Cultura e desenvolvimento

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Heloisa Buarque de Hollanda (org)


C974 Cultura e Desenvolvimento / organização Heloisa Buarque de Hollanda. – Rio de Janeiro : Aeroplano, 2004 200p/. : 12 x 21 cm

ISBN 85-86579-65-3 1. Cultura popular – Rio de Janeiro (Estado) – Congressos. I. Hollanda, Heloisa Buarque de, 1939-

04-2584

CDD 306.098153 CDU 316.7(815.3)

007787

Produção editorial: Christine Dieguez Capa: Tita Nigrí Projeto gráfico e editoração eletrônica: Renata Vidal Revisão: Itala Maduell Aeroplano Editora e Consultoria Av. Ataulfo de Paiva, 658 sala 402 Leblon – Rio de Janeiro – RJ CEP 22440-030 Tel: (21) 2529-6974 Telefax: (21) 2239-7399 aeroplano@aeroplanoeditora.com.br www.aeroplanoeditora.com.br


Sumário Heloisa Buarque de Hollanda

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Apresentação

Boaventura de Sousa Santos

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Entre Próspero e Caliban – Colonialismo, pós-colonialismo e interidentidade

Jailson de Souza e Silva

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Identidade, território e práticas culturais: A experiência do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré – Ceasm

Ecio de Salles

90

Culturas transitivas

Marta Porto

104

Cultura para o desenvolvimento: um desafio de todos

Maurício Torres

114

Levantes bárbaros

Ferréz Poema

132


Paulo Roberto Pires

136

Estilhaços de ficção, literatura viva

Paulo Lins

144

Poema

Beatriz Resende

148

A literatura brasileira na era da multiplicidade

Tião Santos

176

Rádios Comunitárias: “Balangando o beiço” pelo direito de comunicar!

Zuenir Ventura

186

Do bem e do mal

Sobre os autores

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Sobre o evento

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Apresentação Seguramente, não é mais possível pensar as manifestações estéticas e culturais hoje sem articulá-las às questões básicas do desenvolvimento econômico e social. Por toda parte, emergem novos territórios culturais e disse minam-se novas dinâmicas de criação e intervenção que rapidamente se articulam como respostas e interpelações aos efeitos contraditórios dos processos neoliberais de globalização e transnacionalização da cultura e da informação. Neste quadro, a evidência sinaliza a ocorrência de uma significativa alteração na função social da arte e a entrada definitiva da produção cultural no mercado e na economia, tornando-se elemento-chave nos pro cessos de afirmação da cidadania, de geração de emprego e inclusão social. O esforço do seminário Cultura e Desenvolvimento foi na direção de procurar debater os caminhos possíveis da cultura hoje e colocar em cena algumas perguntas inadiáveis: Como pensar a radicalidade do binômio desenvolvimento/cultura no Brasil? Como trabalhar as possibilidades de ampliação do paradigma dos diretos humanos para a área cultural? Como potencializar o rendimento político-


cultural das redes cidadãs e das “multidões”? Como refuncionalizar a geopolítica da produção e do consumo cultural no quadro transnacional? Como oferecer novos dados e variáveis para a formulação de políticas concretas de desenvolvimento para a área da cultura? Com este naipe de perguntas em mente, pretendíamos promover a discussão e o mapeamento dos movimentos civis e culturais emergentes e novas perspectivas críticas para a compreensão dos fenômenos culturais surgidos nas grandes periferias urbanas e seu alcance de inclusão e desenvolvimento social. Outro objetivo não menos importante deste seminário foi a criação de canais produtivos e a promoção de articulações concretas e permanentes entre estas novas manifestações que se apresentam desafiando os limites entre classes sociais e fronteiras culturais e a academia. Os textos reunidos neste volume procuram trazer subsídios a este debate. São escritos em diferentes tons e linguagens por ativistas, professores, pesquisadores, jornalistas, editores e artistas. Em todos, uma preocupação comum: a atividade cultural enquanto função radical na vida política do país.


Assim, temos um conjunto polivalente de reflexões, análises, relatos e testemunhos no qual os poemas de Paulo Lins e Ferréz ou a crônica de Zuenir Ventura sobre Paulo Negueba dialogam com ensaios como o de Ecio de Salles propondo um tipo de “articulação poliglota”, capaz de agir junto a múltiplos pontos de interseção institucionais e sociais na promoção de uma cidadania cultural, o artigo de Marta Porto situando, em boa hora, a invisibilidade e a insuficiência histórica do debate sobre Cultura e Desenvolvimento nas políticas culturais no Brasil ou de Jailson de Souza e Silva sobre as perspectivas conceituais e socioculturais do fortalecimento de uma dinâmica de redes cidadãs como noção estruturante das ações que desenvolve no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré. Outra experiência importante relatada neste volume é a de Tião Santos em Balangando o beiço pelo direito de comunicar, sobre a atuação de 15 mil rádios comunitárias que recriam, diariamente, espaços de liberdade de expressão e cidadania. Na área da literatura, Beatriz Resende e Paulo Roberto Pires fazem um inventário crítico das tendências de nossa literatura viva ao lado de Maurício Torres, editor da Casa


Entre Pr贸spero e Caliban Colonialismo, p贸s-colonialismo e interidentidade1 Boaventura de Sousa Santos


Boaventura de Sousa Santos

Concentrando-se na análise dos processos identitários no espaço-tempo da língua portuguesa, este trabalho pretende ser um contributo para o estudo do pós-colonialismo. Se a identidade moderna ocidental é, em grande medida, produto do colonialismo, a identidade no espaço-tempo de língua portuguesa reflecte as especificidades do colonialismo português. Trata-se de um colonialismo subalterno, ele próprio “colonizado” em sua condição semiperiférica, que não é facilmente entendido à luz das teorias que hoje dominam o pensamento pós-colonial nos países centrais, um pensamento baseado no colonialismo hegemônico. O autor propõe o conceito de interidentidade para dar conta de uma constelação identitária complexa, em que se combinam traços de colonizador com traços de colonizado. A falta e a saudade de hegemonia (ou imaginação do centro) propiciou a formação de colonialismos internos que perduram até hoje. À luz disto, o autor conclui que o pós-colonialismo no espaço-tempo de língua portuguesa – um pós-colonialismo situado – deve manifestar-se, em tempo de globalização neoliberal, como anticolonialismo e globalização contra-hegemônica. Com este trabalho pretendo dar mais um passo numa investigação em curso sobre os processos identitários no espaço-tempo da língua portuguesa, ou seja, numa vasta e multissecular zona de contato que envolveu portugueses e outros povos da América, Ásia e África. As hipóteses de tra-

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Sobre o evento


Sobre o evento

O seminário Cultura e Desenvolvimento foi realizado entre os dias 23 e 26 de novembro de 2004, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro. Participantes: Beatriz Resende, Boaventura de Sousa Santos, Carmen Luz, Ecio de Salles, Ferréz, Graça Salgado, Heloisa Buarque de Hollanda, Heloisa Toller Gomes, Ilana Strozenberg, Jailson de Souza e Silva, Ismael Lopes, Marta Porto, Maurício Torres, Misael Avelino dos Santos, MVBill, Nega Giza, Paulo Lins, Paulo Roberto Pires, Tião Santos e

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Composto em Adobe Garamond corpos 10, 12, 14 e 18 sobre 14,6, Helvetica Neue Condensed corpo 9 sobre 10,8 e corpos 10, 12, 18 e 24 sobre 15, e Highway to Heck corpo 12 sobre 17, e corpos 14 e 24 sobre 24,5. Impresso em papel polĂŠn bold 90g, pela grĂĄfica Imprinta para a Aeroplano Editora, em Novembro de 2004.


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