Callie hart 02 rogue - A Dead Mans Ink

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Callie Hart #2 Rogue Série Dead Man’s Ink

Rogue Copyright © 2015 Callie Hart

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SINOPSE Quando as pessoas chegam muito perto de mim, elas acabam mortas. Sangue. Buracos de bala. Facadas. Eu mantive minha identidade em segredo para proteger aqueles que eu amo, mas agora o homem mais perigoso no mundo sabe exatamente quem eu sou... E ele estรก vindo atrรกs de mim. Hector Ramirez trouxe a guerra para a porta da minha casa, mas ele nรฃo vai ganhar. Eu vou lutar para defender os vulnerรกveis. Eu vou matar para proteger o meu clube. Mas eu vou morrer para proteger a mulher que eu amo.

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A SÉRIE Série Dead Man’s Ink Callie Hart

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Prólogo LOUIS JAMES AUBERTIN III — Você é a porra de uma vergonha, você sabe disso, não é? Eu não posso acreditar que você é o meu maldito filho. Se você não tivesse nascido dentre das paredes dessa casa, eu pensaria que a criança errada foi trazida para cá do hospital. Meu pai engole o que resta do seu champanhe e entrega a taça vazia a uma das inúmeras empregadas sem rosto. Sem rosto para ele, mas não para mim. Eu conheço Sarah, sei que ela acabou de se tornar avó pela primeira vez essa manhã, e não importa o quão mal meu pai a trate hoje, nem ele conseguirá tirar o sorriso do seu rosto. Ela me dá um encolher de ombros irônico, colocando a taça cuidadosamente em sua bandeja de prata, e então desaparece no meio da multidão. Meu pai não percebe toda a nossa troca de olhares. — Você não tinha nada que convidar pessoas para vir aqui essa noite, James. Esse é um evento político. Há pessoas importantes aqui. Pessoas sérias. Os seus amiguinhos não são companhia adequada. Você não é mais criança. Deus sabe que você talvez aja como uma, mas você não é. Eu enterro meus dedos em minhas palmas, embora a ação seja escondida dentro dos bolsos da calça do terno Ralph Lauren de quatro mil dólares que eu estou usando. O terno que ele me fez usar. — Cade Preston é um veterano, assim como eu, pai. Ele serviu ao seu país por quatro anos em um dos lugares mais perigosos desse planeta. E Laura acabou de se tornar sócia do escritório de advocacia do seu pai. Como eles não são pessoas sérias? Meu pai zomba. — Cade seguiu você até o outro lado do mundo porque vocês dois sempre tiveram essa ridícula noção romantizada da guerra. É por isso vocês só duraram duas rondas1. Vocês não aceitaram a patente dada a vocês por causa dos seus status. Vocês foram lá, Cada uma das viagens feitas até o local em guerra é chamada de ronda; o período que o militar passará lá pode variar de semanas a meses. 1

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cheios de energia e vigor, pensando que seria mais fácil começar do degrau mais baixo, onde não haveria responsabilidades. E então vocês não gostaram, caíram fora e voltaram para casa antes do trabalho estar terminado. Louis James Aubertin II ama me bater assim em público. Ele sabe que se ele me diz coisas assim no meio de uma multidão, não há nada que eu possa fazer além de sorrir e aguentar. Isso o faz se sentir grande. Superior. A coisa é, minha tolerância para esse tipo de tratamento está ficando curta pra caralho. — Os Fuzileiros Navais não são o degrau mais baixo. Eles são uma unidade de elite. É preciso de uma quantidade insana de trabalho duro e dedicação para sequer entrar. Se você acha que eu não tinha responsabilidades como um fuzileiro, então você claramente tem um conhecimento muito pequeno sobre como funciona o Exército dos Estados Unidos, — eu não me importo em defender o tempo que eu e meu amigo passamos mal sobrevivendo no deserto. Qual seria o ponto? O velho Louis não vai entender. Ele simplesmente diria que estou inventando desculpas. Ele não pode sequer compreender o que são quatro intermináveis longos anos em um lugar como aquele. Como a sujeira e a areia e os habitantes locais hostis e a pobreza e a doença e o calor e os carros-bomba e as amputações e os Talibãs e as vítimas de estupro e a dor e todo o sofrimento eventualmente te derrubam. Os olhos do meu pai brilham com a mesma fúria desenfreada que eu tenho provocado nele por anos. — Eu estive lá no Vietnã, seu merdinha, — ele cospe. — Eu estive lá do momento em que a guerra começou até ela acabar. Não me diga que eu não tenho ideia de como o Exército dos Estados Unidos funciona. Sim, o velho Louis esteve no Vietnã, e sim, ele esteve lá do início ao fim, mas ele não tem nada do que se orgulhar. Ele nunca segurou um rifle ou sujou as mãos um único dia durante todo o tempo de guerra. Ele ficou sentado com seus outros camaradas em um hotel a quilômetros da selva, onde o único conflito que eles encontraram foi com o papel higiênico áspero demais para limpar as suas bundas brancas mimadas. Eu digo tudo isso na minha cabeça, mas as palavras não saem da minha boca. Pressiono minha língua com firmeza contra os meus dentes da frente, apenas no caso de um insulto tentar escapar. É assim que tem sido por anos. Tantos anos malditos. Nosso ódio mútuo pelo outro somente aumenta conforme o tempo passa. Eu o odeio porque ele

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é um velho homem mal, cruel e raivoso. Ele me odeia porque eu matei minha mãe. Bastante justo. Na verdade, eu me odeio por ter matado a minha mãe também, mas não havia muito o que fazer na época. Eu nasci e o destino decidiu levar a mulher que me carregou por nove meses em seu ventre, apenas três segundos depois que eu cheguei ao mundo chutando e chorando. Foi totalmente não intencional da minha parte. Meu pai acena para outro membro da equipe dos empregados à espera, Gavin dessa vez, e pega outra taça de champanhe sem um agradecimento. — E essa garota? Laura Preston é uma mulher impertinente que não sabe segurar a língua. Ela acabou de virar sócia no escritório do seu pai exatamente por isso – é o escritório do seu pai. Ela não teria conseguido nada se tivesse que conquistar algo por conta própria, James. Não há como negar isso. E apenas... apenas olhe o que ela está usando, pelo amor de Deus. Ela parece uma maldita prostituta, — ele aponta para o outro lado da sala, onde Laura, irmã de Cade, está rindo com um cara jovem que eu não conheço, sua cabeça jogada para trás enquanto ela solta uma gargalhada divertida. Seu cabelo loiro e cortado curto não está cobrindo seu rosto – o que era um milagre, considerando o seu estado rebelde natural – e há o mais leve toque de rubor em suas bochechas. Ela sempre disse que nunca usaria maquiagem quando crescesse, e por muito tempo ela não usou. Ela não precisa, e com toda certeza ela nunca foi muito feminina, mas essa noite ela está ótima com o leve toque de cor iluminando o seu rosto. O vestido que ela está usando é decorado com lantejoulas douradas, que refletem a luz dos lustres acima das nossas cabeças, enviando fragmentos de ouro, luz ardente dançante, pelas paredes e pelo teto. Não é algo que uma mulher respeitável do Alabama usaria na companhia de pessoas educadas, e é exatamente por isso que ela o escolheu. Eu quero muito ir lá cumprimentar ela por isso, mas esse tipo de comportamento seria desaprovado. — Assim que os discursos acabarem, eu quero vocês três fora daqui. Você me entendeu? Eu não me importo para onde você vai. Apenas tenha certeza de não ficar na propriedade. Só Deus sabe o que vai acontecer se vocês três começarem a beber. Mostro meus dentes ao meu pai, arruinando minha máscara de falsa civilidade. — Com prazer, — mal sabe o meu pai que eu já comecei a beber e não tenho a porra da menor intenção de parar. Essa seria

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uma ideia realmente estúpida a essa altura dos acontecimentos. Afinal, os discursos ainda vão durar pelo menos mais uma hora. Eu tenho que sobreviver a esse circo ridículo até lá, e duvido que meu pai prefira que eu cheire uma carreira de cocaína em vez da opção alcóolica. Eu lhe dou um aceno de despedida zombador quando ele se vira e sai no meio da multidão, sorrindo como se estivesse apenas tendo uma conversa amigável entre pai e filho e não tivesse outra preocupação no mundo. No canto mais distante da sala, o quarteto de cordas que eu vi se arrumando mais cedo começa a tocar, enviando as notas quentes e brilhantes do Minueto de Boccherini flutuando até o teto de pé direito alto. Que farsa da porra. De repente a gravata ao redor do meu pescoço parece que vai me sufocar. Laura levanta o olhar para mim a partir da conversa que ela está tendo com o cara que eu não conheço e me dá um pequeno aceno, me chamando para ir lá. Eu não quero ser apresentado a um dos filhos dos amigos imbecis de Harvard do meu pai. Eu preferiria furar os meus olhos com um garfo de merda a ter que passar por toda aquela maldita conversa de sim, eu fui para o MIT. Não, eu não conheço fulano de tal. Sim, eu servi no Exército. Não, eu não vou te contar a coisa mais fodida que eu vi. Não, eu não vou te dizer quantas pessoas eu matei, seu turista do caralho. No entanto, eu parecia ter pouca escolha no assunto. Laura sorriu para mim enquanto eu fazia meu caminho até ela. — Jamie! — ela jogou seu braço ao redor da minha cintura, se acomodando na minha lateral, então eu naturalmente coloquei meu braço sobre os seus ombros. Ela me olha com aqueles seus grandes olhos castanhos e pisca. — Jamie, esse é Edward Lamont. Ele é filho de um dos amigos do seu pai. Eles... — ela franze a testa, se virando para Edward. — Como é mesmo que o seu pai conhece o governador? — Ah, eles eram colegas de faculdade. Bem, estou surpreso pra caralho mesmo. Edward estende sua mão para que eu o cumprimente, uma parede de dentes brancos que brilha no escuro quase me cega quando ele sorri para mim. — É um prazer te conhecer, Jamie. Eu ouvi falar muito sobre você. Seu pai é um homem incrível.

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— Ele não é? — eu solto a mão de Eddie Empolgado 2 de um puxão e me viro para Laura. — Onde está o seu irmão, afinal? Eu não o vi ainda. — Ah, ele está por aí em algum lugar. Eu acho que papai estava mostrando a ele alguma empresa de segurança privada ou algo assim. Ei, você não está indo, não é? — ela faz aquela coisa de filhote saltitante quando eu me solto do seu abraço. Eu sei que ela está tentando me usar como escudo entre ela e Edward, mas eu realmente não tenho a energia para ser legal nesse momento. — Desculpe, Lore. Eu volto logo, eu prometo. Edward, foi um prazer te conhecer, — Laura me atira adagas com o olhar quando eu me esgueiro na confusão de pessoas. Eu vou provavelmente ouvir sobre isso durante semanas, mas preciso fugir daqui. Não há outro caminho. Eu não consigo encontrar Cade no meio do mar de filhos da puta de cabelos grisalhos e suas esposas loiras plastificadas, então pego um uísque da bandeja de Sarah, pergunto a ela sobre o seu neto, e vou em silêncio beber sozinho em um canto escuro. Meu pai se move de um pequeno grupo de pessoas para outro, continuamente enfiando canapés na boca e jogando champanhe goela abaixo até que ele estava tropeçando nos seus próprios pés. Parece que o discurso do ano vai ser arrastado novamente. Finalmente a banda para de tocar para fazer uma pausa, e eu avisto Cade do outro lado da sala, conversando com Laura e Eddie Empolgado. De jeito nenhum eu vou voltar lá agora. Eu tomei seis doses de uísque e já escapei com sucesso daquela situação claustrofóbica uma vez. Cade vai vir me encontrar quando ele tiver o suficiente daquela porcaria pretensiosa, e nesse momento eu já vou estar confortavelmente entorpecido, de qualquer maneira. — Com licença? Você...? Oi. Você sabe onde ficam os banheiros? Eu estou morrendo aqui e só tenho alguns minutos, — na minha frente há uma pequena garota morena, com lindos olhos azul claro, com as mãos agarrando a sua barriga, como se ela estivesse prestes a mijar no chão perfeitamente encerado do meu pai. O vestido preto curto que ela está usando mostra suas deliciosas e bronzeadas pernas. — Se eu sei sabe onde é o banheiro? — eu pergunto. — Sim. Desculpe, você provavelmente não tem ideia também, — ela diz, rindo nervosamente. É o apelido que ele dá para o tal Edward, porque ele está tão entusiasmado e empolgado, aparentemente, por conhecê-lo e em elogiar o seu pai. 2

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— Ah, eu sei onde é. Eu cresci aqui, — eu viro o resto do uísque em meu copo e lentamente o coloco aos meus pés. Então me levanto e ofereço meu braço para ela. — Vamos lá. Vou te escoltar diretamente até lá. Ela parece um filho de cervo assustado, suas bochechas coram, mas ela coloca a mão no espaço do meu braço e me segue mesmo assim. Eu não a levo para o banheiro que fica embaixo da escadaria. Eu não a levo para o banheiro no corredor dos empregados, logo ao lado da cozinha. Eu a levo para o andar de cima, direto para um banheiro de uma das suítes de hóspedes da casa. — Obrigada. Se você descer e ver um violinista parecendo muito irritado, pode dizer a ele que eu vou estar lá em um segundo? Eu me encosto contra a parede, puxando com força a minha gravata. — Então você é uma das músicas do quarteto? As bochechas dela ficam ainda mais vermelhas. — Sim. Eu sou... a violoncelista. Eu tenho uma resposta muito inadequada sobre ela gostar de ter um pedaço sólido de madeira entre as pernas, mas mantenho a boca fechada. Ela não é o tipo de garota com quem você usa esse tipo de cantada. Ela é o tipo de garota que você trata com cuidado. Mas eu não sou do tipo que se aproxima com suavidade, no entanto. Há uma linha muito fina entre apavorar uma mulher como essa e tê-la tão excitada que ela está com os joelhos tremendo. — Você é muito bonita. Você sabia disso? Ela engole em seco. — Eu... obrigada. Isso é muito gentil. — Você me acha atraente? — O quê? — Você acha que eu sou atraente? — Bem, essa não é uma pergunta que as pessoas normalmente fazem para outras que elas conheceram há cinco segundos, — ela diz, rindo baixinho. — Talvez não. Mas você está aqui, trabalhando, e eu estou aqui, sofrendo, e me parece que nós dois vamos deixar esse lugar logo. Provavelmente nunca vamos nos ver outra vez. Então não temos muito

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tempo a perder. Se você não me acha atraente, eu vou, com prazer, ser um cavalheiro e voltar lá para baixo. É o que você quer? Ela me olha como se eu tivesse acabado de lhe dizer que alienígenas estão invadindo e o planeta está prestes a explodir. Sua boca cai aberta e então se fecha duas vezes. — Eu... — Não se preocupe, pequena violoncelista. Eu vou encontrar o seu violonista irritado e dizer a ele que você vai estar lá embaixo em um segundo, — eu me movo para sair, mas ela coloca a mão no meu braço, me fazendo parar. — Claro que eu acho que você é quente, — ela diz baixinho. — Você é jovem e sexy, um James Bond de terno. E seus olhos são... — ela balança a cabeça, aparentemente ser ter certeza de como deve terminar a frase. — Talvez eu queira que você esteja aqui quando eu sair do banheiro. Isso é ruim? Me inclinando de forma que a minha boca pare a apenas alguns centímetros da dela, eu olho para os seus lábios, sabendo que ela quer que eu a beije. Sabendo que ela quer que eu faça inúmeras coisas ruins com ela. — Vá usar o banheiro. Quando você sair, eu vou te mostrar como nós podemos ser maus juntos. Sua respiração fica presa na garganta, mas ela não muda de ideia. Ela faz o que eu disse e usa o banheiro, e quando ela sai eu cumpro com a minha palavra. É bem nesse momento que Laura entra no quarto chamando meu nome. Eu tenho a minha língua na pequena garganta da violoncelista, o vestido dela está empurrado até a cintura, deixando seus seios expostos, e dois dos meus dedos estão dentro da sua buceta molhada. Laura para de repente, um olhar horrorizado aparece no seu rosto. — Jesus, Jamie. — Oh, meu Deus, — a pequena violoncelista tropeça enquanto arruma a roupa, balançando a cabeça enquanto se afasta de mim. — Oh, meu Deus, eu sinto muito. — Você não tem nada do que se desculpar, — eu digo a ela, mas ela está se movendo tão freneticamente que não me escuta. Laura a observa sair correndo do quarto com a boca aberta como um alçapão balançando. Eu ainda estou completamente vestido, e graças a entrada repentina de Laura, a minha ereção desapareceu completamente

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também. — Perfeito, Lore. Apenas perfeito, porra. Você se esqueceu de bater? — Você está brincando? — ela atira as mãos no ar, me olhando em descrença. — Era você quem estava fodendo com os dedos uma garota qualquer e está atirando em mim essa merda? É meio que hilário ouvir Laura dizer fodendo com os dedos, mas eu consigo esconder meu sorriso. — Qual o problema? Você nunca foi pega em flagrante antes, Laura Preston? Nunca foi pega com as calças baixas? — Não! — ela parece se perder por um momento, e então ela está tirando seus sapatos dourados de saltos gigantescos, e merda, ela está os jogando em mim. O primeiro sapato não me acerta por alguns centímetros. O segundo passa vibrando pela minha cabeça para atingir o enorme espelho emoldurado na parede atrás de mim, quebrando o vidro em milhões de pedaços minúsculos. — Mas que porra é essa, Laura? — Você! Eu não posso... — ela coloca a mão sobre a boca e é então que eu noto que seus olhos estão cheios de lágrimas. — Eu não posso acreditar em você, porra, — ela sussurra. Ah, droga. Não é assim que alguém reage quando flagra seu amigo fazendo algo questionável. Não é assim mesmo. Eu atravesso o quarto, levantando as mãos enquanto me aproximo dela, me inclinando um pouco para poder olhá-la nos olhos. — Ei. Ei. Eu estou realmente confuso pra caralho. Você quer me dizer o que está errado ou eu devo ir falar com Cade? — Não se atreva a ir falar com Cade, — ela assobia. — Você e Cade, grudados o tempo todo, vinte e quatro horas por dia, sete malditos dias por semana. Você e Cade desaparecendo na porra do Afeganistão, me deixando aqui sozinha. Eu esperei por você por malditos quatro anos, Jamie. Quatro anos acordando todas as noites suando frio, imaginando qual de vocês ia morrer primeiro. E então você veio para casa e mal... mal olha para mim e... Oh. Porra. Sério?

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Seu cabelo, perfeitamente preso para trás quando ela entrou no quarto, agora se soltou e está caindo sobre o seu rosto, como costumava ficar quando ela era uma garotinha. Eu me aproximo, colocando uma mecha atrás da orelha. — Laura... — Não. Não! Porra, Jamie, você acabou de enfiar os seus dedos dentro da vagina de uma garota. Eu considero lhe dizer que foi com a outra mão, mas então chego à rápida conclusão de que Laura vai provavelmente me estrangular até a morte com a minha própria gravata se eu fizer isso. Escorrego minhas mãos dentro dos bolsos, limpando a garganta. — Lore, — eu digo com cuidado. — Há alguma coisa que você quer me dizer? — Vai se foder, Jamie. Eu não deveria ter dito isso a você. Você já devia saber! Ahhh! Homens! Por que vocês todos são tão ignorantes? Como você pode ser tão completamente cego sobre algo que esteve bem na sua frente desde que nós éramos crianças, Jay. Eu só... eu só quero sair daqui. Ela é um turbilhão de energia tensa e punhos cerrados quando irrompe para fora do quarto. Eu vou atrás dela, a agarrando gentilmente pelo pulso, tentando pará-la, tentando processar tudo isso rápido o suficiente na minha cabeça para lidar com as coisas aqui e agora, mas Laura tem outras ideias. Ela se vira para mim, a mão levantada, e sua palma faz contato com o meu rosto, me acertando com força. Eu posso ver pela dor em seus olhos que ela se arrepende disso imediatamente. — Merda, — ela cobre a boca com uma mão. — Merda, eu sinto muito. Eu só... — Está tudo bem. — Eu só não posso... — lágrimas grossas escorrem pelo seu rosto, balançando como pequenos cristais em seus cílios escuros. — Está tudo bem, — eu repito. — Está tudo bem. Nós podemos falar sobre isso amanhã. Ela acena apenas uma vez. — Amanhã, — ela diz. E então ela se vai correndo pelas escadas de pés descalços, minúsculas faíscas de luz refletindo por todo o lugar como fogos de artifício silenciosos quando as lantejoulas do seu vestido encontram a luz. É só na manhã seguinte que Cade me liga para me dizer que sua irmã nunca chegou em casa. ~ 13 ~


Capítulo Um REBEL A guerra nem sempre é uma coisa barulhenta e chamativa. Ás vezes, é um carro percorrendo lentamente o caminho que leva à frente da sua casa no meio da noite. Às vezes, é uma ligação anônima da polícia. Às vezes é o comandante de um cartel mexicano aparecendo em uma pequena cidade no Novo México para fazer da sua vida um inferno. E, às vezes, são três homens se esgueirando pela grama alta com armas nas mãos, prontos para atirar em você enquanto você dorme. Eu estou sangrando por todos os lugares do caralho. Um dos guardas de Hector Ramirez me cortou com a sua faca e agora a ferida está derramando meu DNA por toda a grama. Eu não posso pensar nisso agora, no entanto. Honestamente, eu não estou pensando em nada. Eu estou preso nessa mesma insanidade que tem me segurado desde que entrei na cozinha do meu pai e vi Leah morta no chão, com a garganta cortada de uma orelha a outra, e aquele filho da puta presunçoso me cumprimentou do outro lado do aposento. Não há espaço para a sanidade dentro de mim agora. Não depois de Leah. Meu tio foi uma coisa, mas adicione outra mulher inocente que eu deveria proteger, e não há mais Jamie. Nem Rebel existe mais. Há apenas loucura e fúria, amarradas com o ácido incendiário da vingança. Isso vai comendo tudo no caminho, até não restar mais nada. Sinto uma mão no centro das minhas costas, agarrando a minha camiseta. É Cade, tentando me dizer para eu me acalmar, mas me empurro para longe, me apressando em frente. Atrás de mim eu o escuto me xingando sem parar. Carnie também está em algum lugar lá atrás. Apenas nós três viemos para este trabalho. Como o mais novo membro do Widow Makers, eu não deveria ter trazido Carnie junto nesta viagem particular, mas o cara é metido pra caralho. Ele nos pegou no flagra quando estávamos saindo do complexo. Ele teria nos seguido até aqui, de qualquer forma. Ele tinha Margot, a arma que ele nomeou

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em homenagem à sua mãe, engatilhada e carregada desde que subiu na sua Ducati. No mesmo dia em que Sophia e eu voltamos do Alabama, Hector apareceu com a sua comitiva, caminhando pelas ruas como se ele fosse o dono do maldito lugar, bebendo café do lado de fora do meu maldito estúdio de tatuagens, enviando uma mensagem muito clara: eu estou aqui para acabar isso. E se é isso que o homem quer, quem sou eu para discutir? Eu já tive o suficiente. Eu deveria ter mandando Sophia embora no segundo em que vi o corpo na cozinha do meu pai e percebi que essa coisa nunca iria a julgamento. Nunca iria superar os tradicionais hábitos de faca-no-peito-enquanto-você-dorme. Soph deveria estar em casa com a sua família, e em vez disso eu a tenho sob vigilância na minha cabana, provavelmente quebrando tudo e furiosamente louca, e tudo porque eu a coloquei nessa posição de merda. Porque onde Hector Ramirez vai, Raphael Dela Vega vai atrás. E depois do que Sophia me contou – que Raphael ameaçou matar toda a sua família e fazer coisa ainda pior com ela – eu não vou deixar que ela saia dessa cabana até que o filho da puta esteja morto e enterrado. — Cara, se acalma, caralho. Eles vão nos ver chegando, — Cade sibila atrás de mim. Mais à frente, o piso térreo da pequena e inócua casa de campo que Hector tomou como residência está iluminada contra a escuridão, derramando uma luz amarelada sobre a varanda e a cerca que contorna a propriedade. Sombras se movem lá dentro. Eu não pensei nem por um segundo que iria encontrar todo mundo dormindo na casa, mas é frustrante ver tantas pessoas de movendo de um lado para o outro. Eu só estou interessado em matar uma pessoa: Hector. Depois do Afeganistão, eu tenho em minhas mãos sangue suficiente para me afogar nele. Eu não tenho o costume particular de adicionar corpos à minha contagem, mas se alguém ficar no meu caminho, se matar outras pessoas significa poder dar um a Ramirez, então que seja. Minha alma já está amaldiçoada ao inferno. Eu posso muito bem realmente fazer por merecer meu lugar lá. A noite tem cheiro de gasolina e maconha, sendo que esse último deve estar vindo da casa. Me agachando a trinta metros da casa iluminada, eu digitalizo a escuridão, tentando ver se há mais guardas que precisam ser derrubados. Eu cometi um erro estúpido e irresponsável antes. Não estava esperando que houvesse guardas tão longe da casa. Quando o primeiro cara emergiu da noite escura e me atacou, ele me pegou de surpresa. Eu, Cade e Carnie, conseguimos ~ 15 ~


lidar com os quatro que vieram para cima de nós, mas foi por pouco. Estúpido. Eu deveria ter sido mais cauteloso. Não estou arriscando apenas a minha vida aqui, mas também a de Cade e Carnie. — Quantos? — Cade sussurra. Meu melhor amigo coça a barba curta que ele deixou crescer nas últimas semanas, franzindo a testa com gravidade. Eu não posso contar quantas vezes nos encontramos juntos nessa mesma posição, agachados no escuro, planejando fazer algo errado. É meio que um consolo, que na maioria das vezes foi em nome do governo dos Estados Unidos. Nós podemos não ser mais ratos do deserto, mas ainda somos soldados. Ainda estamos lutando uma guerra. Exceto que essa foi criada por nós, e não há como sair dela. Não há como recuar. Ela é necessária. — Pelo menos seis, — eu respondo. — Eu contei apenas cinco, — Carnie diz. — Três na sala de estar, um na cozinha. Um no corredor. Ele está certo, mas seus olhos não são afiados como os meus. Eu olho para cima da casa, segurando minha respiração, acalmando meus batimentos. — Há mais um. Lá em cima. Janela da esquerda. Ele está olhando para nós agora. Carnie faz um som de descrença. — Você está maluco. O quarto está um breu. Não dá para ver merda nenhuma. — Ah, ele está lá sim. Eu posso vê-lo muito bem, — para ser justo com Carnie, talvez eu não consiga vê-lo do jeito tradicional. O quarto é pura escuridão, mas eu posso sentir – Ramirez está lá, de pé nas sombras do quarto, esperando pacientemente pela minha chegada. Posso sentir sua presença tão intensamente que os cabelos na minha nuca ficam em pé. Ele esteve lá o tempo todo, apenas esperando que eu aparecesse. Com todo o seu show arrogante e exibicionista pela cidade, ele esteve empurrando meus botões, sabendo que estava cada vez mais e mais perto de me trazer para fora. Eu sou um filho da puta muito estúpido. Normalmente eu sou mais esperto que isso, mas a fúria sobre as mortes de Ryan e Leah me fizeram perder temporariamente o juízo. Cade me dá uma cotovelada, grunhindo baixinho. — Nós estamos aqui, cara. Você quer fazer isso agora, nós vamos fazer. Mas talvez...

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— Sim, eu sei, — eu suspiro com força. Com raiva. Quero socar meus punhos na terra em frustração, mas isso não levaria a porra de lugar nenhum. — Você pode estar errado, — Carnie sussurra. — Eu tenho impressões ruins o tempo todo. Nosso cérebro nos prega peças épicas às vezes. — Ele não está errado, imbecil. Ele nunca está errado, — o baque surdo do soco de Cade no braço de Carne é discreto, mas o grito de dor de Carnie, não. — Jesus, cara. Cala a porra dessa boca. Você quer nos matar? — Eu acho que ele não viu a gente, — eu sussurro, os ignorando. — Mas não tenho certeza. Hora de ir embora. — Ir embora é a última coisa que quero fazer. Eu quero invadir essa casa e atirar em alguns filhos da puta. Eu quero enterrar a ponta da minha faca no peito de Hector Ramirez e observar a luz em seus olhos se apagar quando o aço mergulhar mais fundo. Mas Ramirez é um homem esperto. Ele sabe que eu estou chegando. De jeito nenhum há somente seis homens aí dentro. Ele tem um exército escondido, pronto para acabar com as nossas vidas antes mesmo que nós pisemos na porra da varanda da casa. — Vamos lá, cara. Nós vamos pegar o filho da puta, não se preocupe. Mas não vai ser assim, — Cade diz. Eu o deixo me puxar para trás, suas palavras acalmando a adrenalina fervilhante correndo por minhas veias, exigindo vingança. Eu de repente me sinto exausto. — Ok. Ok, — eu tomo uma respiração profunda, abrindo minhas mãos, sem perceber que estive com elas fechadas em punhos. Enquanto me afasto da casa com os meus rapazes, andando abaixado para permanecer fora de vista, me sinto enjoado. Estamos saindo vivos, mas de alguma forma isso parece uma derrota. Estou cantando as mesmas palavras uma e outra vez em minha cabeça enquanto a casa de campo fica para trás até desaparecer de vista. Isso não acabou, seu filho da puta. É apenas o começo.

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Capítulo Dois SOPHIA Eu desisti de gritar. Isso não me levou a lugar nenhum em dois dias, então eu imagino que é apenas perda de energia. Eu também não vi Rebel em dez dias. Dez dias presa na sua cabana enquanto ele está lá fora, fazendo só Deus sabe o que, e eu estou aqui enlouquecendo. Eu achei que nós tínhamos superado isso. Achei que essa parte tinha acabado. Eu deveria saber, pelo seu silêncio e introspecção no caminho de volta do Alabama, que as coisas estavam de volta onde estávamos no início de tudo. Eu me enganei ao pensar que ao concordar em ajudá-lo, em recusar a oportunidade de voltar para a minha família, ao transar com ele, pelo amor de Deus, as coisas mudariam entre nós. Agora eu só me sinto uma idiota. Por tudo isso. Houve um breve momento em que eu consegui sair. Setenta e duas horas depois que Rebel parou a Humvee no estacionamento e me trouxe para essa casa em cima do morro, trancando a porta atrás de mim, o prospecto, Carnie, apareceu e me levou para o deserto, chutando e gritando. Ele não teria me dito o porquê, mas depois de eu passar uma hora testando a sua paciência, ameaçando até sufocar o tempo todo em que estivéssemos dentro desse Firebird de merda, o cara cedeu. — Os policiais estão no complexo, procurando por evidências que liguem o clube àquele tiroteio em Los Angeles. Eu fico horrorizada quando leva apenas um segundo para me lembrar do que ele está falando – o tiroteio no Trader Joes, em que todas aquelas pessoas foram mortas por um homem usando um colete dos Widow Makers. — Sim, um dos amigos do tio de Rebel ligou e lhe deu uma atualização. Disse a Rebel que a polícia pegou os caras que fizeram isso em Irvine, ainda usando os coletes falsos, bêbados pra caralho. O gordo, que supostamente era o presidente do clube, confessou que eles foram

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contratados para fazer o trabalho. Entregou Maria Rosa na mesma hora, em troca de uma pena mais branda. — Ela ainda vai causar problemas? Essa Maria Rosa? Carnie tem um olhar distante que parece quase romântico. — Pelo que me disseram, a Cadela Colombiana causa problemas onde quer que ela esteja no mundo. Eu não ficaria surpreso. Ele me levou de volta ao complexo quando a noite começou a cair, e então direto para a cabana, ignorando o meu vocabulário colorido e as minhas ameaças de acabar com ele. Isso foi na quarta-feira passada. Agora é quarta-feira de novo. Amanhã de manhã eu deveria estar acordando às sete horas e sair para correr antes de ir para minha aula de Ciências Humanas. Em vez disso. Carnie, com seus óculos arredondados e seu cabelo hispter dividido para o lado3, vai me trazer meu café da manhã e se recusar a me dizer qualquer coisa, e eu vou xingar ele ou ignorá-lo completamente, dependendo do meu humor. Esse ciclo se repete infinitamente, uma e outra vez. Essa noite, no entanto, Carnie já deixou aqui meu jantar. Eu o chamei de desgraçado sem alma e atirei o prato com rocambole de carne na sua cabeça, mas joguei torto e ela acertou a parede. Eu realmente preciso trabalhar a minha mira. O rocambole de carne está ali no chão desde então, ficando frio e duro a cada segundo, entre os cacos quebrados da porcelana. Se Sloane estivesse aqui, ela saberia como sair dessa situação fodida. Eu posso garantir isso. Ela é esperta, independente e teimosa, e ela não desistiria até encontrar um jeito de conseguir o que ela queria. Isso me deixa ainda mais furiosa que eu esteja aqui sentada vendo Se Beber, Não Case pela décima oitava vez. A TV na cabana de Rebel não tem sinal, apenas um monte de DVDs disponíveis, e todos eles do mesmo tipo de comédia sem graça e estúpida que eu nunca assistiria normalmente. Agora, eu já vi cada um deles. Estou começando até mesmo a decorar as falas.

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É mais ou menos isso aqui: ~ 19 ~


Alan acaba de confessar que ele drogou os outros rapazes no filme quando a porta da cabana se abre e Rebel entra, maior que a vida. Essa é a última coisa que eu estou esperando, uma vez que eu estive pedindo para ver ele durante toda a última semana e meia e ele não me agraciou com a sua presença. Uma parte de mim estava pensando que ele talvez estivesse ferido ou algo assim. Machucado ao ponto de não poder andar. Parado de pé na porta agora, posso ver que ele está caminhando muito bem. Ele olha para os seus pés e faz uma careta para a minha comida fria espalhada pelo chão. — Que porra é essa? — ele me olha como se eu fosse uma criança desobediente, pega me comportando mal, e eu automaticamente me encolho no sofá. Eu paro, quase gritando comigo em voz alta por quão ridícula é a minha reação. Eu não deveria me encolher perante ele. Eu sou a porra da prisioneira aqui. Eu tenho a permissão de me revoltar, se eu malditamente quiser. — Algum problema? — eu devolvo, me sentando direito. — Sim. Tem comida do caralho por todo o meu maldito chão. Eu mesmo fiz com as minhas próprias mãos, — ele grunhe. — Então você deveria ter me jogado no porão ou algo assim e ter evitado isso, não é? — Não me tente, caralho, — Rebel passa por cima da bagunça de comida e bate a porta fechada atrás dele a trancando antes de irromper pela sala. Eu tento não vacilar quando ele para na minha frente. — Se levante, Soph. Tomo uma respiração profunda. — Não, — sinto minha pele apertada, do mesmo jeito que acontecia quando eu ousava enfrentar meu pai. Não que eu esteja comparando o homem na minha frente com o pastor gentil e preocupado comigo em Seattle, mas essa situação parece... parece realmente que eu estou sendo punida. Inclinando a cabeça para o lado, Rebel se agacha, então nossos olhos estão na mesma altura. Seus olhos são azul gelo, frios. Intensos. Tão ferozes que eu mal posso encará-los. Estou orgulhosa do fato de que não desvio o olhar, no entanto. — Qual parece ser o problema? — ele pergunta lentamente, como se estivesse segurando seu temperamento. Teve uma noite ruim, amigão? Adivinhe só? Eu também tive. Me inclinando para frente, para que meu rosto fique mais perto do dele, respiro profundamente e torço o nariz, tentando domar minha própria raiva. — Porra, você está brincando comigo, não é? ~ 20 ~


Ele pisca. Ele está congelado como uma rocha, olhando diretamente para mim. Ele está se segurando, mas do que eu não tenho total certeza. Nem por um segundo eu penso que ele vai me machucar, mas há algo sobre o seu escrutínio, a sua imobilidade que é intimidante. — Você esteve entediada ou algo assim? — Você pode dizer isso. — Você sabe o não é entediante? — Calma. Ele está calmo pra caramba. Isso está começando a me deixar no limite. Ele continua falando suavemente, mas há um toque de perigo na sua voz. — Ser acorrentada, estuprada e assassinada. Isso não é entediante, certo? — Esse lugar é uma fortaleza, Jamie. Eu estaria bem fora daqui, junto com os outros. Quantas pessoas você tem vivendo no complexo, pelo amor de Deus? Deve haver uns vinte motoqueiros aqui. Ele inclina a cabeça outra vez, franzindo a testa. Ele provavelmente está se perguntando como eu sei isso; você não pode ver nada além de árvores e uma cordilheira bem distante das janelas da cabana. Mas com tão pouco para fazer o dia todo, eu me tornei muito boa em escutar. Eu não sabia nada sobre motores antes de vir para cá. Eu ainda não sei nada sobre eles agora, também, além do fato de que cada um tem um som diferente. Passei horas deitada na cama de Rebel, com os olhos fechados, ouvindo atentamente. Imaginando qual moto era qual. Quem estava indo e chegando. Sem saber quem estava dirigindo cada uma, claro, mas ainda assim. Os olhos de Rebel brilham, os músculos da sua mandíbula se contraem quando ele aperta os dentes. — Raphael Dela Vega está aqui. Na cidade. — Espere. O quê? — meus braços e pernas de repente parecem frios, dormentes. Isso... isso não faz sentido. O que ele estaria fazendo aqui? Minha raiva direcionada a Rebel não importa mais. Bile sobe pela minha garganta enquanto eu tento processar esse pedaço de informação, mas é tão difícil que não se assenta na minha cabeça. Novo México é muito longe de Seattle, e muito longe mesmo de Los Angeles. Meu cérebro tenta juntar tudo para chegar à alguma razão lógica de porque Raphael estaria aqui, aqui de todos os lugares. Alguma razão que não seja o fato de que ele deve ter vindo por mim. Eu fico imóvel. Rebel se mexe pela primeira vez, balançando um pouco, como se estivesse com dor. — Eu não quero nem que ele veja você aqui, Sophia. Se ele te ver, muito provavelmente vai tentar achar um jeito de entrar no complexo, e então o quê? Alguém nos trai e você vai estar deitada em ~ 21 ~


uma poça do seu maldito sangue? Não. De jeito nenhum, — ele diz isso muito baixo, e ainda assim há tanta determinação por trás das suas palavras. — Você não veio aqui por dez dias, — eu rosno. Ele pisca de novo, olhando diretamente para mim. — Você queria me ver? — Sim! Com toda certeza do inferno eu não queria ser mantida no escuro sobre o que está acontecendo no mundo lá fora! Você... nós dormimos juntos! E então você se foi. Você me trancou aqui e desapareceu da face da Terra. — Então é isso? Você só queria que alguém viesse aqui te foder? Tenho certeza que qualquer um dos garotos teria ficado feliz com isso se você tivesse dito a eles. Eu reajo sem pensar. Eu me lanço sobre ele, minha mão voando no ar para acertar o seu rosto antes que eu possa me parar. Minha palma faz contato com a sua bochecha, um estalo alto enche o ambiente. — Não se atreva, porra, — eu rosno. — Não se atreva a fazer isso. Você me comprou como se eu não fosse mais que um pedaço de carne, como se eu fosse uma maldita propriedade, e então me fez me importar com você. E me fez pensar que você se importa comigo. Você me enganou, me fez parecer uma idiota completa, e então vem aqui tentar me fazer parecer algum tipo de vadia, também. Não se atreva. Todo meu corpo está vibrando com raiva. Eu já ouvi a expressão ―ver vermelho‖ antes e nunca tinha entendido, mas agora eu sei que é um termo bastante literal – é quase como se eu o estivesse vendo sob uma película vermelha. Rebel passa a língua sobre os dentes, lentamente levantando a mão para tocar com os dedos na marca vermelha que eu deixei em seu rosto. Ele fala com calma, muito devagar. — Sophia, só para constar, você é a única pessoa no mundo todo que poderia sair impune disso. — Ah é? Bem, se você não sair da minha frente, eu vou fazer de novo, seu imbecil, — eu cuspo. — Eu saí essa noite com a intenção de matar um homem. Você acha que eu vou ter alguma objeção moral a amarrar uma mulher que está se comportando mal? Me inclino ainda mais para frente, então nossos rostos estão a uma polegada de distância. — Tente. ~ 22 ~


O comportamento calmo e supercontrolado de Rebel deveria ter sido a minha pista do fato de que ele esteve à beira de estourar esse tempo todo. Ele se atira para frente, suas mãos agarrando meus braços, me prendendo no sofá. — Você realmente não quer fazer isso comigo, Soph, — ele sussurra. Eu quero, no entanto. Eu quero arrancar os seus olhos. Eu quero lhe dar um soco tão forte que ele perca os dentes. Eu quero quebrar os seus ossos e assistir ele sangrar. Acho que ele talvez esperasse que eu recuasse assim que ele me agarrasse, mas não. Eu me contorço debaixo dele, batendo com meu joelho na sua lateral. Ele se dobra, puxando uma respiração profunda e dolorida. Puxando meus braços para longe das suas mãos, eu deslizo de debaixo dele e bato com meu punho fechado na sua lateral, o mais forte que consigo. Rebel cerra os dentes, amaldiçoando entre eles, pulando de pé. — Você é maluca, caralho! — Acho que é isso que acontece com uma pessoa quando você a tranca por dez dias sozinha, e então aparece a acusando de ser uma puta. — Eu não te acusei de ser uma puta. — Mas deu na mesma. Você acha que só porque eu dormi com você, eu iria querer dormir com qualquer um dos seus seguidores brutos e grosseiros? Eu não sou uma vadia de clube para ser passada de mão em mão como um maldito tira-gosto! Ele vem até mim de novo, tentando me pegar, e é quando eu noto o sangue nas suas mãos. Minha mente instantaneamente se lembra do que ele acabou de dizer sobre sair para matar alguém essa noite, e eu recuo. Oh meu Deus. Não, ele não poderia. Ele... ele realmente fez isso? Rebel vê minha raiva mudar para horror e para repentinamente no meio do caminho. — O quê? — Suas mãos, Rebel. Que merda é essa nas suas mãos? Ele olha para elas, uma pequena ruga se formando em sua testa, as sobrancelhas se juntando. Sua expressão aponta confusão verdadeira, embora o sangue fresco em suas mãos indique outra coisa. Seu rosto está pálido. — Eu não...

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Eu grito quando ele cambaleia para o lado e cai no sofá, sobre um dos joelhos. — Mas o que é isso? Rebel? Rebel! — ele parece estar à beira da morte. — Oh meu Deus, por favor... o que há de errado? — eu toco o seu lado, o lado que eu bati com o joelho, e minhas mãos saem cobertas de sangue. Sua camiseta está toda encharcada. Eu não percebi antes porque o tecido é preto, mas agora que estou olhando mais de perto, posso ver a mancha escura e fresca se espalhando sobre o seu estômago. — Isso... isso é seu? Rebel acena, segurando seu lado com uma mão. — Vá buscar Cade. — O que aconteceu? — Vá buscar Cade, Soph. — Rebel! — Jesus, eu fui esfaqueado mais cedo. Você acabou de me dar uma joelhada sobre a ferida. Agora, por favor, porra... vá buscar Cade. Eu não vou a lugar algum. Me ajoelho ao lado dele, puxando a sua camiseta. — Me mostre. Me mostre, pelo amor de Deus, — o desgraçado merece estar com dor por tudo que ele me fez passar desde que voltamos do Novo México, mas agora que ele está potencialmente sangrando no chão da sua cabana, eu de repente não tenho tanta certeza se quero que ele morra. Ele tenta puxar sua camiseta para baixo, mas ironicamente eu sou mais forte do que ele agora. Um raio de surpresa me atravessa quando vejo o que há por baixo – um rasgo de quinze centímetros de comprimento descendo pelas suas costelas em direção ao estômago. E é bastante profundo. — Você está louco? Por que caralho você não foi direto para o hospital? — gritar com ele provavelmente não é a coisa mais construtiva a ser feita, mas é tudo no que posso pensar agora. Rebel estremece e se joga para trás, assim ele consegue se sentar no chão. — Não estava sangrando tanto antes de você me atacar, — ele diz. Inacreditável, ele pisca para mim, como se achasse isso muito divertido. — Merda. Me desculpe. Eu sinto muito mesmo. Deus, preciso encontrar uma toalha, — eu começo a caminhar, procurando nas gavetas e nos armários, mas sem ter sucesso em achar o que quero.

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— Está tudo bem, mesmo. Eu não preciso de uma toalha. Soph. Sophia! Eu paro de caminhar. — Vá buscar Cade, ok? Ele vai estar no bar, no prédio maior. Vá até ele e lhe diga para trazer um kit de sutura, — Rebel se estica e me alcança uma chave, e me leva um segundo para entender o que ela abre: a porta da cabana. A porta da liberdade. Eu a pego dele. Agora, na verdade, há uma poça de sangue se espalhando ao redor dele pelo chão, ficando maior a cada segundo. Eu fiz isso com ele. Bem, eu não fiz isso, mas com toda certeza eu piorei as coisas. Porra. Eu corro até a porta e abro, minhas mãos estão tremendo sem parar, e então estou correndo, correndo para a esquerda, em direção a um prédio que eu só vi de longe quando fui trazida para cá. Grama alta e grossa bate contra minhas pernas nuas enquanto eu desço pelo caminho da colina que me leva até o complexo. O ar da noite é gelado nos meus pulmões, puxando minhas roupas enquanto eu corro por ajuda. Me ocorre que eu poderia virar à direita, na direção das fileiras de motos e carros estacionados no estacionamento ao lado. Não faço a menor ideia de como fazer ligação direta em um carro, mas eu poderia conseguir. Uma parte do meu cérebro está gritando para fazer isso, para deixar Rebel sangrar no chão, roubar um carro e ir até a delegacia de polícia mais próxima, mas eu não posso. Simplesmente não consigo me obrigar a fazer isso. Rebel foi o maior babaca do mundo quando chegou na cabana agora pouco, mas eu vi algo nele no Alabama. Algo que me fez baixar minhas defesas e confiar nele. Eu não posso deixar que ele morra. Quando passo pelas portas do prédio principal fazendo barulho, percebo que deve ser a sede do clube dos Widow Makers. Do lado de dentro, pelo menos quinze pessoas param de conversar, copos e garrafas de cerveja param a meio caminho das suas bocas, e todos eles se viram para me olhar. Uma mulher alta, talvez no final dos quarenta, inclina a cabeça e pisca, como se não pudesse acreditar no que ela está vendo. Cade está do outro lado da sala, sua sessão de cabo de força com um cara baixo com o pescoço cheio de tatuagens, congelada. Seus olhos quase saltam da cabeça quando ele me vê. — Mas que diabos é isso? — Cade solta a mão do seu amigo e se lança pelo bar do clube, com sangue no olho. — Você está tentando se matar? — ele sibila, agarrando meu braço. Eu já tive o suficiente de

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pessoas me agarrando por hoje. Puxando meu braço livre, dou um passo para trás, pronta para lhe dar uma joelhada em algum lugar um pouco mais íntimo se for preciso. — Rebel precisa de você. Ele disse para você levar um kit de sutura, — eu digo a ele. Se eu fosse a minha irmã, poderia eu mesma costurar Rebel. Mas eu não sou, então isso é o melhor que posso fazer. Empurro Cade no peito, tentando transferir para ele um pouco do meu senso de urgência. — Ele está sangrando, — eu estalo. — Quando ele me mandou atrás dele você, não acho que ele tinha muito tempo sobrando para você ficar decidindo se vai ou não. Cade esfrega a mão no rosto, revirando os olhos. — Jesus, eu disse a ele para ir ver o médico, — ele se abaixa rapidamente atrás do bar, onde um cara gordo usando uma camiseta do ACDC está me olhando com os olhos arregalados. Me leva um momento para perceber o motivo: eu estou quase nua. Pode ser inverno, mas você não saberia isso pela temperatura que faz no Novo México. Eu estive suando na cabana sem ar-condicionado de Rebel. Shorts e regatas é o que eu tenho usado. O fato de que minha camiseta está coberta de sangue não ajuda muito também. Eu tento me encolher dentro de mim mesma enquanto Cade pega uma pequena mala verde de algum lugar debaixo do balcão, e então ele salta de pé e me leva para fora do bar. Olho por cima do ombro bem a tempo de ver o olhar de ódio que está sendo enviado em minha direção por uma bonita garota tatuada de cabelos cor de rosa. Ela estreita os olhos para mim, e então ela se foi e eu estou sendo arrastada da sede do clube e do complexo em direção à cabana. — Ele está consciente? — Cade pergunta. — Ele estava quando eu saí, — eu digo ofegante. — Mas havia sangue no chão. Muito sangue. Cade apenas grunhe. Ele me solta e sai em frente sem nem um olhar para trás para ver se eu estou seguindo-o. De novo, sou agraciada com a oportunidade de escapar. Rebel vai conseguir ajuda. Cade vai costurá-lo e lhe dar a atenção médica necessária. Minha inutilidade nessa situação toda chegou ao fim. Eu deveria me esgueirar nas sombras e desaparecer, mesmo que eu não consiga roubar um dos carros e precise caminhar até a próxima cidade. Tomo uma respiração profunda, observando Cade ficando cada vez menor e menor enquanto ele corre colina acima até a casa de Rebel,

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e então eu estou olhando sobre o meu ombro, para o deserto sem fim entre mim e a civilização... e estou balançando a cabeça. Eu poderia morrer lá. Mas não é isso que me impede de fugir, no entanto. É o fato de que Rebel poderia morrer bem aqui e agora, e eu nunca ficaria sabendo. Minha cabeça está girando quando eu subo correndo a colina atrás de Cade. Eu perdi o juízo. Eu devo estar completamente maluca por fazer isso. O rosto do meu pai pisca na minha mente enquanto eu corro pela montanha, diretamente para o lugar que eu estive tão desesperadamente querendo escapar pelos últimos dez dias. Na minha cabeça, por alguma razão estranha, meu pai está sorrindo.

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Capítulo Três REBEL Eu não me lembro a última vez que vomitei. Certamente não por qualquer razão que fosse por estar completamente bêbado, de qualquer maneira. Quer dizer, sim, eu estou me sentindo muito bêbado, mas isso é porque estou perdendo enormes quantidades de sangue e não consigo conter o fluxo. Estou vomitando, com a cabeça girando, visão borrada quando vejo uma figura escura vindo na minha direção. Vindo rapidamente na minha direção. — Porra, cara, mas que merda é essa? — é Cade. Sua voz me alcança, embora pareça abafada, como se eu tivesse chumaços de algodão dentro das orelhas. — Bem, você não está tão ruim. Com fraqueza, eu levanto minha mão direita e mostro o dedo do meio para ele. Cade ri. — Agora eu vejo porque você foi enviado para mim, imbecil, — ele diz. — O cara te dá alguns litros de sangue em um país estrangeiro, e a próxima coisa que você sabe é que cinco anos depois ele quer a maldita coisa de volta. Seu doador sacana4, — ele ri baixinho, e meu cérebro trabalha lentamente para decifrar o que ele está falando. Ah, sim. É verdade. Afeganistão. Nós estivemos no Afeganistão e ele foi baleado. Ele perdeu muito sangue. Eu dei a ele um pouco do meu. Os médicos fizeram a transfusão porque temos o mesmo tipo sanguíneo, e Cade era meu irmão e eu não ficar ali sentado observando ele morrer enquanto esperávamos os materiais adequados chegarem. Eu estive lutando para ficar reto, para me manter acordado, mas agora que ele está aqui, eu sinto que posso parar de lutar tanto. O desgraçado não vai me deixar morrer, eu sei. Eu caio para trás, minha

A expressão que ele usa é indian giver, uma expressão da língua inglesa para se referir a alguém que dá algo, mas espera algo em troca. É uma expressão que tem uma origem um pouco preconceituosa, pois surgiu das trocas entre índios nativos americanos e colonizadores, então não é muito bem vista. 4

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cabeça batendo no chão, e então as mãos de Cade estão no meu peito, me girando lentamente para que eu fique de lado. A dor me atravessa, como se eu estivesse sendo esfaqueado de novo. É estranho, no entanto, como o fantasma de como a dor deveria realmente ser. Tudo está ficando dormente. É como se comessasse a... morrer. Suas terminações nervosas começam a te enganar, cortando a conexão entre seu cérebro e os seus membros ou fazendo você pensar que está congelado. Nesse momento particular, eu sinto que estou parcialmente congelado. — É... melhor... se apressar, — eu digo. Estou em choque. Eu sei disso. Todo meu corpo está começando a tremer. Outra voz fala, chamando minha atenção por um segundo. Sophia. Minhas mãos se fecham involuntariamente, os dedos se curvando, como se estivessem querendo alcançar a ideia dela. — O que... o que eu faço? — ela pergunta. Eu não posso vê-la, mas posso sentir que ela está perto. — Segure isso, — Cade diz a ela. Não posso ver o que ele entrega a ela. Ela está parada atrás de mim, respirando rapidamente, como se estivesse hiperventilando. Dor corre através de mim, uma lembrança repentina e afiada e de como é uma merda quando suas terminações nervosas resolvem funcionar em situações como essa. Cuidadosa e lentamente, eu olho para baixo, lutando para manter o foco no que está acontecendo no meu peito. Cade é rápido e está me costurando de forma eficiente, minha pele puxando e retorcendo enquanto ele força a agulha dentro e fora da minha carne. — Algum... interno...? — eu consigo dizer. — Não. Não, você está bem por dentro, seu filho da puta sortudo. Agora aguente aí. Eu aguento, apertando os dentes juntos enquanto sou costurado. Consigo ficar acordado até que o último nó é amarrado, e então desmaio. Podem ter se passado horas, mas tenho a sensação de que foi algo em torno de quinze minutos. Quando recupero a consciência, Cade está de pé acima de mim, olhando para mim com pesar enquanto limpa as mãos em uma das minhas toalhas de banho, e Sophia está sentada na borda da cama, vestindo quase nada. Se eu ainda tivesse algum sangue no corpo, tenho certeza que ele iria direto para o meu pau nesse

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momento. Do jeito que a coisa vai, eu só me viro para o lado lentamente e vomito ao lado da cama. — Legal, — Cade fiz. — Legal pra caralho. — Vai se foder, cara, — isso soa como se eu tivesse comido cascalho. Minha cabeça está latejando. Não deve haver mais nada dento de mim para pôr para fora agora. Sophia faz uma careta para a bagunça que eu fiz. Ela se se levanta e vai para a cozinha, procurando nos armários, provavelmente, por produtos de limpeza. — Não. Você não precisa fazer isso, — eu digo, estremecendo. Cade levanta uma sobrancelha, balançando a cabeça. — Claro que ela precisa, cara. Eu já vou sentar aqui e deixar você roubar metade do meu plasma. Eu não vou limpar o seu vômito também. — Então lide com isso, — eu rosno. — Ela não deveria ter que... — Eu não me importo. Eu não quero ficar aqui sentada olhando isso, de qualquer forma, — Soph cai de joelhos e começa a esfregar o meu vômito, o que me faz sentir como se eu tivesse malditos trinta centímetros de altura. Enquanto ela está fazendo isso, Cade arruma o sangue para a transfusão. Ele deve ter ido até o complexo e pego torniquetes, linhas e agulhas enquanto eu estava apagado. Eu deito de costas com um braço jogando sobre os meus olhos enquanto Cade, eficientemente, insere a agulha e começa o processo. É uma sensação estranha, ter sangue entrando no seu corpo, ao invés de saindo. Posso ouvir Sophia jogando coisas no lixo. Posso sentir o cheiro de desinfetante que ela está esfregando no chão enquanto Cade, discretamente, faz comentários sobre como eu sou estúpido pra caralho. — E por falar nisso, — ele me diz, — eu fumei muita maconha assim que entrei no clube mais cedo. Eu não sei se afeta o sangue, mas, porra, espero que sim. Vai ser ótimo se você ficar insanamente chapado e desmaiar de novo. Você arruinou totalmente a minha diversão. Considero tentar lhe dar um soco, mas só de pensar no esforço que isso envolveria, eu fico exausto. Decido tentar uma outra tática. — Obrigado, cara. — Não há de quê. Eu fico ali deitado, pensando nas merdas ridículas que eu disse para Soph antes dela ficar louca e tentar me matar. Eu deveria ter

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ficado de boca fechada. Mas eu estive completamente fora de mim desde que nós voltamos para cá. Por dez dias eu fiquei longe, porque estar perto dela é uma má ideia. Na verdade, não. Antes, quando Ramirez não sabia exatamente quem eu era e onde a minha maldita família vivia, essa era uma má ideia. Agora que ele sabe e apareceu na minha porta, essa é a porra de uma ideia catastrófica. Nós nunca deveríamos ter nos envolvido como fizemos no Alabama. Eu nunca deveria ter ido atrás dela daquela forma. Que coisa idiota de merda de se fazer. Trinta minutos se passam. Passei o tempo todo me chutando mentalmente. Finalmente, Cade remove a agulha da dobra do meu braço. — Certo. Nós acabamos. Aqui, tome isso, — Cade me diz. Abaixo meu braço, olhando para os quatro comprimidos na palma da sua mão com desconfiança. — O que é isso? — Azitromicina. — Onde você conseguiu? — Carnie teve gonorreia mês passado. Disse que o problema era bem na cabeça, — Cade sorri quando diz isso, o filho da puta. — Fantástico. Agora eu estou tomando remédio das infecções no pau de Carnie. — Eu também conheci um pouco de maravilhosa codeína lá também, — Cade me informa. — Você vai se sentir muito bem em cerca de vinte minutos. Eu pego as pílulas porque realmente não sinto que estou indo até o médico local para conseguir minha própria receita de antibióticos. Nesse ponto, eu não conseguiria fazer isso de qualquer forma, mesmo se eu me sentisse disposto a responder às prováveis perguntas que vêm com uma consulta para tratar feridas de faca. Cade desliza para fora da cabana, me deixando deitado, olhando para o teto, me perguntando que diabos eu deveria dizer para a garota quieta pairando no canto da sala. Eu sou um total e completo imbecil. Eu não deveria ter vindo para a cabana quando voltei do ataque a Ramirez. Eu deveria ter ficado na minha e ido para o complexo. Ficado longe. Mas, ah não, eu tinha que estar em um humor de merda. Eu tinha que ver ela.

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— Dói? — a voz de Sophia é suave, e ainda assim parece um tapa na cara. Um que eu mereço, e até mais. Quando abro meus olhos, ela está sentada no chão a alguns metros da cama, como se ela estivesse com medo que eu fosse saltar da cama e lhe bater. Ao ver o pânico em seus olhos, eu me sinto nauseado outra vez. — Na verdade não, — eu minto. — Poderia ser pior. — Sim, eu poderia estar morto. — Você se sente um pouco melhor agora? — ela soa como se estivesse à beira das lágrimas. Há um olhar desafiador em seu rosto, mas suas mãos estão tremendo. Posso ver o leve tremor enquanto ela torce sem parar um pedaço de fio entre seus dedos. Deus, ela é tão linda. Por que não poderia ter sido um cara a testemunhar o assassinato de Ryan? Se ela fosse um cara, eu não estaria tendo esse problema. Mas, então, se ela fosse um cara, Dela Vega teria lhe matado ali mesmo, ao invés de ver aonde isso ia dar. Ela não teria absolutamente nenhuma utilidade para ele. Pelo menos, como mulher, ele sabia que Ramirez ia querer ganhar algum dinheiro com ela. — Eu vou estar bem amanhã, — eu digo a ela. Eu não vou estar bem amanhã. Verdade seja dita, eu provavelmente vou estar fora de combate por dias, se não semanas, por causa dessa lesão. E estar fora de combate é um luxo que eu realmente não posso me permitir agora. Mas não posso pensar nisso. Minha cabeça ainda está girando. Manter meus malditos olhos abertos está se tornando uma tarefa quase impossível, e a cama parece estar balançando de um lado a outro como a droga de um veleiro. — Eu poderia ter fugido, você sabe, — Sophia sussurra baixinho. — Eu poderia ter ido embora, corrido pela noite e ter deixado você aqui. Eu provavelmente estaria a meio caminho da cidade mais próxima agora. — Você quer dizer que você provavelmente seria petisco de abutres, — eu digo, a corrigindo. Mas eu sei que ela está certa. Ela poderia ter me deixado morrer. Se ela tivesse tomado uma decisão diferente quando eu a mandei buscar Cade, não há dúvida disso – eu estaria morto agora. — Obrigado, Soph, — eu digo baixinho. — Obrigado por não me deixar na mão. Com o canto do meu olho, posso ver sua expressão ficando mais preocupada que irritada. — Depois do que você me disse, eu deveria. Minha irmã provavelmente teria acabado o trabalho se você tivesse dito

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isso a ela. Ela teria te estrangulado até a morte antes que você sequer tivesse a chance de começar a sangrar. — Então estou feliz que eu não disse isso a ela. E eu sinto muito pelo que eu disse a você. Eu não deveria. Eu sei que você não transaria com nenhum dos caras. — Então por que dizer isso? E por que me deixar aqui, presa nessa cabana por dez dias, depois que eu disse lá no Alabama que te ajudaria? Isso não faz sentido. É apenas cruel, na verdade, — ela fala lentamente. Eu posso dizer que ela ainda está furiosa, mas mantém a voz controlada. Nada mais de gritos e berros. Nada mais de tentar fazer seu joelho atravessar minha caixa torácica. Dada sua reação mais cedo, eu sinto a vontade de fazer um show me encolhendo para longe dela, mas é provavelmente muito cedo para brincadeiras ainda. Além disso, eu provavelmente abriria meus pontos se eu me movesse, e Cade não ficaria feliz se eu estragasse seu trabalho. Ele provavelmente me esfaquearia de novo. — Se os meus rapazes souberem que você está aqui, porque você está aqui, ou que Raphael está te procurando, eles vão querer te usar de alguma maneira, — eu explico. — Eles vão querer te usar como isca ou algo assim para pegar Ramirez, e eu não vou correr o risco. Soph descansa o queixo nos joelhos, olhando para mim na cama. — Sim. Bem, quero dizer, eu não quero estar em nenhum lugar perto de Dela Vega ou Ramirez de novo, se não for preciso, — ela soa como se a mera perspectiva de estar perto desses homens fosse o bastante para lhe fazer ter pesadelos. Eu estaria surpreso se não fosse assim, na verdade. — Assim que Raphael ver que você está aqui, Soph, é assim que vai ser. Eu o conheço. Ele é um filho da puta doente. Ele não vai parar até colocar as mãos em você. Sophia estremece. Ela balança a cabeça, como se estivesse tentando afastar a lembrança dele do seu corpo. — Por que Ramirez seguira você até aqui? Por que ele está te procurando? Eu não entendo. — Nós não estamos brincando de esconde-esconde, Soph. Nenhum dos lados quer ceder. Quanto mais tempo estivermos um no pescoço do outro, menos Ramirez consegue relaxar ou conduzir seus negócios sem ficar cuidando suas costas. Menos ele consegue contrabandear suas drogas pelo país. Menos ele consegue se concentrar em vender as suas mulheres.

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— E você? Do que essa guerra vai te distrair, Rebel? — ela pergunta com dúvida. Eu sorrio, pensando em encolher os ombros, mas então desisto da ideia completamente, porque a dor que a acompanha não vale a pena. — Os Widow Makers vendem armas. Como um negócio ilegal, é assim que todos os sindicatos pensam que nós fazemos dinheiro. É como a ATF5 pensa, mas não podem provar. Na verdade, os Widowers negociam mais informações que qualquer coisa. Informação é algo muito mais valioso do que ouro ou prata, drogas ou armas. Pode formar ou destruir um império em uma noite. A única coisa mais confiável para colocar um homem perigoso de joelhos é buceta. E, como você já está ciente, nós não vendemos isso. — Não, — ela diz, me dando um olhar seco. — Você só compra. — Se eu não compro, alguém compra. A diferença é que eu encontro trabalhos seguros, honestos e saudáveis para as mulheres pelas quais nós pagamos. Elas saem desse complexo intocadas. Se Julio tivesse comprado você, eu posso garantir que você já teria sido estuprada mais vezes do que poderia contar, e por mais homens que você poderia contar, também. Você teria preferido isso? Sophia fica em silêncio. Ela me olha como se me odiasse, mas talvez, apenas talvez, ela esteja considerando que eu fiz a ela um favor. Mas não parece que ela vai admitir isso muito em breve, também. Puxo uma respiração profunda, testando o quanto consigo encher meus pulmões sem experimentar nenhum puxão agudo de dor. — Ramirez está aqui porque está fazendo o primeiro movimento. Ele está sendo imprudente. Talvez eu precise ser, também. — Acho que é um pouco tarde para isso, não é? — Soph olha para o meu torso coberto de sangue com o que parece arrependimento. — Eu sinto muito. Eu não tinha ideia de que você estava ferido. Você sabe disso, não é? Eu nunca teria... — Pare. Eu mereci isso. Nós estamos bem. — Ainda assim. Me atirar contra você daquele jeito... — Essa é parte da razão pela qual eu gosto de você, Sophia. Esse seu temperamento explosivo é incrivelmente quente. Você parecia uma amazona selvagem, pronta para me esfolar vivo. Eu já estava meio duro antes de você quase me matar. 5

É o departamento da polícia federal dos EUA que trata do tráfico de drogas e armas. ~ 34 ~


Sophia baixa a cabeça, seus olhos concentrados no chão, sem olhar para mim. Se eu não soubesse melhor, diria que ela ficou envergonhada. — Talvez você devesse me usar como isca, — ela diz abruptamente. — Pelo menos assim, se a minha presença pode ser de alguma forma o catalisador para pegar Ramirez e Raphael, isso tudo pode acabar. Nós todos podemos voltar a viver nossas vidas. Uma risada coça o fundo da minha garganta. Uma risada irônica e mordaz. Eu a engulo de volta. Veja, a coisa que Sophia não percebeu ainda é que essa é a minha vida. Quando tudo acabar, se eu não estiver morto, sempre haverá alguém com quem lutar e alguém para derrubar. Alguém que irá querer tomar o que é nosso. Eu não posso dizer isso a ela, no entanto. Ela vai correr para as montanhas, e apesar da minha patética tentativa de fazer a coisa certa mais cedo, eu agora sei que isso apenas não é possível. Eu tenho planos para a garota sentada com as pernas cruzadas no chão ao lado da minha cama. Grandes, incríveis e assustadores planos. Mas vou manter a boca fechada sobre eles por agora. Nesse momento, há somente uma coisa que preciso dizer a ela. — Eu não vou colocar você em risco com aqueles homens novamente, Sophia. De jeito nenhum. Não vai acontecer. Há muitas coisas que eu vou arriscar para acabar com isso. Vou arriscar a minha própria vida, e as vidas dos membros do meu clube, se eles forem estúpidos o bastante para se voluntariarem. Vou arriscar minha liberdade e cada centavo que eu tenho. Vou arriscar o sol e a lua, e o vento em meu rosto. Mas não você, Soph. Eu nunca vou arriscar você.

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Capítulo Quatro SOPHIA Eu não sei o que fazer com esse homem louco, irritante e insanamente quente. Ele me deixa completamente maluca. Um minuto ele está dentro de mim no corredor da casa do seu pai, e no próximo eu estou sendo empurrada para dentro dessa cabana e presa por dez dias. O homem sequer fala comigo. Eu não vejo o seu rosto. Não recebo ao menos uma palavra dele. E agora, parece que ele está de volta à minha vida outra vez, coberto de sangue, e quebrado, e eu não sei o que fazer com isso. O sol está nascendo através das janelas da cabana, espalhando sombras pela sala, iluminando as partículas de poeira que dançam no ar acima de nossas cabeças enquanto eu durmo na cama ao lado de Rebel. Eu não queria deitar na cama com ele, mas a única outra opção era o sofá, e eu já estive desconfortável e miserável por tempo demais. Por que diabos eu deveria me apertar no sofá? Além disso, ele dificilmente está em posição de tentar qualquer coisa comigo. O cara estava praticamente morto na noite passada. Deve ser apenas seis horas da manhã. No entanto, eu já posso ouvir as motos chegando e saindo do complexo, o rosnado rápido dos motores sobressaltando os pássaros nas árvores ao redor da cabana. Estou surpresa que isso não acorda Rebel. Na verdade, ele parece estar dormindo o sono dos mortos. Não importa o quanto eu tente, não consigo realizar o mesmo feito. Tive sonhos indesejáveis na noite passada. Eu sei que isso é confuso, mas não pensei em Matt desde o momento que decidi me entregar a Rebel no Alabama. Passei o último ano namorando um cara e não pensei nele uma vez sequer. Quão louco é isso? Matt nunca foi emocionante ou excitante como Rebel, mas ele era um cara bonito, me fazia rir. Ele era seguro. Sinto como se estivesse fazendo a ele um desserviço ao esquecê-lo completamente assim. Quem faz isso?

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— Parece que você está planejando o fim do mundo, — eu quase pulo fora da minha pele quando percebo que Rebel está acordado, e ele na verdade está olhando para mim, linhas de expressão marcando a sua testa. O sono ainda paira sobre ele, seu olhar está um pouco confuso. — Não exatamente, — eu digo. — Apenas me perguntando como nós chegamos aqui? — essa parece a coisa mais prática para estar pensando. Não é o sentimento de estar em um limbo que eu acho frustrante. É a sensação de ser completa e absolutamente inútil. Desde que eu vi o seu tio Ryan ser assassinado, me sinto vulnerável e insegura. Não tive um proposito ou lugar na Terra para me encontrar. Eu estive à deriva, longe de todas as tarefas e atividades que poderiam me dar algum tipo de estímulo mental. Eu estive com medo e impotente, e essa, talvez, seja a pior parte. Com nada para ocupar minha mente na presente situação, eu estou ficando louca. Ao menos se eu soubesse qual o plano de Rebel, eu poderia ajudar. Talvez eu pudesse fazer parte do processo. Estou meio que admirada com a intensidade da sua recusa em me deixar ser parte de qualquer plano que os membros do clube pudessem criar. O seu olhar na noite passada, quando ele estava falando com tanta determinação, fez meu coração inchar no peito do jeito mais estranho e assustador possível. Naquele momento ele parecia estar querendo dizer cada palavra, com uma profundidade de paixão que eu não podia entender. Mas se ele quer dizer isso, se ele realmente não vai permitir que eu esteja em perigo de novo, então talvez haja outra maneira. Rebel apenas balança a cabeça para mim. — Não tenha nenhuma ideia, Sophia. Eu sei que essa merda é confusa. Eu sei que eu deveria ter deixado você ir embora quando Julio te entregou, mas eu estava com muita raiva para ver direito naquele momento. Eu estive ainda mais furioso desde que nós fomos embora da casa do meu pai, — ele ri afiadamente, pressionando a mão na sua lateral. — Engraçado como perder uma quantidade obscena de sangue pode fazer um cara se acalmar e começar a pensar direito outra vez. Eu normalmente não sou o cara que corre para uma situação com as armas para o alto. Eu sou o cara que descobre como desarmar todo mundo sem que eles nem percebam, — uma sombra passa sobre o seu rosto, a luz em seus olhos diminui. — Essa tática não vai funcionar dessa vez. Dessa vez vai haver sangue e as pessoas vão morrer, e eu não quero você perto de disso. Isso não pode durar mais do que alguns dias, ok? Uma vez que tudo esteja acabado, eu vou ter certeza pessoalmente que você esteja de volta a Seatlle sã e salva, sem um arranhão sequer. Se é isso o que você quer... ~ 37 ~


— Se é o que eu quero? — eu quase sussurro as palavras. Elas parecem tão ridículas. — Por que eu não iria querer isso? Rebel apenas fica ali deitado, ainda coberto de sangue como em um tipo de show de horrores, me olhando. Ele inala devagar, então estende a mão para mim. — Para mim já deu do papo-furado. Se você me quer, isso não vai ser bonito. Eu sei com toda certeza do caralho que eu não mereço você, mas acho que você é uma garota esperta. Você pode sentir o que está logo ao virar da esquina para nós, certo? Você pode sentir quão consumidor e desesperado e explosivo isso vai ser se nós dois dermos esse passo à frente. Eu não estou dizendo que não é ridiculamente perigoso estar comigo. Ser a parceira de alguém que leva o tipo de vida que eu levo. Mas você... se tem alguém nesse mundo com força e teimosia para sobreviver a isso, é você. E você iria mais do que sobreviver aqui, Sophia. Você iria florescer. Há um enorme e doloroso nódulo preso na minha garganta quando ele acaba de falar. Minhas bochechas estão em chamas. Todos os encontros que eu já tive com um rapaz antes foram estranhos e tímidos no começo. Havia muito rodeio. Muita leitura nas entrelinhas. ―Namoro‖, quando nenhum dos dois sabia onde estava pisando. Com o homem deitado à minha frente nessa cama, não há significados escondidos. Ele não tem medo de nada. Ele sabe o que quer e fala isso abertamente. É aterrorizante. — Eu... — Você precisa pensar nisso. E está tudo bem. Mas saiba isso. Se você quer estar comigo, tudo vai mudar. Não vai mais haver faculdade. Nada mais dessa vida de classe média. Eu vou fazer você sentir como se estivesse dormindo antes, como se não tivesse ideia de como viveu uma vida tão calma e tranquila sem mim, — sua voz se aprofunda, enviando arrepios pelas minhas costas. — Eu vou te foder duro, Soph. Eu vou fazer você esquecer o que é estar com outro homem. Eu vou te montar com tanta força que você não vai se lembrar do seu próprio nome. Eu vou ser a única coisa te prendendo a esse planeta. Os meus lençóis vão estar molhados com o seu gozo cada maldita noite pelo resto da sua sublime existência. Isso eu prometo a você. Sinto que estou a segundos de desmaiar. Puta. Que. Pariu. Ninguém... ninguém jamais falou comigo assim em toda minha vida. E a coisa louca é que eu sei que é verdade. Eu sei que quer dizer cada palavra, e o mais importante, ele pode cumprir. Não faço absolutamente a menor ideia do que responder a isso. Rebel ainda está com a mão estendida para mim, esperando que eu diga algo. ~ 38 ~


Ele disse a mesma coisa no corredor da casa do seu pai, me pedindo para aceitá-lo, mas eu fui salva de fazer qualquer tipo de decisão pelo grito de gelar o sangue que veio da cozinha de Louis James Aubertin II naquele momento. Não há ninguém gritando agora, no entanto. Tomo uma respiração profunda, tentando pensar em algo apropriado para dizer enquanto avalio o que eu quero mais. Estou em um branco total. — Você percebe que isso é impossível, não é? — eu sussurro. — Uma garota não pode molhar lençóis quando goza. Rebel baixa a mão. Seus olhos brilham, uma espécie de alegria maliciosa escondida ali, atrás do seu olhar afiado. — Você acha que ejaculação feminina é um mito? — Não é? Ele começa a rir, profundamente. É um malvado e perigoso. — Oh, cara. Parece que você nunca gozou como deveria antes, Soph. E isso é uma vergonha do caralho, — a risada morre em seus lábios, transformando sua expressão em algo mortalmente sério. — Se você deixar, eu vou estar mais do que feliz em corrigir essa situação. Ele me prende com aqueles olhos azul-gelo, tão perturbadoramente bonitos, e eu sinto como se estivesse prestes a pular para fora da minha própria pele. Eu mal podia olhar para eles quando nos conhecemos, e isso ainda não mudou na verdade. E agora, com ele falando sobre ejaculação feminina, estou achando difícil pensar direito. — Você não deveria vir com ameaças como essa, seu idiota, — eu o informo. — Você não pode cumprir essa. Ele sorri. — Como você me conhece pouco. Rebel dorme um pouco mais. Eu me encontro o observando, pânico correndo pelas minhas veias. Três semanas. Eu não posso acreditar que estive fora por apenas três semanas. Sinto minha garganta se apertar quando percebo que perdi o aniversário da minha mãe. Isso apenas passou sem que eu percebesse. Geralmente, Sloane e eu sairíamos levaríamos ela para um dia de garotas, com café da manhã pela manhã, seguido por uma sessão de beleza, com manicure e pedicure e massagens. Tem sido nossa maneira de celebrar pelos últimos cinco anos. A parte ridícula disso é que nem minha irmã nem minha mãe são o tipo de pessoas que gostam de sessões de beleza. Sloane está sempre tão focada em seus estudos e na sua residência, e minha mãe ainda

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pensa que cada centavo que entra em casa deveria ser escondido no colchão, colocado no banco, investido ou doado para a igreja. Os aniversários da minha mãe são geralmente encontros constrangedores. E esse ano, em vez de ter as unhas aparadas como uma daqueles Lulu da Pomerânia6 premiados, eu estava transando com Rebel em um corredor. Literalmente. Minha mãe provavelmente esteve chorando histericamente do momento em que acordou até quando foi dormir. — Ei. Ei, o que foi? — Rebel levanta a mão lentamente e passa um dedo coberto de sangue seco pela linha da minha mandíbula. Seu toque manda arrepios violentos pelo meu corpo. Eu não vou mencionar onde a sensação se instala, aumentando e aumentando com um crescente sentimento de urgência. Eu pego a sua mão e a coloco sobre o seu peito. — Eu estou bem. Só ainda... você sabe. Lidando. — Sim. Lidar é uma merda, — ele olha para si mesmo – e ele está uma bagunça – e eu quero rir de como a sua declaração é insuficiente. Mas eu não acho que meu corpo se lembra mais de como é rir. Gritando ou em silêncio total parecem ser as duas únicas funções que as minhas cordas vocais são capazes de executas. — Todos os seus rapazes me viram ontem à noite, — eu digo, tentando tirar meus olhos do peito nu de Rebel. Estou morbidamente fascinada pela linha de pontos vermelhos furiosos que vem do seu estômago e desaparece na sua lateral, em direção às costas. Seu sangue secou e se rachou, e ficou tão escuro que é quase preto; isso cria padrões bizarros sobre todo seu pacote de músculos firmes do peito e da barriga. — Eu disse rapazes, — eu continuo, — mas havia duas mulheres lá, também. Uma mais velha, bastante alta, e uma jovem com o cabelo rosa. Rebel acena. — Sim. Sei. Josephine. Ela é a alta ela, e é um dos primeiros membros do clube. E a outra com o cabelo rosa... — ele balança a cabeça pesarosamente. — Ela é a desgraça da porra da

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Sim, é um cachorro de verdade, não de brinquedo  ~ 40 ~


minha vida. Mas o resto do pessoal são homens. Algum deles pareceu que ia linchar você? — ele pergunta. — Eles pareceram surpresos, na verdade. Parece que você fez um trabalho muito bom em me manter em segredo. Rebel contrai os lábios – Deus, eu quero mordê-los. Ainda posso me lembrar de como foi maravilhoso sentir eles por todo o meu corpo – e então ele pisca para o teto, como se estivesse pesando o que quer me dizer. Finalmente, ele diz. — Eles são bons homens. Mas os Widow Makers não são como nenhum outro clube, Soph. Todos aqui têm uma história. Não há uma pessoa sequer aqui que se juntou a nós porque acha que infringir a lei é divertido. Temos muitos veteranos aqui. Como eu. Como Cade. Depois que o Exército mastiga e cospe você, é meio como... como se você perdesse a sua família. A menos que eles sejam ex-militares também, seus parentes nunca irão entender pelo que você passou. O laço que você constrói com outros caras da sua unidade... eles nunca serão apenas uns caras, no final. Mesmo o cara que você odeia, o que te deixa louco, aquele que você quer matar metade do tempo – eles são seus irmãos também, — ele ri. — Quero dizer, a maioria dos irmãos querem matar uns aos outros durante metade do tempo de qualquer forma, não é? Mas se alguém foder com eles... — balançando a cabeça, Rebel suspira. — Alguém tenta foder com eles e o jogo acabou. Irmãos defenderão uns aos outros até a morte. — E esses caras, que de alguma forma acharam seu caminho até mim, eles são ainda mais entusiastas sobre essas coisas do que o exército. Ramirez esteve fodendo comigo e com a minha família por anos, fodendo com os nossos negócios. Esses homens não vão deixar barato. Eles vão esfolar o filho da puta vivo, se tiverem a menor chance. Eles vão conseguir isso do jeito que for preciso. E não vão deixar uma garota que eles não conhecem no meio do caminho. E alguns deles não tiveram exatamente os melhores exemplos femininos em suas vidas, também. Alguns deles... alguns deles não veem nenhuma razão para que haja mulheres ao redor do clube, além delas servirem de receptáculo ocasional para eles afundarem o pau. — Eu não quero eles ficando confusos sobre o seu propósito aqui, Soph. Então, sim. Você foi com certeza o mais bem guardado segredo que eu tive. Isso quer dizer muita coisa. E não, eu não me arrependo disso.

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Capítulo Cinco REBEL Os cinco dias seguintes são uma merda total. Me mover é uma luta árdua – até me levantar para mijar exige um esforço monumental – e quando estou bem o bastante para conseguir me sentar na cama, não tenho permissão nem para segurar um maldito livro. Cade disse a Sophia para não me deixar levantar nada, e cara, a garota levou isso ao pé da letra. Ela lê para mim. Porra, ela lê para mim, e é incrível. Mas eu não digo isso a ela. Eu sento com meus olhos fechados, fingindo que não noto os olhos dela em mim com mais frequência do que nas páginas de Ardil 227. Com exceção da primeira noite em que eu estava ferido, ela não dormiu mais na cama comigo. Ela dorme no sofá, com as pernas e os braços torcidos nas posições mais divertidas, o cabelo selvagem espalhado pelas almofadas. Eu não posso acreditar que ela nunca teve um orgasmo como deveria. Isso por si só é uma vergonha. Quer dizer, sim, ela gozou comigo naquele corredor, mas foi apressado, um impulso do momento. Definitivamente não foi o meu melhor trabalho. Eu posso fazer ela gozar muito mais do que aquilo. Eu posso faze-la sentir como se todo o seu corpo estivesse arrebentando nas costuras, se eu quiser. E eu quero. Eu quero abrir os seus olhos. Quero ser o cara a mostrar a ela como sexo pode ser quando feito do jeito certo, com um homem de verdade, não com um universitário maricas. Eu vou virar o seu mundo de cabeça para baixo, e vai ser perfeito pra caralho. Entre o que está acontecendo com Ramirez, Dela Vega e o buraco gigante na minha lateral, tenho certeza que pensar em uma garota é a coisa mais insana que eu poderia estar fazendo agora, mas enquanto estou deitado na cama, olhando para o teto, Sophia é a única coisa ocupando a minha mente. 7

É um livro do autor norte-americano Joseph Heller. ~ 42 ~


Ela pode pensar que está sendo esperta em dormir do outro lado da sala, mas ela é tão esperta quando imagina. Eu vi o jeito que ela me olha. Ela é a pessoa mais transparente na face da Terra – cada pensamento que ela tem aparece imediatamente no seu rosto, para que todos vejam. Na verdade, isso é bastante perigoso. Essa noite eu a peguei pensando coisas muito ruins sobre mim pelo menos três vezes antes que ela dissesse que estava cansada e se enrolasse no sofá para dormir, e levou toda minha força de vontade não ir lá, prendê-la contra o colchão e trepar com ela até a insanidade. Se não estivesse com tanta dor, eu faria exatamente isso. Eu penso sobre isso em vez das vigas de madeira sobre a minha cama. Eu penso nela de quatro, então eu posso lamber a sua buceta por trás. Isso rapidamente progride para mim deslizando meus dedos dentro dela enquanto lambo e chupo. Apesar da dor ardente na minha lateral, meu pau começa a endurecer conforme eu vou ficando mais ousado. No momento em que tenho ela sentada no meu rosto, meu pau já está duro como uma pedra, e exigindo que eu faça alguma coisa sobre essa dor latejante. Não posso acreditar que eu estou com tesão. Não posso acreditar nem que eu ainda estou acordado, considerado as duas doses de morfina que Cade me deu mais cedo. Meu corpo sempre eliminou as drogas muito rápido, no entanto. E meu pau nunca parece saber quando deveria se comportar. Eu tento ignorar o desejo crescente pulsando pelo meu corpo. Tento dormir. Do outro lado da sala, Sophia se vira, a grande camiseta que ela está usando sobe e deixa à mostra a pele nua da sua barriga. E a sua calcinha. Porra. Para uma garota de Seattle, ela tem um bronzeado lindo. E um corpo de matar que combina com ele. Vá dormir, Jamie. Eu tento me convencer a deixar ela para lá, a mergulhar na inconsciência, mas quanto mais solto o aperto nos pensamentos que estou segurando, mais eles correm para a mulher seminua no outro lado da sala. — Jesus, — eu sussurro baixinho. — Isso vai acabar mal, — demora mais um minuto antes que eu me canse. Eu preciso agir, preciso fazer alguma coisa sobre isso. Eu preciso. Me levantar não é nada divertido. Eu tenho que tencionar meu abdômen, o que naturalmente dói quando você acabou de fazer uma

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pequena cirurgia. Eu sinto que, se eu tossir, minhas tripas vão se espalhar por todo o chão. Uma vez que estou totalmente sentado, me levanto com cuidado. A sala balança, e eu tenho que me estender para segurar a parede antes que eu caia. Sim, essa é realmente uma má ideia. Provavelmente eu vou desmaiar antes de chegar até Sophia. Ainda assim. Perda de consciência na busca de sexo épico é algo que realmente vale a pena. Com toda a velocidade de um idoso de noventa e cinco anos, eu lentamente faço meu caminho através da cabana. Na verdade, minha cabeça limpa um pouco com o movimento, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. Significa que eu posso sentir mais, mas consigo juntar minhas ideias e pensamentos partidos um pouco melhor também. Justo. Eu olho para Sophia, me perguntando com o que ela está sonhando. Ela é tão linda. Quando eu era criança, minha mãe tinha a tela ―O Beijo‖, de Gustav Klimt8, pendurada na parede do seu quarto. Eu costumava ficar olhando para os detalhes da obra, admirando o óbvio, capitando a emoção entre os dois sujeitos e impressionado com o quanto a mulher parecia etérea. É assim que Sophia parece agora – etérea. Como se não fosse parte desse mundo. Mágica, de alguma forma. Ela tira o meu fôlego. Eu deveria me sentir um pouco culpado sobre o que estou prestes a fazer, mas não me sinto. Ela não vai se opor. Ela vai desfrutar de cada segundo, mesmo que isso me mate. E se eu estiver errado e ela não quiser, eu vou parar e ela pode chutar a minha bunda de novo. Lentamente, eu me ajoelho e com cuidado prendo meus dedos no elástico da sua calcinha preta de algodão. As costas das minhas mãos fazem contado com as suas laterais e a sua pele está pegando fogo, quente ao toque. Ela se mexe, gemendo baixinho. Eu congelo, mas então me chuto mentalmente. O objetivo não é não ser pego aqui. Eu

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Fragmento da obra: ~ 44 ~


quero que ela acorde e se contorça contra mim, droga. Eu quero ela gemendo o meu nome enquanto eu a faço gozar. Eu seguro um sorriso enquanto solto a sua calcinha, mudando de tática e lentamente deslizando meu polegar para baixo, entre as suas pernas. Ela inala rápido, arqueando um pouco do sofá, mas ainda adormecida. Seu corpo responde a mim mesmo que ela esteja inconsciente, o que é uma coisa linda. Ela abre mais as pernas, o que faz sangue correr para a minha cabeça. Ela é tão incrível. Ela tem um corpo fabuloso. Meu pau pressiona persistentemente contra a cueca boxer, mas eu não me toco. Isso vai ser muito, muito melhor se eu esperar que ela coloque as mãos em mim. Começo devagar, esfregando o seu clitóris com o meu polegar em círculos pequenos. É uma tortura deliciosa. Eu quero empurrar a calcinha para o lado e provar o seu gosto, mas é cedo ainda. Quero ela acordada quando eu fizer isso. Eu quero que ela me queira. Coloco um pouco mais de pressão no meu polegar, e um sorriso lento se espalha pelo meu rosto quando Sophia levanta os quadris, se esfregando contra mim. Surpreendente. Enquanto lentamente pressiono minha boca contra a parte interna da sua coxa, levanto o olhar pelo seu corpo deslumbrante para ver que suas pálpebras estão abrindo. Acho que esse é o momento decisivo. Eu me preparo para toda a força da sua indignação. Sua boca se abre, a ponta da sua língua cor de rosa desliza para molhar seus lábios. Ela me olha com olhos turvos. Eu testemunho o momento em que ela compreende totalmente o que está acontecendo quando seus olhos limpam o sono e se arregalam. — O que...? Eu levanto minha mão livre, a parando antes que ela possa continuar. — Não me chute. Se você me chutar, vai abrir minhas feridas. — Eu vou abrir as suas feridas se eu te chutar na cabeça? — ela sussurra. Eu aceno com a cabeça. — Provavelmente. E vamos encarar a verdade. Você poderia foder com o meu rosto. Você gosta do meu rosto. Você não quer estragar ele. — Você é realmente uma coisa, — ela diz. Mas ela não empurra minha mão para longe. Ela não me diz para parar. Eu pressiono um

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pouco mais forte, acelerando o movimento enquanto continuo a provocar o seu clitóris, e ela prende a respiração. — Eu posso parar se você quiser, Soph. Eu posso arrastar meu rabo de volta para a minha cama, sem problemas. Mas eu tenho a sensação de que você não quer isso. — Você é um arrogante filho da puta. O que te faz pensar... — Porque eu posso sentir o quanto você está molhada através da sua calcinha, Sophia. E você está muito, muito molhada. — Urgh! — ela pressiona as pernas juntas, prendendo minha mão entre elas, fazendo uma careta para mim quando me ajoelho no chão ao lado dela. — E agora? — eu pergunto, sorrindo para ela. — É quando você finge que está chateada e me faz tirar a mão? Hm? — eu tenho apenas espaço suficiente para continuar acariciando sua buceta com os meus dedos. Ela enrijece, os músculos das suas pernas se trancam ainda mais. Eu posso ver a necessidade em seus olhos, o que é quase o suficiente para me fazer esquecer de pensar racionalmente. — Ou quando você se abre para mim e deixa que eu deslize dois dedos dentro de você enquanto uso a minha boca ao mesmo tempo. — Você não vai me chupar, — ela assobia. — Por que não? — Porque... eu não tomei banho desde hoje de manhã, — sua carranca se aprofunda, mas posso ver seus verdadeiros sentimentos de forma muito clara em seus olhos de novo. A ideia da minha língua lambendo o seu clitóris a deixou excitada. No caso de precisar de mais provas, também posso sentia sua calcinha ficando mais molhada. Elas estão ensopadas agora. A necessidade de provar ela agora é quase esmagadora, mas eu consigo me segurar. Eu tenho que esperar que ela abra as pernas e solta o meu abraço antes de ir mais longe, de qualquer forma. — Sophia, — eu sussurro. — Não há mais ninguém aqui. É apenas você e eu. Você tem medo de mim? — Eu deveria ter. — Talvez. Mas ter e dever ter são duas coisas diferentes. Você se sente atraída por mim?

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Ela engole em seco. Parece algo que exige um grande esforço. — Sim, — ela diz sem fôlego. — Bom. E você acha que eu vou te machucar? Responder essa pergunta leva um pouco mais de tempo. Ela me olha diretamente nos olhos, sem piscar ou respirar enquanto pensa sobre isso. Finalmente ela diz, — Não. — Bom. Você acha que eu vou tentar fazer algo que você não quer? Ela lentamente balança a cabeça. Eu acelero meus movimentos, esfregando-a com um pouco mais de força. Seus olhos praticamente rolam para trás. — Diga, — eu comando. — Me diga que você sabe que eu não vou te forçar a fazer nada que você não quer. — Eu sei que você não vai me forçar, — ela diz, suspirado. — Oh, Deus... — ela fecha os olhos com força. — Abra as pernas para mim, querida. — Não, eu... — eu começo a puxar minha mão, pronto para me afastar, mas ela aperta ainda mais as pernas. — E que tal... um acordo? — ela pergunta. — Eu não sou muito bom em me comprometer. — Então eu me recolho. — E o que você quer em troca? — Eu vou abrir minhas pernas... se você me deixar sair daqui. Eu quero andar livre por todo o complexo. Ir aonde eu quiser. — Não. Não vai acontecer, — de jeito maldito nenhum da porra. Eu puxo minha mão, tentando me libertar, mas ela está me segurando com muita força entre as pernas. — Você mesmo disse, Rebel. Estou segura aqui. Qual poderia ser o problema? — Você está ainda mais segura nessa cabana, querida. Ela me dá um olhar que eu tenho certeza que fazia o seu pai se derreter como manteiga sempre que ela queria algo que sabia que não podia ter. Ela tem esse olhar pregado em mim, droga.

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Independentemente de eu estar ciente que ela está me manipulando, me encontro pensando nisso. Se ela estivesse apenas no complexo quando eu sabia que ele era seguro, não haveria problema nenhum. Um mês atrás, eu jamais estaria sequer pensando nisso, mas agora... agora ela teve tempo demais para conseguir se colocar sob a minha pele, e eu estou tendo sérios problemas. Eu realmente não posso acreditar que estou prestes a concordar com isso. — Certo. Tudo bem. Mas somente quando eu estiver aqui. Ou Cade, — eu não sei quem está mais surpreso – ela ou eu. Ela pisca para mim, os olhos arregalados, e então sorri. — Obrigada. — Me mostre como você está agradecida. Abra suas pernas para mim, querida. Ela não faz isso de imediato, mas então, gradualmente, relaxa a força em suas pernas, liberando meu braço. Com isso, ela está me dando carta branca para continuar no meu próprio ritmo. Empurrando sua calcinha para o lado, eu cuidadosamente enterro meus dedos no calor escorregadio e úmido da sua buceta. O seu rosto se transforma em uma expressão de horror quando eu levo meus dedos até a boca e os chupo. — Merda! Não. Não faça isso! Eu sorrio sem piedade. — Por que não? — Eu já te disse! Eu não tomo banho desde de manhã. Eu estou nojenta. Eu estou... eu estou suja. — Oh, querida, você não está suja. Você está perfeita pra caralho. A sua buceta não só parece, como tem um cheiro e um gosto incríveis. Eu estou literalmente lutando comigo mesmo aqui. Eu quero enterrar meu rosto aí e fazer você gozar em toda minha língua. Isso está me deixando louco. O rosto de Sophia perde toda a cor. — Você só... não pode, ok? Isso é muito constrangedor. Eu rio. — Eu prometo a você, querida, algum dia muito em breve você vai estar implorando para eu te fazer arder com a minha língua. Vai desejar isso mais do que ar. Até lá, tudo bem. Eu vou usar somente os dedos. Ela parece que quer discutir isso também, mas eu deslizo meus dedos dentro dela antes que ela possa dizer outra palavra, e o olhar de ~ 48 ~


puro prazer em seu rosto faz meu punho bombear em seu interior. Ela é tão sensível. Ela reage aos meus menores movimentos. Ela não sabe ainda, mas é a minha parceira sexual perfeita. Eu amo saber como a garota que eu estou fodendo está se sentindo; fazer uma mulher gemer é o mais simples, mas maior prazer da minha vida. Eu não trocaria isso por nada. Sophia geme para mim até quando estou pensando nisso. Sua respiração fica presa na garganta, me dizendo que eu acertei o ponto certo. Eu me pergunto o que ela faria se eu tentasse fazer ela gozar para valer agora. Ela surtaria, sem dúvida. Não é uma sensação normal para uma mulher. Ela vai sentir como se estivesse prestes a mijar por tudo e isso vai fazer com que ela se feche instantaneamente. Não. Vamos ter que esperar por isso. Se eu conseguir as coisas do meu jeito, o que eu totalmente pretendo fazer, então haverá um monte de outras vezes para nos aventurarmos no território desconhecido do orgasmo. Os músculos de Sophia se contraem quando ela tenta lutar contra as sensações correndo pelo seu corpo. É a coisa mais incrível observar ela lutando esse tipo de guerra consigo mesma. É uma guerra que ela não vai ganhar, porque não importa o quanto isso a irrite, e o quanto ela se sente mal porque isso faz com que ela sinta que está perdendo alguém em algum lugar, ela me quer. Ela quer meus dedos dentro dela, e ela quer a minha língua trabalhando no seu clitóris. Não demora muito antes que meus próprios desejos comecem a aparecer. Eu quero transar com ela. Eu não deveria sequer está pensando nisso – eu não estou em posição de fazer esse tipo de esforço físico – mas às vezes o corpo humano pode ser chocante e incrível. Ou melhor, ser irritantemente teimoso e persistente até que consiga o que quer. Eu poderia fazer Sophia gozar agora se eu quisesse. Não demoraria muito. Ela está pronta para passar sobre a borda, e tudo que eu precisaria seria um pouco mais de pressão e velocidade. Eu me seguro, no entanto. Ela solta um gemido abafado quando eu paro completamente. — Você quer algo significativamente maior que meus dedos dentro de você, querida? — eu pergunto, mantendo a voz baixa. Sua buceta aperta ao redor dos meus dedos, e eu sei que a ideia a excita. — Você não vai... enfiar alguma coisa estranha dentro de mim, — ela diz, sua voz rouca.

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Eu não posso evitar; eu rio baixinho. — E por que eu iria querer fazer isso quando eu tenho um pau perfeitamente bom e duro pronto e esperando? Sophia olha para baixo pelo comprimento do meu corpo. Seu cabelo está todo despenteado ao redor do seu rosto, e seus lábios estão inchados e macios... sexy pra caralho. Ela levanta uma sobrancelha, arqueando-a para mim. — Você realmente tem desejo de morrer, não é? — Se eu morrer, se certifique que Cade fique com a minha moto. — Por que você apenas não... não... — ela não consegue terminar a frase, no entanto, porque eu já comecei a circular meus dedos dentro dela outra vez, e isso aparentemente é muito bom. Vai ser um milhão de vezes melhor quando eu estiver fodendo com ela. Eu não posso mais aguentar. Meu sangue está rugindo em meus ouvidos quando eu levanto e agarro as suas coxas, puxando-a asperamente pelo sofá na minha direção. Ainda não tirei a sua calcinha, mas existe algo realmente quente em empurrar ela para o lado, expondo a buceta, então eu deixo. Sophia observa com olhos arregalados quando eu empurro minha cueca boxer para baixo pelos quadris e então a chuto para longe. Seguro meu pau na mão, lentamente bombeando para cima e para baixo com o meu punho, estremecendo lentamente com a pressão. Realmente não é normal que eu esteja me sentindo assim, mas se eu não me enfiar dentro dela e sentir aquela bucetinha apertada se apertando em volta de mim, então minhas bolas vão explodir. Ela provavelmente nem sequer percebe que está fazendo isso, mas Sophia está enterrando suas unhas nas coxas, fazendo com a pele debaixo delas passe de um tom de rosa corado para branco. Ela me quer. Ela me quer muito. Mas ela não olha para o meu pau. É como se ela estivesse com medo dele ou algo assim. Dê algumas semanas e ela vai estar intimamente familiarizada com ele. Essa timidez vai estar bem longe. Eu até apostaria dinheiro nisso. Deslizando para frente, ela puxa uma respiração afiada quando a cabeça do meu pau pressiona contra a sua buceta. Ela parece um pouco hesitante, então eu uso meu eixo e começo a esfregar seu clitóris. Ela se fecha quando eu me movo um pouco mais para baixo, em direção à sua bunda, então eu mudo de direção e foco em áreas com as quais ela parece estar ok. Quando ela começa a inclinar os quadris toda vez que deslizo por cima da sua buceta, eu sei que ela está pronta.

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Eu não me seguro. Não é duro o bastante para machucar ela, para causar qualquer tipo de dor que seja, mas ela estala os olhos abertos quando eu empurro dentro dela, todo o caminho, até as bolas. — Oh... merda, — ela assobia. — Você tem uma boca tão suja, — eu me dobro sobre ela, não dando nenhuma atenção para a dor faiscando através do meu corpo, e agarro seus seios por cima da camiseta que ela ainda está vestindo. Sem sutiã. Perfeito. Ela tem uns peitos macios e cheios, maleáveis sob as minhas mãos. Ela pode não fazer isso de boa vontade, mas suas costas se curvam, levantando o peito, se oferecendo para mim. Não precisa me dizer duas vezes. Eu seguro a barra da sua camiseta e puxo para cima, revelando o seu corpo incrível. Seus mamilos já estão duros, em uma tonalidade escura de rosa. Ela geme sem fôlego quando eu pego o seio direito e o apalpo bruscamente. Ao mesmo tempo, eu levo seu outro mamilo para a minha boca e cuidadosamente o torço entre os meus dentes. Continuo totalmente imóvel dentro dela, aproveitando as reações intensas que ela tem cada vez que eu me desloco ligeiramente, mas agora eu começo a me mover de novo, mergulhando todo o caminho dentro dela antes de sair quase até a cabeça, lenta, mas firmemente. — Oh... ohmeudeus, — evitando meu lado meio curado, ela engancha sua perna esquerda em mim, me puxando para mais perto dela quando eu empurro, e a força extra é o suficiente para me deixar completamente louco. Eu não posso parar agora. Mesmo que eu arrebente meus pontos, eu tenho que fazer ela gozar antes de acabar com isso. Preciso sentir seu corpo se apertando com força. Preciso ouvir o som da sua respiração acelerando. Preciso ver a sua expressão mudar quando a onda de prazer bater sobre ela. Estou desesperado para que tudo isso aconteça, mas eu também sou um grande provocador do caralho, também. Eu a levo bem perto do clímax, tendo que me afastar para eu mesmo não acabar gozando, pelo menos três vezes antes que eu não possa mais aguentar. É como se seus gritos estivessem rasgando sua garganta enquanto eu bato dentro dela uma e outra vez, esfregando seu clitóris com o meu polegar ao mesmo tempo em que fodo com ela. Eu raramente gozo no mesmo momento que a mulher – eu sempre estou muito focado em assistir a coisa toda acontecendo – mas dessa vez não tenho escolha. Ela abre os olhos no último segundo, as írises no tom de

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chocolate escuro fixas em mim, e ela sussurra meu nome, meu nome real, e eu estou ferrado. Eu gozo com ela, nossos corpos tensos e agarrados no êxtase pelo que parecem minutos, mas devem ser apenas alguns segundos, e então estamos derretendo juntos. Descanso minha cabeça na sua clavícula, ofegante, tentando limpar minha visão da pequena explosão de cores que parecem fogos de artifício. — Então... Cade vai poder reivindicar a posse da sua moto pela manhã? — Sophia pergunta suavemente. Ela passa a mão para cima e para baixo pelas minhas costas, inconsciente do fato de que está praticamente fazendo meus olhos rolarem para trás de prazer. — Aquele filho da puta não vai ser dono daquela moto por muito tempo ainda, — eu digo a ela. — Não até que nós tenhamos feito isso pelo menos mais três ou quatro vezes. Ela ri baixinho, e é um som fodidamente extraordinário.

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Capítulo Seis SOPHIA Meu corpo dói. Queima, na verdade. Eu quero continuar deitada, dormir para sempre, ou pelo menos mais algumas horas, mas não posso. Uma batida incessante na porta da cabana me desperta antes do amanhecer, mas o martelar barulhento não acorda Rebel. Parece que ele pode dormir durante qualquer coisa. Não é uma surpresa, dado até a hora em que ele ficou acordado noite passada, quanta morfina ele tinha em seu sistema e quão enérgico ele foi quando me prendeu no sofá e transou comigo. Eu tive que ficar de olho enquanto ele se arrastava de volta até o outro lado da cabana, e então ele me puxou para a sua cama, se recusando a me deixar dormir sozinha. Eu me sinto tonta quando me solto dos seus braços e levanto, puxando a camiseta para baixo para cobrir minhas pernas nuas. — Rebel? Rebel, cara, abre a porta! — uma voz assobia. Eu posso dizer pelo tom afiado da voz masculina do outro lado da porta que é Cade, e também que ele está super irritado. — Rebel, abre a porra da porta. — Ok, eu já entendi, — eu assobio de volta. Apesar da luz baixa que vem de uma lâmpada do outro lado da cabana, eu ainda consigo bater meu dedão enquanto corro através da sala para chegar até a porta. Meu pé está latejando e meu coração está saindo do peito quando eu a abro, olhando para as duas figuras escuras paradas na varanda. Não é apenas Cade, Carnie está junto. — Ele está bem? — Cade logo pergunta. — Sim. Sim, acho que sim, — eu respondo. — Ele está apagado, — Carnie me dá uma conferida não tão sutil, seus olhos correndo pelas minhas pernas nuas, e é com um horror considerável que eu percebo que nem ao menos estou usando calcinha. Ele não pode ver nada, mas ainda assim, de repente eu me sinto nua. Cade dá a Carnie um olhar

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afiado, limpando a garganta, o que faz o outro homem afastar o olhar, os olhos no céu. — Nós precisamos entrar, — Cade me diz. — É importante. — Eu captei a mensagem, uma vez que você acabou de tentar pôr a maldita porta abaixo, — eu puxo a camiseta para baixo, tentando me cobrir mais enquanto me movo para o lado para deixar que eles entrem. Fecho a porta atrás deles e Cade vai direto para a cama onde Rebel está desmaiado de costas, um lençol muito fino mal cobrindo o seu corpo nu. Cade limpa a garganta, coçando a mandíbula. Ele pensa em como proceder antes de agarrar o seu amigo e sacudi-lo com força o bastante para fazer sua cabeça ricochetear no travesseiro. Rebel instantaneamente acorda, os olhos arregalados, o punho fechado pronto para acertar Cade. — Mas que porra é essa? — ele estala. — Não há tempo para brincadeiras, — Cade diz. — Você pode andar? Rebel respira, puxando uma respiração profunda para dentro dos seus pulmões. Ele olha para nós três, e então acena, pousando a mão na sua lateral ferida. — Eu talvez possa se você parar de me sacudir assim, cara. O que está acontecendo? — Nós temos um problema, — Carnie diz baixinho. — Dos grandes. Você precisa ver. Cade grunhe. — Você precisa de ajuda para se vestir? Rebel balança a cabeça. — Me dê um momento. Eu vou estar ali fora em um segundo. Cade e Carnie saem sem dizer outra palavra, ambos com expressões assustadoras e desagradáveis nos rostos. Eu nunca vi nenhum deles parecerem tão irritados. Cade sempre é educado comigo, bem, a maior parte do tempo, e ainda assim é como se ele nem sequer me visse enquanto sai da cabana. Eu não sei por que, mas um intenso pressentimento cai sobre mim. Algo realmente horrível aconteceu. Algo além da compreensão. Algo que eu provavelmente não quero saber. Uma onda de pânico corre pelas minhas veias – pânico não por mim, mas por Rebel. Ele não está nem perto de estar totalmente recuperado, e conhecendo a sua sorte, é provável que ele esteja prestes a ser empurrado de cabeça em uma situação extremamente perigosa outra vez.

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Lentamente, ele se senta, pressionando a mão no seu ferimento, estremecendo de dor. Seu corpo lindo está em mal estado, hematomas pretos a azuis são visíveis mesmo através do complexo e escuro desenho das suas enormes tatuagens. — Você tem certeza que deveria estar se mexendo? — eu pergunto. — Você não deveria descansar por mais uns dias antes de sair em uma corrida selvagem nas primeiras horas da manhã? — Se Cade veio até aqui do jeito que ele acabou de fazer, significa que algo importante está exigindo a minha atenção. Ele não teria me pedido para ir se não fosse totalmente necessário. Então sim, eu tenho que ir. — Ele não podia ter dito a você que diabos está acontecendo? — Caso você não tenha notado, Sophia, Cade não é muito falante. Ele é mais um cara de mostrar que falar, — ele pisca, gemendo enquanto cuidadosamente fica de pé. Eu quero dar a ele mais morfina, mas sei que ele ainda tem uma grande quantidade da droga correndo pelo seu sistema circulatório. Mais disso poderia chegar ao ponto de matá-lo. Meu pai costumava me contar sobre isso o tempo todo – pessoas que tinham overdose de analgésicos, intencionalmente ou não, e conseguiam comprá-los sem ao menos uma licença médica. Isso acontece facilmente. Eles são coisas perigosas, analgésicos. E altamente viciantes também. — Você acha que pode me alcançar uma calça jeans? — Rebel aponta com a cabeça para o seu closet, as sobrancelhas unidas pela dor que ele está sentindo. — Acho que você vai chegar lá mais rápido que eu. Abro a porta do seu closet e encontro a organização mais imaculada que já vi. Camisetas, camisas, cintos, sapatos – tudo está no lugar e completamente alinhado. Coloca o meu quarto no campus em vergonha total. Eu gosto de pensar que meu quarto é um caos organizado, mas a verdade é que é apenas caos. Pego uma calça jeans, cueca boxer e uma camiseta para ele, e então observo enquanto ele luta para se vestir. Estou prestes a perguntar se ele precisa de ajuda, mas ele levanta a mão assim que eu dou um passo na sua direção. O olhar que ele me dá poderia congelar o inferno. Finalmente, depois de uns dez minutos dizendo palavrões baixinho, ele está totalmente vestido. Eu posso dizer que o esforço lhe custou muito, no entanto. Seu rosto está pálido, sua testa está brilhando um pouco de suor, e ele não parece firme em seus pés.

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— Você está vindo? — Cade grita do outro lado da porta fechada. — Calma aí, cara! Eu tenho a porra de um buraco na barriga, — Rebel grita de volta. Ele começa a atravessar a sala e eu rapidamente coloco minha própria calça jeans, a vestindo em tempo recorde. Rebel me dá um olhar curioso, arqueando uma sobrancelha. — Onde você pensa que está indo? — Com você. — Não, você vai ficar aqui. — Engraçado, porque eu tinha certeza que você me disse algumas horas atrás que eu teria liberdade para sair desse lugar, se eu quisesse. Eu imaginei isso? — me leva um segundo para perceber que minhas mãos estão em meus quadris, minhas próprias sobrancelhas levantadas em desafio. É melhor ele não ir por aí. Ele prometeu que não iria mais me prender aqui. Se ele voltar atrás no nosso acordo, não importa quão horrível seja o problema que Cade e Carnie querem mostrar a ele agora. Ele vai ter um problema muito maior em suas mãos: eu. Rebel estreita os olhos. — Eu não estou dizendo que você deveria ficar aqui por diversão, Soph. É para o seu próprio bem. — Eu sou adulta. Que tal você deixar que eu tome as minhas próprias decisões para variar, hein? Ele me encara por um segundo mais longo antes de revirar os olhos. — Ok, certo. Mas se lembre, seja lá o que aconteça, você que pediu. Eu tiro as mãos dos quadris, tentando esconder minha surpresa. — Ótimo. Obrigada. Do lado de fora, Cade olha para mim e sacode a cabeça. — Você não vai querer que ela veja isso, cara. Rebel me lança um olhar por cima do ombro, e há cautela em seus olhos azuis pálidos. — Ela é adulta, Cade. Ela pode tomar suas próprias decisões, aparentemente.

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Cerca de cem metros do portão do complexo, há uma árvore solitária ao lado da estrada de terra, sua silhueta é vista contra o sol nascente. Assim que passamos pelo portão, fazendo um progresso lento enquanto Rebel se arrasta atrás de Cade e Carnie, posso ver que algo não está certo. Não é até que nós estamos mais perto, muito mais perto, que eu tenho um vislumbre da razão pela qual Cade parece tão agitado. Um corpo. Um corpo está pendurado na árvore, de cabeça para baixo, preso por um pé. A outra perna está pendurada em um ângulo estranho. O pé que deveria estar no fim dessa perna, sumiu. As mãos, que deveriam estar no fim dos braços pendurados livremente para baixo, também desapareceram. E a cabeça... a cabeça se foi, também. Sangue escorre pela carne nua, cobrindo o torso, as nádegas, as pernas... A corda, enrolada em volta de um galho grosso da árvore, range quando o corpo gira, nos encarando, revelando que é o corpo de uma mulher. Há algo que parece um pedaço de papel manchado de sangue preso ao seu corpo, com letras pretas digitadas, mas eu não vejo o que diz. Eu caio de joelhos e vomito na terra avermelhada debaixo de mim. — Jesus. Um presente, de Los Oscuros? Que diabos há de errado com esse cara? — Rebel assobia. De onde eu estou inclinada no chão, posso ver que as mãos dele estão tremendo. Eu tranco minha visão nisso, me impedindo de olhar para a pobre mulher pendurada na árvore, nas coisas horríveis que devem ter acontecido com ela. As mãos de Rebel tremem, e tremem, e tremem. E as mãos da mulher... ela se foram. Cade grunhe. — E o que foi essa escolha de fonte no bilhete, também? — Sim, — Carnie cospe no chão. — Realmente diz muito sobre as suas intenções. Quer dizer, como você pode levar alguém a sério quando a mensagem que eles mandam vem impressa na porra da Comic Sans9? — Você corta o corpo de alguém em pedacinhos. É assim que você os leva a sério. Hector está fodendo com a gente, — Rebel diz baixinho. Eles continuam a falar, mas meus ouvidos estão zumbindo. Eu não 9

É uma fonte bem comum do Word, que é considerada meio infantil pelos seus traços arredondados. Culturalmente, não é uma fonte que deveria ser utilizada em documentos mais sérios e formais. Observação: deixei essa nota de rodapé em Comic Sans para vocês saberem qual é  ~ 57 ~


consigo focar na conversa que está acontecendo ao meu lado, mas posso sentir a tensão que está se derramando para fora dos três homens. Posso literalmente sentir o gosto da sua raiva. Eu vomito de novo, apertando meus olhos com força, incapaz de respirar. Oh meu Deus. Eu não posso... eu não posso... eu não posso... — Bron, — Cade diz. — O nome dela é Bron. Ela é a garota do Keeler. Eu reconheço a tatuagem, — eu cometo o erro de olhar para cima, então. Vejo a pequena tatuagem de uma rosa na parte interna do seu antebraço, logo acima do pulso. O corte sangrento onde seu braço termina ainda está derramando sangue. Eu tenho ânsia de novo, mas nada vem dessa vez. — Porra, — Rebel cai de joelhos ao meu lado, seu rosto agora completamente pálido, desprovido de qualquer cor. Ele estende a mão para mim, me puxando para ele, embora não esteja realmente me olhando. Ele está encarando o pedaço de carne mutilada pendurada na árvore como uma vaca abatida. Distraída e lentamente, ele passa a mão pelo meu cabelo, o azul gelado dos seus olhos endurece, escurecendo de alguma forma, se tornando aço gelado. — Filho da puta doente, — ele sussurra. — Esse filho da puta doente e cruel a pegou porque ela não estava dentro do complexo. Cade entrelaça os dedos na parte de trás da sua cabeça, se afastando da mulher. Ele olha para longe, em direção ao deserto, sua boca puxada para baixo nos dois lados, formando uma carranca. — Sim. Sim, parece que foi isso. — Keeler já sabe? Carnie chuta a terra, balançando a cabeça. — Não. Ninguém sabe. Eu a encontrei hoje de manhã, quando estava chegando da cidade. Fui direto para Cade. — Bom. Você fez a coisa certa. Eu... porra. Só Deus sabe como nós vamos contar isso a todos, — Rebel soa composto, mas sua voz está completamente vazia. Eu choro em seus braços enquanto ele acaricia meu cabelo, desejando que eu não tivesse sido tão malditamente teimosa. Se eu tivesse deixado ele fazer as coisas como queria, eu não teria a imagem da namorada morta de Keeler queimando na minha memória. Isso não é algo que eu vou deixar para lá. Não é algo que algum dia eu vou esquecer. Isso é algo que vai me dar pesadelos pelo resto da minha vida. — Eles vão querer sangue, — Cade diz.

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O queixo de Rebel descansa no topo da minha cabeça, e por alguma razão, a intimidade disso me acalma um pouco. — Eu sei, — ele diz. — E eles vão ter. Nós apenas temos que ter certeza de fazer isso do jeito certo. Ele está jogando a isca. Está tentando nos provocar. Se nós formos atrás dele com raiva, não vamos estar pensando direito. Se ficamos desleixados, cometemos erros. Isso tem que ser contido. — Eu te ouvi. Mas essa mulher teve os pés, as duas mãos e a porra da cabeça cortados fora, Rebel. Eu gostaria de ver como você vai conter isso.

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Capítulo Sete REBEL Keeler passou a noite fora do complexo, visitando sua irmã em Cedar Crest. No momento, ele é o nosso principal tatuador no Dead Man‘s Ink, no entanto. Hoje é o seu dia de ficar na loja, então Cade e eu dirigimos até a cidade e estamos esperando por ele. Nós descemos o corpo de Bron da árvore e o levamos para o complexo primeiro, claro, a escondendo de vista, para que os caras não descubrissem nada antes que a gente tenha a chance de falar com Keeler. Cade e eu sentamos na loja em silêncio, eu com os meus pontos sangrando, encarando as paredes, nenhum dos dois sabendo o que dizer ao outro. Não é a primeira vez que nos encontramos em uma situação de merda. Afeganistão foi um lugar selvagem. As coisas que vimos lá... foi a primeira vez que eu realmente entendi, realmente soube o que homens cruéis são capazes de fazer a outros homens. Nada jamais vai ser mais brutal do que as atrocidades que nós vimos lá. Mas isso é diferente. Isso é aqui, na porra do nosso quintal, e não a maldita Cabul. Essa é uma pequena cidade comum dos Estados Unidos, e essa é a nossa cidade. O primeiro horário de Keeler está marcado para às dez e meia da manhã, então Cade e eu sentamos e esperamos por uma boa hora e meia antes do ressoar baixo da moto de Keeler estremecer os vidros das janelas da loja. — Como você vai lidar com isso? — Cade pergunta. — Eu não sei. Acho que estamos prestes a descobrir. Keeler parece surpreso quando ele abre a porta do estúdio e encontra a mim e Cade sentados no balcão. Preocupação aparece em seu rosto. Ele é jovem, está na metade da casa dos vinte anos. Bom garoto. Não é veterano do exército, como a maioria dos Widow Makers. Ele foi espancado pelo pai do momento em aprendeu a andar até quando fugiu de casa – passou um tempo pipocando entre diferentes gangues de drogas antes de cair do lado errado da lei e ficar três anos

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preso por porte de drogas com intenção de venda. Ele teve a sua merda marcada na prisão. Ele estava solto há um mês quando entrou pelas portas do Dead Man‘s Ink pela primeira vez, procurando trabalho. Cade deu a ele um emprego na hora. Mas levou um ano inteiro para eu conseguir convencê-lo a se tornar prospecto do clube. Agora estou me sentindo culpado pra caralho por ter insistido nisso e puxado ele para dentro. — Ei, caras. E aí? Eu deixei a porta aberta ou algo assim? — ele nos olha com cautela, como se estivéssemos prestes a atacá-lo. — Não, cara. Entre. Nós precisamos conversar, — eu puxo um banco do balcão, gesticulando para que ele se sente. Ele parece prestes a se cagar nas calças. — Uhhhh... eu deveria estar surtando agora? Porque eu estou totalmente surtando, — ele lentamente caminha pelo estúdio e se senta no banco. — Você não fez nada errado, — Cade diz a ele. — É... é sobre Bron. Eu observo o sorriso nervoso desaparecer do rosto de Keeler. — O que tem ela? — ele diz lentamente. Eu assumo. Eu sou o presidente do clube. Eu sou o responsável pelas pessoas que entram, assim como também deveria ser responsável pelas pessoas que eles amam. Eu deveria saber que isso ia acontecer. Eu digo a Keeler o que aconteceu, fazendo meu melhor para lhe dar menos detalhes possível. É impossível manter a verdade longe dele por muito tempo, no entanto. O cara olha para mim, como se eu estivesse inventando tudo. — Vamos lá, cara, chega de brincadeira. Essa merda não tem graça. — Desculpe. Eu juro por Deus, eu sinto muito, e nós vamos arrumar isso, Key. — Ela está morta? Ela está morta? — Sim. — Eles... cortaram a sua cabeça? Eu esfrego as mãos no meu rosto, soprando todo o ar dos meus pulmões. — Eu sinto muito. Sim.

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— Onde está? — O quê? — Onde está a maldita cabeça, cara? — a voz de Keeler não é nada mais que um suspiro, embora seus olhos estejam gritando de raiva. Ele está prestes a estourar. — Nós não sabemos. Mas vamos descobrir. Nós vamos dar um jeito em tudo, — Deus, eu espero não estar mentindo para o garoto. Como previsto, Keeler explode. Cade e eu sentamos e observamos enquanto ele quebra todo o estúdio, dando um soco na porta dos fundos, jogando longe o equipamento de esterilização, destruindo tudo e qualquer coisa que ele possa alcançar com as mãos. Nós deixamos que ele coloque para fora a sua raiva. Quando ele cai em um monte no chão, soluçando em silêncio, os ombros sacudindo para cima e para baixo enquanto ele chora, há pouca mobília ainda intacta no aposento. — Leve ele de volta para o complexo, — eu digo a Cade. — Mantenha ele longe de todos até que eu volte. Mas ninguém sai hoje. Diga ao resto do clube que nós estamos em bloqueio. Diga a todos com amigos e família vivendo aqui na cidade que é para levá-los para o clube. Eu não vou deixar que isso aconteça de novo. Cade diz que vai cuidar de tudo e então sai. Assim que ele consegue levar Keeller, meio carregado, meio arrastado, para fora do estúdio, eu me dobro e seguro a minha lateral, respirando com dificuldade em meio à dor lancinante correndo por mim. — Porra, — respirar é difícil de novo. Eu não sei se é da dor ou da completa devastação de Keeler. Ele merecia mais. Ele merecia que a sua namorada estivesse segura enquanto ele estivesse fora da cidade. Eu deveria saber que essa merda ia acontecer. Hector Ramirez é um sociopata. Ele é clinicamente louco. A vida de uma pessoa inocente não significa nada para ele. Ele mataria essa cidade inteira somente para provar o seu ponto. Então eu deveria ter previsto isso. — Bem, isso está um pouco desarrumado. Minha cabeça gira ao som dessa voz, já sabendo de quem é. Eu já estou pensando em como vou proceder. Hector Ramirez está de pé na porta de entrada do estúdio, uma mão apoiada contra o batente, a outra casualmente enfiada no bolso da calça do seu terno. Ele parece estar levemente divertido, como se a cena de destruição à sua frente

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fosse engraçada. Seus olhos param na minha lateral, minha mão ainda pressionando a ferida, e suas sobrancelhas sobem lentamente. Tirando a mão dele do bolso da calça, ele coloca algo pequeno na boca e morde, fazendo barulho. — Você sabe, — ele diz. — É realmente uma vergonha que você tenha pego meus guardas de surpresa na outra noite. Eles são homens muito impulsivos. Eles tendem a agir sem pensar, às vezes. Se você simplesmente tivesse feito a sua presença conhecida e tivesse dito a eles que queria me ver, tenho certeza que eles teriam lhe tratado de maneira muito mais... civilizada. Eu aperto meus dentes, mentalmente digitalizando a loja à procura de uma arma escondida, qualquer coisa para fazer sérios danos no cruel pedaço de merda que está entrando em minha propriedade como se ele fosse o dono do maldito lugar. O problema é que nós não guardamos armas ou facas aqui. O estúdio é revistado pelos policiais com muita frequência, e precauções foram necessárias no passado. Com um leve gemido de desgosto, Hector pisa em cima da mesinha de centro quebrada entre nós dois, seus sapatos de couro esmagando os cacos de vidro. — Imagino que você encontrou o meu presentinho hoje pela manhã? — ele diz. — Eu estava preocupado que você talvez não a visse. Raphi sugeriu que nós deixássemos o nosso presente bem na sua porta, onde você não poderia ignorá-lo, mas isso pareceu um pouco óbvio demais. Eu não queria a polícia prendendo você por assassinato porque havia um cadáver mutilado preso ao seu muro. Qual seria a graça disso? — ele coloca algo na boca de novo e mastiga – amêndoas cristalizadas. O filho da puta sempre tem um bolso cheio delas. Faz ele cheirar como uma velha. Eu curvo meus dedos para formar um punho, odiando o desafio correndo pelas minhas veias, penetrando pelos meus poros, infectando cada parte de mim com uma raiva que não vai ficar sem resposta. Não pode ficar sem resposta. Eu tentei fazer isso do lado da lei, eu realmente tentei. Eu queria que Ramirez e seus homens fossem para a cadeia pelo que eles fizeram ao meu tio. Eu queria que eles sofressem cada horrível, escura e horripilante violação possível enquanto cumprissem pena, sabendo que eles iriam morrer encarcerados, nunca iriam ver a liberdade outra vez. O tempo para isso passou, no entanto. Agora, eu só quero todos mortos. Preferivelmente da maneira mais dolorosa possível. — Você não deveria ter matado Leah. Você nunca deveria ter pisado na casa do meu pai no Alabama. Você nunca deveria ter nos

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seguido até aqui, e você realmente não deveria ter tocado em um fio de cabelo de Bron, Hector. Você acha que não vai haver consequências? Hector Ramirez dá de ombros, puxando um charuto gordo do bolso do seu paletó, aparentemente satisfeito de amêndoas. Ele morde a ponta do charuto e cospe no chão, então o acende com um isqueiro prata gravado. — De onde eu estou vendo, os Widow Makers não são a força formidável que eu assumi quando empreendi essa pequena aventura no Novo México, Jamie. Quando Raphi lidou com o seu tio em Seattle e o seu segundo em comando fez um grande gesto, incitando guerra entre as nossas pessoas, eu pensei comigo mesmo, ―bem, ok então. Isso pode ser interessante. Algo para te distrair do tédio de cada dia, Hector. Graças a Deus‖. Mas não. Eu cheguei aqui nessa bacia de poeira que você chama de lar, e encontro uma mistura de desajustados vivendo no deserto, enfiando seus paus nas mulheres locais, tatuando pessoas por dinheiro — ele gesticula para o estúdio quebrado, nojo entortando os seus traços. — Eu tenho que admitir, estou muito desapontado. Ele chega ao balcão onde ainda estou curvado, tentando permanecer calmo. Tentando não ligar para o fato de que a minha mão direita está descansando sobre a única arma que nós mantemos na loja – um bastão de beisebol. Eu estou morrendo de dor e minha cabeça está girando, então tenho que esperar o momento perfeito. Se eu me atirar nele cedo demais, vou cair com força e não vou ser capaz de me levantar. Isso significa que preciso dele perto. Mais perto do que ele está agora, pelo menos. E isso significa que tenho que fazer ele continuar falando. — Você cometeu um grande erro vindo até aqui, Hector. — Ahh, você acha? — ele faz uma cara triste, puxando o charuto para fora, segurando a fumaça na boca antes se soprá-la em uma nuvem espessa. O cheiro me lembra meu pai – ele sempre fuma depois do jantar, como todo clássico cavalheiro do sul. Leva apenas um segundo para juntar os pontos quando vejo o familiar selo de papel Havana Red, a marca favorita de meu pai, enrolada em volta do tabaco na mão de Hector. Ele está literalmente fumando um dos charutos do meu pai. Essa é uma ação pensada para me irritar, me deixar louco, mas tudo que ele está conseguindo fazer é clarear meus pensamentos. Eu não vejo vermelho. Eu não reajo. Minha imprudência na outra noite, a que me fez ser esfaqueado, não é o modo como eu opero normalmente. Me empurre até o limite e eu fico esperto. Aperte os meus botões e eu vou vir com novas e interessantes maneiras de retornar a

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porra do favor. Eu tenho a minha merda sob controle agora, mas então Hector Ramirez não sabe isso sobre mim. Ele não sabe absolutamente nada sobre mim. Ele está massivamente subestimando a mim e ao meu clube, achando que vai ter sucesso em me atrair para a estupidez duas vezes. Ele chega mais perto, parando do outro lado do balcão. — Sabe... eu acho que reconheci a mulher com você na casa do seu pai, Jamie. Será que você fez um arranjo para que Julio Perez comprasse a minha pequena Um-Oito-Um no seu nome? Um-Oito-Um, o número que ele deu a Sophia para vendê-la. Filho da puta. Eu o encaro, desejando a sua morte. Essa é a única maneira que tenho de me manter relativamente calmo. Se ele disser o seu nome... se ele sequer mencionar ela outra vez... — Isso foi muito baixo, sabe. Eu não posso dizer que gosto de você me enganando com ela assim. Maus negócios. Meu bom amigo Raphael tem demonstrado a sua preocupação da associação dela com os Widow Makers. Ele está... preocupado com a segurança dela. Normalmente, eu tomo o cuidado de ignorar os conselhos de Raphi, mas nesse assunto em particular, acho que ele talvez tenha razão. Eu quero ela de volta, Jamie. Minha visão embaça nos cantos, meu coração bate no dobro da velocidade. De jeito nenhum. De jeito nenhum do caralho ele vai ter ela. — Você precisa de internação se acha que eu vou te entregar ela, imbecil. Hector balança a cabeça, como se ele esperasse mais de mim. Ele olha para longe, na direção da janela da loja, mordendo o charuto gordo na boca. — Eu lamento muito ouvir isso. Mas suponho que essas coisas não podem ser evitadas. Se você não está disposto a me devolver a garota, eu vou simplesmente tomá-la de você. Você não vai poder me impedir. E desse jeito, quando ela estiver novamente nos limites da minha casa, trabalhando para o meu prazer, eu não vou tratá-la bem, meu amigo. Eu vou tratá-la como a vadia que ela é. Eu vou acabar com ela. Eu vou fazer com que ela me obedeça em tudo. Ela vai ser degradada e torturada, e quando eu tiver cansado dela, eu vou matá-la. E dessa vez vou ter certeza de enviar para você sua cabeça e suas mãos, em vez do resto do corpo. Não. Eu vou manter o resto do corpo. Uma buceta ainda é uma buceta, não é mesmo? Eu não sinto mais dor. Minha cabeça não está mais girando, minha visão não está mais borrada. Tudo está claro como a porra de

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um cristal, e meu corpo está vibrando de fúria. Apenas um segundo atrás eu estava agarrado ao fato de que suas provocações não iam funcionar comigo, e eu honestamente acreditei que isso era verdade. Mas agora, com isso? Eu não posso ficar calmo. Eu não posso manter a cabeça fria. Sophia muda o jogo todo. Eu jurei protegê-la, e agora Ramirez está ameaçando violar o seu corpo morto? Não. De jeito. Nenhum. Do caralho. Ele não vê o taco de beisebol chegando. Eu o puxo de debaixo do balcão tão rápido que ele não tem tempo nenhum para reagir antes que eu o acerte. No Alabama, quando eu era adolescente, meu pai costumava me obrigar a torturar o gado com uma marreta antes de cortar suas gargantas – uma batida com força na cabeça, garoto. Qual problema? Você é um maricas do caralho ou um Aubertin? Deus, você me dá nojo. Havia outros jeitos muito mais humanos de acabar com as vidas de um animal, mas meu pai tinha uma espécie de prazer doentio em me observar chorando enquanto eu batia com a marreta no seu gado. Ele me fez fazer isso de novo e de novo, centenas de vezes. Eu odiei cada segundo daquilo, desorientando aquelas vacas para que elas pudessem ser abatidas, mas a experiência me ensinou muito. Eu tive muita experiência. Então quando eu bato com o bastão de beisebol no lado da cabeça de Ramirez, é com força precisa e brutal. A cabeça de Ramirez é arremessada para o lado, o charuto voa da sua boca. Ele cai de joelhos, fazendo um som baixo e gutural no fundo da garganta. Sangue. Há sangue por todo o bastão de beisebol, e a cabeça de Ramirez está derramando ainda mais líquido vermelho sobre o seu rosto, ensopando o colarinho branco da sua camisa. Eu salto por cima do balcão, já levantando o bastão em minhas mãos, pronto para acertá-lo na cabeça de novo. Estou preparado para levantar e descer a coisa até que o homem na minha frente nunca mais levante. Eu não posso deixar que ele machuque Sophia. Eu não vou permitir essa meda. Estou a dois segundos de acertar outro arremesso brutal quando Ramirez começa a rir. Esse era o som gutural que ele estava fazendo – rindo, quase se engasgando no sangue que há no fundo da sua garganta. — Você... você realmente me pegou nessa, — ele diz, sorrindo. — Ohh, Jamie. Você deveria se ver, — ele grunhe, levantando o olhar para mim, seus olhos escuros se estreitando. — Você parece feroz. Parece o tipo de homem que não tem medo de matar qualquer um para

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proteger o que é seu. Talvez você não seja um adversário tão ruim, depois de tudo. O seu pai estava errado. Você tem bolas. — O meu pai pode ir se foder. E você também, filho da puta, — eu balanço, e dessa vez o bastão acerta o ombro de Ramirez, fazendo com que ele caia no chão. O bastado louco se curva para um lado, deitado sobre o vidro partido, e ri alto e forte. Ele é maluco. Tem que ser. Ele tem que saber que está prestes a morrer, e ainda assim sua única resposta é pura e completa histeria. — Como eu disse, — eu rosno. — Você nunca deveria ter vindo aqui, Hector — eu levanto o bastão outra vez, agarrando-o com as duas mãos, e estou pronto. Faz muito, muito tempo desde a última vez que matei um homem, mas esse aqui merece muito. Hector matou Ryan. Ele matou Leah e Bron. E agora ele está ameaçando Sophia? Eu nunca vou me sentir mal por acabar com ele. Minha consciência vai estar limpa. Não há nada na Terra que pode me impedir de dar um fim nele, aqui e agora. E é nesse exato momento que meus pés saem do chão. É como se eu tivesse sido atingido por um caminhão. Minhas costas batem contra o balcão, e me corpo quer afundar no chão, mas eu não posso porque meus músculos estão presos e minha mandíbula está tão apertada que parece que meus dentes vão quebrar. Dor reivindica cada uma das minhas terminações nervosas, da cabeça aos pés. Não consigo soltar um pio, mas se conseguisse, ia estar gritando de agonia. Mal capaz de mover sequer minhas pálpebras, eu olho para a fonte da minha dor e percebo que na verdade há algo na Terra que poderia me impedir. Duas coisas, na verdade. A primeira, uma taser de 50 mil volts, a ponta ainda presa ao meu peito. A segunda, a policial parada na porta da loja.

*****

— Você quer vir com essa para cima de mim outra vez, imbecil? Detetive Lowell, DEA, não parece estar se divertindo com as minhas respostas às suas perguntas. Na verdade, ela parece estar muito puta. Ela gosta das coisas arrumadas. Posso dizer só de olhar para ela – seu terno cinza impecavelmente passado, seu cabelo impecavelmente arrumado e sua maquiagem impecavelmente discreta falam por si. E ter de me interrogar na minha loja quebrada e destruída enquanto dois paramédicos se certificam de que eu não tenho nenhuma lesão duradoura por conta do taser que ela atirou em mim, está lhe deixando ainda menos agradável. Engraçado, mesmo, uma vez que ~ 67 ~


estou me sentindo tão brilhante e animado. Se brilhante e animado puderem ser descritos como totalmente quebrado e com uma quantidade insana de dor. — Eu disse a você. Eu só estava mostrando a um cliente em potencial algumas das nossas recordações esportivas. — Suponho que você esteja falando do taco de beisebol? — Sim, senhora. — E você estava mostrando isso a ele? Batendo com ele repetidamente na sua cara? Eu olho para ela, estremecendo quando um dos paramédicos usa um cotonete com álcool para limpar o corte logo acima do meu olho direito. — Você me viu batendo no cara com o meu bastão? — meu tom de voz está no limite do chocado. — Isso realmente não soa como algo que eu faria. Lowell suspira com rispidez, as mãos nos quadris. — Você estava segurando o bastão acima da sua cabeça. Seu cliente em potencial estava caído no chão, rindo. Com toda a certeza do inferno parecia que você estava prestes a usar a coisa para calar a sua boca. — Por que ele estaria rindo se eu estivesse batendo nele, Detetive? Isso parece loucura. Lowell parece prestes a pegar o bastão e bater na minha cabeça com ele. Ela balança a cabeça para o artigo ofensivo caído no chão onde eu o derrubei. — Não parece recordações para mim. Parece bem novo. — Não é verdade. Ele é autografado. Supervalioso. — Não posso ver uma assinatura em lugar nenhum dessa coisa. — Está ali. Só está escondida debaixo de todo o sangue. Veja... ali, — eu aponto. — David Ortiz. David Ortiz não assinou o bastão. Mas eu fiz isso quando o escondi debaixo do balcão. É uma falsificação bastante decente. Lowell me dá um olhar gelado de matar. — Você acha que isso é engraçado? Acha que isso é uma piada? Isso dá tempo na prisão, amigo. Bastante tempo. — Detetive, por favor. Ele está dizendo a verdade, — do outro lado da sala, Ramirez está sendo assistido por outro paramédico; seu olho esquerdo está quase fechado e seu braço tem uma tipoia, porque ~ 68 ~


desloquei o seu ombro. — Ele estava apenas me mostrando o bastão, — ele diz. — Eu caí e bati a cabeça. Asseguro a você, não havia nada inconveniente acontecendo quando você atirou no Sr. Aubertin. Lowell olha para nós dois, suas sobrancelhas apertadas juntas, formando uma carranca furiosa. — Vocês são horríveis mentirosos. Vocês acham que eu não sei quem são os dois? Acham que eu sou idiota? Vocês acham que é uma coincidência que eu esteja aqui, no meio da porra de lugar nenhum que é essa Hicksville, Novo México, sentada com os dois? Porque podem ter certeza, não é. Eu encolho os ombros, dando a ela minha melhor cara de eu não sei do que você está falando. — Eu não sou ninguém especial, Detetive. Eu comando uma loja de tatuagens. E esse cavalheiro, — eu engasgo com a palavra, — apenas veio aqui perguntar sobre um trabalho. Lowell dá uma risada dura. — Certo, apenas pare. Não se incomode, porra. Tenho certeza que vou conseguir a verdade de vocês quando estivermos na delegacia. Os dois estão presos, — ela lê meus Miranda Rights10, e então repete o processo com Ramirez. Assim que os paramédicos terminam de me atender, eu sou algemado e arrastado para fora da loja por dois policiais. Ramirez vem logo atrás. Quando sou empurrado no banco de trás de um carro da polícia, pego com o canto do olho Ramirez sorrindo para mim. Eu o conheço. Eu sei que ele não vai mudar sua história na delegacia, e nem eu vou. Lowell está prestes a ficar ainda mais frustrada, e eu suspeito que provavelmente vou passar as próximas vinte e quatro horas preso em uma cela, mas não poderia me importar menos. Isso vai me dar tempo para pensar nas coisas. Vai me dar tempo para fazer planos. Tenho certeza que Hector Ramirez vai fazer o mesmo.

Miranda Rights é uma série de direitos que a pessoa tem ao ser detida (como o clássico ―tudo que você disser pode e vai ser usado contra você‖, etc.), e, nos EUA, uma pessoa só pode ser presa após a leitura desses direitos em voz alta (ou de forma que o detido compreenda). 10

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Capítulo Oito SOPHIA Não consigo tirar a imagem daquela mulher sem cabeça da minha mente. Está lá, cada vez que eu vejo meus olhos no espelho todo dia. Horrível. A coisa mais horrível que eu já vi. Rebel, Cade e Carie mantiveram a frieza, mas eu posso dizer que a visão os perturbou também. As mãos de Rebel estavam tremendo quando ele caminhou comigo de volta para o complexo. Ainda estavam tremendo quando ele me puxou para ele e deitou comigo na sua cama por meia hora em silêncio enquanto eu chorava. Ele me deixou logo depois para ir encontrar o namorado da mulher na cidade, e eu estive sentada na sua cabana desde então, olhando para a parede, me perguntando como essa pode realmente ser a minha vida. Eu me encontro pensando em Matt de novo. Eu fiz a escolha de ficar com Rebel lá no Alabama. Tenho pensando que eu estou louca muitas vezes desde então. Eu poderia ter voltado para a minha antiga vida e para o seguro e entediante Matt. Eu nunca seria exposta a cadáveres sem mãos e sem cabeça se eu estivesse com ele. Eu teria uma conta no Costco11 e tiraria livros da biblioteca pública. Eu visitaria vinícolas aos finais de semana e, eventualmente, teria filhos e adotaria um cachorro. Eu teria uma vida totalmente segura e comum. Tudo estaria bem. Menos Rebel. É inexplicável. Essa é a pior decisão que eu já tomei, e ainda assim, ao mesmo tempo, com ou sem corpos sem cabeça, eu estou aqui, ainda estou presa aqui. O que isso diz do meu estado mental? Já está escuro quando Rebel volta. Ele não me disse um horário para esperar o seu retorno, então eu não fiquei preocupada, mas isso muda quando pego um vislumbre dele. Ele parece muito, muito pior do que antes, se isso for possível. Ele parece estar, literalmente, com a morte em seus 11

É uma espécie de Lojas Americanas de lá. ~ 70 ~


calcanhares. Cade o ajuda a passar pela porta da cabana e o coloca na beirada da cama, e eu não posso fazer outra coisa que não olhar para ele de boca aberta. — O que... o que diabos aconteceu? — Rebel deita de costas na cama, expondo a metade de baixo da sua barriga, que está vermelha com sangue fresco. É aí que eu percebo os dois pequenos buracos na sua camiseta. — E o que aconteceu com as suas roupas? — Ele foi atingido por um taser, — Cade diz secamente. — E então preso pela DEA. Eu não sei, cara. Eu te deixo sozinho por cinco fodidos minutos e olhe para o seu estado agora. Rebel grunhe. — Agradeço a sua preocupação. — O quê? — meus ouvidos devem estar me pregando peças. Rebel está tão indiferente, como se ser atingido por um taser fosse uma ocorrência cotidiana. Assim que esse pensamento me ocorre, eu percebo que talvez isso realmente não seja tão incomum para ele. — Você gostaria de explicar o que aconteceu? — eu digo. — Adoraria. Mas preciso de um segundo, — Rebel responde, pressionando as articulações dos dedos em seu esterno – ele está com muita dor, embora eu o conheça bem o bastante para saber que ele nunca vai dizer isso. — Você deveria ir para a cama, cara, — Cade diz a ele. — Ainda não. Nós precisamos ir até a sede do clube. Os outros vão ficar furiosos se nós não explicarmos tudo antes do fim do dia. Eles merecem saber. Cade balança a cabeça, jogando as mãos no ar. — Porra, então por que diabos você me fez te arrastar até aqui colina acima? Rebel lentamente vira a cabeça para olhar para mim. — Porque a gente tinha que buscar Sophia. Está na hora de apresentá-la do jeito certo ao resto do clube. Eu tenho certeza que todos estão fazendo perguntas. Cade ri. — Isso é uma forma de colocar. Eles estavam prontos para sitiar esse lugar hoje de manhã para descobrir quem ela era. O rosto de Rebel assume uma expressão séria. — Espero que você tenha informado a eles o quanto isso seria imprudente? — Eu informei. E eles não gostaram disso.

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— Eles não têm que gostar. Eles só têm que obedecer nossas ordens. Eu ainda não tinha visto essa versão de Rebel. Ele está irritado, isso é óbvio, mas ele parece focado, também. Determinado. Ele sempre foi intimidante, desde o momento em que o conheci, mas agora ele está totalmente assustador. Ele olha para mim de novo, tomando uma respiração profunda. — Isso é o que você queria, certo? Liberdade total por esse lugar. Liberdade para ver e falar com quem você quiser? Bem, aí está. Você quer ir conosco até a sede do clube? Eu mordo meu lábio, imagens do Costco e da sessão de ficção da biblioteca pública de Seattle piscam diante dos meus olhos. Eu lentamente balanço a cabeça, me sentindo levemente histérica. Isso é um desafio aos olhos dele. O olhar que ele me dá me diz que eu preciso ser forte para entrar na sua vida. Eu cruzo os braços sobre o peito e levanto o queixo como forma de aceitar o seu desafio. — Claro. Ok. Eu vou. Os olhos de Rebel brilham como aço frio. — Vamos lá.

*****

Minhas memórias da outra noite sobre a sede do clube são bastante nebulosas. Eu estava muito preocupada em achar Cade e levar ele até Rebel para prestar atenção nos arredores, mas agora as coisas são diferentes. Agora eu tenho muito tempo para fazer isso. O lugar é cavernoso – um velho celeiro remodelado com altas vigas e piso de concreto. Compridas mesas de madeiras e bancos estão alinhadas no espaço, e mesas menores ocupam os cantos do lugar. Há um bar que toma todo o comprimento da parede dos fundos, com um estoque infinito de diferentes garrafas de uísque, assim como tudo mais que você esperaria ver em um bar normal. Tem um mar de gente presa lá dentro, sentada nos bancos ou de pé no bar. A maioria são homens, caras grandes com os braços cheios de tatuagens, maiores que a vida, assustadores como o inferno. Há algumas mulheres e crianças também, todas parecem aterrorizadas e deslocadas ali. Todos param de falar quando vêem Rebel. E eu.

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Uma mulher na parte de trás do salão fica de pé imediatamente. Eu a reconheço – ela foi a mulher que me deu um olhar sujo quando eu corri até aqui atrás de Cade. Ela é diferente das outras mulheres presas dentro da sede do clube. Ela é toda tatuada, seu nariz tem um piercing, o cabelo rosa está preso em um coque bagunçado. Ela está usando uma camiseta rasgada do Sepultura e uma careta no seu rosto já aponta problemas. Ao meu lado, Rebel abaixa a cabeça, aparentemente sentindo a mesma coisa. — Que porra está acontecendo, cara? — ela estala. — Nós estivemos sentados aqui o dia todo. Keeler sumiu, e Cade não nos diz merda nenhuma. E quem diabos é ela? — a mulher me cutuca com um dedo como se eu fosse um alien invasor e ela estivesse para me expulsar do planeta Terra. — Se sente, Shay. E cale a boca. Não é assim que nós fazemos as coisas, — Rebel diz. Sua voz é monótona, controlada, mas mesmo eu posso dizer que ele está irritado com a sua explosão. A mulher – Shay – balança a cabeça. — Isso é besteira, Rebel, e você sabe. Você não pode nos manter no escuro, e não pode trazer mulheres aleatórias... — EU DISSE PARA SENTAR E CALAR A PORRA DA SUA BOCA, SHAY! Eu quase pulo fora da minha pele quando Rebel explode. Seu rosto, completamente sem cor pelos últimos cinco dias, de repente está vermelho brilhante. Seu corpo está tremendo, os ombros tensos, as mãos fechadas em punhos. — Hoje foi um dia de merda total. Não faça ele pior, — ele assobia. Shay empalidece, a hostilidade desaparece dela. Ela parece muito uma garotinha assustada, o que eu estou apostando que é um evento raro. Eu também estou apostando que não é muito comum Rebel perder a cabeça; quase todas as pessoas no clube parecem chocadas. Shay lentamente se senta, e todos os outros mantêm a boca fechada, claramente esperando Rebel falar. Finalmente ele fala. — Essa manhã, Hector Ramirez nos enviou uma mensagem clara. Carnie descobriu o corpo de uma mulher pendurado em uma árvore na estrada de terra que leva à cidade. Era Bron, a namorada de Keeler. Ela foi decapitada, suas mãos e um pé também foram removidos. Seu corpo foi pendurado de cabeça para baixo na árvore.

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O salão explode com barulho. Quarenta pessoas começam a gritar de uma vez, o som ensurdecedor da sua raiva. Os que obviamente são membros do clube, aqueles com tatuagens dos Widow Makers e coletes de couro, são os mais furiosos. No canto do salão, um cara alto e magro com longo cabelo loiro pula do seu assento e corre para frente, mancando um pouco. — Onde diabos está Keeler? E onde diabos está Ramirez? Nós temos que matar o filho da puta. Ele tem que pagar, Rebel. Rebel suspira asperamente. — Keeler está tomando um ar, Brassic. E Ramirez está escondido em uma fazenda do outro lado da cidade. Ele foi preso essa tarde, assim como eu. Ele então explica que Ramirez apareceu no estúdio de tatuagens depois que Cade saiu e fez algumas ameaças cruéis, o que o levou a bater nele com um taco de beisebol. Eu estou de pé ao lado dele, ouvindo aterrorizada enquanto ele descreve como então foi atingido por um taser e levado para a delegacia local. Havia uma agente do DEA muito irritada, e depois de dez horas de interrogatório agressivo, ele teve permissão de ligar para Cade e pedir que ele fosse buscá-lo. A tensão no salão está a ponto de explodir quando Rebel termina sua história. Brassic, o cara loiro e alto que perguntou sobre Keeler, bate com a palma da mão na mesa à sua frente, enviando um copo vazio para o chão, onde ele se quebra. — Quando nós vamos atrás dele? Rebel? Nós não podemos ficar aqui parados. — Nós não vamos. Eu sei que todos vocês estão com raiva. Eu estou com raiva, também. Mas precisamos ser inteligentes. Se vocês puderem pensar em um plano sólido de ataque que não acabe com a maioria de nós morrendo, e o resto na prisão, eu adoraria ouvir. Se não, então nós precisamos de um tempo para pensar nisso. Essa agente do DEA tinha a intenção de conseguir respostas de mim. Tenho certeza que foi o mesmo com Ramirez. Ela me disse claramente que estava na cidade com uma equipe, e eles não vão embora até que consigam o que vieram buscar aqui. Isso inclui Hector Ramirez acusado por tráfico de drogas e assassinato, e os Widow Makers presos pelo tiroteio no Trader‘s Joe. — Nós fomos inocentados disso, cara! Os policiais prenderam os caras dos Desolladors contratados para nos incriminar. Eles admitiram tudo! — Eu sei disso. Você sabe disso. Lowell sabe disso. Mas ela está puta. Tudo que ela conseguir jogar em nós é uma vitória para ela. Nós

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estamos vivendo sob um microscópio agora, gente. Se dermos um passo errado, estamos todos fodidos. As palavras de Rebel não parecem ter algum efeito. Ou certamente não aquele que ele estava esperando que tivessem. Pelas palavras arrebatadas que eu escuto por cima das conversas das pessoas, parece que ninguém se importa de ser preso, enviado para a prisão, baleado ou morto. Eles só querem vingança. — Você ainda não nos disse quem é ela, — Shay repete. Ela modera seu tom dessa vez, mas está claro que ela está furiosa com a minha presença. Rebel dá a ela um olhar gelado. — Ela foi testemunha do assassinato do meu tio em Seattle. Hector e Dela Vega a sequestraram e nós fizemos um acordo para que Julio a comprasse deles. Ela é minha convidada aqui, Shay. É tudo que vocês precisam saber. — Então Hector e Raphael descobriram que você está ela aqui e vieram atrás, certo? — um estrondo exaltado sobe no meio da multidão. Shay mal pode esconder o ódio em seu rosto quando ela me encara. Rabel faz algo que me surpreende então. Ele para na minha frente, bloqueando a visão dela. — Se você olhar para ela assim de novo, Shay, nós dois vamos ter problemas. Na verdade, é melhor não olhar para ela de jeito nenhum, você me entendeu? — Ela coloca todos nós em perigo, Rebel. E você a trouxe para cá sem dizer nada a nenhum de nós, — ela cospe. — Você não acha que nós tínhamos o direito de saber isso? Você não acha que teria sido inteligente nos dizer que você estava trazendo perigo para as nossas portas? — Realmente parece que você está questionando as minhas decisões, — a voz de Rebel é puro cascalho e arestas duras. Ele parece que está prestes a acabar com tudo. Cade coloca uma mão no seu ombro, mas Rebel a empurra. Ele olha para todo o salão – eu não posso ver a expressão no seu rosto, mas estou apostando que é assustadora. — Isso não é uma democracia, — ele diz lentamente. — Isso não é a porra de um dia no spa. Vocês não podem me questionar ou ir contra a minha vontade. Eu sempre fiz o meu melhor por vocês, caras. Eu sempre dei o meu melhor para manter vocês seguros. Mas nesse momento, se algum de vocês está descontente com a minha liderança ou pensa que a ameaça de Ramirez e seus homens é grande demais para a sua segurança, eu os convido a sair. Sem consequências. Sem ressentimentos. No entanto, se algum de vocês pensa em sair da linha e

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colocar esse clube em mais perigo, então eu mesmo vou arrancar a maldita tatuagem das suas costas, aqui e agora, — eu posso ver os cabelos na sua nuca levantando lentamente. O silencio que vem a seguir é desconfortável, para dizer o mínimo. Metade dos Widow Makers está olhando para os seus pés quando Rebel continua. — E se algum de vocês estiver pensando em fazer a vida de Sophia mais difícil, terá que lidar comigo pessoalmente. Velho ou jovem. Homem ou mulher. Vocês confiaram em mim pelos últimos cinco anos, me seguiram pelo inferno e voltaram, então confiem em mim agora quando eu digo: vocês nunca me viram chegar ao meu limite. Não me testem, porra. Isso não vai acabar bem.

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Capítulo Nove SOPHIA Quando nós voltamos para a cabana, Rebel me coloca na cama dele e me diz que vai voltar, então eu o observo através da porta semiaberta enquanto ele fica apenas com sua cueca boxer e metodicamente limpa todo o sangue do seu corpo. Ele é lindamente construído, os planos dos seus músculos se torcem e movem em uníssono enquanto ele se move com cuidado pelo banheiro. Eu posso dizer que o sua lateral ainda está lhe incomodando. E agora ele tem dois ferozes hematomas arroxeados no meio do peito, onde os ganchos do taser fizeram contato. Há muitos grunhidos e estremecimentos enquanto ele se lava. Sloane diria a ele para se sentar para que ela pudesse ajudá-lo, mas Rebel... ele provavelmente não obedeceria. Ele é extremamente orgulhoso. Ele está acostumado com isso – eu noto. Se eu tentar interferir, ele vai se fechar, e em vez de fazermos progressos, vamos andar para trás. Eu deixo que ele limpe a sua ferida e recoloque as bandagens no lugar. Ele engole o que parecem ser mais analgésicos e antibióticos, e então se inclina sobre o balcão e encara a si mesmo no espelho pelo que parece uma eternidade. Ele não parece gostar do que vê. Quando volta para a cama, eu ainda estou intimidada pela sua performance na sede do clube. Intimidada o bastante para que eu finja estar dormindo. Ele vê minha encenação, no entanto, e me puxa para ele sem medo de me acordar. Ele não diz nada. Ele apenas passa a mão pelo meu cabelo, respirando profundamente na escuridão, e eu escuto seu coração batendo sob a caixa torácica. Ele está com febre, sua pele está queimando contra a minha bochecha. Eu me pergunto se ele vai estar um pouco melhor pela manhã. Provavelmente não. Quero dizer, vai levar mais do que alguns dias para se recuperar de um ferimento grave como esse, especialmente se ele continuar andando por aí, atacando pessoas com tacos de beisebol e sendo ferido por agentes do DEA. Tenho a impressão de que amanhã vai ser mais do mesmo, de alguma forma.

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Não demora muito antes que a respiração de Rebel se acalme. Eu estou caindo no sono também, mas antes que eu apague um pensamento me atinge. Um bem desagradável. Leva um momento para que eu reúna a coragem para falar. Quando eu faço, minha voz é nada mais que um sussurro no escuro. — Rebel? — Mmm? — Essa agente do DEA? Você acha que ela vai vir aqui? Você acha... que ela vai me reconhecer? Ele puxa uma respiração, então descansa o queixo contra o topo da minha cabeça, da mesma forma que fez essa manhã quando estava me confortando. Isso parece muito familiar. Muito seguro. Muito certo. — Sim, — ele sussurra também. — Ela vai vir aqui. Ela provavelmente vai te reconhecer. — E então? O que eu digo a ela? Ele está quieto. Quieto demais. Eu já sei que não vou gostar da resposta. — Você pode dizer a ela duas coisas, Sophia. Você pode dizer que foi sequestrada e esteve presa aqui contra a sua vontade pelas últimas semanas. — Ou? — Ou você vai dizer que foi embora de Seattle porque quis. Que é aqui que você que estar. Que é a sua casa agora. Aqui com a gente.

*****

Parece ser tarde quando eu acordo. A luz do sol se derrama pela janela acima da cama, esquentando minha pele, embora eu esteja gelada. Eu estou acostuma a me cobrir pouco durante a noite, e o corpo de Rebel emana calor para me aquecer até mesmo no inverno mais congelante, mas posso dizer que agora eu estou sozinha. Eu não abro meus olhos. Permaneço deitada, imóvel, ouvindo. Com certeza há o som de alguém se movendo do outro lado da sala, confirmando que Rebel já se levantou. Lenta e cuidadosamente eu me viro e abro os olhos, procurando por ele. Ele ainda está usando apenas sua cueca boxer, parado de pé na porta de entrada aberta da cabana, com o que parece ser uma caneta e

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um papel nas mãos. Há um pequeno globo de neve aos seus pés – um globo de neve da linha do horizonte de Chicago. Na casa do seu pai no Alabama, havia pelo menos vinte desses globos, colecionados pela sua mãe. Mas o globo de Chicago foi o único que ele trouxe para cá. Não pela primeira vez, eu me perguntei o que faria dele tão especial. — Dormiu bem? — Rebel pergunta. Ele não se vira, mas descobre que eu estou acordada. Eu puxo as cobertas um pouco mais contra o meu corpo, lutando contra a urgência de me esconder completamente. — Sim, eu acho. — Bom, — ele se vira e para com a luz do sol iluminando a sua silhueta enquanto ele me encara, uma caneta em uma mão, um papel na outra. Ele é tão bonito. Não daquele jeito bonito universitário popular de Matt. Não, o corpo de Rebel tem uma impressionante semelhança com um vaso que minha mãe tem em uma das mesinhas de casa. Sloane e eu éramos crianças e estávamos jogando futebol dentro de casa, e derrubamos o vaso da mesa. Ele se quebrou em mil pedacinhos. Minha mãe ficou devastada. Meu pai demorou três semanas inteiras para descobrir onde cada pedacinho de porcelana prateada pertencia, e as colou todas no lugar. Eu acho que mamãe amava ainda mais o vaso depois que papai terminou o trabalho. Ele teve tanto esforço meticuloso em repará-lo, que não importava para ela que o vaso parecesse ter uma teia de aranha de pequenas rachaduras. Eu não tenho ideia quem passou tanto tempo consertando o corpo de Rebel – muitas pessoas, com certeza – mas ele parece ainda mais bonito, de alguma forma, com todas as cicatrizes e imperfeições. Matt gritaria como uma garotinha se ele torcesse o tornozelo durante um treino de futebol. Eu ainda posso ouvir Rebel reclamar apenas uma vez sobre o fato de que sua barriga estava semi-aberta ou que ele foi atingindo por milhares de volts de eletricidade. Eu mal consigo enxergar os traços do seu rosto quando ele me dá um sorriso que me faria cair de joelhos se eu estivesse de pé. — Você já acabou, ou eu deveria chegar mais perto e te dar uma visão melhor? — ele pergunta suavemente. — Se você continuar me olhando assim por detrás dessas cobertas, eu posso apenas voltar para a cama. — Isso soa como uma ameaça. — E é. E mais. Eu vou cumprir a promessa que fiz a você no outro dia, se você quiser? Levo um segundo para me lembrar ao que ele está se referindo. Quando isso acontece, minhas bochechas parecem estar pegando fogo. ~ 79 ~


Ele está falando de me fazer gozar. Pra valer. Me mostrando que a ejaculação feminina não é um mito. Puta merda... Rebel começa a voltar para a sala como uma pantera, como se agora que ele teve a chance de pensar em me fazer gritar, ele decidiu que é uma ideia ótima. Eu não sei se ele apenas está tentando me assustar o se isso é algo mais. E eu não sei se eu quero que seja algo mais. Eu me sinto segura enquanto finjo não querer ele, mas é cansativo e eu nunca fui uma boa mentirosa. Nem sequer para mim mesma. A verdade é, eu estou viciada no homem. Eu deveria odiá-lo. Eu deveria ter medo dele. Eu não deveria querê-lo em nenhum lugar próximo a mim, mas ainda assim... — Você pode fazer o que quiser, — eu sussurro. — Como geralmente acontece. Ele me dá um sorriso malicioso. — Bem, bem. Eu acho que isso não foi um não, — ele entra na cabana, seu torso rígido – eu posso ver que ele já trocou suas bandagens hoje de manhã – enquanto ele tenta não puxar seus pontos. Eu nunca pensei que fosse o tipo de pessoa que olharia assim para um homem. Como se eu estivesse com fome. Isso é constrangedor, mas também é libertador, de alguma forma. Sexo nunca foi algo importante para mim. Nunca ocupou um grande papel na minha vida. Desde que Matt e eu começamos a namorar, eu assumi que apenas tinha um baixo desejo sexual e estava tudo bem, porque ele sempre foi muito baunilha12 sobre as coisas e terminaria tudo rápido, de qualquer maneira. Mas agora... agora eu sei que o meu desejo sexual não é baixo. Ele só esteve dormindo, esperando que a pessoa certa aparecesse e o acordasse. Enquanto eu estou aqui deitada na cama de Rebel, esfregando meus pés juntos, tentando não pensar na pressão crescente entre as minhas pernas ou no olhar malvado no rosto dele, tenho certeza absoluta de que já encontrei essa pessoa. Ou ele me encontrou. — Eu só estou dizendo. Importaria se eu dissesse não? Você parece conseguir as coisas do seu jeito, independentemente do que os outros querem. Ele para de andar de repente. — Nem sempre, Soph. Não com isso. Você acha que eu te obrigaria a transar comigo? — ele perde É uma expressão que vem do universo BDSM e se refere a alguém que gosta de sexo ―comum‖, sem se aventurar muito, sem sair da sua zona de conforto ou dar espaço para muitas fantasias. 12

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aquele ar brincalhão. Isso desapareceu como fumaça no ar. Em vez disso, ele parece... magoado? — Não. Não, eu não quis dizer isso. Eu... eu só... — Você acha que eu te forçaria de alguma coisa? — ele franze a testa profundamente, aqueles olhos azuis escurecendo. Leva menos que um segundo para perceber que o que eu disse foi a coisa errada. Eu me arrependo de ter aberto a boca instantaneamente. Eu deveria ter pensando melhor. — Não. Eu no acho que você me forçaria. É sério. Eu não deveria ter dito isso. Você só... você me faz sentir... fora de controle. — Você sempre está no controle, Soph. Sempre. Se você não percebeu isso ainda, eu estou à sua disposição, dia ou noite. Os membros do meu clube pisam fora da linha e eles sabem que vão pagar por isso, mas você poderia muito bem sair impune de um assassinato. Eu não sou um grande fã de jogos, Sophia. Eu mantive minha boca fechada desde o Alabama porque você parecia horrorizada naquela época, mas eu te disse naquele corredor que você seria minha por tanto tempo quanto quisesse ser. E que eu era seu. Você não pegou a minha mão. Você estava muito assustada com a ideia, eu sei. Mas ainda é verdade. Isso não mudou. Enquanto você estiver aqui, comigo, não tem nada do que ter medo. E isso incluiu a mim. Eu não consigo pensar na coisa certa a dizer. Quando ele me olha do jeito que está olhando agora, não consigo pensar direito nem nos meus melhores momentos. Mas somado à intensidade da sua voz e ao jeito como o meu corpo respondeu às suas palavras, eu não tenho esperança nenhuma de formar uma frase coerente. Ele suspira, jogando a caneta e o papel no fim da cama. — Eu vou descobrir um jeito de tomar banho com todas essas bandagens. Você pode dormir um pouco mais se quiser, — ele se vira e começa a ir para o banheiro. — Rebel, espere! Ele para. Olhando por cima do ombro para mim, ele espera eu falar. Eu sendo eu, estou esperando que ele facilite as coisas, não me faça dizer isso, mas é claro que ele sendo ele, não é assim que coisas funcionam. Estou aprendendo isso aos poucos. Frustração corre pelas minhas veias. Por que ele não pode ser um cavalheiro sobre isso e apenas vir para a cama comigo? Rebel balança a cabeça, um pequeno e quase imperceptível sorriso levanta os cantos da sua boca.

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— Seja corajosa, querida. Eu conheço você. Você só tem que provar isso, — ele diz baixinho. Em um milhão de outras situações, eu manteria a minha teimosia. Eu me deitaria na cama, me esconderia debaixo das cobertas e deixaria que ele fosse tomar o seu banho, me recusando a ceder tão fácil. Mas isso é diferente. Se eu fizer isso agora, não estaria ganhando. Eu estaria perdendo um grande momento. Solto uma respiração instável, me puxando um pouco mais para cima na cama. — Certo, tudo bem. Eu não quero que você vá tomar banho. Quero que você fique aqui. Comigo. — Ah? E por que você quer isso? Eu poderia chutar ele nas canelas por ser tão presunçoso, mas na verdade isso lhe dá uma aura sexy. Ele se mantém até que eu estou me contorcendo na cama e ele se vira lentamente para me encarar outra vez. — Você sabe porquê, — eu digo a ele. — Você tem que me dizer. — Porque... — Por quê? — ele dá outro passo mais perto da cama. — Porque... eu quero você. Um fogo brilha nos olhos de Rebel. — Como? — Eu quero você em cima de mim, abrindo as minhas pernas, se empurrando dentro de mim. Eu quero me perder em você. — Você quer que eu te foda duro ou suave, Soph? — ele parece estar fascinado com as palavras que eu acabei de me obrigar a dizer. Ele parece estar saboreando cada uma delas. Ele olha para a minha boca enquanto caminha determinado em direção à cama. — Suave, — eu sussurro. — Eu quero que você me foda devagar. Quero sentir cada movimento. Cada segundo em que você está dentro de mim. Eu quero sentir seus braços apertados ao meu redor, até que eu mal possa respirar. Eu quero esquecer. Ele me dá um olhar afiado. — Esquecer o quê? Bron? Dela Vega? Lentamente, muito lentamente, eu balanço a cabeça. Por que é tão difícil de dizer? Eu já cheguei até aqui – o resto deveria ser fácil. Mas não é. Abrir a boca, dizer a ele o que eu quero, é a coisa mais difícil do mundo. Eu escalei montanhas e superei tantos obstáculos ridículos ~ 82 ~


recentemente, e ainda assim isso é o mais difícil – estar aqui, tentando dizer a ele a verdade. Ele faz eu me sentir pequena. Vulnerável. Com medo. — Não, — eu digo. — Não é sobre eles. Eu quero esquecer onde você começa e eu termino. Eu quero esquecer como é existir sem você. Eu não quero mais dançar ao redor disso. Eu estava com medo no Alabama, você tem razão. Mas agora, a única coisa que me dá medo? A única coisa que me assusta é não estar com você. Enquanto dá os últimos passos em direção à cama, Rebel não parece mais se importar com a sua ferida. Eu acho que ele vai saltar sobre mim, arrancar as cobertas do meu corpo e me devorar, mas ele não faz isso. Ele se ajoelha na cama, sentando sobre seus calcanhares, e apoiando as mãos nas coxas, me encarando, seu peito subindo e descendo rapidamente. — Você não tem ideia... — ele grunhe. — Você não tem ideia do que eu quero de você, Sophia. Mas você está prestes a descobrir. Você está pronta? Eu tenho o seu consentimento? O pânico me agarra, mas eu obrigo a mandá-lo embora. No passado, eu teria segurado o medo com as duas mãos e me recusado a soltá-lo, me dando uma desculpa para sair de qualquer situação que eu achasse intimidante. Eu não posso mais ser assim, no entanto. Não se eu quiser descobrir para onde tudo isso vai. Apesar de cada aviso soando na minha cabeça, isso é exatamente o que eu quero. Eu aceno, lentamente puxando uma respiração profunda. — Sim. Sim, você tem o meu consentimento. Os olhos de Rebel brilham. Eu posso ver a intenção neles, e ela é assustadora e excitante ao mesmo tempo. Eu sei que ele vai vir por mim agora, mas saber isso e ver acontecendo são duas coisas muito diferentes. Quando ele se inclina lentamente, apoiando as duas mãos na cama à sua frente, e começa a se aproximar de mim, sinto que estou prestes a desmaiar. — Você quer que eu goze dentro de você, Sophia? — ele diz, sua voz baixa, um retumbar perigoso no fundo da sua garganta. — Sim. — Boa garota, — ele se move para poder tirar as cobertas que ainda estão sobre mim, e então toma um segundo para inspecionar o comprimento das minhas pernas nuas. A camiseta que estou usando de repente fica muito curta. Como se isso incomodasse Rebel, no entanto. Ele gentilmente toca minha pele, correndo as mãos com delicadeza pelo lado de fora das minhas coxas. Eu me arrepio toda ao seu toque, e um arrepio violento me atravessa inteira. Quando as suas mãos chegam à

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barra da camiseta, ele passa o dedo pelo material, seguindo os pontos pela borda do tecido até que suas mãos estão no meio. Eu sei que as coisas estão prestes a ficarem insanas quando seus olhos encontram os meus e eu vejo a luxúria queimando neles. — Você sabe que deveria estar nua agora? — ele diz. Eu vou responder, vou dizer a ele que eu quero estar, mas ele não me dá a oportunidade. Rebel agarra a barra da camiseta com as duas mãos e puxa, rasgando o tecido ao meio. A ação é violenta e me faz saltar, mas ele não me machuca. A camiseta está arruinada, no entanto. Completamente além da salvação. É meio que ridículo que eu esteja usando uma camiseta que dizendo Isso Não Vai Se Chupar Sozinho, de qualquer forma. Rebel remove o resto da camiseta do meu corpo com mãos persuasivas, mas não toca os meus seios nus. Nem ao menos olha para o resto da minha carne exposta. Seus olhos permanecem trancados nos meus, sua respiração ficando mais e mais rápida. Sua pele ainda está fervendo. Ele ainda está febril, embora isso provavelmente não pareça que vá ser um impedimento para suas atividades atuais. Uma vez que estou nua e deitada na cama em frente a ele, Rebel cuidadosamente se posiciona entre as minhas pernas, se ajoelhando sobre mim. — Você é um problema, Sophia, — ele me diz. — Você é o mais complexo e enfurecedor problema matemático que eu já tentei resolver. Eu curvo uma sobrancelha para ele, tentando não olhar para a sua cada vez mais perceptível ereção. Eu sorrio um pouco, determinada a não esconder o meu corpo dele, embora o esforço esteja me matando. — Mais complicado que a Conjectura de Legendre13? — eu pergunto. Rebel ri. Eu posso estar errada, mas tenho a impressão de que ele está um pouco impressionado. — Você se lembra do nome, hm? — Do nome, sim. Mas se você me pedir para escrevê-la, isso poderia ser um problema. — Oh, bem, nós podemos resolver isso, — ele se inclina para trás e pega a caneta que estava usando antes, puxando a tampa com os dentes. Como essa ação pode ser sexy eu não tenho ideia, mas ele consegue. É quente como o inferno, na verdade. Ele cospe a tampa e segura a caneta – azul – e me dá um olhar interrogativo. — Você está pronta para o meu lado matemático, querida? — Você quer rabiscar equações bagunçadas por todo o meu corpo? 13

É o problema matemático no qual ele está trabalhando no primeiro livro da série. ~ 84 ~


Quando ele abre a boca, deixa à vista o seu charme do Alabama. — Porque, eu sou um tatuador. Eu nunca fiz uma bagunça na pele de ninguém. E você pode ter certeza que eu nunca rabisquei ninguém, também. Agora, por favor, seja gentil enquanto eu crio um pedaço de arte no seu corpo já perfeito, baby. Seu sotaque sulista sempre me fez estremecer, mas quando Rebel fala baixo e profundo como acabou de fazer, eu me encontro reagindo de um jeito muito diferente. Realmente muito diferente. Eu quero pressionar meus joelhos juntos, para segurar a necessidade crescente que estou experimentando, mas eu não posso porque ele ainda está ajoelhado entre as minhas pernas. Eu fico imóvel enquanto ele pega a caneta e começa lentamente a desenhar o meu osso ilíaco. Dali, ele viaja para cima em direção ao meu umbigo em uma bela letra cursiva cheia de arcos e voltas azuis e círculos que descem pelo meu estômago. Ele não tem pressa. Ele toma o seu tempo. Eu sinto cada respiração quente dele enquanto trabalha sobre mim, a testa franzida com a concentração. Não faço ideia do real significado dos números e formas enquanto ele os marca em mim, mas ele tinha razão; isso não são rabiscos, muito menos uma bagunça. Eles são extraordinários. Ele trabalha mais quinze minutos, seus movimentos ficando mais lentos, mais detalhistas conforme os segundos passam. Minhas terminações nervosas pulam cada vez que a caneta faz contato. Meu coração corre mais rápido cada vez que ele suspira sobre a minha pele nua. Finalmente, eu percebo que ele notou as minhas reações involuntárias e está demorando de propósito, desenhando mais devagar. Sua caneta corre mais baixo, mais, mais baixo e eu limpo a garganta. Quando ele olha para cima, seu rosto já tem um sorriso selvagem que eu não fui capaz de ver até então. — Um pouco desconfortável? — ele pergunta. — Apenas me perguntando se você vai me desenhar toda. Ele ri de novo. — Eu acho que você ficaria ótima de smurf. Eu acabei de descobrir como é quente ver você saltar e contorcer quando eu faço isso. Eu fiquei completamente duro, Soph. Tudo que eu posso pensar é em como você pareceria bonita se eu te tatuasse toda e isso

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fosse uma pistola 14 na minha mão. Acho que observar você estremecendo enquanto eu te desenho me faria gozar em um segundo. Um arrepio frio e estranho corre pelo meu corpo – meio excitação. Havia muitas garotas na faculdade que tinham tatuagens por todo o corpo, algumas eram um verdadeiro trabalho de arte. Mas eu nunca olhei para elas e pensei ―sim, essa sou eu‖, no entanto. Eu nunca planejei o que eu faria se realmente me tatuar. Isso nunca passou pela minha cabeça, principalmente porque eu sabia o que o meu pai diria se eu chegasse em casa com uma tatuagem. Ele teria um chilique. — Eu não vou deixar você me tatuar, — eu digo a ele. — De jeito nenhum. — Por quê? — Rebel coloca a tampa na caneta e a joga por cima do ombro, parecendo malvado. — Medo? — É nessa hora que você diz que eu estou sendo uma covarde e que não dói nada? — Oh, não. Dói pra caralho, querida, — lentamente, ele se inclina e lambe a pele logo acima do meu umbigo, nunca tirando os olhos dos meus. — É só que alguns prazeres valem a dor. Você não saberia isso, eu tenho certeza. Eu posso te mostrar, se você quiser? Eu nunca quis nada como eu o quero agora. Acho que ele pode ver isso em meus olhos, porque ele sorri. — Você ainda está molhada, Sophia? — ele sussurra. — Se você não está pronta para mim, eu posso te desenhar um pouco mais. Eu aceno, lutando para manter minhas mãos nos meus lados. É como se elas tivessem vontade própria. Eu quero tocar nele. Eu quero mergulhar minhas mãos no seu cabelo. Quero traçar meus dedos nos hematomas escuros no seu peito, e então beijar gentilmente cada um deles. Eu imagino qual seria o gosto da sua pele se eu o lambesse do mesmo jeito que ele acabou de me lamber, e minhas mãos se fecham em punhos. — Chega de desenhar, — eu sussurro. — Como você quiser, — Rebel beija o meu corpo, enviando ondas de prazer correndo por mim enquanto ele se move desde o início da equação que ele acabou de escrever no meu quadril, e sobe, sobe, sobe pela minha caixa torácica até alcançar meu seio esquerdo. Não está nada frio na cabana, mas meus mamilos estão tão apertados que já é quase doloroso. É uma tortura cruel quando ele toma meu mamilo na Para quem não sabe, é o nome que se dá para o aparelho do tatuador, que tem uma agulha na ponta. 14

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boca e gentilmente chupa, brincando com a língua sobre a minha carne sensível, provocando com a ponta. — Oh... oh meu Deus. Ele chupa com mais força, e minhas costas se arqueiam para fora da cama, me curvando contra o corpo. Eu posso sentir o quanto ele me quer agora. Eu já vi como ele é grande, mas sentir a sua ereção cavando na minha barriga faz toda a situação mais... eu não sei. Surreal? Porque essa não sou eu. Eu não sou a garota que esfrega seus quadris contra um cara que mal conhece enquanto ele provoca os meus mamilos com seus dedos e a sua boca. Rebel segura meu seio direito com a mão livre, apertando levemente, respirando com força pelo nariz. Cada músculo no seu corpo está apertado e tenso enquanto ele lentamente começa a balançar contra mim, pressionando seu pau contra a minha buceta, criando a fricção mais maravilhosa. Eu esqueço que eu deveria ser um ratinho tímido nessa situação. Enrolo meus braços em volta do seu pescoço, o puxando mais perto. Rebel geme e continua a esfregar seu corpo contra o meu, e o som do seu prazer enviar uma afiada e exigente onda de necessidade por mim. Eu quero ouvir ele fazer esse som de novo. Quero que ele esteja dentro de mim quando fizer isso. Minhas mãos estão trabalhando rapidamente, e então puxando o cós da sua cueca Rebel segura a minha mão esquerda primeiro, e então a outra, prendendo as duas acima da minha cabeça. — Eu pensei que você queria isso lento. — Eu quero. — Então não me provoque. Ele desliza pelo meu corpo, e então abre mais as minhas pernas, fazendo um som satisfeito no fundo da sua garganta enquanto olha para a minha buceta. Se eu não estivesse tão excitada, provavelmente teria estremecido. Em vez disso, estou mordendo meu lábio inferior como o personagem de um romance de baixo nível, me sentindo eletrificada pela forma como seus olhos percorrem meu corpo lentamente. — Você quer a minha língua, querida? — ele rosna — Sim. Sim, eu quero, — eu digo ofegante. — Por favor.

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Ele dá uma risadinha baixa, correndo suas mãos pelo interior das minhas coxas. — Você é incrível, — ele me diz. — Apenas... incrível... pra caralho, — quando ele se abaixa e provoca o meu clitóris com a língua, minha cabeça começa a girar. Eu não sei como os caras aprendem a chupar uma mulher, mas Matt poderia ter umas aulas na escola que Rebel frequentou. Ele sabe exatamente o que fazer para ter fogos de artifício explodindo na minha cabeça. Me ocorre que ele provavelmente seja tão bom nisso porque teve anos e anos de prática com não sei quantas mulheres, mas o pensamento é passageiro. Nem meu corpo, nem minha mente me permitem pensar em coisas como essa agora. Não quando eu poderia estar flutuando nessa nuvem, sentindo como se a corda que me prende à terra poderia arrebentar a qualquer segundo e eu poderia me afogar em nada. Isso é o que eu quero. Isso é o que eu preciso. Rebel me tem na beira do orgasmo e ele sabe disso. Bem quando parece que eu estou subindo, levantando, chegando ao topo de uma montanha-russa gigante, ele desliza dois dedos dentro de mim e cada sinapse no meu cérebro começa a falhar. — Jesus, você realmente tem gosto de açúcar, — ele geme. — Eu não posso ter o bastante de você. — Ele só tem que bombear os dedos umas três ou quatro vezes antes de me empurrar por cima da borda e eu despencar, o coração martelando, as mãos agarrando os lençóis, minha visando embaçando e meus ouvidos cantando. Levo um momento para perceber que minhas coxas estão apertadas ao redor da cabeça de Rebel e sua língua ainda está trabalhando no meu clitóris, prolongando o meu orgasmo, fazendo os músculos do meu estômago e da parte de trás das minhas pernas se contraírem e flexionarem. — Ah, merda. Pare, pare. Por favor! Pare! — eu estou rindo incontrolavelmente, mas é meio maníaco, implorar. Ele está me deixando louca. E eu estou muito sensível para me importar. Ele para, balançando para trás em seus calcanhares, um sorriso muito presunçoso se espalhando pelo seu rosto. — Você tem gosto de doce, — ele diz enquanto sai da cama e finalmente tira a cueca. Eu estive esperando por isso por muito tempo. Claro, nós transamos no corredor da casa do seu pai e sim, fizemos isso de novo na outra noite, mas eu nunca o vi. Nunca tive a oportunidade de verificar o que ele tem lá embaixo. Rebel parece saber que eu quero ver ele direito dessa vez. Ele não se apressa em voltar para cama. Ele fica de pé, os ombros para trás, coberto de hematomas, favorecendo seu ~ 88 ~


lado bom, mas não esconde seu pau. Na verdade, ele parece muito orgulhoso disso enquanto permanece no lugar, me permitindo dar uma boa olhada. E ele tem todo o direito de estar orgulhoso. Matt tinha gostos bem comuns, mas ele gostava de assistir filmes pornô comigo de vez em quando. Rebel facilmente rivaliza com qualquer um dos caras que vimos nos ―filmes‖. O seu pau é perfeito. Na verdade, ele é lindo. Parece um adjetivo estranho para um pênis, mas é verdade. Me faz querer fazer coisas estranhas... como tirar um molde e fazer para mim um vibrador personalizado de Rebel com o qual eu possa me provocar quando ele não estiver por perto. — Acho que você gosta do que vê? — ele pergunta. — Você mostra isso no seu rosto. Algo entre luxúria totalmente carnal e alívio esmagador. Eu rio. — Alívio esmagador? Ele acena, subindo na cama, de novo em cima de mim. — Sim. Como se você pensasse que de alguma forma eu te enganei antes e tivesse na verdade um micro pau. Eu rio mais. Posso sentir ele entre as minhas pernas, pressionando contra a entrada da minha buceta. Se ele respirar um pouco mais profundo, vai estar dentro de mim. E Deus, eu quero isso. — Eu não ligo para... tamanho, — eu digo a ele. — Não importa, — Rebel se empurra só um pouquinho mais para frente, mas a sensação dele entrando me deixa tonta do melhor jeito possível. — Mesmo que eu tivesse um pau de cinco centímetros eu ainda poderia te fazer gozar. Eu ainda poderia fazer você gritar a porra do meu nome. Eu sei o que eu estou fazendo, querida, e eu fico totalmente duro em te dar prazer. Agora, você está pronta para que eu te faça gozar? Seu olhar me penetra profundamente. O calor do seu corpo sobre o meu faz minha cabeça girar. — Eu estou pronta, — eu digo a ele. E ele mergulha em mim, lentamente, determinado, me olhando nos olhos, seus braços apoiados em cada lado da minha cabeça, enquanto ele afunda mais e mais profundamente. É... é incrível. Antes também tinha sido incrível, mas isso é algo totalmente diferente. Ele não puxa para fora imediatamente; ele se segura no lugar, mantendo o meu olhar, e parece que algo estala. Parece ridículo, mas é verdade. É como se a último minúsculo pedaço resistência que eu posso ter tido em relação a esse homem tivesse ido embora, banido, destruído, e agora eu estou ferrada. Eu não vou mais ser capaz de me segurar.

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Estou surpresa pelo olhar nos olhos de Rebel quando ele finalmente puxa para fora, saindo totalmente para poder repetir o movimento. Ele parece surpreso. Um pouco chocado até? Ele balança a cabeça, sorrindo um pouco, e então realmente tira o meu fôlego. Ele se segura com uma mão e cobre o meu rosto com a outra, trazendo seus lábios até os meus. Beijar Rebel não é algo com o que estive sonhando. Eu não permiti esse pensamento passar pela minha cabeça. Nós nos beijamos na casa do seu pai, mas estávamos os dois desesperados lá, lutando para nos controlar. Nós estávamos atacando um ao outro como animais selvagens. Aqueles foram beijos intensos e poderosos, mas nossas bocas estavam colidindo, devorando uma a outra. Agora, o jeito que ele me beija é determinado e direto. Sua boca é suave na minha, mas ele está no controle. Baixando todo seu peso sobre o meu corpo, ele se apoia nos cotovelos, o que deixa suas mãos livres para empurrar o cabelo do meu rosto, traçar os dedos pela linha da minha maçã do meu rosto, minha mandíbula, minha têmpora. Ele se move devagar, como eu pedi, mas se certifica de ir fundo dentro de mim cada vez que ele mergulha. Eu me movo com ele, me sentindo presa e segura debaixo dele, e ambos me assustam muito. Isso não é nada como os encontros que tivemos antes. Isso parece honesto. Como uma promessa. Ele me segura com tanta força enquanto me fode. Não demora muito antes que nós dois estejamos tremendo com o esforço de nos manter juntos. Prendo minhas pernas ao redor da sua cintura e nós gozamos ao mesmo tempo, Rebel rosnando no meu pescoço, me esmagando quando encontra o seu clímax. Nós deitamos juntos, ofegando, incapazes de nos mover enquanto a luz do amanhecer se derrama pelos nossos corpos, e eu percebo que ele me deu o que eu pedi. Ele me fez esquecer. Ele me fez esquecer onde ele começava e eu terminava. E foi perfeito.

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Capítulo Dez REBEL Enterrar um corpo nunca é divertido. Quando você só está enterrando uma parte dele, é pior ainda. No Afeganistão, meu garoto e eu enterrávamos braços e pernas desmembrados o tempo todo. O Corpo dos Fuzileiros Navais era muito diligente sobre ter certeza de que os pedaços de pessoas que estavam sendo enviados de volta para os Estados Unidos pertenciam ao mesmo corpo, mas eu adivinho que com frequência o DNA se misturava um pouco. Não é um pensamento agradável. É bem fodido, na verdade. Eu me certifiquei de que o Exército soubesse que eu não queria ser mandado de volta para o Alabama se eu fosse morto em combate. Disse a eles que queria ser cremado e que minhas cinzas fossem jogadas ao vendo a partir de um telhado em Cabul. A última coisa que eu queria era dar ao imbecil do meu pai o prazer de me enterrar no mausoléu da família Aubertin, em vez de me enterrar com meus irmãos em um cemitério militar. Ele não respeitava o tempo que eu passei no exterior. Ele teria me enfiado no caixão de pinho mais barato que pudesse encontrar, me colocado na prateleira embaixo do caixão empoeirado da minha mãe, piscado umas duas vezes para o que sobrou do seu único filho, então casualmente trancaria a porta. Ele não voltaria até que fosse a sua vez de ter a sua casca vazia confinada e esquecida, também. Filho da puta. Enterrar Bron é algo totalmente diferente, no entanto. Eu estou enjoado e com dor, mas imagino que se eu tenho energia o bastante para fazer Sophia gozar, então a única coisa certa a fazer é ter energia para vir até o deserto e cavar uma cova junto com Brassic. Enquanto eu enterro a pá na terra banhada pelo sol cerca de seis quilômetros do complexo dos Widow Makers, suor escorre como um rio pelas minhas costas, pelos meus olhos, salgando a minha boca, e minha cabeça está girando o suficiente para me deixar saber que essa é uma péssima ideia, eu estou tentando não pensar em Sophia. Estou

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tentando não pensar na situação extrema em que estamos. Eu estou pronto para queimar a porra do mundo todo por essa garota. Será que ela sabe disso? Eu me pergunto se ela sabe quantas pessoas eu rasgaria membro por membro para garantir que ela estivesse a salvo. Eu não sou como ela, no entanto. Eu não mostro cada pensamento que tenho em meu rosto, ou na minha linguagem corporal. Eu mantenho as coisas fechadas em meu peito. É a única forma de sobreviver tanto tempo nesse mundo. Os outros membros do clube sobreviveram de formas diferentes. Cade é uma pedra fria como eu, mas seu temperamento é lendário. As pessoas não brincam com ele porque sabem que as consequências vão ser horríveis. Shay usa o seu corpo para se proteger. Ela faz você pensar que está prestes a ter o passeio da sua vida, quando na verdade ela vai enfiar um estilete pelo seu tímpano e na sua massa cinzenta sem pedir licença. Ela é uma verdadeira fazedora de viúvas15. O cara com quem estou cavando a sepultura, Brassic, é o nosso especialista em bombas. Ele não vai te ferir com seus punhos. Ele vai te machucar com um quilo de C4 e um detonador remoto enquanto está a dois quilômetros de distância, virando uma dose de uísque. Ele não fala enquanto cavamos. Nenhum de nós fala. Ele está irritado porque eu não o deixei ir atrás do cara que matou a namorada do seu melhor amigo na noite passada, quando sua raiva estava fervendo, mas ele não mostra isso abertamente. Bom para ele. Eu não estou no humor para ser questionado. Meu lado está me matando, e tudo no que eu posso pensar enquanto nossas pás fazem um som seco ao serem enterradas na terra é como consertar essa merda com Ramirez bem embaixo do nariz do DEA. Inconveniente pra caralho. — Nós estamos cavando esse buraco para a pessoa errada, você sabe, — Brassic diz. É a primeira coisa que ele disse desde que começamos a trabalhar, e é tão verdadeiro que faz minha cabeça doer. — Eu sei. Brassi rosna. Ele está banhado em suor como eu, exceto que o vasto comprimento das suas costas tem o emblema do clube desenhado nelas, em vez da Virgem Maria que eu tatuei nas minhas. Essa foi a minha primeira tatuagem, minha senhora sagrada. O espaço já tinha sido quase todo ocupado quando eu comecei os Widow Makers, e além disso, é melhor que eu não tenha nenhuma marca de clube. Às vezes eu preciso ir a alguns lugares, ver e fazer coisas que eu não poderia se as 15

Lembrando que Widow Maker é ―fazedor de viúva‖. ~ 92 ~


pessoas suspeitassem que eu tenho afiliação com um grupo de motoqueiros. Nesses casos, se eles soubessem que eu era o presidente de um clube de motoqueiros, eu teria sido morto na hora. — Quando, então? — Brassic pergunta. Ele parece cansado; eu sei que ele passou toda a noite com Keeler, bebendo e quebrando merdas em um dos nossos depósitos anexos, então sua cabeça deve estar lhe matando. — Em breve. Muito em breve, cara, — eu digo a ele. — E você vai me dar carta branca? Eu esfrego minha testa, os olhos ainda ardendo, minha cabeça nadando, e digo, — Cara, quando as coisas estourarem, você não precisa se preocupar. Você pode transformar o filho da puta em névoa vermelha e eu vou te agradecer por isso. Ao longe, grandes nuvens de poeira se levantam contra o pálido e limpo céu azul. Carros. Três. Eu não posso ver de que tipo eles são ou quem está dirigindo, mas eles estão vindo rápido. Nós viemos até aqui caminhando para limpar a cabeça. Nós viemos caminhando, porra. Brassic se vira e me dá um olhar preocupado. — Nós precisamos voltar? — ele pergunta. Eu tenho uma sensação ansiosa e nauseante na borda do meu estômago quando observo os carros virando na direção do complexo. — Sim. Sim, cara. Nós precisamos voltar. Agora.

*****

SOPHIA Eu nunca notei que Cade tem um leve coxear. Eu percebo isso muito bem quando ele entra no complexo, vindo na minha direção como uma pessoa louca. Ele favorece seu lado esquerdo, puxando apenas um pouco o pé direito atrás dele enquanto caminha para mim com uma expressão de pedra no rosto. Posso sentir a preocupação se derramando dele quando ele para na minha frente. — Você deveria voltar para a cabana, Soph.

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— Por quê? — de jeito nenhum eu vou voltar para a cabana. Eu não tenho nenhuma razão específica para estar no pátio de fora do complexo, mas eu vou ser amaldiçoada se for mandada para lá de novo. Eu já estou farta de estar presa. Cansada de me sentir uma prisioneira. Cade deve ver o meu descontentamento; ele bufa exasperado, levantando as mãos no ar. — Nós temos visitas, ok. E não são boas. É melhor que você não esteja aqui, — ele diz. Eu sinto que devo ser um pouco mais teimosa, mas o olhar em seu rosto me diz que isso pode não ser muito sábio. — Quem é? — eu pergunto. — Eu não sei. Não é o DEA, mas ainda assim... não é bom. Vamos lá. Suba a colina. Por favor. Jamie vai me matar se eu deixar algo acontecer a você. Ele parece realmente preocupado. Com o canto do meu olho vejo a mulher de cabelo rosa da outra noite, Shay, saindo da sede do clube, puxando uma camiseta creme por cima do seu sutiã rosa fluorescente. Muito elegante. Ela me atira o olhar mais sujo possível, e então franze a testa quando olha para a distância além dos portões do complexo. Quando sigo seu olhar, vejo o que ela vê: altas colunas de poeira, vermelha e marrom, chegando cada vez mais perto. Perto demais, ao que parece. O capô de um carro preto é visível, apenas alguns metros do portão, mas há outros veículos atrás, o seguindo. — Merda, — Cade assobia. O primeiro carro preto freia bruscamente, levantando mais poeira e terra enquanto quase bate no portão. O som de metal quente amassando chega até nós, e então um alto crack! de uma arma sendo disparada. Parece que vem de dentro do carro. Eu apenas consigo ver a figura de alguém pulando para frente no banco do motorista, e então a buzina do carro começa a ecoar, o som estridente e desagradável na quietude do deserto. — Ah, Jesus, — Cade dá um passo para a direita, bloqueando a minha visão do carro. Ele dá a Shay um olhar afiado que ela devolve, os braços cruzados sobre o peito. — Garanta que ela não se machuque, — ele diz a ela. Ela faz uma careta e então cospe no chão aos seus pés. — Rebel disse para não ameaçar a garota. Não disse nada sobre protegê-la. Cade gira em seus calcanhares e começa a marchar em direção a ela. Ele parece estar prestes a arrancar a cabeça dos seus ombros. Ela

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levanta as mãos, dando um passo para trás, os olhos arregalados. — Certo, certo! Porra cara, era uma brincadeira. Mas Cade não está com humor para brincadeiras. — Apenas faça o que eu mandei, Shay. Um grito alto e agudo se junta ao som da buzina, e de repente há pessoas saindo do primeiro carro enquanto os outros dois carros param ao lado dele, bloqueando totalmente a entrada do complexo. Eu não podia ver antes, mas os três veículos estão totalmente cravejados de buracos de bala. Uma loira alta usando um vestindo preto justo e saltos altos vermelhos sai do primeiro carro. Ela parece um animal selvagem, os olhos escuros e cheios de loucura. Assim que fica de pé, ela se vira e sem cerimônia arrasta o corpo sem vida de um homem enorme para fora do carro atrás dela. Ele parece meio morto; dada a quantidade de sangue escorrendo pelas pernas e braços da mulher, ele poderia estar totalmente morto. A boca de Shay cai aberta, surpresa dominando a sua expressão. — Essa é...? — Maria Rosa? — Cade termina. — Sim. Sim, é ela. Demoro um segundo para me lembrar quem é essa mulher. Eu conheci tantas pessoas novas e fui apresentada a tantas novas ameaças recentemente, que leva um momento para saber de onde vem Maria Rosa. Mas então isso me vem rapidamente. Maria Rosa. Como Carnie a chamou no dia em que a polícia veio ao complexo? Isso mesmo... a Cadela Colombiana. A cabeça do cartel Desolladors – a mulher que tentou incriminar Rebel enviando homens usando coletes dos Widow Makers ao supermercado em Hollywood para matar mulheres e crianças. — O que diabos ela está fazendo aqui? — eu sussurro baixinho, incapaz de colocar força nas palavras. Estou muito descrente, muito atordoada, completamente horrorizada para perceber o que estou vendo na minha frente. — Eu não sei, — Cade responde. — Mas parece que, como sempre, a vadia psicótica trouxe problemas com ela. — Socorro! ALGUÉM ME AJUDE! — Maria Rosa tomba no chão, tropeçando em seus saltos enquanto tenta arrastar o corpo parecendo extremamente pesado em direção aos portões. Ela se vira, fúria e pânico

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marcando a sua expressão. Ela vê o homem de pé ao meu lado e então o pânico desaparece, completamente substituído pela raiva. — O que há de errado com você, porra? Venha aqui, Cade. Venha aqui e me ajude. Mais pessoas saem dos carros – todos homens com ternos pretos e camisas brancas e com armas nas mãos – mas Cade permanece completamente imóvel. Seu olhar é frio. Quase mortal. — Você é realmente louca se achou por um segundo que ia conseguir ajuda dentro desses portões, querida. Maria Rosa solta o braço do homem e caminha até as barras de metal do portão, um rosnando cruel torcendo as suas feições. Eu posso dizer que ela geralmente é uma mulher bonita, mas nesse momento ela parece a Medusa – seu cabelo está por todos os lados, seu rímel escorreu pelo rosto, o batom vermelho vivo está borrado. Ela está histérica, e pelo que eu posso dizer, prestes a ficar muito, muito pior. — Me deixe passar por esses portões, Cade, — ela estala. — Me deixe entrar, ou eu vou ter certeza de que esse aqui ache um jeito de entrar. Ele estava me contando tudo sobre como ele gostaria de foder essa coisinha bonita que você está escondendo na sua sombra. Eu junto um mais um e percebo que ela está falando de mim quando ela vira a cabeça para um dos seus homens e Raphael Dela Vega aparece. Ele luta contra um homem mais alto e mais forte que está lhe segurando, desesperadamente tentando se libertar. Eu vejo a bruta tatuagem de aranha no seu rosto e tudo vem correndo para mim – ele me dizendo que iria estuprar e matar minha mãe e minha irmã na minha frente. Eu me sinto tonta, como se estivesse prestes a desmaiar. Ele assombra meus sonhos, mas essa é a primeira vez que coloco os olhos nele desde que Rebel me comprou. Eu venho tentando fingir para mim mesma que ele não existe, tentando fingir que ele está morto de alguma forma, que Hector se cansou e se livrou dele, mas não. Ele está aqui em toda sua glória selvagem, apenas alguns metros de onde eu estou parada agora. E Maria Rosa está ameaçando libertá-lo na nossa porta. Tão irracional quanto possa ser, eu estou apavorada. Desde que os tiros, a buzina e Maria Rosa chegaram aqui, vinte Widow Makers se materializaram dos prédios do complexo, todos segurando armas, todos prontos para colocar uma bala na cabeça da mulher que fodeu com o nome do seu clube. Eu sei que eles não vão deixar que Raphael chegue perto de mim, mas ainda assim... posso sentir os olhos dele correndo por toda a minha pele, posso sentir as coisas escuras que ele quer fazer comigo, e isso faz meu coração apertar no peito.

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— Atire em todos eles, — Shay diz. — Nós não precisamos de nenhum deles vivo. Apenas atire em todos, porra. Pela primeira vez desde que conheci a mulher, eu finalmente me encontro concordando com algo que saiu da sua boca. Menos de um segundo depois que penso nisso, o peso disso cai sobre mim como um martelo. Matar eles todos. Eu quero todos mortos. Há, talvez, onze pessoas do outro lado portão, incluindo Maria Rosa e Raphael, e eu acabei de concordar que queria todos eles mortos. No que eu estou me tornando? Eles são traficantes de drogas, de pessoas, assassinos e estupradores. Se meu pai estivesse aqui, ele perdoaria todos os seus pecados e os convidaria para entrar, assim ele poderia ajudar os feridos. Eu quero chegar até o portão, jogar gasolina em todos aqueles bastardos e acender um fósforo. Eu os assistiria queimar. Maria Rosa arrebata uma arma do cara mais perto dela e a aponta, mirando entre as barras do portão em Cade. — Se você nos matar, — ela sibila, — Eu não vou ser capaz de contar o que Ramirez vem planejando para vocês, vou? Eu ainda sou totalmente a favor de matá-la, mas Cade vacila. Shay levanta a sua arma, a segurando com as duas mãos enquanto se move para mais perto de Cade. — Ela está blefando. Ela não sabe nada sobre Ramirez. Me deixe colocar a porra de uma bala entre os olhos dela, cara. — Você acha que Rebel faria isso? — ele pergunta. A determinação de Shay diminui, somente por um segundo. Apenas pela mais breve das pausas. É o suficiente para Cade, no entanto. — Exatamente. Ele iria querer saber o que ela sabe primeiro. E então ele a mataria. Eu não gosto nada do seu tom de voz. Soa como se todo o mundo estivesse prestes a fazer o que ela está pedindo. — Você não vai deixar ela entrar aqui, certo? — parece loucura que ele sequer considere isso, e ainda assim ele me dá um sorrio apertado e começa a caminha em direção ao portão. — Você, Rico, ele — ele aponta para o cara segurando Raphael — e o cara de Hector. É isso. Todos os outros devem ir embora. Então você pode entrar. ~ 97 ~


— Você está louco! — Maria Rosa ri com desdém. — Eu não vou entrar na cova do leão com apenas um guarda-costas em condições de me defender. Você deve achar que eu sou idiota. — Não, eu acho que você está desesperada, do contrário você não teria vindo até aqui. A escolha é sua, Mãe. Mãe? Minha cabeça está girando. Por que diabos ele a chamaria assim? Não faz sentido. Mas ninguém parece estranhar. Os Widow Makers me cercando estão com expressões severas, as mãos descansando sobre suas armas, alguns segurando-as descaradamente, como Shay. Eu sou a única que parece perdida, tenho certeza. Cade dá de ombros, sorrindo repentinamente de um jeito dramático totalmente fora de lugar. — Quando você se decidir, me avise, ok? Enquanto isso, vou estar ali no clube bebendo uma gelada, — ele começa a se virar, dando as costas para a mulher louca do outro lado do portão, mas ela começa a gritar de novo. — ¡Te odio! Usted es un enfermo, el mal hijo de puta! Cade a encara de novo, sorrindo. — Ah, não se preocupe, Mãe. Eu te odeio também. Há puro assassinato nos olhos dela enquanto abaixa a arma. — Certo. Somente nós quatro. Mas acredite em mim... se você valoriza a sua vida e a dos seus preciosos Widow Makers, ninguém vai enconstar um dedo em mim ou nos meus. Cade desenha um X sobre o peito. — Juro sobre o meu coração e prefiro morrer. — Eu esperava que você já tivesse morrido de muitas formas, cabrón. — Igualmente, — Cade a encara até que ela perde a paciência e começa a latir para seus homens em espanhol, presumivelmente lhes dizendo para ir embora. Eles parecem inseguros no começo, e então com medo quando ela fica cada vez mais raivosa e irritada. Finalmente, os outros sete homens entram nos dois carros, ligam os motores e vão embora. — Aí está. Feliz agora? Rico está morrendo, seu filho da puta. Nos deixe entrar.

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Eu não tenho ideia de quem é esse Rico, mas com certeza parece importante para Maria Rosa. Cade grunhe, ainda sorrindo, embora o humor tenha desaparecido do seu rosto. Ele parece estar fazendo uma careta enquanto caminha lentamente até o portão do complexo e digita um código em um teclado à esquerda. O metal range enquanto o portão se abre e então Maria Rosa avança para dentro, com a arma levantada. Ela marcha diretamente até Cade e pressiona o metal reluzente bem em cima do seu coração. — É melhor você dar um jeito nele, — ela cospe. — É melhor você dar um jeito nele ou vai haver consequências, seu imbecil. Eu estou curiosa para ver essas consequências, agora que existem vinte Widow Makers furiosos em volta dela. Cade diz alguma coisa, mas eu não escuto o que é. Eles dois conversam, raiva e antagonismo atam as suas vozes, e eu olho para Raphael sentindo o pânico subindo pela minha garganta. Ele ainda está sendo segurado, embora o filho da puta cruel não esteja mais lutando. Ele está me encarando fixamente, sem piscar, aparentemente inalterado pela situação em que se encontra. Ele parece ter apenas uma intenção somente: eu. E o seu olhar é o suficiente para fazer o sangue correr mais rápido nas veias. — Então? Sophia? Você pode fazer isso? — Hm? — eu afasto meu olhar de Raphael, tremendo, para descobrir que Cade andou de novo e está parado ao meu lado. Suas sobrancelhas estão levantadas em questionamento. — O quê? — eu pergunto. — Você pode dar uma olhada nesse cara? Você está estudando medicina, certo? Eu apenas olho para ele. Ele não pode... ele não pode estar falando sério. Pode? — O quê? Não! Eu estudo psicologia. Cade ri como essa fosse a coisa mais engraçada do mundo. Ele se vira, jogando as mãos no ar. — Bem, aí está. Não há médicos aqui, Mãe. Eu sinto muito, — ele não sente muito. Nem um pouquinho. — Eu quero dizer, — ele continua. — Eu posso puxar a bala para fora dele, mas não posso garantir que isso não vá causar danos. Ele parece que está indo por um mau caminho, querida. Maria Rosa lhe dá um olhar congelante. E então se vira para mim. — Você está mentindo, — ela me informa. — Você é médica.

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— Eu não sou, — eu estou realmente feliz que nenhuma dessas pessoas sabe que meu pai ou minha irmã são médicos. Eles provavelmente assumiriam que eu sei o que estou fazendo por associação ou algo assim. Mas Maria Rosa não precisa dessa informação para fazer algo desse tipo, no entanto. — Mentira. Você pode salvar ele, — ela soa determinada a fazer isso uma verdade com a força das suas palavras. Ela é louca. Estou convencida desse fato quando ela vira sua arma para mim e solta a trava de segurança. — Venha aqui, — ela comanda. — Tire essa bala de dentro dele e feche. Você pode fazer isso. — Eu... — eu balanço a cabeça, sem ter certeza do que fazer. — Eu não tenho experiência cirúrgica. Eu vou matá-lo. — Oh, não, princesa. Você mata ele e eu mato você. Eu não acho que você quer isso. Você quer morrer? — Claro que não. — Então venha aqui e dê um jeito nele! Eu posso ver que o homem no chão ao lado do portão, Rico, não tem mais salvação. Seus lábios e pálpebras estão azuis, o que eu tenho conhecimento o bastante para saber que significa que ele parou de respirar há algum tempo. Estou apostando que se eu caminhar até lá e colocar os dedos contra o seu pescoço, não vou encontrar pulso. Também estou apostando que Maria Rosa não quer ouvir isso, no entanto. Ela parece estar à beira de um colapso nervoso. — Eu não tenho o equipamento. Eu preciso de uma sala estilizada e ferramentas cirúrgicas. Eu... eu não tenho nem ao menos agulha e linha, ou um fórceps que seja. Você sabe o que é um psicólogo, certo? Maria Rosa não responde. Ela se move como um raio no seu vestido Versace justo e seus absurdamente altos sapatos Manolo e de repente me agarra pelos cabelos. Cade e Shay se movem ao mesmo tempo, tentando se colocar entre mim e a mulher, mas Maria Rosa tem um aperto firme em mim; meu cabelo parece que está prestes a ser arrancando pela raiz. — Puta que pariu, — Cade rosna baixinho. — Se você realmente quer deixar Rebel muito furioso, está fazendo um trabalho estelar. — Eu pareço que dou a mínima para Rebel? — Maria Rosa cospe. — Eu só me importo com Rico, — ela começa a me arrastar na direção

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do corpo de Rico, apontando para mim a cada poucos passos com o que eu suponho que seja o cano da sua arma. Raphael começa a rir daquele jeito estranho e enervante dele. Sua gargalhada ecoa pelo pátio do complexo como o grasnar de um pássaro. Ele pare de rir quando eu passo por ele para dizer, — Eu espero que você esteja pronta, sua vadia. Eu vou acabar com você antes que essa noite acabe. Raiva me atravessa. Eu quero socar essa mulher nas costelas por me tratar como merda, por trazer esse homem para tão perto de mim, mas eu sei que ela não vai hesitar em atirar se eu a irritar. Todos os Widow Makers se movem em uníssono, nos cercando, todos tão furiosos quanto eu. Eles podem não me conhecer ou gostar de mim, mas eles amam Rebel. Até onde eles sabem, eu sou propriedade dele, e então Maria Rosa não deveria se meter comigo. Cade está começando a parecer verdadeiramente preocupado. Maria Rosa me empurra para frente com brutalidade, e eu caio de joelhos ao lado de Rico. Meu coração está batendo tão rápido que eu posso ouvir o sangue latejando em meus ouvidos. O som se transforma em um rugido ensurdecedor quando sinto o cano da arma pressionado contra a parte de trás da minha cabeça. Isso não é bom. Não é nada bom. Eu não tenho como salvar esse homem. Eu não tenho ideia do que estou fazendo. Agora que estou mais perto, posso ver o buraco de bala em seu estômago, assim como posso ver que alguém tentou, sem sucesso, conter o fluxo de sangue colocando um lenço de seda preta sobre a ferida. Bem assim, como se essa fosse a melhor opção disponível. Até mesmo eu sei que essa foi uma má ideia. Lenços são cheios de bactérias e sujeira, e agora essas bactérias estão super felizes colonizando os órgãos vitais do homem moribundo. — Comece, — Maria Rosa exige. — Eu disse a você, eu não tenho o equipamento. Ela se agacha ao meu lado, enfiado o rosto junto ao meu, arreganhando os dentes. — Use. Seus. Dedos. — Eu não vou enfiar meus dedos dentro dele. De jeito nenhum! A dor vem, então – uma dor afiada e penetrante na parte de trás da minha cabeça. Minha visão oscila, pontos de luz brilham por todos os lados, mas eu não perco a consciência. Eu caio para frente, no entanto – minhas mãos pousam sobre o tórax de Rico. Os olhos do

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homem se abrem e ele ofega silenciosamente por oxigênio uma, duas vezes, e então seus olhos rolam para trás. Ele começa a convulsionar, espuma rosa se derrama para fora da sua boca. — Ahhhh, Mãe, a puta matou ele, — Raphael ri. — Ela é problema. Eu disse a você, não é? Maria Rosa dá um grito angustiado. Eu olho para cima e vejo que ela está batendo em si mesma no lado da cabeça com a arma, puxando seu próprio cabelo. Lágrimas tremem no canto dos seus olhos, prontas para cair a qualquer segundo. — Ele não está morto. Cheque ele. Verifique o seu pulso, — ela grunhe. Eu verifico o seu pulso. Está instável e fraco, mas posso sentir o ritmo irregular do seu coração sob a ponta dos meus dedos. Obrigada por isso, porra. — Ele não está morto, — eu digo. Odeio como a minha voz treme. Odeio que estou com medo agora, mas não posso evitar. Eu continuo me encontrando nessas situações. Se eu não receber uma bala na cabeça em alguns minutos e o meu cérebro não estiver espalhado por todo o corpo de Rico e pelo chão entre nós, então talvez eu tenha menos medo da próxima vez que isso acontecer. Talvez. Maria Rosa aperta os dentes, reposicionando a arma em suas mãos outra vez. — Ok. Agora tire a bala de dentro dele, sua puta, ou eu vou colocar três em você. Me ouviu bem? — ela grita. Eu olho dela para Cade. Ele tem sua arma apontada para Maria Rosa, mas ele parece dividido. — Eu posso atirar nela se você quiser, Soph, mas não posso garantir que ela não vai atirar em você primeiro. Você decide. O que eu faço? — Deus, não atire nela. — Certo. Bem, então é melhor você enfiar suas mãos dentro de Rico, antes que o desgraçado morra, — ele não olha para mim enquanto fala isso. Ele olha intensamente para Maria Rosa, sem piscar, as mãos firmes. Eu penso sobre mudar de ideia, sobre falar a ele para atirar nela, mas ele seria capaz de fazer isso antes que ela me matasse? Provavelmente não. Então não me resta outra opção. Minhas mãos estão cobertas de sangue e terra devido ao fato de eu ter caído no chão um minuto atrás. Eu as esfrego contra o meu jeans, fazendo o possível para limpá-las, e então me inclino sobre o corpo pálido como um fantasma na minha frente e faço algo que provavelmente nem meu pai, nem Sloane, já fizeram: mergulho meus dedos sujos e sem luvas dentro do ferimento

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na barriga do homem. Isso parece intrinsecamente errado, e ele está preocupantemente frio. Ele deveria estar tão frio? O corpo humano tem uma média de 35,5 ºC, mas o interior do corpo de Rico parece muito mais frio. Isso pode ser normal, no entanto. Eu não sou médica. Eu não sei merda nenhuma sobre ferimentos e o que acontece quando alguém entra em choque. — Você consegue sentir? — Maria Rosa pergunta. — Não, — tudo que eu posso sentir são seus intestinos e um monte de sangue que eu acho que não deveria estar ali. Remexo os dedos dentro da ferida, tentando localizar algo metálico, duro ou afiado, mas a sensação é como se eu estivesse rasgando papel molhado. Definitivamente não parece certo. Acho que eu estou matando ele ainda mais rápido. Minhas suspeitas são confirmadas quando Rico começa a convulsionar com mais força. — O que você está fazendo? O que você fez? — Maria Rosa grita. Eu puxo minha mão para fora de Rico, engasgando com o pânico, me preparando para o som do disparo que vai acabar com a minha vida. As balas viajam mais rápido que a velocidade do som? Eu acho que sim. Pelo menos eu não vou ter que ouvir o arauto da minha própria morte. Acho que isso já é alguma coisa. Meu coração está perto de explodir quando ouço um tiro. Eu fico dormente na hora. Minha respiração queima para entrar e sair dos pulmões em intervalos impossivelmente curtos, e eu recuo, esperando que a dor apareça. Mas isso não acontece. Apesar do zumbindo alto em meus rugindo de raiva, e mais alguém gritando assim que eu deveria soar. Eu deveria agonia, como a pessoa gritando perto de sinto nada.

ouvidos, posso ouvir alguém do alto dos seus pulmões. É soar como se estivesse em mim, e ainda assim eu não

Mãos estão sobre mim em seguida, me puxando, me levantando do chão. Rebel. Rebel está me puxando para os seus braços, para o seu calor. Ele me abraça, amaldiçoando uma e outra vez no meu ouvido. — Porra, Soph. Porra. Puta que pariu. Você está bem?

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Eu olho para baixo, e Maria Rosa está de lado, arranhando o corpo muito morto de Rico. Seu ombro está sangrando, há sangue por toda parte, em todo meu tênis branco. Seu rímel preto escorreu por todo o rosto agora. É ela que está gritando, ela que foi baleada. Não eu. Eu estou bem. Eu estou bem. Eu estou bem. — Soph! Me diga que você não está ferida! — Rebel me sacode, tentando conseguir uma resposta. — Sim! Sim, eu estou bem. Não estou ferida. Então Rebel me solta. Eu acho que vou cair, mas de alguma forma consigo me manter de pé. Eu o observo enquanto ele caminha ao redor do complexo, olhando nos rostos dos Widow Makers que ainda estão de pé ao nosso redor, com suas armas nas mãos. — Eu que tive que fazer isso? — ele estala. — Vocês todos estão aqui parados com seus paus nas mãos? Eu tive que vir aqui e fazer isso, enquanto nenhum de vocês fez nada? — ele para na frente de Cade, seu rosto a menos de um centímetro de distância do seu vicepresidente, seu peito subindo e descendo rápido. Ele parece transtornado. Ele parece prestes a matar Cade. — Que merda você estava pensando? — ele rosna. — Eu estava pensando que essa vadia louca tinha uma arma pressionada contra a base do crânio de Sophia e eu não seria capaz de acertar ela sem que algo terrível acontecesse. O que você faria se eu tivesse atirado e Sophia tivesse sido morta, seu imbecil do caralho? — Cade o empurra. Eu nunca vi ninguém fazer algo tão arriscado. Se alguém pode se livrar dessa é Cade, mas Rebel não parece muito feliz nesse momento. Ele parece a ponto de explodir como uma supernova 16. Eu prendo a respiração, esperando que ele faça algo louco, como descer o punho na cara do seu melhor amigo ou sacar sua arma, mas ele não faz nada disso. Ele o encara por mais alguns segundos e então lhe dá as costas, se virando para mim outra vez. Maria Rosa se contorce no chão, xingando com fúria em espanhol. Ela está sangrando bastante, o seu sangue se misturando na terra com o de Rico. Rebel a ignora, passando por cima dela como se fosse apenas 16

Supernova é o nome dado aos corpos celestes surgidos após as explosões de estrelas com mais de 10 massas solares, que produzem objetos extremamente brilhantes, os quais declinam até se tornarem invisíveis, passadas algumas semanas ou meses. Em apenas alguns dias o seu brilho pode intensificar-se em um bilhão de vezes a partir de seu estado original, tornando a estrela tão brilhante quanto uma galáxia, mas, com o passar do tempo, sua temperatura e brilho diminuem até chegarem a um grau inferior aos primeiros. ~ 104 ~


um inconveniente que não valesse a sua atenção. Ele para na minha frente, seus ombros subindo e descendo, uma energia frenética ainda se derramando dele em ondas. — Venha comigo, — ele diz. Ele estende a mão para mim e eu estou muito chocada com os últimos eventos para me negar. Eu a seguro, minhas pernas parecendo instáveis enquanto ele me guia através do complexo em direção à sede do clube. Quando passamos por Cade, Rebel rosna baixinho, — Pegue um prospecto e limpe essa merda, cara. E tire ela e Dela Vega daqui, entendeu? Se certifique que eles estejam... confortáveis. Um arrepio corre pela minha espinha com o seu tom de voz. Quando ele diz confortável, eu sei que significa exatamente o oposto. Ele abre a porta do clube, murmurando baixinho quando examina o local e o encontra sem nem um sinal de vida. Nós passamos entre mesas e cadeiras abandonadas, fazendo nosso caminho em direção ao bar nos fundos da sala. Uma vez lá, Rebel abre outra porta que leva a uma sala atrás. O espaço pequeno e empoeirado está cheio de caixas rasgadas e abertas contendo garrafas de cerveja, caixas de leite vazias e equipamentos de limpeza. As prateleiras na parede à direita são um bagunça de destilados e... e armas. Armas, paradas ali como objetos casuais que não ferem, mutilam, matam. Rebel solta minha mão e pega uma pequena arma prateada, deslizando-a para dentro do cós da calça jeans na base da sua espinha. — Venha aqui, — ele me diz, gesticulando para que eu me aproxime. Eu me movo para o seu lado, sem ter certeza do que ele poderia querer me mostrar aqui além das amas e das bebidas. — Olhe, — ele diz. — Preste atenção. Há um botão pequeno aqui, bem no canto, — sua mão sobe bem alto no canto da parede das prateleiras. Eu vejo ao que ele está se referindo – um botão preto e pequeno nas sombras. Eu nunca o teria notado se ele não tivesse mencionado. — Veja se você consegue alcançar, — ele me diz. Ele é muito mais alto que eu, mas eu ainda sou alta. Tenho que ficar na ponta dos pés, mas consigo alcançar o metal liso com a ponta dos dedos. — Aperte, — ele diz. Quando eu era criança, o que eu mais adorava fazer em uma tarde chuvosa de domingo, depois que chegávamos em casa da igreja, era assistir os filmes de Indiana Jones com meu pai. Eu tenho horríveis imagens de uma armadilha terrível sendo acionada se eu fizer o que ele disse, mas eu sei que é ridículo. Rebel não me diria para fazer isso se

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fosse ruim para mim. Mas minhas terminações nervosas ainda estão crepitando quando eu pressiono o botão. Um clic alto corta o silêncio tenso, me fazendo pular. Eu pulo ainda mais quando a parede – o que eu pensei que fosse uma parede – balança para trás para revelar outra porta. Essa é feita de aço, parece reforçada e não tem maçaneta ou fechadura visíveis. À esquerda, um teclado pequeno está preso à parede, brilhando suavemente na escuridão. — Veja, — Rebel me diz. — O código é 1-7-6-3, — ele coloca o código no teclado enquanto eu observo, meus braços enrolados em volta do meu corpo. Eu começo a me sentir realmente instável. A chegada de Maria Rosa e a presença de Raphael mexeram comigo. Eu sinto que o mundo está desmoronando sobre a minha cabeça e não tenho como impedir isso. O teclado não emite sons enquanto Rebel pressiona as teclas. Ele aperta o botão verde e a porta estala e abre. Rebel não permite que ela se abra totalmente, no entanto. Ela a fecha e coloca a mão sobre o teclado, me dando um sorriso apertado que não tem nenhum humor. — Agora você, — ele diz. — Me mostre que você se lembra do código. Eu preciso saber que você pode abrir essa porta. Ele é incrivelmente intenso. Ele está claramente não estressado que não está funcionando direito, e ainda assim, ao mesmo tempo, há uma estranha calma descansando sobre ele. Isso é mais assustador do que se ele estivesse simplesmente furioso. Eu lentamente digito o código e aperto o botão verde, assim como ele fez, e a porta se abre. — Ok. Bom. Me siga, — Rebel atravessa a porta e entra na escuridão total além dela. Eu hesito um segundo, mas então o sigo, pouco disposta a pressioná-lo um pouquinho que seja enquanto ele estiver nesse estado. A porta pesada de aço se fecha atrás de nós, e de repente eu sinto como se estivesse presa em uma tumba. Uma tumba escura e impenetrável da qual não tenho como sair. Meu peito se aperta levemente, as primeiras noções do pânico se instalando, meu coração acelerando. — Rebel? Seus braços estão imediatamente ao meu redor, seu peito contra o meu, seus lábios contra a minha testa. Ele me abraça no escuro e respira. Posso sentir a velocidade incrível que o coração dele bate contra o meu, e eu sei que ele está tendo problemas para se segurar. Tão estranho. Ele parece sempre tão inabalável, como se uma bomba

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pudesse explodir bem ao lado da sua cabeça e ele ainda seria capaz de sair pensando claramente. — Porra, Soph, — ele sussurra. — Só... eu não posso... Minhas bochechas queimam, minha cabeça está nadando enquanto ele me aperta ainda mais e me prende contra o seu corpo. Ele... ele está surtando por minha causa? Claro que não. Apesar de Maria Rosa, Raphael, Hector, a falecida Bron e o falecido Rico, eu sou egoísta o bastante para aproveitar esse momento no escuro. Meu medo desapareceu completamente. Com seus braços ao meu redor, é como se nada de ruim pudesse me alcançar. Que sentimento bizarro. — Se algo como isso acontecer de novo, Sophia, é para cá que você vai vir. Você me ouviu? Venha direto para cá. Me prometa. — Mas onde... — Me prometa! — Ok, sim. Eu juro. Eu prometo. Rebel se inclina para trás, puxando uma respiração profunda. Ele me solta então, e o medo retorna com a força de um trem desgovernado. É incrível para mim que eu possa ficar tão aterrorizada assim que a sua presença se foi, enquanto a menos de um segundo atrás eu me sentisse tão segura. Rebel se move no escuro, sem tropeçar, aparentemente consciente do que o cerca, e então a escuridão se vai quando uma faixa de luz pisca sobre nossas cabeças, enviando uma luz branca austera sobre tudo dentro... dentro do enorme escritório que agora estamos de pé. Fica imediatamente óbvio a quem esse escritório pertence. Em todas as quatro paredes, material de quadro branco foi rabiscado do teto ao chão; cerca de 90% dos rabiscos são de natureza matemática, e absolutamente deles nenhum faz sentido. Bem, para mim, pelo menos. Duas grandes mesas, uma em cada extremidade da sala, estão cheias de papeis e possuem computadores que parecem muito caros acomodados em meio aquele caos, aparentemente apenas acumulando poeira. Entre elas, na parede mais distante, há um servidor enorme que fica lá como um alto e dormente monólito, todo de metal escuro e TVs de LED que estão desligadas. Rebel me observa enquanto eu caminho ao redor, absorvendo a estranheza do lugar. Ele se inclina contra a mais arrumada das mesas – assumo que seja a dele – me observando como se eu fosse um animal ~ 107 ~


em perigo de extinção sendo apresentado no zoológico. — Que lugar é esse? — eu pergunto a ele. — Esse lugar é a à prova de bombas. Esse lugar pode suportar todo o inferno acontecendo em torno dele, e ninguém vai ser capaz de entrar. É onde você vai estar mais segura se algo ruim acontecer. — E os computadores? O servidor? — Informações. Apenas informações. Contas de banco. Chantagens. Imagens de satélite. Relatórios de investigadores particulares. Locais de sepultamentos. — Então isso... isso é o que você tem contra as pessoas. Toda a sujeira que você acumulou ao longo dos anos. Isso é toda a sua vantagem? — Sim. Nos recessos distantes da minha mente, eu lembro de Julio discutindo sobre alguns arquivos que Rebel tinha contra ele, que eram o motivo pelo qual o cara cruzou o Estado no meio da noite para me pegar na casa de Hector: Rebel estava lhe subornando. Eu paro minha investigação, me inclinando contra a outra mesa, o encarando. — Tudo muito valioso, tenho certeza. — Sim. — E você me mostrou como entrar aqui. Você confiaria em mim aqui sozinha? Ele acena. — Você acha que pode ser um risco, Sophia, mas você não é. Você está investindo em mim tanto quando eu estou em você. — Eu acho que não, — eu não sei como ele pensa que está investindo em mim, mas independentemente disso... eu não quero que seja verdade. Me preocupar com esse homem só vai fazer com que eu seja morta; isso é bastante óbvio. Rebel desvia o olhar, focando no texto selvagem escrito em vermelho na parede ao seu lado. Ele cruza os braços sobre o peito. — Você sabe por que resiste tanto a mim, Soph? — ele suspira. Eu estreito os olhos para ele, tentando não deixar que ele veja o que eu estou pensando. — Porque você é grosseiro e arrogante, e você me deixou presa na sua cabana por dez dias?

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Ele sorri suavemente, permitindo que seu olhar caia para os seus pés. — Não. — Ah, não? Bem, então, por favor, me ilumine. Por que eu resisto tanto a você? — Porque você está apaixonada por mim, e você tem medo. — O quê? — eu considero pegar a grande pedra que está sendo usada como peso de papel na mesa próximo a mim e arremessá-la direto na cabeça dele. Ele é tão babaca. — Você está sonhando, meu amigo, — eu informo a ele. — Nós não somos amigos. Nós somos muito, muito mais do que isso e você sabe. — Jesus, você... você não tem vergonha, não é? Onde você quer chegar dizendo coisas como essa? — Eu acho que vergonha é geralmente uma emoção inútil. Ela vem depois que um evento ou certas ações acontecem. Não há sentido em se reprimir por algo que você não pode mudar, certo? Eu acho que na verdade você está desconfortável porque eu disse o que eu penso. Eu não adoço nada. Eu nunca tive medo de admitir o que eu quero, Sophia, — ele esfrega os dedos na barba de poucos dias que cobre a sua mandíbula, me prendendo com aqueles olhos azuis. — Você, por outro lado... você tem medo de admitir qualquer coisa para qualquer pessoa, sempre. Deve ser cansativo. Eu não respondo. Eu realmente não sei o que dizer. Eu quero ser teimosa e dura com ele, dizer que ele não poderia estar mais enganado e que ele deveria manter suas teorias mal formuladas para si mesmo, mas eu estou tão cansada. Eu não tenho a energia para lutar com ele. E, além disso, está ficando cada vez mais e mais difícil negar que o que ele está dizendo é verdade. Foda-se ele. Foda-se ele e a sua habilidade de ver através de mim. Rebel começa a rir. — Você não precisa dizer uma palavra, querida. Você sabe a verdade, assim como eu. Mas eu posso esperar. Se você sentir que está pronta para ser honesta comigo, eu estarei pronto para escutar. Sua voz suaviza ao final da sua declaração, o riso se esvaindo. Ele parece silenciado, suave, quase pensativo. Eu quero que ele coloque seus braços ao meu redor e faça todo o mundo ir embora outra vez, mas não é assim que ele vai provar estar certo? Em vez disso, eu me afasto dele.

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Meus olhos param em um arquivo em cima da pilha da mesa atolada de papeis. Há uma palavra escrita na capa com letras pretas e maiúsculas: MAYFAIR. — O que é Mayfair? É como, tipo, um código ou algo assim? Um lugar? Rebel suspira profundamente. Eu posso ouvir suas botas contra o liso concreto do chão enquanto ele caminha pela sala; ele pega o arquivo da minha mão e o recoloca na desorganizada pilha de papeis. — É um nome. Um cara de Seattle. Cade esteve de olho nele. — Ele tem alguma conexão com Hector e Raphael? — Não. Ele não é alguém com quem você precisa se preocupar agora, Soph. Nós temos outras coisas para cuidar. Como a quem tem o nome de Maria Maldita Rosa.

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Capítulo Onze CADE Eu aprendi como afogar alguém sem matar quando estava no Afeganistão. Há um truque para isso. Se você colocar a água muito rápido, enfiar o cano pelas suas gargantas muito profundamente, você vai afogá-los direto. Se for muito molenga, eles vão conseguir segurar a respiração e você nunca vai conseguir as informações que precisa. Enquanto eu encho um galão de quatro litros com água em uma torneira do lado de fora do clube, passo um momento refletindo em como Maria Rosa vai gostar pouco disso. Na verdade, esse é provavelmente o eufemismo do século. Ela vai odiar isso pra caralho. Os papeis geralmente se trocam em situações como essa. A maldita me torturou quando descobriu eu e Rebel bisbilhotando a sua casa na Colômbia. Eu passei três dias amarrado a uma maldita cadeira enquanto ela tentava descobrir se eu estava lá para tentar matar ela ou não. A experiência foi bastante frustrante para ela. Sendo um Fuzileiro Naval, você aprende a suportar a tortura. Você aprende como manter a porra da boca fechada e dar nada mais que seu nome e sua patente, e Maria Rosa queria me ver gritar. Eu fui uma decepção para ela desde o início, mas depois ela confessou que o meu silêncio estoico a deixou excitada. Não demorou muito para que ela estivesse me montando, se esfregando contra o meu pau, me torturando de um jeito diferente. Isso parece que foi há muito tempo agora. Ela estava inconsciente quando eu a levei para o celeiro e então para o nosso porão escondido, me certificando de trancar a escotilha atrás de mim quando voltei aqui em cima para buscar a água. Eu a amarrei bem apertado na única cadeira de madeira lá embaixo, mas ela é astuta. Não, não apenas astuta; ela é uma maldita contorcionista. Eu descobri isso em primeira mão. Eu ainda preciso foder outra mulher que possa se dobrar como um pretzel do mesmo jeito que a Mãe é capaz.

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Eu tento não pensar em todas as coisas que Maria Rosa pode fazer e em outras mulheres, não enquanto carrego o galão de água de volta para o celeiro e destranco a escotilha. Descendo as escadas, eu levo o tonel ao longo do corredor mal iluminado, água derramando sobre o concreto empoeirado, nas minhas botas, não pensando nas coisas que Maria Rosa pode fazer com a sua língua. Jesus. Quando entro na última sala à direita, a mulher em questão está caída para frente na cadeira, seu queixo descansando no peito, um rio espesso de sangue escorrendo pelo seu braço e pela sua perna. Ela parece morta, mas se tem algo que eu aprendi nessa vida, é a não confiar em Maria Rosa. Ela é a rainha da manipulação. Eu tenho certeza que Rebel teria mais algumas opções de nome para ela, também. Ela fodeu com o clube. Ela fodeu com a minha irmã. E agora ela fodeu com Sophia. Demora muito para que Jamie chegue ao ponto de querer te enterrar só de olhar para você, mas nós já passamos desse ponto agora. Eu meio que sinto pena da mulher. Ele não vai facilitar para ela. Nem um pouco. Eu puxo o pano que encontrei no bar na sede do clube do meu bolso de trás da calça jeans e me encosto contra a parede, o grande galão de água aos meus pés, rasgando o pano em tiras. É assim que o chefe me encontra. Ele não parece muito calmo. — Você já tentou acordar ela? — ele pergunta. Eu balanço a cabeça. — Certo. Vamos acabar com isso. Eu não deveria ter explodido com você lá fora. Eu sei que você só estava cuidando de Sophia. Eu perdi a cabeça. Me desculpe. Eu dou de ombros. — Não me venha com essa merda, cara. Você teria perdido a cabeça também. Você teria explodido a porra de um joelho dela se fosse Laura. ~ 112 ~


Eu congelo ao som do nome da minha irmã. Nós passamos semanas, às vezes meses, sem falar nela. Nós dois sabemos que ela é a razão pela qual estamos aqui, atolados até o pescoço em uma merda que nos dá nojo, deixa os dois malucos. Nós nunca vamos ser capazes de sair enquanto não descobrirmos o que aconteceu com ela, de um jeito ou de outro. E então fazer com que o responsável pelo seu desaparecimento pague por isso. Pague caro. Esse será o dia em que eu e James iremos perder nossas almas para sempre. Eu atiro a ele um olhar de merda. — Então você está comparando Sophia a ela agora? Você realmente deve amar a garota ou algo assim. Rebel estreita os olhos tão dramaticamente que eles quase desparecem. — Talvez. Talvez não. Eu jogo uma das tiras rasgadas do pano nele, e o acerto no rosto. — Você é cheio de merda, cara. Eu vi o jeito que você olhou para ela no segundo que ela subiu nas costas da sua moto naquela porra de vestido amarelo nojento e eu sabia que nós estávamos todos ferrados. O fantasma de um sorriso passa pelo seu rosto. Se inclinando para pegar o pedaço de pano que eu joguei nele, Rebel grunhe. — Como eu disse. Talvez. Talvez não. Maria Rosa geme. Não é o tipo de gemido que ela fingiria. Ela iria querer soar sexy, mesmo através da dor. Não, esse é o tipo de gemido que alguém dá quando está em agonia e as suas cabeças não estão funcionando direito. Rebel vira sua atenção para ela, e eu tenho um vislumbre da péssima situação em que ela está... Se o olhar no rosto do meu irmão fosse categorizado por um único ato de violência na história recente, seria a maldita bomba de Hiroshima. Ele vai matá-la. Eu posso ler isso em cada linha do seu corpo. Ele está tão tenso que eu ficaria surpreso se ele sequer esperar ela acordar para começar. — Você está bem, cara? Eu posso fazer isso do meu jeito se você precisar? — E você não vai estourar a porra do cérebro dela em vez de lhe ensinar uma lição? — ele levanta as duas sobrancelhas para mim, claramente convencido de que é isso que vai acontecer se ele me deixar aqui sozinho com ela. — Eu posso cuidar disso, — e eu posso. Desde que Laura sumiu, o mais perto que chegamos de encontrá-la foi com Maria Rosa. Muitas

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pessoas contaram a mesma história. Muitas pessoas nos disseram que ela tinha a minha irmã. Rebel e eu viramos o seu lugar de cabeça para baixo assim que a Mãe nos deu carta branca e liberdade, mas houve aqueles três dias. Aqueles três dias em que ela estava decidindo se nos odiava ou nos amava. Ela poderia facilmente ter sumido com qualquer garota que estivesse escondendo, para nunca mais ser vista. Enterrada, jogada em uma vala em qualquer lugar para que animais selvagens limpassem os seus ossos. Sim, eu posso cuidar disso. Mas eu sei que ele não vai concordar em me deixar aqui com ela. Mesmo que ele achasse que eu fosse capaz de fazê-la falar sozinho, sua consciência não deixaria. Ele nunca me pediria para fazer algo que ele mesmo não estivesse preparado para fazer. Foi assim que nós acabamos nessa situação tantas vezes. Juntos. Maria Rosa se agita de novo. Ela faz um som delirante do fundo da sua garganta, e então rola a cabeça para trás, os olhos finalmente estalando abertos. Rebel aperta a mandíbula, se preparando. Isso não vai ser divertido para nenhum dos envolvidos, mas ele está furioso o bastante agora para que isso não o incomode tanto como de costume. — Dormiu bem, mãe? — ele rosna. Lentamente ele começa a andar em um círculo ao redor dela, enrolando o pedaço rasgado de pano em volta dos seus dedos uma e outra vez. — Você está planejando nos agraciar com a sua presença, eu vejo. As pupilas de Maria Rosa dilatam, desesperadamente tentando focar nos seus arredores. Ela está claramente tendo problemas para conseguir isso, no entanto. Ela perdeu muito sangue. E ela já estava histérica antes disso, de qualquer forma. Deus sabe onde eles estiveram antes de saírem voando pelo deserto, mas algo grave obviamente aconteceu. Grave o bastante para acabar com Rico, pelo menos. Rebel me disse sobre a última vez que ele viu Maria Rosa em Vegas – que ela e Rico fizeram um showzinho para Carnie. Ela fodeu com Rico bem na frente deles. Mesmo na Colômbia, já era bastante evidente que Rico estava apaixonado por ela. Era apenas uma questão de tempo. As mulheres nunca resistem a um homem que se apaixona, não importa se ela está atraída por ele ou não. Ela vai transar com o cara só para fazer ele ronronar. Mas pelo jeito como ela reagiu à morte de Rico, no entanto, eu não ficaria surpreso se ela realmente tivesse algum tipo de sentimento pelo cara. Não sentimentos reais, claro. Ela não é capaz. Mas alguma espécie de... tolerância com ele. Mais do que ela jamais teve comigo, isso é certo. Ela disse repetidamente que estava apaixonada por ~ 114 ~


mim, mas você não tenta esfaquear alguém que você ama. Pelo menos não é o que diz a minha limitada experiência. Ela pisca meio perdida para Rebel, e de repente tudo parece acertá-la de uma vez – Rico morrendo, Sophia sendo ameaçada... ela provavelmente se lembra do Trader Joe‘s e de como nós caímos na mira do DEA, porque uma cor acinzentada varre o seu rosto, transformando a mulher em um fantasma. — Ora, ora, — ela sussurra. Suas palavras são arrastadas, mas ainda audíveis. — Eu acho que isso é um pouco irônico, não? — Na verdade não, — Rebel responde. — Eu diria que é mais... retribuição karmica. Você acredita em karma, Mãe? — Apenas no tipo ruim, — ela se inclina para frente e cospe no chão – sangue e saliva misturados. — Eu acho que você está muito bravo comigo, meu amor. Rebel ri. Ele joga a cabeça para trás e late tão alto que eu tenho certeza que as pessoas na cidade podem escutá-lo. — Você poderia dizer isso. Sim, eu estou um pouco irritado com você. Mas você pode me culpar? Quero dizer, você enviou homens vestindo o colete dos Widow Makers a um mercado e os fez matar um monte de gente inocente. Isso não foi muito legal, não é? Maria Rosa revira os olhos. — Isso foi um aviso. Nada mais. Os policiais nunca iriam te prender. Por isso que eu fiz aquele homem gordo usar o colete do presidente. A polícia faria uma pequena investigação e puxaria os detalhes do clube, veria o seu lindo rosto e saberia que você era o cara errado e pronto. Por isso eu escolhi Los Angeles e não o Novo México, seu merdinha mimado. — Eu sou o merdinha mimado? — Rebel aperta os dentes. Eu apenas fico ali parado, encostado contra a parede, esperando. Em algum ponto um deles vai me arrastar para isso, mas até lá eu estou bem contente de estar à margem. Rebel balança a cabeça, franzindo a testa para Maria Rosa. — Você é petulante, e você tem a coragem de me chamar de mimado? Eu fui até você de boa-fé procurando ajuda, e agora olhe onde nós estamos. — Nós estamos aqui porque você não tem a porra de um senso de humor, Rebel. Nós estamos aqui porque eu baguncei o cabelo da sua

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namorada bonita. Meio patético, você não acha? Ela ainda é bonita. Ela ainda tem todo o cabelo. Mesmo que ela tenha matado Rico. Era fácil de ver que Rico já não tinha mais salvação quando eles saíram daqueles carros, mas Maria Rosa vê do seu jeito – Sophia não o salvou, então ela o matou. — Vai haver... consequências por isso, — ela chia. — Oh? Consequências? Você realmente acha que vai sair daqui viva? — Eu acho. Eu não acredito que você é um assassino de sangue frio, Rebel. É uma pena. Eu iria respeitá-lo muito mais se você fosse, eu acho. Há somente um tanto dessa provocação que Rebel vai aguentar antes de finalmente estourar. Eu somente vi isso uma vez antes, e foi tão ruim e brutal que levou três semanas para ele se acalmar depois disso. Se nós pudermos evitar o que está por vir, seria ótimo, mas a Mãe ama irritar os homens. Ela me provocou e atormentou por horas e horas naquela vez. A diferença é que eu soube lidar com isso. Rebel vai arrancar a cabeça dela fora antes de ouvir muito mais dessa merda. Ele coloca as mãos nos bolsos da calça jeans, olhando ao redor do quarto como se nunca tivesse estado aqui antes e tudo isso fosse novo para ele. Como se nós não tivéssemos tido esse tipo de conversa várias vezes antes, com várias pessoas diferentes. Essa é a primeira vez que nós temos uma ―conversa‖ com uma mulher, mas então Maria Rosa dificilmente conta. Ela ama esfolar pessoas, pelo amor de Deus. Ela já empunhou uma lâmina mais vezes do que qualquer um de nós pode contar. Rebel caminha até o galão de água e mergulha o pedaço de pano que ele está segurando, então levanta a mão, espalhando água por tudo. Não há nenhum exibicionismo, nenhuma bravata. Não há encenação. Ele não sabe que é inútil tentar assustar Maria Rosa, assim como eu. Isso não vai aterrorizá-la a ponto dela nos dizer tudo que sabe sobre Hector. Isso vai ser nós dois dobrando ela à nossa vontade, e então, quando dobrar não funcionar, quebrá-la. E então ela vai nos dizer. Isso, sem dúvida nenhuma, faz de nós pessoas más, mas essa é uma situação muito singular. Maria Rosa realmente fodeu tudo com essa sua façanha. Ela deveria ter voltado para a Colômbia e continuado os seus negócios lá. Ameaçar Rebel e então expor o clube? Sim, isso nunca iria acabar bem. ~ 116 ~


— Abra bem, — ele diz a ela. — Eu normalmente não estou tão ansiosa para agradar, mas... como você quiser, meu amor, — Maria Rosa abre a boca, inflexível, querendo mostrar que ela não nem um pouco de medo. Sophia me lembra um pouco ela, de certa forma. Enquanto Soph com certeza é um pouco mais intimidada pelo nosso mundo fodido, ela tem aquele olhar de desafio onde quer que ela vá, como se ela estivesse pronta para te derrubar, se aparecesse a necessidade. Eu respeito isso nela. Rebel atola o pano molhado na boca de Maria Rosa. Ele então gesticula para mim por outro. Eu o molho no galão e o entrego a ele. Esse pano vai para a boca dela também. E então outro. E outro. Ele está jogando duro com ela. Maria Rosa realmente não vai ser capaz de respirar entre as rodadas de água sendo derramada na sua boca, mas não parece que Rebel se importa. Ele chuta os pés dela de debaixo da cadeira e a agarra pelos tornozelos, puxando seu corpo para baixo, assim sua cabeça fica jogada para trás, sobre o encosto da cadeira. Parece uma posição sexual, especialmente com Rebel parado com uma perna de cada lado dela, mas não é. Ele fica assim parado para levantar o pesado galão de água sem abrir mais os seus pontos. Maria dá a Rebel um sorriso frio ao redor de todo o tecido que ele está enfiando na boca dela. Ele sorri de volta, segurando o rosto dela com as duas mãos. — O que aconteceu com você, Mãe? — ele pergunta. Ele parece genuinamente querer saber, embora haja um toque de loucura ali. — Algo terrível deve ter acontecido com você, — ela olha para ele, nem sequer cogitando falar, nem sequer cogitando responder à pergunta. Ele vira o galão de água, e assim nossa aventura começa. Não importa quem você seja, não importa quão forte você seja, se alguém derramar um galão de água na sua boca quando ela está cheia de panos, você vai engasgar. Você vai sufocar. Você vai se afogar. Maria Rosa faz todas essas coisas enquanto Rebel derrama água e para, derrama e para, com uma eficiência macabra. Previsivelmente, ela não diz a ele porra nenhuma. Finalmente, ela perde a consciência. Rebel se endireita, olhando para o corpo flácido e molhado dela, e encolhe os ombros. — Bem. Eu acho que foi um esforço inútil. Ele soa calmo demais. Francamente, é um milagre que ele esteja funcionando em algum nível racional. — Você não vai acordar ela?

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Rebel rosna, inclina a cabeça para trás, fecha os olhos e então toma uma respira profunda. — Não. Não adianta. Se eu continuar com essa merda, não vou ser capaz de parar até que ela esteja morta. Pelo menos ele sabe isso. Isso por si só quer dizer que ele está conseguindo se segurar. Mais ou menos. — Você pode ficar com ela? — ele pergunta. — Quando você partir, traga Carnie aqui e diga para ele observar os dois quartos. Se certificar que a Mãe e Dela Vega estão se comportando. Nesse meio tempo, faça o que tem que fazer. Descubra o que ela está fazendo no Novo México, e por que diabos ela pensou que era uma boa ideia vir até aqui. — Tem que ter algo a ver com Ramirez, certo? Rebel lentamente balança a cabeça. — Talvez não. Você lembra aquela agente do DEA que ela queria que eu eliminasse para ela? — Sim. — Bem, levou um tempo para que eu juntasse as peças, mas a agente do DEA que me prendeu ontem...? — Lowell? É a mesma agente? De jeito nenhum. — Exatamente. — Quais as chances? — Muito altas, na verdade, — Rebel rola o pescoço para relaxar, abrindo os olhos. Ele me olha, o azul dos seus olhos é quase da cor do gelo. — Ela está na cidade por causa de Ramirez. Ele e Maria Rosa são os dois maiores traficantes de drogas dos Estados Unidos. É normal que a mesma unidade investigue os dois. Ela deve ser o grande pato querendo chegar em primeiro lugar na competição de nado, essa Lowel. Ela é uma víbora, com certeza. Descubra o que você puder sobre Maria Rosa quando ela acordar. Enquanto isso, talvez você pudesse tirar aquela bala dela, por favor? Eu não quero encontrar ela morta amanhã, — ele inclina a cabeça para o lado, surpresa tomando suas feições. — Estranho. Eu realmente quis dizer isso.

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Capítulo Doze SOPHIA Eu não vou ao funeral de Bron. Eu não a conhecia e, além disso... se eu olhasse para a sua figura estranha, enrolada em camadas e camadas de lençóis brancos, eu saberia que haveria algo errado, porque a pobre mulher não tem cabeça, nem mãos nem um dos pés. Estou fazendo o melhor para não me lembrar da imagem dela pendurada na árvore pelo único pé que sobrou. E o clube ainda não me conhece ou confia em mim. Um funeral é um evento absolutamente íntimo e pessoal. Eu não quero ser uma intrusa. Passei o meu tempo lendo na cabana, em vez disso. Fingindo ler. Na verdade, eu estou tentando não estar hiperconsciente do fato de que Raphael está tão perto. Não parece seguro se ele não estiver a mais do que cem quilômetros de distância. Rebel me assegurou que ele estava amarrado a uma maldita cadeira, que não tem como ele me alcançar, mas os cabelos na minha nunca continuam a levantar cada vez que eu ouço a cabana estalar. Mais tarde, quando Rebel retorna do velório com o seu clube, ele me diz para pegar um casaco e segui-lo. Pela primeira vez desde que ele me buscou no complexo de Julio, ele me diz para subir na parte de trás da sua Ducati e me segurar firme nele. Quando eu era criança, talvez sete ou oito anos, meu pai me levou para ver o Papai Noel no Natal. Ele me levou a uma loja de departamentos cara, daquele tipo que contrata verdadeiros velhinhos de cabelos brancos com barbas reais – homens que não tinham nenhum registro em atividades sexuais. Meu pai me colocou sentada no joelho do genuíno Papai Noel, e me disse para dizer tudo ao velhinho. Papai Noel tinha olhos castanhos gentis, os olhos de um Labrador ou um Golden Retriever. Quando ele me perguntou o que eu queria mais do que tudo no mundo, eu disse a ele que queria ser como a ~ 119 ~


minha irmã mais velha. Meus pais a amavam mais. Ela ganhava os melhores presentes. Ela era realmente muito inteligente, então ela entendia o que nosso pai estava falando a maior parte do tempo. Eu só queria ser como Sloane. Eu me senti assim por um bom tempo. Eu estava quase fazendo dezesseis anos quando percebi a busca eterna por ser Sloane era fútil, e que estava tudo bem ser Alex, assim como ser qualquer outra pessoa. Melhor, na verdade, porque ser eu mesma requeria muito pouco esforço, e ser Sloane me exigia tanta concentração que eu não conseguia me concentrar em nada mais. Mas eu ainda penso muito no que Sloane faria ou não. Eu penso no que ela faria agora, enquanto Rebel coloca sua mão sobre a minha, curvando os dedos sobre o gatilho da arma que estou segurando. A arma que ele me disse para pegar na sala dos fundos do bar. Ao longe, em algum lugar em direção à estrada e à civilização além dela, tudo que resta do dia é um tom suave de rosa e laranja ardente no horizonte. O céu acima de nós está escurecendo mais a cada minuto, revelando um rico e profundo azul, pontilhado por um mar de estrelas. — Segure assim. Tenha certeza de manter seu foco junto ao comprimento da arma aqui em cima. Não o sobre o gatilho ainda, — Rebel me diz. — É isso que eles ensinam a você no Clube de Motoqueiros 101 17? — eu estou cheia de sarcasmo desde que ele me arrastou para fora da sua cabana para o empoeirado ar da noite e se recusou a me dizer onde estávamos indo ou porque. Eu não deveria estar surpresa que ele me trouxe até o meio do nada e quer me ensinar como atirar com uma arma. Mal sabe ele que eu já sei atirar perfeitamente bem. Meu pai me ensinou quando eu era adolescente, assim como também ensinou Sloane. Eu guardo essa informação para mim. Ter o peito de Rebel pressionado contra as minhas costas, sentir a sua respiração quente no meu ouvido, é bom demais para deixar para lá. É maravilhoso, na

Existe, nos Estados Unidos, uma popular série de vídeos para a Internet que explica como funciona as mais diversas coisas, dos mais diversos assuntos. Todos eles terminam com 101 e são vídeos tutoriais que falam desde artesanato até o mundo dos filmes pornográficos. Eles dão dicas, ao entrevistar profissionais, de como se especializar naquele determinado segmento. Obviamente, aqui, no entanto, a personagem só está sendo sarcástica. 17

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verdade. Eu me inclino contra ele, sentindo ele tencionar e então relaxar com o contato. — Não, — ele me diz. — Não foi em um Clube de Motoqueiros 101. Escola Militar. Uma organização completamente diferente, eu asseguro a você, querida. Foge da minha cabeça, de tempos em tempos, que Rebel foi para a Escola Militar. E então eu me recordo das dezenas e dezenas de fotos na parede do seu pai, e parece totalmente normal que o homem parado atrás de mim tenha lutado pelo seu país e defendido a sua gente. Ser protetor faz parte da sua natureza. — Agora, quando você atirar, — ele me diz, — Não puxe o gatilho. Não pule. Pressione com suavidade. Não segure a respiração. Apenas inale... — ele remove a mão esquerda de cima da minha e a coloca sobre o meu esterno, acima da minha barriga, fazendo um som satisfeito no fundo da garganta quando ele sente minha caixa torácica subir. — Bom. Agora, continue. Quando você soltar o ar... O som de uma arma disparando quebra o silêncio do deserto. A cem metros de distância, a latinha de Budweiser já enferrujada que Rebel tinha equilibrado em cima de uma cerca salta no ar – um tiro certeiro. Não mais do que dois segundos depois, o eco do tiro volta para nós, fraco pela distância que ele percorreu, mas ainda bastante audível. Rebel grunhe. Ele soa confuso. Usando seu dedo indicador da mão descansando sobre o meu peito, ele cutuca minhas costelas, enterrando o rosto no meu pescoço. — Enganadora, — ele rosna. — Eu não enganei você. Eu fiz o que você mandou. — Mas você já fez isso antes, não é? E você me fez pensar que era totalmente ignorante no que se referia a armas. — Eu não fiz isso. Você nunca perguntou. — Hmmm, — ele me cutuca com o dedo outra vez, me fazendo estremecer. — Vamos lá, então. Me mostre. Me mostre do que você é capaz. Ele deve confiar em mim implicitamente. Sem olhar para trás, ele caminha até a cerca e pega a latinha de cerveja do chão, onde ela caiu. A arma carregada na minha mão poderia muito bem ser usada para acabar com ele, mas ele me conhece. Ele sabe como eu me sinto sobre ele, independentemente do que eu esteja pronta para admitir ou não. ~ 121 ~


Eu observo enquanto ele se abaixa e pega mais duas latinhas. Eu não estou preparada para o muro de emoções que me atinge às vezes, por absolutamente nenhuma razão. Ele pode estar fazendo a coisa mais simples – coçando a barba de poucos dias no seu queixo. Conversando com Cade. Girando uma caneta em sua mão. Coletando latinhas para eu atirar – e eu vou ser atingida por essa sensação que parece tão... gigantesca. Como se ela me tomasse, feroz e imparável. Como se fosse impossível fugir, não importa quanto eu tente ou quanto os meus pulmões queimem ou minhas pernas doam. Quando ele se endireita, Rebbel finalmente olha por cima do ombro para mim e sorri. — Você está bem? — Sim, estou muito bem. Por quê? Por que eu não estaria bem? Seu sorriso aumenta. — Porque você tem esse olhar no rosto. — Que olhar? — O olhar que você me dá quando eu acabei de te fazer gozar duro e seus ouvidos ainda estão zumbindo. O sangue esquenta minhas bochechas. Cara, esse homem. Ele tem coragem. — Eu não tenho um olhar quando você me faz gozar. — Claro que tem. É assim, — ele inclina a cabeça um pouco para trás, a boca apenas levemente aberta, o cabelo caindo para longe do rosto, seu peito arfando. Ele parece incrível. E ele parece que acabou de ter o melhor sexo da sua vida. Eu estou lutando para manter meu controle. Uma grande parte excitada de mim quer ordenar que ele tire a roupa sob a mira da arma. Lentamente. Rebel está sorrindo maliciosamente quando ele abaixa a cabeça para olhar para mim. — Querida, você acha que eu iria parar de te foder a menos que eu tivesse certeza que você estivesse satisfeita? É com esse olhar que eu sei que fiz o meu trabalho direito. É a coisa mais bonita e sexual do mundo. Eu já memorizei essa expressão cheia de desejo em detalhes, e é por isso que eu a reconheci dois segundos atrás quando eu peguei você olhando para a minha bunda. — Oh meu Deus, eu não estava olhando para a sua bunda! Ele apenas ri, virando de costas para mim de novo, então ele pode começar a equilibrar cuidadosamente as latinhas de cerveja no tipo dos postes da cerca outra vez. — Por que não? Eu tenho uma ótima bunda.

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Eu não posso negar isso – ele definitivamente tem uma ótima bunda. Só que é frustrante ele saber isso. — Apenas ajeite essas latinhas de uma vez, idiota. — Sim, senhora. Se você acertar todas sem errar, eu vou te dar algo muito especial. Você gostaria disso? — Um Audi R8? Ele me atira um olhar com a sobrancelha levantada por cima do ombro. — Você realmente não sabe o significado de ser discreta, não é? Um carro desses atrairia uma séria atenção para cá. Sendo assim, não. Nada de Audi R8 para você. Você teria um passeio melhor com o que eu estou oferecendo, de qualquer forma, — ele parece totalmente mau quando diz isso. Não há dúvidas sobre ao que ele está se referindo. Eu teria que ser estúpida para perder a insinuação. Ele exala sexo quando é assim – intenso, sólido e um pouco selvagem. Ele está muito mais calmo do que estava mais cedo. Sua tensão nervosa se derrama dele com tanta força quanto seu desejo, no entanto. Ele não está em um bom lugar. Flertar comigo pode ser um bom caminho para se distrair, mas eu tenho a sensação de que ele não iria cumprir as suas promessas. Ele só está tentando me irritar. Eu decido colocar a teoria à prova. Somente por curiosidade, é claro. Não porque segurar uma arma em minhas mãos sempre me faz sentir inebriada com o poder, e seus comentários óbvios estão fazendo todo o meu corpo formigar. — Ok, — eu digo. — Se eu acertar... cinco, seis, sete latinhas, você vai me dar o passeio da minha vida, hm? Rebel coloca a sétima e última latinha no topo de um dos postes da cerca e se endireita. Pelo jeito que ele acomoda os ombros, os empurrando para trás, o brilho insolente em seus olhos ficando muito, muito sério, fica muito claro que ele não esperava que eu aceitasse o seu desafio. — Sim, senhora. Mas você não pode errar nenhum tiro. — O que acontece se eu errar? Nada de sexo louco para mim? — Oh, não, — ele caminha na minha direção, algo escuro e perigoso brincando em seus olhos agora. — Vai haver sexo para você. Mas o jogo vai virar, no entanto. Vai ser o seu trabalho me agradar. O seu trabalho explodir a minha mente. Você vai ter que fazer absolutamente tudo que eu disser a você, sem questionar. Essa é uma grande responsabilidade, — ele para, cruzando os braços sobre o peito. — Eu não tenho certeza se você pode aguentar.

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Eu coloco uma máscara, balançando a cabeça, tentando não rir do tom altamente sexual na sua voz, mas não consigo. Suas palavras, o pensamento de obedecê-lo, fazer o que ele me diz, trabalhar para lhe agradar e sacrificar o meu orgulho para isso... é estranhamente tentador. Eu quero que ele me use. De uma maneira impiedosa, eu quero perder esse desafio, então eu vou poder descobrir exatamente o que ele quer que eu faça. Essa seria a experiência mais reveladora de todas. Com toda certeza eu saberia muito mais sobre os seus desejos e perversões se eu me submetesse a ele desse jeito. E se há alguma coisa da qual eu já tive certeza na vida, é que Louis James Aubertin Terceiro tem muitos, muitos desejos e perversões aos quais eu não fui apresentada ainda. — Eu posso aguentar, — eu digo suavemente. — Eu posso aguentar tudo que você jogar para mim. Você já deveria saber disso agora. Um sorriso levanta os cantos da sua boca. — Ser sequestrada, talvez. Ter uma arma apontada para a sua cabeça, com certeza. Mas isso? Eu, sem amarras ou inibições? Sem nada me segurando? Eu acho que não, querida. Eu acho que você ficaria aterrorizada. Ele se absteve de mencionar Raphael. Depois de Raphael, nada mais vai me assustar outra vez. Certamente não Rebel. Ele me disse que morreria para me proteger. O senso comum diz se ele faria isso, então ele é a última pessoa que me machucaria. Intencionalmente, pelo menos. Eu sorrio, fazendo um pequeno beicinho. — Eu acho que nós vamos ver isso então, não vamos? Rebel para ao meu lado como uma estátua esculpida em mármore enquanto eu alinho meu primeiro tiro. Ele não olha para a latinha esperando para ser atingida e jogada fora do poste; ele olha para mim, em vez disso. O calor do seu olhar é palpável. Engolindo em sendo, eu ajusto a mira, da mesma forma que eu fiz quando ele estava me ensinando a atirar antes. Minhas duas mãos estão na arma, embora eu provavelmente possa fazer isso apenas com a mão direita. — Não erre, querida, — Rebel diz. — Eu prometo a você, eu vou te prender a esse acordo. Seja qual for o resultado, você terá que lidar com as consequências. Você concorda? — Claro. Por que não? — Certo, então. É melhor você acertar, — ele levanta a mão, a palma para baixo, e a desce no ar, um convite para eu entrar no jogo e começar a atirar. ~ 124 ~


Eu tento ser arrogante e confiante quando dou o primeiro tiro. A latinha faz um som estridente, metálico, e voa no ar. Papai teria dado um dez para esse tiro. O segundo é apenas um oito. A bala bate ligeiramente fora do centro, mas o impacto a faz voar da mesma forma. Rebel limpa a garganta. — Nervosa? — Não. Você só está muito perto, soldadinho. Por que você não se afasta um pouco? Rebel ri. — Com medo de que você possa me acertar? — Talvez. Quero dizer, eu duvido que você possa aguentar mais algum ferimento no momento. Um ferimento de bala na perna provavelmente acabaria com você, — eu faço um show apontando a arma para a sua perna direita, mas o filho da mãe não parece preocupado. Ele caminha até mim, em vez disso, saindo do caminho, até estar parado bem na minha frente. Por alguma razão, segui-lo com a arma parece uma coisa inteligente a se fazer. O cano acaba pressionado no seu peito, e ele não está piscando, respirando, se movendo. Ele apenas fica me encarando e parece que todo o mundo parou. — Se você está planejando atirar em mim, provavelmente deveria fazer isso agora, Sophia. — Por que agora? — minha mão treme. É como se eu tivesse um pistão bombeando sangue pelo meu corpo, e não um frágil coração humano. — Porque hoje... hoje foi um dos piores dias da minha vida. Se você quiser me tirar da minha miséria agora, eu não vou te impedir. Por outro lado, amanhã eu posso acordar cheio de merda e querer caçar Hector Ramirez. Eu talvez decida ir para o segundo round de afogar a mulher que estamos escondendo no porão do celeiro. E talvez eu proponha casamento a você. Uma boa noite de sono pode realmente mudar um homem. — Você afogou Maria Rosa? Rebel solta um latido de uma risada. Ele olha para longe, estudando o horizonte. Uma fraca faísca prateada brilha, rapidamente desaparecendo abaixo da cadeia montanhosa ao longe, é tudo que ainda resta do pôr do sol. Ele observa isso, franzindo o cenho. — Eu acabei de implicar que estive considerando te pedir em casamento, e você faz objeções ao fato que eu usei um galão de água para afogar uma mulher que estava ameaçando te matar não faz nem sete horas atrás?

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— Sim, mas você estava brincando sobre a parte do casamento. Eu sei que sim, idiota, — ele tem que estar brincando. Tem. De maneira nenhuma ele está falando sério. Ele caminha só um pouquinho para frente, então a arma se enterra ainda mais profundamente em seu peito. Há um peso no seu olhar. Eu não sei o que fazer com a sua linguagem corporal, com nada do que está acontecendo agora, mas eu sei que estou começando a surtar. Ele está tão perto, eu posso sentir o seu cheiro – totalmente natural, e ainda assim viciante ao mesmo tempo. Eu não posso ter o bastante. — Por que eu não estou falando sério? — ele pergunta. Não há dúvidas de que ele está parecendo a agindo com muita seriedade, mas meu cérebro apenas não compreende a perspectiva de ele não estar brincando. — Ora! Você sabe. Você é um cara inteligente. De jeito nenhum você proporia casamento a uma garota que você conheceu sob as circunstâncias que nós nos conhecemos. Especialmente apenas um mês depois desse encontro, também. — Por que não? Oh meu Deus. Eu estou começando a pensar que ele perdeu a cabeça. — Porque você deveria namorar alguém por alguns anos, ver se você realmente quer casar com ela, Rebel. Ele faz uma cara impaciente, revirando os olhos. — Leva anos para saber se você gosta de alguém? Isso parece pura merda para mim. — Claro que não. Não foi isso que eu... — eu paro, tomo uma respiração profunda e recomeço. — Há passos que você deve seguir. Vocês devem morar juntos primeiro. — Você já mora comigo. — Você deve conhecer os pais da outra pessoa. — Você já conheceu o meu pai. Ele é um cretino total, mas você o conheceu. E, a qualquer hora que você queira, eu ficaria feliz em conhecer os seus pais. Você sabe, eu fico muito bem em um bom terno, — ele pisca para mim. Eu o ignoro, mas isso vai muito, muito além do absurdo. — Você perdeu o seu maldito juízo. Você está sendo um idiota empurrando esse assunto porque você sabe que eu vou dizer não e só quer uma reação minha.

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— Se pensar assim faz você se sentir melhor, Sophia, então está tudo bem. Embora, pensando no que você estava estudando em Seattle, a maneira como você está se comportando agora possa ser entendida como concordância. — Saia da porra do caminho, Rebel. Eu devo atirar nessas latinhas ou não? — mesmo que eu brigue com ele, percebo que ele está dizendo a verdade. Eu estou profundamente nas garras disso. Mas, inferno, eu não deveria estar? Quer dizer, que coisa mais insana de se fazer. Nós mal nos conhecemos. E eu estou mais do que um pouco intimidada pelo cara. Se e quando eu casar, vai ser com alguém que não pagou uma quantia considerável de dinheiro para me comprar de um traficante de pessoas mexicano. Eu vou conhecer o meu futuro marido intimamente. Eu vou saber a sua cor favorita e o que ele acha de Stevie Knicks. Eu vou ouvir histórias da sua infância tantas vezes que já vou sabê-las de cor. Nós vamos viajar juntos e explorar diferentes países, ver e fazer tantas coisas juntos que... que será como se nós já tivéssemos vivido todas as nossas aventuras? Que não temos mais nada a aprender um sobre o outro? Isso me acerta como um soco no estômago. As pessoas colocam tanta ênfase em conhecer o seu parceiro antes de concordar em passar o resto da vida com ele. Talvez... Deus, eu não quero sequer pensar nisso, mas não posso me parar. Quem disse que conhecer alguém tão bem é algo bom? Pode ser por isso que tantos casamentos fracassam? Porque não há mais aventuras? Nenhum segredo a ser descoberto? Nenhum mistério a ser desvendado? Eu balanço a cabeça, me obrigando a empurrar esses pensamentos da minha cabeça. Que diabos há de errado comigo? Meu pai teria um ataque cardíaco se ele soubesse o que está se passando na minha mente. Rebel está com um olhar de merda que diz eu sei no que você está pensando e eu gosto disso quando eu saio dos meus pensamentos. — Você quer atirar nas latinhas, tudo bem por mim. Você esquece que... eu vou te ter nua de qualquer forma, Sophia. É ganhar/ganhar para mim. Um estremecimento percorre a minha espinha, assim como arrepios correm pela minha pele. Essa aposta é ganhar/ganhar para ele, mas isso significa que não vai ser um ganhar/ganhar para mim também? Obedecê-lo, fazer o que ele me disser sem questionar, isso seria terrível para mim? De alguma forma eu acho que não. — Talvez eu... talvez eu esteja curiosa, — eu sussurro. ~ 127 ~


— Então por que se incomodar com a nossa pequena aula de tiro? Você é claramente uma ótima atiradora. Por que apenas não dizer, ―Jamie, eu quero que você me leve de volta para a cabana, e quero que você me mostre o que significa ser meu mestre‖? Minha mão está tremendo tanto na arma que eu estou de repente preocupada em atirar nele acidentalmente. Apesar do frio ar da noite no deserto, minhas palmas estão molhadas de suor, assim como a minha nuca. — Você me disse que eu não deveria te chamar de Jamie, — eu digo baixinho. Rebel se inclina para frente, enchendo a minha cabeça com o seu cheiro. — Oh, querida. Se você fosse dizer essas palavras para mim, eu definitivamente iria querer que você me chamasse de Jamie. Assim, pelo menos, quando eventualmente você fugir daqui como qualquer pessoa sensata faria, eu posso repetir o som da sua voz me chamando assim. E vai ser a mim. Não o cara que está lutando para manter a sua gente junta. Não o cara que não protegeu o seu tio. Não o cara que esteve procurando a irmã desaparecida do seu melhor amigo pelo que parece uma eternidade. Vai ser o cara que voltou do Afeganistão pensando que nunca iria encontrar uma mulher forte ou corajosa o bastante para prendê-lo. Eu abaixo a arma, deixando que ela fique pendurada ao meu lado. — Eu já disse a você. Eu não vou fugir. — Então parece que você é a insana aqui, não eu. — Parece que sim, — eu não posso acreditar no que estou prestes a fazer, mas eu sei que está acontecendo. Eu estou entrando nisso, uma parte de mim em pânico e assustada, mas ainda incapaz de me parar de dizer em voz alta as palavras que ele quer me ouvir dizer. — Jamie, eu quero que você me leve de volta para a cabana... Rebel se move como um tufão. Ele me pega, enrolando seus braços ao meu redor, me prendendo a ele com tanta força que parece que nossos corpos estão fundidos em um só. Ele está me beijando, então. Me beijando tão intensamente que pontos de luz começam a explodir como fogos de artíficio por baixo das minhas pálpebras fechadas. Suas mãos estão no meu cabelo, correndo por todo o meu corpo, apertando os meus seios, se movendo sobre as minhas coxas. O momento é tão inesperado e feroz que eu começo a me perguntar se eu estou imaginando isso tudo. Minha imaginação nunca foi muito boa, no entanto. Ele desliza a língua na minha boca, me explorando, me provando, e eu sigo a sua dica.

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A arma que eu estou segurando cai no chão, e então minhas mãos estão no seu cabelo, os braços enrolados em volta do seu pescoço, e ele está me levantando, então eu posso enrolar as pernas em volta da sua cintura. Suas mãos cobrem a minha bunda, me puxando para cima. Quando ele se separa do beijo, está ofegante, o peito pesado, os olhos brilhantes na leve escuridão. — Nós ainda podemos ter uma transa incrível sem você terminar essa frase, Soph. Não diga algo que você não queira. Não diga algo que você não pode tomar de volta. Uma fração de medo aperta a boca do meu estômago, mas é tudo que é – uma pequena sensação de negação. Quando eu olho nos seus olhos e vejo o que há lá dentro para mim, como me dar para ele vai me trazer muito, muito mais, esse medo enfraquece e desaparece completamente. — Eu confio em você, — eu digo a ele. Eu me inclino para frente, empurrando meus seios contra o seu peito para sussurrar no seu ouvido, — E eu quero isso. A sua reação me faz ofegar alto; ele agarra o meu cabelo com a mão direita e o prende no punho, puxando a minha cabeça para trás. — Então faça isso. Diga, — ele rosna. — Jamie, eu... eu quero que você me leve de volta para a cabana e quero que você me mostre o que significa ser meu... meu mestre. Um lento, maravilhoso e sinistro sorriso se espalha pelo rosto de Rebel. — Sophia? — ele diz. — Mmm? — Você pode não querer falar sobre isso comigo agora, mas você vai casar comigo. Você sabe disso, não é? Eu me sinto fraca e indefesa nos seus braços, mas de um jeito ruim. Eu também me sinto segura. Protegida. Em paz. Eu sei, não importa quantos outros homens eu poderia potencialmente conhecer na minha vida, não importa quão especial eles também poderiam fazer eu me sentir, eu nunca vou encontrar outro homem como ele. Eu nunca vou me sentir tão especial como ele faz eu me sentir. Eu enterro meu rosto no seu pescoço, me escondendo da verdade nos seus olhos e no meu coração. Eu não posso encarar isso ainda. É assustador demais. Rebel ri baixinho, seus ombros se movendo para cima e para baixo. Ele pressiona seus lábios contra a minha têmpora, e então se abaixa para pegar a arma que eu derrubei no chão. Eu ainda estou presa a ele, as pernas enroladas na sua cintura, os braços em volta do

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seu pescoço, quando ele atira nas latinhas que ainda permanecem de pé. — Vamos lá, querida, — ele sussurra no meu cabelo. — Vamos para casa. Hora de mostrar o que você esteve perdendo.

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Capítulo Treze REBEL Eu viro em uma esquina, inclinando a minha Monster, e as coxas de Sophia tencionam levemente. Meu pau de repente está mais duro que concreto reforçado. Foda-se Maria Rosa. Foda-se Agente Lowell. Foda-se Hector Ramirez e o pedaço de merda de homem que é o seu braço direito. Tudo que me importa agora é o que vai acontecer quando eu passar com Sophia pela porta e chegar na minha maldita cama. Eu duvido muito que vamos chegar na cama, para ser sincero. Nesse momento, assim que nós estacionarmos do lado de fora do complexo, eu provavelmente vou dobrar ela sobre a minha moto e foder com ela ali mesmo, só para aquecer a garota. Ela não tem ideia no que está se metendo. Nem uma pista sequer. Logo em frente, o complexo está iluminado contra a escuridão como um farol. Nós passamos pela enorme árvore onde Carnie encontrou o corpo de Bron enquanto nos dirigimos para casa, e eu posso sentir Soph estremecer contra mim. Não importa quanto tempo passe, essa árvore sempre vai ter uma conotação ruim para ela. Para mim também. Eu não sou alguém que geralmente sai por aí destruindo coisas vivas por vontade própria, mas faço uma nota mental para vir até aqui amanhã de manhã para acabar com essa maldita árvore. Vou usar uma picareta para cavar o toco para fora, e então eu vou preencher o buraco para que ele pareça o mesmo que o resto desta paisagem desolada. Pena, realmente. Há várias pessoas do lado de fora quando passamos os portões do complexo. Eu estaciono a minha moto ao lado de uma longa fila de máquinas atrás do celeiro. Cade está na frente do clube fumando um cigarro. Ele nos vê, me dá um aceno de cabeça rápido, mas não se aproxima. Ele vai ter coisas para me dizer – se tem alguém capaz de fazer Maria Rosa nos dar informações, é Cade – mas ele deve ver o leve aceno de cabeça que eu dou a ele. Ele vai esperar até que eu o encontre mais tarde. Depois que eu acabar meu assunto com Sophia.

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A garota ao meu lado tem queixo inclinado com orgulho. extremamente desafiante quando direção à cabana. Ela faz isso sem

os ombros empurrados para trás, o Ela ajeita a mandíbula, e parece eu gesticulo para ela me seguir em hesitar.

— Aquela mulher me odeia, — ela diz. — Que mulher? — Eu realmente não preciso perguntar, no entanto. Há apenas uma possível pessoa que ela poderia estar se referindo. Shay precisa se acalmar, ou ela vai ser chamada em meu escritório e vamos conversar. Uma conversa realmente desagradável. Sophia sacode a cabeça para a direita, onde Shay está encostada em uma das unidades de armazenamento, falando com Dex, um dos mais longos membros permanentes dos Widow Makers. Ela está olhando para Sophia, enviando a ela o mais sujo olhar imaginável. Ela parece completamente alheia ao fato de que eu estou aqui. Quando ela me notar que eu estou atirando punhais para ela, ela vai olhar para outro lado, com os olhos no chão. Quando eu era criança, Ryan me ensinou como tratar uma mulher. As maneiras sulistas são difíceis de se arrancar, independentemente de onde você acaba permanecendo e independentemente da forma como outras pessoas podem tratar o sexo frágil. Shay é algo mais, embora. Ela é o suficiente para me fazer esquecer minhas maneiras inteiramente. — Vocês costumavam dormir juntos, certo? — Pergunta Sophia. Ela é muito inteligente para seu próprio bem. Eu posso ver o olhar estranho em seu rosto com o canto do meu olho; eu sei que dizer a verdade só vai fazê-la se sentir estranha, mas eu não vou mentir para ela. Eu nunca vou. — Sim. Algumas vezes, quando ela apareceu pela primeira vez aqui. Eu pus um fim a isso muito rapidamente. — Por quê? Quero dizer, ela é uma mulher bonita. Você não acha? Eu rio, colocando minha mão não muito sutilmente na bunda de Sophia enquanto subimos o morro em direção à cabana. — Querida, uma menina pode ser a coisa mais impressionante que já andou na superfície deste planeta, mas se ela é feia por dentro, então é só uma questão de tempo antes dela acabar sendo feia por fora também. — Então ela é uma pessoa má? Eu paro para pensar sobre isso. — Não, não é má. Apenas danificada. Seriamente danificada. Este clube é uma família, apesar de tudo. Você não chuta para fora uma criança problema só porque ela têm problemas, certo? Você tenta ajudá-las.

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— E se elas simplesmente não querem ajuda? — Então você tranca elas em seus quartos até que elas começam a se comportar. — Eu realmente não pensei nisso com Shay se ela continuar a agir como uma vadia mimada. — A coisa sobre Shay é que ela odeia perder, — eu digo. — E ela pensa que eu ganhei? — Sophia soa incrivelmente divertida com esta ideia. Eu dou um tapa na bunda dela. Duro. Ela sufoca um grito, que faz o meu pau latejar na minha calça. Ela pode tentar abafar seus gritos o quanto ela quiser, mas antes da noite acabar, eu juro que ela não será capaz de ajudar a si mesma mais. Sua garganta vai estar dolorida de todos os seus gritos, na melhor forma. Assim que passamos pela porta da cabana, eu a pego em meus braços, os pés fora do chão, e ando em frente, até o outro lado do quarto para a cama. Devo levá-la de surpresa, porque Sophia fica rígida, dura como uma tábua. — Merda, — ela sussurra. Eu a jogo no colchão tão forte que ela salta. Há um olhar de medo mal disfarçado em seus olhos quando ela pisca para mim, seus seios tensos contra o material fino da sua camiseta quando ela respira para dentro e para fora rapidamente. — Você tem medo de mim, Sophia? — Eu rosno. Suas bochechas estão manchadas com um tom delicado e bastante atraente de vermelho, assim como seus lábios e a base de sua garganta. Ela engole, e depois assente. — Um pouco. — Você não precisa. Se isso funcionar, você não pode ficar nenhum pouco assustada. — Eu me agacho ao pé da cama, agarrandoa pelos tornozelos. Puxando-a para frente, eu só a solto quando suas pernas estão a cada lado de mim, os pés quase tocando o chão. Eu olho nos olhos dela e ao longo do comprimento do seu bonito corpo perfeito e sorriso. — Sente-se. Ela lentamente se ergue sobre os cotovelos, e depois se empurra na posição vertical então seus seios estão bem na linha dos meus olhos. Eles são tão incríveis, eu quero rasgar sua camisa diretamente do seu corpo e ir sobre eles, lamber e chupar, mas eu não faço isso. Eu preciso ter certeza de que ela entende o que está prestes a acontecer primeiro. E o que nunca vai acontecer. — Olhe para mim, amor, — eu sussurro. — Olhe nos meus olhos.

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Até agora ela está olhando em todos os lugares, menos para mim. É tão importante que ela saiba que eu estou dizendo a verdade quando digo o que tenho a dizer agora, no entanto. Se ela não o fizer, é provável que ela entre em pânico e eu não quero isso. Eu posso estar prestes a fazer algumas exigências graves dela, mas eu quero que ela desfrute de todas elas. Eu quero que ela goze duro no meu pau. — Soph, me diga do que você tem medo, — eu digo. Ela morde o lábio inferior com tanta força que a pele se torna branca. Eu me estico e pressiono o dedo indicador e o dedo médio contra sua boca, fazendo um som de desaprovação. Ela solta o lábio e respira fundo. — Eu estou... Eu estou com medo. Eu estou com medo de não gostar de não estar no controle. Estou com medo de não gostar que me digam o que fazer. Estou com medo... — ela tropeça sobre o que ela quer dizer, mas eu já sei o que é. Dou a ela um momento para terminar, mas quando ela não faz, eu completo a frase para ela. — Você está com medo de que você vá se sentir presa e incapaz de escapar. Você está com medo porque você acha que eu vou te tratar da maneira que Raphael quer te tratar. Te machucar. Te tirar algo que você voluntariamente não quer dar. Ela olha para o lado. Mais uma vez eu me aproximo, mas desta vez é para virar suavemente seu rosto de volta para mim. — Eu não sou Raphael. Eu não gosto de machucar mulheres. Eu nunca, nunca te forcei a fazer algo que você não queria. Nós vamos empurrar seus limites, talvez, mas ter esses limites está bem. Se você honestamente não quer tentar algo, então tudo que você precisa fazer é dizer isso e é isso. Um sorriso lento gradualmente se forma em seu rosto. — Então... vamos ter uma palavra segura? Eu rio. — Amor, ‗não‘ é a única palavra que você precisa dizer. ‗Não‘ nunca deve não ser o suficiente. — Isso faz com que o sangue ferva nas minha veias só de pensar nela dizendo não a alguém antes e não foi o suficiente. Tenho certeza que ela não gostou de Hector inspecionando-a para ver se ela era virgem. Tenho certeza que ela não gostou de Raphael arranhá-la, respirando em seu pescoço, dizendo a ela todas as coisas vis que ele queria fazer com ela. Se ele tinha tivesse levado isso mais adiante... Se ele tivesse realmente... Porra, eu não posso sequer pensar nisso. Minha raiva seria uma coisa brutal. — Obrigada, — ela diz baixinho. — ‗Não‘ é bom o suficiente para mim. ~ 134 ~


— Ótimo. Então. Você quer saber do que eu estou com medo? É muito raro Sophia parecer chocada. Ela parece agora, no entanto. É quase cômico para ser honesto, mas eu não posso rir, porque eu realmente estou pirando um pouco. Hoje não é o melhor dia para lhe dizer isso; Eu sei disso. Mas a coisa sobre momentos perfeitos é que você não sabe se ele é perfeito até que eles já passaram por você. Foda-se. Lá vai. — Estou com medo porque eu estou apaixonado por você, e eu não sei o que fazer sobre isso. — Eu soo confiante como o inferno quando eu lhe digo isso, mas a minha cabeça, na verdade, parece que está prestes a implodir. Eu só consigo soar dessa maneira porque é verdade. Eu estou apaixonado por ela. É inconveniente pra caralho e uma verdadeira surpresa para mim, mas é verdade. Os olhos de Sophia ficam maiores. Ela fica muito quieta, sem respirar ou se movimentar. Eventualmente, ela diz: — Você não está brincando, não é? Eu balanço minha cabeça. — Bem, porra. — Eu sei. Doidera, né? — Ha! — Ela olha para mim, e eu acho que ela não está realmente acreditando nisso. Não acreditando em mim, de qualquer maneira. Eu posso dizer pelo olhar levemente irritado em seu rosto. — Isso é muito baixo, — diz ela. Ela enlaça com os dedos juntos, segurando firmemente, os nós dos dedos brancos. — Por que você faria isso? Por que você iria me dizer isso? — Porque... Eu nunca disse a ninguém antes. Parecia que era a coisa certa a fazer. — Você nunca disse a ninguém que amava antes? — Não. Nunca. — E o seu... — Eu sei que ela ia dizer meu pai, e eu sei que ela então percebeu o quão estúpido isso seria; eu observo tudo aparecer em seu rosto. — E o seu tio, então? — Diz ela. — E Ryan? — Não. Nunca. Ele era um cara muito duro. Eu sei que ele me amou do jeito dele, mas ele nunca disse isso. Eu acho que ele teria chutado a minha bunda se eu tivesse dito a ele. ~ 135 ~


— E nunca houve quaisquer meninas que você namorou? Você... você nunca se apaixonou por alguma delas? — Ela está começando a soar incrédula. Eu não sei se eu deveria estar ofendido, ou se eu deveria estar achando sua descrença total e absoluta divertida. — Não. Nunca me apaixonei. — Mas você é... — Eu sou o que? — Você é incrivelmente gostoso! Eu só... Eu não posso... — Deite-se na cama, Soph. — O quê? — Mas você não... você acabou de me dizer que você está apaixonado por mim. Eu não pode... — Sophia cobre o rosto com as mãos, balançando a cabeça de um lado para o outro. Ela não está lidando bem com esta nova informação. Eu me levanto, estalo meu pescoço, e então eu a empurro de costas, provocando um grito estrangulado dela. — Que porra é essa? — Eu sou seu mestre hoje a noite, lembre-se disso. É hora de você começar a fazer o que lhe mandam. Ela para outra vez, me encarando - parece que é tudo que ela tem feito nos últimos quinze minutos, como se eu fosse uma estranha criatura e ela não pode compreender - e em seguida ela deixa suas mãos caírem de cada lado dela na cama. — Ok, — diz ela. — Certo, tudo bem. Me mostre. Eu vou para a escrivaninha do outro lado do quarto, abro a gaveta superior esquerda, e tiro um par de tesouras. Elas são velhas. Realmente velhas. Elas têm Winchester Gun Co. gravado no punho, e elas são realmente muito afiadas. O rosto de Sophia fica em branco quando ela vê. Ela não se opõe, no entanto. Ela não se levanta e vai para a porta. Ela permanece onde eu a deixei na cama, me olhando com cautela. — O que você vai fazer com isso? — Ela pergunta, sua voz plana. — Eu vou te mostrar. Nós vamos passar por algumas regras, no entanto, amor. Você vai obedecê-las?

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— Eu não deveria provavelmente saber quais são elas primeiro? — Não, você não deve. Esse é o ponto todo. — Eu só joguei este jogo com três outras mulheres, e quase cada um delas hesitou aqui. Não é da natureza de uma pessoa aceitar barganhas ou concordar com as coisas sem conhecimento prévio de suas responsabilidades em antemão. No entanto, Sophia me choca quando ela não diz nada. — Ok, então. Vou obedecer suas regras. — Sua voz não vacila. Ela quer dizer o que ela disse, isso é claro, e o efeito que o meu corpo tem é insano. Eu nunca estive tão orgulhoso em toda a minha vida. — Boa menina. Regra número um: quando eu te disser para fazer algo, você faça imediatamente, sem dúvida. Essa é simples. Número dois: não fale até que você seja autorizada, ou haverá consequências. Número três: você não goza sem a minha permissão. Simples, não? Você acha que pode lidar com isso? — Sim. Eu posso. — Ok. De agora em diante, estamos operando sob estas regras. Comecemos? — Sim. — A resposta dela é alta o suficiente para eu ouvir, mas eu posso ver isso em seus olhos: ela está intrigada. Tenho certeza de que Matt-o-ex-chato nunca fez nada nem remotamente diferente; Essa é provavelmente vai ser uma verdadeira educação para a minha pobre Sophia. Eu faço o meu caminho de volta para a cama, a tesoura na mão, e eu subo no colchão de joelhos ao lado dela. Ela ainda está parada, observando o objeto afiado e prata na minha mão com apenas a quantidade certa de trepidação para me dizer que ela está preocupada com o que vem a seguir. Eu começo em seu tornozelo direito, pegando cada barra de sua calça jeans e depois abro a tesoura, deslizando a lâmina inferior debaixo de sua roupa. Sophia suga uma respiração forte, mas ainda fica quieta, assim como ela deveria. Há compreensão em seu rosto, agora que ela sabe o que eu estou prestes a fazer, e na verdade ela parece um pouco aliviada. A tesoura corta o material facilmente; Eu poderia provavelmente apenas subir e cortar do seu tornozelo até sua cintura em poucos segundos, mas onde estaria a diversão nisso. Essa é uma experiência sensorial, depois de tudo. O som da tesoura cortando polegada por polegada é metade da diversão. E Sophia sentir o frio metal e duro contra sua pele quente é outra parte muito grande também. Ela engasga

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a primeira vez que eu coloco a parte plana da lâmina inferior contra sua panturrilha. Eu não deixo lá por muito tempo. Eu não quero que o metal aqueça e, além disso, muito contato irá descensibilizá-la. Ela vai se acostumar com a sensação e não será mais chocante. Quando eu chego ao meio da coxa, eu vou mesmo mais lento. Ela está respirando rápido, sem olhar para o pedaço de metal na minha mão ou o que estou fazendo com suas roupas. Ela me olha com a boca ligeiramente aberta, a ponta da sua língua se lançando para molhar os lábios, o olhar um pouco dopado em seus olhos, e é tudo o que posso fazer para me impedir de abandonar a tesoura e rasgar suas roupas malditas com meus dentes. Meu pau duro está cavando meu jeans, começando a pulsar como um filho da puta, mas isso é muito delicioso para parar. Vou esperar até que a dor atinja níveis insuportáveis antes de eu parar o meu joguinho e reorganizar, de modo a que as coisas fiquem um pouco mais confortáveis. Sophia enrijece um pouco quando eu corto através do lado direito da calça jeans, bem no topo, através de sua cintura. Afasto o material da sua perna, eu vejo a calcinha preta rendada pela primeira vez e meu sangue começa a rugir através do meu corpo, o sangue correndo através de minhas veias, indo a uma direção: meu pau. Antes de notar, eu alcanço esse nível insuportável de dor e eu tenho que ajustar o meu pau. Sophia me observa fazer isso, parecendo tímida ainda que com fome, ao mesmo tempo. Eu mal posso esperar para destruir suas roupas para que eu possa enterrar a minha língua na sua buceta. Eu mal posso esperar para provar seu gozo em toda a minha língua, doce e deliciosa e toda minha. E eu realmente mal posso esperar até que ela esteja cavando suas unhas em minhas costas, desesperadamente tentando não fazer nenhum som para não me desagradar, enquanto eu fodo com ela tão duro que todo o seu corpo treme. Eu me inclino para baixo e coloco um beijo leve em seu quadril exposto, guerreando comigo mesmo enquanto eu luto para não levar as coisas mais longe. A beijo novamente. Um pouco para a esquerda. Um pouco mais para baixo. Sei que ela está sentindo a mesma expectativa que eu quando ela levanta seus quadris alguns milímetros; ela percebe e congela quase de imediato, mas eu me sento no meu calcanhar, dando a ela um olhar de advertência. — Cuidado, amor. Essa foi por pouco. Ela abre a boca, querendo dizer alguma coisa, mas mais uma vez ela para a si mesma. Ela é boa neste jogo até agora, mas as coisas não ~ 138 ~


nem começaram a ficar difíceis para ela ainda. Não muito tempo a partir de agora, ele vai levar tudo o que ela tem para permanecer em silêncio, e eu vou saborear o momento em que ela quebrar uma das minhas regras. Vai ser absolutamente perfeito. Eu corto a outra perna da calça jeans, olhando para ela lutando paras se manter parada o tempo todo, e então eu levo a tesoura para a camisa que ela está usando. Corto as mangas, e depois pelo meio, mordendo de volta um sorriso cada vez que ela se contrai quando o metal frio faz contato com sua barriga, braço, peito. — Levante-se, — eu digo a ela. — Fique aqui, na minha frente. Ela sai das ruínas de suas roupas, as deixando para trás na cama, e é quase como se ela estivesse deixando para trás a parte com medo dela. Eu recolho o material e despejo no chão no final da cama, e então eu sento na borda do colchão, observando-a em sua calcinha. Ela não se cobre ou se encolhe. Ela simplesmente fica ali, esperando pelo meu próximo comando. Ela é boa nisso. Perfeita, na verdade. — Venha aqui, — eu digo, abrindo minhas pernas para que ela possa ficar entre elas. Ela dá dois passos para frente de modo que ela está exatamente onde eu quero que ela esteja. Há apenas uma centelha de dúvida em seus olhos quando eu levanto a tesoura e lentamente deslizo a lâmina sob o tecido rendado da sua calcinha em seu quadril esquerdo. O barulho suave do metal cortando o laço é o único som no quarto. Eu corto o material no outro quadril também, e sua calcinha caindo, nada para segurá-la mais. Agora ela fica impaciente. Ela muda de um pé para o outro, pressionando as coxas, e eu paro. — Você quer que eu te puna, não é, amor. Você está pedindo para ter problemas. — Mais uma vez, ela quer falar, mas ela não faz. Ela franze a testa para mim em vez disso, seus dedos enrolando em punhos em seus lados. Ela é autoconsciente. Deus sabe por que, ela tem o corpo mais incrivelmente sexy, mas ela é, eu posso dizer. Ela não quer que eu veja um lado dela que ninguém nunca viu. Mas eu vi. Eu tenho ido para baixo nela com frequência suficiente para estar em muito bons termos com essa parte do seu corpo. Eu estou disposto a colocar dinheiro no fato de que seu ex não foi lá nela. Não corretamente. Ele deve ter feito ela se sentir confortável com seu corpo. Ela não sabe que sua buceta é bonita, que eu poderia felizmente olhar para ela durante todo o dia enquanto eu faço ela gozar, e ela teria uma luta em suas mãos se ela tentasse me parar.

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Eu pego a tesoura e corro a partir de um par de polegadas abaixo de sua barriga por todo o caminho até eu acertar as alças de seu sutiã. Ela sabe o que vem a seguir. Suas mãos fazem punhos novamente e desta vez elas não desenrolam. Ela olha para cima, para longe de mim, os olhos fixos em um ponto na parede. Seus ombros levantam para cima e para baixo rapidamente, como se ela estivesse com medo de que eu vá cortá-la. Ela sabe que eu não vou, apesar de tudo. Ela não é uma mulher tímida. Ela estaria correndo de mim em um segundo se ela achasse que eu iria lhe fazer qualquer dano. Eu amo isso sobre ela. Ela ainda está se concentrando na parede quando eu corto o pano grosso entre os copos do sutiã, liberando seus seios. — Tire ele, amor, — Eu rosno. Seus olhos encontram os meus novamente, deslizando as tiras finas que eu tenho deixado intactas sobre os ombros pelos seus braços. Completamente nua, ela está na minha frente como uma estátua, sem se mover, sem dizer nada, fazendo exatamente o que eu disse a ela para fazer. Sua obediência é notável, dado que eu sei que ela quer se cobrir. Eu coloco a tesoura no chão e a chuto debaixo da cama para que esteja fora do caminho, e então eu lhe digo o que eu quero dela. — De joelhos, Soph. Seja uma boa menina agora. Ela me dá um olhar afiado, os olhos apertados, mas ela para só por um segundo antes dela se abaixar de joelhos. Eu estou pensando que ela deve estar muito satisfeita com o fato de que sua buceta não está no meu nível dos olhos agora, mas mal sabe ela que isso está prestes a mudar. — Ótimo. Agora abra as pernas para mim, amor. — Mas, — Ela fecha a boca tão rapidamente quanto ela abriu, mas é tarde demais, o dano já foi feito. — Oh querida... — Eu envio a ela o meu mais fodido e soberbo sorriso. — Parece que alguém quebrou uma regra. — Oh, qual é, eu não queria. Eu... — Você fez de novo. E lá estava eu pensando que você estava indo tão bem — Eu tento o meu melhor não rir quando eu avisto a expressão mortificada ela está usando; ela deve ter estado contando com o fato de que ela não ia quebrar as minhas regras, e agora parece que ela fez isso duas vezes.

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Ela quer se defender, dizer que não era culpa dela, que eu a provoquei, mas ela consegue se impedir de falar neste momento. Que pena, porque acumular três punições em menos de um minuto teria sido um recorde. — Você sabe que eu tenho que te ensinar uma lição agora, querida. Eu não posso deixar isso escapar. Eu faria se pudesse, mas... sabe... regras são regras e tal. Abra suas pernas para mim, princesa e eu vou pegar leve com você. Sophia revira os olhos e suspira, presumivelmente, se resignando ao seu destino. Sem outra palavra, ela faz como eu disse a ela, abrindo para mim. Ela não abre só um pouco. Ela empurra as pernas tanto quanto ela pode fazer nesta posição, se expondo a mim. — Boa menina. Agora deite-se sobre os calcanhares, para que eles ainda estejam debaixo de você, mas suas costas estejam se arqueando para longe do chão. — Ela faz o que ela disse novamente. Nesta posição, seus seios estão perto das minhas mãos quando eu afundo no chão e continuo a descer sobre ela. Alguns homens gostam dirigir seus carros rapidamente. Alguns caras pescam. Mas isso, aqui mesmo, chupar Sophia, é o meu passatempo favorito. Eu sei que ela adora, mesmo que ela goste de pensar que é embaraçoso. É quente pra caralho. Ela é gostosa demais. Estou dolorosamente consciente do fato de que eu estou completamente vestido quando eu bato minha língua lentamente no clitóris de Sophia. Mas isso é parte da sua punição. Eu não vou ficar nu com ela agora. Eu não vou transar com ela também, não importa o quanto minhas bolas estejam doendo. Vou provocar Sophia, enviar onda após onda de prazer através do seu corpo. Vou fazê-la suar e se contorcer e gemer, e quando ela gozar, será o melhor orgasmo de sua vida. E depois, quando ela estiver saciada e mole, o sono rolando sobre ela, eu vou dizer a ela que da próxima vez eu vou parar bem antes dela gozar se ela se comportar mal de novo. E eu vou deixá-la bem assim sem pensar duas vezes. Então é isso que eu faço. A tentativa de Soph de ficar quieta e manter a calma é boa, mas na minha cabeça meu palpite é apenas quatro minutos antes dela se perder completamente. Ela não parece nem mesmo ciente de que ela está resistindo e moendo seus quadris contra minha boca - que, aliás, me deixa louco pra porra. Ela é tão bonita. Eu assisto a pura felicidade em seu rosto enquanto eu continuo a usar a minha língua para trazê-la para mais perto e mais perto de gozar, e pela primeira vez desde que eu tinha quatorze anos, eu quase ~ 141 ~


acabo fazendo uma bagunça nas minhas calças. Ela está praticamente rasgando as tábuas do assoalho com suas mãos quando ela finalmente goza. É a coisa mais espetacular e incrível para ver. Suas costas arqueiam do chão, o peito arfando, as coxas apertadas firmemente em torno da minha cabeça, e ela grita. Ela grita alto o suficiente para que os caras no clube devam agora supor que eu estou assassinando ela, ou que estamos fodendo duro. Quando seu corpo pára de tremer, Sophia olha para mim com os olhos semicerrados e faz uma careta. — Estou com um problema sério agora, não é? — Diz ela, sem fôlego. Eu rio, e então eu dou uma tapinha em sua coxa, o que não parece diverti-la tanto quanto isso me diverte. — Oh, sim, garota. Você não tem absolutamente nenhuma ideia do que eu posso fazer com você agora. A única coisa que você vai te salvar agora é aquela tatuagem que falamos. — De jeito nenhum! Eu não vou ser tatuada. — Veremos. — Eu rastejo até o seu corpo, colocando beijos em sua pele quente, com cheiro doce. Estou praticamente babando sobre ela quando eu chego a sua boca. — Eu acho que você deveria estar dentro de mim agora, — ela diz através dos nossos beijos. A maneira como ela diz, a maneira que essas palavras soam vindo de seus lábios cheios e beijáveis, quase me faz explodir. Eu me mantenho firme, apesar de tudo. — Desculpe, amor. Você foi uma menina má. Apenas boas meninas conseguem o que querem. Eu a deixei ali no chão, nua e ainda ofegante.

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Capítulo Catorze REBEL Cade não está no clube. Normalmente, depois de levar uma menina até a minha cabana por um par de horas e depois reaparecer parecendo frustrado como a porra, eu reúno algumas vaias dos outros Widow Makers, mas esta noite o clima está bêbado e sombrio demais. Depois do curto e simples funeral de Bron, ninguém está no humor para piadas. Eles estão com vontade de foder e lutar. Três cadeiras e uma mesa foram esmagadas até a hora que consegui chegar até o bar da casa do clube e subir as escadas de volta para o punhado de quartos que temos lá em cima. Ninguém vive aqui permanentemente. Os Widow Makers tiveram que escolher viver na cidade com as suas famílias, ou ter quartos nas muitas dependências que compõem o complexo. Isso é provavelmente porque as pessoas pensam que somos algum tipo de fodida seita de sexo. Cade tem um lugar encima do Dead Man‘s Ink na cidade, mas ele não deve ter ido para lá esta noite. Não sem falar comigo primeiro. Ele vai estar escondido em um quarto que é permanentemente reservado para ele no andar de cima, esperando para derramar qualquer besteira que Maria Rosa lhe disse quando deixei os dois sozinhos. Eu bato meu punho contra a última porta à direita, não me surpreendendo quando Cade abre imediatamente. Ele deve ter ouvido as minhas botas vindo pelo corredor. Um presente dos Fuzileiros Navais dos EUA: a capacidade de ouvir um homem se aproximar de você a partir de uma milha de distância. Semper Fi18. Meu companheiro de batalha parece absolutamente exausto. Ele dá um passo para trás para que eu possa entrar no quarto, que é Semper fi ou semper fidelis é uma expressão em latim que significa ‗sempre fiel‘, na tradução para o português. Esta frase é conhecida por ser o lema do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América – United States Marine Corps. 18

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grande e arrumado. Ele me bate nas costas, me dando um sorriso cansado. — Você parece muito melhor do que antes, cara. Eu acho que você saiu de lá no momento certo. — Ela disse alguma coisa? Ele balança a cabeça. — Não. Ela tentou me convencer a foder, no entanto. — O que há errado com aquela mulher? Ela leva um tiro e se afoga, e no momento seguinte ela está tentando te fazer enfiar o pau nela? — Cade me dá um olhar triste que me diz que poderia ter sido pior do que isso. — Jesus. Eu acho que não quero saber, — eu digo a ele. — Tenho certeza que não. Vamos. Vamos fazer isso. — Cade sabe onde temos que ir. Ele sabe o que tem que ser feito também. Raphael Dela Vega já poluiu o chão de Widow Makers por muito tempo. Eu não quero ele aqui, assustando Sophia, causando problemas entre os sócios do clube. Eles sabem que o braço direito de Hector Ramirez está em uma das celas debaixo do celeiro. Não vai demorar muito para que alguém esteja sugerindo cortar as extremidades do filho da puta e enviá-los de volta para Ramirez em sacos. O cara tem que ir. De maneira nenhuma vamos enviá-lo de volta ao seu empregador, apesar de tudo. Não. De jeito nenhum isso vai acontecer. Se eu estou sendo honesto, eu prefiro decepar as extremidades e as deixar para Ramirez encontrar, da mesma forma que ele fez com a pobre Bronwyn, mas não temos tempo para isso. Tiros disparados? Um comboio de carros estranhos e pretos, sem licença, vindo de fora da cidade, direto para nós? É um maldito milagre que a mulher de Lowell não esteja martelando os portões. Não havia nada a ser feito sobre ele até o anoitecer, no entanto. Com um rifle com luneta paranoico talvez, mas uma possibilidade - teria sido muito fácil detectar um par de rapazes brigando com um cara mexicano em plena luz do dia. Agora só temos que esperar que se Lowell está lá fora e ela tem as pessoas nos observando, eles não tenham imagem de calor ou visão noturna. Se tiverem, nós vamos estar fodidos. Há um motim maldito se desdobrando no bar no térreo quando Cade e eu nos esgueiramos por trás. Normalmente eu já vou direto, mas é melhor para todos os envolvidos se os caras continuarem fazendo bagunça aqui em vez de nos seguir. Lá fora, o ar do deserto é frio e o céu é uma explosão de estrelas.

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Cade corre através do pátio - ainda há sangue por toda parte. Eu deveria fazer Maria Rosa limpar sua bagunça do caralho - e abre a porta do celeiro e entra. Ele segura a porta aberta para mim, e então nós estamos envoltos na escuridão. Uma chama amarela pálida aparece, o que faz longas sombras estreitas se estender até às vigas do celeiro. Cade parece com algum tipo de personagem de filme de terror quando ele segura o isqueiro, iluminando a sua cara. — Você quer que eu ligo o gerador? — Não. Só iria chamar a atenção. Escuro é melhor. Eu estou lamentando as minhas palavras dois segundos mais tarde, quando Cade está caindo de lado, batendo em mim, sibilando baixinho. Ele cai com força, quase me levando com ele. O isqueiro cai da sua mão, deslizando pelo chão de concreto, embora a chama permaneça acesa, bruxelando, em seguida, se fortalecendo novamente. — Que diabos, cara? — Eu agarro Cade pelo ombro, tentando puxá-lo para a metade escura. Ele resmunga, e depois há o som... o som de uma segunda pessoa gemendo? O quê? Ninguém mais deveria estar aqui. Ninguém mais deveria até mesmo saber que temos pessoas no porão. Minha mão está chegando para a arma na minha cintura quando Cade xinga alto. — Porra, não. Droga, é Carnie. — Carnie? Há mais gemidos. Cade fica de pé, movendo sua estatura considerável para fora do caminho, e então eu posso ver Carnie à luz escassa do isqueiro. Pelo que dá pra ver, ele está deitada de costas, um longo corte de cinco centímetros em sua testa direita. Suas pálpebras abrem, mas até mesmo a partir daqui eu posso ver que seus olhos não estão funcionando corretamente, não parecem estar centrados sobre os homens que estão sobre ele. — O que aconteceu? — Exige Cade. — O que diabos você está fazendo aqui em cima, desmaiado no frio, cara? — Ele balança Carnie duramente, que parece estar ajudando. — Uh... eu estava... porra. Eu estava... indo pegar um pouco de comida para a Mãe e o outro. Eu abri o cadeado na escotilha e ele... ele pulou para fora. Ele tinha a perna de uma cadeira quebrada em suas mãos. Ele deve ter me atingido na cabeça com isso.

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Quando entrei novamente no clube e Cade me disse que Ryan tinha sido morto, demorei para processar o que ele estava dizendo para mim. Levei um minuto ou dois para compreender o que ele estava me dizendo. Não desta vez. Assim que as palavras estão fora da boca de Carnie, estou em modo de luta, já prevendo o que virá a seguir. Temendo isso com cada fibra do meu ser. Eu agarro Carnie pelo colarinho do seu colete, o puxando para fora do chão assim que meu rosto está no seu. — Quanto tempo? Foi há quanto tempo? — Eu grito. — Eu não... eu não sei. Que horas são? — Carnie ainda está lutando para formar as palavras. Significa que ele provavelmente foi atingido na cabeça muito duro. Isso também significa que ele poderia ter apagado por uma quantidade considerável de tempo, também. Eu me afasto e ele cai no chão como um saco de farinha. Isso não pode estar acontecendo. Não pode. — Porra! Cade saca sua arma e endurece sua mandíbula. Ele sabe o que isso significa também. Raphael Dela Vega é um bastardo desequilibrado sem senso de autopreservação. Ele não pode ter fugido do complexo. Ainda não. Ele está fissurado em uma coisa e uma única coisa por um longo tempo agora, e ele não vai sair daqui até que ele consiga o que ele está sonhando. Ele esteve sonhando com Sophia.

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Capítulo Quinze SOPHIA Quando a noite cai sobre o deserto, de repente parece que o mundo deixa de existir. Lá fora, além das luzes e sons do complexo, os bêbados gritando e o rugido furioso de motores de motos, não há nada mais do que um mar de tinta preta e um vazio infinito que se estende para tão longe quanto a minha mente pode imaginar em todas as direções. Não, não há estradas ou lojas em geral. Não há bares ou restaurantes. O complexo parece tão isolado e sozinho. Meio que me assusta. Meu corpo ainda está cantarolando pelos cuidados de Rebel quando eu me levanto e afasto as cortinas em todas as janelas. Deus sabe para onde ele foi. Eu realmente não tive a chance de perguntar a ele antes dele fugir da cabana, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. Ele sabia exatamente o quão cruel ele estava sendo quando ele decidiu não ficar e fazer sexo comigo. Não pode ter sido agradável para ele também, mas ainda assim... o cara é mau. Eu estou sorrindo como uma idiota enquanto penso nisso, porém. Sorrindo tão duro meu rosto dói. Ele me transformou em uma espécie de adolescente patética, o que é irônico, porque eu nunca fui assim naquela época. No ensino médio, eu era motivada pela necessidade de me destacar em minha escola, e definitivamente não ir atrás da atenção dos rapazes. E agora aqui estou eu, virando as costas para os meus estudos, a fim de estar com a pessoa mais inadequada sobre a face da terra. Mas, dizendo isso, talvez ele não seja a pessoa mais inadequada. De qualquer outra coisa, ele seria o melhor cara para levar para os pais conhecerem. Ele é inteligente. Ele é um cavalheiro (na maior parte). Ele estava no exército. Ele foi para o MIT, pelo amor de Deus. Mas... ele também é o chefe de um clube de motoqueiros. O que mamãe e papai diriam se soubessem o que eu estava fazendo agora? Uma pontada de culpa passa por mim do nada quando eu

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realmente dou conta do que eles provavelmente acreditam que me aconteceu até agora. Eles devem acreditar que fui assassinada. De jeito nenhum no mundo eles iriam acreditar que eu apenas decidi não voltar para casa quando foi dada a oportunidade. Então eu não devo ter tido essa oportunidade. Eles devem pensar que fui esfaqueada ou baleada, ou pior, que eu fui estuprada e espancada até a morte. Deus, eu sou a pior pessoa na face da terra por deixá-los pensando uma coisa dessas. Meu coração parece como um balão de chumbo em meu peito enquanto eu procuro novas roupas para colocar. Eu deveria ligar para eles. Eu deveria apenas deixar de ser uma covarde, e eu deveria dizer a eles que estou bem, mesmo se eu acabar machucando-os por não voltar para Seattle. Imediatamente. Não vou voltar a Seattle imediatamente. Vou ter que voltar em algum momento. Não é? Eu não posso me esconder aqui para sempre. A camiseta que eu roubei do armário de Rebel está limpa e macia e cheira deliciosamente como ele quando eu a puxo sobre a minha cabeça. A minha moral começa a girar. Por que eu não posso ficar aqui por um tempo? Pelo menos até que tudo com Ramirez se ajeite. Tenho excelentes notas. Eu poderia voltar para a faculdade no próximo ano, se eu quiser. Pode haver até mesmo uma faculdade em Novo México, eEu não posso deixar de sorrir quando eu ouço a porta da cabana ranger. Ele estava se achando o espertão quando ele deu o fora daqui, me deixando no chão, precisando de muito mais dele. E agora olhe só. Ele está de volta em menos de dez minutos, sem dúvida pronto para me ensinar uma lição. Eu termino de puxar a camiseta sobre a minha cabeça, mas depois há mãos em minhas mãos, me acalmando. Estou seminua, apenas a minha cabeça e ombros cobertos pelo material macio e escuro. Algo sobre isso é tão bizarro. Estou essencialmente com os olhos vendados para todas as intenções e propósitos. Ele não podia fazer qualquer comigo e eu nunca iria vê-lo chegando. — Então, — eu digo sem fôlego. — Você mudou de ideia. Isso vai fazer parte da minha punição? — Mmm-hmm. Sua barba arranha meus ombros, minha pele imediatamente irrompendo em arrepios quando ele coloca seus lábios contra a curva

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do meu pescoço. Lentamente, suas mãos viajam das minhas por meus braços até que eles estão pairando acima dos meus seios. Eu quero que ele me toque. Eu quero tanto que ele me toque. Eu arqueio as minhas costas, pressionando meus seios para cima, recuperando o fôlego na minha garganta, esperando que ele deslize suavemente as palmas das mãos para baixo, seguindo as curvas do meu corpo. No entanto, quando ele vai mover as mãos para baixo, não é delicadamente. Ele segura os meus seios, agarrando com os dedos rígidos e calejados, e então ele aperta tão forte que eu sou momentaneamente cega pela dor. — Ahhhh! O que... que diabos? Não! Pare! — Por um segundo, através da minha confusão, penso que esta é a punição verdadeira que Rebel estava falando e fico assustada. Muito, muito assustada. E então ele me bate. De jeito nenhum Rebel iria lidar com o meu corpo assim. Como se ele o odiasse e quisesse feri-lo. Eu posso não ter estado com ele durante anos e anos, posso não saber qual sua cor favorita é, ou todas as suas histórias de infância, mas eu sei que ele nunca faria isso comigo. Nunca em um milhão de anos. O que significa… Terror é uma coisa viva, respirando, serpenteando o seu caminho através das minhas entranhas. Oh, Deus, não... Oh, Deus, não. Meu corpo inteiro trava quando eu ouço o som muito familiar de um riso maligno no meu ouvido. — Oh, eu sabia que teria uma pequena e bonita buceta. Eu sabia que você amaria eu beliscando seus peitos perfeitos assim. Raphael. Raphael está aqui, com as mãos sobre mim, me tocando. Me machucando. Eu tento arrastar uma respiração, mas é impossível. Meu peito parece estar em um torno e eu nunca vou desvencilhar. Meu cérebro finalmente percebe a minha dificuldade para respirar com o fato de que Raphael enredou um de seus braços ao redor do meu peito e está apertando com força. Os próximos três segundos são um borrão. Eu rasgo a camiseta para longe da minha cabeça, o que me deixa completamente nua. Melhor nua do que cega, apesar de tudo. Eu empurro meus ~ 149 ~


cotovelos para trás, os batendo no corpo de Raphael, entrando em contato com suas costelas e seu braço. Ele não me solta, apesar de tudo. Se qualquer coisa, seu aperto aumenta ainda mais. — SAI DE CIMA DE MIM! ME DEIXE IR! — Eu não vou te deixar ir, princesa. Não dessa vez. Desta vez você é minha. Lute, cadela. Lute comigo. Vamos lá... me faça acreditar. — Eu não posso ver seu rosto, mas eu posso ouvir o desdém em sua voz. Ele está amando a luta quase tanto quanto ele me odeia. Porque é verdade. Ele me despreza. Ele é o tipo de homem que odeia todas as mulheres puramente por causa do seu sexo. Eu sei que nada que eu diga vai me tirar desta situação. Vou ter que lutar para sair disso, e eu vou ter que ser esperta também. Estou tomada pelo pânico e medo, mas de alguma forma o meu cérebro ainda está funcionando. Através de tudo o que está acontecendo, me sentindo encurralada e, finalmente, aterrorizada, eu consigo formar um pensamento coerente: pare de dar o que ele quer. Eu caio mole em seus braços. — Que? — Ele está chocado com a minha resposta. Eu bancando a desmaiada era a última coisa que ele deve ter esperado. Tenho certeza que ele sabe exatamente o que eu estou fazendo, mas agora ele tem que fazer alguma coisa comigo. Ele tem que me abaixar ou me girar ou... ou algo assim. Eu sei, e ele sabe disso também. — Você se acha tão esperta, hein, Puta. Tão inteligente. Você sempre acha que está um passo à frente de mim. Bem, você não está. — Eu percebo que ele está certo quando ele rapidamente se mexe e envolve um dos seus braços ao redor do meu pescoço, aplicando pressão. Porra. Ele vai tentar me sufocar. — Não se preocupe, princesa. Você vai estar dormindo em breve. Vou ter muito divertimento com você enquanto você estiver dormindo. E quando você acordar, você vai ficar amarrada e me implorando para te fazer desmaiar novamente. Não vai? Não vai, sua pequena vagabunda. — Ele prepara os músculos, apertando tudo quando ele recua, aplicando ainda mais pressão contra a minha traqueia. Minha cabeça já está girando. Luzes piscam em minha visão, flutuando como moscas bêbadas. Meus braços parecem fracos; parece que meus braços estão embaralhados, tentando ficar livre. Isso não vai funcionar. Muito fraca. Muito tonta. Sem força. Não pode...

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Eu recuo, as unhas arranhando o material de sua camisa, em busca de... em busca de Deus sabe o que. Meus saltos martelam contra as tábuas do piso quando Raphael me ergue mais alto, colocando ainda mais pressão no meu pescoço. Tenho segundos. Meros segundos para sair disso, ou vai estar tudo acabado. Vou desmaiar e eu não vou querer acordar de novo, sabendo o que ele terá feito comigo enquanto eu estive desmaiada. Meus dedos de repente batem em algo carnudo, algo macio. A cara dele. Eu continuo lutando, arranhando, tentando agarrar a ele, mas isso não está funcionando. Não está funcionando. Raphael começa a rir de novo - uma gargalhada maníaca que soa desequilibrada. Estou a ponto de perder a consciência, mas a loucura nesse riso me dá a força para um último empurrão. Uma última garra em sua pele. Eu sinto algo molhado e úmido embaixo dos meus dedos, e eu sei o que é isso, a minha última chance. Raphael tenta balançar a cabeça, se afastar, mas eu forço minha própria cabeça para trás, jogando meu crânio contra o que parece seu nariz, e depois o meu dedo indicador está cavando nessa área macia da carne que toquei uma segundo atrás. Não é óssea. Não é bochecha. Não é queixo. Não. Meu dedo está cavando diretamente em seu globo ocular, e Raphael está gritando. Eu sei que eu fiz algum dano grave quando ele me solta como uma brasa quente e agarra ambas as mãos ao rosto. O mundo está de repente em uma cor; minha cabeça parece que está dividindo além do brilho e intensidade disso. Sangue bate nas minhas veias, correndo enquanto eu tento e rastejar para longe dele. — PERRA DE MIERDA! — Raphael tropeça na parede ao lado dele e depois a soca, deixando uma mancha de sangue no reboco. Eu não posso dizer se é a partir da ação de realmente bater na parede ou se é do seu olho. Um rio de sangue corre pelo seu rosto e sua pálpebra esquerda está inchada e fechada, e líquido está escorrendo. Com apenas um olho aberto, ele me vê no chão e solta um grito que arrepia até minha essência. Eu deveria ter me movido mais rápido. Eu deveria ter estado de pé e correndo assim que ele me soltou. Eu não conseguia respirar, embora. Eu mal podia ver direito. Ele cai sobre mim, agarrando meu tornozelo e me arrastando em toda o quarto em direção à cama. — Você não deveria ter feito isso, sua puta psicótica, — ele rosna. — Você é uma boa menina católica, princesa? É? — Ele me dá um tapa forte no rosto, pousando o golpe em ~ 151 ~


meu ouvido. Um lamento vibra pela minha cabeça. Quando o som morre, Raphael está gritando obscenidades para mim, empurrando seu rosto no meu, cuspindo em todos os lugares. — Eu vou fazer você desejar nunca ter nascido. Vou foder você. Eu vou fazer você sofrer. Você trouxe isso pra si mesma. — Ele me bate de novo, fazendo minha cabeça girar com a força do seu golpe. Com a mão direita, ele aperta a minha cabeça nas tábuas com tanta força que posso sentir a pele acima da minha sobrancelha se dividir. Parece que meu crânio está prestes a se abrir. Com a outra mão, Raphael começa a desfazer com o cinto em volta da cintura. Não é preciso muito para imaginar o que virá a seguir. Eu fecho meus olhos, tentando pensar em algo. Tentando encontrar uma maneira de sair disso. É quando eu abro os olhos, o som do zíper de Rafael abrindo me trazendo de volta à realidade, que vejo a minha salvação. Eu não tenho muito tempo. Eu alcanço debaixo da cama. Eu me estico. Eu me estico com tanta força que parece que meu ombro está prestes a deslocar. Eu fecho meus dedos em torno do metal frio. E então eu estou torcendo o melhor que posso com a minha cabeça que está sendo pressionada no chão, e eu estou apunhalando e apunhalando e apunhalando. Eu só paro quando Raphael Dela Vega desaba em cima de mim, um peso morto pesado, bombeamento longos jatos, quentes do sangue arterial por todo o meu corpo nu. — Ohmeudeusohmeudeusohmeudeus. — Eu o empurro de cima de mim, e então eu estou me levantando, recuando até que meus ombros batem na parede e eu não posso ir mais longe. Merda. Merda! Eu aperto as minhas duas mãos sobre minha boca, tentando não ver a bagunça que eu fiz com Raphael. Eu quero olhar para longe, mas eu não posso. Meus olhos estão fixos no par brilhante de tesouras - Winchester Gun Company - que está saindo do lado do seu... do lado do seu pescoço. Eu me aproximo, coloco minhas mãos contra meus joelhos, e eu vomito.

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Eu não paro até sentir mãos em volta de mim. Eu acho por um segundo que é ele. Eu acho que é Raphael, que eu não fiz o trabalho corretamente. Eu começo a bater os braços e pernas em todos os lugares, lutando pela minha vida. E então eu sinto aquele cheiro. A da camiseta macia. Eu sinto aquele cheiro, e então eu sei que tudo vai ficar bem. Rebel me esmaga a ele, e o mundo fica preto.

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Capítulo Dezessseis REBEL Sophia dorme em um dos quartos na casa do clube a maior parte do dia seguinte. Quando ela está acordada ela toma banho uma e outra vez, gritando continuamente. Eu fico com ela. Eu realmente não sei o que fazer para fazê-la se sentir melhor. Isso tudo é minha fodida culpa. Eu permiti que filho da puta permanecesse vivo e respirando em terreno Widow Makers. Eu deveria ter colocado uma bala bem entre os olhos dele no momento em que o vi ali, mas não o fiz. Eu lhe permiti viver, e por sua vez eu lhe permiti atacar Sophia. Ela está sofrendo e ela está com dor, e é tudo por minha causa. A terceira vez que ela acorda e se arrasta pesadamente para o chuveiro, eu sento na beira da cama de casal, os lençóis torcidos e praticamente atados de onde ela esteve se virando, e eu mantenho minha cabeça em minhas mãos. Não há nada que eu possa fazer para corrigir isso. Ela queria sua liberdade. Ela não queria ser vigiada vinte e quatro horas por dia, mas eu não deveria ter escutado. Não deveria ter tido um momento do dia em que eu não estava ao seu lado, especialmente com aquele pedaço de merda no porão. Me permito um momento de fraqueza, e eu penso sobre Laura. Foi a mesma coisa com ela. Virei as costas por cinco minutos, e então ela se foi. O que diabos está errado comigo que eu continuo deixando isso acontecer com as pessoas ao meu redor. Elas sempre parecem se machucar. Uma parte de mim quer fechar o clube. Essas pessoas têm me seguido até aqui no meio do nada, por alguma razão confiam em mim para saber o que eu estou fazendo, colocaram sua fé em mim. Eu continuo provando isso uma e outra vez. E Sophia. Ela tem que voltar para Seattle. Pra ontem. Apenas o pensamento de que eu tenho que fazer isso me faz querer ir diretamente para o andar de baixo, pegar uma garrafa de Jack da prateleira acima do bar, pegar na minha moto e então encontrar um

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lugar calmo onde eu posso beber até um estado de estupor. Houve um tempo em que eu provavelmente teria feito isso, mas não posso agora. Eu tenho uma responsabilidade com a mulher se rasgando em silêncio no chuveiro. Eu ando entorpecido pelo corredor, pego a minha faca do meu bolso de trás, e então eu torço a fechadura da porta do banheiro pelo lado de fora. O lugar está tão cheio de vapor que eu não posso ver minha mão na frente do meu rosto. — Soph? Sou eu. É Jamie. — Eu falo em voz alta para que ela saiba que eu estou lá. A última coisa que quero fazer é surpreendê-la. — Jesus, você ligou a água quente? É como uma sauna aqui dentro. — Eu sei por que ela está escaldante a ponto de arrancar a pele do seu corpo, apesar de tudo. Ela se sente suja. Ela ainda pode sentir suas mãos por todo o corpo. Essa, infelizmente, não é a primeira vez que eu tenho que cuidar de uma mulher que tem sido maltratada por um homem. É a primeira vez que eu senti como se eu fosse morrer, apesar de tudo. Por trás da tela embaçada do vidro do chuveiro, eu posso ver a pequena forma de Sophia, encolhida no canto do chuveiro. — Você pode... você pode simplesmente... Ela quer me pedir para ir embora. Ela está tentando me pedir isso, mas ela não consegue terminar a frase. Eu deveria ser um cavalheiro e dar o que ela quer. Caminhar de volta para fora da porta, trancá-la novamente, e dar a ela o espaço que ela anseia. Mas eu não posso. Em vez disso, eu abro a porta do chuveiro e eu entro lá com ela completamente vestido. Camiseta, casaco, jeans, tênis. Deixo tudo posto. Tirar minha roupa seria uma ideia de merda, apesar de eu ter zero intenção de tentar qualquer coisa com ela. Fico molhado no instante em que o fluxo de água fervendo me bate. Sophia olha para mim, braços firmemente em torno do seu corpo, os joelhos dobrados contra o peito, e eu posso dizer que há lágrimas escorrendo pelo seu rosto por entre as gotas de água do chuveiro. — O que você está fazendo? — Ela murmura. Eu sorrio um sorriso infeliz para ela. Minha garganta parece que está fechada. Ela parece tão pequena. Tão vulnerável. Ela apunhalou Raphael onze vezes antes dela tirar a tesoura do seu pescoço, mas olhando para ela agora você não pensaria que ela era seria capaz. Estou realmente muito feliz que ela foi.

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— Apenas verificando, — eu digo suavemente. Ela não responde. Ela se inclina contra seus braços apoiados, seu corpo estremecendo. Porra. Eu nunca me senti assim antes. Eu nunca me senti... inútil. Mesmo quando Laura desapareceu, eu ainda senti que tinha um propósito: encontrá-la. Trazê-la para casa. Pedir desculpas. Sophia está sentada na minha frente, apesar de tudo. Eu não perdi ela da mesma maneira que eu perdi Laura. Trazer Sophia para casa é uma tarefa completamente diferente. Eu me inclino contra a parede e lentamente deslizo para baixo, não fazendo nenhum movimento brusco, até que eu estou sentado no chão ao lado dela. Eu não a toco. Ela deve me odiar. Ela deve me culpar. Ela tem todo o direito. Eu disse a ela que tudo ficaria bem, e foi tudo menos isso. Nós nos sentamos lá em silêncio por um longo tempo, a água parecendo cada vez mais quente. A pele nas omoplatas de Sophia passa de uma cor escarlate violenta para um machucado roxo. Ela não parece notar quando eu ajusto lentamente a temperatura da água quente para algo um pouco mais administrável. Ficamos lá um pouco mais. Eventualmente, eu sinto a necessidade de quebrar o silêncio. — Eu vou te levar para casa amanhã, — eu digo lentamente. — Vou te levar eu mesmo. — Ela não olha para mim, mas eu posso senti-la enrijecer, embora; eu sei que ela deve ter me ouvido. — É... para o melhor. Eu não quero qualquer outra coisa acontecendo com você. Não por causa de mim. Eu não posso - eu não posso te dizer como eu sinto... — Você não me quer mais. Eu paro de falar, virando a cabeça para olhar para ela corretamente. — O quê? — Você está me mandando embora. Você não me quer mais, — diz ela. É realmente difícil ouvi-la sobre o barulho constante da água contra o piso de ardósia, mas posso entender o que ela está dizendo. — Não... não, é claro que eu quero você, Sophia. Porra, eu... — Meu coração parece que está sendo pisoteado várias vezes cada vez que ele bate. Como ela pode pensar isso? Como ela pode, honestamente, achar que eu não quero ela mais? — Eu provavelmente te enojo, — diz ela.

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Oh Deus. Ser esfaqueado na casa de Ramirez doeu. Ser eletrocutado por Lowell foi incrivelmente doloroso. Mas essa dor? Essa dor me faz sentir como se eu estivesse morrendo. Doeria menos agora se alguém pegasse uma faca, apunhalasse no meu peito, e torcesse com toda a força. — Você está louca se você acha isso, amor. Você não tem ideia. Eu... Eu estou tão orgulhoso de você, porra. Lentamente ela levanta a cabeça, olhando para mim de lado, um olhar vazio em seu rosto. Seu cabelo está grudado em seu rosto, seu pescoço, suas costas. — Como? Como você pode se orgulhar de mim? Ele quase... — Porque você se defendeu. Você não desistiu. E ele não conseguiu o que queria de você, Soph. Você não deixou. É preciso muita força para fazer o que você fez. — Quero dizer cada palavra. Desde que eu comecei a comprar estas mulheres dos comerciantes de pele, eu me deparei com tantas meninas que foram superadas pelos lugares escuros que se encontravam. Uma grande parte do tempo, desistir parecia mais seguro. Era assim que elas lidavam, como elas permaneceram vivas. Tenho certeza que desistir não foi algo que passou pela mente de Sophia. — Eu não sou forte, — ela choraminga. — Eu não sou. Eu quero quebrar meus punhos na parede, mas isso não vai ajudá-la. Violência é a última coisa que Sophia precisa em sua vida, e por isso eu quebro o meu braço em volta dos seus ombros, a puxando para mim. — Você é a pessoa mais forte que eu conheci, ok. Nunca duvide disso. E você não me dá nojo. Porra, eu te amo, está bem? Eu te amo. É como se ela finalmente cedesse e quebrasse de uma vez. Ela fica dura como uma tábua por um segundo, resistindo, e o próximo ela despenca, caindo e depois sobe no meu colo, jogando os braços em volta do meu pescoço, me agarrando como se sua própria vida depende disso. Desde que eu corri até a cabana ontem, meu coração tentando subir e sair pela minha boca, eu não tenho sido capaz de tocá-la corretamente. Ela se encolheu cada vez que passei perto dela. Parece que sua relutância em ter qualquer tipo de contato físico comigo passou e eu sou tão aliviado que eu poderia chorar. — Está tudo bem, Soph. Está tudo bem. — Eu gentilmente passo minha mão sobre seus cabelos, os olhos cerrados e ela chora na minha roupa molhada, puxando a minha camiseta com as duas mãos. Quando

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ela para de chorar e apenas respira contra mim, eu desligo a água e enrolo uma toalha em torno do seu corpo, e então eu a levo de volta para o quarto. Sono toma conta dela. Quando ela acorda, está escuro e eu lhe digo que eu tenho um trabalho para ela. Confusão passa pelo seu rosto enquanto ela olha para o par de luvas que eu estou segurando para ela. — Por que você está me dando isso? — Ela pergunta. — Porque cavar é um trabalho. Eu duvido que suas mãos já estiveram cobertas de calos, amor. — Ela não me pergunta por que ela vai estar cavando. Ela me dá o que só pode ser descrito como um olhar maligno, mas, em seguida, pega as luvas e se veste com as calças jeans e a blusa que eu trouxe da cabana para ela. Lá fora, no pátio, uma enorme fogueira está em chamas, trepidando, cuspindo, enviando brasas vermelhas e alaranjadas para cima, para a noite negra. Cade tirou a serra elétrica da árvore pendendo. Eu não poderia fazer isso, então ele se aproximou e terminou. Uma pequena multidão dos Widow Makers, Brassic incluídos, estão ao redor do fogo com cervejas nas mãos. Eles assistem com respeito silencioso quando Sophia e eu passamos. Quando ela chegou aqui pela primeira vez, os caras duvidaram dela. Novas pessoas, especialmente mulheres muito jovens, são sempre motivo de suspeita por essas bandas. Mas agora ela não é a garota que trouxe Ramirez de volta para o Novo México, à nossa porta; ela é a garota que matou Raphael Dela Vega. Isso vai sempre ganhar elogios dos meus rapazes. Mesmo Shay acena com a cabeça quando nós passamos. Não há raiva em seus olhos esta noite. Ela só parece cansada, e eu entendo isso. Sendo tão irritada e tão conflituosa como Shay é vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, deve ser desgastante. Soph e eu subimos no Humvee, e ela não menciona isso, mas ela deve saber que tenho o corpo de Dela Vega na parte traseira, longe de vista. Eu dirijo trinta minutos ao sul, indo na direção oposta do ponto onde nós enterramos Bron ontem. Lowell não nos deu uma visita, mas ainda há chance dela estar vigiando o complexo, então eu não ligo os faróis do carro. Eu só dirijo em linha reta, meus olhos acostumados à escuridão, e Sophia olha para fora da janela, seus pensamentos claramente pesando fortemente em sua mente.

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Quando paro e saio do carro, o ar da noite cheira estranhamente como eucalipto e outra coisa. Algo doce que eu não consigo identificar. A sombra escura da forma de Sophia se move em silêncio ao redor do carro, onde ela abre a porta do passageiro traseiro e pega as duas pás pesadas que eu coloquei lá antes de partimos. — Quantas vezes você fez isso? — Ela me pergunta. Seus olhos brilham, cheio de dor e tristeza, mas eles estão secos. Tenho a sensação de que eu não vou vê-la chorar sobre Raphael Dela Vega novamente; sua mandíbula apertada firmemente e sua postura reta falam por si. Eu quero mentir para ela e dizer que eu sou novo nisso. Que eu não tenho enterrado pessoas aqui no deserto durante anos agora. Mas eu não posso. Qual seria o ponto em enganá-la? Ela é uma menina inteligente - talvez inteligente demais para seu próprio bem - e ela já deve saber a verdade. Eu quero que ela me conheça, incluindo as coisas más e dizer a ela de outra forma só seria enganá-la. — Muitas vezes para contar, menina bonita. — Eles... eles eram todos homens como Rafael? Balançando a cabeça, eu coloco a ponta da minha pá no chão. — Piores. Muito, muito piores. Ela parece pensar sobre isso por um longo momento, a brisa doce levantando mechas de seu cabelo escuro sobre seu rosto, e então ela assente. — Ok. — Ok? — Sim. Se eles eram piores do que Raphael, então eles merecem estar aqui. Entendi. Eu não estou preparado para sua aceitação deste conhecimento, então eu não tenho nada a dizer. Nós dois começamos a cavar; não demora muito para Sophia tirar seu suéter, despindo a camiseta fina que eu dei para ela usar, e eu estou nu da cintura para cima. Nós dois estamos suando e respirando com dificuldade na hora que o buraco é profundo o suficiente para por o corpo de Raphael. Eu propositadamente não o cobri. Ele é todo o sangue e horror e pernas moles quando eu o levanto da parte de trás do Humvee e o arrasto sob os braços para a sepultura que nós preparamos para

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ele. Sua pele uma estranha cor roxa, além de onde ele está coberto de seu próprio sangue seco, que se transformou em cor de ferrugem e terra. — Seus... seus olhos deveriam parecer assim? — Sophia pergunta baixinho. Ela está olhando para corpo já em decomposição de Raphael com o canto do olho, como se se ela só olhasse rapidamente ela fosse poupada do verdadeiro horror do que ela fez. Isso não vai fazer qualquer bem, embora. É por isso que eu o deixei descoberto. Ela precisa vêlo. Ela precisa entrar em acordo com o fato de que ela o matou. — Sim. — Eu solto Raphael no chão, e depois paro ao lado dela. Pegando mão dela, eu a atraio para o meu lado, tentando conter o tremor que parece estar cobrindo seu corpo todo. — Isso sempre acontece. Seus dedos estão gelados e frios nos meus. — Você sabe por quê? — Ela pergunta. — É o potássio quebrando em seus glóbulos vermelhos. Faz com que os olhos fiquem nublados. — Ele parece... parece que tem catarata. Ele não parece mais real. — Respirando fundo, ela finalmente olha para ele corretamente. — Eu entendo porque você está me fazendo fazer isso, — ela sussurra. — Me diga. — Porque você quer que eu tenha um encerramento. Você quer que eu seja a pessoa que vai enterrá-lo. Você quer que eu seja a única que vai jogar a terra sobre seu corpo e enviá-lo embora para sempre. Você quer que eu entenda que ele nunca mais vai voltar, e ele nunca vai me machucar novamente. É por isso. Eu não digo nada. Eu não preciso. Ela bateu o prego na cabeça; sem este tipo de fechamento, ela vai apenas se lembrar dele com as mãos sobre ela, tentando forçá-la. Ele sempre vai parecer mais forte do que ela em sua mente. Mais perigoso. Ele estaria para sempre assombrando-a. Agora, assim, quebrado, apenas uma casca lentamente se degradando, ele não tem poder. Sim, ele parece aterrorizante, coberto com todo aquele sangue, olhando para o céu noturno salpicado de estrelas com a boca aberta em surpresa, mas ele também parece pequeno. Fraco. Incapaz de lhe causar mais dor. Eu acaricio meu rosto em seu cabelo, a respirando, tentando transferir um pouco da minha força para ela. Ela já está tão

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extremamente forte, mas isso é irrelevante. Se eu pudesse carregar esse fardo para ela, eu o faria. Se eu pudesse ter sido o único a matá-lo, eu teria. Eu deveria ter. Eu não quero que ela se machuque ou sofra mais do que ela precisa. — Você quer que eu te ajude? — Eu sussurro. Ela aperta sua mão na minha, tomando uma respiração profunda. — Não. Não, está tudo bem. Eu posso fazer isso. Ela começa a trabalhar. Mesmo depois que ela aceitou as luvas que eu dei a ela na sede do clube, posso dizer que ela não quer tocar Raphael. Ela tem que fazer isso, a fim de por o seu corpo para dentro do buraco, então ela o agarra por baixo dos braços, da mesma maneira que eu fiz quando eu o arrastei do carro. Raphael era um grande cara, e Soph é nem de longe tão forte que eu, então não é fácil para ela arrastá-lo até o lado da sepultura. Ela não desiste, apesar de tudo. Ela posiciona seu corpo junto ao buraco no chão e, em seguida, ela se endireita, olhando para o homem que tem atormentado seus sonhos desde aquela noite em Seattle. — Você era um pedaço de merda, Raphael. E você é um pedaço de merda agora. Vá se foder. — Ela treme quando ela cospe em seu corpo. Treme quando ela usa seu pé para empurrá-lo em seu lugar de descanso final. Ele pousa com a cara para baixo, o que parece muito apropriado. Uma estranha sensação de orgulho passa sobre mim quando a minha menina joga a primeira pá cheia de terra dentro do buraco. — Meu pai teria um ataque se ele soubesse que eu estava fazendo isso, — diz ela. — Enterrando o homem que lhe agrediu? — Enterrando ele assim, de bruços, sem uma bênção ou alguma oração por sua alma. — Seu pai é religioso? Ela permanece quieta por um segundo. Eu sei que é difícil para ela - ela ainda não me deu seu nome verdadeiro, e eu não insisti. Eu sei o sobrenome dela, é Romera, ou pelo menos o sobrenome do seu pai é, mas isso não foram informações que ela ofereceu. Eu a ouvi dizer isso quando ela ligou naquele telefone público em Alabama. Ela ainda se sente em conflito sobre dar informações que possam pôr em perigo a sua família, e eu entendo isso... Mas ela tem que saber que eu não sou um perigo para a sua família. Ela tem saber disso. A principal ameaça à

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sua família agora está sendo coberto com a terra que ela está deixando cair de sua pá. Eu não acho que ela vai me responder, mas então ela fala em tons suaves e tranquilos. — Sim. Ele é um pregador para todas as intenções e propósitos. Minha família é cristã e muito devota. Eu não tinha ideia sobre isso, mas isso se encaixa. Quando eu a conheci, ela tinha aquele ar tenso sobre ela que mostrava uma educação rígida. Que já se foi, já se perdeu para os quatro ventos. Agora ela parece ser uma pessoa completamente diferente. Me sento no chão junto ao túmulo e a vejo se esforçar para preenchê-lo. O trabalho é árduo, mas ela não reclama e ela não me pede para fazer isso por ela. Com cada pá de terra que acumula em cima do corpo de Raphael Dela Vega, ela parece se tornar mais e mais confiante, as costas retas, os olhos brilhando com determinação. Quando ela termina, Sophia solta a pá no chão, arranca as luvas que eu dei a ela, e cai no chão ao meu lado. Meu braço encontra o seu caminho em torno dos seus ombros instintivamente, e ela se dobra em mim, descansando a cabeça no meu ombro. — Sobre o que você disse antes, — diz ela. — Qual parte? — A parte sobre você me levando de volta para Seattle. Eu me assusto com as palavras. — Sim. — Vai doer como um filho da puta levá-la de volta para casa, mas é a coisa certa a fazer. O que eu deveria ter feito semanas atrás, em vez de arrastá-la mais e mais a esta confusão. — Eu não quero que você me leve19 de volta, — sussurra Sophia. Ouvi-la dizer isso é como um soco no estômago. Eu entendo. Eu não gosto, mas vou respeitar seus desejos. — Ok. Transporte público está fora de questão. Eu preciso saber se você passou pela porta da frente bem. Tenho certeza de que Cade não vai se importar de levar você... — Não, não é isso que quero dizer. — Ela olha para mim, franzindo a testa ligeiramente. — Quero dizer que eu não quero

Aqui ela fala drive, que é ―dirigir de volta‖, mas não faz muito sentido. Mas faz sentido nas próximas falas. 19

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ir. Quero dizer que eu quero ficar aqui. Eu quero... Eu quero estar com você. Sei muito bem desde o início que ela se sentia atraída por mim. Era bastante evidente a partir da maneira como ela agia em torno de mim e quantas vezes eu a peguei encarando. Eu não era tímido sobre o fato de que eu estava na dela também. Isto, no entanto, é uma grande surpresa. Ela parece um pouco atordoada. — Eu achei que você ia correr na primeira chance que tivesse, Soph. Você não quer ir para casa? Ver seus pais? Sua irmã? — Eu passo minha mão sobre o selvagem cabelo ondulado, temendo o que ela vai dizer em seguida. Eu quero que ela esteja segura. Eu quero que ela esteja a um milhão de milhas de distância de Ramirez e seus homens, mesmo que Raphael não seja mais uma preocupação. Mas eu também quero ela na minha linha de visão em todos os momentos, perto o suficiente para que eu possa tocar... — Eu vou ligar para o meu pai, — diz ela. — Eu quero que eles saibam que eu estou bem. E eu quero que eles saibam que... que eu não estou voltando para casa. — Talvez você deva pensar sobre isso antes de fazer quaisquer decisões precipitadas. — Eu já pensei. É tudo o que eu estive pensando por dias. Eu não acho que eu posso voltar para quem eu era antes, Jamie. Eu não sou... Eu não a pessoa que eu costumava ser. Quando ela me chama de Jamie, eu sinto que eu poderia ser a pessoa que eu costumava ser, se eu realmente tentasse. Isso significaria desistir de tudo isso, apesar de tudo. Isso significaria admitir que a irmã de Cade se foi e que nunca vou encontrá-la. Depois de tanto tempo, eu acho que já entrei em acordo com esse fato de qualquer maneira. Admitir isso é difícil, no entanto. Admitir para Cade seria impossível. Nós mal falamos sobre ela. Ele deve ter chegado à mesma conclusão que eu, mas ela é o seu sangue. Ele não vai parar de procurar até que ele descubra o que aconteceu com ela de uma forma ou de outra. E eu não vou abandoná-lo. — Este clube é intenso, Soph. Estar aqui significa que você vai ser mais e mais envolvida na maneira como vivemos nossas vidas. É algo que você pode se enfiar? — Sim. Eu quero. Eu... — Ela se vira para mim, os olhos quase tão grandes como eu já os vi. Ela é tão bonita. Eu quero envolvê-la em ~ 163 ~


algodão e mantê-la segura. Para sempre. — Eu quero ser uma parte disso, — ela sussurra. — Ser uma parte do clube? — Isso... isso é a última coisa que eu esperava que ela dissesse. Eu acho que eu anda não a entendi corretamente. — Você quer ser parte do clube? — Sim. Eu quero fazer o que Carnie fez. Quero ser prospecto. — De. Jeito. Nenhum. — Ela enlouqueceu. Eu não deveria tê-la feito enterrar Raphael. Deve ter causado um trauma grave no seu cérebro. — Por que não? — Vamos. Vamos entrar no carro. — Eu ajudo ela a se levantar, e então eu meio que a guio e meio que a arrasto de volta para o Humvee. Ela não faz nenhum som quando eu abro a porta do passageiro para ela e a coloco lá dentro. Batendo a porta, espero que o ruído alto seja o fim dessa conversa louca, mas Sophia está pronta e esperando por mim. — Shay é uma mulher. Fee, também. — Sim. Elas são. — Então por que não posso ser uma Widow Maker? Se elas podem ser, então certamente eu posso ser também. Eu ligo o motor, mas eu não coloco o Humvee na engrenagem. Eu me viro no meu lugar, então estou de frente para ela, desesperadamente tentando não me lançar para frente para que eu possa sacudir algum sentido nela. — Você não pode participar porque é perigoso, amor. As coisas com Ramirez estão prestes a ficar fodidas. Eu estou tentando deixar a sua vida mais segura, não ainda mais perigosa. — Você honestamente acha que Ramirez vai esquecer sobre mim agora que Raphael se foi? Eu ainda não sou a única pessoa que pode testemunhar sobre o assassinato do seu tio? — Raphael matou Ryan. Raphael agora está morto. Não há nenhuma maneira de provar em um tribunal que Hector o mandou fazer isso. Esse navio já se foi. Os policiais nunca irão corrigir isso. Vou ter que corrigir isso. O clube vai ter de corrigir isso. Uma guerra vai implodir e aquela cadela Lowell vai junto ao passeio. Deus sabe como tudo vai acabar. Eu não quero que isso acabe com você em uma corda bamba, sem mãos e pés, apesar de tudo. ~ 164 ~


— Por que você está reagindo assim? Achei que você ficaria feliz por eu ter resolvido, Rebel. Rebel. Huh. Nada de Jamie. Isso é provavelmente o melhor. Eu soco o volante, rangendo os dentes, esperando senti-los rachar sob a pressão. De repente eu não consigo pensar direito. Meu corpo inteiro se sente quente, meus sentidos fazendo horas extras de trabalho para manter minha raiva sob controle. — Você esqueceu o que eu disse a você no outro dia? Eu disse que estava apaixonado por você. Isso significa que eu vou deixar você ir. Isso significa que eu vou te dar um beijo de despedida e eu vou te ajudar a embalar suas coisas na parte de trás do carro, e eu vou deixar outro cara te levar daqui. Isso significa que eu nunca vou te ver novamente, se isso é o que eu tenho que fazer, porque eu te amo tanto que eu prefiro que o meu mundo desabe ao redor dos meus malditos ouvidos do que você acabar morrendo por causa de mim. Volte para Seattle, Sophia. Se torne uma psicóloga. Se case com o chato do Matt e tenha uma tonelada de crianças. Vá para um clube e beba muito Sauvignon Blanc nos fins de semana. Se divorcie aos quarenta e se encontre mais uma vez. Viva a vida da classe média clichê que eu não posso te dar. Eu estou bufando, meus pulmões queimando quando eu calo minha boca. Eu nunca soube realmente como é se sentir assim totalmente destruído. Veio como um choque completo e muito desagradável ver o quão fodido vou ficar quando ela se for, mas ela precisa ver que é o melhor. Ela tem que ver. Levo muito tempo para perceber que ela não está dizendo nada. Quando eu olho para ela, Sophia está olhando para seus braços dobrados sobre o peito, as pálpebras sem piscar. Ela está praticamente vibrando com raiva. Seu tom é equilibrado quando ela começa a falar; eu posso dizer que está levando tudo o que ela tem para manter a calma suficiente para dizer suas palavras. — Ao longo das últimas semanas, você foi esfaqueado, quase sangrou até a morte bem na minha frente, foi atacado por Ramirez, eletrocutado com uma taser e preso pela DEA. Você acha que eu não me preocuparia com você se eu voltasse para Seattle? Você não acha que eu passaria mal a cada segundo do dia me perguntando se você está vivo ou morto? Porra, Rebel... você não acha que eu estou apaixonada por você também? Ela sai do Humvee, batendo a porta com tanta força atrás dela que estou surpreso que a janela maldita não quebrou. Eu a observo correr para o deserto, o azul pálido de sua camiseta desaparecendo na escuridão enquanto ela corre para longe do carro. Por um momento eu

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não posso me mover. Eu não consigo pensar direito. Ela me ama também? Ela me ama também. Eu sinto como se isso fosse um soco no estômago. Quero dizer... como? Eu finalmente me recomponho a tempo de perceber que ela está totalmente engolida pela escuridão lá fora e eu definitivamente deveria encontrá-la antes que ela desapareça para sempre. Eu saio do carro e corro atrás dela. Não é muito difícil encontra-la. De pé, de costas para mim, ela só chegou a uns cinquenta metros do carro, e ela está chorando. — Porra eu deveria odiar você, — ela me diz. — Eu não deveria dar a mínima para você, se você vive ou morre, mas eu dou. Naquele dia que você me pegou no telhado da casa do seu pai, você me disse algo e isso ficou preso na minha cabeça desde então. Você disse: ‗Não se incomode tentando entrar na minha cabeça. É um lugar escuro e assustador. Nem mesmo eu quero estar aqui a maior parte do tempo‘. Mas eu não queria isso. Eu queria entrar na sua cabeça, e você... — Ela se vira, apunhalando seu dedo indicador no meu peito. — Você me convidou para entrar. Você nem por um segundo tentou me impedir de desenvolver sentimentos por você. Então, por que você deve começar a se preocupar mais sobre mim do que eu me preocupo com você? E por que diabos eu não sou autorizada a assumir riscos para me certificar de que você esteja bem? Não tenho nada para voltar, Rebel. Eu tenho uma família e um grau na faculdade e tenho um apartamento vazio em Seattle, mas se você não estiver lá comigo, então eu não tenho nada. Não posso respirar. Eu não posso... Eu a agarro e a puxo para mim, envolvendo os braços em volta dela e a segurando tão apertado contra mim que ela provavelmente não pode respirar também. Ela aperta o rosto no meu peito, me agarrando, e nós apenas ficamos lá, não nos soltando. Sem dizer nada. Parados. Essa mulher me virou de dentro para fora. Eu me agacho e a levanto, minhas mãos debaixo de suas coxas, e ela envolve as pernas ao redor da minha cintura, sem pestanejar. Eu só a seguro lá. — Você quer isto? Você realmente quer isso, sabendo o que envolve? Ela recua, os olhos ligeiramente vermelhos e inchados. Há tanto fogo lá. Ela engole, e depois diz dez palavras que vão mudar as coisas para nós dois para sempre. — Eu quero você. E eu não vou a lugar nenhum.

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Essa é uma loucura pura, mas eu não posso deixar de sorrir. Um de nós vai acabar morto em breve, mas eu tenho certeza que as coisas estão prestes a ficar realmente muito interessantes. — Você percebe que vai precisar aprender a andar de moto agora, certo? — O pensamento dela no comando de uma moto é instantaneamente quente. Sua intensidade quebra quando um pequeno sorriso se espalha por seu rosto. — Sério? Isso seria foda. — Oh meu Deus, — eu gemo. — Você vai ser a minha morte, mulher. — Huh. E aqui estava eu pensando que eu iria tentar te manter longe de problemas em vez disso, — ela diz suavemente, mordendo o lábio. Me ocorre o quão fodido isso é - o fato de que acabamos de eliminar um corpo no deserto, no meio da noite, e eu estou rapidamente ficando de pau duro. Eu rio como um louco, porque eu não evitar. — Tudo bem então. Sophia Romera, considere-se o mais novo prospecto da Widow Makers Motorcycle Club.

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