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4.4 HISTÓRIAS FICCIONAIS NO RÁDIO

4.4 HISTÓRIAS FICCIONAIS NO RÁDIO

O rádio criou muitos programas e explorou vários gêneros e formatos. Um dos destaques, foi o gênero ficcional ou dramático, entender este gênero (junto com seus formatos) tem uma grande relevância para o nosso projeto, visto que, os elementos que foram criados e utilizados na radionovela, são grandes referências que nos inspiraram para a realização do nosso audiobook. O rádio, desde seu início passou por várias fases, e durante todo este tempo, apresentou inúmeros programas dos mais diversos gêneros. Neuberger (2021) cita que no apogeu do rádio, que vai de 1940 até 1955, a programação do rádio estava bem diversificada, entretanto um grande marco foi o surgimento da radionovela. A novela não surgiu no rádio, mas sim no meio impresso por folhetim na França.

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De início, ou seja, começos do século XIX, “le feuilleton” designa um lugar precioso do jornal: o “rez-de-caussée” - rez do chão, rodapé -, geralmente o da primeira página. Tem uma finalidade precisa: é um espaço vazio destinado ao entretenimento. (MEYER, 2002 p. 137)

As histórias apresentadas no folhetim eram escritas e publicadas em formato fatiado. Sendo apresentado que a cada nova publicação uma outra parte da história era apresentada.

O aparecimento de narrativas fragmentadas e com a fórmula “continua amanhã” tornou-se um hábito na sociedade francesa, fazendo com que a novidade e a necessidade de consumir tais histórias conduzissem a uma explosão de assinaturas dos jornais e à disputa acirrada pelos melhores folhetinistas. O efeito maior dessa novidade foi que a ficção passou a ser apresentada por meio de romance-folhetim, ou seja, de forma seriada. (CHAVES, 2007 p.15)

O folhetim acabou originando outros gêneros que foram exibidos em outros meios de divulgação e comunicação. Podemos citar a radionovela (que é uma de nossas maiores inspirações e bases para nosso projeto) e também a telenovela, que por sua vez teve bebeu nas fontes da radionovela e do folhetim.

O folhetim haveria de se metamorfosear noutros gêneros, em função de novos veículos, com espantoso alargamento de público. Entre eles, o gênero que aparece tipicamente latino-americano, a grande narrativa de nossos dias, a telenovela. (MEYER, 2002 p. 151)

A primeira radionovela a ser exibida foi Em Busca da Felicidade e 1941, pela Rádio Nacional, patrocinada pelo Creme Dental Colgate, durou 284 capítulos, foi

escrita por um autor cubano e adaptada por Gilberto Martins e a partir desta radionovela e de êxito em audiência, logo outras emissoras de rádio iniciaram a produção de radionovelas (NEUBERGER, 2012) As radionovelas se tornaram rapidamente um sucesso. Afirma Aguiar (2007, p. 73) que (...) "As novelas existem para fazer o ouvinte sentir emoções ou, o que dá no mesmo, para mexer nos sentimentos das pessoas. “Daí, provavelmente, o seu sucesso. ” Além das radionovelas, existiam também seriados radiofônicos, que marcaram muito a radiofonia. Diz Aguiar (2007, p.72) sobre a dramaturgia na emissora de Rádio Nacional “Foi uma verdadeira bola de neve: logo a Nacional transmitia 16 novelas semanais, afora os seriados, como Jerônimo, o herói do sertão e Presídio de mulheres”. O sucesso da dramaturgia pode ser atribuído ao que diz McLeish (1978, p.260):

Todos gostamos de histórias, em parte porque uma história pode oferecer uma estrutura para a compreensão - ou ao menos uma interpretação - dos eventos da vida. Frequentemente, um espelho no qual podemos ver a nós mesmos nossas ações, motivos e falhas - e os efeitos e resultados podem contribuir para o nosso próprio aprendizado. Drama é sobre conflito e resolução, relacionamentos e sentimentos e pessoas sendo motivadas por eles, ambos levando e sendo levados pelos eventos. O que acontece deve ser credível, as pessoas críveis e o final ter um senso de lógica, contudo inusual e curioso, de modo que o ouvinte não se sinta traído ou decepcionado7 .

A partir do artigo intitulado Gêneros e Formatos Radiofônicos do Educomrádio Centro-Oeste, podemos afirmar que radiodrama ou radionovela é um formato radiofônico do gênero dramático ou ficcional. Este gênero (ficcional) possui vários formatos, porém todos eles estão atrelados à ficção, à dramatização. Dessa forma, possui uma história, plot, personagens diversos e por não contar com a parte visual, todos os formatos desse gênero radiofônico específico precisam dispor dos elementos da linguagem radiofônica para criar uma paisagem sonora, Vicente (2003, p.3) diz que “As produções desse gênero buscam utilizar todos os recursos da linguagem sonora e radiofônica (música, efeitos, silêncio e vozes) para construir ambientes e personagens e, através deles, apresentar histórias reais ou fictícias”.

7 No original: We all like stories, partly because a story can offer a framework for the understanding –or at least an interpretation – of life’s events. Often, a mirror in which we can see ourselves – our actions, motives and faults – and the outcomes and results can contribute to our own learning. Drama is about conflict and resolution, relationships and feelings and people being motivated by them, both driving and driven by events. What happens should be credible, the people believable and the ending have a sense of logic, however unusual and curious, so that the listener does not feel cheated or let down.

Rádio e literatura de certa maneira se assemelham, visto que uma vez que não dispõem de imagens nem da parte visual para mostrar o que está se passando na trama, precisam de outros artifícios para aguçar a imaginação do leitor - no caso do livro e do ouvinte no caso do rádio - e fazê-lo criar imagens mentais em sua cabeça para que a história se passa na mente dele. Diz Aguiar (2007 p. 73) sobre essas imagens mentais que a dramaturgia no rádio proporcionava nos ouvintes.

(...) faziam os ouvintes imaginarem situações, ambientes, aparências e rostos. A ausência de imagens obrigava os atores a ir além da convencional leitura dos textos diante dos microfones. A interpretação pela voz era o meio através do qual as emoções transbordavam e atingiam "corações e mentes" dos ouvintes.

A radionovela por ser um drama em áudio acaba contando com recursos sonoros, por conta disso dispõem de atores que “emprestam” suas vozes para “dar vida” aos personagens, dessa forma há um trabalho de entonação, ritmo e manejo de emoções por meio da fala. Menegotto ressalta a importância da voz no meio radiofônico e da interpretação e entonação na hora da leitura do roteiro, pontuando que, a maneira como um texto é lido impacta diretamente no interesse do ouvinte.

No rádio, a expressão da voz dá-se através do tipo, freqüência e interpretação, de acordo com as características do meio, são esses elementos que lhe dão um aspecto tátil. As modulações da voz na interpretação do texto pelo locutor são essenciais para a produção e credibilidade da mensagem sonora. Textos que parecem apenas serem lidos sem inflexões provocam o desinteresse do ouvinte. (MENEGOTTO, 2004. p.3)

Spritzer também ressalta a importância da voz dos autores e também relaciona a voz do narrador e dos atores com o interesse do ouvinte, assim como Menegotto fez, porém acaba citando a importância do som de forma geral para a compreensão da história e também para situar o ouvinte na história.

No contexto radiofônico, as ações inerentes ao drama transformam-se em ações sonoras e os personagens se apresentam pela voz dos atores. O ouvinte apreende a narrativa ao ouvir a composição dos elementos sonoros que lhe oferecem as condições de tempo e espaço da estória. (SPRITZER, 2010. p. 424).

Podemos entender como o som é importante no meio radiofônico e principalmente no drama radiofônico, já que por não ter a parte visual, como Spritzer disse, todas as ações são transformadas em som.

Diferente da literatura que tudo deve ser descrito em palavras, no radiodrama, tudo deve ser passado por meio do som, dessa forma há um balance entre a fala e outros recursos sonoros, de forma a não ter só falas e diálogos, evitando assim monotonia, e aliando todos os elementos da linguagem radiofônica. Calebre (2003, p.55) afirma que “escrever para o rádio é fazer um teatro cego, no qual os ruídos, a música e os recursos de voz são muito mais importantes do que em outros meios”. As radionovelas, mesmo após com o surgimento da televisão deixaram sua marca: estas inclusive influenciaram a telenovela em seus primeiros anos de estreia nas telinhas. Malcher (2010 p.104) afirma:

Existia naquele tempo a distinção dos produtos derivados das atividades dos profissionais do rádio com sua linguagem fortemente marcada pela soap opera radiofônica: as radionovelas de outrora.

Os elementos presentes nas histórias ficcionais do rádio são os elementos que queremos trazer no nosso projeto - os atores - para cada um interpretar um personagem diferente , os sons (sejam eles no formato de trilha ou mesmo de efeito sonoro) para criar a nossa ambientação, as vozes com ritmo e entonação. Todos esses elementos estiveram muito presentes nas radionovelas e séries radiofônicas e são esses elementos que queremos trazer para nosso produto sonoro.

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