Outro lado da educação

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O outro lado da educação

Roberto Boclin


É com desvanecimento que escrevo estas poucas linhas à guisa de prefácio para a obra que o professor Roberto Boclin acrescenta à literatura educacional brasileira. Trata-se do maior privilégio que recebi ao longo da minha vida sexagenária, pois ler antecipadamente a obra me permitiu, ainda, ter a firme convicção de que estamos diante de um estudo sério, erudito, útil e, sobretudo, oportuno. Nele, revela o autor a preocupação de produzir uma obra com profundidade cultural, aliada a informações técnicas relevantes e com opiniões próprias que serão alvo de controvérsias, mas necessárias para uma salutar reflexão sobre o sistema educacional brasileiro. A obra tem no seu primeiro parágrafo uma apresentação do autor, descrevendo em poucas linhas sua carreira; é muito pouco, pois sua experiência de mais de cinquenta anos devotados ao ensino, em todos os níveis e modalidades, e à administração pública e privada, sempre em cargos de dirigente educacional, por si só já seria motivo de outra obra. Esse passado rico é o crédito necessário para aquele que fala de educação, e nisso o autor é superavitário, garantindo que suas opiniões sempre serão respeitadas como sendo o pensamento do Boclin. Essa reverência e agradecimento ao passado e à vida do Boclin eu pude sentir nos últimos anos de convívio com ele, pois percebi que, por onde passei, o professor já tinha passado e deixado brilhando o chão no qual eu pisaria. Explico melhor: na década de 60 fui aluno do Senai, estrutura de ensino técnico que teria, posteriormente, a direção do Boclin. Fui aluno pela Ford do Brasil e, quando lá cheguei, encontrei o engenheiro Boclin promovendo o lançamento, para o Brasil, do Ford Galaxie, o maior carro brasileiro já fabricado e no qual eu trabalharia posteriormente. Posso então concluir que o professor tem um passado de competência e honradez que orgulha a todos os companheiros, alunos, amigos e parentes. Ainda na apresentação, ele faz uma resenha doutrinária para, depois, navegar em profundidade por todos os níveis de ensino e tudo o mais que envolve a educação, tais como: formação de professores, escolas e condições de ensino.


O outro lado da educação

Roberto Boclin

Rio de Janeiro 2010


Design de capa, projeto gráfico e editoração eletrônica Renata Vidal da Cunha

Fotografia de capa Zsuzsanna Kilian

Revisão Alexandre Rodrigues Alves

Equipe de informática Anderson Felipe Matos Batista Vitor Hugo da Silva Marano

Copyright © 2010, Fundação Cecierj Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.

B665o Boclin, Roberto. O outro lado da educação. / Roberto Boclin. Rio de Janeiro : Fundação Cecierj, 2010. 160p.; 14 x 21 cm. ISBN: 978-85-7648-651-0 1. Educação. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Ensino fundamental. 4. Avaliação Institucional. 5. Educação profissional. I. Título. CDD: 370


A estagnação é a morte. Augusto Comte



Índice Apresentação

[ 11 ]

Educação na Finlândia Desenvolvimento econômico: uma visão empreendedora

[ 21 ]

[7]

[ 15 ]

Os arranjos produtivos locais: algo de novo que inspira atenção O Ensino Fundamental é fundamental

[ 31 ]

Autonomia e qualidade A avaliação institucional e a acreditação

[ 47 ]

[ 53 ]

Educação e trabalho Educação e trabalho: o desafio permanente

[ 71 ]

[ 41 ]

A pedagogia da insensatez Diálogos nas alturas

[ 59 ]

[ 25 ]

Tempos novos

[ 65 ]


A educação em mudança

[ 85 ]

O dilema tecnológico Onde começa o futuro?

[ 93 ]

[ 75 ]

[ 89 ]

A reforma do Ensino Superior na União Européia A educação profissional vista por dentro

[ 107 ]

[ 101 ]

Reflexão positiva Reprovação ou

promoção automática [

[ 119 ]

Uma questão de prioridade Zygmunt Bauman: visões e reflexões

[ 127 ]

113 ]

[ 123 ]

Uma proposta de Educação Profissional para o Estado do Rio de Janeiro A gestão da Educação Pública

[ 141 ]

Manhãs da modernidade Iniciativa dolosa

[ 151 ]

[ 133 ]

O futuro do Ensino Superior

[ 147 ]


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Apresentação Desde o final dos anos 50 do século XX que me vejo envolvido com a Educação, em seus aspectos mais controvertidos, como educação profissional, educação técnica, Ensino Superior, pós-graduação, avaliação institucional, educação a distância, alunos, docentes, gestores etc., mas pelo meu conhecimento as causas ocultas dos sucessivos e frequentes fracassos das ações educativas brasileiras ao longo desses anos e relacionadas com as carências pedagógicas nunca vieram à tona com clareza. Mesmo em outras partes do mundo a questão foi pouco desenvolvida conceitualmente. No âmbito do Ensino Superior, uma pequena obra notável, dos anos 30, produzida por Ortega y Gasset com o título La Mission de La Universidad destacava aspectos relacionados com o desempenho das instituições.


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Outro pioneiro, Jacques Barzun, da Universidade de Columbia, em 1945 publicou Teacher in America e, em 1959, The House of Intellect, profundas reflexões sobre a educação. Wladimir Kourganoff, em A Face Oculta da Universidade, em 1990 desnuda a universidade francesa, num verdadeiro libelo sobre o Ensino Superior. Não obstante o número reduzido de obras, artigos, trabalhos acadêmicos, e talvez por isto mesmo, o fato é que a educação brasileira não foi suficientemente atenta e aplicada na sua atuação, e o que se constata é a mais absoluta descrença em seu futuro e uma profunda amargura com o seu passado. A educação brasileira ainda é um mistério, algo assim como um mito intocável de vaidades e incompetências que resiste ao tempo. Quem quer que tente compreender as suas ações esbarra em leis, decretos, resoluções e deliberações fracassadas na sua aplicação e que se sucedem na medida das frequentes e constantes alterações nos seus quadros gestores federais, estaduais e municipais. O presente trabalho reúne artigos especialmente redigidos para a edição e outros publicados em órgãos da imprensa e em revistas científicas que tratam de temas ainda atuais que julgamos oportunos e têm por objeto


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provocar a reflexão sobre a educação em todos os níveis – o que esperamos venha a ocorrer. Agradeço à Renata Vidal da Cunha e ao Vitor Hugo Marano pelo competente apoio técnico quanto ao projeto gráfico, editoração e organização do texto e à professora Masako Masuda, presidente do CECIERJ pelo excepcional apoio institucional; ao secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, deputado federal Alexandre Cardoso, a quem admiro pela sua competência, liderança, companheirismo e pelo privilégio da sua amizade; e ao competente governador Sérgio Cabral com a minha admiração.

Rio de Janeiro, março de 2010 Roberto Boclin



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A educação na Finlândia A esperança é um bem gratuito, não custa nada para tê-la e é melhor tê-la que não tê-la. Vinicius de Moraes

Crescem as naturais expectativas da comunidade por dias melhores para a educação do município do Rio de Janeiro. Os depoimentos de experientes professores e de pedagogos, militantes por muitos anos nas escolas públicas do município, são saudosistas em relação à qualidade atual do ensino oferecido. De fato o que pode ser apontado com alguma obviedade das análises e reflexões recentes é que a questão em tela se resume na tríade do professor/aluno/escola, e o trato das soluções encontradas nem sempre considerou com


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acerto alguns dos problemas de cada um dos lados do triângulo imaginário. O aluno, objetivo principal, sempre foi considerado como unidade de ação quando de fato as desigualdades sociais de suas origens e caracteres apontam para individualidades distintas, que demandam tratamentos diferenciados em suas carências. O professor padece de necessidades também distintas, tendo em vista que se depara com maiores ou menores dificuldades em relação à Escola e aos alunos objetos da sua atuação. A escola, por seu lado, também não pode ser considerada um conjunto único que demanda tratamentos semelhantes, pois são segmentos diferenciados, situada em localizações comunitárias diversificadas, projetos sociais distintos, com questões peculiares. A dimensão do problema que se apresenta para os gestores pode ser resumida em 1.055 escolas, cerca de 37 mil docentes e 726.000 mil alunos na Educação Infantil e nas séries do Ensino Fundamental. Cento e poucas escolas estão instaladas em zonas de alto risco, de populações carentes, com alunos premidos por circunstâncias sociais graves, tais como péssimas condições de moradia, famílias desestruturadas, deficiências de nutrição evidentes e


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segurança pública precária diante das mazelas do tráfico de drogas. As dificuldades de aprendizagem são a tônica dos alunos em todo o município e principalmente nas escolas em regiões de risco social. Os professores não foram preparados para o enfrentamento de tantas diversidades simultâneas e se entregam a um cotidiano de omissões que não conduz aos resultados desejados. Acresce a formação deficiente de professores nas instituições de Ensino Superior e a mudança drástica de nível sociocultural dos concluintes dos cursos de Licenciatura, nos últimos vinte anos ou mais. Em síntese, o lógico será estabelecer prioridades. As cento e poucas escolas em localidades de risco devem merecer prioridade. E qual seria esta prioridade? Os alunos têm dificuldades distintas de aprendizagem, e, para um resultado satisfatório, as turmas devem ser atendidas por três ou pelo menos dois professores e estagiários concluintes de cursos de Pedagogia e Licenciaturas, simultaneamente. Os turnos devem ser de cinco horas diárias, no mínimo, com duas horas dedicadas a esportes – piscina é básico, balé, ginástica, vôlei, basquete e, é claro, futebol – todos com professores especialistas e, nos esportes, apoio de ex-atletas reno-


Este livro foi composto em Adobe Garamond Pro 12/18 e Century Gothic 17/24, em papel offset 75g.

Serviço gráfico realizado em parceria com a Fundação Santa Cabrini por intermédio do gerenciamento laborativo e educacional da mão-deobra de apenados do sistema prisional do Estado do Rio de Janeiro.

Maiores informações: www.santacabrini.rj.gov.br


Todas as abordagens feitas visam, fundamentalmente, buscar o melhor para o principal elemento da tríade educacional: o aluno. Para isso, o professor Boclin faz uma avaliação social, filosófica, tecnológica e econômica do Brasil em todos os temas abrangidos. A obra é confirmadora da paixão do professor Boclin, além de pelo tricolor carioca, é claro, pelo ensino técnico, pois dois terços do livro são dedicados a esta modalidade, em que o professor navega como o mais competente educador dessa área no nosso país. Isso pode ser constatado nos diversos capítulos dedicados ao tema, sempre com boa fundamentação, análise crítica e a perspectiva de uma educação voltada para uma política econômica desenvolvimentista, mas com igualdade de oportunidades. Torna-se confortador saber que uma pessoa com tanta paixão vive próxima de nós: isso dá ao tempo um valor especial, o que nos remete ao pensamento de Kierkegaard, de que “uma época sem paixão não tem valores”. Essa obra será, sem nenhuma dúvida, referência para todos os profissionais que se dedicam ao ensino em nosso país, os quais poderão com liberdade divergir dela, o que, certamente não ofenderá o professor Boclin, que aceita perder, desde que seja para a razão, independentemente de quem seja seu procurador, como dizia Fernando Pessoa. Ao contrário do meu inesquecível amigo e brilhante professor Celso Mello, que no prefácio de seu curso de Direito Internacional sempre manifestava, em tom jocoso, que só reeditava o livro por interesse mercenário, agora meu caríssimo professor Boclin tem recebido ajuda de amigos, e dentre eles destaco Masako Oya Masuda, para que a presente obra seja impressa e distribuída gratuitamente a todos os interessados. É gratificante ler uma obra com bom conteúdo, num momento de falta de utopias que, no dizer do maior filósofo da atualidade, Jungem Habermas se “os oásis utópicos secam, desenvolve-se em compensação um deserto de banalidade e de perplexidade”. Nelson Massini Professor titular da Faculdade de Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro


9 788576 48651 0


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