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por
mariana bertolucci
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outubro/novembro 2015#13 R$ 10
ROSANE MARCHETTI
A jornalista gaúcha fala sobre o seu amor pela família, pela profissão e pelos animais, sobre a vida e a morte CLOSE Dudu Alvares, eterno Rei da Noite IVAN MATTOS
MODA Modernidade oriental Exclusiva com Adriana Calcanhotto
FERNANDA ZAFFARI As dicas mais quentes do frio londrino
sumário
Cabalística 13!
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Que delícia chegar ao final de mais uma edição da Revista Bá. Nossa número 13 vem forte, marcante e batalhadora, como a história de Rosane Marchetti. Uma guerreira apaixonada pelas histórias que conta, pelas pessoas que conhece e os animais que protege. Outra operária da comunicação, a jornalista Janaína Camara da Silveira conta como a China entrou para nunca mais sair de sua vida e sobre os planos de voltar ao Rio Grande do Sul. O colunista Vitor Raskin amplia seu talentoso olhar em nossas páginas com seu cobiçado Deu o Chic e ganha mais espaço a partir de agora. Gabriela Casartelli produziu para as lentes de Otavio Conci uma versão de mulher atemporal e moderna, diante da transição cíclica e incoerente dos novos tempos e dos novos climas. Em oito lindas páginas com aplicação de ideogramas de Frederico Antunes, Roberta Ahrons, de As Modistas, convocou o fotógrafo Raul Krebs a dividir seu apurado olhar sob uma musa oriental contemporânea. A surpreendente Bá 13 também exibe lisonjeada sua nova colaboradora diretamente da capital inglesa: a minha amiga e colega Fernanda Zaffari, que me emociona por escolher caminhar novamente ao meu lado e matar a saudade dos seus leitores por aqui. You are welcome, Fernandinha!
GUERREIRA CONTEMPORâNEA
editorial
Vem, Bá 13! Mariana Bertolucci Força e amor pela vida
Agradecimento especial a Zuca Feijó, pela locação, a gentileza e as flores.
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Fotos da capa: Tonico Alvares
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Tom Ford, ousadia com estilo
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Sedutor espião
Ena Lautert
Direção
Mariana Bertolucci marianaabertolucci@gmail.com Editora
Ele pode!
BOND IS BACK
ARTE PARA UMA VIDA INTEIRA
Mariana Bertolucci Arte e diagramação
Auracebio Pereira Revisão
Daniela Damaris Neu Comercial
Denise Dias denisebcdias@gmail.com Fone (51) 9368-4664 Editora do site da Bá
www.revistaba.com.br Letícia Heinzelmann leca_he@hotmail.com Marketing e redes sociais
Astral Consultoria de Marketing por Julia Cappellari Laks julia@astralconsultoria.com
Positividade e leveza
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CRIATIVIDADE E INOVAçãO
Rosa Quartzo, um amor de verão
Colunistas
I nventando eventos
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Ana Mariano Andréa Back André Ghem Andre Guerrero Claudia Tajes Cristie Boff Fabiana Fagundes Fernanda Zaffari Fernando Ernesto Corrêa Flavia Mello Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro Julia Ramos Ivan Mattos Laura Bier Moreira Ligia Nery Livia Chaves Barcellos Marco Antônio Campos Orestes de Andrade Jr. Silvana Porto Corrêa Verônica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno
A revista Bá não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos assinados. Elas são de |5 responsabilidade de seus autores. Todos os direitos reservados.
capa
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Guerreira contemporânea Mariana Bertolucci Fotos Tonico Alvares
Rosane Marchetti desconfia que ainda nem falava direito na época, mas guarda até hoje, entre suas primeiras e melhores lembranças, as conversas com a avó sobre cheiros e temperos: “Tudo ela me dava para cheirar: cebolinha, menta, sálvia. Ela me ensinou muita coisa além daquele afeto enorme que todo avô tem”. Foi entre uma molecagem e outra, no interior de Nova Prata, onde morava dona Tereza, que Rosane cresceu, solta no mato com ares de floresta. Catando pinhão e brincando nos trigais, perto da bicharada. No colégio, quando estudava as riquezas do Brasil, teve a ideia de entrevistar o cacau, como se ele fosse uma pessoa. O professor de português adorou, e ela acabou ganhando um prêmio. Era a primeira conquista da pequena brava Rosane, neta mais velha de duas famílias grandes e mimada pelos tios, que logo perdeu o reinado para um casal de irmãos. “Acho que eu fui uma criança feliz, não era triste. Mas não me lembro de ter sido exultantemente feliz. Eu gostava de brincar, queria ser astronauta. Depois, jornalista, que tinha numa novela”, recorda. Rosane passou a morar em Porto Alegre para estudar sociologia. Acabou fazendo jornalismo na PUC, de onde saiu em 1985, já trabalhando na televisão. É mãe da advogada Camila, casada com Luiz Roberto Martins Filho e incansável protagonista da causa dos animais, sua grande paixão, além da família e da carreira. Com três décadas de RBS TV, não há tarefa que não tenha desempenhado na emissora gaúcha. Foi apresentadora e repórter de quase todos os programas, ganhou dezenas de prêmios e tentou colocar o melhor de si em cada uma das milhares de boas e más histórias que contou.
Desde o final de 2010, quando deixou a apresentação do Jornal do Almoço para ser repórter especial, passou a fazer reportagens para a Rede Globo com mais frequência, especialmente para o Globo Repórter. No ano seguinte, Rosane foi diagnosticada com câncer de mama e afastou-se do jornalismo por nove meses, quando lutou e superou a doença: “Meu marido fazia tudo, dava banho, ajudava a comer, raspava meu cabelo”. A mãe, Lourdes Catharina, a filha e a irmã, Adriana, também estiveram todo o tempo por perto. A partir da cura, os voos pessoais e profissionais foram ainda mais desafiadores para a jornalista. Os convites para gravar Globo Repórter aumentaram e, apesar da batalha com uma rotina pesada de viagens, Rosane sente-se realizada pessoal e profissionalmente. Não por acaso, no ano passado, concorrendo com estrelas globais, como Monalisa Perrone, Delis Ortiz e Zileide Silva, foi escolhida Melhor Repórter de Telejornal, na eleição promovida pelo Troféu Mulher Imprensa. O prêmio está em sua 10ª edição, e Rosane é a primeira gaúcha a vencê-lo nesta categoria. Para Rosane, o programa perfeito hoje em dia é ficar em casa com o marido, a mãe, a irmã e a filha: “Um domingo em família daqueles bem normais, um churrasquinho. Como estou sempre fora de casa, então é bom ficar também”. Tempo de recarregar as energias para já fazer as malas e partir em busca de outras histórias transformadoras como a dela, a de uma guerreira de seu tempo. MB Como foram os primeiros movimentos em direção ao jornalismo? Decidi fazer jornalismo porque queria escrever. Tinha 17 anos e a esperança de que poderia escrever e mudar o mundo. Era final 8|
do Regime Militar. Meu sonho nessa época era escrever em uma revista, mas não tive oportunidade. Uma colega que trabalhava na Pampa me chamou para um teste, eu fui e já fiquei dois anos estagiando e trabalhando. Fazia muita coisa no Esporte. Dali fui para a RBS. O Henrique Amorim era meu chefe em Brasília, e passávamos os textos por telex. Ali eu vi que gostava mesmo da profissão. Neste ano, completei 30 anos de casa. E tu nunca paraste? Não por vontade própria. Tive um acidente de moto e fiquei oito meses parada. Quando voltei, não conseguia caminhar direito para fazer reportagens e acabei ficando na apresentação de programas. Na RBS, também fui editora-chefe e editora-executiva. Depois de um tempo, tive a opção de ficar só na reportagem novamente. Ser repórter, de tudo que já fiz no jornalismo, é o que eu mais gosto de fazer. Mas, embora eu ame a reportagem, no início eu estranhei. Também era bacana quando eu editava, arrumava texto do repórter. Mas passou o estranhamento e agora estou ótima. O que lá no começo da carreira te fascinava é a mesma coisa que te fascina hoje? Por mais vezes que eu passe por uma rua ou por um mesmo lugar, quando eu volto tento achar uma coisa diferente para mostrar. Tento deixar aquilo me contaminar. É o que eu procuro fazer com as pessoas. Depois que eu fiquei doente, percebi o quanto a energia das pessoas tem força. Já exercitava isso na minha carreira, de eu tentar me encantar com as histórias na hora de contá-las para encantar também quem vai escutá-las. O que aprendi para ajudar nisso foi dominar a informação. Acho que é importante em todas as profissões, especialmente na nossa.
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Se não me engano, foi Bill Gates quem dizia que quem domina a informação domina o mundo. Então, tem que ler tudo, saber sobre tudo o que acontece. Ler também poesia, literatura. Abrir os olhos para o teatro, a arte, o cinema. Tudo isso vai te acrescentando coisas, vai te ajudar a construir narrativas, a encontrar uma forma mais bacana de fazer com que as pessoas se envolvam com aquilo que tu estás contando. Então eu procuro me alimentar muito de tudo. Como eu tenho a responsabilidade de contar histórias, que elas sejam um pouquinho mais bacanas. Alguma matéria para ti foi mais emocionante ou marcou mais? Nunca me lembro só de uma matéria.
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Para mim, é emocionante todo dia. Nada marcou especialmente e tudo marca. Cada uma das coisas que tu fazes é a última. Cada matéria que eu faço e que eu termino, para mim, é importante, acrescenta e agrega. Ter acompanhado as famílias das pessoas que morreram no acidente da TAM marcou muito, marcou de tristeza, sem dúvida. A tragédia da boate Kiss marcou de tristeza. Mas cada matéria, de alegria, tristeza ou um serviço, eu tento fazer com que ela me marque. Porque quero que ela marque as pessoas. Eu quero que quando as pessoas ouçam alguma coisa que eu tenho para contar, e eu me esforço para isso e nem sempre eu consigo, elas vejam algo diferente e consigam de alguma forma melhorar o dia a dia delas.
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Tem algum colega, profissional de TV, a quem admires muito pela maneira de trabalhar? Muitos. Eu gosto do Edney Silvestre. O Bonner eu acho um ótimo apresentador. Eu gosto muito da Neyde Duarte, que sempre busca um texto diferenciado. Mas tem muitos por quem eu tenho admiração. A relação com o Globo Repórter já vai além do fato de o Grupo RBS ser uma das emissoras afiliadas da Rede Globo? Vai. Eles me chamam. Embora eu não seja funcionária da Globo e sim da RBS, consegui, nesses anos de trabalho com eles, estreitar essa relação, e hoje eles já me pautam reportagens pela confiança que eles têm em mim. Isso me deixa muito feliz. Acabo sendo bastante convidada. De qual tipo de matéria mais gostas? Gosto de comportamento e de animais. Tenho quatro gatos e mais alguns em casas onde eu pago para cuidarem deles. Animais que recolho, mas não consigo cuidar. São chamadas de protetoras. Como é tua rotina diária? Tenho viajado muito para o Globo Repórter, daí minha rotina está um pouco atrapalhada. Perdi o fio da meada da rotina por aqui há uns dois anos ou mais. É complicado porque preciso fazer exercícios físicos. Faço hidroginástica em função do acidente que machucou meu tornozelo, e fora de Porto Alegre acaba sendo um problema. Tento ter uma alimentação orgânica orientada por uma nutricionista, e fora de casa também é mais complicado. Então, realmente acabo comendo onde dá, tentando escolher a comida e disciplinada na medida do possível. Mas quero retomar a minha ro12 |
tina seja onde for. Como tenho ficado muito no Rio de Janeiro, queria achar um lugar de hidroginástica perto do hotel. Vou ter que assumir que a minha vida está assim. Quando estou aqui, e não estou gravando, vou para a TV e fico produzindo e pesquisando material para o próximo programa. Não faço mais escala de plantão aqui e sou emprestada. Repórter especial emprestada para a Globo. Claro que, se falta alguém para trabalhar no final de semana, eu entro. Na parceria, lógico. Estou numa fase em que conquistei algumas coisas na minha carreira. Já te culpaste por seres pouco presente na educação da Camila, como toda mãe que trabalha? Acho que a culpa é um horror e é inevitável. Tinha problemas assim porque, além da minha culpa, ela me sentia muito ausente. Então eu me sentia mais culpada ainda, porque ela me cobrava muito e dizia: “tu nunca tá em casa”. Nos meus pequenos espaços de férias, se eu ia para o Marrocos, a Camila ia junto. Se eu ia para um lugar X, e a Camila só comia sanduíche, eu ia atrás de sanduíche. Compensava ao meu modo nas minhas férias para ficar com ela, da maneira como eu podia. Nos finais de semana, ia muito com ela para o Interior, à casa dos meus pais. Ela é até hoje muito apegada a minha mãe. As pesquisas dizem que crianças que crescem com babás são mais tristes. Eu conheço muita gente que não trabalha e faz questão de não cuidar dos filhos. E nós sentimos culpa por estarmos trabalhando. Mas um dia vai mudar, vai melhorar. Nós, mulheres, ainda na nossa geração, que precisamos cavar os nossos lugares profissionais, vamos ver isso evoluir. As mães sentiriam menos culpa e dariam um jeito de ficarem mais com os filhos, se dedicando
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também ao trabalho. Mas o que eu vejo é muita gente tentando passar adiante a educação dos filhos. Acho isso triste. Quando começaste a carreira, a liberdade de imprensa era diferente. Qual a importância do papel do jornalista? No tempo que eu peguei, do fim do Regime Militar, vi uma coisa muito bacana nos jornalistas. Eles não tinham liberdade para fazer nada, mas sempre davam um jeito de fazer alguma coisa, desde a música do Chico Buarque, a receita do bolo. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Sempre se buscaram formas e caminhos para dizer as coisas. Quando terminou a ditadura, acho que de certa forma houve um relaxamento de não se saber exatamente o que é censura e o que não é. Hoje, a noção de censura é muito diferente. Ela é velada. Acho que ainda somos controlados para dar o nosso recado, para contar as coisas que acontecem. Ainda há censura, sim. De uma forma diferente, mas é censura. E acho, infelizmente, que nós, como jornalistas, não conseguimos perceber claramente que há censura e em que momento ela acontece. Hoje, o pensamento transita de uma forma rasa, e as pessoas precisam perceber o que está sendo escondido. Aquilo a que tu não tens acesso, e por que não tens acesso, chegar naquele ponto e buscar isso. E não se conformar, e buscar isso, e ir além. Apurar um fato, com ansiedade e afobação pelo furo a qualquer preço, fere a ética? Não sei se só fere a ética. É aquela necessidade de mostrar que vai conseguir, que é o cara porque está dando 14 |
essa informação. Teve um ex-colega que logo depois do acidente da TAM disse que tinha caído um avião, e era uma fábrica de colchão que estava pegando fogo perto do aeroporto. Deu demissão. A inexperiência de quem não apura o fato verdadeiramente. Quando a coisa se encerra assim, até não é tão grave. Pior aquele pessoal da creche em São Paulo que foi execrado porque supostamente abusava das crianças. A creche fechou, essas pessoas foram proibidas de sair na rua, e foi se descobrir uns dois anos depois que era tudo mentira. E foi um jornalista dando a notícia completamente irresponsável. Acreditando e levando adiante uma mentira atrás da outra como se fosse verdade. Tudo ficou muito fácil, vai-se à internet e busca. Isso te reduz também o exercício do pensamento. Existe muita irresponsabilidade por falta de informação. Claro que algumas coisas passam pela falta de ética, mas acho que muitas vezes não é nem isso, é uma questão de ego. De querer aparecer. E de falta de informação. O que consideras muito bacana produzido pela TV brasileira? Puxando a brasa para o meu assado, eu gosto do Globo Repórter. Uma coisa de que eu gosto na TV brasileira é o que o Rio de Janeiro faz, que é cobrar. Se voltar para a cidade e cobrar o que tem nos bairros. Eles ouvem os bairros em situação mais crítica, levam uma autoridade junto. Mostram para essa autoridade o que está acontecendo. Olha, aqui não tem ponte para as pessoas passarem, não tem esgoto. Acho que isso não seria a nossa função, fazer o papel da fiscalização, mas eu vejo que tem funcionado no Rio de Janeiro. Acho bárbaros os programas da BBC todos, a série Hannibal. E gosto muito de Globo Rural e do Tele Domingo.
Consideras algo inadequado na TV? Acho que essa coisa de explorar muito a dor das pessoas. Tem muitos programas desse tipo em vários canais. Por exemplo, esse menino que morreu, que a madrasta teria matado com a cumplicidade do pai, vi programas explorando a questão emocional e simplesmente para atrair ibope. Isso eu acho de uma grosseria, não agrega, não elucida, não constrói nada, só deixa a pessoa que está assistindo em casa mais triste. Tem que dar como notícia, tem que ouvir o depoimento. Agora, passar a tarde inteira, como eu já vi muitos, pisando na ferida, não dá. De quais valores não abriste mão de passar para a Camila? São algumas coisas assim: não mentir, a retidão. A palavra dela tem de ser a coisa mais valiosa que ela tem. E a outra coisa é ter solidariedade. Com os seres humanos e com qualquer outro ser vivo. Se ela encontrar alguém passando fome, ela vai ajudar. Se ela encontrar um bicho maltratado, ela é que nem eu, ela recolhe. Isso ela também faz. Tem algum sonho que desejas realizar? Meu sonho é assim, a hora que me der vontade, me aposentar. Eu e o meu marido passarmos um tempo em vários lugares do mundo de que eu gosto. Mas ficar um pouco em cada lugar. Uns dois, três meses. Quando eu quiser, tenho minha casa aqui e volto para casa. Isso eu estou combinando com o meu marido. Assim que ele se aposentar, eu encaminho a minha aposentaria e a gente vai fazer isso. Eu brinco com ele que nos encontramos ao meio-dia das nossas vidas, ele já tinha vivido seu meio dia, e eu também. | 15
E tens alguma aspiração profissional? Não. Estou vivendo exatamente o que eu queria viver no momento em que eu queria estar. E que continue assim por um bom tempo. Algo que a maturidade te ensinou? Eu não tenho mais nada a perder. Aprendi isso. Eu já lutei contra uma doença grave. Eu já perdi pessoas importantes da minha família. Eu experimentei coisas ruins e coisas boas. Quando sei que estou certa e que é pelo bem, não deixo nunca de fazer. Se isso significar uma demissão, porque eu defendi alguém ou porque fiz o que achei certo, não vou achar uma perda. Eu tenho convicções que a maturidade me deu. E como te enxergas no futuro? Eu me imagino já pensando no estilo dos meus cabelos. De como eu vou ficar velhinha. Eu gostaria que os meus cabelos ficassem todos brancos. Algum arrependimento? Não. Define Rosane Marchetti. As pessoas não acham que eu sou, mas eu sou tímida. Sou muito amiga. Incapaz de fazer qualquer coisa contra as pessoas de que eu gosto e vou brigar por elas. Sou leal. Sou generosa porque eu tento fazer isso todos os dias. Mas acho que ainda preciso me desapegar mais das coisas materiais. Ando fazendo limpas em armários e esses tempos doei muuuuuitos livros para a biblioteca do Morro da Cruz. Tenho dificuldade de jogar fora. Sou uma pessoa que junta cacareco. Quero mudar. Quero me libertar das coisas e eu preciso aprender a fazer isso. Quem gostarias de entrevistar? Eu gostaria muito de entrevistar o Peter 16 |
Singer, um filósofo australiano que foi a primeira pessoa no mundo a falar sobre a forma cruel como alguns animais são abatidos. Animais que a gente come. Em função dele, hoje, no mundo, o sofrimento para abater animais que servem de comida diminuiu bastante. É uma pessoa que gostaria de entrevistar porque eu queria beber da sabedoria dele nesta questão do comprometimento com os seres. E outra coisa que ele prega é que cada um seja generoso, seja solidário com um pequeno grupo. Se tu puderes ajudar e ajudares, tu podes melhorar o mundo em que vives mesmo que faças bem pouquinho. Ele prega essa corrente da solidariedade. Ele é um ser político e um pensador da atualidade com quem eu gostaria de ficar muito tempo conversando. Como é a tua relação com os cabelos? Tenho com meu cabelo uma relação muito comprometida. Ele não precisa ter aquele ar de festa, mas necessito que ele esteja bem arrumado. Sempre fui muito cuidadosa com ele. Todos os dias eu lavo, seco, porque acho que, quando dormimos, perde o movimento. Então eu acho que ele precisa dormir como ele é. Uso os mesmos produtos há anos. O cabelo é um órgão nosso, né? E de todas as coisas do meu corpo, mesmo não sendo vital, é a parte do corpo de que gosto mais. E foi justamente a parte do meu corpo que eu perdi, quando fiquei doente, quando fiquei careca. Tem muito simbolismo no cabelo, a força. Eu acho que o cabelo, independentemente de ser o meu cabelo ou não, é uma parte da personalidade da pessoa. O jeito de ser, ele dá mais ou menos personalidade. Tem gente que usa essa força e tem gente que não usa. Além de eu achar também que ele é uma moldura para o rosto, ele te deixa mais bonita. Era o que mais gostava em mim e tive que abrir
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mão, em um momento em que lutava pela sobrevivência. Cheguei no meu cabeleireiro, o Hugo, e decidimos cortar antes de cair. Ia demorar uns 15, 20 dias para começar a cair, mas eu não quis ver isso. Acho que a pior coisa deve ser tu veres aquela parte de que tu gostas de ti indo embora em chumaços. Se é para cair, vou ver caindo tudo de uma vez porque eu quis. Perder o cabelo és tu acabando, de uma certa forma. Simbolicamente, uma parte minha está indo embora, por causa da doença. Embora a gente saiba tudo, que pode não ser o fim. Mas é o primeiro impacto aos olhos, é o que os olhos sentem. E é difícil.
e pensam: “Ah, que pena. Coitada, está com câncer”. Só em função dos outros, eu cobri a minha careca. Não fossem os outros, não teria coberto. Usei peruca só um pouco. Logo que eu voltei para a TV, o cinegrafista me olhou e disse: “Não é tu, não é tu, vamos fazer só off”. Quando tava bem pequeninho, crescendo, tirei a peruca. Então foi assim, uma fase importante da minha vida. Nunca tinha cortado o cabelo na minha vida e nunca esperei também passar por isso. É um momento em que tu não tens o que fazer, é algo que vem para ti e tu simplesmente tens que enfrentar. Não tem outra alternativa.
E a tua relação com o Hugo, teu cabeleireiro, ficou ainda mais forte depois da doença? Sim, ultrapassou o apenas profissional. Ela é também uma maneira de eu estar perto de uma pessoa de quem eu gosto muito, que me fez muito bem e me faz. Quando se fica doente, não se tem só a consciência da finitude, sente-se a finitude. Vemos a nossa finitude chegando, e isso muda a personalidade. Tive a sensação de que o Hugo me acolheu com a mesma força que eu acreditava vir do meu cabelo, e me disse: “Vem cá que agora vou te transformar numa guerreira”. Eu senti isso, quando ele me disse “vamos raspar”. Ali, ele me transformou na guerreira que eu tinha que ser. Ele entendeu que eu tinha que ser, e cortar o cabelo era dizer: “Eu vou à luta”. Não sei se isso é uma coisa coletiva, mas é simbólico. Até em filmes e na literatura, quando a pessoa vai ter uma luta maior, a primeira coisa que ela faz é cortar o cabelo. Era o meu destino naquele momento: ser guerreira. Eu só usava boné e essas coisas para não agredir as outras pessoas. Porque se sente que as pessoas te olham
Como foi enxergar-se curada, te sentiste uma pessoa melhor? Sim. Passei a valorizar mais e aproveitar o carinho das pessoas. Porque antes não é que eu não as deixasse se aproximarem. Falo do público em geral, não dos amigos. Não é que eu não quisesse me aproximar das pessoas antes, mas eu era muito encabulada. Aí, de repente, durante a doença, essas pessoas me mandavam uma energia muito forte, e percebi o quanto essa força foi importante. Sentia que elas estavam torcendo por mim. Rezando, me mandando santinho, me mandando energia. E hoje passei a valorizar cada pessoa que me olha e me dá um sorriso na rua, que vem aqui e me dá um aperto de mão, como se fosse a coisa mais importante da minha vida.
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Parte da tua cura? Sim, eu tenho certeza de que é. Absoluta. A energia que eu recebi dessas pessoas é uma coisa pela qual sou só grata e que eu não consigo descrever. Só tenho que agradecer todos os dias o carinho que eu recebi dos meus amigos, dessas pessoas que eu nunca vi, da minha família, dos
uma doença traiçoeira. Não é mais uma sentença de morte porque a medicina avançou bastante. Tem muita gente que vive muito bem, mas fica, fica na tua cabeça aquele troço “ah, e se eu morrer, e se voltar”. Mas eu aprendi a cultivar mais as pessoas, curtir, aproveitar, me deliciar, gostar. Me encantar mais com os detalhes da vida.
meus médicos, de gente que se aproximou mais de mim. Eu tenho por lema tentar ser um ser humano melhor um pouquinho a cada dia. Nem sempre consigo, né? Mas eu tento. Ouvi uma frase esses dias naquele seriado da TV Hannibal, em que o psiquiatra diz assim: “A possibilidade da morte próxima torna a sua vida mais encantadora porque você começa a se ligar mais em todas as coisas”. De uma forma ou de outra, isso que ele disse, eu senti. Comecei a valorizar mais as coisas. Olhar mais, gostar mais, aproveitar mais. Sem pensar em quanto tempo eu ainda vou ficar por aqui. Evidente que, lá no fundo, temos medo, é
Como e por que decidiste expor com tanta coragem um momento delicado da tua vida? Sentiste a importância do teu exemplo por seres uma pessoa pública? Na verdade, com o fato de eu ter ficado doente, como muitas mulheres ficam – e todos os dias morrem 33 mulheres no Brasil de câncer de mama, é inacreditável, porque o tratamento demora, ou porque elas não vão ao médico como deveriam, ou porque elas não têm o tratamento a que teriam direito –, senti a obrigação, como uma pessoa pública e lidando com jornalismo, que sempre foi para a frente da TV tentar passar alguma coisa, mesmo contando uma história, para o nosso dia a dia ser melhor, em casa, na rua, na sociedade, enfim. Me senti obrigada a abrir e mostrar que tem que ir atrás, que não é sentença de morte, que tu não podes te entregar e que há duas alternativas: se entregar ou lutar. Eu escolhi lutar e queria que as pessoas fizessem o mesmo. Eu passei por sensações ruins, mas eu nunca fiquei muito mal. Nas quimioterapias, lembro de uma vez, a segunda ou a terceira, em que fiquei pior, enjoada, essas coisas. O resto foi tão fraquinho, pelo menos perto do que me diziam. Eu fui preparada para tanta coisa ruim, que, no fim, nem foi tanto. | 19
FernandaZaffari jornalista
Deixado é achado
O outono em Londres pode ser melancólico para alguns, com a chegada do frio e os dias mais curtos, mas é também uma das épocas mais vibrantes, quando a cidade se prepara para o Natal e capricha ainda mais na sempre intensa programação cultural. Fiz uma seleção de pessoas, lugares e atrações para você estar atualizado. Aproveite.
Letícia Nascimento lançou no Instagram um projeto de fotos (Lost and Found UK) que revela muito sobre um hábito londrino e mais ainda sobre o olhar sensível da jornalista. Objetos perdidos na rua são deixados exatamente no mesmo lugar para que o dono tenha a possibilidade de reencontrá-los. Pode ser uma echarpe, um pé de meia, o ursinho de pelúcia que cai do carrinho de bebê e até uma gravata. Em Londres há quatro anos e meio, Letícia deixou São Paulo e veio acompanhar o marido publicitário. Mãe da Rosa e da Anita, jornalista com passagem por Rede Globo, editora Planeta e Instituto Moreira Salles, foi depois de um curso de fotografia em Londres que resolveu mudar de rumo. – É um projeto muito autoral, já que sair do seu país é perder um pouco da sua identidade. Por um tempo, quando cheguei aqui, me senti perdida. De alguma maneira, me achei novamente por meio da fotografia – conta ela. Letícia é gaúcha, filha do crítico de cinema Hélio Nascimento e da professora de dança Ilse Simon. Siga a moça lá no @lostandfounduk e se surpreenda com as imagens. 20 |
Hirst dono de galeria
O mais famoso e mais rico artista inglês, Damien Hirst acaba de abrir sua própria galeria de arte. Projeto de 25 milhões de libras (R$ 150 milhões!) e com mais de 3 mil metros quadrados, a Newport Street Gallery fica no bairro de Vauxhall, ao sul do Tâmisa, na altura do Parlamento Inglês. A megarreforma pela qual passou o gigantesco armazém leva assinatura do arquiteto Caruso St. John, o mesmo da recente transformação da Tate Britain. O mais incrível é que nesta imensidão de salas brancas, intercaladas por lindas escadas, marca do arquiteto, Hirst vai exibir apenas sua coleção particular, algo em torno de 3 mil obras. As pinturas abstratas do britânico John Hoyland estão em cartaz na Newport até abril de 2016. A entrada é gratuita.
Bom e gostoso O chef israelense Yotam Ottolenghi, queridinho da família McCartney pela sua gastronomia saborosa mas com uma pegada natureba, já faz sucesso com seu novo livro. Nopi reúne 100 das mais famosas receitas servidas no restaurante de mesmo nome, que ele mantém no Soho. Tudo é uma delícia, mas prepare-se: cada receita leva pelo menos meia dúzia de temperos. E não adianta tentar simplificar, já que cada um está lá por uma razão. Vale a pena cada pitada.
Patinação encantada SFF
Esta é a época do ano para patinar no gelo em pistas montadas em alguns dos principais pontos turísticos da cidade. São pelo menos nove pistas, em que os ingressos precisam ser comprados com antecedência para você se divertir por 30 ou 45 minutos. Dá para escolher ao lado do Museu de História Natural, no centro do Hyde Park ou com a vista inesquecível da Torre de Londres.
Guarde esta data
A tão esperada ampliação da Tate Modern já tem data e programação de inauguração. Junho de 2016 promete ser a abertura do novíssimo prédio da principal instituição de arte contemporânea da Inglaterra. Os primeiros visitantes no complexo de 10 andares, projetado pelos arquitetos Herzog & De Meuron, serão 5 mil estudantes. | 21
Moda mística
A gaúcha Barbara Casasola emplacou mais um sucesso no Reino Unido. Radicada em Londres, onde sua grife é incensada por clientes elegantes e pelos críticos mais exigentes, ela ganhou espaço nobre na Bluebird, uma das multimarcas mais bacanas da cidade. Sua instalação para promover a coleção de inverno ocupou a entrada principal da butique, com cortina de fitinhas do Senhor do Bonfim. Barbara já trabalhou na Cavalli e na Lanvin, antes de apostar na marca própria e conquistar seu espaço na Europa.
Jardim suspenso londrino
Para quem viaja e não resiste a um vista das alturas, Londres oferece mais uma. O Sky Garden, no topo do prédio Fenchurch, que os ingleses apelidaram de Walkie-Talkie pelo seu formato, teve filas imensas desde o verão. Com dois restaurantes, um bar, um terraço e um interessante jardim interno, pode ser visitado gratuitamente, desde que você faça reserva. Ou, para garantir a entrada, jante em um dos restaurantes, apesar de a melhor vista não estar em nenhuma das mesas. O bom mesmo é só circular por lá no fim de tarde. A estrutura de metal e vidro lembra um pouco o aeroporto de Montevidéu. O arquiteto uruguaio radicado em Nova York Rafael Viñoly assina os dois projetos. 22 |
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Olho no olho FernandoErnesto Corrêa
Há cerca de 20 anos, eu e alguns amigos, e minha memória lembra Paulo Sérgio Guedes, Paulo Sant’Ana e Marco Antonio Campos, começamos a nos encontrar em almoços ou jantares periódicos. Foi assim que nasceu o grupo, que hoje se chama Confraria do Fernando Ernesto e tem mais de 20 integrantes, sem contar a lista de espera. Acabei como coordenador porque fui o único que aceitou a bronca de marcar data, convocar, escolher local, negociar preço, confirmar presenças. Começo confessando que é uma organização (ou não organização) machista, na qual são proibidos a presença feminina e o falar bem da atual companheira. Isso seria muito chato. Tudo o mais é permitido. E como funciona a confraria? Reúne, mais ou menos mensalmente, pessoas inteligentes e interessantes (algumas nem tanto), oriundas das mais variadas classes sociais e profissões, com o único intuito de estarem juntas, tocarem-se e jogarem conversa fora. Para isso, vamos para uma sala especial no Barbanegra, onde o Bebeto, com sua gentileza e competência, assa um churrasco fantástico. Comemos, tomamos um bom vinho, e os que querem fumam livremente. E por que esses encontros são tão avidamente esperados, tanto que muitos pe24 |
dem para que se realizem com maior frequência? Simplesmente porque estamos todos ansiosos pelo contato pessoal, pela palavra amiga, pela crítica honesta, talvez por um elogio exagerado, pelo tapinha nas costas ou pelo beijo dado por mim, que sou um beijoqueiro nato. Neste mundo de tecnologia avassaladora, estamos perdendo o sabor do olho no olho, pois tudo, ou quase tudo, se resolve por internet, celular, torpedo, WhatsApp e outras parafernálias modernosas. A gente pensa que tem notícias dos amigos por esses meios sem vê-los por meses e até por anos. Ledo engano, em cada reunião nossa é que sentimos que é nela que retornam a intimidade e a fraternidade que estavam inconscientemente distantes. O encontro é, também, uma janela que se abre nessa dualidade família/emprego, que consome quase todo o nosso tempo. Tudo bem cuidar da família e ser eficiente no trabalho. Mas isso não pode ser tudo. Respirar outros ares faz bem até para melhor tratarmos os que estão mais próximos. Ninguém pode viver bem algemado e numa prisão, mesmo que as algemas sejam de ouro. A confraria acaba sendo um evento do qual nós todos saímos mais alegres do que quando entramos. Se vocês ainda não têm um grupo como o nosso, por favor, tratem de organizá-lo, pois ele vai fazer muito bem para a sua vida e felicidade. Não sou um fóssil analógico. O que rejeito é a escravidão às redes sociais. Não se tornem dependentes químicos do Facebook, Instagram ou WhatsApp. Nada supera o calor do contato pessoal. Viva o olho no olho!
FOTO: RAUL KREBS • ESTÚDIO MUTANTE
espaço de eventos rua dinarte ribeiro, 155 • lá nos fundos do puppi baggio • www.lanosfundos.com.br
Bá, que delícia
Amor e sabor
Caxiense radicado em Porto Alegre, pai de Manuela, André e Mariana, Pedro Hoffmann é um cozinheiro de mão cheia e um empreendedor nato. Mãe de Diego, Andréa Martins veio do Espírito Santo para protagonizar, ao lado do marido, uma bonita história de amor pela gastronomia Pedro Hoffmann é um caxiense que tem no DNA ítalo-brasileiro tanto o dom para misturar ingredientes da culinária italiana quanto talento empreendedor para abrir as portas de projetos gastronômicos, transformando-os em marcas de sucesso. Formado em Administração na UCS, ele comandou e implantou tantas operações gastronômicas, que corre o risco de esquecer alguma. Mas há os empreendimentos inesquecíveis, como o Belária Restaurante Italiano e o Al Dente, que chegou a ter franquia no Rio e funciona sob a tutela da ex-sócia Eleonora Rizzo. Ainda em parceria com Eleonora, Pedro coleciona outras marcas na carreira: o épico Birra & Pasta, o requintado Gattopardo. Além do La Caceria, no Hotel Casa da Montanha, em Gramado, que ainda mantém receitas suas no cardápio. Em 1997, Pedro foi convidado para abrir dois espaços gastronômicos no Espírito Santo e topou desbravar outros cantos. Criou então, num mesmo hotel, um restaurante em uma cobertura e o Titanic, barzinho badalado no térreo, de frente para o mar. E foi ali, convivendo com a turma capixaba de Andréa Martins, que a vida mudou. Psicóloga, bailarina de jazz cheia de graça, dona de personalidade forte e apaixonada pela fotografia, Andréa encantou-se com Pedro, e eles transformaram amizade em amor, cumplicidade no casamento e no trabalho. Em 2001, ela deixou carreira, 28 |
família e amigos e transferiu-se para Porto Alegre com Pedro, mais uma vez desafiado a montar novos negócios no Sul. Foram duas operações ao mesmo tempo para uma mesma empresa. Já são 14 anos de parceria com a Millenium, e houve momento em que o casal chegou a assumir três restaurantes da rede de hotéis. “Hoje é apenas um. Me envolvo muito com o que faço. Tenho que fazer e faço. Então não dá para dar conta de tudo”, justifica o atento Pedro. Não é o que parece. Em 2004, Pedro abriu o restaurante Peppo, seu apelido de infância, com uma proposta à la carte e bem italiano. Depois de uma bem-sucedida e saborosa história de 10 anos, o desejo de colocar em pé mais um empreendimento resultou no projeto mais envolvente da dupla: o PPKB Kitchen & Bar. O mais novo negócio é um lugar incrível, despojado e classudo. Moderno e funcional, lindo, gostoso e cheio de astral. Fruto de quase dois anos de estudo e referências, conta Pedro: “É legal ver a reação das pessoas. A cozinha aparente chamou atenção. Tem um quê de gringo contemporâneo”. Pedro é agitado, coloca a mão na massa, cria receitas, cuida pessoalmente da cozinha, do pessoal, e administra as três operações com carinho, destreza e habilidade impressionantes. Deia cuida do marketing, da relação com a imprensa, dos eventos e do retorno em relação ao serviço: “Sentir que o
VINIDALLAROSA
jeito como você atendeu foi importante para a felicidade de alguém não tem preço”. Pedro complementa: “Prefiro que o cliente reclame na hora. Fica mais fácil de contornar”. Para escapar da rotina dinâmica de comandar o Becco, o Peppo e agora o PPKB,
eles tentam desligar um pouco nas horas livres, e um dos prazeres é visitar restaurantes e vinícolas diferentes pelo mundo: “Não paramos de aprender nunca, por mais experiência e estrada que se tenha. Está aí o grande aprendizado”. MB | 29
Roubadinhas
LauraBierMoreira
Sonhar acordado, sim! Neste ano, o Roubadinhas completou dois anos de existência dos muitos que ainda estão por vir, e posso dizer que foram dois anos 100% intensos e de muito trabalho e aprendizagem. Montar um negócio de maneira despretensiosa, sem grandes planejamentos ou expectativas, posso garantir que fez com que todos os frutos que fui colhendo ao longo desse tempo fossem inesperadas e deliciosas surpresas. Graças a Deus, não enfrentei no meu caminho gente mal-intencionada ou preguiçosa, ao contrário, o que conheci e o que venho conhecendo de gente bacana, empreendedora e DO BEM não é brincadeira. Cada dia, uma surpresa mais satisfatória. Ver a quantidade de gente que está “largando” trabalhos e tarefas que não tragam felicidade e indo em busca de sua essência, do que realmente preenche a alma e faz feliz, é o que me motiva a continuar trilhando meu caminho e a incentivar projetos e sonhos de outras pessoas. Falta de coragem de mudar e de enfrentar opiniões e rótulos é o que atualmente está barrando muitas das decisões
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cheias de vontade. O padrão ainda acomoda. O dito certo pela sociedade ainda é o que mantém muitas pessoas enraizadas. Geralmente presas a algo que não traz realizações, mas traz uma certa segurança, na maioria das vezes financeira. Eu sou totalmente vai lá e faz. Sou um pouco impulsiva às vezes, eu sei. Deveria parar um pouco, respirar, repensar... Mas, no auge dos meus vinte e poucos anos, julgo ser este o momento de ir atrás, correr, batalhar, trabalhar, ser feliz com algo que me realize diariamente. Adoro uma frase de Shakespeare que diz: “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”. Ah, a dúvida. Que deixemos as dúvidas nos instigarem a querer sempre mais e melhor e que não nos impeçam de tentar, de buscar o que realmente almejamos para as nossas vidas. Afinal, o tempo passa rápido demais para ficarmos parados esperando a felicidade bater à nossa porta. E aí, já foi feliz hoje?
AnaMariano escritora
Os muito bonitos que me perdoem
Sabe a Gisele Bündchen? Esquece. Sou morena, baixinha, quando o vento bate, meu cabelo não fica esvoaçante, quando minha camiseta escorrega não fica sexy e se coloco uma calça boyfriend parece apenas que o defunto era maior. Nenhuma tragédia em tudo isso: não sou tão feia que não possa casar, mas também não sou, nem nunca fui, uma beleza, só que (e se não houvesse esse só que não haveria crônica) há dias em que algo muda e eu fico bonita. Acontece de repente, numa segunda ou numa quarta, no verão ou no inverno, independe de hora, de roupa ou de qualquer outra coisa assim, concreta e previsível. Talvez seja a luz, talvez um pensamento feliz, daqueles que fazem funcionar o pó de pirlimpimpim, não sei, só sei que há dias em que o pessoal da obra perto de casa repara em mim, um que outro assobia, alguém pede meu telefone ou me informa que, em Portugal, gostam das mulheres como das sardinhas: pequeninas. Nesses dias de beleza inesperada, depois de me certificar de que nada impróprio está aparecendo, que não estou com a etiqueta da roupa nova ainda pendurada ou algo assim, que possa me tornar digna de atenção, relaxo e me deixo embalar pela maravilhosa sensação de ser bonita. Se meus quinze minutos de beleza se 32 |
repetissem mais seguido, eu seria convencida; não sou, pelo menos não quanto a ser bonita, mas, sem falsa modéstia, esse sobe e desce na escala do bonito me ensinou algumas coisas. Assim como Tirésias, o grego que, por ter posto fim ao coito de duas cobras, foi condenado a ser, alternadamente, homem e mulher, sendo ora feinha, ora bonitinha, posso olhar os dois lados e, com conhecimento de causa, sugerir a vocês que esqueçam os conselhos do Vinícius: as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental. Contrariando o poeta, eu digo: apostem no amor feinho. Adélia Prado, que citei em itálico lá em cima, no primeiro parágrafo, explicou as razões perfeitamente, e quando alguém explica perfeitamente é bobagem repetir de outro jeito. Ela disse: Eu quero amor feinho. Amor feinho não olha um pro outro. Uma vez encontrado é que nem fé, não teologa mais. Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo e filhos tem o quantos haja. Tudo o que não fala, faz. Planta beijo de três cores ao redor da casa e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada. Amor feinho é bom porque não fica velho. Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: eu sou homem você é mulher. Amor feinho não tem ilusão, o que ele tem é esperança.
w w w.unejovem.com.br
objetosedesejos
HenriqueSteyer
Ele pode!
Quando o design, a moda, a fotografia e a arte se misturam, verdadeiras maravilhas podem surgir. Tom Ford, de aparência sóbria e clássica, é mestre em criar essas maravilhas e sempre surpreende pela capacidade de ousar e arrancar suspiros com ideias que flertam com a pornografia, sem serem vulgares. Sempre fui atraído pelo que gera polêmica, que apresenta uma nova forma de pensar o ordinário e que intriga pelo simples fato de ser audacioso. Essa intenção constante de remar contra a maré ainda é tema recorrente no divã, nas minhas sessões semanais de análise, onde tento, incansavelmente, conhecer mais de mim mesmo para conviver melhor com as minhas inseguranças. Sair da manada para viver em um mundo de ideias menos convencionais parece divertido, mas não é tão fácil. Um universo de humanos que primam pelo bom senso e pelo politica-
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mente correto não é o meio ambiente mais propício para a criatividade, e, neste contexto, tem muita gente boa colocando seu barco contra a correnteza e fazendo sucesso por aí. Ao longo de sua brilhante carreira, Ford foi responsável por trazer à tona o costume sexy para o mundo das megamarcas, como Gucci e Saint Laurent, e mais ainda com o lançamento de sua marca própria de roupas e acessórios. Adoro quando alguém afirma que o bom senso é o maior inimigo da criatividade. É chegada a hora de abandonarmos as formalidades para que se possa apreciar o novo e o ousado. Ford, idolatrado fashion designer internacional, quando assumiu a direção criativa da maison Gucci, revolucionou o mercado editorial com suas campanhas arrojadas de forte apelo sexual. Para dar vida às suas aspirações revolucioná-
rias de comportamento, ele lançou mão de grandes fotógrafos, como Mario Testino e Terry Richardson, que sabem trabalhar suas temáticas de forma peculiar. Não há como ficar indiferente aos anúncios criados para promover seus produtos a partir das imagens concebidas por esse time. Para quem trabalha com produção fotográfica e direção de arte, fica evidente que a química entre Ford e seus fotógrafos é das
mais afinadas. E, quando o clima underground do submundo do sexo encontra peças de vestiário e complementos de alto padrão, o resultado é arrebatador. Isso é mais do que uma simples campanha publicitária. É arte a favor da quebra de paradigmas. Vida longa àqueles que têm coragem de ousar e encher a nossa vida mundana de belas imagens temperadas de atrevimento, alimentando nossos anseios por dias melhores. | 37
ping
Movimentado
Lenara Petenuzzo
Vivian Neuls convive bem com seus dois mundos. Gosta da agenda familiar animada e de trabalhar muito. Também se divide entre a calçada da Padre Chagas, onde adora receber clientes e amigos em frente à Estação do Banho, loja que comanda há 12 anos, e São Paulo, onde administra sua marca. “Aqui sou alguém, lá em SP não sou ninguém. Sabe o melhor? As duas coisas são boas. Lá fico enfurnada trabalhando. Lembro que na infância era cheia de amigos, mas precisava dos meus momentos sozinha. Em Porto Alegre, São Paulo ou no Campeche, ela acorda e corre. O trabalho e o exercício diário também ganham um perfil diferente na capital paulista. “Em Sampa, converso com meus anões iluminados e piso na grama sintética da sacada. Coloco som e gosto tanto de trabalhar, que às vezes nem acredito”. Para Vivian, trabalhar é estar feliz. E a felicidade ela encontrou em 2003, quando entrou numa L’Occitane e decidiu montar o seu negócio. Convidada por uma grande empresa de cosméticos, o desafio foi criar a Identitá, linha já à venda em 500 lojas em todo o país e que em 2016 ganhará nova identidade visual e embalagem. Energia para manter o equilíbrio e o sucesso ela encontra na praia catarinense e nas calçadas do Moinhos de Vento. “Busco a harmonia de tudo isso no Campeche, pé na areia também me reconecta”. E com as próprias mãos, faz o bem com um reconfortante banho semanal no Serjão, um morador de rua do bairro Moinhos de Vento, com direito a muda de roupa nova. De brinde, uma lição de vida para todos nós.
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equilíbrio
Como escolheste trabalhar com fragrâncias? Me identifiquei com o fato de não vender um produto, e sim uma sensação. Entender o mundo das fragrâncias e o que elas provocam nas pessoas. O público que atendo é sensível aos sentidos. Como o esporte e a corrida entraram na tua vida? O esporte começou nas olimpíadas do Farroupilha. Gosto da competitividade, dos desafios, da adrenalina e de superar a mim mesma. Não sei fazer mal. Me cobro no que eu faço. Veio também da necessidade de ter um momento meu. O que sentes correndo? Vem tanta coisa à cabeça. Nunca uma corrida é igual à outra. Correndo, consigo pensar no depois. Sempre vai me dar equilíbrio. O que São Paulo tem e Porto Alegre não? Em São Paulo, tudo fica aberto 24h. Mas, se estou muito lá, sinto falta da rotina daqui, e vice-versa. Algum arrependimento? De não ter aproveitado a sabedoria de pessoas mais experientes que em algum momento da minha vida estiveram perto. Momentos que não voltam. Só pensava em fazer esporte e não parava quieta. Resgatei muita coisa. Aprendi que a vida não é só movimento. É também, mas é preciso prestar atenção em tudo e entender a importância do equilíbrio. Um desejo? Morar no Campeche. Ver o pôr do sol, o nascer, dar a minha corrida na natureza. Observar as mudanças acontecendo na vida e fazer a minha base lá. Estou trabalhando para isso. Inspiração? Meus ídolos e inspirações vão mudando conforme eu vou vivendo. MB | 39
pong
caçador de
conceitos ChristianoCardoso/EstúdioSportsMag-
Por Janaina Marques
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Ele chegou a pensar em ser estilista, antes de cair de amores por cortes, fios e cores de cabelos. Hoje, o cabeleireiro Édison Soares lidera três unidades do Sexton, salão badalado de Porto Alegre, que completa 22 anos. No final da década de 1980, sem clientes, o profissional foi para Rondônia tentar o garimpo. “Eu era o único que cortava cabelos lá, e então pensei que, se podia trabalhar naquele ambiente difícil, iria fazer o mesmo em Porto Alegre”. Motivado, retornou à Capital e por quatro anos trabalhou no vanguarda Vídeo Hair. Mas foi em Paris que encontrou o lugar ideal para se aperfeiçoar, buscar referências e seguir aprendendo. Na Europa, Édison abriu os olhos para uma série de tendências, técnicas e novidades que o inspiraram a construir o Sexton, com um conceito singular. Apesar da agenda lotada, o hairstylist divide-se entre as unidades do bairro Moinhos de Vento, da Zona Norte e da academia Bodytech. Édison é casado com Luciana, pai de quatro filhos e avô do Antônio, de dois anos. Constante caçador de conceitos e totalmente seduzido pelo novo, ele desembarca em Berlim em novembro para conferir a etapa final do Trend Vision da Wella.
Como cuidas da saúde? Malho, já corri maratonas, fiz natação e boxe. Agora, comecei a treinar ginástica olímpica. Qual é o conceito do salão? Foi pensado todo fora da caixa, desde detalhes verde-limão a pôsteres, moda, um clima rock’n’roll cuja referência busquei em bandas, como Rolling Stones. E o nome Sexton? É um personagem de Shakespeare, um juiz, o Mr. Sexton. Surgiu em uma conversa com os arquitetos responsáveis. Como é a seleção de profissionais para o Sexton? Todos passam por mim. Sempre corto o cabelo com os novos participantes da equipe. É uma boa oportunidade de conhecer a pessoa, dar umas dicas. E se o iniciante errar? Se errar, conserta! Como te reciclas? Em viagens anuais, buscando referências no trabalho de outros profissionais e no comportamento das pessoas. Um lugar? Paris é obrigatório há anos, onde faço cursos sobre design de cor e de corte combinados, uma das características mais fortes do Sexton. Qual é a tendência em cortes? Cabelos mais curtos, tipo pelo ombro ou mais curtos ainda. As mulheres ficam mais joviais, e as meninas, mais ousadas. O verão 2016 é das loiras, mas o cobre, o vermelho e os tons caramelo também agradarão. Mulher com estilo e beleza? Charlize Theron e Scarlett Johansson. | 41
arte
Inquieta em sua loucura IvanMattos jornalista
O recente DVD da cantora gaúcha dirige seus holofotes para a obra de Lupicínio Rodrigues
O compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues completou 100 anos em 2014, merecendo diversas homenagens e publicações que se debruçaram sobre sua vida e obra. A cantora Adriana Calcanhotto foi a convidada da UFRGS para dar a sua contribuição à efeméride e aceitou com algumas reservas. Não que fosse estranha ao universo do compositor, pois, segundo ela mesma, todo gaúcho cresce ouvindo seu repertório. O mergulho no grande acervo do autor revelou pérolas pouco conhecidas e a confirmação de algumas preciosidades que não poderiam ficar de fora do roteiro. Um parêntese. Tudo o que passa pelo crivo de Adriana, que é também compositora de sucesso, acaba tendo uma releitura personalíssima. Em Loucura, vestindo smoking e pérolas, Adriana se transforma em uma crooner de luxo, em meio a um cenário de um bar, entre mesas e cadeiras, interpretando visceralmente uma parte expressiva do repertório de Lupicínio, a exemplo de Vingança, Volta, Cadeira Vazia, Esses Moços, Nervos de Aço, Nunca e a pouco conhecida Homenagem. Adriana pisa no palco como se andasse sobre as estrelas. Escolhe os gestos, caminha com leveza, como se tomasse muito cuidado em não interferir no que parece perfeito. Como se Lupicínio tivesse acabado de sair do local e sua ca42 |
deira ainda estivesse vazia. O material do DVD é fruto da única apresentação no Salão de Atos da UFRGS, em dezembro de 2014. Adriana registrou uma performance única, que, segundo ela, não poderia ser repetida, pois perderia a autenticidade da encenação. Em Volta, a cantora leva ao extremo a interpretação da situação vivida pela personagem da música em um momento mágico do show. Adriana parece cantar com os olhos voltados para dentro, como se buscasse no mais profundo de si o significado exato das palavras de Lupicínio. Ali, encontra a métrica e o ar que moldam as frases do bardo gaúcho, como ela própria já se referiu a ele. Ao conversar por e-mail com a revista Bá, Adriana explica de onde veio a inspiração para esta Loucura. Neste espetáculo, vê-se uma atuação performática muito forte tua, algo muito presente em diversos momentos da tua carreira. Aqui, com as letras de Lupicínio, sentes um apelo mais forte em ratificar tua porção de atriz, de uma cantora intérprete? Não especialmente. Trabalho com teatro dentro dos meus espetáculos, às vezes com cenas mais explicitamente teatrais. Internamente, sempre trabalho com teatro, interpretar canções é interpretar.
De quem foi a ideia de situar o espetáculo em um espaço de um bar, local tão significativo e premente na obra do Lupicínio? Foi tua? Foi minha. Contei ainda com as belas correntes penduradas que já faziam parte, era o cenário do projeto todo, para todos os artistas participantes. Pensei em Lupicínio e em Pina Bausch no Café Müller, cada um a seu modo, falando do mesmo assunto, do humano. Há uma similaridade no que diz respeito ao poder de síntese entre as composições tão fortes e cheias de imagens de Lupicínio e as tuas próprias canções, sempre em busca do sumo das palavras? É loucura minha? Só fui enxergar o tamanho da influência de Lupicínio no meu trabalho de composição quando gravei O Micróbio do Samba. Nenhuma daquelas canções existiria se não existisse Lupicínio. Um ídolo com o qual não tive o impacto da descoberta porque ele sempre esteve perto. Uma vez, o DJ Zé Pedro me disse: “canta mais Lupicínio, este homem te pertence”. Eu nunca tinha pensado assim. Demonstras uma profunda compreensão do universo do Lupicínio ao aliares a delicadeza do teu canto com a força das palavras do | 43
compositor. Quais são as tuas maiores afinidades com o repertório selecionado? Foi muito difícil chegar a esse repertório? Difícil sempre é, fazer um roteiro em que precisam ficar de fora tantas canções lindas, mais ou menos conhecidas. A peneira final deu-se naturalmente, pelo que fui ouvindo durante nossos poucos ensaios. As sobreviventes foram as que mais me soaram próximas do que imagino que ele gostaria. Disseste em uma entrevista aqui em Porto Alegre que cada um tem o seu Lupicínio Rodrigues preferido. Qual é o teu? O autoirônico. Embora Loucura não desconstrua Lupicínio, fazes uma ponte muito interessante entre Cenário de Mangueira e Cevando o Amargo. Seria uma união entre as tuas raízes gaúchas e a tua vivência há tantos anos no Rio de Janeiro? Provavelmente. Meu ouvido entende tudo assim, como samba. Ouço funk como samba, como samba -reggae. Não é uma desconstrução, é uma audição própria. Vinha brincando de usar beatbox de funk com sambas de Vinicius, resolvi registrar Cenário de Mangueira assim. Paralelo à preparação do Loucura, eu estava trabalhando com Domenico, João Brasil e Bruno di Lullo, a Banda Louca, em tocar sambas como funk. Cenário de Mangueira caiu como uma luva em uma das nossas sessões. Gostei de registrar. É perceptível que não fazes drama nem ao interpretar as mais dramáticas e derramadas canções de Lupicínio. 44 |
Foi uma opção consciente lançar estas novas luzes sobre a obra dele, imprimir um discreto charme? A ideia era focar nas canções, não na intérprete. As canções já dizem o querem dizer. A influência de tua mãe, Morgada Cunha, experiente coreógrafa e bailarina, ainda é um fator preponderante na hora em que concebes a tua movimentação cênica em um espetáculo como este? Sem dúvida, sendo que gosto cada vez menos de marcar cenas, parto da espontaneidade e lapido aquele gesto. Não poderia repetir o que fiz em Volta toda noite, como uma coisa ensaiada. Fiz na hora, não conseguiria fazer igual de novo. Estou no palco para correr riscos, não para ter conforto. Embora contida durante boa parte do show, não economizas emoção e técnica em Cadeira Vazia, Homenagem e Esses Moços. Te sentiste mais à vontade nestas interpretações? Você é quem está dizendo, meu querido (risos). Após esta entrevista, a cantora gaúcha esteve novamente em Porto Alegre, desta vez acompanhada pelo músico e compositor Cid Campos para um show dentro da programação do 22º Porto Alegre em Cena. Musicapoesia foi apresentado no Auditório Araújo Vianna em uma noite inspirada da musa gaúcha, vestindo branco, tocando percussão e gaita de boca, privilegiando, desta vez, músicas compostas a partir de poesias de Arnaldo Antunes, Waly Salomão e Antônio Cícero. No bis, três canções de Lupicínio fizeram a plateia cantar junto emocionada.
O VITRA JARDIM EUROPA ESTÁ FICANDO PRONTO. INAUGURE A FASE MAIS EXCLUSIVA DA SUA VIDA.
4 S U Í T E S • 2 4 4 M 2 P R I VAT I VO S • L I V I N G C O M P É - D I R E I TO D U P LO V I S TA E S P E TAC U L A R PA R A O PA R Q U E G E R M Â N I A E M TO D O S O S A PA R TA M E N TO S .
Imagem meramente ilustrativa. Incorporação registrada sob o R.4-142.181 da matrícula nº 142.181 do Livro nº 2 - Registro Geral de Imóveis da 4ª Zona da Comarca de Porto Alegre-RS. Projeto arquitetônico: Baldasso & Loeff Arquitetura. Projeto paisagístico: Tellini & Vontobel. Expedição do Habite-se prevista para outubro de 2015.
trama
Chocólatras unidos Por Letícia Heinzelmann
Ela é carioca, gente boa, cozinheira de mão cheia. Ele é portenho, um tipo tranquilo, encantado pela química dos alimentos. Acabaram encontrando-se no meio do caminho: em Porto Alegre, mais precisamente, na fábrica da Chocólatras. A marca nasceu pelas mãos de Sony Monteiro, junto com o irmão Sérgio, ainda no Rio. Nicolas Fainstein, após uma longa carreira como engenheiro de alimentos em grandes indústrias argentinas, também começou a se aventurar no empreendedorismo ao lado do irmão, Damian. Esta é, portanto, uma história de negócio em família. Sony sempre gostou de cozinhar. A primeira empreitada nasceu na própria cozinha, quando começou a vender quiches. Logo veio a sociedade num pastifício, para então aventurar-se pelo mundo das delícias de chocolate. Quando se mudou para o Sul, a Chocólatras ficou para trás. Levou alguns anos para que, a convite da Casa do Camarão, ela passasse a fornecer suas gostosuras em solo gaúcho. Começou com uma sobremesa especial para o Dia das Mães, que logo passou a integrar o cardápio do restaurante. Não demorou para a cozinha de casa ficar novamente pequena. Já fechada na capital fluminense, a Chocólatras ensaiava seus primeiros passos na nova cidade. Nessa época, Nicolas também se rendia aos doces. Chocólatra assumido, o negócio dele, porém, era sorvete. “Eu gosto muito de tortas, mas na Argentina não tem essa cultura. Num aniversário, em vez de se levar uma torta como sobremesa, levase sorvete”, conta, revelando que se en46 |
Foto Pedro Monsev
cantou com a qualidade das tortas da Chocólatras à primeira mordida. “Uma boa torta com um bom sorvete é uma experiência única. Esse negócio tinha potencial”, sacou na hora. “Eu sempre soube que tinha um potencial enorme, mas faltava mesmo uma equipe de trabalho, que focasse as diversas áreas”, completa Sony. Quando a Chocólatras ficou apertada no endereço que reunia loja e fábrica e Buenos Aires ficou pequena para a sorveteria, as famílias Monteiro e Fainstein se encontraram. Começou então a parceria que transformaria a Chocólatras numa fantástica fábrica, que abastece as lojas da marca – hoje são duas, no Moinhos de Vento e no Viva Open Mall –, restaurantes e eventos. Integram ainda a sociedade Pedro, primogênito de Sony (também fotógrafo, que assina a foto desta matéria), e Damian e Leandro, irmãos de Nicolas. Porto Alegre é agora o lar dessas duas famílias. Sony criou os filhos, Pedro e André, aqui. Damian se tornou pai de Tomas na cidade. E o pequeno está prestes a ganhar uma priminha: Julieta, primeira filha de Nicolas, deve nascer em novembro. São Sony, Pedro e Nicolas que convivem diariamente na fábrica. Longe do atendimento, ela pode agora dedicar-se ao que mais gosta: criar delícias. “Claro que sinto falta de alguns clientes queridos, mas, em geral, não tenho nenhuma saudade da rotina insana de produzir e atender”, confessa. E Nicolas, apaixonado pela alquimia dos alimentos e por chocolates que é, encontrou seu lugar. “É uma indústria espetacular, com inovação constante e muito rica do ponto de vista gastronômico”, derrete-se. Como chocolate.
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eutenhovisto.com
JaquelinePegoraro
criatividade e inovação: conheça a Inventa Evento
o espetáculo e desmontar tudo em 30 minutos foi um desafio e tanto. Na reinauguração do Beira-Rio, com um pouco de experiência que já tínhamos do evento anterior, conseguimos montar um evento com mais tranquilidade e mais tempo de produção. No entanto, os desafios também eram os mesmos, pois ambos os estádios estavam em obras, e tivemos que lidar com obra e produção de um grandioso espetáculo ao mesmo tempo. A produção da reinauguração do Beira-Rio contou com mais tecnologia, mais pessoas na produção, no elenco, e um diretor que contou uma história com muitos elementos, com muito cenário. Finalizar e entregar esses dois eventos foi o maior dos nossos desafios e uma grande alegria!, conta Ana. fotos Franco Rodrigues
Expert em produção de eventos corporativos e de entretenimento, a gaúcha Inventa Evento está há nove anos no mercado e coleciona momentos de sucesso. As sócias Doda Bedin e Ana Paula Leite são responsáveis por eventos como as inaugurações dos estádios da dupla Gre-Nal e os shows de Paul McCartney, Justin Bieber e Roberto Carlos em Porto Alegre. Quando fomos contratadas para fazer essas produções, ficamos maravilhadas pela oportunidade de colocarmos o nosso trabalho em eventos tão grandiosos e importantes no cenário nacional. Na Arena, o maior desafio era colocar de pé um evento grandioso em um estádio em obras e sabendo que após o evento teríamos um jogo. Montar e fazer todo
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Em 2014, a dupla chegou a uma marca incrível: 200 eventos realizados! Além disso, a empresa é bicampeã do Prêmio Serviços Especializados no Salão da Propaganda ARP (2013-2014). Neste ano, Doda e Ana comemoram duplamente: além de serem as novas responsáveis pelas contas da Claro e da Stihl, as gaúchas também levaram sua criatividade para um evento bem diferente: o UFC 90, com a comentada luta entre Ronda Rousey e Bethe Correia. Fomos convidadas para atender os hospitalities dos eventos. Nossa experiência em grandes eventos, como Planeta Atlântida, Inauguração da Arena e do Beira-Rio, aproximou-nos do universo do UFC, um evento dinâmico com grande mídia envolvida e com grande repercussão. A Inventa foi responsável pela organização do treino aberto, por ativações para o público na vila do HSBC e um hospitality para 700 pessoas, incluindo o vip experience. Ainda em 2015, estaremos cuidando em São Paulo do Fight Night, no dia 7 de novembro, no Ibirapuera, explica Doda. Com clientes como Renner, CFL, Melissa, Dauper, ARP, Tramontina, Paquetá e Fecomércio-RS, os planos para 2016 não são poucos: Conquistamos duas contas neste ano para 2016, a Claro e a Stihl. Queremos muito que estes novos clientes tenham o mesmo flow de informações e conhecimento que adquirimos com os clientes mais antigos. Que se tornem nossos clientes eternos. Além disso, já estamos projetando novas contas para 2017, ou seja, pensar a longo prazo é muito importante para o nosso ramo. Precisamos estar presentes junto aos clientes que entendem que o evento é a melhor forma de o cliente ter contato e viver experiências, celebra a dupla!
Papai é Pop em todos os momentos
Pegando carona no sucesso do livro Papai é Pop, uma reunião de 32 crônicas de Marcos Piangers sobre sua relação com as filhas, Anita e Aurora, a grife gaúcha Aragäna e o comunicador desenvolveram, com pitacos e considerações bem importantes da filha Anita, a mochila Papai é Pop! A peça foi criada pensando no pai moderno e atual e vem em dois formatos: adulta e infantil, ambas idênticas em formato, design e estética, mas com adaptações de uso. A mochila do papai, além dos espaços tradicionais, com várias divisões, conta com bolso térmico – pensando na lancheira e na mamadeira –, espaço para chupeta e fraldas. A versão pocket da mochila também vem com bolso térmico e com espaço para ipad, porta-tudo, lápis de colorir, caderno e uma corda de segurança para a chupeta, no caso de ela cair. As peças vêm em dois formatos de cor, vermelho coral e azul, e estampa divertida para todas as idades. O lançamento já está nas lojas físicas da marca em Porto Alegre e Blumenau, e no site www.araganaconcept.com. Parte da venda das peças será revertida para doação.
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ClaudiaTajes
Consultoria para aparentar juventude
Não quer que saibam a sua verdadeira idade? Nunca diga “vou comprar uma calça de brim”. Diga “vou comprar um jeans”. Também vale usar todas as variações desse tipo de peça: skinny, flare, boyfriend, bootcut, oversized e o que mais a moda inventar. Calça de brim é do tempo em que a gente fazia touca para alisar o cabelo. Aliás, nunca diga que faz touca para alisar o cabelo. Diga que faz escova progressiva, definitiva, japonesa, de chocolate, de ouro ou o que mais estiver em evidência para parecer que você não nasceu crespa. Crespa, não: curly. Não quer entregar que não cozinha na primeira fervura? Jamais diga: “Eu não cozinho na primeira fervura”. Diga: “Sou vintage”. Nunca anuncie que vai pegar uma “kombi”, modelo dos primeiros lotações que circularam pela cidade. Não avise que está indo para a ginástica, fale: “Vou treinar”. E também: “Tenho um personal”. Já sofri muito bullying (não diga “deboche”) por falar “professor de ginástica". Se as coisas estiverem bem, em hipótese alguma apregoe (melhor evitar “apregoe”) que a vida corre “a todo vapor”. Em tempos de trem bala, imaginar um vapor cruzando a planície dá a impressão de que você anda é devagar – quase parando. Outra expressão que entrega a idade: “De grão em grão a galinha enche o papo”. As gerações mais jovens pensam que galinha nasce em pe50 |
daços no supermercado, jamais entenderão a figura de linguagem como exemplo de persistência. A palavra “persistência”, mas daí por outras razões, também não será compreendida. Não pergunte: “Onde fui amarrar meu burro?”. Além de parecer que está se comunicando com alguma língua morta, pode dar a impressão de que você maltrata os animais. Ao sair com a patota, nunca diga “patota”. Até “miguxos”, em que pese a conotação emo, será melhor para a sua imagem. Mas saca as gírias dos anos 70 e 80? Delas você pode abusar sem medo. Exemplos: “bicho”, “bacana”, “massa”, “joia”, “bode”, “goiaba”, “fazer a cabeça”, “papo furado”, “pão”, “broto” e muitas-muitas-muitas mais. “Pela madrugada”, “pelas barbas do profeta”, “isso é de mil novecentos e guaraná de rolha” ou “isso é de mil novecentos e lá vai bolinha”, “sacudir o esqueleto”, “na crista da onda”. Conselho para quem quer parecer jovem para sempre (vai que alguém queira): esqueça essas expressões. Ou então assuma que a linguagem é bonita mesmo com tantas ruguinhas e solte o verbo. Pessoalmente, eu me divirto falando assim. Mas não me chame de cafona. Eu sou retrô.
F
decorBá
FabianaFagundes arquiteta
mude@fabianafagundes.com.br
Arquitetura efêmera
Karen Berta formou-se na Uniritter em 2000. Desde lá, exerce a profissão e, através dos anos, foi encontrando e se encantando com alguns nichos não tão conhecidos, podemos assim dizer. Em 2012, abriu um escritório com uma parceira de profissão, a arquiteta Camila Rossoni, e formalizou uma de suas especialidades, a arquitetura efêmera. Desde então, o Karen Berta Arquitetos Associados vem transformando lugares, do projeto de uma residência ao cenário de um show e o projeto de um stand para um evento. A dupla tem chamado atenção com seus trabalhos criativos e marcantes em todo o Estado e é ávida por novos desafios e novos caminhos. É aí que entra o incrível mundo da Arquitetura Efêmera, onde a impermanência e a transitoriedade são pontos de inspiração para criar algo inusitado. Quando recebem um briefing para um projeto efêmero, seja ele um cenário em um shopping para troca de notas, um stand ou uma loja temporária, essas meninas criativas saem em busca das referências que as ajudem a montar um espaço que crie comunicação entre os participantes e que tenha as informações necessárias para que o cliente que passar por aquele cenário perceba e interaja com o espaço. Muitas vezes, passa despercebido que 52 |
por trás de um show que tem um cenário incrível existe todo esse processo de criação e que o arquiteto está envolvido. A arquitetura efêmera esclarece e valoriza essa atividade, que simplesmente se monta e desmonta tão rapidamente, mas que muitas vezes permanece na memória por nos ter trazido sensações. A arquitetura é assim, estar em um “espaço” que dá noções de tamanho, sensações e também nos transporta a lugares e vivências guardados em nossas cabeças e corações.
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Bá, que lugar
novos aromas
fotos fábio martins
Criada por Gilberto e Leonor Schwartsmann, em uma bela fazenda na Barra do Ribeiro, a 40 quilometros de Porto Alegre, a Laurentia Vinhedos do Brasil é uma vinícola butique que completa 20 anos em 2016
Ambos são médicos. Ele professor e ela historiadora. Gilberto e Leonor Schwartsmann viveram e estudaram na Europa e nos Estados Unidos, época em que o jovem casal dedicou boa parte do tempo livre visitando vinícolas em diferentes regiões do mundo. Anos depois, de volta ao Brasil, já pais de Laura e Guilherme, decidiram colocar em prática o sonho de produzir vinhos de qualidade em sua propriedade rural. Depois de muita pesquisa científica e planejamento, com o know-how de conhecedores da boa vitivinicultura, como Ormuz Rivaldo, Adolfo Lona, Cleber Andrade e Evalde Filipon, as características do solo e condições climáticas da região foram estudadas. Até então, a Barra do Ribeiro não tinha voca54 |
ção para a produção de vinhos finos. A família Schwartsmann importou variedades tintas e brancas dos melhores produtores europeus e norte-americanos. A ideia era usar alta tecnologia, sem deixar de ser artesanal. Em 2005, iniciou a comercialização dos primeiros produtos, como os tintos Montepulciano e Tempranillo, o branco Chardonnay e os espumantes Brut e Rosé. Mais recentemente, outros tintos e brancos passaram a ser produzidos, como Cabernet Sauvignon, Carménère, Merlot e Nebbiolo. Hoje, a Laurentia é reconhecida no Brasil e no Exterior. Premiada internacionalmente, seus vinhos e espumantes estão na carta de hotéis como Copacabana Palace e restaurantes como o Antiquarius. O espaço
oferece ainda estrutura para eventos sociais ou corporativos, e uma charmosa estalagem, com 11 aconchegantes suítes com jeitinho acolhedor de uma fazenda gaúcha, entre vinhedos, jardins e lagos. Os hóspedes podem fazer visitas guiadas, cursos de degustação e de vitivinicultura. Ou ainda caminhadas, piqueniques nos parreirais, à beira dos lagos ou no bucólico recanto das bromélias. Há um amplo deck junto à piscina, onde podem ser realizados eventos ao ar livre, como concertos e espetáculos. A proposta de hotelaria tem bom gosto e requinte. Inspirada na simplicidade clássica dos hotéis de campo europeus, na identidade gaúcha e latina, ganhou recentemente um time jovem e uruguaio de primeira linha. A chef de cozinha Andreina Posse tem 23 anos e nos últimos quatro anos comandou a pastelaria no Hotel Serena, em Punta del Este. Na Laurentia, chefia a equipe de produção dos alimentos servidos aos visitantes e hóspedes e implementa uma cozinha orgânica e sustentável. Também aos 23 anos, Damian Caitano é o caçula de uma família de cinco filhos, três de-
les atuantes na Laurentia. Foi parrillero e subchef da estalagem da Princesa D’Aremberg, La Pataia, passou pelas cozinhas do Ártico e La Marea e do El Novillo Alegre. Para o chá da tarde, servido com waffles e panquecas uruguaias, junta-se à chef Andreina e ao irmão de 29 anos, Pablo Caitano, sommelier em chás, vinhos e azeite de oliva. Pablo foi sommelier supervisor nos últimos cinco anos no Hotel Fasano Las Piedras. Na Laurentia, ele é o craque em chás, vinhos, azeites, e maitre de eventos e turismo. Aos 38 anos, Nicolas Caitano é o mais velho do trio e o gerente de turismo e gastronomia da Laurentia. Passou pelo Yacht Club Uruguayo e Artico e La Marea, e chegou a ser responsável por equipes de trabalho com cerca de 100 pessoas e um fluxo de 2 a 3 mil clientes por dia. Também formou a equipe que abriu o Hotel Bahia Vik, em Jose Ignacio. Em Barra do Ribeiro, Nicolas comanda a equipe de trabalho, ajuda a implementar a cozinha orgânica e sustentável. Com essa turma afiada, dá ainda mais vontade de visitar, tomar um chá, se hospedar e até casar na Vinícola Laurentia. MB
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crônica
Mais forte que as desculpas Por Mariana Bertolucci
Empacada feito uma mula teimosa na hora de escrever esta crônica, que era para ser a parte mais prazerosa de todas. Explico o motivo. Desde que me conheço por jornalista, meu maior desejo era conquistar um espaço onde eu pudesse escrever sem pauta. Falar sobre o que eu bem entendesse, de um jeito que fizesse sentido para mim e também para você que me lê. Pois bem, depois de 20 anos desejando quase diariamente essas duas páginas, me vejo, inacreditavelmente, impotente para escrever as palavras e passar as mensagens que eu sempre quis. Desde que o site www.revistaba.com.br está no ar, e isso já vai completar um ano em dezembro próximo, eu me cobro toda sexta-feira por não ter escrito o texto semanal que eu passei as últimas décadas desejando escrever. Enquanto eu tento descobrir por onde começar, também me pergunto o que faz o ser humano desejar, e de tanto desejar, trabalhar, e de tanto trabalhar, conquistar, e enfim: paralisar. Enquanto penso nisso tudo
ao mesmo tempo e a tela do computador segue constrangedoramente branca e límpida, devoro uma lata de leite condensado com morangos, para disfarçar. Por completa e absoluta gula e compulsão. Cuidar do corpo e ter bons hábitos alimentares e físicos me parece mais simples do que atender às necessidades de disciplina, leitura e organização que a boa escrita exige. Na verdade, tudo o que queremos e desejamos para nós mesmos e nosso crescimento pessoal e espiritual, torna-se imensamente mais prazeroso se superarmos os próprios limites para conquistar os nossos objetivos. Com o corpo é assim, com a mente não há de ser diferente. Quando estou me sentindo a pior pessoa do mundo sem nenhum tipo de controle sobre a mente e o corpo, apita meu WhatsApp. Era a Carla Lubisco me convidando para participar de uma campanha encabeçada por ela e batizada de Be Stronger than your Excuses. A Carla escreveu também que me admirava e que me via correndo bem cedo
de manhã. Ela é uma das maiores e mais conhecidas educadoras físicas gaúchas e completa 40 anos de carreira no ano que vem. Quando a gente nem sonhava em saber o que era endorfina, glúten, foco, disciplina e treino funcional, a Carla já voava as
tranças correndo por aí e dizia que nós éramos o que comíamos. Que nosso esforço e determinação são os únicos aliados dos nossos sonhos. Vou ser mais forte que as minhas desculpas, Carla! Em tudo e para tudo. Inspirada nas pessoas como você.
CristieBoff
designer e artista plástica
Aberta desde 9 de maio, a Bienal de Veneza fecha suas portas em novembro. Saiba mais sobre um dos eventos mais importantes do calendário mundial. All the World’s Futures é o tema da Bienal de Veneza 2015. A exposição na cidade italiana mostrou a realidade global da arte contemporânea, sempre em transformação. Com curadoria do nigeriano Okwui Enwezor (1963), a mostra internacional celebra seus 120 anos desde a primeira exposição (1895) e segue construindo sua história, feita de recordações, mas principalmente de uma busca pelo fenômeno da arte contemporânea. Percorrendo o imenso jardim da Bienal, os pavilhões vão surgindo. Alguns simples, mas marcantes, outros mais imponentes. A diversidade é grande e rica de experiências e emoções visuais e sensoriais. Uma atmosfera única que une arte contemporânea e a beleza encantadora de Veneza. 58 |
Bienal de Arte em Veneza 2015
Pavilhão brasileiro: So Much That it Doesn’t Fit Here
Construída a marretadas que rompem à força passagens, rotas de fuga, possibilidades abertas e livres, entrelaçando o dentro e o fora
Nada traduz melhor nosso gigante e multicultural país do que o título do pavilhão verde e amarelo: É tanta coisa, que não cabe aqui. O Brasil está representado por três artistas: Antonio Manuel, um dos principais nomes do nosso experimentalismo, a partir dos anos 1960; Berna Reale, figura proeminente na linguagem da performance contemporânea; e André Komatsu, autor de instalações com restos e entulhos urbanos. O ponto comum do trio é aliar formulações políticas com conteúdo estético. Sua presença em Veneza confirma o Brasil como produtor de uma arte sincronizada com as mudanças sociais e políticas.
Pavilhão do Japão: a chave está na mão
Batizado The Key in the Hand, o pavilhão do Japão é inexplicável! Uma única obra ocupa todo o espaço, em uma atmosfera lúdica, zen e intensa ao mesmo tempo. Os milhões de fios vermelhos que se cruzam, as chaves antigas amarradas, o barco no centro. Capturados pela magia daquele ambiente, os visitantes não hesitam em fazer fotos e selfies. O nome da artista japonesa que realizou a instalação é Chiharu Shiota. Ela diz que as chaves são objetos familiares e de valor, que protegem pessoas e lugares importantes nas nossas vidas e nos inspiram a abrir a porta para mundos desconhecidos. Com essa ideia, usou chaves oferecidas pelo público, carregadas de recordações acumuladas depois de um longo período de uso cotidiano. Fazendo uma obra espacial, as memórias e histórias das chaves se fundem com as dos espectadores que visitam a Bienal. Um acúmulo de recordações de todo o mundo, para repensar o sentido de estar vivo. | 59
Tonico Alvares
atelier de retratos e fotografia autoral
tonico.alvares@uol.com.br (51) 9116-5686 (51) 3907-5886 rua barao de santo angelo, 299 - poa, rs
EXPOSIÇÃO INÉDITA DO ESCULTOR HUGO FRANÇA | ATELIER DA SERRA
VILLASERGIOBERTTI.COM.BR
54 3286 4298 AV. BORGES DE MEDEIROS, 4840 G R A M A D O
AndréaBack
publicitária e jornalista
Da natureza humana
Amor, solidão, desapego, felicidade. São, há muito, fonte de inspiração para a arte e cada vez mais trending topics em divãs e prateleiras de autoajuda. Até aí, beleza. Mas, de uns tempos para cá, esses temas vêm se transformando em “causas”, quando militantes defendem suas escolhas como único caminho possível. Românticos, pregando que a vida não é nada sem a metade da laranja, contra solitários, convictos de que o amor próprio é o único viável. A mim, soa como efeito de uma era de muita teoria e pouca prática. Coisa de gente com horas de voo na frente da TV, dentro do escritório ou analisando fotos alheias em redes sociais, sem a mínima curiosidade genuína sobre a vida. Lugares visitados, contas a pagar, esportes praticados, livros e filmes que marcaram, rios de lágrimas e ataques de risos, conversas de boteco, piqueniques, decisões, erros e acertos, amigos, amantes, amores: disso é feita nossa experiência. É através dela que a gente descobre que não existe essa escolha.
É impossível ser feliz sozinho?
Aos do time do “em um relacionamento sério”, lembro que isso não significa, necessariamente, amor. Pode ser apenas a satisfação da necessidade de sentir-se escolhido o tempo todo. Ou amam, mas amam estar
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apaixonados, e não o objeto do afeto. Pessoas têm de vir para acrescentar, não substituir a falta que você faz a si mesmo. Nem tente, não vai funcionar. E tem ainda um dos piores erros que se pode cometer em nome do que alguns acreditam ser amor: abrir mão daquilo que somos, apenas para não ficarmos sós. Como se pode ver nesses poucos exemplos, tem muita maluquice sendo confundida com romance. E felicidade pode, e deve, ser compartilhada (ô, palavrinha bem gasta...), mas com muita gente, ou só com você mesmo. Quando toca aquela música e a gente canta fazendo performance, por exemplo! Não precisa estar apaixonado pra ser feliz. Eu sou de ninguém. Mas, aos solitários satisfeitos, me apresso em dizer que acredito nos vínculos que criamos ao longo da vida, nos sentimentos e nas emoções despertadas, como o mais poderoso e o mais humano de nós. Conexões reais, analógicas, independentemente de serem uma amizade, relações familiares ou amorosas. É com elas que construímos nossa história e transformamos nossa vida e a dos outros. Por isso, desconfio muito do tão vendido discurso do desapego... Afinal, tão ruim quanto abrir mão de si mesmo para não estar sozinho é fechar-se por conveniências ditadas pelas atuais relações líquidas. Ah, mundo de decisões práticas! Onde roman-
ce só vale quando não atrapalha. Afinal, a vida tá uma correria, né? Mundo de flores que não murchem, emoções de emojis e da supervalorização do eu. É que se envolver é para os corajosos, que não têm medo de arriscar e sabem que há magia que apenas o imprevisível possui. Entre os desapegados, se esconde muita gente tomada de medos constantes e alegrias rasteiras. Que se poupa demais, se protege demais. Ok, se livra do risco, mas se priva do essencial da vida. São ilhas de possibilidades, cercadas de receio por todos os lados...
Bobeira é não viver a realidade
Mas, então, voltamos à questão do início. Na verdade, não existe escolha. Não adianta teoria. Somos humanos imperfeitos, cheios de dúvidas e fraquezas. Carentes num dia,
fortes no outro. Morreremos falhando, mas, por favor, morramos tentando. Aí é que está o segredo. Tentar! Permita-se o tempo e o espaço necessários para a tentativa e o erro. Toda vez que o amor ou a solidão aparecerem, aceite. Numa hora, só você e um vinho tinto. Na outra, o amor dormindo com as pernas entrelaçadas. Esses momentos se alternam e se complementam, e tudo trabalha para que você compreenda que não se ensina quase nada para ninguém, porque essas coisas a gente tem que viver. Não viemos com manual de instruções, mas viemos com um mecanismo interno para fazer com que nossa vida, ainda que curta, não seja pequena. Ah, para isso viemos!!! Alguns ainda estão à procura do botão que aciona o equipamento. Outros já o usam de forma mais eficiente. Mas ele está lá. Acredite. Não faça por menos!
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inBá | Lajeado
Arte para uma vida inteira Nascida em Lajeado, casada com Werner Lautert, Ena Lautert mudou-se para a capital gaúcha no início dos anos 1960, e foi onde criou o casal de filhos e se tornou uma das pioneiras da Hatha Yoga. Aos 58 anos, começou carreira nas artes e, aos 91, é uma das mais queridas e atuantes artistas plásticas de Porto Alegre. A casa de Ena Lautert é um labirinto visual e colorido de uma vida cheia de história, arte, com simbólicas pedras pelo caminho. Pensando nas pedras e no significado delas em sua vida, Ena recorda a casa dos avós em Lajeado, onde, sentada nas pedras à beira de uma represa, ela ficava a perceber a natureza. “Nessas pedras, que ainda existem lá, o meu filho e incentivador, Roberto, quer fazer uma videoinstalação sobre minha obra, mas a represa está alta agora.” O currículo intenso dessa artista inclui dezenas de editais, coletivas, individuais e bienais, mas foi na série com as pedras, em 2005, que sua carreira ganhou ânimo. As impactantes criações recicladas e de papel machê vieram para inaugurar um fértil momento da sua produção: “Foi o trabalho com que fiquei mais conhecida. Ainda me sinto surpresa com as pessoas me reconhecendo como artista”. Aos 22 anos, casada, foi morar em Teutônia, onde o marido trabalhava em um banco, e ela, prendada, distraía-se costurando ou fazendo as unhas e penteados. Depois, ele abriu um curtume em Canabarro e dirigiu um frigorífico na Farrapos, em Porto Alegre, para onde se transferiu com a mulher: “Ele era empreendedor e disciplinado. Tudo era no horário”. 64 |
Depois de 10 anos casados, vieram os filhos, Lia e Roberto. Além de cuidar das crianças, Ena abriu uma academia de Hatha Yoga, na casa em que a família morava, em Petrópolis. Abruptamente, uma severa alergia a deixou gravemente enferma. Sob os cuidados de uma enfermeira muito gentil e da equipe médica, curou-se e voltou à rotina. Passaram-se 20 anos, os filhos cresceram e Ena fechou a escola de Yoga. “Comecei a carreira com 58 anos, quando o Roberto, meu filho e grande incentivador, perguntou-me por que eu, que tinha tantos dons manuais, não fazia um curso de arte". No Atelier Livre da prefeitura e depois em outros tantos cursos, a arte nunca foi hobby para Ena. Ela gostava de aprender e levava a sério o trabalho. Os convites para expor e participar de coletivas foram surgindo. Na mesma época, o marido se aposentou e abriu uma loja de decoração para ela e a filha arquiteta, a Ser Estar. Lia desenhava móveis, que eram feitos na marcenaria da família. Foram duas décadas em que Ena, além do aprendizado, guardou boas lembranças. Depois de um momento difícil da vida pessoal, incentivada pelos amigos e também artistas Denise Haesbert e André Venzon, Ena retomou o trabalho. E, inspirada pela força da própria dor, encontrou nas formas das pedras e nos seus símbolos a rigidez de que precisava para voltar a produzir. O resultado veio rápido. Em 2007, foi selecionada entre as finalistas do Prêmio Açorianos. Ocupou três andares no Margs com uma retrospectiva de sua obra em
dulce helfer
2010 e lançou um livro. Pouco depois, recebeu em casa duas pessoas. Uma delas era uma senhora que assim se apresentou: “Dona Ena, que prazer revê-la e ver que está bem. Eu acompanhei toda a sua carreira de longe”. Ena desculpou-se, mas disse não estar lembrada de onde se conheciam. Era a enfermeira que cuidou dela em 1962, quando esteve internada. Hoje, o trabalho de Ena inspira uma designer de joias, cuja coleção está à
venda na Loja Pandorga, no Instituto Ling: “Me desafiei nas joias de outros materiais. Por que uma joia tem que ser feita de matéria cara? Vale a ideia da joia, e não sua matéria-prima”. Se de fato grande parte da matéria-prima utilizada por Ena nas pedras não é exatamente nobre, sua riqueza está em coisas mais simples: “Sou muito grata pela minha família, pela saúde e pelos meus amigos. Pelo teto e pela comida que tenho”. Para que mais, dona Ena? MB | 65
Julia Ramos Fotógrafa
Eu sabia pouca coisa sobre Atenas quando desembarquei na capital grega, mas tinha certeza de que a primeira coisa que gostaria de fazer era ver o Partenon. Sempre fiquei fascinada pelo monumento quando o via em fotos. Só que o plano se concretizou apenas no meu terceiro (e último) dia na cidade. O motivo? Me perdi no caminho. Não por falta de orientação geográfica, mas por culpa das inúmeras
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distrações nos arredores e na subida da Acrópole. Perde-se um dia inteiro admirando os sítios arqueológicos na base e descobrindo, morro acima, as passagens estreitas que levam a casas, igrejas e restaurantes escondidos entre as árvores. No fim, a fabulosa vista da cidade, estendida até o horizonte, me obrigou a dar as costas ao que pensei, ingenuamente, ser o motivo da subida.
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outBá | São Paulo
Autêntico por natureza
Publicitário Markinhos Fagundes é um apaixonado pela vida e pela produção de imagem Na sala do seu apartamento na capital paulista, está pendurado um quadro da amiga publicitária e artista plástica Julinha Duarte. É o desenho de um leão estilizado com a frase Vivo o que imagino. A frase diz muito de sua personalidade. Nascido e criado em um dos sobrados da Barão de Santo Ângelo, o porto-alegrense Marcos Ketzer Fagundes é o caçula temporão de uma família unida, com uma irmã e dois irmãos. Como boa parte da criançada sem internet da década de 1980, a infância foi brincando pelas nas ruas. As manhãs eram no Colégio João XXIII, e as tardes, pelo bairro Moinhos de Vento ou no Leopoldina Juvenil. O encanto pela comunicação audiovisual começou nessa época. Ele adorava desenhar, assistir a desenhos animados na TV, filmes de dinossauros, de terror e de monstros. Na adolescência, era fã dos filmes de John Hughes, Clube dos Cinco e A Garota de Rosa-Shocking, dois clássicos pop e com uma pegada estética bem publicitária na época. Sua relação com a imagem sempre foi especial e natural, e não por acaso tornouse um respeitado publicitário. Intenso, extrovertido, bagunceiro, ansioso e transgressor, como ele próprio se define, Markinhos gosta de movimento e de confusão, no sentido mais criativo, barulhento, espirituoso e colorido da palavra. Profissional perspicaz e um amigo carinhoso, deixou a matriz da Zeppelin Filmes em Porto Alegre para abrir a operação da produtora na capital paulista: “Foi o melhor que fiz na vida. Amo São Paulo. Não sinto falta 68 |
de Porto Alegre porque volto constantemente para ver família e amigos. Em SP, são infinitas possibilidades de programação cultural, gastronômica e de entretenimento. Me sinto em férias constantes porque sempre tem algo de novo para conhecer aqui”. O momento profissional tem sido desafiador. Depois de 17 anos na Zeppelin, apostou na Zola, uma produtora nova, e há pouco foi para a Primo Buenos Aires, uma produtora de comerciais argentina com um perfil totalmente internacional. Além da matriz em Buenos Aires, a empresa tem escritórios em São Paulo, Santiago do Chile, Madri e Los Angeles: “Sempre quis trabalhar em uma empresa conectada com o mundo”. Jovem de espírito e mente, o foco de Markinhos é aproveitar ao máximo o que a vida oferece: “Tento ser um hedonista com responsabilidade e planejamento, se é possível. Não devemos esperar que as pessoas façam o mesmo que fizemos por elas. Nem nos sentir culpados por receber algo e não conseguir retribuir da mesma forma”. O primeiro ídolo foi Gene Simmons, do Kiss, pela imagem incrível e o tino de marketing de criar uma banda de rock com cara de história em quadrinhos. O segundo ídolo é Madonna: “Pela irreverência e por juntar música, dança, arte e moda em um mesmo pacote, sempre com bom gosto”. A falta de rotina é o que mais o seduz no trabalho: “Nunca é igual. Cada produção tem pessoas e lugares novos”. Três trabalhos foram muito marcantes e lembrados por ele com carinho: “Uma campanha de Ci-
troën com o Kiefer Sutherland, em São Paulo, em que fomos tão bons quanto em Hollywood. Outra linda da Natura na Amazônia, convivendo uma semana com a população ribeirinha e dormindo dentro de um barco. E a da Claro para a Copa do Mundo, parte em Barcelona, com o Neymar, outra em São Paulo, com o Ronaldo, e outra em Curitiba, onde fiz um chef de cozinha”. Entre os comerciais que o marcaram, estão um dos anos 1980 da Olympikus, em que um cara freia o carro com o pé, e um do Egoiste, da Chanel, pelo bom gosto e o gla-
mour, filmado no Copacabana Palace. Quando ele não está trabalhando, o que mais curte fazer é ficar em casa lendo revistas, pesquisando música, vendo séries ou até mesmo atirado no sofá olhando o Instagram. Sempre com um pé no mundo e a cabeça nas novas linguagens, se tem algo de que se arrepende nessas últimas e divertidas quatro décadas é de não ter morado por um longo tempo fora do Brasil. E, para os próximos 10 anos, seus planos são de trabalhar ainda com produção de imagem e, com certeza, com mais tatuagens. MB | 69
Báco
OrestesdeAndradeJr. jornalista e sommelier
Punta del Este tem o melhor Syrah do Uruguai
Na década de 1990, o expert espanhol dr. Luis Hidalgo publicou um mapa recomendando as colinas da região como aptas a produzir vinhos de qualidade Há pouco mais de uma década, nasceu uma nova região vitivinícola uruguaia, curiosamente ao lado do mais luxuoso balneário da América Latina – Punta del Este. O surgimento não foi por acaso. Na década de 1990, o expert espanhol dr. Luis Hidalgo publicou um mapa recomendando as colinas da região como aptas a produzir vinhos de qualidade. Os pioneiros foram o casal Paula Pivel e Álvaro Lorenzo, que compraram 20 hectares
na Serra de la Ballena. Eles plantaram os primeiros vinhedos em 2001, colheram a safra inaugural em 2005 e lançaram seus vinhos em 2007. Parte dos 8,5 hectares de vinhedos da Bodega Alto de la Ballena situados entre a Laguna del Sauce (à esquerda), o Cerro Pão de Açúcar (em frente) e a Serra de las Ánimas (direita) pode ser vista do alto de uma colina, em um terraço de madeira coberto, onde os visitantes são recebidos para degustação de vinhos com queijos (ao preço de 25 dólares).
Rótulos degustados e aprovados. Destaque para o Syrah, o rosé de Tannat e Viognier. Merlot e Cabernet Franc também chamaram atenção 70 |
“A nossa proposta é dar um atendimento muito personalizado a todos que nos procuram. Aqui é possível desfrutar a paisagem e os vinhos com tranquilidade”, diz Paula, que até 2003 trabalhava em um banco em Montevidéu. Seu marido veio do setor logístico. A paixão pelo vinho e o desejo de viver mais próximo à natureza os levou até a Serra de la Ballena. O terroir propício ao cultivo de uvas de alta gama e a proximidade com o turismo de Punta os atraíram para a região, cuja origem do solo remonta a 550 milhões de anos. As sólidas rochas existentes no lugar tiveram de ser removidas com retroescavadeiras poderosas. À medida que eram quebradas, a riqueza emergia, com a aparição de granito, quartzo, calcário etc. A drenagem do solo impressiona. “É uma terra muito rica e diversa. As pedras têm cantos arredondados, o que indica que o mar chegou até aqui no passado”, conta Paula, que acabou se formando em enologia em 2003, dois anos antes da primeira safra. A consultoria é do enólogo Duncan Killiner, de Mendoza, com larga experiência na Nova Zelândia, que presta serviços a muitas vinícolas da Argentina e também do Uruguai. “Graças aos turistas, temos hoje consumo de vinhos de qualidade em Punta. Até os argentinos estão abertos a provar nossos vinhos, especialmente os brancos, mais raros em seu país”, aponta. No início, Álvaro e Paula sonhavam em fazer o melhor Merlot do Uruguai. As condições climáticas, com a dose certa de umidade vinda do mar, aliada à brisa marinha intermitente, motivaram a lembrança com Bordeaux. Bom para a Merlot e para a Cabernet Franc. Outra analogia interessante foi feita pelo conhecido chef francês Pascal Barbot, do três estrelas L’Astrance, que fez um paralelo entre o terroir da Alto de la Bellena com o Vale do Rhône, na França, pois
Paula Pivel observa os vinhedos de Syrah protegidos contra a ação dos pássaros ambas têm encostas íngremes, influência marítima e solo pedregoso. Um dos motivos foi a prova de um rótulo único no Uruguai, inspirado no Côte-Rôtie, com Tannat (ao invés de Syrah, no caso francês) e Viognier (10%). A primeira safra deste inusitado vinho, de 2006, teve suas 800 garrafas esgotadas rapidamente. Isso levou à elaboração de 15 mil garrafas em 2013. “É um corte insólito, que chama a atenção dos consumidores”, observa Paula. Mas os maiores destaques são mesmo os três vinhos varietais – Cabernet Franc, Merlot e Syrah. Com um espaço projetado para o enoturismo, o número de visitantes ainda é pequeno, mas crescente. “No verão, recebemos europeus e americanos vindos de cruzeiros e sobretudo paulistas em veraneio em Punta. Vivemos do boca a boca, de divulgação na internet e de algumas indicações de agências”, informa Paula. “Ainda temos muito a crescer, mas vamos sempre manter este atendimento personalizado”, garante. Cerca de 1,2 mil turistas vão até a Alto de la Bellena todos os anos – a maioria (85%) brasileiros. Seja um deles. Boa viagem! | 71
por aí
FlavinhaMello chef e dj
berlim, que cidade! Andar pelas ruas de Berlim, a capital da Alemanha, é visitar a história recente da humanidade. Minha dica é hospedar-se no bairro Prenzlauer Berg, o bairro cool do momento, cheio de cafés e restaurantes descolados. Lá está o Prater, o biergarten mais antigo da cidade, desde 1837. Não deixe de ir ao Mauerpark, localizado em uma antiga área ocupada pelo muro que dividiu a cidade, é uma ótima opção para o domingo, tem uma feira gastronômica e mercado de pulgas. Pedaços de muro que um dia dividiram o mundo em dois polos e recentemente foram transformados em arte, na East Side, a maior galeria a céu aberto do mundo. Os painéis foram pintados entre fevereiro e setembro de 1990, após a derrubada do muro, e renovados em 2009. No total, são 101 imagens que foram pintadas para comemorar a queda do muro e algumas delas fazem protestos. Visitamos cinco museus da Ilha dos Museus. Gostei do Neues onde estão os bustos de Nefertiti e de Pergamon, onde está o suntuoso Altar de Pérgamo. Na rua, provamos o currywurst, salsicha alemã coberta com uma generosa camada de molho curry e ketchup. 72 |
Para quem gosta de hambúrguer a dica é ir ao Burgermeister, que fica do outro lado da ponte da East Side. Pedimos um hambúrguer com bacon e cogumelos, com fritas, e estava delicioso. O local era um antigo banheiro público e fica embaixo de um viaduto. Depois andamos pelo bairro, vimos um grafite dos Gêmeos, que pintavam ao vivo. No dia seguinte, tivemos uma aula de história recente da humanidade, fizemos o free tour guiado, saindo do Portão de Brandemburgo, um dos símbolos da cidade – vale visitar de dia e voltar à noite para vê-lo iluminado. Próximo a ele está o Memorial do Holocausto, projetado pelo arquiteto Peter Eisenman. Um dos locais mais emocionantes da cidade, com 2.711 blocos de concreto, representa os judeus mortos pelo nazismo. Andando um pouco mais, passamos pelo bunker onde Hitler se escondia. Nossa parada seguinte foi a Gendarmenmarkt, uma praça localizada no centro histórico, composta por três belos e harmoniosos edifícios: as praticamente idênticas Catedral Francesa e Catedral Alemã e no centro a Konzerthaus, Casa de Concertos, em Berlim. À noite, fomos jantar no Zur Kleinen Mar-
kthalle, onde provei o melhor frango frito com salada de batatas. A Klaufhaus des Westens (Kadewe) está para Berlim, como a Harrods está para Londres e as Galerias Lafayette estão para Paris. A luxuosa loja de departamentos alemã reúne grandes nomes da moda, como Hermes, Dior e Fendi. Tem um andar inteiro dedicado a gastronomia, perfeito para uma deliciosa refeição. Dá para iniciar com Paul Bocuse e comer uma sobremesa na Lênotre. Lá podemos encontrar as melhores facas do mundo,
que são produzidas na Alemanhã na região de Solingen. Terminamos o dia no lindo pálacio de Charlottenburg, os jardins são encantadores mesmo com chuva, mas se tiver a sorte de um dia de sol, recomendo um piquenique. Berlim determina as tendências mais recentes em estilo de vida, música e arte. Inspirados pela criatividade fora do comum, chegam cada vez mais artistas de todo o mundo em Berlim e fazem da metrópole um dos lugares mais fascinantes da Europa. | 73
LígiaNery coach
Resolver não é trocar Ilustração Graziela Andreazza
Andando à toa pela casa, televisão ligada e, de repente, uma frase ecoa no ar: “...panela velha é que faz comida boa”. Tão conhecida, quase senti uma voz vindo dela, a de minha avó, dona Nina, uma gringa do Interior, apaixonada pelas panelas e que muitos ensinamentos deixou. Mas interessante foi que a frase me fez parar o que parecia tão importante para prestar atenção no que se passava na telinha. Tudo mudou de sentido. Um programa mostrando uma reportagem, uma pesquisa recente “quentinha” indicando um resgate dos antigos ofícios como forma de solução para o desemprego. Sensacional esta comprovação do protagonismo na gestão das carreiras, na redescoberta das paixões dos trabalhos fora do paradigma que estamos acostumados a ver. Como isso é essencial e libertador. Mas outro olhar também chegou. O renascimento e o grande movimento dos sapateiros de bairro, lojas de manutenção de eletrodomésticos, costureiras nas reformas das roupas, os “faz-tudo”, e ali estava o senhor que arrumava para a senhorinha a famosa panela... 74 |
que fazia a comida boa. Ela estava apenas com o cabo quebrado, mas era forte e pertencia há muito tempo à família, contou. Não queria, e não podia, comprar outra, referindo que as novas não duram nada, são fabricadas para acabar. Ela queria aquela que continha parte de sua história e também não queria ser “enganada”. Daí essas coisas importantes ficaram muito mais importantes do que tudo que eu tinha para fazer... Como escrever isso para compartilhar? Em primeiro lugar, a consciência de um consumismo moderado, não mais descartável, que tanto grita em nosso planeta, isto é sustentabilidade, não é papo de ecochato. Precisamos de menos e, se olharmos ao redor, já temos o que precisamos. A cultura do resgate traz consigo um ensinamento muito maior e mais bonito do que recolocar o cabo da panela, ou a sola no sapato preferido. Traz o ensinamento de que nossos filhos, familiares, funcionários precisam saber que o desperdício é algo que não cabe mais. Nosso planeta e também nossa consciência gritam por isto. Não temos mais dinheiro, água, ar, espaço, estômago, coração para tudo descartável e feito para não durar. É hora de cuidar, manter relações, vínculos, produtos, representatividade política com carinho, porque isso tudo nos pertence, nos representa e nos constitui. Preservar o que lutamos para conseguir significa antes de tudo resgate e respeito a si mesmo. Vi outro dia um post que falava de um casal, perguntando como conseguiam ficar juntos já há 50 anos: é que somos do tempo em que quando tínhamos um problema procurávamos resolver e não simplesmente trocar.
AndréGhem tenista profissional
Na manga
Numa dessas conversas que rolavam entre o companheiro porco e a companheira cabra, apenas observava. Concordavam e externavam as maravilhas de se ter a assinatura da Netflix. Já a improdutiva companheira galinha intrometeu-se na conversa e disse-lhes que Netflix já era e que a “pipoca-doce-que-não-engorda” é que estava na moda. As maiores e melhores novidades do cinema poderiam ser baixadas direto para a tela de sua casa, sem nenhum custo, apenas plugando um cabo HDMI na sua tevê. Ponderou: apenas tenham cuidado para verificar se a terminação do endereço é mmm..../ xy//$&@, caso não seja, estarão infectando o computador, a televisão, o cachorro, o gato também... Capitão Birobidjian tinha toda razão em execrar a nefasta galinha. Cabra e porco, seus leais escudeiros, buscavam apenas divertimento justo e honesto, deixando a bípede fora da conversa. Elaborado bem ao gosto do assinante, o serviço camaleão vai mutando e se moldando
ao gosto de cada um, estendendo sobre a mesa opções suculentas aos olhos de acordo com os menus já devorados anteriormente, fazendo-o voltar mais vezes ao banquete. Primeiro diz, ontem à noite fiquei apenas passeando pelos seus pratos, analisando como o que eu gosto está sempre à vista e como o Ás de espada está sempre na manga, passei meu tempo antes cair em sono profundo e assim saciei minha fome apenas de saber que, se eu quisesse, o coelho sairia da cartola. Após ouvir toda essa conversa, Capitão pensou: – Esse negócio é sensacional. Rosa! Tem cerveja gelada na geladeira? – Tem, quer que eu traga para o senhor? Sem ouvir a interrogativa e com o rosto iluminado, Capitão caiu nos braços de Morpheu... | 75
VerônicaBender dermatologista
Novembro protetor
O mês de novembro foi escolhido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia para simbolizar a Luta Contra o Câncer de Pele, a exemplo do mês de outubro, batizado de Outubro Rosa, que simboliza o Combate ao Câncer de Mama. O dia 7 de novembro será chamado Dia C Contra o Câncer de Pele. Mais comum de todos os tipos de câncer, o câncer de pele representa mais da metade dos diagnósticos da doença. Vale lembrar que a maioria dos casos de câncer de pele pode ser evitada com medidas simples de proteção solar. A proteção solar não se restringe a cremes ou loções para aplicação, também é necessário uso de chapéus, roupas e guarda-sol, além de evitar os horários entre 10h e 16h, quando a radiação é mais intensa. Ainda em relação aos protetores solares, em recente evento internacional, foi apresentado estudo sobre manchas na face, como o melasma, demonstrando a necessidade do uso de protetores solares que contenham em sua fórmula fatores de proteção aos raios ultravioleta B, C e
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também para luz visível, pois estas três radiações estão envolvidas na causa das incômodas manchas. Em estudo realizado na Inglaterra, foi observado que um rosto com manchas aparenta ser, aos olhos dos observadores em questão, mais envelhecido do que se tivesse apenas rugas, sem manchas. A boa notícia é que uma gama sem fim de boas opções de protetores solares está disponível no mercado para que cada um possa usar proteção solar diariamente e achar o seu protetor ideal, entre os com cor, sem cor, toque seco, blur e outras excelentes variações. Sobre os benefícios do uso de probióticos via oral em pacientes com condições inflamatórias da pele, como acne, rosácea e eczemas, vêm sendo muito estudados e mostram-se cada vez mais promissores no auxílio ao controle dessas condições crônicas. Em linhas de cosméticos, temos visto muitas novidades, como máscaras de tratamento facial à base de retinol e antioxidantes, para hidratação da pele do rosto e da área dos olhos.
Réveillon 2016
"Uma festa com história, energia e alto astral de uma década. La Fiesta Punta Ano 11!" Mariana Bertolucci
Playa de Solanas | Punta del Este | Uruguay
www.lafiestapunta.com
trama
Dom e trabalho no DNA Por Janaina Marques
Entre máquinas de costura, cores vibrantes, referências em moda e conversas femininas, Gabriela Schaffer Trois cresceu e desenvolveu o gosto pela moda. A estilista sempre se inspirou na mãe, Janete Schaffer Trois, modelista que na década de 1980 começou uma produção independente e conduzia a produção de roupas em couro, pelica e pele para marcas bacanas daqui, como Leva Jeito e Armazém da Moda, e outras de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. A trajetória resultou na marca própria, capitaneada por mãe e filha: a grife St. Trois, lançada em 2012. “Sempre vi minha mãe com muitas habilidades”, orgulha-se Gabriela, que hoje lidera a St. Trois, atelier de roupas com materiais nobres. A diretora de criação da grife divide-se entre as lojas de Porto Alegre, Gramado e Atlântida, e está sempre com o olhar atento às novidades do mercado, às passarelas internacionais e às tendências street style pela web. A história começou há quase 30 anos. Depois da escola, Gabriela passava as tardes no atelier e começou a desenhar roupinhas, extremamente luxuosas, para bonecas. “As costureiras sempre encontravam um espaço na agenda de costura para ceder aos pedidos dela, que já naquela época tinha um olhar refinado para o vestir”, diverte-se Janete. A produção, que envolvia bordados, estolas e vestidos elegantes em miniatura, chamou a atenção das clientes, que se encantaram com a delicadeza das peças e compra78 |
vam as roupas da pequena prodígio. Janete, por sua vez, aprendeu a costurar com a mãe, Almira Schaffer, costureira perfeccionista, referência na época de confecção de ternos conhecidos pelo caimento impecável na cidade de Montenegro. O talento com peças e formas não pulou gerações, nem a dedicação integral que as mulheres da família Trois têm pelo trabalho. Com atribulações na rotina, a faculdade das filhas, Gabriela e Vanessa, e compromissos, Janete se dedicou a outros projetos durante os primeiros anos do novo milênio. Sempre de olho na moda e nas coleções internacionais, Gabriela reparou que as jaquetas em pelica eram a nova febre entre as amigas. Foi quando convocou a mãe para um recomeço na atividade familiar: “Fizemos algumas peças que eu vendia direto às consumidoras”, conta Gabriela. O sucesso motivou a dupla, que criou novos modelos, utilizando materiais nobres. Mãe e filha investem na modelagem perfeita, feminina, para o biotipo da mulher brasileira. “Nosso diferencial são a experiência e o respeito que temos pelo cliente. Formada em Nutrição, a “mãe” da St. Trois foi bancária por muitos anos, mas a grande satisfação profissional é a moda. A busca pela perfeição e o amor pela atividade estão em cada peça finalizada: “Se algo não fica como eu quero, faço de novo, sou exigente com a qualidade do produto final”, comenta Janete. Formada em Administração, Gabriela
Christiano Cardoso
trabalhou muitos anos na área, mas os tempos de dividir a atividade da moda com o cargo que exercia em uma empresa acabaram. Com a demanda da St. Trois, passou a se dedicar exclusivamente à grife e estabeleceu a primeira loja própria, em Porto Alegre, em 2013. No ano de 2014, foi a vez da inauguração da loja na praia de Atlântida, e, em 2015, a terceira loja, em Gramado. As empreendedoras apostam no bordado à mão, na pedraria,
e se inspiram na personalidade das fiéis compradoras. A grife também lançou uma linha de sapatos e bolsas em 2015, exclusiva para a loja de Gramado. “Toda a produção é supervisionada diretamente por mim, não trabalhamos com facções”, garante Janete. Uma novidade ainda de 2105 é a St. Trois & Co, nova aposta das empresárias, que vai mesclar às peças próprias, em pelica e phyton, marcas nacionais e exclusivas à St. Trois. | 79
LíviaChaves Barcellos
A arte de viver longe
Estamos vivendo momentos difíceis aqui no país. Muita violência, corrupção e grandes dificuldades dentro da política. Cada vez mais, vejo pessoas indo embora, para tentar a sorte em lugares mais calmos e tranquilos. Muita gente acha que a única saída é o aeroporto internacional, com passagem só de ida. Mas a realidade não é bem assim. Em primeiro lugar, cortar raízes é o que há de mais difícil. Depois, são inúmeros os problemas a serem enfrentados, como o conhecimento da língua estrangeira, a aceitação aos imigrantes e, last but not least, ter a sorte de encontrar um lugar ao sol longe da nossa terra. Poucos são os que conseguiram sucesso. E isto me faz lembrar meu grande amigo Marcelo Pugliese, que é um vitorioso e vive na Inglaterra, onde tem uma pousada linda em Winchester, a apenas 45 minutos de trem de Londres. Aliás, foi em Londres que o conheci, há mais de 30 anos. Ele era muito jovem e já perseguia a ideia de sair do Brasil. Foi assim que, muito antes de se estabelecer por lá, trabalhou muito, fez cursos, inclusive de guia de turismo, aprendeu inglês na perfeição (no accent!) e foi aos poucos plantando a semente de seu grande desejo. Muito o admiro por toda essa garra e por isso o escolhi para fazer as perguntas ao lado: 80 |
Lívia – Esta longa e duradoura relação com o Reino Unido começou quando e como? Marcelo Pugliese – Exatamente quando nos conhecemos, em Londres, em 1985, 30 anos atrás. Estava estudando inglês como preparação para as provas do Itamaraty. Lembro bem daquela ocasião, acompanhando vocês até o Selfridges e Covent Garden. Com pouco mais de 20 anos, estudando e vivendo com amigos ingleses, a democrática Londres era uma fascinante maneira de ver o mundo, certamente diferente do Brasil que vivia o Diretas Já. Meus pais vieram resgatar-me depois de um tempo para voltar à realidade da Universidade e à proposta inicial de dedicar-me à carreira diplomática. A Inglaterra ficou “incubada” (risos). Como foi o retorno ao Reino Unido e onde entra Winchester na história? Meu retorno ao Brasil foi marcado pela decisão de dedicar-me ao turismo profissional em tempo integral depois de concluir a Universidade. E foi o trabalho que me levou de volta a Londres, onde por uma década eu estive à frente do departamento de vendas América Latina e Península Ibérica da Gullivers Travel – hoje Kuoni. Um dia, olhando imóveis na internet, eu deparo com o Old Vine, encantador, mas em um estado de abandono. A velha parreira que dá nome à estalagem, triste e precisan-
do de cuidados. Tomei um trem até Winchester, e o resto, só vendo as fotos, porque são 10 anos de história para contar. O que mais atrai no dia a dia? O hotel, o restaurante ou o pub? O recomeçar com novos hóspedes, um novo cardápio, nova carta de vinhos. A constante mudança que refaz, renova. Meu signo, Sagitário, precisa disso para manter-se motivado. Não temos preferências, ambos os sócios dedicam-se arduamente pelo melhor, pelo conforto de quem cruza a nossa soleira. “Thank you for your custom”. Vocês pensam em abrir mais um Old Vine? Igual ao Old Vine é impossível, porque, mesmo que encontrássemos outro imóvel similar, os parâmetros demográficos
e econômicos mudam. Teria que ter outro formato. A ideia vem sendo amadurecida. Agora que a crise econômica chegou ao fim, há que se estabilizar, planejar e expandir. A cidade pede mais alojamento e esta é a proposta que queremos empreender no futuro. The Old Vine é um charme só. Quem vai uma vez, volta. O prédio tem uma videira centenária na porta de entrada, que foi o que deu o nome ao lugar. Marcelo e seu sócio, Ashton Gray, são perfeitos hosts e tornam nossa estada agradabilíssima. Alguns quartos têm vista para a Winchester Cathedral, imortalizada pela banda New Vaudeville, no ano de 1966, quando a Inglaterra ganhou a Copa do Mundo pela única vez. A música, associada a este feito, é sucesso até hoje. | 81
MarcoAntônioCampos advogado e cinéfilo
BOND IS BACK
My name is Bond, James Bond. Pela vigésima quarta vez na história, o agente inglês mais famoso do cinema vai aparecer nas telas, em Spectre, de Sam Mendes. Criado por Ian Fleming, 007 encarna o desejo de todos os homens (e mulheres): inteligente, fisicamente privilegiado, expert em armas, conhecedor de bebidas, conquistador inveterado de mulheres, James Bond vem evoluindo desde que surgiu em 007 Contra o Satânico Dr. No, de Terence Young, em 1963, na pele de Sean Connery.
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O sucesso incrível do espião britânico no auge da Guerra Fria fez o personagem voltar em Moscou Contra 007. Connery ainda fez mais quatro filmes, entre os quais o icônico 007 Contra Goldfinger. Quando Connery se aposentou, foi escolhido o escocês George Lazenby, que viveu Bond em apenas um filme, 007 A Serviço de Sua Majestade. Para retomar a franquia e dar uma guinada, o produtor Broccoli trouxe Roger Moore para sete filmes, iniciando em Viva e Deixe Morrer, ao som de Paul McCartney. Suceder Moore e seu humor britânico foi o desafio para Timothy Dalton, 007 em dois
filmes, considerados os mais violentos de todos. Pierce Brosnan foi o James Bond seguinte, atuando em quatro filmes, destacando-se pela volta de características básicas do personagem, como o cinismo no trato com os inimigos e as mulheres. Mas foi com a chegada de Daniel Craig, em Cassino Royale, que 007 deu realmente um renascimento, mudando completamente o tom das narrativas para roteiros mais profundos e de histórias mais pesadas e tristes, em que as perdas do personagem e seu passado nebuloso explicam muito sua “permissão para matar”. O auge desta nova fase foi o filme Skyfall, em que o oscarizado cineasta Sam Mendes revela as origens familiares de Bond e vai fundo em sua psicologia. O filme foi o maior sucesso da série, atingindo pela primeira vez a bilheteria de US$ 1 bilhão no mundo. Atores e atrizes de alta qualidade atuaram com 007, como Judi Dench, Ralph Fiennes,
Christoph Waltz, Robert Shaw, Halle Berry, Sophie Marceau, Monica Bellucci, Robert Carlyle, Jonathan Pryce, Benicio del Toro, Javier Bardem e muitos outros. Claro que tudo isto embalado por um visual espetacular, lugares de beleza extasiante, Bond Girls cada vez mais lindas, perseguições em carros cada vez mais velozes, e trilhas sonoras maravilhosas. Spectre, pelo material já visto, promete ser ainda melhor e mais fantástico. 007 jamais dá um passo para trás.
Daniel Craig e a Bond Girl Monica Bellucci
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Bá, que viagem
China, paixão e conexão Janaína é uma genuína jornalista gaúcha que sonha em mudar o mundo. Do outro lado do planeta, ela criou o projeto Radar China, que virou blog, livro e uma empresa que conecta chineses a brasileiros.
Com-por-ta-dís-si-ma, estudiosa e competitiva na escola, Janaína Camara da Silveira nasceu em São Leopoldo e cresceu em Terra de Areia. Ficava furiosa se não estivesse entre os primeiros da turma. Chegou a ter seis cachorros de uma só vez, criou coelho, ovelha e até quati. As verduras eram da horta, e o leite, das vacas da vizinha. Adolescente, gostava de um bom banho de rio, de assistir futebol no campinho aos domingos e de aprender a cozinhar. Hoje, ela conecta chineses a brasileiros. Aos 18 anos, Janaína mudou-se para
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Porto Alegre para cursar Letras na UFRGS. Mas, durante uma das greves da universidade, parou pra pensar e decidiu trocar o curso para Jornalismo. “Era o que eu sabia fazer: ler, escrever, ouvir histórias e interpretá-las”. Vivendo na Capital e trabalhando no Grupo RBS, Janaína, ávida por trocar experiências culturais, aceitou o desafio de morar na China. Nessa altura da vida, a menina que era tímida havia se tornado megafalante e disposta a conquistar um espaço diferente na profissão. A ida para a China partiu de um e-mail da amiga Caroline Chang, editora da L&PM.
Daniel Marenco
Era uma vaga ocupada à época por Sérgio Capparelli: “Falei com ele algumas vezes e topei. Herdei o emprego, a casa e até a moça que trabalhava com ele.” O início foi fácil, pois o trabalho era para a agência estatal de notícias chinesa, a Xinhua, no Departamento de Língua Portuguesa. Começou a estudar mandarim e tudo era novidade e viciante. Conhecer cada esquina ou restaurante diferente. Foram seis anos e meio na China. Durante um ano, no período olímpico, trabalhou para o clicRBS, no China in Blog, e, em 2010, saiu da agência e abriu uma empresa de relações públicas e consultoria, a Radar China, voltada a aproximar e promover negócios BrasilChina: “Foi ótimo enfrentar este desafio de internacionalizar negócios entre culturas tão diversas”. Sobre as dicas de Pequim e Xangai para a Bá, ela diz: “A Cidade Proibida, em Pequim, a Grande Muralha (a duas horas da capital) e o Bund, em Xangai. O primeiro é a China imperial secular. O segundo, a China milenar. E o terceiro, a China hoje, que para nós parece o futuro.” Um trabalho marcante foi no 11 de Setembro, no ataque às Torres Gêmeas, ainda no Grupo RBS. Cobrir a Olimpíada de Pequim também marcou, mas nada foi mais emocionante que começar a própria empresa. A Radar China atende pequenas, médias e grandes empresas e mesmo ministérios brasileiros auxiliando nas relações sino-brasileiras: “Me seduz ligar as pontas entre brasileiros e chineses. Além de aprender a organizar uma empresa. Antes, eu tinha perfil de funcionária”.
Para quem busca dicas e informações e tem interesse no potencial chinês, Janaína é a pessoa certa, e isso fica bem claro no livro que lançou: China: o melhor de Pequim e Xangai. Não são só dicas de o que fazer, comprar ou visitar. O guia — o primeiro escrito por brasileiro sobre cidades da China — também trata de diferenças culturais, uma espécie de guia de sobrevivência. Depois de nove anos longe do Rio Grande do Sul, Janaína decidiu voltar: “Tenho um frio na barriga de pensar que talvez ache a noite parada, sinta falta de uma companhia para jantar ou badalar. Mas estou empolgada com o mestrado que quero fazer e as cidades que quero conhecer.” Entre os planos para o solo gaúcho está o de dedicar finais de semana a andar de carro pelos pampas. Já há uma lista enorme de lugares para explorar e onde colocar o Radar China com tudo para funcionar: “Minha ideia é mergulhar no empreendedorismo”. Obstinada que é, e apaixonada pelo que faz, é certo que a nova fase por aqui será promissora: “Quero trabalhar até o fim da vida e me divertir muito enquanto isso. Fazer um projeto que ajude as pessoas a pensar, unindo cinema, música, literatura e línguas, de preferência, em Terra de Areia. Sou mais de ir lá e fazer. Tenho preguiça de quem reclama demais”. Um dia bacana para ela é poder ficar de boca fechada: “Adoro não precisar falar. Falo demais, né? Ficar em casa lendo, na praia, em cima do morro, com uma água de coco ou cervejinha. Ficar quieta é uma delícia. Pensar na vida é fundamental para o equilíbrio”. MB | 85
Telefone: (51) 34143108 / (51) 330 73594 / (51) 92272815 www.dududascaipiras.com.br e-mail: eduardo@dududascaipiras.com.br
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Um dos ícones da noite porto-alegrense, Dudu Alvares tem saúde e disposição de dar inveja, 25 casas noturnas no currículo e muitas histórias para contar
dono da noite
Desde muito cedo, ele já mostrava ter uma personalidade forte e um tino grande para os negócios. Aos 12 anos, José Eduardo Alvares, conhecido como Dudu, comprou um “kit engraxate”, selecionou 10 meninos, distribuiu o material e fez a combinação: “Tanto para mim, tanto para vocês.” A partir daí, nunca mais parou de trabalhar. Dos 14 aos 19 anos, foi office boy, vendeu roupas, perfumes e foi um dos pioneiros no transporte escolar de Porto Alegre. Nessa época, já fazendo Direito na Unisinos e com dinheiro curto, com a ajuda de um amigo, resolveu comprar uma Kombi para transportar os colegas e contemporâneos de faculdade. Morava com os pais, José Ataliba e Antônia Alvares, e os oito irmãos na Rua Duque de Caxias. A casa da família numerosa tinha uma boate no subsolo, onde eles faziam festa para os amigos. Todo mundo queria participar. Ali, o Rei da Noite despertou. Era ele quem organizava e cuidava de tudo. Aos 23 anos, formado em Direito (exercído só em benefício próprio) e já com algumas economias, pegou um crédito no banco e deciciu abrir sua primeira casa noturna: a Bond’eu. Um pub, lugar inusitado em Porto Alegre. Sucesso total! Logo veio o Belliskão, no Morro Santa Tereza, e, pouco tempo depois, o restaurante Chez Dudu. Era o ano de 1970 e aquele garoto já administrava três casas ao mesmo tempo. 88 |
Tonico Alvares
SilvanaPortoCorrêa
Sempre de olho em tudo, sem beber e sem fumar. Anos depois, comprou o Encouraçado, abriu o Ovo de Colombo, Cord, Dudu Barroco. Enfim, fez 25 casas noturnas em Porto Alegre. Dormia de quatro a cinco horas por dia e sempre ficou até o final das festas. Fechava as suas casas. Pergunto para ele: “ Nesses 42 anos em que fizeste a noite de Porto Alegre acontecer, de qual casa sentes mais falta? Ele me responde que tem saudade e carinho por todas. E, se pudesse dar um conselho, diria para esse pessoal de hoje ser humilde e também ser o último a ir embora do seu estabelecimento. Segundo o especialista, Porto Alegre tem regras que só servem para ela. O Dudu tem tantas histórias fantásticas para contar que não cabem nestas páginas. Como uma (das mais interessantes) em que Vinicius de Moraes ensaiava no Teatro Leopoldina com seu parceiro Toquinho para se apresentar na noite seguinte. A entrada lateral do teatro, na João Telles, ficava em frente ao restaurante Chez Dudu, e Dudu atravessou a rua para gentilmente convidá-los a comer no restaurante, após o ensaio. Convite aceito, Vinicius, uma de suas mulheres e Toquinho foram até lá jantar
e, como de hábito, tomaram três litros de Buchanans. Quando pediram a conta, o anfitrião lhes respondeu que eram seus convidados. A mulher de Vinicius, trocando gentilezas, ofereceu os dois últimos convites para o show, primeira fila. Na noite seguinte, Dudu está assistindo ao show e, no final, Vinicius fala para a plateia: Agora eu vou a um bistrozinho aqui em frente que tem uma comidinha que só a mãe da gente sabe fazer”. Resumindo: naquela noite e nas seguintes, formaram-se filas para jantar no aconchegante Chez Dudu. Dudu entrou na noite do dia 7 de julho de 1970 e dela saiu na mesma data, 42 anos depois, no dia 7 de julho de 2012. Datas emblemáticas ou simples coincidência? Ele sorri e responde: “Não, não é coincidência.” Ele anda 14 quilometros de bicicleta todos os dias, faz pilates, dança bastante e namora muito. A paixão por carros antigos já o transformou em um colecionador conhecido em todo o país. Viaja de carro uns 5 mil quilômetros por mês. Vai muito a São Francisco do Sul, Bonito e Colônia do Sacramento, onde moram o filho Eduardo e a neta, Olívia. Nos próximos quilômetros de vida, Dudu quer deixar registradas em um livro muitas das suas histórias.
A casa da família tinha uma boate no subsolo onde eles faziam festa para os amigos. Ali, o Rei da Noite despertou. | 89
F o t og r a f i a e e d i ç ã o d e i m a g e m : O tav i o C onc i ( S t u d i o C onc i ) Ed i ç ã o d e M od a : G a b r i e l a C a s a rt e ll i ( A Im a c u l a d a ) B e l e z a : S t éph a n i e S omb r i o M od e lo : J a n a í n a N i lson ( J O Y ) P r od u ç ã o e x e c u t i va : J u l i a n a S i lva ( S t u d i o C onc i )
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Transição Já não existe estação, já não existe clima. Nem regras. No verão cinza e abafado, o extremo segue sendo o contexto no qual se brinca com
peças
improváveis,
com contrastes fortes, com minimalismo tropical, com artesanias que são - agora e sempre - a cara do Brasil.
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Calรงa Benta Studio, Lingerie Le Sophis
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Mai么 Panofino, Colete GVERRI, Colar Bruna Heemann Acess贸rios
Vestido Atelier Bia Verdi 94 |
Macac達o YOUCOM, Lingerie Le Sophis
Mai么 Panofino, Acess贸rio de Cabe莽a Atelier Bia Verdi | 95
AndreGuerrero
ROSA QUArTZo, um amor de verão!
behance.net/ andreguerrero68
Inspirado na pedra quartzo rosa e escolhido para substituir o bordô do Marsala, o rosa quartzo deve agradar muito neste verão! Positividade, leveza, tranquilidade e romantismo são algumas sensações estimuladas pela cor que também pode ser chamada de rosa claro, bebê ou pastel. Na maquiagem, combina com tudo e com todas, podendo ser usada “purinha”, num make monocromático – com a mesma cor de batom, sombra e blush, ou, se a sua batida for mais forte, para não ficar muito docinho, menininha, combine com marrom para um happy hour ou com preto para uma festa. Na estação mais quente do ano, especialistas apostam numa transição da maquiagem nada ou fresh para cores mais marcantes e com diferentes texturas. Por isso, a cor eleita pelo Instituto Pantone para o verão 2016 pode ser explorada com moderação, se o seu perfil é mais romântico, ou com total descontração, se você gosta de “causar”!! E lembrese, nada de “menos é mais”. Use na sua medida! ;) Diversas marcas de maquiagem já estão lançando suas coleções com a cor da pedra símbolo do amor em suas paletas. Escolha a sua preferida e viva esse amor de verão!!! F o t os : M auricio R odrigues M ode l o : Leonora W eimer Pen t eador : G ui l h erme Lo p es M aquiador : A ndre G uerrero A cessorios : M enina M orena S emi J ó ias A gradecimen t os : E s t udio de F o t ografia A pac h e K aike M orais - M A C B arra S h o p p ing
| 99
moda
amor
Foto Raul Krebs Assistente foto Lucas Ramos Make Renata Purer Modelo Joy Helena Terres Direção Artística e Conceitual As Modistas Stylist As Modistas Pós-produção Frederico Antunes
100 |
Cal莽a Maristela Almeida p/ Twin Set Kimono Mogrello para Twin Set Cropped Acervo Meias Forever21 Braceletes Forever21 Sapato Crist贸foli
| 101
Look 1 chapeu madeira Saia pantalona Bobo Cropped Pompeia Colete Gverri Store Sapato Donna.Gimm p/ twin set Meias forever21 Braceletes forever21 Look 2 casaco nude e preto Saia bobo Casaco Vitor Zer Binato p/ twin set Sapato Donna.Gimm p/ twin set Meias forever21 Braceletes forever21 Look 3 colete branco Calรงa tufi dueck Camisa tufi dueck Colete bobo Sapato cristofolli Bolsa cristofoli Meias forever21 Braceletes forever21 Look 4 saia pink longa Camisa bobo Top H&M Saia longa tufi duek Faixa Tannerie Kimono acervo As Modistas Sapato cristofolli Meias forever21 Braceletes forever21 Look 5 jeans rasgado Cropped Bobo Calรงa pompeira Kinomo acervo As Modistas Sapato Donna.Gimm p/ twin set Meias forever21 Braceletes forever21 Look 6 vestido branco e preto Vestido bobo
102 |
Casaco G Obi Bobo Meias for Bracelete Sapato c
Look 6 k flores Calรงa ma set Kimono m Cropped Meias for Bracelete Sapato c Bolsa Tu
oGverri GverriStore Store obo forever21 rever21 etes forever21 es forever21 ocristofolli cristofolli
Cropped Bo.Bô Calça Pompeia Kinomo acervo As Modistas Sapato Donna.Gimm p/ Twin Set Meias Forever21 Braceletes Forever21
kinomovermelho vermelhocom com kinomo
maristela almeidap/p/twin twin aristela almeida
omogrello mogrellopara paratwin twinset set acervo dedacervo forever21 rever21 etes forever21 es forever21 ocristofolli cristofolli Tufiduelk duelk ufi
Vestido Bo.Bô Casaco Gverri Store Obi Bo.Bô Meias Forever21 Braceletes Forever21 Sapato Cristófoli
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Saia pantalona Bobo Cropped PompĂŠia Colete Gverri Store Sapato Donna.Gimm p/ Twin Set Meias forever21 Braceletes forever21
104 |
Saia cal莽a Bo.B么 Cropped Pompeia Colete Gverri Store Sapato Donna.Gimm p/ Twin Set Meias Forever21 Braceletes Forever21
Saia Bo.B么 bobo Casaco Vitor Vitor Zer Zer Binato Binatop/ p/twin Twin Set set Sapato Donna.Gimm p/ Twin Set SapatoForever21 Meias Donna.Gimm p/ twin set Meias forever21 Braceletes Forever21 Braceletes forever21
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Cal莽a e camisa Tufi Duek Colete Bo.B么 Sapato e bolsa Crist贸foli Meias Forever21 Braceletes Forever21
106 |
Camisa Bo.B么 Top H&M Saia Tufi Duek Faixa Tannerie Kimono acervo As Modistas Sapato Crist贸foli Meias Forever21 Braceletes Forever21
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deuochic.com
VitorRaskin
A charmosa Martina Ritter Silveira Martins participou das semanas de moda em Nova York, Londres e Paris e apareceu linda no British Club
108 |
deu o chic
Especial Villa Sergio Bertti | Gramado
Vica Schneider Noll e Clarissa Schneider Loureiro
A bela Cรกssia Kroeff
Juliana Sanmartin Ribeiro e Rita Berti
Rodrigo Selbach e Daniela Laitano
Fernanda Maisonnave com a escultura de Hugo Franรงa
Sandro Barros e Bruno Astuto
Paulo Hoffmeister Neto e Ana Laura Arrieta Hoffmeister
Renato Bing
Zeca Amaral e Cristiano Berti | 109
Cheia de graça: Andrea Closs no Country Club
110 |
deu o chic
Especial Debut do Country Club
Dóris e Carlos Zanini
Vitótia Andreatta de Carli
Ana Paula e Ricardo Cirne Lima
Raquel e Ricardo Hermann
Madeleine Muller
Marcelo Medeiros e Luciana Lemos
Fernanda Carvalho Jaconi e Ana Lucia Kraemer
Ingrid de Kroes
O casal presidente: Lisette e Paulo Afonso Feijó | 111
Ao lado dos filhos PEDRO e JULIA NUNES FERST, a bela DEISE NUNES recebeu o carinho dos amigos e admiradores no lanรงamento da Bรก 12 no PPKB Kitchen Bar
misturebรก
Por Mariana Bertolucci Fotos Lenara Petenuzzo
RAFAEL RUFFATO, KARINA STEIGER e MARCELO BRAGAGNOLO ROSE DO ERRE
A estilista PAULA VIANNA lançou recentemente sua primeira e elogiada coleção
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MAURICIO MAIOLI e RAFAELLA FONTANELLA CECÍLIA BORGES e MIREIA BORGES
CAIQUE LORENZO
RICARDO FEIJÓ, JULIANO COLOMBO e MARCELO HOLLAND
FABRICIO KROEFF e SANDY PONZI
RODOLFO CORONEL MAURICIO e CRISTINA PERUCCI
MILTON BACK, LILIAN CALDAS e ANDREA BACK
MARCIA BRUN
LAURA SCHIRMER e ADÂO BELLAGAMBA
MILENE BORDINI, ANA CLÁUDIA DIEHL BRAZ e GEORGIANA FAURI
Sempre bonita, MARCIA VILLAR
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MAGALI KUMBIER e MARINELMA RODRIGUES
TATIANA NOLL
SUZANA ZAMAN, SIMIANE GIL e JILA ZAMAN
JUAREZ CRUZ e LUCIA MOTTIN
julia ramos e EDER RAMOS
NATALIA VERDI e ANDRé araújo santos
TEREZINHA MÂnica binS, BETH KALIL, SILVIA MEDEIROS e tânia granata
CACAIA BESTETTI, LU CITADIN e VERA LISBOA
ROBERTA ASMUZ e ARLETE BERNARDON
MARIANA BOEIRA e SILVIA PY
PEDRO HOFFMANN e ANDREA MARTINS
Feliz, ROSELI RASKIN
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VitรณrioGheno
Fotos Nรกdia Raupp
artista plรกstico
Primavera no Parcรฃo!
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