escola jamais Regra: O pior aluno da quirir este lê livros. O fato de ada que você está exemplar já demonstr e até com essa disposto a ser rebeld o é um pirata que regra, pois o pior alun pelos mares navega destemidamente luído chamado da chatice do oceano po “escola”.
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Manual completo, ilustrado, revisado e nテ」o recomendado para estudantes
ACORDO ORTOGRテ:ICO
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© 2009 Danilo Gentili Diretor editorial Coordenadora editorial Assistente editorial Assistente de arte
Marcelo Duarte Tatiana Fulas Karina Danza Juliana Amato Fernanda Pedroni
Projeto gráfico e diagramação
Ana Miadaira
Ilustração
Danilo Gentili Moa
Fotos do autor
Carol do Valle
Colaboração Preparação Revisão
Juliana de Faria Tory Oliveira Alessandra Miranda de Sá Telma Baeza G. Dias Ana Maria Barbosa
cip – brasil. catalogação na fonte sindicato nacional dos editores de livros, rj G295c Gentili, Danilo Como se tornar o pior aluno da escola: manual completo, ilustrado, revisado e não recomendado para estudantes / Danilo Gentili. – São Paulo: Panda Books, 2009. 168 pp. ISBN 978-85-7888-034-7 1. Livro para adulto. 2. Humor. I. Título
09-4744.
CDD: 028.5 CDU: 087.5
2010 Todos os direitos reservados à Panda Books Um selo da Editora Original Ltda. Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 – São Paulo – SP Tel. / Fax: (11) 2628-1323 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br
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Gostaria de dedicar este livro a todos os professores e mestres que, ao longo da minha vida, acreditaram em mim...
‌ mas mesmo se esses caras existissem, acho que não aprovariam tal livro.
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matrícula ... 8 rematrícula! ... 15 Liçao nº 1: Colar na prova ... 17 Liçao nº 2: Entregar a prova em branco ... 25 Liçao nº 3: Tirar nota baixa ... 29 Liçao nº 4: Copiar o trabalho da internet ... 33 Liçao nº 5: Fazer o trabalho um dia antes da entrega ... 37
Liçao nº 6: Nao estudar ... 41 Liçao nº 7: Nao fazer o dever de casa ...44 Liçao nº 8: Chegar atrasado à escola ... 50 Liçao nº 9: Dormir na sala de aula ... 55 Liçao nº 10: Matar aula ... 61 Liçao nº 11: Criar uma doença convincente ... 67 Liçao nº 12: Nao participar da aula ... 70 Liçao nº 13: Fazer bagunça na sala ... 73
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Liçao nº 14: Visitar a diretoria ... 78 Liçao nº 15: Nao ajudar os colegas ... 95 Liçao nº 16: Colocar apelidos nos colegas ... 99 Liçao nº 17: Jogar a culpa no outro ... 104 Liçao nº 18: Brigar com os colegas ... 107 Liçao nº 19: Pegadinhas com os
funcionários da escola ... 112
Liçao nº 20: Espalhar fofoca na escola ... 118 Liçao nº 21: Manter uma dieta nao saudável ... 121 Liçao nº 22: Nao zelar pelo material escolar ... 126 Liçao nº 23: Nao ler livros ... 130 Formatura ... 132 Uma carreira brilhante pela frente
... 135
o grande livro dos pequenos planos
... 139
O autor ... 167
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A escola exige que todos os seus alunos se comportem como os grandes gênios da humanidade. Ela quer que você estude o tempo todo como Isaac Newton, que forneça respostas corretas como Albert Einstein, e que fique quietinho em sua cadeira como Stephen Hawking.
Calça borrada!
Faça silêncio na sala de aula! se o U rme unifo ado! alinh e r o Parabéns! Deocda a Você tirou uma t éria! nota azul! mat
Rabo entre as pernas!
Isso não lembra algo?
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se! DeiteFinja-se de morto! Role!
Parabéns! Você ganhou um biscoitinho!
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! ma
ns! hou um nho!
A diferença entre um cão treinado e o melhor aluno da escola é que, se o segundo cheirar o traseiro das coleguinhas, será suspenso.
o:
Resumind
Ser o melhor aluno da escola é para os fracos.
O pior aluno da escola não quer uma estrelinha de bom menino em sua roupa. Ele sabe que quem usa estrela é xerife, e enquanto o xerife só quer pegar marmanjo para levar para a cadeia, o caubói fora da lei pega a mulherada para levar para casa.
(a) Um milionário que conseguiu ter sua mansão e seu
carrão, mas que anda sempre com a cara fechada porque está preocupado com as suas obrigações; e que ajuda todo mundo e mesmo assim ainda tem de lidar com os boatos homossexuais que inventam a seu respeito.
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(b) O cara que faz o que quer, à hora que quer, e está 24 horas por dia com um sorriso estampado no rosto.
Se você assinalou a alternativa B, parabéns! Você prefere ser o Coringa do que o Batman! Esse é o primeiro passo para se tornar o pior aluno da escola. aguenta emplar x e 0 a t nte no s O estuda rulha do te a pat n e m a v bra niçoes, ra as pu t e l e d os, tira s mais certinh roféus a t e d a l sua sa soes e terá em s, suspen ia c n ê t adver io, e se variadas o colég n u o n a que af s objetos a para a ma lend u á r a n es. tor escolar eraçoes g s a im próx
A base disso tudo não é a desobediência, e sim a constatação:
Por que devo obedecer? Essa é a única forma de propagar o caos, desafiar os limites e quebrar as regras sem se quebrar. Digo isso 10
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porque algumas regras não devem ser questionadas. Uma delas é: “Não pule da janela da classe se ela ficar no terceiro andar”. Já quebrei essa regra uma vez. E as duas pernas junto com ela.
Mas algumas regras devem ser questionadas pelo simples prazer de desobedecê-las.
por que devo me stir igual aos outros alve un se não sou igual a elesos ?
o por que não poss n o vr consultar o li se elae hora da prova, isso? foi escrito para
por que não posso colo car uma bara cueca do professor, se aquilo se assemtaelna ha ao habitat natural da bichinha? 11
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Você está preparado para se tornar o pior aluno que a escola já viu? Para se matricular neste curso intensivo, prove que está disposto a desobedecer agora e fazer algo que toda escola reprova: rasgar um livro! Isso mesmo!
ro ue Que ente q A! EÇ m les OBED p m si DES A! R ê voc AGO
Iracema, de trecho de um ém t n o A! folha c e RASGÁ-L A próxima rrancá-la a ve de ê c ncar. Vo José de Ale 12
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DANILO GENTILI
Sou chato e sem graça. Mesmo assim, às vezes, dá para se sair melhor que muito palhaço por aí. Talvez seja porque os comediantes felizes não têm a menor graça. Os bons mesmo são os descontentes e atormentados, para quem a comédia é um meio de reorganizar a insignificância, a crueldade e a tolice desse mundo. Não vou mentir pra você. Sou pobre, não faço academia e até o momento fracassei. Nesse mundo de aparências sou Politicamente Incorreto.
sei de nada.” “Não li o livro, não
Não fumo, não bebo e não uso drogas. Nesse mundo de inversões de valores sou considerado Politicamente Incorreto.
.” isso aqui, abestado r le a pr is fa o m co “Num çei
Tudo que tenho é o meu pensamento. Nesse mundo, onde uma bunda vale mais do que mil cérebros, sou Politicamente Incorreto. Dificilmente farei algo para que você pense que sou quem você gostaria que eu fosse. Nesse mundo, onde cada um quer ser Politicamente Correto dentro de sua tribo e do seu partido, sou Politicamente Incorreto, pois nem tribo ou partido eu tenho. Danilo Gentili
Deputado Tiririca
como é ra ter uma ideia de “Livro péssimo! Pa i.” e eu mesmo escrev qu ro liv um r le ro ruim, prefi ey Senador José Sarn
s.” de direita e burguê “Texto reacionário, Militante do PT
ensioso e enco “Texto pobre, pret pela oposição.”
mendado
Militante do PSDB
Danilo à falência, “Este livro levou ação me rendeu mas em compens muito dinheiro.” do do Danilo Alexandre, advoga
POLITICAMENTE INCORRRETO
Não omito o que penso ou o que acho. Nesse mundo de médias e mentiras sou Politicamente Incorreto.
Presidente Lula
COMO NASCEU ESTE LIVRO A ideia foi escrever um show para ser transmitido ao vivo para quem quisesse assisti-lo nas vésperas das eleições. O único veículo massivo que proporcionaria tal liberdade era a internet. Então, em uma tacada só, teríamos duas coisas inéditas: um stand-up comedy brasileiro 100% sobre política, com transmissão ao vivo pela UOL. Acredito que o fato de isso acontecer na antevéspera da eleição tornou tudo mais especial. E mais difícil também! Tive poucas semanas para escrever um show inteiro. Recebia e-mails de seguidores no Twitter e os amigos comediantes sugeriam ideias, temas e mandavam piadas prontas. Segundos antes de a cortina abrir, eu estava lá atrás riscando e acrescentando novas piadas. O show, que eu pensava ter 30 minutos, durou três vezes mais, e ainda ficaram piadas de fora, o que me deixou amargurado por tê-las esquecido na hora. Mas, agora, todas as piadas estão aqui neste livro, o que diminuiu muito a minha amargura. No final, foi um recorde. Mais de 1,2 milhão de computadores estavam ligados para assistir ao show ao vivo. O show foi parar no TT World do Twitter durante toda a sua transmissão nas três primeiras colocações, ganhando até uma página oficial do site explicando em inglês o que era o evento. Mais de 72 horas depois, em plena eleição, o show continuava no TTbr e hoje eu sou proibido de me hospedar em alguns hotéis em Brasília, dos quais Paulo Octávio é dono. Daqui a quatro anos, se eu ainda existir na face da terra e na lembrança de vocês, prometo um show mais politicamente incorreto ainda. E outro livro também!
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© 2010 Danilo Gentili Diretor editorial Marcelo Duarte Coordenadora editorial Tatiana Fulas Assistente editorial Vanessa Sayuri Sawada Juliana Paula de Souza Assistente de arte Alex Yamaki Capa e projeto gráfico Alex Yamaki Preparação Beatriz de Freitas Moreira Revisão Telma Baeza Impressão Loyola CIP – Brasil. Catalogação na fonte Sindicato nacional dos editores de livros, RJ G295p Gentili, Danilo Politicamente incorreto/ Danilo Gentili. - São Paulo: Panda Books, 2010. 112 pp. il. ISBN 978-85-7888-087-3 1. Políticos – Humor, sátira, etc. 2. Partidos políticos – Humor, sátira, etc. 3. Eleições – Humor, sátira, etc. 4. Humorismo brasileiro. I. Título. 10-5903
CDD: 869.97 CDU: 821.134.3(81)-7
2010 Todos os direitos reservados à Panda Books Um selo da Editora Original Ltda. Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 – São Paulo – SP Tel./ Fax: (11) 3088-8444 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br twitter.com/pandabooks blog.pandabooks.com.br Visite também nossa página no Facebook e no Orkut.
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Dedico este livro a todos os eleitores do Brasil. Se vocês não escolhessem tão errado, eu não ganharia toda essa grana com este livro. Este é um livro de humor. Qualquer semelhança com fatos, pessoas, falcatruas ou escândalos reais terá sido mera piada.
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Agradecimentos
Agradeço aos meus seguidores no Twitter, que se empolgaram com a ideia, foram conferir no teatro e ao vivo na internet, e até mesmo sugeriram temas e piadas por e-mail. Claro, não poderia deixar de fora comediantes geniais como o Victor Leal, a quem sou muito grato. Ele mandou ideias e pérolas prontas! Tive também amigos que me aguentaram no MSN lendo e sugerindo coisas novas. Posso citar alguns aqui? Rogerio Morgado, Patrick Maia, Mhel Marrer, Marcos Castro, Thiagones, Alexandre Paim... Houve pessoas que se envolveram de outra forma, como a Karina Santiago com suas fotos, Ítalo Gusso na retaguarda de tudo, Jorge Giral na produção local, Marcio Ribeiro e Alex Baldin. E, claro, um abraço especial à Priscila Gomes e à turma do UOL, que foram malucos o suficiente para comprar a ideia, transmiti-la, e, ainda por cima, não escrever meu sobrenome com “e” no final (Gentile), como todo mundo costuma fazer.
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Sumário Início................................................................................... 13 Dilma................................................................................... 17 Serra................................................................................... 23 Plínio................................................................................... 29 Marina................................................................................. 33 Brasília................................................................................ 37 Câmara e Senado................................................................. 43 Sarney................................................................................. 49 Políticos de Brasília.............................................................. 53 Censura............................................................................... 57 Serviço público.................................................................... 61 Direita e esquerda................................................................ 65 Partidos............................................................................... 67 Lula apoia Collor e Sarney.................................................... 73 Lula e o Proálcool................................................................ 77 Popularidade de Lula e escândalos....................................... 81 Multa do voto obrigatório..................................................... 85 Urna eletrônica..................................................................... 87 Campanha........................................................................... 93 Como pedir votos................................................................. 95 Filme do Lula....................................................................... 97 Subcelebridades nas eleições............................................... 101 Fim...................................................................................... 107 Bibliografia básica dos políticos........................................... 109
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Lá pelo longínquo ano de 1822, quando d. Pedro, às margens do Ipiranga, proclamou seu famoso “independência ou morte”, foi instaurada a Monarquia brasileira, da qual o próprio d. Pedro era a figura máxima: o imperador. Dizem que o príncipe sofria, naquele dia, de uma forte diarreia. Eu diria que foi um presságio: que futuro brilhante pode ter o país que nasce na merda? 11
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INÍCIO
Prometi que este seria um livro muito engraçado. Vocês o compraram porque acreditaram em mim. No final, vocês vão fechá-lo decepcionados e eu vou para a minha casa com o dinheiro de vocês. Sim, este livro tem mesmo tudo a ver com política. Na real, acabei de mentir. Eu posso fazer isso. É sobre política, lembra? Eu não ficarei com um só centavo deste livro. Nada! Toda a renda será doada para a família do Alexandre. Alexandre é o meu advogado. Eles é que vão ficar com toda a grana quando isso acabar. Eu estou com tantos processos nas costas que quando passo o Visa na maquininha não aparece escrito “Processando...”, aparece apenas “De novo, hein?...”. 13
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POLITICAMENTE INCORRETO
Deixa só eu avisar para quem quiser me processar que doei todos os meus bens para minha mãe. Ou seja, legalmente não tenho nada para pagar indenização a ninguém. E nem sei se isso me garante alguma coisa, pois minha mãe é igual a esses políticos que me processam: com ela o dinheiro também sempre acaba na cueca... do bombeiro do Clube das Mulheres.
Bom... Vou me apresentar direito.
Eu saí do ABC paulista
e vivo indo para Brasília
falar um monte de merda diante de um monte de gente. Eu tenho ou não tenho tudo a ver com o presidente?
Eu, Lula, Geisy Arruda... Como esperavam que fosse a nata intelectual de uma região que só vai até a terceira letra do alfabeto? Pense de novo. Eu, Lula, Geisy Arruda. Sério. Vocês deviam votar no presidente que prometer jogar uma bomba no ABC antes que mais alguma coisa saia de lá. Deixe eu explicar uma coisa antes de começar. Não é porque eu acho o PT hipócrita que sou um enviado do 14
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PSDB, não é porque eu acho o PSDB ridículo que sou um militante do PT, não é porque eu acho o Netinho de Paula escroto que odeio boxe. Só quero deixar claro que esse conteúdo não foi escrito para os petistas. Eles não entenderiam nem um terço das piadas. Também não foi escrito para os tucanos. Para esses eu não passo de um comediante barato, já que meu ingresso nem cobrado em dólar é. Ouvi falar que o pessoal do DEM ia comprar o livro, mas, quando descobriu que o PSDB não comprou, mudou de ideia. O pessoal do PMDB vai esperar todo mundo ler. Se a maioria gostar, eles riem. Se a maioria não gostar, me processam. Na real mesmo, acho que quem vai gostar deste livro é o pessoal do PV. Com o que eles fumam acho que são os únicos que vão rir desta merda aqui. E tem ainda as páginas com ótimo acabamento que podem ser “recicladas” por eles para outros “fins”.
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DILMA
A Dilma Rousseff é a primeira presidente mulher do Brasil. E ela se esforçou muito para isso. Para ser mulher. O Brasil que tanto quis ter uma presidente mulher está feliz, pois ficou bem próximo disso. Tem agora alguém no poder pra fazer suavemente essa transição. O Lula disse que não vai ficar dando pitaco no governo da Dilma, a não ser que a Dilma peça. Na boa, você acha que ela é louca de pedir? Se o cara não via nada no próprio governo como verá no governo dos outros? O bom de termos uma mulher na Presidência é que o país sempre estará em movimento. Estacionar o país é que ela não vai.
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POLITICAMENTE INCORRETO
Fico imaginando a conversa que o Lula e a Dilma tiveram antes da eleição. Ela deve ter dito: “Se você me fizer ganhar a eleição, Lula, eu te dou qualquer coisa!”. E acho que o Lula deve ter respondido: “Não se preocupa em pagar nada, Dilma. Eu bebo, mas também não é assim como dizem”. NÃO SEI SE A DILMA ESTÁ PREPARADA PARA SER LÍDER DO PAÍS,
MAS COM AQUELE CABELO JÁ PODE SER LÍDER
DOS THUNDERCATS. Durante a campanha, falaram que o maior problema da Dilma era a inexperiência dela. Só porque perguntaram a ela se fosse eleita, se mudaria alguma coisa na área da Fazenda. Ela disse que vai manter o Brito Jr. É para fiscalizar a receita da Ana Maria Braga. No Banco Central, Carlos Alberto de Nóbrega. No Banco do Brasil manterá Mano Menezes, na Previdência, Mãe Dinah, e na Secretaria da Igualdade, Pepê e Neném. As duas são iguaizinhas. Uma coisa que achei ridícula foi que, durante a campanha, em algum momento, a Dilma disse que seria a mãe do Brasil. Porque brasileiro tem essa de se achar o coitadinho. Ele sempre precisa de um papai, de uma mamãe, ou 18
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de alguém para ter dó dele e dar esmola. Aí vem Getúlio e se diz o Pai dos Pobres, vem a Dilma e se diz a Mãe dos Brasileiros. Vem o Lula e diz que é Filho do Brasil. E eu me pergunto: Que putaria é essa aí? É uma suruba! A Dilma não é nossa mãe. Ela é, no máximo, aquela tia solteirona que sempre aparece sozinha nas festas da família com blazer de ombreira. Ela não parece aquela tia que chega perto e a gente sente cheiro de naftalina? Aquela tia que até hoje não casou e, quando vamos beijar o rosto, enxergamos os pelos na costeleta? Querem aproximar a imagem da Dilma do Lula. Taí, pô! É só ela parar de se barbear. E aí usam o argumento de que devo votar nela porque ela foi torturada. Mas isso pra mim é um argumento contra. O presidente tem que ser um cara esperto. E se ela foi pega e torturada é porque foi otária! “Vote na Dilma porque ela foi torturada na ditadura.” E o que tenho com isso? Eu pedi? Eu pedi para ela ser torturada por mim? Devo uma, é isso? Ou devo votar porque tenho dozinha? Ah, ela estava ao lado de Genuíno e Zé Dirceu, estava lutando para o meu país ser o que é hoje? 19
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POLITICAMENTE INCORRETO
Devo a ela o Brasil ser como é? Poxa! Muito obrigado, hein! Você fez um ótimo trabalho! Todo mundo fala que ela foi torturada, mas ninguém fala do outro lado da história. Também não foi nada fácil para o carcereiro olhar para a cara dela. Eu bateria nela se a visse de noite, na rua, antes da plástica: “Que p*&¨# é essa? Tome paulada! Volte pro labirinto do fauno.”
“Vote na Dilma porque ela foi guerrilheira.”
Isso demonstra coragem? Querem que eu vote em alguém por coragem?
Por coragem voto no pai da filha dela. Dilma é guerrilheira? Na boa, aquele cara, sim, foi guerreiro.
Aliás, quem é o pai da filha da Dilma? O cara só apareceu na mídia depois que ela foi eleita. Antes disso, sabe o 20
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© Danilo Gentili Diretor editorial Marcelo Duarte
Projeto gráfico e diagramação Carolina Ferreira
Diretora comercial Patty Pachas
Foto de contra-capa Leonardo Nones
Diretora de projetos especiais Tatiana Fulas
Colaboração Alex Baldin Alex Paim Daniel Duncan Fernando Castaño Flávia Boggio Rodrigo Frederico Yuri Moraes Impressão RR Donnelley
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Assistente de arte Carolina Ferreira
ok
Assistentes editoriais Juliana Silva Mayara dos Santos Freitas
CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Bo
Coordenadora editorial Vanessa Sayuri Sawada
1. Humorismo brasileiro. I. Título. 15-27016
Pa
ISBN 978-85-7888-532-8
nd
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Gentili, Danilo. Droodles by Danilo Gentili / texto e ilustração Danilo Gentili. – 1. ed. – São Paulo: Panda Books, 2015. 112 pp. il.
CDD: 869.97 CDU: 821.134.3(81)-7
2015 Todos os direitos reservados à Panda Books. Um selo da Editora Original Ltda. Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3088-8444 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br Visite nosso Facebook, Instagram e Twitter. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Original Ltda. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
OI Você achou que isso foi uma palavra de saudação? Na verdade, é uma ficha de fliperama entrando na fenda da máquina.
:) E isso foi apenas dois pontos e um parênteses mesmo . Desde que o Pequeno Príncipe me convenceu de que aquilo não era um chapéu e sim uma cobra que engoliu um elefante, eupassei a entender que as coisas são o que elas são. E nem tudo é o que
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parece ser.
Isto que você tem em mãos não é um livro. É um compilado de desenhos que fiz em guardanapos, papéis de pão e folhas soltas por aí. Eu tenho certeza de que você vai desvendar esses droodles rapidamente — ou então usá-los como papel higiênico. Depende do seu ponto de vista. E da sua necessidade no momento.
;) Ei, agora eu sorri e pisquei pra você . Bom divertimento.
nd
Pa a
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Bo
minhocas dormindo de conchinha.
piano sem as teclas pretas.
SABONETE DO LOBISOMEM EM NOITE DE LUA CHEIA.
MEUZ ASAR
COM AS
MULHERES
RAFEL CORTEZ
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MEUZ ASAR
COM AS
MULHERES
© Rafael Cortez Diretor editorial Marcelo Duarte
Capa Carolina Ferreira
Diretora comercial Patty Pachas
Projeto gráfico Mario Kanegae
Diretora de projetos especiais Tatiana Fulas
Foto de capa Rodrigo Schmidt
Coordenadora editorial Vanessa Sayuri Sawada
Diagramação Carla Almeida Freire Carolina Ferreira
Assistentes editoriais Juliana Silva Mayara dos Santos Freitas Assistente de arte Carolina Ferreira
Preparação Cintia Shukusawa Kanashiro Revisão Lucas Cartaxo Impressão Loyola
CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Cortez, Rafael Meu azar com as mulheres / Rafael Cortez. – 1. ed. – São Paulo: Panda Books, 2015. 136 pp. ISBN 978-85-7888-521-2 1. Humorismo brasileiro. I. Título. 15-24079
CDD: 869.97 CDU: 821.134.3(81)-7
2015 Todos os direitos reservados à Panda Books. Um selo da Editora Original Ltda. Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3088-8444 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br Visite também nosso Facebook, Instagram e Twitter. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Original Ltda. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Este livro é para você, homem ou mulher, que é como eu (apesar de eu não ser “homem ou mulher”, e sim só “homem”). Ou seja, se você é como eu, isso quer dizer que você não se dá bem na vida afetiva. E por que isso mesmo? Porque o mundo está contra nós. A gente é legal pra caramba (pelo menos eu sou, segundo a minha mãe). A gente mantém a higiene em dia. A gente falamos direito. A gente é demais, mas o mundo nem sempre é justo. Prova disso é a Gisele Bündchen casar com um gringo, e não comigo ou qualquer amigo meu, ou a gente não ser parente de xeique árabe. Foda. Mas enfim, este livro é nosso, turma. É nosso, mas é o meu nome que está na capa e é pra mim que vão pagar alguma coisa se vender bem, ok? Divirtam-se!
Apresentação Este livro é dedicado a vocês, mulheres, não importa se jovens ou velhas, bonitas ou feias, pobres ou ricas, que trabalham ou não, “pegáveis” ou não. Este livro é para toda e qualquer mulher que possa vislumbrar o quanto sofre um homem quando uma das constantes em sua vida é fracassar com uma de vocês, minas. Reiterando, aqui estou falando por mim e por amigos que eu sei que se espelham na minha dor (tamos juntos de novo!). Sim, mulheres, algumas de vocês vão ler e vão rir da minha cara. Outras, por já terem tido algo comigo, vão constatar que ainda estou na mesma (podemos voltar? Por favor!). Outras, por mera curiosidade, talvez perceberão em mim um pobre sofredor. Por fim, sei que outras de vocês lerão para entender essa grande contradição de eu ser eu sem ter o meu eu preenchido pelo talvez seu eu, saca? Opa, é o seu caso, senhorita? Saiba, você me interessa muito! Me escreve depois da leitura lá no Face, ok? E caras, essa é minha e ninguém tasca! O livro surgiu quase por acaso. É uma coletânea dos contos de humor que tenho escrito nos últimos dois anos. E, até para minha surpresa, descobri que um tema presente em muitos deles foi justamente meu azar com as mulheres. O curioso foi descobrir que, se fossem publicados um atrás do outro, eles formariam uma história da minha vida amorosa. Já que a fórmula deu certo com as músicas do ABBA, por que não fazer o mesmo? Espero que vocês gostem! Rafael Cortez [7]
1 Pra começo de conversa: quando se trata de amor, relação homem-mulher, sexo etc., quanto mais jogarmos limpo, melhor. Acredito em seres humanos que não cresçam alienados quando os temas são a arte da sedução, a sexualidade e a conquista. Sabendo das coisas como elas exatamente são, melhor pra todo mundo. A batalha amorosa pode ser travada com todas as armas necessárias, e as chances de êxito são maiores para cada bravo combatente do coração (ooohhh!). Lembro que eu fui uma criança um pouco protegida demais. Quando eu questionei, minha família ficou inventando desculpas para explicar por que eu, menino, tinha torneirinha, e por que a amiguinha da sala, menininha, tinha fechadura. Entendem a questão? E eu passei anos vendo meu
[8]
Meu azar com as mulheres
pai como um jardineiro por ter colocado uma sementinha na minha mãe. Custava falar a verdade? O fato é que meu excesso de ingenuidade fez de mim um garoto bobo, um menino inseguro. Por muito tempo foi assim, e não foi legal. Isso, de cara, começou a me atrapalhar com as mulheres – e ainda atrapalha! Pensando nessa “falta de tato” ou nesse “excesso de zelo” dos adultos para contextualizar para as crianças as sacanagens da vida, quero iniciar o livro com uma ficção que trata do Toninho e do dia em que ele deixou uma família de cabelo em pé diante do despertar da curiosidade sexual. É um breve texto para abrir o apetite e entrar de cabeça, na sequência, no tema proposto neste livro!
Incidente familiar Toninho brincava com a couve-flor refogada em seu prato na hora do almoço. Como de costume, ficava em seu mundinho de criança fazendo sons de monstro, enquanto dizia à hortaliça que ele era um gigante que devoraria mais aquela árvore. Eis que o pequeno Toninho parou tudo, fitou o pai (que palitava displicentemente os dentes à procura de um pedaço de paio perdido entre os molares superiores) e soltou essa: [9]
Rafael Cortez
– Paiê, que que é xoxota? A mãe do Toninho, dona Lourdes, quase cuspiu o suco de uva, de tão chocada que ficou. Tati, a irmã mais velha, de 16 anos, fez uma cara de quem diz “não vou mostrar a minha, se vira”. O Léo, pré-adolescente que já devia estar na pós-graduação sobre o tema citado, nem terminou a gargalhada de deboche, já tomou um croque de seu Moacir, o pai, que agora pousara o palito na orelha para repreender o púbere: – Isso é coisa que fique se falando pro seu irmão? Ele só tem cinco anos de idade! – Mas eu não fiz nada, véio! – Não me chama de “véio”, seu pervertido! Não fez, mas pensou... E a discussão começou a correr solta na mesa, ao passo que o Toninho ficava ainda mais confuso. – É de comer? – interrompeu o Toninho. Seu Moacir sacudiu o punho cerrado para o Léo, que engoliu a piada óbvia em seco. Quem riu foi a Tati, mas de nervoso. E dona Lourdes a olhou friamente com uma cara de quem pergunta: “Ficou ruborizada por quê, sua sem-vergonha?”. – Escuta aqui, peste. Quer dizer, filho amado do papai. Quem foi que te falou essas coisas, hein? – a orelha do Léo já estava em brasa na mão do Moacir. A resposta do Toninho veio embalada por uma vozinha pura e inocente: – Uma menina da escola falou que ia me mostrar... Foi um Deus nos acuda. Todo mundo começou a falar ao [ 1 0]
Meu azar com as mulheres
mesmo tempo. Menos o Léo, que massageava a orelha, já pou pado da bronca injusta e com um leve sorriso no rosto. Ele ia imaginando quem seria a tal menina e se ela não teria mais idade que o Toninho. Já pensou? – A culpa é sua, Moacir! – bradou a mãe. – Você não dá atenção para nenhum dos seus filhos direito! Agora esse menino, que tinha de ser um anjinho, já está na mira dessas meninas periguetes da escola, porque não tem uma figura paterna decente em casa, que minimamente o blinde desse tipo de maldade! Maldita a hora que eu fui casar com você! Bem que minha mãe me avisou! – Não vem, não! – respondeu já de pé o Moacir. – Se ele tá na mira de periguete, a culpa é sua, porque você é que deixa essa sua filha usar essas minissaias de sem-vergonha, passar maquiagem desde cedo e ficar cada vez mais parecida com uma! – Eu não sou periguete!!! Se tem alguém podre nessa casa é esse moleque dos infernos! – e a Tati tascou um croque no Léo (que já ria de novo), e bem no mesmo lugar do primeiro, para não dar tempo de sarar. Os dois começaram a se engalfinhar na porrada, e saiu todo mundo da mesa entre gritos, acusações, xingamentos e baixarias, típicos de uma família descontrolada, ávida por uma intervenção psicológica. Quem ficou sem entender nada foi o Toninho. No dia seguinte, a família o proibiu de ir à escola. Nos demais, os professores (também já apavorados e sob gigantesca pressão dos pais) não o deixaram a sós com nenhuma menina, em nenhum momento. Uma semana depois, o Toninho passou a estudar à tarde, e não [11]
Rafael Cortez
mais de manhã. A dita xoxota da menina, ele ficou sem ver. Aliás, a tal da xoxota virou um verdadeiro tabu familiar, a ponto do Toninho passar a ter medo dela. E o tempo passou, e um dia o Toninho, já conhecido como Tonny, saiu de casa escorraçado pelo bronco do pai. Seu Moacir ficou possesso ao saber que ele estava namorando o Paulo, “um amigo da facul”. Mas isso já é outra história...
...
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9 788578 883720
comédia
Léo Lins CAPA_Segredos da comedia stand up.indd 1-5
ISBN 978-85-7888-372-0
da
© Lourival Ribeiro
LÉO LINS é um comediante totalmente desconhecido, sem expressão e sem perspectivas de carreira... na Turquia. Porém, no Brasil, o cenário é diferente: é um dos pioneiros no país na comédia stand-up, atuante desde 2005, autor do primeiro livro do gênero e integrante de um talk show ganhador de dois Troféu Imprensa. Um dos maiores estudiosos da comédia stand-up, suas piadas já o fizeram viajar por todo o Brasil, ser convidado a se apresentar na Inglaterra, Portugal, Alemanha e Japão (onde as piadas o impediram de entrar na primeira vez), ir até a Comic Con em San Diego e ter sua participação citada pelo The Wall Street Journal e pelo New Zealand Herald, entrar nos extras do DVD O Hobbit, viajar para um famoso desfile de modelos em Nova York e logo em seguida ser expulso por causa de uma piada e fazer muuuuitas amizades (apesar de perder algumas). Se achou que criar e contar piadas tem mais vantagens que desvantagens, este livro foi feito pra você.
Qualquer um pode escrever uma piada? O que é preciso para se tornar um bom comediante stand-up? Neste livro, Léo Lins revela os segredos da construção de uma boa piada, como desenvolver a escrita, quais as técnicas para fazer o público rir, como entreter a plateia, como manter a performance em palco e discute, inclusive, o mercado de trabalho dos humoristas. Uma obra indispensável para quem quer começar a carreira ou melhorar seu desempenho profissional na área do humor.
Léo Lins
De onde vêm as piadas? Como se cria uma piada? Por que rimos de uma piada? Para criar piadas eu preciso ter um dom ou existe uma técnica? Eu era fascinado por responder a essas perguntas. Sempre que ria, eu me perguntava: “Quem criou isso que me fez rir? Qual o segredo?”. [...] Quando iniciei minha carreira eu me esbaldava com qualquer migalha de informação que fosse capaz de aprimorar minha arte. Acontece que eu não entendo inglês, e toda literatura que ensinava técnicas e dava dicas sobre a escrita de piadas era 100% em inglês. Assim, contava sempre com a boa vontade de algum amigo que pudesse traduzi-la para mim. [...] Porém, minha vida teria sido muito mais fácil se anos atrás eu tivesse acesso a um material como este que você agora tem em mãos. Léo Lins foi o primeiro – e até o momento, o único – autor em língua portuguesa a escrever para quem quer aprender e aprimorar a arte de criar piadas. A melhor parte é que esse autor não é apenas um teórico do assunto. [...] Na verdade, ele é um dos melhores criadores de piadas que atua hoje no circuito [...]. Basta observar com um pouco de atenção o trabalho de Léo Lins para notar que se alguém poderia compartilhar conhecimento em comédia stand-up, esse alguém é ele [...], por isso se ele diz que tem algo para ensinar sobre como criar uma boa piada, eu paro e escuto. Um livro desses não poderia ter saído de mãos melhores. Se você aspira começar a escrever piadas, é uma pessoa de sorte por poder começar por aqui. Danilo Gentili
18/07/14 15:11
LĂŠo Lins
© Léo Lins Diretor editorial Marcelo Duarte
Projeto gráfico, diagramação e capa Mario Kanegae
Diretora comercial Patty Pachas
Foto de capa Lourival Ribeiro
Diretora de projetos especiais Tatiana Fulas
Ilustrações de abertura Moa
Coordenadora editorial Vanessa Sayuri Sawada
Preparação Sandra Brazil
Assistentes editoriais Lucas Santiago Vilela Mayara dos Santos Freitas
Revisão Beatriz de Freitas Moreira Juliana de Araujo Rodrigues
Assistentes de arte Carolina Ferreira Mario Kanegae
Impressão Orgrafic
CIP – Brasil. Catalogação na fonte Sindicato nacional dos editores de livros, RJ Lins, Léo Segredos da comédia stand-up / Léo Lins – 1. ed. – São Paulo: Panda Books, 2014. 320 pp ISBN 978-85-7888-372-0 1. Teatro brasileiro (Literatura). 2. Teatro brasileiro (Comédia). I. Título. 14-13133
CDD: 869.92 CDU: 821.134.3(81)-2
2014 Todos os direitos reservados à Panda Books. Um selo da Editora Original Ltda. Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3088-8444 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br twitter.com/pandabooks Visite também nossa página no Facebook. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Original Ltda. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário PREFÁCIO....................................................7 Introdução........................................... 10
PRIMEIRA PARTE: Anatomia da piada...........................................................................13
Mitos e lendas da comédia ........... 14
Ferramentas cômicas:
Qualquer um pode
Fase de desenvolvimento I.............39
escrever piadas?.............................................. 14
Abrindo a caixa............................................... 39
Vocação X dom X talento............................ 15
Técnica das perguntas................................ 41
Você tem o que é preciso?......................... 16
Técnica das atitudes.................................... 45
Desenvolvimento da escrita..................... 17
Técnica do ponto de vista......................... 58
Cenário da criação.........................................18
Técnica da associação................................. 61
Obstáculos.........................................................19
Blend das técnicas......................................... 67
Inspiração X transpiração...........................21 Aspirações no humor...................................22
Distorções cômicas:
Mercado de trabalho....................................23
Fase de desenvolvimento II............70 O eixo da comédia........................................ 70
Metodologia do humor...................23
Figuras de comédia...................................... 71
O que faz alguém rir?...................................23
Os reinos da piada........................................ 79
Pré-requisito da piada.................................24 Estrutura da piada..........................................26
Oficina: fase de edição..................... 92
Outros fatores da fórmula.........................31
Edição....................................................................92 Caia na rotina....................................................99
Mapa do riso........................................ 34 Fases da escrita.............................................. 34
A performance...................................107
De onde vêm as piadas?:
Estilo...................................................................107
fase conceitual............................................... 35
Delivery.............................................................107
SEGUNDA PARTE: Notas de performance..................................................... 112
Notas sobre as notas.................... 113
Conversa no show...................................... 161 Mantenha o volume.................................. 162
Janeiro de 2008................................. 114
Som e luz......................................................... 164
Deu branco..................................................... 114 Mnemônica.................................................... 116
Maio de 2008....................................... 166
Piloto automático X manual................. 120
Escala de riso................................................ 166
Acredite se quiser...................................... 123
Tempo X intensidade................................ 167
Correr riscos................................................... 125
Linha de corte............................................... 170
Mantenha-se iniciante............................. 128
Subindo de nível......................................... 170
Fevereiro de 2008............................. 129
Junho de 2008......................................173
Não cante vitória, analise-a.................. 129
Do: Bar. Para: TV. Traçar rota. ................ 173
A lenda da plateia difícil......................... 132
Caminho mais curto.................................. 178
Ganhe a plateia............................................ 134 Como “stand-upear”................................. 135
Julho de 2008......................................179 ABC do MC...................................................... 179
Março de 2008.................................... 139 Evento furado............................................... 139
Agosto de 2008...................................183
Quem tem boca vai ao evento............ 142
Concursos de humor................................ 183
As regras do evento................................... 143
“Quem chega lá”......................................... 185
Pequenas piadas,
Estratégia para concursos...................... 187
grandes negócios........................................145
Calma, não se irrite.................................... 190
Contrato........................................................... 149 Setembro de 2008............................. 190 Abril de 2008...................................... 154
Stand-up na TV.............................................. 190
Piada do momento.................................... 154
Censura............................................................. 192
Piadas factuais: F5 ou delete............... 158
Pode isso?........................................................ 195
Porta-voz.......................................................... 160
Outubro de 2008............................... 198
Abril de 2009.......................................225
Objetivo........................................................... 198
Risada de transição................................... 225
A medida......................................................... 200
Piada do erro aparente............................ 227
O show começa antes de começar....202
Escultor de piada........................................ 228
Novembro de 2008........................... 203
Maio de 2009........................................231
Quanto vale o riso...................................... 203
A plateia não te compra.......................... 231
Espaço, piada e tempo............................ 205
Cuidado com o que fala.......................... 233
Mudando de posição................................207
Diferença entre bar e teatro................. 234
A voz................................................................... 207
Mal de bar....................................................... 238
Dezembro de 2008............................ 209
Junho de 2009.....................................239
Metamorfose ambulante........................ 209
Voo livre........................................................... 239 Extração de material bruto.................... 243
Janeiro de 2009..................................211
Metodologias de interação................... 248
A primeira impressão é a que fica..... 211
A hora de interromper
Aprenda a escutar...................................... 212
a interação......................................................252
Fevereiro de 2009.............................. 215
Julho de 2009......................................253
Se for um grupo,
Não subestimar a plateia.......................253
trabalhe em grupo......................................215
Grandes plateias:
A Era dos Grupos de Humor................. 216
fale mais devagar........................................253
Não abrir com material novo............... 217
Relação entre público repetido e piadas.......................................254
Março de 2009.....................................219 Identificação.................................................. 219
Agosto de 2009...................................256
Cuidados com a TV.................................... 223
Envolver a plateia....................................... 256
Agarre a oportunidade............................ 224
Curtir a cena.................................................. 258
Encontre pontos promissores
Novembro de 2009............................279
na piada...........................................................259
Show solo tem ritmo diferente............279 Ritmo de show..............................................281
Setembro de 2009............................. 260
Anatomia do solo.........................................284
Manual do entrevistado I....................... 260 Manual do entrevistado II...................... 264
Dezembro de 2009.............................286
Manual do entrevistado III.................... 269
Balanço do solo........................................... 286 Mutações no solo....................................... 288
Outubro de 2009................................274
Solo rígido ou flexível?........................... 290
Acessórios, sim ou não............................ 274
Previsão do tempo..................................... 292
Truques para valorizar o show............ 276 Bússola-caneta............................................. 278
TERCEIRA PARTE: Guia do estudante de humor.................................................. 294
A profissão de comediante....... 295
Fórmula para o sucesso.......................... 301
O curso............................................................. 296
As 13 perguntas mais
Passo a passo da carreira....................... 297
frequentes feitas por iniciantes........303
Considerações finais......................317 referências Bibliográficas.........319
Segredos da comédia stand-up
PREFÁCIO De onde vêm as piadas? Como se cria uma piada? Por que rimos de uma piada? Para criar piadas eu preciso ter um dom ou existe uma técnica? Eu era fascinado por responder a essas perguntas. Sempre que ria, eu me perguntava: “Quem criou isso que me fez rir? Qual o segredo?”. Quando eu era moleque a internet e a TV a cabo não existam por aqui. Tirando um filme ou outro, tudo que eu consumia de humor era “made in Brazil”. Por aqui os humoristas praticamente podiam ser divididos em quatro categorias: imitadores de personalidades, caras fazendo personagens que contavam histórias divertidas, atores encenando um esquete ou contadores de anedotas de salão. Os contadores eram os meus preferidos por conseguirem me fazer rir usando muito pouco. Eles não interpretavam nenhum personagem, o que me fazia sentir mais próximo deles. Tudo que é escrito e criado vem de alguém. Parece óbvio, mas não com relação às piadas. Embora o mercado norte-americano reconheça, aprecie e recompense a autoria delas desde o príncipio, no Brasil é muito nova a ideia de que as piadas têm dono, sim, e de que um bom comediante deve ser valorizado também por sua capacidade de criar chistes originais. E evidenciar isso não foi fácil. Quando começamos a fazer stand-up era muito comum suarmos para criar e lapidar um texto e poucos dias depois encontrar alguém na internet repetindo-o em um vídeo ou repassando-o em forma de corrente por email, sem autoria. Por vezes ouvi e li comediantes de outra geração perpetuando: “Piada é igual passarinho, não tem dono” — e cheguei até a encontrar esses mesmos caras contando
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Léo Lins
piadas que eu criei. Lembro quando, insistentemente, eu e meus colegas (entre eles o autor deste livro) expressávamos publicamente — em redes sociais, shows, entrevistas — a importância da autoria das piadas. Por isso, sempre incentivamos a criação do próprio material e nunca a cópia. O coleguismo nos camarins era grande quando um tentava contribuir com a piada do outro. Todo mundo queria ver algo original sendo apresentado. De lá pra cá, o público passou a reconhecer a importância dessa propriedade intelectual e hoje é comum que ele próprio regule a questão da autoria. Quem nunca leu em redes sociais o comentário de algum usuário “dedurando” quando alguém rouba uma piada? Em contrapartida, está cada vez mais raro um comediante ascender com textos de outro cara. Acredito que a valorização e o reconhecimento de quem cria piadas é a grande contribuição que pessoal que começou a fazer stand-up comedy por aqui em meados dos anos 2000 deixou para a comédia brasileira. Mas começamos tateando no escuro. Quando iniciei minha carreira eu me esbaldava com qualquer migalha de informação que fosse capaz de aprimorar minha arte. Acontece que eu não entendo inglês, e toda literatura que ensinava técnicas e dava dicas sobre a escrita de piadas era 100% em inglês. Assim, contava sempre com a boa vontade de algum amigo que pudesse traduzi-la para mim. E, de fragmento em fragmento, consegui absorver algumas informações que os autores estrangeiros queriam compartilhar. Porém, minha vida teria sido muito mais fácil se anos atrás eu tivesse acesso a um material como este que você agora tem em mãos. Léo Lins foi o primeiro — e até o momento, o único — autor em língua portuguesa a escrever para quem quer aprender e aprimorar a arte de criar piadas. A melhor parte é que esse autor não é apenas um teórico do assunto. É, antes disso, um praticante assí-
Segredos da comédia stand-up
duo de todas as técnicas e segredos que compartilha nesta obra. Na verdade, ele é um dos melhores criadores de piadas que atua hoje no circuito, capaz de escrever sobre qualquer assunto com muita agilidade e com uma variação grande de recursos. Seja passando horas em uma praça até criar uma piada sobre pombos ou instantaneamente fazendo humor sobre uma notícia que acabou de sair, Léo consegue criar piadas que acabam sendo conhecidas até no Japão — ele sabe do que estou falando. Basta observar com um pouco de atenção o trabalho de Léo Lins para notar que se alguém poderia compartilhar conhecimento em comédia stand-up, esse alguém é ele. Esse cara raciocina como um comediante o tempo inteiro, por isso se ele diz que tem algo para ensinar sobre como criar uma boa piada, eu paro e escuto. Um livro desses não poderia ter saído de mãos melhores. Se você aspira começar a escrever piadas, é uma pessoa de sorte por poder começar por aqui. Danilo Gentili
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Introdução Quero ser comediante. E então? Escrever é um pré-requisito para ser comediante. Calma. Se você não gosta ou não gostava de escrever na escola, isso não significa falta de aptidão para a comédia. Minhas menores notas no vestibular foram em redação e português. Hoje, além de comediante, sou redator e estou aqui escrevendo mais um livro. Não gostava de perder tempo identificando se um texto era classicista ou surrealista, mas poderia perder horas escrevendo uma piada sobre esses temas. O comediante deve criar o hábito de escrever diariamente. Infelizmente, muitos profissionais da área não têm esse costume. Mas se um médico atende seus pacientes todos os dias e uma caixa de supermercado trabalha também, por que o comediante só escreveria quando estivesse inspirado? Analisando o processo mental durante o processo de criação de uma piada, é possível detectar procedimentos-padrão, como questionamentos sobre o tópico e tentativas de estabelecer paralelos com outros assuntos. Esses exercícios mentais responsáveis pela chamada criatividade podem ser transcritos para o papel. O comediante que nunca passou por esse processo mecânico ao criar uma piada, preferindo deixar sua criatividade dar conta do recado, na verdade realizou essa atividade automaticamente de forma inconsciente. Criar uma piada não é um processo tão abstrato ou sem pistas quanto parece, aliás, pelo contrário, é possível estabelecer exercícios que facilitam sua elaboração.
Segredos da comédia stand-up 11
Por que mais um livro técnico sobre o stand-up? A ideia de escrever um livro surgiu há alguns anos, quando estava começando no stand-up. Procurei alguma literatura sobre o assunto e encontrei vários livros em inglês, mas nenhum em português. Com esforço e dinheiro economizado ao dar aulas de capoeira e fazer shows de mágica, comprei alguns livros. Isso facilitou muito o começo da minha carreira, pois obtive uma luz em meio à escuridão que era o processo de escrever uma piada. Analisei todo o meu material para avaliar se estava no formato proposto pela literatura e procurei deixá-lo na melhor forma possível. Esse hábito analítico me levou a fazer anotações de todos os meus shows, desde o primeiro até hoje. Em 2008 comecei a reunir tópicos dessas anotações para escrever um livro chamado Notas de um comediante stand-up. Lançado em agosto de 2009, foi o primeiro livro do gênero no Brasil. Reuni nessa primeira obra anotações de 2004 a 2007. O livro contém muitas informações sobre os primeiros passos na carreira de humorista, aborda a estrutura de uma piada e apresenta diversos textos voltados para a performance, abordando questões como a primeira piada a ser feita, o ritmo do show, a interação com a plateia, a naturalidade no palco etc. No entanto, muito ficou de fora. Assim, resolvi escrever outra obra e abordar tópicos que não foram explorados ou foram tratados superficialmente. É importante ressaltar que este livro que publico agora não necessita do primeiro, ele é uma obra independente. Entretanto, a leitura da publicação anterior pode otimizar a absorção deste conteúdo.
12 Léo Lins
Manual de instruções do livro Eu sei. Ninguém lê manuais de instrução. Se você quiser pular esta parte e ir direto para o primeiro capítulo, sinta-se à vontade, mas caso o livro deixe de funcionar em três meses, não reclame. Afinal, você não leu as instruções de uso. Na primeira parte estou entregando para você, leitor, as técnicas que me permitiram criar mais de cinco horas de piadas de stand-up nos primeiros anos da minha carreira. Relutei em descrevê-las no primeiro livro, mas isso foi bom, pois não acho que tinha a maturidade literária para transcrevê-las de forma adequada. Nesta obra você vai aprender técnicas para identificar um tópico e criar uma piada. Todo o processo, desde a eleição do tópico à especificação do tema, os exercícios para proporcionar piadas e as técnicas de distorções cômicas. Duvido que, após terminar de ler o livro, você não consiga escrever pelo menos uma piada. Mas calma, isso ainda não é tudo. A segunda parte do livro se pauta nas minhas anotações de shows. Experiências empíricas que serviram como base para os textos aqui apresentados. Selecionei as principais lições das minhas anotações durante os anos de 2008 e 2009, mas, como escrevi o livro em 2013, foi como poder entrar em uma máquina do tempo para saber se o que estou fazendo hoje vai me levar a algum lugar daqui a cinco anos. Tópicos sobre shows solo, estratégias em concursos de humor e como chegar à televisão ou à rádio são alguns dos temas abordados. E, para finalizar, uma última seção contendo considerações sobre a carreira de humorista e as perguntas e dúvidas que mais recebo por e-mail, pessoalmente ou nas redes sociais. Agora chega de instruções e vamos logo para a prática.
PRIMEIRA PARTE
Anatomia da piada
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Mitos e lendas da comédia Qualquer um pode escrever piadas? Sim. Ao contrário do que muitos podem pensar, escrever piadas não é um dom de apenas alguns seres humanos escolhidos por Deus. Escrever uma piada envolve um processo mental que segue determinadas regras, assim como escrever um poema. Não gosto de poesia e não domino o assunto, mas, se eu quiser, posso escrever uma, basta combinar palavras atendendo a certos requisitos. Provavelmente será um poema ruim, mas ainda assim um poema. Com a piada é a mesma coisa. Ao compreender sua lógica e sua estrutura é possível seguir procedimentos que estimulam sua criação. No entanto, de fato, certas pessoas têm predisposição ou facilidade para criar piadas. Desde cedo, em nossa família, em grupo de amigos ou na escola, esse dom se manifesta. Ele pode ser expresso na forma de brincadeiras com familiares ou ao se colocar apelidos em amigos (ou seja, praticando o famoso bullying-arte). Comecei cedo nessa tarefa, lembro que no colégio tive um amigo com o apelido de Cachorro. Durante uma das aulas, recortei um pedaço de papel em forma de osso e joguei para ele buscar. Muitos alunos deram risada. O fim da história é que o João, o Cachorro, realmente foi pegar o osso! Pegou e levou para a diretoria. Essa capacidade para fazer piadas apresenta diferentes graus em cada indivíduo. Com certeza você já presenciou amigos sendo alvo de zoação (e, já que se interessou por este livro, muitas vezes deve ter sido o responsável por isso). Veja a seguir cinco formas de falar que alguém é “cabeçudo”, cada uma delas em determinado grau de evolução.
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1) Sua cabeça é tão grande que dá pra perceber que é grande. 2) Sua cabeça é tão grande que você pode ser chamado de cabeçudo. 3) Sua cabeça é tão grande que é maior que o corpo todo. 4) Sua cabeça é tão grande que você parece um pirulito. 5) Sua cabeça é tão grande que só ela aparece no site Google Earth. A forma número 1 indica uma pessoa considerada sem graça. A número 2, alguém capaz de rir e compreender uma piada, mas que dificilmente formulará uma. A número 3 demonstra leve inclinação para a comédia. A número 4 indica predisposição para fazer os outros rirem. A forma número 5 demonstra que o talento para a comédia está sendo desenvolvido.
Vocação X dom X talento Se algum dos conceitos aqui citados estiver semanticamente errado, peço desculpas, meu intuito é transmitir conteúdo de forma didática. Entendo a vocação como sendo um chamado, motivado pelo prazer de realizar determinada tarefa. Uma pessoa pode ter vocação para o canto, desenho, pintura, matemática. O dom é a facilidade para realizar uma tarefa, uma dádiva divina; você nasce ou não com ele. É possível ter vocação para o desenho, mas não possuir o dom para isso. Nesse caso, precisamos desenvolver a habilidade de desenhar por meio de esforço e dedicação. E, dessa forma, adquirir talento para o desenho, pois o talento pode ser desenvolvido. Algumas pessoas têm dom para a comédia, ou seja, têm facilidade para criar piadas. Caso esse dom não seja estimulado, é possível que alguém com menos capacidade instintiva tenha mais sucesso trabalhando
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com humor por meio da dedicação e do esforço, desenvolvendo sua habilidade. Se você sente prazer em escrever piadas e fazer as pessoas rirem, parabéns, já tem a vocação para a comédia. Agora tenho uma boa e uma má notícia. A má notícia é que se você não nasceu com o dom para isso, sinto muito, não será possível adquiri-lo. E a boa é que é possível suprir essa falta inata mediante esforço e dedicação. Aliás, considero estes as mais importantes virtudes para o sucesso. Indivíduos que seguem sua vocação, possuem o dom para realizá-la e se eles se dedicarem a aprimorar seu talento estão fadados ao sucesso.
Você tem o que é preciso? Uma pessoa com 1,70 metro dificilmente vai sagrar-se campeã olímpica de natação. Por mais que sua técnica seja apurada e desenvolvida, a envergadura de alguém com 2,10 metros é maior, e a quantidade de água deslocada a cada braçada também. A pessoa menor precisaria de duas braçadas para vencer a mesma distância que a maior atinge com apenas uma. A profissão de comediante também tem seus pré-requisitos: uma mente criativa, capacidade de ir além do óbvio, analisar situações de diferentes perspectivas, gosto por escrever e disciplina. Você pode ter uma cara engraçada e um jeito caricato, mas se não possuir algumas dessas características, será difícil se destacar. Ao longo da minha carreira percebi que, após três anos de profissão, a maioria dos comediantes stand-up possui uma entrada de 15 minutos com nível muito bom. Contudo, a maior
Segredos da comédia stand-up 17
parte desses comediantes dificilmente tem uma segunda entrada com o mesmo nível e pouquíssimos teriam uma terceira. Isso demonstra a ausência de algum dos pré-requisitos para ter sucesso na comédia. Para obter 15 minutos de piadas boas em três anos não é necessário uma mente criativa, gosto por escrever e disciplina, basta um simples processo de tentativa e erro. A pergunta que deve se fazer agora é: aonde quero chegar? Lembre-se de que, apresentando ou não o dom para a comédia, esforço e dedicação podem suprir essa carência e são as características primordiais. Seu sucesso depende principalmente de você.
Desenvolvimento da escrita Assim como se faz com os músculos, por meio de estímulo e dedicação é possível melhorar a escrita. Mas ir à academia quatro vezes por semana não quer dizer que você esteja desenvolvendo sua musculatura. É preciso realizar o exercício corretamente, executar o movimento na amplitude adequada, dar o intervalo certo entre um exercício e outro, ou seja, não é por você estar tentando escrever todos os dias que a sua escrita vai melhorar. Para desenvolver sua capacidade é preciso o estímulo correto e adequado. Você precisa treinar sua mente para associar as ideias com uma distorção cômica. É necessário também criar o hábito de escrever, preferencialmente em horário e local adequados ao seu dia a dia e ao seu cérebro. Seguindo esses procedimentos seu talento para escrever piadas será aprimorado.
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ir para o trabalho. Pode ser que prefira escrever à noite, mas tem de correr para a faculdade e não pode dormir tarde por causa do estágio logo cedo no dia seguinte. Nesse caso, é preciso aproveitar cada momento que puder, independentemente de ser o local mais propício para a criação. Comecei a escrever piadas quando estava na faculdade de educação física. A partir do segundo ano do curso um dos meus objetivos era tentar escrever uma piada durante cada aula. Essa é a desvantagem de um aspirante a comediante, ter de dividir o tempo com outras atividades. Os profissionais também têm seu desafio, às vezes é preciso escrever duas matérias para gravar, de manhã você já está em uma gravação e à noite ainda tem um show. O que fazer? Ao longo da carreira de humorista você descobre aliados importantes: o café e o energético. O dia tem 24 horas e nem sempre podemos nos dar ao luxo de dormir durante algumas delas. Resumidamente, o que quero dizer é: descubra a hora e o local, ou seja, o ambiente que favorece sua criatividade e sempre que possível aproveite essa ocasião. Mas não se limite a esse habitat de escrita, pois a sua demanda de material pode ser maior que o tempo disponível nesse local. E lembre-se: esforço e dedicação são virtudes importantes. Seu sucesso está em suas mãos.
Obstáculos A maior desculpa do ser humano é a falta de tempo. Pergunto-me se os homens da caverna já usavam essa desculpa: “Não tive tempo de caçar o coelho porque acordo cedo para a aula de pintura rupestre e, à tarde, tive de tosar um mamute”. Se você quer desenvolver sua habilidade de escrever, será preciso exercitá-la. En-
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contre algum momento do dia para pensar em piadas, pode ser no metrô, no caminho para o trabalho, antes de dormir ou na hora do lanche. Tente tornar a escrita um hábito, é melhor escrever trinta minutos todo dia em vez de três horas e meia uma vez por semana. Outra desculpa é o receio de não conseguir escrever uma boa piada. Esse medo inconsciente nos faz colocar qualquer outra tarefa na frente da escrita. “Vou tomar banho e me sento depois para escrever”; “Vou responder os e-mails e depois escrevo”; “Vou só olhar o Facebook e já escrevo”... Comprometa-se consigo mesmo, seja seu próprio chefe e exija produtividade do funcionário. Muitas vezes me sento diante do computador e marco um horário: “Das 9:00 às 11:00 horas vou escrever”. Durante o tempo que você reservar para escrever, não abra e-mails, não entre em redes sociais, não resolva assistir à TV, ouvir música... Tenha foco, o mais difícil ao começar a escrever é sair do zero. Pode ser que em duas horas você não tenha escrito uma piada boa, mas, no dia seguinte, ao escrever por mais duas horas, esse material do dia anterior pode melhorar e se tornar o responsável por uma ótima piada. Outra dica importante que posso dar sobre escrita é: siga seus instintos. Se estiver com uma ideia de piada sobre o comportamento de idosos no supermercado, escreva sobre isso e explore esse tópico. Às vezes deixamos de lado temas sobre os quais nossa mente já iniciou o trabalho para tentar desenvolver uma questão do momento ou pelo receio de não conseguir fazer uma boa piada. Não caia nessas armadilhas, siga a direção que suas sinapses estão apontando. Se não houver um tema, aí sim procure um tópico para desenvolver1.
1 Ver capítulo “Mapa do riso”, página 34.
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O universo criativo do cartunista argentino Guillermo Mordillo visual, é reconhecido internacionalmente por seu estilo e pelos seus famosos personagens narigudos. Este é o primeiro livro publicado no mundo com todos os 115 cartuns que Mordillo criou sobre futebol. Um golaço que vai deixar os fãs sem palavras! “Aqui neste belíssimo livro ele entra em campo de corpo e alma. Está à vontade correndo pra lá e pra cá, jogando em todas as posições. Com Mordillo não tem zero a zero, nenhum temor nem mesmo na hora do pênalti. Mordillo só dá bola dentro.”
FUTEBOL & CARTUNS
é vasto como um campo de futebol. Com seu humor puramente
Do prefácio de Alberto Villas
ISBN 978-85-7888-410-9
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© Mordillo © Oli Verlag N.V. Esta edição foi publicada com a autorização de Rubinstein Royalty Management B.V. Todos os direitos reservados. Diretor editorial Marcelo Duarte
Projeto gráfico e capa Mario Kanegae
Diretora comercial Patty Pachas
Impressão RR Donnelley
Diretora de projetos especiais Tatiana Fulas Coordenadora editorial Vanessa Sayuri Sawada Assistentes editoriais Juliana Silva Mayara dos Santos Freitas Assistentes de arte Carolina Ferreira Mario Kanegae
CIP – Brasil. Catalogação na fonte Sindicato nacional dos editores de livros, RJ Mordillo Mordillo: Futebol e cartuns / Mordillo. – 1. ed. – São Paulo: Panda Books, 2015.128 pp. ISBN: 978-85-7888-410-9 1. Humorismo argentino. I. Título. 14-18475
CDD: 741.5 CDU: 741.5
2015 Todos os direitos reservados à Panda Books. Um selo da Editora Original Ltda. Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3088-8444 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br twitter.com/pandabooks Visite também nossa página no Facebook. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Original Ltda. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
“No cinema, normalmente você sabe como vai terminar a história, por mais surpresas que tenha a trama. No futebol é diferente: até o último minuto de jogo, tudo pode acontecer. Isso é sensacional.” Mordillo
Prefácio Tinha eu pouco mais de 18 anos quando bati os olhos pela primeira vez num desenho de Mordillo. Desde pequenininho era um viciado no humor dos cartunistas. Comecei gostando de Péricles e Carlos Estevão com o Amigo da Onça, depois me apaixonei pelo traço fino do Borjalo, nas páginas da Cigarra, e do Appe, nas páginas da O Cruzeiro. Adolescente, a curtição era o traço rápido de um Henfil, de um Ziraldo, de um Nani, de um Jaguar no irreverente Pasquim. Na minha Belo Horizonte, a coqueluche era o Oldack Esteves, que todos os dias publicava uma charge no jornal Estado de Minas. Tudo em preto e branco, papel jornal, sempre em preto e branco. Cor era com o anarquista Millôr em seu Pif Paf, com o Claudius e o sofisticado Juarez Machado na Manchete. Quando bati os olhos no desenho de Mordillo fiquei deveras impressionado. Foi na última página da Ele Ela, uma revista para ler a dois que os Bloch começaram a editar no final dos anos 1960. Meio picante, não era lá nenhuma Playboy, mas tinha um tempero erótico que não permitia que ficasse exposta à visitação pública num salão de barbeiro qualquer da vida. Confesso que chegava a esfregar o dedo indicador na última página da Ele Ela para tentar decifrar, tentar entender que técnica era aquela usada pelo argentino, filho de imigrantes espanhóis, que acabara de conhecer. Ecoline? Lápis de cor? Aquarela? Guache? Pastel? Como é que ele conseguia fazer um traço tão perfeito, tão redondo e impecavelmente colorido? Computador não havia para ninguém, era ali na prancheta e à mão que ele derramava seu talento e o seu humor elegante, silencioso, sutil, sem uma palavra sequer. Desde pequenininho, na Buenos Aires onde nasceu, Guillermo Mordillo gostava de desenhar. Era desenhar e jogar futebol, duas paixões. Quando tornou-se maior de idade já estava ele ilustrando livros infantis e fazendo desenhos animados para a televisão e até para o cinema. Inquieto, foi morar um tempo no Peru e logo depois partiu para os Estados Unidos. Onde chegava tinha trabalho porque o talento sempre falava mais alto. De Nova York pulou para Paris, onde fez a festa. Publicou livros, fez dezenas de cartões-postais, calendários, pôsteres, enfim, espalhou sua obra pelos quatro cantos do mundo.
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Mas não parou por aí. Mudou-se para Palma de Maiorca, na Espanha, e de lá continuou disparando seus desenhos para o mundo inteiro. Foi eleito presidente da International Association of Comics and Cartoons e, se tivesse um Oscar do cartum e do humor, a essa altura certamente seria um forte candidato. Seu traço inconfundível transformava qualquer bicho, qualquer monstrengo, num bichinho fofo. Fosse um elefante, fosse uma girafa, fosse uma vaca, um jacaré. Ou fosse até mesmo um baixinho narigudo. Os humanos, geralmente em preto e branco, estavam sempre em situações que desaguavam no humor. Não aquele humor de gargalhada, do riso fácil, mas o humor que faz pensar. Quem bate o olho num Mordillo sempre para, pensa e deduz: “Que sacada!”. Mordillo é literalmente um mestre. Virou professor honorário de humor em 1997 e, em 2002, tornou-se catedrático de humor na Universidade de Alcalá de Henares, na Espanha. Aqui neste belíssimo livro ele entra em campo de corpo e alma. Está à vontade correndo pra lá e pra cá, jogando em todas as posições. Com Mordillo não tem zero a zero, nenhum temor — nem mesmo na hora do pênalti. Mordillo só dá bola dentro. Alberto Villas
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