Revista Close

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CLOSE Na mira da câmera

Descubra as curiosidades por trás da fotografias de guerra

Fotografias de rua Aprenda a valorizar suas fotos tiradas durante o dia

Tendências

Saiba quais são as fotografias que estão em alta

Ícones

Conheças os novos destaques do universo fotográfico

R$ 22,00 Edição1

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Câmeras: diferença entre os tipos.

TECNOLOGIA

Fotos pelas lentes.

DICAS

Fotografia de rua.

FOTOGRAFIA DOCUMENTAL

Recorte da realidade

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Trash the dress, New Born e Boudoir.

PERFIL

Gioconda Rizzo.

CARREIRA

Profissão fotógrafo.

SÉRIE

Mulheres gordas e Dessert Ink


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ESPECIAL GUERRA Na mira da câmera

50 ÍCONES DA FOTOGRAFIA

Editorial

A

revista “Close” busca trazer conteúdos novos e diferentes para o público amante da fotografia. Nosso objetivo é fugir das temáticas tradicionais da área, apresentando tendências, projetos relevantes, cenário atual e profissionais destaque do setor. Pretendemos também reconstruir histórias e revelar os bastidores por trás de imagens reconhecidas pelo público. Para atingir esses objetivos, escolhemos apresentar uma revista com design leve e moderno, que possa cativar o leitor interessado por novidades e por curiosidades da fotografia. Assim, definimos alguns padrões para as editorias, como fio data, tipografia, tamanho das fontes e número de página. No entanto, concordamos que essa padronização poderiam não ser atendida em algumas partes da revista, que teriam layouts próprios para destacar o conteúdo apresentado, como é o caso da reportagem especial. Por causa desses layouts próprios, optamos por utilizar um grid com 7 colunas, uma vez que poderíamos jogar mais com as opções de número de colunas para o texto e tamanho das imagens. Assim, foi estabelecido que a letra utilizada ao longo do texto seria Minion Pro, 11, com entrelinha 12, justificado.


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CÂMERAS Diferenças entre os tipos Texto Adriano Hamaguch Fotografia Reprodução/Billy

Escolher uma câmera digital pode não ser uma tarefa tão simples. Entenda as diferenças entre os principais tipos de câmera e escolha a melhor opção para suas ideias e para seu bolso.

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Tecnologia

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ara facilitar a diferenciação, as próprias marcas criaram nomes para separar os modelos básicos dos modelos avançados. A Canon por exemplo, utiliza o nome PowerShot para os modelos mais básicos e a siga EOS para os modelos mais avançados. No caso da Nikon, a série COOLPIX identifica os modelos mais básicos, e a série “D”, os modelos mais avançados. Depois de compreender um pouco sobre a bagunça organizada da nomenclatura dada às séries, é importante ter em mente que não existe uma “câmera perfeita”. Mesmo que existisse, no próximo semestre seria lançada a “Perfeita 2.0”. Não é vantajoso adquirir lançamentos, a não ser que você esteja muito certo de sua decisão e o preço seja justo. Agora, entendendo as características e limitações de cada tipo de câmera, você conseguirá identificar qual categoria mais se encaixa no seu perfil: compacta, superzoom (“bridge”), mirrorless e DSLR.

O varejo tende a classificar modelos básicos como semiprofissionais, e qualquer câmera DSLR como profissional, para “agregar valor”. Já as lojas especializadas e fotógrafos profissionais, simplesmente as classifi-

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Superzoom As superzoom (ou bridge) têm “cara de profissional”, oferecem zoom poderoso e a possibilidade de ajustes manuais de velocidade, sensibilidade (ISO) e abertura. O formato do corpo da câmera permite que a ótica seja explorada de maneira semelhante às câmeras DSLR, mas claro, com várias limitações: lentes fixas, aberturas limitadas e sensores pequenos Como as lentes das superzoom são fixas, é preciso utilizar adapta-

dores e soluções improvisadas para obter cliques “diferentes”. Há adaptadores que “transformam” a lente fixa em “lente olho de peixe”, por exemplo, mas a qualidade não é a mesma de uma câmera DSLR com este tipo de lente. Alguns modelos possuem lentes com abertura máxima limitada, o que implica numa performance regular em ambientes escuros. Os modelos que oferecem grande abertura, como a f/2.8, fazem ótimos cliques


As superzoom ou "bridge", oferecem modo manual, sendo possível ajustar a câmera como nas DSLR

nesses ambientes, mesmo sem utilização do flash. A portabilidade das superzoom não é lá das melhores. Elas são menores que as DSLR, mas mesmo assim chamam a atenção, e carregá-las pode ser um pequeno incômodo para quem não está acostumado a andar com a “tralha fotográfica”. Vários modelos com boa resolução e zoom potente são encontrados por valores bem atrativos. Mas se o valor ultrapassar o valor de uma DSLR de entrada básica, recomendamos que

você avalie bem sua decisão.. Verifique as especificações da câmera e caso você pretenda se aprofundar na área de vídeo, opte por equipamentos que ofereçam modos de gravação com alta taxa de quadros por segundo “progressivo”, pois não há upgrade que possa resolver esta questão. Se você está certo de que quer levar a fotografia a sério, compre um bom equipamento e economize para adquirir novas lentes e acessórios que irão te ajudar a fotografar e filmar.

cam pelas suas principais características: compactas, DSLR, full-frame ou médio formato.Um equipamento para uso profissional é um equipamento mais robusto, que resistirá a condições climáticas adversas e ao uso intenso. Uma câmera básica provavelmente não resistiria muito tempo nas mãos de quem trabalha com fotografia 8 horas por dia.Câmera profissional ou não, quem comanda o clique é o fotógrafo. O que importa é alcançar seus objetivos, o conhecimento técnico, a vontade de aprender e a criatividade. câmera básica, da mesma maneira que um fotógrafo iniciante não se tornará um profissional gabaritado só por ter usado uma câmera avançada.

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Tecnologia

As câmeras DSLR de entradas são a melhor opção para fotógrafos iniciantes e entusiastas

DSLR As câmeras DSLR são as mais indicadas para quem deseja ingressar no mundo da fotografia manual. As versões mais básicas, também conhecidas como “de entrada”. A Canon EOS Rebel T3i por exemplo, é uma DSLR simples e possui excelente desempenho tanto na captura de imagens quanto em filmagem. Como ela é um modelo relativamente antigo, pode ser encontrada a preços mais acessíveis. As mais avançadas possuem sensores que ultrapassam a casa dos 50 mega pixels, mas obvia-

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mente são utilizadas para trabalhos específicos e são muito caras. Por isso, os modelos medianos com preços menos astronômicos, como a Nikon D800 e a D4S caíram no gosto dos fotógrafos profissionais. As câmeras DSLR são câmeras digitais (“D”) em que a imagem “enxergada” pelas lentes é exatamente a mesma vista no viewfinder, através do seu jogo de espelhos “Single Lens Reflex SLR” (ao pé da letra, “reflexo de uma única lente”). Apesar desta ser a definição correta do termo “DSLR”, muitas

pessoas associam a sigla à possibilidade de trocar a lente da câmera, mas isto não tem nada a ver. As câmeras que permitem troca de lentes, possuem o sistema de “lentes intercambiáveis”; câmeras DSLR são as que permitem ao usuário ver exatamente o que as lentes estão enxergando. Nas “não SLR”, em alguns casos o viewfinder é independente da lente. Em outros casos, como nas mirrorless e superzoom, a imagem exibida no visor LCD ou no próprio viewfinder é gerada eletronicamente.


Câmeras de ação As câmeras de ação possuem sistema de estabilização avançado, que resultam em vídeos menos tremidos, nas condições mais adversas. Também oferecem excelente velocidade, que permite capturar várias imagens por segundo em resolução máxima, geral filmes com altas taxas de quadros progressivos (60p ou mais) e torna cada quadro de seus vídeos bem nítidos. Elas são muito utilizadas em

esportes radicais, e por isso possuem boa resistência, boa portabilidade e uma série de acessórios e suportes para fixação, como a GoPro. Para ganhar em peso de performance, alguns modelos sacrificaram funcionalidades presentes em todas as câmeras digitais, como o monitor LCD para visualizar as imagens capturadas. O usuário pode adquirir um monitor para acoplar à câmera posteriormente (acessório op-

cional), mas com o tempo, se acostumar com a falta destes recursos. As câmeras de ação foi um formato bem aceito pelo público, e outras empresas também se aventuraram neste terreno e lançaram suas câmeras de ação, como as Sony Action Cam HDRAS15, Garmin VIRB Elite e AEE MagiCam S71. As possibilidades do equipamento também é um fator importante de ser profissional.

As câmeras de ação possuem sistema avançado de estabilização de imagem, portabilidade e são leves

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Tendências

Trash The Dress Por que deixar seu vestido de noiva estragando no armário? Texto Gabriela Metzker Foto Anderson Almeida

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ais que que um complemento às fotos do casamento, o Trash The Dress é um momento de descontração e cumplicidade do casal. Para a noiva é um momento mágico, se produzindo novamente como no dia do casamento, revivendo as emoções. A ideia de estragar o vestido de noiva parece impensável para você? Pois saiba que essa é uma tendência que está começando a se difundir pelo Brasil. O “Trash the Dress” é uma proposta de ensaio fotográfico de casamento em que não existe preocupação com o vestido. A noiva pode rolar na areia, entrar na água, deitar no chão, enfim, ficar bem à vontade para a sessão de fotos, que acontece dias depois da cerimônia ou da lua-de-mel. Pela tradução literal, “Trash the Dress”, de origem norte-americana, seria “jogar o vestido no lixo”, porém a versão da proposta adotada no Brasil não costuma ser radical ao ponto de não sobrar nada do modelito. “Somos mais flexíveis; a noiva não destrói o vestido, apenas não tem medo de sujar e molhar”, explica o fotógrafo Jared Windmüller, um dos primeiros a trabalhar com a tendência no Brasil. “Quer sujeira pior do que aquela da barra do vestido depois de arrastá-lo pelo salão?”, brinca o profissional de Florianópolis (SC). O trash the dress nada mais é que um ensaio fotográfico em cenários exóticos, sem medo ou preocupação de estragar ou sujar o vestido da noiva, a proposta desse ensaio fotográfico é realmente ousar. A idéia desse ensaio fotográfico exótico nasceu

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lá fora, onde as noivas começam a fazer ensaios em editoriais, sem nenhuma preocupação em estragar o seu vestido. Alguns ensaios internacionais apresentam até mesmo fotos mais radicais, porém aqui no Brasil o conceito é mais simples, apenas não ter medo de molhar ou sujar o vestido Evandro Rocha, fotógrafo que trabalha com o “Trash the Dress” no interior de São Paulo, também acredita que o ensaio agride menos o vestido do que a própria festa e garante que é possível fazer as fotos com vestido alugado. “Dá impressão que vai destruir a roupa, mas na prática não é isso o que acontece”, diz o profissional. Uma das clientes de Rocha assina embaixo: “Meu vestido ficou bem sujo porque a água da cachoeira onde fotografamos tinha muito barro, mas nada que o sistema de lavagem não resolvesse”, conta Karina Ferreira Castilho, de São José do Rio Preto (SP). Ela diz que a loja onde alugou o vestido sabia do ensaio e inclusive a autorizou a ficar com a peça por mais tempo, pois o “Trash the Dress” foi realizado quase um mês depois do casamento. No entanto, Anderson Miranda, fotógrafo pioneiro no estilo no Brasil, esclarece que muitas vezes os estabelecimentos de locação não simpatizam com a proposta, já que não existe garantia de que a peça voltará perfeita. “A ideia do ensaio é colocar o vestido em risco. A noiva não pode se preocupar com isso; ela tem que desencanar”, explica. Porém Miranda também acredita que a festa pode ser muito mais “destrutiva” que a própria sessão fotográfica.


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O “Trash the Dress” exige uma certa ousadia tanto da noiva quanto do noivo, que também participa das fotos com a roupa usada no casamento, por isso quem topa fazer o ensaio precisa estar disposto a se soltar. “O resultado depende muito do casal, da empolgação”. “É preciso driblar a tensão, a insegurança e a timidez do casal, transformando a sessão fotográfica numa grande diversão”, afirma Anderson Miranda, que realizou o primeiro ensaio “Trash the Dress” no Brasil em agosto de 2008, depois de estudar o conceito nos Estados Unidos. O objetivo do ensaio é a descontração, demonstrar a cumplicidade do casal, então vale a pena ressaltar, as noivas não precisam se preocupar com o vestido com medo de sujar, molhar ou rasgar, pois a idéia é justamente essa. Claro que aqui no Brasil, os vestidos muitas vezes não são comprados e sim alugados, o que pode dificultar esta prática. O local escolhido para o ensaio deve permitir, de preferência, ambientes variados e inusitados. Uma praia com mata, por exemplo, ou uma fábrica abandonada com um lago por perto. Na opinião de Evandro Rocha,

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as fotos devem ter uma atmosfera obscura, por isso é importante utilizar iluminação e filtros adequados, bem como escolher um cenário exótico e fora do convencional. “Não é legal fazer num lugar bonitinho. Um bosque com flores coloridas e cerquinha de fazenda não serve. O melhor é no mato, com árvores caídas, folhas secas”, explica o fotógrafo. Quem prefere um ensaio mais delicado ou não quer molhar o vestido pode aderir a uma versão “mais light”: o “The Day After”. Segundo o fotógrafo El Grego, que mora há cinco anos no Brasil, esse estilo é muito comum na Europa. “No ‘Trash the Dress’ americano, a noiva destrói o vestido, mas com glamour, num ambiente dramático e com água. Já no ‘The Day After’, o casal é fotografado depois do casamento num local que combine com seu estilo”, diz o profissional. El Grego revela que procurou juntar essas duas tendências no Rio de Janeiro, fazendo fotos tanto na praia (sem a necessidade de entrar no mar) quanto em locais alternativos, como embaixo do túnel ou na favela Quem topar fazer este ensaio terá que estar disposto a se soltar e se divertir diante das fotos.


Anderson Miranda: o editorial pós-casamento Even More: quando você entrou em contato pela primeira vez com este tipo de ensaio? Anderson Miranda: Eu acompanhava – e continuo acompanhando – bastantes fotógrafos, principalmente americanos. Em 2007 vi um vídeo de um estúdio chamado Del Sol Photografy, do Mac Adock, sobre um ensaio que ele fez, com cenas de bastidores, na Riviera Maya, no México, e ele chamou isso de thash the dress. Então, com o nome específico, esse foi o primeiro contato. Eu alucinei na ideia com os milhares de possibilidades, porque ele fez em caverna, fez em rio. E eu falei “nossa, eu quero fazer isso aqui”. Eu morava em Florianópolis, onde tem muita praia, natureza, então tinha tudo a ver. EM: Como foi o primeiro ensaio? A.M.: Eu fiz uma proposta para uma noiva, em 2008, e ela aceitou. Acabou sendo minha primeira cobaia. Eu cheguei para ela e contei da possibilidade, nem mostrei nada, apenas falei: vamos fazer um ensaio depois do casamento na cachoeira, ou numa praia? E ela curtiu muito a ideia. E tinha que ser uma noiva mais ousada, mais maluca para aceitar no começo. EM: Existem características específicas para realização desse tipo de ensaio, ou é bastante aberto e vai de acordo com a criatividade? A.M.: A proposta é ir a lugares inusitados, em que a noiva não iria com seu vestido de casamento. Os exemplos vão de deitar num gramado, até ir a um ferro-velho cheio de poeira. Acho que é muito mais a questão do impacto, o contraste, entre o branco da pureza e a sujeira. Mas, para mim, tem que ser algo com contexto, tem que ter a ver com a história do casal. Dá pra fazer em qualquer lugar, mas a pegada da foto tem que ser mais ousada.

EM: A água é elemento fundamental para a sessão, ou dá pra fazer “no seco”? A.M.: A água com certeza é muito impactante, é mais fácil atingir o resultado, mas não é necessária. Fiz um em Roma, que foi quase um editorial na cidade, só que a noiva deitou no chão, fomos pros arredores em um campo de trigo, ela entrou; até queria fazer com que ela entrasse na Fontana (di Trevi) – risos - mas tinha tanta gente também que a polícia interviria, com certeza. Eu particularmente gosto quando tem água, mas não precisa. EM: Você acha que existe um prazo para as noivas buscarem esse ensaio? Como um tempo para desapegar do vestido? A.M.: Depende muito, tem noiva que volta da lua-de-mel e faz. Tem quem faça na própria lua-de-mel. Ou depois de um ano. Eu acredito que a data está mais relacionada com o tempo prático da vida do casal do que com a questão de desapego. Mais uma questão de agenda. EM: E você acredita que o modelo de trash chegou ao seu limite, ou ainda há espaço para inovação? A.M.: O trash na realidade é apenas um das modalidades dos ensaios póscasamento. Então a inovação estão em outros tipos de ensaio. Existem vários outros, até com a proposta oposta (cherish the dress), que procuram ambientes mais luxuosos. Mas acho que a grande questão em fazer qualquer um desses tipos de ensaio é a possibilidade de reviver aquele sentimento do casamento. Tantos noivos reclamam que passa tudo tão rápido, que o ensaio acaba sendo uma oportunidade de se vestir novamente, se maquiar novamente, realmente aproveitar um pouco mais.

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Tendências

NewBorn Sessões com recém-nascidos requerem cuidado e nem sempre são aprovadas pelo pediatra

Texto Luíza Tenente Fotografias Gisele Fap e Carla Durante

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bebê nasce e a mãe olha para o rosto dele pela primeira vez. Dali para frente, a cada dia, as feições vão mudando, as roupinhas ficam pequenas... Você tem vontade de registrar esses momentos? Algumas mães optam por fazer um álbum de fotos do recém-nascido – conhecido como ensaio newborn (recém-nascido, em português). Em geral, as sessões de foto profissionais duram de 4 a 6 horas e são feitas quando o bebê tem de 5 a 12 dias de vida. Nesse período, é esperado, portanto, que o recém-nascido chore por causa da fome ou esteja indisposto no dia marcado. A fotógrafa Gisele Fap, de São Caetano (SP), especializada na área de newborn, conta que é preciso ter paciência e respeito em relação ao bebê. “Se ele estiver se sentindo mal, remarco a sessão para dali a dois dias”, conta. Foi Gisele, aliás, quem fotografou os primeiros momentos de Bruna, filha da atriz Nívea Stelmann. Segundo a fotógrafa, a rotina da bebê não foi alterada durante a manhã das fotos: “A menina mamou, fez xixi e cocô”, diz. Esse tipo de imprevisto também ocorreu no ensaio de Kiara e Maya, as gêmeas da ex-miss Brasil Natália Guimarães e do cantor Leandro, do KLB. A fotógrafa Kátia Rocha, que registrou as imagens, relata que preparou as bebês na pose desejada. “Quando tudo esta-

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va pronto, uma das meninas fez cocô. Paramos para que ela fosse trocada e se sentisse bem. Logo na sequência, foi a vez da outra gêmea ter dor de barriga”, conta. “A mãe fica nervosa, mas nós já estamos acostumadas com isso.” Para tentar fazer com que os recém-nascidos se sintam mais confortáveis no estúdio, os fotógrafos costumam usar um aquecedor de ambiente para evitar que eles sintam frio, já que, em geral, são clicados sem roupa, só cobertos com uma manta. Gisele Fap prefere enrolá-los nas cobertas, para que entendam que estão sendo abraçados e se sintam seguros. “Uso também um equipamento capaz de produzir o mesmo som que eles escutam no útero da mãe. Assim, ficam mais tranquilos”, diz. É claro que o preparo também precisa envolver a estética das fotos. Além de combinar as mantas com a touquinha, há hoje roupas específicas para recém-nascidos usarem nas sessões – os suspensórios são uma novidade do mercado. Outra tendência do newborn é decorar o estúdio com fuxicos. Eles ficam em sintonia com os pufes e os tapetes de textura que completam o cenário. Normalmente, todo o figurino e os acessórios das sessões são produzidos pelo fotógrafo – mas é claro que, caso você queira levar o ursinho do seu filho ou vesti-lo de determinada forma, pode dar um toque pessoal ao preparo da imagem.


Quando a sessão é feita com mais de um recém-nascido, a atenção deve ser dobrada

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O que os médicos dizem sobre isso...

WW

Se você não vê a hora de o seu filho nascer para marcar um ensaio newborn, vale conversar com o médico da criança e perguntar a opinião dele. O pediatra Luiz Valério, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), entende que as lembranças sejam especiais e que o resultado das fotos realmente seja bonito. No entanto, alerta para o desconforto de expor um bebê tão novo a uma experiência como essa. “Há poucos dias, a criança estava no útero, sem frio, sem fome e praticamente sem barulho. O nascimento já é uma transição grande. E deixar seu filho sem roupa por algumas horas pode aumentar a insegurança dele”, afirma. A climatização do estúdio, apesar de aliviar a aflição do bebê, é artificial e incomoda um ser ainda tão frágil, reforça o especialista. “Muitas mães programam a sessão de fotos do seu bebê recém-nascido desde o pré-natal. Recomendo que isto seja feito em um momento calmo, quando a família já está tranquila. Os pais têm que estar habituados, seguros, para evitar o stress deles e principalmente do bebê”, afirma o pediatra Adalberto Stape. Ele sugere que ensaios do tipo sejam feitos a partir da 2a semana, assim o pequeno ainda tem o rostinho de recém-nascido e os pais já tiveram um tempo para adaptar-se a nova rotina. Sobre os cuidados a serem tomados durante os chamados ensaios newborn (recém-nascido), o médico especialista ressalta a questão da higiene – o fotógrafo deve esterilizar os equipamentos, assim como as superfícies onde o bebê poderá ser instalado. Especialmente em épocas de muito frio ou calor, é necessário estar atento à climatização do ambiente. Também faz-se necessário o bom senso no uso do flash, que não deve ser direcionado para o rosto do bebê. “Recomendo isso inclusive para os pais

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no dia-a-dia, quando vão fotografar seus filhos pequenos. Não é saudável ficar mirando o flash no rostinho diversas vezes, pois pode ocasionar uma sobrecarga da retina. Dê preferência a luz do ambiente ou natural”. Outro cuidado importante se refere às poses em que o fotógrafo coloca a criança. É importante que o profissional tenha consciência de que a flexibilidade de um recém-nascido não pode ser explorada só para um resultado diferente na imagem. Por isso, se você acha fofa aquela foto em que o recém-nascido aparece segurando a cabecinha com as próprias mãos, um alerta! É uma posição prejudicial à saúde. “Nessa idade, o peso da cabeça representa mais de um terço do peso total. E a musculatura da região do pescoço ainda é frágil e não está pronta para a sustentação”, explica Valério. Wylma Hossaka, pediatra do Hospital Beneficência Portuguesa (SP), também não recomenda que o bebê seja submetido ao ensaio fotográfico tão cedo assim. “Um recém-nascido vive uma fase de adaptação, e a mulher também está mais frágil e se recuperando, em alguns casos, de uma cesárea. Por isso, a prioridade deve ser o cuidado com o bebê, como a frequência das mamadas, e com ela”, completa. E não se esqueça de fotos mais fechadas, como das mãozinhas e pezinhos do seu filho. Caso você converse com o pediatra e conclua que quer fazer o ensaio newborn, escolha um fotógrafo com referências, que faça parte da Associação Brasileira de Fotógrafos de RecémNascidos (ABFRN). Workshops e cursos instruem as formas corretas para higienizar as roupas do bebê, manuseálo com cuidado, preparar iluminação adequada e ter paciência ao lidar com a família. O preço médio do ensaio e do álbum é de R$ 1.700.


OPINIÃO

Apesar do newborn ser a nova febre entre os papais, essas fotos requerem preparo e delicadeza.

Arquivo Pessoal

Carla Durante Fotógrafa de recém-nascidos

Faça de coração ou não faça “A fotografia de bebês recém-nascidos atrai olhares e suspiros das mamães e futuras mamães de forma mágica e contagiante através das redes sociais na internet e do boca a boca, duas formas simples, espontâneas e bastante eficazes de propaganda. Ora, se já temos um cliente atraído por esse produto (mamães apaixonadas, emocionadas e corujas, dispostas a comprar tão lindas imagens de seus bebês), é uma consequência natural que o segmento atraia também pessoas (fotógrafos ou não) interessadas em aproveitar esse novo filão no mercado. Sim, essa é uma área promissora e está em plena expansão! Em países como EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, o “newborn” já é bem conhecido e tem um mercado grande e seguro. Aqui no Brasil, estamos apenas começando. Mas, apesar do pouco tempo de existência, a fotografia newborn não está apenas engatinhando. Ao contrário, ela dá passos largos e quase corre como uma criança feliz que cresce saudável – mas que tem ainda muita coisa a aprender! Diferente de outros segmentos da fotografia, o newborn exige um lado humano (e daí dizemos, faça de coração), com cuidados que devem inclusive pecar pelo excesso, que transcendem e sobrepõem os conhecimentos técnicos de fotografia. Tanto por lidar com os bebês, criaturas frágeis e indefesas, como com as mães, que ainda estão num estado de graça e muito sensíveis por terem gerado uma nova vida. Cada bebezinho que chega ao mundo é uma benção. Um verdadeiro milagre. É preciso ter sensibilidade para entender e respeitar esse momento tão mágico e sublime.” Edição 01 / 2015 Close 21


Tendências

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Boudoir

A diferença está nos detalhes

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asce o “boudoir”. Sua diferença para o ensaio sensual clássico está principalmente na aura romântica que o envolve. “Algumas pessoas rotulam o ensaio boudoir como sendo o ensaio sensual de noivas, mas não é bem assim”, explica Kelly Oliveira, de 25 anos, fotógrafa carioca que atua em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. “Na realidade, o boudoir seria o ensaio sensual de uma forma mais romântica, com certo ar ‘vintage’, dando muita ênfase aos detalhes e não necessariamente ao corpo”, classifica. A palavra, francesa, foi usada originalmente para designar os quartos que as mulheres usavam para se vestir no século 19, ou ainda a penteadeira (ela diz que há divergências na tradução), por

Texto Alcides Mafra Fotografia iphotochannel

isso o ensaio remete ao momento em que a mulher está se arrumando, e por aí temos a associação com as noivas. “De fato, as noivas se encantam muito com a possibilidade de ter esse ensaio e presentear o futuro marido com uma revista onde ela é a capa e todo o conteúdo interno”, concede a fotógrafa. “Como eu também trabalho com casamentos, o bacana é que, no momento em que algumas pessoas têm que deixar o quarto para que a noiva se arrume, eu permaneço e, nesse caso, o ensaio boudoir é feito com a noiva se preparando para o seu futuro marido. Por conta dessa possibilidade, as noivas costumam abraçar mais facilmente a ideia”, constata, destacando que, embora ainda pouco explorado por aqui, o boudoir está em alta.

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Kelly fotografa profissionalmente há quatro anos. Como desde o início manifestou interesse em fazer ensaios sensuais, foi em busca de uma linguagem que se encaixasse melhor no seu estilo, um pouco mais sutil, de abordar o tema. Foi assim que descobriu o boudoir. Na época, ela trabalhava em São José do Rio Preto (SP). Divulgando o trabalho num site, foi logo conseguindo clientes. “Voltei a morar no Rio e desde então tenho crescido e apresentado a ideia por aqui”, informa. Ideia que é baseada no uso intensivo das rendas, joias e outros acessórios. E na escolha do cenário. Kelly utiliza vários: pousadas, motéis, a casa dos clientes ou mesmo externas. A opção dependerá de uma conversa prévia, na qual as preferências da cliente (inclusive gosto musical) estarão em pauta: “O começo do ensaio geralmente é para nos conhecermos melhor, portanto brinco bastante, elogio cada coisa bacana no corpo e, conforme, eu for descobrindo, vou dando dicas de como ela fica mais bonita, ou o que fazer pra arrancar um suspiro maior do marido, e isso traz mais confiança a ela. Mostro uma ou outra fotografia do ensaio, para que ela veja como é linda e como realmente está arrasando”, detalha a carioca, cujo repertório inclui algumas piadas para obter sorrisos mais facilmente. “A direção [da modelo] acontece de uma forma mais natural que parece, pois meu objetivo é que não tenhamos muitas poses feitas. É como se eu fosse um vouyer e, nesse caso, são poucos os momentos em que elas olham pra mim. Quando as coloco em alguma posição, é entre um movimento e outro que sai a foto perfeita. É o que ela desenvolve nessa posição que traz a perfeição”, considera Kelly, que coloca a música para tocar, dança e brinca para deixar

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a sessão a mais descontraída possível. “Ao final do ensaio, quando elas me olham, já me olham como modelos”, garante. A sessão é feita sempre que possível sob luz ambiente. Quando necessário, Kelly recorre a um flash dedicado fora da câmera. “Tenho aqueles mini acessórios que fazem as vezes de acessórios de estúdio, como o mini softbox, por exemplo. Mas priorizo ao máximo a luz natural, ressaltando alguma coisa ou outra com o rebatedor”. Sua lente de trabalho é uma 50 milímetros: “Uso também uma tele, mas a ‘cinquentinha’ é ótima. Por toda a sua claridade e seu desfoque, faz toda a diferença”. Talvez a ousadia não seja exatamente uma marca do boudoir, embora Kelly mesma já tenha feito alguns que descambaram para o nu. Segundo ela, interessa mais “brincar” de esconder e mostrar. Daí a importância de se focar nos detalhes, de se obter enquadramentos fechados. O ângulo é a chave para o ensaio ficar de bom gosto e sutil, acredita: “Me posiciono de forma a pegar ângulos que ressaltem a beleza e a sensualidade dela sem ser invasiva. Tenho fotos perfeitas em que nem mostro o rosto da modelo, em que a composição da pose e o foco em detalhes bem femininos é que deram a sensualidade”. Isso reforça a importância de não se perder de foco a sensibilidade. São mulheres muito diferentes, mas cheias de expectativas, que se submetem ao olhar do fotógrafo. Com isso, vale atentar ao conselho final de Kelly: “Enxergue a beleza que cada mulher tem, pois temos mulheres magrinhas, gordinhas, longas, baixas, a questão é o que as fazem ser diferentes das outras magrinhas, gordinhas… Cada uma tem o seu diferencial e isso é que as tornam tão especiais”.


Katia Cerdan Fotógrafa especializada em ensaio sensual

Arquivo Pessoal

OPINIÃO

Criatividade... Já parou para pensar porque algumas fotografias nos encantam, enquanto outras são apenas meros registros de uma cena? A diferença costuma estar num conjunto de caracteristicas comumente chamadas de o olhar fotográfico, e que nada mais é que a união da capacidade do fotógrafo de registrar adequadamente a luz, e consequentemente as sombras, com a criatividade e sensibilidade para encontrar o melhor enquadramento daquilo que se deseja eternizar através da fotografia. Independentemente do tema o olhar fotográfico é quem faz toda a diferença! Uma foto sensual não precisa revelar todas as formas da mulher, basta sugeri-las, e para chegar a um resultado muito mais elegante é necessário observar a luz e configurar a máquina para que as sombras fiquem evidenciadas. Não é necessário ser uma super-modelo para poder fazer parte de um ensaio boudoir, pois a iluminação adequada oculta as imperfeições e ressalta as qualidades permitindo obter belas e sensuais fotos mesmo sem ter um corpo em forma. Toda mulher, independentemente de seus atrativos, pode se tornar linda, para isso só é necessário vontade e disposição para ousar e descobrir que qualquer mulher, não importa a idade, se transforma em uma musa capaz de atiçar o imáginário masculino através dos ensaios boudoir. Entretanto, observe que, não se pode prescindir de um profissional com um bom olhar fotográfico, o que implica não só num bom dominio das técnicas de iluminação e habilidade no controle de todo o equipamento, mas também uma boa dose de criatividade e sensibilidade... Quando se fala em criatividade, não se está referindo apenas a escolha do cenário ou da pose para a foto o que sem duvida é muito importante, pois os cenários, juntamente com os acessórios, ajudam a compor o clima que se deseja para a foto, já as poses por sua vez podem ocultar pequenas imperfeições e ajudar na valorização dos melhores atributos de cada mulher, quer seja um rosto bonito, um olhar marcante, formas voluptuosas, um corpo bem definido, e até mesmo uma atitude mais sexy. Essa sensibilidade para encontrar um ponto de equilíbrio entre a ousadia e o recato numa foto sensual, sugerindo muito mais do que revelando, é outro ponto muito importante do conjunto de habilidades que compõe o olhar fotográfico, e é necessário para fugir da vulgaridade permitindo produzir um ensaio boudoir capaz de ajudar a mulher a sentir-se sensual e orgulhosa de si mesma, facilitando assim a recuperação ou/o2015 aumento Edição 01 Close 25 de sua auto-estima e confiança


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Fotos pelas lentes

Texto Lucas Novaes Fotografias Romulo Lubacheskyw

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s lentes 50mm são umas das mais populares entre os fotógrafos, mas, na parte técnica, qual a diferença entre os vários tipos dessas objetivas existentes no mercado? Para começar, a diferença obvia é a abertura (variando entre f/1.2, f/1.4 e f/1.8). Quanto maior a abertura, mais luz entra pela objetiva e menor é a profundidade de campo do foco. A possibilidade de abrir o diafragma até 1.2 é muito conveniente para fotografar em condições de pouca luz, diminuindo assim a necessidade de aumentar muito o ISO. Mas apesar de óbvia, a diferença mais significativa não é esta: Para começar, a diferença obvia é a abertura (variando entre f/1.2, f/1.4 e f/1.8). Quanto maior a abertura, mais luz entra pela objetiva e menor é a profundidade de campo do foco. A possibilidade de abrir o diafragma até 1.2 é muito conveniente para fotografar em condições de pouca luz, diminuindo assim a necessidade de aumentar muito o ISO. Mas apesar de óbvia, a diferença mais significativa não é esta.

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Como é uma lente fixa, a 50mm faz com que o fotógrafo tenha que se mexer muito e tentar novos ângulos. Com o avanço da tecnologia e a melhoria na lentes com zoom, nós nos tornamos mais dependentes dessas lentes por sua conveniência. Não há nada de errado com isso, especialmente em casamentos, esportes, ou outros eventos onde trocar de lente com frequencia acaba não sendo muito viável. Entretanto, eu acho que estas objetivas nos transformam em fotógrafos preguiçosos. Ao invés de caminha alguns passos para conseguir o enquadramento desejado, nós simplesmente damos um zoom. Mas e se o angulo de visão dois metros mais perto ou longe fosse melhor? Ao usar uma lente fixa temos que nos mexer, e isso nos faz pensar mais sobre a composição antes de disparar, o que provavelmente em fotos melhores. Ela ser fixa significa que não tem zoom, ou seja, dálhe movimentação na hora de fotografar, passinhos pra frente

e pra trás são indispensáveis na busca do ângulo desejado. Claro porque podemos encontrála em 3 tipos de aberturas máximas de diafragma: f/1.8, f/1.4 e f/1.2. Em qualquer um dos modelos disponíveis, ela dá um resultado espetacular de desfoque. Quanto menor o número do diafragma, maior é a abertura e maior é o desfoque (falei mais disso aqui). Ou seja, com ela temos um muito controle sobre a profundidade de campo e conseguimos um excelente resultado em ambientes com pouca luminosidade. Se pegarmos 3 fotos diferentes, tiradas cada com uma 50mm f/1.2 , f/1.4 e f/1.8, a diferença entre elas será quase imperceptível. Porém existem grandes diferenças na qualidade dos materiais usados na construção de cada uma das lentes, o que reflete também na sua durabilidade. Uma lente barata porque tem um preço acessível para maioria das pessoas que querem investir um pouquinho em lentes. Ela pode ser encontrada a partir de R$350,00 com abertura f/1.8.


Principais lentes As lentes top de linha tem proteção contra umidade e poeira, são feitas para funcionar mesmo em condições extremas de tempo e temperatura. Sem entrar em detalhes técnicos, cada lente é um pouco melhor do que a anterior na qualidade e nitidez da imagem que conseguem produzir, as mais caras também são bastante silen-

ciosas ao focar e podem ser usadas sem o perigo de causar ruídos na captação do som em vídeos. Outro fator importante que muita gente não conhece é a diferença entre o número e formato das lâminas de abertura do diafragma. Na foto acima o diafragma da esquerda possui um maior numero de lâminas e geram uma

abertura bem circular, já o do lado direito possui menos lâminas e as mesmas não menos curvas, formando uma abertura hexagonal. São essas lâminas, que ao abrir e fechar dão o tamanho da abertura do diafragma da câmera. Quanto mais lâminas, mais suave será o Bokeh e o desfoque da foto. Confira os principais modelos:

Canon EF 50mm f/1.8 II

Canon EF 50mm f/1.4 USM

Canon EF 50mm f/1.2 USM

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Não Zoom: Não Menor Distância Focal: 50 mm Maior Distância Focal: 50 mm Maior Abertura: f/1.8 Menor Abertura: f/22.0 Estabilizador: Não Elementos: 6 Grupos: 5 Lâminas: 5 Diâmetro do filtro: 52mm Comprimento: 4.06 cm Peso: 135 gramas Lançamento: 1990

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Sim Zoom: Não Menor Distância Focal: 50 mm Maior Distância Focal: 50 mm Maior Abertura: f/1.4 Menor Abertura: f/22.0 Estabilizador: Não Elementos: 7 Grupos: 6 Lâminas: 8 Diâmetro do filtro: 58mm Comprimento: 5.08 cm Peso: 289 gramas Lançamento: 1993

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Sim Zoom: Não Menor Distância Focal: 50 mm Maior Distância Focal: 50 mm Maior Abertura: f/1.2 Menor Abertura: f/22.0 Estabilizador: Não Elementos: 8 Grupos: 6 Lâminas: 8 Diâmetro do filtro: 72mm Comprimento: 6,6 cm Peso: 544 gramas Lançamento: 2006

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Nikon 50mm f/1.4 D

Nikon 50mm f/1.8 D

Nikon 50mm f/1.4 G

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Sim Maior Abertura: f/1.4 Menor Abertura: f/16.0 Estabilizador: Não Elementos: 8 Grupos: 7 Lâminas: 9 Diâmetro do filtro: 58mm Comprimento: 5.33 cm Peso: 280 gramas Lançamento: 2009

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Sim Maior Abertura: f/1.8 Menor Abertura: f/16.0 Estabilizador: Não Elementos: 7 Grupos: 6 Lâminas: 7 Diâmetro do filtro: 58mm Comprimento: 5.33 cm Peso: 187 gramas Lançamento: 2011

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Não Maior Abertura: f/1.4 Menor Abertura: f/16.0 Estabilizador: Não Elementos: 7 Grupos: 6 Lâminas: 7 Diâmetro do filtro: 52mm Comprimento: 4,30 cm Peso: 229 gramas Lançamento: 1995

Nikon 50mm f/1.8 G

Sigma 50mm f/1.4 EX DG HSM

Sigma 50mm f/1.4 DG HSM Art

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Não Maior Abertura: f/1.8 Menor Abertura: f/22.0 Estabilizador: Não Elementos: 6 Grupos: 5 Lâminas: 7 Diâmetro do filtro: 52mm Comprimento: 3,80 cm Peso: 155 gramas Lançamento: 2008

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Sim Maior Abertura: f/1.4 Menor Abertura: f/16.0 Elementos: 8 Grupos: 6 Lâminas: 9 Diâmetro do filtro: 77 mm Comprimento: 8,45 cm Peso: 505 gramas Lançamento: 2008

Foco Automático: Sim AF Silencioso: Sim Maior Abertura: f/1.4 Menor Abertura: f/16.0 Elementos: 13 Grupos: 8 Lâminas: 9 Diâmetro do filtro: 77 mm Comprimento: 8,64 cm Peso: 815 gramas Lançamento: 2014

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Perfil

Gioconda Conheça a primeira mulher fotógrafa brasileira, mesmo em um período dominado pelos homens

Texto Jornal Mulier Fotografia Angela Prada

N

o Brasil do início do século XX, cabiam às mulheres, esposas e filhas de fotógrafos, apenas o trabalho de laboratório, acabamento e fotopintura. A pioneira foi Gioconda Rizzo, a primeira mulher a ter a autoria de seus trabalhos reconhecida. Aos 15 anos, já tirava e revelava fotos escondida do pai, o fotógrafo italiano Michelle Rizzo, mas este logo reconheceu o talento da filha e montou um estúdio para ela, o Photo Femina, em 1914. Michelle Rizzo atendia pessoas importantes, famílias tradicionais e fotografava formaturas, mas a filha ganhou clientela própria por sua ousadia em retratar, surpreendendo logo quando fez sua estréia na profissão. “Gioconda enquadrou apenas os ombros e o rosto, quando ainda era comum entre os fotógrafos retratar as pessoas de corpo inteiro, em pé ou sentadas. A atitude ousada de Gioconda rompeu com os padrões da época e chamou a atenção das damas da alta sociedade paulistana. Em pouco tempo, ela ganhou fama e clientela própria”, conta André Lima. Tornando-se a primeira mulher a atuar profissionalmente na cidade

de São Paulo, atendendo senhoras e crianças, preferencialmente as primeiras, pois as segundas davam muito trabalho, nunca homens, uma imposição do pai. Toda a produção fotográfica era feita por ela, lançando moda na cidade, com o uso de véus, ombros à mostra e adornos de flores na composição dos retratos, não optando por fotografias de corpo inteiro, criando novos ângulos e ressaltando a expressão do rosto. Com isso, revelava a sensualidade feminina em mulheres que nem sabiam que eram sensuais. No entanto, o estúdio de Gioconda teve que fechar as portas, levando-a a trabalhar novamente com o pai, quando o irmão mais velho percebeu entre as clientes a presença de cortesãs francesas e polonesas. Diante de uma sociedade rígida em seus costumes, Gioconda não teve escolhas, embora tenha continuado seu trabalho pioneiro, posteriormente aprendendo novas técnicas de fotografia sobre porcelanas e objetos como joias e enfeites. Gioconda Rizzo viveu até os 107 anos, morrendo em 2004, lúcida e com ótima memória, capaz de lembrar detalhes de como foram feitos seus retratos.

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Perfil

Gioconda por André

Em “O Retrato da Ousadia”, André Lima afirma que no início do século XX a única exceção no mundo eminentemente masculino da fotografia era Gioconda Rizzo “Ver as fotografias de Gioconda Rizzo‚ a primeira fotógrafa brasileira‚ vale mais do que mil palavras. Mas conversar com esta elegante senhora de 105 anos‚ completados no dia 18 de abril‚ é uma experiência tão rica quanto apreciar os retratos feitos por ela no início do século 20, e ouvir curiosas histórias do tempo em que as fotografias ainda eram feitas em chapas de vidro e os poucos estúdios existentes em São Paulo ficavam obrigatoriamente no último andar dos edifícios‚ para captar a luz natural vinda dos tetos de vidro e dos janelões. Foi nessa época‚ quando era reservado à mulher o papel de dona de casa‚ que a paulistana Gioconda Rizzo‚ com apenas 14 anos‚ começou a fotografar. Fugia das aulas do Externato São José‚ na rua da Glória‚ para se dedicar à fotografia no estúdio do pai‚ o Ateliê Rizzo [...] ‘As primeiras chapas‚ tirei e revelei escondida do meu pai. Foram duas fotos de uma amiga. Quando ele descobriu‚ tive receio de que brigasse comigo. Ele me olhou com um ar severo‚ mas disse: ‘Essa menina ainda vai me passar a perna’. “A estreia dela na fotografia surpreendeu: Gioconda enquadrou

apenas os ombros e o rosto‚ quando ainda era comum entre os fotógrafos retratar as pessoas de corpo inteiro‚ em pé ou sentadas. A atitude ousada de Gioconda rompeu com os padrões da época e chamou a atenção das damas da alta sociedade paulistana. Em pouco tempo‚ ela ganhou fama e clientela própria. As mulheres disputavam horários‚ no Ateliê Rizzo‚ para serem ‘retratadas’ por Gioconda. ‘Só atendia senhoras e crianças. Meu pai não permitia que eu fotografasse homens’‚ conta. Com tanto sucesso Gioconda nem precisava colocar anúncios nos jornais para atrair a freguesia, o que lhe rendeu um estúdio próprio‚ o Photo Femina‚ aberto pelo próprio pai no número 8 da rua Direita‚ próximo ao Ateliê Rizzo. Era a primeira vez que uma mulher atuava como fotógrafa profissional na cidade. Até então‚ a mão de obra feminina nos estabelecimentos fotográficos restringia-se aos serviços de apoio e de administração. ‘Eu preferia fotografar as mulheres. As crianças davam muito trabalho.’ Toda a produção fotográfica era feita por Gioconda. ‘Eu preparava as moças. Pensava em tudo’‚ recorda. Afinal‚ foi ela quem lançou em São Paulo a

moda do véu‚ dos ombros à mostra e dos adornos de flores na composição dos retratos. Inovou também ao abolir a fotografia de corpo inteiro e criar novos ângulos‚ recortando o campo para ressaltar a expressão do rosto. Acabou por revelar a sensualidade das damas paulistanas‚ que elas mesmas nem sabiam que existia. “Fotoporcelana: ‘A alternativa foi voltar a trabalhar no estúdio do pai‚ onde passou a fazer retratos coloridos a óleo‚ fundos de paisagens aplicados em chapas e fotografias sobre porcelana. Em 1925‚ Gioconda aprendeu‚ com um espanhol de passagem pelo Brasil‚ a técnica fotográfica da fusão do esmalte sobre cobre‚ usada para joias‚ e a adaptou para a porcelana. ‘O mais difícil na fotografia era fazer a foto em porcelana.’ A técnica‚ totalmente artesanal‚ passava por várias etapas de aplicação de tintas e fundição. As fotografias eram feitas para ser usadas em pratos‚ joias‚ enfeites de mesa‚ caixas e túmulos. Gioconda as coloria com bisnagas importadas da Alemanha e da França. ‘A foto era transportada da chapa de vidro para a porcelana. A chapa de vidro era colocada sob a água para que soltasse uma película’.”

Entre as fotografias tiradas por Gioconda Rizzo, as mais rotineiras eram retratros posados de crianças e mulheres

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Especial Guerra

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ndaacmâmierraa H

istoricame nte falan do, as guerras que que ainda aconteceram e as es mundo são tão em curso no zem muito fascinantes e disobre a ção da socie dade. As gu atual situaerras molda territórios, tr m estabelecem ansformam fronteira s e n o v os com entre a pop ulação mun portamentos dial. A guer ra, evento para no entanto, não é u m país contra o qual um determina do ta fotógrafo trá-lo e gra s para regis v mória e no ar para sempre na m s fi e aconteceu. lmes fotográficos o q Apesar diss ue o, emt toda g u e r r as p ó s sa a fotojornalis invenção da fotografi s tas e fotógr a, afo se aventura ram a faze s amadores r imagens escuridão e da cr u Sem esses eldade das batalhas. provavelme profissionais corajos os n quer registr te não teríamos qu , alo d as g u e r r as já travad ao longo d a a res e a socie história. Os historiad s o d muito a ag ade como um todo tê m r a d e c e r e ss que, acima es fotógrafo d e tu d o , também er s soldados e am artistas.

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Fotos: Charl es

Day Palemer

Especial Guerra

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Condições na Segunda Guerra Mundial

Até o co Guerra M meço da Segunda un não contav dial, os fotógrafos am com equ ipamentos específicos p mas como ara situações extrea em sua ma guerra. Por serem, ioria, fotos mentos e e em movim nados, as c locais pouco ilumiâm nham de te eras e os filmes tir pudessem d especificidades que eixar as im a boa qualid ade. No en gens com tanto, esse luxo não e x de guerra, istia. Os fotógrafos m de pedir pa uitas vezes, tinham r a a s p e rs o n fotos ficare m p ar a d a s a g e n s d a s para que a imagem pu d em uma sit esse ser feita. O que, u é muito con ação de batalha, não veniente.


Esses fotó ao longo d grafos de guerra, a história, ti enfrentar as piores veram de possíveis d condições e tasse estare trabalho. Não basm batalha, mu em um campo de it usar equipa os deles tiveram de mentos pes adíssimos, como na P rim dial, e revela eira Guerra Munr do fogo, tom as imagens no meio não estraga ando o cuidado para r quer partíc o trabalho com qualula de poeir desse entra r na frente. a que puEm todas a fos enfrenta s guerras os fotógram a pé, em ca longas caminhadas minhões, e m tanques de guer ra. E le que os sold s comem do mesmo a tem quase dos comem, e não nenhuma vantagem, já que pode m qualquer m ser alvos do fogo a omento.

Archives Fotos: Flick r/U.S Natio nal

Condições na Primeira Guerra Mundial

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brasileiro

s

fotógraf os de gu erra

Especial Guerra

E m 2014, Trip produazRevista documentá iu um o objetivo drio com tar a históriae retrafotógrafos d de três brasileiros e guerra frentaram oque ende batalha ps campos trair a arte ara exde conflitosem zonas . 40 Close Edição 01 / 2015

Juca Varella

Juca Varella cobriu a guerra do Iraque em 2003 para o jornal Folha de São Paulo. Segundo o fotógrafo, a vontade de fotografar uma guerra sempre existiu na vida dele, mas reconhecia a dificuldade de estar em um país que raramente manda profissionais para fotografar eventos como esses. Segundo Varella, cobrir uma guerra é muito caro e essa foi uma das principais dificuldades ao chegar ao Iraque. “O medo era constante. A qualquer momento a gente podia ser atingido por um míssil. O número de jornalistas mortos foi fantástico. Em números relativos foi mais do que na guerra do Vietnã. Esse era o pensamento principal: a gente se preservar fisicamente”, afirmou o fotógrafo.


Fernando Costa Netto

Fernando Costa Netto foi o responsável por registrar a guerra em Sarajevo para a Revista Trip em 1983. Ele foi o único fotógrafo brasileiro a fazer registros da guerra da Bósnia. Segundo ele, esse foi um dos conflitos mais violentos da atualidade.

GabrielChaim

Gabriel Chaim é especializado em fotografar e filmar áreas de conflito e crise. O brasileiro estava documentando o conflito em Kobane, cidade síria próxima à fronteira com a Turquia, quando foi detido no dia 5 de maio, ao tentar entrar em território turco. O fotógrafo Gabriel Chaim já passou por Dubai e Istambul registrando os melhores restaurantes, mas a vida nos campos de refugiados no oriente médio desviou sua rota gastronômica. Agora, ele está na Síria, no meio do fogo cruzado da guerra civil, sozinho na busca por esperança. O fotógrafo de refugiados confessou que já recebeu diversas ameaças de morte e que o medo é um sentimento constante. “O propósito do meu trabalho é muito maior do que a minha vida.”

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Especial Guerra

O

s quatro anos de conflitos entre

a libertação de Nelson Mandela da prisão, em 1990, e sua eleição para presidente da África do Sul, em 1994, foi um dos períodos mais violentos da história. De um lado, o Congresso Nacional Africano (CNA), de Mandela. Do outro, o Inkatha, partido separatista da etnia zulu. No meio do fogo cruzado, Greg Marinovich, João Silva, Ken Oosterbroek e Kevin Carter. Fotojornalistas que arriscaram suas vidas para mostrar ao mundo o que acontecia em lugares que ninguém mais tinha coragem de ir. Juntos, eles formavam o Bang Bang Club. As fotografias chamavam a atenção do mundo para as injustiças e exclusões geradas pelo Apartheid e pelas guerras na África do Sul. Auxiliados pelo fato de serem brancos em uma guerra de negros, conseguiam adentrar nas organizações em batalha e em conflitos armados. Além de presenciar, diariamente, assassinatos, torturas e explorações. Essas fotos deram ao grupo popularidade e prêmios, mas os levou a um embate ético sobre a real função do ofício. Em algum momento eles deveriam largar as câmeras para ajudar? Até onde se pode explorar o sentimento alheio? Em razão de algumas dessas imagens, Greg Marinovich recebeu, em 1990, um prêmio Pulitzer por uma série de fotos em que um homem identificado como Inkatha é queimado vivo por integrantes da CNA, em Soweto. O prêmio Pulitzer de Kevin Carter veio após viagem ao Sudão, em 1993, com a foto de uma criança sem forças para se levantar e um urubu à espera de sua morte. Essa imagem causou grande revolta por parte de algumas pessoas que perguntavam o que ele havia feito para ajudá-la. A angústia que tomou conta de Kevin resultou no seu suicídio, em 1994. Além do suicídio de Carter, Oosterbroek morreu no campo de guerra, poucos dias antes da eleição de Mandela como primeiro presidente negro da África do Sul. Greg, para manter a imparcialidade, 42 Close Edição 01 / 2015

teve que fugir, ao ser intimado pela polícia por fotografar o crime contra o suposto Inkatha. Recentemente, João Silva teve as duas pernas amputadas ao pisar em uma mina enquanto acompanhava uma ação militar no Afeganistão. Juntos, João Silva e Greg Marinovich escreveram o livro The Bang Bang Club (O clube do Bangue Bangue, no Brasil). E, em 2010, foi lançado um filme honônimo (Repórteres de Guerra, no Brasil) que conta a história dos quatro fotógrafos. Sobre o dilema entre fotografar e ajudar, Greg Marinovich fala “Às vezes nos sentíamos uns abutres. Pisamos em cadáveres, metafórica e literalmente, e fizemos disso nosso ganha-pão. Mas nunca matamos ninguém e, na verdade, até salvamos algumas vidas”. Uma grande fotografia pode conter uma narrativa completa, concentrando signos, significados e imagens que se materializam diante do fotógrafo, são capturados em uma fração de segundo e depois reinterpretados por quem a vê. O fotógrafo é o agente capaz de compreender o contexto, postar-se diante da configuração exata de luz, sombra, objetos e pessoas, e definir o momento exato no qual a intensa e complexa bricolagem toma forma. O processo pode ser ao mesmo tempo intencional, intuitivo e aleatório. Frequentemente, para o próprio fotógrafo, o resultado parece mágico, uma epifania. Os fotógrafos do Bang Bang Club ilustram o que pode ser o trabalho em seu sentido mais profundo de realização, um trabalho que cria algo marcante e provoca impacto social; que é recompensador, gera intenso prazer e sentimento de rea¬lização; que provê experiências humanas recompensadoras; que estrutura o dia a dia, de forma flexível, sem transformar a rotina em repetição mecânica; que sustenta e garante a autonomia do indivíduo; que é moralmente aceitável e vai além, questionando o status quo e possibilitando novas interpretações e visões da realidade. Não é pouco e parece ser cada vez mais raro.


The

Bang Bang

Club

e o fotoj ornalismo

de guerra

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Especial Guerra

Robert Capa

o fotógrafo das guerras

O

que você prefere? Os registros fotográficos do desembarque das tropas Aliadas em Normandia, na França, no simbólico e decisivo Dia D, no ano de 1944 ou a imagem icônica de um soldado miliciano clicada no momento exato de sua morte a tiros, talvez desfrute de um momento extrovertido junto com o artista Pablo Picasso em fotos que podem ser comparadas com uma obra de arte. Estes fatos históricos foram registrados pela lente da máquina fotográfica de Robert Capa, que em 2014 completam-se 60 anos de seu falecimento, ocorrido prematuramente em outra de sua jornada pelo conturbado período de guerras por pisar em uma mina terrestre durante um conflito na Indochina. Com uma vida cosmopolita, Capa se tornou o principal fotojornalista do período de guerras que estourou no mundo na metade do século passado. Capturou diversas imagens que marcaram o imaginário da geração, assim como se tornaram símbolos da área jornalística. Em seu currículo, Capa cobriu a guerra civil espanhola, árabe-israelense, a Segunda Guerra Mundial e o conflito na Indochina, onde acabou falecendo. 44 Close Edição 01 / 2015

Espectador direto desses combates, Capa empunhando somente sua máquina fotográfica registrou, em mais de 70 mil negativos, a realidade do homem contra o próprio homem em sangrentas batalhas. Capa foi engajado sobre as precárias situações da humanidade nas guerras, denunciando em suas fotos os fatídicos conflitos bélicos planejados por governantes que não tinham outra solução a não ser tratar as questões patrióticas utilizando tecnologia armada. O marco de sua cobertura como fotojornalista de guerra foi no emblemático desembarque das tropas Aliadas na praia da Normandia durante a Segunda Guerra Mundial. Capa foi junto com os soldados em um dos mais de 600 barcos rumo à costa, ele registrou imagens marcantes de um fato fundamental para a libertação da Europa do comando da Alemanha Nazista. Capa fotografou o desembarque dos soldados e os flagrou em meio a chuvas de tiros do exército alemão. As fotos da batalha ilustraram as páginas da revista LIFE, o que já tornou Capa um dos maiores fotógrafos de guerra de sua geração, posteriormente sendo referência na área. Um fato curioso sobre a

importância das fotos de Capa na Batalha de Normandia foi decorrente ao filme “O Resgate do Soldado Ryan”, de 1998, dirigido por Steven Spielberg, a equipe de produção utilizou os registros de Capa para montar os cenários da cena de abertura da obra cinematográfica, que representou o desembarque dos Aliados na costa francesa. Foi na Guerra Civil Espanhola que Capa registrou sua famosa fotografia. Em “O Soldado Caindo”, Capa fotografou o momento certo de um soldado miliciano sendo alvejado a tiros durante um conflito em 1936, a imagem tornou-se o marco de sua genialidade, mesmo ainda sendo um período inicial de sua carreira. Anos depois de sua morte, alguns especialistas da área questionaram a autenticidade da foto, apontando como sendo uma montagem. Porém, este será um mistério que nunca terá uma solução concreta. A guerra era como uma atriz que envelhece”, definiu o fotojornalista Robert Capa (19131954), em um texto publicado na revista Life, em 1944. Para ele, que morreu aos 41 anos cobrindo um conflito bélico, a guerra era “cada vez menos fotogênica e cada vez mais perigosa”. Conhecido por suas fo


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tografias brilhantes e pelo estilo de vida pouco usual, o fotógrafo foi responsável por grande parte do imaginário visual da guerra que temos atualmente. Testemunha dos principais conflitos do século XX, Capa não era reconhecido pela beleza das composições em suas fotografias, mas sim, por colocar a sua própria vida em risco com o objetivo de estar o mais próximo possível dos acontecimentos. Sobre seu trabalho na praia de Omaha, Capa escreveu certa vez que “eu diria que o correspondente de guerra consegue mais drinques, mais garotas, um salário melhor e mais liberdade para escolher onde ficar e poder ser um covarde. O correspondente de guerra tem as suas apostas – sua vida – nas próprias mãos e pode preferir esse ou aquele cavalo, ou então 46 Close Edição 01 / 2015

resolver ficar na sua no último minuto”. Mesmo assim, “eu sou um jogador. E decidi partir com a primeira leva”. Por essa postura, Capa acabou transformando-se na personificação do fotojornalismo, em imagens que misturam a crueza da violência com o fascínio que sentimos por ela. Robert Capa, contudo, não nasceu como Robert Capa: o seu nome de batismo era Endre Friedmann. O nome artístico surge apenas depois de ele trocar a sua cidade natal, Budapeste, por Paris e, após vários meses de dificuldade financeira, decidir que um nome norte-americano o faria conseguir um pagamento melhor por suas fotografias. O início da carreira como fotógrafo freelancer não havia sido muito gentil com Capa e conta-se que, em 1934, aos 21 anos, era comum encontrá-lo em casas de penhores do Quar-

tier Latin, onde ele negociava a sua preciosa Leica em troca de alguns trocados. De acordo com um de seus biógrafos, o jornalista Alex Kershaw, a câmera passava três semanas penhorada para cada semana que ficava nas mãos de Friedmann. Foi justamente a dificuldade em conseguir trabalho que fez com que Capa mudasse de nome. Em uma de suas entrevistas, para a rede radiofônica WNBC, em 1947, o fotojornalista dizia que Capa nasceu como um fotógrafo inventado, imaginado como “um famoso fotógrafo americano que veio para a Europa e não queria se aborrecer os editores franceses por não pagarem o suficiente”. E assim, “simplesmente fui chegando com a minha pequena Leica, tirei algumas fotos e escrevi em cima Bob Capa, conseguindo vendê-las pelo dobro do preço”.


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E

orte

mbora isso o a conseguir tenha ajudado con tr dinheiro, a um pouco de esta ole sobre os seus neg va perdido a fama chega para emp e, por isso, tivos, Capa junto e e Civil Espan com a Guerra ond nhou em construir um le se e as rela hola e lugar das mais po lêmicas foto com uma sem mais ções de trabalho fos s ria do jorn alismo, O s da histó- grafos. vantajosas para os fotó oldado caído. Em um de A versão ofi poim p c e ia la l de Capa de Popular Ph ento publicado a foto retr q oto u e critor ata americano grapgy, o esinstante de va um homem no John Steinb sua morte disse que eck no exato m omento em iminente, que Cap “realmente me parec a de e que ele era alvejado po r bra de dúv monstrou sem somda por muit um tiro, é contestaid o precisa ser a que a câmera não que a foto s outros que afirmam u n cânico frio. m instrumento meque um h ão retratava mais do C o as qualidad omo a pena, ela tem caindo. A mem simplesmente e fo Pode ser a e s daquele que a usa. mais curio tografia suscitou as x sa coração”. P tensão da mente e do ração, desd s teorias da conspiar e Cartier-Bre a também fotógrafo treinamento que se tratava de um sson, Capa “e o traje desl combate) até militar (e não de um umbrante d nvergava o mas nunca a foto nem a especulação de que investiu con toureiro, ao menos te tr p a o bicho a r a matar r rada por C apa (e sim ia sido ti- gador, ele de verdade; grande jo po morada Ge rda Taro q r sua na- pelos outr lutava por si mesmo e ue, muitas os n vezes antes d destino tinh um turbilhão. Mas o publicava su e tornar-se famosa, a se abatido n decidido que ele fosassinatura as fotografias com a o au de Um de se ge da glória”. conseguir u Robert Capa para m Kershaw, co us biógrafos, Alex O próprio C pagamento maior). n a talvez resu ta uma história que polêmicas e pa contribuiu para as m m Capa para a a importância de contado dif torno da foto, tendo o ere ser pergun fotojornalismo: ao em ocasiõe ntes versões do fato ta s div sobre o qu da por Eve Arnold e achava d Ele também ersas. as fotografias de Cap foi um do dores da a gência Mag s funda- New York a, a editora da revista num, que mudou a er, fo respondido Janet Flanner, teria jornalistas rma como os fotoq se que sejam m ue “bem, não acho os seus em relacionavam com u p Nisso, a ou ito bem concebidas”. um fotojorn regadores. Para ele, tr alista que n diato: “min a respondeu de imeão tivesse ha cara, a h istó bém não é b em concebid ria tama”. Edição 01 / 2015 Close 47 Edição 01 / 2015 Close 47


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MAUREEN Maureen Bisilliat, inglesa de ascendência irlandesa, mais brasileira do que muitos, fotógrafa premiada, é puro movimento. Aos 79 anos, dirige o Pavilhão da Criatividade do Memorial da América Latina, acompanha a montagem de suas exposições e livros, produz documentários e sonha com projetos. Sempre foi assim. Ela nunca parou. Filha de um diplomata e de uma pintora, morou em outros países antes de adotar o Brasil, no final dos anos 1950. Nos ateliês de modelo vivo, ao buscar as nuances do corpo humano, a estudante de arte encontrou a fotografia. A “cigana irlandesa”, como dizia Guimarães Rosa, misturou em seu caldeirão mágico a literatura de Euclides da Cunha, do próprio Rosa, de Ariano Suassuna, de Jorge Amado e de João Cabral de Melo Neto. Publicou livros com lindas imagens, registrando o universo de cada um deles. Estava revelando, também, a singularidade do povo brasileiro. Uma “antropologia visual”, admirada por Darcy Ribeiro. Na década de 1970, a pedido dos sertanistas Orlando e Cláudio Villas Bôas, foi ao Xingu. Com saias longas e pés descalços, retratou com rara beleza o cotidiano dos índios. Ali, produziu e dirigiu documentários, como o longa-metragem Xingu/Terra, em parceria com Lúcio Kodato. “O seu problema é que você não sabe o que quer”, disse-lhe certa vez o marido, Jacques Bisilliat, ao notar que a multiplicidade de projetos se tornava angustiante para Maureen. Quando ela divagava, Jacques a trazia à realidade. “Ele era o chão dela”, sintetiza a atriz e documentarista Sophia Bisilliat, filha do casal. Ao lado de Jacques, Maureen viajou o Brasil por estradas de terra, a bordo de uma perua Kombi, em busca de cerâmica, telhas e tapetes para a galeria de arte popular O Bode. De Belém a São Paulo, certa vez, Jacques chegou a percorrer perto de 14 mil km. Sophia acompanhou os pais em algumas viagens: “Uma vez, a perua Veraneio (que tiveram antes da Kombi) quase caiu de uma ponte. As duas rodas ficaram pra fora e o carro só não virou porque vinha lotado de tapetes”. Salvou-os, portanto, a entusiasmada procura pelo acervo da Galeria, que existiu por 22 anos ao lado da casa da família – e foi o embrião do Pavilhão da Criatividade no Memorial da América Latina. Sophia lembra-se de outras viagens que fez com a mãe. Na Bahia, ficaram em uma casinha que a água vinha de esguicho e a luz era de lamparina. Ela acredita que o Brasil mostrado a ela na infância pelos pais a ajudou a focar seu trabalho

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Icones da fotografia

na questão social. O filho de Sophia, Jacques, também acompanhou a avó ao Xingu, quando tinha doze anos. Apesar da vida profissional agitada, Maureen tinha preo-cupações comuns de toda mãe. Quando Sophia disse, aos 18 anos, que daria aulas de teatro no Presídio do Carandiru, ela se assustou. “Foi o meu pai que a tranquilizou”, lembra Sophia. Dois anos mais tarde, Maureen passou a acompanhá-la e a registrar em fotos e em vídeo a trajetória da filha no presídio. Por fim, as visitas resultaram em um documentário (produzido com Sophia, o jornalista André Caramante e o fotógrafo João Wainer), trazendo depoimentos de detentos.

Quando Jacques faleceu, em 1991, foi um baque para Maureen. “Quando soube que meu pai estava doente, não quis acreditar. Só caiu em si dois meses depois de ele morrer”, lembra Sophia. Em um ano de isolamento, Maureen começou a escrever um diário, uma forma de “conversar” com o marido e elaborar o luto. “Uma escrita quase que automática”, diz. Na abertura da exposição Fotografias, Maureen estava inquieta como se faltasse algum detalhe para acertar. Toda de preto, mantinha seu modo de vestir simples e despojado: blusa e saia longa e sandálias de dedo. A tensão só foi quebrada quando viu uma alegre se

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Maureen Bisilliat, inglesa de ascendência irlandesa, mais brasileira do que muitos, fotógrafa premiada, é puro movimento. Aos 79 anos, dirige o Pavilhão da Criatividade do Memorial da América Latina, acompanha a montagem de suas exposições e livros, produz documentários e sonha com projetos. Sempre foi assim. Ela nunca parou. Filha de um diplomata e de uma pintora, morou em outros países antes de adotar o Brasil, no final dos anos 1950. Nos ateliês de modelo vivo, ao buscar as nuances do corpo humano, a estudante de arte encontrou a fotografia. A “cigana irlandesa”, como dizia Guimarães Rosa, misturou em seu caldeirão mágico a literatura de Euclides da Cunha, do próprio Rosa, de Ariano Suassuna, de Jorge

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Amado e de João Cabral de Melo Neto. Publicou livros com lindas imagens, registrando o universo de cada um deles. Estava revelando, também, a singularidade do povo brasileiro. Uma “antropologia visual”, admirada por Darcy Ribeiro. Na década de 1970, a pedido dos sertanistas Orlando e Cláudio Villas Bôas, foi ao Xingu. Com saias longas e pés descalços, retratou com rara beleza o cotidiano dos índios. Ali, produziu e dirigiu documentários, como o longa-metragem Xingu/Terra, em parceria com Lúcio Kodato. “O seu problema é que você não sabe o que quer”, disse-lhe certa vez o marido, Jacques Bisilliat, ao notar que a multiplicidade de projetos se tornava angustiante para


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Maureen. Quando ela divagava, Jacques a trazia à realidade. “Ele era o chão dela”, sintetiza a atriz e documentarista Sophia Bisilliat, filha do casal. Ao lado de Jacques, Maureen viajou o Brasil por estradas de terra, a bordo de uma perua Kombi, em busca de cerâmica, telhas e tapetes para a galeria de arte popular O Bode. De Belém a São Paulo, certa vez, Jacques chegou a percorrer perto de 14 mil km. Sophia acompanhou os pais em algumas viagens: “Uma vez, a perua Veraneio (que tiveram antes da Kombi) quase caiu de uma ponte. As duas rodas ficaram pra fora e o carro só não virou porque vinha lotado de tapetes”. Salvou-os, portanto, a entusiasmada procura pelo acervo da Galeria, que existiu por 22 anos ao lado da casa da família – e foi o embrião do Pavilhão da Criatividade

no Memorial da América Latina. Sophia lembra-se de outras viagens que fez com a mãe. Na Bahia, ficaram em uma casinha que a água vinha de esguicho e a luz era de lamparina. Ela acredita que o Brasil mostrado a ela na infância pelos pais a ajudou a focar seu trabalho na questão social. O filho de Sophia, Jacques, também acompanhou a avó ao Xingu, quando tinha doze anos. Apesar da vida profissional agitada, Maureen tinha preo-cupações comuns de toda mãe. Quando Sophia disse, aos 18 anos, que daria aulas de teatro no Presídio do Carandiru, ela se assustou. “Foi o meu pai que a tranquilizou”, lembra Sophia. Dois anos mais tarde, Maureen passou a acompanhá-la e a registrar em fotos e em vídeo

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LORCA German Lorca é um ícone da fotografia modernista brasileira. Sua obra tem sido exibida em Londres e Paris, ao lado dos maiores fotógrafos do mundo. Agora, com quase 90 anos (o aniversário é em maio), ele apresenta parte dela na exposição German Lorca Fotografias: Acontece ou faz Acontecer?, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e faz planos para o futuro. Lorca nasceu no Brás, numa família simples, em 1922, ano da Semana de Arte Moderna. Se a literatura e a pintura iniciaram o modernismo até antes da Semana, observa Ricardo Ohtake, a arquitetura só o teve em 1930 e a fotografia no final dos anos 1940. [nggallery id=15859] O berço do modernismo fotográfico foi o Foto Cine Clube Bandeirante, onde Lorca conviveu com pioneiros, como Thomaz Farkas, Geraldo de Barros e José Yalenti. O fotoclubismo brasileiro começou em São Paulo, lembra Iatã Cannabrava, curador da mostra de fotografia modernista da Coleção Itaú. Curiosamente, nos anos 1970, os fotoclubes caíram em desgraça e passaram a ser tratados como uma espécie de velharias. Depois, veio a redescoberta de seus tesouros, hoje com grande valor de mercado. Mas a vida nem sempre foi fácil para Lorca que, aos 7 anos, foi morar com um tio “porque veio a crise de 1929, meu pai tinha oito filhos, então distribuiu os filhos para poder comer”. O pai foi guarda-livros e, na crise, trabalhou em uma fábrica de charutos. Depois, montou uma tabacaria: “Eu, com 12, 13 anos, vendia cigarros no atacado, ia oferecendo, era um menininho de calça curta”. Aos 18 anos, Lorca abriu seu próprio escritório de contabilidade, uma carreira promissora. Por isso, a família se assustou quando, aos 26, ele decidiu largar os números para se dedicar à fotografia numa época em que não havia escolas, o jeito foi procurar o Foto Cine Clube Bandeirante, que frequentou de 1947 a 1952. Antes, já gostava de fotografia: “Quando casei, pedi uma máquina emprestada para fazer umas fotinhos da minha viagem para Santos, José Menino, eu não perdi uma foto, você acredita… Só quando nasceu minha filha, em 1948, comprei a primeira máquina, uma Welti, com lente Tessar. Quem me vendeu foi o Alberto Arroyo, que era contador como eu e trabalhava na Fotoptica.”

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Icones da fotografia

No início, Lorca estranhou um pouco o ambiente do Clube. “Eu era um cara simples, não tinha poder aquisitivo e lá havia industriais, advogados, médicos, dentistas, capitalistas que gostavam de fotografia, iam lá para ver as fotos deles, mas muito clássicos. Quando entrei, pensei: ‘Será que consigo fazer o que essa turma faz?’. Olhando e conversando, eu começava a assimilar o que eles estavam fazendo e vendo o que podia fazer.” Lorca aprendeu também com revistas. “Tinha o Luciano Carneiro, que morreu cedo, e tinha uns repórteres bons, como Peter Scheier, que era um fotógrafo rapidíssimo para trabalhar. Jean Manzon, eu achava

muito comercial.” Dos estrangeiros, conhecia pouco. “Quando comecei, disseram que copiei uma foto do Cartier-Bresson. Eu nem conhecia Bresson, não tinha dinheiro para comprar as revistas e livros que traziam Cartier-Bresson. Aqui, se é autodidata.” Nos anos 1950, deslanchou a bem-sucedida carreira profissional de Lorca, especialmente no campo dos retratos e da publicidade, que lhe deram prêmios e uma vida confortável. Em 1952, abriu um pequeno estúdio em São Paulo e fazia muita reportagem de casamento. Em 1966, abriu o estúdio que hoje divide com os filhos, onde se

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pode fotografar até três automóveis de uma única vez. “Sou um pouco saudosista e romântico”, diz Lorca. “Minha mulher, Maria Elisa, que morreu há um ano e meio, logo no começo era enciumada com fotografia, chegou a jogar uma Leica no chão, estourar ela. Depois, ela me ajudou, retocou fotos, sabia desenhar. Eu morava em uma casa velha, imagina, dois cômodos e no Brás, ainda tinha fogão a carvão. Você trabalha de contador, ganha 1.200 réis, por mês. Trabalha de fotógrafo, no fim do mês, ganha 2.000. O que você acha? E faz aquilo que gosta. Aí, a vida mudou, comecei a ganhar dinheiro. A fotografia me deu uma posição financeira melhor.” Em 1954, Lorca foi o fotógrafo oficial dos festejos do IV Centenário, ninguém fez mais registros da cidade

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e suas transformações, como anotou Eder Chiodetto, curador de uma mostra retrospectiva na Caixa Cultural, que ocorreu no ano passado. Em 2004, Lorca registrou os 450 anos de São Paulo, mas o clima já era diferente: “Quase fui preso. Havia um lugar para as autoridades e um box para os fotógrafos. Em 1954, fotografei Getulio, Jânio, todo mundo, sem problemas. Cinquenta anos depois, saí do box e cheguei perto do altar da Catedral. Aí, chegou um senhor e disse: ‘Se o senhor fizer isso outra vez, vou prender o senhor’. Bom, mas aí eu já tinha feito a foto”. É incrível que, em um país que publica tanto, ainda não haja um livro com a obra de German Lorca – o projeto está sendo estudado há algum tempo por uma


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editora paulistana. “Capaz de sair. Vamos ver se agora, se neste ou no próximo ano. Quando acabar essa minha exposição, vou trabalhar no livro.” A atual mostra no MAM tem curadoria de Daniela Maura Ribeiro, que apresentou na Universidade de São Paulo uma tese sobre a obra do fotógrafo. Lorca se atualizou: “Tenho seis Leicas, duas digitais, uma M8 e uma M9. Daqui a cinco, seis anos, você não vai ver mais analógica, de jeito nenhum.” Também continua atento às exposições e lançamentos de livros de fotografia. “Espero encerrar minha carreira neste ou no próximo ano. Será que vou ter pernas? Sabe o que falava o Chico Albuquerque? Fotógrafo precisa ter perna e ter agilidade.” Curiosamente, uma das fotos mais famosas de Lorca, de

1970, tem pernas como tema: pernas femininas entre pernas de mesa. Os planos são muitos: a itinerância da exposição no MAM (depois de São Paulo, a mostra segue para várias cidades brasileiras), trabalhar no livro e viajar em busca de mais imagens. Lorca só não pensa em se casar novamente. “É muito difícil, fui casado mais de 65 anos. Acho que minha vida foi boa. Não me queixo de nada, às vezes, quando começava, ficava pensando que o pessoal não me queria… Mas o pessoal não dava valor porque não sabia o conteúdo da minha obra. Aí, ela começou a surgir, o pessoal começou a me aceitar mais. Pensava: ‘Será que é tão difícil assim?’. Mas a fotografia está tomando outro caminho e as pessoas que têm boas

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Dicas

FOTOGRAFIA DE RUA Um novo olhar para o mundo cotidiano Texto Rejane Borges Fotografia Rodrigo Paixão

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fotografia de rua capta basicamente o que há de mais comum: os pequenos momentos. Os pormenores do cotidiano, aqueles a que ninguém dá muita confiança, nem se lembra, muito menos se importa. Uma mulher pensativa com sua sacola de compras a atravessar a rua, um casal de jovens a olhar uma vitrine, amigos que se encontram nas esquinas. Apenas detalhes. Na fotografia de rua, a única coisa que podemos controlar é a lente e o momento do clique, nada mais. A fotografia de rua nem dá margem para uma escolha do fotógrafo acerca do quê fotografar. Ele simplesmente fotografa porque as coisas estão acontecendo naquele instante. E a escolha do instante de fotografar é muito mais um sentimento do que uma escolha. Obviamente, para um bom resultado é fundamental que se tenha uma câmara boa e rápida. Isso significa evitar atraso entre a pressão e o clique do botão do obturador. Se a câmara é rápida, então se consegue exatamente a imagem desejada e não

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o que aconteceu um décimo de segundo depois. Na opinião de muitos, fotografia de rua não precisa ter técnica e composição perfeitas. Pelo contrário, as imperfeições d uma foto tirada rapidamente num momento decisivo é que trazem à foto “o charme” da fotografia de rua, além de transmitirem um senso de autenticidade e realidade. Pessoas ou objetos em partes cortados, elementos desfocados, erros de exposição são apenas alguns exemplos dessas imperfeições. Elas reforçam a imediatidade e a espontaneidade de um momento passageiro da vida de quem está retratado. O impacto da fotografia d rua está mais no olho alerta fo fotógrafo e sua rapidez em congelar aquele determinado momento do que na técnica e composição da foto. Quando você vir algo interessante não hesite! Pegue a câmera e bata a foto. Se você decidir configurar a câmera nesta hora você pode perder a foto. No fim do dia, algumas das suas fotos serão descartadas, mas muitas não, e farão seu dia de fotografia ter valido a pena.


A essência da fotografia de rua é captar os momentos, e os momentos acontecem em um piscar de olhos, às vezes literalmente. A fotografia de rua eterniza sutilezas que durariam apenas um segundo. E já há muito se diz: os pequenos momentos....não há nada maior do que eles, não? As ruas, são grandes fontes para boas fotos e filmagens, estão recheadas de coisas visualmente estimulantes, onde tudo parece interessante, em especial os locais onde você nunca esteve antes. Esta riqueza de cenários e imagens pode levar você a tirar fotos que, no inicio, até pareçam interessante, porém mais tarde vai perceber que não passaram de perda de tempo. A melhor maneira de evitar o desperdício de suas horas e equipamentos e lembre-se que ambos estão grandemente limitados na fotografia de rua, é buscar emoção em todas as fotos que for tirar. Não pressione o obturador freneticamente como um desesperado, analise o cenário e aguarde um pouco, o melhor ângulo ou cena, às vezes, acaba surgindo poucos segundos depois, basta ter um pouco de paciência. A maioria dos fotógrafos de rua se limita a visitar lugares turísticos de sua cidade, ou repetir trabalhos já feitos por outros profissionais da área. Todavia, a sua fotografia de rua será muito melhor se conseguir retratar novos lugares e situações, o inédito sempre chama a atenção das pessoas, afinal ninguém gosta de repetições. Desta forma, experimente ir a novos bairros e ruas de sua cidade, ou fazer algumas viagens turísticas a novos locais. Suas fotos serão muito mais interessantes e o sucesso será instantâneo. Talvez, não seja muito fácil buscar o novo, mas você pode contar com a ajuda de um guia.

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER Série de dicas do fotógrafo Vínicius Guedes Texto Vinícius Guedes Fotografia Rodrigo Paixão

Qual é a melhor lente? Eu sempre prefiro usar uma lente fixa (Prime). O objetivo da fotografia de rua é retratar a interação entre nós, seres humanos, e o meio físico. Como no fotojornalismo, a intenção é resgatar o sentimento de um acontecimento, um local ou uma comunidade. Cenas inusitadas ou engraçadas também valem, as oportunidades são infinitas e para isso temos que estar sempre prontos. Eu prefiro lentes fixas porque elas focam mais rápido, e por não terem “zoom” eu não perco muito tempo ajustando a composição. O tamanho da lente também ajuda, por exemplo, uma 50mm é bem menos chamativa que uma 24-105mm. Quanto mais discreto melhor.

Em qual modo eu fotografo? A não ser que você seja super rápido no modo Manual, prefira fotografar nos modo A (Nikon) ou Av (Canon), quanto menos ajustes melhor. Você vai estar fotografando ao ar livre onde a luz muda a cada passo, ter que ajustar a câmera entre cada disparo não ajuda. Eu uso o modo Av quase o tempo todo, se preciso deixar a cena mais escura ou clara eu mudo a “compensação de exposição”, o botão normalmente é aquele quadradinho com um +/- . Aproximação Seja confiante e respeitoso, você não está fazendo nada de errado, mas se alguém der a entender que não quer ser fotografado, não fotografe!

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Por onde começar? Comece em uma multidão, em multidões você fica invisível! Em shows, feiras ou manifestações é muito mais difícil as pessoas te notarem, dessa forma você vai ficando mais confortável e vai se acostumando a fotografar estranhos. Artistas de rua também são uma ótima opção para quem está começando, eles já estão acostamos a serem fotografados. Só não se esqueça que eles estão trabalhando, então seja generoso e deixe uma moedinha. Retratos na rua Se você vê alguém interessante, não hesite em pedir permissão para tirar uma foto. Converse com a pessoa, mostre a foto, agradeça e tente explicar o motivo dela ter chamado a sua atenção. A sua visão Não deixe ninguém te dizer o que é ou não é fotografia de rua, que câmera ou técnicas usar. Todo fotografo de rua tem seu estilo e suas ideias, nada esta errado. O importante é transmitir claramente a men-

Fotografando crianças Basicamente, em um local público, você tem todo o direito de fotografar quem quiser. Mesmo assim, é uma boa ideia ter o consentimento dos pais primeiro. Um jeito de fazer isso, que quase sempre

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sagem que você quer passar, contar a história passando as emoções da cena ao espectador. A câmera é como uma extensão dos seus olhos, ela permite que você compartilhe como os outros a sua visão do mundo.

funcionada (90%) é mostrar a câmera para um dos pais e sorrindo, fazer um sinal deixando a entender que você quer fotografar a criança, se eles derem  a confirmação, fotografe e agradeça.


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Carreira

PROFISSÃO FOTÓGRAFO Para saber mais sobre a carreira, conversamos com a fotógrafa autônoma Camila Svenson, formada no curso da Escola Panamericana Texto Jonathan May Fotografia Jonathan May

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otografia é a captação de imagens com o uso de câmeras, sua gravação e reprodução em papel e meios digitais. O fotógrafo domina o uso de máquinas, lentes e filmes e conhece a fundo as técnicas de revelação, ampliação e tratamento de imagens analógicas e digitais. O trabalho pode ter cunho jornalístico, documental ou comercial – fotografias em estúdio, por exemplo. Para saber mais sobre a carreira, o Por dentro das profissões conversou com a fotógrafa autônoma Camila Svenson, formada no curso da Escola Panamericana. O curso de Fotografia Há apenas três bacharelados no país que oferecem uma formação mais humanística para esse profissional. Eles têm boa base teórica, mas muita experimentação, também. A maioria dos cursos, porém, é tecnológico e voltado para as técnicas da imagem. Disciplinas como ética, história da arte e história da fotografia compõem a base teórica das aulas. O essencial do curso acaba sendo a técnica, mas o fotógrafo precisa ter bagagem. Segundo a Camila, é importante conhecer

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profissionais diferentes, projetos, Outro problema na profissão trabalhos e livros distintos. está no fato de que, segundo a fotógrafa, muitos acreditam que A carreira lida com trabalhos para ser fotógrafo basta ter um autorais equipamento caro. Entretanto, é A Camila fez questão de explicar preciso saber criar uma linguaque o meio fotográfico é bastante gem pessoalpara conseguir se desautoral e os trabalhos são todos um tacar. “Na fotografia é importanreflexo do profissional. Por isso, há te ter contatos, também, é muito situações mais delicadas quando se boca a boca”, completa Camila. julga o trabalho alheio. “É uma área que você mexe muito com o ego das Gostou de Fotografia? pessoas”, explica. A fotógrafa deu dicas para quem Outro problema na profissão quer ser um fotógrafo bem sucediestá no fato de que, segundo a fo- do: “tem que ter um olhar diferentógrafa, muitos acreditam que para te. Fotografar sempre e explorar ser fotógrafo basta ter um equipa- técnicas diferentes. Além disso, é mento caro. Entretanto, é preciso importante manter os contatos que saber criar uma linguagem pessoal você vai fazendo”, diz. no seu trabalho para conseguir se Para aqueles que estão em dúdestacar. “Na fotografia é impor- vida se é isso mesmo que quetante ter contatos, também, é mui- rem, ela sugere o uso de câmeras to boca a boca”, completa Camila. analógicas, que forçam quem está atrás das lentes a pensar mais soA carreira lida com trabalhos bre cada imagem. Quando você autorais tem um limite de fotografias que A Camila fez questão de expli- pode tirar no filme – e precicar que o meio foto sa pagar pela revelação – acaba gráfico é bastante autoral e os passando mais tempo na hora de trabalhos são todos um reflexo do compor uma boa imagem. Ela profissional. Por isso, há situações também sugere que se faça curmais delicadas quando se julga o sos básicos, leia bastante e veja trabalho alheio. “É uma área que muitas fotos. “No final, a pessoa você mexe muito com o ego das sabe quando quer ser fotógrafa”, pessoas”, explica. completa Camila.


Conheça o curso de Fotografia do Senac Se você entrar em qualquer site ou folhear qualquer revista, com certeza encontrará muitas imagens. O trabalho do fotógrafo está claramente presente na sociedade atual, marcada pela cultura visual (tanto de fotografias quanto de vídeos). O fotógrafo pode trabalhar em muitas áreas, do jornalismo e moda à arte e arquitetura. O curso foi criado em 1999 e é o primeiro do tipo na América Latina. A graduação em Fotografia no Senac é um bacharelado com quatro anos de duração. São duas turmas de 50 alunos, de manhã e à noite. Desde o primeiro semestre, há um estudo integrado com matérias teóricas e práticas O estudante passa por disciplinas obrigatórias que abordam tanto a fotografia clássica e analógica quanto a digital. No Senac, há laboratórios de última geração, como de fotografia digital, fotografia preto & branco e conser vação. O aluno também pode imprimir e reve-

lar suas fotos na faculdade. Não é obrigatório ter conhecimentos prévios sobre fotografia para entrar no curso nem ter equipamento próprio. O Senac empresta equipamentos fotográficos para os alunos desenvolverem os trabalhos e todos os aspectos da Fotografia são ensinados do zero. Como explica o professor Kulcsar, “o estudante pode utilizar as câmeras oferecidas pelo Senac tranquilamente. Mas muitos alunos ao longo do curso querem adquirir o próprio material, sentem aos poucos a necessidade de ter uma câmera próprio, do seu gosto”.O Senac tem parcerias de intercâmbio com universidades estrangeiras. Há um programa de intercâmbio com a Escola de Fotografia de Arles, a mais importante da França; e com o Instituto Português de Fotografia, em Lisboa e Porto. Atualmente parcerias estão sendo fechadas com EUA e Inglaterra. Os alunos podem participar de exposições e saídas foto-

gráficas. A faculdade organiza exposições de grandes fotógrafos nacionais e internacionais. E todo final de ano há uma exposição com os trabalhos dos alunos recém-graduados. A questão técnica é apenas uma parte da fotografia. Ainda há o pensamento crítico e reflexivo.“A parte técnica você pode aprender em um curso de alguns meses ou um ano. Mas na graduação de quatro anos trazemos a parte conceitual ao lado da técnica, para formar um produtor de imagens consciente nesse mundo de forte cultura visual”, afirma o professor Kulcsar. Um bom estudante de fotografia e fotógrafo precisa ser um leitor crítico de imagens É preciso ler o mundo, saber ver e entender todos os códigos visuais que nos cerca, e transformá-lo em expressão. A fotografia nunca se revela por inteiro quando você se desmancha por alguém. Essas relações lembram uma foto polaroid. Edição 01 / 2015 Close 63


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Fotografia documental

A saga de Nã Agotimé representa a força dos elementos naturais transformando a vida que se transforma em culto.

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Recorte da realidade Texto Shelsea Hüsch Fotografia Marcio Vasconcelos

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o mesmo tempo em que se constitui como uma das ferramentas mais simples e poderosas para contar histórias, a fotografia documental é também uma das modalidades mais desafiantes da fotografia. Pela sua própria natureza, esse tipo de registro impõe pouco ou nenhum controle sobre o assunto fotografado, exigindo do fotógrafo a capacidade de enxergar um instante valioso e pensar em sua composição no momento decisivo em que está acontecendo. Segundas chances escapam junto às situações passageiras que desaparecem em um piscar de olhos. Para contar, através de imagens, histórias geralmente reservadas às palavras, o ideal é prever aquilo que se quer dizer. E estar preparado para tal. Como grande trunfo, a fotografia documental carrega em si a característica de ser direta como mensagem e, consequentemente, eficiente como um meio de trazer assuntos despercebidos para a mirada do público. Mas, antes de empunhar a câmera, convém refletir a respeito do tema a ser explorado. Fazer uma breve pesquisa é útil não apenas para antecipar aquilo que se espera da sessão de fotos, mas também para entender qual é a melhor maneira de representar o assunto em questão. Uma única foto ou uma série delas? Luz natural ou flash? Imagens finalizadas em preto e branco ou em cor? Quais são as inspirações ou referências que despertam o interesse em determinado tema? Como o assunto é percebido pelo

fotógrafo e como poderia ser percebido por outras pessoas? A maneira que cada um possui de interpretar o mundo é única, rica e imprescindível, e a preparação entra, antes de qualquer coisa, como um quesito importante para manter a coerência das fotos, independentemente do olhar que as enquadre. Cabe ressaltar ainda que o trabalho da fotografia documental vem embutido de certa responsabilidade. O caráter de representação de um recorte da realidade faz a decisão de retratar o que está na frente das lentes recair inteiramente sobre as mãos do fotógrafo, o que torna, por vezes, aquilo que é deixado de fora da imagem tão importante quanto àquilo que a compõe. Uma vez decidido o tema e a maneira de representa-lo, é preciso se assegurar de estar munido com o equipamento adequado. Para os propósitos da fotografia documental, menos costuma ser mais na maior parte das vezes. Excessos no tamanho e na quantidade de equipamentos chamam a atenção para o fotógrafo e podem roubar a espontaneidade das cenas. Além da discrição, vale lembrar que muitas das situações exploradas por esse tipo de fotografia demandam facilidade de locomoção. Apenas o corpo da câmera e uma ou duas lentes geralmente são suficientes para dar conta do recado, e as teleobjetivas tendem a ser reservadas para o registro do espaço, da paisagem ou para a eventualidade de o assunto estar muito distante.

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Fotografia documental Quando não é esse o caso, e o tema se encontra focado em pessoas, a escolha dos equipamentos é meramente um dos vários elementos a se levar em consideração na hora da abordagem. Em uma divisão um tanto simplista, o registro de pessoas é caracterizado pela decisão do fotógrafo de se passar despercebido, com o intuito de capturar fotos completamente naturais, seja “escondendose” ou disfarçando o clique, ou de ficar, de fato, cara a cara com os indivíduos e apresentar-se. Em qualquer uma das circunstâncias, é importante frisar que a valorização das pessoas e sua representação digna deveriam estar sempre em mente no ato da fotografia documental. Pedir permissão, quebrar barreiras, trocar ideias e garantir que as pessoas estejam confortáveis são meios de abrir portas para a colaboração e tornar as imagens as mais naturais possíveis. Seja qual for o assunto escolhido, a documentação através da fotografia costuma se beneficiar da paciência e do tempo. Esperar alguns minutos, horas ou dias a mais pode fazer a diferença para a realização da foto que se deseja registrar. Diferentes ângulos, enquadramentos e detalhes também acrescentam perspectiva e contexto ao conjunto final de imagens selecionadas para transmitir a ideia que se quer contar. Acima de tudo, narrar através da fotografia documental exige, como a maior das preparações, a formação de um olhar fotográfico vigilante e capaz de enxergar profundidade e significado em cenas e momentos que definem uma história. A melhor maneira de treina-lo é, além de encarar o desafio da prática, estudar referências e se inspirar pelos trabalhos dos grandes nomes que consolidaram o gênero. No caso da fotografia documental, Robert Capa, Henri CartierBresson, Martin Parr e Dorothea Lange têm alguns dos cliques por onde vale a pena começar. Desta maneira, podemos compreender que a fotografia documental se utiliza de técnicas e processos específicos, que têm como decorrência um material com características próprias. Incumbe ressaltar que este trabalho exige um prévio estudo do tema e também a criação de uma plataforma de abordagem, bem como pesquisas auxiliares. Vale assegurar que para um enfoque documental do patrimônio é necessário que seja

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realizada uma avaliação precedente do mesmo, com o intuito de blindar nesta documentação todos os pormenores históricos, sociais, culturais e artísticos do bem, que fazem a caracterização da identidade dos indivíduos, bem como da nação e do povo que se vê refletido naquele patrimônio, a fim de que obtenha como resultado um trabalho documental de validade intemporal. A fotografia documental produz de maneira mais impactante efeitos perceptivos que transcendem ao que é mostrado na imagem. Mencionando Sontag , “fotografar é atribuir importância” . Neste fato, podemos perceber que em muitos episódios o patrimônio carece desta importância atribuída por uma imagem. Compete aqui advertir acerca da subvalorização do patrimônio e sua consequente degradação através de fatores naturais, e a má conservação por parte da sociedade na qual se encontra inserido, gerando a necessidade de que tudo seja documentado para gerações vindouras. É imprescindível destacar que a fotografia documental já flui marcada como representante da verdade, ou seja, é a paladina da veracidade dos eventos, e ainda hoje seguramente labora como vigilante da autenticidade dos fatos. Como observa a pesquisadora espanhola Margarita Ledo, “a foto será sinônimo de imagem transparente, sem armadilha nem mentira, de imagem informativa, sobre fatos reconhecíveis e legíveis, entendíveis […]” O instantâneo documental é, enfim, a documentação de um fato real por intermédio da imagem. Traz como objeto essencial a construção da realidade, se propõe a narrar a história por meio de uma sequência de imagens. Acena totalmente com algo palpável, de forma material, já existente, que se fixa com a finalidade de registrar e reproduzir com fidelidade a aparência. Para consolidar a confiança, para sustentar tal valor, apesar de não poder garantilo totalmente. É através da fotografia documental que se apresentam os maiores relatos da história, laborando como uma máquina do tempo, com função testemunhal. É imperativo proferir que a foto documental não inventa e, por isso, desempenha um papel de documento. Documento este que deve ser preservado e valorizado como fonte de história, memória e cultura de um povo.


Ensaio “Zeladores de Voduns” a saga de uma rainha negra

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Fotografia documental Entrevista

Vasconcelos e a cultura popular Márcio Vasconcelos, um maranhense de 53 anos, trabalha de forma independente. Ele se dedica a registrar a Cultura Popular e Religiosa nordestina, em especial a dos afro-descendentes do Maranhão, com riqueza de detalhes devido à sua aguçada percepção. “Os fotógrafos documentais são a fotografia documental. Se todos os fotógrafos são seres de alguma maneira solitários, os do campo documental vivem a solidão como projeto existencial”. Você também pensa assim? Márcio Vasconcelos. No início de um projeto, após a escolha ou opção por um determinado tema, gosto de ter uma gama de informação bem grande e, para isso, procuro pessoas que possam contribuir para o enriquecimento deste conteúdo. É muito comum, neste momento, eu sempre estar ‘esbarrando’ em antropólogos, pesquisadores, estudantes ou pessoas, que por coincidência, já pesquisaram coisas semelhantes. Gosto de agregar pessoas aos projetos e às vezes até as considero como coautoras. Passada essa fase, aí sim, gosto de me tornar solitário quando estou no processo criativo das imagens. Gosto de ter o meu rumo, tomar as minhas decisões e determinar um objetivo. Como você faz para que essas influências não sejam tão incisivas ou até mesmo determinantes nas suas fotos? M.V: Com relação ao processo documental, quando estamos invadindo espaços e momentos de muita particularidade, creio que o respeito, a discrição e a ética são os elementos de maior importância. Na maioria das vezes, somos intrusos e, assim sendo, precisamos demonstrar as reais intenções de nossa aproximação, o objetivo do projeto e a relevância daquele assunto para nós e para a sociedade. Além de retratar lugares, pessoas e situações, você acredita que a fotografia documental pode ajudar a mudar a realidade de um determinado lugar, a vida daquelas pessoas?

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M.V: Nos últimos anos tenho me dedicado intensamente a um trabalho mais autoral. Quando estou no processo de imersão, não tenho a preocupação de saber se este projeto vai mudar uma situação ou uma realidade, apenas quero fazer da maneira mais profunda e sincera, ser honesto comigo e com os personagens daquela história. Quero fazer a minha versão daquilo que vi e senti. Agora, é muito gratificante quando vejo isso poderá contribuir de uma forma compensatória. O que contou mais? O desejo ou a necessidade de você se voltar mais ao registro da Cultura Popular e Religiosa dos afro-descendentes no Maranhão? M.V: Acredito que os dois. No Maranhão, existem 527 comunidades quilombolas, distribuídas em 134 municípios, sendo o segundo estado brasileiro com maior número de terras de quilombo tituladas, atrás apenas do Pará. Junto com todo esse universo de matriz africana chegou também uma riqueza cultural imensurável. Isso, para um fotógrafo, é uma bênção dos Deuses. O Brasil é de uma riqueza cultural enorme, e muito pouco para a preservação desse patrimônio imaterial tem sido feito. Em cada um dos seus trabalhos, notamos que a oralidade foi transposta para as imagens. Quando começa a produção de algum ensaio, você dá uma importância maior a essa característica? M.V: Quando inicio um projeto, gosto de mergulhar profundamente nas pesquisas e obter referências sobre aquilo que pretendo produzir. Em seguida, já em campo, conversando com personagens daquela história, começamos a descobrir umas pérolas que não encontramos na bibliografia. São coisas passadas de avós para netos, e de uma maneira... às vezes até em códigos. Esses detalhes dão um brilho muito especial ao processo de criação.


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Série

MULHERES

GORDAS

Fotógrafa brasileira lança debate retratando esteriótipo em ensaio sensual Texto Fulano de tal Fotografia Fulano de Tal

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ão, não tem nada errado com o título. E não, a palavra gorda não é xingamento. É o que defende a fotógrafa Mariana Godoy: “Gosto da palavra gorda exatamente para discriminar agordofobia. Geralmente as pessoas usam ‘gordinha’, ‘cheinha’, ‘plus size’, mas ao falar simplesmente ‘gorda’ é uma forma de desconstrução para que a palavra não seja uma ofensa e sim um elogio“, diz. Foi a partir dessa perspectiva que ela, que também é gorda, criou o projeto fotográfico Empoderarte-me, que traz uma seleção de fotografias sensuais estampadas por mulheres bem acima do peso. A ideia é uma maneira de fazer com que estas mulheres retratadas aprendam a aceitar e amar seu corpo independente dos julgamentos. Depois de publicar a primeira foto do ensaio no Facebook, Mariana conta que as pessoas adoraram a ideia e identificaram na hora como um manifesto de autoaceitação. Foi assim que o projeto ganhou um site próprio e passou a divulgar também fotografias de outras mulheres que procuraram a fotógrafa queren-

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do posar para suas lentes. Muitas mulheres convivem com essa neurose diariamente. Muitas mesmo. Quantas amigas suas vivem de dieta? Quantas amigas suas morrem de culpa por comer um pedacinho de bolo? Quantas mulheres entram em depressão por causa de seus corpos depois da gravidez? Quantas delas correm para a academia querendo entrar “em forma” o mais rápido possível? Quantas tomam remédio pra emagrecer? Quantas morrem de vergonha de seus corpos na praia? Quantas conseguem ficar de boa ao vestir um biquini sem ter se esforçado pra estar “em forma”? E quantas das que eram gordas e emagreceram agora tiram onda das que continuam gordas? É claro que você pode ir pra academia. É claro que você pode malhar, pode inclusive ser musculosíssima, pois o corpo é seu. O que nós queremos é apenas que todos os corpos sejam aceitos. Todos os corpos. Os malhados. Os naturalmente magérrimos. E os gordos. Sim, as gordas querem ser aceitas e felizes. E amadas e bonitas e tratadas como pessoas normais, não como “aquela gorda”,


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Série

DESERT INK

Série de fotos retrata traficantes que trocaram as gangues pela arte da tatuagem

Texto Jonathan May Fotografia Jonathan May

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hip, Dreamer, Sinner, Lazz, Assault, Case 1, Angel e G-Money. Se antes essa trupe vivia com armas na mão negociando drogas e fugindo da polícia, hoje esses homens encontraram na arte da tatuagem uma forma de se sentirem completos e, não menos importante, ficarem dentro da lei. Eles costumavam fazer parte de gangues mexicanas na Califórnia (EUA), muitos deles já foram presos e todos já perderam amigos ou parentes na luta entre o cartel mexicano e a polícia. Desde a infância, eles cresceram em meio ao crime, sendo natural que fizessem parte disso à medida que cresciam. No entanto, era hora de mudar e a agulha e a tinta foi a solução perfeita. Na série intitulada Desert Ink (Tinta do deserto, em tradução livre), o fotógrafo australiano Jonathan May explora a história desse grupo de tatuadores por meio de cliques expressivos. Nas fotos posadas, os tatuadores aparecem na antiga posição de traficantes e mostram no torso desnudo sua paixão por tatuagens. Como

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aponta Lazz, a tatuagem difere do graffiti, expressão artística que dominavam, devido à longevidade: “agora eu posso estar na pele das pessoas e isso não vai ser lavado ou pintado por cima. É permanente.” Habilidade instintiva de Jonathan May tomar um conceito e contar uma história visual fascinante é inovador e atraente Jonathan ama para encontrar personagens interessantes e locais não convencionais, usando a cor e tratamentos para aumentar a experiência visual. Seu trabalho envolve-nos visualmente, chamando-nos para compartilhar a experiência do sujeito. Jonathan ganhou o 2009 Sydney Morning Herald “atirar a chef” competição com sua interpretação hilariante de celebridade chef Manu Fieldel em um monociclo, vestida como uma artista de circo. “ o abraço “foi selecionada como finalista no Prêmio Taylor Wessing Retrato, e foi exibido na National Portrait Gallery, em Londres, em 2011. Jonathan foi finalista no mais prestigiado prêmio retrato fotográfico da Austrália durante 6 anos consecutivos.

Em 2012 sua imagem “Lina” foi votado como o vencedor “escolha do Povo”, e, imagem 2013 ele ficou em 1º lugar com a sua imagem de “Stanford.” O dinheiro ganho foi doada para ajudar o menino com sua batalha em curso com a saúde. “ Lina “também foi selecionado pelo PDN como finalista na revista anual em 2013. revista Lurzers Arquivo chamado Jonathan um dos Top 200 Internacional de Publicidade de fotógrafos durante os últimos três anos. Jonathan ganhou duas Leão de Bronze do no Festival de Cannes com o seu trabalho no Google Maps “se antes de ir” e por “cão Sydney e gatos em casa” campanhas. Jonathan exibiu em Moscou, Sydney, Londres, Paris e na Costa do Marfim, ele realizou uma exposição privada para o presidente Alassane Ouattara. O grande amor de Jonathan é o ., criativo, que prioriza o conceito de publicidade peculiar que vem da verdadeira colaboração com diretores de arte Atualmente Jonathan tem representação em Los Angeles, Sydney e Moscou.


ATUAIS CLIENTES: Google, Snickers, Sony, Commonweath Banco, Vodafone, MTV, Westfield, Telstra Bigpond, registros Beatdisc, Optus, Sino Shakespere Companhia, Hoyts Cinemas, Lion Nathan, Coastalwatch, do Exército da Salvação, Sydney cães e gatos Casas, BPAY, Aldi, vários outros clientes a música ea arte Edição 01 / 2015 Close 77


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