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Fotógrafo Leo Mano

Dedicar toda nossa atenção e carinho aos nossos “filhotes” é inegociável. Fazemos tudo por eles, dando todos os cuidados que eles precisam. Nestas condições, um cão de pequeno porte pode viver bem até aos 18 anos. Cães maiores podem chegar aos 13 anos numa boa. Não é raro um gato alcançar os incríveis 20 anos de idade! Mas... e aquela companheira de todas as horas, nossa câmera?

A durabilidade do equipamento fotográfico é uma grande preocupação para o fotógrafo e, arrisco dizer, mais ainda para quem está começando como profissional. As câmeras mais robustas não são baratas e, por isso mesmo, precisam durar bastante para compensar o investimento. O fotógrafo iniciante é especialmente vulnerável. Normalmente ele terá de começar como autônomo utilizando uma única câmera, um flash e, por vezes, uma única objetiva com zoom. Equipamento reserva, nem pensar. Esta é a realidade de quem está começando e pensa na fotografia como fonte de renda e profissão. Esta situação gera muita insegurança, pois a ansiedade gerada pelo medo do equipamento pifar, pode prejudicar até sua concentração e performance durante o trabalho.

A boa notícia é que os grandes fabricantes de câmeras produzem equipamentos realmente duráveis (salvo algum grande azar ou conspiração do universo). Investir um pouco mais de dinheiro na primeira câmera vai valer a pena. Além disso, você pode contribuir para que a vida útil de sua câmera vá muito além da média. Para isso, bastam alguns cuidados simples e, por vezes, óbvios.

Na foto ao lado, “Dr. Leo” durante uma cirurgia em uma DSLR! A dona da câmera, a fotógrafa Sonia Parrot, teve muito sangue frio e conseguiu fotografar o momento sem tremer aimagem!!

Calcanhar de Aquiles

Primeiramente, é importante saber que o ponto fraco de qualquer câmera está em suas partes que sofrem qualquer ação mecânica: botões, roletes, conexões, contatos, obturador e articulações (display móvel, espelho nas DSLR's, etc).

As partes mecânicas são as principais causas de manutenção nas câmeras fotográficas. Os problemas puramente eletrônicos também podem acontecer mas são mais raros. Agora vamos observar cada uma dessas partes que mais geram reclamações e como podemos agir preventivamente em relação a elas.

Cartão de Memória O campeão de reclamações é o cartão de memória. Contudo, quase todos os problemas com perda de fotos não são devidos a um mau funcionamento ou defeito do cartão em si, mas sim por causa de firmware desatualizado (vide artigo anterior sobre firmware) ou um mau contato no soquete do cartão. O problema é ainda mais frequente quando é usado um micro-cartão com adaptador para o soquete SD (ver imagem). Esta situação aumenta a quantidade de contatos mecânicos. Acontece que, quando você usa um adaptador de cartão micro-SD, você está abrindo mão da reconhecida qualidade de construção do fabricante da câmera (pela qual você pagou caro) para apostar na qualidade de construção do fabricante do adaptador que, por vezes, é de origem duvidosa.

O termo "mau contato" pode sugerir, falsamente, que ele causa apenas problemas intermitentes ou temporários. Um mau contato, de maneira geral, pode causar problemas graves cuja solução irá requerer uma assistência técnica e, por vezes, poderá causar danos irreparáveis ao equipamento. Muitas falhas eletrônicas são originadas por mau contato em pontos que sofrem alguma ação mecânica. Como exemplos posso listar: cabo “flat” com fadiga, pontos de solda com fissuras e superfícies de contato sem a necessária pressão.

Voltando aos cartões, cabem aqui algumas sugestões: 1) Não utilize cartões fora da especificação do fabricante da câmera; 2) Não use adaptadores de cartão SD; 3) Utilize apenas cartões com procedência garantida; 4) Mantenha o firmware da câmera atualizado; 5) Prefira formatar o cartão sempre pela câmera; 6) Prefira usar o cabo USB para transferir as fotos ao invés de remover o cartão de memória da câmera. Tirar e botar o cartão da câmera gera ação mecânica sobre os contatos. Toda ação mecânica repetitiva (ao longo de anos) gerará desgaste e os contatos tenderão a se deformar e perder eficiência. Sob este ponto de vista, se sua câmera tiver wi-fi, será a melhor opção para transferir suas fotos.

Verdade! Contudo, enquanto um mau contato no soquete do cartão de memória quase sempre é catastrófico (com perda de fotos), um mau contato no cabo USB quase nunca é catastrófico. Essa afirmação é válida unicamente na transferência de fotos da câmera para o computador pois, neste caso, a transferência se limita a ler (e não gravar) o cartão de memória. Nesta condição específica, um mau contato na conexão USB não será capaz de corromper os dados no cartão. Já um mau contato no soquete de cartão, pelo contrário, pode interromper uma gravação de dados num momento crítico enquanto você fotografa. Isso pode causar a perda de uma foto (arquivo corrompido) ou até a perda de todas as fotos (index de arquivos corrompido). Mesmo que o cartão esteja eletronicamente funcional, os dados lógicos estarão inconsistentes e inacessíveis.

Programas de recuperação podem reverter alguns casos... mas não todos.

[[[ Obturador ]]] Com relação ao obturador e espelho (partes fundamentais da câmera), mesmo sendo projetados para resistir ao trabalho mecânico, com o tempo eles tendem a sofrer desgaste e falhar. O fabricante, sabendo disso, informa a quantidade de disparos que se espera antes que qualquer falha aconteça. O número fornecido pelo fabricante sempre é bastante conservador (por ser aferido em testes com condições mais severas do que o normal) e, por isso, é comum a câmera funcionar muito além deste número sem qualquer sinal de problema (se usada em condições normais).

O único cuidado que podemos tomar aqui é evitar o uso desnecessário do modo sequenciado de disparo. Quando você usa a câmera de uma agência (ou alugada), tudo bem fazer 20 disparos sequenciados de uma cena estática (a famosa “metralhadora”). A agência não espera que suas câmeras durem muitos anos. Mas se a câmera é sua, não abuse desse recurso.

[[[ Botões ]]] Com relação aos botões, roletes, conexões e contatos, cabem os cuidados básicos com relação à limpeza. O acúmulo de poeira, gordura, maresia ou areia, pode abreviar a vida útil dessas partes.

[[[ Bateria ]]] Apesar das baterias também possuírem um histórico de reclamações, os casos mais comuns são eletrônicos (e não por mau contato nas conexões), seja por um defeito no carregador, seja na bateria (ou nos já costumeiros sinais típicos do inevitável final do ciclo de vida da bateria). Felizmente, o soquete da bateria parece ser mais resistente ao desgaste e, por isso, falhas devido a mau contato não são freqüentes. Mesmo assim, seria ótimo se tivéssemos a opção de recarregar sem a necessidade de remover a bateria. De qualquer modo, vou aproveitar este “gancho” para dar um alerta importante.

Não é raro, durante um trabalho fotográfico, a câmera avisar que a bateria entrou nos minutos finais de funcionamento. Pra variar, você não levou o carregador (ou não há tempo para usa-lo) e aquela é a única bateria que você tem (mas ainda restam fotos por fazer). Você continua trabalhando até a câmera desligar automaticamente.

Depois que a câmera desliga, você entra em desespero (pois ainda precisa fazer mais algumas fotos). Você acaba descobrindo que, após deixar a câmera descansar por um ou dois minutos, é possível ligar a câmera novamente e fazer mais duas ou três fotos... e assim você continua “ressuscitando” a câmera várias vezes até sua “morte” definitiva. Essa estratégia é uma verdadeira “roleta russa” (e eu explico porque)! Quando a sua câmera se desliga automaticamente pela primeira vez, ela faz isso de forma controlada, ou seja, ainda há energia suficiente para terminar qualquer processo crítico interno em andamento (uma gravação de foto, um movimento de espelho, etc). Esta precaução decorre da inteligência do “japa” dentro de sua câmera (o firmware). Ele desliga automaticamente num nível minimamente seguro (nunca no zero absoluto) mas não sem antes finalizar todos os processos críticos internos. Quando você repousa a câmera, alguns capacitores terão tempo de se descarregar completamente e, quando você ligar a câmera novamente, o circuito que mede a carga da bateria receberá uma informação diferente daquela recebida da última vez. Após alguns segundos, os capacitores se carregam e o circuito percebe novamente o verdadeiro nível crítico e desliga a câmera novamente. Neste meio tempo você conseguiu mais uma ou duas fotos mas, a cada repetição deste “truque”, a câmera acorda com menos energia que antes e, assim, cada novo disparo se torna ainda mais arriscado. Acho que você já imaginou o que poderá acontecer. Chegará o momento em que a câmera ligará e você fará o disparo fatídico. Infelizmente, a esta altura, não haverá mais energia suficiente para manter a câmera acordada durante os processos críticos! O “apagão” poderá acontecer num momento especialmente catastrófico, danificando o cartão de memória durante uma gravação ou até mesmo travando o obturador ou espelho que não completou seu movimento. Pelo mesmo motivo, trabalhar com baterias sabidamente defeituosas, também é perigoso (pois elas podem “dizer” ao “japa” que ainda possuem um nível de energia que, de fato, não têm).

[[[ Flash ]]] Uma dica para aumentar a vida útil do flash no modo TTL é, quando possível, fotografar com ISO alto (800 ou mais). Desta forma, dificilmente o flash será demandado em sua potência máxima. Além de aliviar o trabalho do flash, poupa bastante as pilhas (ou bateria, dependendo do modelo do flash). Obviamente, esta escolha prioriza a proteção do equipamento (e não a melhor configuração para fotografar). O mesmo pode ser dito em relação ao modo manual, ou seja, evite usar a potência máxima (quando possível).

Contudo, ainda em relação ao flash, o maior vilão é a sapata que conecta o flash diretamente na câmera (ver imagem). Tive problemas de mau contato em quase todos os meus conjuntos depois de algum tempo de uso. Como atenuante, estes casos raramente são catastróficos (você acaba conseguindo fazer o conjunto funcionar, mesmo que de forma instável), mas uma intervenção técnica será necessária no primeiro momento possível. Felizmente não é das mais caras intervenções. Não tenho sugestões para este ponto específico. Pelo contrário, se souberem de alguma dica, me avisem!

[[[ Objetivas ]]] Por incrível que pareça, as quedas e esbarrões são o motivo mais comum para manutenção de objetivas e podem causar desde leves desalinhamentos até a quebra de lentes e partes mecânicas. Sendo assim, vale a pena ter uma atenção especial com elas.

Neste sentido, a grande dica que posso dar é, sempre que montar a objetiva na câmera, preste atenção para ouvir o "click" do engate. Se você não ouvir este "click", retire e monte a objetiva novamente. O botão de destravamento da objetiva (ver imagem) só deve ser pressionado para RETIRAR a objetiva da câmera, NUNCA PARA COLOCAR!!!

Se você apertar este botão durante a colocação da objetiva, você jamais ouvirá o "click" que é a garantia de que o acoplamento foi realizado com sucesso. No mais, tome os cuidados básicos no manuseio de sorte a não deixar nada cair no chão. Com relação aos fungos, não sou a pessoa mais indicada para dar dicas pois nunca tive esse problema (acredito que devido ao uso intenso) mas, felizmente, não é difícil encontrar boas orientações sobre isso na internet. Seus colegas ou seu professor também podem ajudar com dicas sobre o assunto mas, neste ponto, prefiro me abster por total falta de experiência. Adotando estes cuidados simples, não deixando sua câmera cair na piscina, não esquecendo ela sob Sol forte (ou sob chuva), não deixando sob alcance das crianças (incluindo nossas "crianças" de 4 patas), sua câmera viverá por décadas sem dar qualquer sinal de problema e superará nossos cães e gatos em termos de longevidade. Tempo mais que suficiente para você se estabelecer na profissão e comprar seu equipamento reserva e todos os demais acessórios que você cobiçar.

Você tem dicas de cuidados com seus equipamentos? Mande pra gente! Vamos adorar conhecer suas experiências!

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