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ANO II ¢ Nº 7 ¢ 2009
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Mitos e verdades sobre o mercado GLS
Saúde
Os perigos dos transtornos alimentares
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Fetiche: A anatomia do desejo
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Bolsas grandes e luxuosas para você desfilar por aí!
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Apertem os cintos!
Dicas úteis para enfrentar a crise
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C:\Documents and Settings\HUDSON CALASANS\Desktop\LOPSO\CAPA AIME\CAPA FINAL AZUL.cdr quinta-feira, 2 de abril de 2009 18:51:58
Linda e ensolarada
Miami Beach prepara-se para sua primeira parada gay
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[editorial ]
Ana Maria Sodré
Mudança é a palavra que melhor define esta edição de Aimé. Enquanto lá fora as notícias não são nada animadoras, aqui na redação o clima é de otimismo e celebração. Sabemos que para nos adaptarmos à realidade do mercado, além de uma boa dose de ousadia, precisamos também saber ouvir nosso melhor termômetro: você leitor. É por isso que a Aimé nº 7 vem cheia de novidades, a começar pela contratação do jornalista Paco Llistó, que assume a edição da nossa prestigiada revista. Com experiência na mídia gay, Paco procurou dar um novo olhar às nossas reportagens e, a partir de agora, mergulha em um grande desafio: fazer da Aimé uma revista comprometida com os anseios de seus leitores, sintonizada com as exigências do mercado e disposta a cumprir com seu real papel: o de fazer um jornalismo sério, de credibilidade, sem vaidades e sempre construtivo. Sei da responsabilidade que a Aimé tem com seus leitores e estou consciente da profunda confiança que eles depositam em nós. É por isso que esta edição está diferente das outras. Não conseguimos colocar em prática todas as ideias que tivemos para esta nova fase da revista, mas garantimos que elas se tornarão realidade ao longo das próximas edições. Já para fevereiro, a Aimé ganha dois novos colunistas: a ex-desembargadora
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Maria Berenice Dias, fiel defensora dos direitos LGBT no Brasil, e o experiente psicólogo Júlio César Nascimento, que passa a ser titular da seção “Mente Aberta”. Como nosso objetivo sempre foi privilegiar a diversidade, a Aimé estreia a seção “Plural”, que sem periodicidade fixa vai procurar trazer a opinião de mulheres inteligentes sobre o universo dos homens gays. A primeira coluna é assinada pela enérgica Laura Bacellar. Finalmente, nosso querido colaborador e colunista Joaquim Andrade relata como foi a experiência de ver, pelo telão, a posse do primeiro presidente negro dos EUA. O relato dele está em nossa última página, agora chamada de “Ponto Final”. Esta edição da Aimé traz também duas quentíssimas matérias sobre sexo, uma reportagem sobre a primeira parada gay de Miami Beach e as colunas sempre antenadas de PHP (Disco), Márcio Rodrigo Delgado (Internacional), Marco Tulio Neves (Arte), Vander Lins (Palcos e Palmas) e Joaquim Andrade (Around). Esperamos que você goste das mudanças e torcemos para que a criatividade, a ousadia, a verdade e o profissionalismo nos guiem em nossa jornada. Boa leitura! Ana Maria Sodré
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[expediente] ano II :: nº 7 :: 2009 Publisher: Ana Maria Sodré Diretora Geral: Fernanda Sodré Projeto Gráfico / Designers: André Teixeira, Fábio Albuquerque, Hudson Calasans e Luciana Sutil de Oliveira Editor: Paco Llistó (paco@revistaaime.com.br) Jornalista responsável: Joaquim Andrade - MTB 48.312 – SP. Reportagem: Camila Balthazar e Danilo Gonçalves Colaboradores: Adriano Zanni, Bruna Castro, Bruno Hanna, Ceci Leal, Ferdinando Martins, Joaquim Andrade, Júlio César Nascimento, Laura Bacellar, Léo Shehtman, Márcio Rodrigo Delgado, Maria Berenice Dias, Marco Túlio Neves, Natalia Barrenha, PHP, Stefan Vegel Filho, Vander Lins. Revisão: Isabel Gonzaga Tratamento de imagem: Wesley Alisson / Hype Fotografia Tratamento de imagem/capa: Ralph Lennerman Coordenadora de Publicidade: Cristiana Domingos Executivo de Contas: Estêvão Delgado (estevao@revistaaime.com.br) Assistente Comercial e de Marketing: Daniel Duracenko (daniel@revistaaime.com.br) Administração e Finanças: Fernanda Sodré Circulação e Assinatura: assinaturas@revistaaime.com.br - Tel. (11) 2714-5400 Distribuição em Bancas: Fernando Chinaglia Impressão:
As matérias assinadas não refletem a opinião da Revista Aimé. De acordo com a Resolução RDC Nº 102, de 30 de novembro de 2000, a Revista Aimé não se responsabiliza pelo formato ou conteúdo dos anúncios publicados. É proibida a reprodução parcial ou total da Aimé sem a devida autorização da Editora Lopso.
Aimé é uma publicação mensal da Editora Lopso Comunicação Ltda. – Calçada das Palmas, 20, 2º andar, Centro Comercial Alphaville, Barueri (SP), CEP 06453000 – Tel. (11) 2714-5400. Distribuidor exclusivo para todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A. ISSN: 1982-9558
Acesse o novo portal da Aimé:
www.revistaaime.com.br
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Variedades 14 Cultura 20
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Capa 44 Beleza 52
Entrevista 30 Saúde 54 Decor 36 Arte 38 Gastronomia 42
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Mente Aberta 56 Boys 58
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Sexo 64
Moda 78
Internacional 102
Atitude 68
Vitrine 86
Around 104
Plural 70
Ensaio 92
Turismo 108
Mundos Opostos 72
Mundo Digital 98
Perdido e Achado 110
Luxo de A a Z 74
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[ variedades ]
Prêmios GLAAD anunciam indicados Foram anunciados em janeiro os indicados à 20ª edição dos prêmios GLAAD, promovidos pela ONG Aliança contra a Difamação de Gays e Lésbicas, que se dedica a monitorar a mídia norte-americana. Este ano, destacamse filmes como Milk: A Voz da Igualdade, Vicky Cristina Barcelona, e séries como Brothers & Sisters, The L Word e Ugly Betty, além de talk shows, documentários e artistas do cinema e da TV. As cerimônias de premiação acontecem no dia 28 de março, em Nova York; no dia 19 de abril, em Los Angeles; e em San Francisco, em 9 de maio. Para saber mais, acesse www.glaad.org/ mediaawards.
Na cara Com o título In Yer Face (Na Sua Cara), será lançado em abril o novo livro do prestigiado artista espanhol Ismael Álvarez, conhecido por seu trabalho com influências homoeróticas. O livro traz 80 páginas com ilustrações coloridas, a maioria inéditas, cujo principal protagonista é o sêmen humano. Visite www.ismaelalvarez.com e saiba mais.
Retrô Se você foi criança na década de 80, deve se lembrar da Itubaína, refrigerante de guaraná que fazia sucesso em festas infantis. Para comemorar os 54 anos da marca, a Schincariol está lançando a Itubaína Retrô. A versão, apresentada em garrafa long neck de 355ml, traz imagens estilizadas da década de 50 em três diferentes rótulos colecionáveis – um foguete, um copo e uma garrafa. Para os nostálgicos de plantão...
Bandido excêntrico
Seu Jorge dá vida a um gay ninfomaníaco em Carmo, filme do diretor brasileiro radicado em Londres Murilo Pasta. Com previsão de estreia no Brasil em junho, o longa foi bem recebido no festival de Sundance, que rolou em janeiro.
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Pornô em 3-D:
breve nos cinemas Hong Kong está produzindo o primeiro filme pornô em 3-D. Filmado em chinês e com um orçamento de US$ 4 milhões, Sez and Zen promete cenas realistas e ângulos nunca antes vistos. Os atores são heterossexuais, mas alguém duvida que logo, logo as produtoras gays darão um jeito de investir na ideia?
Monólogo dos Passivos
Procura-se O iPrEx (iniciativa profilaxia pré-exposição), estudo anti-HIV que no Brasil está sendo realizado no Prédio dos Ambulatórios do Complexo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, está em busca de 200 voluntários na Grande São Paulo, entre gays, HsH (homens que fazem sexo com homens), travestis e mulheres transexuais e/ou seus respectivos parceiros sexuais (todos sendo HIV negativos), para descobrir se o uso diário de um medicamento pode complementar as estratégias de prevenção ao vírus. Saiba mais sobre o projeto e como participar no site www.iprex.org.br.
Quer servir de inspiração para uma peça de teatro? O ativista norte-americano Trevor Hoppe lançou no mês passado uma campanha no mínimo inusitada: está colhendo depoimentos de homens gays que se consideram passivos para escrever o texto do espetáculo Bottom Monologues (Monólogo dos Passivos). A inspiração, é claro, foi o sucesso Os Monólogos da Vagina, de autoria da norteamericana Eve Ensler e que aqui no Brasil foi adaptada por Miguel Falabella. Interessados devem responder um questionário que está disponível no endereço www. trevorhoppe.com/bottommonologues/.
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[ variedades ] Sem preconceito O ator Lázaro Ramos, defensor dos direitos dos negros no Brasil, também mostra que se preocupa com as questões LGBT. “Em um país tão diverso como o nosso, é inaceitável que não se respeitem as diferenças; algo que deveria ser natural. Infelizmente, no que se refere à homofobia no Brasil, penso que a lei deva agir em favor dos LGBT. Apóio a iniciativa do Grupo Arco-Íris de criar o site naohomofobia. com.br, por acreditar que o direito à humanidade nos pertence!”, diz o ator, que juntamente com outros famosos participou da campanha virtual lançada em 2008 pela ONG carioca e que tem como objetivo arrecadar assinaturas em prol da aprovação do projeto de lei complementar (PLC) nº 122/06, que criminaliza a homofobia. Saiba mais em www.naohomofobia.com.br.
O blog Made in Brazil, assinado pelo competente Juliano Corbetta, mudou de visual. O novo layout foi idealizado pela House of Pretty de Chicago, responsável também por todos os sites da Gawker Media (Gawker, Gizmodo, Jezebel) e da revista Radar. “A ideia era deixar o site mais clean e focar mais no conteúdo visual”, explica Juliano. Nessa nova versão do blog, o destaque é o Portfolio MIB, que vai servir como uma plataforma para fotógrafos brasileiros mostrarem seu trabalho. O primeiro modelo escolhido foi o deslumbrante Edilson Nascimento, que foi fotografado por Marcio del Nero. Mas as novidades não param por aí. “Haverá maior conteúdo em vídeos nos próximos meses, assim como dois podcasts exclusivos a cada mês, um produzido por mim e outro por diversos DJs brasileiros”, antecipa Juliano.
Marcio Del Nero
”(...) Para muitos homens - e sei disso porque sou culpado algumas vezes - quando você sabe que um gay está interessado em você, é uma das coisas mais lisonjeiras que existe”
o “bruxinho” Daniel Radcliffe, declarando em entrevista ao jornal The Sun que adora receber atenção de seus fãs gays.
“Adoraria ver Obama nu”
Alan Cumming, ator escocês e bi assumido, em entrevista à New York Magazine, sobre a vontade que tem de conhecer o tamanho do “documento” do novo presidente dos Estados Unidos.
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O que vai ser notícia: Madonna está de volta com sua turnê Sticky & Sweet
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Diva que é diva não descansa nunca. Madonna, que aterrissou no Brasil em dezembro, retoma sua turnê Sticky & Sweet, visitando cidades em que nunca esteve antes. O site oficial da cantora (www.madonna.com) já divulgou alguns desses destinos. A turnê começa em 4 de julho, em Londres, na Inglaterra, e segue em continente europeu pelo menos até o dia 11 de agosto, quando Madonna se apresenta em Copenhague, na Dinamarca. Antes disso, a diva visita o Leste Europeu, fazendo shows na Eslovênia e na Estônia.
É a primeira vez que estendo uma turnê. Estou muito feliz por voltar à estrada e visitar lugares onde nunca estive e voltar a outros que me encantam.
A Camargo Alfaiataria lançou no último dia 27 de janeiro sua coleção outono/inverno 2009. Sob o tema “O Guerreiro e o Executivo”, a coleção assinada pelo alfaiate João Camargo apresentou ternos com dois botões e lapelas mais longas, colarinhos menores, gravatas mais finas e corte slim. Desfilaram para a grife os belos Júlio Rocha, Luciano Szafir, Paulo Zulu e Rodrigo Faro.
R$ 264 mil
Números:
Camargo Alfaiataria
Madonna, em release enviado à imprensa.
é o total que o empresário Douglas Drummond investiu na construção da associação Casarão GLS, que deve ser inaugurada ainda no primeiro semestre de 2009 em São Paulo.
R$ 4,4 milhões é a verba que o Ministério da Saúde pretende disponibilizar este ano para tratar pacientes com HIV que sofrem de lipodistrofia.
Fotos: Divulgação/Reprodução
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[ variedades ]
Freedom on Board Texto: Redação
Primeiro cruzeiro totalmente gay do Brasil faz história e promete nova edição para 2010
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Freedom on Board, primeiro cruzeiro gay do Brasil que zarpou de Santos (SP) com destino a Florianópolis (SC) no último mês de fevereiro, foi marcado pela diversidade. Barbies, caricatas, maduros, fashionistas e até um experiente time de futebol, composto por frequentadores do clube paulistano ABC Bailão, divertiram-se
Fotos: Gilana Santana
no moderno Island Escape com a extensa programação preparada pelo assessor Valtinho Fragoso. O navio partiu do porto de Santos na sexta-feira (dia 6), chegando a Floripa no sábado pela manhã. Quem quis pegar uma praia foi de bote a Canasvieiras. Houve outros que arriscaram desfilar pela famosa Jurerê Internacional ou seguir até a Mole, que fica a 40 minutos dali. Mas metade do público continuou na piscina, bebendo e fervendo. No Deck 10, o som rolou full time à beira da piscina. Um dos destaques foi a cantora Amannda, que simplesmente arrasou nas performances. Com um figurino finíssimo e super segura, foi ovacionada a cada apresentação. As festas foram um show à parte. Chamaram a atenção dos marinheiros de primeira viagem as festas Revolution e White Party, de Rogério Figueiredo, esta última rolou do meio-dia do domingo até às 6h da manhã da segundafeira, finalizando o cruzeiro. No final da tarde, o povo resolveu vestir o branco e o visual ficou lindo... Democrático, o Freedom agradou também aqueles que não curtem música eletrônica, entre eles muitos casais de lésbicas, que aproveitaram para dançar ao som de MPB e samba no Lounge e de flashbacks no The Pub, o clube local. Outras atrações muito procuradas foram os musicais e o suntuoso cassino.
Ferveção No “cruzeiro das loucas” a descontração foi constante. Alguns momentos marcaram a festa, por exemplo, uma garota fazendo topless acompanhada de seu amigo de fio dental; três caras com enormes asas de anjo e que carregavam uma plaquinha no peito com a frase “US$ 10 a photo”; ou então o grupo de barbies com chapéus fazendo a linha perua. Faltaram drags, é verdade – a mais fervida era Salette Campari, que não parou de falar um minuto sequer. No quesito consumo, o público também não fez feio. Houve quem observou pencas e pencas de bees comprando tudo no free shop. Ao microfone, o DJ Mauro Borges não perdeu a piada: “Os héteros, quando vêm, compram Boticário e a gente compra Lancôme, meu bem!”. E foi assim, na maior energia, que o Freedom on Board contagiou a todos, sem exceção. A ideia deu tão certo que já está programada uma nova edição para 2010. Vai perder?
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[cultura ]
Música Avalanche de lançamentos Apesar da crise que assola a indústria fonográfica, a criatividade de artistas das mais variadas origens é a garantia de um 2009 incrível para o mundo da música Texto: PHP
O ano de 2009 começa com os rumores de uma crise financeira mundial sem precedentes. No universo da música, a crise já vem detonando as gravadoras e lojas tradicionais de CDs há mais de 10 anos, com a popularização do mp3 e os downloads gratuitos. Basta lembrar do fechamento das 89 lojas da rede Tower Records em 2006. Na loja de Picadilly Circus, em Londres, após o fechamento, provavelmente algum funcionário emocionado deixou um cartaz colado à porta onde se lia: “... é o fim do mundo... da forma como nós o conhecemos...” Amoeba, a loja de música mais bacana do planeta atualmente, situada em San Francisco, EUA, segundo quem esteve lá nos últimos tempos, já não tem mais os corredores lotados como antigamente e muitos funcionários passam o dia apenas conversando. Se para empresas a coisa é realmente muito séria, por outro lado, cada vez mais os artistas vêm encontrando formas de conseguir liquidez com downloads patrocinados, lançamentos alternativos e tantas outras formas de se vender música. Fato é que as crises não parecem fazer efeito na criatividade dos artistas. Cada vez mais se veem novos e antigos grupos lançando coisas deliciosas de se ouvir. As ondas das boas rádios inglesas foram invadidas por novas músicas de todas as vertentes, uma avalanche de lançamentos. O grupo francês de pop new wave Indochine, apesar de existir desde 1981, finalmente conseguiu pular a
muralha britânica com o single Little Dolls, cantado em francês e tocado em todas as partes. Não é pouca coisa, se pensarmos no bairrismo dos ingleses, que se recusam a ouvir qualquer coisa que não seja cantada em inglês. Ainda da França vem a cantora Diam´s, que na verdade nasceu no Chipre, mas vive em Paris. O inusitado é que ela canta hip hop em francês. Se os rappers norte-americanos já nos cansaram com suas joias, carrões e mulheres nos videoclipes, Diam´s faz o oposto no vídeo da ótima Jeune Demoiselle, onde o homem é tratado como um objeto. Vídeo à parte, a música tem um swing delicioso, um refrão pegajoso e é diversão garantida. Tem também o grupo de dreampop M83 com a espacial Kim and Jessie, música hipnótica no estilo shoegazer, aquele tipo de grupo que de tão tímido canta olhando para os pés. O vídeo é fofinho, nele duas garotas de roupinha rosa passeiam de patins, nada mais nonsense. Há ainda a dupla austríaca de smooth jazz Count Basic com No Visible Scars, Robyn com Handle Me, Kanye West com Heartless, o pop para domingo de manhã do Keane Spiralling e o remix de Coisas Que Eu Sei, da brasileira Danny Carlos, uma música que poderia estar em qualquer disco do Everything But The Girl. Enfim, as possibilidades são muitas e para quaisquer ocasiões e gostos. Se você é do tipo que não suporta a mesmice, o universo pop o brinda com uma avalanche de coisas novas, basta ter sensibilidade e se deixar surpreender.
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Enigma
Seven Lives Many Faces Dezoito anos após o lançamento de Sadness Part I, megassucesso mundial do Enigma, o grupo capitaneado por Michael Cretu está de volta com Seven Lives Many Faces, sétimo álbum da carreira. De lá pra cá muita coisa mudou. Enigma era o que seriam os monges beneditinos, caso o canto gregoriano fosse eletrônico. Eles cresceram, evoluíram e já sabem o que querem ser, algo próximo do que é o Massive Attack, já que é impossível ser como os magos do trip hop. É um bom caminho, as densas camadas de teclado cadenciado levam qualquer ouvinte a viagens, reflexões e, o melhor, à vontade de ouvir cada vez mais. O disco pode ser encontrado em duas versões, simples e duplo. São 12 faixas no simples e mais cinco no segundo CD. A capa é das mais belas que já se viram nos últimos tempos, com uma máscara que remete às tradicionais máscaras de carnaval de Veneza, só que feita no ano 2035.
Se você gosta de striptease e já se cansou de Slave to Love, do Bryan Ferry, ou You Can Leave Your Hat On, do Joe Cocker, seu mundo está salvo. Seven Lives, segunda música do disco, é um convite a despir-se. Sensual, etérea, parece provocar o olhar de quem escuta. Em La Puerta Del Cielo, aparece a influência de Ibiza, atual moradia de Michael Cretu. Uma celestial voz feminina canta sobre bases eletrônicas, em ibicencan, um dialeto catalão. Para quem não acreditava em renascimento, o novo Enigma é a prova de que se reinventar é sempre possível, e que a reinvenção a partir de algo que você já faz talvez seja o caminho mais curto para atingir o que se quer.
Morrissey
Years of Refusal
Sir Steven Patrick Morrissey, ou simplesmente Morrissey se você o considera íntimo, está de volta. O nono álbum da carreira solo chama-se Years of Refusal e traz 12 novas canções. “Thats How People Grow Up”, primeiro hit mostra um Morrissey mais feliz que o normal. E como todos sabem, o cantor é tratado pela imprensa como um depressivo, em função de suas letras carregadas de melancolia e desencontros homossexuais amorosos. Ouvindo faixas como “All You Need Is Me” e When I was Young”, percebe-se que por mais que como artista ele evolua musicalmente a cada disco, o coração permanece o mesmo, um homem que sofre - e como sofre. E a beleza da obra de Morrissey talvez esteja justamente no fato de ser uma pessoa tão singular. Claro que ao sair do seminal The Smiths, quando perdeu a
companhia de seu grande parceiro de composição, o guitarrista Johnny Marr, a musicalidade do artista passou a ser outra. E esse era o grande temor dos fãs. Mas Morrissey nunca deixou que ninguém sentisse saudades de sua antiga banda. “Years of Refusal” é uma dessas provas. A capa do disco é uma obra a parte. O cantor aparece com uma tatuagem artificial ininteligível no braço e segurando um bebê. A criança é filho de um assistente que trabalha em sua banda. Parece querer provocar e desafiar cada um de nós a fazer uma leitura da foto. Como o nome do disco é “Anos de Recusa” e ele que já passa dos 50 anos aparece com um bebê... bem, não vamos tirar o seu prazer de tirar suas próprias conclusões. Morrissey 2009 pode até ser uma continuação do último disco “Ringleader of The Tormentors”, de 2006, mas quem consegue resistir a ouvir novas canções na voz mais marcante do pop?
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[cultura ] Ana Cañas Amor e Caos
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Amor e Caos, álbum de estreia da paulistana Ana Cañas, é dessas obras que não se pode qualificar de MPB. Música brasileira sim, mas certamente não caberá ao disco o termo “popular”. E isso parece ter sido feito de propósito, já que a cantora, compositora de sete das dez faixas do CD, deixou bem longe qualquer preocupação com o sucesso comercial. Para quem acha que a música brasileira vive de Sangalos, Carolinas e afins, o caminho trilhado aqui é bem outro. Ana virou a esquina, desviou do mainstream para fazer parte de algo muito mais importante que a fama, a música de boa qualidade. Amor e Caos é um disco para ouvidos sensíveis e inteligentes.
Isso é demonstrado claramente na letra de A Ana, segunda música, que diz o tempo todo: “foi a Ana que fez, foi a Ana que foi, foi a Ana em fá”, uma pérola! De atmosfera com forte tendência ao jazz, voz poderosa e aveludada, num sincronismo impressionante com os músicos, Ana parece improvisar o tempo todo. Não improvisa, tudo é milimetricamente testado e aquilo que se treina muito acaba dando certo. Ao ouvir Devolve, Moço, grande hit do disco, a primeira coisa que se pensa é: como ninguém nunca fez algo assim antes? Letra singela de amor cantada com a classe que o amor merece. Pra se ter uma idéia, o percussionista Naná Vasconcelos
convidou-se pra tocar no disco após ouvir essa música. Ele aparece em Supermulher, regravação de Jorge Mautner. As duas outras canções que Ana não compôs são Rainy Day Women, de Bob Dylan, e Coração Vagabundo, de Caetano Veloso. Aliás, esqueça Caetano, a música está muito melhor na voz dela. Ao não fazer concessões comerciais nas composições, a cantora segue um caminho já trilhado por Fernanda Porto – que mescla MPB com eletrônica de forma brilhante –, ou seja, não venderá milhões de discos, mas certamente atrairá para seus shows apenas ouvidos exigentes. É disco para ouvir em casa pré-balada ou chill out e, se você optar por pré-balada, não será de se admirar que ao final do disco aperte o repeat e desista de sair.
Confira esse playlist na Rádio Circuito Mix: www.circuitomix.com.br/ revistaaime
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[cultura ] Joana Mattei
teatro Texto: Vander Lins
Querô – Uma Reportagem Maldita Um espetáculo como justa homenagem a Plínio Marcos, dramaturgo santista de sublime importância para o universo teatral, e que marca os 10 anos de sua morte. Jerônimo, sob a alcunha de Querô, é filho de Leda, prostituta do Cabaré Leite da Mulher Amada. É neste ambiente que o garoto cresce e vê sua mãe exercer o “ofício” e suicidar-se tomando querosene. Pobre e órfão, nosso herói enfrenta os desafios e não aceita mandos ou desmandos da polícia ou do tráfico, quer ser o dono do próprio destino. Múltiplos corpos e múltiplas formações dão o tom deste espetáculo, que conta com 39 atores, músicos e cantores se revezando no diversos papéis, de forma que temos sempre um novo espetáculo sob o olhar acusatório ou mesmo contestador de cada espectador.
ta portagem Maldi Querô – Uma Re Folias Local: Galpão do . 3 – Santa Cecília 21 , ra nt Rua Ana Ci 223 Tel: (11) 3361-2 h e aos a sábado às 21 a nt ui Horário: Q h. domingos às 20 utos. in m Duração: 95 /4 26 é at : Temporada
O espetáculo mostra ao espectador o ambiente interno de uma sala de Neuróticos Anônimos e como é possível aos freqüentadores falar abertamente do seu problema. No depoimento dos atores a peça utiliza-se do lema “só por hoje”, frase que é usada em todas as salas de apoio anônimas e que tem como objetivo mostrar ao frequentador como se deve resolver passo-a-passo o seu problema. Os atores pesquisaram nas salas de auto-ajuda, chegando a entrevistar frequentadores que relataram suas neuroses e experiências correlatas. Com um tom de comédia, cada depoimento do espetáculo trata de personagens com aspectos humanos diferenciados, como por exemplo, uma garota que tem compulsão por mentir, um hipocondríaco, um rapaz com tendência homicida, um bipolar, uma histérica, entre outros. A iluminação e trilha sonora são conduzidas em ritmo acelerado, como em um videoclipe, dando um tom nervoso à montagem. E o final do espetáculo revela ainda uma grata surpresa ao público.
Tacyana Kley
Neurótico
Neurótico s Insights Local: Spaço do Tel: (11) , 405 - Moema. Rua Pintassilgo 7600-2673 mingos s às 22h30 e do Horário: Sábado às 20h30. 21h e ço: sábados às A partir de mar h. domingos às 20 utos. in m 70 Duração: /5. 03 é at : Temporada
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Fun e glam Preparem as ombreiras e as perucas: B-52’s
Comunicação a uma Academia
faz show em terras brasileiras em abril Texto: Natalia Barrenha
Em Comunicação a uma Academia, um macaco relata à platéia como se tornou humano. Vigiado por um guarda armado, a criatura fala sobre o processo de transformação por meio do qual aprendeu a se comportar como um homem. O macaco relata sua história aos excelentíssimos senhores membros da Academia. Enfatiza que lutou para aprender a se comportar como um semelhante: aprendeu a apertar mãos, a fumar cachimbo (costume que caracteriza civilização), a beber aguardente, a falar (conquista suprema) e, por fim, a pensar como um humano. O macaco reflete e compara sua condição animalesca anterior com a atual humanidade conquistada – hesita, se contradiz, torna-se agressivo, sarcástico, niilista, arrogante, frágil, perplexo. Tornou-
se outra coisa – foi forçado a fazêlo, morreria se permanecesse ele mesmo, precisava tornar-se como os que o espreitavam do lado de fora da jaula. Agora não está mais preso – mas percebe que tampouco está livre. Afinal, tornou-se um homem, e aos homens (ele descobre) não cabe a liberdade. O espetáculo desenha o processo pelo qual alguém se torna “humano”. Isto é, o processo que leva um indivíduo (ou mesmo todo um povo) a abraçar voluntariamente uma idéia hegemônica relativa ao que é ser um ser humano, sob o risco de exclusão da comunidade global. Metáfora terrível de toda forma de condicionamento, colonialismo, adestramento e aculturação, o texto de Franz Kafka suscita a reflexão a respeito de questões urgentes e graves da era globalizada.
uma Academia Comunicação a trine prensa - Sala Vi Local: Teatro Im a. st Vi 0 - Bela Rua Jaceguai, 40 203 -4 41 Fone: (11) 32 artas às 21h. qu e as rç Horário: te inutos. Duração: 60 m 4/3 até é 20/5, sendo de at : Temporada de leite cial (uma lata 31/3 ingresso so em pó).
Em fevereiro de 2008, os norte-americanos do B-52’s lançaram, após 16 anos sem trabalhos novos (apesar de estarem na ativa nos palcos), o álbum Funplex. Agora, em abril de 2009, o grupo glam que foi uma das mais representativas bandas da new wave (estilo que era uma espécie mais comercial do rock’n’roll e que surgiu entre o fim dos anos 1970 e início dos 1980) e que tem mais de 30 anos de estrada vem ao Brasil para shows em três capitais: Rio de Janeiro (17/04, no Citibank Hall), São Paulo (18/04, no Credicard Hall) e Porto Alegre (20/04, no Teatro do Bourbon). O B-52’s surgiu em 1976 e começou tocando em casas noturnas, até que lançou seu álbum de estréia em 1979, o qual já trazia as características mais marcantes da banda: as perucas extravagantes das vocalistas Kate Pierson e Cindy Wilson, vocais estridentes, letras divertidas e vigor dançante, presentes, cinco álbuns depois, também em Funplex. O grupo já aterrissou no Brasil uma vez: no lendário Rock in Rio, em 1985, onde apareceu com seus penteados bizarros, roupas intensamente coloridas (como não poderia ser diferente, já que era a década de 1980) e instrumentos inusitados como pianinhos de brinquedo. A turnê 2009 (que passará também por Argentina e Peru) é para divulgar Funplex que, apesar de não ser o grande trabalho do quarteto, serviu de pontapé inicial para o resgate de sua carreira – e de sua sonoridade retrô que inegavelmente nunca perdeu o charme.
Joseph Cultice
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tela grande Festival de Berlim abre espaço para filmes com temática gay E participação brasileira em um dos maiores e mais importantes festivais de cinema do mundo já rendeu diversos prêmios Texto: Ceci Leal, de Berlim
Em fevereiro a capital alemã passa a ser a capital do cinema mundial: é o Festival de Berlim, que este ano realizou sua 59ª edição. Tapete vermelho, glamour e famosos fazem parte do pacote, mas o que torna o evento tão singular é o destaque oferecido a filmes com temática LGBT. O evento é um reflexo de Berlim que, após a queda do muro, tornou-se o principal polo da cultura marginal europeia. Portanto, o festival apresenta lado a lado produções “hollywoodianas“ com curtas-metragens “de garagem“. Nesse contexto, filmes como Tropa de Elite, de José Padilha, ganham espaço e são premiados com o Urso de Ouro. Depois de sua proeza ano passado, Padilha participou novamente nesta edição com seu novo documentário Garapa, desta vez na mostra não competitiva. O Brasil foi representado por apenas mais dois filmes. Foram eles: Vingança, de Paulo
Pons, e o curta-metragem Triangulum, coprodução Alemanha-Egito-Brasil, dirigido por Melissa Dullius e Gustavo Jahn. Um interessante diferencial do festival alemão em relação ao Oscar e Cannes, por exemplo, é o prêmio oferecido aos melhores filmes com temática gay. Trata-se do Teddy Award, batizado assim em alusão ao símbolo do Festival de Berlim. O prêmio é considerado uma das mais importantes competições do cinema queer. Ele foi criado para permitir que filmes com temas homossexuais tivessem mais alcance perante o público. A ideia surgiu no início dos anos 80,
encabeçada por Manfred Salzgeber, famoso por suas ações no circuito cinematográfico e por ser um grande ativista dos direitos gays. Mas a concretização do Teddy Award ocorreu apenas em 1987, quando Pedro Almodovar foi agraciado com a primeira estatueta do ursinho por sua obra A Lei do Desejo. Nessa época a premiação ainda não era considerada oficial. Só em 1992 ela passou a ser reconhecida e a fazer parte do Festival de Berlim. Em 2008, os brasileiros Café com Leite, de Daniel Ribeiro, e Tá, de Felipe Sholl, foram indicados para o prêmio de Melhor Curtametragem. Sholl acabou abocanhando o prêmio.
O Cinema Brasileiro no Festival de Berlim Apesar de pouco difundida, é antiga a presença do cinema brasileiro na história do festival. Com Sinhá Moça, em 1954, o Brasil inaugura sua participação. O diretor Tom Payne não levou o Urso de Ouro pelo filme, mas trouxe para casa o Prêmio Especial do Júri. Confira uma retrospectiva da participação brasileira: 1964 – Ruy Guerra ganha o Urso de Prata de Melhor Direção por seu filme Os Fuzis. 1973 – Toda Nudez Será Castigada garante o Urso de Prata de Melhor Direção a Arnaldo Jabor. 1979 – O Urso de Prata de Melhor Direção é dado a Nelson Xavier e Ruy Guerra pelo filme A Queda. 1983 – O Prêmio Especial do Júri vai para Pra Frente Brasil, de Roberto Farias. 1986 – A Hora da Estrela ganha o Urso de Prata de Melhor Atriz graças à atuação de Marcélia Cartaxo. 1987 – Ana Beatriz Nogueira consegue o Urso de Prata de Melhor Atriz, por sua atuação em Vera“. 1990 – Ilha das Flores, de Jorge Furtado, recebe o Urso de Prata - Prêmio Especial do Júri para Curtas-metragens. 1998 – Finalmente o nosso primeiro Urso de Ouro com Central do Brasil, de Walter Salles, além do Urso de Prata de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro por sua bela atuação no filme. 2008 – Tropa de Elite leva o segundo Urso de Ouro para o Brasil. Nesse ano também recebemos o Urso de Cristal de Melhor Curta-metragem da mostra Geração - 14 Plus por Café com Leite, de Daniel Ribeiro. Tá, de Felipe Sholl, é premiado com o Teddy Award e Mutum, de Sandra Kogut, recebe Menção Especial do Júri.
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Por que Milk? Com oito indicações ao Oscar, filme de Gus Van Sant já é um clássico da filmografia gay Texto: Ferdinando Martins
Até bem pouco tempo atrás, o grande filme gay hollywoodiano era, sem dúvida, Brokeback Mountain. Forte e surpreendente ao mostrar dois cowboys se beijando, o western de Ang Lee povoou a imaginação de muita gente. Pelo menos na tela, realizava-se o fetiche supremo da masculinidade máxima americana. John Wayne e suas mocinhas, quem diria, foram substituídos pelos gostosos Heath Ledger e Jake Gyllenhall. Como tudo passa e a indústria do cinema precisa de renovação constante, Brokeback Mountain já é passado. Agora, os gays de Hollywood tornaram-se mais políticos e militantes. Milk, de Gus Van Sant, com oito indicações ao Oscar, inclusive de melhor filme e melhor ator (Sean Penn), já tem seu lugar garantido entre os clássicos da filmografia gay. Qualquer opinião sobre Milk é polêmica. Se, de um lado, conta a trajetória política de Harvey Milk, de outro, oferece elementos para reflexões mais amplas sobre a homossexualidade, os relacionamentos amorosos, a amizade e a ética. Retrato de um momento pós-Stonewall, mas pré-paradas do orgulho LGBT e pré-aids, o filme adquire ares de documentário (um docudrama, talvez), ao pôr em tela a movimentação de Castro, em San Francisco, que se converteu na década de 1970 em polo homossexual famoso em todo o mundo. Primeiro político abertamente gay dos Estados Unidos, Harvey Milk fez uma história ímpar de mobilização social a favor da garantia de direitos para as chamadas minorias sexuais. Paciente, soube esperar seu eleitorado crescer, apesar de amargar três derrotas consecutivas. Humilde, não se julgava superior a outros gays por ocupar um cargo público ou aparecer na mídia. Sua estratégia era incluir qualquer iniciativa que pudesse contribuir para a causa. Privilegiando formas espontâneas de manifestação, agregava parceiros para seu trabalho. No filme, Harvey, ao contrário, aparece sempre no corpo a corpo: extrai das ruas seus apoiadores, convence pessoas reais a lutar pelos direitos, escuta com atenção um jovem cadeirante que liga para ele em um momento turbulento. Harvey volta-se para a política a partir de sua situação
stá em ldade e a e u g I a l. O film Voz d naciona r o o lh Milk: A it e u m c scar: em cir O z a is t o o r d ir a c e te lhor ro hador d foi gan an Penn) e me Black). e Lance ator (S (Dustin original
particular, por sentir em sua própria vida os efeitos do preconceito. Nesse sentido, Milk alterna bem os momentos em que mostra a vida pública e a privada. Tanto em uma como em outra, o que se vê é o pessoal converter-se em político e vice-versa. Milk merece ser visto por vários outros motivos. A reconstrução histórica é impecável, Sean Penn merece todos os prêmios, a trilha sonora já deixa saudades. Sem falar, é claro, no elenco de homens lindos: Emile Hirsch, Josh Brolin, Diego Luna, James Franco, entre outros. Mas é sobretudo por fazer pensar que se torna imperdível.
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livros
Da vida dos pássaros Inspirado por um filme intitulado Os Pássaros Vão Morrer no Peru, um jovem brasileiro viaja para Lima e lá passa a viver no limite. Paixões, drogas e a descoberta da bissexualidade têm como cenário a América do Sul reprimida pela ditadura da década de 1970. Da Vida dos Pássaros mergulha na paixão, na sexualidade e até na contravenção enquanto retrata o panorama político durante a vigência dos regimes ditatoriais do continente sulamericano.
Depois de Sábado à Noite Kiko Riaze navega pelo universo homoerótico de forma alegre e leve, e às vezes também um tanto crua e bastante explícita, para contar a história de Cadu, um jovem por volta de 30 anos, bonito, bem-resolvido profissionalmente, independente e homossexual. Em seu romance de estreia, o autor defende que é possível viver um grande amor num mundo em que o sexo se torna cada vez mais banalizado e as relações entre os indivíduos, cada vez mais superficiais. Autor: Kiko Riaze Editora: Fábrica de Leitura Nº de páginas: 256 Preço sugerido: R$ 31,90
Autor: Alexandre Ribondi Editora: Edições GLS Nº de páginas: 184 Preço sugerido: R$ 39,90
O mercado gls – Como obter sucesso no segmento de maior potencial na atualidade O Mercado GLS - Como obter sucesso no segmento de maior potencial na atualidade, de Franco Reinaudo e Laura Bacellar, é um convite para que empreendedores se arrisquem num mercado pouco conhecido e mal explorado, mas com enorme potencial de retorno. O livro explica as particularidades dos consumidores homossexuais, que têm mais renda disponível mas também são mais exigentes e cultos do que a média da população, são bem mais variados do que a mídia presume e têm extrema sensibilidade para com demonstrações de preconceitos declarados ou velados. A obra apresenta diretrizes para a criação de produtos e serviços específicos, para a comunicação eficiente com as minorias sexuais e para o atendimento realmente isento de discriminação, explicando por que tantas tentativas já feitas de consagração ao segmento não deram muito certo. Autores: Franco Reinaudo e Laura Bacellar Editora: Ideia & Ação / Matrix Nº de páginas: 208 Preço sugerido: R$ 29,90
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[entrevista ]
Fabio Mariano
O caminho para o
pote de ouro Especialista em comportamento do consumidor aponta mitos e verdades do mercado gay no Brasil
Texto: Paco Llistó
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arece existir um consenso geral de que o mercado gay brasileiro está em franca expansão. Se analisarmos friamente, isso é verdade. Nos últimos anos, várias iniciativas tiveram como foco o público LGBT. Destaque para as agências de turismo, mercado editorial e imobiliário e empresas do ramo da beleza e saúde. Mas essas mesmas iniciativas, quase sem explicação, foram simplesmente por água abaixo. O que poderia explicar esse insucesso? Na verdade, o chamado mercado do pink money, pelo menos no País, é repleto de mitos, muita força de vontade e pouco conhecimento. Acredita-se, por exemplo, que todo gay é da classe A e B, consumidor em potencial do tripé turismo/moda/beleza e, mais ainda, que ele é escolarizado e, por esse motivo, influente. Sem investir em pesquisas, a maioria das empresas aposta nessa equivocada generalização e, invariavelmente, vê seu negócio afundar. Na ânsia desmesurada pelo pote de ouro no final do arco-íris, os empresários desistem desse público, sem ao menos questionar por que seus negócios não deram certo. No ano passado, uma pesquisa realizada pela InSearch, empresa de tendências e estudos de mercado, derrubou muitos desses mitos e traçou um perfil mais realístico do consumidor gay brasileiro. Em entrevista exclusiva, o sociólogo e publicitário Fábio Mariano, especialista em comportamento do consumidor, comenta os resultados do estudo, aponta erros e acertos do mercado gay e faz um alerta: “Não existe mercado gay onde não há cidadania.”
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Me fale um pouco sobre a pesquisa. Ela foi encomendada por um grupo de cinco importantes empresas. Que objetivo elas tinham e como pretendiam utilizar os dados? Fábio Mariano - A pesquisa foi encomendada por cinco empresas, entre elas, nacionais e multinacionais. O objetivo era traçar uma primeira radiografia do gay masculino no Brasil, identificando as motivações, valores desse público, como também o comportamento de consumo e entender oportunidades de mercado junto a esse segmento.
É possível dizer que existe um mercado gay no Brasil? Como ele está formado hoje? Quais são suas especificidades? F.M. - Ainda não temos no Brasil um mercado gay. Temos um público gay que pode ser potencializado mercadologicamente. Esse público está crescendo. Com a conquista de direitos de cidadania e diversidade, o segmento gay mostra a cara, muito mais do que há cinco, dez anos. O mercado gay no Brasil é muito tímido, praticamente inexistente, restrito ao que chamamos de circuito gay: bares, casas noturnas, saunas dirigidas para esse público e só. Ainda falta muito. As empresas no Brasil não desenvolvem produtos com o objetivo de atingir o público gay. Já é hora de avançarmos para outras ferramentas de marketing, como a segmentação de mercado. É importante considerar o segmento gay, não como uma extensão de mercado para dar um pequeno incremento às vendas, mas sim como um público-alvo e, portanto, oferecer produtos, benefícios e estratégias próprias para atingir esse consumidor como acontece com outros segmentos. Mas para avançarmos no mercado é preciso avançar no reconhecimento e direitos da diversidade. Não existe mercado gay onde não há cidadania. Senão, o que existe é apenas um comércio de gueto, um mercado underground.
Quem é o consumidor gay brasileiro? O que ele busca? F.M. - O consumidor gay brasileiro é mais escolarizado quando comparamos com a popu31 AIMÉ
R$ 2.150,00 É a média da renda individual mensal dos 5.315 entrevistados na pesquisa
Antes de qualquer preconceito e ignorância, há ausência
têm formação superior (77% deles se concentram na área de Humanas)
22%
de informações e dados sobre o público gay brasileiro.
94% costumam ler revistas lação de homens héteros. Nessa primeira etapa de formação do mercado gay, esse consumidor busca por respeito e liberdade de expressão. Isto significa ter o direito de frequentar um mercado hétero expressando sua identidade gay, mas com a garantia de um tratamento igualitário: ser recebido com o namorado num hotel e poder pedir por um quarto de casal, frequentar bares ou restaurantes héteros com o parceiro etc. Mas há uma expectativa por produtos que sejam dirigidos e desenvolvidos para o consumidor gay. Isso é mais do que esperar por empresas que se dirijam para
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esse público, é ter a necessidade de produtos com características que atendam esse segmento: turismo, lazer, produtos bancários etc.
Por que tantas iniciativas para esse mercado simplesmente vão por água abaixo? F.M. - Iniciativas para esse público naufragam não porque são dirigidas para o segmento gay, mas porque não se adequam à competitividade do mercado: 95% dos lançamentos para o grande público, independentemente da orientação e identidade sexual, fracassam. Isso acontece por-
que o consumidor de qualquer classe, gênero, idade, orientação sexual está cada vez mais exigente, e a maior parte dos lançamentos não preveem os reais valores e motivações do consumidor. São produtos ou serviços lançados sob a perspectiva da empresa e, sendo assim, visando somente lucro e não a satisfação do consumidor e, consequentemente, têm a morte certa. Um erro muito comum que temos nas iniciativas no mercado gay brasileiro é superestimar esse público: considerar que o consumidor gay é mais exigente, culto, internacional que qualquer público. Isso não é verdade. O consumidor gay não vive só de consumo, beleza, lazer e cultura. Ao enxergar somente as oportunidades mercadológicas, as empresas deixam de ver esse consumidor como um ser humano. Outro problema é a ausência de estudos de mercado: a maioria das empresas que investem no público gay aposta no mito “pote de ouro no fim do arcoíris”, pensam num lucro fácil e não investem em pesquisas sobre o comportamento do consumidor. Por isso, aqui no Brasil falamos em mercado gay sem conhecer esse público, sem saber suas necessidades, desejos e motivações.
Que dados você destaca nessa pesquisa? A informação, por exemplo, de que 41% dos entrevistados têm parceiro fixo é muito importante para derrubar alguns mitos desse mercado. Com foco nesses resultados, que tipo de abordagem as empresas deveriam ter em mente? F.M. - Na pesquisa abordamos hábitos e comportamento de compra, mas também investigamos características de perfil desse público, porque acreditamos que antes de consumidor, estamos tratando com um ser humano. Vários dados de perfil quebram mitos sobre esse público, por exemplo, não é verdade que o público gay é composto por uma elite. É verdade que há uma proporção significativa de gays A/B, mas o mercado em geral exclui 61% dos gays que são das classes CDE, tomando como verdade que esse é um público de luxo. Quarenta e um porcento dos gays masculinos têm parceiro fixo, sendo que, entre esses, 13% estão num relacionamento há mais de quatro anos. Isso mostra a necessidade e urgência do reconhecimento da união civil, bem como produtos que garantam o consumo do casal. E ainda, 22% dos gays masculinos têm escolaridade superior.
Esse índice é bem maior que o da população. Esse dado revela muito da história social e política do gay no Brasil, como também do perfil de consumo. É um público que valoriza o ensino como forma de inserção social e até política. Por outro lado, tratase de um público escolarizado e com expectativas de consumo consequentemente diferentes.
Quais são os produtos mais indicados para a realidade atual do mercado LGBT brasileiro? F.M. - Os mais diversos produtos, pois o mercado é quase inexistente e temos muito a crescer: produtos bancários, planos de seguro, turismo especializado, restaurantes e bares, empreendimentos imobiliários, serviços domésticos, pet shops, veículos de comunicação, entre outros. Há muito o que explorar e que não seja só estética ou moda. Nesse sentido, o público gay brasileiro se assemelha no mercado ao segmento single.
Você defende a ideia da chamada “cauda longa”, argumentando que as empresas deveriam investir em produtos específicos, pensados e desenvolvidos exclusivamente para o segmento LGBT. Até que ponto elas estão empenhadas nisso? Já há alguma iniciativa nesse sentido? F.M. - Essa é uma ideia que irá orientar os negócios no século 21: atingir pequenos nichos e garantir uma boa lucratividade. Estamos falando então de empreendimentos que visam um número pequeno de consumidores, oferecem boas oportunidades de lucratividade baseada na fidelidade desse nicho. Por isso, são setores de alta competitividade mercadológica, ou seja, nada fácil, desafio total! É importante ter em mente que negócios voltados para o consumidor gay não devem ser dirigidos para uma massa, nem ter como expectativa uma economia de escala. Estamos falando de um segmento e, por isso, as empresas devem apostar em estratégias e ferramentas de segmento.
Por que há tanta resistência de empresas em anunciar em veículos gays? É puro preconceito ou ignorância? F.M. - Antes de qualquer preconceito e ignorância, há ausência de informações e dados sobre o público gay brasileiro. Logo, muitas empresas, acreditando no mito “gay culto e lindo”, apostam que atingem esse público através de outros veícu33 AIMÉ
41% têm parceiro fixo (é maior o número de gays masculinos com parceiros fixos nas classes AB e entre os que moram nas capitais) AIMÉ 34
entretenimento/e cultura do que o heterossexual masculino
Gastam 40% a mais com hábitos de lazer/
los de massa. Isso é parcialmente verdade, mas é importante lembrar que estamos no século da comunicação dirigida. Quando a empresa pensa em atingir o consumidor gay através da mídia de massa, ela não está falando com a identidade desse segmento e daí deixa de dar o seu recado e dialogar diretamente com o público gay. Por outro lado, há poucas mídias, veículos para atingir o consumidor gay masculino no Brasil. A Aimé é uma das poucas iniciativas que não se utilizam de conteúdo pornoerótico. Isso é importante porque muitas vezes o conteúdo que a empresa deseja comunicar nada tem a ver com abordagem pornoerótica e daí não temos um problema de preconceito, mas sim de ausência de veículos para o segmento gay. Mas, é claro, há também preconceito, fruto da falta de informação dos profissionais nas empresas. Isso é reflexo do ritmo lento das ações políticas de reconhecimento de cidadania e direitos do público gay no nosso País. Como eu disse, primeiro tem que ter direitos reconhecidos, respeito da sociedade para então haver mercado e ações das empresas
anunciantes. Afinal, o público gay não vive só de consumo, como qualquer outro público.
Um produto muito consumido aqui no Brasil são as telenovelas. Se há uma forte demanda por parte dos homossexuais, por que então as emissoras resistem em retratá-los fielmente? F.M. - As novelas são produzidas para um público de massa. O consumidor gay não representa mais que 15% da audiência. Ou seja, é minoria. Novela é entretenimento, mas no Brasil é o principal meio e produto de comunicação e acaba sendo espelho e projeção da nossa sociedade. Por isso, não se pode perder a oportunidade de utilizar esse veículo para abordar temas importantes. A abordagem do tema pelas novelas é tímida, como também são nossas ações políticas. É preciso deslocar essa cobrança também para outras emissoras, além da Rede Globo. Já passamos da época Will and Grace, em que o gay aparece sempre como uma figura assexuada, inofensiva e engraçada. Ainda temos muito a caminhar aqui no Brasil. Acho melhor corrermos e acelerarmos os passos...
O que difere o mercado gay brasileiro do restante do mundo? F.M. - Nos mercados europeu, australiano e norteamericano há maior investimento em pesquisas e estudos sobre o comportamento e valores do consumidor gay. Há também nesses mercados um número razoável de veículos dirigidos para o público gay: diferentes títulos de revistas, jornais, sites, programas de rádio, programas e emissoras de TV. Mas é importante destacar que esse mercado só acontece em locais nos quais a sociedade convive com os gays de forma harmoniosa e respeita seus direitos. Portanto, não estamos falando de todo os Estados Unidos, mas de alguns locais como San Francisco, Los Angeles, algumas regiões da Flórida, Nova York e outras áreas. Na Europa, também estamos falando de somente algumas áreas, em geral, as metrópoles e ainda há muito a crescer em regiões como Portugal, Itália e países do Leste Europeu.
Você defende também que o famoso tripé turismo/ cosméticos/moda, com produtos criados nessa área, não é mais a “galinha dos ovos de ouro” do mercado gay. Quais são as suas sugestões para mudar então esse “vício”? F.M. - Uma das ciladas ao tratar o mercado gay é pensar que esse segmento só consome turismo, beleza e moda. Isso é estereotipar, rotular, saturar e consequentemente perder excelentes oportunidades de mercado. A vida do público gay não se resume a moda e beleza. Esse é um
Somente 50% dos gays masculinos do Brasil usam e exigem que o parceiro use camisinha em todas as relações sexuais
Como a crise global afetou esse mercado? Já deu para notar mudanças nas duas pontas, consumidor e empresas? F.M. - A crise atual afetará todos os setores, mas em diferentes medidas. Os primeiros setores afetados são o de commodities, área financeira e o mercado de luxo. Esse porque depende diretamente dos rendimentos da bolsa. A crise em que vivemos não é passageira, pois é estrutural. Pede por novas formas e estratégias de mudança da maneira como lidamos com o lucro. Teremos que renovar a dinâmica do mercado. Em tempos como estes, nada melhor do que apostar em segmentos. É o que muitas empresas já estão fazendo: apostando com tudo no segmento da baixa renda. O mercado gay desponta então como uma oportunidade criativa para empreendedores que buscam a fidelidade do consumidor. E num tempo de crise, fidelidade é o segredo do sucesso.
Quanto ao fato de os gays gastaram 40% a mais que os héteros, o que há de verdade nesse dado? O que isso influi no poder de compra? F.M. - Esse dado não diz que os gays são mais consumistas que os héteros. Apenas confirma que, como o segmento single, os gays têm uma maior disponibilidade da renda pessoal para consumo com itens de próprio uso, diferente da maioria dos héteros que têm que dividir a renda com educação dos filhos, custos com família etc. Mas sem dúvida esse dado mostra que o segmento gay pode ser estimulado para diferentes áreas do consumo, por exemplo, produtos de investimentos financeiros.
Você disse que “não existe o pote de ouro”, como já virou senso comum ao definir o mercado gay no Brasil. Por que há então tanto equívoco? F.M. - Há uma imagem estereotipada do consumidor gay: “rico, consumista, fútil”. Esse rótulo praticamente resume o consumidor gay num perdulário. Essa figura não corresponde necessariamente à realidade e, por isso, entre outras razões, alguns empreendimentos para o mercado
79% costumam navegar na internet
público que, como qualquer outro, frequenta supermercado, vai a livrarias, farmácias, ou seja, há uma variedade de possibilidades. Depende da criatividade, esforço estratégico e competência do empreendedor.
gay naufragaram com rapidez. Por outro lado, divulgar que o público gay é um consumidor com dinheiro no bolso, de certo modo, contribui para facilitar a aceitação desse público pela sociedade e pelas empresas. Não existe pote de ouro no fim do arco-íris, como também em nenhum negócio, em nenhum mercado. Mas existem possibilidades e oportunidades que dependem da criatividade, inteligência, estratégia e profissionalismo de cada empreendedor. Daí meu alerta: resumir o público gay a um pote de ouro é desrespeitoso e gera exclusão.
Quais são então os caminhos que as empresas deveriam trilhar para se aproximarem cada vez mais do consumidor gay? F.M. - Enxergar o público gay primeiramente como ser humano e só depois como consumidor. O consumo não é o sentido da vida. É apenas uma das atividades da vida. Fugir do rótulo “gay é divertido, rico e fashion”. Há oportunidades para os diferentes nichos no mercado gay: gays das classes D/E, C, A/B, travestis, transexuais, intersexuais, entendidos, sarados, bears, enfim, não falta diversidade, não falta oportunidade. 35 AIMÉ
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Não é preciso muita grana para deixar sua casa mais moderna Texto: Bruna Castro, especial para a Aimé
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e você é uma pessoa que gosta de ver a casa sempre arrumada e com aquele ar moderno, mas não pode gastar muito, saiba que não está sozinho. Muitas pessoas acham que não são capazes de comprar o móvel certo ou escolher a cor mais adequada para o ambiente se não tiverem a ajuda de um profissional. Porém, decorar a casa requer mais criatividade do que muito dinheiro. Claro que grana ajuda, mas não é preciso desistir ou adiar um projeto só porque estamos passando por um período de crise e de contenção de custos. É possível conseguir bons resultados com bom senso e seguindo algumas dicas. Primeiro, pense no que você já tem em casa e pode reaproveitar. Antes de achar que a única alternativa para sua sala é comprar um sofá novo, mande lavar o antigo ou compre uma capa nova, escolha uma manta e, para terminar, renove as capas das almofadas. Em pouco tempo, você ganha uma nova sala. Outra dica é pintar um móvel antigo, incorporando-o à decoração. Mas, se é inevitável trocar algum móvel, aproveite as promoções que acontecem até o final de fevereiro. Nesta época do ano, a maioria das lojas troca a coleção do showroom e você pode encontrar bons produtos com excelentes descontos. Também vale pesquisar em pontas de estoque. Cortinas são mais difíceis de serem reaproveitadas, pois normalmente são feitas sobre medida para a janela. Vale comprar o tecido em tecelagens, fazer a bainha você mesmo ou solicitar à sua costureira de confiança. Os suportes são facilmente encontrados em lojas especializadas. Já os tapetes podem ser comprados já cortados, e não sob medida, porque a redução do custo normalmente é drástica! Mas nada adianta trocar os móveis, se você não renovar as paredes. A pintura é fundamental para dar personalidade aos AIMÉ 36
ambientes. Uma nova cor transformará o ambiente evitando que você gaste com papel de parede, revestimentos em tecidos ou painéis de madeira. Para ter sucesso neste quesito, utilize sempre uma base clara e neutra como branco ou off white, que ampliam o ambiente. Se você não abre mão de cores fortes, escolha apenas algumas paredes ou ambientes para abusar na cor. Uma decoração bonita e harmônica, sem gastar muito, pode resultar da escolha de espelhos, fotos ou ilustrações emolduradas no lugar de quadros e telas. Os espelhos, além de decorar, ampliam o ambiente e devem ser explorados nas peças menores. Na hora de produzir os ambientes vale sempre abusar das velas, porta-retratos, revistas de moda ou arquitetura, que substituem facilmente os livros de arte. Utilize flores e principalmente use objetos que você já tenha. Isso fará com que a casa tenha a sua cara e seja repleta de boas lembranças. * Bruna Castro é arquiteta da Tecnisa. A empresa adotou a postura gay-friendly em 2006 e possui um setor especializado em personalização de apartamentos. E-mail: brunacastro@tecnisa.com.br.
fotos: www.sxc.hu
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Vale sempre abusar das velas, porta-retratos, revistas de moda ou arquitetura, que substituem facilmente os livros de arte. Utilize flores e principalmente use objetos que você já tenha.
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Exp ress ioni smo
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A alma multifacetada do artista plástico, fotógrafo e cenógrafo espanhol David Dalmau
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Texto: Marco Túlio Neves lma multifacetada, o artista plástico, fotógrafo e cenógrafo David Dalmau nasceu no dia 4 de dezembro de 1962, e desde a infância viajou pelo mundo visitando galerias e museus com seu pai, um colecionador de arte e homem de negócios. Após essa rica e diversificada experiência, o jovem Dalmau cursa Arquitetura, Economia e Aviação, embora sempre tenha declarado seu interesse e preferência pelas artes. Em 1982, Dalmau deixa os Estados Unidos e realiza um de seus sonhos, vai viver na Europa. Ele vai morar em uma antiga casa de pescadores em Sitges, perto de Barcelona, onde seu tio Pepe tinha um pequeno estúdio, e finalmente passa a se dedicar por completo à pintura, descobrindo seu próprio estilo e o potencial que tem para temas diferenciados, característica que cultua até hoje. Suas pinturas têm a tradição do expressionismo figurativo europeu, destacando os temas urbanos; sua técnica combina simplicidade e sofisticação com brilhante uso de cores, em imagens de festas, multidões anônimas e da tão almejada e utópica felicidade eterna. Em princípios da década de 90, Dalmau visita o Brasil para participar, como curador assistente, da 21ª Bienal Internacional de São Paulo. Essa experiência representou um estímulo adicional para que esse artista sempre em busca do novo decidisse residir no Brasil. Ele, então, montou um ateliê e abriu uma galeria de arte na capital paulista. Para ele, o conceito de arte pode se resumir ao que o artista transmite em seus
trabalhos e ao que eles representam para os seus admiradores. ”Com os olhos do mundo voltados para a ameaça à própria existência deste, reinventaremos os prazeres da vida. A própria definição de Arte está constantemente sujeita à reavaliação por ser um dos mistérios mais dinâmicos e espontâneos da existência humana”, diz. A mais fascinante expectativa do artista é criar uma obra que reflita a diversidade de suas emoções – um palco próprio, um cenário rico e personalizado –, possui um desejo mágico de provocar sentimentos diversos nas pessoas. O ideal do artista é deixar impresso na mente dos que visualizarem seu trabalho a Arte em quatro dimensões: as três visíveis (largura, altura e profundidade), e a quarta é a história por trás da obra. “Como artista das telas, penso que a Arte é a exposição de nossos sentimentos, pensamentos, personalidade e inspiração. Com muita clareza e sempre buscando a plenitude dessa exposição de sentimentos, mesclando diferentes técnicas, numa combinação de formas e cores recheadas de sentimento e inspiração, o artista revela a infinita complexidade e essencialidade da Arte: a própria razão de viver”, defende Dalmau. Hoje, dependendo de sua agenda de exposições, passa o ano circulando por São Paulo e pelas cidades de Miami e Barcelo39 AIMÉ
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A própria definição de Arte está constantemente sujeita à reavaliação
na. Seus trabalhos são expostos por representantes ou galerias na América, Europa e Ásia. Dalmau nunca deixou de comprovar sua humanidade e engajamento colaborando com campanhas e executando trabalhos sociais. Atualmente, apoia a Fundação Maisha, nos Estados Unidos, organização cujo interesse principal é melhorar a qualidade de vida e fornecer educação básica às populações de lugares onde sobreviver dignamente ainda não é possível. Recentemente, sua obra Love esteve disponível aos especialistas e interessados em arte que passaram pelo Louvre, entre 11 e 14 de dezembro de 2008. Foi no Salon De La Société Nationale Des Beaux-Arts, que é considerado um dos mais significativos do mundo no segmento de arte, comparado à Bienal de Veneza, porém com a tradição e a importância de estar em um local de maior relevância, o Museu do Louvre. Outras exposições e projetos importantes do artista vão desde a
sua primeira exposição solo em Nova York, na Einzig Art Gallery, em 1994, até às duas grandes exposições na British Petroleums e Siidik Galerie Keitum, nas cidades de Hamburgo e Sylt Island, Alemanha, que aconteceram dois anos mais tarde. Em 1999, foi convidado para dirigir o Projeto Cultural “Arte no Carandiru”. Em 2000, foi convidado pelo governo brasileiro para realizar uma série exclusiva de porcelanas em comemoração aos 500 anos do País. Em 2003, participou no Art Saloon de Cannes e Paris, recebendo como condecoração as medalhas de ouro e prata, respectivamente. Nesse mesmo ano, com o patrocínio da Petrobras e do governo brasileiro, em conjunto com o Vaticano, Dalmau fez o levantamento fotográfico e artístico para a reedição do livro A História da Companhia de Jesus no Brasil. Devido ao seu valor histórico, essa edição foi distribuída pelo Vaticano para todas as arquidioceses e universidades católicas do mundo.
Marco Tulio Neves é graduado em Administração de Empresas pela Business School UNA, com especialização em Tecnologia da Informação e Marketing. É responsável pelo marketing do artista plástico Romero Britto. marcotulio@britto.com.br AIMÉ 40
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[gastronomia ]
Um chef sexy, dois restaurantes e três estrelas Michelin
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om o título de “chef de cozinha mais sexy”, Yannick Alléno é tímido ao falar sobre o assunto. Entre sorrisos discretos (e charmosos), ele diz que a comida é um jogo de sedução. “Você tem que ser sexy em suas receitas. Para que os clientes tenham um momento realmente bom, você tem que se entregar ao prato”. O concurso foi uma iniciativa do site www.linternaute.com em que dezesseis chefs disputaram o posto de “mais sexy”, entre eles Jamie Oliver e Gordon Ramsay (que têm programas no canal GNT). Os Internautas franceses preferiram Alléno, que venceu com mais de 27% dos votos. Mas esse é apenas um de seus títulos e certamente não é o que reafirma seu talento na cozinha. Com 40 anos, o francês está à frente do clássico restaurante Le Maurice desde 2003, situado no hotel de mesmo nome, em Paris, e re-decorado pelo designer Philippe Starck. No mesmo ano, Alléno inaugurou o restaurante Le Dali, também no hotel, mas com uma proposta mais light. Seu talento é confirmado por outros títulos que fazem parte de sua coleção. Além de ter sido considerado o “chef do ano de 2008”, na França, Alléno recentemente realizou o sonho de todo chef: conquistou a terceira estrela do Guia Michelin, distinção máxima da publicação e fruto de seu trabalho no restaurante Le Maurice. “Foi maravilhoso. O reconhecimento internacional é muito importante para mim e para a minha equipe”, disse o chef durante sua primeira visita ao Brasil, no final do ano passado. Foram três jantares preparados por Alléno no restaurante Eau, no hotel Grand Hyatt, em São Paulo. O chef mais sexy, melhor do ano de 2008 e três estrelas do Guia Michelin prefere não responder AIMÉ 42
Texto: Camila Balthazar
qual sua especialidade na cozinha. “Trabalho com a culinária moderna parisiense. A maior parte dos ingredientes vem dos arredores de Paris. Mas não gosto de dizer que tenho uma especialidade ou um tipo de cozinha porque isso me limitaria. Crio uma centena de pratos por ano. Mudamos o menu a cada duas semanas, pois queremos dar novas experiências aos clientes. E eles esperam por isso”, diz. Para estar sempre criando, Alléno diz que sua fonte de inspiração está nas cores do mercado, no cenário de sua cidade, nas pessoas, em uma pintura ou em uma foto. “Claro que você não coloca a pintura na comida, mas ela te dá informações. Um perfume, por exemplo. A última receita que criei foi um doce para Bernard Fornas, proprietário da Cartier. Ele me pediu algo relacionado com sua nova essência e me trouxe o perfume. Fizemos um doce divino”. Na cozinha de Alléno, todos os produtos têm uma historia. Assim como os ingredientes, o chef também se transforma no dia-a-dia e não pára – nem cansa – de aprender e inovar. “Algumas vezes, apenas entendemos um produto após muito tempo trabalhando com ele. O sabor deve ser puro. Isso é extremamente necessário, pois o que mais importa na gastronomia é o que você não vê no prato”. Sem segredos, Alléno deixou a receita de um dos pratos principais do jantar preparado por ele durante as três noites em São Paulo. É verdade que o preparo não contará com o toque do chef estrelado, mas todos os ingredientes foram escolhidos por ele, o que dá um sabor mais que especial.
Noisette de cordeiro assado com risoto iodado com galanga, tofu frito e molho miso
Ingredientes
[Preparação: 1 hora] [Cocção: 15 minutos ] [Rendimento: 4 pessoas] 2 folhas de louro 2 carrés de cordeiro 120g de arroz para risoto QSP fond blanc 150g de tofu 200g de espinafre 50g de gengibre tailandês
150g de farinha de rosca chinesa 20g de pasta de miso 2 cebolinhas 10g de marmelada de alga 10g de bonito seco 1 folha de nori 5g de amido de milho
Montagem
Molho Miso
Preparação
Dos carrés de cordeiro: Desossar os carrés. Enrolar no barbante para manter a forma. Com as aparas fazer um molho. Do risoto: Em uma frigideira, refogar em manteiga o risoto. Molhar com fond blanc. Cozinhar por 7 minutos. Retirar e resfriar. Separar os grãos. Em uma panela suar com manteiga o gengibre tailandês, o bonito seco, juntar a marmelada de alga e o risoto. Esquentar com um pouco de caldo.
Dos rolos de espinafre: Branquear por 10 segundos os espinafres em água fervente. Secar e fazer pequenos rolos com plástico filme.
Fazer infusão de 2dl de caldo de cordeiro com uma folha de nori por 10 minutos. Passar no chinois e dar liga com 5g de amido de milho. Juntar 20g de pasta de miso. Retificar o tempero. Cortar cubos de tofu de 1cm cada lado. Empanar a inglesa (ovo e farinha de rosca) com a farinha de rosca chinesa. Selar e assar os carrés por 8 minutos e deixar descansar por 10 minutos. Requentar os tubos de espinafre com manteiga. Fritar o tofu. Cortar cada carré em 3 noisettes. Adicionar a cebolinha picada no risoto. Em cada prato, colocar 6 pequenos montes de risoto, 3 noisettes, um pouco do espinafre e do tofu. Finalizar com o molho de miso e a folha de ouro. 43 AIMÉ
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Cueca boxer Damyller 45 AIMÉ
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Colete com capuz Marcelu Ferraz AIMÉ 46
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Cachecol tiras com nó Marcelu Ferraz 47 AIMÉ
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modelo Jivago Santinni, de 22 anos, tem uma beleza no mínimo emblemática. Lábios grossos e avermelhados e lindos olhos verdes imprimem uma fisionomia ao mesmo tempo adolescente e adulta a este gaúcho de Santa Maria. Modelo há quatro anos, Jivago vê com bons olhos o fato de estampar a capa de uma revista gay. “Não tenho preconceito”, diz o belo, que completa: “Sei que a repercussão será positiva. Eu sempre trabalho com um objetivo”,
destaca. Por incrível que possa parecer, a boca grande, sem dúvida seu maior diferencial, o incomodava quando ele era mais jovem. “Pensei até em fazer uma cirurgia plástica”, confidencia. Mas é claro que aos poucos, com um elogio aqui e outro acolá, Jivago foi se convencendo de que chamava a atenção. “Acabei me acostumando”, confessa. A prova de que Jivago estava errado você conferiu nas páginas anteriores...
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Camisa Calvin Klein
Modelo: Jivago (Ten) Fotos: Márcio Amaral Assistente: Paula Silva Makeup & hair: Carlos Pompeio Edição: Fernanda Kazalla Tratamento: Daniel Costa
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[beleza ]
Bens que vêm
do MAR
Técnica usada em larga escala na Europa, a Thalassoterapia já conquistou os homens no Brasil, que representam praticamente a metade do público adepto em clínicas de estética e SPAs
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Texto: Danilo Gonçalves
o chegar à clínica de estética ou no SPA, a fisioterapeuta te encaminhará para uma sala bastante aconchegante. O clima já é propício para relaxar. As luzes estarão na medida certa. Mas antes, diga à profissional que te acompanha o que exatamente você deseja. Uma dica: fale que quer ‘ficar mais leve’, mas conte também sobre aquele outro tratamento estético que você está fazendo; aquele para redução de medidas, por exemplo. O banho de hoje vai ajudar. Entre na banheira de hidromassagem. Note que ela tem um ‘quê’ de cromoterapia. As luzes que mudam de cor são usadas para auxiliar no processo de relaxamento. Feche os olhos, se preferir. Já está dentro da banheira? Imagino que você esteja acostumado com o ofurô, mas aqui, nesta banheira (a de Thalassoterapia), poderá ficar um pouco mais deitado, acho que vai ajudar e ser mais gostoso. Depois que entrar e já estiver posicionado, comece
finalmente a se concentrar e ficar tranquilo. Sinta que jatos estão estrategicamente posicionados para massagear até 96 pontos do seu corpo e que a água está aquecida, mas que a temperatura dela vai variar no decorrer dessa quase uma hora que você vai ficar aí dentro. Terminou o banho? Então, deixa eu te contar um detalhe. Todo procedimento foi feito com água que simula o ambiente marinho, ou seja, é potável e, um pouquinho antes do início do banho, foi colocada uma pastilha efervescente que detém as características do mar. Você acaba de passar por uma sessão de Thalassoterapia, um banho que ajuda a aliviar o estresse, esfoliar a pele e abrir os poros para que os sais e óleos se infiltrem com maior facilidade.
A técnica Em definição, a Thalassoterapia (do grego ‘thalassa’, que quer dizer mar, e ‘terapia’, que quer dizer cura) é um tratamento ortomolecular em que o paciente é submetido a uma série de banhos aquecidos em temperaturas diferentes e a jatos com vários graus de pressão que, além de massagearem, também realizam uma espécie de drenagem linfática. Para melhorar ainda mais, o banho é acompanhado de óleos essenciais que auxiliam na desintoxicação do corpo e melhoria da circulação. “Além de ser relaxante, o banho da Thalassoterapia pode ajudar nos tratamentos de redução de medidas”, comenta a Dra. Flávia Silva de Jesus, fisioterapeuta do SPA Praia dos Amores, localizado em Balneário Camboriú (SC). Na maior parte dos casos, os adeptos da Thalassoterapia, por indicação de seus fisioterapeutas, atrelam a técnica a outros procedimentos como cromoterapia, drenagem linfática e massagens diversas. Alguns especialistas chegam a dizer que, após a Thalassoterapia, é obrigatória uma sessão
de drenagem linfática manual para eliminação mais rápida de toxinas que são liberadas das células durante o processo. É importante lembrar que em países da Europa, a água do mar já vem sendo usada em tratamentos estéticos e também de artrite, osteoporose, reumatismo, gota, nevralgia e outras enfermidades. Inclusive é o que defende o pesquisador da Thalassoterapia, Annibale Longhi. Segundo ele, no Brasil, a técnica vem sendo utilizada exclusivamente para fins estéticos, mas é muito eficaz. “A Thalassoterapia é ideal para recuperar micronutrientes que possam ter sido perdidos de qualquer organismo”, comenta Longhi. “Este método é eficaz também para problemas de colorações diferenciadas da pele, manchas claras ou escuras”, completa. Outra vantagem da técnica é que, durante os banhos, as algas contidas na água são capazes de favorecer a redução adiposa, firmar os tecidos e prevenir estrias, devido à hidratação proporcionada pelo banho. Tem SPA inclusive que é especializado na Thalassoterapia. Até o nome já diz. É o caso do Praia do Forte EcoResort & Thalasso SPA, que fica na Bahia. Lá, o ‘cardápio’ é bem diversificado, e entre as opções estão a Thalasso com algas, drenolinfática integral, desintoxicação integral, entre outras. Na maior metrópole do País, até grandes academias, como a Runner, já têm espaço para a Thalassoterapia. Na Runner SPA, no Morumbi, por exemplo, o visitante pode aproveitar as banheiras em salas exclusivas.
Um vaidoso Uma pesquisa rápida realizada pela reportagem da Aimé com clínicas e SPAs, que oferecem a Thalassoterapia como técnica de banho relaxante e auxiliar para tratamentos estéticos, revelou que cerca de 50% do público que a procura é o masculino. “Hoje em dia, é nítido que os homens, gays ou
não, estão se cuidando mais”, afirma Margot Verrino, gerente do SPA Recanto das Águas. Aos 41 anos de idade, o parapsicólogo clínico Geninho Góes, escritor na área motivacional e auto-estima, já passou por sessões de Thalassoterapia e afirma ter gostado muito. “Apesar da idade, depois da Thalasso, fiquei com corpinho de 20”, brinca. O escritor relata que se sentiu mais leve, provavelmente, em função da salubridade da água e dos óleos essenciais que são colocados. “Parece que o efeito não é só no corpo, a mente também é muito trabalhada e até o estado emocional, o que reflete em tudo, claro”, diz.
Quanto custa? Uma sessão de Thalassoterapia pode durar em média 30 minutos. Ou, se for para aliar o banho à outra técnica, pode-se ficar mais ou menos 20 minutos na banheira e depois partir para uma massagem relaxante ou uma drenagem linfática, limpeza de pele, enfim, o tratamento de escolha do paciente. Se for para fazer apenas a ‘Thalasso’, uma sessão de 30 minutos custa, em média, R$ 60,00. Agora, se o banho for seguido de uma massagem, este preço pode chegar a R$ 100,00. Este banho pode também ser realizado em ‘banheiras maiores’, estilo subaquático, com 180 jatos durante o processo. Neste caso, a sessão chega a custar R$ 165,00.
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[saúde]
A distorção da imagem corporal é o principal sintoma dos transtornos alimentares. Conheça um pouco mais sobre eles e veja se você também não é vítima! Texto: Camila Balthazar
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“Por que você se enxerga assim?” “Não sei...”, responde Carlos* após um breve silêncio. Ele tem 20 anos, mede 1,83m e pesa 75kg. É um rapaz magro, como tantos outros. Mas é difícil convencê-lo disso. “O que eu vejo no espelho é diferente do que você vê. Vejo uma pessoa de 100 quilos. Você deve ver uma pessoa magra”, diz.
verdade que Carlos já teve 108kg, mas seu manequim deixou de ser 48 há muito tempo. Se ele pudesse escolher a roupa “certa” para sua auto-imagem, no entanto, continuaria comprando 48 e não 40, seu tamanho atual. Em 2006, Carlos induziu o vômito pela primeira vez. “Não sei de onde veio essa idéia, mas provoquei o vômito. A segunda vez também foi assim. Depois vira uma coisa automática”, conta. Conversando com amigos, ele percebeu que algo estava errado. No começo deste ano, Carlos procurou o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Seu diagnóstico era claro: bulimia nervosa – transtorno alimentar em que a pessoa faz dieta, mas apresenta episódios de compulsão alimentar. Além disso, existe a distorção
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da imagem corporal, que se manifesta não apenas no espelho, mas em como a pessoa se sente. O psicólogo Raphael Cangelli Filho, coordenador do grupo de homens do Ambulim, explica que os bulímicos sentem-se culpados após a compulsão e, então, provocam o vômito, abusam de laxantes e diuréticos, entre outros. Outro transtorno alimentar comum é a anorexia nervosa. Diferentemente da bulimia, nesse caso, há restrição alimentar rígida. “A pessoa diminui a quantidade e a qualidade do que come até chegar ao ponto de comer uma folha de alface, por exemplo. Tudo isso com o objetivo de perder peso”, explica o psicólogo, ressaltando que tanto na bulimia quanto na anorexia há distorção da imagem. Com a diferença de que os anoréxicos são sempre magros, enquanto bulímicos podem ter peso normal ou mesmo sobrepeso.
Por que eu? Apesar de serem doenças muito associadas às mulheres, homens também podem ser vítimas de transtornos alimentares. O Dr. Alexandre Pinto de Azevedo, psiquiatra do Ambulim, afirma que pouco se sabe sobre a epidemiologia dos transtornos em homens. “Os grandes estudos restringem-se ao perfil de mulheres. Alguns estudos revelam uma maior prevalência de orientação homossexual, algo em torno de 40% entre os bulímicos”, diz.
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“Alguns estudos revelam uma maior prevalência de orientação homossexual, algo em torno de 40% entre os bulímicos.”
A causa do distúrbio é multifatorial. “Isso significa que há fatores biológicos, genéticos, ambientais, psicológicos, entre outros, que atuam conjuntamente para o desenvolvimento da doença”, explica Dr. Azevedo. Além disso, Cangelli Filho aponta que o transtorno alimentar geralmente está ligado a um histórico de obesidade na infância ou adolescência. O registro de ser gordo, de ser apontado como tal, permanece na mente mesmo depois da perda de peso. Mas é possível aprender a não valorizar exageradamente o corpo. “Trabalhar a mente é muito importante para sermos verdadeiramente felizes”, afirma o psicólogo.
A procura de tratamento O paciente não percebe que precisa de ajuda. Muitas vezes, nem a família. “Mesmo que a família esteja presente 24 horas por dia, às vezes só percebe quando a magreza é muito evidente”, conta Cangelli Filho. Dificilmente alguém chega ao consultório médico com a queixa de anorexia ou bulimia. Em geral, são outros sintomas que o levam até lá, como desmaios, perda de memória, queda de cabelo e de unha, pele ressecada, ulcerações – consequências de uma má alimentação e desnutrição. Uma vez que o paciente recebe o encaminhamento correto, o tratamento é multidisciplinar, o que inclui atendimento médico-psiquiátrico, psicológico e nutricional. “O psiquiatra atua identificando os principais sintomas e a presença de outras doenças associadas, como depressão ou ansiedade; atua na correção de hábitos e na prescrição medicamentosa, quando necessária”, esclarece o psiquiatra. A nutricionista do Ambulim, Andrea Carla Pinto Pereira, diz que mesmo em sua área há muita conversa com os pacientes. “Dizemos que somos terapeutas nutricionais”,
define. “A comida é uma forma de nos expressarmos. O paciente precisa aprender a lidar com o alimento de forma prazerosa e pacífica, e saber que alimentar-se faz parte da vida”, completa.
Estou curado? “Não se fala em cura do transtorno alimentar, e sim de controle”, explica o Cangelli Filho. No entanto, de acordo com estudos e a própria experiência dos profissionais do Ambulim, a distorção da imagem corporal é difícil de reverter. “Não vou dizer que é impossível, pois existem casos que apresentam correção. Mas pode haver uma recaída ao longo da história”, afirma. Hoje, Carlos já “se vê” muito melhor. Há cinco meses não tem nenhum problema relacionado à alimentação. Come de tudo, sem compulsão. No entanto, não enxerga o mesmo rapaz de 75kg que todos enxergam. “Meus amigos falam que estou bem. Mas não me vejo magro em outras fotos. Não me vejo magro no espelho”, desabafa.
Alerta! A distorção da imagem corporal é o principal sintoma dos transtornos alimentares. O psiquiatra ressalta que a distorção na percepção do próprio corpo pode estar igualmente relacionada à obsessão pelos exercícios e dietas especiais. “Seus portadores apresentam uma necessidade obsessiva em ganhar massa muscular e promover uma maior definição corporal. Assim, além de praticarem atividade física em demasia e seguirem dietas para incremento de massa muscular e perda de composição gordurosa do corpo, muitas vezes usam substâncias ilícitas, como as chamadas ‘bombas’”, afirma. Apesar de serem musculosos, os vigoréxicos olham-se no espelho e veem que estão enfraquecidos ou distantes de seus ideais. Dr. Azevedo afirma que o quadro mais diretamente associado à vigorexia é a dismorfia muscular. “Essa é uma patologia psíquica das pessoas excessivamente preocupadas com a própria aparência, constantemente insatisfeitas com seus músculos e continuadamente em obsessiva busca da perfeição”, alerta. A partir dessa distorção na maneira como a pessoa se vê, surge a obsessão pelos exercícios e dietas especiais. É aí que o espelho funciona como acessório importante. Lembre-se: as atividades sociais, familiares e profissionais não podem ser prejudicadas por causa das atividades físicas. Infelizmente, pouco se ouve falar desse transtorno, afinal, raros procuram ajuda médica. Aparentemente, são todos saudáveis e sarados. *Carlos teve sua identidade preservada. 55 AIMÉ
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O que os
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Texto: Julio Cesar Nascimento
arcos comentava livremente como Vinícius da academia era gostoso, sarado e tinha o rosto lindo; opinião compartilhada por todos, que entusiasticamente começaram a tecer elogios detalhados sobre o corpo de Vinícius. Flávia, visivelmente incomodada, exclama: “Nossa! Como vocês, gays, valorizam excessivamente a beleza!” Na visão de Flávia, seus amigos gays são um grupo de pessoas que compartilham traços psicológicos em comum e a prova disso é que essas características são facilmente perceptíveis para qualquer um que tenha um amigo “gay”. Na verdade a mente de Flávia funciona como a da maioria das pessoas: se eu vejo um cisne branco, depois outro cisne branco e mais uma série de cisnes brancos, logo, todos os cisnes são brancos. O raciocínio indutivo é a base da formação de categorias grupais com seus predicativos. Mas, analisemos. Há estudos americanos que demonstram que em sites de relacionamentos homens não interagem com mulheres que não possuam fotos em seu perfil. Enquanto que o percentual de mulheres que estabelecem contato com homens sem fotos é quase o dobro. Eu mesmo já atendi uma paciente que se apaixonou por um cara de uma lista de discussão de internet bem antes de ver sua primeira imagem. Nessa perspectiva, gays têm um comportamento muito mais masculino do que costumamos pensar. De fato, a maioria das características creditadas como específicas de gays ou são características de homens, ou de nossa própria cultura; como a citada tendência exagerada que gays teriam de comprar símbolos de status. Ora, numa sociedade de consumo e do espetáculo, querer possuir objetos de grande valor narcísico é uma das possíveis estratégias para agregar valor ao Eu deficitário de amor; estratégia estimulada e recompensada pela nossa cultura e, portanto, praticada por muitos independentemente de suas orientações sexuais. Mas persiste a questão: não há nada de específico no comportamento de gays e lésbicas? Nada os tornaria semelhantes em sua psicodinâmica? Na minha prática clínica há uma única experiência compartilhada por sujeitos homoeroticamente inclinados que tem relevância na forma como essas pessoas vão organizar seus sentimentos, significações e atitudes perante o mundo: a experiência de exclusão pelo preconceito. Explico. Se de um lado nossa sociedade tem se tornado mais democrática no sentido de autorizar cada sujeito a escolher seus objetos de satisfação amorosa, de outro, adolescentes ainda se sentem muito desamparados em face do seu desejo por pessoas do mesmo sexo. Adolescentes são extremamente dependentes do sentimento de pertencimento e do olhar AIMÉ 56
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que os reconhece como iguais, estando dispostos a pagar qualquer preço para ocupar esse lugar ou mesmo desconhecendo que há um preço a pagar. Muitos gays e lésbicas adotaram estratégias para se defender da iminência de um colapso narcísico na adolescência: isolamento social ou hiperadaptação, culto a ícones narcísicos como excesso de cuidados com a beleza e com as roupas, encenações de conquistas amorosas heterossexuais, sedução de adultos através de um bom desempenho escolar, adesão fundamentalista a preceitos religiosos de repressão da sexualidade, e muitas outras formas de mascarar o desejo e recuperar imaginariamente o amor por si e a admiração dos outros. É claro que esses modos de enfrentamento são somente estratégias reativas para lidar com os comportamentos discriminatórios. Essas defesas contra angústias podem não ser necessárias se o adolescente tem pais e/ou um ambiente que o acolha e proteja, que o ensine a relativizar o poder do olhar do outro. Quando isso não acontece, o adiamento do despertar do desejo torna muitos gays e lésbicas adolescentes retardatários, o que explica boa parte do comportamento desses sujeitos quando estão em grupo. Um paciente meu de 30 anos vai para Florianópolis com um grupo de 14 amigos que alugou uma casa. Todos eles só falam das baladas, preveem com quantas pessoas vão ficar, comentam sobre o dress code, os lugares e festas badaladas. Curiosamente esse paciente há pouco tempo tem uma vida “socialmente gay” e, por ter malhado recentemente e transformado seu corpo, está tentando ter uma experiência emocionalmente ressignificadora de uma adolescência reprimida, na qual se dedicou excessivamente à vida acadêmica para desviar o foco da paixão platônica que nutria secretamente pelo melhor amigo; o qual obviamente é o protótipo do cara com quem ele sonha ficar em Florianópolis e viver uma grande paixão. É bem verdade que, na ânsia de reparação, alguns só conseguem repetir experiências traumáticas. A busca de experimentação sexual adolescente na vida adulta pode levar à errância desatinada que nos afasta do amor terno/sexual. Mas já acompanhei alguns cuja companhia dos amigos, as mudanças corporais e a recémconquistada possibilidade de compartilhar experiências com o grupo devolveramlhes a segurança e esperança perdidas, criando uma aura de atração em torno de si, e eles reinventaram a coragem de buscar os mais profundos desejos outrora abandonados devido à opressão do falso self. Todos nós ansiamos curar as feridas do nosso passado e essa busca oferece contornos aos nossos sonhos de felicidade. Essa característica comum nos faz parte de um mesmo grupo: os humanos. * Julio Cesar Nascimento (CRP-06/40083-2) é psicólogo pela Universidade de Brasília, mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) e professor do Centro de Estudos Psicanalíticos. E-mail: julionascimento2005@uol.com.br. 57 AIMÉ
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Paint P a i n t mmee AIMÉ 58
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Modelos: Léo Model e Evaristo (Mega) Fotos: Márcio Amaral Assistente: Paula Silva Makeup & hair: Carlos Pompeio Edição: Fernanda Kazalla Tratamento: Daniel Costa 59 59 AIMÉ
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Blusa com estampa Rip Curl AIMÉ 60
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Camisa Calvin Klein Camisa Pólo Doc Dog 63 AIMÉ
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Fetiche
a anatomia do sexo
O ser humano é fetichista por natureza! Mas, cuidado! O desejo exagerado por objetos ou partes do corpo pode virar obsessão
Texto: Adriano Zanni
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a Europa antiga, o seu conceito estava atrelado à bruxaria. Passados mais de mil anos, muita coisa mudou, mas o ser humano ainda se questiona: de onde vem esse tal fetiche? Basta uma “plugada” no Orkut para descobrirmos cerca de 250 comunidades a explorar o tema. “Tinha um amigo e, certa vez, combinamos de nadar juntos. Enquanto enchíamos a piscina, ficamos brincando. Uma de nossas brincadeiras preferidas era a de surfista. Eu fiquei deitado como se fosse a prancha e ele subiu em mim. Recordo-me como eu curti aquele lance pelo fato de ele estar com os pés em cima de mim. Não creio que aquilo representasse uma submissão, mesmo porque depois foi a vez dele de ser a prancha. Fiquei vidrado no fato de estar bem próximo aos pés dele. Depois daquela primeira experiência, meu desejo só aumentou.” Enfim, o pseudo-surfista Márcio*, 28, professor, parecia ter mesmo encontrado a sua praia. Duas décadas depois, ele ainda lembra, com sorriso no rosto, o momento exato em que a atração por pés havia se tornado um fetiche. O professor conta que usou as mais variadas táticas para sempre dar um jeitinho de ficar próximo do seu objeto de desejo sexual. Chegou a frequentar clubes de campo apenas para ficar olhando dedos, unhas, plantas e calcanhares dos pés dos colegas do irmão mais velho.
“Sou um autêntico ‘podófilo’. Já fiquei com caras lindos, com muita pegada. Mas, na hora em que me mostraram os pés, deu desespero. Não é porque o cara tem pés horríveis que não vou tentar algo com ele, mas vou ficar meio bitolado em fazer com que aquele calcanhar rachado não encoste em mim. Receita básica: consultar um bom podólogo e passar muitos cremes para hidratar”, descontrai. Não é de hoje que o fetiche faz parte do cotidiano de homens e mulheres. A palavra vem dos feitiços feitos pelas bruxas europeias nos últimos mil anos. O feitiço era um objeto que carregaria força contra os males e que deveria ser portado pela pessoa que desejasse se livrar dos mesmos. Muitas vezes, era representado por um amuleto carregado ao redor do pescoço. A partir do final do século 19 e início do século 20, com o nascimento das ciências psicológicas, o fetiche passou a ser estudado. Na literatura e dramaturgia o fetiche sempre esteve presente. Afinal, quem não se recorda das homenagens que José de Alencar fazia aos pés femininos em trechos de A pata da gazela? Os ombros já encantaram e muito os escritos de
Machado de Assis. Uma saia subindo “como quem não quer nada” e a revelar parte do joelho provocava furores em Nelson Rodrigues. Segundo Oswaldo Rodrigues Júnior, terapeuta e presidente do Instituto Paulista de Sexualidade, o fetiche constitui-se da preferência por objetos inanimados ou determinadas partes do corpo de outra pessoa, o que produz aumento de desejo ou de excitação. O psicólogo explica que essas preferências são desenvolvidas sem nosso conhecimento e de forma muito difusa durante a infância para posterior confirmação na adolescência. “O condicionamento ocorre durante a primeira década de vida. A repetição de algumas situações que são associadas a significados de prazer leva às primeiras iniciativas na infância. Na juventude, isso ganha a conotação mais erotizada, sexual. Muitos ainda confundem fantasia e fetiche. Fantasia é algo que permanece em nossa cabeça, nosso espaço mental, e nem sempre precisa ser colocada na realidade externa. O fetiche é o motivador específico do comportamento”, detalha. 65 AIMÉ
O tênue e perigoso limite
Fetiche
sexo desejo
Todo fetiche lhe cai bem? O desenhista de moda Igor Oliveira, 29, já perdeu a conta de quantas vezes teve que dar explicações a seus parceiros sobre a atração que sente por uma parte do corpo que para muitos está bem longe de ser objeto de desejo. O rapaz é vidrado em axilas. “Adoro sentir o cheiro, quando o odor natural do corpo se mistura ao do perfume, de preferência amadeirados e doces. Muito bom. Pode ser depilada, com pelos, não faz diferença. Para mim, é natural e mexe com meus sentidos, me excita muito”, revela. Igor explica que a maioria dos gays acha “graça” em seu fetiche porque a axila é considerada geralmente uma parte do corpo atrelada a mau cheiro. “Mas para tudo existe solução. Basta explicar ao cara que não tenho nenhum gosto escatológico. Embora muitos não admitam, no relacionamento o sexo é muito importante. É quando os corpos conversam entre si. O fetiche sexual é um elemento de cumplicidade entre o casal que deve sim existir, ser explorado e reinventado”, opina.
SaIiba mais...
Realizar um fetiche, para muitos, é uma atitude que vai além da simples satisfação. É sinônimo de força, virilidade, faz parte do jogo da conquista. Mas até que ponto vale a pena investir na concretização de um determinado desejo sexual? O limite entre colocar em prática aquele fetiche e tornar essa iniciativa uma verdadeira obsessão é muito tênue, alertam especialistas. E o pior: pode custar caro. O personal trainer Rafael Martins, 25, sabe bem o que isso significa. Já perdeu a conta de quantas vezes quase bateu o automóvel nas ruas de São Paulo por desviar o foco do trânsito em direção a uma calçada qualquer pela qual transitava um torneado, vigoroso e bem cuidado tríceps. Sim, a tara do rapaz é por braços fortes e sem pelos, faz questão de detalhar. Sem pudores, ele encara a situação numa boa, embora muitos ainda considerem o exercício do fetiche como uma perversão. “Nunca tive problemas em lidar com esse meu gosto por braços. Há algum tempo, paquerei um cara e ficava pirado sempre que o via nas baladas. Eram os braços mais bonitos que já tinha visto, coisa platônica. Até que um dia conheci um cara vestindo uma regata. Fiquei morrendo de tesão. Eu nem acreditava, pois diante dos meus olhos estava aquele objeto de desejo. No motel, ao colocar as mãos em seus braços, percebi que eram moles e flácidos. Brochei. Procurei não tocá-lo mais, fechar os olhos e pensar em qualquer coisa para esquecer, mas já era tarde. Foi frustrante”, lembra. Rodrigues Júnior explica que o fetiche, enquanto sintoma de um problema, exercerá um tal poder sobre a pessoa que ela não conseguirá se controlar na busca dos objetos fetichistas. “Isso ocorre de forma muito semelhante aos vícios de drogas, que controlam a vida do sujeito, mobilizando o comportamento para a satisfação insistente dessas necessidades involuntárias. Considerar que é um problema leva muito tempo e, quando quase tudo está perdido, a pessoa tenta refazer o caminho e pode aceitar um tratamento”, pondera.
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Orkut: cerca de 250 comunidades com a palavra fetiche. Fetiche gay é a quinta maior comunidade com 1.903 membros. Tópicos mais acessados: sungas, cuecas, pés, mãos e wetsuits.
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O fetiche sexual é um elemento de cumplicidade entre o casal que deve sim existir, ser explorado e reinventado
fotos: www.sxc.hu
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Como casais podem lidar com o assunto? “Meu último namorado sabia que eu era vidrado em boca, sobretudo se essa possuísse algum tipo de aparelho ortodôntico. Resultado? Ele usou o sorriso metálico mais tempo do que efetivamente precisava, tudo para que eu não perdesse a libido”, afirma Peterson Silva, 30, jornalista. Ele revela que o assunto sempre foi introduzido aos poucos para as pessoas com as quais se relacionou. Tudo para não causar impacto. Como a preferência corresponde a um padrão estético, torna-se mais fácil direcionar as buscas. Mas como expor isso ao parceiro sem magoá-lo? Para os terapeutas, um relacionamento contínuo exige que as preferências especiais sejam negociadas para a sua manutenção. “Não abrir o jogo implica que a pessoa que se percebe fetichista viverá sonhando em ter um prazer que o parceiro não deixa que seja realizado. Se a outra pessoa for intransigente com relação a esse item, o relaciona-
mento será impossível e, pelo menos, ambos descobriram antes de se envolverem profundamente”, recomenda Rodrigues Júnior. Márcio*, fissurado por pés, e Rafael, admirador de braços fortes, seguiram na contramão desse conselho e optaram por nunca revelar seus fetiches aos namorados que tiveram pelo caminho. “O último não sabia sobre esse meu desejo, nunca falei. Mas sempre na hora da transa eu usava e abusava dos pés dele, numa boa. Aos poucos, ele foi curtindo a ideia e fazia o mesmo com os meus”, conta o professor. Já o personal trainer esbarrou no ciúme do namorado e por isso decidiu guardar segredo. “Ele não tinha percepção sobre nada. Como era muito ciumento, não daria certo se soubesse a respeito do meu fetiche. Imagine só ele ver vários amigos meus, com braços de tirar o fôlego, chegando perto de mim e me abraçando? Acho que é questão de respeito também e preferi não deixá-lo encucado com isso. Mesmo porque vai ter sempre um braço mais forte e bonito que o do seu namorado”, sorri.
Há revistas internacionais especializadas em fetiche como High Heel, D-Cup, entre outras. A maioria voltada ao público heterossexual. No Brasil, existem vários sites fetichistas. O maior deles é o www.feticheclub.com, no qual os internautas procuram parceiros para realizar seus desejos. Criado em 1996, o portal tem 25 mil sócios.
Uma pesquisa da psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo (USP), feita com mais de sete mil entrevistados brasileiros, aponta que 10,7% das mulheres e 15,4% dos homens fazem uso regular de fetiches. * Márcio: nome fictício 67 AIMÉ
[atitude ]
Minha História O relato emocionante de Stefan Vegel Filho*, que enfrenta uma batalha jurídica para reaver o apartamento no qual viveu com o companheiro, morto em 2008
E
m maio de 1993 conheci César e a partir de então iniciamos um relacionamento. Naquela ocasião ele tinha 20 anos, cursava Direito pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco e era estagiário. Eu tinha 32 anos e era advogado, formado em 1986. Eu morava com meus pais e irmãos na zona norte e ele morava com sua tia no Jardim Paulista. Em abril de 1996 sua tia faleceu, vítima de câncer, e a partir de então passei a morar com César num apartamento que ela havia lhe doado antes de morrer. Antes mesmo de César colar grau na faculdade, ele já começou a trabalhar comigo, como estagiário. Tínhamos um escritório alugado no centro de São Paulo. Eu me atualizava com ele e ele aprendia a prática do dia-a-dia comigo. Nossa convivência tornou-se muito intensa, pois morávamos e trabalhávamos juntos. Como nem tudo é perfeito, desde bebê César tinha diabetes tipo 1. Fiquei especialista no assunto de tanto conviver com ele e com as crises de hipo e hiperglicemia. Por causa da doença, em novembro de 2004, ele teve de se submeter a uma cirurgia no olho direito, supostamente para evitar uma possível cegueira, mas já era tarde demais. O diagnóstico do médico mencionava um estado muito grave e pior do que imaginávamos, ele já havia perdido a visão do olho esquerdo. Após a cirurgia, César contraiu infecção hospitalar. A visão não foi totalmente recuperada, fazendo com que ele enxergasse apenas Tenho medo da luminosidade, ou seja, ficou com apenas o maldade humana. último estágio da visão, antes de permaAcredito apenas na necer na escuridão total. justiça divina com Daí para frente nossa vida mudou radimuita esperança e fé! calmente. Ele passou a andar de bengala e eu o assessorava em tudo que era possível, ele tinha muita força de vontade para trabalhar e continuar lutando. Fazia audiências, atendia clientes, viajava, enfim, levava uma vida normal, com exceção da cegueira. Ele fez curso de adaptação para enfrentar a nova condição e eu indiretamente fui obrigado a me adaptar também a essa realidade. César não ia com freqüência ao escritório por razões óbvias. Confesso que no início foi muito difícil, para mim e para ele, porque o meu trabalho dobrou e, como tenho picos de depressão, eu chorava escondido para ele não perceber.
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De 2007 para cá a saúde dele foi piorando cada vez mais, vivia freqüentando farmácias em busca de seus remédios e não podia deixá-lo sozinho porque ele tinha muitas crises de hipoglicemia. Combinei com ele que iria entregar o escritório ao dono, porque era alugado, e mudaria para casa. Assim passaria a trabalhar melhor e ficaria perto dele, para socorrêlo quando das crises de hipoglicemia. Iniciei a mudança do escritório para o apartamento em fevereiro de 2008. Ele sempre dizia que não iria viver muito e que gostaria de deixar o apartamento em meu nome, porque queria que eu ficasse bem após seu falecimento, preocupação que naquele momento me soava como uma grande besteira. Mas, como Deus escreve certo por linhas tortas, em março de 2008, ele veio a falecer, acometido por uma parada cardíaca fulminante que o pegou dormindo. Entrei em desespero, chamei a ambulância, mas já era tarde, ele estava em outra dimensão. A polícia também veio ao apartamento, como se eu fosse um assassino. Eu achava que ele estava tendo mais uma crise de hipoglicemia, me enganei, era um ataque cardíaco fatal. Resultado da autópsia: miocardiopatia crônica, ou seja, o último estágio do diabetes. Desde então minha vida mudou novamente, e ainda luto para não ter recaídas. Não bastasse o ocorrido, no início de agosto de 2008, num sábado de manhã, sou surpreendido por um oficial de justiça com um chaveiro tentando abrir a porta do apartamento. Era um mandado de reintegração de posse impetrado pelos filhos de sua tia, ou seja, os primos do César estavam tentando reaver o apartamento. O oficial de justiça me citou, ao mesmo tempo reintegrando os primos na posse do imóvel. Não houve alternativa a não ser eu sair e ficar 20 dias morando na casa de amigos e clientes até meu advogado conseguir uma liminar revogando a reintegração de posse para eu poder voltar. Logo após o falecimento do César, meu advogado ingressou com uma ação de usucapião, porque eu previa que o pior ia acontecer. O apartamento não estava no nome de sua tia, pois os primos já haviam feito o inventário dela. E após isso, o imóvel não havia sido transferido para o nome do César, muito menos para o meu, apenas havia o termo de doação assinado pela doadora. Os primos dele não me conhecem, pois o César nunca me apresentou a eles nem queria que soubessem de mim, com medo de que ficássemos sem ter onde morar. Por outro lado, a tia do César várias vezes disse aos filhos casados que decidira dar o apartamento da Bela Vista para o sobrinho – fui testemunha disso porque dois anos antes de ela falecer eu freqüentava mais a casa do César no Jardim Paulista do
Procuro me informar, me atualizar de todas as formas possíveis para saber quais são meus direitos
que a residência onde eu morava com meus pais. Após o falecimento da tia, as chaves do apartamento da Bela Vista foram deixadas na portaria do prédio e nessa ocasião não houve assinatura de qualquer documento sequer. Portanto agora, após perder meu companheiro, com o qual convivi durante 14 anos, com quem sofri por causa do seu problema de saúde, e que veio a falecer na minha presença, em casa, infelizmente, tenho que ir para a guerra, ou seja, enfrentar uma batalha jurídica que não sei onde vai dar. Estou lutando com garra e coragem, ainda em respeito e consideração ao César. Procuro me informar, me atualizar de todas as formas possíveis para saber quais são meus direitos, mesmo eu sendo advogado, pois nesse episódio sou movido pela emoção e pela paixão. Não posso nem tenho como atuar em causa própria. Aqui apenas quero expor meu caso, porque por esse mundo afora deve haver muitos outros idênticos. Não tenho medo de ficar sozinho, mas muito medo do ser humano e da justiça dos homens, porque é eivada de falhas, erros, maldades e mentiras. Tenho medo da maldade humana. Acredito apenas na justiça divina com muita esperança e fé! * Relato de Stefan Vegel Filho
fotos: www.sxc.hu
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[ plural ]
“Se eu fosse gay...” Texto: Laura Bacellar*
S
e eu fosse gay, com certeza já teria feito muito mais sexo na vida, desde os meus 15, 16 anos, quando – como jovem lésbica
descobrindo o mundo – comecei a achar as meninas mais interessantes que os meninos. Em vez de ficar quieta no meu canto, ruminando sobre o que estava
apache às bonecas que ganhava. Eu tinha
aquela mesma preguiça da maioria dos
acontecendo e com medo de me expor, se
um revólver de espoleta e brincava de
machos de nossa espécie de lidar com as
eu fosse gay teria ido muito antes procurar
tiroteios com meu irmão! A maioria das
questões emocionais. A casa precisa cair
o que me dava prazer. Porque, mesmo
pessoas aceita uma menina que queira ser
antes de um homem tomar providências
no esquema de horários controlados de
como os meninos porque estes são vistos
de cuidado próprio como fazer terapia,
minha adolescência, como menina pairava
como superiores, melhores, mais corajosos
tomar florais, praticar ioga ou qualquer
sobre mim aquela preocupação de pais
nesse nosso meio machista. Imagine
ação sistemática que não aumente seus
conservadores de eu perder a virgindade,
se eu fosse um menino com a mesma
músculos nem sua capacidade de fazer
de precisar ser “resguardada”. Já os
impaciência para com as expectativas de
sexo. Se eu fosse gay, é bem possível
meninos que eu conhecia eram todos
gênero, tenho certeza de que como garoto
que evitasse olhar muito para dentro,
incentivados, ainda que não às claras nessa
que gostasse da Suzy eu seria mandado
que não gostasse de longas conversas
nossa sociedade hipócrita, a se mostrarem
para um psicólogo muito mais cedo...
sobre sentimentos, que mantivesse
machinhos e irem atrás do que queriam. Se eu fosse gay, por outro lado, teria
Se eu fosse gay muito provavelmente teria sido chefe de departamento muito
muros firmes em torno de minha vulnerabilidade.
sofrido ainda mais confrontos do que sofri
antes, teria sido promovido, ganharia
durante essa mesma formação rígida.
mais do que como lésbica. Porque
que teria um senso de humor afiado.
Como menina, ninguém ligou muito
gays, ainda que não apreciados pelos
Porque, como homem, não me importaria
quando eu escapei dos papéis de gênero
preconceituosos, ainda assim são homens
tanto em ferir as sensibilidades alheias,
esperados para mim e preferi o forte
e portanto ganham mais pontos dentro
teria mais coragem de me colocar como
das estruturas corporativas do que
diferente. Todos nós, gays, lésbicas e
mulheres, não importando se lésbicas ou
transgêneros que conseguimos sobreviver
héteros. No meu meio editorial, não sei
às pressões e nos assumir, acabamos
quantos gays conheço em posições de
adotando uma atitude do tipo “problema
comando, em muito maior número do que
da sociedade se não me aceita”, mas
mulheres.
acredito que os gays sejam mestres em
Se eu fosse gay, por outro lado,
* Laura Bacellar é escritora e editora de livros, atualmente responsável pela primeira editora lésbica da América Latina, a Malagueta www. editoramalagueta.com.br
Se eu fosse gay, tenho certeza ainda
tornar o senso de humor masculino um
provavelmente teria tido apenas um
instrumento cortante. Como lésbica dou
ou dois relacionamentos significativos,
muita risada, mas se eu fosse gay acho
que me teriam partido o coração. Eu
que transformaria o que penso do mundo
teria ficado um gato escaldado, sem
absurdo em que vivemos, as críticas que
muita vontade de me abrir novamente
nos fazem, os moldes em que nos tentam
para emoções profundas. Porque gays,
colocar em material para comentários
ao contrário do que pensa a sociedade,
curtos e ácidos de fazer os inteligentes
são homens muito masculinos e têm
rolarem de rir.
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[ mundos opostos ]
A busca do direito à homoafetividade Texto: Maria Berenice Dias
É
histórica, universal e notória a
homossexuais o direito de se casarem.
exclusivamente à divisão dos “lucros”, isto
discriminação aos homossexuais.
Porém, nada justifica tal restrição. Afinal,
é, partilhava-se o patrimônio adquirido
A influência religiosa que
não é condição para o casamento a prova
durante a vigência da união, mediante a
amordaça a sociedade impõe às
da fertilidade do casal nem é exigido que
prova da efetiva participação de cada um. A mudança começou pelo Rio
uniões que passaram a ser chamadas de
declarem o desejo de ter filhos. De outro
homoafetivas a mais perversa punição.
lado, a referência constitucional a um
Grande do Sul, a partir do ano de 2001.
Excluídas do sistema jurídico, as relações
homem e uma mulher na união estável
Definida a competência das varas de
de pessoas do mesmo sexo acabam
não é suficiente para impedir que as
família, as uniões de pessoas do mesmo
condenadas à invisibilidade.
uniões homoafetivas sejam identificadas
sexo passaram a ser identificadas como
como entidades familiares.
entidades familiares. Atualmente, já
Por medo de ser rotulado de homossexual, o legislador se omite. Mais
O fato é que, mesmo sem leis, os
existe um punhado de decisões, e de
preocupado em garantir sua reeleição,
homossexuais foram bater às portas do
vários Estados, reconhecendo-as como
não aprova qualquer projeto que atenda a
Judiciário. Os avanços – ainda que tímidos
uniões estáveis. E, no momento em que
minorias alvo do preconceito. No entanto,
– vêm da jurisprudência. Em um primeiro
as uniões homoafetivas são inseridas no
o silêncio da lei não significa inexistência
momento, as uniões homoafetivas foram
Direito das Famílias, um leque de direitos
de direito.
reconhecidas como sociedades de fato. As
lhes é assegurado também no âmbito do
ações tramitavam nas varas cíveis e não
Direito Sucessório: meação, exercício da
pelo matrimônio. Outras relações
nas varas de família. Era como se o casal
inventariança, direito real de habitação etc.
afetivas, constituídas fora do casamento,
tivesse se unido para “abrir” um negócio.
simplesmente não mereciam
E, no fim do relacionamento, ou quando
parte. Mas, para isso, é necessário que
reconhecimento. Com a nova Constituição
da morte de um dos “sócios”, procedia-se
os profissionais se especializem para
Federal houve o alargamento do conceito de família. Não só o casamento, também a união estável e as famílias
A Justiça até que está fazendo a sua
atender a este novo ramo do Direito. Não
Giovani Paim
Até 1988, a família era identificada
há como falar em dignidade humana quando pessoas são discriminadas por sua
monoparentais – um dos pais e os filhos
orientação sexual. O não reconhecimento
– foram identificadas como entidades
das uniões homoafetivas constitui afronta
familiares. Ou seja, o próprio conceito de
aos princípios da igualdade e da liberdade.
família mudou. Para o seu reconhecimento
Afinal, o que os homossexuais desejam
não mais se exige a tríplice identidade:
é que lhes seja assegurado o direito de
casamento-sexo-procriação. Hoje
serem felizes. E, respeitar o direito à
existe família sem casamento, está aí a
diferença é a única forma de garantir a
união estável. Com o surgimento dos
todos o direito fundamental à felicidade.
sem medo. E é possível procriação sem sexo, em face dos modernos métodos de reprodução assistida. Ainda assim, persiste a ideia sacralizada do casamento com a finalidade de cumprir o dogma: “crescei e mutiplicaivos”, o que impõe a heterossexualidade do par. Este é o motivo para negar aos
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contraceptivos, pratica-se sexo recreativo
Maria Berenice Dias, Advogada especializada em Direito Homoafetivo www.mbdias.com.br
Por medo de ser rotulado de homossexual, o legislador se omite. Mais preocupado em garantir sua reeleição, não aprova qualquer projeto que atenda a minorias alvo do preconceito. No entanto, o silêncio da lei não significa inexistência de direito.
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S
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Poncho estampado c/ bolso canguru Marcelu Ferraz/ Legging longa barra estampada Marcelu Ferraz
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Calรงa Azul e Preta Doc Dog/ Camiseta Laranja Rip Curl
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Jaqueta Amarela Marcelu Ferraz / Shorts Marcelu Ferraz
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Blusa de tricô canelada Rip Curl/ Calça Jeans estonada Kelf/ Camiseta NaGuchi/ Tênis Nike
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[mundo digital ]
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HTC TyTN II Preço sugerido R$ 2.700 Possui sistema operacional Windows Mobile WM 6.0 Professional, display colorido de 2,8, câmera digital de 3.0 megapixels, MP3 e GPS integrado.
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[seu bolso]
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Texto: Paco Llistó
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ão é de se estranhar que as primeiras notícias sobre a atual crise econômica tenham tirado o sono de tanta gente. Talvez porque, quando a bolha estourou, em setembro do ano passado nos Estados Unidos, poucos conseguiram explicar com clareza o que estava acontecendo: enquanto bancos faliam e ajudas bilionárias eram liberadas pelos governos, o cidadão comum, acostumado a tantas outras crises, perguntava-se, mais uma vez, se tudo aquilo poderia prejudicá-lo de alguma maneira. Detalhes sobre o impacto da crise no bolso dos consumidores demoraram a aparecer. Ninguém se atrevia a apresentar soluções para a recessão que hoje assola o planeta. Até mesmo os suicídios, que são uma espécie de triste termômetro em tempos de crise, apresentaram índices elevados, bem próximos àqueles vistos após a quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Mas é preciso ter calma! O momento é de investir e pensar no futuro, por mais difícil que isso possa parecer. “É chegada a hora de sermos nós mesmos, ao invés de querer ser o que não somos”, alerta Eduardo Farah, 39, consultor de finanças da Chama Azul, empresa de business care. “Não há uma forma especial de se preparar para essa crise, exceto tomar consciência do que é verdadeiro e o que é falso, a começar pela sua relação com o dinheiro”, destaca.
“
É chegada a hora de sermos nós mesmos, ao invés de querer ser o que não somos
“
Consultor dá dicas e explica como sobreviver às turbulências da economia
Para o especialista, é muito fácil entender o que está acontecendo no mundo. “Nós confiamos em algo que não existia – dinheiro e valor real –, mas como os outros confiaram também, mantivemos o mecanismo funcionando – e multiplicando seus efeitos. A evolução do problema foi bastante simples: se eu vendo o que não tenho ou ainda o que não existe e todos confiam nisso, eu recebo o valor daquilo que vendi e tenho mais dinheiro para emprestar, financiar ou revender”, explica. De acordo com Farah, nos últimos 40 anos, a sociedade viveu a evolução e os desdobramentos de um raciocínio que a princípio não tem muita lógica. “Pensa-se assim: vendo um pouco mais ou vendo novamente aquilo que já foi vendido, e assim por diante. É um jeito bem rápido de fabricar muito dinheiro, mesmo sem ‘entregar’ exatamente aquilo que o dinheiro comprou, afinal, todos estão ganhando com a expectativa de crescimento futuro e, como todos confiam, ninguém está realmente se importando se existe lastro ou não naquela operação”, diz. Como essa crise pode não ter hora para acabar, o consultor recomenda cautela e um mínimo de coragem. “Estamos sendo chamados a ter mais verdade nas nossas relações, inclusive as financeiras”, acredita Farah. Para ser bemsucedido em meio à turbulência, o consultor orienta investir com segurança. “Invista para ganhar o que precisa, ao invés de querer tudo ou o máximo. As altas e baixas da bolsa, por exemplo, podem dar muito dinheiro, mas também podem fazer você perder bastante. O risco
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Invista para ganhar o que precisa, ao invés de querer tudo ou o máximo.
“
os cintos
é alto. Independentemente do que fizer, tenha mais consciência de suas implicações e riscos”, pondera o especialista. E se mesmo assim tanto cuidado não for suficiente? A quem recorrer? Livros e profissionais podem ajudar, sugere o consultor. “Se eu tenho dificuldade em controlar meus gastos, devo buscar conhecimento de como fazê-lo”, recomenda. “E se eu compro para me sentir bem, talvez seja a hora de buscar algo que me ajude a me sentir bem sem precisar comprar para isso.“
anças pessoais para Dicas do consultor em fin enfrentar a crise: is do que você tem; 1) Não gaste nada a ma m aquilo que você 2) Não deixe de gastar co precisa de verdade; que você precisa; 3) Tenha clareza sobre o nha e quanto você 4) Saiba quanto você ga ente); gasta (pode ser mensalm %) para ter quando 5) Guarde um pouco (10 precisar; . 6) Seja simples, sempre
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[internacional ]
Parada
tamanho família Texto: Márcio Rodrigo Delgado* Fotos: Assessoria de Imprensa Pridelondon.org
Parada gay mundial e Jogos Olímpicos no mesmo ano são motivos para começar a preparar sua viagem para a capital inglesa
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012 promete ser o ano em que Londres irá bater recorde de público. Mas nem todo mundo que estará visitando a capital inglesa terá como objetivo principal acompanhar os Jogos Olímpicos, que custarão à cidade cerca de 700 milhões de libras. No mesmo ano em que atletas de diferentes modalidades e nações transformarão a cidade numa arena esportiva, uma parada gay tamanho família espera atrair até quem não entende nada de esportes, mas precisa de uma boa desculpa para visitar uma das cidades mais cosmopolitas do mundo.
Em outubro, durante a 27ª Conferência Mundial do Orgulho Gay, em Vancouver, Canadá, a cidade foi escolhida para sediar o WorldPride, evento que conta com o apoio do prefeito de Londres e órgãos responsáveis em promover o turismo na Grã-Bretanha. O número de pessoas esperado é ambicioso: pegando carona no fato de os Jogos Olímpicos acontecerem simultaneamente, a parada estima receber algo em torno de 6 milhões de participantes, público de fazer inveja até mesmo a eventos como a parada gay de São Paulo, cidade bem maior que Londres. “Essa foi uma vitória e tanto para a capital. O London
Economia: eventos como Olimpíada e parada gay irão aquecer a economia da Inglaterra
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WorldPride: pela primeira vez em Londres desde 1982
Pride (parada gay de Londres) já é um dos pontos altos do calendário festivo e cultural da cidade e sediar o WorldPride é uma honra para nós. Não vai ter nenhum outro lugar na Terra em 2012 para estar a não ser Londres!”, comemora Sally Chatterjee, do site Visitlondon.com, já prevendo que esse será um dos verões mais quentes que a Europa vai ter. Com o objetivo de promover paradas internacionais, festivais e outras atividades culturais voltadas para a comunidade LGBT, o evento não irá durar apenas um dia, a exemplo de outras tradicionais paradas ao redor do mundo. A festa terá a incrível duração de duas semanas, dando largada no dia 23 de junho e terminando em 8 de julho. A parada principal, no entanto, deve acontecer um dia antes do encerramento, e a diversão vai ganhar tom sério e lembrar das vítimas dos ataques terroristas do dia 7 de julho de 2005, quando 52 pessoas morreram em Londres. A escolha da capital da Inglaterra para celebrar uma parada do orgulho gay mundial coincide com a divulgação do resultado de uma recente pesquisa americana entre 4.000 turistas gays que aponta o Reino Unido como o destino preferido fora da América do Norte – um mérito que está ajudando o país a combater uma crise financeira que tem gerado desemprego no setor bancário e diminuído o volume de vendas no comércio inglês, inclusive com a redução de voos domésticos. “Estou fascinado com o fato de que Londres ganhou o direito de sediar a WorldPride em 2012. A cidade tem uma das maiores e mais diversas comunidades GLS do planeta e essa é uma fantástica oportunidade de inspirar outras cidades ao redor do globo terrestre. Num ano de jogos olímpicos, os olhos do mundo já estarão voltados para Londres e a cidade vai dar uma enorme recepção de boas-vindas para a comunidade LGBT, seus amigos e familiares, porque nós queremos que essa seja a mais colorida e excitante edição que o festival já teve”, defendeu Boris Johnson, prefeito de Londres e que em julho deste ano acompanhou a parada do orgulho gay pela primeira vez, cumprindo todo o trajeto da passeata a pé. Mesmo com tanta diversidade cultural e com um dos maiores públicos gays do mundo, como bem lembrou o prefeito em exercício, essa será a primeira vez que Londres irá sediar a WorldPride, evento criado nos Estados Unidos no início da década de 80 e que só esteve no Reino Unido uma vez, quando o evento coloriu as ruas de Glasgow, na Escócia, em 1999. Para quem acha que jogos olímpicos + verão no exterior + parada gay mundial ainda não são motivos suficientes para já ir começando a fazer um pé-de-meia e se preparar para dar um pulinho na Europa daqui a três anos, vai aqui outra dica: no mesmo período será comemorado o jubileu de diamante da rainha.
*Márcio Rodrigo Delgado é jornalista, consultor em marketing e atualmente reside em Londres. marcio.delgado@yahoo.com 103
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[around ]
Nova York Texto e fotos: Joaquim Andrade
Nova York é minha cidade favorita. Não canso de escrever isso! Sempre que algum amigo me pede uma dica de viagem, eu digo: NYC!
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ugiro, somente nesta época do ano, a famosa Century 21. Uma loja de departamentos e de ponta de estoque. Um verdadeiro paraíso de descontos e multidão (para quem gosta!). A loja possui várias seções, andares e especialidades. Roupas de inverno, calçados, utensílios, cosméticos e até móveis. Separe um dia inteiro para essa loja, vá com muito dinheiro e a mesma quantidade em paciência. Mesmo quando abre e até antes de fechar é geralmente lotada. Há grandes descontos e é possível comprar roupas da Hermès, Galiano, Diesel, entre outras. Ali há uma seção só de cashmeres masculinos com preços a partir de US$ 80. Paciência e boa sorte! Dica: há uma boa seção de malas! Funciona das 7h45 às 21h. Domingos até as 20h! A Century 21 fica na 22 Cortlandt St # A. Fone: (212) 227-9092 Site: www.c21stores.com Uma dica pra enganar o frio é “se jogar” nas exposições. No Soho há uma pequena e supercharmosa galeria: a CFM Gallery. Quando estiver por ali, dê uma passada, nem que seja rápida. Mesmo que não compre nenhuma das obras de centenas de milhares de dólares, é uma boa parada para descansar das compras, fugir do frio e aprender um pouco sobre arte. Não é permitido fotografar ou filmar por dentro. (Nem do celular! Os funcionários ficam BEM
de olho!) Funciona das 11h às 18h. A CFM Gallery fica na 112 Greene St. Fone: (212) 966-3864 Site: www.cfmgallery.com O Upper East Side é o local mais valorizado de Nova York. Entre a Lexington e a Third Avenue ficam os mais badalados restaurantes da região. Não propriamente GLS (se é que existe algum lugar assim em NY), são agradáveis e superbem frequentados. Sugiro o Lantern. Com comida tailandesa, esse restaurante localizado na esquina oferece elegantes pratos e à noite, como o nome diz, várias lanterninhas e velas são acessas, trazendo uma atmosfera intimista e elegante. O Lantern Thai Kitchen fica na 311 2nd Ave (entre 18th St e 19th St). Fone: (212) 777-2770
Recentemente precisei de um hotel em Manhattan, coisa que sempre evito por ser mais caro. Porém, good news! De acordo com o site de viagens Expedia, o valor das diárias caiu quase pela metade por causa da crise... Então, aproveite! Site: www.expedia.com.
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Nova York é deslumbrante – e excitante – em qualquer época do ano
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[around ]
Frankfurt Que Berlim é a capital mais gay da Europa, isso é fato. Mas e Frankfurt, a Manhattan alemã? Com poucas mas seletas opções, a cidade oferece ótimas atrações.
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ocalizada às margens do rio Meno – ou Main em alemão –, tudo em Frankfurt é a maior “alguma coisa”! O maior aeroporto, a maior bolsa de valores, o maior centro de exposição e a maior economia do país. Jamais permita que Frankfurt seja seu destino único na Alemanha, pois a cena gay não é lá grandes coisas e as opções se esgotariam rapidamente. Há boates, lojas, restaurantes e várias saunas. Mas deixe dinheiro, tempo e disposição para outras cidades também! Andando pelas ruas é possível ver homens de mãos dadas. Outra particularidade sobre Frankfurt é que nós latinos fazemos sucesso naquela região da Europa. Então, dica: fale português, mesmo que ninguém responda. Deixar claro que é do Brasil “vende” bem por lá! O inverno alemão é tão pesado quanto a língua. Espere dias curtos e noites longas. Não economize nas roupas de inverno nem no antigripal na nécessaire. Há dias em que a temperatura máxima não ultrapassa os 4ºC. Frankfurt possui um excelente metrô. Não há catracas, você compra o bilhete e entra. Caso não tenha um válido, a multa é de 44 euros. Para comprinhas, leituras, filmes e um leve search, sugiro a maior sex shop do país: o Dr. Müller. Há todos os tipos de seções, artigos e produtos. Os vendedores são superdiscretos e após as 18h é quando o local fica mais fervido.
O sex shop fica na Dr. Müller´s Sex-World Kaiserstr 66. Fone: +49 69 252717 Não existe um bairro gay propriamente dito na cidade, mas há algumas lojas espalhadas. Sugiro a Ivanhoe Men. Com uma variedade de roupas da moda, há jeans descoladíssimos e lindos moletons. A loja fica na Ivanhoe Men Werner brand Stiftstrasse 14. Fone: 069-219 964 98 e-mail: ivanhoe.ffm@t-online.de Chocolates! Assim como os suíços, os chocolates alemães são famosíssimos. Uma das mais sofisticadas casas da cidade é a Bitter & Zart. Há inúmeros tipos de doces. Sugiro o Dolfin Noire com pedaços de menta. A Bitter & Zart fica na Domstrasse 4. Fone: 06994942846 – e-mail: info@bitterundzart.de – Site: www. bitterundzart.de Quanto mais frio é o tempo, mais interessantes são os museus. Frankfurt possui mais de 60. A minha sugestão é o Museu da Caricatura. Localizado em um antigo palacete dos anos de 1400, onde originalmente existia um depósito de tecidos da monarquia, é pequeno e muito interessante. O Caricatura Museum Frankfurt fica na Weckmarkt Strasse 17. Fone: 69 21235599 – Site: www.caricaturamuseum.de
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Colado ao Museu da Caricatura, fica a Frankfurt Kaiserdom Cathedral, a catedral mais importante da cidade. Atualmente está em reforma, mas a visitação interna é liberada. Há guias poliglotas das 9h às 18h auxiliando os turistas. As missas (em alemão) são outra atração à parte, pois há cantos gregorianos e um órgão de centenas de claves. A Kaiserdom Cathedral fica na Domplatz 14. Fone: 069- 2970320 – e-mail: dom.frankfurt@t-online.de Zeil Strasse é a mais famosa rua da cidade. Corta a parte central e é o maior centro comercial de Frankfurt. Há lojas internacionais como a H&M, C&A, Nike, Adidas e várias lojas alemãs. Separe um dia inteiro para essa rua. Agora, bom gosto mesmo fica na Goethe Strasse. Uma pequena rua de quatro quarteirões (também pequenos), onde ficam as melhores lojas da alta costura mundial. Louis Vuitton, Gucci, Mont Blanc, Prada (só feminina), entre outras.
E quando o jeans vira um hotel? Sim, estou falando do 25 Hours Hotel by Levi´s. O inventor da calça jeans nasceu na Alemanha e para homenageá-lo foi criado um hotel com seu nome. O charmoso estabelecimento fica bem no centro comercial e toda a decoração remete à fábrica Levi’s. O 25 Hours Hotel by Levi’s fica na Niddastrasse 58. Fone: +49 (0)69 25 66 77 Site: www.25hours-hotels.com/frankfurt2.
Joaquim Andrade é jornalista e colunista internacional. Contato: www.joaquimandrade.com.
Movimentada e tecnológica, Frankfurt tem opções para todos os gostos
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[turismo ]
Sol, calor e muito Miami Beach prepara-se para promover em abril sua primeira parada gay
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Texto: Paco Llistó
onsiderada uma das mecas do turismo gay mundial, a sempre ensolarada Miami Beach prepara-se para mostrar ao mundo que tem muito orgulho. Parece mentira, mas a cidade, que organiza anualmente ao menos quatro grandes eventos LGBT e tem uma influente Câmara de Comércio destinada a tratar dos interesses econômicos da comunidade, nunca promoveu sequer uma parada gay. A decisão de realizar uma manifestação na cidade contou com a ajuda da prefeita, Matti Bower. Aliás, uma de suas primeiras ações no ano passado foi criar um comitê que pudesse planejar as atividades do evento, marcado para o próximo 18 de abril. Apesar de possuir uma das comunidades gays mais atuantes dos Estados Unidos, Miami Beach ficou famosa – e
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não é à toa – por suas bem-sucedidas circuit parties, como a aclamada White Party, que este ano acontece em 25 de novembro e espera reunir milhares de pessoas. E foi com o intuito de fortalecer a imagem da cidade no âmbito dos direitos LGBT que os organizadores da Miami Beach Gay Pride (MBGP) concentraram seus esforços para fazer com que o evento não deixasse nada a dever para as já consagradas manifestações de San Francisco e Nova York. “As prioridades mudaram”, diz Babak Movahedi, 48, presidente do comitê organizador. “Antes, nosso foco estava em questões políticas, como o registro de parcerias civis, e na defesa de nossos direitos”, acrescenta o ativista. Como acontece no Brasil, a parada terá eventos paralelos, que prometem agitar vias famosas do balneário, como a Ocean Drive e a chique Lincoln Road. Além da marcha em si, a programação inclui uma exposição sobre negócios que será montada em plena areia da praia, com direito a um palco onde se apresentarão DJs e outros artistas da cena local. No dia do evento, a expectativa dos organizadores é reunir ao menos 5 mil pessoas. “Mas esperamos mais gente”, torce Movahedi. Se depender da boa aceitação da comunidade, a parada será mesmo um sucesso. “Miami e Miami Beach têm uma longa reputação de serem lugares perfeitos para a comunidade gay. É importante mostrarmos um lado dessa comunidade que vai além das festas. Temos belas praias, um clima perfeito e as pessoas mais lindas do mundo”, defende Movahedi, que acrescenta: “E agora também temos uma parada gay.” Nos Estados Unidos, as paradas gays são um negócio rentável para as empresas que as patrocinam. Em Nova York,
Quem leva A TAM Viagens tem pacotes para Miami no período de 15 a 19 de abril a partir de US$ 1.065,00 (Hotel Days In South Beach). A empresa oferece voos saindo do Rio de Janeiro, Manaus e Fortaleza e conexões de várias cidades. Mais informações: www.tamviagens.com.br.
Apoio “É difícil acreditar que uma cidade tão diversificada e inclusiva não tivesse uma parada gay. Vamos realizar todos os esforços possíveis para garantir que a Miami Beach Gay Pride 2009 seja um sucesso.” – Matti Bower, prefeita de Miami Beach.
Quem recomenda ”Miami é um dos destinos norte-americanos mais latinos que existem. É uma cidade cheia de charme, lindas paisagens, uma infraestrutura incrível” – Clóvis Casemiro, gerente para o segmento GLS da TAM Viagens.
Dicas rápidas (e essenciais) para quando você for a Miami • Gays e lésbicas de todo o mundo estão presentes em South Beach e também na Nude Beach, mais ao norte. • Na famosa e chique Lincoln Road, que vira uma passarela de gente bonita, é possível encontrar vários bares, restaurantes, clubes e lojas de marca. • A praia muito frequentada pelo público gay está localizada na altura da 12nd Street
por exemplo, grandes companhias como a Budweiser, a companhia aérea Delta, Google e o Bank of America investiram milhões de dólares na última edição, sem medo de aliar suas marcas à comunidade LGBT. A Miami Beach Gay Pride já conta com o patrocínio da loja de departamentos Macy´s e de órgãos oficiais do turismo da cidade, como o Miami Beach Visitor and Convention Authority. No caso da parada de Miami Beach, o comitê organizador contou com um orçamento de cerca de US$ 125 mil – verba bem menor da que foi investida em São Paulo, onde Prefeitura e patrocinadores destinaram R$ 1 milhão para a 12ª Parada do Orgulho LGBT, realizada no ano passado. Mas como destaca Babak Movahedi, uma parada não se faz somente com dinheiro. “Serão mais de mil horas de trabalho voluntário para realizar esta importante parada. No dia do evento e duas semanas antes dele, mais de 75 voluntários serão mobilizados para transformar o evento em realidade”, conclui Movahedi. Saiba mais sobre a Miami Beach Gay Pride em seu site oficial: www.miamibeachgaypride.com.
– é só chegar e se divertir.
Os principais eventos LGBT em Miami Beach ao longo do ano: Março
Abril
Winter Party Festival
Miami Gay & Lesbian Film Festival
Na programação, uma semana de
O Festival de Cinema Gay & Lésbico
festas com a participação de consa-
de Miami é um dos mais importantes
grados DJs, além de eventos culturais,
do mundo e é conhecido por anteci-
esportivos e gastronômicos. Mais
par títulos com temática LGBT. Saiba
informações: www.winterparty.com.
mais em www.mglff.com.
Maio
Novembro
Aqua Girl
White Party Week
Evento dedicado exclusivamente às
Principal festa gay de Miami, o evento, que
lésbicas, com uma extensa progra-
ocorre ao longo de uma semana, chega a
mação de festas. Mais informações:
reunir mais de 15 mil pessoas a cada edição.
www.aquagirl.org.
Saiba mais: www.whiteparty.net.
Para saber mais sobre o turismo em Miami: www.gogaymiami.com www.miamigaytravel.com www.miamiandbeaches.com www.miamibeachvca.com www.gmaps360.com/miami.htm (mapa de Miami)
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[perdido e achado ]
Fotos: Marcio Amaral
O sucesso já estava no nome
A
Léo Model
história de não é muito diferente da dos outros modelos. Catador de fumo e funcionário de uma lanchonete em Chapecó (SC), Léo, 21, saiu do anonimato para ganhar o mundo. Descoberto pelo fotógrafo Márcio Amaral e integrante do casting da agência Mega há apenas um mês, Léo estreia em editoriais aqui na Aimé. O booker de Léo já avisa que o modelo está muito feliz em fazer parte desta edição, dizendo que ele é “determinado e ambicioso”. Você tem alguma dúvida?
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[ponto final]
BARACK HUSSEIN Nosso colunista foi testemunha ocular da histórica posse do primeiro presidente negro dos Estados Unidos
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Texto: Joaquim Andrade*
OBAMA
erça-feira, 20 de janeiro, eu estava em Nova York viajando para a Around **We can change (ou quando me dei conta de que era o dia da posse de Obama. Em Washington, foi computado o maior número de pessoas jamais visto para uma posse de nós podemos mudar), um líder: quase 2 milhões de pessoas. frase usada por Como estava em Nova York, escolhi a Times Square para assistir ao evento. Ruas fechadas, trânsito desviado, telão de plasma armado, televisões do mundo todo, Obama que já virou centenas de policiais e milhares de pessoas. Eu estava lá, no meio delas, com minha câmera e bloquinho nas mãos. Os sites YouTube e Twitter anunciaram que tiveram até música remixada. sobrecarga de acessos e downloads. As próprias filhas do novo presidente não se intimidaram e gravaram partes da posse do pai. Na hora do juramento usando a Bíblia que já foi de Abraham Lincoln, Times Square estava em silêncio total. Jamais pensei que fosse possível ver aquela cena. A energia era contagiante. Todos, ou a maioria, estavam cheios de esperança e aliviados com o adeus de Bush partindo de helicóptero. Praticamente todos os governos americanos foram marcados por algum sucesso ou tragédia. Mas três foram mais marcantes: Lincoln libertando os escravos e unindo colônias do norte e sul, Roosevelt tirando o país da crise de 1929, e agora Obama com a função de recolorir a imagem americana na ótica mundial. Pragmático e com um senso de humor óbvio, Barack Obama contaminou a maioria dos eleitores norte-americanos. Para mim, Obama assumiu o pior emprego do mundo. O planeta está de olho em seus passos e é melhor que sejam passos largos e nobres. Diferentemente da crise de 1929, quando a sobrevivência era a única aspiração da população, o americano está confiante e ansioso com todo este papo de “Nós podemos mudar”*. O fato é que os ricos estão um pouco menos ricos, e os pobres estão bem mais pobres. Dentre os milagres prometidos por Obama estão: a mudança no sistema de saúde, o aumento de carros híbridos, maior uso da energia solar e até pesquisas com célulastronco (vetadas por Bush). Sobre a comunidade LGBT, Obama disse que apoia a adoção de crianças por casais gays e declarou-se a favor do casamento homossexual. Fato novo, pois na época em que estava no Senado Obama dizia-se tradicional e “cristão”. Quando o assunto é a comunidade gay, a maioria dos governantes esquiva-se ou usa expressões politicamente corretas, mas que não dizem nada. E Obama? “We can change”... Até onde e quando? Os Estados Unidos, acredito, são a nação que mais se reinventou diante de crises. No mundo real ter uma meta é ótimo, mas ver se ela funciona e qual é seu preço já é outra história! Daqui a um ano, volto para o primeiro balanço. * Joaquim Andrade é jornalista e colunista da revista Aimé. Estreou a seção “Ponto Final” e promete ficar de olho em Obama. Contato: www.joaquimandrade.com AIMÉ 114
NÃO É À TOA
QUE O ARCO-ÍRIS TEM O VERMELHO
DA TECNISA.
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