Revista RG News Vol.7 Nº 3 2021

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REVISTA

RG NEWS V.7 N.3 2021

ISSN 2526-8074

Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos


Revista RG News 7 (3), 2021 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Revista RG News Publicação eletrônica oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA Editor Chefe Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Editor Chefe-substituto Renato Ferraz de Arruda Veiga Editor Técnico Científico - Área Animal Afrânio Gonçalves Gazolla Editora Técnico Científico - Área Microrganismos Maíra Halfen Teixeira Liberal Editor Técnico Científico - Área Vegetal Manoel Abilio de Queiróz

DIRETORIA DA SBRG Presidente - Fernanda Vidigal Duarte Souza Vice-Presidente - Geraldo Magela Côrtes Carvalho Diretor Financeiro - Marcos Ap. Gimenes Vice-Diretor Financeiro - Renato Ferraz de Arruda Veiga Diretora Técnico e de Divulgação - Rosa Lía Barbieri Vice-Diretora Técnico e de Divulgação - Maria Teresa Gomes Lopes Diretora de Curadorias e Redes Regionais - Semíramis Rabelo Ramalho Ramos Vice-Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Manoel Abilio de Queiróz Diretor de Eventos - Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Vice-Diretora de Eventos - Ana Cecília Ribeiro de Castro Secretário Executivo - Everton Hilo de Souza


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Revista de Recursos Genéticos - RG News Brasília, DF V.7 (3) 49p. 2021 ISSN 2526-8074 Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos Foto Capa: Flavia França Teixeira A eventual citação de produtos e marcas comerciais não expressa, necessariamente, recomendações de seu uso pela SBRG.

É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.

"Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo dos seus textos, não sendo necessariamente a mesma visão ou opinião da Revista e nem da Sociedade."

Editada pela SBRG


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Sumário I - A PALAVRA DO EDITOR ........................................................................................................... 4 II - ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ......................................................................... 5 Diversidade genética de raças de milho enviadas para conservação no Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault) ............................................................................................................................. 5 Raízes tuberosas e estruturas vegetativas aéreas: caracterização de acessos de batata-doce no IAC para o lançamento de novos cultivares ........................................................................................................................ 29

II - ENTREVISTA DA VEZ ............................................................................................................. 39 Ana Eugênia de Carvalho Campos O Instituto Biológico oferece soluções significativas para o agronegócio e as transfere para o segmento produtivo. ......................................................................................................................................................... 39

III- HOMENAGEM PÓSTUMA...................................................................................................... 48 Maria Célia Ramos Soub.................................................................................................................................. 48


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RG NEWS I - A palavra do Editor Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira – Editor Chefe da RG News Ao fim de um dos mais complicados anos da nossa história recente, continuamos a árdua batalha contra um vírus letal. Além disso, nesse período nebuloso, mostramos o quão importante é nos reinventarmos, pessoal e profissionalmente. A Ciência, a partir da ampla vacinação da sociedade, tem permitido que aos poucos a vida comece a voltar ao normal e que a esperança por dias melhores se torne uma realidade. Apesar de todo o impacto que a pandemia trouxe no âmbito das pesquisas, e mais especificamente no campo dos Recursos Genéticos, olho para 2021 e vejo que instituições e pesquisadores, apaixonados pelo que fazem, se comunicaram mais e mostraram a grande qualidade dos seus trabalhos, mesmo que à distância. Basta olharmos para os incontáveis eventos científicos que as Redes Regionais de Recursos Genéticos organizaram nesse ano. Mais recentemente, a Rede Nordeste apresentou o seu V Simpósio, com importantes nomes da área, inovando na tecnologia, a partir de uma plataforma interativa e dinâmica, e o resultado disso é um número especial da RG News. Fica a lição de que mesmo perante as adversidades, a união marcada pelo movimento das Redes de Recursos Genéticos em prol da Ciência faz toda a diferença. Sendo a RG News uma das nossas mais importantes ferramentas de comunicação, é com satisfação que convido a todos os nossos leitores, a partir desse novo número, a conhecer um pouco mais sobre a batata-doce no Instituto Agronômico, em Campinas/SP, e o lançamento de novos cultivares dessa espécie. Temos também um trabalho sobre a diversidade genética de raças de milho, enviadas para preservação na Reserva Mundial de Sementes – Svalbard. E finalmente, uma entrevista com a Dra. Ana Eugênia de Carvalho Campos sobre a importância do Instituto Biológico/SP no agronegócio. Ao longo desses últimos cinco anos, como parte da direção da RG News, levo um aprendizado difícil de mensurar. Não poderia deixar de expressar meus sinceros agradecimentos a toda a direção da SBRG, aos Editores de Área, à nossa Secretária Executiva, aos autores com seus belíssimos trabalhos, aos pareceristas, que dedicaram seu tempo e conhecimento na melhoria dos manuscritos e, naturalmente, ao público que são a grande razão da nossa revista. Não tenho dúvidas que a nova direção da RG News conduzirá de forma magnífica os novos caminhos da Revista. Em nome da atual Equipe da Revista de Recursos Genéticos RG News, envio um abraço a todos e desejo uma excelente leitura!

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RG NEWS II - Artigos de divulgação científica Diversidade genética de raças de milho enviadas para conservação no Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault) Flavia França Teixeira1, Elena Charlotte Landau2, Afonso Henrique de Oliveira Júnior3, Leonardo Nonato de Jesus4 e Fábio Correa Bueno5 INTRODUÇÃO Recursos genéticos de plantas cultivadas são preservados não apenas pela importância da conservação da biodiversidade, mas também porque são importantes elementos na obtenção de ativos que promovem o desenvolvimento agrícola e a segurança alimentar. As atividades de manutenção, agregação de valor e promoção do uso, desenvolvidas em bancos ativos de germoplasma (BAGs), são de suma importância para a adequada preservação da variabilidade genética das plantas de uso agrícola, pois, para que um banco de germoplasma tenha valor, é preciso que seus acessos estejam bem preservados, que seus atributos e comportamento sejam conhecidos, documentados e que sejam disponibilizados para uso (TEIXEIRA et al., 2011). O BAG de milho e a coleção base preservados na Embrapa Milho e Sorgo e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, respectivamente, conservam mais de 4.000 acessos, que foram, em sua maioria, coletados no Brasil (TEIXEIRA et al., 2010). Muitos destes acessos também são preservados em outras instituições como o Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo (CIMMYT), localizado no México, e o Agricultural Research System (ARS), localizado nos Estados Unidos da América. Foram enviados 234 acessos originários de coletas, integrantes da coleção núcleo (ABADIE et al., 2000), para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault) (CROP TRUST, 2021), localizada na Noruega, gerida pelo Global Crop Diversity Trust, fundado pela Food and Agricultural Organization (FAO) e pela Bioversity International, em 2012, visando a preservação da diversidade genética em longo prazo (EMBRAPA, 2012). Em 2020, nova remessa seguiu para Svalbard (EMBRAPA, 2020), integrando acessos selecionados, representantes das raças brasileiras de milho propostas por Paterniani e Goodman (1977). A classificação das raças de milho proposta por Paterniani e Goodman (1977) as divide em quatro grupos: raças indígenas, raças comerciais antigas, raças comerciais recentes e raças comerciais exóticas, sendo cada grupo composto por diversas raças, havendo ainda subdivisões dentro de algumas delas. Nessa classificação são apresentadas também as características morfológicas que definem as raças, seus locais de ocorrência e relacionamento com outras raças. O BAG Milho já conta com a totalidade dos dados de passaporte de seus acessos na plataforma Alelo (ALELO, 2021), estando disponíveis para consulta e solicitação de amostras de sementes visando intercâmbio para fins de pesquisa. Boa parte dos acessos do BAG Milho de origem coletada conta com a classificação de raças nos dados de passaporte. O BAG Milho conta também com 81% dos seus acessos caracterizados total ou parcialmente (TEIXEIRA et al., 2019), de acordo com os descritores da cultura do milho (IBPGRI, 1991; TEIXEIRA; COSTA, 2010). Os dados de caracterização já foram empregados para avaliar a divergência genética entre grupos de acessos do BAG Milho e indicaram a existência

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Embrapa Milho e Sorgo, Rod MG 434 Km 65, 35.701-970, Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: flavia.teixeira@embrapa.br Embrapa Milho e Sorgo, Rod MG 434 Km 65, 35.701-970, Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: charlotte.landau@embrapa.br 3 Universidade Federal de São João Del-Rei – Campus Sete Lagoas, Rod MG 424, Km 47, 35.701-970, Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: afonsohoj@gmail.com 4 Universidade Federal de São João Del-Rei – Campus Sete Lagoas, Rod MG 424, Km 47, 35.701-970, Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: leononato.bio@gmail.com 5 Universidade Federal de São João Del-Rei – Campus Sete Lagoas, Rod MG 424, Km 47, 35.701-970, Sete Lagoas, MG, Brasil. E-mail: fabiobuenoagroufsj@gmail.com 2

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de variabilidade entre acessos do BAG Milho mesmo entre aqueles agrupados por apresentarem atributos similares, como o tipo de grãos (TEIXEIRA et al., 2019; TEIXEIRA; JESUS; BUENO, 2020) O presente estudo visa analisar, com base em dados de passaporte e de caracterização, a diversidade genética de acessos do BAG Milho representada pelas raças brasileiras de milho enviadas para a preservação no Banco Mundial de Sementes em Svalbard. MATERIAL E MÉTODOS Acessos do BAG Avaliados Os acessos do BAG Milho, representantes das raças brasileiras de milho, enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard e avaliados no presente trabalho estão relacionados nas Tabelas 1 a 5. Nestas são apresentados os dados de passaporte dos acessos, obtidos inicialmente na plataforma Alelo (http://alelo.cenargen.embrapa.br/), classificados por grupos e raças. Paterniani e Goodman (1977) organizaram as raças brasileiras de milho em grupos, raças e, algumas destas raças, em sub-raças. Entretanto, no presente estudo, é considerada a classificação até o nível de raças, sendo incluído maior número de representantes para as raças que possuem classificação em nível de sub-raças. Acessos do BAG Milho classificados como raças Guarani e Dentado foram incluídos no estudo separadamente, mesmo não constando da classificação apresentada por Paterniani e Goodman (1977). Representantes da raça Cateto Sulino Precoce não foram analisados, por não terem sido incluídos na remessa de acessos enviados a Svalbard, devido a indisponibilidade de sementes dos acessos coletados no Brasil classificados nesta raça. Assim, o número de acessos enviados a Svalbard por raça variou entre 1 e 9, de acordo com a quantidade de representantes de sub-raças. Georreferenciamento dos locais de proveniência dos acessos do BAG enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. Para a representação cartográfica dos locais de proveniência dos acessos, estes foram georreferenciados após revisão e correção das coordenadas geográficas de cada local de origem das coletas. Dado que grande parte dos acessos foi coletada até a década de 1980, a maioria apresentava erros ou imprecisões sobre as coordenadas geográficas dos locais de proveniência, como a inclusão de coordenadas especificando apenas graus e minutos (sem segundos) ou a consideração de coordenadas geográficas padrão da sede (urbana) do município em que ocorreu a coleta. Assim, de acordo com a disponibilidade de informações adicionais complementares, as coordenadas geográficas de origem dos acessos foram previamente corrigidas. Para tal, foram consideradas conjuntamente todas as informações disponíveis associadas ao local de proveniência de cada acesso, como o Estado, o município, nome de vila, posto indígena ou outro dado sobre o local de coleta, a forma de obtenção do material e observações apresentadas no registro. Através de consultas a sites, como IBGE, Google e Google Earth, grande parte das coordenadas geográficas dos locais de proveniência foi corrigida, aproximandose o máximo possível daqueles em que as coletas provavelmente ocorreram. A partir dos registros com coordenadas geográficas revistas, foram gerados mapas temáticos e layouts sobre os locais de proveniência dos acessos por raça de milho considerada, permitindo a indicação de áreas geográficas com maior concentração de locais de proveniência dos acessos representantes das raças brasileiras de milho enviadas para integrar o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. Descritores da cultura do milho empregados Foram organizados e utilizados para a avaliação da diversidade genética entre os acessos os seguintes dados de caracterização destes: números de dias para florescimentos masculino (FM) e feminino (FF), arquitetura de planta (AQ), posição da espiga (PO), número médio de ramificações do pendão (RP), alturas médias de plantas (AP, cm) e de espigas (AE, cm), números médios de folhas acima da espiga (FA) e de folhas totais (FT), diâmetro médio do colmo (DC, mm), nota de qualidade de espigas (NQ), tipos de espiga (TP) e de arranjo de grãos (AG), cor (CG) e tipo de grão (TP), comprimento (CE, mm) e diâmetro médios de espigas (DE, mm), números médios de fileiras de grãos por espiga (NF) e de grãos por fileira (NG), pesos médios de espigas (PE, g) e de grãos por espiga (PG, g), diâmetro médio do sabugo (DS, mm) e peso médio de 1.000 sementes (PM, g). A metodologia de avaliação desses caracteres é apresentada por Teixeira e Costa (2010), e os dados de caracterização foram obtidos em lotes de multiplicação de germoplasma conduzidos em

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diferentes condições ambientais. Para os caracteres de natureza qualitativa ordinal ou quantitativa foram estimadas as médias gerais dos acessos do BAG Milho avaliados e dos acessos de cada grupo de raça. As médias estimadas para os acessos avaliados foram categorizadas com o emprego do Programa GENES (CRUZ, 2006). O número de classes foi definido pela raiz quadrada do número de observações, de acordo com a metodologia apresentada por Cruz, Ferreira e Pessoni (2011). Para alguns caracteres, o número de classes foi reduzido por causa do pequeno número de possibilidades de expressão fenotípica. Com base na categorização das médias foram obtidos gráficos de distribuição de frequência com divisão por grupo de raças. Os dados de caracterização categorizados foram empregados para a estimativa de dissimilaridade entre os acessos por meio do complemento aritmético do valor estimado para coincidência simples entre dados categorizados, seguindo a metodologia apresentada por Cruz, Ferreira e Pessoni (2011) e com o emprego do Programa GENES (CRUZ, 2006). Para a estimativa da dissimilaridade entre acessos e demais etapas foram considerados apenas os acessos que possuíam dados de caracterização para, no mínimo, 50% dos descritores empregados no estudo. As estimativas de dissimilaridade foram consideradas para o agrupamento de acessos pelo método da ligação média entre grupo (UPGMA), de acordo com a metodologia apresentada por Cruz, Ferreira e Pessoni (2011) e com o emprego do Programa GENES (CRUZ, 2006). Os dendrogramas foram obtidos por grupos de raças. Após a obtenção dos dendrogramas foi estimada a correlação cofenética entre as distâncias estimadas e as obtidas com o agrupamento. Dada a natureza preliminar dos dados de caracterização, a linha de corte para o estabelecimento de grupos de similaridades em cada dendrograma foi estabelecida visando agrupar acessos com similaridade genética de até 90% da similaridade máxima de cada grupo. De acordo com esses critérios foram estabelecidos grupos dentro de cada conjunto de acessos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dados de passaporte Os dados de passaporte dos acessos do BAG Milho que foram enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard, para representar as raças brasileiras de milho, estão apresentados nas Tabelas de 1 a 5. Na Figura 1a, estão representados cartograficamente os locais de coleta dos acessos encaminhados para integrar o Banco Mundial de Sementes em Svalbard e, na Figura 1b, os locais de proveniência desses acessos brasileiros de milho por raça. Verifica-se que a maioria dos acessos foi coletada pela Universidade Estadual de São Paulo - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (USP - ESALQ) antes da década de 1970. Há acessos representantes das raças indígenas originários dos estados do Rio Grande do Sul (raça Caingang e Lenha), São Paulo (raça Caingang), Mato Grosso do Sul (raça Guarani), Mato Grosso (raças Moroti e Entrelaçado) e Rondônia (raça Entrelaçado). Quanto aos representantes das raças comerciais antigas, há acessos originários dos estados do Rio Grande do Sul (raças Canário de Ocho, Cateto Sulino, Cateto Sulino Grosso e Cateto), Santa Catarina (raça Cristal Sulino), São Paulo (raças Cristal e Cateto), Minas Gerais (raça Cristal), Mato Grosso do Sul (raça Cateto), Mato Grosso (raça Cateto), Bahia (raça Cateto), Sergipe (raça Cateto Nortista), Alagoas (raça Cristal) e Rio Grande do Norte (raça Cateto Nortista). Já os acessos representantes das raças comerciais recentes foram coletados nos estados do Rio Grande do Sul (raças Dentado Riograndense, Dentado Paulista, Dentado Branco, Semidentado e Cravo), Santa Catarina (raça Dentado Branco), Paraná (raças Semidentado e Cravo), São Paulo (raças Dentado Paulista, Dentado Branco, Semidentado e Cravo), Minas Gerais (raça Dentado), Mato Grosso do Sul (raça Dentado), Mato Grosso (raça Semidentado), Distrito Federal (raça Dentado), Roraima (raça Dentado), Sergipe (raça Semidentado) e Bahia (raças Dentado Branco e Semidentado). Os acessos representantes das duas raças comerciais exóticas foram coletados nos estados do Rio Grande do Sul (raça Hickory King) e Bahia (raça Tuson). Os locais de coleta dos acessos de origem indígena estão dispersos no Sul do Centro-Oeste e no Norte, enquanto que os locais de coleta dos acessos das raças comerciais antigas se distribuem por mais regiões do Brasil, e essa distribuição é ainda mais ampla para o conjunto de acessos classificados nas raças comercias recentes, pois, para esse grupo de raças, há representantes originários de todas as regiões brasileiras. Esses resultados sugerem a relação entre o desenvolvimento das raças brasileiras de milho e a dispersão da atividade agrícola no Brasil. O pequeno número de representantes das raças comerciais exóticas não permite identificar um padrão de dispersão destas raças no Brasil.

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Tabela 1. Dados de passaporte de acessos do BAG de raças de milhos indígenas enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault). Cód. Cód. Outra Data de enMunicípio ou Coordenadas Instituição de BRA BRA (Novo) Nome comum Origem Local Inst. trada BAG1 Local/Estado geográficas Raça Indígena Moroti 017914 00028544-5 0044 017922 00028545-2 0045 017931 00028546-0 0046 Raça Indígena Caingang

MT II - Moroti MT III - Moroti MT V - Moroti

PI 449574

24/10/1975 24/10/1975 24/10/1975

-/-/-/-

081477

00030890-8

2397

SP 620 Glicério de Icatu

CI 2730

01/01/1960

Sete Índios/SP

089753

00030627-4

2134

RS 229

01/01/1960

-/RS

089761

00030628-2

2135

RS 230

01/01/1960

-/RS

Raça Indígena Lenha 018244 00028581-7

0083

24/10/1975

088668

00030517-7

2024

-/Restinga Seca/RS

088781

00030529-2

2036

RGS XX - Lenha PI 449604 PI 483672 RS 119 CI 5709 PI 483702 RS 131 CI 5709

PI 490811 CI 8050 PI 490812 CI 8050

01/01/1960 01/01/1960

21°33'43”S 50°18'52”W 29°20'S 54°10'W 29°20'S 54°10'W 29°49'15”S 53°22'25”W 29°20'S 54°10'W

R. Mendes/RS

USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ

Raça Indígena Entrelaçado 024414

00029923-0

1430

MT 008 Milho Branco AX 008

032409

00029818-2

1325

RO 001 PI 449762 Iri Macap (AlaCY 10902 ranjado)

15/05/1980

032417

00029819-0

1326

RO 002 Iram-Iram (Preto)

15/05/1980

-

PI 449763 CY 10902

17/08/1979

General Carneiro/MT (Reserva Indígena Sangradouro) Guajará-Mirim/RO (Posto Indígena Pacaãs Novos) Guajará-Mirim/RO (Posto Indígena Pacaãs Novos)

15°20'44”S 53°53'50”W

CNPMS Reserva indígena Sangradouro

11°26'47”S 65°05'02”W

Embrapa

11°26'47”S 65°05'02”W

Embrapa

-

USP-ESALQ2

-

INPA

22°02'40”S 55°52'34”W

CNPMS

Raça Indígena Guarani Composto Gua24/10/1975 -/rani 017108 00028662-5 0164 Pipoca Guarani 04/02/1976 -/MS 028 Ponta Porã/MS 029394 00029517-0 1024 Cateto de Ponta PI 287848 13/05/1978 (Cabeceira do Porã 102 APA) 1 Data de entrada no BAG, considerada a menor data de entrada entre a data de obtenção e de entrada. 2 Composto obtido a partir de acessos de origem indígena. 014966

00028525-4

0025

Tabela 2. Dados de passaporte de acessos do BAG de raças de milhos comerciais antigas enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault). BRA

BRA (Novo)

Cód. Local

Nome comum

Cód. Outra Inst.

Raça Cristal Sulino 082856 00032045-7

3552

SC 100

Raça Cristal 017892 00028542-9 018376 00028594-0 015181 00028595-7

0042 0096 0097

MG III-Cristal SP XI - Cristal SP XII - Cristal -

CI 4177

Data de entrada BAG1

Município ou Local/Estado

Coordenadas geográficas

Instituição de Origem

03/07/1953

Chapecó/SC

27°05'47”S 52°37'15”W

USP-ESALQ

24/10/1975 24/10/1975 24/10/1975

-/-/-/-

-

USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ

8


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1

09°29'30”S 37°12'10”W

USP-ESALQ

01/01/1960

Lagoa de Dentro/AL (C.A. Olivence/AL) -/SP

23°33'S 46°38'W

USP-ESALQ

-

14/09/1988

-/RS

-

CNPT

-

03/10/1986

-/-

-

CNPMS

-

24/10/1975

-/-

-

USP-ESALQ

PI 483770 CI 5807 BRASIL 4178

01/01/1960

29°20'S 54°10'W 29°20'S 54°10'W

USP-ESALQ

01/01/1952

-/RS (L.15 Norte) -/RS

RS 166

PI 483773 CI 5810

01/01/1960

Comandai/RS

29°09'54”S 54°13'W

USP-ESALQ

-

24/10/1975 24/10/1975

-/-/-

-

USP-ESALQ USP-ESALQ

-

24/10/1975

-/-

-

USP-ESALQ

PI 483761 CI 4701 PI 483767 CI 4708 PI 483760 CI 5804 PI 484238 CI 4763 -

01/01/1960

01/01/1960

Pinhal/RS

01/01/1960 01/01/1950

Pereira Barreto/SP Dourados/MS

29°20'S 54°10'W 27°37'43”S 54°18'39”W 27°30'40”S 52°12'54”W 20°38'S 51°06'W 22°13'S 54°48'W -

USP-ESALQ

01/01/1960

-/RS (L.15 Norte) Horizontina/RS

085332

00030196-0

1703

AL 026

PI 503917 CI 2905

01/09/1965

091201

00030771-0

2278

SP 097

PI 488772 CI 5051

Raça Canário de Ocho 057789 00032305-5

3812

049646

00029121-1

0627

014940

00028523-9

0023

Crioulo RS 707 Branco- 8 Fileiras Composto Canário De Ocho

Raça Cateto Sulino 089109 00030561-5

2068

RS 163

082864

3553

RS 534

Raça Cateto Sulino Grosso 089133 00030564-9 2071

00032046-5

Raça Cateto 017701 00028509-8 014893 00028519-7

0009 0019

014346

00028534-6

0034

088439

00030494-9

2001

BA I - Cateto Cateto São Simão Cateto Ribeirão Preto RS 096

088498

00030500-3

2007

RS 102

089079

00030558-1

2065

RS 160

090379

00030688-6

2195

SP 014

082333

00031994-7

3501

MS 068

017906

00028543-7

0043

MT I-Cateto Grande

-

24/10/1975

-/-

Raça Cateto Nortista 082147 00031975-6

3482

SE 039

01/01/1960

Simão Dias/SE

087467

00030397-4

1904

RN 011

PI 488891 CI 2896 PI 503973 CI 2974

087475

00030398-2

1905

RN 012

PI 488909 CI 2975

01/01/1965

01/01/1965

USP-ESALQ

USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ

10°44'25”S USP-ESALQ 37°48'35”W Curima/RN 05°15'49”S USP-ESALQ (C.A. São Paulo 34°46'W do Potengi/RN) São Paulo do 05°53'42”S USP-ESALQ Potengi/RN 35°45'36”W (Várzea Fria)

Data de entrada no BAG, considerada a menor data de entrada entre a data de obtenção e de entrada.

Tabela 3. Dados de passaporte de acessos do BAG de raças de milhos comerciais recentes Dentado, Dentado Riograndense, Dentado Paulista e Dentado Branco enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault). BRA BRA (Novo) Cód. Nome Cód. Outra Data de enMunicípio ou Coordenadas Instituição de Local comum Inst. trada. BAG1 Local/Estado geográficas Origem Raça Dentado 052825 00029639-2 1146 Milho Branco 19/05/1985 Cruzília/MG 21°50'S CNPMS MG 089 44°48'W

9


Revista RG News 7 (3), 2021 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

052833

00029640-0

1147

Milho Azteca MG 090

19/05/1985

Cruzília/MG

21°50'S 44°48'W

CNPMS

036706

00029992-5

1499

Crioulo de Roraima RR 039

PI 466776 CY 10739

27/11/1980

Boa Vista/RR

02°48'S 60°30'W

-

027405

00028963-7

0469

Cunha

-

21/05/1980

-/DF

-

CENARGEN

029831

00029557-6

1064

Azteca 111 MS 037

PI 287554

15/05/1978

Bela Vista/MS

22°8'S 56°20'W

CNPMS

052841

00029641-8

1148

-

19/05/1985

Cruzília/MG

036714

00029993-3

1500

Milho Cunha MG 091 Crioulo de Roraima RR 040

PI 466770 CY 10740

27/11/1980

Boa Vista/RR

21°50'S 44°48'W 02°48'S 60°30'W

RS 018

CI 4388

01/01/1960

Cerro Largo/RS

-

24/10/1975

-/-

Raça Dentado Riograndense 087653 00030416-2 1923 018074 087505

00030401-4

1908

RGS III Dente Riogr. Rugoso RS 003

077127

00031472-4

2979

RS 445

018091

00028566-8

0068

0066

00030570-6

2077

RGS V Dente Riograndense Liso RS 172

Raça Dentado Paulista 087556 00030406-3

1913

RS 008

090310

00030682-9

2189

090328

00030683-7

Raça Dentado Branco 018147 00028571-8

089184

018261

1

00028564-3

00028583-3

28°11'S 54°44'W -

PI 490817 CI 3078 BRASIL 7429 PI 449589

01/01/1960

-/RS

01/01/1960

Horizontina/RS

24/10/1975

-/-

29°20'S 54°10'W 27°37'43”S 54°18'39”W -

Entre Ijuís/RS

28°22'07”S 54°16'09”W

01/01/1961

Santa Rosa/RS

SP 008

PI 488919 CI 4052 CI 4204

01/01/1960

Sorocaba/SP

2190

SP 009

CI 4207

01/01/1960

Tietê/SP

27°51'49”S 54°28'16”W 23°30'S 47°28'W 23°06'S 47°43'W

0073

RGS X Dente Branco Riograndense SC II -Dente Branco Riograndense RS 075

PI 449594

24/10/1975

-/-

00030473-3

1980

018317

00028588-2

0090

085871

00030250-5

1757

SP V - Dente Branco Paulista BA 243

090859

00030736-3

2243

SP 062

USP-ESALQ

USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ

01/01/1960

088226

-

USP-ESALQ

PI 484229 CI 6139

0085

CNPMS

USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ USP-ESALQ

USP-ESALQ

PI 449606

24/10/1975

-/-

USP-ESALQ

PI 483686 CI 4634 -

01/01/1960

Chiapetta/RS

24/10/1975

-/-

27°55'13”S 53°56'29”W -

USP-ESALQ USP-ESALQ

PI 488818 CI 7844

04/08/1955

Santo Estévão/BA

12°26'S 39°15'W

USP-ESALQ

PI 488738 CI 4991

01/01/1960

Itatiba/SP

23°0'S 46°50'W

USP-ESALQ

Data de entrada no BAG, considerada a menor data de entrada entre a data de obtenção e de entrada.

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Revista RG News 7 (3), 2021 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Tabela 4. Dados de passaporte de acessos do BAG de raças de milhos comerciais recentes Semidentado e Cravo enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault). BRA BRA (Novo) Cód. Nome Cód. Outra Data de entrada. Município ou Coordenadas Instituição de Local comum Inst. BAG1 Local/Estado geográficas Origem Raça Semidentado 090212 00030673-8 2180 SE 037 PI 503912 01/01/1965 Malhador/SE 10°39'30”S USP-ESALQ CI 2895 37°18'30”W 091341 00030785-0 2292 PR 062 PI 488798 01/01/1960 Londrina/PR 23°17'53”S USP-ESALQ CI 5067 51°10'10”W 091740 00030824-7 2331 SP 150 PI 488728 01/01/1960 Avaré/SP 23°5'S USP-ESALQ CI 7774 48°55'W 087521 00030403-0 1910 RS 005 PI 490819 01/01/1960 -/RS 29°20'S USP-ESALQ CI 3092 54°10'W 088391 00030490-7 1997 RS 092 PI 483755 01/01/1960 Entre Ijuís/RS 28°22'07”S USP-ESALQ CI 4684 54°16'09”W 018198 00028576-7 0078 RGS XV 24/10/1975 -/Semidentado USP-ESALQ Riograndense 074471 00031209-0 2716 MT 042 BRASIL 01/01/1960 -/MT USP-ESALQ 5072 085758 00030238-0 1745 BA 231 PI 488890 01/01/1965 Coité/BA 11°33'50”S CI 2894 (C.A. Concei- 39°16'45”W USP-ESALQ ção do Coité/BA) 090239 00030674-6 2181 SE 038 PI 488892 01/01/1965 Aquidaban/SE 10°17'S USP-ESALQ CI 2897 37°01'W Raça Cravo 029416 00029402-5 0909 Cravinho 22 PI 287781 02/05/1978 Francisco 26°5'S 53°4'W PR 001 Beltrão/PR 029360 00029407-4 0914 Cravinho 27 PI 449897 02/05/1978 Francisco 26°05'10”S PR 006 Beltrão/PR 52°59'52”W CNPMS (Linha São Paulo) 018384 00028530-4 0030 Dente Cravo PI 449618 24/10/1975 -/Composto USP-ESALQ São Simão 018121 00028569-2 0071 RGS VIII 24/10/1975 -/Cravo RioUSP-ESALQ grandense 087980 00030449-3 1956 RS 051 CI 4564 01/01/1960 Entre 28°22'07”S USP-ESALQ Ijuis/RS 54°16'09”W 088013 00030452-7 1959 RS 054 CI 4568 01/01/1960 Entre 28°22'07”S USP-ESALQ Ijuis/RS 54°16'09”W 018279 00028584-1 0086 SP I -Cravo 24/10/1975 -/USP-ESALQ Paulista 090298 00030680-3 2187 SP 006 PI 488231 01/01/1960 Echaporã/SP 22°25'S USP-ESALQ CI 4115 50°12'15”W 090697 00030720-7 2227 SP 046 PI 488721 01/01/1960 Jales/SP 20°16'S USP-ESALQ CI 4969 50°32'50”W 1 Data de entrada no BAG, considerada a menor data de entrada entre a data de obtenção e de entrada. Tabela 5. Dados de passaporte de acessos do BAG de raças de milhos comerciais exóticas enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault). BRA BRA (Novo) Cód. Nome Cód. Outra Data de entrada. Município ou Coordenadas Instituição de Local comum Inst. BAG1 Local/Estado geográficas Origem Raça Hickory King 018139 00028570-0

0072

RGS IX PI 449593 Hickory King

24/10/1975

-/-

-

USP-ESALQ

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Revista RG News 7 (3), 2021 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

088382

00030489-9

1996

Raça Tuson 017728 00028511-4

0011

RS 091

PI 483751 CI 4676

01/01/1960

Entre Ijuis/RS

BA III PI 449556 24/10/1975 -/Tuson 1 Data de entrada no BAG, considerada a menor data de entrada entre a data de obtenção e de entrada.

28°22'07”S 54°16'09”W

USP-ESALQ

-

USP-ESALQ

Figura 1. Locais de proveniência dos acessos do BAG Milho enviados para compor o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault), em que os acessos são (a) representados pelo Código BRA indicados nas Tabelas 1 a 5 e (b) classificados por grupo de raça brasileira de milho. (a)

(b)

A distribuição geográfica ampla dos acessos em estudo permite verificar que, na maioria dos casos, os locais de origem coincidem com a distribuição das raças apresentadas por Paterniani e Goodman (1977), exceto os acessos das raças Cristal, Dentado Branco e Semidentado originários de estados da região Nordeste, assim como o acesso da raça Dentado Paulista originário do Estado do Rio Grande do Sul e da raça Semidentado originário do Estado do Mato Grosso. A divergência entre os locais de coleta e sítios originais das raças pode ter sido causada por diversas razões. Inicialmente, deve ser considerada a possibilidade de equívocos na classificação dos acessos em raças, especialmente naquelas que compartilham semelhanças morfológicas entre si, como é o caso das raças Dentado Riograndense e Dentado Paulista. Deve ser considerada também a possibilidade de migração de recursos genéticos para outras regiões, principalmente a partir daquelas em que o desenvolvimento agrícola ocorria há mais tempo. Segundo Paterniani e Goodman (1977), a raça Cateto Nortista é originária das Guianas e do Norte do Brasil, entretanto seus representantes foram coletados na região Nordeste, o que sugere possibilidade de migração das sementes dessa raça. A despeito de incoerências entre os locais de coleta dos acessos e a distribuição geográfica esperada para as raças, o conjunto de acessos enviado para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard, apesar de pequeno, apresentou representantes em todas as regiões brasileiras, embora conforme demonstrado na Figura 1a existam lacunas amostrais de coleta em algumas áreas do território brasileiro principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste e parte das regiões Nordeste e Sudeste.

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Dados de caracterização Os dados de caracterização disponíveis dos acessos do BAG Milho que foram enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard, para representar as raças brasileiras de milho, estão apresentados nas Tabelas de 6 a 12. Alguns acessos devem ser destacados por apresentar atributos relacionados à produtividade de grãos, o que sugere maior potencial desses acessos para o melhoramento. Entre eles estão os acessos RS 445 (raça Dentado Riograndense), PR 062 (raça Semidentado) e RS 229 (raça Caingang), que apresentam peso médio de espigas acima de 200 g e peso médio de grãos por espigas acima de 150 g. O acesso RS 131 (raça Lenha) apresentou elevado peso de 1.000 grãos, ultrapassando 500 g. Apesar da importância da identificação de acessos de melhor desempenho agronômico, a principal observação obtida com os dados de caracterização indica a variabilidade contida entre os acessos considerados. Os acessos apresentaram variações para 22 das 23 características empregadas no presente estudo. Apenas a arquitetura de planta foi monomórfica, sendo observado apenas o tipo normal para esse caráter. O arranjo de grãos na espiga também apresentou baixa variabilidade, pois apenas o acesso MT 008 apresentou o arranjo entrelaçado, característico da raça homônima em que o acesso é classificado. Outro aspecto que deve ser considerado é que o conjunto de amostras enviado para Svalbard contém apenas 82 acessos, o que corresponde a 2% dos acessos do BAG Milho, que continha 4.089 em 2020. As médias dos descritores por grupo de raças e geral são apresentadas na Tabela 13, e os gráficos com distribuição de frequência destes caracteres são apresentados nas Figuras 2 a 4. Tabela 6. Dados de caracterização de acessos do BAG Milho de raças de milhos indígenas enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) em relação aos números de dias para florescimentos masculino (FM) e feminino (FF), arquitetura de planta (AQ), posição da espiga (PO), número de ramificações no pendão (RP), alturas de planta (AP, cm) e de espiga (AE, cm), números de folhas acima da primeira espiga (FA) e total (FT), diâmetro do colmo (DC, mm) e nota de qualidade de espigas (NQ). BRA Nome FM FF AQ1 PO2 RP AP AE FA FT DC NQ3 017914 MT II - Moroti 67 71 1 22 237 112 6 13 21 4 017922 MT III - Moroti 67 71 1 21 242 131 5 14 22 4 017931 MT V - Moroti 69 75 1 21 249 127 6 14 21 4 081477 SP 620 Glicerio de Icatu 9 089753 RS 229 8 089761 RS 230 8 018244 RGS XX - Lenha 62 68 1 22 182 104 6 13 24 4 088668 RS 119 56 58 1 2 22 301 105 5 14 23 9 088781 RS 131 57 60 1 2 21 243 121 5 13 22 9 024414 MT 008 - Milho Branco 81 82 1 215 113 8 032409 RO 001 - Iri Macap 1 9 032417 RO 002 - Iram-Iram 014966 Composto Guarani 68 72 1 3 19 206 122 6 15 21 5 017108 Pipoca Guarani 72 75 1 23 181 115 5 15 24 029394 Cateto de Ponta Porã 102 74 72 1 230 125 5 1 Arquitetura de planta: 1 – normal, 2 – anã; 2 Posição da espiga: 1 – ereta, 2 – oblíqua, 3 – decumbente; 3 Qualidade de espiga: escala notas de 1 a 9, sendo 1 atribuída às espigas de qualidade péssima e 9 atribuída às espigas de qualidade ótima. Tabela 7. Dados de caracterização de acessos do BAG de raças de milhos indígenas enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) em relação ao tipo de espigas (TP), arranjo dos grãos (AG), cor de grãos (CG), tipo de endosperma (TE), comprimento de espigas (CE, mm), diâmetro de espigas (DE, mm), diâmetro do sabugo (DS, mm), números de fileiras de grãos por espiga (NF) e de grãos por fileira (NG), pesos de espigas por planta (PE, g) e de grãos por planta (PG, g) e peso de 1.000 sementes (PM, g). BRA Nome TP1 AG2 CG3 TE4 CE DE DS NF NG PE PG PM 017914 MT II - Moroti 1 1 6 120 41 24 14 24 87 69 299 017922 MT III - Moroti 1 1 6 140 42 24 14 30 113 93 333 017931 MT V - Moroti 1 1 6 160 35 20 12 28 92 76 290 081477 SP 620 Glicerio de Icatu CL 1 1 6 201 42 25 12 37 160 135 335 089753 RS 229 CL 1 1 6 190 45 27 18 40 237 188 345

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Revista RG News 7 (3), 2021 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

089761 RS 230 CL 1 1 1 148 54 37 16 35 152 112 299 018244 RGS XX - Lenha 1 1 6 126 43 28 18 25 85 67 197 088668 RS 119 CL 1 3 1 100 48 27 18 25 141 123 340 088781 RS 131 CL 1 1; 4 1 114 49 24 12 25 161 134 520 024414 MT 008 - Milho Branco 3 1 6 160 35 23 14 25 87 74 269 032409 RO 001 - Iri Macap CO 1 3 4 150 44 28 14 33 157 131 296 032417 RO 002 - Iram-Iram 014966 Composto Guarani CL 1 1 6 115 37 21 12 33 119 99 300 017108 Pipoca Guarani 1 1 8 130 28 17 16 34 53 41 029394 Cateto de Ponta Porã 102 1 2 6 1 Tipo de espigas: CL- cilíndrica, CC – cônica-cilíndrica, CO - cônica, RE - redonda; 2 Arranjo dos grãos: 1 – reto ou levemente recurvado, 2 – em espiral, 3 - entrelaçado; 3 Cor dos grãos: 1 –branco, 2 – amarelo, 3 –alaranjado, 4 –vermelho, 5 –cinza, 6 –preto ou azul, 7 –purpura, 8 –variegado; 4 Tipo de endosperma: 1 –dentado, 2 –semidentado, 3 –duro, 4 –semiduro, 5 –enrugado ou doce, 6 –farináceo, 7 –opaco, 8 –pipoca, 9 –tunicata, 10 –ceroso. Tabela 8. Dados de caracterização de acessos do BAG Milho de raças de milhos comerciais antigas enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) em relação aos números de dias para florescimentos masculino (FM) e feminino (FF), arquitetura de planta (AQ), posição da espiga (PO), número de ramificações no pendão (RP), alturas de planta (AP, cm) e de espiga (AE, cm), números de folhas acima da primeira espiga (FA) e total (FT), diâmetro do colmo (DC, mm) e nota de qualidade de espigas (NQ). BRA Nome FM FF AQ1 PO2 RP AP AE FA FT DC NQ3 082856 SC 100 61 66 1 1 25 314 170 6 17 21 7 017892 MG III - Cristal 78 83 1 3 23 260 140 5 16 23 8 018376 SP XI - Cristal 74 79 1 24 248 151 5 15 21 6 015181 SP XII - Cristal 79 85 1 2 23 267 185 5 15 24 8 085332 AL 026 76 81 1 1 28 312 185 7 16 21 8 091201 SP 097 64 66 1 3 19 346 197 7 17 22 8 057789 RS 707 - Crioulo 049646 Branco Com 8 Fileiras 62 64 1 2 24 302 157 6 15 24 8 014940 Composto Canário de 8 52 54 1 2 18 205 100 5 13 22 5 089109 RS 163 83 86 1 2 26 266 126 6 14 25 8 082864 RS 534 54 56 1 18 271 134 5 12 23 8 089133 RS 166 91 95 1 2 26 279 147 5 15 28 8 017701 BA I - Cateto 73 76 1 21 231 162 5 15 26 5 014893 Cateto São Simão 73 77 1 27 279 189 6 17 22 5 014346 Cateto Ribeirão Preto 68 71 1 2 18 204 122 6 15 20 8 088439 RS 096 59 61 1 2 20 284 159 6 16 24 9 088498 RS 102 56 58 1 2 21 281 143 5 14 21 9 089079 RS 160 62 68 1 1 22 260 129 6 16 26 7 090379 SP 014 70 74 1 2 24 313 187 6 16 24 9 082333 MS 068 62 65 1 2 28 273 143 5 15 23 9 017906 MT I - Cateto Grande 65 66 1 16 243 127 6 15 22 5 082147 SE 039 82 86 1 3 29 278 154 6 17 28 8 087467 RN 011 72 75 1 1 25 294 161 6 15 22 8 087475 RN 012 67 71 1 1 27 309 177 6 16 24 9 1 Arquitetura de planta: 1 – normal, 2 – anã, 2 Posição da espiga: 1 – ereta, 2 – oblíqua, 3 – decumbente 3 Qualidade de espiga: escala notas de 1 a 9, sendo 1 atribuída às espigas de qualidade péssima e 9 atribuída às espigas de qualidade ótima. Tabela 9. Dados de caracterização de acessos do BAG Milho de raças de milhos comerciais antigas enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) em relação tipo de espigas (TP), arranjo dos grãos (AG), cor de grãos (CG), tipo de endosperma (TE), comprimento de espigas (CE, mm), diâmetro de espigas (DE, mm), diâmetro do sabugo (DS, mm), números de fileiras de grãos por espiga (NF) e de grãos por fileira (NG), pesos de espigas por planta (PE, g) e de grãos por planta (PG, g) e peso de 1.000 sementes (PM, g). BRA Nome TP1 AG2 CG3 TE4 CE DE DS NF NG PE PG PM 082856 SC 100 CL 1 1; 3 3 199 37 25 12 37 127 104 345

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017892 018376 015181 085332 091201 057789 049646

MG III - Cristal CL 1 1 3 200 42 25 12 29 214 171 411 SP XI - Cristal 1 1 3 178 40 23 14 32 162 135 315 SP XII - Cristal CL 1 1 3 163 40 23 12 30 137 110 357 AL 026 CL 1 2 2 130 39 23 12 32 116 105 297 SP 097 CC 1 2 1 140 48 28 16 34 180 149 330 RS 707 - Crioulo Branco Com 8 Fileiras CL 1 1 1 130 46 24 8 28 155 130 416 Composto Canário de 014940 8 CL 1 2 3 150 37 23 8 43 138 115 414 089109 RS 163 CL 1 3 4 112 41 22 14 28 118 103 357 082864 RS 534 CL 1 1; 3 2 150 42 26 12 34 155 130 368 089133 RS 166 CL 1 1; 3 4 122 41 26 12 25 124 99 398 017701 BA I - Cateto 2 3 170 37 22 14 35 129 107 253 014893 Cateto São Simão 1 2 3 179 38 22 14 40 143 120 254 014346 Cateto Ribeirão Preto CO 1 2 3 155 37 28 14 37 101 82 264 088439 RS 096 CC 1 3; 2 3 150 41 23 14 37 146 127 318 088498 RS 102 CO 1 3 3 129 38 22 12 29 121 98 454 089079 RS 160 CC 1 3 4 150 36 25 12 33 93 72 253 090379 SP 014 CC 1 3 3 130 40 23 16 32 130 113 276 082333 MS 068 CL 1 3 3 140 36 24 12 31 90 75 299 017906 MT I - Cateto Grande 1 2 2 150 39 24 12 22 121 100 356 082147 SE 039 CL 1 1 8 150 34 23 12 34 93 77 287 087467 RN 011 CL 1 4 2 80 31 24 12 21 87 71 305 087475 RN 012 CL 1 4 3 120 40 25 14 27 107 87 300 1 Tipo de espigas: CL- cilíndrica, CC – cônica-cilíndrica, CO: cônica, RE: redonda; 2 Arranjo dos grãos: 1 – reto ou levemente recurvado, 2 – em espiral, 3 – entrelaçado; 3 Cor dos grãos: 1 –branco, 2 – amarelo, 3 –alaranjado, 4 –vermelho, 5 –cinza, 6 –preto ou azul, 7 –purpura, 8 –variegado; 4 Tipo de endosperma: 1 –dentado, 2 –semidentado, 3 –duro, 4 –semiduro, 5 –enrugado ou doce, 6 –farináceo, 7 –opaco, 8 –pipoca, 9 –tunicata, 10 –ceroso. Tabela 10. Dados de caracterização de acessos do BAG Milho de raças de milhos comerciais recentes enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) em relação aos números de dias para florescimentos masculino (FM) e feminino (FF), arquitetura de planta (AQ), posição da espiga (PO), número de ramificações no pendão (RP), alturas de planta (AP, cm) e de espiga (AE, cm), números de folhas acima da primeira espiga (FA) e total (FT), diâmetro do colmo (DC, mm) e nota de qualidade de espigas (NQ). BRA 052825 052833 036706 027405 029831 052841 036714 087653 018074 087505 077127 018091 089184 087556 090310 090328 018147 018261 088226 018317 085871 090859 090212

Nome MG 089 - milho branco Milho Azteca – MG 090 RR 039 - Crioulo de Roraima Cunha MS 037 - Azteca 111 MG 091 - Milho Cunha RR 040 - Crioulo de Roraima RS 018 RGS III - Dente Riograndense Rugoso RS 003 RS 445 RGS V - Dente Riograndense Liso RS 172 RS 008 SP 008 SP 009 RGS X - Dente Branco Riograndense SC II - Dente Branco Riograndense RS 075 SP V - Dente Branco Paulista BA 243 SP 062 SE 037

FM 71 62 71 71 76 75 79 65 64 86 69 69 79 85 67 71 75 85 67 77 65 67

FF 75 66 73 75 79 79 83 73 68 95 75 73 82 95 74 79 79 95 74 80 68 69

AQ1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

PO2 2 2 2 2 3 1 2 2 1 2 3 1 2 2 1

RP 24 21 18 17 21 19 17 25 40 22 21 20 25 24 20 25 23 24 22

AP 346 365 330 268 279 276 275 276 236 260 282 256 261 236 308 310 276 236 308 285 350 304

AE 238 226 220 151 163 153 150 151 144 132 144 153 121 123 180 176 153 123 180 186 220 177

FA 6 6 5 5 6 6 6 5 6 6 4 6 6 6 6 6 6 6 6

FT 16 16 12 14 14 14 14 13 17 15 13 14 14 15 14 14 17 16 15

DC 23 23 19 23 21 24 22 23 22 23 22 23 23 25 23 23 25 22 21

NQ3 7 8 5 6 5 8 5 9 7 7 8 8 9 8 9 8 8 8 9 6 8 7

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Revista RG News 7 (3), 2021 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

091341 PR 062 65 65 1 3 24 356 228 7 18 26 8 091740 SP 150 65 69 1 2 23 353 200 7 17 20 9 087521 RS 005 91 94 1 1 25 279 154 5 15 24 9 088391 RS 092 63 68 1 2 24 324 216 6 18 25 8 018198 RGS XV - Semidentado Riograndense 71 75 1 20 242 150 5 13 23 5 074471 MT 042 66 69 1 3 28 305 150 5 16 27 8 085758 BA 231 67 69 1 1 24 299 179 6 15 21 9 090239 SE 038 69 72 1 1 26 311 190 6 16 22 7 029416 PR 001 - Cravinho 22 75 79 1 246 123 5 029360 PR 006 - Cravinho 27 75 82 1 252 138 6 018384 Dente Cravo Composto São Simão 68 71 1 17 240 149 5 13 23 6 018121 RGS VIII 67 71 1 20 249 145 6 15 23 5 087980 RS 051 61 64 1 3 26 295 178 5 14 24 9 088013 RS 054 57 61 1 2 30 309 181 6 15 26 7 018279 SP I - Cravo Paulista 69 72 1 17 244 157 6 15 22 8 090298 SP 006 65 70 1 2 24 309 184 6 15 25 9 090697 SP 046 73 77 1 2 24 310 177 6 14 27 8 1 Arquitetura de planta: 1 – normal, 2 – anã; 2 Posição da espiga: 1 – ereta, 2 – oblíqua, 3 – decumbente; 3 Qualidade de espiga: escala notas de 1 a 9, sendo 1 atribuída às espigas de qualidade péssima e 9 atribuída às espigas de qualidade ótima. Tabela 11. Dados de caracterização de acessos do BAG Milho de raças de milhos comerciais recentes enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) em relação ao tipo de espigas (TP), arranjo dos grãos (AG), cor de grãos (CG), tipo de endosperma (TE), comprimento de espigas (CE, mm), diâmetro de espigas (DE, mm), diâmetro do sabugo (DS, mm), números de fileiras de grãos por espiga (NF) e de grãos por fileira (NG), pesos de espigas por planta (PE, g) e de grãos por planta (PG, g) e peso de 1.000 sementes (PM, g). BRA 052825 052833 036706 027405 029831 052841 036714 087653 018074 087505 077127 018091 089184 087556 090310 090328 018147 018261 088226 018317 085871 090859 090212 091341 091740 087521 088391 018198 074471 085758 090239

Nome MG 089 - Milho Branco Milho Azteca RR 039 - Crioulo de Roraima Cunha MS 037 - AZTECA 111 MG 091 - Milho Cunha RR 040 - Crioulo de Roraima RS 018 RGS III - Dente Riogrand. Rugoso RS 003 RS 445 RGS V - Dente Riograndense Liso RS 172 RS 008 SP 008 SP 009 RGS X-Dent. Branco Riogrand. SC II-Dente Branco Riograndense RS 075 SP V - Dente Branco Paulista BA 243 SP 062 SE 037 PR 062 SP 150 RS 005 RS 092 RGS XV-Semident. Riograndense MT 042 BA 231 SE 038

TP1 CC CC CC CL CL CL CL CL CC CL CL CC CL CC CL CL CC CL CL CL

AG2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

CG3 1 2 2 2 2 2 3; 1 2; 3 2 2; 3 3 2 3 2; 1 3; 1 3 2 2; 1 3; 1 1 2 2 2; 3 2 3 2 2 3 1; 4 2; 1

TE4 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 4 2 1 1 4 1 4 2 4 2 2 2 2 4 2, 1 1

CE 140 150 110 150 120 139 90 183 153 112 90 140 130 90 140 167 130 130 180 170 110 160 174 120 120 110

DE 41 45 47 48 48 45 47 47 51 43 45 47 43 44 47 43 47 42 44 46 41 42 45 41 44 42 40

DS 24 26 26 24 26 23 29 31 24 25 30 25 27 30 25 26 26 30 26 24 27 28 23 27 27 24

NF 10 14 18 14 12 14 14 16 14 14 12 14 14 12 14 14 14 14 14 12 12 16 12 14 14 12

NG 32 37 31 42 26 33 17 42 33 32 17 32 29 17 32 35 28 33 41 41 25 40 33 27 33 31

PE 127 186 140 93 137 150 84 234 148 144 89 135 150 89 135 188 136 123 210 158 114 178 149 117 123 99

PG 100 155 117 81 114 129 68 192 119 125 68 114 125 68 114 187 110 96 179 127 91 150 122 94 101 81

PM 347 351 272 438 434 379 447 402 392 383 423 336 371 423 336 355 333 266 376 277 359 283 349 287 321 254

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029416 PR 001 - Cravinho 22 1 029360 PR 006 - Cravinho 27 1 018384 Dente Cravo Comp. São Simão 1 1 134 48 26 20 30 153 126 272 018121 RGS VIII 1 1 136 48 26 20 31 154 128 270 087980 RS 051 CL 1 2 1 110 51 30 20 28 154 131 274 088013 RS 054 CL 1 2 1 110 48 28 18 29 139 115 299 018279 SP I - Cravo Paulista CL 1 1 150 47 27 18 34 181 159 425 090298 SP 006 CL 1 1 4 120 46 27 14 29 152 125 361 090697 SP 046 CC 1 1 130 47 30 14 28 172 138 432 1 Tipo de espigas: CL- cilíndrica, CC – cônica-cilíndrica, CO: cônica, RE: redonda 2 Arranjo dos grãos: 1 – reto ou levemente recurvado, 2 – em espiral, 3 - entrelaçado 3 Cor dos grãos: 1 –branco, 2 – amarelo, 3 –alaranjado, 4 –vermelho, 5 –cinza, 6 –preto ou azul, 7 –púrpura, 8 –variegado 4 Tipo de endosperma: 1 –dentado, 2 –semidentado, 3 –duro, 4 –semiduro, 5 –enrugado ou doce, 6 –farináceo, 7 –opaco, 8 –pipoca, 9 –tunicata, 10 –ceroso. Tabela 12. Dados de caracterização de acessos do BAG de raças de milhos comerciais exóticos enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) em relação aos números de dias para florescimentos masculino (FM) e feminino (FF), arquitetura de planta (AQ), posição da espiga (PO), número de ramificações no pendão (RP), alturas de planta (AP, cm) e de espiga (AE, cm), números de folhas acima da primeira espiga (FA) e total (FT), diâmetro do colmo (DC, mm) e nota de qualidade de espigas (NQ), tipo de espigas (TP), arranjo dos grãos (AG), cor de grãos (CG), tipo de endosperma (TE), comprimento de espigas (CE, mm), diâmetro de espigas (DE, mm), diâmetro do sabugo (DS, mm), números de fileiras de grãos por espiga (NF) e de grãos por fileira (NG), pesos de espigas por planta (PE, g) e de grãos por planta (PG, g) e peso de 1.000 sementes (PM, g). BRA Nome FM FF AQ1 PO2 RP AP AE FA FT DC NQ3 018139 RGS IX - Hickory King 54 63 1 17 255 144 6 14 22 088382 RS 091 56 59 1 2 19 321 167 7 16 23 7 017728 BA III - Tuson 66 66 1 2 20 283 162 6 13 24 4 BRA Nome TP4 AG5 CG6 TE7 CE DE DS NF NG PE PG PM 018139 RGS IX - Hickory King 1 1 1 153 38 21 10 32 109 94 362 088382 RS 091 CL 1 1; 7 1 150 39 21 10 37 140 123 432 017728 BA III - Tuson 1 2 1 120 45 27 16 33 170 128 402 1 Arquitetura de planta: 1 – normal, 2 – anã, 2 Posição da espiga: 1 – ereta, 2 – oblíqua, 3 – decumbente 3 Qualidade de espiga: escala notas de 1 a 9, sendo 1 atribuída às espigas de qualidade péssima e 9 atribuída às espigas de qualidade ótima. 4 Tipo de espigas: CL- cilíndrica, CC – cônica-cilíndrica, CO: cônica, RE: redonda 5 Arranjo dos grãos: 1 – reto ou levemente recurvado, 2 – em espiral, 3 – entrelaçado 6 Cor dos grãos: 1 –branco, 2 – amarelo, 3 –alaranjado, 4 –vermelho, 5 –cinza, 6 –preto ou azul, 7 –purpura, 8 –variegado 7 Tipo de endosperma: 1 –dentado, 2 –semidentado, 3 –duro, 4 –semiduro, 5 –enrugado ou doce, 6 –farináceo, 7 –opaco, 8 –pipoca, 9 –tunicata, 10 –ceroso. Tabela 13. Médias dos descritores número de dias para os florescimentos masculino (FM) e feminino (FF), número de ramificações do pendão (RP), alturas de planta (AP, cm) e de espigas (AE, cm), números de folhas acima da espiga (FA) e totais (FT), diâmetro do colmo (DC, mm), nota de qualidade de espigas (NQ), comprimento (CE, mm) e diâmetro de espigas (DE, mm), diâmetro do sabugo (DS, mm), números de fileira de grãos (NF) e de grãos por fileira (NG), pesos de espigas (PE, g) e de grãos por espigas (PG, g) e peso de 1.000 grãos (PM, g) para os grupos de raças de milho indígena, comerciais antigas, comerciais recentes e comerciais exóticas. Médias dos Acessos por grupo de raças Caracteres Indígenas Comerciais Antigas Comerciais recentes Comerciais Exóticas Geral FM 67,30 68,83 69,87 58,67 68,70 FF 70,40 72,30 74,05 62,67 72,49 RP 21,38 23,00 22,71 18,67 22,43 AP 228,60 270,52 286,79 286,33 274,97 AE 117,50 150,43 168,00 157,67 156,01 FA 5,50 5,65 5,74 6,33 5,73 FT 13,88 15,17 14,86 14,33 14,86 DC 22,25 23,22 23,09 23,00 23,01 NQ1 6,62 7,52 7,31 5,50 7,22 CE 142,62 145,09 135,29 141,00 139,92 DE 41,77 39,04 45,12 40,67 42,50

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DS 25,00 24,09 26,24 23,00 25,24 NF 14,62 12,70 14,41 12,00 13,84 NG 30,31 31,43 31,71 34,00 31,50 PE 126,46 126,83 146,97 139,67 137,26 PG 103,23 107,83 122,71 115,00 112,61 PM 318,50 328,49 349,09 398,85 339,35 1 Qualidade de espiga: escala notas de 1 a 9, sendo 1 atribuída às espigas de qualidade péssima e 9 atribuída às espigas de qualidade ótima. Figura 2. Distribuições das frequências dos acessos do BAG Milho referentes às raças enviadas para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) para os descritores Número de Dias para Florescimento Masculino (a), número de dias para Florescimento Feminino (b), Posição de Espiga (c), Número de Ramificações do Pendão (d), Altura de Plantas (e), Altura de Espigas (f) e Número de Folhas Acima da Primeira Espiga (g).

(b) 1900ral 1900ral

1- Ereta 2- Oblíqua 3- Decumbente

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral 1900ral

(c)

No. de Ramif. do Pendão 1 [15,0; 17,8) 2 [17,8; 20,6) 3 [20,6; 23,4) 4 [23,4; 26,2) 5 [26,2; 29,0) 6 [29,0; 31,8) 7 [31,8; 34,6) 8 [34,6; 37,4) 9 [37,4; 40,2) Altura de Espigas (cm) 1 [100,0; 115,3) 2 [115,3; 130,8) 3 [130,8; 146,2) 4 [146,2; 161,6) 5 [161,6; 177,0) 6 [177,0; 192,4) 7 [192,4; 207,8) 8 [207,8; 223,2) 9 [223,2; 238,6)

(d)

1900ral 1900ral

1900ral

No. de Folhas acima da Primeira Espiga 1- 4 folhas 2- 5 folhas 3- 6 folhas 4- 7 folhas

1900ral

(g) 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

(f)

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

(e)

1900ral

1900ral

1900ral

Altura de Plantas (cm) 1 [181,0; 201,5) 2 [201,5; 222,0) 3 [222,0; 242,5) 4 [242,5; 263,0) 5 [263,0; 283,5) 6 [283,5; 304,0) 7 [304,0; 324,5) 8 [324,5; 345,0) 9 [345,0; 365,5)

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral 1900ral

Florescimento Feminino 1 [54,0; 58,6) 2 [58,6; 63,2) 3 [63,2; 67,8) 4 [67,8; 72,4) 5 [72,4; 77,0) 6 [77,0; 81,6) 7 [81,6; 86,2) 8 [86,2; 90,8) 9 [90,8; 95,4)

1900ral

Posição de Es- 1900ral piga

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

Florescimento Masculino 1 [52,0; 56,3) 2 [56,3; 60,8) 3 [60,8; 65,2) 4 [65,2; 69,6) 5 [69,6; 74,0) 6 [74,0; 78,4) 7 [78,4; 82,8) 8 [82,8; 87,2) 9 [87,2; 91,5)

1900ral

(a)

1900ral

1900ral

Raças Indígenas Raças Comerciais Antigas Raças Comerciais Recentes Raças Comerciais Exóticas

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Figura 3. Distribuições das frequências dos acessos do BAG Milho referentes às raças enviadas para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) para os descritores Número Total de Folhas (a), Diâmetro do Colmo (b), Nota de Qualidade de Espiga (c), Tipo de Espiga (d) e Arranjo de Grãos (e), Cor de Grão (f) e Tipo de Grão (g). 1900ral 1900ral

No. Total de Folhas 1-12 folhas 2-13 folhas 3-14 folhas 4-15 folhas 5-16 folhas 6-17 folhas 7-18 folhas

(a)

1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

1900ral

Diâmetro do Colmo (cm) 1- 19 2- 20 3- 21 4- 22 5- 23 6- 24 7- 25 8- 26 9- 27 ou 28

(b)

1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

Nota de Quali-

1900ral

(c)

dade de Espiga 1- Nota 4 2- Nota 5 3- Nota 6 4- Nota 7 5- Nota 8 6- Nota 9

1900ral 1900ral 1900ral

(d)

1900ral

Tipo de Espiga 1- Cilíndrica 2- Cônica-cilíndrica 3- Cônica

1900ral

1900ral 1900ral

1900ral

(e)

1900ral

1900ral

Arranjo de Grãos 1900ral 1-Reto 2-Entrelaçado 1900ral

1900ral

(f)

1900ral

1900ral

Cor de Grão Apresenta grãos: 1- Brancos 2-Amarelos ou Alaranjados 3-Vermelhos ou Púrpura

1900ral 1900ral

1900ral 1900ral

1900ral

(g)

1900ral 1900ral

1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

Tipo de Grão 1- Dentado ou Semidentado 2- Duro ou Semiduro 3- Farináceo 4- Pipoca

Raças Indígenas Raças Comerciais Antigas Raças Comerciais Recentes

1900ral

Raças Comerciais Exóticas

1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

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Figura 4. Distribuições das frequências dos acessos do BAG Milho referentes às raças enviadas para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. (Svalbard Global Seed Vault) para os descritores Comprimento da Espiga (a), Diâmetro de Espiga (b), Diâmetro do Sabugo (c), Número de Fileiras de Grãos (d), Número de Grãos por Fileira (e), Peso de Espigas por Planta (f), Peso de Grãos por Espiga (g) e Peso de 1.000 Sementes (h). 1900ral

(a)

1900ral

1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral 1900ral

(c)

1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral 1900ral

(e)

1900ral 1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral 1900ral

(g)

1900ral 1900ral 1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

Comprimento da Espiga (cm) 1 [080,0; 093,4) 2 [093,4; 107,0) 3 [107,0; 120,5) 4 [120,5; 134,0) 5 [134,0; 147,5) 6 [147,5; 161,0) 7 [161,0; 174,5) 8 [174,5; 188,0) 9 [188,0; 201,5)

1900ral

Diâmetro do Sabugo (mm) 1 [17,0; 19,3) 2 [19,3; 21,6) 3 [21,6; 23,9) 4 [23,9; 26,2) 5 [26,2; 28,5) 6 [28,5; 30,8) 7 [30,8; 33,1) 8 [33,1; 35,4) 9 [35,4; 37,7)

1900ral

1900ral

(b)

1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

1900ral

No. de Fileiras de Grãos 1-8 fileiras 2-10 fileiras 3-12 fileiras 4-14 fileiras 5-16 fileiras 6-18 fileiras 7-20 fileiras

(d)

1900ral 1900ral 1900ral

Número de Grãos 1900ral por Fileira 1900ral 1 [17,0; 19,9) 2 [19,9; 22,8) 1900ral 3 [22,8; 25,7) 4 [25,7; 28,6) 1900ral 5 [28,6; 31,5) 6 [31,5; 34,4) 1900ral 7 [34,4; 37,3) 1900ral 8 [37.6; 40,2) 9 [40.2; 43,1) Peso de Grãos por 1900ral Espiga (g) 1 [041,0; 059,1) 1900ral 2 [059,1; 077,2) 3 [077,2; 095,3) 1900ral 4 [095,2; 113,4) 5 [113,4; 131,5) 6 [131,5; 149,6) 1900ral 7 [149,6; 167,7) 8 [167,7; 185,8) 1900ral 9 [185,8; 204,0)

Diâmetro da Espiga (mm) 1 [28,0; 30,9) 2 [30,9; 33,8) 3 [33,8; 36,7) 4 [36,7; 39,6) 5 [39,6; 42,5) 6 [42,5; 45,4) 7 [45,4; 48,3) 8 [48,3; 51,2) 9 [51,2; 54,1)

Peso de Espigas por Planta (g) 1 [053,0; 073,7) 2 [073,7; 094,4) 3 [094,4; 115,1) 4 [115,1; 135,8) 5 [135,8; 156,5) 6 [156,5; 177,2) 7 [177,2; 197,9) 8 [197,9; 218,6) 9 [218,6; 239,3)

(f)

(h)

Raças Indígenas

Raças Comerciais Recentes

Raças Comerciais Antigas

Raças Comerciais Exóticas

Peso de 1.000 Sementes (g) 1 [197,0; 232,9) 2 [232,9; 268,8) 3 [268,8; 304,7) 4 [304,7; 340,6) 5 [340,6; 376,5) 6 [376,5; 412,4) 7 [412,4; 448,3) 8 [448,3; 484,2) 9 [484,2; 520,1)

O número médio de dias para atingir os florescimentos masculino e feminino para os grupos de acessos em estudo tende a ser elevado em comparação ao número das cultivares precoces comercializadas atualmente, que, na sua maioria,

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atingem o florescimento em até 60 dias (PEREIRA FILHO; BORGHI, 2018). As médias para atingir os florescimentos masculino e feminino dos acessos do BAG Milho representantes das raças indígenas, comerciais antigas e exóticas foram superiores a 65 e 70 dias, respectivamente. Os acessos das raças comerciais exóticas tendem a apresentar menor número de dias para atingir os florescimentos (Figuras 2a e 2b). Os três tipos possíveis para a posição da espiga na maturação (ereta, oblíqua e decumbente) foram observados entre os acessos do BAG Milho representantes das raças brasileiras. Espigas com posição oblíqua foram as mais comuns, e o único tipo observado nos acessos representantes das raças comerciais exóticas. Entre os acessos representantes das raças indígenas não foram observadas espigas eretas, enquanto que para os demais grupos de raças foram observados todos os fenótipos possíveis para posição da espiga (Figura 2c). O número médio de ramificações do pendão no grupo é de 22, e para os grupos de raças indígenas, comerciais antigas e recentes essas estimativas são próximas a esse valor, entretanto, predominantemente, os acessos do grupo de raças comerciais exóticas apresentaram apenas por volta de 19 ramificações por pendão. Deve ser considerado que a tendência ao menor número de ramificações no pendão nos acessos das raças comerciais exóticas deve ser vista com cautela, pois o número de acessos desse grupo foi reduzido. Por outro lado, o número de ramificações no pendão é empregado na seleção em programas de melhoramento, pois menor matéria seca no pendão pode contribuir para um maior incremento na produção de grãos (Nalin et al., 2013). Raças comerciais exóticas são de introdução mais recente no Brasil e, assim, possivelmente são variedades que já passaram por melhoramento, além de apresentarem entre suas características menor número de ramificações no pendão segundo Paterniani e Goodman (1977). Apesar da pequena variação entre as médias dos grupos de raças, o número observado de ramificações do pendão dos acessos do grupo variou em um intervalo mais amplo, entre 15 e 30 ramificações. Apenas o acesso RS 445 (raça Dentado Riograndense) ficou fora deste intervalo, apresentando, em média, 40 ramificações por pendão (Figura 2d). As médias gerais dos acessos em estudo para as alturas de planta e de espigas foram de 275 e 156 cm, respectivamente. As maiores alturas de plantas e de espigas foram obtidas para os acessos do grupo de raças comerciais recentes, seguido dos acessos das raças comerciais exóticas e comerciais antigas; e os acessos das raças indígenas apresentaram, na sua maioria, plantas de menor porte, com inserção de espiga mais baixa (Figuras 2e e 2f). Os intervalos em que foram distribuídas as alturas de plantas e de espigas dos acessos em estudo variaram entre 181 e 365 cm e entre 100 e 238 cm, respectivamente, indicando ampla variabilidade entre os acessos do grupo. Entretanto, a amplitude em que essas observações estão dispostas é inferior às obtidas por Teixeira et al. (2019, 2021) e Teixeira, Jesus e Bueno (2020) em estudos com outros grupos de acessos do BAG Milho. As alturas médias de plantas e de espigas de acessos do BAG são, em geral, muito superiores às apresentadas pelas cultivares comerciais. A comparação entre os acessos do BAG Milho e cultivares do tipo variedades melhoradas de polinização aberta, e não híbridas, são mais igualitárias, pois essas variedades são submetidas à mesma forma de multiplicação dos acessos do BAG. A variedade BRS Caimbé, lançada em 2009 (EMBRAPA, 2009; OLIVEIRA et al., 2013), caracteriza-se por ter alturas de planta e de espiga médias de 215 e 110 cm, respectivamente, muito inferiores aos valores observados no grupo de acessos em estudo. Em média, os acessos do grupo apresentaram 5,7 folhas acima da primeira espiga e 14,9 folhas totais, com ligeira tendência a maior número de folhas acima da espiga para os acessos das raças comerciais exóticas, seguidos dos acessos das raças comerciais recentes, comerciais antigas e indígenas. A área foliar fisiologicamente ativa acima da espiga é mais eficiente na produtividade de grãos (ALVIM et al., 2010), sendo, portanto, um caráter de emprego potencial na seleção em programas de melhoramento. Esse fato está de acordo com a observação de maior número de folhas acima da espiga em raças de formação mais recente. O número total de folhas, em geral, foi mais elevado para os acessos dos grupos de raças comerciais antigas, seguido dos acessos das raças comerciais recentes, comerciais exóticas e indígenas (Figuras 2g e 3a). A média dos acessos do grupo para o descritor diâmetro do colmo foi por volta de 23 mm, e as médias dos grupos de raças não divergiram muito desse valor, exceto para o grupo de raças indígenas, em que seus acessos apresentaram diâmetro médio do colmo ligeiramente inferior (Figura 3b). A amplitude da distribuição das observações para o diâmetro do colmo no presente grupo de acessos do BAG Milho foi um pouco menor do que as obtidas por Teixeira et al. (2019, 2021) e Teixeira, Jesus e Bueno (2020) em estudos com outros grupos de acessos do BAG Milho.

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Os próximos descritores a serem apresentados são relacionados às espigas e aos grãos, e são de grande relevância para a classificação dos acessos por raça (PATERNIANI; GOODMAN, 1977). Alguns aspectos das espigas são ainda relevantes na classificação comercial de grãos, na descrição de cultivares (PEREIRA FILHO; BORGHI, 2018) e na classificação de linhagens em grupos heteróticos em programas de melhoramento (PARENTONI et al., 2001). A nota de qualidade da espiga é um descritor subjetivo (TEIXEIRA; JESUS; BUENO, 2020) que envolve diversos fatores da aparência desta. Em geral, os acessos do grupo apresentaram boa qualidade de espigas, com as maiores notas sendo obtidas para acessos das raças comerciais antigas, e as menores, para os acessos das raças comerciais exóticas (Figura 3c). Outro aspecto observado da espiga foi o seu formato. No grupo em estudo predominaram acessos com espigas cilíndricas, que estiveram presentes em todos os grupos de raças. Espigas com formato cônico-cilíndrico foram observadas apenas entre acessos dos grupos de raças indígenas e comerciais antigas, e espigas no formato cônico foram observadas nos grupos de raças comerciais antigas e recentes unicamente (Figura 3d). Conforme já mencionado, o arranjo de grãos na espiga do tipo reto ou levemente encurvado esteve presente em todos os acessos, exceto para o MT 008 (raça Entrelaçado), que apresentou arranjo do tipo entrelaçado, característica da raça (Figura 3e). Amarela ou alaranjada são as cores de grãos mais frequentes entre os acessos do BAG representantes das raças brasileira de milho, seguidas da cor branca, e acessos com grãos nas cores vermelha ou preta são mais raros no grupo, embora presentes. Acessos com grãos nas cores amarela ou alaranjada, branca e vermelha ou preta estiveram presentes em todos os grupos de raças (Figura 3f). Acessos com grãos classificados nos tipos dentado ou semidentado são os mais comuns entre os representantes das raças brasileira de milho e estiveram presentes em todos os grupos de raças. O tipo de grãos duro ou semiduro foi o segundo mais frequente entre os acessos em estudo e também presente em todos os grupos de raças. Acessos com grãos do tipo farináceo estiveram presentes entre acessos das raças indígenas deste estudo. Já acessos com grãos do tipo pipoca contaram com poucos representantes nesse conjunto, e estiveram presentes apenas entre acessos classificados nos grupos de raças comerciais antigas e indígenas (Figura 3g). O tipo de grão é um fator preponderante para a classificação de variedades de milho em raças, haja vista que a própria nomenclatura das raças informa o tipo de grão, como é o caso das raças Entrelaçado, Dentado, Semidentado e mesmo a raça Cateto, que está associada a grãos do tipo duro (PATERNIANI; GOODMAN, 1977). Assim, a predominância de acessos com grãos do tipo dentado ou semidentado foi devida ao maior número de raças com esses tipos de grãos, especialmente entre o grupo de raças comerciais recentes. A maior representatividade de acessos com grãos do tipo dentado na amostra de acessos enviada para o Banco Mundial de sementes em Svalbard não foi apenas uma consequência do maior número de raças com esse tipo de grãos, mas também um reflexo da composição do BAG Milho em si, pois o tipo de grão dentado é o mais comum no acervo (ABADIE et al., 2000). O comprimento médio de espigas dos acessos em estudo foi de 140 mm e, em média, os acessos classificados no grupo das raças comerciais antigas apresentaram espigas mais longas, seguidas dos acessos das raças indígenas, comerciais exóticas e recentes (Figura 4a). A média geral para o diâmetro da espiga foi de 42,5 mm e, na sua maioria, espigas de maior diâmetro foram encontradas entre os acessos representantes das raças comerciais recentes, seguidos dos acessos das raças indígenas, comerciais exóticas e antigas (Figura 4b). Já o diâmetro médio de sabugos do grupo foi 25,2 mm, e os acessos das raças comerciais recentes apresentaram os maiores diâmetros de sabugo, seguidos das raças indígenas, comerciais antigas e exóticas (Figura 4c). A distribuição dos valores observados variou de 80 a 201 mm, 28 a 54 mm, e 17 a 37 mm, respectivamente para o comprimento de espigas, diâmetro de espigas e diâmetro de sabugos. Esses intervalos foram ligeiramente menores do que os observados por Teixeira et al. (2019, 2021) e Teixeira, Jesus e Bueno (2020) em outros grupos de acessos do BAG Milho, indicando, assim, a existência de variabilidade entre os acessos enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard representativos do BAG Milho. Os comprimentos e diâmetro de espigas, assim como o diâmetro de sabugo, são caracteres comumente empregados na seleção praticada pelo melhoramento, assim como a relação entre eles. A tendência observada de espigas mais longas e com menor diâmetro em raças comerciais antigas, e o oposto em raças comerciais recentes, indica uma mudança no padrão de seleção praticado por agricultores, especialmente se for considerado que a data de coleta de muitos destes acessos foi anterior à década de 1970, época a partir da qual o uso de cultivares melhoradas se intensificou no Brasil (SAWAZAKI; PATERNIANI, 2004). Isso indica que os acessos em estudo devem ter passado por pressão de seleção praticada pelo agricultor. Deve ser considerado que grande parte dos acessos estudados, assim como os demais acessos do BAG Milho como um todo, são originários de regiões Sul 22


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e Sudeste, que se localizam relativamente próximas e são berço do milho comercial e dos programas de melhoramento de milho no Brasil, o que fortifica a suposição de mudança nos critérios de seleção para o tipo de espiga em acessos originários destas regiões. Outra observação é que, em geral, espigas de maior diâmetro também apresentam maiores sabugos. Entretanto ao serem comparadas as médias dos acessos classificados nos grupos de raças comerciais antigas e exóticas é possível verificar que os menores diâmetros de espigas são observados nas raças comerciais antigas, e os menores diâmetros de sabugos são observados entre acessos das raças comerciais exóticas, indicando tendência a maior profundidade de grãos nesse último grupo. Assim, se for considerada a profundidade média de grãos, tomada pela diferença entre diâmetro de espiga e diâmetro de sabugos, temos que a profundidade média de grãos dos acessos das raças comerciais antigas é 14,95 mm, enquanto a das raças exóticas é 17,67 mm, indicando maior camada de grãos nas espigas dessas últimas. O número de fileiras de grãos é decisivo para a identificação de algumas raças, como Canário de Ocho e Cravo. Além disso, o número de fileira de grãos é um caráter que apresenta uma particularidade, pois cada espiga tem sempre um número par de fileiras de grãos (Magalhães, 2011). Os acessos em estudo apresentaram, em média, 14 fileiras de grãos por espigas, que é a observação mais comum em acessos do BAG Milho (TEIXEIRA et al., 2019, 2021; TEIXEIRA; JESUS; BUENO, 2020). Em média, os acessos classificados em raças dos grupos indígena e comerciais recentes apresentaram espigas com 14 fileiras de grãos, e os acessos dos grupos de raças comerciais antigas e comerciais exóticas apresentaram espigas com menor número de fileiras de grãos. Contudo, os valores observados estão dispostos em intervalos amplos (Figura 4d). Apenas dois acessos (Branco com oito fileiras e Composto Canário de Ocho) classificados na raça Canário de Ocho (comercial antiga) apresentaram espigas com oito fileiras de grãos, assim como apenas os acessos Dente Cravo Composto São Simão, RGS VIII e RS 054 classificados na raça Cravo (comercial recente) apresentaram espigas com 20 fileiras de grãos. Esses resultados confirmam a importância do número de fileiras de grãos como característica típica de algumas raças. Assim, é esperado que entre acessos de algumas raças haja pouca variação para o número de fileiras de grãos, por outro lado, se for considerado o conjunto dos acessos que representam as raças brasileiras de milho, é possível verificar ampla variação para esse descritor. Os acessos em estudo apresentaram por volta de 31 grãos por fileiras em média, e as médias obtidas para os grupos de raças também foram próximas a essa estimativa, exceto para a média do número de grãos por fileira para os acessos das raças comerciais exóticas, que foi ligeiramente superior aos demais. Ao serem observados os intervalos em que foram feitas as observações é possível notar grande variabilidade para o caractere, especialmente entre os acessos das raças comerciais recentes, que apresentaram acessos variando de 17 a 43 grãos por fileiras (Figura 4e). Os pesos de espigas e de grãos por espiga são descritores que apresentam correlação alta e positiva (r=0,9856). Em outros estudos envolvendo acessos do BAG também foram encontradas altas correlações entre esses caracteres (TEIXEIRA et al., 2019, 2021; TEIXEIRA; JESUS; BUENO (2020). Entretanto, como esses caracteres estão relacionados à produtividade de grãos por planta, são de interesse sob o ponto de vista do melhoramento, então ambos foram mantidos nas demais etapas do estudo. Em média, os acessos do grupo apresentaram pesos de espigas por planta e de grãos por espiga de 137 e 112 g, respectivamente. Os acessos das raças comerciais exóticas apresentaram maiores peso de espigas e peso de grão médios, seguidas dos acessos dos grupos de raça comerciais exóticas, comerciais antigas e indígenas. Possivelmente, isso se deve à pressão de seleção para a produtividade exercida ao longo do tempo, durante a formação das raças de milho brasileiras. A observação dos menores pesos de espigas e de grãos por espigas das raças comerciais exóticas pode ser atribuída à eventual adaptação menor de seus acessos às condições de cultivo brasileiras ou, ainda, por causa de variações amostrais decorrentes do menor número de representantes destas raças no presente estudo. Foi observada ampla variação entre os acessos do grupo para peso de espiga e de grãos por espiga, respectivamente, de 53 g a 239 g (Figura 4f) e de 41 g a 204 g (Figura 4g), indicando grande diversidade entre os acessos do grupo em estudo. O peso médio de 1.000 sementes dos acessos do grupo foi por volta de 339 g. O grupo das raças comerciais exóticas apresentou, em média, maior peso de 1.000 sementes, seguido pelas raças comerciais recentes, raças comerciais antigas e indígenas, embora o acesso com maior peso de 1.000 sementes tenha sido observado entre os acessos da raça indígena Lenha. Assim como os caracteres tipo de grãos, cor dos grãos e número de fileiras da espiga, o peso de 1.000 sementes é um indicativo do tamanho do grão e determinante para a classificação do milho em raças, pois boa parte das raças indígenas apresenta grãos farináceos, enquanto os grãos duros são observados na maioria das raças comerciais antigas, e os grãos dentados ou semidentados estão presentes, em geral, para as variedades das raças comerciais recentes e exóticas 23


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(PATERNIANI; GOODMAN, 1977). Os grãos farináceos tendem a ser mais leves, o que corrobora com o menor peso médio de 1.000 sementes observado para os acessos das raças indígenas. Os acessos do BAG Milho com grãos brancos foram estudados por Teixeira et al. (2019) e Teixeira, Jesus e Bueno (2020), que encontraram maiores médias de pesos de 1.000 sementes para os acessos dentados, menores para os duros e valores intermediários para os semidentados, o que está de acordo com os presentes resultados. Apesar de a amplitude da dispersão das estimativas de peso de 1.000 sementes em grupos de raças ser estreita, as médias do peso de 1.000 sementes para a totalidade dos acessos em estudo estão dispersas em um amplo intervalo, variando de 197 g a 520 g (Figura 4h). Assim, o acesso com o maior peso de 1.000 sementes foi por volta de 2,5 vezes mais pesado do que aquele com a menor estimativa para esse descritor. Uma das razões para a análise dos dados de caracterização é a verificação da correspondência entre as características típicas das raças apresentadas por Paterniani e Goodman (1977) e os dados de caracterização obtidos para os acessos classificados nessas raças. Em geral, os atributos observados nos acessos com a caracterização estão de acordo com as especificações das raças, especialmente para os acessos das raças Moroti, Cateto, Dente Riograndense, Hickory King e Tuson. Contudo, alguns acessos apresentam comportamento divergente do esperado para a raça na qual foram classificados, especialmente quanto a caracteres observados na espiga e nos grãos, como número de fileiras, tipo e cor de grãos. É o caso de acessos com grãos dentados entre acessos das raças Lenha, Cristal e Canario de Ocho, e de grãos do tipo duro entre acessos das raças Entrelaçado, Dente Branco, Semidentado e Cravo. Possivelmente, os atributos inesperados se devem a eventuais cruzamentos indesejáveis que tenham ocorrido em etapas de multiplicação antes ou após a entrada dos acessos no BAG Milho. Outra possibilidade para a divergência entre a descrição da raça e alguns descritores é o conjunto de critérios para a classificação dos acessos em raças. Assim, possivelmente, os acessos do BAG Milho foram classificados em raças por apresentarem a maioria dos atributos que as caracterizam. Por fim, é possível ter ocorrido erros na classificação de raças no registro de dados de passaporte. A despeito de terem sido observados caracteres que não estão de acordo com o esperado para algumas raças, foi possível verificar que a maioria dos atributos dos acessos estão de acordo com o esperado para as respectivas raças e, ainda, que características específicas das raças estão presentes em pelo menos alguns dos acessos que as representam no presente trabalho. Os dendrogramas obtidos com base em caracteres morfológicos que ilustram a diversidade entre os acessos do BAG Milho classificados nos grupos de raças indígenas, comerciais antigas, comerciais recentes e comerciais exóticas estão apresentados nas Figuras 5 a 8, respectivamente. No canto inferior direito de cada gráfico, está apresentada a correlação cofenética, com as estimativas de correlação presentes no intervalo de 0,5833 a 0,9997. Apenas para o agrupamento dos acessos das raças comerciais exótica, em que são considerados apenas três acessos, foi obtida correlação cofenética elevada. As demais correlações são ligeiramente menores que 0,80, que é o valor mínimo aceito sugerido para essa correlação (BARROSO; ARTES, 2003; CRUZ; CARNEIRO, 2003; CARGNELUTTI FILHO; RIBEIRO; BURIN, 2010). Assim, os resultados apresentados nos dendrogramas devem ser considerados não conclusivos e apenas uma sugestão de agrupamento dos acessos, talvez por terem se baseado em uma quantidade pequena de acessos por raça. As distâncias estimadas entre os acessos variaram de 0,37 a 0,82 entre acessos das raças indígenas; de 0,43 a 0,96 entre acessos das raças comerciais antigas; de 0,29 a 0,95 entre acessos das raças comerciais recentes e de 0,58 a 0, 85 entre acessos das raças comerciais exóticas. Esses intervalos são superiores e mais amplos do que os encontrados por Teixeira et al. (2019) e Teixeira, Jesus e Bueno (2020) em estudos com acessos do BAG Milho com grãos brancos, e similares aos intervalos encontrados por Teixeira et al. (2021) em estudo com acessos do BAG Milho de origem indígena, indicando, assim, grande variabilidade entre os acessos representantes das raças brasileiras de milho enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard. O agrupamento dos acessos classificados nas raças indígenas, comerciais antigas e comerciais recentes indicou a formação de um ou dois grupos em que foram reunidos quase que a totalidade dos acessos de cada grupo de raças e outros grupos com, no máximo, três integrantes. De uma maneira geral, os acessos inseridos nos grupos com menor número de representantes mostraram comportamento divergente dos demais para um ou poucos caracteres. No dendrograma obtido para os acessos das raças indígenas foram formados três grupos (Figura 5). No grupo 1, estão os acessos MT II, MT III e MT V da raça Moroti; RS 229, RS 230 e SP 620 da raça Caingang; RGS XX e RS 131 da raça Lenha e Composto Guarani da raça Guarani. Esses acessos corresponderam à totalidade dos acessos da raça Moroti e Caingang e à maioria dos acessos da raça Lenha no presente estudo. Os comportamentos deles foram intermediários 24


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para diversos descritores, apresentando grãos, em geral, brancos e farináceos ou dentados. Apenas o acesso Pipoca Guarani (raça Guarani) foi alocado no grupo 2. Esse acesso apresentou baixas alturas de planta e de inserção da primeira espiga, baixos peso de espigas por planta e de grãos por espigas, além de grãos do tipo pipoca. O grupo 3 foi formado pelos acessos RO 001 da raça Entrelaçado e RS 119 da raça Lenha. Ambos os acessos apresentam grãos alaranjados e outros caracteres não presentes nos demais acessos das raças indígenas. O acesso RO 001 apresenta espigas cônicas, e o RS 119 é precoce e apresenta elevada altura de planta.

G3

G2

Grupo1

Figura 5. Dendrograma com base em caracteres morfológicos ilustrando a divergência entre os acessos do BAG Milho classificados em raças indígenas enviados para conservação no Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault). Correlação cofenética = 0,7497.

No agrupamento obtido para os acessos das raças comerciais antigas foram formados cinco grupos (Figura 6). No grupo 1, estão os acessos SC 100 e RS 539 da raça Cristal Sulino; SP XII e MG III da raça Cristal; RS 163 da raça Cateto Sulino; RS 166 da raça Cateto Sulino Grosso; MT I, RS 160, RS 102 e MS 068 da raça Cateto e SE 039 da raça Cateto Nortista. Esses acessos caracterizam-se por apresentarem, em geral, grãos brancos duros ou semiduros. No grupo 2 foram reunidos apenas os acessos Branco 8 fileiras da raça Canário de Ocho e RN 011 da raça Cateto Nortista, que tiveram em comum os grãos do tipo dentado e semidentado, e espigas com baixo número de fileiras de grãos. O grupo 3 engloba os acessos AL 026 da raça Cristal, Composto Canário de 8 da raça Canário de Ocho, Cateto Ribeirão Preto, RS 096, Cateto São Simão, BA I e SP 014 da raça Cateto e RN 012 da raça Cateto Nortista, que se caracterizam por apresentarem grãos semiduros ou semidentados, e menores alturas de plantas e de espigas do que os acessos do grupo 2. O grupo 4 foi formado apenas pelo acesso SP XI da raça Cristal, que apresentou comportamento intermediário em relação aos demais grupos para diversos caracteres. O grupo 5 também foi formado por apenas um acesso da raça cristal, SP 097, que se caracteriza por ser precoce, com elevadas alturas de planta e de espiga, além de maiores diâmetros de espigas e de sabugo. Figura 6. Dendrograma com base em caracteres morfológicos ilustrando a divergência entre os acessos do BAG Milho classificados em raças comerciais antigas enviados para conservação no Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault). Correlação cofenética = 0,5833.

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No agrupamento referente às raças comerciais recentes foram obtidos quatro grupos (Figura 7). A maioria dos acessos foram incluídos no grupo 1, sendo eles: RR 039, Cunha, MG 090, RR 040 da raça Dentado; RS 003, RGS III, RGS V, RS 172, RS 018 da raça Dentado Riograndense; SP 008, SP 009, RS 008 da raça Dentado Paulista; RGS XV, RS 005, MT 042, SP 150, RS 092, PR 062, SE 037, BA 231 e SE 028 da raça Semidentado; SP 062 e SC II da raça Dentado Branco e; Dentado Composto São Simão, RGS VIII, PR 006, RS 051, SP 006, RS 054, SP 046 e SP I da raça Cravo. Nesse grupo, foram incluídos a totalidade dos acessos avaliados das raças Dentado Paulista, Semidentado e Cravo. Assim, o comportamento destes acessos foi muito homogêneo para diversos dos caracteres considerados. O grupo 2 foi formado apenas pelo acesso RS 445, da raça Dentado Riograndense, que se destacou dos demais acessos por apresentar elevados números de ramificações no pendão e de folhas, e também elevados comprimento e diâmetro de espigas, diâmetro de sabugo, e pesos de espigas por planta, de grãos por espiga e de 1.000 sementes. No grupo 3 foram incluídos os acessos MG 089, da raça dentado, e SP V e RGS X, da raça Dentado Branco. Esses acessos diferenciaram-se por serem tardios e apresentarem elevando número de folhas. Apenas o acesso RS 075, da raça Dentado Branco, apresentou grãos duros e alaranjados, o que não condiz com a especificação da raça.

Gr4

Gr3 Gr2

Grupo 1

Figura 7. Dendrograma com base em caracteres morfológicos ilustrando a divergência entre os acessos do BAG Milho classificados em raças comerciais recentes enviados para conservação no Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault). Correlação cofenética = 0,5844

No agrupamento referente às raças comerciais exóticas foram obtidos dois grupos (Figura 8), que foram formados de acordo com as suas duas raças. No grupo 1, foram reunidos os acessos RGS IX e RS 091, ambos da raça Hickory King, e o grupo 2 foi formado pelo acesso BA III da raça Tuson.

Gr2

Gr1

Figura 8. Dendrograma com base em caracteres morfológicos ilustrando a divergência entre os acessos do BAG Milho classificados em raças comerciais exóticas enviados para conservação no Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault). Correlação cofenética = 0,9997.

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Considerações Finais A análise dos dados de passaporte e de caracterização permite inferir que há grande variabilidade genética entre os acessos do BAG Milho enviados para o Banco Mundial de Sementes em Svalbard (Svalbard Global Seed Vault), conforme desejado. As raças brasileiras de milho conservadas ex situ no banco de germoplasma estão bem representadas por esses acessos, uma vez que seus atributos estão presentes em, ao menos, parte deles, embora alguns desses acessos tenham apresentado atributos inesperados para as raças em que estão classificados. REFERÊNCIAS ABADIE, T.; CORDEIRO, C. M. T.; ANDRADE, R. V.; PARENTONI, S. N.; MAGALHÃES, J. R. A coleção nuclear de milho para o Brasil. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2000. ALELO. Brasília, DF: Ministério da Agricultura Pecuária e Desenvolvimento: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 2021. Disponível em: http://alelobag.cenargen.embrapa.br/. Acesso em: 13 mar. 2021. ALVIM, K. R. T.; BRITO, C. H.; BRANDÃO, A. M.; GOMES, L. S.; LOPES, M. T. G. Quantificação da área foliar e feito da desfolha em componentes de produção de milho. Ciência Rural, Santa Maria, v. 40, p. 1017-1022, 2010. BARROSO, L. P.; ARTES, R. Análise multivariada. Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2003. 151 p. CARGNELUTTI FILHO, A.; RIBEIRO, N. D.; BURIN, C. Consistência do padrão de agrupamento de cultivares de feijão conforme medidas de dissimilaridade e métodos de agrupamento. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 45, p. 236-243, 2010. CROP TRUST. Svalbard Global Seed Vault. Bonn, 2021. Disponível em: https://www.croptrust.org/our-work/svalbardglobal-seed-vault/. Acesso em: 14 mar. 2021. CRUZ, C. D. Programa Genes: análise multivariada e simulação. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2006. v. 1. 175 p. CRUZ, C. D.; CARNEIRO, P. C. S. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2003. 585 p. CRUZ, C. D.; FERREIRA, F. M.; PESSONI, L. A. Biometria aplicada ao estudo da diversidade genética. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema, 2011. 620 p. EMBRAPA. BRS Caimbé: segurança de produção e baixo custo. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2009. 1 folder. EMBRAPA. Embrapa envia sementes de milho e de arroz para a Reserva mundial de Sementes em Svalbard. Brasília, DF, 2012. Notícias. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/1482669/embrapa-envia-sementes-de-milho-e-arroz-para-o-banco-de-svalbard-na-noruega. Acesso em: 15 mar. 2021. EMBRAPA. Embrapa enviará no dia 10 nova remessa de sementes para o banco mundial de sementes em Svalbard, na Noruega. Brasília, DF, 2020. Notícias. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/49359468/brasil-enviara-no-dia-10-nova-remessa-de-sementes-para-o-banco-mundial-de-sementes-de-svalbard-nanoruega. Acesso em: 15 mar. 2021. IBPGR. Descriptors for maize. Mexico: International Maize and Wheat Improvement Center; Rome: International Board for Plant Genetic Resources, 1991. MAGALHÃES, P. C. Fisiologia da produção. In: CRUZ, J. C.; MAGALHÃES, P. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; MOREIRA, J. A. A. Milho: o produtor pergunta a Embrapa reponde. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica. 2011. p. 27-36. (Coleção 500 perguntas e 500 respostas). NALIN, R. S.; MOURA, R.; GUEDES, F. L.; GOUSSAIN, R. C. S.; NALIN, R. S. Avaliação da variabilidade genética e correlações fenotípicas em caracteres do pendão e produção de grãos de híbridos simples de milho (Zea mays L.). In: CONGRESSO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS, 7., 2013, Uberlândia. Anais... Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2013. p. 1977-1980.

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RG NEWS Raízes tuberosas e estruturas vegetativas aéreas: caracterização de acessos de batata-doce no IAC para o lançamento de novos cultivares Bruna Roberta Viana Governo1, Daniela Franco Lima1, Danyele A. Rodrigues1, Carla Fernanda Nardin2, Valdemir Antonio Peressin3, José Carlos Feltran3, Eliane Gomes Fabri3 e Luís Carlos Bernacci2 Resumo A variabilidade fenotípica e genotípica, que confere adaptabilidade a diferentes condições edafoclimáticas, está entre as características mais relevantes da batata-doce. O objetivo geral desta pesquisa foi caracterizar morfoagronomicamente, a partir de descritores aceitos internacionalmente e outros em avaliação, as raízes tuberosas e estruturas vegetativas aéreas de 48 diferentes acessos, em processo de seleção no Instituto Agronômico, e três cultivares já em uso pelos agricultores. Entre os descritores, os com menores valores de coeficiente de variação (melhores descritores), foram folhas unilobadas x multilobadas e sobreposição dos ápices no início do desenvolvimento (nas partes vegetativas) e intensidade da cor da pele e a cor predominante da polpa (nas raízes tuberosas), para aqueles exclusivamente qualitativos. Para os descritores associados a quantidades e medições, os melhores foram comprimentos dos ramos principais e diâmetro do entrenó (partes vegetativas) e comprimento do segundo broto emitido e número médio de brotos após 120 dias (raízes tuberosas). A análise contribuiu para o processo de seleção e possibilitou a distinção de acessos com características incomuns ou extremas, desejáveis ou indesejáveis. Palavras-Chave: caracterização morfoagronômica; novos cultivares; Ipomoea batatas; banco de germoplasma; variabilidade genética. Abstract (Tuberous roots and aerial vegetative structures: characterization of sweet potato accessions at IAC for the production of new cultivars) The phenotypic and genotypic variability, which gives it adaptability to different edaphoclimatic conditions, is among the most relevant characteristics of sweet potato. The general objective of this research was to characterize morphoagronomically, from internationally accepted descriptors and others under evaluation, the tuberous roots and aerial vegetative structures of 48 different accessions, in the selection process at Instituto Agronômico, and three cultivars already in use by farmers. Among the descriptors, those with the lowest coefficient of variation values (best descriptors) were unilobed x multilobed leaves and apex overlap at the beginning of development (in the vegetative parts) and intensity of skin color and the predominant pulp color (in the roots tuberoses), for those exclusively qualitative. For the descriptors associated with quantities and measurements, the best ones were length of the main branches and internode diameter (vegetative parts) and length of the second shoot emitted and average number of shoots after 120 days (tuberoses roots). The analysis contributed to the selection process and enabled the distinction of accessions with unusual or extreme, desirable or undesirable characteristics. Keywords: morphoagronomic characterization; new cultivars; Ipomoea batatas; germplasm bank; genetic variability.

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Universidade Paulista, Av. Comendador Enzo Ferrari, 280, 13045-770, Campinas, SP, Brasil. E-mail: brunarobertagoverno@gmail.com, daniela432178@gmail.com, danyele_hm@hotmail.com 2

IAC - Instituto Agronômico – Centro de Recursos Genéticos Vegetais, Fazenda Santa Elisa - Av. Dr. Theodureto de Almeida Camargo, 1500, 13075-630, Campinas, SP, Brasil. E-mail: carla.nardin@sp.gov.br, luis.bernacci@sp.gov.br 3 IAC - Instituto Agronômico – Centro de Horticultura, Fazenda Santa Elisa - Av. Dr. Theodureto de Almeida Camargo, 1500, 13075-630, Campinas, SP, Brasil. Email: valdemir.peressin@sp.gov.br, jose.feltran@sp.gov.br, eliane.fabri@sp.gov.br

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Introdução A batata-doce, Ipomoea batatas (L.) Lam., está entre os cultivos mais difundidos no mundo (ROULLIER et al., 2013a). É uma hortaliça que se destaca pela facilidade de cultivo, rusticidade, grande resistência a pragas, adaptação em diferentes solos e climas, alta tolerância à seca, desenvolvendo-se bem nas regiões tropicais e subtropicais, com grande luminosidade, apresenta significativa interação ambiental e responde bem à água e adubação equilibradas (MOULIN et al., 2014; PERESSIN & FELTRAN, 2014; EMBRAPA, 2021; Silva, 2021). Pode ser usada na alimentação humana e animal, como matéria nas indústrias de alimentos, tecidos, papel, cosméticos e álcool carburante, entre outras, e tem uso medicinal e ornamental (CARDOSO et al., 2005; MOHANRAJ & SIVASANKAR, 2014; SOUSA et al. 2018). No Brasil, plantada de norte a sul (principalmente no Nordeste, Sul e Sudeste), teve a produção aumentada a partir de 2013, devido à maior difusão e demanda variada (EMBRAPA, 2021). No Brasil, na média, a produtividade é baixa, decorrente principalmente da baixa adoção tecnológica (EMBRAPA, 2021). É cultivada principalmente por pequenos agricultores, aliando baixo custo de produção e renda relativamente alta, quando bem conduzida (MOULIN et al., 2012; CARMONA et al. 2015). Hexaplóide originado na América do Sul (ROULLIER et al., 2013a; b), chegou à Nova Guiné em período pré-colombiano (ROULLIER et al. 2013b). Entre os genótipos de batata-doce em cultivo, há uma grande diversidade genética e polimorfismo (RITSCHEL e HUAMÁN, 2002; FABRI, 2009; MOULIN et al., 2014; Bevilaqua et al., 2019). O cruzamento é uma das causas da ampla variabilidade da batata-doce (CAVALCANTE et al., 2008). A correta identificação e caracterização dos genótipos é de fundamental importância para programas de melhoramento genético (MOULIN et al., 2012). A caracterização morfológica dos genótipos é normalmente a forma mais acessível de quantificar sua diversidade genética (CARMONA et al., 2015). Descritores morfológicos, aceitos internacionalmente, específicos para a cultura da batata-doce estão disponíveis (HUAMÁN, 1991). Estimativas relativamente altas de herdabilidade de algumas das características utilizadas como descritores de batata-doce aumentam a confiança na utilização dessas variáveis no processo de caracterização morfológica (JONES et al., 1969).

No processo de seleção de novos cultivares de batata-doce do IAC (Instituto Agronômico), Campinas SP, a presente iniciativa objetivou avaliar a diversidade fenotípica, por meio de descritores morfológicos (HUAMÁN, 1991), dos materiais obtidos por cruzamento. Material e Métodos Cruzamentos abertos entre seis materiais selecionados (Americana, Monalisa, SRT 47, Centenial, Rio de Janeiro II e Canadense) do Banco de Germoplasma do IAC geraram novos genótipos (~30 mil sementes). Em fases anteriores, no Programa de Melhoramento, cerca de 2 mil sementes foram germinadas e cultivadas, sendo selecionados os 170 clones mais produtivos. De agosto/2019 a agosto/2021, avaliou-se 48 acessos da atual fase de seleção, e mais 3 acessos já utilizados pelos agricultores (controle: Uruguaiana, Ligeirinha e Canadense, mais cultivada em São Paulo) foram cultivados nos 4 plantios. O acesso 707 foi cultivado apenas no primeiro plantio, enquanto os acessos 1290 no segundo plantio e o 1291 a partir do terceiro plantio. As medições e/ou observações se iniciaram após a primeira colheita. A base deste estudo foi constituída pelos descritores internacionais definidos para a cultura (HUAMÁN, 1991). Embora nem todos os descritores propostos (tal como o padrão de distribuição das raízes tuberosas) tenham sido avaliados, foram observadas, algumas características não previstas, que se mostraram de fácil avaliação, igualmente organizadas em classes. Inicialmente, considerou-se realizar 3 medições e/ou observações para cada caráter, em um dos cultivos de sequeiro, que foram complementadas com mais 2 do cultivo irrigado, buscando-se ampliar a amostragem e facilitar a obtenção de resultados unimodais. As raízes avaliadas em número maior, sendo amostradas em 2 ocasiões para o cultivo de sequeiro e 1 para o irrigado. Para reconhecer os descritores mais adequados, se considerou o coeficiente de variação (CV) do número de acessos em cada classificação e o número de classes observadas, a partir da moda por acesso. Bons descritores devem ter um grande número de classes representadas e características, sendo que menores CV do número de ocorrências por classe correspondem à distribuição mais uniforme dos acessos entre as classes.

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Local O cultivo da batata-doce foi realizado sobre leiras em condições usuais de plantio (PERESSIN & FELTRAN, 2014), na área da Horticultura (Figura 1), da Fazenda Santa Elisa (localizada a 22º 52’ 14.14” S, 47º 04’ 57.10” O, 668 m), do IAC. O primeiro plantio foi realizado em 21/fev/2018-mar/2019, sendo a colheita

realizada em 21/ago/2019. O segundo plantio em 3031/10/2019, com colheita em 10-13/mar/2020 o terceiro em 28-29/jan/2020, com colheita em 08-10/jun/2020 e o quarto e último plantio (irrigado) em meados de agosto/2020, não tendo sido colhido para esta avaliação. A parcela tinha 0,3 m entre plantas por 0,9 entre linhas, somando 0,27 m²/planta, em 3 linhas com 10 plantas cada, totalizando 8,1 m².

Figura 1: Cultivo da batata-doce, na área da Horticultura, Fazenda Santa Elisa – IAC (Campinas – SP). A. visão geral; B. vista a partir do nível do solo.

Características morfológicas: ramo, folha e raiz No início do desenvolvimento no campo do segundo plantio, foram observados o recobrimento do solo, o enroscamento das plantas em estacas e a sobreposição dos ápices dos ramos (não previsto em HUAMÁN, 1991). Posteriormente, as plantas passaram a ser acompanhadas, com visitas periódicas e realização de coletas para análise no laboratório do Herbário IAC. Mediu-se a largura da folha madura e foram feitos registros se as folhas eram inteiras e lobadas (não previstas - HUAMÁN, 1991). No último plantio, quando as plantas ficaram por mais tempo no campo e em período seco, houve acompanhamento do grau de senescência (não previsto em HUAMÁN, 1991). Para as raízes, de tamanhos considerados comerciais, visando separação mais clara, os defeitos foram subdivididos como descritores, mantendo-se juntos apenas os mais semelhantes entre si, como constrições superficiais x profundas. Massa (g), comprimento e

largura (cm), e cor do córtex das raízes (não previstas HUAMÁN, 1991), foram consideradas. Para incluir o máximo de variabilidade, em cada colheita as raízes, dentro de cada acesso, foram classificadas em batatas pequenas, médias e grandes, sendo avaliada uma batata de cada categoria de tamanho, em cada ocasião. Na primeira colheita em 2019, a batata grande foi acompanhada para avaliação quanto à brotação. Na segunda colheita, 9-10 batatas – 3(4) de cada categoria de tamanho - foram avaliadas quanto à brotação e 12 batatas (4 lotes com 1 batata de cada tamanho) foram pesadas consecutivamente toda semana (ou o quinzenalmente, a partir do 3 mês) até o início de julho (intervalo de quatro meses), sendo as batatas com sinais de decomposição ou desidratação descartadas, antes da pesagem do lote. Na terceira colheita, 10 batatas de cada acesso foram acompanhadas para observar a brotação durante cinco meses, sendo, 3 pequenas, 4 médias e 3 grandes (dentro de cada acesso). Além da contagem periódica do

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número de brotos, para duas batatas selecionadas de cada tamanho, o primeiro e segundo broto a aparecerem, em cada uma delas, foram medidos, nas mesmas ocasiões, quanto ao comprimento. Os brotos medidos foram marcados com tinta guache de cores diferentes, para diferenciação entre eles. As análises ocorreram de 26/06/2020 até 14/10/2020, totalizando 12 ocasiões de medições, passando de semanais a quinzenais, a partir de setembro, sendo os resultados agrupados em classes. As batatas comprometidas com mais de 50% eram descartadas. Amostras (ramos com folhas mais raízes tuberosas ou com flores ou frutos) de todos os materiais caracterizados foram processadas, tornando-se exsicatas e estão depositados no Herbário do IAC, estando as observações da coleta disponível em http://herbario.iac.sp.gov.br/. As avaliações foram realizadas por quatro dos autores, aos pares e/ou individualmente, com orientações e esclarecimento de dúvidas. Cada acesso foi caracterizado a partir da moda (ou modas, se bi-trimodal) para cada descritor, sendo que, em alguns casos, a variabilidade dentro do acesso não permitiu a ocorrência de moda estatística. Resultados e Discussão Ramos e folhas No total, foram analisadas 22 descritores, sendo 7 deles obtidos a partir de contagens ou medições e classificação posterior. O número de amostras analisadas variou entre 150 (para recobrimento do solo, o enroscamento das plantas em estacas e a sobreposição dos ápices dos ramos, avaliados no 3o plantio) e 350 (para o comprimento da lâmina foliar). Foram realizadas 5224 classificações, sendo 1743 resultantes de medições ou contagens. Apenas o acesso 707 não foi analisado, sistematicamente, quanto aos ramos e folhas, pois foi cultivado apenas no primeiro plantio (permanecendo apenas no matrizeiro), enquanto as análises se iniciaram pela colheita (raízes tuberosas). Quanto à sobreposição do ápice no início do desenvolvimento (CV = 109%), em 46% dos acessos não ocorreu, em 30% era ligeira, em 14% moderada e em 4% foi nítida, enquanto 6% dos acessos não apresentaram moda estatística. Em relação ao enroscamento do ápice, todos os acessos apresentaram-se sem enroscamento, nas condições de cultivo. Para o comprimento das principais ramas (CV = 46%), 60% dos acessos eram semieretos

(75-150 cm) e 40% eretos (< 75 cm), diferindo dos resultados de Fabri (2009) que encontrou mais plantas dispersas. Ainda no início do desenvolvimento, quanto ao recobrimento do solo (CV = 84%), 64% dos acessos apresentaram recobrimento alto (51% - 90%), 34% tiveram recobrimento total (> 90%), e 2% (1 acesso) médio (50% - 74%). Em relação ao comprimento do entrenó (CV = 86%), 68% dos acessos apresentaram comprimento curto (3-5 cm), 30% muito curto (< 3 cm), e 2% (1 acesso) intermediário (6-9 cm), diferindo de BEVILACQUA et al. (2019) que encontraram predominância de entrenó muito curto. Para o caractere diâmetro do entrenó (CV = 51%), 68% dos acessos apresentaram diâmetro fino (4-6 mm) e 32% intermediário (7-9 mm). Para a cor predominante do ramo (CV = 124%), 88% dos acessos eram verdes, 6% verde com poucas manchas roxas, 4% totalmente roxo escuro (Figura 2), sendo 1 acesso (2%) bimodal. A cor secundária nos ramos (CV = 130%) foi ausente para 94% dos acessos, enquanto 1 acesso (2%) era roxo nos nós, sendo 2 outros acessos bimodais. Em relação à pubescência no ápice do ramo (CV = 124%), em 44% dos acessos era ausente (glabros), 34% tiveram pubescência esparsa, 8% moderada (Figura 2), sendo bimodal em outros acessos. Em relação ao contorno geral da folha (CV = 131%), 78% dos acessos tiveram folhas lobadas (Figura 2), 12% triangular (Figura 2), 4% cordada, sendo bimodal em outros acessos, coincidindo com os resultados de outros autores (FABRI, 2009; BEVILACQUA et al., 2019) quanto à classe predominante. Entretanto, considerando folhas lobadas apenas aquelas com reentrâncias visíveis, as folhas inteiras (sem lobos) foram características de 67% dos acessos, enquanto folhas lobadas de 33% (CV = 50%). Quanto ao número de lobos (CV = 121%), foi 5 em 40% dos acessos, 3 para 26%, 1 lobo (folha inteira) para 24%, sendo bimodal em outros acessos, resultados que diferiram total (BEVILACQUA et al. 2019 – 3 lobos) ou parcialmente (FABRI, 2009 – 3 e 5 lobos) quanto à classe dominante. A forma do lobo central (CV = 126%) mais encontrada foi a triangular (50%), seguida da elíptica (30%) e lanceolada (10%), e em 1 acesso (2%) era semielíptica (Figura 2), sendo bimodal nos outros. Ápice denteado (Figura 2) ocorreu em apenas 4 amostras, não tendo sido característica para nenhum acesso. Quanto à profundidade do lobo central (CV = 80%), em 64% dos acessos era superficial, em 20% muito superficial e em 10% moderada. Para o

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comprimento da folha madura (CV = 74%), 90% dos acessos apresentaram tamanho médio (8-15 cm), e 10% pequeno (< 8 cm), o que coincidiu com outros autores (FABRI, 2009; BEVILACQUA et al. 2019) quanto à

classe dominante. Quanto à largura da folha madura (CV = 81%), 96% tiveram tamanho médio (8-15 cm) e 4% grande (16-25 cm).

Figura 2. Cor predominante do ramo (A verde, B verde com poucas manchas roxas, C totalmente roxo-escuro, D verde com muitos pontos roxos), pelos no ápice (E moderado) e cor do pecíolo (F verde, G verde com roxo perto da lâmina, H total ou principalmente roxo), forma geral da folha (I lobada, J triangular) e do lóbulo central (K denteada, L semielíptica) de batata-doce, em processo de seleção e melhoramento no IAC (Campinas – SP).

Em relação às nervuras foliares abaxiais (CV = 151%), a cor mais comumente observada foi verde (82%), seguida da roxa na maior parte ou totalmente (10%), enquanto em um acesso (2%) eram amarelas, em outro (2%) tinham manchas roxas na base da nervura principal, em outro (2%) manchas roxas em várias nervuras, sendo bimodal em outro (2%). Em relação à cor das folhas maduras (CV = 111%), em 96% dos acessos era verde, em 2% (1 acesso) verde

com borda roxa e em outros 2% (1 acesso) superior verde/inferior roxo, o que coincidiu com outros autores (FABRI, 2009; BEVILACQUA et al. 2019) quanto à classe dominante. Foram observadas, predominantemente, folhas imaturas (CV = 134%) de cor verde com a borda roxa (60%) e verde (30%), e em um acesso (2%) roxas em ambas as faces, sendo bimodal em outros, resultados que diferiram de outros autores

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(FABRI, 2009 – ligeiramente roxa; BEVILACQUA et al. 2019 – verde) quanto à classe dominante. Para o comprimento do pecíolo (CV = 100%), 86% dos acessos tiveram pecíolo curto (10-20 cm), 8% muito curto (<10 cm) e 6% intermediário (21-30 cm). Com relação à cor do pecíolo (CV = 138%), 68% eram verdes, 20% verde com roxo perto da folha (Figura 2), 4% verde com manchas roxas em todo pecíolo, 4% totalmente ou principalmente roxo, enquanto em um acesso (2%) era verde com roxo nas duas extremidades, sendo bimodal em outro. Em 56% a senescência (CV = 108%) foi intermediária, em 26% avançada e em 12% inicial, sendo bi ou trimodal nos demais. Para os ramos e folhas, os melhores descritores foram o comprimento dos ramos no início do desenvolvimento (CV = 46%), se a folha era inteira ou lobada (CV = 50%) e o diâmetro do entrenó (CV = 51%), possibilitando distribuir os acessos por classes bem representadas. A cor do pecíolo e das nervuras na face inferior (5 classes, cada) e sobreposição dos ápices (início do desenvolvimento) e forma do lobo central (4 classes, cada) foram os descritores com mais classes representadas, auxiliando na distinção dos acessos. A profundidade do lobo central (CV = 80%), recobrimento do solo (no início do desenvolvimento – CV = 84%) e comprimento do entrenó (CV = 86%) agrupou os acessos em 3 classes, cada, apresentando CV relativamente baixo, de tal forma de duas das classes foram bem representadas e a terceira possibilitou distinção complementar, contribuindo para boa distinção entre os acessos. Estes descritores, bem como comprimento, largura e cor da lâmina foliar madura, comprimento do pecíolo permitiram classificar praticamente todos os acessos, a partir da moda estatística e evidenciaram a grande variabilidade entre os diferentes acessos e o polimorfismo da batata-doce, tal como já constatado por outros autores (RITSCHEL e HUAMÁN, 2002; CAVALCANTE et al., 2008; FABRI, 2009; MOULIN et al., 2014; BEVILAQUA et al., 2019). Embora diferentes autores possam considerar diferentes descritores, através dos descritores coincidentes, é possível constatar que os diferentes “pool” gênicos analisados implicam em diferenças entre as classes dominantes dentro de cada população, reforçando a variabilidade existente na batatadoce. Houve coincidência com Bevilacqua et al. (2019) e divergência com Fabri (2009) quanto à classe dominante para a forma e profundidade do lobo central e

comprimento do pecíolo, sendo que houve coincidência com FABRI (2009) quanto à cor do pecíolo. Raízes Foi possível analisar as raízes tuberosas de todos os acessos de batata-doce do IAC, bem como dos 3 acessos testemunhas. Devido ao apodrecimento, antes da finalização das análises, algumas poucas amostras (média, pequena ou grande) não puderam ser avaliadas para todos os descritores. No total, foram analisadas 42 descritores, sendo 23 deles obtidos a partir de contagens ou medições e classificação posterior. O número de amostras analisadas variou entre 150 (para recobrimento do solo, o enroscamento das plantas em estacas e a sobreposição dos ápices dos ramos, avaliados no 3 o plantio) e 343 (para maior número de brotos no tempo médio, maior número de brotos, comprimento do primeiro broto, comprimento do segundo broto, comprimento médio do primeiro broto, comprimento médio do segundo broto). Foram realizadas 11133 classificações, sendo 6104 a partir de medições ou contagens. Quanto ao formato da raiz (Figura 3), em 35% dos acessos era longo elíptico, 14% longo irregular/ curvado, 6% obovado, 4% redondo, 4% oblongo, enquanto os formatos arredondado elíptico, elíptico, ovalado e longo oblongo foram características para um acesso (2%), cada, sendo bimodal (29%) ou sem moda estatística (6%) para os outros acessos. A dominância do formato longoelíptico ou fusiforme coincidiu com os resultados de outros autores, embora com porcentagens um pouco menores ou maiores (CAVALCANTE et al. – 27%; FABRI, 2009 – 38%; BEVILACQUA et al., 2019 – 27%). A comparação com os resultados de CARDOSO et al. (2005) e CARMONA et al. (2015) ficam mais difíceis pois aqueles autores utilizam índice que se afasta do 1, em função da ocorrência de defeitos e fuga do formato fusiforme, sendo que os melhores cultivares obtiveram valores um pouco afastados do mais desejável, tais como 1,63 e 1,77. Em relação aos defeitos da superfície da raiz, 76% se caracterizaram por não apresentar estrias, veias, pelede-jacaré, aparência de cacau ou má aparência geral, 4% por terem veias, enquanto um acesso (2%) se caracterizou por ter pele-de-jacaré e outro pele-de-jacaré e veias, sendo bimodal para outros acessos (16%). Um único acesso (2%) teve como característica a presença de rabo ou chicote, enquanto 98% deles não se caracterizaram por apresentar este defeito ou por murchamento ou 34


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ressecamento. A grande maioria dos acessos (88%) se caracterizou por não apresentar constrições, enquanto 2% (1 acesso) por ter constrições rasas, sendo bimodal nos outros 10%. Para 86% dos acessos a característica era não apresentar sulcos, enquanto 4% se caracterizaram por apresentar poucos sulcos, um acesso (2%) por não ter sulcos em média quantidade, sendo trimodal (4%) ou sem moda estatística (4%) nos outros acessos. Quanto às ranhuras longitudinais, 90% dos acessos se caracterizaram por não tê-las e 4% por tê-las rasas, sendo bimodal em 6%. A característica para 27% dos acessos .

era ter “olhos” profundos e marcas de broca, para 25% não tê-los, nem galerias/perfurações ou caminhos de pragas, 6% olhos profundos, 4% galerias, 2% olhos profundos e caminhos e 2% olhos profundos, caminhos e/ou galerias, sendo que outros foram bi (34%) ou trimodais (1 acesso, 2%). Um único acesso (2%) se caracterizou por apresentar grande (> 50% da raiz) apodrecimento durante o período de análises da forma e defeitos da raiz, enquanto os outros acessos por não apresentar apodrecimento precoce.

Figura 3: Cor de polpa (A creme, B laranja escuro, C roxo, D laranja claro, E amarela claro e F laranja intermediário) e formato das raízes (G longo irregular ou curvado, H longo elíptico, I redondo e J ovalado) de batata-doce, em processo de seleção e melhoramento no IAC (Campinas – SP).

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A cor predominante da pele da raiz foi a creme, (18%), seguida pela roxa-escura (10%), laranja, vermelho e roxoavermelhada (cada um para 4% dos acessos) e amarela e rosa (cada para 2% -1 acesso- cada), para a maioria dos acessos (57%) a classificação foi bimodal, normalmente, entre cores próximas ou assemelhadas, resultados parcial (CAVALCANTE et al., 2008 – creme e roxoavermelhada) ou totalmente diferentes quanto à classe dominante (FABRI, 2009 – laranja-amarronzado; BEVILACQUA et al. 2019 – rosada). A intensidade da cor predominante foi pálida em 22%, intermediária em 20% e intensa em 20%, sendo bimodal, em regra entre classes sequentes, para 39% dos acessos (pálida a intermediária em 24%, intermediária ou escura em 14% e pálida ou escura em um único acesso - 2%), diferindo de outros autores quanto à classe dominante (CAVALCANTE et al., 2008 – intermediária; FABRI, 2009 – escura). Para 92% dos acessos não houve cor secundária, sendo que uma cor secundária foi característica para um único acesso (1%), enquanto em outro ocorreu mais do que uma cor secundária, não tendo sido possível estabelecer moda estatística. A classe de cor do córtex característica para mais acessos foi a creme (31%), seguida da laranja (22%), roxa escura (14%) e branca (4%), sendo bimodal, normalmente entre cores sequentes para 29% dos acessos. Quanto à espessura do córtex, em 53% dos acessos foi fina (1-2 mm), em 35% intermediária (2-3 mm), em 10% grossa (3-4 mm), sendo muito fina (< 1 mm) em um único acesso (2%). As cores predominantes da polpa (Figura 3) foram creme e roxa/fortemente pigmentada com antocianina (18% cada), seguida de amarela claro e laranja claro (10% cada), laranja intermediário (8%), laranja escuro (6%) e branca (2% - 1 acesso), sendo bimodal, normalmente com cores sequentes (27%) ou sem moda (2%) para os demais acessos, tendo diferido parcial (CAVALCANTE et al., 2008; BEVILACQUA et al., 2019 – creme) ou totalmente (FABRI, 2009 – amarelo escuro) dos resultados de outros autores quanto à classe dominante. A cor secundária da polpa mais abundante foi a amarela (20%), seguida da ausência de cor secundária e laranja (16% cada), branca (12%), rosa, roxa e roxa escuro (2% - 1 acesso, cada), sendo bimodal para os demais acessos (31%). A distribuição da cor secundária na polpa foi a ausente (18%) seguida de manchas espalhadas (16%), anel estreito no córtex (14%), anel estreito na polpa (8%), anel largo no córtex ou anéis e outras áreas na polpa (2% - 1 acesso, cada), sendo que nos demais acessos (41%) foi

bimodal. Outra cor secundária não foi característica de 92% dos acessos, enquanto a branca e amarela foram características para 1 acesso (2%) cada, sendo que para 4% não ocorreu moda estatística. A distribuição da outra cor secundária foi ausente para 88% das amostras, sendo em anel estreito no córtex ou em manchas espalhadas (2% - 1 acesso, cada), sendo que para 6% não existiu moda estatística. Quanto à produção de látex na raiz tuberosa, em 84% dos acessos foi caracteristicamente pouca, sendo ausente em 6%, alguma em 4% e, abundante em um único (2%), enquanto foi bimodal para os demais acessos (4%). Em relação à oxidação, foi caracteristicamente pouca em 90% dos acessos, intermediária/alguma em 6%, tendo sido bimodal ou sem moda estatística (2% - 1 acesso, cada). Para a massa média das batatas, 82% tiveram como característica valores intermediários (100-500 g), enquanto 14% eram leves (50-100 g), sendo que para 4% não houve moda estatística. Quanto ao comprimento, 76% dos acessos se caracterizaram por ter batatas intermediárias (10-17,5 cm), 14% curtas (7,5-10 cm) e 10% longas (17,5-25 cm). Em relação à largura, 73% tiveram como característica raízes intermediárias (4,5-7,5 cm), 25% estreitas (2,5-4,5 cm) e 2% (1 acesso) grossas (7,5-10 cm). Com o descarte das batatas aos primeiros sinais de apodrecimento, 41% dos acessos tiveram como característica durabilidade muito curta (1-2 semanas), 39% curta (3-4 semanas), 12% intermediária (5-9 semanas), 6% longa (10-13 semanas), sendo que para 1 acesso (2%) não houve moda estatística. No início das pesagens, 82% dos acessos apresentaram massa intermediária (600-1200 g), 16% leve (300-600 g) e 1 acesso (2%) pesada (1200-1800 g). Na metade do período de pesagens (após o primeiro mês), 14% dos acessos somaram massa intermediária, 4% leve, 2% (1 acesso) muito leve (1-300 g), ficando o restante (80%) sem massa. Ao final das pesagens (depois do segundo mês), apenas 1 único acesso (2%) apresentou massa intermediária, tendo o restante (98%) a perdido. Realizando-se o descarte das batatas apenas após 50% de apodrecimento, 92% dos acessos tiveram como característica durabilidade muito longa (17 ou mais semanas), enquanto 8% longa (10-16 semanas), com alguma batata não apodrecida em 50%. No início das pesagens, 49% dos acessos apresentaram massa leve (301-600 g) ou intermediária (601-1200 g), cada, 36


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enquanto 2% (1 acesso) teve massa muito leve (1-300 g). Na metade do período (segundo mês), 65% dos acessos apresentaram massa leve, 22% intermediária e 12% muito leve. Ao final das pesagens (quarto mês), 63% dos acessos não mantiveram nenhuma massa, 20% massa leve, 14% muito leve e 2% intermediária. Na avaliação de brotamento das raízes, a característica para 51% dos acessos era ter brotos por longos períodos (10-13 semanas), 32% intermediários (59 semanas), 6% muita curtos (1-2 semanas), 4% ou curtos (3-4 semanas) ou muito longos (14 ou mais semanas), cada, sendo que 1 acesso (2%) foi bimodal. O tempo para iniciação do primeiro broto foi intermediário para 48% dos acessos, curto (3-4 semanas) para 35%, longo (5-13 semanas) para 8% ou muito longo (> 14 semanas) para 4%, sendo que 4% dos acessos não apresentaram moda estatística. Para o segundo broto o tempo de iniciação foi intermediário para 45% dos acessos, curto para 40% ou longo para 9%, sendo que 6% dos acessos foram bi ou trimodais. Quanto ao número de brotos no tempo médio das avaliações, 72% dos acessos se caracterizaram por não ter brotos, 16% por número intermediário (4-10 brotos), 8% baixo (1-3) e 4% alto (11-20 brotos). Em relação ao maior número de brotos em qualquer tempo das observações, 50% se caracterizaram por não apresentar brotos, 34% número intermediário, 8% baixo, 6% alto e 2% (1 acesso) muito alto (> 20 brotos). Para o número final de brotos, 63% dos acessos se caracterizaram por não tê-los, 24% por número baixo e 12% intermediário. Em relação ao número médio de brotos, 44% dos acessos se caracterizaram por não tê-los, 30% tê-los em número intermediário, 24% baixo e 2% alto. Quanto ao maior tamanho do primeiro broto, se caracterizou por ser ausente em 46% dos acessos, curto (1-5,5 cm) em 40%, intermediário (5,6-15,5 cm) em 12% e muito curto (< 1 cm) em 2% (1 acesso). Para o maior tamanho do segundo broto, 48% dos acessos se caracterizaram por não tê-lo, 38% pelo segundo broto curto, 12% muito curto e 2% intermediário. Em relação ao tamanho médio do primeiro broto, 44% dos acessos se caracterizaram por não tê-los, 42% por tê-los curtos, 10% muito curtos e 4% intermediários. Para o segundo broto, 42% dos acessos se caracterizaram por não tê-los, 34% tê-los muito curtos e 24% curtos. Quanto às raízes tuberosas, possivelmente, devido à opção por incluir a variabilidade existente, nossos resultados a refletiram. Assim, foram semelhantes aos de BEVILAQUA et al. (2019 - que incluíram toda a colheita

de cada planta), quanto ao formato das raízes, que se mostrou desuniforme. Mesmo não se mostrando como descritores totalmente discriminantes, a caracterização das raízes é fundamental, sendo que permite reconhecer e descartar acessos com características indesejáveis, bem como reconhecer acessos que apresentam ou, ao menos, se aproximam, de acordo com as análises preliminares, das características desejáveis, no processo de seleção. Então, considerando-se a otimização das análises, pode se optar por realizar a caracterização através dos ramos e folhas de um número maior de acessos e restringir, em um primeiro momento ou plantio, o detalhamento da caracterização das raízes aos aspectos desejáveis e aos indesejáveis, ampliando a amostragem e incluindo mais descritores para um número menor de acessos de interesse. Em um primeiro momento, pode-se usar uma escala simplificada, tal como a utilizada por BEVILAQUA et al. (2019), em vez da convencionada internacionalmente (HUAMÁN, 1991). Apesar da variabilidade observada dentro de cada acesso, além de constatarmos os acessos menos variáveis, vários dos nossos resultados se destacaram, para a indicação de descritores mais discriminantes. Com relação ao CV, a intensidade da cor da pele se destacou por apresentar os menores valores (CV = 47%). Quanto ao número de classes observadas, atingiram maior quantidade do que para os ramos e folhas, destacando-se a forma da raiz (8 classes); com 7 classes: cor predominante da polpa da raiz, cor secundária da polpa (ambas, em geral, com vários acessos em cada classe) e cor predominante da pele (com as classes com representação mais desigual) e 6 classes: distribuição da cor secundária da polpa e olhos + marcas de broca. Embora estes e, em regra, os demais descritores não tenham permitido classificar todos os acessos, a partir da moda estatística, cada um contribuiu para a distinção de muitos acesos, evidenciando, mais uma vez a grande diversidade existente na batata-doce (RITSCHEL e HUAMÁN, 2002; CAVALCANTE et al., 2008; FABRI, 2009; MOULIN et al., 2014; BEVILAQUA et al., 2019). A ampliação da amostragem deverá possibilitar a obtenção resultados unimodais, permitindo reconhecer mais acessos, através de cada descritor. Diferenças entre as características mais comuns entre os acessos de batata-doce analisados refletem as características do próprio conjunto de materiais, tal como já observado anteriormente (FABRI, 2009), sendo que, ao 37


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longo do tempo e em diferentes circunstâncias as finalidades definidas para cada conjunto de materiais pode variar. No nosso caso, o objetivo da coleção foi possibilitar a seleção de batata-doce biofortificada, de boa qualidade ou alta concentração de antocianinas.

Conclusão A variabilidade obtida foi originada a partir de seis acessos, inclusive em relação a cor da polpa. Os descritores dos ramos e folhas da batata-doce se mostrou mais discriminante entre os acessos analisados

do que a própria caracterização das raízes tuberosas. Entretanto, a caracterização das raízes é fundamental sendo que permite reconhecer características desejáveis, bem como as indesejáveis, possibilitando descartar os acesos que apresentam as últimas, continuando com as primeiras.

Agradecimentos Ao técnico, do IAC, Sidisnei Quinalha pela dedicação no cultivo da batata-doce.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEVILAQUA, L.K.A. et al. Características morfológicas e produtividade de clones de batata-doce. Caderno de Ciências Agrárias, v. 11, n. 1, p. 1-7. 2019. CARDOSO A.D. et al. Avaliação de clones de batata-doce em Vitória da Conquista. Horticultura Brasileira, v. 23, n. 4, p. 911-914. 2005. CARMONA, P.A.O. et al. Divergência genética entre acessos de batata-doce utilizando descritores morfoagronômicos das raízes. Horticultura Brasileira, v. 33, n. 2, p. 241-250. 2015. CAVALCANTE, M. et al. Caracterização de genótipos de batata-doce por meio de descritores morfológicos da raiz. Horticultura Brasileira, v. 26, n. 2, S5832-S5836. 2008. EMBRAPA. Sistema de produção de batata-doce. Brasília – DF: Embrapa Hortaliças, 2021. 66 p. FABRI, E.G. Diversidade genética entre acessos de batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam avaliadas através de marcadores e descritores morfoagronômicos. Piracicaba: ESALQ/USP. Tese 173p. HUAMÁN, Z. (ed.) Descriptors for sweet potato. Rome: International Board for Genetic Resources/Centro Internacional de la Papa/Asian Vegetable Research and Development Center, 1991. 52 p. JONES, A.; STEINBAUER, C.E.; POPE, D.T. Quantitative inheritance of ten root traits in sweet potatoes. Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 94, n. 2, p. 271-275, 1969. MOHANRAJ, R.; SIVASANKAR, S. Sweet potato (Ipomoea batatas (L.) Lam. - a valuable medicinal food: a review. Journal of Medicinal Food, v. 17, n. 7, p. 1-9. 2014. MOULIN, M.M. et al. A comparison of RAPD and ISSR markers reveals genetic diversity among sweet potato landraces (Ipomoea batatas (L.) Lam). Acta Scientiarum, v. 34, n. 2, p. 139-147. 2012. MOULIN, M.M. et al. Caracterização de acessos de batata-doce baseado em características morfológicas. Perspectivas online: ciências biológicas e da saúde, v. 13, n. 4, p. 23-36. 2014. PERESSIN, V.A.; FELTRAN, J.C. Batata-doce: Ipomoea batatas (L.) Lam. Boletim IAC, v. 200, n. 7, p. 59-61. 2014. RITSCHEL, P.S.; HUAMÁN, Z. Variabilidade morfológica da coleção de germoplasma de batata-doce da EmbrapaCentro Nacional de Pesquisa de Hortaliças. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 37, n. 4, p. 485-492. 2002. ROULLIER, C. et al. Disentangling the origins of cultivated sweet potato (Ipomoea batatas (L.) Lam.). Plos One, v. 8, n. 5, e62707, p. 1-12. 2013a. ROULLIER, C. et al. On the origin of sweet potato (Ipomoea batatas (L.) Lam.) genetic diversity in New Guinea, a secondary centre of diversity. Heredity, v. 110, n. 6, p. 594–604. 2013b. SILVA, H.C. Seleção de clones de batata-doce de polpa alaranjada. Piracicaba: ESALQ/USP. Dissertação, 66p. SOUSA, R.M.D. et al. Ornamental potential of sweet potato accesions. Bioscience Journal, v. 34, s. 1, p. 11-16. 2018.

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RG NEWS II - Entrevista da vez Ana Eugênia de Carvalho Campos O Instituto Biológico oferece soluções significativas para o agronegócio e as transfere para o segmento produtivo. Entrevista realizada por Maíra Halfen Teixeira Liberal (PESAGRO-RIO/CEPGM)

Ana Eugênia de Carvalho Campos, possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia (1987), mestrado (1992) e doutorado (1996) em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É Diretora-Geral do Instituto Biológico, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Pesquisadora Científica nível VI. Docente do Curso de Pós Graduação em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio do Instituto Biológico. É vice-coordenadora do Curso de Especialização em Entomologia Urbana (UNESP/Instituto Biológico). Tem experiência no ensino de Entomologia Urbana e orienta trabalhos com pragas, especialmente formigas.

Prezada Diretora, iniciando a nossa conversa, gostaríamos de parabenizá-la pelo excelente trabalho na liderança técnica e administrativa da equipe do IB, e, em sequência, obter uma breve descrição da estrutura física que compõe o Instituto Biológico de São Paulo. O Instituto Biológico (IB), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tem em sua estrutura física Centros de Pesquisa e Laboratórios voltados à agropecuária, além do Centro de Memória, da Biblioteca Central, e de Equipamentos Multiusuários. Conta ainda com o Curso de Pós-graduação em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio, do Repositório da Produção Técnica Científica, e coordena o Programa de Inovação e Transferência de Tecnologia em Controle Biológico (PROBIO) e o Programa de Sanidade em Agricultura Familiar – PROSAF.

Prédio Central do Instituto Biológico em sua sede na cidade de São Paulo. (Crédito: acervo fotográfico do IB.)

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Onde estão situados e quais são as atribuições dos Centros de Pesquisa do IB? Centro de Pesquisa de Sanidade Animal Situado na cidade de São Paulo, possui treze laboratórios dotados dos mais modernos equipamentos, coordenados por pesquisadores científicos especializados, treinados e qualificados para estudar a etiologia, taxonomia, epidemiologia, patologia, diagnóstico, tratamento, prevenção e controle de doenças infecciosas e parasitárias, incluindo as zoonoses. O Centro possui ainda um Biotério Central, multiusuário, para atender às pesquisas e diagnósticos de rotina da Instituição, bem como o desenvolvimento de pesquisas que envolvem a experimentação animal. Acrescente-se também uma Unidade Laboratorial de Referência em Diagnóstico de Enfermidades e Análise de Produtos de Origem Animal, onde é realizada a triagem dos materiais encaminhados aos diversos laboratórios do Centro. O Centro de Pesquisa de Sanidade Animal possui pesquisadores e laboratórios habilitados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, nos vários segmentos de atuação das cadeias de produção, incluindo-se o controle de qualidade de produtos de origem animal em nível de produtor, de insumos para proteção animal e de fármacos em nível de produção e industrialização. Esta unidade está fortemente comprometida com ações em políticas públicas, principalmente aquelas que envolvem as cadeias de produção de carne e agricultura familiar. Ligado ao Centro de Pesquisa de Sanidade Animal, há o Laboratório Especializado de Sanidade Apícola, em Pindamonhangaba (LASA). O LASA desenvolve uma programação específica direcionada à pesquisa e desenvolvimento tecnológico da criação de abelhas Apis mellifera africanizadas. Inserido na missão precípua de geração e transferência de conhecimento científico e tecnológico, as principais linhas de pesquisa ali desenvolvidas são - Sanidade apícola; - Manejo produtivo de abelhas Apis mellifera (africanizadas). O laboratório possui criatório de rainhas, único do gênero existente no país implementado em Instituição de Pesquisa e com calendário contínuo semanal de vendas, apresentando considerável importância perante a comunidade apícola nacional. A difusão de abelhas-rainhas com fecundação comprovada e know-how de produção desenvolvido pode ser considerado instrumento básico de uma política de desenvolvimento da apicultura por meio da elevação do nível tecnológico dos apicultores. O laboratório realiza análises de patologia apícola nos moldes tradicionais e moleculares exclusivamente para fins de pesquisa. No momento é o único local em Instituição Pública de Pesquisa no Brasil para tais diagnósticos com fins científicos. Nas últimas décadas vem contribuindo para treinamento do Serviço Veterinário Oficial de diversos estados. Paralelamente à pesquisa, uma série de atividades voltadas ao atendimento e prestação de serviços ao apicultor encontram-se disponíveis, as quais possibilitam incremento de tecnologia à atividade, não só em âmbito regional, mas chegando a atingir níveis nacionais e, eventualmente, internacionais. Ainda na área de sanidade animal, o IB possui a Unidade Laboratorial de Referência para Imunobiológicos e Insumos. Estudos sobre tuberculose e brucelose animal são desenvolvidos por técnicos do Instituto Biológico desde a década de 30. Ao longo de todos esses anos, estas pesquisas contribuíram para o incremento da produção de tuberculinas e antígenos de brucelose, com grande influência no controle dessas zoonoses, beneficiando a pecuária nacional no sentido de torná-la altamente competitiva. Desde 2001, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) implementa o Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). Ressalta-se que a execução das atividades de diagnóstico e a aquisição dos produtos imunobiológicos é permitida somente aos médicos veterinários aprovados em curso de treinamento credenciado pelo MAPA. Em 2005, após modernização do Laboratório de Produção de Imunobiológicos, e reforçando a importância estratégica do Instituto Biológico, houve um aumento expressivo no número de doses produzidas. Atualmente, a previsão anual de produção é de 4,5 milhões de doses, sendo que a cada ano a produção aumenta devido ao aumento na demanda dos Estados. A comercialização dos produtos imunobiológicos é realizada através de Lojas de Produtos Veterinários, Casas Agropecuárias e Cooperativas autorizadas pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) de cada Estado.

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Pesquisas em Sanidade Animal. (Crédito: acervo fotográfico do IB.)

Produção de imunobiológicos para detecção de brucelose e tuberculose. (Crédito: acervo fotográfico do IB.)

Centro de Pesquisa de Sanidade Vegetal Situado na cidade de São Paulo, ele possui oito laboratórios dotados de instalações modernas e com equipamentos de ponta, coordenados por pesquisadores científicos especializados em etiologia, taxonomia, epidemiologia, patologia, diagnóstico, tratamento, prevenção e controle de pragas e doenças de plantas cultivadas e pragas urbanas. Acrescente-se também uma Unidade Laboratorial de Referência em Fitossanidade, onde é realizada a triagem dos materiais encaminhados aos diversos laboratórios do Centro. O principal objetivo do Centro é gerar, difundir e transferir conhecimento científico e tecnológico nas áreas de fitopatologia e entomologia nas culturas de interesse econômico.

Pesquisas e diagnósticos em Sanidade Vegetal. (Crédito: acervo fotográfico do IB.)

A esse Centro estão ligadas duas Unidades Laboratoriais de Referência. A primeira em Pragas Urbanas e a segunda em Biologia Molecular Aplicada. A Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas possui corpo técnico especializado, principalmente na área de entomologia. As pesquisas abrangem métodos alternativos de controle de insetos utilizando extratos vegetais, radiação gama; desenvolvimento de metodologias de testes de eficiência de produtos comerciais para fins de comprovação de atuação; emissão de laudos e pareceres técnicos sobre identificação da(s) praga(s), grau de infestação e melhor técnica de controle a ser aplicado em residências, condomínios verticais e horizontais, parques, jardins, arborização urbana, acervos e museus etc. Tem também desenvolvido pesquisas nas áreas de biologia, comportamento, taxonomia, levantamento, ocorrência e ecologia das principais pragas detectadas em áreas urbanas. Além dessas atividades, o grupo tem oferecido, com regularidade, cursos técnicos para controladores de pragas, técnicos em controle de pragas das Prefeituras Municipais, empresas particulares de serviços de jardinagem, produtores de mudas de plantas ornamentais, engenheiros agrônomos, biólogos, paisagistas, arquitetos, profissionais das áreas de museus, bibliotecas, conservação de patrimônios e restauradores, além de assessorar no treinamento de técnicos responsáveis por parques e jardins municipais no tocante à identificação de danos e controle, inclusive de outros estados. 41


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Dentro dessa atuação já foram editadas várias publicações, em linguagem acessível, que ajudam a conhecer parte da biologia e comportamento de algumas pragas, fundamentais para um controle eficaz. A ULR em Pragas Urbanas conta ainda com a assessoria técnica do laboratório de Toxicologia, vinculado ao Centro de Proteção Ambiental do IB. As atribuições do Laboratório de Referência em Pragas Urbanas são desenvolver pesquisas científicas sobre bioecologia dos artrópodes e vertebrados pragas domiciliares, peridomiciliares, industriais e dos alimentos armazenados, sobre seus processos de manejo, controle químico, físico, biológico e com o uso de extratos vegetais, testar novos produtos e tecnologias para o manejo e controle dessas pragas, desenvolver testes laboratoriais e de campo para avaliar a eficácia de produtos químicos, biológicos e de extratos vegetais e tecnologias aplicadas no seu manejo e controle e promover a transferência de conhecimento gerado para estudantes de pós-graduação, graduação e profissionais das áreas de bioecologia, manejo e controle das pragas, em ambientes urbanos.

Teste de produtos químicos para o controle de escorpiões. (Crédito: Francisco José Zorzenon)

Broca em árvore urbana. (Crédito: Francisco José Zorzenon)

As atividades de pesquisa e serviços especializados da Unidade Laboratorial de Referência em Biologia Molecular empregam ferramentas da Biologia Molecular em diferentes áreas da Sanidade Vegetal e Animal. Pesquisadores desta unidade participaram do Projeto Genoma Xylella fastidiosa que sequenciou pela primeira vez o genoma completo de uma bactéria fitopatogênica, resultando em publicação na revista Nature em julho de 2000. Desde então, o sequenciamento de DNA vem sendo utilizado em várias linhas de pesquisa da unidade, empregando tecnologias de primeira, segunda e terceira gerações. Dentre suas atividades destacam-se o diagnóstico e a identificação moleculares de fitopatógenos (vírus, bactérias, fungos e nematoides), de agentes de controle biológico de pragas e doenças (bactérias e fungos), assim como de insetos pragas. São atendidos tanto pesquisadores do próprio IB quanto de instituições externas do estado de SP e outras unidades da federação. Empresas produtoras de insumos biológicos também têm sido atendidas em suas necessidades de identificação molecular e contagem dos microrganismos presentes em seus produtos, para fins de registro junto ao MAPA e controle de qualidade. A unidade conta com uma coleção de mais de 120 isolados de fungos do gênero Trichoderma, compreendendo 16 espécies distintas identificadas por sequenciamento de DNA. Por meio de parcerias com a iniciativa privada, produtos comerciais baseados em alguns destes isolados estão sendo desenvolvidos. As pesquisas dessa unidade visam a caracterização molecular de pragas, parasitos e patógenos de plantas e animais; estudos sobre a interação molecular patógeno-vetor-hospedeiro; caracterização molecular de agentes de controle biológico de pragas e doenças de plantas; aplicação de ferramentas de genômica e bioinformática para a pesquisa nas áreas de sanidade animal e vegetal e proteção ambiental; atendimento a consultas e elaboração de pareceres e laudos técnicos que envolvam o emprego de ferramentas de biologia molecular em questões de interesse agropecuário; capacitação de estudantes de graduação e pós-graduação, assim como de profissionais interessados no emprego de ferramentas de biologia molecular aplicada para estudos de interesse agropecuário; interação com a iniciativa privada para acelerar a conversão do conhecimento científico em tecnologias para a solução de problemas que afetam a agropecuária.

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Termocicladores para amplificação de DNA. (Crédito: Ricardo Harakava)

Centro de Pesquisa de Proteção Ambiental Situado na cidade de São Paulo, o Centro tem como objetivo o estudo dos impactos provocados pelas ações de controle de pragas e doenças, nas áreas de sanidade vegetal e animal, sobre o agro ecossistema. Dentre as atribuições desta unidade destacamos: - Estudar os impactos e desenvolver metodologia de avaliação de risco/benefício nas ações de prevenção e controle de doenças e pragas no ambiente agrícola; - Desenvolver e otimizar metodologias para análises múltiplas ou específicas de resíduos de inseticidas, acaricidas, fungicidas e herbicidas em produtos de origem vegetal, leite, água e solo; - Realizar pesquisas e testes toxicológicos em materiais biológicos em animais de experimentação; - Pesquisar e desenvolver processos biotecnológicos para tratamento e remediação de resíduos de agroquímicos no ambiente, e pesquisar potenciais de utilização de resíduos provenientes de atividades agrícolas, urbanas e industriais e seus efeitos sobre o ambiente agrícola; e Determinação de resíduos de pesticidas em alimentos de origem vegetal e animal para fins de monitoramento e controle de alimento seguro relacionando com os níveis máximos permitidos estabelecidos pelas agências regulatórias, inclusive para exportação.

Equipamentos utilizados para análises de Resíduos de Pesticidas em Alimentos. (Crédito: Sergio Monteiro)

Centro Avançado de Pesquisa em Proteção de Plantas e Saúde Animal (CAPSA) Esse Centro está localizado estrategicamente num polo de alta tecnologia na cidade de Campinas. Ocupa uma área de aproximadamente 164 ha, onde estão sediados laboratórios especializados em pesquisa e desenvolvimento no controle de ácaros, insetos, doenças, nematoides e plantas daninhas. Mantém ainda campos experimentais, estufas, ripados e auditórios para realizações de eventos. Os objetivos do CAPSA são a pesquisa, prestação de serviços e treinamento na área de fitossanidade, além de proporcionar apoio operacional aos trabalhos da área vegetal. Suas atribuições são - Desenvolver projetos de pesquisa relacionados às tecnologias de controle de doenças e pragas; - Testar e desenvolver formulações de defensivos químicos e biológicos; - Avaliar a eficiência de técnicas alternativas de controle de doenças e pragas; - Estudar o complexo meioplantas e culturas de interesse econômico, visando estabelecer planos gerais de controle e suas bases científicas; - Desenvolver técnicas de produção de bioinseticidas e Proporcionar apoio operacional a outras unidades do Instituto Biológico. 43


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Além dessas atividades o CAPSA coordena outros laboratórios, que estão localizados nos municípios de Votuporanga - Laboratório de Parasitologia Animal; Ribeirão Preto - Laboratório de Parasitologia Vegetal; Laboratório Regional de Araçatuba; e Laboratório Regional de Sorocaba. ▪ Em Votuporanga, em atendimento à importância estratégica do agronegócio da região noroeste do estado e à orientação programática técnico‐científica institucional, o laboratório atua na área de Parasitologia Animal de diferentes espécies (aves, bovinos e ovinos), com desenvolvimento de pesquisa científica (projetos de pesquisa fomentados por agências do governo e/ou em parceria com empresas privadas) e transferência do conhecimento (palestras e organização de eventos, especialmente com foco na agricultura familiar). ▪ Em Ribeirão Preto os pesquisadores e técnicos ali lotados atuam na área de Sanidade Vegetal e desenvolvem suas atividades de pesquisa nas linhas de Sistemática e Taxonomia de Hymenoptera parasitoides e de Hemerobiidae (Neuroptera); controle biológico e manejo integrado e controle químico de pragas. ▪ No Laboratório Regional de Araçatuba são desenvolvidas atividades técnico-científicas na área de sanidade e reprodução animal, tecnologia de pós-colheita de frutas e hortaliças Além do desenvolvimento técnico-científico, são ministrados treinamentos em brucelose e tuberculose para habilitação de médicos veterinários junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). ▪ No Laboratório de Regional de Sorocaba as atividades são efetuadas tanto nas áreas de sanidade vegetal e sanidade animal. - Na Sanidade Vegetal realiza pesquisas com fungos e patógenos do gênero Phytophthora agentes causais de doenças em citros e outras frutíferas. Atende produtores, cooperativas agrícolas, universidades, centros de pesquisa, e órgãos oficiais e privados no diagnóstico de doenças dos citros e nas recomendações de medidas para o seu controle. Colabora em programas oficiais federais (MAPA) e estaduais (CDA/SAA) da área de sanidade dos citros. Mantém e disponibiliza para pesquisas coleções de culturas puras de fungos e patógenos do gênero Phytophthora obtidos de plantas cítricas e outros hospedeiros. - Na área de Sanidade Animal atende produtores de Sorocaba e região Sudoeste paulista, principalmente pequenos produtores e de agricultura familiar, atuando no diagnóstico de enfermidades como Brucelose, Tuberculose e doenças parasitárias de animais de produção, além da elaboração de Planejamento Sanitário e Calendário Zoosanitário, aplicados ao manejo de rebanhos. Centro Avançado de Pesquisa Avícola Situado em Descalvado, o Centro Avançado de Pesquisa Avícola atua na área de sanidade avícola e em controle microbiológico na área de alimentos. Na área de avicultura, o Centro encontra-se credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para diagnóstico bacteriológico das salmoneloses aviárias e diagnóstico sorológico de micoplasmoses e salmoneloses aviárias, laringotraqueíte infecciosa das galinhas, influenza aviária e doença de Newcastle. O Centro atende a demandas de pequenos produtores a grandes empresas exportadoras de material genético. Na área de controle microbiológico, o Centro realiza os ensaios para monitoria de qualidade sanitária de matérias-primas e produtos acabados de estabelecimentos da área de alimentação, assim como fornece assessoria técnica. O Centro possui toda a infraestrutura necessária para condução dos ensaios, assim como uma equipe técnica especializada.

Triagem de ovos bicados, soros sanguíneos, mecônio e suabes de cloaca de colheita oficial. (Créditos: Ana Maria Iba)

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Vinculado ao Centro Avançado de Pesquisa Avícola, há o Laboratório Especializado em Sanidade Avícola, localizado em Bastos, conhecido desde a década de 60 como a “Capital do Ovo”, sendo responsável por 25% da produção de ovos do Estado de São Paulo e 11% do Brasil, com uma produção diária de aproximadamente 12 milhões de ovos por dia. O Laboratório Especializado em Sanidade Avícola é um laboratório de patologia avícola e bromatologia formado através de um convênio entre a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de Bastos. Atendendo a avicultores, Médicos Veterinários, Zootecnistas e técnicos da região, o laboratório tem entre as suas atribuições a prestação de assistência técnico-cientifica e higiênico-sanitária, a realização de exames laboratoriais para o diagnóstico de patologias avícolas, a monitoria epidemiológica, além da realização de exames bromatológicos, tendo como objetivo principal dar suporte necessário à produção avícola da região. Fale-nos sobre o Curso de Pós-Graduação do Instituto Biológico, nos níveis de mestrado e doutorado em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio Nos desafios do agronegócio brasileiro se incluem os processos de aumento da produtividade, maior ocupação e uso do solo, menor degradação do ambiente e produção a custos competitivos que levem à redução das desigualdades e promova a inclusão social. É desafio também gerar capacidade de diferenciação de produtos e de mercados, abrir novas oportunidades para produtores, enfrentar os novos requisitos dos mercados interno e externo, e estar atualizado para atender aos exigentes padrões de consumo. Para tanto são necessárias tecnologias que inovem o modelo de produção, alcançando eficiência competitiva, responsabilidade no uso dos recursos ambientais e promoção da saúde dos trabalhadores e consumidores. A sociedade moderna demanda modelos agropecuários socialmente justos, ecologicamente equilibrados e que levem em consideração especificidades socioeconômicas e culturais de cada região. Nesse contexto, a proposta de Pós-Graduação do Instituto Biológico, nos níveis de mestrado e doutorado em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio, tem por finalidade a capacitação de profissionais com perfil multidisciplinar e qualificados para a pesquisa e a docência nas diferentes áreas das ciências e nas atividades de investigação científica, desenvolvimento e transferência de tecnologia aplicável ao agronegócio. Qual é o principal objetivo desse curso? O curso foi idealizado para consolidar-se como centro gerador de pesquisa e de conhecimento interdisciplinar, transversal e contextual, direcionado à capacitação nas áreas de sanidade vegetal, sanidade animal e suas inter-relações com o ambiente e, portanto, direcionado aos profissionais das áreas da Biologia, Medicina Veterinária, Engenharia Agronômica, Química, Farmácia-Bioquímica, Biomedicina e afins. O caráter inovador da proposta está relacionado ao desafio de formar profissionais para compreender e intervir no processo de desenvolvimento do agronegócio e na geração de políticas públicas, tendo como base o uso correto e sustentável dos recursos naturais, para contribuir na melhoria da quantidade e qualidade dos alimentos, mediante pesquisa em diagnóstico, prevenção, monitoramento, controle e erradicação de pragas e doenças e no atendimento de novas demandas econômicas, sociais e ambientais. Com mais de 200 mestres e 15 doutores formados desde seu início, em 2009, o programa de pós-graduação do IB se destaca por ser o único exclusivamente oferecido na área de sanidade cadastrado dentro da área Interdisciplinar da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O que é o PROBIO? O Instituto Biológico é uma das instituições pioneiras em pesquisas sobre controle biológico, gera conhecimento, desenvolvimento tecnológico e inovação em controle biológico e oferece serviços para o setor de biocontroladores. Essas ações fazem parte do Programa de Transferência de Tecnologia e Inovação em Controle Biológico - PROBIO. O Objetivo do programa é de promover a transferência de tecnologia e inovação na área de controle biológico, através de ações voltadas a geração de conhecimentos e prestação de serviços. O PROBIO oferece uma série de serviços como o desenvolvimento de sistemas de produção de bioinseticidas à base de fungos, bactérias e nematoides; alternativas de formulações de fungos, bactérias e nematoides; implantação de biofábricas (fungos, bactérias, nematoides e ácaros predadores); seleção e manutenção de isolados de fungos, bactérias e nematoides controladores de insetos, ácaros e doenças; controle de qualidade de agentes biocontroladores de natureza microbiana; laudo de identificação taxonômica de espécies de 45


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parasitoides; depósito de espécimes-testemunho de parasitoides em coleção entomológica oficial; testes de eficiência agronômica de produtos biocontroladores; desenvolvimento de projetos de controle biológico; capacitação para produção de fungos, bactérias, nematoides e ácaros controladores de pragas, doenças e fitonematoides e desenvolvimento de sistemas de produção massal de nematoides entomopatogênicos e potencial de uso no controle de pragas. O PROBIO é um excelente programa para realçar a importância dos Recursos Genéticos Microbianos para Pesquisa e Extensão. Atuamos na transferência de tecnologia e conhecimento às empresas de controle biológico de todo o País. O Probio reúne as tecnologias e serviços prestados no Instituto, principalmente para as culturas da cana-de-açúcar, soja, banana, seringueira, flores, morango, feijão e hortaliças. Por meio da seleção de fungos entomopatogênicos pelo Instituto, hoje é possível controlar a cigarrinha-da-raiz, importante praga da cultura da cana-de-açúcar, com o uso de biodefensivos. Cerca de 1,5 milhões de hectares de cana-de-açúcar no Brasil já utiliza esta tecnologia do IB, gerando economia estimada em R$ 21 milhões por ano. Há também o uso dos fungos para o controle de mosca branca na soja, usados hoje em três milhões de hectares plantados com a cultura em todo o Brasil. O volume de negócio com a utilização destes fungos chega a R$ 30 milhões por ano.

Unidade Laboratorial de Referência em Controle Biológico. (Crédito: acervo fotográfico do IB.)

Estudos taxonômicos de insetos parasitoides. (Crédito: acervo fotográfico do IB.)

E o Programa de Sanidade em Agricultura Familiar – PROSAF? O Instituto Biológico, em parceria com a APTA Regional, Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), Cooperativas e Associações de Produtores, vem desenvolvendo ações em curto, médio e longo prazo, para transferir conhecimento e gerar tecnologias nas áreas de sanidade animal, vegetal e ambiental. Desde 2009, o PROSAF já treinou mais de 1.500 pessoas em diversos municípios. As palestras abordam diversos temas relacionados aos principais problemas sanitários - pragas e doenças - nas áreas animal e vegetal e têm como objetivo principal promover a sanidade e a sustentabilidade da agricultura familiar paulista. A agricultura familiar é constituída por pequenos e médios produtores, os quais representam a imensa maioria no Brasil. As atividades rurais são desenvolvidas em propriedades com menos de 100 hectares e são conhecidas como agricultura de subsistência, pequena produção ou campesinato. Para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a agricultura familiar atende a duas condições: a) a direção dos trabalhos do estabelecimento é exercida pelo produtor, e b) o trabalho familiar é superior ao trabalho contratado. Com toda essa produção, sabe-se da importância desse segmento rural que, por outro lado, carece de tecnologia adaptada às condições necessárias a esse tipo de produtor. Em completa sintonia com sua Missão, o PROSAF, coordenado pelo IB, tem como objetivo a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e dos alimentos produzidos nos diversos municípios estaduais. Os municípios podem solicitar 46


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cursos e treinamentos direcionados para as necessidades de sua região. Os técnicos se deslocam até o local para apresentações técnicas e práticas de campo, transferindo o conhecimento para os pequenos produtores agrícolas. Como está implantado o Sistema de Qualidade do Instituto Biológico? O Instituto Biológico atende a programas sanitários nacionais e do estado de São Paulo, realiza diagnósticos em plantas e animais tanto para comércio interno quanto para exportação e até trânsito animal, dando apoio, também, à Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo. Para emissão dos laudos oficiais, vários laboratórios são acreditados pela Norma ISO/IEC 17025 com escopos variados e credenciados pelo Ministério de Agricultura e Abastecimento (MAPA). O escopo abrange análises diagnósticas de pragas e doenças que acometem a saúde animal e vegetal, além de resíduos de pesticidas em alimentos. Todo esse arcabouço de atividades é executado por uma equipe competente de especialistas e pessoal de apoio à pesquisa. E revistas científicas? O IB organiza alguma? Sim, o IB possui três revistas. Arquivos do Instituto Biológico que é um periódico de acesso aberto e fluxo contínuo. Editado desde 1928, publica em inglês trabalhos científicos originais que contribuam para o desenvolvimento das ciências agrárias. As fontes de indexação que a revista está são: Bibliography of Agriculture, Biological Abstracts, BVS Vet, Chemical Abstracts, DOAJ, Index Veterinarius, Latindex, LILACS, Review of Applied Entomology series A-B, Review of Plant Pathology, SciELO e Veterinary Bulletin. O Biológico que aceita, para publicação, trabalhos de divulgação técnico-científica ou de divulgação técnica em sanidade animal e vegetal voltados ao agronegócio e suas implicações no agroambiente, incluindo nesse escopo a qualidade e a segurança alimentar. Aceita, também, artigos sobre pragas sinantrópicas. A revista O Biológico/Suplemento aceita, para publicação, resumos de trabalhos de eventos coordenados pelo Instituto Biológico ou por outras instituições, que desejarem utilizar a revista O Biológico para a divulgação dos trabalhos apresentados em seus Congressos. Além disso, se o Coordenador do evento solicitar a publicação de palestras proferidas por convidados do Congresso, a revista poderá publicá-las. A revista Páginas do Instituto Biológico recebe trabalhos científicos inéditos relacionados com ciência da informação cuja temática seja direcionada às ciências biológicas, agrárias e ambientais em curadoria, museologia, educação em museus e história das ciências. Publica artigos, ensaios, resenhas e notas de pesquisa inéditos; transcrição e comentários críticos de documentos; imagens de interesse histórico; traduções comentadas; biografias; debates e entrevistas; e resumos de dissertações e teses, em português, inglês e espanhol. Atualmente, como está a participação feminina no quadro de funcionários do IB? Como esta matéria está sendo composta no mês de março, que comemora o Dia Internacional da Mulher, é interessante e oportuno salientar que as “mulheres” estão à frente das pesquisas no Instituto Biológico. Dentre os 164 funcionários concursados do IB, 60% são mulheres. Dentre os pesquisadores, 56% dos cargos também são ocupados por mulheres, nas mais variadas especialidades. Este número aumenta expressivamente se os funcionários contratos para apoio à pesquisa forem incluídos, além dos alunos de mestrado e de doutorado que participam das atividades técnicas nos laboratórios.

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RG NEWS III- Homenagem Póstuma Maria Célia Ramos Soub Renato Veiga1

A SBRG vem, por meio desta, prestar homenagem a nossa amiga Maria Célia Ramos Soub, tão querida por todos no nosso meio. Maria Célia era natural de Ilhéus/BA. Estudou Agronomia na Universidade de Brasília e na Universidade Federal de Viçosa. Fitopatologia na Universidade de Colorado/USA e na Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Foi professora na UPIS - Faculdades Integradas. Atuou no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, representante muito atuante no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. Posteriormente atuou como chefe da Seção de Suporte Agropecuário, no estado do Maranhão, até sua aposentadoria em 2018. Sempre apoiou as ações ligadas aos recursos genéticos. Costumava visitar instituições pelo Brasil levando as informações sobre as novas legislações e projetos sobre recursos genéticos. Ficam suas lições, amizades e amores. Nossa eterna gratidão. Nossos sentimentos à sua filha Mariana e ao seu esposo Dr. Afrânio Gazolla.

1 Eng. Agrônomo e Doutor em Ciências Biológicas Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG) Rua Dona Libânia, 2017 – Centro 13015-090, Campinas (SP) Brasil. renatofav53@gmail.com.

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