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REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

analisados nas reportagens da revista digital Tpm sobre encarceramento feminino. Cardano (2017) explica a pesquisa qualitativa como: O primeiro traço que une as técnicas de pesquisa qualitativa tem a ver com a adoção de um estilo de pesquisa que prefere o aprofundamento do detalhe à reconstrução do todo, os estudos intensivos (sobre um pequeno número) aos extensivos (sobre um grande número). Com essa escolha metodológica a pesquisa qualitativa responde de forma específica a uma exigência geral que recobre o inteiro domínio da pesquisa social, aquela de guiar a complexidade dos fenômenos em estudo.

Para avaliarmos o discurso utilizado pela revista digital Tpm ao retratar mulheres encarceradas, buscamos um método prático, empírico e que exemplifique os apontamentos propostos de forma clara. Para isso, foi recorrido à análise do discurso divididos em tópicos, que possibilitam a identificação dos itens analisados sem perder a reflexão inicial. Brandão (2021) nos pontua a respeito da análise do discurso: O reconhecimento da dualidade constitutiva da linguagem, isto é, do seu caráter ao mesmo tempo formal e atravessado por entradas subjetivas e sociais, provoca um deslocamento nos estudos linguísticos até então balizados pela problemática colocada pela oposição língua/fala que impôs uma linguística da língua. Estudiosos passam a buscar uma compreensão do fenômeno da linguagem não mais centrado apenas na língua, sistema ideologicamente neutro, mas num nível situado fora desse polo da dicotomia saussuriana. E essa instância da linguagem é a do discurso. Ela possibilitará operar a ligação necessária entre o nível propriamente linguístico e o extralinguístico.

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Podemos afirmar que a análise de discurso busca compreender a língua no que produz sentido, considerando-a como parte de um esforço social abrangente, sem excluir os contextos históricos em que a sociedade está inserida. Interpretando palavras presentes nos textos, os ditos, como também daquilo que não é explícito (ORLANDI, 2020).

RESULTADOS

Com base na análise de discurso, este artigo se propõe a analisar as reportagens sobre mulheres em situação de cárcere da revista digital Tpm, com foco na identificação de mecanismos que reforcem a invisibilidade de mulheres encarceradas, em preferência mulheres pretas, por este motivo foram definidas duas classificações norteadoras: os sujeitos e os silêncios. Outros dois pontos foram escolhidos, como a contextualização da notícia e análise de elementos complementares. Esses são os pontos que nortearão a análise das reportagens “Presa fácil”, “Diário de uma detenta” e “A pandemia nas prisões femininas”. Vale salientar que este artigo visa analisar especificamente as reportagens que tratam sobre mulheres encarceradas de modo a averiguar

se o tom inovador da revista, que questiona os padrões impostos pela sociedade às mulheres, se verifica.

 Presa fácil7

A população carcerária feminina cresce de forma avassaladora no Brasil: em 11 anos, houve um aumento de 279% – número muito maior do que o dos homens

A notícia

A primeira matéria analisada foi divulgada em 13 de agosto de 2015, e foca em trazer um panorama sobre a vida das mulheres encarceradas. Os aspectos levantados, como as condições de higiene, motivos pela pena e entre outros, são citados brevemente e sem aprofundamento. Vale salientar que a reportagem também foi repercutida na edição 156, da revista impressa Tpm, integrando-se ao “Especial Prisão”. Por esse motivo, o primeiro aspecto do texto jornalístico, o lide, é abandonado e em seu lugar, a matéria inicia-se com elementos do jornalismo literário.

Os sujeitos

No texto, são identificadas dez vozes com pontos de vistas e especialidades diferentes entre si: três mulheres encarceradas, o defensor público, a jornalista; a antropóloga; a psicóloga, a agente penitenciária, o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem) e o Ministério da Justiça, por meio do ministro Gilmar Mendes. O discurso pode ser caracterizado como polifônico, embora haja uma discrepância no espaço em que cada uma delas está inserida. As fontes governamentais e especialistas estão em maior número (7), quando comparadas ao número de mulheres presas entrevistadas (3).

Os silêncios

Um silêncio identificado na reportagem refere-se à falta de descrições físicas das mulheres encarceradas. Abordando um viés racial, as mulheres pretas representam 66% da taxa de encarceramento feminino no Brasil, conforme o levantamento do Infopen (2019), dessa forma fica a julgamento e subjetividade do leitor descobrir quem está sendo retratado no texto. As mulheres negras conseguiram um espaço para manifestar as próprias dores ou as mulheres brancas, assim como as fontes nomeadas, foram escolhidas para serem protagonistas?

Outros componentes

7 Conteúdo disponível em: <https://revistatrip.uol.com.br/tpm/a-populacao-carceraria-feminina-nao-parade-crescer-brasil> Acesso em: 13 de setembro de 2021.

O título da matéria “Presa fácil” traz um sentido ambíguo e pode significar que o número de mulheres presas cresceu nos últimos anos por ocuparem posições coadjuvantes nos crimes, como já foi apontado na reportagem pelo defensor Bruno Shimizu e pela coordenadora do Cladem, Gabriela Ferraz. Como também, no significado metafórico da palavra presa, cujo sentido denota que uma pessoa se encontra sob influência de algo ou outro indivíduo. A escolha do intertítulo “Quem não é visto não é lembrado” mostra a tentativa da revista de se aproximar de uma linguagem mais coloquial e moderna. Além de reforçar o fato das mulheres em cárcere serem invisibilizadas socialmente.

 Diário de uma detenta8

Paulistana de classe média alta, há dez anos Fernanda* foi presa em flagrante por tráfico e conta o que passou nos três meses detida

A notícia

Assim como na notícia anterior, a matéria foi repercutida na edição 156, da revista impressa Tpm, integrando-se ao “Especial Prisão”. Já no site, o editorial foi divulgado em 3 de agosto de 2015. O foco central é identificado no subtítulo: trata-se do relato de uma ex-presa sobre como foi viver durante três meses no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros.

Os sujeitos

No editorial, o principal e único sujeito é a ex-detenta, que conta ter sido presa por traficar drogas a pedido do namorado. Diferentemente de muitas mulheres nessas condições, a personagem possuía aparato financeiro necessário para que não passasse tanto tempo privada de liberdade.

O discurso monofônico tem por objetivo trazer uma história mais pessoal, narrada em primeira pessoa, causando sensação de proximidade entre a opinião da revista e as leitoras.

Os silêncios

O não-dito nesta matéria também remete à descrição física da personagem. O silêncio constitutivo dá-se ao utilizar-se apenas o termo “patricinha” para descrever a ex-detenta, fica não dito que esta é a perspectiva da história de uma mulher branca, visto que a matéria também não apresenta imagens da personagem.

Outros componentes

8 Conteúdo disponível em: <https://revistatrip.uol.com.br/tpm/diario-de-uma-detenta> Acesso em: 13 de setembro de 2021.

Embora não seja o foco desta análise, a reportagem recebe a seguinte chamada de capa na versão impressa: “Os perrengues de uma patricinha na cadeia”, é chamado atenção os termos escolhidos para caracterizar a ex-detenta. A ironia causada pela palavra “perrengue” é uma forma da revista posicionar-se referente aos estereótipos concebidos para representar as mulheres, causando uma espécie de ruptura com o que é esperado de uma mulher com boa situação financeira. Além disso, a chamada traz a sensação de que a história contada possa ser banal ao optar pelo termo “patricinha”, uma gíria que remete a uma mulher mimada e se preocupa apenas com questões da moda, sem a explicação do porquê a personagem era conhecida assim pelas presidiárias.

 A pandemia nas prisões femininas9 A médica Gabriela Costa, que já passou 76 semanas presa, reflete sobre as condições de saúde, física e mental, que as mulheres enfrentam no cárcere

A notícia

A última reportagem selecionada para a análise foi publicada em 7 de março de 2020, escrita pela jornalista Carol Ito. Apesar de trazer no título “A pandemia nas prisões femininas", temos a narrativa em detalhes apenas do que ocorria na Penitenciária Feminina de Sant’Ana, na zona norte de São Paulo.

Logo no início é contado como tem sido a pandemia causada pelo novo coronavírus na prisão, condições insalubres e esquecimento por parte do Estado. São milhares de mulheres vivendo em constante aglomeração, más condições de higiene e falta de assistência médica.

Os sujeitos

A fonte principal da reportagem é a médica Gabriela Costa, de 36 anos, uma mulher branca que narra as condições vividas no cárcere e também como vem sendo trabalhar na linha de frente do combate à COVID-19.

Além da médica, outros sujeitos falantes são identificados no texto, a Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo (SAP), a advogada e esposa da personagem e a professora de direito e membro do Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu). Embora tenha pouco destaque, outro sujeito pode ser visto na matéria, a presa não-identificada, de 70 anos, que vivia próxima à entrevistada principal.

9 Conteúdo disponível em: <https://revistatrip.uol.com.br/tpm/a-pandemia-nas-prisoes-femininas> Acesso em: 13 de setembro de 2021.

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