chão de pedra que teus pés calçam...acho que as vezes os caminhos são mesmo nas pedras, mas pra quem tem tato pra sentir tudo à flor da pele até o chão fala, e o pé escuta...na ganância por pele, vale até andar de quatro, puxar as memórias ancestrais do chão...com os pés e as mãos! nos vemos andando selvagem e ariscamente por aí! bjs! 6 de Maio de 2009 23:41

ANILIAH disse... pra quem conhece toda a história entende o quão foi longo e penoso esse seu desvio... 11 de Maio de 2009 18:45

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Quarta-feira, Maio 13, 2009

Nesse instante, desmontaria meu corpo sob o teu. Teria meus cabelos dedilhados. Fecharia os olhos e me sentiria acolhida. Pássaro no ninho. Perderia a minha cara cansada, meus problemas banais, minhas contas vencidas. Eu ia ficar quieta. Pronta pra teus mimos. Você me cobriria de silêncio e de desejo. Ia beijar a minha nuca, enquanto eu mostrava meu lado mais bonito. Seria frágil como a brisa. Receberia seu toque, me envolveria nos teus braços e teceria um grande cobertor de peles. Eu estaria apenas com você. E mesmo que o mundo partisse em dois, eu seria completa. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 2 : 2 8 : 0 0 Marcadores: Umbigo

1 p o n t o s d e v i STA : Rafael disse... Gosto muito dessa imagem. O refúgio (que não é fuga, pois que se alimenta ‘dos olhos abertos’ às contas, aos problemas banais, à cara cansada) Tenho um palpite de que este refúgio do mundo com(no)outro é uma das poucas imagens ideais que ainda me arrepiam. Seu texto me remeteu a um poema muito especial pra mim. Vou tentar enviar por e-mail. um beijo rafael (descabelado) 1 de Junho de 2009 18:58

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SÁBADO, JULHO 28, 2007

Da sua Boca...Silêncio Eu esperei da sua boca... Um som solto. Talvez um sopro. Ou uma silaba qualquer... Esperei um sinal...Quem sabe até linguagem corporal... Na minha esperança de mulher. Silêncio! De ouvidos em pé, esperei sentada: Corda, vozes e violão. Perdendo o tom, quis ouvir ser amada. Aguardando a mesma velha canção.

Silêncio! Desejei a sua língua, Seus movimentos soltos. E de tanta demora: Eu quis te cortar o pescoço!

Silêncio!

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O meu tímpano não está furado, A sua boca não está em greve. Por que você demora tanto Pra dizer o que me serve?

Silêncio! Eu sigo meu curso, Não dá mais pra te esperar. As palavras já estão mudas Não há porque te escutar. F RESTAS DE PATR Í CIA DEL REY ÀS 1 6 : 5 0 : 0 0 MARCADORES : P OESIA

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Domingo, Abril 05, 2009

Estranha, estéril. Muda. Nenhuma linha sequer. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 0 : 2 5 : 0 0 Marcadores: Frases

2 pontos de vistas: ANILIAH disse... Entrei para ler, saciar, diagnosticar e fazer tão somente, um pacto dos que bebem dessa mesma água e se embriagam desse mesmo vício esse vício lírico ! saudações poéticas ... 16 de Abril de 2009 10:18

P. Matheus disse... Mudo, estéreis e estranhos também escrevem linhas!! 19 de Abril de 2009 15:34

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Sexta-feira, Abril 03, 2009

Poeminhas Insossos I Não pode ser sempre assim: Parando no meio do caminho E trocando de estrada! Quantas paisagens já foram vistas?! Quantas frutas saboreadas?! Não me adapto a nenhuma. Não sou de nada. Meu posto parece ficar bem adiante... Não se chega com os pés no chão, Com os olhos secos ou certezas no coração. Meu posto é dos aflitos. Dos que tem conflitos. Do elo perdido. Da vazia mão. No meu posto não tem majestade. Tem malandragem e solidão. II Ao amor, oferecemos umbigos. E a certeza que seremos breve. Uma noite leve... Um coração incerto. Esquecimento impuro e desonesto. 79


A maior dor é de quem caminha, E não consegue parar. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 0 2 : 2 7 : 0 0

1 pontos de vistas: Larissa Mauro disse... Umbigos não serve quando se fala de amor. O amor não pode ser egoísta. Ele não é egoísta. São poucos os merecedores... 8 de Abril de 2009 16:46

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Domingo, Maio 31, 2009

Um peito cheio de dúvidas atravessa a rua larga. Cadê? Em que ponto, em que asa, em que eixo? Estou parada na mesma quadra. E a cada passo, a distância aumenta. Não sei onde me localizo nessas ruas sem encontros. Os números embaraçam meus desejos. Talvez eu não consiga digerir direito o meu plano. Eu sou só engano com os meus sub-versos. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 4 : 2 4 : 0 0

1 pontos de vistas: R. disse... Eu subo. E domingo é o dia que não se deixa confundir. domingo é domingo. 31 de Maio de 2009 16:42

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Segunda-feira, Março 23, 2009

Uma enorme vontade de desistir. Simples assim. De esmagar todos eles com uma força sob humana. A vida não é feita só de palavras bonitas. Há outras. Milhões delas. Que vagam por aqui. É preciso engolir muito sal até alcançar alguma coisa. E no final, as contas provavelmente não serão pagas. Levantar a bandeira, correr atrás, se expor ao ridículo. Será que é por vaidade ou ideologia? Os aplausos não continuam quando você tira a maquiagem. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 2 3 : 1 2 : 0 0 Marcadores: Umbigo

2 pontos de vistas: Tai disse... sabe que que é? vc tem essa mania de me escrever... e eu de ler bem na hora! 24 de Março de 2009 23:25

MakNamara disse... A vida é feita de um zilhão de palavras e bem poucas delas bonitas, a maioria até mesmo carente de qualquer sentido. Continentes conceituais onde atracam navios lotados de nada. É longe. Mas por que iria eu desistir? 24 de Março de 2009 23:46

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SEXTA-FEIRA, JULHO 11, 2008

O fim é o começo da saudade, a saudade é inicio da vontade, a vontade é o despertar da ação. E a ação é o princípio do fim. F RESTAS DE PATR Í CIA DEL REY ÀS 0 0 : 0 4 : 0 0 MARCADORES : F RASES , P E Q UE N OS P OEMAS

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Segunda-feira, Dezembro 01, 2008

Take 2 Tinha um segredo, uma espécie de jardim escondido no meio do cinza-urbano. Um pedaço que só pertencia a ela. Havia sido invadido em um momento aquoso, enquanto voltava pra casa num dia qualquer à tarde. Desde sua descoberta, visitava o local quando queria esquecer ou lembrar. Parou o carro no acostamento, e sozinha subiu os degraus daquele enorme escorredor de águas que aos teus olhos mais parecia uma escada inca. Ela costumava ver tudo que a cercava de um ângulo diferente. Adicionava texturas, cores, sabores raros. Como se assim, a vida se tornasse um pouco mais interessante. Gostava de voar dentro de uma bolha de sabão prestes a estourar. E quantas vezes seriam necessárias as tais explosões? Se rasgar e costurar incansavelmente como uma aranha que tece sua teia durante a chuva. Sentiu o gosto do sorvete antes dividido, depois o cheiro da erva. Recordou alguns entardeceres e foi lambida pelas antigas mãos daqueles passageiros. Doava poesias corpóreas para amores instantâneos. Abria pernas e peito na busca de preencher algo que faltava. Faltava ou sobrava? Já não sabia direito o que se escondia dentro dos enormes olhos de ameixa enquanto subia sua escada. Nos últimos três degraus, não havia mais lágrimas nos olhos. Todas aquelas luzes que desenhavam o infinito abraçavam a sua dor. Podia ver a ventania que varria seus pequeninos problemas para longe. Enfim, o centro do mundo. Pouco importava as cicatrizes agora. Estava além da ponte que cortava a cidade. Lá embaixo, os carros corriam a procura de uma felicidade inexistente. Ela sabia que era inútil continuar seguindo a mesma estrada para lugar nenhum e quis parar ali mesmo. 84


Podia dar um fim para o constante vazio. Colorir o asfalto de vermelho. Se dissolver sobre o concreto que a cercava. Mas isso seria bem clichê. Preferia imaginar a sua morte de uma forma mais passional e menos egoísta, com direito a choros, gritos e beijos de despedida. Abriu a bolsa, caçou o chocolate e esperou ele derreter sobre a boca. Imaginou um jazz sussurrado sobre teu ouvido. Deitou na grama, levou a mão direita até a boca, e passou o dedo indicador sobre os lábios. Devagar escorregou a sua mão sobre nunca, desenhou algo sobre os ossinhos dos ombros. Seguiu a dança até o seu seio direito, preenchendo a tua mão de vontade. Era cedo demais pra partir. f r e s ta s d e Pat r í c i a D e l R e y à s 1 6 : 2 4 : 0 0 M a r c a d o r e s : C o n to s

1 pontos de vistas: MakNamara disse... E ela chegou no final da escada e se liquefez e virou água. Bonito e molhado. 8 de Dezembro de 2008 15:16

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SEXTA-FEIRA, ABRIL 03, 2009

Insônia Ausência ou falta de sono.

Imagens antigas do meu quarto. Desenhos do Taigo Meireles e do Gabriel Mesquita. Música do Chico Buarque. F RESTAS DE PATR Í CIA DEL REY ÀS 1 8 : 1 5 : 0 0 1 P O N TOS DE V ISTAS MARCADORES : IMAGE N S

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