Seu Roque ainda trabalha consertando maquinas de costura em Muritiba (página 12)
Cachoeira - Bahia Julho de 2019 Edição
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
112
Centro de Artes, Humanidades e Letras
População reclama da taxa de esgoto em Cachoeira (veja a matéria na página 6)
Moradores de São Félix não enxergam investimento na iluminação (veja a matéria na página 5)
Insegurança preocupa usuários do transporte alternativo em Cruz das Almas e Cachoeira (veja a matéria na página 11)
Modalidade de Cicloturismo ganha popularidade em Cachoeira (veja a matéria na página 9) CULTURA
O vinil está de volta !
(confira na página 9)
Conferência municipal discute saúde pública em Muritiba (página 8)
2
OPINIÃO
Texto: Lila Santos Fotos: Flávia Franco
FALA POVO
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
Reforma da Previdência é a solução?
A Reforma da Previdência proposta pelo Ministério da Economia do governo federal, trata das novas regras de aposentadoria e prevê mudança salarial, aumento do tempo de contribuição e alteração da idade mínima. O projeto que discute a aposentadoria dos trabalhadores brasileiros foi encaminhado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional e está em análise na Câmara dos Deputados. O Reverso foi às ruas de Cachoeira para saber o que a população pensa dessa proposta.
“Não sou a favor. Sou um trabalhador e essa reforma é contra os meus direitos. Você acha que vou apoiar algo que é contra mim? Isso não pode ser aprovado. Esse presidente quer acabar com a gente.” Antônio Carlo Sodré, 58, feirante
“Ainda estou em dúvida se essa proposta é boa ou ruim. Para mim tanto faz! Eles não vão melhorar nada. Entra governo e sai governo e tudo só piora. Não sei se vai valer a pena ou não.” Edvalda Ferreira, 58, ambulante
“Não sei o que é. Não sei do que se trata. Ouço falar alguma coisa no jornal, mas não entendo.”
“Jamais serei a favor! A gente trabalha por tantos anos e esses pilantras fazerem isso. Pura perversidade! Para que eu chegasse aos 60 anos, foi muita luta, muita fome e dor.”
“Pura armadilha! Essa reforma é para destruir os mais fracos, não passa de mais um golpe desse governo. Sei que vou me acabar de trabalhar, porque sou pobre. Daqui que minha aposentadoria saia, talvez nem esteja mais viva. A verdade é que esses políticos não ligam para nós.” Rosilene Rodrigues, 49, autônoma
“Sou contra. O trabalhador que apoiar essa proposta, estará dando tiro no pé. Eu sei bem quem vai sobrar nessa história toda: nós. Não sou a favor de trabalhar por longos anos e ainda ganhar menos. Quem vai sofrer sou eu, do tanto que vou trabalhar.” José Raimundo Santos, 45, vendedor de farinha
Marlene Rodrigues, 73, charuteira
Reitor da UFRB Prof. Dr. Silvio Soglia
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo
Diretor do CAHL Prof. Dr. Jorge Cardoso Filho
Carlos Antônio Pereira, 64 anos, comerciante
Edição Prof. Dr. Carlos Ribeiro Matheus Ruffino Kathleen Ribeiro
Editoração Gráfica Carlos Augusto Iago Aragão Tayse Santos
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
CIDADE
3
Risco de contaminação da água por agrotóxicos deixa população de Cachoeira em alerta Embasa nega a existência da contaminação, mas, estudos do Sisagua, realizados entre 2014 e 2017, mantém a dúvida sobre a solução do problema.
Texto: Ramon Ramos Uma audiência pública com a Empresa Baiana de Águas
e Saneamento (Embasa) foi convocada na Câmara de Vereadores de Cachoeira, no último dia 7 de maio, para discutir o risco de contaminação da água no município. A audiência contou com a presença do representante da empresa, Jerônimo Conceição, que ressaltou não haver uma investigação mais aprofundada a respeito do problema. Segundo ele, uma reportagem publicada no jornal Correio da Bahia causou um alvoroço não só na sociedade como um todo, como também na Embasa e em outras companhias de saneamento. “No caso aqui da Bahia, a matéria dizia que na maioria das cidades era distribuída água com agrotóxicos”. Por lei, as cidades brasileiras são obrigadas a realizar dois testes por ano para analisar a presença de agrotóxicos na água que chega ao consumidor final, enviando os dados para o Sisagua. Ilustração: Iago Aragão
Segundo Jerônimo Conceição, a Embasa segue rigorosamente estas exigências. “A Embasa faz semestralmente a coleta da água para analisar a presença de agrotóxicos e, nessas coletas semestrais, em nenhuma delas onde foi detectada a presença de agrotóxicos chegou perto sequer do limite estabelecido pela portaria, ou seja, o que foi detectado foi muito abaixo do limite”. Cachoeira foi uma das cidades incluídas na lista de contamina-
Alerta para saúde
curem imediatamente atendimento especializado, pois quanto mais rápido for o diagnóstico, mais fácil fica o tratamento”.
ção da água por agrotóxicos na Bahia. Os dados foram divulgados pelo Sistema de Informação de Vigilância da Qualida-
A enfermeira Rilza de Almeida, que trabalha no Hospital São
Quanto maior a quantidade ingerida e o tempo de exposição
de da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério
João de Deus, disse que a população deve ter uma atenção re-
aos agrotóxicos, maiores as consequências para a saúde. Esta
da Saúde. As informações foram coletadas entre 2014 e
dobrada no consumo de água. De acordo com ela, com o risco
exposição pode gerar problemas crônicos, como dores de ca-
2017, levantamento feito em parceria com a ONG Repór-
da contaminação de agrotóxicos na água, é prudente que as
beça, cansaço constante, irritabilidade, alergias de pele e res-
ter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye.
pessoas, ao sentirem mudanças drásticas no organismo, pro-
piratórias, e, em casos mais graves, até alguns tipos de câncer.
4
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
CIDADE
Academia pública de Cachoeira oferece aulas gratuitas à população Texto: Rebeca Falcão Fotos: Mhayla Barbosa
obesos e portadores de colesterol alto.
lão, vôlei, futebol e coral. Durante o ano
O interessado deve procurar um posto
são feitas várias ações em parceria com a
de saúde do município, onde será ava-
Secretaria de Saúde e o governo do esta-
liado clinicamente e encaminhado ao
do, como a caminhada do Outubro Rosa,
centro, onde será calculado o seu Índice
que visa alertar a população sobre os ris-
de Massa Corporal e receberá orienta-
cos do câncer de mama. “Os alunos, em
ção sobre quais exercícios poderá fazer.
sua maioria, são idosos numa faixa etária de 40 a 80 anos, que frequentam e parti-
Modalidades
cipam das atividades”, disse o instrutor.
O instrutor e ex-coordenador do centro George Lobo de Melo informou que trabalha “com várias modalidades de exercício, como aeróbica e dança. Então, se a pessoa for paAcademia da saúde localizada próximo a quadra e ao jardim grande.
O Centro de promoção à saúde Edgar Teixei-
Segundo o coordenador Danilo Andra-
ra Rocha, inaugurado em 2009, completou
de, para se matricular são necessários
10 anos de assistência gratuita à população
os seguintes requisitos: ser maior de 18
cachoeirana, recebendo uma média de 230
anos e apresentar uma cópia de docu-
pessoas por mês. Localizado na Praça Jardim
mento de identificação, comprovante de
Grande, é chamado de academia da saúde
residência, foto 3x4 e atestado médico.
pelos frequentadores e moradores da cidade.
São priorizados os idosos, hipertensos,
gar, vai pesar no bolso e você tendo um trabalho desse de graça é fantástico por, primeiramente, fortalecer a saúde mental e física”. O centro funciona com recursos da prefeitura, em conjunto com o governo do estado. O centro funciona de segunda a sexta-feira, pela manhã e tarde, quando são oferecidas aulas de futsal, ginástica, dança de sa-
Instrutor George Melo em entrevista fala da importância de fazer exercício físico em qualquer idade.
Reforma da Estação Ferroviária deve ser concluída em 2023
Texto: Djane Silva Foto: Sâmia Sales
da empresa responsável pelas obras, a Va-
para economia da cidade, segundo acredi-
As reformas da Ferrovia de Cachoeira,
lor da Logística Integrada (VLI), que tem
ta Cristiane Pereira, moradora da cidade.
a concessão da ferrovia e da estação.
Para ela, “a implementação de uma reforma
A estação ferroviária da cidade ficou to-
desse porte pode trazer benefícios, como
talmente abandonada por anos, apenas
aumentar o fluxo do turismo na cidade,
servindo de abrigo para moradores de rua
também pode trazer emprego e acredito
iniciadas em 4 de dezembro do ano passado, têm previsão para serem finalizadas apenas em fevereiro de 2023, segundo Elias Rezende, assessor de comunicação
e para práticas ilícitas, conforme relatou o
Entrada da antiga estação ferroviária
cachoeirano José Silva. Segundo ele, “a es-
de Sergipe e Juazeiro pois sua linha é Y,
tação ficou anos largada servindo de casa
transportando magnesita, cromo e bobinas,
para mendigo e para usuários de drogas”.
dentre outros produtos com destino a São
Em 2017, a estação foi restaurada na sua par-
Paulo e Minas Gerais”, afirmou Rezende.
que o trânsito irá ficar mais organizado”.
te externa e, já no final de 2018, o patrimôEstação ferroviária por trás
nio começou a ser submetido a uma reforma
Benefícios
interna. “A ferrovia está ativa e tem partida
A reforma da ferrovia pode contribuir
A estação era ocupada por moradores de rua
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
CIDADE 5
Moradores de São Félix não enxergam investimento na iluminação
A cobrança de uma taxa de iluminação por parte da prefeitura não resultou, até o momento, nos resultados esperados pela população. Texto: Caio Nicolav Fotografia: Sâmia Sales A população de São Félix tem reclamado do descuido da prefeitura para com a questão de iluminação na cidade. Na conta de energia é cobrada uma taxa de iluminação a mais, algo em torno de 10%, deixando os moradores descontentes com o valor imposto e a falta de iluminação nas ruas. A Prefeitura definiu um projeto junto à Coelba, que tem como intuito resolver essa cobrança indevida. Em determinados locais da cidade já estão sendo feitas as manutenções. Segundo o vereador Silvino Conceição, o Dido (PPS), para que haja um bom funcionamento da iluminação será necessária a troca dos postes. ‘’Já identificamos uma empresa que trocará as lâmpadas, já vimos o mapeamento da manutenção dos postes baixos que serão trocados pelos mais altos’’. O serviço, para ser concluído, levará em média cinco anos, e a expectativa da
Com a má iluminação em algumas ruas, moradores temem o risco de assaltos
dizer que a taxa ultrapasse o valor que foi
Rodagem, em São Félix, afirmou que esse
“É complicado porque a partir do mo-
determinado no projeto’’, disse o vereador.
projeto já está sendo discutido há alguns
mento que foi feito esse projeto, nós, mo-
Josemari de Souza, moradora do bairro
anos e mesmo assim pouco foi efetivado.
radores, íamos pagar a taxa de iluminação pública. Esperávamos que logo de imedia-
prefeitura e dos moradores é que esse
to fossem colocadas as lâmpadas, mas não
problema da iluminação do municí-
ocorreu. Este projeto foi de 2017, então,
pio se resolva nos próximos três meses.
há dois anos está sendo cobrada essa taxa”.
A taxa de iluminação recebe aumento desde 2017 e os moradores ainda não perce-
Outro projeto recente, aprovado há dois
beram as mudanças que o poder público
meses em parceria entre Coelba e Prefei-
prometeu. Na cidade, há muitos bairros
tura, pretende investir três milhões de re-
com a iluminação precária e que do mes-
ais, estipulando um prazo de cinco anos
mo modo a prefeitura continua a cobrar a
para que todas as demandas sejam conclu-
taxa de manutenção. ‘’Bom, isso aí pode
ídas. Desde 2017, a cobrança, imposta pe-
ter aumentado de acordo com o consumo das residências de cada pessoa. Não quer
A falta de iluminação afeta até as praças que ficam no centro da cidade
los órgãos responsáveis não foram revertidas em melhorias da iluminação na cidade.
6
REPORTAGEM
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
População reclama do valor da taxa de esgoto em Cachoeira
Texto: Iago Aragão Foto: Bárbara Lima
Um percentual de 80% em relação ao gasto de água é cobrado pela taxa de esgoto em Cachoeira, gerando desconforto e indignação entre os moradores. O problema nos preços das faturas é ainda somado à insatisfação com os serviços de manutenção prestados pela Embasa. “A pessoa trabalha o dia todo, chega em casa e quando o recibo vem, é aquele absurdo’’, relatou a feirante Claudionélia de Almeida. Segundo ela, que passa a maior parte do seu dia na rua e faz o consumo mínimo de água, a adição da taxa de esgoto quase que dobra sua fatura. Manutenção Claudionélia também faz reclamações sobre as manutenções feitas pela empresa, já
da cidade que, mesmo pagando a taxa, não são indexadas às sedes de tratamento. “Existem casas que não estão nessa rede e o esgoto é jogado no Rio Paraguaçu”, finalizou.
Estação de tratamento de água (popular pinicão) localizada na orla do rio Paraguaçú
problema é só o preço”, pontuou, em discordância com a dona de casa Naira Costa, que avalia manutenção dos esgotos da cidade como péssima. “Eu moro em frente à igreja matriz e a cobrança é injusta, porque às vezes lá os esgotos ficam tudo aberto”, justificou.
Uma das estações de mais fácil identificação é a localizada na orla da cidade
aí dentro do rio, que é um absurdo”, afimou em relação às estações de tratamento de água presentes em alguns bairros da cidade. “É muriçoca, é barata é rato é tudo”, finalizou. Já o mototaxista Jorge Ramos se mostrou satisfeito com o serviço da Embasa. “O
Intervenção As frequentes queixas da população ao poder público da cidade resultaram na criação de uma lei municipal, em abril de 2018, que visava baixar o valor de cobrança da taxa para no máximo 40%. A norma foi aprovada e sancionada no mesmo mês,
mas passado mais de ano, ainda não houve seu cumprimento. O presidente da câmara de vereadores Josmar Barbosa, que criou a proposta de lei baseada em experiências de cidades como Feira de Santana e Guanambi, disse que o município ainda está tentando resolver a efetivação da lei a partir do diálogo com a empresa, mas que, se a situação não for resolvida assim, a justiça será acionada. “A gente vai ter que procurar o Ministério Público e interpelar a Embasa”, afirmou. Alerta O vereador ressaltou a importância do cumprimento da lei, por achar absurda a cobrança dessa taxa. Para ele há uma incoerência na existência de uma tarifa que não tem uma medida de aferição própria, já que a avaliação é feita com base no consumo de água. “Eu acho que mesmo que fosse 0,01 % de cobrança seria injusto. Como a gente não poderia isentar, tentamos pela redução”, pontuou, acrescentando um alerta em relação às zonas
Sem solução A Embasa informou, através de sua assessoria de comunicação, que a cobrança da tarifa está respaldada pelo Decreto 7.765/2000 e Lei nº 7.307/1998, portanto sem intenção de mudança. Também afirmou que o valor elevado da cobrança se dá pelo alto custo dos serviços de esgotamento sanitário, dando exemplos de outros estados onde o tributo ultrapassa 100%. Entretanto, a empresa não se posicionou em relação à situação específica de Cachoeira após a criação da lei municipal, sem responder sobre a negociação com a prefeitura ou a possibilidade de processo.
Esgotos domésticos localizados no rio do Caquende, que tem ligação com o Paraguaçú.
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
A volta do vinil
CULTURA 7
Colecionadores do Recôncavo promovem feiras, eventos e comércio dos discos antigos Texto: Iago Aragão Foto: Bárbara Lima
O que por muito tempo ficou esquecido, hoje é peça de colecionador. O disco de vinil ainda é objeto de coleção e comércio para alguns moradores do Recôncavo, mesmo após o CD, o Mp3 e os serviços de streaming, como Spotify e Deezer. Com a retomada da produção de música neste tipo de mídia por grandes produtoras, como é o caso da Sony, e com a busca pela juventude da nostalgia de poder ouvir sons em vitrolas e armazenar fisicamente capas e encartes com artes gráficas diversas, os vinis têm sido trocados, comprados e vendidos em feiras e sebos promovidos em Cachoeira e região. João Miguel Guerra, 20 anos, cidadão de Muritiba e estudante universitário, é um dos apaixonados pelo bolachão - um dos apelidos do disco de vinil, que teve sua produção iniciada em 1948 e seu declínio no final dos anos 80, a partir da popularização do Compact Disc (CD). Com um acervo de 293 discos, cuja datação varia entre os anos 1950 e 90, com diversos estilos da música popular brasileira, disse que pôde conhecer, a partir dos vinis, facetas de artistas, já habitantes de seu imaginário, outrora desconhecidas. “É interessante que eu descobri um Roberto Carlos mais antigo, que vai muito além de Esse Cara sou eu, e isso foi surpreendente”, contou.
era o Damário da Cruz, hoje Dom Pepe, eu coloquei uma caixa, sem ser convidado, né? Então, já tinha uns três expositores, fiz uma experiência, então nessa onda eu gostei. É claro, não posso negar, deu para ganhar uma grana”. Atualmente, tanto em Cachoeira como em São Félix, comercializa os discos em eventos especializados, festas populares e datas
Acervo de discos do colecionador Heraldo de Souza Oliveira
Guerra, que, para além de adquirir vinis com conterrâneos, compra em ambientes virtuais a partir do contato com vendedores da capital e de outros estados nas redes sociais, afirmou que é difícil criar uma rede de colecionadores no Recôncavo. Segundo ele, “Ouvir vinis é uma atividade solitária, pois há marcação de encontros, mas nunca se concretizam”. Barreiras Para Márcia Schlapp, historiadora e produtora cultural, é preciso romper essa barreira. Com este objetivo, ajudou a criar o evento As Voltas que o Vinil dá. A iniciativa ocorre desde fevereiro deste ano na Taberna Dom Pepe, em Cachoeira, com entrada franca. Já abordou temáticas como O Trio Elétrico Antes do Axé, Performance na Música Eletrônica Dançante e Um Passeio Pela Música Afro-Americana. A proposta é convidar um palestrante e especificar um assunto e, acerca deste, promover um diálogo sobre histórias de
discos e artistas representantes do tema. Sobre a ideia, Schlapp relatou que da informalidade surgiram os arranjos necessários para fincar o espaço. “É uma ideia que foi surgindo entre amigos numa mesa de bar, literalmente, lá na taberna Dom Pepe. Eu queria fazer uma coisa nesse sentido, uma coisa menos acadêmica. É um evento de colecionadores de músico, quer dizer, não tem aquela pegada acadêmica, aquela forma toda. Até para você falar, todos os professores e palestrantes, nós tiramos os títulos”, contou. Comércio O artista plástico, vendedor e colecionador Heraldo de Sousa Oliveira, mais conhecido como Pirulito, 51 anos, morador de São Félix, relatou que começou a exercitar o comércio de discos, como profissão, em Cachoeira. “Eu já tinha esses discos, sempre negociei dentro de casa, trocando disco com os amigos. Então, quando vi que ia rolar uma feira, na época
comemorativas, como a Festa Literária de Cachoeira (FLICA), que ocorre anualmente e gera um fluxo intenso de turistas nas duas cidades. Para além de complementador de renda, os vinis são fonte de inspiração para o pintor, que sempre utiliza como pano de fundo de seu exercício artístico os sons provenientes da coleção pessoal, que guarda em seu ateliê. Sobre os formatos digitais de música, Pirulito disse não ter muita afeição. “O vinil, para mim, é uma peça de arte. O Mp3 já perde, comprime demais, o Mp3 não é legal, você perde todas as informações, diferente do vinil”, completou. Amantes do bolachão no Brasil e na Bahia, que além das primeiras prensagens consomem novas remasterizações e LP’s de artistas das novas gerações, reclamam do alto custo da mídia no país, cuja cadeia produtiva para a fabricação não é barata. Descobrir a potencialidade da democratização do vinil é, ainda, um problema a se resolver. Mas, que fique a lição: o analógico ainda dá pano para a manga e dinheiro no bolso.
8
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
SAÚDE
Conferência municipal discute saúde pública em Muritiba predispõe a atender urgência e emergências, mas também oferece especialidades em vários campos. Ela informou que foi aprovada a segunda etapa da reforma do hospital, que está aguardando recursos, mas que, com isso, haverá internamentos e outros serviços. São José
A secretária de saúde de Muritiba Rose Oliveira Reis fala sobre as dificuldades do município na saúde
Texto: Jucira Fraga Foto: Mhayla Guimarães
Aconteceu no último mês de abril, a Conferencia Municipal Saúde de Muritiba, que apresentou o Plano Municipal de Saúde e sua rede de serviços para o quadriênio 2018/202. Na oportunidade, foram abordados temas como Saúde como Direito, Consolidação dos Princípios do SUS e Financiamento adequado e suficiente para o SUS. Participaram da conferência o secretário de Saúde de Cabaceiras do Paraguaçu, Raul Molina, vereadores, funcionários da área e membros do Conselho Municipal de Saúde, além de populares, para estabelecer um pacto entre poder público e sociedade no sentido de fomentar mudanças que melhorem o sistema.
Campanhas Anderson Vieira, supervisor do CDM, informou que trabalha em cinco áreas, aplicando larvicida, mas também faz campanhas educativas através de mensagens e panfletos. Segundo ele, “a cidade está em alerta contra a dengue”. Rose Oliveira Reis, secretária de Saúde de Muritiba, disse que as dificuldades no município são muitas, citando o subfinanciamento do SUS, que acaba dificultando as atividades. Para ela, “os recursos que chegam não são suficientes para atender todas as demandas, mas temos avançado em algumas ações e serviços”. Conforme informou, as dificuldades estão mais voltadas para a marcação e realização dos exames. O munícipio tem uma vincula
ção com o SUS de 99% e, em sua maioria, o munícipe depende dele, num valor de 30 mil pessoas, que é a população de Muritiba. “Consultas e exames são nossas maiores dificuldades, com filas de espera. O transporte tem dificuldade pelo número de pacientes que se deslocam para Salvador ou outros centros”, acrescentou a gestora. Hospital A coordenadora administrativa do hospital local, Ana Cláudia Gomes, disse que a unidade enfrenta problemas pontuais, pois se
Ana Cláudia Gomes, coordenadora do hospital
No distrito de São José tem também um pronto atendimento em pediatra, ginecologia e ortopedia, com serviços de ultrassonografia. Na sede, informou, “temos o CAPS com psicólogo e psiquiatra, com distribuição de remédios controlados. Temos também o serviço odontológico, com recursos do município, mas que já foi credenciado pelo SUS”. A secretária prosseguiu, informando que “temos SAMU com serviço de urgência e emergência 24 horas e nove postos de saúde com médicos e enfermeiros. No programa Mais Médicos, temos três atendendo nos postos de saúde de assistência básica”. BOX: Para melhorar o Sistema Único de Saúde (SUS), o governo federal lançou o programa Mais Médico, com apoio dos estados e munícipios, para as regiões onde há escassez ou ausênciaa destes profissionais. A iniciativa prevê também investimentos para construção, reforma e ampliação de Unidades Básicas de Saúde (UBS), além das novas vagas de graduação e residência médica, para qualificar a formação desses profissionais.
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
ESPORTE 9
Modalidade de cicloturismo ganha popularidade em Cachoeira Texto: Isabel Bomfim
O grupo percorreu o mesmo circuito feito no 2° Cicloturismo e entregou os alimentos aos moradores.
abril, a data para a sua realização anual. Cicloturismo A prática do cicloturismo se caracteriza por ser uma forma de fazer turismo, viajar, acampar ou realizar passeios utilizando a bicicleta, veículo sustentável e bem acessível, escolhido por muitas pessoas como meio de transpor-
foto: cedida
das mães, beneficiando 34 famílias das comunidades locais. A modalidade do cicloturismo cresceu consideravelmente nas cidades baianas. Os eventos realizados têm atraído cada vez mais adeptos e amantes do ciclismo por ser uma atividade comum e acessível a qualquer pessoa. Em Cachoeira, este tipo de prática é recente e a cidade já foi inserida no calendário de eventos de Cicloturismo na Bahia, marcando no último domingo do mês de
foto: cedida
Aproximadamente dois mil ciclistas de várias cidades vizinhas participaram do 2° Cicloturismo de Cachoeira, no último dia 28 de abril. O evento foi organizado pelo grupo Cachoeira Bike Clube (CBC) e arrecadou, como inscrição simbólica, um quilo de alimento não perecível de cada participante. As cestas de alimentos foram entregues no dia
O cilcoturismo vem garantindo cada vez mais adptos na região
te, para a realização de atividades físicas ou apenas como opção de lazer. Podem ser percursos longos ou curtos, em trilhas ou estradas. Os grupos de pedais, união de amigos ciclistas que se encontram para pedalar, são importantes para incentivar as pessoas e ajudam a disseminar este esporte. Há, também, empresas especializadas que oferecem serviços e dão suporte, organizando o roteiro, hospedagem, alimentação e guias. De acordo com Hélio Rodrigues, representante do grupo CBC, autônomo e guia de cicloturismo,
de fazer um evento pra galera que não era competidora e que só queria conhecer alguns lugares, cidades e pessoas diferentes, fazer novas amizades e intitularam este evento como cicloturismo, que não deixa de ser para atender esse público”, explicou.
os eventos de bicicleta têm por finalidade integrar as pessoas que não fazem parte da realidade do ciclismo como esporte. “Sempre rolou competições nas cidades, daí surgiu a demanda
precisa ter preparo físico apurado, aquela coisa de andar bastante rápido, cada um faz seu ritmo e vai confraternizando. Tem essa ligação com a natureza, tem gente que gosta de parar pra curtir,
Os eventos Estes eventos proporcionam lazer, além de ser uma forma de interação com as pessoas e a natureza, permitindo que conheçam o cenário local e cultural das cidades e municípios onde ocorrem e incentivar o uso da bicicleta. “É uma espécie de passeio, não
fazer fotos, interagir com as comunidades locais, principalmente rurais.”, relatou Hélio, ciclista há mais de 27 anos. A diversidade do cicloturismo agrada aos variados públicos. Filipe Santana, 25 anos, que começou a pedalar desde 2010 com amigos, é praticante de mountain bike, modalidade de ciclismo em alta velocidade que se utiliza de obstáculos feitos em trilhas e montanhas, relatou que sempre que pode, participa dos eventos de cicloturismo em Cachoeira e nas cidades vizinhas. “Posso dizer que o ciclismo é um dos melhores esportes do mundo onde exercitamos o nosso corpo, mente e espírito. Pedalar nos dá alegria, adrenalina, aventuras, desafios e a vontade de continuar pedalando por toda a vida!”, acrescentou.
10 RECÔNCAVO
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
Falta de manutenção complica tráfego na BA-510 em Santo Amaro
Texto: Weverton Dantas Foto: Bárbara Lima
O trecho entre o distrito de Pedras e o quilômetro 25 da BA-510, que liga a cidade de Santo Amaro da Purificação à zona rural, se encontra em mal estado de conservação, com buracos por toda a parte. A falta de manutenção na rodovia, de aproximadamente 1,5 km, é evidente e coloca em risco moradores e motoristas. A Secretaria de Infraestrutura da prefeitura alegou não ter informação alguma sobre a estrada, por não ser de responsabilidade do município e sim do estado. Renan Ribeiro, coordenador de manutenção das rodovias estaduais, disse não saber informar há quanto tempo a estrada não recebe reparos, mas acrescentou que as obras de reparação estão previstas para o próximo mês de junho, embora sem data certa para começar.
Em dias de chuva, o acúmulo de lama pode tornar a pista esburacada ainda mais perigosa
Cascalho Os moradores reclamam sobre o estado da estrada e tentam melhorar a situação colocando cascalhos nos buracos. “Mas não Se a pista estivesse perfeita, diminuiria praadianta muito”, diz Marcia Oli- ticamente uns 20 minutos de viagem entre Santo Amaro e Cachoeira. veira, que mora na região. Segundo ela, “os buracos colocam em risco a vida dos morado- Vitor Costa, motorista
“
res e dos motoristas que passam por ali, os motoristas passam de carro e quando tentam desviar dos buracos acabam passando muito próximos da gente. Eu tenho uma criança e faz medo andar perto da pista, aqui já aconteceram vários acidentes, principalmente de
moto”. Para o motorista Victor Costa, que precisa utilizar a estrada para chegar a Cachoeira, “se a pista estivesse perfeita, diminuiria praticamente uns 20 minutos de viagem entre Santo Amaro e Cachoeira”, reclamou.
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
RECÔNCAVO 11
Insegurança preocupa usuários do transporte alternativo em Cruz das Almas e Cachoeira Texto: Rebeca Mota Foto: Emilly Chaves para a gente”, acrescentou Luiz.
pegar o transporte de volta para casa, contou relatos de vizinhos que já foram assaltados nesse trajeto. “Eles saem dos matos, ficam na frente dos carros e mandam parar, saqueiam tudo e pronto. Por isso, estou evitando de vir em Cruz das Almas”, relatou. Eles saem dos matos, ficam O motorista Javiel de Almeida, que resina frente dos carros e man- de em Governador Mangabeira, falou que dam parar, saqueiam tudo “eles não só levam os pertences dos passae pronto. Por isso, estou geiros, como também estão levando os carevitando de vir em Cruz ros. Acho que esse ano já é o quarto carro das Almas. que é roubado aqui nessa linha da gente”. Segundo Javiel, as pessoas estão supondo A escassez de ônibus para Cruz das Almas, faz com que as topics sejam a única opção da maioria dos passageiros Neuza Oliveira, moradora de Muritiba que os motoristas estejam envolvidos nesOs assaltos nos transportes da Cooperativa circulou em aplicativo de mensagens. ses crimes. Para ele, “o povo deu até para dos Condutores Autônomos de TransporAssaltos dizer que a gente conhece os assaltantes, te Alternativo do Recôncavo Meridional Segurança Neuza Oliveira, moradora de Muritiba, que como se nós estivéssemos combinando (COOTAM), que faz linha de Cruz das O motorista Luiz Carlos da Paixão, de Mu- estava no ponto em Cruz das Almas para com eles o assalto”. Almas para Cachoeira, registraram quatro ritiba, que já foi assaltado duas vezes desocorrências apenas no último mês de abril. de que começou a trabalhar fazendo linha As queixas vindas dos motoristas, cobra- entre Cruz das Almas e Cachoeira, falou dores e passageiros é sobre a falta de se- o que, em sua opinião, pode ajudar a amegurança e policiamento nas estradas, que nizar essa situação. Segundo ele, “o certo os deixam vulneráveis diariamente a esses mesmo é que o presidente da COOTAM crimes. coloque algum segurança, ou policial, para O assalto do dia 30 de março passado, na trabalhar com a gente, para que eles posAvenida Paulo Souto, acesso à cidade de sam agir na hora, porque o que falta é seMuritiba, chegou a contar com a interven- gurança”. ção da Polícia Militar. Esses crimes constantes assustam os pasNa ocasião, ocorreu uma troca de tiros com sageiros, que em sua maioria trabalha ou os bandidos, que conseguiram fugir pela estuda nas cidades dessa rota. “Algumas área de vegetação ao lado da rodovia, se- pessoas ficam até cismadas de entrar nas gundo informações do capitão da Polícia topics que já foram assaltadas. Ficam As topics são utilizadas diariamente por diversos estudantes que moram em Cruz das Almas e Militar, Valdomiro Suzart, em áudio que olhando assim, desconfiadas, isso é ruim estudam em Cachoeira
“
CACHOEIRA | BAHIA Julho 2019
12
Seu Roque ainda trabalha consertando maquinas de costura em Muritiba
Texto: João Miguel Guerra Foto: Sâmia Sales
Com 65 anos de profissão, o mecânico Roque Costa hoje é a única referência na cidade de Muritiba e um dos poucos que ainda resistem na região no conserto de máquinas de costura. É uma profissão rara, pois com o aumento da produção de roupas em larga escala, o número desses maquinários ficou reduzido, enquanto eles eram substituídos por aparelhos capazes de produzirem o dobro das antigas máquinas. Isso reduziu a procura pelo serviço oferecido pelo profissional, que ainda resiste como costureiros ou microempresários do ramo. Roque de Otávio, como é conhecido, trabalha desde os sete anos, quando começou como aprendiz na oficina do seu mestre, que chama de Seu Tosta, um homem de múltiplas facetas, inclusive inventor, que passou o ofício para o discípulo. ‘’Eu comecei auxiliando meu mestre ferreiro, que também consertava outros maquinários, e com isso fui me aprimorando até me dedicar a máquinas de costura. Hoje estou aposentado, mas prefiro continuar trabalhando. Isso aqui é meu passatempo, faço por amor’’, revelou Roque. Quase extinto Aos 72 anos de idade, ele é o único profissional desta área na cidade. Cercado por estantes com inúmeras peças para máquinas, que vão da marca Singer, uma das mais populares, até as menos conhecidas como Vigorelli. Guarda, além disso, objetos antigos como rádios valvulados e relógios de pêndulo. O mecânico disse que a maioria de suas clientes é de mulheres, responsáveis por uma boa demanda de máquinas ao mês. ‘’Muitas senhoras são saudosistas ou apenas não deixaram de costurar e fazem isso
ufrb.edu.br/reverso
Seu Roque demonstra o funiconamento de uma Super Vigor a manivela
para ocupar o tempo’’, disse ele. Criações Revelou, contudo, que não vive apenas de conserto. Nas horas em que está livre, desperta o lado criativo e produz as mais diversas criações e adaptações, como por exemplo uma pequena máquina de costura infantil que ficou funcional, ou ainda outra, movida a manivela, que foi adaptada de um motor elétrico. ‘’Não é fácil, mas com criatividade e paciência, tudo vai se ajeitando. Aplico todo o conhecimento de seis décadas aqui e isso torna fácil’’, disse. Ele revelou que está disposto a ensinar jovens interessados no ofício e que enxerga isso como uma maneira de manter preservada a profissão. ‘’Máquinas têm segredos, mas nenhum mistério. Gosto quando vejo pessoas mais novas
querendo se aprofundar nesse mundo mecânico e ajudo como posso, pois é algo bonito e louvável’’, concluiu.
Máquinas, peças de reposição e objetos antigos