12 minute read

NOVAS DIREÇÕES

Next Article
UM MUNDO CONECTADO

UM MUNDO CONECTADO

NOVAS DIREÇÕES PARA O AGRONEGÓCIO

Aproximação do agronegócio à abordagem de One Health é fundamental para atender as exigências do novo consumidor

Advertisement

Por Suellen Santin

Mesmo num período de retração econômica pelo qual passamos, o Brasil tem reafirmado seu indispensável papel como um dos principais produtores e exportadores mundiais de alimentos. Os números refletem tamanha confiança e respaldo no agronegócio brasileiro. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agro contribui hoje com mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Somente em agosto deste ano, foi responsável por mais de 50% do total de exportações do país, somando 9 bilhões de dólares em produtos, conforme apontamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). E as estimativas são de que o valor bruto de produção (VBO) alcance R$ 728,6 bilhões em 2020, incremento de 11,8% frente a 2019.

Apesar desse protagonismo, ainda existem desafios a superar e oportunidades a serem exploradas. O novo cenário sanitário do pós-crise deve trazer novas exigências e, mais do que nunca, o Brasil precisará investir em uma postura estratégica em relação à segurança alimentar, concentrando-se em práticas sustentáveis, assim como em novas tecnologias, para garantir produtividade, sanidade e manejo adequado de recursos naturais.

É aqui que ganha relevância o conceito One Health no agronegócio, que trata do equilíbrio entre saúde humana, saúde animal e o meio ambiente. A ideia é trabalhar essas três frentes de forma coordenada, multidisciplinar, para evitar possíveis emergências sanitárias. Entidades internacionais, inclusive, têm encorajado os países a adotarem a abordagem. Por isso, o One Health deve ser uma demanda cada vez mais presente também na cadeia de proteína animal.

Para além das preocupações sanitárias, o economista e professor do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (COPPEAD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Celso Lemme, entende que a aproximação do agro com o One Health vai de encontro com as exigências do novo consumidor. Segundo o especialista, as novas gerações estão mais preocupadas com a origem dos alimentos, com o bem-estar animal e com os impactos ambientais.

Nesse sentido, o agronegócio deve redirecionar seu posicionamento de mercado atento às demandas desse novo perfil. “É importante pensar que essa interação entre meio ambiente, com saúde dos animais e saúde humana, que o One Health aborda, vai além do conceito de saúde física, mas atinge também a saúde emocional. Se o consumidor vê um animal sofrendo na cadeia produtiva, ele vai rejeitar esse processo de produção. Então o bem-estar animal deve ser colocado no topo da agenda. O agronegócio brasileiro precisa caminhar rumo a esse conceito de saúde de uma forma ampla e integrada, em busca do fim de procedimentos cruéis. O outro ponto, além do manejo dos animais, é olhar para os impactos ambientais, que são decisivos para a questão da saúde e também para o posicionamento dos negócios”.

Na opinião de Celso, a consciência de que a eliminação de práticas cruéis deve ser um ponto fundamental na agenda do agronegócio já avançou muito. Agora, é preciso viabilizar investimentos para progredir na substituição desse modelo produtivo. Para isso acontecer, o economista reforça que o produtor precisa mudar o tom do diálogo com investidores e com o setor financeiro. “Se ele entra com um pedido para financiar uma estação de alimentação usada na criação de suínos em baia coletiva, ele tem a chance de conseguir esse dinheiro? Tem. Porém, a chance é muito maior se ele der entrada em um banco de fomento apresentando que se trata de um projeto muito mais amplo, que vai mirar para um sistema que visa o bem-estar animal, que está alinhado com as tendências do mercado internacional, que traz inovação, tecnologia para as granjas, qualificação de mão de obra e, por consequência, retenção de mão de obra no campo.”

A integração entre grandes, médias e pequenas propriedades também deve ser vista como prioridade para tornar viáveis essas transformações no setor.“Precisamos articular lideranças de diferentes áreas do conhecimento, que dialoguem com o grande produtor, com o pequeno, com organizações do setor, é assim que os caminhos para a mudança surgem. O One Health é uma enorme oportunidade para o agronegócio brasileiro, porque ele pode ajudar a pensarmos de forma sistêmica. O espírito desse conceito é a visão de conjunto. Assim como não há saúde humana, sem saúde animal, sem a saúde do ambiente, também não há uma coisa nem outra sem a integração das cadeias produtivas”, destaca Celso.

O ONE HEALTH É UMA ENORME OPORTUNIDADE PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO, PORQUE ELE PODE AJUDAR A PENSARMOS DE FORMA SISTÊMICA. O ESPÍRITO DESSE CONCEITO É A VISÃO DE CONJUNTO. ASSIM COMO NÃO HÁ SAÚDE HUMANA, SEM SAÚDE ANIMAL, SEM A SAÚDE DO AMBIENTE, TAMBÉM NÃO HÁ UMA COISA NEM OUTRA SEM A INTEGRAÇÃO DAS CADEIAS PRODUTIVAS.

CELSO LEMME, economista e professor do COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

QUAL A VISÃO E COMO A INDÚSTRIA IMPLEMENTA O CONCEITO ONE HEALTH?

EVONIK

“O processo de globalização, o crescimento populacional e os impactos ambientais são alguns dos fatores que favoreceram o maior contato entre animais domésticos, selvagens e o homem, aumentando o número de doenças emergentes e reemergentes, tanto em homens quanto em animais, favorecendo rápida disseminação de doenças ao redor do mundo, sejam elas conhecidas ou novas doenças.

E dentro do complexo conceito de Saúde Única (One Health), um dos temas que ganhou muita força nos últimos anos relaciona-se à resistência antimicrobiana, uma vez que o objetivo passa a ser o desenvolvimento de programas de uso criterioso de antimicrobianos, garantindo a efetividade dos princípios ativos em longo prazo e a saúde do consumidor final.

Como consequência disto, os antimicrobianos foram enquadrados em diferentes classes de criticidade em relação à medicina humana, no intuito de que determinadas moléculas tidas como criticamente importantes para medicina humana deixassem de ser utilizadas como uma primeira opção para tratamento de animais de produção. Com esta movimentação mundial para a redução do uso de antimicrobianos, a produção animal se viu na necessidade de retornar e intensificar a adoção do processos básicos de produção como biosseguridade, limpeza, desinfecção, boas práticas de manejo e bem-estar animal, uso de produtos alternativos aos antimicrobianos melhoradores de performance e vacinas.

A Evonik investe fortemente na direção do conceito de saúde única, quando falamos em nutrição de precisão, por exemplo. Nossas ferramentas analíticas e calibrações NIR (AMINONIR) permitem que a variabilidade e qualidade das matérias-primas seja conhecida e apropriadamente controlada e adequada às formulações de rações, o que proporciona ao animal sua máxima resposta produtiva de forma saudável e ambientalmente sustentável. Lembrando que nutrição de precisão somente se alcança se também conseguimos conhecer e monitorar o ambiente e suas variáveis que afetam diretamente os animais de produção. Razão essa pela qual a empresa também vem investindo fortemente em ferramentas como o Porphyrio e Optifarm, que permitem monitoramento de toda cadeia de produção, coleta de dados e análise eficiente dos mesmos para uma rápida e eficaz tomada de decisão.

Adicionalmente, a empresa tem se dedicado ao desenvolvimento de tecnologias e produtos que visam uma redução direta do uso de antimicrobianos. Como exemplo, a linha de probióticos Evonik contemplada pelos produtos Ecobiol e Gut Care. Dentro deste escopo incluiu também em seu portfólio uma ferramenta de screening de microorganismos patogênicos, chamada Screenflox. Esta é uma tecnologia inovadora para monitorar patógenos como Clostridium Perfringens e Salmonela e assim entender que tipos de mudanças ao longo do tempo dentro da cadeia produtiva - sejam elas relativas a nutrição, saúde, aditivos e desafios ambientais, entre outras - levam ao aumento ou diminuição da quantidade destes patógenos. Tudo isso de forma não invasiva e precisa”.

Maria Aparecida Melo

Iuspa, Diretora Técnica Evonik Brasil

SUIAVES

“O conceito One Health é fundamentado como a interdependência entre seres humanos, animais e o meio ambiente que os rodeia. Para corroborar com o enfrentamento de possíveis ameaças, é necessário pensar de forma única e isso é possível por meio da elaboração de mecanismos e protocolos eficientes para o controle de ameaças já existentes, implementação de boas práticas para o não surgimento de novas, além de regras claras e seguras para responder a possíveis ameaças futuras. A Suiaves vem colaborando com esse sistema por meio da criação de inúmeros protocolos sanitários aplicados em diversas áreas da cadeia produtiva, respeitando e valorizando desde o produtor até o consumidor final, enxergando o setor como um todo, para que o mesmo seja seguro, saudável e sustentável.”

Luiz Eduardo Conte , diretor da Suiaves Comércio de Produtos Veterinários

A ORIGEM DO CONCEITO SAÚDE ÚNICA

Eduardo Miotto Ternus

Médico Veterinário, consultor técnico da Vetanco

INTRODUÇÃO

O Brasil segue a linha de muitos países que já tomaram medidas para reduzir o uso de antibióticos em animais destinados a produção de alimentos, como é o caso da União Europeia (EU), que já em janeiro de 2006 proibiu o uso de antibióticos promotores de crescimento (Gaggia et al., 2010). A suinocultura nacional está em sintonia com as políticas internacionais sendo que estas restrições se enquadram em uma tendência global e, ao fazê-lo, a Suinocultura Brasileira fica alinhada com as políticas apoiadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS). Na outra ponta da cadeia estão os consumidores, os quais vem aumentando a demanda por proteínas animais produzidas sem ou com uso restrito de antibióticos. É devido a isso que grandes players mundiais no setor de alimentação estão adotando a política de "ausência de antibióticos" para seus suprimentos de carne em suas redes de supermercados e/ou fastfood.

A RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS

Os antimicrobianos têm sido utilizados na produção animal para tratamento, prevenção de doenças e como promotores do crescimento por mais de 50 anos e o impacto disso sobre o tratamento de doenças em humanos está sendo amplamente debatido. Segundo OMS, se seguirmos utilizando os ATB’s da maneira que estamos fazendo e não tomarmos nenhuma medida em relação ao tema, estima-se que até 2050 praticamente todos os antimicrobianos serão ineficazes na prevenção e tratamento de doenças humanas.

A resistência aos antimicrobianos não é um fenômeno novo. Inicialmente, foi reconhecido como uma curiosidade científica e, em seguida, como uma ameaça à eficácia dos tratamentos. No entanto, com o desenvolvimento de novas famílias antimicrobianas nas décadas de 1950 e 1960 e as modificações dessas moléculas nas décadas de 1970 e 1980 criaram uma falsa sensação de segurança e a crença de que sempre poderíamos nos antecipar aos patógenos. No entanto, hoje essa complacência nos custa muito caro pois, a geração de novas moléculas está cessando.

Uma das principais causas do aparecimento de resistência é o próprio uso dos antimicrobianos, pois a pressão seletiva surge da combinação de três fatores, a saber do uso excessivo, que se observa em muitas partes do mundo especialmente nos casos de infecções sem importância, do uso incorreto, por falta de acesso a diagnóstico apropriado e do uso em subdosagens (OIE). Uma metanálise publicada em 2017 na revista The Lancet Planetary Health mostrou que as intervenções restringindo o uso de antibióticos em animais de produção reduziram as bactérias resistentes a antibióticos em até 39%. De fato, qualquer uso inadequado de antimicrobianos (uso desnecessário, uso contra microrganismos não suscetíveis, subdosagem, etc.) aumenta o risco de desenvolvimento de resistência.

ONE WORLD, ONE HEALTH

O novo conceito, "Um mundo, uma saúde", surgiu recentemente, demonstrando a preocupação da correlação entre doenças dos animais e humanos, logo um problema de saúde pública. Em maio de 2015, a 68ª Assembleia Mundial de Saúde reconheceu a importância do problema de saúde pública da resistência antimicrobiana e adotou um Plano de Ação Global que propõe interven-

“INTERVENÇÕES RESTRINGINDO O USO DE ANTIBIÓTICOS EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO REDUZIRAM AS BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS EM ATÉ 39%. O USO INADEQUADO DE ANTIMICROBIANOS AUMENTA O RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE RESISTÊNCIA”.

ADMINISTRAR ANTIBIÓTICOS COM CUIDADO

Antibióticos são administrados para animais de produção e plantações. Animais desenvolvem bactérias resistentes aos medicamentos em seus intestinos.

Antibióticos são administrados para pacientes, o que pode resultar no desenvolvimento de bactéricas resistentes aos medicamentos no intestino.

A resistência aos antibióticos ocorre quando as bactérias sofrem mutações e se tornam resistentes aos medicamentos utilizados para tratar as infecções que elas causam.

Bactérias resistentes aos medicamentos chegam aos humanos através dos alimentos, meio ambiente (água, solo e ar) ou pelo contato direto entre humanos e animais.

Paciente comparece a hospitais ou clínicas.

ções para controlar tal resistência e, em particular, reduzir o uso desnecessário de antimicrobianos em humanos e animais. Estas novas recomendações da OMS visam preservar a eficácia dos antibióticos importantes para a medicina humana, reduzindo seu uso desnecessário. A saber: - Redução geral no uso de todas as classes de antimicrobianos de importância médica em animais destinados de produção. - Restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como promotor de crescimento em animais de produção. - Restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como tratamentos preventivos (sem diagnóstico clínico) em animais de produção, podendo somente serem utilizados os antimicrobianos em animais saudáveis para prevenir uma doença se ela tiver sido diagnosticada em outros animais na mesma granja/instalação. - Recomenda-se que os antimicrobianos considerados críticos à medicina humana não sejam utilizados para controle da disseminação de doenças clinicamente diagnosticadas em grupos de animais de produção.

Segundo a OMS, tais medidas se fazem necessárias, porque o uso excessivo e indevido de antibióticos em animais e em seres humanos está contribuindo para uma crescente ameaça de resistência aos antibióticos, o que faz com que muitos tratamentos existentes deixem de ser eficazes.

Bactérias resistentes aos medicamentos se propagam para outros pacientes devido a higiene precária e instalações sujas.

Bactérias resistentes aos medicamentos se propagam para o público em geral.

CONCLUSÕES

Segundo a OIE, todos temos um papel importante a desempenhar para preservar a eficácia dos antimicrobianos os quais são essenciais para a saúde e o bem-estar dos animais e humanos. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) lançou uma campanha mundial de conscientização do uso racional de antibióticos para tratamento de infecções em animais. A campanha Only Five (Somente cinco) aborda as regras para o uso de antimicrobianos e é voltada tanto para médicos veterinários e sociedade, regras estas que resumem que foi abordado anteriormente.

SOMENTE 5

#1 SOMENTE: use antimicrobianos quando prescrito por um veterinário. #2 SOMENTE: quando necessário: antimicrobianos não curam toda infecção. #3 SOMENTE: adquira antimicrobianos de fontes e distribuidores autorizados. #4 SOMENTE: use a dosagem prescrita e respeite a duração do tratamento e período de retirada. #5 SOMENTE: use antimicrobianos associado a boas práticas de saúde animal.

This article is from: