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APRESENTAÇÃO

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C) INVESTIMENTO

C) INVESTIMENTO

Sendo assim, para caminharmos em direção a um jornalismo justo e democrático, a pesquisa pretende analisar reportagens sobre as mulheres privadas de liberdade, nas revistas femininas digitais. Para fins de segmentação, o objeto de estudo escolhido para compor este projeto de pesquisa foi a revista Tpm. A pergunta que move essa pesquisa é: qual é o discurso utilizado pelas revistas segmentadas ao público feminino, especificamente a revista digital Tpm, para falar sobre esse grupo de mulheres que vivem em situação de cárcere? Para respondê-la foi definido como objetivo compreender como a linguagem jornalística da revista digital retrata a vida de mulheres encarceradas e se há preferência pela narrativa de pessoas privilegiadas economicamente e socialmente. A metodologia aplicada será a análise de discurso, devido à necessidade de aprofundamento no tema e compreender a estrutura das reportagens do veículo. É necessário refletir como os grandes veículos da imprensa feminina estão falando sobre as mulheres encarceradas. Este trabalho pretende contribuir para uma visão mais crítica e mostrar que a discussão do encarceramento feminino possui aparatos que podem ser melhor explorados pelo Jornalismo.

APRESENTAÇÃO

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Este artigo fundamenta-se nas discussões levantadas sobre o feminismo e o direito das mulheres nos últimos anos. O debate realizado atualmente ainda apresenta uma ideia elitista, onde apenas o grupo de mulheres brancas e em ascensão social é favorecido. As mulheres privadas de liberdade possuem pouco espaço na sociedade, consequentemente no Jornalismo, para manifestar as próprias vivências. Como é argumentado por Borges (2019), “[...] A situação das mulheres encarceradas sofre uma dupla invisibilidade, tanto pela invisibilidade da prisão quanto pelo fato de serem mulheres. Ninguém quer saber ou discutir sobre o sistema prisional.” Em 2014, a pesquisa “Infopen Mulheres”4, realizada pelo Departamento Penitenciário Nacional, realizou um levantamento de informações disponíveis sobre as mulheres encarceradas no Brasil. Foi constatado que, entre os anos de 2000 e 2014, o número de mulheres encarceradas cresceu em 567,4%, o que corresponde a 37 mil presas. Ainda de acordo com a pesquisa, o encarceramento feminino possui o seguinte perfil: 50% das mulheres presas possuem entre 18 e 29 anos, 67% delas são pretas e 50% não concluíram o ensino fundamental.

4 Conteúdo disponível em: <http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopenmulheres/relatorio-infopen-mulheres.pdf>. Acesso em: 27 de novembro de 2021.

Nota-se a importância da abordagem jornalística sobre a temática, já que a informação pode trazer conhecimento para a sociedade sobre a urgência da discussão do assunto. A grande mídia não trata com frequência sobre o tema, quando abordado, as pautas servem para falar das poucas políticas de reinserção existentes nestes lugares e que na maioria dos casos exclui mulheres pretas e periféricas: As mulheres brancas, em virtude de sua maior escolaridade, recebem os melhores cargos de trabalho dentro da prisão, ao contrário das negras, em maioria com os serviços pesados e de limpeza, consequentemente, prejudicadas pelo benefício do indulto, e da remissão de um dia pena por cada três dias trabalhados. (SILVA, 2014, p.42)

Dado o motivo, o Jornalismo tem como dever visibilizar a temática, gerando diálogos sobre as condições de vida das mulheres encarceradas. Além disso, os veículos de informação precisam abordar o tema com frequência, denunciando a falta de comprometimento do estado de São Paulo e do Governo Federal com o sistema carcerário brasileiro.

A revista Tpm foi lançada em 2001, com a provocação de possuir uma linha editorial diferenciada das revistas destinadas ao público feminino da época, as quais se limitavam a discutir temas relacionados a beleza, moda e relacionamentos, fomentando preceitos machistas acerca das mulheres.

O foco da análise aqui apresentada é entender como a revista digital relata aos seus leitores como se configura a vida de mulheres encarceradas e se há prioridade de compreender o fato do ponto de vista de pessoas representantes de classes dominantes, como indivíduos brancos. Para tal fim, foram definidos objetivos específicos: investigar as escolhas jornalísticas no sentido semântico para a construção das reportagens, bem como analisar o perfil das personagens selecionadas para compor os textos. Para isso, o instrumento utilizado será a Análise de Discurso representada pela escola francesa. A escolha justifica-se, pois o instrumento é o que melhor permite um aprofundamento da dimensão representativa, isto significa, descrições sobre os sujeitos, silêncios, contextualização das notícias e análise de elementos complementares. As considerações teóricas inseridas nesta pesquisa foram pautadas em estudos realizados pelos autores Orlandi (2020), Brandão (2012), Hall (2003), Wolf (2006) e Pena (2005), no que tange a comunicação e discurso. E Borges (2019), Davis (2018), Foucault (2013) e Queiroz (2015), no que trata questões relacionadas ao encarceramento e mulheres em situação de cárcere.

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