Relatório Final Programa Unificado de Bolsas 2015-2016

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Relatório de pesquisa Programa Unificado de Bolsas 2015/2016

ARQUITETURA, REPRESENTAÇÃO E CULTURA A EXPRESSÃO GRÁFICA NOS PLANOS URBANOS DE ARCHIGRAM

Aluno bolsista: Renan Leite Antiqueira Orientação: Profa. Dra. Simone H. Tanoue Vizioli

Instituto de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo São Carlos, fevereiro de 2016


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SUMÁRIO 1.

Introdução ................................................................................................................................................................5 1.1.

Archigram: Breve histórico e contextualização ........................................................................... 5

2.

Objetivos .................................................................................................................................................................10

3.

Metodologia ......................................................................................................................................................... 11

4.

3.1.

Atividades desenvolvidas ..................................................................................................................... 12

3.2.

Cronograma de atividades ................................................................................................................. 13

A expressão gráfica nos planos urbanos de Archigram .................................................................14

4.1.

O magazine archigram ......................................................................................................................... 14

4.2.

Estudos de caso ...................................................................................................................................... 20

4.2.1.

O caso de Plug-In City.................................................................................................................. 20

4.2.2.

O caso de Walking City............................................................................................................... 22

4.2.3.

O caso de Instant City ................................................................................................................. 24

4.2.4.

O caso de Computor City .......................................................................................................... 25

4.3.

Archigram e o Movimento Pop ........................................................................................................ 26

4.4.

A Colagem na Obra de Archigram ................................................................................................. 27

5.

Considerações.....................................................................................................................................................29

6.

Conclusões ............................................................................................................................................................35

7.

Bibliografia.............................................................................................................................................................36

Anexos ...............................................................................................................................................................................38 Parecer do orientador ........................................................................................................................................... 104

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APRESENTAÇÃO O presente relatório refere-se às atividades que foram realizadas durante um ano (agosto de 2015 a agosto de 2016) de bolsa referente à pesquisa intitulada “Arquitetura, Representação e Cultura: a expressão gráfica nos planos urbanos de Archigram”. Pretende-se prestar contas das atividades desenvolvidas e apresentar as discussões levantadas. Este trabalho é vinculado ao Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos de Linguagem em Arquitetura e Cidade, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP, que desenvolve atividades na área de representação e linguagens em arquitetura e urbanismo, buscando estudar as formas de representação enquanto meios de concepção, de apreensão e de leitura do objeto arquitetônico e do espaço urbano. Assim, a pesquisa que aqui se apresenta busca compreender a expressão gráfica na produção de Archigram, um grupo de arquitetos ingleses que se reuniram em torno de uma pubicação homônima veiculada pela Inglaterra e pelo mundo entre os anos de 1961 e 1974. Parte-se do estudo dos magazines pubilcados pelo grupo e do conjunto de representações referentes aos planos de Plug-in City, Instant City, Walking City e Computor City e procura-se estudar a configuração de uma forma de expressão singular e inovadora para o seu tempo, que caracterizou todo o trabalho do grupo e que só pode ser entendida em sua relação com o contexto histórico e cultural daqueles anos. PALAVRAS-CHAVE: expressão gráfica; Archigram; desenhos; colagens; pop.

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1. INTRODUÇÃO A presente pesquisa trabalha no campo da hipótese de que, para Archigram, o peso da representação transpassa a função informativa: ela é desenho técnico, mas é também a expressão de um ponto de vista sobre a cidade; e figura o partido ideológico, as concepções sociais e culturais do grupo. De que suas colagens traduzem a conjuntura dos anos sessenta para o campo gráfico, assim como os seus planos traduziam este contexto para o urbanismo. A apuração desta hipótese passa, necessariamente, pela compreensão deste contexto e pelo entendimento da expressão gráfica nos trabalhos do grupo através da análise de suas publicações e do estudo de seus principais projetos. Nesse sentido, este trabalho toma como principal referência a tese de doutorado de CABRAL1, defendida no ano de 2001, que traça um panorama de toda produção de Archigram colocada em relação com as teorias e os movimentos que constituiram a atmosfera cultural das décadas de 1950 a 1970. 1.1. ARCHIGRAM: BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO No final da década de 1950, três arquitetos ingleses recém-formados passam a se reunir para discutir o contexto cultural, arquitetônico e social daqueles anos e para fazer projetos pautados nestes debates. No ano de 1961, Peter Cook, David Greene e Michael Webb publicam a primeira edição do magazine Archigram (Figura 1), com o intuito de difundir "uma afirmação do ponto de vista da nova geração de arquitetura" (ARCHIGRAM, 1961), O primeiro telegrama arquitetônico – Architectural Telegram – consistia em um panfleto produzido artesanalmente e em formato bastante simples onde compareciam os frutos daquelas discussões, projetos inspirados em formas vanguardistas e poemas escritos por Greene. Ron Herron, Dennis Crompton e Warren Chalk, arquitetos londrinos com maior experiência juntam-se ao grupo no ano seguinte e é publicada uma nova edição do magazine mais elaborada, que se pretendia mais próxima de uma revista e menos de um panfleto, com matérias, convidados e projetos, começando a constituir uma linguagem característica do grupo. O sexteto ganha proximidade trabalhando, mediante o convite de Theo Crosby, num estudo de remodelação da Euston Station, para a Taylor Woodwrow Construction Ltda. e, ainda através de Crosby, organizam a exposição Living City (1963) para o Institute of

Contemporary Arts (ICA, Instituto de Artes Contemporâneas), na qual já é possível reconhecer

Cláudia Piantá Costa Cabral, arquiteta graduada pela UFRGS (1983), mestre pela mesma universidade (1996) e doutora pela Universitat Politecnica de Catalunya (2001), professora associada do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na graduação e na pós-graduação. 1

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ideias e prerrogativas que caracterizaram toda a produção do grupo nos anos que se seguiram. A partir de então, assumindo o nome de Archigram para o coletivo, passaram a elaborar e publicar o magazine com frequência, veiculando suas ideias sobre a arquitetura e o urbanismo naquele contexto e constituindo uma trajetória que se desenvolveu, basicamente, no terreno da experimentação, No mesmo ano da exposição, publicam o terceiro magazine, tratando do tema da obsolescência e do descartável no campo da arquitetura em relação a uma sociedade do consumo e das comunicações em massas. Aparecem importantes projetos de referência para o grupo, como os de Yonna Friedman e Buckminster Fuller, e os temas do consumo e da substituição – “expendability”, “changability” –, representados na figura da cápsula, tornam-se cada vez mais paradigmáticos.

Figura 1. Capa do primeiro magazine Archigram, 1961. Fonte: The Archigram Archival Project.

Em 1964, com a quarta edição do magazine, Amazing Archigram, aparecem pela primeira vez projetos como a torre de cápsulas e a emblemática Plug-in City, de Peter Cook e consolida-se uma linguagem que recorre abertamente à referência dos quadrinhos de ficção científica. Neste momento, o grupo já ganhava certo reconhecimento internacional a ponto de Reyner Banham, crítico e historiador inglês contemporâneo do grupo, carregar consigo cópias do magazine para os Estados Unidos (COOK, 1973, p. 5). Em Archigram 5, Metropolis (1964), como sugere o nome, discute-se o tema da metrópole e, tomando como exemplo trabalhos de Frei Otto, Yonna Friedman, e a “New Babylon” de Constant Nieuwenhuys, dá-se continuidade às investigações entorno de estratégias megaestruturalistas e o tema da pré-fabricação e do consumo. Reaparece a Plug-in City e surgem os projetos Walking City de Ron Herron e Computor City de Dennis Crompton, além de outros. No ano seguinte, com o magazine Archigram no. 6, seguem as especulações no campo das megaestruturas e da pré-fabricação e são apresentados, a saber, o projeto de Peter Cook

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para o University Node, uma suposta região universitária para o modelo da Plug-In City e as

Plug-in Capsule Homes de Warren Chalk. Basicamente, trata-se de uma estrutura principal que suporta módulos contendo todas as funções da cidade. Módulos flexíveis e catalogados, destinados ao homem do pós-guerra e pensados lógica de produção do capitalismo pósfordista, da seriação com possibilidade de escolha e da obsolescência programada.

Figura 2. Capa do magazine Amazing Archigram 4, 1964. Fonte: The Archigram Archival Project.

Nas edições seguintes do magazine, Archigram 7 (1966), Archigram 8 (1968), Archigram 9 (1970) e Archigram 9 ½ (1974), aos poucos as megaestruturas e as soluções totalizadoras para a cidade foram sendo abandonados e deram lugar a temática da mobilidade e da metamorfose. Explorou-se o impacto das tecnologias da comunicação e da informação no campo da arquitetura e da cidade e estas se tornaram o foco especulativo dos projetos. Buscou-se investigar a relação do homem com estas tecnologias e tensionar o limite entre tecnologia e arquitetura, resultando em situações efêmeras e hibridas que representariam a desmaterialização do objeto arquitetônico, numa arquitetura cada vez mais soft e menos hard. Estes arquitetos enquanto coletivo produziram, basicamente, no âmbito experimental, da arquitetura do papel. No entanto, em 1970, Archigram vence um concurso para a construção de um centro de entretenimentos em Monte Carlo apresentando um projeto que se destacava dos demais pela utilização sobretudo do subsolo, deixando a superfície do terreno livre para ser um parque público. O projeto, que previa o abrangente uso de tecnologias e de aparatos técnicos móveis que confeririam o máximo de flexibilidade no interior do edifício, é engavetado anos mais tarde e o grupo de dissolve após a publicação do magazine Archigram 9 ½ em 1974. As dez publicações elaboradas por Archigram entre 1961 e 1974 angariaram a atenção da crítica arquitetônica inglesa de seu tempo e através de desenhos e colagens disseminaram as ideias do grupo pela Inglaterra, pelos Estados Unidos e pelo mundo, influenciando gerações de arquitetos até os dias de hoje. Ao longo de sua trajetória, Archigram conquistou influência apenas com seus estudos no campo da expeculção, sem grandes feitos arquitetônicos concretamente construídos. Influência esta que foi reconhecida no ano de 2002, quando os membros do grupo foram condecorados com o RIBA Gold Medal, prêmio concedido

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anualmente pelo Royal Institute of British Architects em reconhecimento por contribuições primordiais à arquitetura internacional. De uma maneira geral, a obra de Archigram é marcada por um caráter de insubordinação ao Estilo Internacional moderno consolidado após a Segunda Guerra Mundial, expressando uma vontade de renovação do espírito radical das vanguardas do início do século. No início do século vinte, para SADLER (2005, p. 04), “o modernismo ensinou abordagens radicais sobre a maneira como a experiência humana é conformada. Archigram deu continuidade à essa busca pela segunda metade do século” (tradução nossa). Esta abordagem radical em relação à arquitetura e positiva sobre as novas tecnologias esteve diretamente relacionada ao contexto histórico e cultural no qual se desenvolveu a obra do grupo. Archigram esteve identificado com uma forma de contestação do pensamento arquitetônico e dos modos de vida vigentes na Inglaterra da década de 1960 baseada na retórica das tecnologias da informação e da comunicação e na lógica do consumo enquanto instância de emancipação. Com seus projetos fantasiosos, deram forma à um ponto de vista crítico em relação ao seu próprio contexto. Nas décadas de 1950 e 1960, os países industrializados observam a ascensão e a queda do estado bem estar e de seu modelo fordista-taylorista de sustentação, ante a hegemonia dos Estados Unidos da América. A Inglaterra é um destes países que, na década de 1960, testemunham um processo de expansão econômica marcado pelo desenvolvimento tecnológico, pela mudança das formas de organização do trabalho e por profundas alterações nas pautas tradicionais de consumo e Archigram esteve ciente destas novas questões. A emergência de Archigram como grupo coincide com uma época de afluência econômica sem precedentes para o bloco ocidental de países industrializados alinhados desde a guerra sob a liderança econômica e militar de Estados Unidos. Os economistas se referem ao período entre 1950 e 1973 como uma espécie de ‘idade de ouro’ do desenvolvimento capitalista [...]. Nestes países, esses anos correspondem à ascensão e crise do estado do bem estar e seu modelo fordista-keynesiano de sustentação, difundido a partir da segunda guerra. (CABRAL, 2001, p. 14)

A afluência do bloco de países industrializados associada com o desenvolvimento de novas tecnologias cada vez mais abrangentes e menos dependentes de fronteiras proporcionou a emergência de uma cultura marcadamente urbana em âmbito internacional, que tem sua centralidade deslocada de Paris para Nova York. Desponta, nestes países uma cultura de massas, basicamente mediática e fundamentada nas relações com os novos sistemas de comunicação e informação e, consequentemente, surge a necessidade de novas formas de se fruir a arquitetura e a arte. Esta renovação de valores culturais, associada à condição de afluência e de desenvolvimento caracterizou um clima de ousadia e de otimismo e de aposta 8


em relação às tecnologias da informação e da comunicação em massas, que deu origem, no campo da arquitetura e do urbanismo, ao que ARGAN (1970) chama de boom tecnológico: A invenção formal funciona como libertação da disciplina metodológica do racionalismo [...] não se põe limites à invenção formal, pois a tecnologia industrial pode fazer tudo, até mesmo transpor a utopia e a ficção científica para a realidade. [...] Chega-se assim a propostas contrárias ao programa racionalista da dissolução do fato arquitetônico no fato urbanístico: projetam-se edifícios enormes, que deveriam ter não só a capacidade de, mas a organização interna de uma pequena cidade, erguendo-se, imensos e altíssimos, em espaços vazios, porém equipados com sistemas de comunicação perfeitos. (ARGAN, 1970, p. 514)

Para COHEN (2013), a partir do final da década de 1950, enfrenta-se uma incerteza em relação aos rumos da cultura arquitetônica para a segunda metade do século. As convicções modernas da arquitetura funcional não se aplicam mais ao contexto destes anos e surgiram, principalmente nos países avançados capitalistas, diversas manifestações que buscavam negar ou renovar a herança moderna, recorrendo à retórica das novas tecnologias e à lógica de uma cultura de massas. Conceitos fundamentais ao tradicional pensamento arquitetônico como rigidez, estaticidade e durabilidade dão lugar à novos princípios até então externos à disciplina arquitetônica como a mobilidade, a flexibilidade, e a efemeridade. Segundo Argan (1970), a arquitetura rígida associada ao racionalismo urbano dá lugar a uma arquitetura flexível e, ainda que no plano experimental, a investigações que resultam nas propostas megaestruturalistas e nas cidades hiper-tecnológicas. Nomes como Indpendent Group, Alison e Peter Smithson, Buckminster Fuller, Yonna Friedman, Constant Nieuwenhuys e os Situacionistas, Metabolismo japonês e, principalmente, Reyner Banham referem-se a arquitetos, movimentos e intelectuais que representam estas investigações, dialogando de forma direta com a produção do grupo Archigram e conformando o pensamento arquitetônico daqueles anos. Estas manifestações e elaborações da arquitetura experimental dos anos sessenta são frutos de uma atmosfera cultural característica do pós-guerra e se constituem como tentativas de traduzir, para o campo da arquitetura, as novas pautas colocadas por um mundo em contínua transformação. Para ARANTES (2000, p. 60), Archigram representa “a expressão máxima desse universo móvel, simulado, múltiplo, sem identidade” que caracteriza o panorama arquitetônico e cultural dos anos 1960 e, segundo ela, através de seu trabalho basicamente gráfico e “no limite, antiarquitetônico”, o grupo delineia um processo de desmaterialização da arquitetura. É o que também indica CABRAL (2001), em sua tese de doutorado, quando aponta uma possível sistematização da linha de pensamento do grupo ao longo de seus projetos.

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Cabral (2001) busca interpretar as experiências de Archigram em relação as pautas culturais colocadas pelo contexto histórico e tecnológico onde os trabalhos do grupo se desenvolvem; procura observar a maneira como esta abordagem reflete em diferentes estratégias de projeto ao longo da trajetória do grupo. Nesse sentido, propõe que os trabalhos do grupo possam ser agrupados em três linhas principais: primeira, onde é abordada principalmente a questão da tecnologia e do consumo, da estética do descartável; segunda, que trata sobre tecnologia e lugar, mobilidade e dispersão e terceira, mais complexa e ainda mais experimental, que volta-se a afirmar a tecnologia como alternativa de arquitetura ou ainda a tecnologia como alternativa à arquitetura. Respectivamente descritos como Plug-in, por uma arquitetura descartável; Zoom, por uma arquitetura móvel e On-off, por uma arquitetura da ausência. Este caminho delineado por Archigram indica para uma progressiva fragmentação do objeto arquitetônico em discussões mais abstratas e que concernem a um microentorno tecnológico, a um ambiente automatizado e responsivo. Conceitos tecnológicos cada vez menos dependentes de um lastro material. Uma arquitetura cada vez menos hard(ware) e mais soft(ware).

2. OBJETIVOS A pesquisa que aqui se apresenta tem como objetivo principal estudar os desenhos e as colagens que caracterizaram a obra de Archigram e explorar os elementos mais expressivos da sintaxe desta linguagem gráfica; investigando em que medida estes elementos e estas formas de representação buscaram expressar um discurso característico do grupo sobre o urbanismo dos anos sessenta diretamente relacionado com o contexto histórico e cultural daqueles anos. No entanto, é complexo analisar a produção gráfica de Archigram comparando a apresentação de diferentes projetos na busca, por exemplo, de fatores que permitam indicar uma linha de evolução nos métodos de representação. Por um lado, porque não existe uma cronologia simples que ordena esta produção: atribuem-se anos aos projetos de acordo com o magazine no qual foram publicados pela primeira vez, no entanto muitos deles aparecem por mais de uma vez no decorrer das publicações, em versões diferentes, o que indica um trabalho contínuo em cima das proposições. Mas também porque seus trabalhos não necessariamente foram elaborados por todos os membros do grupo. Pelo contrário, na maioria das vezes, cada projeto era discutido em grupo mas desenvolvido apenas por alguns deles e isto acarreta diferenças de representação que saem do âmbito da produção coletiva e concernem aos membros do grupo individualmente. Não é este o tipo de diferença que se deseja investigar com o presente estudo, mas sim os pontos que são transversais à representação na obra do grupo: a relação com o contexto

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histórico e cultural, suas razões, influências e referências e, principalmente, a relação que existe entre a particular e inovadora linguagem de apresentação dos projetos de Archigram e as questões de que seus projetos buscavam tratar. Toma-se como base o estudo da sintaxe desta linguagem para discutir sobre sua semântica, sua essência. De certa forma, a presente pesquisa se propõe a realizar uma leitura gráfica dos trabalhos de Archigram em busca de elementos que permitam afirmar relações entre a linguagem de apresentação dos trabalhos do grupo e a sistematização colocada por Cabral (2001), que divide a obra de Archigram em três etapas: Plug-in, Zoom e On-off, conforme apresentado anteriormente. Pretende-se verificar se a se a interpretação das estratégias projetuais nos projetos urbanos de Archigram proposta por Cabral se espelha, de alguma forma, nas estratégias de representação utilizadas na veiculação dos trabalhos do grupo. Nesse sentido, busca-se estudar a representação em quatro projetos urbanos de Archigram – Plug in City, Instant City, Walking city e Computor city – escolhidos de forma a explorar a divisão colocada por Cabral e contemplar os planos urbanos do grupo que ganharam mais repercussão.

3. METODOLOGIA Durante o primeiro semestre de bolsa, buscou-se a criação um repertório teórico, de forma a contextualizar esta discussão com o panorama das décadas de 1950 e 1960, as pautas culturais, artísticas, arquitetônicas e urbanísticas colocadas no cenário internacional. Também passando pelo entendimento dos planos escolhidos para estudos de caso, bem como pela compreensão da linha de pensamento que levou a tais trabalhos. Durante o segundo semestre, criou-se um repertório mais voltado à representação e à expressão gráfica de Archigram. Partindo dos conceitos e questões levantadas, foram produzidos diagramas, visando compreender a lógica de apresentação dos planos urbanos do grupo dentro de três chaves: cultura, projeto e representação. Assim, pode-se dizer que três ações metodológicas foram adotadas como eixos estruturadores das atividades para os doze meses de pesquisa:

1) Construção de repertório - Pesquisa bibliográfica na busca por referências visando um aprofundamento sobre temas relativos à representação e linguagem no processo projetivo, ao contexto histórico da produção de Archigram, bem como aos planos escolhidos propriamente ditos e às técnicas de representação utilizadas na apresentação e no desenvolvimento dos mesmo; - Levantamento de informações textuais e gráficas sobre os planos urbanos de Plug-in City, Walking City, Instant City e Computor City;

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- Pesquisa nos principais acervos de São Paulo, bem como no acervo on-line do projeto “The

Archigram Archival Project”, do grupo de pesquisas EXP, da Universidade de Westminster, em Londres e em outros recursos disponíveis e ao alcance. - Análise e compreensão das dez edições do magazine Archigram, publicadas pelo grupo entre 1961 e 1974 e disponibilizadas digitalmente pelo “The Archigram Archival Project”. - Feitura de quadros conceituais, articulação dos conceitos observados por meio das revisões bibliográficas. Busca por estabelecer relações entre contexto cultural, estratégias projetuais e formas de expressão.

2) Investigações experimentais - Experimentação: desconstrução da linguagem gráfica da obra de Archigram com o auxílio de ferramentas de desenho digital; - Identificação da sintaxe da linguagem de Archigram; - Sistematização das informações textuais coletadas e das gráficas levantadas e produzidas - Construção de diagramas.

3) Espaços de reflexão - Trabalhou-se no campo da hipótese de que as categorias de Cabral (2001) sobre as estratégias projetuais na obra de Archigram são refletidas também na linguagem gráfica adotada na representação dos planos urbanístico do grupo. - Resultados esperados: espera-se desvelar a importância da representação gráfica no projeto urbano para Archigram, bem como a confirmação da hipótese anteriormente mencionada. 3.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Em termos de metodologia, as atividades desenvolvidas ao longo de um ano de bolsa podem ser dividas em dez etapas descritas brevemente a seguir: I)

Revisão bibliográfica através de fontes primárias (magazines Archigram disponibilizados pelo The Archigram Archival Project, textos, livros e entrevistas dos membros do grupo) e secundárias (livros, teses e dissertações, artigos acadêmicos e críticas de outros autores) referentes aos temas: contexto cultural, arquitetônico e social das décadas de 1950 a 1970; produção e trajetória de Archigram; produção arquitetônica contemporânea e interlocutores do grupo no campo da arquitetura, da filosofia, das artes; entre outros.

II)

Fichamento e tradução da bibliografia buscando conceitos e informações capazes de criar um repertório consistente para a discussão dos temas, partindo do material utilizado na elaboração do projeto de pesquisa e abrangendo novos materiais.

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III)

Leitura, análise e sistematização do material obtido, aprofundando as questões relativas ao contexto, aos interlocutores e à representação de Archigram e aquelas referentes aos projetos que serão tomados como estudos de caso.

IV) Elaboração de considerações e conclusões parciais com base nos textos lidos e nas discussões levantadas. V)

Redação do relatório parcial tendo em vista prestar contas para os devidos fins das atividades desenvolvidas, bem como das contribuições elaboradas durante os seis primeiros meses de bolsa.

VI) Dar continuidade à leitura, análise e sistematização da bibliografia, com o objetivo de revisar os conceitos levantados e ampliar a discussão dos primeiros meses de bolsa, aprofundando em questões que concernem à representação gráfica e aos desenhos e colagens do grupo Archigram, criando base para os trabalhos de experimentação. Criação de hipóteses. VII) Realização de experimentações gráficas tendo como base as colagens e desenhos referentes aos projetos escolhidos para estudos de caso e buscando incitar novas questões e evidenciar as investigações baseadas na leitura da bibliografia. VIII) Sistematização e análise do material produzido, resultando em peças gráficas que destaquem a linha de investigações do estudo que aqui se apresenta. Cruzamento das experimentações gráficas com as hipóteses de abordagem. IX) Revisão das considerações e conclusões parciais e elaboração de conclusões finais, com base no material textual e gráfico levantado e produzido ao longo dos doze meses de pesquisa. X)

Redação do relatório final tendo em vista prestar contas para os devidos fins das atividades desenvolvidas, bem como das contribuições elaboradas durante os doze meses de bolsa. 3.2. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 2015 Atividades desenvolvidas

A S O N D J

I) Levantamento bibliográfico II) Fichamento e tradução III) Leitura, análise e sistematização IV) Considerações e conclusões parciais V) Redação do relatório parcial VI) Leitura, análise e sistematização VII) Experimentações gráficas VIII) Análise do material IX) Conclusões finais V) Redação do relatório final

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2016 F M A M J

J A


4. A EXPRESSÃO GRÁFICA NOS PLANOS URBANOS DE ARCHIGRAM É reconhecido que um dos aspectos mais expressivos da produção de Archigram é a forma de apresentação de seus projetos. Seus desenhos e colagens exploraram, prematuramente, territórios em comum com a Arte Pop e tornaram-se referências no que diz respeito ao experimentalismo na arquitetura dos anos sessenta. Segundo Sadler, qualquer representação arquitetônica para Archigram é transcendental; “os projetos são apresentados mais romanticamente ou estruturalmente perceptíveis do que jamais seriam caso fossem construídos” (SADLER, 2005, p. 05. Tradução nossa). Na obra de Archigram, o peso da representação transpassa a função informativa; ela é uma linguagem que dá voz a uma discussão da arquitetura e da cidade sobre o próprio projeto e figura o partido ideológico, as concepções sociais, formais e estéticas do grupo: “Archigram havia desafiado a cultura arquitetônica vigente com um mínimo de meios, uma boa quantidade de humor e energia, e sobretudo, muitos desenhos”. (COSTA, 2001, p. 258). 4.1. O MAGAZINE ARCHIGRAM O primeiro magazine Archigram (1961) consistia em um panfleto composto por dois pedaços de papel de tamanhos diferentes: um onde compareciam poemas de Greene, envolvido pelo outro (Figura 1) dobrado; neste, se viam desenhos de projetos sobre os quais vinham trabalhando Cook, Greene e Webb em seus anos de universidade, bem como recortes de imagens de projetos referenciais para os jovens. Estas

imagens eram permeadas por

palavras e frases expressivas e das ideias do grupo. Aproximadamente 400 exemplares foram produzidos artesanalmente utilizando-se de uma copiadora de escritório e de técnincas pouco desenvolvidas de litogravura. O único elemento colorido, um ponto vermelho no canto da primeira folha, foi carimbado em cada exemplar com uma batata cortada. Como constava na página interna, Archigram no. 1 era “uma declaração do ponto de vista da nova geração de arquitetura”. Este espírito radical, drástico e insubordinado, transparece no aspecto formal dos projetos de inspiração futurista, mas também na diagramação do magazine. Os desenhos e as colagens parecem ter sido jogados aleatoriamente nas páginas do panfleto, e as frases encaixadas ao seu redor, nos espaços restantes. O formato e a diagramação do segundo magazine (1962), que contou com um maior investimento e com o empenho do sexteto completo, remetem mais a ideia de uma revista e menos a de um panfleto. As páginas de texto foram produzidas em prensas gráficas com tipos de metal. Os textos estão isolados das imagens e, à exceção da capa e da última página, pouco se explora da relação entre imagens e textos e pouco é trabalhado com colagens. Uma página dobrada no meio do magazine apresenta os desenhos referentes aos novos projetos do grupo.

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Figura 3. Os magazines Archigram, mostrando suas dimensões e seus formatos relativos. Fonte: STEINER, Hadas A, Beyond Archigram: the structure of circulation, 2009 (com intervenção nossa).

Em termos de diagramação, o primeiro magazine parece muito mais inovador e exploratório do que o segundo. A liberdade de exploração formal neste é restringida pela técnica da impressão em tipografia, um modo de reprodução mais massivo, no entanto restrito. O resultado muito se assemelha às tradicionais revistas de arquitetura da época. O terceiro Archigram foi o primeiro número temático, abordando a questão da expendability. Foi reproduzido através de uma técnica mais elaborada que permitiu maior liberdade de exploração formal: a litogravura – ou a impressão – em offset, feita utilizando uma tinta verde escura sobre papel amarelo. Segundo Dennis Crompton (CHALK, Warren; Archigram no. 4: entrevista com Kester Rattenbury, 2010), os membros de Archigram estavam antenados nos novos procedimentos de tipografia que surgiam nos anos sessenta e permitiam reprodutibilidade massiva e liberdade de exploração do campo gráfico, e tomavam como inspiração os trabalhos de artistas gráficos daqueles anos – sendo que alguns, inclusive, foram chamados para desenhar capas dos magazines. O desenvolvimento tecnológico que acompanhava a arquitetura também acompanhava o design gráfico. O ponto de vista otimista em relação ao consumo e às tecnologias transparece nas colagens e na diagramação, cada vez mais explicitamente contaminadas pelas formas arredondadas do estilo aerodinâmico – streamling – que também inspirava o design dos móveis e utensílios (principalmente advindos dos Estados Unidos) que invadiam as residências inglesas na época. A partir de Archigram 3, a colagem aparece como um dos princípios de representação mais essenciais para Archigram. A utilização de figuras e objetos pré-existentes e de diferentes

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origens, compondo entre si e com elementos novos é uma ideia introduzida no campo da arte pelo movimento Cubista. Archigram se apropria desta técnica na apresentação de seus projetos de uma maneira até então pouco convencional na esfera da arquitetura: desenhos feitos à mão compondo com figuras recortadas de revistas de sci-fiction e jornais davam origem às perspectivas, mas também aos cortes e elevações.

Os desenhos precisos

compõem com fragmentos de imagens, convivem representação técnica e uma dimensão lúdica nos magazines de Archigram.

Figura 4. Magazine Archigram 3 , páginas 1 e 2, 1963. Fonte: The Archigram Archival Project.

Com a quarta publicação, segundo Dennis, Archigram se torna internacional. Reynner Banham leva cópias do magazine para os Estados Unidos, abrangendo a repercursão das ideias de Archigram e fortalecendo o diálogo do grupo com seus interlocutores norte-americanos. Em Amazing Archigram (1964, Figura 2), o grupo assume sem pudor a relação com os quadrinhos e às histórias de ficção científica. As cinco primeiras páginas do magazine são uma história em quadrinhos realizada por Warren Chalk. Sobre estas páginas, fala Dennis Crompton em sua entrevista com a Professora Dra. Kester Rattenbury, coordenadora do The

Archigram Archival Project: Ele [Chalk] estava escrevendo um ensaio sobre a relação entre arquitetura, ficção científica, fato científico e história em quadrinhos; sobre como na época em que ele estava escrevendo, 1964, havia uma tremenda coincidência entre o que estava aparecendo nos quadrinhos e o que pessoas como Frei Otto e Bucky Fuller e nós [o grupo Archigram] estávamos escrevendo nos anos anteriores. (CHALK, Warren; Archigram no. 4: entrevista com Kester Rattenbury, 2010. Tradução nossa)

Ao longo das páginas, a história vai dando lugar à conceitos projetuais e ficção científica se mistura com fato arquitetônico e especulação projetual e desenhos coloridos em pop-up levantam projetos de torres que trabalham com o conceito plug-in – que assume grande importância na produção do grupo. Neste magazine é publicada pela primeira vez a paradigmática Plug-in City de Peter Cook, representada em uma axonometria, e que assume posição central na revista.

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Figura 5. Magazine Archigram 5, página 19, 1964. Fonte: The Archigram Archival Project.

No mesmo ano, em Archigram 5, o grupo se volta ao tema da metrópole, suas dinâmicas e suas transformações. Aparecem cidades construídas e cidades imaginadas, e busca-se investigar a dinâmica da metrópole no contexto do pós Segunda Guerra. Esta edição representa o auge das experimentações megaestruturais do grupo, e é a publicação na qual surgiram primeiramente os planos de Walking City (Ron Herron) e Computor City (Dennis Crompton), além de novos estudos da Plug-in City. O quinto magazine é impresso e reproduzido em tinta azul sobre papel branco. Mantém-se o formato de uma revista grampeada, as dimensões são novas (nenhum par de magazines teve as mesmas dimensões) e, em termos de diagramação, dá-se continuidade a exploração de uma linguagem ligada às formas futuristas que remetem à diagonais, ao movimento – que é trabalhado tanto por meio do desenvolvimento gráfico como através dos projetos. De certa forma, estes três magazines – Archigram 3: Expendability; Amazing Archigram 4:

Zoom Issue; e Archigram 5: Metropolis – representam o momento de consolidação das ideias centrais que nortearam a produção do grupo. Paralelamente, expressam o estabelec0imento de uma linguagem de representação que foi característica do grupo e bastante inovadora no campo da arquitetura. O trabalho com colagens e com referências exteriores à disciplina arquitetônica – como as advindas do design, dos HQs, do cinema – e de origem popular marca a produção gráfica de Archigram desde então e até a publicação do último magazine, em 1974.

Archigram no. 6 (1965) foi a única edição quadrada. Com duas capas frontais, uma de cada lado, pretendia-se duas revistas em uma: mostrando a experimentação dos anos sessenta em paralelo com uma seleção de imagens expressivas da produção da década de 1940. As capas, desenhadas por Geoff Reeve, foram realizadas em silkscreen e as páginas impressas em preto sobre papel branco são coladas e não mais grampeadas. O corte das páginas quadradas gerava tiras de papel que foram aproveitadas para as primeiras páginas referentes aos anos sessenta.

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Ao longo das publicações, observa-se uma grande densidade de informações por página, uma sobrecarga do campo visual marcada pela disposição das imagens em confronto com os textos. Cria-se uma forma de fruição dinâmica, reforçada pelo uso das diagonais e das formas arredondadas, dá-se a ideia de movimento através do próprio layout da página.

Figura 6. (esquerda) Magazine Archigram 6, 1965, página 13. Fonte: The Archigram Archival Project. Figura 7. (direita) Folha do magazine Archigram 7, 1966. Fonte: The Archigram Archival Project..

O Archigram 7, Beyond Architecture, era composto por uma série de folhas de diferentes tamanhos impressas em variadas cores, soltas umas das outras, sendo que uma delas, quando dobrada, formava uma espécie de envelope para as outras. Não existe uma ordem de páginas, a própria fruição do magazine incorpora novas dimensões, até a própria atitude do leitor. Liberdade e flexibilidade: se Archigram estava questionando a produção arquitetônica em cima destes conceitos, estava também trabalhando com eles em termos de design gráfico. Nas páginas do magazine se lê “Archigram 7 é uma rede” e a sua forma e diagramação remetem à esta ideia de conexão, um encadeamento de páginas e de informações. No verso de duas folhas, partes de uma “megaestrutura de montar”: elementos da plug-in city planificados para serem recortados e montados de maneira livre pelo leitor. É a expressão literal, no campo da representação, do pensamento de Archigram na concepção deste projeto. O oitavo magazine, Popular Pack (1967), foi desenvolvido entorno da temática da Trienal de Milão de 1967: crescimento populacional. Esta edição marca o momento em que as experiências de Archigram abandonam as megaestruturas e as soluções totalizadoras para a cidade e passam a se voltar à questões que concernem a um microentorno tecnológico, aos pares Exchange e Responde, Hard e Soft; basicamente, a terceira etapa da produção do grupo segundo Cabral (2001), ainda que Computor City já o antecipasse no quinto magazine . O formato era o de um telegrama: um envelope amarelo, com impressões por dentro guardava as folhas do magazine soltas, como cartões. Novamente não existe uma ordem de leitura, nem frente e verso nas folhas, mas agora uma tira à direita de cada página classifica-a de acordo com alguns temas, permitindo relacioná-las. A diagramação remete aos “cartões furados” da

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época, os círculos cheios e vazios dão a classificação. É o magazine com o maior número de páginas e de projetos novos.

Figura 8. Página do magazine Archigram 8, 1967. Fonte: The Archigram Archival Project.

No penúltimo magazine Archigram, pulicado em 1970, muito daquilo que já vinha sendo trabalhado em termos de layout se mantém, mas de certa forma mais sóbria. O campo gráfico é pensado numa composição mais harmoniosa entre tipo e imagem: as fontes são mais uniformes e a relação destas com os desenhos e as colagens é mais contida do que, por exemplo,

era

na

edição

sétima

(.

Figura 7). As páginas são impressas em diferentes cores, algumas, inclusive, com mais de uma cor – estratégia agora possível pelo avanço nos meios de impressão em relação aos primeiros anos sessenta. São coladas e a revista é dobrada ao meio, de forma que a capa envolve todas as folhas e a primeira página é, na realidade, a que fica no meio. É a primeira vez onde aparece efetivamente a Instant City, sendo que na edição anterior já apareciam algumas especulações neste sentido.

Figura 9. (à esquerda) Magazine Archigram 9, 1970, página 5. Fonte: The Archigram Archival Project Figura 10. (à direita) Magazine Archigram 9 1/2, 1974, capa. Fonte: The Archigram Archival Project.

Antes da dissolução do grupo, em 1974, têm-se a última edição do magazine: Archigram 9 ½. Meio porque não consideraram esta uma edição inteira: ela seria como um catálogo, um

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compilado dos projetos correntes do grupo, quase que como uma última prestação de contas do grupo com o mundo da arquitetura. Basicamente composta por colagens e desenhos, com poucos escritos, o layout se aproximava ao do primeiro magazine: uma folha maior dobrada ao meio, com outra dentro. 4.2. ESTUDOS DE CASO Os estudos de caso escolhidos consistem em planos urbanos selecionados buscando contemplar da maneira mais abrangente possível suas principais ideias. Foram selecionados quatro projetos realizados pelos membros de Archigram e publicados por meio do magazine, à serem estudados do ponto de vista da representação gráfica. Os projetos escolhidos buscam contemplar os três momentos da sistematização proposta por Cabral e são eles: - Plug-in, por uma arquitetura descartável: a expressão gráfica no plano de Plug-in city. - Zoom, por uma arquitetura móvel: a representação nos planos de Instant city e Walking city. - On-off, por uma arquitetura da ausência: a expressão gráfica no plano de Computor city.

Figura 11- Linha do tempo dos magazines Archigram e estudos de caso. Fonte: próprio autor.

O diagrama da figura 11 foi feito para explicitar a maneira como os projetos citados apareceram ao longo das pubicações do magazine Archigram. Abaixo da linha do tempo dos magazines foram destacadas as páginas em que os projetos aparecem. É importante notar que estas não foram as únicas imagens produzidas por Archigram para a apresentação dos projetos, mas apenas aquelas que foram publicadas no magazine ao longo de suas 10 edições. A imagem em melhor definição encontra-se disponível, juntamente com os demais diagramasa aqui apresentados produzidos pelo autor por meio do link http://migre.me/uEJM3. 4.2.1. O caso de Plug-In City

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O termo plug-in refere-se a uma estratégia projetual comum à diversas propostas megaestruturais dos anos sessenta e que consiste na existência de unidades pré-fabricadas, que são conectadas à uma estrutura maior que as alimenta, gerando um sistema completamente flexível e mutável, que se altera e se expande de acordo com as necessidades. Esta é a estratégia básica que constitui o projeto de Plug-In City, atribuído à Peter Cook. É difícil definir qual fase do trabalho na Plug-in City compõe o projeto definitivo. Durante todo o período de 1962-66, elementos estavam sendo observados e as noções sendo alteradas ou prorrogadas conforme o necessário:

assim,

os

desenhos,

inevitavelmente,

contêm

muitas

inconsistências. O termo “city” é usado como um coletivo, o projeto foi uma “portmanteau” para diversas ideias, e não necessariamente implica uma substituição das cidades como conhecemos. (COOK, 1973, p. 33. Tradução nossa)

A Plug-In City, primeiramente trazida a público no magazine Amazing Archigram (1964), é composta em sua totalidade por uma série de desenhos e estudos que datam de 1962 a 1966. Consiste em uma estrutura espacial e capaz de ramificar-se em várias direções, composta por redes ortogonais de tubos dispostas a 45° onde se conectam unidades que contemplam todas as necessidades da cidade. Em princípio, é aplicável sobre qualquer terreno e, com este sítio criado artificialmente, o único dado prévio de projeto são as conexões com outras cidades. Segundo KAMIMURA (2010, p. 118), o urbanismo de Archigram com a Plug-in City mais do que tridimensional, incorpora a quarta dimensão no projeto: a do tempo. Os componentes da cidade são concebidos com tempos de obsolescência pré-estimados de acordo com uma hierarquia, pressupondo uma dinâmica constante, ciclos de renovação da cidade. De acordo com Cabral (2001), urbanismo rígido e funcional previsto pela Carta de Atenas e que abriga o ‘homem da multidão’ dá lugar à flexibilidade e à variação da composição de um ambiente urbano para ser fruido pelo Homo Ludens. Para Cabral (2001), este projeto converge os principais interesses de Archigram naquele momento: “a cultura do consumo vista pelo ciclo obsolescência e substituição, a pressão das novas tecnologias sobre as estruturas [...], a tensão entre a flexibilidade ou a variabilidade das partes e a consistência geral do conjunto” (p. 132) e a expressão destas pautas se dá dentro de uma lógica do jogo: A utopia de Archigram seria extrair do consumo a possibilidade de jogo, e aproximar a arquitetura a alguma à alguma forma de arte participativa, dependente da ação individual, ainda que através da eleição e da combinação de um conjunto de elementos basicamente repetitivos, e dentro de algumas regras pré-estabelecidas. [...] A saída intermediária para a

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aparente contradição entre a repetição e a sandardização característicos do modo de produção em massa e a singularidade do individuo estaria em deixar que o homem tipo desse lugar ao homo ludens. (CABRAL, 2001, p. 147)

A questão que aqui se coloca é a seguinte: em que medida estes interesses transparecem por meio da linguagem de apresentação do projeto? Quando, no sétimo magazine, tem-se a Plug-

in City de cortar e montar, este fator lúdico da cidade que se contrapõe ao racionalismo funcionalista do urbanismo moderno está presente de forma literal na representação. Aquele que frui o magazine é convidado a experimentar os procedimentos que estiveram presente no momento da concepção do projeto. Estão presentes os conceitos de expendability, flexibilidade, do consumo e da possibilidade de escolha, e do jogo, em apenas uma forma de representação.

Figura 12. Plug-in City de montar, em Archigram 7, 1966. Fonte: The Archigram Archival Project.

4.2.2. O caso de Walking City O projeto de Walking City, atribuído a Ron Herron e primeiramente publicado no quinto magazine, Metropolis (1964), consiste em uma frota de veículos gigantes que carregam em seu interior todos os instrumentos necessários à vida em uma cidade normal. Segundo Cabral (2001) unidade tipo seria equipada com habitações, comércios, escritórios, serviços públicos e privados e, eventualmente, poderiam ser incorporados hospitais ou unidades especiais. O ambiente no interior de cada unidade seria controlado artificialmente por meio dos aparatos tecnológicos de condicionamento ambiental. Estas imensas máquinas de aspecto animalesco se moveriam através das terras e do arrastando-se como hovercrafts e suas “patas” telescópicas funcionariam como mecanismo de estabilização no sítio. Seus “braços” realizariam a comunicação das unidades entre si e com o entorno e as cidades existentes, permitindo a circulação de pessoas, bens e de informação.

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O projeto de Waliking City demarca o interesse de Archigram pela questão do nomadismo enquanto instância de libertação: num momento onde, cada vez mais, a lógica de produção e a estética do carro são incorporadas à constituição do ambiente doméstico, Archigram absorve de uma vez a mobilidade como elemento de projeto para habitação e para cidade. As colagens mostram a cidade viajando ao redor do mundo: em Nova York e num oásis no meio do deserto. Um croqui mostra, ainda, ela se aproximando do plano de Le Corbusier para Argel. A Walking City é concebida para caminhar sobre a terra, sobre a água e sobre a história das outras cidades e isto transparece nas colagens e nos desenhos de Archigram.

Figura 13. Walking City. Fantasy and Reality (fantasia e realidade). Fonte: The Archigram Archival Project.

As especulações de Walking City usam como base o território fértil da ficção científica para expressar um ponto de vista crítico da realidade: exploram a relação do homem com a tecnologia enquanto instância de libertação, traduzindo o potencial das tecnologias para desconfigurar limites em forma arquitetônica, ainda que de forma fantástica ou distópica. E a dialética entre as dimensões do fantástico e do verossímil (expressa nos escritos da colagem da Figura 13) é presente de maneira transversal no pensamento de Archigram e de fundamental interesse para estudar os meios de representação em sua produção. Parte da força de Walking City vem da sobreposição de lógicas distintas, da nivelação em um mesmo plano, do desenho ou da colagem, entre uma proposição fantástica e um modo de operação e representação eminentemente

técnico.

Uma

quimérica

cidade-máquina,

veículos

excêntricos que se movem sobre patas e que se parecem a insetos gigantes, mas que são desenhados com uma obsessiva insistência nos detalhes, mais própria de um projeto de engenharia mecânica, que produz uma estranha combinação entre irrealidade e pragmatismo. (CABRAL, 2001, p. 203)

Conforme Cabral (2001), os desenhos de Walking City são especulação e representação técnica simultaneamente. São estudos de uma ideia fantasiosa comprometidos com a retórica da verossimilhança que aproximam-na da realidade. Assim, o primeiro ponto que pode ser

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apreendido da produção gráfica de Archigram é a duplicidade, à principio paradoxal, entre fantasia e verossimilhança. 4.2.3. O caso de Instant City A cidade instantânea de Archigram, para além de um projeto fechado, é uma noção de intervenção trabalhada através de desenhos, colagens e modelos realizados entre 1968 e 1970 por Peter Cook. É um conceito que abrange uma série de estudos especulativos baseados no defrontamento de duas realidades: comunidades periféricas culturalmente isoladas e o aparato cultural, educacional e de informação das grandes metrópoles. Basicamente, a intenção seria injetar temporariamente nestas núcleos locais a dinâmica e os recursos de uma metrópole. A ideia era a de um “pacote” com sistemas de exibição áudio visual, aparelhos de projeção, unidades em trailers, estruturas pneumáticas e leves e instalações de diversão, pórticos e luzes alimentado pela energia elétrica e que viajaria ao longo do território como uma feira ambulante. Pretendia-se criar, nestas localidades, um evento de natureza transitória, uma rede de informações, de facilidades e de entretenimento através deste “pacote” e tirando proveito dos recursos culturais disponíveis em cada comunidade.

Figura 14. Visita da Instant City a Bournemouth, na Inglaterra. Fonte The Archigram Archival Project

O desenvolvimento das investigações de Instant City envolveu pesquisa de itinerários, sobre as comunidades e sobre os recursos disponíveis, de forma que a Instant City fosse complementar às comunidades a que se destinava e não uma completa estranha. Esta metrópole viajante poderia ser transportada por meio de caminhões ou dirigíveis e foi concebida através de tecnologias existentes e de acordo com suas aplicações reais, ou seja, poderia ser tornada uma realidade prática do ponto de vista técnico com o aparato disponível nos anos 1960. A observação de todas as colagens e desenhos referentes a este projeto sugerem que a questão central para Archigram não é necessariamente a oposição entre cidade concentrada e cidade difusa, mas o tipo de interação com o lugar que uma determinada classe de dispositivos transitórios, como

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arquiteturas pneumáticas e ultra-leves, ou os sistemas de comunicação e informação eletrônicos podem produzir. (CABRAL, 2001, p. 221)

De fato, quando se observam as estratégias de apresentação do projeto de Instant City, esta importância dada à relação do indivíduo com a cidade transparece através das colagens: a figura humana é uma constante e aparece não apenas como escala, mas com a função de expressar a dinâmica que se propõe para o local e as relações que se previa. Ao contrário dos outros projetos, é dada grande importância às perspectivas feitas ao nível de um observador, um fruidor deste grande evento que é a cidade instantânea. 4.2.4. O caso de Computor City

Figura 15. Axonometria de Computor City (Denis Crompton, 1964). Fonte: The Archigram Archival

Project

A Computor City de Dennis Crompton, também primeiramente publicada no magazine

Archigram Metropolis de 1964, representou, prematuramente, o terceiro movimento da produção de Archigram: no qual se exploram dimensões mais abstratas que concernem à relação entre tecnologia e ambiente. Se em Plug-in City e em Walking City o grupo ocupava-se com a renovação de um vocabulário arquitetônico, em Computor City as preocupações são outras, o interesse pelo objeto arquitetônico enquanto artefato material dá lugar ao interesse em processos e estratégias relacionados ao impacto das tecnologias da automação e da comunicação sobre o ambiente [...] a tecnologia é uma alternativa da arquitetura, ou mesmo poderia converter-se em uma alternativa à arquitetura? A tentativa de colocar esta questão passa por uma série de projetos [de Archigram] cujo ponto comum é a ênfase na integração entre produtos materiais – artefatos arquitetônicos ou objetos concretos – e circunstancias tecnológicas que, progressivamente, parecem depender cada vez menos de suportes materiais (CABRAL, 2001, p. 224).

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Computor City consiste num sistema tecnológico capaz de nutrir e equilibrar qualquer metrópole e subsidiar, em termos de tecnologia, seu desenvolvimento e suas transformações. O projeto, apresentado através de uma única axonometria (Figura 15), não supõe nenhuma definição formal de elementos arquitetônicos ou espaços da cidade. Pelo contrário, é uma espécie de esqueleto invisível de cidade, uma rede de informações aplicável à qualquer um dos esquemas megaestruturais desenvolvidos por Archigram. A axonometria de Dennis Crompton (Figura 15), apenas, é o que se tem de material imagético produzido por Archigram referente à Computor City. Apenas um diagrama representa o plano que talvez tenha sido um dos mais complexos do grupo. 4.3. ARCHIGRAM E O MOVIMENTO POP No estudo da bibliografia referente a Archigram, é comum encontrar a produção do grupo sendo associada de diferentes formas ao Pop Art e esta relação pode ser tida como chave para o entendimento do valor da representação na obra do grupo, Nesse sentido, é interessante colocar a posição de dois autores que escreveram em diferentes momentos sobre esta relação e que, de certa forma, se complementam. Sobre Archigram e Pop Art, KLOTZ (1988) escreve: Tanto quanto o Pop Art deu status de arte aos bens de consumo e legitimouos enquanto objetos de representação artística, Archigram fez da máquina e de suas qualidades dignas de representação artística e arqutietônica – sem interpor o tipo de sublimação estetizante que Le Corbusier empregava. Por exemplo, nos submarinos Aquamen de Warren Chalk, capsulas de mergulho e outros equipamentos subaquáticos eram retratados como se fossem eletrodomésticos em um tipo de anúncio. Palavras com glamour e Coca-Cola e robôs são alguns outros fios condutores que os membros de Archigram usavam em suas colagens “tipo-Pop” [Pop-ish]. [...] Ainda que Archigram tenha adotado alguns recursos estilísticos Pop, seu maior interesse estava na apropriação e glamourização da tecnologia. (KLOTZ, 1988, p. 380. Tradução nossa.)

Segundo ele, a consolidação de Archigram enquanto grupo coincidiu com o desenvolvimento do Pop Art e Archigram seria “tanto ou tão pouco moderno ou pós-moderno quanto o é o Pop Art” (KLOTZ, 1988. p. 381, tradução nossa) na medida em que ambos se desenvolvem num mesmo momento e tensionam os princípios do movimento moderno: o Pop Art o faz ao romper com as correntes dominantes do modernismo e Archigram ao se afastar do urbanismo utilitarista. No entanto, Klotz indica que uma possível aproximação de Archigram com o pós-modernismo seria apenas de caráter simbólico e narrativo, enquanto que em termos de conteúdo,

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permaneceria a moderna fixação pela tecnologia enquanto único instrumento de salvação. Apesar do interesse de Archigram por uma cultura popular e do consumo que o aproxima do movimento Pop, a principal questão para Archigram estava na renovação da linguagem moderna dentro de uma retórica tecnológica. A relação do grupo com o Pop Art então teria se dado através da apropriação de recursos estilísticos e de representação. FOSTER (2008) coloca esta relação de outra forma. Para ele, a ideia do Pop foi trazida nos anos 1950 pelo Independend Group, um grupo de jovens artistas ingleses guiados principalmente pelo historiador da arquitetura Reyner Banham, um intelectual que influenciou diretamente a produção de Archigram. Para Foster, pode-se dividir a era clássica do Pop em dois momentos: uma vertente tecnológica surgida na Inglaterra enquanto renovação do desenho moderno e outra historicista surgida nos Estados Unidos configurando as bases para o pós-modernismo proriamente dito. Estas manifestações da “arquitetura Pop” seriam frutos de “uma nova configuração do ambiente cultural ocasionada pelo capitalismo de consumo, no qual estrutura, superfície e símbolo aparecem frequentemente associados.” (FOSTER, 2008, p. 198. Tradução nossa). Banham buscou atualizar a demanda Expressionista de uma maneira moderna de trabalhar a forma, frente ao compromisso Futurista com a tecnologia moderna, enquanto os Venturis evitaram ambas as tendências, a expressiva e a tecnológica; na verdade eles opuseram qualquer “prolongamento” do movimento moderno. Para Banham, a arquitetura não era moderna o suficiente, enquanto para os Venturis, ela teria se tornado desconectada da sociedade e da história precisamente devido a seu comprometimento com uma modernidade que era abstrata e amnésica. (FOSTER, 2008, p. 201-202. Tradução nossa.)

A leitura de Koltz e o estudo dos magazines e das colagens de Archigram permite inferir que existe uma relação de apropriação por parte de Archigram de recursos estilísticos advindos do Pop. Nas colagens e nos desenhos, a utilização de recursos típicos das histórias em quadrinho de ficção científica é um exemplo desta apropriação. Mas a leitura de Foster indica que esta relação vai mais além de uma questão formal, tendo em vista que a produção de Archigram estaria vinculada a este primeiro momento da “arquitetura Pop” britânica. Isto porque foi diretamente influenciada pelos escritos de Banham e toca um projeto, no campo da arquitetura experimental, de renovação da linguagem moderna por meio da imagem e da descartabilidade e que está inevitavelmente associado ao universo do popular e do consumo. 4.4. A COLAGEM NA OBRA DE ARCHIGRAM A colagem é uma técnica frequentemente utilizada por Archigram na diagramação de seus magazines e na apresentação de seus projetos. Enquanto técnica artística, foi introduzida pelo movimento cubista no início do século XX e consiste na superposição de fragmentos de

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imagem de diferentes origens que são deslocados de seu lugar original para assumir um novo significado sobre um outro suporte pictórico. No caso de Archigram, estes fragmentos são as figuras humanas, os automóveis, os eletrodomésticos e outros objetos que são deslocados de jornais, revistas, histórias em quadrinho e anúncios publicitários diretamente para compor com as cápsulas, estruturas pneumáticas e tendas desenhadas pelo grupo. Segundo SHIELDS (2004), Archigram trabalha com o que ela chama de colagem-desenho [collage-drawing], definido como uma forma de colagem em que “seletos fragmentos de cor, textura, ou de imagem são combinados com a linha, explorando a tela como um espaço tridimensional (potencialmente infinito)”. A colagem de Walking City (Figura 13) é um exemplo de colagem-desenho onde se tem a superposição de fragmentos de imagens com desenhos feitos à mão em diferentes camadas, criando uma noção de tridimensionalidade. A natureza efêmera da atividade humana na cidade era, para Archigram, mais importante do que a arquitetura que a enquadra, um conceito que foi retomada por Superstudio na Itália. [...] O uso de colagem-desenho na arquitetura de papel de Archigram carrega uma semelhança metodológica com o trabalho dos construtivistas russos e dos artistas da Bauhaus. Como acontecia com estes antecessores, os desenhos de linhas são ativados e ganham profundidade pela inserção de fragmentos fotográficos. Archigram também aproxima-se do Construtivismo conceitualmente – ambos valorizado o poder da mídia na construção de uma nova ordem social. A seleção de material fotográfico a partir de fontes da mídia contemporânea ofereceu uma solução representacional à crença de Cook de que "a arquitetura poderia sair da seu isolamento se adquirir elementos (um vocabulário de forma) vindos de fora de si”. (SHIELDS, 2014, p. 100-101. Tradução nossa)

Como já foi abordado, a apropriação de elementos advindos de esferas exteriores à da arquitetura é um gesto comum para o grupo em termos de projeto. Num momento em que o desenvolvimento técnico propicia o uso de formas de reprodução em massa, a colagem como forma de enfatizar o processo em detrimento do produto e de ressignificar objetos de origens diversas vai ao encontro à estas características e às demais ideias do grupo. A colagem como meio de apresentação caracterizou fortemente a identidade visual da produção de Archigram. Apareceu em todos os magazines compondo na diagramação das páginas e, dentre os projetos estudados, pronuncia-se de forma expressiva no aparato de apresentação de Walking City e de Instant City dando dimensão e cor aos desenhos do grupo. É importante perceber que isto se dá em termos de representação e que a relação da colagem com a arquitetura e com a cidade, no entanto, pode ser colocada de outras formas. Para Shields (2014), apesar de a arte da arquitetura não estar tradicionalmente associada à noção de colagem,

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[...] o próprio papel da arquitetura enquanto quadros e configurações para as atividades humanas a torna uma entidade variante e variável, uma colagem constantemente mutável de atividades, mobiliários e objetos. Por causa de sua longevidade, os edifícios tendem a mudar suas funções e ser alterados como entidades materiais. [...] Muitas vezes é esta temporal sobreposição de camadas que dá um edifício a sua atmosfera única e seu charme; a configuração espacial e material geométrica da arquitetura é abraçada e reforçada pelo uso, erosão e tempo; arquitetura passa de uma abstração espacial para uma situação vivida, ambiente e metáfora (SHIELDS, 2014, p. IX-X. Tradução nossa)

Este conceito da própria arquitetura enquanto colagem como descrito por Shields (2014) pode ser expandido para a lógica da cidade e, nesse sentido, atravessa toda a obra de Archigram, já que seus projetos se constroem a paritr de condições espaciais mutáveis, ambíguas e fragmentadas. Os próprios conceitos de plug-in e clip-on estão intimamente associados a esta ideia de compor uma colagem: a Plug-in City, por exemplo, seria uma cidadecolagem, que estaria sempre em processo de construção, contando com uma base, a megaestrtura, que estaria disposta a receber as diversas camadas de atividades humanas ao longo do tempo. Assim, a leitura de Sields (2014) permite inferir que a noção da colagem pode ser associada à produção de Archigram de duas formas correlatas: como técnica de apresentação no uso da colagem-desenho e como conceito norteador do projeto, estando associado ao próprio panorama cultural e arquitetônico de um universo “móvel, simulado, múltiplo, sem identidade” dos anos 1960 como descrito por Arantes (2000).

5. CONSIDERAÇÕES Através de seus desenhos e colagens, Archigram colocou uma crítica à produção arquitetônica de seu tempo, dando voz a um discurso de otimismo em relação às novas tecnologias da informação e trazendo para a arquitetura novas pautas relacionadas a agenda cultural daqueles anos. Archigram conquistou reconhecimento internacional e influenciou gerações de arquitetos até hoje com sua arquitetura experimental, sem feitos arquitetônicos concretamente construídos, tão somente por seus desenhos e colagens. Assim, a pesquisa que aqui se apresenta buscou estudar a expressão gráfica na obra do grupo colocada em sua relação com conceitos de projeto e com o contexto cultural daqueles anos para assim levantar algumas questões. Archigram trabalhou numa constante pesquisa com os novos procedimentos de impressão e de reprodução em massas e criou uma estética própria e inovadora, uma estética da reprodutibilidade, do movimento; o grupo traduziu o contexto daqueles anos não somente através de projetos, mas também pelos meios de representação. O estudo de seus magazines 29


permite identificar uma constante investigação de formatos e diagramações, uma vontade por novas formas de exploração do campo gráfico. Esta dinâmica traduz, de certa forma, o teor dos projetos de Archigram e representa o universo fragmentado, múltiplo e simulado que caracteriza a atmosfera cultural do pós Segunda Guerra. Segundo Cabral (2001), a produção de Archigram se deu por meio de uma constante relação entre pura experimentação teórica e possibilidades técnicas concretas, entre o fantástico e o verossímel. Não que as propostas megaestruturalistas do grupo fossem para ser efetivadas, mas elas eram pensadas como se fossem, ou seja, dentro de uma dimensão eminentemente técnica, resultando numa “estranha combinação entre irrealidade e pragmatismo” que reflete na forma como os projetos eram apresentados. Assim sendo, a primeira questão a ser colocada a partir do estudo dos desenhos e colagens de Archigram e que já é levantada por Cabral (2001) é o diálogo constante entre proposições fantásticas e possibilidade de efetivação concreta que resulta na convivência entre diferentes tipos de representação. Na maior parte dos projetos de Archigram há uma clara intenção de demonstrar que, embora essas ideias sejam especulativas e tenham relação com o espírito inventivo das arquiteturas fantásticas, elas poderiam ser construídas dentro dos parâmetros profissionais correntes. (CABRAL, 2001, p. 140)

Na apresentação dos projetos estudados, convivem desenhos livres (croquis, perspectivas à mão, colagens), e desenhos técnicos (plantas, cortes, elevações) realizados com rigor matemático e precisão técnica. O desenho técnico está presente como marca da confiança que Archigram depositou na tecnologia de seu tempo e o desenho livre traz explorações que expressam as principais convicções e discussões do grupo. A representação expressa um diálogo constante entre pura experimentação e verossimilhança. À razão que existe entre pragmatismo e irrealidade em cada projeto propõe-se chamar de materialização. O esforço pelo detalhamento técnico em Plug-in City e Walking City que resulta numa quantidade enorme de desenhos expressa o otimismo tecnológico que contamina este momento dos projetos de Archigram. Não que eles acreditassem que seus projetos seriam construídos, mas tinham por objetivo mostrar a possibilidade técnica de execução dos mesmos. Esta dimensão do pragmatismo perde importância no momento em que a atenção de Archigram volta-se para questões mais abstratas e deseja-se investigar menos as soluções construtivas mecânicas e mais os sistemas de comunicação e informação, como em

Computor City. Pode-se levantar a seguinte questão: se os projetos de Archigram trilham um caminho de desmaterialização do objeto arquitetônico, essa dinâmica se espelha de alguma forma na sua linguagem gráfica?

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Pode-se observar a quantidade de desenhos e colagens que se tem disponíveis de Plug-in City em detrimento de uma única axonometria relativa à Computor City. Segundo Cabral (2001), estes projetos corresponderiam a dois momentos diferentes da produção de Archigram e demarcam respectivamente a fase inicial e a fase final de um processo de desmaterialização do objeto arquitetônico pelo qual passa a obra do grupo. De certa forma, na medida em que a arquitetura se torna espaço abstrato, não é mais necessário representá-la. Computor City é um sistema interno e abstrato que serviria para sustentar as propostas megaestruturalistas do grupo. Talvez Archigram simplesmente não soubesse como seria o desenvolvimento destes circuitos apenas com o os conhecimentos disponíveis na década de 1960, mas este projeto se consolida em sua dimensão múltipla, pouco definida e uma única axonometria pouco clara foi o suficiente para denotar sua existência. Assim, pode-se perceber que na materialização dos quatro projetos estudados, Plug-in City, Walking City e Instant City estão muito mais próximas do pragmatismo, pelo esforço de detalhamento que existe na apresentação destes projetos, enquanto que Computor City distancia-se da realidade e abdica deste esforço, até mesmo pela existência de uma única imagem referente a este plano.

Figura 16. Levantamento de apresentações dos planos urbanos. Fonte: próprio autor.

O estudo dos magazines e dos quatro projetos apresentados anteriormente permite observar a dinâmica que se dá em termos de representação nos projetos de Archigram. O diagrama (Figura 1Figura 16) apresenta as imagens referentes aos estudos de caso a que se teve acesso pelo site do programa The Archigram Archival Project, um acervo online do material produzido por Archigram disponibilizado pela Universidade de Westinminster. Por meio do diagrama, é possível observar a apresentação dos projetos e identificar quais foram os recursos de representação escolhida em cada caso. O diagrama e a tabela que se segue tornam possível observar a diversidade de materiais de desenho com que Archigram trabalhou e perceber as peculiaridades em termos de forma de representação que caracterizam cada projeto. De maneira sucinta, em Plug-in City existe o predomínio do desenho técnico e das projeções paralelas (plantas, cortes, elevações, 31


axonometrias); em Walking City, ganham importância os desenhos livres e as colagens de perspectivas externas; em Instant City, aparecem as perspectivas internas e, em Computor

Plug-in City Walking City Instant City Computor City

City uma única axonometria dá conta de apresentar toda a proposta.

projeções (plantas, cortes) Axonometrias estudos de implantação perspectivas internas perspectivas externas modelos físicos Croquis

Nestes desenhos, a própria forma como o observador é colocado em relação ao objeto – cidade – é uma questão que pode ser discutida. Em Walking City e Instant City, por exemplo, os desenhos à mão livre e as colagens foram usados para entender e expor relações diferentes: na primeira, buscou-se estudar as relações que uma cidade capaz de andar pela superfície do planeta estabelece com o território em diferentes situações, construindo assim um olhar externo à cidade; na segunda, o interesse esteve em investigar as relações sociais que se estaria criando ao se implantar temporariamente a agitação de uma metrópole em uma região suburbana, ou seja, o olhar se volta para a dinâmica interna da cidade. O uso de perspectivas externas no primeiro caso e internas no segundo é uma forma de colocar através do campo gráfico a principal questão para o grupo naqueles projetos: a mobilidade e a dinâmica. À forma como se coloca o observador nos desenhos em cada caso propõe-se chamar de

dinâmica. Pode-se perceber que na dinâmica das imagens, em Walking City e em Instant City o observador é participativo e encontra-se no exterior ou no interior da cidade, respectivamente. Nos casos de Plug-in e Computor não existem perspectivas internas nem externas, apenas axonométricas, podendo-se dizer que, nesses casos, o observador é ausente. No entanto, a ausência de perspectivas no caso de Plug-in City pode indicar uma preocupação maior com a dimensão técnica do que com os ambientes que se estava criando ou ainda do que a relação com o território; enquanto que em Computor City, esta ausência fala por si só, acontece justamente porque trata-se de uma arquitetura da ausência e da invisibilidade. Os diferentes recursos de representação foram usados por Archigram de acordo com os princípios e os conceitos que desejavam expressar em cada circunstância. A expressão

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gráfica ultrapassa a função de representação do projeto e fala por si só; constitui um discurso sobre a cidade e sobre o contexto dos anos 1960, passando pelos conceitos de consumo, mobilidade e ausência colocados por Cabral (2001) enquanto norteadores da produção de Archigram em diferentes momentos. Por fim, outra questão de representação que pode ser percebida é ainda que existe uma contante apropriação de recursos gráficos que não são convencionais do campo da arquitetura e do urbanismo, como aqueles dos quadrinhos de ficção científica e o jogo. Os quadrinhos elementos típicos de uma cultura popular e de consumo que, de certa forma, estão atrelados às questões que o grupo pretendia discutir e o jogo representa a ideia de emancipação que foi paradigmática na produção do grupo. Segundo Cabral (2001), a relação de Archigram com os HQs se deu em termos de reperotrização, “seguindo a tendência do grupo a buscar a distensão do território da arquitetura através da inclusão de elementos de outros contextos” (CABRAL, p. 103), mas também no nível da representação, na busca por expressar a ideia de movimento através de um meio estático, o papel. Pode-se acrescentar, ainda, que esta relação se deu também através da colagem, como já abordado, com a apropriação de fragmentos de revistas em quadrinhos. Quando, em sua sétima publicação homônima, Archigram traz uma dobradura para representar o projeto de plug-in city, está usando uma forma pouco comum de representação em arquitetura – o jogo –, escolhida não por um acaso. Trata-se da expressão literal de ideias que nortearam a produção do grupo naquele primeiro momento – por uma arquitetura do consumo (Cabral, 2001) – e que estiveram presentes na concepção do projeto: o jogo como a solução para o problema da autonomia individual frente a um estado protetor e à hegemonia da sociedade de massa; os conceitos de flexbilididade e expendability, de variabilidade e possibilidade de escolha. “Arquitetura é diversão”2 e as próprias formas de representação são contaminadas por este caráter lúdico. O entendimento da expressão gráfica na obra de Archigram passa pelas esferas da cultura, do projeto e da representação. O esquema (Figura 17) constitui uma sintese que tem por objetivo sistematizar os principais conhecimentos levantados com a bibliografia e dispor graficamente as questões que a presente pesquisa procurou levantar neste entendimento, traçando a relação que se pretendeu defender entre as pautas culturais das décadas de 1950 a 1970, as estratégias projetuais de Archigram e os recursos de representação que caracterizam sua expressão gráfica.

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COOK, Peter, Some Notes on the Archigram Syndrome, Perspecta n.11, 1967. apud Cabral, 2001

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Figura 17. Diagrama síntese. Fonte: próprio autor. Disponível em: http://migre.me/uEJM3.

6. CONCLUSÕES O contexto dos anos sessenta, marcado por um quadro de afluência econômica e expressivo desenvolvimento tecnológico, resultou em um clima de otimismo tecnológico que impulsionou diversas manifestações no campo da arquitetura experimental: tentativas de traduzir, para o campo da arquitetura, as novas pautas colocadas por um mundo em contínua transformação. Diversos teóricos indicam que os projetos de Archigram representam esta vontade de renovação da linguagem moderna do ponto de vista de uma retórica tecnológica. Em seus projetos, o grupo trabalhou com conceitos como descartabilidade, metamorfose, mobilidade e indeterminação, trilhando um movimento que vai das aspirações megaestruturalistas como em Plug-in City à invisibilidade como em Computor City. Através de seus desenhos e colagens, Archigram conquistou a atenção da crítica arquitetônica de seu tempo e disseminou suas ideias pela Inglaterra, pelos Estados Unidos e pelo mundo, influenciando gerações de arquitetos até os dias de hoje. Conquistou reconhecimento internacional sem grandes feitos arquitetônicos concretamente construídos. E é nisto que reside a importância de estudar a expressão gráfica na obra do grupo: o que havia nestes desenhos que conferiram tamanha legitimidade a arquitetos que projetavam “fantasias”? A hipótese com que a presente pesquisa buscou trabalhar é a de que a expressão gráfica na obra de Archigram traduz a posição crítica em que o grupo colocava, criando uma estética do consumo, da reprodutibilidade e do movimento que traz para o campo gráfico, de certa forma, o universo fragmentado, múltiplo e simulado que caracteriza a atmosfera cultural dos anos 1960 na Europa e no mundo. Assim, partiu-se do estudo deste contexto e foram analisados os magazines e principais projetos urbanos do grupo, buscando-se mostrar como a linguagem gráfica ultrapassa a função informativa para Archigram e constitui um discurso sobre o homem e a cidade do pós Segunda Guerra. Em suma, a presente pesquisa se propôs a levantar a relação que existe, na obra de Archigram, das pautas culturais em voga naqueles anos com suas estratégias de projeto e com seus recursos de representação. Foram levantadas três chaves – chamadas de dinâmica, forma e materialização – que permitem identificar essa relação através da análise da apresentação gráfica dos projetos de Plug-in City, Walking City, Instant City e

Computor City. Em cada projeto, chama-se de dinâmica a maneira como é colocado o observador em relação ao objeto nas representações, de forma os tipos de representação que foram usados, e de materialização a razão existente entre irrealidade e pragmatismo, fantasia e verossimilhança. O estudo da dinâmica, da forma e da materialização na representação dos planos urbanos de Archigram permite identificar, em essência, uma correspondência com o movimento interno

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dos próprios projetos como colocado por Costa (2001) e indicado por Arantes (2000). Principalmente porque se pode observar o esforço no detalhamento dos três primeiros planos em detrimento da escassez de desenhos referentes à Computor City. Ou seja, se num primeiro momento, o interesse de Archigram está voltado para o pragmatismo técnico e isto reflete na abundância de explorações e de desenhos técnicos; num segundo momento seu interesse se desloca para as relações da cidade com o território e com a sociedade e as perspectivas livres externas e internas ganham importância; e num momento final, como a arquitetura se torna invisível, não seria mais necessário representá-la Outras questões que se foram levantadas em termos de representação e que são transversais aos dez magazines e quatro planos estudados são: a apropriação de recursos gráficos não convencionais na represenentação de arquitetura e urbanismo, como aqueles dos quadrinhos de ficção científica e o jogo; as aproximações com o movimento pop que reforçam o interesse do grupo pelo universo popular e por uma sociedade de massas e do consumo; e o uso frequente do recurso colagem-desenho associado, de certa forma, a ideia de cidades-colagens.

7. BIBLIOGRAFIA ARCHIGRAM, Magazine: 10 publicações,1961–1974, digitalizadas pelo The Archigram

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ANEXOS I) DIAGRAMAS Linha do tempo com os magazines Archigram e as páginas em que aparecem os projetos de Plug-in City, Walking City, Instant City e Computor City. Fonte: próprio autor. Disponível em:

http://migre.me/uEJM3

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Aparato de representação dos projetos de Plug-in City, Walking City, Instant City e Computor City. Fonte: próprio autor. Disponível em: http://migre.me/uEJM3

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II) FICHAMENTOS DE CITAÇÃO CABRAL, Claudia Piantá Costa. GRUPO ARCHIGRAM, 1961-1974: Uma fábula da técnica. Tese de doutorado. Barcelona, 2001. Introdução Mumford [Lewis Mumford, 1934] apontava então um processo que se intensificaria com a entrada das tecnologias elétricas e da informação a partir dos séculos XIX e XX, e que constitui um dos pontos fundamentais para a experiência de Archigram: a transformação do caráter e da representação da tecnologia quando esta deixa de identificar-se apenas com artefatos concretos – por exemplo a máquina a vapor –, e passa a identificar-se cada vez mais com sistemas potencialmente abstratos e ubíquos de controle. Assim sugere a imagem do relógio como máquina de produzir segundos e minutos [...]. (p. 5) Archigram, 1961-1974 O contexto dos anos sessenta [...] é um contexto pleno de indicativos de uma certa mudança de sensibilidade no âmbito da cultura e das artes com respeito ao problema da técnica. (p. 6) O nome Archigram surge a partir da publicação da revista homônima – o magazine Archigram [...]. Convertida em veículo de discussão de projetos e ideias e, principalmente, exposição de projetos dos próprios membros do grupo e iniciativas afins [...]. Embora sempre editada e publicada em Londres, a revista com frequência manteve uma relação de fato com Estados Unidos [...]. (p. 6) [...] Archigram 3 (1963), como número temático em torno ao problema da obsolescência do entorno urbano e da possibilidade de uma arquitetura descartável no contexto de uma sociedade de produção e consumo massivos. [...] série de projetos envolvidos com o tema do consumo e da substituição, que recorrem ao imaginário dos quadrinhos de ficção científica e à corrida espacial [...] (p. 7) Entre Archigram 8 (1968), Archigram 9 (1970) e Archigram 9 ½ (1974), ao mesmo tempo em que se vão abandonando as soluções totalizadoras para a cidade, persistem no trabalho do grupo temas como mobilidade, metamorfose, o impacto das tecnologias da informação e da comunicação no ambiente urbano e na vida privada, e a repercussão disso na arquitetura. [...] examinando a relação do homem com a tecnologia em situações cada vez mais efêmeras, transitórias e híbridas, apontando para uma progressiva desmaterialização e fragmentação da arquitetura na natureza e na paisagem, e um questionamento dos limites entre arquitetura e tecnologia. (p. 8) Partindo de uma vontade de renovação da herança moderna através da retórica tecnológica e do recurso à lógica e às formas de cultura de massa, embalado por um discurso otimista sobre a relação do homem com as novas tecnologias, [...] projetos de cunho experimental e especulativo – por vezes elaborado em grupo, outras individualmente, mas sempre gerando algum tipo de diálogo que envolve o grupo [...] (p. 8) Uma revisão bibliográfica, e algumas razões para voltar a esta produção

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[...] nos anos noventa, Archigram passa a ser referência comum quando se trata de estabelecer antecedentes para uma certa gama de arquiteturas contemporâneas, do high-tec às mais recentes especulações sobre arquitetura e cibernética. Existe assim uma espécie de retorno a Archigram na segunda metade dos anos noventa, testemunhado inclusive pela grande exposição retrospectiva [...]

Archigram, Experimental Architecture 1961-1974 (Viena, fevereiro de 1994) [...] e pela reedição, após quase trinta anos, do livro Archigram, coletânea publicada em 1972. (p. 8-9) [...] um estado de ânimo representativo da aposta tecnológica do pós-guerra. (p. 11) Se Archigram chamou prematuramente a atenção sobre problemas que progressivamente tendem a adquirir maior relevo para a arquitetura neste final de milênio, tais como a mudança de caráter da tecnologia de artefato a sistema, a obsolescência como norma, o nomadismo como modo de vida, a tensão entre indivíduo e os grandes sistemas tecnológicos [...] (p. 13) [...] como se relaciona esse Archigram que nos anos sessenta correspondia a uma espécie de subcultura arquitetônica [subcultura = contracultura], situada no terreno mais ou menos insólito de uma arquitetura experimental e especulativa, com as arquiteturas tecnológicas atuais, reais e hiper integradas, e que ‘supostamente seriam sua continuação’ [...]. Assim, se parece oportuna uma reconsideração histórica de Archigram [...] necessidade de contextualização e inserção de Archigram no contexto de seu próprio tempo. (p. 13) A economia do bem estar e a cultura do presente A emergência de Archigram como grupo coincide com uma época de afluência econômica sem precedentes para o bloco ocidental de países industrializados alinhados desde a guerra sob a liderança econômica e militar de Estados Unidos. Os economistas se referem ao período entre 1950 e 1973 como uma espécie de ‘idade de ouro’ do desenvolvimento capitalista [...]. Nestes países, esses anos correspondem à ascensão e crise do estado do bem estar e seu modelo fordista-keynesiano de sustentação, difundido a partir da segunda guerra. (p. 14) [...] durante a liderança americana, a grande mudança estaria centrada sobre as formas de organização do trabalho e as mudanças nas pautas tradicionais do consumo. Em outras palavras, na introdução de um sistema fordista e/ou taylorista de produção [...] racionalização do processo de trabalho [...] máxima fragmentação das tarefas [...] linhas de montagem de fluxo contínuo [...] norma de consumo através de uma política salarial concreta, por exemplo o ‘five dollars day’ [...] (p. 14) Essa imposição do ritmo do capital ao processo de trabalho, através do controle do tempo que pressupõe a organização fordista-taylorista, é que dá lugar ao modo de produção em massa. (p. 15) Plano Marshal [...] aberto a porta para a criação de formas de cooperação supra-nacionais, para a liberalização do comércio e para o renascimento de políticas menos restritivas nas transações internacionais, características econômicas básicas da idade de ouro. Ao pretender um mercado de massa global, o fordismo favoreceu estilos de vida que tendiam a uma nova cultura internacional e urbana. [...] ‘americanização’ da Inglaterra de fins dos cinquenta [...] (p. 16)

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[...] prosperidade material diferente de qualquer coisa antes experimentada. Com ela vinha essa multitude de fenômenos sociais que, inicialmente em Grã-Bretanha e Europa Ocidental, foram imprecisamente agrupados sob o título de ‘Americanização’ – uma descarada, estandardizada cultura de massa, centrada na enormemente crescente influência da televisão e da publicidade, [...] (apud. Cristopher Booker, The Neophiliacs, 1993, p. 22) (p. 17) A dissolução de Archigram como grupo, a partir de 1974, é portanto mais ou menos coincidente com a ruptura da idade de ouro, e com a grande crise fiscal do estado do bem estar. (p. 17) A organização fordista, dado seu alto custo de instalação, só é viável se a demanda estiver garantida; e normalmente esse era o papel do estado, tanto através das políticas salariais e da segurança social, quanto entrando diretamente como consumidor. (p. 17) [...] a partir de meados dos sessenta [...]. Conforme Coriat [Benjamin Coriat, 1993], o pós-fordismo significa uma reorganização do trabalho em que se substitui a linha de montagem unidimensional a ritmo contínuo por uma estrutura multidimensional, em rede, a ritmo flexível. (p. 17) [...] etapa de flexibilização ou transformação do modelo fordista, [...] passagem de uma sociedade industrial produtora de bens a uma sociedade pós-industrial, produtora de serviços [Bell] [...] regime de ‘acumulação flexível’ que estaria por detrás das transformações culturais pós-modernas [David Harvey]. (p. 17-18) [...] as diversas maneiras pelas quais está implicada a técnica em nossas vidas tendem a sair de um nível concreto e sequencial para, cada vez mais, incorporar situações abstratas, simultâneas e multidirecionais; (p. 18) [...] momento econômico em que se reforçam os grandes sistemas tecnológicos, cada vez mais independentes de fronteiras e nacionalidades, e a esse contexto político da guerra fria [...] (p. 18) [...] os projetos de Archigram revelaram-se uma tentativa de trazer para o âmbito da arquitetura esta agenda de questões que a técnica colocava no plano da cultura, ou seja, de produzir uma representação destas novas experiências que a técnica propunha. (p. 19) Archigram, uma fábula da técnica Esta tese parte da hipótese de que Archigram não apenas buscou integrar as últimas tecnologias ao projeto, mas tentou refletir, através da arquitetura, sobre as experiências que a técnica colocava no plano cultural e social. [...] pautas culturais que tomaram importância no contexto destes anos, relacionadas à reestruturação do capitalismo fordista, e à transformação de uma cultura predominantemente industrial em uma cultura eletrônica: a explosão da cultura de massas, a obsolescência como norma, o impacto das tecnologias da comunicação e à ascensão da telecultura. (p. 20-21) Archigram converteu estas pautas em estratégias de projeto, que podem ser reconhecidas segundo três linhas principais: 1) tecnologia e consumo, que envolve todo o tema da substituição e de uma estética do descartável; 2) tecnologia e lugar, que envolve o tema da mobilidade e da dispersão; 3) e por

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último, a tecnologia proposta quase como situação limite, que obrigaria a uma reflexão de fundo teórico sobre a própria natureza do ofício arquitetônico: a tecnologia é uma alternativa da arquitetura, ou mesmo poderia converter-se em uma alternativa à arquitetura? [...] Plug-in, ou por uma arquitetura descartável; Zoom, ou por uma arquitetura móvel; e On-Off, ou por uma arquitetura da ausência. (p. 21) Esta estrutura está proposta como a expressão daquilo que a tese mesma identifica como sendo o grande movimento interno da produção de Archigram, na tentativa de assimilação e representação da tecnologia. Um caminho que vai da integração da lógica do consumo e da obsolescência, à incorporação da mobilidade, e às especulações sobre o limite entre tecnologia e arquitetura. (p. 21) Primeira Parte. Plug-in: Por uma arquitetura descartável 1.1. ‘EXPENDABILITY’. DA ESTÉTICA DA MÁQUINA A ESTÉTICA DO CONSUMO 1.1.1. Tecnologia, afluência e o discurso por um novo funcionalismo Um ford T cor de rosa? [...] a polêmica entre Ford e General Motors [...] é interessante para marcar o início de uma transformação na maneira de consumir [...] (p. 23) A estrutura organizativa da General Motors, que aliava ao conceito de produção em série uma estratégia de mercado que incluía um grau programado de diversificação passou a ser então copiada pela maioria das grandes corporações, e deixou claro o problema da obsolescência em uma cultura do consumo como implicado em questões formais e sociológicas, além de estritamente funcionais e utilitárias [Ao final dos anos vinte, Chevrolet foi a pioneira no conceito de estilização do desenho, que consistia em introduzir vistosas mudanças anuais na forma da carroceria, e não no corpo do carro, com o objetivo de modificar a aparência do produto sem com isso interferir nos processos de produção fordista.]. Flexibilidade passa a ser demanda agregada à reprodutibilidade técnica, que havia sido o tema característico dos anos vinte. Reconciliar a produção em massa com variedade de produtos e flexibilidade foi o primeiro passo na reestruturação do fordismo, [...] e o contexto dos anos sessenta, em que os produtos das máquinas haviam penetrado âmbitos públicos e domésticos de uma forma muito mais direta, sujeita a eleições e desejos individuais, e não apenas a demandas coletivas. Era mais ou menos essa visão do papel do consumo que Archigram queria trazer para o terreno da Arquitetura. (p. 24) Entre 1956 [...] e 1961 [...] a Inglaterra foi obrigada a aceitar definitivamente a perda de seu antigo status de império e um novo papel, apenas estratégico, entre Estados Unidos e União Soviética [...]. (p. 25) E ao mesmo tempo, nestes anos, experimentaram-se os frutos de uma crescente afluência [...] de um final de década marcado por uma atividade mobiliária sem precedentes, pelo incremento na prosperidade privada e por uma explosão no consumo de bens. (p. 25) Uma interpretação atual dos primeiros Archigrams, lançados no princípio dos anos sessenta, deve levar em conta que esse foi sem dúvida um momento em que se fomentava um otimismo social com relação

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ao progresso técnico, em que a tecnologia abria novas fronteiras e prometia avanços inéditos em distintas áreas, e em que as novas mídias eletrônicas divulgavam essa visão positiva, em que os logros da ciência começavam a afetar de forma direta o cotidiano das pessoas. (p. 27) O primeiro magazine Archigram O primeiro magazine Archigram saiu em maio de 1961 [...]. Como conta Peter Cook, Archigram não era então mais que um panfleto posto em circulação por gente “recém-saída da escola”, que tentava recuperar algo do entusiasmo estudantil experimentado nas respectivas casas [...] e que se esperava pudesse “explodir sobre estudantes e assistentes oprimidos nos escritórios de Londres na forma de um grande pedaço de cartaz, colagem de imagens ou folheto...o que quer fosse necessário naquela época.” [...] (p. 28) O formato e a diagramação perseguiam esta ideia. Duas folhas separadas, uma pequena que continha o texto principal, um poema de Greene, e outra maior pensada como pôster, sobre a qual espalhavamse todas as ilustrações em um arranjo que buscava a sugestão de uma acomodação casual, como se de objetos em movimento se tratasse, e a página fosse o registro de um instante em suspensão. (p. 28) Nesse espírito telegráfico, naturalmente contava menos a exposição detalhada de cada projeto como proposição individual que a composição de uma imagem geral evocativa de um estado de espírito como o flash de uma certa perspectiva geracional. Cada projeto era apresentado por uma única imagem, e circulando o perímetro das figuras estavam legendas, frases e palavras soltas em uma organização formal que celebrava a linha curva, a ideia de movimento, fluxo e inestabilidade. (p. 28) Em Archigram I, um poema escrito por David Greene manifestava o desejo de que a arquitetura pudesse incorporar novas temáticas formais, e a noção de que uma outra poética poderia desenvolver-se a partir dos materiais e signos da época. Implicitamente, a presunção moderna de que as novas tecnologias necessariamente deveriam sugerir outras possibilidades de liberação formal a partir de novos materiais sintéticos [...] (p. 29) Palavras soltas como ‘forma’, ‘futurismo’, ‘liberdade’, ‘fluxo’, ‘pele’, ‘plásticos’, ‘mecânica’, ‘mecanismos’, ‘ambiente’, ‘natureza’, ‘espaço’, reforçavam a ideia de uma atitude não de total repúdio, mas de recuperação seletiva com relação à herança moderna, em que expressionismo e futurismo surgem como referências, embalada pela bem arraigada crença na tecnologia como agente propulsor de mudança e ao mesmo tempo na necessidade de que essa mudança pudesse ser expressada formalmente. (p. 33) Naquele momento, os promotores do magazine reclamavam para sua geração a compreensão correta do verdadeiro espírito das vanguardas, adormecido nesta arquitetura de “boas maneiras, porém sem intestinos” de depois da guerra [...]. (p. 33) Entre um modernismo domesticado e uma arquitetura da modéstia O tom combativo destes primeiros Archigrams colocava-se como revisão do funcionalismo, ao pretender superar a “decadente imagem da Bauhaus”, mas ao mesmo tempo como busca de continuidade com relação aos fundamentos modernos; como demanda objetiva através do investimento

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em novas tecnologias, mas também como demanda por mais expressão e mais forma, ao clamar por uma poética extraída do capacete do astronauta e das contagens regressivas das viagens espaciais, que de alguma maneira recuperasse o heroísmo das vanguardas. (p. 34) Entre as décadas de cinquenta e sessenta, a política habitacional gerenciada pelo setor público exigia a construção rápida e barata, para atender a demanda de casas e cumprir com as promessas do bem estar. A pré-fabricação parecia a resposta adequada para produzir uma arquitetura da era da máquina, retomando a expectativa das vanguardas de incorporar integralmente a industrialização e chegar a uma arquitetura economicamente viável e compatível com as cadeias de montagem. (p. 35) ‘Expendability’: procurando articular uma direção comum [...] Archigram 2 já apontava algumas direções comuns, que orientariam as posteriores especulações do grupo na primeira metade da década. Em primeiro lugar, a noção de expendability aparece em alguns textos e projetos [...] indicam o caminho para uma arquitetura descartável, que considerasse o problema da obsolescência física e funcional como dado de projeto. [...] Em segundo, através do entusiasmo para com as novas tecnologias e a explosão das culturas de massas, manifesta-se já o interesse pela aproximação a territórios não arquitetônicos como fonte de referência formal e compositiva [...]. (p. 37) [...] esta espécie de atualização de um certo ideário moderno [...] exigia o reconhecimento de uma distancia entre a agenda dos vinte, centrada no tema da reprodutibilidade, da determinação do standard ideal a partir da identificação de funções tipificadas, e a agenda dos sessenta, em que se pretendia incluir o problema da diversificação e da possibilidade de expressão individual dentro da cultura de massa. (p. 37) O conceito seria portanto uma armação ortogonal exterior, por trás da qual se poderiam organizar com flexibilidade estes elementos relativamente independentes, possibilitando uma diferença de textura e uma variação vertical das fachadas [...]. (p. 39) It’s all the same: um manifesto por uma arquitetura descartável Na terceira edição do magazine Archigram, em agosto de 1963, a questão do consumo havia convertido-se em

tema central, com a produção de um número totalmente dedicado àquelas

arquiteturas que incorporavam algum grau de obsolescência programada como dado de projeto. [...] em favor de uma arquitetura comprometida com a noção de ‘expendability’. (p. 45) 1.1.2.

O Independent Group e a genealogia da estética do consumo

O que os membros do Independent Group realmente compartilhavam era um entusiasmo pela cultura urbana e industrial de pós-guerra – especialmente elementos da cultura americana, que colecionavam através de imagens de publicidade, filmes, ficção científica e música popular – e a vontade de investir em novas perspectivas de interpretação eu permitissem lidar com este tipo de material. (p. 48) Problematizando o conceito de cultura: o significado do pop no IG

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[...] o cerne desta abordagem era problematizar o próprio conceito de cultura, que deixava de referir-se com exclusividade a um conjunto de obras maestras e singulares, como na tradição das belas artes, e assumia um viés mais antropológico, como expressão dos modos de vida de uma comunidade. (p. 48) Assim, o significado de ‘pop’ para o Independent Group formulou-se na interface entre a análise da cultura popular e a produção de arte, e justo como discussão dos limites entre duas definições opostas de cultura: cultura como standard de excelência, e cultura como categoria descritiva. (p. 48) [...] o uso do termo referia-se diretamente aos artefatos industrializados produzidos em série, cujas imagens estes artistas utilizavam, e não à arte que produziam. Ou ainda, era empregado como na expressão ‘cultura pop’, para indicar os produtos dos meios de comunicação de massa; produtos não para entesourar, mas para consumir, para utilizar e depois dispensar. (p. 50) Reyner Banham: o conceito de expendability e a crítica à estética da máquina A ideia de uma estética do consumo em oposição a uma estética da máquina é a base de um argumento levantado por Reyner Banham [...] examina o problema da produção em série questionando o ideal purista de um standard determinado por uma evolução natural das formas, no qual utilidade e eficácia se correspondem, necessariamente, com máxima simplicidade e abstração geométrica. (p. 55) A crítica de Banham a uma “estética da máquina” [...] sobre o malogro de uma possibilidade: aquela levantada por Le Corbusier [...] de uma arquitetura produzida em série e pela máquina. A ideia de “casa instrumento da mesma forma que é o automóvel” [...] (p. 55) [...] Hamilton levanta o problema da imagem na cultura de consumo, e seu poder de pesuassão, ou o estabelecimento de uma “maquinaria de motivação e controle”. Da mesma forma, John McHale [...] sugere que as imagens publicitárias são reconhecidas como ‘ícones’ contemporâneos, emulando a função tradicional das artes de representaçãoo da realidade. (p. 57) [...] Packard [...] trata dos padrões de consumo como poderosos identificadores sociais em uma sociedade como a americana, em que, segundo seus próprios mitos, supostamente não existiam mais diferenças de classe. [...] “guia de posses”de Lawrance Alloway, quando afirmava que uma das funções dos meios de comunicação de massas era justamente agir como um guia para a vida definida em termos de posses e relacionamentos. (p. 57) Os Smithsons colecionam anúncios [...] na cultura do consumo as imagens publicitárias passavam a ser simultaneamente a invençãoo e o registro de determinados estilos de vida, em que os produtos industrializados haviam revolucionado o ambiente doméstico [...] sem a intervenção do arquiteto . (p. 58) A casa como conjunto de equipamentos, e como crônica do modo de vida do consumo, que Archigram perseguia com o tema da cápsula, tem alguns precedentes claros na produçãoo dos Smithsons [...]. Estas iniciativas estavam relacionadas [...] à intenção de aceitar o desafio de extrair uma estética concreta relacionada com a técnica da pré-fabricação. (p. 58-59)

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[...] os Smithsons abriram um novo flanco com a aceitaçãoo do plástico reforçado como material de construção, e com um desenho que voluntariamente desconhecia os elementos formais da casa tradicional, quando até então a referencia geral para a pré-fabricação corrente eram o chalé e a cabana em madeira. (p. 61) Estas propostas estabelecem fartamente a integração entre casa e aparelhagem como um novo dado a considerar no território doméstico, e em parte compartilharam a expectativa difundida pela tradiçãoo das exposições populares sobre o progresso do ambiente doméstico [...] e pela publicidade em geral com respeito ao `lar ideal`: a casa que funcionava ela mesma como um aparelho que enfim prometia tomar obsoleto o serviço doméstico. (p. 61) Neste contexto a substituição se converte em regra, e a expectativa era de que cada um poderia encontrar no mercado as partes necessárias para atualizar a sua própria casa. (p. 61) O apoio de Reyner Banham como crítico Tradição [...] bagagem geral de modos operativos e conhecimentos, inclusive técnico-científicos, que a cultura arquitetônica vinha cumulando ao longo do tempo e que constituía o fundamento estável da profissão e o ponto de partida para o seu desenvolvimento futuro. A tecnologia, em troca, não era somente parte do aparato mental do projetista, era uma potencia relativamente autônoma que podia, a qualquer momento, superar e mesmo invalidar todo o conhecimento precedente. (p. 63) Assim, a princípio Archigram poderia preencher as expectativas de Banham quanto à continuidade do movimento moderno, na medida em que investia em um discurso pela regeneração da arquitetura justamente a partir da tecnologia e de repertórios externos aos recursos tradicionais da profissão. (p. 64) 1.1.3.

Um referencial teórico para uma arquitetura como produto de consumo e do consumidor

O conhecido texto de Warren Chalk, `Housing as a consumer produtct` [...] tecnologia e industrialização não precisavam ser incompatíveis com a expressão individual. [...] [...] a aceitaçãoo da lógica do sistema industrial de produção e consumo, e do benefício estendê-la ao campo da construção; e ao mesmo tempo, a expectativa de oferecer a cada indivíduo a possibilidade de expressar-se como tal em uma sociedade marcada pelo grande número, em um entorno cada vez mais homogêneo. A questão para Chalk seria tratar de qualificar a quantidade, em um argumento identificado com a flexibilização do modelo fordista, mais que com uma contestação estrutural do capitalismo. (p. 66-67) A experiência no Taylor Woodrow Design Group: o Fulham Study As referencias teóricas para o Fullham Study e para o City Sense demonstram a penetração em Inglaterra de textos de autores americanos dos anos cinquenta, de formato popular e de comentário social e econômico [...] que levantavam problema da autonomia individual frente a um estado protetora e à hegemonia da sociedade de massa. (p. 72)

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O `mal estar`da afluência Os problemas principais que levanta Chalk – consumo e participação – [...] típicos do pensamento liberal dos anos cinquenta, que sem invalidar a ordem capitalista, começava a expor algumas de suas fissuras e contribuir para um retrato menos unidimensional da sociedade da afluência (p. 72) [...] sensação de superação da escassez, e distanciamento com relação ao velho raciocínio malthusiano de que o mundo viveria sempre de alguma maneira à beira da pobreza [...] (p. 73) [...] o mito da produtividade pode explicar porque a terceira ediçãoo do magazine Archigram equacionava progresso com consumo, e considerava o contrário disto como estagnação. (p. 74) [...] o terreno da ficção científica, ou da novela negra dos cinquenta e dos sessenta seja onde mais facilmente se possa fazer emergir essa ideia de um certo mal estar da afluência, dentro do estado do bem estar, que normalmente se traduz em uma polaridade entre indivíduo e sistema social, em que o segundo atua como restrição a autonomia do primeiro. (p. 74) Dos problemas dos trinta, pressão social e crise econômica, se passa a uma outra agenda de questões, mais relacionadas à uniformidade, impersonalidade e manipulação da cultura de massas, ao trabalho monótono, ao subúrbio homogêneo, ao tédio burocrático. (p. 75) Nestes anos de guerra fria, um dos problemas desse pensamento liberal seria equacionar essa ideologia do individualismo e da liberdade de eleição com um sistema capitalista que prospera graças a um alto grau de racionalização e controle, tão onipresente quanto o estado comunista totalitário, que supostamente seria seu reverso, do outro lado da cortina de ferro (p. 76) A construção da autonomia através do jogo A saída de Chalk seria justamente uma hipotética fusão entre dois conceitos – uma arquitetura que fosse um produto de consumo, mas que fosse ao mesmo tempo um produto do consumidor – e que, eventualmente, poderia devolver ao indivíduo um certo grau de controle sobre o seu ambiente de vida e seu comportamento [...]. (p. 76) “Para os arquitetos a questão é: os edifícios colaboram para a emancipação das pessoas em seu interior? Ou eles estorvam porque solidificam o modo de vida preferido pelo arquiteto? É agora razoável tratar os edifícios como produtos de consumo, e a justificação real dos produtos de consumo é que eles são a expressão direta da liberdade de escolha.” (Magazine Archigram n. 8) (p. 77) A influência deste pensamento liberal americano, que avia colocado nos anos cinquenta o problema da autonomia individual frente a um estado protetor e à hegemonia da sociedade de massa, que marcava uma diferença com relação às utopias socialistas de antes da guerra ao passar do coletivo ao individual, foi um dos marcos de referência para um determinado modo de atuação onde Archigram se encaixou, e também a entrada pela qual veio a compreender o papel do consumo e do impacto tecnológico no estado do bem estar. (p. 80) 1.2. PLUG-IN CITY

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1.2.1.

A exposição Living City

Primeiro evento organizado pelo grupo completo, a exposição não chegava a propor um modelo único ou desenho preferencial de cidade, mas manejava uma série de referências críticas que devem ser explicadas, porque são fundamentais para compreender a posição de Archigram e a emergência de ideias megaestruturais no trabalho do grupo: a crítica americana ao urbanismo funcionalista (Jane Jacobs e William Whyte); a crítica situacionista; a influência de textos ingleses contemporâneos como o Relatório Buchanan, e o urbanismo móvel de Yona Friedman. (p. 79)

Living City pretendia refletir a experiência da vida na grande metrópole através de uma leitura entre arquitetônica, artística e sociológica que permitisse expressar mais a vitalidade dessa situação que cristalizar uma forma física. Living City tratava da relação entre cultura do consumo e entorno urbano, entre câmbio tecnológico e comportamento humano. Seu objetivo era expressar a ideia de cidade como organismo complexo e multifacético, cuja vitalidade depende da simultaneidade de eventos de natureza distinta, da fugacidade dos diversos tipos de movimento e da casualidade das situações produzidas, tanto ou mais que das estruturas construídas e permanentes. (p. 79-80) [...] convicção de que, no espaço da cidade, o acontecimento é tão importante quanto a arquitetura [...]. (p. 80) [...] a concepção de “cidade viva” de Archigram não estava identificada com Wright, mas com outros americanos nesse momento empenhados na crítica ao modelo suburbano que parecia converter-se em norma; e implicitamente, na crítica aos principais pontos de sustentação deste modelo dentro da cultura urbanística e arquitetônica internacional: a cidade jardim de Ebenezer Howard, e o urbanismo funcionalista da carta de Atenas como critérios únicos de projeto e de avaliação da qualidade urbana. (p. 80) “[...] Nós estamos defendendo, além disso, uma qualidade que é quase indefinível. O sangue vivo das cidades flui através de tudo que nelas ocorre. Algumas destas coisas são em si mesmas más – vício, corrupção, superpopulação, exposição a riscos; outras são tediosas, desperdício de tempo, ou simplesmente banais; porém superando tudo isto estão as coisas positivas. (...) A cidade viva é uma experiência única, mas a experiência não é completa sem os escuros cinzas assim como as luzes.” (Peter Coom, introdução a exposição) (p. 80-81) A Cidade Viva e a defesa do modo de vida metropolitano: Jane Jacobs e William Whyte como referências

Living City está melhor identificada com as posturas de Whyte e Jacobs pela insistência em salientas aspectos da vida urbana tal e qual, que em tese podem ser encontrados em qualquer cidade real e corrente. Se trata de destacar determinados traços, muitas vezes vistos como negativos, como valores urbanos por excelência: heterogeneidade, variedade, concentração e tensão. (p. 81) [...] Jacobs [...] identifica as condições indispensáveis à diversidade urbana: plurifuncionalidade, mais cruzamentos como possíveis pontos de encontro, mescla de edificações, alta densidade, interesse no movimento do pedestre e nas possibilidades de significação da cidade a este nível, com base nas pesquisas de Lynch e Kepes. (p. 82)

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A crítica que Archigram pretendia veicular insistia na pluralidade como base da vitalidade da metrópole; pluralidade que não estava presente nas homogêneas New Towns [política, Plano de Abercombie, herdeiras das cidades-jardim], e tampouco na variabilidade controlada e doméstica promovida por The

Architectural Review durante os anos cinquenta. (p. 84) A influência do Situacionismo: New Babylon como crítica ao urbanismo funcionalista Um dos conceitos centrais para os situacionistas, o urbanismo unitário, define-se não como uma doutrina urbanística, mas como uma crítica ao urbanismo funcionalista, visto como reducionista, estéril e carente de elementos lúdicos. A proposta situacionista insistia na questão da mobilidade e da transitoriedade [...]. O urbanismo unitário deveria contribuir para a recuperação da experiência lúdica, perdida em uma sociedade tecnocrática, banalizada pelo utilitarismo e pelo consumo [...]. (p. 90) [...] diferença fundamental de projeto político entre a crítica radical situacionista e a postura basicamente otimista de Archigram com relação à cidade existente, à cultura de massas e a sociedade de consumo. (p. 90) Uma atitude com relação ao funcionalismo que era de superação, e não de retorno a um contexto artesanal pré-maquinista, que supunha a aceitação da tecnologia e suas consequências como ponto de partida, estava claramente presente na posição de Constant, e é evidente na ampla sustentação tecnológica que supõe a sua New Babylon [...]. [...] De uma maneira geral Constant navegava no mesmo mar de otimismo com relação ao avanço tecnológico que todos os demais simpatizantes das ideias megaestruturais. (p. 91-92) [...] New Babylon reflete claramente essa posição, em que o âmbito privado passaria a estar submergido na ideia de coletividade. Constant estava assim modelando a cidade para o “declínio de uma cultura baseada no individualismo”. Archigm [...] também interessado na flexibilização dos limites, sobretudo em sentido arquitetônico, apostaria na manutenção de uma esfera privada, ainda que mínima, e na possibilidade individual de participação [...] (p. 92) Da mesma forma que a questão do jogo e a recuperação do homo Ludens de Huizinga, o problema da mobilidade e da flexibilidade foram temas que surgiram em várias posturas desde o pós-guerra, e que foram provocando distintas respostas, as ideias megaestruturais também foram configurando-se segundo diversos protagonistas. (p. 93) Movimento e comunicação: reconsiderando as infra-estruturas Movimento e comunicação, representando os vários sistemas de deslocamento e relação de que depende a cidade como uma serie de redes integradas e diversas escalas, nem todas necessariamente coincidentes com sua estrutura física. (p. 93) [...] o reconhecimento de um novo tipo de “mobilidade” propiciado pelos avanços na área da informação e da comunicação, e pela promessa da cibernética. [...] e as tecnologias da comunicação e da informação estavam sendo percebidas como novos elementos que poderiam vir a questionar o caráter estático, rígido e hierárquico das redes de comunicação existentes. (p. 95)

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[...] no limite entre a superficialidade e a transcendência que algumas vezes caracterizava Archigram em seu desejo de dar forma arquitetônica a problemas novos. (p. 95) A cidade era revelada como máquina operando continuamente, o óleo dos sistemas de infra-estrutura eram seu líquido vital, da mesma forma que era o sangue para um organismo vivo. (p. 97) Mobilidade e infra-estrutura urbana: Yona Friedman [...] o arquiteto era incapaz de determinar de forma definitiva tanto o uso quanto o caráter do edifício que projetar, e portanto, toda arquitetura deveria ser ‘móvel’ no sentido de que não viesse a colocar obstáculos às futuras transformações propostas pelos usuários ou grupos sociais envolvidos. (p. 98) As propostas de Arhigram pouco se enquadram na estratégia de projeto enquanto problem-solving que caracteriza Friedman. [...] são sobretudo afirmações formais, levadas a cabo noo terreno especulativo da representação e da imagem e não no âmbito da investigação pretensamente técnico-científica. (p. 98) 1.2.2.

A casa do futuro para Archigram: da cápsula ao sistema de partes (1964-1967)

[...] o tema da cápsula explora a ideia da casa como protótipo industrial, a ser produzida, consumida, e afinal substituída como qualquer outro objeto de consumo. (p. 99) [...] a proposta de um modo de vida urbano, próprio do indivíduo avulso, porém à vontade na grande metrópole. Esse tipo de investigação tipológica “sugere que a cidade deve conter um conglomerado definido deste estilo de vida, mais como um hotel” (The Capsule, Archigram) [...] a cápsula se confunde com equipamento, caixa de artifícios, kit de mil-e-uma-utilidades. (p. 99) [...] o problema da cápsula no contexto da obra de Archigram não dizia respeito somente à investigação tipológica e técnica, mas à questão da expressão arquitetônica. (p. 100) Amazing Archigram: o recurso ao imaginário da ficção científica [...] quarto magazine Archigram, ou ‘Amazing Archigram, Zoom issue’, publicado em 1964. Este número, onde aparece pela primeira vez a Plug-in City de Cook e onde Archigram configura um estilo gráfico próprio [...]. Os temas recorrentes são os tentáculos, os tubos pneumáticos, as grandes estruturas as passagens de nível, os domos plásticos. (p. 100) Interessava para Archigram destacar a possibilidade de uma fertilização cruzada entre uma certa tradição das vanguardas (expressionismo e futurismo) e ficção [...]. A aproximação de Archigram aos quadrinhos segue sendo uma aproximação de consumidor, ainda que de um consumidor ativo, que se permite manipular esse produto intelectual e fisicamente: extraindo-lhe sentidos distintos, arranjandolhe as partes a seu critério. (p. 103) [...] funciona em níveis distintos. [...] repertorização, seguindo a tendência do grupo a buscar a distensão do território da arquitetura através da inclusão de elementos de outros contextos. [...] Esse tipo de manipulação de alguns elementos concretos que serão integrados a todos distintos, bem como a ideia

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de um estilo gráfico compartilhado, ainda que em propostas conceitualmente diversas, é algo presente no modo como Archigram operou como grupo. (p.103) [...] quadrinho também estava implicado no problema de indicar a ideia de movimento em um meio estático. (p. 104) Com respeito à cápsula como investigação tipológica, Archigram até certo ponto poderia representar uma atualização do projeto moderno, uma correção de rumo onde não caberia discutir todos pressupostos de partida, mas sim redefinir a imagem da arquitetura moderna de modo que parecesse adequada à segunda era da máquina. [...]. [...] A questão para Archigram era atualizar a demanda moderna da casa industrializada para uma sociedade dominada pela transitoriedade e pelos ritmos do consumo, e alcançar uma definição tipológica que expressa essa sociedade. (p. 106) [...] um discurso que em parte pretende recuperar aquele sentido histórico próprio das vanguardas, de certa forma ainda preso à noção de causa-efeito que sustenta a ideia de uma arquitetura que evolui com a técnica. [...] Archigram estava propondo o Space-Comic como documento e a cápsula como o gesto necessário. (p. 107) As cápsulas e o plug-in como estratégia projetual [...] plug-in é a expressão de uma estratégia projetual pertinente à discussão da cápsula, como um conceito que expressa um tipo de relação preferencial pré-estabelecidas, que serão ‘conectadas’ ou ‘penduradas’ nesta estrutura conforme algumas restrições, gerando um sistema total relativamente aberto. (p. 107) Para Archigram, a cápsula como problema de desenho estava relacionada à definição de um espaço vital mínimo, à possibilidade de produzi-lo integralmente de forma serial através de procedimentos industriais, e às formas de articulação desta unidade com relação a uma estrutura geral de sustentação. [...] Inicialmente esta estrutura é a torre; logo também as cápsulas são aplicadas a megaestruturas, como no caso de Plug-in City de Cook [...]. (p. 110) [sustentação e alimentação: redes de eletricidade, transporte, comunicação] [...] esta unidade deveria ser utilizada e descartada em espaço de tempo relativamente curto, isto é, seria substituída por um modelo mais novo e mais adequado. [...] Em oposição ao conceito da préfabricação pesada, que é rígido, e não admite a variabilidade, a questão seria aproximar a arquitetura ao sistema por catálogo, que admite a eleição individual do consumidor. (p. 111) [...] O modo de apresentação empregava os recursos típicos das tiras cômicas, a mudança de ponto de vista [...] e o uso da convenção normal para representar o objeto que se desloca rapidamente. (p. 114) [arquitetura como produto de consumo: anonimato do arquiteto] Da cápsula ao sistema de partes

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A partir de 1966, distintos projetos levados a cabo em grupo ou individualmente estariam ocupados em desmontar a cápsula, desenvolvendo sistemas compositivos a partir de elementos menos definidos, menores e mais flexíveis. (p. 117) Se as cápsulas aproximavam-se a experiências identificadas com o desenho de objetos complexos [...], o esquema de Webb referia-se principalmente ao desenho de partes e sistemas. 1.2.3.

Plug-in City

Magazine Archigram 5 - Metropolis: as megaestruturas No contexto dos primeiros anos sessenta a cidade como problema totalizador, ou a cidade como “entidade conceitual à qual se podiam reduzir todos os problemas” [...] lidar com o tema do grande

número, ou seja, como responder à demanda de casa e cidade gerada pelo crescimento das populações urbanas, [...] as novas soluções precisavam aglutinar diferentes âmbitos – a habitação, o trabalho, a circulação, os equipamentos – mais que separá-los, como havia pretendido a Carta de Atenas. [...] para os metabolistas e para Archigram a saída seria investir em mais tecnologia. (p. 127) [...] a megaestrutura foi o conceito articulador. Com relação ao zoneamento funcional genérico da Carta de Atenas, a megaestrutura representou uma volta à arquitetura, em que o problema da organização funcional da cidade podia ser examinado [...] na tensão entre partes constituintes e todo urbano, entre elemento e estrutura. (p. 127) [...] a megaestrutura se colocava como possibilidade formal a explorar na regeneração dos setores urbanos de uma “continuig city”, essa cidade persistente no tempo, cujos processos de crescimento, nem sempre controláveis, progressivamente dispersavam no espaço. (p. 131) Entre os projetos de Archigram apresentados estavam Computor City de Crompton, Interchange City de Herron e Chalk, que havia participado da exposição Living City, Underwater City de Chalk, Walking City de Herron, e outra vez, Plug-in City de Cook, da qual se apresenta um desenho de seção vertical através de uma zona de alta densidade. (p. 131) O material reunido pretendia sugerir uma determinada linha de investigação projetual cujo traço comum era pensar o problema da cidade a partir de grandes estruturas arquitetônicas multifuncionais, que permitissem articular os processos dinâmicos de crescimento, mobilidade e flexibilidade. (p. 132) [...] investiam na ideia de um sistema espacial tridimensional, que seria preenchido por componentes independentes, e remetiam à estruturas espaciais de Konrad Wachsman, a Buckminster Fuller e ao projeto de Louis Kahn para o centro de Philadelphia, todas iniciativas datavam dos anos cinquenta. Plug-in City: organização e elementos tipológicos Plug-in City foi um projeto desenvolvido entre 1964 e 1966 (p. 132) “O termo ‘cidade’ é usado como um coletivo, sendo o projeto portmanteau para diversas ideias, e não necessariamente implica a substituição das cidades tal como conhecidas”, explica Cook. Em Plug-in City convergem os principais tópicos de interesse do grupo neste momento: a cultura do consumo vista pelo

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ciclo obsolescência e substituição, a pressão das novas tecnologias sobre as estruturas urbanas que se traduz nas metáforas de máxima exposição e máxima conexão, a tensão entre a flexibilidade ou a variabilidade das partes e a consistência geral do conjunto. (p. 132) [...] vasta estrutura espacial disposta a 45°, que é em princípio aplicável sobre qualquer terreno, e que pode ramificar-se em várias direções. Assim o sítio é algo criado artificialmente; o dado prévio que importa é a acessibilidade, a possibilidade de conexão com outras cidades. (p. 132) Conforma explica Cook: “Você conecta e desconecta; pedaços vão e vem, e isso envolve metamorfose, a estrutura básica em ciclo longo e as cápsulas em ciclo curto.” (p. 133) [...] a estrutura diagonal estaria composta por tubos de aproximadamente 3 metros de diâmetro, interceptados a cada 48 metros. [...] A hierarquia de permanência relativa dos componentes também estaria relacionada à posição ocupada por estes no conjunto. Os elementos mais duradouros tendem a colocar-se na base da seção, e àqueles de menor vida útil corresponde o topo [...] (p. 135) Na tradição da cidade-máquina Sem dúvida o conceito plug-in [...] é indicativo de uma metáfora elétrica, da noção de rede e da possibilidade de acesso indistinto a todos os pontos da mesma, da diminuição da distância que supõe as tecnologias elétricas e eletrônicas. (p. 136) [...] problema central das comunicações de massa e das novas tecnologias de informação: aquilo que é produzido de forma independente no espaço pode ser experimentado de forma simultânea no tempo. [...] Se a essência da tecnologia da máquina era a fragmentação, a essência da tecnologia da automação seria a simultaneidade (p. 137)

Plug-in City, estruturada basicamente por estas redes de comunicação (os tubos de elevadores que conduzem as pessoas e coisas, os sistemas viários, a acessibilidade através de um canal de água) evoca as visões urbanas dos primórdios da mecanização – as propostas utópicas dos anos vinte e seu encantamento com a nova presença dos elevadores, do automóvel, do trem e com a perspectiva de um entorno totalmente artificial, liberado com relação ao nível horizontal e utilizável em diversos planos. (p.137)

Plug-in City está ligada a toda uma cultura industrial e à tradição da cidade-máquina: toda uma série de alternativas utópicas de ideário semelhante, inspiradas e tornadas viáveis, ao menos no plano do projeto, pela tecnologia mecânica. (p. 140) A relação com a ‘tradição funcional’ inglesa [...] insistência na representação técnica e no detalhe. (p. 140) Na maior parte dos projetos de Archigram há uma clara intenção de demonstrar que, embora essas ideias sejam especulativas e tenham relação com o espírito inventivo das arquiteturas fantásticas, elas poderiam ser construídas dentro dos parâmetros profissionais correntes. (p. 140)

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[...] Stirling colocava em discussão duas acepções para o funcionalismo como conceito: uma atitude de projeto, gerando uma arquitetura que emerge do uso e função dos elementos principais [...] ou uma preocupação primordialmente estilística, mais na linha da estética da máquina, tal como Banham a havia definido (ainda que pejorativamente). (p. 142) A cidade das gruas: o sítio da reconstrução contínua [...] em consequência da moderna impossibilidade de experimentar a cidade como unidade, “desde então, e para sempre, o homem urbano será um homem com o corpo incompleto”. (PURINI, 1978) (p. 143) Essa ideia de cidade inacabada que é própria de Plug-in City [...] é reveladora da situação [...] em que o corpo completo perde autoridade fundacional para a arquitetura, com a progressão em direção ao fragmentário, ao que pode ser infinitamente mutante, ao que está sempre em processo de construção e reconstrução, Plug-in City é inacabada como cidade contínua [...] e pela ausência de limites definidos; é inacabada por sua própria condição de reprodução através da lógica do consumo e da substituição [...]; é inacabada na tendência ao entorno permissivo, na recusa em assumir uma hierarquia formal restritiva, que cristalize de forma definitiva a posição de todas as suas partes. (p. 143-144) Os instrumentos para projetar essa cidade [...] são a axonometria e as seções verticais. A ausência de croquis ou perspectivas desde o ponto de vista do observador relativiza a importância da experiência visual da cidade como ferramenta de projeto, e coloca toda a ênfase na maneira como suas partes se relacionam, ou seja, como esta funciona. (p. 144) [...] já não prevalece a ideia de que é a unidade que confere sentido à composição [...] (p. 144) [...] em Plug-in City a organização geral pretende ser sempre mais circunstancial que definitiva, e o resultado, em cada momento, deve voluntariamente refletir essa precariedade. (p. 144) Ao contrário da máquina perfeita, da tecnologia limpa e sublimada das propostas racionalistas, que expressavam o controle da razão da máquina sobre o indivíduo (e mesmo sobre a natureza, que ocupará os lugares que lhe competem), esse caminho sugere a aceitação de um certo grau de irracionalidade que pode emergir de um todo hiper-taylorizado, no limite entre contínua transformação e eterna repetição. O magazine Archigram número 7, Beyond Architecture, que Archigram publicaria em 1966 [...] encerrava para Archigram esse período de extrema confiança nas possibilidades da arquitetura de transformar a sociedade, e indicava o abandono de soluções totalizadoras, como era em parte a megaestrutura. (p. 145) Megaestrutura, a arquitetura como jogo A ideia da arquitetura como um jogo, como arte lúdica, estava por trás do tema da cápsula, e de Plug-

in City como experimentação de seus pressupostos à escala da cidade, e segue presente nas investigações seguintes de Archigram. (p. 146) A expectativa de passar da cidade do trabalho à cidade do jogo havia sido um dos impulsos básicos das ideias megaestruturais, de Constant e Friedman a Archigram. À despeito das diferenças de projeto

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político que de fato existiam entre essas posturas, se supunha que a megaestrutura seria o novo habitat para o homo ludens de Huizinga. (p. 146) Huizinga destaca como peculiaridade do jogo estar profundamente enraizado no estético, e ao mesmo tempo, a capacidade para oscilar continuamente entre o que é brinquedo e o que é sério. [...] Com o estilo, o jogo compartilhava uma natureza supérflua; [...] E assim como o estilo, o jogo depende de uma estrutura interna com ordem própria, apoiada sobre alguma forma de repetição [...]. (p. 146) A utopia de Archigram seria extrair do consumo a possibilidade de jogo, e aproximar a arquitetura a alguma à alguma forma de arte participativa, dependente da ação individual, ainda que através da eleição e da combinação de um conjunto de elementos basicamente repetitivos, e dentro de algumas regras pré-estabelecidas. (p. 147) A saída intermediária para a aparente contradição entre a repetição e a sandardização característicos do modo de produção em massa e a singularidade do individuo estaria em deixar que o homem tipo desse lugar ao homo ludens. Plug-in: A arquitetura como produto de consumidor e a crise do modelo industrial Os limites das aspirações megaestruturais Jameson [...] identifica como um dos grandes enganos do ativismo dos sessenta a suposição de que as formas arquitetônicas podiam estar em si mesmas “dotadas de potencial político e revolucionário em virtude de suas propriedades intrínsecas”. (p. 150) Para Boltanski e Chiapello [...] entre a diversidade de formas históricas da crítica ao capitalismo poderiam distinguir-se dois grandes grupos: uma crítica artística e uma crítica social. Esta separação teria relação com as “fontes de indignação” que alimentaram estas críticas nos diversos planos culturais e ao longo de dois séculos, e que foram essencialmente de quatro ordens: o capitalismo como fonte de opressão, na medida em que oferece restrição à liberdade e à autonomia dos seres humanos; o capitalismo como fonte de desencanto e inautenticidade dos objetos, das pessoas e do modo de vida a que está associado; o capitalismo como fonte de miséria e desigualdade; o capitalismo como fonte de oportunismo e egoísmo. [...] a crítica artista tende a estar apoiada principalmente sobre as duas primeiras causas de indignação [...] enquanto a crítica social estaria identificada com as duas últimas. (p. 151-152) Ao parecer, se aceitarmos a possibilidade de uma dimensão crítica para a arquitetura através do projeto, a perspectiva de Archigram estaria sempre muito mais identificada com esta crítica artística ao capitalismo, do que com uma crítica social. (p. 152) As possibilidades da estratégia plug-in [...] a noção de uma arquitetura como produto do consumidor e o emprego das estratégias do tipo plug-

in pressupõe o investimento no desenvolvimento de sistemas pré-fabricados que permitam uma transformação parcial das estruturas arquitetônicas. E, neste sentido, estas estratégias são consistentes com a ideia de que as partes das construções tem vidas úteis distintas, de que algumas

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partes dos edifícios serão modificadas com anterioridade perante outras, e sobretudo, com a possibilidade de investir em arquiteturas passíveis de transformar-se para seguir adaptando-se. (p. 155) Segunda parte. Zoom: Por uma arquitetura móvel 2.1. Homem nômade 2.1.1. ‘A noiva mecânica’: o carro como paradigma para a arquitetura da casa A transformação da esfera privada Nos anos sessenta, no mundo que Archigram pretende revelar e habitar, a tecnologia estava permitindo não apenas alterar a aparência deste continente [casa, estrutura material], mas principalmente, estava tornando irreconhecíveis seus conteúdos [lar, lugar onde se vive]. (p. 156) Em uma sociedade de massas, o problema principal é que a casa – continente – se modifique, e possa até ser prescindível, como sugere Banham em seu artigo; mas que seu conteúdo seja percebido como igual, e ao mesmo tempo como transformado: de lugar de proteção, conforto e intimidade, a lugar de total exposição; de lugar da distinção entre esfera pública e esfera privada, a âmbito que justamente toma problemática a definição destas duas esferas. (p. 159) “As casas de hoje são pouco mais que um lugar para dormir próximo ao carro próprio”, anota Michael Webb, citando a George Bernard Shaw. De certa forma a cápsula já envolvia a questão da mobilidade, assim como toda a discussão sobre a arquitetura descartável na obra de Archigram tomava a forma de produzir e consumir o carro como referência. (p. 159) Porém, mais além da obsessão por transferir os princípios da indústria dos transportes à produção da casa, Archigram logo buscou explorar esta transformação através de projetos que incorporassem diretamente a questão da mobilidade; (p. 159) Essa casa identificada com um mínimo vital, e mínimas posses, é a promessa máxima de mobilidade. “Com o perdão do mestre [Le Corbusier], a casa é uma máquina para carregar consigo, a cidade uma máquina na qual conectar-se,” jusificava David Greene esta arquitetura ‘Dirija com cuidado, pareça rápido’: a cultura das caravanas “Sem dúvida a mobilidade, de qualquer natureza, empreendida por uma pessoa como resultado de livre escolha, pode livrá-la de muitas das pressões e tensões cotidianas, pode abrir-lhe novos horizontes, pode estender suas áreas de afinidade, pode estimular a nostalgia e devolvê-la à natureza, pode até mesmo ajudá-la a escapar. Pelo menos, essa pessoa pode escapar com conforto”. (Raymond Wilson, 1967) Destas primeiras casas para levar a reboque [referencias aos trailers e caravanas], as investigações de Archigram herdaram o espírito entre pragmático e escapista. Nelas se encontra a possibilidade de ir a qualquer parte, e ao mesmo tempo, nunca obrigar-se a sair de casa. (p. 162) Free Time Node e Airhab

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Com relação aos primeiros cinco números da revista, as seguintes edições, de Archigram 6 em 1965 a Archigram 9 em 1970, mostram uma série de projetos que insistem no caminho da fragmentação das cápsulas em sistemas de elementos pré-fabricados, das arquiteturas móveis, dos artefatos e dispositivos técnicos para carregar consigo. (p. 163) Seguindo as ideias anteriores de Archigram com relação à metamorfose e indeterminação, essa arquitetura baseada em estruturas leves, materiais relativamente precários e facilmente substituíveis – o plástico das membranas e o alumínio dos trailers –, e sobretudo elementos seriais, fornecidos industrialmente, propunha questionar a noção de zoneamento do planejamento funcional com a criação destas zonas livres, menos hierarquizadas e mais permissivas. (p. 163) Free Time Node de Herron [...] conserva uma ideia básica da megaestrutura, ou seja, a proposição de um marco geral de referencia para os elementos móveis como os trailers, ou flexíveis como como os espaços infláveis, que oferecesse não apenas um suporte em termos infra estruturais, mas que garantisse um grau mínimo de ordenação formal. (p.163-164) as fronteiras entre exterior e interior, que competia à arquitetura estabelecer, tornam-se efêmeras, com o reconhecimento de uma relação entre o público e o privado que já não é fixa. (p. 166) Cultura drive-in [...] tendência da casa em converter-se em envelope indiferenciado, qualificado apenas pela disponibilidade de serviços (Banham) (p. 166) E ali nos Estados Unidos, Banham faz o registro da impressão que lhe produz esta civilização em que o carro parece já estar fazendo o papel de “pacote autônomo”, e competindo com a arquitetura de edifícios. (p. 169) tomar o carro como paradigma, ao mesmo tempo que significava para a arquitetura o desafio de aceitar o incremento tecnológico e inserir-se na nova realidade da produção em massa e, teoricamente, libertála de uma relação fixa com o sítio e a natureza, também representava uma espécie de limitação quanto a seu papel tradicional. Para o raciocínio que reduz a casa a duas variáveis, máquina e envolvente, a função do envoltório é simbólica e formal; tanto o plástico quanto o vidro são ineficazes como mediadores entre homem e natureza, em ambos os casos quem condiciona essas casas são as máquinas. (p. 170) Carro e estilo: o streamlining a primeira solução da indústria para acomodar a rigidez do modelo fordista à necessidade de oferecer de forma efetiva aquilo que implicitamente toda a sociedade de consumo prometia: a variedade de escolha, a possibilidade de diferenciação através do consumo, e o estilo ao alcance de todos. O surgimento do streamling (ou estilo aerodinâmico), como veia estilística tipicamente americana, esteve desde o princípio contaminado por este elemento de realismo comercial. (p. 170-171)

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Essa estética típica do consumo, desenvolvida principalmente no mundo do transporte, invadiu a área dos eletrodomésticos e demais objetos e contribuiu para a difusão dos materiais plásticos, que se adaptavam com perfeição às curvas dos desenhos aerodinâmicos. (p. 171) Considerando o período de expansão fordista e de imperialismo americano, esses objetos tendem a colonizar o cenário mundial (p. 171) Ainda que esse tipo de expressionismo suace da máquina, que também estava nos quadrinhos de ficção científica, naturalmente atraísse Archigram, não necessariamente os projetos do grupo incorporaram apenas a versão glamorosa da máquina, destinada a tornar apetitoso o produto. (p. 172) O Living-pod: fígado e rins estrutura concebida a partir de duas classes de componentes: um envoltório contínuo, e um conjunto fragmentado de máquinas agregadas. Estes componentes estão pensados como potencialmente adequados à produção em série, e como elementos especificáveis à conveniência do consumidor (p. 172) O interesse de Archigram como grupo pelo nomadismo implícito na versão automobilística da civilização [...] permitem considera-lo [o pod] uma abordagem fronteiriça entre espaço para vivier e meio para circular, talvez questionando este limite. (p. 173) No Living-pod estão conjugados aspectos dos projetos anteriores de Greene. Por um lado, o fascínio pelos produtos e imagens da indústria aeroespacial [...]. Por outro lado demonstra seu interesse pelas vertentes formais de inclinação surrealista, e sua atração pelas formas livres e orgânicas (p. 173) Nem fusão completa entre organismo e máquina, nem superação de um pelo outro; antes uma exploração destes limites. (p. 173) O nomadismo para Archigram e a cultura on the road A literatura beat penetrou com muita força nos ambientes universitários ingleses a partir de final da dos anos cinquenta, corroborada pela popularidade da música negra americana (primeiro o jazz, e depois o rock), e amparada pela disseminação da presença cultural de Estados Unidos, desde os anos de pós-guerra. (p. 178) Os poetas beats haviam herdado do existencialismo o questionamento à autoridade estabelecida; estavam concentrados na busca de autenticidade individual, na negação da racionalidade capitalista e do consumo [...]. Assim, nos anos cinquenta, depois de vender o modelo da afluência fordista, os Estados Unidos podiam exportar poetas desaforados, inconformados com as consequências deste mesmo modelo. (p. 179) Archigram não compartilhou a ira beat com relação à barganha da afluência, e como visto, tampouco condenava a sociedade de consumo. Não obstante, Archigram estava identificado com esse tipo de inconformismo ancorados sobre a contestação dos modos de vida, e pela reivindicação de uma autenticidade baseada na expressão da personalidade e dos desejos individuais. (p. 179)

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Para Archigram, nomadismo e arquitetura móvel estão também dominados por esta polarização entre indivíduo e sistema tecnocrático, em que o âmbito privado emerge como cenário de interesse e campo de prova para tentativas de controle sobre a tecnologia e superação das restrições tecnocráticas (p. 180) “o carro é útil ao jogo da liberdade. A implicação de que toda a superfície do planeta possa prestar igual serviço é, possivelmente, apontar para o tempo em que possamos ser todos nômades, se quisermos.” (magazine Archigram 8) Nomadismo como tema arquitetônico, entre progresso e nostalgia do futuro O dilema entre progresso e nostalgia é próprio da maneira como o nomadismo emergiu como problema na cultura da modernidade, ora percebido como busca voluntaria e libertação, ora como desterro. (p. 181) tensão entre mobilidade como parte de uma tradição modernista, e como crítica latente ao modo de vida que a cultura tecnocrática buscou promover através do discurso pelo progresso. A razão desta tensão , que é o ponto de contato entre Archigram e esta outra tradição, está na nostalgia por algo que foi banido não necessariamente pela produção em massa, mas deslocado pela aliança racionalista entre higiene, moral e estética. (p. 181) 2.1.2. Micro-entorno: extensões tecnológicas e interface homem máquina Desde uma perspectiva otimista, os textos de 2000+ divisavam um mundo futuro transformado pela tecnologia, e uma nova simbiose entre o homem e a máquina [...]. De acordo com este número de Architectural Design, o futuro da arquitetura parecia desprender-se do âmbito disciplinar e passar a identificar-se com o desenvolvimento das áreas científicas de controle ambiental. (p. 178) Estes temas de desenho, e sobretudo o otimismo básico com respeito a tecnologia concordam com a edição da Architectural Design. Porém, em oposição à perspectiva séria e pretensamente cientifica de McHale, os projetos que Archigram deriva dos mesmos temas vão assumindo um viés mais irônico, um gosto pelo limite entre o que é aceitável como proposição arquitetônica e o que é fantasia e diversão (p. 178) Cushicle e Suitaloon “Um híbrido que é as vezes máquina, às vezes arquitetura, às vezes crescimento animal, às vezes circuito elétrico, às vezes parte de uma progressão matemática e às vezes completamente aleatório”. Para Archigram, assim deveria ser caracterizado o trabalho do grupo a partir de 1966. A ideia de auto-

environment, levada a cabo por Michael Webb através dos projetos Cushicle (1966-67) e Suitaloon (1968) [...] corresponde a esta descrição, e poderia representar uma exploração limite das noções que sustentam a discussão em torno a nomadismo e mobilidade no trablho do grupo (p. 179) [...] investigação de Webb com respeito a um entorno individual mínimo [...] perseguindo a definição de um ambiente totalmente particular, em que alta sofisticação tecnológica e máxima prestação de serviços combinavam-se a uma condição espacial mínima. (p. 180)

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[...] relaciuonam-se com outras inciativas no terreno da arquitetura experimental, empenhadas em extrais uma poética contemporânea da tecnologia dos plásticos e das estruturas pneumáticas. (p. 180) A questão era como a tecnologia poderia engendrar diferentes perspectivas, e também diferentes questões, para a arquitetura [...]. A principal noção subjacente a explorações como Cushicle e Suitaloon é a nova simbiose entre homem e máquina que não apenas as tecnologias mecânicas (o carro) haviam possibilitado, mas, principalmente, as novas tecnologias da informação e da comunicação estavam prometendo realizar. (p. 182-183) Está relacionado ao problema da tecnologia como fator de modificação da distancia e da relação com

o lugar, como fator de reconfiguração permanente de limites e fronteiras que, frequentemente, tende a combinar uma descontinuidade local a um novo tipo de localização planetária independente do lugar. (p. 183) [...] dar forma a uma tendência incipiente que estava sendo sugerida por seu próprio contexto, e estabelecer com estas propostas um diálogo com a cultura arquitetônica vigente. (p. 183) McLuhan: a referência para a casa como extensão tecnológica Como um dos mais populares e influentes interpretes do impacto das novas tecnologias durante os anos sessenta, McLuhan explicava justamente que meios de comunicação de massa não era uma expressão que se referisse ao tamanho das audiências, mas ao fato de que todos pudessem estar

implicados nos mesmos acontecimentos ao mesmo tempo, de forma simultânea . Esse traço, a imultaneidade no tempo apesar da dispersão no espaço, é que possibilitava a emergência da aldeia

global. (p. 186) [...] se a roupa é uma extensão da própria pele para armazenar o calor e a energia, a casa é o meio coletivo de alcançar o mesmo fim para uma família ou um grupo. (p. 186) Dessa ideia de vivenda [local que se vive] como extensão tecnológica emerge a noção de uma casa global, identificada com a superfície do planeta. A passagem de um mundo feito de lugares distintos à

aldeia global inclusiva de McLuhan corresponderia também a conversão do cidadão em homem nômade, coletor de informação e imagem. (p. 186) Segundo a interpretação de McLuhan, o que caracterizava a natureza dos câmbios tecnológicos do pósguerra era a passagem da tecnologia da máquina, baseada na fragmentação e na sequencia, às tecnologias da informação e da automação, cuja essência é a simultaneidade e a integração. [...] Uma nova forma de experiência da realidade, inclusiva, instantânea e ubícua, era anunciada através do estudo dos meios de comunicação então disponíveis [...] compondo uma espécie de paisagem caleidoscópica (p. 187) Brunhilda e os robôs [...] atitude abertamente favorável do grupo à integração da tecnologia no âmbito privado, a um apetite insaciável para com situações externas aos territórios tradicionais da profissão e à ânsia por

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estabelecer algum tipo de relação entre estes elementos estrangeiros e temáticas arquitetônicas. (p. 191) Interação e conforto: a domesticação da tecnologia [...] crescente interesse por temas cibernéticos que caracterizava o período, que Archigram traduzia como expectativa de incremento à participação individual na definição do ambiente vital. [...] a antiga noção de conforto [...] que vinha experimentando um salto qualitativo em função de transformações técnicas e sociais. Para Archigram, exchange and response – intercambio [interatividade] e reação -, era parte do esforço na direção de um entorno sensível, de uma arquitetura ativa, que de fato estivesse apta a reagir aos “desejos humanos”. (p. 191-192) O mundo é uma aldeia ou uma almofada: McLuhan ou Marcuse? O que justificava [...] sobretudo, essas pessoas que habitam as colagens de Archigram em momentos de eterno gozo e lazer, liberadas do esforço por uma tecnologia benevolente? Se a imagem do mundo como aldeia emerge claramente das intuições de McLuhan, por outro lado a imagem do mundo como uma grande almofada remete a um outro grupo de ideias influentes nos anos sessenta, que se voltavam a realização e à expressão das necessidades individuais, e cujo caminho é mais disperso [...]. Mas é através dessa ideia do mundo como almofada que se pode precisar o tipo de relação particular com a tecnologia, ao mesmo tempo otimista e anti-tecnocrática, que era própria de Archigram. (p. 194) Na definição que dava a nomadismo, Archigram recolhia esta expectativa, a partir das transformações que pareciam estar ocorrendo dentro do âmbito doméstico, e de um questionamento geral de hierarquias e poderes estabelecidos que os movimentos sociais contemporâneos vinham produzindo. (p. 195) Marcuse: uma função crítica para a fantasia Paradoxalmente, os logros da ciência e da técnica, que nas sociedades industriais avançadas estavam sendo utilizados para servir os interesses de uma dominação contínua, eram os componentes que ao mesmo tempo incorporavam o potencial para minar os fundamentos deste sistema (p. 196) [...] para Archigram, o nômade é sobretudo aquele que se move dentro desse novo mundo artificial, para quem a tecnologia pode ser muitas coisas: céu, casa, ferramenta, arma ou proteção. A imagem da natureza como jardim para os seres humanos tem que ver com as ideias seguintes de Archigram, em que o papel da tecnologia seria nutrir a vida humana com mínima interferência sobre a natureza, que serão tratadas na terceira parte desta tese. (p. 197-198) Existem três questões fundamentais no argumento de Marcuse que tem relação com a posição de Archigram, e sobretudo, com o tipo de “crítica artista” onde se pretendeu situar Archigram no final da primeira parte desta tese: primeiro, esse argumento oferece uma visão positiva e otimista da tecnologia, e especificamente, da tecnologia desde uma perspectiva anti-tecnocrática; segundo, é uma recuperação das perspectivas individuais, e permite estabelecer para a fantasia uma função crítica. (p. 199-196)

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[...] situar estes projetos com relação a seu contexto [...] a cultura que os projetos de Archigram refletem, em que a tecnologia podia ser apropriada, e a imaginação utilizada como ferramenta crítica. (p. 196) A crítica que Archigram produziu dependia em grande parte deste meio termo entre “trabalho intelectual, puro, criativo”, e da exploração de possibilidades técnicas concretas. A ambiguidade, ou o meio caminho entre ficção e realidade, é uma interpretação do convite de Marcuse a pensar o mundo real através da fantasia, que Archigram levou adiante em seus projetos e nos dez números de sua revista. (p. 196) 2.2. Cidade Errática 2.2.1. Walking City A cidade móvel de Herron era uma família de veículos gigantes [...] em cujo interior poderiam estar localizados todos os equipamentos de uma cidade normal: habitações, escritórios, setores de negócios, comércios, serviços públicos e privados. Equipamentos extra como hospitais e unidades especiais poderiam ser eventualmente agregados a qualquer destes enormes contentores. As condições ambientais necessárias à vida se reproduziriam artificialmente, criando um ambiente perfeitamente controlado. A unidade standard estava dotada de patas e braços telescópicos. Estes últimos formariam corredores extensíveis, que permitiriam a conexão em rede com todas as demais unidades e a comunicação com a água e com as cidades em terra, fazendo circular pessoas e objetos, e fomentando a transferência ininterrupta de bens, de materiais e de informação. Segundo Herron, estes estranhos veículos, enormes máquinas que se moviam caminhando como animais, seriam talvez os protótipos para uma nova “capital mundial, capaz de estar em qualquer lugar a qualquer hora; um pacote de entorno artificialmente produzido, de tamanho colossal, “móvel o suficiente para atravessar o mundo”. (p. 197)

Walking City tem suas raízes na cultura protética da ficção científica [...]. O desenho de Herron é uma exploração desta ambivalência, desta cultura protética como território de arranjos híbridos entre o animal e o artificial, entre homem e máquina, entre natureza verdadeira e natureza fabricada. (p. 201) Existe uma certa impressão de autonomia e vontade própria nestas máquinas simpáticas que expressam com veemência o potencial da tecnologia para desconfigurar limites estabelecidos, e para colocar em questão as próprias estruturas de interpretação e uso dos espaços habitados. E é neste sentido que Walking City pode ser uma classe de distopia, como uma representação da tecnologia que não busca traduzir esse potencial em uma aparência aceitável de ordem, razão e neutralidade. (p. 201) O fantástico e o verossímil Esta cidade nômade, que não pertence a nenhum lugar geográfico ou tempo concreto, que se pretende que pode caminhar não apenas sobre a terra e sobre o mar, mas sobre a história de outras cidades, existentes e imaginadas, revela algumas das estratégias fundamentais para a retórica de Archigram. Parte da força de Walking City vem da sobreposição de lógicas distintas, da nivelação em um mesmo plano, do desenho ou da colagem, entre uma proposição fantástica e um modo de operação e

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representação eminentemente técnico. Uma quimérica cidade-máquina, veículos excêntricos que se movem sobre patas e que se parecem a insetos gigantes, mas que são desenhados com uma obsessiva insistência nos detalhes, mais própria de um projeto de engenharia mecânica, que produz uma estranha combinação entre irrealidade e pragmatismo. (p. 203) Explorando territórios em comum com a arte pop, estas estratégias apontam para a convivência entre diferentes tipos de representação (diretas ou elaboradas, exatas ou fantásticas). [...] a utilização de imagens retiradas das representações populares das coisas, ou seja, imagens de segunda mão, enquanto provenientes de outros meios, e que em si mesmas constituem um repertório icônico. O préfabricado é o conteúdo temático da arte pop; um conjunto de informações básicas visuais de segunda mão, sobre o qual os artistas pop constroem, de maneiras diferentes e a partir de suas decisões, novas paisagens bidimensionais. (p. 203-204) [...] tomando de empréstimo as estratégias pop. O contexto do projeto é portanto o lugar onde explorar este possível comércio entre diferenças. Por um lado, entre a historia da cidade e as novas realidades tecnológicas que pressionam os lugares urbanos tradicionais; por outro, entre a noção de projeto como ficção ou como desenvolvimento técnico de um conceito; e, em ultima instancia, entre técnica como fábula ou como necessidade. (p. 204) Indiferença funcional e indeterminação Assim como suas contemporâneas Plug-in City (Cook, 1964) e Underwater City (Chalk, 1964), Walking

City evoca tanto a iconografia dos quadrinhos de ficção científica, e os aparatos mecânicos produzidos pela ciência e tecnologia reais, como as plataformas submarinas e petrolíferas. (p. 204) [...] Chalk vê um futuro em que, repentinamente, “o meio será visto como mais importante”, de modo que a arquitetura deverá comprometer-se, além da escala do edifício individual ou do conjunto de edifícios, “com a formação de um ambiente permissivo capaz de qualquer configuração de acordo com as circunstâncias. (p. 205) Mobilidade e indeterminação: Walking City com relação a megaestrutura Segundo Herron, o projeto de Walking City surgiu a partir das ideias de indeterminação que circulavam a meados dos anos sessenta, tanto no interior do grupo quanto entre seus interlocutores europeus e japoneses no tocante ao tema da megaestrutura. Especialmente, a ideia da cidade como “entidade mutante respondendo às necessidades imediatas de seus habitantes”, que era uma questão central para as investigações megaestruturais. (p. 206) [...] o entendimento da cidade como contínuo engendrado pelo somatório de partes distintas [...] indica, ao menos como possibilidade, esta compreensão da cidade como edifício único. No caso de Walking

City, este grande veículo-contenedor, cujo perímetro exterior é definido, porém o interior está configurado conforme o tipo de organização flexível e aditiva de Plug-in City, tem naturalmente relação com esta noção de grande elemento urbano singular. (p. 208)

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Plug-in City sobrevive transformando permanentemente a si mesma, ou seja, descartando e substituindo suas próprias partes, de modo que a indeterminação se identifica com a noção de substituição e consumo. (p. 208)

Substituição e consumo (no caso de Plug-in city), crescimento (no caso metabolista) e convertibilidade (no caso de Friedman) são processos que indicam algum tipo de metamorfose local desenvolvida no tempo, como noção própria da megaestrutura. E todos estes processos são estratégias que incorporam a questão da indeterminação como crítica ao pressuposto modernista de um lugar para

cada coisa, cada coisa em seu lugar, subjacente às recomendações da Carta de Atenas. (p. 209) Do lugar à trajetória: a cidade nômade No caso de Walking City, esta preocupação desliza da flexibilização de organização e função à mobilidade total, o que implica o questionamento de qualquer reação estável com o lugar como condição necessária à maneira humana de habitar. O lugar de Walking City é um lugar indeterminado. Da cidade nômade de Herron se depreende uma mudança de foco de interesse, que vai da demarcação construída do espaço à trajetória realizada. (p. 209) Archigram partiu desta revisão do urbanismo da Carta de Atenas efetivada pela geração dos cinquenta, contemporânea ao Team X. (p. 210) Apesar do persistente otimismo com relação ao progresso tecnológico, conforme a explicação de Greene, o esforço principal de Archigram não estava colocado tanto sobre uma perspectiva utópica, enquanto sustentação de uma atividade de exploração projetual voltada à fundação de um novo lugar

para uma nova sociedade. Ao contrário, as explorações de Archigram se relacionam com os processos de uma sociedade que já existe, e que, como tal, é familiar a qualquer homem urbano contemporâneo em uma economia industrializada. E são estes processos que se pretende iluminar, tentando levar às últimas consequências, na investigação projetual, os traços fundamentais desta cultura urbana baseada na transitoriedade, na mobilidade e na multiplicidade de fluxos, como desafios à concepção estável e estática de lugar. (p. 211) [...] “nova agenda onde nomadismo é a força social dominante, onde tempo, intercambio e metamorfose substituem estase; onde consumo, lifestyle e transitoriedade se tornam o programa; e onde a esfera pública é uma superfície eletrônica envolvendo o globo terráqueo.”(GREENE, 1999) (p. 211) A intuição de Archigram vai no sentido de que, no contexto de uma sociedade capitalista pós-industrial, a cidade como lugar do espaço público enfrenta transformações; e neste quadro, a demarcação construída do espaço tende a converter-se em consequência, e os fluxos, de qualquer natureza, em principio. Nesta perspectiva, Walking City não é tanto um modelo de cidade, como Plug-in City, como uma tentativa de produzir, ainda que demasiado literalmente, uma representação compreensível destes processos. (p. 212) 2.2.2. Cidades Instantâneas A ideia da ‘casa voadora’ está na raiz da poética do efêmero que Archigram explorou em uma série de projetos de final dos sessenta. Estes projetos envolvem sequencias temporais de organização e,

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necessariamente, precariedade e finitude. A partir da tecnologia, a arquitetura seria capaz de engendrar, instantaneamente, situações urbanas inéditas em qualquer contexto existente; e depois, segundo a mesma lógica indolor, desaparecer sem vestígios. (p. 211) Se na investigação em torno à cápsula e à megaestrutura, a atenção do grupo estava concentrada sobre objetos arquitetônicos, produzidos e distribuídos como produtos de consumo [...], já com o tema da cidade instantânea o interesse se volta à produção de um evento no tempo, tão espetacular quanto momentâneo. (p. 213) [...] as investigações megaestruturais, a que Archigram se dedicou nos primeiros anos sessenta, pressupunham altas densidades urbanas e uma certa concentração compatível com um modo de vida metropolitano. Quando Archigram volta ao tema da cidade em 1968, o faz com projetos de intervenções pontuais e não definitivas, mas que de alguma maneira tentam superar a dicotomia metrópole-subúrbio. (p. 213)

Ideas Circus O projeto combinava assim a noção de mobilidade à estratégia plug-in, entendida por Archigram como a possibilidade de insertar, de forma direta, um elemento ou grupo de elementos previamente executados que pudessem transformar instantaneamente um dado contexto. Deste modo, os componentes de Ideas Circus poderiam ser provisoriamente agregados a estruturas construídas ou a espaços existentes, transformando-lhes o aspecto e condicionando diferentemente sua forma de utilização por um período de tempo determinado. (p. 217)

Instant City Mais que um projeto fechado, Instant City é uma espécie de noção aberta de intervenção explorada por Archigram através de uma série de desenhos, colagens e modelos feitos entre 1968-70 por Peter Cook, Ron Herron e Dennis Crompton (p. 219) A intenção básica era enxertar temporariamente a dinâmica da grande metrópole em comunidades periféricas, recriando a mágica dos circos e das festas e feiras de caráter ambulante através de condições contemporâneas e recursos tecnológicos (p. 219) Os paradigmas para Instant City seriam os eventos de natureza transitória, do circo aos festivais de rock [...], com toda sua futilidade e precariedade, capacidade de reunir e dispersar um grande número de pessoas em um curto espaço de tempo, sua dependência da experiência de ações transcorridas mais que das estruturas físicas. (p. 219) Se o subúrbio era um lugar privado da pluralidade e da oferta cultural da metrópole, Instant City poderia constituir uma alternativa à “televisão e pub”. A ideia era oferecer um pacote que chegava a uma comunidade e instalava uma “rede de informação – educação – diversão – facilidades – ‘brinque-eaprenda você mesmo’” (p. 221) Sequencias de movimento e táticas de infiltração

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A observação de todas as colagens e desenhos referentes a este projeto [Instant City] sugerem que a questão central para Archigram não é necessariamente a oposição entre cidade concentrada e cidade difusa, mas o tipo de interação com o lugar que uma determinada classe de dispositivos transitórios, como arquiteturas pneumáticas e ultra-leves, ou os sistemas de comunicação e informação eletrônicos podem produzir. (p. 221) Assim, Instant City é proposta como uma sequencia de operações: o dirigível que se aproxima “a uma cidade adormecida”; os caminhões e trailers que descarregam equipamentos e componentes estruturais; as tendas e membranas que descem de balões (estes liberados por avião); logo rodos estes componentes da cidade instantânea fragmentando-se e infiltrando-se na cidade existente por um certo período; e, afinal, todo o aparato sendo recolhido e movendo-se a outro sítio. (p. 224) [...] incorpora o elemento tempo como noção fundamental para a composição. [...] Como observa Gillo Dorfles, é justamente esta artificialidade que caracteriza o papel do movimento na experiência contemporânea, ou seja, “a capacidade destas forças para produzir um tempo diferente do tempo cronológico, psicológico e cosmológico”. (p. 224) Plástico e eletricidade: componentes precários O plástico poderia ser o material que define a natureza das cidades instantâneas: leveza, flexibilidade, rapidez de instalação, e pouca durabilidade. Por definição, no caso de Instant City, não havia um conjunto ideal de componentes ou um arranjo unívoco. O projeto foi desenvolvendo-se a partir de várias proposições, em diferentes lugares e seguindo distintas combinações entre componentes essencialmente arquitetônicos – como armações metálicas leves, membranas e tendas –, e dispositivos de transporte como os balões, zepelins e os caminhões, além de sistemas audiovisuais, eletrônicos e elétricos, etc. (p. 226) [...] como o plástico não era nada, podia ser tudo. Existe uma identificação da precariedade e da maleabilidade deste material com uma promessa de liberdade formal e superação de hierarquias, e uma esperança de que estes espaços indeterminados favorecessem comportamentos menos rígidos. (p. 227) Zoom: do consumidor de objetos ao nômade coletor de informações [...] o incremento no desenvolvimento destes temas, que ocorre principalmente entre 1965 e 1970, está muito relacionado às vivências americanas dos membros do grupo. (p. 230) O nomadismo de Archigram carrega este sentido protético. O nômade se move, e se comunica com seu entorno, graças às extensões artificiais de sua capacidade humana. Todos estes projetos relacionados à mobilidade são propostos a partir dos novos materiais artificiais do pós-guerra, desenvolvidos pela cooperação entre a indústria e a química, como os plásticos (membranas e plásticos estruturais) ou o alumínio, e as novas tecnologias da informação que emergem do esforço da guerra e da corrida armamentista. (p. 231) Assim, os projetos de Archigram que investigam a questão da mobilidade não propõe um novo modelo de cidade, mas uma espécie de modelo de convivência (ou mesmo de sobrevivência), que se identifica

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como uma estratégia de utilização do território, mais que como uma proposta de modificação definitiva do mesmo. (p. 231) Terceira Parte. On-Off. Por uma arquitetura da ausência 3.1. Conjuros tecnológicos 3.1.1. Computor City Até a segunda metade dos sessenta, como visto nas duas primeiras partes desta tese, Archigram havia reunido um certo número de experiências que tratavam de responder às questões que consumo e obsolescência, mobilidade e nomadismo, colocavam para a arquitetura. Em resultado destas experiências, emerge uma ampliação de repertório formal, a partir de uma continuidade seletiva com respeito às vanguardas históricas, fertilizada por imaginários próprios da cultura industrial urbana. (p. 233)

Por outro lado, uma parte significativa da investigação a que se dedicou Archigram a partir da segunda metade dos anos sessenta, diferenciava-se com relação aos pressupostos anteriormente colocados, no sentido de estar menos ocupada na renovação de um vocabulário arquitetônico, como havia ocorrido com as megaestruturas e as arquiteturas móveis, e mais dirigida a um deslocamento conceitual do interesse na noção de arquitetura como artefato material para o interesse em processos e estratégias relacionados ao impacto das tecnologias da automação e da comunicação sobre o ambiente. (p. 223) [...] Archigram seguia implicado em retomar uma das questões críticas para a cultura arquitetônica do pós-guerra e sua revisão do movimento moderno, que consistia em uma certa ansiedade quanto à capacidade disciplinar da arquitetura para seguir respondendo aos desafios e às circunstancias colocadas por uma sociedade inundada por desenvolvimentos científicos e tecnológicos que aceleravam-se em ritmo exponencial. O avanço tecnológico e o otimismo nutrido pelo boom econômico do auge dos anos dourados, ao mesmo tempo em que haviam gerado expectativas por um mundo melhor, também haviam contribuído para fazer crescer a ansiedade quanto às possivibilidades da cultura arquitetônica para adequar-se às novas perspectivas abertas por este mundo (p. 234) [...] modernismo ansioso [...] convicção de que a sociedade de pós-guerra propunha uma agenda de problemas e uma circunstância cultural e social distinta com relação ao mundo que havia produzido as vanguardas de princípio do século, e a renovação dos propósitos e do idioma moderno deveria passar por este reconhecimento. (p. 234) [...] a tecnologia é uma alternativa da arquitetura, ou mesmo poderia converter-se em uma alternativa

à arquitetura? A tentativa de colocar esta questão passa por uma série de projetos cujo ponto comum é a ênfase na integração entre produtos materiais – artefatos arquitetônicos ou objetos concretos – e circunstancias tecnológicas que, progressivamente, parecem depender cada vez menos de suportes materiais. (p. 234) Computor City: Dennis Crompton, 1964

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Contemporânea a Plug-in City de Peter Cook e a Walking City de Ron Herron, a Computor City de Crompton havia sido publicada [...] no magazine Archigram número 5 – Metropolis -, dedicado à megaestrutura [...] e indicava, prematuramente, o caminho da invisibilidade que caracterizaria este último movimento da trajetória de Archigram. (p. 235)

Computor City poderia ser interpretada como uma espécie de alma invisível para qualquer dos esquemas megaestruturais que Archigram estava desenhando ou publicando naquele momento, porque não implicava a definição formal de componentes arquitetônicos, nem a articulação entre estes e os espaços urbanos. (p. 235) [...] Computor City unicamente já especulava com uma noção infraestrutural. Aqui o que era desenhado era a representação de um sistema tecnológico altamente sofisticado, que permitiria nutrir e equilibrar uma metrópole moderna, em permanente atividade e contínua transformação. (p 235) [...] destacava a ideia da metrópole como uma estrutura de relações comparável a um “campo de força” muito complexo, uma cadeia de eventos em equilíbrio dinâmico [...]. O que Computor City prometia, portanto, era oferecer à metrópole a “habilidade eletrônica para transformar-se” – “eletronic

changebility” era o desafio (p. 235-236) Caráter metafórico e retórica cibernética A ideia era desenvolvida através de um único diagrama, o desenho minucioso desta rede de sensores eletrônicos por onde circulam fluxos invisíveis de eletricidade e informação, percebendo as transformações na estrutura urbana ao ritmo cotidiano de uma cidade, e respondendo a estas mudanças conforme se fizesse necessário. (p. 236) [...] a apresentação gráfica do projeto e a pequena memória explicativa evocavam o rigor matemático, a retórica e a linguagem da engenharia de sistemas e dos programas cibernéticos. Assim, Computor

City tem relação com o tipo de apelo que a cibernética estava produzindo neste momento no contexto britânico. (p. 236) A interpretação de Archigram dos temas cibernéticos, principalmente em seus projetos, estava orientada por esta perspectiva antes artística e especulativa que científica. Essa perspectiva buscava uma representação convincente dos impactos das tecnologias eletrônicas e das teorias cibernéticas através do projeto, mais que aprofundar-se em como tais modelos poderiam interagir com os temas do planejamento urbano funcionando como ferramentas de desenho. (p. 239) Dos esquemas desenhados por Archigram, Computor City é talvez aquele que expressa de forma mais sucinta, e ao mesmo tempo mais eloquente, o potencial descentralizador das novas tecnologias no pósguerra, basicamente as tecnologias eletrônicas e a tecnologia da informação. (p. 239) Cibernética no contexto londrino: o papel de Gordon Pask As entradas metamorfose, emancipação e indeterminação já se referiam a questão arquitetura e consumo, enquanto nomadismo, conforto, intercambio e reação, eram noções que se relacionavam

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principalmente ao tema da mobilidade. O seguinte conceito, que Archigram chamou hard-soft, é o que melhor distingue os últimos rumos no trabalho do grupo. (p. 239) O significado da oposição hard-soft [hardware e software] para Archigram O fato de que Archigram recorrera a um par de palavras como hard-soft [...] tem como primeira e mais evidente explicação o desejo de atualização das demandas arquitetônicas perante um salto tecnológico que parece estar desafiando seu campo de atuação. (p. 243) [...] problematizar justamente a distinção entre tudo aquilo que podia ser identificado como “objeto tangível, que se pode tocar” – ou hardware –, e aquilo que é “sistema, programa, ou mensagem, que pode ser transmitido, mas não pode ser tocado” – ou o software. (p. 243) O que Archigram pretendia com este conceito era destacar o tipo de implicação que o giro tecnológico do pós-guerra, em direção aos sistemas cibernéticos, podia ter para a arquitetura, cuja tradição disciplinar naturalmente tinha que ver com a produção de objetos tangíveis. Neste caso, a noção de

software é que introduzia a diferença, quando era usada para sugerir um tipo de relação invisível, porém suficiente para controlar a posição e a organização dos elementos e artefatos físicos de que se compõe um ambiente real, de modo que “o mundo visível passaria a ser dependente de uma motivação invisível”. (p. 243-244) Sequencia Metamorphosis: a casa de 1968 a 1985 A sequência refere-se a uma hipotética metamorfose da casa em um período de dezessete anos, explicada através de cinco esquemas, cuja consequência ultima seria a quase desaparição dos elementos arquitetônicos, com os sistemas tecnológicos engendrando um ambiente totalmente interativo, controlado pelo indivíduo. (p. 247) Assim, a sequencia de Cook, com os cinco esquemas de que se compõe, poderia ser entendida como um relato sintético do próprio caminho de Archigram. (p. 247) [...] o conceito moderno de função, que sustentava a definição tipológica da casa, daria lugar a expressão de desejos individuais e mundos privados, o que não sugere mais nenhuma configuração formal precisa, apenas a promessa de realização para todo sonho imaginável. (p. 247) Das artes mecânicas ao conceito de tecnologia: a questão da invisibilidade O que Archigram entendeu como interação entre hardware e software [...] está relacionado à transformação do caráter e da representação da tecnologia ao longo do século vinte. Um dos traços cruciais desta transformação é o fato de que a tecnologia foi deixando de estar identificada exclusivamente com artefatos ou objetos técnicos em concreto, e passou a estar cada vez mais identificada com sistemas e processos de controle cuja natureza é potencialmente abstrata e ubícua. (p. 249) Archigram e seus companheiros ingleses do ramo audiovisual não foram os únicos dedicados ao experimentalismo nos sessenta envolvidos em tentativas de integrar as tecnologias da automação e as

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possibilidades da cibernética e da eletrônica à arquitetura. De fato, esta foi uma das aspirações de muitos dos megaestruturalistas. Em dado momento, a cibernética e sua referência implícita a gamas infinitas de combinações chegou a ser identificada como a própria encarnação do conceito de liberdade. (p. 250) A interpretação de Archigram intuitivamente aponta para esse caminho da invisibilidade, do sistema tecnológico que não é mais facilmente identificável com formas concretas, e de uma arquitetura que vai se convertendo apenas no registro de um processo de transformação. (p. 251) 3.1.2. The Piped Environment “Assim, não temos aqui nenhum edifício, os limites foram derrubados e deram lugar à pugra exploração”. [...] esta afirmação tinha relação com uma pergunta que preocupava Archigram desde o sexto magazine, publicado em 1965. “Questão: Permanece válida a ‘casa’ quando qualquer atmosfera

vital pode ser conjurada – ao prazo de um instante – pulsando um botão?” Esta pergunta se tornaria central para Archigram durante os últimos anos de existência do grupo, até 1974. Os principais projetos e investigações deste período, sejam eles indiviudais ou coletivos, estão, de alguma maneira, relacionados a esta decantada capacidade da tecnologia para conjurar qualquer

tipo de situação ambiental. (p. 252) Mas em que tecnologia estava pensando Archigram com “pulsar um botão”? [...] Archigram estava pensando nas tecnologias da automação, da comunicação e da informação do pós-guerra. [...] a promessa de transformação da cultura material que Archigram pretende representar nesta terceira etapa de suas investigações, com sua ênfase em miniaturização e invisibilidade, artefato portátil e controle individual. (p. 252-250) A arquitetura do well-tempered environment, segundo Reyner Banham De fato, a arquitetura como serviço era uma das ideias mais arraigadas no contexto inglês, quase uma espécie de consenso que poderia, inclusive, estar na raiz de posições arquitetônicas distintas, ou seja, tanto da arquitetura do “melhor possível” da reconstrução de guerra e das New Towns, como por trás de atitudes radicalmente anti-formalistas, como a que assumiu Price ao longo de toda sua carreira. [...] o ideal da habitação como um serviço prestado pelo estado, que foi um dos pontos importantes na constituição de um welfare inglês. (p. 250) Com este estudo sistemático e documentado da tecnologia no desenho dos edifícios, Banham [...] já não está realmente propondo a não-arquitetura, mas criticando a ênfase em questões estritamente formais em detrimento das questões relativas ao desempenho ambiental dos edifícios, considerando a progressiva absorção dos sistemas mecânicos de condicionamento artificial à edificação. (p. 251) No que concerne aos últimos rumos no trabalho de Archigram, é especialmente significativa a ideia da fogueira de acampamento como forma arquétipa para a noção de um entorno tecnológico; ou seja, o entorno produzido por tecnologias que podem não ter relação com a tradição construtiva da arquitetura, mas que parecem estar crescentemente implicadas na definição dos ambientes humanos. (p. 252)

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A noção de Piped Environment, segundo Dennis Crompton A noção de Piped Environment, denominação metafórica para um entorno, ou ambiente, cuja escência depende, progressivamente, cada vez menos das estruturas físicas e mais de infra-estruturas tecnológicas, é utilizada por Dennis Crompton justamente para registrar esta transformação, e sublinhar suas consequências para a arquitetura. Necessariamente, não se trata da delimitação física e definitiva de um espaço, mas principalmente da criação ou favorecimento de algumas condições de utilização. (p. 252) [...] situações que, embora dependentes de um sistema técnico de distribuição e alimentação, podem ter muito pouca relação com toda a parafernália de tubos e canalizações (p. 252) Assim, esta última etapa na trajetória de Archigram caracteriza um ponto de inflexão entre a representação de um mundo industrial centrado na produção e no consumo de objetos, e na representação de um contexto emergente em que fluxos imateriais de informação e imagem tendem a converter-se nas principais mercadorias. (p. 253-255) [...] as tecnologias que Crompton destaca como base do Piped Environment são basicamente a eletricidade e as tecnologias da informação e da comunicação então disponíveis, a televisão e o telefone. [...] O Piped Environment se refere à prestação de serviços e à disponibilidade de infraestrutura, mas não apenas a isso; refere-se sobretudo a um certo poder de sedução da tecnologia, e a um potencial quase narcótico para interferir com o mundo material. (p. 255) [...] agora o que preocupa é a noção de ambiente criado apenas por um conjunto de sensações, independentes de qualquer materialidade arquitetônica. (p. 256) Sintonias urbanas, segundo Ron Herron Para Herron, a colagem é o meio legítimo para desenvolver estes temas, já que pressupõe a interação entre coisas que já existem: um lugar previamente existente, elementos de catálogo, imagens de segunda mão, que se supõe que podem ser manipuladas para suscitar uma leitura distinta, ou pelo menos mais ampla. (p. 259) Da cidade do trabalho à cidade da tela: paisagens pop e metamorfoses urbanas [...] Archigram estava completamente ciente do espetáculo, e achava que o arquiteto, assim como o artista, poderia tomar parte no mesmo; não poderia escrever o novo roteiro, mas talvez pudessem fazer algo mais que decorar cenários. Archigram desenhou a cidade do ócio, apostou em estratégias regenerativas a partir da tecnologia e da produção de eventos transitórios e mediáticos, não fez nenhuma restrição ao uso da simulação, foi simpático ao espetáculo e a um parasitismo irônico da natureza e da cidade. As paisagens pop de Archigram colocam em discussão o quesito “autenticidade” em uma cultura invadida pela imagem. (p. 259-260) Para Pierluigi Nicolin, um dos aspectos mais atrativos da produção de Archigram era justamente haver colocado com antecipação a questão da cidade como parque temático. [...] William Menking julgava a

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experiência de Archigram significativa para a cidade americana como contraponto à conversão real de Nova York, por exemplo, em um “conjunto de parques temáticos para adultos”, já que as paisagens pop de Archigram antes sugeriam a infiltração de novos elementos que a reconstrução da cidade em um pastiche de si mesma. (p. 260) [...] precisar que tipo de crítica tentou produzir Archigram com relação ao seu próprio contexto, urbanístico e arquitetônico. A sugestão de uma arquitetura, e por conseguinte um ambiente urbano, em permanente metamorfose foi uma das ideias mais persistentes para Archigram ao longo da existência do grupo. (p. 261) Trata-se de observar, inclusive, que os elementos que provocam e incitam as metamorfoses urbanas não são, necessariamente, apenas componentes arquitetônicos, mas uma situação em que as mídias tendem a interagir, e mesmo competir, com o papel dos edifícios na constituição das paisagens urbanas. (p. 261) Assim, a questão que teve mais continuidade na trajetória de Archigram, que precedeu e superou a fase das megaestruturas, não foi propor um novo modelo de cidade, mas fazer, através desta “especulação visual”, uma crítica a seu próprio contexto. (p. 262) Archigram usou o ideal do entorno transitório para criticar a rigidez do planejamento funcionalista. [...] A confiança básica na Carta de Atenas [...] é que parecia incompatível com a realidade, com a evidencia de uma experiência urbana percebida como uma encruzilhada de fluxos de distinta natureza, e como o transitório da contínua transformação. Não é apenas que esse modelo talvez não servisse para projetar a cidade, é que seguramente já não bastava para explicá-la. (p. 263) [...] Archigram se deu conta de uma realidade emergente, em que as novas tecnologias, sobretudo da informação e da comunicação, forçariam a repensar qualquer teoria do espaço urbano também no plano de uma teoria da mídia. (p. 263) 3.2. A floresta cibernética 3.2.1. A floresta cibernética e o aborígene eletrônico [...] a primeira interpretação que Archigram havia dado à questão do consumo na sociedade da afluência, sintetizada no conceito de expendability, supunha total ignorância quanto às inevitáveis implicações ecológicas de uma economia do descarte, e este é um tema que se tornaria indiscutivelmente mais presente com o transcurso da década. (p. 265) [...] uma vontade de síntese entre “primitivismo e sofisticação tecnológica”. O sonho do aborígene na floresta cibernética de Greene está ligado a esta passagem de um posicionamento perante a máquina como entidade concreta, ao posicionamento perante a tecnologia, como concepção muito mais abstrata, relacionando múltiplos sistemas difusamente integrados à experiência humana. [...] a floresta cibernética e sua dependência de sistemas tecnológicos invisíveis evoca uma promiscuidade entre o fabricado e o natural, entre o artificial e o orgânico, em uma relação ampla e imprecisa, cujos limites são difíceis, ou impossíveis, de realizar. (p. 266)

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Primitivismo [...] Assim como o homo ludens, o nômade foi para Archigram esse tipo de personagem que permitiu articular pontes com aquelas vertentes de pensamento que contestaram a racionalidade tecnocrática em sua ameaça à auto-determinação.

Rokplug e logplug Na perspectiva de Archigram, essa classe de busca de autenticidade transcendente encarnada nas formas autóctones e no lugar é já uma impossibilidade; foi convertida em anacronismo por uma condição cultural vigente, cujos traços principais são identificados com a inquietude ae a transitoriedade. (p. 268) Assim, o principal ponto de contato, a partir do interesse pela mobilidade e pelas tradições do nomadismo, não é a recuperação formal do primitivo [...] o tipo de abordagem em que pensa Archigram representa passar de uma relação orgânica com a natureza, que pode fundamentar formas de habitar integradas ao lugar, a uma relação de simbiose cibernética com a natureza, que antes torna irrelevante o aspecto destas novas formas de habitar. [...] deslocando a ênfase do tipo de hardware que pode ser carregado, para o tipo de infraestrutura, ou software, que viabiliza a mobilidade; ou seja, passa do desenho do artefato à previsão de um tipo de relação com o território, indeterminada e transitória (p. 268) Do livro de notas do jardineiro A noção de que as novas tecnologias cibernéticas poderiam transformar os padrões permanentes de ocupação espacial é utilizada para implicitamente questionar a pretensão funcionalista de “um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar” [...]. A base desta crítica está no reconhecimento de demandas individuais por mais flexibilidade e versatilidade, e em continuidade com a ideia inicial de Archigram de reverter a homogeneidade da maquina em heterogeneidade. (p. 272) Arquitetura da ausência Em oposição à noção de arquitetura como construção de limites físicos, que implica uma proposição espacial e marca definitiva sobre um lugar, a noção muito mais precária de “entorno transitório” e sua correlação com um tempo descontínuo – “que existe apenas na memória” – sugere a possibilidade de uma arquitetura da ausência. (p. 273) Para Greene, é essa “dimensão da ausência que resta por ser encontrada” que tem relação com a arquitetura desenvolvida a partir da noção de hardware portátil, e que poderia produzir uma arquitetura

da ausência. (p. 276) E era com respeito a este contexto – em que de uma certa maneira, a arquitetura não mais necessitaria estar situada com relação à paisagem, porque a própria paisagem é que seria a arquitetura –, que introduzia o aborígene eletrônico como personagem. (p. 277)

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A “universidade invisível” era na verdade uma declaração de intenções: primeiro ponto, encorajar a simbiose entre homem, eletrônica e natureza – “a medida que a eletrônica é cada vez mais sofisticada, talvez o homem se trone mais e mais primitivo” –, segundo, colocar-se contra a “construção de qualquer novo edifício – uma moratória declarada aos edifícios”. Assim, “nada mais de landscaping, ou grelhas, ou megaestruturas”. (p. 278) 3.2.2. Arquiteturas subterrâneas [...] ao final dos sessenta, Archigram como grupo era uma vanguarda legitmada por uma parte significativa da crítica arquitetônica inglesa, sem contudo haver passado pela execução de encargos arquitetônicos concretos [...]. A parte da experiência profissional privada de cada um de seus membros, como grupo, Archigram seguia estando fundamentalmente no ramo da arquitetura do papel. A oportunidade para mudar esta situação surge em dezembro de 1970, quando Archigram vence o concurso para construir um centro de entretenimentos para o principado de Mônaco, em Monte Carlo. (p. 278) Mônaco Underground [...] o que fundamentalmente destacava desta proposta, com relação às demais, era a decisão de construir todas as partes definitivas deste equipamento em subsolo, deixando o terreno para um parque público a ser oferecido à comunidade. (p. 279) Se o exterior seria bucólico, a parte subterrânea seria tecnológica. A demanda de máxima flexibilidade do programa era resolvida repartindo os serviços e facilidades em um conjunto de elementos préfabricados e aparatos técnicos totalmente móveis. O que Archigram propunha era um edifício-

instrumento, um esquema que partia da ideia da “caixa de ferramentas” escondida sob o parque, que poderia ser manipulada de múltiplas maneiras para transformar-se em “praticamente qualquer coisa”. (p. 282) Archigram desenhou um conjunto de elementos acessórios, que variava de células tipo para os sanitários, a escadas rolantes, plataformas, pontes e colunas de serviço metálicas. [...] Todo o espaço era assim concebido como um estúdio televisivo ou cinematográfico, em que este conjunto de elementos moveis, organizados em um anel exterior de serviços, permitiriam transformar velozmente a organização e o aspecto desta planta central de área circular. (p. 285) Por um edifício-instrumento, mais que por um monumento... e um espetáculo cancelado A expectativa de Archigram com relação a esta arquitetura “efêmera por necessidade” era criar um espaço capaz de metamorfoses contínuas, um interior onde não haveriam linhas divisórias permanentes entre o que era espaço da performance e o que era o espaço da produção. Afinal, “uma

arquitetura feira antes do evento do que do envelope ”. (p. 285) Crater City

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A solução proposta é outra vez trabalhar com uma arquitetura subterrânea, em que o edifício desaparece ao converter-se em traço principal da paisagem natural: “Nada seria visto, à exceção de uma colina com árvores.” O projeto mantém o gigantismo das primeiras propostas megaestruturais de Archigram, porém, através de uma espécie de monumentalidade às avessas, que não repousa na expressão do edifício, mas na ideia de uma nova geografia inventada a partir da arquitetura. Cook imaginava uma enorme cratera circular , com cujo perímetro desenvolveria a edificação destinada ao hotel (p. 288) On-off: de volta à fogueira no acampamento? A trajetória de Archigram, como canal de experimentação através do projeto arquitetônico, descreve um caminho que parte de um revisionismo funcionalista que exacerbava as possibilidades expressivas da tecnologia, e acaba por especular com uma arquitetura da ausência [...]. Se Archigram, no principio desta trajetória, havia estado empenhado justamente em dar forma visível a realidades tecnológicas e sociais emergentes através do projeto, suas ultimas experiências apontam para invisibilidade, fragmentação na natureza e na cidade, simulação e hibridização entre dispositivos arquitetônicos e mediáticos. (p. 292) Se existe uma linha de coerência neste caminho, é sua consistência com uma determinada interpretação da natureza dos câmbios tecnológicos do pós-guerra, e a convicção – moderna, sem dúvida -, de que a arquitetura teria que reconhecer esta transformação para seguir comprometida com o espírito do seu tempo. (p. 292) [...] da passagem de uma cultura industrial baseada na produção de bens materiais a uma cultura eletrônica implicada na produção de eventos, em que a informação e as imagens são a mercadoria chave; do negociado equilíbrio fordista à crescente inestabilidade e precariedade que são os traços dominantes das sociedades pós-industriais. (p. 293) O que reúne a arquitetura da ausência que Greene propõe, a partir do trabalho de Robert Smithson, às exuberantes paisagens pop que emergem das colagens de Herron é, em primeiro lugar, sua dependência com relação às tecnologias da automação e da informação, menos que das tecnologias arquitetônicas em sentido tradicional. Em segundo lugar, mas não menos importante, é sua fixação pelo que é temporário, instantâneo, fugaz, que não demanda aquela durabilidade que afinal sempre havia caracterizado a tradição da arquitetura como ofício. (p. 293) Macluhanismo No contexto dos anos sessenta, o modelo de McLuhan funcionou como uma espécie de compreensão sintética, de fácil apropriação, da passagem de uma cultura industrial a uma cultura eletrônica. [...] O modelo de McLuhan não é um modelo crítico do ponto de vista cultural, é um modelo afirmativo, otimista e determinista, porque tende a ver a evolução tecnológica como um caminho irreversível, autopropulsionado, e desligado de circunstâncias políticas e sociais. (p. 295) Basicamente, o que McLuhan queria demonstrar era a mudança de paradigma tecnológico que acompanhava a passagem da mecanização à eletricidade: se a tecnologia mecânica estava baseada na

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fragmentação das tarefas e na sequencia de operações, a essência da tecnologia da automação era a simultaneidade e a integração. A grande implicação, neste caso, é que aquilo que é simultâneo no tempo pode ser independente no espaço, e isso vale para os meios de comunicação de massa e para os sistemas de produção automatizados. (p. 295-296) O grande movimento da narrativa que nos oferece Archigram, da representação metafórica de um mundo industrial centrado na produção e consumo de bens à dissolução progressiva nas paisagens da telecultura e na natureza, com seus respectivos personagens, do homo ludens ao nômade e ao aborígene eletrônico, é consistente com a interpretação de McLuhan, em que afinal a tecnologia, quase demiurgicamente, reconcilia homem, natureza e cultura técnica. (p. 256-257) Conclusões: Archigram, uma fábula da técnica no estado do bem estar [...] Archigram havia desafiado a cultura arquitetônica vigente com um mínimo de meios, uma boa quantidade de humor e energia, e sobretudo, muitos desenhos. [...] havia reivindicado uma revisão do funcionalismo que recuperasse o heroísmo das vanguardas futuristas e construtivistas, e bancado uma aposta incondicional pela tecnologia e pela intenção de investir a arquitetura das novas realidades sociais e econômicas emergentes a partir do pós-guerra. (p. 1) Quando Archigram tentou estabelecer-se profissionalmente, entre 1970 e 1974, a situação política e econômica era consideravelmente distinta com relação à afluência dos primeiros anos sessenta [...]. A economia britânica enfrentava inflação, desemprego e o declínio do otimismo keynesiano; a violência política na Irlanda do Norte e a crise mundial provocada pela subida do petróleo em 1973. (p. 2) Seja qual for o alcance da contribuição de Archigram como grupo, à cultura arquitetônica, ela se deu neste âmbito da arquitetura do papel, através de projetos e desenhos. Ao final dos sessenta, nota-se uma influencia de Archigram sobre as correntes tecnológicas inglesas, especialmente na obra de Richar Rogers, Norman Foster e Nicholas Grimshaw. (p. 2) [...] através dos meios particulares do projeto e do desenho, Archigram chegou a produzir uma crítica à cultura arquitetônica vigente em sua época, e que esta crítica acabou envolvendo uma reflexão mais ampla sobre a questão da experiência da técnica em um momento de profundas transformações sociais e econômicas. [...] incorporando flexivelmente um marco teórico e intelectual externo aos discursos estritamente arquitetônicos. Uma matriz de projeto para um mundo em transformação: o alvo desta crítica [...] reconhecimento de uma agenda de problemas própria da realidade dos anos sessenta, que parecia consideravelmente distinta daquela agenda dos anos vinte, em que se haviam produzido as vanguardas modernas. Porém, antes de recusar o legado destas vanguardas, essa crítica tinha por objetivo renoválo, reafirmando seu compromisso com a tecnologia e o espírito do tempo. Para tanto, estava reclamando uma arquitetura que não apenas investisse nas novas tecnologias, mas que estivesse também formalmente investida das novas circunstancias sociais e econômicas emergentes a partir do pós-guerra, que acompanharam a expansão do fordismo e a formação dos mercados de massa. (p. 3)

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Esta sociedade que parecia estar sendo rapidamente transformada pela explosão da cultura de massas, pela obsolescência como norma, pelo impacto das tecnologias da comunicação e pela ascensão da telecultura. (p. 3) [...] a tentativa de expressão de uma cultura industrial e urbana, e também da lógica econômica de sustentação desta realidade: obsolescência, mobilidade, transitoriedade. De um ponto de vista iconográfico, Archigram trouxe referencias diretas da própria cultura do consumo, do mundo da ciência, dos objetos técnicos. (p. 3) O problema fundamental para Archigram era: de um lado, recuperar aquele compromisso das vanguardas, de assimilação de uma cultura técnica [...] através de uma resposta não puramente técnica, que expressasse formal e compositivamente uma realidade emergente; e de outro, promover a revisão do dogmatismo funcionalista dentro deste novo contexto de contínua transformação, daquele mundo que “parecia estar explodindo”. (p. 3-4) À matriz funcionalista de projeto [...], Archigram buscaria opor uma matriz compositiva para um problema múltiplo, cuja solução poderia estar fora dele mesmo. A síntese dessa matriz está identificada com aqueles oito conceitos fundamentais para Archigram, propostos como as noções básicas que foram sustentando todos os projetos, conforme explicitado ao longo desta tese: metamorfose, emancipação, indeterminação, controle e eleição, conforto, nomadismo, o par hard-soft. (p. 4) Esta atuação crítica possuía uma base teórica, que envolvia um discurso tanto interno à disciplina arquitetônica, tal como o pensamento de Reyner Banham, quanto a permeabilidade a discursos externos ao âmbito disciplinar (p. 4) [...] a matriz de projeto proposta por Archigram procurava articular alguns dos grandes temas culturais desse período que vai do pós-guerra ao final dos anos sessenra, que indicam um certo deslocamento da ênfase nas demandas sociais e coletivas que haviam sido centrais para as vanguardas, para a questão da expressão e da liberdade individual, no marco de uma sociedade de massas e de um estado tecnocrático. (p. 4) Através desta matriz, Archigram mantem a confiança no emprego das novas tecnologias, na industrialização e na estandardização, mantem algo do projeto social moderno no sentido de que todas as suas propostas são dirigidas às massas, mas tenta incorporar os problemas e as demandas próprios da sociedade do bem estar. [...] a questão para Archigram era a conciliação desta lógica da produção em série e do consumo massivo com variedade de produtos e flexibilidade na utilização. [...] como diversificar, como possibilitar um consumo diferenciado, porém dentro da mesma lógica da produção massiva. (p. 5) [...] evitasse a arquitetura como “solidificação de qualquer modo de vida”. Conceitos como emancipação, metamorfose, indeterminação ou nomadismo, estratégias de projeto tais como o plug-in e o clip-on, são propostos como a artilúgios para conferir ao individuo para conferir ao individuo a possibilidade de participação e escolha, de exercer por si mesmo controle sobre seu ambiente de vida. (p. 5)

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Essa era a ideia da megaestrutura como um sistema genérico basicamente indeterminado, cuja organização, em cada momento dependeria da soma de múltiplas decisões individuais (p. 5) Construindo uma fábula da técnica: o programa de ação “Sem os desenhos, seriamos uma nota de fim de pagina em uma nota de fim de página” – reconhecia recentemente Peter Cook ao comentar a experiência de Archigram desde uma perspectiva histórica. [...] o seu programa de ação envolveu um tipo de especulação e investimento em questões de ordem formal e teórica, que se manteve intrincado com uma perspectiva artística e cultural. (p. 6) Essa contribuição se deu através de desenhos e projetos situados no campo da especulação, no território limite entre fantasia e plausibilidade. (p. 6) Esta tese pretendeu sustentar que através destes projetos muitas vezes puramente especulativos (ainda que desenhados como se fossem para ser construídos amanhã), Archigram foi produzindo uma espécie de narrativa de ficção levantada através do projeto, desde uma diversidade não apenas de autores (os seis membros do grupo), mas também de temas, enredos e personagens. (p. 6) “Como arquitetos academicamente treinados (o que todos éramos), estávamos informados (e excitados por) atividades contemporâneas no mundo da arte; os artistas pop ingleses eram, muitos deles, nossos amigos, mas os movimentos tomaram trajetórias separadas. Onde os artistas tornaram-se mais literários e políticos (Blake, Hamilton, Tilson) nos tornamos mais e mais afetados pelas possibilidades da ciência e dos padrões de comportamento social. [...] Assim o determinismo de Plug-in City (como uma estética), ou Walking City (como um objeto) foi deslocado em 1969-70 pela Instant City, uma caravana nômade onde não havia nenhum elemento particularmente mais importante que outro, e onde a estética em si mesma começava a fragmentar-se.” (p. 7) [...] o fluxo dessa narrativa, foi da monumentalidade à miniaturização; da solução totalizadora à fragmentação; da lógica mecanista das megaestruturas à invisibilidade e à aspiração de imaterialidade de Computor City e da floresta cibernética. (p. 7) Assim, a oscilação dessa narrativa entre a lógica sequencial e mecânica de Plug-in City e a simultaneidade eletronicamente produzida em Computor City indicou justamente aquela transformação no caráter e na representação da tecnologia quando esta deixou de estar identificada primordialmente com artefatos concretos – como era no caso da máquina –, e passou a identificar-se, cada vez mais, com sistemas e processos potencialmente abstratos e ubíquos de controle , como seria o caso dos sistemas de comunicação e informação. (p. 8) “O que foi que construímos?” – explicava Cook – “um conjunto de atitudes, um conjunto de referências, uma ampliação de vocabulário da arquitetura não apenas no sentido formal, mas também no sentido

do quê podia ser discutido por arquitetura.” (p. 8) Desde uma visão contemporânea, a pequena fábula de Archigram pode hoje ser vista como uma representação sintética de toda uma transformação econômica, social e cultural que teve lugar no contexto destes anos de reestruturação capitalista, em que um modelo fordista, industrial, baseado na produção e no consumo de objetos, passava a combinar-se às formas de produção pós-fordistas. (p. 8)

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On the (rocky) Road Porém, o problema básico da fábula de Archigram (e também do esquema de McLuhan) não é simplesmente a sua confiança na tecnologia; é sua confiança na tecnologia como um agente

relativamente autônomo de câmbio. Do interior desta bolha de idealização da tecnologia que permaneceu inflada até que entrasse em crise o modelo de sustentação do estado do bem estar, provavelmente era impossível enxergar que o caminho desta fábula era também o da dissolução do mundo que permitia sua plausibilidade. (p. 10) Os cenários da fábula de Archigram são todos perfeitamente factíveis nos horizontes tecnológicos atuais. A tecnologia pode realizar todos os sonhos de conjuro que Archigram divisou em sua fábula, mas o sentido da reapropriação humana da técnica que existia nas estratégias de Archigram, se perdeu na ressaca tecnológica dos setenta, e não parece tão fácil de recuperar no banho virtual dos noventa. No contexto dos anos sessenta, Archigram contava com a ideia de uma tecnologia passível de ser colocada sobre o controle dos indivíduos. (p. 10) Toda a gramática plug-in e clip-on que Archigram explorou procurava recolher esta possibilidade, de poder separar o todo em suas partes, de compreender o seu funcionamento, de torná-lo manejável para que pudesse ser convertido pelo homem da rua em outras arquiteturas, em outras fábulas. (p. 11) SHIELDS, Jennifer In its inherent permanence and penetrating, preconceived order, the art of architecture is conventionally not associated with the notion of collage. Yet the very role of architecture as frames and settings for human activities turns it into a varying and variously completed entity, and eve-changing collage of activities, furnishing and objects. Because of their longevity, buildings tend to change their functions and be altered as material entities. […] Often is this very temporal layering that gives a building its unique atmosphere and charm; the geometric spatial and material configuration of architecture is embraced and enhanced by use, erosion and time; architecture turns from a spatial abstraction into a lived situation, ambience and metaphor. (p. IX-X) All collages tend to have a similar capacity to simulate our imagination, as if the various fragments, torn from their initial settings, would beg the viewer to give them back their lost identity. […] and the collage takes similar advantage of the intricacies of our perceptual, imaginative and empathetic processes. (p. X) One century ago, collage entered the lexicon of the contemporary art world. […] This [Still Life with Chair Caning, Picasso, 1912] was the "first deliberately executed collage - the first work of fine art . . . in which material appropriated from everyday life, relatively untransformed by the artist, intruded upon the traditionally privileged domain of painting" according to Christine Poggi in her book In Defiance of Painting: Cubism, Futurism and Invention of Collage. (p. 2) Collage as an art form unique to the modern era, emphasizes process over product. A collage as a work of art consists of the assembly of various fragments of materials, combined in such a way that the composition has a new meaning, not inherent in any of the individual fragments. […] Simultaneity of

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spatial, material, and intellectual content is inherent in collage through a synthesis of unrelated fragments, as the process of construction remains evident in the resulting work. (p. 2) [Steven] Holl proposes that we perceive human artifacts as an amalgam of sensory phenomena understood through personal experience and memory, rather than completely and objectively through a formal analysis. Like a collage, revealing evidence of time and its methods of construction, a work of architecture contains accumulated history as it is lived and engaged rather than observed. [‌] The practice of collage has the capacity to capture spatial and material characteristics of built environment, acting as an analytical and interpretative mechanism. (p. 2-3) We consider collage in the following ways throughout this book: 1. collage as artifact 2. collage as a tool for analysis and design 3. architecture as collage. (p. 3) Pop Art was born in the 1950's as a response to Abstract Expressionism, employiong found objects (ready-mades) and photographic images like the Dadaists, with a desire to capture the complexities of contemporary culture. A leading figure in the Pop Art movement, British collage artist Richard Hamilton specified Imagery (including cinema, advertising, television, photographic image, and multiple image) and Perception (including color, tacitly, light, sound and memory) as critical issues in the movement. (p. 8) Reflecting on the genealogy of collage [diagramas], the value and meaning of collage has transformed throughout the past century as the conception of space has evolved. [‌] The interconnectivity and overlap of collage methodologies in art movements of the twentieth century provide a diversity of ideologies, techniques, and materials from which architects have drawn, and will continue to draw, inspiration. (p. 8-9) Though Le Corbusier and other twentieth century architects made use of collage in their design process to experiment with spatial and material juxtapositions, collage as a theoretical concept only became widely discussed after the publication of Collage City by Colin Rowe and Fred Koetter in 1987. [‌] Architects have since exploited collage for both it conceptual possibilities and its material, formal and representation potential. (p. 9) Architects including Le Corbusier, Bernhard Hoesli, Eduardo Chillida, and more recently Richard Meier have utilized the collage techniques of the Cubists in their architectural work conceptually tied to the fragmented forms, figure/ground reversal, phenomenal transparency, and multiple perspectives found in Cubist collage and the abstract compositions of Kurt Schwitters. (p. 11) Collage-drawings, employing line and photographic fragments while exploiting the negative space of the canvas, range from the geometric order, minimalism, and precision of Mies van der Rohe, Daniel Libeskind, Ben Nicholson, and James Corner, to the utopic/dystopic narratives of Superstudio, Archigram, Rem Koolhaas, and time[scape]lab. Collage-drawings often address the relationship of the body to space and materiality, with clear references to the haptic collages of the Dada and Surrealist artists and the spatial dynamism of the Bauhaus and Constructivism. (p. 11) the potential for digital collages, and hybridizations of analogue and digital collage techniques, to investigate spatial and material futures. Th ese methods utilize collage as a medium to captivate sensory,

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spatial perception. Collage serves as a tool for analysis, encouraging the evaluation of a built artifact from the perspective of the inhabitant, as well as a tool within a design methodology that pursues a multisensory experience in a work of architecture. (p. 12) Collage, as it evolved, brings with it a number of dualities including representational/abstract, gestural/precise, filed/figure, surface/depth, and literal/metaphorical, all of which are considered within the methodologies of art and architecture. […] The multivalence and synthesis of spatial and material conditions inherent in collage-making creates the potential for a multiplicity of interpretations and experiences in the design process and the resultant work of architecture. (p. 13-14) Collage Methodologies in Architectural Analysis + Design 1.1 Papier Collé and Found Materials The birth of Cubism in 1907 marked a fundamental shift in the way artists thought to represent the world around them as well as the way they understood space, marking a break with the long-standing traditions of perspectival representation. […] The intent was to capture deeper, qualitative characteristics of the subject matter, a single image revealing a simultaneity of perceptual phenomena as if the subjects of representation are static and the viewer is in motion. (p. 19-20) Cubist collage, like architecture, is illustrative of both the labor of making and the process of fragmentation, aggregation and synthesis. The Cubist collagists achieved a deconstruction of form through an additive process. […] Modern architecture can be characterized by a forma strategy in which figures are fragmented and layered to accommodate new relationships between figure and field, revealing dynamic and ambiguous spatial conditions. (p. 20) The Cubist used the breakdown of boundaries between figure and field to integrate the two. The relationship between object and background is not formal, but based on relation to context. The meaning then varies based on these relationships that transform over time, giving the ground valor equal to that of the figure. (p. 23-24) Collage as a tool for architectural analysis or design, born of the Cubist material and conceptual innovation in representation, in interwoven throughout twentieth - and twenty-first - century design. (p. 26) 1.2 Collage-drawing Collage-drawing can be defined as a sub-set of collage in which select fragments of color, texture, or image are combined with line, exploiting the canvas as a three dimensional (potentially infinite) space. The plasticity of space plays a primary role in collage-drawing compositions. Artists and architects working with the medium of collage-drawing share a common interest in constructing a sense of order. Construction, in contrast with composition motivates these designers. First, geometric order can be constructed through formal means. Second, social order can be constructed conceptually through narrative means, framing utopic or dystopic conditions. Architects employing collage-drawing are organized by this dichotomy in the following survey. (p. 63)

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Artists and architects who construct collage-drawings employ paper of photographic materials in conjunction with additional media such as charcoal or pencil. The addition of such media permits the creation of lines and/or fields as a means of synthesizing collage fragments. Line also establishes depth, a response to the collapse of space common to Cubist compositions. (p. 63) The architects surveyed in this section have employed collage-drawing as a veichle for the construction of geometric order. In sharing this conceptual intent, they demonstrate an interest in geometric order defined through precision, minimal collage fragments, and an implication of depth through substantial negative space and layered figures. (p. 67) These collage-drawings represent tree-dimensional architectural compositions, emphasizing materiality and depth of space by interlocking simple geometric forms. (p. 68) The drawing was never intended to be a window through which the world of tomorrow could be viewed but rather as a representation of a hypothetical physical environment made manifest simultaneously with its two-dimensional paper proxy. This is how things would look if only planners, governments and architects were magically able to discard the impedimenta of the previous age and embrace the new developed technologies and their attendant attitudes. (Michael Webb, New York, June 1999). (p. 99) Archigram viewed consumer culture and availability and accessibility of consumer gods as evidence of progress. [...] This concept of emancipation provides the foundation for their critique of the normative mode of architectural production, one of determinacy, and instead advocated for an architecture of indeterminacy. (p. 100) The ephemeral nature of human activity in the city was, to Archigram, more important than the architecture framing it, a concept that was taken up by Superstudio in Italy. Collage, with its inherent multivalency, became the vehicle through which to interrogate indeterminacy. The role of collage-drawing in the work of Archigram is pervasive. […] The use of collage-drawing in the paper architecture of Archigram bears a methodological resemblance to the work of the Russian Constructivists and Bauhaus artists. Like these predecessors, line drawings are activated and given depth by the insertion of photographic fragments. Archigram also draws from Constructivism conceptually – both valued the power of media in constructing a new social order. The selection of photographic material from contemporary media sources offered a representational solution to Cook’s belief that: “architecture could break out of its narrow-mindedness if it acquired elements (a vocabulary of form) from outside itself.” (p. 100-101) A dynamic urban scene results from the composition of line drawing, architectural photographic fragments, and human figures of varying scales. The dialogue between these components within the collage-drawing captures the sense of indeterminacy valued by Archigram while illustrating one of many possible ordered constructs. (p. 102) The Instant City is a ‘travelling metropolis’ that offers an architectural response to the problem os the inaccessibility of major metropolitan culture to the majority of the population. […] The collage-making materials and techniques employed in this series of collage-drawings by Ron Herron fot The Instant City reflect Pop Art collagists such as Robert Rauschenberg, who appropriated images from por culture

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media. The images selected contain an identity bound to 1960s and 1970s British culture, clarifying the correlation between consumerism and architecture. The inherent meaning in the fragments also creates and supports a narrative for each collage-drawing. An inversion of the canvas and line to a black background with white lines is unique to the collage-drawings of Archigram at this time, but is not used exclusively. The variety of perspectives that juxtapose precisely constructed line drawings against architectural image fragments and the human figure tests the development of a ‘vocabulary of form’ derived from existing sources, as anticipated by Cook. […] their visionary projects and experiments in representation, particularly collage-drawing, have had a lasting effect on contemporary architecture. (p. 102-103) STEINER, H. A. The Image of Change. In: Beyond Archigram: the structure of circulation. Nova York, 2009. In the nine issues of Archigram that were published from 1961 to 1970, a representational groundwork was prepared for a discipline overwhelmingly dependent on industrial processes and materials to integrate complex and indeterminate systems with architecture 2. […] This project attracted attention within the architectural community through the compound use of imagery, calculated freedoms of overall layout, manipulation of common printing procedures and strategic dissemination to the project. The content self-consciously evolved from the tension between the durable and transitant [CABRAL: plug-in] […] to proposals for megastructural networks […], to those for the disintegration of architectural objects into a technologically driven landscape at the end. Through the production and dissemination of imagery, the Archigram enterprise formulated an architectural vocabulary and shaped the visual output for what are now commonplace tools in the practice of design. (p. 3) Form Archigram fitted the counterculture of the small magazine – the broadsheet, the samizdat, the zine – a venue considered to be a seedbed for new ideas and measure of things to come. The architectural field in particular had experienced a lapse in the domain of ephemeral periodicals dating back to the institutionalization of modernism in the 1930s. (p. 5) In addition to its role as a document that lays out fundamental beliefs, the small magazine was itself a literary genre replete with a history pertaining to layout, representational techniques and typography, as well as the subversion of written and visual language. […] In tone, these magazines resembled the manifestos of the avant-gardes of the 1910s and 1920s […]. For Banham, the Zoom Wave revived the vital spirit of the abandoned early modern trends and their avant-garde attitude toward technological development (p. 7-8) An important aspect of the small magazine project was an attack on instrumental jurisdiction through the provision of an alternative to the disciplie’s most publicly oriented face: the professional journal. (p. 8) [Infiltração da cultura popular na arquitetura] [...] Archigram had no specific format; each of the nine issues had it own dimensions. One followed a comic book layout, another that of the LP. Two were composed of loose pages held together by an envelope or a plastic sleeve. Like the variegations of jazz, a musical mode dear to the Zoom Wave, these

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permutations did more than evade predictability. The journal did not retain its shape any more than did the architecture for which Archigram was developing representational conventions. Variation kept alive that which wold have been absorbed by a standardized format: the task of questioning the nature of communication. (p. 9-10) Content The power of the group was in its graphics, Banham repeatedly reminded […]. His statement ‘Archigram is short in theory, long on draftsmanship’ became a kind of motto 21. Hence, more controversial than spacesuits or puffed wheat being architecture was the treatment of the image of spacesuits and puffed wheat as architecture. The architectural drawing was to be understood as something other than a set of directions to get things built; even the conception was a valid architectural practice in and of itself. […] Architectural drawings were not necessarily representations of something that wished to become. Moreover, the journal project itself was a form of architectural practice, one in which information about architecture merged, self-referentially, with an architecture of information. Archigram was the medium through which the group vould advertise ways in which architecture could be subject to an alternate logic of flow, rather than representing building as foregone conclusions. (p. 10-11) [correlato a isto é o fato de que os projetos de Archigram se repetem e se modificam em diferentes momentos dos magazines] The conceptions of the Archigram group would reflect a popular climate, interpreted through the lens of the architectural education of late-fifties Britain. […] While the fifties had been a time dedicated to the restoration of order, the sixties could sustain the chaos of technological ebullience more than the immediate postwar era. (p. 11) […] the focus of the art world had shifted from Europe to United Staetes after the war. This legacy was particularly significant for the Archigram group as the Americanization of British culture increased during the 1960s […]. [about advertisements] Images of popular culture, from those of consumerism to those of fantasy, were drawn upon to create a vision of architecture that shared in the life of the ambient urban condition. (p. 13) The mechanization of change The fundamental shift in the mode of technology, from industrial production to digital communications, and the new speed-driven tools emphasized process and dissemination over end results; this emphasis was inflected further by the saturation of the urban environment with image-based media. Anxiety over the negative capacity of machines would be dulled (though not eliminated) by the growth of civilian, even domestic, uses for military technologies as the 1950s ran their course. Architects would delve further and further into the idea of architecture as an entity composed of systems and the biological would become more and more part of the discussion, just as Guideon anticipated. (p. 20) The Archigram project

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The visions of Archigram fitted into a long-standing British tradition of technological utopianism extending from Thomas More on, where visions of what engineering could produce were combined with the ideals of social progress. (p. 22) The Archigram legacy It is here that the relevance lies – in the making of an image of an architecture caught between the industrial and the digital eras of technology. In a drawing, one could approach an altered reading of the familiar, confront a radically new structural and social possibility, and explore the contours of intangible entities. The power of devising a representational language over the production of a repertoire of objects was to saturate the disciplinary mindset with an image for an architecture that dealt with ‘the protocols, structures and processes of mid thentieth-century culture’. (p. 28) […] the static thing that linger and preoccupy must be allowed to interact with the newer dynamic conditions, and even to be overtaken by them. The capacity for architecture to adapt to the ever-changing climate directly correlated with the capacity for its language to incorporate the range of ever-changing influences from outside. […] Architecture as a vehicle of communication dramatically increased the reliance of the discipline on the visual domain outside of modern graphics strategies. Images of consumer culture were drawn upon to generate the atmosphere of transience and circulation, or even equate lifestyle and architecture. Architecture as a web of imagery implied that building was not the essence after all. Representation was architecture itself. (p. 32) The elimination of hierarchy and signification raised its own signification raised its own challenges for the process of design. In the midst of the allure of the transient realities, representations, reduced to its constituent elements, disintegrated. […] Under the conditions of constant change, the course of imagemaking was inevitably marked by loss. Nonetheless, the possibilities offered by contemporary culture over-shadowed the crisis of meaning that accompanied the increase in communications. (p. 32) Mediated through the vocabulary of mass culture, the allusiveness of representation intimated the potentials of a milieu where nothing becomes stagnant and images, in and of themselves, constitute architectural practice. Creating images rather than objects, Archigram group used a process of representation and dissemination to develop an informational architecture. The attempt to get outside of the closed games of language was rooted in the belief that an architecture of information would result in an indeterminate system 76. (p 32-33)

III) Traduções Entrevista: Conversando com Peter Cook. Fernando Jerez, revista EGA nº 16, 2010. Centrado na força criativa e inventiva do desenho para projetar, Peter Cook, um de seus grandes defensores desde os anos 60, influenciou no curso do pensamento arquitetônico através de seus desenhos. Nos fala sobre o significado do desenho, suas técnicas e metodologias, sobre a atual moda da “parametrização” e “diagramação” que mantém as escolas de arquitetura, da tecnologia e seu poder estimulante, através de noções e exemplos de automatismos digitais do desenho por computador em oposição ao croqui tradicional.

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Fernando Jerez: a influência de Archigram na história da arquitetura se produziu através dos seus desenhos. O que significa para Peter Cook o ato de desenhar? Peter Cook: o desenho é para os arquitetos como a escrita é para os escritores. Para projetar, o desenho deve ser quase um ato inconsciente, baseado em sincronias imprevisíveis entre a mente, o olho e a mão (ou o mouse). O desenho preside todas as etapas da criação arquitetônica. Representa o impulso inicial – desde o “sketch” em um guardanapo ou digitalmente até as fases de produção e comunicação. Permite-nos carregar de combustível nossa imaginação para ir mais além do construído, para as esferas do visionário e do fantástico. Desenhar é a verdadeira força motriz da arquitetura. F. J.: O digital é uma realidade inquestionável, porém, seus últimos desenhos seguem sendo à mão, como convivem o digital e o manual em sua produção arquitetônica? P. C.: A técnica digital baseada no desenho é entendida como uma progressão natural mais do que como uma oposição radical, existem muitos exemplos na história da arquitetura de desenvolvimento de um projeto usando as mais diversas técnicas. F. J.: Beatriz Colomina diz em um artigo recente que, nos Estados Unidos, a maior parte dos professores de desenho são “teóricos”, “críticos”, ou “historiadores” no lugar de arquitetos em exercício. Você acredita que o tratado de Bolonha pode provocar que as escolas europeias sigam este caminho e prive os melhores profissionais da docência? Absolutamente, eu acredito que é uma política terrível, e digo por conhecimento direto, minha própria esposa esta sendo obrigada a fazer uma tese de doutorado se quiser continuar na Universidade, ela sente a pressão de alguma forma e muitos dos meus melhores amigos estão fazendo teses, graças a Deus eu sou muito velho para me preocupar em ter que fazer uma. Acredito que seja uma tendência terrível, nos Estados Unidos, por exemplo, tem-se arquitetos brilhantes, mas eles estão tão ocupados montando bibliografias, notas de rodapé, notas de livros que se esquecem de desenhar, de projetar e quando querem projetar arquitetura perderam a pratica e já não são mais capazes. Nos Estados Unidos, existem excelentes arquitetos americanos, porém são poucos, Thom Mayne é um dos melhores arquitetos e também um dos melhores professores que conheço, absolutamente comprometido com o desenho, com as maquetes, com o projeto, e também bastante capaz de juntar algumas palavras. Steven Holl, também, é um arquiteto fantástico e de certo, segue fazendo desenhos extraordinários. Claro que existem alguns, mas as escolas agora estão sendo dominadas por este tipo de “arquiteto teórico de escola” e isso é terrível, e me sinto como uma voz solitária neste aspecto. É interessante que Beatriz Colamina menciona isso, a conheço bastante bem, foi companheira de MarkWigley, que é um “arquiteto intelectual”, um “teórico” ainda que graduado em arquitetura como ela, que é do mesmo curso que Enric Miralles em Barcelona, isso é curioso e interessante ao mesmo tempo. Lembro, em uma ocasião em uma conferência no MIT sobre “história da arquitetura, por uma razão estranha me convidaram, e é curioso, no descanso para almoço, ela que é historiadora e crítica me

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disse: “venha, vamos escapara para ver o novo edifício de Steven Holl virando a esquina” e em um pequeno grupo escapamos e fomos ver este novo edifício porque queríamos ver arquitetura de verdade, mais além das teorias sobre arquitetura sobre as quais se supõe que estávamos falando, e este feito foi muito significativo para mim. A respeito de Bolonha, e do que a maior parte de seu conteúdo prescreve, as escolas ruins seguirão literalmente... as boas escolas encontrarão mecanismos para dar a volta nele. Na Europa, todos os professores influentes são “pessoas teóricas, com teses de doutorado”, o que acontece então, com alguém que é um desenhador magnífico, criativo e brilhante, que tem que passar pelo menos 5 anos escrevendo notas, apontando livros e vivendo entre as bibliotecas? Eu sei do que falo, minha mulher tem a casa cheia de livros cheios de anotações e me diz para não tocar nisto ou naquilo, não mover este livro, não tocar naquele, todo o chão, toda a casa, tudo está cheio... e então diz sim, sim, sim... mas o que isso tem a ver com projetar? Não estou seguro que daí saia nada brilhante de arquitetura, e digo que tenho escrito nove livros, creio que sou capaz de usar as palavras, porém... Graças a Deus não tive necessidade de andar perdido nas bibliotecas, em vez disso estava desenhando! F.J.: Como era a Bartlett quando você assumiu o cargo de diretor nos anos 90? P.C.: Cheguei na Bertlett alguns anos antes de você estudar lá. A velha Bartlett era um lugar bastante “pomposo”, um lugar que gostava de ser uma “clássica grande Universidade de alto nível”, porém não apostava demasiado no desenho no projeto. Eu vinha da universidade rival, a Architectural Association, que era um lugar rebelde, com uma grande tradição no grafismo, na ideação e na internacionalização. E creio que na primeira etapa, simplesmente levei algo de mim mesmo para esta escola, ate poder introduzir minha personalidade completa. Acredito que existem muitos caminhos para alcançar a “gloria”, sabe, sou um grande defensor do pluralismo de posições, e se você foi para uma unidade de treinamento, isso foi totalmente diferente de outra unidade de ensino, e espero, agora que não dirijo mais a Escola desde alguns anos, que continue sendo uma estrutura aberta, espero que não se converta em um refugio de dogmatismo como se tornou o tema da sustentabilidade por exemplo. Acredito que os arquitetos têm uma tendência... como compreendemos tantos territórios diferentes, ocasionalmente nos deixamos apanhar por um ripo de dogmatismo que diz: Não! A arquitetura deve ser isso! Deve seguir este caminho!, agora, por exemplo, estão os dogmáticos pela parametrizaçãoo, pelos diagramas, mas isso é só uma outra forma do marxismo, outra forma de ideologia, outra forma de intolerância”. Sou muito cínico sobre isto... gosto... Exagero meu cinismo quando me enfrento com essa situação. Quando não há dogmatismo, há liberdade, imaginação... Então sou uma pessoa bastante correta, porém quando tentam me colocar seus dogmas, gosto de ser desobediente e enfraquecer sua confiança em cada momento, é minha própria psicologia. Meu professor favorito era Peter Smithson e ele costumava me chamar de “arquiteto Mickey Mouse” e eu tomei isso como um elogio.

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F.J.: Rem Koolhaas disse em uma ocasião, que quando se matriculou na Architectural Association como estudante em 1968, na escola havia um salão com lareira e mordomo, e isto lhe pareceu um cenário fascinante porque os elementos mais moribundos da cultura britânica eram usados como pranchetas sobre as quais a vanguarda arquitetônica que ali se produzia podia desenhar. O que você tem a dizer sobre isso? É divertido, outro dia, quero dizer, ano passado, fui em uma reunião de minha promoçãoo na AA... e fiquei bastante horrorizado ao descobrir os “esticados” que meus antigos companheiros de promoção haviam se tornado quarenta anos depois. Acredito que... curiosamente, a maioria dos meus amigos são mais jovens do que eu, minha própria esposa, que também esteve na AA, é consideravelmente mais jovem e as pessoas com quem realmente me comunico são, provavelmente, 20 anos mais jovens do que eu, e creio que tenho muito mais em comum com eles do que tinha com meus contemporâneos. Sou pai de um garoto de 19 anos e ao escutar a conversa de seus amigos e também a de meu sócio Gavin que tem 40 anos, acho elas mais interessantes, mais estimulantes... Talvez estar sempre rodeado de pessoas mais jovens do que eu faça que os temas centrais de minhas conversas não são os da minha idade, nem a dos meninos de 20 anos. E me sinto muito mais cômodo com pessoas de cerca de 50, nem tanto dos de 25 que se assustam um pouco, mas definitivamente nem dos de 70 que são os que me corresponderiam por idade. É curioso, eu sou muito inglês porem me diverte observar a Inglaterra de fora e me diverte usar o termo inglês ao invés de britânico e ser muito pró-europeu, sou altamente pro-europeu, inclusive antes de se criar a União Europeia. Também estou fascinado com certas coisas que se passam na Asia, gosto da ideia de ser uma espécie de “esponja” de ideias, independentemente de onde venham, sabe, de repente, se acontece alguma coisa na Nicarágua, pais de cuja cultura arquitetônica não se sabe absolutamente nada, eu diria, por que não? Não tem porquê tudo vir do mundo anglo-saxonico, nem tudo tem que vir da velha Europa. F.J.: A revista Archigram propôs uma das maiores revoluções gráficas na história da arquitetura através de seus desenhos pop. Agora esse tipo de desenhos podem ser realizados com o illustrator ou o photoshop, porem então, selecionar, compor e escalar aquele tipo de grafismo era consideravelmente mais difícil e porém, apesar de toda a tecnologia disponível agora, aqueles desenhos são vistos como extremamente complexos e sofisticados, por que? Acredito que isso acontece porque não era um grafismo premeditado. O que se fazia era isso, se colocava a desenhar e tinha-se uma pagina. O grafismo foi surgindo a medida que íamos desenhando, a medida que íamos o compondo. F.J.: Onde encontraram motivação naquele momento? P.C.: Isto eu não saberei contar nunca, porém David Greene estava lendo poesia Beat e lia a revista Evergreen Review naquela época, nós víamos e escutávamos Ornette Coleman. Haviam muitos territórios comuns em termos gráficos. Eu ia a uma escola de arte enquando David Greene e Warren Chalk iam em outra. Os vínculos com o pop não eram diretos, nem muito menos. Éramos um grupo de

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pessoas totalmente diferentes, porém haviam vínculos, suponho, ao fim, as origens eram as mesmas e nos opúnhamos às mesmas coisas. F.J.: Estudante ou professor? P.C.: ...Professor. Tradução: COOK, Peter. Plug-in City. In: Archigram, 1999. Princeton Architectural Press, Nova York Série de propostas especulativas para uma cidade controlada por computador e pensada para a mudança com elementos removíveis plugados em uma megaestrutura de serviços. A plug-in city como um projeto total era a combinação de uma série de ideias que foram trabalhadas entre 1962 e 1964. O Metal Cabin Housing foi um protótipo no sentido de que colocou elementos de habitação removíveis em uma megaestrutura de concreto. As ciscussões do Archigram 2 e 3 construiram argumentos a favor de construções expansíveis: e inevitavelmente, neste ponto, nós devemos investigar o que acontrce se todo o ambiente urbano pode ser programado e estruturado para a mudança. A exibição

da

Living City confrontou estas noções materiais

com

outras igualmente

explosivas recuperando a qualidade da vida na cidade: seu simbolismo, sua dinâmica, seu gregarismo, sua dependência da situação bem como do formato estabelecido. Como uma final preliminar, a Montreal Tower foi útil como modelo para a estruturação de uma grande conglomeração ‘plug-in’, com sua grande estrutura retangular e seus tubos de movimentação (que eram para ser combinados na megaestrutura da cidade) e sua prova de que uma conglomeração assim não necessita ter a monotonia que é normalmente associada com sistemas regularizados. É difícil definir qual fase do trabalho na Plug-in City compõe o projeto definitivo. Durante todo o período de 1962-66, elementos estavam sendo observados e as noções sendo alteradas ou prorrogadas conforme o necessário: assim, os desenhos, inevitavelmente, contêm muitas inconsistências. O termo “city” é usado como um coletivo, o projeto foi uma “portmanteau” para diversas ideias, e não necessariamente implica uma substituição das cidades como conhecemos. A axonometria (direita) é geralmente aceita como a imagem definitiva, por razões obviamente clássicas. É ‘heroica’, aparentemente uma alternativa para a forma conhecida de cidade, contendo hierarquias e elementos futuristas, mas reconhecíveis. Íngreme, mas direcional. Mecanista mas escalonável, ela foi baseada em uma planta elaborada, que colocou uma grade estrutural sobre um plano quadrado a 45 graus a uma via de monotrilho que conectava as cidades existentes. Paralelamente, funciona uma gigante rota para hovercraft (a novidade em construções móveis), a noção de que algumas funções de ordem maior das partes ligadas pudesse viajar por entre elas. As operações fisicas essenciais estão tensionadas: as vias para guindastes e os balões metereológicos, e os tubos de elevadores são deliberadamente exagerados. Mas acima disso tudo, estava a deliberada variedade de cada grande afloramento-edifício: seja o que fosse para ser, esta cidade não seria um peça letal de matemática construída.

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Nos diversos estudos que compuseram o projeto como um todo, um pode delinear a sucessão de prioridades que são gradualmente sobrepostas, e outro pode mostrar como as seções evoluiram. O projeto para Nottingham era uma proposta para um centro de comprar mas os problemas da manutenção frequente e da substituição de unidade eram complementares. A maior parte da proposta de Plug-In já existia. Com a via de guindaste ao longo do viaduto e um sistema de túneis de serviço, é apenas um pequeno passo para a incorporação de elementos de habitação. [...] Definição: a Plug-in City é construiída aplicando uma estrutura em rede de grande escala, contendo vias de acesso e de serviços essenciais, em qualquer terreno. Nessa rede, são colocadas unidades que contemplam todas as necessidades. Essas unidades são planejadas para a obsolescência. As unidades são seriadas e manuseadas por meio de guindastes operando em uma via no cume da estrutura. O interior contem diversas instalações mecanicas e eletrônicas que pretendem substituir os trabalhos do dia-a-dia. As taxas de permanência típicas seriam: Andar do banheiro, da cozinha, e da sala de estar: obsolescência aos 3 anos Salas de estar, quartos: obsolescência de 5 a 8 anos Localização da unidade de casa: 15 anos de duração Espaços de venda de uso imediatos em lojas: 6 meses Localização de comércio: 3 a 6 anos Espaços de trabalho, computadores, etc: 4 anos Vias e paradas de carros: 20 anos Megaestrutura principal: 40 anos Complementando a via de guindastes principal existem outras menores e rampas de lançamento macanizadas, bem como elementos telescopicos de manuseio. Tradução: HERRON, Ron. Walking City. In: Archigram, 1999. Princeton Architectural Press, Nova York. Walking City imagina um future no qual limites e fronteiras são abandonados em favor de um estilo de vida nomade entre grupos de pessoas do mundo todo. Inspirados pelo altaneiro da NASA, plataformas de lançamento móveis, hovercraft e quadrinhos de ficção científica, Archigram imaginou edifícios itinerantes que viajam por terra e pelo mar. Como muitos dos projetos de Archigram, Walking City antecipou o estilo de vida urbano acelerado de uma sociedade tecnologicamente avançada na qual não é preciso ser amarrado a um local permanente. As estruturas são concebitas para conectar em redes de utilidades e informação em diferentes localizações para dar suporte às necessidades e aos desejos das pessoas que trabalham e brincam, viajam e permanecem simultaneamente. Por meio desta existência nomade, diferentes culturas e informações são compartilhadas, criando um mercado global de informação que antecipa os projetos seguintes de Archihram, como Instant City e Ideas Circus. Archigram É incomum que engenheiros que desenharam varias estruturas moveis na Cape Kennedy nunca tenham ovido do grupo Archigram. Aliás, a ideia de uma cidade que anda provavelmente os horroriza. Ainda que estes engenheiros tenham desenhado e construido pares de duzias de estruturas, algumas do peso de 40 prédios de escritório, que se movem serenamente ao longo da paisagem plana. No entanto, numa

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arquitetura visionária, conceitos como apartamentos pré-fabricados içados para a posição em uma moldura esquelética, para serem conectados a utilitários preparados, ainda são considerados impraticáveis pela maioria dos projetistas e construtores. Ainda que hajam imprtantes problemas urbanos – como transporte intra e interurbano, por exemplo – que poderiam ser imediatamente atacados, efetivamente, e rapidamente se houvesse um grau semelhante de coragem e compromentomento – especialmente financeiro. As realizações de Cape Kennedy são a prova de nossa habilidade de resolver problemas surpreendentes; e, consequentemente, são um indicativo daqueles que não gastam o mesmo tipo de esforço em nossos problemas urbanos. Peter Blake. Architectural Forum, 1968 Autores do projeto: Warren Chalk, Frank Brian Harvey, Ron Herron Tradução: Archigram. Instant City. Retirado de: <http://archigram.westminster.ac.uk/project.php ?id=119>. Último acesso em: 14.01.16 Instant City faz parte de uma serie de investigações sobre instalações míves que fuincionam em conjunto com estabelecimentos fixos, requerendo serviçoes expandidos durante um periodo limitado no sentido de satisfazer um problema extremo no entanto transitório. [Instant City é] Um projeto especulativo baseado no conflito entre núcleos locais, culturalmente isolados e os aparatos bem atendidos das regiões metropolitanas. Investigando o efeito e a praticidade de de injetar a dinamica metropolitana nestes núcleos, através de uma instalação móvel que leva serviços de informação – educação – e divertimento da cidade, extendida através do estabelecimento desta junto com a rede de telecomunicação nacional. O estudo iniciao para este projeto é para ser publicado em maio. A aprovação de subsídio para o palco principal esta sendo negociada neste momento. Este projeto é levado à frente em coperação com a Architectural Association. O consultor de sistemas é o professor Grodon Pask do Brunel University Departament of Cybernetics; consultores audiovisuais, Program Partnership; consultor de filmagem Dennis Postle da B.B.C. Television. A ilustração mostra uma possível configuração quando a Instant City está atracada em uma area industrial decadente. As estruturas usadas são formas conhecidas como torres, como em processos construtivos, estruturas de ar e veículos comerciais modificados. Tradução: COOK, Peter. Instant City. In: Archigram, 1999. Princeton Architectural Press, Nova York A noção Na maioria dos paises civilizados, as localidades e suas culturais locais permanecem em lento movimento, frequentemente subnutrido e algumas vezes com ressentimento das regiões metropolitanas mais favorecidas (como Nova Yorik, a costa oeste dos Estados Unidos, Londres e Paris). Enquanto muito é dito sobre ligações culturais e sobre o efeito da televisão como anela no mundo (e a inevitavel aldeia global), pessoas ainda se sentem frustradas. Pessoas mais novas ainda têm a suspeita de que estão perdendo coisas que poderiam ampliar seus horizontes. Eles gostariam de estar envolvidos

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em aspectos da vida onde suas próprias experiências pudessem ser vistas como parte do que está acontecendo. Contrário a isto, está a reação à natureza física da metropole – e de alguma forma, há este paradoxo – se apenas pudéssemos aproveitar isto e permanecer onde estamos. O projeto da Instant City reage a isto com a ideia de uma “metrópole viajante”, um pacote que vai até a comunidade, dando à ela o gosto da dinamica metropolitana – que é temporariamente enxertada no local – e enquanto a comunidade ainda está se recuperando do choque, usa isto como catalisador da primeira fasede um enganchamento nacional. Uma rede de informação-educação-entretenimento – de instalações de ‘brinque-e-aprenda você mesmo”. Na Inglaterra, o sentimento de ter sido deixados de lado das coisas afetou por um longo periodo de tempo o psicológico das provincias, tanto que as pessoas ou se tornaram super-protecionistas sobre as coisas locais ou carregam em suas cabeças um complexo de inferioridade ridiculo sobre a metrópole. Mas nos estamos próximos de um temo quando o período de lazer dos dias se tornará realmente significante; e, com o efeito da televisão e da melhor educação, pessoas estão percebendo que podem fazer coisas e conhecer coisas, elas podem se expressar (ou se divertir de uma maneira mais livre) e estão se tornando insatisfeitos com o aparelho de televisão, com os clubes de jovens ou os pubs. Um plano de fundo para o trabalho de Archigram Com nossa noção de robô (o simbolo de uma maquina responsiva, que junta varios serviços em um aparelho), nós começamos a brincar com a noção de que o ambiente poderia ser condicionado não apenas pelo conjunto de aparelhos, mas por infinitas variaveis determinadas pelo seu desejo, e o robô reaparece em Instant City em diversos momentos. As implicações de planejamento da Instant City emergiram mais e mais fortemente enquanto o projeto evoluia, tanto que quando estávamos fazendo a sequencia descrevendo o efeito do dirigível sobre a cidade que dorme, era que a própria dinamica da cidade era tão fascinante quanto a dinamica técnica do dirigível. Novamente tivemso que refletir sobre a psicologia de um país como a Inglaterra, onde existe uma sugestão histórica de que grande reviravolta é improvável. Estamos propensos a capitalizar sobre as instituições e instalações existentes, enquanto reclamamos sobre sua ineficiência -, mas um país como a Inglaterra agora deve viver por suas destrezas ou perecer, e para suas destrezas, precisa de sua cultura. Um plano de fundo de programa Os componentes considerados são sistemas de exibição áudio-visual, televisões em projeção, unidades em trailers, estruturas pneumáticas e leves e instalações de diversção, exibições, pórticos e luzes elétricas. Isto envolve o rerritório teórico entre o ‘hardware’ (ou o projeto de construções e lugares) e o ‘software’ (ou o efeito da informação e da programação no ambiente). Teoricamente, também envolve a noção de dispersão urbana e o território entre diversão e aprendizagem.

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A Instant City poderia ser feita uma realidade prática uma vez que cada etapa é baseada em técnicas existentes e suas aplicações em situações reais. Há uma combinação de uma serie de diferentes artefatos e sistemas que têm até então permanecido como máruqinas separadas, invólucros ou experimentos. O programa envolveu a coleta de informações sobre o itinerário das comunidades e os utilitários disponíveis (clubes, rádio local, universidades, etc) para que o pacote 'City' seja sempre complementar ao invés de alienígena. Em seguida, testamos essa proposição em amostras específicas. A primeira fase do programa consistia em caravanas carregadas por cerca de 20 veículos, operáveis na maior parte dos climas e carregando um programa completo. Estes foram aplicados a localidades na Inglaterra e na área de Los Angeles e da Califórnia. Mais tarde, nos interessando pela versatilidade do dirigível, propusemos este outro meio de transporte da caravana da Instant City (um grande e e silencioso portador de todo o conglomerado). Mais tarde, aplicamos o método da Instant City para apresentação de propostas para a manutenção da exposição Documenta em Kassel na Alemanha. Por esta altura também havia desenvolvido um intercâmbio de ideias e técnicas entre este projeto e nossa instalação de entretenimento em Monte Carlo. Uma típica sequencia de operações (versão carregada por caminhões): 1. Os componentes da ‘Cidade’ são carregados nos caminhões e trailers na base. 2. Uma série de unidades ‘tenda’ são levantadas por balões que são levados ao destino por aeronaves 3. Antes da visita da ‘Cidade’, uma equipe de topógrafos, eletricistas, etc. converteu um edifício em desuso na comunidade escolhida em uma estação de transmição e de coleta de informações. Ligações de telefone foram feiras para escolas locais e para uma ou mais cidades grandes (permanentes) 4. A ‘Cidade’ chega. Ela é montada de acordo com o terreno e as características do local. Nem todos os componentes são necessariamente usados. Ela pode penetrar construções e ruas local, fragmentar-se. 5. Eventos, exibições e programas educacionais são fornecidos parte pela comunidade local e parte pela agencia da ‘Cidade’. Além disso, é feito o uso máximo dos elementos locais: feiras,festivais, mercados, sociedades, com trailers, barracas, exibições e pessoas acumulando com frequencia em uma base ad hoc. O evento da Instant City deve ser um agregador de eventos que outrora ocorrem separadamente no distrito. 6. A tenda de cima, quebra-ventos infláveis e outros abrigos são erguidos. Muitas unidades da ‘Cidade’ têm seus próprios fechamentos sob medida. 7. A ‘Cidade’ fica por um período limitado. 8. Ela então se move para a próxima localização. 9. Depois que um certo número de lugares foi visitado, as estações são ligadas por uma linha de telefone. A comunidade um está agora alimentando parte do programa a ser aproveitado na comunidade vinte. 10. Eventualmente, por esta combinação de eventos físicos e eletronicos, perceptivos e programáticos, e pelo estabelecimento de centros locais de exibição, uma ‘Cidade’ de comunicação deve existir, a metrópole da rede nacional. 11. Quase certamente, os elementos viajantes modificariam em um período de tempo. É até mesmo provável que depois de dois ou três anos eles acabariam e deixariam a rede tomar controle. 12. Com o estudo para a Instant City desenvolvido, certos pontos surgiram em particular. Primeiro, a ideia de um ‘soft-scene monitor’, uma combinação de maquina de ensino, jukebox audiovisual, simulador ambiental e, de um ponto de vista teórico, a realização de um debate ‘Hardware/Software’ (que ainda esta ocorrendo no nosso trabalho para Monte Carlo), como a noção de um ambiente responsivo. Depois, a dissolução do show original grande, transportado por caminhão, com aspecto de circo para um elemento menor e muito móvel carregado por um

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maravilhoso, magico sonho descendo dos céus. O modelo da unidade pequena sugere dois caminhões e um helicoptero no transporte, com arenas rapidamente dobráveis e aparatos que podem ser rapidamente encaixados no local. Outro incentivo era o convire a projetar a ‘estrutura do evento’ para o Documenta em Kassel em 1972, um elaborado cenário de arte/evento/teatro requerendo um alto nível de serviços porém um minimo de interferência com ‘ato criativo ao ar livre’. O ‘Kit-Kassel’ de aparatos pode portanto ser considerado como uma direta extensão do kit original da Instant City. Estamos de volta ao heróico então, com um objeto grande, bonito e evocativo? O balão: a aeronave: beleza, desastre e história. De um lado nós estavamos projetando uma construção completamente invisível subterrânea em Monte Carlo, e por outro, flertando com ‘will-o-the-wisp’ transportado no céu. A Instant City enquanto uma serie de caminhões andando como formigas pode ser prática e imediata, mas não podemos escapar da adorável ideia da Instant City aparecendo de lugar nenhum, e depois do evento, levantando suas tendas e desaparecendo. Na verdade, o principal interesse era a espontaneidade, e o objetivo restante era tricotar em qualquer localidade do modo mais eficaz possível. Para archigram, o dirigível é um dispositivo: o skyhook gigante. Operativamente, haviam duas possibilidades. Um simples dirigível carregado com os aparatos e capaz de depositá-los quando necessário. Por outro lado, uma noção mais sofisticada de uma ‘megaestrutura nos céus’. Os desenhos de Ron Herron sugerem que a ‘nave’ pode ser fragmentada, e os elementos audio/visuais são dispersos por uma parcela do céu. Mais uma vez, o trabalho do grupo retoma um sonho de seu passado – a “história de uma coisa” tornada (quase) real. Construímos então um modelo, que podia soltar suas entranhas em uma série de maneiras. Esta era a ‘nave’ mais simples, que correspondia ao cenario de transformação de uma pequena cidade. No desenho com o dirigível ‘Rupert’, uma grande mudança na Instant City foi primeiramente articulada: o crescente sentimento de mudança por infiltração. A "cidade" está rastejando em edifícios semiacabados, usando a loja de tecelagem local, showrooms de gás e berma, bem como o mais sofisticado set-up. E tem um misterioso animal rastejante: o caminhão ‘parasita’, que é capaz de elevar qualquer estrutura e serviço: com a possibilidade resultante de ‘bugging’ toda a cidade conforme necessário. Delicadamente, em seguida, o projeto se dissolve da mecânica simples ou de hierarquias de ‘estruturação’ e construtos. Assim como fez Plug-In City: semeou sua propria fragmentação em investigações de uma coisa mais sutil, suave, ambiental.

Archigram, Edited by Peter Cook, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene, Ron Herron & Mike Webb, 1972 [reprinted New York: Princeton Architectural Press, 1999]. Tradução: CROMPTON, Dennis. Computor City In: ARCHIGRAM. Metropolis: Archigram Magazine Issue no. 5, 1964, Londres. Computor city: uma metrópole sintetizada com mutabilidade eletronica As atividades de uma sociedade organizada ocorrem dentro dos limites de uma rede balanceada que naturalmente interage para formar uma continua corrente de mudança. Uma metropole é sitada no ponto de máxima exibição de energia interativa e mostra o mais complexo campo de forças.

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Em Computor City, este campo energizado é sintetizado a uma sensibilidade muito maior e programado para responder a mudanças na atividade. Escalas de tempo de mudança são alimentadas no computador, de modo que a reação segue a causa natural a uma taxa ideal. Esta area de Computor City suporta aproximadamente 100.000 pessoas. A rede sensível detecta mudanças de atividade, os dispositivos sensoriais repondem e mandam de volta informações para programar correlatos. Tradução: KLOTZ, H. Architecture and Technology. In: The History of Postmodern Architecture. p. 372384 Archigram O grupo de Arquitetura londrino conhecido como Archigram, que compreendeu Peter Cook, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene, Ron Herron e Mike Webb, sustentou uma posição teórica próxima àquela de Haus-Rucker-Co. Archigram produziu belos planos e modelos, porém nenum de seus projetos chegou perto da realização. De uma aparentemente inexaurível riqueza de ideias imaginativas, Archigram criou arrasadoras visões utópicas de um mundo de armações treliçadas, tubos, cápsulas, células, esferas, balões, robôs, trajes espaciais, submarinos, plástico, e garrafas de Coca-Cola – de uma sociedae orientada para a recreação e o lazer hipertecnológicos. A inauguração dos trabalhos de Archigram foi o Sin Centre Entertainment Place para Leicester Square de Michael Webb (1959-62). Antes disso, Webb havia concebido o edifício da Furniture Manufacturers’ Assiociation para High Wycombe, um desenho futurista que remanescia de um maquinário automobilístico. Aqui, pela primeira vez, uma construção havia se tornado uma máquina – em aparência, pelo menos. Le Corbusier disse “Uma casa é uma máquina de viver”, mas suas construções eram abstratas e geométricas; a comparação à uma máquina aplicada apenas a uma sena metafórica, não em termos de forma. R. Buckminster Fuller tomou a fala de casa como uma máquina mais literalmente com sua Dymaxion House, no entanto, apesar de sua construção com aparência de máquina, ninguém pensaria em chamá-la de máquina. Mas com o produto de High Wycombe, Webb tinha feito de um edifício (que realmente não era uma máquina) a primeira construção que realmente assemelha-se a ideia mais popular de máquina: o motor de um automóvel. Webb igualou a pretensão e a imagem final, ainda que nem uma nem outra adequou-se a função do edifício. Cerca de 1960, alguns arquitetos Austríacos estavam produzindo projetos de utopias como as de Archigram – entre eles os arranha-céus heterodoxos mostrados nas figuras 477 e 478. Mas uma comparação com a Montreal Tower de Peter Cook ou com sua Plug-in City revela que Holzbauer ainda estava guiado por um conceito tradicional de arquitetura, enquanto o desenho de Cook (certamente influenciado pelos projetos anteriores de Webb) evitava a tipologia tradicional. A Montreal Tower não era a metafora de uma máquina, mas uma máquina na maneira da Dymaxion House de Fuller; no entanto, era muito mais complexa. Este foi o primeiro desenho que, na terminologia dos dias de hoje, poderia ser chamado de “arquitetura High Tech”. Cook tomou o cuidado de fazê-lo realizável, e ele foi proposto para as autoridades como a entrada inglesa na Expo’ 67. Ainda que rejeitada naquele tempo, foi realizada (por Kiyonori Kikutake) na Exposição de Osaka de 1970, quando as pessoas

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já haviam se acostumado à aparência High-Tec. Cerca de 1960, juntamente com Arata Isozaki, Kikutake realizou alguns desenhos que mostravam tanta originalidade quanto os projetos de Archigram do mesmo período. O mais conhecido deles é a cidade aquática mostrada na figura 481. Ainda que estes desenhos Metabolistas, ainda carregando traços dos anos 1950, não eram máquinas High Tech da mesma forma que as visões de Archigram eram. O Interchange Project de Herron e Chalk evocou um convincente novo mundo realista, e suas repercursões são evidentes no Centre Pompidou e no Berlin Kongress-halle. Fazendo uso das ideias de Fuller, Konrad Wachsmann, e Frei Otto, Archigram inventou um estilo tecnológico que incorporou o otimismo do Pop e da viagem espacual e através do qual, daquele momento em diante, por onde todas as expressões da tecnologia na arquitetura teriam de passar. O fato de que muitas das propostas de Archigram não eram realizáveis não foi decisivo na recepção de suas preposições formais enormemente variadas. Mas quão imprudente pareceu a aceitação da cultura de consumo descartável por Archigram! A Plug-in City de Cook, com seus milhares de capsulas descartáveis instaladas em uma armação por guindastes, era quase uma caricatura da arquitetura “flexível”. Logo, no entanto, todos estavam prontos para esquecer os conetudos de tais desenhos e olhar apenas nas formas arredondadas e tubulares, que logo foram vistas como sinais do final da arquitetura de pedra. Ainda que sem sentido em termos de função, esses desenhos eram atraentes em termos de forma. Neles estava destilo todo o otimismo tecnológico do início dos anos 1960 – notar os habitantes felizes da Instant City de Herron. Talvez o mais poético (e caricato) dos projetos de Archigram foi aquele mostrado na figura 486, com o qual Ron Herron propôs edifícios com pernas que seriam capazes de deslizar pela paisagem. Aqui estava uma utopia tecnológica que não tinha mais nada em comum com o sóbrio racionalismo tecnológio. Herron combinou conceitos modernos e atáticos para produzir uma visão de uma força estranha e primitiva, e ele citou do romance de Arthur C. Clarke 2001: “Alta tecnologia só é alta tecnologia quando é mágica.” Assim, a racionalidade da tecnologia deveria dar espaço para a mágica da tecnologia, que poderia se manifestar apenas através da ficção artística. O “motor como edifício” de Webb levou à visão de de uma cidade de animais mecânicos. Isso não era o mais recente em representação narrativa e ficção poética? Isso não mostrava a legitmidade de um direito, a figuração realista dos conteúdos que tempos atrás haviam superado a abstração das estruturas geométricas e seus efeitos interessantes? O começo de Archigram coincidiu com o começo do Pop Art. Tanto quanto o Pop Art deu status de arte aos bens de consumo e legitimou-os enquanto objetos de representação artística, Archigram fez da máquina e de suas qualidades dignas de representação artística e arqutietônica – sem interpor o tipo de sublimação estetizante que Le Corbusier empregava. Por exemplo, nos submarinos Aquamen de Warren Chalk, capsulas de mergulho e outros equipamentos subaquáticos eram retratados como se fossem eletrodomésticos em um tipo de anúncio. Palavras com glamour e Coca-Cola e robôs são alguns outros fios condutores que os membros de Archigram usavam em suas colagens “tipo-Pop”. [Pop-ish] Archigram é tanto ou tão pouco moderno ou pós moderno quanto é o Pop Art. Por seu realismo objetivo, o Pop Art quebrou com as correntes dominantes do modernismo. Através da nova objetividade da sua fruição de narrativa, quebrou o silêncio ditado pelo Grande Abstracionismo. Através do meio da

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tecnologia e da máquina, Archigram começou a contar fábulas arquitetônicas que dificilmente havia sido visto antes no século vinte. Do Sin Centre de Webb à Instant City de Herron, Archigram produziu uma série de ficções urbanas que deixaram para trás a geometria modernista e a mudez do funcionalismo. O decisivo foi aquilo sobre o que Archigram estava falando: o grande mito do modernismo, o grande mito da tecnologia. Assim, Archigram permaneceu em uma zona unidimensional da utopia, sem ser capaz de reestabelecer coerência entre passado, presente e futuro. Ainda que Archigram tenha adotado alguns recursos estilísticos Pop, seu maior interesse estava na apropriação e glamorização da tecnologia. Mesmo que o recentemente despertado senso de descrição e ficção tenha limpado o caminho para o caráter simbólico e narrativo do pós-modernismo, no que diz respeito ao conteúdo, ali permaneceu a fixação pela tecnologia enquanto unico instrumento de salvação. Essas primeiras ficções High Tech na realidade validaram o modernismo, ainda que a ingenuamente refinada dobra de Mike Webb e Ron Herron se afastassem do racionalismo utilitarista. Assim, 1960 novamente provou ser o ano de incorpotação do Novo. Foi o ano no qual, nos paises anglosaxônicos, o Pop Art levou os valores da sociedade de consumo à protegida esfera da estetização moderna, e o resultado foi a queda das fronteiras entre a vida cotidiana e a arte, entre o cafona e a arte, entre consumismo e arte. Torna-se cada vez mais claro que esta agitação foi de fundamental importância para o desenvolvimento cultural do século XX. O ano 1960 se tornará tão significante na história da arte e da arqutietura deste século quanto 1905 e 1920. As ideias e intenções que começaram a vir à tona em 1960 ainda estão clamando para serem realizadas. Archigram, com sua visão de arqutetura enquanto veículo de meio e uma espécie de ficção, foi um precursor do movimento do moderno para o pós-moderno que se torna cada vez mais discernível desde cerca de 1970 – ainda que a única ficção de Archigram fosse a glória da máquina. Tradução: FOSTER, H. Image Building. In: VIDLER, H. Architecture: betwen spectacle and use. New Harven e Londres, Yale University Press, 2008. O Pop é imediatamente associado à arte, música, e moda, menos com a arquitetura; mesmo que ele estava ligado com a discussão arquitetônica do começo ao fim. A própria ideia de Pop foi trazida no começo dos anos 1950 pelo Independent Group (IG) em Londres, um variado grupo de jovens artistas e críticos de arte, incluindo Richard Hamilton e Lawrence Alloway, que foram guiados por arquitetos e historiadores da arqutietura, acima de todos Alison e Peter Smithson e Reyner Banham. Enquanto elaborado pelos artistas americanos uma década mais tarde, a ideia de Pop fora trazida novamente para as discussões arquitetônicas, especialmente por Robert Venturi e Denise Scott Brown, onde serviu de ponte para o projeto pós-moderno (por exemplo, o pastiche histórico de Michael Graves, Robert A. M. Stern e outros nos anos 1980). Mais genericamente, a pré-condição primeira do Pop foi uma nova configuração do ambiente cultural ocasionada pelo capitalismo de consumo, no qual estruturaa, superfície e símbolo aparecem frequentemente associados. Transformado diversas vezes desde então, este ambiente ainda está muito conosco, e assim uma dimensão Pop permanece na arquitetura contemporânea também. É esta história que pretendo esboçar aqui. No início dos anos 1960, a Grã-Bretanha permaneceu em certo estado de austeridade economica que fez o mundo consumista parecer exotico para os artistas Pop britânicos. Para os americanos, por outro

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lado, a paisagem comercial era quase uma segunda natureza, a ser tratada com um tom de arrojado. Em comum a ambos os grupos, no entanto, tinha-se o senso de que o consumismo havia alterado não apenas a aparência das coisas, mas a natureza da aparência em si, e todo o Pop funda seu proncipal assunto aí: na intensificada visualidade da aparência, na carregada iconicidade das pessoas e dos produtos (das pessoas enquanto produtos e vice-versa) que uma midia de masas de imagens corporativas havia criado. A superficialidade consumista dos simbolos e da seriação dos objetos também tinha que afetar a arquitetura e o urbanismo assim como a pintura e a escultura. Em consonância, em Theory and Design in the First Machine Age (1960), Banham imaginou uma arquitetura Pop como uma atualização radical do desenho moderno sobre as condições mudadas de uma “Segunda Era da Máquina” na qual “imageabilidade” se tornou um critério primário. Doze anos mais tarde, em Learning from Las Vegas (1972), Venturi e Scott Brown advogaram uma arquitetura pop que retornaria esta imageailidade para o ambiente construído do qual ela surgiu. No entanto, para os Venturis, esta imageabilidade era mais comercial e tecnológica, e estava avançada não para atualizar o desenho moderno, mas para destroná-lo; aqui, então, o Pop começou a ser recuperado em termos do pós-moderno. A era clássica do Pop pode então ser dividida nestes dois momentos: entre a reformulação da arquitetura moderna colocada por Banham por um lado, e a fundação da arquitetura pós-moderna colocada por Venturi, por outro. Em novembro de 1956, apenas alguns meses depois que a exibição This is Tomorrow em Londres trouxe pela primeira vez o Pop para a atenção do público, os Smithsons publicaram um pequeno excerto que incluia este pequeno poema: “Gropius escreveu um livro sobre silos de grãos/Le Corbusier, um sobre aviões/mas hoje nós colecionamos publicidade.” É claro que, Gropius, Corb e Perriand foram quase ingênuos em relação às mídias de massas; a questão é polêmica, não histórica: Eles, os antigos protagonistas do projeto moderno, eram estimulados pelas coisas funcionais, enquanto nós, os novos celebradores da cultura Pop, olhamos para “o objeto descartável e as embalagens pop” para nos inspirar. Isto foi feito parte por prazer e parte por desespero: “Hoje estamos sendo afastados de nosso papel tradicional [como colocadores de formas] pelo novo fenômeno das artes populares – propaganda”, os Smithsons continuavam. “Nós devemos de alguma forma obter a medida desta intervenção se queremos combinar seus poderosos e excitante ipulsos com nossa cidade.” Novamente, esta emoção ansiosa direcionou todo o IG, e mentes arquitetônicas lideraram o caminho. “Nós já ingressamos na Segunda Era da Máquina”, Banham escreve quatro anos mais tarde em Theory and Design, “e podemos olhar para trás para a primeira... como um período do passado.” Neste estudo de referência, concebido como uma dissertação no auge do IG, ele tamvém insistiu numa distância histórica dos mestres modernistas (incluindo historiadores da arquitetura como Nikolaus Pevsner, seu conselheiro no Courtauld Institute e Sigfried Giedion, aoutro do clássico Espaço, Tempo e Arqutietura [1941]). Banham desafiou os preconceitos racionalistas destas figuras – de que a forma deferia seguir a função e/ou a técnica – e recuperou outros imperativos negigenciados por eles. Em particular, ele avançou o imaginário Futurista de tecnologia em termos Expressionistas – frequentemente escultórico, algumas vezes gestual – como o motivo primário para o projeto não apenas na primeira era da máquina, mas também na segunda (ou primeira era Pop). Longe do academicismo, sua revisão das prioridades arquitetônicas também reclamava para sua era Pop uma “estética do descartável”, primeiramente proposta no Futurismo, onde “as normas atreladasa à permanência” não seriam mais tão relevantes. Mais do que qualquer outra figura então, Banham levou a teoria de projeto de uma sintaxe modernista

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de formas abstratas à uma linguagem Pop de imagens imediatas. Se a arquitetura devia expressar este mundo – onde os sonhos dos áusteros anos 1950 estavam prestes a se tornar produtos de consumo dos anos 1960 – ela deveria “combinar o desenho do descartável em desempenho funcional e estético”: ela deveria ser Pop. Mas o que isso signficava na prática? Inicialmente Banham apoiou a arquitetura Brutalista dos Smithons e de James Stirling, que levavam os materiais e as estruturas expostas à um extremo “sanguinário”. “O brutalismo tenta enfrentar a sociedade da produção em massa”, os Smithsons escreveram em 1957, “e tira uma poética dura das forças confusas e poderosas que estão em trabalho.” A insistência no “as found” era realmente Pop, mas a “poética” do brutalismo era precisamente muito “dura” para que ele servisse de modelo para a era Pop. De fato, seu projeto mais famoso – a House of the Future (1956) – é também o mais alheio a seu trabalho. Comissionado pelo Daily Mail para sugerir o habitat suburbano que estaria por vir, a casa era repleta com gadgets acionados por sensores (por exemplo, ...), mas sua plasticidade curva parecia inspirada pelo imagético dos filmes de ficção científica daquele tempo mais do que por qualquer prerrogativa de traduzir as novas tecnologias para a forma arquitetônica (O uniforme suéter projetado por Teddy Tinling para os habitantes homens merece uma posição especial em qualquer Museu de Futuros Ilegítmos.) Quando os oscilantes anos 1960 se desdobraram em Londres, Banham se voltou para o grupo de jovens arquitetos Archigram – Warren Chalk, Peter Cook, Dennis Crompton, David Greene, Ron Herron, and Michael Webb – para tocar o projeto Pop da imagem e da descartabilidade. Archigram (1961-76) tomou “a cápsula, o foguete, o batiscafo, o Zipak, e o kit de utilidades” como seus modelos e, de acordo com Banham, celebraram a tecnologia enquanto uma “rica bagunça visualmente selvagem de tubos, fios, escoras e passarelas.” Influenciados pelo projetista visionario Buckminster Fuller, eus projetos podiam parecer funcionalistas – a Plug-in City (1964) popôs uma imensa ossatura na qual as partes poderiam ser mudadas de acordo com as necessidades – mas, finalmente, com suas “quinas arredondadas e adereços da cultura pop”, Archigram estava “no negócio das imagens”, e seus projetos respondiam à fantasia acima de tudo. Como o Fun Palace (1761-72) concebido por Cedric Price para o Theatre Workshop of Joan Littlewood, a Plug-in City ofereceu “a um mundo faminto de imagem uma nova visão da cidade do futuro, a cidade dos componentes ... plugados em redes e grides.” A derradeira prerrogativa do projeto Pop para Banham encontra-se aqui: de que ele não somente expressa as tecnologias contemporâneas formalmente, mas também os elabora delirantemente em direção a uma nova forma de vida. E aí reside a grande diferença entre Banham e os Venturi. Novamente, Banham buscou atualizar a demanda Expressionista de uma maneira moderna de trabalhar a forma, frente ao compromisso Futurista com a tecnologia moderna, enquanto os Venturis evitaram ambas as tendências, a expressiva e a tecnológica; na verdade eles opuseram qualquer “prolongamento” do movimento moderno. Para Banham, a arquitetura não era moderna o suficiente, enquanto para os Venturis, ela teria se tornado desconectada da sociedade e da história precisamente devido a seu comprometimento com uma modernidade que era abstrata e amnésica. De acordo com os Venturis, ao projeto moderno faltava “inclusão e alusão” – inclusão de gosto popular e alusão a tradição arquitetônica – uma falha que provinha acima de tudo de sua rejeição ao simbolismo ornamental a favor do “expressionismo” formal. Para corrigir este erro, eles argumentavam, o paradigma moderno do “the duck” – no qual a forma expressa a construção quase esculturalmente,

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algumas vezes com seu espaço, estrutura e programa distorcidos a interesse do efeito monumental – deveria ceder ao modelo pós-moderno da “cabana decorada”, uma construção com “uma frente retórica e um interior convencional”, onde “espaço e estrutura estão diretamente a serviço do programa, e o ornamento é aplicado independentemente deles.” “O duck é a construção especial que é um símbolo”, os Venturis escreveram em uma famosa definição: “a cabana decorada é a concha convencional que aplica simbolos”. Novamente, os Venturis também endossaram a imageabilidade Pop: “Nós vimos da arquitetura comercial orientada para o automóvel de expansão urbana como nossa fonte para uma arquitetura civil e residencial do significado, agora viável como o vocabulário industrial era viável para uma arquitetura moderna do espaço e tecnologia industrial 40 anos atrás. Mas ao fazê-lo eles aceitaram não só como dado mas como desejado, a identificação do “civil” com o “comercial” e eles também tomaram a faixa e o suburbio, ainda que “feio e ordinário”, como normativo, mesmo de exemplo. “Arquitetura neste panorama se torna símbolo no espaço mais do que forma no espaço,” declararam os Venturis. “O grande símbolo e as pequenas construções na Route 66.” Dada esta regra, Learning from Las Vegas convergiu marcas corporativas e símbolos públicos: “os conhecidos símbolos da Shell e da Gulf se destacam como faróis em uma terra estrangeira”. Ele também concluiu que somente uma arquitetura cenográfica poderia “fazer conexões entre muitos elementos distantes e vistos rapidamente. Nesse sentido, os Venturis traduziram importantes conhecimentos dentro desta “nova ordem espacial” em insignificantes afirmações da “paisagem brutal de grandes distâncias e altas velocidades”. Isto não apenas naturalizou uma paisagem que não tem nada de natural; também instrumentalizou um senso de distração, como Venturi urgiu aos arquitetos que projetassem para “um público cativo, um pouco receoso, mas parcialmente desatento, cuja visão é filtrada e direcionada para frente.” Aqui o lema miesiano da claridade modernista na arquitetura – “menos é mais” – se tronou uma ordem de sobrecarga pós-moderna no desenho – “menos é chato”. Hoje esta ordem frequentemente parece o rumo do mundo. Na chamada na arquitetura para “mudar o que existe”, os Venturis citaram a arte Pop como inspiração, particularmente livros de fotos por Ed Ruscha como Every Building on the Sunset Strip (1966). No entanto, este é um entendimento parcial do Pop, despido de seu lado sombrio, tal como o consumista “death in America”, exposto por Warhol em suas telas de silk de desmonte de carros e vítimas de botulismo de 1963. Mesmo Ruscha dificilmente endossou o autoscape: seus livros de fotos mostram seu aspecto nulo ou documentam seus aspectos imobiliários muito em gride, ou ambos. Um guia mais revelador para Learning from Las Vegas foi o desenvolvedor Morris Lapidus, que venturi citou: “As pessoas estão buscando por ilusões . . . . Onde eu encontro este mundo de ilusão? . . . Eles estudam isto na escola? Eles vão a museus? Eles viajam na Europa? Somente um lugar – os filmes. Eles vão ao cinema. Ao inferno com todo o resto.” O Pop trabalhou para explorar – se não criticamente, pelo menos ambiguamente – este novo regime de inscrição social (social inscription). O pós-modernismo preparado pelos Venturis foi largamente colocado a seu favor – na realidade, para projetar seus caminhos apropriados. É neste ponto, depois, que a critica Pop do elitismo se tornou uma manipulação pós-moderna do populismo. Muitos artistas Pop praticaram uma “ironia da afirmação” – uma atitude, aprendida de Duchamp, que Hamilton uma vez definiu como uma “peculiar mistura de respeito e cinismo.” A maior

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parte dos arquitetos pós-modernos, por outro lado, praticaram uma afirmação da ironia: “A ironia deve ser a ferramente com que se confrontam e combinam valores divergentes na arquitetura para uma sociedade pluralista”, como Venturi colocou. A princípio, isto parece justo, no entanto na prática o “duplo funcionamento” do projeto pós-moderno – “alusão” a tradição arquitetônica para os educados, “inclusão” de iconografia comercial para todos os outros – foi principalmente uma dupla codificação das propostas culturais que reafirmou mais do que cruzou os limites sociais. Este populismo enganoso só se tronou dominante na cultura política uma década mais tarde, sob Ronald Reagen, com a equação neoconservadora da liberdade plítica com a liberdade de mercado também definida em Learning from Las Vegas. Dessa forma, a recuperação do Pop enquanto pós-moderno constituiu uma vanguarda, mas uma vanguarda de maior uso à direita. Com imagens comerciais assim repetidas de volta ao ambiente construído, o Pop se tornou tautológico no pós-moderno, e não mais desafiador da cultura oficial. Ele foi a cultura oficial. Ainda que esta conclusão possa ser muito pura; certamente ela é muito final. Houveram elaborações alternativas do desenho Pop, como representam as propostas visionárias do coletivo florentino Superstudio (1966-78) e os happenings esquisitos do grupo Ant Farm em São Francisco e Huston (houveram grupos relatos na frança e em outros lugares). Ambos foram inspirados pelas dimensões tecnológicas do desenho Pop, como manifestado nos domos geodésicos de Fuller e nas formas infláveis de Archigram; mas, transformados pelos eventos associados com o 1968, eles também queriam virar este aspecto do pop contra sua dimensão consumista. Aqui, então, os dois lados do Pop foram desenvolvidos o suficiente para serem colocados em oposição. Em 1968, Fuller propôs um domo massivo para o centro de Manhatam, um projeto utópico que tamvém sugeria uma distopia da poluição cataclismica, até do holocausto nuclear que estariam por vir. (Tal sombra distópica está frequentemente estrelada por esquemas utópicos: ela está presente, por exemplo, no projeto para a New Babylon (1956-74) do Situacionista Constant Nieuwenhuys, uma Europa radicalmente re-imaginada onde espaços projetados para brincar tamém poderiam ser tidos como prisões, tal como no imagético robótico de ficção científica de Archigram, com suas “conotações Armageddon de tecnologia da sobrevivência.”) O Superstudio levou esta ambiguidade utopia-distopia ao limite: seu projeto de “Monumento Contínuo” (1969), um exemplo de arqutietura visionária como arte conceitual, imaginou a cidade capitalista varrida das comodidades e reconciliada com a natureza – mas ao custa de uma gide que, ainda que bonita em sua pureza, era mostruosa em sua totalidade. Também inspirados por Fuller e Archigram, os Ant Farmers eram os Merry Pranksters por comparação, empenhados na contracultura da Area da Baia mais do que na transformação tabula-rasa, com esquemas que combinaram estruturas temporárias para ambos, atos de guerrilha e vidas nômades. Apesar de suas performances e videos, que eram anti consumistas e espetáculos ao mesmo tempo, também voltaram o projeto Pop em direção à arte, mais famigeradamente em Cadillac Ranch (1974), onde Ant Farm enterrou parcialmente dez velhos Cadillacs de cabeça para baixo em uma fileira numa fazenda perto de Amarillo, Texas, e em Media Burn (1975), no qual eles jogaram um Cadillac costumizado conversível em velocidade total até uma pirâmide de televisões incendiadas no Cow Palace em San Francisco. Mas o projeto Pop depois do Pop não estava confinado à conceitos visionários e happenings sensacionais – à arquiteturas do papel e eventos artísticos. Indiscutivelmente, encontrou sua obra

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prima, de uma vez tecnológico e popular, no conhecido Centro Pompidou (1972-77), desenhado por Richar Rogers e Renzo Piano, ambos dos quais continuam ativos hoje – assim como, à propósito, os Venturis e alguns membros de Archigram (Peter Cook recentemente projetou, com Colin Fournier, um Kunsthaus em Graz). Os dois principais fios do projeto Pop, o de Banham e o dos Venturi, persistiram em outras maneiras igualmente; na verdade, eles podem ser detectados, transformados, nas duas maiotes estrelas no firmamento arqutietônico de hoje: Rem Koolhaas e Frank Gehry. Koolhaas foi provavelmente incluenciado por Archigram em Londres no final dos anos 1960 (ele foi educado na Architectural Association, onde Chalk, Crompton e Herron ensinavam). Certamente seu primeiro grupo, Delirious New York (1978), um “manifesto retroativo”para a densidade urbana de Manhattan que também foi uma resposta à expansão do signo em Learning from Las Vegas, avancou em tais temas de Archigram como a “Tecnologia do Fantástico”. Mas Koolhas minimizou esta conexão e em um desvio estratégico de Archigram, citou precedentes modernistas, Le Corbusier e Salvador Dalí, acima de todos. Critico de ambas figuras, ele no entanto combinou estes opostos – Corb o conceptor de formas e feitor de manifestos, Dalí, o fornecedor do desejo e celebridade da midia – em um componente vivaz que desencadeou seu sucesso, primeiro enquanto crítico e depois como projetista. Mas o imagético Pop da nova tecnologia à la Archigram, com uma atenção Brutalista ao material e a estrutura expostos, também guiou Koolhas até o presente. Koolhas emprestou de Dalí seu “método crítico-paranóico”, uma estratégia proto Pop que “promete que, atraves da reciclagem conceitual, os usados, consumidos conteúdos do mundo possam ser recarregados ou enriquecidos como uranio. De uma forma que ecoa ambos Banham e os Venturi, Koolhas tornou este serviço de exacerbo tipológico, de uma “superestimação sistemática do que existe”, em sua própria forma de trabalho: seu escritório produzia frequentemente seus projetos através uma excessiva manipulação de um elemento ou tipo arquitetônico, como faz até hoje. Por exemplo, na Livraria Públixa de Seattke (2004) e no complexo CCTV (Televisão Central da China) em constução em Pequim, Koolhas readaptou o arranha-céu, o herói de Delirious New York. Em Seattle, a gride de metal e vidro da torre Miesiana é dividida em cinco grandes níveis (quatro acima do solo), colocados em salências suspensas, e facetados como um prisma em seus cantos; como ele segue estas viradas e torções, a gride de metal azul claro é transformada em diferente diagonais e diamantes. O resultado é uma imagem muito forte – uma que pode competir com o Space Needle como o mblema Pop da cidade – que não é uma imagem fixa absolutamente, muda de cada ângulo e de cada vista. A imagem tamvém é algo não arbitrário: o prédio usa seu local, uma inclinação irregular no centro de Seattle para assentar suas formas o que os torna menos escultural, menos subjetivo do que eles poderiam ser caso contrário. Mais importante, o perfil é também motivado pelo programa, especialmente no penúltimo nível, que contem um grande espiral de prateleiras rampadas; de fato, a pele cubista como um todo envolve as diferentes funções do edifício.

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PARECER DO ORIENTADOR O relatório apresenta de forma clara e muito bem organizado, o desenvolvimento da pesquisa até o presente momento. Em linha geral, ele se divide em duas partes: uma teórica, onde o bolsista resume alguns aspectos importantes para a contextualização do objeto, buscando compreender a expressão gráfica na produção do grupo Archigram, e uma segunda parte onde são descritas as atividades e o cronograma da pesquisa. A leitura e estudo do texto de Cabral (2001) foi fundamental para a estruturação da análise gráfica da segunda parte da pesquisa: os planos de Plug-in City, Instant City, Walking City e

Computor City. Como estratégia de sistematização de informação, o aluno anexou os fichamentos de citação. Este tipo de fichamento foi escolhido para que não haja, neste momento, distorções nas leituras e assim, as ideias possam ser resgatadas em um momento mais avançado da pesquisa. O bolsista desempenhou seus trabalhos com seriedade, pontualidade e demonstrou iniciativas importantes para o rumo da pesquisa: entre elas o estudo do magazine Archigram onde os planos foram publicados pela primeira vez. Percebeu-se uma grande motivação do aluno pelo tema da pesquisa, o que é refletido na qualidade do relatório. “Toma-se como base o estudo da sintaxe desta linguagem [gráfica] para discutir sobre sua semântica, sua essência.” Manifesto, assim, parecer favorável deste relatório final.

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