Revista Aime 8

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[editorial ]

Ana Maria Sodré

A palavra é diversidade. No Mês do Orgulho Gay, comemorado em junho, a AIMÉ chega às bancas para discutir, com profundidade, os assuntos que pautam o dia a dia. Como não poderíamos deixar de destacar, a matéria especial aborda a Parada LGBT de São Paulo deste ano. A reportagem, no entanto, apresenta uma visão diferenciada: os bastidores do evento que começou tímido e hoje leva o título da maior parada LGBT do mundo. Escrita nos moldes do jornalismo literário, a matéria “Que PARADA é essa?” mostra claramente a tendência da AIMÉ: grandes reportagens sobre temas de interesse, com textos criativos e de abordagem diferenciada. A AIMÉ mais uma vez enche as suas páginas de diversidade. Com os mais variados temas, optamos também pela pluralidade de vozes. Nesta edição, trouxemos diferentes olhares

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para discutir os assuntos de relevância. É o caso das jornalistas Natália Barrenha, Lívia Velasco e Fernanda Souza, que colaboram com a sua visão sobre música, literatura, cinema, direitos etc. Outro convidado especial é o italiano radicado no Brasil Tommaso Besozzi, coordenador do 7º Ciclo de Debates “Construindo Políticas para LGBT” da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que aborda na seção “Mente Aberta” o Sistema Interamericano de Direitos Humanos. A revista que, como a Parada, começou tímida e discreta, assume a sua identidade e garante o seu espaço através do comprometimento com a qualidade da informação e o debate de todos os temas que permeiam o universo gay. Boa leitura!

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ano II :: nº 8 :: 2009

Diretora Geral e Editorial: Diretora Superintendente: Projeto Gráfico / Designers: Jornalista Responsável: Reportagem: Colaboradores:

Revisão: Coordenadora de Publicidade: Executivo Comercial e de Marketing: Circulação e Assinatura: Distribuição em Bancas:

As matérias assinadas não refletem a opinião da Revista Aimé. De acordo com a Resolução RDC Nº 102, de 30 de novembro de 2000, a Revista Aimé não se responsabiliza pelo formato ou conteúdo dos anúncios publicados. É proibida a reprodução parcial ou total da Aimé sem a devida autorização da Editora Lopso.

Ana Maria Sodré Fernanda Sodré Hudson Calasans, Alexandre Almeida Nina Rahe DRT 509/MS Camila Balthazar, Mariana Tinêo, Nina Rahe Adriano Zanni, Fernanda Souza, Joaquim Andrade, Lívia Velasco, Márcio Rodrigo Delgado, Marco Túlio Neves, Natália Barrenha, Tommaso Besozzi, Vander Lins Isabel Gonzaga Cristiana Domingos Daniel Duracenko (daniel@revistaaime.com.br) assinaturas@revistaaime.com.br Fone: (11) 2714-5400 Fernando Chinaglia

Aimé é uma publicação mensal da Editora Lopso Comunicação Ltda. Rua Vieira de Morais, 420, cj 86, Campo Belo, São Paulo CEP 04617-000. Tel. (11) 2714-5400. Distribuidor exclusivo para todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A. ISSN: 1982-9558

Acesse o novo portal da Aimé:

www.revistaaime.com.br

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[índice]

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Ricardo Santos

Variedades 10

Gastronomia 34

Cultura 14

Capa 36

Entrevista 22

Relaxe 48

Arte 30

Sexo 54

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Mente Aberta 58

Especial 72

Internacional 92

Boys 60

SOS 76

Around 96

Atitude 66

Moda 80

Lúdico 102

Luxo 68

Extra 88

Perdido e Achado 114

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DIVULGAÇÃO

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Amém!

jogar! Mora em Sampa e procura novas opções para cair na gandaia? Ou então visita a capital paulista e não sabe onde aproveitar a noite? A redação da Aimé testou três festas que entraram de vez para a agenda noturna da cidade.

Gambiarra (www.gambiarraafesta.com.br): A festa, que começou tímida, agora lota todos os domingos o espaço do aconchegante Salvador Dalí. Reúne atores, modelos e muita gente conhecida.

Os estilistas Stefano Gabbana e Domenico Dolce deixam de lado, ao menos temporariamente, o mundo da moda e aparecem nas telas do cinema vestidos de batina. Os dois atuam no musical Nine, que chega às telonas pelas mãos do diretor Rob Marshall. Inspirado no clássico 81/2, de Fellini, Nine conta a história de um diretor de cinema que é perseguido por todas as mulheres de sua vida, da amante à sua falecida mãe, enquanto tenta fazer um novo filme. Ao lado dos mestres da moda, estão também estrelas do cinema internacional, como Daniel DayLewis, Judi Dench, Kate Hudson, Nicole Kidman, Penélope Cruz e Sophia Loren. Nine está previsto para estrear ainda em 2009.

Para se

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Logo ao lado do Salvador Dalí, a dica é a festa Muse(c), que ocorre às sextas-feiras. Além de DJs conhecidos, inclui na programação pocket shows de artistas e apresentações de drag queens.

Sour Times:

Cambrigde:

Balada mais alternativa, a Sour Times rola todas as quartas-feiras no Kitsch Club (http://www.kitschclub.com.br). Sob o comando dos DJs Johnny (Projeto Voyage) e Tonyy (Cocktail Lounge DeLuxe / Trash 80’s), a festa é lugar certo para quem gosta de trip hop e de outras vertentes da lounge music.

A atriz Cynthia Nixon, conhecida por interpretar a personagem Miranda Hobbes na série e no filme Sex and the City, anunciou que quer se casar com a namorada, Christine Marinoni. A declaração aconteceu durante um ato a favor da legislação do casamento entre homossexuais realizado em Nova York. Nixon anunciou aos participantes da manifestação que ficou noiva de Marinoni em abril, e que gostaria de se casar com a companheira em Nova York, quando o Senado do estado legalizar a união homossexual. O governador novaiorquino, David Paterson, anunciou em abril um projeto, que já foi aprovado pela Câmara de Deputados, com o qual deseja legalizar a união entre pessoas do mesmo sexo e equiparar seus direitos aos dos heterossexuais. Se o Senado aprovar a proposta, Nova York seguirá outros estados do país, como Massachusetts, Connecticut, Vermont, Maine e Iowa.

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Cyn thia Nix on anuncia que quer se ccasar asar ynthia Nixon com a namor ada namorada

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DÉBORA FERRAZ

Tradição na semana da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, o Gay Day promete para este ano uma programação especial. O evento é realizado todos os anos em comemoração ao Mês do Orgulho Gay e é considerado o maior encontro pago do gênero no País. Só no ano passado, o evento contou com a presença de 8 mil pessoas e este ano a expectativa dos organizadores é reunir 12 mil. O Gay Day acontece no dia 13 de junho no Playcenter, das 10h às 22h. A atração conta com DJs renomados e apresentações das drag queens mais descoladas de São Paulo. O destaque é para Silvetty Montilla, que será a apresentadora do evento. ○

Alexandre Herchcovitch assume a marca Rosa Chá MAIHARA MARJORIE

Depois de 17 anos à frente da Rosa Chá, o estilista Amir Slama deixa a marca e indica Alexandre Herchcovitch como seu sucessor. Giuliano Donini, presidente da Marisol S.A., aceitou a sugestão e fechou com Alexandre Herchcovitch para assumir a partir da coleção Inverno 2010. A sugestão foi motivada pelos fatos de Herchcovitch já conhecer o trabalho desenvolvido para a marca e de os dois estilistas apresentarem afinidades e reconhecerem o estilo um do outro. Anteriormente, Amir e Herchcovitch já haviam trabalhado juntos em algumas ocasiões, quando a Rosa Chá confeccionou biquínis e maiôs desenhados por Alexandre para sua própria marca.

“procuradas”

1. Lindsay Lohan 2. Perez Hilton 3. Elton John 4. Tila Tequila 5. Ellen Degeneres 6. Marc Jacobs 7. Clay Aiken 8. George Michael 9. Anderson Cooper 10. Suze Orman 11. Adam Lambert 12. Rufus Wainwright 13. Jodie Foster 14. Melissa Etheridge 15. Tom Ford 16. Ani DiFranco 17. Portia de Rossi 18. Lance Bass 19. Boy George 20. Rachel Maddow 21. Samantha Ronson 22. Rosie O’Donnell 23. Neil Patrick Harris 24. Cynthia Nixon 25. Wanda Sykes

as celebridades gays mais

Desde a invenção do Google, a cantora Britney Spears desponta como uma das celebridades mais procuradas em pesquisas no Google. Intrigados com tanta aparição, a equipe da revista Advocate (mais antiga publicação estadunidense voltada à comunidade LGBT) resolveu verificar quais foram as personalidades mais requisitadas nas pesquisas nos últimos cinco anos. Em primeiro lugar, está a atriz Lindsay Lohan, alvo diário dos tabloides desde o término do namoro com a DJ Samantha Ronson. Confira os finalistas e saiba mais a respeito deles no site www.advocate.com

Gay Day

Advocate aponta

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Frase

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O Cirque du Soleil traz para o Brasil o espetáculo Quidam. A temporada, com estreia nacional marcada para o dia 11 de junho, em Fortaleza, terá duração de um ano e 330 apresentações, com um público estimado em mais de 800 mil pessoas. Depois da capital cearense, o

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A história, no entanto, suscita reflexões ao abordar a vida de um homem homossexual que quer amar em paz e evitar que seu relacionamento se transforme em um melodrama repleto de vidas duplas. Segundo declaração do diretor, o filme pode ser entendido como uma metáfora que mostra o desespero de um personagem que só quer ser ele mesmo.

espetáculo segue para Olinda/Recife (9 de julho), Salvador (13 de agosto), Brasília (18 de setembro), Belo Horizonte (23 de outubro), Pinhais/Curitiba (4 de dezembro), Rio de Janeiro (8 de janeiro de 2010), São Paulo (26 de fevereiro de 2010) e Porto Alegre (27 de maio de 2010). Reconhecido internacionalmente por sua intensa teatralidade aliada a números de impacto, Quidam conta com a participação de 50 artistas de 15 nacionalidades, sendo três brasileiros. A montagem utiliza mais de 250 figurinos, 200 pares de sapatos e 500 objetos de cena. Saiba mais em www.ticketmaster.com.br/quidam.

Depois de ser impedido de filmar pelo governo chinês após abordar o protesto estudantil da Praça Celestial no filme Summer Palace, o diretor Lou Ye apresentou seu novo trabalho no 62º Festival de Cannes: Spring Fever. O filme, que foi finalizado com financiamentos originários da França e Hong Kong, não empolgou a crítica e a plateia presentes.

filme mostra desespero de personagem gay

62º FFestival estival de Cannes:

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Roberto Benigni, ator italiano que defendeu a homossexualidade durante a 59ª edição do Festival de San Remo, do qual participou o cantor Giuseppe Povia, cuja música Luca Era Gay gerou polêmica ao retratar um “ex-gay”.

Os homossexuais foram perseguidos, torturados, presos em campos de concentração, assassinados. E sabem por quê? Porque amavam outra pessoa.

Novo espetáculo do Cirque du Soleil

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[cultura]

Música Por Fernanda Souza

Moder n Guys Modern

O ano é 1980. Entre os gêneros musicais que surgiram nessa década, um se destaca principalmente pelo uso de teclados e sintetizadores. Com eles, entrava em cena o New Wave.

Discografia: Logo começam a aparecer bandas que se rendem às batidas eletrônicas desse gênero musical, como New Order, The Human League, Eurythmics, Erasure. É bebendo dessa fonte que surge em Exsses, Inglaterra, o Depeche Mode. Influenciado pelos alemães do Kraftwerk, Dave Graham, Martin L. Gore, Andrew Fletcher, Vince Clarke e Adam Wilder, conquista o sucesso em meados de 81, com o single Just Can’t Get Enough, que fica entre os dez mais das paradas inglesas. A banda que possui 29 anos de existência ainda mantém sua formação original, com exceção de Vince Clarke, que a deixou no final de 81, e Adam Wilder, que saiu em 1995. Ao todo são 12 discos lançados, nos quais o grupo mostra toda a sua trajetória, sempre mantendo a base dos sintetizadores, porém adicionando a eles os riffs de guitarras, baixos e muito experimentalismo. Sucessos como Strange Love, See You, Enjoy the Silence embalam até hoje as pistas de dança das casas noturnas espalhadas pelos quatro cantos do país. E foi com esses e outros sucessos que o Depeche Mode se tornou uma das bandas mais criativas das últimas décadas, sendo referência para bandas de rock atuais como The Killers, Franz Ferdinand, Keane e ganhando a admiração do gênio do country Johnny Cash, que fez questão de gravar uma música da banda, Personal Jesus, em seu disco American IV: The Man Comes Around, de 2002. O mais recente disco, Sounds of the Universe (Emi Music, 2009), comprova a competência da banda. Wrong, primeiro single do álbum, é forte, impactante e mostra o poder vocal de Dave Graham, assim como Come Back, que demonstra bem a faceta eletrônica da banda. Corrupt, a última faixa do disco, lembra muito o sucesso Personal Jesus, com a voz abafada e os riffs de guitarra de Gore. Depois de tanta criatividade, não há dúvidas em afimar que o Depeche Mode é um dos conjuntos mais completos e originais do mundo da música.

Speak & Spell (1981)

A Broken Frame (1982)

Some Great Reward (1984)

Black Celebration (1986)

Music for the Masses (1987)

Violator (1990)

Songs of Faith and Devotion (1993)

Ultra (1997)

Exciter (2001)

Playing the Angel (2005)

Sounds of the Universe (2009)

Eles estão chegando ao Brasil! Após 15 anos desde a última apresentação no Brasil, o Depeche Mode chega ao País com a sua Tour of the Universe. A banda toca no dia 22 de outubro no Rio de Janeiro e 24 de outubro em São Paulo. Os ingressos começam a ser vendidos a partir de 25 de julho, porém os locais de venda ainda não foram divulgados.

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Construction Time Again (1983)

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Vanguart Multishow Registro (Universal, 2009) Sincero, doce e intenso. Três características marcantes nas canções da banda de folk rock Vanguart. Os cuiabanos são destaque na cena independente e cada vez mais conquistam novos admiradores no mainstream. A prova disso é o recente lançamento da banda, Multishow Registro, primeiro CD e DVD lançados pela nova gravadora, Universal, e o segundo trabalho do grupo. O álbum faz um passeio pelas influências musicais dos integrantes, que vão da piscodelia dos Beatles ao folk de Bob Dylan. Além de Cachaça e Semáforo, músicas mais conhecidas do grupo, o disco traz participações especiais de Mallu Magalhães em The Last Time I Saw You e Arthur de Faria na inédita Robert. A novidade fica por conta da regravação de um clásico de Dorival Caymmi, O Mar, mostrando que a MPB também está presente nas influências musicais da banda.

Yeah yeah yeahs It’ s Blitz (Interscope, 2009) It’s A banda liderada pela enérgica Karen O lança seu terceiro álbum, It’s Blitz, que chega com efeitos eletrônicos e sintetizadores à vontade. Os nova-iorquinos renovam seu som sem perder o aspecto roqueiro, como em Dull Life, onde é possível sentir os riffs barulhentos das guitarras de Nick Zinner. Zero, primeiro single do álbum, foi feito para quem quer se jogar na pista de dança, assim como Heads Will Roll. Destaque para Little Shadow, uma das faixas mais bonitas do disco e um convite à apreciação da voz de Karen O. Produzido por Dave Sitek e Nick Launay, que já trabalharam com TV on the Radio e Arcade Fire respectivamente, o álbum tem tudo para agradar até os fãs mais exigentes da banda.

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Divulgação

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Teatro Por Vander Lins

Mostra Cênica Caio F. O Casarão do Belvedere, símbolo da burguesia paulistana, abriga até o final de junho a diversidade literária do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu (19481996). A mostra, que reúne sete espetáculos teatrais e um de dança, pretende estabelecer uma discussão sobre as possibilidades interpretativas e cênicas em torno de um mesmo autor. A curadoria do projeto, a cargo de Rodolfo Lima, procurou textos que pudessem ser facilmente adaptáveis ao casarão, uma vez que os espetáculos aconte- David Kawai - Uma História de Borboletas cem em cômodos distintos da casa. Confira a programação prevista: Mostra Cênica Caio F. Onde: Casarão do Belvedere Rua Pedroso, 267 – Próximo ao Metrô São Joaquim - Fone: (11) 3266-5272

O Dia em que Júpiter Encontrou Saturno

Epifanias Até 26/6, sextas-feiras às 21h

Até 24/6, quartas-feiras às 21h

Uma História de Borboletas Pode Ser que Seja Só o Leiteiro do Lado de Fora

Até 23/6, terças-feiras às 21h

Até 25/6, quintas-feiras às 21h

Todas as Horas do Fim + Das Memórias do Coração

Cacá Bernardes

Até 27/6, sábados às 21h

tire do anonimato. Luiz Päetow dirige o espetáculo e também assina a tradução do texto, um original de Jean-Luc Lagarce, em sua primeira montagem no País. O texto é dividido entre cinco atores e a peça segue o código do teatro de revista e seus números de entretenimento, mas em vez de dança e comédia, os atores realizam números de introspecção e desvarios.

Atriz Gabriela Flores

Music-Hall Ancorada no seu banquinho e nas suas recordações, uma artista de music-hall repassa sem descanso a vida que levou, de noite em noite, com um público cada vez mais grosseiro e desinteressado. Tentando sobreviver nos arrabaldes cinzentos, essa menina e seus dois auxiliares agarram-se como podem a um mundo que os rejeita, na vaga esperança de reencontrarem um lugar, uma réstia de glória, um refletor de luz que os

Onde: Sala Vitrine - Teatro Imprensa Rua Jaceguai, 400 - Bela Vista Fone: (11) 3241-4203 Horários: sábados às 21h e domingos às 17h30 Duração: 70 minutos Temporada: 13/6 a 30/8, sendo que até 5/7 está vigente o Ingresso Social

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Beatles num Céu de Diamantes Encontrar teatralidade em músicas que não foram feitas para o teatro é um enorme desafio para qualquer espetáculo. Apesar de algumas tentativas no circuito da Broadway, nada surgiu de relevante nesse terreno. Mas, independente da direção escolhida, podemos classificar a encenação de Beatles num Céu de Diamantes como uma revista musical com a obra do grupo de Liverpool. Não se segue uma cronologia, tampouco há um ar didático ou professoral sobre os Beatles. O que existe são pequenas histórias e situações, que passeiam por um dos repertórios musicais mais ricos do século passado. Não faltam pérolas do quarteto inglês como Lucy in the Sky with Diamonds, Yesterday, Hey Jude, Let It Be, Strawberry Fields Forever, entre outras canções menos conhecidas. Um elenco de 11 atores-cantores, com reduzido recurso cênico, sem texto, apenas com as canções e suas letras originais em inglês. O acompanhamento também é simples – embora luxuoso: piano, violoncelo e percussão.

Onde: Teatro das Artes - Shopping Eldorado Av. Rebouças, 3.970 – Pinheiros Fone: (11) 4003-2330 Horários: sextas às 21h30, sábados às 19h e 21h30 e domingos às 19h Duração: 90 minutos Temporada: indeterminada

As Centenárias Nana Moraes

Mais uma vez, o Nordeste serve de inspiração para o dramaturgo pernambucano Newton Moreno. O autor, que conquistou reconhecimento em 2004 com Agreste, continua colecionando críticas positivas. Com As Centenárias não foi diferente. A peça, estrelada por Andréa Beltrão e Marieta Severo, ganhou o Prêmio Shell para melhor dramaturgia em 2007. A trama se passa no interior do Nordeste, onde duas amigas carpideiras (Socorro e Zaninha) passam a vida percorrendo velórios, chorando os mortos, ouvindo e contando histórias. Na longa jornada das duas carpideiras, cruzam personagens como o mítico cangaceiro Lampião, um coronel traído e uma viúva inconsolável. E acontece até mesmo o inevitável encontro com a morte. Com muita esperteza e sabedoria popular, as duas encontram caminhos ardilosos e bem-humorados para driblar e adiar o inevitável.

Onde: Teatro Raul Cortez – Fecomércio Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - Bela Vista Fone: (11) 2198-7701 Horários: sextas-feiras às 21h30, sábados às 21h e domingos às 17h Duração: 90 minutos Temporada: até 28/06

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Tela Grande

desejo perigo

Entre o eo

POR NATALIA BARRENHA

Uma relação violenta, apaixonada e proibida, assim como a de O Segredo de Brokeback Mountain, é a essência do novo filme do diretor taiwanês Ang Lee. Mas não é só na temática que Desejo e Perigo (que chega com atraso às telas brasileiras) aproxima-se de Brokeback. Com Desejo e Perigo, Ang Lee mergulhou em polêmicas, e também venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, sendo um dos poucos diretores da história a ser laureado bicampeão na competição, em 2006 e 2007. Apesar da premiação na Itália e em muitos outros festivais menores – o que fez com que Lee fosse presenteado pelo governo taiwanês com 303 mil dólares, quantia que o cineasta doou para ajudar diretores iniciantes a produzir seus próprios filmes –, Desejo e Perigo teve uma recepção morna da crítica, bem ao contrário do sucesso estrondoso de Brokeback. Tecnicamente impecável, com fotografia e direção de arte magníficas, o perfeccionista Ang Lee deixou escapar um longo e enfadonho suspense na trama que mescla nacionalismo chinês e amor impossível. O versátil Ang Lee, que já passou pela comédia cult (O Banquete de Casamento, de 1993, sobre uma relação homossexual), pelo drama romântico (Razão e Sensibilidade) e pelas artes marciais (com O Tigre e o Dragão), em Desejo e Perigo

baseia-se em um conto da escritora chinesa Eileen Chang (1920-1995) que começou a ser escrito nos anos 50 e, após diversas revisões, foi finalmente publicado em 1979. Na Xangai ocupada pelos japoneses entre as décadas de

Terra estrangeira O cineasta Henrique Goldman não vive em sua terra natal há aproximadamente três décadas. Brasileiro radicado em Londres, o diretor é atraído pela temática da imigração e tem no currículo alguns trabalhos que tratam do assunto. Este mês, mais uma produção de Henrique sobre o tema chega aos cinemas: Jean Charles. A história do eletricista mineiro que foi morto pela polícia de Londres ao ser confundido com um terrorista, em junho de 2005, em meio à paranoia pós-11 de setembro, é conhecida pela grande maioria dos brasileiros e ocupou as manchetes de diversos jornais pelo mundo. Além do desejo de explorar o universo dos imigrantes em Londres, Goldman interessou-se de cara pelo caso de Jean, com o qual confessa ter se identificado. Porém,

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40 e 50, o símbolo sexual Tony Leung (ator-fetiche do cineasta chinês Wong Kar Wai) é chefe da polícia local e alvo de um grupo de universitários que pretende matá-lo. Para isso, o grupo promove uma aproximação entre ele e uma atriz de teatro amador da cidade, interpretada pela estreante Tang Wei. Porém, a farsante se apaixona por Leung e passa a viver entre o desejo e o perigo ao envolver-se com o inimigo. Nos Estados Unidos, o filme foi classificado como “thriller erótico” devido às polêmicas cenas de sexo (que fizeram com que a atriz Tang Wei fosse banida da China por protagonizálas). Ao contrário do que se pode imaginar, tais sequências são singelas e precavidas, tendo a entrega como elemento principal. Filmadas em 11 dias em um set fechado, somente com a presença do cinegrafista e da equipe de som, as cenas são descritas por Ang Lee como “apenas gráficas, e não pornográficas”. Já Tang Wei comenta que as tomadas foram delicadamente ensaiadas antes das gravações. Além da presença de Tony Leung, em Desejo e Perigo podem ser encontradas diversas aproximações com o cinema de Wong Kar Wai e sua fixação pelos amores desencontrados. As influências do diretor de Felizes Juntos (sobre um casal de homossexuais que vai a Buenos Aires na tentativa de recuperar o seu romance) podem ser vistas nos diálogos pausados, nos movimentos serenos e nos jogos de olhares silenciosos. Porém, apesar da elegância, dessa vez Ang Lee fica devendo em sensualidade a Kar Wai. Desejo e Perigo (Se, Jie – Lust, Caution). Direção: Ang Lee. China/ Taiwan/EUA. 2007. Drama. Duração: 157 minutos. mesmo com o foco voltado para a vida dos brazucas, não falta crítica e acusação à polícia inglesa no filme. Selton Mello faz o papel de Jean Charles e o elenco ainda conta com Vanessa Giácomo e Sidney Magal. A família de Jean teve participação importante na construção do filme, e alguns personagens interpretam a si mesmos na película. A produção foi uma encomenda da rede estatal britânica BBC. Entretanto, devido a divergências entre Goldman – que gostaria de evidenciar o ponto de vista brasileiro da história – e a rede – que queria uma versão inglesa dos fatos –, o projeto foi cancelado. O cineasta, no entanto, não desistiu da ideia – e agora nos dá a oportunidade de conhecer um pouco mais aqueles compatriotas que vivem em terras estrangeiras. Jean Charles (Brazuca – título no exterior). Direção: Henrique Goldman. Brasil/Reino Unido. 2009. Drama. Duração: Não disponível.

Terrorismo

pop

O Grupo Baader Meinhof narra a conduta dos movimentos de resistência à política alemã nos anos 60 e 70 através da guerrilha urbana do grupo mais radical da contracultura na Alemanha, a Facção do Exército Vermelho (RAF) ou Grupo Baader Meinhof, em alusão aos seus dois líderes mais importantes, o estudante Andreas Baader e a jornalista Ulrike Meinhof. Em meio às estruturas abaladas de um mundo repleto de tensões políticas (maio de 1968 na França e Guerra do Vietnã), a RAF era um grupo extremista que posteriormente foi considerado terrorista devido ao teor violento de suas ações. Dirigido pelo desconhecido Uli Edel (Corpo em Evidência e Christiane F.) e com um orçamento de aproximadamente 20 milhões de euros, sendo considerado o filme mais caro da história da Alemanha, O Grupo Baader Meinhof concorreu este ano ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, sendo derrotado pelo japonês A Partida. Apesar do roteiro um tanto raso, que simplifica a trajetória da facção, a película conquista pelo ritmo acelerado – que procura dar conta das inúmeras ações ousadas do grupo – e pelas cores saturadas típicas da época retratada. O filme descreve o surgimento do grupo, em 1967, até 1977, ano que foi marcado por ações fracassadas e pelo suicídio de seus idealizadores na prisão. O Baader Meinhof continuou existindo até o fim da década de 1990, porém sem o glamour e o mesmo impacto de suas primeiras gerações. Aliás, glamour é uma boa palavra para descrever a RAF. Apesar das ideias utópicas e do comportamento por vezes pueril de seus integrantes, é impossível não se encantar pelo charme, o idealismo apaixonado e a crueza sem limites do grupo, que mesmo impetuoso em seus atos, agora expostos na tela grande, não desceu de seu pedestal mítico – resultado oposto ao desejado pelo diretor. O Grupo Baader Meinhof (Der Baader Meinhof Komplex). Direção: Uli Edel. Alemanha/França/República Tcheca. 2008. Ação/Drama histórico . Duração: 150 minutos.

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Livros Por Natalia Barrenha

Pra ver a banda passar ○

Para o antropólogo Fabiano Gontijo, mestre e doutor pela Escola de Estudos em Ciências Sociais na França, professor e pesquisador na Universidade Federal do Piauí (UFPI), “o carnaval, festa governada pelo mitológico deus romano Momo, parece funcionar como um arcoíris que não somente teria o poder ritual sobre a sexualidade, o gênero e a aparência corporal, mas criaria experiência social – identitária – real e permanente”. Aprofundando essa temática, Gontijo lança o livro O Rei Momo e o Arcoíris: homossexualidade e carnaval no Rio de Janeiro. A obra é uma versão reduzida de sua tese de doutorado, na qual apresenta os resultados de uma vasta pesquisa etnográfica realizada durante a década Segundo uma lenda portuguesa, de 1990, procurando compreender os aqueles que passarem debaixo do arco-íris significados do carnaval para aqueles terão seu sexo modificado imediatamente. que mantêm relações sexuais preferen-

cialmente com pessoas do mesmo sexo, além de expor o desenvolvimento do carnaval carioca desde a década de 1960 e a “homossexualização” que essa festa experimentou até os dias de hoje. Com uma linguagem acadêmica um tanto truncada no início do livro, Gontijo afrouxa sua narração nos capítulos seguintes, contando uma história repleta de dados e extremamente interessante e prazerosa. A conclusão é que, felizmente, nem tudo toma seu lugar depois que a banda passa. O Rei Momo e o Arco-íris: homossexualidade e carnaval no Rio de Janeiro Autor: Fabiano Gontijo Coleção Sexualidade, Gênero e Sociedade, da Editora Garamond Preço: R$ 34,00 Páginas: 208 www.garamond.com.br

Tudo ao mesmo tempo ○

Em 2004, a escritora Ana Maria Machado lançava Tudo ao Mesmo Tempo Agora, direcionado ao público infanto-juvenil. A história era protagonizada por um menino pobre que convivia com pessoas ricas, e que enfrentava questões como preconceito, ética, justiça e solidariedade em seu cotidiano. O escritor, jornalista e professor universitário Jean Wyllys talvez não conheça o livro de Ana Maria Machado, mas há mais coisas em comum entre sua recém-lançada coletânea de crônicas do que apenas o nome. Também chamado Tudo ao Mesmo Tempo Agora, o livro de Jean trata de assuntos como preconceito, ética, justiça e solidariedade em textos que refletem a militância do autor (que se tornou nacionalmente famoso após vencer a quinta edição do Big Brother

Brasil, em 2005). O engajado baiano, que já tem dois livros publicados – Aflitos (2001) e

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Ainda Lembro (2005) –, apresenta nesta coletânea textos publicados em sua coluna na revista G Magazine, escritos de seu blog e trechos de declarações à imprensa. No livro, ele aborda diversos assuntos, que variam de literatura a comportamento, acerca de fatos e produtos da indústria do entretenimento e do que se convencionou chamar de cultura gay. A obra oscila entre textos muito bons e outros medianos, em uma leitura que flui leve. Tudo ao Mesmo Tempo Agora – Crônicas e perturbações Autor: Jean Wyllys Giostri Editor Preço: R$ 25,00 Páginas: 136 À venda exclusivamente nas livrarias Saraiva e Siciliano. www.giostrieditora.com.br

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Entre comunistas e fashionistas ○

“A minha vida se resume a ver roupa passando.” Essa é uma das primeiras frases do primeiro romance da jornalista e escritora Nina Lemos, colunista do jornal Folha de São Paulo e repórter especial da revista TPM, além de autora da coluna e blog 02 Neurônio, que já tem cinco livros publicados. Num relato divertidíssimo e com uma sutil ironia (marcas registradas de Nina), o romance conta a história de Ludimila, uma editora de moda e ditadora de tendências que, durante um desfile, começa a ouvir vozes, o que deslancha num conflito entre seu presente hedonista e glamoroso em meio às passarelas e seu passado numa família de comunistas radicais que lutavam contra a ditadura no Brasil. Os bastidores do mundo fashion, tão conhecidos por Nina, são o

pano de fundo para as “aventuras” de Ludimila. Esse pano de fundo foi escolhido, segundo a autora, devido à influência que a moda tem nos dias de hoje – mas poderia ser substituído por qualquer meio fetichizado. “Eu acho que é uma história de alguém da nossa geração. A gente cresceu ouvindo um monte de ideal socialista e... foi trabalhar com moda, em grandes corporações. Assim como o livro se passa na moda, eu acho que poderia se passar na Microsoft”, diz Nina, filha de guerrilheiros como Ludimila, e que confessa ver um tanto de si em sua personagem. A Ditadura da Moda Autor: Nina Lemos Conrad Editora Preço: R$ 27,90 Páginas: 120 www.conradeditora.com.br

A prostituição viril que escandalizou o meio acadêmico ○

Cansado das perseguições em sua terra natal, a Argentina, Néstor Perlongher veio a São Paulo no início da década de 1980 e acabou no Programa de PósGraduação em Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde desenvolveu sua dissertação de mestrado que, em 1987, virou livro: O Negócio do Michê: A prostituição viril em São Paulo. Referência fundamental para os estudiosos de sexualidade e gênero e para qualquer um que se interesse pelo assunto, tanto pela originalidade do tema quanto pelas análises, a obra – que estava esgotada – foi relançada pela Editora Fundação Perseu Abramo no fim do ano passado e confirmou sua contemporaneidade e relevância em relação aos debates atuais. Apesar de escrito em linguagem não acadêmica, o livro tornou-se um clássico

da pesquisa etnográfica. Com um amplo arsenal teórico, Perlongher valeu-se também do procedimento participativo para a pesquisa: foi às ruas de São Paulo e entrou em contato direto com seu objeto de estudo. O livro baseia-se principalmente em depoimentos de michês, clientes e outros personagens desse universo. Discussões sobre o desejo, a urbanidade, a sexualidade, a corporalidade e o mercado do sexo são alguns dos temas abordados pelo pesquisador que, na época, deixou o meio acadêmico escandalizado, ao mesmo tempo em que se sintonizava com as Teorias Queer (estudos sobre homossexualidade) que surgiam nos Estados Unidos. Autor de mais oito livros de poesia e importante ativista político, Perlongher morreu em 1992 em consequência da aids.

O Negócio do Michê: A prostituição viril em São Paulo Autor: Néstor Perlongher Editora Fundação Perseu Abramo Preço: R$ 38,00 Páginas: 272 www.efpa.com.br

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Por trás das criações suntuosas, o discreto estilista POR NINA RAHE

FOTOS: BRUNO NUCCI

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a charmosa e acolhedora Rua Normandia, no bairro paulistano de Moema, uma vitrine chama a atenção em detrimento das tantas outras lojas localizadas na mesma rua. Lá estão três manequins com seus vestidos suntuosos. Em um tom forte de verde, os vestidos são para uma noite de ópera. Não são roupas usáveis, conforme explica o criador dos modelos, são apenas para ilustrar o tema da coleção outonoinverno: Uma noite na ópera de Paris. Ao entrar na loja, em contraponto com a sofisticação da vitrine, está um homem vestido discretamente – camisa social branca, calça jeans e tênis – e que, para os desavisados, impressionados com tamanha simplicidade, dificilmente poderia ser o autor de tais criações. Mas é ele mesmo: Rogério Figueiredo, o estilista responsável por exuberantes roupas que já vestiram celebridades como Betty Faria, Daniela Escobar, Deborah Oliveira Sampaio, Luiza Brunet, Mila Moreira, Deborah Secco, Claudia Alencar, Cissa Guimarães e Paula Lima.

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Há pouco tempo no bairro de Moema, o estilista comemora o sucesso de seu novo endereço, que – apesar de não estar em uma região central – tem atraído clientes fiéis e ávidas por suas criações. Em entrevista exclusiva à Revista AIMÉ, o estilista conta um pouco de sua vida pessoal, revela o funcionamento de seu processo de criação e adianta o que virá na coleção primavera-verão 2010.

Na escola, você estava sempre à frente nas datas comemorativas. Como era? Foi na escola onde começou tudo. Todas as datas comemorativas (Dia do Índio, 7 de Setembro, Dia da Bandeira), eu estava envolvido nos projetos e fazia o figurino das meninas com papel crepom. A escola começou a perceber que eu tinha um talento que a família não queria, mas não tinha como tirar. E quando chegou o momento de decidir a faculdade, foi quando eu viajei para Paris. Lá fiz uma prova para entrar no curso La Mode e passei de primeira, sem nem falar francês. E então decidi: vou fazer Moda.

Você pode contar um pouco sobre como foi a fase em que viveu em Paris?

Desde pequeno, você já criava modelos e customizava acessórios em datas comemorativas da escola. Mas antes disso, quando foi que aconteceu o seu primeiro contato com a moda? Eu venho de uma família extremamente tradicional de militares. Eu sou o caçula temporão, depois de 17 anos. Tenho dois irmãos que são médicos e exercem a profissão no Exército. E então veio o caçula fazendo toda a revolução na família. Desde pequeno, minha tendência pra moda já era muito forte. Eu recortava tudo que era relevo, toalhas de banho e enxovais, colava nos potinhos de Yakult e brincava de desfile.

E como sua família reagia a esse interesse? A reação não era feliz e também lógico que eles tinham preocupação por acharem que estava acontecendo alguma coisa errada. Eles pensavam, na verdade, que era um erro. Todo esse encantamento com a moda, ser homem, aquela confusão toda.

Primeiro morei com um amigo da família, depois me mudei e fui dividir um apartamento com dois amigos. A gente morava num apartamentinho, em frente à Praça Joana D´Arc, de um quarto e um banheiro. Tinha o Louvre de frente, mas era só um quartinho. Aquecimento era a lareira, tinha que comprar lenha, mas eu adorava. Quando me mudei para um apartamento maior, eu sentia saudade. O novo tinha sala, quarto, banheiro. E tinha que limpar. Ai, que preguiça! E tinha que limpar. No outro estávamos em três e limpávamos em um minuto. Mas depois de um ano e meio morando lá, eu já conhecia muita gente bacana e em dois anos e meio já estava frequentando lugares incríveis. Eram contatos, e ninguém sabia que eu morava no sótão (risos).

E como foi que essa experiência contribuiu para a sua carreira como estilista? Depois de sete meses em Paris, eu já estava envolvido com cursos e trabalhos. Então preenchi uma ficha para trabalhar numa casa de moda francesa, a Maison Scherrer, e entrei. Comecei no departamento de pregar botões e lá minha vida começou realmente como estilista. Dos botões passei para a área de desenvolvimentos de bordados, depois fiz desenhos para a alta costura, da alta costura passei para o desenvolvimento de croquis. Hoje, na minha equipe de trabalho, as costureiras que estão comigo são treinadas com o estilo que eu herdei de fora, a minha roupa é um pouco mais europeia mas ao mesmo tempo tem um corte moderno. Tudo isso em razão dessa bagagem que eu trouxe de fora. Então se você pegar uma roupa minha no avesso, verá que dá pra usar. Além disso,

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a moda é muito deslumbrante e minha bagagem de fora me colocou com o pé no chão.

E quando voltou para o Brasil, como foi até criar a sua própria marca? Quando voltei para o Brasil e abri meu primeiro ateliê, prestei serviço para as marcas NK Store, Zoomp, Daslu, Zion, Alexandre Herchcovitch entre outras. E aí logo surgiram as clientes de alta costura (eu ainda não tinha marca estabelecida), e então comecei a trabalhar só para mim. Eu digo que o sol nasce para todos. Não digo que eu sou o melhor. Digo que para o meu trabalho exijo respeito e então faço com muito carinho, muita determinação. Qualquer peça, até uma regata, ela tem a minha cara, é algo feito com muito cuidado.

Você começou utilizando papel crepom. Hoje, existe alguma preferência na utilização de determinados materiais e tecidos? Bom, depois do papel crepom (risos), em Paris trabalhei com todos os tipos de tecidos. Em cada temporada era um diferente porque cada estilista procura o material que quer utilizar. Tem gente que trabalha até com palha e eu já mexi com tudo isso. Hoje, trabalho muito com tecido importado. Para cada coleção faço pesquisas para decidir com o que vou trabalhar, mas praticamente todas as minhas roupas são em seda pura, desde os tecidos mais encorpados até os mais leves. Mesmo as rendas espanholas que busco fora para as minhas noivas são quase 80% seda. A minha base é essa.

Como são as pesquisas desenvolvidas para as coleções? O processo de criação é algo muito rápido. Para a coleção de inverno atual, fiz uma homenagem a uma noite de estreia na ópera. A coleção inteira está baseada nisso: a vitrine é uma ópera. Não é roupa usável, mas foi baseada nisto: “Hoje nós temos uma estreia na ópera de Paris. Como a mulher vai se vestir?” Bidu Sayão foi uma das homenageadas, pegamos alguns pontos da Maria Callas, misturamos tudo e resultou nessa loucura toda.

E para a coleção primavera-verão 2010, o que podemos esperar? Eu agora estou indo para Las Vegas fechar a cartela de cores. Fui para lá no ano passado assistir ao show da Cher. Fui pra descansar uma semana e saí de lá

“passado” com Las Vegas. Com a história, com a atmosfera do jogo, aquele cenário no meio do deserto. E foi assim que veio a temporada de verão. E eu estou voltando agora para fechar um quebracabeça de estampas. Olha que loucura!

Depois de definido o tema da coleção, quais são as etapas de criação e como acontece esse trabalho? Depois do tema finalizado, de definido o estilo da roupa, como será o corte, a modelagem, pensamos em qual será a mulher do Rogério Figueiredo. Definimos se ela será mais classuda, mais moderna ou uma mulher ousada. Decididos esses quesitos entre a equipe, começamos o processo de desenho. Entra toda a parte de croquis, pegamos as cartelas de cores e de tecidos e começo a rabiscar os vestidos. Então chega a coleção inteira, ponho na minha parede e aí vamos limpá-la, decidindo o que é vendável ou não. E nisso vai e vem modelo para acertar a modelagem. E eu não uso modelo 38, uso modelo 40. Mulher que tem busto e quadril, que é a brasileira. Viajar na

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a estampa, aqueles vestidos suaves, bem leves, pareciam uma borboleta no seu corpo. Dessa leveza vieram vestidos de festa glamorosos. Até o processo do casulo virou uma coisa deslumbrante em roupas. A gente vai viajando, mas sempre com o pé no chão porque tem que ser vendável, senão fica tudo na arara.

Você recentemente lançou uma inédita linha masculina. Como foi? Os homens reclamavam de suas criações serem somente para mulheres? criação para uma modelo 36 esquelética, aquele vestido 36 é lindo, mas se colocar ele no modelo 40 não dá muito certo.

E qual é a mulher Rogério Figueiredo da coleção primavera-verão? A que vem? Ela vem muito sensual, um pouco abusada, eu acho, mas ela vem feliz e o importante é isso. Ela será feliz onde estiver. Essa é a ideia, porque em Las Vegas até na rua você está dando risada e achando aquilo o máximo, e a energia daquilo é muito boa. Essa é a mulher do Rogério Figueiredo pro verão 2010. Ela vai ficar feliz em qualquer lugar, até na esquina da São João com a Ipiranga. A roupa vai ajudar a fazer local.

Existe um momento específico para a criação? Depende muito. Quando viajo, quando vou começar uma temporada, eu estou saindo sempre sem saber nada e daqui a pouco estou tomando um café da manhã e, meu Deus, é isso! Daí minha filha, segure Figueiredo porque vai ser isso até o final da viagem. Às vezes não acontece nada, eu viajo e não descubro qual será a próxima coleção.

Você poderia descrever algum momento inusitado no qual você tenha descoberto qual seria a próxima coleção? Uma vez eu estava em Madri e não sabia o que eu queria. Fui pra Córdoba e estava lá, sentado na praça, quando desce uma borboleta no meu braço, enorme, toda colorida. Da asa da borboleta nasceu toda a minha coleção. O tema foi “Na asa da borboleta”. Toda

A cobrança era por parte das mulheres. As mulheres que vinham comprar falavam: “Você tem que fazer roupa pro meu marido. Fico só eu linda.” E daí foi isso que ficou também na minha cabeça. A primeira coleção masculina foi bem aceita e agora estamos no processo da segunda. O meu masculino é um bebê ainda, não nasceu da maneira que eu quero, ainda estou acertando. Para apresentar a primeira coleção, foi um processo de estudo de três anos, pesquisando, viajando, acertando modelagem, mas acredito que precise de mais umas três temporadas pra chegar no que eu quero. Eu predomino muito no feminino, no masculino ainda estou balançando.

Você lida bem com crítica negativa? Eu adoro porque na verdade eu não sou Deus. Acho que as críticas que são pra você melhorar são ótimas, mas têm críticas que são de falta de respeito e aí eu não admito. A crítica é a base de tudo para na próxima melhorar mais ainda. Sempre tento justificar pra mim mesmo para saber onde errei e vou buscar até decifrar exatamente.

Já houve alguma crítica que o chateou? As brincadeiras (vamos colocar como brincadeiras) do Ronaldo Ésper. Uma vez, no início da minha carreira, no primeiro casamento do Otávio Mesquita, fiz o vestido da Beth Szafir, que era madrinha. O vestido era um deslumbramento: um tomara que caia com alguns babados embaixo. Foi o primeiro vestido que lancei com babados em São Paulo. Era uma coisa o vestido. E ele virou e falou que o vestido da Beth parecia um parafuso. Aquelas críticas dele que são engraçadas, para não falar maldosas. A Beth sentiu um pouco isso também.

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Em uma entrevista, a atriz Gabriela Duarte comentou que sente não poder usar mais roupas suas devido à sofisticação, já que não costuma sair muito. O que você pensa a respeito disso? Na verdade, a Gabriela não é muito de sair, mas em muitas das vezes que ela sai está com roupa minha. Mas realmente, às vezes têm pessoas que não usam por ser uma roupa muito elaborada. É que na verdade, quando as pessoas falam de Rogério Figueiredo, só pensam em festa e eu não tenho só festa. Tenho pret-à-porter do básico até a noite. Isso é uma coisa que a gente está trabalhando, essa imagem de que não é só luxo. Agora, lógico que o meu básico é um básico um pouquinho mais elaborado. Você não vai poder ir a uma churrascaria com uma camisa de seda. Ainda mais que vai sair fedendo a churrasco e vai acabar com a roupa.

Quais são as mulheres que o inspiram? Eu tive muitas mulheres. Não posso dizer uma só, porque são tantas. Bom, vou falar uma sim. Eu tive uma que foi paixão à primeira vez. Ela é uma mulher muito chique, carrega tudo que pode nela. Se eu pegasse um tapete persa do chão e ela fosse com ele, iria arrasar. Ela tem presença. Tudo que criasse pra ela dava muito certo. Chama-se Beth Szafir. A Beth é uma mulher muito elegante e de uma presença, que ela carrega qualquer coisa.

Fora do ambiente de trabalho e das criações, como você costuma aproveitar o tempo livre? Hoje posso dizer que tenho uma vida um pouco mais organizada. Durante a semana, escolho de um a três eventos. Tenho que ir porque faz parte do contexto, mas agora saio menos, tenho uma vida mais regrada. Nos finais de semana costumo ir para casa de campo em Itaipava, no Rio de Janeiro ou então para Campos do Jordão. Minha vida particular está um pouco mais calma.

O que você escolhe fazer naqueles momentos em que é preciso desligar de tudo? Não posso falar (risos). Uma hora eu sempre desligo. Quando não tenho agenda profissional, saio daqui sexta-feira e não sou estilista, eu consigo desligar mesmo. Pego meus dois cachorros malteses, adoro meus cachorros, recebo pessoas na minha casa, janto na casa de amigos, vou ao teatro, cinema, desligo... Não me fale de moda porque eu respondo: “Ah, segunda-feira a gente conversa.”

E a White Party deste ano, como estão os preparativos? A White Party foi algo que começou sem pretensão nenhuma. Comecei comemorando um aniversário com 500 pessoas. Na segunda, já tinha 5 mil e na terceira, 7 mil pessoas. Arrecadamos 36 mil brinquedos e fizemos o Natal do Nordeste e de São Paulo. Como que eu ia parar com uma festa dessa? E o custo é altíssimo, mas também é um marketing bacana e ajuda o terceiro setor, o que é importantíssimo. Este ano talvez a gente mude para material escolar porque as crianças estão crescendo. Ainda estamos fechando o local, mas já temos uma novidade: os DJs da White Party de Miami querem vir como voluntários porque ficaram encantados com a terceira edição da festa e por ser uma festa totalmente beneficente.

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A pintura sobre imagem de

Sami Akl POR MARCO TÚLIO NEVES FOTOS: SAMI AKI

Com influência de Picasso e obras que dialogam com Andy Warhol e Robert Rauschenberg, as pinturas de Sami tornam mais felizes e bem acompanhados os que possuem seus retratos.

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atural de São Paulo, capital, o artista Sami Akl viveu até os 6 anos de idade no bairro do Brás. Quando criança, gostava muito de brincar na rua e andar de bicicleta, atividades propícias naquele bairro comercial, de ruas desertas durante as noites e finais de semana. Talvez fosse aquela a hora de praticar os dons artísticos, pois foi mesmo nesse período que a relação com o desenho começou a aflorar. Mas logo Sami deixou as ruas de São Paulo e foi enviado ao Líbano, onde ficou por dois anos e viveu em uma pequena aldeia ao sul do país. Foi ali, naquele povoado sem luz nem água encanada, onde nevava forte formando camadas de até 1 metro de neve que o pai de Sami nasceu (fato marcante para o artista que realizou o caminho inverso de seu pai). Ainda pequeno, a ligação com a arte era expressa através de desenhos mostrados ao avô, que morreu com 120 anos de idade. As palavras

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do avô eram sempre de incentivo, elogios seguidos de boa risada, com comentários como “o burro que você desenhou tem cara de bonzinho”. Retornando ao Brasil, com 8 anos, e falando apenas árabe, Sami teve que reaprender a falar o português. Já não lembrava mais, pois era praticamente um “selvagenzinho” habituado aos costumes de 500 anos atrás que ainda existiam na aldeia onde vivia. Lá, o pão no tacho feito pela avó era aquecido por fogueira a lenha e esterco de vaca, que ajudava a manter o fogo. A água de beber era trazida de uma fonte distante em lombo de burro dentro de uma jarra grande de barro, e a água da chuva era armazenada numa cisterna. E foi nesse retorno ao Brasil, quase como um estrangeiro, que as “brincadeiras“ do artista mirim passaram a ser notadas: os rabiscos nos papéis de embrulho e o hábito de desenhar os rostos dos amigos de seu pai enquanto jogavam baralho deixavam todos fascinados com a semelhança dos portraits. Na escola, a habilidade também era percebida. Aos 9 anos, ele ganhou o segundo lugar por desenhar o sabiá mais bonito da classe, isso porque o primeiro lugar ficou para um aluno protegido da professora e todos reconheceram isso. Em São Paulo, o artista estudou em colégios batista, católico e também no liceu Salesiano de Campinas, onde foi interno. Nesse colégio, às vezes passava meses sem ver seus pais e quando eles o visitavam podiam tirá-lo apenas no domingo, com tempo somente para almoçar fora. Sami era frequente nas missas do colégio, mas não podia ser batizado nem tomar a hóstia porque o pai era muçulmano. Porém, tinha que acompanhar o grupo como figurante. No colégio interno que estudou em 1970, Sami era chamado para fazer todos os cartazes, que eram desenhados a mão com ilustrações dos jogos de futebol, basquete, vôlei, pingue-pongue, sinuca etc. Cartazes com letras e desenhos de todos os tipos, que acabavam adquirindo uma linguagem própria e reconhecida. Desde então, Sami nunca mais parou de desenhar e por onde passava levava suas interpretações através de desenhos. Nos seus cadernos, metade do conteúdo era composto de desenhos que expressavam seus sentimentos e seu entendimento da vida e da arte. Anos mais tarde, formou-se em Arquitetura e em sequência fez cursos de orientação artística e filosófica,

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A inspiração veio de Picasso, sobre quem estudou com afinco

além de teoria da arte contemporânea, história da arte e produção de teoria crítica. A inspiração veio de Picasso, sobre quem estudou com afinco, entendendo tudo sobre sua trajetória e sobre seu vigor. Ao observar seu trabalho, no entanto, é visível a mistura entre Andy Warhol e Robert Rauschenberg, porque ambos tiveram uma relação muito forte com as imagens do cotidiano, das mídias impressas, dos signos, da produção em série etc. O próprio artista classifica seu estilo como “pintura sobre imagem”, a qual dá outra dimensão à realidade: aquela que a fotografia não consegue alcançar. Ou seja, a imagem continua a se expressar mesmo quando a foto para. Quando pinta um ícone ou imagem, na maioria das vezes usando um rosto, pinta a imagem dialogando com a sua expressão, pois gosta de olhar as pessoas através de seus quadros, que muitas vezes olham direto nos olhos das mesmas. O olhar das suas obras faz com que as pessoas existam e sejam observadas. Na realidade, os visitantes é que ficam expostos diante da obra, eles projetam os próprios sentimentos e movimentos que se exteriorizam enquanto a obra está estática. Segundo Sami, suas pinturas são simples-

mente o resultado da psicanálise que vem fazendo nos últimos três anos, unida à meditação que faz há 20. Em seus trabalhos, Sami usa poucas cores e predominam gamas de cinza, preto e branco. Tal técnica imprime um traço estético único, que as pessoas associam à sofisticação, e é por isso que suas obras atingem o público mais variado possível: são jovens, cinéfilos, glamorosos artistas e estilistas, metrossexuais e, principalmente, os famosos. O engraçado é que o artista já viu o faxineiro do seu prédio conversando com uma pintura sua e já ouviu uma cliente dizer que seu filho de 12 anos adora a pintura da Audrey Hepburn que ela tem em casa. Sami entende que as pessoas se sentem felizes e bem acompanhadas com alguém famoso olhando para elas dentro da própria casa, não se sentem solitárias, apenas rodeadas de simplicidade, beleza e austeridade. Os projetos e objetivos futuros estão relacionados com as grifes mais sofisticadas do mundo. Vitrines, imagens e revistas dos produtos serão pintadas para trazer aos olhos do público uma dimensão além da fotografia com manipulação de imagens. Quando se representa um produto de consumo através de uma imagem pintada, oferece-se ao público sofisticado o que existe de mais nobre para o ser humano: a arte.

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O melhor

do mundo POR MARIANA TINÊO

Competição internacional de 2008 elege novo vinho português como o melhor do mundo.

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ara quem aprecia vinhos, nada melhor que degustar. Provar diferentes marcas, testar aromas, diferenciar notas, cores e sabores. Um mundo de descobertas em cada gole. Este é o barato de quem conhece a bebida: beber. Sendo assim, cada um procura o que mais lhe agrada; a marca preferida, a safra única, o acompanhamento perfeito para um bom prato ou para uma celebração. Afinal, vinho é sinônimo de prazer. E é claro que os vinhos também são um negócio. Por isso, enólogos e entendidos reúnem-se para testar produtos, criam concursos e promovem marcas que passam a fazer parte de uma lista seleta. Esse é o caso do concurso Vinalies Internationales, uma competição internacional organizada pela União dos Enólogos da França, para selecionar a cada ano o melhor vinho do mundo. Na última edição do concurso, realizada em 2008, o Syrah de 2005,

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produzido pela Casa Ermelinda Freitas, de Portugal, foi eleito o melhor vinho tinto do mundo. Para tanto, os especialistas do júri provaram mais de 3 mil amostras de vinhos, vindas de 36 países – em uma prova de escolha cega. O inusitado é que o Syrah é um vinho novo. Sua produção foi feita pela primeira vez em 2004 e no ano seguinte, considerada a melhor das melhores. Um gol de placa para a vinícola produtora, que em 2005 colocou no mercado 5 mil garrafas de Syrah, com o preço de cerca de 20 euros a garrafa. No entanto, é bom esclarecer que esse tipo de competição avalia questões técnicas da produção dos vinhos, desde o tipo de uva até a forma de engarrafar. No caso da Vinalies Internationales, o objetivo é ressaltar a capacidade de maturação da bebida, enaltecendo a alta qualidade da produção e o sabor incomparável do vinho. A competição é aberta a produtores, cooperativas e comerciantes de todos os países, desde que os produtos inscritos sigam as normas determinadas pela União dos Enólogos da França. Para serem submetidos à comissão de provadores, os vinhos são agrupados de acordo com seu tipo e origem. Itens como aspecto visual, aspectos olfativos e impressões de paladar são anotados e avaliados por vários grupos de jurados compostos por enólogos franceses e

internacionais e também por leigos, conhecidos por sua boa capacidade de degustação. A partir daí recebem notas por cada item predefinido e, com as notas somadas, é feita então a divulgação do ganhador. No entanto, vale lembrar que para ser prazeroso o vinho tem que agradar quem o bebe. Não basta conter no rótulo um carimbo de “melhor do mundo”. Hoje os apreciadores de

vinho não ficam restritos a marcas consagradas. Com a entrada de novos produtos no mercado, vindos de todas as partes do mundo, o interessante é provar, beber, conhecer e se encantar. Não é preciso consumir apenas o que é caro ou o que é tradicional. A onda é viajar pela cartela de opções e abrir a mente para novas experiências. E, nesse sentido, quem determina qual o melhor vinho do mundo é você.

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Terno Minha Avó Tinha / Sunga Speedo / Óculos Speedo


Ricardo Santos já foi bancário e até mesmo auditor contábil, mas largou tudo pra entrar na carreira de modelo. Dono de um rosto milimetricamente perfeito, olhar penetrante e corpo escultural, o modelo de 27 anos encara estampar a capa de uma revista gay como qualquer outro trabalho. Bem-humorado, o também surfista completa: “Tudo que fiz na minha vida foi tirando onda”. O que, pelo visto, deu certo! Cheio de estilo e charme, Ricardo inibe qualquer um com sua presença marcante. No começo, a falta de dinheiro quase o fez desistir da carreira. “Já dividi apartamento com outros modelos e, muitas vezes, eles pagavam meu ônibus para que eu conseguisse realizar trabalhos. O dinheiro que guardei da época em que trabalhei no banco durou pouco”. Um ano depois de ter optado pela carreira, no entanto, a sorte de Ricardo mudou. Ele conseguiu estrelar uma campanha mundial que transformou sua vida e assim morou na Alemanha, na França e no Chile. “Foi uma experiência de vida e tanto, cresci muito em pouco tempo”, conclui.

Fotografa: Janna De Francisco / Produção de set: Tiago Farina / Tratamento de Imagem: Janna De Francisco Edição de Moda: Fernanda Kazalla / Produtor: Leandro Lourenço / Maquiador: Duca

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Terno Walério Araújo / Toca e Óculos Speedo


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Terno Walério Araújo / Toca, Calças e Óculos Speedo


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Terno Mario Queiroz / Óculos Speedo / Calça Marcelu Ferraz


Shorts Fernando Moreira / Camisa TNG / Nadadeiras Speedo

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Sunga Rip Curl / Roupão Acervo / Anel Ane Joly


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ONDE ENCONTRAR Minha Vó Tinha: (11) 3865-1759 Speedo: 11. 3065-6565 Walerio Araujo: (11) 3257-1571 Mario Queiroz: (11) 3062-3982 Marcelu Ferraz: (11) 7605-1801 Fernando Moreira: (11) 2594-1735 TNG: www.tng.com.br Rip Curl: www.br.ripcurl.com

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Fraque Minha Avó Tinha / Toca, Calças e Óculos Speedo / Anel Ane Joly


[relaxe]

Fonte do

SILÊNCIO POR CAMILA BALTHAZAR

A chamada meditação transcendental melhora a inteligência, aumenta a criatividade e a concentração

“M

editação o quê?”, e arregalo os olhos. “Meditação transcendental.” Por algum motivo, a palavra transcendental provoca certo ceticismo em mim. A meditação em si, sem a tal expressão que a escolta, parece-me interessante, já que tenho uma enorme dificuldade em me concentrar. Mas, por esse mesmo motivo, logo afasto a ideia. Se não consigo realizar uma tarefa sem deixar que meus pensamentos fujam para a próxima refeição ou uma viagem futura, que dirá meditar. No entanto, a transcendentalidade realmente me incomoda. O receio aumenta ao pesquisar um pouco mais e descobrir que a técnica melhora a inteligência, aumenta a criatividade e a concentração, expande a consciência, aguça a percepção, melhora a linha de pensamento, reduz a pressão arterial, a ansiedade, o estresse e a depressão, regride o envelhecimento, aumenta a criatividade e a produtividade, diminui o uso de drogas, melhora a saúde e a qualidade de vida. Além disso, reduz o índice de criminalidade, de fatalidade e os conflitos no mundo. Sem querer roubar a frase das candidatas a Miss, promove a “paz mundial”.

“Talvez você esteja dizendo: ‘Isso soa tão bem.’ Isso também soa bem. Mas é uma coisa real”, escreve David Lynch em seu novo livro Em Águas Profundas. Se tudo não passasse de uma falácia, por que David Lynch – o cineasta norteamericano criador da série Twin Peaks e de filmes como Cidade dos Sonhos e O Homem Elefante – abordaria a questão da meditação transcendental aliada a seu processo de criatividade? Por que os Beatles viajaram ao Himalaia em 1968 para ouvir os ensinamentos do indiano Maharishi Yogi, responsável por trazer a meditação transcendental ao Ocidente nos anos de 1950? Por que os Rolling Stones e os Beach Boys, a atriz Mia Farrow, o ator e diretor Clint Eastwood, a atriz brasileira Julia Lemmertz, o ator Rodrigo Santoro e o corredor Ayrton Senna procuraram a meditação transcendental?

Em busca de respostas Instigada por todo o contexto, fui a uma palestra na Sociedade Internacional de Meditação Transcendental, em São Paulo, que acontece todas as segundas-feiras. Essa já é a aula introdutória para quem fará o curso que tem duração de seis dias. Chegando lá, fiquei surpresa com as pessoas que aguardavam na recepção. Provavelmente devido à minha falta

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de informação aliada ao preconceito, eu imaginava que todas fossem ter uma aparência zen. Engano meu. Executivos de terno e gravata, um pai de família com dois filhos, um senhor proprietário de uma fábrica no Sul do País etc. Cerca de 20 pessoas estavam sentadas nas cadeiras da sala/auditório para ouvir o professor Markus Shuler, diretor da Sociedade. Em português perfeito – apesar do sotaque suíço –, ele fala calmamente, mas com firmeza. Das duas horas de palestra, uma afirmação logo destruiu meus falsos conceitos. O professor explicou que a meditação transcendental é algo natural e simples, que não requer esforço. “Uma criança hiperativa de 10 anos que tenha déficit

de atenção pode aprender”, diz. Segundo ele, a técnica não exige que os pensamentos sejam afastados. Além disso, a meditação pode ser feita em qualquer lugar, até mesmo em ambientes barulhentos. São necessários 20 minutos diários, duas vezes ao dia. “Você pode meditar em qualquer lugar: no ônibus, no avião, no parque, em casa. Basta sentar-se confortavelmente e fechar os olhos”, completa. Durante sua exposição, fiz uma única pergunta: “Alguma vez alguém fez o curso e não conseguiu meditar?” “Não. Em 30 anos, já ensinei pessoalmente mais de 12 mil pessoas. Todos meditaram”, respondeu. Embora seja uma técnica oriental milenar, a meditação

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transcendental ainda é pouco compreendida. Entretanto, sua prática já é objeto de estudos médicos e científicos desde os anos 70. Os resultados não deixam dúvidas. A técnica é válida. E funciona. A revista Scientific American publicou, em 1972, uma pesquisa feita pelo fisiologista Roberth Keith Wallace e pelo cardiologista Herbert Benson. Os estudos comprovaram que entre os efeitos fisiológicos da meditação estão o relaxamento muscular profundo, a diminuição dos ritmos cardíaco e respiratório, a diminuição da pressão arterial e o aumento da resistência da pele. Outro estudo mais recente foi publicado este ano no conceituado American Journal of Cardiology. Foram 18 anos de pesquisa com 202 homens e mulheres idosos e hipertensos. Entre os praticantes da meditação transcendental, em comparação aos pacientes medicados normalmente, a técnica diminuiu em 49% as mortes por câncer, em 30% as decorrentes de problemas cardiovasculares e em 23% as provocadas por doenças em geral. Aos poucos, cada vez mais especialistas têm adotado e recomendado a meditação como forma coadjuvante dos tratamentos alopáticos.

Voltando ao curso A palestra de segunda-feira era gratuita. Mesmo assim, na terça-feira à noite, mais da metade das pessoas estava lá para seguir com o curso. Markus explicou que, em geral, as pessoas vivem apenas três estágios de consciência: vigília, quando estamos alertas e acordados; sonho e sono. Mas há outras possibilidades. “A meditação nos leva à fonte do pensamento. A fonte do pensamento é o silêncio. E o silêncio sustenta toda a atividade”, esclarece. Em folhas de papel, ele desenha um oceano, que serve de comparação à prática da meditação. As ondas representam o estado de vigília. O sonho está mais abaixo e o sono é um pouco mais profundo. No entanto,

o estágio da consciência transcendental é equivalente à profundeza desse oceano; à calma; à tranquilidade. Em seu livro, Lynch ilumina o que significa a meditação transcendental. “Quando ‘transcendemos’ através da MT, mergulhamos nesse oceano de pura consciência. Você se joga nele. E ele se sente feliz com isso. E o faz vibrar com essa alegria. Quando experimentamos a consciência pura, animamos e expandimos esse oceano. Ele começa a se desprender e a crescer.” Por todos esses motivos, algumas escolas já estão empregando a meditação na grade curricular. “Já existem universidades e escolas que dedicam 15 minutos ou mais à meditação. Um aluno que está indo mal, melhora. No trabalho, rendemos mais. A meditação deixa as pessoas mais equilibradas e dinâmicas”, explica Markus. No entanto, não se aprende a técnica através de livros ou reportagens. O professor, que aprendeu a meditar com o próprio Maharishi, enfatiza que o ensinamento deve ser oral. A meditação transcendental utiliza um mantra – pessoal – sem significado. “Não adianta perguntar qual é o significado, não há”, ele comenta, após explicar que todas as palavras possuem som e significado. O som ativa a percepção. O significado ativa o intelecto. Portanto, o segredo do mantra está justamente em retirar o significado e, consequentemente, o intelecto. Os pensamentos podem ir e vir durante a meditação. Não há esforço. Não é necessário não pensar em nada, ou concentrar-se no vazio.

Experiências “Esse é o diferencial dessa técnica em relação a outras”, comenta Eduardo Piastrelli. “O mantra

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direciona seu foco porque naturalmente uma coisa repetitiva ajuda a não pensarmos em outras. No entanto, não dá para bloquear. Mas os pensamentos não interferem. Você deixa a mente fluir. Deixa as imagens passarem. Assim, você garimpa o consciente e o inconsciente”, exemplifica. Conheci Piastrelli durante o curso. Até então, ele já havia lido muitas coisas a respeito, mas nunca havia meditado. “Um amigo meu recebeu a indicação de sua psicoterapeuta para procurar a meditação transcendental. No mesmo período, vi o livro do David Lynch. Aproveitei a coincidência e decidi ver se realmente surtia efeito”, conta. Já na primeira semana de

prática, percebe que está mais centrado e relaxado. “Com toda a correria do dia-a-dia, você tende a ficar estressado, cansado. Senti que após começar a praticar a meditação, os problemas me afetam menos. O ritmo de trabalho continua o mesmo, mas de alguma forma consigo encarar as coisas externas de maneira menos dramática.” Também encontrei Michele Orlando no curso de meditação. Mais conhecido como Orlando, pratica meditação transcendental há 25 anos. Duas vezes ao dia durante 20 minutos. Dessa vez, acompanhava seus dois filhos, Raquel e Rafael, que iriam começar a aprender. “Eles sempre viam eu e

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minha mulher meditando, mas o interesse surgiu faz pouco tempo”, conta, ao explicar que as pessoas só devem fazer quando realmente estão interessadas. “A partir do momento em que o interesse deles se tornou algo real, era a ocasião de aprenderem”, completa. Há 25 anos, sua vontade surgiu após ler um livro do Maharishi Yogi. “Sinto uma coerência mental maior, mais clareza para enxergar e resolver as coisas. Encontro soluções para problemas durante a própria meditação. Minha saúde também está bem melhor. Não tomo remédio”, especifica. No sábado de manhã – última aula do curso e passados três dias desde que aprenderam a meditar – seus filhos também já davam relatos de que sentiam os efeitos positivos da meditação. Desde a palestra de segunda-feira, Markus sempre enfatizou que já no primeiro dia de meditação – quarta-feira – seria possível sentir seus efeitos. Cássio Siqueira, praticante há três anos, falou exatamente isso. “Na primeira vez já transcendi. Foi uma situação em que minha mente silenciou totalmente. Parei de pensar em tudo. Tudo ficou muito calmo. Mas eu estava consciente. Entendia tudo o que estava acontecendo. Foi um estado de relaxamento absoluto”, confirma.

O momento de aprender Quando comecei a frequentar o curso, ainda imaginava um final diferente para a matéria. Na verdade, não apenas o final, mas cada palavra. No entanto, já nas primeiras noites, o professor Markus – que constantemente utiliza metáforas para explicar o abstrato – falou que não se pode teorizar e aprender sobre a sede, sem beber a água. Havia tempo que eu não ouvia algo tão simples, mas tão carregado de sentido. Esse pensamento ia ao encontro da minha ideia inicial de aprender a meditar para poder falar sobre o assunto. Na quarta-feira, dia do encontro individual em que o professor transmite o conhecimento da técnica, cheguei à Sociedade no horário marcado. E foi nesse dia que aprendi outra coisa. Você deve querer muito. Deve valorizar. Markus ilustrou essa ideia com a história de um garoto que não tinha dinheiro, mas queria aprender. Muito. Ele trabalhou durante 45 dias na recepção da Sociedade como forma de pagar o curso. No 46º dia, meditou. Eu também queria sentir o que é transcender. Mas não estava pronta. Mesmo assim, preparei-me. Comprei um ramalhete de flores, três frutas doces e um lenço branco, itens necessários para o primeiro dia de meditação. Ficou tudo lá. Aprender a meditar não havia sido uma decisão minha, mas sim conseqüência de uma reportagem. O professor Markus também sabia disso. Troquei as flores que havia levado por rosas e as deixei em frente à minha cama. Sempre quando acordo, lembro que gostaria de meditar antes de começar o dia. AIMÉ 52

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[sexo ]

Da

cama

para

ALTAR

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POR ADRIANO ZANNI

Será que é possível construir um relacionamento estável e duradouro a partir de uma situação de sexo casual? Se o sexo é um bom e necessário cartão de visita, por que não colocar logo as cartas na mesa? Casais que surgiram de uma transa sem compromisso afirmam que a fórmula funciona, se é que ela existe...

E

m outubro de 2006, três estudantes se encontraram em uma dessas festas de universidade. André, Eduardo e Marcelo* eram antigos conhecidos dos corredores das salas de aula. Eram de turmas diferentes, tinham idades distintas e os interesses seguiam mais ou menos aquela história: “Fulano gostava de Cicrano que, por sua vez sentia-se atraído por Beltrano, o qual já namorava um Zezinho da vida e não queria nada sério com mais ninguém.” Altas horas da noite, algumas doses a mais de cerveja e veio a pergunta: “Afinal, o que nós estamos fazendo aqui mesmo?” A frase dita por André era o estopim que precisava ser aceso. Um beijo a três, em uma noite nada premeditada e o triângulo quase amoroso acabou literalmente nos lençóis da cama de um quarto de república. “A intenção era apenas uma pegação. Ninguém tinha aspirações mais concretas ou duradouras. Ninguém forçou a situação, pois estávamos todos desencanados. Na minha cabeça estava claro, eu queria sair com o Marcelo, que havia terminado um namoro. Se

tivesse que beijar outro para pegar ele, eu faria numa boa, ainda mais pela aventura. No outro dia, não queria nem saber do rapaz”, conta André. Os três entraram no quarto quando já eram quase duas da madrugada e só sairiam cinco horas depois. Marcelo, que era o mais desejado da turma, foi embora mais cedo, enquanto André e Eduardo permaneceram. “O André eu já conhecia e ele vinha dando em cima de mim há algum tempo. Eu estava me interessando. Na tal festa calhou de rolar uma atração entre nós três. Confesso que fiquei meio ressabiado e no dia seguinte isso se confirmou por uma frase torta que ouvi e não gostei. Irritei-me e acabei indo embora bem de manhã”, lembra Marcelo. Na cabeça de Eduardo, um misto de frustração e surpresa. “A situação em que a gente ficou foi bem improvável e é o tipo de cenário que eu nunca, jamais mesmo, apostaria que renderia um namoro, ainda mais porque naquele dia o André era para mim o brinde! Pegue um e leve dois, sabe? Tanto eu quanto o André achávamos que alguém estava sobrando. Você não

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imagina a decepção que eu senti quando o Marcelo foi embora. Mal sabia que o melhor estava por vir”, revela o estudante de Psicologia. André e Eduardo começaram ali, em uma transa casual, um relacionamento que já dura mais de dois anos. Até hoje, mostram-se apaixonados e ainda dão boas risadas quando lembram como tudo começou. Quem pensa que a situação é um tanto quanto incomum engana-se. Nem todo mundo tem a sorte ou a satisfação de conhecer o futuro namorado em um corredor de supermercado, ao abaixar no chão para apanhar um pacote de biscoitos que acabou de derrubar da prateleira, ou mesmo em uma fila de banco, no balcão da

padaria e em outros lugares onde possa pintar aquela situação inesperada, mas bem convencional, no melhor estilo “filme de Sessão da Tarde”. Para muitos terapeutas, namoros podem e (por que não?) devem começar também por uma situação meramente sexual, na qual o tesão fala por si só. Rosana Zanella, psicóloga e docente da Universidade Ibirapuera, acredita que diversas pessoas idealizam uma predeterminada conjuntura para dar início a um relacionamento afetivo e estável. “Sobretudo entre os gays, em que predomina também aquele machismo. Se o cara já vai para a cama logo é porque não quer nada com nada, não serve para namorar. Nada impede que um casal que se conheça durante um relacionamento casual, onde o sexo estava em primeiro lugar, caminhe rumo a uma união amorosa. A ideia de menosprezar

alguém que foi para a cama no primeiro encontro mostra preconceito. Dizer que a pessoa presta ou não para namorar indica uma relação de poder: eu decido se você serve para mim, eu decido tudo em nossas vidas, eu mando, eu aconteço. De repente, em uma dessas, você perde a oportunidade de conhecer alguém que ia fazer a diferença”, pontua. Preconceito Evandro Fabbro, de 31 anos, acredita que ainda existe muito preconceito, uma espécie de falso pudor que atrapalha o desenrolar das relações. Extrovertido, ele desconfia

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que já “perdeu” alguns futuros companheiros por ir para a cama logo, em uma situação de total descompromisso. “Essa máxima ainda vale. É difícil surgir um namoro de uma simples transa, tenha ela ocorrido em um clube de sexo, em uma sauna gay, dentro de uma balada ou tenha ela nascido em um chat de internet. Mas, por que não? Qual o problema? No fim, parece que somente as pessoas que não exalam sexo ou desejos mais íntimos, quando estão conhecendo alguém, é que prosperam no campo sentimental”, desabafa.

“Em toda relação amorosa existe um certo tipo de sedução. Vou me resguardar, assim ele fica mais apaixonado por mim. Esse tipo de joguinho pode despertar interesse, mas também pode fazer com que o outro se sinta desprezado. Um casal que começa um relacionamento a partir de um encontro sexual casual deve lidar com futuras situações de ciúme e não deixar que isso seja um impedimento para ser feliz. Afinal, os dois se encontraram para transar, ou seja, os dois estavam à procura disso. Qual o problema, então?”, indaga Rosana. O namoro que começou com um click O jornalista Thiago Barreto, de 26 anos, parece ter levado a sério tal orientação. Após algumas navegadas por sites de relacionamento à procura de sexo, decidiu marcar encontro com um dos pretendentes. Viram-se pela primeira vez em uma balada. Ficaram, transaram e repetiram a dose.

“Fomos para a cama logo de cara. A internet facilita muito esse tipo de situação, pois define bem os papéis sexuais. Saímos da balada e partimos para a casa dos pais dele. Esperamos todos saírem logo cedinho para transar rapidamente porque a empregada iria chegar. O tesão falava mais alto. A ideia era essa. Fui embora e a partir desse dia continuamos a nos falar muito. Namoramos por quase dois anos. Acho que fui um sortudo”, opina. Thiago ainda ressalta que, quando calhava de alguém perguntar de onde os rapazes haviam se conhecido e com que propósito, ambos explicavam que tinham se cruzado em uma balada e nunca diziam que era na internet. “Apenas para alguns eu falei isso. Para a maioria, não vinha ao caso. Quando começamos a namorar, paramos com os cadastros nesses sites, nos respeitávamos muito. Cheguei a passar quatro meses na Austrália, mas não pulei a cerca”, garante. A terapeuta alerta que, em toda relação amorosa, o mais importante é a cumplicidade e o respeito. “Desconfianças devem ser conversadas. Embora as chamadas DRs sejam chatas, às vezes, é preciso fazê-las para limpar angústias e fazer emergir momentos felizes. Viver cada dia é o que faz construir a relação. De nada adianta estar preso ao modo como se permitiu conhecer alguém. Interessa viver daquele momento em diante”, esclarece. “Tive essa felicidade e é uma coisa que pode acontecer sim, até com certa frequência. Mas acho que quem procura realmente um namoro não deve estar se oferecendo em sites de relacionamento, em saunas, em lugares promíscuos onde impera o sexo fácil, com agilidade e sem comprometimento. Mas, se você estiver lá, curtindo o momento e pintar alguém legal, vale investir. A vida é feita de tentativas”, finaliza Thiago.

* Os nomes foram alterados a pedido das fontes

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O Sistema Internacional de Direitos Humanos e os

LGBT

U

POR TOMMASO BESOZZI*

ma mãe separada das filhas Em março de 2002, a juíza chilena Karen Atala separou-se do marido e obteve a guarda das três filhas, de 5, 6 e 10 anos de idade. Pouco tempo depois, Karen apaixonou-se por uma mulher e em novembro daquele mesmo ano as duas passaram a morar juntas. O ex-marido então entrou na Justiça para reaver a guarda das filhas, alegando que a orientação sexual de Karen seria prejudicial à criação das meninas. Foi o início de um calvário judicial. Inicialmente, a Justiça chilena deu liminar a favor do pai e obrigou as crianças a se mudarem para a casa dele. Sucessivamente, o tribunal baixou sentença favorável à mãe e as crianças voltaram a morar com ela. Por fim, o pai recorreu à Corte Suprema e esta, em 31 de maio de 2004, determinou que o lar encabeçado por duas mulheres (Karen e a companheira dela) seria inadequado para a educação das crianças, pois geraria nelas “confusão sobre os papéis sexuais”, e devolveuas ao pai. Durante todo o processo, os tribunais e a mídia esquadrinharam a vida desse casal de lésbicas. Nada foi encontrado que desabonasse a conduta delas ou pusesse em dúvida sua capacidade de dar às filhas de

Karen uma educação saudável e amorosa. Mas a sentença da Corte Suprema é definitiva, sem possibilidade de recurso dentro do sistema judiciário chileno. Inconformada com a (in)justiça, Karen não se resignou. Ela encaminhou uma petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sediada em Washington. Essa Comissão pertence ao Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, ao qual aderem diversos países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), ou seja, países das Américas, de norte a sul, inclusive o Brasil. A grande incógnita era saber se a Comissão acolheria o recurso, por tratar-se de um caso inédito no Sistema Interamericano. Pelas regras do sistema, a Comissão precisava determinar a “admissibilidade” da petição. Para isso, é preciso avaliar, dentre outras coisas, se foram esgotadas todas as possibilidades de recurso no país em que os fatos ocorreram e se a petição se baseia em motivações que entram no escopo do Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Este último aspecto foi crucial, pois o Chile pediu que a petição fosse rejeitada já que a orientação sexual não é mencionada nos textos que regem a atuação do Sistema Interamericano.

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Mas a Comissão entendeu diversamente e, com decisão histórica, em 23 de julho de 2008, declarou admissível a petição de Karen Atala para que seja revista a decisão da Suprema Corte do Chile sobre a guarda de suas filhas. Em outras palavras, acolheu o recurso. Para chegar a essa decisão, a Comissão considerou que, apesar de a orientação sexual não ser explicitamente mencionada na Convenção Americana de Direitos Humanos (o texto fundamental do Sistema Interamericano), usar a homossexualidade de uma pessoa como argumento para negar-lhe direitos (como a guarda dos filhos) é sim uma violação do direito à igualdade perante a lei (este sim sancionado pela Convenção). Agora que a petição de Karen foi considerada admissível, a Comissão passa a apreciar os méritos do caso e poderá, se o julgar procedente e se o Estado chileno não remediar espontaneamente as consequências da decisão da Suprema Corte daquele país, submeter o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, cujas sentenças são de execução obrigatória nos países que integram o Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos. Como se vê, a Justiça internacional é lenta – a petição de Karen foi apresentada em novembro de 2004 e a coisa não tem data para acabar. Mas ela é de fundamental importância para lidar com os abusos que o sistema judiciário de um determinado país cometeu ou deixou cometer sem admitir mais recurso por parte das vítimas. Os familiares das vítimas da repressão da guerrilha do Araguaia estão acionando o Sistema Interamericano porque os tribunais brasileiros se negam a fazer justiça sobre aquele episódio sangrento. Essa possibilidade de recurso é uma salvaguarda importante de direitos, porque coloca um guardião internacional como garantia de imparcialidade dos tribunais nacionais. A simples existência do Sistema Interamericano faz com que os tribunais tenham mais força para resistir a pressões de interesses escusos – ou homofóbicos. Coalizão Um grupo internacional de ativistas LGBT está trabalhando para conseguir a inclusão explícita da orientação sexual e da identidade de gênero no texto da Convenção Americana de Direitos Humanos. Trata-se da Coalizão Latina e Caribenha para os Direitos LGBTTTI no Sistema Interamericano. O sociólogo e ativista paulistano Edmilson Medeiros,

integrante da Coalizão, destaca a importância dessa campanha: “A referência explícita tornaria o processo mais fácil para as vítimas de homofobia e transfobia. Além disso, a ratificação do novo texto estimularia a promoção dos direitos LGBT internamente nos países das Américas.” Dentre outros avanços, a Coalizão conseguiu a realização, em outubro de 2008, de uma audiência na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que foi a primeira a ser dedicada aos temas da orientação sexual e da identidade de gênero. Na ocasião, a Comissão indicou uma disponibilidade para fazer um levantamento da situação dos direitos dos LGBT nos países-membros. Agora a Coalizão trabalha para que essa disponibilidade se traduza em um compromisso formal na próxima Assembleia Geral da OEA, em junho deste ano. O Brasil tem um papel importante nesse processo, como relator do novo texto da Convenção na OEA. O Itamaraty tem apoiado as mudanças favoráveis aos LGBT, mas de acordo com Beatriz Affonso, diretora do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) do Rio de Janeiro e também envolvida na campanha, é importante que a sociedade civil se manifeste para pressionar a diplomacia brasileira a se manter firme diante da oposição de países mais homofóbicos. Debate O 7º Ciclo de Debates “Construindo Políticas para LGBT” da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo inclui em sua programação uma mesa sobre “Os sistemas internacionais de proteção aos direitos humanos em defesa dos cidadãos LGBT” (quarta-feira, 17 de junho, às 19h, no Espaço da Cidadania, Páteo do Colégio 184, Centro, São Paulo) que abordará a relevância do Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos para os direitos LGBT, bem como as iniciativas em prol dos direitos humanos das pessoas LGBT no contexto da ONU, com a participação de Carlos Quesada (Global Rights - Washington), Beatriz Affonso (CEJIL - Rio de Janeiro) e Alexandre Boer (ABGLT - Porto Alegre). O debate contará também com a presença de um representante do Itamaraty. A programação completa do 7º Ciclo de Debates pode ser encontrada no site www.paradasp.org.br * Coordenador do 7º Ciclo de Debates “Construindo Políticas para LGBT” 59 AIMÉ 59

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[ Aimé boys ]

Fotos: Janna De Francisco Edição: Fernanda Kazalla

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Cueca TNG

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Sunga Jadson Raniere

Produção: Leandro Lourenço Modelos: Mateus Guiget e Bruno Granado (Mega) Tratamento de Imagem: Tiago Farina (011. 9222-2239)

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[atitude]

Sou HIV positivo

e quero seguir Guilherme Enrico Nogueira* EDIÇÃO: JOAQUIM ANDRADE

Busco um relacionamento com homens positivos, talvez a chave para o desbloqueio seja a cumplicidade.

Envolvente relato de um HIV positivo que, apesar de ter imaginado que o mais difícil seria manter a saúde, sofre por não conseguir se relacionar.

T

udo começou no dia de meu aniversário! Eu estava jantando com alguns amigos no dia do meu aniversário, quando completei 26 anos. Entre várias ligações de felicitações, recebi uma mensagem de voz e pensei: “Que chato! Alguém não conseguiu falar comigo.” Naquele momento não sabia que os cinco segundos seguintes, que mais pareceram cinco anos, mudariam abruptamente o rumo da minha vida. Aquele recado de voz na caixa postal era um convite para repetir alguns exames que havia feito no dia anterior. Exames de rotina e, entre eles, o de HIV. Antes mesmo de saber quais exames eu deveria refazer e mesmo até antes das confirmações laboratoriais, tinha a certeza dos resultados. HIV positivo! Ainda na mesa com os amigos, já não ouvia mais nada ao redor. Repeti o recado duas vezes seguidas, voltei a consultar a caixa postal e o recado continuava lá, com a mesma voz de tom sem graça, o mesmo convite para refazer os exames. Realizei de novo os exames e, no tempo infinito de espera, dividia-me entre acreditar que o primeiro exame tinha sido um falso positivo,

tinha sido apenas um susto, ou que a minha vida dali em diante seria decadente, curta e infeliz. Passaram-se alguns dias e recebi uma ligação da secretária do consultório dizendo que a médica gostaria de falar comigo. Com voz trêmula, a médica me informou que o resultado do meu teste para HIV era positivo. Orientou que eu procurasse um médico especialista (infectologista) e indicou alguns nomes que, como surdo, fui incapaz de ouvir. Meus pais residem em outro Estado, sou solteiro e moro sozinho. Longe de todos, solitário. Mesmo com todos os meus medos e minhas neuras, não pude me desesperar. Com serenidade e uma força que desconhecia possuir, busquei o maior número de informações possível para sanar as loucuras que rodeavam minha cabeça (médicos, sites, governo etc.). Hoje sou positivo e não existe palavra para melhor descrever como realmente me sinto. Tudo isso me ajudou a descobrir um poder descomunal que possuo e é surpreendente como lido bem com a situação. A batalha entre manter a mente sã e me deixar abater é diária e não é fácil. Culpo-me muito por ter contraído o vírus pois sempre tive acesso a todo tipo de informação, sempre soube dos riscos

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difícil verbalizar isso pela primeira vez – e já acrescentei que estávamos terminando porque me sentia bloqueado e incapaz de me relacionar, assumindo toda a culpa e deixando pouco espaço para ele argumentar. Tive bastante medo da reação dele, mas na medida do possível ele compreendeu tudo e concordou que eu precisava mesmo de mais tempo pra assimilar minha nova situação, que era muito recente na minha vida (dois meses). Ainda estou travado, não consigo me aproximar de ninguém, muito menos fazer sexo. Por mais que eu saiba como evitar os riscos, não dá para ser íntimo de alguém e, ao mesmo tempo, sustentar uma mentira ou omitir a verdade. Contar a verdade ainda é temerário, são poucos Felipes por aí! Sofri e ainda sofro bastante. Não esperava questões como essa, achei que lidar com as complicações da saúde seria a parte difícil. Estou bem, solteiro, e me cuido bastante. Inclusive é uma pena que precisei de um alerta externo e extremo como esse para acordar para a vida. Hoje me preocupo mais com a alimentação, sou mais frequente na academia, escolho bem quais são as prioridades na minha vida, durmo

melhor e aproveito ao máximo meus momentos com os amigos e familiares. Mas prefiro dividir essa felicidade. Felicidade só é real quando compartilhada. Busco um relacionamento com homens positivos, talvez a chave para o desbloqueio seja a cumplicidade. Minhas aproximações e encontros são muito limitados, ainda não são algo espontâneo, mas não é isso que vai me fazer desistir de ser feliz. *O NOME FOI ALTERADO A PEDIDO DA FONTE

GERI-JEAN BLANCHARD

e minha vida sexual não era promíscua. Entretanto, sou passional, acredito nas pessoas e me entrego. Vivi grandes paixões e tenho orgulho delas, mas sei que foi uma dessas que me trouxe até aqui. Não me arrependo, aprendi com meus erros e quero viver novas paixões – meu maior dilema. Tenho muita vontade (confesso que, nos últimos meses, tive ótimas oportunidades), mas não consigo me relacionar com as pessoas. Estou sempre sabotando a paixão. Depois que soube que sou soropositivo, decidi seguir minha vida, e “seguir” significa também conhecer pessoas, relacionar-se com elas. Foi assim que aconteceu: conheci Felipe, sentimos atração um pelo outro e ficamos juntos. Uma vez, duas vezes e assim sucessivamente. Mas não havia meios de eu passar para a próxima fase, fugia do sexo. Ficava difícil manter uma relação saudável sem sexo e este meu bloqueio estava me incomodando porque me impedia de seguir com a vida normal e de continuar o relacionamento. Não sabia se deveria falar a verdade para o Felipe, mas seria difícil arrumar outro motivo. Meus amigos, sem ideia do que realmente se passava, faziam muita pressão, pois queriam entender por que eu estava disposto a terminar com “um bom partido”. Decidi contar a ele a verdade. Hoje não faria a mesma coisa, por mais que eu confiasse na pessoa. Contei que era soropositivo – como foi

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[luxo de A a Z ]

Prazeres da

modernidade EDIÇÃO: MARIANA TINÊO FOTOS: D IVULGAÇÃO/R EPRODUÇÃO

Infinity A Electrolux acaba de lançar uma linha de refrigeradores especialmente desenvolvida para consumidores de classe A. Os modelos Infinity são frost free, têm duas portas e atributos inéditos, como o espaço express - que gela sobremesas e bebidas mais rápido, o ice maker - que produz automaticamente cubos de gelo com água filtrada e o intelligent sensor - que regula automaticamente a temperatura. Isso sem falar no novo design e no melhor aproveitamento do espaço. São quatro modelos infinity; dois em inox e dois brancos, com painel blue touch, que permite acionar as funções por meio de um leve toque dos dedos. Preço sugerido: DI80X (542 litros): R$4.699,00. DF80X (553 litros): R$3.999,00. Onde encontrar: www.eletrolux.com.br

Privacidade ao telefone O sistema de proteção da privacidade da voz Babble é uma ferramenta para controlar a confidencialidade em conversas telefônicas. Do tamanho de uma caixa de fita cassete, pode ser deixado sobre a mesa de trabalho. Quando for necessário, basta pressionar um botão para obter a privacidade de voz que deseja. Preço sugerido: R$ 2.808,00. Onde encontrar: www.atecnet.com.br.

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Chique e útil

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Referência em moda masculina, a marca italiana Ermenegildo Zegna Optical lança a coleção 2009 esbanjando requinte e criatividade. Os óculos da coleção são confeccionados com materiais luxuosos que priorizam os recursos naturais, como o couro talhado e a madeira, e design moderno. Os modelos Zegna utilizam alta tecnologia e trazem inovações, como leves detalhes em titânio esculpidos em acetato, inspirados nos diversos mundos de atuação da marca: negócio, casual e chique. Preços sugeridos: SZ 3122: R$ 1.280,00 SZ 3121: R$ 1.065,00 Onde encontrar: SAC (11) 3837-9133 www.wilvale.com.br

Cooktop portátil Praticidade e segurança na cozinha são itens garantidos com o lançamento do Cooktop Portátil por Indução da Electrolux. O produto é pioneiro no Brasil. Tem design arrojado e tecnologia de ponta. Indicado para quem gosta de receber amigos e cozinhar na companhia de seus convidados. Com controles eletrônicos (touch control), o cooktop portátil pode ser levado à mesa, já que dispõe de cozimento por indução – sistema rápido e seguro que não emana calor e não tem chama. Preço sugerido: R$399,00. Onde encontrar: www.electrolux.com.br

Gelo rápido Moderna, bonita e prática. Esta é a IceMac Super 12, uma máquina capaz de produzir 12 kg de gelo a cada 24 horas (dez cubos a cada 12 minutos), em três tamanhos diferentes. O equipamento possui sensores indicativos que controlam o abastecimento da cesta de gelo, a falta de água no reservatório e outras funções de proteção. A Ice Mac mede 40 x 31 x 38 cm e pesa 15 kg. Preço sugerido: R$ 1.100,00. Onde encontrar: www.yuanfeng.com.br.

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Clipe para vinho Uma novidade interessante para os que apreciam vinho é o Wine Clip. Preso no gargalo da garrafa, o clipe deixa o vinho no ponto certo para ser consumido. Agindo por meio de magnetismo (agitando as moléculas da bebida), o clipe reduz as impurezas e os taninos e acelera a oxidação da bebida. Preço sugerido: R$ 170,00 (kit com Wine Clip mais vinho). Onde encontrar: www.thewineclip.com.br.

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iPode falante O novo tocador digital da Apple, o iPode shuffle, surpreende pelo tamanho (1,8" de altura x 0,3" de espessura) e pela nova função VoiceOver. Isso mesmo, o iPode fala. Diz o nome das músicas, cantores, listas de reprodução e avisa quando a bateria está acabando. Tudo isso em 14 línguas diferentes, incluindo o português (de Portugal). Com 4 GB, o iPode shuffle armazena até mil músicas. Seu controle está nos fones de ouvido e um clipe em aço inoxidável acompanha o aparelho para facilitar a fixação e conferir segurança. Preço sugerido: R$ 399,00. Onde encontrar: www.apple.com.br.

Conexão pela TV Falar de internet sem computador pode parecer estranho, no entanto, já é possível acessar a rede mundial para assistir a vídeos, ver fotos, conectar um tocador MP3 ou bater papo, tudo isso pela televisão. Basta um clique no mosaico criado para o iBlogTV, o novo conceito utilizado pelas TVs por assinatura. Desenvolvido no Brasil, o iBlogTV funciona como um browser de internet para monitores de TV LCD e plasma. Tem o tamanho de um pequeno conversor e vem acompanhado de um teclado sem fio com touchpad. É só conectar um cabo de rede ao iBlogTV e depois conectar o aparelho à televisão. Preço sugerido: R$ 999,00. Onde encontrar: sites CompraFácil, Magazine Luiza e, para os assinantes NET, pelo site da operadora.

HD especial Desenvolvido pela Iomega para usuários do notebook MacBook Air, o HD eGo Helium de 320 GB tem medidas enxutas (12 cm de profundidade x 8,5 cm de largura x 1,6 cm de espessura e 199 gramas) e capacidade suficiente para nada menos do que 1,28 milhão de fotos, mais de 5,9 mil horas de música ou 480 horas de vídeo. Além disso, o equipamento possui a tecnologia Drop Guard, que protege os dados armazenados em caso de quedas de até 1,5 metro, ou seja, resistência maior que a maioria dos outros discos rígidos. Preço sugerido: R$ 998,00. Onde encontrar: grandes varejistas on-line ou na Controle Net (www.controle.net).

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Que PARADA é essa?! Os preparativos da maior parada LGBT do mundo

POR LÍVIA VELASCO E NINA RAHE

É

um prédio comum, localizado em frente à Praça da República. Mesmo de longe, já é possível avistar um cartaz com a seguinte frase: “Resolve o problema da calvície. 1º andar.” Na entrada, uma vitrine com uma manequim de peruca – com seus olhos azuis e boca avermelhada – destaca-se. Ali também estão exemplos do antes e depois da calvície, além de fotos do responsável pela “solução milagrosa” em programas como o do Ratinho e o do Silvio Santos. Mas diferente da propaganda realizada na fachada e na entrada do prédio, que atrai a atenção de carecas desesperados e transeuntes curiosos, a sede da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT) é discreta. Na porta, apenas um pequeno

2 mil

participantes, tinha a primeira manifestação em

1997

3,4 milhões

de pessoas é o público

2009 De acordo com os indicadores de 2008 dos participantes são paulistanos previsto para

59,7% 40,3% 16 mil os viajantes somam

são estrangeiros

cartaz seguido do aviso: “Entre sem bater.” E é nessa sala, com apenas três ambientes, onde 20 pessoas se revezam em poucos computadores e disputam o único aparelho telefônico, que acontece toda a organização das atividades que envolvem o Mês do Orgulho LGBT, no qual a parada está incluída – manifestação que começou tímida no ano de 1997 com apenas 2 mil participantes, contabilizou 3,4 milhões de pessoas em 2008 e, segundo os coordenadores cheios de modéstia, tem previsto o mesmo público para 2009. Este ano, a parada, que é considerada a maior do mundo, vem com o seguinte tema: “Sem homofobia, mais cidadania – Pela isonomia dos direitos!”, e acontece em um domingo, dia 14 de junho. Mas para os organizadores, a parada é quase uma sucessão infinita e ininterrupta de acontecimentos. O final do mês de junho, por exemplo, é só o início de todos os preparativos para o próximo ano. Foi em agosto de 2008 (apenas dois meses após a parada) que aconteceu a reunião de avaliação do evento, ponto de partida para o próximo ano, e fundamental para identificar os acertos e corrigir os erros. Já há muito envolvido nos preparativos de 2009, Manoel Zanini, um senhor de cabelos grisalhos e sobrancelhas grossas, pouco se lembra do que foi avaliado do ano anterior. Ele só tem uma certeza: “Foi positiva a experiência de pela primeira vez dividir a realização do evento em coordenadorias.” O trabalho que antes era realizado por todos os envolvidos (que faziam de tudo, um pouco) – e, inacreditavelmente, saía do papel – agora é dividido em 12 coordenações. São elas: coordenação de oficinas, coordenação de produção do Gay Day,

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coordenação de comunicação, coordenação de estoque e abastecimento, coordenação de expositores, coordenação de distribuição de material, coordenação de segurança, coordenação de trios, coordenação de arte visual e produção gráfica, coordenação do Ciclo de Debates, coordenação da Feira Cultural, curadoria artística e, por fim, a de responsabilidade de Zanini, coordenação geral.

A maior parada do mundo Embora bem diferente do trabalho realizado pelas 12 equipes da Associação, pode-se dizer que os afazeres de Gustavo Martins*, o jovem de 26 anos, com voz bonita e muita simpatia, são – de uma maneira diferente – atividades de coordenação. Nos dez anos em que participou do evento, Gustavo representava o ABC. Ela ia montado de drag no trio, mobilizava os amigos, o pessoal do vôlei e todos que conhecia da cidade para, como em uma caravana, irem juntos à parada. “Eu ajudava indiretamente na organização da parada também. Eu preparava as roupas e, como sou maquiador, maquiava meus amigos. E durante a parada eu me apresentava, fazia shows. Realmente me envolvia, fiz isso durante dez anos. O ano passado foi minha última participação”, explica Gustavo que, atualmente, por motivos pessoais, prefere não participar do movimento. A parada é um evento que consegue reunir pessoas de diferentes idades, profissões, credos e identidades sexuais. A campo-grandense Natacha Leal, antropóloga de 27 anos, frequenta a parada desde que se mudou para São Paulo, em 2006. E todos os anos, ela encontra na comemoração crianças,

jovens, idosos, homossexuais ou não. “Acho o evento mais democrático da cidade. Além, é claro, de ser muito divertido.” A adesão crescente de participantes demonstra a simpatia da sociedade pela Parada LGBT. Para Alexandre Santos, presidente da APOGLBT, conhecido como Xande, é um momento para a sociedade rever seus preconceitos, e ouvir as reivindicações propostas pelo público. “Poucos anos atrás, a palavra ‘homofobia’ era desconhecida por grande parte da sociedade, inclusive, pela população LGBT, sequer constando em dicionários. Hoje, o assunto é constantemente discutido, abordado em telenovelas, filmes etc.” Na opinião dele, a adesão do público à parada trouxe, primeiramente, a visibilidade dos LGBT, o que possibilitou a exigência do reconhecimento. “É um momento em que toda a mídia mundial está de olho no que acontece em São Paulo e no

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Brasil, pressionando as autoridades de todos os países a tomarem medidas a favor dos direitos de LGBT. A dimensão da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo rompe fronteiras e a torna uma manifestação global”, enfatiza. E de fato a manifestação é democrática. Na avenida, não se reconhece apenas o ritmo, a gíria, e a maneira de falar dos habitantes da “cidade da garoa”. Enganam-se aqueles que pensam que só os residentes da pauliceia lotam a Paulista. De acordo com os Indicadores e Pesquisas do Turismo da Cidade de São Paulo, publicados pela SPTuris, embora os paulistanos sejam a maioria dos participantes (59,7% em 2008), o percentual de visitantes também é grande. Os viajantes que saem da sua rotina para prestigiarem a Parada somam 40,3% do público. Os simpatizantes do evento são do interior do Estado de São Paulo e de capitais como Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Salvador. Os gringos também são bemvindos, e contabilizam 16 mil do total de visitantes. Portanto, a Parada LGBT ganhou junto com a adesão do público, sotaques, cores, estilos e até idiomas diferentes. Uma pequena amostra de como ela se tornou cosmopolita, assim como a maior cidade do País. Mas não é só o rio de pessoas que impressiona quem participa da Parada, as cifras que ela movimenta são de deixar qualquer um bem satisfeito! Segundo a mesma pesquisa, a movimentação financeira da Parada no período de 2005 a 2008 alcançou a marca de 189 milhões de reais, o que a classifica como o segundo maior evento em termos econômicos da cidade de São Paulo, perdendo apenas para o GPBrasil de Fórmula I. No outro lado, o orçamento de quem a organiza é modesto, e a menos de dois meses da Parada ainda não foi fechado. “Muitos dos itens para a realização das atividades dependem de editais e cotações, dentro da Lei de Licitações, então é difícil ter por ora um valor aproximado”, explica Xande.

Na sala discreta, trabalho árduo É Zanini, no cargo de coordenador geral, que tem como responsabilidade a elaboração de projetos para financiamento, propostas de patrocínio, entre outras atividades. O mais difícil: “Viver

a angústia de esperar a resposta de parceiros, apoiadores e financiadores. Dificulta bastante não tê-los definidos com antecedência”, desabafa. Ele precisa ter a visão geral de toda a concepção do Mês do Orgulho Gay, o que é facilitado pelas reuniões semanais, nas quais cada coordenador expõe o que realizou no período. Até dezembro, os encontros eram quinzenais, mas com a aproximação do evento, tornou-se necessário promovê-los com mais frequência. No arquivo do Excel, ao menos, parece tudo bem organizado nos mais de 500 itens, que vão desde canetas, papéis, capas de chuva, copos d’água, até locação de extintores, confecção de bandeiras, cartazes, materiais para os trios elétricos etc., etc., etc. Só para a campanha realizada ao longo da avenida, estão contabilizados 170 banners. O núcleo da organização da parada coordena um exército de pessoas composto também por voluntários e colaboradores. De acordo com o presidente da Associação, aproximadamente 4 mil pessoas estão envolvidas diretamente na realização de todas as atividades do 13º Mês do Orgulho LGBT de São Paulo e, segundo estima a SPTuris, 13 mil indiretamente. Na mesma sala, ao lado de Zanini, está sua assistente Ana Ferri, que também é coordenadora das oficinas. A mulher de cabelos encaracolados curtos e intensos olhos verdes escondidos atrás dos óculos de grau é quem organiza as 18 oficinas que acontecem em quatro das mais de 100 tendas da Feira Cultural LGBT, atividade que antecede a Parada. Este ano, a novidade resultou da parceria com o Conselho Regional de Psicologia, que prevê ainda um psicodrama público com a temática “Enfrentamento Cotidiano da Homofobia”. Gustavo, que ganha a vida deixando as pessoas mais bonitas, como cabeleireiro e maquiador, com voz de quem não desiste da luta, destaca: “O preconceito continua nas outras 364 páginas do calendário. A Parada é um momento de descontração, de alegria, de poder mostrar como somos, com espontaneidade. Mas não se pode esquecer que o preconceito está na sociedade, seja no Quadro de Elza Soares enfeita parede da Associação

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Gabriel Victal

mercado, seja na família ou no serviço. A Parada é o dia do ano em que não somos reprimidos ou marginalizados, mas é preciso lutar no cotidiano também.”

Debates, reflexão e, quem sabe, mudanças Para que a rotina desagradável de Gustavo possa ser amenizada, a luta contra o preconceito pode ter um grande aliado. O Projeto de Lei Complementar nº 122/2006, da chamada Lei Anti-Homofobia, está prestes a ser votado no Senado Federal. A lei, se aprovada, criminaliza qualquer ato de homofobia. “Bateremos de frente na questão, com uma campanha forte na Avenida Paulista. O Projeto tem que ser aprovado, e ponto! Não admitimos mais que a sociedade continue escondendo as atrocidades cometidas contra os LGBT embaixo do tapete. As multidões das Paradas do Orgulho de todo o Brasil não podem mais ser ignoradas. Estamos confiantes de que saia a aprovação do PLC 122/06 ainda este ano”, enfatiza Xande. As oficinas que acontecem durante a feira em muito contribuem para o entendimento da situação atual e para a construção de novos rumos para os LGBT. Mas para que tudo esteja perfeito no dia, Ana precisa se preocupar com a preparação dos kits que serão entregues, as reuniões com a equipe de divulgação (responsável por entregar agenda e convidar os participantes) e, ainda, garantir que a infraestrutura esteja lá e de acordo com o que foi solicitado. Nem sempre isso acontece. E daí é se virar do avesso para garantir que tudo se resolva. O coordenador do Ciclo de Debates, Tommaso Besozzi, um italiano radicado no Brasil desde 2001, acompanhava essa loucura toda a distância. “Assim que vai se aproximando, vira uma loucura. Eu via os meus amigos surtados nessa época e agora estou aqui, dentro do caldeirão”, brinca. Com experiência no movimento LGBT, ele foi convidado para coordenar a 7ª edição do Ciclo de Debates, que tem como título “Construindo Políticas para LGBT”. São 11 eventos, que ocorrem ao longo

Em 2008, Av. Paulista lotada. de junho, com formatos diferentes, entre seminários, oficinas etc. A proposta é trazer discussões que possam servir como instrumento para as pessoas. “Existe o ativismo formal, mas todas as pessoas têm uma forma de ser ativista. Promoveremos debates de ideias sempre com o objetivo de incentivar o ativismo”, explica. Desde outubro do ano passado à frente da coordenação, além de se preocupar em definir as temáticas, pensar em formatos e convidar debatedores, Tommaso também desempenha atividades bem mais burocráticas. É responsável por providenciar locais, fazer interface com parceiros e com as outras coordenações, contabilizar número de passagens e dias de estadia necessários... Tudo para que o Mês do Orgulho e a Parada LGBT saiam impecáveis e os quase 4 milhões de participantes sequer pensem em tudo que foi necessário fazer até atingir o resultado final, quando a Avenida Paulista, enfim, tem que deixar de fora os carros e a pressa e dar espaço para a movimentação de pessoas. Então os prédios imponentes repercutem a música animada e as ruas são invadidas por gays, lésbicas, travestis, jovens, crianças, trios elétricos, e gente, muita gente.

* O nome foi alterado a pedido da fonte

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Compre. Mas pen$e.

O Hudson Calasans

tema “consciência ecológica” era uma realidade distante até a década de 80. Aos poucos, ganhou força e hoje está presente na mídia e na cabeça das pessoas. Mesmo aqueles que ainda não aderiram à causa, já sabem que ela existe. Algumas atitudes consideradas normais até 30 anos atrás, hoje são vistas com maus olhos. Um bom exemplo é o lixo, como papel usado, chiclete mascado ou embalagens vazias, que antes eram atirados e largados na rua, um grande lixão. Outras palavras e preocupações foram inseridas recentemente no vocabulário diário das pessoas (não necessariamente nas ações): reciclagem - economia de água – sustentabilidade - aquecimento global - efeito estufa - aumento do nível do mar – Protocolo de Kyoto. Mas existe uma palavra que encontra dificuldades de entrar nessa onda: consumo.

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Por Camila Balthazar

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É importante sensibilizar o consumidor final sobre este novo movimento que veio para ficar: o consumo consciente.

Comprar. Gastar. Vender. pela frente. Todos gostam. Muitos vivem Bruno Martinelli, coordenador para isso. A intenção não é entrar técnico do Conselho Brasileiro no mérito capitalista, mas... Se de Manejo Florestal, explica que ninguém deixará de consumir, por o produto que recebe o selo FSC que não se preocupar em agir segue critérios ambientalmente conscientemente? Já é possível corretos, socialmente justos e Home page do site Catálogo Sustentável comprar os produtos chamados economicamente viáveis. Para responsáveis ou sustentáveis. Mas é preciso tomar facilitar o acesso do consumidor a essa informação, a cuidado. Muitas empresas se dizem ecologicamente instituição lançou, em abril deste ano, o guia Páginas corretas, verdes, ambientalmente responsáveis. Todas as Verdes. No livro, que esse ano ainda é gratuito e apenas expressões soam ótimas. Porém, um estudo feito pela o envio é cobrado, o consumidor encontra a relação de TerraChoice Environmental Marketing, com 1758 promesempresas que possuem o selo. sas escritas nas embalagens de 1018 produtos encontra“É importante sensibilizar o consumidor final sobre dos no mercado dos Estados Unidos revela que devemos esse novo movimento que veio para ficar: o consumo ficar atentos: 56% dos produtos destacavam apenas um consciente. É o momento de as pessoas se questionarem benefício ambiental, como ser reciclável, mas omitiam o quanto à origem do produto; saber se a madeira ou papel fato de consumirem energia e água em excesso durante que está à venda vem de um empreendimento responsáa produção; 26% não apresentavam comprovação vel, por exemplo”, afirma Martinelli. Além de estimular a científica ou certificação respeitável; apenas para citar preservação do meio ambiente, a atitude de cobrar esse alguns dos números. posicionamento dos fabricantes pressiona outras empreNo entanto, existe sim uma maneira de diminuir o sas a adotarem as mesmas medidas. tamanho do estrago ambiental na hora da compra. Também em abril deste ano, o Programa de Consumo Mesmo ainda pouco divulgado e desconhecido da Sustentável do Centro de Estudos em Sustentabilidade da maioria das pessoas, existe um selo, chamado FSC (da FGV lançou o “Catálogo Sustentável”, plataforma on-line sigla em inglês, Forest Stewardship Counsil), que certifica que permite a busca de produtos que não impactam o os produtos considerados responsáveis. Em português, a meio ambiente. Isso evidencia que os consumidores expressão foi traduzida para Conselho Brasileiro de estão apresentando um comportamento mais responsáManejo Florestal. ONG fundada em 1993 no Canadá, vel. “Queremos que o catálogo seja um impulsionador chegou ao Brasil em 1998 e é altamente respeitada no de boas práticas. Além disso, uma plataforma educativa mundo inteiro. Mas seu grupo ainda tem muito trabalho para o comprador e para o produtor”, afirma Luciana 77 AIMÉ

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Uma lâmpada incadescente chinesa pode custar 50 centavos. Mas quanto consome de energia elétrica? Quanto tempo vai durar?

Betiol, pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV e responsável pelo Programa de Consumo Sustentável.

Empresas responsáveis São vários os exemplos de empresas que pensam com responsabilidade. Michel Otte, diretor comercial da Butzke, conta um pouco da história da fábrica de 110 anos que trabalha com móveis de madeira para o lazer e o jardim. “Fomos a primeira empresa brasileira a receber a certificação FSC, em 1998, o que nos abriu muitas portas”, diz. De acordo com ele, o primeiro passo é comprar matériaprima certificada. Mas o processo não termina aí. “Todos os resíduos da fábrica são transformados. Criamos uma minifábrica dentro da fábrica para trabalhar com pequenas peças de maneira que antes eram descartadas. Os restos que não viram produto seguem para a queima de energia”. Além disso, todos os funcionários são registrados e podem frequentar um programa de ensino de 1ª a 8ª série na própria fábrica. E não são apenas empresas moveleiras que podem ter o selo. As fábricas brasileiras de embalagens Tetra Pak também possuem o selo FSC desde junho deste ano. De acordo com Elisa Prado, diretora de Comunicação da Tetra Pak, a conquista do selo significa que a empresa conseguiu o controle total do manejo florestal. “Em grande parte, conseguimos o selo por termos a Klabin como único fornecedor de papel. Eles têm o selo e o papel representa 75% do nosso material”, diz. A Tetra Pak possui tecnologia para reciclar 100% da embalagem, que inclui, além do papel, 20% de polietileno e 5% de alumínio, também reciclados. Elisa conta que até mesmo canetas BIC são produzidas a partir da reciclagem dos outros dois materiais. “Além disso, é possível separar o polietileno e transformá-lo em parafina, assim como reciclar e reutilizar o alumínio. Toda a embalagem pode ser reaproveitada”, garante.

A lista de empresas que possui o selo cresce a cada ano e já inclui nomes como Hering, Faber Castell, Tramontina e Natura.

Custo x benefício Produtos com o selo FSC geralmente são mais caros, pois as empresas que se preocupam com a certificação precisam fazer investimentos. Enquanto isso, uma mesa feita com madeira ilegal, por exemplo, consegue reduzir o preço consideravelmente. Luciana Betiol garante que o foco no menor preço pode ser equivocado. “Uma lâmpada incadescente chinesa pode custar 50 centavos. Mas quanto consome de energia elétrica? Quanto tempo vai durar?” Da mesma forma, ela ressalta que dependendo do produto ele pode ser tóxico até para o consumidor. Isso sem questionar se houve participação infantil ou até mesmo semiescrava no processo de fabricação.

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Lord Roses

Calça: Jeanseria / Cinto: Acervo Calça Jeans: A Mulher do Padre / Ombreira: Doc Dog Calça: Jeanseria / Suspensório: TNG Calça Jeans: Base / Cinto: Pirelli / Luva: Walério Araújo

Fotografo: Marcio Amaral / Edição de Moda: Fernanda Kazalla / Produtor: Leandro Lourenço / Maquiador: Duca

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Camisa: Mario Queiroz / Casaco: TNG / Cinto: Acervo


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Camisa: Levis/ Gravata borboleta: A Minha Vó Tinha /Jaqueta: A Mulher do Padre Suspensório: TNG / Calça TNG / Luva: Walério Araújo

Camisa: Individual / Gravata: Acervo / Terno e Calça: Ricci e Collela / Casaco: Jadson Ranieri Sapato e Luva: Walério Araújo / Cinto: Pirelli

Jaqueta de Couro: PZA / Moleton: A Mulher do Padre / Camiseta: Anni Futuri Calça: Aramis / Saia: Mario Queiroz / Cuturno: TNG / Cinto Acervo

Cabeça e luva: Walerio Araújo / Calça: Mario Queiroz / Cuturno: TNG / Corda: A Minha Vó Tinha


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Camisa: Individual / Gravata: Acervo / Terno e Calรงa: Ricci e Collela / Casaco: Jadson Ranieri


Camiseta: A Mulher do Padre Camisa: Rip Curl Casaco: Mario Queiroz Ombreiras: Doc Dog

Terno e Calรงa: TNG Moleton e Camiseta: A Mulher do Padre Camisa: Levis Braรงos: Jadson Ranieri

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Calça Jeans: A Mulher do Padre / Camisa: Éden / Colete: A Minha Vó Tinha / Suspensório: TNG / Jaqueta: Doc Dog


ONDE ENCONTRAR ARAMIS: www.aramis.com.br PZA: (12) 3663 4525 INDIVIDUAL: 11. 3885-0773 / 47. 3331-9001 RICCI E COLLELA: www.riccicolella.com.br JADSON RANIERI: 11. 3257 1571 LEVIS: www.levi.com.br A MINHA VÓ TINHA: 11. 3865-1759 RIP CURL: www.br.ripcurl.com EDEN: 11.3068-9790

Camisa e Calça: A Mulher do Padre / Colete: Mario Queiroz / Cinto: Acervo / Cabeça: Walério Araújo / Broche e Corda: A Minha Vó Tinha

Cabeça imitação rapoza: Walério Araújo

Calça: Mario Queiroz / Tapa Olho: Jadson Ranieri / Luva: Walério Araújo / Cuturno: TNG

JEANSERIA: 11. 3459-1255 A MULHER DO PADRE: 11. 3062-8347 DOC DOG: www.docdog.com.br TNG: www.tng.com.br PIRELLI: www.it.pirelli.com BASE: 11. 5051-0400 / 11. 5051-0620 WALERIO ARAUJO: 11. 3257 1571 MARIO QUEIROZ: 11. 3062-3982 ANNI FUTURI: 11. 3294-1385

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Camiseta: A Mulher do Padre / Camisa: Rip Curl


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Ritual Sagrado O

Por Nina Rahe

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abiano Calandrin parece um rapaz sério – traço acentuado pela roupa social (exigida no trabalho) e por seus óculos de armação preta –, é alto e magro. Fabiano Eloy apresenta características opostas, é de riso fácil, baixo e possui um estilo mais despojado. Eloy não segue nenhuma religião. Fabiano, embora de família católica, é espírita. Mas a despeito da aparência, do temperamento e da religião, os dois combinam e muito. Pelo menos foi o que revelou o estudo

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realizado pela sacerdotisa Beatriz Moura Leite, responsável pela cerimônia de casamento celta. Quando foram apresentados, há mais de três anos, jamais imaginavam que a troca de olhares durante um jantar – no qual cada um estava acompanhado de seu respectivo namorado – terminaria em casamento. O encontro se deu porque Eloy conhecia o parceiro de Fabiano. Mas dias depois daquela reunião, ambos estavam solteiros e descomprometidos e, embora de início Eloy tenha relutado, acabou cedendo aos batepapos intensos e apaixonantes que começaram a rolar via internet. Os dois marcaram um encontro no restaurante L´Open e a partir de então não houve maneira de voltar atrás. E foi nesse mesmo restaurante que se realizou o casamento. Os namorados nunca tinham pensado seriamente em se casar e estavam esperando ficar pronto o apartamento onde iam morar juntos. Foi quando surgiu a conversa sobre casamento celta. “O que sabíamos é que quando o nosso casamento acontecesse, ele seria no L´Open, mas nunca paramos para pensar”, conta Fabiano, que não resistiu à emoção e até chorou na primeira reunião com a sacerdotisa, na qual soube como seria o ritual. “Nós acabamos nos envolvendo com a filosofia celta”, explica Eloy. Diferente do casamento tradicional, a cerimônia do matrimônio celta é mais participativa. Nada de

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sermões demorados aos quais estamos acostumados nos casamentos tradicionais, muito menos a exigência de permanecer durante todo o acontecimento restrito a pequenos comentários a respeito de trajes, decoração etc. No casamento celta, os convidados também participam. A primeira diferença já está no posicionamento dos noivos, que ficam de frente para os convidados durante a cerimônia. Mas para se chegar à cerimônia há antes uma preparação. Tudo começa no estudo do casal. Através dos nomes, datas e horários de nascimento – e baseado no Feng Shui e I-Ching – Beatriz elabora o Livro dos Segredos, que se transforma em um oráculo de autoconhecimento para os parceiros. O estudo revela o tema do casal, que está relacionado à energia do primeiro encontro. No caso de Eloy e Fabiano, o tema achado foi a “União” e os elementos foram o ar, a terra, a água e a madeira. A pesquisa numerológica do encontro resultou em um número par, o que significa que existe uma sintonia grande. Os elementos comprovam: água representa grande fluidez, boa compreensão; ar, boa comunicação; terra aponta para uma relação mais racional; e o elemento madeira representa uma tendência a pensamentos elevados. Os quatro elementos juntos resultam em uma grande harmonia. “O ritual não está ligado a nenhuma religião específica, a filosofia do povo celta é muito antiga, existe desde 2500 a.C. Era um povo de sociedade matriarcal, que acreditava que o mundo visível era próximo do invisível. Eles acreditavam que os elementos da natureza eram uma forma de se conectar a Deus e a tudo o que é sagrado”, explica Beatriz. A sacerdotisa, que só no último ano realizou cerca de 35 casamentos, explica que o ritual foi adaptado. O casamento celta antigo, por exemplo, durava uma semana. E foi com base no tema e nos elementos encontrados no estudo, que o Grupo PRA Service – assessoria responsável pelo casamento, composta pela sacerdotisa Beatriz Moura (casamento celta), e pelo grupo de empresários Penha Ribeiro (assessoria em eventos sociais e corporativos), Nilson Versatti (foto e filmagem), Selma Patera (AVSC – Equipamentos Audiovisuais), pela decoradora Nice Avelar (Nice Avelar Decorações), por Deise Lemos (bem-casados), Germano (Vegas Bartender’s), Terezinha Braga (bolos e docinhos), Renato (Restaurante L’Open) – entrou em ação para programar todos os detalhes da cerimônia. Nice

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Avelar explica que a decoração é desenvolvida em cima do tema. No caso de Fabiano e Eloy, que tiveram elementos como terra, madeira e água, predominaram os tons de marrom e cristais nos enfeites e ornamentos. “O tema tem que estar presente em todos os elementos”, explica Nice. O espaço do restaurante L’Open também ajudou, já que apresenta uma área mais rústica e até possui um tronco de árvore no centro, com muito verde ao redor. “Como existia o predomínio do elemento terra no local, buscamos explorar mais os cristais, que simbolizam a água”, conclui. Até mesmo o bem-casado apresenta relação com a temática. O papel é de cor pérola, a fita é de cor marrom e um “cristalzinho” em cima dá o toque final. No cartão, a frase escolhida pelos noivos: “Sinta o doce de estar bem casado.” “Essa é uma cerimônia que não tem uma religião específica. Existe um simbolismo. As pessoas que não querem casar na igreja, não gostam de cerimônias tradicionais, no momento em que descobrem o casamento celta, decidem na hora. É unanimidade”, explica Penha Ribeiro, da PRA Service, e continua: “A busca está se intensificando bastante. As pessoas que assistem não esquecem. O respeito pelos participantes propõe a cada um uma interação.” À diferença de um casamento tradicional, no casamento celta o que determina todo o ritual não é a vontade do casal e sim o que o estudo descobriu a respeito dos dois. Os noivos escolhem os padrinhos (responsáveis por levar boas intenções através de pequenos e simbólicos objetos) e os dagdas (que são as pessoas escolhidas para ter a palavra). Para o povo celta, dadga era o bom e o sábio Deus. A cerimônia possui nove momentos. São eles: introdução (sacerdotisa dá início ao rito), ritos iniciais (cortejo dos pais), momento da acolhida (entrada dos noivos até o ponto de união), momento da purificação, momento das oferendas (entrada dos padrinhos), momento da palavra (entrada dos dagdas), momento das alianças (reverência aos pais), troca do talismã sagrado (troca das alianças) e rito final. Em cada um desses momentos, a sacerdotisa explica aos convidados o que está acontecendo e esse é o grande diferencial do casamento, já que todos participam. São os noivos que escolhem o repertório musical de seus momentos cerimoniais. O ritual sagrado de Fabiano e Eloy ocorreu ao som da harpa e da flauta, instrumentos marcantes dentro da cultura céltica, e sem dúvida, essa escolha trouxe ao momento da união

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uma atmosfera de muita serenidade e paz. A celebração permitiu que os dois partilhassem um momento especial com todos os amigos e familiares. Para casa, além de todas as recordações, eles levam o estudo realizado por Beatriz, transformado em um livro com informações do Feng Shui para serem aplicadas na vida diária. Agora é de responsabilidade do casal estender os preceitos e a harmonia do povo celta para a vida que compartilhará.

NILSON VERSATTI

PRA Service Site: www.praservice.com Fone: (11) 2533-6880 / (11) 7833-1777

Vegas Bartender’s www.vegaeventos.com/teste Fone: (11) 3645-4280 / (11) 8355-6695 / (11) 7964-0015

Beatriz Moura Leite www.casamentocelta.com.br Fone: (11) 7337-6706

Bolos e Docinhos teresuasdelicias@terra.com.br Fone: (11) 9505-9187 / (11) 3715-6755

Le Vecchi Bem-Casados www.levecchibemcasados.com.br Fone: (11) 7629-3837 / (11) 9895-9128

Restaurante L’Open Site: www.lopen.com.br Fone: (11) 3060-9013

Nilson Versatti Film & Photo Design www.nilsonversatti.com.br Fone: (11) 3872-0707 / (11) 3062-8999 / (11) 9900-2285

Pousada Refúgio do Pirata www.refugiodopirata.net Fone: (12) 3895-8896

AVSC – Equipamentos Audiovisuais Site: www.avsc.com.br Fone: (11) 3959-1199

Cássia Doninho cassiadoninho@terra.com.br Fone: (11) 3081-2463

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O poder do

abaixo-assinado

POR MÁRCIO RODRIGO DELGADO*

Autores e público se unem. Livros gays voltam à lista do Amazon. Mas o que realmente aconteceu antes e depois do desaparecimento das obras do maior site de vendas da internet?

DEAN STOCKINGS

“I

sso é uma mostra do poder do público. Além disso foi uma estupidez, porque todos sabem como gays e lésbicas são ávidos usuários da internet. Não é possível alienar uma fatia de mercado dessas facilmente.” A declaração é do escritor inglês Paul Burston que, a exemplo de vários outros autores ao redor do mundo, há pouco mais de um mês viu os seus livros desaparecerem dos resultados de busca do site Amazom.com. O shopping virtual atribuiu a uma falha técnica o fato de diversos títulos com temática GLS terem desaparecido simultaneamente das pesquisas. Mas a comunidade gay em diferentes países ainda não parece convencida do erro que atingiu mais de 57 mil títulos, e acusa o site de censura e homofobia. “Eu encontrei um autor on-line cujo livro sobre as aventuras de um stripper foi removido do ranking de vendas do site. Ainda assim, um livro similar sobre uma mulher que faz a mesma coisa continuou listado. E ainda: livros gays sem nenhum conteúdo adulto foram classificados como ‘adult’, o que é claramente homofobia”, relembra Burston, que usou ferramentas como Myspace.com, Twitter e Facebook para colher assinaturas para uma petição. Durante um único fim de semana, ele conseguiu mais de 15 mil assinaturas, atraiu a atenção da mídia e fez com que o Amazon justificasse o problema. Pouco depois alguns dos livros afetados começaram a reaparecer nas buscas com seu ranking de vendas restaurado. Outro escritor, o americano Mark Probst, autor de The Filly, um romance gay sobre caubóis dirigido ao público jovem, informou em seu blog que diversos romances com temas homossexuais, como o seu, haviam perdido

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SITE AMAZON

seus rankings de venda no site. Probst enviou um e-mail ao Amazon e a empresa respondeu informando que estava excluindo livros “adultos” de alguns resultados de busca e listas de best sellers. “A desculpa foi uma falha técnica. É engraçado que a falha foi capaz de identificar livros classificados como ‘gays’, mas não fez o mesmo com títulos classificados como culinária e religião, por exemplo”, alfineta Burston. Publicamente, a maior loja de comércio da Internet se manifestou dizendo que tudo não passou de um erro de catalogação e não só envolveu os títulos com temática homossexual, como outros livros, totalizando 57.310 obras fora do catálogo do site. O Amazon.com garantiu que os reparos já foram feitos.

Inspirado pelo verão

DIVULGAÇÃO

O que uma história ambientada na cena gay de Londres tem que ter? Segundo o escritor Paul Burston, cujo oitavo livro, The Gay Divorcee (Ed. Esphere, ainda sem tradução para o mercado brasileiro), acaba de chegar às livrarias do Reino Unido, não há como desenvolver uma obra convincente sem ter, pelo menos, um brasileiro entre os personagens. “Há tantos brasileiros vivendo na Inglaterra no mo-

mento!”, frisa o autor. “Desta vez há um barman brasileiro trabalhando na empresa do personagem principal e ao longo da história há várias referências aos brasileiros também.” A influência tropical não para por aí. Na história, Phil e seu namorado planejam uma lua de mel em Fernando de Noronha, local que, na vida real, Burston visitou com o seu atual parceiro, também para uma lua de mel. “Eu acho que este livro vem na hora certa porque a união civil entre pessoas do mesmo sexo é algo que está na mídia no momento. E há um escassez de livros populares voltada para gays e lésbicas. Há ficção, geralmente literatura com histórias situadas no passado. Mas há muito pouco sendo publicado mostrando a vida e o dia a dia dos gays, como eles estão vivendo no momento”, defende o escritor, desculpando-se por não falar português apesar de inúmeras viagens ao Brasil. Criador de um projeto mensal para autores GLS intitulado Polaris, Paul Burston teve o seu primeiro livro cotado para ser adaptado para o Showtime, mesmo canal a cabo que produziu quatro temporadas da série Queer as a Folk. Como o projeto nunca vingou, o autor agora evita se precipitar com novas promessas. “Eu aprendi que a única coisa a ser feita é esperar para ver. O principal para mim é publicar o meu trabalho. Se algo acontecer além da obra, ótimo. Caso não, sem problemas”, revela Burston que, mais uma vez, está na mira da TV e, quem sabe, desta vez um dos seus livros sai do papel para as telas.

*Márcio Rodrigo Delgado é jornalista, consultor em marketing e atualmente reside em Londres. www.marciodelgado.com 93 AIMÉ

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Pop dos bons

na ativa Grupo inglês Pet Shop Boyscompleta 25 anos de estrada com novo CD e um espetáculo de balé

POR MÁRCIO RODRIGO DELGADO

J

á se passaram 25 anos desde que o Pet Shop Boys invadiu as pistas de dança e as paradas de sucesso do mundo inteiro. Mesmo assim, o grupo inglês nunca esteve tão na moda. Com o décimo CD, intitulado simplesmente Yes (lançado em março e no top das paradas da Europa) e uma nova faixa, Did You See Me coming?, sendo trabalhada intensivamente desde o dia 1º de junho, Neil Tennant (vocal) e Chris Lowe (teclados) andam mais ocupados do que nunca. O sucesso do Pet Shop Boys, criado em 1984, é um quebra-cabeça bem elaborado que tem resistido por décadas. Um dos ingredientes indiscutíveis é a versatilidade dos músicos que encabeçam o projeto. versatilidade Tamanha versatilidade permite à dupla compor músicas para Kylie Minogue e Girls Aloud, fazer dueto com Dusty Springfield e ainda, de quebra, dar conta da trilha sonora, ao vivo, para o clássico filme Eisenstein’s Battleship Potemkin, cuja apresentação com uma orquestra sinfônica em 2004 atraiu 25 mil pessoas numa noite chuvosa para a Trafalgar Square, no Centro de Londres. Famoso no Brasil e na Europa – onde santo de casa faz milagre –, o Pet Shop Boys esteve presente em boa parte da vida adulta de quem está hoje na faixa dos 30 anos, com

letras sobre terrorismo, religião e política. Mas foram as letras abordando a aids e o amor gay, somadas aos clipes dirigidos pelo fotógrafo Bruce Weber (Being Boring, Se a Vida É) e recheados de modelos de tirar o fôlego, que transformaram o grupo numa referência para o público gay. Em recente entrevista para a versão americana da Out Magazine, no entanto, o vocalista Neil Tennant reconhece que por um tempo preferiu dar uma passeada pelo mundo hétero. “Eu me alienei do mundo gay durante uma fase porque todos aparentavam ser a mesma pessoa! Até hoje nunca entendi essa coisa de todo mundo parecer igual. Eram como clones com camisetas ensacadas, calças jeans e bigodes. Agora quando olhamos para trás isso parece tão cafona. Acho esse período alienante porque parecia profissional e narcisista. Não acho tudo isso muito sexy”, revelou o cantor que já trabalhou como jornalista no início dos anos 80, era que faz com que o grupoàs vezes receie dar a impressão de ter parado no tempo. “Começamos bem nos Estados Unidos, emplacamos West End Girls por lá e tínhamos uma considerável legião de fãs. Mas daí as rádios americanas decidiram que era isso e pronto”, relembra o tecladista Chris Lowe. “Eu acho que nos Estados Unidos estamos arquivados na seção ‘anos 80’. A carreira do Pet Shop Boys por lá vai de 1986 a 1988", concorda Neil Tennant. E a esta altura, para quem acha que o Pet Shop Boys já fez de tudo, o novo projeto de grupo serve para mostrar por que eles não estão nem um pouco preocupados em garantir o posto de reis do pop: a dupla está desenvolvendo um balé narrativo para o Sadler’s Wells, teatro que nos seus

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300 anos de existência em Londres tem trazido grandes montagens para o palco. O tema do novo desafio não poderia ser menos curioso: a exibição é baseada em uma história escrita pelo autor dinamarquês Hans Christian Andersen, responsável por clássicos da literatura infantil, como O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Roupa Nova do Imperador e A Pequena Sereia. Definitivamente, não é exatamente um projeto em que se espera ter por trás um grupo como o Pet Shop Boys.

Música especial Este ano a dupla Pet Shop Boys fez uma música em homenagem a Jean Charles de Menezes, brasileiro assassinado no metrô de Londres, intitulada We’re All Criminals Now. A música faz parte do álbum Yes – que também conta com o single Love Etc. A letra, além de descrever o crime, ainda critica as medidas contra o terrorismo adotadas na Inglaterra.

ELLAN IR MCL

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Márcio Rodrigo Delgado é jornalista, consultor em marketing e atualmente reside em Londres www.marciodelgado.com

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Nova Y rk

TEXTO E FOTOS: JOAQUIM ANDRADE

O verão aqui parece ser mais perto do sol do que em qualquer outra cidade no mundo. Quente, seco, com ventos e, graças a Deus: muito ar condicionado!

O

s casacos pesados de inverno já estão no fundo do armário e agora só se veem muitas sandálias, bermudas e as nossas amadas regatinhas! A crise continua pautando a maioria dos assuntos. O presidente Obama sobreviveu ao primeiro semestre, mas ainda há muita incerteza. Os Estados Unidos sentiram de perto o efeito da gripe influenza A (H1N1) em sua economia devido à diminuição do fluxo de turismo. Mas Nova York é inabalável! Joaquim Andrade é jornalista e colunista internacional joaquimandrade@mac.com

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Boom Restaurant Para contar à sua mãe que é gay, convide-a para um jantar no Boom Restaurant. Altamente intimista, mas muito cool, esse charmoso restaurante fica bem no coração do Soho. Velas, flores e vinhos! No jantar o clima é mais romântico ainda! O Boom fica na 152 Spring St. New York, NY 10012 Fone: (212) 431-3663 e-mail: boomrest@aol.com

Fred Perry

Rainbows and Triangules Talvez a única loja GLS que está em todos os guias do meio. Não é novidade, até tornou-se tradição: existe desde 1994 e contribuiu muito para a fama de “friendly” do bairro Chelsea. São quatro ambientes com loja de roupas, sex shop, internet e livraria. Há tudo para todos. Desde cuecas do Snoopy até artigos para o “kinky dirty sex”. A Rainbows fica na famosa Oitava Avenida. 192 8th Ave. New York, NY 10011 Fone: (212) 627-2166 Site: www.rainbowsandtriangles.com. BOOM RESTAURANT

Para matar os colegas de inveja: Fred Perry. Símbolo de bom gosto mundial, no Brasil, Fred só é vendida na Daslu. Poucas peças, cores básicas e preço alto! O bom de tudo isso é que podemos usá-las por muito tempo, sem nos preocupar com a estação. A discretíssima loja do tenista inglês Frederick John Perry fica na:

133 Wooster St. New York, NY 10012 Fone: (212) 260-4770 Site: www.fredperry.com

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FRED PERRY RAINBOWS AND TRIANGULES

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Chopra Center Namastê, Manhattan! O médico indiano Deepak Chopra, famoso por ser o guru espiritual de várias celebridades, abriu seu próprio spa holístico. No meio de todo o caos, modernidade e agito, há um templo de paz! O Chopra Center é uma loja, escola, centro de ioga e tudo mais do mundo zen. Todos os dias ao meio-dia e às 18 horas há uma meditação de 30 minutos. O melhor: free! Só não pode atrasar! Às 12:01, portas fechadas! As massagens não são muito baratas, mas só a visita à loja já acalmará você! OMMMM!!! O Chopra Center fica na 1710 Broadway New York, NY 10019 Fone: (212) 246-7600 Site: www.chopracenterny.com

MET Ao visitar o Metropolitan Museum of Art descobri mais uma da Big Apple. Localizado no subsolo do museu está o refeitório. Até aí, nada de novo, certo?! Só que o enorme restaurante é mais frequentado por moradores da região do que por turistas. Por apenas dez dólares é possível comer uma pasta ao molho de tomate ou um legítimo cheeseburguer americano. Há comida japonesa, italiana e junk food. Quando estiver cansado dos restaurantes “in”, tente essa dica. O MET, como é conhecido, fica na: 1000 5th Ave. New York NY Fone: (212) 535-7710 Site: www.metmuseum.org CHOPPRA CENTER AIMÉ 100

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Canadá. O melhor destino na melhor companhia. O Canadá é um dos destinos mais amigáveis para a comunidade gay em todo o mundo. De leste a oeste, inúmeras cidades celebram a diversidade, como o Le Village, em Montreal, ou o West End em Vancouver. Todos estes lugares oferecem atrações imperdíveis, como festivais de música, teatro, artes plásticas, restaurantes e bares temáticos, além das tradicionais Paradas. Conheça mais sobre o Canadá em www.canada.travel/gay. A Air Canada é a única companhia aérea que oferece voos diários de São Paulo para Toronto sem escalas, com rápidas conexões para diversos destinos no Canadá. Consulte seu agente de viagens ou ligue para a Air Canada (11) 3254-6630.

www.aircanada.com.br


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Jaqueta de Couro: Mario Queiroz / Sunga: American Apparel / Bota: Fernando Pires


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Macacão: American Apparel AIMÉ AIMÉ 104

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Caça Jens: Levis / Chapéu: A Minha Vó Tinha


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Calça de Couro: Mario Queiroz / Cinto: A Minha Vó Tinha / Bota: Fernando Pires


Motelon: Zara / Calça: American Apparel / Bota: Fernando Pires

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Mascara: Acervo / Calça: A Minha Vó Tinha AIMÉ AIMÉ 108

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Caça: Jens Levis / Chapéu: A Minha Vó Tinha / Bota: Fernando Pires


Sunga: American Apparel / Bota: A Minha Vó Tinha

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Colera: Mario Queiroz / Leging: American Apparel


Blusa: Walério Araújo / Bermuda: American Apparel / Lenço: Acervo

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ONDE ENCONTRAR MARIO QUEIROZ: 11. 3062-3982 AMERICAN APPAREL: 11. 3081-8422 FERNANDO PIRES: 11. 3068-8177 A MINHA VÓ TINHA: 11. 3865-1759 LEVIS: www.levi.com.br WALÉRIO ARAÚJO: 11. 3257 1571 ZARA: 11. 5182-4095

Foto: PH Almeida Edição de moda: Fernanda Kazalla Produção de moda: Leandro Lourenço Make-up: Renner

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[perdido e achado ]

Um apaixonado por Artes Cênicas Carol Beiriz

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om pouco mais de 20 anos, Arley Veloso saiu do interior de Minas Gerais para estudar Artes Cênicas com a certeza de que não bastam beleza e talento para obter sucesso em uma profissão. Para ele, é preciso vocação e perseverança. Hoje, com 29 anos, Arley mora em Botafogo, Rio de Janeiro, e já teve experiência em teatro, televisão e cinema. Entre vários cursos e trabalhos, ele prefere dedicar o pouco tempo livre para conhecer melhor seu país e viajar pelo mundo. E é esse contato com diferentes lugares, pessoas e culturas, que aplica na vida de seus personagens: “Uma espécie de laboratório.” Voltar para casa em Botumirim(MG), onde nasceu, e reencontrar seus irmãos e amigos de infância “na roça”, como costuma brincar, é quase obrigatório. “Só assim recarrego as minhas baterias.” Para Arley, que se define como “um apaixonado pelo seu ofício”, o trabalho de ator não se resume a preencher uma vaga no mercado, mas é uma contribuição honesta, da qual sempre espera aprovação da plateia e reconhecimento por sua dedicação, estudo e interesse verdadeiro pelo ser humano.


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