UILLIAM CARDOSO
ANO III
• Nº 12 • 2010
Primus Inter Pares
Pássaros Rebeldes
As histórias dos homossexuais Tim e Tom nas tirinhas do cartunista Tomas M
Sem tabus Vida sexual ativa na terceira idade
Gastronomia
ISSN 1982-9558
Harmonização de vinhos e a arte de combinar sabores
R$ 13,90 € 7.00 $ 22,00
Uilliam Cardoso
O artista e suas faces
Arte
A paixão pela forma masculina na fotografia de Alair Gomes
Pedro Stephan
Saiba mais sobre o artista e militante das causas LGBTT
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EDITORIAL ANO III
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Primus Inter Pares
É
certo que existe um tabu na terceira idade, não há dúvidas de que sexo nessa faixa etária é um tema cercado de pudores. Pensando nisso, a AIMÉ resolveu abordar o assunto com especial destaque. Todos sabem que o sexo acontece, independentemente da idade. Entretanto, a AIMÉ quis saber mais e conversou com pessoas da chamada terceira idade para descobrir como elas se sentem em relação ao sexo e de que forma se comportam em seus relacionamentos. Leia mais na reportagem intitulada “Sexo sem idade”. Também entrevistamos o homem-multimídia, fotógrafo e jornalista, Pedro Stephan. Com um trabalho focado no universo LGBTT, ele conseguiu unir arte e militância. Seu trabalho artístico sempre caminhou junto com a luta pelos direitos dos homossexuais. Em 1997, por exemplo, ano em que realizou sua primeira exposição de fotos, ele também lançou o primeiro panfleto antiviolência homofóbica do Estado do Rio de Janeiro. Na entrevista “Entre olhares e ideias”, você conhece um pouco sobre sua trajetória. Outra novidade é o trabalho do baiano Tomas M. O cartunista, que inseriu a temática gay nos quadrinhos brasileiros, ocupa agora as páginas da AIMÉ. Com humor singular, os personagens Tim e Tom representam duas facetas do homossexual: enquanto um briga por resguardar a imagem, o outro se diverte ao sair do controle. A equipe da AIMÉ, como sempre, pesquisou a fundo para entregar esta edição repleta de reportagens, que abordam todos os temas – e ainda mais um pouco – do universo retratado nos quadrinhos de Tomas M. Agora só resta aproveitar! Boa leitura!
Ana Maria Sodré
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A
mente humana anda as voltas com o medo, violência, insônia, depressão e cada vez mais com baixa estima. As químicas artificiais não alcançam os resultados esperados, e uma grande parte da sociedade trabalha com dor. Mais e mais pessoas estão doentes, isto é, as forças vitais em desarmonia provocam alteração da química natural da pessoa. As células aceleram ou diminuem sua produção energética, sendo necessário ingerir a química artificial, intoxicando a corrente sanguínea, advindo novas patologias. Na Clinica Luz e Paz, é possível recuperar esse manancial energético, necessário para a saúde manifestar-se, que apenas está latente dentro de você. Venha conhecer como obter harmonia, paz, amor e dignidade. Sentirás através do tratamento, o equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual. Obterás a combinação especial entre a consciência cientifica e mística, fora do âmbito religioso. A Clinica Luz e Paz faz um trabalho conjunto com o IRELP – Instituto de Recuperação Energética Luz e Paz, que tem como objetivo, “O despertar da consciência por meio da Técnica Terapêutica Reiki, equilibrando a energia do ser humano e ao seu redor, gerando alegria, amor, luz e paz interior”. Esse trabalho tem a função de angariar fundos para a construção do Instituto e lar para crianças abandonadas, onde serão educadas e tratadas por mestres formados nessa instituição, capacitado-os para serem humanos solidários, com equilíbrio emocional, mental, espiritual e físico. Formando um futuro construtivo com mentes elevada, unidas com o Universo.
Terapia em grupo
Terapia Individual
CURSOS: REIKI I “O Despertar”
Através da Clinica Lua e Paz realizamos tratamentos individuais com uso das técnicas a seguir: Reiki Alinhamento de Chakras Reflexologia AMMA / Shiatsu Massagem Interativa Massagem de Recuperação da medicina chinesa (Tui Na e Tui Na ortopédico) Meditação conduzida Conscientização energética
“Uma experiência de auto-libertação”
REIKI II “Transformação” “É um processo que permite a participação do Universo na vida do indivíduo”. REIKI III “Realização” “Realização significa ser integral (Holístico – Todo)”. MESTRADO EM REIKI “Consciência de Luz” “Ninguém cura outra pessoa, apenas a ajuda curar a si mesma, infundindo-lhe uma carga energética”. Infantil “REIKI I para as crianças de 10 a 13 anos”. Todos os cursos são terapêuticos, eliminam o estresse, depressão e ativa os órgãos, sistema nervoso e une o ser com a Energia Universal.
EMPRESAS “Energia, mente e prosperidade” “Integração da equipe empresarial para um maior rendimento, união, compromisso e ação saudável”.
Obtenção de cura e melhora nos seguintes casos: Síndrome do pânico Estado de coma Depressão / Câncer Debilitados fisicamente Cardiopatias Estabilização do sistema imunológico (H.I.V.) Recuperação de maus hábitos e vícios Equilíbrio Emocional Clareza de Pensamentos Saúde Física / Força Espiritual
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COLABORADORES
Lopso o s p Lo o s p o L EDITORA
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Fernanda Sodré
aime@revistaaime.com.br www.revistaaime.com.br http://revistaaimeoficial.blogspot.com 11 5096-2456 | 11 7734-4848 fernanda@lopso.com.br
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Eduardo Bertero Saúde Gelbh Costa Ensaios Fernanda Faria Música Marcio Delgado Turismo e Internacional Adriano Zanni Especial Leo Shehtman Décor Gustavo Padovani Arte e Entrevista Tomas M Extra
Lopso Lopso o s p o L
Felipe Teram Teatro e Cinema Isabel Vasconcellos Opinião André Ricardo Sexo Felipe Arra Literatura
EDITORA
E X P E D I E N T E
ISSN: 1982-9558 Aimé é uma publicação bimestral da Editora Lopso Comunicação Ltda. Diretora Geral e Editorial: Ana Maria Sodré Projeto Gráfico / Designer: Alexandre
Almeida Gonzaga
Ilustrações: Hudson Calasans Jornalista Responsável: Nina Rahe DRT 509-MS (marina@lopso.com.br) Reportagem: Mariana Tinêo Revisão: Isabel Diretora Corporativa: Ana Maria Sodré Circulação e Assinatura: assinaturas@revistaaime.com.br
- Distribuição em Bancas: Fernando Chinaglia
Números atrasados: A Editora Lopso atenderá aos pedidos, havendo disponibilidade em estoque, ao preço da edição atual, por intermédio de jornaleiros. EDITORA
As matérias assinadas não refletem a opinião da Revista Aimé. De acordo com a Resolução RDC nº 102, de 30 de novembro de 2000, a Revista Aimé não se responsabiliza pelo formato ou conteúdo dos anúncios publicados. É proibida a reprodução parcial ou total da Aimé sem a devida autorização da Editora Lopso. PUBLICIDADE: Editora Sodré Ltda Rua Vieira de Morais, 420 8º andar Campo Belo São Paulo (SP) CEP 04617-000 Tel. (11) 5096-2456 e-mail: comercial@editorasodre.com.br
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ÍNDICE
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PRE CON CEITO
10 variedades
Fique por dentro do que rola no universo LGBTT!
14 música
Transmitido via web, o projeto Rádio Pirata vem ganhando espaço e conquistando os adoradores da música eletrônica
16 teatro
Inspirado em uma série de poesias que contam histórias de gatos londrinos, o musical Cats é a aposta dos produtores brasileiros
18 cinema
Temas como o conflito familiar, as relações amorosas improváveis e a iminência da morte colorem o novo filme de Woody Allen
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20 literatura
30 capa
22 opinião
44 entrevista
A cobertura dada pela televisão à homossexualiade é tema do livro A TV no Armário, de Irineu Ramos Ribeiro
No Brasil, a TV é infelizmente um grande reforço nas ideias equivocadas sobre gênero e homossexualidade
24 décor
O espaço Garagem Conceitual mostra como pode ser a convivência em um espaço múltiplo, despojado e pronto para acolher com conforto os amigos
28 em pauta
Saiba mais sobre as técnicas de reprodução assistida
Confira o ex-BBB Uiliam Cardoso em um ensaio mais do que sensual e descubra sobre a sua carreira e projetos
Saiba mais sobre a mente inquieta, as fotos polêmicas e os milhares de projetos do homem-multimídia Pedro Stephan
48 arte
Confira a obra de um dos mais importantes fotógrafos brasileiros e sua paixão pela forma masculina
54 sexo
Confira o que os homossexuais da terceira idade falam a respeito de sexo
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58 boys
Dá vontade de apertar!
68 luxo de A a Z
Veja quais são as novidades e perceba como os pequenos detalhes fazem toda a diferença
72 moda
Com muito estilo!
84 extra
98 turismo
90 gastronomia
102 lúdico
92 saúde
114 perdido e achado
Compartilhe o humor dos personagens Tim e Tom
Nada melhor que uma taça de vinho para compartilhar companhias e afetos
Entenda mais sobre a doença de Peyronie
80 especial
A história de amor entre um ex-pastor evangélico e uma travesti, que consideram justa toda forma de amor
Manchester: a cidade onde a cena gay nunca para
De onde vem essa beldade?
Conheça a beleza e os projetos profissionais de Daniel Guarda
94 internacional
Rua símbolo da moda em Londres comemora meio século atraindo nostálgicos e uma nova geração
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[variedades]
Por Mariana Tinêo
Frase
“Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade – voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade.” Caio Fernando Abreu, no livro Pequenas Epifanias
Reynaldo Gianecchini de salto alto
Pela primeira vez, a marca Arezzo terá um homem em sua campanha. E o escolhido é nada menos que Reynaldo Gianecchini. O ator será o primeiro a posar para uma campanha da marca de sapatos, e o melhor é que não se trata de uma coleção masculina. Isto é, o gato aparecerá usando um salto alto feminino. Também participará da campanha a atriz Mariana Ximenez.
Fotógrafo brasileiro mostra o melhor destino gay do mundo
A cidade do Rio de Janeiro já recebeu o título de melhor destino gay do mundo em votação aberta organizada pelo canal Logo, da MTV, e pelo site TripOutGayTravel. Para fotografar a cidade, nada melhor do que o fotógrafo e jornalista da imprensa especializada gay, Pedro Stephan. A exposição Entre Amigos & Amores, que registra os espaços cariocas em que gays, lésbicas, travestis e transexuais se divertem, chega a Madri, na Espanha. A exposição estará em cartaz na galeria Espacio F, de curadoria da Escola de Belas Artes da Universidade de Madri, e faz parte do Visible Madrid Festival Internacional de Cultura GLBT, que acontece durante o mês de junho. Em outubro, Stephan também exibirá seu trabalho na Itália, com a exposição Luana Muniz, a rainha da Lapa, que revelou ao mundo uma espécie de “Madame Satã” contemporânea. Leia mais sobre o fotógrafo na Entrevista desta edição “Entre Olhares e Ideias”. 10
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ideias para ajudar a causa LGBTT
O advogado e blogueiro Thiago Magalhães resolveu ir contra a maré dos homossexuais que só sabem reclamar das situações às quais são submetidos e nada fazem para inverter o jogo. Ele reuniu um grupo de amigos e elaborou num blog o manual 30 Ideias para Ajudar a Causa LGBT do seu Jeito. Além de Thiago, o grupo é composto por Gustavo Miranda, Isadora, Cristiano Lins, Daniel e BHY. Segundo o grupo, gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais sonham com uma sociedade mais justa, em que direitos básicos estejam ao alcance de todos. Para realizar o sonho, no entanto, eles apontam a responsabilidade de cada um para ajudar na mudança. As 30 ideias são divididas em cinco tópicos: “Assuma-se: autoestima, orgulho, aceitação”; “Defendase: consumo, preconceito, justiça”; “Oriente-se: informação e política”; “Engaje-se: participação social e voluntariado” e “Cuide-se: sexo, drogas e outras travessuras”. Na parte “Assuma-se”, por exemplo, o blog diz que “a sua orientação sexual não vale menos do que as demais, nem é motivo de vergonha”. No site, são abordados desde assuntos como assumir ou não publicamente a sexualidade, até dicas de como agir de forma homoafetiva em lugares públicos. O grupo parte do princípio de que não é necessário seguir ou concordar com todas as ideias, mas tentar adotar aquilo que estiver mais próximo da realidade. Confira: http://30ideias.blogspot. com/
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Jogadores de futebol em campanha de cuecas
A nova campanha da Dolce&Gabanna mostra nada menos que os jogadores de futebol da Itália, como os famosos Antonio Di Natali, Vicenzo Iaquinta e Domenico Criscito, com seus corpos esculturais, usando as cuecas da marca. O ambiente é um vestiário típico. Também, não precisaria nada mais para chamar a atenção dos consumidores.
foto: Gazeta Online
Comercial gay do Mc Donald´s é veiculado na França
“Venha como você é”, é a frase de impacto no final da propaganda da rede de fast food Mc Donald´s. A campanha publicitária com temática gay, veiculada na França, mostra um jovem conversando no celular, enquanto olha uma foto de um rapaz, com feição de carinho. Após desligar o telefone, o pai do garoto chega trazendo os lanches e comenta sobre a foto e sua época de colégio. Ele diz que as meninas costumavam dar em cima dele e lamenta o fato de sua sala ter em maioria homens. Como resposta, um olhar de ironia e um sorriso por parte do filho, e então a frase: “Venha como você é”.
“Ator que se assumir gay é bobo”
O autor Silvio de Abreu, no ar atualmente com a novela Passione, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que o ator que se assume gay em público é bobo, principalmente se ele representa personagens do tipo galã. Segundo Silvio de Abreu, os boatos não têm importância, mas se o ator decide falar abertamente sobre sua sexualidade, sua carreira ficará prejudicada. Para o ator, embora o público gay possa gostar, ele representa somente 10%, contra 40% das mulheres. “Pra mim, tanto faz. Se na hora em que estiver assistindo eu acreditar que ele é machão, acabou. O problema é pa-re-cer. Atrapalha o personagem”, declarou o autor sobre a escolha dos personagens.
34 projetos culturais com temática LGBTT Até o dia 6 de julho serão aceitas inscrições de projetos para o Concurso de Apoio a Projetos de Promoção das Manifestações Culturais com Temática LGBTT no Estado de São Paulo. Serão escolhidos 34 projetos, totalizando o valor de R$ 500 mil de financiamento. Dos projetos aprovados, 21 deles vão ganhar o valor de R$ 10 mil, outros dez vão ganhar R$
20 mil, e três deles o valor de R$ 30 mil. Podem se inscrever projetos de apresentações públicas de manifestações culturais com temática LGBTT; projetos de atividades de valorização, preservação e difusão das manifestações culturais com temática LGBTT; projetos de atividades voltadas à promoção da visibilidade e preser-
vação da memória LGBT; projetos de publicação de livro(s) com temática LGBT; projetos de produção de registro audiovisual (DVD) com temática LGBTT e de produção de registro musical (CD) com temática LGBT. A promoção do concurso é da Secretaria da Cultura, com apoio da Coordenadoria de Políticas para a Diversidade Sexual. AIMÉ
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As jornalistas Consuelo Dieguez, da revista Piauí, e Ticiana Azevedo, ex-Jornal do Brasil, publicaram um guia para ajudar que mulheres descubram se seus namorados ou maridos são homossexuais enrustidos. O guia, chamado Cuidado! Seu príncipe pode ser uma Cinderela, é baseado em depoimentos de mulheres que se relacionaram com gays não assumidos. Com humor, as jornalistas exploram os homens que insistem em ficar no armário e os relacionamentos héteros. Para não cair na armadilha, as mulheres devem observar vestuário, comportamento, vida social, interesse, atividades e, é óbvio, sexo.
Homossexuais fazem mais sexo desprotegido do que héteros
Gay Ski Week será em Bariloche
A cidade de Bariloche, um dos destinos mais procurados da América Latina, sediará a Gay Ski Week (Semana Gay de Esqui de Bariloche). O evento acontece de 11 a 18 de agosto, com a proposta de atrair milhares de turistas homossexuais dos Estados Unidos, Brasil e Austrália. Considerada uma das estações de esqui mais populares do mundo, 10% de seu faturamento é atribuído ao chamado turismo arco-íris. Com a Gay Ski Week, o número deve aumentar, a exemplo do que vem acontecendo em São Paulo com a Parada Gay. 12
Segundo Ministério da Saúde, em relações com parceiro fixo, os jovens que fazem sexo homossexual estão se protegendo menos do os heterossexuais. No total, foram entrevistados 3.610 homens de dez cidades brasileiras em 2008. Entre os que fazem sexo homossexual, 29,3% utilizaram preservativo nas relações com parceiros fixos no ano anterior à pesquisa. Entre os jovens heterossexuais, o percentual foi em 34,6%. Os dois grupos, no entanto, se aproximam quando é analisada a proteção nas relações casuais. A pesquisa usa o termo HSH (homens que fazem sexo com homens), que abrange os gays e inclui os que fazem sexo homossexual, mas não se colocam nessa categoria. O estudo também apontou outros dados interessantes. Os HSHs têm escolaridade maior do que o resto da população masculina.: 52,2% têm 11 anos ou mais de escolaridade, contra 25,4% dos outros homens. Além disso, eles procuram mais os serviços de saúde para receber preservativos e fazer testes de HIV do que o resto da população masculina.
Nudez e beijo gay em espetáculo teatral
Depois de temporadas em Brasília, Salvador, Belo Horizonte e no teatro paulistano Ruth Escobar, o espetáculo “Três Possibilidades” pode ser conferido no Espaço Bibi Ferreira até o dia 27 de julho, com novo ator no elenco: Fernando Bacalow, mas conhecido como “Justin” do BBB7. A peça, inspirada livremente na obra “3 Formas de Amar”, de Andrew Fleming, contra a história de três amigos que tem a rotina sacudida e precisam administrar o desejo que sentem um pelo outro. Com cena de nudez protagonizada por Fernando Bacalow e beijo entre os rapazes, “Três Possibilidades” promete. Não deixe de conferir! foto: Iliya Pitalev / AFP
Seu príncipe pode ser Cinderella
Jean Paul Gaultier ao lado de Almodóvar
Após criar os figurinos dos filmes Kika (1993) e Má Educação (2004), Jean Paul Gaultier anuncia mais uma vez a colaboração em um filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar. Os dois ícones da cultura gay voltam a trabalhar juntos no filme de título provisório La Piel que Habito, uma adaptação de um romance do francês Thierry Jonquet. A trama será protagonizada por Antonio Banderas, ator que não trabalhava com Almodóvar desde 1990, quando protagonizou o filme Ata-me!
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Por Fernanda Faria
Foto: Leo Cavallini
[música]
Se jogue nas ondas da
Transmitido via web, o projeto vem ganhando espaço no cenário underground e tem conquistado os adoradores da música eletrônica
Mixers, computadores, CDJs, headphones, caixas de som espalhadas pela mesa. Cabos e mais cabos tomam conta de uma das salas do Instituto de Música Eletrônica (IME), sede temporária da Rádio Pirata. Mas aí você me pergunta: Rádio Pirata? Como assim? É algo proibido? Ilegal? Calma, calma, não é bem por aí... A Rádio Pirata nada mais é do que uma web radio que tem como proposta levar música underground de qualidade para seus espectadores e ouvintes. Sempre às quartas-feiras, a partir das 20h, Mauro Farina e André Vicentin, dois paulistanos engajados e hiperativos, comandam as três horas de transmissão. Músicos e DJs convidados fazem a diferença da programação. Além disso, há espaço para os amigos que quiserem acompanhar ao vivo e interagir com os apresentadores. O projeto foi criado há quatro anos pelo DJ e diretor artístico Mauro Farina. Na época, ele conduzia a transmissão. Com a ajuda de dois grandes amigos (VJ Spetto e Juca Nas), a Rádio Pirata foi crescendo e agregando novidades. A inspiração para o nascimento do projeto veio após saber detalhes sobre o roteiro e as filmagens de The Boat That Rocked (Os Piratas do Rock – 2009): “Um amigo comentou que esse filme estava sendo rodado e contava como eram as rádios na Inglaterra no final dos anos de 1960. Isso me inspirou muito. Pensar que eles tinham um navio ancorado no Mar do Norte com transmissão 24 horas ao vivo, e só com música underground, que naquela época era o rock.” Desde então, Mauro está sempre atrás de novas informações para dar um toque especial à programação da rádio. Convidados como Database e Roots Rock Revolution, nomes conhecidos da cena eletrônica da capital paulistana, já se apresentaram na rádio. Há um ano, Mauro chamou para participar do programa dois DJs que formavam o Terror Duo. Daniel Hirata e André Vicentin fizeram bonito na apresentação e conquistaram a simpatia do empresário, em especial Vicentin. Um homem com jeito de menino, de estatura baixa e aparência alegre e divertida. Um cara que tem como característica marcante a dedicação àquilo que acredita valer a pena. E com a Rádio Pirata não foi diferente. Como ele mesmo diz: “Foi paixão à pri14
meira vista.” A afinidade entre os dois foi tanta que atualmente Vicentin é sócio do projeto. “Ele, além de ter trazido muita gente nova, é um supercomunicador. A cada semana a locução está mais bacana, com mais humor e informação”, comemora Mauro. Juntos, os dois incendeiam a web com muita música eletrônica, principal sonoridade da Rádio Pirata. Segundo Vicentin, apesar de o foco do projeto ser a e-music, a vontade de agregar outras vertentes sonoras é grande, porém ainda não há estrutura para recebê-las. “A Rádio Pirata sempre teve como foco divulgar novos e antigos nomes da cena eletrônica e, apesar de fugir um pouco da proposta do projeto, eu sempre tive vontade de colocar outro tipo de som, como hip-hop e até mesmo bandas, mas não temos local nem o equipamento necessário para receber uma banda completa.” A Rádio Pirata está apenas começando a dar seus passos rumo a um futuro promissor, criando uma nova tendência e aproveitando o boom das mídias sociais para promover sua divulgação. Estão no caminho certo, mas ainda há muito trabalho pela frente, principalmente quando se trata de incentivo. Com relação a isso, Mauro dá o seu recado: “A cena independente aqui é pequena, mas acho que essa galera mais nova que toca com computadores tem mais informações que eu tinha há dez anos, isso é bom, acho que, quanto mais informação, melhor será o público. O que falta é a profissionalização do fotógrafo, do técnico de som, dos artistas que fazem parte da cena. É preciso ser levada mais a sério, esquecer um pouco esse glamour.” E Vicentin aprova. Somando parceria e vontade de crescer, o projeto encanta aos que não conhecem e enche de ânimo os afoitos por novidades. Um dos responsáveis, Vicentin dá a melhor definição: “A Rádio Pirata sempre foi um grande coletivo onde pessoas de diferentes áreas profissionais se juntam para encontrar os amigos, ouvir e divulgar boa música. Como diria nosso amigo Mauro Farina, a Rádio Pirata é Música Underground de Qualidade.” O endereço é: http://blogradiopirata.blogspot.com/
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The Futureheads – The Chaos (2010) A banda inglesa The Futureheads lança seu quarto álbum cheio de vibração e intensidade. The Chaos chega arrasando e coloca todos os fãs para chacoalharem os esqueletos. Neste recente trabalho lançado pelo selo da banda, o Nul Records, pode-se perceber que as influências das músicas dos anos 60 e 70 tomam conta de quase todas as faixas. Isso fica muito evidente nas faixas Stop the Noise e Sun Goes Down. Mesmo assim, a banda ainda é muito conhecida pela sonoridade póspunk. Destaque para as faixas I Can Do That e Heartbeat Song, que está entre os 30 melhores singles das paradas inglesas.
LCD Soundsystem – This is Happening
She & Him – Volume Two
Não há dúvidas de que o som do LCD Soundsystem sempre foi sinônimo de qualidade e garantia de pista cheia. E com o terceiro disco não é diferente. This Is Happening encerra os trabalhos do LCD com chave de ouro (segundo James Murphy, este é o último álbum da banda). Sintetizadores a todo vapor fazem parte da mágica musical dos caras. Isso fica claro na faixa Dance Yourself Clean, que abre o disco com seus incansáveis sete minutos hipnóticos. Outra que faz todo mundo se acabar é Drunk Girls. I Can Change abusa dos sintetizadores e alterna entre o suave e o insano. O dance punk do LCD é o que não pode faltar em qualquer balada moderninha. Ainda dá tempo de saber um pouco mais sobre a banda. Entre lá: www. lcdsoundsystem.com
Zooey Deschannel, a queridinha de 500 Dias com Ela (de Marc Webb, 2009), chega com o segundo álbum ao lado de seu parceiro Mat Ward. Volume Two não traz a mesma empolgação do disco de estreia, mas ainda assim a bela voz de Zooey garante uma belíssima harmonia, que encanta aos que ouvem pela primeira vez. In the Sun, primeira faixa de trabalho, é uma graça, perfeita para aqueles dias que você quer ficar de bobeira ouvindo um sonzinho bacana. Thieves faz as honras com seu violão delicioso. É o casamento perfeito entre voz e melodia. Ainda merecem destaque as fofíssimas Lingering Stil e Don’t Look Back, que mostram a suavidade e a doçura que caracterizam o duo. Quer conhecer um pouco mais dos queridíssimos? Basta acessar: www.sheandhim.com AIMÉ
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[teatro]
Por Felipe Teram
O(s) drama(s) de Lispector “Ser um ser permissível a si mesmo é a glória de existir.” A frase de Clarice Lispector, do livro Um Sopro de Vida: Pulsações, figura sua grande sina como autora: desvendar e questionar-se sobre a subjetividade de homens e mulheres encarnados nos seus personagens. O processo de escrita de uma obra literária exige do autor certa generosidade em doar-se à substancialização de seus personagens cujo material perpassa o mundo interior do próprio autor. Há quem diga que os personagens são extensões das dimensões individuais de seus autores. O monólogo Simplesme Eu, Clarice Lispector, escrito, dirigido e estrelado por Beth Goulart, parece sustentar esse pressuposto literário. O texto tenta expressar a feminina e intensa literatura de Clarice Lispector, transformando a própria autora em uma de suas profundas e confusas persona-
Bichanos em Sampa Os musicais já são presença certa na variada programação que a cidade de São Paulo oferece aos espectadores de teatro. Nos últimos anos espetáculos como Chicago, A Bela e a Fera e A Noviça Rebelde realizaram o que parecia ser uma fantasia: a adaptação de montagens norte-americanas para a língua e as condições de produção tupiniquins. Completando o time que faz a nova onda de musicais, mais um clássico do gênero está em cartaz em São Paulo desde março: Cats, dirigido por Richard Stafford. O musical é inspirado no livro Old Possum’s Book of Practical Cats, uma série de poesias que contam historietas de gatos londrinos, do escritor T. S. Eliot. A primeira composição de Cats (1981), escrita por Andrew Lloyd Webber, foi um dos maiores sucessos da história da Broadway: 21 anos em cartaz com 45 mil apresentações e inúmeros prêmios. Foi com esse capital simbólico que produtores brasileiros apostaram na nova montagem, cujo retorno pode ser comprovado pelo fato de a peça ter estendido sua temporada na cidade até agosto de 2010. A direção, feita por um norte-americano que já montou a mesma peça na Argentina e no México, prioriza a excelência do canto e da dança que tanto 16
caracterizam os musicais da Broadway. E não é só a direção de atores que realça a eficiência norte-americana para montar um espetáculo: altos gastos no figurino e na maquiagem elaborada, bem como nos efeitos de iluminação e nos aparatos tecnológicos complexos tornam evidentes o modelo copiado. Para contrabalancear o trejeito yankee, as letras das músicas foram adaptadas pelo compositor, cantor e violonista Toquinho, que busca ambientar a trama dos gatos numa determinada brasilidade paulistana – como quando cita os bairros de Vila Nova Conceição e Morumbi, ou mesmo fazendo uma referência ao ator Paulo Autran, que um dos gatos diz ter assistido em cena. CATS Quando: Quintas e sextas às 21h; sábados às 17h e 21h; e domingos às 16h e 20h Onde: Teatro Abril. Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista Quanto: de R$ 70,00 a R$ 240,00 Classificação: Livre - Menores de 12 anos acompanhados dos pais ou responsável Temporada: até 1º de agosto
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gens que se tramam no eficiente texto. E para isso a montagem cênica aponta para a aproximação entre o público e a intimidade da autora. O cenário minimalista com um fundo de tecidos em tons pastéis dá a tonalidade do universo doméstico e intimista para o qual a peça tenta transportar a atenção do público, e permite projeções e manobras de troca de figurino e de mudanças no próprio cenário. A iluminação consegue, em procedimentos meticulosos, romper as narrativas que transitam entre falas de personagens e depoimentos da autora, banhando as movimentações de Beth Goulart com raiva, sensualidade, alegria e efeito lisérgico. No entanto, com todos os fatores técnicos a favor, não há nada que se destaque mais do que a atuação da atriz. Assumindo as principais frentes, criação de texto, direção e atuação, Beth Goulart consegue arquitetar o todo do espetáculo lançando mão de uma atuação verossímil que, no contorno da concepção autoral, faz parecer que a atriz é a própria Clarice Lispector. Não à toa, ganhou o Prêmio Shell de melhor atriz de 2010. É o que se pode chamar de uma autora que encarna a atriz. E vice-versa.
SIMPLESMENTE EU, CLARICE LISPECTOR Quando: Sextas e sábados às 19h30, domingos às 18h Onde: CCBB. Rua Álvares Penteado, 112, Centro Quanto: R$ 15,00; R$ 7,00 (estudantes) Classificação: 14 anos Temporada: até 20 de junho
A culpa dos inquisidores e a inquisição dos culpados Dostoiévski possui grande peso para a cultura ocidental. É possível encontrar suas cortantes reflexões na literatura de Marcel Proust ou nos temas populares do pintor russo Kazimir Severinovich Malevich. Além de sua importância na cultura europeia dos séculos XIX e XX, são inúmeras as referências a Dostoiévski nos filmes dos diretores norte-americanos Woody Allen e Brad Anderson. Tal e qual Sheakspeare e Moliére – escritores tradicionalmente dramáticos –, dificilmente uma cidade com tradição teatral como São Paulo não terá em cartaz uma montagem de Dostoiévski. Um bom estandarte da força do escritor russo para o teatro paulistano pode ser encontrado em O Grande Inquisidor, dirigido por Rubens Rusche e com elenco formado por Celso Frateschi e Mauro Schame. O texto possui um interessante mote: na época da Espanha medieval um homem comum se torna cada vez mais popular na região por fazer milagres; tamanha atenção o faz ser preso e torturado pela Igreja que arma sua
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inquisição. Grande parte da carga dramática do texto de Dostoiévski reside na fricção entre questões sociais e a aflição humana interior. De um lado a repressão, o autoritarismo e a tortura praticados por uma instituição religiosa, do outro a culpa, o poder e a fé do inquisidor que se vê prestes a julgar um réu com indícios messiânicos comparáveis a Jesus Cristo, a figura vangloriada pela instituição que ele representa. Com a experiência de 40 anos no palco, Frateschi caracteriza mais um grande personagem, endossado por uma direção que permite ao público o acesso aos meandros existenciais mais pulsantes do texto de Dostoiévski. O GRANDE INQUISIDOR Quando: Sextas e sábados às 21h30, domingos às 20h Onde: Ágora Teatro. Rua Rui Barbosa, 672, Bela Vista Quanto: R$ 30,00; R$ 15,00 (estudantes) Classificação: 14 anos Temporada: até 27 de junho
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[cinema]
Por Felipe Teram
As trevas que antecedem o céu O judaísmo é uma das religiões mais antigas da humanidade e a primeira a postular o monoteísmo como orientação para suas crenças – na frente do próprio cristianismo. Judeus e cristãos, apesar de manterem algumas semelhanças no campo litúrgico (afinal Jesus, que é considerado divindade no cristianismo e não no judaísmo, era judeu), possuem diferenças na orientação de seus costumes e pressupostos. As considerações dessas religiões quanto à homossexualidade são, em determinados aspectos, discordantes, mas as consequências para homossexuais das duas religiões são bem parecidas: o preconceito os faz passar pelo velho conflito que envolve fé e culpa. O drama Pecado da Carne (Einaym Pkuhot), dirigido pelo israelense Haim Tabakman, retrata essa questão que atinge milhões de homossexuais em todo o mundo. Aaron Fleishman (interpretado por Zohar Strauss) é um judeu ultraortodoxo proprietário de um açougue kosher, casado com uma mulher e pai de três filhos. Um dia ele conhece um estudante, também ultraortodoxo, chamado Ezri (interpretado por Ran Danker), que lhe pede um emprego no açougue. Eles acabam por se envolver e levam um caso velado até que alguns moradores do bairro descobrem e pressionam Aaron para que ele acabe com o affair gay. O conflito que o filme descreve não é muito diferente do que acontece no mundo cristão. Filmes como Brokeback Mountain (2005) e outros relatam um movimento semelhante ao filme de judeus gays: um relacionamento secreto que se torna público,
Woody Allen de Londres em Cannes!
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seguido da previsível repressão social e a posterior violência. No entanto Pecados da Carne possui um desfecho diferente do filme de AngLee. Para os cristãos que enxergam a homossexualidade como uma prática pecaminosa, o filme pode causar certo estranhamento: no judaísmo ultraortodoxo o desejo homossexual, dentro da prática ascética ligada às crenças dessa religião, deve ser tomado como uma tendência, um vício que deve ser controlado. É como se Deus oferecesse uma possibilidade de derrotar um desejo desviante para comprovar a elevação de seus servos. Talvez seja por isso que o judaísmo, com menos orientações radicais em suas práticas, nutra certa tolerância em relação aos gays, afinal ceder às práticas homoafetivas seria como desleixar-se da leitura da Tora ou cometer exageros com bebidas e luxo. Não chega a ser um crime, como no islamismo, tampouco numa vergonha social como no cristianismo. O judaísmo reformista realiza casamentos entre homossexuais e tal orientação é cada vez mais crescente no Estado de Israel, onde eles podem se unir no civil e até se dar ao luxo de ingressar no exército sem empecilhos legais. Não é possível considerar, no entanto, que tal tolerância suavize os conflitos morais de judeus homossexuais. Pecado da Carne demonstra que, em qualquer que seja a realidade, os extremos das crenças tendem a dificultar a liberdade em nome da purificação dos costumes tradicionais. O problema não são judeus ou cristãos, mas sim a crença de que um Deus regulamenta o amor e o desejo. Após a morna recepção de crítica e público para Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works), que estreou nos Estados Unidos no final de 2009 e aqui no Brasil em março de 2010, a expectativa para o seu sucessor era grande. Por quê? O intitulado You Will Meet a Tall Dark Stranger é o quarto filme do diretor gravado em Londres. Seguindo um de seus procedimentos criativos, Woody Allen busca inspiração nas cidades para ambientar o clima de suas histórias. É o caso da sensualidade advinda dos cenários espanhóis de Vicky Cristina Barcelona (2008), com Penélope Cruz, Scarlett Johansson e Javier Bardem vivendo um triângulo amoroso com direito a ménage à trois. Ou então de Match Point (2005) que retrata um conflito amoroso dentro da burguesia da terra da Rainha, com os atores Brian Cox, Matthew Goode e Scarlett Johansson. Apesar de fora da competição oficial da premiação, You Will Meet... estreou a 63ª edição do Festival de Cannes. Temas como o conflito familiar, as relações amorosas improváveis – temática central de Whatever Works – e a iminência da morte colorem
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Novo mundo, nova adolescência Foi há poucos anos que estudiosos, educadores e pais aceitaram a ideia de que entre a infância e a fase adulta há uma fase da vida acompanhada de um interdito de tranquilidade e estabilidade, caracterizado por mudanças hormonais, o desabrochar sexual e mudanças de humor. Assim como a adolescência, o cinema também é moderno – e talvez seja por isso que os dois parecem andar juntos. Além de o cinema ser um dos hobbies preferidos entre adolescentes, a sétima arte sempre se dedicou a retratar essa turbulenta fase da vida. James Jean, Grease - Nos Tempos da Brilhantina (1978) e Kids (1995) são todos grandes referências cinematográficas – e também retratos da vida e dos gostos adolescentes. No entanto, a ausência dessa temática nos filmes brasileiros sempre foi motivo de desconfiança. É o que Laís Bodanzky, diretora do filme As Melhores Coisas do Mundo, tenta reverter no cenário nacional. A obra tenta, simultaneamente, contar uma história sobre e para adolescentes. O roteiro parte de uma série de livros chamada Mano, escrita por Heloísa Prieto e Gilberto Dimenstein, e consolida-se por meio de uma pesquisa realizada pela diretora em salas de aula da classe média paulista cujo objetivo era captar as principais preocupações dos adolescentes de hoje. O enredo centra-se na vida de Mano (interpretado por Francisco Miguez), um jovem de 15 anos que acaba de saber que seus pais estão prestes a se separar e que é irmão de Pedro (interpretado por Fiuk). No meio da turbulência familiar, o adolescente tem de lidar com problemas típicos de sua época: uma paixão por uma garota, a vergonha pela virgindade e a vontade irrefreável de diversão que nunca se sacia. Os clássicos problemas com a insegurança sexual e as drogas se misturam com o cyberbulling – a “zoação” e o constrangimento social transmitidos via internet –, de que é vítima a personagem Carol (interpretada por Gabriela Rocha). Também estão presentes as recentes mudanças na instituição familiar que permitem que os pais se separem e que haja a desconfiança de que um deles possa vir a assumir um relacionamento homossexual no futuro. Mano tem de tomar a frente de sua vida, ele é impelido a fazê-lo pelas condições em que se encontra e em nome de seu amadurecimento – sem deixar de se divertir e de tornar possível que essa seja a melhor fase de sua vida. a história que se dá na cinzenta Londres. Helena (interpretada por Gemma Jones) é deixada por seu marido Alfie (encarnado por Anthony Hopkins). A filha do então casal Sally (interpretada por Naomi Watts) começa a se envolver com seu chefe Greg (Antonio Banderas), enquanto seu marido Roy (Josh Brolin) mantém interesse na jovem vizinha Dia (Freida Pinto). Seria apenas mais um enredo de um filme que retrata os desencontros sentimentais de uma família, se não fosse o medo da morte de Alfie uma espécie de desencadeador de sua crise conjugal, ou se o adultério não fosse retratado como um resultado das diferenças entre o casal, ignoradas por anos. Woody Allen consegue desconcertar as premissas mais sólidas da civilização ocidental, como a monogamia e a fidelidade, com elegância e humor, dispensando a vulgaridade de tipos sociais. Apesar do título que lembra um thriller ou um suspense, o filme é mais uma comédia. Os críticos de Allen o veem como um repetidor de suas fórmulas de comédia,
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nascidas nos derradeiros anos 80. O diretor ainda mantém em sua munição criativa o modus operandi correspondente aos seus contemporâneos dos anos 70: refazer o autoral a cada experiência – o que implica em tentar manter um estilo. É assim que o diretor permanece uma das maiores figuras do cinema atual, de forma que o “mais do mesmo” de Woody Allen possa parecer mais interessante que os mesmos anseios dos demais. Tudo isso, com a média de um filme por ano.
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Por Felipe Arra
A TV sai do armário O livro de Irineu Ramos Ribeiro já seria digno de exaltação apenas por se prontificar a examinar um tema tão complexo, sujeito a todo tipo de equívocos e desconfianças: a cobertura dada pela televisão à homossexualidade. Mas A TV no Armário é merecedor de destaque por muito mais que a coragem de seu autor. Ribeiro trata, com profundo embasamento teórico (que passeia por estudos pós-estruturalistas de Michel Foucault até a teoria queer), de conceitos repletos de valores morais e comportamentos sujeitos a condenações preconceituosas, naquele que é o mais importante veículo da indústria cultural no Brasil, fundamental na formação de identidades coletivas na sociedade: a televisão. O autor analisa a TV não apenas como fonte de entretenimento ou informação, mas também como um dos instrumentos por meio dos quais as imagens coletivas se constroem. Fruto de uma pesquisa de mais de dois anos, o texto torna evidente que, de modo geral, o estereótipo do homossexual na TV brasileira tem sido associado a chacota, ridículo, valores pejorativos e está muito longe de qualquer neutralidade. Por vezes, a pretexto de informar, generaliza comportamentos e atitudes, estabelecendo estereótipos. 20
Embora os dois capítulos iniciais do livro sejam muito interessantes e sirvam como introdução ao tema – ao fazer uma revisão teórica da questão do gênero e da história do movimento homossexual –, é na segunda metade que se encontra a nata de sua análise. O autor usa métodos científicos para analisar de que modo telejornalismo, programas humorísticos e telenovela representam o homossexual no Brasil contemporâneo. Ribeiro mostra que, na área da sexualidade, existe um pensamento hegemônico heterocentrado que se reflete na televisão e na mídia em geral. A mídia e a sociedade se retroalimentam no modo de tratar o tema a partir de uma visão que, como argumenta o autor, é “pouco condizente com a complexidade da diversidade existente nos seres humanos”. É essa complexidade – e suas representações na telinha – que A TV no Armário trata com categoria e nos mostra de maneira leve, agradável e consciente. Leitura mais que recomendada. A TV no Armário - A identidade gay nos programas e telejornais brasileiros. Autor: Irineu Ramos Ribeiro. Editora: Edições GLS. 134 páginas. R$ 31,90. www.edgls.com.br
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Antes e depois de Dylan Uma batida na caixa da bateria que soa como um tiro. Um anúncio absoluto de que alguma coisa nova começou. Depois, guitarras, baixo, piano, “Once upon a time you dressed so fine...”, e era uma vez a canção que mudou as canções. Esse é o primeiro verso de Like a Rolling Stone, música de Bob Dylan em torno da qual giram as ideias do grande crítico e historiador estadunidense Greil Marcus neste livro. Like a Rolling Stone, a canção, como escreve Marcus, “foi um incidente que ocorreu num estúdio de gravação e que em seguida foi enviado para o mundo com a intenção de não deixar o mundo exatamente igual”. A década de 1960 chegava à metade, planeta em Guerra Fria consigo mesmo, Malcom X assassinado em Manhattan, conflito no Vietnã em proporções inimaginadas, Martin Luther King liderando a luta por direitos civis nos Estados Unidos. E a efervescência dos tempos foi encapsulada nos seis minutos de uma canção emblemática. O disparo da batida inicial na bateria acertou em cheio a música popular como era conhecida. “Ninguém havia realmente escrito canções antes”, Bob Dylan disse em 1966, um ano depois de Like a Rolling Stone. Em tempos de volatilidade de sucessos – e dos negócios de sempre – nas paradas, a injeção impiedosa de eletricidade, poesia e realidade da canção teve efeitos imediatos e devastadores, na música e na sociedade. Ao longo do texto fluido de Marcus, não necessariamente cronológico, nos damos conta de como Like a Rolling Stone traçou uma linha na história. Ali, a música popular saltou um degrau de sofisticação, introspecção e liberdade criativa, e alçou-se ao patamar de verdadeira arte. Além disso, o manifesto
definitivo da carreira de Dylan é o coração pulsante que bombeia sangue para toda sua obra posterior – e para toda a canção moderna. A intenção de Greil Marcus se faz clara ao longo do texto: nada de espremer Like a Rolling Stone até que tenhamos significados para cada uma de suas estrofes. O livro interpreta a confecção de letra, arranjo e instrumentação juntamente com o contexto histórico, e mostra que ambos são indissociáveis. Mais do que isso, mostra que o senso de tempo real, um fato acontecendo enquanto se escuta, história se acumulando entre notas e palavras enquanto elas são tocadas e cantadas está absolutamente presente, pela primeira vez, em uma canção. Mais que uma libertação artística, Like a Rolling Stone, de Bob Dylan, é um evento épico. E Like a Rolling Stone, de Greil Marcus, faz jus a tal status. Like a Rolling Stone – Bob Dylan na Encruzilhada. Autor: Greil Marcus. Tradução: Celso Mauro Paciornik. Editora: Companhia das Letras. 256 páginas. R$ 40. www.companhiadasletras.com.br
Quando a moda fala por nós É inegável: a moda faz parte da vida de todos. Você pode não ser um astro ou uma estrela, modelo, estilista. Pode não ser viciado em moda nem uma vítima dela. Mas por que será que nos importamos, ainda que minimamente, em vestir algo adequado, em saber combinar peças e cores, controlar o peso e as medidas do nosso corpo etc.? A psicanalista francesa Pascale Navarri debate essas e outras questões neste Moda & Inconsciente, ao direcionar o olhar do leitor diretamente sobre o tema, para tentar descobrir o que a moda tem a dizer a nosso respeito. O livro nos traz uma multiplicidade de assuntos relacionados ao império da moda e da atitude, sob o crivo daquilo que
é seu subtítulo: o “Olhar de uma psicanalista” – para não haver dúvida, a figura de Sigmund Freud, o pai da coisa toda, está na contracapa do volume. A autora (psic)analisa como se apresentam os modelos, o semblant anoréxico e sua relação com as exigências dos estilistas, a moda das roupas rasgadas, a série de imagens relacionadas ao mundo masculino da moda (o metrossexual, o ubersexual, o esportista), a tatuagem, o piercing, entre muitos outros temas, mais ou menos próximos de nossas realidades cotidianas. O livro é permeado de pequenas histórias, casos contados pela mídia e um passeio pelas tendências da internet, de onde surgem depoimentos impressionantes que apoiam as teses de Navarri: a moda transborda de seu próprio fazer para determinar atitudes sociais e políticas, bem como comportamentos em geral. A autora sustenta que a moda sempre esteve na moda, e falar dela é imemorial. Nenhuma cultura deixou – nem vai deixar – de se debruçar sobre o assunto. Moda & Inconsciente – Olhar de uma Psicanalista. Autora: Pascale Navarri. Tradução: Gian Bruno Grosso. Editora: SENAC São Paulo. 212 páginas. R$ 40. www.editorasenacsp.com.br AIMÉ
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[opinião]
De Oscar Wilde a Ricky Martin Por Isabel Vasconcellos*
Enquanto as novelas da Rede Globo de Televisão tentam (e nem sempre conseguem) denunciar e contribuir para a superação dos preconceitos e dos mitos que assolam a nossa sociedade, sempre aparece alguém para dizer alguma “pérola”, como a declaração do piloto de Stock Car que disse – a propósito do personagem Gerson, da novela Passione – que um piloto de Stock Car gay é uma coisa “fake demais”. Não bastasse ter dito uma bobagem desse tamanho, o infeliz rapaz ainda declarou que não tem preconceito com relação à homossexualidade
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ois é. Tem muita gente que acredita não ter preconceito e vive escorregando em declarações e atitudes preconceituosas. Não é diferente – a despeito do esforço das novelas globais – com a televisão. No Brasil, a TV infelizmente é um grande reforço nas ideias equivocadas sobre gênero e sexualidade. Manoel Carlos, autor de algumas das mais bem-sucedidas novelas da TV, afirmou à revista Veja que hoje é possível retratar casais homossexuais sem chocar o público. Evidentemente, enquanto chocava, a TV se abstinha de tocar no assunto. É uma interação delicada: a TV avança à medida que a sociedade também avança e, então, quando um assunto tabu chega à TV isso acontece porque a maioria da sociedade já superou ou está superando o
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tabu. A TV não é vanguarda. Ela assume a evolução que já tomou conta de alguns grupos da sociedade e então passa a influenciar a minoria ainda resistente à mudança. Em A TV no Armário, livro recentemente lançado pelas Edições GLS, Irineu Ramos Ribeiro analisa, com base teórica na filosofia de Michel Foucault, a história do movimento gay e a maneira pela qual os programas humorísticos, as novelas e até os noticiários televisivos ajudam a reforçar o preconceito contra os homossexuais, embora as emissoras se esforcem por ser politicamente corretas. O planeta, também infelizmente, está longe de aceitar a homossexualidade como uma condição humana e nada mais. Em 37 países da África, ser homossexual é viver fora da lei, a exem-
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PRE CON CEITO plo do que acontecia também em muitos países do Ocidente há menos de 200 anos. Ninguém que conheça a história da repressão aos gays deixa de se espantar com os ingleses mandando para a cadeia o grande gênio da literatura, Oscar Wilde. Enquanto as mocinhas dos anos 1950, românticas e ainda casadoiras, suspiravam pelo galã de cinema Rocky Hudson, o agente dele, lá em Hollywood, arrumava um casamento de fachada para que ninguém suspeitasse que aquele homem lindo e machão era gay. Quase 60 anos depois, o cantor porto-riquenho Ricky Martin declara que assumir a sua homossexualidade foi uma das melhores coisas que fez na vida, aos 38 anos. Meio tarde, mas antes tarde... No Brasil, entre os mais jovens, o preconceito parece superado. Nenhum garoto ou garota de 16 anos se importa mais com a condição sexual de seus amigos ou de qualquer pessoa, na verdade. Na Parada do Orgulho Gay realizada no ano passado em São Paulo, enquanto os gays que tinham mais de 30 anos diziam estar ali pela militância, pela luta contra a discriminação, os adolescentes afirmavam que estavam ali para se divertir. Há quase cem anos, já se ouvia muita gente importante se perguntando que diferença faria na vida de todos nós a atitude sexual de alguém. Por que razão existe uma enorme repressão à homossexua-
lidade? Em que os homossexuais incomodam tanto para terem sido tão reprimidos e odiados ao longo da história? Estudei muito a repressão sexual da mulher. Hoje tenho consciência de que a maioria dos repressores sexuais leva uma vida sexualmente insatisfatória. A necessidade social de reprimir a homossexualidade deriva, na minha maneira de ver, da negada bissexualidade de todos nós. Ao longo da história surgiram personalidades corajosas que viveram sua bissexualidade sem maiores problemas, fosse a sua primeira opção a hétero ou a homossexualidade. A escritora Anais Nin e o compositor Cole Porter são exemplos clássicos disso. Enquanto na África do Sul lésbicas são estupradas por homens que acreditam poder “convertê-las” à heterossexualidade através do ato violento, aqui no Brasil a geração mais jovem acha ridículo tomar qualquer atitude que vise afirmar ou diferenciar a condição sexual de cada um: se é o que se é e pronto. Apenas dois séculos separam Ricky Martin de Oscar Wilde. E apenas um oceano separa o Brasil da África. Ainda temos muito caminho a percorrer. *Isabel Vasconcellos é escritora e apresentadora de rádio e TV, atualmente com o programa Sexo Sem Vergonha na Rádio Tupi AM de São Paulo AIMÉ
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Conceit ual Por Le o
Sheht
man*
O espaço Ga r dade, mostra agem Conceitual, des ndo com conforto como pode ser a envolvido por con Le os cadas de 196 amigos. O projeto vivência em u o Shehtman ,p 0e m tra Alo da grife P 1970, unindo peç z uma estétic espaço múlt rioriza em 1 a a i oltrona Fr au; a esta s “vintage” com industrial in plo, despoja 30 m² a co s n nte Clou d p d da Ca móveis de de irada nas o o e pronto temporan ppellin i; e tam sign – com ficinas mec para acol eio h â bém o s móv a poltrona nicas das er eis da d T Cassin ricot e ban éa queta
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Com a colaboração do escritório Loira Cenografia, o ambiente é composto por dois arcos metálicos paralelos e um arco na posição transversal, unindo em uma só composição a estrutura executada pela Fiedler Design e Engenharia, com uma lona bronze Starlight 784 cedida pela Locomotiva. Na parte interior do ambiente, um balcão em Silestone na cor Amarillo Dream, seguindo um formato arrojado que denota o dinamismo de toda concepção. A parede inflável com cristais Swarovski aplicados em sua superfície completa o espaço.
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O ambiente traz novidades em piso e mosaico como a Opus Romano da Bisazza e os pisos das Linhas Legno e Cargo da Solarium. Existem novidades ainda na marcenaria em High Gloss executada pela Florense; e acabamentos e tampos em vidro Ébano Diamond Guardian. A iluminação fica a cargo da Allure Iluminação, com lançamentos especiais da Scatto Lampadário e On Light. Arrematando o espaço, com obras pontuais, temos escultura Bia Doria, Galeria André, e objetos Benedixt. * Leo Shehtman Arquitetura e Design arqshehtman@terra.com.br Av. General Furtado Nascimento, 740, cj. 34, Alto de Pinheiros, São Paulo-SP Fone: (11) 3022-6822 AIMÉ
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[em pauta]
Por Nina Rahe
O desejo de ser pai A família homossexual é um modelo que atualmente vem ganhando maior notoriedade na sociedade moderna. Há cada vez mais espaço para novas formas de constituição familiar e as opções de reprodução assistida têm possibilitado que homens e mulheres homossexuais assumam a maternidade e a paternidade
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ara realizar esse desejo, gays e lésbicas têm recorrido a meios legais, através da adoção, ou então optado pela realização de inseminação artificial. O problema, ao que parece, é que para realizar a vontade de ter filhos, é ainda preciso enfrentar o preconceito tão evidente nos tempos atuais. Em entrevista à AIMÉ, a Dra. Silvana Chedid, médica especialista em Reprodução Humana, e diretora da Clínica Chedid Grieco de Medicina Reprodutiva, comenta a situação atual dos homossexuais que optam por ter filhos e explica quais são os principais procedimentos que eles podem escolher. Primeiramente, gostaria que a senhora explicasse de que forma acontece a fertilização assistida? A fertilização assistida é o nome que se dá a técnicas realizadas em laboratório para tratamento de infertilidade. A fertilização in vitro (FIV), popularmente conhecida como “bebê de proveta”, é a técnica através da qual os óvulos da mulher são aspirados dos ovários por ultrassom e, no laboratório, são fertilizados com os espermatozoides. Os óvulos fertilizados ficam em cultura no laboratório, as células se multiplicam, e os embriões resultantes dessa fer-
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tilização são então transferidos através de uma fina sonda plástica para a cavidade uterina. Quais são as principais diferenças entre fertilização in vitro e inseminação por espermatozoides? A fertilização in vitro consiste na fertilização dos óvulos no laboratório. No caso da inseminação intrauterina, a fertilização acontece dentro do organismo da mulher, já que o esperma é colocado no interior da cavidade uterina. No caso de casais do mesmo sexo, quais seriam as possibilidades? No caso de homossexuais femininas, a gravidez pode ser obtida tanto através da inseminação intrauterina como através da fertilização in vitro. Em ambos os casos, é utilizado sêmen de doador anônimo, comprado em bancos de sêmen. No caso de homossexuais masculinos, a gravidez pode ser obtida com a utilização de óvulos doados por uma doadora, fertilizados no laboratório através da técnica de fertilização in vitro com o sêmen de um dos homens. Os embriões obtidos através dessa fertilização são então transferidos para o útero de uma mulher que faça a cessão
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A doação de óvulos deve ser anônima e voluntária, ou seja, sem que haja qualquer tipo de pagamento para a doadora. As doadoras de óvulos, em geral, são as próprias pacientes que fazem estimulação ovariana para FIV, que sejam jovens e com boa função ovariana e que desejem doar uma parte de seus óvulos. A doadora não conhece a identidade da receptora e vice-versa. A escolha da doadora é baseada nas características físicas. A senhora teria como mensurar a quantidade de casais do mesmo sexo que procuram por fertilização? No Brasil, a procura ainda é pequena, embora venha aumentando nos últimos anos. Na minha clínica, aproximadamente 30% dos tratamentos que fazemos são para casais do mesmo sexo. Na sua opinião, a sociedade apresenta resistência quando se fala da possibilidade de casais gays realizarem tais procedimentos? Ainda há bastante preconceito, mas fico feliz em perceber que esse comportamento tem mudado muito ultimamente.
temporária do útero (conhecida popularmente como “barriga ou útero de aluguel”). Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro estão desenvolvendo pesquisas sobre o potencial de qualquer célula do nosso corpo retornar a um estado primitivo, o que pode significar que homens são capazes de produzir óvulos e mulheres têm chances de gerar espermatozoides. Seriam as chamadas células IPS (células-tronco pluripotentes induzidas). Qual seria a sua opinião sobre essas descobertas e o que poderiam significar para casais do mesmo sexo? As pesquisas com células-tronco embrionárias são um grande avanço na Medicina e permitirão infinitas aplicações clínicas de grande utilidade. No caso dos casais do mesmo sexo, teoricamente permitiriam obtenção de óvulos e espermatozoides, mas essas técnicas estão em fase de pesquisa e ainda não é possível utilizá-las na rotina da prática clínica. De que forma acontece a seleção de uma doadora de óvulos? Quais são as principais etapas e implicações nessa escolha?
Como está o andamento do projeto de lei com o objetivo de amparar os médicos da área de Reprodução Assistida? Infelizmente, parado. Não há legislação que regulamente a Reprodução Assistida no Brasil. Utilizamos uma resolução do Conselho Federal de Medicina de 1992, mas que já está ultrapassada. Um dos tópicos a ser abordado no projeto seria o acesso de homossexuais a tratamentos de reprodução artificial. De que forma a senhora se posiciona nesse tópico e o que espera que conste no documento? Em relação a homossexuais femininas, a resolução do Conselho Federal de Medicina permite a utilização de sêmen de doador anônimo por qualquer mulher maior de idade, hétero ou homossexual, solteira ou casada. Em relação aos homossexuais masculinos, não há nenhuma determinação na resolução do Conselho que permite o tratamento. A doação de óvulos pode ser feita, de maneira anônima, mas a transferência dos embriões precisaria ser feita num útero de substituição e essa situação tem várias restrições. Sou totalmente favorável à utilização das técnicas de Reprodução Assistida para os casais homossexuais e espero que em breve possamos oferecer todas as técnicas disponíveis aos casais homossexuais, tanto masculinos como femininos. AIMÉ
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Fotógrafos: Janna Francisco e Tiago Farina Tratamento: Tiago Farina Stylist: Fernanda Kazalla Produtora de Moda: Juliana Rossoni Make Hair: Gilmar Cardoso Direcao Executiva: Gelbh
Uilliam Cardoso
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calça TONY JUNIOR, sapato WALERIO ARAUJO; colar dourado A MINHA AVÓ TINHA; colar de círculos e pulseiras de couro CLAUDIA DUARTE.
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cacharel de tela TONY JUNIOR; short MARCELU FERRAZ; tênis em couro off white DEMOCRATA; correntes e pulseiras A MINHA AVÓ TINHA. 32 capa 32
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Qual seu nome de batismo? Uilliam Cardoso Carvalho Você tem de origem indígena, mas há negros também em sua família? Sim, meu pai é negro e meus avós são índios. Minha mãe nasceu na Bahia. Minha família é bem misturada entre negros, indígenas e brancos. Você parece ser um artista completo, com múltiplas funções... Qual é a sua formação? Você fala idiomas estrangeiros? Sim, sou ator profissional,canto,danço e sou coreógrafo, mas sei que falta muito estudo ainda para me sentir completo, porém tento a cada dia me superar como artista . Sim, falo espanhol e inglês. Você já morou fora do país? Conte um pouco essa sua experiência. Sim, já morei na Venezuela e viajei pela Europa a trabalho em cruzeiros. Como na época já dançava hip-hop profissionalmente e fazia pocket Broadway (pequenos trechos de musicais) em São Paulo, recebi um convite, e lá fiquei quase 8 meses. Fui convidado para trabalhar no Caribe, como mestre de cerimônias e, dando aulas de hip-hop e fazendo shows, passei por ilhas como: Barbados, Aruba, Trinidad e Tobago, Isla de Margarita (Venezuela), São Vicente e Granadinas, México, entre outros. Quais obras musicais e quais personagens você já fez? No musical Cidadão Brasileiro (de: Marcio Rodrigues, no Teatro Ruth Escobar) fiz um hippye, Uma viagem no tempo,diógenes na grécia antiga, (autor:Marcio Rodrigues teatro: ruth Escobar) O rei leão da Disney,fui standby do Scar e fazia o coro também. (teatro Anhembi, autor: Walt disney pictures direção: sergiv) Fiz o musical High school musical corbin,(via funchal, autor: Disney pictures: direção: Gary) fiz o musical Avoar , fiz um garoto de rua,(autor: Vladimir capella, teatro imprensa) O primo basílio fiz o mocinho bonito,(teatro: brigadeiro autor: Eça de Queiroz: direção: dan rosseto)o musical west side story o personagem Toro, sharks, (teatro : alfa, direção: Jorge takla, autor: jerome robbins entre outros. E quanto ao corpo? Você parece cuidar muito bem da forma física... Ele te ajuda a conquistar papéis? Bom eu tento estar bem fisicamente sempre, sem muita piração, a minha genética ajuda muito rs, controlo a alimentação, gosto de estar bem. Nos musicais sempre me ajudou, na verdade depende do trabalho ou personagem, mas sempre estava no perfil e no peso certo. Atualmente além da faculdade o que está fazendo? Bom, estou estudando numa escola particular,bastante teoria musical, técnica vocal (soul music), além da correria continuo com meus cursos de interpretação e começando os projetos do meu workshop de Freestyle (hip-hop) e estou com projetos para um curta metragem. Existe ainda algum personagem que não tenha feito e que é um grande sonho fazer?
Sim, falando de musicais, “Simba” do Rei leão, é meu sonho de consumo rs. ”Smokey joe´s café” é um quarteto de rock dos anos 70,80,90 incrivel. A cor púrpura, uma historia incrível da década de 1909, além de personagens inovadores com historias marcantes do cinema brasileiro, no teatro e tv; mas amo ficção que sou apaixonado, guerreiros, lutadores,heróis,que só tem no cinema americano, adoro dublar também, minha paixão é criar vozes para personagens da mitologia, crianças, criaturas, são paixões rs. Como a dança entrou na sua vida? Bom, comecei no teatro aos 12 anos, e quando eu tinha 16, minha professora querida Renata Ferreira Kamba (lembro dela ate hoje) me disse que eu tinha talento pra dança, foi onde tudo começou, sou muito grato a ela. A sua família também te apoiou a seguir a carreira? Sim, desde que iniciei minha carreira eles me apóiam e me ajudam a nunca desistir dos meus sonhos. Quais dançarinos servem de inspiração para você? No mundo do Hip-Hop existem alguns dançarinos que se tornaram grandes cantores como Chris Brown, Usher, Robert and Camillo Lauricella (Freestyle), Bob Neil, Edson Guiu. Além de outros da área clássica no qual estudei, Barishnikov, Fernando Bujones e Igor Zelensky. O que já te decepcionou? Amigos no qual achamos que conhecemos e na verdade não sabemos quem realmente são. O que um bom ator deve ter? Na verdade tem que ser o que um ator deve fazer para se tornar bom, e automaticamente se tornará um bom ator. Ter conhecimento no teatro, ler bons livros, fazer bons cursos, workshops, não deixar nunca de estudar, buscar conhecimento de todas as linguagens que englobam a arte (dançateatro, expressão corporal, voz), conhecer um pouco de tudo, estar sempre conectado para ter um vasto conhecimento e adquirir experiência pessoal para ter um bom desenvolvimento profissional. Conhecer a si mesmo além de tudo. Neste sentido você se considera um artista ao invés de ator? Acredito que um artista é completo, nasceu artista, qualquer coisa que se comprometa a fazer irá fazer bem, porém, um ator é mais focado, não deixando de ser um artista. Mas existem limites entre alguns atores e vários artistas e eu me considero um artista completo, pois a cada dia tento me superar em todos os aspectos artísticos. Como você chegou ao BBB? A partir do final do BBB9, meus amigos (Fe e Beto) começaram a me incentivar dizendo que eu tinha perfil e teria chances de entrar na casa. Estava em cartaz com um musical o primo basílio, no teatro brigadeiro, e trabalhando muito, em eventos como barmen, Após quase um mês de envio do meu vídeo, começaram os contatos, mas eu não acreditava e, por AIMÉ
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fim, comecei a fazer os testes para a casa e consegui. Sou grato à Deus e aos meus amigos que acima de tudo acreditaram em mim, apostando mais em mim do que neles, já que deixaram de enviar os mesmos. Você está vivendo um excelente momento na sua carreira. É o melhor deles? Estou vivendo um bom momento, mas acredito que o melhor momento na minha carreira ainda está por vir. As pessoas me conhecem por ser um ex-BBB, mas não pelo artista Uill. E é esse o reconhecimento que espero (mas não acho ruim), mas acredito que dei um salto muito grande e a partir de agora, o público poderá me conhecer melhor. Você tem ídolos ou heróis? Alguém em quem se inspirou? Quem e por que? Falando artisticamente me inspiro sim em Antonio Fagundes, Lázaro Ramos, Tony Ramos e Luís Miranda, além de outros grandes artistas da música, dança, cinema e teatro. Tenho uma heroína na minha vida que é minha mãe,(conceição) que me ajuda em tempo integral, no corre-corre da minha vida de artista, além disso, me ensina a ser um homem de verdade e a ter um caráter sem igual. Tenho meus irmãos (Jarbas minha jóia preciosa, e Gisele linda rosa) também que são incríveis. Sem esse alicerce,e sem meus amigos que são poucos, mas verdadeiros, eu não conseguiria seguir minha vida pessoal e nem profissional. jaqueta de paete Verão 2011 MARCELU FERRAZ bermuda beiseball verao 2010 MARCELU FERRAZ; tênis cano alto MARCELU FERRAZ; crucifixo em madrepérola A MINHA AVÓ TINHA.
Falando de sexo, o que já fez de mais ousado? Já fiz sexo no banheiro de um avião durante a noite, num vôo de 6 horas. O que você faz nas horas livres? Você tem horas livres? Às vezes tenho horas livres e nessas horas procuro fazer exercícios vocais, faço treinamento físico, leio, ouço música, escrevo e assisto filmes. Quando você se sente mais vulnerável? É raridade, mas na maioria das vezes acontece quando estou sozinho. Qual foi o último livro que você leu? A vida de Marlon Brando, Como Influenciar Pessoas e Fazer Amigos e No Rumo da Felicidade.
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calça com amarrações WALÉRIO ARAÚJO; ombro ALEX PALMA; brinco CLAUDIA DUARTE. AIMÉ
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Qual foi o último filme que você viu? Fúria de Titãs, Robin Hood, Alice no País das Maravilhas, Chico Xavier e Homem de Ferro 2. Qual foi o último CD que você comprou? Fred Hammond A sua vida é um livro aberto? Até a pagina 3.... rs, porque as outras página, só pra quem realmente merece saber. Você descreveria o BBB simplesmente com um reality show descompromissado? Por nunca ter tido vontade de ser um BBB e acabei me tornando um BBB, o reality show apenas adiantou o processo de deixar de ser anônimo para me tornar famoso. Para alguns será passageiro, mas para 36 capa 36
mim é mais do que compromisso, é pegar esse gancho e crescer cada vez mais, mostrando para o que realmente eu vim, pois ainda não tive tanta oportunidade e não seria na casa que eu ia mostrar, por mais que tive meu reconhecimento como artista pós-BBB por muitos da área que me viram em alguns momentos da casa. Mas, na política, o que você é exatamente? Apenas um cidadão que procura ter entendimento e luto pelos meus direitos e dos que me cercam. O que você acha da tese de que a violência no cinema e na televisão estimula o público a agir da mesma forma? Acredito que isso não seja um espelho, mas reflete em alguns casos. Digamos que na televisão há várias situações em que tais programas ou matérias possam ser formadoras de opiniões e algumas pessoas possam se espelhar, mas acredito que vai muito mais além, e alguns dos pontos é a educação, família, índole e bons costumes.
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calça de elanca preta TONY JUNIOR; corrente com chifre de búfalo ALEX PALMA; sapato WALÉRIO ARAÚJO; pulseiras com taxa EXTREME; anel A MINHA AVÓ TINHA.
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colete drapeado MARCELU FERRAZ; short TONY JUNIOR; sapato e adereรงo ambos MARCELU FERRAZ.
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calça jeans ADEH OLIVEIRA; cinto LEVI’S; tênis DEMOCRATA; pulseiras e colares A MINHA AVÓ TINHA e EXTREME; anéis A MINHA AVÓ TINHA. AIMÉ
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Quando o aquecimento global chegará a um ponto sem volta? Qual o seu papel como cidadão em pró da sustentabilidade? Já está sem volta, o aumento é grande a cada dia,e visível, tente respirar na ruas, veja se as 4 estações estão em épocas certas,em pesquisas realizadas o buraco na camada de Ozônio esta do tamanho do Brasil. A cada dia o homem destrói a natureza e mau sabe que este dano e irreversível, se não houver conscientização e atitude a humanidade caminhara para a extinção. Nosso papel é pelo consumo consciente,esta é hora de se expressar,aprendemos a ser apenas ouvinte sem expressão,vamus reciclar o lixo, optar por produtos biodegradáveis,dar confiança a fornecedores de qualidade no mercado atual, sunstentabilidade é optar e ter respeito por recursos naturais. Voltando ao seu trabalho, você se importa com a reação do público? Sim, o publico é um parâmetro importante, mas digamos que nem todos pensam igual, e a diferentes opiniões formadas, temos que saber respeitar e aceitar pontos positivos e negativos. Como você está lidando com a nova vida de celebridade? Bom, no começo foi novo, uma experiência que jamais pensei que viria tão rápido, mas chegou, rs e estou lidando muito bem, o carinho do publico é maravilhoso. Sobre seu trabalho, quando você sabe que algo está pronto? Quando você olha para algo e diz: isto está bom! Nunca direi que esta bom, rs, acredito que o artista sempre procura perfeição,e isso as vezes é bom, como também é ruim. Mas me cobro muito, e sempre procuro Sentir o andar da carruagem, sendo bom ouvinte, para receber todo tipo de critica, colocálas em pratica me esforçar e estudar com todo empenho possível e concerteza o resultado será positivo. As eleições deste ano têm alguma característica especial ou serão iguais às anteriores? Bom, o que difere e que nesta eleição temos uma canditada que está praticamente eleita,é o que dizem! Será histórico para o Brasil se ela for eleita. 40 capa 40
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O que é chique hoje? Você concorda com os estilistas que falam que é possível usar tudo hoje em dia? Bom ser chique, é ser você mesmo, usar aquilo que se sinta a vontade e confortável, é claro que você tem direito de ir e vir, mas tenhamos bom senso!!! Quais dicas você daria para quem pretende iniciar a carreira artística? Bom, siga em frente, estude,seja focado no que quer realmente,nunca desista dos seus sonhos, sonhe muito, mas sempre tenha os pés no chão, lute e agarre com unhas e dentes, não deixe escapar oportunidades em sua vida, a sua estrela brilhará, mas é preciso tempo, não queira dar saltos maiores que suas pernas, vá com calma, e por fim tenha respeito e amor ao próximo,seja humilde e de valor a tudo, pois isso o tornará grandioso e bons frutos você colherá. Se você tivesse que reescrever a sua história, o que mudaria? Não mudaria, acho que tudo aconteceu e acontece no tempo certo, e esse é o tempo,é o caminho traçado pra mim, essa é a hora, estou muito feliz, e sei que ficarei muito mais! Por ter entre os participantes uma drag queen, um travesti e uma lesbica, O BBB 10 ficou conhecido como a edicao da diversidade. De que forma voce avalia a convivencia entre os participantes e o posicionamento de cada um frente a pluralidade? Bom, posso dizer sobre meu posicionamento frente a isso, todo ser humano deve ser respeitado independente da cor, raça, time de futebol, religião e condição sexual, todos tem sua dignidade e suas razões. Por fim, gostaria que voce comentasse o que representa para você estar na capa de uma revista gay. Representa mais que um ponto positivo na minha carreira, aqui eu pude me expressar e revelar um pouco da minha trajetória, eu respeito e admiro o publico gay, todos são muito carinhosos comigo e dedico este ensaio a eles,e que a diversidade é muito importante e que somos todos seres humanos. Aimé é um presente, um orgulho em estar na capa na semana da parada gay obrigado Aimé. AIMÉ
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sunga acervo pessoal, casaco militar MARCELU FERRAZ; adereço de couro ALEX PALMA; corrente A MINHA AVÓ TINHA. 42 capa 42
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TELEFONE DE CONTATO: Empresário Jarbas - 7760-0986 ID: 85*233906 AGRADECIMENTOS: ARTEGRAFICADESIGN.COM.BR - (011) 6668-0844 ADEH OLIVEIRA / ROUPAS,ACESSORIOS - (011) 3331-9699 BONY GEORGEUS / PERSONAL BODYBUILDING - (011) 8582-8454 ALEXANDRE / PERSONAL FARMA - (011) 2950-5407 ERICRY´S FASHION HAIR STYLE - (011) 9856-1509 SMARKYM GYM ACADEMIA - (011) 2953-0371 STUDIO MARCIA VEIGA - (011) 2972-0212 CLINICA ODONTOLÓGICA CRISTINA - (011) 2994-0346
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olhares Entre e ideias Por Gustavo Padovani
A mente inquieta, as fotos polêmicas e os milhares de projetos do homem-multimídia: Pedro Stephan
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e moral, criado por “Xô Coió”: panfleto contra a violência física Pedro Stephan em 1997
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om uma série de trabalhos como jornalista e fotógrafo reconhecidos mundialmente, é difícil falar da imprensa especializada gay sem citar o nome de Pedro Stephan. Seu extenso portfolio inclui ensaios fotográficos para a revista francesa Tetu Magazine (editada pelo grupo Yves Saint Laurent), as alemãs AK Magazine e Du und Ich, as americanas Circuit Noise e La Vida, matérias para websites do exterior como Portugal Gay, Windy City e Mannsbildner. Ao conhecer a variedade do seu trabalho e sua trajetória, fica claro que se trata de uma pessoa múltipla: além do jornalista e fotógrafo, há em Pedro Stephan, um artista e um militante. Mas como todo indivíduo que realiza um trabalho de qualidade, suas atividades dialogam entre si, exibindo uma coerência contundente, advinda da vontade de colaborar para um mundo mais justo e humano para todos os cidadãos LGBTT. Em 1997, no mesmo ano em que realizou sua primeira exposição de fotos Pra Ver a Banda Passar (sobre as bandas gays Banda de Ipanema e Banda da Carmem Miranda no carnaval carioca), ele também lançava o “Xô Coió”, o primeiro panfleto antiviolência homofóbica do Estado do Rio de Janeiro. Essa atuação em diferentes áreas, logo no início de sua carreira, seria uma marca registrada para seus projetos futuros. Sempre preocupado com as questões referentes às temáticas LGBTT, seus trabalhos artísticos refletem a urgência de registrar as mais diversas comunidades homossexuais para desmistificar os estigmas e estereótipos construídos acerca do universo gay. Depois de receber elogios de Pedro Meyer, ex-curador de um dos principais museus de fotografia no mundo, o Eastman House (nos EUA), ele lançou a exposição Entre Amigos e Amores (2007). Utilizando o Rio de Janeiro como cenário, essa mostra tornou-se sua principal obra, obtendo uma repercussão que o lançou como um dos grandes artistas a refletir a comunidade homossexual brasileira na época pós-aids e levou suas exposições a cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Berlim e Madri. Como ressalta o curador dessa obra de Pedro Stephan , Andreas Valentim, “a delicadeza de sua câmera e de sua poesia são, na realidade, a textura densa dos contextos desses encontros entre amigos e amores do subúrbio à zona sul.”
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oal Pedro Fotos: Arquivo Pess
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Casal com roda gigante atrás: a foto do casal em parque de diversões tornou-se cartaz de divulgação da Parada Gay 2004;
Mulheres se beijando: o beijo na Parada Gay carioca figura entre as obras de Entre Amigos e Amores;
Nando Ferreira: o excêntrico
cabeleireiro carioca Nando
Ferreira nas lentes de Pedro Step
Roqueiros e roqueiras: as diversas tribos e ambientes gays são retratados pelas
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lentes de Pedro Stephan;
Luana, a rainha da Lapa: o ensaio Luana, a Rainha da Lapa (publicado na revista Global Brasil) teve impacto ao retratar o universo de uma travesti nas ruas cariocas; AIMÉ
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Com um olhar crítico e engajado, sem nunca deixar de ser simpático, Stephan nos conta sobre sua trajetória pessoal, a atuação como militante da causa gay, suas influências artísticas e as dificuldades de uma carreira artística marcada pela determinação.
Muita coisa mudou em relação a isso, mas ainda temos uma longa estrada pela frente na construção da nossa cidadania. E é importante lembrar: todas as conquistas não são eternas, para que elas permaneçam temos que continuar zelando por elas.
Em um de seus discursos, Che Guevara declarou que “o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor”. A sua atuação como militante do movimento homossexual brasileiro também segue essa cartilha? O que motivou e ainda motiva a sua batalha? A luta do Che era pela justiça social, que naquela época se resumia à questão ricos x pobres. Mas a partir dos anos 60, surgiu uma terceira via nos movimentos sociais, com outras questões que não eram nem foram resolvidas pelo comunismo. Essas eram as questões de igualdade racial, do movimento de emancipação das mulheres, o gay lib, as questões ecológicas etc. Nós, homossexuais, passamos 2 mil anos sendo perseguidos, excluídos e assassinados por um preconceito criado por religiões que demonizam a nossa sexualidade. Mas ao contrário das outras minorias, nós temos que construir uma autoestima e consciência de classe a partir de nós próprios. Veja bem: um rapaz afrobrasileiro, tem os pais negros, os avós negros, uma cultura africana como legado e ele pode construir uma ancestralidade, uma autoestima e boa consciência das suas origens. O homossexual nasce num lar hétero, onde pais, avós, desejam que ele siga seus exemplos. Essa pessoa vive numa sociedade esmagadoramente “heterossexista”, que cultiva um ódio e um medo milenar contra os homossexuais. Eu passei por tudo isso, nasci numa outra época em que o sexo era fácil, mas a identidade homossexual e a cidadania eram zero. E eu fui pra militância porque queria viver em paz, sem ser discriminado. E apesar de muitas conquistas, enfrento diariamente situações de preconceito, discriminação e constrangimentos.
O que o motivou a criar o planfleto de orientação “Xô Coio” (o primeiro que explicava como reagir contra a violência homofóbica no Rio de Janeiro)? Eu estava num bar no Baixo Gay de Botafogo e, na saída, eu e um colega fomos cercados por uma gangue de uns nove lutadores. Eles bateram no meu amigo, mas conseguimos correr muito e escapamos. Eu tive que me jogar na frente de um ônibus que passava e, para não me atropelar, o ônibus parou e nós dois pulamos dentro. Aquela experiência mudou a minha vida. Foi um choque pra mim, pessoas que nem me conheciam, sem eu ter feito nada, haviam tentado me matar. Nós fizemos um grupo de três pessoas de dentro do Grupo Arco-Íris e uma comissão pra tratar disso, pois descobrimos que muitas pessoas já tinham sido arrebentadas. Dei uma queixa-crime na delegacia, uma raridade na época, porque nenhum gay entrava em delegacia pra reclamar de homofobia, pois de vítima ele virava réu, e isso só não aconteceu porque fui acompanhado de advogados. Então passei a ser investigado pela polícia e a sofrer ameaças. Todo dia, enquanto fazia o trajeto do edifício dos meus pais até minha casa a pé, um camburão me seguia. Eles passavam por mim e diziam: “Viado! Filho da puta! Tem que morrer!” Toda a semana meu carro aparecia com os pneus furados e, por fim, ele foi roubado às 7 horas da noite, a uma quadra de distância da delegacia.
Em 1997, você criou o primeiro panfleto de antiviolência homofóbica no Rio de Janeiro. Treze anos depois, quais diferenças você enxerga ao comparar as duas épocas e quais das intenções colocadas no documento realmente se concretizaram? Não existia nada: era cidadania zero e ser gay significava doença. No Brasil o pouco que havia sido construído nos anos 70, foi destruído pela epidemia da aids que, além de matar muitas pessoas da liderança gay, foi infelizmente a base e sustentação do neoconservadorismo e do fundamentalismo religioso que tomou conta do mundo. Não havia paradas gays com milhares de pessoas. O gay só aparecia na mídia como ridículo, covarde e estereotipado (isso ainda acontece, né?). Não havia políticas públicas, as autoridades ignoravam a militância gay, achavam que éramos umas bichas ridículas querendo aparecer. A polícia aplicava batidas em boates gays, e o pior de tudo: dentro do meio gay a solidariedade, a autoestima, a consciência política eram praticamente nulas. Se você fosse surrado no meio da rua, ninguém viria socorrer, e depois que você estivesse todo arrebentado, caído na calçada, os “colegas” ainda iriam rir e dizer: “Ih, bem-feito! Quem mandou não saber correr?”. O panfleto anti violência foi criado porque os LGBTTs não sabiam que homossexualidade não é crime no Brasil e que tinham direitos como cidadãos. 46
De que forma você conseguiu transformar essa experiência em beneficio para a causa LGBTT? Um fato absurdo mudou totalmente o desenrolar dos acontecimentos: um dia, um aluno da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro fez um site onde ensinava passo a passo como assassinar um gay no Brasil. Alguém lá da Europa leu aquilo e virou notícia internacional. A CNN Espanhola veio pro Rio fazer uma matéria e me procurou. Então, fui com eles no Baixo Gay de Botafogo, onde eles fizeram uma matéria de telejornalismo, na qual eu e muitas pessoas dávamos depoimentos sobre a violência ali e no Brasil. Aquilo passou nas televisões da Europa, Estados Unidos e América do Sul. No dia seguinte, quando voltei do mestrado pra casa, tinha umas 17 mensagens de tudo quanto era emissora do Brasil querendo entrevistas e informações. Aí emplacamos o “Xô Coió” na imprensa carioca e a opinião pública ficou a nosso favor pela primeira vez naqueles anos de aids e violência. Foi nesse contexto que fiz a minha primeira exposição de fotos (que foi a causa de tudo aquilo) e ela bombou. Aquilo tinha uma força imensa porque todas as coisas estavam misturadas: minhas fotos com temática gay, minha vida pessoal, a experiência brutal por que passei, o jornalismo e a militância. De alguma maneira, você acredita que a evolução das mídias (internet, televisão etc.) colabora para diminuir o preconceito da sociedade contra os cidadãos LGBTT? Posso dizer que a mídia eletrônica ajudou muito por um lado, mas fez um tremendo estrago por outro. Deixe-me explicar: quando eu era criança e
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comecei a descobrir que curtia garotos, eu me sentia o pior dos mortais, terrivelmente só. Não havia ninguém para me dizer que aquilo que eu ouvia em casa – sobre a homossexualidade ser um pecado e uma doença – era uma idiotice. Hoje em dia, tanto para os jovens quanto para os adultos que estão se descobrindo homossexuais, existe esta porta: a internet. Ela é realmente uma saída para a criação da consciência da orientação sexual e construção de uma boa autoestima. Mas infelizmente surgiu o lado ruim: antes, não havia um modelo de como ser homossexual, as pessoas podiam ser gays à sua maneira e de uma maneira brasileira. Mas esse espaço de liberdade criado e batalhado pela militância gay dentro da nossa sociedade, foi também ocupado pelo mercado, pelo empresariado gay, que em sua maioria não tem consciência política, estética e muito menos cultural. Copiaram e propagaram um modelo muito americanizado, “barbieficado”, burro, estereotipado e frívolo de estilo de vida gay. Quais são suas principais influências na arte fotográfica? Tenho muita influência das artes plásticas, principalmente dos surrealistas que deram uma bela contribuição ao usar a foto também como suporte pra criação das suas obras. Adoro Man Ray e Brassai. Como foi a concepção de Entre Amigos e Amores? Quase 100% do repertório de fotografia com temática homossexual, tanto no Brasil quanto no mundo, eram sobre homoerotismo. A sexualidade é questão básica na nossa vida e cidadania, logo, o erotismo torna-se fundamental na abordagem da homossexualidade nas artes. Por conhecer o repertório, eu sabia que havia um vazio na representação e na abordagem dessa temática. Numa matéria que eu fiz pra AK Magazine, eles pediram pra eu pôr o enfoque no comportamento e estilo de vida. No resultado final, entre centenas de fotos, eu ficava ligado em três fotos de três grupos de rapazes, de três classes sociais distintas, em três lugares gays diferentes. Aquilo não saía da minha cabeça. Pedro Meyer, um fotógrafo muito famoso e membro do conselho curatorial da Eastman House, viu meu portifolio e me convidou a expor no Zone Zero (um badalado website dedicado à foto contemporânea, criado pelo Meyer). Fui fazer um ou dois ensaios, mas eu pirei totalmente e acabei fazendo 17 ensaios, fotografando durante um ano. Foi mais uma guerra: entrar nos locais, fotografar ali, com conhecimento e consentimento das pessoas. Foi difícil tentar fazer fotos onde eu pudesse expressar a atmosfera dos lugares e as relações das pessoas, em ambientes com pouca luz e onde eu não poderia levar grande aparato fotográfico pra não espantar as pessoas. Eu nem sabia o que faria com aquelas fotos. Mas acabei expondo no FotoRio 2007 e até hoje a exposição continua viajando e sendo bem-sucedida. A única conclusão que tiro disso tudo é que quando as obras têm um significado identitário e uma emoção visceral, elas realmente possuem vigor. É por isso que estou aqui e faço fotografia, porque acredito no poder das imagens. Em entrevista para o programa Em Cena, você afirmou que um dos objetivos de Entre Amigos e Amores, um de seus trabalhos de maior repercussão na mídia, era retirar o estigma criado em cima do segmento homossexual e, como método temático/estético, “criar o espetáculo
Os homens múltiplos: o lendário cineasta, jornalista e escritor João Silvério Trevisan e o fotógrafo, jornalista e militante Pedro Stephan
em cima do antiespetáculo”. Você conseguiria dimensionar o impacto que sua exposição teve sobre esses objetivos? Nós vivemos na “sociedade do espetáculo” e há uma tendência na fotografia de se afirmar pelo espetaculoso. A maior provocação do Entre Amigos e Amores é que o grande público vai à exposição pra poder entrar como voyeur através daquelas imagens nos espaços gays e imagina descobrir coisas loucas e obscuras. Mas ao ver as imagens, há um choque ao descobrir que apesar das diferenças são pessoas como outras quaisquer: que bem poderiam ser seus pais, seus irmãos, seus filhos e seus avós. Durante décadas o que a grande imprensa sempre colocava nas fotos das matérias com temática gay era: o esquisito, o extravagante, o exótico e o patético. Mas eu segui o caminho diametralmente oposto. Isso tem um peso de humanização, que segue na contramão da demonização que os conservadores lançaram e lançam sobre a comunidade homossexual. Para o público gay a exposição tem o objetivo de fazer as pessoas se verem, pois vivemos numa sociedade esmagadoramente heterossexual em que o modelo é hétero e tudo o que vemos a nossa volta deve seguir esse padrão. E nós temos que nos ver, e de uma maneira positiva, pra criarmos no plano do simbólico uma boa autoimagem. A exposição também é para mostrar a diversidade e a pluralidade dentro da nossa própria comunidade. Nem todo mundo é Barbie e mora na zona sul. Um blogueiro disse, no seu texto sobre o evento, que minha exposição “parecia gritar: ‘nós somos muito diversos’”. Quais são seus os próximos projetos? Entre Amigos e Amores será apresentado em Madri agora em julho, no Festival Visible – um dos festivais LGBTT mais importantes da Europa. Minha exposição será individual, realizada numa galeria que pertence à Pós-Graduação da Faculdade de Belas Artes de Madri. Luana , Rainha da Lapa será apresentada no Festival de Turim, agora em setembro. É um festival badalado e importantíssimo de foto contemporânea. Não é um evento gay e eu fui escolhido em meio a vários artistas para participar desse festival. Meu grande projeto é fazer um ensaio sobre os espaços de socialização LGBTT do Brasil, realizado em pelo menos sete capitais do Brasil e em algumas cidades do interior onde a cultura gay é expressiva. Esse ensaio viraria uma exposição itinerante e seria editado em um livro. O momento em que vivemos, de construção da cidadania homossexual, é global e inédito em 2.000 anos de história. Então, além do valor artístico, é de uma grande importância registrar sob forma de imagens este momento histórico. AIMÉ
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Por Gustavo Padovani
Alair Gomes: o Narciso em P&B Fotos: Alair Gomes de Oliveira/ Imageshack
A paixão pelo cotidiano e pela forma masculina move a obra de um dos mais importantes fotógrafos brasileiros 48
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Forma e imponência: o corpo masculino em suas diversas representações é um dos temas centrais de sua obra
raia de Ipanema, sol de 40 graus. Nas areias escaldantes, dois rapazes fazem seus exercícios físicos rotineiros, revezando-se entre aquecimentos, flexões e abdominais com prancha. Concentrados em seus exercícios, eles sequer imaginam que seus movimentos banais estão se transformando em arte: a alguns metros da praia, na janela do sexto andar de um prédio, uma objetiva capta cada movimento executado pelos dois. Por trás das lentes, há um indivíduo culto, observador, usando a paisagem urbana e seus corpos para compor uma pequena parcela de um gigantesco acervo com mais de 170 mil negativos em preto e branco. Após tirar algumas dezenas de retratos, o fotógrafo Alair de Oliveira Gomes guarda sua máquina e desmonta o tripé que sustentava o equipamento. Depois de revelar essas imagens em tamanho pequeno, Gomes seleciona os enquadramentos de sua predileção, para que elas sigam uma sequência obrigatória e as organiza dentro de uma série de ensaios chamada Sonatina, Four Feet. Com esse procedimento, ele revela parte da beleza de seu trabalho, pois as simples atividades dos rapazes na praia, quando capturadas por seu olhar, tornam-se uma espécie de balé imaginário entre os dois, como se houvesse uma sincronia que dificilmente seria percebida a olho nu. Como observa Alexandre Santos, um dos maiores estudiosos do fotógrafo, no artigo “Duane Michals e Alair de Oliveira Gomes: documentos de si e escritas pessoais na arte contemporânea”, suas fotografias compõem “narrativas que ficcionalizam tanto a sua biografia quanto a dos seus fotografados”. Ainda mais interessante que todas as histórias que Alair criava para aqueles que preenchiam suas fotos, é a sua própria: o fotógrafo dedicou boa parte de sua vida a uma produção artística tão pessoal que poucas vezes ela chegou aos olhos do público. Mesmo com as raras exposições de suas obras, ele reconhecia a importância do seu trabalho e o encarava com uma dedicação pretensiosa. Não por acaso, após sua morte em 1992, suas obras foram (re)descobertas e a relevância de seu trabalho apenas aumenta à medida que o tempo passa. AIMÉ
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Um talento nos sítios de Burle Marx Alair de Oliveira Gomes nasceu no ano de 1921 em Valença, interior do Estado do Rio de Janeiro. Ainda na infância, sua família trocou o ambiente bucólico pela então capital brasileira. A vida urbana intensa somada ao mundo intelectual logo atraíram a atenção do futuro artista, mas simultaneamente ele também criara um interesse pelas ciências exatas. Em 1944, forma-se em Engenharia Civil e Elétrica na Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil no Rio de Janeiro. Durante o curso, Gomes funda com alguns amigos a revista literária Margog e passa a dedicar-se a estudos de arte, filosofia e religião. Imerso em leituras e ávido por conhecimentos das mais diversas áreas, Gomes abandona a carreira de engenheiro e seu emprego na Estrada de Ferro Central do Brasil, para dedicar-se exclusivamente à vida acadêmica, estudando questões ligadas à física moderna, lógica, fisiologia e biologia e integrando o corpo docente do Instituto de Biofísica do Rio de Janeiro. Por outro lado, o apreço pela literatura o levou , nas décadas de 1940 e 1950, à escrita intensa de dois diários intitulados Drôle de Foi (Estranha Fé, realizado entre 1942-47) e Erotic Journals (Diários Eróticos, feito na década de 1950). Nesses diários pessoais, Alair declarava uma de suas maiores paixões: ao relatar suas experiências amorosas, utilizava uma minuciosa descrição imagética, possibilitando em sua leitura a criação de uma série de fotografias mentais. Mas esse flerte com as imagens somente se concretizaria em 1965, quando durante uma viagem à Europa um amigo lhe emprestou uma câmera Leica. Encantado com o aparelho, ele comprou uma máquina fotográfica para si e retornou ao Brasil. Seus primeiros experimentos eram simples imagens co50
tidianas, mas a temática que tornaria seu trabalho singular já se mostrava presente: entre as fotos, muitas retratavam a beleza masculina contida entre os milhares de transeuntes. Entre 1968 e 1969, época em que Alair era professor universitário, o arquiteto e paisagista Burle Marx o contratou para fotografar as espécies botânicas contidas em seu sítio no interior do Rio de Janeiro. Marx pensava que não havia pessoa melhor para auxiliá-lo na tarefa, pois além de entender de física e biologia, Gomes tinha manejo com a câmera. Ao terminar o serviço, o fotógrafo e seus amigos ficaram encantados com o resultado, pois as fotos haviam revelado um poder artístico que ele tentava alcançar há muito tempo. Mas o arquiteto teve uma reação totalmente diferente: rejeitou o trabalho, justamente, por ser abstrato demais.
Jornada silenciosa A experiência com Burle Marx, o incentivo de colegas e a bagagem cultural adquirida aumentaram a confiança do carioca em seu trabalho artístico. Embora se declarasse um fotógrafo despretensioso, iniciou uma busca profunda para criar um estilo próprio. Para Alair Gomes, como observa Santos, as fotografias eram imagens que “buscavam conversar com magnitude de pintura, por ele considerada, naquele momento, a manifestação de arte mais nobre”. Foi então que o artista desenvolveu uma forma de organizar suas fotografias: em três grandes categorias: “Beach”, “Kids” e “Fragments from Opus”.
Dentro dos ensaios chamados “Kids”, Gomes trabalhou com um dos seus principais objetos de inspiração artística. Em estúdio, passou a tirar fotos de nu masculino – até então, inédito na fotografia brasileira –, procurando corpos bem definidos e explorando seus detalhes em primeiro plano. A preferência rígida por modelos de porte atlético deve-se a uma das grandes influências artísticas de Alair: a arte clássica greco-romana. “Tirar fotografias das esculturas do Partenon é, para mim, um ritual. Endereço-lhe uma prece: manter sempre uma chama em mim – não permitir nenhuma diminuição de minha capacidade de ver o sagrado e reconhecer a evidência do divino na carne mortal”, declarou o fotógrafo sobre suas fotos das esculturas do Museu do Louvre no texto (em inglês) que também deu nome a sua exposição póstuma: “A New Sentimental Journey”. Para retratar a temática do corpo masculino, entre 1966 e 1977, o fotógrafo realizou 1.767 imagens em uma subcategoria de “Kids”, chamada “Symphony of Erotic Icons”. Embora tenha realizado algumas exposições, principalmente na década de 1980, o acervo de “Symphony of Erotic Icons” foi mantido distante do público, apenas conhecido por algumas pessoas próximas ao artista. Alexandre Santos observa que, além de Alair viver no período de repressão da ditadura militar no Brasil, “ele mesmo tinha receio quanto à reação do público diante da obra. A sinfonia visual produzida pelo artista rompia com padrões morais arraigados de uma sociedade patriarcal, ao expor de forma direta
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Na série “Kids”, a arte greco-romana ganha uma nova significação nas lentes de Alair Gomes
a condição singular do seu desejo, cujos princípios se sustentam em tornar o corpo masculino nu um objeto de admiração, questão que até os dias de hoje permanece polêmica.” Na tentativa de construir um trabalho com carga erótica, de forma subjetiva e amena, Gomes passou a tirar fotos de homens que, por seu ângulo ou pela manipulação na montagem, remetiam sutilmente a essa ideia(como no caso dos dois esportistas na praia de Ipanema). Explicitando seus propósitos, no livro Alair de Oliveira Gomes: Dados Relevantes de sua Vida Intelectual (que contém anotações suas e foi lançado por sua irmã Aíla Gomes), Alair declara: “A totalidade redime o que, separadamente, pode ser considerado às vezes como de mau gosto. Por trás de toda obra há uma concepção de que toda arte tem uma origem erótica, que se libera.” No entanto, Gomes conheceu muito bem as problemáticas que suas obras poderiam causar. Em 1980, quando algumas sequências do ensaio A Window in Rio foram expostas no Shopping Cassino Atlântico, ele foi ameaçado com um revólver por um militar que era acionista do estabelecimento, sendo obrigado a retirar
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a exposição. Mesmo com simples imagens de homens e meninos caminhando pelas praias de Ipanema, algumas clicadas de seu próprio apartamento, seu trabalho foi vítima de um conservadorismo opressor. O episódio foi suficiente para que Alair mensurasse o impacto que suas fotos de nus masculinos teriam na sociedade – caso fossem lançadas naquele momento.
Tragédia e glória No começo da década de 1990, a série de fotografias Symphony of Erotic Icons tornou-se conhecida por Hervé Chandès, então diretor da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea de Paris. Além de adquirir parte do material, ele expôs a grandiosidade das obras em uma célebre declaração: “Em nus masculinos, não há nada hoje comparável no mundo da fotografia ao trabalho deste brasileiro.” A carreira de Alair, pela primeira vez, começava a ser reconhecida pelos trabalhos em que ele havia investido e se arriscado mais. Aos 71 anos, Gomes teve pouco tempo de desfrutar os louros do reconhecimento: em 1992, o artista foi assassinado por seu namorado no Rio de Janeiro. Mais do que criar retratos de seu tempo, como muitos de seus con-
temporâneos, Gomes criou uma obra atemporal a partir de suas predileções particulares. Como declara o francês Jean-Luc Monterosso, diretor da Maison Européenne de la Photographie em Paris, no texto inaugural sobre a mostra A New Sentimental Journey, Alair possuía uma “cosmovisão essencialista” em que o “ponto de partida é o Eros, entendido pelo autor como a essência, indistinta, do divino e do estético, e consubstanciada na imagem do corpo masculino”. A importância de sua obra é inegável. Ela é motivo de estudos acadêmicos, foi transformada no documentário A Morte do Narciso (dirigido por Luiz Carlos Lacerda, em 2003), tornou-se tema de exposições (como a realizada no Paço Imperial no Rio de Janeiro entre outubro e novembro do ano passado) e seu acervo está em propriedade do Museu de Arte Moderna e da Fundação Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. Alair deixou a vida de uma maneira bruta e súbita, semelhante a uma tragédia grega – universo a que ele tanto se afeiçoava e no qual buscava inspiração. Mas sua obra tornou-se eterna e, cada vez mais, adentra o Olimpo da fotografia. AIMÉ
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Por Mariana Tinêo
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Sexo sem idade Por André Ricardo
Imagine sua imagem retratada num quadro. Visualize os detalhes que o fazem singular, suas imperfeições assimétricas, o encontro dos lábios, o percurso da sobrancelha, até reconhecer-se por inteiro. Depois, deixe as marcas do tempo reforçarem seu peso sobre as pálpebras, a raiz dos cabelos, as laterais dos olhos…
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e esse exercício não lhe trouxe um terrível alerta sobre sua brevidade, é possível que você não viva o que muitos já chamaram de “síndrome de Dorian Gray”, ou apologia da juventude. Dorian, personagem de Oscar Wilde, se vê sentenciado pelas palavras de Lorde Henry, que curiosamente parecem ecoar no tempo em que vivemos: “Quando sua juventude se esvair, sua beleza irá com ela e você subitamente descobrirá que não há muitos triunfos que lhe restarão ou terá de se contentar com aqueles medíocres triunfos que a memória do seu passado tornará mais amargos do que as derrotas.” Sendo palavras que ditam a atualidade, o que pensam os chamados homossexuais da terceira idade que, remando contra a maré, ainda tentam manter uma vida sexual ativa. Jorge, sorocabano e paulistano de criação, é um senhor de 60 anos – a quem jamais se deve chamar assim, caso não se queira escutar: “Senhora é sua mãe” –, extremamente culto e descrente quanto a qualquer formalismo, ainda que assim se apresente. É capaz de elogiar Wilde e ao mesmo tempo zombar da “inocência exagerada” de Dorian Gray. Aliás, é provável que o gosto pela leitura seja uma das razões do seu vestir intrigante. Gravata borboleta combinando com a cartola também esverdeada, tão solenes quanto a bengala e os impecáveis sapatos, que ao mesmo tempo se contrapõem à armação moderna dos óculos. É inevitável, por segundos que seja, não fitá-lo com certa curiosidade. Irônico e provocador, não espanta que, em meio a tanta pompa, ele faça piada sobre seus quilos a mais e suas papadas. “Você veio para saber se estou feliz com a quebra da patente do Viagra?”, destila em tom sagaz enquanto me fita profundamente e sorri despudoradamente. “A comoção foi grande, as publicações, no entanto, fugazes e melindrosas. Alguém se arriscou a comentar das ‘bicha-velha’, e em como receberam a notícia?” Jorge é sem dúvida um homossexual que chama atenção pelo despojamento e alto grau de conhecimento, fruto tanto de sua extensa biblioteca, como da intensidade dos atos que permearam seus 60 anos de vida recém-completos. A postura intimidadora cede apenas no momento em que precisa falar da resistência que
sofreu nos tempos de adolescência, ao assumir-se “diferente da maioria, cheio de personalidade”. Ele hoje agradece ao apoio incondicional de sua mãe, sem o qual não resistiria. Quando o assunto é sexo, no entanto, ele não se esquiva. “Trepo muito, não perdi o fôlego, meu bem. Mas hoje em dia troco um bom livro por um homem razoável. E Viagra só em algumas circunstâncias. Eles usam mais, e eu os apoio.” Como e quando foi a última vez? “Não faz uma semana. Um rolo antigo que não me quer mais como namorado, mas vive tendo recaídas. Eu que não sou bobo caio junto.” Ricardo, tal como Jorge, também não disfarça sua opção sexual, mas o peso de um casamento e duas filhas talvez seja um dos motivos de sua discrição e meticulosidade com as palavras. Todos sabem e “respeitam muito” sua atual opção, florescida durante o casamento, mas só consumada após o divórcio. “Respeito muito minha ex-mulher e minhas filhas e não queria prejudicá-las. E nem me sinto enrustido, nem atrasado, por só agora aproveitar esse novo sentimento; muito pelo contrário.” Sua fala mansa e decidida atesta uma serenidade admirável para qualquer adolescente gay em crise consigo. Desde a separação há dez anos vem se relacionando com outros homens, e nos seus 62 bem cuidados, ou seja, “aparentando uns 50”, gosta de frequentar a noite paulistana, namora tanto jovens quanto maduros, e se diverte com a nova turma de amigos, com os quais mantém regular contato. Faz questão de frisar que não pertence ao grupo dos bears, apesar dos “quilinhos a mais”, da indefectível barba rala e dos pelos herdados da genética paternal. “Nada contra esse grupo, mas me vejo acima das classificações. Inclusive me parecem muito agressivos na cama, meu negócio é carinho e diversificar apenas nas posições”. “E já ficou com um bear?”, indago. “Conheci um cara legal, mas me espantei com as tatuagens e piercings. Na cama era tradicional como eu, e não precisei falar das minhas preferências. Aproveitamos bem, mas acho que sou conservador para tanta coisa dependurada no corpo.” Seus relatos se enquadram numa minoria cuja revelação da homossexualidade não foi evitada nem abafada, mas encarada AIMÉ
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com normalidade. Afinal, Jorge e Ricardo fazem parte de uma geração que presenciou, apenas em sua maioridade, a retirada da homossexualidade do quadro de doenças da Organização Mundial da Saúde, fato consumado nos idos de 1993. Suas posturas esclarecidas atestam aquilo que vários pesquisadores do tema vêm observando: “Encontramos menos autocrítica e problemas psicossomáticos, e um nível de bem-estar mais elevado entre os homossexuais na terceira idade, na medida em que se deram conta de sua orientação relativamente cedo, pertenceram a um grupo ou a uma comunidade de seus semelhantes, tiveram numerosos amigos e rejeitaram os estereótipos tradicionais concernentes à homossexualidade, diz John Alan Lee, citado no livro A experiência homossexual, de Marina Castañeda, Ao falar de sexo, Ricardo é sempre mais cauteloso, mantendo, a princípio, um discurso mais analítico, reduzindo sempre a importância do tema diante das outras prioridades do seu dia a dia. Com o tempo, no entanto, e a progressiva descontração de nosso bate-papo, acaba por desabafar: “É claro que continuo gostando [de sexo], e me sinto atraente para garotos e para os mais velhos também. Talvez se tivesse começado antes me sentiria envergonhado em fazer várias coisas na cama com outro homem. Graças a Deus, sei bem o que quero hoje”, sorri discretamente, num misto de satisfação pela autorrevelação com uma timidez de menino que se estende durante toda a nossa conversa. Talvez esteja aqui a maior similaridade entre os mundos tão distintos que separam Jorge e Ricardo. Seus estilos de vida opostos não impedem que ambos tirem a mesma conclusão: “Ser velho está na mente”, e ambos parecem confortáveis em seu corpo e mente para viverem uma vida sexual sem traumas, com os parceiros que se interessarem enquanto estão solteiros. Essa notável leveza parece intrínseca à sabedoria e ao grau de desapego comuns à terceira idade, uma vez que a vida se aproxima de seu inconteste fim, sobrando a certeza de que “só nos resta ceder às potências cegas do acaso que tudo regem na terra e nos céus, na vida dos deuses e na vida dos homens”, palavras do poeta Paulo Leminski que saem da boca de Jorge. Vale lembrar que não há um consenso quanto à classificação etária para terceira idade, porém, no caso do Brasil, um país em desenvolvimento, considera-se que estão nesse grupo aqueles com idade cronológica igual ou superior a 60 anos. São eles que compartilham do Estatuto do Idoso, Projeto de Lei nº 3.561 de 1997, aprovado só em 2003. A terceira idade no Brasil cresceu cerca de 11 vezes nos últimos 60 anos. Em 2050, estima-se que um em cada três brasileiros fará parte desse segmento da população, momento em que veremos se todas as lutas de inclusão foram efetivadas, se a magnitude da atual parada gay trouxe uma maior aceitação para as pessoas, e se a qualidade de vida dos idosos dentre a comunidade LGBTT, de fato, melhorou com toda a liberalização dos costumes nos dias de hoje. “Antigamente a repressão fazia com que até o gozo fosse 56
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punido. Percebia o ar de desapontamento dos meus parceiros em estarem ali. Fui gozar de verdade só depois dos 30, e após várias seções de análise. Hoje mandei os fantasmas embora, ou melhor, eles ainda rondam mas não atacam”, diverte-se Jorge. Evitando um discurso panfletário, mas a favor dos direitos dos homossexuais, Ricardo e Jorge se mostraram desconfortáveis com a ideia de levantarem uma “bandeira arco-íris”, alegando que se sentem cidadãos brasileiros, acima de qualquer segmentação. “É de fato impressionante o que Harvey Milk fez pelos direitos dos gays nos Estados Unidos, mas naquela época e naquele lugar, lutar fazia sentido. Hoje a fanfarrada engoliu as vozes relevantes”, sentencia Jorge. Para Ricardo, o quadro não se mostra tão pessimista, mas ele assume um certo medo de lutar abertamente pelos seus direitos: “Minha geração foi muito oprimida. Os jovens de hoje precisam entender que estão usufruindo de uma liberdade que passava longe de nossas portas. Eles têm mais força que a gente para se mostrar. Confesso que estou mais a fim de curtir meus anos de vida.” Com a deixa de Ricardo, arrisco: “E aproveita melhor com jovens ou maduros?”“No começo me sentia mais atraído pelos garotos, mas percebi que conseguia ter prazer mais prolongado com os maduros. A gente é mais experiente e menos afoito.” Ao ouvir as palavras que saem da boca deles, fica a impressão de que deveríamos dar mais atenção para essa fonte pouco escutada, cuja visão, ainda que fatigada, é inversamente mais perspicaz, capaz de nortear a comunidade gay rumo a um caminho menos ilusório e mais solidário. Quando volto a perguntar sobre suas experiências sexuais atuais, e se sentem vergonha de seu corpo, me surpreendo com suas respostas. “Não nego a existência da ‘ditadura da beleza’, à qual somos expostos diariamente, mas seria ingênuo culpá-la completamente pela atual fixação de padrões exigentes do belo, pois a história nos lega um constante fluxo desses ideais, variando conforme cada época, mas sem jamais extingui-los”, argumenta Jorge, que já na sequência quebra o tom didático e me faz esquecer sua idade. “A fruta aqui dá caldo, meu bem.” Ricardo não evita dizer que “apelaria, sim, para intervenções cirúrgicas”, mas sente toda “potência necessária para dar e receber prazer”. O medo que lhe resta de perder esse gás com o passar do tempo parece se aliviar com o “remedinho azul”. “Não usei ainda, mas algo me diz que ele baterá em minha porta algum dia.” Quando me despeço e agradeço pelos depoimentos corajosos, percebo a satisfação em ambos, explicitamente travestida em zombaria nas palavras de Jorge : “Não vai tirar foto do meu traseiro? [...] espero que entendam que nós temos coração, e pau também”, gargalha sem o menor constrangimento. Ricardo não perde seu tom formal e encantador: “Agradeço pelo interesse. [...] É bom mesmo esclarecer que a gente ainda se sente jovem para realizar nossas fantasias.” Ao que tudo indica, aqueles que evitam erguer barreiras e sabotar sua orientação sexual, usufruindo dos prazeres reivindicados pelo próprio corpo, envelhecem, sem dúvida, bem melhor.
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Edição: Nina Rahe
Elegância nos mínimos detalhes Luminárias que fazem a diferença A convite da diretora de criação da Dominici, Baba Vacaro, a designer e especialista em corseteria Marita de Dirceu emprestou à marca suas pesquisas e experiências em modelagem. Como resultado, está a criação da luminária Corset, uma extensão da corseteria-moda para o design da luz. Ela nasceu a partir de um corset eduardiano, um underwear datado de aproximadamente 1902, e reflete a mudança advinda no início do século 20, quando a veste feminina já havia perdido a forma ampulheta da era anterior com suas saias fartas e cintura de estruturas rígidas e buscava uma silhueta mais leve e delgada. A luminária foi construída com técnicas de corseteria e couture, buscando estrutura e volume próprios e a sua presença na decoração garante um ambiente moderno e diferenciado. Para quem deseja algo mais clean e elegante, outra opção é a luminária desenhada por Alfio Lisi: a primeira do designer, que tem se destacado na criação de móveis. Para uma iluminação geral indireta, utilizando a parede como refletor, a peça é composta de uma estrutura longa e delgada, fabricada em madeira natural, que acomoda uma lâmpada fluorescente (inclusa). Da caixa partem duas hastes: uma apoia-se no chão e a outra na parede. Simples, discreta, eficiente e muito charmosa, a peça foi selecionada como finalista no prêmio Casa Brasil em 2009. Preço sugerido: Pau de luz - R$ 2.965,00 e Corset - R$ 2.187,00 Mais informações: www.dominici.com.br Onde encontrar: SÃO PAULO Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1.768. Fone: (11) 3087-7788 D&D Shopping, piso térreo, loja 223. Fone: (11) 3043-9159 RIO DE JANEIRO Rua Alberto de Campos, 175, Ipanema. Fone: (21) 2267-8300 68
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Plasticidade e conforto A Dpot, marca especializada em design 100% nacional, lança uma criação exclusiva da designer Flavia Pagotti, intitulada Athos. A inspiração está na geometria dos azulejos do artista Athos Bulcão, responsável por grande parte dos painéis presentes em edifícios históricos de Brasília. As laterais da poltrona e também do elemento de apoio para os pés são baseadas nos segmentos de circunferência, tão presentes na obra do artista. Esse desenho garante, ao mesmo tempo, a plasticidade e o conforto das peças. A base giratória é de aço pintado e a concha estofada é feita de compensado curvado. O tecido que reveste a peça é da marca Vitrine by Casa Fortaleza. Preço sugerido: R$ 6.540,00 Mais informações: www.dpot.com.br Onde encontrar: Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.250, São Paulo. Fone: (11) 3082-9513 D&D Shopping, piso térreo. Fone: (11) 3043-9159
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Por Adriano Zanni
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Um ex-pastor evangélico e uma travesti. Juntos, eles foram à luta, conheceram de perto o que é a dor de uma relação não compreendida por boa parte da sociedade e, apesar de não levantarem bandeira, consideram justa toda forma de amor
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ra um sábado de janeiro, por volta das 10 horas da noite, quando toquei o interfone do prédio de Adryella, na região da “Baixa Augusta”, na capital paulista. Ela não estava. Quem atendeu foi Eduardo, seu namorado. Muito simpático, me pediu que subisse. No apartamento, o jantar era preparado por amigos. Eduardo foi logo avisando: “Adryella foi ao cabeleireiro. Disse que gostaria de recebê-lo bonita, toda arrumada. Ela é muito vaidosa.” Por minutos, confesso que me questionei: o que estava fazendo ali, na casa de uma travesti, falando com seu namorado, em um ambiente cercado de mistérios, receios e muitos preconceitos, até mesmo da minha parte? Meus amigos, que sabiam do convite que havia recebido para jantar na residência oficial do casal, praticamente me tacharam de lunático. Ossos do ofício jornalístico. Pauta que há meses tentava tocar, mas nunca se desenrolara por completo. Então, aquela era a hora. Adryella chegou. Doce, devidamente trajada, tímida, com tom moderado de voz, muito diferente de outras “amigas” do meio. Heranças talvez da educação que recebeu de seus pais e dos tempos em que Eriton Moreira Rocha (seu nome na certidão de nascimento), único gay de uma família com cinco filhos, morava em Maceió (AL) e precisava desviar de comentários homofóbicos de vizinhos e chefes de trabalho. Olhar cabisbaixo de quem não gosta de se expressar com o nariz empinado, assim permaneceu durante as três horas de minha visita. Contei nos dedos de uma mão as vezes em que falara comigo olhando diretamente nos meus olhos. Eduardo é o expansivo do casal. E ele tem história pra contar. Um ex-pastor, com 25 anos, que está em seu segundo relacionamento amoroso com uma travesti, pretende ter filhos – consanguíneos, se possível – e cauterizou as feridas causadas pelo ciúme por conta da profissão da amada. Como na canção
de Lulu Santos, Eduardo e Adryella não pediram para nascer e também não nasceram para perder. Decidiram não sobrar de vítimas das circunstâncias.
Você é bem como eu, Conhece o que é ser assim “Sou filho único. Meus pais são católicos, bem atuantes. Fui criado com base nas doutrinas da religião. Tive uma infância saudável. Pai engenheiro, mãe fisioterapeuta, mas que seguiu os rumos de dona de casa, pois queria ter filhos. Teve apenas um, aos 39 anos, gravidez considerada de risco. Na adolescência, brincava muito com amigos, mas nunca tive o desejo apertado por alguém do mesmo sexo. Pelo contrário, tinha nojo quando via um gay na rua. Aos 15 anos, decidi me tornar evangélico. Tinha muitos amigos que pertenciam à igreja e todos me incentivaram. Para minha mãe, aquilo era o caos. Jamais ela aceitou. Esse foi o grande e único motivo das minhas desavenças com eles, dentro de casa. Quase servi o Exército, escapei por pouco. Aí decidi mergulhar de vez na religião.”
Só que dessa história Ninguém sabe o fim “Foi quando entrei para o seminário, estudei para tornar-me pastor. Consegui. Em apenas um ano já estava realizando cultos e trabalhando junto à comunidade em uma igreja neopentecostal. Naquela época, cheguei a namorar meia dúzia de garotas, mas nada sério. Com exceção da última, que foi minha noiva, e que namorei por quatro anos. Por conta da igreja, tive meu primeiro contato mais próximo com o meio gay. Foi quando estávamos realizando um trabalho de evangelização no sambódromo de São Paulo, justamente na época de carnaval. Avistei uma travesti, chorando na beira da calçada. Havia apanhado do marido e estava desnorteada. Convidei-a para frequentar o culto no outro dia. Ela topou e foi comigo. Quando cheguei com ela à igreja, fomos automaticamente excluídos da roda, parecia que havia caído AIMÉ
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uma bomba radioativa sobre nossas cabeças. Todos se afastaram e não entenderam o porquê do convite que eu havia feito. Ali, minha percepção acerca da religião começou a mudar. Meses depois, me afastei daquela igreja e passei a frequentar outra, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Perto dela havia uma rua onde diversas travestis faziam ponto, se prostituíam. Aquela primeira que encontrei nunca mais vi. Comecei a observar o mundo delas, depois a aparência e aquilo começou a me atrair. Foram nove meses tomando coragem até o primeiro programa ou contato mais íntimo. Era o estopim de tudo. Deixei de achá-las uma aberração para considerá-las vaidosas, bonitas. Os gays e lésbicas ainda me chocavam. O pessoal da igreja não sabia de nada, preservei a todos. Muito menos meus pais e amigos. Jamais entenderiam.”
Você não leva pra casa E só traz o que quer “O primeiro programa foi rápido, impessoal, frio. Eu tinha receio de ser assaltado, confundido com marginal por andar com uma travesti dentro do carro. É assim que muitos as enxergam até hoje e com certa razão até. A maioria que faz programa também rouba. Foram cinco ou seis encontros que sempre me renderam elogios. Todas me achavam bonito, sobretudo porque as satisfazia na cama de modo bem diferente da maioria dos clientes. Com mulher, eu estava cansado de tomar alguns foras. Me achava feio, era inseguro diante do sexo feminino. Com as travestis, o sexo era mais quente e eu me senti hipervalorizado. O mais interessante é que nunca havia saído com prostitutas, nunca precisei disso. Certo dia, passeando pela rua com meu carro, deparei-me com uma travesti pedindo carona que, semanas depois, se tornaria minha primeira namorada e com a qual convivi durante quatro longos e difíceis anos. Tudo foi um aprendizado. Ela não queria viver um relacionamento às escondidas, dizia-me que queria ser minha namorada do lado de fora do carro também. Eu relutava. Ela fazia programas com outros caras e isso me deixava enfurecido, ciumento. Sofri. Mas, ela me fez entender muita coisa e aceitar minha orientação.” 82
Eu sou teu homem Você é minha mulher “Hoje, vivo com a Adryella. Convivemos muito bem, tenho uma mentalidade mais avançada. Se no Registro de Identidade tivesse que definir minha orientação sexual, escreveria: “sou um heterossexual de mente aberta”, afinal, vejo-a como uma mulher. Não sinto atração por uma pessoa com aparência masculina, do mesmo “sexo” que eu, esteticamente falando. Ela ainda sofre um pouco com isso, pois tem horas que minha cabeça dá um nó. Ela também precisa sentir prazer físico na relação e temos trabalhado esse aspecto. Apesar das dificuldades que a sociedade nos impõe, ainda quero ter filhos e progredir mais na minha profissão de fotógrafo ao lado dela. E quero um filho com meu sangue, via inseminação artificial. É algo que pretendo dar a meus pais antes de eles falecerem. A Dry sabe sobre isso e respeita, mas teme que eventualmente eu me apaixone pela mãe biológica da criança. Sem chance, digo a ela sempre.”
Eu tô plugado na vida Eu tô curando a ferida “O difícil ainda hoje é conviver com o universo de prostituição ao qual minha namorada pertence. Não lido bem com isto: chegar ao apartamento dela e me deparar com um rapaz descendo do elevador. Mas, infelizmente, é ainda a única opção que a sociedade oferece a ela para sobreviver. Nunca fiz programa e não conseguiria fazer. Mas, eu entendo a atitude dela. Tive que passar por um processo de cauterização para agir assim, fechar as feridas, criar armaduras. Minha família não sabe de mim. A mãe desconfia, mas prefere não tocar no assunto, pois vê a felicidade estampada nos meus olhos. Quando meus pais conheceram minha primeira namorada, acreditaram que ela era mulher. Assim como aconteceu com a Adryella nas festas desse último réveillon. Daqui a dez anos, quero estar casado, ter um filho, com a ‘esposa’ em casa, sem ter que fazer programas. Enfim, quero ter saúde para aproveitar a vida e desenvolver minha carreira. Ter ainda mais liberdade que possuo neste momento para exercer o amor, justo e verdadeiro, independente de suas formas.”
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[gastronomia]
Harmonização de vinhos: a arte de combinar sabores Por Mariana Tinêo
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Os vinhos são bebidas mágicas. Opções para qualquer ocasião. Basta pensar em sabor e prazer e a ideia de um bom vinho vem logo à mente. No caso de compartilhar companhias e afetos, então, não tem nada que possa ser comparado a uma taça de vinho servida por quem se quer bem ou para quem se quer bem. Romance, amizade, paquera, desabafo, comemoração ou só para relaxar, o vinho é sempre a bebida de escolha. E sendo assim, nada mais natural do que adequar o que se quer beber ao que será servido, harmonizando as sensações
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uando falamos de vinhos e comida, o verbo harmonizar assume necessariamente o significado da combinação de sabores, com a intenção de explorar ao máximo as possibilidades de apreciação da bebida e das iguarias, potencializando seus valores. A ideia da Enogastronomia, isto é, da harmonização, é fazer com que os vinhos e as comidas se fundam, se completem, se equilibrem. E, uma vez associados, ajustem possíveis falhas ou excessos sem, com isso, perderem suas identidades e peculiaridades”, explica Deise Novakoski, sommelière do restaurante Eça, no Rio de Janeiro, apresentadora do Programa Menu Confiança (no canal GNT) e membro da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS). De acordo com Deise, para aprender a harmonizar vinhos é necessário se preparar, estudar e experimentar para saber utilizar corretamente as informações. Ou seja, é preciso passar por um longo processo, mergulhar na alquimia da gastronomia e no conhecimento dos vinhos. “É fundamental realçar que ao fazer uma combinação com os vinhos não devemos apenas pensar no ingrediente principal do prato. Além do ingrediente principal, devemos levar em conta como foi o preparo do prato, qual a técnica culinária utilizada, quais os demais ingredientes que o compõem, as ervas ou especiarias, os tipos de molho e as guarnições servidas. Às vezes uma simples troca de molho exige uma harmonização diferente daquela que foi pensada a princípio”, esclarece. Nesse sentido, Deise comenta que é preciso considerar, no momento em que pensamos em qualquer tipo de harmonização, quatro sabores principais: o doce, o salgado, o amargo e o ácido. Segundo ela, na associação entre eles, o resultado obtido é o seguinte:
• • • •
O salgado reforça o amargo. O amargo reduz a acidez. O doce atenua os sabores ácidos, amargos e salgados. E o ácido, por sua vez, deve ser sempre igualado ou ecoado.
E para combinar, nada melhor que provar, experimentar. “Entre as combinações mais tradicionais, as regionais
são sempre inesquecíveis. Nada é tão esclarecedor no mundo das harmonizações quanto estar em uma determinada região desfrutando das comidas e dos vinhos do local, especialmente quando são indicações dos habitantes.” Além disso, Deise lista três harmonizações clássicas: • Sauternes com gorgonzola. • Vinho do Porto 10 anos com chocolate 70%. • Queijo de cabra com sauvignon blanc. Deise afirma ainda que os vinhos podem ser servidos sempre, em qualquer situação. “O vinho deve receber à mesa o mesmo tratamento que damos ao uso de perfumes, joias e acessórios em nosso vestuário. Quero dizer com isso que cada vinho tem o seu tempo.” E se você tem dúvida em relação a como servir o vinho, afinal, moramos num país de clima quente e tropical, Deise informa que a temperatura do vinho servido deve ser a recomendada pelo produtor – geralmente essa informação está no contrarrótulo das garrafas. Para quem gosta da ideia de aprender um pouco mais sobre harmonização, Deise recomenda a leitura do livro escrito por ela e pelo chef Renato Freire, Enogastronomia: a arte de harmonizar cardápios e vinhos, da editora Senac Nacional, 2005. “Nele desenvolvemos vários cardápios temáticos, agrupados por temas. Datas tradicionais: Páscoa; Natal e réveillon. Celebrações especiais: casamento. Cardápios para lugares especiais: fazenda; jardim; piscina; praia; barco e piquenique e outras festas: carnaval, junina e dia dos namorados”, conta. Outra oportunidade de aprender mais sobre a harmonização de vinhos e pratos é fazer um ou vários cursos na Associação Brasileira de Sommeliers. Na unidade do Rio de Janeiro (www.abs-rio.com.br), por exemplo, além dos cursos de degustação e conhecimento de vinhos, o curso de harmonização é constante na programação da entidade. Portanto, se você tiver o desejo de refinar o paladar e agradar ainda mais seus afetos e convidados, invista na Enogastronomia. Aprender é sempre bom, e experimentar expande a mente. Além de ser um exercício delicioso. AIMÉ
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[saĂşde]
Existe tratamento para Ainda de causa desconhecida, patologia atinge aproximadamente 7% dos homens
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a a doença de Peyronie? Eduardo B. Bertero*
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doença de Peyronie foi descrita por François Gigot de La Peyronie, cirurgião francês e médico do rei Luiz XV, em 1743, e caracteriza-se pela presença de placas fibróticas (formadas pelo aumento de fibras) na membrana que envolve testículos e corpos cavernosos, comprometendo a elasticidade do corpo cavernoso neste local, e promovendo dor e curvatura anormal do pênis quando em ereção, com prejuízo da penetração nas relações sexuais. De acordo com os dados disponíveis na literatura científica, várias causas já foram pressupostas para essa doença. Podem ser citadas as seguintes: fatores familiares e autoimunes, doenças fibromatosas e metabólicas. Atualmente se aponta como fator mais provável a ocorrência de traumas microvasculares no pênis durante a relação sexual, consequentes a traumas no pênis em ereção em indivíduos predispostos. Apresenta maior incidência entre a quarta e quinta década de vida. Considerada rara no passado, é atualmente mais frequente, talvez em função da maior divulgação da doença e de mudanças no comportamento sexual da população. Cerca de 6% a 7% dos homens sofrem desse mal.
Quadro clínico Inicialmente o paciente pode notar o aparecimento de dor e curvatura peniana durante a ereção. Ao palpar o órgão pode notar uma área endurecida no corpo do pênis. Geralmente o aparecimento desses sintomas é lento e gradativo. Início abrupto e de progressão rápida ocorre em menos de 20% dos casos. A doença é progressiva, regredindo espontaneamente em menos de 15% dos pacientes. A placa pode estar localizada em um pequeno segmento do corpo cavernoso como, também, comprometer várias partes ou toda a estrutura do pênis. Em função da dor e da curvatura pode haver prejuízo da atividade sexual. Curvaturas acentuadas podem impedir a penetração durante o coito. Quando o comprometimento dos corpos cavernosos é extenso, pode ocorrer disfunção erétil (impotência sexual).
de exames subsidiários, como radiografia simples do pênis, ultrassonografia e o teste de ereção, pode ser útil para se avaliar o grau de deformidade anatômica e na orientação e seguimento do tratamento. A história natural da doença de Peyronie demonstra existir pelo menos dois grupos de doentes: o primeiro é de início agudo, e se caracteriza pela dor à ereção, por placas palpáveis e, em alguns casos, por moderada deformidade peniana. Tais pacientes podem apresentar cura espontânea ou estabilização do quadro clínico. O segundo grupo é de curso mais lento e progressivo. Caracteriza-se pela acentuação da deformidade do pênis devido ao aumento da fibrose (que consiste no aumento de fibras) no corpo cavernoso, que ocasionalmente evolui com calcificação, isto é, depósito de cálcio que produz enrijecimento.
Tratamento Como é uma doença de causa desconhecida, não existe até hoje um tratamento clínico totalmente eficaz. Trabalhos científicos recentemente publicados têm preconizado o uso precoce de alguns medicamentos que podem deter a progressão da doença e algumas vezes promover a regressão das áreas de fibrose. Os medicamentos por via oral mais utilizados são a colchicina, a vitamina E, o tamoxifeno, a pentoxifilina e o paraminobenzoato de potássio. Existem também fármacos que podem ser injetados nas áreas de fibrose como o verapamil, a cortisona, a orgoteína e a colagenase. Já o tratamento cirúrgico pode ser orientado para duas finalidades: cirurgias que corrigem a curvatura e cirurgias que recuperam a ereção quando esta estava comprometida pela fibrose. A existência de várias opções de tratamento evidencia a falta de uma alternativa verdadeiramente eficiente no combate à doença de Peyronie. O tratamento cirúrgico justifica-se nos casos mais avançados com comprometimento da função sexual. Nos casos iniciais ou intermediários preconizam-se tentativas com o tratamento clínico (medicamentoso).
Diagnóstico É feito pelo histórico, exame físico com a palpação de placas fibróticas, frequentemente localizadas na porção superior e nos dois terços inferiores do pênis. A realização
*Fellow pela Universidade de Boston (EUA) e médico assistente do Departamento de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo AIMÉ
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[internacional] Especial Londres
Cinquentona e
Por Márcio Rodrigo Delgado
moderninha
Rua símbolo da moda comemora meio século atraindo nostálgicos e a nova geração
Se ruas tivessem família, Carnaby Street, no centro de Londres, poderia ser facilmente considerada a prima descolada da Oxford Street. Mas, apesar de estarem bem próximos geograficamente, décadas de cultura e história separam esses dois pontos comerciais da cidade
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É
que em pleno centro da cidade, entre a agitação de turistas da Oxford e as tradicionais grifes da Regent Street, uma rua conti� nua teimando em ser diferente das outras. E tem sido assim desde a década de 1960, quan� do jovens estilistas da época fizeram da área uma vitrine para oferecer suas criações revo� lucionárias, transformando a rua numa referência de moda, música e cultura que, não por acaso, atraía visitantes como Tom Jones, Paul McCartney e integrantes do grupo Rolling Stones, entre outros artistas.
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Este ano a Carnaby Street completa meio século de������ exis� tência e, para comemorar os seus 50 anos, uma série de eventos está movimentando o calendário londrino desde feve� reiro. De shows a exposições, a área promete trazer de volta um pouco dos velhos tempos, quan� do os aluguéis mais em conta atraíam uma variada seleção de jovens estilistas, incluindo algo pouco comum na época: espaço para as roupas masculinas. Um exemplo é a exposição Carnaby Street: 1960–2010, organizada pelas historiadoras de moda Judith Clark e Amy de la Haye em parceria com o London College of Fashion,
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que apresenta a evolução da moda através de uma linha do tempo em 3D. O título da ex� posição é também o nome do livro recém-lançado pela dupla, contando a trajetória do lugar desde o século 16.
Fazendo escola
Você provavelmente já deve ter entrado em uma loja de roupas – especialmente as localizadas dentro de shopping centers e destinadas para a faixa etária dos 20 e alguma coisa – e ouvido música alta e mais inte� ressante do que nas estações de rádio. Parece algo moderno, porque loja de roupa não é clube. Mas a ideia não é fruto
da geração MP3. Muito antes do Ipod, décadas atrás, as lojas da Carnaby Street já usavam a música como um diferencial para “animar” os clientes. Também deve muito à cinquentona Carnaby Street o visual de artistas que impõem o seu “próprio” estilo na mídia atual, como Lady Ga Ga e Katy Perry. “Próprio”, nesse contexto, vem entre aspas porque, mui� to antes de as cantoras terem nascido, o público que bada� lava na descolada rua londrina nos anos 1960 já abusava de perucas, cílios postiços, vesti� dos extravagantes e todos os demais acessórios que não têm nada de originais.
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Mother Mash
Não importa o quanto se saiba ou se pesquise sobre um lugar. A melhor forma de entender é visitando, de preferência com alguém do local e que saiba mais do que você. E foi isso que eu fiz, com a ajuda da inglesa Sarah Mole, que trabalha em um escritório de assessoria de imprensa localizado em plena Carnaby. Acostumada com o lugar, Mole, que parece uma versão jovem de Carrie Bradshaw, personagem da atriz Sarah Jessica Parker na série Sex and the City, percorre as lojas da rua como se estivesse no jardim da própria casa mostrando diferentes tipos de planta. Aproveitamos para almoçar no Mother Mash (26 Ganton Street, London, W1F 7QZ), um restaurante escondido em uma das ruas estreitas que cortam a Carnaby Street e que pode passar desapercebido aos desavisados. Olhando de fora, o local parecia incrivelmente pequeno e fiquei em dúvida se realmente tinha sido uma boa ideia aceitar fazer uma refeição em um lugar que atende pelo nome de “Purê Mãe”. Mas Sarah me garantiu que esse era um dos melhores locais para se comer uma torta inglesa e outros pratos típicos. Entrei, pois, no final das contas,
Piscinão
No verão de 2010, Londres vai comemorar a reabertura dos Marshall Street Public Ba� ths, um histórico conjunto de piscinas e banheiros públicos, paralelo à Carnaby Street, que foi construído em 1852 e que encerrou as suas atividades nos anos de 1990. “Por serem bem próximas do Soho, as piscinas eram conhecidas também como uma área onde gays se encon� travam e foram fechadas em 1997 por não atenderem às novas normas de segurança no local de trabalho”, explica Sarah. E continua: “Mas um projeto iniciado em 2008 restaurou o prédio, que nova� mente será aberto ao público. Agora ele ainda terá acade� mia e 52 apartamentos, dos quais 15 serão reservados para funcionários públicos que trabalham na região, e serão vendidos a preços menores do que os praticados pelo merca� do imobiliário.”
tenho que pelo menos tentar fazer parte da cultura britânica. O público, formado principalmente por jovens profissionais de moda e mídia, estava em plena hora de almoço. Por dentro o restaurante era bem maior e o serviço, rápido e acessível, com pratos a partir de 8 libras. “Apesar de a área ter evoluído e novas lojas mais comerciais terem se integrado ao projeto, 60% das 135 lojas localizadas na região que engloba a Carnaby Street são independentes, ou seja, não fazem parte de uma grande cadeia”, informa Sarah Mole, referindo-se ao conjunto de 12 pequenas ruas ao redor.
Preservar a história custa caro
Quando os Marshall Street Public Baths reabrirem as portas para a comunidade, em agosto, a reforma terá custado aos cofres públicos a “bagatela” de 25 mi� lhões de libras (R$ 70 milhões), o que certamente vai colocar esses banheiros e piscinas populares entre os mais caros de que se tem notícia ao redor do mundo. Fico imaginando quem serão os sortudos que terão o privi� légio de adquirir um desses ex� clusivíssimos 15 apartamentos a dois passos do Soho e quatro passinhos de Piccadilly Circus, o coração da capital inglesa, pa� gando menos do que a proprie� dade realmente vale. Mas isso não é importante porque, enquanto as piscinas não ficam prontas, as comemo� rações seguem a todo vapor na Carnaby Street, com o festival de música Summer of Love em junho e com um desfile de moda em setembro. Nostalgia e novas tendências vão estar de mãos dadas.
Márcio Rodrigo Delgado é jornalista e consultor de Marketing. Atualmente reside em Londres, de onde cobre eventos, como correspondente especial, para diversas revistas e escreve um blog “quase” diário. www.marciodelgado.com
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[turismo] Especial Reino Unido
Por Márcio Rodrigo Delgado* Fotos: Enrico Webers, Elena Z., Mark Brocklehust, Márcio Delgado e J. Coleman Agradecimentos especiais: Mark Coleman, Virgin Trains, Maleika Ellis, John Ryan
Um canal cheio de histórias De passagem pelo Reino Unido, não deixe de visitar Manchester, a cidade onde a cena gay nunca para
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heguei a Manchester em grande estilo: chuva e tombo no gelo! Isso foi em janeiro e, agora, enquanto você folheia essa revista, é bem provável que o tempo já tenha voltado ao normal e as pessoas estejam pelas ruas. Aliás, andar é a melhor opção para quem visita a cidade. Diferente de Londres, onde é preciso usar transporte público para se deslocar de um ponto a outro, em Manchester a maioria das atrações interessantes fica concentrada em uma mesma área, entre o centro comercial e o canal, e todos caminham para ir ao shopping, jantar, encontrar amigos ou namorar – se você for gay, inclusive, é bem provável que seu encontro ou namoro comece ou termine em algum ponto da Rua do Canal (Canal Street), que, como o próprio nome já diz, é uma rua à beira de um canal com um amontoado de bares LGBTT e simpatizantes. A rua tem a diversidade cultural de uma metrópole: jovens e adultos, recatados e exibidos, encontram-
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se para jogar conversa fora no final da tarde. E o movimento aumenta com o cair da noite, quando os homens e mulheres mais animados invadem a área para se juntar ao grupo e sacudir o esqueleto em um dos mais de 25 bares (para todos os gostos) que começam na Rua do Canal e se espalham pelo quarteirão inteiro ao redor com bandeiras coloridas. “Não tem como não achar a sua tribo nessa rua”, garante o guia turístico John Ryan. “Os grupos preferem se encontrar no Taurus, já os mais moderninhos e calmos no Velvet, e os mais góticos preferem o Via Fossa”, enumera Ryan. Foi de Manchester que saiu a primeira versão do seriado Queer as a Folk, de Russel T. Davies, contando os conflitos diários de três gays que viviam na cidade. A série depois ganharia uma versão americana repaginada – que foi exibida no Brasil – em que a Rua do Canal foi substituída por bares da Pensilvânia. Também de Manchester saíram as bandas Oasis, New Order, Simple Red e The Smiths.
New Union Quem visita Manchester não volta para casa sem ouvir falar no New Union, um bar de esquina que poderia ser confundido com qualquer outro estabelecimento comercial da cidade, não fosse a bandeira de arco-íris no topo e a bagagem, uma longa histó-
ria que se iniciou antes mesmo da Segunda Guerra Mundial. Considerado o local mais antigo da cidade onde a comunidade gay se encontra, o New Union perdeu a licença em 1965 e o proprietário ficou preso por um ano, acusado de promover a indecência pública. Entenda-se por “indecência pública” o fato de o estabelecimento ser dedicado ao público homossexual, que em meados da década de 60 era descrito como uma “anomalia” da sociedade. Muita coisa mudou de lá para cá e hoje o bar, situado em uma das esquinas do canal, virou atração para quem mora ou visita Manchester. “Este era o primeiro bar para o qual as pessoas vinham ao sair do armário, para tomar uma bebida e como uma espécie de revanche, já que os pais costumavam recomendar aos filhos para passar bem longe daqui”, relembra John Ryan. Essa mudança na cena gay de Manchester ganhou força em 1990 com a abertura do Mantos, um bar e restaurante que hoje parece sóbrio entre tantos outros estabelecimentos coloridos da região, mas que entrou para a história da cidade como o primeiro bar gay com janelas de vidro – e que não eram cobertas durante o horário de expediente. Antes disso, os estabelecimentos para o público homossexual eram discretamente vedados aos olhos
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de quem passasse na calçada. Nada de vitrines, janelas ou letreiros. De fato, a proposta servia aos dois lados: uma sociedade que não queria ver o que estava acontecendo atrás de portas fechadas, e um público que não queria ser visto para não ser alvo de discriminação. Os proprietários dos bares mais próximos torceram o nariz e apostaram que o empreendimento ousado não iria durar mais do que seis meses. Uma década depois, o Mantos continua firme e forte no mesmo endereço e outros bares removeram os tapumes. “Hoje até quem não é gay vem se divertir na Rua do Canal. Quase todos os dias um grupo de mulheres ou de amigos invade a rua fantasiado para celebrar um aniversário ou uma despedida de solteiro. Está
tudo integrado. Não tem mais separação”, acredita o guia turístico, que mora no local e está envolvido com o projeto de uma rádio comunitária para a comunidade gay, em Manchester.
Onde ir Vanilla – Para as meninas descoladas, que curtem, é claro, outras meninas. Company – Se você curte homens peludos, jaquetas e acessórios de couro, comece o seu passeio por aqui Churchils – Essential – Napoleon’s – Via Bar –
mesmo (www.companybarmanchester.co.uk). Que tal soltar a voz? Este bar tem karaoke e abre a semana inteira. Para quem prefere se divertir ao som de house e dance music, frequentado por um público mais jovem (www.essentialmanchester.com). Aberto na década de 70, hoje é parada obrigatória de gays e travestis, distribuindo charme e humor em três ambientes com DJs (www.napoleons.co.uk). Também conhecido como o premiado Via Fossa, como era anteriormente chamado, atrai público em massa nos finais de semana e tem a vantagem de ficar aberto até bem tarde (www.via-bar.co.uk)
Onde se hospedar Três opções, para diferentes bolsos: Baixo custo – A noite mais barata de Manchester é no Eazy Sleep, situado exatamente na Canal Street e com
Na média –
Fino trato –
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diárias a partir de £19. É fácil de encontrar: basta procurar pela pensão com porta cor de rosa. Mais detalhes: www.easysleep.net O Rembrandt Hotel, na esquina da Sackville Street com a Canal Street, tem diárias a partir de £35 – mas este preço vai ser mais caro se você estiver se hospedando em datas como Natal, Ano Novo ou a Manchester Pride. Mais detalhes: www.rembrandtmanchester.com Para quem não tem problemas em gastar um pouco mais e caprichar no estilo, o Malmaison é “o lugar” para ficar quando se vai a Manchester. Deco- rado em veludo vermelho e preto, tem academias, spa e restaurante e é o hotel que as celebridades costumam escolher quando estão em Manchester. A cantora Beyoncé está entre as clientes ilustres do Malmaison, que tem diárias a partir de £130. Mais detalhes: www.malmaison.com
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Manchester Pride Este ano a Gay Parade de Manchester vai acontecer de 20 a 30 de agosto e, a exemplo de anos anteriores, promete agitar a cidade, atraindo turistas de todos os cantos, já que essa data é pleno verão. O tema de 2010 é “Throught decades” (Através das Décadas). Para saber mais, visite: www.manchesterpride.com
Como chegar Para quem estiver em Londres, o mais prático é pegar um trem em Euston. A companhia Virgin tem opções a partir de £7. www.virgintrains.com
* Márcio Rodrigo Delgado é jornalista, consultor de marketing e atualmente reside em Londres, de onde cobre eventos como correspondente especial para revistas e escreve um blog “quase” diário. www.marciodelgado.com AIMÉ
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Thomaz Fotos: Marcio Amaral Stylist: Juliana Rossoni Direção Executiva: Gelbh
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calรงa jeans Diesel, cueca Calvin Klein, colar COHN para TUA LOJA, cinto acervo pessoal.
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Modelo: Thomaz de Oliveira (EG Models) Mak-up: Carlos PompÊio Assistente: Paula Silva AIMÉ
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[perdido e achado]
Daniel Guarda e a reinvenção do tempo
Foto e tratamento de imagem: Eduardo Lobo
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ideomaker, DJ, VJ e festeiro nas horas vagas, Daniel Guarda é daquelas pessoas que conseguem reinventar o tempo para se dedicar ao que gostam. Fã das imagens em movimento, ele não se cansa de procurar na sétima arte e na moda referências para o seu trabalho. Os resultados de tanta pesquisa podem ser encontrados nos vídeos que ele costuma projetar nas festas. Formado em Comunicação Social, Daniel já possui um currículo extenso, no qual consta cobertura ao vivo de eventos e assistência de direção, além de trabalhos de edição e montagem para a Editora Globo, Showlivre.com e canal Sesc TV. Também somam-se a tudo isso dois documentários curtametragens. O segundo, intitulado Id, competiu em festivais de cinema nas categorias de Melhor Filme de Ficção e Melhor Contribuição Artística e foi exibido em países da América Latina e Europa.
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TEM À SUA VOLTA MUITA GENTE AMADA. DEGUSTANDO OS CHOCOLATES SWEET BRAZIL
Al. Raja Gabaglia, 155 Vila Olímpia, São Paulo, SP Tel: +11 3842-0006 sweetbrazil@sweetbr.com.br www.sweetbrazilchocolates.com.br
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