Reverso Edição 111

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ZAÍRA É A SENHORA DAS BONECAS (página 12) Cachoeira - Bahia Maio de 2019 Edição

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

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Centro de Artes, Humanidades e Letras

Caminhar é uma prática difícil na orla da Cachoeira Veja a matéria na página 8

Foto: Janaildes Brito

São Félix debate proposta para o recuo da feira livre

Foto: Kathleen Ribeiro

(cobertura completa nas páginas 2 e 3)

Chuvas causam estragos na BR-502 (página 4) Vingadores Ultimato lota cinemas em Feira (p. 11)

Foto: Mhaylla Barbosa Guimarães

LEIA NESTA EDIÇÃO:

População reclama de aumento nos hortifruti (página 5) Sindicatos discutem Reforma da Previdência (página 6) Município ganha primeiro edital de cultura (página 7) Escolinha de futebol forma cidadãos em Conceição da Feira (página 9) Cruz das Almas sedia campeonato de judô e

Foto: Rebeca Falcão

Estudantes criam Atlética de Comunicação (página 10)


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OPINIÃO

CACHOEIRA | BAHIA Maio 2019

INEDITORIAL

FALA O POVO

Recuo da feira livre é a melhor alternativa?

Texto: Kathleen Ribeiro Fotos: Matheus Ruffino No início do mês de abril, foi proposto o recuo da feira livre de São Félix, em sessão do plenário da Câmara Municipal, a fim de evitar possíveis acidentes entre os automóveis e pedestres, em dias de maior movimentação do comércio, visto que a feira ocupa parte da pista por onde os carros circulam. O Reverso foi às ruas para saber o que a população pensa dessa proposta.

“Eu sou a favor, porque eu estou vendo o perigo de deixar esses carros aí passando e querendo ou não é uma forma de prevenir algo pior, né? Toda hora passa gente e é arriscado.” Gilson da Silva, 67, aposentado

“Eu sou a favor, porque inclusive já aconteceu acidente aqui, entendeu? Eu acho que se mudar pra um espaço mais propício é melhor.” Paulo Rocha, segurança

“Não sou a favor de recuar, porque que movimento tá tendo de feira pra recuar? Nem vem mais gente comprar nada aqui, o pessoal vai comprar mais em Cachoeira. Tem mais de vinte anos que teve um acidente aqui, que o vagão do trem caiu, mas fora isso não ocorreu mais nada.” Adnailda Freitas, 55, feirante

“O povo já está passando direto com a gente aqui na frente, imagine se a gente recuar mais, a feira não empata em nada, eles ganham no mole e a gente aqui trabalhando, se for pra mais distante ninguém vai lá.” Washinton Luís, 56, feirante Reitor da UFRB Prof. Dr. Silvio Soglia

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo

Diretor do CAHL Prof. Dr. Jorge Cardoso Filho

Editor Prof. Dr. J. Péricles Diniz

“Eu acho que isso não vai favorecer nem a gente que frequenta a feira nem o pessoal que vende, porque só vai diminuir o movimento e ficar mais distante. Já foi feito esse recuo outra vez e colocaram lá perto do porto, as pessoas se incomodaram e voltou tudo pra cá de novo.” Antônia Nascimento, 39, desempregada

“Dia de sábado na feira é dia de bagaceira, a feira fica muito pra lá e realmente o trânsito fica complicado, mas se for recuar, tem que dar condição aos feirantes que ficam mais perto da pista, porque realmente passa carro, moto, trem, pedestre, mas tem que dar condições pra decidir onde colocar as barracas.” Rael da Fonseca, 65, coordenador do cemitério


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CIDADE

Câmara de São Félix discute mudanças no endereço da feira

Texto: Matheus Ruffino Fotos: Kathleen Ribeiro No último dia 8 de abril, na Câmara Municipal de São Félix, os vereadores debateram sobre uma proposta de lei que pretende recuar a feira livre da cidade. Essa alteração do espaço pode chegar próximo ao Porto, à margem do Rio Paraguaçu. Na intenção de prevenir a população e os feirantes de eventuais acidentes causados pelo trem e pelo alto número de automóveis que trafegam na entrada da cidade, o vereador Marcelo Santana (DEM) articula na casa um projeto ainda em estágio de estudo e discussões. Segundo o vereador, alguns moradores são-felistas o procuraram para questionar a respeito da possibilidade da criação de um projeto que pretendesse alterar o local da feira; não em totalidade, um afastamento parcial. Eles reclamam da proximidade que há entre o espaço reservado aos feirantes e a linha do trem e pedem para que seja feito um recuo dessas barracas para mais próximo ao Porto, distanciando da movimentação desordenada comum à entrada de São Félix. A medida, como afirmou Marcelo Santana, é preventiva. “Quando chove, realmente ali, a gente que é motorista, às vezes, perde a direção. A linha do trem escorrega. E é essa a preocupação do pessoal que frequenta a feira. Mas até o momento não aconteceu nada sério’’, disse. Discussão A proposta, que circula nos bastidores há quase um mês,

Vereador Marcelo Santana (DEM) quer mudanças na organização da feira para evitar acidentes

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Feira de São Félix pode ser recuada, se distanciando da linha do trem, que é o principal risco agradou a todos os vereadores que participavam da plenária De acordo com a estimativa do vereador Marcelo Santana, na câmara. Não houve, até o momento, oposição ao projeto, após todas as discussões e deliberações em torno do projeto, que está sendo articulado juntamente ao secretário de infra- em menos de 15 dias a feira estaria recuada e afastada da estrutura, Alessandro de Brito, e com o prefeito da cidade, linha do trem e mais próxima à rodoviária e ao Porto da Alex Sandro Aleluia (PMDB). cidade. A fim de acrescentar à pauta, o vereador Vando (PSB) disse que a medida é importante, mas que, também, é preciso Acidentes oferecer mais cuidados aos feirantes, a construção de um Relatos de moradores e feirantes afirmam que há, sim, lebanheiro público e a retirada frequente do lixo do comércio ves acidentes próximos à feira e que geralmente esses epipoderiam entrar nessa discussão. sódios acontecem com motociclistas e motoristas que não Como o assunto não foi levado de forma ampla e participa- conhecem a cidade e que, de moto ou a pé, escorregam na tiva à população de São Félix, o criador do projeto assegurou linha antiga do trem. Aos sábados, quando há maior fluxo de que a medida pode ter caráter experimental e, assim que tiver pessoas, a possibilidade de acidentes é maior por causa do a liberação do prefeito e colocar em prática o recuo, vai ouvir espaço limitado e a falta de guia de trânsito no local. os profissionais que trabalham na feira e chegar a um acordo Mudança da feira favorável para todos os lados. Perguntado se caso a medida não dê certo e os feirantes pre- A feira livre de São Félix nem sempre funcionou no atual ferirem voltar ao espaço de origem haverá esta opção, ele endereço: há alguns anos era organizada no Porto da cidade. disse acreditar que vai dar certo e completou afirmando que Por não estarem em lugar de destaque e distantes da movi“com conversa se resolve, só não pode ir na tora’’, sugerindo mentação de pedestres, os feirantes começaram a ter preque se houver mais opositores que favoráveis, a câmara e a juízos com a mudança. Logo as autoridades do município retornaram, novamente, ao espaço de antes. prefeitura vão revisar o projeto.


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CIDADE

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Chuvas pioram a situação da BA-502

Texto: Jucira Fraga Fotos: Mhaylla Barbosa Guimarães Alguns trechos da BA-502, que liga Muritiba a São Félix, encontram-se em estado de degradação e, com as fortes chuvas que aconteceram nos últimos dias, agravou a erosão. Foram colocados sacos de areia para tapar os buracos, no intuito de resolver o problema, mas nada foi resolvido. Do outro lado, o paredão de pedra está desmoronando, pondo em risco as pessoas que passam de carro. Outros problemas que a rodovia apresenta são os guard rail sem pintura e as pontas soltas, que deveriam estar enterradas, como manda a legislação, além da falta de pintura

das faixas laterais e central, mato e buracos ao longo da pista. À noite, subindo ou descendo, o perigo aumenta. Ofício O Prefeito de São Félix, Alex Sandro Aleluia de Brito, enviou um ofício ao governo do estado, no último mês de março, reiterando a solicitação enviada em maio do ano passado, tratando da ameaça de deslizamento de terra na rodovia. O secretário de Obras de Muritiba, Luciano Santos Oliveira, falou que a prefeitura sempre contribui para o conserto e manutenção da rodovia, mas a responsabilidade é do Estado.

Em alguns trechos, os guard rails estão com pontas soltas, comprometendo a segurança

Ele informou que a rodovia está muito perigosa, principalmente por causa da erosão. Perigosa Segundo o taxista Manoel da Silva, a rodovia está mal cuidada, precisando uma atenção maior do poder público. “A estrada é muito perigosa, não tem escapamento nem de um lado nem do outro, um

acidente poderia ser fatal, sem sinalização adequada”, acrescentou. Aldo da Cunha de Souza, motorista de van, destacou que a pista está cheia de buracos, já desabou em dois trechos e tem que ser feita uma reforma total, para ficar mais segura. Não conseguimos falar com o comandante da região, o tenente Mário César, do 3º Pelotão Rodoviário, com sede em Santo Amaro.

Muritiba foi fundada em 1919, surgiu com a vinda de exploradores e jesuítas que atingiram a região próxima a Cachoeira e São Félix escalando a serra onde construíram um templo e um convento. A distância entre Muritiba e São Félix, através da BA-502, é de 4,7 quilômetros de distância pela estrada, com um tempo de viagem de 13 minutos.


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ECONOMIA

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População sente o aumento no preço do hortifruti

Texto: Flávia Xakriabá Fotos: Tayse de Souza Santos

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos anos, o preço do hortifruti subiu cerca de 129% em todo Brasil. Para alguns alimentos, no entanto, a alta

Susto e confiança A feirante Léia Barbosa, que está no ramo há 21 anos, disse que se assustou com o preço das hortaliças. “Agora até que baixou, mas nesses dias atrás estava caro. A alface chegou a R$ 5,00 o pé. Agora não, normalizou. A alface está R$ 3,00, a rúcula, que tinha chega-

do a R$ 4, estou vendendo de R$ 2,00 e o cheiro verde vendo por R$ 0,75, mas tem gente que vende mais caro”, afirmou. A feirante acredita na qualidade de seus produtos e na confiança da clientela. “Mesmo quando eu vendo no preço alto, meus clientes sempre compram. Tenho meus clientes certinho. Quando é na falta, fico cheia de clientes clandestinos, chamo assim porque eles só aparecem aqui nessa época, pechinchando, mas quando é na cheia eles somem, só ficam os que compram com frequência na minha mão”, contou a feirante. Tempo Outros feirantes também acreditam que um dos motivos da alta no preço de hortaliças, frutas e verduras, tem sido a mudança de temperatura. “Eu tava vendo no

foi ainda mais forte. É o caso da cebola, que ficou 438,99% mais cara desde janeiro de 2007. Já o preço da batata inglesa subiu 393,76%, enquanto o da tangerina, 390,95%. Em Cachoeira também tem sido assim e quem costuma ir à feira logo percebe a diferença, principalmente na hora de colocar a comida na mesa. É o que assegura a dona de casa Valdelia Santos. “Antes a gente com R$ 10, fazia uma feira grande, comprava pepino, batata, cebola. Agora, do jeito que as coisas estão caras, não da nem pra colocar um feijão na mesa, difícil”, reclamou.

jornal que se o clima muda direto, prejudica a produção do tomate e dos alimentos em geral, creio eu que isso tem contribuído para o aumento das coisas, para o tomate chegar a R$ 9,00 o quilo, né? A gente vê como o tempo tá mudado”, comentou a feirante Edilene Cardoso, que já trabalha nesse ramo há 16 anos. Segundo ela, os clientes sempre perguntam o porquê da alta nos preços e ela afirma que fica em dúvida do que responder. “Uns reclamam de muita chuva e outros reclamam da seca. Aí, eu nunca sei qual motivo é mesmo. Uns dizem que o poço seca e não tem como tirar água ou quando chove muito diz que estraga e fura as folhas, entendeu?”, explicou a feirante. E realmente, a mudança no clima afeta a produção de alimentos, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Ceapea), as fortes chuvas também comprometeram as plantas e os frutos, ao ponto de parte da produção ter sido descartada, o que provocou uma queda na oferta.


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REPORTAGEM

Sindicatos em Cachoeira se mobilizam contra a Reforma da Previdência Texto: Rafique Reis Fotos: Mhayla Guimarães

A Reforma da Previdência proposta pelo Ministério da Economia do governo federal tem sido tema de discussão em sindicatos atuantes em Cachoeira e no Recôncavo. O Sindicato de Servidores Públicos de Cachoeira (SINDIPUC), por exemplo, se posiciona contra o projeto. Segundo Iracema Nascimento dos Santos, secretária da entidade, uma agenda de mobilizações e protestos tem sido adotada, em consonância com paralisações em âmbito nacional e regional. Aprovado no último dia 23 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o texto prevê alterações no modelo de seguridade social praticada no país. A alternância do regime de repartição pelo de capitalização é um dos pontos principais criticados por Antônio Eduardo Alves de Oliveira, membro diretor da Associação de Professores Universitários do Recôncavo (APUR) e doutor em Ciências Sociais. “Ontem foi votado na comissão de constituição e justiça da Câmara de Deputados um projeto que vai ao plenário. O governo recuou em alguns pontos, mas mantém o que na nossa opinião é a questão mais complicada dessa proposta, que é a capitalização. Essa proposta que Paulo Guedes está apresentando é o mesmo tipo de proposta que existe no Chile”, disse. A experiência chilena Para o vereador de Cachoeira e advogado especialista em direito previdenciário Pedro Gomes, do Partido Social Liberal (PSL), partido do atual presidente da Re-

pública , “a pauta do novo governo e seus mentores visa fragilizar e, em algumas situações, suprimir direitos garantidos, até mesmo, constitucionalmente”. Sobre o funcionamento do novo regime, que para Gomes seria como um tipo de poupança privada, não é consenso entre especialistas de que poderia dar certo. “De acordo com a diretora do Instituto Brasileiro de Direi-

no. Lá, implantaram uma série de medidas liberais e impopulares. O Chile foi a primeira experiência do mundo em privatização previdenciária, em 1981. O resultado disto é que os trabalhadores do país estão submetidos às ações financeiras de grupos de administração de fundos de pensão e o valor das aposentadorias é de cerca de 40% do salário mínimo.

Iracema Nascimento dos Santos, secretária do Sindicato dos Servidores Públicos de Cachoeira (SINDIPUC)

to Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger, o modelo de capitalização não funciona. Ela cita o caso do Chile, país onde isso foi implantado e é tido como modelo por Guedes. Lá, as aposentadorias pagas hoje são 30% do que se ganhava antes de o modelo ser implantado. Ou seja, perderam 70% da renda”, complementou. Com a ascensão do governo de Augusto Pinochet (1973 - 1990), após um golpe militar ocorrido em 11 de setembro de 1973 contra o presidente eleito Salvador Allende, economistas ligados à Escola de Chicago foram convidados para compor a direção do programa econômico chile-

Servidores públicos No caso de servidores públicos, Oliveira elenca três questões que, em sua perspectiva, seriam prejudiciais à categoria. Segundo o sindicalista, o não repasse do valor integral da contribuição, ou seja, o estabelecimento de um teto geral; a exigência de, no mínimo, 40 anos de contribuição e o aumento da idade mínima para aposentadoria são pontos que merecem a atenção da população. Seu alerta se estendeu também ao sigilo que o governo colocou sobre os estudos dos números da previdência. “Os estudos que o governo tem sobre o problema da aposentaria estão em sigilo. O que mostra que esses dados são negativos à proposta do governo. Acho que a questão central desse momento é a mobilização política. Estamos criando uma mobilização na universidade junto com categorias a nível nacional para a construção de uma greve geral que impeça a aprovação desse projeto”, afirmou.

Antônio Eduardo Alves de Oliveira é membro diretor da Associação de Professores Universitários do Recôncavo (APUR)


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Município ganha primeiro edital para a área da cultura Vakinha “Na força das culturas populares as pessoas fazem as coisas, sem dinheiro nenhum, passa o chapéu, dá um jeito e faz”, ressaltou Ligia Benigno, jornalista, produtora e ativista cultural, ao avaliar o desafio de continuar produzindo diante da conjuntura nacional. As produções independentes e de forma coletiva, através de parcerias e trocas de serviços, fizeram com que se movimente o cenário cultural e que projetos sejam realizados mesmo quando não possuem fins lucrativos. Outras alternativas podem ser as plataformas de arrecadaTexto: Bárbara Lima Fotos: Iago Aragão, Augusto Daltro e Robert Sampaio Mesmo sendo um território marcado e conhecido nacional e internacionalmente por sua cultura popular, a cidade de Cachoeira somente neste ano foi contemplada com o primeiro edital setorial de cultura municipal. As inscrições ocorreram de 25 de março a 25 de abril e foram destinados R$ 711 mil para 31 projetos em nove áreas (confira no box). A surpresa positiva da implementação do edital é uma conquista coletiva do conselho de cultura, juntamente com vários agentes e grupos culturais, advinda de debates, reuniões e audiências públicas, até a criação do fundo de cultura. Por outro lado, nacionalmente, desde o ano de 2016 estão acontecendo diversos cortes sobre programas, projetos e repasses de verbas federais que fomentam a cultura. Até que, em janeiro deste ano, o Ministério da Cultura foi extinto, tornando-se apenas uma secretaria do Ministério da cidadania. Obstáculos Processos burocráticos, documentos distintos, linguagem e escrita específicas, são alguns quesitos que limitam a participação de diversos grupos e pessoas que se interessam ou precisam concorrer a editais. Investimentos públicos em workshops, formações, minicursos ou oficinas destinadas à capacitação e orientação para participação nesses processos de seleção

talvez sejam alternativas para romper com essas barreiras. “Não ter essa movimentação em torno dessas capacitações já é uma forma de impedir pessoas que historicamente produzem cultura acessem esses editais”, afirmou o produtor e dj Felipe Ramos. Tendo em vista o edital de Cachoeira, fixado em R$ 711 mil, o orçamento que, quando divido por projeto, muitas vezes não condiz com a quantia necessária para desenvolver os planos. “Os orçamentos estão muito abaixo daquilo que as produções culturais realmente precisam. Minha maior dificuldade foi fazer uma tabela orçamentária dentro dos valores que a prefeitura disponibilizou”, comentou a produtora cultural e fotógrafa Luciana Brasil.

Dj Felipe na VII Edição do Baile Pelo Certo. Foto: Augusto Daltro

Ligia Benigno, jornalista e produtora ção financeira coletiva online “Eu sempre aconselho amigos a fazer uma vakinha (uma vaquinha tradicional, só que online) mesmo conseguindo um orçamento baixo... conseguindo com isso desenrolar formas para produzir”, acrescentou Luciana Brasil. Para Felipe Ramos, um dos articuladores do Baile Pelo Certo, “é tipo nós por nós, né? É difícil, sempre é difícil... falta muito apoio pra cultura e a cultura movimenta muita coisa”. Segundo ele, o baile é um acontecimento que desde 2016 atua reunindo artistas, grupos de rap e dj’s da cidade e proximidades, de forma independente e gratuita. O evento acontece no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em paralelo a outras festas como São João, Ajuda, Boa Morte e no início de cada semestre, com toda renda gerada revertida para ações comunitárias.

Geração de renda Para participar da seleção do edital, uma das condições básicas é ser morador da cidade por, no mínimo, 10 anos, numa forma de priorizar a população local e garantir que o dinheiro circule no município. “ São mais de R$ 700 mil investidos na cidade, que vão ficar na cidade. É um dinheiro que vai manter alguns agentes culturais, que fazem a cultura acontecer, além de provocar a busca de outras verbas”, comentou Jomar Lima, agitador e produtor cultural, diretor técnico da Fundação Hansen e membro do Conselho de Cultura municipal. As atividades culturais, tendo ou não determinada verba, fazem com que a circulação monetária se dissemine entre proprietários de hotéis e restaurantes, até feirantes, taxistas e diversos outros serviços. “As ações culturais, principalmente essas que vem de dinheiro público, através de editais, têm o objetivo de movimentar de fato a cidade, nos diversos sentidos. A cultura sempre gera muito dinheiro, é uma cadeia muito grande”, acrescentou, Ligia, para quem a tridimensionalidade da cultura, abrangida nas dimensões econômica, social e simbólica, demonstra o protagonismo e a importância da cultura com uma configuração imprescindível para a sociedade desde seu passado, à sua construção.

Jomar Lima, diretor da Fundação Hansen e membro do Conselho de Cultura


8 SAÚDE Caminhar é uma prática difícil na orla da Cachoeira CACHOEIRA | BAHIA Maio 2019

Texto: Geise Ribeiro Fotos: Janaildes Brito Os praticantes da caminhada passam por muitos transtornos na cidade da Cachoeira, para praticar seu esporte, pois a faixa destinada à atividade está servindo atualmente como estacionamento para veículos de pequeno e grande porte, colocando a segurança das pessoas em risco e podendo ocasionar um acidente. A jovem Ivis Maria, que pratica atividade

que é responsavél pelo o trânsito da cidade, informou que recebe várias queixas em relação a essa situação. No entanto, não pode tomar medidas que envolvam uma intervenção mais efetiva porque a cidade é tombada pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, impossibilitando que coloque qualquer tipo de placa de sinalização no porto da Cachoeira. Segundo o secretário Eduardo Macedo, por causa das recorrentes reclamações, a sua

pasta juntou-se à Secretaria de Esportes para fazer trabalhos educativos com os munícipes, além de algumas intervenções. “A gente já pensou em fazer um trabalho com o secretário de Esportes e em irmos ao IPHAN ver qual placa seria adequada para aquela área do porto, pois não podemos colocar qualquer tipo de placa, que causaria uma impressão visual diferente da parte que diz respeito ao patrimônio, então a gente tem esse cuidado de não intervir diretamen-

te”, revelou. Além das placas de sinalização, o secretário informou que o efetivo da guarda municipal vai aumentar e assim possibilitará rondas constantes no local. As placas dos veículos dos mototoristas infratores serão encaminhandas ao Detran. Riscos Conforme afirmou a profissinal de educação fisíca Thamires Mascarenhas, ao caminhar fora do local adequado para a prática esportiva a pessoa não estará só correndo o risco de ser atropelado por um veículo, mas pode desenvolver algumas lesões, pois o indivíduo que pratica atividade em um tipo de solo inadequado pode acarretar lesões nas articulações. “Ao se exercitar em um piso inadequado, como os paralelepípedos, que é o que ocorre quando corremos no meio da rua, estamos propícios a desenvolver lesões, como dor no joelho, tornozelos e por consequência, também, uma lesão na coluna”, disse. Enquanto esse problema continuar, o ideal para os praticantes dessa modalidade é fazer a sua atividade em horários de pouca circulação de automóveis e evitar correr fora da faixa, assim evitando ter futuras lesões. Além de continuar se exercitando de forma adequada, é preciso se alimentar bem, segundo informou a especialista.

no local há seis meses, relatou que os carros não respeitam a faixa. “ Optei em ir correr pela manhã por causa da falta de respeito dos motoristas. Quando fazia atividade pela tarde quase fui atropelada, pois saí da faixa porque tinha um carro obstruindo a minha passagem e fui obrigada a correr no meio da rua, sem contar que eles passam em alta velocidade pelo porto, colocando a vida das pessoas em risco, não só de quem faz exercícios mas também de quem está passando pelo local”, contou. Quem frequenta a área reclama que, por se tratar de um espaço de lazer para família cachoeirana, local onde existem bares, restaurantes, jardins e um campo de futebol, alguns motoristas imprudentes acabam estacionando os carros por ser mais cômodo para eles. Intervenção A Secretaria de Transportes do município,

Nesta parte da cidade, além de praças, jardins e um campo de futebol, estão bares, restaurantes e outros espaços de lazer.


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ESPORTES

Projeto em Conceição da Feira forma cidadãos através do futebol

Texto e foto: Janaildes Brito Fundado em janeiro de 2012, o Projeto Solidário Garotos do Futuro (PSGF) tem a finalidade declarada de formar cidadãos na cidade de Conceição da Feira, buscando o desenvolvimento físico e intelectual das crianças através do futebol. De acordo com Lusane Brandão Oliveira, de 48 anos, que fundou a escolinha, no loteamento Rocinha, no centro da cidade, inicialmente eram apenas seis crianças. Ela disse que a iniciativa do projeto surgiu através da procura dos pais dos alunos. “Eu já tinha trabalhado por 12 anos no Segundo Tempo, do Fome Zero, que era um projeto do governo. Então, com essa experiência, os pais pediram para que eu desse continuidade, ensinando as crianças”, contou. A iniciativa propunha melhorar a qualidade de vida e estimular o convívio social e coletivo, mas

também proporcionando aos alunos momentos de diversão e lazer. Educação e esporte “Através do esporte se faz educação e através da educação se faz futebol e joga bola”, assegurou Lusane. Hoje com aproximadamente 100 crianças, para manter ativo o PSGF, ela informou que conta apenas com o apoio da prefeitura municipal e dos pais dos alunos, que contribuem mensalmente com uma quantia de RS 15 para ajudar nas despesas. Para participar das atividades, as crianças devem estar devidamente matriculadas e frequentando uma escola. As aulas do projeto são realizadas na quadra poliesportiva e no campo de futebol, nos dias de segunda, quarta e sexta-feira, das 18h às 20h. Amante do esporte Apaixonada por esportes, Lusane já con-

quistou vários títulos no futebol. Foi campeã no Sesi em 2014 e 2015, vice campeã em 2016 e o último titulo conquistado foi em dezembro de 2018, na cidade de Cachoeira. Amante do futebol, ela contou que se sente privilegiada em poder contribuir na formação das crianças e adolescentes. “ Eu desenvolvo esse trabalho não por interesse e sim por amor. Sou esportista, toda minha vida joguei bola e faço porque gosto. Não quero reconhecimento de ninguém, só quero ser reconhecida por Deus e que ele possa me dar forças e coragem para que eu possa continuar com esse trabalho que eu amo e faço porque tá na veia”, acrescentou. Mulher no futebol Rafael Tomé dos Santos e Santos, de 19 anos, é um dos alunos mais antigos do PSGF. Ele falou sobre a relação mulher e futebol, como foi a experiência em ser trei-

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nado por uma mulher e como o projeto contribuiu para a sua formação enquanto cidadão. “Tudo que me aconteceu eu só tenho que agradecer, primeiramente a Deus, minha família e a professora Lusane. Não estou jogando em um clube ainda por decisão minha. Com esse projeto dela, eu pude amadurecer muito, enquanto cidadão. Quando entrei no projeto eu não sabia nada de futebol, fui pegando experiência devido a minha dedicação e empenho e a experiência dela, já que ela já foi atleta também”, contou. Ele acrescentou ainda que graças ao projeto é um cidadão de bem e que já achou oportunidades para seguir no futebol, mas devido a vários problemas não foi possível seguir na carreira. Hoje, faz curso técnico em Segurança do Trabalho e está prestes a se formar. Disse ainda que sempre que pode participa dos treinos e apita os jogos.


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Judô no Recôncavo

Após 11 anos, Cruz das Almas volta a sediar um campeonato baiano trabalho desenvolvido pela direção da associação: “estamos muito felizes em fazer um evento de grande magnitude para o judô cruzalmense, principalmente no envolvimento de muitas crianças, adolescentes e adultos”, declarou.

com o judô local: “para a região foi de suma importância realizar um grande evento esportivo. Desta forma, fortalecemos o judô regional, onde já se estabeleceu a realização de uma etapa do circuito anualmente, o que representa uma vitória para os atletas e clubes do Recôncavo”, destacou. O desenvolvimento do judô na região e a estrutura da cidade de Cruz das Almas, juntamente com as parcerias firmadas, viabilizaram a realização da Super Etapa do Circuito Baiano de Judô.

Texto: Emilly Chaves Fotos: Jonas Farias

Descentralização O presidente da Febaju, Marcelo Ornelas, disse que desde 2018 foca na realização de Esporte, Cultura e Lazer, que contribuíram eventos no interior do Estado e vê nessa descentralização a capacidade de colaborar para a realização desta etapa.

Ocorreu nos dias 26 e 27 de abril, no ginásio municipal de Cruz das Almas, a segunda etapa do Circuito Baiano de Judô, que contou com a participação de mais de 800 atletas vindos de 88 cidades do estado da Bahia, dentre eles 130 crianças e 95 adolescentes e adultos cruzalmenses. A Associação de Artes Marciais de Cruz das Almas (Assamaca), que completará 30 anos de fundação este ano, comemorou a conquista, feita com o apoio da Federação Baiana de Judô (Febaju) e da Secretaria de

Oportunidade Destacando a importância do esporte na vida de crianças e adolescentes, ao ajudar na formação e em diversos outros aspectos, Maria das Graças, diretora técnica e gestora da Assamaca, ofereceu 120 bolsas sociais para que aqueles que não possuem condições acabem tendo a oportunidade de usufruir dessa arte marcial. A professora Maria das Graças explicou a aceitação do comércio e dos pais dos atletas, bem como o carinho e credibilidade do A Assamaca obteve 41 medalhas em diversas categorias: 12 ouros, 15 pratas e 14 bronzes.

Estudantes criam a Associação Atlética Acadêmica de Comunicação

Texto: Sonilton Santos Fundada em abril deste ano pelo estudante de Publicidade e Propaganda Renan Mateus, no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), a Associação Atlética Acadêmica de Comunicação é uma entidade com personalidade jurídica de direito privado, de duração ilimitada e sem fins lucrativos. Tem como finalidade promover e difundir a prática de esportes entre os estudantes dos cursos de Cinema, Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Visto que alguns campi da UFRB, como

Cruz das Almas, Feira de Santana e Santo Antônio de Jesus, têm suas atléticas, os estudantes se mobilizaram para conseguir criar uma no CAHL. Para Renan, a Atlética de Comunicação, “além de união e confraternização, me dá um orgulho enorme. Era o desejo desde o primeiro semestre e hoje, ver ela nascer e já participar de competições, é fantástico.” Formação Renan contou que, em seguida, buscou apoio de alguns discentes dos cursos de Cinema, Jornalismo e Publicidade e Propaganda, assim conseguindo formar uma diretoria e for-

talecer a Atlética. Na eleição para escolher a diretoria da entidade, ele foi eleito e declarou que “ser o primeiro presidente vem sendo fantástico. Ver essa Atlética se desenvolvendo é um sentimento de satisfação e orgulho muito grande.” O estudante de Jornalismo Giovane Alcântara também declarou ter ficado “extremamente eufórico, por entender que o movimento estudantil do CAHL está ganhando uma outra dinâmica, perspectiva que antes não tinha”. Apoio O diretor do CAHL, Jorge Cardoso, também

se posicionou sobre a criação da entidade. Segundo ele, “o esporte é uma atividade importante e a criação de uma agremiação estudantil com o objetivo de facilitar a integração por meio do esporte, é uma iniciativa que deverá contribuir para que o esporte faça parte, de modo significativo, da vida dos discentes da Universidade.” E acrescentou que “ a direção pode ajudar incentivando para que os estudantes participem, divulgando as atividades nos sites, nas listas de docentes, de técnicos administrativos e sobretudo apoiando ações da Associação”.


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É o fim?

CINEMA

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Vingadores Ultimato e o legado da Marvel Studio No dia 25 de abril de 2019, em sua estreia, o último filme da saga reuniu fãs ao redor do mundo

ingressos para a estreia em 900 sessões dos cinemas de todo o Brasil (dados dos sites Ingresso.com e Jovem Nerd). É o filme mais cotado para ultrapassar o recorde de bilheteria mundial, atualmente ocupado por Avatar (2009). A maioria de seu público se concentra na faixa etária dos 12 a 25 anos, como é o caso de Lucas Cabral (21), morador de Feira de Santana, que comprou seu ingresso no dia da pré-venda (2 de abril) e disse estar ansioso para saber o que de fato aconteceu com os herois desaparecidos e se haverá ponte para os próximos filmes. Em entrevista ao portal Omelete na première mundial de Vingadores: Ultimato (22/04), Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, falou sobre o peso do lançamento e as possibilidades futuras: “Esse é o encerramento, o ápice de tudo que construímos, mas também é um filme que permite novos começos”.

Texto: Dalila Bispo Foto: Rebeca Falcão Vingadores Ultimato é o filme mais aguardado do ano de 2019 e esgotou os ingressos para a estreia (25 de abril) nos cinemas Oriente de Feira de Santana, onde, segundo a funcionária Rute Batista, de quatro salas disponíveis, três foram reservadas com horários que variam de 00h às 21h. Além da grande expectativa, Ultimato é o filme mais longo sobre histórias em quadrinhos já produzido, com 3h1min de duração. O filme sucede os eventos de Vingadores: Guerra Infinita: após o confronto com o antagonista Thanos (Josh Brolin), os vingadores sofreram uma derrota devastadora, que custou não apenas a vida de vários aliados, como também de 50% dos seres vivos no universo. Inconformada com a perda, a equipe se reúne mais uma vez para lutar contra Thanos e reverter o acontecimento. Recapitulando: fases e linha do tempo dos filmes A Marvel tem como pontapé inicial Homem de Ferro, em 2008, que é a abertura para formação da equipe Vingadores, que surge a partir da iniciativa S.H.I.E.L.D, uma corporação norte-americana que visa proteger o planeta de ameaças externas. Em 2012, o filme Vingadores reúne a equipe composta pelo Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlet Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner). Na sua segunda fase, iniciada por Homem

A primeira sessão começou à meia-noite e manteve a praça de alimentação funcionando até as 23 horas. O filme encerrou às 3 horas. de Ferro 3 (2013) e finalizada por Homem Formiga (2015), a identidade de heróis fora da galáxia são reveladas, bem como o poder das Joias do Infinito, e tecnologias capazes de mudar a estrutura corporal. A terceira fase é recheada de novos personagens, começando com Capitão América: Guerra Civil (2016), os subsequentes foram responsáveis por explicar as descobertas an-

teriores e apresentar Thanos, o grande vilão de Guerra Infinita (2017). Esta fase deve ser concluída com o lançamento de Ultimato, responsável pelo desfecho da trama. O ápice e o futuro da Marvel Studio Concorrendo com grandes filmes que serão lançados este ano, como Rei Leão, Star Wars IX e Toy Story 4, o longa já esgotou


CACHOEIRA | BAHIA Maio 2019

Zaíra, a Senhora das Bonecas

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São mais de 300 em casa, fazem companhia e são alívio à solidão Traumas A colecionadora justifica o apego pelos traumas sofridos quando pequena. “Ainda que eu compre milhares de bonecas, o vazio continua”. Segundo ela, todas as crianças com quem brincava tinham bonecas. Quando teve uma improvisada, apanhou. “Peguei um espanador feito de bananeira e o transformei em trança para brincar, quando o meu pai chegou do trabalho, me deu uma surra. Fiquei toda marcada, durante uma semana”. Desde então, ela jurou que compraria uma boneca quando crescesse, “Quando recebi o meu primeiro salário, aos 16 anos, trabalhando como enfermeira, comprei minha primeira boneca: Elisângela, tenho até hoje”, lembrou. Mas acrescentou que precisava prestar contas deste valor, visto que todo o dinheiro que recebia era entregue aos pais. “Escondi a boneca embaixo da cama. Quando falei o que fiz, apanhei outra vez”, concluiu. Texto: Lila Santos Fotos: Ramon Ramos A casa decorada com bonecas da cachoeirana Zaíra Barbosa Farias, que mora na Rua Cucuí de Brito, número 24, a tornou uma personalidade curiosa do bairro. Aos 65 anos de idade, a senhora das bonecas conhece cada brinquedo por nome, conversa, compra roupas, sapatos em datas comemorativas e festeja seus respectivos aniversários. Há 49 anos, o gosto e sonho de uma infância marcada por dores e frustrações, transformou-se no acervo com mais de 300 bonecas adquiridas. O ambiente lúdico onde mora a cuidadora de brinquedos

Emoção Certa vez, ela trocou o dinheiro das compras do mês por uma boneca e afirma que faria novamente. “Se eu estiver com o dinheiro e gostar de uma boneca, as compras ficam e a boneca vem comigo”. Mesmo doando parte de sua coleção, por diversas vezes, para pacientes do Hospital Aristides Maltez e Hospital Irmã Dulce, localizados em Salvador, como um meio para diminuir o apego, ele permanece. “Sou irresponsável, não consigo parar”, reconhece. A Filha de João da Cruz Alves Farias e Maria Andrade Barbosa Farias, ex-moradores do bairro do Caquende, em Cachoeira, se emociona ao lembrar-se dos pais, que não tinham

revela a trajetória de quem guarda com carinho uma coleção e se diverte contando as histórias, mostrando as roupinhas, feitas especialmente por sua irmã Marta Farias. “Gosto de ver minhas filhas bem arrumadinhas, na varanda de casa. Brigo com elas, digo: todo o dia eu arrumo esses cabelos e vocês desarrumam! Faço festinhas, compro roupinhas”.

condições da presenteá-la quando criança. “Não gosto de falar desse momento, mexe muito comigo”. Não receber a boneca que esperava durante um ano era frustrante para ela. “Sinto muito remorso das cobranças que fiz, eu não os compreendi. Eu preferia uma boneca a um prato de comida”, desabafou.

Com pequeno sorriso, Zaíra estampa carinho por sua coleção


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