O tema do próximo número define-se pela recusa da abstracção e generalização de princípios, meios e fins no processo arquitectónico. Considerando a interacção e participação locais como elementos fundamentais para a reflexão, decisão e acção sobre a cidade, pretendemos incentivar uma abordagem directa e real baseada na colaboração entre habitantes e profissionais. Desta forma, a ideia de pré-existência assentará, não só nas características físicas do lugar mas também nas condições e aspirações daqueles que o habitam e se adaptam a ele continuamente. A valorização do conhecimento dos habitantes, as subtilezas e particularidades específicas de um lugar, invisíveis ou incompreensíveis ao olhar externo, serve aqui como ponto de partida para a produção de espaço que reavive a interação e o diálogo entre vizinhos. Who lives next door? é, assim, a pergunta que se destaca, instigando uma reflexão crítica sobre distâncias e formas de interacção social, bem como o seu papel na construção da realidade actual. É, por isso, importante perceber o porquê da “o declínio do homem público” , transpondo e transportando limites e potencialidades provenientes do virtual para a materialização da cidade contemporânea. Paralelamente, e no contexto do lançamento do briefing deste número, procuramos explorar uma abordagem multidisciplinar que nos permitisse abrir a discussão arquitectónica a profissionais de diversas áreas, entendendo a pluralidade de visões, prioridades e valores como algo enriquecedor e fundamental para uma visão abrangente e multifacetada da cidade enquanto espaço colectivo. A apreensão e transformação do lugar adquire, deste modo, um carácter contínuo mas não linear, variando de acordo com as potencialidades de uma realidade específica e com a visão individual e colectiva daqueles que a propõem transformar. Who lives next door? pretende, assim, valorizar a inclusão do cidadão no processo criativo, optimizando os meios através dos quais este pode ter uma voz activa e participativa na criação e transformação do espaço público, contribuindo de forma real e consequente para o desenvolvimento de novas práticas e métodos na arquitectura contemporânea.
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Richard Sennett, 1974 “Their persistent search for novelty has helped to prevent the growth of an informed body of public opinion – something on which a healthy profession very much depends. The public has been bewildered when it needs to be reassured. The result has been the architect’s habit of only looking to each other for approbation – the profession has turned in on itself. Above all, they will need to realize that the world is in the process of deciding that the environment is too important to be left to the mercy of architects.” Nabeel Hamdi, Housing Without Houses “In design, we need both experience and reason; local knowledge and general knowledge; intuition, art, and love; structure; empathy; and a lot of common sense. Like a collage, each step is pieced together in small increments; each move leads to subsequent moves guided politically and artistically but without any precise knowledge of where it might end.” Nabeel Hamdi, Housing Without Houses “If built environment is an organism, it is so by virtue of human intervention: people imbue it with life and spirit of place. As long as they are actively involved and find a given built environment worth renewing, altering, and expanding, it endures.” N. J. Habraken, The Structure of the Ordinary: Form and Control in the Built Environment “As long as a group of humans in physical space exists, the physical organization of space will continue not only as a fundamental necessity of existence, but also as the most direct and concrete means of communicating via materialized systems of self-representation.” Giancarlo De Carlo, An Architecture of Participation “Professionals are against participation because it destroys the arcane privileges of specialization, unveils the professional secret, strips bare incompetence, multiplies responsibilities and converts them from the private into the social. Academic communities are against it because participation nullifies all the schemes on which teaching and research are based.” Giancarlo De Carlo, An Architecture of Participation
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1. Voyeur
3. A minha cidade é de granito e não só
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Maria João Guedes Voyeur apresenta-se na forma de pequeno observatório que dá lugar ao confronto entre o privado e o olhar curioso do espectador. Representa o insaciável desejo de espreitar e concretiza o espaço exterior do vizinho da frente, que rapidamente se torna o conhecido recanto do vizinho de trás. Será sempre o íntimo materializado como espaço interior? Cada um de nós está inconscientemente enfiado na casa do lado. Instalação (2013)
Bruno Neves Bruno Neves é um português do Porto, melhor, é um português do bairro da Sé. Bruno começou cedo a fazer bonecos no laboratório do seu pai, um dos principais fotógrafos da cidade, depois casamentos, baptizados, e outros eventos sociais, mas a sua paixão era o fotojornalismo. Colaborou em “A Capital”, após o 25 de Abril foi convido para a equipa do “Primeiro de Janeiro”, e depois “O Jogo”, onde foi o primeiro editor fotográfico em Portugal. Posteriormente trabalhou para outros jornais. Ganhou 3 prémios Cnid, fez 5 exposições individuais e pertenceu vários anos ao sindicato dos jornalistas. Fotografia (1980)
A Filatelista Momento quotidiano de incompreensão vigilante. Rotina filatélica transcendental do espectador cego pela distância. Performance/Instalação (2013)
2. Memorando
4. Aqui termina a tua casa vizinho!
6. Enredo
Catarina Gaspar Seara Sá A memória está intimamente ligada ao nosso âmago e à nossa consciência. Sem ela como saberíamos quem somos, ou mesmo onde estamos, o que nos rodeia. Somos definidos por uma época, espaço e cultura. Criamos as nossas próprias experiências pessoais, os nossos ideais e ideias. Sempre existiu a passagem de conhecimento e de experiências de indivíduo para indivíduo, um contar de histórias que passam de pessoa em pessoa, que vai moldado aquilo que podemos chamar de cultura. Procuro tornar memórias pessoais em interpessoais. A materialização de memórias em memorandos Instalação (2012/2013)
Vitório Leite e Catarina Ribeiro Através do entendimento deste caso específico, tenta-se chegar ao geral, repensando o limite entre o nosso espaço e o do vizinho. Seja ele a simples parede de tijolo que divide dois apartamentos; a chapa colorida que impede os olhares alheios num bairro pouco planeado; o muro vigiado que protege um condomínio das pobres casas que o rodeiam; o canteiro plantado que separa o jogo de duas crianças; a rede entre dois bairros difíceis de relacionar; ou uns fios enredados que travam a circulação dos visitantes. (2013)
Sofia Travassos e Ana Maria Trabulo co-autores: Cameron Northrop / Francesca Mautone / Valentina Barcelloni Corte Quem conta um conto, acrescenta um ponto Um processo participativo expresso através das múltiplas intervenções no espaço pelo indivíduo perante uma condição pré-estabelecida, transformável pela imprevisibilidade da acção colectiva. Um enredo espacial em constante estado de recriação. Instalação (2013)
7. Ocupa
9. O vizinho à janela
11. Camisaria
Jéremy Pajeanc A ocupação marca o devaneio e a invasão a propriedade ou um espaço para ser ocupado. Onde está a fronteira da propriedade? E como conservar esse direito? É nesta relação que se organiza todo o trabalho num trompe l’oeil instalativo. Pois, este difunde-se no espaço real dialogando com a arquitetura e a memória do espaço e do observador. Perpetua como única testemunha deste encontro, a pintura. A pintura configura-se não só como instrumento e processo, mas como a própria conceção da “estrutura pictórica” no espaço e no tempo: concedendo à pintura um espaço evolutivo, numa arqueologia do presente. Isto é, recorrendo às palavras de Umberto Eco, “a estrutura é aquilo que ainda não existe”, ou seja, “se existisse teria entre as mãos apenas um momento intermédio, uma estrutura mais elementar e uniexplicativa.” Instalação (2013) Dimensões: 400cm x 1000cm Técnicas e Material: Pintura a óleo sobre MDF sobre roofmate c/ entulho e mobiliário
Diogo Rocha, Gonçalo Guimarães e Gil Pereira Um olhar sobre o interior do inconsciente, onde as imagens e objectos são o ponto de partida para uma experiencia aleatória. Instalação (2013)
André Castro Vasconcelos Este trabalho é feito com o propósito de construir usando roupa. Tráta-se de uma maquete de um projecto a ser desemvolvido em maiores proporções quando surgir uma opotunidade. Aqui exprimentamos ideias e conceitos que temos vindo a desemvolver e que referem a encontrar diferentes maneiras de fazer assemblagem com camisas. Instalação (2013)
10. Ele Urbano
12.Aparelle
Frederico Draw O Vizinho Anónimo, aquele que vemos, ouvimos e que até sentimos através de passos no soalho e portas batidas, no entanto a distância emocional, autista, separa-nos mais do que a própria distância física. Ele está lá, mas não tem nome. A intervenção pretende ser uma representação desse Vizinho desconhecido, do seu anonimato impessoal e urbano. Mural (2013)
Apparelle é uma esfera de som criada por Jorge Amador e João Bento Soares. Esta forma surge de texturas atonais e paisagens sonoras electrónicas em harmonia com melodias e drones de guitarra ambiente e voz. As performances são também acompanhadas por projecções de video que alimentam o psicadélico da música criada por este duo. Concerto e Vídeo
8. I used to be your neighbor Nuno Pimenta, Frederico Martins, Miguel C. Tavares Cenário especulativo sobre futuras formas de ocupação espacial. Instalação (2013)
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