UMA PERSPECTIVA DE URBANIDADE E TECTÔNICA EM HABITAR O CENTRO RENAN LEITE ANTIQUEIRA
TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO
UMA PERSPECTIVA DE URBANIDADE E TECTÔNICA EM HABITAR O CENTRO RENAN LEITE ANTIQUEIRA INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO IAU.USP SÃO CARLOS/SP . JUNHO DE 2019
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 7
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A CIDADE, O EDIFÍCIO E A SOCIEDADE
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A URBANIDADE 11 A TECTÔNICA 17 O ESPAÇO FÍSICO APROPRIADO 23
APROXIMAÇÕES METROPOLITANAS
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UMA PERSPECTIVA DE URBANIDADE EM HABITAR O CENTRO DE SÃO PAULO
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URBANIZAÇÃO E MORADIA 29 A ÁREA DE PROJETO 41
O PROJETO 59
REFERÊNCIAS 85
O presente Trabalho de Graduação Integrado parte de uma investigação teórica que gira em torno dos conceitos de Urbanidade e Tectônica para chegar num projeto de Habitação de Interesse Social para o centro histórico da cidade de São Paulo. O centro de São Paulo é tido como um local onde a urbanidade existe em potencial, e a tectônica é vista como a forma através da qual a edificação se coloca no espaço físico dessa cidade, podendo despertar esse potencial. Possibilitar o acesso à moradia popular e requalificar os espaços no centro significa viabilizar a copresença e a interação dos diferentes que está no âmago da urbanidade. Assim, este projeto insere-se, também, na discussão da produção habitacional e da requalificação de áreas urbanas degradadas, voltando-se para o centro, onde existe infraestrutura e emprego, além de desigualdade e muitos lotes subutilizados e edifícios desocupados. A essência deste projeto está em pensar a habitação e a edificação urbana a partir de três escalas: a de sua inserção no território da cidade, a de sua relação com o entorno imediato e a da articulação de unidades habitacionais. A ideia do projeto, nesse primeiro momento, é responder ao desafio de adensar incorporando e dialogando com as pré existências e requalificar os espaços públicos propondo novas relações, conexões e experiências. Para tanto, busca-se trabalhar a interface entre espaço público e privado a partir de uma complexidade que é característica da Arquitetura da Cidade do centro de São Paulo e que gera uma rica diversidade de qualidades espaciais. Posteriormente, pretende-se trabalhar o interior das unidades habitacionais e a imagem que o conjunto assumirá para a cidade, explorando possibilidades técnicas que permitam incorporar a variabilidade de tipologias e usos, pensando na multiplicidade de configurações familiares e nas necessidades do habitar.
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INTRODUÇÃO
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A CIDADE, O EDIFÍCIO E A SOCIEDADE
O espaço físico da cidade é resultado de processos sociais que, historicamente, se cristalizaram em forma urbana. A cidade é objeto de múltiplas visões e palco de incontáveis conflitos. É híbrida, fragmentada e complexa e deve ser compreendida de um ponto de vista multidisciplinar e abrangente, que incorpore suas complexidades e contradições. Antagonismos esses, no geral, de natureza social. Pensar a edificação urbana abrange , necessariamente, a sua relação com essa cidade e com essa sociedade. O edifício, enquanto matéria construída no espaço e no tempo, está permeado de uma dimensão simbólica, carrega informação materializada através de uma série de conhecimentos – construtivos, ambientais, artísticos, culturais, históricos, sociais, políticos e econômicos. O edifício tem compromisso com com a cidade que o abraça e com os indivíduos que o experienciam. Compromisso cujo caráter reside nas práticas sociais, no devir da urbanidade entendida a partir de seu princípio ético que pressupõe o bem-vir das alteridades, das diferenças.
A URBANIDADE Primeiramente, aborda-se a noção de “urbanidade” pela perspectiva de NETTO (2013). Por meio de uma aproximação dos campos de estudos urbanos e da filosofia, o autor traz considerações importantes acerca do tema que podem ser essenciais na construção de uma leitura sobre a cidade. Como o autor bem enfatiza, não existe em seu texto a pretensão de propor um entendimento único e definitivo para o conceito de urbanidade, mas sim, capturar traços da urbanidade, esboçá-la por meio de conexões entre conceitos filosóficos e urbanos, trilhando o caminho que se descreve a seguir. Primeiramente, a experiência da urbanidade é compartilhada, e está atrelada a um arranjo da vida coletiva situado no espaço físico das cidades. A cidade é o meio onde existe grande parte da sociedade, ela media formas de experienciar o mundo: o espaço e o tempo. E existe uma relação complexa entre temporalidade e os espaços físicos da cidade. Sendo as cidades diferentes entre si e as condições (físicas, geográficas, sociais, econômicas, etc.) dos indivíduos no interior de cada cidade também diversas, existem, no interior da cidade, inúmeros modos particulares de vivenciar o mundo. O espaço urbano, caleidoscópico, ampara essas múltiplas experiências individuais e as relaciona em modos de experiência em comum, a partir da “experiência do Outro”, ou seja, do contato entre os diferentes. Nesse momento, Netto está falando sobre a urbanidade como a copresença dos diferentes modos de ser mediada pelo espaço urbano e, assim, a questão da temporalidade torna-se fundamental. Sobre isso, o autor destaca que o espaço urbano, por sua lenta mutabilidade, é resultado presente de uma acumulação de ações passadas e da materialização física de
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A URBANIDADE COMO EXPERIÊNCIA DO MUNDO E DO OUTRO
urbanidades anteriores, e isso pode enriquecer a experiência da urbanidade atual. No entanto, a existência de diferentes experiências do tempo que caracteriza a estrutura da nossa sociedade – resultado da divisão social do trabalho e da segregação espacial – pode se configurar como um empecilho à urbanidade, uma vez que ela depende da temporalidade e da espacialidade do encontro entre diferentes. AS TENSÕES NO CERNE DO SOCIAL
Uma vez que a experiência da urbanidade é uma experiência social, está sujeita à complexidade do funcionamento da sociedade, às suas contradições e aos seus conflitos. Como a questão da temporalidade: diferentes grupos sociais experimentam o espaço urbano em tempos diferentes, dificultando o encontro, que está na essência da urbanidade. 12
Para Netto, compreender a condição urbana implica em reconhecer a existência dessas forças de diferenciação no interior da sociedade, advindas, antes de mais nada, das diferenças de classes: segunto ele, as relações funcionais de trabalho não provocam uma interação efetiva entre grupos sociais. Nesse sentido, o autor destaca duas forças de distanciamento: uma de formação de identidade a partir de similaridades e diferenciações entre indivíduos, que leva a uma outra de configuração de campos sociais mais ou menos homogêneos que interagem internamente, mas não entre si. Essas forças tensoras afetam as relações sociais e, portanto, colocam em risco a urbanidade. A URBANIDADE COMO TRANSCENDÊNCIA DAS DIFERENÇAS
Tendo reconhecido essas tendências à diferenciação, a urbanidade seria, então, um modo de compensação dessas tensões, uma “experiência de transcendência das diferenças sociais no momento do encontro, da interação e da imersão e participação em um mesmo contexto urbano, em uma mesma realidade
social e material.” (NETTO, 2013, p. 236). A urbanidade implica um modo de reduzir o estranhamento e de transcender momentaneamente as diferenças e, para isso, depende de espaços físicos urbanos que proporcionem a copresença, o reconhecimento e a interação entre diferentes. O autor coloca três formas ou momentos de superação dessas tensões, que configuram três dimensões da urbanidade: (i) dimensão fenomenológica: proporciona o reconhecimento do Outro a partir da sua presença em nosso campo de percepção; (ii) dimensão comunicativa: o espaço construído como meio onde se estabelecem interações entre os diferentes; e (iii) dimensão ontológica: quando há uma relação inerente entre práticas de atores socialmente diferentes e a espacialidade da cidade. Para Netto, a noção comum de urbanidade como “civilidade do convívio” é, em si, desespacializada, mas, uma vez que envolve o convívio de diferentes, a urbanidade depende de condições materiais e espaciais para acontecer. Não que a urbanidade possa ser induzida apenas através dos espaços, mas são necessários espaços urbanos que amparem a experiência e o reconhecimento do Outro em sua alteridade, bem como a comunicação livre de restrições para que ela aconteça e, portanto, a acessibilidade, a mobilidade urbana e a coesão (em contraposição à dispersão) são condições fundamentais. É necessário que haja a sobreposição de diferentes sociabilidades para que a urbanidade aconteça. Netto cita os exemplos de Copacabana, onde existe a copresença intensa de sociabilidades distintas, mas onde a intensidade da urbanidade é diluída pela presença da violência; e das favelas, onde as sociabilidades ocorrem de maneira intensa, mas não acontece o contato com diferentes estratos sociais. Os shoppings e os condomínios são perfeitos exemplos de anti-urbanidades, uma vez que não
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A CONDIÇÃO MATERIAL DA URBANIDADE
proporcionam fortes sociabilidades e nem o contato entre diferentes. DIFERENTES URBANIDADES
Se a urbanidade depende de condições espaciais e sociais e se essas condições na cidade são múltiplas, portanto, existem diferentes urbanidades. E essas urbanidades não podem ser captadas por uma análise meramente quantitativa:
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Quando entendemos que a relação entre forma de vida social e espacialidade vai além da copresença e da forma visível do espaço, para incluir a comunicação mediada por significados e uma relação com o espaço também mediada por informação social complexa, capaz de ser associada à atividades e referenciar a prática, as diferenças qualitativas latentes em diferentes espaços e formas de vida sobressaem como tão ou mais relevantes que as diferenças de intensidades. NETO, 2013, p. 237.
Ou seja, existe uma dimensão semântica contida no espaço e nas relações sociais que é fundamental para qualificar a urbanidade. Cada espaço, cada bairro e cada cidade tem sua urbanidade. Aqui, Netto coloca a urbanidade como uma propriedade, que pode, portanto, variar em intensidade e qualidade e, nesse sentido, fala sobre urbanidades, no plural, enquanto fruto das idiossincrasias que diferenciam as identidades dos espaços. PARA ALÉM DA MERA REPRODUÇÃO DO URBANO
Por fim, o autor coloca princípios éticos e políticos da urbanidade, uma vez que, ao reconhecer as diferentes urbanidades, nelas estariam inclusas as formas hostis, repressivas e violentas de relações sociais, o que entraria em choque com o potencial emancipatório da urbanidade e com sua dimensão de “civilidade do convívio”. Assim sendo, coloca a urbanidade como coexistência e bem-vir das alteridades e, nesse sentido, como um desejo de futuro, a urbanidade como devir do urbano: uma
urbanidade múltipla, plena e aberta.
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Assim, Netto constrói uma visão complexa sobre a urbanidade ao relacionar espaço físico, espaço social e questões semânticas. Em essência, entende-se a urbanidade como a experiência do Outro e, portanto, enquanto a simbiose dos diferentes modos de ser e a sua concretização só é possível conjugando essas diferentes formas de ser no tempo e espaço da cidade. O projeto que aqui se apresenta tem como intenção pensar a cidade pela ótica do devir da urbanidade, como colocada por Netto, o que reflete diretamente na opção pelo centro de São Paulo, na escolha do programa, bem como no partido do projeto.
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A TECTÔNICA
Amaral (2009) situa no século XVIII o início de uma consciência moderna das questões da construção, quando o conhecimento técnico construtivo ganha importância no entendimento da arquitetura, o que ela relaciona ao relacionado ao desenvolvimento das ciências do cálculo e à separação dos ofícios de arquiteto e engenheiro, que se traduziu na autonomia da técnica em relação à arquitetura. Naquele momento, surgiu uma nova sensibilidade estética, que associa a ideia de solidez aos conhecimentos construtivos, e não necessariamente à composição formal geométrica, arquitetônica. Essa nova sensibilidade colocada pela autora pode ser associada, por exemplo, à arquitetura das pontes, que começa a ganhar importância após a primeira Revolução Industrial. Sobre o século XIX, a autora fala de teóricos como Viollet-le-Duc e Auguste Choisy na França e Carl Bötticher e Gottfried Semper na Alemanha, que estabeleceram novas relações entre arquitetura e construção, enfatizando as colaborações dos dois últimos, alemães. Segundo ela, Bötticher propõe três noções para interpretar as formas da arquitetura da antiguidade grega: Werkform (werk: fábrica), Kunstform (kunst: arte), e Tektonik, sendo que esta última conjuga a dimensão artística e a estática, a materialidade da forma. No entanto, os conceitos dele explicam a arquitetura grega e não têm a pretensão de criar uma
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Neste momento, aborda-se os conceitos de tectônica e de edifício como medium informacional, pela visão de AMARAL (2009) e NASCIMENTO (2007). A primeira autora traça um percurso historiográfico sobre a construção moderna do termo tectônica, desde o século XVIII até as noções mais recentes de Frampton; e a segunda toma este conceito como partido para propor uma reaproximação da arquitetura às questões sociais a partir de sua dimensão expressiva e comunicacional.
teoria geral da arquitetura.
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Segundo a autora, o alemão Gottfried Semper foi o responsável por criar “uma verdadeira teoria da arquitetura” em sua dimensão material. Semper falava de uma arquitetura cuja forma é resultante de sua materialidade e elaborou uma teoria combinatória “4 x 4 x 4”, que associa quatro formas de arte primitivas (têxtil, cerâmica, carpintaria e estereotomia), a quatro materiais (tecido, argila, madeira e pedra) e a quatro elementos básicos que compõem a arquitetura (o hearth, ou o espaço, o podium ou o piso, o telhado e o fechamento). A partir disso, existiriam relações cruzadas entre o material, a técnica, a forma e o que ela representa. A combinação desses elementos daria uma premissa para uma teoria do desenvolvimento formal da arquitetura. Para Amaral, a teoria de Semper é importante porque considera, pela primeira vez, uma dimensão simbólica relacionada à materialidade da arquitetura: a expressividade da tectônica que vem, por um lado, das propriedades físicas dos materiais (elasticidade, flexibilidade, leveza, etc.) e, por outro, de referências externas que o material e a técnica podem incorporar. Já no século XX, Amaral (2009) acredita que a tectônica passou “do ostracismo à onipresença”. Para ela, os grandes teóricos do início do século (Zevi, Giedion, Corbusier) secundarizaram essa discussão em relação a noções como a de espaço, estrutura e função: “era desnecessário dizer que os meios construtivos deveriam ter uma relação direta com a forma, as técnicas e a física da construção.” (AMARAL, 2009, p. 159). Com a crise do modernismo, a tectônica ressurge como como crítica e assume o protagonismo do debate contemporâneo ao lado de outras questões como a história, o símbolo e a forma. Aldo Rossi e Robert Venturi com Denise Scott Brown, por exemplo, retomam a discussão sobre os aspectos simbólicos da arquitetura e Collins, Sekler e Anderson retomam o termo tectônica. Mas, para a autora, Kenneth Frampton seria o teórico responsá-
A arquitetura, para Frampton, encontra-se suspensa entre uma condição de realização humana e o desenvolvimento da tecnologia, exprimindo certos estados e condições, como a durabilidade, a instrumentalidade ou a condição mundana do homem. A tectônica, [...], é um modo pelo qual se podem exprimir esses diferentes estados e um meio para “acomodar” as diferentes condições pelas quais as coisas aparecem e realizam-se. AMARAL, 2009, p. 162.
O que mais chama a atenção nas discussões de Frampton e de Semper é que, como denota Amaral, esses autores, em diferentes momentos históricos, colocam no cerne da questão da tectônica a complexidade da relação entre forma e materialidade em arquitetura, relação essa que está inscrita numa esfera física e noutra simbólica. Nascimento (2007) parte disso para construir um entendimento do edifício como informação construída, e caracterizá-lo de um ponto de vista antropológico, de sua responsabilidade com a cidade e a sociedade. Nascimento (2007) coloca que existe um desequilíbrio na arquitetura contemporânea entre, por um lado, a plasticidade formal, a articulação espacial, o logicismo funcional, a expressão estética, a superação tecnológica, etc. e, por outro, as potencialidades de intenções sociais e culturais. Para ela, isso ocorre em
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vel pela “difusão da tectônica”, que ressurge como uma crítica a abordagem cenográfica do pós moderno, colocando em pauta a dimensão construtiva, tátil da arquitetura. Para ele, o edifício como objeto tectônico sintetiza uma dimensão ontológica (elemento técnico-estrutural) e uma representacional (elemento simbólico-estrutural). Ele atribui complexidade ao termo em si, ora usado como adjetivo, ora como substantivo; ora como qualificativo e ora como categoria abstrata. E sua reflexão sobre a tectônica, segundo Amaral (2009), mistura-se com sua reflexão sobre a noção de arquitetura em si. Para ele, a materialidade da arquitetura tem parte na própria experiência do homem na Terra.
resposta às demandas do mercado, à divisão social do trabalho e às práticas profissionais fragmentadas por interesses, conhecimentos e habilidades distintos, distanciando a arquitetura de sua função política e social. [...] construir edificações pressupõe um conjunto de conhecimentos – artísticos, ambientais, científicos, técnicos, sociológicos, econômicos, políticos e históricos – que se revelam no tempo e no espaço como informação. Esta, construída em torno de crenças, percepções, significações, simbologias, linguagem, sentidos e valores culturais é transferida pelas práticas sociais. NASCIMENTO, 2007, p. 97.
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Ou seja, para a autora, o edifício enquanto objeto construído, tectônico, não pode ser pensado fora de sua dimensão antropológica, uma vez que ele resulta de ações culturais e informacionais, interações sociais e significações simbólicas. Baseando-se na teoria dos quatro elementos básicos da arquitetura de Semper, Nascimento (2007) vê na noção de hearth o papel de atribuir significado simbólico às soluções técnicas, relação deixada de lado desde o Renascimento. Tendo dito isso, a autora busca, no pensamento de teóricos da ciência da informação, um rebatimento desse debate, um modo atual de pensar a edificação a partir de seu caráter informacional. “Se a edificação expressa a maneira de o homem se relacionar com o mundo [...], é porque são os sujeitos e suas práticas em seu tempo que dão forma ao objeto.” (NASCIMENTO, 2007, p. 102). Ou seja, or estar situada historicamente no espaço e no tempo, a edificação urbana é um aparato técnico que carrega informação, é informação construída. E essa informação se constrói, se transmite e se concretiza por aqueles que o desenham, executam-no e vivenciam-no, através de seus repertórios, suas vivências, suas sensibilidades e subjetividades. [...] olhar a edificação urbana como um medium informacional – um dispositivo técnico de conteúdo carregado de informação, a expressar as inter-relações artísticas, ambien-
A autora aborda o pensamento de Hjorland, teórico da ciência da informação dinamarquês, que se debruça sobre o tema dos campos coletivos de conhecimento (ou domínios de conhecimento) e das comunidades discursivas (agrupamentos de indivíduos em que existem afinidades discursivas, geradas por meio do compartilhamento social de elementos de diversos âmbitos). Segundo ela, Hjorland propõe uma abordagem que leva em consideração as dimensões social, histórica e cultural da informação, partindo do reconhecimento de que comunidades discursivas são compostas de atores individuais, com suas singularidades e convergências. No caso do edifício enquanto informação construída, esses atores seriam seus usuários, sua “vizinhança” – as pessoas da cidade – e também todos aqueles envolvidos em seu processo de produção, operação e manutenção. Apesar das críticas de Nascimento à arquitetura contemporânea, a discussão da tectônica está presente no cerne da produção de diversos escritórios brasileiros e internacionais da cena atual. E assim também estará na essência do projeto que aqui se apresenta. A ideia é de que a imagem da arquitetura pode resultar de sua materialidade, de sua tectônica, e, estanto essa arquitetura intrinscecamente relacionada com a cidade, o edifício tem o potencial de comunicar, de dialogar com as preexistencias e com aqueles que a experienciam.
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tais, científicas, técnicas, sociológicas, econômicas, políticas e históricas, e, em sua tectonicidade, abriga as relações e práticas sociais, além de manifestar visões de mundo da sociedade. NASCIMENTO, 2007, p. 97-98.
O ESPAÇO FÍSICO APROPRIADO
As contradições de classe se colocam no espaço urbano, por exemplo, pela distribuição (ou concentração) geográfica de bens e serviços, e do diferente grau de acesso dos indivíduos a esses bens e serviços de acordo com o capital que eles possuem, configurando o que Bourdieu chama de espaço físico apropriado – a relação entre espaço físico e social. O capital é entendido por Bourdieu a partir de seu aspecto material e pelas suas dimensões simbólicas (o capital cultural, o capital social e o capital econômico) e funciona, simultaneamente, como objeto e instrumento de luta no conjunto dos campos. A disposição, no espaço físico, dos indivíduos, dos bens e dos serviços define o valor diferencial dos locais no espaço apropriado, e a possibilidade de acesso (material ou simbólico) do sujeito aos locais (públicos ou privados) está diretamente associada às formas de capital que ele detém ou não detém. Muito da sociologia de Bourdieu está pautado na forma como ele compreende o sujeito historicamente por suas determinações sociais através do conceito de habitus, entendido como um conjunto de disposições que o indivíduo assimila das estruturas do mundo social. O habitus é o que molda a personalidade, o
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Para Bourdieu, os seres humanos sendo, ao mesmo tempo, indivíduos biológicos e agentes sociais, ocupam um lugar no espaço físico, bem como no espaço social, podendo ser caracterizados pela posição que ocupam (fisicamente e socialmente) em relação aos outros e pela distância que os separa. Segundo ele, o espaço construído é uma manifestação material das relações sociais: “O espaço social não é o espaço físico, mas ele tende a se realizar de forma mais ou menos completa e exata nesse espaço.” (BOURDIEU, 2013, p. 136). E, assim sendo, o espaço físico é expressão das oposições sociais, é um lugar onde se dá o exercício e a afirmação das relações de poder.
pensamento e condiciona as ações do sujeito, é o que o torna um ser social. Ou seja, a existência do sujeito é moldada e condicionada por sua posição relativa no espaço social que, por sua vez, está concretizado no espaço físico. Assim, se (i) o espaço construído é manifestação material das oposições sociais e local de exercício das relações de poder; (ii) a sua materialidade lhe confere permanência e (iii) a posição social do indivíduo o condiciona por meio do habitus; então a conformação da cidade e do edifício corrobora para a manutenção das estruturas sociais e para a alienação do habitus do sujeito.
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[...] o lugar e o local ocupados por um agente no espaço físico apropriado constituem excelentes indicadores de sua posição no espaço social. É preciso notar, de passagem, que uma parte da inércia das estruturas constitutivas do espaço social resulta do fato de que elas estão inscritas no espaço físico, e só podem ser modificadas à custa de um trabalho de transplantação, de uma mudança das coisas, e de um desenraizamento ou de uma deportação das pessoas - operações necessariamente custosas. BOURDIEU, 2013, p. 134.
Ou seja, é no âmbito do espaço físico apropriado de Bordieu que se relacionam as dimensões da urbanidade e da tectônica. Para Bourdieu, o espaço físico urbano é a expressão mais ou menos direta do espaço social e de suas contradições. Mas essa não é uma relação de mão única. Uma vez que o espaço construído configura permanência, ele pode corroborar para a reprodução e para a manutenção das relações sociais ou, por outro lado, tem o potencial de tensioná-las e de gerar novas práticas sociais. Como já abordado, partindo do entendimento de urbanidade enquanto copresença dos diferentes modos de ser, a sua concretização se dá conjugando as diferentes formas de ser no tempo e espaço da cidade. No entanto, como denota Bourdieu, a mera copresença de grupos sociais distinto pode apenas ge-
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rar mais segregação e conflitos, uma vez que nem todos detêm capital para efetivamente habitar todos os lugares. Ou seja, não é apenas a condição da coexistência que gera urbanidade. É necessario, para além de possibilitar a coexistência, incitar interações por meio da forma arquitetônica, do programa, dos fluxos e de relações simbólicas que podem vir da tectônica e da dimensão comunicacional da edificação urbana.
APROXIMAÇÕES METROPOLITANAS
Sobre São Paulo, é importante destacar o papel da metrópole enquanto pólo industrial, econômico, financeiro, cultural, etc. de escala nacional, inserindo-se, inclusive, no cenário internacional das “cidades globais”. Sua centralidade, nas mais diversas escalas, se consolida pela convergência: de fluxos, de pessoas, de bens, do capital. Consequentemente, tem-se a convergência de interesses, que resulta em conflitos, mas que também pode ser vista como urbanidade em potencial.
Para projetar no centro de São Paulo, é indispensável compreender as dinâmicas socioespaciais por que passam a metrópole e as demais cidades brasileiras nas últimas décadas e que vêm reforçando a desigualdade no acesso ao espaço urbano. Desde os anos 1980, diminui o ritmo de crescimento populacional das metrópoles no Brasil. Suas periferias crescem mais do que seus centros e, em São Paulo assim como no Rio, os seus bairros centrais apresentam taxas de crescimento negativas. As cidades brasileiras sofreram o impacto do declínio econômico e da reestruturação produtiva neoliberal no cenário internacional e as desigualdades e a exclusão históricas se acentuaram. Em São Paulo, cresceram as taxas de desemprego e violência, e a população de baixa renda, cada vez mais, foi forçada a migrar para a periferia longínqua. Como indica MARTINS (2011), é preciso entender que o esvaziamento populacional dos centros urbanos é um processo contemporâneo, correlato à expansão periférica das cidades, e que esse padrão de crescimento tem suas raízes na história, aludindo ao início do processo de urbanização das cidades brasileiras. Início esse que remete ao final do século XIX e, como mostra MARICATO (2001), foi impulsionado pela emergência da propriedade privada e do trabalhador livre, pela proclamação da República e pelo desenvolvimento industrial, num primeiro momento ligado às atividades agrárias. No decorrer do século XX, a urbanização se intensificou no Brasil, a princípio pelas reformas urbanas de saneamento básico e embelezamento em cidades como São Paulo e Rio e, posteriormente, com os estímulos ao desenvolvimento da indústria, mas em nenhum momento isso foi sinônimo de um acesso democrático à cidade e à moradia. São Paulo cresceu a partir de uma lógica espacial baseada no
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URBANIZAÇÃO E MORADIA
modelo rodoviarista de transporte, reforçado na opção pelo radiocêntrico Plano de Avenidas de Prestes Maia da década de 1930 em detrimento do Plano da Light. A partir de então, assim como em muitas outras cidades brasileiras, observou-se uma expansão horizontal, desmedida e esparsa. Segundo BURGOS (2009), esta expansão foi pautada no binômio loteamento-rodovia e marcada pela periferização da população pobre, que se desloca diariamente dos “bairros dormitórios” para seus locais de trabalho. O centro, valorizado, veio a se consolidar enquanto pólo econômico e financeiro, e essa população foi historicamente forçada a migrar para as periferias, onde a única opção de moradia que lhes restou foi a autoconstruída, em áreas precárias e/ou ambientalmente frágeis.
30 Região Metropolitana: taxa geométrica de crescimento (TGC) de 1991 a 2000. Fonte: Moradia é Central, 2009. Elaboração própria.
E assim, historicamente, o local de reprodução da força de trabalho e da pobreza nas cidades brasileiras foi a periferia distante e sub equipada. Mas num contexto mais recente, observa-se um movimento de migração das classes médias e mais abastadas das áreas centrais. Fugindo dos problemas da violência, dos congestionamentos, dos espaços públicos degradados pelo constante fluxo de pessoas, enfim, do cenário caótico do cotidiano do centro, essas pessoas buscam por novos territórios mais adaptados ao padrão de consumo contemporâneo e deslocam-se no espaço urbano criando novas centralidades. E nesse contexto em que, como aponta Burgos (2009), cada vez mais, a periferia “usa” o centro, os centros tradicionais têm sido esvaziados de moradores e de seu significado, e seus espaços 1 Segundo dados do governo do estado e do município, até 1997 foram construídas 151 mil habitações pela COHAB e pelo CDHU, 62% na Zona Leste e nenhuma no centro. Fonte: Moradia é Central, 2009.
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Burgos (2009) indica, ainda, que partir dos anos 1970, no regime militar e com a ação do BNH, o poder público passa a contribuir com esse processo de periferização da pobreza pela construção dos grandes conjuntos populares em áreas afastadas que, mesmo voltados para as famílias de baixa renda, segundo a autora, não atingiram a essência da problemática habitacional e não contiveram os processos da autoconstrução e da favelização. As áreas urbanizadas com grandes conjuntos na zona leste de São Paulo, por exemplo, só estenderam a periferia para muito mais distante da cidade1. Os governos municipais, ao invés de atentar para os vazios urbanos existentes (terras da especulação imobiliária), jogaram ainda mais a população carente para áreas inadequadas ao desenvolvimento urbano, penalizando tanto os moradores com a distância e o isolamento quanto os contribuintes, que arcaram com os custos das obras de extensão da infraestrutura.
públicos foram sendo abandonados, degradados, aumentando a sensação de insegurança e reforçando uma imagem negativa no imaginário popular. As atividades informais se intensificaram nessas áreas, e formou-se um mercado consumidor popular que trabalha e consome n(o) centro de forma precária. O que se assiste em cidades como São Paulo é a subutilização de áreas na cidade que já são dotadas de infraestrutura e equipamentos, que se expressa na forma de domicílios vagos e lotes subutilizados. Isso porque o mercado para os quais os imóveis do centro foram produzidos não está mais ali. A visão patrimonialista muitas vezes descolada de programas específicos e investimentos de requalificação colabora para que esses edifícios permaneçam vazios. O efeito mais perverso disso é o paradoxo
32 Região Metropolitana: porcentagem de domicílios vagos. Fonte: Moradia é Central, 2009. Elaboração própria.
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Centro Histórico: patrimônio Fonte: Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Elaboração própria.
do “muita gente sem casa e muita casa sem gente”: enquanto o déficit habitacional no país andava, no início da década passada, na casa de 7 milhões de novas moradias, existiam aqui, na mesma época, cerca de 5 milhões de domicílios urbanos vagos. Só em São Paulo, 400 mil, e apenas na região central do município mais de 200 prédios inteiramente vagos (Moradia é Central, 2009).
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O Estatuto da Cidade, presente na Constituição Federal desde 2001, reconhece em todo o território nacional o direito social à moradia como parte do direito à cidade. O direito à moradia entendido não apenas como a posse de quatro paredes e um teto, mas também como acesso a um local salubre, com condições mínimas à sobrevivência, seguro e ao alcance de serviços públicos básicos (educação, saúde, cultura, lazer, esporte, transporte). Mas existe uma lacuna imensa entre a teoria e a prática, entre a legislação e a realidade. O que se observa na prática é
Município: oferta de empregos x vulnerabilidade social. Fonte: Mapa da Desugualdade, 2017. Elaboração própria.
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Centro Histórico: uso predominante do solo. Fonte: Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Elaboração própria.
que as áreas centrais, onde se concentram esses serviços, bem como as oportunidades de emprego, são na verdade alvos de planos de gentrificação, como é o caso do Operação Nova Luz, em São Paulo. Para Burgos (2009), esse tipo de iniciativa representa parte da sociedade civil e do Estado que se mobilizam no sentido de atrair investimentos privados e “revitalizar” o centro em termos sobretudo econômicos, se colocando na posição de um confronto direto com a pobreza urbana ali presente.
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Enquanto isso, na produção atual de moradias populares no Brasil, destaca-se o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), do Governo Federal. Ele consiste em políticas públicas que visam garantir o acesso à moradia própria e se dá por meio de parcerias entre estados federativos, municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos. O programa é fundado na premissa da casa própria, e traduz-se, para o cidadão, como condições especiais de financiamento que vão de isenção total de custos até o parcelamento extensivo do custo da moradia, dependendo da condição socioeconômica da família. No entanto, no MCMV, a produção da moradia é de responsabilidade de empresas do setor da construção civil e o resultado disso, na prática, são novamente grandes conjuntos habitacionais massificados, afastados da cidade e isolados no território, distantes da infraestrutura urbana e dos serviços públicos, com unidades mínimas e de pouca ou nenhuma variação ou flexibilidade. Significa a limitação do habitar ao provimento de moradia em quantidade, alheio tanto às dinâmicas da cidade quanto às especificidades das famílias e agrupamentos de indivíduos, um anti-exemplo de lar, de urbanidade e do direito à cidade. O que leva ao reconhecimento de que, sendo a moradia um direito social garantido por lei, a produção habitacional deve ser responsabilidade do Estado em suas múltiplas instâncias, e não pode estar submetida aos interesses de grandes empresas e ao funcionamento do mercado, devendo ainda ser acompanha-
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Centro Histórico: densidade demográfica. Fonte: Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Elaboração própria.
da de políticas públicas que visem a sua viabilidade e consolidação. É necessária a aplicação dos instrumentos previstos nos planos diretores municipais para que os imóveis subutilizados em áreas dotadas de infraestrutura sejam destinados à produção de habitação popular, e que sejam concedidos subsídios e financiamentos para garantir o acesso da população de baixa renda à essas moradias, fazendo jus ao que é previsto no Estatuto da Cidade.
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Somente assim se faz possível o projeto que aqui se propõe, atingindo grupos de pessoas em situação de vulnerabilidade, trazendo a Habitação de Interesse Social para o centro, onde existem postos de trabalho, infraestrutura, serviços e disponibilidade de espaço, e levando à diversidade que está no âmago da urbanidade. Habitar o centro da metrópole significa oferecer o direito à cidade ao povo e uma oportunidade de ressignificar um espaço que se encontra em degradação.
Município: habitação informal. Fonte: Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Elaboração própria.
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400
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Centro Histórico: ZEIS e cortiços Fonte: Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Elaboração própria.
A ÁREA DE PROJETO
Para KOOLHAAS (2010), em A Cidade Genérica, o fator histórico dos centros tradicionais aprisiona a cidade e a priva de seu desenvolvimento. Ao pensar no processo de convergência pelo qual passam as cidades numa escala global, o arquiteto acredita que a identidade entendida enquanto partilha de um passado materializado na arquitetura, esgota-se na medida em que a população aumenta e o que se partilha torna-se menor, proporcionalmente. Para ele, a identidade tem um fator centralizante, e entra em contradição pelo embate entre a inevitabilidade da modernização e a necessidade de permanência, que acaba por gerar uma identidade não mais autêntica, a exemplo do que acontece nos centros históricos turistificados. Koolhaas (2010) enxerga com otimismo a cidade que se liberta dessa necessidade de manutenção e pode ser pura modernização, mas o que interessa aqui é que ele indica a existência de um nas áreas centrais da metrópole entre a necessidade de permanência e a inevitabilidade da modernização. E esse paradoxo faz parte da problemática que se observa, hoje, no centro histórico de São Paulo, como já abordado, e que resulta no seu esvaziamento, uma vez que a região tem sua forma fortemente cristalizada pelo tempo, pela visão patrimonialista, pelo alto valor da terra, não sendo capaz de se adaptar às necessidades contemporâneas.
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O Centro Histórico de São Paulo, onde insere-se o projeto que aqui se propõe, é um bairro da zona central do município, que corresponde aos distritos da República e da Sé, estando contido na subprefeitura da sé. Ali se concentram pontos turísticos históricos, arquitetônicos, culturais, além de edifícios governamentais e administrativos. Trata-se de uma região bastante complexa, cheia de camadas temporais cristalizadas no na forma urbana e que são a memória viva da história do município.
Não que os patrimônios e a memória ali existentes não tenham importância ou não devam ser respeitados. Muito pelo contrário, o esforço de identificá-los, catalogá-los e conservá-los é de extrema relevância, mas mantê-los em pé não é o suficiente para gerar a identidade e garantir a sua integridade. É necessário que o centro se adapte às necessidades da sociedade contemporânea e que a questão da memória caminhe lado a lado com o desenvolvimento. Como já foi abordado, no centro histórico existe abundância de infraestrutura, equipamentos, serviços e empregos, e também de espaços subutilizados que têm enorme potencial construtivo e que poderiam servir, por exemplo, de moradia para a população que ali trabalha e hoje vive na periferia distante.
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Hoje, no centro histórico, predominam as atividades comerciais, financeiras, administrativas, de lazer e de cultura, de abrangência municipal e metropolitana, o que reforça a lógica de consumir o espaço do centro, e não de habitá-lo. O projeto que aqui se apresenta vem contestar essa lógica e tem por desafio trazer um conjunto habitacional popular para o centro, fazendo disso uma oportunidade para requalificar seus espaços públicos e gerar novas urbanidades, tudo isso em consonância com a pré-existência complexa da região. Para isso, a área selecionada para o projeto em questão é um polígono de aproximadamente 65.000m², que abrange um conjunto de sete quarteirões de formatos irregulares situados no limite entre os distritos da República e da Sé a sul, entre a rua Riachuelo, nos fundos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e a rua Dona Maria Paula, na vizinhança do terminal Bandeira, importante terminal de ônibus de abrangência metropolitana. A área chama atenção pela concentração de espaços subutilizados que se evidencia na presença de ZEIS 3 e ZEIS 5. ZEIS, ou Zonas Especiais de Interesse Social são instrumentos do Plano Diretor Estratégico (PDE) de 2014 que visam destinar áreas da
CENTRO HISTÓRICO
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SUBPREFEITURA DA SÉ
SÃO PAULO
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cidade para proporcionar moradia digna para a população de baixa renda, seja por meio de intervenções urbanísticas, de regularização fundiária, ou pela provisão de moradia popular (Habitações de Interesse Social, Habitações de Mercado Popular) e infraestrutura, áreas verdes, serviços e equipamentos urbanos. ZEIS 3 consistem em “áreas com ocorrência de imóveis ocioso, subutilizados, não utilizados, encortiçados ou deteriorados em regiões dotadas de serviços, equipamentos e infraestrutura”, e ZEIS 5 são “lotes ou conjuntos de lotes, preferencialmente vazios ou subutilizados, situados em áreas dotadas de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas” (PDE, 2014). Assim, esses instrumentos denotam a presença de áreas e edifícios subaproveitados em áreas estruturadas da cidade, ou seja, porções de terra que não cumprem com o Área de projeto: de cima para baixo, 1930, 1954 e atual. Fonte: Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Elaboração própria.
seu papel social.
Conjugando a necessidade de preservação do patrimônio arquitetônico e de promoção de moradia popular, fala-se, inclusive, de estudar a possibilidade de “retrofit” de imóveis subaproveitados para atender a demanda de habitação de interesse social e, especificamente na área de projeto já existem dois projetos recentemente concluídos de readequação de edifícios abandonados para uso habitacional: o edifício Riachuelo, antigo prédio de escritórios que foi reformado para receber 120 unidades de HIS, e o Conjunto Habitacional Asdrúbal II/ Edificio Mário de Andrade, que foi desapropriado pela Cohab, reformado e hoje integra a o Pograma de Locação Social do município. Em visita à área de projeto foram identificados uma diversidade enorme de acontecimentos urbanos das mais variadas ordens, como é característico do centro de São Paulo: grandes edifícios, protagonistas visuais da paisagem como o Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal de São Paulo, ou ainda o enorme Edifício Planalto, projeto de Artacho Jurado; vias estruturais para o trânsito metropolitano como a 23 de Maio e a 9 de Julho; os viadutos do Jacareí e o Dona Paulina; a sede da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco; além de diversos edifícios de relevância arquitetônica, histórica e patrimonial.
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No âmbito do PDE de 2014, o recorte em questão está inserido no setor central da Macroárea de Estruturação Metropolitana, na macrorregião Centro-Oeste, nas dependências da subprefeitura da Sé. Em todas essas escalas, o PDE e o Plano Regional da Subprefeitura da sé reforçam que trata-se de “uma das regiões mais bem servidas de infraestrutura e serviços públicos da cidade”, onde se faz necessária a requalificação de áreas degradadas associada à implementação de habitações para todas as faixas de renda. Coloca-se a necessidade de gestão e qualificação dos espaços públicos e de promover a recuperação urbana em paralelo com a preservação dos bens tombados.
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Imagem aérea do recorte de projeto. Fonte: Google Earth. Elaboração própria.
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Centro Histórico: cheios e vazios Fonte: Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Elaboração própria.
Dentre os acontecimentos observados, que podem servir de insumo para o projeto, cabe destacar:
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»» O terminal Bandeira, que é um importante terminal de ônibus de abrangência metropolitana que existe entre as avenidas 9 de Julho e 23 de Maio, no final do Vale do Anhangabaú, onde, no século XIX, existia o Largo do Bixiga, local de comércio de escravos e mercadorias. Em meados do século XX, a região concentrava grande parte do trânsito entre as zonas norte e sul, principalmente com o surgimento da Av. 23 de Maio, e, pelas tentativas de resolver essa questão, a área foi se tornando um entroncamento viário complexo, pouco ou nada convidativo ao trânsito de pedestres. Com as mudanças viárias, pontos finais de várias linhas de ônibus foram transferidos para ali, dando origem ao rerminal e o problema da travessia de pedestres se intensificou, o que fez necessária a implantação de passarelas e de um pequeno edifício de acesso, que foram inaugurados em 1988, na gestão Jânio Quadros. Hoje, trata-se de uma área onde se depositam camadas e camadas de fluxos em diferentes níveis: ruas, passarelas, viaduto e até passagem subterrânea que geram um nó complicado, mas que conta a história do desenvolvimento rodoviarista da cidade de São Paulo. »» A Travessa Noschese, que se situa bem no meio da área de projeto e é uma rua estreita e angulosa onde funcionou, no século passado, uma vila operária e a sede da Sociedade Anônima Comércio e Indústria “Souza Noschese”, cuja fábrica produzia artigos domésticos em ferro esmaltado. Pouco resta da paisagem original da travessa além da rua em si, adaptada para receber o fluxo de carros, com calçadas estreitas e irregulares. Com o passar do tempo, após o encerramento das atividades da indústria na década de 1930, os galpões fabris foram utilizados como estacionamento e, recentemente, foram demolidos. As moradias
»» Os casarões da Rua Santo Amaro, que são dois sobrados restantes de uma sequência de residências geminadas situadas na então estrada que ligava o centro de São Paulo ao então município de Santo Amaro. Os sobrados que sobreviveram, um situado na esquina com a Travessa Noschese e outro alguns metros acima, acredita-se, foram construídos no início do século XX como moradias e se encontram em bom estado de conservação, apesar de suas fachadas terem sido um pouco descaracterizadas: no primeiro, funciona uma lanchonete no térreo e o andar de cima encontra-se aparentemente desocupado e o segundo é de propriedade do SEESP, Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, e encontra-se sem uso e mais degradado do que o
Ao fundo, o terminal bandeira e suas passarelas, a frente os sobrados da rua Sto. Amaro, rodeados de espaços subaproveitados. Fonte: Google Maps.
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dos operários, feitas em estilo colonial neoclássico, com portões exibindo art nouveau, também foram demolidas em sua maioria (inclusive algumas muito recentemente), dando lugar a estacionamentos e restando apenas uma, que se encontra em péssimo estado de conservação.
1. Largo do Bixiga, 1860.
2. Panorâmica do largo do 50 4. Largo do Bixiga, Praça da Bandeira e atual terminal Bandeira, 1935, 1952 e 1974.
5. Ao centro, a anti esquerda, o edifício
3. Rua Santo Amaro, 1927.
iga subestação da Light; à o Riachuelo, anos 1950.
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o Riachuelo, 1920.
Fontes das imagens: 1. http://bixigaamoremio.blogspot. com <acesso em 13.06.2019> 2. São Paulo em Foco, no Facebook. 3. www.saopauloantiga.com.br <acesso dem 13.06.2019> 4. CONCLI, R. Resistências e conflitos marcam a gentrificação em São Paulo. Disponível em: https://paineira.usp.br/aun/index. php/2018/02/07/resistencias-e-conflitos-marcam-a-gentrificacao-em-sao-paulo/ <acesso em 13.06.2019> 5. www.saopauloantiga.com.br <acesso em 13.06.2019>
Sobrado da rua Sto. Ama Noschese.
Rua AsdrĂşbal do Nascimento.
SaĂda da travessa Nosche
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Terminal bandeira.
Sobrado da rua Sto. Amaro.
ese.
Rua D. Maria Paula.
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aro e entrada da travessa
Levantamento fotográfico. Elaboração própria, 2019.
primeiro. Entre eles, onde um dia houveram outros sobrados e há pouco tempo funcionava um estacionamento, está em fase inicial um empreendimento imobiliário que, pelo projeto, terá 13 andares de apartamentos, ignorando completamente a existência dos sobrados que são bem tombados ao desconsiderar o gabarito dos mesmos e o impacto que um edifício dessa altura gera entre eles.
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»» O Edifício Garagem América, que foi inaugurado com 1954 e foi o primeiro prédio, com 16 andares, em estrutura metálica projetado, fabricado e montado no Brasil, e também a primeira garagem vertical do município de São Paulo. O projeto é de Rino Levi, a pedido de Francisco Cintra Gordinho, e situa-se entre a rua Riachuelo, aos fundos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e a Avenida 23 de maio, num lote com desnível bastante acentuado: o oitavo andar da Avenida 23 de maio é o nível de acesso pela Rua Riachuelo. O edifício conta com 500 vagas e um sistema de rampas em helicoidal dupla, de forma que a rampa para subida e a rampa para descida ocupam o mesmo lugar em planta, mas não se cruzam. O uso do sistema híbrido de lajes de concreto e estrutura em aço se deu pelo aproveitamento máximo da área do lote, por conta dos pilares mais esbeltos e vãos maiores, e o pioneirismo do projeto de Rino Levi levou ao tombamento do edifício pelo CONDEPHAAT em 2016. No entanto, como denotam FAJER e ALVIM (2017, p. 11), “O estado de conservação do edifício atualmente não é bom. Além do fato de que muitos dos elementos originais do projeto não foram nunca executados, o edifício garagem demanda reparos consideráveis para a preservação de sua estrutura original.”. Isso tudo, é claro, além dos acontecimentos que estão ali presentes e que não podem ser vistos, como é o caso dos córregos Itororó, Bixiga e Anhangabaú, que encontram-se tamponados.
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Por fim, o que desperta a vontade de propor um projeto para esse lugar é o reconhecimento de que trata-se de uma área complexa, cheia de camadas físicas e temporais e, sobretudo, com muito potencial: para além das ZEIS já mencionadas, existem, nesse conjunto de quadras, uma série de outros lotes com estacionamentos, galpões ou edifícios comerciais de um ou dois pavimentos, numa região da cidade onde o potencial construtivo é muito maior do que isso, além de áreas públicas degradadas e espaços residuais. Os casos de “retrofit” citados existentes na área de projeto são ações pontuais que adensam a justificativa de ali propor habitação de interesse social. Mas num território com tamanho potencial, se faz possível pensar numa intervenção maior e mais efetiva, que seja mais do que a soma de ações pontuais e que esteja atrelada ao desenho de espaços públicos, na intenção de promover a urbanidade. Assim sendo, o desafio que este projeto encara é o de, sem remoções, propor um conjunto habitacional com unidade arquitetônica e integrado na morfologia do centro de São Paulo, tirando proveito de espaços subaproveitados, desenhando edifícios em sinergia com os espaços livres e com o edificado, requalificando a paisagem da região, valorizando as pré-existências e propondo novos fluxos e conexões.
UMA PERSPECTIVA DE URBANIDADE EM HABITAR O CENTRO DE SÃO PAULO
O PROJETO
»» primeiramente, tem-se um conjunto de quadras - que, um dia, já foram uma só - delimitado pelas ruas Dona Maria Paula, Santo Amaro e Asdrúbal do Nascimento e cortadas pela histórica travessa Noschese. Esse setor é onde se concentram os lotes subutilizados na forma, principalmente, de estacionamentos particulares térreos. Na rua Dona Maria Paula existe uma fachada edilícia bem consolidada com edificações altas, no geral geminadas, de até 20 andares, com térreos comerciais e existem apenas dois vazios na volumetria: uma fenda gerada por dois lotes estacionamentos vizinhos entre as empenas dos prédios, e o arremate da quadra na av. Brigadeiro Luís Antônio, onde funciona um posto de combustível. Em compensação, na rua Asdrúbal do Nascimento e na travessa Noschese, existem alguns prédios pontuais intercalados com grandes vazios - inclusive alguns deles considerados ZEIS 3 e ZEIS 5 pelo PDE de 2014 -, o que torna esse conjunto bastante ambíguo em termos de volumetria. Neste setor, onde existe muita área subaproveitada, é onde deverá se concentrar a maior parte da intervenção. »» ademais, tem-se uma série de quadras de formatos irregulares que são, na verdade, espaços residuais resultantes da implantação da av. 23 de Maio. Nessas quadras existem:
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O projeto que aqui se apresenta parte de uma leitura do território em diferentes escalas: da metrópole, do seu centro e do entorno imediato da área. Como já abordado, trata-se de um lugar com muito potencial pela existência de espaços subutilizados e por sua localização absolutamente central, próxima de equipamentos e serviços e 100% dotada de infraestrutura. Para melhor compreender a morfologia do local, é possível analisá-lo por partes:
uma praça que encontra-se bastante degradada, seguida por um posto de combustível, algumas edificações, uma quadra inteira de pequenos galpões e estacionamentos uma ZEI 3 - e alguns espaços permeáveis, na proximidade do viaduto Brigadeiro Luís Antônio simplesmente residuais por sua topografia acentuada. Esse conjunto de espaços está situado ao longo do córrego Itororó, que corre tamponado sob a avenida e tem grande potencial de sistema de espaços livres permeáveis, podendo estabelecer, ainda, uma conexão entre espaços públicos já existentes no centro.
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»» por fim, tem-se a quadra compreendida entre a av. 23 de maio e a Rua Riachuelo, onde existe uma massa edificada bastante densa, sem muitos vazios - à exceção de uma nesga de espaço residual - e com alguns edifícios de interesse patrimonial, entre eles o edifício Garagem América, de projeto de Rino Levi. Como já abordado, ele se situa nos fundos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, atravessando o quarteirão, e encontra-se em mal estado de conservação. Por sua situação, o edifício tem potencial de ser reformado para uso público e, ainda, de estabelecer uma ligação da Rua Riachuelo - a faculdade - e as demais quadras da área de projeto. Cabe ressaltar que a Rua Riachuelo, que tem uma queda acentuada, no momento do edifício garagem, está praticamente na mesma cota que a rua Dona Maria Paula, do outro lado da área de projeto, o que reforça um potencial de Fonte: Google Earth. Elaboração conexão. própria.
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Centro Histórico: Espaços públicos. Fonte: Viva o Centro São Paulo, 1996. Complemento e elaboração próprios.
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63 Área de Proreto: camadas de análise. Elaboração própria.
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outros 2.600m²
C.O. Médio C.A. Médio
0,81 5,65 serviços 73.160m²
área total construída 147.721m²
habitacional 53.599m²
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institucional 18.362m²
Área de Proreto: uso e ocupação do Solo. Fonte: TANAKA, N. Habitação Social no Centro: um projeto de qualificação urbana. TFG-FAU/USP, 2012. Atualização, complemento dos dados e elaboração próprios.
N
O projeto tem a intenção de desenhar espaços públicos, locais da urbanidade, por meio da arquitetura, privilegiando o fluxo de pedestres e tomando proveito de espaços subutilizados, como os de miolos de quadra. Para tanto, o primeiro gesto é conjugar as quadras viárias no interior da área de projeto, minimizando os espaços residuais do sistema viário e assumindo uma maior liberdade no desenho dos espaços públicos. Apenas é mantida uma rua de carros, no local onde hoje existe a travessa Grassi, para a qual se propõe um alargamento visando possibilitar o acesso de carro da av. 23 de Maio para o viaduto Brigadeiro Luís Antônio, e vice versa.
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Tendo esse pressuposto, o partido do projeto é a permeabilidade da quadra ao pedestre e os espaços de estar públicos centrais, aproveitando o miolo do quarteirão. Assim como na Praça das Artes, do Brasil Arquitetura, a ideia é propor novas qualidades para esses espaços mas, no caso, associando ao programa da habitação. Assim, se estabelecem fluxos e estares no interior da quadra, traçando costuras no tecido urbano que se estruturam em diferentes níveis. Volumetricamente, sete edifícios de habitação se colocam paralelos entre si, perpendiculares à rua Asdrúbal do Nascimento, a partir da qual tem-se os acessos dos mesmos. Um outro desenha a esquina da mesma com a rua Dona Maria de Paula, conferindo um arremate para ambas. E um outro conecta esta última com a rua Santo Amaro, tomando a perpendicular de ambas e criando uma fachada côncava que se volta para o centro da quadra. edifícios propostos terraços jardim edifícios existentes passarela espaços livres verdes
Implantação geral N 0 10
20
40
80m
B
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A
A
B
755.0
755.0
Corte BB (esquemático)
LEGENDA 1. Hall de acesso às habitações. 2. Habitações. 3. Comércios e serviços.
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MIDIATECA 4. Sobrados da Rua Sto. Amaro, adaptados ao programa da midiateca. 5. Blocos novos da midiateca. EQUIPAMENTO DE ESPORTES 6. Bloco novo do equipamento. 7. Bloco inferior do edifício garagem América, adaptado ao programa dos esportes. 8. Bloco superior do edifício, onde permanece o programa de estacionamento. ÁREAS LIVRES A) Praça de eventos. B) Passarela de pedestres. C) Espaço de feiras. D) Sistema de espaços verdes. E) Pátio midiateca. F) Praça comercial.
acesso equipamentos acesso habitações circulação vertical espaço do pedestre passarelas travessa Noschese galerias espaços livres verdes terraços jardins logradouros privados
Planta geral: cota 755.0 (nĂvel da rua Riachuelo) N 0 10
20
40
80m
B
69
A
A
B
745.0
745.0
Corte BB (esquemático)
LEGENDA 1. Hall de acesso às habitações. 2. Habitações. 3. Comércios e serviços.
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MIDIATECA 4. Sobrados da Rua Sto. Amaro, adaptados ao programa da midiateca. 5. Blocos novos da midiateca. EQUIPAMENTO DE ESPORTES 6. Bloco novo do equipamento. 7. Bloco inferior do edifício garagem América, adaptado ao programa dos esportes. 8. Bloco superior do edifício, onde permanece o programa de estacionamento. ÁREAS LIVRES A) Praça de eventos. B) Passarela de pedestres. C) Espaço de feiras. D) Sistema de espaços verdes. E) Pátio midiateca. F) Praça comercial.
acesso equipamentos acesso habitações circulação vertical espaço do pedestre passarelas travessa Noschese galerias espaços livres verdes terraços jardins logradouros privados
Planta geral: cota 745.0 (nĂvel da praça de eventos) N 0 10
20
40
80m
B
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A
A
B
A
B
A
Corte AA
2. Habitações. EQUIPAMENTO DE ESPORTES 6. Bloco novo do equipamento. 7. Bloco inferior do edifício garagem América, adaptado ao programa dos esportes. 8. Bloco superior do edifício, onde permanece o programa de estacionamento.
Corte BB
av. 23 de maio
LEGENDA rua Riachuelo
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B
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0
10
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rua D. Maria Paula
0
80m
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1. TĂŠrreo: volumetria
2. TĂŠrreo: galerias
4. Passarela
5. Passarela: fluxo princi
ipal
6. Conjunto
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3. Térreo: fluxos
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No miolo da quadra, existem dois espaços livres principais, de qualidades diferentes: uma praça pública, parcialmente coberta pela passarela e com uma arquibancada que a torna, ao mesmo tempo, espaço de estar e de eventos; e uma praça privada, de uso público, ativada e acessada pelos comércios dos térreos. A praça de eventos é o coração deste projeto e, a partir dela, irradiam os demais elementos: a marquise/passarela, as galerias comerciais, os edifícios de habitação, a midiateca.
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O paralelismo dos edifícios de HIS é quebrado pelo desenho de uma passarela/marquise que liga a rua Dona Maria Paula, a partir de uma fresta existente entre os seus altos edifícios, à rua Riachuelo, passando por dentro do edifício Garagem América. Esse elemento é estruturante para o conjunto sendo que, com seus alargamentos e curvas, conecta os principais espaços e equipamentos públicos propostos, gerando diversas qualidades espaciais: saindo em nível da rua Dona Maria Paula, alarga-se e serve de cobertura à praça de eventos; dá acesso à midiateca; gera uma loggia
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aos comércios e serviços no nível da travessa Noschese e dá acesso a outros no seu nível superior; estabelece uma relação visual com os terraços jardim propostos; serve de cobertura e de acesso ao equipamento de esportes; e, por fim, atravessando a avenida 23 de Maio, passa pelo edifício Garagem américa, de onde se acessa a outra parte do equipamento de esportes ou se segue para a rua Riachuelo, chegando nos fundos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. No térreo, se propõem edifícios comerciais, ativando as ruas e os espaços públicos e, em alguns casos, com galerias internas, replicando essa característica da Arquitetura da Cidade do centro de São Paulo. Além das habitações e dos comércios, são propostos outros dois programas associados à ideia de restauro e reuso de bens tombados: os sobrados da Rua Santo Amaro, conectados por
novos blocos e configurando pátios internos, passam a funcionar como midiateca; e o edifício Garagem América, do nível da passarela para baixo, passa a ser um equipamento de esportes, funcionando em conjunto com um bloco novo, do outro lado da avenida. A ideia é valorizar o patrimônio arquitetônico propondo sua adaptação a programas de equipamentos públicos que atendam tanto aos moradores do conjunto quanto à população que hoje ali se insere, uma vez que não existem equipamentos de esporte na região e a midiateca poderia atender, inclusive, a universidade e às escolas existentes na redondeza.
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Da mesma forma, a travessa Noschese é mantida enquanto desenho de piso e fluxo exclusivo de pedestres. Seguindo o gabarito baixo dos sobrados e da midiateca, os comércios ao seu redor reconstituem a volumetria original da viela, com uma
linguagem contemporânea e com terraços ajardinados. Uma outra cobertura verde realiza o diálogo e o intermédio entre o nível da passarela e o térreo na dobra da travessa Noschese e recobre uma área de passagem alargada, que conecta o equipamento de esportes à praça de eventos, no miolo da quadra. Sob essa cobertura, podem acontecer eventos como feiras, contando, inclusive, com infraestrutura de banheiros públicos. No nível da Avenida 23 de Maio, a proposta é um sistema de espaços verdes aproveitando os espaços residuais gerados pela avenida e aumentando a área permeável nas proximidades do córrego do Itororó tamponado. Ainda sobre a questão da permeabilidade, a ideia é que todos os edifícios e as praças
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tenham condutores que levem as águas pluviais direto para o rio, tendo em vista que se trata de uma área extremamente impermeabilizada, onde as enchentes são, hoje, uma realidade. Por fim, as lâminas de habitação perpendiculares à rua Asdrúbal do Nascimento se projetam sobre esses espaços verdes, gerando áreas sombreadas e criando uma face ampla do conjunto para a cidade, que assumirá, a partir de escolhas construtivas, uma imagem unificada e contemporânea.
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TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO IAU.USP SÃO CARLOS/SP . JUNHO DE 2019