Revista RG News Vol. 5 N° 2 2019

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REVISTA

RG NEWS V.5 N.2 2019

ISSN 2526-8074 Sociedade Brasileira de Recursos GenĂŠticos


Revista RG News Publicação eletrônica oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA Editor Chefe Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Editor Chefe-substituto Renato Ferraz de Arruda Veiga Editor Técnico Científico - Área Animal Afrânio Gonçalves Gazolla Editor Técnico Científico - Área Microrganismos Maíra Halfen Teixeira Liberal Editor Técnico Científico - Área Vegetal Manoel Abílio de Queiróz

DIRETORIA DA SBRG Presidente - Fernanda Vidigal Duarte Souza Vice-Presidente - Rosa Lia Barbieri Diretor Financeiro - Juliano Gomes Pádua Vice-Diretor Financeiro - Janay Almeida dos Santos Serejo Secretário Executivo - José dos Santos Neto Diretor Técnico e de Divulgação - Renato Ferraz de Arruda Veiga Vice-Diretor Técnico e de Divulgação - Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Manoel Abílio de Queiróz Vice-Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Semíramis Rabelo Ramalho Ramos Diretora de Eventos - Ana Cecília Ribeiro de Castro Vice-Diretora de Eventos - José dos Santos Neto Secretário Executivo - Everton Hilo de Souza


Revista de Recursos Genéticos - RG News Brasília, DF V.5 (2) 63p. 2019 ISSN 2526-8074 Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos Foto Capa: Kleibe de Moraes Silva – 3º lugar Concurso de Fotos IV CBRG – Curitiba – 2016

A eventual citação de produtos e marcas comerciais não expressa, necessariamente, recomendações de seu uso pela SBRG.

É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.

Editada pela SBRG


Sumário I – A palavra do Editor-Chefe ...................................................................................................................................4 II – A palavra da Presidente da SBRG .....................................................................................................................5 III - Artigos de divulgação científica.........................................................................................................................6 A tricologia como técnica para auxiliar em programas de conservação de recursos genéticos–ovinos localmente adaptados ..................................................................................................................................................................6 O que sabemos sobre os recursos genéticos microbianos do solo em áreas de cerrado no Parque Nacional de Sete Cidades? .................................................................................................................................................................11 As curadorias de germoplasma e de coleções científicas, desde os primórdios da agricultura até o ano de 1.800, no Brasil..................................................................................................................................................................16 As curadorias de germoplasma e de coleções científicas, a partir de 1.800, no Brasil ...........................................22 IV - Expresse a sua opinião ......................................................................................................................................28 O excesso de açúcar nos alimentos.........................................................................................................................28 Os recursos genéticos podem desaparecer dos campos de futebol? .......................................................................31 V – Entrevistados da vez ..........................................................................................................................................34 Aline Cândida Ribeiro Andrade e Silva .............................................................................................................34 Abelhas e recursos genéticos – ou quando a sobrevivência humana depende da conservação da biodiversidade ............34 Maria Cleria Valadares Inglis .............................................................................................................................40 A importância da conservação de Recursos Genéticos Microbianos em Coleções Científicas ........................................... 40

Cristina Yumi Miyaki ..........................................................................................................................................45 Genética aplicada à conservação e à reintrodução de uma espécie exclusivamente catingueira extinta na natureza .......... 45

VI - Memória dos Recursos Genéticos ....................................................................................................................49 Memória Nacional ................................................................................................................................................49 Carlos Eduardo de Oliveira Camargo – “Pai dos Cereais de Inverno do IAC” ....................................................... 49 Memória Internacional ........................................................................................................................................51 Adrien Étienne Pierre (1783-1862) - O “Conde de Gasparin” criador do termo Zootecnia ................................. 51 VII – Instituição Homenageada...............................................................................................................................53 O Instituto de Zootecnia do Estado De São Paulo ..................................................................................................53 VIII - Homenagens Póstumas ..................................................................................................................................56 Osvaldo Paradela Filho...........................................................................................................................................56 José Nelson Lemos Fonseca ...................................................................................................................................57 Paulo Nogueira Neto ..............................................................................................................................................59 IX – Apoio .................................................................................................................................................................62


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RG NEWS I – A palavra do Editor-Chefe

Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Editor Chefe da Revista de Recursos Genéticos RG NEWS

A Revista de Recursos Genéticos - RG News é uma revista oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos (SBRG) e temos ao longo dos últimos anos, desde a sua criação, atingido algumas metas, mas sem sombra de dúvida popularizar o termo Recursos Genéticos é uma delas. A equipe editorial tem se empenhado incessantemente, trazendo artigos, opiniões, reportagens e homenagens que consigam abranger a dimensão e importância que tem os Recursos Genéticos. Apresentamos neste número atual a riqueza microbiana do Cerrado e o papel das curadorias de germoplasma. Trazemos a questão do excesso de açúcar nos alimentos e como os Recursos Genéticos estão presentes no futebol. Entrevistas exclusivas revelam o papel das abelhas, das coleções microbianas e de uma espécie da fauna que se encontra em risco de extinção. Nossas homenagens a figuras importantes que dedicaram suas vidas aos Recursos Genéticos como Carlos Camargo, Adrien Pierre, José Fonseca e Osvaldo Paredela Filho não poderiam faltar. Destacamos o papel do Instituto de Zootecnia de São Paulo e Paulo Nogueira no avanço da ciência brasileira. Não poderia deixar de frisar algumas mudanças na direção da RG News. Com muita honra, mas sabendo do tamanho da responsabilidade, aceitei o convite do Dr. Renato Veiga em chefiar os trabalhos dos próximos números da RG News. Espelhando-me na sua dedicação, comunicação e profissionalismo espero poder corresponder à altura, melhorando a cada número a qualidade de nossa revista com o apoio de nossa equipe editorial. Agradeço a todos os que, desde o início, continuam colaborando e participando do nosso crescimento e na divulgação da importância dos Recursos Genéticos. Esses recursos de tanta importância para a humanidade estão em constante evolução, tanto quanto a sua conceituação como sua aplicação. Infelizmente muitos desses recursos se encontram pouco explorados e negligenciados, e aqui também está o nosso papel - de divulgar e mostrar à sociedade que os Recursos Genéticos são a base da nossa sobrevivência. Em nome da Equipe da Revista de Recursos Genéticos RG News envio um abraço a todos e boa leitura!

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RG NEWS II – A palavra da Presidente da SBRG

Fernanda Vidigal Duarte Souza Presidente da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos - SBRG

Temos o prazer de apresentar mais uma edição da nossa Revista RG News, agora revitalizada, com um novo editor e um novo formato. Nosso agradecimento ao Dr. Renato Veiga, que foi o grande idealizador dessa revista e quem a concretizou por todos esses anos. A Revista de Recursos Genéticos RG News tem nos abastecido com novos conhecimentos em recursos genéticos em geral, seja mostrando a história das coleções, das instituições e de seus cientistas, ou por meio de artigos técnico/científicas. Tem publicado os anais de eventos relacionados ao tema e à Sociedade, como o III Simpósio de Recursos Genéticos Vegetais do Nordeste, realizado em Aracajú em 2017 e o V Congresso de Recursos Genéticos, realizado em Fortaleza de 6 a 9 de novembro de 2018. E assim seguiremos com nossos eventos regionais e o nosso próximo Congresso a ser realizado em 2020. Buscando sempre trazer novidades com os números especiais, no início deste ano publicamos um número especial dedicado às mulheres e cuja abordagem considerava a interação entre as três áreas, animal, vegetal e microbiana. Na qualidade de Presidente da SBRG, convido cada um de vocês para a leitura deste novo número, assim como aguardamos sua contribuição para números futuros. Boa Leitura!

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RG NEWS III - Artigos de divulgação científica A tricologia como técnica para auxiliar em programas de conservação de recursos genéticos–ovinos localmente adaptados Luís Alberto Linhares Rufinoa, Kleibe de Moraes Silvab, Manuel Antônio Chagas Jacintoc, João Victor Serra Nunesd, Clayton Quirino Mendese. a Universidade Federal do Ceará - Zootecnia - Grupo de estudo de caprinos e ovinos, Pici, Fortaleza - CE. E-mail: uadnum@gmail.com b Embrapa Caprinos e Ovinos, Bairro: Zona Rural, Sobral - CE, Brasil. E-mail: kleibe.silva@embrapa.br c Embrapa Pecuária Sudeste, Bairro: Zona Rural, São Carlos – SP, Brasil. E-mail: manuel.jacinto@embrapa.br d Universidade Federal do Ceará, CCS, Bairro: Rodolfo Teófilo, Fortaleza - CE, Brasil. E-mail: jvictorsn@hotmail.com e Universidade de Brasília, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Brasília – DF, Brasil. E-mail: cqmendes@unb.br

Resumo O trabalho usou as técnicas de tricologia e microscopia eletrônica para identificarem características micromorfológicas em pelos de ovinos, para auxiliar na identificação de animais localmente adaptados e contribuir no programa de conservação de recursos genéticos animais. Palavras-chave: recurso genético animal, tricologia, ovinos, microscopia, SEM Abstract The use of trichology as a technique to aid in the conservation of genetic resources - locally adapted sheep The work used the techniques of trichology and electron microscopy to identify micromorphological characteristics in sheep hairs, to assist in the identification of locally adapted animals and to contribute to the conservation program of animal genetic resources. Keywords: animal genetic resource, trichology, sheep, microscopy, SEM Introdução A análise morfológica dos pelos dos animais tem sido usada em diversas situações, como em trabalhos forenses, ecologia, epidemiologia, arqueologia, paleontologia, controle de qualidade de alimentos e na descoberta hábitos alimentares de predadores (QUADROS & MONTEIRO-FILHO, 2006; FÉLIX, 2014). Além disso, tem sido usada na investigação na adaptação de animais às condições adversas (FARAG, 2015). Essa técnica permite identificar características peculiares às espécies a partir da análise dos pelos (padrão medular, tamanho, cor), gerando informações chave que auxiliam na classificação das espécies (WALLIS, 1992), contribuindo para programas de conservação de raças localmente adaptadas com o propósito de atestar a ascendência genética dos animais (FELIX, 2014).

A técnica foi proposta na Itália no programa de conservação de raças nativas com objetivo de assegurar a origem genética desses pequenos ruminantes, visto que produtos oriundos de raças locais, como queijos, têm um maior valor agregado (FELIX, 2014). Uma das ferramentas utilizadas no processo de certificação de origem é a análise genética dos animais, aceita por Programas de Certificação e indicação de procedência (TORMEN, 2011). O estudo das estruturas do pelo através de microscópica ótica e eletrônica permite reduzir a subjetividade na análise desse material (MOYO, 2006). A utilização de técnicas de computação, juntamente com medidas quantitativas dos parâmetros analisados contribuem para uma maior precisão e confiabilidade das mensurações realizadas, permitem que as informações geradas sejam utilizadas como parâmetro para estudos de classificação das raças (VALETIN et al., 1994; MOYO et al., 2006; STRAVISI, 2007; VERMA et al., 2020). 6


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O pelo é uma estrutura filamentosa e queratinizada que se projeta da superfície epidérmica da pele (FELIX, 2014), constituindo-se de haste, escudo e bulbo. A haste é o fragmento que se segue ao bulbo do pelo, sendo mais delgado podendo expor-se tanto reto como ondulado. O escudo é mais dilatado e fica entre a haste e a extremidade distal do pelo O pelo é constituído por três revestimentos de células queratinizadas: a cutícula (camada externa), o córtex (camada intermediária) e a medula (camada interna) (FELIX, 2014). Exemplo dado por Ahmed et al. (2018). Cutícula A cutícula constitui-se de sobreposições de escamas ao longo do eixo do pelo que pode apresentar diversas posições, várias estruturas na margem, diferentes distancias entre si e um padrão. Conforme sugestão MARINIS et al. (2006).

Figura 1 – Cutícula de Morada Nova variedade vermelha - Arquivo Pessoal

Figura 2 – Cutícula de Somalis Brasileiro - Arquivo Pessoal

Figura 3 – Cutícula de Morada Nova variedade branca Arquivo Pessoal.

Córtex O córtex apresenta células aglutinadas dentro de uma massa hialina, mas não possuem características que possam ajudar na identificação que faça distinção entre animais adultos. (DE MARINIS et al., 2006).

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Figura 4 – Córtex de Morada Nova Variedade vermelhaArquivo Pessoal.

Figura 6 – Medula de Morada Nova Variedade Vermelha - Arquivo Pessoal.

A recomendação é usar animais adultos na retirada dos pelos, porque nos animais jovens predomina os subpelos, os quais são inadequados para usar em tricologia. Segundo DAT (1966); DREYER (1966); RIGGOTTR & WYATT (1980) a remoção por ser de diversas regiões do corpo do animal sem comprometer suas identificações. No entanto, os pelos das extremidades mostram-se parecidos. Essa situação não faz distinção entre espécies (FELIX, 2014). O estudo pode servir como mais uma ferramenta para conhecimento e uso de recursos genéticos animais que pode gerar um melhor sistema de identificação, como também servir de dados para programa de melhoramento genético e pesquisa e desenvolvimento da agropecuária (FELIX, 2014). A tipificação dos pelos possibilita esclarecer características de rusticidade e adaptações às condições adversas (FELIX, 2014).

Figura 5 – Córtex de Morada Nova Variedade vermelhaArquivo Pessoal.

Medula A medula é constituída de células soltas com espaços ocupados por ar com células fracamente compactadas entre as mesmas. A composição pode ser (unicelular irregular e multicelular), estrutura (unisseriada, multisseriada, preenchida com treliças ou parcialmente). (DE MARINIS et al., 2006).

Metodologias A caracterização fenotípica através de várias técnicas faz parte de programas de conservação in situ de raças locais. O uso da tricologia para análise da arquitetura dos pelos, seja por microscopia ótica ou eletrônica, apresenta-se como uma metodologia de grande valor em programas de conservação de raças localmente adaptadas, utilizada na Itália, para verificar origem genética de ovinos produtores de queijo, bem como no Brasil, na caracterização dos pelos das raças bovinas de Pantaneiro e Curraleiro no Brasil. 8


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Conclusões

Agradecimentos

A técnica pode auxiliar na pesquisa e desenvolvimento da produção animal no Brasil, programas de conservação e processos de certificação de origem nos animais de interesse econômico.

Os autores gostariam de agradecer à Central Analítica UFC/CT- INFRA/MCTI-SISNANO/Pró-Equipamentos CAPES.

REFERÊNCIAS AHMED, Y.A., ALI, S., GHALLAB, A. Hair histology as a tool for forensic identification of some domestic animal species. 2018. EXCLI Journal, 17:663-670 – ISSN 1611-2156. CHERNOVA, O.F., KIRILLOVA, I.V., BOESKOROV, G.G., SHIDLOVSKIY, F.K., KABILOV, M.R. 2015. Architectonics of the hairs of the woolly mammoth and woolly rhino. Proceedings of the Zoological Institute RAS Vol. 319, No. 3, 2015, рр. 441–460. CHERNOVA, O.F. Architectonic and Diagnostic Significance of Hair Cortex and Medulla. 2003. Biology Bulletin, Vol. 30, No. 1, pp. 53–62. Translated from Izvestiya Akademii Nauk, Seriya Biologicheskaya, No. 1, pp. 63–73 DE MARINIS, A. M., ASPREA, A. 2006. Hair identification key of wild and domestic ungulates from southern Europe. Wildl. Biol. 12: 305-320. FARAG, M. R., GHONIEM, M. H., ABOU-HADEED, A. H., DHMA, K. 2015. Forensic Identification of some Wil Animal Hair using Light and Scanning Electron Microcopy. Advances in Animal and Veterinary Sciences, V.3, pp. 559-568. FELIX, G. A., PIOVEZAN, U., QUADROS, J. ALVES, F. V., JULIANO, R.S. FIORAVANTI, M. C. S. 2014. Adaptação de metodologia: análise de microestruturas de pelos para identificação de mamíferos – Tricologia. Comunicado Técnico – Embrapa Pantanal 96, 6p. FELIX, G. A., PIOVEZAN, U., QUADROS, J. ALVES, F. V., JULIANO, R.S. FIORAVANTI, M. C. S. 2014. Trichology for identifying mammal species and breed: Its use in research and agriculture. Arch. Zootec. 63 ®: 107-116. GHARU, J., TRIVEDI, S. Comparison of cuticle scale patterns, medulla and pigment in hairs of domestic goat, sheep, cow and buffalo from Rajasthan (India). 2015. J. Chem. Bio. Phy. Sci. Sec. B. Nw. Vol.5. Nº. I, 570-577. DE MARINIS, A.M. & Asprea, A. 2006. Hair identification key of wild and domestic ungulates from Southern Europe. Wildlife Biology, 12:3. MARTIN, P.G., GHELER-COSTA, C., VERDADE, L.M. 2009. Microestruturas de pelos de pequenos mamíferos nãovoadores: chave para Identificação de espécies de agroecossistemas do estado de São Paulo, Brasil. Biota Neotrop. 9(1). MEYER, W., et all. The hair cuticle of mammals and its relationship to functions of the hair coat. 2002. J. Zoo. London, 256, 489-494. POURLIS, A. F., CHRISTODOLOULOPOULOS, G. 2008. Morphology of the Hairs in the Goat-Breed Capra prisca. Journal of Animal and Veterinary Advances 7(9): 1142-1145. QUADROS, J., MONTEIRO-FILHO, E. D. DE A. 2006. Coleta e preparação de pelos de mamíferos para identificação em microscopia ótica. Rev. Bras. De Zoologia 23 (I): 274-278. QUADROS, J., MONTEIRO-FILHO, E. D. DE A. Revisão conceitual, padrões microestruturais e proposta nomenclatória para pelos-guarda de mamíferos brasileiros. Rev. Bras. De Zoologia 23 (I): 279-292.

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TORNEM, N. The trichological analysis in the study of local sheep breeds. 2011. 19th Congress of Animal Science and Production Association. Ital J Anim Sci vol.10: s1, pg. 37. TRIDICO, S.R., HOUCK, M.M., K. PAUL KIRKBRIDE, K., SMITH D, M.E., YATES, B.C. 2014. Morphological identification of animal hairs: Myths and misconceptions, possibilities and pitfalls. Forensic Science International 238, 101–107.

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RG NEWS O que sabemos sobre os recursos genéticos microbianos do solo em áreas de cerrado no Parque Nacional de Sete Cidades? Ademir Sergio Ferreira de Araújo a, Sandra Mara Barbosa Rocha b, Jadson Emanuel Lopes Antunes c, Marineide Rodrigues do Amorim d, Igda Carolline Barros Garcia e a Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Agrárias, campus CCA, Bairro Ininga, Teresina – PI, Brasil. E-mail: ademir@ufpi.edu.br b Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Agrárias, campus CCA, Bairro Ininga, Teresina – PI, Brasil. E-mail sandramarabr@yahoo.com.br c Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Agrárias, campus CCA, Bairro Ininga, Teresina – PI, Brasil. E-mail jadsonantunes2016@gmail.com d Instituto Federal do Piauí (IFPI), Campus Pedro II. Rua Antonino Martins de Andrade, nº 750, Bairro Engenho Novo, PI, Brasil. E-mail: marineide.amorim@ifpi.edu.br e Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Agrárias, campus CCA, Bairro Ininga, Teresina – PI, Brasil. E-mail: igda33@gmail.com

Resumo Este trabalho mostrou o conhecimento sobre os recursos genéticos microbianos (RGM) do solo ocorrentes no Parque Nacional de Sete Cidades (PNSC), instalado no estado do Piauí. Os resultados mostraram que os RGMs, dentro de áreas de Cerrado no PNSC, apresentam estrutura e diversidade diferente dos de outras áreas deste bioma. Tais informações serão úteis para práticas de conservação e preservação da biodiversidade deste ecossistema. Palavras-chave: germoplasma, microbiologia, solo, Piauí, ecossistema. Abstract What do we know about microbial genetic resources of soil in cerrado areas in the Sete Cidades National Park? This work showed the knowledge about the microbial genetic resources (MGR) occurring in the Sete Cidades National Park (SCNP), located in the state of Piauí. The results showed that the MGRs, within Cerrado areas in the SCNP, present structure and diversity different from those of other areas of this biome. Such information will be useful for practices of conservation and preservation of the biodiversity of this ecosystem. Key words: germplasm, microbiology, soil, Piauí, ecosystem. O Parque Nacional de Sete Cidades? Em toda sua extensão territorial, o Brasil possui 854 milhões de hectares inseridos em distintos biomas. Dentre os biomas brasileiros, o Cerrado ocupa mais de 200 milhões de hectares com fisionomia característica composta por árvores baixas com troncos e galhos retorcidos. No Nordeste brasileiro, o bioma Cerrado ocupa uma área superior a 150 milhões de hectares distribuídos em áreas com vegetação de Caatinga, babaçu, florestas e campos inundáveis (MESQUITA & CASTRO, 2007). Especialmente no Piauí, este bioma está presente em mais de 11 milhões de hectares e apresenta importância em áreas agrícolas como principal região produtora de grãos no estado. Por outro lado, áreas de Cerrado no estado do Piauí podem ser encontradas com preservação permanente

e legal inseridas no sistema brasileiro de parques nacionais.

Figura 1. Localização do PNSC no estado do Piauí

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Desta forma, o Parque Nacional de Sete Cidades (PNSC), localizado no Estado do Piauí, encontra-se inserido em uma região prioritária para a conservação da biodiversidade do bioma Cerrado (FELFILI & MENDES, 2010). O PNSC está enquadrado na expansão da Reserva da Biosfera da Caatinga (CASTRO, 2003) e foi oficializado pelo Decreto Federal n° 50.744/1961 com uma área de 6.221,48 ha (Figura 1). As áreas com diferentes fisionomias dentro do PNSC já vêm sendo estudadas e as pesquisas enfocaram aspectos geomorfológicos, principalmente a descrição e catalogação de inscrições rupestres. Além disso, estudos relacionados à florística do PNSC foram realizados e catalogaram 228 espécies com as mais variadas formas de crescimento (BARROSO & GUIMARÃES, 1980). O mapeamento da vegetação dentro do PNSC foi realizado nos estudos de Oliveira et al. (2007) com classificação estrutural, via imagens de satélites, de seis tipos de cobertura vegetal. As principais classes vegetacionais obtidas por satélite foram as formações savânicas, florestais e campestres. Os trabalhos têm também mostrado que há diferenças de riqueza de espécies de plantas e da fauna entre as diferentes fisionomias encontradas no PNSC. Estas diferenças estão principalmente relacionadas às condições edafoclimáticas das áreas. Neste sentido, Lindoso et al. (2007) observaram solos arenosos e com baixos teores de fertilidade e matéria orgânica em áreas de Cerrado no PNSC. Finalmente, observa-se que os estudos relacionados ao PNSC abordaram as pesquisas relacionadas à comunidade biótica acima do solo (plantas e macrofauna). Entretanto, é de conhecimento geral que existe uma relação intrínseca entre a comunidade biótica acima e abaixo do solo (microbiota e microfauna). Recursos genéticos microbianos do solo em áreas de Cerrado preservadas no Parque Nacional de Sete Cidades Os Recursos Genéticos Microbianos (RGM) do solo têm relação direta com as funções e características essenciais para a manutenção da capacidade produtiva e o funcionamento sustentável de todo o ecossistema. Os microrganismos do solo atuam na ciclagem de nutrientes, na regulação da dinâmica da matéria orgânica, no sequestro de carbono no solo e na emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. Neste sentido, o conhecimento dos recursos genéticos microbianos do solo é importante uma vez que os microrganismos

desempenham papel importante em diversos processos ecológicos com influência na vegetação. Recentemente, os estudos sobre RGM no solo têm utilizado uma grande variedade de ferramentas moleculares. Novas técnicas moleculares baseadas na caracterização de ácidos nucleicos (DNA e RNA) extraídos do solo oferecem grande potencial para investigar a vasta porção da comunidade microbiana não cultivável (CRECCHIO et al., 2004). Elas são independentes da cultura e, de acordo com sua sensibilidade, podem detectar espécies, gêneros, famílias ou mesmo grupos taxonômicos maiores. As técnicas moleculares permitem distinguir as comunidades microbianas e identificar os fatores que influenciam o comportamento dos microrganismos. O entendimento do comportamento dos RGMs do solo pode resultar em implicações importantes na conservação da biodiversidade (ZHOU et al., 2002). A caracterização das comunidades do solo é de extrema importância ao fornecer dados para estudos posteriores sobre as populações bacterianas dos solos em diferentes condições no Brasil (PEREIRA et al., 2006), assim como ser somado aos dados de base para preservação de áreas nativas e recuperação de habitats degradados. Recursos genéticos bacterianos e fúngicos no Parque Nacional de Sete Cidades Em áreas de Cerrado, dentro do Parque Nacional de Sete Cidades, em um gradiente vegetacional (Campo graminóide, Cerrado strictu sensu, Cerradão e Floresta decidual) foram encontrados mais de 900 mil sequências de 16s RNA relacionados à comunidade bacteriana. Especificamente, foram identificados valores superiores a quatro mil unidades taxonômicas operacionais, ou seja, possíveis espécies bacterianas. Sequências

Chao1

Shannon

Simpson

261.464

1.476

8,08

0,989

Cerrado stricto sensu Cerradão

191.869

1.411

8,04

0,990

220.621

1.557

8,62

0,991

Floresta decidual

303.237

1.449

7,91

0,984

Campo graminóide

Tabela 1. Riqueza e diversidade bacteriana ao longo do gradiente vegetacional de Cerrado no PNSC. 2018.

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A floresta decidual apresentou maior riqueza de espécies bacterianas (31%) (Tabela 1). As demais fisionomias: Campo graminóide, Cerrado strictu sensu e Cerradão apresentaram 27%, 20% e 22% de riqueza, respectivamente. A comunidade bacteriana encontrada foi classificada em 37 diferentes filos, 96 classes e 83 gêneros. Os oito principais filos (abundância superior a 1%) encontrados foram: Proteobacteria, Acidobacteria, Actinobacteria, Firmicutes, Verrumicrobia, Planctomycetes, Chloroflexi e WPS-2. A comunidade bacteriana não classificada foi quantificada em mais de 5%. Especificamente, Proteobacteria foi a mais imperante no Cerrado strictu sensu, Cerradão e Floresta decidual, enquanto Acidobacteria foi a mais dominante no Campo Graminóide. O filo Actinobacteria foi mais predominante na Floresta decidual. Os filos bacterianos Bacteroidetes, Chlamydiae, AD3, Cyanobacteria, TM6, Elusimicrobia, Gammatimonadetes, Armatimonadetes, Tenericutes, Chlorobi, TM7, OD1, GAL15, OP3, FCPU426, Spirochaetes, BHI80-139, Nitrospirae, Synergistetes, Deferribacteres, SR1, Caldithrix, SBR1093, OP11, WS3, Fibrobacteres, BRC1, GN04 e Lentisphaerae foram encontrados em menor abundância. Os gêneros mais frequentes foram Rhodoplanes, Candidatus Xiphinematobacter, Bacillus, DA101, Candidatus Koribacter, Mycobacterium, Alicyclobacillus, Conexibacter, Candidatus Solibacter, Paenibacillus Pedosphaera, Cohnella e Burkholderia. Os resultados encontrados mostram que as áreas de Cerrado dentro do PNSC apresentam alta diversidade e fartura de filos bacterianos. A dominância de Proteobacteria, no Cerrado strictu sensu, Cerradão, e Floresta Decidual, está relacionada às características destas áreas: alta umidade, teores de C orgânico e nutrientes (FERER et al., 2007; CASTRO et al., 2016). Especialmente, a presença de Alphaproteobacteria nas áreas de Cerrado no PNSC é importante, pois, este grupo apresenta vários gêneros importantes no processo de fixação biológica de N e isto tem potencial de prospecção de novas espécies. O filo Acidobacteria foi encontrado nas áreas de Cerrado, principalmente no Campo Graminóide, e isto está relacionado às condições adversas encontradas nesta área. Este grupo de bactérias são conhecidas como tolerantes a solos ácidos, com baixa umidade e parcos nutrientes. Os gêneros Bacillus e Paenibacillus, que estão envolvidos na promoção de crescimento em plantas, foram

encontrados nas áreas de Cerrado. Neste sentido, as áreas de Cerrado do PNSC apresentam potencial de prospecção destes gêneros com objetivo de encontrar espécies que possam ser utilizadas na agricultura. Os resultados observados para a comunidade bacteriana dentro do PNSC indicam o local como fonte de microrganismos que podem ser usados no futuro para fins biotecnológicos e industriais. Em relação aos RGMs relacionados à comunidade fúngica, foram encontrados mais de 430 mil sequências 18S rRNA que classificaram em 1.971 unidades taxonômicas operacionais. A maior riqueza em fungos foi observada na floresta decidual (Tabela 2). Por outro lado, a maior diversidade foi verificada no Campo Graminóide. UTOs

Chao 1

Shannon

Simpson

Campo Graminóide

363

421

6,33

0,960

Cerrado stricto sensu

368

445

6,03

0,944

439

519

6,13

0,949

468

540

5,68

0,901

Cerradão Floresta decidual

Tabela 2. Riqueza e diversidade da comunidade fúngica ao longo do gradiente vegetacional de Cerrado, no PNSC, em 2018. UTO – unidades taxonômicas operacionais.

Os filos Ascomycota, Basidiomycota foram os mais abundantes nas áreas de Cerrado no PNSC. O filo Ascomycota foi o de maior presença no Cerrado, enquanto Basidiomycota dominou a Floresta Decidual. As classes Agaricomycetes, Eurotiomycetes, Lecanoromycetes, Zygomycetes, Dothideomycetes e Taphrinomycetes foram as mais profusas ao longo do gradiente do Cerrado. Os resultados mostram que mais de 1900 unidades taxonômicas operacionais de fungos foram encontradas sendo superior aos encontrados em áreas de Cerrado no Brasil (CASTRO et al., 2008; 2016). Os dados observados mostram a detecção de importantes grupos de fungos, tais como micorrizas e zigomicetos, para a agricultura. A dominância dos filos Ascomycota e Basidiomycota (>70%) mostra que as propriedades dos solos influenciaram na abundância destes fungos. Do ponto de vista ecológico, o filo Ascomycota apresenta gêneros produtores de enzimas envolvidas na degradação de celulose. Por outro lado, o filo Basidiomycota está envolvido no ciclo do carbono, atuando como decompositor de compostos com alto teor de lignina. Da 13


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mesma forma, a classe Agaricomycetes representa fungos importantes para a decomposição de resíduos (WEBSTER & WEBER, 2007) e causadores de doenças. Além disso, estes fungos podem ser simbiontes de plantas. Conclusões Os estudos mostraram que os RGMs, dentro de áreas de Cerrado, no PNSC apresentam estrutura e diversidade diferente dos de outras áreas deste bioma. Os resultados mostraram distintos padrões de comunidade de

bactérias e fungos. Estas informações corroboram a hipótese inicial de que as áreas de Cerrado, dentro do PNSC, apresentam distinta diversidade e podem ser centros de diversidade microbiana. Os resultados também mostraram o potencial de prospecção de espécies microbiana para uso agrícola, ambiental e industrial. Por outro lado, os dados podem auxiliar em práticas de conservação e preservação da biodiversidade no PNSC.

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RG NEWS As curadorias de germoplasma e de coleções científicas, desde os primórdios da agricultura até o ano de 1.800, no Brasil Renato Ferraz de Arruda Veiga a a

Fundação de Apoio à Pesquisa Científica, Diretoria Administrativa, Rua Dona Libânia 2017 Centro, Campinas – SP, Brasil. E-mail: renatofav53@gmail.com.

Resumo Parece estranho falar de curadorias antes do ano de 1.800 no Brasil, mas mesmo que não existissem formalmente neste período da história brasileira, ainda assim nossos antepassados exerciam a missão de curadores com nosso patrimônio genético nativo e até mesmo com o exótico introduzido, muito antes da chegada dos portugueses no Brasil. Posteriormente, já com nossos colonizadores, muito foi incrementado, em especial com as espécies exóticas introduzidas. Nosso objetivo com este texto foi o de relembrar este rico período histórico, mostrando como foi profícuo para alicerçar os primórdios da caminhada pelos nossos recursos genéticos. Palavras-Chave: Sistema de Curadorias, Programa Nacional, Banco Ativo de Germoplasma, Recursos Genéticos. Abstract The gene bank and of scientific collections curators from the beginnings of agriculture until the year 1.800 at Brazil It seems weird to talk about curators before the year of 1.800 in Brazil, however even if they did not formally exist in this period in Brazilian history our ancestors exercised the mission of curators with our native germplasm and even with the introduced exotic germplasm long before the Portuguese arrived in Brazil. Later, our colonizers increased the number of exotic species. Our goal with this text is to recall this historical and rich period, showing how fruitful it was to underpin the beginnings of genetic resources journey. Keywords: Active Gene Bank, Curatorial System, Historical National Program, Genetic Resources.

1. Introdução A história do Universo é contada a partir de 13,5 bilhões de anos, enquanto a formação do nosso planeta pode ser contada a partir de 4,6 bilhões de anos pela ciência da Geologia. A vida surge no oceano alguns milhões de anos depois com Luca (organismo unicelular), no PréCambriano. A vida continua surgindo neste período com as Bactérias há 3,5 bilhões de anos, com os fungos há um bilhão de anos. A seguir, no Paleozóico, na contagem de milhões de anos, surgem as algas verdes, os peixes, as Briófitas, os Anfíbios, as Pteridófitas, os Répteis, se forma o Continente Pangea, as Gimnospermas, os Dinossauros e os mamíferos (respectivamente). No Mesosóico surgem as aves e as Angiospermas, e ainda ocorre a extinção dos dinossauros. No Cenozoico se formam os continentes e a Antártida. No fim deste período surge o ser humano,

provavelmente há 300 mil anos, portanto, há pouquíssimo tempo. No Brasil, há informações de que o homem chegou aqui desde 50 mil anos atrás (GUIDON, 2003; DORNELLES, 2008). Nosso país é detentor da maior riqueza em megabiodiversidade do planeta, abrigando seis biomas: Amazônia, Caatinga, Pampa, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica. Engloba 78 ecorregiões, segundo suas características bióticas e abióticas, nas quais se destacam a vegetação, clima, relevo e solo. Legalmente, preserva germoplasma in situ em 304 unidades federais, em 532 unidades estaduais e, em 941 reservas particulares de patrimônio natural (MITTERMEIER & MITTERMEIER, 1997; MMA, 2010; MATHEUS & MANTOVANI, 2015; MARIANTE, SAMPAIO & INGLIS, 2018). Isto é motivo suficiente para priorizarmos a preservação in situ deste

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patrimônio genético nativo. No entanto, não podemos deixar de também privilegiar a conservação ex situ do germoplasma exótico introduzido e aclimatado ao longo dos séculos. A interferência humana na natureza é explicável através de três palavras: a) biofilia: pelo homem possuir um “instinto de preservação e de conservação” pelo amor à natureza (WILSON, 1984); b) autossustentabilidade: pela necessidade de “sobrevivência dos indivíduos e grupos” de seres humanos; e c) coevolução: pela interdependência do homem com as demais espécies animais, microrganismos e vegetais, em decorrência da domesticação. Os recursos genéticos (a variabilidade genética dos seres vivos, com valor atual ou potencial) e as coleções científicas (amostras representativas de espécies vegetais, de animais, de microrganismos, e/ou de coleções de organismos afins, vivos ou não, conservados há longos prazos em museus, herbários, laboratórios, etc., para estudos e/ou educação), são mantidos para atender à agropecuária e/ou ao meio ambiente, e organizados na forma de curadorias (a organização do conjunto de coleções institucionais, cada uma contendo acessos representativos da variabilidade genética, de uma determinada espécie, ou de espécies distintas de um mesmo gênero, ou até mesmo de um grupo de espécies de gêneros afins, quer sejam de animais, de microorganismos, ou de plantas, e inclusive de coleções científicas afins), mantidas e manejadas por especialistas, designados a cargos ou encarregados, denominados curadores (WETZEL & FERREIRA, 2007; VEIGA & QUEIRÓZ, 2015; VEIGA, KARASAWA & BARBOSA, 2015). Posto tudo isto, procura-se neste texto contar parte da nossa história relacionada ao tema, e ao mesmo tempo procurando sensibilizar os colegas para a integração em prol da organização nacional em Recursos Genéticos. 2. Fases Cronológicas Optou-se aqui por seccionar o texto em três fases cronologicamente distintas, escolhidas apenas para fins didáticos, e chamadas aqui de: antiga, pré-moderna e moderna (esta última ficando para um próximo texto nesta revista), como apresentamos a seguir: 2.1 Fase Antiga

Esta é a primeira fase, chamada de antiga, e é aquela anterior à descoberta do Brasil pelos portugueses (22/04/1500), portanto, exclusiva dos povos indígenas. Estes habitantes, a priori viviam como caçadorescoletores, itinerantes, mas com o passar dos tempos, passaram a se fixar mais territorialmente e a praticar a agropecuária, onde os recursos genéticos manejados eram tanto os domesticados de origem nativa, como os exóticos trazidos de outros países. Nesta fase, as plantas são tratadas pelos nomes comuns, lembrando que nem sempre se referem às mesmas espécies cultivadas nos dias de hoje. As datas citadas também são controversas, mesmo tendo uma base científica com hipóteses advindas de estudos arqueológicos em sítios de sambaquis, terras pretas, geoglifos, casas enterradas, pinturas e gravuras rupestres etc. Supõem-se que o Homo sapiens L. começou a chegar ao continente americano, em várias levas migratórias, desde hipotéticos 50.000 anos atrás. A partir dos estudos da “Luzia” (fóssil de 11.000 anos, encontrado na Lagoa Santa – MG), permitiu-se levantar a hipótese de que ao menos houve duas levas migratórias no continente, a primeira com traços africanos e australianos e a segunda de ameríndios com morfologia mongoloide, semelhante aos indígenas atuais. Denis Vialou e Águeda Vilhena Vialou afirmaram terem datado a presença humana em Cuiabá-MT, na Serra de Araras, de 27 mil anos. Niède Guidon cita que há dentes humanos datados de 15 mil anos, arte rupestre na Serra da Capivara – PI – Brasil, com 29 mil anos, e que há resíduos de fogueiras datados de 48 mil anos (PIVETTA, 2008; AFP, 2013; NEVES, 2018). Desta forma, tais desbravadores provavelmente conviveram com animais e plantas hoje extintos como a preguiça gigante, o tigre dente de sabre, e espécies de plantas diversas. Ainda herdamos a Biofilia e vivemos a Coevolução, enquanto efetivávamos a domesticação (GÓMES-POMPA & KAUS, 2000; DINODÊ, 2008; CLEMENT, FREITAS & ROMÃO, 2015). Há catalogados mais de 20.000 sítios arqueológicos no país, sendo 17 tombados pelo IPHAN, como por exemplo os Geoglifos (grandes figuras gravadas no chão), como os 523 encontrados no Acre e os 81 catalogados Mato Grosso, com seus prováveis 2.500 anos de existência antes da chegada dos Europeus. Sabe-se que os Tupis formavam aldeias populosas, com mais de 600 pessoas, e que eram praticantes da agricultura de corte e queima, o que colocava grande parte das florestas temporariamente 17


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em estágios secundários de sucessão, aos quais se pressupõe a razão da inexistência de relatos de dificuldades dos exploradores ao penetrarem em nossas florestas. Atualmente as dez tribos mais numerosas que representam metade da população indígena no Brasil são, respectivamente: Ticuna, Guarani, Caingangue, Macuxi, Terena, Guajajara, Xavante, Ianomâmi, Pataxó e Potiguara (DEAN, 1995; JOKURA, 2011; RODRIGUES, 2016; BARBOSA, 2017). 2.1.1 O início da agropecuária no Brasil Embora se calcule o início da agricultura mundial para o período Neolítico, aproximadamente há 19.000 anos, estima-se que no nosso país o homem passou do hábito nômade de caçador-coletor para o de agricultor e/ou piscicultor “sedentário” (enquanto a localização lhe foi conveniente), somente a partir de 9.000 (em Porto Velho – RO) e 2.000 anos (na Ilha de Marajó – PA), respectivamente (VEJA, 2012; VEIGA, 2017; CRIVELLARO, 2018; LOPES, 2018;). 2.1.2 Germoplasma nativo domesticado e exótico introduzido pelos índios Mesmo que a domesticação seja uma seleção artificial efetivada pelo homem, nada mais natural que nossos índios sejam considerados os pioneiros (coletores, introdutores, aclimatadores, domesticadores, mantenedores, agricultores, selecionadores, intercambiadores, e usuários) dos nossos RG, séculos antes da chegada dos portugueses, com: abacaxi (exótica), abóbora, açaí, algodão, amendoim-comum (exótica), amendoim silvestre (A. stenosperma, A. villossulicarpa, A. pintoi), ariá, arroz, babaçu, batata-doce, banana (exótica), buriti, cacau, cará (exótica), cajá (exótica), caju, cajurú, castanha-do-pará, cupuaçu, erva-mate, feijão-fava (exótico), goiaba, guaraná, ingá, jabuticaba, jerimum (exótica), juá, macaúba, maçaranduba, mandioca, mangaba, mamão (exótica), maracujá, milho (exótica), patauá, pequi, pinheiro-brasileiro, pimenta-da-terra (exótica), pupunha, seringueira, tabaco (exótica), timbó, tucumã, etc. Não menciono o abacaxi, arroz, amendoim e o algodão como exóticas, porque os gêneros englobam espécies nativas do Brasil, parentes das cultivadas hoje em dia, as quais também podem ter sido cultivadas pelos índios, assim como também domesticaram espécies exóticas e as introduziram no país (CLEMENT, FREITAS & ROMÃO, 2015; CRIVELLARO, 2018).

Segundo Kerr, Campos & Barros (1986), os índios estão na Amazônia há mais de 10.000 anos, e praticamente domesticaram todas as plantas que conhecemos, assim, os primórdios do melhoramento genético vegetal perdem-se na pré-história e confundem-se com as próprias origens das plantas cultivadas, pois, o simples ato de colher e plantar já é seletivo (PAIVA & VALOIS, 2001). Acredita-se que nos auto domesticamos ao longo dos tempos, simplesmente procurando cruzar com parceiros que possuíam qualidades que nos eram interessantes. Da mesma forma fomos tratando os animais, com uma relação ecológica do tipo esclavagismo (se aproveitando da companhia, do trabalho e dos produtos), selecionando sempre os com mais e melhores predicados; por outro lado, provocando também mudanças genéticas. O que se sabe é que muitos animais foram domesticados simplesmente escolhendo-se por exemplo os mais dóceis; enfim, o simples hábito dos nossos índios de “amansar” animais de pequeno porte, levando seus filhotes para a aldeia, como as araras, as capivaras, os cachorros (exóticos), as emas, os macacos, os papagaios, os periquitos, os quatis, as queixadas, e até mesmo as serpentes, dentre outras espécies nativas. Os caçadorescoletores eram homens, que selecionavam principalmente os animais adultos para a alimentação, e que também praticavam a piscicultura (OLIVEIRA et al., 2011; VELDEN, 2011; LOPES, 2017). 2.2 Fase pré-moderna A esta fase denominou-se de pré-moderna, começando em 1.500 (com a descoberta do Brasil pelos portugueses), e vai até 1.800. 2.2.1 Contribuições dos colonizadores e escravos Foi uma época muito rica em introduções de germoplasma exótico, pelos colonizadores portugueses (principalmente) e holandeses (especialmente através de Nassau), além dos espanhóis, com inúmeras introduções ao longo desta fase, destacando-se a cana-de-açúcar e o café, responsáveis por grandes ciclos econômicos brasileiros. Fica difícil dizer quem foi o introdutor, pois muitos acessos plantados no Brasil não vingaram na época. Enfim, pode-se citar que tentaram aclimatar inúmeras espécies como: abacate, abóbora, acelga, agrião, alface, alfavaca, almeirão, alho, arroz, berinjela, beterraba, canela, carambola, cebolinha, cenoura, chicória, cidras, coentro, coco, couve, dendê, ervilha, espinafre, feijão-demetro, figo, fruta-pão, gengibre, gergelim, hortelã, laranja, 18


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lentilha, legumes diversos, limão, limas, manjericão, mostarda, nabo, pepino, pimentão, rabanete, repolho, romã, salsa, tomate, trigo, uva, vinagreira, etc.. Dos continentes Africano e Asiático vieram introduzidas/dispersadas pelos escravos (quilombolas), a partir de 1.538: bananeira, inhame, jaca, jambo, jiló, mamona, manga, maxixe, melancia, melão, quiabo, tamarindo etc. Ainda introduziram animais exóticos, a partir de 1.530, como: boi, bode, burro, carneiro, cavalo, galinha, pato e porco, entre outros. (KERR, CAMPOS & BARROS, 1986; ROMÃO, 1995; FIRMINO et al., 2009; ALVES, 2010; CORREA, 2010). 2.2.2 Contribuições dos jardins botânicos pelos holandeses, portugueses e brasileiros Em 1.772, houve a criação da Academia Científica do Rio de Janeiro, pelo marquês do Lavradio, para se dedicar à física, química, história natural, medicina, farmácia e agricultura, mas não teve vida longa. Os brasileiros que começavam a voltar depois de estudar no exterior iniciavam a ciência no Brasil (MASSARANI & MOREIRA, 2002). Muitas coleções foram montadas nos Jardins Botânicos brasileiros, criados entre 1.700 e 1.800 (SP, PA, BA, MG, PE, e SE), e apesar do seu germoplasma ter desaparecido ou ter sido descaracterizado, provavelmente também foram fonte de dispersão de germoplasma relevante ao Brasil. Além disso, nosso Jardim Zoobotânico pioneiro foi obra holandesa, embora pelas mãos de um alemão, João Maurício de Nassau (Johan Maurits Van Nassau-Siegen), no início da década de 1.600, em Recife – PE, com pomares, hortas, plantas medicinais, aromáticas, e animais nativos e, ainda, dentre outras contribuições trouxe o também alemão George Marcgrive (entre vários especialistas, em especial pintores), um naturalista, matemático e geógrafo, que organizou a primeira expedição científica nacional de coleta zoobotânica, em 1.636. Nesta época houve relevantes introduções como: baunilha, canela, cânhamo, capim-colonião, coqueiro, cravo, figo, fruta-pão, gengibre, índigo, jenipapo, laranja, limão, mamão, mangabeira, noz moscada, pimenteira, romã, tabaco, teca, trigo (mais de 20 spp.). Cultivavam ainda muitas fruteiras nativas, hortaliças

e flores, além disto trouxeram do reino animal as cabras, carneiros, coelhos, o bicho-da-seda, e a cochonilha, além de disponibilizarem como zoológico um grande número de espécies animais nativas como: antas, araras, cutias, jabutis, onças, pacas, papagaios, quatis, suçuaranas, tamanduás, etc. (mais de 30 spp.). Mesmo que, ao deixar o Brasil, Nassau tenha levado tudo que pode do seu Jardim Zoobotânico para a Holanda, ainda assim sua contribuição científica foi grande e, provavelmente possibilitou a dispersão de inúmeras plantas e animais daquele jardim zoobotânico (VEIGA, 2003; MATOS, 2011). 3. Conclusões É importante que se reconheça que a origem da nossa agropecuária advém dos nossos primeiros habitantes. Os índios também foram os pioneiros na domesticação, no melhoramento genético, e nas curadorias, sendo, portanto, quem devemos referenciar pela inestimável contribuição desde séculos anteriores à chegada dos portugueses. Lembrando que os índios também influenciaram os colonizadores com sua agricultura. Também não há como negar a grande influência dos nossos colonizadores, inclusive dos escravos, já nossa agropecuária até hoje advém dos seus costumes alimentícios. Assim, somos um país extremamente dependente da variabilidade genética do germoplasma das espécies agropecuárias cujos centros de origem e diversidade estão no exterior; Nossa agropecuária também foi aprimorada através de cientistas estrangeiros que por aqui passaram ou se estabeleceram, e por brasileiros que foram estudar no exterior. Assim, se realizaram coletas, o intercâmbio de germoplasma, a aclimatação de plantas às nossas regiões então habitadas, montando coleções e aplicando a ciência da época, até o ano de 1.800; Desde as domesticações efetivadas pelos nossos índios, nós pouco atuamos em tal atividade, simplesmente prosseguimos realizando o melhoramento genético com as mesmas espécies vegetais e animais.

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RG NEWS As curadorias de germoplasma e de coleções científicas, a partir de 1.800, no Brasil Renato Ferraz de Arruda Veiga a a

Fundação de Apoio à Pesquisa Científica, Diretoria Administrativa, Rua Dona Libânia 2017 Centro, Campinas – SP, Brasil. E-mail: renatofav53@gmail.com.

Resumo Construímos muito na área de Recursos Genéticos no Brasil, nas últimas décadas, onde se destaca a fundação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, as Redes Regionais de Recursos Genéticos, e os Sistemas Institucionais de Curadorias de Germoplasma e de Coleções Científicas. No entanto, ainda há espaço para aprimorar, como por exemplo com um Sistema Nacional de Curadorias ou uma Rede Nacional de Recursos Genéticos, que possibilitem a integração dos Bancos Ativos de Germoplasma e das Coleções Científicas no plano nacional. Também é essencial que as instituições estaduais criem seus próprios Sistemas Internos de Curadorias, e que se crie um Programa Nacional de Recursos Genéticos capitaneado por uma organização nacional (MAPA para plantas cultivadas, MMA para plantas nativas, etc.) que seja fonte de recursos e de informações, a serem disponibilizados para o manejo e uso dos Bancos Ativos de Germoplasma e das Coleções Científicas. Palavras-Chave: Sistema de Curadorias, Programa Nacional, Banco Ativo de Germoplasma, Recursos Genéticos. Abstract The curators of germplasm and scientific collections from 1,800 in Brazil We have built a lot in the Genetic Resources area in Brazil during the last decades with the creation of Embrapa Genetic Resources and Biotechnology, the Brazilian Society of Genetic Resources, the Genetic Resources Regional Networks and the Institutional Systems of Germplasm and Scientific Collections Curators. However, there is still room to improve ourselves, such as a Curators National System or a National Genetic Resources Network, which will allow the integration of Active Germplasm Banks and Scientific Collections at a national level. It is also essential that state institutions create their own Internal Curatorial Systems and that create a National Genetic Resources Program headed by a federal ministry (MAPA to cultivated plants, MMA to native plants, etc.) that will be a source of resources and information to be use available for the management and use of the Active Gene Banks and Scientific Collections. Keywords: Curatorial System, National Program, Germplasm Active Gene Bank, Genetic Resources. Introdução Anteriormente, nesta revista, apresentamos “As curadorias de germoplasma e de coleções científicas, desde os primórdios da agricultura até o ano de 1.800, no Brasil”, com a primeira fase, chamada de antiga, anterior à descoberta do Brasil pelos portugueses (22/04/1500), e a pré-moderna que começa com a descoberta oficial do Brasil em 1.500, e vai até 1.800. Neste, considerou-se como fase moderna a história posterior ao ano de 1800, quando se iniciam grandes instituições científicas que perduram até hoje.

Nossas coleções tradicionais provêm deste período, muito embora algumas tenham sido montadas num momento em que ainda não possuíamos os conceitos de Bancos Ativos de Germoplasma (BAG), e muito menos de curadorias. Também incluímos aqui fatos bem mais recentes, da criação dos BAG e do princípio, fortalecimento, e concretização das curadorias no Brasil. Hoje em dia nossas instituições mantêm parte dos recursos genéticos nativos, domesticados ou semidomesticados (ex situ e/ou in situ e/ou on farm) em especial como Bancos Ativos de Germoplasma (BAG) ex situ, onde está a maioria de nossas Curadorias. Neste texto 22


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abordaremos mais especificamente sobre este germoplasma, isto é, primordialmente sobre os 350 BAG, do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (WETZEL & FERREIRA, 2007; BRASIL, 2011). 1. O Embrião dos Bancos Ativos de Germoplasma e das Coleções Científicas Diante de uma natureza desconhecida, nossos colonizadores adotaram as técnicas adaptativas indígenas, incorporando sua base alimentar constituída pelo amendoim, abóbora, bananas, batata-doce, cará, caju, feijões, goiaba, palmito, pitanga, mandioca, maracujá, mamão, milho, etc. (ARRUDA, 2000). Esta fase começa, em 1818, com a primeira Coleção Zoológica brasileira, instalada no Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ), recentemente tão castigado por um incêndio que destruiu a maior parte de seu acervo, seguida pela do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em 1866, e pela da Universidade de São Paulo (USP), em 1886. Hoje possuímos em torno de 30 coleções científicas catalogadas no país. Pode-se dizer que o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi a instituição pioneira no Brasil, já na década de 1820, com a introdução e aclimatação de espécies agrícolas, embora ainda sem a preocupação com variabilidade genética. Exemplos de acessos na época: amoreira, baunilha, canela, chá-preto, pimenta, etc.; prosseguindo na década de 1900 com nova perspectiva (já que tínhamos então publicadas as teorias de evolução das espécies de Darwin (1859), de hereditariedade de Mendel (1866), e de origem das plantas cultivadas de De Candolle (1885)), com: abacate, cânfora, cana-caiana, carambola, cravo, lechia, manga, fruta-pão e fruta-do-conde, mais tarde as cinchonas, quinas, etc. (DEAN, 2002). Seu herbário começou com 25 mil amostras, doado por D. Pedro II (VALENTE et al., 2001). Somente na década de 1930, praticamente um século depois, é que houve um novo impulso através de duas instituições paulistas: a) Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz” (ESALQ/USP, criada em 1901), e o b) Instituto Agronômico de Campinas (IAC, criado em 1887), que iniciaram naquela época a montagem de várias coleções de plantas agrícolas (na época já sob a influência de Vavilov (1926), com sua teoria dos Centros de Origem e Diversidade das Plantas Cultivadas, de 1926) (MNRJ, 2018; JBRJ, 2018; MPEG, 2018). Mais tarde vieram outros

Institutos Agronômicos estaduais, como por exemplo, o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e do Paraná (IAPAR). Graças a todo este trabalho, de introdução de espécies diversas, nossa agricultura foi impulsionada por muitas culturas exóticas, destacando-se: arroz, algodão, café, cana-de-açúcar, citros, feijão, laranja, maçã, melão, milho e soja, as florestas com o eucalipto e pinus, enquanto a pecuária se beneficiou com diversas forrageiras, em especial a braquiária. As espécies se adaptaram tão bem que, por exemplo, no caso da melancia esta formou um Centro de Diversidade no Nordeste do Brasil, inclusive as abóboras (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), o maxixe e melão–de-são-caetano (Norte e Nordeste), as buchas (Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste), o eucalipto e a braquiária (Sudeste e Centro-Oeste), batatadoce, batata, chuchu, melancia-forrageira, milho e milho pipoca, pepino e porongo (Sul) e frutíferas como a acerola, banana, carambola, rambutã, jambo, mangustão, laranja (Norte), coqueiro e mangueira (Norte e Nordeste), melões e jaqueira (Nordeste), os grãos como feijão comum (Sul, Nordeste), feijão-caupi, feijão-fava (Nordeste), cará, e pimenta-do-reino, café (Norte, Sudeste e Centro-Oeste) e outras plantas como a mamona, algodão-de-seda, o sisal e a palma-forrageira (Nordeste) (QUEIRÓZ, BARBIERI & DA SILVA, 2015; FERREIRA & SILVA NETO, 2015). Hoje as raças crioulas de animais são conservadas nos Núcleos de Conservação da Embrapa, desde 1980 (localizados in situ no habitat onde os animais foram submetidos à seleção natural), como: asininos, bovinos, bubalinos caprinos, equinos, ovinos, e suínos, e ex situ pelo armazenamento de sêmen e de embriões, na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (EGITO, MARIANTE & ALBUQUERQUE, 2002). 2. O Fortalecimento e a Concretização da ideia de Curadorias O fortalecimento nacional das curadorias veio meio século depois, na década de 1970 com o Cenargen/Embrapa, a princípio com pouco mais de 10 BAG. Criou-se na época a Coordenação de Bancos Ativos de Germoplasma. No entanto, a concretização se deu na década de 1980 com o Programa Nacional de Pesquisas em Recursos Genéticos que incluiu, além dos BAG da Embrapa, também outros de instituições congêneres (Ex: IAC, com BAG-Amendoim, BAG-Citros e BAG-Café),

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com contratação de especialistas em caracterização, incremento e manutenção dos BAG. Eu fui um destes, contratado pela Seção de Botânica Econômica do IAC para efetivar a caracterização organográfica do BAGAmendoim, com recursos deste projeto. Em 2002 a Embrapa encerrou o programa e criou a Rede Nacional de Recursos Genéticos (Renargen) a qual já contava com 130 BAG, em 2014 (GOEDERT, 2007; DANTAS & LUZ, 2015). Na área animal, o início se deu em 1980, com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia concretizando os Núcleos de Conservação nos locais de aclimatação e origem das raças crioulas, e a conservação de sêmens no Banco Base. Conservam-se bovinos, caprinos, suínos, ovinos, equinos, bubalinos e asininos, sem deixar de se preocupar com espécies nativas como: peixes, catitus, abelhas e muçuãs (ALBUQUERQUE & IANELLA, 2016). Em 1991, tivemos outro grande avanço no país, com a criação da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, que agrega hoje cerca de 90 jardins botânicos, que também conservam germoplasma ex situ e preservam espécies nativas in situ (VEIGA & STECK, 2017). As últimas décadas têm sido muito ricas, quando as instituições mundiais ficaram atentas para a necessidade dos recursos genéticos e, em especial, o Brasil. Em 1992, assinamos a Convenção sobre Diversidade Biológica, e a Agenda 21, culminando com vários relatórios (BRASIL, 1998; BRASIL, 2004; BRASIL, 2007), possibilitando a criação da Política Nacional de Biodiversidade, do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Serviço Florestal Brasileiro, e do Centro Nacional para a Conservação da Flora (CNCFlora). O avanço na área de recursos genéticos pode ser facilmente observado quando citamos os eventos organizados no Brasil, desde a década de 1980, como: a) Em 1988, tivemos O I Encontro sobre Recursos Genéticos, realizado em Jaboticabal – SP, pela UNESP Jaboticabal; b) em 1989, tivemos o I Curso Internacional de Tecnologia de Sementes para Bancos de Germoplasma, no Cenargen/Embrapa, DF.; c) em 1990, no IAC, efetivou-se o I Simpósio Latino-Americano sobre Recursos Genéticos de Espécies Hortícolas; d) em 1992, o I Simpósio Nacional de Recursos Genéticos de Fruteiras Nativas, em Cruz das Almas, pela Embrapa Mandioca e Fruticultura; e) em 1995, o I Simpósio Nacional de Recursos Genéticos, no IAC, em Campinas – SP; f) o I Simpósio Latino Americano de

Recursos Genéticos, na CATI, em 1997, Campinas – SP; g) em 1999, o II Simpósio de Recursos Genéticos Latino Americano e do Caribe, em Brasília, na Embrapa; h) em 2008, o II Simpósio Brasileiro de Recursos Genéticos, na Embrapa – DF.; i) em 2010, o I Congresso Nacional de Recursos Genéticos, em Salvador-BA; j) em 2012, o II Congresso Nacional de Recursos Genéticos, realizado pela Embrapa Amazônia Oriental, em Belém-PA; k) em 2014, o III Congresso Nacional de Recursos Genéticos, em SantosSP; l) em 2015, o X Simpósio de Recursos Genéticos Latino Americano e do Caribe, em Bento Gonçalves – RS, Embrapa; m) em 2016, o IV Congresso Nacional de Recursos Genéticos, em Curitiba-PA, pelo IAPAR; n) em 2017, o III Simpósio de Recursos Genéticos para América Latina e Caribe, no IAPAR, Londrina-PR; o) e em 2018 o V Congresso Nacional de Recursos Genéticos, em Fortaleza-CE, pela Embrapa. 3. As Curadorias Oficiais no Brasil A instituição brasileira pioneira no tema curadorias foi a Embrapa, em especial pela criação do antigo Centro Nacional de Recursos Genéticos (CENARGEN), hoje Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Anos depois vieram as curadorias do IAC e da APTA, inspiradas no sistema da Embrapa (BURLE & VEIGA, 2015), e a partir daí apareceram outras, como a da UESC (2010), e esperamos que surjam muitas mais. 3.1 As Curadorias na Embrapa O pioneirismo foi da Embrapa que em 1993 formalizou o seu Sistema com a inclusão da função de Curador, contando hoje com 200 pesquisadores nesta atividade, em 32 unidades. De lá para cá, sempre realizou reuniões anuais com seus curadores (WETZEL & BUSTAMANTE, 2000; GOEDERT, 2007; WETZEL & FERREIRA, 2007). 3.2 As Curadorias no IAC e da APTA No IAC, a questão das curadorias foi oficializada em 1999, com 97 coleções. No entanto, a crise no setor agrícola tem provocado a aposentadoria de curadores, e a saída em busca de melhores salários e de condições de mão de obra braçal e técnica, o que pode significar a perda total de coleções. Hoje constam as seguintes: 1) Coleção de Germoplasma de Plantas Fibrosas; 2) Coleção de Germoplasma de Plantas Oleaginosas; 3) Coleção de Germoplasma de Cereais e Feijão; 4) Coleção de

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Germoplasma de Raízes e Tubérculos; 5) Coleção de Germoplasma de Plantas Estimulantes; 6) Coleção de Germoplasma de Cana-de-Açúcar; 7) Coleção de Germoplasma de Plantas Frutíferas; 8) Coleção de Germoplasma de Citros; 9) Coleção de Germoplasma de Leguminosas Diversas e Adubos Verdes; 10) Coleção de Germoplasma de Sorgo, Milho e Milho Pipoca; 11) Coleção de Germoplasma de Hortaliças, Plantas Aromáticas e Medicinais; 12) Coleção de Germoplasma de Seringueira; 13) Coleção de Germoplasma de Zingiberales Ornamentais; 14) Coleção de Germoplasma de Arecaceas; Esta coleção consta também no Sistema de Curadorias da APTA, como a seguir: Na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, o Sistema de Curadorias começou em 2005, com 110 coleções. Hoje a situação é a seguinte: Instituto de Pesca (IP) (2018), entre outras coleções: 1) Coleção museológica de animais aquáticos taxidermizados; 2) Coleção museológica de ossadas de animais aquáticos; 3) Coleção museológica de conchas; 4) Coleção museológica de corais; 5) Coleção museológica de fósseis de animais marinhos; 6) Coleção de organismos aquáticos vivos. Coleções do Instituto de Zootecnia (IZ): Coleção de Plantas Forrageiras; 2) Coleção de Guzerá, Caracu e Nelore; 3) Coleção de Ovinos; 4) Herbário de Plantas Forrageiras. Coleções do Instituto Biológico (IB): 1) Coleção de ácaros de Importância Agrícola; 2) Coleção de Antissoros do Laboratório de Bacteriologia Vegetal; 3) Coleção de Artrópodes de Importância Médica e Veterinária; 4) Coleção de Culturas de Fitobactérias; 5) Coleção de DNA de Bactérias Fitopatogênicas; 6) A Coleção de Insetos Entomófagos; 7) Unidade de Referência Laboratorial em Controle Biológico; 8) Coleção Entomológica; 9) Coleção Histopatológica do Laboratório de Anatomia Patológica; 10) Coleção Entomológica de Bioecologia e Taxonomia de Parasitoides e Predadores; 11) Micoteca “Mário Barreto Figueiredo”; 12) Micoteca “Dra. Victoria Rossetti”; 13) Coleção de Material Animal e Vegetal Emblocado em Resina; 14) Soroteca do Laboratório de Fitovirologia e Fisiopatologia do Instituto Biológico. Instituto de Tecnologia dos Alimentos (ITAL): 1) Coleção de Fungos de Alimentos; 2) Coleção de Culturas Padrão de Referência para Ensaios Microbiológicos de Alimentos; 3) Coleção de Microorganismos Patogênicos e Deteriorantes de Alimentos. 3.3 As Curadorias de Coleções Biológicas da UESC

A Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em 2015, homologou o Conselho de Curadores, composto pelas coleções científicas de: 1) Coleção de Mamíferos; 2) Herbário; 3) Coleção Herpetológica: Répteis; 4) Coleção Herpetológica: Anfíbios; 5) Coleção Ictiológica: Peixes; 6) Coleção Mimercológica (Convênio UESC/CEPLAC); 7) Coleção Acarológica; 8) Coleção Carcinológica; 9) Coleção de Arqueologia. 3.4 As Curadorias de Coleções Biológicas da FIOCRUZ A Fundação Osvaldo Cruz tem o seu sistema de curadorias biológicas, desde 2012, constituído por: 1) Coleções Microbiológicas; 2) Coleções de Arqueas; 3) Coleções de Bactérias; 4) Coleções de Fungos, 5) Coleções de Protozoários; 6) Coleções Zoológicas; 7) Coleções Entomológicas; 8) Coleções Malacológicas; 9) Coleções Helmintológicas. 3.5 Outras Coleções de Germoplasma e Coleções Científicas Logicamente que existem outras curadorias, por nós não detectadas, já que temos muitas coleções pelo país, como as do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária onde existem em 21 instituições e mais 47 Centros da Embrapa, compondo 350 BAG e uma Coleção Base (BRASIL, 2011), como por exemplo o Instituto Agronômico do Paraná. Temos as coleções dos jardins botânicos, Ex: Museu Paraense Emílio Goeldi, Jardim Botânico Inhotim, Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IPJBRJ), Jardim Botânico de São Paulo (JBSP), entre outras. As Universidades também têm seus BAG, mesmo que a maioria sem um sistema de curadorias consolidado. Ainda há outras Curadorias tradicionais, envolvendo animais, microrganismos e vegetais, como a da Rede Brasileira de Herbários que conta com 200 Coleções de Herbários. Há aproximadas 80 Coleções Zoológicas em 43 instituições, como por exemplo: a Fiocruz (35), o Instituto de Botânica de São Paulo (IBSP) (28), Embrapa (12), o Centro Brasileiro de Estocagem de Genes (BCCCenter), a Coleção Brasileira de Microrganismos de Ambiente e Indústria (CBMAI), etc.; Também detectam-se 16 Coleções Entomológicas: IBSP, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), USP Ribeirão Preto e SP, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fiocruz; Instituto Nacional de pesquisa da Amazônia (INPA).; Fundação Zoobotanica do Rio Grande do Sul (FZRGS), Museu Nacional do Rio de Janeiro

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(MNRJ), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal São Carlos, etc. Conclusões a) O Brasil segue um caminho exemplar em recursos genéticos, tendo em poucos anos montado uma infraestrutura fantástica com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com a Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, e com as Redes Regionais de Recursos Genéticos; b) Embora as opiniões sejam divergentes entre nossos cientistas, sobre o momento adequado para se incrementar ainda mais a estrutura brasileira de gestão de seus recursos genéticos, considera-se que esperar não é a solução, pois, já vivemos o problema de falta de recursos e de perda acelerada de germoplasma, num curto espaço de tempo. Sugere-se repensar num Sistema Nacional de Curadorias (que gerenciaria e repassaria recursos para os Sistemas Institucionais), ou até mesmo numa Rede Brasileira de Recursos

Genéticos (que gerenciaria e repassaria os recursos para as Redes Regionais); c) A busca por recursos para curadorias estaduais mostra um caminho já tentado, mas sem concretização, que foi a tentativa de obtenção de recursos internacionais e federais, via CONSEPA, que os distribuiria para as OEPAS que por conseguinte os repassariam aos seus BAG e CC; d) Destaca-se também a demanda pela criação de um Programa Nacional de Recursos Genéticos, envolvendo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) com a conservação ex situ e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) com a preservação in situ. Ambas financiariam oficialmente projetos científicos competitivos demandados pela Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos; e) Finalmente, algo que fortaleceria a integração seria que as instituições detentoras dos recursos genéticos reconhecessem seus profissionais como Curadores, criando um Sistema Interno de Gestão das Curadorias. Isto poderia ser incentivado pela SBRG.

REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, M.S.M. & IANELLA, P. 2016. Inventário de Recursos Genéticos Animais da Embrapa. In: https://www.researchgate.net/ publication/312474632_Inventario_de_Recursos_ Geneticos_Animais_da_Embrapa. Obtido em: 01 de outubro de 2018. ARRUDA, R.S.V. Populações Tradicionais e a Proteção dos Recursos Naturais em Unidades de Conservação. In: DIEGUES, A.C. Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. Ed. Hucitec Nupaub – USP. São Paulo. (271290) 2000. DARWIN, C. 1859. On the origin of species by means of natural selection. London. John Murray, Albemarle Street. Pp.208. DEAN, W. 1995. A ferro e fogo: A história e a devastação da Mata Atlântica Brasileira. Trad. MOREIRA, C.K. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.484p. DE CANDOLLE, A. 1883. Origine des plantes cultivées. Librairie Germer Baillère et Cie. Paris. pp.380. BRASIL. 1998. Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica: Brasil/MMA. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 1998, 283p. _______. 2004. Segundo Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica: Brasil/MMA. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004, 347p (Biodiversidade, 10). _______. 2011. Quarto Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica: Brasil/MMA. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2011, 248p.

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RG NEWS IV - Expresse a sua opinião O excesso de açúcar nos alimentos Afonso Celso Candeira Valois a a

Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Contextualização Atualmente muito tem sido discutido sobre o excesso do açúcar (sacarose) nos alimentos, conduzindo à obesidade, excesso do mau colesterol no sangue (LDL), além de inúmeros outros malefícios à saúde. Têm havido boas instruções, nas mídias escritas e faladas, que conduzem à preferência por alimentos funcionais (aqueles que fazem bem à saúde), bem como, a distinção entre suco de frutas, néctar e refresco, belos recados televisivos indutivos ao uso de adoçantes artificiais como aspartame, ciclamatos e sacarinas (chama-se atenção para evitar o aspartame por causar mal à saúde). Opções válidas como adoçantes têm sido adotadas como os edulcorantes esteviosideo e rebaudiosideo, ambos extraídos da Estévia (Stevia rebaudiana (Bertoni) Bertoni, família Asteraceae), a qual já era consumida no passado como adoçante pelos índios Guaranis. Possui substâncias extremamente doces (300 e 450 vezes respectivamente, mais doces em relação ao açúcar da cana-de-açúcar), porém não sendo absorvidas pelo corpo humano, sem causar obesidade, propícias para pessoas diabéticas, sem efeitos colaterais danosos, de sabor incomparável quando esses dois adoçantes são misturados com equilíbrio, além de outras vantagens comparativas, sendo assim esses edulcorantes naturais os mais apropriados e salutares nesta verdadeira competição por alimentos doces. Além desses reconhecidos benefícios deve-se enfatizar que ainda não existe nenhuma comprovação científica de que os edulcorantes advindos da Estévia causem qualquer malefício à saúde humana, diante dos inúmeros artigos técnicos-científicos nacionais e internacionais já publicados sobre o tema que incluem

consistentes testes biológicos, o que tem ampliado o seu uso em refrigerantes e outros produtos. A Estévia é um arbusto dicotiledônio, ordem Asterales, da família Asteraceae. É alógama, semiperene, e ocorre espontaneamente na América do Sul, região da Serra do Amambai, entre o Brasil e o Paraguai. Objetivo deste artigo Aqui apraz-me inserir um breve relato de caso onde as pessoas se acostumam a ingerir alimentos açucarados. Há um costume de que quando uma criança nasce e vai ser alimentada pela primeira vez, especialmente no caso onde a mãe não pode oferecer o colostro, logo lhe é cuidadosamente colocado na boca um chumaço de algodão umedecido com água e açúcar (sacarose) para ela sugar, seguido mais adiante por mamadeiras com leite doce, papinhas, mingaus etc. Com isso, desde cedo a criança se acostuma com os alimentos doces, muitas vezes com exageros, sem poder de escolha, e assim cresce com esse mal procedimento de ingerir líquidos ou outras comidas doces. Na minha opinião acredito na execução de uma campanha nacional para efetivar uma mudança paulatina de hábito, atitude, postura, cultura, costume, conduta e educação alimentar das pessoas, desde criança, no sentido de mitigar ou mesmo evitar as comidas doces em demasia. Em princípio, isso deveria começar desde as maternidades e creches públicas e privadas, além das escolas de tempo integral, o que já seria uma enorme contribuição ao sucesso de uma vida saudável. Nesse sentido reforço que as creches públicas e privadas e escolas de tempo integral também poderiam ser envolvidas nessa proposição de esforço nacional para a redução de açúcar nos alimentos.

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É fundamental que os profissionais pediatras e da culinária também sejam componentes ativos deste muito importante processo! Existe ainda a necessidade de se atentar para a absorção rápida das substâncias doces pelo organismo humano, e em vista disto dar preferência aos produtos de liberação lenta de açúcar na corrente sanguínea como aveia, centeio, feijão, ervilha, lentilha, soja e batata-doce, evitando ou mitigando o uso daqueles com elevados índices glicêmicos, que promovem a alta liberação de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que, em excesso, estimula o corpo humano a armazenar gorduras, como cenoura e beterraba, além de produtos que têm como fonte o açúcar da cana-de-açúcar. Desta forma, o melhor mesmo é preferir os edulcorantes oriundos da Estévia que embora atualmente sejam mais caros, com o aumento da produção e consumo deverão se tornar cada vez mais baratos, tornando-os acessíveis a todos! O uso da Estévia Este germoplasma nativo necessita de um consistente programa de introdução, coleta, conservação, avaliação, documentação e informatização, e utilização de recursos genéticos em projetos de melhoramento genético, além de outras ciências afins. Para tanto, torna-se premente a implementação de bancos ativos de germoplasma. A criação de um BAG específico se justifica plenamente pela sua enorme relevância do ponto de vista social, econômico, ambiental e político, principalmente pela produção dos dois edulcorantes, o esteviosídeo e o rebaudiosideo, com maior concentração nas folhas. Estes edulcorantes conforme acima, são em média, respectivamente, de 300 a 450 vezes mais doces que o açúcar da cana-de açúcar. No entanto, não são metabolizados pelo corpo humano, possuindo propriedades excepcionais, como serem não calóricos, antidiabéticos, antiglicêmicos, anticáries, sem efeitos colaterais, além de outras vantagens comparativas, inclusive sendo úteis para a produção de fitormônios bem mais baratos, bem como, o uso do bagaço pode ser empregado na alimentação animal.

A título de sugestão, a base física desse BAG poderia ser estabelecida no campo experimental da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), por ficar localizada próximo à área de dispersão natural da variabilidade genética do germoplasma desta espécie (Serra do Amambaí), dentre outras vantagens comparativas! Em termos do desenvolvimento de novos genótipos, quando estive fazendo treinamento a nível de pósdoutorado nos Estados Unidos, a Estévia foi um dos produtos que usei nas pesquisas, neste caso com o fito de aumentar a concentração dos edulcorantes nas folhas. Para isso, sementes (aquênios) foram tratados com a colchicina (C22H25NO6) a 0,5%, tendo sido obtidos indivíduos poliploides com significativo sabor adocicado nas folhas em relação aos diploides (VALOIS, 1992). Através de cooperação técnica entre a Embrapa e a Unicamp, explantes foram cedidos para pesquisas adicionais bemsucedidas nesta universidade! Embora haja questionamentos quanto ao sabor amargo que o edulcorante possa transferir para algumas bebidas, isto pode ser minimizado pelo novo processo de extração do esteviosideo e que também envolve o rebaudiosideo, tornando a mistura mais palatável. Uma alternativa seria utilizar edulcorantes em mistura com o açúcar comum ou mesmo mascavo ou orgânico, na proporção ao redor de 1:1, que também tem se mostrado saudável e funcional. Conclusões 1.

Deve-se montar um BAG Estévia no plano federal, e assim incentivar os trabalhos de pré-melhoramento e de melhoramento genético, para obter mais cultivares que potencializem o seu uso industrial.

2.

Sugere-se incentivar o consumo dos edulcorantes da Estévia e consequentemente mudar os hábitos dos brasileiros quanto ao consumo do tão nocivo açúcar (sacarose).

REFERÊNCIAS LIMA FILHO, O. F.; VALOIS, A. C. C.; LUCAS, Z. M. (Editores Técnicos). Estévia. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste; Maringá: Steviafarma Industrial S/A, 2004. 55 p. (Sistema de Produção/Embrapa Agropecuária Oeste, ISSN 16764129; 5). 29


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VALOIS, A. C. C. Stevia rebaudiana Bert.: uma alternativa econômica. Brasília: Embrapa/Cenargen, 1992. 13 p. (Embrapa/Cenargen. Comunicado Técnico; 13). VALOIS, A. C. C.; ZAPATA CASTELLIÓN, C.; APAZA CAMA, V. A. Desarrollo agroindustrial de la Stevia rebaudiana (Bert) Bertoni en los Yungas de La Paz: síntese del Informe Técnico. Montevideo: Fida Mercosur, 2002. 128 p.

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RG NEWS Os recursos genéticos podem desaparecer dos campos de futebol? Renato Ferraz de Arruda Veiga a a

Fundação de Apoio à Pesquisa Científica, Diretoria Administrativa, Rua Dona Libânia 2017 Centro, Campinas – SP, Brasil. E-mail: renatofav53@gmail.com.

Contextualização Observa-se, cada vez menos, a presença de produtos de origem natural nos uniformes de nossos atletas, assim como nos campos futebol. Sinal dos novos tempos, onde a agricultura e pecuária, não conseguem competir com novos produtos artificiais oriundos de tecnologias modernas e de produção em larga escala. No entanto, ainda é notório que os produtos naturais são os menos nocivos ao ambiente, como por exemplos os oriundos da seringueira (Hevea brasiliensis L.), assim como os dos corantes extraídos de insetos, como da cochonilha (Dactylopius coccus Costa), e de plantas, como do Pau-brasil (Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis. Neste mesmo contexto de menor nocividade ao ambiente, ainda temos produtos de origem animal, porém estes também são cada vez menos utilizados, como é o caso do couro. Tal ocorre em decorrência do apelo mundial contrário ao abate dos animais. Pensando em recursos genéticos, é relevante lembrar que mesmo os insetos (Ex: traça (Tineola bisselliella Hummel) e ácaros (Dermatophagoides pteronyssinus Trouessart, e Dermatophagoides farinae Hughes), entre outros, são controlados nos novos tecidos com a aplicação de produtos comerciais (Ex: Mitin e Eulan) (IBCQT, 2008). No tocante aos microrganismos (Ex: Cândida albicans, Bacilus subtilis, Escherichia coli, Staphilococcus aureus e S. epidermis), os tecidos são aprimorados para que suas superfícies não sejam propícias à sua proliferação (ex: o tecido do algodão tratado com acetilação e cianoetilação, e até mesmo as fibras sintéticas que tem resistência intrínseca à decomposição microbiana), inclusive pela aplicação de agentes

tensioativos quaternários de amônio (cloro, bromo, iodo, e sais metálicos). Até há pouco tempo, na copa do mundo do México (1970), onde o nosso Brasil sagrou-se tricampeão mundial de futebol, os uniformes eram totalmente dependentes da agricultura e pecuária. Já na copa do mundo da Rússia (2018), onde chegamos até as quartas de final, as coisas mudaram, o que espero transmitir resumidamente aos leitores, a seguir. No passado Nossos uniformes eram compostos pela chuteira de couro natural, comumente procedente do gado (Bos taurus L.), do canguru (Macropus giganteus Shaw), ou da cabra (Capra aegagrus L.), enquanto os cadarços, a camiseta, o calção, e o meião, todos eram feitos exclusivamente de fibras do algodão (Gossypium hirsutum L.). Inclusive, outros itens de um jogo de futebol, também procediam de produtos naturais como a madeira da bandeirinha e das traves (balizas) confeccionadas de espécies arbóreas como o Eucalipto (Eucalyptus spp.), dentre outros gêneros, o que perdurou até a década de 1950. A bola também provinha do couro natural, com um forro de algodão, e câmara de ar feita de bexiga de gado que depois passou a ser de borracha (Hevea spp.). As redes se originavam do cânhamo (Cannabis ruderalis Janisch) ou da juta (Corchorus capsularis L.). As gramas naturais dominavam todos os campos como a Erva Fina (Agrostis palustris Huds., o Capim Panasco (A. stolonifera L.), a Bermuda (Cynodon dactylon (L.) Pers.), a Festuca Alta (Festuca arundinacea Schreber), a Ryegrasss Perene (Lolium perenne L.), a Grama Azul (Poa pratensis L.), e Grama Esmeralda (Zoysia japonica Steud.) (ABQCT, 2008; VIANA, 2012; STMA & SAFE, 2012; JESUS et al.,

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2013; COSTA, 2014; CBF, 2015, VASQUES, PAIVA & FORTUNATO, 2015; CANAONLINE, 2018). No Presente Hoje em dia tudo mudou. Nossos uniformes são compostos pela chuteira de couro sintético, comumente um composto químico como o Poliuretano, Teijin Cordley (japonês), Microfibra Porvair (inglês), Ducksung (coreano), e até de PVC (Policloreto de vinila), raramente o couro natural, a borracha sintética entrou nos amortecedores, solado e travas, raramente a borracha natural, enquanto os cadarços já não existem em muitas chuteiras. A camiseta, calção, e meião são feitos de Poliéster (resinas sintéticas contendo ésteres em sua cadeia principal) ou Dry fit (Poliéster às vezes reciclado de garrafas Pet, Poliamida e Elastano), podendo estar misturado com algodão. Ainda pode participar o Lótus (Nelumbo nucifera Gaertn.), pulverizado no tecido para torná-lo repelente à água. Ainda ocorre o tratamento antimicrobiano dos tecidos, preventivo ao Staphilococcus aureus, Bacilus subtilis, Escherichia coli, Sthapylococcus epidermis, Candida albicans, e ácaros, com a aplicação de acetilação e cianoetilação no algodão, já os sintéticos possuem resistência intrínseca à decomposição microbiana, mas também são tratados com Triclosano, Zeólitos e Metais Pesados, além de Quitosano e Caseína. A caneleira é confeccionada de borracha natural, borracha sintética, ou plástico. Os corantes sintéticos existem em quantidade, pois, há mais de 8.000, criados até 2007, dos quais apenas 11 são permitidos no Brasil pela ANVISA, como por exemplo a Mauveína). Tais corantes são mais ecléticos em cores e mais baratos, sendo considerados, no entanto, como o segundo maior poluidor de águas no mundo, inclusive do lençol freático, prejudicando os animais e os seres humanos. Infelizmente, para o ambiente, entraram em substituição aos corantes naturais (Ex: Romã (Punica granatum), Urucum (Bixa orellana), Açaí (Euterpe oleracea), dentre outras espécies, e de insetos como a Cochonilha, que embora sejam mais caros são bem menos poluentes! Inclusive, outros itens de um jogo de futebol também mudaram, como a madeira das bandeirinhas e das traves (balizas) sendo substituída pelo alumínio, fibras de vidro, ou tubos de PVC, inclusive de vários formatos (quadrados, retangulares, redondos e elípticos).

A bola possui uma camada mais interna de borracha (Hevea spp.), ou borracha sintética de fonte renovável derivada da cana (Saccharum officinarum L.), esta última com a vantagem ao ambiente por emitir 10 vezes menos carbono quando comparada com a borracha sintética derivada do petróleo. Tal camada é posicionada na camada de espuma logo abaixo da superfície da bola, na bola Telstar 18, seguida por um tecido em trama de Poliéster resistente, e as camadas mais superficiais são de TPU (Poliuretano Termoplástico), com ou sem costuras. As redes das traves são de Nylon (Polietileno) e, as gramas naturais, embora ainda persistam, têm sido substituídas pelas gramas sintéticas, inclusive nos campos de várzea brasileiros, e em muitos campos de futebol do mundo, em especial nos climas muito frios. Todos estes novos produtos podem ser utilizados oficialmente, desde que estejam aprovadas pela FIFA (ABQCT, 2008, STMA & SAFE, 2012; VIANA, 2012; JESUS et al., 2013; COSTA, 2014; CBF, 2015, VASQUES, PAIVA & FORTUNATO, 2015; CANAONLINE, 2018). Conclusão Do ponto de vista da agricultura, os gêneros de plantas beneficiados pelo uso advindo da modernização no futebol são a Hevea Aubl., Nelumbo Adans., e Saccharum L., enquanto outros gêneros simplesmente tiveram o seu uso reduzido como o Gossypium L., Agrostis L., Cynodon Rich., Festuca L., Lolium L., e Poa L., Zoysia Willd., já o pior sobrou para o Eucalyptus L’Hér., Cinnamomum Schaeffer, Cannabis L. e Corchorus L., entre outros, que praticamente deixaram de ser utilizadas no negócio do futebol. Na perspectiva da pecuária, persistem três gêneros de animais Bos L., Macropus Shaw, e Capra L., quando o material utilizado ainda é o couro natural, embora em menor escala que anteriormente. Já o inseto Dactylopius spp. também teve sua criação diminuída pela sua substituição por corantes sintéticos. Neste jogo, por enquanto, alguns agricultores e pecuaristas, assim como claramente o meio ambiente, foram perdedores, enquanto outros comerciantes venceram, devido à modernização do futebol, pela simples troca do natural pelo sintético. Porém, como diz o ditado “O futuro a Deus pertence”, e como “Deus é brasileiro”, eu acredito numa virada a favor da agricultura e pecuária, inclusive dos recursos genéticos e do meio ambiente, e

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assim venceremos o jogo final de goleada, justificando o nosso nome (Homo sapiens L.).

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RG NEWS V – Entrevistados da vez Aline Cândida Ribeiro Andrade e Silva Abelhas e recursos genéticos – ou quando a sobrevivência humana depende da conservação da biodiversidade Entrevista realizada por Cláudia Sofia Guerreiro Martins (ESALQ/USP)

Graduada em Ecologia pela Universidade Federal da Bahia (2001) e em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia (2004). Mestre em Ecologia e Conservação da Caatinga, pela Universidade Federal de Sergipe (2010), e Doutora em Entomologia pela Universidade de São Paulo (2015). Pós-doutorado em Genética e Evolução de Hymenoptera pela Universidade Federal de São Carlos (2016). Professora Associada na Universidade Federal do Vale do São Francisco (2015). Pesquisadora/colaboradora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, USP. Autora do projeto sobre habilidade de dispersão e estrutura genética de agregações noturnas de machos euglossíneos na Caatinga e supervisora do projeto sobre diversidade, estrutura genética e habilidade de dispersão das populações de abelhas Euglossini em áreas de Caatinga florestada (Chapada Norte, Bahia). Gerente de Planos e Projetos no Cemafauna/UNIVASF (2018).

Duas áreas que se encontram, a vegetal com a Caatinga e a animal com as Abelhas, motivando-nos para uma entrevista com esta cientista de destaque, a qual iniciamos a seguir: 1 – Professora Aline, primeiramente agradecemos a sua disponibilidade para esta conversa que nos trará luz sobre a dependência de nossa sobrevivência de seres tão complexos e simultaneamente tão frágeis, quanto os polinizadores, com destaque para as abelhas. Se nos permitir, faremos isso através de seu percurso de vida. Você está ligada a uma das universidades mais prestigiadas do Nordeste do Brasil, associada a um centro de pesquisa, manejo e conservação da fauna silvestre que completou 10 anos em 2018. Nos diga, por favor, como sua formação acadêmica a trouxe até ao Centro de Manejo da Fauna da Caatinga (CEMAFAUNA) da Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF)? Em primeiro lugar, obrigada Cláudia, pela ideia da entrevista. Em segundo lugar, agradeço aos colegas da Revista de Recursos Genéticos (RG News) pelo cuidado que vocês têm tido com os estudos e, como consequência, com os pesquisadores no Brasil, muito obrigada pelo convite. Vamos à minha trajetória, que envolve o Cemafauna, vindo desde o meu doutorado que defendi em 12 de maio de 2015 pelo programa de Entomologia da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Naquela oportunidade eu já aguardava o resultado do pedido de um projeto de pós-doutorado submetido à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no mês anterior à defesa (Abril/2015). Na oportunidade, já tinha submetido uma proposta de pedido de pós-doutorado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE) e uma proposta para chamada do edital Universal à parte. Os parceiros envolvidos seriam: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).

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As propostas foram feitas com base na análise da diversidade genética das populações de abelhas da tribo Euglossini, ou abelhas das orquídeas, em áreas de Caatinga. Tais abelhas foram objeto de trabalho do meu doutorado. Os ninhos da espécie que trabalho, Euglossa melanotricha, foram encontrados na cidade de Campo Formoso, Bahia, distante de Petrolina, Pernambuco, cerca de 210 km. Por este motivo, todo o trabalho de campo do doutoramento foi feito lá. Encontrar ninhos de abelhas dessa tribo é muito difícil; das 209 espécies conhecidas só se tem descrição do comportamento de nidificação e organização social, de apenas três espécies, sendo uma delas a espécie que investiguei. A proximidade com a região onde ocorrem os ninhos, e o interesse em fazer algo no pós-doutorado voltado à genética de populações dessas abelhas, me levou ao Cemafauna. Entrei em contato com a Professora Dra. Patrícia Avelo, coordenadora do Centro, e fechamos a parceria. O trabalho envolveria a análise dos sinais químicos envolvidos na manutenção das agregações de machos (Figura 1), fluxo gênico e estruturação genética das populações de E. melanotricha em toda a sua área de ocorrência e registro no domínio morfoclimático de Caatinga. Após a defesa, trabalhei nas publicações do estudo do doutoramento o que me rendeu as publicações nas revistas Nature1 e Animal Behavior2. As análises dos pedidos de bolsa para o pós-doutorado e do Universal estavam em curso, quando a coordenadora do Cemafauna me convidou para ficar temporariamente como analista ambiental da área da Entomologia. O vínculo como analista durou apenas três meses até saírem os resultados nas agências de fomento. As três propostas foram aprovadas (FAPESP, FACEPE e CNPq jovem pesquisador e Universal), naquela situação, eu optei pela FAPESP, agência que me daria auxílio e reserva técnica. Continuei então fazendo o trabalho do pós-doutorado em parceira com o Cemafauna entre os anos de 2016 e 2018, e, dentro da proposta orientei seis alunos da graduação do curso de Ciências Biológicas desta Universidade. Em junho deste ano (2018), terminei o pós-doutorado e então fui vinculada ao Cemafauna, dentro do quadro efetivo.

Figura 1 - Macho de Euglossa melanotricha. Foto: Aline C.R. Andrade e Silva.

2 – Consegue identificar em qual momento de sua carreira (ou vida) percebeu que seguiria indelevelmente ligada às abelhas? Sim, foi no terceiro semestre da graduação em Ecologia, aos 19 anos de idade. Tive contato com a Professora Maria Elisa Santos no Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na oportunidade eu era candidata à monitoria deste laboratório. Ali tive a certeza da área e grupo de estudo. 3 – Porque sua dedicação à diversidade e estrutura genética das populações do gênero Euglossini? As abelhas Euglossini eram pouco conhecidas e não se tinham registros para áreas de Caatinga stricto senso, algo que me intrigava ao modelar a distribuição do grupo pelo litoral e áreas da cadeia do espinhaço que apresentam predominância do 1 2

Disponível em: https://www.nature.com/articles/srep26635 Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0003347215001839?via%3Dihub 35


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domínio morfoclimático da Caatinga em todo seu entorno, no Nordeste. O desafio então era encontrar essas abelhas em áreas consideradas não úmidas. Aceitei o desafio e desenhei um plano piloto de amostragem para procura dessas abelhas na Caatinga arbórea, no entorno de fragmentos da Cadeia do Espinhaço da Chapada Norte, região do Complexo da Chapada Diamantina, na Bahia. Com uso de iscas atrativas para machos eu os amostrei... Achado feito (Figura 2)! Ponto 1 resolvido. Ponto 2: Na busca dessas abelhas em áreas urbanas com registros narrados por moradores, encontrei ninhos em paredes de blocos de cerâmicas. Ponto 3: Encontrei nas áreas urbanas próximas aos ninhos, agregações de machos para dormida, registradas por moradores há mais de 10 anos em folhas de plantas ornamentais. Essas abelhas são de difícil visualização em campo por terem voo rápido e o achado então se configurou como primeiro registro de espécies da tribo para Caatinga stricto senso.

Figura 2. Abelhas de Euglossa melanotricha. Foto: Aline C.R. Andrade e Silva.

4 – De seu conhecimento e vasta experiência, afirmaria que o Brasil compreende e valoriza os serviços ecossistêmicos das abelhas, e que está no caminho certo para sua preservação? Eu gostaria de dar outra notícia, mas, para esta, a resposta é negativa. Infelizmente estamos a passos curtos e muitas vezes lutamos “contra a maré”. Tem sido árdua a luta de conscientizar que além de serem protegidas por serem ‘seres vivos’, elas representam os principais fatores de produção deste país. A cada passo nosso as novas políticas públicas do governo, em preservação da biodiversidade, dão um passo atrás. 5 – A síndrome de colapso das colmeias, que aterroriza e é um problema concreto em tantos países, está na lista de prioridades dos entomólogos conservacionistas brasileiros? Sim. Entre os mais sérios entomologistas que trabalham de forma aplicada é prioridade a discussão, conscientização e submissão de propostas com o propósito de prevenir para que a síndrome não se alastre pelo país. 6 – Se estivesse em seu poder, na temática dos polinizadores, esta faria parte de todos os cursos superiores ligados às ciências biológicas, agrárias, florestais e veterinárias do Brasil? Minha pergunta inclui currículo escolar, formação de professores e projetos de extensão dos estudantes, à semelhança do que já acontece em seu grupo, por exemplo. Sem dúvidas, seria uma prioridade. Tudo começa pelas políticas públicas mais eficientes. Nós temos aí um fator que é determinante para sobrevivência da nossa própria espécie, não sendo somente de interesse socioambiental. A minha sugestão é inserir nos parâmetros ou diretrizes de temáticas de interesse educativo, desde a educação básica até a superior. Já imaginou a espécie humana sem os tipos vegetais que só são disseminados em função do papel desses pequenos animais? 7 – Desde que passou a integrar o Cemafauna, nos diga que conquistas considera relevantes para a pesquisa em genética da conservação das abelhas endêmicas da Caatinga. Desde que integrei a equipe do Cemafauna, grupo que sempre foi por mim admirado, este já fazia e faz um excelente trabalho com outros grupos da fauna. Tive a chance de trabalhar junto com a coordenação do Centro para inclusão do resgate de abelhas nas áreas da obra de integração do Rio São Francisco. Somado ao trabalho de resgate, as abelhas hoje 36


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estão representadas na “Coleção Entomológica” do Cemafauna, por 547 indivíduos, 14 gêneros e 48 espécies. Dentre as espécies, 12 são endêmicas para Caatinga, uma é considerada em risco de extinção e duas são raras, mas não endêmicas. Até o momento, a equipe de analistas já resgatou 211 ninhos de abelhas sem ferrão nas obras da Integração. Esse resultado é particularmente interessante porque representa um cenário de manejo e uso desses ninhos de forma sustentável, na sua própria área de ocorrência, pelos moradores das vilas produtivas rurais. Os produtos melíponas são apreciados e economicamente rentáveis na região, o quilo (kg) de mel de uma abelha nativa, por exemplo, pode custar até 180 reais, a depender da espécie. As populações de abelhas manejadas por meliponicultores capacitados podem ser duplicadas em pouco menos de dois anos de manejo. A distribuição das populações de abelhas está sendo modelada, assim como a associação com os tipos vegetais em que nidificam, levando em conta espécie abelha/planta, distribuição e variáveis dimensionais da planta. Além desses aspectos, o material biológico tem sido coletado para análise da estruturação e diversidade genética dessas populações. O objetivo é testar se as populações estão estruturadas ou já apresentam perdas e/ou diferenciação genética em relação às suas populações de origem. Esse trabalho está sendo executado pela estagiária do Cemafauna, Emille Guerra, minha orientada no Trabalho de Conclusão do Curso – Ciências Biológicas. No Cemafauna, como já mencionado, também desenvolvi parte do meu trabalho de pós-doutoramento, um dos artigos já fora aceito e está em revisão na revista Chemical Ecology. Um segundo manuscrito está em construção e será submetido à revista Evolution. Os resultados deste trabalho podem ser assim sumarizados: O estudo é pioneiro em mostrar o mecanismo proximal envolvido na formação e manutenção de agregados noturnos de machos de abelhas em geral, mostrando que misturas complexas e específicas estão envolvidas no processo de reconhecimento. No caso dos machos da tribo Euglossini, o comportamento é mais intrigante porque envolve o uso a posteriori desse complexo de misturas químicas, incluindo compostos coletados em fontes externas para atração de fêmeas. Os machos exibiram comportamento mediado por aprendizagem social, não influenciada pelo parentesco genético. Os resultados enfatizam ainda, a importância dos machos de E. melanotricha como polinizadores de longa distância, especialmente para tipos vegetais endêmicos da Caatinga que estão dispersos e ocorrem regularmente em baixas densidades, a exemplo do Jacaranda rugosa, cujo espécie de abelha é o polinizador efetivo. Esta possibilidade levanta questões subseqüentes em relação à biologia da população dos tipos vegetais polinizados por abelhas Euglossini. Se os machos são capazes de dispersar por longas distâncias, então esses casos raros de fluxo gênico deveriam deixar sua marca na genética das populações de espécies vegetais endêmicas da Caatinga. Investigações sobre a importância da espécie E. melanotricha como polinizador efetivo do Jacaranda rugosa A. H. Gentry, uma espécie endêmica da Caatinga, devem ser feitas do ponto de vista de estruturação genética para elucidar estas questões e subsidiar programas de manejo e conservação das espécies neste domínio morfoclimático. O desenvolvimento do trabalho foi essencial para consolidar as parcerias entre os Laboratórios de Genética Evolutiva de Himenópteros da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-SP), Laboratório de Ecologia e Comportamento de Insetos Sociais (USP-SP) e Laboratório de Entomologia (UNIVASF-PE), reiterando que investigações em conjunto são essenciais para a realização de um bom trabalho. O apoio financeiro da FAPESP, aliado ao apoio logístico e humano da UNIVASF-PE, além da excelente estrutura do Laboratório de Genética Evolutiva (UFSCar-SP), conduzida pelo supervisor desta proposta, foram cruciais para que todos os pontos levantados nas questões norteadoras fossem cuidadosamente trabalhados, analisados e discutidos. A autora da proposta, entendendo que um pós-doutorado é um processo de interação entre universidades, em que pesquisadores são postos em contatos com instituições relacionadas com o estado da arte de uma determinada área, embutiu nesse processo a noção de complementaridade interorganizacional para o avanço do conhecimento científico. Os benefícios dessa troca foram amplamente reconhecidos pelas relações diretas entre os parceiros. Umas das formas de aplicar a complementaridade e/ou contribuição de informações e conhecimento foi feita a partir do comprometimento com as orientações dos estágios supervisionados e trabalhos de conclusão de curso dos alunos envolvidos nos trabalhos de coleta em campo, cedidos pela UNIVASF-PE. 37


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Outro trabalho recém estruturado e já em execução foi a criação do grupo “SOS Resgate de abelhas”, na cidade de Petrolina. Segue um resumo do trabalho: Informações sobre o grupo: O grupo foi formado a partir da necessidade de resgate de abelhas por pessoas especializadas no perímetro urbano da cidade de Petrolina, cujos chamados registrados pelo agrupamento de bombeiros ultrapassa a marca de 30 por mês. O grupo foi pensando em um dos cursos no evento promovido pelo Cemafauna e coordenado por mim, cujo tema foi “Sistema Sustentável: Abelhas, Agricultura e Saúde Humana” realizado no mês de setembro de 2018. O curso em questão abordou as técnicas de resgate e cuidados para prevenção de acidentes. A partir do curso, um grupo foi formado envolvendo o Centro de Zoonoses, Cemafauna, Instituto Federal Baiano de Senhor do Bonfim, Promotoria e Curadoria do Meio Ambiente de Petrolina, Corpo de Bombeiros, e os órgãos municipais que atendem às áreas de Conservação e Saúde Humana. Motivação:

No município de Petrolina, Pernambuco, dentre os mais variados tipos de ocorrências vivenciadas no dia a dia pelo corpo de Bombeiros e Centro de Zoonoses, a captura de abelhas merece destaque devido ao grande número de acionamentos recebidos. As instituições contabilizaram até 19 de dezembro de 2018, um total de 346 ocorrências relacionadas a esses insetos (quase um por dia). Os atendimentos envolvendo captura de abelhas sempre demandam certa atenção dos militares e técnicos devido aos riscos e locais em que esses insetos buscam instalar suas colmeias. Essa intervenção deve ser rápida e não oferecer riscos aos profissionais e à comunidade em geral. Por este motivo, uma equipe capacitada fazendo uso de técnicas invasivas não letais para as abelhas e com baixo risco à saúde humana é de extrema importância. Da mesma forma, trabalhos em parceria com os órgãos municipais de saúde e educação são necessários para que os enxames resgatados tenham chances de sobrevivência e manejo. Data da fundação: O grupo foi fundado no dia 18 de setembro de 2018. Quantos membros: Hoje são 36 membros, com seis técnicos da prefeitura disponíveis para realização do resgate. Parceiros: • • • • • • •

Cemafauna – idealizador e fundador (coordenação dos cursos de capacitação); Promotoria e Curadoria do Meio Ambiente de Petrolina – fundador e colaborador; IF Baiano – colaborador; Corpo de Bombeiros – colaborador; Setores Municipais da Conservação do Meio Ambiente e Saúde Humana – colaborador/executor; Centro de Zoonoses – colaborador/executor; Ascamp (Associação de Criadores de Abelhas do Município de Petrolina) – colaborador.

Sede para contato: Centro de Zoonoses Telefone: (87) 3867-4774 Grupos parceiros: • SOS Resgate de Abelhas da Cidade de Senhor do Bonfim, Bahia. • SOS Resgate de Abelhas da Cidade de Aracajú, Sergipe. 8 – A Univasf está localizada na região integrada de desenvolvimento econômico, em Petrolina (PE), um dos PIBs mais elevados do interior e do estado do Pernambuco, assente na fruticultura irrigada para exportação. Aqui “os

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seres vivos declarados mais importantes no Planeta” são respeitados como tal? Quais são os gêneros mais vulneráveis ou em risco de extinção na região? Dentro do Vale do São Francisco ainda não há uma discussão sobre as políticas públicas de conscientização e/ou informativa sobre a importância das abelhas como fatores de produção. Esse trabalho foi iniciado há poucos meses com algumas exposições na mídia local sobre os problemas do desaparecimento das abelhas e a redução da quantidade e qualidade de frutos. Uma das culturas agrícolas em destaque com registro acentuado de polinização manual (cerca de 70%) por ausência do polinizador é a cultura do maracujá. A maior produção de frutas do Vale e a segunda no Brasil. 9 – Em setembro de 2018 aconteceu em Juazeiro (BA), sob sua coordenação e do Cemafauna, o “I Workshop Sistema Sustentável: abelhas, agricultura e saúde humana”, com conferências, grupos de trabalho e mais de 150 inscritos. Que balanço faz do evento e que repercussão percebeu que ele trouxe para a região? Existe uma intenção de tornálo periódico? O evento foi uma excelente oportunidade para discussão de pontos críticos dentro de um polo produtivo. Sustentabilidade, levando em conta o fator de produção e a saúde humana. Tema complexo, mas com repercussão positiva do ponto de vista aplicado. A partir do evento, parcerias foram firmadas, a exemplo do que ocorrera com o grupos SOS Abelhas de Senhor do Bonfim, representados pelo Benilton (Prefeitura Municipal de Senhor do Bonfim, BA) e pela Larissa (professora do IF Baiano de Senhor do Bonfim, BA), com o Ministério Público Estadual e Federal, Univasf, Centro de Zoonoses, Grupamento de Bombeiros de Petrolina, Prefeitura Municipal de Petrolina, representados pela Secretaria de Saúde e Meio Ambiente, convites para parceiras em projetos de sustentabilidade em grandes fazendas de coco na região (ainda em discussão) e por fim consolidação de colaborações com parceiros como a Embrapa Semiárido e pesquisadores de outras instituições. E, como já mencionado, criação dos grupos SOS Resgate de abelhas em área urbana nas cidades de Petrolina, Pernambuco e Aracajú, Sergipe (grupo formado por participantes do evento por profissionais do IF Sergipe). 10 – Como é a interação da pesquisa (e dos pesquisadores) produzida em sua instituição com pesquisas similares feitas em outras regiões do país? E dentro do Estado, existem redes de colaboração para produzir ciência sobre conservação da diversidade das abelhas endêmicas da Caatinga? Que desafios ainda sente neste quesito de ampliação, partilha e divulgação da ciência? Os trabalhos publicados têm visibilidade em revistas internacionais e em veículos midiáticos da grande massa. Até aqui não tenho tido dificuldade no processo de divulgação. Quanto às redes de colaborações, há mais entre estados, somos parceiros da UFRPE, UFSCar, USP, IF Baiano, IF Sergipe e Universidade Federal de Sergipe. Outras instituições são pioneiras e fazem um excelente trabalho com as abelhas da Caatinga, como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA). Todas estas instituições estão engajadas e trabalhando muito para o estudo e conservação das abelhas da Caatinga. Professora Aline, em nome de toda a equipe da RG News agradecemos suas palavras e esperamos poder contribuir com esta matéria para um maior conhecimento sobre este polinizador tão essencial para a preservação dos nossos recursos genéticos da Caatinga.

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RG NEWS Maria Cleria Valadares Inglis A importância da conservação de Recursos Genéticos Microbianos em Coleções Científicas Entrevista realizada por Maíra Halfen Teixeira Liberal (PESAGRO-RIO/CEPGM)

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1980), mestrado em Agronomia (Genética de Microrganismos) pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - SP (1989) e doutorado em Microbial Genetics - University of Nottingham/UK (1995). Foi pesquisadora visitante (pós-doutorado em Microbial Genetics) na Universidade de Leicester/UK. Como pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia atua em trabalhos de identificação e avaliação de fungos agentes de controle biológico. Tem experiência em genética de microrganismos, genética molecular e seleção de agentes de biocontrole. Atuou como Chefe Adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e foi Secretária Executiva do Programa de Biotecnologia da Embrapa. Atualmente é a Supervisora de Curadoria das Coleções Microbianas da Embrapa.

1. Conte-nos um pouco sobre a sua história profissional e o início de suas pesquisas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia - CENARGEN. Minha carreira como pesquisadora iniciou-se em 01/11/1982 no então Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen), no qual fui “doutrinada” pelo saudoso Dr. Dalmo Giacometti (Chefe da Unidade na época), Dra. Clara Goedert, Dr. Francisco Montenegro Valls e outros experientes pesquisadores pioneiros na coleta, conservação e no uso de Recursos Genéticos no país. Desde então tenho atuado na identificação e avaliação de fungos e metabólitos secundários e genética de fungos, em uma busca incessante por agentes de controle biológico que tornem a agricultura brasileira mais competitiva. Em 1986 ingressei no Curso de Mestrado no departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (sob a orientação do Prof. Dr. João Lúcio de Azevedo). Meus estudos de mestrado foram concluídos em 1989, tendo defendido a dissertação, intitulada: “Genética e produção de exoenzimas em linhagens de Metarhizium anisopliae var. anisopliae (Metsch.) Sorokin”, que foi aprovada com distinção e louvor. Em 1991 iniciei o Curso de Doutorado na Inglaterra, aonde tive a oportunidade de ingressar na Universidade de Nottingham, uma universidade internacionalmente reconhecida pela qualidade de pesquisa pioneira e inovadora. No Departamento de Life Science, sob a orientação do Prof. Dr. John Peberdy tive a oportunidade de continuar meus trabalhos com o fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae, utilizando técnicas moleculares de clonagem e transformação de fungos. Essa etapa foi fundamental para minha carreira, uma vez que pude exercer um pleno domínio da Língua Inglesa, estabelecendo contato com diversos grupos de pesquisa internacionais e concluindo meus estudos em 1995. Vale destacar, que no período de 1999 a 2001 tive a oportunidade de atuar como pesquisadora visitante, com o apoio do CNPq, no Departamento de Genética da Universidade de Leicester (UK), trabalhando sob orientação do Prof. Dr. Ed Louis. Nesta etapa de trabalho tivemos oportunidade de estabelecer contatos com diversas instituições e pessoas que hoje se encontram em instituições estratégicas como a exemplo do Dr. Alex Chaix atualmente Head of Knowledge Exchange and Commercialisation no Biological Sciences Research Council (BBSRC). Após este treinamento, trabalhamos com transformação de linhagens de fungos, resultando em uma linhagem de Metarhizium anisopliae que foi protegida por patente e tem imenso potencial de exploração de genes reguladores da produção de esporos. No momento estamos

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articulando um projeto na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, visando à identificação destes genes e o uso de CRISPR Cas9 para o desenvolvimento de linhagens não transgênicas que possam ser produzidas em meio líquido. 2. É reconhecido pelos seus pares que a sua dedicação e conhecimento científico foram essenciais para a fundação da Área de Controle Biológico do CENARGEN. Quais foram os maiores desafios e as dificuldades encontradas para superá-los? Na época da criação do Controle Biológico alguns colegas não achavam que esta área deveria estar no Cenargen e ainda não tínhamos uma equipe que pudesse de fato implementar os trabalhos de Controle Biológico de pragas. Construímos o prédio e adquirimos os equipamentos. No final da década de 80 já contávamos com uma equipe multidisciplinar que se tornou referência no Brasil e consolidou a área na Embrapa. Devo ressaltar que além dos projetos de controle biológico de pragas a equipe também se destaca como referência na organização dos recursos genéticos microbianos, coordenando as ações relacionadas à Vertente Microbiana, do Portfólio de Recursos Genéticos da Embrapa. Pela competência técnica da equipe hoje existente e pelo destaque nacional desta equipe decidimos editar um livro intitulado “Controle Biológico de Pragas da Agricultura”, que contou com a participação de todos os pesquisadores da área e alguns colaboradores de instituições de ensino e pesquisa. A editoração da obra ficou a cargo da Dra. Eliana Fontes e minha, sendo apresentado pelo Chefe Geral e prefaciado pelo Dr. Evaldo Vilela. O livro é organizado em cinco partes sendo que a Parte I se refere aos princípios e fundamentos do controle biológico; a Parte II é dividida em sete capítulos relacionados aos diferentes agentes de controle biológico contemplando parasitoides, predadores (inclusive ácaros predadores), bactérias, fungos, vírus e nematoides utilizados no controle de artrópodes-praga; a Parte III é dedicada ao controle biológico de doenças de plantas, plantas invasoras e nematoides fitoparasitas; a Parte IV é dedicada aos semioquímicos, que podem ser usados em associação com outros métodos de controle, inclusive o controle biológico e a Parte V que finaliza a obra, apresentando os aspectos regulatórios e as novas técnicas que estão sendo ativamente pesquisadas, visando melhorar ou facilitar a eficiência de agentes de controle biológico, concluindo com um retrato das perspectivas de mercado para o controle biológico. De acordo com o Prof. Evaldo Vilela, este livro é “uma rica contribuição, em nosso idioma, pobre em literatura sobre o tema, que certamente irá estimular esforços visando ao avanço da sustentabilidade da agricultura tropical”. O livro será lançado no SICONBIOL que será em agosto de 2019 em Londrina, Paraná. 3. Descreva-nos as pesquisas realizadas junto ao Dr. Peter Inglis, que resultaram na obtenção da primeira patente de microrganismos geneticamente modificados, depositada pela Embrapa. Junto com o Dr. Peter Inglis, meu parceiro de pesquisa e com quem sou casada há mais de vinte anos, trabalho com genética molecular de fungos filamentosos. Na época que obtivemos a linhagem transgênica, objeto da patente, estávamos trabalhando em um sistema de transformação de fungos entomopatogênicos, principalmente visando introduzir marcadores que nos permitisse estudar os mecanismos de ação destes fungos sobre insetos pragas. Durante estes trabalhos observamos que uma das linhagens transgênicas apresentava uma morfologia distinta produzindo conídios em meio líquido. Analisamos esta linhagem e apresentamos o pedido de patente, que foi concedido em 2018 pelo INPI. Como estive afastada do trabalho por oito anos devido a um câncer de mama, não avançamos com outros estudos. Coincidentemente, este foi o tempo necessário para a avaliação e aprovação da patente. No momento estamos discutindo parcerias para o uso desta linhagem na identificação de genes que regulam o processo de esporulação de fungos. O objetivo principal seria obter linhagens, utilizando ferramentas de edição de genomas, que não são consideradas transgênicas, para uso na produção e aplicação em campo no controle de diferentes pragas agrícolas. 4. Como foi a sua experiência sendo a primeira Curadora de Microrganismos da Embrapa? Naquela época não havia ainda uma organização das coleções microbianas. Assim, a primeira coisa foi fazer um levantamento nas instituições para identificação das coleções. Logo em seguida fui fazer doutorado e este trabalho foi continuado por colegas como a Dra. Myrian Tigano. Um enorme avanço pôde ser observado, como resultado dos esforços de vários colegas, e hoje temos um Sistema de Curadoria de Coleções Microbianas implantado na Embrapa. 41


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Em 2018, retomei os trabalhos com Coleções Microbianas, na condição de Supervisora da Curadoria das Coleções Microbianas da Embrapa, e encontrei um sistema muito bem organizado. Hoje são 28 coleções devidamente formalizadas e algumas outras ainda não formais, no projeto da Vertente Microbiana. Também contamos com um Sistema de Gestão da Informação, desenvolvido pela equipe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, denominado AleloMicro. O AleloMicro pode ser acessado no link: http://alelomicro.cenargen.embrapa.br/InterMicro/index.xjs, módulo de consulta para o público externo. Devemos ressaltar também o trabalho da equipe de qualidade que envidou esforços para a implementação de um Sistema de Qualidade das Coleções Microbianas da Embrapa, permitindo grandes avanços na gestão das coleções. 5. Descreva-nos como está estruturado e quais são os objetivos do Sistema de Curadorias de Germoplasma da Embrapa O Sistema de Curadoria de Germoplasma da Embrapa foi institucionalizado por norma interna e visa definir e sistematizar na Embrapa as atividades relacionadas ao enriquecimento, à caracterização, à conservação, ao uso, à disponibilização da informação e ao intercâmbio de germoplasma, para a comunidade científica, instituições parceiras e representações de agricultores. O Sistema de Curadoria de Germoplasma está estruturado em um Conselho de Recursos Genéticos (CRG), a participação do Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, um Coordenador Técnico, os Supervisores de Curadorias (três, sendo um para cada vertente), os Curadores dos Bancos Ativos de Germoplasma, os Curadores de Coleções, o responsável pela base de dados corporativas, o supervisor do Banco Genético e o Comitê Técnico de Produto/Espécie. Os três supervisores para as respectivas vertentes, animal, vegetal e microbiana, participam da gestão do Portfólio de Recursos Genéticos (REGEN) alinhando as atividades de pesquisa, dentro dos objetivos estratégicos da Embrapa, fazendo a gestão da carteira de projetos. Na vertente microbiana as coleções estão organizadas em Centros de Recursos Biológicos (CRBs), Coleções Institucionais e Coleções de Trabalho. A equipe do projeto de qualidade participa ativamente na avaliação das coleções, permitindo identificar quais coleções estão preparadas para serem institucionais, de trabalho ou serem implementadas como CRBs. No que se refere à implementação de CRBs precisamos ressaltar que a Embrapa é oficialmente responsável pelo CRB Agronegócio, em atendimento à PORTARIA Nº 130, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2016 do MCTI, que “Altera a Rede Brasileira de Centros de Recursos Biológicos - Rede CRB-Br e sua estrutura no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI”. A Embrapa avançou muito nos trabalhos relacionados ao CRB Agronegócio e conta hoje com uma estrutura para depósito de amostras, dentro do Banco Genético, bem como com o Sistema AleloMicro. O Banco Genético, situado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Figura 1) está recebendo amostras de microrganismos, das Coleções Microbianas da Embrapa, para conservação a longo prazo. Estamos participando das discussões junto à Rede CRB-Br, bem como com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, uma vez que podemos disponibilizar o Sistema AleloMicro para outras instituições. A disponibilização de acesso ao AleloMicro tem sido viabilizada mediante assinatura de Termos de Adesão com a Embrapa e treinamento de equipes para garantir a segurança das informações inseridas no sistema.

Figura 1 – Faixada central do Banco Genético, situado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília-DF (crédito da foto: Claudio Melo).

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A Embrapa tem participado ativamente das discussões, junto à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), das normas internacionais para biobancos. Os Supervisores de Curadoria, o Supervisor do Banco Genético e a equipe de qualidade vem acompanhando as discussões das traduções das normas, visando à preparação para ações a serem internalizadas, uma vez aprovadas. 6. As coleções científicas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia mantêm acervos que representam a diversidade biológica de diferentes grupos de plantas, animais e microrganismos. Quais grupos de microrganismos estão contemplados nas Coleções Científicas da Embrapa CENARGEN? A conservação de recursos genéticos microbianos em coleções funcionais (exemplo: bactérias, fungos e leveduras para bioprocessos, biossolubilização, alimentação, controle biológico de pragas, fixação de nitrogênio, promoção de crescimento de plantas, descontaminação de recursos hídricos e edáficos, etc.), coleções fitopatológicas (ex. agentes causais das principais doenças de importância econômica) e coleções de agentes patológicos de enfermidades animais, são fundamentais para garantia da segurança, da produção e geração de insumos para inovação e consequente promoção da bioeconomia mundial. A importância dos recursos genéticos microbianos na provisão de serviços ecossistêmicos, na agricultura sustentável e na segurança vem sendo reconhecida e discutida pela Comissão de Recursos Genéticos para a Alimentação e Agricultura da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) desde 2007. Em 2017, a Comissão iniciou a preparação de um plano de trabalho para futuros estudos sobre o uso sustentável e a conservação de microrganismos e invertebrados. Os recursos genéticos microbianos conservados a médio e longo prazos se referem a Coleções da Embrapa mantidas em vinte e duas Unidades Descentralizadas, distribuídas em todas as regiões geográficas do Brasil. A maioria das linhagens mantidas na coleção origina-se do território nacional, no entanto, amostras de outros países obtidas por intercâmbio com diferentes instituições de diversos países são também mantidas nas Coleções da Embrapa. Diferentes métodos permitem conservar amostras de fungos, vírus, bactérias, algas, nematoides e outros organismos cultiváveis, para uso em diferentes processos, garantindo a redução da perda da diversidade microbiana. Os recursos genéticos microbianos mantidos nessas Coleções apresentaram um crescimento bastante significativo. A partir de 2009 houve um aumento crescente no número de linhagens incorporadas às coleções, tendo estes valores apresentado uma curva ascendente de crescimento ainda mais pronunciada após 2015, quando da criação do Portfólio de Projetos (REGEN). Atualmente aproximadamente 53.000 linhagens de microrganismos são conservadas nas Coleções da Embrapa, a diversidade de gêneros mantidos é bastante ampla, sendo estes distribuídos em pelo menos 100 famílias. As famílias com maior número de linhagens são Magnaporthaceae, seguida da Bacillaceae e Glomerellaceae. O grande desafio para as coleções ainda é coletar, identificar, caracterizar, conservar e documentar os recursos genéticos microbianos representativos dos diferentes biomas brasileiros, considerando áreas cultivadas e áreas nativas. Existe uma grande necessidade de ampliar a coleta, conservação e caracterização de microrganismos de importância agrícola oriundos dos biomas Caatinga e Amazônia, cujos acessos ainda são pouco representativos da diversidade microbiana das regiões norte e nordeste. Outro desafio da conservação da biodiversidade microbiana e dos recursos genéticos reside principalmente na existência de microrganismos não cultiváveis ou de difícil cultivo, cuja perda e/ou extinção não pode ser mensurada. O desenvolvimento e a implementação de métodos de conservação de amostras diversas coletadas diretamente no ambiente e contendo microrganismos surge como desafio para a conservação ex situ. O uso de metagenômica para a avaliação da diversidade microbiana em diferentes biomas e em áreas protegidas e cultivadas exige investimentos e capacitação de instituições de P&D no país, em um esforço integrado. A manutenção das Coleções Microbianas da Embrapa é fundamental, principalmente devido ao crescente interesse pela diversificação e agregação de valor à agropecuária e agroindústria, com impacto direto na forma de novos alimentos, fibras, aromas e matérias-primas para a bioindústria, bem como a redução de pragas agrícolas e animais, têm resultado na busca de microrganismos com potencial de aplicação nestas áreas. Além do uso de microrganismos como biopesticidas (microrganismos capazes de causas doenças em artrópodes pragas, controlar doenças de plantas e plantas daninhas), 43


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biofertilizantes (microrganismos capazes de fixar nitrogênio) e biorremediadores (degradadores de metais e resíduos químicos no ambiente), estes organismos podem gerar ativos (enzimas e metabólitos secundários) com aplicações bioindustriais. Neste contexto, o uso de microrganismos como biopesticidas, biofertilizantes e biorremediadores se tornam ferramentas estratégicas para o desenvolvimento de produtos agrícolas sustentáveis, sendo alternativas viáveis para a solução de problemas relacionados à resistência de insetos a pesticidas químicos tradicionais, além de reduzir a contaminação ambiental; evitando o emprego de fertilizantes produzidos a partir de fontes não renováveis de energia como derivados de petróleo, ou por rotas mais nocivas ao ambiente; ou contribuindo para a degradação de poluentes ambientais, uma vez que os microrganismos desempenham a tarefa de reciclar a maior parte das moléculas da biosfera, participando dos principais ciclos biogeoquímicos e representando, portanto, o suporte de manutenção da vida na Terra. 7. Quais suas expectativas e desafios como Supervisora de Curadoria das Coleções Microbianas da Embrapa. Como Supervisora de Curadoria das Coleções Microbianas, tornei-me um ponto focal para atendimento às demandas institucionais e governamentais, em temas relacionados à microrganismos de importância para a agricultura e agroindústria. Participando de discussões junto a instituições nacionais e internacionais temos a responsabilidade de contribuir para o tema e institucionalizar as ações relacionadas ao tema. A partir de novembro de 2018, participamos como vice coordenadora, das discussões de realinhamento do Portfólio de Recursos Genéticos da Embrapa. Este trabalho, conduzido pelo Dr. Arthur Mariante (coordenador do grupo) envolveu diversos especialistas no assunto que apresentaram contribuições valiosíssimas, permitindo a definição das prioridades e dos desafios de inovação para os recursos genéticos, no âmbito da Embrapa. Subsidiamos ações junto a órgãos governamentais e preparamos o documento referente às Coleções Microbianas da Embrapa, para compor o Relatório sobre o Indicador C13.3: Número de acessos em Coleções Microbianas ex situ, das Metas do Aichi. Com a colaboração do Dr. Rogerio Biaggioni Lopes, o documento foi enviado para o Ministério do Meio Ambiente, como parte do Relatório Nacional referente à Convenção da Diversidade Biológica. Interessante observar que o Relatório Nacional de 2016 não apresentava quase nenhuma informação sobre as Coleções Microbianas, apesar de já termos um trabalho bem organizado e conduzido pelos curadores da Embrapa. Acredito que a divulgação das Coleções Microbianas, a valorização e o reconhecimento dos Curadores sejam fundamentais. Neste contexto estimulamos e solicitamos que os curadores escrevam artigos para a revista RG News, em atendimento à solicitação da Presidente da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos - Dra. Fernanda Vidigal, e certamente os colegas curadores prepararão os artigos. Recentemente preparamos um questionário que foi respondido pelos curadores, visando diagnosticar a situação das coleções. Os resultados irão permitir o estabelecimento de estratégias de suporte e apoio às coleções, dentro de suas necessidades. Os resultados foram discutidos em uma reunião realizada nos dias 11 e 12 de junho de 2019, por videoconferência, com a participação de todos os Curadores das Coleções da Embrapa. Nessa reunião, os líderes de Projetos Componentes apresentaram os resultados de diversas coleções, sendo também abordadas as estratégias para a documentação no Sistema AleloMicro. Novas coleções, que ainda não estão formalizadas no projeto em andamento estão sendo identificadas, visando à institucionalização de todos os recursos genéticos microbianos mantidos na Embrapa. Um dos maiores desafios da Supervisão de Curadoria é o suporte à captação de recursos financeiros para as atividades das Coleções Microbianas. Acreditamos que um trabalho conjunto poderá resultar em uma proposta que possa apresentar a importância de se conservar microrganismos e o impacto estratégico para o país, que estes organismos podem ter na agricultura e agroindústria nacionais. Certamente poderemos contribuir com outras instituições, principalmente no que se refere à documentação das Coleções. Acreditamos que o impacto será muito positivo e esperamos que em um próximo relatório sobre coleções microbianas no Brasil, possamos apresentar informações de uma grande maioria das instituições nacionais, valorizando e dando visibilidade aos Recursos Genéticos Microbianos. Dra. Maria Cleria, em nome de toda a equipe da RG News agradecemos suas palavras e esperamos poder contribuir com esta matéria para um maior conhecimento as coleções microbianas e sua importância para a humanidade. 44


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RG NEWS Cristina Yumi Miyaki Genética aplicada à conservação e à reintrodução de uma espécie exclusivamente catingueira extinta na natureza Entrevista realizada por Cláudia Sofia Guerreiro Martins (ESALQ/USP)

Bacharel em Ciências Biológicas (1989, Universidade de São Paulo - USP) e mestre (1993, USP) e doutora (1996, USP) em Biologia/Genética. Pós-doutorado concluído em 1998 e, desde então, Professora associada do Instituto de Biociências da USP. Estuda biogeografia, história evolutiva e conservação da avifauna da região neotropical. Projeto temático FAPESP 2013-2019 “Dimensões US - Biota São Paulo: integrando disciplinas para a predição da biodiversidade da Floresta Atlântica no Brasil”. Participa de quatro Planos de Ação Nacionais para a conservação de espécies ameaçadas, entre os quais o PAN da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii).

1 – Professora Cristina, primeiramente agradecemos a sua disponibilidade para esta conversa que nos trará informações valiosas sobre uma das espécies mais emblemáticas da fauna silvestre brasileira, considerada extinta na natureza, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Seu percurso de vida está intimamente ligado à conservação dos psitacídeos, o grupo de aves mais visado pelo tráfico e comércio internacional, apesar de sua ilegalidade no Brasil. A genética desempenha um papel central no sucesso de reintrodução da espécie e esse é o motivo desta entrevista. Nos diga primeiramente, por favor, se em sua formação acadêmica escolheu a genética ou a genética a escolheu? Acredito que foi uma conjunção de fatores: eu gostava de genética e aproveitei um convite para trabalhar na área. Ou seja, eu ingressei na Biologia pensando em um dia trabalhar com genética, mas logo no início do curso fui convidada a fazer um estágio em fisiologia vegetal e desenvolvi um projeto por 18 meses. Depois desenvolvi meu projeto de iniciação científica na área de arqueologia, triando restos de alimentos consumidos por povos associados a sambaquis do litoral de São Paulo. Simultaneamente, fui convidada a fazer um estágio em genética humana, que se tornou meu projeto de mestrado. Como após mais de um ano eu praticamente não tinha resultados e surgiu uma bolsa para estagiar no exterior, minha orientadora e eu decidimos trocar o meu projeto de mestrado e ele passou a ser com psitacídeos. Eu utilizei a mesma metodologia laboratorial, mas em outro modelo animal. Esses dados permitiram realizar recomendações de pareamento de indivíduos de programas de reprodução em cativeiro visando aumentar o sucesso reprodutivo dos casais e, também, para identificar o sexo de indivíduos de algumas espécies sem diferença morfológica externa aparente (ou seja, machos e fêmeas sem dimorfismo). Essa recomendação de pareamentos em cativeiro tem sido feita para a ararinha-azul. Estimamos a similaridade genética entre os indivíduos do plantel e sugerimos que os pares menos similares sejam pareados para reprodução. Anualmente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é o responsável pela coordenação dos Planos de Ação Nacionais de conservação de espécies ameaçadas no Brasil, usa esses dados genéticos em conjunto com outros dados de saúde e idade das aves para decidir os pareamentos a serem realizados. 2 – Nos explique um pouco das conclusões a que chegou através dos estudos que desenvolveu no sentido de entender os processos que geraram e mantêm a elevada diversidade de espécies na região neotropical. Nossos estudos de filogenia (história evolutiva entre espécies) e filogeografia (história evolutiva dentro de espécies) permitiram inferir como eventos do passado (como por exemplo, a quebra do continente Gondwana, o soerguimento dos 45


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Andes, ciclos de períodos glaciais e interglaciais) influenciaram as espécies que avaliamos. Ou seja, como as diferentes espécies responderam a essas mudanças ambientais. Em alguns casos as respostas foram semelhantes e, em outros não. É fascinante ver a grande diversidade de histórias. 3 – Por que sua dedicação aos psitacídeos? E a ararinha-azul foi uma consequência dos estudos dentro do grupo de psitacídeos ou uma escolha como pesquisadora e conservacionista? Minha orientadora de mestrado e doutorado, a citogeneticista humana Professora Anita Wajntal, sempre quis trabalhar com psitacídeos e com a mudança de meu projeto de mestrado, ela visualizou a possibilidade de realizar o sonho dela. Eu também gostava de animais não-humanos e foi ótimo ter passado a trabalhar com psitacídeos e, mais tarde, com aves em geral. No caso da ararinha-azul, em 2002 fui convidada pelo então IBAMA a fazer parte do grupo de trabalho para a conservação da espécie. Desde então atuamos como consultores genéticos para a conservação dessa e de outras espécies de psitacídeos ameaçados (por exemplo, a arara-azul-de-Lear que também é endêmica da Caatinga).

Foto 1 - Ararinha-azul (crédito da foto: Flávia Presti).

4 – Sabemos que tem trabalhado em projetos na Mata Atlântica e na Caatinga. Em sua opinião, procede a afirmação de que a Caatinga ainda é preterida em relação aos demais biomas? Se sim, acha possível que a avifauna silvestre endêmica da Caatinga pode ser um pretexto válido para atrair maiores investimentos para pesquisa e conservação in situ? A urgência em trabalhar com organismos da Mata Atlântica é dada pelo estado de degradação desse domínio vegetacional. Como resta muito pouco da Mata Atlântica original há grande atenção em sua preservação. Do mesmo modo, não podemos deixar de nos preocupar com o estado de conservação da Caatinga. Nos dois casos, as maiores ameaças são ações humanas e, por isso, é essencial sensibilizarmo-nos para o problema. Assim, como em geral temos afeição pelas aves, elas podem ser bons modelos para chamarmos a atenção para a necessidade de preservarmos esses ambientes. 5 – De seu conhecimento e vasta experiência, como a genética da conservação pode dialogar com outras linhas da pesquisa para enfrentar propositivamente as ameaças que a avifauna, com destaque para os psitacídeos, enfrentam para sobreviver em seus habitats? Quando trabalhamos com conservação é imperativo ter colaboradores das mais diversas áreas, como Biologia, Veterinária, Antropologia, Direito, Políticas públicas, Economia e tantas outras. Assim, dados genéticos só resultarão em conservação se estiverem integrados com as demais áreas de conhecimento. 6 – Como professora do Instituto de Biociências da universidade brasileira presente nos primeiros lugares em vários rankings mundiais de instituições de ensino superior, a Universidade de São Paulo, o que considera ser a pedra de toque para estimular uma nova geração de pesquisadores a escolherem a genética da conservação como carreira? 46


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Acho que tudo se inicia no Ensino Básico, quando aprendemos a gostar de Ciência, a compreender que nossas ações podem auxiliar ou prejudicar a sobrevivência das outras espécies que coabitam a Terra. Temos que aprender a importância de conviver em harmonia com os outros organismos. A genética provê diversas ferramentas que nos ajudam a responder questões científicas, algumas que podem ser aplicadas em conservação. Assim, acho que o principal é termos consciência de que nossas ações podem ou não ser prejudiciais à biodiversidade e, como Conservação exige uma conjunção de especialistas, pesquisadores interessados em genética podem vir a auxiliar de forma relevante nessa área. Ou seja, reforço a necessidade de discutirmos diversos pontos de vista e buscarmos um caminho satisfatório para todos e/ou para a maioria. Para isso é importante também trabalharmos nossa comunicação, de modo a sermos claros naquilo que queremos expor, transformando nossa linguagem científica em uma linguagem mais universal, para todos. 7 – Partilhe conosco, por favor, conquistas relevantes que sua pesquisa em genética da conservação já trouxe ou tem o potencial de trazer para a reintrodução da ararinha-azul. Como mencionamos, temos estimado a similaridade genética entre ararinhas-azuis para recomendar a formação de casais do programa de reprodução em cativeiro. Após a reintrodução, podemos auxiliar o monitoramento das aves soltas caso penas forem encontradas e tiverem DNA para realizar a identificação individual. Nesse caso podemos ajudar a mapear a área de vida das ararinhas soltas.

Foto 2 - Ararinha-azul (crédito da foto: Flávia Presti).

8 – De que forma a universidade e nomeadamente você e seu grupo estão alinhados com o ICMBio no “Projeto Ararinha na natureza”, nesta nova fase que ambiciona trazer indivíduos de cativeiro para Curaçá, na Bahia, e gradativamente serem preparados para a soltura e vida livre? Baseado nos dados genéticos que temos produzido, os indivíduos de linhagens super-representadas (por exemplo, filhotes de casais que deixaram os mais elevados números de descendentes) podem ser selecionados para a soltura. Isso manteria as linhagens genéticas menos representadas em cativeiro para aumentarem sua representatividade no plantel cativo e para preservar a variabilidade genética da espécie. 9 – Apesar da dimensão e toda a delicadeza do processo, será um marco histórico para a conservação de uma espécie no Brasil. Em termos de reconhecimento internacional, acredita que o sucesso destes esforços pode render ao Brasil maiores investimentos por parte de instituições estrangeiras, para a proteção de outras espécies da fauna silvestre, emblemática ou não? 47


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A experiência a ser adquirida será muito grande, pois os desafios e obstáculos são complexos e em grande número. Assim, é importante que seja utilizada a melhor Ciência disponível para essa reintrodução. É essencial que todos os atores trabalhem em harmonia e, por isso, a tarefa não é fácil. 10 – Pensando especificamente na Caatinga e em outras aves ameaçadas como a arara-azul-de-Lear, por exemplo, como vislumbra que a pesquisa com genética pode seduzir empreendimentos que margeam unidades de conservação, como os parques eólicos, solares ou mineradoras, para que adotem comportamentos corporativos favoráveis à proteção das espécies e seus habitats? O conhecimento de como a variabilidade genética das populações de diferentes espécies se distribui no espaço geográfico pode indicar áreas que sejam prioritárias para a conservação. Por exemplo, se for encontrada uma linhagem geneticamente diferenciada exclusiva de uma determinada área, pode ser decidido que esse local deve ser preservado, ou seja, que empreendimentos não sejam instalados aí. 11 – Finalmente, como popularizar o conhecimento gerado pela genética da conservação, uma matéria quase sempre temida, para que a interação com a sociedade aconteça com maior efetividade e a interdisciplinaridade se faça mais presente em nossas instituições? Aqui volto a reforçar a necessidade de aprendermos desde cedo a importância da Ciência para nossa sobrevivência. Também temos que aprender a conviver e a respeitar diferentes pontos de vista. Além de aprendermos a nos comunicar na linguagem daqueles que queremos sensibilizar. Infelizmente nada disso é tarefa simples. Professora Cristina, em nome de toda a equipe da RG News agradecemos suas palavras e esperamos poder contribuir com esta matéria para cativar mais atenções para esta magnífica espécie que é a ararinha-azul, uma verdadeira embaixadora do bioma Caatinga.

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RG NEWS VI - Memória dos Recursos Genéticos Memória Nacional Carlos Eduardo de Oliveira Camargo – “Pai dos Cereais de Inverno do IAC” Por Antonio Wilson Penteado Ferreira Filho PqC VI, DR. – aposentado IAC.

Carlos Eduardo de Oliveira Camargo nasceu em Campinas-SP, no dia 26 de maio de 1945. Casado com Maria Catarina Aboin Gomes Camargo, com quem teve seis filhos. Graduou-se Engenheiro Agrônomo, em 1968, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP. Obteve o título de Doutor em Agronomia, também pela ESALQ-USP em 1972. Em 1978 completou seu PhD, defendendo sua tese junto ao Crop Science Department da Universidade Estadual de Oregon, Estados Unidos. Iniciou suas atividades profissionais, em 1969, no Instituto Agronômico, em Campinas (SP), onde trabalhava principalmente com o melhoramento genético do trigo.

Iniciou sua carreira científica atuando com melhoramento genético de trigo e outros cereais de inverno, como Pesquisador Científico VI no hoje denominado Centro de Grãos e Fibras - IAC. Seguiu o exemplo de seu pai Dr. Leocádio de Souza Camargo que também foi um grande pesquisador científico do mesmo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), só que pela Seção de Olericultura e Floricultura. Sua vitalidade impressionava e inspirava a todos seus colegas e alunos, trabalhando nos feriados e finais de semana quando havia experimentos no campo, comumente em diversas Estações Experimentais do IAC. Sempre disposto a apoiar os colegas, doou seu trabalho para a Fundação IAC, hoje Fundação de Apoio à Pesquisa Científica – FUNDAG. Publicou 223 artigos científicos, 132 resumos em anais de eventos nacionais e internacionais e 11 capítulos de livros. Desenvolveu 39 cultivares de cereais de inverno (trigo comum, trigo duro, aveia e triticale) (Figura 2). No IAC atuou como Chefe da Seção de Arroz e Cereais de Inverno, Diretor da Divisão de Agronomia e Assessor da Diretoria Científica. Durante muitos anos foi membro de comitê assessor da FAPESP e do CNPq. Dedicou sua vida à pesquisa científica e ao ensino. Foi um grande entusiasta na formação do curso de pós-graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do IAC, do qual foi professor e coordenador da disciplina de Melhoramento de Plantas Anuais, e membro do Conselho da Área de Genética, Melhoramento Vegetal e Biotecnologia por vários mandatos. Participou ativamente da formação de recursos humanos, nos cursos de pós-graduação da ESALQ-USP, UNESP- Jaboticabal e IAC, tendo orientado nove alunos de Mestrado e Doutorado. Participou como membro titular de 28 Bancas de Pós-graduação na Unicamp, Esalq-USP, UFRGS-Porto Alegre, UFPel-Pelotas e UFLA-Lavras. Orientou sete dissertações de mestrado e duas teses de doutorado pelo pós-graduação do IAC. Recebeu sete prêmios e homenagens, entre eles: Em 1987 recebeu uma Placa com homenagem por dedicação e esforço voltados pra o desenvolvimento da pesquisa nacional dado pela Embrapa, Em 1990 recebeu uma Placa de prata com a seguinte inscrição – A Participação Constrói - dada pela Delegacia Regional da Associação dos Engenheiros Agrônomos de

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Estado de São Paulo, Em 1995 recebeu o Prêmio IAC como agrônomo do ano, em 2001 recebeu Moção de Aplausos da Câmara de Vereadores de Piracicaba por ter sido agraciado com a Medalha Paulista do Mérito Científico e Tecnológico pelo trabalho com trigo. Em 2002 recebeu Diploma de reconhecimento pela valiosa colaboração durante os últimos 25 anos nas atividades do CIMMYT no Cone Sul e pela geração de germoplasma melhorado a nível mundial pelo CIMMYT-México. Em 2005, como docente homenageado pelo Corpo Discente do ciclo 2003/2005, da Área de Concentração Melhoramento Genético Vegetal, Comitê da Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico. Proferiu palestras em diversos países da América do Sul, Europa, África, Estados Unidos, Austrália e China. Tive o privilégio de trabalhar com Carlos Camargo durante toda a minha carreira científica, na qual ele sempre me apoiava e orientava. Ele fazia isso para todos os colegas que solicitassem orientação e sempre com muito carinho e dedicação. Os projetos de pesquisa coordenados por Carlos Camargo caracterizaram-se pela multidisciplinaridade, Figura 2. Dr. Carlos, em experimento de telado, no Centro Experimental de agregando pesquisadores científicos de diferentes entidades, como Instituto Campinas, IAC. Foto dos arquivos de Biológico, Cena-USP, Ital e Unicamp, entre outros. O Convênio Trigo entre a Wilson Penteado. Secretaria da Agricultura por meio do IAC, e as Cooperativas Rurais do Vale do Paranapanema, em 1977, proporcionou grande incremento no melhoramento genético dos cereais de inverno, no Estado de São Paulo. A evolução da cultura do trigo no Estado de São Paulo atesta a importância do trabalho de Carlos Camargo. A área de cultivo com trigo de 25.000 ha em 1972 aumentou para quase 200.000 ha, em 1988 e a produtividade média passou de 992 kg/ha, em 1971 para 1.800 kg/ha, em 1985-1988, e chegou a 2.968 Kg/ha, em 2016. Carlos Camargo iniciou, em 1984, os trabalhos de pesquisa com trigo duro no IAC e lançou três variedades para serem cultivadas no Estado de São Paulo. Passados dez anos de sua partida considero esta homenagem muito justa! Para mim foi um privilégio ter trabalha com o Carlos durante toda a minha carreira científica, no Instituto Agronômico de Campinas. Seus conselhos e orientações me ajudaram muito, tanto na minha vida acadêmica quanto na pessoal. Sempre se disponibilizou para atender os pesquisadores que o procuravam para pedir opiniões e orientações. Ele nos deixou muitas saudades e boas lembranças. Carlos descanse em paz, sua missão foi cumprida por tudo que você fez pela pesquisa científica nacional e internacional, e também pelos seus colegas e estudantes.

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RG NEWS Memória Internacional Adrien Étienne Pierre (1783-1862) - O “Conde de Gasparin” criador do termo Zootecnia Por Dr. Afrânio Gazolla Editor da Área Animal da Revista de Recursos Genéticos RG News

O estudo da Agronomia e da Zootecnia remete ao passado, mais propriamente aos anos de 1843, quando Adrien Étienne Pierre (o Conde de Gasparin) (Figura 11), definiu e distinguiu os termos Agronomia (técnica de cultivo de plantas) de Zootecnia (técnica de criação de animais), em sua obra Cours d’Agriculture -1843 (Figura 22). Aplicou esta denominação nas disciplinas do Curso de Agricultura, em 1848, quando foi fundado o Instituto Nacional Agronômico de Versalhes, ficando caracterizadas como ciências destinadas estudo e prática da produção sustentável e lucrativa de plantas e animais domésticos de interesse econômico. Figura 1. Estátua de Adrien Étienne Pierre.

De 1843 a 1848, foi Conde de Gasparin, cidadão francês, Membro da Académie des Sciences (Academia das Ciências) e da Société Centrale d’Agriculture (Sociedade Central de Agricultura), antigo prefeito, antigo ministro do Interior. Suas obras sobre as questões da agronomia eram muito reconhecidas. Publicou, para proveito dos agrônomos e agricultores, um Curso de agricultura em seis volumes (Gasparin, Figura 2. Obra de Adrien Étienne Pierre. 1843/1848) destinado a firmar a agricultura como ciência no sentido mais estrito do termo: "a ciência tecnológica dos vegetais". A agricultura, escreveu Gasparin, "é a ciência que procura os meios de obter produtos a partir dos vegetais da maneira mais perfeita e mais económica". Mas que lugar se deve dar aos animais nesta ciência agrícola? – interrogava-se Gasparin. Este termo de “zootecnia” (formada pelos radicais gregos "zoon" e "tecnê", para designar o conjunto de conhecimentos já existentes relativos à criação de animais domésticos) que aparece pela primeira vez na obra de Gasparin abrange várias disciplinas como: a criação do gado, mas também a higiene veterinária, a economia do gado, e a multiplicação dos animais.

Figura 3. Instituto Agronômico de Versalhes

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O termo foi novamente utilizado quando da criação da primeira cátedra de zootecnia no Instituto Agronômico de Versalhes (Figuras 33 e 4 - Hoje, AgroParisTec, com sua

Obtido de: https:// it.wikipedia.org/wiki/Adrien_de_Gasparin.

Obtida de: https://gallica.bnf.fr/ark:/ 12148/bpt6k411597m/f5.item.r=Cours+d'agriculture+T1.langPT.zoom. 3 Institut Agronomique de Versailles (Hoje, AgroParisTec, com sua fazenda experimental de Grignon, e na Avenue Lucien Brétignières F-78850 Thiverval Grignon). Obtido de: http://www2.agroparistech.fr/Presentation-of-AgroParisTech.html.

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fazenda experimental de Grignon, e na Avenue Lucien Brétignières F-78850 Thiverval Grignon) onde Gasparin também foi diretor.

Figura 4. O Instituto Agronômico de Versalhes. Foto de 1914. Obtida de: https://forum.pages148.com/viewtopic.php?t=25134.

REFERÊNCIAS AGROPARISTECH. In: 2018.http://www2.agroparistech.fr/. Obtido em 17 de junho de 2018. GASPARIN, A. (1843/1848). Cours d’agriculture. 6 volumes. Paris: Libraire agricole de la Maison rustique PORCHER, J. (2012). Zootecnia. Laboreal, 8, (1), 124-128. artigo.php?id=48u56oTV6582235653963375:82. Obtido em: 16 de junho de 2018.

In:

http://laboreal.up.pt/revista/

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RG NEWS VII – Instituição Homenageada O Instituto de Zootecnia do Estado De São Paulo Por Dr. Waldssimiler Teixeira de Mattos Eng. Agr. (1993), Me. (1997) e Dr. (2001) em Solos e Nutrição de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). Atualmente é Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia (IZ) de Nova Odessa/SP, participando de projetos voltados para sustentabilidade dos sistemas integrados, e onde coordena e participa de projetos ligados ás áreas de Nutrição Mineral de Plantas Forrageiras, Botânica e Morfologia de Plantas Forrageiras, Manejo e Conservação de Recursos Genéticos de Plantas Forrageiras e Manejo do Pastejo. Participa do curso de Pós-Graduação Stricto sensu em Produção Animal Sustentável ministrando a disciplina Botânica e Manejo de Recursos Genéticos de Plantas Forrageira e co-orientando alunos de Mestrado.

Contextualização O Instituto de Zootecnia (IZ), pertence à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA/SP). Fundado em 15 de julho de 1905, tem por missão “Desenvolver e transferir tecnologia e insumos para a sustentabilidade dos sistemas de produção animal”(Figura 1). Com unidades de pesquisa localizadas em vários municípios do Estado de São Paulo, entre eles: Nova Odessa; Sertãozinho (Figura 2); Ribeirão Preto, São José do Rio Preto; Itapeva; Figura 1. Imagem da entrada da sede do IZ, em Piracicaba e Pariquera-Açu, possui Nova Odessa - SP, em 2018. Foto: Lisley Silvério. Centros e Laboratórios com excelente infraestrutura para o desenvolvimento de pesquisas em parceria com instituições públicas e privadas, além da prestação de serviços e capacitação de recursos humanos. Possui em sua equipe Pós-Doutores, Doutores e Mestres, que auxiliam e oferecem à sociedade produtos e tecnologias inovadoras.

Figura 2. Gado Nelore sendo pesquisado no Centro da APTA, em Sertãozinho – SP, em 2018. Foto: Boy.

Recursos Genéticos Os projetos de pesquisas do IZ atendem as demandas dos Programas de Governo e da sociedade, visando o desenvolvimento do Agronegócio Paulista, como incremento da competitividade das Cadeias de Proteína Animal; estímulo à Expansão de Agronegócios Especiais e desenvolvimento do Agronegócio Familiar. O Banco Ativo de Germoplasma Vegetal do IZ (BAG) (Figuras 3 e 4) conserva recursos genéticos fundamentais para garantir o abastecimento dos projetos de pesquisa de forrageiras de qualidade, livres de agroquímicos, que podem prejudicar a pecuária. relacionadas às plantas forrageiras tropicais, em especial das famílias Poaceae e Fabaceae.

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Com as recentes discussões sobre sustentabilidade dos sistemas de produção de carne e leite, desenvolvemos estudos ara introduzir as plantas leguminosas nas pastagens consorciadas com gramíneas forrageiras para melhorar a qualidade do pasto e reduzir o uso de fertilizantes químicos nitrogenados, ações que podem diminuir a emissão de efeitos estufa. O BAG contribui ainda para a produção animal sustentável em sistemas integrados do Programa de Produção Animal em Sistemas de Integração (Propasi), criado para Figura 3. Banco base de sementes de forrageiras conservados em embalagens de desenvolver uma pecuária intensiva, com sustentabilidade ambiental e respeito papel duplo, em câmara-fria e sêca, no IZ em ao bem-estar animal (PRENDES, 2018). Pode-se afirmar que este BAG é muito Nova Odessa – SP. Foto: Paulo Prendes. relevante em diversidade de espécies forrageiras tropicais da América Latina. A Unidade Laboratorial de Referência em Forragicultura, conta com as seguintes subunidades: 1) Laboratório de Análises de Sementes, com: a) Banco de Germoplasma; b) - Campo de Introdução; c) Casa de Vegetação I. 2) Laboratório de Botânica e Fisiologia Vegetal, com: a) Herbário; b) Câmara Climática; c) Casa de Vegetação II. 3) Laboratório de Preparo de Amostras, com: a) Casa de Vegetação III. 4 - Laboratório de Nutrição Animal. Têm dispendido, com recursos genéticos animais, ao longo de sua existência, grande esforço no aprimoramento de suas ações nas áreas de ciência, tecnologia e inovação na produtividade animal bovinos de corte e de leite, bubalinos, ovinos, suínos e aves.

Figura 4. Banco Ativo de Germoplasma de espécies forrageiras, sendo regenerado em Nova Odessa - SP, em 2018. Foto: Lisley Silvério.

Com Ovinos, pesquisa especialmente para a viabilização sócio-econômica da pequena propriedade rural, em especial para mão de obra familiar com seleção de animais de raças nacionais, Santa Inês e Morada Nova. Na Suinocultura pesquisa principalmente nutrição e manejo de leitões desmamados e suínos em crescimento/terminação, como também digestibilidade e metabolismo animal. Em Avicultura atua na geração de tecnologia para produção de carne e ovos, com boas práticas de manejo, nutrição, sanidade e bem-estar. Trabalha com Insetos Úteis, em especial Apicultura na polinização de plantas de interesse agrícola, levantamento de plantas de interesse apícola, Análise polínica de produtos da colméia (mel, pólen, própolis), Estudos morfológicos dos grãos de pólen, manejo produtivo de abelhas africanizadas. Em Sericicultura atua na cultura da amoreira e criação do bicho-da-seda. Estudos da biologia floral, genética e melhoramento da amoreira (WIKIPÉDIA, 2018). Desde a década de 50 o IZ desenvolve pesquisas científicas com bovinos e o curso da evolução dessas pesquisas foi marcado pelo estudo pioneiro e fomento de inúmeras tecnologias onde se destacam: a primeira prova de ganho de peso de bovinos de corte; primeira seleção do gado Caracu; a introdução no Estado de São Paulo de raças européias leiteiras especializadas; seleção de raças indianas, como o Gir leiteiro e os cruzamentos entre zebuínos e taurinos para obtenção de raças mais rústicas e produtivas; inseminação artificial em bovinos; introdução do controle leiteiro no estado de São Paulo; implantação do programa de melhoramento genético de animais da raça Nelore; implementação da seleção para consumo Alimentar Residual (CAR) de bovinos da raça Nelore; e primeiro centro de pesquisa a implantar um sistema de alimentação automática (Growsafe). Enfim, em recursos genéticos, o IZ se sobressai pelos projetos de pesquisa de relevância não somente para o Estado, como para o País e América Latina, pois muitos resultados científicos expressivos são resultantes das pesquisas científicas efetivadas com o material genético animal e vegetal desta instituição. Atualmente, o IZ definiu áreas estratégicas de pesquisa com a finalidade de ampliar a competitividade do agronegócio focando na produção de carne e leite de qualidade e sistemas integrados de produção, avançando assim, em direção à economia do conhecimento e ao desenvolvimento tecnológico, fomentando a pesquisa e a inovação e integrando as atividades de pesquisa pública com as demandas da iniciativa privada e da sociedade. O IZ tem contribuído, ao longo de 90 anos, tanto com os recursos genéticos animais quanto com recursos genéticos vegetais.

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REFERÊNCIAS INSTITUTO DE ZOOTECNIA (IZ). Boletim Informativo do Instituto de Zootecnia. Nova odessa: Instituto de Zootecnia, 2016. INSTITUTO DE ZOOTECNIA (IZ). Missão. In: http://www.iz.sp.gov.br/. Obtido em: 06 de dezembro de 2018. MORETI, A.C. DE C.C.; FONSECA, T.C. Do Posto Zootéchnico Central ao Instituto de Zootecnia, 100 anos de História (Coletânea). Nova odessa: Instituto de Zootecnia, 2005. 93p. PRENDES, P. 2018. Instituto de Zootecnia de São Paulo: Banco de Germoplasma de plantas forrageiras garante qualidade da pecuária. Rural Pecuária. In: http://ruralpecuaria.com.br/noticia/ instituto-de-zootecnia-de-sao-paulo-bancode-germoplasma-de-plantas-forrageiras-garante-qualidade-da-pecuaria.html. Obtido em: 10 de dezembro de 2018. WIKIPÉDIA, 2018. Institituto de Zootecnia. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Instituto_de_Zootecnia. Obtido em 10 de Dezembro de 2018.

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RG NEWS VIII - Homenagens Póstumas Osvaldo Paradela Filho Por Renato Ferraz de Arruda Veiga Editor Chefe substituto da Revista de Recursos Genéticos RG News

Graduado Eng. Agr. (1964) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Entrou como Pesquisador Científico em 1964, na Seção de Fitopatologia do IAC, obtendo o Mestrado (1972) pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP), e o Doutorado (1982) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), permanecendo até sua aposentadoria. Atuou nas linhas de pesquisa de melhoramento de plantas visando resistência a agentes de moléstias, variabilidade de microrganismos, e clínica fitopatológica (novas pragas). Escreveu 59 artigos científicos, tendo sido Chefe da Seção de Fitopatologia, Diretor Geral Substituto do IAC, e tendo diversas participações em comissões científicas. Recebeu prêmios por sua atuação em fitossanidade, como por exemplo: Em 1999, o prêmio paulista de fitopatologia pela relevante contribuição científica, entregue pelo Grupo Paulista de Fitopatologia, e em 1991 recebeu o voto de congratulações pela descoberta do fungo Eutypa lata em videira, entregue pela Câmara Municipal de Jundiaí - SP., e em 1992, a menção honrosa pelos relevantes serviços prestados na comissão do concurso da carreira de apoio à pesquisa, entregue pelo IAC.

Meu contato com o Dr. Paradela foi bem próximo, por termos sido contemporâneos, especialmente por minha atuação como Coordenador do Complexo Quarentenário do IAC “Emílio Bruno Germek” (já que ele era membro do comitê de quarentena), e do Sistema de Curadorias do IAC (onde ele era o curador da Coleção Micológica), e ainda pelas suas coordenações das exposições anuais do Museu da Agricultura que organizava no IAC. Em uma de minhas visitas ao Centro de Fitossanidade ele me inseriu no laboratório de conservação da Coleção Micológica, pois tínhamos o interesse recíproco de informatizá-lo. Naquela oportunidade, enaltecendo a relevância de sua coleção fez questão que eu conhecesse a famosa “Pedra de Anchieta”, cuja história contada por ele foi a seguinte: “de que o Dr. Ahmés Pinto Viegas (criador do herbário), após leitura das cartas de Anchieta se informou de que ele descansava sobre uma “pedra macia” durante suas caminhadas pelas matas do litoral paulista, e isto acendeu seu desejo de coletor, assim, após uma expedição de coleta seguindo os caminhos de Anchieta, o Dr. Ahmés conseguiu achar a tal pedra flexível e a trouxe para o herbário, em 1955 (IAC 3152). Depois de pesquisá-la detectou que a mesma se tratava de um conglomerado de hifas de fungos com grãos de areia, um escleródio de Polyporus sapurema Moell, e formavam como que um trono sobre o qual o Santo Anchieta descansava de suas caminhadas (VIÉGAS, 1959). Este mesmo Paradela também lutou muito pela criação oficial de um Museu da Agricultura, pois ele acreditava na ideia advinda das exposições, já citadas anteriormente, que ele mesmo efetivava rotineiramente no IAC, que o mesmo tinha uma demanda social. Chegou até a conseguir que houvesse uma publicação com a criação oficial do Museu, através de uma portaria interna do IAC, porém, seu desejo não teve prosseguimento na prática, em virtude de sua aposentadoria. Ficam as minhas saudades, e as de seus amigos e parentes, e o orgulho de ter participado um pouquinho de sua vida no IAC. Muito obrigado amigo por suas ações em defesa dos nossos recursos genéticos de microrganismos. REFERÊNCIAS VIÉGAS, A.P. A pedra flexível, descrita por Anchieta. Bragantia. Campinas. 18:31-39, 1959.

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RG NEWS José Nelson Lemos Fonseca Por Afonso Celso Candeira Valois PqC. Aposentado da Embrapa

Nasceu em Três Corações, no estado de Minas Gerais, onde cursou o primário, secundário e colegial. Filho de Elza Lemos Fonseca e Nelson Resende Fonseca, casado com Maria Luíza Nunes, tendo três filhos: Leonardo Nunes Fonseca (que segue os passos do pai, na Embrapa/Cenargen), Simone Nunes Fonseca e Camila Nunes Fonseca, também ligadas com agricultura.

Figura 1. José Nelson (Foto: Leonardo Nunes Fonseca).

Desde os seus 16 anos, José Nelson já se interessava pela área de Agronomia. Foi para Viçosa (MG), por influência de um amigo da família, onde cursou Agronomia na Universidade Federal de Viçosa. Em 1967, após a conclusão da graduação, foi para Brasília (DF), que na ocasião recrutava formandos para compor a equipe de um laboratório de pesquisa em agropecuária na Fundação Zoobotânica do Distrito Federal. Era um grupo grande, com vários pesquisadores que ficaram responsáveis por diversas áreas, como entomologia, fisiologia, solos e outras. Foi para a área de Fitopatologia, que era mesmo a sua especialidade.

Na Fundação Zoobotânica, trabalhou durante oito anos, onde era responsável por pesquisas que visavam prevenir a introdução de novas doenças e pragas de plantas no Distrito Federal. Com o início das atividades da Embrapa em abril de 1973, empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, em novembro de 1974 foi criado o Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen), quando esse Ministério estabeleceu que a Embrapa, através das suas unidades descentralizadas de excelência, prestasse serviços de pesquisa e desenvolvimento especializados, incluindo a área de Quarentena e Intercâmbio de Germoplasma, abrangendo todo país. No mesmo ano foi firmado um convênio entre o Ministério da Agricultura e o Governo do Distrito Federal, por intermédio da Secretaria de Agricultura, com vistas a essas pesquisas, coincidindo com a construção do primeiro prédio do Cenargen. Após o convênio ter sido firmado, esse Ministério estabeleceu a competência ao Cenargen de zelar Figura 2. José Nelson no lançamento do livro Memórias do Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia, da Embrapa, em Brasília. pelo germoplasma de uma maneira geral. Pouco tempo depois, o 2014. Ao lado de Clara Oliveira Goedert e Afonso Celso Candeira Governo cedeu ao Cenargen uma equipe de pesquisadores e Valois. Foto arquivos Afonso Valois. pessoal de apoio, além de infraestrutura e equipamentos para as pesquisas. Foi nesse período que chegou ao Cenargen (atual Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia) em 01 de maio de 1975, sendo convidado pela Chefia da Unidade para fazer pesquisas na área de Quarentena e Intercâmbio de Germoplasma. No Cenargen teve uma brilhante trajetória, sempre muito responsável, respeitado, respeitoso e presente nas ações de quarentena e intercâmbio de germoplasma, se transformando em um legítimo líder natural de conhecimento e experiência no seio da formidável equipe. de pesquisadores, especialistas e pessoal de apoio, com muita humildade. Com a sua valiosa 57


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Figura 3. José Nelson em inspeção ao futuro Complexo Quarentenário "Emílio Bruno Germek" do IAC, Campinas – SP, em 1997 (primeiro da direita), ao lado de Renato Veiga (IAC), Tarcísio Prezotto (DFA/SP), e João Batista Curt (MAPA/DF) (in memoriam). Foto arquivos Ren

colaboração, inúmeras pragas da agricultura nos mais variados níveis de risco, perigo e dano foram interceptadas proativamente, contribuindo sobre maneira para o enorme sucesso do agronegócio brasileiro. O José Nelson ofereceu valioso apoio no planejamento, implantação, organização pioneira e capacitação de pessoal de laboratórios de quarentena de germoplasma da Embrapa e de outras instituições brasileiras, de bom grado, muitas vezes compondo equipes de especialistas na área. Orientava aos outros pesquisadores no sentido de bem examinar a origem dos acessos com os quais iam trabalhar, para evitar a movimentação de sementes ou outras partes da planta de um local para outro. José Nelson foi um verdadeiro baluarte da quarentena e intercâmbio de germoplasma no Brasil. Infelizmente, esse grande profissional e amigo faleceu em Brasília (DF), em 06/03/2018.

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RG NEWS Paulo Nogueira Neto Por Dr. José Eduardo de Arruda Bertoni PqC VI aposentado do Centro de Recursos Genéticos Vegetais do IAC

Faleceu em 25 de fevereiro de 2019, aos 96 anos, Dr. Paulo Nogueira Neto. Viúvo de Lucia Ribeiro do Valle Nogueira. Teve 3 filhos: Paulo Nogueira Júnior, Luiz Antônio Nogueira e Eduardo Manoel Nogueira e deixou 6 netos. Seu único irmão: José Bonifácio Coutinho Nogueira. Quem foi Paulo Nogueira-Neto: Foi um grande cientista e uma referência na área ambiental brasileira. Uma das figuras nacionais mais proeminentes na área da Ecologia. Sua trajetória está associada ao despertar da consciência ambiental, conservação e preservação no Brasil.

Figura 1. Paulo Nogueira Neto com uma anta (1974). Foto: Arquivo Estadão.

Nos dias atuais em que a política do Meio Ambiente no Brasil passa por uma crise sem precedentes na sua história, Dr. Paulo Nogueira há 50 anos já se preocupava com a efetiva preservação. Terá sido uma luta inglória? Ou ainda pesa muito seu exemplo e as consciências ambientais que ajudou a formar?

Dr. Paulo Nogueira, de família tradicional de São Paulo, teve condições de conhecer inúmeros países, seus Parques de Vida Selvagem e a política em relação ao meio ambiente. Conheceu muito o Brasil também pelos cargos que ocupou, e pelas suas inúmeras viagens teve oportunidade de conhecer os diversos biomas existentes em nosso país, onde criou 3 milhões e 200mil hectares em áreas protegidas (Estações Ecológicas) além de inúmeras Áreas de Proteção Ambiental. Todo esse patrimônio foi de extrema importância na Conservação dos Recursos Genéticos, vegetais e animais, para o Brasil. Seu extenso curriculum vitae é invejável! Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de São Paulo - USP (1945) e em História Natural (USP 1958), além de Dr. em Ciências Biológicas (Zoologia) pela USP (1963). Obteve o título de Livre Docente na USP (1980). Quando partiu era professor emérito da USP – Departamento de Ecologia Geral, presidente da Associação de Defesa do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (ADEMA-SP) e presidente da Fundação Florestal (FF). Sua experiência profissional se concentrava ultimamente na Conservação de Recursos Genéticos Animais com ênfase em abelhas nativas sem ferrão quando publicou diversos artigos e livros sobre o assunto. Em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) e o Dr. Paulo foi convidado a conduzi-la. A primeira pessoa a ocupar o cargo de Secretário Especial de Meio Ambiente, posto equivalente hoje ao de ministro. Exerceu o cargo por 12 anos e meio. Na questão Política Ambiental, realizou um grande feito: formulou a principal Lei Ambiental Brasileira: a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n° 6.938/81). A sua formulação contou com a ajuda de Universidades, Instituições de Pesquisa e Órgãos Governamentais. A Sema foi o embrião do Ibama e do atual Ministério do Meio Ambiente. Além de idealizador, foi o principal articulador da implantação do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) em 1984, que passou a definir normas como o licenciamento ambiental, controle da poluição e outras atividades.

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Sempre contou com prestígio em diversos setores nacionais e com instituições estrangeiras, tal como de organismos das Nações Unidas. Além de participar da criação de grande parte das Unidades de Conservação federais, mas também das principais leis de proteção do meio ambiente do país. Foi, ainda, Membro Honorário no Instituto de Estudos Avançados (1994). Prof. Emérito do Instituo de Biociências da USP (2001). Criador das primeiras unidades de conservação do País, professor foi o primeiro secretário Especial de meio ambiente do País, entre 1973 e 1985, o embrião do Ministério do Meio Ambiente. Criou 26 estações ecológicas e áreas de proteção ambiental (APAs), num total de 3,2 milhões de hectares protegidos. Realizou a primeira versão da Estação Ecológica da Juréia. Deu início à Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema). Fundou a SOS Mata Atlântica, apoiou a criação do Parque da Serra do Mar, em 1976, a criação do Parque do Tumucumaque em 2002 e das grandes áreas protegidas marinhas. Foi um dos primeiros no Brasil a falar abertamente sobre o risco das mudanças climáticas. Criou o Departamento de Ecologia da USP. Atuou no Conselho do Meio Ambiente (Cades) da Prefeitura de São Paulo e no Conselho de Administração da Companhia Ambiental do estado (Cetesb). Recebeu os seguintes prêmios: Prêmio Internacional de Mérito em Conservação, Rede WWF (2014); Prêmio Responsabilidade Socio Ambiental, Câmara Municipal de São Paulo (2013); Prêmio Vasconcelos Sobrinho, Agencia Estadual do Meio Ambiente de Pernambuco(CPRH) (2012); Chanceler do Núcleo conservação e Sustentabilidade Assy Manara, Fundação Amazonas Sustentável (2011); Prêmio Professor Emérito, Centro de Integração Empresa-Escola E O Estado de São Paulo (2005); 49º Prêmio Moinho Santista (Fundação Bunge) - Categoria: Desenvolvimento Sustentável, Fundação Bunge (2004); 8º Prêmio Ford Motor Company de Conservação Ambiental - Categoria: Conquista Individual, Ford Motor Company & International Conservation (2003). Homenagem a Paulo Nogueira-Neto, Governo Federal Homenagem prestada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso (2000); Diploma de Honra ao Mérito, Sociedade Brasileira de Zoologia (2000). Prêmio UNESCO na Categoria Ciência e Meio Ambiente, UNESCO (1999); Ordem Nacional do Mérito Científico, no grau de Grã-Cruz, Governo Brasileiro (1998; Medalha de ouro Duke of Edinburg, World Wildlife Fund. (1997). Prêmio Medalha de Ouro Augusto Ruschi, de Conservação da Natureza, Academia Brasileira de Ciências (1991); Prêmio Fritz Müller, Governo do Estado de Santa Catarina(1987); Comenda Alvorada, Governo do Distrito Federal (1986); Medalha da CPRH (Cia. Pernambucana de Recursos Hídricos), Cia. Pernambucana de Recursos Hídricos (1986); Medalha Brasão de Porto Alegre, Prefeitura de Porto Alegre (1985); Medalha Comemorativa dos 25 Anos da SUDENE., SUDENE (1984); Ordem da Arca Dourada (Golden Ark), no grau de comendador., Reino dos Países Baixos (1983); Medalha Marechal Deodoro, Governo de Alagoas (1983); Medalha de Prata, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – UNEP (1982); Ordem do Mérito Brasília, no grau de Grande Oficial, Governo do Distrito Federal (1982); Prêmio Paul Getty em Conservação da Natureza, World Wildlife Fund dos EUA (1981); Comenda do Ipiranga, Governo do Estado de São Paulo (1981); Patrono dos Formandos de Engenharia Ambiental da Universidade de Mato Grosso, Universidade de Mato Grosso (1981); Prêmio Roquete Pinto de Ecologia, TV Record (1980); Cidadão honorário de Itanhaém (SP) e do Distrito Federal., e Prefeituras municipais (1979); Medalha Luis de Vasconcellos e Souza, Casa de História Natural. (1979); Prêmio Roda Rotaria, Rotary Clube de São Paulo (1978); Cidadão honorário de Aiuba (CE), Prefeitura de Aiuba (1978); Patrono dos Formandos da Universidade de Mato Grosso, Tecnólogos de Saneamento Básico, Universidade de Mato Grosso (1978); Paraninfo das Turmas de Agronomia, Veterinária e Zootecnia, UNESP (1978); Prêmio Personalidade do Ano, Rotary Clube de São Paulo (1978); Diploma De Sócio Honorário Da Associação Dos Arquitetos Paisagistas, Associação Dos Arquitetos Paisagistas(1977); Hóspede Oficial da Cidade de Limeira/SP (1977); Paraninfo da 1a Turma de Tecnologia de Saneamento Básico (1976); Diploma da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, com o grau de Comendador, Judiciário do Trabalho (1976); Medalha Cultural Martim Afonso de Souza, Instituto Histórico e Geográfico Guarujá Bertioga e Associação dos Antigos Alunos do Mackenzie (1976); Patrono da 1a Turma de tecnologia do Meio Ambiente, Universidade Federal de Goiás (1976); Ordem de Rio Branco, no grau de oficial, Governo Brasileiro (1975); Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, no grau de comendador, Superior Tribunal do Trabalho (1975); Paraninfo da Turma de Formandos de Biologia e História Natural do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1975); O Conservacionista do Ano, Associação Para a Preservação da Vida Silvestre (1973); Prêmio Jaboti de Ciências, Câmara Brasileira do Livro (1970); Medalha João Pekny, Sociedade Geográfica Brasileira (1959). 60


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Figura 2 – Visita ao Dr. Paulo Nogueira em sua fazenda em Campinas, com José Eduardo Bertoni, vice-presidente da Associação Amigos do Jardim Botânico do IAC e Mércia Diniz, presidente do Instituto de Manejo e Pesquisa de Animais Silvestres-IMPAS, a qual trabalhou com o Dr. Paulo durante vários anos no IBDF. O Dr. Paulo era sócio da AA Jardim Botânico IAC. Foto: 22/5/2016

Foi eleito duas vezes vice-presidente e uma como Presidente do programa “O homem e a biosfera (MAB)”, da Unesco. Orientou 13 dissertações de Mestrado e 10 teses de doutorado. Produziu 42 trabalhos científicos, 54 trabalhos técnicos, 13 livros, 11 capítulos de livros, 72 textos em revistas, e efetivou 18 acessorias, entre outras produções significativas.

REFERÊNCIAS Giovana Girardi, O Estado de S. Paulo 25 de fevereiro de 23h31https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,morre-paulo-nogueira-neto-pioneiro-da-protecaoambiental,70002735964 Diego Freire | Pesquisa brasil/29908/

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FAPESP http://agencia.fapesp.br/morre-paulo-nogueira-neto-pioneiro-do-ambientalismo-no-

Paulo Nogueira Neto, titã do ambientalismo brasileiro. Por João Lara Mesquita 25 de fevereiro de 2019 In: https://marsemfim.com.br/paulo-nogueira-neto-tita-ambientalismo/ Tuffani, M. Tuffani, M. Direto da Ciência, 26/02/2019; Análise, Opinião e Jornalismo Investigativo. 25/02/2019. www.recantodasletras.com.br/biografias/5561404

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IX – Apoio


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