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Os Empreendimentos

AssociAção pAtAxó ALDEIA JUERANA

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Opovo Pataxó está presente nesta faixa da costa brasileira desde muito antes de ela ser chamada “do descobrimento”. Aliás, o nome Costa do Descobrimento é contestado, não sem razão, por diversos representantes deste e de outros povos originários, devido ao apagamento das violências perpetradas durante o período da colonização portuguesa. Mais representativo, apontam, seria o nome “Costa da Invasão”.

De todo modo, ao longo dos mais de 500 anos de história deste traumático contato intercultural, diversas aldeias Pataxó resistem até hoje, mantendo seu território e sua cultura encravados pelos municípios baianos de Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Prado e também em regiões de Minas Gerais. Dentre as aldeias indígenas de Porto Seguro, uma se destaca pela forte presença e liderança feminina. Na aldeia Juerana, localizada na zona rural do município, vivem 68 famílias que trabalham com agricultura e artesanato. a prEsENÇa fEmiNiNa na aldeia é marcante polítiCa e CulturalmENtE.

A presença feminina é marcante política e culturalmente. Politicamente, pois muitas lideranças são mulheres, incluindo a principal liderança, a Cacica Yamani Pataxó. Além de Yamani, outras mulheres também tem forte atuação política, não só dentro das aldeias, mas também a nível municipal e estadual. Culturalmente, as mulheres são as responsáveis pelo principal atributo que torna a aldeia Juerana reconhecida: sua culinária.

Valorizando a cultura genuinamente brasileira e indígena da mandioca, as mulheres da aldeia cozinham, a partir da farinha e de derivados produzidos na própria aldeia, delícias como tapiocas, beijus, bolos, gomas e pubas, que circulam primariamente dentro da aldeia e entre aldeias, mas que também são vendidas para moradores e turistas nas feiras do município.

Parte da aldeia também se dedica a produção de hortaliças e hortifrútis orgânicos, integrando a certificação participativa da Rede Povos da Mata – Núcleo Monte Pascoal. A comunidade aguarda há 16 anos a demarcação de sua terra, que ainda não foi efetivada, mas é assim, mantendo sua cultura, seus modos de produção tradicionais e garantindo a participação e atuação política das mulheres Pataxó, que a aldeia Juerana se mantém resistindo há 520 anos.

a árVorE juEraNa, que dá nome à aldeia, também recepciona os Visitantes

AssociAção ApícolA de itAbelA APISBELA

Em uma área que até meados do século XX Os apicultores aproveitam a disponibilidade de camera constituída por Mata Atlântica preserva- pos e de mananciais de água potável do município da e poucas famílias de agricultores, surge para introduzir seus enxames, realizando um consum povoado dominado pela “febre do jacarandá”. A tante deslocamento de uma lavoura para outra, de instalação de serrarias e madeireiras dizimou a floresta modo a permitir que as abelhas coletem o néctar das e deu origem ao município de Itabela. Atualmente, a floradas de diversos plantios. Desse modo, quando cidade possui cerca de 32.000 habitantes e concentra acaba a florada do café, as caixas são deslocadas para 80% da fonte de renda na área rural, através da pro- a de eucalipto e assim sucessivamente. dução de café, mamão, maracujá, pimenta do reino e cacau.

Cientes da importância ecológica, com reverência cada apiCultor proDuz e Vende à natureza e visando aproveitar o potencial apícola iNDiViDualmENtE, contando com inexplorado dessa região de intensa atuação rural, um a assoCiaÇão para apoio téCNiCo grupo de cerca de 20 pessoas se reuniu para formar a

Associação Apícola de Itabela (APISBELA). e rEprEsENtaÇão polítiCa

Cada apicultor produz e vende individualmente, contando com a associação para o apoio técnico (com equipamentos para o beneficiamento do mel e com a troca de saberes entre os associados) e como representação política. A produção de mel tem caráter sazonal, a depender da florada utilizada. Como a associação não possui capacidade de estoque, suas receitas estão concentradas apenas nos meses da florada. O mesmo não ocorre com o custo de manutenção dos apiários, que se mantém durante os doze meses do ano, de modo que a apicultura aparece como uma complementação de renda e não

a história de DEsmatamENto de itabEla e a fragilidade das abElHas, despertam nos associados um iNCENtiVo à DEfEsa do mEio Natural.

como principal fonte de recurso dos associados. Porém, os meses de safra do mel, em anos em que o produto está valorizado no mercado (pois o preço varia drasticamente), representam um ganho significativo para os produtores. E, além disso, a apicultura aparece como um resgate da relação dos associados com a natureza.

A história de desmatamento de Itabela e a extrema fragilidade das abelhas (que são exigentes com a qualidade dos recursos naturais e vulneráveis ao uso de agrotóxicos e defensivos agrícolas), despertam nos associados um incentivo à defesa do meio natural. Cláudio Ambrosini, presidente da associação, mantém um viveiro de mudas nativas, utilizadas para o reflorestamento e Marola, como é chamado um dos participantes do grupo, é considerado um dos maiores especialistas de sementes crioulas do território. Ele atua no reflorestamento e na defesa de espécies nativas da região.

Essa troca de conhecimento prático, especializado, tradicional e ancestral é uma marca do grupo. Eles conhecem processos de reflorestamento, produção agroflorestal e agroecologia e buscam se dedicar a estas práticas, pois trabalham para a recuperação da natureza devastada, tendo consciência do valor da floresta preservada. É um grupo com conhecimento teórico e prático acumulado, para quem a atitude de preservação do ecossistema exige disciplina, que abrange desde a consciência para preservar, até o uso prático do conhecimento no manejo de reflorestamento. A “febre do jacarandá” que deu origem ao município já passou, porém, deixou sequelas nesta terra, onde a APISBELA e suas abelhas atuam como anticorpos para a cura.

é um Grupo com conhecimento tEóriCo e prátiCo acumulado, para quem a atitude de prEsErVaÇão do ECossistEma exige DisCipliNa.

AssociAção indígenA pAtAxó AldeiA MATA MEDONHA

AAssociação Indígena Pataxó Aldeia Mata Na década de 1970, supostos proprietários quiseram Medonha (AIPAMM) é formada por reivindicar as terras, mas os Pataxó resistiram e conhomens e mulheres indígenas da al- seguiram o reconhecimento enquanto terra indígena, deia de mesmo nome, no município de Santa Cruz pela FUNAI, em 1985. O território está em parte Cabrália. A aldeia constituiu-se a partir da migração, homologado, mas a maior parte permanece em litíem 1960, de cinco famílias originárias, da etnia Pa- gio. Uma grande porção da aldeia ainda é mata natitaxó, provenientes da região do Monte Pascoal que encontraram apenas a mata fechada, inspiradora de va preservada, com muitos animais silvestres e água disponível. seu nome. Desde a chegada inicia-se o cultivo de fugindo do “foGo DE 51”, mandioca. Na ocasião, o acesso à localidade era através de caminhos estreitos, por onde não passavam animais de carga, portanto, tudo era transportado a cinco famílias da EtNia pataxó chegaram na região, encontrando pé pelos novos habitantes, inclusive a mandioca para apenas a mata fECHaDa que plantio. inspirou o NomE Da alDEia.

Tendo com o plantio uma conexão intensa. Além da mandioca e seus derivados – farinha, puba, beijus e tapiocas – o grupo também produz hortaliças e culturas como abóbora, quiabo e feijão-de-corda, tanto para consumo como para a venda externa, que é feita em feiras livres e nas roças dos associados A maior parte do grupo é composta por mulheres e idosos, que encontram na associação o apoio mútuo, bem como incremento na geração de renda familiar, aumento da autoestima e melhoras na saúde.

AssociAção coMunitáriA AgropecuáriA cosMe e dAMião

ACACD

AAssociação Comunitária Agropecuária mente com produtos produzidos e colhidos pelos Cosme e Damião (ACACD) está se- associados, que compram apenas arroz, açúcar, sal diada na fazenda de cacau Estrela do e carnes. O trabalho árduo, somado ao conheciNorte, ocupada há anos pelo grupo, localizada na mento tradicional e ancestral do cultivo da terra, cidade de Itapebi, à margem do rio Jequitinhonha. A associação é composta por 32 famílias - com cerca de 120 pessoas, sendo que 11 famílias residem na sede da antiga fazenda e as restantes em sítios nos arredores.

O ambiente da fazenda é marcado pelo tempo, com fachadas sem manutenção nos últimos anos, mas seu interior esconde uma escola com lindo piso de madeira e paredes recentemente pintadas, ocupadas por painéis que demonstram a riqueza do processo pedagógico. A sede também conta com uma cozinha onde são preparadas refeições coletivas, abundantes no fogão à lenha, quase integral-

gera abundância e enorme diversidade da produção local: pimenta do reino, hortaliças, milho, feijão, café, banana, mandioca, abacaxi, graviola, porco, galinha da angola, pato, ganso, etc. O principal produto, porém, é o cacau, que tem uma produção anual de aproximadamente 1200 arrobas, normalmente comercializadas em um armazém local. Na comunidade também são produzidos doces e licores para consumo próprio e venda na feira do município.

A comunidade produz sob a “cabruca”, um sistema agroflorestal tradicional, o qual maneja culturas à sombra das árvores nativas da Mata Atlântica, sendo que na área de produção é possível visualizar árvores nativas centenárias e oito nascentes de água doce, preservadas por matas ciliares com os cuidados dos moradores. Não é só na plantação que o grupo preserva métodos tradicionais, o cacau também é fermentado em cochos de madeira e seco em barcaças, por fim, toda a produção é escoada por canoa, já que o acesso por terra está inutilizável. a principal proDuÇão é o cacau, que chega a 1200 arrobas anuais, as quais são ComErCializaDas em um armazém local.

Os pescadores, que estavam organizados em torno da Associação dos Pescadores Artesanais da Região do Baixo Jequitinhonha do Município de Itapebi (ASBAPE), foram em busca de soluções. O meio encontrado para manter sua subsistência, sem perder sua relação com as águas, foi a aquicultura. Hoje, os pescadores da ASBAPE estão voltados para a criação de peixes na área represada. Foi necessária uma adaptação, de pescadores artesanais para piscicultores, porém, os associados buscaram se capacitar para a correta instalação e manutenção dos tanques e, embora saudosos de suas antigas práticas – e de seu antigo rio –, encontram-se confortáveis na condição de criadores. A mudança também permitiu uma expansão do número de associados. Atualmente agricultores e moradores urbanos também podem fazer parte da associação, mantendo seu tanque indiretamente, com o auxílio dos pescadores que moram próximos à criação e atuam diretamente na manutenção e alimentação dos peixes. Desse modo, a associação conta com aproximadamente 100 famílias, totalizando 182 tanques, com uma produção anual de 100 toneladas. O principal produto é a tilápia, que pode ser vendida in natura ou em filés, mas a associação também cria tambaquis e pretende se estruturar para a venda de beneficiados de peixe, tais como linguiças, almôndegas e hambúrgueres de tilápia, bem como o aproveitamento do couro.

Tal qual o rio que os abriga e fornece a fonte de seu sustento, os pescadores de Itapebi também se transformam e se adaptam ao longo de sua trajetória, em estreita relações com suas águas e a vida que lá se desenvolve.

AssociAção dos produtores rurAis do projeto MArAvilhA ii

APROMA

Aforça da coletividade é um aspecto da agricultura orgânica, visando a qualidade de vida e marcante da Associação dos Produ- geração de renda para a comunidade. tores Rurais do Projeto Maravilha II (APROMA). O pré-assentamento conta com 74 famílias de agricultores, que se reúnem constantemente, não só para tomar as decisões pertinentes à associação, mas também em mutirões para o plantio, construção de viveiros, colheitas e formação de bancos de sementes. Localizadas na zona rural de Santa Cruz Cabrália, as famílias vivem em lotes com excelente estrutura para o plantio de hortaliças e diversos gêneros alimentícios, bem como para produção de leite, café, farinha, feijão, milho e frutas da região. No viveiro, a produção de mudas é distribuída para os agricultores e os produtos são característicos

AssociAção gotA do óleo AGO

Segundo o Ministério do Meio Ambien- este em homenagem a rua da sede da instituição. Na te um litro de óleo de cozinha usado sequência veio o projeto de palestras de educação contamina até um milhão de litros de ambiental e de combate ao trabalho infantil irregular, água. Evitando que esse óleo chegue aos terrenos bem como o da geração de emprego e renda com baldios, rios, mares, lagos e reservatórios de água a realização de oficinas de sabão nas escolas públicas potável que a Associação Gota do Óleo (AGO) atua e privadas, faculdades e universidades, associações, e, no caminho, contribui para educação ambiental e empresas e órgãos das prefeituras (CREAS, CRAS, a geração de emprego e renda da sua comunidade Setor Habitacional) tanto na zona urbana quanto ruatravés da coleta do óleo de cozinha usado do co- ral de Eunápolis, Itagimirim, Itamaraju e Região. mércio que trabalha com frituras e das residências Os maiores desafios da AGO advêm da falta de de Eunápolis e Região. consciência ambiental da população. A associação Um grupo de amigos se reuniu e resolveu criar a produz menos sabão do que poderia, por dificulAGO ASSOCIAÇÃO GOTA DO ÓLEO que foi re- dade de acesso ao óleo usado, o qual muitas vezes gistrada em 22 de maio de 2016. O primeiro proje- é descartado incorretamente e não chega até à asto da AGO foi o da coleta do óleo de cozinha usado sociação. Por esse motivo, os associados se empepara fazer o sabão artesanal ecológico Aruba, nome nham em palestras e oficinas de educação ambiental

Projetos da aGo

1. Projeto da coleta do óleo de cozinha usado das residências e empresas para a fabricação do Sabão Artesanal Ecológico Aruba em barra, líquido e em pó (1500 a 2000 litros são coletados por mês); 2. Projeto de coleta da água da chuva; 3. Projeto de coleta de Banners, Faixas e Outdoors de lona de Publicidade para fazer Bolsas Ecológica (Ecobag); 4. Projeto de coleta de garrafas pet para a produção de Vassouras, Vassourões e Cordas de Varal Ecológica (15.000 garrafas pet são coletadas e compradas por mês); 5. Projeto de Coleta Seletiva Solidária de Materiais Recicláveis em toda a cidade de Eunápolis; 6. Projeto de Geração de Emprego e Renda que tem 70 famílias de Eunápolis e Região. Estas famílias recebem os produtos que são produzidos na AGO e revendem, com isto melhoram a renda familiar. Muitas famílias nas oficinas de sabão aprendem a fazer o sabão e vendem para melhorar a renda. 7. Oficinas de Sabão em barra, pasta e líquido com objetivo da proteção ao meio ambiente e a geração de emprego e renda; 8. Projeto de Palestras de Educação Ambiental; 9. Projeto de Palestras de Combate ao Trabalho Infantil Irregular; 10. Projeto de arrecadação de doações de roupas, brinquedos, sapatos e bolsas para famílias carentes apoiadas pelos projetos da AGO.

Fotos cedidas por Bruno Pinheiro

AssociAção dAs MArisqueirAs e pescAdorAs de belMonte AMPB

AAssociação das Marisqueiras e Pescadoras de Belmonte (AMPB) é uma organização de mulheres que trabalham na coleta e beneficiamento de mariscos, pescados tratados, pó de camarão, temperos e outros itens secos. É um coletivo com reconhecimento na Costa do dEsCobrimEnto por suas práticas enquanto marisqueiras, por receitas com o “sabor especial do mangue” e pela qualidade de seus produtos, feitos exclusivamente de forma artesanal, cujos saberes são repassados, há décadas, de geração em geração. Cumprem também papel importante, com sua persistência, força e lucidez em recorrentes participações no Conselho de Assistência Social, no Colegiado da Costa do Descobrimento e no Conselho Deliberativo da RESEX de Canavieiras, atuando no fortalecimento do território, em especial, na conservação da natureza, junto às lutas travadas pela Reserva Extrativista de Canavieiras - Unidade de Conservação. Outra grande fortaleza deste coletivo é a conservação da cultura através do seu samba de roda, brincadeira e dança que se mistura à sua identidade. Contam com conquistas recentes importantes, como a constituição da cooperativa, a finalização da nova unidade de beneficiamento e o investimento de programas estaduais para a estruturação de sua unidade. Entretanto, são trabalhadoras fortemente marcadas pelas dificuldades do “oficio de marisqueiras”, tido como secundário e subalterno, alvo de preconceito, sendo um ofício extenuante, executado por horas, que machuca as mãos, pouco valorizado e de baixo rendimento.

Fotos cedidas por Bruno Pinheiro

Enfrentam problemas de saúde, falta de capital de giro e o machismo, mesmo assim, as marisqueiras são reconhecidas, admiradas e queridas por características positivas: respeito ao ambiente, compromisso e participação na comunidade, na conquista do respeito às mulheres, preservação da ancestralidade, conhecimento e responsabilidade no trabalho, união, senso de coletividade, trabalho em equipe, e ainda, pela alegria do samba de roda!

Impedidas do trabalho de beneficiamento de mariscos e do encontro, devido a pandemia, reinventam-se. Temporariamente suspendem a concretização do salto de qualidade que a unidade e os equipamentos conquistados significam, decidem permanecer em suas casas e empreender de outras formas. Voltam-se ao artesanato e ao resgate da confecção de doces e de salgados com recheio de marisco, tradição também forte da cidade de Belmonte.

são trabalHaDoras fortemente marCaDas pelas DifiCulDaDEs do ofíCio de marisquEiras.

AssociAção de Mulheres produtorAs rurAis AgroecológicAs AMPRA

AAssociação de Mulheres Produtoras Ru- de terem fonte de água, e acima de tudo, a posse da rais Agroecológicas (AMPRA) é um grupo terra, mesmo que conquistada com dificuldade. exclusivamente de mulheres que também fazem parte da Associação de Produtores Rurais Unidos Venceremos (APRUNVE), composta por uma comunidade de 63 famílias, localizada ao lado do Parque Nacional Pau Brasil, em Porto Seguro.

No território da APRUNVE há uma grande produção de frutas, legumes e hortaliças, tais como milho, abóbora, aipim, graviola, goiaba, abacaxi, acerola, entre outros.

A comunidade tem consciência da riqueza advinda da substituição da monocultura pela produção agroecológica e assume atitudes que revelam consciência ambiental: implantação de cobertura verde das casas, desenvolvimento do banco de sementes crioulas, esforço para não poluir o ambiente, consciência do privilégio

Os produtores detêm grande saber tradicional e técnico, agroecológico e sustentável, fazem parte da Rede Povos da Mata que os apoia no esforço de transição da produção convencional hegemônica para a orgânica. O coletivo específico da AMPRA decidiu dedicar-se ao beneficiamento do excedente desses produtos, transformando-os em geleias, doces, chips, bolos em geral e licores de frutas típicas da região, depois de várias experiências bem sucedidas na oferta de lanches, cafés e refeições em eventos locais.

O grupo faz parte do conselho do Parque Nacional Pau Brasil, que as apoia, da Rede de Economia Solidária, além da já citada Rede Povos da Mata, o que lhes dá confiabilidade.

O coletivo de mulheres conquistou a construção de uma cozinha comunitária para, num primeiro momento, viabilizar a comercialização de doces, geleias e compotas, e posteriormente investir em novos nichos de mercado utilizando o excedente da produção de toda a comunidade.

a ComuNiDaDE tem CoNsCiêNCia da riquEza adVinda da substituição da moNoCultura pela proDuÇão aGroEColóGiCa.

AssociAção pAtAxó dA AldeiA

Pé do Monte

Os índios Pataxó já ocupavam parte da faixa litorânea e interior do Extremo Sul da Bahia, no século XVI, quando chegaram os colonizadores, segundo relatos da época. Como em todo território brasileiro, os indígenas desta região foram alvo de perseguições e genocídio durante os séculos subsequentes, com objetivo de colonização e exploração econômica. Em 19 de abril de 1943, agravando o contexto local, a criação do Parque Nacional do Monte Pascoal determinou que os índios do entorno do Parque seriam impedidos de caçar ou plantar naquele território delimitado pelo governo como área de proteção ambiental. Devido à decorrente insuficiência de áreas para atender a demanda de produção da população, na década de 90 é retomado o processo de reivindicação do território.

Apenas em 19 de agosto de 1999 representantes de seis aldeias locais retomam a sede do Parque e assumem a gestão do mesmo com o compromisso de proteger as matas e o Monte, através de projetos de desenvolvimento sustentável. Desde então, os Pataxó já passaram a trabalhar com turismo regional para ajudar na preservação do meio ambiente; anos depois, em 15 de maio de 2007, jovens interessados em consolidar o etnoturismo no Monte Pascoal criam a Associação Pataxó Aldeia Pé do Monte (APAPEM), que atua também com produções agrícolas, artesanato e criações, representando 89 famílias que residem na aldeia, localizada literalmente aos pés do Monte Pascoal, em Porto Seguro.

A atração turística da Aldeia Pé do Monte é, como não poderia deixar de ser, o Parque Nacional e Histórico Monte Pascoal. Considerada primeira porção de terra avistada pelos portugueses, o Monte possui, nos 22.383 hectares delimitados do parque, atrativos naturais repleto de belezas cênicas, promove a realização de diversas atividades recreativas como caminhadas em trilhas, contemplação da natureza, observação de fauna e flora, participação de manifestações culturais indígenas, vivência do modo de vida local, degustação da culinária indígena e compra de artesanato.

O etnoturismo desenvolvido pelos indígenas, além de fonte de renda, tem a função de preservação da riqueza natural do território sobre o qual readquiriam o direito perdido, após séculos de luta. Os guias são profissionais diferenciados, com conhecimento dos costumes, rituais tradicionais ancestrais e espiritualidade ligada à natureza, mas acima de tudo são os guardiões da terra a qual pertencem, a qual reverenciam, a qual querem preservar para seus descendentes, e não explorar até sua exaustão, por exclusivo interesse financeiro.

os guias iNDíGENas são profissionais DifErENCiaDos, com CoNHECimENto dos CostumEs, dos rituais tradicionais e da EspiritualiDaDE ligada à NaturEza.

AssociAção dos pequenos Agricultores de PETROLÂNDIA

AAssociação dos Pequenos Agricultores de Petrolândia (APAP), situada no distrito homônimo da cidade de Belmonte, é formada por cerca de 40 famílias de agricultores e extrativistas de piaçava. Vivem numa comunidade rural que tem como base a agricultura familiar, com grande potencial para a produção de hortaliças, abóbora, melancia, milho, feijão, quiabo e mandioca. O plantio compartilhado é feito numa área de amortecimento da monocultura de eucalipto, às margens da rodovia que liga Belmonte à Eunápolis, em regime de comodato, divididos em 21 lotes. Toda sua produção visa chegar à mesa do consumidor com qualidade, buscando criar um vínculo de afetividade entre produtor e consumidor.

É um coletivo de produtores com experiência, conhecimento e tradição rural, cada um tem sua terra própria e priorizam seu sustento individual. Estão empreendendo coletivamente para complementar a renda e constituir um grupo que os fortaleça. No espaço comum, cultivam vegetais de ciclos curtos, como melancia e abóbora, para os quais os mercados de Eunápolis e Belmonte têm demanda e existe a possibilidade de venda dos produtos para a merenda escolar.

a APAP é formada por 40 famílias de aGriCultorEs e ExtratiVistas da piaÇaVa. estão EmprEENDENDo ColEtiVamENtE para complementar a rENDa e CoNstituir um grupo que os fortalEÇa.

AssociAção dos pequenos produtores rurAis de UNIÃO BAIANA

Parte do município de Itagimirim-BA, o distrito de União Baiana é um local surpreendente. O viajante que se direciona ENCraVaDa entre as para o distrito passa por plantações, pastagens e pastaGENs e a silViCultura, muitos quilômetros de produção de eucalipto. Os arredores levam a crer que urbanização fi cou disUNião BaiaNa aparece tante e que se chegará a um povoado diminuto e ExtENsa e orGaNizaDa. isolado. Ledo engano. Encravada entre as pastagens e a silvicultura, União Baiana aparece extensa e organizada, com suas ruas de paralelepípedos e cerca de 760 habitantes.

A organização do distrito é refl exo dos seus habitantes, cuja maior parte se encontra organizada também na Associação dos Pequenos Produtores Rurais de União Baiana (APPRUB).

A APPRUB é uma associação em pleno processo de expansão, apresentando volume e diversidade na produção, composta por abacaxi, hortaliças,

verduras, coco, galinha caipira, abóbora, criação de peixe e outras. Mas o principal produto, não só em volume de produção, como em importância cultural para o distrito, é a mandioca.

O vegetal essencialmente brasileiro, consumido desde os povos originários e de extrema importância para toda a região nordeste, encontra em União Baiana mais um de seus santuários. A comunidade produz 1.200 toneladas da raiz por ano. Toda a mandioca produzida, além de ser vendida in natura, é beneficiada pelos próprios moradores da comunidade, gerando derivados como fécula e farinha. A partir desses derivados a comunidade ainda produz bolos, doces e salgados, gerando um importante incremento de renda.“Em 2012, fomos contemplados com a construção de uma agroindústria para a fabricação de fécula de goma. Participamos de inúmeros cursos de qualificação e treinamento com o objetivo de profissionalizar a nossa produção. Então, os benefícios são inúmeros, mas tudo isso veio de muito suor e trabalho”, explica Agnevaldo Cardoso Rodrigues, presidente da associação.

As conquistas passadas foram muitas, mas isso não fez com que os associados se acomodassem, pelo contrário, continuam organizados e atuantes, na busca de mais melhorias para a comunidade. Em uma de suas últimas conquistas, a APPRUB tem conseguido reformar sua casa de farinha, com modernizações no projeto arquitetônico e no maquinário.

Com isso, apresentam-se como referência para coletivos de produtores rurais de todo o território, demonstrando como aliar luta, produção e sustentabilidade, sem abrir mão da rentabilidade e de sua identidade cultural.

a ComuNiDaDE também tem VariEDaDE na proDuÇão de frutas e HortaliÇas.

Grupo de Mulheres

RAÍZES DA TERRA

AAssociação Comunitária dos Produto- O Território de Identidade da Costa do Descobrimento res Rurais da Baixa Verde (ASCOM- tem uma história de grilagem secular. Em 2007, o BAVE) fi ca localizada na zona rural de MLT, cujos integrantes tiveram suas terras ilegalmente Eunápolis, com 60 famílias assentadas e integra o invadidas, realizou uma pesquisa de terras devolutas Movimento de Luta pela Terra (MLT). O grupo de e retomou 1.333 hectares de terras em 2008. A mulheres Raízes da Terra se constituiu dentro da terra é retomada e através da produção alimentar ASCOMBAVE com o propósito de melhorar a ren- de aproximadamente 300 hectares, o movimento da das famílias, trabalhar a agroecologia sustentável, garante a permanência na área, pois rapidamente promover a recuperação ambiental e manter as práticas culturais ancestrais. o Grupo se constituiu para As produções são consorciadas e variadas, para melhorar a rENDa das famílias, a recuperação da área e produção de alimentos, tais como feijão, girassol, abóbora, hortaliças, trabalhar a agroecologia quiabo, maxixe, pimentas, abacaxi, melancia e, sustENtáVEl, promoVer a principalmente, a mandioca. A comunidade trabalha em lotes coletivos e individuais e realiza atividades rECupEraÇão ambiENtal e sociais em conjunto com universidades, institutos, manter práticas CRAS e outras instituições locais, regionais e Culturais aNCEstrais. estaduais.

entram na economia local fornecendo alimentos para o PAA, PNAE, ONGs, entre outros consumidores diretos.

A área, extremamente degradada, também é reflorestada pelos acampados. São plantados 80 hectares de árvores nativas da Mata Atlântica, mais 800 de árvores frutíferas e nativas para a revitalização de uma nascente, antes seca, devido ao agronegócio. A comunidade conquistou uma escola, montou uma biblioteca, passou a receber visitas médicas, estruturou um grupo teatral de jovens e adultos e organiza festas comunitárias anuais de Natal, Dia das Mães e São João.

Neste contexto, renascem na comunidade os rituais, a medicina, saberes e fazeres tradicionais e a mandioca ocupa um lugar de destaque. O pré-assentamento torna-se um dos maiores produtores e fornecedores de mandioca para produção de farinha na região.

Através dos saberes e práticas ancestrais indígenas e de afrodescendentes, da evocação das estratégias de luta e resistência destas populações oprimidas, as mulheres adotaram a mandioca e a produção de seus derivados, culturalmente associados a estas populações menos favorecidas, como símbolo valoroso da cultura nacional. Da cultura do plantio e da gastronomia tradicional da mandioca, surge o grupo de mulheres Raízes da Terra, com a intenção de intensificar a comercialização de seus derivados. Estas mulheres pré-assentadas e agricultoras, mães, lutadoras desprovidas de muitos direitos, acreditam no coletivo para avançar nos processos de resistência. Unidas pela ideia de disseminar a utilização da mandioca, passam a ”rechear” todas as festividades do pré-assentamento com seus produtos. Convidados, visitantes,

estagiários e professores de universidades e institutos federais que degustaram as iguarias, apontaram seu diferencial e interesse em seu consumo.

Motivadas pelo sucesso “em casa”, as mulheres do Raízes da Terra passam a oferecer serviços culinários para eventos com cafés da manhã, coffee break e festividades em geral. O grupo se aperfeiçoa na produção de diversos produtos, tais como cacuanga e enrolados doces e salgados, pizza, panqueca, pães, bolinhos, bolos de aipim, puba, beijus e tapioca, usando a mandioca como insumo ideal para receitas desconhecidas e requintadas, além das receitas tradicionais.

Ao perceberem a aceitação do público surge a ideia do empreendimento, dando destaque à mandioca como patrimônio imaterial, devido ao uso ancestral da raiz, sua presença no cotidiano e na construção identitária do povo da região.

rENasCEm, na ComuNiDaDE, sabErEs e fazErEs, e a maNDioCa ocupa local de DEstaquE. motiVaDas pelo suCEsso, as mulHErEs do grupo passam a oferecer serViços CuliNários para EVENtos.

AssociAção de Apicultores e Meio AMbiente de guArAtingA ASAPMAG

Em 2019, como parte de seu Programa dos, abrangendo famílias da área urbana e rural. Sua de Desenvolvimento Territorial (PRO- principal produção é o mel, com aproximadamente DETER), o Banco do Nordeste elegeu 15 toneladas produzidas pelos apicultores associados a apicultura como atividade econômica prioritária no ano de 2019. A ASAPMAG possui uma casa de para fi nanciamentos na Costa do Descobrimento. mel própria, o que permite a extração e decantação

Essa escolha, que abre muitas possibilidades para o do produto, porém ainda enfrenta difi culdades para desenvolvimento da apicultura no território, vem o envasamento e a venda direta, sendo obrigada a para solidifi car o já conhecido potencial da atividade na região. a ASAPMAG é um dos

Um dos principais exemplos de sucesso quando se pensa a apicultura da Costa do Descobrimento é principais ExEmplos quando a Associação de Apicultores e Meio Ambiente de se pensa no suCEsso da

Guaratinga (ASAPMAG). Fundada em 2006, desde seu início a associação vem contribuindo para o de- apiCultura na senvolvimento socioeconômico e geração de renda Costa Do DEsCobrimENto. local, atualmente contam com cerca de 70 associa90

AssociAção dos produtores rurAis dA ZonA dA conceição e AdjAcênciAs

MARGARIDAS

DE BELMONTE

As Margaridas de Belmonte, cujo registro comercializar, embora com baixo preço, quase a toformal leva o nome de Associação dos talidade do que colhem e beneficiam. Produtores Rurais da Zona da Conceição e Adjacências, é uma organização de agricultores familiares (em sua maioria mulheres) urbanos e rurais, que possuem uma vasta diversidade de produtos. Mas, acima dos ganhos financeiros advindos da produção, as participantes avaliam que o maior valor do coletivo é o pertencimento ao grupo, pois este é unido e possui uma dinâmica de apoio mútuo nas dificulO coletivo, além do plantio, realiza processos diversi- dades emocionais e materiais, criando especialmente ficados de beneficiamento: geleias, doces, temperos, um ambiente de pertencimento, referência e apoio farinhas, óleos, produtos cosméticos, sabão, vinagre, para a autonomia e força daquelas que sustentam massas, catchup, mostarda etc. suas casas e criam seus filhos sozinhas.

Tais produtos são comercializados numa feira semanal do município ou entregues a domicílio, de bicicleta ou a pé. Segundo as produtoras, estas conseguem Através do coletivo também se tem acesso a cursos de capacitações, como o de olericultura, piscicultura e suinocultura, cujos certificados disponibilizados pelo

SENAR são motivos de orgulho para os associados. O coletivo já atingiu um dos seus objetivos que é a comercialização local dos produtos in natura e beneficiados; mas estão se organizando para avançar as certificações dos produtos, para expandir as vendas a outras localidades e consumidores.

Além disso, trazem como conquista a realização de um Seminário de Agricultura Familiar, com a presença de representantes da SETAF, Bahia ATER, Bahia Pesca e do Banco do Brasil, tratando do Pronaf. Por fim, através do esforço conjunto, realizaram um mutirão de regularização de Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), com o apoio do secretário de agricultura local.

o ColEtiVo, além do plaNtio, realiza proCEssos DiVErsifiCaDos de bENEfiCiamENto.

cooperAtivA AgroindustriAl de guArAtingA

COOPERAG

ACooperativa Agroindustrial de Guara- tivismo, piscicultura, entre outros, adquirindo e acutinga (COOPERAG) está inserida nas mulando conhecimento técnico e vivencial, formando tradições de um povo simples que um coletivo rural que conta com múltiplos saberes. busca a coletividade, com base nas quais o pioneiro Constantemente realizam pesquisas e cursos online agricultor Otacilo do Carmo Dias começou o plan- para atualização contínua e contam com componentio de cacau e urucum no pé da pedra que é sím- tes que compartilham seus conhecimentos individuais bolo da cidade. entre os cooperados. Constitui-se assim como um A cooperativa foi fundada em 2014, pelo apicultor Izaías Domingues Marques, com o intuito de iniciar a industrialização de alimentos produzidos por agricultores de Guaratinga e de cidades próximas (princi- a CoopEratiVa funciona como palmente Itabela) e conta com produtores de cacau, café, cupuaçu, pimenta do reino, criatório de frango, uma espécie de CENtral de peixe, suíno e apicultores de mel orgânico. Dessa bENEfiCiamENto, recolhendo e forma, a cooperativa funciona como uma espécie de central de benefi ciamento, recolhendo produções reVendendo proDuÇÕEs de de pequenos agricultores e revendendo-as, após o processo de benefi ciamento e envasamento. pequenos aGriCultorEs após O grupo é composto por pessoas que já participaram o processo de bENEfiCiamENto de diversos cursos, como aquaponia, apicultura bá- e ENVasamENto. sica, produção de rainhas, cooperativismo e associa-

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