Ano 2 | Edição 7 Outubro/ Novembro 20 18
Palavra dos editores
Olá, Amazers!
Esse é um bimestre de grandes conquistas e muitos agradecimentos. Conquistas por tantos livros publicados... — entre eles, Helloween, que será lançado no Dia de Halloween e conta com grandes nomes da literatura no terror brasileiro. Agradecimentos pela Bienal do Livro de São Paulo e por mais um ano de sucesso na feira. Esse sucesso só se dá graças a você, querido leitor. E por fim, também queremos, juntos com todos, comemorar o 1° ano da Revista Amazing. Mais uma vez ofereço essa edição à você.
Lilian Vaccaro Editora Chefe
Esta é a edição mais assombrosa que eu já fiz. Happy Halloween! Brincadeiras à parte, a revista está com um conteúdo maravilhoso! Tirinhas, brincadeiras, horóscopo, artigos e muitas entrevistas com grandes nomes do terror e thriller brasileiro. Sem contar a nova antologia da Editora Coerência que promete ser de arrepiar (ok, parei com os trocadilhos). Mais do que isso, estamos comemorando 1 ano de existência e isso é motivo suficiente para celebrar. Muito feliz em fazer parte dessa história.
Um grande beijo, Duda Razzera
Fala pessoal! Confesso que estou muito feliz com esta edição. Conseguimos reunir diversas entrevistas com pessoas muito importantes para o terror nacional, um dos gêneros mais lidos do mundo; e, de quebra, a Amazing está completando o seu 1º aniversário. Tudo isso é motivo de comemoração, não é mesmo? E para celebrar essa data tão especial, a Editora Coerência acaba de lançar sua nova antologia, Helloween, que trará as histórias mais assustadoras dos mais diversos autores. Você está preparado para encarar seus medos de frente? Um feliz Halloween para nós! E claro, muitos doces e travessuras! Abraços, Luis Enrique Kato
Diretoria Administrativa: Lilian Vaccaro Editores: Duda Razzera e Luis Enrique Kato Projeto gráfico e diagramação: Eder Modanez | Ateliê Gigante Guerreiro Revisão: Ana C. Dias Colaboradores: C. B. Kaiahatsu, Marcelo Milici, Ana Carolina Dias, Giovanna Vaccaro, Jadna Alana, Bruna Costabeber, Kátia Schitine.
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Revista Amazing
Para mandar uma matéria para a revista: amazingrevista@gmail.com Aceitamos: textos literários, divulgações, dicas literárias, oferecendo-se para algum serviço, brincadeiras literárias, sugestões, dúvidas, elogios e críticas.
Graduada em Ciências Econômicas pela UDESC, Pós-graduada em Gestão de Marketing pela Unisul, especialização em Marketing Digital pela ESPM e Certificada em Inbound Marketing pela Hubpost Academy. Atua há mais de 3 anos na área de Marketing e Marketing Digital e Literário. Em 2014, publicou o livro “Cartas para você” pela Editora Novo Século e, em 2015, publicou “O príncipe das Areias” com seu próprio selo editorial. Em 2016, organizou e publicou a coletânea com mais sete escritores “As 8 faces da diversidade” e tem uma história no Wattpad, “Além da superfície”. É gaúcha, colorada, slytherin, adora filmes, esmaltes, boa música e muitos livros!
Giovanna Vaccaro tem 18 anos, é leonina com ascendente em leão e lua em leão, mora em São Paulo com seus pais e seu irmão, onde cursa Jornalismo na USJT. Publicou 3 livros e 4 antologias. Tem um canal no YouTube chamado Passa Cola e é viciada em mostrar seu dia-a-dia no instastorie do Instagram. Além de cuidar do horóscopo da Amazing. Siga nas redes sociais: Facebook: Giovanna Vaccaro Instagram: @eugiovannavaccaro YouTube: /Passa Cola
C. B. Kaihatsu é escritora, poetisa, engenheira de controle e automação, bailarina clássica e de jazz, colunista e entrevistadora do Jornal Tribuna de Paulínia, do site CultEcléticos e da Revista Amazing. Também é beatlemaníaca, fã de Fórmula 1, de Star Wars e do Nintendo de 8 bits. Nerd antes do TBBT. Ainda aguarda sua cartinha de Hogwarts.
Possui 19 anos, é paulista, editor, colunista e estudante de jornalismo na Universidade São Judas. Viciado em séries e livros, encontrou nas palavras a sua maneira de mudar o mundo. Em 2017, pela Editora Coerência, publicou seu primeiro livro, Amar é Mar, sendo autor convidado das antologias Noite Natalina e Sociedade dos Poetas Vivos. Sonhador, foi homenageado por sua liderança e importância na cidade e no Estado de São Paulo. Criador de conteúdo do blog pessoal Ela Se Chama, impacta milhares de pessoas com as suas palavras. Espera que, um dia, sua voz possa transformar o mundo ao seu redor.
Marcelo Milici é professor e escritor, fundou o Boca do Inferno em 2001. Baterista nas horas vagas, curte rock´n roll e filmes obscuros. Tem contos em antologias, e é responsável pela enciclopédia definitiva sobre a coulrofobia na cultura pop “Medo de Palhaço”.
Jadna Alana, cantora, youtuber no canal “Uma Escritora Diferente”, estudante do Curso de Letras pela Universidade Estadual da Paraíba, escritora do livro “A Princesa de Ônix” e “A Descoberta”. Apaixonada por universos fantásticos e totalmente diferentes do nosso. Também publicou um conto na antologia “Era Uma Vez” e o mais recente “Os Supremos“.
Ana Carolina Dias tem 21 anos, mora em uma pequena cidade do Rio de Janeiro, e é uma estudante de Letras da UFRRJ que se divide entre o amor pelos livros, música e filmes. Extremamente perfeccionista, sonhadora e taurina, gosta de detalhes, clichês e, mais ainda, criar histórias com finais felizes e imprevisíveis. É autora do romance “Os Dez Amores de Cece” e também participou de algumas antologias.
Bruna Costabeber, 26 anos, engenheira civil, blogueira, mãe da Nina, apaixonada por livros e por números, dois universos que se chocam em muitos momentos. Já realizou alguns sonhos, mas nunca deixou de sonhar, pois são eles que a movem.
Outubro/ Novembro
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Conteúdo R. F. LUCHETTI: o maior nome do horror Horóscopo literário Sem clichê não é terror Entrevista com Claudia Lemes Papo com Soraya Abuchaim O conto do lunático Os bonecos mais aterrorizantes do cinema ENTREVISTA: Glau Kemp Lugares mal-assombrados inspiram antologia ENTREVISTA: Décio Gomes ENTREVISTA: Marcos De Brito Quadrinhos Caça-palavras
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Revista Amazing
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R. F. Lucchetti
Horror nacional
O maior nome do horror nacionaL por C. B. Kaihatsu
Rubens Francisco Lucchetti, ou R. F. Lucchetti, é escritor e roteirista de quadrinhos e filmes. Nascido em 29 de janeiro de 1930 em Santa Rita do Passa Quatro, Lucchetti é considerado o maior nome do horror nacional e papa da pulpfiction no Brasil. O jornal norte-americano The New York Times lhe atribuiu a alcunha de herói cult. Seu interesse pela escrita surgiu na infância, através das histórias em quadrinhos. Tem como maior influência o escritor norte-americano Edgar Allan Poe, os primeiros contos que leu de Poe foram “O Gato Preto” e “O Coração Revelador”, que inspiraram seu primeiro texto publicado, cujo título é “A Única Testemunha”. Outra obra que o impressionou muito foi o romance gótico “O Médico e o Monstro”, do escocês Robert Louis Stevenson. Sua bibliografia ainda inclui o livro “O Fantasma de Tio William” da famosa série VagaLume, uma série infanto-juvenil bastante popular entre os estudantes. Lucchetti também publicou livros assinando com diversos pseudônimos, entre eles: Theodore Field, Terence Gray, Mary Shelby, Peter L. Brady, Christine Gray, R. Bava, Isadora Highsmith, Helen Barton, Fran Luke, Brian Stockle e Vincent Lugosi. Ao todo publicou mais de mil livros. O livro “Noite Diabólica”, publicado em 1963 pela editora Outubro, é considerado o primeiro livro de terror genuinamente nacional. Ele foi reeditado em 2016 pela editora Argonautas, tendo sido adicionado o conto “A Única Testemunha”. No cinema, iniciou uma parceria com o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, em 1966. Escreveu diversos roteiros para longas-metragens de Mojica e scripts para os programas televisivos: Além, Muito Além do Além e O Estranho Mundo de Zé do Caixão. Em 1977, conheceu o cineasta Ivan Cardoso, para quem escreveu os roteiros dos filmes “O Segredo da Múmia”, “As Sete Vampiras”, “O Escorpião Escarlate” e “Um Lobisomem na Amazônia”. Em 1982, Lucchetti ganhou o Kikito de Melhor Roteiro no Festival de Gramado pelo filme “O Segredo da Múmia”.
Pela Editorial Corvo, o autor lançou a Coleção R. F. Lucchetti que consiste na reedição de algumas de suas obras revisadas. A coleção já está em seu sexto volume, já foram publicados os livros: “As Máscaras do Pavor”, “O Museu dos Horrores”, “O Abominável Dr. Zola”, “Os Amantes da Sra. Powers”, “Rachel” e o “Fantasma de Greenstock”. Pela mesma editora, lançou ainda os roteiros inéditos “Onde Está Blondie?” e “A Filha do Drácula”. Lucchetti foi o autor da primeira biografia autorizada do apresentador de televisão Sílvio Santos. Publicada em forma de quadrinhos, ela foi ilustrada por Sérgio M. Lima e lançada originalmente em 1969.Em 2017, a editora Avec relançou a obra. Seu livro mais recente é o “Poemas de Vampiros”, ilustrado por Anasor e publicado pela editora Clepsidra. Paulo Biscaia Filho, da produtora Vigor Mortis, produziu uma peça baseada no livro “O Museu dos Horrores” e um curta-metragem inspirado no conto “O Caso de Paul Clossidy”. Em 2017, Lucchetti foi o prefaciador e autor convidado da antologia “A Sociedade dos Corvos”, organizada porpor mim, C. B. Kaihatsu, e publicada pela Editora Coerência. Em 2018, prestei uma homenagem a esse grande nome da literatura nacional, que além de ser um mestre e uma referência é um grande amigo. Organizei a antologia “O Mundo Fantástico de R. F. Lucchetti” para homenagear a vasta carreira de Lucchetti. A publicação contou com os nomes mais promissores do horror nacional, o prefácio foi assinado pelo jornalista, editor e filho de Lucchetti, Marco Aurélio Lucchetti, e o comentário da contracapa foi assinado pelo Paulo Biscaia Filho, da Vigor Mortis. Um dos objetivos dessa publicação foi apresentar o Mestre Lucchetti para as novas gerações. Indico a leitura da obra de Lucchetti para todos aqueles escritores que desejam se aventurar no gênero do terror. Agosto / Setembro
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Horóscopo Literário
por Giovanna Vaccaro | Ilustrações: Eder Modanez
Áries
21 de março/ 19 de abril
O mês começará com alguns conflitos profundos, vá com calma. Assista “A Freira”.
Virgem
23 de agosto/ 22 de setembro
O mês será de transformação, porém seja mais pessimista e veja os dois lados da moeda. Leia “O Iluminado”, de Stephen King.
Touro Leão
23 de julho/ 22 de agosto
Será quase impossível resistir aos impulsos. Por favor, não seja aquela pessoa burra que pergunta “quem está aí?” para a entidade. Ela é a primeira que morre. Assista “Quando as Luzes se Apagam”.
Câncer 22 de junho/ 22 de julho
Todas as suas apostas darão certo. Será que isso é um bom sinal? Assista “Um Lugar Silencioso”.
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Revista Amazing
20 de abril/ 20 de maio
Tudo estará calmo, mas comece a desconfiar das coisas estranhas. Leia “O Escravo de Capela”, de Marcos DeBrito.
Gêmeos
21 de maio/ 21 de junho
Você estará tranquilo durante todo o mês, mas se eu fosse você, ficaria preparado para o está por vir. Assista “Invocação do Mal” (todos eles).
Outubro/ Novembro
Peixes 19 de fevereiro/ 20 de março
Curta o momento, mas com calma. Nunca se sabe onde o acaso vai te levar. Assista “A Bruxa”.
Sagitário 22 de novembro/ 21 de dezembro
É melhor você começar a se organizar, se não vai parar onde não quer. Assista “Hereditário”.
Escorpião 23 de outubro/ 21 de novembro
É romance que você quer? Então tá, mas cuidado. Ninguém é o que parece. Leia “Caixas de Pássaros”, de Josh Malerman.
Libra 23 de setembro/ 22 de outubro
Emoções à flor da pele. Esse é o pior momento para isso acontecer. Você não está a salvo. Assista “Slender Man”.
Capricónio 22 de dezembro/ 19 de janeiro
Aquário 20 de janeiro/ 18 de fevereiro
A vida está numa boa, mas precauções nunca são demais. Veja o exemplo no livro “Dias Perfeitos”, de Raphael Montes.
Tente não lembrar do passado. É uma péssima ideia para quem está vivendo nessas condições. Tome cuidado! Leia “Piano Vermelho”, de Josh Malerman.
Outubro/ Novembro
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Escirta de terror
Sem cliche não é
O vilão pode ser um psicopata que entra nos sonhos das pessoas, um filho esquizofrênico que adora esfaquear mulheres no banho, um boneco que ganha vida e se torna um assassino sanguinário ou um palhaço bizarro que aterroriza crianças, desde que seja realmente assustador. Mas, apesar desses de tantos outros personagens tão queridos pelo público apaixonado por um bom terror tirarem o nosso sono, são os velhos clichês que nos fazem pular da poltrona. Ainda que a trama seja daquelas com um desenrolar inesperado e um final surpreendente, os clichês são – quase – inevitáveis. Uma ideia imitada várias vezes pode ser necessária, principalmente quando o objetivo é trazer à tona algumas das nossas emoções: o medo, o pânico, a raiva... Quem nunca se desesperou ao ver a mocinha cair no chão enquanto fugia do assassino? Quem nunca se assustou ao ser surpreendido por um demônio aparecendo na tela da TV? Ou não se irritou quando o grupo decidiu se separar para descobrir o que estava acontecendo de errado? Ranger de portas, barulhos inexplicáveis, celular sem sinal, assassinos com o mesmo ‘modus operandi’, entre tantos outros clichês, podem até tirar a credibilidade da história, mas, com certeza, garantem bons sustos. E, cá entre nós, não é para isso que assistimos filmes de terror?
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Revista Amazing
por Samantha Avila
Reza a lenda...
Um viajante, procurando um local para se hospedar numa cidade do interior, decidiu parar em um posto de gasolina a beira da estrada para se informar sobre algum hotel pela região, pois não tinha visto nada além de alguns casebres perdidos por ali. Já era bem tarde e não havia ninguém no posto, que parecia abandonado. Ainda assim, como já estava exausto, decidiu estacionar em frente a antiga lojinha de conveniência e acabou adormecendo dentro do carro. Por volta de meia noite, o viajante acordou com algumas batidas na porta, era um senhor. Cerca de oitenta anos, meio mal-encarado e com umas roupas antigas, queria saber o que ele estava fazendo naquele local. O viajante então explicou que não havia encontrado um hotel pelas redondezas e precisava dormir um pouco para seguir viagem no dia seguinte. Para sua surpresa, o velho lhe convidou para descansar na casa dele que ficava pertinho dali. A casa era fúnebre e bem estranha, como toda a cidade, que parecia ter saído de algum filme de faroeste. O viajante dormiu no sofá da sala e acordou bem cedo com o barulho de algumas crianças conversando. Uma mulher apareceu e convidou o homem para se alimentar antes de partir. O velho
não estava mais em casa, segundo ela, tinha saído para “fazer o seu trabalho”. Havia três crianças e uma adolescente à mesa e todos tomavam uma sopa verde rala, acompanhada de pedaços de pão aparentemente secos. A mulher lhe contou que só tinham aquilo para comer. Sensibilizado, o viajante pegou dinheiro da carteira e entregou à ela, como forma de pagamento pela hospedagem. Ao olhar o dinheiro a mulher se mostrou confusa – e meio irritada – e perguntou ao viajante se ele vinha de outra dimensão. Imediatamente a adolescente se levantou, pegou o viajante pelos braços e disse para ele ir embora dali o mais rápido possível, caso contrário ficaria preso no mundo dos estranhos para sempre. Sem entender direito, olhou para as crianças à mesa e viu que todas elas tinham olhos negros e malignos. Assustado, correu até o posto o mais rápido que pôde; chegando lá, percebeu que tudo estava diferente, o lugar parecia mais novo e não havia mais aquela atmosfera de cidade fantasma. O viajante pegou seu carro e foi embora sem nem olhar para trás. Um tempo depois, viu na TV uma reportagem sobre uma menina desaparecida há anos, que ele jura ser a adolescente que o ajudou.
Inferno no Ártico Claudia Lemes
entrevista com
Claudia Lemes
Morou fora do país até se estabelecer em São Paulo. Dos doze livros que escreveu, seis foram publicados, sendo Eu Vejo Kate sua primeira obra de maior notoriedade. É fundadora e presidente da Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror (ABERST), unindo os mais diversos escritores do gênero por Luis Enrique Kato
Para começar, você é presidente da ABERST, Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror. Qual foi o principal motivo para você tomar essa decisão? Eu vi uma palestra da Alessandra Ruiz, editora e agora agente literária, na qual ela falava sobre a necessidade de união e a profissionalização de escritores como questões urgentes. Ela deu os exemplos de associações estrangeiras específicas, como a Horror WritersAssociation. Foi durante essa palestra que desejei fazer parte de uma associação, de trocar ideias e experiências, poder fazer cursos, confraternizações e eventos literários com outros escritores. Desejei muito que houvesse uma comunidade séria no Brasil para a literatura de gênero. Como não havia, criei uma e ela atraiu um grupo incrível de autores. Eu Vejo Kate foi o seu independente lançado em 2014. Quais foram as suas influências para escrever esse thriller? Eu Vejo Kate foi o fruto de mais de dez anos estudando assassinos em série. Ele nasceu da necessidade que eu tinha de ler uma boa ficção sobre serial killers, mas que
também respeitasse, em essência, como eles realmente são, o que pensam e como agem. Há muitos thrillers sobre SKs, e são ótimas leituras, mas em geral são muito fantasiosos. Veio a inspiração e acabei escrevendo o livro em pouco mais de uma semana. Depois que ele chamou a atenção na internet, veio o convite de publicação pela Editora Empíreo, que relançou o livro em 2015. Quais são as principais diferenças entre a publicação independente e a contratual? Eu tive boas experiências com a publicação tradicional, mas no atual mercado literário, após estudar muito os prós e contras, optei por voltar a ser independente, e foi a melhor decisão que já tomei como escritora. Dá muito mais trabalho ser independente e no final das contas, você é 100% responsável pela qualidade do livro que entrega, tanto na parte literária quanto no que diz respeito ao livro como produto. A principal vantagem em publicar com uma editora é ter profissionais qualificados cuidando da obra, desde sua edição e revisão até a distribuição e o marketing. Por outro lado, ser independente permite mais liberdade na escrita e em todas as decisões sobre o livro, e o retorno financeiro
é bem maior. Acho que, embora pareça contraditório, a publicação independente exige um escritor mais experiente. Por que você acha que terrores como Helloween, obra que você faz parte, faz muito sucesso na literatura? Existem muitos motivos. Um deles é que as histórias de horror e terror exigem que saiamos da nossa zona de conforto, porque não sabemos o que esperar. São pequenas doses de medo e adrenalina muito bem-vindas nas nossas rotinas tão corridas, frias e entediantes. Os contos e romances de horror quebram nossa rotina, nos desafiam, nos proporcionam sensações de perigo na segurança dos nossos lares. É esse o aspecto que mais gosto na literatura de gênero. O que espera de seu futuro? Meu maior desejo é manter o status quo: poder produzir literatura para meus leitores, de forma honesta com minha arte e comigo mesma. Só quero uma vida que me possibilite a liberdade de escrever para sempre, sem muitas ambições, fora tocar alguns leitores com minhas histórias. Outubro/ Novembro
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SorayaAbuchaim Soraya Abuchaim, a darkqueen brasileira, começou sua carreira literária escrevendo no blog Meu Meio Devaneio e, em seguida, investiu em seu primeiro suspense, Até Eu Te Possuir. Confira segredos e inspirações dessa macabra escritora, que não vê problemas em matar alguns de seus personagens
por Luis Enrique Kato
Por que a literatura é tão importante na sua vida? A literatura é importante na minha vida desde pequena, quando eu nem sonhava em escrever (tá bom, sonhava, mas achava que não era pra mim). Ser uma leitora compulsiva, devorar livros atrás de livros enquanto as outras pessoas tinham vida social, foi a melhor coisa que me aconteceu. Graças aos livros me tornei quem sou, sobrevivi à adolescência, consegui ser melhor e mais focada nos estudos e carreira. Como escritora, colocar no papel as minhas ideias é uma forma de expurgar meus fantasmas, conectar-me ao que vale a pena, me distrair da rotina exaustiva e levar aos leitores um pouco da paixão que eu sinto pela literatura. O quão importante Stephen King é para a sua vida? Possui outras inspirações no gênero? Stephen King é o responsável por eu ter começado a escrever. Através dele e de sua forma de narrativa apaixonante eu me inspirei a tentar esse caminho que, até então, era obscuro. Eu o acho um escritor talentoso, seus livros me deram muitas e muitas horas na vida de emoções, surpresas e também prazer de leitura. Eu tenho outras inspirações, como Agatha Christie, Gillian Flynn, Josh Malerman, William March, Clive Barker, entre outros.
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Revista Amazing
Qual foi a obra que você mais gostou de escrever? Por que? Eu amei escrever “A Vila dos Pecados”. Adoro épocas antigas (não me encaixo nessa em que vivemos) e poder pesquisar muito para transformar a história em algo crível foi sensacional. Adoro estudar, ler, pesquisar, então foi um trabalho que me deu bastante prazer. Você possui alguma singularidade dentro do seu processo criativo? Acredito que não. Não tenho costumes, rituais, nada. Muitas vezes eu “vomito” a história e só depois me dou conta do que escrevi. Mas nada muito especial. Ultimamente tenho tentado fazer um esqueleto mais detalhado da história, já usei essa técnica antes, mas sempre me enrolo. Helloween é a nova antologia da Editora Coerência e conta com grandes nomes do cenário brasileiro. Como você enxerga as oportunidades do mercado para o terror? Eu acho que o terror tem se destacado no mercado, mas ainda é um gênero pouco explorado nacionalmente. No geral, a literatura de gênero enfrenta muitos obstáculos, inclusive a propagação em escala menor de suas obras, mas acredito que, com trabalho sério, boas histórias e união entre autores, conseguiremos galgar posições melhores no gosto dos leitores. Qual o seu conselho para novos escritores que querem iniciar no meio literário? Paciência, humildade, aprender sempre e ler muito.
O Conto do
LunAtico Ele olhava distante. Olhava para além da borda do precipício ovalado de negrume infinito, ele mal enxergava a distância da escuridão, mal enxergava as horas e dias que se passariam até que realmente enxergasse a distância. Olhava distante, para aquele ponto azul que um dia chamara de lar. Ele olhava em busca de um ponto específico, um precipício de onde tantos e tantos anos antes, ainda uma criança, ele olhou para cima e enxergou o luar. Não a lua, definitivamente não essa massa sem segredos que paira acima de nós. O que ele ainda criança viu há tantos anos não foi lua, foi o luar. Ele enxergou a luz fria que reflete na terra, enxergou a atmosfera, o mistério, ele enxergou a força que brinca com marés, lobisomens e corações apaixonados. Ele enxergou o luar, a energia desconhecida vinda daquele corpo estranho que vela o sono mortal e imortal, que vela tanto as noites frias sem fim quanto as de ardentes paixões. A lua pode ser vista por qualquer um,
mas não o luar. Enxergar o luar presume um espaço dentro de si, um espaço para absorver o silêncio, a solidão, o frio, a magia e o desconhecido, e ainda assim, sentir-se em paz. O artista necessita de uma tela branca e um espaço de luz dentro de si para criar, o amante da lua precisa de um canto escuro e desconhecido na alma para o luar refletir e brilhar, precisa abraçar esse desconhecido para admirar. Muito provavelmente ele não tivesse noção de tudo isso quando ainda criança viu o luar. Certamente não tinha noção de nada disso, mas, tal como qualquer criança curiosa, ele desejou estar lá. Ali, o luar plantou sua semente e encontrou espaço para germinar. A criança cresceu com olhos voltados para o luar, ainda que com os pés firmemente presos ao chão. Já não mais criança, sabia que se quisesse algum dia pisar na superfície gelada da lua, teria um longo caminho a percorrer. Conhecimentos a obter, estudos a realizar, um passo árduo após outro. Desde a mais tenra noção do que precisaria até se
Agosto / Setembro 11
Conto
tornar um astronauta, até um longo caminho a percorrer, sozinho. A solidão, desde então, sua melhor amiga. Ele preferia as horas de solidão e silêncio do que a barulhenta presença de amigos, preferia o gosto do vento noturno do que o gosto de um beijo roubado em meio a risadas, preferia os silvos da noite abrilhantados pelo luar, o que não impedia de estudar e se dedicar, do que a confusa melodia de qualquer música. Nessas horas de profunda solidão, que se estendiam também pelos dias, ele as vezes tirava alguns minutos para olhar o luar, sonhar com seu encontro, com o momento da chegada aquele lugar. Como escreveu Fernando Pessoa “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
E foi com esses pequenos prazeres que ele começou a tomar seu tempo. Alguns mais discretos, outros nem tanto. De sua alma muito pouco se conhecia para dizer se era grande ou pequena, só se sabia de seu sonho, e esse era grande, muito grande, talvez maior do que ele mesmo. Alias, de si e de outros muito pouco conhecia, e nem fazia questão de conhecer, seus sonhos eram muito grandes, estavam muito distantes para que se prendesse a conhecer pessoas, lugares ou a si mesmo. Mais precisamente seus sonhos se encontravam a 384.400,00 km, bem como alguns anos. Até serem alcançados, valiam a pena não por sua altivez ou pequenez de alma, mas simplesmente porque eram seu sonho e objetivo, a despeito de qualquer outro sonho, interesse ou luz. Em se tratando de luz, quando o sol o encontrava, cheio de calor e sorrisos, ele fugia, se escondia nos cantos onde a luz não o alcançava, em silêncio e paz. Certos momentos ele pensou que tivesse enlouquecido e passou a realmente acreditar que não era daqui, que talvez não devesse estar debaixo do sol e preso a Terra, que não se sentia 12
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bem naquela atmosfera, que seu lugar era o lunar. E por isso ele trabalhou. No silêncio sua alma inquieta se punha a trabalhar, estudar e se preparar. Era na solidão que ele sonhava e crescia com o luar. Até que um dia, sua chance apareceu. Pouquíssimos meses após ingressar na agência espacial de seu país, foi anunciado o envio de uma equipe em definitivo à lua, a instalação de uma base lunar permanente, a colonização. Finalmente ele poderia não apenas ver, mas vivenciar o lunar, dele participar, poderia pôr os pés na lua e descobrir a vida que dela emanava, descobrir que talvez lá fosse sua verdadeira casa, seu verdadeiro lar, como se sempre tivesse pertencido aquele solo. Como era de se esperar, ele, que tanto havia se preparado, que tanto sonhou de tão longe sem nunca vivenciar, sem nunca realmente pisar na terra, sem nunca estar aqui, entrou para equipe e chefiaria a 1ª missão de colonização lunar. Era uma questão de tempo, até finalmente pôr os pés no solo sagrado de seus sonhos e tomar posse do lunar. Então aconteceu, eles partiram, cheios de festas, de lágrimas de felicidade e tristeza, carregados de esperança para um amanhã melhor, para colonizar novas terras, tal como vikings, portugueses e espanhóis fizeram há quase um milênio atrás. Para ele, no entanto, nada disso importava, apenas que alcançaria seu sonho. Ele dava entrevistas a quem devia dar, conversava com quem devia conversar. Choveram imagens em telas de computadores, tablets e celulares de seus cumprimentos com o presidente, com toda mídia elogiando o sério e compenetrado capitão da missão. Como a mídia logo descobriu, não havia muito a se falar sobre o jovem capitão, afinal, ele não fizera nada demais em vida, o que os levou logo a tomar interesse pelos outros tripulantes. Assim partiram, rápido, sem demora, o capitão tinha pressa de chegar. E enfim chegaram, ele foi o primeiro a pisar no solo lunar, ninguém lhe roubaria os méritos de ser considerado o primeiro morador da lua, mesmo
que para isso ele tenha que ter usado do poder de capitão e alguns gritos e agressões para conter os ânimos dos tripulantes, mas isso seriam questões menores na grandiosidade do ato da colonização. Longas lágrimas escorreram de seus olhos naquele momento. Não quando desfraldou a bandeira de seu país como primeiro a colonizar a lua, mas quando percebeu que estava em casa, que realizara seu sonho. Tamanha foi sua felicidade, sorriso de orelha a orelha, ele estava ali, podia tocar o luar com suas próprias mãos, dormir e acordar nele, caminhar e viver nele, ele, enfim, fazia parte do luar. Enquanto seus companheiros e colegas se mostravam apreensivos, com medo, ou até arrependidos, ele reinava em alegria. Parecia inclusive que vivia só. Mal se ouvia sons ou vozes de seus companheiros, mal se ouvia sequer sua própria respiração. O medo reinava neles, ao ponto de deixa-los mudos, e ele, no entanto, estava realizado, alegre e com seu sonho cumprido. Sua vida estava completa e não desejava mais nada. Ou pelo menos foi isso que ele achou, até que se passaram os primeiros dias. E após uma euforia inicial, ele passou a sentir falta de alguma coisa, algo não estava certo. E como fizera toda sua vida, quando sentia falta de algo, inseguro ou em dúvida, ele olhava para o céu em busca de paz e forças, em busca da luz do luar. Porém, não havia brilho, fosse no céu ou naquele solo desértico, não havia luz, não havia poder, energia ou força alguma emanando da lua, não havia sequer paz ou forças, apenas poeira e escuridão. Em cada rocha e fenda ele procurava mística, debaixo de cada pedra ele procurava magia, mas apenas achava a dura, fria e opressiva escuridão, bem como, poeira por onde quer que ele olhasse, por onde quer que andasse, em cada fresta da roupa ou mínima abertura de janela. Era um deserto frio, escuro, com um céu tão escuro quanto à paisagem. E o mais triste, não havia luar, não havia nada de belo ou poderoso acima dele nos céus. Ele passou dias e noites olhando para o céu, procurando um brilho qualquer que lhe Agosto / Setembro 13
O Conto do Lunático
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trouxesse paz, um reflexo qualquer. Chegou a pendurar uma lâmpada para qual pudesse olhar e fingir que era o luar, mas não havia força, poder naquilo, não havia nada de seu sonho ali, apenas a dureza do solo pelo qual caminhava. E ele caminhava, como e quanto caminhava, se questionando e pensando: o que estava faltando? Como podia a realidade do sonho ser tão sem luz? Foi mais ou menos nessa época que os barulhos começaram. Foi mais ou menos nessa época que seus companheiros e companheiras de viagem se acostumaram à lua, com a nova casa e começaram risadas, música, conversas o tempo todo. E vozes, vozes sem parar, aonde quer que ele fosse, no rádio, dentro dos alojamentos, em cada corredor e em cada pensamento. Havia um deles que falava mais que todos,
porquê faziam aquilo, foi com imenso prazer que o capitão lhe deu um safanão com a pá, jogando-o no ar e deixando que ele flutuasse para longe. Foi também com prazer, que o capitão puxou uma pequena válvula do traje espacial da esposa do falastrão. Ele (capitão) não aguentava mais ouvi-la chorar e questionar o que havia acontecido. E foi com esses pequenos prazeres que ele começou a tomar seu tempo. Alguns mais discretos, outros nem tanto. Um empurrão aqui, um cano desconectado ali. Houve um dia na cozinha, após um prato muito mal servido e muito mal feito, em que ele resolveu tirar satisfações com o cozinheiro e as coisas ficaram um pouco tensas. Mas oras, que cozinheiro que se preze serviria um prato porcaria daquele ao seu capitão? Nesse dia ele resolveu fazer um
um que falava em todos momentos que ele estava meditando, cuja voz aparecia em cada transmissão de rádio quando o capitão se sentava para entender o que faltava de seu sonho. Aonde estavam os pensamentos do capitão, ali estava a voz daquele individuo, falando coisas vãs e vazias. Foi um prazer para o capitão, quando em um dia (ou seria noite?) especialmente turbulento em seu coração, enquanto ele cavava para procurar luz no solo e o cidadão ao seu lado não parava de falar, de perguntar e questionar o
experimento, e abriu a janela enquanto degolava o cozinheiro. Talvez isso tenha chamado um pouco de atenção quando os outros viram sangue flutuar e jorrar por cada canto da base lunar. Enquanto os outros questionavam o que havia acontecido, ele dava ombros sem saber explicar, dizendo que sequer estava ali, que apenas encontrou o cozinheiro assim. Foi nesse momento de distração que ele viu uma grande mancha de sangue flutuar para o lado, e por detrás dela surgir uma grande bola azul meio
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O Conto do Lunático
resplandecente. Como aquilo chamou sua atenção! Ele não havia percebido antes aquele lindo globo azul, lindo e resplandecente, com sua própria luz, quase como se dela emanasse brilho. Ele não havia visto aquilo antes, estava sempre tão entretido em analisar o solo, em olhar para cima procurando luz, estava a todo momento buscando a lua dos seus sonhos, procurando o luar, que ele não olhou para trás. Pelo menos até aquele momento, ele não tinha sequer notado aquele pequeno e distante globo azul de onde ele partira algumas semanas antes. Mas afinal, por que a chamavam de Terra? Deveria chamar água, com sua coloração toda azul, ou, então uma pedra preciosa, algo como safira, alias, planeta Safira! Seria muito mais apropriado do que a pobreza do pensamento e nome de Terra. Ele passou os próximos dias e semanas a observa-la, toda azul, parecendo o mais lindo oceano que ele nunca vira, afinal, enquanto na Terra ele nunca desejou conhecer a praia ou oceano, não valia a pena perder tempo com isso. Outras vezes a Terra também lhe parecia uma convidativa piscina azul, igual aquela que ele nunca entrara, apesar de muitas vezes vê-la da janela do seu quarto quando criança, mas já naquela época não valia a pena perder tempo com isso. Hoje no entanto ele perdia todo tempo disponível e possível a observá-la, imaginando-se em suas águas azuis, imaginando-se navegando, nadando e viajando por aquele globo azul; imaginava como seria refrescante um profundo mergulho no planeta Safira. Imaginou se suas águas brilhavam de perto como ele as via brilhar de longe. Chegou a se imaginar em um mergulho noturno à luz do luar, que afinal era muito mais belo visto de longe do que daquela incomoda proximidade que ele se encontrava. Nos momentos mais difíceis de seus dias, ele olhava para a Terra e se via mergulhando nela, refrescante e em paz. Um dia, enquanto as vozes não cessavam de fazer barulho, ele olhou a Terra ao longe, e não a achou tão longe assim, estava à distância do que
não mais que um mergulho. E a ideia então surgiu; e se ele resolvesse dar um mergulho até ela? Uma ou duas braçadas e estaria lá, um rápido mergulho. Ora, ele tinha trilhado um grande caminho até a lua, ele havia realizado toda a subida até a lua, poderia muito bem dar um mergulho até a Terra, banhar-se naquela piscina e voltar. Afinal, ele já conhecia o caminho. Mas e se os outros não quisessem ir? Bem, eles que ficassem dormindo na lua, aquele lugar escuro, poeirento e frio, até que ele voltasse. Foi na mesma noite em que esses pensamentos surgiram, que ele, o capitão da 1ª missão de colonização lunar, desacoplou todo o oxigênio da base lunar enquanto seus companheiros dormiam, e que continuassem dormindo até ele voltar. Após garantir que não restava nada de oxigênio ou meios deles acordarem, ele então se posicionou à beira precipício ovalado de negrume infinito, olhou distante e longamente para aquela profunda e convidativa bola azul, lembrou-se de quando era uma criança olhando o luar, e então tomou fôlego, sem enxergar a escuridão ao seu redor, apenas a bola azul a sua frente, mergulhou para tentar alcança-la em uma ou duas braçadas, mergulhou para alcançar um sonho impossível a sua frente, deixando uma ilusão perdida para trás. Mergulho para nunca mais voltar.
Guilherme Gomes Affonso O Autor nasceu em 1993 na cidade de São Paulo, cidade pela qual é apaixonado e onde ainda reside. Advogado, formado pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) no ano de 2015, inicia uma nova jornada como escritor com este Conto do Lunático e, em breve, com o lançamento Contos de Morte pela Editora Coerência. Agosto / Setembro 15
Os Bonecos mais Aterrorizantes do Cinema por Marcelo Milici
A inocência de um brinquedo em um contraponto com o medo. Aquela segurança que você imaginava sentir, quando inventava aventuras com os seus bonecos, colocando-os como heróis ou simplesmente servindo-lhes chá numa mesinha de plástico, foi aos poucos se diluindo quando o gênero fantástico resolveu lhes atribuir vida. Desde uma maldição transmitida para um objeto inanimado ou o habitat ideal para entidades errantes, eles sempre apareceram em pequenas pontas ou como principais vilões, mostrando que nem toda brincadeira é ingênua e segura. Pensando nisso, a revista Amazing, em sua edição mais assustadora, resolveu apresentar os bonecos mais aterrorizantes do cinema, uma vez que o Halloween acontece assombrosamente no mês das crianças!
-Eu sou o Chucky! Vamos brincar? Muitas décadas antes de Chucky deixar de ser um brinquedo bonzinho, houve um boneco que promoveu arrepios. Foi no filme “O Grande Gabbo” (The Great Gabbo, 1929), em preto e branco, com um ventríloquo e seu boneco Otto, aos poucos perdendo a noção da realidade. Outro que merece menção, sob as mesmas condições, pode ser visto na antologia “Na Solidão da Noite (Dead of Night, 1945), no segmento “The Ventriloquist’s Dummy”, dirigido pelo brasileiro Alberto Cavalcanti. Nele, o boneco Hugo manipula o ventríloquo a cometer assassinatos, invertendo os papéis entre os dois na loucura do protagonista, interpretado por Michael Redgrave. Já nos idos de 63, um episódio da série Além da Imaginação, “Living Doll”, trazia a boneca Talky Tina, que atormentava um padrasto ao falar mais do que devia. Em outra antologia, desta vez de 1975, a 16
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perturbação é física, com o guerreiro zuni, de Trilogia do Terror (Trilogy of Terror), de Dan Curtis. Em uma concepção agressiva, ele poderia ir além de uma simples dor de cabeça, quando decidir lhe ferir com sua lança - Karen Black que o diga. Três anos depois, seria a vez de Anthony Hopkins sofrer nas mãos de um boneco maldoso. Fats, com a própria voz do ator, aterroriza seu ventríloquo com ideias insanas, levando-o a uma quase condição Hannibal Lecter de loucura e pesadelo. Trata-se de “Um Passe de Mágica” (Magic), de Richard Attenborough. Em 1982, foi a vez da dupla Steven Spielberg e Tobe Hooper conceber o clássico “Poltergeist - O Fenômeno”, apresentando uma família do subúrbio tendo problemas sobrenaturais pela má localização de sua morada. Um dos destaques é, sem dúvida, o boneco de palhaço com seus longos braços e uma risada sinistra que fizeram o pequeno Robbie temer o próprio quarto. Eles se multiplicariam em “Bonecas Macabras” (Dolls, 1987), de Stuart Gordon, em um conto de terror em uma mansão viva. Seria, talvez, o incentivo para o nascimento de Chucky, no ano seguinte. Don Mancini é o pai de um dos brinquedos mais ousados e maléficos do gênero, aparecendo em diversas continuações e sátiras, simbolizando o Boneco Assassino do cinema! Houve também a franquia Puppet Master, iniciada em 89, com bonecos com personalidades variadas; o JigSaw, de “Jogos Mortais” (Saw, 2004), em sua bicicletinha que antecede uma proposta dolorosa; o surpreendente boneco de “Gritos Mortais” (Deadly Silence, 2007); além, claro, de Annabelle, apresentada em “Invocação do Mal” (The Conjuring, 2013). Não são solitários dentro de um vasto gênero, entre assombrações, magia e possessões. Contudo, citar outros exemplos poderia fazer a brincadeira ir longe demais. De qualquer modo, é bom prestar atenção naquele brinquedinho inocente que você guarda em sua coleção, silencioso e observador. Ele pode querer a sua alma...
Glau Kemp Entrevista com
Carioca, GlauKemp já transitou pelos mais diversos gêneros, mas foca seus trabalhos no suspense e no terror. É participante de diversas antologias e publica de forma independente contos e romances na Amazon. Confira abaixo a entrevista com a escritora. por Luis Enrique Kato
A Glau criança imaginou que, anos mais tarde, você estaria onde está hoje? Nunca. Sempre gostei de inventar histórias e quando criança me imaginava como a Scully, personagem do seriado Arquivo X. E, de uma certa forma, meu sonho de infância se realizou, porque estou sempre dentro de histórias sinistras (risos). O que você pode dizer da sua participação nessa nova antologia de terror, Helloween? Helloween é um projeto que, além de reunir nomes que eu admiro muito no terror nacional, é um livro único onde os participantes receberam total autonomia no projeto. Nós escolhemos título, capa e todo o conceito, além da liberdade que tivemos na hora de escrever. Você já organizou a antologia Arquivos do Mal, lançado pela Editora Coerência em 2017. O que você acha do espaço que o terror recebe na literatura nacional? Nosso espaço sempre foi pequeno,
mas estou muito otimista com o futuro do terror nacional, apesar da crise na mercado, o gênero ganha força e espaço. As editoras estão começando a investir mais em publicações dentro desse nicho e eu vejo grandes nomes surgindo. Por que escrever sobre terror? O terror é meu lugar comum, cresci assistindo filmes dos anos 80 e é muito natural pra mim. Escrevo outros gêneros também, mas sempre volto para o terror porque todo dia nasce uma nova história assustadora. Até quando escrevo um romance, por exemplo, acontece algo de sobrenatural na história (risos). Quais são as diferenças entre publicar o livro físico e publicar em plataformas como a Amazon? Ainda não tenho a experiência de um livro solo publicado no formato físico, mas vou usar a experiência de ser organizadora em antologias para responder essa pergunta. Não vejo diferença, claro que o livro físico te proporciona poder sortear um exemplar e tirar fotos ótimas (risos), mas o leitor é
o mesmo e no final é isso que importa. Quais são os sonhos que você ainda pretende realizar? Na literatura já estou totalmente satisfeita, tenho meu pequeno público leitor e completa liberdade para escrever o que quero. Nunca imaginei que receberia o carinho de tantos leitores, gente que eu nem conheço e entra em contato comigo para falar dos meus livros e contos. Isso já é a realização de um sonho.
Arquivos do Mal Glau Kemp & Soraya Abuchaim Quando o universo conspira Glau Kemp & Giovanna Vaccaro
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Cenários reais
Lugares
mal-assombrados
inspiram antologia Pontos turísticos são base para imaginação de autores
Conheça alguns lugares presente no livro
Edifício Praça da Bandeira (ou Edifício Joelma) Av. Nove de Julho, nº 225 Bela Vista - São Paulo
por Luis Enrique Kato
Ambientado em lugares reais, Arquivos do Mal é uma antologia de terror lançada em 2017 pela Editora Coerência. Organizado pelas escritoras GlauKemp e Soraya Abuchaim, o livro traz contos nos mais diversos locais: Edifício Joelma, Cemitério da Consolação, Carandiru, Capela da Santa Cruz dos Enforcados, entre outros. Ao misturar ficção com realidade, Arquivos do Mal nos prendem a uma possibilidade dos fatos narrados. Os autores selecionados mostram, nos vinte e cinco contos, suas versões para cada local histórico da cidade de São Paulo. A proposta da antologia era tão inovadora que até mesmo quem não estava no mundo literário começou a enviar suas ideias. Foi o que aconteceu com a escritora Leila Kato. A autora do conto Rapaz Sorridente teve sua obra selecionada e contou como foi escrever sobre lugares reais: “foi um pouco perturbador, pois o local foi “palco” de uma grande tragédia. É assustador você imaginar que milhares de pessoas sofreram naquele lugar”, diz. 18
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Marcelo Milici, autor do conto O Homem de Cócoras, fala que a proposta do livro faz “o leitor inevitavelmente estabelecer conexões com a sua vida, seja através de personagens tão bem construídos ou por situações que remetem a acontecimentos presenciados”. Compõem a antologia os seguintes autores: Ana Flávia Bitencourt, Evelyn Santana, Giovanna Vaccaro, Décio Gomes, Leila Kato, Raul Dias, Brunna Silva, C.B. Kaihatsu, Bruno Godoi, Bruno Oliveira, Gean Pimentel, J.M. Menez, Juliana Daglio, Helô Delgado, Hejan C.S., Ieda Menani, Jéssica Araújo, Raphael Miguel, Renata Maggessi, A.C. Nunes, Well Almeida e José David.
Arquivos do Mal Glau Kemp & Soraya Abuchaim (org.) Editora Coerência
Edifício Martinelli R. São Bento, 405 Centro, São Paulo
Casa de Detenção de São Paulo (ou Carandiru) Av. Cruzeiro do Sul, 2418 Canindé, São Paulo
Capela Santa Cruz dos Enforcados Praça da Liberdade, 238 Liberdade, São Paulo
Décio Gomes é escritor e capista. Seu livro de estreia, Albertine (2012), foi o início de uma caminhada de destaque no ambiente literário indie do país, recebendo indicações e prêmios literários por suas obras. Confira a entrevista exclusiva que fizemos com esse artista por Luis Enrique Kato
Décio, você sempre escreveu sobre terror. Por que esse gênero tanto te encanta? O terror é um gênero que desperta sensações que nenhum outro gênero desperta. Os leitores sentem medo, arrepios, mas ainda assim persistem e se deixam encantar pela obscuridade. Eu acho que quem lê terror aprende a lidar com os medos mais profundos, e isso fortalece a alma. É por isso que gosto tanto do estilo. Sinto que ele me fortaleceu. Em suas histórias há elementos pessoais, da sua personalidade, ou são em sua grande maioria frutos da sua criatividade? Pontos de vista discretos existem aqui e ali, mas praticamente tudo em meus textos é fictício. O mundo do meu ‘eu escritor’ não se mistura com o do meu ‘eu cidadão’, especialmente porque acredito que opiniões pessoais em textos fictícios podem agradar a uns e desagradar a outros, o que acaba dividindo o público. Não é isso que quero fazer com meus livros, mas sim o contrário: quero que todos os nichos de pessoas, de todas as idades e convicções, não abandonem um trabalho meu por se sentirem ofendidas por opiniões pessoais. Equilibrium foi o seu primeiro livro publicado pela Editora Coerência. Em 2017 foi a obra vencedora do concurso internacional Sweek Stars. A que você deve esse sucesso? Equilibrium é um livro muito especial, pois mistura elementos de fantasia obscura com toques de heroísmo, amizade
e drama. Com uma pegada rápida, mas ainda assim imersiva, acabou agradando a todo tipo de público, pois mexe com vários pontos dos sentimentos das pessoas. É um título que sempre me rendeu bons frutos e elogios, e a premiação foi uma enorme motivação pra mim, pois soube que estou no caminho certo, afinal, foi um concurso com mais oito mil participantes. Ter ficado em segundo lugar, em uma lista de apenas quatro premiados, serviu como impulso para continuar tentando sempre evoluir. O que mais te encanta no terror brasileiro? E o que você mais abomina? O terror brasileiro tem ganhado muitas vertentes e crescido cada vez mais. Tenho gostado muito das histórias que se aproveitam mais de algum regionalismo, com elementos que a gente consegue se identificar porque já viu com os próprios olhos. Acho isso fantástico. Já um ponto que me desagrada um pouco – e não só no terror nacional – é o uso exagerado de cenas que causam repulsa e nojo em vez de assustar e deixar o leitor com medo de olhar por cima do ombro. Sempre fui muito fã de terror, mas violência extrema nunca foi meu forte. Como foi o desenvolvimento do seu conto para participação na antologia Helloween? A ideia para o conto surgiu de uma vontade guardada que eu tinha de escrever uma história sobre bebês. Costumo escrever um conto de Halloween todos os anos e liberar na internet,
mas dessa vez surgiu o convite e não houve momento mais propício. É um conto de desenvolvimento leve, que vai apresentando um mistério policial, mas que nos momentos finais se torna algo cruel e completamente demoníaco. Uma curiosidade sobre a história é que eu tomei uma pequena liberdade e encaixei, em toques sutis, a trama no mundo distópico de uma série muito famosa: The Handmaid’s tale. Estou muito ansioso para saber o que os leitores irão achar assim que tiverem o Helloween em mãos. Para fechar, o que você espera para o futuro da literatura nacional? Espero um crescimento cada vez mais notável, que surjam cada vez mais boas editoras interessadas em levar os autores independentes a um patamar de reconhecimento. Apesar da crise nas livrarias, estamos em uma fase boa, pois as atenções dos leitores estão se voltando cada vez mais para nós. E a torcida é para que isso só cresça.
OITO Décio Gomes
EQUILIBRIUM Décio Gomes
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Entrevista
Marcos DeBrito Marcos DeBrito é escritor e premiado cineasta. Autor de A casa dos pesadelos, À sombra da Lua, Condado macabro e O escravo de capela, leva o gênero do terror e suspense para as mais diversas artes. Confira a entrevista que nós fizemos com aquele que é considerado “uma das grandes renovações da produção de conteúdo no Brasil” O que você dizia quando lhe perguntavam “o que você quer ser quando crescer?” Ser escritor sempre esteve em seus planos? Minhas respostas variavam bastante, mas não eram diferentes das mais comuns que ouvimos quando fazemos essa pergunta para crianças. Arqueólogo, astronauta, inventor...
aterrorizado é a máxima expressão do medo e passei uma infância tumultuada por coisas que eu não entendia. Vozes, luzes, toques, paralisia... as noites não eram agradáveis e eu só consegui ter uma vida normal quando parei de fugir das coisas que não me deixavam dormir. Represento muito dos meus próprios medos nos livros e filmes e considero
Se algo me causa pavor, sei que alguém irá sentir o mesmo sentimento Nunca disse que queria ser escritor ou cineasta, apesar de que desde antes dos meus 10 anos eu já escrevia e filmava pequenas histórias. Hoje, exploro mundos escondidos no meu subconsciente, viajo para realidades distantes à minha e invento fábulas que nem sei de onde chegam. Como escritor, sou tudo aquilo que eu queria ser e muito mais. Qual a importância do terror na sua vida? É difícil mensurar a extensão do que o terror representa na minha vida. E eu não digo como gênero. Sentir-se 20
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que foi a única terapia que me salvou. O gênero terror eu vejo com uma libertação pessoal dos meus traumas causados por um terror sobrenatural que até hoje não entendo suas manifestações. Condado Macabro¸ seu longametragem, foi transformado em livro. Qual foi a sua maior dificuldade? A verdade é que foi o caminho inverso. Primeiro eu fiz o longa, daí um editor que estava presente na plateia de um festival em São Paulo — e sabia que eu também era escritor — veio com o
por Luis Enrique Kato
convite para adaptá-lo. Eu sabia que seria difícil, mas aceitei na hora porque era a oportunidade de ter mais um livro nas livrarias. A maior dificuldade foi o tempo, pois a ideia era lançá-lo junto com a estreia nos cinemas. Pra dar certo, tive que ir mandando os capítulos assim que os terminava para serem revisados. Se algum dia eu decidir relançá-lo (porque há um desejo íntimo de continuar esse universo), pretendo fazer uma releitura e alterar algumas coisas. Quais são as principais diferenças do terror literário e cinematográfico? Por serem veículos muito distintos, é preciso saber causar a mesma impressão através de diferentes recursos. Por exemplo, no cinema nós temos o som e a movimentação de câmera para criar tensão. Os filmes jump-scare usam isso em demasia. Eles trazem o susto através da variação no volume do áudio e na expectativa da imagem que virá em seguida. Na literatura você só tem a mente do leitor pra trabalhar. Portanto, a ambientação precisa ser bem construída em palavras para imergir o leitor no sentimento que precisa ser trazido à tona.
Quais são os elementos essenciais para garantir um bom terror? Não creio que exista um elemento essencial. Muitos diriam que é o susto, ou o medo. Mas o espectro do que aterroriza alguém é tão variado que uma cena capaz de gelar os ossos de alguém pode acabar provocando risos em outra. Eu acredito, de verdade, que uma história não pode se calcar em criação de emoções a partir de elementos reconhecidos do imaginário popular, e sim lapidar o medo que existe no autor que a escreve. Se algo me causa pavor, sei que alguém irá compartilhar do mesmo sentimento e é com esse tipo de leitor que eu busco me conectar.
A casa dos Pesadelos Faro Editorial, 2018
Condado Macabro Simonsen, 2015
À sombra da lua Rocco, 2013
Depois de livros e filmes lançados, quais serão os seus próximos passos? Continuar com o trabalho. Não é porque conseguimos publicar um livro, ou fazer um filme, que os outros serão mais fáceis. A luta ainda é diária, mesmo após um certo reconhecimento. “O Escravo de Capela”, por exemplo, ficou parado mais de três anos após têlo escrito porque não encontrava casa editorial. A Rocco (por onde lancei o “À Sombra da Lua”) demorou pra negar e só depois disso pude apresentá-lo a Faro Editorial. “A Casa dos Pesadelos”, que já está chegando a 40 mil exemplares impressos com menos de seis meses do lançamento, era uma dúvida da Faro por causa do final. E meu próximo livro está em análise agora por eles com risco de não ser aceito. Apesar de ser em uma escala diferente, nós enfrentamos as mesmas barreiras que um autor iniciante. No cinema isso é muito pior porque envolve uma soma enorme de dinheiro e o envolvimento de várias pessoas. Mas
o plano é continuar escrevendo para as telas e para as prateleiras. Deixe uma mensagem para fãs que, assim como você, encontram conforto neste gênero. Mais do que uma mensagem, faço um pedido: Deixem o preconceito literário de lado e leiam nacionais. Nossa luta contra o que vem de fora é injusta e nós sobrevivemos de leitores do nosso país. É impressionante o número de pessoas que nunca pegou um livro brasileiro, mas quando o lê apaixonase pela narrativa e ambientação. Essa é uma barreira que pode ser quebrada pelo simples gesto de escolher um nacional no lugar daquele best-seller americano. Assim que um leitor se reconhece no livro, a imersão acaba sendo muito maior. E isso acontece quando lemos sobre nossa cultura, nossas paisagens, nossos comportamentos. Há muita qualidade no que vem sendo escrito por aqui. Deemnos uma chance de impressioná-los. Outubro/ Novembro 21
Tirinha Literária | Duda Razzera & Kátia Schitine
Vida de Escritor | J. Sampaio ... sobre assassinos.
No fim é somente sobre uma coisa:
terror.
o medo.
Não se trata somente...
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Muito menos sobre monstros famintos.
Passatempo
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