Mobilidade e oportunidades: limitações e expectativas Reinaldo Afonso Mayer
Para falarmos em mobilidade, para a população, a alternativa denominada celular, infelizmente ainda com custos acima dos previstos, paulatinamente desconsiderou ou substituiu o uso constante dos telefones fixos, que se prestam agora apenas para comunicações complementares ou aproveitamento de promoções, que liberam até ligações interurbanas gratuitas. As empresas de comunicação já trabalham com outras iniciativas, pois já adotam estratégias interessantes: uma alternativa que vem ganhando tração é a convergência fixo-móvel, patrocinada pelas operadoras de telecomunicações e especialmente adequada ao uso corporativo. A convergência fixo-móvel abre também a possibilidade de trilhar o caminho inverso: a partir do telefone celular, evoluir rumo às aplicações de 1 dados.(PROMON , 203, p. 4)
Mas o aproveitamento integral deste diminuto aparelho tem sido restrito para as camadas mais pobres, em função de alguns requisitos presentes apenas nos últimos modelos, apesar de considerarmos que já possuem uma interface gráfica agradável e intuitiva, com recursos facilmente adaptados até dos sistemas operacionais dos computadores. Além do preço desses modelos, a recarga deles se torna outro empecilho, tem que ser feita após um pequeno tempo de uso. O celular já é motivo de preocupação nas empresas. Uma recente avaliação empresarial destaca esta preocupação e indica alternativas viáveis: Atualmente, a telefonia celular é considerada a “killer application” do mundo móvel: as chamadas de voz são hoje (e deverão continuar a ser por muito tempo) a principal aplicação móvel corporativa. No futuro, porém, não se vislumbra uma nova “killer application”; o que fica claro é que irão existir algumas características-chave comuns às aplicações móveis de sucesso, que se comportam como blocos básicos a partir dos quais se constroem novos serviços e aplicações. .(PROMON, 203, p. 6)
Entre as chamadas de voz, O Skype2 é um dos serviços para comunicação entre empresas e usuários comuns. Sua fama internacional de ser o “mais utilizado no mundo” se justifica, pois um internauta pode fazer, através deste aplicativo, fazer chamadas de voz de graça para outros usuários do Skype, que o tenham instalado no seu computador, smartphone ou tablete, utilizando conexões de internet fixas ou móveis. Porém uma alternativa de baixo custo é educacionalmente utilizada com mais frequência e esta sim, está ao alcance de todos: o pendrive. Ele nos serve para textos ou imagens, está sempre em nossos bolsos e bolsas, garantem nossos backups, guarda nossas fotos digitais 1 2
MOBILIDADE: tendência do futuro. Disponivel em http://www.teleco.com.br/promon/pbtr/Mobilidade_4Web.pdf Outros aplicativos de voz e vídeo gratuitos podem ser conhecidos neste endereço:
http://tecnologia.ig.com.br/2013-07-25/5-aplicativos-para-fazer-chamadas-de-voz-e-video-de-graca-pela-internet.html
quando as levamos a um estúdio fotográfico. É o complemento perfeito do laptop em nossas nas aulas e até mesmo no trabalho, quando podemos armazenar outros tipos de arquivo, a um custo aproximado de vinte reais. A câmera digital também tem, neste patamar de comparações, um impacto positivo considerável no registro de imagens momentâneas que podem ser, mediante um trabalho rápido de transferência, aproveitadas em um contexto convergente de grande mobilidade. Todos os que têm já a mobilidade garantida pelos computadores portáteis, que estão ficando cada vez mais acessíveis por causa do preço, o DVD, com custos praticamente nulos, está simbolicamente ignorado. Mas ele permite ser manipulado por aplicativos simples e nativos dos próprios sistemas operacionais. Embora tenha ficado em segundo plano, pode e deve ser mais bem aproveitado educacionalmente, pois quase esquecemos que através dele temos acesso a muitos conteúdos, sejam eles disponibilizados por editoras ou produtoras profissionais. Essas mídias podem ser encontradas em locadoras, hipermercados, com promoções até de filmes recentes a um custo aproximado de doze reais. E quantas lições e exemplos estão em um produto cultural como esse, que foi planejado, tem um roteiro, uma lição educativa e proporciona ótimas opções de aproveitamento! Entretanto, o destaque para a mobilidade são os pontos WI_FI3 para conexão com a Internet, que a deixou móvel, gratuita em muitos locais, para usar aplicações comuns no dia-a-dia, como responder um e-mail, acessar um arquivo ou mesmo consultar notícias e conteúdos publicados. Nosso material escrito define com muita propriedade esta característica:
Entretanto, atendendo as necessidades de cada um para transformar informação em conhecimento, muitas batalhas ainda estão por serem vencidas, para que uma sociedade adquira a sua cultura e possa utilizar os diversos instrumentos disponíveis. Gostei das afirmações de Noam Chomski, em nosso material complementar, pois acredito que ele encaminha a percepção e a profundidade dos inevitáveis confrontos entre os tipos de educação 3
que se apresentam: a que deve servir para despertar ações criativas e
Também conhecido como wireless LAN ou WLAN, é uma tecnologia de acesso sem fio que garante máxima compatibilidade com as redes locais (LANs – Local Area Networks) atuais.
compartilhadas, se contrapondo à outra que praticamente “engessa” o procedimento com os passos tradicionais, nas escolas e Universidades, que remetem a conteúdos estáticos e avaliações consideradas como “necessárias” para a promoção e o desenvolvimento intelectual. Na sua conclusão, ele afirma a sua preferência pela evolução investigativa, que nos remete a considerar e tentar entender esta definição filosófica: 4
Investigar é bem mais do que encontrar respostas para os problemas, investigar é colocar problemas aos problemas ingenuamente ou preguiçosamente julgados resolvidos, investigar é criar problemas às fórmulas prontas-a-consumir, é criar mecanismos sempre cada vez mais profundos e rigorosos no sentido de analisar a realidade social para além das formas e das fórmulas crédulas e superficiais pelas quais julgamos ter resolvido o problema ou os problemas de análise.
Por último, vamos nos ater à ubiquidade, para concordar com o texto que reflete o seguinte pensamento: “as tecnologias móveis não podem ser unificadas, mas sim diferenciadas na metodologia e no conteúdo da educação”, com cuidados extremos, porque “estar em toda parte ao mesmo tempo”, significa dizer que nossos dados e perfis transitam disponíveis para todos, valendo a verdade perigosa de que “não há anonimato quando se está plugado”. O Facebook incorpora hoje um interessante exemplo de mobilidade entre os usuários da Internet, mas o modelo instalado, apesar de beneficiar os que se aproveitam desta possibilidade de expansão comunicativa, revela outro lado obscuro: “o sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.” (NOAM CHOMSKI)
Então, corre-se o risco de aproveitamentos criminosos, que não estão sendo coibidos por deficiências na legislação Brasileira, quando simplesmente desconsidera o valor cultural deste instrumento convergente, honesto e participativo. A expansão de gratuidades sociais em nosso território pode também comprometer iniciativas tecnológicas que dependem do poder público, como a proposta das cidades digitais, que já são realidades experimentadas em países da Europa, mas com ressalvas igualmente importantes, como estas, emitidas pelo político Alberto Souto de Miranda5: A escassez de verbas, lacunas na formação e desfasamento entre o ritmo de financiamento e as necessidades dos projetos, bem como a falta de funcionalidade do regime jurídico do consórcio, foram críticas que enumerou. A excessiva burocracia, o ritmo dos apoios financeiros em desacordo com as necessidades dos projetos e o elevado custo das comunicações, foram notas menos positivas. 4
O que é investigar: fragmento de texto do livro de Carmeliza Rosário,Michel Cahen e Paulo Granjo, disponível no endereço: http://www.wook.pt/ficha/o-que-e-investigar-/a/id/14845205 5 Presidente da Câmara de Aveiro ( Portugal), que enumera problemas e propõe o programa com novos moldes de gestão, novo formato jurídico e um modelo menos dependente do voluntarismo espontâneo. Disponivel em: http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=719155&page=-1
Num País como o nosso, onde a política parecer ter valor maior que ações educativas para a população, nos permitimos, como educadores, avaliar as mensagens finais do nosso material complementar e concluir que elas se adaptam perigosamente ao momento em que vivemos e podem influenciar diversas possibilidades investigativas e de crescimento cultural, pois somos continuamente fustigados pela mídia com interessantes estratégias de convencimento: A da distração, que se verifica com o planejamento e a aproximação da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil, onde a proposta é “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar”. Ou ainda, a teoria dos movimentos sociais problemáticos, que acontecem nas cidades do nosso país, com invasão de grupos mascarados, provavelmente contratados para fazer valer a máxima: “deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade”. Ainda, quanto ao nosso futuro social e tecnológico, com interessantes análises nos jornais diários, quando nossa economia é analisada, constantemente comparada e diminuída, sem medidas que possam eliminar ou minimizar problemas já inseridos por ignorados gastos públicos astronômicos com projetos e salários. Tudo isso porque “Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento”, então há o risco de que esta mudança possa estagnar de forma proibitiva qualquer avanço tecnológico e social.
Assim, reflexões sobre mobilidade e equidade são pertinentes, mesmo com algumas considerações pessimistas, porém a evolução dos dispositivos móveis nos mostra, além das limitações, grandes expectativas tecnológicas. Através da conexão crítica com o mundo, podemos criar espaços de interação para além das aulas, com os dispositivos móveis. Eles vão possibilitar grande participação, discussão com amadurecimento, em busca da autonomia, para a formação de comunidades que considerem valores educacionais realmente significativos, com as tecnologias alternativas que se apresentam.