Ana Bolena

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RENAT A VIDA L ˘




CIP-BR ASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F871z Cunha, Renata Vidal, 1977Ana / Renata Vidal da Cunha. - Rio de Janeiro: Editora, 2010. 152p.; 12 x 18 cm, il.

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ISBN 978-85-00-000000

1. História inglesa. I. Inglaterra. II. Reforma Protestante. III. Henrique VIII. IV. Ana Bolena. V. Dinastia Tudor. VI. Título. 09-4742

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CDD: 028.5 CDU: 087.5

Copyright © Renata Vidal da Cunha, 2010

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais do autor foram assegurados.

Design de capa, projeto de miolo e editoração eletrônica: Renata Vidal da Cunha

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ISBN 978-85-00-000000


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Rio de Janeiro | 2010

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PossĂ­vel retrato de Ana Bolena por Hans Holbein, o Jovem






a Ana Bolen LATERR A R AINHA DE ING

1 de Junho de 1533 Pembroke e d a es u rq a M : S O TÍTUL 15 01, Inglaterra NASCIMENTO: 36 (executada), 15 e d io a M e d MORTE: 19 Inglaterra Torre de Londres, eal de São Pedro R a el p a C : O T N E M SEPULTA de Londres ad Vincula, Torre enrique VIII CONSORTE: H e e Eduardo qu ri en H , el b sa I FILHOS: e de Wiltshire d n co a, en ol B s a PA I: Thom h Howard M Ã E: Elizabet

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Descendência HENRIQUE VIII + A NA BOLENA = * ELIZABETH I (7 de setembro de 1533 - 24 de março de 1603); * HENRIQUE TUDOR (1534). Os historiadores não sabem ao certo se o menino morreu no mesmo dia que nasceu ou se foi aborto, tampouco se sabe com certeza se foi realmente um menino; * EDUARDO TUDOR (29 de janeiro de 1536). Faleceu no mesmo dia.

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Hever Castle, propriedade dos Bolena.

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Primeiros anos


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na era filha de Thomas Bolena, mais tarde Conde de Wiltshire e Conde de Ormonde, e sua esposa, Lady Elizabeth Howard, filha do 2º Duque de Norfolk. Thomas Bolena era um diplomata respeitado com o dom de línguas, ele foi também um favorito de Henrique VII, que o enviou em várias missões diplomáticas no estrangeiro. A falta de registos paroquiais da época, tornou impossível estabelecer a data de nascimento de Ana. A evidência contemporânea é contraditória, tendo várias datas apresentadas por vários historiadores. Um escrito italiano de 1600 sugeriu que ela tivesse nascido em 1499, quando o genro do Sir


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Thomas More, William Roper, indicou uma data muito posterior de 1512. No entanto o seu nascimento foi, provavelmente em algum momento entre 1501 e 1507. Tal como acontece com Ana, é incerto quando seus dois irmãos nasceram, mas parece claro que sua irmã Mary era mais velha que Ana. Os filhos de Mary claramente acreditavam que sua mãe tinha sido a irmã mais velha. A maioria dos historiadores concordam que Mary nasceu em 1499. O neto de Mary conquistou o título Ormonde, em 1596, baseado no fato de que ela era a filha mais velha, o que Elizabeth I aceitou. Além disso, Mary casou-se primeiro, e por costume, a filha mais velha sempre se casava antes da mais jovem. Seu irmão George nasceu por volta de 1504. O debate acadêmico sobre o nascimento de Ana concentra-se em duas datas importantes: 1501 e

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1507. Eric Ives, um historiador e especialista legal britânico, defende a data de 1501, enquanto Retha Warnicke, uma estudiosa norte-americana que também escreveu uma biografia de Ana, prefere 1507. A peça-chave de provas escritas sobreviventes é uma carta que Ana escreveu em 1514. Ela escreveu em francês a seu pai, que ainda estava morando na Inglaterra, enquanto Ana estava completando sua educação nos Países Baixos. Ives afirma que o estilo da carta e sua escrita madura provam que Ana deveria ter uns treze anos na época da sua composição, enquanto Warnicke argumenta que os erros de ortografia e erros gramaticais numerosos mostram que a carta foi escrita por uma criança. Na opinião de Ives, esta também seria em torno da idade mínima para que uma menina pudesse ser uma dama de honra, como Ana foi para a regente, Margareth de Áustria. Esta opinião é corroborada por um cronista do final do século 16 que escreveu que Ana tinha vinte anos, ao retornar da França. Estes resultados


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são contestados pela Warnicke em vários livros e artigos, mas as evidências não são conclusivas sobre nenhuma data. Os avós de Ana incluem um Lord Mayor de Londres, um duque, um conde, duas senhoras aristocráticas e um cavaleiro. Um deles, Geoffrey Bolena, havia sido um mercador e comerciante de lã antes de se tornar Lord Mayor. A família Bolena veio originalmente de Blickling, em Norfolk, quinze milhas ao norte de Norwich. Na época do nascimento de Ana, a família Bolena era considerada uma das mais respeitadas da aristocracia inglesa. Entre seus familiares, conta ainda com os Howards, uma das famílias proeminentes no país. Ela certamente foi mais nobre do que qualquer Jane Seymour ou Catherine Parr, duas das esposas posteriores de Henrique VIII, porém menos que sua predecessora Catarina de Aragão. A grafia do nome Bolena foi variável. Às vezes, ele foi escrito como Bullen, daí as cabeças dos tou-


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ros que faziam parte do brasão de sua família. Na corte de Margareth de Áustria, na Holanda, Ana está listado como Boullan. De lá, ela assinou a carta para o pai como Anna de Boullan. Ela é também referida como “Anna Bolina”, nome na maioria retratos dela.


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HOLANDA E FRANÇA O pai de Ana continuou a sua carreira diplomática no reinado de Henrique VIII. Na Europa, o encanto de Thomas Bolena atraiu muitos admiradores, incluindo a arquiduquesa Margareth da Áustria, filha de Maximiliano I, o Sacro Imperador. Durante este período, ela governou os Países Baixos, em nome de seu pai e ficou tão impressionada com Bolena que ela ofereceu à sua filha Ana um lugar em sua casa. Normalmente, uma garota devia ter doze anos para essa honra, mas Ana pode tê-la recebido mais jovem, como a arquiduquesa carinhosamente se refere a ela como “la pettite Boulain”. Ana fez uma boa impressão nos Países Baixos, com suas maneiras e por ser estudiosa, Margareth informou que ela falava bem e era agradável para a sua tenra idade (“son josne eaige”) e disse a Sir Thomas Bolena:


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“Sua filha é tão apresentável e tão agradável, considerando sua idade jovem, que sou mais grata a você por enviá-la para mim, do que você a mim.” (E.W. Ives, op.cit.)


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Os relatos sobre as cortesãs européias podem suscitar a idéia de que de todas faziam parte de uma mesma casta de aventureiras. Mas não era assim. Muitos jovens, moças e rapazes de bom nome, de famílias ricas, aristocratas, mal saíam da infância, iam ou eram mandados para a corte: uma etapa normal em um processo de desenvolvimento. Na época das grandes monarquias absolutas, frequentar as melhores cortes europeias fazia parte da


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educação. Nos salões reais se aprendia o trato ou traquejo social, travavam-se relações de conveniência política e econômica, contratavam-se os casamentos. Ana ficou com Margaret da primavera de 1513 até seu pai arranjar para ela ser parte da comitiva da irmã de Henrique VIII, Mary Tudor, no casamento de Mary com Luís XII de França, em Outubro de 1514.


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Na França, Ana foi dama de honra da Rainha Mary. Porém, Luis XII morreu logo, em janeiro 1515. Subiu ao trono Francisco I. Ela permaneceu na França, como dama de honra da Rainha Cláudia de França, de 15 anos, esposa do Rei Francisco I com quem ela ficou quase sete anos, e que impunha um rígido código de conduta. Na casa da rainha, ela concluiu seu estudo sobre o francês e desenvolveu interesse pela moda, filosofia religiosa, poesia e literatura. Ela também adquiriu o

Casamento do rei Luís XII de França, (um homem mais velho do que esta imagem mostra) com a jovem Mary Tudor, irmã mais nova do Rei Henrique VIII, c. 1514, Biblioteca Britânica.


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conhecimento da cultura e etiqueta francesas. Como uma menina jovem, Ana fez uma grande impressão na corte francesa, até mesmo Francisco I a admirava e escreveu:

Disseram -me que Vênus er a loura, mas bem s e vê que ela é m orena.


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M a rg u e r i t e

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Apesar de todo o conhecimento sobre as experiências de Ana na corte francesa serem conjecturas, mesmo Eric Ives, em sua edição mais recente da biografia definitiva, sugere que ela podia ter conhecido a irmã do rei Francisco I, Marguerite de Angouleme [ou Margaret de Navarre, 1492-1549], patrona dos humanistas e reformadores. Marguerite foi também escritora, e suas obras incluem elementos do misticismo cristão e da reforma que, sem a proteção de ser a amada irmã do rei francês, beirariam a heresia. Ela e seu círculo podem ter incentivado o interesse de Ana na reforma, bem como na poesia e na literatura. A educação de Ana na França mostrou-se, anos mais tarde na inspiração das novas tendências entre as senhoras e os cortesãos da Inglaterra, e pode ter sido fundamental para pressionar o rei em sua ruptura com o papado. A versão


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mais recente da sua biografia por Eric Ives levanta a hipótese de que Ana pode ter tido uma convicção evangélica e vida espiritual interior fortes. William Forrest, autor de um poema contemporâneo sobre Catarina de Aragão, elogiou a habilidade de dança de Ana. “Aqui”, escreveu ele, “era [uma] jovem donzela, que poderia se deixar levar e ir.” Descrita como impetuosa e imprevisível, é dito também que ela tinha uma risada característica, alta e cristalina. Ana exerceu um encanto poderoso naqueles que a conheceram, embora as opiniões se dividam em sua atratividade. O diarista veneziano Marino Sanuto, que viu Ana quando Henrique VIII conheceu Francisco I de França, em Calais, em Outubro de 1532, a descreveu como “Não é uma das mais belas mulheres do mundo, ela é de estatura mediana, pele morena, pescoço comprido, boca larga, busto não muito levantado... olhos, que são pretos e bonitos”. Simon Grynée escreveu para Martin Bucer, em setembro 1531 que Ana era “jovem,


“olhos, que são pretos e bonitos”

“ jovem, b 29 on de cabelos ita, b escuros” em

“ bonita com uma figura elegante”


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bonita, de cabelos bem escuros”. Lancelot de Carles a chamou de “bonita com uma figura elegante”, e um veneziano em Paris, em 1528, também informou que ela era muito bonita. A descrição mais influente da Ana, mas também a menos confiável, foi escrita pelo propagandista católico e polemista Nicholas Sanders em 1586, meio século depois da morte de Ana: “Ana Bolena era de estatura bastante alta, com cabelos pretos e um rosto oval de uma tez amarelada, como se afligido por icterícia. Tinha um dente projetado sob o lábio superior, e na mão direita seis dedos [que os historiadores agora sabem ser falso, após a exumação feita em 1876]. Havia uma grande marca debaixo do queixo e, portanto, para esconder sua feiúra, ela usava um vestido de gola alta cobrindo sua garganta... Ela era bonita de se olhar, com uma boca bonita.” Sanders declarou Ana responsável pela rejeição de Henrique VIII à Igreja Católica, e por escrito cinqüenta anos após sua morte, estava ansioso para demonizá-la. A descrição de Sanders


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contribuiu para o que o biógrafo Eric Ives chama de “a lenda do monstro” de Ana Bolena. Embora seus dados fossem fictícios, eles formaram a base para as referências à aparência de Ana, mesmo em alguns livros didáticos modernos. A experiência de Ana na França fez dela uma cristã devota na nova tradição do humanismo renascentista. Enquanto ela mais tarde viria a ter uma posição reformista de que o papado era uma influência corruptora sobre o cristianismo, suas tendências conservadoras podiam ser vistas em sua devoção à Virgem Maria. A educação de Ana terminou em 1521, quando seu pai a chamou de volta para a Inglaterra. Ela partiu de Calais em Janeiro de 1522.


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Campo do Tecido de Ouro, Franรงa, Junho de 1520. Evento que reuniu Henrique VIII e Francisco I. Ana Bolena estava presente.

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Na corte de Henrique VIII


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m Janeiro de 1522, Ana Bolena regressou à Inglaterra por ordens do pai e entrou ao serviço de Catarina de Aragão, a consorte do rei Henrique VIII, de quem a sua irmã, Maria Bolena, era então amante. Mary Bolena, irmã mais velha de Ana Bolena, já havia sido chamada de volta da França em fins de 1519, ostensivamente por conta de suas relações com o rei francês e seus cortesãos. Ela se casou com William Carey, um nobre menor, em fevereiro de 1520, em Greenwich, com apoio de Henrique VIII:


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logo depois, Mary Bolena tornou-se amante do rei do Inglês. Historiadores discutem sobre a paternidade do Rei Henrique VIII de um ou de ambos filhos de Maria Bolena que nasceram durante o casamento. Henrique não reconheceu a paternidade de nenhuma das crianças, como fez com seu filho Henrique Fitzroy, filho ilegítimo de Elizabeth Blount, Lady Talboys. Ana foi chamada de volta a Inglaterra para casá-la com seu primo irlandês, James Butler, um jovem vários anos mais velho que ela que vivia na Corte Inglesa, em uma tentativa de resolver uma disputa sobre o título e as propriedades do Condado de Ormond. O 7º Conde de Ormond morreu em 1515, deixando suas filhas, Margaret Bolena e Anne St. Leger, como co-herdeiras. Na Irlanda, um primo remoto chamado Sir Piers Butler con-


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testou o testamento e afirmou seus direitos sobre o condado. Sir Thomas Bolena, sendo o filho da filha mais velha, sentiu que o título pertencia a ele e protestou a seu cunhado, o Duque de Norfolk, que falou com o rei Henrique sobre o assunto. Henrique, temeroso que a disputa pudesse ser a faísca para inflamar a guerra civil na Irlanda, procurou resolver o assunto, organizando uma aliança entre o filho de Piers, James e Ana Bolena. Ela iria trazer de herança Ormond como dote e, portanto, pôr fim ao conflito. O plano terminou em fracasso, talvez porque Sir Thomas esperava um grandioso casamento para sua filha. Seja qual for o motivo, as negociações do casamento pararam por completo. James Butler depois se casou com Lady Joan Fitzgerald, filha e herdeira de James FitzGerald, 10º Conde de Desmond e Amy O’Brien. Ana fez sua estréia na Corte Inglesa, no desfile de Chateau Vert em homenagem aos embaixadores


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imperiais em 4 de março de 1522, representando “Perseverança”. Lá, ela participou de uma dança elaborada acompanhada da irmã mais nova de Henrique, Mary, e várias outras damas da corte, além de sua própria irmã. Todas usavam vestidos de cetim branco bordado com fios de ouro. Ela rapidamente se estabeleceu como uma das mulheres mais elegantes e completas na corte, e em breve muitos homens jovens estavam competindo por ela. A historiadora americana Retha M. Warnicke escreve que Ana era:


“a mulher cortesã perfeita... Sua carruagem era graciosa e suas roupas francesas eram agradáveis e elegantes, ela dançava com facilidade, tinha uma voz agradável, tocava alaúde e vários outros instrumentos musicais bem, e falava francês fluentemente... Uma jovem mulher nobre notável, inteligente, perspicaz... que primeiro atraiu pessoas para conversar com ela e, em seguida, as divertiu e entreteu. Em suma, a sua energia e vitalidade fez dela o centro das atenções em qualquer reunião social.”

Ana Bolena, de Hiroshi Sugimoto.


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Ana Bolena, de Hiroshi Sugimoto.


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Durante este tempo, Ana foi cortejada por Henry Percy, filho do Conde de Northumberland, e teve um noivado secreto com o rapaz. George Cavendish, a serviço de Thomas Wolsey, afirmou que os dois não tinham sido amantes. Assim, parece improvável que seu relacionamento fosse sexual. O romance foi interrompido quando o pai de Percy se recusou a apoiar o noivado. De acordo com Cavendish, Ana foi enviada da corte para propriedades de sua família no interior, mas não se sabe por quanto tempo. e A ragão Após seu retorno à corte, ela nod a vamente entrou ao serviço de Catarina de Aragão. Entre as damas do séquito da rainha quase todas louras, a morena Ana, com sua coroa de tranças

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escuras e longo pescoço de cisne, resplandecia como um diamante negro. O ilustre poeta cortesão Sir ya t t W Thomas Wyatt cresceu em Allington, uma propriedade quase adjacente ao Hever Castle da família Bolena. Wyatt foi afastado de sua própria esposa, e lendas românticas não verificáveis sobre Ana e ele abundam, sobretudo nos escritos do neto de Wyatt. Há conjecturas de que algumas das poesias de mais anseio atribuídas a Wyatt foram inspiradas por seu relacionamento e que é Ana quem ele descreve no soneto Whoso List to Hunt, como inatingível, obstinada, ada, e pertencente ao rei: “noli me tangere ngere for Caesar’s I am/And wild forr to hold though I seem tame”.


Pa p a

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Em meados de 1525, estava de regresso e no ano seguinte, substituiu a sua irmã mais nova nas atenções do rei. Em 1526, o rei Henrique apaixonou-se por ela e começou sua perseguição. Henrique VIII escreveu de próprio punho pelo menos dezessete cartas de amor (sem data) - em francês e inglês - a Ana Bolena, muito notável já que normalmente utilizava secretários para escrever suas cartas. Nenhuma das cartas de Ana sobreviveram. As cartas de Henrique estão no Vaticano, pelo menos desde o final do século XVII. O Papa Clemente VII pagou em ente l C espiões para roubar cartas de amor de Henrique VIII para sua noiva, Ana Bolena, com o intuito de provar que eles eram amantes. No entanto, nenhuma prova foi descoberta e mesmo Clemente VII a contragosto


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Carta de Henrique VIII a Ana Bolena. Abaixo, baú com objetos para escrever de Henrique VIII, presente de seu casamento com Catarina de Aragão.

teve que admitir que todas as provas imparciais i da Iniais glaterra sugeriam m que Ana Bolena tinha personalidade onalidade forte, mas moralmente t correta. te Ana resistiu às à tentativas do rei para para seduzi-la, recusandonddo-


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Robert Lefevre, Daphne fugindo de Apollo, 1810.

se a tornar-se sua amante, muitas vezes deixando a corte para o isolamento de Hever Castle. Ana foi provavelmente a única pessoa a dizer “não” aos avanços do rei, o que fez dela um desafio. Ela ousava dizer a sua majestade que “a honra e o respeito a si mesma” não lhe permitiam aceitar sua corte, apesar de sua “indissolúvel afeição”.

ua mulher s r e s o s s o p o “ Nã ante.” m a a u s r e s o r e não que


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Konstantin Makovsky, Romeo e Julieta, 1890.

Dentro de um ano, ele propôs casamento a ela, e ela aceitou. Ambos assumiram que a anulação poderia ser obtida em questão de meses. Não há nenhuma evidência para sugerir que eles tiveram relações sexuais antes de até muito pouco tempo antes do casamento se, em tudo, na verdade, as cartas de amor de Henrique a Ana parecem provar que o seu amor permaneceu sem ser consumado por grande parte do seu namoro de sete anos. Sugestões de que foram sexualmente ativos antes deste tempo são agora amplamente consideradas como parte da campanha de difamação orquestrada para destruir a reputação de Ana, depois de sua morte.


Anulação de Henrique 48


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provável que a idéia de anulação (não divórcio como comumente assumido) veio por si mesma a Henrique muito mais cedo do que isso e foi motivada pelo seu desejo de um herdeiro masculino para garantir a legitimidade da reivindicação Tudor à coroa. Antes de o pai de Henrique Henrique VII subir ao trono, a Inglaterra foi assolada pela guerra civil por conta dos direitos do rival à coroa e Henrique queria evitar uma incerteza sobre a sucessão similar. Mesmo com a lei inglesa permitindo que mulheres herdassem o trono, os exemplos que se tinham de reinados femininos eram desencorajadores. Ele e Catarina não tiveram filhos homens vivos: todos os filhos de Catarina, exceto


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Mary, morreram na infância. Catarina de Aragão primeiro veio à Inglaterra para ser a noiva do irmão de Henrique, Arthur, que morreu logo após seu casamento. A Inglaterra, naquela época uma potência inferior, ainda queria a união de seu reino com a poderosa Espanha, e, em 1509, Henrique e Catarina se casaram. Mas este casamento não poderia ocorrer até o Papa se pronunciar sobre uma passagem controversa de um livro da Bíblia. Esse livro, Levítico, proibia o casamento de um homem a viúva de seu irmão pois ele e a viúva seriam amaldiçoados. O Papa se pronunciou conveniente para as dinastias envolvidas que Levítico não se aplica mediante a emissão de uma dispensa papal. No entanto, muitos anos e um novo papa depois, Henrique foi re-pensar as coisas.


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Estava escrito no Levítico: “Não descobrirás a nudez da mulher de teu irmão; é a nudez de teu irmão” (Lv 18, 16). O rei acreditava que Deus lhe tinha virado o rosto para puni-lo por seus pecados, semelhantes a um incesto e por isso Catarina, que havia sido casada antes com seu irmão, não lhe dava herdeiros.


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Estimulados pela incapacidade de Catarina em fornecer um herdeiro, e, possivelmente, por Ana também, Henrique decidiu que o Papa não tinha o direito de ignorar um livro bíblico. Isso significava que ele tinha vivido em pecado com Catarina de Aragão por todos estes anos, apesar de Catarina calorosamente contestar e se recusar a admitir que seu primeiro casamento foi consumado. Significava também que sua filha Mary era uma bastarda, e que o novo Papa (Clemente VII), deveria admitir o erro do papa anterior e anular seu casamento. Ana viu uma oportunidade na paixão de Henrique e no conveniente dilema moral. Ela determinou que só iria ceder aos seus braços reconhecida como sua rainha. Ela começou a tomar lugar ao seu lado na política e no Estado, mas não, pelo menos não ainda, em sua cama. Várias são as opiniões dos estudiosos e historiadores sobre a forma como foi profundo o compromisso de Ana para a Reforma, o quanto ela estava,


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talvez, só pessoalmente ambiciosa, e quanto tinha a ver com o desafio de Henrique ao poder papal. Há evidências anedóticas, relacionadas com o biógrafo George Wyatt por sua ex-dama de honra Ana Gainsford, que Ana chamou a atenção de Henrique a um panfleto herético, talvez “Obediência do homem cristão” de Tyndale ou um chamado “Súplica de Mendigos” de Simon Fish, que clamava aos monarcas que refreassem os excessos do mal da Igreja Católica. Se pode-se crer em Cavendish, a indignação de Ana com Wolsey pode ter personalizado qualquer desafio filosófico que ela trouxe com ela da França. Além disso, a edição mais recente da biografia de Ives admite que Ana pode muito bem ter tido um despertar espiritual pessoal em sua juventude, o que a impulsionou, não apenas como catalisadora, mas aceleradora para a Reforma de Henrique, embora o processo tenha levado anos. No dia 23 de Julho de 1527, a Corte de Henrique VIII chegou a Beaulieu (em 1517, o New


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Hall havia sido vendido por Thomas Bolena a Henrique VIII e o rei reconstruíu a casa em tijolo, em obras que tiveram um custo de 17.000 libras, uma soma considerável na época, dando ao novo palácio o nome de Beaulieu) para passar o verão, permanecendo, de forma incomum, por mais de um mês. Foi neste palácio que, a companhia dum grande número de nobres e suas esposas, incluíndo Thomas Bolena, Visconde Rocheford, o pai de Ana Bolena, o Visconde Fitzwalter, os Condes de Oxford, Essex e Rutland, o Marquês do Exeter e os Duques de Norfolk e Suffolk, Henrique VIII planejou um esquema que lhe permitisse coabitar com Ana Bolena, a pretendida sucessora de Catarina de Aragão, através da obtenção duma bula papal que o autorizasse a cometer bigamia. Este plano foi abandonado quando o Cardeal Wolsey o descobriu, embora o papa tenha, de fato, emitido uma bula para o mesmo efeito em Dezembro daquele ano. Beaulieu


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Em 1528, a “doença do suor” eclodiu com grande severidade. Em Londres, o índice de mortalidade foi grande e a corte foi dispersada. Henrique saiu de Londres, frequentemente mudando de residência; Ana Bolena recuou para Hever, mas contraiu a doença; seu cunhado, William Carey, morreu. Henrique enviou seu próprio médico para Hever Castle para cuidar dela, e logo depois, ela see recuperou. Logo se tornouu uma obsessão de Henrique garanarantir a anulação de Catarina. rina. Henrique depositou suas esperanças em um apelo elo direto para a Santa Sé, atuando independenteemente do Cardeal Wol-sey, a quem em primeiro lugar nada comunicou de seus planos relacionados com Ana.


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William Knight, secretário do rei, foi enviado ao Papa Clemente VII para processar a anulação de seu casamento com Catarina, alegando que a bula de dispensa do Papa Júlio II foi obtida por falsos pretextos. Henrique também pediu, em caso de tornar-se livre, a dispensa para contrair um novo casamento com uma mulher, mesmo no primeiro grau de afinidade, se a afinidade foi contraída por uma ligação legal ou ilegal. Esta situação é claramente referida a Ana e seu relacionamento prévio com sua irmã, Mary. Como o Papa era, naquele tempo, prisioneiro de Carlos V, sV Santo Imperador Romano e sobrinho de Catarina de Aragão, em Orvieto, Knight teve algumas dificuldades na obtenção de acesso a ele. No final, ele teve que voltar com uma dispensa


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condicional, ao que Wolsey insistiu que era tecnicamente insuficiente. Henrique já não tinha outra escolha senão colocar sua grande questão nas mãos de Wolsey, que fez todo o possível para garantir uma decisão em favor de Henrique. O Cardeal escreveu ao Papa Clemente VII sobre Ana:

le n t e s e c x e s a d onf irma c o nob re ã t a s t i E d “ a d i r t uo s a s v s ta nt e e s d n a o d c i l a a , u a q a d e v id z e r u p a e m i n i na senhora: f e l i n e v e , a ju t id a d e , s a c v irgindad , e d a s ob r i e d a ; a i c í c g ua g e m i n i l pu d a , a i r sab edo e e d a d l i e real, a u g hu m n a s o a da a t é v e l e udá v e i s e a l e e r s a o n ob b da s a s o t m o c o ã educaç iras...” e n a m e s q ua l i d a d e


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Wolsey foi tão longe que fez a convocação de um tribunal eclesiástico na Inglaterra, com um emissário especial do próprio Papa, o Cardeal Campeggio para decidir a questão. Ana e Henrique exultaram com a escolha do emissário do Papa, pois o prelado já estivera na Inglaterra, recebia um rendimento anual como bispo de Hereford, devia seu próprio palácio em Roma ao apoio e dinheiro britânicos. Porém o Papa nunca deu poderes ao seu substituto para tomar qualquer decisão. O Papa ainda era um verdadeiro refém de Carlos V, sobrinho fiel da rainha Catarina, de Henrique. Um tribunal eclesiástico foi estabelecido na Inglaterra somente em 1529. O rei expôs suas dúvidas de consciência, esclarecendo não ser movido “por nenhuma concupiscência carnal, nem por nenhum tédio ou antipatia pela pessoa da rainha, ou por sua idade.” Catarina compareceu somente na primeira sessão, reafirmando seus direitos como rainha e sua virgindade quando casou com Henrique, e depois


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não quis mais aparecer. Muitas testemunhas, entretanto, apareceram para afirmar o contrário, de que o matrimônio anterior de Catarina com Arthur havia sido consumado. Por fim a sentença foi adiada, sob alegação de que a decisão só poderia ser tomada em Roma, pelo próprio Para. Enquanto isso, o papa proibia Henrique de contrair um novo casamento. Em vão funcionários de Henrique procuraram na bagagem do Cardeal Campeggio um documento que se dizia ter sido entregue pelo papa Clemente VII, com uma assinatura e um selo endossando qualquer decisão. Se este existiu, havia sido destruído. Convencidos das lealdades Wolsey com o Papa, e não com a Inglaterra, Ana e muitos inimigos de Wolsey asseguraram a sua demissão do cargo público em 1529, quando Henrique finalmente concordou em sua prisão nas masmorras de Praemunire. Se não fosse por sua morte por doença em 1530, ele poderia ter sido executado por traição. Ele morreu arrepen-


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dendo-se de não ter dedicado tanto zelo a serviço de Deus como dedicou ao rei. Thomas More assumiu então o cargo de chanceler, substituindo Wolsey a convite do rei. Thomas Cranmer, um dos relianmer r C giosos diplomatas a serviço da questão de Henrique, surge então com a ideia de que o caso do rei poderia ser resolvido sendo submetido aos teólogos das mais ilustres universidades europeias e se estes julgassem inválido o casamento com Catarina, o rei poderia voltar a se casar sem a permissão de Roma. Ao invés de assustar Henrique, que não simpatizava com protestantes nem queria se colocar contra o Papa, a

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ideia o entusiasmou e, com efeito, as universidades declararam nulo o seu casamento com Catarina de Aragão e o parlamento inglês ratificou a sentença. Em 1531, a rainha Catarina foi expulsa da corte e seus quartos foram dados a Ana. Teve que devolver as joias da Coroa que foram dadas então a Ana. Catarina passou a ser chamada de “Princesa Viúva” ou “Princesa de Gales”, de acordo com seus títulos relacionados ao primeiro casamento com Arthur. O apoio público, no entanto, manteve-se com a rainha Catarina. Uma noite, no outono de 1531, Ana foi jantar em uma mansão no rio Tamisa e esta foi quase tomada por uma multidão raivosa de mulheress hostis. Ana conseguiu fugir apenas de barco. No entanto, Ana deu maiss dinheiro dinheir para os pobres em três anos os do quee Catarina de Aragão ão fe fez ez dud rante todo seu reinado inadoo dde mais de 20 anos. Ela la ainnda costurava roupas com


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as próprias mãos para distribuir aos pobres e pessoalmente cuidava dos doentes em suas viagens. Ela tinha um senso de humor divertido. Quando houve protestos de Henrique escolhê-la como rainha, por um curto período de tempo, ela mudou seu lema para “Ainsi sera, groigne qui groinge” (Deixeos resmungar, é assim que vai ser) e este foi bordado em todos os casacos de seus criados de libré. Poucas semanas depois, foi removido. ROMPIMENTO

COM A IGREJA

C ATÓLICA Quando o arcebispo de Canterbury William Warham morreu em 1532, Thomas Cranmer, foi nomeado, com precipitada aprovação papal. A quebra do poder de Roma na Inglaterra foi gradativa, o que sugere que as tentativas de Henrique para romper com Roma dificilmente foram feitas no capricho para agradar sua nova amante. Em 1532, Thomas Cromwell colocou perante o Parlamento um conjunto de atos, incluindo a Súplica contra


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T ho ma

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o m w e ll

os Ordinários e Submissão do Clero, que reconheciam a supremacia real sobre a Igreja, finalizando assim a ruptura com Roma. Após esses atos, Thomas More renunciou ao cargo de chanceler, deixando Cromwell como ministro-chefe de Henrique. Enquanto eclesiásticos de tendências luteranas trabalhavam na reforma dos ritos e na definição dos artigos de fé, um grupo de funcionários, chefiados pelo novo chanceler Thomas Cromwell, dedicava-se à confiscação e expropriação dos bens da Igreja. Todas estas mudanças – uma nova política, uma nova aliança, uma nova religião, uma nova hierarquia – haviam sido necessárias para que uma bela mulher de cabelos negros pudesse subir ao trono da Inglaterra e renovasse no rei a esperança de um herdeiro masculino.

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Ca s am ent o


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A

na Bolena, muitas vezes agiu independentemente de seu futuro marido, capaz de conceder petições, receber diplomatas, presidir compromissos de patrocínio e política externa. O embaixador de Milão, escreveu em 1531 que era essencial ter sua aprovação, se alguém quisesse influenciar o governo inglês, uma visão corroborada pelo embaixador francês no início, em 1529. Durante este período, Ana Bolena, de fato, desempenhou um papel importante na posição internacional da Inglaterra, consolidando uma aliança com a França e uma quebra da aliança anglo-espanhola, a partir da anulação do casamento de Henrique com Catarina. Ana estabeleceu um relacionamento exce-


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lente com o embaixador francês, Gilles de la Pommeraie, que ficou fascinado por ela. O diplomata John Barlow espiava no Vaticano às suas ordens. Ana e Henrique participaram de uma reunião com o rei francês em Calais, no inverno de 1532, em que Henrique esperava obter o apoio de Francisco I de França para o seu desejado casamento. Henrique dotou sua futura esposa de uma posição adequada. Em 1 de setembro de 1532, em Windsor, ela foi nomeada Marquesa de Pembroke, e se tornou a mulher não pertencente à realeza mais prestigiada do reino e primeira mulher inglesa enobrecida em seu próprio direito, sem herança ou casamento. O título Pembroke foi significativo para a família porque o tio-avô de Henrique Tudor, Jasper Tudor, detinha o título de Conde de Pembroke, e Henrique realizou ele mesmo a investidura. A família de Ana também lucrou com o relacionamento. Seu pai, já Visconde Rochford, foi feito Conde de Wiltshire. Henrique também chegou a

Windsor


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um acordo com o primo irlandês de Ana, e tornou o pai de Ana, Conde de Ormond. No banquete magnífico para comemorar a elevação de seu pai, Ana teve precedência sobre as duquesas de Suffolk e Norfolk, sentando no lugar de honra ao lado do Rei, que normalmente era ocupado pela rainha. Graças à intervenção de Ana, sua irmã viúva, Mary recebeu uma pensão anual de £ 100 –, e o filho de Mary, Henrique Carey, foi educado em um mosteiro cisterciense de prestígio. A conferência de Calais foi algo de triunfo político, mas, apesar de o governo francês ter dado apoio implícito para o novo casamento deHenrique, e Francisco I ter tido uma conferência privada com Ana, o rei francês mantinha alianças com o Papa, que ele não podia explicitamente desafiar. Logo após o retorno a Dover, Henrique e Ana se casaram em uma cerimônia secreta. Ela logo engravidou e, como era o costume da realeza, houve uma segunda cerimônia de casamento, também em segredo, que teve lugar


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em Londres em 25 de janeiro de 1533, no Palácio de Whitehall. Uma curiosidade sobre este lugar é que os planos de construção do Palácio de Whitehal (reforma e reconstrução sobre o York Place tomado do Cardeal Wolsey em 1530) foram enviados para Henrique e Ana, para aprovação e curiosamente Henrique permitiu-lhe uma palavra significativa em decorações. Ana era quase certamente a única esposa de Henrique VIII com um interesse particular na arquitetura, que ela dividia com o marido. Os acontecimentos já começam a se passar em um ritmo rápido. Em 23 de maio de 1533, Cranmer (que tinha sido nomeado com parecer precipitadamente favorável do Papa, para a posição do arcebispo de Canterbury recentemente deixado vago pela morte conveniente de Warham) presidiu a sentença de um tribunal especial convocado no Priorado de Dunstable para se pronunciar sobre a validade do casamento do Rei com Catarina de Aragão. Ele então declarou o casamento de Henrique e Catarina Whitehall


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nulo e sem efeito. Cinco dias depois, em 28 de maio de 1533, Cranmer declarou o casamento de Henrique e Ana bom e válido. Catarina escreveu ao embaixador imperial Chapuys: p ys:

senhor, eu m e d a d ra a ep s u “ Eu esto utra mulher o m co u o so s ca e s e ele ; e esta io rc ó iv d o o d ti b o sem haver ada enquanto z li a re i fo o çã a a últim pendente, a v ta es a d in a o a questã de desprezo o çã a tr s n o em d a num e tem na u q e el u q a r o p io e desaf s. Eu cubro eu D e d er d o p o a terr enquanto s, a im r g lá e d s a h n estas li vós como num em io f n o C . o v re esc uportar a s a e m ia d ju A amigo. ulação...” cruz de minha trib


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Pr i nce

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Chapuys escreve ao imperador Carlos V:

“Perdoai-me a f ranqueza, mas Vossa Majesta de não deveria hesitar. A gora q ue esta maldita A na está com a fa ca e o queijo na mão, fará todo o mal que puder à rainha e à pr incesa Mary. Vangloria-se dizen do que um dia terá a princesa em seu séquito; talvez um dia a en venene, ou case com um vassalo qu alquer, enquanto o reino será domin ado pela heresia. Uma conquista ser ia muito fácil: o rei não tem um exér cito treinado...”


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Rainha da Inglaterra

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Projeto de Holbein para um palanque de rua para a procissão de coroação de Ana Bolena


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C

atarina foi formalmente despojada de seu título de Rainha e Ana foi, consequentemente, coroada rainha consorte de 1 de junho de 1533, numa cerimónia magnífica na Abadia de Westminster precedendo um suntuoso banquete. Ela foi a última rainha consorte da Inglaterra a ser coroada separadamente de seu marido. Além de Catarina de Aragão, Ana foi a única das esposas de Henrique a ter uma coroação. Foi excepcionalmente elaborada, e parcialmente desenhada por Holbein. Em resposta, o povo londrino mostrou o seu desagrado, comparecendo poucas pessoas. Ela teria dito ao rei: “Sir, a cidade me agradou muito, mas vi muitos gorros na cabeça dos espectadores, e ouvi bem poucos vivas.”


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O bobo da corte que acompanhava o cortejo, observando todos aqueles chapéus que se recusavam a cumprimentar, gritava para a multidão: “Por acaso estais sarnentos, para ter tanto medo de descobrir a cabeça?” No dia anterior, Ana tinha tomado parte na elaboração de uma procissão pelas ruas de Londres, sentada em uma liteira de “pano branco de ouro”, apoiada em dois palafréns envoltos até o chão em damasco branco, enquanto os barões do Cinque Ports sustentavam um toldo de pano de ouro sobre sua cabeça. De acordo com a tradição, ela usou branco, e na cabeça uma coroa de ouro, abaixo dos quais seus longos cabelos escuros caíam livremente. A resposta Westminster.


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do público à sua aparência foi morna. Diferente de qualquer outra rainha consorte, Ana foi coroada com a coroa de Santo Eduardo, a qual havia sido utilizada para coroar apenas um monarca reinante. Hunt sugere que isto foi feito por causa da então visível gravidez de Ana e ela estava carregando o herdeiro que se presumia ser do sexo masculino. culino. ulino. Enquanto isso, a Câmara raa dos Comuns tinha proibido todos os apelos a Roma e exigido as penas da Praemunire contra todos que introduzissem bulas papais na Inglaterra.. Coroa de Santo Eduardo.


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Foi só então que o papa Clemente finalmente tomou a iniciativa de anunciar uma sentença provisória de excomunhão contra o rei e Cranmer. Ele condenou o casamento com Ana, e em março de 1534, declarou que o casamento com Catarina era legal e ordenou novamente que Henrique voltasse para ela. Henrique agora exigiu que seus súditos fizessem o juramento ligado ao Primeiro Ato de Sucessão, que, efetivamente, rejeitava a autoridade papal em matéria legal e reconhecia como rainha Ana Bolena. Aqueles que se recusavam, como Sir Thomas More, que havia renunciado ao seu cargo como Chanceler, e John Fisher, bispo de Rochester, encontraram-se na torre. Em fins de 1534, o Parlamento declarou Henrique “o único chefe supremo na terra da Igreja da Inglaterra”, retirando o poder de Roma. Enquanto rainha, Ana Bolena introduziu muitos aspectos da cultura francesa na corte de Inglaterra. Continuou influente junto ao rei e diz-se que foi por sua indicação que a maioria dos bispos


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da nova Igreja Anglicana conseguiram o seu posto. Ana apoiou e defendeu os textos censurados de reformadores religiosos, mas manteve os elementos do catolicismo tradicional (transubstanciação), em seu culto privado. Sua principal preocupação era expurgar a Igreja de abusos (venda de indulgências) e superstições (adoração de relíquias). Ela convenceu Henrique de que a Bíblia devia ser traduzida para o vernáculo e c culo estar disponível para as pessoas comuns o omuns e não apenas intermediários clericais; aiis; ela possuía uma grande e controversaa Bíblia francesa.


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LUTA POR UM FILHO Após sua coroação, Ana estabeleceu-se em uma rotina tranquila, na residência favorita do rei, Greenwich Palace, para se preparar para o nascimento de seu bebê. Ela anunciou sua gravidez de maneira informal, entrando quase correndo pelo átrio do palácio real e dizendo a seu primo Thomas Wyatt: “Oh, senhor, queria tanto uma maçã, há três dias morro de vontade de comer maçãs!” Ela começou a rir e disse: “Sabeis o que isto significa, segundo o rei?” E em meio à sua risada cristalina: “Significa que espero um bebê!” E sufocanco o riso, deixou a sala correndo como havia entrado. A criança nasceu um pouco prematura em 7 de setembro de 1533. Entre três e quatro da tarde, Ana deu à luz uma menina, que foi batizada de Elizabeth, provavelmente em honra da mãe de Henrique,


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Elizabeth de York. Apesar da obsessão de Henrique por um herdeiro masculino, ele não ficou totalmente desanimado, pois dizia que amava Elizabeth e que um filho certamente iria seguir. À princesa infanta foi dado um batizado esplêndido, mas Ana temia que a filha de Catarina, Mary, agora despojada do seu título de princesa e rotulada como um bastarda, representasse uma ameaça à posição de Elizabeth. Henrique acalmava os temores de sua esposa, separando Mary de seus muitos servos e enviando-a para Hatfield House, onde a Princesa Elizabeth estaria vivendo com sua própria equipe magnífica de criados, e onde o ar do interior seria melhor para a saúde do bebê. Ana frequentemente visitava sua filha em Hatfield e outras residências. A nova rainha teve uma equipe maior de servos do que Catarina. Havia mais de 250 criados para atender a suas necessidades pessoais, de sacerdotes a cavalariços. Havia mais de 60 damas de honra que a serviam e acompanhavam-na em eventos sociais.

Greewich Palace


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Ela também empregou vários sacerdotes que atuaram como seus confessores, capelães, religiosos e conselheiros. Um deles foi Matthew Parker, que se tornaria um dos principais arquitetos do pensamento anglicano no reinado da filha de Ana, Elizabeth I. Ana Bolena presidiu uma corte magnífica. Ela era a mais rica de todas as esposas de Henrique VIII, incluindo a Rainha Catarina de Aragão. Além disso, Henrique perdeu um monte de dinheiro para ela em jogos de cartas. Ela gastou quantidades pródigas de dinheiro em vestidos, jóias, enfeites de cabeça, leques de penas de avestruz, equipamento de equitação, mobiliário e estofos, mantendo a ostentação exigida pelo seu status. Inúmeros palácios foram renovados para atender a seus gostos extravagantes e de Henrique. Seu lema era “A mais feliz”, e ela tinha escolhido um falcão branco como o seu símbolo pessoal. Brasão de armas de Ana Bolena.


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Hans Holbein, o Jovem. Projeto para Fonte com o bras達o de Ana Bolena.


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CONFLITO COM O REI O rei e sua rainha gozavam de uma convivência razoavelmente feliz, com períodos de calma e carinho. A inteligência afiada, a perspicácia política e costumes modernos de Ana Bolena, embora desejáveis em uma amante, eram inaceitáveis em uma esposa. Uma vez, ela foi denunciada por ter conversado com seu tio em palavras que “não devem ser usadas para um cão”. Depois de um natimorto ou aborto no Natal de 1534, Henrique estava discutindo com Cranmer e Cromwell a possibilidade de deixar Ana sem ter que voltar para Catarina. Nada veio disso já que o casal real se reconciliou e passou o verão 1535 em viagens. Nesse ínterim, ela passou mais tempo do que o marido perguntando sobre o estado das casas religiosas e oferecendo ajuda. Em outubro, ela estava novamente grávida. Há rumores de que ela teria se queixado à sua cunhada, Jane Bolena, Lady Rochford, que Henrique não possuía nem habilidade, nem virilidade.


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“ Henrique não foi nem irreverente, nem vulgar nem particularmente v igoroso.”

Ana era considerada culpada pela tirania do governo de seu marido, tendo sido referida por alguns de seus súditos como “meretriz do rei” ou “prostituta má”. A opinião pública voltou-se mais ainda contra ela após sua incapacidade de produzir um filho. Ela afundou ainda mais baixo após a execução dos seus inimigos Sir Thomas More e o bispo John Fisher. No entanto, com sua prisão, julgamento e execução, a opinião pública em Londres e no continente passou para simpatia a ela, e desaprovação do comportamento de Henrique.


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˜UEDA E ˘XECUÇÃO

Cibot, Ana Bolena Edouard na Torre de Londres, 1835.


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˘

m 8 de janeiro de 1536, a notícia da morte de Catarina de Aragão chegou ao rei e Ana. Ao saberem de sua morte, eles ficaram muito felizes. No dia seguinte, Henrique usou amarelo da cabeça aos pés, e comemorou a morte de Catarina com festividades. Deve-se notar que – apesar de amarelo não ser simbólico de luto na Inglaterra – era, combinado ao preto, símbolo de luto na Espanha, país natal de Catarina de Aragão. Por esta razão, o uso de amarelo por Henrique e Ana pode ter sido um símbolo de luto pela perda da agora intitulada Viúva Princesa de Gales. Ana, por sua vez, tentou fazer as pazes com a princesa Mary.


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A Rainha, grávida outra vez, estava consciente dos perigos se ela não conseguisse dar à luz um filho. Com a morte de Catarina, Henrique estaria livre para casar-se sem qualquer mácula de ilegalidade. Mary rejeitou as tentativas de Ana, talvez por causa de boatos que circulavam de que Catarina tinha sido envenenada por Ana e / ou Henrique. Estes começaram após a descoberta durante o seu embalsamamento de que seu coração estava enegrecido. Peritos médicos modernos estão de acordo em que isto não era o resultado de envenenamento, mas sim de câncer do coração, algo que não foi compreendido na época. Ainda naquele mês, Ana notou um pingente de aparência suspeita no pescoço de uma de suas damas, Jane Seymour, quando esta se inclinava diante dela em reverência. Arrancou-o e, reconhecendo a miniatura do rei, teve uma crise de nervos. Mais tarde, o rei foi desmontado em um torneio e caiu inconsciente por duas horas, um incidente preocupante que Ana acreditou tê-la levado a um aborto cinco dias depois.


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No dia em que Catarina de Aragão foi sepultada na Abadia de Peterborough, Ana abortou um bebê que, segundo o embaixador imperial Chapuys, tinha cerca de três meses e meio, e que “parecia uma criança do sexo masculino”. Para Chapuys, estas perdas pessoais foram o começo do fim do casamento real. Tendo em conta o desejo desesperado de Henrique por um filho, a seqüência de casos de gravidez de Ana atraiu muito interesse. O autor Mike Ashley especulou que Ana teve dois filhos natimortos após o nascimento de Elizabeth e antes do nascimento da criança do sexo masculino que abortou em 1536. A maioria das fontes atestam apenas o nascimento de Elizabeth, em setembro de 1533, um possível aborto no verão de 1534, e do aborto de uma criança do sexo masculino, de quase quatro meses de gestação, em janeiro de 1536. Enquanto Ana se recuperava do aborto, Henrique disse ameaçadoramente “Não tereis outros filhos meus!”. Em seguida, ele declarou que ele tinha


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sido seduzido para o casamento por meio de “sortilégio”, um termo francês indicando “enganos” ou “magias”. Sua nova amante, Jane Seymour, que havia sido afastada da corte por Ana Bolena, foi rapidamente movida para quartos reais. Em seguida o irmão de Ana teve recusada a indicação de uma honra de prestígio na corte, a Ordem da Jarreteira (Order of the Garter), tendo-a recebido em seu lugar Sir Nicholas Carew. Há evidências relativamente novas de um sermão de um dos pregadores sob a influência de Ana, que sugere que a oposição de Ana às táticas cruéis de Cromwell, outrora forte aliado dela, e Henrique na dissolução dos mosteiros pode ter sido a causa de sua vontade comum de acabar com seu poder. Enquanto Cromwell queria que os confiscos de bens da Igreja fossem para cofres vazios do rei, ela preferia que o dinheiro fosse distribuído aos pobres e aplicado em recursos educacionais.


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Tanto David Starkey, e, mais tarde, Eric Ives, na nova edição de sua biografia definitiva, contam como os sermões públicos eram muitas vezes importantes meios de propaganda e declarações de opiniões políticas. Pouco antes de sua queda, eles sugerem, Ana teve um sermão lido que colocava Cromwell como o conselheiro do mal na história bíblica de Ester (com Ana implícita como Esther). É possível que a postura desafiadora de Ana contra o plano de dissolução dos mosteiros para o ganho real foi o que forçou Cromwell (com ou sem Henrique) a derrubá-la do poder. ACUSAÇÕES DE ADULTÉRIO, INCESTO E TRAIÇÃO Segundo o escritor e historiador dos Tudor, Allison Weir, Thomas Cromwell conspirava pela queda de Ana, enquanto fingia uma enfermidade e detalhou a trama em 21 de abril de 1536. O biógrafo de Ana, Eric Ives, entre outros, acredita que a sua queda e execução foram projetados por Thomas Cromwell.


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As conversas posteriores entre Chapuys e Cromwell indicam Cromwell como o instigador da conspiração para derrubar Ana, prova disto é vista na Crônica Espanhola e através de cartas escritas de Chapuys a Carlos V. Ana divergiu de Cromwell sobre a redistribuição das receitas da Igreja e sobre a política externa. Ela defendeu que as receitas fossem distribuídas para instituições beneficentes e educacionais, e ela favorecia uma aliança francesa. Cromwell insistia em encher cofres vazios do Rei, enquanto tomava um bocado para si mesmo, e preferia uma aliança imperial. Por estas razões, sugere Ives, “Ana Bolena tornou-se uma grande ameaça para Thomas Cromwell.” O biógrafo de Cromwell, John Schofield, por outro lado, alega que não houve luta pelo poder entre Ana e Cromwell e que “nenhum traço pode ser encontrado de uma conspiração Cromwellian contra Ana... Cromwell tornou-se envolvido no drama conjugal real somente quando Henrique ordenou que ele cuidasse do caso.” Cromwell não fabricou as acusações de adultério, em-


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bora ele e outros funcionários tenham usado isso para sustentar o caso legal de Henrique contra Ana. A historiadora Retha Warnicke questiona se Cromwell poderia ter manipulado o rei em tal assunto. Henrique emitiu ele mesmo as instruções cruciais: os seus funcionários, incluindo Cromwell, deram desenvolvimento. O resultado, os historiadores concordam, foi uma farsa legal. A fim de fazê-la, o mestre Secretário Cromwell precisaria de provas suficientemente convincentes para sua condenação ou arriscava seu próprios cargo e, talvez, a vida. No final de abril, um músico flamengo ao serviço de Ana chamado Mark Smeaton foi preso, torturado ou talvez prometida a liberdade. Ele inicialmente negou ser o amante da rainha, mas depois confessou. Outro cortesão, Henrique Norris, foi preso em 1º de maio, mas como ele era um aristocrata, não poderia ser torturado. Antes de sua detenção, Norris foi tratado amavelmente pelo rei, que lhe ofereceu o seu próprio cavalo para usar na festa de Maio. Parece


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provável que, durante as festividades o rei foi notificado da confissão Smeaton e logo em seguida os alegados conspiradores foram presos por ordem do rei. Norris foi preso no festival. Norris negou sua culpa e jurou que a Rainha Ana era inocente. Norris se recusou a testemunhar contra Ana Bolena, e disse: “ a rainha é uma mulher honesta” e que “preferiria morrer mil mortes do que acusar a rainha que, acredito na minha consciência, inocente.” Uma das peças mais prejudiciais de provas contra Norris foi ouvida de uma conversa com Ana no final de abril, quando ela o acusou de ir muitas vezes aos seus aposentos não para cortejar sua dama de honra Madge Shelton, mas a si mesma. Sir Francis Weston foi preso dois dias depois, sob a mesma acusação. William Brereton, um criado da câmara privada do rei, também foi preso em razão de adultério. O último acusado foi o próprio irmão da rainha Ana, preso sob a acusação de incesto e traição, acusado de ter um relacionamento sexual com sua irmã.


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George Bolena foi acusado de dois casos de incesto: novembro de 1535 em Whitehall, e no mês seguinte em Eltham. Em 2 de maio de 1536, Ana foi presa e levada para a Torre de Londres, este lugar sinistro que é ao mesmo tempo prisão de Estado e residência real. Na Torre, ela entrou em colapso, exigindo saber a localização de seu pai e “swete broder”, bem como as acusações contra ela. Vendo o abismo em que havia sido atirada ela pergunta: “Devo então morrer, sem que me façam justiça?”. Ao que o lugar-tenente da Torre responde: “Majestade, mesmo o mais pobre súdito do rei é tratado justamente.” Diante dessa declaração, Ana não se conteve e deixou escapar uma risada histérica. Contudo, não a colocaram nas celas dos prisioneiros de Estado, mas sim no apartamento de gala, o mesmo onde três anos atrás esperou o momento de sua coroação, também em uma manhã de maio. Quatro dos acusados foram julgados em Westminster,


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em 12 de maio de 1536. Weston, Brereton, e Norris publicamente mantiveram a inocência e apenas o torturado Smeaton apoiou a Coroa por se declarar culpado. Três dias depois, Ana e George Bolena foram julgados separadamente na Torre de Londres. Ela foi acusada de adultério, incesto e alta traição. Pelo Ato de Traição de Edward III, adultério por parte de uma rainha era uma forma de traição (presumivelmente por causa das implicações para a sucessão ao trono) para a qual a pena era enforcamento, estripação e esquartejamento para um homem e queima na fogueira para uma mulher, mas as acusações, e, especialmente a de adultério incestuoso, também foram projetadas para impugnar o seu caráter moral. A outra forma de traição alegada contra ela foi a de planejar a morte do rei, com seus “amantes”, de modo que ela poderia se casar mais tarde com Henrique Norris. O processo foi uma farsa, mas Ana se apresentou de cabeça erguida “como se estivesse ali para receber


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uma grande honra”, segundo uma das testemunhas. Seu irmão riu perante o tribunal. Henry Percy, antigo noivo de Ana, desmaiou diante da sentença que a considerava culpada. Nenhuma das datas dos supostos encontros de Ana coincidem com o seu paradeiro, e algumas foram alegadas terem ocorrido quando ela estava no final de uma gravidez. Os historiadores vêem as acusações contra ela, que incluíram adultério e incesto, como inconvincentes. Na corte, sua queda espantou a muitos, era esperada mas não tão cedo. HORAS FINAIS Embora as provas contra eles não fossem convincentes, os acusados foram considerados culpados e condenados à morte pelos seus pares, que estavam sob pressão para fazê-lo sob ordem do próprio rei. George Bolena e os outros acusados foram executados em 17 de maio de 1536. Todos declararam inocência,


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exceto o torturado Smeaton. Ana perguntou “Então não retratou suas calúnias? e com piedade comenta “temo que sua alma precisará prestar contas disso.” Senhor Kingston, o guardião da torre, relatou que Ana parecia muito feliz e pronta para dar fim à vida. O rei comutou a pena de Ana da queima para decapitação e empregou um espadachim de St Omer para a execução, ao invés de ter uma rainha decapitada com um machado comum. Há uma curiosidade que permite avaliar a personalidade forte e marcante de Ana Bolena e, segundo fontes históricas, aconteceu por ocasião de sua execução. Alguns, inclusive, dizem ter sido um último recurso da rainha para retardar a consumação da execução, ainda esperançosa de um perdão real por parte de Henrique VIII, perdão este que estaria sendo defendido pela sua irmã, Mary. Quando informada da sua iminente execução, Ana Bolena fez chegar a Henrique VIII uma exigência - não aceitaria ser morta por um carrasco inglês, que utilizava o


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machado para a decapitação. Exigia a “importação” de um carrasco francês, pois estes usavam a espada. Para justificar a sua exigência, teria dito “uma Rainha da Inglaterra não curva a cabeça para ninguém e em nenhuma situação”, pois as execuções com a espada eram feitas com a vítima ajoelhada, mas com a cabeça erguida, enquanto as com machado eram feitas com a vítima ajoelhada curvada sobre o cepo. O esgrimista francês recebeu como pagamento £ 23 para reduzir o seu sofrimento ao mínimo e levou a cabeça em uma tentativa. Seu nome era Jean Rombaud e ele era tão hábil que uma vez decapitou dois criminosos com um só golpe. Execuções eram rotineiramente problemáticas e muitas vezes vários golpes eram dados para cortar a cabeça. Ana estava preocupada, tendo testemunhado isso, e este foi o último ato de Henrique de “bondade” a ela. Vieram a Ana, na manhã de 19 de Maio para levá-la para a Tower Green. Anthony Kingston, o Condestável da Torre, escreveu:


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para a ela a seu pedido, o ad vi en i fu , hã e “Esta man no momento em qu a el m co r ta es se que eu pudes tenção de que eu in a m co r, ho en que recebeu o bom S como para atestar ão ss fi n co a su r vi deveria ou a. E na escrita dis ar cl re p m se e ss fo sua inocência ha chegada, ela in m a m co e , ou fi rei to que ela me con ube que não morre so eu , n to gs in K disse, “Sr. ito triste por isso, u m u to es eu e , ia do meio-d antes do deixaor esta altura e ter p ta or m r ta es i se evvee pois pen u disse a ela que dde E ” . r. or do d ha in m a do para trás do então ela disse: E o. id p rá o tã a er dorr,, que ser sem do ito bom, e eu teu m a er z go al o e “Eu ouvi dizer qu as mãos sobre ele, às u co lo co e , o” n fi ço nho um pesco entou: “Sabeis sc re ac da in gu se emgargalhadas. Em em diante? A na S a or ag e d ão ar am como me ch de novo. Cabeça.” E riu de lheres executau m m bé m ta e s en eu coEu vi muitos hom ddee tristeza, e ao m an gr em m va ta es doss,, e eles do a alegria na morte. it u m m te ra ho n se nhecimento esta ente com ela, e am u n ti n co tá es er .” Senhor, seu esmol s após a meia-noite ra ho as du as e d sd es d de tem estaddoo


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Apesar do exposto acima, um poema provavelmente de Ana Bolena mostra que em algum momento sua morte iminente pode ter causado grande tristeza, e que também ela pode ter esperado que a morte acabasse com seu sofrimento.

Morte A calenta meu ador mecer Permita-me um re pouso tranqüilo Deixa passar meu espírito completamente inoc ente Lá fora tocam os si nos dos maus presságio s Lúgubres Deixe-os tocar anunciando minha morte Por que eu preciso morrer


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Pouco antes do amanhecer, ela chamou Kingston para ouvir missa com ela, e jurou em sua presença, pela salvação eterna de sua alma, mediante os santos sacramentos, que ela nunca tinha sido infiel ao rei. Ela repetiu esse ritual de juramento imediatamente antes e depois de receber o corpo eo sangue de Cristo. Na manhã de sexta-feira 19 de Maio, Ana Bolena foi executada, não sobre a Tower Green, mas sim, em um andaime montado no lado norte da White Tower, em frente ao que hoje são as Casernas de Waterloo. Poucas pessoas estavam presentes, somente os enviados do rei, pois a execução não foi pública. Na primeira fila estavam o ministro Cromwell, o Duque de Suffolk e o Duque de Richmond, bastardo do rei. Ela usava um saiote vermelho sob um avulso, um vestido de tordilha de damasco com decote baixo e um manto de arminho. O penteado é enfeitado com pérolas, segundo a moda da época, e uma rede prende as tranças, deixando livre o pescoço. Acompanhada


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por duas assistentes do sexo feminino, Ana fez sua caminhada final da Casa da Rainha ao cadafalso, e ela parecia “como se não fosse morrer”. Subiu ao patíbulo e fez um breve brev discurso: di

vim aqui para eu o, tã is cr o ov p “Bom m a lei, e pela lei eu morrer, de acordo co u e, portanto, nnaaddaa vo r re or m a a ad lg ju sou a u não vim aqui par falar contra ela. E falar nada disso, de em n , ém gu in n r sa acu a morrer, mas da na de n co e da sa u que sou ac dê-lvar o rei e concedê sa a ar p s eu D a o eu or sobre vós, pois ar in re a ar p o p m te lo muito so, i mais misericordio fo e p ci n rí p m hu nen e pre foi bom, gentil e para mim ele sem er pessoa se meter qu al qu se E o. n ra sobe -la-ei a julgar o gá ri ob eu , sa u ca em minha e e despeço do mundo m eu m si as E r. ho mel ente desejo a tom ra ce n si eu e s, vó de todos ndes im. Oh, Senhor, te m or p em or e qu s do eus eu entrego D a , im m de ia d ór miseric minha alma.”


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Esta é uma versão do seu discurso, escrito por Lancelot de Carles em Paris, poucas semanas após sua morte, ele esteve em Londres, mas não presenciou nem o julgamento nem a execução. Todas as contas são similares, e indubitavelmente corretas em graus variados. Pensa-se que ela evitou criticar explicitamente o rei para salvar a filha e a família de maiores repercussões, mas mesmo sob essa pressão não confessou culpa, preferindo deixar implícita a sua inocência, no seu apelo aos historiadores que “irá imiscuir-se em minha causa”. MORTE E ENTERRO Ela então se ajoelhou ereta, no estilo francês de execuções. Sua oração final constou de sua repetição, “Para Jesus Cristo, confio a minha alma, Senhor Jesus recebeis o meu espírito.” Suas damas retiraram o enfeite de cabeça e colares, e em seguida amarraram uma venda sobre seus olhos. De acordo com Eric W. Ives, seu carrasco estava tão tocado por Ana que


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ficou abalado, e encontrou dificuldades para prosseguir com a execução. A fim de distraí-la, gritou: “Onde está a minha espada?” pouco antes de matála, assim Ana poderia morrer pensando que ela tinha mais alguns segundos para viver. A execução foi rápida e consistiu de um único golpe. Foi relatado que Cranmer, que estava em Lambeth Palace, caiu em prantos depois de dizer a Alexander Ales: “Ela que foi a rainha da Inglaterra na terra vai se tornar hoje uma Rainha no céu.” Quando as acusações foram trazidas pela primeira vez contra Ana, Cranmer tinha expressado o seu espanto a Henrique e sua crença de que “ela não deve ser culpada.” Além disso, Cranmer se sentiu vulnerável por causa de sua proximidade com a rainha. Na noite antes da execução, ele declarou que o casamento de Henrique com Ana tinha sido nulo, como fez com Catarina antes dela. Ele não fez nenhuma tentativa séria para salvar a vida de Ana, embora algumas fontes registrem que ele a preparou para


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a morte ao ouvir sua última confissão de pecados, em que ela havia declarado sua inocência diante de Deus. No entanto, no dia da sua morte, um amigo escocês encontrou Cranmer chorando descontroladamente no jardim dele em Londres, dizendo que ele tinha certeza que Ana já tinha ido para o céu. Apesar do esforço colocado na execução de Ana, Henrique não organizou qualquer tipo de funeral nem mesmo forneceu um caixão adequado para ela. Então, a mais afeiçoada de suas damas, Mary Wyatt, recolheu chorando a cabeça da soberana, lavou o rosto do sangue que o havia inundado e pediu auxílio a um arqueiro para que a ajudasse. O corpo dela ficou no patíbulo durante algum tempo antes deste homem (que acredita-se que estava trabalhando dentro da torre) encontrar um baú de flechas vazio e colocar sua cabeça e corpo dentro. Ela então foi enterrada em uma sepultura anônima na Capela de St Peter ad Vincula. Seu esqueleto foi identificado durante a reforma da capela, no reinado da Rainha Vitória e


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o local de descanso de Ana está agora marcado no chão de mármore. Quando Henrique ouviu ressoarem à distância os canhões da Torre de Londres, anunciando a morte da condenada, teve uma exclamação de alívio: “Oh, bem! A tarefa está realizada!” Na mesma noite, jantou com sua amante, Jane Seymour, e dez dias casou-se com ela. A Princesa Elizabeth foi declarada bastarda e privada do título. A menina, então com três anos, perguntou: “Por que ontem eu era Princesa e hoje sou somente Dona Elizabeth?” Ninguém teve coragem de lhe responder. Seu guarda-roupa também tornou-se igual ao de Cinderela. Sua mãe havia cuidado dele com grande prazer e gosto, escolhendo cores combinadas com os cabelos ruivos da menina: laranja, amarelo, ferrugem, branco. A última compra foi de veludo verde, para o toldo do bercinho. Depois, nada. Para conseguir a autorização de vestir a menina que crescia, a governanta teve que se entender com o ministro Cromwell.


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R ECONHECIMENTO E LEGADO Após sua morte, uma série de mitos surgiram sobre Ana. Muitas destas histórias tinham suas raízes em obras anti-anglicanas escritas pelos católicos romanos. Nicholas Sander, um católico romano nascido em 1530, comprometeu-se a depor Elizabeth I e restabelecer o catolicismo na Inglaterra. Em seu De Origine ac Progressu schismatis Anglicani (O surgimento e o crescimento do cisma anglicano), publicado em 1585, ele foi o primeiro a escrever que Ana tinha seis dedos na mão direita. Desde que deformidades físicas eram geralmente interpretadas como um sinal do mal, é improvável que Ana Bolena teria ganho a atenção romântica de Henrique se tivesse tido qualquer uma. Ana Bolena foi descrita por seus contemporâneos como inteligente e talentosa nas artes musicais e atividades acadêmicas. Ela também era obstinada e orgulhosa, e ousou brigar com Henrique. O biógrafo Eric Ives avalia as aparentes contradições na personalidade de Ana:


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“Para nós, ela parece inconsistente – religiosa e agressiva, calculista e emocional, com o leve toque de cortesã e ainda o forte espírito de um político, mas é isso que ela era, ou simplesmente aquilo que nos esforçamos para enxergar através da opacidade das evidências? Quanto à sua vida interior, de uma pequena quantidade milagrosa de novo material, nós nunca realmente saberemos. Mas o que vem a nós através dos séculos é a impressão de uma pessoa que é estranhamente atraente para o início do século XXI: uma mulher em seu próprio direito – tomada em seus próprios termos, no mundo de um homem, uma mulher que mobilizou a sua educação, seu estilo e sua presença para compensar as desvantagens de seu sexo, de apenas moderada beleza, mas tomando uma corte e um rei como uma tempestade. Talvez, no fim, é a avaliação de Thomas Cromwell, que mais se aproxima: inteligência, espírito e coragem.” Após a exumação, em 1876, nenhuma anomalia foi descoberta: sua compleição foi descrita como de-


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licada, cerca de 1,67m, com dedos alongados e bem formados. Elizabeth I certamente herdou a compleição de sua mãe, altura, estrutura facial e mãos. Nenhum dos retratos contemporâneos a Ana Bolena sobreviveu: a semelhança é apenas de uma medalha de 1534 para comemorar a sua segunda gravidez, no entanto, está severamente danificada. Após a coroação de sua filha como rainha, Ana era venerada como mártir e heroína da Reforma Inglesa, especialmente através das obras de John Foxe, que argumentou que Ana tinha salvo a Inglaterra dos males do catolicismo romano, e que Deus havia fornecido a prova de sua inocência e virtude, certificando-se de que sua filha, Elizabeth I, mais tarde se tornou rainha. Um dos exemplos mais evidentes da influência direta de Ana na Igreja reformada é o que Alexander Ales descreveu à rainha Elizabeth como os “bispos evangélicos que sua santa mãe elegeu entre os estudiosos que favoreceram a mais pura doutrina”. Ao longo dos sé-


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culos, Ana tem inspirado ou sido mencionada em numerosas obras artísticas e culturais. Como resultado, ela manteve-se na memória popular e tem sido chamada de “a mais influente e importante rainha consorte que a Inglaterra já teve.” Elizabeth I, sua filha, teria dito ao embaixador veneziano: “Minha mãe não teria jamais convivido com meu pai, senão em um matrimônio declarado legal pelo Primaz da Inglaterra.” MITOS E LENDAS DE A NA BOLENA Muitos mitos e lendas sobre Ana Bolena sobreviveram ao longo dos séculos. Um deles é que ela foi enterrada secretamente na Igreja de Salle, em Norfolk, sob uma laje preta perto dos túmulos de seus antepassados Bolena. Foi dito que seu corpo teria descansado em uma igreja em Essex na sua viagem para Norfolk. Outra é que o seu coração, a seu pedido, foi enterrado na Igreja de Erwarton (Arwarton), Suffolk, por seu tio Sir Philip Parker.


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O fantasma de Ana teria sido avistado em Hever Castle, Blickling Hall, Igreja de Salle, Torre de Londres, e Marwell Hall. O relato mais famoso da sua reputada assombração foi documentado no livro Ghosts I’ve Met do pesquisador paranormal Hans Holzer. Em 1864, um major-general J. D, Dundas do 60º regimento de artilharia estava a serviço na Torre de Londres. Como ele estava olhando pela janela de seus aposentos, percebeu um guarda embaixo, no pátio, em frente ao alojamento, local onde Ana tinha sido presa, se comportando de forma estranha. Ele parecia desafiar algo que, para o general, parecia uma figura feminina esbranquiçada a deslizar em direção ao soldado. O guarda atirou contra a forma com sua baioneta e, em seguida desmaiou. Apenas o testemunho do General e corroboração na corte marcial salvaram o guarda de uma sentença de prisão por ter desmaiado em serviço.


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Sobre a ĂŠpoca


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N

a Idade Média, a Europa basicamente se dividia em feudos, governados por senhores daquelas terras. Havia uma extrema desigualdade social de uma sociedade dividida em classes: plebe, nobreza e clero. Além disso, a justiça, a moeda, os critérios variavam a cada lugar. As únicas regras universais e onipresentes eram do catolicismo. Os camponeses trabalhavam nessas terras, ganhando parte da colheita mas também pagando um largo tributo ao senhor feudal. Passavam fome, porém mais tarde novas técnicas agrícolas propiciaram um aumento da produção, e criação de excedentes que passaram a ser vendidos em mercados. Estabelecia-se aí a burguesia que foi se fortalecendo


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economicamente. A população aumentou, as cidades incharam e, em seguida veio uma crise econômica. Os camponeses se revoltaram com o aumento dos tributos cobrados pela nobreza que tentava fugir da crise, instaurando-se aí um grande caos. É nesse cenário que começamos a ver ligações da burguesia (que tinha dinheiro) com a nobreza (que tinha o status). Casamentos entre as classes passaram a ocorrer. O rei passa a se fortalecer como figura de poder que pode controlar a crise. Enquanto se passa a história da biografada, estamos na época do fortalecimento do poder real. A organização social e política passou por uma séria e longa mudança ao longo dos séculos XIV, XV, XVI e XVII, acabando com a descentralização do poder que havia no feudalismo e se encaminhando para a formação das monarquias absolutistas que concentravam o poder nas mãos do rei, estabelecendo a formação de um Estado, unificação da moeda,


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definição de fronteiras, criação de exércitos nacionais e fortalecimento da economia. Nesse ínterim, os senhores feudais perdiam autoridade em suas terras, mas, em sua maioria cediam, pois o rei controlava as revoltas camponesas que então ocorriam, e ao mesmo tempo eram beneficiados com cargos de Estado, recuperando status e riqueza que se perdiam em meio aos conflitos dos feudos e a crise econômica que a sociedade centrada na terra havia passado. A burguesia, por sua vez, também apoiava o fortalecimento do poder real e colaborou economicamente para que isso ocorresse, com o objetivo de ter melhores condições para o desenvolvimento de atividades comerciais. Os camponeses foram apaziguados a partir do controle que o rei podia exercer sobre os abusos da nobreza. A centralização e aumento do poder do rei foram justificadas ainda por estudos como de Maquiavel, Hobbes e Bossuet. Para Maquiavel, os fins justificam os meios, e para Hobbes o Estado existia a partir de um contrato feito entre as pessoas,


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o rei era aceito como protetor contra as ameaças do exterior e interior. Mais tarde, Bossuet, justificaria o poder real como vindo de Deus, criando a Teoria do Direito Divino dos Reis. A política econômica da época foi o mercantilismo, orientada basicamente pela intervenção do Estado na economia. As práticas variavam de reino para reino, mas todas se focavam no crescimento de suas economicas, podendo assim o governo impor limites ou dar incentivos às atividades econômicas, controlar a importação e exportação de mercadorias e estimular a conquista de outros territórios. Durante o século XVI, Espanha e Portugal exploraram e conquistaram os mares do mundo, conquistando a América Latina como colônia, ao mesmo tempo que Portugal se tornou o mestre do Oceano Índico. A Espanha, no século XVI, recebeu um grande fluxo de metais preciosos de suas colônias. A França buscou o enriquecimento através da produção e ex-


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portação de artigos de luxo. Portugal se beneficiou com a cana-de-açúcar do Brasil. E a Inglaterra e Holanda investiram muito na conquista do controle da distribuição dos produtos no comércio mundial. Para darmos uma ideia, a frota naval da Inglaterra cresceu de 5 para 53 navios, no reinado de Henrique VIII. Ele também amava palácios, começando com 12 e terminando com 55. O acúmulo de metais preciosos e aumento do comércio eram objetivos comuns de todas as monarquias europeias. Dessa forma, procuravam exportar mais e importar menos. Outra forma de adquirir metais preciosos e produtos de valor era através da guerra contra outros países ou pirataria. Do século XIV ao XVI, houve muitas novidades: novas técnicas de exploração agrícola, de fundição de metais, de contrução de navios mais rápidos e resistentes, de armamentos de guerra; surgimento da imprensa facilitando a publicação de livros e divulgação de ideias; descoberta de novas terras e


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riquezas; produtos diferentes de lugares distantes; crescimento das cidades; novas profissões e conhecimentos para atender a tantas mudanças; aumento do número de escolas e do contato entre as pessoas; o estabelecimento do método científico; o incentivo à pesquisa e à experimentação, fortalecendo a crença de que o ser humano era capaz de conhecer os segredos do mundo através de seu raciocínio e transformar as coisas com suas ações, que é um dos principais valores do homem do Renascimento. A partir desta ideia centrada na capacidade do homem advinda de Deus, os renascentistas colocavam uma nova relação entre o homem, a natureza e Deus. A explicação das coisas não devia mais ser procurada somente na vontade divina, mas no próprio funcionamento do mundo. Com todo o incentivo renascentista ao uso do intelecto do homem, dotado por Deus, muitas coisas foram criadas e descobertas, assim como a arte floresceu enormemente. A arte renascentista é caracterizada pela vontade do artista de mostrar homens e


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mulheres em toda a sua beleza e talento, reproduzindo a realidade e sentimentos humanos. O ser humano é, então, o centro das preocupações, e a sociedade passa de uma visão teocêntrica a uma antropocêntrica. Isso ocorreu de forma rápida nas grandes cidades europeias, mas nos campos, as mudanças foram mais lentas, as pessoas das áreas rurais por muito tempo ainda se guiaram pelas antigas tradições religiosas. Ao mesmo tempo novas terras eram então conhecidas no mundo, as rotas de comércio se expandiram, de modo que aspectos de várias culturas passaram a interagir, como um dos primeiros movimentos de globalização. Certas idiossincrasias locais foram se perdendo em favor de uma maior uniformidade da cultura europeia. Na época de Ana Bolena, o Ducado da Burgundia (atuais Bélgica, Luxemburgo, Holanda e parte da França) e a França eram os modelos culturais de esplendor e magnificência das monarquias europeias. A Inglaterra era apenas uma colônica cul-


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tural. Acontece que a educação de Ana se deu em parte na Burgundia (que futuramente se expandiria, tornando-se o Sacro Império Romano Germânico) e parte na França. Pode-se dizer que ela teve o melhor da educação europeia, e foi responsável por levar a Inglaterra as ideias renascentistas e favorescer as artes e a moda na Inglaterra até então cafona. Ela foi patrona, por exemplo, de Hans Holbein, o jovem, notável pintor flamenco. É possível também que Ana tenha conhecido Leonardo da Vinci, durante sua estada na França, já que ela era dama de honra da esposa de Francisco I e este era amigo de Leonardo, favorecendo-o com patronagem e uma residência próxima à real, durante os últimos anos do artista italiano. SOBRE A R EFORMA R ELIGIOSA Entre os séculos V e XV, a Igreja Católica conquistou grande poder na sociedade europeia ocidental. Os camponeses e nobres tinham sua vida organi-


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zada em torno das regras católicas: orações ao longo do dia; doenças curadas através de rezas e exorcismos; nascimentos, mortes, catástrofes naturais, momentos de riqueza e pobreza explicados pela vontade de Deus; educação controlada pela Igreja com universidades e bibliotecas chefiadas por religiosos ou pertencentes a mosteiros; a arte também era vista como forma de louvar a Deus e forma de mostrar aos fiéis os ensinamentos e regras católicos, sendo os artistas patrocinados pelas Igrejas e, quando fora deste meio, geralmente perseguidos. Além disso, a Igreja recebia o dízimo dos fiéis, parte da herança dos que morriam e tributos oriundos das terras que possuía. Ainda vendia cargos importantes, pois estes geravam muito lucro. Em meio ao poder mundano fragmentar do feudalismo, a Igreja espalhada por toda a Europa mantinha um poder central de Roma que estabelecia regras a todos os católicos em todos os países, sendo uma unidade rica e poderosa que intervinha mesmo


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na política. Do quotidiano de um servo aos acordos dos monarcas, a influência da religião e do papa se fazia presente. Muitos começaram a criticar o excesso de luxos e riquezas, tão distanciados do cristianismo original, assim como criticaram a falta de instrução do baixo clero e o distanciamento do alto clero. E muitos desses foram punidos como hereges. No século XIV, com a crise da sociedade feudal, não só a nobreza, mas também a Igreja Católica foram atingidas pelas revoltas dos camponeses. Além disso, a grande peste que atingiu a Europa foi vista como um castigo de Deus, e as pessoas começaram a se distanciar das pregações da Igreja. E, por fim, o fortalecimento do poder dos reis foi outro fator de enfraquecimento da Igreja Católica que outrora interferia em todos os reinos, colocando-se acima da autoridade do rei e tirando riquezas do país. Com as monarquias absolutistas, isso precisaria ser mudado, já que o rei seria a autoridade absoluta do país.


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Ainda veio o Renascimento para ajudar no enfraquecimento do Catolicismo, a partir do momento que as pessoas começaram a observar e investigar a natureza, compreendendo de outra forma o funcionamento das coisas e, dessa forma, dando a Deus um lugar diferente. Por fim, veio uma enxurrada de críticas à Igreja e sua exploração dos fiéis com a venda de indulgências e relíquias sagradas, na sua busca por enriquecimento. Algumas começaram a surgir dentro da própria Igreja. Em 1517, o monge alemão Martinho Lutero fixou na porta da igreja de sua comunidade um documento no qual condenava várias das práticas do clero, como a venda de indulgências e de “relíquias sagradas”. Lutero traduziu para o alemão a Bíblia, que antes só existia em latim, permitindo, assim, que não só o clero a lesse, mas também os fiéis. Ele afirmava que todo cristão era um sacerdote e podia interpretar a palavra de Deus. Essas ideias de Lutero causaram reação na Ingreja Católica que o expulsou e excomungou. Con-


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tudo, ele conseguiu apoio de grupos muito fortes na Alemanha, incluindo a nobreza que o defendeu militarmente contra os católicos e se converteu a nova Igreja que ele fundou. Os nobres alemães, assim, conseguiram independência do poder do papa e tomaram conta das terras católicas na Alemanha. Os camponeses, por sua vez, também apoiaram Lutero, mas viram nas explicações da Bíblia uma justificativa para deixarem de ser explorados e dividir as riquezas existentes, incluindo terras, iniciando uma revolta contra os nobres. Lutero retirou seu apoio aos camponeses e eles foram derrotados, mas a Igreja Luterana se fortaleceu unida à nobreza alemã. A contestação rapidamente se alastrou e outra cria do Catolicismo, Calvino, converteu-se ao Luteranismo em 1530, sendo perseguido na França onde ganhou muitos seguidores, e por fim estabelecendo sua igreja em Genebra, com um rígido padrão moral para sua comunidade.


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E ENTÃO A INGLATERRA... Os caminhos nesse país foram diferentes. Primeiramente, o clero católico inglês tinha uma relação de maior isolamento em relação à autoridade do papa em Roma, e uma ligação mais estreita com a monarquia. As próprias peculiaridades da região, com antigas tradições religiosas celtas e lendas muito fortes, fizeram com que o catolicismo naquele país já sofresse adaptações desde seu estabelecimento. Henrique VIII cerceou o poder da Igreja Católica em seu país, até estabelecer de vez seu rompimento com Roma, e sua designação como Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra. Junto do poder, vieram as terras e riquezas da Igreja Católica. Especificamente o rompimento da Igreja da Inglaterra com Roma se deve à Ana Bolena, e claro todo o cenário que já se formava em toda Europa, propriciando tal ousadia.


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CONTEMPORÂNEOS IMPORTANTES • Leonardo da Vinci, famoso artista e inventor e cientista (1452 - 1519). • Michelangelo Buonarroti, pintor e escultor italiano (1475-1564). • Rafael, pintor italiano, (1483 - 1520) • Albrecht Dürer, pintor alemão, (1471 – 1528) • Hans Holbein the Younger, pintor alemão, (1497 – 1543) • Ticiano, pintor italiano, (1485 – 1576) • Hieronymus Bosch, pintor holandês (1450 – 1516) • Andrea Palladio (30 de novembro de 1508 - 19 de agosto de 1580), um dos mais influentes arquitetos do Ocidente • Henrique VII de Inglaterra, fundador da dinastia Tudor. Introduziu mecanismos impiedosa-


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mente eficientes de tributação que restauraram o reino após um estado de falência, devido aos efeitos da Guerra das Rosas (1457-1509). • O rei Henrique VIII da Inglaterra, o fundador do Anglicanismo (1491 - 1547). • Eduardo VI de Inglaterra, notável para uma maior diferenciação do anglicanismo das práticas da Igreja Católica Romana (1537-1553). • Mary I de Inglaterra. Tentou contrariar a Reforma Protestante em seus domínios. Chamada Bloody Mary por sua perseguição religiosa (1516 - 1558). • Elizabeth I da Inglaterra (1533 - 1603), filha de Ana Bolena. Seu reinado é ainda considerado um dos maiores de toda a história da Inglaterra. • O rei Francisco I da França, considerado o primeiro monarca do Renascimento em seu Reino (1494 - 1547).


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• Carlos V, imperador do Sacro Império Romano e os primeiro a reinar como Rei de Espanha. Envolvido em conflito quase constante com a França e o Império Otomano, favorecendo a colonização espanhola das Américas (1500 - 1558). • Rei Gustavo I da Suécia, restaurou a soberania sueca e introduziu o protestantismo na Suécia (1496-1560). • Erasmo Roterodamus (também conhecido como Erasmo de Rotterdam) (27 de outubro de 1466/1469, Rotterdam, 12 de julho de 1536) de Basileia foi um teólogo holandês renascentista e humanista cristão católico. • Martin Luther, reformador religioso alemão (1483 - 1546). • Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (1491 - 1556).


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• João Calvino, o teólogo e reformador. Fundador do calvinismo (1509-1564). • John Knox (c. 1510 - 1572) foi um clérigo escocês e líder da Reforma Protestante, que é considerado o fundador da denominação Presbiteriana. • Paracelso (11 de Novembro ou 17 de dezembro de 1493, em Einsiedeln, Suíça - 24 de setembro de 1541, em Salzburgo, Áustria), médico, botânico, alquimista, astrólogo e ocultista em geral, do Renascimento. • Michel Nostradamus, astrólogo e médico francês, autor de Les Propheties, um livro de profecias do mundo (1503 - 1566). • Andreas Vesalius, anatomista, médico e autor de um dos livros mais influentes sobre a anatomia humana, De humani corporis fabrica (sobre o funcionamento do corpo humano) (1514-1564).


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LINHA DO TEMPO 1491 1494 1500

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28/06 - Henry VIII nasce 27/04 - Francis I de França nasce O navegador português Pedro Álvares Cabral descobre oficialmente o Brasil. A frota otomana de Kemal Reis vence os venezianos na Segunda Batalha de Lepanto. 24/02 - Carlos V de Espanha nasce Michelangelo retorna à sua Florença natal para começar a trabalhar na estátua de David. A dinastia Safavid reina sobre o Irã até 1736. Os safavids adotam um ramo xiita do Islã. 27/09 - de Catarina de Aragão chega na Inglaterra 14/11 - Catarina de Aragão casa-se com Arthur, o Príncipe de Gales Nasce Ana Bolena ou em Blickling Hall ou no Castelo de Hever, em Kent. Historiadores recentes consideraram ser 1507 a data aceita, mas em 1981, o historiador de arte Hugh Paget demonstrou com sucesso uma carta que Ana havia escrito em 1513 de Bruxelas, quando ela era uma dama de honra naquela corte, uma posição que só era aberto para 12 ou 13 anos de idade, e logo não poderia ter sido escrita por uma mão de 6 anos de idade. [IVES]


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02/04 - Arthur, o Príncipe de Gales, morre, deixando Catarina de Aragão viúva. 11/02 - Elizabeth de York, mãe de Henrique VIII morre Nostradamus nasce em 14 ou 21 de dezembro. Leonardo da Vinci começa a pintar a Mona Lisa e conclui três ou quatro anos mais tarde. A Espanha vence a França na Batalha de Cerignola. Considerada a primeira batalha na história vencida por pequenas armas de pólvora. Um período de seca, com fome na Espanha. Pelo menos dois mil judeus convertidos são massacrados em um motim de Lisboa. Cristóvão Colombo morre em Espanha. A Polônia é invadida pelos tártaros do Canato da Criméia. A primeira epidemia de varíola registrada no Novo Mundo ocorre na ilha de Hispaniola e dizima a população nativa Taíno. Vitória Portuguesa na Batalha de Diu marca o início do domínio português do comércio das especiarias; o domínio árabe do comércio no Índico é seriamente abalado. 22/04 - Henrique VII morreu; Henrique VIII subiu ao trono 11/06 - Catarina de Aragão casa-se com Henrique VIII 24/06 - Catarina de Aragão é coroada rainha


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1509-10 A “grande peste” atinge várias partes da Inglaterra. Conquista de Goa por Afonso de Albuquerque, que se tornaria a capital da Índia Portuguesa 1511 O português Afonso de Albuquerque conquista Malaca, a capital do Sultanato de Malaca. Após conquistar Malaca, Albuquerque envia os primeiros navios às “Ilhas das Especiarias” (Molucas) 1512 Copérnico escreve Commentariolus, e move o sol para o centro do sistema solar. O teto da Capela Sistina, pintado por Michelangelo Buonarroti, é exibido ao público pela primeira vez A parte sul do Reino de Navarra é invadida por Castela e Aragão. 1513 Maquiavel escreve O Príncipe, um tratado sobre a filosofia política. O navegador português Jorge Álvares é o primeiro europeu a aportar na China. Henrique VIII esmaga os franceses na Batalha dos Spurs. 09/09 Batalha de Flodden, na qual os escoceses invasores são derrotados pelas forças inglesas. O sultão Selim I (“O cruel”) ordena o massacre de muçulmanos xiitas na Anatólia. Vasco Núñez de Balboa, a serviço da Espanha, chega ao Oceano Pacífico (que ele chamou de Mar del Sur) através do Istmo do Panamá. Foi o primeiro europeu a avistar o novo oceano.


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1513 Ana Bolena é enviada para o corte da Borgonha (cont.) de Margareth de Áustria, em Mechelen, em 1513 (Bélgica) e lá permaneceu até fins de 1514, quando foi transferida para a França após o casamento de Mary Tudor com Luís XII. 1514 A Batalha de Orsha pára a expansão moscovita na Europa Oriental. Grande Embaixada, com riquezas das Índias, enviada pelo rei D. Manuel I ao Papa Leão X chefiada por Tristão da Cunha. 09/10 - Mary Tudor, irmã de Henrique VIII, casa-se com Luís XII de França. Ana Bolena faz parte de sua comitiva. 1515 O Império Otomano toma o leste da Anatólia safavid depois da Batalha de Chaldiran. Em outubro de 1515, Francisco I da França reconquistou Milão; Leonardo da Vinci estava presente no encontro entre Francisco I e o Papa Leão X, em 19 de dezembro, ocorrido em Bolonha. Leonardo passou a trabalhar diretamente a serviço de Francisco, no ano seguinte, e foi-lhe concedido o solar de Clos Lucé, próximo à residência do rei, no Castelo de Amboise. Foi aqui que ele passou os três últimos anos de sua vida, acompanhado por seu amigo e aprendiz, o conde Francesco Melzi, e sustentado por uma pensão de totalizada 10.000 escudos.


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1515 22/09 - Anne de Cleves nasce (cont.) 01/01 - Luís XII morre, deixando Mary, irmã de Henrique VIII viúva prematuramente. 03/03 - Mary Tudor casa-se secretamente com Charles Brandon, 1º Duque de Suffolk, ainda na França, e oficialmente em 13/05/1515, no Palácio de Greenwich, na Inglaterra, após intervenção do Cardeal Wolsey para que o rei aceitasse o casamento. Ana Bolena permaneceu na França a serviço da rainha Cláudia, esposa de Francisco I, (até 1520) e se tornou amiga influenciada pela brilhante e influente Marguerite d’Alençon, duquesa de Angouleme e irmã de Francisco I. 24/12 - Thomas Wolsey torna-se Chanceler da Inglaterra 1516 A otomanos derrotam os mamelucos e ganham controle do Egito, Arábia e Levante. (1516-17) 18/02 - Mary I, filha de Henrique VIII com Catarina de Aragão, nasce 1517 A Reforma Protestante começa quando Lutero publica suas 95 Teses na Saxónia. A epidemia da doença da sudorese atinge a Inglaterra Tudor. 1518 Mir Chakar Khan Rind deixa o Baluquistão e se estabelece em Punjab.


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Leonardo da Vinci morre de causas naturais em Clos Lucé, em 2 de maio de 1519. Francisco I de França havia se tornado um grande amigo; e Vasari relata que o rei segurava a cabeça de Leonardo em seus braços quando este morreu - embora a história, amada pelos franceses e retratada em pinturas românticas de artistas como Ingres e Angelica Kauffmann, podem ser mais lenda do que realidade. Wang Yangming, o filósofo chinês e governador da província de Jiangxi, descreve a sua intenção de usar o poder de fogo dos fo-lang-ji, um canhão naval português, a fim de reprimir a rebelião do príncipe Zhu Chen-hao. Os piratas bárbaros liderados por Hayreddin Barbarossa invadem Provença e Toulon e no sul da França. Carlos I da Espanha torna-se imperador do Sacro Império Romano Germânico como Carlos V, Sacro Imperador Romano (governou até 1556). 15/06 - Henry Fitzroy, filho ilegítimo de Henrique VIII nasce 1519-22 A expedição espanhola comandada por Fernão de Magalhães e Elcano dão a primeira volta completa ao mundo. 1519-21 Hernán Cortez lidera a conquista espanhola do México.


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O reinado de Suleiman, o Magnífico marca o auge do Império Otomano (até 1566). 06/06 - Ana Bolena presente no Field of Cloth of Gold na França (evento de encontro entre Henrique VIII e Francisco I para estreitar a amizade entre Inglaterra e França, firmada pelo tratado de 1514) 13/09 - William Cecil, Lord Burghley, nasce Belgrado é capturada pelo Império Otomano. Depois de construir fortificações em Tuen Mun, os portugueses tentam invadir a China da Dinastia Ming, mas são expulsos por forças navais chinesas. Filipinas são descobertas por Fernão de Magalhães. Mais tarde, no mesmo ano, ele foi morto em combate na região central das Filipinas. Hernán Cortés conquista Tenochtitlan, capital do Império Azteca Casamento arranjado de Ana Bolena com o primo distante James Butler, herdeiro de Ormonde (irlandês), proposto. Em novembro Ana Bolena é chamada de volta para a Inglaterra (com 20). Aliança com Ormonde é descartada. Em algum momento entre 1521 e 1524, a irmã de Ana Bolena, Mary, é amante de Henrique VIII, logo após o casamento de Mary com William Carey, durando alguns poucos anos, no máximo.


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Rhodes cai nas mãos dos turcos otomanos de Suleiman, o Magnífico. Março - Ana Bolena estreia na corte inglesa em um baile de máscaras “Chateau Vert” como “Perseverança” A Suécia torna-se independente da União de Kalmar. Noivado secreto de Ana Bolena com Henry Percy, Duque de Northumberland (reputação de ser um jogo de amor), um jogo extremamente ambicioso. Guerra dos Camponeses, no Império RomanoGermânico (até 1525). Giovanni da Verrazano, a serviço ao Rei de França, foi o primeiro europeu a explorar a costa atlântica da América do Norte entre a Carolina do Sul e a atual Nova York. Wolsey rompe o noivado de Ana Bolena, ela é enviada de volta para Hever Castle (“tão furiosa que ela soltava fumaça” - CAVENDISH) e Percy é casado às pressas com Lady Mary Talbot, a quem havia sido prometido desde a adolescência. O casamento é desastroso. A rainha Claudia de França, de quem Ana Bolena havia sido dama de honra, morre. Espanha e Alemanha derrotam a França na Batalha de Pavia, Francisco I de França é capturado. Ana Bolena retorna para a corte inglesa.


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Os otomanos derrotam o Reino da Hungria na Batalha de Mohács. Império Mogol, fundado por Babur, reina na Índia até 1739 e mantem os títulos até 1857. Fevereiro - Henrique VIII pede a Ana Bolena para ser sua amante. Ela se recusa dizendo que só vai entregar sua virgindade para o homem que casar com ela. (ela com 25, Henrique com 35 e Catarina de Aragão com 41) Ela o recusa por mais de um ano e mantém distância. Ele ofereceu então o título de amante oficial, “maitresse en titre”; ela recusou. Outono - Henrique VIII envia a primeira de uma série de 17 cartas de amor a Ana Bolena (que ela guardou e agora estão na posse do Vaticano, sem estar claro como chegaram lá) Saque de Roma é considerado o fim do Renascimento italiano. Reforma Protestante começa na Suécia. 21/05 - Filipe de Hapsburg, futuro rei da Espanha e marido de Mary I, nasce Verão - Ana Bolena envia a Henrique VIII um berloque - um navio entre ondas furiosas com uma mulher solitária a bordo e um pingente de diamante, significando sua entrega ao rei. Henrique VIII e Ana Bolena tornam-se noivos. A anulação do casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão está prevista para meses


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23/06 - Uma das damas de Ana Bolena é atingida pela “doença do suor” e Ana sobrevive a um ataque da doença Ana Bolena se muda para seu próprio apartamento e retira-se do serviço à casa de Catarina de Aragão [Retha Wanicke diz: 3 meses depois, Campeggio chegou em setembro] Setembro - Ana Bolena retira-se para Hever Castle 29/09 - Cardeal Campeggio na Inglaterra, para julgar o caso de anulação do casamento de Henrique VIII e Catarina de Aragão Novembro - Henrique VIII corre para estar ao lado de Ana Bolena em Hever. Há também um conflito sério entre Ana e Wolsey neste momento. Os austríacos derrotam o Império Otomano durante o Cerco de Viena. O Tratado de Saragoça entre Carlos V e D. João III definiu o meridiano de Tordesilhas no Oriente, atribuindo Moluccas a Portugal e Filipinas para a Espanha. O Cardeal Wolsey é destituído de seus bens e cargo e é preso. 25/10 - Thomas More tornou-se chanceler da Inglaterra, substituindo Wolsey. Henrique VIII comemora o Natal com Catarina e Ana Bolena e se recusa a aparecer.


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Henry Percy se separa de sua esposa, Mary Talbot. Ela o acusa de ser negligente. Desde o Ano Novo, Henrique VIII passa mais tempo com Ana Bolena do que Catarina 29/11 - Wolsey morre após ser preso por conspirar (juntamente com Catarina de Aragão e o Papa) para forçar Ana Bolena para o exílio. 01/12 - Morre a Arquiduquesa Margaret da Austria, de quem foi dama de honra na infância Natal - Ana tem os casacos de seus criados de libré bordados com o lema “Ainsi sera, groigne qui groinge” (Deixe-os resmungar, é assim que vai ser), mas retira isso algumas semanas mais tarde A Guerra Civil Inca é travada entre os dois irmãos, Atahualpa e Huáscar. Inicia-se o processo de rompimento da Igreja da Inglaterra da Igreja Católica Romana. Francisco Pizarro lidera a conquista espanhola do Império Inca. D.João III de Portugal institui quinze capitanias hereditárias para defender o território no Brasil 30/03 - Thomas Cranmer é consagrado arcebispo de Canterbury Julho - Henry Percy é interrogado porque Mary Talbot tinha dito que nunca se casaram, já que ele havia tido um contrato legal para se casar com Ana. Ele jura oficialmente que não houve pré-contrato.


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1532 16/05 - Thomas More renuncia ao cargo de chan(cont.) celer da Inglaterra 01/09 - Ana Bolena é nomeada 1ª Marquesa de Pembroke em Windsor Final de Outubro - Ana Bolena começa a viver abertamente com Henrique VIII em Greenwich Outubro / Novembro - Ana Bolena acompanha Henrique VIII em uma viagem de Estado para Calais para se encontrar com Francisco I 14/11 - A data pode ter sido um compromisso formal por Henrique VIII e Ana Bolena ou a data do primeiro casamento, como afirmado por alguns apoiantes e opositores do casal na época. 1533 25/01 - casamento secreto de Ana Bolena com Henrique VIII (ela com 32 anos e ele com 42) 13/04 - Ana Bolena declarada Rainha da Inglaterra publicamente 23/05 - Tribunal de Justiça de Cranmer divorcia Henrique VIII e Catarina de Aragão 28/05 - O casamento de Ana Bolena com Henrique VIII é validado por Thomas Cranmer (Ana está com aproximadamente 5 meses de gravidez) 01/06 - Ana Bolena é coroada rainha 08/06 - Parlamento extingue autoridade papal na Inglaterra 25/06 - Mary Tudor, irmã de Henrique VIII, de quem Ana Bolena foi dama de honra por curto tempo, morre. Ela não gostava de Ana.


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1533 01/07 - Henrique VIII é excomungado pelo Papa (cont.) Domingo, 7/09, entre 15 e 16h: a filha de Ana Bolena, Elizabeth, nasce em Greenwich 10/09 - Elizabeth é batizada em Greenwich 25/11 - Henry Fitzroy se casa com Mary Howard Dezembro / Janeiro 1534 - Ana Bolena anuncia que está grávida pela 2ª vez 1534 Jacques Cartier reivindica Quebec para a França. Os otomanos capturam Bagdá. Caso dos cartazes - Francisco I se torna mais ativo na repressão dos protestantes franceses. Fevereiro / Março - Ana Bolena oferece para a princesa Mary de reconciliá-la com Henrique VIII se ela aceitá-la como rainha. A resposta de Maria é que ela não conhecia outra rainha senão sua mãe, mas se a amante do rei desejava interceder, ela ficaria grata. Ana tentaria novamente em duas ocasiões, mais com o mesmo resultado. Abril - Thomas Cromwell é confirmado como principal secretário de Henrique VIII 20/04 - Eliza Barton “Maid of Kent”, executada na Inglaterra. Junho / Julho (?, sem data clara) - Natimorto / aborto de Ana Bolena. Henrique VIII ordena que seja mantido em segredo. Novembro - Ato de Supremacia estabelece Henrique VIII como chefe da Igreja da Inglaterra


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A Rebelião de Münster, uma tentativa dos radicais, milenaristas anabatistas de estabelecer uma teocracia termina em derramamento de sangue. 22/06 - Bispo John Fisher executado 06/07 - Sir Thomas More executado Verão e Outono - Ana Bolena em viagens pelo país com Henrique VIII Ana Bolena assume poder político independente de Henrique VIII: reúne-se com diplomatas estrangeiros, patronos religiosos e culturais, responde aos peticionários Outubro - Ana Bolena está grávida novamente Estabelecimento da Inquisição em Portugal Fundação de Buenos Aires por Pedro de Mendoza 7/01 - Catarina de Aragão morre. Ana Bolena percebe que sua posição é agora vulnerável. 24/01 - Henrique VIII se acidenta em duelo de justa 29/01 - Aborto de Ana Bolena 5 dias depois. Não há provas para apoiar a anomalias fetais. Março - Dissolução de monastérios começa na Inglaterra 1/05 - Ana Bolena é presa 15/05 - Julgamento de Ana Bolena. 17/05 - George Bolena, o irmão de Ana, executado


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1536 Henry Percy se sentou no júri que declarou (cont.) Ana culpada de adultério. Quando o veredito foi anunciado, ele desmaiou e teve de ser levado do tribunal. Percy não deixou filhos, sofria de problemas estomacais, e morreu um ano depois da morte de Ana Bolena (verão de 1537) 19/05 - Ana Bolena é executada, decapitada por adultério e traição, (provavelmente com 35 anos; Henrique tinha então 45) na Torre de Londres, Inglaterra. 20/05 - Henrique VIII se torna noivo de Jane Seymour 30/05 - Henrique VIII casa com Jane Seymour 01/07 - Elizabeth e Mary declaradas ilegítimas pelo Parlamento 22/07 - Henry Fitzroy, Duque de Richmond, morre


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Este livro foi composto em CaslonOldFace BT 12/18, Eremaeus 18/24, CaslonNo540SwaD 14/21, Caxton Book 8/9,6 e Blackadder ITC 18/24, e impresso em CouchĂŠ Matte 120g/m2 e Vegetal 90g/m2.



ANA BOLENA, rainha da Inglaterra de 1533 a 1536, figurachave na agitação política e religiosa que resultou na criação da Igreja Anglicana, uma mulher em seu próprio direito – tomada em seus próprios termos, no mundo de um homem, uma mulher que mobilizou a sua educação, seu estilo e sua presença para compensar as desvantagens de seu sexo, de apenas moderada beleza, mas tomando uma corte e um rei como uma tempestade.

ISBN 978-85-00-000000


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