ALBANO JERÓNIMO
Uma vida entre papéis
RUI TENDINHA
“Quando se vê mau cinema, a alma corrói”
TIAGO NACARATO
“Prometo uma música verdadeira”
FERNANDO COELHO
O arquiteto que queria ser aviador
PAULO LOBO
A beleza está no interior
FILIPE MORATO GOMES
N.º31 | Inverno 2019 Trimestral | 4,90€ www.revistarua.pt
O mundo na bagagem
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NA RUA DE... Joana de Verona
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TEATRO Albano Jerรณnimo
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FOTOGRAFIA Abandonados
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AO VOLANTE Rolls-Royce Cullinan
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DEGUSTAÇÃO Marupiu
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VIAGENS Viena de Áustria
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ARQUITETURA Fernando Coelho
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À CARTA Le Babachris
EDITORIAL
Somos o que vivemos!
E
m cada esquina um rosto, em cada canto um talento, uma surpresa que nos faz querer aventurar na esperança de encontrar maravilhas. Portugal é feito de recantos incríveis, de mar, terra e pessoas que passam a vida à descoberta de algo novo, algo mais, algo único. Essas histórias e esses lugares, essas fases da vida que compõem a história de alguém que passa e para, num olhar demorado, estão aqui, nas páginas que começa agora a folhear... E para quem nos folheia pela primeira vez, permita-me que nos apresente: somos a Revista RUA, somos de Braga e trazemos o Norte no nosso sotaque e na nossa garra! Somos incansáveis, somos irreverentes e prometemos trabalhar para conquistar a sua atenção. Porquê? Porque a vida passa demasiado depressa para ignorarmos o conhecimento. Porque a vida faz-nos perceber que saber é poder! E nós, nestas histórias que encontramos pelos encantos do nosso país, do Norte ao Sul, queremos que nos acompanhe nesta odisseia, em busca de tudo o que mereça ser contado e conhecido. Dos aromas aos sabores, dos talentos aos olhares, dos gostos às sensações, a Revista RUA é um infinito de possibilidade e a garantia é sempre a mesma: rigor, criatividade e curiosidade! Deixe-nos mostrar-lhe o melhor do país, deixe-nos descobrir o melhor de si. Porque, no final de contas, somos o que vivemos e cada um de nós tem algo para contar. Só é necessário alguém ler. Aceita ler-nos, todos os trimestres, como uma boa nova que chega para lhe dizer que é altura de olhar - e ver -, com calma e paciência, a vida que tem à sua frente? Neste inverno que nos embala, ler acalenta corações e faz fervilhar mentes. Mesmo que as ruas estejam frias e cinzentas, nunca se esqueça: em cada rua há uma história, mas na nossa... há várias!
Diretora/Editora Andreia Filipa Ferreira Fotografia Nuno Sampaio Direção de arte Carolina Campos | Design Station Textos Maria Inês Neto Filipa Santos Sousa Helena Mendes Pereira Rita Almeida
Andreia Filipa Ferreira Diretora
Redação Centro Empresarial de Braga Lote D2, 4700-319 Ferreiros, Braga 253 067 323 redacao@revistarua.pt Departamento Comercial Maria João Lopes 911 928 181 comercial@revistarua.pt Impressão Tórculo Comunicación Gráfica, S.A.
Tiragem 5.000 exemplares Periodicidade Trimestral Distribuição Vasp Propriedade Brito&Roby, Lda Centro Empresarial de Braga Lote D2, 4700-319 Ferreiros, Braga
Contribuinte 513 669 868 N. DL 405636/16 N. ERC 126 818 Os artigos de opinião são de exclusiva responsabilidade dos seus autores.
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RADAR A ter em conta... NA RUA DE... Joana de Verona OPINIÃO Paulo Brandão
As notĂcias breves, as sugestĂľes de agenda e as conversas imperdĂveis.
PINTURA
Joan Miró e a Morte da Pintura em Serralves até março Até 3 de março, a Casa de Serralves recebe a exposição Joan Miró e a Morte da Pintura, organizada pela Fundação de Serralves e comissariada por Robert Lubar Messeri, destacado especialista mundial na obra de Miró. Esta exposição centra-se na produção artística do mestre catalão em 1973, altura em que preparava uma importante retrospetiva no Grand Palais, em Paris, dando largas à sua “raiva estética”. Colocando a pintura à prova, num momento em que a crítica anunciava a “morte da pintura”, Miró renovou recursos e procedimentos. Nesta exposição, o curador Robert Lubar Messeri traz o conceito de “assassinato estético” e o envolvimento de Miró nas práticas da chamada “anti-pintura”. ©Nuno Sampaio
MÚSICA
Luísa Sobral em digressão com o álbum Rosa A cantora Luísa Sobral lançou o seu quinto álbum de originais, chamado Rosa, apresentado como o trabalho “mais pessoal, maduro e intimista”. Com o single de estreia “O melhor presente” já bem conhecido dos ouvintes das rádios nacionais, Luísa Sobral prepara-se para levar o novo trabalho às salas portuguesas e espanholas já no início deste ano. A 8 de fevereiro, Luísa Sobral começa a digressão em Coimbra, seguindo para o Porto, subindo ao palco da Casa da Música no dia 9. Depois, no dia 14 de fevereiro, a cantora estará em Setúbal, e ainda em Lisboa, no dia 22, no Teatro Tivoli BBVA. Em março estão já agendados concertos em Castelo Branco, Ílhavo e Caldas da Rainha. O mês de abril é reservado para espetáculos na vizinha Espanha, em Castellón, Madrid e Barcelona.
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©MD Photography
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ESPETÁCULO
Bruno Nogueira em vários palcos do país com Depois do Medo Abordando questões que só incomodam pessoas que têm demasiado tempo livre, o humorista Bruno Nogueira regressa aos palcos em formato stand up com Depois do Medo. A solo, Bruno Nogueira volta à escrita de sinopses na terceira pessoa do singular e, entre vários temas, apresenta as problemáticas que lhe intrigam, como o caso das pessoas que, sem nada na boca, mastigam só por olhar para alguém a comer. Percorrendo todo o país, este espetáculo de stand up comedy estará, em janeiro, nos Açores, em Coimbra, Torres Vedras, Leiria, Póvoa de Varzim e Portalegre; em fevereiro, em Mangualde, Seia, Évora e Matosinhos; e, em março, em Lagos, Santarém, Barreiro, Santa Maria da Feira, Vila Real, Figueira da Foz, Porto, Braga e Viseu. Mais datas podem ser consultadas na página oficial de Bruno Nogueira.
HOTEL
Maxime Hotel, um estilo provocador na capital Reconhecido como um ícone lisboeta no século passado, o Maxime transformou-se em hotel na Praça da Alegria. Chama-se Maxime Hotel, tem cinco pisos, 75 quartos e um restaurante/bar sob responsabilidade do chef Luca Bordino. Num ambiente glamoroso de cabaret, o Maxime Hotel apresenta uma decoração inspirada nos temas burlescos.
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MÚSICA
António Zambujo nos coliseus em fevereiro e março Chama-se Do Avesso e é o novo trabalho do consagrado artista português António Zambujo. O álbum, que chegou às lojas no passado mês de novembro, conta com o single “Sem Palavras” e ainda um tema original do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler, “Madera de deriva”, que Zambujo interpreta em espanhol. Os concertos de apresentação deste novo trabalho, produzido por Filipe Melo, Nuno Rafael e João Moreira, estão agendados para o coliseu do Porto e de Lisboa, a 24 de fevereiro e 2 de março, respetivamente. Há também data anunciada para Coimbra, no Convento de São Francisco, mas apenas no mês de maio, no dia 24.
TEATRO
Um Hamlet moderno no Chapitô Depois de uma digressão mundial, a Companhia do Chapitô regressa a casa, em Lisboa, apresentando, de 24 de janeiro a 24 de fevereiro, Hamlet, uma “inadaptação” das linhas mestras do texto originalmente escrito por William Shakespeare, repleta de reflexões despretensiosas e humorísticas sobre vários aspetos da realidade física e social. Neste Hamlet, o enredo é transposto para a modernidade, fazendo uma analogia entre o outrora Reino da Dinamarca, onde tem lugar a peça original, e uma qualquer empresa multinacional dos tempos atuais. À semelhança do que acontece em outras criações da Companhia, o uso de objetos é uma das formas de desafiar a imaginação dos espectadores. Em cena de quinta a domingo, este espetáculo tem direção de José Carlos Garcia, Cláudia Nóvoa e Tiago Viegas e interpretação de Jorge Cruz, Susana Nunes, Patrícia Ubeda e também Tiago Viegas.
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Joana de Verona, a nova musa do cinema português É NAS MARGENS DO TEJO, COM O SOL DE INVERNO A MOSTRAR A BELEZA DO MUSEU DE ARTE, ARQUITETURA E TECNOLOGIA (MAAT), QUE NOS JUNTAMOS A JOANA DE VERONA PARA FALAR DE AMOR. UM AMOR POR CINEMA, POR TEATRO, POR TELEVISÃO E POR TUDO AQUILO QUE A DESAFIE. ESTA É UMA HISTÓRIA DE AMOR PINTADA DE LUZ, UMA LUZ QUE NOS APAIXONA PELA SIMPLICIDADE E PELO TALENTO. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
Styling de Mรกrio de Carvalho Look by Mango
É
portuguesa, mas traz as paisagens brasileiras no coração, não tivesse crescido entre as duas margens do Atlântico. Chama-se Joana de Verona e são poucos os que não se deixaram conquistar pela sua interpretação em Pedro e Inês, As mil e uma noites ou Como desenhar um círculo perfeito, filmes que impulsionaram a sua carreira no cinema e a apelidaram de “musa da nova vaga do cinema português”. Com um percurso no teatro, no cinema e nas novelas portuguesas, Joana de Verona é um exemplo da nova geração de artistas nacionais que prometemos seguir... e aplaudir!
apresentado. Entre novelas, séries, peças de teatro, filmes de época, Joana de Verona é o que uma personagem exige que ela seja? Não posso dizer que tenho um método X que uso sempre. O bom de se ter várias fontes, observar o mundo de vários prismas, vivenciar países e realidades artísticas e sociais distintas é que se trabalha a observação, a escuta, o estar atento e alerta de mente aberta. Sem ideias pré-concebidas, nem resistências. Acredito no não preconceito, na disponibilidade e entrega, no trabalho e na exigência.
Gostaríamos de começar esta nossa entrevista exatamente pelo início: uma vida nas artes sempre esteve no imaginário de Joana de Verona? De alguma forma, a sua conjuntura familiar impulsionou uma entrada no universo artístico? Sempre esteve no meu imaginário sim, daí ter começado a estudar teatro e dança aos oito anos. O facto de a minha mãe estar ligada à pintura, o meu pai à escrita e os meus irmãos à música, creio que possa ter gerado um ambiente familiar propício a. Embora eles o façam por hobbie.
Está neste momento a participar na novela Valor da Vida. Para si, que valor tem a participação nas telenovelas? Cada meio tem a sua especificidade e dificuldade, a novela nada tem a ver com o cinema ou teatro, que são dois meios onde circulo há mais tempo. O fazer-se novela e não baixar o nível de exigência mesmo com o pouco tempo próprio deste formato é um desafio no que diz respeito à agilidade mental e emocional de um intérprete.
A Joana cresceu entre o Brasil e Portugal, aprendendo assim a adaptar-se a novos desafios. Essa facilidade de adaptação é bastante visível nos trabalhos em que se tem
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Podemos falar de cinema? De uma forma direta: como é que a Joana vê o cinema feito em Portugal? Gosto muito do cinema que é feito cá. Mentes abertas, talentosas, que arriscam, que são fiéis às suas fruições artís-
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ticas. Não há um enorme investimento nem propriamente indústria, mas talvez por isso mesmo se sinta liberdade e autenticidade no cinema português. Acho que a geração cinematográfica que vem surgindo há cerca de dez anos tem feito o público perceber que há mais maneiras de contar histórias, com outros olhares. Muitas vezes dizem-me que o cinema português é chato e lento. É uma ideia pré-concebida que já não é atual. Se eu perguntar qual foi o último filme que viram, não se lembram. Considero que, cada vez mais, o cinema está a pedir reestruturação – talvez devido à exigência das plataformas digitais. O cinema não vai acabar, felizmente, mas acho que a grande atenção do público está nos canais de cabo, nas séries e filmes, e, por isso, penso que cada vez mais vão surgir coproduções. Nos últimos anos, a Joana tem trabalhado em filmes que mereceram destaque nos festivais de cinema internacionais. Consegue destacar alguns trabalhos que a tenham ajudado a crescer como atriz? Guardo todos os processos com enorme carinho e cada um deles foi importante no meu desenvolvimento como pessoa e profissional. Posso destacar o Como desenhar um círculo perfeito, o Depois do Adeus, o trabalho já contínuo com a Companhia Casa Conveniente, de Mónica Calle, As mil e uma noites, Praça Paris e a nova série de época da HBO Brasil chamada Mais leve que o ar. Entre vários outros, é difícil escolher! Podemos saber mais sobre o trabalho para a HBO Brasil? Sim, Mais leve que o ar é uma série de época da HBO Brasil sobre o Santos Dumont. Faço a personagem Almerinda, que atravessa vários anos da história, que faz parte de uma classe do proletariado emigrante residente em Paris no pré-primeira Guerra Mundial. É a mulher do melhor amigo de Santos Dumont. A série estreia na HBO Brasil neste início de 2019. O que mais a entusiasma num papel? Acho que há papéis que, na verdade, és tu que escolhes. O Como desenhar um círculo perfeito foi algo que eu escolhi. Eu queria! Aquilo era para mim! Senti que aquele papel podia ser uma extensão de mim, algo que eu queria pôr em prática. Toda a equipa, os atores, a história, a ligação com a língua francesa, a conceção estética da direção de fotografia do projeto... Tudo, naquele momento, tinha muito a ver comigo e contribuiu imenso para a minha vida artística, para aquilo em que eu me tornei. Por isso, há projetos que tu escolhes. E normalmente eu escolho coisas que me interessam, que me vão trazer uma aprendizagem nova, uma experiência diferente e rica. Gosto de personagens exigentes, que me dão muito trabalho, mas que sei que é algo que me vai manter bem ocupada, que vai ser satisfatório e gratificante. Depois, propostas que não sejam banais,
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“Apresento-me como alguém que tem a consciência do privilégio que é encontrar felicidade e satisfação no que ama fazer”
que o grau de exigência e empenho seja alto. Escusado será dizer que quando trabalhas com pessoas que acreditam que aquilo será um projeto especial, mais facilmente o será. Sentiu isso com o filme Pedro e Inês, de António Ferreira, em que protagonizou com Diogo Amaral uma das mais fortes e trágicas histórias de amor da nossa História? Sim. O António Ferreira acabou por me confessar que já tinha escrito aquela personagem há uns anos a pensar em mim e isso é sempre interessante. Eu adoro trabalhar histórias reais e, ainda por cima, de época (já fiz alguns filmes de época, mas ainda não todas as épocas que gostava). O Pedro e Inês, pela grandiosidade da história e pela transversalidade dos tempos, fez-me perceber desde logo que seria um filme, em todos os aspetos, muito rico. A própria história, uma grande história de amor com obstáculos, que podem ou não ser superados, mas que tem um final sempre trágico, fez-me perceber que era um projeto que me interessava, claro. Pedro e Inês, que traz uma história de amor em três momentos do tempo (passado, presente e futuro), foi o filme português mais visto em 2018: mais de 45 mil pessoas foram às salas de cinema. Estava à espera deste desfecho? Acho que o filme teve uma campanha de marketing bastante
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nova em Portugal. Começou a ser falado um ano antes da estreia e as pessoas então já estavam à espera. Penso que isso foi muito importante. É uma história portuguesa e fico mesmo muito contente por ver que as pessoas se interessaram por conhecer uma história que foi o nosso Romeu e Julieta, mas muito mais cruel e muito mais trágica. Para quem não viu, como descreve o filme? É sobretudo um filme sobre o amor e sobre a impossibilidade do amor. Fala sobre como D. Pedro, rei de Portugal, e Inês de Castro, rainha póstuma, ou seja, rainha de Portugal depois de morta, conseguem, nestes três tempos, apesar de todas as dificuldades específicas de cada contexto temporal, ultrapassar todos os obstáculos num amor que é tão poderoso e tão grandioso. E mesmo que seja, em todas as épocas, um final trágico, a verdade é que este amor tem de que ser vivido e vale a pena ser vivido. É, do meu ponto de vista, um filme muito bonito, muito bem feito em termos de realização, de fotografia, conta a história factual, a partir dos factos históricos, mas também do mito. Portanto, logo aí é interessante porque é uma história verídica e é uma forma de conhecer um pouco mais sobre a História de Portugal. Mas é também um filme que transgride o ficcional, porque vai até ao ponto de vista criativo da Rosa Lobato de Faria, no seu romance, e ainda do realizador, An-
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tónio Ferreira. Há então aqui várias camadas de criação. Foi, sem dúvida, um filme que cativou o público pela crueldade e força da história, mas sobretudo pela beleza e pela grandiosidade deste amor. Estamos habituados a ver a Joana nas histórias de amor. É aí que se sente confortável? Uma história de amor não invalida um bom drama (risos). Gosto de papéis que me enriqueçam, que acrescentem coisas à minha vida. Recentemente, a novela Ouro Verde, que protagonizou, foi agraciada com um Emmy Internacional. Qual é a importância de receber um prémio destes? Vencer o Emmy foi um momento feliz, sem dúvida! E foi uma surpresa. Achei interessante o projeto ter sido nomeado, principalmente por ter sido a protagonista e por ter sido um projeto bastante exigente, especial, entre Portugal e o Brasil. Mas, no momento em que ganhamos, fiquei mesmo surpreendida. Não que não merecêssemos ganhar, mas eu tinha ficado impressionada com a qualidade de um outro trabalho, uma novela mexicana que tinha uma estética mais cinematográfica. Quando ouvi o nosso nome, na gala em Nova Iorque - ainda por cima na versão traduzida [The Payback], que me fez confusão por uns segundos -, fiquei mesmo surpreendida. Acho que o prémio é importante por uma questão nacional. Independentemente da área, seja cinema ou televisão, é importante haver um acarinhar, por parte do público, pelas coisas que se fazem no nosso país, que é pequeno, mas que é talentoso! Em Portugal, fazemos muito com muito pouco... estamos sempre a desenrascar! Por isso, penso que este prémio pode ser um incentivo para que, especialmente na televisão, se saia de uma zona de conforto, se ouse nas histórias e na direção de fotografia. Um incentivo a que se faça melhor e de forma mais arrojada.
“Sei que gostava, no tempo certo, de desenvolver outras coisas, do ponto de vista do criador”
As novelas, o cinema, o teatro, o reconhecimento do público... Joana de Verona tem truques para conseguir o sucesso? Acho que não devem haver truques, mas sim disponibilidade, envolvimento e seriedade no que se faz. Há uns anos, apelidaram Joana de Verona como “musa da novíssima vaga do cinema português”. Hoje, mais madura e com mais uns quantos trabalhos na bagagem, como se apresenta? Intérprete/criadora, com muita vontade de explorar outras vertentes artísticas com as quais me relaciono, pelas quais me interesso e tenho vontade de aprofundar. Apresento-me como alguém que tem a consciência do privilégio que é encontrar felicidade e satisfação no que ama fazer. Por isso, como alguém que se sente grata. Qual é o rumo que quer para esta sua história? Eu acho que é bom traçar objetivos e lutar para as coisas acontecerem. Mas a vida tem este poder de ser surpreendente. Sei que gostava, no tempo certo, de desenvolver outras coisas, do ponto de vista do criador, ou seja, trabalhar mais a parte do movimento, da dança, por exemplo - apesar de querer ter o privilégio de continuar a ter contacto com várias realidades artísticas. Queria voltar a realizar, fazer documentário, poder pensar objetos artísticos que sejam mais multidisciplinares, com performance, instalação, outro tipo de coisas... porque um intérprete é um criador e eu gostava de aplicar esta vontade de criação a vários níveis.
RADAR Conversas subaquáticas
Uma sereia com rabo de atum POR Paulo Brandão
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ma sereia com rabo de atum. Foi assim que começou o dia. Uma sereia tentando limar os seus contornos afiados de atum para não ferir ninguém. O atum, com rabo de sereia, com quem a sereia com rabo de atum fazia amor três vezes por semana, tinha uma preocupação menor, mas não menos trabalhosa. Com a sua minúscula boca, deixar escama por escama do mesmo tamanho e com o mesmo brilho das unhas de verniz dos humanos. Foi assim que começou o dia, pensando eu que um conto que fundisse uma sereia e um atum amorosamente, numa tentativa marítima de A Bela e o Monstro, fosse uma ideia peregrina. Algo engenhoso, embora tivesse de fazer evoluir as duas imagens desenhadas na minha cabeça e a razão de tal ato siamês. Primeiro, com papel e lápis, desenhei toscamente uma sereia e depois um atum na mesma escala. A sereia era loira e o atum moreno. Recortei com mimo um e outro, encontrei o meio de cada um, voltei a usar a tesoura e, trocando os troncos, juntei-os. Lá estavam os dois novos seres: um Seratum e uma Atureia. Quando era pequeno tinha uma autoilusão persistente e não muito humana de que poderia viver dentro de água. E dava comigo a pensar coisas estranhas, de como seria cozinhar ou lavar a loiça em casas feitas de tijolos de corais no fundo do mar. E, na verdade, na minha cabeça, não havia diferença alguma entre o ar e a água. Tudo funcionava até ao momento em que pensava que um peixe fora de água era um peixe morto. E que por isso mesmo a autoilusão era sonhar acordado e que sonhar dormindo era aquele peixe morto cheio de moscas, teso e malcheiroso tornado pesadelo. O mais oceânico da coisa, imaginando agora em adulto, é que Seratum é de uma beleza embaraçante. Apesar de tirano, descendente de Ulisses, era um ser encantador e poucos corações estavam fechados ao seu olhar terrestre. Atureia era sábia em línguas, conhecia de há muito todas as falas ancestrais de marinheiros e escravos dos navios fundadores da
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humanidade, e por isso a sua glória era tal que todas as outras espécies de peixes, mamíferos, molúsculos e afins a desejavam como uma aventura inacessível. Atureia, pensemos um pouco, na verdade, era descendente de Penélope. Fiará anos sem fim, perderá a capacidade de falar, mas ganhará a habilidade homérica de ensurdecer os seus sedutores. Foi assim que começou o dia. Ao juntar os dois. Ao perceber que isso do amor tem qualquer coisa de osmose, cirurgia plástica, literatura clássica, vontade de criar e até de congeminações tontas. Escolhemos o sono e negamos a insónia. Escrever estará sempre do lado do dormir. Nunca o dia ou uma história poderão começar sem termos dormido. Há dias, quando barrei uma prateleira no supermercado soltaram-se latas de atum acidentalmente (não há latas de sereia, pois não?) e meia dúzia acusaram o chão. Arrumei-as e levei uma para casa. Aquela que mais mossas fez com o embate da queda. Não a abri. Não a vou abrir. Acredito que algo de onírico haja lá dentro. Um dia, acidentalmente, já esquecido do que escrevo e com fome, abrirei a lata e à mente saltar-me-á uma sereia com rabo de atum. Ou um atum com rabo de sereia. Aposto. Provavelmente os dois!
Sobre o autor Diretor artístico do Theatro Circo.
RADAR Opinião
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ANDRÉ RAMALHO Um olhar abandonado
PEDRO SEIÇA Uma ode ao inverno
LUÍS LOBO-FERNANDES O paradoxo europeu e o Brexit
Os olhares diferentes e as linhas de pensamento Ăşnicas.
FOTOGRAFIA André Ramalho
André Ramalho, um olhar abandonado ANDRÉ RAMALHO É UM DESIGNER DE INTERFACES DE 28 ANOS RECONHECIDO PELO SEU OLHAR CURIOSO. NATURAL DAS CALDAS DA RAINHA, ESTE JOVEM É O ROSTO DO ABANDONADOS, UM PROJETO CRIADO EM 2017 QUE REVELA, ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS, OS EDIFÍCIOS E LOCAIS ABANDONADOS NO NOSSO PAÍS. FOI ELEITO O BLOG DO ANO 2018. POR Nuno Sampaio FOTOGRAFIA André Ramalho
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CADERNO Título da Reportagem
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abandonados. Através deles é possível obter sugestões para outros locais que ainda não tenha visitado. É comum neste pequeno círculo de pessoas que fazem esta atividade existir essas trocas de informações.
Como descobre estes locais? Descobrir locais abandonados requer muitas horas de pesquisa na internet e no Google Maps e claro, posteriormente, ir ao local confirmar se está abandonado ou não. É possível também que surjam locais através de uma sugestão de alguém. Desde que recebi o prémio recebo dezenas de emails por dia a sugerir locais. Isso já acontecia antigamente, mas agora em maior quantidade. Outra forma de descobrir novos locais é estar em contacto com pessoas que, tal como eu, também visitam locais
Não sendo fotógrafo profissional, qual é a ligação que tem com a fotografia? O meu interesse pela fotografia aconteceu em 2013 quando tirei uma licenciatura em Design Gráfico que tinha algumas cadeiras de fotografia. Nessa altura, comprei uma máquina fotográfica e comecei a aprender. Tenho evoluído desde então, mas ainda não estou ao nível que quero estar, existe sempre espaço para melhorar. A fotografia para mim é um hobby, mas é um hobby que gosto de fazer bem, sobretudo a fotografia de lugares abandonados. Já pensei em tirar alguns cursos na área e quem sabe, um dia, fazer algum tipo de fotografia profissionalmente.
omo surgiu a ideia de criar um projeto apenas com fotografias de locais abandonados? A ideia surgiu há cerca de ano e meio. Visito locais abandonados desde 2014 e sempre pensei em criar uma conta no Instagram para publicar as fotos e divulgar mais esses locais. Interesso-me muito pela história dos locais abandonados.
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Esta amostra de locais abandonados em Portugal é também uma forma de sensibilização para a reabilitação de alguns locais icónicos? Ultimamente tenho-me focado mais nessa vertente: tentar publicar locais icónicos e sensibilizar as pessoas e entidades no sentido de reaproveitar estes locais. Mas o interesse pelos locais começou inicialmente sem essa intenção, simplesmente consigo ver a beleza que estes locais têm, mesmo que, por vezes, estejam degradados e em más condições. Existe algo único e belo em todos eles! Já alguma vez se deparou com algum entrave na realização de algum destes desafios fotográficos? Várias vezes. Já tive problemas com vizinhos, proprietários, polícia e até mesmo lesões físicas. É uma atividade perigosa em vários aspetos, principalmente porque a maioria dos locais que visito estão em mau estado de conservação. Existe algum local que, de alguma forma, lhe chamou mais à atenção? Recentemente visitei um centro comercial e foi incrível ver um edifício daquele tamanho abandonado. Outro local muito interessante foi visitar um hospital que tinha todo o material ainda no interior. Mas o local que gostei mais e que apelidei de “Casa Azul” foi o local que mais gostei, pela cor do local e luz, pela capela e piano que existem no interior, assim como todo o conteúdo da casa. Foi interessante fotografá-la. Há possibilidade deste projeto continuar fora de Portugal? Era algo que gostava, mas não me parece viável pelos custos envolvidos e falta de tempo para o fazer. Tenho intenção de visitar alguns locais abandonados fora de Portugal, mas prefiro que o projeto se foque nos locais nacionais.
HISTÓRIAS André Ramalho
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SOCIEDADE Opinião
Braga fora de portas POR Nuno Roby Amorim
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uma altura em que a RUA alarga os seus horizontes geográficos deixando de ser apenas uma voz da região do Minho passando “a voar, sem fronteiras regionais” importa voltar à casa de partida reequacionando o posicionamento de Braga e a sua relevância num contexto global. É hoje um dado adquirido que a capital do Minho é a terceira cidade do país. Acresce-se a isto, segundo o Eurobarómetro, que Braga é a cidade mais feliz (melhor qualidade de vida) de Portugal e a terceira da Europa apenas atrás de Oslo e Zurique. Já o relatório anual da Bloom Consulting, uma consultora especializada em city branding, coloca Braga no quarto lugar atrás de Lisboa, Porto e Cascais afirmando-se mais uma vez como “um dos municípios mais procurados online por turistas, investidores e cidadãos em geral”. Por último, por ventura o dado mais importante de todos tendo em conta que Portugal é o segundo país da União Europeia com a população mais envelhecida, Braga é a capital de distrito mais jovem do país. Em 180 mil habitantes, o concelho tem 85 mil jovens com residência fixa no município. Estes dados positivos são o resultado do trabalho do seu tecido industrial, comercial, universitário e político. Não há propriamente um responsável directo por estes números que são fruto de uma sociedade civil vibrante, activa e muito trabalhadora. Portugal é um país muito pequeno onde cerca de 60% da população reside na faixa costeira e cerca de 45% do total está concentrada nas áreas metropolitanas de Lisboa (2,8 milhões) e Porto (1,8 milhões). Porventura, o dado mais significativo deste desenvolvimento assimétrico é de que 83% da riqueza do país é produzida na franja litoral do continente. Nos primeiros meses do ano foi anunciado que a cidade de Braga quer ser Capital Europeia da Cultura em 2027, estando a trabalhar a candidatura com “ambição e vontade de vencer”. Este episódio é ilustrativo de uma certa “nova ordem mundial”. Braga não está em competição apenas com os 307 concelhos do país mas em concorrência directa com milhares de cidades de toda a União Europeia. Dito isto, por muito que nos custe, é uma verdade insofismável que o fu-
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turo de Braga já não é decidido apenas em Braga mas nos grandes “centros de decisão”. Ora aqui chegados importa referir que a maioria das cidades e dos países da União Europeia incorporam o lóbi como uma “ferramenta” fundamental para os ajudar a atingir os seus objectivos. Os lobistas passaram a desenvolver importantes tarefas, como a identificação de potenciais parceiros de negócios, prospecção de mercados, detecção de eventuais impedimentos às exportações, captação de investimento estrangeiro, apoio a acções de penetração local dos operadores regionais, divulgação dos produtos e serviços, acompanhamento legislativo, entre muitos outros temas. Temos que salientar contudo que para a concretização deste projecto é necessária a convergência de todas as forças vivas da região: da indústria ao comércio, da universidade à arquidiocese e na política da esquerda à direita. Braga necessita portanto de criar uma cooperação entre todas as suas instituições com vista à maximização e a uma maior eficiência dos recursos investidos na promoção externa e isso só se consegue presentemente junto dos grandes centros de poder fora dos limites da própria cidade. Para um descendente de bracarenses nascido em Lisboa, muitas vezes as disputas e divergências políticas locais são uma verdadeira aberração sem sentido e sem o mínimo de estratégia global. No actual contexto político e social parece-me que só o município tem capacidade para aglutinar essa vontade regional e dar o primeiro passo na criação deste objectivo. A história ensina-nos quase tudo, e à imagem do que a cidade já fez no passado junto ao papado em Roma, não seria má ideia que os decisores de Braga pensassem em recrutar lobistas profissionais, fundamentalmente em Lisboa e Bruxelas, com vista à abertura de um caminho que crie igualdade de oportunidades. Nota: Este artigo não foi escrito segundo o novo acordo ortográfico.
Sobre o autor Consultor de comunicação.
HISTÓRIAS Opinião
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CADERNO Título da Reportagem
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FOTOGRAFIA Pedro Seiça
Uma ode ao inverno, por Pedro Seiça ENCONTRAMOS AS FOTOGRAFIAS DE PEDRO SEIÇA NO INSTAGRAM E QUISEMOS CONHECER MELHOR O SEU OLHAR. O INVERNO COMO VEÍCULO DE UMA OBRA-PRIMA PINTADA DE NATUREZA. POR Nuno Sampaio FOTOGRAFIA Pedro Seiça
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edro Seiça é apaixonado pelo inverno. A sua câmara fotográfica é apenas o instrumento de revelação do seu universo e da forma como o entende e sente. Fascinado pelas “cores, o nevoeiro, as árvores cobertas de neve” e ansiando por “uma lareira acesa e uma janela através da qual seja possível ver neve a cair”, o inverno é o cenário idílico para Pedro e o que mais representatividade tem no seu imaginário fotográfico. Para além do frio das imagens, parece existir um congelamento do tempo, um certo misticismo próprio deste tempo sazonal e o objetivo de Pedro Seiça é, depois de uma imagem editada, sorrir ou mesmo deslumbrar-se com o que vê: “um bosque ou uma estrada acompanhada por árvores, com nevoeiro a enfeitar, vai de encontro a esse misticismo que tento sempre captar”.
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A representação fiel da realidade, as cores, as sensações que vive ao chegar a um local são uma das principais preocupações de Pedro: “Tento o mais possível manter as cores originais. Não gosto da ideia de verem uma fotografia minha e não poderem imaginar que, ao vivo, os locais são assim mesmo. Alguns locais que já fotografei, principalmente na Serra da Estrela, conseguem ser ainda mais bonitos ao vivo. Exemplo disso é o Covão d’Ametade”. Entre todos os sítios mágicos por onde já passou, existem duas pequenas vilas do leste do continente europeu, Bled, na Eslovénia e Hasllstatt, na Áustria, que Pedro gostaria de fotografar. Dois locais que encaixam perfeitamente neste mundo coberto de neve e de sonhos, onde todos nós vamos buscar, em certa parte do nosso caminho, um refúgio para os dias mais agitados.
HISTÓRIAS Pedro Seiça
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POLÍTICA INTERNACIONAL Opinião
O paradoxo europeu e o Brexit POR Luís Lobo-Fernandes
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ivemos um tempo na União Europeia marcado por um paradoxo. Com efeito, detecta-se uma evolução atípica. Veja-se os avanços na integração bancária e no chamado “semestre europeu”. Existe um aprofundamento! Mas, é um aprofundamento anormal comandado pela Alemanha. E, aqui pode estar parte do problema. O problema não está tanto no facto da Comissão Europeia ter perdido algum espaço na arquitetura institucional. É fundamental perceber que o método já não é o da Comissão, mas sim o método do Conselho da União Europeia. Acontece que a realidade do Euro conferiu à Alemanha um poder inusitado no seio da UE. A Alemanha sempre assumiu que o abandono do marco alemão tinha como contrapartida a sua liderança em matéria monetária. A isto somou-se uma perda considerável de visibilidade da França, com repercussões negativas para o conjunto, dado não existir conceito de unidade europeia sem a França – um país crucial na balança da Europa. É certo que Emmanuel Macron tem tentado contrariar esta situação. Em rigor, porém, a França continua a cultivar uma postura fortemente “soberanista”, parcialmente responsável pelo facto de não se ter avançado em matéria de coordenação política. O Brexit é uma péssima notícia para toda a Europa. Enfraquece a Grã-Bretanha, não reforça a União Europeia, e cria uma distracção gravíssima no preciso momento em que nós precisamos de ter em atenção a alteração do foco dos Estados Unidos para a Ásia-Pacífico, tal como o enorme dilema de segurança que as iniludíveis ambições da China
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representam para todos. Por outro lado, o voto a favor do Brexit teve muito a ver com a recusa de um largo sector de eleitores britânicos em aceitar a ideia de uma UE “dominada” pela Alemanha. Mas, as insuficientes reformas no âmbito do Euro não se devem às especificidades ou aos “estados de alma” dos nossos aliados do outro lado da Mancha. Ao invés, são em grande parte resultado da falta de vontade política em encontrar soluções consentâneas com a existência de uma moeda única. E, aqui o papel da França para o equilíbrio europeu - e dentro da própria UE - é insubstituível. Neste ciclo difícil não podemos perder de vista a essência do projecto da União Europeia que representa a construção de uma alternativa de paz para o continente, algo verdadeiramente revolucionário tendo em conta a história fratricida entre os europeus. É esse o seu principal mérito. Não o arruinemos. Nota: Este artigo não foi escrito segundo o novo acordo ortográfico.
Sobre o autor Professor catedrático (ap.) de Ciência Política e Relações Internacionais; autor do livro Construir a Europa (2005).
HISTÓRIAS Opinião
LO U R E I RO E A LVA R I N H O por
{ Deta lh e #04 - O Abr o l hame nto } PODIA SER ENCARADO COMO UM FELIZ ACASO. MAS PARA NÓS É UMA CERTEZA HÁ MUITO AGUARDADA.
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CADERNO Título da Reportagem
PEQUENOS DETALHES, GRANDES VINHOS. Se j a re s po ns á ve l . B e b a co m m o d e ra çã o .
CRUZEIRO SEIXAS
A liberdade de ser livre
ALBANO JERÓNIMO Uma vida entre papéis
RUI TENDINHA
O cinéfilo-curioso
Os talentos sublimes, os elogios Ă arte e as surpresas culturais.
PINTURA Cruzeiro Seixas
Cruzeiro Seixas, a liberdade de ser livre O NOME, CRUZEIRO SEIXAS, ESTÁ GUARDADO NUMA GAVETA, ESCRITO, VEZES SEM CONTA, NA POESIA DAS COISAS, EM CARTAS DE PAPEL AMADURECIDAS PELO TEMPO. ESTE PODERIA SER APENAS MAIS UM NOME NUMA PILHA INFINDÁVEL DE ARTISTAS QUE NOS PROPUSERAM A ARTE COMO SENTIDO DE VIDA, MAS NÃO É! CRUZEIRO SEIXAS NÃO É UM ARTISTA E ABORRECE-O “A IDEIA DO PINTOR ARTISTA”: “SOU UM HOMEM QUE FAZ UMAS COISAS”. POR Nuno Sampaio
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CADERNO Título da Reportagem
“O Surrealismo continua a ser, para mim, a mais segura prova de que as mãos do homem o podem manter, suspenso, sobre o precipício. As mãos, digo eu. Evidentemente suspenso! Devo no entanto tentar esclarecer que acredito que existam outras possibilidade e não vindas mais do futuro do que do passado. Tombar no precipício é evidentemente uma dessas possibilidades e não menos aliciantes, parece-me. Ouço, monótono, o ruído do mar no convés da cidade. Vejo os livros, como ilhas. E o mar, devolvendo os náufragos”. CRUZEIRO SEIXAS, 1975
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m 2018, a XX Bienal Internacional de Arte de Cerveira celebrou 40 anos e homenageou Cruzeiro Seixas, o último sobrevivente do Movimento Surrealista Português. Sob a curadoria de Helena Mendes Pereira, esta exposição foi muito mais que uma retrospectiva da obra do artista, foi também uma pequena amostra do homem e dos indivíduos à sua volta, onde o papel ‒ esse bocado comum a todas as percepções artísticas e transcendente a todos os lugares onde a arte habita ‒ se evidenciou numa costura bem desenhada que cruzou todos os elementos imprescindíveis ao entendimento do Surrealismo. Numa percepção pessoal da estética do traço, das cores, dos sonhos, e numa perspectiva quase naïf, o surrealismo sempre esteve guardado numa bolha resistente, uma espécie de túmulo que poderia visitar sempre que me apetecesse. Posso afirmar, hoje, e depois de 20 minutos de conversa com a Helena, que a forma que preservei este movimento artístico na minha memória é… surreal!
A Helena, assim como eu, deixou o surrealismo solto, como ele deve estar, como ele deve ser entendido… mas a Helena conheceu o homem, conversou com Cruzeiro Seixas, jantou com Cruzeiro Seixas e este homem fez-se luz aos 93 anos (os dele) e a idade preservou o tempo e as histórias, menos as datas - as datas lembram-lhe os outros. “O surrealismo não é um movimento artístico, é uma forma de estar na vida”. Esta foi a frase que mais me marcou naquela conversa. Estas foram as palavras que alimentaram a vontade, em tempos recalcada, de estar ou ser surrealista em toda a singularidade dos dias. A liberdade poética do sonho, os contornos do inatingível e a simplicidade de um não-artista, representam a arte na sua percepção mais global que alguma vez me debrucei: um vocativo à criação da vida sob o pretexto do amor. Esta é a significância do ser enquanto Homem, dos valores mais terrenos que alguma vez possamos sonhar. Voltar a abrir a gaveta do surrealismo é um ato de coragem, abri-la diariamente é um estado que nos consome os pesadelos, uma forma que nos une aos outros a quem, intermitentemente, pertencemos. Este é o Cruzeiro Seixas que eu não conheci.
CULTURA & ARTE Cruzeiro Seixas
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TALENTO Gil Maia
Entre as inquietações plástico-poéticas de Gil Maia POR Helena Mendes Pereira
Quero viver só comigo Bater à porta do meu coração Que deve ser, talvez, alma e jazigo Para acabar de compreender O que eu aqui não devo dizer, nem digo.1
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credito que quando a pintura, mesmo na sua abstração e/ou geometria de formas e jeitos, nos invade e memoriza de poetas, estamos perante a sublime essência da Arte. Gil Maia (n.1974) é pintor. Talvez um dos melhores da sua geração. A sua pintura é a metamorfose da inquietação feita cor e transparência. Subtil, de tempo lento (como pede o óleo), sobre a tela Gil Maia constrói e desconstrói o que a insensibilidade não descodifica. Por vezes soturno, mergulhado no atelier, repleto de dúvidas e sentindo a pressão do tempo que passa lá fora, a pincelada textura-se, cria contraste com os planos tons, mágicos azuis que tornam soporíferas as cores quentes a que a paleta por vezes também recorre. Tudo respira no equilíbrio da composição que deixa ler o branco que se acumulou ao suporte, tratado como espaço sagrado da contemplação do mundo. Abstração? Antes um processo de representação da perceção difusa do que vem de dentro para fora. Em Gil Maia, a pintura está toda dentro, no interior do artista, correspondendo a um exercício de busca de respostas, por um lado, e de resolução de desafios plásticos como subterfúgios do que se procura solucionar da vida. Gil Maia licenciou-se em 2002 em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Contudo, já expunha, coletivamente, desde 1997 e, em 2001, tem lugar a sua primeira exposição individual. São dezenas as exposições em que participou em Portugal e em
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países como Espanha, Itália, China ou Brasil. Obras suas integram coleções públicas e privadas em Portugal e Espanha e, em termos de prémios e reconhecimentos de mérito, começando com o Prémio Benjamim Salgado, em 2001, e terminando no 1º Prémio de Pintura Abel Manta, em 2013, são cerca de duas dezenas, confirmando a sua coerência plástica e a aceitação e valorização generalizadas do seu trabalho. O seu currículo é impressionante e sintomático do impacto que a sua pintura gera num grupo alargado de privilegiados contempladores, mais ou menos eruditos no que à Arte Contemporânea diz respeito. É nessa (quase) unanimidade que se evidencia a força, plástica e poética, da sua pintura. Conceitos simples, séries que partem, semanticamente, da construção e desconstrução da realidade, demorados óleos de incansáveis detalhes, transparências e sobreposições de formas, sem que nenhum se perca à vista, ausência de contornos e um jogo de variação lumínica que, mais do que uma ilusão de terceira dimensão, é de forte sugestão poética. A obra de Gil Maia fala por si. Não precisamos de o conhecer para o sabermos de cor através da sua pintura. Abstração? Representação expressiva da profusão interior e do mundo que se observa a correr? Talvez. Nada é conclusivo. Apenas a certeza de que estamos perante um Pintor e um Artista. Quando Gil Maia pinta defende-se e luta, como escreveu Pier Paolo Pasolini na sua poesia. A isto me reduzi: quando escrevo poesia é para me defender e lutar (...) 2 Com a inesgotável diferença de que Gil Maia não se reduz pintado… Antes: cresce, inscreve-se e torna melhor o nosso quotidiano. Daquele belo que é mesmo capaz de mudar o mundo. Poeticamente inquietante: o seu nome é pintura. Sobre o autor Chief Curator da zet gallery, em Braga.
1 BOTO, António – Excerto de “Canção” in Poesia. Porto: Assírio & Alvim, 2018. Página 567. 2 PASOLINI, Pier Paolo – Excerto de “A realidade” in Poemas. Porto: Assírio &Alvim, 2005. Página 275.
CULTURA & ARTE Gil Maia
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TEATRO Albano Jerónimo
Albano Jerónimo, uma vida entre papéis ENCONTRAMO-NOS COM ALBANO JERÓNIMO NA CASA DAS ARTES DE VILA NOVA DE FAMALICÃO, NUMA ALTURA EM QUE O NERVOSO MIUDINHO ANTECIPAVA A ESTREIA DA PEÇA VENENO. NUMA CONVERSA SOBRE O PASSADO E O FUTURO DE UMA CARREIRA QUE CONTA FILMES, NOVELAS E VARIADÍSSIMOS PALCOS, DAMOS A CONHECER, NA PRIMEIRA PESSOA, UM DOS ATORES PREDILETOS DO PÚBLICO PORTUGUÊS. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
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Numa fase em que temos o nome Albano Jerónimo em novelas, peças teatrais, filmes e até séries internacionais, a pergunta que se impõe é: o que lhe falta fazer? Falta fazer muita coisa (risos). A grande diferença é que hoje em dia - e com a idade que tenho - quero fazer uma coisa de cada vez. Não me interessa fazer três coisas ao mesmo tempo, como já fiz durante alguns anos. Gostava de fazer muitas mais coisas: dirigir, obviamente, porque quero continuar a desenvolver este gosto e curiosidade; daqui a uns anos, talvez realizar. E parar! Parar também pode ser uma sugestão. Se calhar, posso fazer outra coisa durante uns tempos porque acho importante para relativizar e para recentrar todas as coisas. O que eu pretendo com isto é ser feliz e construir
Albano Jerónimo em Veneno
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ste imaginário do teatro, da ficção, do cinema sempre esteve nos seus planos de percurso profissional? Que paixão é esta pelo universo da representação? Foi um interesse que foi crescendo. Eu faço teatro amador desde os meus 15 anos e, profissionalmente, desde os 20. Quando acabei o 12º ano, fui estudar Fisioterapia, mas desisti e concorri ao Conservatório. Ainda hoje se mantém essa curva ascendente, esse crescimento, no sentido em que sou um enorme apaixonado pela palavra e a palavra, sem qualquer romance à mistura, é de facto um encanto e um mistério. Foneticamente, a música que se pode tirar de uma palavra, de um texto, é absolutamente novo e transformador para mim. Essa é a razão central para eu fazer aquilo que faço. Depois, acho que é a forma que eu tenho de me expressar melhor. Tudo isto foi crescendo e adensou-se quando entrei para o Conservatório. No final do primeiro ano, tive convites profissionais e nunca mais parei de trabalhar. Recentemente, comecei a dirigir - a peça Veneno é a minha segunda direção – e isso é também uma consequência de um crescimento, de uma vontade... Eu enquadro muito esta profissão dentro de uma ideia de aumentar o meu alfabeto de comunicação. Tenho uma sorte tremenda em fazer aquilo que gosto!
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o meu caminho baseado numa felicidade e numa harmonia comigo e com o meu trabalho. Eu já não tenho idade para estar a querer agradar, no verdadeiro sentido da palavra. Sou profissional e sou sério naquilo que faço. Não estou à espera que me digam que eu sou espetacular porque isto que eu faço não é sobre mim, é sobre outra coisa que está acima de mim: é sobre um autor que escreve problemáticas que me interessam mostrar, partilhar e questionar o público. Essa é a minha zona de trabalho. Portanto, dentro desta ideia de que isto não é sobre mim, vejo também facilmente a possibilidade de vir a fazer outras coisas, com naturalidade.
As peças teatrais que tem apresentado um pouco por todo o país parecem trazer sempre temáticas reivindicativas, chamadas de atenção para realidades sociais distintas. O próprio Albano, como ator, criador, encenador, considera-se um crítico social? Eu acho que é uma responsabilidade que nós temos enquanto agentes culturais ou agentes da comunicação. A nossa função, ou uma delas, é de facto questionar. E temos como plataforma de comunicação um palco, que é inacreditável, que é uma arma! Tenho feito sobretudo autores que me intrigam... e isso é meio caminho andado para eu aceitar fazer esse trabalho. Tenho feito textos de Pier Paolo Pasolini, William Shakespeare ou Heiner Müller, que são corrosivos, são autores que trabalham num comprimento de onda muito interessante. Pasolini é um dos meus autores preferidos, porque antes de ser realizador, é um poeta exímio, um jornalista fantástico. Tenho feito textos de pessoas que me apaixonam! Aliás, acho que não faria se não fosse assim. O resto, que é entretenimento puro e duro, faço quando faço novela, por exemplo. Isso é uma zona do meu trabalho que eu respeito imenso, mas corresponde a um género. Aqui, no teatro, é onde eu tenho mais tempo para aprender, para me educar. Então, em termos de representação, considera importante a participação em novelas? Não há uma balança que pen-
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de mais para o ramo cinematográfico ou teatral? Não... Obviamente, a ficção, nomeadamente o formato novela, dá-nos um retorno financeiro bastante mais simpático, para podermos estar mais tranquilos em casa, com família, os filhos, a escola, enfim... O cinema dá-nos a possibilidade de termos outro tempo para aprender. Tanto o teatro como o cinema, para mim, têm a grande diferença de nos dar este tempo de aprendizagem. Eu tenho a tendência para gostar mais de teatro ou cinema exatamente por esta questão, não é por uma questão de elitismo ou snobismo... ou seja o que for! É mesmo por uma questão de aprendizagem. O tempo é curto, estamos cá pouco tempo, vivos, por isso, deixem-me cá aproveitar aquilo que me dá esse prazer de aprender.
“Eu já não tenho idade para estar a querer agradar, no verdadeiro sentido da palavra. Sou profissional e sou sério naquilo que faço. Não estou à espera que me digam que eu sou espetacular porque isto que eu faço não é sobre mim”
Eu acredito que a vida é a construção de um pensamento e isso está acoplado a um conhecimento permanente ou pelo menos a uma avidez ou curiosidade. E eu sinto que isso está mais aguçado seja em cinema ou teatro.
De uma maneira geral, qual é a sua perspetiva do cinema português? Temos uma matéria-prima absolutamente maravilhosa, altamente dotada. Os prémios valem o que valem, mas é absolutamente inacreditável o reconhecimento que o cinema português tem tido. O rácio entre aquilo que é produzido, ou seja, o número de filmes que são feitos por ano e os prémios que temos é um espanto! Temos, sei lá, um máximo de 15 longas - e já estou a ser extremamente generoso – por ano. Em Espanha temos 300, França 1000 e Alemanha o dobro! Tendo em conta esta nossa realidade, acho que fazemos milagres, na verdade. Temos cineastas absolutamente fantásticos e novos: Gabriel Abrantes, João Salaviza, Sérgio Graciano, Marco Martins, Tiago Guedes, Sandro Aguilar, Miguel Gomes, enfim, estou só a enumerar alguns e obviamente não quero ser ingrato para outros. O que nos falta então? O nosso cinema está bom de saúde, mas o que falta são os apoios, que são inexistentes. O apoio que se dá ao cinema português é completamente ridículo! Isto deveria ser visto e interpretado como uma entidade cultural, algo que nos marca enquanto povo, enquanto nação. E há outro lado: em Portugal ainda não temos esta perspetiva económica da rentabilidade que se faz do produto artístico. Lá fora isso é prato do dia, é norma. Seja um filme de autor ou algo mais comercial, tem que ter a sua continuidade, tem de ser vendável. O Michael Haneke, por exemplo, faz filmes absolutamente incríveis, ora coisas mais herméticas, ora coisas mais abrangentes, e não perde o seu cunho, o cunho de ir a festivais, de ser vendido para vários países. Não há essa cultura cá. Obviamente isto era muito facilitado se, por exemplo, a política
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“O nosso cinema está bom de saúde, mas o que falta são os apoios, que são inexistentes. O apoio que se dá ao cinema português é completamente ridículo!”
Considera então que o público respeita o trabalho de ator, mas há falta de apoio por parte estatal? Sim. Vou dar um exemplo para terem noção de como é difícil: eu faço um filme e o filme é selecionado para um festival na Argentina. Se eu não tiver dinheiro, o Estado não me ajuda porque não há uma verba para eu ir com o meu staff a esse festival. Isto são investimentos da nossa cultura, do nosso produto, da nossa arte e, portanto, nessa perspetiva, isso não está a ser apoiado devidamente.
de mecenato fosse agilizada, burocraticamente. O Brasil é um bom exemplo: a Petrobras patrocina grande parte do cinema brasileiro e o Brasil tem uma produção extremamente interessante. Cá, burocraticamente, ainda não temos essas leis agilizadas ao ponto de uma Sonae ou uma NOS poder entrar com algum dinheiro para produção de cinema em Portugal. Não é atrativo, quero dizer. Portanto, isto são aspetos que fazem com que isto emperre um pouco nesta política de subsídios e nesta forma de olhar o cinema. O cinema português está de ótima saúde, as salas estão cheias, o público é novo... No teatro é exatamente a mesma coisa. Existe um movimento altamente positivo e otimista sobre a nossa realidade cultural. A grande questão, para mim, é mesmo a forma como se pensa cinema e a forma como se vê a cultura no nosso país, nomeadamente pelos nossos governantes.
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Para terminarmos, onde vamos poder ver Albano Jerónimo durante 2019? No cinema, acabei de fazer um trabalho absolutamente intenso... foi das experiências mais intensas que eu tive até hoje no cinema! É uma longa-metragem realizada pelo Tiago Guedes, com produção da Leopardo Filmes, por Paulo Branco, e tem o título provisório de Herdade - no sentido de património sentimental. É um filme de família, que foca curiosamente a degeneração da família. Foi um filme que me deu um prazer imenso em trabalhar, estivemos dois meses árduos de rodagem e mais um mês e meio de preparação. Foi muito duro, mas foi um prazer imenso. Estou ansioso por ver o que vem por aí! Depois, podem ver-me no teatro, de 14 a 17 de fevereiro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com As Confissões de um Coração Ardente, um texto a partir de Fiódor Dostoiévski, dirigido pela Carla Maciel. São ambos projetos que, uma vez mais, me empurram para uma zona do desconhecido. Eu gosto imenso da ignorância! Acho que a ignorância me põe numa zona de aprendizagem e de conhecimento... e eu adoro, adoro não saber coisas! Vejo sempre um caminho gigante à frente! Portanto, estes espetáculos, estes textos, autores e colegas, fazem exatamente isso: colocam-me num sítio sem proteção e isso é ótimo!
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TEATRO A Civilização do Espectáculo
.no meio dos lobos ou dos cordeiros?. POR Cátia Faísco
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unca me considerei loba. Mas também nunca me considerei cordeiro. Gosto de me passear no meio de ambos, num formato híbrido que vai tentando captar e incorporar o melhor das duas espécies. Há quem aponte o dedo para dizer que essa é uma atitude cobarde. Que há que decidir permanecer de um lado ou do outro, como se tudo na vida fosse simplesmente branco ou preto. E, na civilização do espectáculo, há tantos lobos e tantos cordeiros, que o melhor é mesmo aprender com eles. Mas quando um lobo veste a pele de um cordeiro, o melhor é estarmos atentos. Perdoem esta pequena incursão ao mundo animal, mas sou uma grande fã da história do Pedro e do Lobo e cito-a muitas vezes, assim como a simbologia dos seus animais. Consigo compreender a necessidade de sobrevivência dos animais, assim como a necessidade de sobrevivência dos artistas, ambos nos seus respectivos mundos. Mas quando não se trata de sobrevivência, mas sim de poder, de que forma devemos então encarar a forma como se comportam? Há uns tempos numa conversa com um artista (os nomes não adiantam quando há tantos exemplos parecidos ou iguais), fiquei admiradíssima com a sua atitude de despreocupação total com aquilo que o público, jornalistas/críticos e comunidade politicamente influente pensava acerca da sua obra. Falava com um fervor e com uma tenacidade (ambos tão autênticos!) de quem não precisa absolutamente de ninguém para sobreviver no mundo artístico. Embora não concordasse com aquela visão, não deixei de o admirar pela consistência do seu discurso. Imaginei como deveria ser difícil articular a sua prática num mundo tão pequenino, onde uma visão tão radical, e tornada pública, pode criar barreiras. Mas, a verdade é que nós acreditamos exactamente no que queremos acreditar. Há pessoas que, num ápice, têm uma noção perfeita do momento em que devem vestir a sua pele de cordeiro para que ninguém perceba que está ali um lobo. E o disfarce é tão bom que demoramos muito tempo a descobrir a sua verdadeira identidade.
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Andei com esta conversa na mente durante algum tempo. As temáticas discutidas levantaram em mim várias questões, como, entre outras, ceder ou não à opinião pública, ou dar ouvidos e misturar-me com os “influentes”. Era como se, mesmo não estando daquele lado da vedação, tivesse a tentação de passar para lá. Até que, há pouco tempo, soube que essa pessoa tinha ocupado um cargo importante. Demorei algum tempo a processar a informação até porque as coisas que acontecem, neste país, na área da cultura (e não só, obviamente!) são, variadíssimas vezes, totalmente inacreditáveis. Depois, resgatei a conversa da minha memória e lembrei-me de todas as suas palavras. Pergunto-me porque é que alguém se dá ao trabalho de construir uma imagem de cordeiro injustiçado, quando tudo o que andou a fazer nos bastidores era para que todos finalmente pudessem perceber que era O lobo que devia estar à frente da alcateia? Não gosto de cordeiros que se disfarçam de lobos, nem de lobos que se disfarçam de cordeiros. Não me venham atirar com discursos bonitinhos, cheios de bandeiras anti tudo, quando, no fundo, o que querem é tão parecido com os que são arrogantemente sinceros. Pelo menos, eu ando lá pelo meio e todos sabem que não sou uma coisa nem outra. Mas, quanto mais caminho entre um lado e o outro, menos percebo quais são afinal as suas fronteiras. E, afinal, como é que se sobrevive no meio disto tudo?
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Nota: Este artigo não foi escrito segundo o novo acordo ortográfico.
Sobre o autor Dramaturga, professora, investigadora, yogui.
CULTURA & ARTE Opinião
CINEMA Rui Tendinha
Rui Tendinha , o cinéfilo-curioso INTITULA-SE UM ESCRAVO DO CINEMA E FAZ DOS FESTIVAIS INTERNACIONAIS DE CINEMA A SUA CASA. RUI TENDINHA É UM DOS POUCOS CRÍTICOS DE CINEMA EM PORTUGAL E OLHA PARA O CINEMA PORTUGUÊS COMO UM DIAMANTE QUE AGUARDA SER LAPIDADO. NUMA CONVERSA SOBRE O RECENTE PROJETO CINETENDINHA.PT, ONDE MANTÉM OS SEUS SEGUIDORES INFORMADOS SOBRE O MUNDO CINÉFILO, RUI TENDINHA FALA DE CURIOSIDADE. JÁ SABE QUE FILME VAI VER HOJE? POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
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Rui diz que é um escravo do cinema. Acha que a sua vida dava um filme? (risos) Não, a minha vida não dava um filme! Eu sinto é que não tenho tempo para tudo e, como passo tanto tempo em salas escuras, a escrever sobre o que vejo, muitas vezes esqueço-me de viver. Não é bem “esquecer”, é mais perder-me. Perco o toque da realidade. Por alguma razão eu cheguei onde cheguei, em termos de vida profissional, e nunca tive filhos. Podia dizer que nunca calhou, é certo, mas tem a ver um pouco com essa minha “escravidão” face ao cinema. Dá-me um prazer ainda muito forte continuar a descobrir cinema, continuar a descobrir, do ponto de vista de reflexão, a relação do cinema com a vida, de entender o nosso lugar, como seres humanos, no mundo. O seu lugar é nos festivais de cinema? Eu como adepto de festivais de cinema e frequentador desses círculos, tenho sempre um problema: a maior parte dos filmes que se veem em maratonas de cinema e festivais não são filmes bons! O que acontece é que os festivais fazem uma triagem e depois nós, programadores, críticos, jornalistas, tentamos ver o que há de melhor. Para vermos um bom filme, se calhar temos de ver quatro maus. E quando se vê mau cinema, a alma corrói um bocadinho. Portanto, aquela ideia de o crítico de cinema ser uma profissão muito romântica, não é bem assim. Há dureza!
“Para vermos um bom filme, se calhar temos de ver quatro maus. E quando se vê mau cinema, a alma corrói um bocadinho”
Mas, então, o que está por trás desta figura do crítico de cinema? Eu faço crítica, mas também faço jornalismo de cinema, ou seja, a divulgação. Pretendo dar a perceber o que acontece na indústria do cinema e do showbiz, que tem muitas nuances a nível de negócios, de novidades, de novas viragens de ângulos e abordagens de produção - e isso interessa-me refletir e partilhar. Mas também me fascina olhar para um filme do ponto de vista estritamente cinéfilo. Há esses dois lados. Eu, como crítico, gosto de ter um lado um bocadinho eclético. Tanto gosto de perceber o que se está a passar dentro de um blockbuster de Hollywood, do estilo Bumblebee ou Fantastic Beasts, como dentro de um filme de autor, de um cineasta de Singapura, como eu há pouco tempo descobri. É esse lado quase bipolar e muitas vezes antagónico que mais me atrai na minha atividade. Mas, quando eu vejo mau cinema - e tenho visto mesmo muito mau -, apetece-me desistir disto porque estou a perder os meus neurónios em má arte! E eu gosto muito de refletir sobre o que é isso da má arte. Mas o cinema é uma arte tão democrática que, hoje, toda a gente consegue fazer um filme. Acho que a palavra “curioso” é muito importante. Temos de ser cinéfilo-curiosos. Ter curiosidade! Não é querer ser expert em tudo, nem ver tudo, mas sim ter curiosidade. Muitas vezes até podemos falhar alguns filmes, mas tivemos vontade e isso é o melhor. Eu estou do lado de quem quer descobrir o cinema, as suas correntes e as suas novidades. É um explorador... Sim, essa é uma boa descrição! É explorar e, muitas vezes, magoar-se na exploração... O cinetendinha.pt é o resultado dessa exploração, correto? O cinetendinha.pt nasce de um programa de televisão, mas eu quero que seja mais. Quero que seja uma boleia para aquilo que eu encontro no meu dia a dia. Falo da minha passagem por festivais de cinema, dos meus encontros – como com o Leonardo DiCaprio, que já entrevistei quatro vezes e com quem tenho tantas histórias para contar. Acho que quem segue cinema pode ter alguma curiosidade pelos conteúdos que publico. A parte dos encontros que inclui no cinetendinha.pt é, sem dúvida, interessante. O cinema é feito de encontros? Sim, o cinema é feito de encontros. Uma das coisas que eu mais gosto é estar num festival e, ao meu lado, estar alguém
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(não precisa de ser um dos DiCaprios da vida) de uma cultura diferente. Essa tertúlia, essa partilha do social e do humano, é muito bom! Eu conheço muita gente em festivais e isso é ganhar vida para além do cinema, mas graças ao cinema. São os encontros que o cinema nos proporciona. Isso é uma dádiva! Neste momento - e o Rui é uma das pessoas mais indicadas para nos responder a esta pergunta -, qual é o ponto de situação do cinema português? Estamos numa fase em que somos muito bem cotados lá fora no circuito festivaleiro, a nível de cinema de autor, claro. Mas, por outro lado, cá em Portugal, está a haver um crescente divórcio do público em relação ao cinema português. Há, de vez em quando, exceções. O São Jorge foi bom, o Pedro e Inês não esteve mal, mas mesmo o cinema comercial, das comédias (que dizem que são para o povo), não está a levar o povo ao cinema. E isso cria muitos equívocos de produção e apostas em abordagens que, no meu ponto de vista, são erradas. Entramos numa espécie de beco sem saída. O que fazemos é um cinema autoral cada vez mais hermético ou cada vez mais televisivo e aberto a um público que, se calhar, nem é do cinema... vai para as pipocas primeiro! (risos) Provavelmente
CULTURA & ARTE Rui Tendinha
não há nenhuma resposta, mas importa continuar a tentar encontrar pistas para se perceber como podemos aproximar o cinema e assim construir um público. Eu acredito que vai haver um clique, com temas e com abordagens de temáticas do cinema português que podem interessar. Por exemplo, vai estrear um filme sobre o António Variações, feito em Braga e em Lisboa. Eu acho que esse filme pode criar um ponto de atração e de curiosidade com um público que, se calhar, nem ia muito ao cinema, mas quer ver a história do Variações. Muitas vezes, a temática e a própria embalagem comercial do filme pode chegar aos espectadores. Em termos de bons filmes, o que recomenda em 2019? Entramos agora na temporada dos prémios. Por exemplo, eu gosto muito de um filme mexicano de Alfonso Cuarón, chamado Roma, filmado a preto e branco. Acho que é um filme que vai estar na corrida aos Óscares. Peter Farrelly, o cineasta conhecido por Doidos por Mary, acertou em cheio com Green Book, um drama muito humanista. No cinema português, há um filme que adoro: Diamantino, uma comédia sobre Portugal e sobre os Cristianos Ronaldos da vida, mas que depois é muito mais do que isso. Há esperança para vermos bom ci-
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nema sempre, continuamente. O problema é que o mercado aglutina-se a ele próprio porque estreia filmes a mais, filmes que não importam. Em Portugal estreiam filmes que na América, às vezes, não estreiam. Para quê? Para encher mercado, para depois passar na televisão e haver aqui um negócio. Mas é um negócio que a longo/médio prazo é um tiro no pé do próprio crescimento do público. Há sempre bons filmes. O problema é o desafio. As pessoas como nós, os críticos e jornalistas, é que devem ser seletivos e podem ter um barómetro de escolha - e isso é a nossa mais valia! Nós temos de ajudar as pessoas... para elas não irem ver um mau filme! O Rui é comissário do Ymotion. É interessante para si estar envolvido num festival de cinema jovem? Eu gosto muito de poder estar a pensar na programação e na curadoria do cinema em termos de festival, porque um festival é um lugar para a descoberta. No Ymotion, em V.N. Famalicão, por exemplo, escolhi a Terratreme como destaque do painel do Novíssimo Cinema Português. Porquê? Porque acho que eles têm sido os suspeitos do costume em termos do cinema que cruza o real com a ficção e têm tido uma presença assídua no circuito dos festivais lá fora. E é importantíssimo esse circuito. É um cartão de visita cultural que vale milhões de euros. Porque, por muito que se invista em publicidade, um bom filme torna-se viral. É como o filme de Miguel Gomes, As Mil e Uma Noites. Em todos os festivais, as pessoas ouviram falar de Portugal. É um cartão de visita
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inigualável à nossa cultura! Nenhuma arte consegue isso. Podem dizer que já vendemos novelas lá para fora, sim, mas a novela não é arte, é indústria. É uma máquina, não é um produto artístico. Em termos artísticos, temos assistido recentemente ao surgimento de novos cineastas no panorama do nosso cinema. Como vê esta nova geração? Eu acho que pessoas como Gabriel Abrantes (realizador do filme Diamantino) estão a cortar cordões umbilicais. Pedro Cabeleira, Domingos Coimbra, Carlos Conceição, etc. estão a fazer um cinema muito deles, muito individual, sem as chamadas afinidades seletivas e isso, para mim, é muito importante. É importante criar novas linguagens, claro que dentro de uma linha de cinema português que é completamente livre e autoral, mas com uma identidade própria. Não ter aquela reverência ao Fernando Lopes ou ao Manoel de Oliveira, que são cineastas que, obviamente, fizeram muito pelo cinema português, mas que o seu testemunho já foi perdido entre outras gerações. Agora, estes novos cineastas, estão mesmo a cortar e a estilhaçar a ligação e isso é muito bom. Esse estilhaçar não quer dizer que são contra, é fazer diferente! O cinema português recomenda-se então? Recomenda-se! Mas quando quer ser comercial e fazer os remakes dos outros clássicos do cinema português, como o Pátio das Cantigas, aí tenho muito o pé atrás.
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MÚSICA Ana Moura
Ana Moura, o novo horizonte do Fado É COM A CLASSE DE UM VESTIDO DE GALA, MAS COM OS PÉS BEM ASSENTES NUMAS SAPATILHAS MODERNAS QUE APRESENTAMOS ANA MOURA, A FADISTA PORTUGUESA QUE NOS MOSTRA, EM CADA CANÇÃO, QUE O PODER DO FADO PODE INSPIRAR GERAÇÕES E REJUVENESCER TRADIÇÕES. COM TODA A ELEGÂNCIA DE MULHER QUE SABE O QUE QUER E COM TODO O FUTURO NA VOZ, ESTA É ANA MOURA AOS NOSSOS OLHOS. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Rui Bandeira
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á vozes que nos marcam, arrastando-se pelo tempo como uma raiz que não esmorece. São vozes que nos cantam a vida, as tradições e os lamentos, vozes que trazem o sentimento de um povo em cada melodia, seja qual for o ritmo. Portugal é terra de Fado, de saudade que atormenta em cada choro de guitarra. Mas há vozes que perpetuam momentos e, mesmo depois do adeus, alcançam o poder de inspirar gerações, trazendo à vida novos horizontes. Falamos de vozes que o tempo não perde, como Zeca Afonso, Carlos Paião e António Variações. Ícones que ultrapassam a brevidade da existência e, em 2019, ainda deixam resquícios de um império criativo – como Amália Rodrigues. Talvez Amália seja o exemplo que melhor ilustre o talento que aqui queremos exaltar. O repertório de Amália, a sua unicidade vocal e a sua presença que enchia de luz as casas de Fado lisboeta são, sem sombra de dúvidas, a maior dádiva para a história do Fado, inspirando ainda hoje artistas que sobem a palco com influências notáveis da música de Amália. No meio dessas influências, há uma voz que nos marca neste século XXI como uma força do Fado novo, um batimento reinventado num coração antigo: Ana Moura, a voz que nos traz o Fado que nos empolga, o Fado novo que nos faz bater o pé, fora da aura típica das casas de Fado. Cruzamo-nos com Ana Moura no Theatro Circo, em Braga, em duas noites de casa cheia. Em palco, Ana Moura surge como um trovão, com a voz poderosa envolvida num vestido branco, que pinta de luz um ambiente outrora negro – como os recantos sombrios das casas de Fado antigas, onde o pesar do negro dos xailes e dos vestidos carimbavam o sofrimento do mundo fadista. Ana Moura é a sensualidade de um Fado que traz o pedido que embarquem nele, é uma voz que toca por dentro. Como num virar de direção, que nos empurra para um admirável mundo novo, com tradição e inovação na mesma estrofe, Ana Moura é, aos nossos olhos, aquele sol pela janela que nos apresenta um dia de mudança. A mudança de um Fado triste para um Fado sentido com um sorriso. É o Fado de uma geração à espreita, que nas playlists inclui, sem hesitação, os temas de António Zambujo, de Miguel Araújo, de Prince ou dos The Rolling Stones. Ana Moura é o vértice que liga a tradição com a novidade, recolhendo os aplausos do pop ao rock, mas sempre com a identidade de fadista – identidade essa que já ninguém lhe tira.
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Em 2019, Ana Moura continua a sua digressão mundial. A 22 de janeiro, estará em Londres, no conceituado Roundhouse.
Com a proeza de “disco mais vendido da última década em Portugal” atribuída ao álbum Desfado, Ana Moura apresenta um Fado com “elasticidade rara”, um Fado que convida a guitarra portuguesa a partilhar o palco com a bateria, com a guitarra de flamenco ou até com o cajón (instrumento de percussão). Dizendo facilmente “sim” àquele pedido reconhecido de “Leva-me aos Fados”, nós, aqueles que se sentam na plateia e aguardam os movimentos gentis que acompanham uma voz grave e cativante, vemos Ana Moura como uma carga de trabalhos que renova baterias de uma memória lusitana, para a tristeza ir de volta e o fado celebrar, como diz a canção. Mandando a tristeza embora, o Fado de Ana Moura é história contada a cantar, é vida envolvida em sentimento que, por muito que possa ser triste, é alegria nessa tão grande tristeza. Agora, se calhar, está na altura de ir ouvir os álbuns, não?
©Frederico Martins
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LITERATURA Três meses, três livros
HARUKI MURAKAMI A Morte do Comendador Vol.1
JOSÉ SARAMAGO Último Caderno de Lanzarote
MADELEINE ALBRIGHT Fascismo: Um Alerta
Editora: Casa das Letras
Editora: Porto Editora
Editora: Clube do Autor
Não é por acaso que o The Guardian considera Haruki Murakami como um dos maiores romancistas contemporâneos. Com diversas obras publicadas e traduzidas, a criatividade do escritor parece infinita. Depois de uma ausência de quatro anos, Murakami regressa com o primeiro volume do seu 14.º romance. Em A Morte do Comendador, o japonês presta uma singela homenagem ao Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald. Neste livro, um retratista sem nome deixa Tóquio e muda-se para uma misteriosa casa de montanha de um famoso artista. A descoberta de um quadro inédito no sótão desencadeia uma série de acontecimentos misteriosos, servindo de pretexto para o leitor ficar a conhecer os detalhes da vida do protagonista sem nome. O próprio título da obra – A Morte do Comendador – remete para a ópera Don Giovanni, de Mozart, deixando antever a predileção pela música e pintura como formas de artes dominantes num livro, onde reina também a dicotomia entre a solidão e o amor.
Numa altura em que se comemoram os 20 anos do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, a Porto Editora lança um livro inédito do autor português. Último Caderno de Lanzarote representa o fim de um ciclo de seis volumes. Saramago sentiu a necessidade de escrever um diário: em primeiro lugar, pela circunstância de ter saído do seu país para viver na pequena ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias; em segundo lugar, a premência de experimentar a “retenção” do tempo. Este caderno é como uma longa carta àqueles que ficaram no outro lado, mas é também, ao mesmo tempo, um modo de fingir prolongar a vida em torno de pertinaz escritura dos dias. Último Caderno de Lanzarote é revisitar Saramago e recordar o porquê de este ser um dos maiores nomes da literatura portuguesa.
Madeleine Albright não tem uma história de vida comum. Criada no seio de uma família com origem judia, teve que fugir da antiga Checoslováquia para os EUA, em busca de uma vida melhor. Com muita garra, tornou-se a primeira mulher a exercer funções como Secretário de Estado dos EUA, assumindo-se como um dos nomes incontornáveis da política estadunidense. Hoje, Madeleine é notícia, mas por outros motivos, com o lançamento do seu livro Fascismo: Um Alerta. Tomando como ponto de partida as suas próprias experiências por uma Europa dilacerada pelo terror da II Guerra Mundial, a autora percorre a emergência do fascismo, através da análise de figuras como Adolf Hitler e Benito Mussolini, e chega até à atualidade. Na sua obra, são evidentes as suas inquietações face ao cenário político contemporâneo e o renascer do autoritarismo. O alerta ante os perigos do Fascismo está dado, resta interpretar os sinais. POR Filipa Santos Sousa
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FERNANDO COELHO O arquiteto que queria ser aviador
TOPÁZIO
Uma história centenára... feita à mão!
PAULO LOBO
A beleza está no interior
A visĂŁo empresarial, o sucesso alĂŠm-fronteiras e a economia Ă lupa.
ARQUITETURA Fernando Coelho
Fernando Coelho, o arquiteto que queria ser aviador QUERIA SER AVIADOR, MAS ESSE SONHO, APESAR DE TÃO PRESENTE, DEU LUGAR A UMA PAIXÃO INESPERADA: A ARQUITETURA. HOJE, FERNANDO COELHO É UM DOS MAIS REPUTADOS ARQUITETOS DO NOSSO PAÍS, COM UM PORTEFÓLIO REPLETO DE PROJETOS DESTACADOS PELO SEU DESENHO ARROJADO E CONCEITO APELATIVO. FALAMOS DO CELLA BAR, NOS AÇORES, DO MONVERDE WINE EXPERIENCE HOTEL, EM AMARANTE, OU DE MATO, UMA GALERIA DE ARTE EM CUCUJÃES. FOMOS CONHECER A FCC ARQUITETURA, EM FELGUEIRAS, NUMA CONVERSA QUE NOS LEVOU À ANÁLISE DA ARQUITETURA PORTUGUESA DA ATUALIDADE. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio e Fernando Guerra | FCC Arquitetura
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J
á conta com uma longa carreira, mas propomos voltar ao início. Porquê a Arquitetura? Eu sempre tive a mania do “voar” e, portanto, queria ser aviador. No entanto, no final do meu 12º ano, não havia grandes cursos de piloto como hoje existem e tinha de ir para a Força Aérea, em Lisboa. Mas, como já tinha namorada, não queria ir (risos). Aliás, foi a minha namorada, atual esposa, que sugeriu a Arquitetura, uma vez que sempre achou piada aos meus desenhos. Entrei no curso para experimentar e, no primeiro ano, apaixonei-me por isto! Comecei a estudar e a trabalhar ao mesmo tempo, o que me deu bagagem. Criei o meu atelier no início de 2003, contando, pouco tempo depois, com o apoio da minha colega Ana Loureiro, que neste momento é sócia também. O meu primeiro trabalho foi de cariz religioso, um pequeno oratório de “Nossa Senhora”, algo muito comum há uns anos e visível à beira das estradas. Esse projeto que eu fiz não teve nada a ver com aquilo que era tradicional e, por isso, fui depois convidado a fazer um projeto para a casa de um padre e, mais tarde, uma importante igreja aqui no concelho de Felgueiras, a Igreja de Lagares, um projeto que só está a ficar pronto agora – depois de quase 15 anos. Tivemos a sorte ou o mérito de ganhar esse concurso. A partir daí, foi uma coisa atrás de outra. É evidente que a FCC Arquitetura hoje tem uma estrutura que não tinha antigamente. Hoje já somos cinco pessoas e temos projetos a nível nacional e ilhas.
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Cella Bar, nos Açores
Faz então um balanço positivo deste percurso? Sim! Apesar de, como eu digo, nós termos começado numa época muito má: a nível de imobiliário e de obra foi o pior tempo. Mas sobrevivemos e amadurecemos. Ganhamos experiência a nível de processo burocrático, de relação com o cliente e de obra, porque só o tempo e a experiência no acompanhamento de obra nos fazem perceber como é que as coisas se fazem verdadeiramente. A seu ver, quais são os principais pilares atuais da Arquitetura em Portugal? Eu costumo dizer que há três coisas muito importantes na Arquitetura: em primeiro lugar, o sítio. É muito importante o sítio onde vamos construir seja o que for. Costuma dizer-se até que o sítio faz a arquitetura; depois, o cliente; e, no fim, o empreiteiro. Se estas três coisas não estiverem bem interligadas, não resulta! E lidamos sempre com uma coisa complicada - o dinheiro. Desde uma casa pequenina até um hotel que custe dez milhões de euros, a escala é sempre a mesma, porque a exigência do cliente é sempre altíssima. Estamos sempre a lidar com o esforço do trabalho das pessoas e é sempre muito dinheiro na visão do cliente. Por isso, tem de haver uma relação de confiança. Começou, como nos contava, com um projeto nada convencional... Sim, não era nada convencional porque na altura o tradi-
NEGÓCIOS Fernando Coelho
cional era fazer aquela casinha em vidro, comprar a Nossa Senhora de Fátima e... já estava! Eu fiz um espelho de água e coloquei uma escultura de Paulo Neves com três toneladas em mármore. Na altura, havia muita gente que olhava para o projeto e não se revia na imagem. Hoje em dia, toda a gente gosta muito. Essas sensações ou insinuações que tentamos fazer ao público, para mostrar que há mais para além do tradicional, são importantes, a meu ver. Então, de certa forma, um arquiteto é um artista? É uma pergunta difícil (risos). Porque há uma parte da nossa profissão que é muito técnica, apesar de um escultor ou pintor também ter muita técnica. Eu acho que para chegar à fase de dizer “eu sou um artista” é necessário passar muitos patamares. É necessário que as pessoas venham ter connosco porque se identificam com o nosso tipo de arquitetura, porque temos uma linguagem própria, tudo isso... Para mim, o Souto de Moura ou Siza Vieira são artistas. Eu ainda não me considero artista. Ainda sou um técnico. Não sei se tenho capacidade para lá chegar, mas trabalho para isso (risos). É impossível não falarmos de três projetos que, a nosso ver, são ex-libris do seu trabalho. Começamos pelo Cella Bar, no Pico (Açores), um projeto premiado como Building of the year em 2016. Este foi um projeto arrojado e que espelha bem a sua filosofia como arquiteto? É evidente que este foi um projeto importante e eu não tinha consciência que teria a repercussão que teve: o Cella Bar correu o mundo, saiu em todas as publicações, desde a Coreia do Sul até ao Brasil. Foi um projeto que me deu muito gozo fazer e, pessoalmente, fiquei apaixonado por aquela ilha e pelas pessoas. Não foi fácil fazer uma obra daquelas nos Açores, muito menos no Pico. A construção lá não tem nada a ver com o continente e é muito difícil fazer chegar as matérias-primas... mas conseguiu-se. E correu muito bem! Foi bom receber o prémio, como é evidente. Isso deu à FCC Arquitetura mais exposição, não só a nível nacional como também internacional, permitindo que tenhamos hoje outro tipo de projetos e clientes. Passamos para o projeto do Monverde Hotel, na Quinta da Lixa. Qual foi aqui o ponto de partida? Foram quase oito anos desde que começamos o primeiro desenho até acabar a obra. Foi um projeto muito importante para nós porque foi o nosso primeiro grande hotel. Na altura, quando o dono da obra nos propôs o projeto, a ideia não era um hotel. Seria uma casa para amigos ou potenciais clientes que visitassem a Quinta da Lixa. E foi assim que eu comecei. O problema foi que, ao desenhar, achei que aquilo realmente era bom demais para ser apenas uma casa para
NEGÓCIOS Fernando Coelho
“Às vezes, as pessoas esquecem-se que um bom projeto de arquitetura faz um bom negócio”
amigos. No fundo, levei o cliente a acreditar naquilo que eu acreditava. O problema é que uma casa de amigos custa uma coisa, um hotel custa outra! (risos) Hoje, o Monverde é um case study. Também ganhamos alguns prémios com o edifício: foi considerado um dos melhores hotéis de enoturismo a nível mundial. Correu muito bem! Neste momento estamos a ampliar o hotel, o que é um ótimo sinal. Falando agora do icónico projeto Mato, em Cucujães. Já é um trabalho de 2012. Como foi traçar um projeto para um artista (Paulo Neves)? É mais fácil trabalhar para alguém que conhecemos bem ou isso não traz qualquer tipo de influência no resultado final? É ainda uma responsabilidade maior. Eu e o Paulo começamos com aquela “Nossa Senhora”. Nessa altura, por volta de 2002, quando me propuseram esse projeto, pensei logo em incluir uma escultura. Numa conversa com um amigo, surgiu o nome do Paulo Neves. Encontrei-me com ele no atelier dele. Acho que a empatia – e hoje com certeza posso afirmar isso – foi mútua. Hoje, o Paulo Neves é um dos meus melhores amigos. Ele aceitou o desafio... porque realmente o budget que eu tinha não servia para lhe pagar a peça (risos). A partir daí, já fiz imensas coisas com o Paulo, porque acho que a arquitetura se coaduna muito bem com a escultura. Quando ele me falou em construir uma galeria que servisse para exposições, foi um grande desafio para mim... porque o Paulo é muito bom! Aquilo que nós fizemos, na altura, foi inspirarmo-nos na obra dele e tentar daí criar um edifício. Acho que o resultado foi bom e que o Paulo está muito contente com o edifício.
Monverde Wine Experience Hotel, na Quinta da Lixa
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“Um projeto que eu nunca tenha feito? Uma ponte! E, como tenho a mania das alturas, era capaz de gostar de desenhar uma ponte (risos)”
Atualmente, que projetos tem em mãos? Temos vários projetos ainda em execução, coisas particulares e outras a nível de hotelaria, principalmente nos Açores, onde temos projetos já em várias ilhas, como São Miguel, Pico, Terceira e Faial. Nos planos está a restruturação de um hotel, a criação de cinco hotéis de raiz e, ainda, vários projetos de moradias ou loteamentos. Vivemos uma altura em que muito se fala em processos de reabilitação, dando nova vida a edifícios. A arquitetura do futuro tem, a seu ver, a reabilitação como desafio? Sim, principalmente nas grandes cidades e sobretudo por causa do turismo. Acho que o imobiliário hoje em dia tem que dar graças a Deus ao turismo pelo boom que está a ter. Porque todas as grandes cidades, como Coimbra, Porto ou Lisboa, estão a ser reabilitadas devido ao turismo. Não só para alojamentos locais, como também para arrendamento. A verdade é que o turismo traz os investidores. Por exemplo, quando eu andava na universidade, a Rua das Flores, no Porto, era uma rua em que ninguém lá entrava e, neste momento, é uma das ruas mais movimentadas da cidade do Porto e mais caras em termos de imobiliário. Se está a ser feita uma boa reconstrução ou não... isso já é outro tema. Há coisas muito bem feitas e há outras muito mal feitas, dependendo dos promotores.
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Acho que Portugal tem uma excelente arquitetura, somos reconhecidos a nível internacional, temos excelentes arquitetos, cada vez mais novos – sobretudo porque as escolas são muito boas. A nível de construção ainda temos bons empreiteiros, mão de obra à moda antiga, como eu costumo dizer, com muita atenção ao detalhe. Há excelentes reconstruções, temos edifícios belíssimos, por isso, acho que, de maneira geral, o balanço é positivo. É sempre importante relembrar que a arquitetura cria espaços para as pessoas estarem, para que se sintam bem. O povo português só há relativamente pouco tempo se apercebeu disso. Por exemplo, o Cella Bar fez com que muita gente fosse ao Pico por causa da arquitetura do edifício. Às vezes, as pessoas esquecem-se que um bom projeto de arquitetura faz um bom negócio.
Mato, galeria em Cucujães.
Já tem vários projetos de prestígio na carreira. Assim de repente, o que lhe falta fazer? Tem planos que ainda não conseguiu pôr em prática? (risos) É uma coisa engraçada porque às vezes dou por mim a pensar como é que os projetos surgem. De um papel em branco ao projeto final, há coisas que nem dão para explicar. Tudo depende do que nós absorvemos, do que vemos no local, do que falamos com o dono de obra... Um projeto que eu nunca tenha feito? Uma ponte! E, como tenho a mania das alturas, era capaz de gostar de desenhar uma ponte (risos). De resto, gosto muito de fazer moradias, apesar de ser um projeto que dá imenso trabalho e pouco lucro. É gratificante para nós percebermos que realmente a família se sente bem naquele espaço que desenhamos.
NEGÓCIOS Fernando Coelho
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ARQUITETURA Opinião
Do mundo que nos dá forma POR Tiago do Vale
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nfelizmente, quase tudo o que vemos das nossas janelas é construído, mas não foi “desenhado” em nenhum sentido mais elaborado da palavra. A razão para tal, para além das considerações financeiras, é que a maior parte das construções são encomendadas para dar resposta apenas a dois aspetos: por um lado, as normas e regulamentos a cumprir; pelo outro, as necessidades funcionais a que a construção deve dar resposta, recorrendo ao mínimo de recursos - espaço, tempo e dinheiro - possível. A estética, a sua composição, como será experienciada pelos seus utentes - no fundo, como é “desenhada” - é muitas vezes considerada irrelevante. A distinção entre arquitetura e construção, entre o desenho para prazer estético e o desenho para a função, é enganadora, errada e defunta. O impacto que o ambiente construído e o seu desenho tem nas nossas vidas é tão profundo que não pode ser secundarizado. A boa arquitetura - sistematizada, ordenada, com padrões, que explora as sensações, as texturas dos materiais e que desenha sequências deliberadas de espaços - cria lugares coerentes (desde as paisagens e grandes espaços urbanos até aos mais pequenos e modestos edifícios) que têm uma influência profunda na vida humana: dão forma à nossa perceção, às nossas emoções, às nossas ações e à nossa identidade. Winston Churchill, depois da destruição alemã da Câmara dos Comuns no Parlamento de Londres, apelou aos parlamentares britânicos para que votassem a favor da reconstrução da câmara na sua forma retangular original, com duas longas bancadas frente a frente, simbolicamente representando o sistema bipartidário que, acreditava, constituía a espinha dorsal da democracia parlamentar britânica. “Damos forma aos edifícios e, em seguida, eles dão-nos forma a nós”, declarou Churchill. Quanto mais aprendemos acerca de como as pessoas experienciam os ambientes onde vivem as suas vidas e o im-
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pacto enorme que têm no seu bem-estar, desempenho e saúde, mais evidente se torna que um ambiente bem desenhado é uma necessidade crucial e um direito humano básico. Hoje, mais do que nunca, com os meios de sempre e com as mais recentes tecnologias, é possível desenhar incorporando todas as complexidades do nosso mundo social, as especificidades do lugar, as necessidades do nosso corpo e dos nossos sentidos, e a forma como experienciamos o espaço ao longo do tempo. Há muito a fazer, mas as grandes mudanças podem começar com pequenos avanços, casa a casa, bairro a bairro, parque a parque. O ambiente construído é composto por uma soma de construções, lugares e paisagens individuais: cada uma delas pode ser enriquecedora ou esmagadora, dependendo de como é desenhada. Para o melhor e para o pior, os edifícios e as paisagens dão literalmente forma à nossa vida e a nós próprios. Desenhar e construir ambientes ricos, informados por tudo o que hoje sabemos acerca do como as pessoas vivem e reagem aos lugares que habitam será um importante motor de desenvolvimento humano. Um melhor ambiente construído deve ser o nosso legado para as próximas gerações.
Sobre o autor Arquiteto pela Universidade de Coimbra, vencedor do American Architecture Prize 2017 e do Building of The Year Awards 2014.
NEGÓCIOS Opinião
CADERNO TÃtulo da Reportagem
CUTELARIA Topázio
Uma história centenária... feita à mão! COM A MESTRIA DOS ARTESÃOS COMO PILAR FUNDAMENTAL DO NEGÓCIO, A TOPÁZIO É UMA MARCA PORTUGUESA CARACTERIZADA PELAS CRIAÇÕES ELEGANTES A NÍVEL DE PEÇAS DE JOALHARIA, DECORAÇÃO E CUTELARIA. NUMA VISITA ÀS INSTALAÇÕES DA EMPRESA, EM GONDOMAR, DESCOBRIMOS UMA ARTE CENTENÁRIA COM LINHAS CONTEMPORÂNEAS. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
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CADERNO Título da Reportagem
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ara contarmos a história da Topázio, temos obrigatoriamente de viajar no tempo. Em 1874, Manuel José Ferreira Marques fundiu, na sua pequena oficina, um fio de ouro e, com a sua própria destreza, criou a primeira joia. Rapidamente, a empresa Ferreira Marques & Irmão tornou-se um exemplo de qualidade, recebendo elogios nas feiras por onde passava. As peças em ouro e em prata – e principalmente a minúcia das sugestões de cutelaria -, foram ganhando gabarito e hoje, mais de 140 anos depois, o nome Topázio é sinónimo de habilidade. Localizada em Valbom, em Gondomar, a Topázio é uma mistura de tradição e inovação, numa autêntica história feita à mão. Com a mestria dos seus artesãos a acompanhar o centenário de uma marca intimamente lusa, a Topázio é uma marca premium de linhas clássicas e contemporâneas, num vasto portefólio de criações: das peças de joalharia às peças de decoração, da cutelaria eternizada nos seus icónicos faqueiros às restantes propostas de mesa. Topázio é art de la table e savoir faire, num misto de sugestões sóbrias e arrojadas, discretas e extravagantes. Percorrendo as instalações da Topázio em Gondomar, acompanhados pelo ritmo das máquinas antigas que, sempre com auxílio manual, marcam o início de uma nova peça, percebemos facilmente que a marca tem no seu ADN um forte cunho familiar, envolvido numa visão contemporânea que acompanha as tendências e as exigências do mercado atual. Dentro do panorama da joalharia, as peças para ho-
mem e para mulher, dos botões de punho aos anéis e colares, compõem coleções – algumas intemporais até – que elevam a marca à elegância dos nossos dias. Depois, em termos de cutelaria, os faqueiros continuam a ser uma imagem de marca da Topázio, embora cada vez mais irreverentes e com um importante selo de design – colaborações com artistas de renome, como Toni Grilo, trazem novas abordagens aos tradicionais faqueiros que compõem a mesa de jantar em ocasiões especiais. A nível de decoração geral, a Topázio engloba um diverso leque de opções: linhas de acessórios de café, bar, jarras e centros de mesa, salvas de prata e outros tabuleiros, etc. Para quem procura presentes e outras recordações, a Topázio também garante sugestões graciosas com peças religiosas, como cruzes, velas, presépios, anjos ou peças distintas como acessórios para noivas. Com presença vincada no mercado nacional, na maior parte das joalharias/ourivesarias portuguesas, nas lojas de decoração e nas lojas próprias situadas na fábrica em Gondomar e no Altis Grand Hotel em Lisboa, a Topázio é hoje um exemplo da qualidade nacional, exportando cerca de 35% (sensivelmente) das suas peças para mercados europeus e nos EUA. Numa herança tradicional que preserva o saber manual e valoriza o tempo (não é à toa que a Topázio guarda os seus desenhos de peças originais, desenhos esses que ainda hoje servem de inspiração aos designers), a Topázio é fidelidade entre gerações. De mães para filhas, de avôs para netos, as peças Topázio são, mais do que qualquer pedra preciosa, obras de arte colecionáveis. Prata, ouro, filigrana... a Topázio é um legado de evolução!
NEGÓCIOS Topázio
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DESIGN DE INTERIORES Paulo Lobo
Paulo Lobo, a beleza está no interior É NUMA MANHÃ AGITADA NA CIDADE DO PORTO, GRAÇAS AO RITMO TURÍSTICO, QUE NOS DESLOCAMOS AO ATELIER DE UM DOS NOMES MAIS CONSAGRADOS DO DESIGN DE INTERIORES DO NOSSO PAÍS: PAULO LOBO, O HOMEM QUE VIU O PORTO TRANSFORMAR-SE NUMA CIDADE ARTÍSTICA E COSMOPOLITA... E ATÉ CONTRIBUIU PARA ISSO! POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Paulo Lobo Interiores
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Restaurante Oficina
Restaurante Oficina
Vogue Café
É
sob as arcadas, na Rua de Miragaia, que encontramos uma porta que é a entrada para um admirável mundo de técnica e bom gosto. Num atelier amplo e pautado por detalhes como espelhos e poltronas coloridas, Paulo Lobo refugia-se numa bolha de inspiração que tem nas pessoas do Norte a sua maior influência. Já lá vão os anos em que o universo dos tecidos se abria aos seus olhos, graças ao trabalho do pai; ou que a moda, na primeira loja que assinou para a sua namorada (atual esposa), o fazia receber inúmeros pedidos para projetos de interiores de showrooms. Hoje, os pedidos são outros... e não lhe dão descanso! Com projetos vários, principalmente na região portuense, Paulo Lobo é um dos talentos do Design de Interiores em Portugal e, mantendo uma relação umbilical aos artesãos que, como diz, foram uma peça fundamental para a sua formação prática, permitindo que conhecesse materiais e as suas aplicações, tem acumulado sucessos: do icónico Cafeína aos recentes projetos da Enoteca 17.56 (da Real Companhia Velha), do Grand Hotel
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Enoteca 17.56
Açores Atlântico, do Monverde Wine Experience Hotel, do Cella Bar ou do glamoroso Vogue Café. “De cinco em cinco anos, há sempre um projeto que me marca mais ou que as pessoas mais falam. O Cafeína é icónico no meu percurso, assim como o Boundi Café. Recentemente, a Enoteca 17.56, que abriu em setembro, tem tido um sucesso enorme; o restaurante Nogueira’s, na Rua de Ceuta, também tem tido uma adesão muito grande; o Oficina, embora já seja um projeto de 2016, também é destacado; e o Vogue Café, que, face às exigências da Vogue e da Condé Nast, está muito interessante – acho até que está muito longe daquilo que tem sido feito nos restantes Vogue Café do mundo”, descreve-nos Paulo Lobo. “Agora, os projetos que desenvolvo são maioritariamente no ramo do turismo e hotelaria. Também alguma habitação. Mas não há moda: zero lojas e showrooms. Passou de moda!”, acrescenta, sorridente, o designer. Encarando os clientes como a peça fundamental no processo de criação de interiorismo, Paulo Lobo valoriza a con-
NEGÓCIOS Paulo Lobo
fiança e a liberdade de pensamento. “Os bons clientes são aqueles que nos deixam fazer, que acreditam naquilo que propomos. Para mim, um cliente que entenda o que estou a dizer e confie em mim faz com que eu entenda que o projeto será vencedor”, destaca. Lamentando as tendências internacionais “copiadas e pouco consistentes” e referindo que os seus projetos tendem a ter um fio condutor único, Paulo Lobo vê com agrado a crescente notoriedade da importância do design de interiores. “Quando comecei, na década de 80, confundia-se muito aquilo que nós, interioristas, fazíamos. ‘Quem faz isso é o arquiteto’ era uma expressão frequente. A verdade é que a boa arquitetura conseguia perceber-nos, mas a má dizia que estávamos a mexer numa coisa que ela é que fazia. Hoje, realmente, já há muita arquitetura a perceber que nós fazemos algo diferente, trabalhamos outra área... e esse problema acabou. Mas, durante muitos anos, eu sentira esse mau estar”, relata. Com uma equipa pequena, com quatro pessoas a auxiliar a sua linha de pensamento, Paulo Lobo mantém-se ativo e reconhecido. Hotéis, restaurantes, bares... qual é o limite para a criação de Paulo Lobo?
“Os bons clientes são aqueles que nos deixam fazer, que acreditam naquilo que propomos”
Paulo Lobo ©Nuno Sampaio
Restaurante Oficina Sandeman Chiado
NEGÓCIOS Paulo Lobo
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ECONOMIA Opinião
Da ética no ensino à ética nos negócios POR Sílvia Sousa
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gravidade das consequências económicas e sociais da mais recente crise financeira colocou as questões da ética nos negócios no centro da atenção de um número significativo de organizações económicas, pressionando as instituições de ensino e formação a acomodar nos seus curricula esta preocupação. Os processos de avaliação e de acreditação, nacionais e internacionais, dos cursos nas áreas da Economia e da Gestão, seja ao nível das licenciaturas, seja ao nível dos mestrados, fazem eco desta preocupação, promovendo, através da sua valorização, a inclusão de abordagens formais de tópicos como ética, responsabilidade social e responsabilidade ambiental. A forma como estes tópicos têm sido acomodados pelas instituições de ensino superior tem variado, denotando diferentes níveis de preocupação, de reação à pressão ou de capacidade para produzir ajustamentos nos seus conteúdos e métodos de ensino. Ao nível da investigação académica, é possível encontrar uma miríade de perspetivas, dependendo da área científica. No caso da Economia e da Gestão, a investigação tende a ser mais profícua no contexto do estudo das decisões das empresas, associando a ética à responsabilidade social e trabalhando as suas motivações e consequências, inclusivamente ao nível dos resultados económicos das empresas. Adicionalmente, ainda no âmbito da Economia e da Gestão, o ensino da ética, formal ou informal, tem assumido uma importância crescente, ao nível da análise do seu impacto nas perceções dos alunos, futuros economistas e gestores, relativamente a um conjunto de comportamentos e atitudes no contexto académico e no contexto empresarial ou profissional. Ainda que sujeitos a alguma controvérsia, os resultados relativamente aos fatores que contribuem para a formação destas perceções apontam para a importância de características como o sexo, o ano académico e a área de estudo, assim como das práticas de ensino em contexto
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de sala de aula, do interesse e compromisso dos docentes relativamente à responsabilidade social das empresas e do ensino formal da ética. Neste domínio, é particularmente interessante estudar a relação entre as perceções sobre fraude académica e as perceções sobre ética empresarial, sendo possível estabelecer uma correlação positiva entre ambas. Por exemplo, as atitudes relativamente a copiar nas avaliações durante a universidade permitem prever atitudes relativamente a futuros comportamentos menos éticos, em contexto empresarial, e nesta relação observam-se diferenças entre mulheres e homens, apresentando, as primeiras, em média, atitudes menos tolerantes à fraude e a comportamentos menos éticos. Outro resultado a salientar, no contexto académico, está associado ao beneficiário da fraude – se esta for cometida em benefício de outrem (por exemplo, assinar a folha de presenças por um colega), é considerada menos grave ou até aceitável. Obviamente, o papel dos professores universitários, que talvez por lidarem com indivíduos adultos poderão ter uma maior tendência para se demitirem de intervir nestas circunstâncias, deve ser alvo de reflexão. Reflexão essa que será claramente útil que seja transversal a todos os níveis de ensino. Ou correremos o risco do eticamente inaceitável se tornar prática corrente, inclusive ao nível dos nossos mais altos representantes políticos.
Sobre o autor Economista, Universidade do Minho.
NEGÓCIOS Opinião
DECORAÇÃO Surrealejos
Os azulejos surreais de Luca O SURREALISMO DOS SONHOS DO ITALIANO LUCA COLAPIETRO ENCONTROU A TELA PERFEITA NOS AZULEJOS PORTUGUESES. DOS SÍMBOLOS DA NOSSA CULTURA AOS DETALHES DE INSPIRAÇÃO DIVERSA, A SURREALEJOS É UMA OBRA-PRIMA COM INFINITAS POSSIBILIDADES DE UTILIZAÇÃO. UMA SUGESTÃO ORIGINAL PARA OS AMANTES DE DESIGN CONTEMPORÂNEO. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Surrealejos
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história de Luca Colapietro começa como tantas outras... com um “era uma vez”. Era uma vez um homem italiano apaixonado pelas artes surrealistas que, em viagens, encontrou Lisboa, a capital de um país cuja riqueza artística, principalmente a nível de artesanato, o deixou rendido. De malas e bagagens, mudou-se para Lisboa há cerca de quatro anos, deixando que o ambiente harmonioso, entre realidade e sonho, o inspirasse. O resultado dessa inspiração está à vista no número 5 da Calçada de Santo André – ou em todas as plataformas digitais: Surrealejos, uma arte que liga o azulejo português com o surrealismo típico do design de Luca Colapietro. Dando uma nova interpretação à tradição dos azulejos em Portugal, Luca Colapietro apresenta hoje um portefólio variado, utilizando elementos icónicos da cultura lusa, como as sardinhas, o galo de Barcelos, o elétrico ou os cravos vermelhos, juntamente com outros símbolos “surreais” que têm algum significado para Luca – sejam detalhes da cultura italiana ou das memórias das suas viagens. Inspirando-se nos seus próprios sonhos, tal como Salvador Dalí e a base do movimento surrealista, o italiano Luca recorre a uma técnica diferente da tradicional para a impressão das suas imagens no azulejo. A técnica consiste em fazer uma digitalização das imagens escolhidas, imprimi-las num papel especial para serem sobrepostas no azulejo e levar ao forno durante cerca de dez minutos. “Comecei com os azulejos individuais (pattern), depois com os painéis e agora estou a expandir o projeto para peças de esculturas, têxtil e design de interiores”, destaca Luca, colocando em evidência a versatilidade dos azulejos que cria: mesas, cadeiras, quadros, etc. para carimbar um ambiente surrealista em cozinhas, salas, quartos e até casas de banho!
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NEGÓCIOS Surrealejos
As peças da Surrealejos estão disponíveis para compra no atelier em Lisboa, no site ou em locais parceiros em Milão, Londres ou Paris. Todas as informações podem ser encontradas em www.surrealejos.com
NEGÓCIOS Surrealejos
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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL Opinião
Inteligência artificial no local de trabalho ou com o meu trabalho? POR André Pimenta Ribeiro
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amos tirar-vos o emprego e isso será algo positivo”. Estas foram as palavras do robô Sofia (primeiro robô a receber a cidadania de um país – Arábia Saudita) há pouco mais de um ano no Altice Arena, em plena Web Summit, palavras estas que arrancaram gargalhadas de um público que enchia o Altice Arena e palavras estas que, para mim, são muito acertadas! Acredito que muitos de nós já assumam como um facto que muitos trabalhos irão ser substituídos por máquinas ou robôs com uma maior ou menor inteligência. Na verdade, isto já acontece e muito se deve à capacidade que estas máquinas têm adquirido de resolver problemas cada vez mais complexos, muitas vezes melhor que nós e de forma mais rápida com recurso à inteligência artificial. É assustador o caminho que conseguimos imaginar que será seguido com a introdução da inteligência artificial na realização de tarefas quotidianas que sempre foram realizadas por nós, assentando no medo de que “um robô” irá tirar o nosso trabalho - e não estamos só a falar dos trabalhos mais
©Nuno Sampaio
repetitivos que, por vezes, são considerados menos qualificados, mas também trabalho mais qualificado e de maior complexidade. Arrisco a dizer que tanto um operador de call center, um programador ou um médico poderão ter o seu trabalho em risco dentro de alguns (talvez muitos) anos… o que não faltam são histórias e casos de estudo de como isso será possível. Pessoalmente, não acredito no lado negro da força quando falamos de inteligência artificial. Prefiro acreditar no valor acrescentado e na melhoria de vida que ela pode trazer ao nosso dia a dia. Na verdade, quem é que gosta de fazer aquelas tarefas chatas e repetitivas que nos limitam de fazer o que realmente gostamos? Este é, para mim, um bom exemplo de como a inteligência artificial poderá ser fundamental no processo de ajudar a melhorar o nosso dia a dia, do nosso bem-estar e de motivação, libertando tempo para o que realmente gostamos ou somos bons a fazer. Sabe-se, ainda, que hoje em dia as máquinas dotadas de inteligência artificial são capazes de fazer diagnósticos de uma forma muito eficiente e rápida (o IBM Watson é provavelmente o projeto mais conhecido pela inovação e excelentes resultados no diagnóstico médico) e isto pode ser usado a nosso favor para melhorar a nossa qualidade de vida, através da análise dos nossos padrões e comportamentos que irão permitir criar recomendações que irão ajudar no processo de tomada de decisões, como uma espécie de assistente pessoal. A meu ver, a inteligência artificial já consegue fazer isto no nosso dia a dia, já é possível tratar do processo de agendamento de uma reunião ou viagem de forma automática, poupando-nos tempo e aborrecimento. Já é possível automatizar a luz artificial do local de trabalho de forma a melhorar a produtividade ou mesmo através de sistemas que nos dizem quando devemos parar um pouco para relaxar. Porque não tirar proveito? Quanto ao lado negro da força… será (ou já é?) provavelmente mais uma revolução mundial feita de forma mais rápida e de uma dimensão maior.
Sobre o autor CEO & Co-Founder da Performetric, empresa sediada em Braga e responsável pelo desenvolvimento de um sistema de Mental Fatigue Managment.
NEGÓCIOS Opinião
LE BABACHRIS
Um ingrediente secreto? O amor!
LOCAL
A cantina moderna e saudรกvel na capital
MARUPIU
Uma viagem de sabores com charme parisiense
Os paladares surpreendentes, os rostos da gastronomia e os espaรงos de culto.
À CARTA Le Babachris
Um ingrediente secreto? O amor! SE O AMOR TIVESSE UM SABOR, DAQUELES QUE A MEMÓRIA GUSTATIVA NUNCA ESQUECE, CHRISTIAN RULLÁN SERIA O EXPLORADOR QUE, POR ENTRE MARES, TERIA ENCONTRADO O CAMINHO PARA O ENCONTRAR. EM CIDADE DE CONQUISTADORES, NUM AMBIENTE ACOLHEDOR BEM NO CORAÇÃO DO BERÇO DE PORTUGAL, O LE BABACHRIS É UMA AUTÊNTICA HISTÓRIA DE AMOR: A BÁRBARA, AMOR MAIOR DE CHRISTIAN; A GUIMARÃES, CIDADE QUE DEIXOU CHRISTIAN RENDIDO; E À GASTRONOMIA, QUE CHRISTIAN ABRAÇA NA PERFEIÇÃO. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
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hristian Rullán é um homem de sotaques. Nascido no nordeste de França, traz no seu currículo a passagem pelo icónico Lenôtre parisiense. Passou grande parte da sua vida nas Ilhas Baleares, mais propriamente em Maiorca, e há cerca de quatro anos, incentivado por Bárbara, decidiu conhecer Guimarães. Apaixonado pela atmosfera medieval, de castelos e muralhas, de ruas que eternizam um passado de reis e rainhas, Christian quis ali dar início a um projeto que deseja ser “diferente”: o Le Babachris, um restaurante na Rua D. João I, composto por duas salas de jantar, perfazendo 36 lugares, com uma decoração intimista, acolhedora e, acima de tudo, inspiradora – não fosse o Le Babachris sinónimo de inspiração. A inspiração do Le Babachris surge da cozinha francesa e mediterrânica, apesar dos toques subtis da tradição vimaranense invadirem, sempre que possível, os pratos do chef Christian Rullán. “Quando viemos para Guimarães, começamos por pesquisar a cultura gastronómica existente e percebemos que podíamos criar um conceito um pouco diferente, um conceito que tivesse por base as minhas experiências pelo mundo”, refere o chef, destacando o seu menu de degustação e, principalmente, a sua filosofia de “menu seis inspirações”, que permite surpreender o paladar do cliente. Privilegiando os produtos de época, o menu do Le Babachris é mutável, aguçando, de duas em duas semanas, ainda mais a surpresa. “Funcionamos como uma escola porque formamos os paladares das pessoas. A ideia do Le Babachris é que seja um restaurante que promova experiências exclusivas. Para quem quer sair um pouco do quotidiano, existe o Le Babachris!”,
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CADERNO Título da Reportagem
“A ideia do Le Babachris é que seja um restaurante que promova experiências exclusivas. Para quem quer sair um pouco do quotidiano, existe o Le Babachris!”
assegura o chef Christian. “A inspiração, procura de essência e simbiose com a equipa dão fruto à nossa cozinha”, acrescenta, destacando a importância da “família” que compõe a equipa do restaurante. Transformando o momento da refeição num ato único e apaixonante, o Le Babachris apresenta ainda uma carta de vinhos que vangloriam a riqueza vinícola nacional, principalmente as quintas menos presentes no panorama da restauração. “Dividimos a carta de vinhos entre Vinhos Premium (que são os topo de gama nacionais) e os Vinhos À Descoberta (que são os que provêm de quintas menos consagradas)”, explica Pedro, o responsável pelo planeamento desta carta. Numa busca incessante pela perfeição do sabor que leva aos pratos, preferindo por isso produtos provenientes de agricultura biológica, o chef Christian Rullán destaca o amor como o ingrediente central do sucesso do Le Babachris: “Eu sem ter amor ao meu trabalho não posso cozinhar bem. E é esse amor que levo para os pratos. Quero que o Le Babachris seja uma experiência de emoção, de alegria!”.
SABORES Le Babachris
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HEALTHY FOOD Local
Local, a cantina moderna e saudável na capital POR Maria Inês Neto
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Local – Your Healthy Kitchen existe há pouco mais de dois anos e tornou-se no espaço de eleição para todos os que visitam a capital lisboeta e partilham o gosto de comer bem e de se tratar melhor ainda. A singularidade do Local reflete-se em todos os detalhes que, da decoração às diversas propostas da carta, promovem diariamente a harmonia perfeita. Com o intuito de se tornar na “cantina” mais saudável e trendy de Lisboa, tudo o que envolve o conceito do Local é pensado segundo uma perspetiva ecológica, saudável e objetiva – sem exageros nem fundamentalismos – mas que promova uma alimentação equilibrada e intrusiva. Deste modo, há menus sem lactose, sem trigo ou vegetarianos com legumes e proteína de origem vegetal, a pensar em todas as preferências e gostos de uma sociedade diferenciada.
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Nesta cozinha não entram alimentos processados nem açúcares refinados e todas as sobremesas são isentas de trigo e lactose, assim como as opções de origem vegetal. O Local nasceu em 2015, do gosto de Maria Gray pela alimentação criativa. Foi em Cascais, no Mercado da Vila, que abriram, pela primeira vez, as portas do Local, que viria a ser o primeiro de vários espaços. Depois de, em maio de 2018, o Local Santos, na Avenida 24 de julho, se ter juntado à família deste projeto, recentemente, bem no coração de Lisboa, na Rua Rodrigues Sampaio (junto à Avenida da Liberdade) abriu o mais recente Local, intitulado Local Avenida. Este novo restaurante, com 60 lugares interiores e 30 na esplanada, é acolhedor e bem ornamentado, promovendo uma atmosfera bem-disposta. Na ementa, a diversidade mantém-se: pratos vegetarianos, vegan, de peixe e de carne, sempre com a garantia de frescura dos ingredientes e de utilização de alimentos biológicos.
DEGUSTAÇÃO Marupiu
Marupiu, uma viagem de sabores com charme parisiense LA VIE EST BELLE QUANDO SE ENTRA NA MARUPIU, O MANJAR DOS MACARONS E DOS CROISSANTS, EM VILA NOVA DE FAMALICÃO, ONDE NÃO HÁ LIMITE NA OFERTA DE NOVOS SABORES, GOSTOS E EXPERIÊNCIAS GUSTATIVAS AO SOM DA MELODIA FRANCESA. POR Maria Inês Neto FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
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Marupiu nasceu há cerca de um ano e é a realização do sonho de Ana Correia, que deixou a área da engenharia mecânica, na qual trabalhava, para se dedicar exclusivamente à pastelaria com o apoio do marido, Rui, que acabou por dar nome a esta ambição comum. O objetivo sempre foi abrir uma pastelaria de inspiração francesa e, ainda que com algum receio inicial, a Marupiu veio agitar a pastelaria tradicional e quebrar com o estigma social de uma pastelaria mais “elitista” e menos habitual. “Em qualquer lado, quando alguma coisa é muito diferente, as pessoas estranham”, partilha Ana. Todos os produtos são preparados artesanalmente por Ana, que decide diariamente o que estará disponível na montra durante o dia, e a rotatividade da carta varia consoante a sua preferência pessoal e a tentativa de adaptar o tipo de doce com a fruta e ingredientes da época. “Quando trocamos a carta é um máximo!”, garante Ana. Há, também, dias especiais que pedem experiências únicas, levando as pessoas a desfrutarem de uma forma mais peculiar. Se S. António pede macarons de manjerico e morango, a estravagância da passagem de ano chama por sabores quentes e exóticos de Moët & Chandon, Rosé e cereja preta. Quem lá entra pela primeira vez não resiste aos coloridos macarons, mas as sobremesas e os bolos por encomenda
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SABORES Marupiu
Ao som da melodia francesa, não há limite na oferta de sabores, gostos e experiências gustativas na Marupiu.
são dos pedidos mais requisitados pelos clientes que rapidamente se tornam habituais. Semanalmente surgem novos olhares curiosos vindos de todo o lado com o desejo de experimentar as propostas singulares que a Marupiu tem para oferecer. Todos os produtos são produzidos artesanalmente, desde as sobremesas aos embalados, e isentos de qualquer tipo de conservantes na sua composição, havendo, ainda, o cuidado de ter produtos disponíveis sem proteína de leite. A Marupiu preserva alguns valores essenciais que garantem um elevado nível de qualidade e a procura crescente de promover aos seus clientes novas experiências e novos gostos. “Mesmo para mim, a nível profissional, é muito mais animador fazer coisas diferentes do que passar um ano inteiro com as mesmas coisas”, partilha Ana. As pessoas entram já de olhos postos na montra com a expectativa de verem o que há de novo e esse é o maior objetivo da Marupiu, ao procurar diariamente proporcionar a noção de que não tem de ser sempre tudo semelhante e de que há muitos sabores a explorar, sem precisar de ir muito longe. A acompanhar todas as sobremesas, há propostas irrefutáveis, também produzidas artesanalmente, e variam entre os chás quentes e frios, as tisanas, os batidos com fruta fresca e os chocolates quentes, sempre com a opção de escolher bebidas vegetais ou leite sem lactose. Como em qualquer produção artesanal, a exigência de trabalho é superior e a procura em evitar desperdício alimentar é um dos objetivos mais fortes, como forma de conciliar todo o investimento que uma pastelaria como a Marupiu necessita para manter o seu conceito. “É difícil em qualquer negócio ter muita quantidade só de produtos frescos”, partilha Rui. Quando questionados acerca da apaixonante inspiração francesa que se reflete em cada detalhe da Marupiu, a resposta foi clara. “A cultura da pastelaria, em Paris, é maior do que em qualquer outro lado do mundo”, confessa Ana.
SABORES Marupiu
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VINHOS Ilha
Ilha, o vinho da casta amaldiçoada POR Rita Almeida
É
na Adega de São Vicente, no Funchal, que Diana Silva começa esta história, uma história de resiliência. Apaixonada pelo sector vinícola, a jovem produtora Diana Silva é o rosto por detrás do Ilha, uma trilogia de Tinta Negra, uma casta desdenhada pelos madeirenses – e apelidada até como “casta amaldiçoada”. Apesar da dificuldade, Diana conseguiu surpreender com vinhos elegantes, numa trilogia criada a partir de uma única casta: um branco, que é “o primeiro Blanc de Noirs” da Madeira, um tinto surpreendente com 12% de teor alcoólico, e um rosé rubro e absolutamente diferente, feito “a partir da cor natural que a Tinta Negra dá”. A produtora explica que são vinhos muito salinos, gastronómicos e únicos, apesar de ter consciência que pode não agradar a todas as bocas.
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“É um vinho de paixão”. É assim que Diana descreve o seu Ilha, um vinho DOP da Madeira, que não é vinho Madeira. “Muito criterioso, um vinho de nicho, que não se preocupa com as regras do mercado”, acrescenta. Diana não esconde o investimento pessoal que colocou neste trabalho: “É o projeto da minha vida”. Na rolha pode ler-se “Amor à terra e crença no terroir”. A jovem produtora investiu fortemente nas parcerias que criou com os viticultores locais, nomeadamente em São Vicente, na Madeira, acreditando que é a terra mais apropriada para a casta Tinta Negra. Esta pequena produção, com cerca de 3500 garrafas de tinto e de branco e 3900 de rosé, resulta em vinhos de prestígio, elegantes e com baixo teor alcoólico (11,5% a 12%). Para o degustar não precisa necessariamente de se deslocar até à Madeira. Pode encontrar estes vinhos em algumas garrafeiras, como a Garrafeira Nacional e Garrafeira Imperial, no Clube Gourmet do El Corte Inglés e em alguns restaurantes de topo como o 100 Maneiras e o Belcanto.
SABORES Ilha
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VIENA DE ÁUSTRIA
A cidade que respira cultura e arte
FILIPE MORATO GOMES O mundo na bagagem
SINTRA
O destino mais místico e romântico de Portugal
Os destinos a descobrir, os locais a explorar e as memรณrias de aventura.
VIAGENS Viena de Áustria
Viena de Áustria, a cidade que respira cultura e arte POR Rita Almeida
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apital da Áustria, Viena é a sétima maior cidade da União Europeia e a segunda maior cidade de língua alemã no mundo. Os meses de janeiro e fevereiro são propensos há existência de neve. Também é nesta altura (janeiro e fevereiro) que encontra os bailes vienenses. Estima-se que, por ano, sejam realizados cerca de 450 bailes com várias orquestras a tocarem ao mesmo tempo. Quer mais motivos para conhecer a cidade? A elegância de Viena está nos seus antepassados e nos palácios de imperadores e compositores que marcaram a música. Falamos de Mozart, Strauss, Beethoven e Haydn. É em Viena que está a Orquestra Filarmónica de Viena, considerada uma das melhores do mundo. Todos os anos, a cidade austríaca organiza o evento Capital Mundial da Música, onde são apresentados 15 mil concertos de todos os géneros musicais. Sugerimos que comece por visitar o centro histórico, antiga residência e local de reinado da família Habsburgo, que governou a Áustria por muitos anos. É desde 2001 que faz parte do Património Mundial da UNESCO, assim como o Palácio de Schönbrunn, uma das atrações mais visitadas. Construído no século XVII, o palácio em estilo barroco foi a residência oficial de verão dos Habdsburgo, onde pode visitar várias salas, como da Imperatriz Isabel e dos Espelhos. Propomos que vá à roda gigante mais antiga do mundo ainda em funcionamento. Inaugurada em 1897, a diversão de 64,75 metros com o nome de Wiener Riesenrad fica no parque de diversões Prater. Mesmo ao lado está a Catedral de Santo Estêvão, localizada no centro histórico. Com predominância de arquitetura gótica, a Catedral foi danificada durante a II Guerra Mundial, sendo possível mais tarde a sua reconstrução. Pela cidade, há muitos cafés, ou não fosse Viena conhecida por essa razão. Por serem tão frequentados por moradores e turistas, os cafés estão na lista de Património Cultural e Imaterial da UNESCO. Para acompanhar o café, pode pedir a Sa-
chertorte, uma torta especial de chocolate e geleia de damascos, e o Apfelstrudel, um strudel de maçã de origem austríaca. Anote mais uma sugestão: Naschmarkt. Esse é o nome do mercado que existe desde 1780. Antes, eram comercializados leite e derivados, mas, mais tarde, começaram a ser vendidas frutas e vegetais. É um local que atrai muito os turistas e onde pode encontrar diversos produtos, como frutas, temperos, ervas, legumes, chás. Os museus de Viena também são muito famosos, como é o caso do Museu Kunsthistoriches. De estilo renascentista, este Museu de História e de Arte tem algumas das obras mais valiosas do mundo colecionadas pelos Habsburgos, mecenas e outros entusiastas. Há, ainda, o Quarteirão dos Museus que alberga o Museu de Arte Moderna da Fundação de Ludwig de Viena, o Kunsthalle, o Leopold Museum e o Museu do Tabaco. Estes são alguns exemplos da grande diversidade de atrações que pode conhecer. Agora, é só fazer as malas. Aproveite estas sugestões e desfrute da viagem!
VIAGENS Filipe Morato Gomes
Filipe Morato Gomes, o mundo na bagagem É NATURAL DE MATOSINHOS, MAS HÁ MUITO QUE O MUNDO PASSOU A SER A SUA CASA. DE VIAGEM EM VIAGEM, FILIPE MORATO GOMES DÁ A CONHECER OS MAIS BELOS LOCAIS DO PLANETA ATRAVÉS DO SEU ALMA DE VIAJANTE, UM BLOG DE VIAGENS QUE LHE DÁ A LIBERDADE DE “VOAR”, GUIADO PELO IMPULSO E PELA CURIOSIDADE. COM 47 ANOS E DUAS VOLTAS AO MUNDO NA BAGAGEM, FILIPE MORATO GOMES APRESENTANOS UM ROTEIRO CHAMADO TERRA. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Alma de viajante
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amos voltar ao início deste seu percurso como viajante profissional. O que o incentivou a viajar? Na verdade, comecei tarde a viajar. Tinha 33 anos quando mudei de vida e decidi dar a minha primeira volta ao mundo. Recordo com saudade as conversas com o meu avô materno, que falava apaixonadamente das suas longas viagens à Amazónia ou pela linha transiberiana, num tempo em que o ato de viajar era muito mais aventureiro do que nos dias de hoje. Julgo que esses momentos, juntamente com as viagens de carro que fiz por Portugal, Espanha e França, enquanto adolescente, com os meus pais, terão aos poucos ajudado a fazer germinar em mim este desejo de conhecer o mundo. De acordo com a informação do seu blog, já fez duas voltas ao mundo. Que mundo é este que o Filipe encontra em cada viagem? O que mais o deslumbra em viagem? Encontro um mundo cheio de gente boa e hospitaleira, e é isso mesmo - as pessoas que encontro nas minhas viagens - que mais me fascina. Já visitou países mais do que uma vez. A cada viagem nota grandes diferenças nesses locais? Como é que o mundo se tem globalizado – ou não – a seu ver? Tirando o caso específico do Irão, onde já fui mais de 20 vezes, não tenho por hábito voltar aos mesmos locais. Volto aos mesmos países, sim, mas para tentar conhecer locais novos. Nas vezes em que regressei aos mesmos destinos, quase sempre notei uma crescente influência do turismo - para o bem e para o mal. Se, por um lado, todos têm direito a almejar melhores con-
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dições de vida - e muitas vezes o turismo proporciona rendimentos que, de outra forma, muitas famílias seriam incapazes de conseguir -, por outro, as questões ambientais, a utilização excessiva de recursos naturais resultante da atividade turística (muito visível em algumas ilhas um pouco por todo o mundo), e até a saturação de turismo em algumas cidades europeias, fazem com que seja necessário repensar o modelo e tentar encontrar pontos de equilíbrio. Quanto à chamada globalização, é uma pena que muitos destinos estejam a perder a sua identidade em nome do tal “progresso”. Veja-se o caso de Lisboa… O Alma de Viajante é um blog reconhecido, onde podemos encontrar várias sugestões de roteiros para viagem. O Filipe é como se fosse um real guia turístico à distância de um clique? Naturalmente, só escrevo sobre locais que visitei durante as minhas viagens. Regra geral, tento partilhar experiências que possam ser replicadas pelos leitores, inspirando-os a descobrir os destinos que escolhem visitar de uma forma mais profunda. Costumo dizer que, mais do que ver, é preciso viver os lugares - e é essa vontade de explorar, de sentir os lugares e ir para além do óbvio que tento incutir nos leitores. Não sou, no entanto, um verdadeiro guia turístico, na medida em que, apesar de partilhar dicas úteis aos leitores, não abordo todas as questões práticas relacionadas com as viagens - além de que seria impossível manter atualizadas todas as informações úteis, como horários de transportes, por exemplo, em centenas de destinos distintos espalhados pelo mundo.
BÚSSOLA Filipe Morato Gomes
Ainda assim, no sentido em que ajudo as pessoas a organizarem as suas viagens, o Alma de Viajante pode servir de guia. Um exemplo clássico são os roteiros detalhados que publico, com base nas minhas viagens, e que muitas vezes servem de inspiração para as viagens dos leitores - casos paradigmáticos, de grande sucesso no blog, são o roteiro do Japão, o roteiro do Sri Lanka e, especificamente criado para os muitos leitores brasileiros que acompanham o blog, um curto roteiro de sete dias em Portugal. Não menos importante, para além de artigos sobre destinos, tento também publicar textos mais inspiracionais, que motivem as pessoas a viajar, a perder os medos, quem sabe até terem coragem de ir atrás dos seus sonhos e serem mais felizes.
“Mais do ter muito dinheiro, para viajar é preciso, acima de tudo, fazer opções que permitam concretizar esse objetivo, por oposição a continuar a dizer “quem me dera” de forma inconsequente”
De todas as viagens – e já foram muitas -, consegue indicar-nos alguns dos locais que, pelo menos uma vez na vida, devêssemos visitar? O que mais belo já encontrou em viagem? O Irão, pelas pessoas. Acho que toda a gente deveria dar a oportunidade de verificar o quão errados podem ser os preconceitos que todos temos sobre o Irão. Em termos de beleza natural, tenho também duas grandes paixões: a Nova Zelândia, no hemisfério Sul, e a Islândia, no hemisfério Norte. Para quem gosta de atividades ao ar livre, são dois dos destinos mais incríveis que já tive oportunidade de conhecer. Falta-me a Patagónia, que seguramente entrará nesta lista de preferências logo que tenha oportunidade de conhecer. Nas suas dicas de viagem, encontramos também sugestões consideradas “fora da caixa”. É importante conhecer os destinos além do óbvio? É aí que a verdadeira aventura começa para um viajante? Na minha opinião, há lugar para todo o tipo de viagens. Se alguém quiser ir a Paris para conhecer apenas a Torre Eiffel e o Museu do Louvre, continua a ser melhor do que ficar em casa. O que eu tento fazer, no entanto, é inspirar as pessoas a irem para “além do óbvio”, como referiu, a entrarem nos cafés de bairro, a comerem em tascas, a contribuírem para a economia local em vez dos grandes empreendimentos turísticos e multinacionais. Quantas vezes as melhores experiências de viagem acontecem porque o viajante se deixou ir, sem medos, guiado pelo impulso e pela curiosidade? É um homem de família, pai com filhos. De que forma é que uma vida em viagem pode ser possível? Conciliar família e viagens é a grande dificuldade que sinto no meu quotidiano. Principalmente desde que tenho filhos. “As vidas de viajante e de ‘homem de família’ são realidades tão distantes que por vezes se atropelam”, escrevi em tempos.
BÚSSOLA Filipe Morato Gomes
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E é verdade. Por natureza, sou mais ave do que árvore - gosto de “voar” e tenho poucas raízes. Manter um estilo de vida intimamente ligado ao ato de viajar só é possível tendo a cumplicidade de uma companheira compreensiva - de outra forma seria totalmente impossível.
“Sinceramente, não me imagino a fazer outra coisa. O Alma de Viajante é o espelho do que eu sou, do que eu sei fazer”
É impossível não perguntarmos sobre os investimentos necessários para viajar. De que forma é que o Filipe angaria recursos de momento? Há alguns anos escrevi uma crónica para o Diário de Notícias intitulada Viajar não é coisa de ricos, onde explico que, mais do ter muito dinheiro, para viajar é preciso, acima de tudo, fazer opções que permitam concretizar esse objetivo, por oposição a continuar a dizer “quem me dera” de forma inconsequente. Dito isto, desde há muitos anos que gerir o Alma de Viajante é o meu trabalho, pelo que o rendimento advém do blog e de tudo o que faço em paralelo, ligado às viagens, como liderar viagens para a agência Nomad (atividade que entretanto suspendi) e dar workshops de Escrita de Viagens. Por fim, estou neste preciso momento a preparar cursos online, com dicas passo-a-passo sobre como criar um blog e assim ajudar outras pessoas a ganhar dinheiro com a criação de conteúdos resultantes das suas viagens. No fundo, contribuir para que mais gente tenha coragem para arriscar e ir atrás dos seus sonhos. Gostávamos de lhe pedir algumas sugestões de viagens que os nossos leitores devam fazer durante este inverno. O que nos pode indicar e porquê? Escolher destinos é algo muito pessoal, pelo que tudo o que eu possa dizer pouca utilidade teria para cada um dos leitores. Posso, no entanto, indicar a minha próxima viagem de inverno e uma outra que gostaria de fazer nesta época do ano. São elas a Tanzânia, onde irei em fevereiro, incluindo uma passagem pelas praias de Zanzibar e um safari no Serengueti; e a Patagónia, que sonho conhecer há muitos anos. Dois destinos totalmente distintos, mas muito recomendáveis durante o inverno europeu.
Por último, uma terceira sugestão “fora da caixa”: ver auroras boreais no hemisfério Norte, seja na Islândia ou em locais como Tromsø, na Noruega, tido como um dos melhores locais para observar este fascinante fenómeno da Natureza. Dizem que há pessoas que nascem com o gene das viagens. O Filipe nasceu com uma alma de viajante? Imagina-se a ser algo que não um viajante nato? Sinceramente, não me imagino a fazer outra coisa. O Alma de Viajante é o espelho do que eu sou, do que eu sei fazer. Mistura o ato de viajar com a escrita, a fotografia, o design, o marketing e alguma programação. É a minha grande paixão profissional. Ainda assim, talvez chegue o dia em que alguma circunstância da vida me faça mudar de ideias, mas, por agora, não me passa pela cabeça parar de viajar.
BÚSSOLA Filipe Morato Gomes
CONCLUI O 12º ANO E/OU
ESCOLHE A TUA PRÓXIMA SAÍDA PROFISSIONAL Assistente de Clínica Dentária
Auxiliar Ação Médica
Auxiliar de Reabilitação e Fisioterapia
Auxiliar de Ensino Especial
Auxiliar de Ação Educativa
Auxiliar Clínica Veterinária CADERNO Título da Reportagem
Rececionista de Hotel Assistente de Contabilidade
Animador Turístico
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TORRES VEDRAS | LISBOA | CASCAIS | ALMADA | LEIRIA | PORTO | BEJA | COIMBRA
DESCOBRIR Sintra
Sintra, o destino mais místico e romântico de Portugal POR Filipa Santos Sousa
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ituada a 30 minutos de Lisboa, Sintra desfruta de uma localização geográfica mais do que pertinente para ser considerada como um dos melhores destinos complementares à capital. Para quem ali chega pela primeira vez, é inevitável a surpresa com o tamanho do espaço, mas a verdade é que esta pequena vila acolhe tudo aquilo que um conto de fadas precisa para o ser: terra de nobres, reis e rainhas; castelo conquistado aos Mouros e refúgios misteriosos no meio da serra. Do alto dos seus montes verdes, e sob a perspetiva de um qualquer de muitos palácios que aí existem, avista-se o mar. Sintra é, por isso, um destino irrefutável para os casais de apaixonados que andam à procura de um local para a sua próxima ‘escapadinha’. Quem não deseja um caloroso abraço junto ao Palácio da Pena? Ou aquele apertar forte de mãos à descoberta da Quinta da Regaleira? Enumeramos alguns dos principais sítios que deve incluir no seu roteiro! Considerada Património Mundial da UNESCO e uma das 7 Maravilhas de Portugal em 2007, de facto, motivos não faltam para se render aos encantos desta pitoresca e saborosa vila. Sim, ou está a pensar ir para estes lados sem provar os famosos Travesseiros e as Queijadas de Sintra? Sem dúvida, estas relíquias gastronómicas são parte obrigatória da sua viagem a dois. Entre os vários palácios, certo é que o Palácio Nacional da Pena merece particular destaque. Pintado em tons de amare-
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Sintra é vila de conto de fadas: terra de nobres, reis e rainhas, de castelos e refúgios misteriosos no meio da serra.
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lo e vermelho, este edifício representa o expoente máximo do romantismo português no século XIX, surpreendendo desde a peculiaridade da sua arquitetura à beleza dos seus jardins. A sua imagem consta praticamente em todos os postais ou imagens panorâmicas da vila. Aproveite para subir até ao palácio a pé, atravessando a bela mata, e pelo meio pare para tirar umas fotografias ao traçado das muralhas do Castelo dos Mouros – que também já não está muito longe. No Palácio prepare-se para encontrar filas com muitos turistas, mas não deixe que isso seja um fator impeditivo, assim que entrar lá dentro vai perceber que toda a possível espera terá valido a pena. No interior, poderá visitar os aposentos reais, os salões e as cozinhas, que se mantêm fiéis a outros tempos. Para além disso, aventure-se até às varandas laterais e contemple a magnífica paisagem de verde que está em seu redor. Se andar um pouco mais para o lado alcança o célebre Castelo dos Mouros, conquistado por el-rei D. Afonso Henriques aos árabes. Percorra as muralhas e as ruínas e sustenha a respiração por uns breves segundos, junto com o seu mais que tudo, e deixe-se arrebatar pela grandiosidade do oceano e dos palácios de Sintra (situado no centro da vila e casa da família real portuguesa até 1910) e da Pena. Ao regressar da viagem marcada pela magia da serra, entre no Elétrico de Sintra e prepare-se para uma descontraída atividade a dois rumo à Praia das Maçãs. Incrível, não é? Sintra consegue oferecer-nos um verde sem igual, uma visita a tempos ancestrais e, ainda como senão bastasse, brinda-nos com o que de mais belo há: o mar a perder de vista. Que tal descansar um pouco? Em Sintra há diversas opções de alojamento, algumas não são acessíveis a todos os casais, mas se quiser fazer desta uma ocasião mesmo especial pode sempre experimentar o Tivoli Palácio de Seteais – um luxuoso hotel de cinco estrelas. No dia seguinte, e após o requinte que qualquer apaixonado merece, siga viagem até aos últimos dois pontos do nosso roteiro. Comece pelo Palácio de Monserrate, situado a quatro quilómetros de Sintra, que se destaca pela riqueza e variedade dos seus jardins botânicos. Depois, é a vez da Quinta da Regaleira, uma das paragens obrigatórias. Neste caso, em particular, a visita vale não só pela oportunidade de descobrir o palácio (mais outro), mas, sim, pelo misticismo que lhe está associado desde sempre. Com quatro hectares, a quinta está rodeada de jardins, lagos, grutas e construções, no mínimo, enigmáticas e com significados alquímicos. Um dos locais mais fotografados de Sintra situa-se também aqui, nomeadamente o poço iniciático, ou seja, uma galeria circular em forma de espiral com uma profundidade de cerca de 27 metros. Ainda tem dúvidas de que este é um excelente destino para fazer com a sua cara-metade? Experimente para não se arrepender.
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REFÚGIO Vila Galé Collection Braga
A herança do passado num hotel de futuro POR Andreia Filipa Ferreira
©Nuno Sampaio
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poucos passos do centro histórico de Braga, uma cidade milenar com História que vangloria os antepassados romanos e a ligação às altas figuras do Clero, encontramos o Vila Galé Collection Braga, o primeiro símbolo do reputado grupo hoteleiro na zona Norte (acima do Porto) de Portugal. Inaugurado oficialmente em junho de 2018, este espaço em Braga dá nova vida às instalações do antigo Hospital de São Marcos, em funcionamento até 2011. Não é, por isso, de estranhar que o visitante se sinta a percorrer a História – mais de 500 anos precisamente. Fundado em 1508, o antigo hospital bracarense é hoje testemunho de que o passado não morre, apenas renasce, com toda a virtuosidade. Ocupando três edifícios do conjunto hospitalar, o Vila Galé Collection Braga traz à vista dos hóspedes tudo aquilo que ajude a perpetuar uma História imensa. Os largos corredores, as inscrições em mármore, os tetos originais abobadados em certos sítios, a fonte que ecoa no jardim central... “Achamos que o projeto deste edifício só fazia sentido se fossemos capazes de trazer para o hotel toda a aura de Braga. Alterarmos tudo e fazer disto um hotel moderno era um crime!”, diz-nos o diretor do Collection Braga, Carlos Alves. Com 123 quartos, 20 deles de tipologia familiar, o Vila Galé Collection Braga é assim um exemplo da junção harmoniosa entre a traça arquitetónica original e a modernidade de serviços. Com a herança dos arcebispos e a fundação de Portugal como tema central da decoração do hotel, o Collection Braga é confortável e moderno, equipado com dois restaurantes abertos ao público – o Bracara Augusta (com serviço à carta e destaque para a gastronomia regional reinventada) e o Fundação (com serviço buffet) -, um bar, uma adega para acolher provas de vinhos, piscinas, spa Satsanga e ginásio. As oito salas de reuniões e o espaço dedicado à inovação, que permite aos hóspedes experimentar a realidade virtual e assistir a vídeos em 4K, fazem ainda parte dos destaques das valências deste hotel. “Braga nunca parou no tempo. É o distrito mais jovem do país e, por isso, a sala da inovação traz essa perspetiva História/modernidade, com hologramas e filmes em realidade virtual, que ilustram alguns pontos de interesse de Braga, por exemplo”, explica Carlos Alves. Destacando-se como uma opção elegante numa visita ao Norte do país, o Vila Galé Collection Braga é hospitalidade minhota no seu esplendor. Com o passado e o presente de mãos dadas, este refúgio renovado mantém viva a tradição de uma cidade cuja História é sinal de orgulho.
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SLOW LIVING Opinião
Desacelerar para viver melhor POR Raquel Tavares
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á quanto tempo sente que o tempo lhe escapa? Há quanto tempo não tem tempo e gostaria que o dia tivesse 48 horas? Correrias constantes, stress, agendas preenchidas e longas horas de trabalho soam-lhe familiares? O movimento slow surgiu como um contrapeso para combater as rotinas frenéticas das sociedades atuais e convencer-nos de que é importante abrandar e viver de forma mais tranquila. Ser slow é tentar usufruir do que o mundo moderno nos proporciona, contudo, lutando por ter oportunidade de parar e abrandar para experimentar prazer em coisas simples, celebrando-as, tornando-as extraordinárias e vivendo-as com o devido tempo. A cultura slow contraria um mundo que gira em alta velocidade e que só para, por vezes de forma abrupta, quando o nosso corpo cede, o coração dá sinais de sofrimento, ou as relações se esvaziam. Slow é o mote para vivermos sem pressas e para darmos o devido tempo às coisas, porque as coisas boas, na realidade, levam o seu tempo, o tempo que precisam para se tornarem plenas, tal como a maçã na árvore precisa de amadurecer lentamente para que possa revelar o seu melhor sabor.
“Ser slow não é ser demasiado lento, preguiçoso ou fora do mundo”. Talvez sem o saberem, existem já muitas pessoas adeptas do movimento slow, um conceito abrangente e flexível onde cabem os mais diversos perfis, personalidades, profissões e idades. Ao contrário do que se poderia pensar quando no início se falava em slow, quem se identifica com essa forma de estar, não tem que ser um hippie nostálgico ou um eremita, refugiar-se numa montanha ou não utilizar eletricidade ou tecnologias. As pessoas que apreciam um modo de vida slow não “são obrigatoriamente citadinos executivos com vidas de sucesso e glamour que abandonam tudo para se dedicarem a surfar e a criar caracóis junto ao mar”... contudo, também poderiam sê-lo... Na verdade, não existe um perfil único dentro do Slow Living, uma cultura holística que dá margem a muita variedade e que se vê descrita com pormenor no livro Slow, as coisas boas levam tempo. Mas como relaxar e abrandar num mundo que nos força a correr? Começar a abrandar faz-se também em modo slow, devagarinho, bastam pequenos passos. O fundamental é estabelecer prioridades, pensar no que de facto é importante e começar por impor limites nas atividades excessivas que tendemos a acumular. Por exemplo, estabelecer não responder a emails a partir de determinada hora, caminhar devagar reparando nos pormenores ao redor durante dez minutos, falar um pouco menos, mais baixo e mais lentamente durante parte do dia, começando assim a criar um hábito que depois de se tornar natural dará margem para que outros passos surjam no caminho do abrandamento. Outra estratégia será praticar atividades relaxantes como a meditação mindfulness, o tricot, a bicicleta ao ar livre, o yoga, a leitura, os livros de colorir agora tão em voga, o silêncio ou outras práticas que se adequem à pessoa em causa e ao seu contexto de vida. Neste aspeto, não há uma receita fixa e se a jardinagem pode ser uma atividade de relaxamento, outros poderão dar-se melhor com o simples devanear ou com uma corrida à beira-rio ou num jardim da sua cidade. O que importa reter é que para bem da qualidade de vida e do bem-estar pessoal, familiar, comunitário e do próprio planeta há sempre uma boa razão para fazer uma pausa. Sobre o autor Presidente da Associação Slow Movement Portugal
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BÚSSOLA Opinião
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A elegância no seu estado puro e os desejos a cumprir.
Furla, acessórios que marcam cada momento
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A coleção de inverno da prestigiada marca italiana de acessórios em pele veio com um convite a todos aqueles que desejam desfrutar do conceito da The Furla Society, que teve um grande sucesso nas últimas estações. A mala de mão Furla Artic, em tecido metalizado, é o acessório ideal para acompanhar todos os momentos do quotidiano, graças às suas formas espaçosas, que permitem levar tudo para todo o lado, e aos bolsos interiores. A pega em pele pode ser mudada, assim como a alça ajustável e removível, o que permite ser usada CADERNO de maneiras Título diferentes. da Reportagem
Chopard, a intemporalidade marcada pelo pulso O relógio Happy Snowflakes, em ouro branco de 18k, é um hino para o inverno, com cristais brancos que relembram a neve. Através da técnica de marchetaria de madrepérola, recria cuidadosamente os flocos de neve que enfeitam o mostrador do relógio. O brilho intensificado pelos diamantes que constroem o mostrador vão ao encontro de um diamante móvel em forma de floco de neve. Este novo modelo da Chopard irradia a monotonia do inverno como uma bola de neve.
Givenchy, o inquestionável poder do vermelho Do poderoso tom encarnado à delicadeza de um nude, todos os batons da Givenchy são idealizados para que cada tom pertença a uma personalidade. O Rouge Interdit Sparkle, de edição limitada, promete um toque natural nos lábios com um brilho que marca um vermelho macio e sedoso. O melhor aliado para garantir elegância, delicadeza e feminilidade em qualquer ocasião.
Josefinas, para mulheres clássicas e modernas A famosa marca portuguesa de calçado feminino nasceu com o intuito de dar poder às mulheres, a cada passo que dão. A recente coleção de sapatilhas veio unir o estilo clássico e moderno numa linha de modelos oversized – uma interpretação da tendência feminina de ténis oversized. Os modelos combinam o padrão pied de poule com um design contemporâneo. O modelo da imagem é o Wlag B&W, que vem unir-se às restantes cores que integram a coleção: vermelho, branco, cor-de-rosa e amarelo.
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Chivas, o whisky escocês que merece ser celebrado Com um acabamento especial em barris de conhaque de Grande Champagne, em França, esta mistura de 15 anos foi idealizada para qualquer momento de celebração. O Chivas XV é a recente novidade da família Chivas que, dando continuidade à tradição de blending, reúne os melhores whiskies de malte e grão antes de serem seletivamente acabados nos barris da região de Champagne, conhecida pela produção dos melhores conhaques do mundo.
Porsche Design, a companhia ideal no trabalho e em lazer Seja para uma reunião, uma viagem de negócios ou momentos depois do trabalho, a nova gama Urban Courier tem as malas ideais para homens modernos. A coleção concentra-se em silhuetas simples, pensadas no design minimalista e elegante, promovendo o máximo de conforto. Simultaneamente casual e sofisticada, esta gama oferece uma variedade distinta de materiais de alta qualidade em acessórios essenciais.
Miguel Vieira, acessórios elegantes e intemporais A campanha de inverno de Miguel Vieira encontrou a sua maior influência no mundo do rock e quis celebrá-lo da melhor forma. Mais do que música, o rock é um estilo de vida e um movimento cultural associado a uma força da liberdade e de irreverência. Um ideal que vai ao encontro da elegância dos acessórios intemporais, que permanece a cada coleção, combinando com silhuetas clássicas e marcantes.
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TAG Heuner e Aston Martin, um luxuoso relógio de alto desempenho Este que é já o segundo modelo criado pela TAG Heuner em parceria com a Aston Martin está agora disponível em todo o mundo. Uma colaboração criativa entre duas marcas de luxo originou uma peça de colecionador e do mais alto desempenho. Inspirado nas formas geométricas de um carro desportivo Aston Martin, o novo relógio extrai uma visão direta das cores, formas, padrões e materiais, refletindo o espírito automotivo numa parceria única.
Galula, dá luz à criatividade O candeeiro suspenso da marca de decoração portuguesa torna-se numa obra de arte exposta em qualquer divisão da casa ou do escritório. O modelo Sininho permite escolher a direção da luz, consoante a preferência de cada um. Uma peça versátil e minimalista, feita de cortiça, que pode ser vista sozinha ou acompanhada num candelabro moderno e original. O candeeiro está disponível em várias cores para o cabo, sendo que a cortiça pode ser escura ou clara.
Muranti Furniture, imobiliário português a conquistar o mundo A marca portuguesa de imobiliário apresenta-se como um mistério, associado a todas aquelas pedras preciosas escondidas nos lugares mais raros no planeta. Tal como cada pedra, que é única pela sua cor, formato e brilho, a marca faz jus a essa comparação. A Muranti traz duas novas linhas: uma inspirada na madeira artesanal e outra inspirada nos incríveis tons das pedras preciosas e dos cristais. A poltrona Andesine é toda estufada em veludo e surge numa tonalidade vibrante na cor coral.
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ATELIER Mimata
Um exemplo do brilho da joalharia portuense
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POR Andreia Filipa Ferreira
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numa das ruas mais movimentadas da cidade do Porto, na Rua de Cedofeita, que encontramos o refúgio de Joana Mieiro. Num pequeno atelier envolvido em criatividade, a designer explora os materiais que darão origem às coleções, elegantes e carismáticas, da Mimata, o nome da marca que, desde 2013, coloca as suas peças no mapa da joalharia portuguesa. Com experiência a nível de alta joalharia, dando privilégio ao ouro branco e amarelo nas suas criações, Joana Mieiro é hoje o rosto de uma marca contemporânea de joalharia de autor com coleções variadas, mas com elementos identificativos da história da marca em cada peça criada. “A ideia de criar sempre um fio condutor entre coleções está muito presente. Há sempre uma ligação, mais ou menos óbvia, que acaba por traçar a história da Mimata”, afirma Joana, acrescentando: “Dentro da joalharia há elementos que sempre me fascinaram. Um deles é a estrela. De uma perspetiva mais orgânica e geométrica, a estrela é um elemento que acaba por ser trabalhado de diferentes formas nas coleções. Às vezes podemos não perceber a estrela como um elemento óbvio ou bem definido na peça”. Trazendo a estrela e os elementos associados ao céu para a identidade da marca, Joana Mieiro destaca, por exemplo, um dos best sellers da marca, o anel Ninho [em baixo], que, de forma irregular, parece irradiar o brilho da estrela.
Com trabalho personalizado e coleções comemorativas de datas especiais, a designer do Porto valoriza o trabalho artesanal, trazendo “delicadeza e unicidade” a cada uma das suas criações. Olhando com agrado para o desenvolvimento da indústria joalheira em Portugal, principalmente devido à crescente criatividade jovem, Joana Mieiro não deixa de apelar à inovação, tanto a nível de design, como de comunicação, dos projetos que vão surgindo no mercado. “Ainda vivemos uma indústria muito virada para si mesma, que tem dificuldade em abrir as portas ao designer e criar ligações. Felizmente, os jovens começam a marcar uma posição”.
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AO VOLANTE Rolls-Royce Cullinan
Rolls-Royce Cullinan, o Rolls dos SUV O NOVO ROLLS-ROYCE CULLINAN É O AUGE DO LUXO NO QUE DIZ RESPEITO A SUVS. A MARCA BRITÂNICA AFIRMA-SE ASSIM NESTE MERCADO COM UM DOS MAIS MAJESTOSOS E MAGNÍFICOS VEÍCULOS ALGUMA VEZ PRODUZIDO. POR Nuno Sampaio FOTOGRAFIA Rolls-Royce Motor Cars
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ullinan é o nome do maior diamante do mundo, descoberto em 1905, na mina Premier, na África do Sul, por Frederick Wells, gerente da mina. Pesa 3106 quilates (621g) e recebeu esse nome em homenagem ao dono da mina, Thomas Cullinan. Cullinan também foi o nome escolhido para batizar o primeiro SUV da Rolls-Royce e, assim como o diamante, também já é um dos maiores símbolos de luxo e espera-se que brilhe comercialmente. O “quadradão” da marca britânica está longe de passar despercebido. Com a linha do tejadilho caindo em declive rumo à traseira, onde uns farolins de pequena dimensão ainda acentuam mais a grandiosidade do modelo, este Rolls-Royce conta 5,34 metros de comprimento, ou seja, apenas 42 cm mais curto que o Phantom; 2,16 metros de largura e 1,83 de altura. Com uma presença imponente, o Cullinan não abdica de um certo ar de família. A dianteira do SUV incorpora a grelha emblemática da Rolls-Royce, um apontamento antevisto quando o Cullinan ainda estava em fase de testes, polido à mão. O emblema Spirit of Ecstasy exibe-se, como não poderia deixar de ser, na sua plenitude, completando uma frente detalhada por entradas de ar e formatos quadrados. A cabine do Cullinan combina o autêntico luxo Rolls-Royce com funcionalidade simples e simétrica: desde consola central aos apoios de braço das portas, passando pelos acabamentos interiores em madeira conjugados com couro branco. Luxo é a palavra de ordem, ficando bem patente a bordo do SUV. Há diferentes combinações para o habitáculo, variando do castanho claro e preto ao branco com secções em madeira.
Atrás é onde (muito provavelmente) seguirá o dono do SUV, motivo pelo qual o banco traseiro pode ceder espaço a dois bancos individuais, refinadamente separados por um bar apetrechado de um compartimento refrigerado, copos de whisky e de champanhe. A tecnologia, como não podia deixar de ser, está presente em quase todos os aspetos deste luxuoso veículo. Desde logo, destaca-se o recurso ao Magic Carpet Ride, adaptado para dar resposta em todo o tipo de terreno. A suspensão integra um sistema de elevação automática a ar e faz milhões de cálculos por segundo para adaptar o sistema de amortecedores, reagindo às acelerações, às respostas do volante e à informação da câmara. Debaixo do capô encontra-se o tradicional V12 biturbo de 6,75 litros. Neste caso foi revisto para produzir 850N de binário às 1.600 rpm. A potência situa-se nos 571 CV e é transferida às quatro rodas através de avançados sistemas de tração e direção integral. A velocidade máxima anunciada é de 250 km/h (eletronicamente limitada). Como já é hábito da marca, os preços ainda não foram divulgados, mas tudo indica que superará os 350 mil euros. As primeiras entregas deverão começar no início deste ano.
ATELIER Rolls-Royce Cullinan
AO VOLANTE Mercedes-Benz Classe A
Mercedes-Benz Classe A, o preciosismo do interior O MAIS RECENTE CLASSE A DA MARCA GERMÂNICA TEM MUITAS NOVIDADES, POR FORA E POR DENTRO, MAS É NO INTERIOR, COM UM ASPETO MAIS CLEAN E MAIS SOFISTICADO, QUE VAMOS ENCONTRAR AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES EM RELAÇÃO AO ANTERIOR MODELO. POR Nuno Sampaio FOTOGRAFIA Daimler AG
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omeçamos por dentro – e logo à partida dizemos adeus ao painel de instrumentos convencional. No seu lugar encontramos duas secções horizontais – uma superior e outra inferior – que se estendem a toda a largura do habitáculo sem interrupções. O painel de instrumentos passa a ser composto por dois ecrãs de disposição horizontal – como já vimos noutros modelos da marca –, independentemente da versão. Ainda no interior, o novo Classe A oferece aos seus ocupantes mais espaço, seja para eles – tanto à frente como atrás, para a cabeça, ombros e cotovelos –, seja para as bagagens, até aos 370 litros (mais 29 do que o antecessor). Uma das principais novidades é o Mercedes-Benz User Experience (MBUX), o novo sistema de infoentretenimento da marca que se estreia neste Classe A. Com a presença de dois ecrãs, um para entretenimento e navegação e outro para os instrumentos, este MBUX traz novos interfaces que prometem um uso mais fácil e intuitivo de todas as funções do sistema. Em destaque está o assistente por voz (Linguatronic), com comandos conversacionais e integração de inteligência artificial. “Hey Mercedes” é a expressão que ativa este assistente e responde às necessidades de cada utilizador do Classe A. Se o interior não desilude, o exterior também não lhe fica atrás, sendo o mais recente modelo da marca a abraçar a nova fase da linguagem Sensual Purity. Nas palavras de Gordan Wagener, diretor de design da Daimler AG: “o novo Classe A incorpora a próxima fase na nossa filosofia de design Sensual Purity […] Forma e corpo são o que permanecem quando vincos e linhas são reduzidas a um extremo”.
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Olhando para este modelo, rapidamente ficamos com a sensação de que está maior. E se muitas vezes isto se trata de uma ilusão apenas provocada pelas equipas de design, desta vez é mesmo real, já que o Classe A está, de facto, mais crescido. A Mercedes refere um crescimento de 30 mm na distância entre eixos e mais cerca de 13 cm no comprimento e de 14 mm ao nível da largura, sendo que esta última alteração permitiu dilatar as vias para alcançar uma melhor estabilidade direcional. No que a motorizações diz respeito, o Classe A chega ao nosso país com uma única variante diesel, o A 180 d. Esta versão conta com um bloco 1.5 litros diesel de 116 CV (260 Nm) acoplado a uma caixa automática de sete velocidades. Estarão ainda disponíveis no lançamento dois motores a gasolina. A versão A 250 vem com um novo motor 2.0 litros de 224 CV (350 Nm) acoplada a uma caixa de sete relações e a variante A 200 conta com o novíssimo motor 1.4 litros de 163 CV (250 Nm) que pode ser acoplado a uma caixa manual de seis velocidades ou a uma automática de sete. Este motor faz a sua estreia no Classe A e será usado pela Nissan e pela Renault. O Mercedes Classe A está à venda em Portugal, com as versões Diesel (A 180 d de 116 CV) e a gasolina (A 200 de 163 CV) ao mesmo preço: 32.450€. Já terão caixa automática de sete velocidades e nível de equipamento Style, com estofos em tecido e pele, câmara de marcha-atrás e o sistema MBUX, com ecrãs de 7’’. Haverá ainda o A 250 de 224 CV, por 43.100€.
30 ANOS DEPOIS, A MOSCA ESTÁ DE VOLTA A Mosca é uma aguardente vínica que estagiou em cascos de madeira velha utilizados no envelhecimento do Moscatel de Setúbal, preservando desta forma uma antiga tradição da José Maria da Fonseca no domínio das aguardentes especiais.
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AO VOLANTE Arc Vector
Duas rodas de pura tecnologia POR Nuno Sampaio
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roduto do génio Mark Truman, com o apoio da Jaguar Land Rover PLC, a Arc Vector apresenta-se como a mais exclusiva e avançada moto de sempre. Truman trabalha no White Space, um laboratório de pesquisa onde a Jaguar Land Rover explora novas ideias e onde, com ajuda do construtor britânico, a Arc Vector se tornou numa realidade. E esta moto é inovadora, não tanto na tecnologia usada para fazer este veículo de duas rodas mover-se, mas antes pela experiência sensorial que é capaz de proporcionar a quem está ao comando. A Vector é construída de materiais compósitos, como fibra de carbono, e pesa apenas 220kg. O uso destes materiais é necessário por causa da bateria Samsung de 16,8 kWh, que faz com esta moto elétrica seja capaz de percorrer 320
km com uma única carga. Em alternativa, fornece energia ao motor de 140 cv, para atingir os 193 km/h de velocidade máxima, demorando 3,3 segundos a atingir os 100 km/h. A bateria demora 45 minutos a recarregar numa tomada de carga rápida. As rodas são compostas por jantes em fibra de carbono BST Black Diamond 5, calçadas por pneus Pirelli Diablo Rosso Corsa II nas medidas 120/70 ZR17 e 180/55 ZR17. A travagem está a cargo de discos de 320 mm mordidos por pinças monobloco de quatro pistões Brembo Stylema, e ABS com IMU (unidade de medição de inércia). A produção está prevista ter início já no início de 2019 e o objetivo é produzir apenas 399 unidades da Arc Vector. Este número serve para lembrar a voltagem utilizada pelo motor elétrico da moto. Cada uma destas motos será personalizada de acordo com as preferências de cada orgulhoso proprietário, que vai ter que desembolsar mais de 90.000 libras, cerca de 100 mil euros, para poder exibir a sua nova montada. Mas a Vector é mais que uma moto, é um conceito que inclui um interface humano (HMI – Human Machine Interface), composto por um capacete e um casaco com armadura integrada. O custo está incluído no preço final.
©Arcvehiclelimited
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A FECHAR De olhos postos em...
Tiago Nacarato, música com sotaque SALTOU PARA A RIBALTA NUM PROGRAMA DE TELEVISÃO, INTERPRETANDO UM TEMA COM SOTAQUE BRASILEIRO. HOJE, JÁ ENCHE PLATEIAS E PROTAGONIZA DUETOS COM NOMES CONCEITUADOS DA MÚSICA PORTUGUESA E CARIOCA. TIAGO NACARATO É, AOS NOSSOS OLHOS, A JOVEM PROMESSA DA MÚSICA EM PORTUGAL. POR Andreia Filipa Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
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Consideras que o concurso te abriu portas para uma carreira na música? É importante a passagem por um concurso deste calibre? Com certeza que o programa televisivo catapultou a minha carreira, no sentido até de acelerar o processo. Eu acredito que pudesse chegar onde estou agora, mas ia demorar mais tempo. Os media, quer queira, quer não, têm uma importância muito grande na forma como espalham a mensagem. Muita gente vê televisão, principalmente ao domingo à noite, no horário nobre. Se uma mensagem é espalhada assim num nível de massa, a probabilidade de ela ser partilhada é ainda maior. Então, o programa teve realmente uma importância muito grande. As raízes brasileiras são obviamente visíveis na tua música. Podes falar-nos da tua ligação às sonoridades brasileiras? O que mais te atrai na música brasileira? Tudo começa pelos meus pais, que são brasileiros. Desde sempre que ouço música brasileira em casa - o meu pai é músico também, ou seja, a parte do violão ou a forma de estar em palco vem muito da influência que eu tiro do meu pai. Esse é o primeiro ponto. Depois, à medida que fui estudando música, fui percebendo que a música brasileira é muito rica em termos de melodia e harmonia. A poesia que está contida nas canções também é de alto nível, um nível que não se consegue encontrar em mais lado nenhum. Sinto-me bem a tocar as músicas.
É
natural do Porto, vindo da rotina dos bares como canta a canção. Com o balanço carioca no corpo e a suavidade na voz que envolve sotaques, ora portuense, ora brasileiro, Tiago Nacarato é um talento emergente da música em Portugal. Numa entrevista realizada no coração da cidade invicta, Tiago Nacarato apresenta-se como um talismã da nova geração de artistas nacionais. O nome Tiago Nacarato surge para a ribalta numa Prova Cega do concurso televisivo The Voice, em 2017. Aproveitando o tema que apresentaste no concurso, “Onde Anda Você” de Vinicius de Moraes e Toquinho, pergunto: onde andavas tu até àquele momento? Antes do programa de televisão, já era músico profissional. Já tocava há cinco anos nos bares do Porto, já participava também numa orquestra de baixos e guitarras elétricas e, posteriormente, numa orquestra de Samba, na qual ainda faço parte – a Orquestra Bamba Social. Então, antes do programa, eu era músico na mesma.
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Tiveste vários concertos no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo. Sentes que tens sido acarinhado pelo povo brasileiro? Eu acho que o grande boom na minha carreira, aquilo que falamos no início, foi mais lá. A Internet e, principalmente, o Facebook ajudou muito. Eu sinto todos os dias muito carinho e eles sentem-se bem representados, eu acho. É um país que está numa desorganização muito grande em termos políticos e, sentirem que um estrangeiro, longe do país, representa uma música que está quase esquecida, que é uma música de nicho, deve trazer – não sei bem – um orgulho muito grande. Podemos falar da carreira que começas agora a construir. Que tipo de artista pretendes ser e que musicalidade prometes trazer ao panorama português? É uma eterna procura – a procura pela personalidade musical. A única coisa que posso garantir que vou trazer são as minhas influências, ou seja, aquilo que eu ouço. Muita música brasileira, mas não só. O desafio do artista é conseguir reproduzir, é ser o veículo de tudo o que ele acha de belo no mundo... ou não, mas ser um veículo. Por isso, o que eu posso trazer é só a minha personalidade.
A FECHAR Tiago Nacarato
O teu álbum de estreia, que tem sido muito aguardado especialmente graças ao sucesso do single “A Dança”, espelha esse artista que queres ser? Como nos apresentas o teu primeiro trabalho? Sinceramente, ainda estou um bocado à procura. Tenho já várias canções que sei que vão entrar no disco, tenho até uma parceria com o Salvador Sobral, que vai ser o meu próximo single. Vou trazer música que já tenho há muito tempo e música mais recente, sempre com a guitarra e com a voz presentes, ou seja, que tragam as minhas influências todas. Também gosto muito de jazz e quero ter algumas músicas com solos e arranjos mais ousados. E músicas simples com guitarra e duas vozes, por exemplo. Então, vai ser um pouco como o título do disco do Janeiro, Fragmentos. Posso pegar nos meus fragmentos, até porque as minhas influências são diversas, e o disco será o resultado, o mix de tudo. Tens marcado presença em vários palcos, partilhando até público com Miguel Araújo. Achas que, de algum modo, a tua música segue o registo de Miguel Araújo, isto é, letras com alguns detalhes humorísticos, referências à comunidade portuguesa, voz doce a cantar em língua portuguesa – apesar de possíveis sotaques? Acho que o meu primeiro single tem alguma coisa de Miguel Araújo, sim. Eu até procurei fazer isso, porque estava a conviver mais com ele, a música foi gravada no estúdio dele e a canção foi feita meio que a piscar o olho a Miguel Araújo. Mas o resto acho que não vai ser nada, vou fugir (risos). Já tens agendados dois concertos em palcos importantes no início de 2019: Centro Cultural de Belém (24 de janeiro) e
“O que eu prometo é isso: uma música verdadeira, muito cuidadosa, muito bem escolhida.”
Casa da Música (30 de janeiro). Vês, através destes agendamentos, que a exigência começa a ser maior? Completamente! São salas de me deixar sem sono. Já atuei na Casa da Música com a Bamba Social e, por isso, já não é novidade, mas o CCB é especial. É a primeira vez que vou a Lisboa e vou logo ao CCB, uma sala com um nome muito importante. Por isso, fico contente e nervoso ao mesmo tempo. Independentemente de a sala estar esgotada ou não, acho que a possibilidade de pisar o recinto já traz responsabilidade. Mas isso dá-me pica também. Gostávamos de te pedir uma mensagem para os nossos leitores que, por ventura, ainda não te conhecem. Porque é que os portugueses devem conhecer a tua música? É uma pergunta complicada (risos). Eu acho que os portugueses devem ouvir a minha música principalmente porque ela é feita com muito amor, com muito cuidado e minuciosidade, a pensar neles e não só. É uma música verdadeira que vai de dentro para fora. Sobretudo é isso. Acho que tudo o resto é indiscritível. Eu gosto muito de música que é feita de verdade, que se note que não é com fim comercial. E o que eu prometo é isso: uma música verdadeira, muito cuidadosa, muito bem escolhida. É com muito orgulho que o faço. Vou chamar pessoas para vir gravar comigo, músicos espetaculares... e é isso! (risos).
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* Zenith, o futuro da relojoaria Suíça
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