10 minute read

TECNOLOGIA

TECNOLOGIA: A GRANDE ALIADA

Quando a tecnologia e o conceito de saúde única se encontram, o resultado pode trazer soluções inovadoras para o agronegócio avançar na sustentabilidade ambiental, econômica e produtiva.

Advertisement

Por Suellen Santin O conceito saúde única traz diretrizes que refletem diretamente no futuro do agronegócio. A abordagem, que trata da convergência entre seres humanos, animais e meio ambiente, ganhou força no enfrentamento à pandemia e também aprofundou a reflexão sobre saúde, segurança alimentar e sustentabilidade. Por sua ligação a esses três pilares, mais do que nunca o agro brasileiro deve dialogar com esse conceito. E a tecnologia pode ser uma grande aliada para conectar campo e One Health.

Na opinião do médico veterinário e diretor executivo da F&S Consulting, Leonardo Vega, vivemos um momento histórico para assimilarmos esse conceito e começarmos a pensar o mundo dentro do escopo da saúde única, no qual a saúde dos animais, dos seres humanos e do ambiente são indissociáveis. “A melhor aula prática que nós poderíamos ter foi justamente nessa quarentena global, que trouxe uma discussão sobre a relação dos seres humanos com o consumo de alimentos de origem animal. Temos tudo para aprender com o One Health e passar a utilizá-lo como conhecimento central para todas as formas de produção, para a forma de pensar o campo, o meio urbano e a economia”.

Especialistas de diversas áreas, estudos científicos e relatórios de importantes organizações internacionais, abordam teoricamente o conceito de saúde única, apresentam possibilidades de sua aplicação prática e indicam, por exemplo, maneiras de como usá-lo para evitar doenças zoonóticas e garantir uma coexistência sustentável entre o agronegócio e o meio ambiente. Apesar de o One Health já ser amplamente difundido e de ter saído da área teórica, inclusive com ações práticas no setor do agronegócio, Leonardo acredita que a tecnologia é o ponto de virada para realmente impulsionar essa abordagem no campo.

ONE HEALTH E TECNOLOGIA NA PRÁTICA

Ele cita algumas iniciativas tecnológicas em consonância com o One Health para mostrar os efeitos positivos dessa aliança. Entre as mais conhecidas está a biotecnologia. Aplicada no manejo, pode ajudar a reduzir o uso de antibióticos e, desta forma, a resistência aos antimicrobianos. “Uma possibilidade é usar a biotecnologia para produzir probióticos, em substituição aos antibióticos que, se usados de maneira abusiva, têm consequências nocivas para animais, seres humanos e para o meio ambiente, causando também prejuízo econômico para a agropecuária”.

Dispositivos associados a tecnologias disruptivas, como internet das coisas (IoT), também são uma amostra da revolução tecnológica no campo ligada ao conceito. Recursos de inteligência artificial permitem sensoriar o ambiente de produção, monitorando a saúde dos animais, controlando e prevenindo doenças. É o caso de um projeto realizado pela F&S em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). Um algoritmo possibilita, por meio de câmeras 3D, identificar se um animal está se alimentando bem, se ele bebe água adequadamente ou se está em estresse térmico. “Na medida em que o animal começa a manifestar um comportamento fora da normalidade, o algoritmo consegue identificar isso de forma muito antecipada, antes de qualquer manejador que possa eventualmente passar por ali. Ao identificar esses desvios, o algoritmo sinaliza para o médico veterinário que aquele animal ou aquele grupo de animais estão começando a apresentar um

FOTO: DIVULGAÇÃO comportamento anormal, mesmo antes de adoecer e, assim, o profissional pode tomar as medidas necessárias”, esclarece Leonardo.

Embora tecnologias assim sejam novidade no mercado e hoje majoritariamente operadas por companhias multinacionais, o futuro previsto pelo empresário é de que, ao ganharem escala, essas ferramentas se tornarão acessíveis também às pequenas propriedades. A etapa seguinte seria capacitar os produtores para incorporarem as inovações ao seu dia a dia de trabalho. Tarefa que, na visão de Leonardo, caberá especialmente à nova geração do agronegócio.

“Os jovens do agro estão com um apetite muito grande para levar essas tecnologias de ponta para suas propriedades. Na medida em que a nova geração começar a assumir a atividade dos pais e avós, esse processo de absorção de tecnologia de ponta se dará rapidamente. E esse salto tecnológico também cumprirá outra função, que é a de fixar os jovens no campo.”

CONECTIVIDADE AINDA É UM OBSTÁCULO

Num país como o Brasil, onde o acesso à internet ainda é um entrave na área rural, focar em investimentos para levar conectividade a esses lugares é uma necessidade urgente. O último censo agropecuário do IBGE, de 2017, mostra que mais de 70% das propriedades rurais do país não têm internet. A F&S, em parceria com a TIM e com a Nokia, lançou um projeto para ajudar a mudar esse quadro. “Estamos levando conectividade para as granjas. Nós implantamos uma camada de tecnologia, como softwares, big data, IoT, e oferecemos esse suporte tecnológico para fazer tudo isso funcionar”, explica Leonardo.

Superado esse desafio, a transformação digital no campo é um caminho sem volta. “As tecnologias aumentam a eficiência do sistema produtivo. Tornam possível produzir mais, com menos, economizando recursos naturais, mão de obra e tempo. O retorno financeiro ao produtor acaba sendo maior, portanto, é um investimento que se paga. A verdade é que daqui a algum tempo toda essa tecnologia de ponta será bastante acessível, permitindo avanços importantes no sentido da saúde única”, conclui.

“TEMOS TUDO PARA APRENDER COM O ONE HEALTH E PASSAR A UTILIZÁ-LO COMO CONHECIMENTO CENTRAL PARA TODAS AS FORMAS DE PRODUÇÃO, PARA A FORMA DE PENSAR O CAMPO, O MEIO URBANO E A ECONOMIA”

LEONARDO VEGA, diretor executivo da F&S Consulting

COMO O ESTRESSE IMPACTA A SAÚDE E O DESEMPENHO DO REBANHO

Bruno Cappellozza

Gerente Pesquisa & Desenvolvimento – Nutricorp Aperspectiva da plataforma One Health criada na presente década traz à tona a utilização racional dos recursos naturais, fazendo com que o sistema produtivo como um todo seja beneficiado: animais, pela utilização de tecnologias alimentares/farmacológicas seguras e que promovam o desempenho com saúde e bem-estar; seres humanos, que consumirão produtos seguros e de qualidade, provenientes de animais manejados da maneira mais correta possível; e meio ambiente, onde a sustentabilidade, ou seja a capacidade de continuar produzindo de maneira responsável, ganhará ainda mais atenção e que o mesmo não sofrerá com práticas e/ou descarte de resíduos nocivos.

Na base dessa cadeia estão os animais e, por isso, nós (técnicos e consultores da indústria) temos a obrigação de garantir que boas práticas alimentares e de sanidade do rebanho bovino, seja ele de corte ou leite.

Mais especificamente, é de suma importância garantir que os animais estejam menos suscetíveis à ocorrência de doenças que, inevitavelmente resultarão na utilização de antibióticos. A prevenção na ocorrência de doenças passa por estratégias nutricionais adequadas, a vacinação do rebanho em momentos certos e a condução de manejos que não gerem um estresse ao rebanho.

O estresse, mais especificamente, acontece quase que de maneira inevitável nas atividades diárias de manejo do rebanho, sendo uma resposta do animal a uma alteração na sua zona de conforto (homeostase). Ao perceber a situação estressante, uma cascata inflamatória é iniciada principalmente pela ação do hormônio do estresse, chamada de cortisol. É importante ressaltar, por isso, que o estresse não é causado por um patógeno (vírus, bactéria, fungo e/ou protozoário), mas após a sua ocorrência, o patógeno pode se aproveitar dessa queda no status imunológico do animal e causar uma enfermidade que, por sua vez, demanda algum tipo de intervenção, tais como o uso de antibióticos.

Por isso, de modo a evitarmos a ocorrência de doenças e o consequente uso de antibióticos, estratégias que reduzam os efeitos negativos do estresse na saúde, desempenho e bem-estar do animal são garantidas e devem ser avaliadas. Dentro dessas estratégias, podemos destacar a utilização da substância apaziguadora bovina (SAB) que tem demonstrado resultados positivos nos mais variados sistemas produtivos de bovinos de corte e leite. A SAB é uma substância natural que pode ser aplicada nos animais, de maneira tópica, exatamente nos momentos de manejo que resultam em estresse. Em bovinos de corte, a utilização da SAB no momento da desmama, castração, transporte para o confinamento e frigorífico melhorou a eficácia de vacinas, saúde e desempenho do rebanho, assim como o pH da carcaça de bovinos, enquanto que o período de intervenções e custos das intervenções farmacológicas (antibióticos) foram menores para bezerras leiteiras pré-desmama recebendo a SAB. Esses resultados demonstram a eficácia dessa tecnologia em otimizar a saúde e o desempenho do rebanho, assim como reduzindo a necessidade da utilização de antibióticos nos sistemas produtivos.

Em resumo, a longevidade da produção de alimentos para o mundo passa por um uso responsável do meio ambiente e um manejo consciente dos animais, resultando em produtos finais (carne e leite) seguros e de qualidade para nós, no topo da cadeia alimentar. Dentro do setor produtivo de bovinos, o estresse acontece em diversas situações de manejo que, por sua vez, pode predispor o animal a doenças, com subsequente impacto negativo na produtividade, saúde e bem-estar do rebanho. Por isso, estratégias que reduzam a ocorrência do estresse são necessárias, destacando a administração do SAB, que apresenta efeitos positivos a nível de saúde e desempenho do rebanho, ajudando a promover uma melhoria no bem-estar animal.

CONCEITO ONE HEALTH EM FRANGOS DE CORTE

Caroline Facchi

Engenheira Agrônoma, especialista em fábrica de ração, mestre em Sanidade e Produção Animal e doutoranda em Ciência Animal, na linha de nutrição de monogástricos. Atua na área de Pesquisa & Desenvolvimento da BTA Aditivos.

Lucas Fidelis

Médico veterinário da Aliança Rural, formado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE

Oconceito de consumo consciente de alimentos é uma tendência que tem levado o mercado a buscar alternativas para questões como, por exemplo, a produção da proteína animal de origem mais limpa. Dentro desse contexto, o bem-estar animal torna-se o pilar para questões relacionadas a ambiência e conforto, o abate humanitário, além da utilização de produtos com menos moléculas sintéticas e mais moléculas naturais.

Na alimentação animal, esta demanda tem estimulado a diminuição do uso de antibióticos nas granjas, abrindo espaço aos aditivos alternativos, como os ácidos orgânicos e óleos essenciais. Estas moléculas alternativas auxiliam o sistema imunológico dos animais, por meio de processos metabólicos, contribuindo no desempenho e mantendo a saúde animal.

EFEITOS DOS ACIDIFICANTES VIA ÁGUA DE BEBIDA

O uso de aditivos auxilia o desenvolvimento animal, pois oferecem condições de maior saúde para o trato gastrointestinal. Em um teste de campo promovido este ano, no estado de Pernambuco, na região da Zona da Mata Norte, foi realizado um experimento com 60 mil aves, das linhagens Cobb e Ross, criadas em seis galpões de pressão positiva, alimentadas com ração farelada, dividida em quatro fases: pré-inicial (0-7 dias), inicial (8-21 dias), crescimento (22-35 dias) e abate (36-44 dias) e com densidade de alojamento de 10 aves/m2 .

O objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos da utilização do acidificante H2ACID Oil, da BTA Aditivos, em comparação a Enrofloxacina 50%, via água de bebida, sob o desempenho zootécnico e mortalidade das aves, contemplando o período de alojamento até os sete dias de vida das mesmas.

TRATAMENTOS APLICADOS NO AVIÁRIO

As aves foram submetidas a dois tratamentos distintos. No tratamento 1, nos aviários número 1, 2 e 5 as aves consumiram H2ACID Oil, via água de bebida na dosagem de 300 ml do produto por 1.000 litros de água, durante cinco dias. No grupo de tratamento 2, nos aviários número 3, 4 e

Tabela 1. Resultados obtidos

Tratamento T1 T1 T2 T2 T1 T2 Nº Aviário 01 02 03 04 05 06 Peso Obtido (g) 197 200 186 145 160 170 Mortalidade 144 108 157 154 87 133 GPD (g) 28,14 28,57 26,57 20,71 22,85 24,28

O CONCEITO ONE HEALTH PODE SER OBSERVADO NAS SOLUÇÕES E ALTERNATIVAS MAIS NATURAIS QUE AS INDÚSTRIAS BUSCAM OFERECER AOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO.

6 as aves foram recebidas com Enrofloxacina 50%, na proporção de 100 g do produto por 1.000 litros de água, durante cinco dias.

Após submetidas aos testes, foram eutanasiadas aves dos dois tratamentos e repetições, para que pudessem ser necropsiadas. Em avaliação visual, não foi possível observar diferença macroscópica de qualidade intestinal e demais órgãos entre os diferentes tratamentos propostos. Diante da avaliação dos resultados obtidos (Tabela 1) pelo lote em questão, é possível verificar melhor performance do tratamento 1 em relação ao tratamento 2, pois houve incremento no ganho de peso diário e na diminuição na ocorrência de mortalidade.

Com a utilização de ácidos orgânicos e óleos essenciais é possível reduzir a inclusão de moléculas quimioterápicas, pois o acidificante garante uma melhora na resposta imune do animal. Além disso, os compostos contribuem para a diminuição de contaminação de carcaças, uma vez que os ácidos orgânicos agem eliminando as células patogênicas. Desta forma, é possível garantir que chegue à mesa do consumidor um alimento inócuo e produzido com processos mais limpos.

This article is from: