Lautriv Mitelob - BV007

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007 ∙ Esperança/PB ∙ Dedicado especialmente à arte, à cultura e à história da nossa gente.

domingo, 25 de agosto de 2013 (formatado para encadernação)

MOSAICO: RESGATE, REVISÃO E PRESERVAÇÃO DE NOSSA HISTÓRIA LEIA ESTA EDIÇÃO E COMENTE: Quem seriam estes cidadãos e onde fotografando? Como se chamava esse espelho d’água, ora azul ora coberto de pasta, agora inexistente?

Pelo amor de uma mulé I

Sufri por agunia – Armaria! O gosto amargoso do riso Cono lhe dei um bom dia Foi ilusão meu amigo – liso! Pelo amor de uma mulé A gente faz o que ela qué – Assim me dirmoralizo. 1

II (...) O homem nasce e tardia Rompe o laço do imbigo Bemequé ou malmequé Enfrenta ele mil perigo Pelo amor de uma mulé Vai perden’o a sua fé Ruminan’o o seu martiro.


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* Vanderley de Brito, Professor.

vocábulo banabuiê é de origem cariri, dos bultrins, que eram na verdade os índios Aramuru e falavam o dialeto Kipeá. O nome Bultrin é uma alcunha que lhes foi imputada pelos holandeses, que os chamava de Boldrins, termo da língua germânica que quer dizer “corajosos”. No Brasil, raros foram os estudiosos que se debruçaram nas línguas nativas dos tapuias, quase todos os estudos lingüísticos dos dialetos brasílicos até a atualidade se resumiram apenas nas línguas derivadas do tupi e do guarani, e isso fez com que muitos vocábulos tapuias fossem corrompidos para atender ao léxico tupi-guarani e forçosamente traduzidos para dar uma resposta imediata à crescente demanda de conversão destes vocábulos que, muitas vezes, tinham importância como definidor primitivo de uma determinada localidade. Como é o caso da cidade de Esperança, cujo vocábulo banabuiê reflete sua origem primária. Na verdade, o vocábulo banabuiê não é um vocábulo, mas sim duas palavras, um substantivo e um adjetivo. Portanto, é uma sentença de dois vocábulos: mbana- bu-iê, pois o termo bana-bu-ie é corruptela de “mbana-bu-ie”. O termo mbanã era como os bultrins denominavam os tanques de pedra. Desse modo, assim como o termo “banabuiê”, o vocábulo “puxinanã” (que também pertence ao dialeto Kipéá), seria originalmente puxi-bnanã (lajedo do tanque). Porém, no dialeto, a letra “b” estando no início da palavra sua pronúncia é naso-labial, ou seja, produz o som “mb”. Por isso, o som do “m” é mudo e, possivelmente, o português perpetuou a ortografia do vocábulo conforme o seu entendimento auditivo: bana-bu-iê; puxi-nanã. Esclarecido o substantivo “tanque de pedra”, ou simplesmente “tanque”, vejamos agora a tradução do bu-iê: A língua kipeá tinha sua gramatização própria e a locução “bu-ie” é um adjetivo inflexível para definir

Vista aérea de Esperança nos anos 70: Açude Velho em destaque. Teria sido a Lagoa da Rua João Mendes responsável pelo primeiro nome de Esperança?

intensidade ou tamanho grande, que acompanha todos os vocábulos que precisam desse aplicativo gramatical. Exemplos: baleia em kipeá é setobuie, de seto=peixe + bu-ie=grande. Portanto, bu-ie é uma regra gramatical do kipeá para definir grande, observemos outros exemplos: krobu-ie = pedra grande, anran-bu-ie = homem grande, niejni-bu-ie = cobra grande, e assim sucessivamente. A gramatização adjetiva do dialeto vem sempre após o substantivo, dessa forma acontece também com outros adjetivos, como pequeno, que é o substantivo acompanhado de bu-pi (Ex: kro-bu-pi = pedra pequena) e vermelho, que é bu-he (Ex: kro-bu-he = pedra vermelha). 2


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ortanto, baseado nessa regra gramatical, mbana-bu-ie seguramente é “tanque grande”. Vale salientar que este adjetivo pode dizer respeito à largura, comprimento ou profundidade. Também é interessante saber que não pode ser “tanques grandes”, porque se fosse plural, de acordo com a regra gramatical do kipeá, seria mbana-i-bu-ie-a, e a palavra que atravessou os séculos para chegar até nós é mbana-bu-ie. Ou seja, “tanque grande”, no singular. Isso significa dizer que, se a atual cidade de Esperança se chamou no passado de mbana-bu-ie, certamente havia um grande tanque de pedra no lugar que, naturalmente, servia para armazenar águas meteóricas e tornava o lugar um ponto atrativo por oferecer condições de subsistência nos períodos de verão. Hoje, nesta cidade, a urbanização não denuncia a existência do referido tanque que serviu como referencial do lugar, mas Irinêo Joffily dizia que a cidade de Esperança (antiga Banabuyê) está sobre uma grande rocha e que chegou a ver o lugar quando ainda era apenas uma fazenda de criação onde havia numerosos tanques obstruídos. Mas convém dizer que, se estavam obstruídos no tempo de Joffily (meados do século XIX) não significa dizer que sempre estiveram, muito possivelmente nos idos do século XVIII ainda deviam armazenar água, até porque uma sesmaria de Acima, atual Rua João Mendes e, à direira, há 30 anos, quando do esgotamento. *Historiador, escritor e etnólogo da Sociedade Paraibana de Arqueologia. Leia também: http://historiaesperancense.blogspot.com.br/2013/03/o-toponimo-banabuye.html http://revivendoesperancapb.blogspot.com.br/2012/12/rua-joao-mendes-de-periferia-centro.html

1789 menciona existir um lugar chamado “Tanque Grande no sertão de Banaboié”. Particularme nte, minha opinião é que este tanque grande ficava no centro da atual cidade, para ser mais preciso, na região onde está a Rua José de Andrade, pois nesta localidade, no ano de 1997, quando se estava construindo o prédio de depósito da loja Decorama, os trabalhadores encontraram vários ossos fossilizados de grandes animais extintos e os moradores antigos da cidade diziam que ali existiu no passado uma grande lagoa. É comum encontrar resíduos fósseis de uma megafauna que habitou todo o continente durante o pleistoceno e que se extinguiu há aproximadamente 10.000 anos, uma fauna de preguiças-gigantes, tatus-gigantes, camelídeos, toxodontes e paquidermes, entre outros tipos faunísticos bizarros. Geralmente estes animais vinham até os tanques beber água e acabavam caindo nos reservatórios, cujas paredes íngremes não mais permitiam que saíssem e ali eles encontravam a morte e a fossilização de seus restos mortais.

(...) III À casa profana ia, até de dia Buscava de si só um abrigo Não encontrei uma vadia Que namorasse ali comigo. Pelo amor de uma mulé A gente faz o que ela qué – Desse jeito me desdigo. 3

IV (...) Cono encontra quem queria Mais parece um castigo Há sempre um tereteté Cada um toma seu partido Pelo amor de uma mulé Ciça, Siverina ou Izabé Fica inté bobo, ou tísgo!


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O escritor, poeta e romancista Ariano RAU FERREIRA - O município de Esperança Suassuna, em uma de suas aulas-espetáculo, tem uma série de vultos - a exemplo de narrou uma história sui generis da época em que Silvino Olavo, Padre Zé Coutinho e Elysio seu pai foi governador da Parahyba (1924-1928). Sobreira -, pessoas que deram sua Segundo o autor, João Suassuna mandou contribuição na cultura, arte e construir na capital da Parahybana um grande empreendimento social por toda a centro de tratamento de doenças mentais, Parahyba. Todavia, guarda muito pouco do denominando-o de Colônia “Juliano Moreira” em seu passado glorioso, e desconhece os homenagem a um dos maiores psiquiatras do patrimônios arqueológicos como a Brasil. itacotiara dos Caldeirões e o lajedo de Esse nosocômio foi pioneiro na Lagoa de Pedra. psicoterapia, que consistia no tratamento dos Exista uma necessidade premente de internos através de certas tarefas. preservação. Nesse sentido, é preciso Pois bem. Comenta-se que durante uma identificar os principais edifícios históricos, de suas visitas, o governador observou que um Rau Ferreira, em solenidade na Câmara Municipal. catalogar e buscar o seu tombamento junto Lei mais em http://historiaesperancense.blogspot.com.br/ interno conduzia seu carrinho de mão com a boca para baixo. Chamando-o em particular, aos poderes constituídos. disse-lhe que o veículo estava posicionado errado, no que lhe respondeu o Há algum tempo empreendemos esforços pela criação de um paciente: instituto histórico em Esperança, entidade artístico-cultural que - Não senhor! Se ponho de outro jeito, eles colocam pedra dentro. agrega os principais fomentadores de uma preservação Cada louco com sua mania. mnemônica. Livros, revistas, artigos e teses monográficas; objetos e (...) V VI (...) utensílios da época constituição um minimuseu e uma biblioteca, Rogo a minha mãe Maria Cono morrê um dia formando assim um ambiente favorável ao estudo e pesquisa. Solidão morá comigo Sem tê sido um Narciso Mas esta não e uma luta só nossa. Toda a comunidade pode e Faz de mim o que quisé Mas nos braços de Maria deve aderir a essa ideia, contribuindo através de doações ou Dou-lhe tudo for preciso Deixá de sê impreciso mesmo incentivo para que isto aconteça. Afinal, cultura e história Pelo amor de uma mulé. Pelo amor dessa mulé constituem patrimônio e responsabilidade de todos. A gente faz o que ela qué A gente faz o que qué

– Esse é rumo impreciso. 4

– Vou subir ao paraíso.


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POR ANA DÉBORA MASCARENHAS

PELO GRUPO CULTURAL QUERO MAIS

Para o café da manhã, novidades. Procurando frutas no mercado me deparei com sapoti, aquela fruta meio feinha por fora, mas é doce e saborosa por dentro. Lembrei de cara do quintal da Betinha Costa, lá tinha um pé e a gente de quando em vez ia colher a fruta. Era sempre uma festa. Minha pitangueira agora está florindo o jardim, ela sempre me faz lembrar as carreiras de seu Ascendino lá em Esperança, quando nos uníamos para roubar suas pitangas, as mais doces que lembro. E como tá muito frio, nada como um cineminha para o fim do dia. E nas voltas que o mundo dá. Flores, frutas, sabores e cheiros, levam a lugares antes visitados. A vida de adulto deveria ter férias mensais para ser criança de quando em vez.

O artista plástico Marquinhos Pintor sempre teve vontade de deixar as frentes das casas de sua rua mais colorida. Os vizinhos viram a boa vontade do artista e deixaram pintar, já que nenhum vizinho tem despesas com o material utilizado para a pintura. Dado a autorização dos seus vizinhos o artista plástico e ativista cultural, juntamente com o professor de capoeira Neguinho, deram início aos trabalhos de pintura das fachadas. Toda despesa de material de pintura é do artista. O interessante é que ele não conta com nenhum patrocínio de empresas de materiais de construção, mas, toda ajuda será bem vinda. O objetivo desse trabalho é deixar a rua mais limpa e bonita, com cores alegres e vibrantes.

O sapotizeiro de Ana Débora e o casario sendo pintado. Leia mais em: (http://deboramascarenhas.blogspot.com.br/2013/08/sabores-e-novidades.html) (http://grupoculturalqueromais.blogspot.com.br/2013/08/grupo-cultural-quero-mais-artista.html) 5


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MOSAICO Já foi dito que uma imagem vale por mil palavras. Apesar de uma palavra conduzir a nossa leitura da imagem, imagine mil imagens! Jailson Andrade, faz um bom tempo, coleciona imagens do povo e de Esperança. O layout do blog dele, como se pode ver, é um verdadeiro mosaico. Visite e conheça o seu acervo.

(...) VII

esperancadeouro.blogspot.com.br 6

E se lá eu incontrá Ar maluvida em perigo Junto tudim num borná E trago todas comigo Se num dé conta sozim Se já tivé bem fraquim Eu divido cum amigo. (Silvino Ferrabrás)


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