FICHA TÉCNICA Dramaturgia baseada no romance “Fosca” de Iginio Ugo Tarchetti
EQUIPE THIAGO VIANA
SÔNIA LOPES
Assessoria de Comunicação Concepção Original de Luz
ÉZIA NEVES Cenários e Figurinos
PAULA CRUZ e EDUARDO RÊGO Contra-Regragem
ADALBERTO JÚNIOR Fotos em Cena
RAISSA ARAÚJO
BRENO MONTEIRO
Projeto Gráfico
Operação de Luz
JOÃO RAMID
NELSON BORGES
Fotos em Estúdio
Visagismo
Uma produção de
MARINALDO SILVA Dramaturgia e Direção Geral
GUÁL DÍDIMO
O ROMANCISTA
Nascido em San Salvatotore Manferrato, norte da Itália, no ano de 1839, Iginio Ugo Tarchetti foi um importante autor de sua época. Destacou-se como membro ativo do movimento artístico conhecido por Scapigliatura, que pregava a rejeição aos valores burgueses de moralidade e Arte ao seguir as tendências boêmias francesas de contemporaneidade artística do século XIX. Dividido entre a literatura e a carreira militar, aos 26 anos foi transferido para o interior de seu país. Durante este período, conhece Carolina, uma jovem adoentada, prima de um de seus superiores. Sobre ela, o autor escreve para um amigo da capital: “O médico confidenciou que morrerá dentro de seis ou sete meses. Gostaria de decorar seus últimos dias com algum tipo de felicidade fugaz, mas é como se a cada tentativa de aproximação, uma estranha força me repelisse dela”. Apesar de não ser bonita, Carolina despertou a atenção do escritor. Mais tarde, em outra carta, descreve-a como: “A triste mulher que me ama imensamente”. O relacionamento foi um escândalo para a época, tendo durado apenas um inverno. Tarchetti morreu jovem, aos 29 anos, empobrecido e vítima da tuberculose. Em vida, escreveu diversos artigos para jornais, alguns poemas e contos, mas tornou-se famoso apenas postumamente com o lançamento de sua obra-prima “Fosca”. De cunho indubitavelmente autobiográfico, o romance foi escrito quanto o autor já estava irreversivelmente enfermo. Tarchetti entrou para a história ao apagar os limites entre ficção literária e realidade, sendo um dos grandes expoentes de sua geração.
Carioca radicado em Belém, Guál Dídimo começou sua carreira artística ainda adolescente escrevendo textos para o Teatro. Bacharel em Administração graduado pela Universidade Federal do Pará, dedica sua escrita acadêmica à Produção Cultural e seus desdobramentos teórico-práticos no campo das Artes Cênicas. É cantor em treinamento pelo Conservatório Carlos Gomes e ator formado pela Escola de Teatro e Dança da UFPA. Considera-se um eterno apaixonado pelo Teatro Musical, gênero que já estudou em temporadas no Brasil e no exterior (Nova York/USA e Berlin/DE). Recentemente, em sua cidade natal, fez parte do elenco de “Uma Fama Muito Crazy”, uma revista musical produzida pela renomada CAL - Casa das Artes de Laranjeiras, sob a supervisão da soprano fluminense Mirna Rubim. Obteve destaque na cena teatral belenense quando dirigiu e compôs canções para a bem-sucedida primeira montagem de “Ópera Profano - O Musical”, premiado texto do paraense Carlos Correia Santos, e quando assinou a dramaturgia e a direção geral (em conjunto com Olinda Charone) da releitura do clássico alemão “O Despertar da Primavera”, com um elenco todo composto por adolescentes. Nos últimos anos, Guál tem dedicado sua carreira à direção cênica de Ópera, tendo liderado as montagens das obras “Dido e Enéias” (Purcell) e de “A Ocasião Faz o Ladrão” (Rossini), ambas produções do respeitado EOPA – Estúdio Ópera Pará Amazônia. Este ano, em parceria com o experiente diretor norte-americano William Ferrara, dirigiu cenas selecionadas de “Don Pasquale” (Donizetti) apresentadas no Theatro da Paz.
O DRAMATURGO E DIRETOR
entre Estados Unidos, Itália e Brasil, um universo a descobrir Há seis anos, numa das minhas primeiras temporadas em Nova York, tive contato com um livro que basicamente mudaria o curso da minha vida. Nas estantes da biblioteca pública local, encontrei, por acaso, um exemplar já gasto de “Fosca”, obra do autor italiano Iginio Ugo Tarchetti, originalmente publicada em 1869. A trama do romance, que tinha como cenário o pequeno vilarejo de Parma no norte da Itália, girava em torno de uma adoentada mulher e sua perseguição incansável por um amor não correspondido. O texto me tocou tanto, que, alguns meses depois, cedi ao ímpeto de adaptá-lo para os palcos. Foi assim que nasceu “Paixão Fosca”, um dos trabalhos que mais tenho orgulho e carinho de ter dirigido e escrito. O espetáculo e sua dramaturgia evoluíram naturalmente ao longo do tempo, ganhando contornos mais bem definidos a cada nova apresentação, mas o núcleo emocional que me arrebatou ainda naquela primeira leitura permaneceu inalterado: não existe forma correta de amar alguém. O amor não New York Public Library for the Performing Arts (Nova York, 2008)
Ensaios no Teatro Maria Sylvia Nunes (Belém, 2010)
Palazzo della Pilotta (Parma, 2014)
Palazzo del Giardino (Parma, 2014)
é um trajeto fixo, conhecido ou controlável. É uma aposta incerta e complexa. Um fluxo sem maiores garantias, marcado tanto por erros, quanto acertos. Tarchetti capturou tão cristalinamente em sua escrita essa intrincada dicotomia, que meu trabalho enquanto dramaturgo se concentrou em permitir que a minha sensibilidade artística conseguisse traduzir para a interlocução os temas tão bem explorados em primeira pessoa no livro original. “Paixão Fosca” é um tratado sobre o comportamento humano. Um estudo sobre como nos relacionamos com nossos próprios sentimentos e com o mundo. Até a construção desse espetáculo, Iginio Ugo Tarchetti nunca havia sido traduzido ou, ao menos, adaptado para a língua portuguesa. Sua riquíssima contribuição para a literatura universal se mantém praticamente desconhecida do grande público. Desde aquele inverno em Nova York, quando li sua obra pela primeira vez, minha imaginação ainda permanece capturada pelo seu rico universo descritivo. Este ano eu tive a oportunidade de, em viagem pela Europa, ir até Parma, na Itália, conhecer pessoalmente a cidade-cenário que fascinou Tarchetti há tantos anos. Confesso que pisar naquele chão, compartilhar o dia-a-dia dos cidadãos comuns, visitar todos os edifícios delineados com tanta precisão nos parágrafos originais foi tremendamente especial para mim. Em cada esquina, rua, avenida ou travessa, eu podia ver com riqueza de detalhes os traços impressos de Fosca, Giorgio, Clara, Coronel e Doutor. Talvez seja essa a maior dádiva de uma obra de arte: revelar em uma paisagem tão distante e diferente, um mundo perfeitamente familiar, profundo e intenso. Guál Dídimo
F osca
Quando se fala em composição de personagem, há tanto a considerar: advogam-se técnicas, figuram-se métodos, avolumam-se conceitos. Em “Paixão Fosca” o que entra em jogo, no meu caso, é a dualidade entre o texto e a paixão de quem o escreveu (primeiro Tarchetti que o criou, depois Guál Dídimo que deu a ele a forma dramatúrgica). Essa paixão dupla encontra intercessão com a minha fascinação pela literatura e meu amor inabalável pelo Teatro. A força da palavra aqui se revela por meio das idas e vindas pelos interstícios da existência humana. Há também outros elementos: o texto e o elenco, a cena e o ato de ler, o corpo e suas possíveis leituras, o Teatro e seus intervalos representativos e interpretativos entre ser e estar. Sim, porque ler implica dar vazão a essa palavra-cena requisitando o verbo-corpo, no qual tudo vira carne e passa a existir dentro e no “meio de nós”. Entre paixões, entrega incondicional, esperanças divididas, traições, encontros e fugas ante o amor genuíno e seus traços de apego e/ou compaixão, o texto é cordilheira tênue, caminho tortuoso, córrego escorregadio, poço fundo espelhando as profundezas de uma personagem turva e cristalina, sempre outra a desvendar a todo instante. Regressar à cena com “Paixão Fosca” não se trata de uma remontagem ou um “fazer novamente”. Trata-se de reintroduzir o texto em mim com as devidas camadas interrogativas que tornam meu ofício um ato generoso e duro. A atriz precisa desaparecer para que Fosca surja radiante e tenebrosamente materializada. E como trabalhadora do ato de ler a cena em mim, de tornar a personagem viva e possível, sinto-me plenamente grata e comprometida em tornar esse espetáculo uma escritura amorosa na história da cena teatral da minha cidade. E como o Teatro, este instante mágico e eterno, reside entre viver e morrer, eis meu corpo: Fosca vive!
ROSILENE CORDEIRO
Pós-graduada em Estudos Contemporâneos do Corpo pelo Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA). Atriz e Pedagoga formada pela Universide Federal do Pará, possui longa carreira artística. Integrante da Companhia AVUADOS de Teatro de Belém/PA, é ministrante de cursos e oficinas nas áreas de teatro, literatura e ludicidade em instituições públicas e privadas de ensino de todo o Estado do Pará. Pesquisadora de Corpo e Performance, enfatiza seu estudo na religiosidade mestiça amazônida e sua interlocução com as Artes Cênicas. Dentre os espetáculos protagonizados, destaca: “A Cantora Careca” (Cia THAETRO, com direção de Chagas Franco), “Luz nas Trevas” (montagem da Má Companhia de Teatro para o famoso texto de Bertolt Brecht), “Tayo To Ame” (direção de Wlad Lima e Karine Jansen) e “Em Algum Lugar de Mim” (Companhia AVUADOS de Teatro).
Giorgio
“Um jovem militar bonito e bem educado”. Esses dois adjetivos que descrevem a personagem na dramaturgia orginal de Guál Dídimo foram meu porto seguro para a construção de Giorgio. No entanto, nem de longe, este foi um processo simples ou fácil. Esmiuçar o texto para descobrir as reais intenções e objetivos da narrativa, repetir exaustivamente os exercícios cênicos propostos pelo diretor e adaptar meu aparelho fonador a linguagem quase literária exigida pela obra, foram algumas das provocativas etapas vividas durante o período de ensaios e preparação. Esta é a minha terceira vez emprestando o corpo para Capitão Tarchetti. Nessa temporada, o turbilhão de emoções que o rodeia é acentuado por uma nova dinâmica cênica. Seu relacionamento tanto com Fosca quanto com Clara delimita-se mais claramente na confusão sentimental que o caracteriza. Sinto-o mais seguro, convicto de suas decisões, mesmo que as influências de suas escolhas possam marcar tragicamente a sua trajetória.
RAFAEL FEITOSA Ator formado pelo curso técnico da Escola de Teatro e Dança da UFPA. Possui relevante experiência com autores clássicos, já tendo protagonizado Shakespeare em “Trabalhos de Amor Perdido” e “À Espera de Macbeth” (ambos com direção de Cesário Augusto), além de Brecht em “Luz Nas Trevas” (Companhia Cênica Brinquedo Popular). Em 2006, aprofundou seus estudos em interpretação no Rio de Janeiro, sob a tutela de Roseane e Yuri Goffman. No mesmo ano fez participação especial na novela “Belíssima” da Rede Globo. Atuou nos espetáculos “Ópera Profano - O Musical” e “O Filho do Sereno”.
C lara
Receber o convite para interpretar Clara foi uma honra. Fiquei extremamente feliz em ter a oportunidade de dar vida a uma personagem tão bem estruturada dramaturgicamente. Clara carrega em si um universo emocional intenso. Mesmo tolhida pelas cicatrizes de seu passado, é amor imensurável que sente por Giorgio o norte de suas ações ao longo da trama. Essa base sólida me deu forças para seguir em frente sem medo, com entrega total, na minha construção enquanto atriz. Confesso que de inicio pensei não estar a altura do desafio, mas o período de ensaios foi uma grande revelação. “Paixão Fosca” me exigiu estudo e bastante disciplina. Por essa razão, sinto que o processo foi fascinante e enriquecedor. Acredito que a experiência me trouxe um amadurecimento artístico grandioso. O prazer de trabalhar com um talentoso diretor e um elenco tão experiente é a principal recordação que levarei deste espetáculo. Com toda certeza, um marco na minha carreira.
CAMILA LIMA Atriz revelação, desde a infância mostrava interesse pelas Artes Cênicas. Em 2009, iniciou seus estudos na ETDUFPA. Por três anos consecutivos integrou o ensemble do curso Infanto-Juvenil da instituição. Nesse período, participou das produções “A Roupa Nova do Imperador” (direção de Marton Maués) e “Os Três Coroados” (direção de Paulo Santana). Em 2011, interpretou a conturbada jovem “Ilse” na única montagem paraense do clássico alemão “O Despertar da Primavera”. No trabalho, seu primeiro contato com o diretor Guál Dídimo, Camila destacou-se por sua interpretação destemida e madura .
Doutor Tambourri
Lembro-me da minha alegria imensa em ter sido convidado, ainda em 2009, para integrar o elenco da primeira temporada de “Paixão Fosca”! Inicialmente, não sabia nada sobre a obra adaptada, mas, tão logo li a dramaturgia escrita por Guál Dídimo, fiquei encantado com o enigmático Doutor Tambourri, um homem de poucas palavras e de forte personalidade. Para dar forma à personagem, mesclei elementos do texto original com informações compartilhadas pelo autor/diretor. Para aprofundar meus estudos interpretativos e como preparação para o retorno do espetáculo, agora em sua quarta temporada, decidi estender este ano a minha estadia de férias na Europa e reservei um período de minha viagem para descobrir Parma, na Itália, cidade base para a narrativa de “Paixão Fosca”. Foi um processo de construção pessoal importantíssimo, pois pude mergulhar no contexto histórico retratado no texto ao visitar as locações descritas por Tarchatti em sua obra literária.
MARINALDO SILVA Graduado em Ciências Contábeis e Formação Técnica em Ator, ambos pela UFPA. Teve sua estreia nos palcos com a peça “A Fundação da Cidade de Belém” em 1997. Em 2008, fez parte do elenco de “Tayo To Ame” (direção de Wlad Lima e Karine Jansen). No ano seguinte, protagonizou “Sacra Folia”, sob a direção de Miguel Santa Brígida e Olinda Charone, além de rodar cenas do curta “Ribeirinhos do Asfalto” da cineasta paraense Jorane Castro. Marinaldo desenvolve extensa pesquisa no campo da teledramaturgia brasileira, estudando sua importância histórico-social no contexto cultural do país.
C oronel Ricci
Um militar de alta patente, forte e sisudo, porém com aparentes fragilidades que contradizem com seu comportamento austero e caráter inflexível. Assim defino Coronel Ricci. Considero este um personagem surpreendente, pois a cada leitura descubro novos conflitos internos, sintomas de uma insegurança disfarçada. O comportamento formal e conservador de alguns militares, assim como a seriedade e o orgulho que tem de suas patentes, foram elementos decisivos na minha composição cênica da identidade existencial de Coronel Ricci. Integrar um elenco de atores afinados, aliado a uma competente direção e um texto primoroso, faz de “Paixão Fosca” um espetáculo sempre muito prazeroso de se realizar. A narrativa investiga, com muita propriedade, as relações humanas. A dramaturgia explora não apenas temas como medo, sonhos e insatisfações, mas também vai mais fundo ao discutir sobre amizade, afeição e família.
HARLES OLIVEIRA É servidor público, ator e bacharel em Direito, formado pela UFPA. Possui extensa carreira artística como dramaturgo, diretor e produtor. Destaca-se na cena cultural por defender o resgate, preservação e valorização da cultura popular e afro-brasileira na Amazônia. Harles esteve a frente de projetos importantes nesse aspecto como os espetáculos “O Griot e os Espíritos da Terra” (vencedor do 2º Prêmio Nacional de Expressões Culturais - Fundação Palmares) e “Batuque Afro-Amazônico” (chancelado pelo MinC). Em 2010, venceu o Prêmio IAP de Edições Culturais com sua dramaturgia “O Filho do Sereno”.