7 minute read
entreVista. Juliana Vosnika, a mulher por trás do MON
É ela quem está por trás do “olho”
A diretorA-presidente do Museu oscAr nieMeyer JuliAnA VosnikA fAlA coM exclusiVidAde à HAbitAt sobre Arte, gestão, sucesso de público e sobre AdMinistrAr o MAior AcerVo de Arte dA AMéricA lAtinA
Advertisement
O Museu Oscar nieMeyer é uM dOs Museus Mais iMpOrtantes da aMérica Latina. QuaL é O desafiO de gerenciar uM Museu Que é caMpeãO de púbLicO, beM QuistO peLO setOr e peLa cidade?
O dia a dia à frente de uma instituição como o MON, que é um espaço vivo, que proporciona experiências únicas e inesquecíveis aos seus visitantes, é uma grande responsabilidade, que traz constantemente novos desafios e exige superação a cada dia, mas também uma honra. É uma imensa satisfação que o museu se torne cada vez mais plural, mais diverso e que possa contribuir para o incremento de repertório de seu público, especialmente neste momento difícil de pandemia.
A principal motivação é sempre poder de alguma forma contribuir para uma sociedade melhor, mais justa e mais democrática, ou seja, oferecer arte e cultura de qualidade ao maior número de pessoas. O MON é patrimônio estatal vinculado à Secretaria de Estado da Comunicação Social e da Cultura do Paraná e abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, além da mais significativa coleção asiática da América Latina.
a Que se deve O sucessO dO MOn? cOMO uM Museu cOnversa cOM a cidade?
O MON conta com mais de 35 mil metros de área, sendo 17 mil metros reservados para as exposições. É hoje o maior museu de arte da América Latina em área construída. Com uma política institucional de atender a diversos públicos, o MON se consolida, ano após ano, como uma instituição dinâmica, aberta ao diálogo artístico e à troca de experiências múltiplas.
Com essa preocupação, o MON criou o Núcleo de Acesso e Participação (NAP), para ampliar o acesso de todos os públicos a obras do acervo e às atividades oferecidas pela instituição. O objetivo é inserir cada vez mais a comunidade no Museu, participando ativamente de suas ações e propostas.
Um dos exemplos é o programa MON Para Todos, desenvolvido pelo museu para ampliar o acesso das pessoas com deficiência ao acervo e às atividades oferecidas pela instituição. Para pessoas com cegueira ou baixa-visão, o programa conta com legendas em braile, maquete tátil, audioguia, esculturas originais e réplicas em miniatura. O MON oferece ainda atividades realizadas em Libras para pessoas com deficiência auditiva, e a partir do ano que vem irá realizar também atendimento específico para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O principal objetivo é aumentar a acessibilidade e aproximar a instituição dos mais variados públicos. Outra prioridade é o setor Educativo do Museu. Suas atividades e programas visam aprofundar a relação dos visitantes com a arte, ampliando o olhar e incentivando novas leituras de mundo. A partir de março de 2020 as ações passaram para o formato digital - disponibilizadas nas redes sociais como o Instagram, Facebook e canal do MON no Youtube - e contemplam informações e curiosidades sobre o acervo do museu, assim como as exposições em cartaz e virtuais. As atividades desenvolvidas privilegiam a abordagem transdisciplinar, a leitura de imagem e a experimentação de diferentes técnicas e materiais artísticos. Alia conceitos de mediação em espaços museológicos, oportunizando artistas, estudantes, educadores, crianças e interessados em geral, a se aprofundarem nas reflexões e práticas ligadas ao acervo, arte e cultura.
ainda Que seja uM caMpeãO de biLheteria, O MOn teM de teMpOs eM teMpOs MOstras de artistas faMOsOs e expOsições MuitO esperadas, aLéM de eventOs eM teMpOs nOrMais. cOMO se dá esse eQuiLíbriO?
O calendário anual do MON aborda exposições de acervo, que é sua alma e reflete o papel do museu na sociedade. Há exposições de longa duração, que contemplam o acervo, e outras que retratam o acervo em diálogo com outros artistas e exposições. As escolhas são baseadas nisto. Há 3 modalidades de exposições: as que são produzidas pelo museu (que geralmente têm relação com o acervo); as parcerias institucionais com outras instituições (que também fazem diálogo com o acervo do MON) e as ocupações de espaço (que devem estar de acordo com a proposta do museu). Em um plano anual bem diversificado, há sempre a preocupação de fortalecer o cenário local das artes, o que representa em média 40% de exposições de artistas paranaenses.
As exposições apresentam artistas brasileiros e nomes internacionais consagrados. Entre as mostras realizadas nos últimos anos, podemos destacar: “Man Ray em Paris”, “Tony Cragg - Espécies Raras”, “Ai WeiWei Raiz”; “Frida Kahlo – As Suas Fotografias” e “A Magia de Escher”. Anualmente, ao menos uma exposição de Design e Arquitetura é realizada pelo MON. Entre elas, “Irmãos Campana” e “Nos pormenores um universo – Centenário de Vilanova Artigas”.
Às artes visuais, arQuitetônicas e design, sOMaM-se agOra as cOLeções étnicas. cOMO acOntece a cOnstruçãO dO acervO? e prOgraMadO Ou OpOrtunidade?
O MON pertence ao Estado do Paraná. Seu acervo atual conta com aproximadamente 9.400, após a grandiosa doação feita recentemente pela Coleção Ivani e Jorge Yunes (CIJY) ao museu.
Para a constituição de seu acervo, o MON segue um Marco Referencial que foi referendado pelo Conselho Cultural do Museu, formado por curadores e críticos de arte e que estabelece diretrizes para constituição do acervo da instituição. Esse documento orienta a atuação do MON em artes visuais, arquitetura e design, com ênfase em arte paranaense e brasileira, mas também expande a sua missão à formação de acervo de arte africana contemporânea, latino -americana e asiática.
O Museu Oscar Niemeyer abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional. Nomes como Alfredo Andersen, João Turin, Theodoro De Bona, Miguel Bakun, Guido Viaro, Helena Wong, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Ianelli, Caribé, Tomie Ohtake, Andy Warhol, Di Cavalcanti, Francisco Brennand, entre outros, estão no acervo do MON.
Desde 2018, o Museu conta em seu acervo com a mais significativa coleção asiática da América Latina, doada ao museu pelo diplomata e professor Fausto Godoy. O MON foi o museu escolhido para recebê-la por suas condições técnicas, capacidade de gestão e credibilidade da instituição a receber a doação de quase 3 mil obras de arte asiática, oriundas de vários países daquele continente. Parte das obras pode ser vista pelo visitante do MON na mostra “Ásia: a Terra, os Homens, os Deuses”, na Sala 5.
Em 2021, a consolidação da doação de aproximadamente 1700 peças da coleção africana representa mais um importante marco para o MON. As obras doadas foram adquiridas ao longo de mais de 50 anos pelo casal Ivani e Jorge Yunes, detentores de uma das maiores coleções de arte do Brasil.
Fazem parte da coleção: máscaras, esculturas, bustos e cabeças de bronze, miniaturas metálicas, objetos do cotidiano e instrumentos musicais. As obras têm origem em países como Costa do Marfim, Mali, Nigéria, Camarões, Gabão, Angola, República Democrática do Congo e Moçambique, entre outros. Parte da coleção pode ser vista pelo público na exposição “África, Expressões Artísticas de um Continente”.
a reserva técnica dO MOn é eLOgiadíssiMa. cOMO funciOna e QuaL a diferença das de OutrOs Museus?
As obras que passam a integrar o acervo do museu passam antes pelo crivo do Conselho Cultural do MON, que precisa aprovar a compra ou doação. Somente após tal aprovação são realizados os respectivos contratos e termos de entrada.
Ao chegarem ao museu, as obras passam um período em quarentena e análise, para investigar se não há nenhum tipo de problema com cupim ou fungo. Após a quarentena, têm início as etapas de higienização, catalogação, fotografia e laudo técnico, realizadas no laboratório do MON. Após estes processos, as obras finalmente entram para serem acondicionadas nas reservas técnicas.
As obras que chegam ao MON para as exposições temporárias entram pelas docas e passam por uma breve quarentena na sala expositiva. É feito o laudo de entrada para análise física da obra. Durante o período expositivo, semanalmente acontece uma “ronda” para conferência e conservação das obras expostas. Ao final da exposição, há uma nova conferência com o laudo de entrada, para analisar se nenhuma obra teve problemas durante a exposição.
O Que pOdeMOs esperar para Os próxiMOs anOs?
Em relação a planos futuros, a partir de agora, a ideia é que o MON se mantenha cada vez mais em formato híbrido, ou seja, aberto à visitação e oferecendo cada vez mais incríveis exposições, mas também mantendo todas as novas ações virtuais que tiveram início recentemente. Outra novidade são parcerias inéditas com outras instituições, como a Japan House São Paulo e a Pinacoteca de SP, o que resulta em exposições e intercâmbio de conteúdo educativo, entre outras realizações conjuntas. Apesar de todas as dificuldades, é um momento de otimismo, de mudança de paradigma, de melhorar e incrementar ainda mais todos os setores do museu com novos projetos.