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lições do coronavírus
Paulo Pancote
Quando 2020 começou, não tínhamos ideia de como ele seria. Quando um novo ano começa, é como um livro de páginas em branco – que serão escritas à medida que os fatos se desenvolverem. O grande acontecimento do ano, em caráter mundial, começou em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China. Os primeiros casos da nova doença foram informados ao mundo em 31 de dezembro de 2019. Em poucos meses a epidemia, que é a rápida disseminação de uma doença em uma determinada região, se transformou em uma pandemia mundial, ou seja, a epidemia se tornou de âmbito global, havendo transmissão ativa em todos os continentes. No caso em questão, a pandemia de COVID-19 se espalhou, atingindo 213 países e territórios, com um total atual de 7.132.732 infectados e 406.959 mortos. A pandemia é uma doença respiratória aguda provocada pela síndrome respiratória nomeada de COVID-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019). Ela se espalha rapidamente porque a pessoa portadora do vírus, mesmo sem ter os sintomas, transmite a doença pelo contato, pelo ar e por objetos, sendo que os sintomas aparecerão até 14 dias depois. Quando escrevo este artigo, em 8 de junho de 2020, o Brasil é o segundo do mundo em números de casos, com 691.962 pessoas infectadas e um total de 37.312 óbitos, o terceiro país do mundo em mortes pela doença. Este é um triste quadro que a cada dia torna-se pior. A pandemia criou situações únicas em todo o mundo, modificando hábitos, costumes, padrões, alterando profundamente a nossa sociedade atual. Todavia, podemos extrair algumas lições de todo o quadro caótico e terrível causado pela proliferação desse vírus. Isolamento A pandemia do coronavírus trouxe o isolamento do ser humano de uma forma totalmente extrema, como nunca ocorreu antes. Sabemos que o ser humano é um ser social. Vivemos em comunidades e estamos sempre nos relacionando com outras pessoas. O isolamento é contra a própria natureza que temos, que foi implantada em nós por Deus, o nosso Criador. A realidade atual no mundo é a de isolamento. Há pessoas que estão isoladas morando sozinhas; existem famílias que estão em quarentena, há casais de idosos que estão vivendo reclusos em seus lares. Isto tem criado uma situação inimaginável. Todos os tipos de reuniões e aglomerações de pessoas foram suspensas – estádios de futebol e de qualquer outro esporte, espetáculos artísticos (musicais, teatrais etc), cultos religiosos, todos estão suspensos por enquanto. As pessoas não têm para onde ir, a não ser ficar em casa. Todo o contato com outros é perigoso, pois podemos ser infectados ou infectar alguém! As ruas têm ficado desertas, o tráfego diminuiu consideravelmente e as lojas comerciais, com poucas exceções, estão fechadas. Os shoppings centers fecharam; clubes, bares, restaurantes, hotéis, escolas, universidades idem. Apenas as farmácias, supermercados, postos de gasolina, hospitais e clínicas, considerados essenciais, estão funcionando. Isso em todo o mundo. As viagens estão restritas. As companhias de aviação em todo o mundo pararam mais de 90% de seus aviões. Até mesmo viagens de ônibus e de automóveis estão reduzidas. A produção industrial está bastante restrita em razão da pandemia. No Brasil, apenas as fábricas de produtos essenciais estão
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produzindo, como gasolina e derivados do petróleo, medicamentos, produtos médicos e alimentos de qualquer espécie. Mas há quem veja oportunidades mesmo durante o isolamento. A editora Companhia das Letras criou o projeto Diários do isolamento, onde convidou escritores brasileiros para publicarem textos a partir de seu isolamento em casa. A editora capitalizou a questão do isolamento e coloca em seu blog, periodicamente, os artigos dos autores.
Depressão O isolamento tem causado reações interessantes nas pessoas; a mais típica é a depressão. Pessoas comemorando o aniversário ou datas importantes sozinhas; casais que se uniram somente com o oficiante e duas testemunhas...e outros que até se casaram virtualmente! Todas essas mudanças têm suscitado comportamentos sombrios, pois o isolamento traz solidão e existem pessoas que estão entrando em depressão por causa disso. Psicólogos estão atendendo online, via Skype ou por outros processos, para socorrer pessoas com esse quadro e outros. A procura pelo acompanhamento psicológico virtual tem sido acentuada. É a adaptação à realidade da pandemia.
Solidariedade A pandemia tem mostrado um viés solidário como pouquíssimas vezes vimos, seja em nosso país ou no mundo inteiro. No Brasil, muitas empresas têm feito doações em dinheiro e em produtos específicos como máscaras, álcool em gel, equipamentos médicos – respiradores, oxímetros, termômetros e demais materiais. Outras empresas têm ajudado a financiar a construção de hospitais de campanha e auxiliado no aparelhamento deles com o necessário para o seu funcionamento. Pessoas individualmente e em grupos têm distribuído alimentos e refeições para os carentes e moradores de rua. Outros têm feito campanhas financeiras para auxiliar setores específicos, sejam hospitais, postos de saúde, comunidades necessitadas etc. Há jovens que têm auxiliado idosos, indo comprar os seus medicamentos, fazendo compras em supermercados e outras necessidades.
A brevidade da vida A pandemia tem mostrado como a vida é fugaz. O escritor bíblico em Tiago 4.14 afirma: Que é a vossa vida? Sois, simplesmente, como a neblina que aparece por algum tempo e logo se dissipa. Temos sido confrontados com a nossa finitude e limitações. Não somos eternos; na verdade somos bastante vulneráveis. Nosso organismo, apesar de ser uma máquina maravilhosa criada por Deus, é muito frágil. O coronavírus tem sido cruel; não escolhe sexo, raça, posição social e muitas vezes nem mesmo a idade, ainda que exista uma faixa de pessoas, que são mais susceptíveis à doença. Mudanças Muitos estão comentando que o nosso planeta não será mais o mesmo. Estão classificando o mundo em a.c. e d.c. – antes do coronavírus e depois do coronavírus. Há empresas que encontraram soluções para o trabalho de seus funcionários com o sistema home office (expressão inglesa que significa “trabalho em casa”). Bancos, empresas de publicidade, escritórios de contabilidade, empresas de produção editorial, advogados, entre outras, adotaram esse processo no atual período de quarentena. Diversas empresas pensam em prosseguir, após a pandemia, com o home office em certos setores de trabalho. Empresas como, por exemplo – restaurantes, hortifrutis, padarias, farmácias, pizzarias e supermercados estão investindo mais no serviço de delivery (entregas em domicílio) para compensar a ausência presencial em seus estabelecimentos. O sociólogo norte-americano Jeremy Rifkin é consultor de empresas e governos em vários países. Ele publicou mais de 20 livros sugerindo fórmulas que assegurem a sobrevivência no planeta, com equilíbrio entre o meio ambiente e a nossa própria espécie. Em recente entrevista, destacamos algumas de suas afirmativas: Tivemos outras pandemias nos últimos anos. A atividade humana gerou essas pandemias porque alteramos o ciclo da água e o ecossistema que fazem o equilíbrio do planeta. As vidas animal e humana
estão se aproximando diariamente como consequência da emergência climática e seus vírus viajam juntos. Por fim ele diz: “nada voltará ao normal novamente. Esta é uma chamada de alerta em todo o planeta. O que precisamos fazer agora é construir infraestruturas que nos permitam viver de uma maneira diferente”. Tem-se ouvido muito falar na vida pós-pandemia como o “novo normal” que estará sendo instaurado. É exatamente isso que Rifkin está dizendo. O mundo está mudando diante do que foi imposto pela Covid-19.
Esperança Mas, apesar dessa crise terrível, há espaço para a esperança. Dos mais de 691 mil casos no Brasil, já se recuperaram mais de 302 mil, o que corresponde a quase 50% dos infectados. Em termos mundiais, dos pouco mais de 7 milhões de infectados, foram curados pouco menos de 50% – 3.480.160. Existe em todo o planeta 1.765 estudos, pesquisando e testando 153 fármacos para chegar a uma vacina para a Covid-19, sendo que destas, pelo menos cinco se encontram em fase adiantada de testes. Isto significa que a cura pode estar próxima.
Conclusão Tenho lido e visto nos meios de comunicação, declarações sobre como será o comportamento das pessoas pós-pandemia. Muitos estão repensando o seu modo de vida; a pandemia tem feito diversas pessoas perceberem que é necessário menos egoísmo e individualismo, mais solidariedade e compaixão com o próximo. E que todos precisamos uns dos outros. O mundo que emergirá após a pandemia precisará ser mais responsável e colaborativo, menos orgulhoso e conflituoso, tendo a noção exata do valor da vida humana.