Revista RG News Vol. 6 N° 2 2020

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REVISTA

RG NEWS V.6 N.2 2020

ISSN 2526-8074 Sociedade Brasileira de Recursos GenĂŠticos


Revista de Recursos Genéticos - RG News 6 (2) 2020 – Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Revista RG News Publicação eletrônica oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA Editor Chefe Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Editor Chefe-substituto Renato Ferraz de Arruda Veiga Editor Técnico Científico - Área Animal Afrânio Gonçalves Gazolla Editor Técnico Científico - Área Microrganismos Maíra Halfen Teixeira Liberal Editor Técnico Científico - Área Vegetal Manoel Abilio de Queiróz

DIRETORIA DA SBRG Presidente - Fernanda Vidigal Duarte Souza Vice-Presidente - Rosa Lia Barbieri Diretor Financeiro - Juliano Gomes Pádua Vice-Diretor Financeiro - Janay Almeida dos Santos Serejo Secretário Executivo - José dos Santos Neto Diretor Técnico e de Divulgação - Renato Ferraz de Arruda Veiga Vice-Diretor Técnico e de Divulgação - Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Manoel Abilio de Queiróz Vice-Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Semíramis Rabelo Ramalho Ramos Diretora de Eventos - Ana Cecília Ribeiro de Castro Vice-Diretora de Eventos - José dos Santos Neto Secretário Executivo - Everton Hilo de Souza


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Revista de Recursos Genéticos - RG News Brasília, DF V.6 (2) 69p. 2020 ISSN 2526-8074 Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos Fotos Capa: Foto Feijão: Fonte: Emmanuelle Rodrigues Araújo; Foto Abacaxi: Fonte: José Severino de Lira Júnior; Foto Cebola: Jonas Araújo Candeia; Foto Caprinos: Fernando Lucas Torres de Mesquita; Foto Sorgo: José Nildo Tabosa: Foto Gado Holandês (preto): Sebastião Inocêncio Guido: Foto Gado Guzerá: Alex Júnior dos Santos; Foto Capim-elefante: Erinaldo Viana de Freitas; Foto Palma: Emmanuelle Rodrigues Araújo; Foto Jerimum: Mina Karasawa A eventual citação de produtos e marcas comerciais não expressa, necessariamente, recomendações de seu uso pela SBRG.

É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.

"Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo dos seus textos, não sendo necessariamente a mesma visão ou opinião da Revista e nem da Sociedade."

Editada pela SBRG


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Sumário I - A PALAVRA DO EDITOR ........................................................................................................... 4 II - A PALAVRA DA PRESIDENTE ................................................................................................ 5 III – ARTIGO CIENTÍFICO ............................................................................................................. 6 Zoonoses em Patentes de Invenções em Tempos de Pandemias: O Recurso Genético como Fonte de Informação ........................................................................................................................................................................... 6

IV – BANCOS ATIVOS DE GERMOPLASMA ............................................................................ 12 Microrganismos de Interesse Agrícola Preservados no Instituto Agronômico de Pernambuco ........................ 12 Conservação de Recursos Genéticos Animais do Instituto Agronômico de Pernambuco ................................. 18 Grãos, Hortaliças, Raízes e Tubérculos em Conservação pelo Instituto Agronômico de Pernambuco ............. 27

V – ENTREVISTADOS DA VEZ .................................................................................................... 37 Simone Perecmanis - A Importância dos Recursos Genéticos Microbianos para Pesquisa e Extensão ............ 37

III - ARTIGOS DE OPINIÃO .......................................................................................................... 43 Como apoiar os Bancos Ativos de Germoplasma, as Coleções Científicas e seus Curadores? ......................... 43 Saúde Única e Recursos Genéticos Microbianos no enfrentamento às Enfermidades Zoonóticas.................... 46

IV - HOMENAGEM PÓSTUMA ..................................................................................................... 66 Raimundo Rodrigues Cardoso (1949-2020) .................................................................................................... 66

IX – APOIO ........................................................................................................................................ 68


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RG NEWS I - A palavra do Editor Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira – Editor Chefe da RG News

Acreditando na importante missão de divulgação e popularização do papel dos recursos genéticos, a Revista de Recursos Genéticos - RG News ocupa um lugar estratégico na nossa sociedade, difundindo trabalhos e memórias de pessoas e instituições que tem se dedicado a essa temática. Reunir distintos pilares dos Recursos Genéticos (RG) na área animal, vegetal e de microrganismos em um único espaço, tem sido desafiador. Mas os desafios permitem o crescimento e evolução, e para que possamos construir um futuro melhor sobre o uso e conservação desses recursos, precisamos identificá-los, integrá-los, e difundi-los através de uma comunicação acessível, como tem sido o perfil da RG News. No entanto, atravessamos um período nebuloso, com muitas incertezas e obstáculos pela frente. Estamos vivenciando na nossa recente história, uma pandemia com consequências sociais, econômicas e científicas, sem precedentes. A urgência de expormos cada vez mais a razão do nosso papel na sociedade, como defensores e apaixonados pelos recursos genéticos, é crucial para que as próximas gerações se beneficiem e valorizem esse patrimônio genético que herdamos. Nesse sentido, destaco neste número, alguns trabalhos que fazem menção à Covid-19 e à relação desta com os RG. Sublinho aqui o importante papel do Instituto Agronômico de Pernambuco na Conservação do Germoplasma de Microrganismos de Interesse Agrícola, nos Grãos, Hortaliças, Raízes e Tubérculos e nos RG Animais. Levantamos o questionamento “como apoiar os Bancos Ativos de Germoplasma e seus Curadores?” Agradeço a todos os que, desde o início, continuam colaborando e participando do nosso crescimento e na divulgação da importância dos RG. Infelizmente, muitos desses recursos se encontram pouco explorados e negligenciados, e aqui também está o nosso papel - de divulgar e mostrar à sociedade que os RG são a base da nossa sobrevivência. Em nome da Equipe da Revista de Recursos Genéticos RG News envio um abraço a todos e desejo uma boa leitura!

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RG NEWS II - A palavra da Presidente Fernanda Vidigal Duarte Souza - Presidente da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos - SBRG

Prezados sócios e amigos da SBRG É com imenso prazer que entregamos mais um número da Revista de Recursos Genéticos, criteriosamente preparado pela nossa equipe. Cada vez mais precisamos usar esse veículo como forma de divulgar nossos trabalhos e, em alguns casos, apresentar relatos e lembrar pessoas que marcaram e ajudaram a construir a história dos recursos genéticos no Brasil. A RG News é um veículo de divulgação aberto a todos que queiram contribuir nesse sentido. Em um ano tão atípico para todos nós, com acontecimentos que impactam em todos os setores, alguns trabalhos que fazem menção à COVID-19 e à relação desta com os RG são apresentados nesse número, assim como inúmeros outros temas que passam pelos recursos genéticos, animais, vegetais e microbianos. Desejamos que todos estejam bem, se cuidando e que possam usufruir desse conteúdo! Boa Leitura!

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RG NEWS III – Artigo Científico Zoonoses em Patentes de Invenções em Tempos de Pandemias: O Recurso Genético como Fonte de Informação Ana Cláudia Dias de Oliveiraa

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IPI Patentes, Rua Marquês de Abrantes, nº 19, CEP 22230-060, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: anaclaudia_dias@hotmail.com

Resumo A propriedade intelectual pode ser uma ferramenta muito útil, tanto para pesquisadores acadêmicos como para a indústria. As zoonoses são pontos de partida de diversas patentes de invenção de produtos e processos, principalmente de patentes de kits diagnósticos, vacinas e métodos de tratamento. O objetivo do artigo foi identificar patentes relacionadas às tecnologias utilizadas para a pandemia de doença de coronavírus (do inglês “Coronavirus Disease” - COVID-19), mais especificamente, patentes que citem zoonoses como etapa da pesquisa realizada. A metodologia utilizada foi a busca em escritórios regionais de patentes no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, a partir de dados de patentes depositadas no exterior previamente identificadas. Os resultados demonstraram que a maioria das patentes depositadas no exterior não possui patentes correspondentes no Brasil, o que pode ser um indício de liberdade de exploração no País. Ficou demonstrado, ainda, que as patentes redigidas com foco nas pandemias de Síndrome Aguda Respiratória (do inglês “Severe Acute Respiratory Syndrome – SARS”) e de Síndrome Respiratória do Oriente Médio (do inglês “Middle East Respiratory Syndrome – MERS”) possuem relação com pesquisa de zoonoses. Abstract Zoonoses in patents for inventions at pandemics times. Intellectual property can be a very useful tool, both for academic researchers and for industry. Zoonoses are the starting point for several patents for invention of products and processes, mainly patents for diagnostic kits, vaccines and treatment methods. The article aim was to identify patents for technologies used for COVID-19 pandemic, more specifically, patents that cite zoonoses as a stage of research carried out. The methodology used was the search for regional patent offices in Brazil, United States and Europe, based on previously identified patent data filed abroad. The results showed that most patents filed abroad has not corresponding patents in Brazil, which may be an indication of exploitation freedom in the country. It was also demonstrated that patents drafted with a focus on Severe Acute Respiratory Syndrome - SARS and Middle East Respiratory Syndrome - MERS pandemics are related with zoonoses research. Introdução A propriedade intelectual pode ser uma ferramenta muito útil, tanto para pesquisadores acadêmicos como para a indústria. Através da propriedade intelectual, é possível identificar mercados para livre exploração de tecnologias e possibilidades de licenciamento, prever a entrada de novas tecnologias, além de monitorar as atividades dos concorrentes. Em épocas de pandemia, o mapeamento tecnológico se torna ainda mais necessário, por prevenir investimentos desnecessários, auxiliar no desenvolvimento de processos industriais e evitar

surpresas desagradáveis pela ocorrência de infrações sob patentes de terceiros. A pesquisa das patentes relacionadas aos vírus anteriores à aparição atual da Síndrome Respiratória do Coronavírus 2 (do inglês “Respiratory Syndrome Coronavirus 2 - SARS-CoV-2), tais como vírus SARS e MERS anteriores, pode oferecer informações úteis para o desenvolvimento de agentes terapêuticos e preventivos para a COVID-19. O vírus da nova doença, denominado Vírus causador da Síndrome Respiratória do Coronavírus 2 (SARS-CoV-2), pertence à mesma família de dois coronavírus responsáveis por surtos anteriores, da 6


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Síndrome Respiratória Aguda Grave e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio. Os três tipos de vírus apresentam proteínas estruturalmente semelhantes que permitem a entrada e replicação nas células hospedeiras. As proteínas virais responsáveis pela entrada do SARS-CoV-2 nas células hospedeiras e pela replicação são estruturalmente semelhantes àquelas associadas ao SARS-CoV, causador da SARS. No levantamento, as características virais foram levadas em consideração para facilitar a triagem de documentos, especialmente a proteína Spike do vírus SARS-CoV (SHANG et al., 2020). Pesquisas têm levantado a questão sobre a possível origem do SARS-CoV-2 a partir de morcegos (ANDERSEN et al., 2020). Em uma das hipóteses, o vírus teria sua origem em morcegos, entrado em contato aos poucos com a espécie humana e criado estratégias para fazer o salto para as demais espécies. Na outra hipótese, o vírus teria vindo diretamente de um morcego e feito a transmissão interespécie de modo mais acelerado. Uma terceira hipótese traz, ainda, um mamífero chamado pangolim como um possível intermediário entre o morcego e o ser humano. No estudo, a sequência do genoma do novo coronavírus encontrado nos pangolins malaios (Manis javanica) é 99% idêntico ao encontrado em pessoas infectadas (LAM et al., 2020). Todas as hipóteses trazem a zoonose como foco de origem desse tipo de coronavírus. Zoonoses são doenças infecciosas, causadas por bactérias, vírus, fungos ou parasitas, que se espalham dos animais para os seres humanos (WHO, 1959). As zoonoses podem ser transmitidas através do contato físico direto, via ar ou água, ou através de um hospedeiro intermediário, como um inseto. Esses patógenos zoonóticos podem não afetar os animais em que residem, mas representam um risco enorme para os seres humanos que não têm imunidade natural a eles. As doenças zoonóticas podem ser endêmicas, ou seja, podem ser encontradas em uma região ou população estritamente definida, ou podem ser epidêmicas, quando sua propagação é mais abrangente (FIOCRUZ, 2017). Quando a propagação é considerada uma epidemia mundial, é chamada de pandemia. A COVID-19 foi designada uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Como as zoonoses podem ser o foco da pesquisa inicial de doenças infecciosas em seres humanos, é interessante e necessário o estudo da correlação entre a pesquisa de zoonoses e a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos e kits diagnósticos para epidemias impactantes como as epidemias de SARS e MERS. Neste contexto, o objetivo deste artigo foi identificar patentes relacionadas às tecnologias utilizadas para a pandemia de COVID-19, mais especificamente, patentes que citem zoonoses como etapa da pesquisa realizada. Material e Métodos Com o objetivo de mapear as patentes brasileiras relacionadas direta ou indiretamente à COVID-19, foi feito um levantamento das patentes relacionadas à pandemia da doença. O levantamento sobre moléculas e vacinas foi realizado a partir das informações publicadas no artigo de Liu et al. (2020). O levantamento de produtos foi realizado a partir de tecnologias já comercializadas para prevenção e tratamento de outras doenças que poderiam ser testadas para prevenção e tratamento da COVID-19. Nos levantamentos, foram feitas buscas das patentes brasileiras correspondentes às patentes americanas e europeias. O levantamento foi realizado na base de dados do Escritório Europeu de Patentes (https://worldwide.espacenet.com/) para identificação das patentes brasileiras correspondentes. O status das patentes brasileiras foi identificado na base de dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (https://www.gov.br/inpi/pt-br). O levantamento incluiu as patentes concedidas e os pedidos de patentes depositados, com os respectivos titulares, escopo de proteção e suas datas de vigência ou seu “status” atual no Brasil. Resultados e Discussão O levantamento resultou em 197 documentos de patentes relacionados aos coronavírus, incluindo pedidos de patentes em exame e patentes concedidas. Desses documentos, 27 eram patentes de moléculas, 8 patentes de produtos já comercializados para outras doenças infecciosas que poderiam ser utilizadas para a COVID-19 e 162 eram patentes de vacinas relacionadas aos coronavírus em geral (Figura 1).

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Patentes de vacinas relacionadas ao coronavírus 8

27

162 Moléculas

Vacinas

Produtos comercializados

Figura 1. Patentes de vacinas relacionadas ao coronavírus (Fonte: elaboração da autora).

Se analisarmos os países em que as patentes foram depositadas, veremos que a maioria destes depósitos no exterior não possuem patentes brasileiras correspondentes (Figuras 2 e 3), o que pode ser um indício de liberdade de exploração no país. No caso dos produtos já comercializados para outras doenças que possam ser passíveis de uso para o tratamento da COVID-19, apenas

dois produtos não têm patentes correspondentes no Brasil (Figura 4). Entretanto, cabe ressaltar que a grande maioria de pedidos de patentes depositados para esses produtos no país ganhará extensão de vigência por pelo menos dez anos contados da concessão, por incidir no parágrafo único do artigo 40 da Lei nº 9.279/96 (Lei da Propriedade Intelectual).

Patentes de moléculas relacionadas ao coronavírus

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21 Com patente BR correspondente Sem patente BR correspondente Figura 2. Patentes de moléculas para COVID-19 (Fonte: elaboração própria).

Patentes de vacinas relacionadas ao coronavírus 11

151 Com patente BR

Sem patente BR

Figura 3. Patentes de vacinas para COVID-19 (Fonte: elaboração própria).

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Patentes de produtos comercializados, em fase de testes contra COVID-19

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Com patente BR

Sem patente BR

Figura 4. Patentes de produtos já comercializados, em fase de testes contra COVID-19 (Fonte: elaboração própria).

Dos resultados levantados, muitos possuem íntima relação com zoonoses estudadas anteriormente, principalmente no caso das vacinas, sendo a maioria das tecnologias desenvolvidas para tratamento dos vírus SARS e MERS. Através dos documentos de patentes encontrados, pode-se observar que algumas tecnologias foram desenvolvidas originalmente para outras doenças como oncocercíase, também denominada popularmente de “cegueira de rio”, causada por um nematódeo do gênero Onchocerca Diesing 1841, que tem como vetores dípteros do gênero Simulium Latreille 1802 (chamados de mosquitos borrachudos). Outras foram originalmente desenvolvidas para tratamento de arenavírus, dentre eles o vírus da (LCMV) coriomeningite linfocitária, vírus da febre de Lassa, vírus Mobala, vírus Mopeia, vírus Ippy, vírus Lujo, vírus de Tacaribe, vírus Junin e vírus pampa, vírus Machupo, vírus latino, vírus Allpahuayo, vírus Guanarito, vírus sabiá, vírus flexal e vírus Juquitiba (os três últimos sendo causadores da febre hemorrágica brasileira). Dentre os resultados dos produtos já comercializados que estão sendo testados para COVID-19, todos eram utilizados no tratamento de outras doenças. O Avigan (favipiravir) é um medicamento antiviral utilizado contra diferentes tipos de vírus de RNA. O favipiravir é um derivado da pirazinamida que se tem mostrado ativo contra os vírus da gripe, da febre amarela, o vírus do Nilo Ocidental e outros flavivírus, arenavírus, bunyavirus e alphavirus (FURUTA et al., 2013). Foi usado

experimentalmente para tratar a infecção pelo vírus Ebola em humanos, após mostrar ser eficaz em um estudo com ratos de laboratório (GATHERER, 2014). O medicamento Reuquinol (sulfato de hidroxicloroquina) é um medicamento originalmente utilizado para malária e doenças autoimunes, mas que mostrou resultados preliminares para coronavírus (KEYAERTS, 2004; COLSON et al., 2020). O Zitromax (azitromicina) é um antibiótico usado no tratamento de várias infeções bacterianas, entre elas otite média, faringite estreptocócica, pneumonia, diarreia do viajante e outras infeções intestinais (PFIZER, 2020). Pode também ser usada no tratamento de infeções sexualmente transmissíveis, incluindo clamídia e gonorreia e em associação com outros fármacos, pode também ser usada no tratamento de malária (DRUGS, 2020). O Arbidol (umifenovir) é um medicamento antiviral usado no tratamento da gripe na Rússia e na China (LENEVA, 2009). Apesar de veiculado na mídia como promissor, há estudos alertando que o tratamento com umifenovir não está associado à melhora de pacientes com COVID-19 (LIAN et al., 2020). O Tybost (Cobicistat) é um medicamento para uso no tratamento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e seu principal mecanismo de ação é através da inibição das proteínas humanas CYP3A (MATHIAS et al., 2010). O medicamento Actemra (Tocilizumabe) é composto por um anticorpo monoclonal humanizado que atua bloqueando os receptores de interleucina 6 (IL-6), uma substância responsável pela maioria das manifestações clínicas da artrite reumatoide (GENOVESE et al., 2008).

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Conclusões

tratamentos de outras doenças, a maioria foi originalmente desenvolvida para ser utilizada no combate de doenças virais, incluindo zoonoses tropicais.

A maioria dos documentos de patentes analisados traz estudos de zoonoses que influenciaram a pesquisa e o desenvolvimento de fármacos para tratamento experimental de COVID-19. Ficou demonstrado, ainda, que as patentes redigidas com foco nas pandemias de SARS e MERS possuem relação com pesquisa de zoonoses. Entre os produtos já comercializados para

Neste contexto, fica evidente a necessidade de estudos sobre zoonoses, além de pesquisa e desenvolvimento interdisciplinar de produtos que possam ser testados em outros alvos terapêuticos.

Referências ANDERSEN, Kristian; RAMBAUT, Andrew; LIPKIN, Ian; HOLMES, Edward; GARRY, Robert. The proximal origin of SARSCoV-2. Nature Medicine 26: 450-452, 2020. COLSON, Philippe; ROLAIN, Jean-Marc; LAGIER Jean-Christophe; BROUQUI, Philippe; RAOULT, Didier. Chloroquine and hydroxychloroquine as available weapons to fight COVID-19. International Journal of Antimicrobial Agents 55(4): 105932, 2020. DRUGS. Azithromycin. The monograph/azithromycin.html..

American

Society

of

Health-System

Pharmacists.

https://www.drugs.com/

FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz). Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre. Biodiversidade faz bem à saúde: guia prático. Rio de Janeiro: Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre, 140 p., 2017. FURUTA, Yousuke; GOWEN, Brian; TAKAHASHI, Kasumi; SHIRAKI, Kimiyasu; SMEE, Donald; BARNARD, Dale. Favipiravir (T-705), a novel viral RNA polymerase inhibitor. Antiviral Research 100 (2): 446, 2013. doi:10.1016/j.antiviral.2013.09.015. GATHERER Derek. The 2014 Ebola virus disease outbreak in West Africa. The Journal for General Virology 95 (8): 1619–1624, 2014. GENOVESE, Mark; MCKAY, James; NASONOV, Evgeny; MYSLER, Eduardo; DA SILVA, Nilsio; ALECOCK, Emma; WOODWORTH, Thasia; GOMEZ-REINO, Juan. Interleukin-6 receptor inhibition with tocilizumab reduces disease activity in rheumatoid arthritis with inadequate response to disease-modifying antirheumatic drugs: The tocilizumab in combination with traditional disease-modifying antirheumatic drug therapy study. Arthritis & Rheumatism 58 (10): 2968–80, 2008. KEYAERTS, Els; VIJGEN, Leen; MAES, Piet; NEYTS, Johan; RANST, Marc Van. In vitro inhibition of severe acute respiratory syndrome coronavirus by chloroquine. Biochemical and Biophysical Research Communications 323: 264-2683, 2004. LAM, Tommy Tsan-Yuk; JIA, Na; ZHANG, Ya-Wei; SHUM, Marcus Ho-Hin; JIANG, Jia-Fu; ZHU, Hua-Chen; TONG, Yi-Gang; SHI, Yong-Xia; NI, Xue-Bing; LIAO, Yun-Shi; LI, Wen-Juan; JIANG, Bao-Gui; WEI, Wei; YUAN, Ting-Ting; ZHENG, Kui; CUI, Xiao-Ming; LI, Jie; PEI, Guang-Qian; QIANG, Xin; CHEUNG, William Yiu-Ma; LI, Lian-Feng; SUN, Fang-Fang; QIN, Si; HUANG Ji-Cheng; LEUNG, Gabriel; HOLMES, Edward; HU, Yan-Ling; GUAN, Yi; CAO, Wu-Chun. Identifying SARS-CoV-2 related coronaviruses in Malayan pangolins. Nature 583: 282-285, 2020. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41586-020-21690. LENEVA, Irina; RUSSELL, Rupert; BORISKIN, Yuri; HAY, Alan. Characteristics of arbidol-resistant mutants of influenza virus: implications for the mechanism of anti-influenza action of arbidol. Antiviral Research 81 (2): 132–40, 2009. LIAN, N., XIE, H., LIN, S., HUANG, J., ZHAO, J., & LIN, Q. (2020). Umifenovir treatment is not associated with improved outcomes in patients with coronavirus disease 2019: A retrospective study. Clinical Microbiology and Infection 26(7): 917-921, 2020. LIU, Cyntia; ZHOU, Qiongqiong; LI, Yingzhu; GARNER, Linda; WATKINS, Steve; CARTER, Linda; SMOOT, Jeffrey; GREGG, Anne; DANIELS, Angela; JERVEY, Susan; ALBAIU, Dana. Research and Development on Therapeutic Agents and Vaccines for COVID-19 and Related Human Coronavirus Diseases. American Chemical Society 2020, 6, 3, 315-331. https://dx.doi.org/10.1021/acscentsci.0c00272 MATHIAS, A.A.; GERMAN, P.; MURRAY, B.P.; WEI, L.; JAIN, A; WEST, S; WARREN, D.; HUI, J.; KEARNEY, B.P.. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of GS-9350: a novel pharmacokinetic enhancer without anti-HIV activity. Clinical Pharmacology and Therapeutics. 87 (3): 322–9, 2010. PFIZER. Bula para profissionais de Saúde. Disponível em https://www.pfizer.com.br/sites/default/files/inlinefiles/Zitromax_Comprimidos_Profissional_de_Saude_19.pdf. Acesso em 20.07.2020. SCHOEMAN, Dewald; FIELDING, Burtram. Coronavirus envelope protein: current knowledge. Virol J:16: 69, 2019.

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SHANG, Jian; YE, Gang; SHI, Ke; WAN, Yushun; LUO, Chuming; AIHARA, Hideki; GENG, Qibin; AUERBACH, Ashley; LI, Fang. Structural basis of receptor recognition by SARS-CoV-2. Nature 581: 221-224, 2020. WEISS, Susan; NAVAS-MARTIN Sonia. Coronavirus pathogenesis and the emerging pathogen severe acute respiratory syndrome coronavirus. Microbiology and Molecular Biology Reviews 69: 635-664. 2005. WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION) Zoonoses. Second report of the Joint WHO/FAO Expert Committee Technical Report Series 169. 87 Roma: FAO. p. 6, 1959.

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RG NEWS IV – Bancos Ativos de Germoplasma Microrganismos de Interesse Agrícola Preservados no Instituto Agronômico de Pernambuco Antonio Félix da Costaa, Luciana Gonçalves de Oliveiraa, Ana Carla da Silva Santosb, Athaline Gonçalves Dinizb, Mariele Porto Carneiro Leãoa, José de Paula Oliveiraa e Patricia Vieira Tiagob a

Instituto Agronômico de Pernambuco, Avenida General San Martin, 1371, CEP 50.761-000, Recife, PE, Brasil. E-mails: felix.antonio@ipa.br, lugoliveira@gmail.com, mariele_carneiro@hotmail.com, jose.paula@ipa.br b Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Biociências, Av. Prof. Moraes Rego, s/n, Cidade Universitária, CEP 50.670-901, Recife, PE, Brasil E-mails: ana.carla.bio@hotmail.com, athalinediniz@hotmail.com, patiago@hotmail.com

Resumo O Banco de Germoplasma (BAG) de Microrganismos do Instituto Agronômico de Pernambuco foi iniciado na década de 1970 e teve como objetivo, inicialmente, trabalhar com fungos controladores de insetos-pragas de culturas economicamente importantes. Posteriormente, surgiu a necessidade de outros microrganismos serem incorporados à coleção como as bactérias diazotróficas, bacilos de interesse na aquicultura, bacilos de interesse agrícola, bacilos de interesse de saúde pública, fungos micorrízicos arbusculares, fungos fitopatogênicos ao feijoeiro e fungos do gênero Trichoderma. A maioria desses microrganismos já foi caracterizada morfológica e molecularmente e testada para diversos fins na área agrícola e de saúde pública. A importância desse BAG é bastante relevante para o Estado de Pernambuco, pois permite o conhecimento e o intercâmbio de pesquisas significativas no controle de pragas agrícolas e urbanas, na promoção de crescimento vegetal, no controle de patógenos de solo e no melhoramento genético do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). Palavras-chave: controle biológico, fungos entomopatogênicos, fungos fitopatogênicos, microrganismos de solo, melhoramento vegetal. Abstract Microorganisms of Agricultural Interest Preserved at the Agronomic Institute of Pernambuco. The Microorganism Germplasm Bank of the Agronomic Institute of Pernambuco was started in the 1970s and initially aimed to work with fungi that control insect pests from economically important crops. Subsequently, the need arose for other microorganisms to be incorporated into the collection, such as diazotrophic bacteria, bacilli of interest in aquaculture, bacilli of agricultural interest, bacilli of public health interest, arbuscular mycorrhizal fungi, phytopathogenic fungi to common bean (Phaseolus vulgaris L.) and fungi of the Trichoderma genus. Most of these microorganisms have already been characterized morphologically and molecularly and tested for various purposes in the agricultural and public health areas. The maintenance of this AGB is very relevant for the Pernambuco State, as it allows the knowledge and exchange of relevant research in the control of agricultural and urban pests, in the promotion of plant growth, in the control of soil pathogens and in the beans plant breeding. Keywords: biological control, entomopathogenic fungi, phytopathogenic fungi, soil microorganisms, plant breeding. HISTÓRIA DO BANCO A coleção de microrganismos do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) está localizada na sede do Instituto, nos Laboratórios de Biologia de Solo, de Fungos Entomopatogênicos e de Biotecnologia. As coleções de Bactérias Diazotróficas, Bacilos de interesse na aquicultura e de Fungos Micorrízicos Arbusculares foram iniciadas em 1986 e estão localizadas no Laboratório de Biologia de Solo com o objetivo de desenvolver pesquisas na área de microbiologia do solo. No Laboratório de Biotecnologia está localizada a coleção de Bacilos de Interesse Agrícola e de Saúde Pública.

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A coleção de culturas de Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. & Mogn) Lams-Scrib surgiu devido à grande necessidade de se desenvolver cultivares de feijão-comum resistentes às raças fisiológicas desse fungo, devido aos prejuízos econômicos causados pelo referido patógeno no Estado de Pernambuco, considerando o caráter local da existência dessas raças. A diferença de produtividade entre cultivares suscetíveis e resistentes, em 2013, observada em campo, na região do Agreste Meridional, é da ordem de 91%, tornando clara a importância dessa doença para o produtor rural, considerando-se ainda a existência de uma área cultivada com feijão comum no estado da ordem de 120 mil hectares, em sua totalidade conduzida pela agricultura familiar (IBGE, 2019). A ampla variabilidade patogênica apresentada pelas raças fisiológicas de C. lindemuthianum dificulta a obtenção de novas cultivares, sendo necessário que exista à disposição dos pesquisadores novas fontes de resistência que possam ser utilizadas para a introgressão de genes de resistência em cultivares comerciais (PINTO et al., 2012). Dessa forma, a coleção de culturas de C. lindemuthianum é uma fonte valiosa de informações para que os programas de melhoramento do feijoeiro adotem as melhores estratégias que permitam ampliar a durabilidade da resistência das cultivares de feijão. Além dessa coleção, o IPA tem fungos provenientes do solo que causam doenças para o feijoeiro comum e caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp) no Estado de Pernambuco, dos quais destacam-se: Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli, F. oxysporum f. sp. tracheiphilum, F. solani, Rhizoctonia solani, Macrophomina phaseolina, Sclerotium rolfsii e Sclerotinia sclerotiorum. Esses fungos são os principais agentes etiológicos que causam doenças de solo significativas no feijoeiro em Pernambuco. A necessidade de fazer o levantamento dos principais fungos do solo surgiu a partir do momento em que se verificou que a produtividade do feijão foi afetada com essas doenças no Estado, causando sérios prejuízos no rendimento das culturas, propondo um controle mediante a utilização de compostos naturais e/ou atividade biocontroladora com espécies do fungo Trichoderma. Razão do interesse em incorporar ao banco de microrganismos espécies de Trichoderma eficazes no controle dos fitopatógenos (FIGUEIRÊDO et al., 2010). Fungos entomopatogênicos vêm sendo estudados no IPA desde meados da década de 1970, usando dois importantes grupos de entomopatógenos (Metarhizium e Beauveria) no controle de pragas em culturas de expressão econômica no Estado de Pernambuco, como a cigarrinha da folha e de raízes da cana-de-açúcar, cigarrinha de pastagem e do moleque da bananeira. Paralelamente, também têm sido estudados outros grupos de fungos entomopatogênicos como Cordyceps (=Isaria) e espécies de Fusarium para o controle de pragas urbanas e agrícolas. Os curadores do BAG Microrganismo do IPA estão representados pelos pesquisadores Dr. José de Paula Oliveira que está responsável pelos laboratórios de Biologia de Solo e de Biotecnologia e pelo pesquisador Dr. Antonio Félix da Costa, coordenador do Programa Feijão do IPA e supervisor das pesquisas realizadas a partir das coleções de culturas que compõem os fungos causadores de doenças ao feijoeiro, fungos entomopatogênicos e de fungos controladores de doenças de feijão. COLEÇÕES QUE COMPÕEM O BANCO A coleção de Bactérias Diazotróficas do IPA está localizada no Laboratório de Biologia de Solo, composta por 200 estirpes. A coleção de estirpes de Bacilos de interesse para aquicultura contém 19 estirpes e a coleção de Fungos Micorrízicos Arbusculares, seis espécies. No Laboratório de Biotecnologia está localizada a coleção de Bacilos de Interesse Agrícola e de Saúde Pública, composta por 117 estirpes de Bacillus thuringiensis. A coleção de C. lindemuthianum é composta por 66 isolados obtidos de feijão-comum, provenientes das regiões produtoras do Sertão e Agreste do Estado de Pernambuco, onde encontram-se bastante disseminados devido às condições ambientais nessas áreas favorecerem a sua disseminação durante a época de produção. Até o momento são descritas mais de 100 raças fisiológicas desse fungo no mundo, sendo que aproximadamente 71 delas já foram registradas no Brasil, ocorrendo, principalmente, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco e, ainda, têm relevância nos estados do Espírito Santo, Alagoas, Sergipe e Paraíba (PINTO et al., 2012). A coleção de fungos fitopatogênicos do feijoeiro é composta por 172 isolados, assim distribuídos: Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli (32 isolados), F. oxysporum f. sp. tracheiphilum (43 isolados), F. equiseti (3 isolados), F. lateritium (12 isolados), F. solani (9 isolados), Rhizoctonia solani (10 isolados), Macrophomina phaseolina (52 isolados), Sclerotium rolfsii (5 isolados) e Sclerotinia sclerotiorum (6 isolados), provenientes de culturas de feijão comum e feijão13


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caupi de municípios da Zona da Mata Norte, Agreste Meridional e Setentrional e Sertão de Itaparica, Moxotó, de São Francisco e do Araripe. A coleção de fungos entomopatogênicos é composta por 94 isolados, distribuídos entre os gêneros Fusarium (47 isolados), Trichoderma (15 isolados), Cordyceps (11 isolados), Beauveria (10 isolados), Metarhizium (10 isolados) e Lecanicillium (um isolado). A maioria dos isolados de Fusarium (28 isolados) foi obtida de fêmeas adultas da cochonilha do carmim [Dactylopius opuntiae (Cockerell) (Hemiptera: Dactylopiidae)], coletadas em 20 municípios do estado de Pernambuco, distribuídos entre os sertões do Pajeú e do Moxotó. Os outros 19 isolados foram obtidos a partir de ninfas da mosca-negra-dos-citros [Aleurocanthus woglumi Ashby (Hemiptera: Aleyrodidae)], coletadas em uma área de cultivo de consórcio de citros (laranjeiras e limoeiros) com outras fruteiras, em Paudalho-PE. Os isolados de Fusarium foram identificados por abordagem polifásica como pertencentes às espécies Fusarium caatingaense Santos, Lima, Tiago & Oliveira (23 isolados), F. pernambucanum Santos, Lima, Tiago & Oliveira (oito isolados), F. volatile Al-Hatmi, Sand.Den., S.A. Ahmed & de Hoog (cinco isolados), F. sulawesiense Maryani, Sand.-Den., L. Lombard, Kema & Crous (quatro isolados), F. proliferatum (Matsush.) Nirenberg ex Gerlach & Nirenberg (quatro isolados), F. chlamydosporum Wollenw. & Reinking (um isolado) e F. verticillioides (Sacc.) Nirenberg (um isolado), e F. pseudocircinatum O'Donnell & Nirenberg (um isolado). Os isolados de Trichoderma foram cedidos pela Micoteca URM da Universidade Federal de Pernambuco e são provenientes de amostras de solo, coletadas em três sistemas agroflorestais, localizados em Recife-PE, Olinda-PE e Abreu e Lima-PE. Esses fungos apresentaram potencial para o controle de algumas pragas (dados não publicados) e são das espécies Trichoderma atroviride P. Karst. (seis isolados), T. asperellum Samuels, Lieckf. & Nirenberg (dois isolados), T. afroharzianum P. Chaverri, F.B. Rocha, Degenkolb & Druzhin (dois isolados), T. brevicompactum G.F. Kraus, C.P. Kubicek & W. Gams (dois isolados), T. longibrachiatum Rifai (um isolado), T. breve K. Chen & W.Y. Zhuang (um isolado) e T. asperelloides Samuels (um isolado). Outros 176 isolados de Trichoderma foram provenientes de solos, coletados em municípios da Mata Norte, Agreste e Sertão do estado, os quais foram testados no controle dos fungos fitopatogênicos do feijoeiro e estão sendo caracterizados molecularmente, tendo-se identificado até o momento T. asperellloides (14), T. asperellum (19) e T. afroharzianum (3). Entre os isolados de Cordyceps estão três espécies – Cordyceps fumosorosea (=Isaria fumosorosea) (Wize) Kepler, B. Shrestha & Spatafora (cinco isolados), C. farinosa (=Isaria farinosa) (Holmsk.) Kepler, B. Shrestha & Spatafora (quatro isolados) e C. javanica (=Isaria javanica) (Bally) Kepler, B. Shrestha & Spatafora (dois isolados). Parte desses isolados foi cedida pela Micoteca URM da Universidade Federal de Pernambuco e outra, pela Micoteca do Departamento de Fitossanidade da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), de hospedeiros diversos. Nos gêneros Beauveria e Metarhizium foram identificadas apenas uma espécie em cada − Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. e Metarhizium anisopliae (Metschn.) Sorokīn. Esses fungos foram obtidos do acervo da Micoteca URM do Departamento de Micologia (UFPE) e da Coleção de Cultura da Micoteca do IPA, e são provenientes de diversos hospedeiros. O isolado de Lecanicillium presente na coleção de fungos entomopatogênicos é uma espécie ainda não identificada, obtida de ninfas da mosca-negra-dos-citros, coletadas em plantações de laranja, em Paudalho-PE. MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO Estruturas dos fungos micorrízicos arbusculares (hifas e esporos) e raízes colonizadas estão preservadas e mantidas em substrato à base de mistura de solo e areia em refrigerador (40C). As Bactérias Diazotróficas e as bactérias de interesse na aquicultura estão preservadas em batata, imerso em óleo mineral e armazenadas em sala fria a 170C. Enquanto os Bacilos de Interesse Agrícola e de Saúde Pública são armazenados em geladeira a 40C. Os 66 isolados de C. lindemuthianum que compõem a coleção de cultura do IPA, obtidos a partir de culturas monospóricas, são preservados em tubos de ensaio contendo meio de cultura Mathur [peptona (2,0 gl -1), dextrose (2,8 gl1 ), MgSO4 (1,73 gl-1), KH2PO4 (2,72 gl-1) e ágar (20 gl-1)], mantidos a 4oC. Para se evitar repiques constantes, bem como permitir a sobrevivência dos isolados fúngicos por mais tempo, garantindo a manutenção das características morfológicas, fisiológicas (esporulação e patogenicidade), genéticas e contaminação indesejável, após longos períodos, esses isolados também estão preservados segundo o método Castellanii, que consiste na manutenção de discos de micélio, crescido em 14


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BDA (batata-dextrose-ágar), em tubos tipo Eppendorf® contendo 1,5 ml de água destilada esterilizada e acondicionados sob refrigeração a 4oC. Os espécimes que são constantemente manuseados são cultivados em tubo de ensaio com meio de cultura Mathur e mantidos em BOD à temperatura de 22oC (1oC). Os isolados de fungos fitopatogênicos do feijoeiro estão mantidos em tubos de ensaio contendo meio de cultura BDA e em água destilada esterilizada (CASTELLANII, 1939), armazenados em refrigerador (4°C). As espécies de Trichoderma estão mantidas em tubos de ensaio, em meio sólido, em refrigerador (4°C), renovados periodicamente. Os fungos entomopatogênicos estão mantidos em meios de cultura sólidos, como BDA e SNA (Synthetic Nutrient Agar), renovados periodicamente. A maior parte dos isolados também está preservada em glicerol (10%), estocada em freezer. Além disso, a maioria dos fungos encontra-se depositada na Coleção de Culturas Micoteca URM do Departamento de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil. CARACTERIZAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO As bactérias e os fungos micorrízicos que compõem o banco de germoplasma do IPA ainda estão em fase de caracterização. A coleção de culturas de C. lindemuthianum é uma fonte valiosa de informações genéticas que subsidia o programa de melhoramento genético do feijoeiro do IPA, em execução há mais de 50 anos, de modo a permitir a geração de novas cultivares com resistência à antracnose. Essas cultivares poderão ser recomendadas como mais uma opção de plantio não só para os agricultores familiares pernambucanos, mas também para outros estados produtores de feijão-comum que apresentem condições ambientais semelhantes, desde que apresentem ampla adaptabilidade a outros locais de plantio, especialmente do Nordeste. Os fungos fitopatogênicos do feijoeiro foram estudados em dois projetos de pesquisa de Pós-doutorado e doze projetos de iniciação científica. Essas pesquisas foram relevantes para a publicação em eventos científicos e na formação de recursos humanos e serão publicados em revistas com indicação para o controle dos fungos fitopatogênicos dos feijões comum e macassar. Os fungos provenientes dessas pesquisas foram testados com agentes biocontroladores de origem vegetal e fúngica, permitindo o conhecimento de uma forma eficaz e segura de controle de doenças sem o uso de agroquímicos no ambiente (GOMES-SILVA et al, 2017; COSTA et al, 2019). Os fungos entomopatogênicos da coleção foram estudados em três teses de doutorado, seis dissertações de mestrado e quatro trabalhos de conclusão de curso, sendo dois de graduação e dois de especialização. Essas pesquisas resultaram na publicação de 12 artigos, reportando o potencial de fungos para o controle biológico da cochonilha do carmim (SANTOS et al., 2016; CARNEIRO-LEÃO et al., 2017; LOPES et al., 2018; LOPES et al., 2019; VELEZ et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2020; DINIZ et al., 2020) e do cupim arborícola Nasutitermes corniger Motschulsky (Blattodea: Termitidae) (LOPES et al., 2017; LOPES et al., 2020). O potencial desses fungos para o controle de outros insetos-praga, tais como lagarta do cartucho, mosca-negra-dos-citros, caruncho do feijão e pulgões também vem sendo estudado (dados não publicados). DNA fingerprints também foram gerados para alguns desses fungos, visando o monitoramento deles em campo (TIAGO et al., 2016), e estudos objetivando a caracterização de aspectos biológicos de isolados também foram realizados (LOPES et al., 2016), incluindo a descrição de duas novas espécies por abordagem polifásica (SANTOS et al., 2019). Outros artigos estão em processo de produção ou sendo avaliados por revistas científicas. USO E POTENCIAL INOVAÇÃO Os fungos entomopatogênicos do banco do IPA têm potencial para o controle de pragas urbanas, como o cupim N. corniger (LOPES et al., 2017; LOPES et al., 2020), e de pragas de interesse agrícola, especialmente de relevância para a região do Nordeste (CARNEIRO-LEÃO et al., 2017; LOPES et al., 2019; VELEZ et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2020; DINIZ et al., 2020). A coleção de cultura de C. lindemuthianum é uma fonte valiosa de informações genéticas que subsidia o programa de melhoramento genético do feijoeiro do IPA, em execução há mais de 50 anos, de modo a permitir a geração de novas cultivares com resistência à antracnose. Essas cultivares poderão ser recomendadas como mais uma opção de plantio não 15


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só para os agricultores familiares pernambucanos, mas também para outros estados produtores de feijão-comum que apresentem condições ambientais semelhantes, desde que apresentem ampla adaptabilidade a outros locais de plantio, especialmente do Nordeste. As espécies de Trichoderma do banco do IPA apresentam atividade biocontroladora para os fungos fitopatogênicos ao feijoeiro e estudos estão sendo desenvolvidos para verificar seu potencial como promotores de crescimento dos feijões comum e caupi. Todas as bactérias e fungos micorrízicos arbusculares ainda serão testados quanto ao seu potencial de inovação. PERSPECTIVAS FUTURAS / PARCERIAS Há um leque imenso de possibilidades de parcerias do IPA com instituições de pesquisa, dentro e fora do estado, para condução de pesquisas envolvendo suas coleções de microrganismos, podendo-se destacar os trabalhos recentes com o Departamento de Solos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e com a Universidade Federal do Piauí (UFPI) na área de fixação biológica de nitrogênio; com o Laboratório de Tecnologia de Bioativos (LABTECBIO) da UFRPE, estudando a composição de novos meios de crescimento de Bacillus, com a inclusão de produtos regionais, de modo que se obtenham meios com alta eficiência e custos menores em relação aos existentes no mercado; com o Departamento de Micologia e o Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com os estudos de fungos fitopatogênicos e entomopatogênicos. Os projetos de pesquisa desenvolvidos pelo IPA em parceria com outras instituições envolvem equipes multidisciplinares, compostas por pesquisadores de formação e habilidades diversas, técnicos, e alunos de graduação e pós-graduação. Essas parcerias, já consolidadas, potencializam a capacidade dessas instituições para ações de pesquisa e desenvolvimento, especialmente na área agrícola, prospecção de recursos genéticos e geração de conhecimento e processos biotecnológicos.

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RG NEWS Conservação de Recursos Genéticos Animais do Instituto Agronômico de Pernambuco Júlio César Vieira de Oliveiraa, Sebastião Inocêncio Guidob, Fernando Lucas Torres de Mesquitac, Júlio César de Araújo Santosc, Leonardo Fernandes de Alencarb, Charles Bezerra Cabrald Mário Alberto Maia Filhoe e Antonio Félix da Costae (Curador geral). a Estação Experimental de Arcoverde (IPA). Br 232 km253, Arcoverde-PE, Brasil, E-mail julio.oliveira@ipa.br b Estação Experimental de São Bento do Uma (IPA), Rod. PE 193, Km3, São Bento do Una-PE, Brasil, E-mails sebastião.guido@ipa.br, leonardo.alencar@ipa.br c Estação Experimental de Sertânia (IPA), Fazenda Cachoeira, Sertânia-PE, Brasil, E-mails fernando.mesquita@ipa.br, julio.araujo@ipa.br d Estação Experimental de Serra Talhada (IPA), Fazenda Saco, Serra Talhada – PE Brasil E-mail francisco.charles@ipa.br a. e Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA)-Av. Gal. San Martin, 1371 Bongi, CEP 50761-000 Recife PE Brasil E-mails mario.alberto@ipa.br, felix.antonio@ipa.br.

Resumo Atualmente, o Banco de Germoplasma do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) é constituído por bovinos, caprinos e ovinos, os quais são conservados, in situ, em diferentes estações experimentais do IPA, no interior do Estado de Pernambuco. Esses são os habitats nos quais os animais vêm sendo submetidos ao processo de conservação e melhoramento genético. Nesses núcleos, são selecionados também os animais doadores de sêmen, de embriões, sendo esse material genético conservado, ex situ, pela manutenção de sêmen e embriões criopreservados. O manejo desses rebanhos tem como objetivo principal selecionar os animais que apresentarem superioridade na produção de leite e maior eficiência reprodutiva, principalmente nas regiões semiáridas do Estado. Palavras-chave: Germoplasma animal, Melhoramento animal, Semiárido, Produtividade, Eficiência reprodutiva Abstract Conservation of Animal Genetic Resources of the Agronomic Institute of Pernambuco Currently, the Germplasm Bank of the Agronomic Institute of Pernambuco consists of cattle, goats and sheep, which are conserved, in situ, in different experimental stations from IPA, in the interior of the State of Pernambuco. These are the habitats in which animals have been subjected in the process of conservation and genetic improvement. In these nucleus, animals that donate semen, embryos and are also selected, and this genetic material is conserved, ex situ, by maintaining semen and cryopreserved embryos. The management of this herds has as main objective to select the animals that present superiority in milk production and greater reproductive efficiency, mainly in the semi-arid regions of the Pernambuco State. Key words: Animal germoplasm, Animal breeding, Semiarid, Productivity, Reproductive efficiency HISTÓRICO DO BANCO Holandês IPA A raça Holandesa vem sendo criada em Pernambuco desde 1930. A formação do rebanho Holandês que originou o banco ativo de germoplasma do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA na Estação Experimental de São Bento do Una – EESBU teve como base, inicialmente, animais das fazendas de criação do então Departamento Nacional de Produção Animal – DNPA do Ministério da Agricultura, sendo esses animais originários de rebanhos do Sul do país. O propósito da implantação e manutenção do BAG foi selecionar animais adaptados às condições do semiárido e difundir germoplasma para fomento da pecuária de leite em Pernambuco e estados vizinhos.

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Puro Sintético Girolando IPA Com o objetivo de orientar e disciplinar pecuaristas empenhados no melhoramento genético para produção de carne e leite, o Instituto Agronômico de Pernambuco –IPA iniciou no final da década de 1960 um trabalho de cruzamento de bovinos da raça Holandesa com bovinos de raças Zebuínas. Os primeiros cruzamentos foram realizados utilizando reprodutores Holandês com matrizes zebuínas das raças Gir, Guzerá e Indubrazil. O trabalho também visava aliar a alta produtividade dos animais da raça Holandesa e a rusticidade das raças zebuínas. A partir de 1983, os cruzamentos se fixaram apenas entre as raças Holandesa e Gir, na constituição: 5/8 Holandês + 3/8 Gir, denominados Girolando, os quais acasalados entre si deram origem aos chamados Bimestiços que hoje são chamados de Puro Sintético. Durante esses 40 anos, esses animais foram selecionados nas condições semiáridas com a finalidade de obter um animal mais produtivo nessas condições e desempenham importante papel no desenvolvimento da pecuária do Estado de Pernambuco. O Banco de Germoplasma Girolando foi conduzido por cinco curadores ao longo desses anos. Guzerá IPA Com a finalidade de promover melhoramento genético e mais rusticidade aos rebanhos leiteiros do Sertão de Pernambuco, o Instituto Agronômico de Pernambuco (Estação Experimental Lauro Ramos Bezerra – Serra Talhada) mantém um plantel de animais bovinos da raça Guzerá desde 1970 Durante décadas de seleção e pesquisa na Estação Experimental de Serra Talhada muitos touros foram utilizados, provenientes da EMEPA-EMBRAPA – Empresa Paraibana de Pesquisa Agropecuária, Estação Experimental de Alagoinha, que tem grandes resultados na seleção de animais de linhagem leiteira, dentre eles o “GENTIL”, “ÉDIPO DE ALAGOINHA” e o “HUMAITÁ DE TABOQUINHA” o melhor touro da atualidade, que teve filhas campeãs nacionais durante vários anos e recordistas em produção de leite. Caprinos e Ovinos O início da formação dos rebanhos no IPA ocorreu na década de 70 para os ovinos Morada Nova e caprinos Moxotó. Em 2008, o IPA decidiu criar o Banco de Germoplasma de Caprinos e Ovinos naturalizados, na Estação Experimental de Sertânia, na intenção de ressaltar a importância das raças nativas e sua conservação. Os curadores do Banco de Germoplasma de Caprinos e Ovinos do IPA (BAGCO/IPA) sempre foram os técnicos lotados nas Estações Experimentais responsáveis pelos rebanhos. Atualmente, o Dr. Fernando Lucas Torres de Mesquita é o curador. COLEÇÕES QUE COMPÕEM O BANCO Holandês IPA O gado Holandês é uma raça pura, com origem na região dos Países Baixos e de distribuição cosmopolita. A partir dos anos 60 houve a introdução de material genético por meio de sêmen criopreservado, importado dos Estados Unidos da América (E.U.A) e do Canadá, iniciando-se a multiplicação do rebanho base com a introdução de genótipos de animais com superioridade na produção. Nesse período se utilizava a monta controlada e havia o intercâmbio de animais entre as fazendas de criação do DNPA (Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária), ocorrendo em 1975 a introdução de um pequeno grupo de fêmeas oriundas do Uruguai. É oportuno destacar a utilização de sêmen de touros importados que contribuíram para a diversidade genética do BAG no período entre 1960 e 2020. Nesse sentido, esse BAG apresenta uma constituição genética ímpar, pois durante esse período de seleção os animais vêm passando por um processo de adaptabilidade às condições edafoclimáticas do Agreste semiárido (Guido et al., 2011; Araújo et al., 2020). Esse fato contribuiu significativamente para a constituição genética do rebanho leiteiro de Pernambuco e, consequentemente, para o desenvolvimento e manutenção das suas principais bacias leiteiras. Pernambuco hoje possui os maiores rebanhos da raça Holandesa do Norte/Nordeste, os quais apresentam uma produtividade média de 32,46 kg de leite/vaca/dia (Abreu et al., 2020). Bem como, deve-se considerar que desde a sua implantação esse rebanho teve como um dos principais objetivos a difusão de germoplasma de animais selecionados para fomento da pecuária de leite na região, sendo uma das principais ações a disponibilização de touros jovens para utilização como reprodutores. Diante disso, comprova-se a evolução genética do rebanho leiteiro de Pernambuco, o qual apresenta uma produtividade de 2.213 kg de leite por vaca/ano, superior à produtividade nacional que é de 2.135 kg (IBGE, 2019). 19


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Puro Sintético Girolando IPA O rebanho Puro Sintético Girolando do IPA é mantido nas estações Experimentais de Arcoverde e Serra Talhada. Ocorre também a conservação ex situ através da manutenção de sêmen criopreservado. Atualmente o Banco de Germoplasma é constituído de um rebanho de 200 animais. Guzerá IPA O rebanho Guzerá do IPA é mantido na Estação Experimentais de Serra Talhada, localizada no Sertão do Pajeú do Estado de Pernambuco. Além dos animais serem mantidos nas estações, em conservação on farm, ocorre também a conservação ex situ através da manutenção de sêmen criopreservado. Atualmente o Banco de Germoplasma é constituído de um rebanho de 81 animais. Caprinos e Ovinos Os caprinos e ovinos de raças naturalizadas do Nordeste brasileiro tiveram suas origens a partir de introduções durante a colonização do Brasil. As espécies foram selecionadas de forma natural, submetidas às condições ambientais da região. A origem dos rebanhos naturalizados, silvestres, Morada Nova e Moxotó, que compõem o referido BAG são dos núcleos de criação do antigo Departamento de Produção Animal (DPA) e antiga SEMENPE, ambos do Estado de Pernambuco, os quais foram absorvidos pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Assim, existem relatos da década de 70 da existência dos rebanhos até o ano de 2008 quando foi iniciada a escrituração zootécnica para fins de controle genealógico dos mesmos. As raças Anglonubiana e Saanen foram escolhidas com a finalidade de estimular a caprinocultura de leite e desenvolver estudos com melhoramento genético animal. Os caprinos e ovinos são do gênero Capra e Ovis e das espécies Capra hircus e Ovis aries, respectivamente. MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO Holandês IPA Atualmente o BAG é formado por 150 animais, na Estação Experimental de São Bento do Uma – EESBU, com idade variando de 14 dias a 115 meses, sendo 139 fêmeas e 11 machos. Esses animais são manejados em um sistema semi-intensivo, no qual são mantidos em piquetes com sombreamento natural e artificial, sendo alimentados com palma forrageira Orelha de Elefante Mexicana (Opuntia stricta), silagem de sorgo e bagaço de cana com suplementação de concentrado proteico e mineral (Guido et al., 2019). Além da conservação in situ dos animais em São Bento do Uma, também há a conservação (ex situ) de germoplasma, por meio de bancos de sêmen e embriões criopreservados. Puro Sintético Girolando IPA O rebanho Puro Sintético Girolando do IPA é mantido, in situ, nas Estações Experimentais de Arcoverde e Serra Talhada. Além dos animais serem mantidos nessas estações, ocorre também a conservação ex situ mediante manutenção de sêmen criopreservado. Atualmente o Banco de Germoplasma é constituído de um rebanho de 200 animais. Esses animais são manejados em ambiente semiárido em um sistema semi-extensivo, no qual durante a época das chuvas são mantidos em pastos nativos, pastagens de Capim Pangola (Digitaria decumbens Stent.) e Brachiária (Brachiaria decumbens Stapf. Prain) e durante a época seca são mantidos em confinamento, sendo alimentados com palma forrageira (Orelha de Elefante Mexicana spineless cactos), silagem de sorgo e bagaço de cana, com suplementação de concentrado. Guzerá IPA O rebanho Guzerá do IPA é mantido na Estação Experimental de Serra Talhada, localizada no Sertão do Pajeú, Estado de Pernambuco. Além dos animais serem mantidos na estação, em conservação in situ, ocorre também a conservação ex situ pela manutenção de sêmen criopreservado. Atualmente o Banco de Germoplasma é constituído de um rebanho de 81 animais, sendo 12 machos e 69 fêmeas. Esses animais são manejados em ambiente semiárido em um sistema extensivo, no qual durante a época das chuvas são mantidos na Caatinga e pastagens de Capim Buffel (Cenchrus ciliares) e durante a época seca são mantidos na caatinga, com suplementação de concentrado e silagem de sorgo.

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Caprinos e Ovinos O BAG conserva dois núcleos de raças naturalizadas, sendo a caprina Moxotó com 20 machos e 80 fêmeas adultas, e ovina Morada Nova, com 20 machos e 90 fêmeas adultas, e dois núcleos de caprinos leiteiros das raças Anglonubiana e Saanen com 10 machos e 50 fêmeas cada um, ambos mantidos in situ. Os rebanhos naturalizados são conduzidos em sistema tradicional de cria, sendo soltos durante o dia e recolhidos ao aprisco para o pernoite. A alimentação é baseada na vegetação da Caatinga com constante suplementação mineral. As raças leiteiras são mantidas em regime de confinamento com alimentação baseada em silagem de sorgo ou milho, feno de gramínea e ração concentrada ajustada por categoria animal. Os animais são avaliados quanto à caracterização racial por inspetor técnico credenciado às Associações de raças caprina e ovina, tendo a monta controlada para possibilitar o registro dos produtos aptos. É realizada a alternância e introdução de reprodutores para aumentar a variabilidade genética, minimizando os efeitos da consanguinidade. CARACTERIZAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO Holandês IPA Todos os animais que compõem o BAG são controlados pelo Serviço de Registro Genealógico da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa – ABCBRH com predominância do grau de sangue Puro de Origem, havendo ainda animais na categoria de Geração Controlada – GC, sendo de GC 09 a 14 e pelagem da variedade Preta e Branca (PB). Todos os dados de produção são registrados através de controle leiteiro oficial, além de dados zootécnicos mantidos no programa de gerenciamento de rebanho e sistemas “webleite” da ABCBRH. Na formação inicial do BAG, década de 60, as vacas apresentavam uma produção média de 2.100 kg de leite em 270 dias de lactação. Com a evolução do programa de seleção genética, por meio da utilização de sêmen de touros importados (Tabela 1), as vacas atuais do BAG apresentam uma produção média de 7.850 kg de leite por lactação encerrada aos 305 dias. Tabela 1- Principais touros da raça Holandês utilizados para inseminação artificial na EESBU/IPA – 1960 – 2020. TOURO REGISTRO ORIGEM

ANO

Wis Capitain

HOUSAM-1144239

E.U.A

1960

Forest Lee Centurion Lucky Roket

HOUSAM-266543

E.U.A

1965

Proclamar Astronaut Procalmar Bootmaker

AX-8679 AX-11338

E.U.A E.U.A

1970 1975

Arlinda Forty Niner Star

AX-10089

E.U.A

1980

A. Birch Hoollow Royality Tri-Day Valiant Gold

AX-18430 AX-35467

Canadá E.U.A

1985 1990

Maizefield Bellwood-ET

AX-80928

E.U.A

1995

Etazon Lodr Lily-ET

AX-92039

E.U.A

2000

Ladys-Manor Wildman-ET

AX-17664

E.U.A

2005

Picston Shottle-ET

AX-125530

Grã-Bretanha

2010

Maple-Downs-I GW Atwood-ET Comestar Lauthority Lone-Oak-Acres AltaRabo-ET

AX-130581 AX-132451 AX144219

Canadá Canadá E.U.A

2012 2015 2020

Vale ressaltar as características morfológicas das vacas da Raça Holandês no início da coleção (Figura 1 A) e as atuais (Figura 1B), as quais possuem estrutura corporal bastante diferenciada, comparativamente às primeiras vacas da Raça Holandês do BAG.

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1B

Figuras 1ª e 1B- Vaca da raça Holandês, Craemelle MyCasinha123, 1938 (A, esquerda) e IPA Valeriana Maxie V-33, 2006 (B, direita). EESBU/IPA. Fonte: Acervo da EESBU/IPA.

Em relação ao desempenho reprodutivo, Guido et al. (2011) registraram a ocorrência de ciclicidade ao longo do ano, bem como taxas de concepção de 56,0% em nulíparas, 43,8% em primíparas e 34,1% para pluríparas. Quanto ao intervalo de partos, a média é de 15,3 meses e as fêmeas atingem a puberdade aos oito meses. O número de serviço é de 1,5 inseminação/concepção e a taxa de natalidade semestral de 69,9%, sendo registrada nas fêmeas do BAG baixa incidência de distúrbios reprodutivos (GUIDO et. Al., 2016). Entretanto, as fêmeas são submetidas à reprodução somente após atingirem 330 kg de peso e 12 meses de idade. Os bezerros apresentam peso médio ao nascer de 35,5 kg e peso médio ao desmame de 91,6 kg. Todos os eventos reprodutivos são controlados e registrados em programa de gestão de rebanho. Segundo Guido et al. (2011) não foi registrada influência de fatores climáticos sobre os parâmetros reprodutivos, assim concordando os achados de Araújo et al. (2020) quanto à frequência do gene HSP-70.1, o qual está associado à tolerância térmica. Ainda segundo Araújo et al. (2020), houve associação dos polimorfismos do gene com a produção de leite para os animais do BAG de gado Holandês (p<0,0001). Houve também um ganho de produção linear de 41% na última década, sendo registrada na EESBU uma média anual de 315 mil kg de leite. Considerando as atuais necessidades de critérios mais refinados de seleção nos programas de melhoramento genético, a seleção genômica constitui uma ferramenta indispensável. Nesse contexto, como ação de projeto de pesquisa, passou-se a realizar a avaliação do perfil genômico das fêmeas do BAG de gado Holandês IPA. Os resultados obtidos foram bastante promissores, constatando-se que 63% das fêmeas avaliadas apresentaram capacidade de transmissão prevista genômica (“Genomic Predicted Transmitting Ability”– GPTA) positiva para produção de leite, com 48% delas apresentando GPTA superior a 200lbs., tendo sido registrada uma bezerra com GPTA de 1930lbs para produção de leite. Quanto ao Índice de Desempenho (TPI), o qual contempla produção, conformação, saúde, longevidade e características de manejo, 70% das fêmeas apresentaram resultado superior a 1500 pontos, sendo o valor médio de 1629 pontos, com fêmeas apresentado 2081 pontos. Vale destacar que através do programa de seleção genética, as vacas atuais do BAG apresentam uma produção média de 7.850 kg de leite por lactação encerrada aos 305 dias, à exemplo da IPA Valeriana Maxie V-33, 2006. Outra ferramenta de seleção implantada para o BAG na EESBU/IPA é a classificação morfológica linear, a qual é realizada anualmente por um jurado da raça credenciado pela ABCBRH, sendo obtidas médias de 82 e 84 pontos e categoria B+ para as fêmeas classificadas nos anos 2018 e 2019, respectivamente. Com distinção para a fêmea IPA Fogaça Atwood F-47 com 91 pontos e categoria excelente, a vaga de maior pontuação do BAG, bem como, para a fêmea IPA Havaiana J. Faraó Planet H-05 classificada com 90 pontos e categoria excelente. Com relação aos touros jovens tens como critérios de seleção, utilizam-se o desenvolvimento ponderal e andrológico com os animais apresentando parâmetros seminais compatíveis com fertilidade aos 12 meses de idade (Guido et al., 2014).

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Puro Sintético Girolando IPA Analisando os dados produtivos e reprodutivos do rebanho Girolando, Oliveira et al. (2010a) observaram que os animais Girolando (5/8 Holandês e 3/8 Gir) e os Girolando Puro Sintéticos (PS) de 1a, 2 a, 3 a e 4a gerações não apresentaram diferenças significativas com relação ao número de dias de lactação, produção por lactação, intervalo entre partos e idade ao primeiro parto, demonstrando que não ocorreu perda de potencial produtivo nem reprodutivo com o avanço dos acasalamentos entre os Puro Sintéticos, fato esse atribuído à gestão genética do rebanho ao longo dos anos de seleção, onde procurou-se maximizar a variabilidade genética evitando depressão endogâmica no rebanho (OLIVEIRA et. al. 2010b). É observado também que a produção média desses animais Girolando é de 2.144,85 litros, maior que a média brasileira que é de 1600 litros (SNA 2017). A idade ao primeiro parto demonstra precocidade, revelando adaptabilidade às condições semiáridas. Segundo Oliveira et al. (2010a), as vacas Girolando também demonstraram um aumento linear na produção de leite até os sete anos, quando produzem mais leite, depois mantiveram a produção dos sete aos 11 anos, demonstrando longevidade. Araújo, et al. (2018a), estudando a curva de lactação de vacas Girolando no Semiárido demonstraram que os animais estudados são persistentes quanto à duração da lactação, indicando capacidade de convivência com o ambiente semiárido. Deniz et al. (2017), estudando o mesmo rebanho, observaram variabilidade do gene SLC11A1, que é responsável por resistência a doenças e tem efeito nas características produtivas, enquanto Araújo et al. (2018b) observaram variabilidade no gene HSP, que é responsável pela promoção de tolerância ao calor. Todas essas informações contribuem para utilização do Girolando Puro Sintético para promover melhoramento genético dos rebanhos leiteiros do Semiárido. Todos os animais do banco de Germoplasma são devidamente registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. Guzerá IPA O rebanho Guzerá é registrado junto à Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) e as informações zootécnicas anotadas são comunicadas para a obtenção do registro dos animais. São encaminhados documentos como a comunicação de cobertura das mães e de nascimento dos produtos, onde constam informações de paternidade, sexo, datas, pelagem etc. O IPA dispõe de uma grande quantidade de informações registradas ao longo da última década (dados não publicados). São registros de peso ao nascimento, tipo de parto, fertilidade, intervalo entre partos e ganho de peso e produção de leite. Essas informações serão analisadas para posterior redação de manuscritos. O rebanho também é utilizado para desenvolvimento de pesquisas com consumo e produção de leite como descrito em Moreira et al. (2007) e Santana et al., (2010). Caprinos e Ovinos Os rebanhos caprinos Moxotó, Anglonubiana e Saanen e ovino Morada Nova são registrados junto às Associações Brasileiras de criadores. Algumas informações zootécnicas anotadas são comunicadas às Associações para a obtenção do registro dos animais. São encaminhados documentos como a comunicação de cobertura das mães e de nascimento dos produtos onde constam informações de paternidade, sexo, datas, pelagem etc. Existem publicações realizadas em diferentes linhas de pesquisa como o estudo da fetometria como ferramenta de conservação da raça Morada Nova (MESQUITA et al, 2015), a produção de leite de cabras Moxotó de forma mecanizada (CAVALCANTE et al., 2016) e o consumo e digestibilidade da dieta de caprinos mestiços alimentados na Caatinga e suplementados (SILVA et al., 2016). O IPA dispõe de uma grande quantidade de informações registradas ao longo da última década (dados não publicados). São registros de peso ao nascimento, tipo de parto, fertilidade, intervalo entre partos, ganho de peso e produção de leite. Essas informações serão analisadas para posterior redação de manuscritos. USO E POTENCIAL INOVAÇÃO Holandês IPA O BAG da Raça Holandês apresenta uma importante inserção no setor produtivo da pecuária de leite no Estado de Pernambuco, tendo em vista a inseminação artificial ainda apresentar uma reduzida utilização na região e com isso haver 23


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uma demanda sempre ascendente por touros jovens. Nesse sentido, as ações finalísticas das pesquisas desenvolvidas na EESBU como: implantação de banco de sêmen, seleção de touros jovens e seleção de fêmeas da raça Holandesa adaptadas às condições de semiárido visam à disponibilização desse germoplasma para produtores de leite. Puro Sintético Girolando IPA O Banco de Germoplasma Girolando é de grande importância para pesquisas nas áreas de melhoramento genético, uma vez que esses animais são selecionados em condições semiáridas e apresentam constituição genética singular, com melhor adaptabilidade às temperaturas desse clima e bom potencial de produção de leite que contribuem com o desenvolvimento da pecuária leiteira do Estado de Pernambuco. Nesse contexto, o IPA disponibiliza sêmen e tourinhos para os pecuaristas do Estado e regiões circunvizinhas. Guzerá IPA O banco de Germoplasma Guzerá é de grande importância para pesquisas nas áreas de melhoramento genético e programas de melhoramento genético, uma vez que esses animais são selecionados em condições semiáridas e regime semi-extensivo, dotados de constituição genética singular, apresentando melhor resistência às temperaturas desse clima e uma grande habilidade de sobrevivência nessas condições rigorosas e assim poderem contribuir com o desenvolvimento da pecuária leiteira do Estado de Pernambuco. Nesse contexto, o IPA desempenha importante papel disponibilizando sêmen ou tourinhos para os pecuaristas do Estado e regiões circunvizinhas. Caprinos e Ovinos O BAG tem como principal ação a manutenção de um núcleo de conservação para melhoramento das raças naturalizadas de ovinos Morada Nova e de caprinos Moxotó. Criadores da região conseguem adquirir animais controlados e registrados provenientes do trabalho de conservação das raças citadas. A partir do BAG e da transferência de animais aos criadores tem sido incentivada a implantação do controle zootécnico nos rebanhos; dadas orientações para a melhoria nos índices de produção mantendo a rusticidade e capacidade adaptativa dessas raças no Estado de Pernambuco; e possibilitado traçar um plano de gestão genética e de tecnologias apropriadas para a produção de ovinos e caprinos na região semiárida com base nas raças nativas locais. PERSPECTIVAS FUTURAS / PARCERIAS Holandês IPA Com a realização da avaliação do perfil genômico nos animais do BAG, há a perspectiva de seleção de animais com potencial para produção de leite hipoalergênico com o aumento da frequência do alelo A2 para beta-caseína nos animais do BAG. Pesquisas nesse sentido vêm sendo desenvolvidas em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. Puro Sintético Girolando IPA Produzir tecnologias que auxiliem a seleção de animais para a melhoria de características em ambientes semiáridos; melhorar a eficiência produtiva e reprodutiva dos rebanhos no estado de Pernambuco; favorecer os produtores rurais por meio da melhoria das condições de exploração e pela identificação de genótipos superiores para as características de produção de leite; consolidar a atuação do Instituto Agronômico de Pernambuco (Estação Experimental de Arcoverde) com parcerias junto aos Laboratórios de Fisiologia Animal Molecular Aplicada - UFRPE (Recife PE), Laboratório de Biologia Molecular – UFRPE-UAG (Garanhuns PE), criadores e indústrias; transferir conhecimentos aos produtores, técnicos, pesquisadores e demais interessados, por meio de artigos científicos, trabalhos em congressos, reuniões, cursos, palestras; aprimorar os conhecimentos técnico-científicos de alunos de pós-graduação. Guzerá IPA Produzir tecnologias que auxiliem a seleção para a melhoria de características em ambientes semiáridos; melhorar a eficiência produtiva e reprodutiva dos rebanhos no estado de Pernambuco; favorecer os produtores rurais, pela melhoria das condições de exploração, pela identificação de genótipos superiores para as características de produção de leite; consolidar a atuação do Instituto Agronômico de Pernambuco (Estação Experimental de Serra Talhada) com parcerias 24


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junto aos Laboratórios de Fisiologia Animal Molecular Aplicada - UFRPE (Recife PE), Laboratório de Biologia Molecular – UFRPE-UAG (Garanhuns PE), criadores e indústrias; transferir conhecimento aos produtores, técnicos, pesquisadores e demais interessados, por meio de artigos científicos, trabalhos em congressos, reuniões, cursos, palestras; aprimorar os conhecimentos técnico-científicos de aluno de pós-graduação. Caprinos e Ovinos O trabalho visa produzir tecnologias que auxiliem a seleção para a melhoria de características mantendo a variabilidade genética; melhorar a eficiência produtiva e reprodutiva dos rebanhos no estado de Pernambuco; favorecer os produtores rurais, pela melhoria das condições de exploração, pela identificação de genótipos superiores para as características de produção de leite, carne e pele; ampliar a atuação do Instituto Agronômico de Pernambuco (Estação Experimental de Sertânia), por meio de parcerias junto aos Laboratórios de Fisiologia Animal Molecular Aplicada UFRPE (Recife PE), Laboratório de Biologia Molecular – UFRPE- UAG (Garanhuns PE), criadores e indústrias; ampliar o intercâmbio genético entre instituições como EMBRAPA, transferir conhecimentos aos produtores, técnicos, pesquisadores e demais interessados, mediante artigos científicos, trabalhos em congressos, reuniões, cursos, palestras e, por fim, aprimorar os conhecimentos técnico-científicos e contribuir na formação de alunos de pós-graduação. CURIOSIDADES Holandês IPA Em 1962 nasceu na Estação Experimental de São do Una/IPA o primeiro bezerro produzido com sêmen congelado do Nordeste, filho do touro Forest Lee Centurion Lucky Rocket, de origem nos E.U.A. Caprinos e Ovinos Os rebanhos da EMBRAPA e IPA das raças caprina e ovina, Moxotó e Morada Nova, respectivamente, que compõem o BAG/IPA foram conectados geneticamente por empréstimos de machinhos entre as instituições na última década. Fato importante para aumentar a variabilidade genética dos rebanhos. Com a aprovação do CAPRAGENE-FASE 2, projeto de melhoramento genético de caprinos leiteiros para o Nordeste, coordenado pela EMBRAPA em parceria com o IPA-PE, EMPARN-RN e EMEPA-PB, alguns rebanhos leiteiros dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte serão controlados e avaliados de forma a contribuir com o Melhoramento Genético das raças leiteiras na referida região.

Referências ABREU, B. S.; BARBOSA, S.B.P.; SILVA, E.C.; SANTORO, K.R.; BATISTA, A.M.V.; MARTÍNEZ, R.L.V.; VALENÇA, L.M.; JATOBÁ, R.B. Desempenho produtivo e reprodutivo de vacas holandesas no Agreste de Pernambuco, no período de 2007 a 2017. Semina: Ciências Agrárias, v.41, n.2, p. 571-586, 2020. ARAÚJO, M.D.S.; LUNA, E.P.M.; OLIVEIRA, J.C.V.O.; GUIDO, S.I.; SANTORO, K.R. Desempenho produtivo de vacas girolando no semiárido pernambucano. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 55., 2018, Goiânia, Goiás. Anais [...]. Goiânia, Goiás: SBZ, 2018a. Disponível em: http://www.adaltech.com.br/anais/ zootecnia2018/trabalhos.htm. Acesso em: 22 maio 2020. ARAÚJO, M.D.S.; LUNA, E.P.M.; OLIVEIRA, J.C.V.O.; GUIDO, S.I.; SANTORO, K.R. Productive profiles of dairy cows in Pernambuco state and association with HSP-70.1 gene polymorphisms. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 55., 2018b, Goiania, Goias. Anais [...]. Goiania-Goias: SBZ, 2018b. Disponível em: http://www.adaltech.com.br/anais/zootecnia2018/trabalhos.htm. Acesso em: 22 maio 2020. ARAÚJO, M.D.S.; LUNA, E.P.M.; OLIVEIRA, J.C.V.O.; GUIDO, S.I.; SILVA, E.C.; BARBOSA, S.B.P.; SANTORO, K.R. Caracterização do gene do choque térmico (HSP-70.1) e sua relação com características de produção em bovinos leiteiros criados no semiárido brasileiro. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.72, n.3, p.985-992, 2020. CAVALCANTE, C. P. L.; LEAL, S. M. S. P.; CARVALHO, J. M.; BEZERRA, O.; OLIVEIRA, J. C. V.; MESQUITA, F. L. T. de. Produção de leite de cabras Moxotó de forma mecanizada. In: CONGRESSO LA ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE PRODUCIÓN ANIMAL, 25; CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 11., 2016, Recife. Anais [...]. Recife: ALPA-SNPA, 2016. Disponível em: http://www.automacaodeeventos.com.br/ alpa2016/inscricao/mostra_resumo.asp?trald=2. Acesso em 12/08/2016.

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RG NEWS Grãos, Hortaliças, Raízes e Tubérculos em Conservação pelo Instituto Agronômico de Pernambuco Antonio Félix da Costaa, José Nildo Tabosaa, Marta Maria Amâncio do Nascimentoa, José Alves Tavaresb, Mina Karasawac, Jonas A. Candeiac, Edinardo Ferrazc, Almir Dias Alves da Silvad, Luciana Gonçalves de Oliveiraa, Katiane da Rosa Gomes da Silvaa a Instituto Agronômico de Pernambuco, Avenida General San Martin, 1371, CEP 50.761-000, Recife, PE, Brasil. E-mails: felix.antonio@ipa.br, nildo.tabosa@ipa.br, marta.amancio@ipa.br, lugoliveira@gmail.com, katrgs@gmail.com. b Estação Experimental de Araripina (IPA) Zona Rural, 56280-000, Araripina PE, Brasil. tavaresipa@gmail.com c Estação Experimental de Belém do São Francisco (IPA), Ilha do Estreito, 56440-000, Belém do São Francisco, PE, Brasil. mina.karasawa@ipa.br, jonas.candeia@ipa.br, edinardo.ferraz@bol.com.br d Estação Experimental de Itapirema (IPA), BR 101 Norte, Km 54, 55900-970, Goiana, PE, Brasil. almir.dias@ipa.br

Resumo Os trabalhos de resgate e de conservação da variabilidade genética de espécies vegetais são funções atribuídas aos bancos de germoplasma. Esses bancos são fundamentais para que se evite o processo de erosão genética, além de permitir a multiplicação e estudos desses materiais. Nesse sentido, visando reunir informações sobre as coleções do germoplasma de grãos, hortaliças, raízes e tubérculos do BAG do IPA, esse trabalho contempla informações desde a origem dos referidos bancos, bem como todas as etapas do processo de formação: o resgate do material propagativo em suas diferentes formas, até a sua condução, multiplicação, armazenamento, caracterização e documentação. A partir dos Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs), o resgate e a valorização das espécies vegetais representam importantes ganhos, principalmente para os setores ambiental, científico, cultural, econômico, social e nutricional, bem como em questões de biossegurança. Palavras-chave: Recursos Genéticos, Caracterização, Pré melhoramento, Resgate, Regeneração. Abstract Conserved Grains, Vegetables, Roots and Tubers by the Agronomic Institute of Pernambuco The rescue and conservation work of plant species are functions attributed to the banks of genetic collections, called germplasm banks. These banks are a viable way of conserving the genetic information contained in the DNA of each species. These functions are essential to avoid the process of extinction of plant species, in addition to allowing the multiplication and study of these materials. In this sense, aiming to gather information about the germplasm collections of grains, vegetables, roots and tubers of the IPA BAG, this work includes information from the origin of the referred banks, as well as all the stages of the formation process: the rescue of propagating material in its different forms, until its conduction, multiplication, storage, characterization and documentation. From the Germplasm Active Banks (BAG), the redemption and valorization of plant species represent important gains, mainly for the environmental, scientific, cultural, economic, social and nutritional sectors, as well as in biosafety issues. Key words: Genetic Resources, Characterization, Pre-breeding, Rescue, Regeneration. BANCOS ATIVOS DE GERMOPLASMA DE GRÃOS HISTÓRIA DO BANCO O Banco Ativo de Germoplasma de Feijão está localizado na sede do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), em Recife. As pesquisas começaram no ano de 1960 com o feijão comum (Phaseolus vulgaris L.). Os acessos foram adquiridos de vários estados brasileiros por meio de diversas fontes como programa de melhoramento do IPA, por coleta manual em campo; a partir de instituições de pesquisa por meio dos programas de melhoramento genético vegetal; por 27


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intercâmbio com outros centros de pesquisa, bem como por meio de feiras que reúnem grupos de agricultores tradicionais para troca de sementes. Na década de 80 foi iniciada uma coleção de fava (Phaseolus lunatus L.) contando com um número expressivo de acessos, porém, por razões de ordem técnica na manutenção dessa coleção, há cerca de 20 anos esse acervo foi perdido, impelindo os responsáveis a iniciarem uma prospecção de novos acessos. Apesar do longo tempo do início da formação dessas coleções supracitadas, apenas os pesquisadores Paulo Miranda, Ricardo Chagas Mafra e, atualmente, Antonio Félix da Costa foram os responsáveis pela curadoria desse Banco Ativo de Germoplasma (BAG). Em relação ao sorgo, os trabalhos experimentais com esse cultivo se iniciaram em 1958, a partir da introdução de coleções de variedades dos Estados Unidos (Forth Collins), do continente africano e de outros materiais genéticos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). A priori, o objetivo básico dessas introduções era de encontrar variedades mais produtivas e adaptadas do que aquelas que vinham sendo utilizadas na região. Esses fatos representam, por sua vez, o marco inicial da formação de um banco de germoplasma de sorgo, o qual teve seu início em 1973, sendo implantado concomitantemente com a criação de um Programa de Sorgo e Milheto (PSM) na região Nordeste, com apoio da Fundação Ford, Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e Banco do Nordeste do Brasil (BNB), com recursos do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNDECI). Esse programa ficou a cargo do IPA até o final de 1979. Em prosseguimento ao desenvolvimento das pesquisas, apenas o BNB e Sudene apresentaram expressivo apoio financeiro até o início de 1990. Posteriormente, além de recursos do Tesouro do Estado, outras fontes como Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) e convênios com a UFRPE ofereceram apoio financeiro e logístico ao Programa de Sorgo em Pernambuco. O BAG atualmente fica localizado na sede da instituição, na cidade do Recife-PE. Até o final dos anos setenta, os pesquisadores do IPA que iniciaram ações de campo e que produziram publicações com a cultura do sorgo foram Mario Coelho de Andrade Lima, Paulo Miranda e Rivaldo Chagas Mafra Atualmente o curador do BAG de Sorgo é o pesquisador José Nildo Tabosa. COLEÇÕES QUE COMPÕEM O BANCO O banco de germoplasma de feijão é formado atualmente, em grande parte, por uma coleção de feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) e de feijão de corda (Vigna unguiculata (L.) Walp.), o qual conta com acessos divididos entre variedades crioulas, variedades lançadas pela pesquisa e linhagens homozigotas. Da coleção de feijão de corda, aproximadamente 80 acessos foram adquiridos em áreas de comercialização para grãos verdes. Os acessos dessas espécies, a exemplo da coleção de feijão comum, tem representantes do Rio Grande do Sul ao Acre. Adicionalmente, também há a coleção de fava (Phaseolus lunatus L.) constituída aproximadamente com 135 acessos, todos de origem do interior do Nordeste, oriundos de coleta manual, doação e compra. É oportuno indicar uma coleção de Vigna formada por cerca de 25 acessos com origem no exterior, obtidos para estudos citogenéticos e multiplicados em telados, em uma parceria com Universidades locais. Além das coleções supracitadas, ainda há o embrião de uma futura coleção de feijão guandu (Cajanus cajan (L) Millsp.). A evolução da incorporação de acessos no BAG ao longo dos anos tem sido variável, dependendo da dinâmica dos processos de melhoramento genético, introdução, coleta e atividades do BAG. O sorgo é uma cultura relativamente nova nas Américas, tendo sido introduzida nos Estados Unidos em 1857, tendo como principais tipos de acessos da coleção de trabalho do BAG do IPA o forrageiro e granífero, que vêm sendo trabalhados, utilizados em programas de melhoramento, originando novos genótipos para diferentes aptidões no ambiente do semiárido brasileiro. Atualmente vem sendo realizadas introduções e permutas de materiais e de tecnologia de avaliação com diversas entidades de pesquisa como a Embrapa Milho e Sorgo e Embrapa Tabuleiros Costeiros, Empresa de Pesquisa 28


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Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a UFRPE, além de Institutos Federais (IF’s). A partir desses materiais são desenvolvidos outros por técnicas de cruzamento, seleção e de gerações avançadas por processos de autofecundações sucessivas, além de metodologia de modificação genética utilizando radiação gama a partir do embrião. MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO A conservação ex situ na forma de semente é altamente recomendável para o sistema de coleção ativa - BAG como também para a Coleção de Base, que conserva para o longo prazo os acessos. Dessa forma, as diversas coleções de feijão comum (870 acessos), feijão de corda (930 acessos) e sorgo (mais de 1000 acessos) são mantidas na forma de grãos secos, em câmara, com temperatura e umidade relativa controladas. As sementes de cada grupo de grãos estão embaladas em sacos de pano, preferencialmente, ou de papel com gramatura suficiente para uma manutenção segura por tempo suficiente entre as avaliações fisiológicas. A deterioração de sementes durante o armazenamento é um processo natural e decorrente de fatores genéticos e das condições de tempo de armazenamento, podendo resultar em perda parcial ou total da viabilidade das sementes. O controle dessa manutenção é feito por meio de testes de germinação, em intervalos predeterminados, de acordo com o poder germinativo inicial de cada acesso. O monitoramento da viabilidade das sementes de um acesso armazenado é realizado periodicamente por amostragem e quando o valor de germinação estiver reduzido em relação ao porcentual de germinação inicial o mesmo deverá ser enviado para regeneração e multiplicação. A amostra é cultivada em telado, casa de vegetação ou campo, e novas sementes são retornadas à coleção, mantendo-se os cuidados necessários para mitigar possíveis cruzamentos. Alguns dos acessos de feijão comum e de feijão de corda estão na Embrapa Arroz e Feijão e na Embrapa Meio Norte, respectivamente, especialmente nesta estão 66 dos acessos de feijão de corda para consumo verde. CARACTERIZAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO Dado o pouco tempo de formação da coleção de fava, ainda não foi possível a caracterização de seus acessos; em uma iniciativa anterior foram colocados 25 acessos em um experimento de campo para estudos diversos e se obteve um resultado inesperado: uma taxa elevada de cruzamentos naturais, denotando a necessidade de cuidados ao se manejar muitos acessos ao mesmo tempo. Da coleção de espécies de Vigna, têm sido realizados alguns estudos citogenéticos, mas ainda não publicados. Estudos de caracterização morfoagronômica, fenológica e molecular de acessos de feijão comum e de feijão de corda têm sido conduzidos em campo e laboratório, como parte da programação normal de pesquisa ou por meio de diferentes modalidades de bolsas de fixação de técnicos, de fixação de pesquisador, de desenvolvimento científico e tecnológico regional, bem como de mestrado, gerando lançamento de uma variedade (Costa et al. 2013), capítulo de livro (Costa et al. 2019), relatórios, dissertações de mestrado e artigo científico (Santana, et al. 2019). Esses dados encontram-se no banco de dados do IPA. Quanto à natureza, os acessos de sorgo compreendem: materiais graníferos com e sem tanino na semente; materiais forrageiros, de dupla finalidade para grão e forragem e para etanol e forragem, materiais sacarinos e para energia e acessos de natureza herbácea de sorgo Sudão [Sorghum sudanense (Piper) Stapf.]. Em cerca de 20 % do BAG já foi realizada caracterização molecular. Assim, de acordo com Santos et al. (2010), esse trabalho foi realizado com o objetivo de verificar a diversidade genética na coleção de acessos de Sorghum bicolor (L. Moench) do IPA, visando sua utilização em futuros trabalhos de seleção. Foram avaliados nessa fase acessos cultivados a partir de genótipos de sorgo gerados pelo IPA. A diversidade genética foi analisada por meio de marcadores do tipo RAPD. Com os 20 primers utilizados foram identificadas 737 bandas das quais 77% eram polimórficas. O IPA desenvolve atividades de geração de novos materiais de diferentes genótipos de sorgo a partir de blocos de cruzamento, até gerações avançadas mantidas por autofecundação. As caracterizações são realizadas a partir de observações e mensurações em laboratório e campo. A partir do BAG do IPA, constam no Registro Nacional de Cultivares do MAPA oito cultivares de sorgo 29


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devidamente registradas, conforme pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1. Cultivares de sorgo do IPA registradas no RNC - MAPA. 2020 Espécie botânica Cultivar No. registro Ano do registro Sorghum bicolor 02-03-01 05001 2000 Sorghum bicolor IPA 467-4-2 01325 1998 Sorghum bicolor IPA 1011 01324 1998 Sorghum bicolor IPA 2502 04999 2000 Sorghum bicolor IPA SF 25 05000 2000 Sorghum bicolor IPA SF 11 27714 2011 Sorghum bicolor SF 15 27711 2011 Sorghum sudanense Sudan 4022 21446 2007 Fonte: Agricultura.gov.br; RNC – Registro Nacional de Cultivares – MAPA

Mantenedor IPA IPA IPA/DI Solo IPA IPA IPA IPA/SEAGRI IPA

USO E POTENCIAL DE AÇÃO Apesar de a agricultura brasileira está baseada em espécies exóticas, os estudos da biodiversidade possibilitam ampliar a disponibilidade de matéria prima, consequentemente levando à geração de novas tecnologias que resultam em novos produtos e novos mercados. Devido à ampla diversidade existente no Brasil, a utilização de recursos genéticos autóctones ainda é pouco explorada, demandando estudos e investimentos na exploração comercial de novas espécies que podem agregar valor aos produtos da agroindústria, principalmente aqueles com potencial impacto na segurança alimentar. Essas espécies da biodiversidade também podem oferecer genes de resistência a fatores bióticos e abióticos, além de genes de importância para aumento da qualidade nutricional de alimentos. Espécies nativas, muitas delas já utilizadas a nível local ou regional, podem representar alternativas para a inserção nos mercados, os quais vêm aumentando a demanda por novas opções de produtos, principalmente relacionados à alimentação saudável. A identificação e a caracterização dos parentes silvestres e variedades crioulas de várias espécies de plantas cultivadas, tais como o feijão-caupi, também apresentam genes potenciais de adaptação a ambientes específicos, que podem ser úteis aos programas de melhoramento genético. O processo de melhoramento genético é altamente dependente da amplitude da base genética disponível que, por sua vez, é influenciada pelo acervo de germoplasma disponível, na forma de materiais coletados e caracterizados, mantidos nos BAG’s, que são insumos importantes para o desenvolvimento de novas cultivares. A capacidade de acessar esses materiais portadores de variabilidade, por coleta ou por introdução e intercâmbio, é fator fundamental para o sucesso de qualquer programa de melhoramento genético vegetal. O BAG de sorgo do IPA é condição principal para as atividades do programa de melhoramento, tendo em vista, principalmente, no que tange à ampla diversidade genética existente nas coleções do BAG. Seu maior potencial de uso se refere à geração e desenvolvimento de novos materiais genéticos com vistas à obtenção de cultivares, precoces e produtivas, principalmente no âmbito do semiárido brasileiro. Do ponto de vista científico, ações dessa natureza são importantes, tanto para a comunidade acadêmica (pesquisadores e estudantes) como para os produtores rurais na construção e na reconstrução do conhecimento prático, técnico e científico, voltado para o produtor. PERSPECTIVAS FUTURAS/PARCERIAS O avanço no conhecimento, conservação e promoção do uso dos recursos genéticos nativos contribui, também, para minimizar a fragilidade existente no sistema alimentar mundial. Adicionalmente, essa iniciativa vem contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento de componentes relacionados ao treinamento e capacitação, tanto de pesquisadores quanto de estudantes dos níveis de graduação e pós-graduação. Cada vez mais o pesquisador brasileiro vem se conscientizando da importância dos recursos genéticos para o desenvolvimento de suas atividades. Levantamento realizado entre melhoristas de milho, dos setores público e privado, 30


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apontou que a utilização dos acessos disponíveis nos bancos de germoplasma de forma regular é muito baixa (14% dos entrevistados), tendo sido a quantidade de informações sobre esses acessos o fator mais limitante para sua utilização, de acordo com 70% dos pesquisadores entrevistados. Há necessidade, portanto, de ampliar os trabalhos de caracterização e avaliação em bancos de germoplasma. Algumas ferramentas de biotecnologia poderão ser úteis na identificação de duplicatas, como também na avaliação da diversidade que está sendo conservada. Tais providências são fundamentais para identificar futuras necessidades de coleta, caracterização, avaliação e, consequentemente, aumentar a utilização do acervo conservado no País. Assim, para a eficaz e eficiente exploração e utilização dos recursos genéticos são essenciais o fortalecimento e a consolidação de redes de pesquisas transdisciplinares e interinstitucionais, com a articulação de parcerias para otimização dos recursos financeiros e humanos e para facilitar e intensificar o intercâmbio de germoplasma e conhecimento. O BAG de sorgo do IPA vem contribuindo na geração de informações sobre todos os aspectos da cultura e no âmbito do melhoramento de plantas, no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos (dissertações de mestrado e teses de doutorado), diferentes publicações em periódicos e outros veículos de comunicação científica. Além disso, vem contribuindo no desenvolvimento de novas cultivares de sorgo visando recomendação aos diferentes ambientes adversos do semiárido brasileiro, de materiais de diferentes naturezas quanto ao tipo de exploração por parte do usuário (Tabosa et al., 2013; Costa et al., 2015; Simplício et al., 2019). BAG DE HORTALIÇAS HISTÓRIA DO BANCO O IPA, em 1973, iniciou um programa de melhoramento genético objetivando desenvolver novas variedades de cebola amarela do tipo Baia Periforme, as quais foram, inicialmente, oriundas do Rio Grande do Sul e repassadas ao IPA pela ESALQ/USP. Esses trabalhos eram realizados nas estações experimentais de Belém do São Francisco e de Vitória de Santo Antão, sob a coordenação inicial do pesquisador Luiz Jorge da Gama Wanderley, sendo o marco da formação do banco de germoplasma/coleção de trabalho da cebola. Esse programa de melhoramento e produção de sementes vem sendo conduzido ininterruptamente até o presente, com estratégias de curto, médio e longo prazo. Durante esse período o IPA contou com as parcerias do Instituto Biológico/SP, ESALQ/USP/SP, CNPq, EMBRAPA SEMIÁRIDO, EMBRAPA HORTALIÇAS, Texas A&M University, UFRPE/PE e apoio financeiro da FACEPE, FINEP e do FUNDECI/Banco do Nordeste (Leite et al., 2009). Ainda dentro desse cenário, o cultivo de cebolas roxas no Nordeste é pioneiro. Conforme levantamento junto aos produtores, essas cebolas são cultivadas desde o início do século passado (Ferraz, 2018). Diante desse fato, o IPA diversificou a sua linha de pesquisa passando também a desenvolver novas variedades de cebola roxa, resultando em 1983 a cultivar Roxa IPA-3, com recomendação de cultivo para os meses de agosto a dezembro. Em 1983 foi introduzida de Moçambique a cultivar Mutuali, que após vários ciclos de seleção massal foi adaptada às condições edafoclimáticas da região sendo lançada com a denominação de Mutuali IPA-8, recomendando o seu plantio para o ano todo (Menezes et. al., 1989). Em relação ao tomate, às pesquisas tiveram início a partir do ano de 1972, após o consenso de que a região era propícia ao seu cultivo por possuir boas condições edafoclimáticas (clima seco e água disponível). Diante dessa premissa, foi criado um convênio entre o IPA e a ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, com financiamento da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), da BRASCAN-NORDESTE (Brasil–Canadá–Nordeste), do BANCO DO BRASIL e das indústrias alimentícias PEIXE e CICA NORTE (Silva, 1993). Cerca de 500 acessos, trazidos de diversos lugares do Brasil e do mundo, foram introduzidos e avaliados na Estação Experimental de Belém de São Francisco (antiga Estação Experimental do Jatinã). O objetivo desse convênio era introduzir e estudar o cultivo do tomate na região durante duas épocas de cultivo (primeiro e segundo semestre). Diante disso, foi elaborado um programa de melhoramento genético de tomate resultando, no período de 1978 a 1983, no lançamento das primeiras cultivares de frutos pequenos e periformes.

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Essas pesquisas realizadas pelo IPA proporcionaram a instalação do maior parque industrial de processamento de tomate do país, com cinco agroindústrias e com capacidade de esmagamento em torno de 5.400 toneladas/dia, gerando cerca de 3.000 empregos diretos e 15.000 indiretos, no eixo Petrolina-PE/Juazeiro-BA. As cultivares IPA-5 e CALINE IPA-6, disponibilizadas nos anos de 1986 e 1987, respectivamente, foram as mais utilizadas pelos tomaticultores, permanecendo no mercado cerca de 15 anos. A partir de 1997 foram realizadas novas introduções de genótipos de vários países com o objetivo de se encontrar fontes de resistência, resultando em 2001 no lançamento da cultivar ‘Redenção’, com resistência dupla a geminivírus e vira-cabeça. Devido a problemas estruturais nos setores de produção, com redução de áreas plantadas, várias indústrias de processamento fecharam por falta da matéria prima, o que resultou na migração das indústrias para o Centro-Oeste. No que se refere à coleção de jerimum (Cucurbita moschata Duchesne ex Poir.), essa teve início na década de 80 a partir de coletas realizadas em mercados, feiras livres, áreas produtoras dos municípios de Belém do São Francisco, Floresta, São José do Belmonte, Mirandiba e Petrolândia (assentamento Icó Mandantes) que foram intercruzadas e selecionadas com base na preferência dos agricultores locais por determinado tipo de casca do fruto, palatabilidade, sanidade geral da planta, produtividade e cor de polpa. Atualmente é mantida na Estação Experimental de Belém do Francisco/PE apenas uma população de jerimuns resultantes do intercruzamento de seis populações. Os responsáveis pelo banco são os melhoristas Edinardo Ferraz (tomate), Jonas Araújo Candeia (cebola/jerimum) e a curadora Mina Karasawa. COLEÇÕES QUE COMPÕEM O BANCO Acredita-se que o centro primário de origem da cebola (Allium cepa L.) é a Ásia Central, compreendendo o Noroeste da Índia, todo o Afeganistão, a Repúblicas do Tajiquistão e Uzbequistão e a parte ocidental de Tian-Chan. Hoje, a cebola está sendo cultivada em regiões distintas, dentro de uma grande amplitude geográfica, estendendose do equador até regiões mais próximas aos círculos polares. No Nordeste brasileiro são cultivadas cebolas amarelas e roxas, algumas cultivares de origem americana, entretanto, a maioria dos materiais atualmente cultivados foi desenvolvida pelo Programa de Melhoramento Genético do Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA. Acredita-se que o cultivo da cebola amarela teve início no estado do Rio Grande do Sul, introduzida por imigrantes açorianos. Posteriormente, foi levada para outras regiões do país, chegando ao Nordeste brasileiro no final dos anos 40, trazida por agricultores, em caráter especulativo (WANDERLEY et al.,1975). Nessa região, a cultura se desenvolveu no Submédio do Vale do São Francisco, inicialmente nos municípios de Cabrobó e Belém do São Francisco e, posteriormente, expandindo-se para outros municípios dos Estados da Bahia e Pernambuco. A cebola roxa, por outro lado, vem sendo cultivada há bem mais tempo na região; acredita-se que a sua introdução no Brasil tenha se dado pela região Nordeste, trazida pelos povos africanos em séculos passados. Quanto ao tomate (Solanum lycopersicum L.), originário da Costa-Oeste da América do Sul, situa-se entre as hortaliças mais cultivadas nacionalmente, sendo produzida na maioria dos estados. Em referência ao jerimum, uma expressiva parte da produção tem sido realizada com o uso de variedades locais (tradicionais ou crioulas), cujas sementes são mantidas tradicionalmente por pequenos e médios agricultores nordestinos nos diversos estados da região, tendo sido indicada a existência de grande diversidade genética nesse germoplasma. Isso tem sido confirmado em estudos realizados com uma pequena amostra da variabilidade de jerimum de leite coletada em poucos municípios da região, que revelou uma grande variabilidade para diferentes características morfológicas de plantas e frutos nas diferentes espécies estudadas (FERREIRA et al, 2016). MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO Os acessos de cebola da coleção de trabalho são conservados ex situ na forma de sementes, acondicionadas em garrafas Pets de 2L, mantidas em câmara fria com temperatura de 10 °C no IPA/Sede, em Recife, e mantidas em duplicata em condições ambiente, in situ, na Estação Experimental de Belém do São Francisco. A cada ano uma amostra é retirada e submetida à análise laboratorial para determinação da percentagem de germinação, vigor, teor de água, bem como testes de qualidade fitossanitária, conforme BRASIL (2009 a e b). A cada dois anos são multiplicados em campo para manutenção da viabilidade genética, na Estação Experimental de Belém do São Francisco-PE. 32


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Quanto aos acessos de tomate, os mesmos são conservados ex situ (sementes) acondicionados em envelopes de papel, em condições ambiente, e renovados periodicamente a cada quatro anos. A renovação dos acessos se dá com base na taxa de germinação avaliada anualmente pelo Laboratório de Sementes (LAS-IPA) Com relação ao jerimum, tem-se mantido uma população resultante do intercruzamento de seis populações.

Atualmente o BAG de hortaliças do IPA mantém um banco com 176 acessos de tomate, 12 acessos de cebola/coleção de trabalho e uma população de jerimum. CARACTERIZAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO Parte da coleção de cebola foi caracterizada utilizando-se descritores morfológicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA para fins de testes de DHE (Distinguibilidade, Homogeneidade e Estabilidade) envolvendo as cultivares comerciais Texas Grano 502, Alfa São Francisco, Vale Ouro IPA-11, Brisa IPA-12 e as populações experimentais BV e VCE (KARASAWA et al., 2017). Os demais acessos serão caracterizados e avaliados utilizando-se os descritores do IPGRI-ECP/GR-AVRDC (2001). A documentação da coleção está em cadernetas de campo e registros informatizados. Até o momento foram lançadas as cultivares: Pera IPA-4; cultivar Chata IPA-5; Pera Norte IPA-7; Brisaverão IPA 13; cultivar Roxa IPA-3; Mutuali IPA-8 e Franciscana IPA-10. Até o presente momento foram caraterizados e avaliados 87 acessos de tomate com base nos descritores IPGRI (1996). O programa de melhoramento de tomate do IPA, até o presente, gerou doze cultivares, a saber: IPA-1, IPA-2 (1978), IPA-3 (1979), IPA-4 (1983), IPA-5, Caline IPA-6 (1986), OuroVivo (1991), Viradoro (1998), Redenção (2001), Caline IPA-7 (2005) e Ferraz IPA-8 (2015). A documentação da coleção está em cadernetas de campo e registros informatizados. As populações de jerimum, obtidas por meio do cruzamento intervarietal de meios-irmãos, foram caracterizadas com base em 11 descritores quantitativos de fruto (KARASAWA et al., 2018). Todos os experimentos foram conduzidos na Estação Experimental de Belém do São Francisco/PE. USO E POTENCIAL DE AÇÃO A coleção de cebola fornece variabilidade genética que vem sendo explorada no desenvolvimento de novas variedades com o objetivo de atender às demandas comerciais que surgem dentro de um processo dinâmico que o agronegócio da cebolicultura brasileira exige. É muito importante a busca por novas cultivares que atendam às demandas de um mercado cada vez mais exigente e globalizado, buscando a obtenção de genótipos com qualidade superior à dos genótipos existentes. Surge então a necessidade de ser disponibilizado aos melhoristas um reservatório de genes para que possam acessar quando precisarem resolver problemas específicos. A manutenção, avaliação e intercâmbio de bancos de germoplasma são metas para que o Estado de Pernambuco tenha na agricultura uma ferramenta importante para gerar empregos, aumentar as exportações, e aonde à biodiversidade venha a ser devidamente explorada. O programa de melhoramento genético convencional de tomate utiliza parte dos acessos com o objetivo de obter variedades resistentes às viroses (tospoviroses e geminiviroses), à murcha de fusário e aos nematoides das galhas. O jerimum (Cucurbita moschata) é basicamente cultivado por agricultores familiares de baixo nível tecnológico que selecionam suas próprias sementes para o próximo plantio e vendem sua produção para mercados locais (Resende et. al. 2013). PERSPECTIVAS FUTURAS/PARCERIAS Há uma parceria público-privada com a empresa Hortivale e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) utilizando a coleção para o desenvolvimento de híbridos de cebola roxa.

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BAG DE RAÍZES E TUBÉRCULOS HISTÓRICO DO BANCO O Banco Ativo de Raízes e Tubérculos do IPA foi constituído em épocas distintas. A coleção de mandioca e de macaxeira foi formada por introduções de acessos existentes no antigo Instituto de Pesquisa e Experimentação Agronômica do Nordeste (IPEANE), introduções oriundas da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical e prospecções realizadas a partir de 1976 em todo o Estado de Pernambuco. A coleção de batata-doce, por sua vez, teve sua origem a partir de introduções advindas da Universidade Federal Rural de Pernambuco, sendo reconstituída a partir de 2008 por acessos originados de coletas em diversos ambientes da região Nordeste e de materiais introduzidos da Embrapa Hortaliças. A coleção de inhame é constituída de acessos oriundos de coletas realizadas em áreas de produtores de Pernambuco e do vizinho Estado da Paraíba, formada de plantas do gênero Dioscorea e das espécies D. cayennensis L. e D. alata L. Ao longo das últimas décadas, o inhame passou a ser encarado como atividade econômica que propicia bons retornos. Além disso, desempenha importante papel social na economia do estado, garantindo o sustento da população que desenvolve atividades agrícolas na Zona da Mata do Estado, ao longo de vários meses do ano. COLEÇÕES QUE COMPÕEM O BANCO O Banco Ativo de Germoplasma de Raízes e Tubérculos do Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA é constituído de quatro coleções ativas de mandioca e de macaxeira (Manihot esculenta Crantz), batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.) e inhame (D. cayennensis L. e D. alata L), mantidas nas estações experimentais de Itapirema (macaxeira, batata-doce e inhame), Itambé (macaxeira) e Araripina (mandioca), localizadas em três distintos agroecossistemas (Zona do Litoral, Mata e Sertão do Araripe). Essas coleções apresentam uma ampla diversidade genética, sendo de suma importância para os programas de melhoramento por concentrar genes que conferem resistência para algumas das principais pragas e doenças que afetam essas culturas, além de outras características. MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO Os acessos das diversas coleções são conservados em campo (ex situ), multiplicados por via vegetativa ou túberassementes. A coleção de mandioca é formada por 312 acesso, dos quais 91% possuem características para a indústria e 9%, para alimentação animal. A coleção de macaxeira é composta por 62 acessos, multiplicados via manivas semente a cada ciclo de ambas as culturas. A coleção de batata-doce é formada por 59 acessos que são multiplicados por ramas semente, podendo ser efetuado também pela própria batata. Em referência à coleção de inhame, é constituída de nove acessos, multiplicados por túberas-semente a cada ciclo da cultura. Os acessos de batata-doce e inhame são renovados a cada ano, enquanto os de mandioca e macaxeira o são a cada dois anos. Todas as atividades de manejo são conduzidas manualmente, à exceção do preparo de solo. Adubação, replantios, capina e controle de pragas e doenças são realizados sempre que necessários. Apesar disso, a falta ou excesso de umidade do solo e alguns problemas fitossanitários têm ocasionado perdas importantes de genótipos que têm dificultado os trabalhos de caracterização, seleção e melhoramento genético. CARACTERIZAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO A caracterização morfológica consiste em fornecer uma identidade para cada acesso por meio do conhecimento de uma série de dados que permitam estudar a variabilidade genética de cada um deles. A caracterização e avaliação dos acessos são realizadas em parcelas com 24 plantas totais e oito plantas úteis. O espaçamento utilizado é de 1m x 0.60 m para as culturas da mandioca e da macaxeira. Cada acesso é caracterizado com respeito a descritores morfológicos (altura da planta, mono, bi, ou tri ramificada, cor da maniva, cor e forma de lóbulos foliares, pecíolos e ápice da planta). Na caracterização agronômica determinam-se o peso das raízes, maniva e parte área (terço superior da planta), percentagem de matéria seca e percentagem do teor de 34


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amido. A caracterização morfológica visa basicamente à diferenciação fenotípica entre acessos, contribuindo para a redução de duplicações. Os descritores agronômicos referem-se a caracteres com mais baixa herdabilidade, embora mais importantes sob o ponto de vista econômico. Ambas contribuem para identificar genótipos para uso direto pelos produtores e em programas de melhoramento. Com relação à cultura da batata-doce, a caracterização morfológica é realizada com o material em pleno desenvolvimento vegetativo. As características de folhas e pecíolos são obtidas da parte central das ramas (folhas maduras), utilizando-se três folhas por planta e quatro plantas por leirão. Os dados referentes às raízes são obtidos de material colhido de seis plantas por leirão. São avaliados: peso médio, produção de batatas comerciais e número de batatas por planta. Na cultura do inhame são determinados os pesos de túberas comerciais de primeira, segunda e refugo. USO E POTENCIALDE INOVAÇÃO A produção de inhame no Nordeste, por sua vez, representa uma atividade agrícola promissora, com potencial de expansão, devido às características edafoclimáticas favoráveis para seu cultivo, suas características nutricionais e ao consumo demandado pelo mercado interno, que atualmente absorve a maior parte de sua produção. Outro fator positivo é a comercialização desse tubérculo para o mercado externo, que representa uma importante opção de mercado em função dos preços ofertados. A mandioca é rica em carboidratos, fonte de energia para o homem, responsável pela subsistência de grande parte da população de baixa renda, rural e urbana. Entre os usos mais comuns estão: na alimentação humana (a exemplo da farinha, dos beijus, bolachinhas de goma e pães de queijo) e na alimentação animal, em forma de raspa, feno e silagem. Até mesmo as folhas, o caule e a manipueira (líquido tóxico originado da prensagem das raízes), podem ser aproveitados. A manipueira pode ser usada, por exemplo, na confecção de tijolos e tintas e como nematicida, inseticida e adubo orgânico. As grandes empresas do setor alimentício têm a fécula de mandioca como uma de suas principais matérias-primas como as indústrias de biscoitos, frigorífica, de massas, panificação, doces, conservas, sopas, entre outras. A fécula in natura ganhou destaque nos últimos anos em função da difusão da tecnologia de adição à farinha de trigo panificável. PERSPECTIVAS FUTURAS / PARCERIAS O Banco de Germoplasma de Raízes e Tubérculos do IPA vem contribuindo na geração de informações no âmbito do melhoramento de plantas, fitotecnia e na realização de trabalhos acadêmicos, gerando trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses e artigos científicos.

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RG NEWS V – Entrevistados da vez Simone Perecmanis A Importância dos Recursos Genéticos Microbianos para Pesquisa e Extensão Entrevista realizada por Maíra Halfen Teixeira Liberal (PESAGRO-RIO/CEPGM)

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Fluminense - UFF (1991), mestrado em Microbiologia Veterinária (MV) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ (1999) e doutorado em Patologia Molecular pela Universidade de Brasília – UnB (2005). Experiência profissional em gestão de laboratórios de microbiologia, ensino de microbiologia veterinária e saúde clinica de suínos. Coordena o grupo de pesquisa em MV (dgp.cnpq.br/dgp/ espelhogrupo/ 7863642527229566) desde 2011. Atualmente é professora associada da UnB e professora orientadora dos programas de residência médica veterinária (programa de doenças infecciosas e parasitárias), do programa de pós graduação em saúde animal, orientando na área de doenças infecciosas dos animais, diagnóstico microbiológico e molecular de agentes patogênicos e sanidade suinícola. Coordena o Lab.MV/FAV/UnB desde 2002, foi coordenadora de graduação do curso de MV (2008-2010), vice diretora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária - FAV (2010-2014) e diretora da FAV-UnB, desde 2014, em segundo mandato.

Cumprimentando-a pelo segundo mandato na direção da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB, conte-nos um pouco sobre a história da FAV. A FAV/UnB foi criada através da Resolução Nº 012/97, de 14 de outubro de 1997, do Conselho Universitário da Universidade de Brasília, em substituição ao Departamento de Engenharia Agronômica criado em 1966 e pertencente à Faculdade de Tecnologia (FT). Sua história inicia-se com o anseio do antigo Departamento de Engenharia Agronômica, o EAG, da criação da Faculdade de Agronomia ou da Faculdade de Ciências Agrárias. Com a criação do curso de Medicina Veterinária em 1996, a permanência do EAG na FT tornou-se insustentável devido à natureza do novo curso, e o próprio conselho departamental da FT sugeriu ao EAG a confecção de um novo projeto de faculdade nos moldes supracitados, e ocorrendo finalmente a aprovação no COSUNI/UnB da nova faculdade com o nome atual. Qual é a importância e a contribuição dos cursos de graduação da FAV na UnB e no Distrito Federal? Conforme descrito na web página da UnB, o curso de Agronomia contribuiu em demasia com o desenvolvimento agronômico, econômico e social do DF e entorno, haja vista que muitos agrônomos da EMATER e EMBRAPA se graduaram pela UnB. Também contribuiu e permanece contribuindo através do movimento estudantil da UNB, centrado no EAG. Tanto na Câmara Distrital como na Câmara Federal já passaram muitos ex-alunos do curso de Agronomia. Já o curso de Medicina Veterinária, desde sua criação em 1996, vem incrementando a produção pecuária e a saúde de animais de companhia e animais silvestres no DF e entorno, com a atuação de seus docentes junto ao Hospital Veterinário da UnB, com os laboratórios de diagnóstico da FAV e pela atuação de muitos dos nossos ex-alunos pertencentes ao quadro efetivo da EMATER, SEAGRI e MAPA. Aliado ao desenvolvimento econômico proporcionado pela atuação de seus docentes e ex-alunos, estudos em sanidade animal e em zoonoses vem sendo realizados na FAV pelos docentes e estudantes do curso de medicina veterinária com o intuito de conhecer patógenos e doenças comuns no Cerrado.

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E o curso de Gestão do Agronegócio Noturno, inaugurado em 2010, tem como proposta de atuação para seus discentes, o entendimento da gestão de cadeias produtivas, a elaboração de projetos agrícolas, a implantação, operação e melhoria de sistemas das cadeias produtivas agrícolas e agroindustriais, os sistemas integrados de bens e serviços agrícolas, envolvendo recursos humanos, recursos financeiros e materiais, tecnologia, informação e insumos agrícolas. Aliado a isso, compõe a proposta do curso a ênfase na gestão pública de interesse nos negócios e sistemas agroindustriais, considerando a sua importância no âmbito global e em destaque o Distrito Federal. Tais elementos abrem uma excelente perspectiva para a atuação de profissionais na área de Gestão de Agronegócios, lhes permitindo atuar crítica e criativamente na identificação e resolução de problemas do setor. Ressalta-se a interdisciplinaridade da temática em formação, quando voltada para o conhecimento de aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e humanistas, relacionados às atividades do agronegócio local, nacional e global, em atendimento às demandas da sociedade, como é o caso dos recursos genéticos. Como está organizada a infraestrutura física e operacional da FAV? A sede da FAV está localizada em parte do ICC Sul e Centro, onde dispõe de área administrativa, salas de professores e alguns laboratórios. Possui um hospital veterinário dividido em dois setores: o Hospital de Pequenos Animais e seus laboratórios de apoio, localizados no campus Darcy Ribeiro e o Hospital de Grandes Animais na Granja do Torto. Conta ainda com área de apoio na Estação Experimental de Biologia, e com Fazenda Água Limpa (FAL). Tem sob a sua responsabilidade o Biotério Central da Universidade de Brasília. Em síntese, a faculdade encontra-se fisicamente dispersa no campus e noutras dependências da UnB. A FAV, diferentemente de outras unidades da UnB, a FAV está estruturada em oito Áreas Acadêmicas, que concentram os docentes por linha de atuação nas disciplinas e em suas linhas de pesquisa, e estas áreas se apresentam assim discriminadas: Agricultura; Anatomofisiopatologia e Reprodução; Ciências Sociais Aplicadas e Agronegócio; Clínica e Cirurgia Veterinária; Engenharia Agrícola; Medicina Veterinária Preventiva; Solos e Zootecnia. A FAV oferece regularmente três cursos de graduação (Agronomia, Medicina Veterinária e Gestão em Agronegócio) e cinco de pósgraduação (Agronomia, Agronegócio, Ciências Animais, Saúde Animal e Residência Médica Veterinária), o tema recursos genéticos permeia tais cursos. Possui atualmente 93 professores e 73 técnico-administrativos do quadro permanente. Como docente, a qual Programa de Pós-Graduação da FAV estás vinculada? E qual a importância e os objetivos dessa Pós-Graduação para a Região Centro Oeste? O Lab. de Microbiologia Médica Veterinária vincula-se à Pós-Graduação em Saúde Animal, que tem como objetivo qualificar Médicos Veterinários e profissionais de áreas afins para a geração e gestão de conhecimentos na área de Saúde Animal, visando ao desenvolvimento social e econômico e à proteção da saúde e bem-estar do homem e dos animais. Fato justificado diante da necessidade de qualificação profissional em áreas estratégicas, garantindo a caracterização cada vez mais acentuada da necessária qualificação exigida pelo mercado de trabalho do profissional na área da Medicina Veterinária. Tal exigência vem revelando um mercado altamente competitivo, e que tem como anseio a busca pelo atendimento das exigências crescentes do consumidor final, seja no mercado interno ou externo. Neste contexto, atualizado e altamente competitivo, o programa de Pós-Graduação em Saúde Animal visa qualificar profissionais para atuarem no campo da Saúde Animal, área estratégica para o desenvolvimento socioeconômico regional, e ainda do País. O programa de Pós-Graduação em Saúde Animal disponibiliza os cursos de Mestrado e Doutorado, com duas áreas de concentração, “Medicina Preventiva” e “Patologia Veterinária”, que agregaram as seguintes linhas de pesquisa: - Epidemiologia, prevenção, e controle de doenças dos animais e gestão dos riscos para a saúde pública; - Patologia Veterinária; - Pesquisa e desenvolvimento de técnicas cirúrgicas, protocolos anestésicos e terapias inovadoras; - Métodos de diagnóstico e tratamento de afecções dos animais domésticos e silvestres. Mais informações sobre a estrutura e funcionamento da FAV podem ser obtidas na nossa página da UnB, disponível em: http://www.fav.unb.br/institucional-da-fav Quais as competências do Laboratório de Microbiologia Médica Veterinária da UnB? O Laboratório de Microbiologia Médica Veterinária realiza análises bacteriológicas, micológicas e moleculares para alguns vírus e bactérias e genes de enterotoxinas de Escherichia coli em atendimento ao Hospital Veterinário da UnB e clínicas privadas além de outros hospitais da região. O laboratório é composto de três setores, ilustrados na Figura1: Setor 38


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de Bacteriologia e Micologia (Foto A); Setor de preparo de Meios, Soluções e Virologia (Foto B); e Setor de Lavagem e Esterilização (Foto C). Tem como linhas de pesquisa principais: Estudo genotípico das colibaciloses suínas e bovinas do Distrito Federal; Estudo das Principais Herpesviroses de Ruminantes, Suínos e Pequenos Animais; Isolamento e Identificação de Salmonella sp. em fezes de suínos; e o Estudo de Agentes Causadores de Mastite Bovina e Ovina. O Laboratório apresenta-se como campo de treinamento para os estudantes de graduação, pós-graduação e residência em doenças infecciosas e conta ainda com o auxílio de três técnicos em laboratório.

Foto A

Foto B

Foto C Figura 1. Setor de Bacteriologia e Micologia (foto superior à esquerda - A); Setor de preparo de Meios, Soluções e Virologia (foto superior à direita - B); Setor de Lavagem e Esterilização (foto inferior - C) Fonte: http://www.fav.unb.br/laboratorios/laboratorio-de-microbiologia-medica-veterinaria

Quais são as ações de pesquisa e diagnóstico que envolvem Recursos Genéticos Microbianos? Desde 2002, o Laboratório de Microbiologia Médica Veterinária vem armazenando cepas de microrganismos patogênicos, isolados de diversas amostras biológicas encaminhadas pelo Hospital Veterinário da UnB, bem como de outras instituições públicas e privadas do DF. As cepas isoladas e armazenadas são testadas para identificação da presença de genes de resistência aos antimicrobianos de interesse clínico. Esses isolados diferentes, constituem um Banco de Germoplasma de Microorganismos próprio do Laboratório, sendo que as cepas de microrganismos encontram-se mantidas refrigeradas a 20ºC e/ou a -80ºC. Estão armazenadas amostras de E. coli patogênicas, portadoras de genes de enterotoxinas e de resistência aos antimicrobianos, isoladas principalmente de fezes de cães, suínos, aves, felinos e bovinos. Também dispomos de amostras de Staphylococcus aureus possuidoras de genes de enterotoxinas e de resistência a múltiplos antibióticos, e, ainda, de cepas de Staphylococus coagulase negativos, isoladas de mastite bovina, de queijos e da pele de diversos animais.

De que forma um laboratório de apoio ao diagnóstico hospitalar universitário atua na promoção da pesquisa? O Laboratório vem utilizando essas amostras em estudos epidemiológicos e moleculares para o acompanhamento da disseminação desses microorganismos, divulgando os resultados em dissertações de mestrado e teses de doutorado. Além do grande número de isolados Staphylococcus aureus e Staphylococcus spp., ao longo dos anos a coleção passou a ser 39


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composta por uma grande variedade de bastonetes Gram positivos e Gram negativos. Como trabalhamos com diversas amostras biológicas, temos na coleção um numero razoável de Enterobacterias, principalmente de origem fecal e urinária, entre outras infecções. Dentre os isolados desta família, os mais preciosos que possuímos são cepas de Salmonella spp. e de E. coli. Vale ressaltar, também, que fomos a primeira equipe a identificar casos de dermatofiloses no DF, por isolamento e exame direto.

O Laboratório se dedica, também, ao estudo de vírus e de fungos de importância em Medicina Veterinária? Sim, o nosso laboratório trabalha também com o isolamento e caracterização de fungos patogênicos e entre os vírus estudados podemos citar os herpesvirus e vírus da hepatite E. Inclusive estamos desenvolvendo um projeto para “Avaliação de genes de Herpesvírus Bovino tipo 5 no controle da apoptose”, e outro que visa à “Detecção de Herpesvírus Bovino tipo 5 e tipo 1 no DF e Entorno”. Além disso, contamos, também com uma “soroteca” de soros de suínos, utilizados para o diagnóstico de brucelose e do vírus da Hepatite E nessa espécie. Quais são os Projetos de Pesquisa em andamento que se destacam atualmente? As pesquisas em andamento atualmente são: "Detecção de genes de resistencia à antimicrobianos em cepas de E. coli e Salmonella spp. isolados em fezes suínas"; "Genotipagem de cepas de Staphylococcus aureus isolados de mastites clínicas e subclínicas no Distrito Federal e entorno; "Detecção de genes de enterotoxinas, caracterização bioquímica, sorológica e perfil de resistência antimicrobiana de Escherichia coli isoladas de casos de diarréias em suínos de diferentes faixas etárias em granjas suinícolas do Distrito Federal e entorno”. Em relação aos Projetos de Extensão desenvolvidos pelo Laboratório, atualize-nos sobre os principais temas abordados e os principais resultados obtidos.

O Projeto de “Preservação e Exploração Econômica de Suínos de Raças Naturalizadas na Agricultura Familiar” foi pensado em conjunto com a EMATER - DF e a EMBRAPA, de forma a reintroduzir, em pequenas propriedade de produção familiar, a criação de suínos localmente adaptados, capazes de produzir banha e carne, como forma de complementação na produção e na melhoria da segurança alimentar dessas famílias. O laboratório colaborou com o controle sanitário dos rebanhos e na educação em saúde dos produtores. O projeto foi bem sucedido e atualmente são atendidos produtores que mantém esses rebanhos, ou remanescentes dos mesmos. Neste projeto foram realizados estudos nos suínos para a presença dos genes Halotano e Nápole, com interesse em preservação e melhoramento em genética suína. O Projeto “Atendimento a Chacareiros Criadores de Suínos no Distrito Federal” foi criado com a intenção de auxiliar produtores e chacareiros, bem como a EMATER - DF, a identificar e diagnosticar doenças em suínos da região do DF e entorno, e proporcionar direcionamento nas medidas de controle. A detecção de parasitos, doenças infecciosas e doenças metabólicas em suínos passou a ser realizada com maior frequência desde a criação do projeto, em parceria com o Laboratório de Patologia Animal. Esse projeto serve como base para o ensino de saúde e clínica de suínos na UnB, pois as práticas da disciplina são executadas, em sua maioria, nas chácaras visitadas. O Projeto “Editoração de Mídia Ilustrada em Microbiologia Veterinária” tem como objetivo final a criação de um Blog/Instagram com descrição de técnicas laboratoriais; imagens obtidas dos cultivos realizados no Laboratório; e imagens de lâminas coradas com Gram. O projeto servirá para a divulgação da Microbiologia Veterinária para estudantes em todos os níveis do ensino, principalmente o médio e o superior. As imagens divulgadas poderão ser utilizadas desde que citada a autoria. Dessa forma, acreditamos contribuir para a divulgação da ciência e da qualificação do ensino. E quanto à infraestrutura operacional do Laboratório, tem sido possível a aquisição de novos equipamentos para o desenvolvimento de atividades de apoio à pesquisa e ao diagnóstico? Desde sua criação, tem sido prioridade concorrer aos diversos editais, como o Edital Pro-Equipamentos da CAPES/2011, coordenado por mim. A proposta de fortalecer o programa de pós-graduação em Saúde Animal possibilitou a colaboração e o compartilhamento de diferentes equipamentos multiusuários. Nos diversos editais em que fomos contemplados, priorizamos equipamentos para técnicas moleculares, acompanhando assim a evolução dos diagnósticos mais sofisticados. Como são divulgados para os clientes e/ou criadores, médicos veterinários, autoridades e demais público interessado os resultados encontrados pela Equipe Técnica?

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Todas as informações obtidas vem sendo amplamente divulgadas aos clínicos médicos veterinários do serviço privado e aos que trabalham nos serviços de extensão e na Secretaria de Agricultura, para fins de elaboração de medidas de controle e de erradicação de doenças da produção, infecções clinicas em animais de companhia e a correta utilização de antimicrobianos. Qual foi o objetivo e a motivação para a criação de um Banco de Germoplasma de Microorganismos Patogênicos em um laboratório de diagnóstico microbiológico de uma universidade? Acreditamos que a manutenção de microorganismos patogênicos vivos em bancos de germoplasma é importante para estudos de genotipagem, filogenia e também como instrumento de recursos para estudos genéticos e epidemiológicos. Cada vez mais estamos utilizando os estudos específicos sobre genes de virulência e de resistência para propor manejo seguro e politicas sanitárias e de saúde em rebanhos. Em nosso laboratório, a linha de pesquisa "Isolamento, caracterização bioquímica e genotípica de agentes causadores de mastite bovina e caprina na Região Centro Oeste," nos fez obter cepas de S. aureus causadores de mastite bovina que estão sendo genotipicamente classificadas desde 2011, por diferentes técnicas moleculares. Não só perfis de resistência tem sido descritos, mas o perfil toxigênico e a identificação de cepas que permanecem ano após ano sem alterações gênicas na população bovina, causando mastite e disseminando essa enfermidade. Nestes casos, a utilização das técnicas moleculares como a reação de polimerização em cadeia, a técnica Pulsed Field, RFLP e o sequenciamento, estão sendo utlizadas. Como ocorre a divulgação dos dados obtidos pelo laboratório para a comunidade médica veterinária e produtores do DF? Além do laboratório efetivar as notificações sobre as doenças presentes no DF, realizamos principalmente palestras de divulgação. Já se tornou tradicional, nas semanas de extensão da UnB, o nosso “Workshop em Sanidade Suinícola do DF e Entorno”. Nesses eventos temos a congregação de técnicos e estudantes na área. Em sua opinião quais os desafios para a manutenção do Banco de Germoplasma de Microrganismos de um laboratório universitário? Acredito que o maior desafio seja o financiamento. Nas universidades, temos hoje uma situação de pouco investimento em recursos financeiros e humanos, que são essenciais para a manutenção dos bancos. Recursos financeiros para a compra de novos equipamentos e de insumos para laboratório estão cada vez mais restritos. Temos poucos editais de pesquisa dedicados a bancos de germoplasmas ou de coleções no geral. Atualmente, trabalhamos com o investimento da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária e do Hospital Veterinário para subsidiar o laboratório e o banco. Quais são as perspectivas para as atividades de Pesquisa e Extensão do Laboratório de Microbiologia Médica Veterinária para o ano de 2021? Estaremos investindo prioritariamente na discussão de resistência aos antimicrobianos e estudos moleculares neste campo. Percebemos que cada vez mais se torna uma realidade a presença de cepas bacterianas multi resistentes em hospitais, clinicas e consultórios veterinários, na produção agropecuária, e na industria de alimentos. Teremos 5 projetos de iniciação cientifica realizando as experimentações no laboratório, além da atuação dos residentes em doenças infecciosas com dedicação ao diagnóstico e realização de antibiogramas. Pretendemos participar ativamente do futuro comitê da FAV para acompanhamento da resistência aos antimicrobianos e presença de resíduos antibióticos em alimentos. Estaremos no laboratório, disponíveis para atender todas as demandas possíveis da comunidade cientifica e da sociedade civil. Finalizando nossa entrevista, e ressaltando a importância da Medicina Veterinária no exercício da Saúde Única, informe-nos que medidas foram tomadas pela FAV para orientar os estudantes, os clientes, e o público em geral, sobre os cuidades a serem tomados devido à pandemia de COVID-19 que estamos vivenciando? No início de abril de 2020, foram emitidas duas Notas Técnicas pela FAV, com orientações técnicas sobre a prevenção de transmissão da COVID-19, sendo a Nota Técnica nº 001/2020/FAV direcionada para os Consultórios, Clínicas e Hospitais Veterinários do Distrito Federal; e a Nota Técnica nº 002/2020/FAV direcionada para Pet Shop e Lojas Agropecuárias do Distrito Federal e Entorno. Estou adicionando o endereço eletrônico das Notas Técnicas em referência, para consulta dos leitores que tiverem interesse. • Nota técnica nº 001/2020/FAV - Brasília, 03 de abril de 2020. ORIENTAÇÕES PARA A PREVENÇÃO DE TRANSMISSÃO DO CORONAVIRUS - COVID-19 – EM CONSULTÓRIOS, CLÍNICAS E HOSPITAIS 41


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VETERINÁRIOS DO DISTRITO FEDERAL. Orienta as atividades realizadas no âmbito do atendimento veterinário, no Distrito Federal, durante a pandemia de COVID – 19. O documento pode ser acessado em: http://www.fav.unb.br/images/Nota_Tecnica_001_2020.pdf. • Nota técnica nº 002/2020/FAV - Brasília, 8 de abril de 2020. ORIENTAÇÕES PARA A PREVENÇÃO DE TRANSMISSÃO DO CORONAVÍRUS - COVID-19 - EM PET SHOP E LOJAS AGROPECUÁRIAS DO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO. Introduz sobre a doença causada pelo novo coronavírus, COVID-19 e Orienta as atividades realizadas no âmbito do atendimento ao público e prestação de serviços veterinários, podendo ou não haver atendimento Médico Veterinário no local, durante a pandemia de COVID-19. O documento pode ser acessado em: http://www.fav.unb.br/images/Orientacoes-COVID--19-Petshop-e-Agropecuarias.pdf. Em nome da RG News agradecemos vossa preciosa colaboração com a área de recursos genéticos do Brasil, e a presteza e simpatia no atendimento desta entrevista.

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RG NEWS III - Artigos de Opinião Como apoiar os Bancos Ativos de Germoplasma, as Coleções Científicas e seus Curadores? Renato Ferraz de Arruda Veigaa

a Eng. Agrônomo e Doutor em Ciências Biológicas Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG) Rua Dona Libânia, 2017 – Centro 13015-090, Campinas (SP) Brasil. renatofav53@gmail.com.

Quando solicitei a minha aposentadoria, em 2014, pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), tinha a certeza que ficaria fora de atividade, pois, lembrava do meu saudoso amigo Dr. Eloys Jacskmolley Giacomelli (Seção de Fruticultura), que se dizia magoado quando se aposentou do IAC, e me contou o porquê: - “Foi como se eu tivesse morrido, já que após a aposentadoria nunca mais me procuraram para ministrar palestras ou efetivar orientações sobre a cultura do abacaxi!” No entanto, no meu caso, o tempo passou e ainda estou aqui envolvido com nossos recursos genéticos, portanto, quero me aproveitar desta situação para apoiar os Bancos Ativos de Germoplasma (BAG), as Coleções Científicas (CC) e seus Curadores. Talvez, até mesmo por estar aposentado, sinto que muitos assuntos que considerava relevantes tenham perdido sua ênfase nos dias de hoje. Em todo caso retomarei aqui alguns tópicos que suponho serem vitais para quem ainda atua com recursos genéticos! Entendo que, enquanto membro ativo da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos (SBRG), da Rede de Recursos Genéticos do Sudeste (RRGS), e da Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB), eu tenha a obrigação de trazer minha opinião sobre assuntos inerentes à Gestão Nacional de Recursos Genéticos, em especial no tocante a projetos. Não gostaria que determinados projetos do passado, cujas datas exatas não as possuo mais na memória, ficassem de fora de uma pauta de discussão, assim considero obrigação de minha parte, retomar a discussão da necessidade de cinco temas vislumbrados em um passado recente. Se estiverem vigentes, então ótimo, neste caso me perdoem e desconsiderem: 1) Projeto da Rede Nacional de Recursos Fitogenéticos Tal foi elaborado para ser apresentado à Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), elaborado pela incansável Dra. Patrícia Bustamante, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen). Infelizmente não se viabilizou, e não interessa aqui citar os motivos do acontecido. Na minha humilde opinião deveria ser resgatado, pelo menos em parte, e acrescido em um projeto nacional, envolvendo a SBRG, as RRRG (pensando em Conservação ex situ), e até mesmo a RBJB (pensando em Preservação in situ), incluindo também as áreas animal e microrganismo, a fim de se efetivar novamente a busca de recursos mundiais; 2) Projeto de Rede de Dados de Recursos Fitogenéticos Este foi iniciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), também em parceria com a FAO, para plantas cultivadas e suas espécies parentes, que envolveria a participação em programas de informática já existentes do Cenargen (Programa Alelo). Tenho dúvidas se já não foi viabilizado para a comunidade em geral que atua com recursos genéticos no Brasil! No entanto, se ainda não o foi oficialmente para plantas, animais e microrganismos, seria o caso de se buscar parcerias com os Ministérios da Agricultura e Pecuária para germoplasma agrícola e com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) para o germoplasma nativo;

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3) Projeto do Sistema Nacional de Curadorias de Coleções (SNCC) Este nunca conseguimos viabilizar, e não me eximo da culpa em não o ter implementado! Aqui apenas sugiro que não abandonem a discussão de sua recriação, o qual pode ajudar muito no trabalho da Diretoria da SBRG responsável pelas Redes e Curadorias, além de todas curadorias e curadores, é claro! 4) Projeto de Integração da SBRG com outras Sociedades Científicas e Redes Nacionais Aqui considero que a SBRG deveria coordenar uma reunião, com a presença dos dirigentes das demais redes e sociedades científicas, para discussão de ações possíveis em parcerias, em especial: RBJB, Sociedades Botânica do Brasil (SBB), Sociedade Brasileira de Genética (SBG), Associação Brasileira de Bioinformática e Biologia Computacional (AB3C), Associação Brasileira de Ecologia e Conservação (ABECO), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Redes Regionais de Recursos Genéticos (RRRG), entre outras, talvez num futuro Congresso Nacional de Recursos Genéticos; 5) Projeto Nacional de Recursos Genéticos Minha visão deste projeto, considero que poderia ser a nível de programa nacional, é de que deveria ser uma ação integrada, envolvendo os quatro projetos anteriores, onde os BAG e seus Curadores dos Institutos de Pesquisa Estaduais, Universidades, Empresas de Pesquisa e Extensão Agrícolas, e Guardiões da Biodiversidade, contariam com parcerias da SBRG, RRRG, MMA, MAPA, Conselho Nacional de Entidades Estaduais de Pesquisa Agropecuária (CONSEPA) - para facilitar a transferência de recursos para os BAG de instituições estaduais -, e em especial a EMBRAPA (que tem recursos próprios para seus BAG, mas que pode também apoiar os demais com sua expertise e com o seus Banco Base e Portal Alelo Recursos Genéticos) [Figura 1.].

Figura 1. Proposta de um Programa Nacional, envolvendo o MAPA e o MMA, EMBRAPA, Sociedade Brasileira e Redes Regionais, e um Sistema Nacional de Recursos Genéticos.

Fica aqui registrada a minha opinião sobre a necessidade de integração Nacional na Gestão de Recursos Genéticos, mas com apoio internacional, incluindo-se neste projeto uma ou mais instituições de fomento como: WBG (World Bank Group), NNSFC (National Natural Science Foundation of China), entre outros, e não descartando um envolvimento de instituições internacionais como BGCI (Botanical Garden Conservation International), o CI (Conservation International), o NC (Nature Conservancy), FAO (Food and Agriculture Organization), e o CGIAR (Consultative Group for International Agricultural Research), entre outros. 44


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Não há uma ordem cronológica nas sugestões apresentadas que considere mais relevante, qualquer ação seria muito benvinda, mas imagino que se todas fizessem parte de um “Programa Nacional de Recursos Genéticos”, como citei no último item, isto seria mais viável para o País. Sei muito bem que o assunto já foi debatido em Simpósios e Congressos anteriores, e que tal como apresento aqui não é nenhuma novidade e nem tão pouco a solução completa, mas sinto que algo mais pode e tem que ser feito! Também, reconheço louváveis ações independentes, em especial da própria SBRG, do MAPA, e da Embrapa (que já possui ações semelhantes para os BAG da sua instituição), mas mesmo com todo o avanço que tivemos nos últimos anos, infelizmente ainda é muito pouco para sentir reflexos positivos nestas atividades, para todas instituições que atuam na área e num País de dimensões gigantescas. Penso que temos que fazer algo de concreto já, para fortalecer e defender nossos recursos genéticos, ou ficaremos assistindo o desaparecimento rotineiro de inúmeros e relevantes bancos de germoplasma e coleções científicas, e até mesmo a extinção completa de instituições (como é rotineiro no Brasil com os Jardins Botânicos, por exemplo) afetas às desastrosas interferências políticas, a cada dia que passa, no Brasil.

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RG NEWS Saúde Única e Recursos Genéticos Microbianos no enfrentamento às Enfermidades Zoonóticas Maíra Halfen Teixeira Liberala a

Médica Veterinária – UFRRJ; MSc e PhD em Microbiologia University of Surrey, UK ; Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro / PESAGRORIO. Centro Estadual de Pesquisa em Sanidade Animal Geraldo Manhães Carneiro – CEPGM. Alameda São Boaventura 770, Fonseca - Niterói RJ. CEP: 24120-191. maira.pesagro@gmail.com

Em tempos de pandemia causada pelo Novo Coronavírus, o SARS-CoV-2, agente causador da COVID-19, se torna fundamental e imprescindível fazermos uma reflexão sobre a implantação efetiva das ações em Saúde Única (One Health) pelos governantes e, em especial, pelos profissionais de saúde, bem como sobre a importância da preservação, da caracterização e da utilização dos Recursos Genéticos Microbianos para a Medicina Humana e para a Medicina Veterinária. Por se tratar de um novo vírus circulante, a atuação dos pesquisadores e demais profissionais que desenvolvem pesquisas e inovações está no centro das atenções mundiais, devido à sua importância médica, social e econômica. A possibilidade de se analisar e comparar o material genético dessa nova cepa de Coronavírus circulante em vários continentes, com aquelas cepas já isoladas e caracterizadas em surtos epidêmicos anteriores, que se encontram preservadas nas Coleções de Microrganismos dos Centros de Pesquisa dos diversos países, é o que faz com que os pesquisadores possam detectar as variações genéticas e possíveis mutações ocorridas e, assim, desenvolver imunobiológicos e protocolos específicos para o seu controle, o seu tratamento e para a profilaxia ideal para cada agente identificado. A ocorrência de surtos de enfermidades zoonóticas e infectocontagiosas em diversos países pode ser considerada como uma emergência sanitária mundial, e o conhecimento de sua epidemiologia é fundamental para que se possa dar início às ações de enfrentamento para conter a sua disseminação e a propagação descontrolada, que podem resultar num alto índice de mortalidade e de morbidades na população humana de todos os continentes. “Saúde Única”: Conceito e Histórico O conceito de Saúde Única foi proposto em 2008 por organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A Saúde Única representa uma visão integrada, que considera a indissociabilidade entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental. Naquela ocasião, foi lançada a iniciativa intitulada “Um Mundo, Uma Saúde”. Assim, o termo One Health, traduzido como “Saúde Única”, reconhece que existe um vínculo muito estreito entre o ambiente, as doenças em animais e a saúde humana. Segundo historiadores, no século 19 o médico patologista alemão Rudolf Virchow (1821-1902) já afirmava que “não havia divisórias entre animais e medicina humana; e que nem deveria haver”. Ele foi o responsável por cunhar o termo “zoonose”. Em 1984, com o lançamento da obra Veterinary Medicine and Human Health, o médico veterinário norteamericano Calvin W. Schwabe (1927-2006) discutiu e reforçou a importância da junção entre saúde humana, animal e ambiente. No livro, ele adota a expressão One Medicine e passa a defender esse conceito, que pouco mais tarde passaria a ser mais conhecido como One Health (MEDICINA VETERINÁRIA MILITAR, 2013).

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Vários trabalhos e livros didáticos foram publicados sobre doenças zoonóticas e a relação de colaboração entre setores que tratam de saúde animal e os de saúde humana, e, ainda, levantamentos epidemiológicos sobre doenças zoonóticas emergentes. Podemos citar o Zoonotic diseases: a guide to establishing collaboration between animal and human health sectors at the country level, publicado em 2008 (WHO, 2008); e o Sustaining Global Surveillance and Response to Emerging Zoonotic Diseases, de 2009 (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2009). Muitas doenças podem ser melhor prevenidas e combatidas por meio da atuação integrada entre a Medicina Veterinária, a Medicina Humana e outros profissionais de saúde. Essa interdisciplinaridade da Medicina Veterinária tem sido reforçada no Brasil desde 2011, quando os médicos veterinários passaram a fazer parte do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), atuando ao lado de outros profissionais que trabalham pela qualidade da atenção básica à Saúde nos municípios brasileiros (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2015). As interações entre humanos e animais ocorrem em diversos ambientes e de diferentes maneiras. Essas interações podem ser responsáveis pela transmissão de agentes infecciosos entre animais e seres humanos, levando à ocorrência de zoonoses. Segundo a OIE, cerca de 60% das doenças humanas têm em seu ciclo a participação de animais, portanto, são zoonóticas, assim como 75% das doenças emergentes e reemergentes (KARESH et al., 2012; MWANGI et al., 2016). O conceito “Saúde Única” define políticas, legislação, pesquisa e implementação de programas, em que múltiplos setores se comunicam e trabalham em conjunto nas ações para a diminuição de riscos e manutenção da Saúde. Essa integração pode contribuir para a eficácia das ações em Saúde Pública, com redução dos riscos para a saúde global (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2016). Conforme relatado e discutido por GIBBS (2014), os programas sanitários nas áreas humana e animal, aplicados ao controle das doenças transmissíveis, ocupam posição de destaque e demandam ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, visando à implantação de políticas públicas nas áreas rurais e à adesão dos produtores para a definição das prioridades assentadas na análise das relações custo/benefício. A Medicina Veterinária, pela inserção transversal no contexto da segurança alimentar, integridade dos ecossistemas, ocupação humana, biodiversidade e vínculo humano/animal tem discutido o tema One Health mundialmente, reforçando a necessidade de colaboração entre profissionais de diferentes áreas (antropólogos, economistas, físicos, epidemiologistas, engenheiros, biólogos, ambientalistas, médicos, sociólogos dentre muitos outros) para a construção de políticas de combate a grandes crises mundiais associadas a doenças zoonóticas emergentes, segurança alimentar e mudanças de ecossistemas que podem levar à pandemias ou mortalidade (humana ou animal). Segundo Vasconcellos (2014), novos paradigmas passaram a vigorar e todos, de alguma forma, estão correlacionados ao conceito de sustentabilidade (utilização dos recursos disponíveis sem prejudicar a disponibilidade de tais recursos para as gerações futuras): globalização, manejo ambiental integrado, bem-estar animal, posse responsável, ecologia com preservação da fauna, da flora e da biodiversidade, agricultura e pecuária orgânicas, controle da presença de resíduos no ambiente e nos alimentos, ações destinadas a controlar as mudanças climáticas, agricultura e pecuária sustentável com reciclagem e reaproveitamento de dejetos e subprodutos, biossegurança, bioética e zooterapia. Além disso, conforme observado por Nguyen-Viet et al. (2017), o uso massivo de antimicrobianos para o tratamento de infecções (no homem e nos animais) e o aumento concomitante da resistência antimicrobiana, é reconhecido como um problema global emergente, que afeta a saúde humana e animal e impõe encargos sociais, econômicos e prejuízos ambientais, estes últimos ainda pouco ou não mensurados. No Brasil, o serviço veterinário (público e privado) desempenha um papel fundamental na gestão de riscos que impactam na segurança alimentar, na sanidade e bem-estar animal, ocupação humana e saúde pública através de programas nacionais estruturados primariamente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelo Ministério da Saúde (MS) (MENIN, 2018). O exercício da Saúde Única está direta e indiretamente relacionado às atividades de caracterização, de preservação e de multiplicação de Recursos Genéticos Microbianos, uma vez que a manutenção de Bancos de Germoplasma de Microrganismos e de Coleções de Culturas Microbianas são fundamentais para o desenvolvimento de projetos de pesquisa, de desenvolvimento e de inovação, não só para a Medicina Humana, como para a Medicina Veterinária, e para a preservação do Meio Ambiente (VALADARES-INGLIS & LOPES, 2019). 47


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Para a implantação e a execução das ações compreendidas no conceito de Saúde Única, é fundamental ressaltar a importância da preservação dos Recursos Genéticos Microbianos, e a sua interface com a agropecuária (atividades agrícolas, pecuárias, florestais e agroindustriais), e com o meio ambiente. As demandas dos diferentes sistemas produtivos a serem implantados devem respeitar as necessidades de conservação dos recursos naturais e da preservação ambiental; assim como as atividades no campo devem sempre buscar a sustentabilidade na agricultura e na pecuária, para a produção de alimentos saudáveis, em benefício da sociedade e do agronegócio brasileiro (OLIVEIRA & JAIME, 2016). Para melhor entendimento da dinâmica de como as enfermidades infectocontagiosas e zoonóticas podem se manifestar numa determinada população, apresentamos a seguir os principais termos utilizados em Saúde Pública, já de domínio público: ▪ Epidemiologia: segundo a Associação Internacional de Epidemiologia (IEA), em seu Guia de Métodos de Ensino (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1973), é definida como sendo “o estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas”. Enquanto a clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo, analisando caso a caso, a epidemiologia debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas, às vezes grupos pequenos, mas na maioria das vezes envolvendo populações numerosas. ▪ Surto: acontece quando há o aumento repentino do número de casos de uma doença em uma região específica. Para ser considerado surto, o aumento de casos deve ser maior do que o esperado pelas autoridades. Em algumas cidades a dengue é tratada como surto (e não como epidemia), pois acontece em regiões específicas (um bairro, por exemplo). ▪ Epidemia: é a ocorrência de casos de doença ou outros eventos de saúde com uma incidência maior que a esperada para uma área geográfica e em períodos determinados. O número de casos que indicam a presença de uma epidemia varia conforme o agente, o tamanho e o tipo de população exposta, sua experiência prévia ou ausência de exposição à doença, e o lugar e tempo de ocorrência. ▪ Pandemia: Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a disseminação mundial de uma nova doença. O termo é utilizado quando uma epidemia - grande surto que afeta uma região - se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa. ▪ Endemia: a endemia não está relacionada a uma questão quantitativa. Uma doença é classificada como endêmica (típica) de uma região quando acontece com muita frequência no local. As doenças endêmicas podem ser sazonais. A febre amarela, por exemplo, é considerada uma doença endêmica da região Norte do Brasil. ▪ Zoonoses: A definição clássica de zoonoses é a de “doenças que são transmitidas de animais para humanos, ou de humanos para os animais”. A OMS define zoonoses como “Doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos”. Um dos conceitos da Saúde Única é baseado no fato de que os seres humanos coexistem em uma relação complexa e interdependente com os animais de companhia, os animais de produção e os animais selvagens, dos quais dependemos para a obtenção da nossa comida, dos meios de subsistência e do nosso bem-estar, bem como do próprio meio ambiente, no qual vivemos e trabalhamos, lado a lado. A interface entre os humanos, os animais e o meio ambiente que compartilhamos também pode ser fonte de doenças que impactam a saúde pública e o bem-estar social e econômico da população mundial. Conforme citado anteriormente, tais doenças, as zoonoses, são transmissíveis de animais para humanos através do contato direto ou através dos alimentos, da água e do próprio meio ambiente. As zoonoses podem ser bacterianas, virais ou parasitárias, ou podem estar relacionadas a agentes não convencionais. Além de serem um problema de saúde pública, muitas das grandes doenças zoonóticas impedem a produção eficiente de alimentos de origem animal e criam obstáculos ao comércio internacional de produtos de origem animal (WHO, 2020) A transmissão de zoonoses pode ocorrer de forma direta, principalmente através do contato com secreções (saliva, sangue, urina, fezes) ou contato físico como arranhaduras ou mordeduras. De forma indireta, pode acontecer por meio de vetores como mosquitos e pulgas, por contato indireto com secreções, pelo consumo de alimento contaminado com o agente causal (viral, bacteriano, fúngico ou parasitário), entre outras.

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O modo de transmissão das zoonoses e os ciclos de manutenção do agente etiológico estão demonstrados no Quadro 1 e no Quadro 2 (UFPEL, 2018). Quadro 1. Classificação das zoonoses quanto ao modo de transmissão. Classificação

Definição

Exemplo

Antropozoonoses

Doença primária de animais e que pode ser transmitida aos humanos.

Raiva; Leishmaniose.

Zooanthroponoses

Doença primária de humanos e que pode acometer os animais.

Tuberculose em animais pelo Mycobacterium tuberculosis, bacilo do tipo humano.

Amphixenosis

Doença que circula entre o Homem e os animais.

Estafilococose.

Fonte: UFPEL (2018) Quadro 2. Classificação das zoonoses segundo os ciclos de manutenção do agente etiológico. Classificação

Definição

Exemplo

Zoonoses diretas

O agente pode persistir com passagens sucessivas por uma única espécie de animal vertebrado.

Raiva

Complexo Equinococose-Hidatidose; e Cisticercose; e Hidatidose

Ciclozoonoses

O agente necessita obrigatoriamente passar por duas espécies distintas de animais vertebrados para que o seu ciclo se complete.

Metazoonoses

O agente necessita passar por hospedeiro invertebrado para que o seu ciclo se complete.

Febre Maculosa; Febre Amarela; Encefalite Equina Americana; Doença de Chagas, Leishmanioses.

Saprozoonose

O agente necessita passar por transformações que ocorrem no ambiente externo em ausência de parasitismo.

Toxoplasmose; Toxocaríase (Larva migrans visceral - Toxocara canis); Coccidioidomicose.

Euzoonoses: São as doenças em que o ciclo biológico completo do agente etiológico necessita obrigatoriamente da passagem por seres humanos e animais, exemplo Complexo Teníase-Cisticercose.

Parazoonoses: São as doenças em que o ciclo biológico pode se completar com dois animais vertebrados, porém, que eventualmente podem atingir seres humanos, exemplo Complexo Equinococose-Hidatidose.

Fonte: UFPEL (2018)

Algumas zoonoses, dependendo de vários fatores ambientais, sociais e econômicos, bem como da natureza do agente causal, podem desencadear epidemias e pandemias em várias partes do mundo, como vem sendo noticiadas há vários séculos. Algumas, inclusive, podem ressurgir de tempos em tempos, quando não existir vacinas ou remédios eficazes para o seu controle e/ou cura. 49


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Resumo das principais Epidemias e Pandemias registradas na literatura Apresentamos, a seguir, um resumo das principais Epidemias e Pandemias registradas na literatura, tendo por base inicial uma matéria publicada em março de 2020, pelo Portal de Notícias TN SUL, que apresenta um excelente resumo intitulado “As grandes epidemias ao longo da história”, relatando que a humanidade já sofreu com diversas epidemias, propagadas por vírus, bactérias, ou outros microrganismos. Cita que populações foram verdadeiramente dizimadas em tempos em que a medicina ainda não era avançada como nos dias de hoje, e que os estragos foram tão expressivos como grandes guerras, terremotos ou tsunamis (PORTAL TNSUL, 2020). Relata que “o mundo já enfrentou diversas epidemias globais, com números catastróficos”, e apresenta um resumo de cada uma delas, o que transcrevemos com a referência do Portal Tnsul (2020). Ressaltamos que no texto apresentado fizemos a inclusão de outras enfermidades que consideramos relevantes, e atualizamos algumas informações para complementar o conteúdo com citações e referências encontradas em levantamento que fizemos na literatura. Peste Bubônica A Peste Bubônica, também conhecida como Peste Negra, é considerada a maior epidemia da história da humanidade. O primeiro e maior surto de Peste Bubônica ocorreu entre 1348 e 1350, mas outros surtos aconteceram ao longo de todo o século XIV. Acredita-se que ao fim da Idade Média, o número de mortos por conta da doença tenha variado entre 75 e 200 milhões de pessoas. Ela teve sua origem no continente asiático, precisamente na China. Sua chegada à Europa está relacionada às caravanas de comércio que vinham da Ásia através do Mar Mediterrâneo e aportavam nas cidades costeiras europeias, como Veneza e Gênova. A propagação da doença, que é uma zoonose, inicialmente deu-se por meio de ratos e, principalmente, por pulgas infectadas com o bacilo, que acabava sendo transmitido às pessoas quando essas eram picadas pelas pulgas – em cujo sistema digestivo a bactéria da peste multiplicava-se. Num estágio mais avançado, a doença começou a se propagar por via aérea, por meio de espirros e gotículas. Estima-se que um terço da população do continente europeu tenha morrido por conta da doença. Parte da Ásia e o norte da África também foram regiões bastante atingidas. No século 19 houve outro surto na China e na Índia que matou mais de 12 milhões de pessoas (PORTAL TNSUL, 2020). A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida ao ser humano através das pulgas dos ratos e outros roedores. Como ainda não havia um desenvolvimento satisfatório da ciência médica naquela época, não se sabia as causas da peste e tampouco os meios de tratá-la ou de sanear as cidades e vilas. A peste foi denominada “negra” por conta das afecções na pele da pessoa acometida por ela, isto é, a doença provocava grandes manchas negras na pele, seguidas de inchaços em regiões de grande concentração de gânglios do sistema linfático, como a virilha e as axilas. Esses inchaços também eram conhecidos como “bubões”, por isso a Peste Negra também é conhecida como “Peste Bubônica”. A morte pela peste era dolorosa e terrível, além de rápida, pois variava de dois a cinco dias após a infecção. O último grande surto em Londres ocorreu em 1665, dizimando cerca de um quinto da população da cidade. A peste foi uma doença que esteve presente na vida dos europeus até 1720, quando o último surto foi registrado em Marselha, na França. A Peste Bubônica gerou vários impactos e consequências religiosas, sociais e econômicas, afetando drasticamente o curso da história europeia. Ela foi sendo combatida na medida em que a higiene e o saneamento das cidades foram melhorando, o que causou uma diminuição na população de ratos urbanos (FERNANDES, 2020). No mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há de mil a 2 mil casos anuais de Peste Bubônica. Desde o século passado, a doença foi detectada em 38 países, incluindo o Brasil, com epidemias registradas no Peru, em Madagascar (a mais recente, entre o fim de 2017 e o início de 2018, com 2.575 casos e 221 óbitos) e na República Democrática do Congo, onde foram registrados 10 casos até 16 de junho de 2020, com quatro mortes (OLIVETO, 2020). A OMS chegou a classificá-la como uma infecção reemergentes em 2018, depois de registrar 3.248 casos no mundo entre 2010 e 2015, com 584 óbitos. A entidade alertava, contudo, que o número poderia ser maior, pois há uma tendência de subnotificação, e animais que carregam a Y.pestis existem em todos os continentes, com exceção da Oceania.

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No Brasil, o último registro em seres humanos é de 2005. Porém, como a infecção persiste nos roedores silvestres, a peste deve ser considerada um “perigo em potencial”, segundo o Ministério da Saúde (PINHEIRO, 2019). No início de julho de 2020, a imprensa internacional informou que autoridades na China aumentaram medidas de segurança sanitária depois que uma cidade na Mongólia Interior (região autônoma da China) confirmou dois casos de Peste Bubônica. Uma autoridade da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Ulan Bator, capital da Mongólia, disse à BBC que a carne crua de marmota e os rins do animal, que podem estar naturalmente infectados, e são usados tradicionalmente como remédio popular no país, poderiam ser a causa (BBC, 2020). Assim como nos casos de 2019 da Mongólia Interior, os dois confirmados na Mongólia, em 2020, são de indivíduos que vivem em locais onde há grande circulação de roedores, os hospedeiros naturais das pulgas infectadas com a Y. pestis. No estudo publicado na revista Biossegurança e Saúde, os pesquisadores destacam que 15 cepas da bactéria foram detectadas em 10 esquilos-da-mongólia e em cinco tipos de pulgas em Sunitezuo Banner, região das duas vítimas da doença (OLIVETO, 2020). Em 14 de julho de 2020, foi noticiado pela ABC News que autoridades de saúde pública dos Estados Unidos reportaram o caso de um esquilo ter testado positivo para Peste Bubônica em Morrison, no Colorado. Foi a primeira vez que a doença é registrada em um animal daquela região (ABC NEWS, 2020). O tratamento da peste deve ser feito com antibióticos. Ele deve ser instituído precoce e intensivamente. Não se deve, em hipótese alguma, aguardar os resultados de exames laboratoriais, devido à gravidade e rapidez da instalação do quadro clínico que a peste provoca. O ideal é que se institua a terapêutica específica nas primeiras 15 horas após o início dos sintomas, para evitar complicações e morte (BRASIL, 2020a). Tuberculose Existem evidências de que a tuberculose existe desde os tempos pré-históricos. A doença já foi encontrada em esqueletos de múmias do antigo Egito (3000 A.C) e, mais recentemente, numa múmia pré-colombiana no Peru. A doença disseminou-se na Europa, com a urbanização crescente, e no século XVIII tornou-se conhecida como a Peste Branca. Durante a revolução industrial, a mortalidade era muito alta. Nos últimos anos do século XVIII, a tuberculose era considerada uma "doença romântica", idealizada nas obras literárias e artísticas e identificada como uma doença de poetas e intelectuais. Nessa mesma época, no ano de 1882, Robert Koch anunciou a descoberta do agente causador da tuberculose, o bacilo de Koch, cientificamente denominado Mycobacterium tuberculosis. Esta descoberta foi um marco fundamental para o conhecimento da doença e impulsionou várias tentativas de controle e tratamento da enfermidade. Em seu auge, entre os anos de 1850 e 1950, o número de mortes por conta da tuberculose pode ter chegado a até um bilhão de pessoas. Em fins do século XIX, a doença passou a ser qualificada como um "mal social" e passou a ser relacionada às condições precárias de vida. O tratamento envolvia o isolamento dos pacientes, viabilizando-se por meio dos sanatórios e preventórios (PORTAL TNSUL, 2020). Já no século XX, a década de 30 foi marcada por avanços científicos que questionaram o "fator clima" na cura da tuberculose, e a hereditariedade na etiologia da doença. A descoberta da medicação específica, a partir da década de 1940, promoveu uma queda acentuada dos índices de mortalidade da doença. A comprovação da eficácia desses medicamentos na cura da tuberculose, descobertos ao longo das décadas de 1950 e 1960, fez com que o tratamento se tornasse primordialmente ambulatorial, tornando desnecessária, em sua maioria, a internação do paciente. Como consequência, nas décadas seguintes os sanatórios foram paulatinamente sendo desativados. (FUNASA, 2002a; CVE, 2020). A vacina BCG (Bacilo de Calmette e Guérin) foi criada em 1921 por Léon Calmette e Alphonse Guérin. Protege contra as formas graves da tuberculose, doença contagiosa, provocada por bactéria que atinge principalmente os pulmões e que, se não tratada, pode provocar sérios problemas respiratórios, emagrecimento, fraqueza e até levar à morte. A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa pelo ar, por meio de tosse, espirro ou fala. Os principais sintomas são febre ao final do dia, tosse crônica com expulsão de sangue, escarro, febre, suores noturnos, fraqueza, cansaço e perda de peso. Até os dias atuais a vacina é o único tipo de imunização contra a doença e deve ser tomada em dose única, preferencialmente nas primeiras 12 horas após o nascimento, no entanto, crianças de até quatro anos ainda podem ser vacinadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). 51


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Conforme publicado por Duarte et al. (2019), a tuberculose é uma doença altamente infectocontagiosa de notificação compulsória e investigação obrigatória, onde o principal agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, bactéria pertencente ao complexo M. tuberculosis, que abrange diferentes espécies, transmitida aos humanos pela ingestão de alimentos de origem animal contaminados ou pelo próprio animal, caracterizando-se, assim, como uma zoonose. A enfermidade afeta não só humanos e bovinos, mas também animais silvestres, incluindo aves, e animais domésticos, os quais agem na disseminação da doença e atuam como reservatório da mesma, apresentando grande risco a saúde pública por oferecerem perigo aos humanos. Atualmente, mais de 95% das mortes por tuberculose ocorrerem em países em vias de desenvolvimento, principalmente Índia, China, Indonésia, Paquistão e Filipinas. Em 2016, 1,3 milhões de infectados morreram no mundo (PORTAL TNSUL, 2020). A emergência e a propagação da “Síndrome da lmunodeficiência Adquirida” (AIDS), o empobrecimento da população, a urbanização caótica e a ausência de controle social vêm dificultando o controle da doença. Ela existe desde a Antiguidade e permanece ativa até os dias de hoje, sendo altamente contagiosa. (CVE, 2020). Tifo Alguns historiadores acreditam que foi o Tifo a doença misteriosa que atingiu Atenas no século de Péricles (430 a.C), um evento associado ao declínio daquela grande cidade-estado, durante a Guerra do Peloponeso, citada por Tucídides, um historiador grego. Porém, existem estudos atuais que trabalham com a hipótese de que a Peste de Atenas possa ter sido por Varíola, Sarampo, Tifo exantemático ou Febre Tifoide. Em 2006, um cientista grego, chamado Manolis Papagrigorakis, publicou um trabalho afirmando ser Febre Tifoide a doença misteriosa de Atenas (PAPAGRIGORAKIS et al., 2006). No entanto, sua análise foi criticada por outros profissionais porque não seguia algumas técnicas e normas necessárias. O Tifo foi uma das epidemias mais importantes, e atingiu Napoleão Bonaparte e a sua Grande Armée, na campanha de invasão da Rússia, em 1812. Durante a retirada das suas tropas após a destruição de Moscovo pelos russos, as tropas de Napoleão foram reduzidas de 600.000 a 40.000, mais devido ao Tifo e ao frio do que às tropas inimigas. Em 1909, Charles Nicolle identificou o piolho como vetor da doença. Em 1928 ele ganhou o Prêmio Nobel pela sua descoberta. Foi Henrique da Rocha Lima, em 1916, quem identificou a bactéria Rickettsia prowazekii como responsável pela doença. O nome homenageia H. T. Ricketts e Stanislaus von Prowazek, dois zoólogos que perderam as suas vidas vítimas da doença ao investigá-la, em 1915, numa prisão. Mais de três milhões de pessoas morreram entre 1918 e 1922 devido a um surto de Tifo. A doença tem uma origem similar à Peste Bubônica, sendo caracterizada como uma zoonose, transmitida por piolhos do corpo humano, o Pediculus humanus, e raramente pelo piolho dos cabelos (PORTAL TNSUL, 2020). O ambiente pós Primeira Guerra Mundial deixou a Europa como sendo um lugar extremamente propício para a propagação de doenças. Muita miséria, falta de saneamento básico e de higiene acabaram por espalhar ratos por todo o continente. E o Tifo foi uma importante causa de epidemias antes da Segunda Guerra Mundial. Atingia particularmente os exércitos em campanha e as populações prisionais. Atualmente, o termo tifo também pode designar uma série de doenças infecciosas agudas, causadas por rickettsias, caracterizadas por dores de cabeça, calafrio, febre, dor no corpo e nas articulações, manchas vermelhas e toxemia (substâncias tóxicas no sangue), que duram cerca de duas ou três semanas. Vale ressaltar que o Tifo não tem nenhuma relação com a Febre Tifoide, que é causada pela Salmonella enterica sorotipo Typhi. Epidemias de Tifo quase sempre estão relacionadas a fatores de ordem social, como falta de higiene e pobreza extrema, razão pela qual são comuns em períodos de guerra e escassez de água, em campos de refugiados, prisões, campos de concentração e em navios. Hoje em dia os casos são raros, sendo mais presentes no Sudeste Asiático. O tratamento é feito com antibióticos, sendo a primeira escolha as tetraciclinas. Existem também vacinas, porém não são muito eficazes. Como é uma enfermidade fácil de prevenir e erradicar, a vacinação só é usada na população mais vulnerável durante surtos endêmicos (RAMOS, 2020).

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Varíola É considerada uma das primeiras doenças conhecidas pela humanidade, e uma das mais sérias de todas as doenças infecciosas, matando de 25% a 30% das pessoas infectadas que não foram imunizadas. Estudos indicam sua presença em humanos há cerca de 12 mil anos. Nomes famosos como o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França foram vítimas da temida “bexiga”. No século VII, a expansão dos povos árabes espalhou o vírus pela África, Portugal e Espanha. Relatos afirmam que no século XV as primeiras grandes navegações trouxeram a infecção para as Américas. A Varíola é uma doença viral, exclusiva de humanos. É causada por um vírus DNA, do gênero Orthopoxvirus, da subfamília Chordopoxvirinae, e família Poxviridae (smallpox). A enfermidade era transmitida de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias ou por itens contaminados, com sintomas parecidos aos da gripe, com acréscimo de dores musculares, vômitos violentos e pústulas (bolhas) na pele. Ficou ainda mais perigosa com a urbanização: no século 18, matou 400 mil europeus. De 1896 a 1980, cerca de 300 a 500 milhões de pessoas morreram no mundo todo graças à varíola. A doença atormentou a humanidade por aproximadamente três mil anos, sendo erradicada nos anos 80 após uma campanha de vacinação em massa (PORTAL TNSUL, 2020). No Brasil, o primeiro registro dessa doença remonta a 1563, quando um surto epidêmico surgiu na ilha de Itaparica, alcançando Salvador. A varíola tinha mortalidade muito alta entre os indígenas, afetando-os tanto aqui no Brasil quanto em outros locais do continente americano. Em 1796 o naturalista e médico britânico Edward Jenner foi o criador da vacina, deixando um grande legado para a história da humanidade. Nos anos 1960 a União Soviética criou um projeto contra a varíola, e a ideia teve apoio dos Estados Unidos. Desde seu último caso registrado, em 26 de outubro de 1977, em Somália, na África, a doença encontra-se erradicada no mundo. Em 1980, após a interrupção de sua circulação viral, a Organização Mundial de Saúde - OMS -, declarou que o mundo estava livre de uma vez por todas dessa enfermidade. A vacinação foi interrompida, exceto em trabalhadores de laboratórios que manipulavam o agente em pesquisas (FUNASA, 2002a). Oficialmente, apenas dois laboratórios conservam estoques do vírus: um nos Estados Unidos da América e outro na Rússia. Entretanto, após o atentado de 11 de setembro de 2001, cogitou-se a possibilidade de que outros estoques estejam conservados em locais desconhecidos. Pelo exposto, a existência de cepas de Orthopoxvírus variolae estocadas, com a preservação do seu material genético, apresenta-se como uma potencial ameaça contra todos os países, principalmente pela possibilidade de seu uso em atos terroristas (FUNASA, 2002a). Vale ressaltar, ainda, a enfermidade denominada “Varíola Bovina”, causada pelo vírus DNA Vaccinia (cowpoxvirus), gênero Orthopoxvirus, da subfamília Chordopoxvirinae, e família Poxviridae. É uma doença infectocontagiosa, de etiologia viral, caracterizada por lesões cutâneas em vacas lactentes, bezerros e no Homem. Destacase sua importância como diferencial de doenças confundíveis com febre aftosa e por ser uma zoonose, pois acomete bovinos, felinos e, eventualmente, o Homem. Os roedores silvestres são incriminados como reservatórios do vírus (OKUDA, 2009). Gripe Espanhola A pandemia de Gripe Espanhola foi uma das mais letais da história humana. A estimativa foi que cerca de 500 milhões de pessoas tenham sido infectadas pelo Vírus Influenza A tipo H1N1, o causador da doença, que teria sofrido uma mutação aleatória. É um vírus RNA, que pertence à Família Orthomyxoviridae, Gênero Influenzavirus, Espécie Influenza, e possui três tipos: A, B e C. Em artigo publicado por Silveira (2005), intitulado “A medicina e a influenza espanhola de 1918”, ela apresenta um resumo sobre a pandemia de gripe espanhola que suscitou uma ampla discussão em meio à comunidade cientifica internacional a respeito da sua natureza e do seu agente causal. Segundo a autora: “Através deste artigo, buscamos apresentar algumas das controvérsias que marcaram os debates médicos em torno desta manifestação da influenza,

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abordando as teorias pré-bacterianas e a noção bacteriana da doença, destacando a proposição de Pfeiffer e a suposição da ação de agentes invisíveis, então chamados vírus filtráveis”. No artigo em referência, existem duas citações interessantes, a saber: - “A origem do termo influenza é atribuída aos italianos e seria um reflexo das doutrinas prevalentes no início da época moderna, que ligavam os distúrbios físicos aos fenômenos astrológicos” -; e em outra citação: - “Quando a astronomia tomou a dianteira (...) e as pessoas começaram a imaginar que todas as coisas terrestres eram governadas pelos céus, alguns médicos italianos propuseram que essa desordem provinha da influência das estrelas, e então deram a ela o nome de influenza” - (SILVEIRA, 2005). Segundo a literatura, estima-se que, entre janeiro de 1918 e dezembro de 1920, a Gripe Espanhola tenha causado a morte de cerca de 50 milhões de pessoas. Algumas estimativas mais alarmistas apontam que esse número possa ter chegado até o total de 100 milhões de mortos. Acredita-se que 1/3 da população mundial tenha sido afetada. Há indícios de que o vírus, cujo reservatório eram aves migratórias, teria infectado uma criação de porcos no Kansas, e contaminado um soldado, que foi servir o exército no Fort Riley, nos Estados Unidos. Assim, a teoria mais aceita pelos estudiosos do assunto é de que a gripe espanhola, caracterizada como uma zoonose, teria surgido em campos de treinamento militar nos USA. Isso porque os primeiros casos da doença também foram registrados lá. Esses casos aconteceram em trabalhadores de uma fábrica em Detroit e em soldados instalados em um campo militar no estado do Kansas. A doença teria se disseminado pela Europa logo depois que soldados norte-americanos foram enviados para a frente de guerra naquele continente. Assim, o contato de soldados contaminados com pessoas nos mais variados locais permitiu o alastramento da doença pelo continente europeu, principalmente nas frentes de guerra. Nos casos mais graves, os pacientes apresentavam sérios problemas respiratórios, muita dificuldade para respirar e, até mesmo, problemas digestivos e cardiovasculares. Foram registradas também pessoas que se recuperaram da doença, mas contraíram-na novamente, com sintomas agravados. Os médicos procuravam tratar os pacientes da forma que fosse possível, mas o conhecimento médico na época ainda era muito limitado (PORTAL TNSUL, 2020). Os médicos e cientistas do período não sabiam o que causava a doença, pois os microscópios não tinham capacidade de enxergar o vírus causador da Gripe Espanhola. Os microscópios conseguiam observar apenas bactérias, microrganismos maiores que um vírus No Brasil, a enfermidade foi a responsável pela morte do presidente da época, Rodrigo Alves (1848-1919), vencedor da eleição presidencial em 1918. Doente, ele não pôde tomar posse em novembro de 1918 e acabou falecendo em janeiro de 1919. Estima-se que, ao todo, a Gripe Espanhola tenha causado a morte de 35 mil pessoas no Brasil (SILVA, 2020a). Fala-se que a Gripe Espanhola chegou ao Brasil por meio do Demerara, um navio que saiu da Inglaterra, passou por Lisboa e atracou em Recife, Salvador e Rio de Janeiro. O navio chegou ao Brasil em setembro de 1918, e naquele mês a imprensa de Salvador, por exemplo, reportou centenas de pessoas doentes. Logo a doença se espalhou pelo país, pois não havia medicamentos que a combatessem. A difusão foi rápida e afetou, sobretudo, as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Apesar de essas terem sido as duas cidades mais afetadas, todo o país foi atingido, inclusive regiões remotas, como a Amazônia. A Gripe Espanhola recebeu esse nome porque a imprensa da Espanha, que ficou fora da Primeira Guerra Mundial, passou a noticiar que civis estavam adoecendo e morrendo em números alarmantes. Todos os exércitos que se concentravam na Europa foram atingidos. Calcula-se que 80% dos soldados americanos em combate morreram devido à essa doença (SILVA, 2020a). Sarampo A epidemia de Sarampo que matou grande proporção da população do Império Romano, então totalmente sem imunidade quanto ao vírus, segundo historiadores, pode ter surgido na Europa nos séculos II e III d.C. Mais tarde, faria o mesmo na América, tendo sido um dos principais fatores para o declínio daquela civilização. A primeira descrição reconhecível do sarampo é atribuída ao médico e filósofo persa Muhammad ibn Zakariya arRazi ou Rhazes (860-932). Em 1757, Francis Home, um médico escocês, demonstrou que o sarampo era causado por um agente infeccioso presente no sangue dos pacientes. Em 1912, os Estados Unidos tornaram a doença nacionalmente notificável, exigindo que os provedores e laboratórios de saúde relatassem todos os casos diagnosticados. 54


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Em 1954, John F. Enders e o Dr. Thomas C. Peebles conseguiram isolar o Vírus do Sarampo (classificado como um vírus RNA, da Família Paramyxoviridae, e gênero Morbillivirus), e em 1963 transformaram a cepa Edmonston-B do vírus do sarampo em uma vacina e a licenciaram nos Estados Unidos. Em 1968, uma vacina contra o sarampo mais segura e efetiva, desenvolvida por Maurice Hilleman e colegas, começou a ser distribuída, chamada de cepa Edmonston-Enders (antiga “Moraten”). A vacina contra o sarampo geralmente é combinada com o vírus da caxumba e o da rubéola (tríplice viral) ou combinada com o da caxumba, o da rubéola e o da varicela (tetraviral) (MICHELIN, 2020). Presente em todos os continentes do mundo, o sarampo infecta de 20 milhões a 30 milhões de pessoas e mata cerca de 1 milhão anualmente. Ainda que estabelecida nas populações humanas há dezenas de milhares de anos, acredita-se que o vírus tenha se originado na Peste Bovina e chegado ao Homem, como uma zoonose, pela criação de gado. Para as populações de chimpanzés e gorilas o sarampo é fatal, e impõe riscos à preservação dos primatas. Para visitar esses animais em alguns passeios eco turísticos em certos países, é preciso que o visitante comprove que a sua carteira de vacinação está em dia. O sarampo é uma doença de alta transmissibilidade. Um doente é capaz de transmitir para outras 12 a 18 pessoas. Outra característica do sarampo é o período longo de transmissibilidade do vírus: seis dias antes do exantema a quatro dias depois do seu aparecimento. O sarampo estava controlado nas Américas e o Brasil recebeu o certificado de erradicação em 2016 e perdemos no final de 2018, pelo avanço dos surtos que estão ocorrendo até os dias atuais. O sarampo é uma doença potencialmente grave que cursa com febre, coriza, conjuntivite e manchas vermelhas pelo corpo, que tem início na região retroauricular e dissemina-se para rosto, tronco e membros: chamada de distribuição craniocaudal. As clássicas lesões de Koplik, que são lesões de 2 a 3mm de diâmetro, discretamente elevadas, de cor branca com base eritematosa, localizadas na região interna da mucosa oral, na altura do segundo molar superior, estão presentes em alguns casos, antes do exantema, e desaparecem em 48 horas (MEDEIROS, 2020). Seguindo recomendação da OPAS de 24 de abril de 2020, os países devem fortalecer a vacinação contra influenza sazonal e sarampo para prevenir doenças respiratórias e surtos de doenças imunopreveníveis durante a pandemia de COVID-19. Três países das Américas – Argentina, Brasil e México – estão atualmente combatendo surtos de sarampo e lidando com casos de COVID-19. A OPAS recomendou que os prestadores de atenção primária de saúde se vacinassem contra o sarampo enquanto tomavam medidas para proteger as comunidades e os profissionais de saúde da COVID-19 (OPAS, 2020). Ebola O primeiro caso de contaminação pelo Ebolavirus aconteceu em 1976, na República Democrática do Congo. Depois, ocorreram outros três grandes surtos, em 1995, em 2007, e mais recentemente, em 2014. Ao todo, mais de 12 mil pessoas perderam a vida, a maioria na África Ocidental. O Vírus Ebola é um RNA vírus, membro da família Filoviridae, do gênero Ebolavirus; e ordem Mononegavirales. Existem cinco espécies de vírus classificadas como Ebola, sendo que quatro espécies são patogênicas, e causam a Doença por Vírus Ebola (DVE): ébola-Zaire, ébola-Sudão, ébola-Bundibugyo e o ébola-Costa do Marfim. A quinta espécie, a Reston, não aparenta provocar doença em seres humanos. O vírus tem uma taxa de mortalidade de até 90%, e outros mamíferos também são contaminados. O vírus é adquirido através do contato com o sangue ou outros fluidos corporais de alguém infetado, seja ser humano ou animal. Além do custo humano, o surto corroeu severamente as economias dos países afetados. Um relatório do Financial Times, em 2014, sugeriu que o impacto econômico do surto poderia matar mais pessoas do que o próprio vírus (PORTAL TNSUL, 2020). Na última epidemia do vírus que ocorreu de 2013 a 2016, estima-se que quase 29 mil pessoas foram infectadas, das quais mais de 11 mil faleceram na África, especialmente na Libéria, Serra Leoa e Guiné. Com uma taxa de fatalidade de 50%, acredita-se os prováveis reservatórios naturais do vírus Ebola tenham sido os “morcegos de frutas”, ou seja, os morcegos frugívoros. A infecção também acomete gorilas, chimpanzés, macacos, antílopes, porcos, porcos-espinhos, roedores e outros mamíferos e, através do contato com sangue, secreção, órgãos e outros fluidos corporais desses animais, os seres humanos 55


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também contraíram a doença. A Ebola é considerada uma doença grave, classificada como uma zoonose, e causa sintomas como febre alta, dores no corpo, vômito e sangramento. Não existe tratamento e cura para ela, e é uma doença com alto índice de mortalidade. Os médicos também falam de graves sequelas que ela deixa naqueles que se recuperam. Entre essas sequelas estão: dores nas articulações e até problemas de visão e audição (SILVA, 2020b). Em 2015, uma vacina experimental chamada “rVSV-ZEBOV”, manufaturada pela Merck, Sharpe & Dohme, foi testada num grupo 11.841 pessoas em Guiné (HENAO-RESTREPO et al., 2016; WHO, 2016; GEISBERT, 2017). A testagem foi acompanhada pela OMS, juntamente com o Ministério da Saúde da Guiné, os Médicos sem Fronteiras, e o Instituto Norueguês de Saúde Pública, em colaboração com outros parceiros internacionais. Os resultados apresentaram uma alta proteção contra a doença. A vacina rVSV-ZEBOV-GP foi aplicada com a estratégia conhecida como “vacinação de anel", onde todas as pessoas que entraram em contato com um caso confirmado de Ebola, receberam a vacina. Em 2018 um novo surto ocorreu e uma segunda vacina experimental, baseada na rVSV-ZEBOV foi apresentada pela Merck e aprovada pela OMS. A vacina, que é comercializada sob o nome de Ervebo, e conhecida por pesquisadores como “rVSV-ZEBOV-GP”, foi testada em um ensaio clínico realizado na Guiné no final do surto de Ebola de 2014-16 na África Ocidental. Os dirigentes da República Democrática do Congo autorizaram então a importação e a aplicação dessa vacina na população. Em 17 de julho de 2019, a OMS declarou emergência internacional devido à doença naquele país, e em novembro, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) permitiu que a Merck passasse finalmente a comercializar e distribuir a sua vacina na República Democrática do Congo (NATURE, 2019). Em setembro de 2019, as autoridades de saúde da República Democrática do Congo (RDC) anunciaram planos para introduzir uma segunda vacina experimental contra o ebola, fabricada pela Johnson & Johnson. Essa vacina, que é aplicada em 2 doses, com 56 dias de intervalo, será fornecida sob protocolos aprovados para populações de risco direcionadas, em áreas que não possuem transmissão ativa do Ebola, como uma ferramenta adicional para estender a proteção contra o vírus (WHO, 2019). De acordo com matéria publicada na revista científica "The Lancet", de 1º de agosto de 2018 até 28 de maio de 2020, havia 3.463 casos confirmados de Ebola no Congo, com 2.280 mortes pela doença (IVERSEN et al., 2020). No início de junho de 2020 um novo surto passou a ocorrer no oeste do país, na província de Équateur, onde foram identificados dois pontos de transmissão do ebola; os primeiros casos foram detectados na cidade de Mbandaka, perto da fronteira com a República do Congo. Segundo a organização, 12 casos da doença já haviam sido confirmados; oito das vítimas, incluindo dois profissionais de saúde, morreram. De acordo com o Ministério da Saúde congolês, seis casos foram notificados em Wangata, que fica na província Equatoria, no noroeste do país, que já enfrenta o maior surto de sarampo do mundo e lida também com a COVID-19. Em 25 de junho de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) em pronunciamento do Diretor-Geral - Sr. Tedros Adhanom havia declarado o fim do surto do ebola na República Democrática do Congo (G1, 2020). Porém, a situação voltou a se agravar e em 14 de julho a OMS informou que foram confirmados 49 casos e 20 mortes por Ebola, na província do Equador, no noroeste da República Democrática do Congo. Os casos relacionados foram computados desde 1º de junho, quando um surto na região foi anunciado pelo governo o país. Segundo disse o diretor da OMS para Emergências Sanitárias - Mike Ryan, “este ainda é um surto muito ativo, e eu diria que ainda é uma grande preocupação” (VEJA, 2020). AIDS / HIV A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome) que é causada pelo vírus HIV (Human Immunodeficiency Virus), é um vírus RNA, pertencente à Família Retroviridae, e ao Gênero Lentivírus. O primeiro caso de AIDS registrado no mundo foi no início da década de 80. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, contudo, foi reconhecida pela primeira vez em 1981, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, e a sua causa - o HIV - foi identificado em 1986. A primeira vítima da doença foi a médica e pesquisadora dinamarquesa Margrethe P. Rask, que faleceu em 12 de dezembro de 1977 de uma doença que a deteriorou rapidamente. Rask esteve na África, estudando sobre o Ebola, quando começou a apresentar diversos sintomas estranhos 56


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para a sua idade. A autopsia do seu corpo revelou que os pulmões estavam repletos de microrganismos os quais ocasionaram um tipo de pneumonia e vieram a asfixiá-la. Contudo, a pergunta que pairava era: ninguém morria em função disso, o que estaria acontecendo? Historicamente, talvez esse seja o primeiro caso descrito de morte por decorrência da AIDS (DUARTE & ROHDEN, 2019). O vírus da AIDS tem a sua mais provável origem no Vírus da Imunodeficiência Símia (SIV) presente em chimpanzés, sendo considerado uma zoonose. Acredita-se que o homem tenha sido contaminado pela carne dos animais, que eram caçados para servir de alimento na África. No corpo humano, o vírus sofreu mutações e, de pouco em pouco, se espalhou pelo mundo, e o HIV foi denominado de Vírus da Imunodeficiência Humana, em português. (FORATTINI, 1993). A década de 1980 ficou marcada pelo início do que hoje é considerado uma pandemia. A relação com o vírus do primata foi feita em 1999, quando pesquisadores descobriram um tipo do SIV (chamada SIVcpz) em um chimpanzé, que era quase idêntico ao HIV humano. Dessa forma, eles concluíram que os chimpanzés eram também a fonte do HIV humano e que, em algum momento, o vírus passou de uma espécie para outra (TINOCO, 2020). Desde então, os casos de AIDS multiplicaram-se pelos Estados Unidos e pelo mundo, fazendo com que 75 milhões de pessoas tenham sido infectadas com essa doença até 2018. Desse total, cerca de 32 milhões faleceram. No Brasil, estima-se que 900 mil pessoas tenham contraído aids naquele período. O vírus pode ser transmitido pelo contato com os fluídos do corpo, como sangue, sêmen ou fluidos vaginais infectados. Assim, ela pode ser transmitida por meio do compartilhamento de seringas, da transfusão de sangue, da relação sexual sem proteção e de mães grávidas portadoras do HIV, que podem passar a doença para os seus filhos (SILVA, 2020b). Algumas semanas depois da infecção pelo HIV, podem ocorrer sintomas semelhantes aos da gripe, como febre ou sudorese noturna, dor de garganta e fadiga, e, ainda, perda de peso e infecções recorrentes. Nos casos graves o aparecimento de gânglios, crescimento do baço e do fígado, alterações elétricas do coração e/ou inflamação das meninges. Na fase aguda, os sintomas duram de três a oito semanas. Na crônica, os sintomas estão relacionados a distúrbios no coração e/ou no esôfago e no intestino. A doença costuma ser assintomática até evoluir para AIDS. Cerca de 70% dos portadores permanece de duas a três décadas na chamada forma assintomática ou indeterminada da doença (FIOCRUZ, 2018). Não existe cura para a AIDS, mas uma adesão estrita aos regimes antirretrovirais (ARVs) pode retardar significativamente o progresso da doença, bem como prevenir infecções secundárias e complicações. Incurável, essa Doença Sexualmente Transmissível (DST) possui tratamento para conseguir prolongar a vida do paciente. Os métodos de prevenção são bastante difundidos em todo o mundo, sendo o principal deles, o uso de preservativos nas relações sexuais (PORTAL TNSUL, 2020). À medida que a doença progride, ela interfere mais e mais no sistema imunológico, tornando a pessoa muito mais propensa a ter outros tipos de doenças, como infecções oportunistas e câncer (FUNASA, 2002b; SILVA, 2020b). Gripe Suína A pandemia de “Gripe A” causada pelo Influenza vírus A subtipo H1N1, uma variante de Gripe Suína, teve um surto global, com os primeiros casos surgindo em Veracruz, no México, em março de 2009. Sendo uma zoonose, veio a espalhar-se pelo mundo, tendo começado pela América do Norte, atingindo pouco tempo depois a Europa e a Oceania. No final daquele mês de abril, a OMS declarou Emergência de Saúde Pública em Âmbito Internacional (PORTAL TNSUL, 2020). Em artigo publicado por Machado (2009), ela descreve que em março de 2009, houve o início de uma epidemia de gripe no México que, em pouco tempo, levou ao surgimento de casos semelhantes em outros países, alertando as autoridades sanitárias para o risco de uma pandemia. No artigo são descritos os principais sinais e sintomas da infecção pelo vírus Influenza A (H1N1) de origem suína, as medidas a serem tomadas para os casos suspeitos ou confirmados e como proceder em relação aos contactantes, bem como quais drogas estavam sendo utilizadas para o tratamento e profilaxia. 57


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A influenza, também conhecida como gripe, é uma doença viral adquirida através do contato humano com animais domesticados. O vírus Influenza circula todo ano com alguns subtipos predominantes. Nos humanos temos a Influenza A, com os subtipos H1N1 e H3N2, e a Influenza B. Os suínos são importantes hospedeiros do vírus Influenza H1N1 (swinelike Influenza A) e susceptíveis às infecções por vírus Influenza de origem aviária e humana. Os suínos possuem importante papel na transmissão viral entre espécies e na epidemiologia da influenza humana. A epidemia por Influenza A H1N1/2009 representou um grande desafio para as autoridades públicas e setores privados da saúde, no que se refere às medidas de planejamento e execução de ações de prevenção e tratamento. Estimase que 89 milhões de pessoas tenham sido contaminadas por este vírus, com até 403 mil casos de hospitalização e 18.300 óbitos até abril de 2010. Segundo Oliveira e Iguti (2010), no período pós-pandemia o vírus H1N1 passaria a ter um comportamento semelhante ao vírus de gripe sazonal, causando focos infecciosos localizados e com níveis ainda significativos de transmissão. Mas deve ser destacada a preocupação com a saúde dos trabalhadores diretamente ligados à suinocultura, já que essa atividade produtiva apresenta uma situação de risco aos trabalhadores envolvidos e também à comunidade Em agosto de 2010 foi anunciado o fim da pandemia, meses depois do início da distribuição da vacina (PORTAL TNSUL, 2020). Enfermidades causadas por Coronavírus Em função da atual pandemia causada pelo Novo Coronavírus SARS-CoV-2, apresentaremos um resumo das epidemias / pandemias que aconteceram mais recentemente em diversos continentes, causadas por Coronavírus, acrescentando informações sobre o caráter zoonótico das enfermidades citadas, e sua interface com a Agropecuária, tendo o texto a seguir, como referência, as informações descritas por Tesini (2020), no “Manual MSD – Versão para Profissionais de Saúde”, que passamos a transcrever, conforme consta na publicação. Os Coronavírus são vírus de RNA com envelope que causam doença respiratória de gravidade variável, do resfriado comum à pneumonia fatal. Vários coronavírus, descobertos inicialmente em aves domésticas na década de 30, causam doença respiratória, gastrointestinal, hepática e neurológica nos animais. Apenas sete coronavírus sabidamente causam doença nos humanos. Quatro de 7 coronavírus causam mais frequentemente sinais e sintomas do resfriado comum. Os coronavírus 229E e OC43 causam resfriado comum; dois novos sorotipos, NL63 e HUK1, também foram associados ao resfriado comum. Raramente, pode haver infecção grave do trato respiratório inferior, como pneumonia, principalmente em crianças, idosos e pacientes imunocomprometidos. Os coronavírus que causam infecção respiratória grave são zoonoses. Três dos 7 coronavírus causam infecção respiratórias muito mais graves nos humanos do que os outros coronavírus, sendo por vezes fatais. Os que causaram e/ou têm causado grandes surtos de pneumonia fatal no século 21 serão apresentados a seguir: •

SARS-CoV foi identificado em 2002 como agente etiológico de uma epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave A SARS é muito mais grave do que outras infecções por coronavírus. A SARS é uma doença semelhante à influenza que, ocasionalmente, provoca insuficiência respiratória progressiva grave. O vírus da SARS foi inicialmente detectado na província de Guangdong, na China, em novembro de 2002 e, subsequentemente, disseminou-se para mais de 30 países. No surto de SARS-CoV, pela primeira vez os Centers for Disease Control and Prevention desaconselharam viajar para uma região. Esse surto diminuiu e não foram identificados novos casos desde 2004. Presumiu-se que a fonte imediata fossem os gatos-almiscarados (civetas) vendidos como alimento em um mercado de animais vivos e que provavelmente teriam sido infectados pelo contato com morcegos antes de serem capturados para venda. Os morcegos são hospedeiros frequentes do coronavírus (TESINI, 2020). 58


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Transmissão do SARS-CoV: A SARS é transmitida de pessoa para pessoa por contato pessoal próximo. Acredita-se que seja transmitida mais prontamente por gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. O diagnóstico da SARS é clínico e o tratamento é de suporte. A coordenação de práticas de controle de infecção imediatas e rígidas ajudou a controlar rapidamente o surto de 2002. Embora nenhum caso novo tenha sido relatado desde 2004, não se deve considerar a SARS eliminada porque o vírus causador tem um reservatório animal do qual é possível ressurgir (TESINI, 2020). •

MERS-CoV foi identificado em 2012 como agente etiológico da Síndrome Respiratória do Oriente Médio

A Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) é uma doença respiratória aguda grave causada pelo coronavírus MERS-CoV. A infecção por MERS-CoV foi inicialmente descrita em setembro de 2012 na Arábia Saudita, mas um surto em abril de 2012 na Jordânia foi confirmado retrospectivamente. Em 2018, em todo o mundo, foram notificados cerca de 2.500 casos de infecção pelo MERS-CoV (com pelo menos 850 mortes relacionadas) em 27 países; todos os casos de MERS foram ligados a viagens ou residência em países na Península Arábica e cercanias, com > 80% na Arábia Saudita. O maior surto conhecido de MERS fora da Península Arábica ocorreu na República da Coreia em 2015. O surto foi associado a um viajante que retornava da Península Arábica. Casos também foram confirmados em países da Europa, Ásia, Norte da África, Oriente Médio e Estados Unidos em pacientes que foram transferidos para esses países para serem tratados ou adoeceram após retornar do Oriente Médio. Estudos preliminares de soro prevalência indicam que a infecção não é generalizada na Arábia Saudita. A Organização Mundial da Saúde considera que o risco de contrair infecção por MERS-CoV é muito baixo para os peregrinos que viajam para a Arábia Saudita para o Umrah e Hajj. A média de idade dos pacientes com MERS-CoV é de 56 anos, e a proporção entre homens e mulheres é cerca de 1,6 para 1. A infecção tende a ser mais grave nos pacientes idosos e nos pacientes com doenças preexistentes como diabetes, cardiopatia crônica ou doença renal crônica (TESINI, 2020). Transmissão do MERS-CoV: O vírus MERS-CoV pode ser transmitido de pessoa para pessoa por contato direto, gotículas respiratórias (partículas > 5 micrômetros) ou aerossóis (partículas < 5 micrômetros). A transmissão interpessoal foi comprovada pela ocorrência da infecção em pessoas cujo único risco foi o contato próximo com pessoas que tinham MERS. Acredita-se que o reservatório do MERS-CoV sejam os dromedários, mas o mecanismo de transmissão desses animais para os humanos é desconhecido. A maioria dos casos descritos foi por transmissão direta entre humanos em unidades de saúde. Se um paciente tiver suspeita de MERS, deve-se iniciar as medidas de controle de infecção prontamente para evitar a transmissão nas unidades de saúde (TESINI, 2020). • SARS-CoV-2 é o novo coronavírus identificado como agente etiológico da doença batizada como COVID-19, onde o CO é de “Corona”; o VI de “Vírus”; o D de “Disease” (doença em inglês); e o 19 por ter sido, a doença, diagnosticada em 2019. A enfermidade COVID-19 foi detectada inicialmente em Wuhan, na China, no final de 2019 e se espalhou por todo o mundo, sendo considerada uma pandemia. A COVID-19 é uma doença respiratória aguda, algumas vezes grave, podendo levar o paciente à óbito, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 (TESINI, 2020). Transmissão do SARS-CoV-2: Os primeiros casos da COVID-19 foram ligados a um mercado de animais vivos em Wuhan, na China, sugerindo que o vírus tenha sido inicialmente transmitido de animais - provavelmente de morcegos foi transmitido para pangolins – e deles para os humanos. A transmissão interpessoal ocorre pelo contato com secreções contaminadas, principalmente pelo contato com grandes gotículas respiratórias, mas também pode ocorrer por meio do contato com uma superfície contaminada pelas gotículas respiratórias (fômites) (ANDERSEN et al., 2020).

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Os pesquisadores ainda estão trabalhando para determinar a rapidez da transmissão do vírus de uma pessoa para outra ou como a infecção será sustentável em uma população, embora o vírus pareça ser mais tran smissível do que o da SARS e sua propagação seja provavelmente mais semelhante à da Influenza. Pacientes assintomáticos e présintomáticos podem transmitir o vírus. Os superdisseminadores desempenharam um papel extraordinário na propagação do surto de SARS de 2003 e também podem desempenhar um papel significativo na atual pandemia da COVID-19 e nas estimativas de transmissibilidade. Um superdisseminador é uma pessoa que transmite a infecção para um número significativamente maior de outras pessoas do que a média das pessoas infectadas. As pessoas com poucos sintomas ou assintomáticas também podem transmitir a doença, dificultando o controle da pandemia. Os locais de alto risco de transmissão são instituições como asilos, instituições de longa permanência, prisões e a bordo de navios. Esses locais têm alta densidade populacional e muitas vezes dificuldade em manter as precauções de distanciamento para evitar a transmissão. Os residentes de casas de repouso também estão em alto risco por causa da idade e das doenças concomitantes. Medidas de quarentena e isolamento estão sendo aplicadas na tentativa de limitar a disseminação local, regional e mundial desse surto. A adesão estrita a essas medidas foi bem-sucedida no controle da disseminação da infecção em algumas regiões. Pessoas com a COVID-19 podem ter poucos ou nenhum sintoma, embora algumas adoeçam gravemente e morram. Os sintomas mais comuns são: febre; tosse; falta de ar ou dificuldade em respirar; calafrios ou agitação repetida com calafrios; dor muscular; cefaleia; dor de garganta; e perda recente de olfato ou do paladar. O tempo de incubação varia de 2 a 14 dias após a exposição ao vírus. O risco de doença grave e morte nos casos de COVID-19 aumenta com a idade e em pessoas com outros problemas médicos graves, como doenças cardíacas ou pulmonares ou diabetes. Os achados laboratoriais para pacientes com doença mais grave incluem linfopenia e achados de imagem torácica compatíveis com pneumonia (TESINI, 2020). Informações complementares sobre a Pandemia de COVID-19 (PAHO, 2020) O primeiro caso da pandemia pelo novo coronavírus, SARS-CoV2, foi identificado em Wuhan, na China, no dia 31 de dezembro do último ano. Desde então, os casos começaram a se espalhar rapidamente pelo mundo: primeiro pelo continente asiático, e depois por outros países. Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto do novo coronavírus constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) - o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Essa decisão buscou aprimorar a coordenação, a cooperação e a solidariedade global para interromper a propagação do vírus. A ESPII é considerada, nos termos do Regulamento Sanitário Internacional (RSI), “um evento extraordinário que pode constituir um risco de saúde pública para outros países devido a disseminação internacional de doenças; e potencialmente requer uma resposta internacional coordenada e imediata”. É a sexta vez na história que uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional é declarada. As outras foram em: •

25 de abril de 2009 – pandemia de H1N1

5 de maio de 2014 – disseminação internacional de Poliovírus

8 de agosto de 2014 – surto de Ebola na África Ocidental

1 de fevereiro de 2016 – vírus Zika e aumento de casos de microcefalia e outras malformações congênitas

18 maio de 2018 – surto de Ebola na República Democrática do Congo

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A responsabilidade de se determinar se um evento constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional cabe ao diretor-geral da OMS e requer a convocação de um comitê de especialistas – chamado de Comitê de Emergências do RSI. Esse comitê dá um parecer ao diretor-geral sobre as medidas recomendadas a serem promulgadas em caráter emergencial. Essas Recomendações Temporárias incluem medidas de saúde a serem implementadas pelo Estado Parte onde ocorre a ESPII – ou por outros Estados Partes conforme a situação – para prevenir ou reduzir a propagação mundial de doenças e evitar interferências desnecessárias no comércio e tráfego internacional. Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia. O termo “pandemia” se refere à distribuição geográfica de uma doença e não à sua gravidade. A designação reconhece que, no momento, existem surtos de COVID-19 em vários países e regiões do mundo. Em fevereiro, a transmissão da Covid-19 no Irã e na Itália chamou a atenção pelo crescimento rápido de novos casos e mortes, fazendo com que o Ministério da Saúde alterasse a definição de caso suspeito para incluir pacientes que estiveram em outros países. No mesmo dia, o primeiro caso do Brasil foi identificado, em São Paulo. Em 31 de março de 2020, o Ministro da Saúde do Brasil assinou a PORTARIA Nº 639, que - Dispõe sobre a Ação Estratégica “O Brasil Conta Comigo - Profissionais da Saúde" - (BRASIL, 2020b), voltada à capacitação e ao cadastramento de profissionais da área de saúde, para o enfrentamento à pandemia do coronavírus (COVID-19). O Art. 1º da Portaria instituiu a Ação Estratégica "O Brasil Conta Comigo - Profissionais da Saúde", com o objetivo de proporcionar capacitação aos profissionais da área de saúde nos protocolos clínicos do Ministério da Saúde para o enfrentamento da Convid-19. E em seu § 1º estabeleceu que “Para fins do disposto nesta Portaria, considera-se profissional da área de saúde aquele subordinado ao correspondente conselho de fiscalização das seguintes categorias profissionais: I - serviço social; II - biologia; III - biomedicina; IV - educação física; V - enfermagem; VI - farmácia; VII - fisioterapia e terapia ocupacional; VIII - fonoaudiologia; IX - medicina; X - medicina veterinária; XI - nutrição; XII - odontologia; XIII - psicologia; e XIV - técnicos em radiologia (BRASIL, 2020b). Desde então, o Ministério da Saúde e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, junto a outros Ministérios e instituições governamentais federais e estaduais, vem desenvolvendo estratégias e atividades coordenadas para o enfrentamento da pandemia de COVID-19 no País. Até hoje, 09 de outubro de 2020, data de encerramento da elaboração deste Artigo de Opinião, não existe ainda consenso no que se refere à tratamentos clínicos que sejam comprovadamente eficazes e que levem à cura de pacientes infectados pelo novo Coronavírus. Por outro lado, a ANVISA (2020) vem autorizando a realização de estudos clínicos para que vacinas desenvolvidas por instituições internacionais, mantendo a colaboração com instituições brasileiras, sejam avaliadas no País, conforme descrito a seguir: ▪ Vacina de Oxford: A ANVISA (2020) publicou em 02 de junho de 2020, em edição extra do Diário Oficial da União (D.O.U.), a autorização para realização de um estudo clínico no Brasil para testar uma potencial vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, para prevenir a Covid-19. O pedido de autorização foi feito pela empresa AstraZeneca do Brasil Ltda., que submeteu os dados e as informações sobre a vacina para avaliação da Agência. Trata-se de um estudo controlado randomizado de fase III para determinar a segurança, a eficácia e a imunogenicidade da vacina ChAdOx1 nCoV-19 não replicante. Os estudos iniciais não clínicos em animais e os estudos clínicos de fase 1 em humanos para avaliar a segurança da vacina foram realizados na Inglaterra e os resultados demonstraram que o seu perfil de segurança foi aceitável. Em 31 de julho de 2020, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, e o laboratório AstraZeneca assinaram um documento que dará base para o acordo entre os laboratórios sobre a transferência de tecnologia e produção de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, caso seja comprovada a sua eficácia e segurança. O entendimento é o passo seguinte às negociações realizadas pelo governo federal, a Embaixada Britânica e o laboratório AstraZeneca, para a produção da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, na Inglaterra (FIOCRUZ, 2020). Em 06 de agosto de 2020 o Presidente da República assinou uma Medida Provisória para liberação de crédito orçamentário de R$ 1,9 bilhão que garante produção e a aquisição de 100 milhões de doses de vacina contra a Covid-19, produzida pelo laboratório AtraZeneca e Universidade de Oxford. A transferência de tecnologia e formulação, o envase e o controle de qualidade será feito 61


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por contrato entre a Fiocruz e a empresa farmacêutica AstraZeneca – que, em parceria com a Universidade de Oxford, realiza as pesquisas. ▪ Vacina da Sinovac: Em 03 de julho de 2020, a ANVISA (2020) publicou a autorização para os ensaios clínicos de fase III de uma possível vacina contra a Covid-19. A aprovação é para os testes da vacina desenvolvida pela empresa Sinovac Research & Development Co., Ltd (Sinovac Biotech Co., Ltd), sediada na China. O pedido de autorização foi realizado pelo Instituto Butantan (SP) e os testes devem ser desenvolvidos em diferentes locais do Brasil. A vacina denominada CoronaVac adsorvida Covid-19 (inativada) será estudada com o objetivo de avaliar sua segurança e eficácia na imunização ativa contra a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). O estudo aprovado é um ensaio clínico fase III duplo-cego, randomizado, controlado com placebo para avaliação de eficácia e segurança em profissionais da saúde da vacina CoronaVac produzida pela Sinovac. A vacina que será testada é feita a partir de cepas inativadas do novo coronavírus. A proposta prevê o teste de 9 mil pessoas no país, em 12 centros de seis unidades federativas: nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná, além do Distrito Federal. O recrutamento dos voluntários é de responsabilidade dos centros que conduzem a pesquisa. O laboratório asiático já realizou testes em cerca de mil voluntários na China, nas fases 1 e 2. Antes, o modelo experimental aplicado em macacos apresentou resultados expressivos em termos de resposta imune contra o coronavírus. A CoronaVac já começou a ser aplicada no Hospital das Clínicas de São Paulo, onde 890 voluntários serão testados. Segundo Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, em declaração feita à imprensa em 07 de agosto de 2020, “os processos de preparo para a formulação, envase e controle de qualidade do imunizante já se iniciaram, e o Butantan poderá ter a vacina para COVID-19 registrada em outubro deste ano”. ▪ Vacina da BioNTech e Vacina da Pfizer: Em 21 de julho de 2020, mais um ensaio clínico para verificar a eficácia de duas vacinas contra o novo coronavírus foi aprovado pela ANVISA (2020). A vacina BNT162b1 e a vacina BNT162b2 serão testadas dentro de um mesmo estudo e estão sendo desenvolvidas pelas empresas BioNTech e Pfizer (Wyeth). As vacinas em estudo são baseadas em ácido ribonucleico (RNA), que codifica um antígeno específico do vírus Sars-CoV-2. O RNA é traduzido pelo organismo humano em proteínas que irão então induzir uma resposta imunológica. O estudo prevê a inclusão de cerca de 29 mil voluntários, sendo 1.000 deles no Brasil, distribuídos nos estados de São Paulo e Bahia. O recrutamento dos voluntários é de responsabilidade dos centros que conduzem a pesquisa. Outras vacinas estão em estudo em diferentes países, seguindo as fases de testes preconizadas mundialmente. Espera-se que após seguirem todas as etapas dos protocolos de experimentação, alguma dessas vacinas seja comprovadamente eficaz e segura, apresentando resultados promissores, e que possa ser aprovada após testagem nos voluntários que aderiram às pesquisas, para disponibilização à população em geral.

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RG NEWS IV - Homenagem Póstuma Raimundo Rodrigues Cardoso (1949-2020) - Ray Cardoso - Sítio Radini Renato Ferraz de Arruda Veigaa

a Eng. Agrônomo e Doutor em Ciências Biológicas Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG) Rua Dona Libânia, 2017 – Centro 13015-090, Campinas (SP) Brasil. renatofav53@gmail.com.

Esta é a primeira homenagem que a Revista RG News presta para um colecionador particular de plantas, no caso o nosso Ray (Figura 1). Uma homenagem merecida, pois ele foi único nesta categoria, já que participava ativamente de reuniões científicas da Rede Regional de Jardins Botânicos no Norte (RRJBN), e da Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB), como associado, e com imenso prazer. Agradeço muito por tê-lo conhecido! Ray, nascido em 06/08/1949, na zona rural de Abaetetuba-PA, faleceu aos 51 anos, era casado com Edilena Negrão Cardoso, com quem teve três filhos: Raissa, Radi e Raoni, além de netos. Conhecido por ser um artista plástico, vereador, foi reconhecido em vida pela classe científica Figura 2 - O homenageado à esquerda, ao como um grande conservador de recursos genéticos de frutíferas nativas lado deste que o homenageia. Foto dos especialmente do nordeste do Pará. Teve apoio de colegas como Camilo arquivos de Helena Quadros – I Encontro da Rede Regional Norte de Jardins Botânicos. Viana, Cláudio Nicoletti, Vera Burlamaqui Bastos, Paulo Porto, Helena Quadros, Urano Carvalho, entre outros, na organização taxonômica das espécies, ainda tinha tempo trabalhar em causas conservacionistas, como mostra esta homenagem prestada de Abaetetuba – Pará, no WhatsApp da RBJB, onde era voluntário, a seguir: “O Conselho Municipal de Políticas Culturais de Abaetetuba solidariza-se aos Familiares e Amigos do ambientalista e artista plástico Raimundo Rodrigues Cardoso, Ray Cardoso, em virtude de seu falecimento ocorrido no dia 11/06, em Belém do Pará. Ray destacou-se na comunidade abaetetubense com importantes trabalhos desenvolvidos no campo ambiental, artístico, religioso e da comunicação educativa e social, tendo sido reconhecido nacional e internacionalmente pela produção de sua obra e dedicada trabalho em prol da natureza e da vida humana. Na década de 90 foi um dos fundadores do Movimento Ecológico e Cultural de Abaetetuba (MECA) que enfatizou a importância da discussão da agenda ambiental no município no contexto da Amazônia. Ainda como Figura 3 - Sítio Radini. Foto dos arquivos de João Neves, 04/01/2009. ambientalista criou o "Sítio Radini" na PA 252 – km 6 (Figura 2) com 54 hectares, também chamado "Pomar de Abaeté" por possuir aproximadas 170 espécies de frutíferas nativas, que consiste em uma área de preservação ambiental localizada na zona rural”. Também recebeu homenagens póstumas de colegas do meio científico como por exemplo o texto do colega Apolinário publicado no WhatsApp da RBJB: “Um Homem amazônico, implacável defensor da Vida, harmônico com a realidade de seu tempo, guardião da Natureza, disseminador da flora, artista da beleza humana e da beleza escultural, ambientalista completo, partícipe 66


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comunitário, observador da harmonia pessoal, física e Homem de família, este em pobres palavras foi o nosso Raimundo Cardoso/RAY um voluntário de Abaetetuba - Pará. A Arte será rejubilada com a sua chegada no Paraíso, com certeza será bem recompensado por tudo que fez de bom aqui na terra que tanto amou!” Chamado de “O Protetor de Florestas” ele sempre estará em nossos corações, sua luta incansável pela preservação in situ e conservação ex situ de recursos genéticos, mesmo com escassos e próprios recursos nunca será esquecida! Desejamos que seu legado seja perpetuado pelos seus parentes, e tenha o apoio da sociedade científica brasileira. Muitos amigos expressaram preocupação com o destino de todo seu trabalho conservacionista, em especial com sua coleção viva, assim como: - Helena Quadros demonstra sua preocupação ao questionar “solicito informações sobre o destino da coleção do Ray e como ficará o sítio?” – Paulo Porto diz “esse legado deixado pelo Ray não pode se perder, acredito que Prefeitura de Abaetetuba e outras instituições possam ajudar a preservar o trabalho dele que foi de grande importância para o meio ambiente e para a biodiversidade amazônica. – Complementando, Vera Burlamarqui lembra que é “importante para o fortalecimento, se possível, sugerir que a Secretária de Meio ambiente estude uma solução pra preservação da coleção de Ray”; e João Neves (Presidente da RBJB) sugere que “as instituições mais próximas, como o Mangal, Bosque, Goeldi e Utinga poderiam se juntar para um plano de resgate e manutenção daquela coleção ex situ”. Fica aqui a nossa singela homenagem póstuma, da Revista RG News, a este grande brasileiro, amante dos nossos recursos genéticos!

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IX – Apoio

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