Rastros de luz 11

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rastros L um olhar na história

de

uz

fevereiro

2018

nº 11

a

lei cruz da Despretensioso convite para o retorno às coisas simples, belas e profundas do Evangelho.

Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida


a

lei cruz da

Quando procurado pelos padecentes, Jesus os questionava se realmente desejavam a saĂşde, e se criam que Ele os poderia curar.


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Lucas 9: 23-27

E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo? Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos. E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o reino de Deus.


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Se alguém quer vir após mim... Com o anúncio de Jesus em ser Ele o Caminho, a Verdade e a Vida, ou, segundo outra tradução, ser o Caminho da Verdadeira Vida, não ficou condicionada obrigatoriedade em segui-Lo. Ele pronunciou o consolador convite: Venham a mim todos os que se encontram cansados e aflitos e Eu os aliviarei... Do mesmo modo, convida-nos: Se alguém quer vir após mim... Um convite, respeitando o livre-arbítrio próprio dos seres humanos. Deixando-nos a faculdade de escolha entre aceitar ou não aceitar. No entanto, aclarou-nos o entendimento do celeste roteiro: Eu Sou o Caminho..., e ninguém vem ao Pai, senão por mim, conforme se lê em João, 14:6. Ou seja, quem não queira aceitar o convite agora, mais dia, menos dia, terá que se por em caminhada, pois Jesus é o Caminho que leva à Deus. ... Negue-se a si mesmo... Renúncia. Notadamente de tudo aquilo que nos retém os passos na conquista do entendimento da imortalidade do ser, da nossa preexistência ao berço e sobrevivência a túmulo, de Deus, e do amor por Ele acima de todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos. Renunciar aos desvalores da vida, que adotamos decorrente de nossas falsas crenças. Renunciar, como desidentificação, com tudo aquilo que nos trouxe, como resultado, dores, sofrimentos, conflitos, desesperança,


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enfermidades do corpo e da alma, descrença também em nós próprios. Nesse sentido continua a citação evangélica aclarando que quem quiser salvar a sua vida, o seu modo de viver atual, manter suas ilusões, sua vida voltada às aparências e às coisas, onde se entrega pela posse de tudo o que é perecível e passageiro, deixando de lado tudo o que é essencial para o Espírito, perdê-la-á. Pois, com a morte, tudo o que pertence à Terra, aqui ficará, e, tão-logo recobrada a consciência no mundo espiritual, quem viveu somente para ter e nada fez para ser, se dará conta de que toda uma existência foi desperdiçada, perdida. Porém, quem por amor de mim, perder sua vida, a salvará. Quem renunciar aos seus nonadas, às suas ilusões, ao seu viver atual dedicado ao orgulho, à vaidade desmedida, ao egoísmo, estará ganhando pela utilidade que dará ao tempo, pela oportunidade que dará ao amor em sua vida, pela glória do bem. A nossa existência terá sido proveitosa para nós e para os demais. De que adianta conquistar o mundo, lançando mão de meios que não justificam os fins nobres, e nada fazer por nós mesmos, por tudo aquilo que o ladrão não rouba e a ferrugem não corrói, valores e virtudes que não ficarão retidos na aduana do túmulo? ... Tome cada dia a sua cruz... Tomar a cruz do compromisso assumido perante a própria consciência, ao preço do sacrifício que se faz devido, a fim de se prosseguir na jornada segundo uma vida cristã, devotada ao bem e ao bom, num constante melhorar. Paulo, o Apóstolo, ensinando a necessária determinação e persistência para os que desejam seguir o Cristo, lecionava: Portanto, tornai a levantar

as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados (Hebreus, 12 :12), e prosseguir sempre, com destemor. Fortaleçam as mãos cansadas, firmem os joelhos vacilantes; digam aos desanimados de coração: “Sejam fortes, não temam!”, assim cantava Isaías, como vem escrito em 35: 3-4. Tomar a cruz do arrependimento e seguir em caminhada de redenção, reparando os erros de outrora. Tomar a cruz das consequências, colhendo o resultado das semeaduras equivocadas. Conforme a semente, a colheita. No Velho Testamento, lemos a citação de Jó (4: 8): Pelo que tenho observado, quem cultiva o mal e semeia maldade, isso também colherá... Em Provérbios (22: 8): Quem semeia a perversidade colhe males. E em outra tradução: Quem semeia a injustiça colhe a maldade. Ainda lemos em Oséias (8: 7): Visto que semearam ventos, colherão tempestades. Já em Gálatas (6: 7), a expressão do ensino, que retrata a natural Lei Divina do Retorno: tudo que o homem semear, isso também ceifará... E Jesus (Marcos, 4: 32) vem ratificar a Lei, por sua vez afirmando: Mas, tendo sido semeado, cresce. No mesmo sentido, Mateus anotou em 16: 27: a cada um segundo as suas obras. Paulo, o Apóstolo dos gentios, ao tratar da necessária semeadura, que nada mais é do que nossas escolhas e nossas atitudes, esclareceu os Coríntios, em sua segunda carta (9: 6): Convém lembrar: aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará.


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Elucidando que a Lei não está somente para os equívocos, mas também para os acertos, e uma boa e selecionada semente (atitude) resultará numa colheita correspondente (resultado positivo, retorno do bem). Num sentido amplo, mas que cabe em nossas reflexões, lemos em Gênesis (1: 12): A terra fez brotar a vegetação: plantas que dão sementes de acordo com as suas espécies, e árvores cujos frutos produzem sementes de acordo com as suas espécies.

... E siga-me... E, como não poderia deixar de ser, considerando a justiça amorosa do Pai, o esforço, o empenho, as dificuldades para se manter firme do trabalho redentor, tem seu retorno abençoado (Salmos 126: 6): Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. Ou seja, aquele que perseverar até


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o fim será salvo, registrou Mateus em seus escritos: 24.13.

As três cruzes

Em síntese: Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que não merecem; e, então, embora revestido do invólucro corporal, já estará depurado, já estará liberto do jugo da matéria e, quando deixar esse invólucro, não mais lhe sofrerá a influência. Nenhuma recordação dolorosa lhe advirá dos sofrimentos físicos que haja padecido; nenhuma impressão desagradável eles deixarão, porque apenas terão atingido o corpo e não a alma. Sentir-se-á feliz por se haver libertado deles e a paz da sua consciência o isentará de qualquer sofrimento moral. (O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 257.)

(Nas pegadas do Mestre. Vinícius)

Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Sem postergação, sigamos Jesus Cristo, quem nos disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus. (Lucas 9 : 62.) Nos decidamos por segui-Lo e ouviremos o Meigo Rabi nos falando, suavemente: Levantai-vos, vamos ... (Marcos 14 : 42.)

Naquele dia, três cruzes foram levantad no cimo do Calvário. A do meio sustinha J o Cristo, cujo crime, como é sabido, cons em ensinar ao povo a doutrina da igualda de direitos perante a lei natural e divina, que emana de Deus. As laterais justiçava respectivamente, à direita e à esquerda, bom e o mau ladrão. Esses três supliciados são, ao mesmo tempo, três realidades históricas e três símbolos.

Jesus Crucificado é a imagem do amor dor, elementos que, conjugados, determin promovem a evolução dos homens. É a fi da justiça aliada à misericórdia.

O bom e o mau ladrão representam a Humanidade pecadora em sua generalida

O primeiro, reflete com admirável juste os pecadores confessos, as almas simples compenetradas de suas faltas, que suport os sofrimentos e as angústias da existênc com resignação e humildade, sem murmú nem revoltas, porque veem nessas vicissi o efeito das causas criadas por elas própr Crendo firmemente na justiça, tiram prec ensinamentos das provações cuja asperez é amenizada pela maneira com que são recebidas.

O segundo espelha com notória fidelida os pecadores relapsos, impenitentes e orgulhosos, que recebem a dor revoltados murmurando e blasfemando. Descrendo do amor e da justiça, julgam-se vítimas d inexorável iniquidade, pois se consideram isentos de culpa, vendo-se através do org que lhes oblitera o entendimento e ofusca


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razão. A Humanidade compõe-se de Dimas e de Giestas, isto é, de pecadores humildes que, reconhecendo-se culpados, fazem da cruz instrumento de redenção; e de pecadores orgulhosos que murmuram e blasfemam continuamente, contorcendo-se e escabujando na cruz que, para eles, não passa do que realmente é: instrumento de suplício.


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Tomar a cruz (Luz do mundo. Amélia Rodrigues, cap. 22. Divaldo Franco) Diariamente à sua volta renovavam-se os grupos ávidos do Seu socorro. A mensagem da esperança alcançando as fronteiras das almas inebriava-as, derramando-se que se contagiavam da Sua empolgante realidade. Jamais Israel vira ou escutara alguém igual a Ele.

Os sofredores recebiam de Suas mãos as mais vantajosas quotas de auxílio, e os deserdados primeiro encontro com as Suas palavras. N’Ele tudo transpirava amor.


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Das aldeias e cidades, dos arredores do Lago e das terras distantes chegavam os grupos que se adensavam em multidões expressivas para ouviLo, sentir a grandeza dos Seus ensinos, fruir as concessões das Suas dadivosas mãos.

abundante pelos demais corações

s enriqueciam-se de alegria do

Nunca se cansava de ensinar nem se descoroçoava jamais ante a impertinência ou a rebeldia dos infelizes. Compreendia-os por conhecer o ácido sabor do sofrimento que os infelicitava e por compreender-lhes a dor decorrente da pesada canga a constranger-lhes os corpos cansados e os espíritos aflitos. Alongava-se a todos como abençoada fímbria de luz na pesada sombra a clarear os roteiros e faziase a barca de segurança para que os náufragos do mar das paixões atingissem as praias da paz ou os postos da segurança. A primavera e o verão ensejavam-Lhe naqueles dois últimos anos a apresentação rutilante da Sua Mensagem. E mesmo quando os ventos outonais sopravam prenunciando o frio, Ele prosseguia ajudando os discípulos amados, para aproveitar o tempo que urgia, por não ser Ele deste mundo. * À sombra da árvore veneranda, no entardecer, enquanto amena a atmosfera se faz transparente, facultando a visão do céu límpido azul-alaranjado, Ele, ao lado dos discípulos, alongou os olhos por sobre a multidão (Mateus: 10: 26 a 33 - Lucas: 12: 1 a 12). E eram tantos os que ali estavam que se poderiam atropelar uns aos outros. Filhos da terra e estrangeiros, d’além Jordão e da Decápolis, de Tiro e Sídon, daquelas aldeias romanescas e simples que Ele se acostumara a amar, eram aquelas criaturas. Junto àqueles das margens das águas que com Ele conviviam sentira a grandeza da humildade dos simples e a nobreza da fidelidade dos humildes. Nas suas mãos encontrava o grão e o pão, o fruto seco e a água pura, a compreensão e a ternura. As gentes nascidas na dor compreendiam-n’O, sim, e Ele os amava em demasia, por isso mesmo. Ali estavam todos os elementos constitutivos da melodia dos sofrimentos humanos. Mutilados em permanente exibição das deformidades e miseráveis sonhadores da esperança. Aqueles rostos sulcados pela dor e curtidos


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pelo sol, aqueles olhos sem luminosidade que as desilusões quase apagaram de todo, acendiam-se, porém, expectantes, naquele momento aguardando. Ao longe, o mar explodindo rendas nas praias tranquilas e bordando de espumas alvas os seixos e pedregulhos negros. Os distantes coroados de sol poente e o verdemarron da gramínea teimosa em que madressilvas como pingentes azuis bordam o tapete do solo... Ele amava tudo aquilo: o mar era o seu espelho a refletir a face do dia e da noite; o rio o alaúde em que Suas mãos movimentavam sons nas longas cordas das correntezas cantantes; as elevações tornavam-se tribunas nobres donde Sua voz se espraiava na direção dos homens; os desertos em que se refugiava para estar a sós e orar eram preferidos, e os painéis verde-brancos dos bosques e dos casarios eram a pintura comovedora na tela da Natureza... Nublaram-se-Lhe os olhos e pela tênue cortina de lágrimas Ele pareceu ver o futuro, no qual aqueles que ali estavam se apresentariam, nascendo e renascendo, vivendo e sofrendo, até conseguirem a paz da consciência e a plenitude do coração em harmonia, sintonizados com as Leis do Estatuto Divino. Profundamente apiedado das mazelas humanas, envolveu todas aquelas criaturas na ternura indimensional do Seu amor e começou a falar: — Alegrai-vos na dor e não vos desespereis. Participais desde hoje do Reino de Deus e os tempos continuarão a correr cantando músicas de júbilo em vossas almas, se perseverardes fiéis até o fim. “Todos os que vos buscaram antes prometiam quimeras e acenavam triunfos que o túmulo apaga, deixando em cinza ou lama os tecidos custosos e enferrujados, sem valor os tesouros da ficção. “Marcham e passam sorridentes os dominadores da Terra, guindados a postos nos quais padecem a alucinação da loucura que os vence e preferem ignorar. “Prometem a Terra e são submetidos a ela, desaparecendo nos seus carros de ouro, sem deixarem saudades, porque são substituídos por outros títeres e por todos logo esquecidos. “Ameaçam e atemorizam os de coração simples, perseguem os fracos porque sofrem fraquezas que os desgraçam e se fazem acompanhar de outros famanazes, quais abutres reunidos, que, em última instância, irão devorar o mesmo cadáver em disputa infeliz. Os ouvidos aguçados da multidão recebem as palavras quais moedas de luz para serem entesouradas nos cofres do coração ansioso. A Natureza canta silêncios em derredor. Ele prosseguiu: — Quem desejar ser digno de mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e sigame. “Não temais aqueles que apenas matam os corpos e nada mais podem fazer. Eles também morrerão. “Temei, respeitai aquele que depois da morte tem poder de restituir a vida, oferecendo paz ou dor. “Se me amardes tomai a vossa cruz e renunciai às vãs utopias, vindo em seguida.


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“Construí a nova conduta do amor e da verdade.

“Tudo pelo Pai é sabido, mesmo as coisas mais insignificantes Ele conhece. Tem contado os fi vossos cabelos. “Acautelai-vos da hipocrisia que é a arma dos cobardes. “Sede verdadeiros e mantende limpos os corações. “Aqueles que me confessarem diante dos homens, também eu os anunciarei a meu Pai.

“Nada digais em segredo contra alguém, pois que isto que seja dito em silêncio será apregoa brados.

“Evitai manter duas condutas: a que os homens podem e aquela que não podem saber. Nada façais escondido, porquanto tudo se torna revelado e permanece conhecido. “A mentira é a medida do mentiroso como a presunção é a dimensão do ignorante. “Levantai a cabeça reta mas sede simples de alma e humilde de sentimento.

“Engendrai a simpatia entre todos e fomentai a cordialidade. O homem isolacionista é espírit Manter cortesia com os que são corteses é retribuir a medida do que se recebe.

“Os meus seguidores aprendem a ter alegria interior para os momentos difíceis e se acostum prazer de servir em nome do amor. É nisto que reside a verdadeira união comigo.


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“Preservai-vos do fermento da maledicência. As más palavras, as palavras azedas, as palavras rudes corrompem o espírito e corroem a vida, turbando a consciência. “Saí da amargura e livrai-vos das suspeitas. Os espíritos imundos se comprazem na inspiração dos pensamentos vulgares e se nutrem dos conúbios deprimentes.

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“Em toda circunstância buscai a prece, e, vigiando, servi. Não procureis, porém, fazer tudo. Sede grandes nas tarefas insignificantes e tornai-vos pequenos nas grandes realizações — eis como provar a integridade no bem.

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“Aquele que me negar entre os homens, dele não me recordarei para apresentá-lo no Reino.

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“Se vos ofenderem buscai conquistar o ofensor; se vos enganarem ide ao encontro dos enganadores; se vos caluniarem marchai com amizade junto ao infamante. Fácil seria abandoná-los. Se assim o fizerdes não sereis dignos de mim. Não vim para os sãos, os bons, os felizes, mas para eles os desventurados e para vós, os que tendes sede de justiça e paz.” A noite estava quase chegando. Uma sutil atmosfera de paz caía sobre os grupos na multidão silenciosa, de coração túmido de emoções e almas comovidas. As silhuetas dos montes se recortam nas primeiras sombras e as estrelas salmodiam nos Céus canções em prata fulgurantes. Onomatopeias, hipérbatos e sinédoques escapam dos lábios do Mestre na composição dos ditos. É necessário ir mais longe, informar tudo. Num crescendo de ventura Ele profere por fim: “Quando tiverdes de falar, diante de quem seja, não temais! Abri a boca: o Espírito Santo falará por vós. “Sede fiéis!” Sublime musicalidade tomou conta do ar. Levantou-se, ergueu as mãos e abençoou os ouvintes. As lágrimas abundavam nos olhos de todos, nascendo nas fontes do espírito. Havia um elan invisível que transformava a mole humana numa só família — a família do amor universal do futuro! No mar sereno deslizam ao longe as barcas que retornam. No ar salpicado pelas lâmpadas estelares as ansiedades da multidão soluçam baixinho... ... E Ele entre os homens apresentando a legislação do amor em convite esplêndido à Humanidade inteira. E como todos se retirassem aos poucos, em silêncio, dispostos a carregarem a sua cruz, Ele ficou a sós e se encheu de plenitude. A noite, por fim, vestiu o aclive de luar, enquanto as aldeias e as cidades dormiam, e Ele velava dos cimos do outeiro...


eram

Moisés e

Elias

A transfiguração é símbolo da ponte que nos liga com o mundo espiritual, nos demonstrando que a vida é uma só, como bem posicionado pelo apóstolo Paulo, porém com múltiplas existências, de modo a nos permitir compreender que o nosso viver estagia ora no plano espiritual, ora no plano físico, sem perdermos a própria identidade, num caminhar redentor, evoluindo rumo à felicidade.


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e Lucas 9: 28-36 E aconteceu que, quase oito dias depois destas palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte a orar. E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, Os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém. E Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele. E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo

o que dizia. E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram. E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi. E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto. .


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viveremos.

As preciosas anotações dos evangelistas sobre o fato da transfiguração e a presença viva de dois dos maiores destaques da história da Humanidade, tidos como mortos há séculos da data da ocorrência, deixam evidente vários pontos de nossas vidas, dentre eles: os Espíritos existem; a morte inexiste; a imortalidade do Espírito é incontestável; os Espíritos se comunicam. Essa realidade espiritual e objetiva que transcende para além do túmulo, é consolo para os corações sofridos que guardam as dores decorrentes do falso entendimento de que com a morte, tudo cessa, e nossas amores desaparecem no nada. As esperanças retomam suas forças naturais, pois o magno testemunho dado por Jesus sobre a imortalidade e a comunicabilidade dos Espíritos, nos permite ter a certeza de que logo mais nos reencontraremos com todos os nossos entes queridos, pois eles também vivem após a inexistente morte, bem como nós

E aqueles sonhos que temos tido com eles, vivos, podem sim ser considerados reencontros de almas, pois é um fato a continuidade de nossas relações. Bem como é um fato a presença dos Espíritos em nossas vidas, orientando-nos, assistindo-nos, amparando-nos, socorrendo-nos, abençoando-nos. Identificar-se com a nossa natureza imortal é abertura de amplo portal para um novo e verdadeiro entendimento da vida e da nossa razão de existir; da vida e nossa relação com o próximo; da vida e da nossa devida relação com Deus. A transfiguração de Jesus e a presença de Moisés e Elias, convida-nos a mais profundo e amadurecido pensar e refletir sobre os laços que nos unem uns aos outros na sucessão dos tempos, bem como o encadeamento dos fatos e a continuada presença divina na vida de cada um, e, no caso, a presença de Deus na condução da Humanidade, para o que, em dado momento, esteve à frente dessa missão, Moisés, e, logo mais adiante, Elias.


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Sim, Elias, que novamente havia estado nas lidas da condução humana, como João, o Batista. Incansável trabalho do Bem e dos corações que são todo Amor, em prol da redenção de todos nós, e nossa religação com Deus, num constante empenho e esforço em nos levar ao despertamento da consciência e da religiosidade em nosso íntimo. Não apenas a religiosidade decantada em prosa e verso, mas a religiosidade da consciência, como luz que acende sem jamais voltar a se apagar. A transfiguração é esse hino à imortalidade. A transfiguração é testemunho da comunicabilidade dos “mortos”, que sempre estiveram vivos, com os “vivos”, a fim de reviver-nos para a verdadeira e abundante vida. A transfiguração é símbolo da ponte que nos liga com o mundo espiritual, nos demonstrando que a vida é uma só, como bem posicionado pelo apóstolo Paulo, porém com múltiplas existências, de modo a nos permitir compreender que o nosso viver estagia ora no plano espiritual, ora no plano físico, sem perdermos a própria identidade, num caminhar redentor, evoluindo rumo à felicidade. A transfiguração é Sol nas almas.

O Tabor e a planí (Primícias do reino. Amélia Rodrigues. Divaldo Franco)

Com a força da sua realidade poderia ser considerado um díptico: as bênçãos de Deus no monte e os conflitos do homem em toda a pujança de suas cores na planície. Desciam Jesus, Pedro, Tiago e João das culminâncias do Tabor, onde comungaram com as excelências de Deus, ao encontro das baixadas espirituais das criaturas. Há pouco, resplandecente, o Mestre estivera envolto por uma esfera de poderosa luz e dialogara com os venerandos antepassados do povo: Moisés e Elias. As emoções ainda não se aquietaram na horizontalidade do habitual, e a curva descendente das dores tomava forma chocante no terra a terra das contingências humanas. No alto, a visão da vida verdadeira; ao sopé, as angústias junto aos sofrimentos. * - “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dele e não entre mais nele” – exortou Jesus com firmeza na voz, na qual a piedade se misturava à energia. Não houve debate. Tudo simples. A cena breve culminou no declínio do jovem que ficara prostrado como morto, banhado por álgido suor, desfigurado. O Mestre, comovido, curvou-se, tocou a fronte do ex-obsidiado e o levantou com gesto cativante.


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Era quase um menino... Sofria desde a mais tenra idade sob o jugo violento do impiedoso algoz desencarnado. As raízes do ódio nefando se perdiam nas sombras do passado, quando foram comensais da mesa farta da loucura e se enredaram em odienta cena de sangue... Agora a lei soberana, que jungia o criminoso não punido à justiça desrespeitada, manifestava-se sobranceira. O parasito espiritual se imanara ao sofredor e reproduzia nele os esgares epilépticos em que se consumia, vítima de si mesmo, escravo do ódio. Na volúpia da vingança, atirava-o de encontro ao solo, ateava-lhe fogo às vestes, tentava afoga-lo, subjugava-o. As esperanças da família se apagavam na lâmpada sem lume das tentativas de cura, impossível até aquele momento. Seu pai ouvira falar do Rabi e o trouxera, na expectativa duvidosa de ver o filho recuperado, perdido como se encontrava no caminho do aniquilamento inexorável. * - Transcorreram oito dias após a “confissão de Pedro”, o Mestre tomou consigo Pedro, Tiago e João, e levou-os sozinhos, e à parte, para um alto monte. Agosto, em plenitude, derrama sua taça de luz e calor sobre a terra. As papoulas e as margaridas jazem crestadas em hastes vencidas pela canícula. O céu muito azul e transparente concede visão infinita em todas as direções.

À medida que o Tabor vai sendo vencido, os painéis se desenrolam: embaixo os campos de trigo ceifado, a mancha pardacento-prateada do Jordão, na configuração de imenso alaúde entre sebes; para as bandas do oriente erguem-se altaneiros os montes Galaad e ao poente cintilam as águas do Mediterrâneo, como imenso espelho refletindo através da garganta natural entre o Monte Carmelo e os contrafortes altanados do Líbano; ao norte o Genesaré salpicado de velas coloridas e orlado por Tiberíades, Magdala, Cafarnaum, Betsaida, as cidades tão encantadoramente derramadas dos pequenos cerros na direção da praias, vestidas de palmeiras verdejantes... Do acúmen a visão não se detém. De forma arredondada, a plataforma batida pelos ventos, às vezes coroada de zimbros, é a culminância dos 562 metros de altitude rochosa, sem vegetação, com destaque na imensa e formosa Galileia. A noite ainda demora algumas horas para estender o seu manto imenso sob o céu. Os meses de agosto são de longos dias. O calor asfixia e requeima a rala vegetação. A jornada é longa, na conquista do monte: mais de quatro horas de marcha lenta e cansativa, embora a beleza da paisagem deslumbrante em derredor. Atingindo o acume, o Mestre se põe em oração. Os discípulos, suarentos e cansados, adormecem à sombra dos arbustos escassos. Um grande silêncio envolve tudo e todos. O mormaço quase asfixia... A noite vence a natureza e o Mestre ora. A madrugada alcança o Rabi em oração. Os companheiros dormem. Vozes percutem na monotonia. Os


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discípulos despertam, assustados e são dominados pela visão sublime da transfiguração do Mestre, com as vestes incendidas, dialogando com Moisés e Elias. As palavras vibram no ar; mas não são palavras como as que se ouvem comumente... Logo após, diluída a visão, Simão se acerca do Rabi e exclama: - Mestre, bom é que estejamos aqui, e façamos três cabanas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. O Mestre fita-o compadecido. Uma nuvem surge misteriosa e uma voz, então, exclama: - Este é o meu filho amado; a Ele ouvi! Os discípulos ainda não refeitos são tomados de pavor. A grandiosa revelação fora feita. Jesus estivera em toda a sua glória e eles foram testemunhas silenciosas e emocionadas do acontecimento incomparável. Os Céus foram cindidos e os discípulos tiveram o “conhecimento do Divino”. Pedro se reportará mais tarde a essa metamorfose do Mestre, testemunho insofismável em que fundamenta sua fé. O Rabi, no entanto, exige-lhes silêncio.

* - Descemos! – alvitra o Mestre.

A verdade tem que ser dosada para o entendimento da argila humana.

- Não poderíamos aqui demorarnos? – indaga Simão.

Mais tarde João, ao escrever os “ditos do Senhor”, iniciará a sua narrativa evocando, certamente, a cena inesquecível: “Nele estava a vida, e a vida era luz dos homens; a luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam”.

- É necessário descer – retruca Jesus. – Busquemos os que não dispõe de forças para subir. Os homens necessitam de nós. A nossa é a glória deles. Para eles sejam nossas alegrias e para nós as suas dores. Depois da comunhão com os Céus, a convivência


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Visão desde o Monte Tabor entre os que demoram na Terra. O paraíso seria para nós estranho presídio sem aqueles que, no ergástulo das aflições, anseiam pelo país da liberdade. Desçamos. Os homens, para quem eu venho, nos esperam. * Na descida do monte confabulam: - Rabi! – indagam como receosos – dizem os escribas que é mister que venha primeiro Elias... - Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo quanto quiseram. Assim farão, também, padecer o Filho do Homem...


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“Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.”

- Nada conseguiremos! – arremata o filho de Cléofas.

A nova revelação de ser Elias, João Batista renascido, surpreende os companheiros que começam a compreender os inescrutáveis desígnios do Pai.

- Onde andará o Mestre – indaga perturbado, Simão, o zelote – que não vem socorrer-nos? Não saberá Ele de nossa aflição?...

Os Espíritos estão estuantes de felicidade. Há festa em seus corações. * Jesus e os discípulos continuam descendo. O dia esplende. Os acontecimentos são sóis em suas almas. A plataforma do Tabor fica para trás.

Entreolham-se, estremecem, enquanto o obsidiado espumeja e se debate. Falam todos de uma vez. Gritam inutilmente. Vendo o Mestre e os companheiros, que chegam à charneca das misérias humanas, correm, aflitos e O saúdam. - Que é que discutis com eles? – interroga, sereno, o Senhor.

Lá estão as criaturas sofredoras e ansiosas, os companheiros aguardando.

- Mestre, trouxe-te o meu filho, que tem um Espírito mudo. E este, onde quer que o apanhe, despedaça-o, e ele espuma, e range os dentes, e vai-se secando; eu disse aos teus discípulos que expulsassem, e não puderam!

Amedrontados, os discípulos se revezam.

- Se podes – apela o pai – salva o meu filho.

- Afasta-te, Satanás! – exclama Judas, irado, enquanto o obsesso ulula.

- Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.

A planície imensa se estende embaixo.

- Filho da trevas, semente de Belzebu – brada Tadeu, com a voz rouca e os olhos injetados – por quem és, abandona tua vítima! - Decaído, imundo – vocifera, pálido e suarento, Natanael – eu te exorto a que retornes às geenas!... Curiosos se acercam dos gritadores, enquanto o endemoninhado, como se multiplicasse as forças que o vampirismo espiritual consome, mais se debate no solo e corcoveia, exasperado, a ameaçar o débil corpo em convulsão, semivencido. É o próprio Dibbuk – soluça, desanimado, Felipe.

- Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade. O Rabi se comove. O semblante sereno expressa toda a angústia do seu Espírito. Sem qualquer mágoa, fita os companheiros medrosos e os admoesta com veemência e compaixão. Compreende as fraquezas dos convidados a esparzir a semente da boa-nova. Como a justificar-se a si mesmo e aos outros, Judas tenta esclarecer: - Fizemos tudo quanto nos ensinaste e nada conseguimos... - Até quando vos sofrerei e estarei


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convosco? A indagação fica no ar, sem resposta. A arrogância da fraqueza é mais petulante do que a vaidade da força. O sinal do fracasso no orgulho é como chaga de fogo a requeimar. - Espírito mudo e surdo... Pálido e fraco, o moço sorriu. Avia gratidão sem palavras. Osculou a mão do Rabi e, conduzido pelo pai em êxtase de alegria, seguiram ambos no rumo do lar. * À noite, quando o zimbório se vestia de estrelas brilhantes, ainda sob o impacto das manifestações do Mestre, no Tabor e na planície, Simão, traduzindo possivelmente a visível inquietação dos companheiros, aproximou-se d’Ele, que meditava, e indagou, visivelmente emocionado: - Por que não puderam eles expulsar o espírito imundo? - Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum – elucido o Amigo. Desejando, no entanto, utilizar o momento para melhor instruir os companheiros desatentos e pretensiosos, o Senhor esclareceu: - Antes de tudo é necessário compreendamos que os espíritos imundos viveram antes, homens que foram, homens que continuam sendo. Enganados, como se deixaram conduzir no corpo, prosseguem enlouquecidos, fora dele. A morte não os transformou. Viajores do tempo, são o que fizeram. Ligados mentalmente às reminiscências das ações, demoram-se, sofrendo-as, imanados aos que amaram, vinculados àqueles que os fizeram sofrer...

Fez uma pausa, espontânea. E prosseguiu: - Por essa razão a Boa-nova é um hino de amor e perdão. Amor indistinto e perdão indiscriminado. Diante deles, nossos irmãos na sombra da ignorância, nenhuma força possui força senão a força do amor. Não apenas expulsá-los daquele convívio a que se agregam parasitariamente, mas também socorrê-los, enlaçando-os com amor... Novamente silenciou, e envolveu os amigos num olhar de bondade, para logo continuar: - São nossos irmãos da retaguarda, perdidos na ilusão das carnes a que teimosamente pretendem continuar ligados. Não se prepararam para a verdade. É em razão disso que a Mensagem de Vida não se reveste das indumentárias fantasiosas tão do agrado geral. É semente de luz para fecundação no solo do espírito. Diante, pois, deles – possessos e possessores – só a oração do amor infatigável e o jejum das paixões conseguem mitigar a sede em que se entredevoram, entregando-os aos trabalhadores da Obra de Nosso Pai, que, em toda parte, estão cooperando com o Amor, incessantemente. Se amardes ao invés de detestardes, se desejares socorrer e não apenas os expulsardes, tudo fareis, pois que tudo quanto eu faço podeis fazê-lo, e muito mais, se o quiserdes... No leve ar da noite bailavam suaves brisas espraiando para o futuro a palavra do Rabi, como antevisão gloriosa para os dias porvindouros da Humanidade.


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O Tabor e a imortalidade (O trigo de Deus. Amélia Rodrigues, cap. 23. Divaldo Franco)

Deslumbrados, ainda, após a transfiguração do Mestre, no ímpar diálogo com Moisés e Elias, em recolhimento todos desceram o Tabor. Lá, em cima, ficaram as esplêndidas paisagens espirituais, a comunhão plenificadora com Deus, o ‘silêncio e o êxtase. Era necessário, porém, por enquanto, retornarem ao torvelinho, ao cotidiano, às mesquinharias do imediatismo, às criaturas humanas apaixonadas, sem rumo... O planalto, onde haviam comungado com o Pensamento Divino, cedia lugar à planície das lutas e disputas pessoais. Eles, os discípulos, eram criaturas frágeis, que se iam fortalecendo nos sucessivos embates com os olhos postos no futuro. Criam no Mestre e temiam, não sabiam o quê. Amavam-nO, e cada vez mais O conheciam, identificando-0 como o Enviado. Na descida, rompendo o silêncio majestoso, disse-lhes Jesus: — A ninguém conteis esta visão, até que o Filho do Homem ressuscite dentre os mortos. (Mateus 17: 9) 0 exuberante fenômeno mediúnico, que trouxera de além da morte os ilustres líderes da raça, Moisés e Elias, deveria ficar ignorado pelas massas, que não o podiam compreender. Somente as pessoas preparadas emocional e psiquicamente dispunham da percepção necessária para entender que, ali,

Moisés revogava a proibição de se falar com os mortos, vindo, ele próprio, demonstrar a possibilidade, ora tornada real. A sua proibição, quanto à evocação dos mortos, justificava-se, para evitar o abuso em voga; porque nem todos os mortos podem retornar, atendendo aos reclamos dos vivos, e sendo, não raro, substituídos pelos frívolos e mentirosos, que lhes usam os nomes; para impor ao homem a liberdade de ação com responsabilidade e o uso do livre-arbítrio; pelo respeito que devem merecer aqueles que aos outros precedem na viagem de volta... Agora estava derrogada a interdição; porém, o povo não deveria sabê-lo, senão, quando Ele próprio, ressurrecto e vivo, retornasse após a tragédia que todos conheceriam. Aqueles eram momentos de extraordinárias revelações. As mentes se dilatariam ao infinito, a fim de absorverem os conteúdos imortalistas ali testemunhados. A morte sempre se apresentou como a grande destruidora da vida, a amarga separadora daqueles que se amam, a indesejada... Para fugir-lhe à sanha, adornaram o culto à memória dos mortos com exéquias e homenagens, flores e incensos, leituras e lágrimas, de alguma forma tentando dissimular-lhe a face trágica. Apesar disso, ela permanecia enigmática. No passado, essas exéquias e o culto aos mortos revestiam-se de processos ritualísticos e complexos cerimoniais, em prova de amor para com alguns, assim


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como para aplacarem os gênios maus, que velavam junto ao cadáver. Entre os gregos era hábito colocar-se uma moeda entre os dentes do defunto, que variava de valor conforme as posses do extinto, a fim de pagar Caronte, o barqueiro que o fazia atravessar as águas do Estige, conduzindo-o à outra margem. Jesus veio demonstrar que a consciência é a portadora do tesouro dos atos de cada um, e que dela ninguém se exime, a partir do momento do grande transe. Jamais fez apologia da morte, em razão de ela não existir conforme era descrita. Toda a Sua mensagem é de ação e, por isso mesmo, Ele declarou ser a ressurreição e a vida, em incessante convite ao crescimento espiritual.

A partir daquele momento, no monte Tabor, fora inaugurado, conscientemente, por Jesus, o intercâmbio entre os homens e os Espíritos, demonstrando a sobrevivência da vida à morte. ‘ O reino dos Céus, que está no íntimo de cada criatura, ali esplendeu, grandioso, e Jesus, superando os visitantes do Além, em beleza, poder e glória, transfigurou-se diante dos amigos deslumbrados. Nunca mais as criaturas perderiam o contato com o mundo transcendente onde se originam a vida, os seres, a realidade, e se reencontram os que mergulham na carne, para o processo de evolução, quando cessa o fenômeno biológico. O Tabor e a imortalidade permaneceram como símbolos da Nova Era.


a

cura epilĂŠptico do

Jesus ia por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todos os langores e todas as enfermidades no meio do povo.


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e Lucas 9: 37-43 E aconteceu, no dia seguinte, que, descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão; E eis que um homem da multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que eu tenho. Eis que um espírito o toma e de repente clama, e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam. E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traze-me aqui o teu filho. E, quando vinha chegando, o demônio o derrubou e convulsionou; porém, Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou a seu pai.

E todos pasmavam da majestade de Deus. E, maravilhando-se todos de todas as coisas que Jesus fazia...


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No capítulo: Os milagres do evangelho, em A Gênese, de Allan Kardec, lemos: (item 26) Jesus ia por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todos os langores e todas as enfermidades no meio do povo. — Tendo-se a sua reputação espalhado por toda a Síria; traziam-lhe os que estavam doentes e afligidos por dores e males diversos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos e ele a todos curava. — Acompanhava-o grande multidão de povo da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e de além Jordão. (S. Mateus, 4:23 a 25.) Parece que, ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os obsidiados e os possessos, donde a oportunidade que ele teve de curar a muitos. (item 35.) (item 33) Com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus. Alguns há, entre os fatos dessa natureza, como os acima narrados, no nº 30, em que a possessão não é evidente. Provavelmente, naquela época, como ainda hoje acontece, atribuía-se à influência dos demônios todas


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as enfermidades cuja causa se não conhecia, principalmente a mudez, a epilepsia e a catalepsia. Outros há, todavia, em que nada tem de duvidosa a ação dos maus Espíritos, casos esses que guardam com os de que somos testemunhas tão frisante analogia, que neles se reconhecem todos os sintomas de tal gênero de afecção. Ele cura os males físicos, mas cura, sobretudo, as doenças morais e são esses os maiores prodígios que lhe atestam a procedência. Seus mais sinceros adeptos não são os que se sentem tocados pela observação de fenômenos extraordinários, mas os que dele recebem a consolação para suas almas; os a quem liberta das torturas da dúvida; aqueles a quem levantou o ânimo na aflição, que hauriram forças na certeza, que lhes trouxe, acerca do futuro, no conhecimento do seu ser espiritual e de seus destinos. Esses os de fé inabalável, porque sentem e compreendem. (item 27) De todos os fatos que dão testemunho do poder de Jesus, os mais numerosos são, não há contestar, as curas. Queria ele provar dessa forma que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas extraordinárias. Aliviando os sofrimentos, prendia a si as criaturas pelo coração e fazia prosélitos mais numerosos e sinceros, do que se apenas os maravilhasse com espetáculos para os olhos. Daquele modo, fazia-se amado, ao passo que se se limitasse a produzir surpreendentes fatos materiais, conforme os fariseus reclamavam, a maioria das pessoas não teria visto nele senão um feiticeiro, ou um mágico hábil, que os desocupados iriam apreciar para se distraírem.

Doente da alma (A mensagem do amor imortal. Amélia Rodrigues, cap. 3. Divaldo Franco)

Depois que Ele entrou no barco os ventos acalmaram... A tormenta não fora total, mesmo assim as águas do mar ficaram agitadas e aqueles que se encontravam navegando foram tomados de justo receio. O mar, em verdade, é um grande lago que não pode ser considerado com um dos maiores. O seu volume de águas é menor do que o da baía da Guanabara, no entanto, em face da ausência de água na região, era altamente considerado naqueles tempos, e ainda hoje... Aqueles eram dias de grande efusão de júbilos, de exaltação e de encantamento. Por onde Ele passava, as multidões afluíam refertas de mutilados do corpo e da alma, que recebiam o Seu concurso estelar, recuperando-se e glorificando-O. Os episódios, que se sucediam, eram ricos de misericórdia e de amor, saturando as vidas com as bênçãos da esperança, do reconforto e da paz. Há pouco, Ele houvera liberado o endemoninhado gadareno da força ultriz que o afligia. Deixou-lhe a paz ao lado da certeza de que também era filho de Deus, pois que se beneficiara, recuperando a saúde mental, quando tudo se lhe afigurava tragédia e infelicidade. Logo depois, os companheiros viram-nO andando serenamente sobre


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as ondas eriçadas do mar, naquela noite de leve tormenta. A princípio supuseram que se tratava de um fantasma e apavoraram-se até o instante em que Ele os tranquilizou... Também haviam observado a falência da fé de Simão, o amigo que desejara abraçá-lO sobre as águas encrespadas, e depois de dar os primeiros passos ante o vento que açoitava, acovardouse e temeu, quase afundando, ficando todos comovidos com a Sua magnitude, amparando o discípulo temeroso...

suas enfermidades desagregadoras.

Agora, depois que Ele entrou no barco e os ventos acalmaram, restituindo a serenidade ao mar, rumaram no sentido oposto ao lugar de onde vinham, seguindo em direção da pequena Genesaré, que parecia uma imensa pérola engastada nas areias claras da enseada do generoso mar...

O magnetismo que dEle se exteriorizava reconstruía os tecidos apodrecidos e produzia alteração nos processos de recuperação moral.

Ao chegar, reconhecido por alguns que ali residiam, log a notícia se propagou com a velocidade do relâmpago e os necessitados acorreram de todo lado. Eram estropiados, cegos, surdos, mudos, leprosos, paralíticos, endemoninhados, todos quantos são considerados como a borra social, naturalmente excluídos dos círculos privilegiados, que exibiam as suas torpezas na expectativa de receberem qualquer benefício. Sem alarde ou exclusão, Ele os recebia com infinita misericórdia, minorando as suas aflições, curando as

Após o atendimento, todos O louvavam, sorridentes e emocionados. Apesar do socorro em quantidade, muitos outros que chegavam, ainda suplicavam-Lhe: - Deixa-nos tocar, ao menos, a fímbria dos Teus vestidos, e temos a certeza de que nos recuperaremos. O poder da fé ao lado da disposição feliz de alcançar a renovação, ajudavaos na reconquista da saúde.

As doenças procedem do Espírito endividado, vilmente comprometido com a sua retaguarda em razão dos atos ignóbeis e das torpezas praticadas. Jamais Ele deixou de amparar aqueles que O buscavam, porque para o mister de amor viera. Tornava-se necessário enunciar-lhes a palavra não verbal, que se traduz como ato de compaixão e socorro imediato. Nada obstante, os enfermos da alma, logo recuperados dos desgastes físicos, retornavam aos conflitos e comportamentos infelizes, sem aproveitarem a oportunidade de reconstruir a vida ditosa. Imantados à matéria, os indivíduos de então como os de hoje, apenas


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pensam nos resultados concretos, evitando assumir o compromisso de realizarem uma radical mudança de conduta mental e moral, estabelecendo novos parâmetros para a autorrealização, aquele que conduz à paz. Aqueles eram, pois, dias muito difíceis. A mensagem chegara para libertar as criaturas do servilismo às paixões degradantes, do jugo escuso da sordidez... Jesus, porém, reconhecia que aquele era um estado de infância psicológica em que os homens e mulheres se encontravam, e, por isso, na Sua condição de Educador por excelência, oferecia-lhes conforme o desejavam, porém, assinalava quanto à necessidade de seguirem além na busca do essencial, daqueles valores que não se perdem e têm sabor de imortalidade. Mesmo hoje, no atual estágio da cultura e da civilização, pululam as multidões que desejam milagres, que anelam por ter resolvidos os seus problemas, e não procuram compreender a necessidade de insculpirem nos refolhos do ser os propósitos de espiritualização e de sublimidade interior. Considerando o mar humano tumultuado pelas aflições superlativas, torna-se indispensável que a criatura reflexione e permita que Jesus se lhe adentre na alma, para os ventos agitados das paixões dissolventes se acalmem. Somente, então, haverá paz e libertação das doenças da alma, encontrando-se, por fim, a saúde integral.


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o

lótus que há em você

Sim, a vida mental responde pelas atitudes comportamentais, expressando-se em formas de saúde ou doença conforme o teor vibratório de que se revista.


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e 38

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(Texto reproduzido com a devida autorização: http://projeto-inove.com.br/ inove/2017/05/14/o-lotus-que-ha-em-voce//

E um homem disse: - Fala-nos do conhecimento de si próprio. E ele respondeu dizendo: -Vosso coração conhece em silêncio os segredos dos dias e das noites. Mas vossos ouvidos anseiam por ouvir o que vosso coração sabe. Desejais conhecer em palavras aquilo que sempre conheceste em pensamento. Quereis tocar com os dedos o corpo nu de vossos sonhos. E é bom que o desejeis. A fonte secreta de vossa alma precisa brotar e correr, murmurando, para o mar. E o tesouro de vossas profundezas ilimitadas, precisa revelar-se a vossos olhos. Mas não useis para pesar vossos tesouros desconhecidos e não procureis explorar as profundidades de vosso conhecimento com uma vara ou uma sonda. Porque o Eu é um mar sem limites e sem medidas.

Não digais: - Encontrei A verdade. Dizei de preferência: - Encontrei uma verdade. Não digais: - Encontrei o caminho da alma. Dizei de preferência: – Encontrei a alma andando em meu caminho. Porque a alma anda em todos os caminhos. A alma não marcha numa linha reta nem cresce como um caniço. A alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras pétalas. (Gibran Kalil Gibran. Livro: O profeta) * O objetivo essencial da vida humana é facultar ao ser o desenvolvimento de todas as suas potencialidades adormecidas - o deus interno — tornando-o pessoa, uma individualidade que pensa, um ser em harmonia entre


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o pensar e o sentir. Esse processo não é automático como ocorre com os seres vegetal e animal, mas dependente das escolhas, da lucidez, das aspirações e dos esforços empreendidos, que são resultados das conquistas já conseguidas na sucessão dos dias bem aproveitados. Entretanto, em face da rapidez dos momentos modernos, não se apresentam oportunidades para amadurecimento das emoções, para escolhas corretas, para meditação e para reflexões e ponderações significativas. Os indivíduos são devorados pela volúpia do muito agarrar e do pouco reter. Há uma sofreguidão para aparecer (e aparentar mais que os outros), uma necessidade desesperadora para estar em todos lugares ao mesmo tempo, tombando na exaustão e levantandose sob estímulos químicos ainda mais frustrantes.

Vitimado, em si mesmo, o indivíduo, que perdeu o contato consigo mesmo, exaure-se com sua personalidade insatisfeita, exigente e pouco gratificante, preocupando-se em ser espelho que reflete outras pessoas, suas opiniões, seus aplausos, suas desmedidas ambições. É imagem que externa quem não é. Aumenta-lhe a necessidade psicológica de esconder o sentimento e exibir a aparência, sobrecarregando as emoções com desaires e amarguras que procura dissimular no convívio com os demais até quando já não mais o consegue. São dias de utopia, nos quais se vale pelo que se apresenta e não pelo que se é. Pelo que se tem – ou se aparenta ter – e não pelo que se deseja ser. Os ideais que dignificam e trabalham as forças normais cedem lugar aos


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prazeres ligeiros e frustrantes que logo abrem espaço à novas mentirosas necessidades. Compreende-se a necessidade das conquistas externas, que se torna uma forma de autorrealização, e afadiga-se a criatura por consegui-las, para logo constatar a sua quase inutilidade, por não preencher os espaços tomados pela angústia e pelas incertezas. Transforma seus dias e seu tempo mental numa correria atrás do que não tem, sem valorizar o de que já disponha. Como se apoia nos outros, sua falta de metas, de objetivos, que assalta a consciência, dá lugar a indivíduos psicologicamente vazios. Esse vazio existencial, de certo modo, também se deriva do tédio, da repetição de experiências que não se renovam, da quase indiferença pelas demais criaturas, sugerindo a inutilidade pessoal. Desse modo, avança-se para um sentimento perturbador que se apresenta como um vazio coletivo que se estabelece na sociedade. Em tentativas inúteis de o preencher, realizam-se as festas alucinantes, volumosas, arrastando as multidões tresloucadas e ansiosas, que se esgotam no prazer anestesiante, para depois despertar no mesmo estado de vácuo interno, agora com os conflitos e culpas das loucuras perpetradas, algumas de difícil reparação. Exige-se que todos se encontrem em intérmino banquete de alegrias, fingindo conforto e bem-estar nas coisas e situações a que se entregam, distantes embora da realidade e dos verdadeiros significados existenciais. Negando-se as qualidades do bem e da paz, no intuito exclusivo do desfrutar, do tirar proveito de tudo, seres de todas

as idades entregam-se à drogadição, em busca do êxtase que logo passa trazendo-os à realidade decepcionante e enfermiça. O desencanto, que se lhes instala, de imediato deve ser diminuído no tempo e no espaço, facultandolhes buscar novos estimulantes ou entorpecentes para esquecer ou para gozar. Esse vazio, portanto, não significa ausência de significados internos, de valores adormecidos ou ignorados, mas, sim, a incapacidade que toma conta do indivíduo, sugerindo-lhe impossibilidade ou inutilidade de lutar contra a maré das dificuldades, permitindo-se uma resignação indiferente, um alheamento, como mecanismo de autodefesa, que se transforma num grande vácuo interno. A pouco e pouco, porque se adapta à nova conjuntura, perde o interesse pelo desejar e pelo realizar, ficando amorfo, sem tempero, embora com aparência que corresponde aos padrões sociais, por mínima exigência do ego soberbo e rebelde. Perdido o respeito pelo grupo social e suas instituições, logo depois perde-o por si mesmo, deixando-se arrastar para profundos conflitos de inutilidade e de depressão. O vazio existencial consome o ser e atira-o na depressão, empurrando-o para o suicídio. “Melhor morrer de vodca do que de tédio”, palavras encontradas no perfil do estudante da Unesp, morto por ingerir uma quantidade absurda de vodca na festa da faculdade, como largamente noticiado pelos meios de comunicação, soam como um grito de alerta e de pedido de socorro. Enquanto não se preencher o vazio interior permanecerá o indivíduo insatisfeito, deprimido ou agressivo.


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A falta de objetivo real e nobre para a existência física deixa um profundo sentimento de frustração, responsável por vários fenômenos perturbadores. É necessária uma madura e profunda reflexão sobre a vida, o viver e seus objetivos superiores, com decisão corajosa a respeito de nós mesmos, identificando as razões das nossas buscas, perdas e inquietações. Façamos uma parada nessa correria desenfreada para lugar nenhum, e consideremos a vida uma oportunidade de sorrir e produzir, descobrindo-nos útil a nós mesmos e à comunidade. A proposta não é um rompimento pura e simplesmente com tudo e com todos que até então povoaram a cidade de nossas ilusões perdidas. Isso redundaria em solidão, outra estrada perigosa. Transformar não é destruir, é modificar. O mar pergunta ao rio: porque nunca andas em uma linha reta? O rio calmamente responde: aprendi a superar os obstáculos para atingir meu fim - chegar ao teu encontro. A principal medida é buscar novos e reais valores existenciais, que venham a nortear nossa nova maneira de ser. Busquemos novos rumos. O alpinista, após escalar uma grande montanha, foi indagado: - Como conseguiu tal façanha? - De fato, para escalar essa montanha precisei além de muito preparo físico, muita perseverança e muita sabedoria para saber os momentos em que eu deveria parar ou prosseguir, fazendo, assim, boas escolhas. - Mas o que foi mais decisivo? - Não perder de vista o topo da

montanha... A pessoa humana está inserida em uma constante tensão existencial, aquela que representa por um lado o “ser” e, por outro, o seu “dever ser”. Quando se perde essa tensão, o ser humano é acometido por uma sensação de tédio e de vazio existencial, como vimos nos parágrafos anteriores. Assim, as reflexões apontam para a importância em se ter uma direção na vida, uma meta que possa ser digna de ser atingida e que se constitua como um fim em si mesmo. Que alimente e preencha nosso ser, o que realmente somos e nos dê forças para virmos a ser o que queremos. Enfim, olhar e viver a vida sob um novo prisma. O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a pobreza, conforme Voltaire. Entendendo-se trabalho como toda atividade útil, transcende seu significado para além de busca somente pela contrapartida financeira. O trabalho é lei natural da vida. O trabalho profissional faz parte dessa equação, mas não é tudo. Precisamos de algo além da ocupação mental focada somente no dinheiro, cuja postura, se fixada na estreiteza dessa prática somente, nos levará para outros lados também atormentadores e igualmente vazios de satisfação plena. O consumismo, ao invés de satisfazer, alimenta a angústia para se ter mais e outras coisas. O iniciado pergunta ao seu Mestre: Qual a mais bela paisagem do mundo? O Mestre pede que o iniciado o leve à aldeia mais pobre da redondeza e diz: Eis aqui o lugar mais belo do mundo.


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O discípulo logo indaga: Mas como pode, Mestre, aqui não há esgoto, nem água corrente doentes.

Ao que Ele responde: A paisagem mais bela é aquela na qual um ser humano se solidariz próximo. E outra ilustração:

Mas como saberei se estou pautando a minha existência de uma forma adequada? O mo Mestre.

- Saberás quando o amor for o princípio, o meio e o fim de tuas ações no mundo, respon Caro leitor, estimada leitora.


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Você é viajor das estrelas, mas é você mesmo quem se deve amar, igualmente ao próximo amando, e ser amado como é e não conforme os outros gostariam que você fosse. Alegre-se como é, lutando para ser melhor, confiando que pode conquistar mais beleza interior, e avanço sem receio pela estrada da solidariedade. Compartilhe com a vida e com seu próximo, exatamente como você é. Seja você mesmo, sem medos, sem angústias, sem presunção, nem soberba. Assuma sua identidade, realizando-se, emocional e espiritualmente. Enquanto você se ignora, gera conflitos contínuos, caminha por caminhos incertos sem saber onde quer chegar, perdendo excelentes oportunidades de transformar-se para melhor. As pessoas que refletem outras pessoas, sem identificação, perdem-se a si mesmas, preocupadas em parecer, jamais conseguindo ser verdadeiras. Disse o poeta: A alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras pétalas. Figuradamente, cada pétala dessa flor, representa nossos diversos compromissos e interesses perante a vida, que é uma injunção entre nós, o próximo e Deus. Bem observado, todas as pétalas continuam unidas, formando um todo, sendo alimentadas em sua beleza e fragrância, pela absorção da seiva que lhes dá sustentação e vitalidade, para seu todo – a flor prosseguir formosa diante da formosura da vida. A seiva da vida é o amor, em todas suas múltiplas expressões. A flor de lótus simboliza o nascimento divino, o crescimento espiritual e a pureza do coração e da mente.

e e as pessoas estão

O significado da flor de lótus começa em suas raízes – literalmente.

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A flor de lótus é um tipo de lírio d’água, cujas raízes estão fundamentadas em meio à lama e ao lodo de lagoas e lagos. O lótus vai subindo à superfície para florescer com notável beleza. O simbolismo está especialmente nesta capacidade de enfrentar a escuridão e florescer tão limpa, tão bonita e tão especial para tantas pessoas.

onge pergunta ao seu

ndeu ele

À noite as pétalas da flor se fecham e a flor mergulha debaixo d’água. Antes de amanhecer, ela levanta-se das profundezas


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novamente, até ressurgir na superfície, onde abre suas pétalas novamente e enfeita a vida, dando sua contribuição e perfume, sem nada exigir, sem nada esperar como retribuição. Sua existência fala por si mesma. Na Índia, uma pequena lenda conta a estória de sua criação: Um dia, reuniram-se para uma conversa, à beira de um lago tranquilo cercado por belas árvores e coloridas flores, quatro lendários irmãos. Eram eles o Fogo, a Terra, a Água e o Ar. Como eram raras as oportunidades de estarem todos juntos, comentavam como haviam se tornado presos a seus ofícios, com pouco tempo livre para encontros familiares. Mas a Água lembrou aos irmãos que estavam cumprindo a lei divina, e este era um trabalho que deveria lhes trazer o maior dos prazeres. Assim, aproveitaram o momento para confraternizar e contar, uns aos outros, o que haviam construído – e destruído – durante o tempo em que não se viam. Estavam todos muito contentes por servirem à criação e poderem dar sua contribuição à vida, trabalhando em belas e úteis formas. Então se lembraram de como o homem estava sendo ingrato. Construído ele próprio pelo esforço destes irmãos, não dava o devido valor à vida. Os irmãos chegaram a pensar em castigar o homem severamente, deixando de ajudá-lo. Mas, por fim, preferiram pensar em coisas boas e alegres. Antes de se despedir, decidiram deixar uma recordação ao planeta deste encontro. Queriam criar algo que trouxesse em sua essência a contribuição de cada um dos elementos, combinados com harmonia e beleza. Sentados à beira do lago, vendo suas

próprias imagens refletidas, cada um deu sua sugestão e muitas ideias foram trocadas. Até que um deles sugeriu que usassem o próprio lago como origem. Que tal um ser vivo que surgisse da água e se crescesse em direção ao céu? Um vegetal, talvez? Decidiramse, então, por uma planta que tivesse suas raízes rente à terra, crescesse pela água e chegasse à plenitude do ar. Ofereceram, cada um, o seu próprio dom. A Terra disse: “darei o melhor de mim para alimentar suas raízes”. A Água foi a próxima: “Fornecerei a linfa que corre em meus seios, para trazer-lhe força para o crescimento de sua haste”. “E eu lhe cercarei com minhas melhores brisas, dando-lhe minha energia e atraindo sua flor”, disse o Ar. Então o Fogo, para finalizar o projeto, escolheu o que de melhor tinha a oferecer: “ofereço o meu calor, através do sol, trazendo-lhe a beleza das cores e o impulso do desabrochar”. Juntos, puseram-se a trabalhar, detalhe a detalhe, na sua criação conjunta. Quando finalizaram sua obra, puderam se despedir em alegria, deixando sobre o lago a beleza da flor que se abria para o sol nascente. Assim, em vez de punir o ser humano, os quatro irmãos deixaram-lhe uma lembrança da pureza da criação e da perfeição que o homem pode um dia alcançar. Deixe desabrochar o lótus que há em você! Que sua vida fale por você. Você nasceu para ser feliz. Seja luz no mundo.


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PRÓXIMO FASCÍCULO: Vem!

CRÉDITOS DESTE FASCÍCULO: Imagens: acervo próprio ou baixadas da Internet: Google Imagens e The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints Livros: A Bíblia de Jerusalém, além dos livros citados no corpo do fascículo. Blog/site: www.projeto-inove.com.br

rastros L um olhar na história

Revista eletrônica de circulação dirigida e gratuíta Redação, organização e diagramação: Maurício Silva Contato: redator@resenhaespiritaonline.com.br Curitiba - PR

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