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Apresentação Fábulas, mitos, contos de fadas... todos pertencem ao gênero narrativo, assim como as lendas! Lendas são transmitidas principalmente de forma oral, ou seja, são mais contadas e passadas de geração em geração do que escritas em papel. O Brasil é riquíssimo em lendas, fruto da imaginação do povo brasileiro, que por si só já é resultado da mistura de muitas culturas diferentes. Conhecer as lendas do folclore brasileiro é ótimo, mas será que só isso já basta para satisfazer sua curiosidade? E se você passasse por um lugar essa semana, onde soubesse que algo realmente grande já aconteceu ali nos tempos passados? Ah! Não pense que ao se falar em lenda estamos falando de uma mentira. Mas também não significa que se trata de uma verdade absoluta. Apenas tente lembrar que para uma história ser criada e ainda ter sobrevivido na memória das pessoas, ela deve ter sua importância. Neste livreto você vai conhecer algumas histórias que rondam o estado do Espírito Santo. Não só conhece-las, mas também vivê-las novamente através das peças de teatro baseadas nelas. 2
linhares
CAPIXABA P.04 JUPARANÃ P.06 serra CARIACICA
vitória
QUANDO O PENEDO FALAVA P.08 PÁSSARO DE FOGO P.10 O POÇO DE ANCHIETA P.11
VILA VELHA
O FANTASMA DO CONVENTO P.12 GLOSSÁRIO P.14
anchieta
ROTEIROS 3P.15
Capixaba Chegou à Capitania do Espírito Santo um jovem português. Tinha cabelos louros, olhos azuis, como o céu, e era muito forte. Aqui, apaixonou-se por uma belíssima princesa. Não como as princesas que ele via em sua terra, mas uma princesa indígena. Contudo, a filha do chefe já estava destinada a se casar. Certa noite o jovem estava distraído na margem do rio, pensando em seu lar, quando Jaci iluminou a princesa da selva, que observava escondida e curiosa o estranho rapaz. Passaram a se encontrar todas as noites, escondidos de todos da tribo. Toda a felicidade do mundo era pouca se comprada à que sentiam quando se encontravam novamente. Desse amor nasceu uma linda criança. Ela era diferente das outras da tribo. Tinha uma pele rosada, olhos azuis, cabelos louros e ondulados. Intrigado, o conselho dos magos da tribo chamou a princesa para dar uma explicação, e ela confessou seu amor. O castigo determinado pelos sábios foi o sacrifício do bebê. 4
A índia resolveu fugir com sua filha e no litoral, encontrou, perto de um barco, o corpo do seu amado, atingido por flechas de sua tribo. Desolada, a índia embarcou com sua filha e remou contra a fúria das ondas, até chegar a uma ilha misteriosa. Adomerceu, aquecendo sua filha ao calor de seu corpo. Iara as guardava, orientou ao Curupira e ao Saci que afastassem as criaturas travessas e maldosas até que amanhecesse novamente. Rudá suplicou a Tupã, e ele deu as lagrimas da princesa o dom de adubar a terra. Quando mãe e filha acordaram, viram que a terra ao redor delas já estava coberta de grama. E mais! Viram brotar caules finos, e em cima de cada um, uma espiga com palhas douradas (como os cabelos de sua filha) e grãos com o tom moreno de sua própria pele. Assim surgiu primeira a roça de milho na terra dos goitacás, a primeira Capixaba, para que mãe e filha tivessem alimento e abrigo, e contassem aos seus descendentes a origem dessa palavra.
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Juparanã Antes dessa terra ter seu primeiro governante europeu, havia, às margem do Rio Doce, uma tribo forte e próspera de índios botocudos, que conhecia o Grande Rio pelo nome de Uatu. Certo dia, sentinelas da tribo ouviram sons de fortes remadas subindo pelas águas do Uatu. Voltaram para contar aos chefes da aldeia. Todos se reuniram para se preparar para a batalha e escondidos nas árvores atiraram flechas contra as embarcações que se aproximavam. O som que se ouviu a seguir aguçou a curiosidade dos nativos, pois nunca viram nada igual àquilo. Suas ferramentas, seus barcos e tripulantes eram diferentes de tudo o que já tinham visto. Os índios ficaram tão deslumbrados que não fizeram novos ataques, e a fileira de barcos prosseguiu sua excursão, parando apenas para acampar. De volta à aldeia, os botocudos clamaram a Tupã e planejaram um ataque no silêncio da madrugada. À luz de suas lamparinas, os invasores foram surpreendidos por uma nuvem de flechas. 6
O povo desconhecido preparou-se para contraatacar, com disparos de trovões no escuro. Furioso, Uatu agitou suas águas e fez surgir um grande barranco que prendia as embarcações invasoras. Acumularam-se ao redor desse barranco folhas e raízes, formando graciosamente uma ilha. Os guerreiros botocudos perceberam a vantagem. Subiram em suas canoas e furaram os cascos das embarcações inimigas. Estavam em maior número e derrotaram os forasteiros. Ao amanhecer os destroços da batalha boiavam nas águas calmas de um grande lago, recém formado. Um arco-íris pairava acima da nova paisagem, anunciando a bênção de Tupã. Assim se formou a lagoa Juparanã e a Ilha do Imperador no município de Linhares. Dizem que esse lugar é encantado e que à meia noite memórias da batalha vêm à tona. As águas do Juparanã se agitam, os navios emergem, os almirantes e oficiais vestem seus uniformes e erguem suas luzes à procura do inimigo. Cantam músicas de saudade do lar até o amanhecer.
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quando o penedo falava Antes das terras do Espírito Santo serem habitadas por qualquer povo, na calmaria das ondas, ao sopro da brisa, ouvia-se a bela melodia dos sons de um Búzio encantado. O instrumento pertence a um gênio poderoso e bondoso, que mora num palácio escondido dentro do Morro do Penedo.
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Certa vez, ao pé do Morro, uma pessoa ouviu a história do gênio, contada por um misterioso homem. O homem disse que de alguma forma, o bom gênio fora enclausurado no coração da montanha para assistir a todos os triunfos e amarguras da sua amada terra Espírito-Santense. Conheceu assim, as tribos primitivas que viviam nas florestas, a chegada dos lusitanos em seus navios, suas explorações, a caravela Glória trazendo um Donatário para dominar os índios. E aquele vulto misterioso assistiu as batalhas, as investidas dos franceses e holandeses, o cativeiro dos africanos e as missões jesuítas. Como um sentinela, preso na montanha, o gênio presenciou a tudo isso, enquanto implorava aos deuses que protegessem a Terra Capixaba. Todas as noites, quando as estrelas cintilavam, o homem voltava para continuar a contar, de onde havia parado, seu relato sincero e interessante. Com o passar do tempo, o ouvinte percebia cada vez mais que seu contador de histórias era o próprio gênio, que atingia seu limite de liberdade ali, aos pés do Morro. O Gênio alertou ao seu ouvinte, que se contasse a alguém sobre sua existência, jamais voltaria a vê-lo. Logo, o búzio encantado soltava as primeiras notas da melodia deliciosa e o vulto se afastava até desaparecer completamente na rocha.
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Pássaro de Fogo Há muito tempo atrás uma bela princesa e um jovem guerreiro de tribos inimigas se apaixonaram. A tribo da bela princesa ficava em Cariacica e a do jovem guerreiro, na Serra. A rivalidade aumentou ao saberem desse amor, e por isso uma divisão entre as terras das duas tribos foi feita, na tentativa de separá-los. Uma ave misteriosa decidiu ajudá-los, levandoos todos os dias ao topo de dois morros, de onde podiam se ver. De lá a Princesa de Cariacica cantava para o Guerreiro da Serra, que retribuia improvisando uma segunda voz à canção. Quando o Cacique descobriu o que a filha fazia, pediu para o pajé da tribo tomar uma providência. Ele e uma fada encontraram a solução e transformaram os apaixonados em pedra, lá mesmo onde estavam. O casal se elevou e assim, formaram dois montes lendários e imponentes: o Moxuara, em Cariacica, e o Mestre Álvaro, na Serra. A fada, entretanto, com pena daquele destino cruel, deu a eles uma noite de trégua do encantamento. Na passagem de São João, eles voltam à forma humana, e a ave transforma-se em bola de fogo, para ir de uma cidade à outra levando as mensagens e juras sinceras de amor. 10
O poço de Anchieta Os traços da passagem do Padre José de Anchieta pelo nosso estado são inesquecíveis. Um de seus feitos é contado através da seguinte lenda: A população de Reritiba, e suas vizinhanças sofriam com uma longa e terrível seca. As fontes e as bicas secavam rapidamente, aumentando a angústia de todos, perante a sede, que atormentava o povo e os animais. Até o rio estava mais fraco, enquanto o Sol, mais forte, secava as restingas e a vegetação. Decidiram procurar o Padre José de Anchieta para contar o que acontecia e pedir por água. Comovido diante daquele sofrimento, o missionário diz à multidão para elevar o pensamento com fé a Deus. Então Anchieta, de pé e concentrado, furou a terra com o seu cajado, e fez brotar uma água nutritiva e pura, que logo encheu o poço, aberto milagrosamente. Na Praia de Benevente, hoje cidade de Anchieta, continua a ser admirado o poço lendário, sempre querido dos habitantes do lugar. Dizem que quem beber dessa fonte se apaixona e jamais se esquece das Terras Capixabas.
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O Fantasma do Convento 12
Estavam os monges da Ordem de São Bento instalados em Vila Velha, quando receberam a visita de um irmão, de passagem. Em uma tarde o viajante resolveu dar uma volta, a fim de conhecer a terra e conversar com os moradores.Numa dessas conversas ouviu que na Ladeira do Convento havia uma pavorosa assombração, que seguia e atormentava quem quer que subisse depois das 18 horas. Resolveu desvendar o mistério e provar àquele povo inculto sua coragem. Ao anoitecer, tomou uma lanterna e começou a subida. Eis que espantoso vulto apareceu a certa distância atrás do rapaz, seguindo-o conforme subia. Na capela, o monge tentou tocar o sino para provar o êxito em sua aventura. Mas não conseguiu, pois a criatura avançou para cima do frade, que implorou o socorro da Virgem da Penha. De repente lhe veio uma força que o fez livrar-se do fantasma e conseguir tocar o sino. O monstro, enfurecido, o prendeu e o jogou pela janela. O frade se viu no ar cercado de anjos, que o receberam e levaram suavemente ao local onde esperavam os moradores da Vila, admirados de vêlo chegar tão rápido, quando ainda se ouviam as últimas vibrações do sino. Tudo o que conseguiu dizer foi que Nossa Senhora da Penha o havia salvo. 13
Glossário Cacique: Chefe da Tribo. Pajé: Líder espiritual e místico da Tribo. Lusitano: Português. Donatário: o que recebia, como doação, terras para as povoar e cultivar.
Goitacás: Grupo indígena que habitava o litoral do Espírito Santo.
Botocudos: como os portugueses chamavam várias tribos diferentes que usavam botoques (enfeites para lábios e orelhas).
Órdem de São Bento: ordem religiosa católica. Tupã: divindade manifestada pelo trovão. Jaci: lua. Iara: mãe d’água. Curupira: ser protetor das árvore e animais. Saci: ser travesso de uma perna. Rudá: divindade do amor. Capixaba: roça de milho. Pessoa que nasce no estado do Espírito Santo.
Espiga: haste que guarda os grãos, como o do trigo ou milho.
Búzio: espécie de concha que pode ser usada 14
como instrumento de sopro.
roteiros
Inventem, interpretem, usem a criatividade para dar vida as lendas que leram neste livreto!
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Capixaba Narrador (N); Ayra (A); Miguel (M); Conselheiro 1(C1); Conselheiro 2 (C2)
N - Chegou à Capitania do Espírito Santo um jovem português. Aqui, apaixonou-se por uma belíssima princesa. Mas ela já estava destinada a se casar. (Entra Miguel)
N - Enquanto o português, em um bosque, pensava em seu lar, a princesa Ayra nota o rapaz e se esconde. Curiosa sobre aquele estranho, resolve ir falar com ele.
A - Quem é voce? O que o traz a essa região? M - Venho de terras distantes, princesa. Me chamo Miguel.
A - Terras distantes? E o que tem lá? M - Ah, posso te contar grandes histórias do lugar de onde eu vim. Promete me encontrar aqui amanhã? (Ayra balança a cabeça afirmando e volta para a tribo)
N-
Eles passaram a se encontrar todas as noites, escondidos. Só sabiam pensar em quando iam se ver de novo. Desse amor nasceu uma criança diferente das outras da tribo da princesa. Tinha uma pele rosada, olhos azuis, cabelos louros e ondulados.
(Conselheiros sérios se aproximam de Ayra, com o bebê)
C1 - Ayra, o que está acontecendo? Essa criança não é nada parecida conosco!
C2 - Somos os sábios da aldeia e exigimos saber o que isso significa! Conte-nos!
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A - Não posso mais esconder! Eu amo o forasteiro que veio do outro lado do mar! E ele me ama também!
C1 - Isso é um absurdo! Não pode ficar assim! C2 - Vamos sacrificar essa menina, agora mesmo! A - O que há de errado com todos? Não deixarei isso jamais acontecer! Nunca! (Ayra sai de cena correndo. Entra Miguel)
C2 - Lá está o invasor! Perto da praia! Vamos matá-lo! (Os sábios vão até Miguel e o seguram. Miguel cai no chão. Sábios saem de cena. Volta Ayra)
A - Miguel! Não! O que eles fizeram? Não posso deixar que eles peguem minha filha!
N - Desolada, a índia embarcou com sua filha numa canoa e remou contra a fúria das ondas, até chegar a uma ilha misteriosa. Desembarcaram e adormeceram. (Entra Tupã, olha para a índia dormindo e para o público)
Tupã - Eu sou Tupã! Ouvi os pedidos dos seres mágicos que viram essa história! Todos pedem que eu ajude a princesa e sua filha. Já sei o que vou fazer! Vejo que ela chorou muito. Darei às lagrimas da princesa o dom de adubar a terra para que não passem fome.
N - Quando acordaram, viram que a terra ao redor delas já estava coberta de grama. E mais! Viram brotar caules finos. Em cima de cada um, brotou uma espiga com palhas douradas e pequenos grãos. Assim surgiu a primeira roça de milho do Espírito Santo. A primeira Capixaba.
N - Agora e eu minha filha teremos sempre alimento e abrigo nessas terras. E a palavra Capixaba será lembrada de forma muito especial.
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Juparanã Narrador (N); Kauã (K); Raoni (R); Chefe (C); Capitão (CP); Oficial 1 (O1); Oficial 2 (O2)
N – Há muito tempo atrás havia, às margens do Rio Doce, uma tribo forte de índios botocudos, que chamava o grande rio pelo nome de Uatu. Em uma manhã sentinelas dessa tribo estavam fazendo sua guarda perto de Uatu. (2 índios na margem do rio)
K – Está ouvindo esse som, Raoni? Parecem remadas subindo pelo Rio! R – Sim! Temos que avisar ao resto da tribo. Vem batalha por aí... (Entra em cena o Chefe da aldeia com outro guerreiro)
K – Grande Cacique! Temos um problema, estamos sendo invadidos!
C – Preparem-se para a batalha! N – Escondidos entre árvores, os guerreiros atiraram flechas contra as embarcações que se aproximavam. (Entram o Capitão e dois oficiais portugueses, como que em um barco)
N – Mas o som das armas inimigas deixou os índios curiosos. Suas ferramentas, barcos e homens eram diferentes de tudo o que já tinham visto. (Guerreiros abaixam as armas)
R – Quem será esse povo estranho? CP – Em frente! Pararemos para acampar em breve! (Europeus desembarcam e olham em volta)
O1 – Que terra deslumbrante. 18
O2 – Deve ser cheia de riquezas! N – Enquanto isso os botocudos se reúnem na aldeia e clamam por Tupã.
C – Acalmem-se! Atacaremos de madrugada e Tupã nos dará a vitória! (Índios pegam suas armas e vão de encontro aos inimigos. O rio separa os dois povos)
K – Está na hora. Atacar! (Europeus pegam suas armas para contra-atacar)
N – Os dois lados lutavam bravamente. Mas durante a batalha algo aconteceu. (Entra Uatu, fazendo muitos gestos)
Uatu – Eu sou o Grande Rio Uatu. Não permitirei que esses invasores saiam vitoriosos!
N – Uatu agitou suas águas e fez surgir uma ilha e uma barreira que formou um lago naquele local. R – Guerreiros! É a nossa chance! Uatu os prendeu num lago! Vamos furar os barcos e impedir que fujam! (Guerreiros entram no Rio e destroem o barco, à medida que os europeus vão caindo no chão derrotados)
K R – Vencemos! N – Ao fim da luta, já de manhã, um arco-íris pairou acima da lagoa recém-formada. Assim se formou a Lagoa Juparanã e a Ilha do Imperador. Dizem que esse lugar é encantado e que à meia noite os europeus voltam à vida, cantam canções e procuram pelo inimigo ao redor da ilha.
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quando o Penedo Falava Narrador (N); Gênio (G); Pessoa (P)
N – (Para o público) Bem vindos! Bem vindos ao Morro do Penedo! Sabe, antes dessas terras serem habitadas por qualquer povo, na calmaria do mar, ouvia-se a melodia de um Búzio encantado. O instrumento pertence a um Grande Gênio, que mora num palácio escondido dentro deste grande morro! O que será que aconteceu com ele? Vamos conhecer sua lenda ! (Sai narrador. Entra Gênio com búzio e fala com o público)
G – Eu costumava tocar meu búzio pacificamente, passeava pelo litoral e desfrutava da natureza. Mas algo terrível aconteceu comigo sem eu merecer! (Entra uma pessoa. Gênio coloca uma capa para se disfarçar e esconde rapidamente o búzio)
G – Venha ouvir! Venha saber! O que houve com o Grande Gênio que já viveu aqui!
P – O que aconteceu? Você sabe o que houve com ele? G – Sente-se e escute com atenção! (Pessoa senta no chão)
G – O bondoso gênio foi preso dentro deste morro sem nenhuma razão. Ele foi condenado a assistir todas as alegrias e tristezas dessa terra. O Gênio viu a chegada dos portugueses e sua guerra contra os índios. (Português e índio entram lutando atrás do gênio)
G – Eu vi .. ops, quer dizer.. Ele viu a exploração dos escravos e a chegada dos padres nas terras capixabas. (Saem português e índio. Entram um escravo trabalhando, seguido de um padre rezando, e saem de cena)
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P – Continue, por favor continue a história, senhor! G – Eu chorava! Quer dizer... O Gênio muito chorou ao ver coisas ruins acontecendo em seu lar, e implorou aos deuses que protegessem sua amada terra. P – (Para o público) Nossa! Do jeito que esse moço fala parece até que ele estava lá!
G – Ele presenciou toda a história do Espírito Santo. Agora, o Gênio tem um pouco mais de liberdade, mas não pode nunca sair de perto dos pés do Penedo.
P – Espere um pouco! Diga a verdade, homem misterioso. Você é o gênio da história, não é? (Gênio tira a capa, revelando seu búzio ao ouvinte)
G – Preste atenção no que irei dizer: Se contar para alguém quem sou eu, nunca mais ouvirá minhas histórias e não se lembrará de minha existência. Estamos entendidos? (Pessoa concorda com a cabeça)
G – Então até a próxima, meu caro ouvinte. (Pessoa e gênio saem de cena em lados opostos)
N – Dizem que o Gênio mora até hoje lá, no centro da montanha. Será que alguém aqui já ouviu sua linda música num dia tranquilo a beira mar na capital?
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Pássaro de Fogo Narrador (N); Cacique 1 (C1); Cacique 2 (C2); Princesa (P); Guerreiro (G); Pajé (PJ); Fada (F)
N – Há muito tempo uma princesa indígena de Cariacica e um bravo índio guerreiro da Serra se apaixonaram. Mas suas tribos eram inimigas e a raiva entre elas aumentou ao saber deste amor. (De lados opostos os caciques de cada tribo se encaram)
C1 – Não vou permitir que levem a princesa! C2 – Eu não quero levá-la! Ela deve ter lançado algum feitiço no meu filho para tentar nos derrotar!
C1 C2 – Não deixarei que eles se vejam de novo! (Pássaro entra em cena)
N – Um pássaro decidiu ajudar o casal, levando os dois, todos os dias, ao topo de dois montes de onde podiam se ver ao longe e cantar um para o outro.
P – Querido guerreiro, meus sentimentos não mudam mesmo com essa distância!
G – O meu amor pela princesa jamais se apagará! N – Mas o pai da princesa descobriu o que acontecia. (Entram o Cacique 1 e o Pajé)
C1 – Pajé, me ajude, minha filha não pode se apaixonar por um qualquer da Serra.
PJ – Entendo, Cacique, encontrarei uma solução. (Sai Cacique 1 e entra a fada)
PJ – Fada! Fada! Você precisa me ajudar! O amor desses dois deve ser proibido!
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F – Pode deixar, feiticeiro, transformarei os dois em pedra para que não possam mais se falar.
N – E assim fez a fada. Os amantes se elevaram formando então o monte Moxuara, em Cariacica e o Mestre Álvaro, na Serra. (Princesa e guerreiro parados como pedras)
N – Mas a fada se arrependeu desse ato. F – Não posso me tornar uma fada assim tão má. Vou lhes dar ao menos uma noite de trégua, para que possam mandar suas mensagens de amor.
N – Desde então, na passagem de São João, eles voltam à forma humana, e o pássaro amigo transforma-se em uma bola de fogo, levando as juras de amor de uma cidade à outra. (Princesa e guerreiro recuperam os movimentos. Ave vai de um lado a outro cochichando em seus ouvidos)
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O Poço de Anchieta Narrador (N); Morador 1 (M1); Morador 2 (M2); Padre José de Anchieta (A)
N – A passagem do Padre José de Anchieta pelo nosso estado é inesquecível. Seus milagres e conselhos são lembrados e passados de geração para geração até hoje. Houve um período em que o povo de Reritiba estava sofrendo com uma terrível seca.
M1 –
Há quanto tempo não chove! O rio está
secando e até a vegetação está morrendo!
M2 – Meu Deus, tenha misericórdia de nós! Nossa terra precisa de chuva.
N – Os moradores, então, decidem procurar pelo Padre José de Anchieta para explicar a situação. (Entra em cena o Padre e os moradores desesperados imploram sua ajuda)
M2 – Padre José, por favor nos ajude! Essa seca já dura muito tempo! Não temos mais como viver!
M1 – Por favor Padre, há algo que possamos fazer? A – Já sei o que fazer para ajudá-los. Tenham fé e mantenham seu pensamento em Deus!
N–
Anchieta então, bate seu cajado no solo, de onde brota uma água pura que logo enche o poço.
(Moradores emocionados comemoram a ajuda do Padre)
M1 M2 – É UM MILAGRE! N – Hoje na cidade de Anchieta o poço lendário continua a ser admirado e dizem que quem beber dessa fonte jamais se esquece das terras capixabas.
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O Fantasma do Convento Narrador (N); Pedro (P); Monge (M); Bento (B); José (J)
N – Em uma tarde monges beneditinos de Vila Velha receberam a visita de um irmão. (2 monges em rotina - entra Pedro com suas malas, se dirige à um deles)
P – Estou de passagem, vou passar algumas noites aqui. M – Bem-vindo, esse é seu quarto, sinta-se em casa N – Mais tarde o viajante deu uma volta para conhecer a vila e conversar com moradores (Moradores conversam ,Pedro observa-os e vai conversar com um deles)
P – Boa tarde, me chamo Pedro, muito bonita a cidade de vocês, não?
B – Seja bem vindo à Vila Velha, mas não se engane, e não vá a ladeira do convento, lá é assombrado!
J – Um fantasma atormenta quem sobe após as seis horas da tarde. (Pedro olha em seu relógio)
P – Já são quase seis da tarde, vou ao convento desbravar esse mistério (Pedro caminha até o convento, sua expressão é de medo)
N – Pedro sobe a ladeira, receioso e com medo, sem saber o que lhe aguarda.
P
– Descobrirei o que está acontecendo
(O fantasma persegue Pedro) (Pedro sente a presença do vulto)
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P – SOCORRO, Deus me proteja. (Chegando à capela, o vulto puxa a corda do sino, impedindo que seja tocado. Pedro tenta tocar o sino)
N – Pedro chega a capela e para provar que lá não havia nada tenta tocar o sino. P – (Avistando o vulto assustado)Ai meu Deus, era verdade. (o vulto agarra Pedro avançando para frente)
P – Minha Virgem da Penha, me ajude. N – De repente veio uma força que o fez livrar-se do fantasma e tocar o sino.
N – O vulto enfurecido, prendeu-o e o jogou pela janela (Entram em cena, anjos que caminham Pedro até a vila)
N – Os moradores, surpresos com a rapidez de Pedro, o recebem, e ele diz:
P – Fui salvo por Nossa Senhora da Penha.
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Dayana Seschini Nascimento Adaptação e Roteiros
Raisa Haig Gonçalves Ilustração
Rayana Avancini Flores Diagramação
As lendas desta publicação foram escritas com base no livro:
Lendas Capixabas de Maria Stella de Novaes. Consulte o livro para mais lendas. Você também pode ler copilações do livro Lendas Capixabas e outras informações sobre o Estado no site: www.morrodomoreno.com.br
ZPublicação: julho de 2016
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4ª capa
Apoio:
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