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www.violetaskaterock.nuvemshop.com.br
Chegamos ao fim de 2014, um ano atípico que mexeu com o calendário do país. A Copa do Mundo e as eleições presidenciais provocaram uma adaptação na agenda anual de todos e a Roda, é lógico, também não escapou disso. Muitas vezes essas situações acabam por desencadear ideias que estavam programadas mais para frente. A escolha de Edgard Scandurra como capa e entrevista da vez é um bom exemplo. Queríamos, em algum momento, destacar um personagem que tivesse livre trânsito e, principalmente, o respeito entre as várias correntes, e porque não dizer, gerações da música brasileira. Expoente dos anos 80, quando estourou com a banda IRA!, Edgard é um dos poucos músicos que consegue essa proeza no cenário artístico. O virtuoso guitarrista falou conosco sobre a infância, o sucesso, as drogas, as brigas e as múltiplas parcerias que continuam surgindo a cada dia na sua carreira.
RODA #6
Outro destaque da Roda é uma ilustradora conhecida apenas como Lole. A simplicidade do seu nome nem de longe reflete a complexidade e o vasto universo criativo dessa artista carioca, que adora ouvir música para produzir. O ensaio fotográfico desta edição leva a assinatura de Gilvan Barreto, que apresenta “Moscouzinho”, trabalho que acaba de ganhar o Premio Brasil de Fotografia, mostrando um sertão marcado pela ditadura. Fausto Fawcett, nosso cronista titular, faz um passeio sensorial pelos ritmos e sons que afetam a nossa libido. Nas próximas páginas ainda tem Andy Summers, guitarrista do The Police, contando para nós como a bossa nova sempre esteve ligada de alguma forma em sua música, além do perfil promissor da cantora Tatiana Dauster. Por fim, o nosso 365 faz um recorte com o melhor da temporada. Prestes a entrar em seu terceiro ano, a Roda, que nasceu carioca, expande cada vez mais seu DNA, universal em todos os sons, cores e formas. Brindemos a mais essa conquista! Que venha 2015.
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EDITORIAL
BOB COTRIM . EDITOR
GILVAN BARRETO
Com 36 anos de vida e 12 de fotografia, o pernambucano já viveu em São Paulo e Londres, mas mora no Rio de Janeiro há 9 anos. É colaborador de várias publicações nacionais e tem seu trabalho exposto fora do Brasil. Em 2014, ganhou o Prêmio Brasil de Fotografia, o Prêmio Marc Ferrez (Funarte) e o Prêmio Conrado Wessel de Arte. Inspirado pela poesia soviética, criou o ensaio “Moscouzinho”, onde o sertão brasileiro se encontra com a ditadura.
LEANDRO SOUTO MAIOR
Passar uma tarde com uma das referências musicais é para poucos. Leandro teve essa oportunidade com o guitarrista do The Police, Andy Summers. Rock, bossa nova, antigos amigos brasileiros e novos projetos deram o tom da conversa. O jornalista, que também pilota uma guitarra na banda Fuzzcas, deu seu jeito e fez o assunto afinar no tom preferido dos dois.
JUAN DIAS
Ele tem 26 anos e achava que apagaria incêndios ou que desvendaria mistérios da geofísica. Woody Allen, através de seus filmes, acabou colocando as coisas nos eixos. Hoje, Juan fotografa para algumas publicações e faz assistência para diversos fotógrafos. Nesta edição, Tatiana Dauster posou para suas lentes.
FAUSTO FAWCETT
Nosso cronista preferido analisa aqueles momentos em que a trilha sonora é parte integrante e indissociável do esporte mais antigo e mais praticado no mundo: o sexo. Aqui, pouco importa o ritmo. Na real, vale mesmo é abrir os ouvidos e os sentidos na busca daquilo que chamamos de prazer.
GABI BUARQUE
Gabi Buarque é compositora e instrumentista, com formação técnica na Escola de Música VillaLobos e especialização em Canto de SambaChoro, Violão e Cavaco pela Escola Portátil de Música. Com dois discos lançados, Gabi também participa de projetos que integram música e poesia. Nessa edição, ela preenche o “Só Letra” com suas palavras e rimas.
RENATO ARIAS
Produtor e apresentador do lendário “Black and Blues”, programa da extinta Rádio Fluminense, do Rio de Janeiro, sempre teve sua vida ligada à música. Fundou uma das mais tradicionais lojas de discos cariocas, a Satisfaction, e também produziu os Grupos Blues Etílicos, Big Alambik e três festivais do gênero que agitaram o Circo Voador. Ele nos conta como um disco dos Beatles detonou toda essa paixão pela música.
MARCIO BULK
Depois de uma edição afastado por conta de um projeto musical e um gesso no pé, ele volta a dar seus pitacos. Com “Inspiração Valvulada”, Márcio aponta seu teclado na direção dos rótulos e tags, que, por sinal, adora. O que ele não adora, é ver isso sendo utilizado como ferramenta de inclusão e/ou exclusão, que por vezes pode ser cruel e/ou desnecessário.
IVAN COSTA
Intrigado com o Ensaio “Facebook Series”, da edição anterior, o pernambucano Ivan resolveu conversar com seu criador, Bruno Veiga, e saber mais sobre sua trajetória na fotografia. Ao contar um pouco da vida do fotógrafo, ele desvenda o porquê da estreita relação de suas fotos com a cidade do Rio de Janeiro.
LUIZ STEIN
O infindável baú de relíquias do artista gráfico Luiz Stein continua a nos surpreender. Sabe aquelas imagens que nos acompanham desde a mais tenra infância? Aquelas que carregamos na memória e nem sempre dividimos com os outros? Pois bem: desta vez, ele nos apresenta uma dupla que vai fazer você esquecer de Tom & Jerry.
COLABORADORES
Revista Roda #6 dezembro 2014
Editor de Conteúdo . Bob Cotrim bobcotrim@revistaroda.com.br Editor de Imagem . Daryan Dornelles daryandornelles@revistaroda.com.br Editor de Arte . Tello Gemmal tellogemmal@revistaroda.com.br
RODA #6
Colaboraram nessa edição Diego Ciarlariello, Fausto Fawcett, Gabi Buarque, Gilvan Barreto, Ivan Costa, Juan Dias, Leandro Souto Maior, Luiz Stein, Marcelo D’Almeida, Marcio Bulk, Renato Arias e Shigueo Murakami.
RODA . CONTATO Para enviar comentários, sugestões e críticas contato@revistaroda.com.br RODA . PUBLICIDADE comercial@revistaroda.com.br RODA . REDAÇÃO Para enviar sugestões e material para review redacao@revistaroda.com.br RODA . WEB www.revistaroda.com.br RODA . SOCIAL Coordenador de Redes Sociais . Alexandre Florez redesocial@revistaroda.com.br FACEBOOK.com/revistaroda Projeto Gráfico Ofício21
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EXPEDIENTE
Todos os artigos assinados e fotografias são de responsabilidade única de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
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EDITORIAL ENTREVISTA . EDGARD SCANDURRA 3x4 . LOLE NO ESTÚDIO . BRUNO VEIGA MATÉRIA . ANDY SUMMERS FOTOGRAFIA . GILVAN BARRETO PERFIL . TATIANA DAUSTER SÓ LETRA . GABI BUARQUE CRÔNICA . FAUSTO FAWCETT MUITO PRAZER! . LUIZ MELODIA FRENTE VERSO . LUIZ STEIN PITACOS VALVULADOS . MARCIO BULK DISPLAY 365
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arte . Lole
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POR BOB COTRIM FOTOS . DARYAN DORNELLES
Edgard Scandurr
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Nem passava pela cabeça de Edgard que aquelas investidas infantis, travessas e escondidas na guitarra do irmão mais velho, quando ainda era um moleque, eram apenas o prenúncio de uma relação amorosa, intensa e muito bem-sucedida com esse instrumento de desejo. Hoje, o sobrenome Scandurra é uma espécie de referencia básica quando o assunto é guitarrista brasileiro. Seja por conta do grupo Ira!, há mais de 30 anos na estrada, ou devido aos seus inúmeros trabalhos solo. Penetrando no frenético mundo da música eletrônica com o seu projeto ‘Benzina’ ou acompanhado de outros parceiros, como Arnaldo Antunes e Fausto Fawcett, o som de sua guitarra parece ter sempre algo de interessante a acrescentar. Nessa entrevista, ele fala sobre o início com o grupo Subúrbio, sua participação relâmpago no nascimento do Ultrage a Rigor, os encontros e desencontros com seu companheiro de banda Nasi. Também tenta explicar os motivos que fazem com que seu nome transite com tanta facilidade tanto entre os herdeiros do rock Brasil quanto nas pistas de dança dos clubes noturnos ou no meio de expoentes da novíssima geração da MPB, como Karina Bhur e Barbara Eugênia. Palavras ditas por um sujeito tímido quando distante de sua inseparável guitarra, mas artisticamente inquieto e com muita história para contar.
O nome Edgard Scandurra é muito ligado à guitarra aqui no Brasil, como começou essa relação com o instrumento e a ligação com música? Acho que a ligação cromossômica vem desde muito criancinha, meus pais diziam que quando eu ainda nem falava já pegava as panelas da cozinha para batucar com colher de pau. A lembrança mais musical é da Jovem Guarda e de que, quando eu tinha 5 anos, meu irmão mais velho ganhou uma guitarra e montou uma banda. O que a banda do seu irmão tocava? O baterista da banda tinha acabado de voltar da Europa e trouxe uns discos de lá, coisas como Jimi Hendrix, Deep Purple, e meu irmão ficou louco atrás de um pedal de distorção. Na verdade, o som que eles faziam já estava um pouco a frente do iê iê iê que predominava nas bandas da época. E você estava sempre junto com seu irmão e com a banda? É, eu assistia a todos os ensaios e, no intervalo, aproveitava para pegar nos instrumentos. Eu devia ser aquele moleque pentelho que ficava tirando as coisas do lugar, sabe, então eu não conseguia ficar muito tempo fazendo isso.
Poxa, mas nem o seu irmão permitia que você pegasse na guitarra dele? Nem ele. Minha sorte é que ele tinha um violão que deixava eu ficar arranhando. Me ensinou uns três ou quatro acordes, o que deu para tirar umas 20 músicas, aquele rock’n’roll mais básico, tipo Chuck Berry. Quando eu tinha 7 anos, meu pai tinha um restaurante chamado Carcará no bairro do Paraíso, em São Paulo, e havia uma cliente que frequentava o lugar e sempre me via com o violão enorme do meu irmão. Um dia falou que, se eu tocasse uma música para ela, ganharia um violão do meu tamanho. Você lembra o que você tocou para essa cliente? Eu toquei “Menina do Chapéu Vermelho”, numa corda só. O violão era tão grande e eu tão pequeno que eu tocava com ele deitado na minha perna para conseguir alcançar as cordas. Ela me deu um violão que me acompanhou até os meus 18 anos. O que aconteceu com esse violão? Quando entrei para o exército, levava esse violão para o quartel. Eu trabalhava de rádio operador e tinha uma salinha só para mim. Então, sempre deixava o instrumento embaixo da cama e, um belo dia, descobri que tinham roubado
o violão. Era uma coisa histórica que eu acabei perdendo. Antes disso, na adolescência, você só pensava em música ou se interessava por outras coisas? Eu gostava de outras coisas, como futebol e basquete, mas a música era o que me norteava. Meu ciclo de amizades girava em torno de música. Com 13 anos, estudava num colégio estadual e tinha um cara mais velho chamado Tiguez, que hoje em dia é meu luthier, que fazia parte de uma banda. Era a época do rock progressivo. Um dia ele me viu tocando uma música do Led Zeppelin no violão e me chamou para ir até a casa dele tocar guitarra.
Esse foi o primeiro contato com a sua inseparável companheira? Eu nunca tinha tocado guitarra para outras pessoas, só violão para os amigos mais próximos. Nesse dia, na garagem onde eles ensaiavam, eu fiz o meu primeiro solo. Era uma música do Deep Purple, do disco “Burn”. Eu dei uma improvisada, consegui tirar o solo do Ritchie Blackmore e todo mundo ficou impressionado comigo.
“paguei com o meu primeiro cachê um
cheese salada com suco de laranja e ainda sobraram uns cinco reais”
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“no dia seguinte eu não lembrava de quase nada a não ser de muito vômito e do Nasi esfregando um gato morto todo ensanguentado. O primeiro show do Ira! foi punk em todos os sentidos”
Quando surgiu a primeira banda? Eu estudava de manhã no colégio Brasílio Machado. O pessoal que estudava à noite era mais velho e muitos tinham bandas. Aos poucos fui conhecendo outras pessoas e um dia montamos uma banda chamada Subúrbio que fez o primeiro show num bar chamado A Ponto, na Avenida Ibirapuera, em São Paulo, que tocava rock. O show era à noite, mas eu ainda era menor de idade e tinha que me esconder no banheiro quando apareciam aquelas blitz surpresas do juizado de menores. Eu lembro que, quando eu saí do show, paguei com o meu primeiro cachê um cheese salada com suco de laranja e ainda sobraram uns cinco reais. Quanto tempo durou essa banda? Essa banda, que era um trio, foi o embrião do Ira!. Algumas músicas compostas nessa época acabaram sendo gravadas lá na frente pelo Ira!. Eu lembro de ficar muito envaidecido e orgulhoso com o som que a gente fazia nessa época. Para mim, a banda Subúrbio era a melhor coisa da vida. Foi nesse momento que eu tive certeza de que meu negócio era música. Com foi a vida do pracinha Edgard? É verdade que você forjou uma situação para escapar do serviço militar? Todos os moleques da minha idade davam um jeito para não servir. Eu tive uma bicicleta de dez marchas e acabei sofrendo um acidente por causa de uma linha de pipa com cerol que me fez bater num carro. Na pancada, vomitei e acabei aspirando aquele vômito. No hospital, após os exames, acharam que as manchas nos meus pulmões eram
sinal de tuberculose, mas eram apenas resultado da aspiração do vômito. A sorte foi que um médico descobriu o engano e eu voltei para casa. Quando me alistei, levei aquelas chapas “falsas” do acidente para tentar escapar, mas o tenente, preocupado comigo, me mandou para o hospital do exército e eu tive que refazer os exames. Os meus pulmões estavam perfeitos e, aí, eu tive que virar militar. Como era a sua vida dentro do quartel? Por incrível que pareça, a música continuou no foco, eu descobri que lá dentro tinha uma banda marcial com músicos formados e que ganhavam um soldo maior. Então, eu cheguei no capitão da banda e falei que era músico, mas estava numa vida de puxar guarda, dormindo e acordando com um fuzil e que eu queria entrar na banda, que se ele me desse qualquer instrumento eu aceitaria. Aí ele falou que o instrumento preferido do comandante era a lira, que ela estava sem alguém para tocar e que a música preferida do cara era o tema do programa Esporte Espetacular. Quando o comandante chegou para me avaliar, toquei a música inteira e acabei entrando de vez na banda. Você falou em músicos formados. Como foi a sua formação? Você estudou música ou é autodidata? Eu nunca estudei, nasci com o dom de tocar de ouvido, isso acabou me dando um certo comodismo que é ruim, pois é importante você saber escrever música para outros instrumentos e músicos. Tem um exemplo clássico dessa situação. Quando nós gravamos o segundo disco do Ira!, na hora de
fazer o arranjo da música “Florez em você” eu gravei frases no violão que eu queria na canção e mandei pro Jaques Morelenbaum. Ele mandou de volta o arranjo todo escrito, o Liminha chamou um quarteto de cordas para gravar e ficou lindo. Mas, se eu soubesse partitura, eu mesmo teria feito. Tem também o fato de eu ser canhoto e não inverter as cordas para tocar. No colégio, eu cheguei a ter contato com um professor que queria me ensinar, mas para isso eu teria que inverter as cordas do violão como a maioria dos canhotos faz. Eu já tocava bem sem inverter e preferi continuar daquele jeito. O Ira! nasceu nesse momento? O exército tem alguma relação com o nome? Dentro do quartel, um dos meus amigos era o baterista da banda do Tiguez, ele era o mais novo dessa turma, estávamos com 19 anos. O Nasi, que já havia dado umas canjas com a banda Subúrbio, me encontrou e falou sobre um festival punk que iria acontecer na PUC-SP. Resolvemos montar uma banda para tocar e precisávamos de um nome novo. Na época, o exército republicano irlandês (IRA) estava sempre nos noticiários. Achamos o nome bem apropriado para um evento punk. Qual era a formação da banda nesse início? Era eu, o Fabinho (que servia junto com o Edgard) na bateria, o Adilson, amigo do Nasi, que trabalhava na produção do festival, no baixo, e o Nasi no vocal. Depois desse show, a gente acabou dando um tempo, pois a experiência tinha sido bem traumática.
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Foi muita doideira, no dia seguinte eu não lembrava de quase nada a não ser de muito vômito e do Nasi esfregando um gato morto todo ensanguentado. O primeiro show do Ira! foi punk em todos os sentidos. As referências musicais dessa época de alguma forma moldaram o som da banda? As gerações posteriores à nossa tiveram muito mais elementos brasileiros na sua formação, nós éramos totalmente ligados no que vinha lá de fora. Assim como os Beatles tiveram essa influência nos anos 60, o movimento punk no final dos anos 70 foi um vendaval que veio e mudou a cena de todo o mundo. Eu me identifiquei muito com o punk. É fácil notar muita erudição na música que você faz. Isso não gerava um conflito criativo? De certa forma eu desaprendi um monte de coisa, os solos longos e virtuosos ficaram em segundo plano, o punk era a contramão disso tudo. Os três acordes eram suficientes para mim. Demorou um pouco para eu perceber que podia colocar um pouco da minha técnica na música que a gente fazia. Eu adorava Pink Floyd, admirava muito o Steve Howe, guitarrista do Yes. Quando fomos gravar o primeiro álbum, eu já tinha noção que dava para misturar um pouco desse lado mais harmônico com a agressividade do punk. Nesse período você teve uma passagem pelo Ultraje a Rigor. Como era tocar em duas bandas com estilos tão diferentes? Isso era muito louco, as bandas nessa época mudavam de formação o tempo
inteiro. São Paulo tinha uma cena underground muito forte e o Ira! ainda não pagava o meu aluguel. Um dia o Roger me ligou dizendo que estava montando uma banda cover dos Beatles e me chamou para participar. Como eu conhecia bem o repertório, acabei aceitando. Com o tempo, percebi que o Roger era um cara supertalentoso que só tocava uma música de sua autoria nos shows. Então eu cheguei nele e falei que ele tinha que compor suas próprias músicas e apresentar um trabalho próprio. Minha passagem pelo Ultraje tem dois méritos: ter incentivado o Roger a compor suas próprias músicas e ter batizado a banda com o nome de Ultraje a Rigor. Quanto tempo você ficou no Ultraje? Fiquei uns dois anos, aí eu tive uma crise de identidade, me sentia totalmente bipolar tocando no Ira! de cara feia e no Ultraje rindo e fazendo galhofa. Não dava para conciliar mais as duas coisas, no fundo o Ira! tinha muito mais a ver comigo. Você participou de outras bandas além do Ultraje, não? Eu tocava com o Smack, uma banda de rock alternativo, e tocava bateria com as
“Minha passagem pelo Ultraje tem dois méritos: ter incentivado o Roger a compor suas próprias músicas e ter batizado a banda com o nome de Ultraje a Rigor” Mercenárias, uma banda punk feminina de São Paulo. Aí, uma noite depois de um show que a gente tinha feito numa casa frequentada por travestis chamada Val Improviso, saí com o Nasi para dar uma volta no quarteirão e falei que o Charles Gavin, baterista dessa fase, e o Dino, baixista, estavam saindo da banda e que se nós não tomássemos as rédeas da coisa o Ira! iria acabar. Foi nessa hora que tudo mudou e a banda engrenou? Nós tínhamos gravado um compacto na Warner em 1983, mas estávamos na geladeira da gravadora. O Charles avisou que tinha dois convites para tocar, um do RPM e outro dos Titãs. Nessa época, eu estava morando com o Ricardo Gaspa e o Nasi morava com o André Jung, que tocava bateria nos Titãs. Acabou que o Gaspa assumiu o baixo e o André trocou de lugar com o Charles. Essa acabou sendo a formação clássica do Ira!. Com essa formação, o Ira! conseguiu aparecer. Como isso aconteceu com vocês no meio de tanta banda que surgia?
O André era um cara muito diplomático, articulado e bem relacionado no meio musical. Nós éramos meio arredios e isolados, meio punks mesmos, mas ele já tinha uma entrada na gravadora bem maior que a nossa. Na época em que a gente gravou o compacto, eles me deram um amplificador de baixo para eu gravar as guitarras, nem afinador nos deram. Em pouco tempo o André conseguiu uma reunião com o André Midani, presidente da gravadora. E logo apareceu o Liminha e o Pena Schmidt para produzir o nosso primeiro LP. Aí a coisa deslanchou. Mas o estopim de tudo foi aquela conversa com o Nasi na madrugada. Foram quantos discos com essa formação clássica? De 1985 a 2007, foram 11 discos de estúdio, sendo seis pela Warner. O álbum solo ‘Amigos Invisíveis’, que você lançou pela Warner, fazia parte desse pacote? Esse disco é de 1988 e o Ira! já estava superconsolidado. Era fim de contrato, aí eu cheguei para o André Midani e falei que gostaria de fazer um disco solo. Ele
me deu o ok, eu me juntei com o Paulo Junqueiro, entramos no estúdio Nas Nuvens, no Rio, e fizemos esse disco a quatro mãos. Era um projeto bem experimental para a época. Nos anos 90, a sua geração enfrentou uma crise no mercado. Foi nesse momento que você sentiu que era hora de investir em outros projetos? Surgiram muitas bandas novas e boas, como Raimundos, Chico Science & Nação Zumbi e Planet Hemp, e nós acabamos ficando um pouco perdidos. Nesse mesmo período começou a surgir em São Paulo uma cena fortíssima de música eletrônica. Eu, que sempre gostei de equilibrar o mainstream com algo mais alternativo, comecei a frequentar com uma amiga um lugar chamado Hell’s Club, que começava a bombar às quatro horas da manhã e a vibe era muito parecida com a do Madame Satã, que eu frequentei muito. O público era esquisito, mas com muita identidade visual. Em vez dos alfinetes dos punks, a galera usava piercings. As mulheres eram lindas, mas o assédio era tranquilo, todo mundo ali queria mesmo
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era se divertir. Era a contracultura total e isso acabou despertando em mim uma juventude que o ambiente do rock já não conseguia provocar mais. Esse ambiente me renovou como pessoa. Como esse movimento começou a fazer parte da sua vida, musicalmente falando? Eu comecei a pesquisar muito e conheci um cara incrível chamado Suba (produtor de música iugoslavo que estava no Brasil), que estava namorando minha ex-mulher Taciana Barros ( mãe do Daniel Scandurra, atual baixista do Ira!) e que era um cara na vanguarda dessa cena, sacava tudo de estúdios portáteis, samples e pró tolls. Ele me ajudou a produzir um disco de música eletrônica com a minha guitarra. Nós lançamos um disco pela Rock It (selo de Dado VillaLobos) chamado “Benzina”, que era uma alusão a duas experiências iniciais em minha vida. O meu primeiro psicotrópico e o meu primeiro trabalho com música eletrônica. Você mergulhou de cabeça nesse universo? Eu descobri que gosto de tribos, das subculturas. Primeiro, eu me identifiquei com os mods dos anos 60, depois com os punks e, naquele momento, com os clubbers. Essa coisa da identidade visual me atrai muito, hoje em dia as pessoas não se produzem mais, neguinho vai assistir a um show de sandália havaiana. Acho que a cena artística precisa um pouco disso, faz falta. Você sempre teve trânsito livre com a nova geração. Como isso aconteceu?
É uma coisa muito legal que eu conquistei com a minha postura de sempre acreditar no que está surgindo de novo. No começo dos anos 2000, em São Paulo, apareceu uma turma chamada de “novos paulistas” que tinha Cidadão Instigado, Bárbara Eugênia, que está num projeto de música francesa comigo, Karina Buhr, com quem eu toquei um tempo, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci etc. São pessoas talentosas, de vários lugares, que se concentraram em São Paulo e fizeram algo novo acontecer. Eles tinham muita personalidade e influências brasileiríssimas na sua música. Acho que esse meu envolvimento com eles se dá muito em função da minha atitude. Desde o inicio da carreira eles me viam como uma pessoa próxima e eu sempre fiz questão de não me distanciar. É bacana perceber que a minha música transcendeu o meu trabalho no Ira!. Porque o Ira! parou em 2007? Nós tivemos uma briga muito feia, a banda implodiu. O Nasi brigou com o irmão (que é empresário do Ira!), falou um monte de merda, o cara pirou. Naquele momento a gente ainda tentou levar adiante mais um tempo sem ele, mas acabamos chegando à conclusão de que não fazia sentido e resolvemos parar de vez. E essa volta por cima, como se deu? Um dos motivos do rompimento foi o excesso de respeito entre a gente, uma banda é como uma família: quando tem um problema tem que brigar, se for necessário, mas resolver as pendências. Nós fizemos o contrário: não falávamos
para não incomodar o amigo. Faltou diálogo. Aí, no ano passado, o Nasi, com quem eu não falava desde 2007, me ligou para conversar e, no meio da conversa, aquelas palavrinhas mágicas nesses casos, “me desculpe”, surgiram. Ele me disse que tinha falado muita besteira e que era pra gente passar uma borracha em tudo. Me disse que estava à disposição para participar de um show beneficente que eu estava fazendo na escola do meu filho. Achei que ele estava sendo sincero e o convidei para o show, que acabou sendo um sucesso absurdo, as pessoas com camisetas do Ira! chorando. Aquilo ali foi a deixa para a gente voltar com tudo. Porque o Gaspa e o André não estão participando dessa volta? O André não conseguiu se reconciliar com o Nasi e o Gaspa falou que não tinha interesse em voltar. O Ira! teve várias formações ao longo da sua história, então nós achamos que era importante dar uma renovada na banda, colocar sangue novo. O Daniel, meu filho, está tocando conosco e representa essa geração de pais e filhos que vão juntos assistir ao show do Ira! hoje em dia. Duas gerações distintas lado a lado, na plateia e em cima do palco. Tenho maior orgulho disso.
Edgard Scandurra no palco foto . Shigueo Murakami
“Achei que ele (Nasi) estava sendo sincero e o convidei para o show, que acabou sendo um sucesso absurdo, pessoas com camisetas do Ira! chorando. Aquilo ali foi a deixa para a gente voltar com tudo�
RODA #6
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3x4 LOLE
Nome: Alessandra Lopes Lemos (Lole) Data de nascimento: 14/04/1979 Cidade onde nasceu: Rio de Janeiro Cidade onde cresceu: Rio de Janeiro Cidade onde vive: São Paulo Uma cor: Rosa pêssego Um trabalho de alguém da sua área que te marcou: Todos da série “Black Antoinette”, do Olaf Hajek Principais ferramentas de trabalho: Aquarela, tinta da China, tinta acrílica, pincel e papel Qual o lugar em que gostaria de ver o seu trabalho exposto: Na AFA Gallery, porque reúne vários artistas que admiro Quem voce convidaria para ser seu modelo vivo: Ryan Gosling, por motivos óbvios Quem voce gostaria que fizesse um retrato seu: A artista portuguesa Paula Rego Se voce pudesse levar somente uma imagem para Marte: “La Trahison des Images”, do Magritte
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Qual o momento em que a arte virou um caminho profissional na sua vida? Eu sou publicitária por formação, mas sempre gostei de desenhar. Quando era diretora de arte, sempre tentava fazer trabalhos ilustrados por mim. Por insegurança, eu não me imaginava trabalhando com ilustração, mas não estava feliz no meu trabalho. A mudança veio quando resolvi estudar arte e adquiri um pouco mais da tal segurança. Foi o momento em que decidi ser feliz e fazer o que eu realmente gostava. Desse marco inicial até os dias de hoje mudou alguma coisa na essência do seu trabalho? O meu trabalho dialoga muito com o meu mundo interior. Eu acho que mudei nesse tempo, continuo mudando a cada dia que passa e o trabalho vai junto nesse processo. Quais as maiores diferenças dos primeiros trabalhos até agora? Acho que amadureci bastante. Esse amadurecimento é um processo constante, como mencionei anteriormente. Mas agora eu sei um pouco mais sobre o que realmente quero passar com os meus trabalhos. Quais são as suas maiores influências? Me influencio muito pelo cinema, pela música. Muitas ideias surgem quando estou ouvindo uma música e um pedaço de uma letra me faz imaginar um tema. Também tem vários artistas que admiro e que são inspiradores. Magritte, Hieronymus Bosch, Paula Rego, Olaf Hajek, Joe Sorren, Alex Gross, Rebecca Dautremer, Andrea Wan e por aí vai.
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Você é fiel a alguma técnica específica de trabalho? Não. Hoje, gosto muito de técnicas que utilizem papel. Gosto de dizer que fiz uma amizade bem forte com a aquarela, mas também gosto de experimentar coisas novas e ver o que resulta dessa experiência. A fidelidade, caso ela exista, pode de alguma forma limitar a parte criativa de um trabalho? Não acho que a fidelidade técnica seja um problema. Pode até ajudar, já que você acaba ficando bastante experiente com um tipo de material e, com isso, fica mais livre para pensar e criar. Por outro lado, como falei anteriormente, experimentar também é criativo. Os dois são válidos. Qual a sua relação com a tecnologia, ela é importante? Sim, mas eu gosto de tinta, da plasticidade do material. Sempre que faço um trabalho digital ele tem uma base feita com tinta. Esse é o jeito de trabalhar que acho mais confortável. Apesar de ter sido diretora de arte e me familiarizar bem com o Photoshop, gosto mais do resultado quando posso misturar digital e pintura. Existe um tema recorrente nas suas criações? O surreal está sempre presente nos meus trabalhos. Gosto de coisas estranhas, mas que possam ser bonitas ao olhar. A linguagem poética e enigmática também me interessa.
Você enxerga alguma característica feminina no seu trabalho que o diferencie? Não sei se o meu trabalho é exatamente feminino, mas como sou mulher e os trabalhos são inspirados na minha vivência, acredito que não tenha muito como fugir de uma certa feminilidade. Nesse mercado existe preconceito com mulher? Você, por acaso, já passou por essa situação? Nunca sofri nenhum tipo de preconceito. Aliás, acho que a arte existe para eliminar barreiras. Muitas vezes, quando você olha para uma tela, não consegue dizer se foi pintada por um homem ou uma mulher. Essa neutralidade é linda. Quais são os artistas contemporâneos que você acompanha com maior interesse? Gosto muito das pinturas do Eduardo Berliner e da Ana Elisa Egreja. Também acompanho muito o trabalho de ilustradores e artistas do movimento Lowbrow como os Clayton Brothers, Joe Sorren, Alex Gross e Camille Rose Garcia. Dá para quantificar no seu trabalho o quanto é inspiração e o quanto é transpiração? Inspiração e transpiração andam sempre juntas. Uma não existe sem a outra. Se você tem boas ideias e não executa com dedicação, dificilmente vai conseguir um bom resultado. Essa quantificação interfere no valor final do trabalho? Quando uma ideia é boa, original e está bem executada, ela possui um valor mais alto.
Quanto você pagaria por um trabalho seu? Falar sobre valor em arte é muito complicado. Sorte que posso a qualquer momento pintar uma aquarela e pendurar na minha própria parede sem pagar nada por isso.
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No estúdio com
Bruno Veiga POR IVAN COSTA FOTOS . BRUNO VEIGA
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A primeira lembrança que ele tem de fotografia vem lá da primeira infância, quando, na casa dos avós que o criavam, recorria a uma singela caixa de papelão repleta de retratos e postais para matar a saudade dos pais, exilados por conta da ditadura. Esse foi apenas o início da relação entre o carioca Bruno Veiga e aquilo que veio a se tornar uma escolha profissional. Quando a mãe voltou para o Brasil e montou um laboratório em casa, o pequeno Bruno passou a compreender todo o processo, que na época exigia bem mais do que
um simples clique, seja na máquina ou no computador. Com o passar dos anos e o crescimento do garoto, os equipamentos fotográficos foram obrigados a dividir espaço com todo o universo de atividades interessantes que surgem na adolescência. Apesar disso, sua história com os retratos ainda não havia acabado. “Entrei para a faculdade de Economia e, no segundo ano, saí para fazer cinema na UFF. Nessa época eu aproveitava o tempo livre para fazer cursos de
fotografia e, um belo dia, um tio meu por afinidade, que estava estruturando o Jornal de Bairros de O Globo, viu as fotos que eu tirava e me chamou para trabalhar lá. Aí eu caí na maior escola de fotografia que é a redação e o dia a dia de um jornal. Foi assim a formação da maioria dos fotógrafos da minha época.” Depois desse início surpresa, Bruno passou pelo Jornal do Brasil, onde teve a chance de trabalhar na Revista de Domingo, que produzia muito material de estúdio, uma porta que se abria para
quem queria fugir do fotojornalismo diário. Então, em 1990, ele vai trabalhar na agencia Tyba, onde passa a investir mais nos ensaios autorais e encontra seu caminho. “Minha história é ligada à fotografia documental, seja pelo caráter político ou pela observação da realidade, da arquitetura e da forma como os habitantes da cidade vivem nela, como se relacionam, as transformações da cidade, esse é o meu viés”, analisa. Em 1993, quando começa a fotografar para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, atividade que seria o embrião do livro “Bastidores do Municipal”, lançado por ele em 2009, esse viés ganha ainda mais força e o trabalho autoral surge para ficar. Um pouco depois, em 1995, Bruno dá um passo fundamental para sua emancipação profissional: se junta a outros fotógrafos do Rio e cria a Strana Agencia Fotográfica, cujo principal cliente era a Revista Veja Rio. “Isso foi decisivo nessa minha transição, porque a gente conseguiu, se revezando na função, ter tempo e dinheiro para poder investir nos projetos mais pessoais”, conta ele. Em 1998, trabalhando com o produtor musical Paulinho Albuquerque, íntimo da fina flor do samba carioca, conheceu o sambista Ney Lopes. Desse encontro surgiu a ideia de fazer um livro de fotografias com a velha guarda do samba. Mas, logo na primeira foto o trabalho tomou outra direção e, em vez do sambista como protagonista, a casa em que ele morava e a estética do subúrbio passaram a polarizar as objetivas de Bruno.
“Esse trabalho foi uma mudança de direção na minha vida, porque na sequência veio o Foto Rio Festival de Fotografia do Rio de Janeiro, o meu trabalho foi visto por alguns grandes colecionadores do país e eu fui convidado para expor em outras partes do mundo”, recorda. Sua trajetória no mercado editorial já rendeu alguns bons exemplos da estreita relação que ele construiu com a identidade carioca. Junto com o jornalista Luiz Fernando Vianna lançou o livro “Geografia Carioca do Samba”; com a arquiteta Iolanda Teixeira apontou suas lentes para as pedras portuguesas do calçadão de Copacabana em “O Rio Que Eu Piso”, e com Joaquim Ferreira dos Santos e Leonel Kaz fez um livro chamado “Subúrbio”. A entrada definitiva de seu trabalho no circuito comercial das artes visuais do Brasil, como a ARTRIO e a SP-ARTE, em 2009, fez Bruno se juntar a Ana Stewart e Isabel Amado para criar o Estúdio & Galeria da Gávea.
Profundo admirador do trabalho que Miguel Rio Branco já realizava na década de 60 com fotografia e artes visuais, Bruno Veiga costuma citar também como grande referência o artista plástico americano Gordon MattaClark. Ganhador do Prêmio Brasil de Fotografia em setembro de 2013 com o projeto “Paisagem Blindada”, em que documentou o centro do Rio durante as violentas manifestações populares, ele acaba de lançar mais um projeto relacionado às pedras portuguesas da orla carioca ( “Só que o foco é exclusivo nos painéis que Burle Marx pavimentou nas calçadas”, avisa). Bruno Veiga garante que não é daqueles que andam o tempo todo com a máquina a postos, como os orientais sempre fizeram e hoje em dia virou uma febre por conta dos celulares: “Para mim, é fundamental perder uma foto vez ou outra. É preciso saber apenas contemplar uma bela imagem, senão vira todo mundo japonês.”
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Principais livros Publicados: 2014 Pedras Portuguesas, Editora Réptil, RJ, Brasil 2013 Subúrbio/Editoras Atlântica-Retina 78 2008 Bastidores do Municipal / Editora Desiderata 2007 O Rio que eu piso / Editora Memória Brasil 2004 Geografia Carioca do Samba / Editora Casa da Palavra
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Tem polícia na bossa nova Ex-guitarrista do The Police, Andy Summers estreita ainda mais os laços com o Brasil Uma blitz na MPB. É o que o ex-Police Andy Summers vem fazendo por aqui. Primeiro, gravou discos com o argentinocarioca Victor Biglione. Depois, shows e até um DVD com Roberto Menescal. Parcerias com Fernanda Takai (vocalista do Pato Fu) e Rodrigo Santos (baixista do Barão Vermelho, com quem fez shows por aqui em novembro) foram as mais recentes incursões do inglês Andy Summers em terras brasilis. “A influência da música brasileira no meu jeito de tocar vem desde antes desses encontros, vem, desde o The Police”, atesta Summers. “Tive contato com a música brasileira quando era ainda adolescente, e fui eu quem mostrou esses sons para o Sting, que acabou se tornando um apaixonado também. Eu apresentava a ele os discos brasileiros, o que resultou em músicas como ‘Roxanne’, que tem uma forte influência das harmonias e ritmos brasileiros. Só não dava para radicalizar mais porque, afinal, a gente era uma banda de rock.” Na virada dos anos 70 para os 80, a discoteca, o glam rock, a new wave e o punk dão as cartas, e Andy Summers, guitarrista do The Police, é o cara que
POR LEANDRO SOUTO MAIOR FOTO . DARYAN DORNELLES
dita o som das guitarras, na sua vertente pós-punk. Não é que hoje esteja mais interessado no violão brasileiro do que em sua Fender Telecaster, mas, livre das amarras do grupo, Summers se sente à vontade para experimentar os clássicos que ajudou a consagrar com sua guitarra da maneira que melhor lhe convier. “Ele é muito fã de jazz e de bossa nova. Veja que uma das diferenças do The Police eram as harmonias”, ressalta Rodrigo Santos. “Mostrei como fazia o arpejo de ‘Message In A Bottle’, para ele ver se estava errado, e ele mostrou que tem um truque ali no meio!”. Roberto Menescal destaca, além do talento, a coragem do colega bretão: “Eu não aceitaria tocar com o The Police, não conseguiria. Não fui eu quem ensinou ele a tocar a bossa nova e o balanço brasileiro. A música, ou você sente, ou não. E o Andy é um músico muito atento a isso”, elogia. Summers está satisfeito com sua desenvoltura e com a receptividade dos brasileiros: “Não dá para tocar a música brasileira como o rock. É muito difícil, são acordes muito diferentes. Gostaria de fazer um novo projeto com algum brasileiro ano que vem”, dá a dica. Rodrigo Santos está alerta: “Já fizemos músicas juntos, algumas saíram no meu CD ‘Motel Maravilha’, mas temos várias novas que ainda não mostrei”, revela. “Pode ser que o meu próximo disco seja de parcerias com o Andy”, anuncia.
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FOTOS . GILVAN BARRETO
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POR FULANO DE TAL FOTOS . CICRANO DE TAL
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No Tempo Certo Os passos de Tatiana Dauster dentro da música podem ser comparados aos movimentos de um monge budista: suaves, precisos e sempre em busca de evolução. Princípios que ela procura desenvolver sempre que medita. O começo de sua trajetória, no início dos anos 90, foi através de performances teatrais, participações nos vocais com o efêmero mas cultuado grupo musical Acabou La Tequila, e decolou de vez com a gravação do primeiro EP, em 1998. Nessa primeira gravação, que contou com a produção de Pedro Luiz, o objetivo foi alcançado. Na época, ela apresentou o trabalho numa pequena temporada de shows no Hipódromo Up, uma referência de boa música ao vivo no Rio. Ao ser convidada para participar do Projeto Novo Canto, em que um artista consagrado apadrinhava alguém que estava começando, Tatiana
teve a oportunidade de dividir o palco com Pepeu Gomes. “Foi o máximo, nós tocamos músicas do meu repertório e eu tive o privilégio de cantar alguns sucessos dele. Isso foi muito importante para mim”, lembra ela.
Em 2004, devidamente apresentada ao mercado, era a hora de fazer o primeiro álbum. Tatiana Dauster acabou virando uma das apostas de Felipe Llerena para o seu selo Nikita, que estava retomando a sua ênfase em novos artistas da cena carioca. O primeiro álbum, batizado com o nome da artista, foi contemplado num edital da Lei Rouanet e contou com a participação de músicos do primeiro time da MPB, como o guitarrista Celso Fonseca, o tecladista Jorjão Barreto, o baterista Jorginho Gomes e o baixista Arthur Maia. Com sete composições próprias e um repertório de 11 canções,
Tatiana Dauster
POR IVAN COSTA FOTOS . JUAN DIAS
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Estilo . Elson Bemfeito Beleza . Amanda Schon Assistente de fotografia . Rogério Belorio Agradecimentos . Estudio Híbrido, Joana Passarelli, Folic, Escudero, Checklist, Aramis, Jorge Bischoff, Fill Sete
a cantora começava a abrir espaço para a compositora. “Esse primeiro disco é de 2004. Um pouco depois, em 2005, eu já comecei a compor músicas num programa de criação musical chamado Reason e essas composições viriam a fazer parte do meu atual trabalho”, conta. Sem querer atropelar as etapas, Tatiana, percebendo que o mercado estava muito retraído, continuou levando a carreira de artista paralelamente aos seus outros projetos pessoais. Em 2007, arrumou as malas, finalizou algumas demos, denominou o trabalho de Projeto Flux e viajou para a Europa num misto de lazer e trabalho. Lá, em meio à vida de turista, acabou fazendo várias apresentações em casas de shows como o Divan Du
Monde, em Paris, e o Favela Chic de Londres, desembarcando logo em seguida na Dinamarca. “Um DJ residente na França ouviu as minhas demos e me convidou para tocar em algumas outras casas europeias. Acabei indo participar do Festival de Roskild, na Dinamarca. Por conta disso, meu período europeu durou cerca de um ano. Foi maravilhoso tanto no aspecto pessoal como no profissional. Voltei de lá totalmente preparada para tocar a minha carreira em frente”, analisa. Com uma boa parte do repertório pronta e já em praias cariocas, Tatiana começa, junto com o produtor Alexandre Kohl, a parir de forma concreta “Medo e Força”, seu terceiro e mais recente disco. Com 11 faixas, o álbum é um apanhado de
todas as experiências vividas nesses 15 anos de carreira. “Começamos, eu e o Alexandre, a trabalhar nas composições que eu levava para ele. Ele me ajudava e contribuía para concluir as músicas, pegando versos de outros poemas, desconstruindo e construindo.” explica a artista. Como sempre bem acompanhada, tem nas participações especiais do cantor Otto e do rapper norte-americano Mc Zulu dois destaques peso. A cantora solta a voz e mostra todo o potencial que já era revelado nos idos de 1990, só que agora muito mais segura, sem perder a serenidade e a sabedoria, exatamente como na filosofia de Buda. Namastê!, Tatiana Dauster.
Mariana Ia de dia Maria Dia se ia Ana De ira moleca
Ria mais que outrora
Maria ninguĂŠm dava bola Mirava mar em ondas Ana ria do nada
Maria de nada era
Na beira do mar, Maria
Por sobre as ĂĄguas, Ana
SĂł letra
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Medo Tenho medo da morte Do silêncio que fica
Do lugar que desabita Agora sua presença
Tenho medo das lembranças Da carta amarelecida
De me perder ao lembrar E nunca mais voltar Tenho medo da vida
De suas escolhas e promessas Do sim sem medida E do que seria
Tenho medo de você Do que não vê
Do pensamento por trás De dizer
Tenho pena de mim.
Gabi Buarque
MÚSICAESEXO
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Sexo é desejo que é atração que é magnetismo que é hipnose
POR FAUSTO FAWCETT
na paixão e constante refrão na vida de todos. MúsicaPOR é MARCELO GUAPYASSÚ matemática transformada em sonhos de sentimentos que geram identificação e paixão hipnótica sublinhando as vidas por aí. Matemática transformada em sonhos e pesadelos de sentimentos variados. Vastas emoções dedilhadas por matemáticas combinações de poucas notas. Sexo é desejo que é atração que é magnetismo que gera deliciosa hipnose na paixão. Precisa emoção erótica que vem dos primórdios genéticos pedindo reprodução. Somos máquinas engendradas pelos genes para reproduzir e nada mais. Só que temos autoconsciência que é a aberração da evolução biológica antinatural que distorce, perturba tudo. Principalmente o sexo. A música é a perturbação da matemática rumo ao coração e, entre seus quesitos constitutivos, o ritmo, a batida, um baixo guiando a dinâmica do groove, enfim , a cozinha percussiva e a marcação grave puxam do fundo, fazem conexão direta com o primitivismo de nossos instintos e, no centro desse primitivismo, o sexo. Embalando essa sensação erótica proporcionada pela música de ritmo acentuado, todas as danças. Música para dançar é música pra se roçar, paquerar, aproximar os corpos. Forró ou bolero, rock ou charm, soul ou country, samba miudinho ou tango rascante, o frenesi da música dançante é a reedição de todos os rituais de acasalamento. Sexo e música. Mas também canções
sussurradas , às vezes declamadas por vozes
carismaticamente sedutoras e hipnóticas também sacodem o tesão. Corpos são tocados, instrumentos são tocados. Corpos são instrumentos de prazer, plataformas pro amor. Marcação do groove fazendo piso pra qualquer discurso, mas principalmente o do sexo, o da sedução. Groove deixando livre a fala, deixando solto o corpo que vai se movendo rumo ao transe da entrega à hipnose do mantra percussivo, baixo percussivo , batucada ou
bateria marcial de heavy metal. Qual a dança? Qual o transe? Qual o acasalamento? Casais de todas as tribos se enroscam, se divertem, se entregam juntos à comemoração, ao ritual de catarse ou sedução ouvindo música, principalmente aquela de teor sensual que pode ser dançante ou sussurrante ou as duas ao mesmo tempo. Juntinho ou explosivo. Esfuziante ou hipnotizante. Melodia de repente no meio do ritmo. Suavidade rasante no primitivismo baixo percussivo. Levada primordial. Pessoa levada pelo som da música assim groove com batida que te leva pra pessoa que é levada, levada, levada.... Mas chega de prólogo. O que importa agora é dar nome aos bois (e às vacas?) da delícia dançante ou sussurrante bem erótica que fizeram da música sensual um patrimônio da humanidade, pois, tocando no fio desencapado do nervo primitivo que nos liga à tomada da vida, prestam um serviço de utilidade púbica sacudindo nossos núcleos de atração e magnetismo, nossa fome de viver o amor, nossa fissura por celebrar todas as paixões e gozos e beijos e taras e exibicionismos e espécies de erotismo. Tesão é groove. Ritmo do coração marcando a busca de um corpo por outro. Pele buscando outra pele. E como numa mistura de reza com ponto, de oração com imprecação, de palavra de ordem com grito primal eu vou dizendo: James Brown, Al Green, Serge Gainsbourg, Rolling Stones, TIna Turner, Ney Matogrosso, Astor Piazzola, Fela Kuti, Beyoncé, Madonna, Shakira, Rihanna, Kelly Key, KC and the Sunshine Band, Leonard Cohen, Deborah Harry, Prince, Fernanda Abreu, Wando, Daft Punk, Bee Gees, Peter Tosh, Afrika Bambaataa, Funkadelic, Rita Lee, Kraftwerk, Donna Summer, David Bowie, Julio Iglesias, Strauss, Luiz Gonzaga, Giorgio Moroder, Muddy Waters, Ivo Meirelles, Chic, Chemical Brothers, Prodigy, Jackson do Pandeiro, Alceu Valença, Nação Zumbi, centros de macumba e capoeira, Mangueira, Império Serrano, Imperatriz Leopoldinense, BeijaFlor, AcDc, Françoise Hardy, Brigitte Bardot, Elvira Pagã, Prince, Marlene, Carmen Miranda, Ian Curtis, Prince, Michael Jackson...
MUITO PR
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POR BOB COTRIM FOTO . DARYAN DORNELLES
RAZER! LUIZ MELODIA O ano de 1973 foi pródigo em estreias fonográficas. Que podem chegar como um simples cartão de visitas ou como aquele “pé na porta” que escancara todo o talento do artista em questão. “Pérola Negra”, o primeiro disco de Luiz Melodia, é um autêntico exemplo disso. Tanto que, para muitos, é até hoje o melhor trabalho do cantor e compositor. São dez faixas que compõe um mosaico dos mais ricos da música brasileira, composições que vão de samba ao blues, passando por rock, chorinho e até forró. Nascido e criado no morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, filho do violinista Oswaldo Melodia e herdeiro legítimo dos sambistas locais, como Ismael Silva, Bide e Brancura, o Negro Gato, nessa sua primeira empreitada, transformou em canções poderosas todo o comportamento da boemia romântica e musical do bairro do Estácio. A faixa-título já havia sido apresentada ao público através da interpretação inesquecível de Gal Costa, mas a força de uma canção supera toda e qualquer marca, tanto que a versão do autor se tornou tão ou mais popular que a da cantora.
O disco abre os trabalhos com “Estácio, eu você”, um chorinho que Pixinguinha assinaria sem hesitação. Em seguida vem “Vale quanto pesa”, um primor de rítmica, com metais em brasa para acender qualquer salão. “Estácio, Holly Estácio” mostra que o morro também poderia ter um bolero como trilha sonora: a interpretação doída de Melodia, acompanhada da gaita de Rildo Hora, é inesquecível. “Magrelinha” e “Farrapo Humano” são outros dois hits incontestáveis, e em “Objeto H” o artista passeia com desenvoltura pelo blues. Completam o álbum as não menos inspiradas “Pra Aquietar”, “Abundantemente Morte” e “Forró de Janeiro”. Produzido por Guilherme Araújo e com direção musical de Perinho Albuquerque, “Pérola Negra” conta com o auxílio luxuoso de Rubão Sabino no baixo, Antonio Perna no piano e do próprio Perinho nas guitarras/violões na maioria das canções. Apesar da cobrança que um primeiro trabalho arrebatador como esse pode causar em uma trajetória, feliz do artista que pode ter a sua carreira pautada por uma estreia como essa.
Ano de lançamento: 1973 Direção de Produção: Guilherme Araújo Direção de Estúdio: Sérgio M. de Carvalho Arranjos: Perinho Albuquerque e Arthur Verocai Direção Musical: Perinho Albuquerque Faixas: “Estácio, Eu e Você”, “Vale Quanto Pesa”, “Estácio, Holly Estácio”, “Pra Aquietar”, “Abundantemente Morte”, “Pérola Negra”, “Magrelinha”, “Farrapo Humano”, “Objeto H”, “Forró de Janeiro”. Composições de Luiz Melodia. Músicos: Regional de Canhoto; Dominguinhos (acordeão), Luis Alves (baixo); Hyldon (guitarra); Lula, Robertinho e Pascoal (bateria); Hugo Bellard (piano) Robertinho e Luiz Paraguai (percussão) Participação especial: Damião Experiência.
FRENTE
OSREV POR LUIZ STEIN
Totolino e Totolão Coleção MINIBAL - nº 20 Editora Brasil-América - 1966
PItaCOS valVUlaDOS POR MARCIO BULK
RODA #6
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Amo hashtags! De verdade! Inclusive, por pura diversão, fico criando algumas pra lá de insanas e saio etiquetando o universo. Acho lúdico, divertido e, à primeira vista, despretencioso. Nunca achei que rótulos fossem limitadores. Afinal, as coisas precisam de nomes e a linguística e a lexicografia estão aí para isso. Não esperem então que eu venha a atear fogo às enciclopédias, dicionários e afins. Adoro, respeito e acho graça de quase todos. Quando ouço uma música nova ou me apresentam um artista desconhecido, uma das primeiras coisas que faço é correlacionálo com algo, tentando entender e situar aquilo que me é apresentado. Pelo que sei, trata-se de uma
prática natural e inerente ao ser humano. Paralelamente, dentro do meu (parcialmente limitado) gosto musical, nunca me causou problemas ouvir na sequência, por exemplo, VICTIM!, Clarice Falcão e Bixiga70. Ou, se preferir, nada demais você gostar de #experimental, #noise, #folk, #pop, #indie, #afrobeat, #jazz... tudo juntinho e misturado. Assim é mais gostoso... ou deveria ser. Bem, e aí a RODA me pede para escrever a respeito deste ano... 2014 foi um ano bastante complexo para o país, tanto em se tratando de política quanto de cultura. Na música independente ou nova MPB ou neoMPB ou qualquertermo-que-valha-e-que-você-jáentendeu-mas-fica-de-pirraça-ecaô-só-pra-me-torrar-a-paciência, diversos artistas conseguiram se estabelecer no mercado e mostrar que há um caminho viável mesmo estando (quase) à margem das TVs e rádios, caso de Tulipa Ruiz,
Thiago Pethit, Apanhador Só, Metá Metá, etc. Paralelamente, ganhou certo destaque a construção do diálogo entre a canção popular e a música experimental. Esta última desenvolveu-se a olhos vistos no Rio de Janeiro, tanto pela qualidade de seus músicos quanto pelos esforços de produtores e blogs que fomentam a cena (vide o Quintavant e o festival Novas Frequências). Entretanto, nem tudo é um mar de rosas no reino do noise. Se, por um lado, artistas que se aproximaram dessa estética foram merecidamente aclamados pela crítica especializada (caso de Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Romulo Fróes), por outro, ainda se observa a incompreensão ou mesmo o pavor por parte de alguns jornalistas e músicos que se deparam com a tag #experimental. Os primeiros, em sua maioria, preferem se omitir à
debruçar em obras que lhe cobrariam mais do que as suas tradicionais análises sócioculturais. E isso vale não só para o experimental, mas pra outras tantas tags consideradas espinhosas (algumas podem ser pinçadas na listinha lááááá de cima).... Para estes casos, Nietzsche talvez tenha a resposta: “Isso não me agrada” – Por quê? – “Não estou à altura disso.” – “Algum homem já respondeu assim?” E o Terno poderia muito bem arrematar: “Quem vai ouvir não sabe bem distinguir/O que é bom do que é ruim/E o que não entenderem vão dizer/Vanguarda!” Mais ou menos assim... E ainda faltam os músicos. Estes, na busca por um lugar ao sol, fogem como o diabo da cruz ao se deparar com qualquer coisa que os relacionem à famigerada tag. Mais de uma vez, presenciei amigos ou colegas comentando: “Ah! Aquela galera do ex-pe-ri-meeen-taaaaal...” com direito a viradinha de olhos e walk like an egyptian. Desnecessário, eu diria. Totalmente desnecessário.
Claro que, assim como eu, você tem todo o direito de gostar e desgostar do que quiser quando quiser. Viva as contradições! Viva a entropia! Viva eu! Viva tu! Mas, convenhamos, é alarmante quando um comentário típico de mesa de bar acaba indo parar nas mesas de editores e se tornando um crivo que tem por único objetivo mascarar a ignorância e o descaso a respeito de determinado tema. É desonesto, baby! Transformar as pobres das tags em ferramentas de exclusão só porque você não manja do assunto é meio pesado, sabe? É feio, triste e bobão. E, acima de tudo, é um desserviço para qualquer fomento à cena. E que venha 2015.
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Faixa a Faixa
DAS COISAS QUE SURGEM Produtor Musical: Gui Amabis 2014 Sony Music
POR MARCIA CASTRO 1. ATALHOS Essa foi a primeira música que compus pro disco. Eu estava com o violão, distraída, cantarolando algumas melodias, quando, na minha frente, vi uma almofada com a palavra “intensidade”. Adoro esse termo. Queria, então, poder cantar algo que trouxesse a sua dimensão no meu modo de entender e viver o amor. O meu amor. Eu adorei. Do mesmo modo que adoro a intensidade, adoro o atalho, quase que uma contradição. É uma letra de um amor intenso feita para um amor intenso. E, ao mesmo tempo, com a leveza necessária para ser gostoso. 2. PARTÍCULAS DE AMOR Gui Amabis e Lucas Santtana compuseram essa música especialmente pro disco. A melodia e a harmonia me seduziram completamente. Lucas sugeriu uma letra que adorei, trouxe uma solaridade que a própria melodia já sugeria. O arranjo também traz essa natureza solar, de certo modo baiana, com um papel preponderante da guitarra de Juninho Costa no swing da base, revelando, talvez, a música mais “baiana” do álbum. Admiro o som do Lucas, me agrada a ideia de ter no disco o pedaço de um baiano contemporâneo afirmando uma Bahia musical em que acredito, diferente dos clichês de mercado. 3. BEIJOS DE AR Arruda tinha o hábito de me mandar e-mails depois dos nossos encontros, das nossas conversas casuais. Eram e-mails-poemas, com uma potência de música muito forte. Quando eu lia suas palavras, já podia sentir os sons, já percebia uma métrica musical. Era só uma
questão de materializar tudo aquilo que já fazia parte dos seus poemas. Depois de musicar um desses e-mails, juntar com outro que parecia continuação do mesmo assunto, tinha pronta a primeira parte da música. Adoro a balada na qual a música se revelou, acho incrível o arranjo de samples de cordas que Gui construiu. Ele traz toda a dimensão de uma grande saudade, tema da canção. 4. O AMOR TEM DESSAS Foi o primeiro email-poema de Arruda que musiquei. A partir dessa música comecei a vislumbrar a possibilidade dessa prática de “musicar e-mails”. Tudo começou depois de uma conversa sobre esse tema tão banal e tão necessário que é o amor, que permeia quase todo o disco. Quando levei a música pro Gui, a ideia era caminhar para uma onda ijexá. Não tem uma definição de estilo preciso, mistura bolero e dub, arrocha e jazz. É bastante imagética, sensorial. São devaneios e divagações sobre o amor. 5. NA MENINA DOS MEUS OLHOS Na Menina dos Meus olhos é uma das duas regravações do disco, uma música de Monsueto Menezes, compositor de samba que eu admiro há muito e que eu já havia gravado no “De Pés No Chão” (música: “Nó Molhado”), e Flora Mattos. Adorei o caminho novo que construímos, saindo do samba e indo para um ska, divertido e irreverente, assim como todo o trabalho que construí até aqui. Penso que essa canção condensa essas características, além de trazer a dimensão de timbres do novo disco, por ser seu embrião, e ter a participação especialíssima de Mayra Andrade.
6. ESCULACHO Música do Gui que me arrebatou à primeira audição. Ela tem versos simples e certeiros, indo fundo nos sentimentos de desencontro e separação. Gosto muito das composições de Gui. Ele traz uma densidade muito interessante para os temas e situações que retrata. A música já acontecia tocada apenas no violão. A balada veio preservando esse caminho enxuto, com poucos elementos soando, para deixar que a força daquelas palavras já pudesse nos deslocar. 7. UM BOM FILME Essa música faz parte da leva de músicas produzidas em 2010 . Foi a terceira e última que produzimos nesse período. A bateria dela foi, na verdade, pensada para uma outra canção, que acabou sendo descartada. Decidimos experimentála como base dessa música e foi como se tivesse sido feita para ela. Convidamos o Jaques Morelenbaum para gravar o cello. Essa, sem dúvida, é a música mais autobiográfica do disco, que revela sentimentos meus muito reais, atuais, que revela esse novo momento, esse espaço que eu permiti e criei para que outros universos sonoros fossem incorporados à minha música, com toda paz, tranquilidade, intensidade e riscos que esses momentos de mudanças sugerem.
8. MAU CAMINHO Música de Arnaldo Antunes e Alice Ruiz. Queria muito a presença dessa dupla do novo trabalho, pela admiração, carinho e, além de tudo, pelo universo urbano, concreto, muito característico do trabalho do Arnaldo e que também era o caminho que se apontava para o disco que estávamos construindo. Fora isso, gosto da irreverência da letra, do seu humor, e da originalidade da poesia. Isso me fisgou. 9. SEM MISTÉRIO Foi uma música que surgiu logo depois de “Atalhos”, mais ou menos do mesmo modo. Melodia, harmonia e letra vieram juntas. Arruda inseriu versos na parte C
imagem . Diego Ciarlariehllo
e tudo estava feito. Gosto muito do recado da música, da possibilidade e necessidade de sermos completamente diferentes do outro para que a vida a dois tenha uma dinâmica cheia de variações, de novidades, fugindo da monotonia assassina. Vivemos num tempo onde a maioria busca os iguais por uma dificuldade imensa de se relacionar com tudo que pareça diferente do nosso micromundo. Eu fujo dessa lógica vigente. Gosto que esse tema tenha surgido no disco. Gosto do arranjo rocker, pesado que Gui propôs. 10. TRÊS DA MADRUGADA Gravada em 2010, é uma das duas regravações do álbum. Conhecia apenas a versão de Gal voz e violão, lindíssima. Nesse período, ouvia essa versão repetidas vezes. Era um chamado para gravála, sentia que era possível um arranjo diferente, sentia que cabiam outros instrumentos. Além de tudo, a música me remete à solidão dessa cidade, à solidão que eu particularmente experimentava, pois havia apenas dois anos que eu me mudara para SP. Ainda tateava esse novo lugar, me sentia muito só. Além de tudo, Gui dimensiona sonoramente essa madrugada solitária com os silêncios necessários. A música tem o peso do som e da poesia de Torquato. 11. O QUE ME MOVE Essa música é dos poemas de Arruda guardados nos meus arquivos pessoais. Criei uma pasta onde eu guardava esses diálogos virtuais com ele. Certo dia, remexendo nas minhas pastas, encontrei esse poema. Queria cantar aquelas palavras, vejo que realmente “o que nos move é o que nos falta”. Poucos se desafiam pela ausência. E no final, tudo aquilo que não se completa, resolve ou explica “a gente canta”. E assim é na vida: com o canto que resolvo o que não tem solução. A falta e o que canto que lançam no mundo. Queria me despedir afirmando isso, com muita leveza e esperança.
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Discos WANDA SÁ AO VIVO (CD e DVD) Biscoito Fino Gravado ao vivo no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, segunda casa do maestro durante sua vida, esse DVD/CD é o ápice das comemorações dos 70 anos de idade e 50 de carreira da cantora. Umas das intérpretes mais representativas da Bossa Nova, a artista precisava de um registro como esse para coroar sua trajetória. Com participações de Jane Monheit, Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro, Wanda mostra, com composições produzidas após o movimento, que o gênero sobrevive até hoje inspirando velhos e novos artistas. “Novo acorde”, uma parceria dela com Marcos & Paulo Sérgio Vale, é um exemplo muito claro de como o clássico pode soar moderno e atual. Os Parceiros de música e de vida, como Carlos Lira e João Donato, também estão presentes com a novíssima “Pra sempre”. Nesse show, vemos Wanda Sá totalmente à vontade – afinal, a casa é dela!
CASUARINA NO PASSO DE CAYMMI casuarina.com.br
As homenagens ao centenário de Dorival Caymmi em 2014 foram inúmeras, mas, com certeza, a maior delas talvez seja perpetuar sua obra musical. Nesse ponto, o disco do grupo Casuarina acerta em cheio. A temática praieira e cândida de “Seu Dorival” cai como uma luva na estética musical do grupo. Nascido a partir do projeto que foi apresentado na Caixa Cultural do Rio de Janeiro em maio desse ano, o disco reúne 17 canções que passeiam por todas as fases da carreira de Caymmi. Tem “É Doce Morrer no Mar”, “Dora”, “A Vizinha do Lado”, “Suite dos Pescadores” entre outras. Casuarina, “No Passo de Caymmi”, é um toque contemporâneo e muito bem dado na obra do centenário do compositor.
Livros HERÓIS DA GUITARRA BRASILEIRA Leandro Souto Maior & Ricardo Schott Editora Irmãos Vitale Apesar do Brasil já ter uma rica história para contar nesse segmento, a maioria das publicações existentes sempre tiveram um teor mais didático e menos histórico. O livro dos jornalistas Leandro Souto Maior e Ricardo Schott chega para preencher essa lacuna. Com pequenas, mas ricas e relevantes biografias, a edição consegue mostrar um painel bastante consistente dos nosso maiores virtuoses no instrumento. Passando pelos pioneiros, como Bola Sete e Zé Menezes, pelos inventivos, como Lanny Gordon e Pepeu Gomes, e pelos herdeiros, como Pedro Sá e Jr Tostói, esse livro é um mapa consistente e capaz de agradar dos mais entendidos aos que estão chegando agora nesse universo. Falta um pouco mais de informações sobre pedais, PAs e afins, mas conhecendo a paixão que Leandro e Schott nutrem pelo assunto, certamente vem aí um exemplar a respeito.
100 FILMES – DA LITERATURA PARA O CINEMA Apresentação: Henri Mitterand Editora BestSeller (Grupo Editorial Record) Literatura e cinema andam juntos, nessa ordem. Basta um livro ter boa repercussão para o cinema rapidamente adquirir seus direitos e levar para as telas toda a emoção que antes ficava restrita apenas aos leitores. No geral, uma boa história rende um bom filme, porém essa relação nem sempre é harmoniosa, e os resultados podem não se complementar. Essa é uma ótima oportunidade para tentarmos entender melhor esse casamento. Composto por uma série de textos críticos de colaboradores ligados às áreas de literatura e ao cinema, o livro tem apresentação de Henri Mitterand. “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, levado aos cinemas por Jean-Jacques Annaud, e “Moby Dick”, de Herman Melville, filmado por John Huston, são apenas dois dos cem casos que a obra analisa e discute. Todos os longas têm fichas completas e vai agradar tanto a leitores e/ou cinéfilos de plantão. *EQUIPE RODA
78
DVD . Blu-Ray
RAIMUNDOS CANTIGAS DE GARAGEM (DVD e CD) Som Livre Neste terceiro DVD, a banda registrou os ensaios fechados do CD “Cantigas de Roda”. São 17 faixas que privilegiam o repertório do disco anterior e mais alguns clássicos da carreira dos Raimundos. Com produção de Denis Porto, o novo trabalho traz Digão, Canisso e companhia acompanhados dos rappers Cipriano e Sen Dogs (Cypress Hill), além do vocalista e guitarrista Frango, da banda Galinha Preta. Destaques para as faixas “Cachorrinha”, Dub Mundos e “Cera Quente”, assim como para as já clássicas “Eu quero ver o Oco” e “Puteiro em João Pessoa”. Nos extras, os fãs vão poder assistir ao making off das gravações, com direito a entrevistas e alguns depoimentos. Também terão a opção de assistir a versão do diretor ou a versão da banda, que é pau puro. Música sem muita conversa, bem ao estilo dos Raimundos.
Dose Dupla PRINCE ART OFFICIAL AGE Warner
PRINCE & 3RDEYEGIRL PLECTRUMELECTRUM Warner Não é exagero dizer que Prince ao vivo no palco é inigualável: quem já teve a oportunidade de ver uma apresentação sua sabe muito bem da força que ele tem. Mas talvez esteja no estúdio uma das maiores qualidades desse senhor de 54 anos. Reza a lenda que o artista tem mais de 300 álbuns finalizados e guardados a sete chaves em sua modesta mansão de Mineápolis. Se ele acha que essas preciosidades não merecem vir a público por hora, é bastante relevante pensar que, quando o cara decide compartilhar suas produções conosco, vale a pena abrir bem os ouvidos. São dois álbuns distintos, um sozinho e outro com sua turbinada banda feminina, a 3RDEYEGIRL. No primeiro, intitulado “Art Official Age”, temos o velho Prince com seus funks e baladas a todo vapor. Os destaques são as dançantes “Clouds” e “U Know”, além das baladas “Breakdown” e “This Could Be Us”, inspiradas num passado brilhante e não tão distante assim. No segundo, de nome “Plectrumelectrum”, as guitarras e suas conhecidas distorções dão aquele toque “Hendrix” que sempre esteve presente em sua carreira. O virtuoso músico, que sabe como ninguém escolher belas e talentosas mulheres para o acompanhar, acertou mais uma vez. O álbum começa com a arrasa quarteirão chamada “Wow” e dá bem uma ideia do que vem a seguir. Em “Whitecaps”, o generoso baixinho estende o tapete para a baterista, Hannah Ford, brilhar nos vocais. Esperto o cara, não? Um disco pesado, mas com muito suingue, que poderia ser definido estilisticamente pelo título de umas de suas canções, “Funknroll”. Então, relaxe e aproveite: tem Prince para todos os gostos. *EQUIPE RODA
80
Vitrola
GILBERTO GIL E GAL COSTA Live in London Discobertas e Polysom
Registro ao vivo de um show que os baianos fizeram em 1971, em Londres. Só o reaparecimento das fitas, que estavam perdidas na terra da rainha, já seria motivo para o seu lançamento, mas o trabalho de masterização realizado e a iniciativa do selo Discobertas, em parceria com a Polysom, de colocar no mercado um vinil triplo do disco, torna esse lançamento um dos mais importantes do ano no meio fonográfico. Gravado na City University e com acompanhamento luxuoso de Bruce Henry no baixo, Tutty Moreno na bateria e Chiquinho Azevedo na percussão, o espetáculo retrata bem a atmosfera do final do exílio dos dois artistas e já capta musicalmente o caminho artístico que ambos viriam a traçar quando retornassem ao país em 1972.
POR MARCELO D’ALMEIDA
01. Coração Vagabundo (Caetano Veloso) 02. Sai do Sereno (Onildo Almeida) 03. Vapor Barato (Jards Macalé – Waly Salomão) 04. Como Dois e Dois (Caetano Veloso) 05. Dê Um Rolê (Moraes Moreira – Luiz Galvão) 06. Medley: a) Maria Bethânia (Caetano Veloso) b) Bota a Mão nas Cadeiras (tradicional) 07. Chuva, Suor e Cerveja (Caetano Veloso) 08. Falsa Baiana (Geraldo Pereira) 09. Acauã (Zé Dantas) 10. Procissão (Gilberto Gil – Edy Star) 12. Brand New Dream (Gilberto Gil) 13. Expresso 2222 (Gilberto Gil) 14. Aquele Abraço (Gilberto Gil) 15. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Lennon – McCartney) 16. One O’Clock Last Morning, 20th April, 1970 (Gilberto Gil) 17. Oriente (Gilberto Gil) 18. Up From The Skies (Jimi Hendrix) 19. Viramundo (Gilberto Gil – José Carlos Capinan)
Play POR RENATO ARIAS*
Não tive nenhuma dificuldade para escolher o disco da minha vida, na verdade é uma missão sem direito a escolha. Assim como aconteceu com milhões de pessoas ao redor no mundo naquele mesmo período, ‘A HARD DAYS NIGHT’ dos Beatles, me fez embarcar numa viagem sem volta ao maravilhoso mundo da música, através da Beatlemania. Lançado em meados de julho de 1964, na Inglaterra, o disco só chegou por aqui em janeiro de 1965, contendo um material original demais em relação ao que estava sendo criado pelos artistas daquela geração: melodias simples e sensacionais, de uma beleza rara. Rocks e baladas de autoria própria, com uma harmonia vocal inconfundível, incomparável a qualquer outro grupo da época. Destaco a faixa título, ‘A Hard Days Night’, e também ‘I Should Have Know Better’, ‘If I Feel’ e ‘Can’t Buy Me Love’.
Numa época em que a maioria dos países não tinha transmissão ao vivo como hoje, nem câmeras digitais mostrando tudo em tempo real, muito menos internet, a exibição de um desses filmes nos cinemas causava na juventude o mesmo ou maior impacto que a web provoca hoje em dia. A estreia de “Os Reis do Iê Iê Iê” nas telas brasileiras foi uma verdadeira explosão de energia e qualidade musical - era comum o filme ser visto diversas vezes pela maioria das pessoas, em varias sessões seguidas, de uma maneira frenética. Parecia até que os Beatles estavam ao vivo, tocando no próprio cinema.
Lembro que o exemplar brazuca era similar ao lançado no Reino Unido (a versão americana era diferente), mas tinha duas diferenças do long play (formato de mídia da época) inglês: o título havia sido modificado para ‘Os Reis do Iê Iê Iê’ e o tom predominantemente azul da capa gringa tinha mudado para vermelho. Mas nada disso interferiu na recepção e no entusiasmo provocado pelo verdadeiro pacote-torpedo que se tornou esse lançamento.
Esse lançamento ajudou a cimentar definitivamente o movimento da Beatlemania, com suas roupas, botinhas e o famoso corte de cabelo que seriam objetos de desejo de toda uma geração, inclusive do garoto que hoje, bem mais velho, escreve estas palavras. O que aconteceu depois na história da música todos já sabem, mas, com certeza, aquele foi um momento mágico, a porta de entrada dos Beatles para a eternidade da história da música.
THE BEATLES A Hard Day’s Night 1964 Os Reis do Iê Iê Iê 1965
*produtor, radialista e colecionador.
82
Palco KEZIAH JONES 19/11/2014
foto . Guapa
CIRCO VOADOR RIO DE JANEIRO O fato de Olufemi Sanyaolu (mais conhecido como Keziah Jones) ter nascido na Nigéria e ter subido no palco do Circo Voador, no Rio de Janeiro, no mesmo dia das comemorações de Zumbi dos Palmares, pode ter dado, para uma grande parte dos presentes, a errada impressão de que teríamos um festival de batuques e percussão no palco. A alta concentração de guitarristas por metro quadrado no local já começava a desmentir essa teoria, mas bastaram que os primeiros acordes arrebentassem algumas cordas para se ter a certeza de que naquela noite a guitarra soaria personalíssima e pesada. Com um trio de batera, baixo e percussão, o Nigeriano “meio inglês” destilou músicas de seus seis álbuns de estúdio, entre elas: Millions Miles From Home, Beautiful Emilie, Functional, Invisible Ladder. Keziah, pela segunda vez no país, estava à vontade no palco mais democrático da cidade, democracia essa traduzida pelo jeito como as pessoas curtiam o show: uns fazendo air guitar e outros simplesmente dançando ao som do balanço que a mistura musical provocava. A matadora “Rhythm Is Love”, de seu álbum mais conhecido, “Blufunk is a Fact”, iniciou o ritual de despedida, que ainda teve direito a um set acústico, depois dos insistentes pedidos da plateia. Mas foi uma arrebatadora versão de “All Along the Watchtower”, de Bob Dylan, que conseguiu a proeza de colocar juntos no palco, espiritualmente, Jimi Hendrix e Zumbi dos Palmares. Não ficou pedra sobre pedra. POR BOB COTRIM
Cinema
POR IVAN COSTA
TIM MAIA Globo Filmes, RT Features 2014 A maior qualidade do livro “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, de Nelson Motta, foi conseguir retratar aquilo que Sebastião Maia tinha de mais marcante: sua personalidade forte e impregnada de um senso de humor inigualável. A força da sua música é conhecida e admirada em todo território nacional, mas o público atual não conhece o jeito peculiar que ele tinha ao lidar com determinadas situações e, principalmente, com as pessoas - poucas foram as testemunhas dessas passagens. No geral, o diretor, Mauro Lima, é bem-sucedido ao contar partes da trajetória de Tim Maia, mostrar suas amizades e reconstruir a época com ambientações e figurinos bem fiéis. O intérprete do cantor na sua juventude, Robson Nunes, consegue chegar bem próximo do ideal, já que nessa fase o vulcão ainda estava em processo de erupção. Mas para
o bom ator Babu Santana, ficou uma tarefa hercúlea: a de dar vida a essa personalidade quase inimitável. Tim foi, antes de tudo, um contador de histórias e de piadas (para alguns, sua maior qualidade) e é nesse ponto que a película deixa a desejar. Recomendado para aqueles que não tiveram oportunidade de vê-lo ao vivo (sim! ele ia aos shows) mas não o melhor caminho para quem deseja reencontrar o síndico inteiro, cem por cento. Para esses, a memória e a literatura ainda são os melhores caminhos.
FICHA TÉCNICA: TIM MAIA Drama Musical / 102 min Direção: Mauro Lima Elenco: Babu Santana, Robson Nunes, Alinne Morais, Cauã Reymond e outros.
#o que
de melhor aconteceu
365 Jussara Amaral . ENCARNADO Nação Zumbi . NAÇÃO ZUMBI Titãs . NHENGATUU
#discos
365 LUIZ ZERBINI - Pinturas (Casa Daros - RJ) STREETART - Um panorama Urbano (SP/RJ/DF) SALVADOR DALÍ (CCBB - RJ) DAVID BOWIE (MIS - SP)
#expos
365 NINFOMANÍACA 1 e 2 . Lars Von Trier O LOBO ATRÁS DA PORTA . Fernando Coimbra RELATOS SELVAGENS . Damián Szifron ELA . Spike Jonze
#filmes
365 POESIA TOTAL . Wally Salomão . Editora Companhia Das Letras STILL MOVING . Danny Clinch (Importado) . Editora Harry N. Abrams O BRASIL É BOM . André Sant’Anna . Editora Companhia Das Letras AS SETE VIDAS DE NELSON MOTTA . Nelson Motta . Editora Foz
#livros
365 OUT THERE . Paul McCartney (HSBC Arena - RJ) . 12 NOV PALAVRAS CRUZADAS . Mariana Aydar e Nuno Ramos (Oi Futuro Ipanema - RJ) . 02 AGO SERGE GAINSBOURG ET LES PROVOCATEURS . Edgard Scandurra (Caixa Cultural - RJ) . 13 NOV VIVO OPEN AIR . The Jesus and Mary Chain (Marina da Gl贸ria - RJ) . 27 MAIO
#shows
365 LED ZEPPELIN . Edições Remasterizadas (1,2 e 3) por Jimmy Page, vinil 180 gr (Importados)
#vitrola