Lautriv Mitelob - BV039

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Fundado em Junho de 2013 | Banabuyê de Esperança - Parahyba - Brasil Arte, Cultura e a História da Nossa Gente | Nº 039 - MAR16 Editores: Evaldo Brasil e Rau Ferreira | Conteúdo: Blogs, Sites; e inédito.

Novos Poemas Marquinho Pintor

GALERIAS

P.03: Comparativa Florescendo P.05: Contemporânea P.06 Lembranças P.02 P.12

P.04 Há 30 anos ruía nosso Há 53 se erguia o STR maior patrimônio

P.11 Dedé Dedé P.11

Paraíba Criativa

Renato Rocha (recorte)

O ganho é pouco... Eu estava morto...

Luta e Luto dos poetas da Mulatinha História Esperancense

Arthur Richardsson | P.S. de Dória Bianca Duarte | Nicola Vital

Vem aí, Sarau do FIC! 2º Aniversário

c P.10 P.07

39

Bole m Virtual lautriV miteloB

P.08 Toinho


T

30 PATRIMÔNIO

anos ruía nosso maior

rinta anos atrá s uma comitiva do Rotary Clube de Esperança, liderada pelo ex-magistrado Joã o de Deus Melo, intercedia junto à s autoridades civis para evitar que o nosso maior patrimô nio viesse a ruir. O imó vel nº 26 da Rua Manuel Rodrigues de Oliveira havia sido recé m adquirido pelo Bando do Brasil para a construçã o de uma unidade bancá ria. A populaçã o ansiava para que ali fosse construıd ́ o um museu ou fosse instalada uma repartiçã o pú blica, mantidas as caracterıśticas originais da construçã o. O pré dio serviu de residê ncia ao primeiro prefeito da cidade e hospedou os presidentes Joã o Suassuna, Joã o Pessoa e Solon de Lucena. Da sua sacada, em maio de 1925, o genitor de Ariano (O Auto da Compadecida) assumiu o compromisso de emancipar o Municıp ́ io, sendo ainda palco do efusivo discurso do poeta Silvino Olavo que declamou a frase até hoje conhecida: “Esperança – Lyrio Verde da Borborema”. O incansá vel pesquisador Jô natas Rodrigues nos repassou uma reportagem do Diá rio da Borborema em que a maté ria foi veiculada. Na é poca - dizia o jornal -, a decisã o do IPHAEP (Instituto do Patrimô nio Histó rico e Artıśtico do Estado da Paraıb ́ a) nã o estava sendo respeitada. 2

RAU FERREIRA: historiaesperancense.blogspot.com.br

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A residê ncia seria tombada e os defensores ameaçavam recorrer à justiça, atravé s de um embargo de obra, caso a construtora insistisse na demoliçã o. Contudo, nã o houve tempo su iciente para a empreitada. E que o judiciá rio estava no perıo ́ do de fé rias forenses e a açã o embargadora nã o chegou a tempo. Nã o obstante, o Municı́pio tem ganhado “cara” nova a cada dia, pois o pouco que resta vem cedendo lugar para o c o m é r c i o q u e s e e x p a n d e diuturnamente. A destruiçã o mais recente foi da antiga “Pharmacia S. Pedro”, de propriedade do Sr. Nelson Andrade. També m o casarã o de Bento Olı́mpio Torres, segundo se comenta na cidade, estaria ameaçado de demoliçã o, para dar lugar a um empreendimento comercial. As opiniõ es divergem. Uns consideram que isto é o progresso inevitá vel, enquanto outros mais saudosistas preferem lembrar a Esperança d'outrora. A inexistê ncia de uma lei de tombamento pú blico propicia açõ es destrutivas do patrimô nio arquitetô nico local. De nossa parte, tanto minha quanto de Evaldo Brasil, procuramos registrar as imagens destes lugares para a posteridade. E o mın ́ imo que se pode fazer, quando nã o se tem condiçõ es de alçar vô os maiores, nem há preocupaçã o dos poderes constituıd ́ os.


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A g ra d e c e m o s a o n o s s o colaborador Jô natas Rodrigues que nos cedeu o material jornalıśtico para compor esta postagem.

Galeria Comparativa I Negativo da Casa de Manoel Rodrigues, primeiro prefeito da cidade II A então Egreja Matriz, em 1935, dos postais de João G. Guimarães III A igreja atualmente, de reeditadas IV Agência do BB, de Rau Ferreira

P. S . : S a b e - s e q u e , p o r d o i s momentos, por inicia va de João Delfino, (ex-prefeito, 2005-2008) fora feito registro fotográfico para possível preservação a par r de lei específica, que facilitaria a preservação dos traços arquitetônico-históricos da cidade. Os mo vos para falta da legislação estão no nega vo da história.

V A casa de Manoel Rodrigues, no registro de João de Deus Melo

APOIO CULTURAL

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Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperança

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Obras com voluntários O povo na inauguração E nos dias de hoje

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o início da década de 60 o Brasil foi sacudido pelos grandes movimentos das "Ligas Camponesas", que abalaram a estrutura do Governo Federal, no sentido de que fosse instituída uma Reforma Agrária. Esse movimento culminou* com a derrubada do então presidente João Goulart. Essa fase do trabalhador brasileiro forçou a criação e instituição de sindicatos, com o intuito de organizar, principalmente, a classe trabalhadora rural, que carecia de assistência, de apoio e de solidificação profissional. Em Esperança, não foi diferente. Com o incentivo do Pe. Manoel Palmeira da Rocha, foi criado o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, cuja entidade foi fundada em 19 de abril de 1963, tendo como seu primeiro presidente, o agricultor José Vieira da Silva. Com a força dos agricultores, já que Esperança era um município essencialmente agrícola, conseguiu

comprar um prédio antigo, junto da Igreja Matriz, onde funcionou o hotel de seu José Lino e, posteriormente, o "Hotel Brasil" de propriedade de Dona Jarmila. Na foto ao lado, vemos aquele velho prédio sendo transformado na sede da entidade representativa da classe trabalhadora rural, o STR, com a força braçal de diversos agricultores que colaboraram com a aquela edificação. Na foto menor, a multidão de agricultores e comerciantes da nossa cidade fizeram presença no dia da inauguração daquela sede social, quando se destacavam entre outros o comerciante Severino Grangeiro, pai do empresário Matias Grangeiro. Era o mês de dezembro de 1973.

*

Essa foi uma das forças na conjuntura que levou os militares ao Golpe de 1964, vez que o governo tendia a implantar as reformas reivindicadas pela população.

JOÃO DE PATRÍCIO revivendoesperancapb.blogspot.com.br

53

anos do STR


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Contemporânea

Galeria Emerson Santos, do perfil no facebook

Rau Ferreira, das plantas de casa 5


E nas voltas que o mundo dá...

U

Florescendo

m mestre tailandês certa vez disse: “Seja como o bambu”. Eu li em algum lugar há muito tempo. Ontem, porém, observei a entrada linda da UESB com seu corredor de sombras feito pelos bambus, e pensei “olha quanto ensinamento aqui per nho”. E lembrei do bambu: Ele floresce em todos os cantos do planeta, independente de sua situação climá ca, como uma corrente do bem. Ele tem raízes muito profundas e que se entrelaçam com as do bambu do outro lado formando um só emaranhado. E é oco, leve, mas ao mesmo tempo flexível ao extremo, ele enverga. Nas ventanias, chega até a varrer o chão com suas folhas lisas e finas, mas nunca quebra. Também vi a quaresmeira que agora floresceu lilás e roxa pela cidade inteira, é uma das estações que mais gosto por aqui, as árvores se ves ram da cor da penitência durante a quaresma para lembrar que todos viveremos e que a tempo para ferir e ser ferido, amar e ser amado, sofrer e ser feliz. E nas voltas que o mundo dá, quando a gente para um quinho pra ver o que se passa ao nosso redor, descobre a música ou soluçar do vento. Mas, são tão poucos os que conseguem ouvir a música, a maioria só ouve o lamento do vento que nos rodeia.

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ANA DÉBORA MASCARENHAS asvoltasqueomundodar.blogspot.com.br

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novos poemas

Quando pensei que sabia de tudo... Quando pensei que sabia de tudo, na verdade não sabia de nada Quando pensei entender das palavras, descobri que eram elas que brincavam comigo Quando pensei entender as mulheres vi que devia apenas faze-las feliz Quando pensei ter muitas experiências, me dei de conta que devia ter ainda mais Arthur Richardisson (Em arthurrichardisson.blogspot.com.br)

A Capelinha

Ao Saudoso Chapéu

Aos olhos de quem poucas vezes viu, Eis a capela, torre d’aliança, Dos passeios domingais … Quanta lembrança Do grito em “ ecos ” que não mais se ouviu!

O velho e querido chapéu de massa De cor parda, azulada, preta ou branca, Que já foi um exímio galã de praça Hoje sofre obsoleto e sem ter banca

O sacrossanto altar assim surgiu Duma promessa a uma virgem santa, E na promessa a fé tornou-se tanta Que ao santuário o céu também se abriu.

Que outrora bem vestia-se de elegância Foi pierrô, mestre-sala foi sambista, Contudo só lhe resta a esperança De poder brilhar de volta às pistas

Sobre um lajedo de origem bruta Ei-la ostentando, a serena gruta, Que aos olhos de quem vê reluz e encanta!

Vive hoje num cabide empoeirado Lamentando sua injusta comuta Em boné, touca ou óculos enviseirado

E lá, buscando a paz d’alma carente, De joelhos em oração, vê-se presente O peregrino ante a Virgem Santa!

Quem não sente saudades do garboso Servidor da calvície ou elegante Não viveu tempos áureos auspiciosos.

P. S. de Dória Em historiaesperancense.blogspot.com.br/

Nicola Vital (In Sarau Brasil 2015, Antologia, Vivara Ed. Nacional, pág. 171.)

Pra ti Eu irei cantar os versos mais bels. Irei jogar as migalhas que recebi de outrora. Pra ti serei porta aberta, ou melhor, escancarada. Só não serei covarde, de ter medo ou de fugir do teu lindo e sincero Amor. Bianca Duarte Disponível no perl do facebook 7


Luto na cultura popular, morre

N

ascido Antonio Patrício de Souza aos 22 de outubro de passamento de um dos maiores “repen stas” do Brasil. Tomamos 1927, irmão do famoso Dedé da Mula nha (José conhecimento de seu óbito, através de e-mail enviado por Rômulo Patrício) e outros nove irmãos, este agricultor da Nóbrega, autor da biografia de Rosil Cavalcante e do telejornal JPB. Mula nha, município de Esperança/PB, aprendeu apenas as primeiras Rômulo teve a oportunidade de entrevistar Toinho por ocasião da sua letras do ABC. No entanto, estas lhe foram suficientes para ganhar o obra “Prá dançar e xaxar na Paraíba”, de publicação recente, pois o mundo e a fama, e em especial, a cultura popular. cantador foi autor de um cordel sobre o falecimento de Rosil e outro Começou a cantar coco em 1940 e em 45 já publicava seu sobre a cantora Marinês. primeiro cordel: “A Viagem Sagrada”, seguindo-se outros oitenta e Em “Adeus a Antonio da Mula nha: Agricultor, tocador de tantos tulos. Pai de dez filhos, não obteve pandeiro, vendedor de cordel” lamenta o o retorno do bem que fez a cultura jornalista e pesquisador areiense Ney popular, mas guarda no seu âmago as Vital: Chorei! A morte, esta danada lembranças das viagens que fez pelo Brasil “Caetana” sempre me faz chorar! Chorei com seu irmão Dedé. pela falta do úl mo abraço, a distância não O cordelista era diabé co e permi u: resta a lembrança. (…) O mo vo apresentava outros problemas de saúde. do sen mento é que durante quase 10 Recluso há algum tempo, sua úl ma anos frenquentava a feira de Campina aparição em público foi para receber uma Grande/PB e lá ainda jovem eu encontrava homenagem do Museu dos Três Pandeiros o vendedor de cordel. Com ele aprendi os (Museu de Arte Popular/MAPP da mais bonitos pensamentos, palavras e Universidade Estadual da Paraíba/UEPB), ações a favor da cultura brasileira. em Campina Grande. Na oportunidade, foi Conhecido em todo o Nordeste e Toinho da Mulatinha entrevistado por Rômulo Nóbrega gravada uma mídia que ficou registrada em vários estados do Brasil por Toinho da naquela casa de memória, fazendo parte Mula nha, Antonio Patrício de Souza de seu rico acervo sobre a cultura popular. desencarna aos 89 anos, na casa onde Em nota, o Vereador João Dantas lamentou a perda irreparável viveu por mais de seis décadas, na Rua Santo Antonio, 327, no bairro do velho cantador que era reconhecido nacionalmente. História homônimo, numa quarta-feira de cinzas (10/02/2016), de causas Esperancense (blog) e o BV igualmente gostariam de registrar o naturais, em sua resistência, em Campina Grande. 8

RAU FERREIRA | RÔMULO NÓBREGA | NEY VITAL | EVALDO BRASIL

Obituário

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Toinho da Mulatinha 1

Fontes: Mercado Livre e Paraíba Criativa (2) Tratamento: Evaldo Brasil.

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PERFIL Antonio Patrício de Souza (22/10/2710/02/16), irmão de Dedé da Mula nha (José Patrício) e outros nove irmãos, Agricultor. Começa a cantar coco em 1940; em 45 publica “A Viagem Sagrada”, primeiro cordel. Sua obra ultrapassa 80 tulos. Pai de dez filhos, fez dupla com o irmão Dedé, viajou todos o Brasil e gravou dois LPs (Forró, Desafios e Emboladas com Chico Sena; e Embolada, com Geraldo Mouzinho). Recebeu homenagens em Pernambuco e em Brasília. Os seus versos sempre foram elogiados pelo povo e pelos estudiosos da cultura popular. Abaixo, um pequeno exemplo da sua ALGUNS TÍTULOS PUBLICADOS Almanaque pernambucano brasileiro para o ano versa lidade, do cordel A Viagem Sagrada, de de 1957; Campina Grande, a viola e as belezas do 1945: Nordeste; O casamento de Bernardo com Maria do Saguim ou o rapaz que casou-se e correu com Em Sodoma tão falada medo da mulher; A Paixão de Cristo; As missões de Passei uma hora só Frei Damião em Bom Jardim e a tempestade em Lá vi a mulher de Ló Limoeiro; As missões de Frei Damião em Soledade Numa pedra transformada e os cas gos de um amancebado; O povo chora Dei uma talagada com pena do frade Frei Damião; O desastre de Com caldo de mocotó ônibus que atropelou uma procissão e matou vinte E saí batendo o pó e três pessoas em Currais Novos; A História do Adiante vi Simeão desastre da Lagoa do Parque Solon de Lucena em João Pessoa. Tomando café com pão

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*

Fontes: História Esperancense, Ney Vital, Paraíba Criativa e Rede de Notícias.

Na barraca de Jacó. (...) 9


22 de Janeiro de 2009

E de um juiz eu não espero o parecer É o destino em desatino pra você Que quando pensa nunca pensa o verbo ser E só, conjuga em sua pessoa o verbo ter! O ganho é pouco, mas é divertido! É divertido, mas o ganho é pouco! Eu só não faço o que é permitido Porque o mundo está cando louco! (–Aí, danou-se! Traduz aí, professor!) É que se a gente se deixa levar Pelo que julga quem se arvora a julgar Se sente mal na pele de um cão sem dono, Em desespero, sofrimento e abandono! Pelo que aprendo, ensinando com razão, Eu faço escolha na colheita da emoção! Deixei de lado as verdades que não creio Não acredito nas mentiras, mas releio.

09 de Setembro de 2009

O ganho é pouco, mas é divertido! É divertido, mas o ganho é pouco! Eu só não faço o que é permitido Porque o mundo está cando louco!

Ué? O bolo do lobo, eu? Palíndromo II (Omni lupus omni) (Em 08 de Julho de 2007)

Eu estava morto e não sabia 10

O ganho é pouco, mas é divertido!

Devido ao dado que foi dado, meu irmão! Jogo bozó ao dominó, por solução! D'agora em diante eu não creio no recreio Prero o passo no caminho do passeio.

EVALDO BRASIL evaldobrasil.blogspot.com.br

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De Esperança para o mundo do Cordel: O poeta-repentista deixa sempre um legado autoridades, como o prefeito e o delegado lhe suplicavam: inestimá vel. Com efeito, a poesia popular é cheia de “menino, vem cá cantar uma coisa pra gente ouvir”. sabedoria e transmite muito conhecimento. Aliá s, este ao que E o pró prio Dedé que nos a irma, em versos esse seu inıćio: parece, foi a sua origem, maquiada que fora pela cultura nordestina, era o meio de comunicaçã o dos sertõ es. Comecei a minha vida, Esperança sempre foi terra de grandes De rua, casa e avenida cantadores, a exemplo de Campo Alegre e Joã o A cantar com meu ganzá. Benedito. Neste torrã o se reuniam para Em toda terra do norte fazerem a “praça”, nas esquinas do atual Super Do Nordeste brasileiro Esperança ou da atual Farmá cia de Milena, Viajei no mundo inteiro referê ncias que nos remontam à antiga feira E hoje estou no meu lugar livre. O encordoamento para a viola era vendido na miudeza de seu Patrıćio Bastos, razã o pela qual acorriam para cá muito dos repentistas, que faziam deste municıp ́ io a sua segunda morada. Assim foi com Josué da Cruz, que por um tempo residiu na Rua Joã o Mendes. Dedé da Mulatinha e seu inseparável pandeiro Batizado José Patrıćio de Souza, e com a alcunha de “Dedé da Mulatinha”, o poeta nasceu no Sıt́io Mulatinha, Zona Rural de Esperança, por volta de O poeta ou bom cantador 1914. Começou a cantar com 12 anos de idade na feira livre da Por Deus-pai é inspirado cidade. Em entrevista para o documentá rio sobre o “Patrimô nio Canta as causas do presente Cultural de Campina”, a irma que quando chegava em casa seu pai Descreve o que foi passado lhe perguntava por onde teria andado e, respondendo que fazia O que é de mais beleza versos pela cidade, era ameaçado de levar uma surra, pois o seu Da divina natureza genitor considerava aquilo coisa de preguiçoso, de gente que nã o Faz em verso improvisado queria nada com o trabalho. Poré m, mesmo assim esclarecia que pessoas importantes do lugar, como Manuel Farias, e até 11


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D

e sua autoria podemos citar: Histó ria Sagrada: As sete espadas de dores de Maria Imaculada; Romeiros do Padre Cıćero do Juazeiro do Norte; Descriçã o da lora medicinal: As plantas que curam. conforme a pá gina anterior. (de Descriçã o da lora medicinal – quais as plantas que curam. Publicaçã o Nº 06. Universidade Federal da Paraı́ b a. Campina Grande/PB: 1977). O seu irmã o Toinho, que també m enveredou pelos caminhos do cordel, iniciou nesta lida com a idade de 10 anos. Nesse aspecto, disse-me o jurista e historiador Joã o de Patrıćio, que muitas vezes assistiu Dedé e Toinho na esquina da Rua do Sertã o com um ganzá na mã o e uma bacia em frente, cantando para uma multidã o de curiosos e espectadores. Ambos deixaram como legado uma vasta lista de cordé is, levando o nome de Esperança, inclusive, para fora do Estado. O pró prio Toinho chegou a lançar dois discos de forró e emboladas, em parceria com Chico Sena e Geraldo Mouzinho, respectivamente (ver capas na pá gina 09). Enquanto Dedé percorreu o mundo vendendo os seus folhetos e se apresentando em praça pú blica. Dedé faleceu aos 84 anos, apó s mais de 60 anos dedicados à poesia popular. Sua obra pode ser encontrada na “Bibliotheque Virtuelle Cordel” (disponıv́el em portuguê s) da Université de Poitiers, França, e na Universidade da Califó rnia, EUA. E segundo se comenta por aqui, a sua arte també m seria estudada na famosa universidade francesa de Sorbonne. 12

Lembranças são sentimentos que cam depois que o tempo se encarrega de levar os momentos e, sempre que me questiono o porquê o que é vital tem que ir embora, me faço ousada também para me perguntar como poderei esperar os reencontros se continuar construindo barreiras, cercas, muros e grades? Não espero que o tempo busque o que meus pés não ousaram trilhar… Anal, se m e u s p é s alcançassem meus desejos, eu caminharia agora por um campo de g i r a s s ó i s , sentindo o vento no rosto enquanto eu teria um leve dialogo com ele. Eu diria: Isso, Senhor Vento… Leve a minha saudade, pois a viagem é longa.

É que o vento me balança, traz sempre alguém ou alguma coisa pra que eu possa amar… E no seu sopro vem à experiência da vida. Como é bom olhar para trás e não se arrepender de uma vírgula sequer. Teve lágrimas, mas o vento que agitou minhas historias, foi o mesmo que as fez secar.

Por ora o chamo de vento, mais eu sei que esse sopro é Deus. Sagrado é o dom de se deixar em saudades. Flávia Ferreira

FLÁVIA FERREIRA chaodesonhos.tumblr.com

Dedé da Mulatinha LembrançasChão de Sonhos


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