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MUSEU DO ZEBU: 80 anos do Parque Fernando Costa

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Palanque oficial é espaço de memória da cultura do Zebu

80 ANOS

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DE CASA

Parque que abriga a sede da ABCZ em Uberaba é também o lar simbólico do Zebu no Brasil

KELLE OLIVEIRA

Foi de uma viagem para Araxá, com uma parada estratégica em Uberaba, que o Parque Fernando Costa ganhou sua primeira alusão na história. Segundo Maria Antonieta

Borges Lopes e Eliane Mendonça Marquez no livro ABCZ 100 anos de História e histórias, o então ministro da Agricultura, Fernando Costa, retornava da cerimônia de inauguração do Grande Hotel, na cidade vizinha, quando, por influência do uberabense Antônio Gontijo de Carvalho, passou por

Uberaba. Relatam as historiadoras que Antônio, irmão do compositor Joubert de Carvalho e secretário particular do ministro, “ardilosamente”, convidou criadores de gado para recebê-lo na cidade, tendo em vista a informação privilegiada de que o ministro dispunha de uma suposta verba para ser utilizada na construção de dois parques de exposições no interior do estado. O plano de Antônio era garantir um deles para sua cidade natal.

A “passadinha” em terras uberabenses rendeu mesmo uma boa impressão ao ministro. “Chegando

“Na década de 70, o Governo Federal autorizou a doação do empreendimento à entidade, oficializando o lugar que viria a se tornar a arena decisória de questões relativas à Política, Economia, Ciências e importantes recortes da história do Brasil.”

à cidade, (ele) presenciou a pujança dos criadores de Zebu e, a pedido de Antônio Gontijo, resolveu doar a verba para a construção”. A outra versão para a criação do Parque Fernando Costa, descrita no livro das historiadoras, é carregada de detalhes que não entraram nos registros oficiais, mas acabaram virando história.

Oficialmente, a criação do parque que é considerado a casa do Zebu no Brasil tem também a influência do ex-ministro que dá nome a ele. Na metade final da década de 1930, a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM) promovia as primeiras exposições de Zebu na sede primitiva da ABCZ, em um modesto imóvel na área central de Uberaba, com instalações simples e um tanto improvisadas. Foi neste local, depois de participar da 4ª edição da feira, que Costa percebeu o grande contraste entre a “acanhada” estrutura da sede e a qualidade dos animais que eram expostos e, por isso, em 1938, ele prometeu empenhar verba necessária a uma nova sede junto ao Governo Federal. O terreno escolhido, um espaço de 150 mil metros quadrados, ganhou uma planta notável: seis pavilhões para gado bovino, dois para equinos e asininos, casas para o diretor e para as seções de vacinas e imunização, arquibancadas, salões de festas e bar e a pista para desfiles. Em 10 de maio de 1941, o Parque Fernando Costa foi inaugurado com a presença de seu ilustre padrinho, do presidente Getúlio Vargas e de parte da população da cidade, que já era considerada pioneira no trato do gado indiano. “Lembro-me de passar pelo Bairro São Benedito, ainda jovem, e ver a estrutura surgir. Antes era um descampado, cercado de casas populares, e depois foi ganhando forma, com

Planta original do pavilhão para bovinos, 1941

o pórtico enorme, mas um muro baixinho. As pessoas viviam lá dentro”, lembra o arquiteto Demilton Dib, que hoje é o responsável pelo planejamento arquitetônico das obras da ABCZ.

Segundo ele, ao longo dos anos, o espaço foi o centro de mudança da ocupação urbana naquela região da cidade. “Houve uma valorização da área, sem dúvida, pois o parque imprimiu suas características ao entorno, surgindo muitas lojas de artigos de couro, por exemplo, e hotéis para os visitantes que vinham de fora”, conta. No final da década de 60, com a transição da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro para ABCZ, o Governo Federal autorizou a doação do parque à entidade, oficializando o lugar que viria a se tornar a arena decisória de questões relativas à Política, Economia, Ciências e importantes recortes da história do Brasil.

Em mais de oito décadas de atividade, o parque ganhou uma nova estrutura, novos acessos, mais funcionalidade. E também mais arte e beleza. Atualmente, além dos 39 pavilhões, recintos de julgamento e prédios administrativos, o local é o que os historiadores chamam de “museu de território”. “É quando consideramos que todo o terreno, dentro de sua demarcação, tem importância histórica digna de ser preservada”, explica o gerente executivo do Museu do Zebu, Thiago Riccioppo. Por todo o parque, estão espalhados monumentos e obras de arte que incluem bustos de personalidades da Política e do Agronegócio, edifícios neocoloniais cujo estilo foi mantido ou replicado desde a década de 1940 e paisagismo original, com árvores octogenárias que preservam outros períodos da história. Conservar esses bens culturais que formam o parque é preservar a própria formação e o desenvolvimento da pecuária bovina no país. “Ele caracteriza parte da identidade e simbologia nacionais e também grandes questões do Brasil foram decididas aqui. As memórias que estão projetadas nos edifícios e monumentos, não pertencem só ao uberabense, mas à toda a cultura zebuzeira”, completa Riccioppo.

A média anual de visitantes do parque Fernando Costa chega a 800 mil pessoas, mas, desde o ano passado, por causa da pandemia do novo Coronavírus, os portões estão fechados para o público. Até a reabertura, quem quiser conhecer a saga do desenvolvimento da pecuária no Brasil pode acessar parte do acervo do Museu do Zebu pela internet, assim como fotos e vídeos do parque, hoje, e desde a sua fundação através do endereço eletrônico zebu.org.br.

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