Trabalhos Agropec Bahia 2012

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AGROPEC BAHIA 2012 A Agropecuária so Século XXI Salvador – BA, 18 a 19 de Setembro de 2012

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Teores de proteína e lipídeos em diferentes amostras pólen apícola no sul da Bahia¹ Ediney de Oliveira Magalhães², Alane Santos Santana³, Taís Campos Silva 4, Juliane Macedo5, Adriele Tavares6, Danyllo Matos Pimentel7 ¹Projeto de pesquisa, financiado pela CEPLAC 2 Engenheiro Agrônomo MsC Pesquisador do CEPEC- Ilhéus, Bahia, Brasil CEPLAC. e-mail:casadaabelha@yahoo.com.br 3 Graduanda em Agronomia-Universidade Estadual de Santa Cruz UESC, Brasil. alanesantana1@hotmail.com 4 Graduanda em Agronomia - Universidade Estadual de Santa Cruz UESC, Brasil. 5 Graduanda em Agronomia - Universidade Estadual de Santa Cruz UESC, Brasil. julymacedo90@hotmail.com 6 Graduanda em Agronomia - Universidade Estadual de santa Cruz UESC, Brasil. adrieletavares13@hotmail.com 7 Graduado em Zootecnia- Universidade Estadual do Suldoeste da Bahia- UESB. danyllomp@yahoo.com.br

Abtract: Beekeeping is characterized as an activity in a wide expansion in the country and can be used in all regions of Brazil, pollen is defined as the result of clumping of the pollen of flowers, made by worker bees through nectar and their salivary substances, which is collected at the hive entrance. To will can complete the analysis of pollen samples, collected in the municipalities of Canavieiras, Itacaré Olivença in southern Bahia, parameters are in accordance with the Technical Regulation of Identity and Quality Bee Pollen, edited by the Ministry of Agriculture Keywords: Apis Mellífera bee, concentration preteica Introdução A apicultura caracteriza-se como uma atividade em ampla expansão no país, podendo ser explorada em todas as regiões do Brasil. Devido a sua característica de poder ser consorciada com qualquer outra atividade, pode torna-se importante fonte de renda, principal ou alternativa, para as famílias sem ou baixa renda (DA MATA, 2009). Trata-se de uma atividade que contempla simultaneamente os fatores econômico, social e ambiental, sendo considerada uma das grandes opções para a agricultura familiar, por proporcionar aumento de renda, através do aproveitamento da potencial da biodiversidade vegetal e de sua capacidade produtiva (SEAGRI 2010 ). A apicultura é a criação racional da abelha do gênero Apis, espécie melífera. Essas abelhas proporcionam a produção de mel, própolis, geléia real, apitoxina, e pólen, produtos esse bastante procurado pelo seu valor alimentar e terapêutico (Magalhães, 2000). No Brasil, a produção de pólen apícola iniciou-se de forma modesta no final da década de 80. Hoje no Brasil, existem duas importantes regiões na produção de pólen; região Sul, tem como destaque Santa Catarina e o tendo Nordeste tendo Bahia como principal produtor. Atualmente, o mercado favorável ao consumo de produtos naturais, complementares à dieta ou com efeitos terapêuticos, vem estimulando e promovendo essa modalidade da cadeia produtiva apícola (Barreto 2000). Diversas são as ações benéficas do pólen apícola à saúde humana (LIGEN, 1989; ROCHA et al. 2002; ANDRÉS et al.,1993; ROMAN,1976; PEREIRA et al.,1994), Segundo a Normativa n.º 03 de 19 de Janeiro de 2001 do Ministério de Agricultura e do Abastecimento (Brasil, 2001), define-se pólen apícola como o resultado da aglutinação do pólen das flores, efetuada pelas abelhas operárias, mediante néctar e suas substâncias salivares, o qual é recolhido no ingresso da colmeia. O pólen apícola é coletado por uma grade de retenção, caindo em um recipiente coletor, conjunto este denominado de coletor de pólen. No final da coleta encontram-se reunidas as bolotas de grãos de coloração variável quando é de vegetação polifloral e de coloração única quando de monofloral, indicando as diversas comunidades botânicas colecionadas pelas abelhas, sendo esse material removido pelo apicultor para o beneficiamento, comercialização e consumo animal e humano.(Barreto 2000.). O objetivo do trabalho foi caracterizar nas amostras os teores de lipídeos e proteína do pólen na região sul do estado da Bahia, cuja vegetação polinifera predominante são as palmáceas. Material e Métodos As amostras de pólen foram coletadas junto aos produtores, sendo quatro amostra no Município de Canavieiras, entre 5 e 14 de fevereiro de 2011, uma amostra no município de Olivença no distrito de Ilhéus em 18 de fevereiro de 2011 e uma amostra em Itacaré em 19 de fevereiro de 2011. Todas as amostras foram coletadas no período da tarde, acondicionadas em vasilhas plásticas e armazenadas em freezer durante oito dias. As amostras foram desidratadas em estufa com temperatura controlada a 43 ºC, e em seguida analisadas conforme as Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (1985 ).As amostras foram analisadas no Centro Regional de Apicultura do Sul da Bahia da CEPLAC e no Laboratório do– Seção de Tecnologia e Engenharia Agrícola SETEA e do Centro de Pesquisa do Cacau -CEPEC, localizado na Rodovia Ilhéus/Itabuna km 22.

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____________________________________________________________ Resultados e discussão Foram obtidos os seguintes resultados: Lipídeos, Amotra 1: 3,.50g; Amostra 2: 3,62g; Amostra3: 3,17g;Amostra4: 4,25; Amostra5: 4,12g; Amostra6: 3,36g e Proteínas Amostra 1: 19,14g; Amostra 2: 19,17g; Amostra 3: 20,08g; Amostra4: 20,19g; Amostra 5: 19,30g; Amostra6: 17,81. respectivamente. Das seis amostras analisadas a originada do município de Itacaré (amostra 03) apresentou os menores teores de lipídeos (17,81) e a maior concentração foi do município de Canavieiras (amostra 4).

4,5 4 3,5 3

2,5 2 1,5 1 0,5 0 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5 Amostra 6 Fig. 01: Tores de Lipídeos ( g) em amostras de pólen de palmaceas

Com relação aos teores de proteínas a amostra 06 originada do município de Itacaré apresentou os menores teores de proteínas e a amostra 4 originado do município de Canavieiras apresentou os maiores teores. Na mostra 6, mesmo tendo os teores abaixo das demais, a mesma encontra-se bem acima do mínimo estabelecido pelas Normas do MAPA.

20,5 20 19,5 19 18,5 18 17,5 17 16,5 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5 Amostra 6 Fig. 02: Teores de proteínas (g) em amostras de pólen de palmáceas

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____________________________________________________________ Conclusão Pode-se concluir que as amostras analisadas do pólen apícola, coletado nos municípios de Canavieiras, Itacaré e Olivença no sul da Bahia, estão em conformidade como parâmetros do regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Pólen Apícola, editado pelo Ministério da Agricultura que estabelece os teores de lipídeos e proteínas que são Lipídios: mínimo de 1,8%; m/m, na base seca; e Proteínas: mínimo 8%; m/m, na base seca. Literatura citada BARRETO, L.M.R.C., RABELO, P.C., BELEZIA, C.O. (2000) Perfil protéico do pólen coletado por Apis mellifera (híbrida africanizada) no período outono-inverno no Apiário Escola do Centro de Estudos Apícolas da Universidade de Taubaté. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 13, 2000, Florianópolis. Anais... Florianópolis: Sonopress. DA MATA, V.P;CARVALHO, C.; BARRETO, L.M.R.C. Contribuição da apicultura para a inserção social de agricultures familiars no estado da Bahia. Anais de I Congrasso Nordestino de Apicultura e Meliponicultura e Feira da Cadeia Apícula. Salvador- Bahia. P30-34.2009 LIGEN, 1989; ROCHA et al. 2002; ANDRÉS et al.,1993; ROMAN,1976 a,b; PEREIRA et al.,1994), - homo Page www.ufrb.edu.br/magistra. MAGALHÃES E; III Encontro Nacional de Produtores de Pólen I Seminário de Compras Governamentais I Feira de Produtos Apiculas 2007. SEAGRI, disponivel em:htt://wwwseagri.ba.gov.br/progamos.asp?qact=viewprojram&prjid=7, 2010.

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____________________________________________________________ Categorias de produtores e tipos de sistemas de produção dos caprinocultores leiteiros no Território do Sisal da Bahia1 Liliane Oliveira da Silva2, Dayane de Souza Silva3, Marcos Vinícius de Sá Teles Rodrigues4, Iana Isabel Carvalho de Jesus4, Stellinie de Leite Pinho4, Gustavo Bittencourt Machado5 Parte dos resultados do projeto “Renda e Integração ”, financiada pelo CNPq Graduanda em Zootecnia - UFBA, Bahia, Brasil, Bolsista do CNPq/PIBIT. e-mail: lillioliveira9@gmail.com 3 Graduanda em Zootecnia - UFBA, BRA. Bolsista do CNPq/PIBIC. 4 Graduandos em Zootecnia - UFBA, BRA. Bolsista da UFBA/PIBIEX/PIBIT. 5 Doutor em Agricultura Comparada (AgroParistech). Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 1 2

Categories of producers and types of production systems in the dairy caprinocultores Territory of Sisal Bahia Abstract: The family farm represents the base of the economy in the sisal region of Bahia, and through changes over the years, suffered major impacts, such as sisal and devaluation of land out of the families of the field in search of new perspectives of life and economic development. To encourage families to stay in the field were run intervention projects in production systems for integration of new subsystems integrated dairy goat, dairy products starting with the introduction of policies and access to credit. This summary aims to determine the types and diversification of production systems using the method of analysis-diagnosis in Agrarian Systems, developed at the Institut de Sciences et Industries du Vivant et de l'Environnement (AgroParisTech). Among the families interviewed, 55% are characterized by being exclusively agricultural, income generated by agricultural labor, 43% are multi, with farm income and income generated by non-farm work, and 2% Pluriativo Manufacturers Employers, employees and who has agricultural income and non-agricultural. In 77.7% of the sisal types have in their systems to obtain food for their sheep and 89% palm oil plantations that supply water. The decline in activity sisal, stimulated the creation of agricultural projects, be they government or just a desire on the part of the community to generate development in agriculture and family prepare for any market crises. Keywords: Development, Family Farming, Public Policy, Rural Activity Introdução Com as constantes mudanças no setor agrário, a atividade sisaleira entra em declínio após o período em que era considerado o ouro branco do sertão. A partir de seu declínio, ocasionou o aumento do êxodo rural, intensificada pela insatisfação com as condições de trabalho, desvalorização da fibra de sisal, da terra, introdução da agricultura mecanizada, que gerou, consequentemente, o desemprego, e a falta de perspectiva de mudança. Para incentivar a permanência dessas famílias agricultoras e o aumento da economia local, foram desenvolvidos projetos de desenvolvimento agrícola, na qual se buscavam a intervenção nos sistemas de produção da agricultura familiar por meio da gestão tecnológica. Dentre esses projetos se encontram a implantação de laticínios para incentivar a produção de leite de cabra e acesso ao crédito rural. Como consequência, essas intervenções geraram sistemas agrários de produção diversificada e categorias sociais de produção diferenciadas. Com o objetivo de determinar essas categorias, foram determinadas as tipologias de caprinocultores leiteiros, já que é a principal atividade exercida e que iniciou o processo de mudança no cenário agrário da região, saindo de uma monocultura sisaleira para os sistemas integrados a diversas culturas. Material e Métodos Foram realizadas entrevistas com caprinocultores leiteiros dos munícipios de Valente, São Domingos e Santa Luz e determinada a pré-tipologia da região de uma amostragem aleatória e utilizando-se o método de Análise-diagnóstico em Sistemas Agrários, desenvolvido no Institut de Sciences et Industries du Vivant et de l´Environnement (AgroParisTech). Através da análise da pré-tipologia desenvolveu-se as tipologias de sistemas agrários onde se encaixam as famílias produtoras. O acesso às famílias foi por meios de carros com guias e com a ajuda dos laticínios da região, na qual essas famílias fornecem o leite caprino. A paisagem se caracteriza pela vegetação caatinga, áreas desmatadas pela exploração agrícola, seca prolongada, baixa fertilidade dos solos e escassez hídrica. Resultados e Discussão Através da análise dos sistemas integrados a caprinocultura leiteira, obtiveram-se os seguintes tipos: 1.Família Agrícola com Caprinocultura leiteira: Categoria exclusivamente agrícola podendo ser diversificada com caprinos de leite, bovinos de leites, ovinos, suínos, sisal, quintal com galinha caipira, palma adensada, mandacaru, pomar.

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____________________________________________________________ 2.Família Agrícola com Aposentadoria: Categoria exclusivamente agrícola podendo ser diversificada com caprinos de leite, ovinos, sisal, quintal com galinha caipira, palma adensada. Renda ampliada com aposentadoria. 3.Família Agrícola com Bolsa Família: Categoria exclusivamente agrícola podendo ser diversificada com Caprinos de leite, bovinos de leites, Ovinos, Sisal, Quintal com galinha caipira e horta, Consorcio gliricídia/leucena, Palma adensada, Mandacaru. Renda ampliada com Bolsa Família. 4.Família Pluriativa com Curtume e Bolsa Família: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos de leite, bovinos de leite, sisal, ovinos, palma adensada, quintal com galinha caipira. Renda ampliada com bolsa família. Renda não agrícola pela produção e beneficiamento de couro. 5.Família Agrícola com Consorcio Milho/Feijão e Bolsa Família: Categoria exclusivamente agrícola podendo ser diversificada com caprinos de leite, bovinos de leite, equino, suínos, sisal, palma adensada, quintal com galinha caipira. Renda ampliada com bolsa família. 6.Família Pluriativa com Bovino de Leite: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos de leite, bovinos de leite e de corte, equídeo, sisal. Renda ampliada com costura. 7.Produtor Patronal Pluriativo com Caprinos de Leite: Categoria diversificada com caprinos de leite, bovinos de leite, quintal com galinha caipira, palma/mandacaru. Produtor com outra renda e funcionários na propriedade. 8.Família Pluriativa com Comércio e Bolsa Família: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos de leite; bovinos de leite, ovinos, sisal, palma adensada e quintal. Renda ampliada com bolsa família. Renda não agrícola pelo comércio. 9.Família Pluriativa com Comércio e Funcionário Público: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos de leite, palma, quintal com pomar. Renda não agrícola pelo comércio e funcionário público. 10.Família Pluriativa com Comércio: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos de leite, bovino, equídeo, sisal, palma, mandacaru, quintal com galinha caipira. Renda não agrícola pelo comércio. 11.Família Pluriativa com Servidor Público: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos de leite, ovino, bovinos de leite, sisal, consórcio milho/sorgo, palma, mandacaru, quintal com galinha caipira, horta e pomar, granja galinha poedeira (teste), biodigestor. Renda não agrícola pelo servidor público. 12.Família Pluriativa com Aposentadoria: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos de leite, bovinos de leite, ovinos, sisal, quintal com galinha caipira, palma, silagem, buffel. Renda ampliada com aposentadoria. Renda não agrícola pelo aluguel de trator. 13.Família Pluriativa com Aposentadoria e Bolsa Família: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinos leiteiros, bovinos leiteiros, palma, consórcio gliricídia/leucena. Renda ampliada pela aposentadoria e bolsa família. Renda não agrícola pelo garimpo e artesanato. 14.Família Pluriativa com Aposentadoria, Bolsa Família e Professor Escolar: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinocultura leiteira, sisal, quintal com galinha caipira e pato, ovinocultura, mandiocultura. Renda ampliada com aposentadoria, bolsa família. Renda não agrícola pelo professor escolar. 15.Família Pluriativa com Professor Escolar: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinocultura de leite, suínos, palma/leucena, sistema intensivo de ovinos (terminação), silagem de sisal, feno de buffel, sisal. Renda não agrícola pelo professor público e gerente de laticínio. 16.Família Pluriativa Caprinocultura Leiteira: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinocultura de leite, bovinos de leite, sisal, palma/mandacaru, horta, buffel, quintal com galinha caipira, apicultura. Renda não agrícola pelo serviço informal. 17.Família Pluriativa com Bolsa Família: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinocultura de leite, ovinos, leucena, sisal, silagem de sisal, buffel, galinha para consumo, palma. Renda ampliada com bolsa família. Renda não agrícola pelo trabalho em laticínio. 18.Família Pluriativa com Bolsa Família e Funcionário Público: Categoria pluriativa podendo ser diversificada com caprinocultura de leite, bovinos de leite, palma, buffel, quintal com galinha caipira. Renda ampliada com bolsa família. Renda não agrícola pelo funcionário público.

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3% 3% 2%

3%

2%

2% 3%

24%

10% 10%

3% 3% 3%

19%

2% 2%

2% 2%

Família Agrícola com Caprinocultura Leiteira Família Agrícola com Aposentadoria Família Agrícola com Bolsa Família Família Pluriativa com Curtume e Bolsa Família Família Agrícola com Consórcio milho/feijão e Bolsa Família Família Pluriativa com Bovino de Leite Produtor Patronal Pluriativo com Caprinos de Leite Família Pluriativa com Comércio e Bolsa Família Família Pluriativa com Comércio e Funcionário Público Família Pluriativa com Comércio Família Pluriativa com Servidor Público Família Pluriativa com Aposentadoria Família Pluriativa com Aposentadoria e Bolsa Família Família Pluriativa com Aposentadoria, Bolsa Família e Professor Escolar Família Pluriativa com Professor Escolar Família Pluriativa Caprinocultura Leiteira Família Pluriativa com Bolsa Família Família Pluriativa com Bolsa Família e Funcionário Público

Gráfico 1. Categorias de famílias produtoras (%) Nos sistemas de produção acima, observa-se a presença continua do sisal em 77% dos tipos, não como foco principal a produção de fibra, mas com o objetivo de fornecer alimentação aos animais, ou seja, produção e fornecimento de silagem. Isso se explica pelo aumento do potencial forrageiro do sisal quando se aplicado aos consórcios com outras culturas (NASCIMENTO, 2008) e um sistema mais diversificado em culturas forrageiras teria maior tolerância à seca e, consequentemente, maior disponibilidade de alimentos para os animais (Silva e Beltrão, 1999). Já o cultivo de palma em, aproximadamente, 89% dos tipos é devido a sua capacidade para fornecer nutrientes e água, além de fazer parte do bioma, não gerando custos para a obtenção. Dentre as famílias entrevistadas, 55% se caracterizam por ser exclusivamente agrícola, renda gerada pelo trabalho agrícola, 43% são pluriativas, com renda agrícola e renda gerada pelo trabalho não agrícola, e 2% Produtores Patronais Pluriativo, que possui funcionários e renda agrícola e não agrícola. Essa grande quantidade de famílias pluriativas se justifica pela busca cada vez mais intensa de aumentar a renda familiar e garantir a segurança financeira. Através de projetos governamentais, foi possível gerar a ampliação de renda por meio da bolsa família em 36% das famílias e a disponibilidade de empréstimo com o credito rural, principalmente o PRONAF (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que possibilitou a aquisição de mecanismos para a introdução de novos subsistemas de produção. Conclusões O processo de diversificação dos sistemas de produção desenvolve-se a partir de diversos fatores, entre eles, o declínio da atividade sisaleira, que estimulou a criação de projetos agrícolas, sendo alguns deles governamentais e, na grande maioria, por um desejo por parte da comunidade de gerar desenvolvimento na agricultura familiar. Esta diversificação possibilitou o fortalecimento do sistema agrícola dos produtores deixando-os mais preparados para as eventuais crises do mercado. Estão sendo desenvolvidos projetos para determinar quantitativamente a contribuição dos integrantes da família e a fonte da renda, agrícola ou não agrícola, na obtenção da renda familiar, além de discutir a viabilidade do subsistema de produção integrado ao sistema. Literatura citada NASCIMENTO, H. M. A convivência com o semiárido e as transformações socioprodutivas na região do sisal – Bahia: por uma perspectiva territorial do desenvolvimento rural. CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária, v.3, n. 6, p. 22-44, ago. 2008. SILVA, O. R. R. F. & BELTRÃO, N. E. M. O agronegócio do sisal no Brasil. Brasília-DF. Embrapa-SPI; Campina Grande/PB: Embrapa-CNPA, 1999.

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____________________________________________________________ A análise histórica no estudo da diversificação dos sistemas produtivos no Território Sisaleiro da Bahia1 Liliane Oliveira da Silva2, Dayane de Souza Silva3, Marcos Vinícius de Sá Teles Rodrigues3, Liliana Bury de Azevedo4, Cássia Cristine Oliveira Pereira4, Gustavo Bittencourt Machado5 Parte dos resultados do projeto “Renda e Integração dos Sistemas Produtivos com Caprinos Leiteiros no Sistema Agrário Gado Policultura com Sisal”, financiado pelo CNPq 2 Graduanda em Zootecnia – UFBA, Bahia, Brasil, Bolsista do PIBIT/CNPq. e-mail: lillioliveira9@gmail.com 3 Graduandos em Zootecnia - UFBA, BRA. Bolsista do PIBIT/PIBIEX/UFBA. 4 Graduandos em Zootecnia - UFBA, BRA. Bolsista do PIBIC/CNPq. 5 Doutor em Agricultura Comparada (AgroParisTech). Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 1

The historical analysis in the study of diversification of production systems in the Territory of Bahia Sisaleiro Abstract: The Territory Sisaleiro Bahia comprises a semi-arid area of Bahia known for sisal farm that handled the region's economy. With the decline of this activity are needed new sources of income leading to diversification of agricultural systems. In order to describe the factors that influenced this process, the historical analysis was performed using the method of analysisdiagnosis in Agrarian Systems in the municipalities of Valens, Santo Domingo and Santa Light. The data are in fact ecological, technical and socioeconomic. It is observed that one of the factors that influenced the decline of activity is the devaluation of sisal fiber and sisal poor working conditions that led to rural exodus. The introduction of new production is interconnected subsystems of the implementation of the Dairy DaCabra APAEB in the 1990s and the policies of access to rural credit in the next decade to prevent the departure of families of the field consequently led to the formation of associations, and cooperative agreements for disposal. It is concluded that the introduction of new subsystems production, mainly dairy goat, took to drive the economy and the ability to provide differentiated products to market, not subject to excessive changes in the market, highlighting the social technologies formed by the interaction of knowledge. Keywords: Development, Public Policy, Rural Activity, Semiarid Introdução O Território Sisaleiro da Bahia está inserido no Semiárido baiano e se caracteriza pela intensa exploração do sisal (Agave sisalana). A monocultura do sisal foi por muito tempo à atividade exercida pelos produtores, a principal fonte econômica na subsistência e no desenvolvimento dos municípios que correspondem ao Território do Sisal da Bahia e também o responsável pelo desmatamento da vegetação caatinga. Com as crescentes mudanças no cenário da região, sendo elas por fatos ambientais ou socioeconômicos, geraram a necessidade de se buscar novas fontes que suprissem os problemas gerados pelo declínio da atividade sisaleira, fornecendo meios para o desenvolvimento da região com base na agricultura familiar. Com o objetivo de descrever as mudanças ocorridas no desenvolvimento do território e suas influências na diversificação dos sistemas agrários, foi realizada a análise histórica, sendo esses dados categorizados em fatos ecológicos, técnicos e socioeconômicos. . Material e Métodos Os dados foram obtidos utilizando-se o método de Análise-diagnóstico em Sistemas Agrários, desenvolvido no Institut de Sciences et Industries du Vivant et de l´Environnement (AgroParisTech), na qual se realizaram entrevistas com pessoas que cresceram na região, principalmente os idosos. O projeto foi executado na região sisaleira da Bahia, nos municípios de Valente, São Domingos e Santa Luz. O acesso aos entrevistados foi por meio de carros alugados com guia. Os fatos expressados pelos entrevistados foram dispostos em décadas e categorizados em fatos ecológicos, que se observam as mudanças ambientais e acontecimentos importantes, como as secas, enchentes, desmatamento, etc.; fatos técnicos, que se observam as formas utilizadas para a realização das atividades agrícolas, como o motor de sisal para produção da fibra, etc.; e fatos socioeconômicos, que se observam as relações sociais, as ações no desenvolvimento econômico, as políticas públicas, formação das cidades, etc. A região se caracteriza pela vegetação caatinga, áreas desmatadas, presença intensa de plantações de palma adensada e sisal, escassez hídrica e baixa fertilidade dos solos. Resultados e Discussão Os fatos decorrem de 1930, por ter sido encontrado pessoas acima de 90 anos, até 2011, ano de execução do projeto, obtendo-se a tabela abaixo: Tabela 1. Fatos ecológicos, Fatos técnicos, Fatos socioeconômicos da região sisaleira nas comunidades de Valente, Santa Luz e São Domingos no período de 1930 a 2011. Período

Fatos ecológicos

Fatos técnicos

Fatos socioeconômicos

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Caatinga fechada, solo fértil, períodos de seca extrema.

Criação de animais domésticos para consumo (gado, quintal com galinha caipira), conhecimento empírico para cultivo de animais e vegetais.

Presença de vilas, ausência de rede de saúde, animais para meio de transporte, ausência de comércio, dificuldades no acesso ao alimento devido à seca.

Caatinga fechada, solo fértil.

Criação de animais domésticos para consumo (gado, quintal com galinha caipira).

Presença de vilas, difícil acesso à formação escolar, aparecimento de centros de saúde e comércio, animais para transporte e tração.

1951-1960

Desmatamento da Caatinga para introdução do sisal, solo fértil, pluviosidade irregular, enchentes.

Criação de gado, galinhas, introdução da mandiocultura, cultura do feijão e milho; redução da mão de obra (desemprego) devido à introdução do motor de sisal; construção de estradas com força braçal; uso do resíduo de sisal como adubo.

Presença de vilas; difícil acesso à formação escolar, centros de saúde e comércio; introdução do motor de sisal para beneficiamento do sisal.

1961-1970

Desmatamento intensivo da caatinga para cultivo do sisal, solo em declínio de fertilidade, pluviosidade irregular, salinização dos açudes, enchentes.

Criação de animais domésticos para consumo (gado, quintal com galinha caipira), plantação de mandioca, milho e feijão; uso do motor de sisal; transporte da fibra por tração animal uso de trabalho infantil.

Presença de vilas; valorização da terra pelo sisal, declínio do sisal (oscilação de oferta/demanda).

Plantação de milho, mandioca e feijão.

Interesse pela formação escolar, início do êxodo rural, queda da monocultura sisaleira, diversificação do sistema produtivo, introdução ao beneficiamento da mandioca (fábrica de farinha).

Plantação de milho, mandioca e feijão.

Crescimento das vilas para formação de povoados pela introdução do comércio; ausência de energia elétrica, dificuldade ao acesso à saúde. Expansão das vilas, início do comércio; introdução do Sistema Único de Saúde (SUS); Dificuldade ao acesso à medicamentos; Introdução do Laticínio DaCabra; acesso ao ensino escolar sem transporte; Introdução da Assistência Técnica pela APAEB. Beneficiamento de energia elétrica com o Programa Luz para todos pelo Governo

1930-1940

1941-1950

1971-1980

Desmatamento da caatinga em expansão, pluviosidade regular, salinização dos açudes.

1981-1990

Desmatamento da caatinga em expansão, pluviosidade regular, salinização dos açudes.

1991-2000

Desastre natural por enchentes, caatinga desmatada.

Plantação de mandioca, feijão e milho; Introdução da caprinocultura leiteira; Uso do resíduo de sisal para arraçoamento animal; uso do resíduo de sisal para confecção de silagem.

2001-2010

Reimplantação da caatinga desmatada; pluviosidade irregular;

Plantação de mandioca, feijão e milho, melhoramento das estradas

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____________________________________________________________ preservação de matas para escoamento do sisal; Federal; Beneficiamento rural nativas. queda da produção leiteira pelo PRONAF; Dificuldade ao devido à seca; Construções acesso de medicamentos; de barragens subterrâneas; Acesso ao ensino escolar com Intensificação e transporte; Programa social importância das PSF (Programa de Saúde da tecnologias sociais; Família); Beneficiamento Interesse pela apicultura; Bolsa Escola/ Bolsa Família; Interesse pela informação Inauguração do Laticínio Ouro rural através da mídia. Verde; Preocupação com a preservação ambiental, as frutas nativas, salinização dos solos, alteração do curso das 2011 microbacias, produção de sementes para preservação, seca prolongada. Fonte: Pesquisa de Campo, 2011.

Construção de barragens subterrâneas e barreiros para o acesso a agua, intensificação do plantio de palma adensada, pesquisas de coprodutos do sisal, intensificação das pesquisas cientificas para reprodução do rebanho.

Capacitação de mulheres para o desenvolvimento dos sistemas de produção, crescimento e formação de novas cooperativas, associações e convênios de pesquisa e beneficiamento, intensificação das tecnologias sociais.

Observa-se que a partir da década de 1950 inicia-se o processo de desmatamento da caatinga para a introdução do sisal, que logo se torna a monocultura da região e exerce o crescimento do comércio e das comunidades, fornecendo condições para a formação dos munícipios que hoje compõem o território Sisaleiro baiano. Esse cenário permanece até que ocorre a expansão das tecnologias para produção de fibras sintéticas ocasionando a desvalorização da fibra de sisal, além de as condições de trabalho não satisfazerem as novas gerações de produtores (ALVES & SANTIAGO, 2005; SILVA & SILVA, 2001), levando ao êxodo rural. A introdução de novos subsistemas de produção para o mercado ocorre na década de 1970 devido a busca por novas atividades para geração de renda, mas sua intensificação está interligada a implantação do Laticínio DaCabra por meio da APAEB - Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira na década de 1990, tornando a caprinocultura leiteira a principal atividade comercial atualmente, e, logo na década seguinte, a introdução de políticas públicas para acesso a crédito rural, a exemplo de beneficiamento rural pelo PRONAF, com o objetivo de movimentar a economia e conter o êxodo rural. A partir de 2000, a introdução de novos subsistemas permitiu a diversificação dos sistemas agrários, compondo não só o sisal e a caprinocultura leiteira, mas também a ovinocultura, bovinocultura, apicultura, suinocultura, entre outros, já que é possível a formação de consórcios utilizando-se menores áreas, e concomitantemente vem crescendo a importância de se formarem as cooperativas, associações e convênios para rápido escoamento dos produtos. Então o sisal deixa de ser cultivado apenas para produção de fibra tornando-se uma importante fonte de baixo custo para alimentação dos animais, ou seja, utilizando o resíduo de sisal para produção de silagem. Atualmente, os produtores rurais continuam a busca por novas culturas que se adaptem às condições do semiárido com secas prolongadas e as organizações intensificaram as pesquisas cientificas, mas vale ressaltar que o avanço nas pesquisas científicas da região não está ao acesso do pequeno produtor familiar. Conclusões A diversificação dos sistemas de produção garantiu a região do sisal um crescimento econômico e a capacidade de obtenção de renda a partir de produtos diferenciados não se submetendo as modificações de preços e gostos do mercado consumidor. Dentre todos os destaques na evolução do território sisaleiro, encontra-se a interação de conhecimentos entre acadêmicos e famílias rurais para obtenção de medidas para solucionar problemas, evoluindo as tecnologias sociais. Um importante obstáculo no processo de produção é a seca prolongada que dificulta a disponibilidade de água para os animais, gerando custos a muitos produtores. Atualmente existem projetos na região para conhecer a viabilidade dos sistemas de produção e categorizar as famílias produtoras. Literatura citada ALVES, M. O & SANTIAGO, E. G. Tecnologia e Relações Sociais de Produção no Setor Sisaleiro Nordestino In: XLIII Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Ribeirão Preto – São Paulo, 2005 SILVA, S. B. M. & SILVA, B. C. N. Reinventando o Território: Tradição e Mudança na Região do Sisal – Bahia. RDE – Revista de Desenvolvimento Econômico. Ano III, nº 5. Salvador-BA. 2001

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PESCADO RECÉM CAPTURADO EM COMUNIDADES DE SÃO FRANCISCO DO CONDE-BA: AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA FISH FRESHLY CAUGHT IN COMMUNITIES OF SÃO FRANCISCO DO CONDE-BA: MICROBIOLOGICAL AND PHYSICAL-CHEMICAL EVALUATION1 SANTOS, Mary Daiane Fontes2, CIRQUEIRA, Marina Gonçalves2, CIRQUEIRA, Patrícia Gonçalves3, CARDOSO, Ryzia de Cássia Vieira4; GUIMARÃES, Alaíse Gil 5 1

Parte do projeto de pesquisa do mestrado do primeiro autor, financiada pela FAPESB Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos (PGALI), Faculdade de Farmárcia,Universidade Federal da Bahia (UFBA), Escola de Nutrição, UFBA-Rua Araújo Pinho, 32,Bairro: Canela, CEP- 40110-150-Salvador/BA. e-mail: marydayfontes@gmail.com; marinacirqueira@gmail.com 3 Graduada em Zootecnia, UFRB. e-mail: Paty2322@hotmail.com 4 Professora do Depto. de Ciência dos Alimentos, Escola de Nutrição, UFBA. e-mail: ryziac@gmail.com 5 Professora do Depto. de Ciências Bromatológicas, Faculdade de Farmácia, UFBA. e-mail: alaise@ufba.br 2

Abstract: Fish is an excellent source of food however, under inadequate conditions of capture and storage, it can represent a risk to public health due to possible microbiological contaminations and chemical changes. This study aims to assess the microbiological and safety of freshly caught fishes in communities of São Francisco do Conde-BA. Thirty and three samples of fish (sea bass, mullet, mussels and shrimp) freshly caught in five communities were submitted to microbiological evaluation – counts of total coliforms, Escherichia coli, coagulase positive staphylococcus and mesophilic aerobic bacteria - and physicalchemical evaluation - pH and Éber rection to sulfuric gas. Among the samples, we found: counts below 6.00 log CFU/g for mesophilic aerobic, amplitudes of 1.00 log CFU/g to 5.40 log CFU/g; total coliformes counts between 1.00 log CFU/g to 6.22 log CFU/g, with 39% of the samples presenting typical colonies of Escherichia coli, evidence of coagulase positive staphylococcus in only 3% of samples and no evidence de Salmonella in 100% of the samples. 91% and 33% of samples passed fit for human consumption in accordance with current legislation for pH and Éber rection, respectively. These results showed that there were little manipulation of the fish after capture, and that these fishes, even in their natural habit, may present contaminations caused by human action on marine environment. Keywords: Seafood safety; food security; food quality; craft fishing. Introdução O pescado é um alimento rico em proteínas, vitaminas, minerais e em ácidos graxos poliinsaturados, contribuindo para o atendimento de requerimentos alimentares de populações, em todo o mundo (FARIAS & FREITAS, 2008; FRANCO & LANDGRAF, 2002). No entanto, é altamente perecível, em virtude de alterações de natureza enzimática e bacteriana, posto que apresenta pH próximo à neutralidade, elevada atividade de água, lipídios vulneráveis a oxidações e nutrientes de fácil utilização por micro-organismos, estando também associado à ocorrência de doenças de origem alimentar (FRANCO & LANDGRAF, 2002). A qualidade do pescado está relacionada com a qualidade da água em que o animal foi capturado, e as práticas adotadas pelos manipuladores, durante as etapas de captura, transporte e comercialização (FARIAS & FREITAS, 2008). Assim, este estudo objetivou avaliar a qualidade microbiológica e físico-química de pescado recém capturado em comunidades pesqueiras do município de São Francisco do Conde/BA (SFC), situado na Baía de Todos os Santos. Material e Métodos Realizou-se estudo exploratório, em cinco comunidades pesqueiras de SFC, com obtenção de 33 amostras das espécies mais capturadas no município, assim distribuídas: quinze amostras de sururu (Mytella guianensis), nove de tainha (Mugil brasiliensis) e nove de camarão (Penaeus spp). O estudo foi conduzido entre os meses de dezembro de 2011 e julho de 2012. As amostras foram adquiridas nos locais de desembarque ou captura, acondicionadas em embalagens assépticas e mantidas resfriadas em caixas isotérmicas, sendo transportadas ao Laboratório de Controle de Qualidade de Alimentos, na Escola de Nutrição/UFBA. As amostras foram submetidas às análises microbiológicas de contagem de estafilococos coagulase positiva, de coliformes totais, de Escherichia coli e de micro-organismos aeróbios mesófilos, seguindo metodologias preconizadas pela American Public Health Association (DOWNES & ITO, 2001), além das análises físico-químicas de pH e reação de Éber para gás sulfídrico, conforme técnicas estabelecidas pelo Instituto Adolfo Lutz (ZENEBON et.al., 2008). Os resultados foram confrontados com os padrões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (BRASIL, 2001), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 1997) e com referências técnicas da área (FRANCO, LANDGRAF, 2002).

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____________________________________________________________ Resultados e Discussão Os resultados das análises microbiológicas encontram-se apresentados na Tabela 1. As contagens de bactérias aeróbias mesófilas e de coliformes totais foram realizadas com o intuito de avaliar as condições higiênico-sanitárias do pescado, não obstante a inexistência de padrão definido pela ANVISA (BRASIL, 2001). Entre as amostras analisadas, a contagem de bactérias mesófilas variou de 1,00 log UFC/g a 5,40 log UFC/g, registrando-se maiores médias para o sururu e o camarão, que apresentam como habitat o mangue e o fundo do mar, respectivamente. Segundo Franco e Landgraf (2002), contagens superiores a 6 log UFC/g indicam matéria-prima contaminada, sob ponto de vista sanitário. Desse modo, os resultados sinalizam condições satisfatórias de higiene na manipulação das espécies, com pouco manejo pós-captura. Quanto à contagem de estafilococos coagulase positiva, registrou-se que apenas 3% (n=1) das amostras apresentaram contagens superior a 3 log UFC/g para este micro-organismo com contagem de 3,26 log UFC/g, demonstrando assim a aquisição de pescados in natura em desacordo com à legislação vigente (Resolução RDC nº 12/2001). Este quadro pode ser explicado pela pouca manipulação do pescado pós-captura, uma vez que a contaminação do pescado por esse micro-organismo é geralmente associada a manipuladores infectados ou ao ambiente, em virtude de manipulação inadequada. Tabela 1. Perfil microbiológico de amostras de pescado recém-capturados em comunidades pesqueiras de São Francisco do Conde-BA. Dezembro/2011 a Julho/2012.

Espécie

(1)

n

Aeróbios Mesofilos (Log UFC/g)

Sururu

15

Camarão

9

Tainha

9

4,24 ± 0,98 (1,7-5,4) 3,89 ± 0,62 (2,91-4,75) 2,05 ± 1,81 (1,0-4,14)

Estafilococos coagulase positiva (Log UFC/g)

Salmonella sp

Coliformes Totais

(Presença)

(Log UFC/g)

-

-

-

-

3,26

-

4,70 ± 0,86 (<1,0-6,22) 1,28 ± 0,84 (1,0-3,53) 3,52 ± 1,58 (1,0-5,25)

E.coli (Presença)

9

1

3

Padrão RDC 12/2001 Amostras não conformes(2)

-

NSA ***

3

Ausência

NSA(3)

-

-

1( 3%)

-

-

NSA(3)

N(%) (1)

Número de amostras por espécies coletada; (2)Não conformidade para padrões microbiológicos pela legislação vigente (BRASIL,2001); (3)Não se aplica Quanto à pesquisa de Salmonella, registrou-se ausência do micro-organismo em 100% das amostras, resultados que se assemelham aos reportados por Farias & Freitas (2008), ao analisar amostras de peixes frescos eviscerados provenientes de indústrias beneficiadoras paraenses, sob regime de Inspeção Federal. Nas amostras, observou-se baixo nível de contaminação por coliformes totais, com contagens variando de 1,00 a 6,22 log UFC/g. Entretanto, 39% (n=13) das amostras apresentaram colônias típicas para Escherichia coli, o que evidencia a contaminação recente do pescado, por micro-organismos de origem fecal. Nesse sentido, salienta-se que o pescado, mesmo no seu habit natural, pode sofrer contaminação pelo despejo de dejetos nas águas marinhas. Em relação às análises físico-químicas, os resultados são exibidos na Tabela 2. Quanto à análise de pH, verificou-se que a média dos valores encontrados foram de 6,40 variando de 5,68 a 7,2, entretanto, na análise individualmente das amostras, 91% apresentaram pH conforme os padrões definidos pelo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA (BRASIL, 1997) e por Franco e Landgraf (2002), sendo então consideradas próprias para consumo. Na prova de Éber para gás sulfídrico, verificou-se que 67% das amostras, estavam em desacordo com o RIISPOA (BRASIL,1997) por apresentarem reação positiva para gás sulfídrico, embora não fosse notada uma correspondência deste resultado com aqueles registrados para o pH. Ressalta-se que quantidades significativas de gás sulfídrico em amostras de pescado indica decomposição, uma vez que o gás sulfídrico é resulta de aminoácidos sulfurados presentes no tecido muscular. 2


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____________________________________________________________ Tabela 2. Caracterização de amostras de pescado recém-capturado em São Francisco do Conde-BA, quanto aos indicadores físico-químicos: pH e reação de Éber para gás sulfídrico. Reação de Éber (2)

pH Espécie

N(1)

Sururu

15

Camarão

9

Tainha

9

Total

33

Padrão

-

Média ± Desvio padrão 6,31 ±0,16 (6,1-6,6) 6,87 ±0,17 (6,6—7,2) 6,09 ±0,34 (5,68-6,09) 6,40±0,37 (5,68-7,2)

Próprio

Impróprio

Próprio

Impróprio

15(100%)

0 (0%)

5 (33 %)

10 (67 %)

7 (78%)

2 (22%)

5 (56%)

4 (44%)

8(89%)

1(11%)

1(11%)

8(89%)

30 ( 91%)

3 ( 3 %)

6 (33%)

22 (67 %)

Peixes -> 6,5 (3) Sururu- 5,9-6,2, Camarão-6,8-7,0 (4)

Reação negativa (3)

(1)

Número de amostras por espécie coletada; (2) Para reação de Éber (gás sulfídrico): próprio refere-se à reação negativa e impróprio à reação positiva; (3) BRASIL (1997); (4) FRANCO; LANDGRAF (2002). Conclusões De modo geral, embora os resultados sinalizem baixa contaminação e manipulação do pescado, no período pós-captura, a identificação de E. coli em parte expressiva das amostras torna evidente preocupações quanto à segurança do pescado capturado no município, em decorrência da ação humana sobre os ecossistemas marinhos.

Literatura citada - BRASIL. Ministério da Agricultura,Pecuária e do Abastecimento. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Lei n°30691 de 29/03/52-Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal-RIISPOA. Brasília – DF, 1997,p.103. -BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC Nº 12 de 2 janeiro de 2001. Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, seção 1, p. 45-53, 10 de janeiro de 2001. -DOWNES, F.P.; ITO, K. (Ed) Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods. American Public Health Association, 2001. 676p. -FARIAS, M.C.A.; FREITAS, J.A. Qualidade microbiológica de pescado beneficiado em indústrias Paraenses. Revista Instituto Adolfo Lutz, v. 67, n. 2, p.113-117, 2008. -FRANCO, B.D.G. de M; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Atheneu, 2002. 184p. -ZENEBON , O. et al. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008.

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Apis mellifera




Awaltapodemestarrelacionadascomacolheitademelainda“verde�






AGROPEC BAHIA 2012 A Agropecuária so Século XXI ________________________________________________ Salvador – BA, 18 a 19 de Setembro de 2012 Analise da dinâmica produtiva de gramíneas forrageiras tropicais irrigadas e não irrigadas 1 Analysis of the productive dynamics of tropical forage grasses irrigated and nonirrigated João Guilherme de Góis Fontes2, Diomar Claudio dos Santos Sobrinho2 ,Idamar Oliveira Gomes dos Santos3, Douglas Borracho Oliveira Santos3, Aline Guimarães de Oliveira 2, Annelise Aragão Correa2 1 2 3

Parte do trabalho de dissertação do primeiro autor –UFS/São Cristóvão-SE Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFS/São Cristóvão-SE, bolsista CAPES. jguifontes@hotmail.com Graduando em Zootecnia UFS/São Cristóvão-SE.

Abstract: The low carrying capacity of animals is closely linked to seasonal forage production, where irrigation can solve this problem, especially when associated with a high productivity and forage nutritive value. This study was conducted to evaluate the productive potential of tropical forage grasses managed with and without irrigation. Differences could be observed in different production systems in the composition and forage production. The Brachiaria xaraés showed higher productivity with less dry mass composition of high stem and leaf in the composition of two pasture systems. It was found that regardless of the management system of the grass urucloa had the lowest yield potential among the grasses tested, having a higher proportion of stem and dead material than the other plants tested. The density was influenced by forage production system with the highest values used in irrigation systems. Keywords: density of foliage, dry period, tropical, foragers Introdução O Brasil, atualmente, possuir 100 milhões de hectares com pastagens cultivadas, sendo que 80% apresentam algum grau de degradação e 50% destas estão em estado avançado de degradação. Tal fato reflete na baixa lotação animal por área, onde a média brasileira não ultrapassa 0,4 unidade animal (UA) por hectare por ano, o bom ganho de peso durante a estação das chuvas e, principalmente, na elevada perda de peso na estação seca, conseqüentemente, toda a atividade apresenta perdas anuais superiores a um bilhão de dólares (Barducci et al, 2009). Este cenário pode ser modificado com mudanças no sistema produtivo animal, no manejo correto das pastagens, na escolha da pastagem mais adaptada e produtiva a determinada região e sobretudo em estratégias que favoreçam a produção constante de gramíneas ao longo do ano. Segundo Vitor et al., (2009), temperatura, pluviosidade e luminosidade, são fatores fundamentais para o desenvolvimento de forrageiras tropicais. Na maior parte do nordeste brasileiro, a temperatura e luminosidade não são fatores críticos ao desenvolvimento forrageiro, porém a pluviosidade exerce influência marcante na produção de massa seca das gramíneas. A irrigação das pastagens pode ser uma alternativa para essa região podendo manter constante a produção forrageira ao longo do ano, quando acompanhado de uma gramínea de elevada produtividade e sobretudo de frações com elevado material nutritivo para os animal. Para tanto realizou-se este trabalho objetivando avaliar as respostas produtivas e morfológicas de diferentes gramíneas manejadas com e sem irrigação. Material e Métodos O experimento foi conduzido na área do Campus Rural da Universidade Federal de Sergipe, localizado no município de São Cristóvão-SE. O experimento ocorreu no período de 08-07-2011 a 03-04-2012. Na região o período chuvoso ocorre entre os meses de abril a agosto, a temperatura média na região é de 25,5ºC, umidade relativa do ar média de 75% e precipitação média anual de 1.200mm. Em função da análise química, foi realizada a correção da acidez do solo e a adubação com 150 kg ha-1 de P2O5 na forma de superfosfato simples, 80 kg ha- de Cloreto de potássio e 100 kg ha-1 de N na forma de ureia. O delineamento foi em blocos casualizados, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram de quatro espécies forrageiras (Panicum maximum cv. Aruana, Brachiaria brizhantha cv. Xaraés, Urochloa mosambicensis e Cynodon spp cv. Tifton 85) e dois manejos da irrigação (com ou sem irrigação). Na área experimental, as plantas foram cultivadas em parcelas de 4 m2 (2 x 2 m). A irrigação foi feita por meio de um sistema de aspersão convencional de média pressão, manejada com turno de rega variável, usando-se o método do tanque “Classe A” para estimativa da evapotranspiração de referência. A irrigação era efetuada sempre quando o valor do somatório da evapotranspiração real da cultura, subtraído da precipitação efetiva, era aproximadamente igual ao valor da capacidade real de água no solo (CRA). No cálculo da CRA considerou-se fator de disponibilidade de água no solo igual 0,5.

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AGROPEC BAHIA 2012 A Agropecuária so Século XXI ________________________________________________ Salvador – BA, 18 a 19 de Setembro de 2012 Foram realizadas avaliações de acúmulo de forragem, composição morfológica e densidade volumétrica de forragem (kg/ha.cm de MS). O acúmulo de forragem foi estimado pelo método das diferenças agronômicas. A avaliação referente a cada período, foi realizada alocando um quadro de tamanho 1 m 2, em cada parcela experimental, colhendo-se toda a forragem existente dentro quadro amostral a 5 cm do solo. Após o corte da forragem nas parcelas, as mesmas foram acondicionadas em sacos de polietileno e retiradas duas sub-amostras de forragem e pesadas. Uma amostra foi levada para secagem em estufa de circulação de ar forçada a 65 0C até massa constante, a outra sub-amostra foi utilizada para avaliação da composição morfológica da forragem, na qual o material foi fracionado em folhas (lâminas verdes), colmos (colmos e bainhas foliares) e material morto. Após a separação, todos os componentes foram pesados e levados para secagem em estufa e circulação de ar forçada a 65 0C até massa constante. Os dados foram submetidos à análise de variância, segundo o procedimento PROC GLM do pacote estatístico SAS (SAS Institute, 2002) e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Os resultados referentes a massa seca total, composição de material morto, composição de colmo, composição de folha e densidade da forragem, são apresentados na Tabela 1. O urucloa apresentou a menor produção no sistema não irrigado e o xaraés a maior produção (P>0,05), ao passo que no sistema irrigado o xaraés continuou mais produtivo sendo que as demais forrageiras não apresentaram diferença entre si (P<0,05). Pode-se observar aumento produtivo em todas as gramíneas quando a oferta de água não foi limitante, o mesmo foi observado por Dupas et al., (2010), que constatou uma normalidade produtiva nas diferentes estações do ano quando a água e os outros fatores ambientais e os nutricionais não foram limitantes. O urucloa apresentou a maior proporção de material morto (P<0,05), quando comparado com os demais na ausência de irrigação, já na presença de irrigação pode ser observado comportamento diferente entre as forrageiras, o urucloa, aruana e xaraés apresentaram maiores proporções e o tifton menor participação deste material, no entanto não diferiu do aruana e xaraés (P<0,05). Segundo Alexandrino et al., (2011), a taxa de senescência pode ser ocasionada por diversos fatores, como competição entre nutrientes e metabólicos, condições de ambiente, déficit hídrico, nutrição mineral, intensidade de colheita e também é inerente a genética da planta. As forrageiras, urucloa, aruana e tifton apresentaram maiores proporções de colmo e o xaraés menor proporção deste material na ausência de irrigação, quando ocorreu a irrigação o urucloa apresentou maior proporção de colmo, seguido pelo aruana e tifton que não diferiu do xaraés. O alongamento do colmo promove restrições físicas à ingestão de forragem, pois o comportamento ingestivo de forragem pelos animais é sensível a este material, e afeta o desempenho animal, a produção da forragem e a estrutura do dossel. Cabe comentar que observa-se que o urucloa apresenta inflorescência precoce com consequente aumento no alongamento de colmo. A composição de folha foi influenciada pelo tipo de forrageira, na ausência de irrigação o xaraés apresentou maior proporção, e o urucloa apresentou a menor proporção desse material com composição bastante baixa. Na presença de irrigação o urucloa também apresentou a menor proporção de folha, porém o xaraés e o tifton apresentaram as maiores proporções. A folha para a planta é de fundamental importância, constituindo o órgão responsável por quase toda a fotossíntese e é a principal fonte de nutriente para os ruminantes em pastejo (Rodrigues et al., 2008). Nota-se que o xaraés apresenta folhas tenras, compridas e largas, o tifton um número elevado de folhas e colmo fino, já o urucloa apresenta folhas curtas e estreitas em pequeno número, por isso apresenta baixa proporção deste material. A densidade de forragem também apresentou comportamento distinto entre as forragens e os sistemas, o tifton apresentou maior densidade comparado aos demais para os dois sistemas. No irrigado as menores densidades foram observadas para o urucloa e aruana, no sistema não irrigado a menor densidade foi do urucloa, porém não diferiu do aruana (p<0,05). A maior densidade do tifton está ligada ao seu habito de crescimento estolonífero, diferente dos demais cultivares. Tabela 1. Acumulo de massa seca (kg/ha), composição do material forrageiro e densidade de forragem de gramíneas tropicais manejadas em diferentes sistemas de produção Forrageira Massa Seca Total Não Irrigado Irrigado Média 20652A Xaraés 35059A 27855 12417B Tifton 18080B 15748 12095B Aruana 18908B 15551 7283C Urucloa 14704B 10994 13112 Média 21937

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AGROPEC BAHIA 2012 A Agropecuária so Século XXI ________________________________________________ Salvador – BA, 18 a 19 de Setembro de 2012 Composição de material morto (%) 4.37B Xaraés 3.00AB 3.69 1.72B Tifton 1.82B 1.77 3.9B Aruana 3.35AB 3.62 20.77A Urucloa 8.72A 14.75 7.69 Média 4.22 Composição de colmo (%) 32.00B Xaraés 36.10C 34.05 47.10A Tifton 43.60BC 45.35 55.32A Aruana 52.35B 53.84 57.10A Urucloa 69.87A 63.49 47.88 Média 50.48 Composição de folha (%) 63.62A Xaraés 60.92A 62.27 51.17B Tifton 54.60A 52.89 40.80C Aruana 44.32B 42.56 22.10D Urucloa 21.37C 21.74 44.42 Média 45.30 Densidade de forragem 269AB Xaraés 426B 441 331A Tifton 550A 347 195BC Aruana 282C 248 165C Urucloa 332C 239 240 Média 398 Médias seguidas de letras iguais, nas colunas, não diferem (P>0,05), pelo teste Tukey. Conclusões O xaraés apresentou comportamento bastante satisfatório na presença de irrigação, e o tifton também é uma opção para uso em irrigação, apresentando alto percentual de folha. O uso da irrigação incrementa a produção de massa seca das gramineas estudas. Literatura citada ALEXANDRINO, E.; CANDIDO, M.J.D.; GOMIDE,J.A. Fluxo de biomassa e taxa de acúmulo de forragem em capim Mombaça mantido sob diferentes alturas. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, Salvador, v.12, n.1, p. 59-71 jan/mar, 2011. BARDUCCI, R.S; Costa,C.; CRUSCIOL, C.A.C.; et al. Produção de brachiaria brizantha e panicum maximum com milho e adubação nitrogenada. Archivos de Zootecnia 58 (222): 211-222. 2009. DUPAS, E.; BUZETTI, S.; SARTO, A.L.; et al. Dry matter yield and nutritional value of Marandu grass under nitrogen fertilization and irrigation in cerrado in São Paulo. Revista Brasileira de Zootecnia, vol.39 no.12 Viçosa dez. 2010. RODRIGUES, R.C.; MOURÃO,G.B.; BRENNECKE,K.; et al. Produção de massa seca, relação folha/colmo e alguns índices de crescimento do Brachiaria brizantha cv. Xaraés cultivado com a combinação de doses de nitrogênio e potássio. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.3, p.394-400, 2008. VITOR, C.M.T.; FONSECA, D.M.; CÓSER, A.C.; et al. Produção de matéria seca e valor nutritivo de pastagem de capim-elefante sob irrigação e adubação nitrogenada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.3, p.435-442, 2009.

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AGROPEC BAHIA 2012 A Agropecuária do Século XXI Salvador – BA, 18 a 19 de Setembro de 2012

_____________________________________ Degradabilidade ruminal da matéria seca de diferentes forrageiras 1 Ramon Araújo Freitas2, Aureliano José Vieira Pires3, Daiane Maria Trindade Chagas4, Carlos Souza Nascimento Filho2, Sandro Freitas Fonseca2, Hélio Marinho dos Santos2 Graduando em zootecnia – UESB. e-mail: ramonfreitas10@hotmail.com Departamento de Tecnologia Rural e Animal - UESB, Pesquisador do CNPq 4 Doutoranda em zootecnia – UESB. Bolsista do CNPq 2 3

Ruminal degradability of dry matter of different forage Abstract: The study was conducted at the State University of Southwest Bahia, with objective to evaluate the ruminal degradation of dry matter of different forages. The ruminal incubation was performed in three male bovines, castrated 3/4 Holstein/Gir, cannulated in the rumen. The forages were alfalfa (Medicago sativa), elephant grass (Pennisetum purpureum), sorghum (Sorghum bicolor) and cactus pear (Opuntia ficus). The times were 0, 12, 24, 36, 48, 72, 96, 120 and 144 hours. The forage with the highest dry matter digestibility when compared to the other was the palm, while alfalfa, elephant grass and sorghum showed similar results. Keywords: evaluation, food, forage Introdução A presente irregularidade na distribuição das chuvas vem criando um cenário de relevante influência sobre a alimentação dos animais ruminantes, tornando-se assim necessário a busca por alternativas de alimentação do rebanho. Nessas condições, a palma forrageira apresenta-se como excelente alternativa de utilização em dietas formuladas para ruminantes. A palma forrageira é uma excelente fonte de energia, rica em carboidratos não fibrosos, e nutrientes digestíveis totais. Porém, apresenta baixos teores de fibra em detergente neutro, necessitando sua associação a uma fonte de fibra que apresente alta efetividade (Mattos et al., 2000). A técnica in situ, utilizada para estimar a degradabilidade dos alimentos, por intermédio do desaparecimento dos mesmos após diferentes tempos de incubação no rúmen, permite o contato íntimo do alimento com o ambiente ruminal. Estudos das estimativas da degradação ruminal de forrageiras no Brasil fornecem dados que contribuem para a elaboração de uma tabela nacional de composição de alimentos (Veloso et al., 2000). O trabalho teve por objetivo avaliar a degradabilidade ruminal da matéria seca, da alfafa, do capim- elefante, do sorgo e da palma forrageira. Material e Métodos O trabalho foi realizado nas dependências da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no Setor de Bovinocultura de Leite e no Laboratório de Forragicultura e Pastagem. Utilizou-se três bovinos machos, castrados 3/4 Holandês/Gir, canulados no rúmen, com peso vivo médio de 510 kg, mantidos durante todo o período experimental em piquetes de Brachiaria decumbens, acrescido de um quilo de concentrado suplementar na dieta. As forrageiras avaliadas no experimento foram: alfafa (Medicago sativa), capim-elefante (Pennisetum purpureum), sorgo (Sorghum bicolor) e palma forrageira (Opuntia fícus), todas colhidas em ótimos estágios vegetativos, o que corresponde ao sorgo no momento de enchimento dos grãos, a alfafa com 15% de floração, a palma com um ano e meio de idade e ao capimelefante com um metro de altura e dois anos após o plantio de estabelecimento, sendo essas cortadas e coletadas no campo agrostológico da própria instituição. As amostras in natura das forrageiras foram colocadas em estufa de ventilação forçada a 60°C por 72 horas e armazenadas em local arejado e protegido de umidade, sendo sequencialmente moídas em moinho tipo Wiley em peneira com crivos de 2 mm e acondicionadas em sacos de TNT com dimensões de 5 x 10 cm, na quantidade de aproximadamente 20 mg de matéria seca/cm2 do saco. Em cada animal foram incubadas amostras das quatro forrageiras, nos períodos de 0, 12, 24, 36, 48, 72, 96, 120, e 144 horas. Para o tempo correspondente à zero hora, os sacos foram colocados no rúmen com o objetivo de proporcionar o contato mínimo dos microrganismos presente no mesmo com o alimento, sendo, no entanto retirados logo após imersão. A incubação foi realizada de forma a se retirar todos os sacos de TNT ao mesmo tempo, promovendo dessa forma, lavagem uniforme do material. Após a retirada do

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_____________________________________ rúmen, os sacos contendo o resíduo da forragem, pós-incubação, foram lavados em água corrente até que a mesma se apresentasse limpa, procedendo-se, então, nova secagem em estufa a 60°C por 72 horas, e em seguida pesados, e por diferença foi determinada a matéria seca. Foi utilizado o modelo de Ørskov & McDonald (1979) para a degradabilidade potencial da matéria seca de cada forrageira, de acordo com a fórmula: p = a + bx(1− e−ct), em que “p” é degradabilidade potencial; “a”, fração solúvel em água, “b” fração insolúvel em água mas potencialmente degradável; e “c”, taxa de degradação da fração “b” no tempo “t”. Resultados e Discussão Ao comparar a degradabilidade da matéria seca (MS) das forrageiras em função dos períodos de incubação, verificou-se predominância da palma forrageira, quando comparada às demais (Figura 1), podendo esse comportamento estar associado à baixa participação de carboidratos fibrosos na composição do alimento nesse trabalho (27,1% de FDN), possibilitando assim um maior fluxo do mesmo no rúmen dos animais avaliados. C elefante

Sorgo

Alfafa

Palma

100 90 80

DMS (%)

70 60 50 40 30 20 10 0 0

24

48

72

96

120

144

Período de incubação (horas)

Figura 1 –

Degradabilidade ruminal da matéria seca (MS) de diferentes forrageiras em função do período de incubação no rúmen de bovinos mestiços e castrados

O maior desaparecimento ruminal da MS da palma no tempo zero (fração “a”) ocorreu devido à maior presença de compostos solúveis em água em relação às demais forrageiras. A partir do período de incubação de 72 horas, houve tendência de a degradabilidade da MS de todas as forrageiras manterem-se constante. A semelhança entre as demais forrageiras (alfafa, sorgo e capim-elefante) pode ser devido ao momento de colheita, uma vez que apresentavam ótimo estágio vegetativo onde a MS foi, respectivamente, de 19,4, 26,3 e 17,6%. Pires et al. (2006), ao compararem a degradabilidade ruminal da matéria seca de forrageiras em função dos períodos de incubação (0, 12, 24, 36, 48, 60, 72), verificaram predominância da aveia em todos os tempos, seguidos da alfafa, da leucena e do guandu, respectivamente. Os alimentos mais rapidamente degradados são preferíveis à alimentação animal, visto que quanto mais rápido for a passagem do alimento pelo rúmen, menor será o efeito físico de inibição do consumo, proporcionado pelo alimento ingerido, desde que o consumo desse seja associado a fontes de fibra efetiva. Segundo Ítavo et al. (2002), de todos os nutrientes necessários às exigências nutricionais para mantença, crescimento e

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_____________________________________ produção de bovinos, a energia oriunda da degradação ruminal da celulose e da hemicelulose constitui a principal contribuição dos volumosos na alimentação animal. A degradabilidade potencial encontrada foi de 91,7, 70,0, 73,0 e 74,6%, respectivamente, para palma, alfafa, sorgo e capim-elefante. O comportamento de menor degradação potencial apresentado pela alfafa quando comparado às demais forrageiras pode ser justificado pelo fato de essa apresentar, no momento da coleta, elevada participação de talos quando em relação às folhas, decorrendo em elevada participação final de compostos orgânicos de menor digestão. A palma apresentou maior degradabilidade efetiva quando comparada às demais forrageiras, sendo encontrados valores de 77,0, 66,0 e 60,0% para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/hora respectivamente, sendo seguida da alfafa, do sorgo e do capim-elefante. Conclusões A palma forrageira apresenta maior degradação ruminal da matéria seca quando comparada à alfafa, ao sorgo, e ao capim-elefante, assim sendo, apresenta-se como excelente alternativa alimentar para animais ruminantes. Literatura citada ÍTAVO, L.C.V.; VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, F.F.; VALADARES, R.F.D.; CECON, P.R.; ÍTAVO, C.C.B.F.; MORAES, E.H.B.K.; PAULINO, P.V.R. Consumo, degradabilidade ruminal e digestibilidade aparente de fenos de gramíneas do gênero Cynodon e rações concentradas utilizando indicadores internos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.6, p.1024-1032, 2002. MATTOS, L.M.E.; FERREIRA, M.A.; SANTOS, D.C.; LIRA, M.A.; SANTOS, M.V.F.; BATISTA, A.M.V.; VÉRAS, A.S.C. Associação da palma forrageira (Opuntia fícus indica Mill) com diferentes fontes de fibra na alimentação de vacas 5/8 Holandês-Zebu em lactação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.6, p.2128-2134, 2000. PIRES, A.J.V.; REIS, A.R.; CARVALHO, G.G.P.; SIQUEIRA, G.R.; BERNARDES, T.F.; RUGGIERI, A.C.; ALMEIDA, E.O.; ROTH M.P.T. Degradabilidade ruminal da matéria seca, da fração fibrosa e da proteína bruta de forrageiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, n.4, p.643-648, 2006. VELOSO, C.M.; RODRIGUEZ, N.M.; SAMPAIO, I.B.M.; GONÇALVES, L.C.; MOURÃO, G.B. pH e amônia ruminais, relação folhas:hastes e de degradabilidade ruminal da fibra de forrageiras tropicais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.3, p.871-879, 2000. ØRSKOV, E.R.; McDONALD, I. The estimation of protein degradability in the rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. Journal of Agriculture Science, v.92, n.2, p.449453, 1979.

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___________________________________________ Degradabilidade ruminal da fibra em detergente neutro de diferentes forrageiras 1 Ramon Araújo Freitas2, Aureliano José Vieira Pires3, Daiane Maria Trindade Chagas4, Tamires Carvalho dos Santos5, George Abreu Filho6, Aline Oliveira Carvalho2 Graduando em Zootecnia – UESB. e-mail: ramonfreitas10@hotmail.com Departamento de Tecnologia Rural e Animal - UESB, Pesquisador do CNPq 4 Doutoranda em Zootecnia - UESB. Bolsista do CNPq 5 Mestranda em Engenharia Ambiental - UESB 6 Mestrando em Zootecnia - UESB 2 3

Ruminal degradability of neutral detergent fiber of different forage Abstract: The study was conducted at the State University of Southwest Bahia, with objective to evaluate the ruminal degradation of neutral detergent fiber of different forages. The ruminal incubation was performed in three male bovines, castrated 3/4 Holstein/Gir, cannulated in the rumen. The forages were alfalfa (Medicago sativa), elephant grass (Pennisetum purpureum), sorghum (Sorghum bicolor) and cactus pear (Opuntia ficus). The times were 0, 12, 24, 36, 48, 72, 96, 120 and 144 hours. The forage with the highest degradability of neutral detergent fiber, when compared to the other, was the cactus, followed by elephant grass, sorghum and alfalfa, respectively. Keywords: cell wall, evaluation, nutrition Introdução No Brasil, as forragens constituem a principal fonte de alimentação dos animais de produção, sendo capazes de fornecer nutrientes essenciais a um baixo custo e de considerável qualidade. De acordo com Souza et al. (2000), a degradabilidade das frações fibrosas dos alimentos cresce, quanto maior for a participação de alimentos volumosos na dieta dos animais. O conhecimento do comportamento dos alimentos no trato gastrintestinal dos animais durante o processo de digestão é importante para determinação do nível adequado de utilização e ajuste no fornecimento de tal alimento (Carvalho et al., 2006). Esse conhecimento é considerado de fundamental importância para o desenvolvimento de programas de formulação de alimentação eficientes (Ladeira et al., 2001). A técnica in situ, usando sacos de TNT incubados no rúmen de animais fistulados, é útil para determinar a degradabilidade ruminal de diferentes frações do alimento e comparar diferentes produtos. Todavia, quando se conhece o comportamento de desaparecimento ruminal das diversas entidades nutricionais, principalmente de volumosos, há maior acurácia no balanceamento de rações para ruminantes. O trabalho teve por objetivo avaliar a degradabilidade ruminal da fibra em detergente neutro da alfafa, do capim-elefante, do sorgo e da palma forrageira. Material e Métodos O trabalho foi realizado nas dependências da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no Setor de Bovinocultura de Leite e no Laboratório de Forragicultura e Pastagem. Utilizou-se três bovinos machos, castrados 3/4 Holandês/Gir, canulados no rúmen, com peso vivo médio de 510 kg, mantidos durante todo o período experimental em piquetes de Brachiaria decumbens, acrescido de um quilo de concentrado suplementar na dieta. As forrageiras avaliadas foram: alfafa (Medicago sativa), capimelefante (Pennisetum purpureum), sorgo (Sorghum bicolor) e palma forrageira (Opuntia fícus), todas colhidas em ótimo estágio vegetativo, o que corresponde ao sorgo no momento de enchimento dos grãos, a alfafa com 15% de floração, a palma com um ano e meio de idade e ao capim-elefante com um metro de altura e dois anos após o plantio de estabelecimento, sendo essas cortadas e coletadas no campo agrostológico da própria instituição. As amostras in natura das forrageiras foram colocadas em estufa de ventilação forçada a 60°C por 72 horas e armazenadas em local arejado e protegido de umidade, sequencialmente moídas em moinho tipo Wiley em peneira com crivos de 2 mm e acondicionadas em sacos de TNT (tecido não tecido) com dimensões de 5 x 10 cm, na quantidade de aproximadamente 20 mg de matéria seca/cm2 por saco. Em cada animal foram incubadas amostras das quatro forrageiras, nos períodos de 0, 12, 24, 36, 48, 72, 96,

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___________________________________________ 120, e 144 horas. Para o tempo correspondente à zero hora, os sacos foram colocados no rúmen com o objetivo de proporcionar o contato mínimo dos microrganismos presente no mesmo com o alimento, sendo, no entanto retirados logo após imersão. A incubação foi realizada de forma a se retirar todos os sacos de TNT ao mesmo tempo, promovendo dessa forma, lavagem uniforme do material. Após a retirada do rúmen, os sacos contendo o resíduo da forragem, pós-incubação, foram lavados em água corrente até que a mesma se apresentasse limpa, procedendo-se, então, nova secagem em estufa a 60°C por 72 horas, e em seguida pesados, e realizada a análise de fibra em detergente neutro conforme metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002). Foi utilizado o modelo de Ørskov & McDonald (1979) para a degradabilidade potencial da fibra em detergente neutro de cada forrageira, de acordo com a fórmula: p = a + bx(1− e−ct), em que “p” é degradabilidade potencial; “a”, fração solúvel em água, “b” fração insolúvel em água mas potencialmente degradável; e “c”, taxa de degradação da fração “b” no tempo “t”. Resultados e Discussão Ao comparar a degradabilidade da fibra em detergente neutro (FDN) das forrageiras em função dos períodos de incubação, verificou-se predominância da palma forrageira quando comparada às demais (Figura 1). C elefante

Sorgo

Alfafa

Palma

90 80 70

DFDN (%)

60 50 40 30 20 10 0 0

24

48

72

96

120

144

Período de incubação (horas)

Figura 1 -

Degradabilidade ruminal da fibra em detergente neutro (FDN) de diferentes forrageiras em função do período de incubação no rúmen de bovinos mestiços e castrados

O comportamento de degradabilidade ruminal da fibra em detergente neutro apresentado pela palma forrageira pode estar associado à baixa participação de carboidratos fibrosos na composição desse alimento, visto que os teores de FDN encontrados nesse trabalho foram de 27,1% para a palma, 59,7% para a alfafa, 69,9% para o sorgo e 76,8% para o capim-elefante, fato que justifica a elevada degradabilidade ruminal desse alimento. Para Pires et al. (2006), o enchimento ruminal é um fator limitante do consumo de alimentos, visto que esse fator está correlacionado negativamente com a FDN, sendo dessa forma a ingestão de alimentos limitada pela elevada participação desse nutriente na dieta. Assim sendo, dietas contendo palma forrageira em sua constituição são capazes de proporcionar maior fluxo da digesta e consequente atenuação do processo físico de inibição do consumo. O capim-elefante apresentou degradabilidade da FDN superior à do sorgo e da alfafa, fato que pode ser justificado pelo excelente estado vegetativo encontrado nesse alimento no período do corte, aliado à baixa proporção de FDN complexada pela lignina. Esse resultado demonstra a relevante importância do capim-elefante na nutrição de ruminantes, pois esses resultados mostram que, quando

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___________________________________________ colhido no seu estado ótimo de concentração de nutrientes, esse volumoso pode ser capaz de interferir positivamente na produção de leite e carne, além de colaborar de forma bastante eficiente na manutenção do pH ruminal, visto que a produção de ácido acético torna-se bastante acentuado em dietas contendo esse tipo de forrageira, o que é favorável à elevação no teor de gordura do leite por exemplo. A degradabilidade potencial da FDN encontrada foi de 82,6, 71,3, 65,9 e 58,6%, respectivamente, para palma, capim-elefante, sorgo e alfafa. A mensuração da degradabilidade no rúmen, sem considerar a taxa de passagem, pode superestimar a extensão da degradação, já que as partículas dos alimentos estão sujeitas à passagem para o compartimento seguinte, antes de serem completamente degradadas (Carvalho et al., 2006). Dessa forma, a palma apresentou maior degradabilidade efetiva da FDN quando comparada às demais forrageiras, sendo encontrados valores de 48,4, 29,8 e 21,6 para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/hora respectivamente, seguida do capim-elefante, da alfafa e do sorgo. Conclusões A palma forrageira apresenta maior degradação ruminal da fibra em detergente neutro quando comparada à alfafa, ao sorgo, e ao capim-elefante, podendo dessa forma ser utilizada na alimentação de ruminantes, associada, porém, a fontes de fibra efetiva. Literatura Citada CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; VELOSO, C.M.; SILVA, F.F.; SILVA, R.R. Degradabilidade ruminal do feno de forrageiras tropicais. Revista Brasileira Agrociência, v.12, n.1, p.81-85, 2006. LADEIRA, M.M.; RODRIGUEZ, N.M.; GONÇALVES, L.C.; BORGES, I.; BENEDETTI, E.; BRITO, S.C.; SÁ, L.A.P. Cinética ruminal do feno de Stylosanthes guianensis. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.53, n.2, p.1-8, 2001. PIRES, A.J.V.; REIS, A.R.; CARVALHO, G.G.P.; SIQUEIRA, G.R.; BERNARDES, F.T.; RUGGIERI, A.C.; ALMEIDA, E.O.; ROTH M.P.T. Degradabilidade ruminal da matéria seca, da fração fibrosa e da proteína bruta de forrageiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, n.4, p.643-648, 2006. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa: UFV, 2002. 235p. SOUZA, N.H.; FRANZOLIN, R.; RODRIGUES, P.H.M.; GUSTAVO, R.D.C. Efeitos de Níveis Crescentes de Fibra em Detergente Neutro na Dieta sobre a Digestão Ruminal em Bubalinos e Bovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, vol.29, n.5, 2000. ØRSKOV, E.R.; McDONALD, I. The estimation of protein degradability in the rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. Journal of Agriculture Science, v.92, n.2, p.44953, 1979.

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_____________________________________ Degradabilidade ruminal da proteína bruta de diferentes forrageiras1 Ramon Araújo Freitas2, Aureliano José Vieira Pires3, Daiane Maria Trindade Chagas4, Silvaldo Oliveira de Souza2, Alex Aguiar Figueiredo2, Leone Campos Rocha2 Graduando em Zootecnia – UESB. e-mail: ramonfreitas10@hotmail.com Departamento de Tecnologia Rural e Animal, - UESB, Pesquisador CNPq – UESB 4 Doutoranda em Zootecnia – UESB. Bolsista do CNPq 2 3

Ruminal degradability of crude protein of different forage Abstract: The study was conducted at the State University of Southwest Bahia, with objective to evaluate the ruminal degradation of crude protein of different forages. The ruminal incubation was performed in three male bovines, castrated 3/4 Holstein/Gir and cannulated in the rumen. The forages were alfalfa (Medicago sativa), elephant grass (Pennisetum purpureum), sorghum (Sorghum bicolor) and cactus pear (Opuntia ficus). The evaluation periods were 0, 12, 24, 36, 48, 72, 96, 120 and 144 hours. The cactus had higher rumen degradability of crude protein, compared to alfalfa, the elephant grass and sorghum. Keywords: bromatology, bulky, evaluation Introdução As gramíneas forrageiras normalmente constituem a fonte mais barata de alimentação animal, porém estão sujeitas à estacionalidade de produção, sendo limitada a disponibilidade de forragem nos períodos de estiagens, por isso torna-se necessário a busca por fontes de alimentos alternativos para a alimentação animal, como a palma forrageira, que além de não alterar drasticamente sua composição ao longo do ano, constitui excelente fonte de carboidratos para os animais. De todos os nutrientes necessários às exigências nutricionais para mantença, crescimento e produção de bovinos, a energia oriunda da degradação ruminal de celulose e hemicelulose constitui a principal contribuição dos volumosos (Ítavo et al., 2002), porém, a sincronização entre a degradação ruminal de carboidratos e de proteínas torna-se necessária para determinar as taxas de degradação da matéria seca e das diferentes frações que compõem os carboidratos e as proteínas. Rossi Júnior et al. (1997), inferem que o nível de utilização da fração nitrogenada é importante na avaliação de alimentos e na especificação de exigências nutricionais dos ruminantes. A avaliação dos alimentos constitui ferramenta imprescindível ao processo evolutivo da alimentação animal. Essa técnica, muito difundida nos últimos anos é capaz de fornecer informações para que a nutrição animal torne-se cada vez mais eficiente. Visto que a qualidade nutricional dos alimentos fornecidos está intimamente relacionada com o aumento da produtividade animal, percebe-se a importância na realização do estudo qualitativo de forrageiras destinadas à alimentação de ruminantes. O trabalho teve por objetivo avaliar a degradabilidade ruminal da proteína bruta da alfafa, do capim-elefante, do sorgo e da palma forrageira. Material e Métodos O trabalho foi realizado nas dependências da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no Setor de Bovinocultura de Leite e no Laboratório de Forragicultura e Pastagem. Utilizou-se três bovinos machos, castrados 3/4 Holandês/Gir, canulados no rúmen, com peso vivo médio de 510 kg, mantidos durante todo o período experimental em piquetes de Brachiaria decumbens, acrescido de um quilo de concentrado suplementar na dieta. As forrageiras avaliadas no experimento foram: alfafa (Medicago sativa), capim-elefante (Pennisetum purpureum), sorgo (Sorghum bicolor) e palma forrageira (Opuntia fícus), todas colhidas em ótimos estágios vegetativos, o que corresponde ao sorgo no momento de enchimento dos grãos, a alfafa com 15% de floração, a palma com um ano e meio de idade e ao capimelefante com um metro de altura e dois anos após o plantio de estabelecimento, sendo essas cortadas e coletadas no campo agrostológico da própria instituição. As amostras in natura das forrageiras foram colocadas em estufa de ventilação forçada a 60°C por 72 horas e armazenadas em local arejado e protegido de umidade, sequencialmente moídas em moinho tipo Wiley em peneira com crivos de 2 mm e acondicionadas em sacos de TNT com dimensões de 5 x 10 cm, na quantidade de aproximadamente 20 mg de matéria seca/cm2 por saco. Em cada animal foram incubadas amostras das quatro forrageiras, nos períodos de 0, 12, 24, 36, 48, 72, 96, 120, e 144 horas. Para o tempo correspondente à zero hora, os sacos foram colocados no rúmen com o objetivo de

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_____________________________________ proporcionar o contato mínimo dos microrganismos presente no mesmo com o alimento, sendo, no entanto retirados logo após imersão. A incubação foi realizada de forma a se retirar todos os sacos de TNT ao mesmo tempo, promovendo dessa forma, lavagem uniforme do material. Após a retirada do rúmen, os sacos contendo o resíduo da forragem, pós-incubação, foram lavados em água corrente até que a mesma se apresentasse limpa, procedendo-se, então, nova secagem em estufa a 60°C por 72 horas, e em seguida pesados, e realizada a análise de proteína bruta conforme metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002) Foi utilizado o modelo de Ørskov & McDonald (1979) para a degradabilidade potencial da matéria seca de cada forrageira, de acordo com a fórmula: p = a + bx(1− e−ct), em que “p” é degradabilidade potencial; “a”, fração solúvel em água, “b” fração insolúvel em água mas potencialmente degradável; e “c”, taxa de degradação da fração “b” no tempo “t”. Resultados e Discussão Ao comparar a degradabilidade ruminal da proteína bruta (PB) das forrageiras em função dos períodos de incubação, verificou-se predominância da palma forrageira, quando comparada às demais (Figura 1). C elefante

Sorgo

Alfafa

Palma

120

100

DPB (%)

80

60

40

20

0 0

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48

72

96

120

144

Período de incubação (horas)

Figura 1 -

Degradabilidade ruminal da proteína bruta (PB) de diferentes forrageiras em função do período de incubação no rúmen de bovinos mestiços e castrados

O fato de a palma apresentar-se deficiente quanto ao seu conteúdo proteico (4,9%), associado à pronta utilização desse nutriente pelos microrganismos ruminais para síntese de proteína microbiana, justificam a predominância na degradabilidade ruminal da palma. A flora microbiana do rúmen transforma nitrogênio não proteico e proteico degradável em proteína microbiana, desde que disponha de energia. Desta forma, a disponibilidade de energia e nitrogênio para os microrganismos é determinada pelas taxas de degradação e passagem pelo rúmen, e influenciam a eficiência e a quantidade de proteína microbiana sintetizada (Carvalho et al., 2006). A degradabilidade ruminal da proteína bruta, observada na alfafa, que apresentava 19,8% de (PB) em sua constituição, foi inferior à da palma, porém, de equivalente relevância. Seu comportamento pode ser justificado pelo fato desse nutriente não apresentar barreiras físico-químicas acentuadas à degradação efetuada por enzimas presentes no trato gastrintestinal de ruminantes. Segundo Pires et al. (2006), as diferenças encontradas na degradabilidade dos alimentos podem ser atribuídas a diferenças nas características específicas da proteína, à sua acessibilidade às enzimas digestivas, ou à presença de substâncias anti-nutricionais.

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_____________________________________ O sorgo por sua vez, apresentou os piores resultados de degradação dentre os alimentos avaliados, fato que pode ser justificado pela presença de substâncias anti-nutricionais, sendo nesse caso, representado pelo tanino, o qual protege a proteína, através de um encapsulamento, da degradação ruminal. A degradabilidade potencial encontrada foi de 96,3, 91,7, 80,4 e 69,3%, respectivamente, para palma, alfafa, capim-elefante e sorgo, já para a degradabilidade efetiva a alfafa apresentou maior degradabilidade efetiva quando comparada às demais forrageiras, sendo encontrados valores de 78,2, 70,3 e 66,7% para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/hora, respectivamente, seguida do capim-elefante, alfafa e sorgo. Conclusões A palma forrageira apresenta maior degradação ruminal da proteína bruta quando comparada à alfafa, ao capim-elefante e ao sorgo. Apesar de não atender às necessidades mínimas em proteínas, de animais ruminantes, a palma forrageira apresenta alta degradabilidade desse nutriente, sendo dessa forma, imprescindível sua associação a outras fontes de alimentos. Literatura citada CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; VELOSO, C.M.; SILVA, F.F.; SILVA, R.R. Degradabilidade ruminal do feno de forrageiras tropicais. Revista Brasileira Agrociência, v.12, n.1, p.81 - 85, 2006. ÍTAVO, L.C.V.; VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, F.F.; VALADARES, R.F.D.; CECON, P.R.; ÍTAVO, C.C.B.F.; MORAES, E.H.B.K.; PAULINO, P.V.R. Consumo, degradabilidade ruminal e digestibilidade aparente de fenos de gramíneas do gênero Cynodon e rações concentradas utilizando indicadores internos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.2, p.1024 - 1032, 2002. PIRES, A.J.V.; REIS, A.R.; CARVALHO, G.G.P.; SIQUEIRA, G.R.; BERNARDES, F.T.; RUGGIERI, A.C.; ALMEIDA, E.O.; ROTH M.P.T. Degradabilidade ruminal da matéria seca, da fração fibrosa e da proteína bruta de forrageiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, n.4, p.643 - 648, 2006. ROSSI JÚNIOR, P.; BOSE, M.L.V.; BOIN, C.; SILVA, B.A.G. Degradabilidade ruminal do amido de silagem de milho, farelo de soja e sorgo grão, em bovinos da raça nelore. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.2, p.416-422, 1997. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa: UFV, 235p, 2002. ØRSKOV, E.R.; McDONALD, I. The estimation of protein degradability in the rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. Journal of Agriculture Science, v.92, n.2, p.449 53, 1979.

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____________________________________________________________ Características quantitativas das carcaças de ovinos Santa Inês criados no semiárido Nathália Fonseca Pita1, Taiana Cortez Souza1, Juliana Cantos Faveri2, Adriana de Farias Jucá2, Hymerson Costa Azevedo3, Luis Fernando Batista Pinto4 1

Bolsista do Programa de Iniciação Científica Pibic/UFBA, BRA. email: nathalia_pita@yahoo.com.br e taiana-cortez@hotmail.com Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos da UFBA, BRA. emails: jufaveri@yahoo.com.br e afjuca@ig.com.br 3 Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros/SE, BRA. email: hymerson@cpatc.embrapa.br 4 Professor do Departamento de Produção Animal da UFBA, BRA. emails: afjuca@ig.com.br; luisfbp@gmail.com 2

Quantitative carcass traits of Santa Ines sheep raised in semiarid region Abstract: this study aimed to make a descriptive analysis of carcass traits of Santa Ines lambs. The research was conducted with 68 Santa Inês sheep slaughtered at around 12 months old, raised on pasture during the day and housed at night, when they received corn silage. Live weight at slaughter day, score of carcass conformation, score of carcass finishing, longissimus muscle area, and fat thickness were recorded. Minimum and maximum values, mean value, standard deviation, and coefficient of variation were estimated for all traits. The mean values for: slaughter live weight (39.9 kg ± 4.7); carcasses conformation (2.18 ± 0.40) and of carcass finishing (1.99 ± 0.43) scores; logissimus muscle area (10.44 cm2 ± 1.83); and fat thickness (0.17 cm ± 0.04) were obtained. Thus, the Santa Ines sheep at 12 months old on the semiarid grazing conditions and slaughtered in the dry season, showed frame with good profile and little fat. Keywords: finish, conformation, fat, loin Introdução Escores de conformação e acabamento da carcaça são muito utilizados em estudos de tipificação e avaliação de carcaça. Enquanto as medidas de área do músculo Longissimus e espessura de gordura sobre este músculo são muito úteis na avaliação do rendimento de cortes cárneos e na avaliação quantitativa e qualitativa das carcaças. Porém, em se tratando de ovinos Santa Inês, pouco se sabe sobre os valores médios dessas características. Nestes animais, quando se encontra relatos na literatura, eles geralmente estão relacionados com estudos que tinham por objetivo avaliar aspectos nutricionais e neste caso as amostras são pequenas e os valores são super ou subestimados, além de não se ter uma real estimativa da variação dessas características. Nesses estudos os autores são obrigados a pré-selecionar os animais, para obter um grupo homogêneo em tamanho, evitando assim que as diferenças de tamanho possam afetar as avaliações nutricionais. Para se ter uma referência confiável das estatísticas descritivas dessas características na raça, torna-se necessário avaliar um grupo de animais relativamente maior que os estudos de natureza nutricional e, principalmente, que não tenham passado por uma pré-seleção em função de algum critério de agrupamento. Assim, o objetivo do presente estudo foi apresentar os valores estatísticos descritivos de escore de conformação e acabamento de carcaça, bem como das medidas de área do músculo Longissimus e da espessura de gordura sobre este músculo em animais de um rebanho experimental, que não passaram por seleção para características de carcaça ou tamanho. Material e Métodos A pesquisa foi desenvolvida com 68 ovinos Santa Inês abatidos com 12 meses de idade, criados no Campo Experimental Pedro Arle da Embrapa Tabuleiros Costeiros, no município de Frei Paulo/SE. Todos os animais foram criados a pasto e alimentados com silagem de milho ao serem confinados a noite. O peso vivo ao abate foi aferido após jejum de 16 horas. Após o abate as carcaças foram resfriadas em câmara fria por 24h. Após o resfriamento foi obtido por avaliação visual os escores de conformação e de acabamento, com valores variando de 1 a 5, com intervalos de 0,5 segundo a nova proposta de tipificação de carcaças ovinas e caprinas de Cézar e Souza (2010) . Quanto a conformação, a carcaça de ovinos deslanados pode ser tipificada em: ruim (escore 1), boa (escore 2), muito boa (escore 3) e excelente (escore 4); e quanto ao acabamento de carcaça os escores são: muito magra (escore 1), magra (escore 2), mediana (escore 3) e gorda (escore 4). Além disso, as carcaças foram seccionadas com uma serra fita para obtenção das partes direita e esquerda. Na metade esquerda foi medida a área do músculo Longissimus entre a 12ª e 13ª costelas, usando folha de transparência e caneta apropriada. A área do músculo Longissimus foi determinada em cm² após a digitalização das imagens. Com uso de paquímetro e fita métrica aferiu-se a espessura de gordura subcutânea na região mediana acima do músculo Longissimus, também entre a 12a e 13a costelas. A estatística descritiva foi obtida utilizando-se o programa Statistical Analysis System (SAS, 2004), com o qual foram estimados os valores de máximo e mínimo, a média, o desvio-padrão e o coeficiente de variação. Resultados e Discussão A avaliação do peso vivo é uma ferramenta importante para quantificar o crescimento de animais e compará-los com seus contemporâneos em programas de seleção. Conforme observado na Tabela 1, o peso vivo ao abate apresentou valores médios de 39,97 kg ± 4,7, com valores variando de 29,0 a 49,0 kg, em animais com 12 meses de idade, criados a pasto na região do

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____________________________________________________________ semiárido, e abatidos no período da seca. Este valor está um pouco acima dos relatos da literatura na avaliação de Santa Inês, porém se justifica essa diferença em função da elevada idade de abate dos animais aqui avaliados. O escore de conformação variou de 1,5 a 3,0, com média de 2,18 ± 0,40, o que classifica as carcaças desses animais como tendo boa conformação (retilíneo), estando dentro da tipificação para uma raça deslanada, segundo Osório et al. (2002) e Cezar e Sousa (2010). No trabalho de Cezar e Sousa (2010) eles afirmam que apenas a raça Texel conseguiu produzir perfil hiperconvexo (escore 5, excelente para lanados), enquanto as raças Dorper e Santa Inês são geralmente classificadas como carcaças convexas (escore 4, excelente para deslanados). Enquanto o acabamento da carcaça apresentou média de 1,99 ± 0,43, com valor mínimo de 1,0 e máximo de 2,5, sendo classificada como uma carcaça muito magra a magra (1 a 2 mm), segundo Cezar e Souza (2010) ou de gordura escassa segundo Osório et al. (2002). É preciso ressaltar que os animais do presente estudo não foram pré-selecionados para crescimento ou características de carcaça. Além disso, foram abatidos após passarem por longo período de seca. Assim, os escores de conformação e acabamento aqui relatados, representam mais a realidade das carcaças em situação de produção do semiárido, quando se abate os animais em meio ao período seco. A situação pode ser ainda mais grave, pois o rebanho aqui estudado estava em uma fazenda experimental e recebia uma complementação nutricional na forma de silagem de milho, algo pouco comum em fazendas de pequeno e médio porte no semiárido. A área de olho de lombo variou de 16,59 a 5,91, com valor médio de 10,44 cm 2 ± 1,83, superior aos resultados de Cezar (2004) de 9,77 cm2 para ovinos Santa Inês e 9,60 cm2 para mestiços Santa Inês x Dorper, e aos de Dantas et al. (2008) de 7,51 cm2 e Cartaxo et al. (2009) 7,53 ± 1,49 cm2 em ovinos Santa Inês. Enquanto a média da espessura de gordura subcutânea (0,17 mm ± 0,04) caracterizam as carcaças como de gordura escassa. Cartaxo et al. (2009) verificaram em ovinos Santa Inês com peso vivo de 26,30 kg e condição corporal magra EGS de 0,23 ± 0,42 mm. Esses resultados revelam que o rebanho aqui estudado merece maiores avaliações de carcaça, pois destaca-se no sentido de ter uma carcaça com grande potencial para rendimento de cortes cárneos, dado o valor elevado da área do músculo Longissimus, porém com reduzido percentual de gordura, o que pode comprometer a qualidade da carcaça durante o processo de resfriamento. Por fim, destaca-se o elevado coeficiente de variação para todas as características aqui analisadas. Estes coeficientes de variação são um indicativo de que o rebanho aqui estudado apresenta grande variabilidade para características de carcaça. Essa variabilidade informa que não houve processo de seleção rigoroso para estas características e evidencia a necessidade de implantar programas de melhoramento para este fim. Porém, o mais importante é que os resultados aqui descritos são uma referência mais real e acurada do que aqueles resultados descritivos comumente encontrados em artigos da literatura. Nestes estudos, os animais geralmente são previamente selecionados para se ter um grupo homogêneo, impedindo assim que diferenças de peso comprometessem o objetivo principal do estudo que era avaliar aspectos nutricionais de dietas. Tabela 1. Estatística descritiva das características quantitativas da carcaça de ovinos Santa Inês.

Variável Peso vivo ao abate Escore de Conformação da carcaça Escore de acabamento da carcaça Área do músculo Longissimus Espessura de gordura no Longissimus DP - desvio-padrão; CV% - Coeficiente de variação.

Máximo

Mínimo

Média

DP

49,0 3,0 2,5 16,59 0,2

29,0 1,5 1,0 5,91 0,1

39,97 2,18 1,99 10,44 0,17

4,7 0,40 0,43 1,83 0,04

CV% 11,51 18,51 22,18 17,52 25,61

Conclusões Os ovinos Santa Inês com 12 meses de idade criados em condições de pastejo no semiárido e abatidos no período da seca apresentam valores de escore de conformação e acabamento que permitem classificar a carcaça com perfil bom e gordura escassa, uma classificação aceitável para a realidade da ovinocultura deslanada do nordeste brasileiro. Agradecimentos Os autores agradecem à EMBRAPA Tabuleiros Costeiros por disponibilizar a infraestrutura e os animais experimentais; ao CNPQ pelo apoio concedido nos projetos 562551/2010-7 e 474494/2010-1; a FAPESB pelo apoio no Projeto 5803/2009; a UFBA pela concessão da bolsa Reuni a doutoranda Juliana Faveri Ribeiro, e das bolsas PIBIC as discentes Nathália Fonseca Pita e Taiana Cortez Souza. Literatura citada CARTAXO, F. Q.; CEZAR, M. F.; SOUSA, W. H.; GONZAGA NETO, S.; PEREIRA FILHO, J. M.; CUNHA, M. G. G. et al. Características quantitativas da carcaça de cordeiros terminados em confinamento e abatidos em diferentes condições corporais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.4, p.697-704, 2009. CÉZAR, M. F. Características de carcaça e adaptabilidade fisiológica de ovinos durante a fase de cria. 2004. 88f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal da Paraíba, Areia. 2004. CÉZAR, M. F.; SOUSA, W. H. Proposta de avaliação e classificação de carcaças de ovinos deslanados e caprinos. Tecnol. & Ciên. Agropec. João Pessoa, v.4, n.4, p.41-51, dez. 2010.

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____________________________________________________________ DANTAS, A. F.; PEREIRA FILHO, J. M.; SILVA, A. M. A.; SANTOS, E. M.; SOUSA, B. B.; CÉZAR, M. F. et al. CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA DE OVINOS SANTA INÊS TERMINADOS EM PASTEJO E SUBMETIDOS A DIFERENTES NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO. Ciênc. agrotec. Lavras, v. 32, n. 4, p. 1280-1286, jul./ago., 2008. OSÓRIO, J. C.; OSÓRIO, M. T. M.; OLIVEIRA, N. R. M.; SIEWEROT, L. et al. Qualidade, morfologia e avaliação de carcaças. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 195p. 2002. SAS. SAS/STAT User’s Guide: version 9.1. North Caroline, SAS Institute, 5136p. 2004.

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Análise do Itinerário Técnico dos Sistemas de Produção do Território Sisaleiro da Bahia 1 Iana Isabel Carvalho de Jesus2, Liliane Oliveira da Silva3, Dayane de Souza Silva3, Marcos Vinicius de Sá Teles Rodrigues4 Stellinie Leite de Pinho4, Gustavo Bittencourt Machado5 Parte dos resultados do projeto “Renda e Integração dos Sistemas Produtivos de Caprinos Leiteiros no Sistema Agrário Gado Policultura com Sisal, Semiárido da Bahia, financiado pelo CNPq, coordenado por Gustavo Bittencourt Machado 2 Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal da Bahia, bolsista PIBIT/UFBA. E-mail: iana_teamo@hotmail.com 3 Graduandas em Zootecnia pela Universidade Federal da Bahia, bolsistas PIBIT/PIBIC/CNPq 4 Graduandos em Zootecnia pela Universidade Federal da Bahia, bolsista PIBIEX/ PIBIT/UFBA 5 Doutor em Agricultura Comparada (AgroParistech). Professor da Universidade Federal da Bahia. 1

Itinerary of Technical Analysis of Production Systems Planning Sisaleiro of Bahia Abstract: In sisal region of Bahia stands out family farming as the main source of income. This region, characterized, in addition to the semi-arid landscape, the diversification of production systems. Among the activities carried out by farmers as sisal and dairy goat stands on the other. The technical route works as a calendar of activities carried out throughout the year in order to obtain the expected result of the production system. The objective of this study is to analyze the technical journey undertaken by farmers in the region with a focus on production systems sisaleiro the territory of Bahia. The methodology used was based on the principles of diagnosis-Method Analysis Agrarian Systems - AgroParisTech, where he conducts research in an exploratory and interview directly with farmers. Sisal becomes the system, the source of food in conjunction with consortia palm / cactus and gliciridia / leucaena, the goat becomes the main economic activity, resulting in the sale of milk throughout the year, with cattle and sheep industry provides the sale of milk and meat, apiculture and occasionally exercised in accordance with the availability of flowering in the region, and cassava becomes the activity focused on consumption and provides the residue for animal feed. With this diversification of systems ensured the increased income and greater need for technical training. Keywords: goat milk, diversity, semiarid, sisal Introdução No semiárido baiano tem-se o território do sisal onde se sobressai a agricultura familiar como fonte econômica da região. A região sisaleira além de ser distintas das demais em termos de paisagens físicas e humanas é nela onde se encontra uma grande diversidade de sistemas de produção. Esta diversidade é representada principalmente pela caprinocultura leiteira e pela atividade sisaleira; que antigamente exerceu uma grande importância. Atualmente o sisal encontra-se em declínio por diversos fatores dentre eles destaca-se a falta de mão-de-obra e a desvalorização da fibra. Contudo a caprinocultura passou a ser a principal atividade exercida pelos agricultores da região. A diversificação tornou-se um fator determinante para evitar o êxodo rural fixando assim o homem no campo, proporcionou uma variabilidade de renda e de opção de mantença destes agricultores no semiárido. Contudo, este resumo tem por objetivo analisar o itinerário técnico realizado pelos agricultores da região com enfoque nos sistemas de produção exercidos por estes no território do sisal no estado da Bahia. Material e Métodos O projeto foi desenvolvido no semiárido baiano, na região sisaleira da Bahia nos municípios de Valente, São Domingos e Santa Luz. Foram realizadas entrevistas aos caprinocultores que fornecem leite aos Laticínios Da Cabra e Ouro Verde. A metodologia utilizada foi com base nos princípios do Método Análise-diagnóstico em Sistemas Agrários – AgroParisTech (DUFUMIER, 2010), onde se realiza uma pesquisa de forma exploratória e entrevista diretamente com os agricultores. O itinerário técnico dos sistemas de produção foi desenvolvido a partir das informações obtidas por meio das entrevistas e por meio da leitura de paisagem, onde observou-se todas as atividades agregadas. A região é caracterizada por ter um solo onde a fertilidade é baixa, com indicies pluviométricos baixíssima, área de caatinga nativa e uma grande área desmatada devido à plantação do sisal. Resultados e Discussão Através da análise do itinerário técnico, foi possível avaliar a diversificação dos sistemas de produção das famílias dos municípios de Valente, São Domingos e Santa Luz, sendo eles representados pelo quadro 1 Tabela 1. Itinerário Técnico das atividades dos Caprinocultores leiteiros da região do Sisal no semiárido da Bahia.

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Fonte: Pesquisa de Campo 2011 De acordo com o quadro1, as famílias dos agricultores possuem, a maioria delas, a renda oriunda apenas do trabalho que exercem no campo. Com isso, estas famílias dependem completamente dos produtos extraídos na lida pela ação diária do seu trabalho. Durante todo o ano a área onde o sisal está plantado recebe adubação orgânica oriunda do esterco dos animais. Assim como a colheita é realizada nos primeiros e nos últimos quatro meses do ano, é nesta época que os agricultores realizam a venda. Através do resíduo do sisal os agricultores fazem silagem e ofertam aos animais como fonte de alimento. Estes agricultores, também desfibram o sisal e deixam secar ao sol para que estas fibras sejam utilizadas para confeccionar artesanato e consequentemente serem vendidas na Casa do Artesão, localizada em Valente. Com as oscilações da atividade sisaleira e com incentivos por meio da Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – a APAEB, a caprinocultura leiteira destacou-se na região. Devido às dificuldades e os problemas que os agricultores tinham com o sisal, estes, tiveram que procurar alternativas a fim de obter tanto um retorno econômico quanto uma fonte de sustento de sua família. Assim, a caprinocultura leiteira passou a ser a principal atividade da região, com a ajuda da APAEB e dos Laticínios Da Cabra e Ouro Verde é possível escoar todo o leite produzido. A caprinocultura proporciona ao agricultor o escoamento de leite e de carne durante o ano todo além deles aproveitarem para o autoconsumo. A bovinocultura e a ovinocultura garantem ao agricultor ampliar sua renda através da venda do leite e da carne durante todo o ano. A ovinocultura destaca-se por ser geralmente destinada ao autoconsumo. A apicultura é caracterizada por ser uma atividade ocasional por depender da florada, pois não tem como as abelhas coletarem pólen para a produção do mel sem alimento para elas. Estes apicultores criam abelhas africanizadas, realizam a coleta do mel e fornece o mel para a Casa do Mel. Em todas as propriedade visitadas havia quintal com galinha caipira, atividade destinada principalmente ao autoconsumo tanto de carne quanto de ovos, eventualmente os agricultores realizam a venda. Atividade bastante comum na região e o consórcio palma / mandacaru e gliciridia / leucena. A palma adensada, além de ser rica em água, serve de alimento aos animais durante o longo período de seca como fonte de carboidratos prontamente disponíveis aos microrganismos do rúmen. Quanto ao mandacaru, que é uma planta resistente a seca, se mantem verde por longos

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_________________________________________________________ períodos de estiagem, os seus espinho são cortados e queimados e assim ofertados aos animais. A gliciridia é uma leguminosa bastante prática devido a sua multifuncionalidade, se reproduz muito facilmente, serve como sombra e como cerca contendo os animais no pasto, além de ser uma fonte de alimento protéico. Já a leucena que possui grande capacidade de rebrota mesmo na seca apresentando uma boa produtividade, possui grande aceitabilidade pelos animais como fonte proteíca. Estas plantas são cultivadas por meio de consórcios com intuito de aproveitar a área e aperfeiçoar o seu uso. A adubação orgânica é feita por meio do esterco dos animais e a colheita é realizada entre os meses de maio e agosto. Para fazer a plantação de mandioca, os agricultores preparam o solo em setembro, plantam em novembro e nos quatro primeiros meses do ano é a época onde ocorre a colheita que é destinada ao autoconsumo e a venda. Conclusões A diversificação dos sistemas de produção permite que os agricultores não dependam exclusivamente de uma única atividade. Pode-se concluir que a agricultura familiar é adaptável para mudanças objetivando maior renda e a demanda do mercado consumidor. Deve-se dar uma maior atenção a região sisaleira em busca de projetos que busquem a valorização do sisal, de abastecimento de água, programas de melhoramento do solo da região, pesquisas relacionadas com a apicultura, implantação de tecnologias eficazes, oficinas de capitalização para os agricultores e projetos que otimizem melhores condições de trabalho para os agricultores. Literatura citada DUFUMIER, M. Projetos de desenvolvimento agrícola: manual para especialistas. Marc Dufumier; traduzido por Vitor Andrade Couto; prefácio René Dumont. – 2. Ed. – Salvador: EDUFBA, 2010. 326 pag. MACHADO, G. B. Desenvolvimento Humano e Multifuncionalidade da Agricultura Familiar no Sertão do Semiárido da Bahia. In: XLVII Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Porto Alegre – RS. 2009 SILVA, D. S.; RODRIGUES, M. T. S. T.; SILVA, L. O. et al. Caracterização dos caprinocultores leiteiros e seus sistemas produtivos: Uma (nova) forma de renda no Território do Sisal no Semiárido Baiano. In: 50º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – SOBER. Vitória- ES. 2012.

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____________________________________________________________ Efeitos do método de coleta de conteúdo ruminal para desenvolvimento da técnica ex-situ (micro-rúmen) com vistas à mensuração da produção de metano 1 Lerner Arévalo Pinedo2, Laura Alexandra Romero Solórzano3, Maurício Furlan Martins3, Flávio Perna Júnior3,4, Carolina Tobias Marino2, Paulo Henrique Mazza Rodrigues5 1

Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processos 2010/15670-3 e 2011/11165-5) Pós-Doutorando do Departamento de Nutrição e Produção Animal – FMVZ/USP. Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de PirassunungaSP. Bolsistas da FAPESP, e.mail: lerner38@yahoo.com.br 3 Mestrando do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga, SP, Brasil. 4 Técnico de laboratório do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga-SP, Brasil. 6 Professor do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga-SP, Brasil. 2

Effects of rumen content collection methods for the development of ex-situ rumen fermentation technique (micro-rumen) with a view to the measurement of methane production Abstract: The effect of three collection methods of rumen content (LRC = liquid rumen content; FRC = filtrated rumen content and PRC = pasty rumen content) were studied for methane (CH4) and short chain fatty acids (SCFA) production measurement evaluated through ex-situ rumen fermentation technique. A completely randomized design was used in a factorial arrangement of treatments 2 x 3, with two diets of 0% and 50% of concentrate and three methods of rumen content collection, with two successive periods of 21 days each. Each experimental period had 21 days, where the first 20 days were used for diet adaptation and the 21 day was destined to CH4 and SCFA collection. The results showed that the pasty rumen content collection had higher values (P<0.05) of acetate, propionate and butirate, as well as, CH4 and relative energy losses (PER) in relation to the other methods of collection (LRC and FRC). It was concluded that the collection method PRC was more efficient than LRC and FRC for the studied parameters. Keywords: Diet, forages, greenhause gas, ruminants Introdução As emissões dos gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera representam um dos principais desafios para a população mundial. A pecuária contribui para as emissões antrópicas principalmente de metano (CH 4) e óxido nitroso (N2O) à atmosfera (CERRI et al., 2009). Dessa forma, vários métodos têm sido desenvolvidos com intuito de mensurar a produção de CH 4 em ruminantes, entre eles, a técnica in-vitro semi-automática de produção de gases, técnica do gás traçador SF 6, câmaras respirométricas. Tais técnicas atualmente utilizadas são questionáveis quanto à sua real acurácia e também são muito laboriosas, podendo apresentar falhas por não reproduzir o ambiente ruminal e de não quantificar outros produtos da fermentação, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). Dada a necessidade de maiores informações sobre um novo enfoque da mensuração de CH4 e AGCC, o presente grupo de pesquisa se propôs a desenvolver uma nova técnica de mensurar esses produtos da fermentação ruminal, denominando-a de técnica de fermentação ruminal ex-situ para mensuração de CH4. Dessa forma, objetivo-se avaliar o efeito de três métodos biológicos de obtenção do conteúdo ruminal (líquido, filtrado e pastoso) na mensuração de CH4 e AGCC, em bovinos alimentados com ração contendo 0% ou 50% de concentrado, mediante a técnica ex-situ de fermentação ruminal. Material e Métodos O experimento foi realizado nas dependências da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo – FMVZ/USP, Campus de Pirassununga-SP. Foram utilizadas seis vacas da raça Holandesa não gestantes e não lactantes, com peso vivo médio de 789 ± 70 kg e portadoras contendo cânula ruminal. As vacas foram alimentadas com duas dietas 0% (cana-de-açúcar fresca picada) ou 50% de concentrado (50% de cana-deaçúcar e 50% de concentrado), sendo a fonte de volumoso cana-de-açúcar fresca picada (planta inteira) suplementada com ureia (1,0%) e suplemento mineral de (0,5%). O concentrado foi formulado à base de milho, farelo de soja e mistura mineral. Os alimentos foram oferecidos em duas refeições diárias ad libitum, sendo a primeira às 8:00 e a segunda às 16:00 h. O experimento foi constituído por dois períodos, com duração de 21 dias cada um, sendo 20 dias destinados à adaptação das vacas às dietas experimentais e o 21º dia destinado às coletas para mensurações de AGCC e CH4. Utilizou-se o delineamento experimental alternado em sequência balanceada (Cross-over), em arranjo fatorial de tratamentos 2x3, no qual as vacas foram foram distribuídas em duas dietas contendo 0% ou 50% de concentrado e três métodos de coleta de conteúdo ruminal. Para o preparo do conteúdo ruminal foram testados três métodos para obtenção do mesmo utilizando

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____________________________________________________________ como os tratamentos: CRL = conteúdo ruminal líquido, CRF = conteúdo ruminal filtrado e CRP = conteúdo ruminal pastoso. A fase líquida de conteúdo ruminal foi coletada de três pontos distintos do rúmen com o auxílio de uma bomba elétrica à vácuo separando 300 mL de líquido ruminal de cada animal e a fração sólida foi retirando diretamente do rúmen introduzindo a mão via fístula ruminal. Para o preparo da fase líquida, foram separados 150 mL de líquido ruminal e para o preparo das duas fases (líquida e filtrado) foram separados mais 150 mL de líquido ruminal e mais 150 mL de fase sólida em proporções iguais e homogeneizadas em liquidificador por 30 segundos. Imediatamente após, as amostras foram colocadas em frascos de vidro de 100 mL de tipo penicilina, previamente identificadas e nestas, foi colocado 50 mL de cada fração de conteúdo ruminal. Foram preparadas 2 frascos para cada fração, usadas como branco (inativação imediata sem incubação) e outros dois frascos foram considerados como testes (incubação pelo tempo de 30 minutos em banho-maria). Ao final, o processo fermentativo foi inativado mediante autoclavagem (120C) por 15 min. A produção de gás contido nos frascos foi mensurada utilizando um transdutor (modelo AG5000) medidor de pressão conectado a um leitor digital e a uma válvula de três saídas com uma agulha acoplada até a indicação da pressão pelo transdutor acusar uma leitura 0 (zero). Foram também mensuradas as concentrações de CH4 e AGCC (acético, propiônico e butírico) por cromatografia gasosa, segundo ERWIN et al. (1961), injetando-se uma amostra de 0,5mL de gás ou 1,0 microL de líquido ruminal, respectivamente, em cromatógrafo configurado para cada análise. Para a determinação da concentração dos AGCC, a amostra foi devidamente fixada com ácido fórmico P.A e armazenada a -20oC até o momento da análise. A quantificação da produção de CH4 foi obtida pela multiplicação entre o volume total dos gases (mL) e a concentração do CH4 na fase gasosa (mMol/mL) obtido no frasco teste, sendo este valor subtraído do que foi produzido no frasco branco. Já a quantificação individual dos AGCC foi obtida pela multiplicação entre o volume líquido (mL) e a concentração de cada AGCC (mMol/mL) obtido no frasco teste, sendo este valor também subtraído do que foi obtido no frasco branco. O volume do líquido do conteúdo ruminal dentro dos frascos (micro-rúmen) foi calculado pela diferença entre o peso do frasco contendo a amostra após a estufa (65C por 15 dias) e o peso do frasco contendo a amostra antes da estufa. Posteriormente, a produção de CH4 e AGCC foram expressos com base no conteúdo sólido incubado nos frascos (quilos), conteúdo esse que é obtido pela diferença de pesagem entre o peso do frasco contendo a amostra após a estufa (65 oC por 15 dias) e o peso do frasco vazio. A perda de energia relativa (PER) do metano em relação aos demais produtos da fermentação foi calculada através da fórmula: PER (%) = 100 x (Energia do CH 4 /Energia do CH4 + C2 + C3 + C4). Onde: PER = perda de energia relativa; CH4= metano; C2 = ácido acético; C3 = ácido propiônico e C4 = ácido butírico. Resultados e Discussão Os resultados obtidos pela técnica de fermentação ruminal ex-situ de mensuração de metano para as produções de AGCC (acético, propiônico e butírico), CH4 e PER estão expressos na Tabela 1. Foram observadas diferenças estatísticas (P<0,05) entre dietas e métodos para os ácidos acético, propiônico e butírico. Os teores de ácido acético, propiônico e butírico na incubação nos frascos por 30 minutos obtidos com o método de CRP, proporcionaram superioridade em relação aos métodos CRL e CRF, sendo que houve maiores teores e produções de ácido acético, propiônico e butírico na dieta 50% de concentrado em relação à dieta com 0% de concentrado. Observou-se diferença significativa (P<0,05) da interação entre dieta versus método para as produções de CH4 (Tabela 1). Comparando-se os valores das produções de CH4, antes (branco sem incubação) e depois (30 minutos de incubação), observou-se maior (P<0,05) produção de CH4 no tempo de 30 minutos no método CRP em relação aos demais CRL e CRF para ambas as dietas. No entanto, não foram observados diferenças significativas (P>0,05) para as produções de CH4 expressos em mMol/g/h. Houve efeito significativo (P<0,05) para a PER em ambas as dietas 0% de concentrado e 50% de concentrado, entretanto, os valores observados foram superiores no CRP em ambas as dietas 0%C e 50%C, em relação aos CRL e CRF. Ressalta-se que esse trabalho é inédito e pioneiro na mensuração da produção de metano por bovinos alimentados com cana-de-açúcar e concentrado, determinada pela técnica de fermentação ruminal ex-situ (micro-rúmen). Conclusões Com base nos dados obtidos, o método de coleta de conteúdo ruminal pastoso é o mais indicado para obtenção dos produtos finais da fermentação ruminal (CH4 e AGCC), determinada pela técnica de fermentação ruminal ex-situ (micro-rúmen). O método de coleta de conteúdo ruminal pastoso proporcionou valores significativamente maiores de AGCC e CH4 em relação aos demais métodos estudados. Agradecimentos À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo financiamento do projeto e bolsa de estudo concedida, e aos técnicos de laboratório Ari Luiz de Castro, Gilson Luiz Alves de Godoy e ao Sr. Gilmar Botteon pelos cuidados com os animais do experimento e ajuda com as análises laboratoriais. Literatura citada CERRI, C.C.; MAIA, S.M.F.; GALDOS, M.V, CERRI, C.E.P.; FEIGL, B.J.; BERNOUX, M. Brazilian greenhause gas emissions: the importance of agriculture and livestock. Scientia agricola, Piracicaba, v.6, n.6, p.831-843, 2009.

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____________________________________________________________ ERWIN, E.S.; Marco, G.J.; Emery, E.M. Volatile fatty acid analyses of blood and rumen fluid by gas chromatography. Journal of Dairy Science, v.44, p.1768-1771, 1961. Tabela 1 – Médias da produção de AGCC (acético, propiônico e butírico) e CH4, bem como PER em bovinos alimentados com diferentes dietas 0%C 50%C Valor de P Variáveis CRL CRF CRP CRL CRF CRP EPM Dieta Método D x M Acético Branco (mMol/L)1 44,083b 45,645b 57,865ª 53,527b 56,571b 66,235ª 17,290 0,0002 0,0001 0,8440 1 b b b b Incubado (mMol/L) 45,410 46,902 62,534ª 55,163 60,588 71,238ª 1,818 0,0002 0,0001 0,3805 Diferença (mMol/L)1 1,334b 1,257b 4,668ª 1,634b 4,060b 5,003a 0,3508 0,0090 0,0001 0,0268 Produção (mMol/g/h)2 0,144ª 0,100b 0,139ª 0,137b 0,256ª 0,125b 0,014 0,0141 0,1079 0,0153 3 b b Produção (mMol/kg/dia) 3,446ª 2,392ª 3,333ª 3,286 6,148ª 2,992 0,362 0,1078 0,3535 0,0255 Produção (g/kg/dia)4 206,755ª 143,505ª 199,99ª 197,17b 368,90ª 179,54b 2,804 0,1081 0,3530 0,0255 Propiônico 1 b b a Branco (mMol/L) 16,605 16,827 17,010 20,365b 21,708b 23,322a 1,0115 0,0004 0,4400 0,6142 1 c b a Incubado (mMol/L) 17,024 17,348 17,852 20,993c 23,128b 25,620a 1,1041 0,0001 0,1033 0,3002 1 b Diferença (mMol/L) 0,419ª 0,521ª 0,842ª 0,628 1,420ª 2,299ª 0,1683 0,0001 0,0005 0,0262 Produção (mMol/g/h)2 0,044ª 0,043a 0,023a 0,053b 0,091ª 0,058b 0,0564 0,0001 0,2057 0,0152 3 b b Produção (mMol/kg/dia) 1,059ª 1,025ª 0,553ª 1,268 2,180ª 1,382 0,1204 0,0001 0,1375 0,0113 Produção (g/kg/dia)4 78,403ª 75,883ª 40,939ª 93,836b 161,342ª 102,30b 9,0001 0,0001 0,1383 0,0118 Butírico 1 a a a Branco (mMol/L) 8,067 7,829 7,948 11,574a 12,327a 13,125a 0,5499 0,0001 0,0001 0,6522 Incubado (mMol/L)1 8,307c 7,962b 8,391a 12,320c 13,273b 14,636a 0,6231 0,0001 0,0001 0,4643 1 b b b Diferença (mMol/L) 0,242ª 0,133 0,443ª 0,746 0,946 1,511ª 0,0975 0,0001 0,0001 0,0444 Produção (mMol/g/h)2 0,010 0,011 0,012 0,062 0,060 0,038 0,0412 0,0001 0,0214 0,3182 3 a b a Produção (mMol/kg/dia) 0,610 0,260 0,279 1,485 1,444 0,903 0,1063 0,0001 0,0335 0,2578 Produção (g/kg/dia)4 53,710a 22,877b 24,587a 130,67 127,089 79,484 9,2479 0,0001 0,0339 0,2558 CH4 Branco (mMol/Fr)1 0,009a 0,001b 0,006a 0,022b 0,007b 0,027a 0,0268 0,0001 0,0001 0,0070 1 a a a b b a Incubado (mMol/Fr) 0,022 0,032 0,046 0,071 0,086 0,132 0,0811 0,0001 0,0001 0,0409 Diferença (mMol/Fr)1 0,013b 0,040a 0,040a 0,049c 0,079b 0,105a 0,0537 0,0001 0,0001 0,0780 2 Produção (mMol/g/h) 0,057 0,040 0,058 0,065 0,096 0,058 0,0827 0,0051 0,3177 0,0642 Produção (mMol/kg/dia)3 1,379a 0,968b 1,382a 1,557a 2,296a 1,395a 0,1257 0,0050 0,3200 0,0663 4 a a a a a a Produção (g/kg/dia) 22,068 15,489 22,109 24,919 36,730 22,315 2,0792 0,0450 0,3198 0,6626 PER5 15,235c 18,423b 20,858a 14,624b 14,425b 15,375a 0,0768 0,0278 0,2178 0,3836 0%C = 100% de cana-de-açúcar e 0% de concentrado, 50% = 50% de cana-de-açúcar e 50% de concentrado; * CRL = conteúdo ruminal líquido, CRF = conteúdo ruminal filtrado e CRP = conteúdo ruminal pastoso; ab Letras diferentes na mesma linha dentro de dieta diferem estatisticamente (P<0,05) pelo teste de Tukey; 1 Concentração de AGCC (mMol/litro) e CH4 (mMol/frasco); 2 Produção de AGCC ou CH4 (mMol/g/h); 3 Produção de AGCC ou CH4 (mMol/kg/dia); 4 Produção de AGCC ou CH4 (g/kg/dia) 5 PER = Perda de energia relativa (%).

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____________________________________________________________ Avaliação do consumo de matéria seca e taxa de passagem em bovinos alimentados com cana-de-açúcar in natura e concentrado1 Lerner Arévalo Pinedo2, Laura Alexandra Romero Solórzano3, Flavio Perna Junior3,4, Eduardo Cuelar Orlandi Cassiano4, Carolina Tobias Marino2, Paulo Henrique Mazza Rodrigues5 1

Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processos 2010/15670-3 e 2011/11165-5) Pós-Doutorando do Departamento de Nutrição e Produção Animal – FMVZ/USP. Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de PirassunungaSP. Bolsistas da FAPESP, e.mail: lerner38@yahoo.com.br, caroltobias@hotmail.com 3 Mestrando do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga, SP, Brasil. 4 Técnico de laboratório do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga-SP, Brasil. 6 Professor do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga-SP, Brasil, e.mail: pmazza@usp.br 2

Evaluation of dry matter intake and passage rate in cattle fed fresh sugarcane and concentrate Abstract: The objective with this study was to evaluate the effects of two diets based on fresh sugarcane and concentrate on dry matter intake and passage rate, rumen volume and rumen turnover of dairy cattle. Six Holstein ruminally cannulated cows with average live weight of 760  70 kg were distributed in three contemporary 2 x 2 Latin squares. Animals were placed in individual pens and fed ad libitum diets containing 0% concentrate (C) (100% of fresh chopped sugarcane) or 50%C (50% of chopped fresh sugarcane and 50% of concentrate). Dry matter intake was daily calculated by the difference between the quantities of feed offered and surplus. Rumen emptying was performed in alternate days (14 and 15 day) of each experimental period before (0 h) and 3 h after morning meal with the goal to determine rumen dynamics (rumen volume, passage rate, turnover and retention time). Dry matter intake, solid turnover and passage rate of cows fed 50% of concentrate were higher (P<0.05) than cows fed 0% of concentrate. It was not possible to detect significant effects (P>0.05) of diets on dry matter intake in relation to live weight, total liquid volume, total solid volume and retention time. It was concluded that dry matter intake was in acceptable patterns for both diets evaluated. Increased passage rate favored increased dry matter intake due to associative effect caused by the supplementation with 50% of concentrate. Keywords: Forages, rumen fill, rumen emptying, ruminants Introdução A cana-de-açúcar é utilizada em vários confinamentos como alimento volumoso, por se apresentar como alternativa economicamente viável para a substituição da silagem de sorgo e de milho, desde que devidamente suplementada. Essa forrageira tem a peculiaridade de apresentar a utilização dos dois componentes de maiores proporções de modos bem diferenciados pelos microrganismos do rúmen, ou seja, enquanto os açúcares são rapidamente fermentados no rúmen e de fácil aproveitamento pelo animal, o material fibroso (carboidratos estruturais) é utilizado lentamente, em parte devido ao baixo teor de proteína (2,74%) e mediana digestibilidade (60,68%) na cana-de-açúcar (MAGALHÃES et al., 2006). Os mesmos autores relataram que a disponibilidade de nitrogênio na dieta limitaria a atividade ruminal, afetando a ingestão e a digestibilidade dos nutrientes. Desta forma, para se corrigir essa deficiência é recomendado o uso de quantidades moderadas de ureia. A nutrição dos ruminantes tem evoluído de forma significativa nos últimos anos, sendo a avaliação da taxa de passagem dos alimentos uma necessidade para auxiliar o entendimento dos processos ruminais, a fim de aperfeiçoar a predição da quantidade de nutrientes disponíveis para os microrganismos e para o ruminante. Para avaliar a velocidade com que as dietas, ou seus constituintes nutritivos, passam pelo trato gastrintestinal, vários métodos foram desenvolvidos, dentre elas os indicadores, modelos matemáticos e o esvaziamento ruminal (ALLEN & LINTON, 2007). O presente trabalho foi conduzido objetivando-se estudar os efeitos de duas dietas à base de cana-de-açúcar fresca e picada (0% de concentrado) e concentrado (50% de cana-de-açúcar e 50% de concentrado) sobre o consumo de matéria seca e dinâmica ruminal (taxa de passagem, volume sólido e líquido ruminal, turnover e tempo de retenção) de bovinos leiteiros da raça Holstein. Material e Métodos O experimento foi realizado no Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, campus de Pirassununga. Foram utilizadas seis vacas não gestantes e não lactantes, portadoras de cânula ruminal, com peso vivo médio de 730 ± 70 kg. Os animais foram mantidos em instalação coberta, provida de baias individuais com cochos e bebedouros automáticos comuns a cada dois animais. O delineamento experimental utilizado foi o quadrado latino 2x2 replicado três vezes, com dois períodos experimentais de 21 dias cada. Os animais foram distribuídas em duas dietas contendo 0% (cana-de-açúcar fresca picada) ou 50% de concentrados (50% de cana-de-açúcar e 50% de concentrado),

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____________________________________________________________ sendo a fonte de volumoso a cana-de-açúcar fresca picada (planta inteira) suplementada com uréia (1,0%) e mistura mineral de (0,5%). A cana-de-açúcar era colhida de área próxima ao local experimental a cada dois dias, sendo triturada no momento do fornecimento aos animais. O concentrado foi formulado à base de milho, farelo de soja e mistura mineral. Os alimentos foram pesados e oferecidos em duas refeições diárias ad libitum, sendo a primeira às 08:00 e a segunda às 16:00 h. Para assegurar oferecimento ad libitum, as dietas foram oferecidas em quantidade calculada para permitir sobra de 10%. Sempre que as sobras fossem inferiores ou superiores a 10%, a quantidade oferecida era reajustada para esse intervalo. As sobras foram completamente retirada diariamente às 7:00 horas. Estes horários foram respeitados durante todo o período experimental. Amostras diárias do alimento oferecido e das sobras foram coletadas para determinação dos teores de MS em estufa com circulação forçada de ar, a 55C, por 48 horas. O consumo de matéria seca (CMS) dos animais foi, portanto, calculado como a diferença entre as quantidades de matéria seca do alimento oferecido e das sobras. O esvaziamento do rúmen foi realizado em dias alternados (14 e 15 dia) de cada período experimental antes (0 horas) e 3 horas após a alimentação matinal, com intuito de se determinar a dinâmica ruminal (volume ruminal, taxa de passagem, turnover e tempo de retenção) de cada animal submetidos às diferentes dietas, conforme técnica descrita por ALLEN e LINTON (2007). O procedimento adotado para os esvaziamentos do conteúdo do rúmen foi conduzido com os animais mantidos nas próprias baias sem necessidade de coloca-los no tronco. A parte líquida foi primeiramente retirada, através de uma bomba a vácuo conectada a um latão de plástico previamente identificados com volume de 30 litros. Já a fase sólida foi retirada manualmente, via cânula ruminal e colocada em baldes de plásticos com capacidade para 40 litros. Depois de pesada a fase sólida e líquida de conteúdo ruminal, aproximadamente 300 g de amostra foi coletada de cada animal e colocada em bandejas de alumínio previamente identificadas, para a quantificação da matéria seca (MS). O restante foi devolvido imediatamente no rúmen. A duração deste procedimento foi em média de 25 minutos, por animal. Assim, foi possível calcular o turnover sólido (%/dia) pela seguinte fórmula (1): Turnover sólido (%/dia) = 100*Consumo de MS diário (kg) Volume sólido total (kg)

(1)

O volume de sólido total foi corrigido pelo teor de MS do conteúdo ruminal. Também foi possível calcular a taxa de passagem (%/hora) pela fórmula (2): Taxa de passagem (%/h) = Turnover sólido (%/dia) 24 (h)

(2)

Os dados foram analisados pelo programa Statistical Analysis System (Versão 9.1, 2003), sendo anteriormente, verificada a normalidade dos resíduos pelo teste de Shapiro-Wilk e a homogeneidade das variâncias comparada pelo teste “F”. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo procedimento MIXED, que contemplou como causas de variação o efeito de tratamento. Resultados e Discussão Os valores de consumo de matéria seca (CMS), consumo de matéria seca em relação ao peso vivo (CPV), volume de líquido total (VLT), volume do sólido total (VST), turnover do sólido (TurSol), taxa de passagem (TaxPa) e tempo de retenção (TemRe) são apresentados na Tabela 1. O consumo de MS (kg/animal/dia), turnover do sólido, taxa de passagem e consumo de matéria seca em relação ao peso vivo foram mais elevados (P<0,05) para a dieta contendo 50% de concentrado, quando comparado à dieta com 0% de concentrado. O baixo consumo de MS para a dieta à base de cana-de-açúcar pura picada são relatados em alguns trabalhos devido à baixa digestibilidade de FDN, à baixa taxa de passagem e ao alto tempo de retenção deste alimento (MAGALHÃES et al., 2006). No presente estudo, o consumo de MS para a dieta 50% de concentrado foi de 17,32 (kg/animal/dia) e para 0% de concentrado foi 9,57 (kg/animal/dia), o que concorda com os resultados encontrados por (ALLEN & LINTON, 2007). Quanto aos resultados de turnover do sólido e taxa de passagem, obtidos neste experimento, foram semelhantes aos valores encontrados na literatura (TEDESCHI et al. 2010). No presente estudo, o Tunnover do sólido e a taxa de passagem foram maiores (P<0,05) para a dieta 50% de concentrado quando comparada com a dieta 0% de concentrado, o que concorda com os resultados obtidos por MENDONÇA et al. (2004). Segundo os mesmos autores relataram que esse aumento do Turnover e Taxa de passagem na dieta com 50% de concentrado esta relacionado ao maior consumo de matéria seca e menor quantidade de fibra indigestível presente na cana-de-açúcar. Não foi possível detectar efeitos significativos (P>0,05) na dieta sobre o volume do líquido total (VLT), volume do sólido total (VST) e tempo de retenção (TemReR). Segundo CAMPOS et al. (2012), uma das principais limitações do uso da cana-deaçúcar é o baixo consumo alimentar causado por uma baixa taxa de passagem (2,82% hora) e alto tempo de retenção (54,7 horas), que por sua vez são causados pela baixa degradabilidade ruminal da fração fibrosa.

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Tabela 1. Efeitos de duas dietas a base de cana-de-açúcar e concentrado sobre a dinâmica ruminal em bovinos Tratamentos2 Variáveis1 EPM3 Probabilidade 0%C 50%C b a CMS (kg/animal/dia) 9,57 17,32 0,23 0,0430 CPV (%PV) 1,11b 2,06a 0,97 0,0287 VLT (kg) 82,72 74,18 3,56 0,2332 VST (kg) 14,86 13,97 0,74 0,7728 TurSol (%/dia) 57,37b 114,27a 14,5 0,0236 TaxPR (%/hora) 2,39b 4,76a 0,59 0,0236 TemRR (horas) 43,74 21,89 5,44 0,2670 1 CMS = Consumo de matéria seca; CPV = Consumo de matéria seca em relação ao peso vivo; VLT = Volume de líquido total; VST = Volume de sólido total; TurSol = Turnover do sólido; TaxPR = taxa de passagem ruminal; TemRR = Tempo de retenção no rúmen; 2Dietas= 0%C ou 50% de concentrado, 3EPM = Erro padrão da média; ab Letras diferentes na mesma linha diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).

Conclusões Com base nos resultados obtidos neste experimento pode se concluir que o consumo de MS estão dentro do esperado para ambas as dietas 0% ou 50% de concentrado. O aumento da taxa de passagem favoreceu o aumento do consumo de matéria seca devido ao efeito associativo causado pela suplementação com 50% de concentrado. Agradecimentos À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro ao projeto e concessão de bolsas de estudo, e aos técnicos de laboratório Ari Luiz de Castro, Gilson Luiz Alves de Godoy e ao Sr. Gilmar Botteon pelos cuidados com os animais do experimento e ajuda no esvaziamento ruminal das vacas. Literatura citada ALLEN, M. S & LINTON, J. A. V. In vivo methods to measure digestibility and digestion kinects of feed fractions in the rúmen. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL AVANÇOS EM TÉCNICAS DE PESQUISA EM NUTRIÇÃO DE RUMINANTES. 2007, Pirassununga, SP. Anais...Pirassununga, Universidade de São Paulo, 2007, p.72-88. CAMPOS, M. M.; BORGES, A. L. C.; LOPES, F. C. F.; PANCOTI, C. G.; SILVA, R. R.; SILVESTRE, T. Parâmetros da dinâmica de fluxo da fase sólida e de dietas contendo cana-de-açúcar tratada ou não com óxido de cálcio, em fêmeas bovinas leiteiras Holandês x Gir. In: 49ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, realizada em Brasília – DF de 23 a 26 de julho de 2012. MAGALHÃES, A.L.R.; CAMPOS, J.M.S.; CABRAL, L.S.; MELLO, R.; FREITAS, J.A.; TORRES, R.A.; FILHO, C.V.; ISSIS, A.J. Cana-de-açúcar em substituição à silagem de milho em dietas para vacas em lactação: parâmetros digestivos e ruminais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.2, p-591-599, 2006. MENDONÇA, S. S.; CAMPOS, J. M. S.; SOARES, C. A.; LANA, R. P.; QUEIROZ, A. C.; ASSIS, A. J.; PEREIRA, M. L. A. Consumo, digestibilidade aparente, produção e composição do leite e variáveis ruminais em vacas leiteiras alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.2, p.481-492, 2004.

SAS INSTITUTE INC. SAS® User's Guide: Statistics, 5.ed. Cary, NC: SAS Institute Inc., 2003. TEDESCHI, L. O. Development and evaluation of empirical equations to predict fractional passage rate in goats. X international Conference on Goats. Proceedings. Recife, Brasil. 2010.

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____________________________________________________________ Influência do ritmo circadiano no comportamento alimentar diurno de zebuínos recebendo níveis crescentes de suplementação no sistema de integração lavoura-pecuária1 Alberto Rodrigues dos Santos Neto2 , Danilo Gusmão de Quadros3 , Daiana Nara Santos de Oliveira2 , Heraldo Namorato de Souza4 , Fabriciano Neres da Silva2 , Jonilson Santos de Carvalho2 1

Projeto financi ado pela PETROBRAS

Graduando do Curso Engenharia Agronômica da UNEB/Barreiras, BA. E-mail: alberttorsnetto@hotmail.com Núcleo de Estudo e Pesquisa em Produção Animal – UNEB, Barreiras, BA. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br 4 PET ROBRAS, Rio de Janeiro, RJ. 2 3

Influence of circadian rhythm in diurnal feeding behavior of zebu cattle receiving increasing levels of supplementation in the integration system crop-livestock1

Abstract: The objective of this study was to evaluate the influence of circadian rhythm on the behavior of diurnal grazing of cattle receiving different levels of supplementation (0.21, 0.29, 0.36, and 0.41% BW) kept in grazing of Brachiaria ruziziensis in the Santa Fé system. The experiment was conducted at the Fazenda Pedras, located in the city of Riachão das Neves, Bahia, from July to October 2011. It was used 40 heards of zebu cattle, with average weight of 418 kg, which was divided into four lots of 10 animals. The ingestive behavior’s evaluation was evaluated monthly, three times, recording each kind of behavior (grazing, rumination / rest, feeding supplement and others) for a period of 12 hours, diurnal behavior, at each 10 min. The experimental design was completely randomized with four treatments and 10 replications. Data were tabulated on Excel (Microsoft) and analyzed by the program ASSISTAT, assuming differences between the averages when the probability of the F value was less than 5% (P <0.05). It is noted that in all levels of supplementation tested there were higher grazing pattern around 14h to 16h, while the other behaviors (leisure / rumination, manger and others) behaving similarly, highlighting ethological characteristic of animals. The animals developed their own circadian behavior model, adapting themselves to the environment in question. Keywords: ingestive behavior, restnig, supplement Introdução Uma das estratégias que vem sendo utilizada para contornar as deficiências de nutrientes que ocorrem no período da seca é o uso de suplementação principalmente em sistemas de produção que têm como base o uso de pastagens, onde nutrientes suplementares são necessários para se obter níveis aceitáveis de desempenho animal. O estudo do comportamento animal é uma ferramenta de grande importância, principalmente quanto ao comportamento alimentar, que auxilia na adequação de práticas de manejo em consonância ao entendimento de como os animais ajustam seu comportamento em função das variações observadas na pastagem e no ambiente (Brâncio et al. 2003). O sistema integração lavoura-pecuária apresenta rotação de cultivos para grãos e pastagens de gramíneas ou leguminosas. Esta alternância aumenta, sobretudo, a produtividade nestas áreas, o que é obtido, segundo Mohamed & Fisch (1993), por melhorias na estrutura e fertilidade do solo, melhor controle de plantas daninhas, quebra de ciclos de doenças e pragas e aumento na disponibilidade de alimentos de boa qualidade para os rebanhos durante o período de pastejo. A maior produção de forragem de qualidade no período crítico promove maior capacidade de suporte das pastagens, o que resulta em maior produtividade animal por unidade de área. A busca por novas técnicas de alimentação e manejo nutricional aliadas aos estudos de comportamento animal tornam-se de fundamental importância como forma de prover subsídios para uma melhor produção na pecuária de corte do país. Objetivouse com este estudo avaliar o comportamento animal diurno de bovinos em pastagem de Brachiaria ruziziensis submetidos a diferentes níveis de suplementação concentrada. Material e Métodos O experimento foi conduzido na Fazenda Pedras, localizada em Riachão das Neves - Ba, de julho a outubro de 2011. O pasto de capim capim Brachiaria ruziziensis foi implantado junto ao milho, em novembro de 2010 numa área de aproximadamente 500 ha, aproveitando o resíduo de adubação de culturas anteriores. A área de pastagem para a realização do experimento foi constituída de quatro piquetes de 10,5 ha, cada, formados com Brachiaria ruziziensis dividida em junho de 2011, sendo cada piquete provido de comedouro e bebedouro. Utilizou-se 40 bovinos anelorados com peso vivo médio inicial de 418 Kg. Foram divididos em quatro lotes homogêneos de 10 animais. Os suplementos foram compostos de mistura mineral comercial (5%), sorgo moído (25%), milho moído (60%), caroço de algodão (5%) e uréia (2,5%), foram oferecidos 0,21; 0,29; 0,36; e 0,41% PV. Os suplementos foram oferecidos em cochos com espaçamento de 15

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____________________________________________________________ cm/animal a fim de evitar dominância, num único trato diário no período da manhã às 9h e os animais tinham acesso livre aos cochos e a água. A coleta de dados das atividades comportamentais foram realizada durante 3 meses, totalizando três períodos de observação, com a observação sendo realizada em uma torre na parte central dos piquetes, contendo 2 m de altura na área central, visando não interferir no comportamento normal dos animais. As observações foram realizadas em período diurno de 12h, por seis pessoas de forma escalonada. O registro das atividades se fez através de observação direta com coleta continua e amostragem focal com ajuda de um binóculo de longo alcance, com intervalo amostral a cada dez minutos para os registros das categorias: pastejo, ruminação/ócio, cocho e outros comportamentos. Os dados obtidos foram utilizados nas estimativas dos tempos em horas depreendidos em cada atividade comportamental categorizada. O delineamento experimental adotado foi inteiramente casualizado, com 4 tratamentos (níveis de suplementação) e 10 repetições (animais com medidas repetidas no tempo). Os dados foram tabulados no programa Excel (Microsoft) e analisados pelo Programa ASSISTAT, assumindo como diferenças entre as médias quando a probabilidade do valor de F foi menor de 5% (P<0,05). Resultados e Discussão Houve influência do ritmo circadiano sobre a etologia animal. Ficou claro que, independente da estratégia de suplementação adotada, em maior ou menor intensidade, houve interferência no pastejo (Figura 1). Nota-se que em ambos os tratamentos houve maior pico de pastejo por volta das 14h às 16h, os outros comportamentos (ócio/ruminação, cocho e outros) s e comportaram de maneira similar, resaltando a característica etológica dos animais. Numericamente em todos os tratamentos as atividades de ócio/ruminação tiveram seus maiores picos no período da manha. Os animais exercem uma espécie de plasticidade comportamental, desenvolvendo muitas vezes um próprio modelo circadiano de comportamento, adaptando-se ao ambiente em questão (Soares et al. 2011). Segundo esses autores, o fornecimento do suplemento promove alterações no hábito de pastejo dos animais.

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Figura 1. Influência do ritmo circadiano no comportamento alimentar diurno de bovinos de c orte sob diferentes estratégias de suplementação no sistema ILP. Foram oferecidos (a) 0,21%; (b) 0,29%; (c) 0,36% e (d) 0,41% PV. Silva et al. (2005) relataram aumento linear dos tempos de ócio com a elevação dos níveis de suplementação, de maneira inversa ao ocorrido com os tempos de pastejo e ruminação, os níveis de suplementação a 0,6 e 0,9% do peso vivo resultaram em tempos de ócio mais elevados, uma vez que as atividades comportamentais são mutuamente excludentes. Segundo esses autores,

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____________________________________________________________ este resultado era previsível, uma vez que ao se utilizar tratamentos com quantidades crescentes de suplementação, obviamente os animais permaneceriam por maior tempo no cocho. Pardo et al. (2003) não verificaram diferenças nos tempos que os animais permaneceram comendo no cocho quando receberam 0,75 e 1,50% do PV em concentrado. O que se verificou, uma vez que não houve diferenças nos tempos de pastejo e ruminação, é que ocorreu uma substituição dos tempos de ócio pelos tempos que os animais permaneceram no cocho. O uso de suplementação concentrada para ruminantes em pastagem pode influenciar a produção e o comportamento animal por estimular ou inibir o consumo da forragem, uma vez que a resposta ao tipo de suplementação, tanto energética, quanto proteica, provoca mudanças nos hábitos comportamentais do animal (pastejo, ruminação, ócio e outras atividades como micção, defecação, ingestão de água), influenciando o desempenho desses animais (Lobato & Pilau, 2004). Segundo esses autores, além disso, o ganho de peso em ruminantes recebendo suplementação em pastagem depende da ordem social existente, pois há competição pelos suplementos, quando são escassos. O comportamento animal é influenciado pela característica etológica, uma vez, que em ambos os tratamentos os animais se comportaram de maneira similar. Conclusões Os animais desenvolveram um modelo circadiano de comportamento próprio, adaptando-se ao ambiente em questão, onde em todos os níveis de suplementação apresentaram um maior tempo para as atividades diurnas de ócio/ruminação, principalmente pela manhã, enquanto o pastejo aumentou a ocorrência na parte da tarde. Em geral, os animais procuraram o cocho várias vezes durante o dia, mas houve maior tempo desprendido consumindo suplemento no início da manhã e no final da tarde.. Agradecimentos À Fazenda Pedras, especialmente na figura do Ciro, cuja ajuda foi imprescindível para realização deste trabalho. Literatura citada BRÂNCIO, P.A. et al. Avaliação de Três Cultivares de Panicum maximum Jacq. sob Pastejo: Comportamento Ingestivo de Bovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.5, p.1045-1053, 2003. LOBATO, J.F.P.; PILAU, A. Perspectivas do uso de suplementação alimentar em sistema a pasto. In: SIMPÓSIO SOBRE APRODUÇÃO ANIMAL E A SEGURANÇA ALIMENTAR/ REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo Grande. Anais... Campo Grande: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. (CD-ROM). MOHAMED SALLEN, M. A; FISHER, M.J. Role of ley farming in crop rotations in the tropics. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, 17., 1993, Rockhampton. Proceedings ... Rockhampton: 1993. p.2179-2187. PARDO, R.M.P. et al. Comportamento ingestivo diurno de novilhos em pastejo a níveis crescentes de suplementação energética. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p.1408-1418, 2003. SILVA, R.R. et al. Comportamento ingestivo de novilhas mestiças de holandês em pastejo. Archivos de Zootecnia, v.54, p.63-74, 2005. SOARES, D.S.; QUADROS, D.G.; SOUZA, H.N.; OLIVEIRA, D.N.S.; BARBOSA, L.M.; RIBEIRO, J. J. Influência do ritmo circadiano no comportamento de pastejo de bovinos de corte sob diferentes estratégias de suplementação na época seca do ano. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 48., 2011, Belém-Pa. Anais... Belém-Pa: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2011. (CD-ROM).

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____________________________________________________________ Cinética fermentativa da silagem de capim - elefante com proporções de resíduo de algodoeira tratado com uréia Alberto Rodrigues Dos Santos Neto1, Danilo Gusmão de Quadros2, Alexandro Pereira Andrade3, Fagner Estevam da Silva4, Guilherme Soares de Souza4, Osvaldo Fernandes Júnior 1 1

Graduando do Curso Engenharia Agronômica da UNEB/Barreiras, BA. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br Prof. da Faculdade de Agronomia – NEPPA – UNEB – Campus IX, Barreiras, BA. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br 3 Doutorando em Zootecnia, UESB – Itapetinga/BA. Bolsista da Fapesb. E-mail: alexandro_andrade@hotmail.com 4 Graduando do Curso Engenharia Agronômica da UNEB (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA-INCRA/MDA). 2

Fermentation kinetics of elephantgrass silage with proportions of cotton residue treated with urea Abstract: The objective of this study was to evaluate the fermentative kinetics of elephantgrass silage with two proportions (5 and 10% DM) of cotton residue, treated with urea (0, 4 and 8% DM). The experiment was conducted at the Bahia State University Campus IX – Barreiras, Brazil. It was used a completely randomized design (CRD), with seven treatments and three replications. The cotton residue was treated with 0, 4 and 8% of urea (based DM), and the urea dissolved in water to increase the humidity of the material to 30%. Was added 5 and 10% of cotton residue treated with 0, 4 and 8% urea. The urea treatment was for 28 days, and then aerated for 72 hours before ensiling. Was evaluated effluent and gas losses, dry matter (DM), pH, density and DM recovery. The addition of 10% ammoniated residue with 8% urea was the only treatment that has reduced effluent losses. Nevertheless, gas losses and recovery of the DM treatments were superior to those observed in control silage with pure elephantgrass. The results showed improvement of DM content with the addition of the residue with an increase of 14.42% (control treatment) to 23.08% (with the inclusion of 10% of cotton residue treated with 8% urea), following the same pattern of pH, that increased dramatically compared the control to the addition of treated residue. The chemical treatment with urea in cotton residue do not improve the fermentation kinetics of elephantgrass silage with increasing pH and lowing capacity to reduce losses and waste gases. Keywords: additives, losses, pH Introdução O capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) é uma gramínea de alta produção de massa seca, bem adaptado ao clima tropical e uma das mais difundidas no Brasil. Pode ser utilizado de diversas formas e alcança bons níveis de produção animal, quando bem manejado. O resíduo de algodoeira, por sua vez, é considerado um alimento volumoso alternativo na alimentação de ruminantes, muito embora sua qualidade seja bem baixa. Nesse contexto, a amonização melhora o valor nutritivo de cascas e palhadas, que, por sua vez, poderiam ser utilizadas na mistura com o capim para produção de silagem. Vários aditivos têm sido adicionados ao capim no momento da ensilagem. Os objetivos de sua utilização incluem a elevação do teor de matéria seca (%MS), fornecimento de carboidratos solúveis e redução do poder tampão, melhorando o padrão fermentativo (Rezende et al., 2008). Um fator controlador de perdas é a quantidade de bactérias formadoras de ácido lático presente no material a ser ensilado, principalmente as homofermentativas. Mcdonald (1981) relatou que os efluentes das silagens contêm grandes quantidades de compostos orgânicos, tais como: açúcares, ácidos orgânicos e proteínas, o que acarreta em perdas significativas no valor nutritivo. As perdas por gases são menores quando estão predominantes nas silagens bactérias homofermentativas, entretanto, quando as bactérias heterofermentativas tornam-se predominantes, as perdas se acentuam, devido à produção de CO2 e etanol. Segundo Corte et al. (2012), nas algodoeiras, há um resíduo do processamento do material colhido mecanicamente. O resíduo é denominado popularmente como “piolho” ou “lixo” de algodoeira, sendo conhecido também como casquinha de algodoeiras, ou simplesmente resíduo de algodoeira. Este é composto por restos culturais (pedaços de folhas, pedaços de caules etc.), casca de algodão (parte vegetativa dos capulhos), além de línter, que fica aderido nestas frações. Esse resíduo tem sido utilizado como adubo, pois o baixo valor nutritivo é restritivo à sua utilização como único volumoso na nutrição de ruminantes. A amonização favorece a melhoria do resíduo de algodoeira, como demonstrado por Corte et al. (2012), com a redução da fração fibrosa e aumento da proteína bruta do material. Entretanto, para a sua adição na silagem fica prejudicado por não absorve a umidade do material e prejudica a redução do pH. O objetivo deste trabalho foi avaliar a cinética fermentativa da silagem de capim- elefante com duas proporções (5 e 10% da matéria seca) de resíduo de algodoeira, amonizado, ou não, com uréia (0, 4 e 8% da matéria seca). Material e Métodos O experimento foi realizado na Universidade do Estado da Bahia Campus – IX de Barreiras, no Laboratório do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Produção Animal, em dezembro de 2011 . Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado, sendo 7 tratamentos e 3 repetições cada. Os tratamentos foram: CE100 = capim-elefante (testemunha); RA5= 95% de capim-elefante + 5% de resíduo de algodão; RA10 = 90% de capim-elefante +10% de resíduo de algodão; RA5 4U= 95% de capim elefante + 5% resíduo de algodão tratado com 4% de uréia; RA5 8U= 95% de capim elefante + 5% de resíduo de algodão tratado com 8% de

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____________________________________________________________ uréia; RA10 4U = 90% de capim elefante + 10% de resíduo de algodão tratado com 4% de uréia ; e RA10 8U = 90% de capim elefante + 10% de resíduo de algodão tratado com 8% uréia. O resíduo foi adquirido em algodoeiras da região. O material foi tratado com 0, 4 e 8% de uréia (base MS), sendo a uréia diluída em água para aumentar a umidade do material para 30%. Este tratamento ocorreu durante 28 dias, sendo em seguida aerados por 72 horas antes da ensilagem. Foi utilizado para ensilagem capim-elefante cv. Roxo, proveniente de uma capineira já estabelecida. Este capim apresentava idade de rebrota de 60 dias, apresentando 15% de MS, sendo colhido manualmente e picado em partículas de 2 a 3 cm de tamanho. Após homogeneização entre o material picado e os aditivos, a massa de forragem foi ensilada em mini-silos, confeccionados com baldes plásticos de 20 L. Os silos foram abertos os 28 dias após a ensilagem, retirando-se amostras para determinação do %MS, em estufa ventilada a 60ºC por 72 horas, e do pH através da metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002). Para estimativa da densidade das silagens os mini-silos foram pesados antes e após a ensilagem, encontrando-se gravimetricamente o peso da massa ensilada, aplicando-se a seguinte equação: Densidade (Kg/m3) = Massa ensiladas (Kg)/Volume do silo (m3). Pela equação abaixo, foram obtidas as perdas por gases, baseando-se na diferença de peso da massa de forragem seca: G = (PCI – PCF)/(MFI X MSI) x 1000, onde: G: perdas por gases (%MS); PCI: peso do balde cheio inicial (kg); PCF: peso do balde cheio final (kg); MFI: massa de forragem inicial (kg); MSI: teor de matéria seca da forragem inicial. As perdas por efluente foram calculadas pela equação abaixo, baseadas na diferença de peso da areia e relacionadas com a massa de forragem fresca no fechamento: E = [(PVF – TB) – (PVI – TB)]/MFI x 100, onde: E: efluentes gerados (kg/t de silagem); PVF: peso do balde vazio + peso da areia final (kg); TB: tara do balde; PVI: peso do balde vazio + peso da areia inicial (kg); MFI: massa de forragem inicial (kg). A equação seguinte foi utilizada para estimar a recuperação de matéria seca: RMS = (MFF X MSF)/(MFI X MSI) x 100, onde: RMS: recuperação de matéria seca (%); MFF: massa de forragem final (kg); MSF: teor de matéria seca da forragem final (%); MFI: massa de forragem inicial (kg); MSI: teor de matéria seca da forragem inicial (%). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizado o programa estatístico ASSISTAT. Resultados e Discussão Os teores de matéria seca aumentaram com a adição do resíduo, de 14,42% no capim-elefante exclusivo para 23,08%, com a inclusão de RA 10% e 8%U, seguindo a mesma tendência o pH das silagens aumentaram bastante em relação à testemunha. A utilização da uréia na amonização provocou a alcalinização do resíduo, aumentando demasiadamente o pH da silagem e prejudicando a sua qualidade da fermentação (Tabela 1). Tabela 1. Perdas por efluentes e por gases, recuperação da matéria seca, matéria seca, densidade e pH das silagens de capim com duas proporções (5 e 10% da matéria seca) de resíduo de algodoeira, amonizado com uréia (0, 4 e 8% da matéria seca). Matéria Perdas de Perdas de Recuperação da Densidade Tratamentos pH Seca (%) Efluentes (kg/ton) Gases (% MS) MS (%) (Kg/m3) CE100% 14,42 d 58,45 a 1,29 e 87,07 a 626,25 a 3,70 e RA5% e 0%U 16,86 c 54,68 a 2,96 abc 70,37 cde 571,42 abc 3,77 de RA10% e 0%U 21,28 ab 55,82 a 3,31 a 66,84 e 527,75 cd 4,02 d RA5% e 4%U 17,97 c 54,25 a 3,06 ab 69,38 de 599,17 ab 5,10 c RA 5% e 8%U 21,07 54,68 a 2,30 bcd 76,95 bcd 557,42 bcd 5,24 bc RA10% e 4%U 17,87 c 53,83 a 2,16 d 78,36 b 592,75 ab 5,48 b RA 10% e 8%U 23,08 a 9,97 b 2,26 cd 77,35 bc 504,52 d 7,36 a C.V (%) 3,69 8,28 11,21 3,70 3,81 1,97 Médias seguidas de mesma letra não diferem de acordo com Teste Tukey.

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____________________________________________________________ A adição de 10% do resíduo amonizado com 8% de uréia foi eficiente para redução das perdas por efluentes, diferindo dos demais tratamentos que foram semelhantes entre si (Tabela 1). Não obstante, as perdas por gases (variando de 2,16 a 3,31 % MS) foram superiores às observadas para a silagem de capim-elefante puro (1,29 % MS) , fato que pode ter ocorrido devido ao elevado teor protéico do resíduo de algodoeira, principalmente amonizado antes da ensilagem, que pode ter favorecido a produção de N-amoniacal. Quadros et al. (2011), avaliando silagem de capim-elefante com adição de níveis de resíduo de algodoeiras, observaram uma redução linear nas perdas por efluentes, enquanto que nas perdas por gases não houve diferença nas médias com a adição de 0, 5, 10 e 15% do resíduo de algodoeira na silagem. De qualquer forma as perdas por efluentes deste trabalho foram elevadas, causando prejuízos à fermentação da silagem, além de perdas importantes de material como açúcares, proteínas, ácidos orgânicos e sais minerais. A adição do resíduo de algodoeiras piorou a recuperação da matéria seca (Tabela 1). Os melhores resultados foram obtidos na silagem controle (87,07 %), enquanto que a adição de resíduo de 10% amonizado sem amonização e 5% do resíduo tratado com 0 e 5% de uréia obteve os piores resultados (66,84; 70,37 e 69,38, respectivamente). O pH ideal para boa silagem seria de 3,8 a 4,2 (McDonald et al, 1991). De acordo com estes autores, a ensilagem de gramíneas contendo 20% de matéria seca é normalmente aceito como um limite inferior para a redução do pH próximo de 4,0 e, em seguida, preservar forragem ensilada satisfatoriamente. No entanto, quando forragem é muito úmido (15% neste trabalho), mesmo baixando o pH para 4,0, não seria suficiente para inibir o crescimento de clostridios. A interação entre o pH e a matéria seca deve também ser considerada para controlar o processo de microrganismos indesejáveis (Quadros et al, 2011). Os resultados para a densidade do material obteve uma variação de 626,25 kg/m3 (testemunha) para 504,52 kg/m3 (adição de 10% de resíduo amonizado com 8% de uréia). Como o resíduo de algodoeira possui uma densidade relativamente menor que o capim-elefante, isso possivelmente influenciou na redução também da densidade da silagem, havendo uma variação pelo fato da amonização e adição de água com uréia no resíduo de algodoeira. Conclusões O tratamento químico com uréia no resíduo de algodoeira antes da ensilagem de capim-elefante não resultou em melhorias na fermentação da silagem do capim-elefante, com aumento do pH e baixa capacidade de redução de perdas por efluentes e por gases, portanto não se justifica. Futuras avaliações de ácidos orgânicos e bromatologia poderão auxiliar na avaliação geral da ensilagem.

Literatura citada CORTE, I.S.; QUADROS, D.G.; ANDRADE, A.P.; SOUZA, H.N.; SOARES, D.S.; SANTOS, D.S. FERNANDES JÚNIOR, O.; ROCHA, J.R.P. Composição bromatológica do resíduo de algodoeira amonizado com doses crescentes de uréia. In: 49ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 49., 2012, Brasília – DF. Anais... Viçosa:SBZ, 2012. (CD - ROM). MCDONALD, P.J. 1981. The biochemistry of silage. John Wiley & Sons. Chichester. 218 p. MCDONALD, P.J.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. 1991. The Biochemistry of Silage. 2ª ed. Marlow Chalcombe Publications. 340 p. QUADROS, D.G.; ANDRADE, A.P.; SOARES, D.S.; SILVA, C.G.; ROCHA, J.R.P.; ALVES, D.S. Sensorial traits, pH, losses, and dry matter recovery of elephantgrass silage with different proportions of cotton processing residue. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON FORAGE QUALITY AND CONSERVATION, 2., 2011, São Pedro. Anais…Piracicaba:ESALQ, 2011. (CD – ROM). REZENDE, A.V.; GASTADELLO JÚNIOR, A.L.; VALERIANO, A.R.; CASALI, A.O.; MEDEIROS, L.T.; RODRIGUES, R. Uso de diferentes aditivos em silagem de capim-elefante. Ciência Agrotécnica, v.32, n.1, p.281-287, 2008. SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. 2002. Análise de Alimentos: métodos químicos e biológicos. 3ª ed. UFV, Viçosa, MG. 235 p.

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Farelo de soja como aditivo na silagem de capim-Tanzânia Victor Guimarães Oliveira Lima2, Ossival Lolato Ribeiro1, Nivaldo Barreto de Santana Filho4, Josué Rocha da Silva3, Alexandre Miranda Magalhães3, Leonardo Bastos Santos2 Adjunto Departamento de Produção Animal – EMEVZ - UFBA. e-mail: ossribeiro@yahoo.com.br de graduação em Zootecnia da EMEVZ-UFBA 3 Acadêmico de graduação em Medicina Veterinária da EMEVZ-UFBA 4 Acadêmico de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Agrárias – UFRB 1 Professor

2 Acadêmico

Resumo: Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a adição de farelo de Soja na silagem do capim-Tanzânia em relação ao teor de matéria seca (MS) e perdas por gases, por efluentes e de matéria seca da silagem. O experimento foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal (LANA), pertencentes à Universidade Federal da Bahia, no período de outubro a dezembro de 2011. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos: 10; 20 e 30% de farelo de soja, com base na matéria natural, como aditivo, além do tratamento sem aditivo; com cinco repetições. Os silos foram abertos após 30 dias de armazenamento. O efeito da adição do aditivo sob as variáveis foi testado para os efeitos lineares e quadráticos usando-se significância de 5%. Houve efeito linear positivo dos níveis de farelo de Soja sobre a % de MS da silagem de capim-Tanzânia, estando dentro da faixa recomendada (28% e 34% de MS) a partir de 10% de adição. Houve efeito quadrático negativo (P< 0,05) da adição de farelo de Soja sobre as perdas por MS. As perdas por gases e por efluentes diminuíram (P< 0,05) com a adição de níveis de farelo de Soja na silagem, com efeito quadrático negativo. A adição de farelo de Soja acima de 10% da matéria natural reduz as perdas na silagem de capim-Tanzânia, elevando sua porcentagem de matéria seca. Palavras–chave: co-produto, ensilagem, fermentação, foragem tropical, matéria seca Soybean meal with additive in Tanzania-grass silage Abstract: This research was carried out with the objective to evaluate the addition of soybean meal in Tanzania grass silage in relation to dry matter content (% DM) and losses by gases, effluents and dry matter of silage. The experiment was conducted at the Laboratory for Animal Nutrition (LAN), belonging to the Federal University of Bahia, in the period from October to December 2011. The experimental design was completely randomized with four treatments: 10, 20 and 30% of soybean meal, as fed basis, with additive, with five replicates. The silos were opened after 30 days of storage. The effect of additive was tested under the variables for linear and quadratic effects using 5% significance. There was a positive linear effect of soybean meal levels on the % DM of Tanzania-grass silage, being within the recommended range (28% to 34% of DM) from 10% addition. There was a negative quadratic effect (P<0.05) with the addition of soybean meal on losses by DM. The losses by gases and effluents decreased (P<0.05) with the addition of soybean meal levels in the silage, with negative quadratic effect. The addition of soybean meal over 10% of fed basis reduces the losses in Tanzania-grass silage, increasing the percentage of dry matter. Keywords: byproduct, ensilage, fermentation, tropical forage, dry matter

Introdução A produção animal baseada em forragens tropicais como opção principal de volumoso enfrenta grandes dificuldades na manutenção da produtividade do rebanho e oferta de forragem durante todo o ano. Estas forrageiras apresentam um maior crescimento e uma qualidade durante período das águas em relação a seca o que resulta em uma estacionalidade de produção e consequentes prejuízos no setor agropecuário. Nesse ponto a ensilagem do excesso de forragem produzida no período das águas pode ser uma alternativa viável. No entanto, um problema apresentado no processo de ensilagem de forrageiras tropicais está relacionado ao seu alto teor de umidade no momento ideal de corte e o baixo conteúdo de carboidratos solúveis, resultando perdas de nutrientes por efluente, e por gases oriundos de fermentação (Oliveira et al, 2009). O uso de aditivos absorventes tem como principal função elevar o teor de matéria seca das silagens e diminuir as perdas. Nesse contexto, o farelo de soja, co-produto obtido através da extração de óleo do caroço de soja (Glycine max) pode ser uma alternativa de uso na ensilagem, tendo em vista que essa leguminosa é amplamente encontrada no território Brasileiro. Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a adição de farelo de soja na silagem do capim-Tanzânia em relação às perdas por gases, por efluentes e de matéria seca da silagem.

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Material e Métodos O experimento foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal (LANA), pertencentes à Universidade Federal da Bahia, localizado no município de Salvador, BA, no período de outubro a dezembro de 2011. Para a produção da silagem de capimTanzânia, o mesmo foi cortado a 20 cm do solo para uniformização, sendo vedado por 45 dias e, posteriormente, cortado com altura média de 90 cm e picado para ser ensilado. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos: 1) silagem de capim-Tanzânia sem farelo de soja (testemunha); 2) adição de 10% farelo de soja; 3) adição de 20% farelo de soja; e 4) adição de 30% farelo de soja, com base na matéria natural, com cinco repetições. O aditivo (farelo de soja) foi misturado a silagem de capim-Tanzânia, em seguida, procedendo-se à homogeneização, para cada nível de adição. Posteriomente, realizou-se a ensilagem do material em silos experimentais. Os 20 silos experimentais foram confeccionados utilizando-se tubos de PVC de 100 mm, com 50 cm de comprimento, vedados com tampa e fita plástica. No fundo de cada tubo foi colocado 15 cm de areia separada da forragem por uma tela, de maneira que fosse possível medir a quantidade de efluentes retida. Os silos foram abertos após 30 dias de armazenamento. As perdas sob as formas de gases, efluentes e matéria seca, foram quantificadas por diferença de peso. Para o cálculo da perda por gases, utilizou-se a equação: G = (PCf – PCa), em que G representa perdas por gases; PCf representa o peso do cano cheio no fechamento (kg); PCa refere-se ao peso do cano cheio na abertura (kg). Para o cálculo das perdas por efluentes, a seguinte equação foi utilizada: E = (PVa – PVf), em que E é a perda por efluentes; PVa referese ao peso do cano vazio + peso da areia na abertura (kg); PVf representa o peso do cano vazio + peso da areia no fechamento (kg). Para o cálculo da perda de matéria seca, utilizou-se a equação: PMS = (PMSf – PMSa), em que PMS representa perdas de MS; PMSf representa o peso de MS no fechamento (kg); PMSa refere-se ao peso de MS na abertura dos silos. O efeito da adição de farelo de soja sob as perdas da silagem foram testados por meio de análise de variância e de regressão, utilizando-se o programa estatítico SAS. O efeito da adição dos aditivos sob as variáveis serão testados para os efeitos lineares e quadráticos usando-se o comando PROC REG do programa estatístico. Significância será declarada quando P<0,05. Resultados e Discussão A equação estimada para o efeito dos níveis de farelo de soja sobre o a porcentagem de matéria seca (%MS) da silagem de capim-Tanzânia descreveu um efeito linear positivo (Tabela 1). Este resultado é explicado devido ao elevado teor de MS do aditivo (90%), o que demonstra seu potencial como sequestraste de umidade. Entretanto, este aditivo proporcionou efeito quadrático negativo (P<0,05) nos valores de perdas de matéria seca da silagem, com mínimo valor de 833,54 gramas de matéria seca para o nível de 12,6 % de farelo de soja, valores obtidos por derivação (Tabela 1). Este comportamento pode ser explicado pelo aumento da fermentação e, consequentemente, formação de resíduos metabólicos (gases e água), devido à ação de microorganismos fermentadores presentes na silagem, resultando em perdas de matéria seca (McDonald, 1981). Os valores de perdas por gases apresentaram comportamento quadrático negativo (P<0,05), com valor mínimo de 86,73 gramas de gases para o nível de inclusão de 3,15 % de farelo de soja, valores obtidos por derivação, demonstrando a potencialidade do uso desse aditivo na melhoria da qualidade de silagens de materiais que apresentam elevado teor de umidade. A eficiência desse aditivo na redução das perdas por gases pode ser explicada pela redução do teor de umidade, em decorrência do teor de matéria seca (MS) do aditivo, cerca de 90%. Dessa forma, devido à eficiente ação absorvente de umidade do farelo de soja, houve uma alteração na pressão osmótica do material ensilado, reduzindo a ocorrência de bactérias do gênero clostrídium. Segundo Ribeiro et al. (2008), os clostrídios são sensíveis ao potencial osmótico do meio, sendo assim, pode ter ocorrido uma diminuição da degradação protéica e formação de amônia por esses microrganismos, ocasionando uma menor perda por gases. Dessa forma, pode ter havido ambiente favorável ao desenvolvimento de bactérias láticas e de microorganismos desejáveis na silagem, as quais realizam a fermentação de carboidratos solúveis em ácido lático. Tabela 1. Teor de matéria seca e perdas na silagem de capim-Tanzânia tratada com níveis crescentes de farelo de soja Tratamentos:

Variáveis Matéria Seca (%)1 Perda de MS (g)

2

Perda por Gases (%)

3

Perda por Efluentes (%) 4 1

2

2

C.V. (%)

R2

37

7,05

0,80

881,3

792,0

6,05

0,52

0,70

0,80

10,90

0,93

3,00

0,60

17,27

0,90

0%

10%

20%

30%

22

22

28

607,3

596,3

10,35

1,29

8,27

5,80 2

3

2

4

ŷ = 14,47 + 5,22x – 19,52x ; ŷ = 412,1 + 181,4x – 19,52x ; ŷ = 21,44 – 13,83x + 2,19x ; ŷ = 10,85 – 2,57x

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____________________________________________________________ O acréscimo de farelo de soja reduziu linearmente (P<0,05) a perda por efluentes (Tabela 1). O aditivo elevou consideravelmente o teor de MS das silagens (Tabela 1), reduzindo o teor de umidade do material ensilado, fator este, que está diretamente relacionado com as perdas por efluentes, que podem proporcionar a perda, em solução, de nutrientes que possuem alta digestibilidade e compostos fundamentais para a ocorrência de fermentações desejáveis durante o processo de ensilagem. Estes dados corroboram com aqueles obtidos por Andrade et al.(2010), que ao avaliarem a ensilagem de capim-elefante com subprodutos agrícolas, obtiveram uma redução na percolação de nutrientes via efluente, visto que os aditivos utilizados aumentaram os teores de matéria seca do material ensilado Conclusões A adição de farelo de Soja acima de 10% da matéria natural reduz as perdas na silagem de capim-Tanzânia, elevando sua porcentagem de matéria seca. Literatura citada ANDRADE, I.V.O.; PIRES, A.J.V.; CARVALHO,G.G.P. et al.Perdas, características fermentativas e valor nutritivo da silagem de capim-elefante contendo subprodutos agrícolas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, n.12, p.2578- 2588, 2010. McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: Jonh Wiley & Sons, 1981. 226p. OLIVEIRA, H.C, A.J.V. Pires, A.C. Oliveira.et al. Perdas e valor nutritivo da silagem de capim-Tanzânia amonizado com ureia. Archivos de Zootecnia, 58 (222): 195-202. 2009. RIBEIRO, R.D.X.; OLIVEIRA, R.L.; BAGALDO, A.R. et al. Capim-tanzânia ensilado com níveis de farelo de trigo. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.9, n.4, p. 631-640, 2008.

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____________________________________________________________ Produtividade de forragem e morfogênese de Mesosetum chaseae (Luces) sob diferentes níveis de potássio Newton de Lucena Costa1, Vicente Gianluppi2, Anibal de Moraes3 1

Eng. Agr., M.Sc.,Doutorando em Agronomia/Produção Vegetal, UFPR, Curitiba, Paraná. E-mail: newton@cpafrr.embrapa.br Eng. Agr., M.Sc., Embrapa Roraima, Boa Vista, Roraima 3 Eng. Agr., D.Sc., Professor Associado II, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná. 2

Resumo: O efeito de níveis de potássio (0, 50, 100 e 200 kg de K2O/ha) sobre a produção de forragem e características morfogênicas e estruturais de Mesosetum chaseae (Luces) foi avaliado em condições de campo. A adubação potássica afetou positiva e significativamente (P<0,05) a produção de matéria seca (MS), taxa absoluta de crescimento (TAC), número de perfilhos/planta, número de folhas/perfilho, tamanho médio de folhas, área foliar e taxas de aparecimento, expansão e senescência das folhas. Os máximos rendimentos de MS, TAC, taxas de aparecimento e expansão foliar, número de perfilhos/planta, número de folhas/perfilho, área foliar e tamanho médio de folhas foram obtidos com a aplicação de 167,8; 156,2; 82,7; 101,6; 101,2 e 77,5 kg de K2O/ha, respectivamente. A eficiência de utilização de potássio foi inversamente proporcional às doses aplicadas. Palavras-chave: folhas, matéria seca, perfilhamento, senescência Forage production and morphogenesis of Mesosetum chaseae (Luces) at different potassium levels Abstract: The effect of potassium levels (0, 50, 100 and 200 kg of K2O/ha) on dry matter (DM) yield and morphogenetic and structural characteristics of Mesosetum chaseae (Luces) was evaluated under field conditions. Potassium fertilization increased significantly (P<.05) DM yields, absolute growth rate (AGR), number of tillers/plant, number of leaves/plant, medium blade length, leaf area, leaf senescence rate, leaf appearance and elongation rates. Maximum DM yields, AGR, number of tillers/plant, number of leaves/tiller, leaf area and medium blade length were obtained with the application of 167.8; 156.2; 82.7; 101.6; 101.2 and 77.5 kg of K2O/ha, respectively. The potassium efficiency utilization was inversely proportional to the increased potassium levels. Keywords: dry matter, leaves, tillering, senescence Introdução Em Roraima, os solos sob vegetação de cerrados são caracterizados por baixa fertilidade natural e elevada acidez, o que limita a produtividade e persistência das pastagens, implicando em fraco desempenho zootécnico dos rebanhos. Ensaios exploratórios de fertilidade do solo realizados em Roraima constataram ser a baixa disponibilidade de potássio (K), após a do fósforo, o fator mais limitante ao crescimento das pastagens nativas, reduzindo significativamente os rendimentos e a qualidade de sua forragem (COSTA et al., 2011). O K tem ação fundamental no metabolismo vegetal, notadamente no processo de fotossíntese, atuando nas reações de transformação da energia luminosa em química, além de participar na síntese de proteínas; neutralização de ácidos orgânicos e na regulação da pressão osmótica e do pH dentro da planta; uso mais eficiente da água, através do melhor controle na abertura e fechamento dos estômatos; controle dos movimentos foliares (nastias) e maior eficiência enzimática (LEMAIRE, 2001). Considerando-se o preço dos fertilizantes e sua importância na composição dos custos de produção dos sistemas pecuários, torna-se necessário assegurar sua máxima eficiência, através da determinação das doses mais adequadas para o estabelecimento e manutenção das pastagens. Dentre as diversas gramíneas forrageiras que compõem as pastagens nativas dos cerrados de Roraima, Mesosetum chaseae constitui entre 30 e 40% da sua composição botânica. No entanto, são inexistentes as pesquisas sobre os efeitos da adubação potássica em sua produtividade e características morfogênicas e estruturais, visando à proposição de práticas de manejo mais sustentáveis (COSTA et al., 2008, 2009). A morfogênese de uma gramínea durante seu crescimento vegetativo é caracterizada por três fatores: a taxa de aparecimento, a taxa de expansão e a longevidade das folhas. A taxa de aparecimento e a longevidade das folhas condicionam o número de folhas vivas/perfilho, que são determinadas geneticamente e afetadas pelos fatores ambientais e as práticas de manejo adotadas (LEMAIRE, 2001; SANTOS et al., 2012). O número de folhas vivas por perfilho, constante para cada espécie, constitui critério objetivo na definição dos sistemas de pastejo a serem impostos no manejo das forrageiras. Desta forma, estudos de dinâmica do crescimento de folhas e perfilhos são importantes para a definição de estratégias de manejo específicas para cada gramínea forrageira (SARMIENTO et al., 2006). Neste trabalho foram avaliados os efeitos da adubação potássica sobre a produção de forragem e características morfogênicas e estruturais de Mesosetum chaseae, nos cerrados de Roraima. Material e Métodos O ensaio foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Roraima, localizado em Boa Vista, durante o período de maio a setembro de 2009. O solo da área experimental é um Latossolo Amarelo, textura média, com as seguintes características químicas, na profundidade de 0-20 cm: pHH2O = 4,8; P = 1,8 mg/kg; Ca + Mg = 0,95 cmolc.dm-3; K = 0,01 cmolc.dm-3; Al = 0,61 cmolcdm-3; H+Al = 2,64 cmolc.dm-3 e SB = 0,91 cmolc.dm-3. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso com três

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____________________________________________________________ repetições. Os tratamentos consistiram de quatro níveis de potássio (0, 50, 100 e 200 kg de K2O/ha), aplicados sob a forma de cloreto de potássio. O tamanho das parcelas foi de 2,0 x 3,0 m, sendo a área útil de 2,0 m2. A aplicação do potássio foi realizada a lanço quando da roçagem da pastagem, ao início do experimento. Durante o período experimental foram realizados três cortes a intervalos de 45 dias. Os parâmetros avaliados foram rendimento de matéria seca (MS), taxa absoluta de crescimento (TAC), eficiência de utilização de potássio, número de perfilhos/planta (NPP), número de folhas/perfilho (NFP), taxa de aparecimento de folhas (TAF), taxa de expansão foliar (TEF), taxa de senescência foliar (TSF), tamanho médio de folhas (TMF) e área foliar/perfilho (AF). A TAC foi obtida dividindo-se o rendimento de MS, em cada idade de corte, pelo respectivo período de rebrota. A TEF e a TAF foram calculadas dividindo-se o comprimento acumulado de folhas e o número total de folhas no perfilho, respectivamente, pelo período de rebrota. O TMF foi determinado pela divisão do alongamento foliar total do perfilho pelo seu número de folhas. Para o cálculo da área foliar, em cada idade de rebrota foram coletadas amostras de folhas verdes completamente expandidas, procurando-se obter uma área entre 200 e 300 cm2, sendo estimada com o auxílio de um planímetro ótico eletrônico (Li-Cor, modelo LI-3100C). Posteriormente, as amostras foram levadas à estufa com ar forçado a 65ºC até atingirem peso constante, obtendo-se a MS foliar. A TSF foi obtida dividindo-se o comprimento da folha que se apresentava de coloração amarelada ou necrosada pela idade da planta ao corte. Resultados e Discussão Os rendimentos de MS e as TAC foram significativamente (P<0,05) incrementados pela adubação potássica, sendo as relações quadráticas e descritas, respectivamente, pelas equações: Y = 284,66 + 5,1994 X – 0,01529 X2 (R2 = 0,96) e Y = 6,32 + 0,1156 X – 0,00037 X2 (R2 = 0,96). As doses de máxima eficiência técnica foram estimadas em 167,8 e 156,2 kg de K2O/ha, respectivamente para o rendimento de MS e a TAC. A eficiência de utilização do potássio foi inversamente proporcional às doses utilizadas (Tabela 1). Costa et al. (2009), avaliando os efeitos da adubação potássica (0, 60, 120 e 180 kg de K2O5/ha), em Paspalum atratum cv. Pojuca constatou máxima produção de forragem com a aplicação de 142,8 kg de K2O/ha, contudo, as maiores taxas de eficiência de utilização do potássio foram constatadas sob níveis de fertilização entre 60 e 120 K2O/ha. Os rendimentos de MS registrados neste trabalho foram superiores aos relatados por Costa et al. (2009) para pastagens de M. chaseae, não fertilizadas e submetidas a diferentes frequências de corte (204, 356 e 498 kg de MS/ha, respectivamente para cortes a cada 21, 35 e 42 dias). Tabela 1. Rendimento de matéria seca (MS - kg/ha), taxa absoluta de crescimento (TAC - kg/ha/dia), eficiência de utilização de potássio (EUP - kg de MS/kg de K2O/ha), número de perfilhos/planta (NPP), número de folhas/perfilho (NFP), tamanho médio de folhas (TMF - cm), área foliar (AF - cm2/perfilho), taxa de aparecimento de folhas (TAF folhas/perfilho.dia), taxa de expansão foliar (TEF - cm/perfilho.dia) e taxa de senescência foliar (TSF cm/perfilho.dia) de Mesosetum chaseae, em função da adubação potássica. Doses de TAC EUP NPP NFP TMF AF TAF TEF TSF MS1 K2O/ha 0 298c 6,62c --4,81c 4,72c 3,84c 2,77c 0,104d 0,41d 0,055d 50 471b 10,47b 9,42a 7,03b 5,54b 4,96b 4,12b 0,123c 0,61c 0,082c 100 679a 15,09a 6,79b 7,82a 6,12a 5,82a 5,34a 0,136b 0,79b 0,104b 200 711a 15,80a 3,56c 8,02a 6,54a 6,08a 5,96a 0,145a 0,88a 0,133a - Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (P > 0,05) pelo teste de Tukey 1 - Totais de três cortes

Para o NPP, NFP, AF e TMF as relações foram ajustadas ao modelo quadrático de regressão e definidas, respectivamente, pelas equações: Y = 4,8894 + 0,0463 X – 0,000281 X2 (R2 = 0,95), Y = 4,7195 + 0,0189 X – 0,000093 X2 (R2 = 0,934), Y = 2,7311 + 0,0344 X – 0,00017 X2 (R2 = 0,94) e Y = 3,8215 + 0,0279 X – 0,00018 X2 (R2 = 0,948), sendo os máximos valores obtidos com a aplicação de 82,7; 101,6; 101,2 e 77,5 kg de K2O/ha. As correlações entre o rendimento de MS e o NPP (r = 0,9583; P=0,0021) e o NFP (r = 0,9858; P=0,0012) foram positivas e significativas, as quais explicaram em 91,8 e 97,1%, respectivamente, os incrementos verificados nos rendimentos de forragem da gramínea, em função da adubação potássica. Os valores registrados, neste trabalho, para o NPP, NFP, TMF e AF foram inferiores aos reportados por Costa et al. (2008) para M. chaseae, que estimaram 5,8 perfilhos/planta; 6,2 folhas/perfilho, 6,9 cm/folha e 6,8 cm2/perfilho. O potencial de perfilhamento de um genótipo, durante o estádio vegetativo, depende de sua velocidade de emissão de folhas, as quais produzirão gemas aptas a originar novos perfilhos, dependendo das condições ambientais (luz, fotoperíodo, água e temperatura), balanço hormonal, florescimento e das práticas de manejo adotadas (LEMAIRE, 2001; SARMIENTO et al., 2006). O NFV, constante a partir do momento em que a TSF se iguala a TApF, constitui critério objetivo e prático para a definição dos períodos de descanso na lotação contínua e a intensidade de pastejo na lotação rotacionada. As relações entre adubação potássica, TAF e TEF foram ajustadas ao modelo linear de regressão e descritas, respectivamente, pelas equações: Y = 0,1098 + 0,00021 X (R2 = 0,973) e Y = 0,4721 + 0,00234 X (R2 = 0,965) (Tabela 1). A TAF e a TEF apresentam uma correlação negativa, indicando que quanto maior a TAF, menor será o tempo disponível para o alongamento das folhas (COSTA et al., 2011). Neste trabalho, a correlação entre estas duas variáveis foi positiva e significativa (r = 0,9983; P=0,0011), possivelmente como consequência da maior fertilidade do solo, a qual contribuiu positivamente para a maximização das características morfogênicas da gramínea. Lemaire (2001) observou que a

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____________________________________________________________ TEF foi positivamente correlacionada com a quantidade de folhas verdes remanescentes no perfilho após a desfolhação, sendo o tamanho do perfilho o responsável pela longa duração da TEF. Neste trabalho, a correlação foi positiva e significativa (r = 0,9984; P=0,0011), evidenciando a sincronia entre estas duas variáveis. A relação entre níveis de potássio e a TSF foi linear e definida pela equação: Y = 0,0662 + 0,000342 X (r2 = 0,98). Os valores registrados neste trabalho foram inferiores aos reportados por Costa et al. (2008) para M. chaseae que estimaram uma TSF de 0,187 cm/perfilho.dia, para plantas avaliadas aos 45 dias de rebrota. Costa et al. (2009), avaliando genótipos de Paspalum, reportou maiores TSF com a aplicação de 60 (0,126 cm/perfilho.dia) ou 120 kg de K2O/ha (0,134 cm/perfilho.dia), comparativamente a 30 kg de K2O/ha (0,072 cm/perfilho.dia). A senescência é um processo natural que caracteriza a última fase de desenvolvimento de uma folha, o qual é iniciado após a completa expansão das primeiras folhas, cuja intensidade se acentua progressivamente com o aumento da área foliar, a qual implica no sombreamento das folhas inseridas na porção inferior do colmo (LEMAIRE, 2001). Apesar do efeito negativo sobre a qualidade da forragem, a senescência representa um importante processo fisiológico no fluxo de tecidos da gramínea, pois cerca de 50% do carbono e 80% do nitrogênio podem ser reciclados das folhas senescentes e utilizados para a produção de novos tecidos foliares (SANTOS et al., 2012). Sarmiento et al. (2006), para diversas gramíneas nativas do cerrado, estimaram eficiências de retranslocação de 34,9; 68,4; 86,9 e 42,2%, respectivamente para nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio. Ademais, a capacidade de remobilização dos nutrientes entre os diferentes órgãos da planta ocorre em uma velocidade superior à taxa de sua absorção pelas raízes. Conclusões A adubação potássica afetou positivamente a produção de MS, a taxa absoluta de crescimento e as características morfogênicas e estruturais da gramínea. A eficiência de utilização de potássio foi inversamente proporcional às doses aplicadas. Literatura citada COSTA, N. de L.; GIANLUPPI, V.; BRAGA, R.M.; BENDAHAN, A.B.; MATTOS, P.S.R.; VILARINHO, A.A.; OLIVEIRA, J.M.F. Alternativas tecnológicas para a pecuária de Roraima. Boa Vista: Embrapa Roraima, 35p. 2009 (Documentos, 19). COSTA, N. de L.; GIANLUPPI, V.; MORAES, A.; BENDAHAN, A.B. Produtividade de forragem e características morfogênicas e estruturais de Axonopus aureus nos cerrados de Roraima. Amazônia Ciência & Desenvolvimento, Belém, v.6, n.12, p.7-22, 2011. COSTA, N. de L.; MATTOS, P.S.R.; BENDAHAN, A.B. et al. Morfogênese de duas gramíneas forrageiras nativas dos lavrados de Roraima. Pubvet, Londrina, v.2, n.43, Art#410, 2008. LEMAIRE, G. Ecophysiological of grasslands. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, 19., 2001, São Paulo, Proceedings… São Paulo: ESALQ, 2001, p.29-37. SANTOS, M.E.R.; FONSECA, D.M.; GOMES, V.M.; SILVA, S.P.; SILVA, G.P.; CASTRO, M.R.S. Correlações entre características morfogênicas e estruturais em pastos de capim-braquiária. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v.13, n.1; p.49-56, 2012. SARMIENTO, G.; SILVA, M.P.; NARANJO, M.E.; PINILLOS, M. Nitrogen and phosphorus as limiting factors for growth and primary production in a flooded savanna in the Venezuelan Llanos. Journal of Tropical Ecology, Cambridge, v.22, p.203-212, 2006.

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____________________________________________________________ Produtividade de forragem e eficiência de utilização da radiação em pastagens de Mesosetum chaseae (Luces) nos cerrados de Roraima Newton de Lucena Costa1, Vicente Gianluppi2, Anibal de Moraes3 1

Eng. Agr., M.Sc.,Doutorando em Agronomia/Produção Vegetal, UFPR, Curitiba, Paraná. E-mail: newton@cpafrr.embrapa.br Eng. Agr., M.Sc., Embrapa Roraima, Boa Vista, Roraima 3 Eng. Agr., D.Sc., Professor Associado II, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná. 2

Resumo: O efeito da idade de rebrota (21, 28, 35, 42, 49, 56, 63 e 70 dias) sobre a produtividade de matéria seca (MS) e a eficiência de utilização da radiação (EUR) de Mesosetum chaseae (Luces) durante o período chuvoso, foi avaliado em condições de campo, nos cerrados de Roraima. O aumento da idade das plantas resultou em maiores rendimentos de forragem, taxa absoluta de crescimento, taxa de crescimento da cultura, taxa de crescimento relativo e área foliar. As relações entre idade das plantas, rendimento de MS, taxa absoluta de crescimento e EUR foram ajustadas ao modelo quadrático de regressão, sendo os máximos valores registrados aos 53,9; 39,5 e 39,3 dias de rebrota, respectivamente. A resposta da produtividade de forragem à RFA incidente foi quadrática e o máximo valor estimado em 443,1 MJ/m2, o qual correspondeu a 205 kg de MS/ha. Visando conciliar produtividade de forragem da gramínea com a maximização da EUR, o período de utilização mais adequado de suas pastagens situa-se entre 42 e 49 dias de rebrota. Palavras–chave: área foliar, idade da planta, matéria seca, taxa de crescimento Forage production and radiation use efficiency of Mesosetum chaseae (Luces) pastures in the Roraima’s savannas Abstract: The effects of cutting plant age (21, 28, 35, 42, 49, 56, 63 and 70 days) on dry matter (DM) yield, and radiation use efficiency (RUE) of Mesosetum chaseae (Luces), during rainy season, were evaluated under natural field conditions in Roraima´s savannas. DM yields, absolute growth rate (AGR), crop growth and relative growth rates and leaf area increased consistently with growth stage. The relations between DM yield and AGR with cutting plants age were described by the quadratic regression model. The maximum DM yield, AGR and RUE were estimated at 53.9; 39.5 and 39.3 days of regrowth, respectively. The response of forage yield to incident photosynthetically active radiation was quadratic and maximum value estimated at 443.1 MJ/m2, which corresponded to 205 kg of DM/ha. These data suggest that cutting at 42 to 49 days were optimal for obtain maximum dry matter yields and improved the incident RUE. Keywords: dry matter, growth rates, leaf area, plant age Introdução Nos cerrados de Roraima, as pastagens nativas representam a fonte mais econômica para alimentação dos rebanhos. No entanto, face às oscilações climáticas, a produção de forragem durante o ano apresenta flutuações estacionais, ou seja, abundância no período chuvoso (maio a setembro) e déficit no período seco (outubro a abril), o que afeta negativamente os índices de produtividade animal (COSTA et al., 2008). A utilização de práticas de manejo adequadas é uma das alternativas para reduzir os efeitos da estacionalidade na produção de forragem. O estádio de crescimento em que a planta é colhida afeta diretamente o rendimento, a composição química, a capacidade de rebrota e a sua persistência. Em geral, pastejos menos frequentes fornecem maiores produções de forragem, porém, concomitantemente, ocorrem decréscimos acentuados em sua composição química, reduções na relação folha/colmo e, consequentemente, menor consumo pelos animais (COSTA et al., 2008). Da energia incidente sobre a Terra, apenas 5%, ao redor de 0,2 MJ/m2.dia é aproveitado pelas plantas para a formação de carboidratos. A radiação fotossinteticamente ativa (RFA), que compreende comprimentos de ondas entre 350 e 750 nm, é a responsável pela fotossíntese e representa entre 45 e 50% da radiação solar incidente (BALDISSERA, 2010). A eficiência do uso da radiação depende da interação entre a vegetação e o ambiente, que define como os processos de fotossíntese e transpiração serão afetados pelos elementos climáticos e edáficos ou como a estrutura do dossel da pastagem influencia a quantidade de radiação incidente que atinge os seus diferentes estratos e sua absorção pelas plantas (BONHOMME, 2000). A relação entre a produção de MS e RFA interceptada ou absorvida tem sido utilizada para definir a eficiência de uso da radiação pelas culturas, a qual pode apresentar uma linearidade em condições bióticas e ambientais não limitantes (SIVAKUMAR & VIRMANI, 1984; BONHOMME, 2000), mormente quando se considera a comunidade de plantas e não a folha isoladamente. Entretanto, nem sempre há um aumento linear na produtividade de MS, em função da radiação interceptada, evidenciando que há outros fatores relacionados, como potencial genético, hábito de crescimento, arquitetura foliar, práticas de manejo da pastagem e disponibilidade de água e nutrientes (BALDISSERA, 2010). Neste trabalho foram avaliados os efeitos da idade das plantas sobre a produtividade de forragem e a eficiência de utilização da radiação incidente em pastagens de Mesosetum chaseae (Luces), nos cerrados de Roraima.

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____________________________________________________________ Material e Métodos O ensaio foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Roraima, localizado em Boa Vista, durante o período de maio a julho de 2008. O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é Awi, caracterizado por períodos seco e chuvoso bem definidos, com aproximadamente seis meses cada um. A precipitação anual é de 1.600 mm, sendo que 80% ocorrem nos seis meses do período chuvoso. O solo da área experimental é um Latossolo Amarelo, textura média, com as seguintes características químicas, na profundidade de 0-20 cm: pHH2O= 4,8; P = 1,8 mg/kg; Ca = 0,25 cmolc.dm-3; Mg = 0,65 cmolc.dm-3 ; K = 0,01 cmolc.dm-3; Al = 0,61 cmolcdm-3; H+Al = 2,64 cmolc.dm-3; SB = 0,91 cmolc.dm-3; V(%) = 25,6 e m (%) = 40. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três repetições, sendo os tratamentos constituídos por oito idades de corte (21, 28, 35, 42, 49, 56 e 63 dias após a roçagem da pastagem). O tamanho das parcelas foi de 2,0 x 2,0 m, sendo a área útil de 1,0 m2. Os parâmetros avaliados foram rendimento de matéria seca (MS), taxa absoluta de crescimento (TAC), taxa de crescimento da cultura (TCC), taxa de crescimento relativo (TCR) e área foliar/perfilho (AF). A TAC foi obtida dividindo-se o rendimento de MS, em cada idade de corte, pelo respectivo período de rebrota. A TCC foi obtida pela formula: TCC = P2 - P1/T2 - T1; onde P1 e P2 representam a produtividade de MS de duas amostragens sucessivas e,T1 e T2 o intervalo de tempo, em dias, transcorrido entre as amostragens. A TCR foi obtida pelo uso da expressão: TCR= LnP2 - LnP1/T2 - T1; onde LnP1 e LnP2 são os valores de logaritmos da MS de duas amostragens sucessivas e, T1 e T2 o intervalo de tempo, em dias, transcorrido entre as amostragens. Para o cálculo da área foliar, em cada idade de rebrota foram coletadas amostras de folhas verdes completamente expandidas, procurando-se obter uma área entre 200 e 300 cm2, sendo estimada com o auxílio de um planímetro ótico eletrônico (Li-Cor, modelo LI-3100C). Posteriormente, as amostras foram levadas à estufa com ar forçado a 65ºC até atingirem peso constante, obtendo-se a MS foliar. Os dados de radiação solar foram coletados na Estação Climatológica do Instituto Nacional de Meteorologia localizada em Boa Vista (95 m de altitude, 2º49´de latitude norte e 60º40´de longitude oeste). A Eficiência de Conversão da Radiação Incidente (ECRI) foi obtida através da fórmula: ECRI (%) = Produção de MS x Conteúdo Energia na MS ÷ RFA. A RFA incidente acumulada foi de 157; 212; 263; 314; 369; 425 e 477 MJ/m2, respectivamente para 21, 28, 35, 42, 49, 56 e 63 dias de rebrota. Resultados e Discussão As relações entre idades de rebrota, produção de MS e TAC foram quadráticas e descritas, respectivamente, pelas equações: Y = -146,8095 + 13,32651 X – 0,12342 X2 (R2 = 0,95) e Y = -0,3371 + 0,26124 X – 0,00331 X2 (R2 = 0,98), sendo os valores máximos estimados aos 53,9 e 39,5 dias (Tabela 1). Os valores registrados neste trabalho foram inferiores aos relatados por Mochiutti et al. (1997) e Rodrigues (1999), avaliando a disponibilidade de forragem de M. chaseae, em pastagens nativas dos cerrados do Amapá e do Pantanal, os quais estimaram, respectivamente, rendimentos de 358 e 612 kg/ha de MS para as pastagens roçadas e, 343 e 417 kg/ha de MS para as pastagens queimadas anualmente. Da mesma forma, Costa et al. (2008) verificaram incrementos na produção de forragem de M. chaseae, em função da idade das plantas, registrando rendimentos de 825 e 1.234 kg de MS/ha, respectivamente aos 30 e 60 dias de rebrota. Rodrigues (1999) reportou uma TAC de 14,1 e 22,4 kg de MS/ha/dia, respectivamente para pastagens de M. chaseae submetidas a roçagem e queima, as quais foram superiores às registradas neste trabalho. A TCC foi inversamente proporcional às idades de rebrota, sendo a relação linear e definida pela equação: Y = 72,2375 – 1,03571 X (r2 = 0,8832), enquanto que a TCR foi ajustada ao modelo exponencial (Y = 5,3444.e(-0,1241 X) - r2 = 0,8844) (Tabela 1). Os máximos rendimentos de MS foram registrados no período entre 28 e 35 dias de rebrota, os quais foram superiores aos reportados por Costa et al. (2008) para pastagens de A. aureus submetidas a roçagem (19,71 kg/ha/dia e 0,0627 g.g/dia). As altas taxas de crescimento durante os períodos iniciais de rebrota representam um mecanismo de adaptação visando à sua maior competitividade em relação às demais gramíneas que ocorrem no ecossistema (COSTA et al., 2008). A AF foi diretamente proporcional às idades de rebrota, sendo a relação linear e descrita pela equação: Y = -1,0381 + 0,2164 X (r2 = 0,9588), contudo os valores registrados foram inferiores aos reportados por Costa et al. (2008), avaliando A. aureus, em condições de campo, que estimaram 51,71 cm2/perfilho para plantas avaliadas aos 45 dias de rebrota. Rendimento de matéria seca (MS - kg/ha), taxa absoluta de crescimento (TAC - kg/ha/dia), taxa de crescimento da cultura (TCC - kg/ha/dia), taxa de crescimento relativo (g.g./dia), área foliar (AF - cm2/perfilho), eficiência de utilização da radiação (EUR - g de MS/m2/dia.MJ) e eficiência de conversão da radiação incidente (ECRI - %) de Mesosetum chaseae, em função da idade das plantas. Idade (dias) MS TAC TCC TCR AF EUR ECRI 21 61 c 2,90 d ----0,71 e 0,039 d 0,016 d 28 158 b 5,64 a 13,85 a 0,1359 a 1,62 e 0,062 a 0,031 a 35 169 b 4,83 ab 1,57 b 0,0096 c 4,49 d 0,064 a 0,026 b 42 191 a 4,55 c 3,14 b 0,0175 b 8,63 c 0,059 ab 0,025 b 49 199 a 4,06 bc 1,14 b 0,0059 c 11,36 b 0,054 bc 0,022 bc 56 208 a 3,71 cd 1,28 b 0,0063 c 13,13 b 0,049 c 0,020 cd 63 211 a 3,35 cd 0,43 b 0,0021 c 15,51 a 0,037 d 0,018 cd

Tabela 1.

- Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (P > 0,05) pelo teste de Tukey

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____________________________________________________________ A resposta da produtividade de forragem à RFA incidente foi quadrática (Y = -10,1587 + 0,20362 X – 0,000919 X2 - R2 = 0,9459), sendo o máximo valor estimado em 443,1 MJ/m2, o qual correspondeu a 205 kg de MS/ha. Em pastagens de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.), Baldissera (2010) reportou uma relação linear entre produção de MS e RFA absorvida, a qual foi positivamente incrementada pela aplicação de doses de nitrogênio (1.193; 3.216; 4.105 e 6.408 kg de MS/ha, respectivamente para 0, 50, 100 e 200 kg de N/ha). A eficiência de produção de MS, em função da RFA incidente, foi ajustada ao modelo quadrático de regressão (Y = -0,0191 + 0,00413 X – 0,00021 X2 - R2 = 0,9165). O máximo valor foi estimado aos 39,3 dias de rebrota (0,063 g de MS/m2/dia.MJ), o qual foi inferior ao constatado por Baldissera (2010) para pastagens de azevém anual não fertilizadas com nitrogênio (0,296 g de MS/m2/dia.MJ) e representou apenas 4% do estimado por Sivakumar & Virmani (1984) para pastagens de azevém fertilizadas com 150 kg de N/ha (1,487 g de MS/m2/dia.MJ). O aumento linear na AF da gramínea, em função das idades das plantas, não foi correlacionado com a EUR (r = -0,3418; p=0,4531), evidenciando um efeito de sombreamento das folhas superiores sobre as inseridas na porção basal da planta, as quais têm suas taxas de fotossíntese reduzidas, o que contribui para menores incrementos no acúmulo de forragem, apesar da elevada disponibilidade de RFA. A ECRI foi ajustada ao modelo quadrático de regressão (Y = -0,0191 + 0,00413 X – 0,00021 X2 - R2 = 0,9165), sendo o máximo valor estimado aos 33,9 dias de rebrota. Os valores obtidos foram inferiores aos reportados por Costa et al. (2008) para A. aureus (0,056; 0,071 e 0,092%, respectivamente para 35, 42 e 49 dias de rebrota). Conclusões A idade de rebrota afeta os rendimentos de forragem, taxas de crescimento, área foliar e eficiência de utilização e conversão da radiação da gramínea. Visando conciliar produtividade forragem com a otimização da eficiência de utilização da radiação incidente, o período de mais adequado para o manejo pastagens de Mesosetum chaseae, situa-se entre 42 e 49 dias de rebrota. Literatura citada BALDISSERA, T.C. Modelagem do crescimento de azevém anual sob pastejo. Curitiba: UFPR, 2010. 78p. (Dissertação de Mestrado). BONHOMME, R. Beware of comparing RUE values calculated from PAR vs. solar radiation or absorbed vs. intercepted radiation. Field Crops Research, v.68, p.247–252, 2000. COSTA, N. de L.; MATTOS, P.S.R.; BENDAHAN, A.B.; BRAGA, R.M. Morfogênese de duas gramíneas forrageiras nativas dos lavrados de Roraima. Pubvet, Londrina, v.2, n.43, Art#410, 2008. MOCHIUTTI, S.; SOUZA FILHO, A.P.; MEIRELLES, P.R.L. Efeito da freqüência e época de queima sobre os rendimentos de pastagem nativa de cerrado do Amapá. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 34., 1997, Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: SBZ, 1997, 3p. RODRIGUES, C.A.G. Efeitos do fogo e da presença animal sobre a biomassa aérea e radicular, nutrientes do solo, composição florística, fenologia e dinâmica de um campo de capim-corona (Elyonurus muticus (Spreng.)O.Ktze) no Pantanal (Sub-região de Nhecolândia). Campinas:UNICAMP, 1999, 282p. (Tese de Doutorado). SIVAKUMAR, M.V.K.; VIRMANI, S.M. Crop productivity in relation to interception of photosynthetically active radiation. Agricultural and Forest Meteorology, v.31, n.1, p.131-141, 1984.

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____________________________________________________________ Produtividade de forragem e morfogênese de Axonopus aureus sob diferentes níveis de desfolhação Newton de Lucena Costa1, Vicente Gianluppi2, Anibal de Moraes3 1

Eng. Agr., M.Sc.,Doutorando em Agronomia/Produção Vegetal, UFPR, Curitiba, Paraná. E-mail: newton@cpafrr.embrapa.br Eng. Agr., M.Sc., Embrapa Roraima, Boa Vista, Roraima 3 Eng. Agr., D.Sc., Professor Associado II, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná. 2

Resumo: O efeito de níveis de desfolhação (5, 10, 15, 20, 25 e 30 cm acima do solo) sobre a produção de forragem e características morfogênicas e estruturais de Axonopus aureus foi avaliado nos cerrados de Roraima. Os efeitos dos níveis de desfolhação sobre a produção de matéria seca, taxa absoluta de crescimento, número de folhas/perfilho, tamanho médio de folhas, área foliar e taxas de aparecimento e expansão de folhas foram quadráticos e os máximos valores registrados com cortes a 19,2; 17,5; 20,7; 27,2; 24,3; 20,5 e 25,9 cm acima do solo, respectivamente. A densidade populacional de perfilhos foi diretamente proporcional ao nível de desfolhação, ocorrendo o inverso quanto à taxa de senescência foliar. A eliminação de meristemas apicais foi incrementada com o aumento do nível de desfolhação. O vigor de rebrota foi direta e negativamente correlacionado com o nível de desfolhação. Palavras-chave: folhas, matéria seca, perfilhamento, senescência Forage production and morphogenesis of Axonopus aureus under different defoliation levels Abstract: The effect of defoliation levels (5, 10, 15, 20, 25 and 30 cm above soil level) on dry matter (DM) yield and morphogenetic and structural characteristics of Axonopus aureus was evaluated under field conditions in Roraima´s savannas. The effects of defoliation levels on the DM yields, absolute growth rate, number of leaves/plant, medium blade length, leaf area, leaf appearance and elongation rates were quadratics and maximum values recorded with cutting at 19.2; 17.5; 20.7; 27.2; 24.3; 20.5 e 25.9 cm above soil level. The population tiller density was directly proportional to the level of defoliation, while the opposite occurred for to leaf senescence rate. Apical meristem removing percentage was higher with increasing defoliation level. Aftermath regrowth showed close negative correlation with defoliation level. Keywords: dry matter, leaves, tillering, senescence Introdução Nos cerrados de Roraima, as pastagens nativas representam a fonte mais econômica para a alimentação dos rebanhos. Dentre as diversas gramíneas forrageiras que compõem o ecossistema, Axonopus aureus é uma das mais importantes, representando entre 30 e 40% da sua composição botânica (COSTA et al., 2009). A produtividade e a perenidade das pastagens decorrem, entre outros fatores, da capacidade de reconstituição e manutenção da área foliar após a desfolhação, a qual afeta a estrutura do dossel, determinando sua velocidade de crescimento, acúmulo de forragem, composição química e persistência. A intensidade de desfolhação indica a proporção do tecido vegetal removido pelo animal em relação ao disponibilizado para pastejo, impactando fortemente a área foliar fotossinteticamente ativa remanescente, a remobilização de resevas orgânicas e a remoção de meristemas apicais (LEMAIRE et al., 2011). A morfogênese de uma gramínea durante seu crescimento vegetativo é caracterizada por três fatores: a taxa de aparecimento, a taxa de expansão e a longevidade das folhas. A taxa de aparecimento e a duração e vida das folhas condicionam o número de folhas vivas/perfilho, as quais são determinadas geneticamente e podem ser afetadas pelos fatores ambientais e práticas de manejo adotadas (LEMAIRE et al., 2011; SANTOS et al., 2012). O número de folhas vivas por perfilho, constante para cada espécie, constitui critério objetivo na definição dos sistemas de pastejo a serem impostos no manejo das forrageiras. Desta forma, estudos de dinâmica do crescimento de folhas e perfilhos de gramíneas forrageiras perenes são importantes para a definição de estratégias de manejo específicas e sustentáveis (SARMIENTO et al., 2006). Neste trabalho avaliou-se o efeito de níveis de desfolhação sobre a produção de forragem e características morfogênicas e estruturais de pastagens de Axonopus aureus nos cerrados de Roraima. Material e Métodos O ensaio foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Roraima, localizado em Boa Vista, durante o período de junho a setembro de 2008. O solo da área experimental é um Latossolo Amarelo, textura média, com as seguintes características químicas, na profundidade de 0-20 cm: pHH2O = 4,8; P = 1,8 mg/kg; Ca + Mg = 0,95 cmolc.dm-3; K = 0,01 cmolc.dm-3; Al = 0,61 cmolcdm-3; H+Al = 2,64 cmolc.dm-3 e SB = 0,91 cmolc.dm-3. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso com três repetições. Os tratamentos consistiram de seis níveis de desfolhação (5, 10, 15, 20, 25 e 30 cm acima do solo). O tamanho das parcelas foi de 2,0 x 3,0 m, sendo a área útil de 2,0 m2. Durante o período experimental foram realizados três cortes a intervalos de 35 dias. Os parâmetros avaliados foram rendimento de matéria seca (MS), taxa absoluta de crescimento (TAC), densidade populacional de perfilhos (DPP), número de folhas/perfilho (NFP), taxa de aparecimento de folhas (TAF), taxa de expansão foliar

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____________________________________________________________ (TEF), taxa de senescência foliar (TSF), tamanho médio de folhas (TMF) e área foliar/perfilho (AF). A TAC, TEF e TAF foram obtidas dividindo-se o rendimento de MS, o comprimento acumulado de folhas e o número total de folhas no perfilho, respectivamente, pelo período de rebrota. O TMF foi determinado pela divisão do alongamento foliar total do perfilho pelo seu número de folhas. Para o cálculo da área foliar, em cada idade de rebrota foram coletadas amostras de folhas verdes completamente expandidas, procurando-se obter uma área entre 200 e 300 cm2, sendo estimada com o auxílio de um planímetro ótico eletrônico (Li-Cor, modelo LI-3100C). Posteriormente, as amostras foram levadas à estufa com ar forçado a 65ºC até atingirem peso constante, obtendo-se a MS foliar. A TSF foi obtida dividindo-se o comprimento da folha que se apresentava de coloração amarelada ou necrosada pelo período de rebrota. A sobrevivência dos meristemas apicais foi estimada relacionando-se com o número total de perfilhos aqueles que se apresentavam com folhas novas truncadas, sete dias após o corte das plantas. O vigor de rebrota foi avaliado através da produção de MS aos 21 dias após o corte à idade do primeiro corte. Resultados e Discussão Os rendimentos de MS e as TAC foram afetados (P<0,05) pelos níveis de desfolhação, sendo as relações quadráticas e descritas, respectivamente, pelas equações: Y = 164,7 + 215,82 X – 5,4164 X2 (R2 = 0,953) e Y = 4,7047 + 6,1663 X - 0,1548 X2 (R2 = 0,943). Os máximos valores foram estimados com desfolhações a 19,2 e 17,5 cm, respectivamente para o rendimento de MS e a TAC (Tabela 1). O primeiro efeito da desfolhação é uma resposta plástica da planta para adaptação às modificações em seu ambiente e através do mecanismo de escape há adaptações morfogênicas e arquiteturais que reduzem a acessibilidade das folhas ao pastejo animal. Na maior intensidade de desfolhação a competição por luz é atenuada devido à maior remoção da área foliar, contudo, nessa condição as plantas tendem a desenvolver folhas mais curtas e menor acúmulo de forragem (LEMAIRE et al., 2011). A redução no nível de desfolhação assegura a retenção de maior área foliar fotossinteticamente ativa e maior remobilização de nutrientes, cerca de 50% do nitrogênio e 80% do carbono, das folhas senescentes para a produção de novos tecidos foliares, resultando em maior velocidade de recuperação e menor intervalo entre pastejos (SARMIENTO et al., 2006; LEMAIRE et al., 2011). Palhano et al. (2005) e Costa et al. (2009) estimaram maiores rendimentos de MS para pastagens de Panicum maximum cv. Mombaça e Brachiaria brizantha cv. Xaraés, respectivamente, mantidas sob resíduos de 60 (5.328 kg ha-1) ou 25 cm (5.240 kg ha-1), comparativamente a 120 (1.399 kg ha-1) ou 15 cm (2.540 kg ha-1). Costa et al. (2009) constataram relação linear negativa entre TAC e altura da pastagem de Trachypogon vestitus (68,3; 51,4 e 44,1 kg de MS ha-1 dia-1, respectivamente para 10, 20 e 30 cm). A remoção de meristemas apicais foi inversamente proporcional ao nível de desfolhação (Y = 91,667 - 1,6971x – r2 = 0,983). Costa et al. (2009), em pastagens de P. maximum cv. Centenário, reportaram maior remoção de meristemas apicais com cortes a 20 cm acima do solo (79,3%), comparativamente a 30 (50,7%) ou 40 cm (36,1%), a qual foi negativamente correlacionada com a produção de forragem. O vigor de rebrota foi afetado pelos níveis de desfolhação (P<0,05), sendo a relação linear e descrita pela equação Y = 179,6 + 16,909x (r2 = 0,958). Comportamento semelhante foi obtido por Costa et al. (2009) para pastagens de Andropogon gayanus cv. Planaltina, sendo o vigor de rebrota diretamente proporcional ao nível de desfolhação (671; 921 e 1.132 kg de MS/21 dias, respectivamente para 10; 20 e 30 cm acima do solo). Tabela 1. Rendimento de matéria seca (MS - kg/ha), taxa absoluta de crescimento (TAC - kg/ha/dia), remoção de meristemas apicais (RMA - %), densidade populacional de perfilhos m-2 (DPP), número de folhas/perfilho (NFP), tamanho médio de folhas (TMF - cm), área foliar (AF - cm2/perfilho), taxa de aparecimento de folhas (TAF folhas/perfilho.dia), taxa de expansão foliar (TEF - cm/perfilho.dia) e taxa de senescência foliar (TSF cm/perfilho.dia) de Axonopus aureus, em função do nível de desfolhação. Níveis de MS1 TAC RMA DPP NFP TMF AF TAF TEF TSF desfolhação (cm) 5 1.121 c 32,02 e 85,7 a 829 a 5,11 e 14,92 c 20,01 c 0,121 d 2,28 bc 0,123 e 10 1.698 b 48,51 d 73,6 b 781 ab 5,80 d 18,83 b 23,08 c 0,138 c 2,59 bc 0,153 d 15 2.287 a 65,34 ab 63,4 bc 731 bc 6,92 b 18,60 b 32,09 b 0,157 b 3,06 ab 0,165 c 20 2.377 a 67,91 a 56,5 cd 689 cd 7,93 a 21,10 a 41,67 a 0,171 a 3,56 a 0,195 b 25 2.009 a 57,40 bc 51,9 d 634 de 7,12 ab 20,56 a 36,49 b 0,159 b 3,47 a 0,264 a 30 1.835 b 52,42 cd 40,7 e 611 e 6,42 c 21,42 a 35,87 b 0,143 c 3,41 a 0,277 a - Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (P > 0,05) pelo teste de Tukey 1 - Totais de três cortes

Para o NFP, AF e TMF as relações foram ajustadas ao modelo quadrático de regressão e definidas, respectivamente, pelas equações: Y = 2,96 + 0,4301 X - 0,0104 X2 (R2 = 0,891), Y = 6,0905 + 2,6178 X - 0,0537 X2 (R2 = 0,871) e Y = 12,471 + 0,6419 X - 0,0118 X2 (R2 = 0,901) sendo os máximos valores obtidos com desfolhações a 20,7; 24,3 e 27,2 cm acima do solo. As correlações entre o rendimento de MS e o NPP (r = 0,9281; P=0,0025) e o NFP (r = 0,9548; P=0,0016) foram positivas e significativas, as quais explicaram em 86,1 e 91,2%, respectivamente, os incrementos verificados nos rendimentos de forragem da gramínea, em função dos níveis de desfolhação. Os valores registrados, neste trabalho, para o NFP, TMF e AF foram superiores aos reportados por Costa et al. (2008) para pastagens de A.aureus mantidas sob resíduo de 20 cm, que estimaram 4,7 folhas/perfilho; 9,3 cm/folha e 17,8 cm2/perfilho. A DPP foi inversamente proporcional ao nível de desfolhação, sendo a relação linear e descrita pela equação: Y = 869,8 - 8,9886 X (r2 = 0,992). O potencial de perfilhamento de um genótipo, durante o estádio

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____________________________________________________________ vegetativo, depende de sua velocidade de emissão de folhas, as quais produzirão gemas aptas a originar novos perfilhos, dependendo das condições ambientais (luz, fotoperíodo, água e temperatura), balanço hormonal, florescimento e das práticas de manejo adotadas (SARMIENTO et al., 2006; LEMAIRE et al., 2011). As relações entre níveis de desfolhação, TAF e TEF foram ajustadas ao modelo quadrático de regressão e descritas, respectivamente, pelas equações: Y = 0,082 + 0,0082 X - 0,0002 X2 (R2 = 0,941) e Y = 1,514 + 0,1507 X - 0,0029 X2 (R2 = 0,951) (Tabela 1). A TAF e a TEF apresentam uma correlação negativa, indicando que quanto maior a TAF, menor será o tempo disponível para o alongamento das folhas (COSTA et al., 2009; SANTOS et al., 2012). Neste trabalho, a correlação entre estas duas variáveis foi positiva e significativa (r = 0,9123; P=0,0072), possivelmente como consequência da maior fertilidade do solo, a qual contribuiu positivamente para a maximização das características morfogênicas da gramínea. Lemaire et al. (2011) observaram que a TEF foi positivamente correlacionada com a quantidade de folhas verdes remanescentes no perfilho após a desfolhação, sendo o tamanho do perfilho o responsável pela longa duração da TEF. Neste trabalho, a correlação foi positiva e significativa (r = 0,9835; P=0,0036), evidenciando a sincronia entre estas duas variáveis. A relação entre níveis de desfolhação e a TSF foi linear e definida pela equação: Y = 0,0829 + 0,0065 X (r2 = 0,948). Os valores registrados neste trabalho foram inferiores aos reportados por Costa et al. (2008) para A. aureus que estimaram uma TSF de 0,281 cm/perfilho.dia, para plantas avaliadas aos 45 dias de rebrota. Costa et al. (2009) constataram maiores TSF para pastagens de Paspalum secans FCAP-12 mantidas sob resíduos de 30 cm (0,176 cm/perfilho.dia), comparativamente a 20 cm (0,154 cm/perfilho.dia) ou 10 cm (0,109 cm/perfilho.dia). A senescência é um processo natural que caracteriza a última fase de desenvolvimento de uma folha, o qual é iniciado após a completa expansão das primeiras folhas, cuja intensidade se acentua progressivamente com o aumento da área foliar, a qual implica no sombreamento das folhas inseridas na porção inferior do colmo (LEMAIRE et al., 2011; SANTOS et al., 2012). Apesar do efeito negativo sobre a qualidade da forragem, a senescência representa um importante processo fisiológico no fluxo de tecidos da gramínea, pois em torno de 35; 68; 86 e 42% do nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio, respectivamente, podem ser reciclados das folhas senescentes e utilizados para a produção de novos tecidos foliares (SARMIENTO et al., 2006). Conclusões O nível de desfolhação afeta a produção de matéria seca, a taxa absoluta de crescimento e as características morfogênicas e estruturais da gramínea. A eliminação de meristemas apicais foi diretamente proporcional ao nível de desfolhação, ocorrendo o oposto quanto ao vigor de rebrota. A manutenção de pastagens de A. aureus sob resíduos entre 15 e 25 cm asseguram maior produtividade e eficiência de utilização da forragem, maior renovação de tecidos e estrutura do dossel mais favorável ao pastejo. Literatura citada COSTA, N. de L.; GIANLUPPI, V.; BRAGA, R.M.; BENDAHAN, A.B.; MATTOS, P.S.R.; VILARINHO, A.A.; OLIVEIRA, J.M.F. Alternativas tecnológicas para a pecuária de Roraima. Boa Vista: Embrapa Roraima, 35p. 2009 (Documentos, 19). COSTA, N. de L.; MATTOS, P.S.R.; BENDAHAN, A.B. et al. Morfogênese de duas gramíneas forrageiras nativas dos lavrados de Roraima. Pubvet, Londrina, v.2, n.43, Art#410, 2008. LEMAIRE, G.; HODGSON, J.; CHABBI, A. Grassland productivity and ecosystem services. Wallingford: CABI, 2011. 287p. PALHANO, A.L.; CARVALHO, P.C.F.; DITTRICH, J.R.; MORAES, A.; BARRETO, M.Z.; SANTOS, M.C.F. Estrutura da pastagem e padrões de desfolhação em capim-mombaça em diferentes alturas do dossel forrageiro. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p.1860-1870, 2005. SANTOS, M.E.R.; FONSECA, D.M.; GOMES, V.M.; SILVA, S.P.; SILVA, G.P.; CASTRO, M.R.S. Correlações entre características morfogênicas e estruturais em pastos de capim-braquiária. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v.13, n.1; p.49-56, 2012. SARMIENTO, G.; SILVA, M.P.; NARANJO, M.E.; PINILLOS, M. Nitrogen and phosphorus as limiting factors for growth and primary production in a flooded savanna in the Venezuelan Llanos. Journal of Tropical Ecology, Cambridge, v.22, p.203-212, 2006.

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_____________________________________________________ Avaliação de componentes nutricionais da manipueira¹ Evaluation of nutritional components of manipueira Aline Guimarães de Oliveira², Diomar Claudio dos Santos Sobrinho², Daniela Carvalho dos Santos², João Guilherme Fontes², Annelise Aragão Correa², Julianne Santiago Silva Goveia² 1 2

Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora. Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFS, Sergipe, Brasil, alinegzoo@yahoo.com.br

Bolsistas Capes/Fapitec. e-mail:

Abstract: The aim of this study was to determine the nutritional components of manipueira (cassava water) for their use as alternative food in the composition of diets for animal production. Manipueira was obtained from flour mills in the city Malhador, Sergipe. The analyzes were performed in the Laboratory of Animal Nutrition/UFS and Research and Technological Institute of the State of Sergipe (ITPS). It was observed that manipueira is rich in minerals and has good nutrient composition, demonstrating that this residue may be included as a new food source for animal production in order to contribute to the formulation of diets. Keywords: animal, cassava, diets, residue Introdução O custo de produção é atualmente um dos fatores mais limitantes para a suplementação alimentar de animais. Isso demonstra a importância da utilização de subprodutos oriundos de agroindústrias na alimentação dos pequenos ruminantes substituindo a alimentação convencional, reduzindo os custos alimentares, e ao mesmo tempo buscando garantia na eficiência nutricional e na produção do rebanho. A alimentação dos animais por meio de subprodutos das agroindústrias é uma prática que gera benefícios importantes, como a diminuição da dependência dos ruminantes aos grãos, que podem ser consumidos por seres humanos, além da diminuição da necessidade de dispendiosos programas de gestão de resíduos agroindustriais (Bampidis & Robinson, 2006). Dentre as várias opções alimentares para os animais, destaca-se a mandioca (Manihot esculenta Crantz) e seus subprodutos. Entre os principais resíduos gerados da industrialização da mandioca, está a manipueira, que é um resíduo líquido oriundo da prensagem da mandioca para a produção da farinha e da água residuária da fécula. É uma alternativa alimentar promissora para ruminantes, em razão da indústria da mandioca estar distribuída por todo o Brasil, contribuindo com 70 a 75% de um total de 35 milhões de toneladas de raiz produzidos na América do Sul. Trabalhos de pesquisa sobre a utilização da manipueira como insumo agrícola já é bastante divulgado na literatura, necessitando novos experimentos voltados à determinação de sua composição nutricional de modo a ser ofertada aos animais como fonte alimentar. O conhecimento da composição dos alimentos que podem ser fornecidos aos animais é o primeiro passo para a busca da boa produtividade a um custo/benefício compatível com a realidade da produção nos variados momentos do ano. Este trabalho se propõe a avaliar a composição bromatológica da manipueira visando futuramente sua utilização como alimento alternativo na composição de rações para animais de produção. Material e Métodos O experimento foi realizado com amostras de manipueira provenientes de casas de farinha do município de Malhador (Sergipe) e adquiridas imediatamente após o processamento das mandiocas obtidas na própria região. Este município apresenta 10º39’26” S de latitude, 37º18’13” W ou O de longitude e altitude de 265 metros. O clima da região é o tropical com estação seca (Classificação climática de Köppen-Geiger: As). As amostras foram coletadas, homogeneizadas e congeladas em recipientes plásticos selados para posteriores análises. As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal pertencente à Universidade Federal de Sergipe e no ITPS (Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe). Os componentes nutricionais avaliados foram: matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra bruta (FB), amido quantitativo, resíduo mineral fixo (cinzas), teores de minerais (cálcio, fósforo, potássio, ferro, magnésio, cobre, zinco e sódio) e nutrientes digestíveis totais (NDT). Para a determinação do teor de MS, foi realizada uma pré-secagem das amostras (manipueira in natura) utilizando-se o liofilizador da marca LIOBRAS, por 120 horas. A matéria seca total foi determinada através da secagem direta da amostra pré-seca em estufa á 105 ºC por 24h. Os teores de PB

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_____________________________________________________ foram determinados conforme metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002). O resíduo fixo mineral (cinzas), cálcio, FB e amido quantitativo foram determinados pelo método do Instituto Adolfo Lutz (2005). O fósforo foi determinado pelo método gravimétrico e o extrato etéreo (EE), através do aparelho do tipo extrator de Sohxlet. Os minerais potássio, ferro, magnésio, cobre, zinco e sódio foram determinados por espectrometria de absorção atômica. O valor dos nutrientes digestíveis totais (NDT) foi obtido através do cálculo: % NDT = %PB(dig) + % ENN(dig) + %FB(dig) + %EE(dig) . 2,25 Onde: dig - digestibilidade de cada fração Resultados e Discussão Os valores de MS, FB, PB, EE e amido quantitativo, encontrados na manipueira analisada e expressos em % na amostra in natura (líquida) e % da amostra seca (em pó) após passar pelo liofilizador, estão representados na tabela 1. É perceptível a presença de nutrientes neste resíduo, principalmente amido (35,62%). Porém, baixa concentração de PB (6,25%) é encontrada na manipueira. Esses valores encontrados são devido à sua fonte de obtenção (mandioca) ser rica em amido e apresentar pouca quantidade de PB em sua composição. Dados obtidos por Cereda (1996) determinam a composição média desse resíduo, após a secagem, de 90,48% de MS, valor próximo ao obtido neste trabalho, 63,85% de amido e 2% de PB. Tabela 1. Valores em % de MS, PB, EE, FB e Amido Quantitativo da manipueira, obtida de casas de farinha de Malhador/SE, em sua forma in natura e em pó. Natureza Composição¹ MS (%) PB (%) EE (%) FB (%) Amido Quantitativo (%) Manipueira in 33,7 natura* Manipueira em 91,33 6,25 1,67 0,25 35,62 pó** ¹matéria seca (MS), fibra bruta (FB), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE). *valor baseado em 1 litro de manipueira.**valor para cada 100 g. A partir da tabela 2, pode-se concluir que a manipueira é uma fonte alimentar rica em minerais, principalmente em potássio (K) apresentando 3,48%. Além disso, este resíduo apresentou 74,61% de NDT, o qual demonstra potencial para ser destinado à alimentação animal como fonte de energia na forma de suplementação, por exemplo. Tabela 2. Composição mineral contido na manipueira obtida de casas de farinha de Malhador/SE. Minerais Resultado em mg/100 g Cálcio volumétrico 248,39 Fósforo 385,15 Potássio 3481,87 Ferro <0,023 Magnésio 548,51 Cobre <0,020 Zinco 0,35 Sódio 128,98 Resíduo Mineral Fixo 11,53* *valor de cinzas expresso em g/100 g. Dados encontrados por Ponte (1992), apresentam a seguinte composição química da manipueira na forma in natura: potássio 1.863,5 mg/L, fósforo 259,5 mg/L, cálcio 227,5 mg/L, zinco 4,2 mg/L, magnésio 405,0 mg/L, cobre 11,5 mg/L e ferro 15,3 mg/L. Observam-se variações nos valores nutricionais da manipueira, já que sua composição pode variar de acordo com a qualidade da mandioca e seu processamento pelas casas de farinha. Além disso, os resultados de análises bromatológicas podem variar de acordo com diferentes cultivares de mandioca, como também por fatores genéticos associados (Ceni et al., 2009). Contudo, a manipueira apresenta-se nutricionalmente favorável à alimentação de animais de produção, por ser palatável, ter grande quantidade disponível para utilização e se dá um destino socioeconômico e ambiental interessante para as milhares de toneladas geradas desse resíduo, diminuindo

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_____________________________________________________ os impactos ambientais gerados pelo mesmo quando descartado no meio ambiente. Assim, observa-se que a manipueira tem um potencial para ser utilizada, por exemplo, na alimentação de ruminantes como fonte energética e de minerais. A principal vantagem para o uso da manipueira na alimentação de ruminantes é a diminuição do custo de produção animal. Porém pouca informação sobre sua utilização na alimentação animal é encontrada na literatura. Conclusão A manipueira é fonte alimentar rica em minerais e nutricionalmente favorável como fonte de energia, a qual pode ser destinada à alimentação de animais de produção de forma a contribuir na formulação de rações. Literatura Citada BAMPIDIS, V. A.; ROBINSON, P. H. Citrus by-products as feed for ruminants. Animal Feed Science and Technology, v.128, p.175-217, 2006. CENI, G.C.; COLET, R.; PERUZZOLO, M.; WITSCHINSKI, F.; TOMICKI, L.; BARRIQUELLO, A.L.; VALDUGA, E. Avaliação de componentes nutricionais de cultivares de mandioca (Manihot esculenta Crantz). Alimentos e Nutrição, Araraquara, v.20, n.1, p. 107-111, 2009. CEREDA, M. P. Resíduos da industrialização da mandioca no Brasil. São Paulo, Editora Paulicéia, 1996. INSTITUTO ADOLFO LUTZ - IAL. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 4ª ed., p. 1020, 2005. PONTE, J. J. Histórico das pesquisas sobre a utilização da manipueira (extrato líquido das raízes de mandioca) como defensivo agrícola. Fitopatol. Venezuela, Maracay, n. 5, v. 2, p. 2-5, 1992. SILVA, D. J. S.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos (métodos químicos e biológicos). Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2002.

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___ _________________________________ Influência da irrigação no Acúmulo de massa seca de gramíneas forrageiras¹ Influence of irrigation on accumulation of dry grasses João Guilherme de Góis Fontes2, Aline Guimarães de Oliveira2, Diomar Claudio dos Santos Sobrinho2, Annelise Aragão Correa2, Renata Tenório Ribeiro de Souza3, Jailson Lara Fagundes4 Parte integrante do projeto de mestrado do primeiro autor CAPES – ZOOTECNIA/UFS Mestrando no programa de Pós-Graduação/UFS, Bolsista CAPES. E-mail: jguifontes@hotmail.com 3 Mestranda no programa de Pós-Graduação/FMVZ, UNESP/Botucatu. 4 Docente do Departamento de Zootecnia/UFS. 1 2

Abstract: Irrigation of forage grasses may improve the goals of productive systems based on pasture with the main forage source, and when associated with a high grass productivity gains can be quite satisfactory. The objective of this study was to evaluate the productive dynamics of different grasses (Xaraés, Tifton 85, and aruana urucloa) in the presence or absence of irrigation. The experiment was conducted at the Rural Campus of the University of Sergipe, during the main months with little rainfall, which assessed the total dry matter production, dry matter of dead material, stem and leaf and leaf: stem ratio. The forage production showed an increase in the presence of irrigation, and the top xaraés the other in the two production systems. The urucloa has a high accumulation of dead material and stem, and forage xaraés and Tifton, exhibit desirable leaf: stem ratio. Keywords: dry matter accumulation, dry season, production, summer Introdução O Brasil sempre despertou interesse na implantação de sistemas de produção à base de pastos como principal recurso forrageiro, pois é a alternativa alimentar mais econômica para produção de ruminantes. Nestas condições, a produção animal do país torna-se mais competitiva mundialmente, por apresentar menor custo produtivo e boa qualidade de produtos como os outros sistemas de produção (Mistura et al., 2007). Entretanto, as pastagens sofrem grandes influências ambientais modificando todo o sistema produtivo e a interface solo-planta-animal. Um dos maiores problemas na pecuária brasileira, sobretudo em regiões mais secas, é a estacionalidade produtiva no período seco, onde as gramíneas cessam seu desenvolvimento devido à falta de precipitação pluviométrica. O nordeste brasileiro apresenta duas estações distintas: uma seca e outra chuvosa. No período das chuvas, a pastagem cresce e apresenta um bom suporte animal. Contudo, no período da seca a pastagem estaciona seu crescimento, ocasionando baixos índices zootécnicos. Dentre as práticas de manejo utilizadas, a irrigação de pastagens assume papel preponderante no incremento de massa seca e na qualidade das pastagens mantendo-as produtivas ao decorrer do ano, principalmente com a escolha da gramínea mais adaptada a região e ao sistema produtivo. Para tanto, desenvolveu-se este ensaio objetivando avaliar a produtividade forrageira de gramíneas em sistema irrigado e nao irrigado. Material e Métodos O experimento foi conduzido na área do Campus Rural da Universidade Federal de Sergipe, localizado no município de São Cristóvão-SE. O experimento ocorreu no período de 08-07-2011 a 03-042012. Na região, o período chuvoso ocorre entre os meses de abril a agosto, a temperatura média é de 25,5ºC, a umidade relativa do ar média é de 75% e a precipitação média anual é de 1.200mm. Em função da análise química, foi realizada a correção da acidez do solo e a adubação com 150 kg/ha de P2O5 na forma de superfosfato simples, 80 kg/ha de cloreto de potássio e 100 kg/ha de N na forma de ureia. O delineamento foi em blocos casualizados, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram de quatro espécies forrageiras (Panicum maximum cv. Aruana, Brachiaria brizhantha cv. Xaraés, Urochloa mosambicensis e Cynodon spp cv. Tifton 85) e dois manejos da irrigação (com ou sem irrigação). Na área experimental, as plantas foram cultivadas em parcelas de 4 m2 (2 x 2 m). A irrigação foi feita por meio de um sistema de aspersão convencional de média pressão, manejada com turno de rega variável, usando-se o método do tanque "Classe A" para estimativa da evapotranspiração de referência. A irrigação era efetuada sempre quando o valor do somatório da evapotranspiração real da cultura, subtraído da precipitação efetiva, era aproximadamente igual ao valor da capacidade real de água no solo (CRA). No cálculo da CRA considerou-se fator de disponibilidade de água no solo igual 0,5. Foram realizadas avaliações de acúmulo de forragem, composição morfológica e densidade volumétrica de forragem (kg/ha.cm de MS). O acúmulo de forragem foi estimado pelo método das

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___ _________________________________ diferenças agronômicas. A avaliação referente a cada período, foi realizada alocando um quadro de tamanho 1 m2, em cada parcela experimental, colhendo-se toda a forragem existente dentro quadro amostral a 5 cm do solo. Após o corte da forragem nas parcelas, as mesmas foram acondicionadas em sacos de polietileno e retiradas duas sub-amostras de forragem e pesadas. Uma amostra foi levada para secagem em estufa de circulação de ar forçada a 65 0C até massa constante, a outra sub-amostra foi utilizada para avaliação da composição morfológica da forragem, na qual o material foi fracionado em folhas (lâminas verdes), colmos (colmos e bainhas foliares) e material morto. Após a separação, todos os componentes foram pesados e levados para secagem em estufa e circulação de ar forçada a 65 0C até massa constante. Os dados foram submetidos à análise de variância, segundo o procedimento PROC GLM do pacote estatístico SAS (SAS Institute, 2002) e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Os resultados referentes a massa seca total, composição de material morto, composição de colmo, composição de folha e densidade da forragem, são apresentados na Tabela 1. O acúmulo de matéria seca total apresentou comportamento distinto entre as gramíneas, quando irrigadas todas apresentaram aumento produtivo, o xaraés destacou-se com a maior produção massa seca total, tendo o tifton e o aruana produção semelhante não diferindo estatisticamente entre si (P<0,05), com os menores valores de produção no sistema não irrigado ficando para o capim urucloa. Na presença de irrigação o xaraés continuou apresentando maior produção comparada aos demais, no entanto não houve diferença entre os as gramíneas tifton, aruana e urucloa. Os resultados deste trabalho corroboram ao mencionado por Vitor et al. (2009), onde a irrigação diminui a estacionalidade de produção de forragem. O incremento na produtividade de massa seca quando irrigada comparado ao não irrigado, pode estar relacionado às características evolutivas de cada gramíneas bem como potêncial produtivo de cada gramínea. Não foi constatado efeito das gramíneas no sistema irrigado para o acúmulo de material morto (P<0,05), porém na ausência de irrigação o capim urucloa apresentou maior acúmulo de material morto que os demais, que apresentaram acúmulos semelhantes, este comportamento distinto do urucloa pode está relacionado a precocidade dessa gramínea, onde apresenta rápida florescência observando-se também, rápida senescência das folhas nesta gramínea. Para acúmulo de colmo na presença de irrigação o tifton apresentou menor produção deste material juntamente com o aruana e urucloa, estes, porém não diferiram do xaraés que apresentou maior acúmulo desta fração. Na ausência de irrigação o comportamento das gramíneas foi diferente onde, o urucloa apresentou menor acúmulo que os demais, que não diferiram. O menor acúmulo do urocloa está relacionado à baixa produtividade desta gramínea na ausência de irrigação, com a presença de irrigação houve um acréscimo produtivo que veio acompanhado por um acréscimo em colmo. O maior acúmulo de colmo na presença de irrigação está associado ao maior acúmulo total de massa seca nesse sistema, e maiores acúmulos de colmo vem a comprometer o pastejo e o valor nutritivo da forragem, interferindo no rendimento e na produtividade dos animais (Pereira et al., 2011). O acúmulo de folha não apresentou interação entre os sistemas, a gramínea xaraés apresentou alta produção deste material, o tifton e o aruana não diferiram e o urucloa apresentou menor participação no acúmulo de folha. Pode-se observar maior acúmulo de folha na presença de irrigação o que vem a ser favorável a interface planta-animal, influenciando no consumo e desenvolvimento animal. A relação folha:colmo não apresentou interação entre os sistemas, porém os cultivares apresentaram comportamentos distintos, a maior relação pode ser observada na gramínea xaraés, apresentando relação bastante satisfatória, seguida pelo tifton que apresentou relação acima do considerável crítico (1:1) (Pinto et al., 1994), o aruana apresentou relação não muito satisfatória, porém a menor relação foi do urucloa com valores bastante críticos ao bom desempenho animal nos dois sistemas produtivos.

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___ _________________________________ Tabela 1. Acúmulo de massa seca (kg/ha) e relação folha:colmo de gramíneas tropicais manejadas em diferentes sistemas de produção Forrageira Massa Seca Total Não Irrigado Irrigado Média Xaraés 20652A 35059A 27855 Tifton 12417B 18080B 15748 Aruana 12095B 18908B 15551 Urucloa 7283C 14704B 10994 Média 13112 21937 Massa Seca do Material Morto Xaraés 897AB 1043A 970 Tifton 226B 342A 284.1 Aruana 470B 595A 532.8 Urucloa 1537A 1282A 1409.4 Média 782 815 Massa Seca de Colmo Xaraés 6588A 12654A 9621 Tifton 5855A 8403B 7129 Aruana 6680A 9979AB 8329 Urucloa 4125B 10240AB 7183 Média 5812 10319 Massa Seca de Folha Xaraés 13167A 21361A 17264 Tifton 6336B 10335B 8335 Aruana 4945B 8333B 6639 Urucloa 1621C 3182C 2401 Média 6517 10803 Relação Folha:Colmo Xaraés 1.99A 1.69A 1.84 Tifton 1.09B 1.26B 1.18 Aruana 0.74C 0.86C 0.80 Urucloa 0.4D 0.31D 0.36 Média 1.05 1.03 Médias seguidas de letras iguais, nas colunas, não diferem (P>0,05), pelo teste Tukey. Conclusões O uso de irrigação é uma prática de manejo que contribui no incremento da produção de forragem. Dentre as gramíneas avaliadas a Braquiaria Xaraés destacou-se como uma das mais produtivas. Literatura citada DUPAS, E.; BUZETTI, S.; SARTO, A.L.; et al. Dry matter yield and nutritional value of Marandu grass under nitrogen fertilization and irrigation in cerrado in São Paulo. Revista Brasileira de Zootecnia, vol.39 no.12 Viçosa dez. 2010. MISTURA, C.; FONSECA, D.M.; MOREIRA, L.M.; et al. Efeito da adubação nitrogenada e irrigação sobre a composição químico-bromatológica das lâminas foliares e da planta inteira de capim-elefante sob pastejo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.6, p.1707-1714, 2007. PEREIRA, O.G.; ROVETTA, R.; RIBEIRO, K.G.; et al. Características morfogênicas e estruturais do capim-tifton 85 sob doses de nitrogênio e alturas de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.9, p.1870-1878, 2011. PINTO, J.C., GOMIDE, J.A., MAESTRI, M. Produção de matéria seca e relação folha:caule de gramíneas forrageiras tropicais, cultivadas em vasos, com duas doses de nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia., v. 23, n.3, p.313-326, 1994. VITOR, C.M.T.; FONSECA, D.M.; CÓSER, A.C.; et al. Produção de matéria seca e valor nutritivo de pastagem de capim-elefante sob irrigação e adubação nitrogenada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.3, p.435-442, 2009.

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__________________________________________________ Níveis de lisina digestível sobre a carcaça de suínos mantidos em ambiente de estresse por calor1 Digestible lysine levels on the carcass of swine kept under heat stress Diomar Claudio dos Santos Sobrinho2, Aline Guimarães de Oliveira2, João Guilherme de Góis Fontes2, Annelise Aragão Correa2, Márcia Nunes Bandeira Ronner 3, Jailson Lara Fagundes3 Parte da dissertação do primeiro autor – experimento, financiado pelo CNPq/ Capes, e-mail: diovet@ig.com.br Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFS, Sergipe, Brasil, Bolsistas Capes 3 Professores Drs. da Pós-graduação em Zootecnia UFS, Aracaju, Brasil 1 2

Abstract: In order to evaluate digestible lysine levels on performance and carcass composition of barrows in thermal stress, 40 pigs with initial weight of 95.6 ± 1.1 were distributed in a randomized block design. The animals were divided into five levels of digestible lysine (0.66; 0.78; 0.90; 1.02 e 1.14%), eight replicates and one animal per experimental unit. The provision of feed was limited by the reduced consumption obtained by each of the repetitions and were performed twice a day at 07:00 and 16:00 h, while water was provided ad libitum. The lysine levels were assessed using the polynomial regression model according to the best fit. The hot carcass weight and carcass yield showed a quadratic effect (P <0.05) up to the level of 1.02. There wasn’t effect of digestible lysine levels on the backfat thichness (ET) and muscle depth (PM). It is concluded that the best level of lysine for barrows in the finishing phase and kept in environments of heat stress is 1,02%. Keywords: amino acids, barrows, deposition meat, meat quality Introdução Os Consumidores estão bastante exigentes quando o assunto é carne macia, suculenta e principalmente no que se diz respeito ao percentual de gordura. Algumas alternativas nutricionais vêm sendo utilizadas na tentativa de reduzir o teor de gordura das carcaças de suínos, seguido por maior percentagem de carne, visto que os frigoríficos tendem a beneficiar produtores que oferecem animais com melhor conformação de carcaça. Nesse sentido, a procura constante pela melhoria na qualidade da carcaça tem impulsionado as pesquisas à busca de suínos com alto potencial genético para deposição de carne magra. Com o surgimento desses novos genótipos fica evidenciada a preocupação com o ambiente térmico onde os suínos vivem, pois as linhagens modernas podem ser menos tolerantes ao clima quente, visto que o aumento na deposição de carne na carcaça está associado à elevação na produção do calor metabólico (White et al., 2008). Contudo, sabe-se que a temperatura influencia o desenvolvimento animal, principalmente no que se diz respeito a altas temperaturas (Manno et al., 2006). Um dos maiores e mais constatados efeitos da alta temperatura sobre os suínos em terminação é a redução do potencial de produção, alterações fisiológicas e por consequência, a redução do consumo alimentar na tentativa de reduzir o incremento calórico gerado pela digestão dos nutrientes. Nesse contexto, realizou-se este estudo com o objetivo de avaliar a carcaça em função dos níveis de lisina digestível para suínos em terminação, mantidos em estresse por calor. Material e Métodos O experimento foi conduzido no Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, MG. Foram utilizados 40 machos castrados de alto potencial genético para deposição de carne, com peso inicial médio de 94,9 ± 1,6 kg. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com cinco tratamentos (0,66; 0,78; 0,90; 1,02 e 1,14% de lisina digestível) e oito repetições, sendo um animal por unidade experimental. Os animais foram alojados em gaiolas metálicas, com piso ripado, providas de bebedouro tipo chupeta e comedouro pendular. A alimentação foi fornecida duas vezes ao dia (07:00 e 16:00 horas). Os animais foram mantidos em sala climatizada com temperatura ambiente controlada (32ºC). As dietas experimentais (Tabela 1) foram formuladas para atender as necessidades de machos de alto potencial genético, de acordo com o conceito de proteína ideal, seguindo-se as recomendações de Rostagno et al. (2011), exceto com relação à lisina digestível e proteína cujo nível usado foi de 15,2%. As relações aminoacídicas foram mantidas constantes em todas as dietas experimentais. O inerte foi usado em todas as dietas para assegurar a variação na inclusão de aminoácidos à dieta.

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__________________________________________________ Tabela 1. Composições centesimais e calculadas das dietas experimentais. Níveis de Lisina (%) Ingredientes (%) Basal 0,66 0,78 0,90 1,02 1,14 Milho Grão (7,88%) 76,114 72,426 72,426 72,426 72,426 72,426 Farelo de Soja (45%) 20,800 20,565 20,565 20,565 20,565 20,565 Óleo Vegetal 0,383 2,799 2,799 2,799 2,799 2,799 Fosfato Bicálcico 0,998 1,277 1,277 1,277 1,277 1,277 Calcário 0,641 0,899 0,899 0,899 0,899 0,899 Sal 0,354 0,356 0,356 0,356 0,356 0,356 L-Lisina HCl 0,281 0,154 0,308 0,462 0,615 DL-Metionina 0,051 0,071 0,144 0,217 L-treonina 0,063 0,001 0,083 0,165 0,247 L-Triptofano 0,001 0,023 0,045 L-Valina 0,050 0,137 Min-suíno1 0,100 0,100 0,100 0,100 0,100 0,100 Vit-suíno2 0,100 0,100 0,100 0,100 0,100 0,100 BHT 0,015 0,015 0,015 0,015 0,015 0,015 Inerte 0,100 1,462 1,307 0,999 0,618 0,200 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Composições calculadas EM (kcal/kg) 3230 3300 3300 3300 3300 3300 EL (kcal/kg) 2463 2539 2539 2539 2539 2539 Proteína bruta (%) 15,7 15,3 15,3 15,3 15,3 15,3 Lisina dig, (%) 0,892 0,660 0,780 0,900 1,020 1,140 Met. + Cist. Dig. (%) 0,535 0,470 0,470 0,540 0,612 0,684 Treonina dig. (%) 0,598 0,522 0,523 0,603 0,683 0,764 Triptofano dig. (%) 0,164 0,161 0,161 0,162 0,184 0,205 Valina dig. (%) 0,674 0,657 0,657 0,657 0,704 0,787 P disponível (%) 0,276 0,325 0,325 0,325 0,325 0,325 Cálcio (%) 0,559 0,723 0,723 0,723 0,723 0,723 Sódio (%) 0,160 0,160 0,160 0,160 0,160 0,160 1 Fornecimento por kg de dieta: 100 mg de ferro; 10 mg de cobre; 1 mg de cobalto; 40 mg de manganês; 100 mg de zinco e 1,5 mg de iodo.²Fornecimento por kg de dieta: 8,000 UI de vit, A; 1,200 UI de vit, D3; 20 UI de vit, E; 2 mg de vit, K3 ; 1 mg de vit, B1; 4 mg de vit, B2; 22 mg de ácido nicotínico; 16 mg de ácido pantotênico; 0,50 mg de vit, B6; 0,020 mg de vit B12; 0,4 mg de ácido fólico; 0,120 mg de biotina; 400 mg de colina e 30 mg de antioxidante. Ao final do período experimental (21 dias), os animais com peso de 112,5 ± 3,0 kg foram submetidos a jejum alimentar de 24 horas. Em seguida, os animais foram abatidos por meio de insensibilização por choque elétrico, seguido de sangramento e higienização das carcaças. Após o abate dos animais, foi realizada a toalete e a evisceração das carcaças para retirada dos órgãos. As características das carcaças foram avaliadas por meio de mensurações de pesos e rendimentos. Foram considerados os seguintes parâmetros: rendimento de carcaça (RC), comprimento da carcaça (CC), peso da carcaça quente (PCQ), espessura de toucinho (ET) e área de olho de lombo (AOL). As análises estatísticas da exigência de lisina digestível foram feitas com base nos resultados de composição de carcaça utilizando-se modelos de regressão linear e quadrática (P<0,10) através do programa computacional SAEG (Sistemas de Análises Estatísticas e Genéticas - UFV). Resultados e Discussão O peso da carcaça quente demonstrou efeito quadrático (P=0,02) com o aumento do nível de lisina, estimando nível de 1,02(Tabela 2). Este aumento no peso da carcaça quente foi devido ao maior ganho de peso obtido pelo aumento do nível de lisina na dieta. Os níveis de lisina influenciaram de forma quadrática (P=0,03) o rendimento de carcaça, que aumentou até o nível de 1,02% (Tabela 2). Da mesma forma, Gattás et al. (2012), observaram efeito quadrático (P≤ 0,05) até o nível de 0,89% de lisina digestível. Este fato pode ser explicado devido à lisina favorecer a síntese proteica e consequentemente maior deposição de carne na carcaça, porém evidencia que, quando os suínos em terminação são expostos a temperatura de calor constante, aumentam suas necessidades de níveis de lisina digestível para expressar seu potencial genético para deposição de carne na carcaça. Não houve efeito (P>0,10) dos níveis de lisina digestível das dietas sobre a espessura de toucinho (ET) no P2 (10º costela), e

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__________________________________________________ profundidade de músculo (PM). Como houve aumento na quantidade de carne de 5,26% (Tabela 2) entre os níveis 0,90 e 1,02% de lisina e o consumo de energia digestível não variou entre os tratamentos, esperava-se redução na espessura de toucinho, evidenciando que houve desvio no aporte de nutrientes da dieta, possivelmente utilizados para manutenção da homeostase. Os níveis de lisina digestível na dieta não influenciaram (P>0,10) a PM, AOL e CC. Tabela 2. Características de carcaça de suínos machos castrados em função dos níveis de lisina digestível. Análises Níveis de Lisina (%) estatísticas Variáveis CV 0,66 0,78 0,90 1,02 1,14 P-L1 P-Q2 (%) Carcaça Quente (kg) 90,5 90,8 92,8 93,3 91,2 ns 0,02 1,8 Rendimento (%) 80,50 80,57 80,72 81,56 78,73 ns 0,03 1,7 ET (mm)* 13,08 10,21 11,64 15,00 11,78 ns ns 27,5 PM (mm)* 53,83 52,25 53,00 53,67 54,00 ns ns 13,1 Carne na carcaça (%) 58,27 60,38 59,59 56,45 59,24 ns ns 6,4 Gordura carcaça 41,78 39,00 40,58 43,55 40,68 ns ns 9,1 AOL (cm2)* 44,55 40,30 46,55 48,79 40,73 ns ns 17,9 CC(cm)* 96,0 94,8 96,7 95,0 97,1 ns ns 5,6 P-Q1 = regressão linear, P-Q2 = regressão quadrática, ns = não significativo. *: espessura de toucinho (ET), profundidade de músculo (PM), área de olho de lombo (AOL) e comprimento da carcaça (CC). Conclusões O melhor nível de lisina digestível para suínos machos castrados dos 95 aos 115 kg, submetidos a estresse calórico, é de 1,02% de lisina digestível. Literatura citada GATTÁS,G; SILVA,F.C.O; BARBOSA.F.F; DONZELE.J.L; FERREIRA.A.S; OLIVEIRA. R.F.M. Níveis de lisina digestível em dietas para suínos machos castrados dos 60 aos 100 dias de idade. Revista Brasileira Zootecnia, vol.41, n.1, pp. 91-97, 2012. MANNO, M.C; OLIVEIRA, R.F.M; DONZELE, J.L; OLIVEIRA.W, P; VAZ,R.G.M.V; SILVA,B.A.N; SARAIVA,E.P; LIMA,K.R,S. Efeitos da temperatura ambiente sobre o desempenho de suínos dos 30 aos 60 kg. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.2, p.471-477, 2006. ROSTAGNO,H.S; ALBINO,L.F.T.; DONZELE,J.L.; GOMES,P.C.; OLIVEIRA,R.F.; LOPES,D.C; FERREIRA,A.S; BARRETO,S.L.T. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos - Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais. 3.ed, 252p., 2011. WHITTE,H.M; RICHERT,B.T; SCHINCKEL,B.T; BURGESS,J.R; DONKINAND,S.S; LATOUR,M.A. Effects of temperature stress on growth performance and bacon quality in grow-finish pigs housed at two densities. Journal of Animal Science, v. 8 6, p.1789-1798, 2008.

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_____________________________________________ Exigência de lisina para suínos na fase de terminação mantidos em estresse calórico 1 Lysine requirement for in the finishing phase kept under heat stress Diomar Claudio dos Santos Sobrinho 2, João Guilherme Fontes2, Aline Guimarães Oliveira2, Annelise Aragão Correa 2 Márcia Nunes Bandeira Ronner3, Wilams Gomes dos Santos4 1

Parte da dissertação do primeiro autor, financiada pela Capes/CNPq Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFS, Aracaju, Brasil, Bolsista da Capes. 3 Professor Pós - Graduação em Zootecnia - UFS, Sergipe, Brasil 4 Doutorando em Zootecnia –UFV, Viçosa, Brasil 2

ABSTRACT: In order to evaluate digestible lysine levels on performance and carcass composition of barrows in thermal stress, 40 pigs with initial weight of 95.6 ± 1.1 were distributed in a randomized block design, where the weight of animals was used as a blocking factor. The animals were divided into five levels of digestible lysine (0.66, 0.78, 0.90, 1.02 e 1.14%), eight replicates and one animal per experimental unit. The provision of feed was limited by the reduced consumption obtained by each of the repetitions were performed twice a day at 07:00 and 16:00 h, while water was provided ad libitum. The lysine levels were assessed using the polynomial regression model according to the best fit. The average daily feed intake, body weight, fat thickness of animals was not affected (P>0.05) by digestible lysine levels. There was a quadratic effect on weight gain (P=0.08) and on feed conversion (P=0.05), who estimated levels of 0.90 and 1.02%, corresponding to the estimated consumption of 23.04 and 26.21 g / day, respectively. It is concluded that the best level of lysine for barrows in the finishing phase and kept in environments of heat stress is 0.90%, which corresponds to a consumption of 23.04 g / day. Keywords: amino acid, barrows, environment, performance,

Introdução A produção mundial de suínos vem passando por intenso desenvolvimento de melhoramento genético, selecionando e produzindo suínos de elevado potencial para deposição na carcaça. Com o surgimento de novos genótipos fica comprovada a preocupação com o ambiente térmico onde os suínos vivem, pois as linhagens modernas podem ser menos tolerantes as variações ambientais, visto que o aumento na deposição de carne na carcaça estar associada à elevação na produção do calor metabólico (WHITE et al., 2008). As altas temperaturas estão associadas à piora no desempenho de suínos, sobretudo pela redução no consumo de alimentos e pelo custo energético, associado aos processos de termorregulação. Contudo, os estudos atuais são insuficientes para se determinar a exata contribuição do ambiente na redução da produção, pois além do efeito causado pela diminuição do consumo, o efeito direto da temperatura sobre a utilização de nutrientes e a produção de calor pelos animais pode estar envolvido no processo (COLLIN et al., 2001). Sendo a lisina um aminoácido não sintetizado pelo organismo animal e disposto como o primeiro e limitante em dietas à base de milho e soja para suínos em terminação e diretamente responsável pela deposição de tecido muscular na carcaça, portanto, as respostas de desempenho e deposição de carne na carcaça podem estar associadas ao seu nível na dieta (OLIVEIRA et al., 2003). Nesse contexto, realizou-se este estudo com o objetivo de avaliar a exigência de lisina digestível para suínos em terminação, mantidos em estresse por calor. Material e Métodos O experimento foi conduzido no Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, MG, certificado pelo comitê de ética. Foram utilizados 40 suínos machos castrados (Landrace x Large White) com peso inicial médio de 94,9 ± 1,6 kg em um experimento com delineamento em blocos ao acaso com cinco tratamentos, oito repetições e um animal por unidade experimental. O peso inicial dos suínos foi considerado na formação dos blocos. Os animais foram mantidos em câmara climática de alvenaria com telhando, forrados com teto de madeira e piso de concreto e permaneceram em gaiolas metálicas, com piso ripado, providas de comedouro individuais e bebedouro tipo chupeta, e mantidos em sala climatizada (temperatura controlada) em ambientes de calor (32ºC). As temperaturas foram monitoradas diariamente, três vezes ao dia (07:00, 12:00 e 17:00 h), por meio de termômetros de máxima e mínima, de bulbo seco e bulbo úmido e de globo negro. As dietas experimentais foram formuladas seguindo-se as recomendações contidas em ROSTAGNO et al. (2011), exceto com relação

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_____________________________________________ à lisina digestível e proteína cujo nível usado foi de 15,2%. Os tratamentos experimentais consistiram de cinco níveis de lisina digestível: 0,66; 0,78; 0,90; 1,02 e 1,14%, mantendo-se a relação entre os demais aminoácidos essenciais. O inerte foi usado em todas as dietas para assegurar a variação na inclusão de aminoácidos à dieta. As composições centesimais e calculadas das dietas encontram-se apresentadas na Tabela 1. As análises estatísticas das características de desempenho foram realizadas utilizando o programa SAEG (2000). As estimativas dos níveis de lisina digestível foram determinadas por meio de análises de regressão linear, quadrática. Tabela 1. Composições centesimais e calculadas das dietas experimentais. Níveis de Lisina Ingredientes (%) Basal 0,66 0,78 0,90 Milho Grão (7,88%) 76,114 72,426 72,426 72,426 Farelo de Soja (45%) 20,800 20,565 20,565 20,565 Óleo Vegetal 0,383 2,799 2,799 2,799 Fosfato Bicálcico 0,998 1,277 1,277 1,277 Calcário 0,641 0,899 0,899 0,899 Sal 0,354 0,356 0,356 0,356 L-Lisina HCl 0,281 0,154 0,308 DL-Metionina 0,051 0,071 L-treonina 0,063 0,001 0,083 L-Triptofano 0,001 L-Valina Min-suíno1 0,100 0,100 0,100 0,100 Vit-suíno2 0,100 0,100 0,100 0,100 BHT 0,015 0,015 0,015 0,015 Inerte 0,100 1,462 1,307 0,999 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 Composições calculadas EM (kcal/kg) 3230 3300 3300 3300 EL (kcal/kg) 2463 2539 2539 2539 Proteína bruta (%) 15,7 15,3 15,3 15,3 Lisina dig, (%) 0,892 0,660 0,780 0,900 Met. + Cist. Dig. (%) Treonina dig. (%) Triptofano dig. (%) Valina dig. (%) P disponível (%) Cálcio (%) Sódio (%)

0,535 0,598 0,164 0,674 0,276 0,559 0,160

0,470 0,522 0,161 0,657 0,325 0,723 0,160

0,470 0,523 0,161 0,657 0,325 0,723 0,160

0,540 0,603 0,162 0,657 0,325 0,723 0,160

1,02 72,426 20,565 2,799 1,277 0,899 0,356 0,462 0,144 0,165 0,023 0,050 0,100 0,100 0,015 0,618 100,00

1,14 72,426 20,565 2,799 1,277 0,899 0,356 0,615 0,217 0,247 0,045 0,137 0,100 0,100 0,015 0,200 100,00

3300 2539 15,3 1,020

3300 2539 15,3 1,140

0,612 0,683 0,184 0,704 0,325 0,723 0,160

0,684 0,764 0,205 0,787 0,325 0,723 0,160

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Fornecendo por kg de dieta: 100 mg de ferro; 10 mg de cobre; 1 mg de cobalto; 40 mg de manganês; 100 mg de zinco e 1,5 mg de iodo. ²Fornecendo por kg de dieta: 8,000 UI de vit, A; 1,200 UI de vit, D 3; 20 UI de vit, E; 2 mg de vit, K3 ; 1 mg de vit, B1; 4 mg de vit, B2; 22 mg de ácido nicotínico; 16 mg de ácido pantotênico; 0,50 mg de vit, B 6; 0,020 mg de vit B12; 0,4 mg de ácido fólico; 0,120 mg de biotina; 400 mg de colina e 30 mg de antioxidante. O peso final e consumo de ração médio diário não foi influenciado (P<0,10) pelos níveis de lisina digestível na ração (Tabela 2), fato que pode ser explicado pelo efeito depressor da temperatura ambiente, evidenciando que pode ter ocorrido desvio no aporte de nutrientes para manutenção da homeostase. O ganho de peso médio diário (GPMD) melhorou de forma quadrática (P=0,08) até o nível estimado de 1,02%, que corresponde a consumo estimado de 26,21g/dia de lisina digestível. De forma similar, MOURA et. al (2011), identificaram que o nível de lisina digestível de 1,0% propicia melhor ganho de peso médio diário, porém os valores encontrados por estes autores foi 7,77% menor que o encontrado nesta pesquisa,(700 x 900g) respectivamente, fato este que pode ser explicado, pois o experimento que apresentou ganho de peso menor, foi realizado com utilização de ractopamina, repartidor de nutrientes responsável pelo aumento do metabolismo, possivelmente aumentando a exigência de lisina digestível nas dietas deste animais. Foi constatado efeito quadrático (P=0,05) na CA que melhorou até o nível estimado de 0,90% de lisina

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_____________________________________________ digestível, que corresponde a uma ingestão de 23,04g/dia resultados semelhantes foram encontrados por SOUZA et al., (2011) que verificaram variações nos dados de CA para suínos machos castrados em terminação, em razão do aumento dos níveis de lisina digestível na dieta. Fato este que pode ser explicado pela melhor utilização de nutrientes das dietas pelos animais com alto potencial genético. Tabela 2. Desempenho de suínos em terminação submetido a temperatura de estresse térmico em função dos tratamentos, GPMD ( ganho de peso médio diário); CRMD (consumo de ração médio diário). Análises Níveis de Lisina (%) estatísticas Variáveis 0,66 0,78 0,90 1,02 1,14 P-Q2 CV (%) Peso inicial(kg) 96,44 94,40 94,50 94,38 94,90 ns 3,4 Peso final (kg) 112,50 110,98 113,27 113,24 112,65 ns 2,3 GPMD (g/dia) 765,1 790,5 894,5 900,0 846,9 0,08 12,8 CRMD (kg/dia) 2,58 2,53 2,56 2,57 2,57 ns 1,9 CA (g/g) 3,47 3,25 2,87 2,93 3,07 0,05 13,8 P-Q2 = regressão quadrática Conclusões A exigência de lisina para suínos machos castrados selecionados geneticamente para deposição de carne magra na carcaça, submetida a estresse por calor (32ºC) é de 0,90% de lisina digestível, correspondendo a um consumo estimado de 23,04 g por dia. Literatura citada COLLIN, A; MILGEN, J.V; DUBOIS,S; NOBLRT,J. Effect of high temperature and feeding level on energy utilization in piglets. Journal of Animal Science, v.79, p.1849-1857, 2001. MOURA, M.S; KIEFER, C; SILVA, C.M; SANTOS,A.P; FANTINI,C.C; LUCAS,L.S. Energia líquida e ractopamina para leitoas em terminação sob altas temperaturas ambientais. Ciência Rural, v.41, n.5, p, p.888-894, 2011. OLIVEIRA, A.L.S; OLIVEIRA,A.L.S; DONZELE,J.L; OLIVEIRA,R.F.M; LOPES,D.C;MOITA,A.M.S; SILVA,F.C.O; FREITAS,L.S. LISINA PARA SUÍNOS MACHOS CASTRADOs de alto potencial genético para deposição de carne magra dos 95 aos 110 kg. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, p.337-343, 2003. ROSTAGNO,H.S; ALBINO,L.F.T.; DONZELE,J.L.; GOMES,P.C.; OLIVEIRA,R.F.; LOPES,D.C; FERREIRA,A.S; BARRETO,S.L.T. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos - Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais. 3.ed. 2011. 252p. SOUZA,E.O; HAESE,D; KILL, J.L; HADDADE,I.R; LACERDA,E.G; SARAIVA,A; SILVA,F.C.O;SOBREIRO,R.P et al. Digestible lysine levels in diets supplemented with ractopamine. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.10, p.2186-2191, 2011. WHITTE,H.M; RICHERT,B.T; SCHINCKEL,B.T; BURGESS,J.R; DONKINAND,S.S; LATOUR,M.A. Effects of temperature stress on growth performance and bacon quality in grow-finish pigs housed at two densities. Journal of Animal Science, v. 8 6, p.1789-1798, 2008.

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_____________________________________________ Relação triptofano:lisina digestível para leitões desmamados aos 28 dias de idade Ratio of tryptophan: lysine for piglets weaned at 28 days old Diomar Claudio dos Santos Sobrinho2, João Guilherme de Góis Fontes2, Aline Guimarães de Oliveira2 Annelise Aragão Correa2, José Armando de Sousa Moreira 2, Jailson Lara Fagundes3 2

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia UFS Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia UFS

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Abstract: In order to determine the relationship between digestible tryptophan with digestible lysine, piglets weaned to 160 days 26 and with starting weight of 8.0 kg, were distributed in delineation with random blocks in five treatments, eight repetitions and four piglets per experimental unit. The treatments employed were five relationships between digestible tryptophan with digestible lysine (0.15; 0.17; 0,19; 0.21and 0.23), digestible lysine content of 1.26%. The feed intake, muscular and rates of deposition of fat were not influenced by the treatments (0.05>P).There were repercussions (P≤0.01) weight gain and feed conversion efficiency. It is concluded that the ratio of digestible tryptophan with digestible lysine for piglets housed in conditions without health challenge of 28 to 49 days is 0.22. Keywords: amino acid, deposition, muscle, weight gain Introdução O desmame precoce (aos 21 dias) pode levar a reduções no consumo de alimento e este pode ser um dos fatores responsáveis pela redução no crescimento e pela debilidade das condições de saúde dos leitões (Ning & Qian, 2008). Entretanto leitões desmamados com 28 dias de idade ou mais podem sofrer menos com estresses pós desmame e consumirem mais dieta que leitões desmamados aos 21 dias ou menos e isto pode afetar as necessidades de aminoácidos dos leitões na creche. Em dietas constituídas à base de milho e farelo de soja e com teores reduzidos de proteína, o triptofano pode se tornar limitante não só devido às suas quantidades na dieta, mas também devido a sua biodisponibilidade. O triptofano, além de participar da síntese protéica, é precursor da síntese de 5-hidroxitriptamina (serotonina), envolvida tanto na diminuição do estresse, na sensibilidade a dor e na agressividade dos leitões, quanto na regulação do consumo alimentar (Ning & Qian, 2008). Têm-se indicado a relação entre triptofano:lisina digestível é de 0,17 para leitões na fase inicial aos 21 dias de idade (Rostagno et al., 2005), contudo, têm-se registrado por diversos pesquisadores resultados variáveis entre 0,14 à 0,23 sem se levar em consideração a questão do desafio sanitário e nem a idade de desmame (Guzik et al., 2002; Bisinoto et al., 2006; Ning e Qian, 2008). Por estas razões realizou-se um experimento para se determinar as relações entre triptofano digestível com lisina digestível para leitões após o desmame aos 28 dias de idade sem desafio sanitário. Material e Métodos O experimento foi conduzido no período de junho a setembro de 2010 no Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia da UFV. Foram distribuídos 160 leitões híbridos, de alto potencial genético, desmamados em média com 26,3 dias de idade e peso inicial médio de 8,0 kg, em um experimento com delineamentos em blocos ao acaso, com cinco tratamentos, oito repetições e quatro leitões por unidade experimental. O peso dos leitões foi considerado como critério para constituição dos blocos. Os tratamentos experimentais consistiram de cinco relações do triptofano digestível com lisina digestível (0,15; 0,17; 0,19; 0,21 e 0,23) e considerou-se o valor de lisina de 1.26%.As instalações foram limpas, desinfetadas e antibiótico foi adicionados nas dietas experimentais. Os leitões foram alojados dos 28 aos 49 dias em creches metálicas suspensas com piso e laterais telados providas de comedouros semi-automáticos e bebedouros tipo chupeta localizados em galpão de alvenaria. As dietas experimentais foram formuladas para atender as necessidades dos leitões na fase inicial de crescimento, seguindo-se as recomendações contidas em Rostagno et al. (2005), exceto com relação aos aminoácidos estudados e proteína. As dietas foram isoenergéticas (3325 kgcal/kg), isoprotéicas (18,8% PB) e o inerte foi utilizado para assegurar a variação na inclusão de aminoácidos para manter a relação aminoacídica. Os leitões tiveram livre acesso à água e às rações experimentais atendendo aos princípios de bem estar animal. As composições centesimais encontram-se apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Composições percentuais das dietas experimentais.

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_____________________________________________ Relações triptofano digestível com lisina digestível Ingredientes (%) 0,15 0,17 0,19 0,21 0,23 Milho Grão 58,610 58,610 58,610 58,610 58,610 Farelo de Soja (45%) 15,020 15,020 15,020 15,020 15,020 Glúten de milho (60%) 3,500 3,500 3,500 3,500 3,500 Leite Desnatado Pó 15,000 15,000 15,000 15,000 15,000 Açúcar 2,500 2,500 2,500 2,500 2,500 Óleo Vegetal 1,656 1,656 1,656 1,656 1,656 Fosfato Bicálcico 1,453 1,453 1,453 1,453 1,453 Calcário 0,622 0,622 0,622 0,622 0,622 Sal 0,386 0,386 0,386 0,386 0,386 L-Lisina HCl (78%) 0,442 0,442 0,442 0,442 0,442 DL-Met. 0,105 0,105 0,105 0,105 0,105 L-Triptofano 0,026 0,054 0,079 0,105 L-treonina 0,140 0,140 0,140 0,140 0,140 Suplemento Mineral1 0,130 0,130 0,130 0,130 0,130 Suplemento Vitamínico2 0,100 0,100 0,100 0,100 0,100 Antibiótico3 e BHT 0,015 0,015 0,015 0,015 0,015 Inerte 0,320 0,295 0,267 0,242 0,216 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 1 Fornecendo por tonelada de ração: 7.800.000 UI de vitamina A; 2.150.000 UI de vitamina D3; 25.760 UI de vitamina E; 4.000 mg de vitamina K3; 3.000 mg de tiamina; 7.320 mg de riboflavina; 1.560 mg de piridoxina; 30.000 mcg de vitamina B12; 19.700 mg de pantetonato de cálcio; 35.130 mg de Niacina; 43 mg de Biotina, 765 mg de Ácido Fólico; 5.000 mg de BHT. 2Fornecendo por tonelada de ração: 1.000 mg de Co; 80 g de Fe; 40 g de Mn; 100 g de Zn; 12 g de Cu; 1.000 mg de I e 0,3mg de Se. 3Sulfato de colistina Os leitões foram pesados no início do experimento e aos 49 dias de idade, as dietas foram pesadas sempre que fornecidas. Após um jejum de 24 horas, oito leitões com peso médio de 8,0 kg foram abatidos no início do experimento, sendo um por unidade experimental e mais doze ao final do experimento para determinação das taxas de deposição de proteína e de gordura, conforme técnica descrita por Donzele et al. (1992). Os parâmetros de desempenho foram submetidos às analises de variância utilizando-se o programa Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas - SAEG, versão 9.1 para determinar-se as relações de triptofano:lisina digestível, utilizando-se os modelos lineares ou quadráticos conforme o melhor ajustes e posteriormente analisados por regressão através do modelo Linear Response Platô (LRP). Considerou-se α = 0,05. Resultados e Discussão Os valores médios das temperaturas máximas observados foram de 27,7 ± 1,7ºC,e mínimas foram de 20,4 ± 1,8 ºC e das umidades relativas do ar foram de 68,5 ± 9,1%. Os valores de desempenho dos leitões encontram-se apresentados na Tabela 03. Tabela 03. Pesos, ganhos de peso médio diário (GPMD), consumo de ração médio diário (CRMD), conversões alimentares e taxas de deposições de proteína e gordura nas carcaças em função das relações de triptofano:lisina digestível Relações de triptofano digestível com lisina Análises estatísticas digestível Variáveis 0,15 0,17 0,19 0,21 0,23 Valor-P CV (%) Peso inicial médio (kg) 8,03 7,99 7,99 7,97 8,00 1,4 GPMD de 28 a 49 dias 256,2 277,9 297,2 314,2 322,3 0,01 16,3 CRMD de 28 a 49 dias 407,0 445,2 439,3 427,4 472,4 >0,05 15,0 CA de 28 a 49 dias 1,60 1,61 1,48 1,36 1,47 0,01 7,8 Deposição de proteína 25,82 28,48 26,47 22,08 30,37 >0,05 18,4 Deposição de gordura 16,46 15,20 17,31 11,48 16,93 >0,05 34,1 O ganho de peso apresentou efeito linear (P≤0,01) e foram estimados pela equação: Y = 0,133 + 0,844x, com um R2 de 74,0%. Pelo modelo LRP estimou-se a relação em 0,22 (P≤0,01), a qual pode ser obtida pela equação: Y= 115,360 + 947,453x, com R2 de 99,7%. Estes resultados corroboram com os de Le Floc’h et al. (2009) os quais ao avaliarem o aumento das relações de triptofano com lisina digestíveis de 0,15 para 0,20

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_____________________________________________ nas dietas para leitões desmamados com 28 dias, observaram melhoria no ganho de peso e eficiência alimentar dos leitões. Entretanto Bisinoto et al. (2006) não observaram o mesmo efeito provavelmente devido às diferentes idades de desmame, pois os animais desmamados aos 28 dias podem ter superado o estresse inicial comparados aos desmamados com 21 dias.Não houve efeito dos tratamentos sobre os consumos de ração e as taxas de deposição de proteína e de gordura dos leitões (P>0,05). Embora o consumo de ração não tenha sido influenciado, os leitões apresentaram maior taxa de crescimento, quando as relações do triptofano:lisina foi aumentada. Além disso, o consumo foi aumentado em aproximadamente em 8,8% em detrimento aos tratamento um em relação à média dos demais tratamentos, indicando um possível efeito do triptofano sobre o consumo alimentar. Em experimentos realizados por Guzik et al. (2002) houve efeito linear e quadrático dos tratamentos sobre esta variável.Os tratamentos afetaram linearmente (P≤0,05) a conversão alimentar dos leitões e pode ser obtida pela equação: Y = 1,984 – 2,521x, com R2 de 61,0%. Pelo modelo LRP, a conversão alimentar apresentou significância (P=0,07) e não foi considerada para determinação da relação aminoacídica. A conversão alimentar dos leitões também foi afetada pelo aumento das relações aminoacídicas apresentando melhora até a relação de 0,19. A partir desse ponto, houve piora em cerca de 8,0% na conversão alimentar dos leitões, reduzindo a eficiência de utilização dos nutrientes da dieta. Estes dados corroboram com os de outros pesquisadores tais como Guzik et al. (2002) e Le Floc’h et al. (2009), os quais observaram melhoria na utilização de nutrientes ao se aumentar o conteúdo de triptofano nas dietas. Conclusões As relações triptofano digestível com lisina digestível para leitões dos 28 aos 49 dias de idade em condições de mínimo desafio sanitário é de 0,22. Literatura citada BISINOTO,K.S; BERTO,D.A; CALDARA,F.R; TRINDADE NETO,M.A; WECHSLER,F.S. 2006. Exigências de triptofano para leitões (6 kg a 11 kg) com base no conceito da proteína ideal. Acta Science Animal Science, v. 28, n. 2, p. 197-202, 2006. DONZELE,J.L; COSTA,P.M.A; ROSTAGNO,H.S; FONTES,D.O. Efeitos dos níveis de lisina na composição da carcaça de suínos de 5 a 15 kg. Revista Brasileira Zootecnia, v.21, p.1091-1099, 2002 GUZIK,A.C; SOUTHERN,L.L; KERR,B.J. The tryptophan requirement of nursery pigs. Journal Animal Science, v.80, p.2646–2655, 2002 LE FLOC’H, N;BELLEGO,L; MATTE,J.J; MECHIOR,D.. The effect of sanitary status degradation and dietary tryptophan content on growth rate and tryptophan metabolism in weaning pigs. Journal Animal Science, v.87, p.1686-1694, 2009. NING,L; QIAN,L.. Research progress on Tryptophan requirement of piglets and growing and finishing pigs. Journal Animal Science, v.2, p.7-16, 2008. ROSTAGNO,H.S; ALBINO,L.F.T; DONZELE, J.L; GOMES,P.C; OLIVEIRA,R.F.M;LOPES,D.C; FERREIRA,A.S; BARRETO, S.L.T.. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos - Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais. UFV, 186p, 2005.

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_____________________________________________ Período de utilização de antibiótico em dietas para leitões desmamados na 3º semana de idade durante a fase de crescimento Duration of use of antibiotics in diets for piglets weaned at 3 weeks of age during the growth phase Diomar Claudio dos Santos Sobrinho2,Annelise Aragão Correa2 , João Guilherme de Góis Fontes2, Aline Guimarães de Oliveira 2, Douglas Baracho Oliveira Santos 4, José Armando de Sousa Moreira 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFS, Sergipe, Brasil, Bolsista do Capes e-mail: diovet@ig.com.br Graduando Setor de Zootecnia - UFS, Brasil

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Abstract:With to objective evaluate antibiotics in diets for piglets weaned at 21 days of age, a study was conducted an experiment in Federal university of Viçosa, during the months of January and February 2011. Were distributed 72 pigs with high genetic potential, with an initial weight of 6.5 kg in allotted to completely randomized design, with four treatments and six piglets for replicates of three each. The treatments were: T1 - supply of diets antibiotic-free of 21 to 63 days of age, T2 - supply of diets with antibiotic until 35 days, followed by diet without antibiotics, T3 - supply of diets with antibiotics of 21 to 49 days old and, T4 supply of diets with antibiotics from 21 to 63 days old. Animals of all treatments were followed until 63 days old. It was found that the presence of antibiotics in the diets improved weight (P<0.01), weight gain (P<0.01), feed intake (P=0.03) and gain-to-feed ratio (P=0 06) in relation to the treatment without antibiotics. However, there was no significant difference (P> 0.05) between treatments with antibiotics (T2, T3 and T4). Concludes that the use of antibiotics in diets for piglets weaned at 21 days and raised in environments with minimal sanitary challenge, must be at least until 35 days old. Keywords: antimicrobial, feeding, swine, tylosin Introdução O desmame tem sido um momento de extremo estresse para os leitões; sobretudo quando este é realizado aos 21 dias de idade ou em idades inferiores. A precocidade do sistema imunológico agregada aos fatores estressantes do desmame; tais como a separação dos leitões da mãe, mudança de ambiente, mudança da alimentação líquida à base de produtos lácteos para outra à base de produtos vegetais, podem prejudicar o desempenho dos leitões e predispô-los à doenças. A fragilidade motivada por tais alterações podem levar ao acréscimo da incidência de diarréias, visto que o leitão pode não ter mais a imunidade adjudicada pela mãe e ainda pode não ter a capacidade de desenvolvimento do seu sistema próprio de defesa do organismo, o que pode causar alterações em sua flora intestinal. Alterações no trato gastrointestinal podem levar a ocorrências de diarréias, em especial as causadas por E. coli (Zeyner e Oldt, 2006) com concomitante reduções no ganho de peso dos leitões. Na tentativa de solucionar tais problemas, têm-se feito uso de antibióticos como aditivos promotores de crescimento. Entretanto, esta prática tem sido questionada em diversos países como forma de precaução à resistência bacteriana em humanos. Por isso, há que se supor que quanto menos tempo se utilizar o antibiótico nas dietas para animais menores será os riscos de resistência. Face ao exposto, conduziu-se um experimento com o objetivo de avaliar o tempo de utilização de antibióticos em dietas para leitões desmamados aos 21 dias de idade, a fim de manter o máximo desempenho dos leitões. Material e Métodos O experimento foi conduzido no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, Minas Gerais. Foram utilizados 72 leitões de alto potencial genético, desmamados aos 21 dias de idade com peso médio de 6,5 kg, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos, seis repetições e três animais por unidade experimental. Os tratamentos usados foram: T1 – fornecimento de dieta sem antibiótico dos 21 aos 63 dias de idade (controle); T2 – fornecimento de dieta com antibiótico até 35 dias; T3 – fornecimento de dieta com antibiótico dos 21 aos 49 dias de idade e, T4 – fornecimento de dieta com antibiótico dos 21 aos 63 dias de idade. O experimento teve duração de 42 dias. Foi fornecido aos animais de todos os tratamentos dietas pré iniciais dos 21 aos 49 dias de idade contendo 7,5% de lactose, 3325 kcal de energia metabolizável (EM) por Kg de dieta e 18,2% de proteína bruta (PB) e, dos 50 aos 63 dias de idade dietas iniciais contendo 2,8% de lactose, 3259 kcal de EM por Kg e 18,1% PB, com variações apenas nos conteúdos de antibióticos. As dietas foram formuladas de acordo com as recomendações contidas em Rostagno et al. (2005). O inerte foi utilizado para assegurar a adição de antibiótico nas dietas experimentais. Os animais receberam água e ração à vontade. Os animais foram alojados em creches metálicas suspensas com piso e laterais telados providas de comedouros semi-automáticos e bebedouros tipo

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_____________________________________________ chupeta localizados em galpão de alvenaria, com piso de concreto, teto de madeira rebaixado e janelas basculantes nas laterais. Os animais foram pesados no início do experimento, aos 35, aos 49 e aos 63 dias de idade. Os parâmetros de desempenho foram avaliados através dos pesos, ganhos de peso e conversão de alimentos. Os dados obtidos com relação ao peso, ganho de peso médio diário, consumo de ração médio diário e conversão alimentar nas diversas idades avaliadas foram comparados por meio de seis contrastes ortogonais utilizando-se o programa estatístico SAS® (Statistical Analysis System). Os contrastes foram: T1 vs. T2, T3 e T4; T2 vs. T3 e T4; T3 vs. T4 considerando-se o valor de alfa limite de 5,0%. Resultados e Discussão Os resultados relativos aos pesos dos leitões e aos ganhos de peso médios diário, consumos de ração médios diário e conversão alimentar por tratamento encontram-se apresentados na Tabela 1. Constatou-se melhora no peso (P<0,01), ganho de peso (P<0,01), consumo de ração (P=0,03) e conversão alimentar (P=0,06) com a adição de antibiótico nas dietas experimentais. Entretanto, não houve diferença significativa (P>0,05) entre tratamentos com antibiótico (T2, T3 e T4) em relação ao desempenho dos leitões. A presença de antibiótico nas dietas até 35 dias melhorou o peso (8,1 vs. 9,4 kg), o ganho de peso (103 vs. 196 g/dia), e o consumo de ração (202 vs. 288 g/dia). Estes dados estão de acordo com aqueles obtidos por (Holt et al., 2011) que trabalharam com leitões também desmamados aos 21 dias de idade e obtiveram melhora no ganho de peso (149 vs.180g/dia) e no consumo de ração (201 vs. 244 g/dia) quando se comparou o tratamento sem versus o com antibiótico. É possível que a utilização de antibióticos na alimentação de leitões desmamados aos 21 dias por um período de 14 dias pode assegurar bom desenvolvimento biológico dos leitões até os 35 dias de idade, lhes assegurando o desenvolvimento do seu sistema imune próprio de forma a suportar os desafios gastrointestinais a partir de então (Kimimura et al., 2006). A ausência de antibiótico nas dietas experimentais dos leitões foi responsável pelo menor ganho de peso e consumo de ração, afetando a conversão alimentar destes animais (2,08 vs. 1,44). Em decorrência dos maiores consumos de ração e ganhos de pesos dos leitões que consumiram dietas com antibiótico constatou-se redução de 30,7% na conversão alimentar dos animais. Tabela 1. Desempenho dos leitões em função dos tratamentos experimentais. Variáveis Ausência de Presença de antibiótico nas dietas antibiótico De 21 a 63 dias Até 35 dias Até 49 dias Até 63 dias 6,595 6,702 6,650 6,653 Peso inicial médio (kg) b a a 8,088 9,404 8,924 8,808a Peso aos 35 dias (kg) 14,669b 16,257a 16,299a 17,024a Peso aos 49 dias (kg) b a a 21,350 23,799 23,431 24,964a Peso aos 63 dias (kg) Ganho de peso médio diário (g/dia) De 21 a 35 dias 0,103b 0,196a 0,162a 0,154a b a a De 21 a 49 dias 0,286 0,343 0,344 0,370a b a a De 21 a 63 dias 0,350 0,408 0,400 0,436a Consumo de ração médio diário (g/dia) De 21 a 35 dias 0,202b 0,288a 0,250a 0,241a De 21 a 49 dias 0,421b 0,504a 0,477a 0,476a b a a De 21 a 63 dias 0,578 0,656 0,642 0,626a Conversão alimentar (g/g) De 21 a 35 dias 2,08b 1,44a 1,55a 1,62a b a a De 21 a 49 dias 1,47 1,47 1,39 1,30a b a a De 21 a 63 dias 1,65 1,61 1,61 1,44a Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem entre si.

F1 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,03 0,01 0,06 0,01

É possível que os animais que se alimentaram com dietas sem antibiótico tenham sido desafiados e, para suportar os desafios tenham desviado parte dos nutrientes para manutenção do sistema imunológico e da microflora intestinal e isso tenha acarretado em prejuízos para o desempenho dos leitões. Utiyama et al. (2006), trabalhando com leitões recém desmamados observaram efeitos semelhantes. Embora não significativo, a utilização de antibiótico até a fase final de creche apresentou melhora de 6,4% no ganho de peso final, 4,6% no consumo de ração e de 10,6% na conversão alimentar em relação à utilização de

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_____________________________________________ antibiótico até os 35 dias de idade. Assim é possível inferir que as dietas para leitões desmamados aos 21 dias necessitam de inclusão de antibióticos pelo menos até 35 dias de idade. Conclusões A utilização de antibiótico em dietas para leitões desmamados aos 21 dias e criados em ambientes com mínimo desafio sanitário deve ser pelo menos até os 35 dias de idade. Literatura citada HOLT, J.P., HEUGTEN, E., GRAVES, A.K; SEE,M.T; MORROW, W.E.M. Growth performance and antibiotic tolerance patterns of nursery and finishing pigs fed growth-promoting levels of antibiotics. Livestock Science, v.136 , 184–191p, 2011. KAMIMURA,R; ARANTES,V.M; BELETTI, M.E. Efeitos de mananoligossacarideos e colistina sobre a histomorfometria intestinal e níveis de IgA e IgG séricas em leitões. Noticias Veterinária, v.12, p.153-160, 2006. ROSTAGNO,H.S; ALBINO,L.F.T.; DONZELE,J.L.; GOMES,P.C.; OLIVEIRA,R.F.; LOPES,D.C; FERREIRA,A.S; BARRETO,S.L.T..Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos - Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais, Viçosa: UFV, 186p, 2005. UTIYAMA, C.E.; OETTING, L.L.; GIANI, P.A; RUIZ,U.S; MIYADA,V.S.. Efeitos de antimicrobianos, prebióticos, probióticos e extratos vegetais sobre a microbiota intestinal, a freqüência de diarréia e o desempenho de leitões recém-desmamados. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.6, p.2359-2367, 2006. ZEYNER, A; OLDT, E. Effect of a probiotic Enterococcus faecium strain supplemented from birth to weaning on diarrhea patterns and performance of piglets. Journal Animal Physiology and Animal Nutrition, v.90, p.25-31p, 2006.

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____________________________________________________________ Casca de mandioca na dieta de vacas em lactação Viviany Lúcia Fernandes dos Santos1, Marcelo de Andrade Ferreira2, Adriana Guim2, Geraldo Tadeu dos Santos3 , André Luiz Neves4, Raphael Eduardo Moretti5 1

PDIZ – UFRPE e-mail: vivianylfs@yahoo.com.br Departamento de Zootecnia – UFRPE e-mail: ferreira@dz.ufrpe.br 3 Departamento de Zootecnia – UEM 4 Graduando – UEM 5 Zootecnista 2

Abstract: The objective was to evaluate the effect of replacing corn (0, 33, 66 and 100%) by cassava peel in diets for lactating dairy cows on intake and nutrient digestibility and milk yield. Eight Holstein cows were divided into two latin squares. Milk yield, intakes of dry matter, organic matter and TDN and apparent digestibility of dry matter, organic matter, crude protein and neutral detergent fiber decreased linearly with the replacement of corn by cassava peel. The intakes of crude protein and neutral detergent fiber were not affected by substitution. Due to the decrease in nutrients intake, especially energy, and milk yield, is not recommended the replacement of corn by cassava peel in diets of lactating dairy cows producing 20 kg /day. Keywords: byproducts, intake, digestibility, milk yield Introdução As fontes de amido mais comumente utilizadas na alimentação de vacas leiteiras são os grãos de cereais como, milho, sorgo, cevada, trigo e aveia. O milho sempre ocupou lugar de destaque, não só pelo seu comprovado valor nutritivo, mas também pela tradição da cultura em nosso país. Porém, o preço elevado, principalmente naqueles estados que são importadores, como é o caso de Pernambuco, e a utilização na alimentação de humanos e de não ruminantes, tem estimulado a busca por fontes alternativas de energia, como raízes, tubérculos e resíduos da agroindústria. A mandioca e seus resíduos, em função de sua composição, podem ser fontes de energia alternativas ao milho, pois geralmente apresentam preços inferiores a este alimento. Objetivou-se avaliar o efeito da substituição do milho pela casca de mandioca em dietas para vacas leiteiras sobre o consumo e a digestibilidade dos nutrientes e produção de leite. Material e Métodos O experimento foi realizado na Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI), localizada no município de Iguatemi/PR, pertencente à Universidade Estadual de Maringá (UEM), no setor de bovinocultura leiteira. Foram utilizadas oito vacas da raça Holandês, com período de lactação médio de 88 ±16,9dias. As vacas foram alojadas em instalações do tipo Tie Stall. O período experimental foi dividido em quatro sub-períodos de 21 dias, sendo 14 dias de adaptação às dietas e sete dias de coleta. Foram avaliados quatro níveis de substituição do milho pela casca de mandioca (Tabela 1). A casca de mandioca, constituída de casca e entrecasca, foi desidratada por meio de secagem ao sol, durante três dias. As vacas receberam a alimentação na forma de ração completa, duas vezes ao dia às 7:00 e 16:00 horas. Também foram ordenhadas, mecanicamente, duas vezes ao dia, fazendo-se o registro diário da produção de leite. As sobras de alimentos foram pesadas diariamente, antes da refeição matinal, para estimativa do consumo de alimentos do dia anterior. As amostras de sobras e alimentos foram congeladas a -20ºC e secas em estufa de ventilação forçada por 72 horas à 65ºC e, em seguida, passadas em moinho do tipo Willey (de facas), em peneira de 1 mm. Para estimativa da produção de matéria seca fecal foi utilizado o LIPE® como indicador externo. As análises de matéria seca, matéria mineral, nitrogênio total e extrato etéreo, seguiram as metodologias descritas por Silva & Queiroz (2002). Para determinação da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram utilizadas as metodologias descritas por Van Soest et. al (1991), utilizando bolsas de filtro F57. Os carboidratos totais e o consumo de NDT foram estimados segundo Sniffen et al. (1992). As produções de leite foram registradas individualmente. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de gordura através da equação PLCG = (0,432 + 0,1625 x % gordura no leite) x PL (kg/dia).

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____________________________________________________________ Tabela 1. Composição percentual e química das dietas. Níveis de substituição (%) Ingredientes 0 33 66 100 Casca de mandioca1 0 6,18 12,35 18,53 Milho moído1 19,00 12,67 63,30 0 Farelo de soja1 16,50 16,50 16,50 16,50 Silagem de milho1 45,00 45,00 45,00 45,00 Feno de Tifton1 17,50 17,50 17,50 17,50 Ureia1 0 1,5 3,0 4,5 Mistura mineral1 2,0 2,0 2,0 2,0 Itens Composição química (%) Matéria seca 48,9 48,8 48,7 48,7 Matéria orgânica1 93,0 92,9 92,7 92,6 Proteína bruta1 13,0 13,0 13,0 13,0 Extrato etéreo1 2,7 2,6 2,4 2,3 Fibra em detergente neutro1 45,2 46,4 47,7 48,9 Fibra em detergente ácido1 20,9 22,0 23,4 24,2 1 – % na matéria seca

O delineamento experimental foi o quadrado latino (02 quadrados simultâneos), com quatro tratamentos, quatro vacas por quadrado e quatro períodos. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e regressão e os modelos foram escolhidos baseados na significância dos coeficientes de regressão utilizando o teste t e no coeficiente de determinação. Resultados e Discussão Os consumos de matéria seca, matéria orgânica e NDT (Tabela 2) diminuíram linearmente (P<0,01), em função da substituição do milho pela casca de mandioca. Há uma correlação negativa e elevada entre o consumo de matéria seca e o teor de FDN da dieta, associando o fato à menor taxa de passagem da FDN em relação aos outros constituintes dietéticos, promovendo enchimento do rúmen-retículo e maior permanência da digesta nestes compartimentos. Com a substituição do milho pela casca de mandioca, houve um aumento nos teores de FDN das dietas (Tabela 1) e provavelmente, diminuição no consumo de matéria seca. Tabela 2. Consumo e digestibilidade de nutrientes Itens Níveis de substituição (%) 0 33 66 Consumo (kg/dia) MS 17,33 16,60 16,05 MO 16,44 15,70 15,13 PB 2,31 2,25 2,23 FDN 7,67 7,55 7,45 NDT 13,07 11,40 10,32 Coeficiente de digestibilidade (%) MS 75,20 67,50 62,00 MO 75,70 68,80 64,30 PB 78,70 74,20 70,80 FDN 66,90 50,20 43,70

r2

Equação de regressão

P

100

CV (%)

15,68 14,73 2,23 7,43 9,70

4,25 4,27 3,93 4,57 9,38

0,98 0,98 0,96

Y=17,232-0,0165CM Y=16,344-0,017CM Ŷ=2,2551 Ŷ=7,5249 Y=12,794-0,0336CM

<0,01 <0,01 ns ns <0,01

60,20 62,30 71,50 40,40

5,26 5,62 4,92 12,13

0,94 0,94 0,82 0,89

Y= 0,7379-0,0015CM Y=0,7449-0,0013CM Y=0,7758-0,00748CM Y=0,6315-0,002575CM

<0,01 <0,01 <0,01 <0,01

ns – não significativo - CM – níveis de substituição do milho pela casca de mandioca

Comportamento semelhante foi observado por Menezes et al. (2004) quando trabalharam com cabras utilizando quatro níveis de substituição do milho pela casca de mandioca (níveis máximos de casca de mandioca na dieta de 30%), e também observaram diminuição no consumo de matéria seca à medida que o milho era substituído. O consumo de FDN não foi alterado (P>0,05) em função da inclusão da casca de mandioca em substituição ao milho. O teor de FDN aumentou com a substituição (Tabela 1), compensando a queda linear no consumo de matéria seca. Mertens (1994) comentou que para vacas com produção de 20 kg/leite/dia o consumo de matéria seca não foi restringido quando a dieta continha 44% de FDN, entretanto deve-se levar em consideração que as fontes de FDN, principalmente, a taxa e a extensão da digestão da fibra podem influenciar esses valores. O consumo de PB não foi alterado (P>0,05), provavelmente devido à seleção da dieta por parte das vacas, uma vez que, por meio de observações visuais, foi verificado sobras compostas por feno e casca de mandioca, desta forma, as vacas podem ter feito seleção de alimentos com teores maiores de PB, como o milho e por este motivo o consumo de PB não apresentou o mesmo comportamento do consumo de matéria seca.

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____________________________________________________________ As exigências de matéria seca, NDT e proteína bruta, para as vacas nas condições deste experimento, de acordo com o NRC (2001) foram de 17,0; 9,66 e 2,37 kg/dia. Os valores encontrados para as vacas alimentadas com a dieta sem casca de mandioca ficaram próximos aos recomendados, o que justifica a queda linear na produção de leite (Tabela 3). Os coeficientes de digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta e FDN diminuíram linearmente (P<0,01) com a inclusão da casca de mandioca em substituição ao milho. Este comportamento pode ter ocorrido em função do aumento nos níveis de FDA das dietas (Tabela 1). Como discutido anteriormente essa queda na digestibilidade pode ter acarretado em maior permanência do alimento no trato gastrointestinal com conseqüente redução no consumo. Quanto a produção de leite, também foi observada redução linear (P<0,01) quando o milho foi substituído pela casca de mandioca (Tabela 3). Este comportamento ocorreu em função do menor consumo de nutrientes, notadamente energia. Tabela 3. Produção de leite Níveis de substituição (%) Itens

r2

Equação de regressão

P

CV (%)

0

33

66

100

PL (kg/dia)

21,12

20,61

19,60

18,87

3,33

0,99

Y=21,212-0,0233CM

<0,01

PLC (kg/dia)

20,35

20,28

18,99

18,2

5,40

0,92

Y=20,601-0,0228CM

<0,01

PL – produção de leite PLC – produção de leite corrigido para 3,5% de gordura CM – níveis de substituição do milho pela casca de mandioca

Conclusões Em função da redução no consumo de nutrientes, principalmente energia e na produção de leite, não se recomenda a substituição do milho pela casca de mandioca em dietas de vacas em lactação com produção de 20 kg/dia. Literatura citada MENEZES, M.P.C.; RIBEIRO, M.N.; COSTA, R.G.; MEDEIROS, A.N. Substituição do Milho pela Casca de Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Rações Completas para Caprinos: Consumo, Digestibilidade de Nutrientes e Ganho de Peso. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.3, p.729-737, 2004. MERTENS, D.R. Regulation of forage intake. In: FAHEY JR., G. C. et al. (Ed.). Forage quality, evaluation and utilization. American Society of Agronomy, Crop Science Society of American and Soil Science Society of America, Madison, Wisconsin, p.450-493. 1994. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of dairy cattle. 7.ed.rev. Washington, D.C.: National Academy Press, 2001. 381p. SILVA, J.D.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos (Métodos químicos e biológicos). 3.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 235p. SNIFFEN, C.J.; O’CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J., FOX, D.G.; RUSSELL, J.B. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets; II. Carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science, v.70, n.11, p.3562-3577, 1992. VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J.B.; LEWIS, B.A. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, and nonstarch polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy Science, v.74, n.10, p.3583-3597, 1991.

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____________________________________________________________ Produtividade de genótipos azevém cultivados em consórcio e estreme na Região Central do Rio Grande do Sul Izabele Kruel1, Liziany Müller2, Cléber José Tonetto3, Alexandre Motta de Souza3, Jorge Luis Carvalho Flores3, Andriéli Hedlund Bandeira4 Aluna de graduação em Agronomia – UNICRUZ. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, Brasil. e-mail: lizianym@hotmail.com 3 Instituto Federal Farroupilha, São Vicente do Sul, RS. 4 Aluna pós graduação em Agronomia – UFSM, RS. 1 2

Productivity of ryegrass genotypes grown in consortium and alone in the Central Region of Rio Grande do Sul Abstract: The objective of this study was to evaluate the productivity of genotypes of diploid and tetraploid ryegrass (Lollium multiflorum L.) grown in consortium and alone in the Central Region of Rio Grande do Sul. The experimental design was randomized block with three blocks and three treatments: INIA Titan (tetraploid), BRS Ponteio (diploid) and the consortium (INIA Titan + Ponteio BRS). The consortium of the genotypes of ryegrass Titan INIA (tetraploid) + BRS Ponteio (diploid) can be used as an alternative to cattle pasture during the cold months in the state. The genotype INIA Titan get greater total leaf productivity in relation to the diploid genotype and the consortium studied. Keywords: consortium, forage, Lolium multiflorum L. Introdução O uso de pastagem cultivada de inverno pode ser uma ótima opção para proporcionar alimentação de qualidade no período em que os rebanhos estão sofrendo déficit alimentar. Ainda em sistemas mais intensivos de produção, as pastagens cultivadas de inverno são usadas para redução da idade de abate ou de acasalamento e, quando manejadas de forma satisfatória, podem ser rentáveis economicamente. Um dos maiores desafios enfrentado pelos produtos é manejar corretamente as pastagens, sendo que muitos fatores interferem na qualidade e disponibilidade da pastagem, como as características genéticas da planta, época do ano, carga animal, o sistema de produção e a estratégia de manejo de pastagem. A consorciação das gramíneas hibernais anuais ou sua associação com leguminosas é muito difundida no sul do Brasil, e sempre que possível é recomendada por prolongar o período de utilização da pastagem, fator esse que pode ser importante no acabamento de animais para o abate (Tonetto, 2009). Entre as espécies mais empregadas para este tipo de manejo está o azevém (Lolium multiflorum Lam.) devido a sua capacidade de ressemeadura natural, adaptação a diferentes ambientes e pela facilidade de implantação. No entanto, é fundamental, para garantir altos rendimentos, conhecer os genótipos de azevém que mais se adaptam em cada região de produção. O objetivo deste trabalho foi avaliar a produtividade e de genótipos de azevém (Lollium multiflorum L.) cultivados em consórcio ou extreme na Região Central do Rio Grande do Sul. Material e Métodos O experimento foi realizado na área da Fazenda Escola do Instituto Federal Farroupilha (IFF) de São Vicente do Sul, localizada na região fisiográfica denominada Depressão Central do Rio Grande do Sul no período de junho a dezembro de 2009. O clima da região é Cfa, subtropical úmido, segundo a classificação de Köppen. O solo é classificado como Argissolo Vermelho distrófico arênico, unidade de mapeamento São Pedro. O delineamento experimental adotado foi o blocos ao acaso, com três blocos e três tratamentos: INIA Titán (tetraplóide), BRS Ponteio (diplóide) e o consórcio (INIA Titán+BRS Ponteio). A correção do pH e a adubação do solo foram baseadas na análise de solo da área experimental, seguindo as recomendações da Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC. A semeadura foi realizada manualmente no dia 03/06/2009. O solo foi preparado pelo método convencional com densidade de 25 kg ha-1 de sementes, sendo este valor corrigido de acordo com a pureza e a germinação dos genótipos. A adubação nitrogenada em cobertura foi parcelada em quatro aplicações: 25/06/2009; 04/09/2009; 15/10/2009; 11/11/2009, respectivamente, com 25 kg ha -1 de nitrogênio, na forma de uréia. Cada unidade experimental foi composta por um canteiro com cinco fileiras de 4 m de comprimento e espaçamento de 0,2 m entre fileiras. Foram realizados seis cortes foram realizados manualmente com auxílio de uma tesoura, sendo que o primeiro corte foi realizado quando os genótipos atingiram estatura de 20 cm, os demais cortes ocorreram a cada 21 dias nas seguintes datas: 25/08; 03/09; 23/09; 07/10; 19/10 e 04/11. A matéria verde proveniente dos cortes foi pesada e retirada uma sub amostra, a qual foi seca em estufa de ar forçado a 65°C até peso constante para determinação da MS. A produção total de MS da forragem (kg ha -1) foi estimada pelo somatório da massa de forragem coletada nos cortes. As variáveis avaliadas foram produtividade de folha, colmo, matéria seca (MS) e produtividade total.

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____________________________________________________________ Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as médias das variáveis qualitativas comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Resultados e Discussão A produtividade de matéria seca (MS) de folha para INIA Titán foi superior (P<0,05) ao Ponteio e ao Consórcio (Tabela 1). Rocha et al. (2007) avaliando a produção do genótipo INIA Titán na região Central do RS, submetido a seis cortes, obteve 5680 kg de MS ha-1, desempenho inferior a este estudo. Tabela 1. Valores médios de matéria seca (MS) para folha, colmo e total para diferentes genótipos de azevém. Produtividade Matéria Seca (kg ha-1) Tratamento Folha Colmo Total INIA Titán

6180,3a

1227,6a

7420,9a

BRS Ponteio

3342,3b

637,5b

3695,7b

Consórcio CV %

3166,3b 11,69

602,7b 16,57

3695,0b 12,88

*Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas colunas diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%

A maior produtividade de folhas do INIA Titán corrobora com Castro & Pereyra (2008) que comentam que os genótipos tetraplóides são resultados de programas de seleção e melhoramento de azevém no Uruguai, onde foram selecionados para produzirem maiores proporções de folhas que colmos. A produtividade de MS de colmo foi menor para o genótipo INIA Titán diferindo significativamente (P<0,05) dos demais (Tabela 1). Embrapa (2009) cita que o genótipo BRS Ponteio foi melhorado para obter maior produção de folhas em relação ao genótipo Comum cultivado no Estado. Assim, a sua maior proporção de colmos em relação ao INIA Titán se deve as características individuais desse genótipo tetraplóide. Rocha et al. (2007) cita que o genótipo tetraplóide Titán possui maior proporção de folhas e pequeno alongamento de entrenós. A produtividade total de MS do INIA Titán também foi superior (P<0,05) aos demais (Tabela 1). Rocha et al. (2007) avaliando na Depressão Central do Rio Grande do Sul o genótipo INIA Titán verificaram seis cortes 7190 kg de MS ha-1 e concluíram que este genótipo se caracteriza pela extensão do seu ciclo produtivo, alta produtividade com qualidade mais estável e elevada proporção de folhas na matéria seca. Os valores foram similares ao observado nesse estudo. Já Milttelmann et al. (2010) ao avaliar a produtividade do genótipo BRS Ponteio no sudeste do RS observou produção total de 3905,67 kg de MS ha-1, resultado similar ao encontrado nesse estudo. Conclusões O consórcio dos genótipos de azevém INIA Titán (tetraplóide) + BRS Ponteio (diplóide) pode ser usado como alternativa para formação de pastagens durante os meses de frio no Estado. O genótipo INIA Titán obtém maior produtividade de folhas e total em relação ao genótipo diplóide e ao consórcio estudados. Literatura citada CASTRO, M.; PEREYRA, S. Evaluación de cultivares. Disponível em: <http:www.inia.org.uy/convenio_inase_ inia/resultados/raigrasa.htm>. Acesso em: maio/2008. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Acesso em: http://www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/folder/azevem02.pdf Mittelmann, A.; Montardo, D.P.; Castro, C.M.; Nunes, D.M.; Buchweitz, E.D.; Corrêa, B. O. Caracterização agronômica de populações locais de azevém na Região Sul do Brasil. Ciência Rural, v.40, n.12, dez, 2010. ROCHA, M.G et al. Avaliação de espécies forrageiras de inverno na Depressão Central do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.6, supl., p.1990-1999, 2007. TONETTO, J. C. Avaliação de genótipos de azevém diplóide e tetraplóide com manejos distintos de cortes visando duplo propósito. Santa Maria - RS, 2009. 54 f. Tese (Doutor em Agronomia), Faculdade de Agronomia. Universidade Federal de Santa Maria.

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____________________________________________________________ Análise descritiva do peso vivo ao abate e da biometria da carcaça de ovinos Santa Inês criados no semiárido Priscila Maia Pinheiro1, Tatiana Cortez de Souza2, Lucas Fialho de Aragão Bulcão2, Adriana de Farias Jucá3, Evandro Neves Muniz4, Luis Fernando Batista Pinto5 1

Bolsistas do Projeto Permanecer da UFBA, BRA. email: priscila.maia18@yahoo.com.br Bolsista de Iniciação Cientifica PIBIC/UFBA, BRA. emails: lucasbulcao@hotmail.com e tatiana-cortez@hotmail.com 3 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal nos Trópicos - UFBA, BRA. email: afjuca@ig.com.br 4 Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, SE. email: evandro@cpatc.embrapa.br 5 Docente do Departamento de Produção Animal da UFBA, BRA. emails: luisfbp@gmail.com e afjuca@ig.com.br 2

Descriptive analysis of the live weight at slaughter and carcass biometry of Santa Ines sheep raised in semiarid Abstract: for ovine meat yield system evaluation is important to know the quantitative and qualitative carcass traits. Thus, this study aimed to describe the live weight at slaughter and biometrics carcass traits of Santa Ines breed and found confidence interval for mean of those traits. The research was conducted with 68 Santa Inês sheep slaughtered at around 12 months old, raised on pasture during the day and housed at night, when they received corn silage. The live weight at slaughter was measured after fasting for 16 hours. After 24 chilled, internal and external carcass lengths, rump and chest widths, chest depth, rump perimeter, and leg length were estimated. Minimum and maximum values, mean and their upper and lower bounds with 95% confidence, total amplitude and coefficient of variation were estimated. Mean values of Live weight at slaughter (39.9 kg), external (66.28 cm) and internal (66.50 cm) carcass lenght, leg length (47.80 cm), rump width (23.53 cm), rump perimeter (64.32 cm), chest width (21.92 cm) chest depth (29.23 cm) were higher than expected values for Santa Ines, but other studies showed results of animals slaughtered around six months old, while in the present study the animals were slaughtered at approximately 12 months of age. Keywords: breeding improviment, carcass morphometry, meat, lamb Introdução Para avaliar o potencial produtivo de uma raça dentro de um sistema de produção de carne é fundamental conhecer as características quantitativas e qualitativas da carcaça dos animais. Mensurar medidas de comprimento, largura e perímetros de partes da carcaça como, tórax, perna e garupa, pode ajudar a identificar linhagens que tenham melhor potencial para produzir carcaça de qualidade e com maior rendimento de partes comestíveis. A raça Santa Inês possui poucos estudos de avaliação morfométrica da carcaça. A maioria dos estudos encontrados na literatura apresentam como enfoque principal a avaliação de alimentos e/ou dietas e sua influência sobre a carcaça. Estes estudos isolam o efeito dos animais ao utilizar grupos homogênios. Desta forma, os valores estatísticos (médias, desvios-padrão, coeficientes de variação etc) encontrados nestes estudos, não representam bem a raça, devido a seleção prévia que se fez para ter um grupo homogêneo. Assim, o objetivo desta pesquisa foi descrever as características de peso vivo ao abate e de biometria da carcaça de ovinos Santa Inês criados no semiárido. Material e Métodos A pesquisa foi desenvolvida com 68 ovinos Santa Inês abatidos com cerca de 12 meses de idade, criados no Campo Experimental Pedro Arle, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, no município de Frei Paulo/SE. Todos os animais foram criados a pasto durante o dia e recebiam silagem de milho no cocho, quando eram confinados a noite. O peso vivo ao abate foi aferido após jejum de 16 horas. Após o abate as carcaças foram resfriadas em câmara fria por 24h. Após este período, com o uso de fita métrica, régua e compasso, aferiu-se nas carcaças frias, os comprimentos externo (distância entre a base da cauda e do pescoço) e interno (distância máxima entre o bordo anterior da sínfese ísquio-pubiana e o bordo anterior da primeira costela, em seu ponto médio) da carcaça; as larguras da garupa (largura máxima entre os trocânteres dos fêmures) e do tórax (largura máxima desta região anatômica); a profundidade do tórax (distância máxima entre o esterno e o dorso da paleta); o perímetro da garupa (mensuração tomando-se como base os trocânteres dos fêmures); e o comprimento da perna (distância entre o períneo e o bordo anterior da superfície tarso metatarsiana). A estatística descritiva foi obtida utilizando o PROC MEANS do programa Statistical Analysis System (SAS, 2004), com o qual foram estimados os valores de máximo e mínimo, a amplitude total, a média com seus respectivos limites inferior e superior com 95% de confiança e o coeficiente de variação. Resultados e Discussão A média de peso vivo ao abate ficou acima do valor sugerido por Silva e Araújo (2000), os quais determinaram que o peso ótimo de abate fica entre 25 e 35 kg, uma vez que a deposição acentuada de gordura inicia-se por volta de 35kg de peso vivo. Entretanto, destaca-se que os animais aqui avaliados foram abatidos com cerca de 12 meses de idade, portanto, bem acima dos seis ou sete meses que costuma-se fazer abate de ovinos no Brasil. A amplitude total do peso (20 kg) também foi bastante alta, o que revela que o rebanho em questão não vem sendo selecionado para peso. Este é um fato esperado, por ser um rebanho com fins experimentais. Porém, a elevada variabilidade de tamanho na raça Santa Inês é algo comum mesmo em rebanhos comerciais, o

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____________________________________________________________ que evidencia a necessidade de desenvolver um trabalho de melhoramento mais eficaz. No presente estudo o coeficiente de variação foi de 11,61%, indicando que o peso teve a maior variabilidade dentre todas as características avaliadas. As características de carcaça aqui avaliadas também apresentaram grande amplitude total, porém os coeficientes de variação foram consideravelmente menores que aquele observado para peso vivo no abate. Portanto, a despeito das diferenças de peso vivo no abate, existe maior similaridade nas carcaças dos animais deste rebanho se comparado ao peso vivo. No que diz respeito aos comprimentos da carcaça, os valores aqui observados foram superiores aqueles descritos por Sá et al. (2005) e Araújo Filho et al., (2007). A largura e a profundidade do tórax também foram superiores ao valores encontrados por Ortiz et al. (2005), que relataram 19,16 cm e 24,56 cm, respectivamente. Os maiores valores aqui encontrado, provavelmente decorrem da maior idade de abate dos animais avaliados no presente estudo, indicando que o avanço da idade permite obter animais com carcaça de maior comprimento, largura e profundidade. O comprimento da perna, região anatômica do corte cárneo bastante valorizado, foi maior que o relatado por Sá et al (2005) (35,07 cm) e Araújo Filho et al. (2007) (39,75 cm). O mesmo pode ser observado para perímetro da garupa, pois Araújo Filho et al. (2007) relataram média de 56,94 cm para essa característica, enquanto o presente estudo indica que o intervalo de confiança para a média desta característica de 63,53 a 65,11 cm. A despeito da elevada idade de abate dos animais aqui avaliados, o presente estudo não teve por objetivo sugerir um aumento da idade de abate dos ovinos, pois os ganhos advindos do aumento observado nos valores biométricos da carcaça não compensariam os gastos oriundos da manutenção destes animais por tanto tempo a mais no sistema de produção. Este estudo objetivou e conseguiu evidenciar a grande variabilidade que existe nos animais desta raça, principalmente quando se considera o peso vivo na idade de abate. Este estudo também apresentou valores médios com estimativas mais acuradas, pois outros estudos, a exemplo do estudo de Araújo Filho et al. (2007), que utilizaram apenas 18 ovinos da raça Santa Inês, tinham como finalidade avaliar dietas ou recomendações de natureza nutricional e não, necessariamente, fazer uma descrição dos valores médios com boa acurácia. Tabela 1. Estatística descritiva do peso vivo ao abate e das características morfométricas da carcaça de ovinos Santa Inês LIM LSM CV Características Mínimo Máximo AT Média 95% 95% (%) Peso ao Abate (kg)

29,00

49,00

20,00

39,97

38,8490

41,0960

11,61

Comprimento externo da carcaça

59,50

79,69

20,19

66,28

65,3806

67,1867

5,63

Comprimento interno da carcaça

52,00

74,50

22,50

66,50

65,2622

67,7348

7,68

Comprimento da perna

43,00

66,50

23,50

47,80

47,0946

48,5083

6,11

Perímetro da garupa

51,00

70,00

19,00

64,32

63,5299

65,1083

5,07

Largura da garupa

18,60

26,80

8,20

23,53

23,1641

23,9006

6,46

Largura do tórax

18,80

27,10

8,30

21,92

21,4834

22,3607

8,27

Profundidade do tórax

24,30

32,40

8,10

29,23

28,7696

29,6951

6,54

AT – Amplitude Total; LIM e LSM – limites inferior e superior da média com 95% de confiança; CV – coeficiente de variação.

Conclusões Os valores evidenciaram maior variação de peso vivo ao abate se comparado as medidas de biometria da carcaça. Indicando que trabalhos de melhoramento devem ser executados para explorar essa variabilidade. O fato dos animais terem sido abatidos com aproximadamente 12 meses de idade levou os valores médios de peso e das características de carcaça a serem maiores que aqueles relatados em alguns estudos da literatura. Apesar disso, não se pode dizer que os aumentos foram tão expressivos a ponto de poder se recomendar uma elevação na idade de abate. Os intervalos com 95% de confiança para a média são: peso ao abate (38,84 a 41,10); comprimento externo da carcaça (65,38 a 67,19); comprimento interno da carcaça (65,26 a 67,73); comprimento da perna (47,09 a 48,51); perímetro da garupa (63,53 a 65,11); largura da garupa (23,16 a 23,90); largura do tórax (21,48 a 22,36); e profundidade do tórax (28,77 a 29,69). Agradecimentos Os autores agradecem à EMBRAPA Tabuleiros Costeiros por disponibilizar a infraestrutura e os animais experimentais; ao CNPQ pelo apoio concedido nos projetos 562551/2010-7 e 474494/2010-1; a FAPESB pelo apoio no Projeto 5803/2009; e a UFBA pela concessão de bolsa do projeto permanecer a discente Priscila Maia Pinheiro e das bolsas PIBIC aos discentes Tatiana Cortez de Souza e Lucas Fialho de Aragão Bulcão. Literatura citada ARAÚJO FILHO, J. T.; COSTA, R. G.; FRAGA, A. B.; SOUSA, W. H.; GONZAGA NETO, S.; BATISTA, A. S. M.; CUNHA, M. G. G. Efeito de dieta e genótipo sobre medidas morfométricas e não constituintes da carcaça de cordeiros deslanados terminados em confinamento. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.8, n.4, p. 394-404, 2007.

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____________________________________________________________ ORTIZ, J. S.; COSTA, C.; GARCIA, C. A.; SILVEIRA, L. V. A. Efeito de Diferentes Níveis de Proteína Bruta na Ração sobre o Desempenho e as Características de Carcaça de Cordeiros Terminados em Creep Feeding. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p.2390-2398, 2005. SÁ, J. L.; SIQUEIRA, E. R.; SÁ, C. O.; ROÇA, R. O.; FERNANDES, S. Características de carcaça de cordeiros Hampshire Down e Santa Inês sob diferentes fotoperíodos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.40, n.3, p.289-297, 2005. SAS. SAS/STAT User’s Guide: version 9.1. North Caroline, SAS Institute, 2004. 5136p. SILVA, F. L. R.; ARAÚJO, A. M. Características de reprodução e de crescimento de ovinos mestiços Santa Inês, no Ceará. Revista Brasileira de Zootecnia. v.29, n.6, p.1712-1720. 2000.

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____________________________________________________________ Dietas de frangos de corte com ingredientes de origem animal e suplementação de creatina Broiler diets with products of animal origin and creatine supplementation Carolina Magalhães Caires Carvalho1, Evandro de Abreu Fernandes2, Alexssandre Pinto de Carvalho3, Mônica Patrícia Maciel4, Renata Magalhães Caires5, Nadia Simarro Fagundes6 1 -Parte da Dissertação do primeiro autor, apresentada à FAMEV/UFU, Rua Pedro Crosara Cherulli, 143 apto1, Cep:38400044 Uberlândia-MG. *Autor para correspondência: carollcaires@yahoo.com.br 2 -Docente da Faculdade de Medicina Veterinária-FAMEV/UFU, Uberlândia-MG. 3Secretaria Estadual de Meio Ambiente-SEMAD, Uberlândia-MG. 4Docente do curso de Zootecnia – UNIMONTES, Montes Claros-MG. 5Aluna do curso de Zootecnia- UFMG, Montes Claros-MG. 6 -Doutorando do programa de pós-graduação em Ciência Veterináriasl-FAMEV/UFU, Bolsista daCapes.

Abstract: The objective of this study was to evaluate the performance and carcass characteristics of broilers using diets with exclusive use of vegetable ingredients, diets with inclusion of animal ingredients and the addition or absence of creatine from 8 days of age. In the experiment, 1080 one-day-old male chicks were distributed in a completely randomized experimental design with 6 treatments with 6 replicates. The diet was formulated and produced with corn and soybean meal, or not being included in ingredients of animal origin and creatine. In the formulation were maintained constant levels of minerals (calcium, phosphorus and sodium) and amino acids (methionine + cystine, lysine and threonine available) according to the following treatments: A. Control (diet based on corn and soybean meal); B. Control + Creatine (600g/ton); C. Inclusion of 5% meat and bone meal (MBM), D. Adding 5% MBM + Creatine (600g/ton) and E. Adding 5% blood meal (BM), F. Adding 5% BM + Creatine (600g/ton). The evaluated characteristics were weight gain, feed intake, feed conversion, carcass yield and viability. It is concluded that the 42 days to include animal meal provided the worst performance. The use of creatine in the diet which included 5% BM improved weight gain when compared with the same diet without the use of the additive. Keywords: blood meal,carcass yield, meat and bone meal, performance Introdução Os ingredientes de origem animal são ingredientes largamente utilizados em dietas de frangos de corte atuando geralmente como redutor nos custos das formulações. As farinhas de carne e ossos e a farinha de sangue são ingredientes que apresentam uma boa proteína podendo substituir parcialmente o farelo de soja. A farinha de carne e ossos além de ser fonte de proteínas é uma fonte importante de minerais como cálcio (Ca) e fósforo (P) considerados de total disponibilidade enquanto nos produtos de origem vegetal, o fósforo é somente 33% biodisponível para os animais devido à presença do fitato (Bellaver et al.,2005) O uso de aditivos nutricionais vem se tornando cada vez mais comum nas rações avícolas, pois o seu uso pode melhorar o desempenho de frangos de corte. A creatina, composto produzido a partir de aminoácidos (arginina, glicina e metionina), poderá participar desse mercado, por ser um precursor essencial na produção de energia dos músculos além de favorecer o crescimento dos mesmos. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho zootécnico e características de carcaça de frangos de corte utilizando dietas com uso exclusivo de produtos de origem vegetal, dietas com inclusão de ingredientes de origem animal e a adição ou não de creatina. Material e Métodos O experimento foi conduzido na Granja de Experimentação de Aves, na Fazenda do Glória, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia, em Uberlândia-MG. Foram utilizados 1080 pintos de um dia machos com peso médio inicial de 43g, da linhagem Avian 48, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos e seis repetições de 30 aves cada. As dietas foram baseadas em combinações dos ingredientes milho, farelo de soja, farinha de carne e ossos (FCO), farinha de sangue (FS), óleo de soja, fosfato bicálcico, calcário, sal, premix vitamínico-mineral, aminoácidos (DL metionina, L-lisina e treonina) e creatina (600g/ton de ração) e foram fornecidas em um programa de quatro fases: pré-inicial, inicial, engorda e abate (Tabela1). A inclusão de ingredientes de origem animal e da creatina (creAminotm) na dieta foi a partir do 8º dia de vida dos pintinhos e a porcentagem de inclusão das farinhas de origem animal nas rações inicial, engorda e abate foram pré estabelecidas de acordo com os tratamentos: A. Controle (dieta à base de milho e farelo de soja); B. Controle + Creatina (600g/ton); C. Inclusão de 5% de farinha de Carne e ossos (FCO); D. Inclusão de 5% de FCO + Creatina(600g/ton); E. Inclusão de 5% de farinha de sangue (FS); F. Inclusão de 5% de FS + Creatina(600g/ton). As aves foram alojadas com um dia de idade e criadas até os 42 dias. Foram estudados consumo de ração (CMR), peso vivo (PV), conversão alimentar (CA), conversão alimentar real (CAR), viabilidade (VB) e rendimento de carcaça (RC). Os dados foram submetidos à ANAVA (0,5%) e teste de Scott-Knott.

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____________________________________________________________ Tabela 1- Composição nutricional da dieta experimental Prein Inic Eng Nutrientes Proteína Bruta (%) AB CD EF AB CD EF AB 22,11 21,14 21,14 22,24 19,73 20,0 20,6 20,28 2,960 3,050 3,150 EM (Mcal/kg) Met+Cist disp (%) 0,96 0,85 0,79 Lis disp (%) 1,36 1,18 1,10 EM=energia metabolizável; Met+Cist disp=metionina+cistina disponível; Lis disp= lisina disponível

Abat CD 20,92 3,200 0,75 1,05

EF 19,76

Resultados e Discussão Aos 35 dias de idade, observou-se que as variáveis estudadas não foram influenciadas pelos tratamentos (p>0,05) demonstrando que o uso das farinhas de origem animal na dieta obtiveram o mesmo desempenho quando comparada a dieta controle (Tabela 2). Estes resultados concordam com os obtidos por Junqueira et al. (2000) que não encontraram diferenças significativas no desempenho ao adicionarem FCO nas rações de frangos de corte no mesmo período. Halle et al. (2006) mostraram que a suplementação de creatina (1g, 2g, 5g e 10g/kg) em uma dieta à base de milho e farelo de soja melhorou o ganho de peso em comparação ao grupo controle no mesmo período, diferindo dos resultados encontrados neste trabalho. Tabela 2- Desempenho de frangos de corte, submetidos a dietas com farinhas de origem animal e creatina, aos 35 dias de idade Tratamentos

Consumo de Peso vivo (kg) CA Real CA Viabilidade ração (kg) (%) A 3,655ª 2,392ª 1,505ª 1,527ª 92,22ª B 3,917ª 2,444ª 1,504ª 1,606ª 87,22a C 3,696ª 2,376ª 1,461ª 1,555ª 89,46ª D 3,575ª 2,342ª 1,503ª 1,528ª 93,88ª E 3,723ª 2,335ª 1,528ª 1,596ª 89,44ª F 3,799ª 2,397ª 1,478ª 1,585ª 86,66ª CV 8,23 3,29 7,65 8,73 3,08 A-Ração Controle; B-Controle+Creatina; C-Inclusão de 5% FCO; D-Inclusão de 5% de FCO+Creatina; E-Inclusão de 5% de FS; F-Inclusão 5% de FS+Cretina; CV=coeficiente de variação Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem pelo teste Scott-Knott (P<0,05) Os resultados do desempenho aos 42 dias de idade estão apresentados na tabela 3. O peso vivo foi significativamente menor (p<0,05) no tratamento que incluía 5% de FS (tratamento E). A adição de creatina na ração que incluía 5% de FS melhorou o ganho de peso quando comparado ao mesmo tratamento sem o uso do aditivo. A conversão alimentar foi pior no tratamento com 5% de FS seguido do tratamento com 5% de FCO e do tratamento com 5% de FS+Creatina. Donkoh et al. (1999) concluíram que a inclusão de 5 e 7,5% de FS levaram a melhor ganho de peso e conversão alimentar quando comparadas aos tratamentos 0,0 e 2,5% de FS. Tabela 3-Desempenho de frangos de corte, submetidos à dietas com farinhas de origem animal e creatina, aos 42 dias de idade Tratamentos

Consumo de CA Viabilidade Peso vivo (kg) CA Real ração (kg) (%) 5,397ª 2,994ª 1,756ª 1,806ª 88,88ª A B 5,738ª 3,048ª 1,738ª 1,881ª 81,11ª C 5,999ª 2,945ª 1,841ª 2,035b 81,73ª D 5,411ª 2,915ª 1,798ª 1,856ª 90,00ª E 5,677ª 2,745b 1,886ª 2,070b 82,77ª F 5,867ª 3,004ª 1,796ª 1,953b 82,77ª CV 7,22 3,85 5,20 7,20 8,59 A-Ração Controle; B-Controle+Creatina; C-Inclusão de 5% FCO; D-Inclusão de 5% de FCO+Creatina; E-Inclusão de 5% de FS; F-Inclusão 5% de FS+Cretina; CV=coeficiente de variação Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem pelo teste Scott-Knott (P<0,05) Os resultados de rendimento de carcaça, de peito com osso, peito sem osso e coxa + perna, estão apresentados na tabela 4. As variáveis estudadas não foram influenciadas (p>0,05) pelo uso de ingredientes de origem animal. Esses resultados foram semelhantes aos achados por Halle et al. (2006) que mostraram que a suplementação de creatina (1g, 2g, 5g e 10g/kg) em uma dieta à base de milho e farelo de soja não influenciou no rendimento de carcaça no mesmo período.

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____________________________________________________________ Tabela 4- Rendimento da carcaça (RC), peito com osso, peito sem osso e coxa+perna de frangos de corte, submetidos a dietas com farinhas de origem animal e creatina, aos 42 dias de idade. RC (%) Peito c/ osso Peito s/ osso Coxa + perna Tratamentos A 65,00ª 36,44ª 29,31ª 28,96ª 64,98ª 36,61ª 28,85ª 29,38ª B C 65,17ª 35,88ª 28,96ª 29,38ª D 64,96ª 36,18ª 29,45ª 28,90ª 63,81ª 36,43ª 29,47ª 28,02ª E F 64,06ª 36,29ª 28,82ª 28,22ª CV 3,03 6,15 9,06 4,14 A-Ração Controle; B-Controle+Creatina; C-Inclusão de 5% FCO; D-Inclusão de 5% de FCO+Creatina; E-Inclusão de 5% de FS; F-Inclusão 5% de FS+Cretina; CV=coeficiente de variação Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem pelo teste Scott-Knott (P<0,05) Conclusões A inclusão de farinhas de origem animal nas rações de frangos de corte prejudicou o desempenho aos 42 dias de idade. A adição de creatina não influenciou nos resultados de desempenho e características de carcaça, destaca-se, entretanto que aos 42 dias de idade o uso do aditivo na ração que incluía farinha de sangue melhorou o ganho de peso quando comparado ao mesmo tratamento sem o uso do aditivo. Literatura citada BELLAVER, C.;COSTA, C.A.; AVILA, V.S.; FRAHA, M.; LIMA, G.J.; HACKENHAR, L.; BALDI, L. Substituição de farinhas de origem animal por ingredientes de origem vegetal em dietas para frangos de corte. Ciência Rural, v.35, n.3, p.671-677, 2005. DONKOH, A.;ATUAHENE, C.C.; ANANG, D.M. Chemical composition of solar-dried blood meal and its effect on performance of broiler chickens. Animal Feed Science and Technology, v. 81, p-299-307,1999. HALLE, I.;HENNING, M.; KOHLER, P. Untersuchungen zum einfluss von kreatin auf die leistungsmerkmale von legehennen, das wachstum und die ganzkörperzusammensetzung von broilern. Landbauforschung Völkenrode, v.56, n.1/2, p.11-18, 2006. JUNQUEIRA, O.M; FARIAS FILHO, D.E; FARIA, D.E; ARAUJO, L.F; RIZZO, M. F; ARAUJO, C.S; ANDREOTTI, M.O; CANCHERINI, L.C. Farinha de carne e ossos em dietas de frangos de corte.. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37, 2000, VIÇOSA. Anais...Viçosa: Sociedade Brasileira de Zootecnia. Capturado de CD ROOM.

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____________________________________________________________ Uso de farinhas de origem animal na alimentação de frangos de corte Use of animal co-products in broiler diets Carolina Magalhães Caires Carvalho1, Evandro de Abreu Fernandes2, Alexssandre Pinto de Carvalho3, Mônica Patrícia Maciel4, Renata Magalhães Caires5, Nadia Simarro Fagundes6 1 -Parte da Dissertação do primeiro autor, apresentada à FAMEV/UFU, Rua Pedro Crosara Cherulli, 143 apto1, Cep:38400044 Uberlândia-MG. *Autor para correspondência: carollcaires@yahoo.com.br 2 -Docente da Faculdade de Medicina Veterinária-FAMEV/UFU, Uberlândia-MG. 3Secretaria Estadual de Meio Ambiente-SEMAD, Uberlândia-MG. 4Docente do curso de Zootecnia – UNIMONTES, Montes Claros-MG. 5Aluna do curso de Zootecnia- UFMG, Montes Claros-MG. 6 -Doutorando do programa de pós-graduação em Ciências Veterinárias-FAMEV/UFU, Bolsista da Capes.

Abstract: This study aimed to evaluate the performance in broilers fed exclusively with vegetal ingredients and diets with animal co-products from 8 days of age. It were used 540 on-day-old male chicks were distributed in a completely randomized design with three treatments and six repetitions. The diets were formulated based on corn and soybean meal, it was included or not animal coproducts and the formulation was maintained constant levels of minerals (calcium, phosphorus and sodium) and amino acids (methionine, cystine, lysine and threonine), according to treatments: A. Controle (diet based on corn and soybean meal); B. Adding 5% feather meal (FM); C. Adding 5% poultry by-product meal (PM). The evaluated characteristics were weight gain, feed intake, feed conversion and viability. It is concluded, animal co-products inclusion can be used without to compromise the performance of de broilers. Keywords: broilers, feather meal, performance, poultry by-product meal Introdução Visando a diminuição dos custos, hà um crescente interesse na busca por alimentos alternativos na formulação de rações para frangos de corte, já que os gastos com a alimentação representam cerca de 70% dos custos de produção. Uma das alternativas seria o aproveitamento de subprodutos de origem animal, pois devido ao grande crescimento na pecuária houve um aumento no número de abates resultando em grandes volumes desses subprodutos. Os ingredientes de origem animal frequentemente utilizados em dietas de frangos de corte são as farinhas de carne e ossos, farinha de sangue, farinha de penas e farinha de vísceras. São ingredientes que apresentam uma boa fonte de proteína podendo substituir parcialmente o farelo de soja (Pereira, 1993). O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho de frangos de corte utilizando dieta com uso exclusivo de produtos de origem vegetal e dietas com inclusão de ingredientes de origem animal a partir dos oito dias de idade. Material e Métodos O experimento foi conduzido na Granja de Experimentação de Aves, na Fazenda do Glória, Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia, em Uberlândia-MG. Foram utilizados 540 pintos de um dia machos com peso médio de 43g, da linhagem Avian 48, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com três tratamentos e seis repetições de 30 aves cada. As dietas foram baseadas em combinações dos ingredientes milho, farelo de soja, farinha de vísceras de aves (FV), farinha de penas (FP), óleo de soja, fosfato bicálcio, calcário, sal e premix vitamínico-mineral suplementado com aminoácidos (DL metionina, L-lisina e treonina), fornecidas em programa de quatro fases: pré-inicial, inicial, engorda e abate (Tabela 1). A inclusão de ingredientes de origem animal na dieta foi a partir do 8º dia de vida dos pintinhos e a porcentagem de inclusão nas rações inicial, engorda e abate foram pré-estabelecidas de acordo com os tratamentos: A. Controle (dieta à base de milho e farelo de soja); B. Inclusão de 5% de farinha de penas (FP); C. Inclusão de 5% de farinha de vísceras (FV). As aves foram alojadas com um dia de idade e criadas até os 42 dias. Foram estudados consumo de ração (CMR), peso vivo (PV), conversão alimentar (CA), conversão alimentar real (CAR) e viabilidade (VB). Os dados foram submetidos à ANAVA (0,5%) e teste de Scott-Knott. Tabela 1- Composição nutricional da dieta experimental Prein Inic Eng Abat Nutrientes Proteína Bruta (%) A B C A B C A B 22,11 21,14 21,94 21,14 19,73 20,88 19,73 20,28 20,63 EM (Mcal/kg) 2,960 3,050 3,150 3,200 Met+Cist disp (%) 0,96 0,85 0,79 0,75 Lis disp (%) 1,36 1,18 1,10 1,05 EM=energia metabolizável; Met+Cist disp=metionina+cistina disponível; Lis disp= lisina disponível

C 20,71

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____________________________________________________________ Resultados e Discussão Aos 21 dias de idade, observou-se que o CMR, PV, CAR, CA e VB não foram influenciados pelos tratamentos (p>0,05), demonstrando que o uso das farinhas de origem animal na dieta obtiveram o mesmo desempenho quando comparada a dieta controle (Tabela 2). Esses resultados concordam parcialmente com Bellaver et al. (2005) que comparou a inclusão de 4% de farinha de carne e ossos, 3% farinha de vísceras e dietas à base de produtos de origem vegetal, e constatou que aos 21 dias de idades não foi possível detectar nenhuma diferença entre as dietas. Tabela 2 - Desempenho de frangos de corte, submetidos à dietas com farinhas de origem animal, aos 21 dias de idade Consumo de Peso vivo (kg) CA Real CA Viabilidade Tratamentos ração (kg) (%) A 1.341ª 1.003ª 1.379ª 1.329ª 95.555ª 1.374ª 0.996ª 1.423ª 1.378ª 96.666ª B C 1.298ª 0.999ª 1.336ª 1.297ª 96.666ª CV 8,95 4,06 7,11 7,23 3,35 A-Ração Controle; B-Inclusão de 5% FP; C-Inclusão de 5% de vísceras. CV=coeficiente de variação Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem pelo teste Scott-Knott (P<0,05) Os resultados do consumo de ração, peso vivo, conversão alimentar e viabilidade aos 42 dias estão apresentados na tabela 3. Essas variáveis não foram influenciadas (p>0,05) pelos tratamentos. Guichard (2008) mostrou que a inclusão de 1% de farinha de penas na dieta de frangos de corte melhorou o ganho de peso no período de 1 a 45 dias quando comparado à dieta a base de milho e farelo de soja. Tabela 3 - Desempenho de frangos de corte, submetidos à dietas com farinhas de origem animal, aos 42 dias de idade Tratamentos Consumo de CA Real CA Viabilidade Peso vivo (kg) ração (kg) (%) 5.397ª 2.994ª 1.756ª 1.806ª 88.888ª A B 5.372ª 2.868ª 1.785ª 1.873ª 87.221ª C 5.589ª 3.004ª 1.778ª 1.860ª 88.333ª CV 8,31 3,94 6,13 8,54 8,73 A-Ração Controle; B-Inclusão de 5% FP; C-Inclusão de 5% de vísceras. CV=coeficiente de variação Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem pelo teste Scott-Knott (P<0,05) Conclusões O uso de farinhas de origem animal em rações de frangos de corte não comprometeu o desempenho zootécnico, mostrando que as mesmas podem substituir parcialmente o farelo de soja. Literatura citada BELLAVER, C.;COSTA, C.A.; AVILA, V.S.; FRAHA, M.; LIMA, G.J.; HACKENHAR, L.; BALDI, L. Substituição de farinhas de origem animal por ingredientes de origem vegetal em dietas para frangos de corte. Ciência Rural, v.35, n.3, p.671-677, 2005. GUICHARD, B.L. Effect of feather meal feeding on the body weight and feather development of broilers. European Journal of Scientfic Research, V.24, n.3, p.404-409, 2008. PEREIRA, L.E.T. Farinha de vísceras de aves em substituição ao farelo de soja na alimentação de suínos em crescimento e terminação. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa. 1993. 30p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)-Universidade Federal de Viçosa.

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Características morfométricas do aparelho reprodutor de ovinos Santa Inês Bruna Carolina Rezedá dos Santos de Jesus1, Calil de Sá Lopes2, Larissa Kiana Santos Azevedo Martins2, Adriana de Farias Jucá3, Hymerson Costa Azevedo4, Luís Fernando Batista Pinto5 1

Bolsista do Programa Permanecer da UFBA, BRA. e-mail: brunacarolina_rsj@hotmail.com Bolsistas de Iniciação Científica PIBIC/CNPq e UFBA, BRA. e-mails: lil668@hotmail.com e larikine@hotmail.com 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos - UFBA, BRA. email: afjuca@ig.com.br 4 Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros/SE, BRA. email: hymerson@cpatc.embrapa.br 5 Professor do Departamento de Produção Animal da UFBA, BRA. emails: luisfbp@gmail.com e afjuca@ig.com.br 2

Morphometric traits of the reproductive tract of Santa Ines sheep Abstract: testicular biometric analysis in sheep has great importance, because it has positive correlation with several growth traits like body weight, but mainly to be associated with age at puberty and semen quality. Thus, this study aimed to describe the testicular biometric traits of Santa Ines breed raised in semiarid region and found confidence interval for mean of some testicular traits. The research was conducted with 68 Santa Ines sheep slaughtered at around 12 months old, raised on pasture during the day and housed at night, when they received corn silage. Scrotal perimeter, lengths and widths of right and left testes, volume and shape of testes were recorded. Minimum and maximum values, mean value and their upper and lower bounds with 95% confidence interval, total amplitude and coefficient of variation were estimated. After slaughter, weight of the male reproductive system, including testicles, penis and accessory glands were mensured. Scrotal circumference (29.55 cm), right (8.59 cm) and left (8.61 cm) testicle lengths, left (6.18 cm) and right (6.05 cm) testicle widths, right (523.58 cm3) and left (505.69 cm3) testi volumes, and shape of the right and left testicles (0.73 and 0.71, with classification in long oval) were obtained. Male reproductive system had mean weight of 0.57 kg. The right and left testicles had harmony in length, width, volume, and shape and the mean values found here indicate that Santa Ines sheep already have excellent testicular development at 12 months old. Keywords: biometric, breeding, ovine, reproduction, testes Introdução A análise biométrica do desenvolvimento testicular de ovinos tem grande importância, pois possui correlação positiva com o peso vivo, com a idade e com a atividade reprodutiva do animal (SALHAB et al., 2001). A medição das características biométricas testiculares como perímetro escrotal, largura, comprimento, forma e volume testicular pode fazer parte do processo de seleção e avaliação de reprodutores, sendo o volume testicular a medida mais representativa da produção espermática do que o perímetro escrotal. Tal importância se deve ao fato do desenvolvimento testicular estar associado com idade à puberdade, bem como à qualidade do sêmen. Assim, o presente estudo teve por objetivo descrever a biometria testicular de ovinos Santa Inês criados no semiárido sergipano e abatidos com cerca de 12 meses de idade e estabelecer intervalo de confiança para as médias de algumas características dos testículos. Material e Métodos A pesquisa foi desenvolvida com 68 ovinos Santa Inês com cerca de 12 meses de idade, criados no Campo Experimental Pedro Arle, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, no município de Frei Paulo/SE. As avaliações biométricas dos testículos foram realizadas antes do abate dos animais, com o auxílio de fita métrica. Os testículos direito e esquerdo foram tracionados simetricamente no escroto e em seguida foi aferido o perímetro escrotal, envolvendo a fita métrica na região mediana do escroto. Os comprimentos dos testículos direito e esquerdo foram medidos no sentido dorso-ventral, desprezando-se a cabeça e a cauda do epidídimo. As larguras dos testículos direito e esquerdo foram aferidos na região mediana do escroto no sentido látero-medial. Com o comprimento e a largura testiculares obtidos, calculou-se a forma dos testículos, pela razão entre a largura e o comprimento testicular, sendo classificadas em: a) longa (razão 0,5), b) longa moderada (razão entre 0,51 a 0,625, c) longa oval (razão entre 0,626 a 0,750), d) oval esférica (razão entre 0,751 a 0,875), e) esférica (razão > 0,875). Após o abate e pesagem dos diferentes componentes e não componentes da carcaça aferiu-se o peso do aparelho reprodutor masculino, incluindo testículos, pênis e glândulas anexas. As estatísticas descritivas foram obtidas utilizando o programa Statistical Analysis System versão 9.1 (SAS, 2004). Foram estimados os valores de mínimo e máximo, a média, bem como seus limites superior e inferior com 95% de confiança, a amplitude total e o coeficiente de variação. Resultados e Discussão As medidas testiculares em ovinos têm uma correlação positiva, principalmente, com o peso vivo e a idade, sendo a circunferência escrotal a variável de maior correlação (JUCÁ et al., 2009). Salhab et al. (2001) observaram que altas taxas de desenvolvimento em todas as medidas testiculares começaram a partir dos sete meses de idade. Assim, avaliar os animais com 12 meses de idade, como no presente estudo, pode dar uma dimensão maior da qualidade de desenvolvimento deste importante componente do aparelho reprodutor.

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____________________________________________________________ Os comprimentos dos testículos direito e esquerdo não diferenciaram estatisticamente entre si. O mesmo pode ser dito das larguras, como pode ser observado nos intervalos de confiança das médias (Tabela 1), demonstrando harmonia no tamanho dos órgãos. Jucá et al. (2009) avaliando testículos de ovinos em três faixas etárias diferentes (18, 30 e 48 meses) obtiveram as respectivas médias para comprimento: 7,4 cm ± 0,2; 8,3 cm ± 0,2; e 8,7 cm ± 0,8, o que indica que aos 12 meses os animais do presente estudo já apresentam razoável desenvolvimento do comprimento testicular. O fato dos testículos serem harmoniosos em tamanho médio de comprimentos e larguras, também é um bom indicativo, pois assimetrias indicam processos patológicos ou redução de fertilidade, como pode ser observado em Louvandini et al. (2008). As formas testiculares foram classificadas como longo oval com médias entre a escala de 0,626 a 0,750 cm, enquanto Jucá et al. (2009) verificaram formas longas nos animais mais jovens a moderadamente longas nos mais velhos. Essa característica precisa ser avaliada em um número maior de animais para poder definir adequadamente esta classificação, pois no estudo de Louvandini et al. (2008) com carneiros Santa Inês, foram encontradas as classificações moderadamente longo ou longo tendendo a oval, com exceção de alguns deles, que apresentaram o testículo com formato alongado. A pesagem do aparelho reprodutor apresentou média de 0,57 kg, superior ao observado por Pires et al. (2006) que encontraram 0,24 kg em cordeiros com 30,0 kg de peso vivo ao abate e oriundos de parto simples. Tabela 1. Análise descritiva das características testiculares de ovinos Santa Inês. Características

Mínimo Máximo

AT

Média

LIM

LSM

CV (%)

Perímetro escrotal (cm)

23,00

35,00

12,00

29,55

28,9678

30,1399

8,00

Comprimento do testículo direito (cm)

6,00

11,00

5,00

8,59

8,3515

8,8331

11,31

Comprimento do testículo esquerdo (cm)

6,00

11,00

5,00

8,61

8,3355

8,8799

12,76

Largura do testículo direito (cm)

4,00

7,50

3,50

6,18

5,9817

6,3721

12,75

Largura do testículo esquerdo (cm)

4,00

7,50

3,50

6,05

5,8615

6,2462

12,82

Forma do testículo direito (cm)

0,50

1,00

0,50

0,73

0,6995

0,7592

16,52

Forma do testículo esquerdo (cm)

0,50

1,00

0,50

0,71

0,6851

0,7435

16,50

Peso do aparelho reprodutor (kg) 0,36 0,76 0,40 0,57 0,5440 0,5890 16,40 AT – Amplitude Total; LIM e LSM – limites inferior e superior da média com 95% de confiança; CV – coeficiente de variação. Conclusões Os testículos direito e esquerdo possuem harmonia de comprimento, larguras, volume e forma e os valores aqui encontrados indicam que ovinos Santa Inês já apresentam excelente desenvolvimento testicular aos 12 meses de idade. O intervalo de confiança de 95% para a média são: perímetro escrotal (28,97 a 30,14); comprimento dos testículos direito (8,35 a 8,83) e esquerdo (8,33 a 8,88); larguras do testículos direito (5,98 a 6,37) e esquerdo (5,86 a 6,25); volumes dos testículos direito (487,72 a 559,44) e esquerdo (468,61 a 542,77); formas dos testículos direito (0,70 a 0,76) e esquerdo (0,68 a 0,74); e peso do aparelho reprodutor (0,54 a 0,59). Agradecimentos Os autores agradecem a FAPESB pelo apoio financeiro concedido com o termo de outorga APP0116/2009; ao CNPq pelo apoio financeiro concedido com os processos 474494/2010-1 e 562551/2010-7; e a UFBA pela concessão de bolsa do projeto permanecer a discente Bruna Carolina Rezedá e de bolsa PIBIC aos discentes Calil de Sá Lopes e Larissa Kiana Santos Azevedo Martins. Literatura citada JUCÁ, A. F.; MOURA, J. C. A.; GUSMÃO, A. L.; BITTENCOURT, T. C.; NASCIMENTO, M. C.; BARBOSA, C. M. P. Avaliação ultrassonográfica dos testículos e das glândulas sexuais anexas de carneiros Santa Inês. Ciência Animal Brasileira. v.10, n.2, p.650-659, abr/jun., 2009. LOUVANDINI H.; MCMANUS, C.; MARTINS, R. D.; LUCCI, C. M.; CORRÊA, P. S. Características biométricas testiculares em carneiros Santa Inês submetidos a diferentes regimes de suplementação proteica e tratamentos anti-helmínticos. Ciência Animal Brasileira, v. 9, n. 3, p. 638-647, jul./set. 2008. PIRES, C. C.; CARNEIRO, R. M.; MÜLLER, L.; SOUZA, J. H. S.; CARDOSO, A. R.; PERES NETO, D.; VOLLENHAUPT, L. S. Avaliação da carcaça e componentes do peso vivo, de cordeiros de parto simples desmamados, parto simples não desmamados e de parto duplo desmamados. Revista Brasileira de Agrociência, Pelotas, v. 12, n. 1, p. 93-97, jan-mar, 2006. SALHAB, S. A.; ZARKAWI, M.; WARDEH, M. F.; AL-MASRI, M. R.; KASSEM, R. Development of testicular dimensions and size, and their relationship to age, body weight and parental size in growing Awassi ram lambs. Small Ruminant Research, v.40, p. 187-191, 2001. SAS. SAS/STAT User’s Guide: version 9.1. North Caroline, SAS Institute, 2004. 5136p.

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Determinação da presença de resíduos de antimicrobianos em amostras de leite pasteurizado com uso de teste de inibição do crescimento microbiano1 Abdias José Figueredo2, Ana Prudência Assis Magnavita3, Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes4, Sibelli Passini Barbosa Ferrão4, Amanda dos Santos Faleiro5, Daniele Gomes Conceição6 1.

Parte do mestrado do segundo autor, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Itapetinga/BA Graduando em Zootecnia, UESB, Itapetinga/BA 3. Mestre em Engenharia de Alimentos, UESB, Itapetinga/BA; anamagnavita1@hotmail.com 4. Professor Adjunto do Departamento de Tecnologia Rural e Animal, UESB, Itapetinga/BA 5. Zootecnista, Estudante de Mestrado em Engenharia de Alimentos, UESB, Itapetinga/BA 6. Graduanda em Engenharia de Alimentos, UESB, Itapetinga/BA 2.

Antimicrobial residues in pasteurized milk by use inhibition test of microbial growth

Abstract: The conduct of this work aimed to assess, qualitatively the occurrence of Antimicrobial residues in pasteurized milk, under State Inspection, marketed in the Southwest and southern Bahia. The milk samples were collected between November/October/2010 and 2011, monthly, in commercial establishments. Delvotest kit was used as a screening test. This was applied in 252 samples of pasteurized milk, in duplicate, in 20 trademarks of pasteurized milk. Of the total number of samples analysed in the screening test, negative 207 (82.0%), positive (8.0%) and 20 25 suspected (10%). Was observed concentration of positive samples and suspicions in the first half of the year (January and June). The screening test used proved to be effective for identifying the presence of Antimicrobial residues. The results indicate the presence above the threshold of Antimicrobial residues in milk, however, with low magnitude. It is necessary to control the presence of Antimicrobial residues in milk of Bahia. Keywords: ANTIBIOTIC, DELVOTEST® SP-NT, PASTEURISATION

Introdução O leite e seus derivados constituem-se em alimentos de alto valor nutritivo e fonte de renda para os diferentes segmentos que compõem o complexo Agroindustrial do leite (RIBEIRO, 2008). A mastite (inflamação da glândula mamária) é responsável por alterações na composição do leite, muitas vezes tornando o produto impróprio para consumo (MAGALHES et al., 2006). De acordo com Bansal et al. (2011), a maior causa de uso de antimicrobianos em animais lactantes são as mastites, por ser esta a doença de maior prevalência nestes animais. A presença de resíduos de antimicrobianos no leite geralmente acontece devido às falhas no manejo como: indevida utilização dos medicamentos, o não respeito às indicações do receituário e o período de carência (COSTA, 1999), além da adição fraudulenta de antimicrobianos para inibir o crescimento bacteriano indesejável. O período de carência deve ser respeitado para se prevenir resíduos no leite, sendo possível o uso do leite depois de vencida esta fase. Destaca-se que o consumo de leite e derivados com resíduos de antimicrobianos acima do limite legal, traz riscos para saúde da população e pode desencadear fenômenos alérgicos, efeitos tóxicos e carcinogênicos, e alterações no equilíbrio da flora intestinal (FOLLY & MACHADO, 2001; BRITO & LANGE, 2005), além do desenvolvimento de resistência dos microrganismos aos antimicrobianos (FOLLY & MACHADO, 2001; HOEFLER et al., 2006). O método mais comum para triagem tem sido o teste de inibição do crescimento microbiano (KATIANI et al., 2009). O kit Delvotest® SP-NT tem apresentado confiabilidade, possuindo largo espectro de inibição microbiana na detecção de resíduos de antibióticos, de fácil utilização, gerando resultados dentro de um período relativamente curto. O monitoramento da presença de resíduos de antimicrobianos é recomendado pela IN nº 62 do MAPA (BRASIL, 2011). Pelo fato da ocorrência de antimicrobianos em alimentos ser um tema de alta relevância, tanto para pecuária quanto para saúde pública, objetivou-se com este trabalho avaliar qualitativamente a presença de resíduos de antimicrobianos em amostras de leite pasteurizado, sob Serviço de Inspeção Estadual da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), adquiridos em estabelecimentos comerciais de cidades das regiões Extremo Sul, Sul e Sudoeste do Estado da Bahia, no período de novembro/2010 a outubro/2011. Material e métodos

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____________________________________________________________ Foram realizadas análises em duplicata de 21 marcas comerciais de leite pasteurizado, sob Serviço de Inspeção Estadual da ADAB, correspondendo a 252 amostras analisadas. Destas marcas, 20 (vinte) eram de leite integral e 1 (uma) de leite semidesnatado. As amostras de leite foram coletadas mensalmente em estabelecimentos comerciais das regiões Extremo Sul, Sul e Sudoeste do Estado da Bahia, durante 12 meses (novembro 2010 a outubro de 2011). Estas amostras apresentavam-se envasadas em sacos plásticos de 1.000 mL. Após a coleta, as amostras foram congeladas e enviadas ao Laboratório de Processamento de Leite e Derivados da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), onde foram identificadas e mantidas congeladas até o momento de análise. Para análise de detecção de resíduos de antimicrobianos foi utilizado o kit comercial “Delvotest®SP-NT, baseado na inibição do crescimento do Bacillus stearotermophilusm var. calidolactis, que permite a detecção de cinco classes de antimicrobianos. As amostras de leite foram descongeladas a temperatura ambiente e, em seguida, homogeneizadas. Posteriormente, foi inserido 0,1 mL de leite nas ampolas do kit Delvotest® SP-NT. Na sequência, as amostras foram colocadas no incubador Delvo® Incubator, apropriado para o aquecimento do kit, a uma temperatura de 64ºC ± 0,5ºC por um período de 3 horas. Para a interpretação dos resultados, foi observada a cor da parte inferior correspondente a 2/3 do ágar sólido nas ampolas depois de decorrido o tempo de incubação requerido. Na presença de antimicrobianos (positivo), o microrganismo é inibido e não há alteração do pH, permanecendo o meio púrpura. A mudança parcial da coloração indica resultado suspeito e, na ausência de antimicrobianos detectáveis pelo teste (negativo), o microrganismo se multiplica, acidificando o meio e tornando-o amarelo. A avaliação da presença de resíduos de antimicrobianos nos leites foi realizada no presente trabalho pela observação dos resultados dos testes de triagem e determinada às porcentagens de amostras positivas, suspeitas e negativas.

Resultados e discussão Entre as 252 amostras de leite pasteurizado, 20 apresentaram resultado positivo para resíduos de antimicrobianos na análise realizada, revelando frequência de contaminação de 8,0%. Por sua vez, 25 amostras (10%) foram suspeitas e 207 amostras (82,0%) foram negativas. A ocorrência de resultados positivos (8,0%) neste teste pode servir como alerta aos produtores de que animais submetidos à terapia podem estar sendo ordenhados e, o mais grave, este leite pode estar sendo incorporado ao tanque de pequena mistura junto ao de animais isentos de resíduos. Observando-se a quantidade de amostras com resultados suspeitos (10%), deve-se levar em consideração que algumas destas amostras podem apresentar resíduos acima do limite máximo permitido. Apesar da maioria das amostras apresentarem resultados negativos (82%), os 8% de amostras positivas e 10% suspeitas correspondem a uma quantidade relativamente alta. A freqüência determinada, 8%, situou-se acima das freqüências observadas por Folly & Machado (2001) ao realizarem pesquisa de resíduos de antimicrobianos em leite. Estes autores observaram 4,33% de amostras positivas para resíduos de antimicrobianos. Frequências superiores à determinada na presente pesquisa foram também observadas por Souza et al. (2010). Estes autores relatam que de 30 amostras de leite analisadas, 23 (76,67%) foram positivas no teste de triagem de resíduos de antibióticos.

Figura 1. Distribuição mensal das amostras positivas, suspeitas e negativas na pesquisa de resíduos de antimicrobianos em amostras de leite pasteurizado das regiões Extremo Sul, Sul e Sudoeste do Estado da Bahia, no período de novembro de 2010 a outubro de 2011.

A distribuição dos resultados observados para os resíduos de antimicrobianos estudados ao longo do ano demonstrou haver um período no qual se observa frequência de amostras positivas e suspeitas. Durante o ano, foram observadas 20 amostras de leite

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____________________________________________________________ positivas e destas, 13 (65%) foram detectadas entre Janeiro e Junho. As amostras suspeitas observadas durante o ano foram 25, sendo 22 destas (91,7%) observadas entre Janeiro e Junho (Fig. 1). Estes resultados indicam haver, provavelmente, efeito de período do ano sobre a ocorrência de amostras de leite positivas e suspeitas. Segundo Meiby et al. (2004), a umidade do ambiente é maior neste período, com isso o desenvolvimento de microrganismos causadores de mastites é facilitado, o que pode aumentar a incidência de resíduos. Aumento na contagem de células somáticas (CCS) no leite é indicativo de mastites, dessa forma, com o verão (período chuvoso) a CCS se eleva, aumentando também a incidência de mastites, Souza et al. (2009) citam que no verão há um aumento da incidência de mastites e com isso, segundo BANSAL et al. (2011), o uso de antibióticos também aumenta, visto que a mastite é a causa mais comum do uso de antimicrobianos em vacas lactantes. Resultados da presença de resíduos de antimicrobianos no leite indicam que os produtores não levam em consideração as práticas corretas no uso de medicamentos veterinários e, assim, não demonstram preocupação com o efeito no alimento (NERO, 2007).

Conclusões Os leites pasteurizados comercializados e consumidos nas regiões Extremo Sul, Sul e Sudoeste da Bahia apresentaram 8% de amostras positivas e 10% de amostras suspeitas por contaminação por resíduos de antimicrobianos. Os resultados obtidos indicam baixa ocorrência de resíduos, porém ainda faz-se necessário um controle da presença desses no leite.

Referências BANSAL, B. K.; BAJWA, N. S.; RANDHAWA, S. S.; RANJAN, R.; DHALIWAL, P. S. Elimination of erythromicynin in milk after intramammary administration in cows with specific mastitis: relation to dose, milking frequency and udder heakth. Tropical Animal Health and Production, v. 43, p. 323-329, 2011. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 62 de 29 de dezembro de2011. Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru Refrigerado, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Pasteurizado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel. Diário Oficial da União. Brasília, 29 de dezembro de 2011. BRITO, M. A. V. P.; LANGE, C. C. Resíduos de antibióticos no leite. Juiz de Fora: Embrapa, 2005, 4p. (Comunicado Técnico 44). Disponivel em: <http://people.ufpr.br/~freitasjaf/artigos/antibioticoleite.pdf> Acesso em: 29 abril 2012. COSTA, E. O. Uso de antimicrobianos na mastite. In: SPINOSA, H. S., GORNIAK, S.L., BERNARDI, M. M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, Cap. 42, p.422-433. 1999. FOLLY, M. M.; MACHADO, S. C. A. Determinação de resíduos de antibióticos, utilizando-se métodos de inibição microbiana, enzimático e imunoensaio no leite pasteurizado comercializado na região norte do estado do Rio de Janeiro, Brasil. Ciência Animal, Santa Maria, v.31, n.1, p. 95-98. 2001. HOEFLER, R.; VIDOTTI C. C. F.; MENEZES, E. S.; PINHEIRO, S. Ações que estimulam o uso racional de antimicrobianos. Bol Farmacot, v.11, p.1-4, 2006. KANTIANI, L., FARRE, M., BARCELO, D. Analytical methodologies for the detection of b-lactam antibiotics in milk and feed samples. Trends Analytical Chemistry, v.28, n.6, p.68-71, 2009. MAGALHÃES, H, R.; EL FARO, L.; CARDOSO, V. L.; PAZ, C. C. P.; CASSOLI, L. D.; MACHADO, P. F. Influência de fatores de ambiente sobre a contagem de células somáticas e sua relação com perdas na produção de leite de vacas da raça Holandesa. Revista Brasileira Zootecnia, v.35, n.2, p.415-421, 2006. MEIBY, C. P.; RIBAS, N. P.; MONARDES, H. G., ARCE, J. E; ANDRADE, U. V. C. Contagem de Células Somáticas em Amostras de Leite. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.5, p.1303-1308, 2004. RIBEIRO, M. G. Princípios terapêuticos na mastite em animais de produção e de companhia. In: Andrade S. F. (Ed.), Manual de Terapêutica Veterinária. 3ª ed. Roca: São Paulo, p.936, 2008. SOUZA, G. N.; BRITO, J. R. F.; MOREIRA, E. C.; BRITO, M. A. V. P.; SILVA, M. V. G. B. Variação na contagem de células somáticas em vacas leiteiras de acordo com patógenos da mastite. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.6, n.5, p.1015-1020, 2009. SOUZA, C. A.; OLIVEIRA, A. N. E.; SANTOS, C. D.; SILVA, M. F. E. Ocorrência de resíduos de antibióticos em leites pasteurizados comercializados no estado do Ceará Brasil. Revista Verde, Mossoró, v.5, n.4, p.10-14, out/dez, 2010.

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____________________________________________________________ Efeito do manejo dos sistemas de produção sobre a qualidade do leite Abdias José Figueredo2, Ana Prudência Assis Magnavita3, Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes4, Sibelli Passini Barbosa Ferrão4, Amanda dos Santos Faleiro5, Mirelle Costa pignata5 1.

Parte do mestrado do segundo autor, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Itapetinga/BA Graduando em Zootecnia, UESB, Itapetinga/BA 3. Mestre em Engenharia de Alimentos, UESB, Itapetinga/BA; anamagnavita1@hotmail.com 4. Professor Adjunto do Departamento de Tecnologia Rural e Animal, UESB, Itapetinga/BA 5. Mestrandas em Engenharia de Alimentos, UESB, Itapetinga/BA 6. Graduanda em Engenharia de Alimentos, UESB, Itapetinga/BA 2.

Effect of management of production systems on the quality of milk Abstract: The objective of this study to evaluate the quality of raw milk marketed in the southwestern state of Bahia, destined for the pasteurization process. For this, 40 samples were chosen from two dairy suppliers. Samples were collected directly from the buckets and expansion tanks on farms and sent for analysis by Progene. The results showed that the amount of somatic cells has significant influence on the levels of fat, protein, lactose, total solids, freezing point and acidity of raw milk negatively influencing the quality and true performance. In contrast, high levels of total bacteria had little influence on milk composition, showing significant differences only in the lactose content. By conducting this work it was concluded that the higher the rate of somatic cell count, the greater the changes in the constituents of the milk, which translates to lower yield of the dairy products and lower shelf life of products. Keywords: composition, milk, mastitis, quality Introdução Entende-se por leite de qualidade aquele produzido por vacas sadias e bem alimentadas, que mantém as qualidades nutritivas ao longo de todas as etapas da sua obtenção sem apresentar riscos à saúde humana quando consumido. O controle de qualidade do leite se inicia na propriedade, conforme determina a Instrução Normativa nº 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Dentre as análises recomendadas tem-se a Contagem Bacteriana Total (CBT), Contagem de Células Somáticas (CCS) e determinação da composição do leite (BRASIL, 2002). Este controle deve ser realizado visando o monitoramento dos diversos fatores que influenciam a qualidade do leite cru, destacando-se os fatores de ordem zootécnica, como manejo (ordenha, sanidade), genética e alimentação; e os fatores relacionados com os procedimentos de conservação de leite, após sua obtenção. A cadeia produtiva do leite, em especial os sistemas de produção e a indústria, necessita conhecer a qualidade de sua matéria prima, a fim de poder corrigir possíveis falhas, buscando fornecer produtos de qualidade para conquistar o mercado consumidor. Material e métodos As amostras de leite foram colhidas mensalmente, individualmente de 40 produtores, sendo 20 de fornecedores da Cooleite e 20 fornecedores do Laticínio Rocha. O material utilizado foi desinfetado com álcool, e, posteriormente, seco com toalhas de papel, sendo o leite colocado em frascos estéreis. Para efeito de manutenção das propriedades do leite, em cada frasco foi utilizado conservante, em seguida os mesmos foram transferidos para caixas isotérmicas contendo gelo. No momento da coleta foram obtidas duas amostras de leite. Sendo que cada uma delas foi dividida em três sub-amostras: Determinação da acidez, densidade, índice crioscópico (AOAC, 1995) e pH. As quais foram enviadas para o Laboratório de Leite e Derivados da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Determinação das concentrações de gordura, proteína bruta e lactose, mediante leitura de absorção de luz infravermelha, utilizando-se o equipamento Bentley 2000. Por meio destes resultados determinou-se o teor de sólidos totais e extrato seco desengordurado. A contagem de células somáticas foi determinada por citometria fluxométrica em equipamento Somacount 300 (BENTLEY INSTUMENTS, 2000). Determinação da contagem bacteriana total – CBT (BENTLEY INSTUMENTS, 2000). Estas análises foram realizadas em laboratório da Rede Brasileira de Qualidade do Leite. As análises estatísticas foram realizadas no pacote estatístico SAS, utilizando-se o procedimento de modelos lineares gerais (Proc GLM) aplicando-se estatística descritiva, análise de variância e teste de comparação múltipla (SAS, 1989).

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____________________________________________________________ Resultados e discussão Como disposto na Tabela 1, houve influência da CCS sobre a gordura, proteína, lactose, sólidos totais, crioscopia e acidez do leite cru. As maiores variações em função da quantidade de CCS pode ser vista no teor de gordura, que aumenta a medida que se aumenta o quantidade de células somáticas, e na lactose, que é inversamente proporcional à quantidade de células somáticas. TABELA 1 – Efeito da CCS na composição do leite cru fresco < 200

Gordura (%) 3,503a

3,284a

Lactose (%) 4,697a

200 a 500

3,792b

3,358b

4,610b

500 a 750

3,906b

3,374b

> 750

4,082c

3,356b

CCS*

Proteína (%)

Sólidos (%) 12,395a

Crioscopia (%)

Acidez (%)

Densidade (%)

-0,553a

17,953a

1,031a

12,703b

-0,546b

17,756ab

1,030a

4,569b

12,797bc

-0,548ab

17,509ab

1,030a

4,471c

12,884c

-0,540c

17,244b

1,029a

*CCS – contagem de células somáticas (CCS x 1000 CS/mL) O teor de gordura em vacas que apresentam mastite tende a cair em função da menor secreção desse componente pelo tecido secretor (KITCHEN, 1981). Contudo, no presente estudo, pode-se observar que o teor de gordura foi elevado, quando a produção de leite diminui em proporção maior que a síntese da gordura na glândula mamária. Em relação à lactose, Brito e Dias (1998), descreveram que pode haver redução da mesma numa proporção entre 5 e 20%. Em contrapartida, Bueno et al (2005) observaram redução inferior, de aproximadamente 4,5% para amostras de leite com CCS de 283.000 cs/mL.

TABELA 2 – Efeito da CBT na composição do leite cru fresco CBT* < 200

Gordura (%)

Proteína (%)

3,816a

3,328a

a

a

Lactose (%) 4,662a

Sólidos (%) 12,732a

Crioscopia (%)

Acidez (%)

Densidade (%)

-0,548a

17,240a

1,030a

a

ab

1,030a

200 – 500

3,841

500 – 750

3,815a

3,363a

4,595b

12,742a

-0,547a

17,193a

1,033b

> 750

3,760a

3,345a

4,589b

12,640a

-0,547a

17,950b

1,030a

3,360

4,585

b

12,723

a

-0,546

17,414

*CBT – contagem bacteriana total (CBT x 1000 UFC/mL)

A contagem bacteriana total, conforme observado na Tabela 2, pouco influenciou a composição dos leites analisados, apresentando uma redução significativa apenas no teor de lactose. Contudo, considerando a facilidade de degradação da lactose e a elevada contaminação de algumas amostras, os percentuais de redução observados podem ser considerados baixos. Conclusões A composição do leite sofreu influência significativa da contagem de células somáticas. Fazendo necessária a conscientização por parte dos produtores sobre os prejuízos causados pela mastite e adoção de medidas preventivas e de controle, visando à obtenção e fornecimento de leite de melhor qualidade para indústria e consumidor e maior renda para o produtor.

Literatura citada BENTLEY 2000. Operator’s manual. Chaska, EUA: Bentley Instruments, 2000. p.77. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Instrução Normativa nº 51. Aprova os Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, do Leite tipo B, do Leite tipo C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel, em conformidade com os Anexos a esta Instrução Normativa. MAPA, 2002. BRITO, J.R.F.; DIAS, J.C. A qualidade do leite. Juiz de Fora: Embrapa/Tortuga, 1998. 98p. BUENO, V.F.F; MESQUITA, A.J.; NICOLAU, E.S.; OLIVEIRA, A.N.; OLIVEIRA, J.P.; NEVES, R. BALDUÍNO S; MANSUR, J.R.G.; THOMAZ, L.W. Contagem celular somática: relação com a composição centesimal e estação do ano no Estado de Goiás. Ciência Rural, Santa Maria/RS, v.35, n.4, p.848-854, 2005.

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____________________________________________________________ KITCHEN, B. J. Review of the progress of dairy science: bovine mastitis: milk compositional changes and related diagnostic tests. Journal of Dairy Research, v. 48, n. 3, p. 167-188. SAS INSTITUTE (Cary, Estados Unidos). SAS/STAT user´s guide: version 6. 4th ed. Cary, NC, 1989.

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Depressão endogâmica do peso ao ano em animais da raça Nelore no Norte do Brasil¹ Mário Henrique Magalhães Araújo da Silva2, Thon Jovita Farias3,Bárbara Machado Campos4, Paulo Luiz Souza Carneiro5, Carlos Henrique Mendes Malhado6, Raimundo Martins Filho7 1

Parte de iniciação cientifica do primeiro autor, financiada pela FAPESB Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, Bolsista da CAPES. e-mail: marioaraujo7@hotmail.com ³Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, Bolsista da CAPES. E-mail: thonjf@hotmail.com 4 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, Bolsista da FAPESB. e-mail: zoo.ufrb@yahoo.com.br 5 Professor do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, e-mail: plscarneiro@gmail.com 6 Professor do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, e-mail:carlosmalhado@gmail.com 7 Universidade Federal do Ceará – UFC/Cariri. Bolsista CAPES. E-mail: martinsfilho@yahoo.com.br 2

Inbreeding depression for the weaning weight of the Nelore cattle animals from Northern Brazil Abstract: The aim of this study was to evaluate the effect of inbreeding of weaning weight in Zebu Nelore cattle in the Northern region of Brazil. The principal database consisted of 140.628 records, 35.252 observations were used for weaning weight, standardized to 365 days (P365) from 1978 to 2006. These data were utilized for the calculation of inbreeding, through the Endog, and analyzed using the program SAS ® for the study of inbreeding depression. Was performed, regression (linear and quadratic) of P365 as a function of inbreeding. Depression was observed in the P365 from 15% of inbreeding and controls of inbreeding matings are necessary to avoid loss of performance. Keywords: Effect of inbreeding, inbreeding, inbreeding depression Introdução A endogamia resulta do acasalamento, intencional ou não, de animais aparentados, sendo um sistema de acasalamento capaz de alterar a constituição genética da população. Isto se dá por meio do aumento da homozigose e, consequentemente, da diminuição da heterozigose, alterando, assim, a frequência genotípica, mas não as frequências alélicas (Queiroz, 2000). Schenkel et al. (2002), avaliaram o banco de dados da ABCZ para as raças Gir, Guzerá, Indubrasil, Nelore e Tabapuã, observaram que todas as raças, exceto a Guzerá, apresentaram evolução crescente da taxa anual de endogamia, principalmente após 1980. As raças Indubrasil e Gir apresentaram as maiores taxas anuais de endogamia nos últimos oito anos avaliados (1992 a 1999). Em todas as raças, a frequência de animais endogâmicos aumentou rapidamente ao longo dos anos, tendo chegado, em 1999, a níveis de 60% nas raças Nelore e Indubrasil. A endogamia media dos animais endogâmicos, entretanto, reduziu ao longo dos anos, estando, em 1999, ao redor de 7,5% para as raças Gir e Indubrasil e inferiores a 4% nas raças Guzerá, Nelore e Tabapuã. A intensificação do uso de métodos de avaliação genética que permitem identificar animais geneticamente superiores de forma mais precisa, contribuíram para que os programas de melhoramento não apenas acelerassem o progresso genético, mas também se tornassem mais propensos ao aumento da endogamia (Carvalheiro, 2004). No Brasil, diversos estudos vêm sendo feitos para avaliar os efeitos da endogamia em características produtivas, entretanto, poucos estudos para avaliação da depressão endogâmica na raça Nelore no Norte do Brasil. Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar depressão por endogamia sobre os valores fenotípicos para a característica peso aos 365 dias de idade. Material e Métodos Os dados foram provenientes da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), sendo constituído de um banco de dados principal contendo informações de pedigree de 140.628 zebuínos da raça Nelore da região Norte do Brasil nascidos no período de 1978 e 2006. O arquivo com pesos ajustados para 365 dias (P365) consistiu de 35.252 observações em que apenas 282 animais apresentaram níveis maiores de endogamia. O programa Endog (Gutiérrez & Goyache, 2005) foi utilizado para a análise do pedigree e estimação do coeficiente médio de endogamia e do número de gerações equivalentes. O programa ENDOG utiliza o algoritmo para o cálculo do coeficiente de endogamia (F). O incremento de endogamia (ΔF), calculado para cada geração, foi obtido por:

ΔF = Ft - Ft-1 1 - Ft-1 em que Ft e Ft-1 são os coeficientes de endogamia médio das gerações t e t-1, respectivamente. O número de gerações equivalente, por sua vez, é obtido pelo somatório dos termos (1/2)n de todos os ancestrais conhecidos, em que n é o número de gerações que separa o indivíduo de cada ancestral conhecido.

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____________________________________________________________ Nas análises da depressão por endogamia foram incluídos animais com no mínimo 1,5 gerações equivalente conhecidas, totalizando 282 animais endogâmicos (4 a 25%). O efeito da endogamia foi determinado pelo ajuste de dois modelos

de regressão (linear e quadrático) sobre os valores fenotípicos do P365. Resultado e discussão A média de endogamia foi de 0,04%, e o número de animais endogâmicos de 282, sendo que os últimos apresentavam endogamia média de 6,68%. Destes, 15 animais apresentaram endogamia de 25%, 111 endogamia entre 5 e 17% e 156 animais apresentaram endogamia abaixo de 4%. O número de animais endogâmicos foi pequeno (282), representando apenas 0,79%. A média observada para a característica P365 foi de 229,16 ± 45,6. A regressão para o modelo linear não foi significativo e para o modelo quadrático foi significativo a (P<0,05) (Tabela 1). Tabela 1 Equações de regressão e coeficiente de determinação (R2) para o peso ajustado aos 365. Modelo

Equação de Regressão

Linearns Quadrático

y=230,82677 + (-27,16836) x F *

y=218,06811 + (-436,88239) x F + (-2089,01253) x F2

ns= não foi significativo; *P<0,05 Ao observar o efeito da endogamia sobre o peso aos 365 dias de idade (P365) no modelo quadrático (Figura 1), pôde-se observar a influencia acentuada sobre a característica. A partir de 15% de endogamia observou-se queda acentuada no P365, o que pode acarretar no aparecimento de locos gênicos em homozigose, provocando assim o aparecimento de genes recessivos indesejáveis. Os resultados apresentados precisam ser melhor avaliados, visto que o número de animais com alguma endogamia é muito pequeno comparado à população, fato que pode estar relacionado a baixa integralidade do pedigree. Neste contexto, Carneiro et al. (2010) ressaltam que é necessária uma criteriosa escrituração zootécnica para que tenhamos pedigrees íntegros, confiáveis e que estas informações possam gerar parâmetros populacionais importantes que auxiliem nos ganhos genéticos via seleção.

Figura 1 Tendência do peso a desmama (P365), em kg, de bezerros Zebuínos da raça Nelore da região Norte do Brasil, de acordo com a endogamia (F), em porcentagem. Shimbo et al. (2000), avaliaram a influencia da endogamia sobre características de desempenho em bovinos da raça nelore e observaram que o aumento em 1% do F diminuiu 0,30 Kg no peso a desmame(PD), 1,12 Kg no peso ao sobreano (PS), 0,73 Kg no ganho de peso da desmama ao sobreano (GP) e 0,055 cm no perímetro escrota (PE). Para conformação (CO), precocidade de acabamento (PR) e musculosidade (MU) observaram depressão de 0,03 pontos no escore a cada 1% de aumento em F. Esta diminuição no desempenho, é causada pelo aumento da homozigose e consequentemente aumento da expressão de genes de menor eficiência produtiva, normalmente recessivos.

Conclusão

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____________________________________________________________ O número de animais endogâmicos foi muito pequeno, entretanto, é necessário investir em escrituração zootécnica adequada para se ter bancos de dados com informações completas de pedigree e melhores estimativas da endogamia. Constatou-se que o peso dos animais foi influenciado negativamente pelo coeficiente de endogamia, principalmente a partir do nível de 15%. Literatura Citada CARNEIRO, P.L.S.; MALHADO, C.H.M.; FILHO, R.M. Estrutura populacional e sua aplicação na conservação e melhoramento genético animal. IV Congresso Nordestino de Produção Animal. CD-rom, 2010. CARVALHEIRO, R.; PIMENTEL, E.C.G. Endogamia:possíveis conseqüências e formas de controle em programas de melhoramento de bovinos de corte. II GEMPEC – Workshop em Genetica e Melhoramento NE Pecuaria de Corte, 2004. GUTIÉRREZ, J.P., GOYACHE, F. A note on ENDOG: a computer program for analysing pedigree information. Journal of Animal Breeding and Genetics, 122: 172-176, 2005. QUEIROZ, S.A.; ALBUQUERQUE, L.G.; LANZONI, N.A. Efeito da endogamia sobre características de crescimento de bovinos da raça Gir no Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, n.4, p 1014-1019, 2000. SCHENKEL, F.S.; LAGIOIA, D.R.: RIBOLDI, J. Níveis de endogamia e depressão endogâmica no ganho de peso de raças zebuínas no Brasil. Anais do IV Simpósio Nacional de Melhoramento animal, 2002. SHIMBO, M.V.;FERRAZ, J.B.S.; ELER, J.P.; OLIVEIRA, F.F.; JUBILEU, J.S.; FIGUEIREDO, L.G.G.; MATTOS, E.C. Influencia da endogamia sobre características de desempenho em bovinos da raça Nelore. In: Simpósio Nacional da Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal, 3., 2000, Belo Horizonte, MG. Anais ... Belo Horizonte, 2000. P.388-390.

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Estimação de componentes de variância e parâmetros genéticos utilizando Máxima Verossimilhança Restrita e Inferência Bayesiana em características de crescimento1 Mário Henrique Magalhães Araújo da Silva 2, Bárbara Machado Campos3, Paulo Luiz Souza Carneiro4, Carlos Henrique Mendes Malhado5, Aracele Prates de Oliveira6 Diego Pagung Ambrosini7 1

Parte de mestrado do segundo autor, financiada pela FAPESB Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, Bolsista da CAPES. e-mail: marioaraujo7@hotmail.com 3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, Bolsista da FAPESB. e-mail: zoo.ufrb@yahoo.com.br 4 Professor do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, e-mail: plscarneiro@gmail.com 5 Professor do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, e-mail:carlosmalhado@gmail.com 6 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, e-mail:araceleprates@hotmail.com 7 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UESB, Itapetinga, Brasil, e-mail: diegopagun@yahoo.com 2

Estimation of variance components and genetic parameters using Restricted Maximum Likelihood and Bayesian Inference in features growth Abstract: Components were estimated (co) variance and genetic parameters of growth characteristics using the methods Restricted Maximum Likelihood and Bayesian Inference. We used 19,379 and 13,887 records adjusted weights at 205 and 365 respectively of animals Tabapuã. First, the components of (co) variance were estimated in univariate analysis MTDFREML. Then, the same records were analyzed with the MTGSAM. Estimates of heritability of P205 using the frequentist and Bayesian methods were 0,41 and 0,37 and W365 0,56 and 0,45, respectively. In the Bayesian approach, the estimates for the variance of permanent effect, environmental and heritabilities were lower than those found by the program MTDFRELM. The results infer that there was a significant difference between the methods used in this study. Keywords: mtdrfreml, mtgsam, tabapuã Introdução O conhecimento dos parâmetros genéticos das características de importância econômica é essencial para o delineamento de programas de seleção, pois permitem antever a possibilidade de sucesso com a seleção. O aprimoramento de métodos de estimação de componentes de variância tem sido cada vez mais importante na pecuária de corte. De acordo com Silva et al., (2006), o estudo dos componentes de variância e dos valores genéticos para características de crescimento é importante para o desenvolvimento da pecuária de corte, pois possibilita obter maiores avanços genéticos e ganhos de produção no setor. Através dos componentes de (co) variância é possível estimar os parâmetros genéticos, importantes na predição do mérito genético dos indivíduos, das respostas diretas e correlacionadas à seleção e definição do método de seleção mais apropriado. Atualmente, a Máxima Verossimilhança Restrita Livre de Derivada (MTDFREML) é o método de escolha pelos programas de melhoramento mais comumente utilizado para análise de dados. No entanto, procedimentos bayesianos (MTGSAM) têm sido propostos como uma alternativa de aplicação em relação aos métodos frequentistas que por sua vez apresentam algumas limitações de implementação computacional. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi estimar componentes de variância e parâmetros genéticos para características de crescimento em bovinos da raça Tabapuã, utilizando máxima verossimilhança restrita e inferência bayesiana. Material e Métodos Estimou-se os componentes de (co) variância para as características de pesos aos 205 (P205) e aos 365 dias (P365), utilizando-se um conjunto de dados contendo informações dos animais da raça Tabapuã, da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), criados no Estado da Bahia. Foram realizadas análises unicaráter para estimação de (co) variância, onde levou-se em consideração modelos que incluíram os efeitos aleatórios genéticos aditivos(direto e materno), efeito de ambiente permanente materno, a covariável idade da vaca ao parto( efeito linear e quadrático), além do efeito fixo de grupo de contemporâneo.

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Para estimação dos componentes de (co) variância, utilizaram-se os programas computacionais MTDFREML – Multiple Trait Resctricted Maximum Likelihood, desenvolvido por Boldman et al., (1993) e MTGSAM – Multipli Trait Gibbs Sampling in Animal Models, desenvolvidos por Van Tassel & Van Vleck(1995). Para análises realizadas, utilizando-se o programa MTDFREML, o critério de convergência utilizado foi ao nível de 10-6. Para o programa MTGSAM, foi definido uma cadeia de Gibbs de 300,000 ciclos, considerando um período de descarte de 248 e coletadas amostras a cada 62 ciclos, o que proporcionou 4,835 amostras para o P205. Para o P365 definiu uma cadeia de 105,519 ciclos, período de descarte de 102 e coletadas amostras a cada 17 ciclos, proporcionando 6,201 amostras. Resultados e Discussão As médias dos pesos obtidos neste estudo (Tabela 1) para as duas características de crescimento P205 (175,91 ± 29,51) e P365 (230,62 ± 58,25) estão próximos aos observados por Ribeiro et al., (2009) estudando animais da raça Tabapuã no Estado da Bahia pelo método frequentista e Souza Júnior et al., (2011) pelo método bayesiano. O programa MTDFRELM forneceu estimativas semelhantes às estimativas das médias posteriores fornecidas pelo MTGSAM, exceto para variância permanente, variância ambiental e herdabilidade aditivo direto, em que as estimativas daquele apresentaram-se superiores (Tabela 2). Faria et al., (2007) observaram que as estimativas obtidas pelo MTDFREML foram diferentes quando compradas ao método bayesiano para a variância aditiva direta e herdabilidade direta para P365 em animais da raça Nelore. Entretanto, as estimativas pelo método frequentista foram menores. Diferenças também foram observadas por Ribeiro et al., (2008) para a variância materna e covariância genético entre os efeitos aditivos direto e materno, ambas com estimativas superiores usando o método bayesiano. Tais contradições são comumente encontradas na literatura e pode-se atribuir a vários fatores como, por exemplo, ao tamanho da cadeia amostral referente ao método bayesiano. Tabela 1. Estatísticas descritivas para os pesos ajustados aos 205 (P205) e 365 (P365) dias de idade em bovinos da raça Tabapuã do Estado da Bahia Caracterísitcas (kg)

Média

Desvio Padrão

CV(%)

Mínimo

Máximo

P205

175,91

29,51

16,77

44,00

1113,0

P365

230,62

38,88

16,86

71,00

434,0

DP= desvio padrão Tabela 2. Estimativas de componentes de variância e herdabilidade dos modelos unicaráter para P205 e P365, utilizando MTDFREML e MTGSAM Es timativas

Pes o aos 205 dias

Pes o aos 365 dias

MTDFREML

MTGSAM

σ²a

242,03

292,94

490,27

566,15

σam

-132,35

-161,84

-270,02

-331,52

σ²m

102,40

151,65

155,80

225,07

σ²ep

103,19

76,98

146,25

99,60

σ²e

280,53

254,32

350,75

310,95

σ²p

595,80

775,91

873,05

1231,78

h²a

0,41

0,37

0,56

0,45

h²m

0,17

0,19

0,18

0,20

MTDFREML MTGSAM

Conclusões Os métodos forneceram estimativas semelhantes para a maioria dos componentes de variância e de acordo com a literatura, as estimativas foram semelhantes aos encontrados para raça em estudo. Sugere-se a comparação entre os dois métodos, uma vez que ambos fornecem as mesmas estimativas, porém com aplicações diferentes.

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Literatura citada BOLDMAN, K. G.;KRIESEL, L. A.; VANVLECK, L.D.;VANTASSELL, C. P.; KACHIMAN, S. D. A manual for of MTDFREML: A set programs to obtain estimates of variances and covariances (DRAT). US: Departarment of Agriculture, Agricultural Reserch Service. p.115, 1995. FARIA, C. U.; MAGNABOSCO, C. U.; REYES, A.L.; LÔBO, R. B.; BEZERRA, L. A. F. Inferência Bayesiana e sua aplicação genética de bovinos da raça Nelore: Revisão Bibliográfica. Ciência Animal Brasileira. v.8, n.1, p.75-86, 2007. RIBEIRO, S.; PEDROSA, V. B.; ELER, J.P. FERRAZ, J. B. S.; BALIEIRO, J. C. C.; OLIVEIRA, E. C. M. Estimação dos componentes de (co) variância e parâmetros genéticas da característica peso à desmama em bovinos Nelore utilizando-se métodos REML e Bayesiano. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia.v.7, n.1, p.312-318,2008. RIBEIRO, S.H.A.; PEREIRA, J.C.C.; VERNEQUE, R.S. Efeito da covariância genética-materna sobre estimativas de parâmetros genéticos e em avaliações genéticas de características de crescimento de animais Tabapuã. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.61, n.2, p.401-406, 2009. SILVA, JA.; FORMIGONI, IB.; ELER, JP.; FERRAZ, JBS. Genetic relationship among stayability, scrotal circumference and post-weaning weight in Nelore cattle. Livestock Science, v.99, p.51-59, 2006. SOUSA JÚNIOR, S.C.; ARAÚJO NETO, F.R.; OLIVEIRA, H.N. Estimação bayesiana de componentes de (co) variância de características ponderais na raça Tabapuã. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. v.12, n.2, p.350-358, 2011. VAN TASSEL, C.P.; VAN VLECK. D.L. A manual for use of MTGSAM- A set of FORTRAN programs to apply Gibbs Sampling to animal models for variance component[DRAFT]. USDA-ARS,1995.

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Degradabilidade ruminal in vitro da FDA do resíduo de algodoeira tratado com doses crescentes de uréia e enzimas fibrolíticas1 José Ricardo Pereira da Rocha5, Danilo Gusmão de Quadros2, Mauro Pereira de Figueiredo3, Alexandro Pereira Andrade4, João Paulo Santos Roseira4, Yann dos Santos Luz4 Prof. da Faculdade de Agronomia/Núcleo de Estudo e Pesquisa em Produção Animal (NEPPA)/Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus IX, Barreiras, BA. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br 3 Prof. do Departamento de Fitotecnia e Zootecnia – UESB/Vitória da Conquista. E-mail: mfigue2@yahoo.com.br 4 Doutorando em Zootecnia – UESB, Itapetinga, Bahia, Brasil. Bolsista da FAPESB. E-mail: alexandro_andrade@hotmail.com. 4 Discente Faculdade de Agronomia – UESB. Faculdade de Agronomia – Campus Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. 5 Discente Faculdade de Agronomia – UNEB. Faculdade de Agronomia – Campus IX, Barreiras, Bahia, Brasil. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br 2

In vitro degradability of ADF of cotton processing residue treated with increasing doses of urea and fibrolytic enzymes Abstract: The study was carried out to evaluate the in vitro degradability of ADF of cotton processing residue treated with urea and fibrolytic enzymes. The experimental design was completely randomized (CRD) in a 3x3 factorial scheme, with three urea doses (4, 6 and 8%) and three enzymes doses (0, 3 and 5%), dry matter basis, with four replicates. Urea was diluted with water to better application of the material by increasing the humidity to 30%. Were used cellulase enzymes and hemicellulase. To evaluate degradability of ADF, the treated material was incubated using the filter bags using an incubator in vitro, at 0, 12, 24, 48, 72, 96 and 120 hours. Results of the parameters of ruminal degrabability of ADF showed a significant interaction (P<0.05) between urea and fibrolytic enymes, except fraction C. In evaluating the results of fraction "b", it can be seen that the factor is urea best effect with the combination of 6% urea without the addition of enzymes (58.88%). Urea combined with fibrolytic enzymes did not show satisfactory results for the reduction in the fraction of the fiber, the indigestible residue of cotton. The fibrolytic enzymes did not alter degradability of the residue from cotton, especially 5% of enzymes. Keywords: ammoniation, cellulase, hemicellulase Introdução Uma das formas de se determinar a eficácia da amonização é por meio da avaliação da degradabilidade ruminal dos volumosos. De acordo com Paiva et al. (1995), a degradação ruminal e o consumo de alimentos geralmente estão correlacionados. Portanto, o conhecimento da extensão da degradabilidade de forragens é uma etapa imprescindível na avaliação de alimentos para animais dentro dos sistemas nutricionais da Cornell University e no National Research Council (NRC), adotados no sistema nacional do CQBAL, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Além do tratamento químico, estudos com o uso de produtos biotecnológicos como as enzimas fibrolíticas exógenas, têm sido conduzidos com o objetivo de aumentar o valor nutritivo dos alimentos volumosos e palhadas na alimentação de ruminantes (Beauchemin et al., 2000). Segundo esses autores, a aplicação de enzimas fibrolíticas diretamente no alimento promove a liberação de carboidratos solúveis e remove barreiras estruturais que limitam a digestão dos alimentos pelos microrganismos ruminais. O tratamento químico para melhorar o valor nutritivo da forragem de baixa qualidade, oferece uma oportunidade para usar gramíneas de baixa qualidade e resíduos de culturas disponíveis em regiões tropicais. O tratamento químico resulta em aumento da digestibilidade da forragem, a ingestão voluntária e, consequentente, o desempenho do animal. Uma vantagem de usar um álcali nitrogenado em comparação com hidróxido de sódio (NaOH) é o aumento do suprimento de N para a microbiota ruminal (BROWN & ADJEI, 1995). Dessa forma, objetivou-se avaliar a degradabilidade in vitro da FDA do resíduo de algodoeiras tratado com uréia e enzimas fibrolíticas. Material e Métodos O experimento foi conduzido na UNEB - Campus IX de Barreiras - BA e na UESB – Campus de Vitória da Conquista BA, de julho de 2011 a julho de 2012, sendo utilizado um delineamento inteiramente casualizado (DIC), em esquema fatorial com três níveis de uréia (4, 6 e 8%), três níveis de enzimas (0, 3 e 5%), baseado na MS, com quatro repetições. O resíduo de algodoeira foi adquirido em julho de 2010 de uma agroindústria no município de São Desidério – BA. O teor de matéria seca do material in natura foi de 93%. No laboratório do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Produção Animal (NEPPA)UNEB foi pesado 1 kg do resíduo e aplicadas às doses de uréia dissolvidas em água, para elevar a umidade do material para 30%. A mistura do material com a uréia foi realizada em baldes com capacidade de 50 L, acrescentando-se grão de soja moído como fonte de urease (1,5% com base na MS), sendo em seguida acondicionadas em sacos de polietileno. Os sacos foram fechados, permanecendo em tratamento durante 40 dias. Após este período, os sacos foram abertos, e deixados em ambiente ventilado por 72 horas, permitindo a saída do excesso de amônia. A mistura de enzimas foi composta de

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____________________________________________________________ 60% de celulase e 40% de hemicelulase. As enzimas foram medidas com base na MS, e diluídas em 50 mL de água destilada, sendo borrifadas, deixando agir por 24 horas. Na determinação da degradabilidade in vitro do resíduo, realizada na UESB em fevereiro de 2012, foi utilizada metodologia ANKOM®, adaptada ao rúmen artificial, utilizando a incubadora TE-150 (TECNAL). Foram colocados 0,25 g de amostra do resíduo em sacos de filtro (F-57 ANKOM®). Os sacos foram colocados em jarros de incubação de vidro. Cada jarro correspondeu a um dos tempos de incubação, sendo 0 (lavados diretamente), 12, 24, 48, 72, 96 e 120 horas. Foi utilizado o modelo de Mertens & Loften (1980) para estimativa da degradabilidade potencial da FDA e parâmetros da degrabilidade ruminal, de acordo com a fórmula: Ŷ = b×e (−c×(T−L)) + I quando t > L e Ŷ = b + I quando 0 < t < L, onde “Y” é o resíduo não degradável no tempo T; “b”, a fração potencialmente degradável da fibra (no tempo t ≤ L, b = Ŷ – I); “c”, a taxa de degradação de b (h-1); “T”, o período de incubação, em horas; “L”, a latência ou tempo de incubação (h); e “I”, a fração indigestível da fibra. A determinação dos teores de fibra em detergente ácido (FDA), que contempla o somatório das frações celulose e lignina, foi realizada no Laboratório de Nutrição Animal do NEPPA-UNEB, utilizando a metodologia ANKOM®. Os dados obtidos foram interpretados estatisticamente por meio de análise de variância, realizada dentro de um esquema fatorial, sendo as médias e interações comparadas pelo teste Tukey, adotando-se probabilidade de 5%. Resultados e Discussão Os resultados dos parâmetros da degradabilidade “in vitro” da FDA foram afetadas (P<0,05) pela interação entre uréia e enzimas fibrolíticas (Tabela 1), com exceção da fração C (taxa de degração da fração b), não havendo efeito significativo do uso da uréia e das enzimas (P>0,05) e nem interação entre os tratamentos. Na avaliação dos resultados da fração “b”, pode-se verificado que o fator uréia há melhores efeitos com a combinação de 6% de uréia sem a adição de enzimas (58,88%). Para tanto, a adição das enzimas não influenciou os resultados da fração potencialmente degradável, tendo efeito praticamente no uso da uréia (Tabela 1).

Tabela 1. Parâmetros médios da degradabilidade ruminal in vitro da FDA do resíduo de algodoeira tratado com uréia e enzimas fibrolíticas. Enzimas Uréia Médias 0 3 5 1 Fração b (%) 4 36,58 bA 45,24 aA 40,20 aA 40,67 6 58,88 aA 42,41 abAB 34,87 aB 43,39 8 34,55 bA 33,51 bA 43,96 aA 37,34 Médias 41,34 40,39 39,68 C.V (%)= 16,54 Fração c2 (%/h) 4 0,03009 6 0,02332 8 0,03638 Médias 0,02075 0,03422 0,03482 C.V (%)= 17,00 Fração I3 (%) 4 63,41 aA 54,76 bA 59,79 aA 59,32 6 47,12 bB 57,59 abAB 64,12 aA 56,61 8 65,45 aA 66,48 aA 56,04 aA 62,66 Médias 58,66 59,61 60,32 C.V (%)= 11,24 DE4 2%/h (%) 4 18,79 aA 13,18 aAB 7,37 aB 13,12 6 11,14 bA 7,04 bA 10,13 aA 9,44 8 8,85 bA 8,22 abA 6,89 aA 7,99 Médias 12,93 9,49 8,13 C.V (%)= 32,86 Tempo de Colonização (h) 4 0,84 bB 14,06 aA 23,26 aA 12,72 6 16,01 aAB 23,82 aA 9,30 bB 16,38 8 15,59 aA 17,47 aA 20,17 abA 17,74 Médias 10,81 18,45 17,58 C.V (%)= 21,39 1 fração potencialmente degradável; 2taxa de degradação da fração b; 3fração indigestível da fibra; 4degradabilidade efetiva. Médias seguidas de mesma letra minúscula/maiúscula em mesma coluna/linha não diferem pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

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Os resultados da degradabilidade efetiva com taxa de 2 % foi afetado pela interação entre os níveis de uréia e enzimas, sendo que o fator uréia obteve redução na degradabilidade efetiva com a adição de enzimas, principalmente combinado com 4% de uréia (Tabela 1). Normalmente, os volumosos de baixa qualidade quando são amonizados, ocorre solubilização parcial da hemicelulose e expansão da parede celular, permitindo desta forma, que os microrganismos do rúmen tenham maior superfície específica para se aderirem e, consequentemente, aumentar a degradabilidade ruminal do material. Os resultados do tempo de colonização demonstraram que o aumento nos níveis de uréia e enzimas acarreta em aumento também no tempo de colonização. Deve ser levado em conta que quanto menor o tempo de colonização, mais rapidamente a microbiota ruminal conseguirá degradar o alimento, com isso, alimentos de baixa degradabilidade ruminal necessitam de um tempo mais longo para a ação dos microrganismos ruminais. Carvalho et al. (2007), estimando os parâmetros ruminais da fração fibrosa do bagaço de cana-de-açúcar, com doses de uréia (0; 2,5; 5,0 e 7,5%), verificaram decréscimo na fração indigestível “I”, com valores que foram de 61,34 para 36,07%, e aumentos na fração “b”, que foram de 38,66 para 63,93%. Neste trabalho, verificou-se que a DP e DE (2, 5 e 8%/h) da FDN foram de 38,66 para 63,93% (DP); e de 23,20 para 41,88% (DE 2%), 14,50 para 27,61% (DE 5%) e 10,54 para 20,59% (DE 8%), com a adição de 7,5% de uréia (base MS). Van Soest (1994) evidenciou que diminição da FDN e FDA em materiais submetidos à amonização é atribuída à solubilização da hemicelulose; ou da hemicelulose e da lignina. Desta forma, tudo indica que a uréia agiu eficientemente na parede celular, promovendo alteraçãoes benéficas e possibilitando, portanto, o incremento da degradabilidade da fração fibrosa. Conclusões A utilização de uréia combinada com enzimas fibrolíticas não apresentou resultados satisfatórios para redução na fração indigestível da fração fibrosa do resíduo de algodoeira. A adição de enzimas fibrolíticas não alterou a degradabilidade potencialmente digestível e a degradabilidade efetiva do resíduo de algodoeira, principalmente com 5% de enzimas. Agradecimentos A Fazenda Busato I por ceder gentilmente o resíduo de algodoeira e a empresa NOVOZYMES pela doação das enzimas. Literatura citada BEAUCHEMIN, K.A.; RODE, L.M.; YANG, W.Z. Enzymes and direct fed microbials in diets dairy cows, 2000. In: Proceedings Of The Tristate Nutrition Conference, 2000. 10 p. BROWN, W.F.; ADJEI, M.B. Urea ammoniation effects on the feeding value of guineagrass (Panicum maximum) hay. Journal Animal Science, v.73, p.3085-3093, 1995. CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; GARCIA, R.; SILVA, R.R.; MENDES, F.B.L.; PINHEIRO, A.A. SOUZA, D.R. Degradabilidade in situ da matéria seca e da fração fibrosa do bagaço de cana-de-açúcar tratado com uréia. Ciência Animal Brasileira, v.8, n.3, p.447-455, 2007. MERTENS, D.R.; LOFTEN, J.R. The effect of starch on forage fiber digestion kinetics in vitro. Journal of Dairy Science, v.63, p.1437-1446, 1980. PAIVA, J.A.J.; GARCIA, R.; QUEIROZ, A.C.; REGAZZI, A.J. Efeito dos níveis de amônia anidra e períodos de amonização sobre a degradabilidade da matéria seca e de constituintes da parede celular da palhada de milho (Zea mays L.). Revista Brasileira de Zootecnia, v.24, n.5, p.693-705, 1995. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. Ithaca, New York, Cornell University Press, 1994. 476p.

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____________________________________________________________ Composição tecidual dos cortes da carcaça de cordeiros Dorper x Santa Inês alimentados com diferentes componentes da algaroba Rodrigo Soares Junqueira2, Cristiane Leal dos Santos-Cruz3, Thiago Ramos Lima2, Christian Albert Carvalho da Cruz4, Ívina Paula Almeida dos Santos5, Brenda Souza de Araujo6 1

Pesquisa financiada pela FAPESB e com apoio da UESB. Graduando em Zootecnia-UESB. Email: rodrigo.zootec@outlook.com 3 Profa Titular DTRA da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB. 4 Prof. do IFBaiano/ Campus de Itapetinga-Ba. 5 PRODOC-DCR /FAPESB. 6 Graduanda em Engenharia de alimentos-UESB 2

Tissue composition of carcass cuts of Dorper x Santa Inês lambs fed different components of mesquite Abstract: The objective was to assess the influence of elephant grass silage with different components of mesquite in the tissue composition of carcass cuts of Dorper x Santa Inês lambs. We used 20 lambs not castrated, subject to the following diets: 100% elephant grass, elephant grass 70% and 30% starch mesquite, 70% of elephant grass and 30% mesquite meal, and 70% grass elephant and 30% mesquite pods. It is recommended to use up to 30% of the components of mesquite (starch, bran and chopped green beans) in silages with elephant grass, since the absolute weight does not influence the shoulder, rib, rib-flank, loin and leg, as in tissue components. Keywords: bone, fat, muscle, sheep Introdução O Nordeste apresenta um enorme potencial de produção de carne ovina, em especial o estado da Bahia que possui o maior rebanho do país, além da sua enorme área. A ascensão da produção de carne se deve a manejos zootécnicos adequados e aos cruzamentos industriais com raças especializadas. A alimentação representa a maior parte dos custos de produção, o que se faz necessário à utilização de alimentos alternativos, em especial na época de escassez de alimento. Os distintos cortes que compõem a carcaça possuem diferentes valores econômicos, atribuído principalmente pelo rendimento muscular. O conhecimento das variações teciduais pode melhorar a utilização e aceitação da carne pelos consumidores e aperfeiçoar a utilização dos alimentos a serem fornecidos aos animais. Objetivou-se, avaliar a influencia da silagem de capim elefante com diferentes componentes da algaroba na composição tecidual dos cortes da carcaça de cordeiros Dorper x Santa Inês. Material e Métodos O experimento foi desenvolvido na Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos – UECO da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Itapetinga-Ba. Foram utilizados 20 cordeiros, não castrados, com peso inicial de, aproximadamente, 23 kg, separados em grupos de quatro, considerando o delineamento inteiramente casualisado. Os animais foram mantidos em baias individuais e submetidos às seguintes dietas: 100% de capim elefante; 70% de capim elefante e 30% de amido de algaroba; 70% de capim elefante e 30% de farelo de algaroba, e 70% de capim elefante e 30% de vagem de algaroba picada. Os cordeiros receberam o mesmo concentrado a base grão de milho, farelo de soja e sal mineral. A relação volumoso:concentrado foi de 70:30. As operações de abate foram realizadas de acordo com os métodos recomendados pelo Ministério da Agricultura (RISPOA, 1997). Após o resfriamento à 3 °C por 24 horas, na meia carcaça esquerda foram obtidos os cortes paleta, costeleta, costela-fralda, lombo e perna, que foram embalados e armazenados sob congelamento. Após uma semana os cotes foram descongelados sob resfriamento por cerca de 10 horas, pesados e dissecados para a obtenção dos pesos do tecido muscular, tecido adiposo, tecido ósseo. Foi utilizado o PROC GLM do programa SAS (2001). Resultados e Discussão A silagem de capim elefante com amido de algaroba, farelode algaroba e vagem de algaroba não influenciou no peso da paleta, lombo, perna e seus tecidos. É de suma importância estudar o crescimento dos tecidos da perna, principalmente o muscular, que é o tecido em maior abundância e que atribui valor ao corte. Júnior et al (2009) avaliando o desenvolvimento dos cortes de cordeiros Dorper x Rabo Largo observou que a paleta tem crescimento precoce. Portanto, no caso do presente trabalho, os cordeiros já teriam estabilizado o crescimento da paleta. Outra justificativa seria que a adição dos componentes da algaroba manteve a qualidade nutricional das dietas, visto que, foi fornecido o mesmo concentrado para todos os animais, além de manter a partição dos nutrientes para os cortes avaliados. Santos et al (2009) trabalhando com cordeiros Santa Inês alimentados com pasto nativo, observaram aumento na proporção de tecidos muscular, adiposo e ósseo de acordo com os níveis de suplementação que foram de 0; 1 e 1,5% do peso vivo, emonstrando que o aumento do valor nutricional das dietas reflete na deposição dos tecidos. Isso explica a uniformidade do peso dos cortes e a maioria dos seus tecidos, pois, os componentes da algaroba não influenciou o valor nutritivo das dietas. A costeleta e a costela-fralda estão muito próximos na carcaça e, os seus tecidos ósseos tem a função basicamente de proteção dos órgãos internos. A inclusão de 30% de vagem de algaroba na silagem de capim elefante reduziu a deposição de tecido ósseo na costela fralda (0,240 kg) e não influenciou nos demais tecidos, aumentando o rendimento da parte comestível

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____________________________________________________________ deste corte. Porém o inverso aconteceu com a inclusão de farelo de algaroba que aumentou a deposição de tecido ósseo na costeleta e na costela-fralda para 0,476 e 0,313 kg respectivamente, consequentemente reduzindo o rendimento da parte comestível destes cortes. É necessário mais estudos para avaliar essa interação da dieta com a deposição do tecido ósseo, porém é necessário avaliar maiores adições dos componentes de algaroba, para também observar seu efeito nos demais tecidos. Tabela 1. Composição tecidual dos cortes da carcaça de cordeiros Dorper x Santa Inês alimentados com silagens capim elefante com diferentes componentes da algaroba. Silagens com Frações de Algaroba Cortes e seus tecidos (kg) Paleta

1,364

70%CE + 30%AA 1,417

70%CE + 30%FA 1,623

70%CE + 30%VA 1,400

TM

0,836

0,880

1,004

TA

0,314

0,292

0,342

TO Costeleta

0,177 1,690

0,198 1,577

TM

0,826

TA

X geral

Pr > F

1,451

0,2323

0,816

0,884

0,1332

0,328

0,319

0,9151

0,199 2,020

0,194 1,747

0,192 1,759

0,6745 0,4893

0,921

1,011

0,857

0,904

0,1682

0,401

0,443

0,424

0,444

0,428

0,9336

0,379b 2,212

0,473b 2,098

0,476a 2,210

0,360b 2,147

0,422 2,167

0,0218(*) 0,9692

TM

0,933

0,882

0,886

0,828

0,882

0,6149

TA

0,920

0,889

0,953

1,009

0,943

0,9386

TO

0,311a

0,304ab

0,313a

0,240b

0,292

0,0224(*)

TO Costela-fralda

Lombo

100%CE

0,633

0,606

0,657

0,577

0,618

0,8114

TM

0,364

0,394

0,391

0,359

0,377

0,8299

TA

0,119

0,111

0,113

0,124

0,117

0,9576

TO

0,137 2,629

0,085 2,942

0,109 2,999

0,081 2,666

0,103 2,809

0,0579 0,2270

TM

1,766

1,872

1,973

1,722

1,833

0,3349

TA

0,430

0,553

0,539

0,476

0,500

0,6550

TO

0,390

0,385

0,382

0,491

0,412

0,7893

Perna

TM: tecido muscular; TA: tecido adiposo; TO: tecido ósseo. (*) Médias comparadas pelo Teste de Tukey considerando 5% de probabilidade. Conclusão Recomenda-se utilizar até 30% dos componentes da algaroba (amido, farelo integral e vagem picada) em silagens com capim elefante, visto que, não influencia no peso absoluto da paleta, costeleta, costela-fralda, lombo e perna, assim como em seus componentes teciduais. Referencias RISPOA - Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de origem Animal. Brasília, DF: MA, 1997. SANTOS, J.R.S.; FILHO, J.M.P.; SILVA, A.M.A. et al. Composição tecidual e química dos cortes comerciais da carcaça de cordeiros Santa Inês terminados em pastagem nativa com suplementação. Revista Brasileira Zootecnia, v.38, n.12, p.2499-2505, 2009. SOUZA JÚNIOR; OLIVEIRA, A.A.; SANTOS, C.L. et al. Estudo alométrico dos cortes da carcaça de cordeiros cruzados Dorper com as raças Rabo Largo e Santa Inês. Revista Brasileira de Saúde Produção Aninal, v.10, n.2, p.423-433, abr/jun, 2009.

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____________________________________________________________ Depósitos de gordura de cordeiros Dorper x Santa Inês alimentados com diferentes componentes da algaroba¹ Rodrigo Soares Junqueira², Cristiane Leal dos Santos-Cruz³, Thiago Ramos Lima², Juan Ramon Olalquiaga Pérez4, Christian Albert Carvalho da Cruz5, Ívina Paula Almeida dos Santos6 1

Pesquisa financiada pela FAPESB com apoio da UESB Graduando em Zootecnia-UESB. Email: rodrigo.zootec@outlook.com 3 Profª Titular DTRA da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB. 4 Professo do Departamento de Zootecnia – UFLA – Lavras-MG 5 Prof. do IFBaiano/ Campus de Itapetinga-Ba. 6 PRODOC-DCR /FAPESB. 2

Deposits of fat Dorper x Santa Inês lambs fed different components of mesquite Abstract: The objective was to studies the influence of elephant grass silage with different components of mesquite in the development of fatty deposits in Dorper x Santa Inês lambs. We used 20 lambs not castrated, subject to the following diets: 100% elephant grass, elephant grass 70% and 30% starch mesquite, 70% of elephant grass and 30% mesquite meal, and 70% grass elephant and 30% mesquite pods bite. The addition of the components of mesquite no influence on body fat depots of lambs Dorper x Santa Inês, with the exception of subcutaneous fat. Keywords: adipose, scarcass, heep Introdução O cruzamento entre cordeiros de raças especializadas para corte e ovelhas nativas tem sido utilizado para obtenção de cordeiros destinados ao abate em sistemas de cruzamento-industrial. No entanto, na maioria das vezes, as atenções são voltadas para a produção de tecido muscular, porém, sabe-se que o depósito de gordura interna pode influenciar no desenvolvimento diminuindo a eficiência do uso da energia da dieta. A maior proporção de gordura interna torna o animal mais exigente em energia para mantença em função da maior atividade metabólica do tecido adiposo, além de diminuir o rendimento dos cortes da carcaça. De acordo Ferreira et al. (2000), considerando que a gordura interna não é aproveitada para consumo humano, há desperdício de energia alimentar Os constituintes do peso vivo são poucos estudados, porém eles influenciam no valor econômico da carne e da carcaça, e dentre eles estão as gorduras. O tecido adiposo subcutâneo, por exemplo, além funcionar como proteção durante o resfriamento, pode agregar valor as carcaças, no entanto, quando em excesso pode causar rejeição dos cortes pelo consumidor. Desta forma, é importante avaliar dietas que proporcione deposição mínima necessária de gordura interna e uma deposição adequada de gordura subcutânea. Objetivou-se, avaliar a influência da silagem de capim elefante com diferentes componentes de algaroba no desenvolvimento dos depósitos de gordura de cordeiros Dorper x Santa Inês. Material e Métodos O experimento foi desenvolvido na Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos – UECO da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Itapetinga-Ba. Foram utilizados 20 cordeiros, não castrados, com peso inicial de, aproximadamente, 23 kg, separados em grupos de quatro, considerando o delineamento inteiramente casualisado. Os animais foram mantidos em baias individuais e submetidos às seguintes dietas: 100% de capim elefante; 70% de capim elefante e 30% de amido de algaroba; 70% de capim elefante e 30% de farelo de algaroba, e 70% de capim elefante e 30% de vagem de algaroba picada. Os cordeiros receberam o mesmo concentrado a base grão de milho, farelo de soja e sal mineral. A relação volumoso: concentrado foi de 70:30. As operações de abate foram realizadas de acordo com os métodos recomendados pelo Ministério da Agricultura (RISPOA, 1997), sendo pesados para obtenção do peso vivo de abate (PVA). Após o abate os animais foram esfolados, eviscerados e obtidos os depósitos de gordura interno que não fazem parte da carcaça (omental e mesentérica). As gorduras perirenal, cavitária e subcutânea foram obtidas na carcaça após resfriamento a 3 °C por 24 horas, sendo pesadas e descartadas. Na meia carcaça esquerda foram obtidos os cortes paleta, costeleta, costela-fralda, lombo e perna, que foram embalados e armazenados sob congelamento. Após uma semana os cortes foram descongelados sob resfriamento por cerca de 10 horas, pesados e dissecados para a obtenção do peso do tecido adiposo. Foi utilizado o PROC GLM do programa SAS (2001). Resultados e Discussão A silagem de capim elefante aditivada com diferentes componentes da algaroba não influenciou no peso vivo para abate e nos pesos do corpo vazio. Isso era esperado, uma vez que o peso vivo final foi pré-estabelecido. O peso da meia carcaça também não diferiu, provavelmente porque os foram serem uniformes na idade de abate, no peso de abate e, além disso, as dietas não influenciaram perdas no resfriamento. A adição de 30% dos componentes da algaroba não provocou diferenças nos pesos absolutos das gorduras omental, mesentérica, perirenal e cavitária, o que indicar que a energia das dietas não foi direcionada, em grande parte, para os depósitos de

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____________________________________________________________ gordura interna. Isso é positivo para a produção de carne, pois segundo Santos-Cruz et al. (2010), um dos fatores que influencia na determinação do peso ótimo de abate é a gordura, tanto interna quanto externa, sendo um dos tecidos de distribuição mais variada. Também não se observou diferença na quantidade de gordura da paleta, costeleta, costela-fralda, lombo e perna. Concluise que os componentes da algaroba não influenciaram na partição da energia dietética para a formação da gordura nos cortes avaliados. Porém houve diferença na deposição de gordura subcutânea, que variou de 1,50 mm a 3,39 mm. Os cordeiros que se alimentaram com amido e farelo de algaroba na silagem tiveram maior deposição de gordura externa na carcaça. Sabe-se que a gordura subcutânea é a mais tardia quando comparada com os demais depósitos de gordura, portanto, a adição de 30% dos componentes da algaroba aumentou a precocidade de deposição de gordura subcutânea. Seria importante avaliar níveis mais elevados de adição dos componentes da algaroba para observar o desenvolvimento relativo do tecido adiposo subcutâneo, uma vez que essa gordura influência no período de terminação e, consequentemente no tempo de abate dos cordeiros. Tabela 1. Deposição de tecido adiposo em cordeiros Dorper x Santa Inês alimentados com silagem de capim elefante com diferentes componentes da algaroba. Tecido Adiposo (kg) 100% 70% CE + 70% CE + 70% CE + X Pr > F CE 30 AA 30% FA 30% VA geral 45,600 43,620 46,260 45,820 45,325 0,8363 PVA 32,860 33,380 35,600 34,640 34,120 0,7486 PCVZ 9,512 9,676 10,624 9,676 9,872 0,5024 PMCAR 0,862 1,091 1,168 1,109 1,057 0,8098 Omental 0,392 0,716 0,681 0,793 0,645 0,0916 Mesentérica 0,345 0,514 0,504 0,503 0,466 0,3216 Perirenal 0,060 0,100 0,084 0,089 0,083 0,2118 Cavitária 1,50b 3,32a 3,39a 2,43ab 2,66 0,0046 (*) GO Subcutânea (mm) 0,314 0,292 0,342 0,328 0,319 0,9151 GO Paleta GO Costeleta GO Costela-fralda

0,401 0,920

0,443 0,889

0,424 0,953

0,444 1,009

0,428 0,942

0,9336 0,9386

GO lombo GO Perna

0,119 0,430

0,111 0,553

0,113 0,539

0,124 0,476

0,116 0,4995

0,9576 0,6550

PVA: peso vivo ao abate; PCVZ: peso do corpo vazio; PMCAR: peso meia carcaça; GO: gordura; CE: capim elefante; AA: amido de algaroba; FA: farelo de algaroba; VA: vagem de algaroba. (*) Médias comparadas pelo Teste de Tukey considerando 5% de probabilidade Conclusão A adição dos componentes da algaroba não influencia nos depósitos de gordura corporal de cordeiros Dorper x Santa Inês, com exceção da gordura subcutânea. Literatura citada FERREIRA, M.A.; VALADARES FILHO, S.C.; MUNIZ, E.B. et al. Características das carcaças, biometria do trato gastrintestinal, tamanho dos órgãos internos e conteúdo gastrintestinal de bovinos F1 Simental x Nelore alimentados com dietas contendo vários níveis de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.4, p.1174-1182, 2000. RISPOA - Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de origem Animal. Brasília, DF: MA, 1997. SANTOS-CRUZ, C.L.; CRUZ, C.A.C.; LIMA, T.R. et al. Alometria dos depósitos de gordura interna de cordeiros Dorper x Santa Inês alimentados com diferentes frações de algaroba. In: 47a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2010, Salvador. Anais...Salvador, Ba: SBZ, 2010. SAS Institute. SAS System for Windows. Version 8.0. Cary: SAS Institute Inc., 2001. 2 CD-ROMs.

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____________________________________________________________ Avaliação de perdas acumuladas totais da silagem de capim Pioneiro com adição de bagaço de uva proveniente da indústria vitivinícola Eduardo Rodrigo Scherer1, Tiago Machado dos Santos2, Janielen da Silva1, Everton Elias Burin Baldasso1, Daniel Dalla Costa1, Américo Fróes Garcez Neto3 1

Estudante de Iniciação Científica, Laboratório de Nutrição Animal, Universidade Federal do Paraná, Palotina – PR. eduardo.scherer@ufpr.br Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – Universidade Federal do Paraná, Palotina - PR, Bolsista do Programa REUNI. 3 Professor, Laboratório de Nutrição Animal, Universidade Federal do Paraná, Palotina – PR. americo.garcez@ufpr.br 2

Evaluation of total accumulated losses of Pioneiro grass silages with addition of grape wine residue from vitiviniculture industry Abstract: The study aimed to evaluate the effect of increasing levels of grape wine residue from wine industry in Pioneiro grass silages (Pennisetum purpureum Schumach) and the total cumulative losses over the fermentation times. It was used a completely randomized design in a split-plot arrangement with a factorial scheme, consisted by four levels of grape wine residue inclusion (0, 10, 20 and 30% in fresh mass) and thirteen times of fermentation (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 14, 21, 28, 42 e 49 days), with four replicates. The addition of grape wine residue caused a decrease in the cumulative total losses, particularly above 20% of grape wine residue inclusion. Regarding the duration of fermentation, it was observed a stabilization pattern from seven days of ensiling to treatments with 20 and 30% of grape wine inclusion and from 28 days to silage without grape wine residue. Only the treatment with 10% of grape wine residue did not present clear pattern of stabilization during the experimental period. The dehydrated grape wine residue (70% DM) can be used successfully to reduce the accumulated total losses in Pioneiro grass silages, particularly above 20% of addition to the ensiled mass. Keywords: effluent, ensilage, gaseous, Pennisetum purpureum Introdução O Brasil possui um elevado potencial para produção de forrageiras. Porém, o seu crescimento é desigual durante o ano e em determinados meses a produção pode se tornar insuficiente para alimentação dos rebanhos. A ensilagem é um processo anaeróbico de conservação de forrageiras, normalmente realizado nos meses de maior produção visando o suprimento de alimento para os ruminantes em períodos de escassez de recursos. Silva et al., (2009) verificaram um aumento de 54,6% da área plantada de cana-de-açúcar da safra 2005/06 à 2008/09 na região Centro-Sul, o que demonstra uma crescente expansão das áreas para produção de biocombustíveis sobre as áreas antes utilizadas na pecuária ou na produção de grãos. Este dado enfatiza a importância de um melhor aproveitamento de alguns recursos, tais como resíduos industriais, que podem ser utilizados na alimentação de ruminantes, como é o caso do bagaço de uva proveniente da indústria vitivinícola. Gramíneas apresentam seu melhor valor nutricional quando jovens, porém neste período, apresentam altos teores de umidade e poder tampão, e uma baixa concentração de carboidratos solúveis, resultando numa silagem de baixa qualidade. Silagens com elevado teor de umidade produzem grandes quantidades de efluentes, que carreiam nutrientes, açúcares e ácidos orgânicos, diminuindo o valor nutritivo da mesma (McDonald, 1981). Lavezzo (1994) recomenda a utilização de técnicas que promovam a elevação dos teores de matéria seca da massa ensilada e aumentem seus níveis de carboidratos solúveis, sendo que uma alternativa de destaque é a utilização de subprodutos oriundos do processamento de frutas. Segundo Igarasi (2002), o ingrediente usado como aditivo nas silagens para sequestrar umidade deve apresentar alto teor de matéria seca, alta capacidade de retenção de água, boa aceitabilidade, além de ser de fácil manipulação e aquisição e, baixo custo. De acordo com Dantas et. al. (2004), o resíduo de vitivinícola possui bons teores de proteína bruta e carboidratos totais, 14,77 e 66,00% respectivamente, embora Lima & Leboute (1986) afirmem que a digestibilidade da proteína bruta do resíduo de uva oriundo da produção de suco é baixa, além de ter baixos teores de energia. Objetivou-se avaliar neste trabalho as perdas acumuladas totais da massa ensilada com resíduo de uva pré-emurchecida proveniente da indústria vitivinícola, como aditivo absorvente em silagem de capim Pioneiro (Pennisetum purpureum Schumach). Material e Métodos O presente estudo foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal do Paraná - Campus Palotina. O material utilizado foi o capim Pioneiro (Pennisetum purpureum Schumach) proveniente do campo agrostológico da C-VALE Agroindustrial, com teor de MS de 19,59%. O capim foi ensilado com diferentes níveis de resíduo de uva, com um teor de 70% de MS após processo de emurchecimento (teor inicial de 20% de MS), adquirido de produtores de vinho locais. 1


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____________________________________________________________ O capim foi triturado em partículas de aproximadamente 20mm e as misturas contendo 0, 10, 20 e 30% de aditivo (porcentagem na matéria natural), foram ensiladas em tubos experimentais de PVC de 150 mm de diâmetro por 600 mm de altura, sob uma pressão de 600 Kg de matéria natural/m3. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, em parcelas subdivididas, adotando um esquema fatorial composto por quatro níveis de inclusão de bagaço de uva e treze tempos de fermentação durante o período de anaerobiose, com quatro repetições. Os dados de perdas pontuais foram obtidos através da diferença de peso da massa ensilada dos silos entre os períodos de avaliação e utilizados no cálculo das perdas acumuladas durante o período experimental. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando-se o procedimento GLM e teste de comparação múltipla de médias (Tukey), disponível no pacote estatístico SAS (versão 9.0). Comparações das perdas entre os tempos de fermentação foram executadas de acordo com o modelo exponencial Y = a (1 – e-bx). Nas análises estatísticas foi adotado o nível de significância de 5%. Resultados e Discussão Foi verificada interação (P<0,05) entre os níveis de bagaço de uva e os tempos de fermentação no processo de ensilagem em relação às perdas acumuladas totais. A adição do resíduo de uva proveniente da indústria vitivinícola teve um efeito positivo sobre a diminuição das perdas acumuladas totais (Tabela 1). Isso pode ser explicado pelo teor elevado da MS do resíduo, que quando adicionado na concentração de 10, 20 e 30%, elevou os teores de MS da massa ensilada para aproximadamente 25, 30 e 35%, respectivamente, contra um teor de 19,59% de MS do capim Pioneiro. Os resultados confirmam o que normalmente é recomendado na literatura, que sugere um teor de MS da ensilagem entre 30 e 35% (McDonald, 1981). O tratamento com 10% de bagaço de uva não foi suficiente para atender essa faixa de MS recomendada. Tabela 1. Efeito da concentração do bagaço de uva sobre a porcentagem de perdas acumuladas totais durante o período de fermentação das silagens. Perdas acumuladas totais (%) Tempo (dias)

Adição de resíduo de uva (%) 0

10

20

30

0

0,0000a

0,0000a

0,0000a

0,0000a

1

1,1875a

0,2100b

0,0300b

0,0450b

2

1,6425a

0,3625b

0,3375b

0,2900b

3

1,7350a

0,5450b

0,3825b

0,2900b

4

1,9000a

0,5900b

0,3825b

0,3050b

5

2,2150a

0,6650b

0,4125b

0,3200b

6

2,6350a

0,7250b

0,4125b

0,6400b

7

2,8325a

0,7825b

0,4125b

0,6400b

14

3,3975a

1,3525b

0,4425b

0,6700b

21

3,9550a

1,7625b

0,4600c

0,7175bc

28

4,3025a

1,9250b

0,4750c

0,7175bc

42

4,7125a

2,2725b

0,4900c

0,7525c

0,5200c

0,7825c

49 5,1050a 2,5525b Letras diferentes na mesma linha diferem pelo teste de Tukey (P<0,05).

O tratamento sem adição de bagaço de uva apresentou, ao fim dos 49 dias de estudo, perdas acumuladas totais de 5,1%, diferindo visivelmente dos demais níveis de inclusão. No entanto, o mesmo apresentou uma tendência a estabilizar suas perdas a partir dos 28 dias. É possível que este resultado esteja relacionado com o excesso de perdas acumuladas totais nos primeiros dias de avaliação, principalmente na forma de efluente, resultando num decréscimo acentuado do teor de umidade da massa (Figura 1). Níveis de inclusão de 20 e 30% tiveram resultados muito semelhantes, não diferindo estatisticamente em nenhum período avaliado. Ambos apresentaram perdas muito baixas no início do período de fermentação, com uma rápida estabilização das perdas acumuladas totais (a partir dos sete dias). A inclusão de 10% de bagaço de uva apresentou resultados intermediários com relação às perdas acumuladas totais. No entanto, foi o único tratamento que não apresentou uma tendência de estabilização destas perdas. Comparando-se ao tratamento sem inclusão de bagaço de uva, este apresentou perdas iniciais menores, o que resultou no aumento das perdas acumuladas totais durante todo o período estudado. É possível que a concentração de 10% do resíduo tenha propiciado uma melhor condição para o 2


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____________________________________________________________ desenvolvimento das bactérias fermentativas, pelo fornecimento de melhor substrato, embora ele ainda não tenha contribuído de forma eficiente na absorção da umidade do capim Pioneiro, onde neste tratamento a massa ensilada apresentou um teor de MS em torno de 25%.

Perdas acumuladas totais (%)

6

5

4

3

2

1

0 01234567

14

21

28

42

49

Tempo de fermentação (dias) Figura 1. Perdas acumuladas totais durante o período de fermentação na ensilagem do capim Pioneiro com níveis crescentes de adição de bagaço de uva. (0%) Y = 4,5603(1 – e-0,1394x); (10%) Y = 2,6001(1 – e-0,0545x); (20%) Y = 0,4750(1 – e-0,4046x); (30%) Y = 0,7525(1 – e-0,1820x). Conclusões A inclusão do bagaço de uva diminui as perdas acumuladas totais da massa ensilada durante o período de fermentação. Inclusões de resíduo de uva desidratado (70% de MS) acima de 20% na massa ensilada são recomendadas para adequada redução das perdas acumuladas totais na ensilagem do capim Pioneiro. Literatura citada DANTAS, F. R.; ARAÚJO, G. G. L. de; SOUZA, C. M. S. de. Composição química e consumo de nutrientes do resíduo de uva em caprinos e ovinos no vale do São Francisco. In: CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 3., 2004, Campina Grande, PB. Anais... Campina Grande: Congresso Nordestino de Produção Animal, 2004. CDROM. LAVEZZO, O.E.N.M. Utilização de Resíduos Culturais e de Beneficiamento na Alimentação de Bovinos. Abacaxi, banana, caju, uva e maçã. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS 6, Piracicaba-SP. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1988. p. 746. LIMA, S., LEBOUTE, E. M. Resíduo seco da industrialização da uva como alimento para caprinos e ovinos: consumo voluntário e digestibilidade de misturas de resíduo de uva e feno de alfafa. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 23, 1986, Campo Grande, MS. Anais... Campo Grande: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1986. McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: John Willey & Sons. 1981. 226p. SILVA, W.F., AGUIAR, D.A., RUDORFF, B.F.T. et al. Análise da expansão da área cultivada com cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil: safras 2005/2006 a 2008/2009. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 14, Natal – RN. Anais... Natal: INPE, 2009. p. 467-474.

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____________________________________________________________ Perdas relativas na ensilagem do capim Pioneiro com níveis de resíduo de uva durante o período de fermentação Patrícia Fernanda dos Santos Marques1, Diana Rosa Vivian3, Eduardo Rodrigo Scherer2, Janielen da Silva2, Tiago Machado dos Santos3, Américo Fróes Garcez Neto4 1

Estudante, Laboratório de Nutrição Animal, Universidade Federal do Paraná, Palotina – PR. Estudante de Iniciação Científica, Laboratório de Nutrição Animal, Universidade Federal do Paraná, Palotina – PR. 3 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – Universidade Federal do Paraná, Palotina - PR, Bolsista do Programa REUNI. 4 Professor, Laboratório de Nutrição Animal, Universidade Federal do Paraná, Palotina – PR. americo.garcez@ufpr.br 2

Relative losses in the Pioneiro grass silages with levels of grape wine residue during the fermentation period Abstract: The study was carried out with the aim to evaluate the effect of increasing levels of grape wine residue added to Pioneiro grass silages (Pennisetum purpureum Schumach) on the relative losses over the fermentation times. It were evaluated four levels of grape wine residue inclusion (0, 10, 20 and 30% in fresh mass) and thirteen times of fermentation (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 14, 21, 28, 42 e 49 days). It was used a completely randomized design in a split-plot scheme with four ensilage processes as main plots and thirteen fermentation times as subplots, with four replicates. Significant interaction was found between the types of ensilage and the fermentation times. In the first seven days of fermentation, the grape wine residue addition did not change the relative losses between silages, except for the second day, where the treatments above 20% of grape residue addition presented the highest relative losses (48.68 and 70.95%). The relative losses to treatments bellow 20% of grape residue addition were lower, but these losses were longer (1 to 6 days) than to treatments above this level (1 to 3 days). The highest relative losses to treatments above 20% of grape wine residue must be attributed to the faster stabilization of these losses in the silages. The addition of grape wine residue above 20% in the silage can be regarded as the most effective additive during the fermentation due the reduction of time in the losses. Keywords: effluent, ensilage, gaseous, Pennisetum purpureum Introdução A Fruticultura no Brasil é uma atividade com grandes perspectivas de expansão pelo fato do país ser um grande exportador do setor, além de possuir solo e clima favoráveis para o desenvolvimento de diversas espécies. Os resíduos de sua agroindústria deixam de ser um problema ambiental à medida que se criam alternativas para sua utilização na alimentação animal, aproveitando os nutrientes remanescentes desses materiais. Nesse contexto, os resíduos agroindustriais podem ser importantes na alimentação de ruminantes, principalmente em situações de baixa disponibilidade de forragem (Ferreira et al. 2009). Há períodos do ano em que as pastagens cessam ou diminuem seu crescimento por diversas razões, entre elas a falta de umidade, menor intensidade luminosa, fatores ligados à fisiologia das forrageiras (Modesto et al. 2009) e o manejo inadequado do pasto. Além disso, esses subprodutos podem contribuir com a diminuição do custo na alimentação, o qual é um fator limitante na produção animal. Os resíduos da agroindústria geralmente são utilizados associados a outras fontes de alimentos na nutrição animal, muitas vezes adicionados a forragens conservadas com relativo sucesso. A ensilagem é uma técnica amplamente utilizada na conservação de alimentos, sendo que para ter um processo eficiente de fermentação algumas características devem ser consideradas. Segundo McDonald (1981), um teor de matéria seca (MS) de 30 a 35%, alto teor de carboidratos solúveis e baixo poder tampão, são as características desejáveis para uma boa fermentação. As gramíneas forrageiras não apresentam essas características justamente no momento em que seu valor nutricional é ótimo, sendo um entrave para o seu aproveitamento na forma de silagem, uma vez que grande parte de seus nutrientes seriam perdidos neste processo por meio de efluentes. Para contornar essa limitação, vários aditivos têm sido adicionados às forrageiras no momento da ensilagem no intuito de melhorar o padrão fermentativo (Rezende et al. 2008), sendo os materiais absorventes de umidade uma alternativa bastante utilizada. Entre os resíduos da agroindústria como possíveis aditivos para ensilagem destaca-se o bagaço desidratado de uva, que segundo Tosto et al. (2007) possui teores de 14,19% de proteína bruta e 65,24% de carboidratos totais. Este trabalho teve por objetivo analisar as perdas relativas da massa ensilada com bagaço de uva pré-emurchecida originário da viticultura como aditivo absorvente em ensilagem de capim Pioneiro (Pennisetum purpureum Schum.). Material e Métodos Este estudo foi desenvolvido no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal do Paraná – Campus Palotina, utilizando-se capim Pioneiro (Pennisetum purpureum Schum.) proveniente do campo experimental da C.Vale Cooperativa Agroindustrial e bagaço de uva desidratado (70% de MS) adquirido de produtores de vinho da região. A silagem foi composta por capim Pioneiro, colhido com altura de aproximadamente 1,80m, triturado em partículas de 20mm e bagaço de uva adicionado em diferentes níveis a massa ensilada: 0, 10, 20 e 30% na matéria natural. O material foi acondicionado em tubos de PVC experimentais com 600mm de altura e 150mm de diâmetro, sob pressão de 600kg de matéria natural/m³. Os silos foram confeccionados com tampas para a liberação de gases (Válvula tipo Bunsen) na parte superior e drenagem de efluentes na parte inferior. 1


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____________________________________________________________ Adotou-se delineamento inteiramente casualizado, em parcelas subdivididas, utilizando esquema fatorial formado por quatro níveis de resíduo de uva (0, 10, 20 e 30%) e treze tempos de anaerobiose (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 14, 21, 28, 42, 49 dias) durante a fermentação, com quatro repetições. Os níveis de bagaço de uva foram alocados às parcelas e os tempos de anaerobiose às subparcelas. Foram avaliadas as perdas relativas da massa ensilada ao longo do processo de ensilagem. No cálculo das perdas considerou-se o peso do conjunto do silo (silo + silagem) nos diferentes tempos de anaerobiose, sendo considerada como perdas relativas, a diferença de peso dos conjuntos entre os tempos de coleta em relação perda acumulada (peso do conjunto na coleta inicial menos o peso do conjunto no dia de abertura dos silos aos 49 dias) de matéria natural em todo o período de fermentação. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando-se o procedimento GLM, teste de comparação múltipla de médias (Tukey) e teste Dunnett (tratamento sem aditivo como controle), ao nível de 5% de significância, disponível no pacote estatístico SAS (versão 9.0). Resultados e Discussão Foi verificada interação significativa (P<0,05) entre os tipos de ensilagem e os tempos de anaerobiose. As médias referentes às perdas relativas na ensilagem do capim Pioneiro com bagaço desidratado de uva são apresentadas na Tabela 1. A maioria das silagens apresentou o mesmo padrão de resposta em termos de perdas relativas entre os diferentes tempos de anaerobiose. Na primeira semana de fermentação a adição do bagaço não alterou (P>0,05) as perdas relativas entre as silagens, exceto no segundo dia de anaerobiose, onde os tratamentos com 20 e 30% de bagaço de uva apresentaram as maiores perdas relativas durante todo o período estudado. Após a primeira semana de fermentação, observou-se que o nível de 10% de bagaço de uva resultou em perdas relativas maiores do que o tratamento sem adição do bagaço. Acredita-se que a inclusão de 10% de bagaço seja o limite mínimo de utilização na ensilagem do capim Pioneiro, avaliando-se particularmente os dias 14, 42 e 49. Nesse nível é possível que o bagaço apesar de fornecer substrato adicional para crescimento microbiano, não ajuste a MS para os níveis considerados ideais para redução das perdas na massa ensilada (MacDonald, 1981). O crescimento microbiano proporcionado pelo nível mínimo de bagaço pode ter sido suficiente para produção de gases e efluentes que interferiram nas perdas registradas. Tabela 1. Efeito da concentração do bagaço de uva sobre a porcentagem de perdas relativas (% MN) durante o período de anaerobiose das silagens. Perdas relativas (% MN) Tempo (dias)

Adição de resíduo de uva (%) 0

10

20

30

0

0,00

0,00

0,00

0,00

1

33,75a

16,33a

8,58a

7,90a

2

16,98b

12,58b

70,95a

48,68a

3

2,45a

19,65a

8,20a

0,00a

4

5,32a

3,62a

0,00a

4,67a

5

10,25a

6,52a

8,57a

5,82a

6

14,05a

7,10a

0,00a

11,26a

7

6,92a

6,20a

0,00a

0,00a

14

2,85b

10,50a

1,22b

1,05b

21

2,85ab

7,42a

0,67b

1,87ab

28

1,67ab

2,82a

0,55ab

0,00b

42

1,05b

2,90a

0,32b

0,52b

49 1,77b 4,32a Letras diferentes na mesma linha diferem pelo teste Tukey (P<0,05).

0,95b

1,20b

Os tempos de anaerobiose diferiram significativamente (P<0,05) entre as silagens (Figura 1), sendo os tratamentos com 0 e 10% de bagaço os que resultaram nas menores perdas relativas. Essas perdas foram mais prolongadas nesses tratamentos, 1 a 6 dias para a silagem sem adição de bagaço e de 1 a 3 dias para a silagem com 10% de resíduo. Nos tratamentos com 20 e 30% de adição de bagaço as perdas mais significativas (P<0,05) se concentraram no segundo dia de ensilagem. Apesar das perdas acumuladas nos tratamentos com 20 e 30% de bagaço terem sido menores do que para os demais tratamentos, elas se concentraram apenas nos primeiros sete dias de fermentação. Isso mostra que as perdas relativas são mais pontuais para materiais 2


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____________________________________________________________ com níveis mais adequados de MS e substrato para fermentação, tornando esses materiais mais eficientes como aditivos na ensilagem. 80

0%

10% Perdas relativas (% MN)

Perdas relativas (% MN)

80

60

40

20

1º dia: 33,75% *

6º dia: 14,05% *

0 01234567

14

21

28

42

60

40

20

0

49

1º dia:16,33% * 3º dia: 19,66% *

01234567

Tempo de fermentação (dias) 80

80

Perdas relativas (% MN)

Perdas relativas (% MN)

21

28

42

49

42

49

Tempo de fermentação (dias)

20%

2º dia: 70,96% *

14

60

40

20

0

30%

60 2º dia: 48,69% * 40

20

0

01234567

14

21

28

Tempo de fermentação (dias)

42

49

01234567

14

21

28

Tem po de ferm entação (dias)

Figura 1. Avaliação das perdas relativas (% MN) em função dos períodos de anaerobiose no processo de ensilagem do capim Pioneiro com a adição de níveis (0, 10, 20 e 30%) de bagaço de uva desidratado. * Significativo a 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. Conclusões O bagaço desidratado de uva acima de 20% de inclusão na massa ensilada pode ser considerado como um aditivo eficiente no controle das perdas relativas, principalmente por reduzir a extensão do período de perda da massa ensilada. Os maiores valores das perdas relativas acima de 20% de adição de bagaço devem ser atribuídos a mais rápida estabilização dessas perdas durante a ensilagem, possibilitando maior recuperação da silagem de capim Pioneiro. Literatura citada FERREIRA, A.C.H., NEIVA, J.N.M., RODRIGUEZ, N.M. et al. Avaliação nutricional do subproduto da agroindústria de abacaxi como aditivo de silagem de capim-elefante. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.2, p.223-229, 2009. McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: John Willey & Sons. 1981. 226p. MODESTO, E.C., SANTOS, G.T., DAMASCENO, J.C. et al. Inclusão de silagem de rama de mandioca em substituição à pastagem na alimentação de vacas em lactação: produção, qualidade do leite e da gordura. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia., v.61, n.1, p.174-181, 2009. REZENDE, A.V., GASTALDELLO JÚNIOR, A.L., VALERIANO, A.R. et al. Uso de diferentes aditivos em silagem de capimelefante. Ciência e Agrotecnologia, v. 32, n.1, p. 281-287, 2008. TOSTO, M.S.L., ARAÚJO, G.G.L., OLIVEIRA, R.L. et al. Composição química e estimativa de energia da palma forrageira e do resíduo desidratado de vitivinícolas. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.8, n.3, p. 239-249, jul/set, 2007.

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Perdas totais da silagem de capim Pioneiro com a adição de casca de soja, bagaço de uva e inoculante bacterianoenzimático durante o período de fermentação Tiago Machado dos Santos1, Eduardo Rodrigo Scherer2, Janielen da Silva2, Everton Elias Burin Baldasso2, Alexandre Leseur dos Santos3, Américo Fróes Garcez Neto3 1

Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – Universidade Federal do Paraná, Palotina - PR, Bolsista do Programa REUNI. e-mail: tiagom.santos@ufpr.br 2 Estudante de Iniciação Científica, Laboratório de Nutrição Animal, Universidade Federal do Paraná, Palotina – PR. 5 Professor, Laboratório de Nutrição Animal, Universidade Federal do Paraná, Palotina – PR. e-mail: americo.garcez@ufpr.br

Total losses of Pioneiro grass silage added with soybean hull, grape wine residue and bacterial-enzymatic inoculants during the period of fermentation Abstract: The trial was carried out with the aim to evaluate the effect of absorbent and bacterial/enzymatic additives on the total cumulative losses in Pioneiro grass silages (Pennisetum purpureum Schum.). It were tested four ensilage processes: Pioneiro grass silage; Pioneiro grass silage added with soybean hull; Pioneiro grass silage added with soybean hull and microbial/enzymatic inoculant; and Pioneiro grass silage added with grape wine residue from wine industry. It was used a completely randomized design in a split-plot scheme with four ensilage processes as main plots and twelve fermentation times as subplots, with four replicates. The total cumulative losses were lower to treatments with soybean hulls. The highest losses were found to the treatment without any additive and to the treatment with grape wine residue. To these treatments the differences were only perceived after 21 days of fermentation. It may be concluded that the soybean hull is the most effective additive to decrease the total losses during the fermentation. Keywords: effluents, gaseous, grass, Pennisetum purpureum Introdução Gramíneas tropicais apresentam melhor valor nutricional quando jovens, porém, nesta fase apresentam elevados teores de umidade e baixas concentrações de carboidratos solúveis. Plantas ensiladas com elevados teores de umidade produzem grande quantidade de efluentes, os quais carreiam nutrientes altamente digestíveis, açúcares e ácidos orgânicos, diminuindo o valor nutritivo da silagem (McDonald 1981). O processo de ensilagem está sujeito a perdas por gases e efluentes, que estão associados ao teor de umidade dos materiais utilizados. Uma maneira de se diminuírem as perdas é a inclusão de materiais absorventes de umidade no momento da ensilagem. Em alguns casos esses materiais absorventes da umidade podem ainda incrementar a fermentação ocorrida no processo, melhorando a conservação e a qualidade da silagem. A utilização de subprodutos provenientes da agroindústria no processo de ensilagem tem aumentado e se mostrado uma alternativa viável na nutrição de ruminantes, pois podem reduzir significativamente os custos com alimentação, e consequentemente, os custos de produção, contribuindo para o aumento da eficiência do sistema produtivo (Guimarães Jr. et al., 2008). A casca de soja e o resíduo de uva proveniente da vitivinicultura podem se apresentar como uma alternativa interessante para diminuir as perdas por efluentes, bem como melhorar o padrão fermentativo das forragens e o seu valor nutritivo. Objetivou-se avaliar os efeitos da inclusão de casca de soja, resíduo de uva proveniente da vitivinicultura e inoculante bacteriano-enzimático sobre as perdas acumuladas totais durante o período de fermentação na silagem de capim Pioneiro. Material e Métodos A pesquisa foi conduzida na Universidade Federal do Paraná, Campus Palotina, localizada em Palotina, Paraná. Os materiais de estudo foram o capim Pioneiro (Pennisetum purpureum Schumach), a casca de soja, o resíduo de uva e inoculante comercial. O inoculante adotado era composto por cepas de Lactobacillus plantarum e Pediococcus acidilactici, e também pela enzima amilase. O capim Pioneiro (19,59% MS) foi cultivado no campo agrostológico da C-Vale Agroindustrial, a casca de soja (89,09% MS) foi proveniente da mesma empresa e o resíduo de uva (21,88% MS) proveniente de produtores locais de vinho. O capim colhido foi triturado em partículas de aproximadamente 20 mm. O material foi ensilado em tubos de PVC com 150 mm de diâmetro e 600 mm de altura, sob uma pressão de 600 kg de MN/m3, dotados de válvula tipo Bunsen para escape de gases e de válvula para coleta de efluentes. Neste estudo foi adotado um delineamento inteiramente casualizado, em parcelas subdivididas, com quatro processos de ensilagem nas parcelas e doze tempos de avaliação nas subparcelas, com quatro repetições. Foram testadas quatro formas de ensilagem (capim Pioneiro natural, capim Pioneiro com 20% de casca de soja, capim Pioneiro com 20% de casca de soja mais inoculante bacteriano/enzimático (inoculação conforme dosagem comercial indicada pelo fabricante) e capim Pioneiro com 12% de resíduo de uva) em 12 períodos de avaliação (0, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 14, 21, 28, 42 e 49 dias de fermentação). A inclusão da casca de soja e do resíduo da uva foi feita com base na matéria natural. Em cada um dos 12 períodos de avaliação, os efluentes produzidos foram coletados e descontados do peso dos silos para devido ajuste dos valores de perdas. 1


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____________________________________________________________ Pela equação abaixo, foram obtidas as perdas acumuladas durante o período de fermentação: PA = [(MFI – MFp) / MFI] x 100, onde: PA: perdas acumuladas (%); MFI: massa de forragem inicial (g); MFp: massa de forragem do período de avaliação (g). A análise estatística dos dados foi realizada utilizando-se os procedimentos GLM (General Linear Models) do pacote estatístico SAS (9.0). Para comparações entre os tipos de ensilagem foi adotado o teste de comparação múltipla de médias (Tukey) e para a comparação entre os tempos de fermentação foi utilizado o modelo exponencial: Y = a (1 – e-bx). Em todos os procedimentos foi adotado o nível de significância de 5%. Resultados e Discussão Foi verificada interação (P<0,05) entre os tempos de estudo e os tipos de ensilagem em relação às perdas acumuladas totais. Na Tabela 1 observam-se os valores percentuais médios das perdas acumuladas totais durante o período de estudo. Houve efeito (P<0,05) da adição de substâncias absorventes de umidade e da inoculação com aditivo bacteriano-enzimático na silagem de capim Pioneiro em relação às perdas acumulativas totais. A adição de materiais absorventes de umidade melhoram as condições fermentativas das silagens, possivelmente pela diminuição do teor de umidade do capim utilizado e também pelo aumento do potencial fermentativo causado pela inclusão destes materiais. A inclusão de inoculante junto ao material ensilado com casca de soja não promoveu melhora na redução das perdas acumulativas totais. As maiores perdas acumulativas totais foram verificadas na ensilagem controle (4,78%) e na ensilagem que recebeu resíduo de uva (3,99%), sendo que nas ensilagens que receberam casca de soja foram detectadas as menores perdas, não havendo diferença significativa entre elas. Este fato se deve provavelmente pelo elevado teor de matéria seca presente na casca de soja (89,09%), ficando evidente o efeito positivo da casca de soja como absorvente de umidade e agente redutor de perdas. Zanine et al. (2006), ao adicionar níveis de farelo de trigo na silagem de capim Mombaça, constatou que a adição deste material melhorou as condições fermentativas da silagem, provavelmente devido a elevação da sua MS. Tabela 1. Efeito dos diferentes tipos de ensilagem sobre a porcentagem de perdas acumuladas totais durante o período de fermentação das silagens. Perdas acumuladas totais (%) Tipos de ensilagens Tempo de avaliação Pioneiro + Casca de soja Pioneiro + Casca Pioneiro + (dias) Pioneiro + inoculante bacterianode soja resíduo de uva enzimático 0 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 2 1,3625a 0,1050b 0,1250b 0,7850ab 3 1,4225a 0,1050b 0,1250b 0,9075ab 4 1,5800a 0,1050b 0,1250b 1,0850a 5 1,7525a 0,1050b 0,1250b 1,2725a 6 1,9225a 0,1200b 0,1250b 1,4675a 7 2,1250a 0,1200b 0,1250b 1,6425a 14 3,0200a 0,1375b 0,1400b 2,4500a 21 3,7675a 0,1725c 0,1900c 3,0725b 28 4,1275a 0,2025c 0,2050c 3,3350b 42 4,5800a 0,2025c 0,2200c 3,7000b 49 4,7850a 0,2325c 0,2350c 3,9975b Letras diferentes na mesma linha diferem pelo teste de Tukey (P<0,05). Além de diminuir as perdas acumulativas totais, a inclusão de casca de soja promoveu mais rápida estabilização nestas perdas, o que pode ser observado na Figura 1. Nas ensilagens de capim Pioneiro e capim Pioneiro com resíduo de uva, não houve tendência de estabilização das perdas, além de apresentar perdas acumuladas totais de 4,78% e 3,99% respectivamente. Estas duas ensilagens apresentaram níveis de perdas superiores aos tratamentos com casca de soja nos primeiros dias. Diferenças nas perdas entre o tratamento controle e o que recebeu resíduo de uva só foram detectadas a partir de 21 dias de ensilagem (Tabela 1), o que pode ser devido a uma provável estabilização fermentativa do material com uva, uma vez que o resíduo de uva fornece carboidratos fermentescíveis às bactérias, embora não contribua de forma eficiente na diminuição da umidade do capim Pioneiro.

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____________________________________________________________

Perdas cumulativas totais (%)

5

4

3

2

1

0 0 234567

14

21

28

42

49

Tempo de fermentação (dias) Figura 1. Perdas acumuladas totais durante o período de fermentação na ensilagem do capim Pioneiro com níveis crescentes de adição de bagaço de uva. (Pioneiro) Y = 4,5946 (1 – e-0,0929x); (Pioneiro + Casca de soja) Y = 0,1938 (1 – e- 0,1894x); (Pioneiro + Casca de soja + inoculante bacteriano-enzimático) Y = 0,1974 (1 – e-0,2258x); ∆ (Pioneiro + resíduo de uva) Y = 3,9022 (1 – e-0,0769x).

Conclusões Apesar do resíduo de uva apresentar potencial de utilização como aditivo para redução das perdas acumuladas totais na ensilagem do capim Pioneiro, sua melhor utilização poderia estar relacionada à sua desidratação antes de ser adicionada a massa ensilada. A casca de soja é o aditivo mais eficiente em diminuir as perdas acumuladas totais durante o período de fermentação, não havendo necessidade de inoculação microbiana para seu uso como aditivo na ensilagem. Agradecimentos C.Vale Agroindustrial. Literatura citada McDONALD, P. The biochemistry of silage. Chichester: John Wiley & Sons, 1981. 218p. GUIMARÃES JR., R.; MARTINS, C.F.; PEREIRA, L.G.R.; CARVALHO, M.A. Subprodutos da agroindústria na alimentação de bovinos: caroço de algodão. Planaltina Embrapa Cerrados, 2008. 33p (Embrapa Cerrados. Documentos, 234). Disponível em: <http://www.cpac.embrapa.br/download/1458/t>. Acesso em: 09 de agosto de 2012. ZANINE, A.M., SANTOS, E.M., FERREIRA, D.J., et al. Efeito do farelo de trigo sobre as perdas, recuperação da matéria seca e composição bromatológica de silagem de capim-mombaça. Brazilian Journal of Veterinary Research Animal Science, v. 43, n.6, p.803-809, 2006.

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Características que evidenciam a qualidade da carne de ovinos Santa Inês criados no semiárido Geraldo Magalhães Melo Filho1, Juliana Faveri Ribeiro2, Adriana de Farias Jucá2, Antônio de Lisboa Ribeiro Filho3, Evandro Neves Muniz4, Luis Fernando Batista Pinto5 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia – UFBA, BRA. Bolsista Capes. e-mail: gmagalhaesf@gmail.com Doutoranda do Programa de Pós-graduação Ciência Animal nos Trópicos – UFBA, BRA. Bolsista Capes. e-mail: jufaveri@yahoo.com.br e afjuca@ig.com.br 3 Docente do Departamento de Patologia e Clínicas – UFBA, BRA. email: alisboa@ufba.br 4 Pesquisador da EMBRAPA Tabuleiros Costeiros – SE, BRA. e-mail: evandro@cpatc.embrapa.br 5 Docentes do Departamento de Produção Animal – UFBA, BRA. e-mails: luisfbp@gmail.com 1 2

Meat quality traits of Santa Ines lambs raised in semiarid region Abstract: pH and color traits of extreme importance for improving the acceptability of lamb meat consumers. Thus this study aimed to make a descriptive analysis of color and pH of the Longissimus dorsi of Santa Ines lambs and found confiance interval for mean of those traits. The research was conducted with 68 Santa Inês sheep slaughtered at around 12 months old, raised on pasture during the day and housed at night, when they received corn silage. Live weight at slaughter, pH and trichomatic coordinates L*, a* and b* of CIELAB system were recorded. Minimum and maximum values, mean value, and their upper and lower bounds with 95% confidence interval, total amplitude and coefficient of variation were estimated for all traits. The live weight at slaughter (39.9 kg) showed large variation. The colorimetric values here found varied widely, but the 95% confiance interval for mean for L* (39.23 to 41.08), a* (17.42 - 18.53) and b* (6.76 to 7.29) were short. The pH values at 24 hours and at 45 minutes post mortem not vary greatly, being the 95% confiance intervals for mean at 24 hours (5.47 to 5.57) and 45 minutes (6.62 to 6.69 ). This study showed good references of pH and color CIELAB system for Santa Ines breed, because used a considerably higher number of animals if compared to other studies. Keywords: color, lamb, ovine, pH, quality Introdução A produção de ovinos vem se expandindo mundialmente nas ultimas décadas e no Brasil houve um crescimento de 3,4% no efetivo de ovinos de 2009 para 2010. Apesar de ter um número relativamente alto de ovinos, o consumo per capta anual de carne ovina no Brasil é de aproximadamente 0,70kg (IBGE, 2010). São vários os fatores que limitam esse consumo de carne ovina no Brasil, como por exemplo, a apresentação do produto (SILVA SOBRINHO, 2005). Dentre as características que influenciam a aparência do produto destaca-se a cor, por possuir forte influencia na decisão do consumidor em adquiri-lo. O pH também tem grande influência sobre várias outras características, como por exemplo a maciez da carne, devido seu efeito sobre ação de enzimas ligadas a proteólise no período post mortem. Entretanto, muitos dos trabalhos publicados, como o de Bressan et al. (2001), utilizaram um quantitativo reduzido de animais. Considerando que as características de pH e colorometria apresentam considerável variação, os valores descritivos comumente observados na literatura, podem não ser boas referências para estudo. Assim, o objetivo do presente estudo foi fazer uma análise descritiva da cor e do pH no músculo Longissimus de ovinos da raça Santa Inês e estabelecer intervalos de confiança para as médias dessas características. Material e Métodos Foram utilizados 68 cordeiros machos Santa Inês, oriundos do campo experimental Pedro Arle, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, criados a pasto e abatidos com aproximadamente 12 meses de idade. O peso ao abate foi aferido após jejum de 16 horas. Da meia carcaça esquerda foi confeccionado o corte do lombo entre a 12 a e 13a costelas, com o qual foram realizadas as análises de pH e cor da carne. A leitura de pH foi realizada com o auxílio de um pHmetro digital portátil dotado de eletrodo de inserção. Para tanto foi aferido através da inserção do eletrodo no músculo, aguardando até sua estabilização, obtendo-se três leituras em cada amostra, para estabelecer a média de pH aos 45 minutos e às 24 horas pós resfriamento. A cor da carne foi avaliada com colorímetro Minolta CR410 pelo sistema CIELAB (coordenadas tricomáticas L*, a* e b*). Tanto o pH quanto a cor foram mensurados no músculo Longissimus dorsi, entre a 12 e 13 costelas. Os animais também foram pesados pouco antes de serem abatidos, para se ter o peso vivo ao abate. Foram estimados os valores de mínimo e máximo, a média, bem como seus limites superior e inferior com 95% de confiança, a amplitude total e o coeficiente de variação, com o auxílio do pacote estatístico SAS (2004). Resultados e Discussão Pode se observar na Tabela 1 que o peso ao abate ficou acima do comumente obervado em ovinos Santa Inês nesta fase, mas ressalta-se que os animais aqui utilizados foram abatidos com aproximadamente 12 meses de idade, portanto, bem acima da idade em que ovinos Santa Inês são geralmente abatidos. Destaca-se também a elevada amplitude total desta característica e o

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____________________________________________________________ coeficiente de variação acima de 10%. Esse resultado revela considerável variação no rebanho estudado para esta característica, o que se pode atribuir ao fato do rebanho ser utilizado para fins experimentais. Os resultados médios obtidos para o pH inicial e o pH final, com valores de 6,66 e 5,52 respectivamente, enquadram-se dentro dos padrões para a carne ovina, como pode ser observado em Bressan et al. (2001). Medidas com valores de pH inicial abaixo de 6,0 na primeira hora post mortem, é indicativo de carne PSE (pálida, flácida e exsudativa). Porém, se este valor permanecer acima de 6,0 durante as primeiras horas após o abate espera-se uma carne DFD (escura, firme e seca), sendo o ideal que esse pH reduza para valores finais entre 5,5 a 5,8 (Silva Sobrinho et al., 2005). Os valores de amplitude total e o coeficiente de variação para pH não foram muito altos, o que já era esperado. Entretanto, destaca-se que no montante estudado haviam animais com pH final acima de 6,0, mesmo depois de 24 horas de resfriamento. Alguns animais apresentaram carcaça muito desprovida de gordura, por estarem atravessando um período de grande seca e segundo Bressan et al. (2001), o aumento na deposição de gordura que atua como isolante térmico, mantendo a temperatura post mortem alta por um período maior, acelera a queda do pH. A cor, com valores médios de 40,15 para luminosidade, 17,98 para teor de vermelho e 7,02 para teor de amarelo, destoam um pouco dos valores encontrados por Bressan et al. (2001), principalmente em relação a luminosidade e vermelho. Estes autores encontraram luminosidade variando de 32,46 a 42,29 e vermelho variando de 10,39 a 13,89, quando avaliaram animais de dois grupos genéticos (Santa Inês e Bergamácia) e com várias faixas de peso. Além disso, as equações de regressão obtidas por Bressan et al. (2001) em animais da raça Santa Inês, sugerem valores de luminosidade próximos de 35 e teor de vermelho próximo de 13 para animais com peso médio próximo de 40 kg. Portanto, observa-se que para estes dois parâmetros, os valores aqui encontrados foram superiores, talvez essa diferença possa ser atribuída ao colorímetro utilizado, mais muito provavelmente tratase de uma diferença no tamanho da amostra utilizada. Enquanto o presente estudo utilizou 68 animais, no estudo de Bressan et al. (2001) foram utilizados apenas 24 animais da raça Santa Inês e poucos estavam com peso próximo de 40 kg. Quanto ao teor de amarelo, não se pode dizer que houve grande diferença em relação ao trabalho de Bressan et al. (2001), pois eles encontraram valores de teor de amarelo variando de 6,73 a 8,15, portanto, muito próximo dos valores aqui encontrados. Observa-se que os valores de cor (L24, a24 e b24) apresentaram coeficientes de variação próximos ou acima de 10%, o que indica uma variabilidade considerável. Isso pode ser atribuído ao elevado número de animais utilizados e ao fato de não haver um padrão de peso nesses animais. Diferenças de peso podem influenciar o valor dessas medidas colorimétricas, como pode ser observado em Bressan et al. (2001). Considerando que no presente estudo haviam uma amplitude de peso de 20 kg, os valores elevados de variação são perfeitamente possíveis. Tabela 1. Peso vivo ao abate, coloração e pH do músculo Longissimus em ovinos Santa Inês. Características Mínimo Máximo AT Média LIM 95% LSM 95%

CV (%)

Peso ao Abate (kg) pH 45 minutos após o abate

29,00 6,31

49,00 6,96

20,00 0,65

39,97 6,66

38,8490 6,6289

41,0960 6,6949

11,61 2,05

pH 24 horas após o abate

5,33

6,66

1,33

5,52

5,4735

5,5747

3,78

L (luminosidade 24 horas após o abate)

27,66

55,18

27,52

40,15

39,2306

41,0782

9,50

a (teor de vermelho 24 horas após o abate)

12,97

30,40

17,43

17,98

17,4257

18,5384

12,78

b (teor de amarelo 24 horas após o abate)

4,44

10,61

6,17

7,02

6,7588

7,2903

15,63

AT – Amplitude Total; LIM e LSM – limites inferior e superior da média com 95% de confiança; CV – coeficiente de variação.

Conclusões Os valores de colorimetria (L*, a* e b*) aqui encontrados apresentaram grande variação, sendo os intervalos de confiança de 95% para as medias de L* (39,23 - 41,08), a* (17,42 - 18,53) e b* (6,76 - 7,29) boas referências para estudos futuros, pois foram obtidos com um número consideravelmente alto de animais. Os valores de pH 24 horas e 45 minutos post mortem não variaram muito, sendo os intervalos de confiança de 95% para as medias às 24 horas (5,47 - 5,57) e aos 45 minutos (6,62 - 6,69), boas referências para estudos futuros, pois foram obtidos com um número consideravelmente alto de animais. Agradecimentos Os autores agradecem à EMBRAPA Tabuleiros Costeiros por disponibilizar a infraestrutura e os animais experimentais; a FAPESB pelo apoio financeiro concedido com o termo de outorga APP0116/2009; ao CNPq pelo apoio financeiro concedido com os processos 474494/2010-1 e 562551/2010-7. A Capes pela concessão da bolsa ao mestrando Geraldo Magalhães Melo Filho e a doutorando Juliana Cantos Faveri Ribeiro. Literatura citada BRESSAN, M. C.; PRADO, O.V.; PÉREZ, J.R.O; LEMOS, A.L.S.C Efeito do peso ao abate de cordeiros Santa Inês e Bergamácia sobre as características físico-químicas da carne. Ciência e Tecnologia de Alimententos, v.21, n.3, p.293-303, 2001. CÉZAR, M. F. Características de carcaça e adaptabilidade fisiológica de ovinos durante a fase de cria. 2004. 88f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal da Paraíba, Areia. 2004.

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____________________________________________________________ DANTAS, A. F.; PEREIRA FILHO, J. M.; SILVA, A. M. A.; SANTOS, E. M.; SOUSA, B. B.; CÉZAR, M. F. et al. CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA DE OVINOS SANTA INÊS TERMINADOS EM PASTEJO E SUBMETIDOS A DIFERENTES NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO. Ciênc. agrotec. Lavras, v. 32, n. 4, p. 1280-1286, jul./ago., 2008. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Pecuária 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/ppm/2010/ppm2010.pdf. Acessado em: 27/06/2012. SAS, SAS/STAT User’s Guide: version 9.1. North Caroline: SAS Institute, 5136p. 2004, SILVA-SOBRINHO, A. G.; PURCHAS, R. W.; KADIM, I. T.; YAMAMOTO, S. M. Características de qualidade da carne de ovinos de diferentes genótipos e idades ao abate. Revista Brasileira de Zootecnia. Viçosa, v. 34, n.3, p. 1070-1078, 2005.

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____________________________________________________________ AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE ACARICIDA CONTRA Rhipicephalus (Boophilus) microplus NO MUNICÍPIO DE MIGUEL CALMON, ESTADO DA BAHIA EVALUATION OF EFFICIENCY AGAINST ACARICIDE Rhipicephalus (Boophilus) microplus IN THE CITY OF MIGUEL CALMON, STATE OF BAHIA José Tadeu Raynal Rocha Filho¹, Bruno Lopes Bastos1, Samira Abdallah Hanna2, José Roberto Meyer Nascimento¹, Thiago Campanharo Bahiense3, Ricardo Wagner Dias Portela¹ ¹Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular, ICS-UFBA, jtraynal@hotmail.com 2 Laboratório de Bioprospecção, ICS-UFBA 3 Laboratório de Parasitologia Veterinária, ICS-UFBA

Abstract: The efficiency of acaricide has become increasingly lower in Brazil against the Rhipicephalus (Boophilus) microplus, causing economic losses. Thus one should direct the research to combat tick control strategies combining prudent and rational use of the alternatives available with fungicidal control, leading to the maintenance of parasite populations below their economic injury threshold with minimal environmental impact. Then the method was performed immersion engorged ticks that have been carried BOD studies with subsequent weighing eggs, they were again taken for the BOD to hatching occurs and finally more than one weighing of the eggs hells, with subsequent statistical calculations that showed low efficacy of acaricides except fluazuron, ivermectin and fipronil. Keywords: EFFICACY, RHIPICEPHALUS MICROPLUS. TICK Introdução Nas regiões com clima tropical e subtropical, prejuízos na pecuária têm sido causados principalmente por parasitoses, devido às altas taxas de morbidade e mortalidade, e consequente queda na produção (PEREIRA, 2006). As perdas econômicas no Brasil relacionadas ao carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus são estimadas em cerca de 1 bilhão de dólares por ano, representadas tanto pelas ações diretas e indiretas do parasito, bem como pelo custo dos sistemas de controle, estimados em cerca de R$ 800 milhões (FURLONG et al., 2004). O controle do ectoparasito vem se caracterizando pela diminuição progressiva da eficiência a compostos químicos, com consequente aumento na frequência da aplicação de acaricidas, com a presença de resíduos desses produtos no leite e na carne (CAMPOS JÚNIOR & OLIVEIRA, 2005). A eficiência legalmente aceitável para uma base química carrapaticida ser licenciada, no Ministério da Agricultura do Brasil, deve ser igual ou superior a 95% sobre uma cepa sensível de R. microplus. Desta forma deve-se direcionar o combate ao carrapato a pesquisas de estratégias de controle, isto é, uma combinação do uso prudente e racional dos parasiticidas disponíveis com as alternativas de controle, que levam à manutenção de populações parasitárias abaixo do seu limiar de prejuízo econômico com um mínimo impacto ambiental (FAO, 2003). A importância na detecção da eficácia destes carrapaticidas reside principalmente na escolha de um produto comprovadamente eficaz para o controle deste ectoparasita; assim sendo a obtenção de um perfil do problema de resistência frente aos carrapaticidas mais empregados pode servir de subsídio ao planejamento de medidas conjuntas de controle desse parasita. Com base na hipótese de que existem níveis variáveis de eficiência dos principais grupos carrapaticidas do mercado frente a populações de R. microplus no município de Miguel Calmon-Bahia apresentando, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de diversos acaricidas disponíveis comercialmente no controle de R. microplus provenientes deste município. Material e Métodos Foram coletadas manualmente teleóginas ingurgitadas da espécie R. microplus, com comprimento igual ou superior a 4 mm, diretamente de bovinos de diversas raças e graus de sangue, naturalmente parasitados, em propriedades do município de Miguel Calmon, região Centro-Norte do Estado da Bahia. Essas teleóginas foram divididas em 10 grupos compostos de vinte parasitas cada, sendo que o tamanho e o peso das teleóginas foram observados para que essa separação fosse feita da forma mais equitativa possível, onde foram então realizados os testes de imersão de teleóginas (Drummond et al.,1973). Cada grupo de vinte teleóginas foi envolvido em gaze cirúrgica e imerso em solução de carrapaticida. As nove soluções utilizadas estão indicadas na Tabela 1, com seus respectivos grupos e diluições realizadas de acordo com as recomendações dos fabricantes para as soluções de uso. Tabela 1. Acaricidas utilizados neste estudo, com seus respectivos grupos químicos e concentrações recomendadas pelos fabricantes e empregadas no experimento. ACARICIDA GRUPO CONCENTRAÇÃO UTILIZADA Cipermetrina Piretróide 0,15mg/mL Deltametrina Piretróide 0,5 mg/mL Amitraz Amitrazina 0,25mg/mL

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____________________________________________________________ Diclorvós e Clorpirifós Organofosforados 1,5mg/mL e 0,5mg/mL Diclorvós e Cipermetrina Associação Organofosforado e 1,25mg/mL e 0,12mg/mL Piretróide Fluazuron Benzofenilureas 25mg/mL Ivermectina Avermectina 5mg/mL Fipronil Fenilpirazoles 0,25mg/mL Extrato aquoso comercial da planta Tetranortriterpenóides 1:200 Neen (Azadirachta indica) Também foi utilizada água destilada como controle. Após cinco minutos de imersão, as teleóginas foram secas com papel absorvente e colocadas em placas de 24 poços, para posterior incubação em estufa B.O.D., a 27°C e 80% de umidade, pelo período de 15 dias. Após o período de postura, foi feita a pesagem da massa de ovos de cada teleógina. Cada ovipostura foi então recolocada na estufa BOD, aonde foram incubadas por mais 30 dias, quando foram pesadas as cascas dos ovos, para predição do peso das larvas. Os cálculos para predição da eficiência dos acaricidas foram realizados de acordo com o descrito por PATARROYO (2002), levando-se em consideração o peso das teleóginas e das larvas dos grupos experimentais, com relação ao grupo controle. Resultados e Discussão A Tabela 2 indica os resultados obtidos nos experimentos realizados, com relação à eficiência de diversos acaricidas na diminuição da ovipostura e da fertilidade dos ovos de R. microplus perante o tratamento com diversos acaricidas, provenientes das diferentes propriedades. Tabela 2 – Valores de eficiência de diversos acaricidas no controle da reprodução de Rhipicephalus (Boophilus) microplus coletados no município de Miguel Calmon-Bahia. Os resultados estão expressos em porcentagem (%), e entre os parênteses está descrito o intervalo de confiança (5%) e o números arábicos indicam as propriedades avaliadas. Eficiência 1

2

3

4

Cipermetrina

0,66(0,62-0,69)

0

96,17(91,36-100)

25,13(23,87-26,38)

Deltametrina Diclorvós Clorpirifós Amitraz Diclorvós Cipermetrina Fluazuron

1,35(1,28-1,41)

6,539(6,20-6,85)

53,09(50,44-55,74)

29,28(27,82-30,74)

15,8(15,01-16,59)

38,64(36,71-40,57)

50,58(48,05-53,10)

60,46(57,44-63,48)

22,14(21,03-23,24)

39,85(37,86-41,84)

42,78(40,64-44,91)

100(95-100)

2,82(2,67-2,96)

2,22(2,10-2,33)

0

68,32(64,90-71,73)

100(95-100)

100(95-100)

100(95-100)

100(95-100)

100(95-100)

100(95-100)

100(95-100)

100(95-100)

86,54(82,21-90,86)

100(95-100)

100(95-100)

100(95-100)

2,83(2,68-2,97)

5,84(5,54-6,13)

6,65(6,31-6,98)

10,60(10,07-11,13)

Ivermectina Fipronil Neen

e

e

O município Miguel Calmon (BA), possui um rebanho de 33880 cabeças de bovino com diferentes graus de sangue taurino e zebuíno, justificando a menor ou maior resistência dos animais a infestação por carrapatos e consequentemente diferentes eficiências dos acaricidas de uma propriedade para outra, bem como o uso de carrapaticidas nas concentrações, dose por animal e aplicações inadequadas, justificam as baixas eficiências. A eficiência dos acaricidas vem reduzindo nas últimas décadas em diversas regiões do Brasil, o aumento do uso de acaricidas favoreceu a seleção de carrapatos resistentes. O trabalho corrobora esses resultados, já que demonstramos que as media das eficiências (Figura 1) dos carrapaticidas utilizados no município de Miguel Calmon- Bahia apresentam baixo índice de eficiência, sendo que somente bases mais recentes, de custo mais elevado, tais como o fipronil, fluazuron e ivermectina apresentaram resultados favoráveis.

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____________________________________________________________ 100 90 80 70

Eficiência (%)

60 50 40 30 20 10 0

Figura 1. Representa a média dos resultados das propriedades avaliadas no município de Miguel Calmon-Bahia

Conclusões A região estudada apresenta baixo grau de eficiência dos acaricidas comerciais com base em organofosforados, piretróides, associações desses dois últimos, amitrazinas e extrato de Neen. Apresentaram níveis aceitáveis de eficiência os princípios ativos com função de inibição de ecdise, avermectinas e fipronil. Literatura Citada CAMPOS JÚNIOR, D.A.; OLIVEIRA, P.R. Avaliação in vitro da eficiência de acaricidas sobre Boophilus microplus (Canestrini, 1887) (Acari: Ixodidae) de bovinos no município de Ilhéus, Bahia, Brasil. Ciência Rural, v.35, 1386-1392, 2005. DRUMMOND, R.O. Boophilus annulatus and Boophilus microplus: Laboratory tests of insecticides. Journal of Economic Entomology, v.66, p.130-133, 1973. FAO. Resistencia a los antiparasitarios: Estado actual com énfasis en América Latina. Roma, 2003. FURLONG, J. Diagnóstico in vitro da sensibilidade do carrapato Boophilus microplus a acaricidas. Revista Brasileira de Parasitologia, v. 08, 2004. PATARROYO, J.H.; PORTELA R.W.; DE CASTRO R.O.; COUTO PIMENTEL, J.; GUZMAN, F.; PATARROYO, M.E.; VARGAS, M.I.; PRATES, A.A.; DIAS MENDES, M.A. Immunization of cattle with synthetic peptides derived from the Boophilus microplus gut protein (Bm86). Veterinary Immunology and Immunopathology, v. 88, p.163–172, 2002. PEREIRA, J.R. Eficácia in vitro de formulações comerciais de carrapaticidas em teleóginas de Boophilus microplus coletadas de bovinos leiteiro do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 15, 245-248, 2006.

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EFICIÊNCIA DE ORGANOFOSFORADO E AMITRAZINA SOBRE Rhipicephalus microplus EM PROPRIEDADE NA BAHIA POR QUATRO ANOS EFFICIENCY ORGANOPHOSPHATE AND RHIPICEPHALUS MICROPLUS AMITRAZINA ON PROPERTY FOR FOUR YEARS IN BAHIA José Tadeu Raynal Rocha Filho¹, Bruno Lopes Bastos1, Thiago de Jesus Sousa1, José Roberto Meyer Nascimento¹, Thiago Campanharo Bahiense2, Ricardo Wagner Dias Portela¹ ¹Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular, ICS-UFBA, jtraynal@hotmail.com 2 Laboratório de Parasitologia Veterinária, ICS-UFBA

Abstract: The effectiveness of acaricides in regions of subtropical and tropical, as is the case of Brazil, where Rhipicephalus (Boophilus) microplus causes economic losses to livestock, due to the reduction in the efficacy of these substances, choosing a product that is demonstrably and effective for as long as it can be used, as a result has reduced production costs, the method used to appraisal efficiency of the compound: organophosphate and amitrazina was the engorged tick immersion for 5 minutes later, they were moved to oven BOD in 15 days, when it was made weighing eggs returned to the oven for another 30 days and then weighed the eggs hells, then were made to the statistical analysis. These showed that after the use of acaricide for reducing the efficiency of the product and when it ceases to be used gradually increases its efficiency. Keywords: EFFICACY, RHIPICEPHALUS (BOOPHILUS) MICROPLUS, ACARICIDE Introdução Entre os paralelos de 32 de latitude norte e 35 de latitude sul, ocorrem com maior frequência prejuízos na pecuária em decorrência de parasitoses, sendo no Brasil o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus o principal causador destas perdas, estas perdas ocorrem em função dos danos causados na pele dos animais, doenças que se desenvolvem através das infestações causadas por este ácaro que deixam o animal debilitado podendo levar a morte e gastos com carrapaticidas que chegam a 800 milhões de reais por ano (MARTINEZ et al., 2004). A eficiência dos compostos químicos utilizados hoje comercialmente, se caracterizam pela diminuição progressiva da eficácia, em função do seu uso inadequado em doses e formas de aplicação, provocando uma necessidade do aumento da concentração da substância carrapaticida, como também aumento na frequência de aplicações, desta forma o risco da presença de resíduos em produtos alimentícios de origem animal são maiores (CAMPOS JÚNIOR & OLIVEIRA, 2005). O controle do carrapato deve então partir da escolha do acaricida que tenha melhor eficiência para na propriedade associando a medidas estratégicas, para que desta forma seja possível produzir para atender a demanda crescente de alimentos, sem provocar impactos ambientais e aumentando a margem de lucro da propriedade. A importância do estudo continuo da eficácia dos acaricidas é de fundamental importância para saber em quanto tempo uma substancia utilizada pelo pecuarista deixa de fazer efeito e quanto tempo leva para que a resistência adquirida pelo carrapato diminua de tal forma que o produto possa vir a ser utilizado novamente e tenha resultados promissores. Assim a obtenção de um perfil da diminuição da eficiência do carrapaticida pode servir de subsídio ao planejamento de medidas conjuntas de controle desse parasita. Com base na hipótese de que a eficiência diminui com uso do carrapaticida na propriedade avaliada no município de Miguel Calmon-Bahia, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de organofosforado e amitrazina no controle de R. microplus provenientes de uma propriedade deste município no período de 2008 a 2011. Material e Métodos Foram coletadas manualmente teleóginas ingurgitadas da espécie R. microplus, com comprimento igual ou superior a 4 mm, diretamente de bovinos naturalmente parasitados na propriedade no município de Miguel Calmon, região Centro-Norte do Estado da Bahia, nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2011. Essas teleóginas foram divididas em 10 grupos compostos de vinte parasitas cada, sendo que o tamanho e o peso das teleóginas foram observados para que essa separação fosse feita da forma mais equitativa possível, onde foram então realizados os testes de imersão de teleóginas (Drummond et al.,1973). Cada grupo de vinte teleóginas foi envolvido em gaze cirúrgica e imerso em solução de carrapaticida. As duas soluções utilizadas estão indicadas na Tabela 1, com seus respectivos grupos e diluições realizadas de acordo com as recomendações dos fabricantes para as soluções de uso. Tabela 1. Acaricidas utilizados neste estudo, com seus respectivos grupos químicos e concentrações recomendadas pelos fabricantes e empregadas no experimento. ACARICIDA GRUPO CONCENTRAÇÃO UTILIZADA Amitraz Amitrazina 0,25mg/mL Diclorvós e Clorpirifós Organofosforados 1,5mg/mL e 0,5mg/mL

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____________________________________________________________ Também foi utilizada água destilada como controle. Após cinco minutos de imersão, as teleóginas foram secas com papel absorvente e colocadas em placas de 24 poços, para posterior incubação em estufa B.O.D., a 27°C e 80% de umidade, pelo período de 15 dias. Após o período de postura, foi feita a pesagem da massa de ovos de cada teleógina. Cada ovipostura foi então recolocada na estufa BOD, aonde foram incubadas por mais 30 dias, quando foram pesadas as cascas dos ovos, para predição do peso das larvas. Os cálculos para predição da eficiência dos acaricidas foram realizados de acordo com o descrito por PATARROYO (2002), levando-se em consideração o peso das teleóginas e das larvas dos grupos experimentais, com relação ao grupo controle. Resultados e Discussão A Tabela 2 indica os resultados obtidos nos experimentos realizados, com relação à eficiência dos dois acaricidas na diminuição da ovipostura e da fertilidade dos ovos de R. microplus provenientes da propriedade nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2011. Tabela 2 – Valores de eficiência de organofosforado e amitrazina no controle da reprodução de Rhipicephalus (Boophilus) microplus coletados em uma propriedade no município de Miguel Calmon-Bahia. Os resultados estão expressos em porcentagem (%), e entre os parênteses está descrito o intervalo de confiança (5%). Amitraz Diclorvós e Clorpirifós 5,83(5,53-6,12) 22,14(21,03-23,24) 3,72(3,53-3,90) 19,38(18,41-20,34)

2008 2009 2010 2011

75,05(71,29-78,80) 15,80(15,01-16,59) 18,46(17,53-19,38) 19,78(18,79-20,76)

A eficácia dos acaricidas comercializados no município e aplicados no animais da propriedade, tende a diminuir a partir do seu uso, como foi demonstrado na pesquisa Figura 1, onde após a primeira avaliação através do carrapaticidograma no ano de 2008 o produtor passou a utilizar para o controle do carrapato substancias a base de organofosforados, no ano seguinte (2009) depois de nova avalição foi possível observar que houve uma redução de 59,25% na eficiência do composto usado pelo produtor, com este resultado ele passou a utilizar amitrazina que teve melhor eficiência (22,14%) quando comparado com o organofosforado (15,80%), em 2010 a eficiência da amitazina caiu para 3,72% enquanto o organofosforado subiu para 18,46% provavelmente por não ter sido aplicado nos animais durante um ano, esta eficácia foi para 19,78% após dois anos sem ser utilizado, já o amitraz demonstrou eficiência de 19,38% em 2011, não tendo sido encontrado justificativa para este aumento na eficiência, que foi utilizado na propriedade antes da avaliação. Estes resultados confirmam os resultados encontrados em todo o mundo, assim os carrapaticidas devem ser utilizados de forma prudente, em concentrações, forma e frequência de aplicações corretas.

80 Organofosfo

70

Amitrazina Composto químico usado

Eficiência

60 50 40

Amitraz

30

Diclorvós e Clorpirifós

20 10 0 2008

2009 Avaliação

2010

2011

Figura 1. Representa a eficiência dos acaricidas testados no período de 2008 a 2011 e as chaves indicam quais bases químicas foram utilizadas na propriedade para o controle dos carrapatos.

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____________________________________________________________ Conclusões O trabalhos demonstrou que logo após o uso de um composto acaricida no controle do carrapato, há uma redução na eficiência do produto, assim como quando interrompe a aplicação nos animais, esta substancia aos poucos vai aumentado a sua eficiência, sendo necessário um estudo por um período maior para confirmar e avaliar as taxas de redução e aumento da eficiência em um determinado tempo após a aplicação do carrapaticida. Literatura Citada CAMPOS JÚNIOR, D.A.; OLIVEIRA, P.R. Avaliação in vitro da eficiência de acaricidas sobre Boophilus microplus (Canestrini, 1887) (Acari: Ixodidae) de bovinos no município de Ilhéus, Bahia, Brasil. Ciência Rural, v.35, 1386-1392, 2005. DRUMMOND, R.O. Boophilus annulatus and Boophilus microplus: Laboratory tests of insecticides. Journal of Economic Entomology, v.66, p.130-133, 1973. MARTINEZ, M.L.; SILVA, M.V.G.B.; MACHADO, M.A.; TEODORA, R.L.; VERNEQUE, R.S. A biologia molecular como aliada no combate aos carrapatos. Anais do Simpósio da Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal. 2004. PATARROYO, J.H.; PORTELA R.W.; DE CASTRO R.O.; COUTO PIMENTEL, J.; GUZMAN, F.; PATARROYO, M.E.; VARGAS, M.I.; PRATES, A.A.; DIAS MENDES, M.A. Immunization of cattle with synthetic peptides derived from the Boophilus microplus gut protein (Bm86). Veterinary Immunology and Immunopathology, v. 88, p.163–172, 2002.

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Canais de comercialização de leite na região de Miguel Calmon (BA): vantagens e desvantagens para os produtores 1 Adauto Liberato de Moura Neto2, José Luiz Moreira de Carvalho3 1

Projeto de Iniciação Cientifica, financiado pelo CNPq Graduando em Engenharia de Produção – UNIVASF, Juazeiro, Brasil, Bolsista do CNPq. e-mail: adautoliberato@yahoo.com 3 Professor do Colegiado de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e-mail: jose.carvalho@univasf.edu.br 2

Milk marketing channels in the region of Miguel Calmon (BA): advantages and disadvantages for producers Abstract: Brazilian production of cow's milk is at around 30 billion liters per year. Estimates indicate that approximately 36% of total production goes to the informal trade. In order to understand the motivations that cause many farmers to become informal, it’s necessary to analyze the business situation, production and costs of this sector, identifying the advantages and disadvantages of this configuration of the market. The objective of this study is to understand the relationships between milk producers, in the region of Miguel Calmon (BA), and the various marketing channels, identifying the advantages and disadvantages of each choice by farmers. Results show that the price paid by the informal market and the cost of quality requirements make the informal market more profitable for small producers. Better coordination of the production chain of milk is still required to enable and encourage the formal production. Keywords: Milk, Market, Commercialization Introdução Um dos maiores problemas ligados à cadeia do leite bovino e à oferta destes produtos ao consumidor é o leite informal, ou seja, aquele que é comercializado sem sofrer qualquer tipo de inspeção sanitária, sendo este problema está ligado a aspectos culturais e econômicos (SCHUSTER et al., 2006). Como apontado por Menezes e Almeida (2006), com o processo de globalização do capital, foi observada a presença de empresas globais no interior dos territórios até então de domínio nacional, inclusive na região sertaneja. Ao mesmo tempo em que ocorreu a expansão e concentração de capitais com a instalação de transnacionais no interior, constatou-se a criação de estratégias de reprodução, explorando nichos, contribuindo para a inserção no mercado informal dos agricultores familiares. De acordo com Neto e Lima (2006), na cadeia produtiva de laticínios, os anos 90 foram caracterizados pelo aumento da quantidade produzida e pela redução dos preços recebidos pelo agricultor. Dada a necessidade de investimento para ampliar a produção e aumentar a produtividade, a atividade, segundo os mesmos autores, está deixando de ser caracterizada por pequenos produtores. Com isso, a venda informal do leite é uma alternativa diante da impossibilidade de participar competitivamente do mercado formal. A produção nacional do leite de vaca encontra-se na casa dos 30 bilhões de litros por ano. Estimativas apontam que cerca de 36% do total produzido é destinada a movimentação do comércio informal (no Nordeste, chega a 40%). Esse leite, da forma como é vendido, pode ser um risco a saúde, devido à forma como é tratado, por muitas vezes sem passar pelos processos adequados de sanidade e higiene (IBGE, 2006). Diante de todas essas transformações na estrutura da cadeia de laticínios, é necessário entender as razões que levam os produtores a optar entre os canais formais ou informais. Desta forma, através do presente trabalho, pretende-se entender as relações existentes entre os produtores de leite da Região de Miguel Calmon (BA) com os diversos canais de comercialização, identificando as vantagens e desvantagens da escolha de cada um deles pelos pecuaristas. Material e Métodos O estudo em questão consiste em uma pesquisa de natureza exploratória que visa identificar os canais de comercialização do leite produzido na região de Miguel Calmon (BA), identificando, para o caso dos mercados formal e informal, as suas respectivas vantagens e desvantagens. Dessa forma, o estudo incorpora características de pesquisa exploratória e também descritiva. Conforme Calixto (2009), a pesquisa exploratória é uma alternativa quando há pouco conhecimento acumulado sobre o tema a ser abordado, para conhecer mais sobre o mesmo, construindo teorias e formulando hipóteses para trabalhos futuros. Já a pesquisa descritiva descreve características de uma população ou fenômeno, estabelecendo relações entre variáveis e permitindo a identificação, análise e comparação de dados. A coleta dos dados foi feita em visitas aos produtores localizadas da região, através de entrevistas estruturadas. Foram entrevistados 20 produtores de variados tamanhos. Resultados e Discussão

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____________________________________________________________ A produção de leite de bovino na microrregião de Miguel Calmon se caracteriza pela existência principalmente de pequenos e médios produtores se comparados a sistemas operacionais que chegam a uma produção elevada, acima de 1000 litros de leite diários. Os considerados grandes produtores na região tem uma produção média em torno de 500 litros/dia e representam uma pequena parcela do total, sendo mencionados apenas 5 pecuaristas atualmente capazes de alcançá-la. A grande maioria das propriedades rurais a que se teve acesso tem produção entre 100 e 250 litros por dia, sistemas considerados de médio porte. Segundo os proprietários, sua produção atual está abaixo do esperado e da capacidade de suas estruturas, investimentos e animais. Isto devido ao período crítico de seca que estão vivendo. Alem da existência destes médios produtores, também estão presentes na cadeia produtiva muitos outros pequenos pecuaristas que tem a sua produção abaixo dos 100 litros/dia. Estes sistemas de produção são bem característicos da região. Sendo produtores que ordenham suas vacas principalmente no período das águas, momento em que existe uma maior disponibilidade de alimentos para os animais. No entanto, nos períodos de estiagem sua produção declina drasticamente ocasionada pela redução da disponibilidade de pastagens associado com a falta de organização para tal período, não sendo produzida alimentação alternativa que possibilite a estabilidade produtiva. A sazonalidade na produção foi um dos quesitos mais afirmados pelos produtores. Quase todos alegaram que as quantidades produzidas em períodos de safra e de entressafra são diferentes, devido principalmente a esta redução da pastagem e alimentação de qualidade. No entanto dos produtores entrevistados muitos afirmaram que estão se organizando para conseguir quebrar a sazonalidade produtiva e ter uma maior organização através da utilização de reservas estratégicas com o plantio principalmente de mandioca, de palma e de cana para complementar a alimentação dos animais nestes períodos. A influência dos custos e da lucratividade na atividade leiteira é muito importante, sedo um dos principais motivos para se escolher qual será o meio mais rentável de comercialização. A partir da pesquisa de campo, foi possível identificar que existem basicamente quatro canais de comercialização: (1) a comercialização com os proprietários das desnatadeiras, que beneficiam o leite o transformando em seus derivados; (2) a venda direta do leite in natura para os consumidores; (3) a venda a uma espécie de atravessador, que é o possuidor do tanque de refrigeração de leite, que repassam em seguida a produção captada para o laticínio; e (4) a comercialização direta dos produtores que possuem o tanque de refrigeração com uma indústria de laticínios. Vale ressaltar que os dois primeiros canais de comercialização são meios informais de venda, pois não obedecem às legislações vigentes, não passam pelo processo de pasteurização e não são arrecadados impostos. Os outros canais são formais, mas no terceiro há um atravessador, o possuidor do tanque de refrigeração de leite, que capta a produção e repassa para o laticínio, e no quarto canal a comercialização é direta dos produtores para o próprio laticínio. Abaixo a Figura 1 demonstra como é a cadeia produtiva do leite e as relações comerciais existentes, tanto nos canais formais quanto informais.

Figura 1- Canais formais (F) e informais (In) de comercialização do leite de vaca na região de Miguel Calmon Todos estes canais possuem as suas vantagens e desvantagens para o produtor rural, além de suas peculiaridades que os distinguem e os diferenciam. O primeiro canal, a comercialização da produção a partir dos derivados lácteos, ocorre quando a produção é vendida para os queijeiros, sendo estes as pessoas proprietárias das chamadas desnatadeiras que são os locais em que o leite é beneficiado em seus derivados. Nesta relação após o processo de transformação do leite in natura, a venda se dá a partir principalmente dos queijos coalho e mussarela, da manteiga de garrafa e do requeijão. Na relação entre queijeiro e pecuarista, atualmente o valor recebido está entre R$ 1,00 e R$ 1,20 e o comprador não faz “nenhuma exigência” quanto à qualidade, cofiando na real integridade do produto. Apesar do valor elevado pago por litro, produtores afirmaram que evitam este tipo de comercialização, pois em momentos de safra o valor recebido geralmente é muito inferior ao pago pelo laticínio e as desnatadeiras podem não ter capacidade de absorver toda a sua produção na safra, o que os prejudicaria.

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____________________________________________________________ Já o segundo canal, a comercialização direta, se caracteriza pela venda da produção diretamente para o consumidor. Nesta relação ocorre a venda do leite na forma in natura, geralmente transportado diretamente das propriedades rurais para os pontos de venda acessíveis à clientela. Para tal meio, encontra-se um grande atrativo que é o valor recebido, podendo chegar a R$ 1,50 por litro. No entanto, apesar de ser interessante o preço pago, os produtores não tem esse meio como o preferencial, devido a restrita capacidade de comercialização (volumes pequenos) e a necessidade de transporte diário da produção para a cidade. Fatores os quais restringem esta forma de comércio principalmente para pequenos produtores, que tem a disponibilidade de transportar sua produção para as cidades. Como para a comercialização nestes canais do mercado informal existe uma restrição de volume (a demanda não é muito grande), os produtores presentes nele geralmente são pequenos e médios que ficam por vezes oscilando no fornecimento em momentos de melhor preço pago pelo laticínio ou pelo queijeiro. Outra alternativa utilizada por principalmente médios e grandes produtores é o fracionamento dos volumes parte para o laticínio e parte para o queijeiro. O terceiro canal é a comercialização da produção com o possuidor do tanque de resfriamento, pessoa que aparece na cadeia produtiva como uma espécie de intermediário, pois apenas repassa a produção de produtores que não possuem o equipamento de acondicionamento para o laticínio. Esta pessoa que se disponibiliza a receber a produção dos demais, podendo o equipamento de refrigeração ser ou não de propriedade da empresa de laticínio, recebe uma quantia por litro, existem relatos de variações entre 0,05 centavos e 0,15 centavos, isto para custear a energia gasta pelo equipamento, despesas de limpeza e impostos. A presença desta figura na cadeia é importante, pois possibilita a comercialização de produções muito pequenas com o laticínio, o que não seria possível sem a existência deste elemento. Servindo como incentivo à melhoria e o desenvolvimento da atividade. Por fim, o quarto canal é a comercialização direta entre o produtor e a indústria de laticínios, podendo este ser de médio ou de grande porte. A viabilidade econômica da presença do resfriador depende da quantidade de leite armazenado por captação, caso um pequeno produtor possa juntar uma quantidade de leite para o tornar viável pode ser que possua o equipamento, no entanto fica mais fácil viabilizar a atividade para médios (união entre dois ou três produtores) ou um único grande. Neste canal o preço é mais atrativo pois a relação financeira é direta com a empresa, no entanto ainda fica abaixo do Primeiro e Segundo canal. O terceiro e quarto canais referem-se basicamente à relação comercial entre os produtores e uma indústria de laticínios da região. A principal diferença é que no terceiro canal está presente a figura do possuidor de um equipamento resfriador que se disponibiliza a receber a produção de demais produtores e no quarto canal a relação é direta entre produtores e laticínio. No entanto, apesar dos pecuaristas não receberem um adicional pela qualidade do produto entregue, são feitas alguma exigências para garantir uma maior qualidade ao produto, ao contrário do primeiro e segundo canal, tais como higiene de ordenha e das instalações, sanidade dos animais, não utilização de medicamentos inadequados em animais em lactação, etc. Essas demandas implicam numa elevação dos custos dos produtores, mas nestes canais o preço recebido é relativamente atrativo e estável, existe uma grande confiabilidade e uma certa participação entre a empresa e os produtores, o que fortalece e assegura a cadeia produtiva. Conclusões A partir dos resultados da pesquisa de campo, foi possível identificar que, dentre os canais informais, a venda direta do produto in natura ao consumidor é mais rentável financeiramente (em relação ao preço pago por litro), mas limita o produtor a continuar pequeno, pois o volume comercializado é reduzido. Já a venda a fabricantes informais de laticínios (os “queijeiros”) seria a melhor opção se passasse mais segurança e estabilidade no preço recebido ao produtor. No caso dos canais formais, que envolvem o fornecimento à indústria de laticínios da região, diante dos requisitos necessários para se produzir um leite de qualidade, as exigências feitas para a produção encarecem o produto. Na venda direta do produtor para a indústria, caso os produtores recebessem pelo menos um adicional por qualidade, o preço se tornaria atrativo. Já se é necessária a figura do atravessador para a recepção do leite para posterior fornecimento à indústria, o preço pago a produtor diminui. Por tudo isso, nas condições observadas na região de Miguel Calmon (BA), a melhor opção para o pequeno produtor ainda é a informalidade. Do ponto de vista financeiro a comercialização informal de leite ainda é mais vantajosa para os pecuaristas. Entretanto, o processo de profissionalização dos produtores é um incentivo à melhoria qualitativa e quantitativa do leite. Deve-se, para isso, coordenar de melhor forma a cadeia produtiva do leite para viabilizar e incentivar a produção formal. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio ao desenvolvimento do projeto. Literatura citada CALIXTO, L. Estudo de caso sobre custos ambientais: ênfase nos procedimentos metodológicos. Revista de Administração Mackenzie, v. 10, n. 2, p. 87-109, 2009. IBGE. Censo agropecuário 2006. Rio de Janeiro, p.1-777, 2006. MENEZES, S. S. M.; ALMEIDA, M. G. Um olhar sobre as redes de sociabilidade construidoras do território das fabriquetas de queijo. Revista NERA, V. 9, n. 8, p. 133-150, 2006. NETO, A. C.; LIMA, J. E. Volume de produção, preços e a decisão de comercialização informal do leite: um estudo no estado do Rio de Janeiro. Organizações Rurais & Agroindustriais, v.8, n.3, p. 405-410, 2006. SCHUSTER, C. et al. Avaliação de equipamento alternativo para pasteurização lenta de leite previamente envasado. Ciênc. Tecnol. Aliment., v.26, n.4, p. 828-831, 2006.

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Caracterização da cadeia produtiva de laticínios caprinos na região do Submédio São Francisco 1 José Luiz Moreira de Carvalho2, Luiz Antônio Neto Silva3, Adauto Liberato de Moura Neto 4 1

Parte de projeto de pesquisa Incremento da Competitividade em Sistemas Agroindustriais do Submédio São Francisco. Professor do Colegiado de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e-mail: jose.carvalho@univasf.edu.br 3 Engenheiro de Produção/UNIVASF. 4 Graduando em Engenharia de Produção/UNIVASF. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. 2

Characterization of the supply chain of goatish dairy in the region of Submedio São Francisco Abstract: The goat raising is one of the most suitable economic activity for semi-arid regions, such as the Brazilian Northeastern backlands, to generate local development. This region has more than 90% of Brazil's goat herds, but most of them are explored in an extensive system. The aim of this study is to identify the capabilities of the goat dairy industry in the region of Submedio Sao Francisco through the characterization of its actors, its strengths and its weaknesses. Only three industries were identified, two for milk processing and one cheese maker. And the biggest customer is the government, to provide school lunches. Thus, it’s necessary to expand distribution channels, as a way to increase demand and thus enable an increase in supply. In producers’ point of view, there’s no direct competition with cow's milk, because they work in a niche market where the consumer, in most cases, is looking for something different. However, there is a requirement to develop a consumer market. Among the potential consumers of this industry are: tourists, seniors, children, sick people who have bovine milk rejection and the governmental market. In the case of cheese, marketing with a regional appeal is necessary, as a product of the Northeastern backlands.

Keywords: Caprine, Cheese, Market, Milk Introdução A caprinocultura, atividade presente em quase todos os países, é citada, frequentemente, como das atividades mais indicadas para regiões semiáridas, como no caso do sertão nordestino, onde a disponibilidade de recursos hídricos, forrageiros e de solo permite o desenvolvimento da caprinocultura como fonte de geração de desenvolvimento local. As menores exigências de capital, os menores riscos de perda da produção e de animais e a mais rápida circulação do capital, possibilitada pelos sistemas de criação de caprinos, figuram entre as características que tem mais contribuído para a difusão desses animais nos sistemas de produção da região. Não obstante, de acordo com o IBGE (2008), o Nordeste possui mais de 90% do rebanho de caprinos do Brasil, principalmente no semiárido. Entretanto, a maioria dos rebanhos de caprinos na região é explorada em sistema extensivo, não sendo adotadas práticas adequadas de manejo alimentar e sanitário, aspectos que têm contribuído para a baixa produtividade da caprinocultura. Enquanto nesta região a produção é voltada para subsistência das famílias sendo uma importante fonte de carne, leite e derivados para as populações do meio rural, nas regiões Sul e Sudeste a atividade caracteriza-se por atividades de maior valor agregado (HOFF; BRUCH; PEDROZO, 2007). A região do Submédio do São Francisco, especificamente a micro-região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), não difere da realidade nordestina. Na cidade de Juazeiro (vizinha geográfica de Petrolina) são cerca de 200.000 cabeças (2ª município no ranking nacional) e em Petrolina são 100.000 cabeças (IBGE, 2008). Também de acordo com os números do IBGE, a microregião de Juazeiro é o maior pólo da caprinocultura do país, em termos de quantidade do rebanho. Além disso, a região é um dos poucos lugares do país que tem forte tradição no consumo de produto caprino, a carne. Como apontam Dal Monte et al. (2010), a construção da sustentabilidade na caprinocultura leiteira depende da análise dos principais desafios e das possibilidades, que pode ser obtida por meio de estudos dos segmentos da cadeia produtiva.Nesse sentido, é importante estudar as características da caprinocultura nessa região para entender como promover a atividade. Diante deste contexto, o objetivo desse estudo é levantar as potencialidades da indústria de laticínios de cabra na região do Submédio São Francisco através da caracterização dos seus atores e da identificação dos seus pontos fortes e suas deficiências. Material e Métodos O estudo em questão consiste em uma pesquisa de natureza exploratória que visa identificar os fatores que limitam e os que contribuem com o desenvolvimento da indústria de laticínios de cabra na região do Submédio do São Francisco, abrangendo 4 municípios baianos (Juazeiro, Casa Nova, Curaçá, Sobradinho) e 4 pernambucanos (Petrolina, Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista e Orocó). Buscou-se pesquisar apenas as empresas ou entidades formalizadas, não considerando a venda informal porta-aporta ou a produção informal de laticínios em pequenas propriedades, sem a devida licença para isso. Além da identificação e caracterização dos atores da cadeia formal de laticínios de cabra na região, procurou-se identificar os fatores favoráveis e limitantes ao desenvolvimento de desta indústria. Dessa forma, o estudo incorpora características de

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____________________________________________________________ pesquisa descritiva. Conforme Calixto (2009), a pesquisa exploratória é uma alternativa quando há pouco conhecimento acumulado sobre o tema a ser abordado, para conhecer mais sobre o mesmo, construindo teorias e formulando hipóteses para trabalhos futuros. Já a pesquisa descritiva descreve características de uma população ou fenômeno, estabelecendo relações entre variáveis e permitindo a identificação, análise e comparação de dados. A indústria de laticínios de cabra abrange as unidades de beneficiamento, processamento e transformação do leite caprino, seja no beneficiamento do leite in natura ou de transformação do leite em seus derivados queijo e iogurte, entre outros. A coleta dos dados foi feita em visitas às indústrias de laticínios de cabra localizadas na região, através de entrevistas estruturadas. Resultados e Discussão Como discutido anteriormente, as regiões de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) possuem grandes rebanhos de caprinos. Entretanto, em relação à industrialização do leite de cabra na região, foram identificadas apenas três indústrias, sendo duas de processamento de leite no município de Petrolina (cada uma com capacidade de cerca de 1000 litros/dia) e uma fabricante artesanal de queijos (dos tipos Boursim, maturado e frescal), no município de Santa Maria da Boa Vista. Do lado baiano, não foram encontradas indústrias de laticínios de cabra, havendo apenas empresas voltadas à carne (especificamente, a produção de cortes nobres de carnes de caprinos e ovinos). No caso das indústrias de processamento, foi observado em ambos os casos um papel importante de duas associações de produtores na sua estruturação. Uma associação, em um sentido amplo, é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne pessoas físicas ou outras sociedades jurídicas com objetivos comuns, visando superar dificuldades e gerar benefícios para os seus associados, sendo é uma forma jurídica de legalizar a união de pessoas em torno de seus interesses. Sua constituição permite a construção de melhores condições do que aquelas que os indivíduos teriam isoladamente para a realização dos seus objetivos. Nesse sentido, as associações tiveram papel articulador na implantação dos condomínios de criação de cabras leiteiras e na garantia do apoio técnico do SEBRAE e da EMBRAPA. Com o projeto pronto, os produtores conseguiram levantar recursos financeiros por meio de empréstimo bancário e comprar cabras e montar a estrutura. Estar filiado a uma associação é um critério avaliado pelos bancos e facilita a obtenção dos financiamentos. As indústrias identificadas também atuam à montante da indústria, no segmento produtor da matéria-prima principal (o leite) e possuem conhecimentos acerca do mercado e configurações da cadeia produtiva do novo negócio. Segundo os entrevistados, também existem na região empreendimentos informais de produção de queijos e venda informal de leite caprino in natura, mas não é possível mensurar o tamanho desse mercado informal. Um grande mercado para o leite de cabra pasteurizado na região é o governamental, com o Programa Leite de Todos no estado de Pernambuco e a venda para a merenda escolar do município, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Há uma dificuldade de inserção nos canais das grandes redes varejistas, também presentes na região, dadas as exigências de volume e continuidade de fornecimento importas por estas aos seus fornecedores. No caso da fabricante de queijos artesanais, o produto é distribuído através de padarias e delicatessens. Os clientes são fixos e a distribuição ocorre semanalmente nos pontos de venda. Na visão do entrevistado, a demanda pelos produtos na região ainda é pequena. Quanto à oferta, o mesmo destaca que possui potencial reprimido por faltar mercado. Dentre as dificuldades iniciais de inserção no mercado, destaca-se o preconceito contra o produto. Existe um tabu relacionado ao consumo por causa da rejeição ao gosto do leite de cabra. Segundo um dos entrevistados, o gosto ruim do leite se deve à presença do bode, que deixa seu mau cheiro na cabra, mas as boas práticas de manejo eliminam esse efeito. Também foram destacadas como um fator limitante para a indústria as barreiras fitossanitárias, pois o estado de Pernambuco não possui certificado de zona livre de febre aftosa. Sobre a concorrência, na visão dos entrevistados, seus produtos não concorrem diretamente com os queijos de leite bovino, apesar de destacar a formação do paladar do consumidor já orientado para o leite bovino e a organização da cadeia existente, com grandes multinacionais operando no setor com um poder de barganha muito acima da realidade do produtor de derivados de leite caprino. Entretanto, na visão dos entrevistados, a indústria de leite caprino trabalha em um nicho de mercado onde o consumidor na grande maioria das vezes procura algo diferente, porém, esporadicamente. Com isso, não se tem um mercado de consumo diário, como o leite bovino, a não ser por recomendação médica. Sobre a demanda dos produtos do leite caprino, acreditam que existe um mercado dormente e que necessita ser despertado. O leite caprino in natura possui forte apelo nutricional e medicinal, é adequado para pessoas que possuem rejeição ao leite bovino e também para crianças, idosos e enfermos. Em relação aos queijos, foi citada a possibilidade do “casamento” do queijo caprino com os vinhos do vale do São Francisco, como um produto turístico. Um marketing com apelo regional explorando as necessidades das pessoas por produtos orgânicos e vendidos também como produtos do sertão nordestino. Além disso, o zelo pelas boas práticas de produção em nível de campo e indústria, sob um controle de qualidade rigoroso para colocar um produto de qualidade no mercado, foi apontado como um fator decisivo. A partir das informações obtidas na pesquisa de campo, foi possível identificar os diversos atores da cadeia produtiva dos laticínios caprinos na região do Submédio do São Francisco, como visto na figura 1, incluindo as entidades que oferecem algum tipo de suporte (técnico, financeiro, gerencial). Nota-se, com isso, a necessidade de ampliação dos canais de distribuição, como uma forma de aumentar a demanda e, consequentemente, viabilizar um aumento da oferta.

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Figura 1. Sistema Agroindustrial do leite caprino na região do Submédio do São Francisco Conclusões Conforme observado na pesquisa de campo, a indústria de laticínios de cabra na região ainda não se desenvolveu de uma forma mais consistente, apesar do grande rebanho existente. Não foi possível, entretanto, mensurar o tamanho do mercado informal. As indústrias identificadas não sofrem problemas de restrição de matéria-prima, pois estão ligadas a associações de produtores, sendo o mercado o limitante da sua expansão. Há, como apontado por um dos informantes, a necessidade de induzir compradores e desenvolver um mercado consumidor. A estratégia atual é o atendimento a nichos de mercado. Entre os consumidores potenciais dessa indústria estão: apreciadores, turistas, idosos, crianças, enfermos, pessoas que possuem rejeição ao leite bovino e o mercado institucional. O turismo do Vale do São Francisco pode ser bastante enriquecido com a inserção de unidades de produção caprina de interesse turístico, especialmente aquelas voltadas para a produção de queijos e outros derivados do leite. A rota do vinho começa a se consolidar com destino turístico na região e o casamento da rota do vinho com a “rota do bode” seria aproveitar o potencial da caprinocultura. A participação na indústria do turismo da região requer o marketing do poder público, a formação de parcerias com a indústria vinícola e a inserção no mercado de restaurantes especializados. Também existe a possibilidade de venda direta da indústria para o consumidor turista. As propriedades rurais dos pecuaristas podem se tornar locais de atração e recepção de turistas para a degustação dos produtos e conhecimento da realidade de produção. Algo semelhante ocorre com a indústria dos vinhos. Além disso, outro importante projeto de marketing para os produtos da indústria do leite caprino é a possibilidade de obtenção de uma Denominação de origem (DO) ou uma indicação de procedência (IP) para o cabrito da região. O projeto significa na prática uma estratégia de diferenciação, conferindo uma marca aos produtos da caprinocultura local. A partir das conclusões obtidas neste trabalho, é possível identificar as ações de marketing que podem ser realizadas para a promoção do consumo dos laticínios caprinos. A realização destas ações, entretanto, ainda requer um maior nível de coordenação entre os atores, além de um suporte governamental, de prefeituras e governos estaduais da Bahia e de Pernambuco, através de iniciativas no sentido da divulgação e da caracterização da identidade regional do produto, além do próprio Programa de Aquisição de Alimentos. Novos estudos ainda precisam ser feitos para a caracterização do mercado informal do leite caprino e também para estabelecer estratégias de inserção nas grandes redes varejistas. Literatura citada CALIXTO, L. Estudo de caso sobre custos ambientais: ênfase nos procedimentos metodológicos. Revista de Administração Mackenzie, v. 10, n. 2, p. 87-109, 2009. DAL MONTE, H. L. B. et al. Mensuração dos custos e avaliação de rendas em sistemas de produção de leite caprino nos Cariris Paraibanos. Revista Brasileira de Zootecnia. v.39, n.11, p. 2535-2544, 2010. HOFF, D.N.; BRUCH, K.L.; PEDROSO, E.A. Desenvolvimento de nichos de mercado para pequenos negócios: leite e laticínios de cabra e ovelhas em Bento Gonçalves RS. Teoria e Evidência Econômica, v. 14, n. 128, p. 129-130, 2007. IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal. Rio de Janeiro, v. 36, p.1-55, 2008.

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Consumo e ganho de peso de bovinos de corte confinados alimentados com resíduo de algodoeira amonizado com três doses de uréia1 Alberto Magalhães de Sá2,3, Danilo Gusmão de Quadros4, Heraldo Namorato de Souza5, Alberto Rodrigues dos Santos Neto3, Jamara Marques Jácome3, Raimundo Guedes de Almeida6 1

Trabalho Financiado pela PETROBRAS. Bolsista de Iniciação Científica, do CNPQ. E-mail: albert_osa@hotmail.com 3 Graduando da Faculdade de Agronomia: UNEB Campus IX – Barreiras - BA. 4 Prof. da UNEB – Universidade do Estado da Bahia / NEPPA – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Produção Animal – Faculdade de Agronomia. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br 5 PETROBRAS. Rio de Janeiro - RJ, Brasil. 6 Graduado em Engenharia Agronômica. 2

Dry matter intake and live weight gain of beef cattle fed with cotton residue ammoniated with three doses of urea Abstract: It was aimed in this study to evaluate the consumption and live weight gain in beef cattle confined having as a based diet the cotton residue ammoniated with increasing doses of urea (4%, 6%, and 8%). It were used 15 zebu cattle, non-castrated, with average weight of 371 ± 24.7 kg, divided into 3 collective boxes, with 5 animals per treatment. The experimental design adopted was completely randomized (CRD) with three treatments (4%, 6% and 8% of urea) and three replications. It was evaluated the dry matter intake and live weight gain. The results were tabulated on Excel (Microsoft) and analyzed by the program ASSISTAT, assuming differences between the averages when the probability of the F value was less than 5% (P<0.05). There was significant difference in the total dry matter intake and roughage intake, being the treatment with 4% urea superior to other treatments. The dose of 4% urea resulted in higher daily average gain compared to 8%, when the one with 6% did not differ from other treatments. The use of ammonia in the treatment of cotton residue proved to be great alternative for feeding beef cattle, providing satisfactory intake and performance, being recommended the dose of 4%. Keywords: fiber, Gossypium hirsutum, zebu cattle Introdução O Brasil, por ser um dos principais produtores agrícolas mundiais, gera anualmente uma grande variedade e quantidade de resíduos agroindustriais. Esses resíduos podem assumir importância considerável na alimentação de ruminantes, principalmente, em períodos nos quais a escassez de forragens torna-se o fator preponderante que limita a produtividade desses animais (Souza et al. 2002). A Bahia é o 2º Estado do Brasil na produção de algodão, sendo a região oeste responsável por 90% da produção. São quase 600 mil/ha cultivados, com uma produção de 1,5 milhões de ton. de algodão em caroço e mais de 500 mil ton. de algodão em pluma. Nesse processo, o resíduo de algodoeira (RA), chamado de casca ou piolho do algodão, sobra em grande quantidade (AIBA, 2011). Ao mesmo tempo, o gado na época da seca passa fome, em virtude da falta de reservas estratégicas de forragens nas propriedades. Ainda são escassos trabalhos testando processos de melhoria do valor nutritivo desse resíduo. A amonização de forragens utilizando a uréia tem sido uma das alternativas em razão de ser de fácil aplicação, não poluir o ambiente e fornecer nitrogênio não protéico (Rosa & Fadel, 2001). Objetivou-se com este trabalho avaliar o consumo e ganho de peso de bovinos de corte confinados alimentados com RA amonizado com três doses de uréia. Material e Métodos O experimento foi conduzido no Lote 36-Barreiras Norte, em Barreiras-BA, situado a (12° 09' 10" S e 44° 59' 24" O), segundo delineamento inteiramente casualizado (DIC), testando três doses de uréia (4%, 6% e 8%) no processo de amonização do RA, visando o confinamento de gado de corte, utilizando-se 5 repetições. A uréia foi diluída em água e foi aplicada por aspersão, com base na matéria seca (MS) sobre as medas do RA. A quantidade de água foi calculada para elevar a umidade dos volumosos para 25%. A solução de uréia foi distribuída com regador sobre o RA. Depois do tratamento, as medas foram cobertas com lona de polietileno, deixando agir por 90 dias. Após o período de tratamento do RA, em condições hermeticamente fechadas, as medas foram abertas para eliminação do excesso de NH3 que não reagiu com os volumosos. Os animais adquiridos foram da raça Nelore, com peso vivo médio de 371 ± 24,7kg. Cada animal foi pesado, individualmente, brincado e vermifugado. Os brincos foram aplicados na parte central da orelha dos animais, entre as duas nervuras. Foi aplicado anti séptico (iodo) antes da aplicação dos brincos e logo depois foi aplicado mata bicheira como forma de evitar ataque de moscas e colocação de ovos no ferimento.

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____________________________________________________________ A avaliação do consumo e desempenho foi avaliada, utilizando-se RA amonizado e fornecido aos animais, que foram alocados em 3 baias coletivas, contendo 5 animais por tratamento. A dieta apresentou relação volumoso/concentrado de 60/40, com a inclusão do RA como único volumoso. O ajuste do volumoso foi fornecido à vontade e ajustado para sobras de 10%. Cada animal recebeu 1,0Kg de Caroço de Algodão, 2,0Kg de Milho e 100g de Sal Mineral (Tabela 1). Tabela 1. Proporção dos ingredientes na ração concentrada, para os bovinos confinados. Ingredientes Caroço de algodão (Kg) Milho (Kg) Sal Mineral (g)

Manhã

Tarde

Total/Animal/Dia

0,5 1,0 50

0,5 1,0 50

1,0 2,0 100

O arraçoamento foi realizado em duas refeições diárias, as 09 e 17 horas. Os animais foram pesados antes do experimento, após o período de adaptação e ao final do experimento. A avaliação do consumo total e do RA foi obtida do período experimental pesando o fornecido a as sobras, e retirando-se amostras para determinação do teor de matéria seca (MS). O ganho de peso diário foi calculado pela diferença de peso entre o final e após o período de experimento. O consumo total e do RA do período foi calculado pela diferença entre o colocado e as sobras. A duração do confinamento foi de 60 dias, constituído de período de adaptação 15 dias e 45 dias de coleta de dados. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste Tukey, adotando-se probabilidade de 5%, utilizando o programa estatístico ASSISTAT. Resultados e Discussão Houve diferença significativa no consumo de matéria seca total (MST) dos bovinos recebendo RA amonizada com 4% de uréia, a qual foi superior aos tratamentos com 6 e 8% de uréia (Tabela 2). Aumento do consumo de MS total de 30,2 para 50,6 g MS/Kg0,75 , respectivamente, para o material sem tratamento e o tratado com uréia e acréscimo no consumo de palha em 35%, foram relatados por Castrillo et al. (1995), em um experimento com ovinos alimentados com palha de cevada sem tratamento ou tratada com uréia (3% base MS). Em ensaio para avaliar o efeito da amonização no desempenho de novilhos de corte alimentados com palha de arroz, sendo que o lote testemunha recebeu, à vontade, palha de arroz não tratada, e o outro lote teve à sua disposição palha de arroz previamente amonizada com NH3 (3,0% da MS), Oliveira et al. (1993), concluíram que a amonização melhorou o valor nutritivo e aceitabilidade da palha de arroz. A maior eficiência do tratamento do RA com uréia foi obtida, quando o volumoso foi tratado com doses de 4% de uréia (Tabela 2). Com 8% de uréia a amônia em excesso teve um efeito restritivo sobre o consumo dos animais, em virtude do cheiro forte que exalava do alimento. Com a utilização de 4 e 6% de uréia no tratamento do RA, percebeu-se maior ganho médio diário (GMD) dos animais submetidos a essas dietas, podendo está atrelado ao maior consumo de MS, principalmente do volumoso tratado presente nas dietas, sendo superior a aplicação de 8% de uréia. (Tabela 2). Resultados semelhantes aos encontrados neste trabalho foram observados por Chizzotti et al. (2005) encontraram ganho médio diário de 1,09Kg, para tratamento de novilhos Nelore usando silagem de sorgo como 100% de fonte de volumoso, numa relação volumoso:concentrado de 60:40, num experimento com duração de 78 dias. Resultados inferiores aos obtidos neste trabalho foram encontrados por Oliveira et al. (1994), ao fornecerem palha de arroz tratada com 3% de NH3 (base MS) e 4Kg de concentrado/dia a novilhos com peso médio de 232Kg, registraram ganhos diários de 570 e 990g para os animais que receberam a palha de arroz não amonizada e tratada com NH3, respectivamente. Com relação à conversão alimentar, não foi observado diferença significativa nos tratamentos, indicando, com isso uma razoável eficiência animal em resposta a dieta fornecida. Os valores numéricos apresentados para a eficiência alimentar não diferiram com o aumento da dose de uréia (Tabela 2). Os resultados de conversão alimentar observados neste trabalho estiveram dentro da faixa de 12,39 e 9,49g verificados por Oliveira et al. (1994), para palha de arroz não amonizada e amonizada, respectivamente.

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____________________________________________________________ Tabela 2. Consumo de alimentos e ganho diário de peso de bovinos Nelore recebendo resíduo de algodoeira amonizado em confinamento. Níveis de Uréia Parâmetros

4%

6%

8%

C.V (%)

11,80a

10,27b

6,73c

15,06

9,21a

7,86b

4,62c

18,37

Consumo de MS Concentrado Ganho Médio Diário (kg/animal) Conversão Alimentar1

2,60a 1,18a 10,14a

2,42a 1,07ab 10,06a

2,11b 0,87b 7,9a

10,27 16,86 21,8

Eficiência Alimentar 2

0,100a

0,104a

0,132a

22,36

Consumo de MS Total1 1

Consumo de MS Volumoso

1

Médias, seguidas pela mesma letra, minúscula, não diferem entre si, pelo teste tukey a 5% de probabilidade. 1 (g de ganho/animal/dia). 2(Kg ganho/Kg alimento).

Conclusões A utilização de uréia no tratamento do RA mostrou-se como boa alternativa na alimentação de bovinos confinados, proporcionando consumo e desempenho satisfatório, sendo recomendando a dose de 4% na matéria seca. Agradecimentos Ao Sr. Cisino Lopes que cedeu a propriedade para a realização do experimento. Literatura citada AIBA – ASSOCIAÇÃO DOS IRRIGANTES DO OESTE DA BAHIA, ANUÁRIO DA REGIÃO OESTE DA BAHIA: safra 2010/2011. barreiras:aiba, 2011. 32-33p. disponível em: http://www.aiba.org.br/informaiba/anuario_regiao_oeste_bahia_2010-11.pdf acesso em: abril de 2012. CHIZZOTTI, F. H. M. ET AL. consumo, digestibilidade total e desempenho de novilhos nelore recebendo dietas contendo diferentes proporções de silagens de brachiaria brizantha cv. marandu e de sorgo. revista brasileira de zootecnia, v. 34. n. 6, p. 2247-2436, viçosa, 2005. OLIVEIRA, E.R.; LIMA, J.O.A.A.; ALMEIDA, S.A. ET AL. efeito da amonização no desempenho de novilhos de corte alimentados com palha de arroz. goiânia, 1993. p. 9. (embrapa-cpatc. comunicado técnico, 2). REIS, R. A.; RODRIGUES, L. R. A. amonização de volumosos. 1. ed. jaboticabal: funep,1993. 22p. ROSA, B; FADEL, R. uso de amônia anidra e de uréia para melhorar o valor alimentício de forragens conservadas. in: sim simpósio sobre produção e utilização de forragens conservadas, maringá, 2001. anais... maringá: uem, 2001. p.41–63. SOUZA, A.L.; GARCIA, R.; PEREIRA, O.G.; CECON, P.R.; PIRES, A.J.V.; LOURDES, D. R. S. valor nutritivo da casca de café tratada com amônia anidra. revista ceres, v. 49, n. 286, p. 669-681, 2002.

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Níveis de proteína bruta em dietas contendo concentrados peletizados para cabras lactantes: Digestibilidade da matéria seca e nutrientes1 Eduardo de Jesus Novaes2, Edileusa de Jesus dos Santos3, Mara Lúcia Albuquerque Pereira4, Mauro Pereira de Figueiredo5, Paulo José Presídio Almeida6, Daiane de Oliveira Alencar7 1

Parte da dissertação de mestrado do segundo autor Graduando em Engenharia Agronômica – UESB/Vitória da Conquista-BA. e-mail: ejnovaes@yahoo.com.br 3 Doutoranda em Zootecnia – UESB/Itapetinga-BA. e-mail: leuesb@yahoo.com.br 4 Professora do curso de Zootecnia, DEBI. UESB/Itapetinga-BA 5 Departamento de Fitotecnia e Zootecnia. UESB/Vitória da Conquista-BA 6 Zootecnista – UESB/Itapetinga-BA 7 Graduanda em Zootecnia – UESB/Itapetinga-BA 2

Crude protein levels in diets for lactating goats pelleted concentrates: Dry matter digestibility and nutrient Abstract: The effects of crude protein levels (10, 13, 16 and 19%) in dry diets for 20% of Tifton 85 and 80% concentrate pelleted digestibility of dry matter and nutrients in lactating goats. We used eight female goats, Saanen, weighing 42.7 ± 1.43 kg and 57.7 ± 7.37 days of lactation and milk production of 2 ± 0.22 kg at the beginning of the experiment. The animals were housed in individual pens with dimensions of 1.32 x 3.10 and distributed in a Latin square design, 4 x 4. Each experimental period lasted 20 days with 15 days of adaptation and 5 days of data collection. The digestibility of dry matter, organic matter, crude protein, fibrous carbohydrates not corrected for ash and protein, ether extract and total digestible nutrient content varied linearly (P <0.05) estimating growth rates of 0.54; 0.50, 2.02, 0.49, 0.80 and 0.63, for each percentage unit of protein added to the diet, respectively. It is recommended to use crude protein concentrate from 13.5 to 15% of dry matter of diets consisting of 80% concentrate pellets composed of soybean meal in place of alfalfa hay as protein sources to produce lactating 2 kg of milk per day. Keywords: grass Tifton-85, soybean meal, alfalfa hay, Saanen Introdução A exploração da caprinocultura leiteira de alto padrão genético requer alimentação específica, já que esses animais têm exigências nutricionais superiores para manter altos índices de produtividade. Durante o período crítico do ano, quando se necessita ter produção de leite contínua e bem distribuída ao longo do ano, é necessário intensificar o modelo de produção com manejo nutricional mais adequado para o arraçoamento dos animais. O estabelecimento do nível protéico e de sua relação com a concentração energética da dieta durante a lactação com utilização de alimentos alternativos para ruminantes tem como objetivo, minimizar os custos com alimentação e maximizar a produção. Entretanto, a viabilidade de utilização destes alimentos para ruminantes necessita de avaliação do seu impacto sobre a digestibilidade e o consumo. A digestibilidade do alimento é basicamente a sua capacidade de permitir que o animal utilize em maior ou menor escala seus nutrientes, sendo, uma característica do alimento e não do animal, portanto a digestibilidade é um importante parâmetro para avaliar o valor nutritivo de alimentos para ruminantes, tanto em sistema de pastejo como em confinamento. Neste contexto, objetivou-se com a realização do presente estudo avaliar a digestibilidade da matéria seca e nutrientes em cabras lactantes alimentadas com níveis crescentes de proteína bruta na dieta. Material e Métodos O experimento foi conduzido no setor de Caprinocultura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Vitória da Conquista – BA. Foram utilizadas oito cabras da raça Saanen com 57,7±7,37 dias em lactação, produzindo diariamente 2±0,22 kg de leite, alocadas em baias individuais com dimensões de 1,32 x 3,10 m, distribuídas em dois quadrados latinos 4 x 4. As dietas foram fornecidas diariamente às 7:30 e 15:00 h, ad libitum, de forma a permitir aproximadamente 10% de sobras. Foram avaliadas quatro dietas constituídas de níveis de proteína bruta: 10,0; 13,0; 16,0 e 19,0% na matéria seca em que as substituições do feno de alfafa pelo farelo de soja no concentrado garantiram crescentes aumentos no nível de proteína bruta. O concentrado foi utilizado na forma peletizado na proporção de 80% para 20% de feno de capim Tifton-85(Cynodon spp). As rações foram balanceadas de acordo com o NRC (2006). Na tabela 1 é apresentado as proporções dos ingredientes no concentrado e a composição químicobromatológica das dietas experimentais. Cada período experimental teve a duração de 20 dias, sendo 15 dias para a adaptação à dieta e 5 para coleta de dados. Para determinar os coeficientes de digestibilidade da MS, MO, PB, EE, FDNcp e CNFcp, foi utilizado como indicador interno a fibra em detergente ácido indigestível (FDAi). Então as amostras dos alimentos fornecidos (feno e concentrado), sobras e fezes présecas foram moídas a 1,0 mm e incubadas no rúmen de três bovinos por 264 horas em sacos de TNT - 100 g/m² (Casali et al., 2008). Foram em seguida submetidos à extração com detergente ácido (Mertens, 2002) para quantificação dos teores de FDAi. A razão consumo de FDAi e a concentração fecal de FDAi foi utilizada para estimar a excreção fecal.

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Foi avaliado efeito dos tratamentos para a digestibilidade de MS e de nutrientes em contrastes polinomiais linear, quadrático e cúbico submetidos ao procedimento MIXED do SAS (Littell et al.,1996). Tabela 1 –

Proporção dos ingredientes no concentrado, expressa na base da matéria natural, e composição da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA), fibra em detergente neutro isento de cinza e proteína (FDNcp) e carboidratos não fibrosos isentos de cinza e proteína (CNFcp) do feno de Tifton 85 e das dietas. Níveis de proteína bruta na dieta (% MS)

Ingrediente Milho grão moído Far. Algaroba Far. Soja Ureia Feno de alfafa Sal Comum Sal Mineral

Feno de Capim 10 13 16 Tifton-85 29,43 29,40 29,38 49,57 49,53 49,49 6,32 12,64 0,22 0,22 0,22 18,74 12,48 6,23 0,33 0,33 0,33 1,68 1,68 1,67 Composição químico-bromatológica do feno e das dietas (% MS) 88,75 96,13 95,31 95,09 7,21 10,13 12,93 16,02 1,31 1,95 2,33 2,43 0,33 0,73 0,91 1,05 83,84 33,38 32,60 32,37 2,37 44,28 42,52 41,00

19 29,35 49,45 18,94 0,22 0,33 1,67

MS 93,95 PB 19,52 PIDN 3,54 PIDA 1,19 FDNcp 25,00 CNFcp 43,70 *Composição do sal mineral: 24 g de Ca/kg, 7,1 g de P/kg, 2 g de Mg/kg, 0,003 g de Co/kg, 0,04 g de Cu/kg, 0,004 g de I/kg, 0,135 g de Mn/kg, 2 g de S/kg, 0,17 g de Zn/kg.

Resultados e Discussão Os coeficientes de digestibilidade da MS, MO e PB aumentaram linearmente (P<0,01) estimando-se um aumento de 0,54, 0,50 e 2,02 respectivamente, para cada unidade percentual de proteína acrescida na dieta (Tabela 2). Possivelmente porque a maior participação do farelo de soja nas dietas para obter o nível de proteína desejada proporcionou aumento da quantidade de nutrientes digestíveis. O coeficiente de digestibilidade do EE também aumentou linearmente (P<0,05), com o acréscimo de 0,80 para cada unidade percentual de proteína. Avaliando-se a digestibilidade de FDNcp, observou-se comportamento quadrático (P<0,05). Isto pode ser compreendido pelo fato do consumo de MS ter influenciado, entretanto, não se obteve um modelo de equação ajustada adequadamente para esses dados uma vez que eles não foram influenciados pelos níveis de proteína na dieta e sim pelos teores de FDNcp das dietas experimentais que foram reduzindo conforme o feno de alfafa foi sendo substituído pelo farelo de soja. A digestibilidade dos CNFcp foi influenciada de forma linear (P<0,01) estimando aumento de 0,49 para cada unidade de proteína bruta adicionada à dieta. Pode-se observar que o aumento dos níveis de PB favoreceu a disponibilização de proteína degradável no rúmen para melhor utilização do esqueleto carbônico e da energia dos carboidratos para a devida fermentação. Os valores obtidos pra os nutrientes digestíveis totais foram afetados pelos níveis de PB das dietas (P<0,01), estimando-se aumento de 0,63 para cada unidade percentual de proteína adicionada à dieta. Alves (2009) afirmou que a diferença existente na digestibilidade da proteína bruta está condicionada à fonte de carboidratos não fibrosos utilizada. O que corrobora com Casper & Schingoethe (1989) que relataram que diferentes fontes e degradabilidades dos carboidratos não-estruturais nas rações, aumentam a síntese de proteína microbiana e a eficiência de utilização de proteína degradável no rúmen. Tabela 2 -

Digestibilidade (%) MS MO PB

Média dos quadrados mínimos e valores de probabilidade dos efeitos linear, quadrático e cúbico para os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca e dos nutrientes em função dos níveis de proteína bruta na dieta. Níveis de proteína bruta na dieta (% na MS) 10

13

16

19

77,7

80,5

82,1

83,9

79,1 61,0

81,5 73,1

83,1 77,8

84,9 84,1

EPM

Valor-P L

Q

C

1,52

0,00011

0,6497

0,7535

1,43

0,0001

2

0,7933

0,8219

0,0001

3

0,1879

0,3638

2,71

2


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EE

66,3

FDNcp CNFcp NDT

63,1 88,0 72,4

73,2 67,8 88,4 75,1

73,4 70,3 88,6 76,3

71,6 66,4 88,6 79,0

0,02474

0,2719

0,7939

2,77

0,1115

0,0184

5

0,5950

1,25

0,0010

6

0,2708

0,5602

0,0001

7

0,9951

0,6203

3,88

2,50

EPM = erro-padrão médio; L, Q e C: efeitos de ordem linear, quadrática e cúbica relativos ao nível de proteína na dieta; MS, matéria seca; MO, matéria orgânica; PB, proteína bruta; EE, extrato etéreo; FDNcp, fibra em detergente neutro isenta de cinza e proteína; CNFcp, carboidratos não fibrosos corrigidos para cinza e proteína; NDT, nutrientes digestíveis totais (g/100g de matéria seca). * (P<0,05) **(P<0,01) ***(P<0,001). 1 Ŷ= (75,0249±0,9557)*** + (0,5461±0,06422)X*** 2 Ŷ= (76,7539±1,1239)*** + (0,5033±0,07552) X*** 3 Ŷ= (48,4235±1,7779)*** + (2,0204±0,1195)X*** 4 Ŷ= (61,0010±5,0465)*** + (0,8017±0,3391)X* 5 Ŷ=70,16±0,6 6 Ŷ= (81,7027±2,0221)*** + (0,4943±0,1359)X*** 7 Ŷ= (67,0110±2,0573)*** + (0,6314±0,6314)X***

Conclusões A digestibilidade dos nutrientes e os teores de nutrientes digestíveis totais aumentaram com níveis superiores de proteína bruta. Recomenda-se a utilização de concentrado de proteína bruta de 13,5 até 15% na matéria seca de dietas constituídas por 80 % de concentrados peletizados compostos por farelo de soja em substituição ao feno de alfafa como fontes de proteína para cabras lactantes produzindo 2 kg de leite por dia. Agradecimentos Às Empresas, não divulgadas por sigilo industrial, pela colaboração e financiamento parcial na realização da pesquisa. Literatura citada ALVES, E. M. Farelo da vagem de algaroba associado a níveis de ureia na alimentação de ovinos. 2009, 58p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, 2009. CASALI, A.O.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Influência do tempo de incubação e do tratamento de partículas sobre os teores de compostos indigestíveis em alimentos e fezes bovinas obtidos por procedimento in situ. Revista Brasileira de Zootecnia. v,37, n.2, p.335-342, 2008. CASPER, D. P.; SCHINGOETHE, D. J. Lactational response of dairy cows to diets varying in ruminal solubilities of carbohydrate and crude protein. Journal of Dairy Science, v.72, n.2, p.928, 1989. LITTELL, R. C.; MILLIKEN, G. A.; STROUP, W. W. et al. SASÒ system for mixed models. Cary: SAS Institute Inc, 1996. 633p. MERTENS, D.R. Gravimetric determination of amylase-treated neutral detergent fiber in feeds with refluxing in beakers or crucibles: collaborative study. Journal of AOAC International, v.85, p.1217-1240, 2002. NRC-NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of dairy cattle. 7 ed. Washington: National Academy Press, 2006. 362p.

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____________________________________________________________ Produtividade de azevém anual submetidos a diferentes cortes e doses de nitrogênio visando o duplo-propósito Andriéli Hedlund Bandeira1, Liziany Müller2, Lineu Trindade Leal3, Sandro Luis Petter Medeiros4, Jean Cecchim Biondo4, Nayra Grazzieli da Silva4 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – UFSM, Santa Maria,RS, Brasil, Bolsista da Capes. e-mail: andrieli_hedlund@hotmail.com Centro de Ciências Rurais – Núcleo de Tecnologia Educacional – UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. e-mail: lizianym@hotmail.com 3 Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, Brasilia, DF, Brasil. e-mail: lineuleal@yahoo.com.br 4 Departamento de Fitotecnia – UFSM, Santa Maria, RS. e-mail:slpmedeiros@yahoo.com.br; jeanbiondo@hotmail.com;nayra.grazzieli@gmail.com 1 2

Resumo: Este trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade de matéria seca total, número de perfilhos férteis e o rendimento de sementes de azevém anual submetido a diferentes cortes e doses de nitrogênio visando o duplo-propósito. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com quatro blocos, sendo que os tratamentos foram constituídos por cinco doses de nitrogênio (0, 100, 200, 300 e 400 kg ha-1) e três cortes. As interações entre os fatores doses e cortes foram significativas (P<0,05) para a produção de massa de foragem total, perfilhos férteis e rendimento de sementes. A produção de massa de forragem total apresentou aumento linear em função do aumento das doses de nitrogênio e do número de cortes. Os maiores números de perfilhos foram verificados na dose de 400 Kg ha -¹. O maior rendimento se deu na dose de 200 kg ha-¹ sendo que as demais doses não apresentaram incremento em relação a essa dose. Os cortes minimizam o risco de acamamento e resultam em um maior rendimento de sementes. As variáveis estudadas são influenciadas principalmente pelos números de cortes e as doses de nitrogênio utilizadas.De forma geral, as variáveis estudadas são beneficiadas com o aumento das doses de nitrogênio, principalmente a matéria seca total e perfilhos férteis. Palavras-chave: Agricultura, Lolium multiflorum Lam., matéria seca, sementes, ureia Productivity annual ryegrass under different nitrogen rates and cuts aimed at the dual-purpose Abstract: This study aimed to assess the total dry matter yield, number of fertile tillers and seed yield of annual ryegrass under different nitrogen rates and cuts aimed at the dual-purpose. The experimental design was a randomized block design with four blocks, and the treatments consisted of five levels of nitrogen (0, 100, 200, 300 and 400 kg ha-1) and three cuts. The interactions between the factors cuts and doses were significant (P <0.05) for the mass production of forage total, fertile tillers and seed yield. The production of forage mass increased linearly with the increase of nitrogen rates and the number of cuts. The largest numbers of tillers were observed at a dose of 400 kg ha-¹. The highest yield was given at a dose of 200 kg ha-¹ doses while the others showed no increase compared to that dose. The cuts minimize the risk of lodging and result in a higher seed yield. The variables studied are mainly influenced by the numbers of cuts and nitrogen rates utilizadas.De Overall, the variables are benefited with increased nitrogen levels, especially the dry total and fertile tillers. Keywords: Agriculture, Lolium multiflorum Lam., dry matter, seed, urea Introdução O azevém anual (Lolium multiflorum Lam) caracteriza-se como a forrageira de clima temperado mais difundida no sul do país, sendo cultivada no Estado do Rio Grande do Sul como pastagem suplementar ao campo nativo. Em função da expansão da área plantada nos últimos anos, cresceu a demanda de sementes e seu preço vem se elevando gradativamente. Logo, a produção de sementes na propriedade conjuntamente com a produção de matéria seca resulta na diminuição dos custos de produção. Práticas de manejo como doses de nutrientes e números de cortes têm uma interferência direta no rendimento e na qualidade das sementes produzidas em sistemas que visam o duplo-propósito da cultura (massa de forragem e sementes). Estudos realizados por Jin et al (1996) e Padilla et al. (200) sobre a resposta da aplicação de nitrogênio (N) na produção de sementes demonstram que este nutriente aumenta de forma significativa os rendimentos, principalmente por aumentar o número de inflorescências e perfilhos por planta. Conforme Padilla et al. (2000) a desfolhação frequente de gramíneas durante o ciclo vegetativo aumenta a produção de espiguetas na época de floração, consequentemente, se esta prática estiver relacionada com a aplicação de adubos nitrogenados, é possível alcançar uma melhor sincronização na produção de sementes. De acordo com Carámbula (1967), a freqüência de corte adequada pode evitar o risco de acamamento das plantas ocasionado pela aplicação de doses elevadas de adubação nitrogenada, resultando, conseqüentemente, em uma alta produção de matéria seca e rendimento de sementes. O acamamento determina menor produção de inflorescências, pois provoca a morte de perfilhos produtivos e também restringe a polinização no momento da antese. Com base neste contexto, o trabalho teve por objetivo avaliar a produtividade de matéria seca total, número de perfilhos férteis e o rendimento de sementes de azevém anual submetido a diferentes cortes e doses de nitrogênio visando o duplopropósito. Material e Métodos O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Santa Maria no ano agrícola de 2009. O solo da área é uma transição entre a Unidade de Mapeamento Santa Maria e a Unidade de Mapeamento São Pedro. O clima do local segundo a classificação de Köeppen pertence ao tipo Cfa - clima subtropical úmido com verões quentes.

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____________________________________________________________ O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso, distribuídos em esquema fatorial 5x3 (doses de nitrogênio x número de cortes), contendo quatro blocos. Os tratamentos consistiram de diferentes doses de nitrogênio (0, 100, 200, 300 e 400 kg ha-¹ de N) e três cortes realizados antes do diferimento para a produção de sementes (um, dois e três cortes). A correção do pH da área e a adubação do solo, seguiu as recomendações da Comissão de Química e Fertilidade do Solo – RS/SC (2004). O experimento foi implantado em sistema convencional e a adubação de base foi efetuada na linha de semeadura com 225 kg ha -1 da formulação NPK 12-32-16. Aplicou-se 30 kg ha-1 de nitrogênio na base, o restante do nitrogênio foi aplicado em cobertura, parcelada em três aplicações, sendo uma aplicação no inicio do perfilhamento, perfilhamento pleno e inicio do emborrachamento. A semeadura do azevém (Lolium multiflorum Lam.) foi realizada dia 11 de maio de 2009, manualmente em cinco linhas espaçadas com 0,20 m, utilizando-se a densidade de 25 kg ha-1 de sementes, sendo este valor corrigido de acordo com a pureza e germinação das sementes. Cada unidade experimental foi composta por um canteiro com cinco fileiras de 4m de comprimento e espaçamento de 0,20 m entre fileiras, totalizando em cada parcela área de 4m2. Os cortes foram realizados quando a altura média do dossel de mais de 50% dos tratamentos atingiu 20 cm de altura. Esse monitoramento da altura do dossel foi realizado com o auxilio de uma régua, sendo avaliadas semanalmente e aleatoriamente cinco plantas por parcela, em cm, tomadas do nível do solo até a curvatura das folhas mais altas. O período desse monitoramento ocorreu da emergência até a data de 26 de julho, a partir do primeiro corte fixou-se o intervalo de aproximadamente três semanas para a realização dos demais cortes. Assim o primeiro corte ocorreu na data de 26 de julho, que correspondeu há 77 dias após a semeadura, posteriormente o segundo corte foi realizado aos 23 dias após o primeiro corte (18/08) e o terceiro corte ocorreu 22 dias após o segundo corte (09/09/09). A determinação da matéria seca foi realizada a partir das amostras colhidas manualmente (duas repetições por parcelas), por meio de tesouras apropriadas, a oito centímetros acima do nível do solo, com auxilio de uma moldura de ferro de 0,5 m x 0,5 m. Posteriormente, as amostras foram pesadas para a obtenção da matéria fresca e à estufa de ventilação forçada, com temperatura de aproximadamente 65ºC até atingirem massa constante (aproximadamente 72 h). As amostras da massa da forragem total foram moídas em moinho tipo Willey, com peneira de malha de 1 mm. Para determinação do rendimento de sementes foi realizada uma amostragem de 0,5 x 0,5 m, no ponto da maturação fisiológica das sementes, posteriormente foi realizada a secagem em temperatura ambiente e debulha manual para determinação do rendimento de sementes, através da massa, kg, da produção total de sementes por hectare, e para a realização da contagem do número de perfilhos férteis (pela contagem do número de espiga total por m2). Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância, através do programa SAS, sendo as médias das variáveis quantitativas submetidas à análise de regressão. Resultados e Discussão As interações duplas entre os fatores doses e cortes foram significativas (P<0,05) para a produção de massa de foragem total (MF), perfilhos férteis e rendimento de sementes. A produção de massa de forragem total (MS) apresentou aumento linear em função do aumento das doses de nitrogênio e do número de cortes (Figura 1 a). Para os cortes dois e três a produção de MF total apresentou comportamento linear crescente, sendo que para cada kg de nitrogênio aplicado houve um incremento de 6,9 e 2,5 kg MS ha -1, respectivamente para os cortes dois e três. Já para um corte o comportamento foi quadrático, com ponto de máxima de 375,68 kg ha -1 com a aplicação de 200 kg ha-1 de N. Alvim & Moojen (1984) estudando os efeitos e doses de nitrogênio no manejo da produção e qualidade de azevém anual concluíram que incrementos nas doses de nitrogênio provocam aumentos nas produções de matéria seca, diminuição da eficiência e da recuperação do nitrogênio do solo pela planta, corroborando com o resultado dos cortes dois e três. Os cortes e aplicação de N favoreceram a produção de perfilhos férteis na pastagem, sendo que os maiores números de perfilhos foram verificados na dose de 400 Kg ha -¹ (Figura 1 b). Para a dose de 0 kg ha-1 o maior número de perfilhos férteis foi obtido no sem corte (1104 perfilhos) e o menor com o regime de três cortes (941 perfilhos). Trabalhando com a mesma espécie, submetida a quatro épocas de diferimento de pastejo, Young et al. (1996) obtiveram aumento da população de perfilhos férteis com até dois cortes, pois com três cortes foi verificado redução de perfilhos férteis na população devido a remoção dos meristemas apicais de crescimento, dos perfilhos vegetativos, especialmente dos mais velhos, resultando na morte prematura de um número importante de perfilhos férteis, ocasionando, conseqüentemente, uma redução do rendimento de sementes devido aos cortes. O tratamento correspondente ao sem corte obteve o menor número de perfilhos férteis em todas as doses nitrogenadas, exceto na dose testemunha que o menor número de perfilhos foi obtido com três cortes (Figura 1 b). Segundo, Young et al. (1996b), o menor número de perfilhos férteis nos tratamentos sem corte pode ser atribuída pela maior competição entre as plantas pela alta produção de perfilhos vegetativos de maior altura e conseqüentemente ao acamamento. O acamamento tem sido indicado como sendo o fator mais limitante à expressão dos perfilhos férteis e rendimento de sementes em azevém. Avaliando a adubação nitrogenada (Figura 1 c) pode-se observar que o maior rendimento se deu na dose de 200 kg ha-¹ sendo que as demais doses não apresentaram incremento em relação a essa. Essa resposta corrobora com diversos autores, que encontraram respostas positivas a aplicações de N entre doses de 60 a 130kg ha-¹, em gramíneas temperadas (YOUNG et al., 1996; AHRENS & OLIVEIRA, 1997). A utilização de um corte aumentou a produtividade de sementes em relação ao tratamento sem corte em todas as doses de adubação nitrogenada testada devido à diminuição do acamamento da cultura no final de ciclo, que resulta em morte precoce de perfilhos e perda de sementes por debulha natural. Medeiros & Nabinger (2001) também observaram que a utilização de um corte aumenta o rendimento real de sementes, justificado pela maior eficiência de utilização dos sítios de produção, favorecida pela redução de estatura das plantas e o retardamento do acamamento.

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Figura 1. Matéria seca total (a), perfilhos férteis (b) e rendimento de sementes (c), em função das diferentes doses de nitrogênio e o número de cortes da pastagem de azevém anual. Conclusões As variáveis estudadas são influenciadas principalmente pelos números de cortes e as doses de nitrogênio utilizadas. O maior número de cortes na pastagem de azevém promove maior produção de matéria seca total (sem perder qualidade) e número de perfilhos férteis. Já para rendimento de sementes houve uma redução. De forma geral, as variáveis estudadas são beneficiadas com o aumento das doses de nitrogênio, principalmente a matéria seca total e perfilhos férteis. Literatura citada AHRENS, D.C.; OLIVEIRA, J.C. Efeitos do manejo do azevém-anual (Lolium multiflorum Lam.) na produção de sementes. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.19, n.1, p.41-47, 1997. ALVIM, M.J.; MOOJEN, E.L. Efeitos de níveis de nitrogênio, mistura de gramíneas com leguminosas e práticas de manejo sobre a produção de sementes de L. multiflorum Lam., Lotus corniculatus L. e Trifolium repens L. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa. v.12, n.1, p.72-85. 1984. CARAMBULA, M. Producción de semillas de plantas forrajeras. Montevideu: Hemisfério Sur, 1967. 518 p. JIN, Q.F.; ROWARTH, J.S.; SCOTT, W.R. & SEDCOLE, J.R. A study of nitrogen use in a browtop (Agrostis capillaris L.) seed crop. Journal of Applied Seed Production, Palmerston North, v.14, p.31-39, 1996. MEDEIROS, R.B.; NABINGER, C. Rendimento de sementes e forragem de azevém anual em resposta a dose de nitrogênio e regimes de corte. Revista Brasileira de Sementes, v. 23, n. 2, p. 245-254, 2001. PADILLA, C; CRESPO, G. J; RUIZ, T. R. Renovación, recuperación y vida útil de los pastizales. Taller 35 Aniversario del Instituto de Ciência Animal, La Habana, Cuba. 59p. 2000. YOUNG, W.C.III; CHILCOTE, D.O. & YOUNGBERG, H.Y. Annual ryegrass seed yield response to grazing during early stem elongation. Agronomy Journal, Madison, v.88, n.1, p.211-215, 1996a. YOUNG, W.C.III; YOUNGBERG, H.Y. & CHILCOTE, D.O. Spring nitrogen rate and timing influence on seed yield components of perennial ryegrass. Agronomy Journal, Madison, v.88, n.4, p.947-951, 1996b.

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____________________________________________________________ Composição Bromatológica de plantas de ocorrência no Cerrado com potencial forrageiro: famílias Amaranthaceae, Boraginaceae, Comelinaceae e Convolvulaceae Jamara Marques Jácome2, Danilo Gusmão de Quadros3, Alexandro Pereira Andrade4, Áurea Xavier da Silva2, Guilherme Augusto Vieira5 1

Trabalho de Iniciação Científica, com bolsa do CNPq e Fapesb Graduando do Curso Engenharia Agronômica da UNEB/Barreiras, BA. E-mail: jamara.jacome@hotmail.com Núcleo de Estudo e Pesquisa em Produção Animal – UNEB, Barreiras, BA. E-mail: uneb_neppa@yahoo.com.br 4 Doutorando em Zootecnia, UESB – Itapetinga/BA. Bolsista Fapesb. E-mail: alexandro_andrade@hotmail.com 5 UNIME/QUALYAGRO. Doutorando na UFBA. 2 3

Chemical composition of plants occurring in the Brazilian savannas with forage potential: families Amaranthaceae, Boraginaceae, Convolvulaceae and Comelinaceae Abstract: The aim of this study was to analyze the bromatological dicotyledonous plants occurring in the Brazilian savannas in Bahia State, evaluate the families: Amaranthaceae, Boraginaceae, Convolvulaceae and Comelinaceae. The experiment was conducted in six municipalities in the Western region of Bahia, and analyzes were made at the Animal Nutrition Lab of UNEB, campus-IX Barreiras-BA, Brazil. The plants used were: Amaranthaceae - Alternanthera ficoideae (quebra-tigela), Alternanthera brasiliana (quebra-tigela), Amaranthus deflexus L.(cariru); Boraginaceae - Memora peregrina (ciganinha), Cordia spp (grão de galo).; Comelinaceae - Comelina spp.(trapoeirava), Gibasis geniculata (trapoeirava); Convolvulaceae - Ipomoea purpurea (jitirana), Merremia cissoides (jitirana), Ipomea aristolochiaefolia (jitirana) and Ipomoea nil (L.) Roth. (jitirana), which were submitted to analyzes of dry matter (DM), mineral matter (MM), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF) and crude protein (CP). For data analysis was using descriptive statistics. The dry matter content was range from 10.1% to 25.3%. The MM ranged from 6.1% to 22.7%. The NDF and ADF ranged between 40.7 and 60.5 and 22.0% and 56% respectively. The crude protein ranged between 7.6 and 25.5% of DM with higher values for cariru. Although the species analyzed in this study presented satisfactory values of crude protein, crude fiber values presented are high, thus necessitating further analyzes to complement the present study observed that these levels will interfere the intake of dry matter. Keywords: analysis, fiber, native Introdução O bioma cerrado está localizado basicamente no planalto central do Brasil e é o segundo maior bioma do país em área, apenas superado pela floresta Amazônica (Ribeiro e Walter, 1998). Segundo Moreira e Neto (2009), esse bioma possui uma flora bastante vasta, com diversas espécies identificadas sendo necessários estudos voltados para a identificação de plantas potencialmente úteis do cerrado, principalmente quando comparada à diversidade e à área ocupada. É preciso considerar que os recursos vegetais encontrados neste bioma, uma vez extintos, estarão indisponíveis às futuras gerações. Muitas espécies nativas do cerrado possuem potencial forrageiro e por serem bem resistentes, elas persistem na natureza em longos períodos de seca, podendo ser utilizada como alimentação para os bovinos. Estudos sobre a composição nutricional de espécies da Família Fabaceae com ocorrência nos cerrados são necessários, tendo em vista que estas são utilizadas em uma escala considerável para alimentação de bovinos na região. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi analisar bromatologicamente dicotiledôneas ocorrentes no cerrado baiano das famílias: Amaranthaceae, Boraginaceae, Comelinaceae e Convolvulaceae. Material e Métodos O trabalho foi realizado na região oeste da Bahia, área típica do cerrado, ocorrendo em alguns municípios áreas de transição com a caatinga. Os municípios de coleta foram: Angical, Barreiras, Riachão das Neves, Santa Rita de Cássia, São Desidério e Wanderley. O experimento foi conduzido nos anos de 2009/2011 e dividido em três etapas: coleta, identificação das plantas e análises bromatológicas. Através de questionário aplicado a vaqueiros, experientes em relação às pastagens naturais de cerrado, foi possível identificar quais espécies eram consumidas por bovinos e com um paquímetro foi feito a medição dos ramos com 5 mm para coleta. Foram coletas onze espécies distribuídas em quatro famílias para serem identificadas e analisadas, sendo estas Amaranthaceae, Alternanthera ficoideae (quebra-tigela), Alternanthera brasiliana (quebra-tigela), Amaranthus deflexus L.(cariru); Boraginaceae, Memora peregrina (ciganinha), Cordia spp (grão de galo).; Comelinaceae, Comelina spp.(trapoeirava), Gibasis geniculata (trapoeirava); Convolvulaceae, Ipomoea purpúrea (jitirana), Merremia cissoides (jitirana), Ipomea aristolochiaefolia (jitirana) e Ipomoea nil (L.) Roth (jitirana). Estas foram transportadas em sacos de papel jornal ao laboratório da Universidade do Estado da Bahia onde foram présecas a 65º C ±5, moídas em moinho tipo Willey e acondicionadas em embalagens de plástico para posteriores análises. Os parâmetros avaliados foram: o teor de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em

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____________________________________________________________ detergente ácido (FDA) e proteína bruta (PB). Para obtenção da MS foi utilizada estufa a 65º C ±5 por 48 horas aproximadamente, depois de moídas, foram levadas à estufa a 105ºC, e determinado os valores de acordo com Silva e Queiroz (2006). O valor da material mineral foi obtido em forno tipo mulfla a 600ºC. Os teores de fibra (FDN e FDA) foram determinados pelo método de Van Soest descrito por Silva e Queiroz (2006), usando o determinador de fibra da Tecnal, usando sacos de TNT gramatura 100 g/m2, selados. Para determinação da Proteína Bruta foi utilizado o método Kjeldahl, utilizando-se microtubos. Os dados foram analisados no programa EXCEL, onde foram tiradas as médias e em seguida os dados foram submetidos à estatística descritiva no programa ASSISTAT. Resultados e Discussão Os teores de matéria seca das espécies coletadas apresentaram valores relativamente baixos (Tabela 1). A espécie Cordia spp. (grão de galo), foi a que apresentou uma maior perda de água durante o processo de secagem, resultando num valor de 39,9% de MS, seus frutos são bem apreciados quando secos, mas quando verde podem vir a perfurar o rúmen do animal. Na tabela 1 podemos observar os teores de MS nas espécies Memora peregrina, Ipomea Aristolochiaefolia, Ipomoea nil (L.) Roth, Alternanthera ficoidea, Amaranthus deflexus L., Ipomoea purpurea, Comelina spp., Alternanthera brasiliana, Merremia cissoides e Gibasis geniculata. Segundo Linhares et.al. (2005), apesar do baixo percentual de matéria seca, na jitirana (Merremia cissoides) os percentuais de PB, resíduo mineral e extrato etéreo além da produção de massa verde credenciam essa espécie como uma boa forrageira. Tabela 1. Teores de matéria seca, matéria mineral, matéria orgânica, fibra, Hemicelulose e proteína em espécies coletadas em áreas de Cerrado encontradas em municípios do Oeste da Bahia. ESPÉCIES

MS %

MM%

AMARANTHACEAE Alternanthera ficoideae 20,9 17,2 Alternanthera brasiliana 17,0 16,2 Amaranthus deflexus L. 20,4 18,6 BORAGINACEAE Memora peregrina 33,4 7,2 Cordia spp. 39,9 16,8 COMELINACEAE Comelina spp. 18,3 22,0 Gibasis geniculata 10,1 22,7 CONVOLVULACEAE Ipomoea purpúrea 19,5 6,7 Merremia cissoides 12,3 17,8 Ipomea 25,3 6,1 Aristolochiaefolia Ipomoea nil (L.) Roth 22,1 6,7 Média± EP1 21,7±2,6 14,4±1,9 Desvio padrão 8,6 6,4 EP1 = erro padrão da média; Hemi2 = Hemicelulose

MO%

FDN%

FDA%

82,9 83,8 81,5

47,9 50,9 40,7

92,9 83,2

2

Hemi%

PB%

28,0 36,7 22,0

19,9 14,2 18,7

17,0 17,7 25,5

54,1 60,5

38,8 56,4

15,2 4,1

19,4 13,3

78,0 77,3

48,2 53,1

33,1 39,9

15,2 14,2

22,2 22,0

93,4 82,2

54,3 54,0

39,3 37,8

15,0 16,2

11,5 17,0

93,9

47,6

28,6

19,0

7,6

93,3 85,7±1,9 6,4

44,2 50,5±1,7 5,5

26,6 35,4±2,8 9,2

17,6 15,4±1,3 4,2

10,3 16,7±1,7 5,6

Os teores de proteína bruta foram relativamente boms apresentando valores superiores ao do capim Marandu, de acordo com tabela de composição da NRC (1996), na época da seca quanto na das águas, com valores de 4 e 9% na MS, respectivamente, sendo o melhor valor de PB bruta na MS foi encontrado em Amaranthus deflexus (Cariru) com 25,5% e o menor valor em Ipomea aristolochiaefolia (Jitirana) com 7,6%. Os maiores valores foram encontrados em espécies da família Comelinaceae e Amarantaceae. As outras espécies apresentaram-se com valores intermediários sendo teores satisfatórios para alimentação de bovinos. Quantos aos valores de FDN e FDA, o maior valor foi encontrado em Cordia spp., grão de galo (40,7% e 56,4%) e o menor em Amaranthus deflexus, cariru (40,7% e 22%) respectivamente, sendo que as outras espécies apresentaram valores intermediários. Os teores de MM mais satisfatórios foram encontrados na família Convolvulaceae, nas espécies, Ipomoea aristochiaefolia (6,1%), Ipomoea nil (L.) Roth (6,7%), Ipomoea purpurea (6,7%) todas as jitiranas. O maior teor foi encontrado na trapoeirava (Gibasis geniculata) com um teor de 22,7% correspondendo a um teor de 77,3% de MO. Esses elevados valores podem acontecer devido à presença de outros elementos. Segundo Cecchi (2001), os elementos minerais nas cinzas sob a forma de óxidos, sulfatos, fosfatos, silicatos e cloretos, dependendo das condições de incineração e da composição do alimento, podem sofrer modificações. Desta forma é necessária a realização de outras análises para obtenção da cinza, por exemplo, cinzas insolúveis em ácidos, pois

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AGROPEC BAHIA 2012 A Agropecuária so Século XXI Salvador – BA, 18 a 19 de Setembro de 2012

____________________________________________________________ pode ter havido a presença de outro elemento não esperado no processo, sendo necessárias também outras análises para obtenção dos componentes separadamente. Conclusões Apesar das espécies analisadas no presente trabalho apresentarem valores satisfatórios de proteína bruta, os valores de fibra apresentaram-se altos, sendo necessária assim a realização de outras análises para complementar o presente estudo observando se esses teores virão a interferir na ingestão da matéria seca. Literatura citada CECCHI, H. M. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. 212 p. LINHARES, P.C.F.; MARACAJÁ, P.B.; SOUZA, A.H. 2005. Avaliação das qualidades forrageiras de jitirana (Merremia aegyptia) e seu potencial uso na alimentação animal. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v.5, n.2, p. MOREIRA, D.L. e NETO, G.G. Usos Múltiplos de Plantas Do Cerrado: um Estudo etnobotânico na Comunidade Sítio Pindura, Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil, 2009. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient Requeriments of Beef Cattle. Washington, D.C. National Academy of Sciences, 7 ed., 242 p., 1996. RIBEIRO, J.F. & WALTER, B.M.T. “Fitofisionomias do bioma cerrado”. In Sano, S.M. & Almeida, S.P. Cerrado: Ambiente e flora. Planaltina (DF): Embrapa.-CPAC, 1998. p.47-85. SILVA, D.J ; QUEIROZ, A.C. Análise de Alimentos - Métodos Químicos e Biológicos, 3 ed., UFV, 2006. 235 p.

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