Cem anos de solidão - edição especial

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OBRAS DO AUTOR O amor nos tempos do cólera A aventura de Miguel Littín clandestino no Chile Cem anos de solidão Cheiro de goiaba Crônica de uma morte anunciada Do amor e outros demônios Doze contos peregrinos Os funerais da Mamãe Grande O general em seu labirinto A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada Memória de minhas putas tristes Ninguém escreve ao coronel Notícia de um sequestro Olhos de cão azul O outono do patriarca Relato de um náufrago A revoada (O enterro do diabo) O veneno da madrugada (A má hora) Viver para contar OBRA JORNALÍSTICA Vol. 1 – Textos caribenhos (1948-1952) Vol. 2 – Textos andinos (1954-1955) Vol. 3 – Da Europa e da América (1955-1960) Vol. 4 – Reportagens políticas (1974-1995) Vol. 5 – Crônicas (1961-1984) OBRA INFANTOJUVENIL A luz é como a água Maria dos Prazeres A sesta da terça-feira Um senhor muito velho com umas asas enormes O verão feliz da senhora Forbes


GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

Tradução de ERIC NEPOMUCENO 98a edição

2017


CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G211c García Márquez, Gabriel, 1928-2014 Cem anos de solidão / Gabriel García Márquez; tradução de Eric Nepomuceno. – 98a ed. – Rio de Janeiro: Record, 2017. Tradução de: Cien años de soledad ISBN 978-85-01-11036-7 1. Romance colombiano. I. Nepomuceno, Eric. II. Título. 17-40890

CDD: 868.993613 CDU: 821.134.2(861)-3

Título original: CIEN AÑOS DE SOLEDAD Copyright © 1967 by Gabriel García Márquez Design de capa, projeto gráfico e composição de miolo: Renata Vidal Ilustrações adaptadas na capa: Lisa Glanz; Pixel Buddha; Watercolor Nomads;Viktorija Reuta / Shutterstock; Suns07butterfly / Shutterstock; MA8 / Shutterstock; Helloseed / Shutterstock Ilustrações adaptadas no miolo: Lisa Glanz; Viktorija Reuta / Shutterstock Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais do autor foram assegurados. Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pela EDITORA RECORD LTDA. Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000, que se reserva a propriedade literária desta tradução. Impresso no Brasil ISBN 978-85-01-11036-7

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Para Jomí García Ascot e María Luisa Elío.



Carmelita Montiel 17 Aurelianos

Coronel Aureliano OO Remédios Moscote

Aureliano José

Pilar Ternera

Amaranta

José Arcadio OO Úrsula Iguarán (primos)

3ª geração

2ª geração

1ª geração

Meme

Filhos adotivos

Filhos

Relações não matrimoniais

OO Casamento

Aureliano Babilônia

Mauricio Babilônia

(fim da estirpe)

Aureliano

José Arcádio

Petra Cotes

Fernanda del Carpio OO Aureliano Segundo Remédios, a bela

Amaranta Úrsula OO Gastón

José Arcádio Segundo

7ª geração

6ª geração

5ª geração

4ª geração

(com diferentes esposas)

Santa Sofía de la Piedad OO Arcádio

Rebeca OO José Arcádio

ÁRVORE GENEALÓGICA DOS BUENDÍA



M

uitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de pau a pique e telhados de sapé construídas na beira de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome, e para mencioná-las era preciso apontar com o dedo. Todos os anos, lá pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava sua tenda perto da aldeia e com um grande alvoroço de apitos e tímbalos mostrava as novas invenções. Primeiro levaram o ímã. Um cigano corpulento, de barba indomada e mãos de pardal, que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração pública do que ele mesmo chamava de oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedônia. Foi de casa em casa arrastando dois lingotes metálicos e todo mundo se espantou ao ver que os caldeirões, as caçarolas, os alicates e os fogareiros caíam de onde estavam, e as madeiras rangiam por causa do desespero dos pregos e parafusos tentando se soltar, e até mesmo os objetos perdidos há muito tempo apareciam onde mais tinham sido procurados e se arrastavam em debandada turbulenta atrás dos ferros mágicos de Melquíades. “As coisas têm vida própria” — apregoava

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voz alta, sem saltos, as encíclicas cantadas que o próprio Melquíades fizera Arcádio escutar, e que na realidade eram as predições de sua execução, e encontrou anunciado o nascimento da mulher mais bela do mundo que estava subindo aos céus de corpo e alma, e conheceu a origem dos gêmeos póstumos que renunciavam a decifrar os pergaminhos, não apenas por incapacidade e inconstância, mas porque suas tentativas eram prematuras. Neste ponto, impaciente por conhecer sua própria origem, Aureliano deu um salto. Então começou o vento, morno, incipiente, cheio de vozes do passado, de murmúrios de gerânios antigos, de suspiros de desenganos anteriores às nostalgias mais tenazes. Não o percebeu, porque naquele momento estava descobrindo os primeiros indícios de seu ser num avô concupiscente que se deixava arrastar pela frivolidade através de um páramo alucinado, à procura de uma mulher formosa que ele faria feliz. Aureliano reconheceu-o, perseguiu os caminhos ocultos de sua descendência, e encontrou o instante de sua própria concepção entre os escorpiões e as borboletas amarelas de um banheiro crepuscular, onde um peão de oficina saciava sua luxúria com uma mulher que se entregava a ele por rebeldia. Estava tão absorto, que tampouco sentiu a segunda arremetida do vento, cuja potência ciclônica arrancou as portas e as janelas dos umbrais, destroçou o telhado da varanda oriental e desenraizou os alicerces. Só então descobriu que Amaranta Úrsula não era sua irmã e sim sua tia, e que Francis Drake tinha assaltado Riohacha somente para que eles pudessem se buscar pelos labirintos mais intrincados do sangue, até engendrarem o animal mitológico que haveria de pôr fim à estirpe. Macondo já era um pavoroso redemoinho de poeira e escombros centrifugados pela cólera do furacão bíblico quando Aureliano pulou onze páginas para não perder tempo em fatos demasiado conhecidos e começou a decifrar o instante que estava vivendo, decifrando conforme vivia esse instante, profetizando a si mesmo no ato de decifrar a última página dos pergaminhos,

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como se estivesse se vendo num espelho falado. Então deu outro salto para se antecipar às predições e averiguar a data e as circunstâncias de sua morte. Porém, antes de chegar ao verso final já havia compreendido que não sairia jamais daquele quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilônia acabasse de decifrar os pergaminhos, e que tudo que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e para sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra.

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Este livro foi composto nas tipologias Bembo Std e Univers LT Std, e impresso em papel ??? na Grรกfica ?????.




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