ISSN 16776968
Edição 37
Abril 2005
Belém - Pará - Brasil
www.paramais.com.br
Belemtur mostra que turismo é um bom negócio Plateia atenta às dicas de linhas de crédito e financiamento
Frederico Silva da Costa, do Ministério do Turismo dando dicas para acesso a linhas de crédito e financiamentos para todo o segmento turístico.
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Coordenadoria Municipal de Turismo (Belemtur) De acordo com dados do Ministério do Turismo, a atividade hoje representa 10% do PIB mundial. Um em cada nove empregos gerados estão no setor turístico. "A França, é um bom exemplo disso pois recebe 70 milhões de turistas por ano. Nossos irmãos portugueses recebem 15 milhões. O Brasil ainda engatinha nesta área, são menos de quatro milhões, mas temos potencial para bater a França. Por outro lado, Belém, o Pará, possuem alguns dos espaços com maior potencial turístico do país. E é por isto que devemos contribuir para o aparelhamento local para ajudar o país a ocupar a colocação turística mundial que merece", explicou Frederico da Costa, doMinistério do Turismo durante sua palestra.
ais de cem pequenos, micros e grandes empresários do setor de hotéis, bares e restaurantes da capital, secretários e consultores de turismo e cultura de outros municípios como Tucurui, Oeiras do Pará , Limoeiro do Ajuru e Heitor Pinheiro, presidente da Belemtur C a m e t á , a p r e n d e r a m , semana passada, no Hilton, como conseguir linhas de crédito e financiamento para explorar o potencial turístico de seus estabelecimentos. A iniciativa foi da Coordenadoria Municipal de Turismo (Belemtur) que trouxe a cidade, a palestra "Turismo , Um Bom Negócio", proferida pelo Diretor de Financiamento e Projetos de Investimentos do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa. De acordo com o Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurante do Pará, o Estado possui mais de 300 estabelecimentos comerciais como bares, hotéis e restaurantes. Destes, 277 estão cadastrados junto ao Sindicato. São locais de constante visitação de turistas. No entanto, a maioria é formada por micro e pequenas empresas que não conseguem se adaptar as necessidades e exigências dos visitantes pela falta de recursos para investimentos. A maioria destes empresários quer, mas não sabem como investir, como conseguir dinheiro para melhorar a estrutura e atendimento de seus estabelecimentos para a recepção dos turistas. E é por isto que a Belemtur vem investindo cada vez mais no fluxo de informações e capacitações aos integrantes do setor turístico local. “Esta ação da Belemtur pretende trazer aos gestores turísticos da iniciativa pública e privada de Belém e também de outros municípios, informação. Desconhecendo linhas de crédito, financiamento e as formas para captação de recursos não há estruturação, qualidade nos serviços prestados aos visitantes", explicou Heitor Pinheiro, Presidente da Edição 37
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Ronaldo Hühn, Roberto Neto, Frederico Costa, Heitor Pinheiro, Waldemir Cardoso e Rodrigo Hühn
Alda Tapajós curtindo a Pará+
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O município de São Domingos do Capim está localizado na região Nordeste do Estado, distante 130 Km de Belém, sua origem está ligada às primeiras explorações portuguesas nesta região. O governador provincial, Mendonça Furtado, atendendo à estratégia de seu irmão, o Marquês de Pombal, de fixar os domínios lusitanos..
Arqueólogos e museólogos do Museu Goeldi, com apoio da Cia. Vale do Rio Doce, organizaram a primeira exposição cujo tema trata da cultura material produzida pelos caçadores-coletores “pré-históricos”. .. MARCOS MAGALHÃES
Dizia o escritor e jornalista, o romancista, o contista, o ensaísta José Bento Monteiro Lobato (1882/1948) que “um país se faz com homens e livros”. Isso deve começar, lembro no meu livro, “Cléo Bernardo: A Falta Que Faz”, “pelo regime escolar que deveria ser público e conforme uma programação efetiva tanto urbana quanto rural...
A Vanguarda foi fundada em 1992 pelos irmãos Alcindo e Chico Cavalcante, ambos jornalistas profissionais. Alcindo havia trabalhado no jornal O Liberal por sete anos... Chico Cavalcante, redator e diretor de arte que fez parte do corpo editorial do jornal de esquerda Convergência Socialista, de
ACYR CASTRO PAULO ROCHA
O Museu Paraense “Emílio Goeldi” está promovendo, desde o dia 1º de abril fluente, indo até 30 de junho de 2005, importante exposição “O Homem e a Pedra: a Préhistória na Amazônia”, resultante de escavações arqueológicas realizadas na Serra Norte, em Carajás, no Estado do Pará, que permitiram descobrir que o homem chegou naquela região há, no mínimo, nove mil anos...
Ano 03
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Pág. 31 Hélio Titan
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São tantas, em Belém e no Brasil inteiro, as ONGs e os Centros de Integração Familiar que, em troca de nada, se substituem ao poder publico em todos os setores em que ele falha ou é ausente. Não quero falar das organizações estrangeiras que aqui se encontram, elas lidam com dólares ou euros, cujos valores são bem maiores que o do real. Quero falar daquelas organizações formadas por brasileiros...
Silencioso, barulhento. Quem sabe até molhado ou mesmo “selinho”. Daqueles tipo “nunca vou te esquecer”, ou ainda “não me procure nunca mais”. Seja de conquista ou mesmo despedida, sincero ou dissimulado, beijo é sempre beijo e todo mundo gosta...
DULCE ROCQUE
CAROLINA KZAN
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PUBLICAÇÃO
SÉRGIO PANDOLFO
Editora Círios S/C Ltda CNPJ: 03.890.275/0001-36 Inscrição (Estadual): 15.220.848-8 Rua Timbiras, 1572A - Batista Campos Fone: (91) 3083-0973 Fax: (91) 3223-0799 ISSN: 1677-6968 CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil
abril de 2005
Camillo Vianna
Pág. 46
Pág. 48
DIRETOR e PRODUTOR: Rodrigo Hühn; EDITOR: Ronaldo Gilberto Hühn; COMERCIAL: Alberto Rocha, Augusto Ribeiro, João Modesto Vianna, Rodrigo Silva, Rodrigo Hühn; DISTRIBUIÇÃO: Dirigida, Bancas de Revista; REDAÇÃO: Celso Freire, Ronaldo G. Hühn; REVISÃO: Paulo Coimbra da Silva; COLABORADORES: Acyr Castro, Camillo Martins Vianna, Carolina Kzan, Dulce Rosa de Bacelar Rocque, Hélio Rodrigues Titan, Marcos Pereira Magalhães, Paulo Rocha, Sérgio Martins Pandolfo, ; FOTOGRAFIAS: Arquivo MPEG, Carlos Sodré, Cassin Jordy, Dulce Rocque, João Ramid, João Vianna, Mário Sorimm, Phernando Silva, Ray Nonato, Sérgio Pandolfo; DESKTOPING: Mequias Pinheiro; EDITORAÇÃO GRÁFICA: Editora Círios
*Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores
Nosso pesar, nosso pranteio e eterna gratidão ao nosso queridíssimo pastor e amigo João Paulo II. Ao prestarmos nossa singela homenagem, reproduzimos a benção do Santo Padre, em 1996, aos nossos dirigentes e leitores.
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João Paulo II João Paulo II nasceu no dia 18 de maio de 1920, na pequena cidade de Wadowice. Recebeu o nome do pai, Karol Wojtyla, oficial reformado do exército polonês, católico, de hábitos reservados. Sua mãe, Emilia, era uma dona-de-casa de saúde frágil, melancólica, que não se conformava com a morte de uma filha, recém-nascida, em 1914. A infância e a juventude do futuro papa foram marcadas pela tragédia familiar. Em 1929, pouco antes de completar o nono aniversário, ele perdeu a mãe, vítima de uma doença nos rins. O irmão mais velho morreria dois anos depois, com escarlatina. A morte do pai, que o mergulharia numa profunda sensação de solidão, ocorreu semanas antes de Karol completar 22 anos. Ficou sozinho, sem parentes. Era universitário em Cracóvia e sonhava com uma carreira na área artística. Entusiasmado com o teatro, participava da encenação de peças, e também escrevia poemas. Embora demonstrasse uma devoção religiosa incomum e já tivesse sido convidado mais de uma vez para entrar no seminário, ele não pensava em ser padre. Achava que serviria melhor à Igreja como leigo católico.
Vocação
A vocação sacerdotal despertou num período difícil, logo após a invasão da Polônia pelas tropas de Hitler. A Igreja Católica, que em outras invasões do país funcionara como um fator de identidade nacional, preservando a cultura e
estimulando movimentos de libertação, começou a ser perseguida. Os nazistas fecharam os seminários e assassinaram centenas de padres e freiras, acusados de traição. A Igreja, porém, resistiu e continuou a formar sacerdotes em seminários clandestinos. Foi num deles que Wojtyla começou. Trabalhava durante o dia como operário numa fábrica de soda cáustica e à noite tinha aulas com os padres. Nessa época sofreu um acidente que deixou de frente com a morte. Atropelado por um carro de guerra alemão, teve uma concussão cerebral e ficou inconsciente durante nove horas - um período perigoso em acidentes desse tipo.
Proteção
Foi ordenado padre no dia 1 de novembro de 1946, Dia de Todos os Santos. Sua capacidade intelectual e dedicação aos estudos chamaram a atenção do arcebispo de Cracóvia e futuro cardeal, Adam Stefan Sapieha, que tornou-se seu protetor. Logo após a ordenação, ele despachou Wojtyla para Roma, onde faria os estudos de pós-graduação.
Carreira
A carreira na Igreja foi meteórica. Tornou-se bispo aos 38 anos e foi trabalhar como auxiliar na Arquidiocese de Cracóvia. Após a morte de Sapieha, em 1963, ascendeu ao cargo de arcebispo. Desenvolveu um trabalho pastoral vigoroso, que o aproximava do povo, e apurou seu senso de história e de política - o que era fundamental para a sobrevivência da Igreja sob o regime comunista que sucedera ao nazismo na Polônia. Aos poucos, o arcebispo de Cracóvia
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tornou-se uma referência religiosa e política no país. Sua influência no interior da Igreja também começou a aumentar, empurrada pela sua capacidade de conquistar amigos, pela erudição em assuntos doutrinários e pela facilidade com que aprendia línguas. Wojtyla chegou a falar onze línguas diferentes.
Vigor
Wojtyla iniciou o pontificado com 58 anos - uma idade baixa para os padrões da Igreja. Desde 1846 não se escolhia um papa tão jovem. Na época exibia boa saúde e um físico vigoroso, obtido com a ajuda de constantes caminhadas pelas montanhas da Europa - hábito que manteria mesmo depois de papa, nos períodos de férias. Era capaz de submeter-se a um ritmo pesado de trabalho, característica comum entre padres da Polônia, que conviviam a duras penas com o comunismo.
Consultor / Cardinalato
Em 1967, o papa Paulo VI, que recorreu a ele mais de uma vez para consultas sobre temas políticos e de doutrina moral, recompensou seu trabalho com a púrpura cardinalícia. Aos 47 anos, Wojtyla tornou-se um dos mais jovens cardeais do mundo.
Viagens João
Paulo II começou a viajar e a mostrar-se para o mundo em 1979, quando foi a Puebla, no México, participar de uma reunião do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Fez questão de desfilar em carro aberto entre os milhares de mexicanos que foram às ruas para saudá-lo. O veículo, especialmente preparado para a ocasião, era uma espécie de protótipo do papamóvel, que também se tornaria uma característica de suas missões pelo mundo. Em suas viagens apostólicas, chegou a visitar até quatro países de uma vez. A TV não se cansou de mostrá-lo, com gestos teatrais e à vontade diante das multidões e das câmeras - o que sempre fazia alguém lembrar dos seus tempos de ator.
Papa
Quando o colégio cardinalício o elegeu em 1978 e o cardeal Jean Villot, o chefe da burocracia do Vaticano, aproximou-se e perguntou ao polonês se aceitava aquela missão, a resposta foi piedosa, mas inequívoca: "Em obediência à fé em Cristo, meu Senhor, confiando na Mãe de Cristo e na Igreja, não obstante as graves dificuldades, aceito." A seguir, Villot indagou qual seria seu nome como pontífice. Ele respondeu: "João Paulo II". Era uma homenagem ao papa que o precedera e que ficara apenas 33 dias no cargo.
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Wojtyla quis ser ouvido no mundo inteiro, não só pelos católicos. Foi o primeiro papa a visitar uma sinagoga em Roma. Estimulou o diálogo com outros igrejas, cristãs e não-cristãs. Escreveu 13 encíclicas, 32 cartas apostólicas, 11 exortações e centenas de discursos. Quando os editores da revista Time o escolheram como Homem do Ano, em 1994, disseram que o faziam por causa de sua força moral. Numa época em que tantas pessoas lamentavam o declínio dos valores, segundo a revista, era notável o esforço que o papa fazia para propagar sua visão de uma vida reta, convidando o mundo a fazer o mesmo. As tragédias pesAtentado soais, porém, continuaram a perseguir o pontífice. No final da tarde do dia 13 de maio de 1981, o papa foi vítima de um atentado terrorista, na Praça de São Pedro. Com uma pistola Browning Parabellum, 9mm, o turco Mehmet Ali Agca, que se encontrava no meio de uma multidão de 20 mil peregrinos e turistas, fez dois disparos. Um deles acertou o alvo. A bala desviou-se por milímetros da aorta central. Mas o papa teve o cólon e o intestino perfurados e perdeu 60% do seu sangue com a hemorragia interna. Chegou a receber o sacramento da extremaunção, a caminho do hospital, onde seria submetido a uma complicada cirurgia, com quase seis horas de duração. Em junho do mesmo ano o papa voltaria ao hospital, para tratar de uma infecção causada por cytomegalovirus, freqüentemente transmitido em transfusões de sangue, e submeter-se a uma nova cirurgia, destinada a reverter a colostomia feita em maio.
Devoção
O episódio deixou mais visível a devoção mariana de Wojtyla. Ao ser atingido pelo tiro, a primeira coisa que disse foi "Maria, minha mãe". Mais tarde afirmaria
que só não morreu por um verdadeiro milagre, intercedido pela Virgem de Fátima, cuja data litúrgica era comemorada exatamente no dia 13 de maio. Um ano depois, o papa foi ao Santuário de Fátima, em Portugal, agradecer à Virgem. Ao sair, deixou sobre o altar a bala retirada de seu corpo. O cinto perfurado e manchado de sangue que usava por ocasião do tirou teve outro destino: o santuário da Madona Negra de Czestochowa, na sua querida Polônia. Durante a visita a Fátima, a vida de Wojtyla foi mais uma vez ameaçada. Juan Fernández Khron, um padre de 33 anos e com distúrbios psicológicos, avançou contra ele armado com um faca, mas foi detido a tempo pelos seguranças. O papa o perdoou, assim como havia perdoado Ali Agca, a quem abençou pessoalmente na prisão onde se encontrava em Roma. A devoção mariana vinha desde a infância. Logo após a morte da mãe, Wojtyla passava todos os dias por uma igreja próxima a sua casa e orava diante do altar da Virgem. Aos 15 anos ingressou na Associação de Maria, uma irmandade nacional altamente espiritualizada, da qual seria presidente. Quando tornou-se bispo e teve que escolher, de acordo com a tradição, um lema para a sua vida, ficou com a expressão mariana Totus tuus (Todo teu). No Vaticano, escreveu uma encíclica inteiramente dedicada à questão mariana, denominada Redemptoris Mater (A Mãe do Redentor).
Operações
Graças ao seu bom estado físico, o papa recuperou-se rapidamente e não teve problemas graves de saúde até 1992, quando enfrentou outra cirurgia, de quatro horas. Dessa vez, para remover um tumor pré-
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laranja, instalado no cólon. Nos anos seguintes ele sofreria distúrbios digestivos recorrentes, acompanhado de rumores, sempre desmentidos, de que teria câncer. Em 1994 viria mais um problema: ele
escorregou, caiu no banheiro de seu apartamento no Vaticano e quebrou o quadril . Foram mais duas horas sob anestesia geral, para a implantação de uma prótese na área atingida. A partir de então, Wojtyla, então com 74 anos, começou a dar sinais de enfraquecimento geral. A voz tornouse mais fraca e surgiram dificuldades para caminhar. O tremor em sua mão esquerda, cada vez mais acentuado, sugeria que sofria com o mal de Parkinson. O auge do pontificado de João Paulo II pode ser localizado entre 1980 e 1994. Os anos seguintes foram marcados por enormes dificuldades pessoais e a inevitável redução no ritmo de compromissos. Mas ele prosseguiu firme até o final. Wojtyla via no seu sofrimento uma oportunidade de provação e fortalecimento da fé e chegava a agradecer à Virgem por isso. Esse senso de martírio era outra característica marcante dele e ajuda compreender o fato de que o santo ao qual era mais devoto, depois de Nossa Senhora, foi um mártir, o bispo polonês Estanislau, assassinado diante um altar, por ordem de um rei tirânico, nove séculos atrás. Finalmente, não se pode esquecer que João Paulo II era movido pela idéia inabalável de que tinha uma missão a cumprir e para a qual se preparou com firmeza inquebrantável: a de conduzir a Igreja. E assim o fez, até o fim.
Nos resta o consolo da fé e da esperança!
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São Domingos do Capim
A terra da pororoca
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município de São Domingos do Capim (o nome é em homenagem ao santo padroeiro e ao Rio Capim), está localizado na região Nordeste do Estado, distante 130 Km de Belém, sua origem está ligada às primeiras explorações portuguesas nesta região. O governador provincial, Mendonça Furtado, atendendo à estratégia de seu irmão, o Marquês de Pombal, de fixar os domínios lusitanos no extremo Norte, começou a elevar os pequenos povoados à categoria de freguesias, o que aconteceu com a localidade de São Domingos da Boa Vista, primeiro nome que o município recebeu, em 1.758. Mas foi só na terceira década desse século, que a vila foi elevada à condição de município. Quando ainda se chamava Boa Vista, o governo provincial decidiu mudar a pequena vila de lugar, porque a região era constantemente atingida pelo fenômeno das terras caídas, em conseqüência da pororoca que já causou prejuízos à cidade: o antigo cemitério, construído às margens do Rio Capim, foi quase totalmente destruído por uma onda violenta. Ainda hoje suas ruínas são visitadas no Dia de Finados pelos moradores mais antigos. A cidade tem também suas festas populares, como a do Exagêro, na qual os foliões saem às ruas carregando r e p r o d u ç õ e s agigantadas de objetos de seu cotidiano. As
comemorações em homenagem ao padroeiro da cidade, São Domingos de Gusmão, começam no mês de junho e só acaba em 4 de agosto. BELÉM Nesse dia, além das celebrações religiosas, é SÃO DOMINGOS DO CAPIM realizada uma grande festa, com direito a arraial e leilão de prendas. A construção mais antiga do lugar é provavelmente a Igreja erguida em homenagem ao santo padroeiro, mas curiosamente, não há morador em São Domingos do Capim que saiba precisar a data de sua construção. A cidade é pequena e o comércio é a principal fonte de renda da população. Entre os produtos agrícolas que se destacam estão a banana, a farinha de mandioca, a pimenta-do-reino e o melão. (M.M.) Na década de 60 os fiéis católicos de São Domingos do Capim mandaram construir uma escultura de Cristo para proteger a cidade dos efeitos devastadores da pororoca que teimava em invadir a Igreja Matriz.
O surf na pororoca A melhor época para surfar no rio Capim é nos meses de Fevereiro à Junho, época em que os rios da Amazônia sofrem grandes influências do Oceano Atlântico. As ondas da pororoca podem alcançar até 2 metros de altura, e tem duração de aproximadamente 15 minutos, sempre dependendo do fluxo da maré e da fase da lua. Existem diversas bancadas de areia que possibilitam pegar a onda da pororoca, sendo que uma das melhores ondas é formada na ilha do Toio. Falamos com diversos moradores antigos da cidade e eles recordam que mais ou menos, de onze a onze anos,
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Nélio Palheta
José Angelo Miranda
passaram a conversar. Esse encontro aconteceu por diversas vezes, sempre em noite de lua cheia. Ele saía das águas e os dois ficavam conversando e, assim, passaram a namorar. Ela então ficou grávida, porém ao dar a luz, para surpresa de todos, em vez de três crianças, nasceram três botinhos. Ela ficou muito assustada, pois não podia criá-los. Então, embora muito triste, a mãe resolveu soltá-los nas águas para que não morressem. Com o passar dos anos, eles sentiram saudade da mãe, e uniram-se à procura dela. Iam pulando e fazendo uma grande onda que se estendia até as margens dos rios, derrubando árvores e virando embarcações. E sempre que sentem saudade da mãe voltam à procura dela, surgindo assim "A LENDA DA POROROCA" dos três botinhos que são chamados de três pretinhos da pororoca. Esta lenda é transmitida de geração em geração; alcançou grande proporção e hoje vem sendo conhecida nos cenários nacional e internacional, por meio do Campeonato de Surf e do Festival da Pororoca, que acontece todos os anos na cidade.
Padre Pinheiro
ocorre das ondas da pororoca diminuírem de intensidade e altura. Fato ocorrido esse ano. A previsão é que a partir do ano que vem as ondas comecem a se elevar.
Lenda da Pororoca Há muitos e muitos anos havia uma tribo nas margens do Rio Capim e Guamá. Nessa tribo vivia um cacique muito forte e valente que também era pescador. Ele teve uma filha muito bonita, de cabelos lisos e muito longos. Essa filha, assim como o pai, gostava de estar às margens do rio, nas praias. Todos os dias, quando o sol se punha, ela ficava observando. Certa vez, em uma noite de lua cheia, a indiazinha estava na praia e, de repente, viu uma pessoa toda vestida de branco com chapéu de palha na cabeça saindo das águas. No primeiro instante ela teve medo, mas a pessoa aproximou-se e disse: "Não tenha medo, não vou lhe fazer mal". E assim eles
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Poroc-poroc Na língua Tupi trata-se do encontro das águas do Rio Amazonas com as do Oceano Atlântico. Também ocorre devido a um fenômeno chamado marés de Sizígia ou marés vivas. Acontecem nos três dias que antecedem ou seguem a lua nova ou cheia.
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VII Campeonato de Surf na Pororoca O Governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (Seel), promoveu de 7 a 10 de abril, o VII Campeonato de Surf na Pororoca. A etapa paraense reuniu oito surfistas, sendo quatro paraenses classificados nas seletivas de 2004, realizadas em Salinópolis, Algodoal e Mosqueiro. O outro grupo é formado pelo campeão do circuito brasileiro de 2004, o cearense Adilton Mariano, que também é dono do recorde de 32 minutos na onda da pororoca, e os paraenses Sandro Rogério, vice-
são surfistas profissionais com reconhecimento das entidades que coordenam os campeonatos regionais, estaduais e brasileiros. A premiação do Circuito garante uma moto zero quilômetro ao primeiro colocado e pranchas de surf profissional ao segundo e terceiro lugares.
O secretário executivo de Esporte e Lazer, José Ângelo Miranda, destaca que o Campeonato de Surf na Pororoca abre a temporada 2005 dos eventos esportivos patrocinados pelo Governo do Estado do Pará, por meio da Seel. “Seguindo a orientação do governador Simão Jatene, estamos dando prosseguimento às realizações dos eventos esportivos, que estão transformando o Pará no maior cenário do esporte brasileiro da atualidade”, afirma José Ângelo.
campeão, e Sérgio Roberto, terceiro lugar da etapa paraense realizada ano passado. Como convidados especiais: Flávio Marão, tetra-campeão maranhense; o paraense Sérgio Laus, campeão da 1ª etapa do circuito universitário de Santa Catarina; Estanlei Gomes, do Estado do Amapá; Raoni Monteiro, do Rio de Janeiro; e Fabrício Junior, do Rio Grande do Norte. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Surf na Pororoca, Noélio Sobrinho, todos os participantes 14
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investiu R$ 9,3 milhões na pavimentação dos quase 47 quilômetros da PA-127, estrada que liga a BR-316 ao município.
Prêmio dividido
Organização do campeonato
A etapa paraense do VII Campeonato de Surf na Pororoca, que agitou o município de São Domingos do Capim, no nordeste paraense, durante o último final de semana, não tem campeão devido à falta de ondas com altura e intensidade suficientes para as manobras dos atletas. Esta decisão partiu da equipe técnica do campeonato, formada pelos diretores de prova Noélio Sobrinho e Marcelo Ferro, e pelo juiz central Dênis Sarmanho. A comissão técnica também decidiu dividir em partes iguais o prêmio, no valor de R$ 10 mil, entre os 10 surfistas participantes do campeonato. Esta quantia é a soma dos valores da moto zero quilômetro que seria dada ao campeão; das duas pranchas de surf profissional para o segundo e terceiro lugares; e a premiação em dinheiro ofertada pela Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (Seel). De acordo com a Associação Brasileira de Surf na Pororoca (Abraspo), presidida por Noélio Sobrinho, como não houve campeão, cada um dos 10 surfistas acumulou 556 pontos, que serão válidos para a próxima etapa do Circuito Brasileiro de Surf na Pororoca, que acontece no período de 22 a 27 deste mês, no Amapá. A primeira etapa ocorreu no estado do Maranhão, entre os dias 24 e 28 de março. As disputas nas águas do rio Capim, no Pará, começaram na sexta-feira (8), quando foi realizada apenas uma das cinco baterias previstas. Na ocasião, o cearense Adilton Mariano, campeão do circuito brasileiro de 2004, venceu o paraense Rogério Barros e se classificou para a semifinal da etapa paraense. Os demais surfistas que participaram da etapa paraense são Sérgio Laus (PR), Severino Junior (PA), Fabrício Junior (RN), Stanely Gomes (AP), Sandro Rogério (PA), Marcelo Suru (MA), Sérgio Roberto (PA) e Rodrigo Barros (PA).
A Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (Seel), vinculada à Secretaria Especial de Promoção Social, coordenou a organização do campeonato em parceria com a Associação Brasileira de Surf na Pororoca e Prefeitura Municipal de São Domingos do Capim. SEGURANÇA - Um esquema especial de segurança e atendimento médico foi montado em parceria com a Polícia Militar, Capitania dos Portos, Corpo de Bombeiros e Secretaria Executiva de Estado de Saúde Pública (Sespa). ATIVIDADES - Nos três dias, foram realizadas atividades envolvendo competições de futsal, vôlei de praia, passeio ciclístico e futebol de areia. Como atração especial a apresentação de canoa havaiana, uma nova prática esportiva associada à contemplação da beleza natural e relaxamento.
30 mil pessoas em São Domingos Foram cerca de 30 mil pessoas nos três dias de competição. Para receber tanta gente, o município de São Domingos do Capim preparou uma significa infraestrutura na orla da cidade, com conjunto urbano de quiosques, onde vão funcionar lanchonetes e mini restaurantes. A estrada da orla e de parte dos 12 km de acesso à chamada Ilha do Toyo foram asfaltadas, no local foi implementado uma pequena infra-estrutura para alimentação e lazer. A rodovia PA-127, que liga São Domingos à BR-316, com aproximadamente 47 km, também está em perfeito estado de conservação e totalmente asfaltada. Em 2004, o Governo do Pará Edição 37
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CULTURA PARÁ 2005 A Companhia Vale do Rio Doce fez o lançamento do projeto Cultura Pará 2005 no prédio da Rocinha com a exposição “O Homem e a Pedra: a pré-história na Amazônia. A exposição é em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi. Vestigios da presença humana no Pará são apresentados, num total de 39 peças. Os artefatos, datados de sete a onze mil anos, nunca tinham sido mostrados aqui no Pará. A exposição ficará aberta ao público até 30 de junho. Estão sendo programadas visitas O s p r i m ó r d i o s d a H guiadas e oficinas estão disponibilizadas para ministrar vários cursos aos interessados.
O HOMEM Gruta do Pequia
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Reprodução de um caçador-coletor em seu habitat
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rqueólogos e museólogos do Museu Goeldi, com apoio da Cia. Vale do Rio Doce, organizaram a primeira exposição cujo tema trata da cultura material produzida pelos caçadores-coletores “pré-históricos”. O tema é muito original, já que quando se pensa em arqueologia da Amazônia sempre vem à lembrança, a espetacular arte ceramista produzida por sociedades agricultoras, como a marajoara, a tapajônica e outras. Mas aqueles que criaram as condições para que essas sociedades viessem a florescer sempre foram esquecidos. Vez ou outra alguns objetos da cultura material deixada por eles são expostos, mas perdidos em exposições cujo tema principal é a cerâmica e seus artesões (povos agricultores). A cultura material dos caçadores-coletores é representada por artefatos feitos de rochas diversas. Ou seja, pela tecnologia lítica desenvolvida através de técnicas artesanais de transformação da rocha em artefatos lascados, fossem utilitários ou ritualísticos cuja função era voltada para o uso prático. Genericamente conhecida como lítica, é esta cultura que conta a trajetória da chegada do homem na Amazônia, até o florescimento, milhares de anos depois, das sociedades agricultoras. Porém, não foram os arqueólogos que elegeram a cultura lítica como representante dos caçadores-coletores. Na verdade, de tudo aquilo que produziram, o lítico é o que resiste às intempéries e à ação biológica do solo. Enfim, esta cultura tem ajudado aos arqueólogos a saberem que foram os caçadores-coletores, mestres na transformação da pedra, que desenvolveram técnicas
E A PEDRA
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Gruta do Gavião
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Escavação na Gruta do Rato
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*MARCOS PEREIRA MAGALHÃES
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Artefatos polidos de povos agricultores (Civilização Neotropical) Maquete em tamanho original de escavação no interior de uma gruta em Carajás Dr. Marcos Pereira Magalhães, o curador da exposição
os seres humanos passaram a maior parte de sua existência, como caçadores-coletores. Sendo que a capacidade de inventar, transformar e Lâminas de machado atribuídas à culturas Resto alimentar (malacológico - moluscos amazônicas da Civilização Neotropical usufruir era a mesma de qualquer ser com carapaça) encontrados na Gruta do humano de hoje. A diferença Pré-lâmina de machado (à esquerda) e Pequiá (Carajás) fundamental está apenas no modo de lâmina concluída (à direita) Resto alimentar, sementes o r g a n i z a ç ã o d a s s o c i e d a d e s posteriores, cuja velocidade de informação foi se acelerando cada vez mais. Mas se eram mais lentos e muito mais conservadores, tiveram milhares de anos de experiência para propiciar à humanidade avanços espetaculares, como o domínio do fogo, a domesticação de plantas, a invenção da roda e a de exploração dos recursos naturais amazônicos, as transformação das rochas. quais foram fundamentais para a adaptação humana Na Amazônia, embora possam ocorrer em diferentes aos seus ecossistemas biodiversificados. tipos de terrenos, vestígios de antigos caçadoresHoje, quem comanda nosso dia-a-dia é a tecnologia coletores são encontrados, especialmente, em digital à velocidade da luz. Porém, nos primórdios da cavernas, já que elas apresentam ambientes que humanidade, nossa trajetória foi traçada pela ajudam a preservá-los. A Serra de Carajás, no sudeste tecnologia que talhava a pedra. Essas técnicas foram do Pará, é um dos locais onde ocorre um grande desenvolvidas por homens que viviam em sociedades número de cavernas, ricas em evidências sustentadas pela caça, pela pesca, pela coleta de frutos, arqueológicas. Essas evidências, regularmente, são tubérculos, nozes, ervas e etc., daí serem conhecidas compostas por lascas e instrumentos feitos de rochas, como sociedades de caçadores-coletores. Elas se cristais e até de minerais brutos. Eventualmente, são organizavam em pequenos grupos familiares de encontrados fragmentos de cerâmica e até restos grande mobilidade territorial, mas que podiam se alimentares. Foi em Carajás que se comprovou, reunir em territórios fixos, formando grandes definitivamente, que o homem já explorava os recursos comunidades. Tendo ocupado todos os continentes do naturais da Amazônia há milhares de anos atrás. A planeta muito antes das grandes civilizações urbanas Gruta do Pequiá, por exemplo, na Serra Norte em se formarem, os caçadores-coletores foram os Carajás, foi habitada desde 9 mil anos antes do primeiros desbravadores da floresta amazônica, presente, por sociedades que a freqüentava durante as quando a grande hiléia tropical mau se consolidava. estações chuvosas. Ali, eles não só caçavam pequenos Porém, para serem aceitos como formadores de animais e coletavam frutos em seus arredores, como sociedades, muitos conceitos tiveram que ser também se alojavam e executavam rituais diversos em mudados, pois até a década de 1980, aos caçadoresseu interior. Posteriormente, foram encontrados coletores era atribuída, apenas, a capacidade de vestígios ainda mais antigos em outros rincões da formarem bandos de sujeitos supersticiosos e brutais, Amazônia, que já conta com 12 mil anos de história. como os representados por trogloditas que puxavam Com as descobertas realizadas em Carajás, finalmente, suas mulheres pelos cabelos. Nada mais falso. Os o contexto cultural e histórico deixado por caçadorescaçadores-coletores chegaram a constituir sociedades coletores antigos, pode ser estudado, confirmando sofisticadas, algumas bastantes numerosas, com assim, que eles, de fato, ocuparam a Amazônia há sistemas políticos que chegaram a influenciar as milhares de anos. Não obstante, não foi só a primeiras civilizações urbanas. Diga-se de passagem, 18
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Nélio Palheta, ao centro estava representando o Governador Simão Jatene
Artistas da terra que prestigiaram a exposição
Rodrigo Hühn, Marcos Magalhães, Aida Barbara Moreno e Ronaldo Hühn
até de jacarés. Entre os invertebrados foram antiguidade das evidências que fascinou os encontradas muitas carapaças de moluscos terrestres e pesquisadores. Os sedimentos arqueológicos fluviais. Significantemente, a maior parte dos restos encontrados no solo das grutas eram compostos, entre animais encontrados era produto da caça, pesca e outras coisas, de restos alimentares, de modo que foi coleta de espécimes de pequeno porte. possível conhecer não só os hábitos Além desses restos, também havia o alimentares, bem como os ecossistemas de vegetal, composto por sementes, onde vieram os recursos naturais tubérculos e folhagens. consumidos. O estudo da distribuição espacial dos O sedimento arqueológico encontrado na restos no interior da gruta, associado Gruta do Pequiá, tal como ocorrera na aos pequenos depósitos de produtos do Gruta do Gavião (com datação de 8 mil lascamento dos cristais e das fogueiras anos antes do presente), era composto por feitas para o processamento de restos orgânicos, como os alimentares. alimentos, revelou uma organização Foram encontrados restos de origem animal e vegetal. Entre os restos animais Polidor em rocha de arenito onde muito peculiar, talvez baseada numa havia os de vertebrados, como de era feito o tratamento da superfície hierarquia funcional e ou familiar. vértebras de peixes, pequenos roedores e das peças polidas Difícil de dizer. O importante é que
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aquele espaço não era ocupado aleatoriamente, com cada um ocupando o lugar que bem entendesse. Muito pelo contrário. Havia uma clara organização espacial, onde cada membro da sociedade sabia qual o espaçofunção que lhe cabia. Essa organização não ocorria apenas no interior das grutas. Além da Gruta do Pequiá (platô N5) e da Gruta do Gavião (platô N4), três outras também foram estudadas no platô N1: a da Guarita, do Mapinguarí e a do Rato. Além delas repetirem o mesmo padrão de organização observado no interior das outras, revelaram, em seu conjunto, uma hierarquia entre elas, de modo que grutas diferentes eram ocupadas diferentemente pela mesma sociedade. O caso que essa sociedade era formada por grupos familiares. Assim, pode ser que a hierarquia notada entre as grutas estivesse organizada com base familiar, quando cada família ocuparia uma gruta específica. Mas pode ser também, que membros de uma mesma família ocupassem, com finalidades diferentes e complementares, as diversas grutas existentes. Devese entender hierarquia aqui, não como uma ordem escalonada de estratificação social, mas sim como uma diferenciação qualitativa de poderes. Ou seja, a importância do indivíduo no grupo dependia da sua qualidade prática no domínio das técnicas. Domínio técnico, cujo conhecimento, por sua vez, situava-se no campo do sagrado e não do saber, tal como ocorre hoje. As datações obtidas em Carajás foram, posteriormente, confirmadas com outras provenientes de sítios situados em diferentes rincões da Amazônia. Com isto ficou claro que Carajás não era apenas um caso excepcional ou incomum, mas uma realidade comprobatória que revelava como a colonização humana da Amazônia era antiga e generalizada. Entretanto, o que Carajás mostrou de mais importante, foi que essa colonização foi organizada por homens e mulheres que constituíam uma sociedade solidificada por uma ordem interna perfeitamente integrada aos recursos naturais amazônicos. Ou seja, eles não eram sujeitos despreparados que se viravam como podiam, sobrevivendo atrás da caça e de frutas por acaso encontradas. Mas sim, sujeitos que conheciam
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perfeitamente o mundo onde viviam e do qual tiravam proveito, explorando com adequação os recursos naturais Sebastião Tapajós deu um show disponíveis e, muitas vezes, manipulando-os conforme suas necessidades. Ao ocuparem a Amazônia há milhares de anos, os caçadores-coletores tropicais reuniram, ao longo dos tempos, condições particulares para alcançarem formas mais complexas de organização social, perfeitamente inteiradas aos recursos naturais disponíveis. Isto implicou em um processo de longa duração de amadurecimento das experiências. Por motivos diversos associados, com o tempo, essas experiências reorganizaram as práticas anteriores, desencadeando mudanças, não só nas técnicas, como também na estrutura social, na política e até na cosmologia. Assim, ao lançarem mão de observações refinadas sobre o ambiente, desenvolvendo técnicas e relações sociais regionalmente adequadas, os caçadores-coletores nômades criaram as condições necessárias para o florescimento de sociedades agricultoras sedentárias na Amazônia. Ainda que nos sítios de caçadores-coletores tropicais, raramente sejam encontrados vestígios de arte plumária, de objetos feitos de madeira ou palha, é muito provável que estas artes também tenham sido iniciadas por eles. Mas aperfeiçoadas pelos agricultores. A arte ceramista, por exemplo, desenvolveu-se como um item importante para a efetivação dos rituais funerários. No início, o domínio de sua tecnologia foi privilegio de alguns poucos membros da comunidade, que devem ter exercido uma importante liderança religiosa. Porém, se por um lado, o uso sagrado da cerâmica continuou nas sociedades agricultoras, alcançando um grau de beleza estética incomparável - fato que se repete com a arte de trabalhar a pedra. Por outro lado, essas técnicas vão se tornando populares e muito importantes para o uso cotidiano dessas comunidades. Com isto são criados muitos artefatos relacionados ao processamento de alimentos, como enormes assadores de beiju, feitos de cerâmica e mãos de pilão, feitos de pedra polida.
Maria Zuleide dos Santos a artesã em barro de Oriximiná
Rubens C. Pinto, o artesão das cuias
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Porém, com a ascensão das sociedades agrícolas há uma mudança nas técnicas de manufatura da pedra. Elas se tornam mais eficientes para a derrubada da mata e o processamento de sementes e tubérculos. A mudança mais Peter Mann de Toledo o Peter, Aída e Marcos comemorando Aída Moreno em o sucesso da exposição diretor do MPEG notável foi o aumento do número sua alocução de instrumentos, a variedade de formas e o acabamento regulador ou que defendesse geopolíticas das peças, que agora são polidas. Essas mudanças expansionistas. Sobretudo, o processo civilizador da vieram acompanhadas de outras no modo de Civilização Neotropical, em nenhum momento do organização da sociedade, que passa a apresentar desenvolvimento das sociedades a ele vinculadas, novas perspectivas na geopolítica, tornando-se, além criou qualquer mecanismo de controle econômico, de mais sedentária, mais populosa e interétnica, territorial ou político, tal como se observa, desde as concentrada em territórios específicos. Porém, alguns origens, entre os Incas, Maias, Astecas, e em diversas costumes permaneceram, como a própria caça e certos outras sociedades norte-americanas, africanas, rituais funerários, que se tornam mais sofisticados. A asiáticas ou ocidentais. Isto teria ocorrido porque, política, antes baseada na liderança familiar torna-se diferente das demais civilizações, o corpo e não a razão permeável e múltipla, submetida à ordem coletiva da era a medida de todas as coisas. sociedade, como que inspirada na própria fragilidade Assim, diferente do que acontece nos Andes, na dos ecossistemas amazôAmérica Central e na Escavação da Gruta do Pequiá, Platô N5, Carajás. As manchas América do Norte, na nicos. Tudo isto fundaesbranquiçadas são concentrações de restos alimentares mentou um processo Amazônia jamais foi (ossos e malacofauna) queimados. civilizador, tipicamente identificado qualquer amazônico (A Civilisistema de linguagem zação Neotropical), cuja cuja comunicação evolução só foi interrepresentasse a vonrompida com a chegada tade de controle em do conquistador europeu. larga ou mesmo em De fato, a Civilização média escala. Por Neotropical, foi resultado deficiência cultural, de experiências levadas a étnica ou dificuldade cabo ao longo de milhana adaptação humana res de anos por caçaà floresta tropical? dores-coletores tropicias. Ela configura-se nas Não! Muito pelo contrário. Justamente por terem sociedades que já possuíam uma agricultura logrado sucesso em tudo isto, é que as sociedades desenvolvida, tinham aldeias relativamente amazônicas foram capazes de desenvolver, ao longo sedentárias, relações culturais e políticas regional e dos tempos, relações socioculturais únicas e interregionalmente formalizadas. Mas, isto tudo, perfeitamente integradas ao mundo onde viveram. dentro de um padrão social particular, que embora fosse hierarquicamente organizado, não era *Arqueólogo e doutor em História Social e Política pela UFRJ. estratificado e nem possuía um centro de poder Pesquisador do Museu Goeldi desde 1983
Av. Alcindo Cacela, 4071 - Fone: (91) 3249-9395 - E-mail: fetracom@ig.com.br Edição 37
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Livro, o bem maior da
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este mês de abril, comemorase o Dia Mundial do Livro, no dia 23. A data foi instituída pela Unesco em 1995, com o objetivo de atrair a atenção das autoridades, governos e da população para este que é um dos meios de transmissão de conhecimento mais universais e eficazes que existem. A escolha do dia deve-se ao fato de que vários escritores consagrados, como Miguel de Cervantes, William Shakespeare, Vladimir Nabokov e Josep Pla, nasceram ou morreram em um 23 de abril. Vamos então lembrar um pouco da história desse que se tornou o maior instrumento de nossa cultura. Afinal, nos livros aprendemos tudo na vida. Não fosse a escrita e depois o livro que a popularizou não seríamos o que somos hoje, não teríamos história, nossa ciência não existiria, seríamos um povo com uma cultura pouco desenvolvida, de parcos conhecimentos, como eram os povos da Idade Média, quando os livros ainda eram restritos a grupos privilegiados da sociedade e aos religiosos. Os homens já usaram vários materiais como suporte da escrita. Os sumérios usavam o tijolo de barro cozido, os egípcios usavam rolos de papiro (uma planta típica do Egito), os indianos faziam livros de folhas de palmeiras, os maias e os astecas usavam casca de árvore, os chineses, por sua vez, utilizavam rolos de seda e os romanos escreviam em tábuas de madeira cobertas de cera. Depois veio o pergaminho, feito 22
Fac-símile da Bíblia de Gutenberg
geralmente da pele de carneiro, o que tornou possível a confecção de livros com a aparência dos atuais, apesar de serem bem maiores. Mas foi somente com a chegada do papel, surgido na China, à Europa e com o invento da prensa de Gutenberg, na Idade Média, que surgiu o livro impresso como conhecemos hoje, feito de papéis costurados e encapados. Com a impressão foi possível fazer vários exemplares de um mesmo livro, a um preço acessível, popularizando e democratizando a leitura, já que até então os livros eram copiados à mão e por isso custavam muito caro. Cabe aqui também uma menção especial ao inventor do livro impresso em papel. Na Idade Média, quando ler e escrever era privilégio de minorias, Gutenberg inventou a prensa tipográfica, popularizando a escrita através dos livros. Só então as informações e o conhecimento passaram a ser divulgados de forma sistemática. Johannes Gensfleisch, que ficou conhecido por Gutenberg, o sobrenome de sua mãe, nasceu entre 1395 e 1400 em Mainz, às margens do rio Reno, na Alemanha. Pobre, Gutenberg era artesão de jóias finas, mas gostava de ler e estudar. Os livros confeccionados à mão eram caros demais e Gutenberg não tinha condições de pagar por eles. Ele imaginou então um meio de produzir grandes quantidades de livros de forma muito mais rápida, para que qualquer pessoa alfabetizada pudesse ler sobre qualquer assunto. Ele juntou várias técnicas de impressão que já existiam na
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Gutenberg
época e criou a imprensa. De fato, o primeiro livro impresso foi feito na China, mas a técnica complicada dos chineses, que envolvia papel, tinta e placas de mármore, desapareceu junto com seu inventor. Os chineses ensinaram os árabes a fazer papel e foi através destes que ele chegou à Europa, onde também se desenvolveu a xilografia,
impressão com matriz de madeira, e a metalografia, com matriz de metal. Mas foi Gutenberg que desenvolveu o método de impressão mais eficiente com a prensa, método que permitiu que os livros impressos se disseminassem e o hábito de ler e escrever, deixando a cultura ao alcance de praticamente todas as classes. A Bíblia de 42 linhas, obra de 642 páginas, foi o primeiro livro impresso, por volta de 1456 e sua tiragem não passava de 200 exemplares. Hoje os livros são impressos aos milhões e graças a eles pudemos preservar toda a memória dos nossos antepassados. Daqui a alguns anos o livro de papel talvez volte a virar uma raridade e nossos descendentes utilizem os meios eletrônicos para ler, mas ainda assim, lerão livros porque sem eles, seja por que meio for, a humanidade não teria como crescer e se desenvolver. Não é à toa que a educação é uma prioridade do governo do Presidente Lula. Sem ela jamais teríamos nos desenvolvidos ao ponto em que hoje chegamos e é só com ele que chegaremos muito mais adiante no rumo do desenvolvimento, da paz e da justiça social. Livros a mão cheia e bota o povo a ler, como dizia o poeta. *Deputado federal
VER
EAD
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Uma das lutas do vereador Alfredo Costa é a inclusão de autores paraenses nas leituras obrigatórias dos vestibulares. Para esse debate, realizou uma Sessão Especial, na Câmara Municipal de Belém, no dia 17 de março deste ano, com ampla participação de autores, escolas secundaristas e universidades paraenses.
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Cena de escola em Trier. Relevo romano tardio (séc. III A.D.). O mestre e os alunos. Dois dentre eles desenrolam seus volumina (manuscritos; hoje, livros): o terceiro, à direita, traz a capsa (caixa de madeira que serve para conter e transportar livros) que contém o necessário para ler e escrever.
EDUCAÇÃO E CULTURA
Forças que se Completam
*ACYR CASTRO
nesta vida é para sempre, inclusive a izia o escritor e jornalista, o própria vida, já que a natureza não pára de romancista, o contista, o ensaísta engendrar novas formas vitais. Nada é José Bento Monteiro Lobato definitivo, mas também, nada desaparece; (1882/1948) que “um país se faz tudo que vive se altera e renova, e é a isto com homens e livros”. que chamamos nascimento, a substituição Isso deve começar, lembro no meu livro, de formas antigas por novas. E o “Cléo Bernardo : A Falta Que Faz”, “pelo prosseguir existente retorna enquanto regime escolar que deveria ser público e história e como mito, arquétipos que se conforme uma programação efetiva tanto individualizam e tomam corpo de urbana quanto rural, aprofundando a socialização. Só Deus é imortal e transmissão do conhecimento e do saber permanente sobre a superfície das águas e primeiramente pelo ensino elementar e médio, com base na prática das pesquisas Monteiro Lobato “um país se dos ventos. de campo; a desaguar numa universidade faz com homens e livros” Assim é que admito e concebo a cultura capaz de consolidar uma consciência humana, essencialmente apta a criar cidadãos e seres humanos civilizada, política e intelectualmente ativa, “sem por inteiro, críticos e interessados”. medo de ousar” (está no meu livro realçando o Educação gratuita e para todos, somente pagando por exemplo de Cléo Bernardo) buscando a felicidade ela os filhos de famílias ricas e privilegiadas. A ensinar geral, coletiva, e pluralmente particular; “prioritaao povo que a ordem social não é definitiva. Aliás nada
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Soluções Abrangentes em Informática
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riamente generosa e democrática, “Saber é algo de muito mais vasto, e também longe do academicismo, da mais simples: não são precisas muitas letras banalidade, da presunção pela para nos darem um espírito bem formado; nós presunção”. E a cultura “depende das é que estamos habituados a desperdiçar tudo, luzes que” possam ser acesas nas e a filosofia não foge à regra. Sofremos de organizações dedicadas ao ensino e ao intemperança em tudo, até no uso das letras. saber, academias, clubes, associações, Estudamos para a escola, não para a vida." institutos, assembléias. De que adiantam salas de aula sem bons professores, bem pagos e bem na mão a enfrentar os que comerciam treinados, livremente preparados para até com as coisas divinas e santas, o apostolado de educar? apontam o caminho da libertação, da Orador, conferencista, poeta, cronista, paz e do amor. A violência de Jesus foi Cléo Bernardo de Macambira Braga oportuna, passageira e adequadamente (1918/1984) queria uma educação e engajada nos projetos seus de conciliar uma cultura abertas a todas as e redimir os homens. perspectivas, sem planificações compulsivas “Liberdade: a de fazer aquilo que não prejudica o centradas em esquemas ideológicos rígidos, tal como o próximo”. A frase é do poeta e crítico norteamericano quis Monteiro Lobato; unidos o paraense e o paulista (1885/1972) Ezra Pound e ganha foros de sentença de na luta contra o sistemático, o determinístico, o lei. Uma sentença de tributo a Jesus. absolutístico que impedem o debate, a controvérsia e Tenho passado meu viver entre livros e estudantes, da as discussões sem os quais inexiste possibilidade de literatura ao cinema, da história às estórias da arte, civilização que é o objetivo principal da educação cercado de imagens, de palavras e de canções por todos como da cultura. os lados e poros. Se o paraense (o brasileiro) lê pouco e Defendemos a paz universal, porém entendemos que mal é que o ensino é ruim; e sendo a educação de alguém doce e meigo como Jesus Cristo, exemplo de precárias condições é lógico e claro que a cultura é de mansidão em sua passagem pela Terra, se haja baixo nível. Não há motivação para a leitura; revoltado em face de agiotas, cambistas e falha do homem, falha do livro: e sem vendilhões a invadirem o mundo com o educação não temos cultura e sem seu culto e a sua adoração em pleno cultura nada temos de educação; e Templo, ao que a Bíblia denomina de civilização é a união das duas áreas “bezerro de ouro”, a moeda geradora do saber e do conhecimento. Eu o do que, para o poeta português creio. (1524/1580) Luiz Vaz de Camões O Universo se faz com estudiosos e conduzia a uma “apagada e vil mestres contra a usura, os tristeza”. Sabemos, e estamos dogmatismos, a radicalidade do cansados dessa sabença, que tal culto “metalismo”. Procurando servir a alimenta horror, desprezo e ódio contra a toda a gente, ensinando, estimulando, poesia (“meras palavras e inútil ajudando, lendo, vendo, escrevendo imaginação”) de que se nutrem a cultura e Não é de fato bem educado beleza nas letras, na cinemagia, na a educação. O filho do homem, de chicote plasticidade das cores e da pá/lavra... quem não sabe dançar...
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Francisco Cavalcante, diretor de criação, com o presidente Lula
Foto: Cassim Jordy
Vanguarda foi fundada em 1992 pelos irmãos Alcindo e Chico Cavalcante, ambos jornalistas profissionais. Alcindo havia trabalhado no jornal O Liberal por sete anos consecutivos, atuava como produtor editorial na Editora da Universidade Federal do Pará e vinha de uma experiência bem sucedida de jornalismo empresarial através da Múltipla Comunicação, empresa que fundara em 1982. Chico Cavalcante, redator e diretor de arte que fez parte do corpo editorial do jornal de esquerda Convergência Socialista, de oposição ao regime militar, acumulou experiência em publicidade trabalhando na Agência da Casa da TV Liberal, Griffo Comunicação, Galvão Propaganda e Mendes Publicidade, arrematando
prêmios nacionais (Colunistas, Voto Popular, Clube de Criação) e Internacionais (Creativity Awards e Art Directors, ambos de Nova Iorque). ”A idéia de lançar uma nova agência se deu quando detectamos um nicho onde podíamos atuar, distinto daquele já ocupado pelas agências tradicionais ou das agências de ocasião”, explicou Chico Cavalcante. Na época de sua fundação, lembra o publicitário, a Vanguarda ocupava duas salas comerciais no Edifício Mercúrio, no centro comercial de Belém. Hoje, ocupa um prédio próprio na Travessa Benjamin Constant, 1329. A casa, de três andares em estilo português, teve sua construção concluída em 1884. Foi totalmente restaurada em 1996 para acomodar os departamentos da agência. A escolha do nome da empresa é fundamental para o desenvolvimento de um negócio, diz Cavalcante. Foi com base no raciocínio de que um nome tem que expressar uma filosofia, que o publicitário decidiu chamar a agência de Vanguarda, ou seja, guarda avançada, infantaria. “Porque queremos ser os que saem na frente na batalha pelo posicionamento dos nossos clientes”, destaca. Com a bagagem profissional na área de texto e design gráfico acumulada ao longo de mais de uma década e na formulação de projetos e estratégias de comunicação para ONGs e órgãos públicos, Chico Cavalcante decidiu lançar uma agência de propaganda que tivesse como diferencial uma atuação voltada para o terceiro setor - constituído por organizações sem fins lucrativos. Essas entidades têm como objetivo o desenvolvimen-
to político, econômico, social e cultural no meio em que atuam e isso os atraia desde sempre. Assim, os primeiros clientes da Vanguarda foram organizações não governamentais (ONGs), cooperativas, associações e sindicatos. “Somos uma agência multidisciplinar, "todo terreno", garante o publicitário. Começaram atuando exclusivamente para o terceiro setor, mas logo passaram a atender clientes privados. Em 1996, com a vinda das contas do Supermercado Formosa, da Viale Automóveis e do Ckom Engenharia, a agência começou a se colocar também no varejo de maneira consistente. Desde 1994 atuam com marketing político. “Somos, portanto, uma agência "flex", mas que continua a ter na propaganda institucional o seu forte, como uma marca de nascença que não nos abandonará jamais”, afirma Chico Cavalcante. Como parte do seu processo de especialização em comunicação para pequenas e médias empresas, de 2002 para cá, a Vanguarda vem desenvolvendo projetos específicos de marketing de guerrilha, de baixo custo e alto impacto, especialmente para pequenas empresas cuja restrição orçamentária limita o uso da mídia de massas. Entre os principais clientes estão: Amazônia Saúde, Amazon Filmes, Cedeca/Emaús, Hospital Amazônia, Gita Encantos da Índia, Mixagem Fashion, Partido dos Trabalhadores, Salão Vanity, Laboratório Amaral Costa, Sociedade Médico-Cirúrgica, Iguatemi Parking, Pro-Saúde, Viale Automóveis, MasterGraph, Papelaria Scritta, Labor Editorial, Senadora Ana Júlia Carepa. A Vanguarda criou marcas e popularizou frases famosas para seus clientes, como por exemplo: "Menor preço, sem grito", para o Supermercado Formosa. Foi o Chico Cavalcante, diretor de criação da Vanguarda, ainda quando atuava na Griffo, quem criou a oncinha que é até hoje a marca da Valeverde Turismo. E não para por aí. A Vanguarda criou a logomarca premiada da locadora Cinema 4 e o slogan "fé no que virá" que elegeu Edmilson Rodrigues em 1996. Chico Cavalcante ainda se orgulha da luta que a Vanguarda fez contra o trabalho infantil, uma das marcas fortes do Cedeca/Emaús. Foi o trabalho da Vanguarda que ajudou a Prefeitura de Belém a duplicar a arrecadação de IPTU com campanhas persuasivas apesar do aumento do número de isentos de 1997 a 2000; ajudou a Gita, uma pequena loja de produtos indianos, a ser a referência no mercado, Edição 37
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crescendo 300% em dois anos. O projeto do Iguatemi Parking, o estacionamento pago do Shopping Iguatemi, que transformou um problema em solução e lucro para o shopping, também contou com o trabalho da Vanguarda, assim como Maria, que depois de três derrotas consecutivas, em 2004 trabalhando com a Vanguarda venceu a eleição em Santarém, contra a máquina eleitoral de um candidato apoiado pelo governador e pelo então prefeito da cidade, disse Chico. A Vanguarda desenvolveu a estratégia e criou as peças da campanha da Capitania dos Portos, em 2001, que reduziu em 70% o número de acidentes fatais e de escalpelamentos nas embarcações em nossos rios. “A Vanguarda tem uma característica distintiva: ela toma para si a causa pela qual trabalha e nunca faz propaganda quando não acredita no produto”, afirma Chico Cavalcante. Luciana Chaves, Atendimento e Mídia
Equipe Vanguarda
Para o publicitário paraense, a propaganda local tem história e continua sendo a melhor do Norte do país e uma das melhores do Brasil, superando com criatividade a distância que por décadas isolou dos mercados mais prósperos do sul e sudeste do Brasil. “Em todas as áreas, do varejo ao marketing político, temos agências preparadas e profissionais de primeiro time”, atesta Chico Cavalcante. A Vanguarda é uma das cinco agências paraenses a figurar na relação das melhores agências do Brasil da revista About, uma das Bíblias da propaganda brasileira. Cavalcante ressalta que um dos problemas do setor paraense ainda é a falta de noção coletiva, da necessidade que se tem de proteger a todos para que possam crescer juntos. Além da necessidade de incorporar uma identidade amazônica em nossa criação, uma das missões das agências no Pará é criar novos anunciantes, ou seja, parar de transitar em volta Fernando Moisés, Atendimento
Marta Martins, Recepção
Osiana Luz, Atendimento
dos mesmos anunciantes e transformar em anunciantes, em consumidor do trabalho das agências e dos veículos, aqueles que nunca anunciaram ou o fazem de maneira incipiente, destaca. Já a propaganda brasileira, segundo ele, se destaca pelo caráter qualitativo de sua criatividade, das premiações internacionais, do posicionamento do Brasil em Cannes ou no Anuário de Nova Iorque. “Isso é importante. Mas não é tudo. Quero destacar que quando falamos da propaganda brasileira estamos falando de uma indústria formada por meios de comunicação, agências e fornecedores de serviços especializados. Falamos, portanto, de cerca de 4 mil agências, empregando mais de 30 mil pessoas”, contabiliza o publicitário. “A propaganda brasileira fala com o Brasil inteiro, por meios que vão da Internet aos programas de TV por assinatura. Somos um mercado que amadureceu ao ponto de saber que o que fazemos é um negócio e que a arte que utilizamos tem que estar a serviço do resultado, do cliente, precisando, por isso, ser responsável e defensável”, concluiu Chico Cavalcante. Departamento de criação da Vanguarda
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vis, foi com certeza o beijo da traição de Judas Iscariote, em Jesus de Nazaré! O beijo infame! O beijo da delação! O beijo traidor! O beijo dos 30 dinheiros. O beijo que por essa quantia, vendeu nosso Salvador, entregando-o aos algozes de seu martírio! Afinal, quem era esse homem, Judas iscariote? Na verdade amigo era como todos nos sabemos um dos 12 apóstolos escolhidos pelo divino Mestre, para a pregação da fé e da verdade divina na salvação humana! Jesus porem já sabia! Em Jô 6, 70, temos: “Não fui eu que vos escolheu, a vós doze? No entanto, um de vós é um demônio”. Na verdade amigos leitores, a queda de Judas representa para nós uma advertência. Causa-nos *HÉLIO RODRIGUES TITAN arrepios de vertigem, ao pensar que um apóstolo escolhido pelo nosso Salvador, preparado portanto por Deus para esde a mais remota antiguidade, o ser realizar uma grande missão, um homem que viveu o humano é possuidor de um ato que pode ser dia a dia com o mestre dos mestres, e que tinha portanto interpretado de varias maneiras, de acordo todas as condições para ser fiel até o fim, e com isso com a intenção sentimental de quem o atingir a santidade plena dos justos e escolhidos, tenha pratica. Este ato, que pode ser também uma reverencia caído fragorosamente tão fundo nos abismos da de etiqueta comportamental, como nos casos em que é iniqüidade traiçoeira! Atravez de um beijo, o beijo da praticado, por exemplo, em forma de apresentação e traição! respeito perante uma autoridade da realeza. Enfim amigos leitores, a historia de Judas Iscariote Este ato, meus amigos leitores de PARÀ+, é nada mais, adverte-nos para o perigo da falta de pureza de nada menos do que o beijo! E o que é o beijo, o que ele intenção que nasce do egoísmo e da perversão pelos transmite para quem o recebe? Que mensagem afetiva, bens materiais. È muito comum que nossos ideais, por emocional ou outra qualquer demonstração mais puros que sejam, possam estar misturados com sentimental ele carrega no seu cerne espiritual?. intenções egoístas de avareza, vaidade e outros Podemos adiantar amigos leitores, que o ato de beijar, pecados capitais. pode trazer um recado bastante matizado em O que é realmente perigoso em nossas vidas é a conseqüência da natureza afetiva ou não de quem o cegueira escondida que pode nos levar à uma pratica! Partindo dessa premissa, podemos ter o beijo consciência deformada. Aí, de repente podemos da paz, da reconciliação, do amor materno ou filial, acordar um certo dia, e descobrir com amarga surpresa, como também o ósculo saudoso de um ente querido que perpetramos uma traição, e talvez quem sabe que não víamos á anos. repetirmos o beijo infame de Judas! Temos enfim, uma variedade intencional imensa Todos nos podemos trair! Todos nos podemos praticar quando se pratica o ato de beijar, como por exemplo o o ósculo pérfido! Mas todos nós podemos evita-lo na ósculo triste na fronte de um ser amado, na despedida pratica verdadeira do amor em Cristo, e no para a eternidade. comportamento humano digno de um cristão Existe porém, na historia da humanidade o beijo mais verdadeiro! infame praticado por um ser humano, e que pela sua Só assim, amigos leitores, estaremos certos de nunca ignomínia, baixeza de sentimento, intenção pérfida, praticarmos o beijo maldito da traição! calculista, interesseira, covarde e outros qualificativos *MÉDICO E ESCRITOR
O BEIJO DA TRAIÇÃO... JUDAS ISCARIOTE.
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Carolina Kza ilencioso, barulhento. Quem sabe até molhado ou mesmo “selinho”. Daqueles tipo “nunca vou te esquecer”, ou ainda “não me Beijo sm. Ato de tocar com os lábios em alguém ou algo, fazendo procure nunca mais”. Seja leve sucção, ósculo. de conquista ou mesmo beijar v. t. Dar beijo em; oscular despedida, sincero ou P.2. Trocar beijos ou beijocas. dissimulado, beijo é sempre beijo e todo mundo gosta. Há, inclusive quem diga que é mais importante do que qualquer contato físico. Seria o beijo, uma espécie de “chave” para entrada à intimidade a dois ou mesmo o caminho mais curto para um sonoro “passa fora” ? Ou quem sabe uma mera reação química? Beijo, para muitos, serve de “marca texto” para as páginas que compõe o dia a dia. Tem “beijo vírgula”, “beijo-travessão”, “beijoponto em seguida” e, claro, “beijo-ponto final”. No entanto, para felicidade e esperança geral, há também o “beijo-ponto parágrafo”, marcando inícios, novas caminhadas.
Acredita-se que teve início 500 anos antes de Cristo. Nesta época, os amantes começaram a ser retratados
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tanto em esculturas como em murais nos templos Khajuraho, na índia. No entanto, segundo o naturalista Charles Darwin, o tal beijo nada mais é do que uma carícia evolutiva das mordidas que os macacos davam entre si. Controvérsia à parte, o que se pode dizer, pelo menos
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O Beijo de Auguste Rodin
O Beijo em Khajuraho “ O
mais engraçado é que, quando penso em beijo, o mais marcante na verdade nem chegou a acontecer. Perguntei à ela: “posso te beijar?”. Ela: “Não”. Lembro que fiquei com ódio da garota. No entanto, passadas algumas semanas, o tal beijo finalmente rolou. Namoramos 3 anos e foi maravilhoso enquanto durou.” No fundo, não existem provas concretas e tampouco caberiam aqui, buscas para descobrir o porquê do beijo. Beijo é, acima de tudo, confiança. É dar autorização para alguém que amamos, ou mesmo nem ao menos conhecemos, ficar muito próximo de nós, nem que essa proximidade tenha a duração desse beijo. Beijamos porque gostamos. Gostamos da sensação que esse toque nos proporciona. E como é curioso ver um ritual tão simples ser praticado igualmente em toda a terra, independente de credo, raça ou mesmo cultura.
com segurança, é que o beijo, ao contrário do telefone e da eletricidade, por exemplo, não teve um único inventor. De fato, a origem da palavra “beijo”, vem desde a época dos chamados homens das cavernas, os quais através do roçar de seus rostos peludos e dialeto pouco vasto, são fortíssimos candidatos à assumirem a “paternidade” dessa invenção tão celebrada como a própria descoberta do fogo.
Lucas Abreu. 24 anos. Estudante de Publicidade e Propaganda “No dia 15 de Agosto de 2000. Foi na minha casa. Era aniversário da minha mãe. Foi um beijo que, literalmente, me fez dar uma volta pelo Universo. E, pra completar, foi um beijo roubado. Foi quando descobri que havia encontrado o grande amor da minha vida”. Luciana Bandeira, 27 anos. Empresária. “Beijo mais marcante? Quando penso no assunto, vêem à cabeça dois beijos mais que inesquecíveis. Meu primeiro namoro realmente sério e o último realmente passageiro”. Caio Prestes, 25 anos. Jornalista.
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Museu Paraense “Emílio Goeldi”, que os paraenses orgulhosamente chamamos simplesmente de Museu, está promovendo, desde o dia 1º de abril fluente, indo até 30 de junho de 2005, importante exposição “O Homem e a Pedra: a Pré-história na Amazônia”, resultante de escavações arqueológicas realizadas na Serra Norte, em Carajás, no Estado do Pará, que permitiram descobrir que o homem chegou naquela região há, no mínimo, nove mil anos. Já em março p.p. o Museu reentregou ao povo paraense e reintegrou às atividades próprias desse centro de pesquisas o prédio da “rocinha”, totalmente restaurado e revivificado, inclusive com detalhes de pintura e ornatos que remontam à sua originalidade, após uma permanência de 10 anos de desativação, causada por um incêndio. Nosso Museu, um dos mais importantes do País e de reconhecimento mundial, tem a nomeá-lo um de seus cientistas mais ilustres, o suíço Emílio Goeldi; mas outros nomes, de valor equivalente, precisam ser dados a conhecer e admirar pelas novas gerações, como é o caso de Jacques Huber, conterrâneo de Goeldi e seu lugar-tenente nos primórdios da Instituição, sucessor e um dos responsáveis pela implantação de unidades e atividades de maior expressão. Traçar um perfil, ainda que aligeirado, desse insigne cientista suíço, que aqui aportou ao final do século XIX, recém-saído dos embates de sua formação acadêmica não é, por certo, incumbência das mais singelas, não só pela circunstância de haver nosso biografado perecido há muito tempo e não restarem descendentes entre nós, tornando a pesquisa dos dados relativos à sua biografia, envoltos pela pátina do tempo, mais laboriosa, como também pela grandeza da obra que esse notável cidadão, forâneo por nascimento mas amazônida por ação e adoção, realizou nesta terra, em sua relativamente curta mas profícua existência terrena. Por isso que, desde já, penitenciamo-nos pelas falhas e omissões porventura aqui cometidas. Jacques Huber nasceu na Suíça, no cantão de Schaffhausen, aos 13 dias de outubro de 1867. Cumpriu toda sua jornada escolar convencional na terra natal, tendo desde cedo despertado sua atenção para as ciências da natureza, em especial para o atinente às espécies vegetais exóticas, razão por que, concluído o ciclo de formação, partiu para Montpellier, na França, importante centro universitário de então, a fim de freqüentar o afamado curso do Prof. Flanhant, no qual obteve sólidas credenciais e robustos conhecimentos. Huber contava com pouco mais de 25 anos, conquanto fosse já um botânico respeitado, quando, atendendo ao chamamento de Emílio Goeldi, contratado, em 1894, pelo Governador Lauro Sodré para dirigir o Museu Paraense, deslocou-se para estas 34
Huber e Goeldi
JACQU Sérgio Martins PANDOLFO**
UM N
plagas inóspitas da magna floresta tropical, para uma cidade que vinha de ser a atalaia do Norte e começava de mostrar sua pujança, seus encantos aos olhos do mundo admirado e curioso, o fascínio de sua natureza e de seus viventes. “Quando aceitou a incumbência de organizar o Museu Paraense, que lhe confiou o presidente Lauro Sodré, com propósito de imprimir-lhe objetivos científicos, cuidou Emílio Goeldi, suíço, de cercar-se de colaboradores de comprovado saber. Assim, para dirigir a seção referente à Botânica escolheu um patrício, Jacques Huber”, a redizer o historiador Carlos Rocque. E foi perfeito o entendimento entre os dois naturalistas, o que se deveu não só à origem de ambos como, e principalmente, ao amor às ciências naturais e ao fascínio pela região amazônica que a ambos paulatinamente acometia. O museu, que hoje ostenta o nome de Emílio Goeldi, vem desde os tempos do Império, quando o naturalista
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Um ângulo do Parque Zoobotânico
Entrada principal do Parque Zoobotânico
O “Castelinho”
no mesmo ano do nascimento de seu futuro reformador e diretor 1867. Cinco anos passados Ferreira Penna conseguiu converter essa sociedade em uma repartição provincial, dando prosseguimento ao trabalho, sempre dificultado pela escassez de recursos e de cientistas; a prosperidade econômica proporcionada pela exploração da borracha só viria solidificar e ampliar as pesquisas e aquisições do Museu de Ferreira Prédio do Aquário Penna mais tarde, quando o governador Lauro Sodré inquietando-se com a pouca eficiência do Museu Paraense e conhecendo bem das potencialidades e dos serviços que o mesmo poderia prestar, encampou-o; permaneceu na direção o mineiro Ferreira Penna, ocupando a coleção, entretanto, locais inadequados, em dependências de outros organismos. Em 1895 o Museu passou a ocupar o terreno da “rocinha” de propriedade de Bento José da Silva Santos, que ali fixara residência em 1879, construindo o belo edifício neoclássico que se mantém até nossos dias. Ao ocupar a antiga rocinha começaram as obras de implantação do Parque Zoobotânico. Goeldi teve o cuidado de planejar tecnicamente as linhas futuras do horto, a construção de gaiolas, tanques e cercados, contando com o auxílio abnegado e resoluto de Jacques Huber, que planejou todo o Jardim Botânico. Toda a quadra, já insuficiente, foi sendo agrandada com a anexação de terrenos contíguos, sucessivamente adquiridos pelo Governo, declarando-os de utilidade pública, ampliando, assim, o espaço do Horto e do Zoológico. Ainda em 1895 Huber iniciou a
S HUBER
ATURALISTA DE ESCOL* mineiro Domingos Soares Ferreira Penna, radicado no Pará e tomado de amores pela terra adotiva organizou, em 1866, uma associação cultural, a Sociedade Filomática, a fim de recolher e preservar coleções etnográficas e arqueológicas, que no ano seguinte passou a chamar-se Museu Paraense. Aponta-se, aqui, curiosa e feliz coincidência: Cria-se o Museu Paraense
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implantação do Herbário do Departamento de Botânica, especializado em coleções de plantas amazônicas. Em 1907, vítima de pertinaz enfermidade, Goeldi retornou à sua pátria em busca de recursos médicos para seus males, sendo substituído por Huber, que assumiu, a 22 de março desse ano, a direção daquele centro de pesquisas e estudos já exuberante, mantida até sua morte, ocorrida em Belém em 1914. No período da administração de Goeldi e Huber o Museu foi reestruturado e ganhou o respeito internacional. Foram desenvolvidas pesquisas geográficas, geológicas, climatológicas, agrícolas, faunísticas, arqueológicas, etnológicas e museológicas. O papel educacional do Museu foi reforçado com o parque zoobotânico da lavra de Huber -, publicações, conferências e exposições. Em 1911, ainda na gestão de Huber, é inaugurado, no centro do Parque, o Aquário, com amostras de peixes ornamentais amazônicos, espécies de importância econômica e curiosidades, dando quase que linhas definitivas ao Museu, que, num crescendo de reformas e melhoramentos que se fizeram viria a ser considerado, já em 1940, o melhor do País. Huber era um cultor das ciências e das letras. Ao vir para Belém dominava perfeitamente o francês e o alemão, oficiais em seu país de origem e línguas principais de ciência e erudição, à época, ademais do inglês, que começava de despontar como tal, e manejava bem o latim, idioma que ainda cristalizava os documentários do conhecimento científico, máxime no campo da Biologia, da Medicina, da Botânica e das ciências naturais. Aqui chegado, tratou de aprender e em seguida adestrar seus recursos idiomáticos no português, ampliando, destarte, sua poliglotia. Tanto assim é que grande parte de seus escritos de pesquisa de campo foram publicados em escorreito vernáculo camoniano, nas edições do Museu. Jacques amava este torrão parauara, com suas coisas e suas gentes, razão por que aqui se radicou até o final de seus dias. Com todo o tirocínio auferido e o conceito granjeado na sociedade local, participando de suas manifestações sociais e culturais, seu nome era cogitado sempre que
Funcionários e cientistas do Museu, 1907. Sentado, no centro, Emílio Goeldi. Em pé, atrás e à esquerda de Goeldi, Jacques Huber.
alguma iniciativa se fazia tomar nesses segmentos. Assim é que Huber participou, juntamente com mais 58 personalidades daquela Belém doutrora, como membro fundador, da instalação do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Pará, em sessão solene ocorrida no Teatro da Paz, a 3 de maio de 1900, tendo inclusive integrado a primeira Diretoria da entidade como membro da Comissão de Etnografia. Fica-se a pensar, muitas vezes, como um homem de ciência, ambientado num centro europeu dos mais evoluídos, naquele comenos, tenha transposto o maroceano que nos separa, a fim de vir fixar-se em uma cidade ainda lendária e mal conhecida no Velho Mundo; seria, talvez, por ambição financeira ou sede de fortuna? Ou, quem sabe, por pura cupidez científica? Certamente não. Percebia-se, mesmo, tendência migratória muito comum, nessa fase, que nos brindou nomes de grande expressividade em diversos segmentos do humano saber, provindos de centros maiores do País e do exterior, como são exemplos Paul Le Cointe e o próprio Emílio Goeldi, Adolfo Ducke, Emília Snethlage, Henry Coudreau, o mineiro Ferreira Penna e muitos luminares da medicina e de outras áreas, formados nas faculdades do Rio, Bahia e São Paulo Cremos ser pertinente e oportuno repetir aqui o que já referenciamos alhures, a fim de explicar tal ocorrência, hoje de difícil compreensão e aparente paradoxo. Por tudo que apresentava, então, Belém destacava-se como uma das mais importantes, promissoras e belas capitais do País. Vivia-se o glamour da Belle Époque,
crematório); promovendo a hoje de nostálgica memória, e tudo adequada, precisa e preciosa se fazia mercê do fastígio da arborização da cidade com borracha e da precedente abertura mangueiras, que lhe dá característica dos portos da Amazônia à e apelativo próprio: Cidade das navegação internacional. O rush Prédio da Rocinha restaurado M a n g u e i r a s ; u r b a n i z a n d o a gomífero era o fundamento e o inexpressiva doca que é hoje o principal cartão-postal sustentáculo do bem-estar material e das finanças belenense, o Ver-o-Peso, próximo à qual instaurou o prósperas do Estado. O comércio fazia-se livre e direto primeiro Serviço de Verificação de Óbitos e com os grandes centros produtores de bens e serviços Necrotério; criando postos de saúde por toda a urbe e das mais importantes capitais européias; a cidade instalando serviços de Vigilância Sanitária e europeirizara-se, mesmo no que concernia aos hábitos, Epidemológica; instituindo o serviço de Luz e Força, usos e até nas edificações, razão por que nossa capital um dos primeiros em território pátrio, com postes de era apontada como a petite Paris. Esse processo de ferro fundidos na Europa, artísticos e ornamentais. crescimento e desenvolvimento consolidara-se e Pertinentemente cabe, a respeito, aludir às agrandara-se notavelmente no período de 1895 a 1915 sentimentais considerações que faz Mário de Andrade, (época em que aqui conviveu), correspondente ao da ao seu amigo, poeta Manoel Bandeira, em carta escrita administração do intendente Antônio Lemos, sem na 3ª década do século recém-findo: “Manu, não sei ponta de dúvida o mais realizador e fecundo gestor que mais coisas bonitas enxergarei por esse mundo de municipal de todos quantos já exerceram, em Belém, águas. Porém me conquistar mesmo, a ponto de ficar tão importantes funções, abrindo ruas e avenidas de doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu largueza e boniteza que a todos encantava (Nazaré, São único ideal, de agora em diante, é passar uns meses Jerônimo, v.g.); criando e arruando bairros inteiros (o morando no Grande Hotel de Belém. O direito de de Marco da Légua, p.ex.); urbanizando e alindando sentar naquele terrace em frente das mangueiras praças (República, B.Campos), instalando serviços de tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, transporte público avançados (bondes elétricos); chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí. Você que providenciando o fim adequado do lixo urbano (forno
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Londres e Turim (1911). Na conhece o mundo, conhece coisa exposição de 1912, em Nova melhor do que isso? Me parece Iorque, já possuído de domínio e impossível. Olha que tenho visto saber das coisas ligadas à coisas bem estupendas.(...). Porém, economia amazônica, alicerçada Belém eu desejo com dor, desejo máxime na extração e produção como se deseja sexualmente, gomífera, às vésperas do soçobro palavra. Quero Belém como se quer aniquilador proporcionado pela um amor”. Jacques Huber concorrência avassaladora dos Não era menor o fascínio que a seringais cultivados, de custeio cidade exercia nos campos das mais baixo, defendeu ardoroArtes, das Letras e da Música. O samente a economia extrativista de Teatro da Paz era o mais faustoso e nossa região. Tudo fez e a tudo avançado tecnologicamente do País. opôs resistência tenaz a fim de Dispunha-se de jornais de primeira sofrear a derrocada de nossa goma, grandeza, bancos de representação e com seu cortejo de ruínas. Seu atuação internacional, a garantir magnânimo, mas combalido suporte financeiro e creditício, coração deixou de bater aos 17 de estação de rádio e escolas sufifevereiro de 1914. cientes, inclusive no nível superior, Esposa do cientista Jacques Huber De sua vasta obra científica clubes sociais e esportivos que disponibilizada aos pósteros registramos os seguintes dignificavam nosso pretérito sócio-cultural. trabalhos :”Viagem em companhia do Dr. Emílio Fica fácil, pelo exposto, compreender, desde logo, por Goeldi ao Contestado”(1895); “Excursões à Ilha do que aquele jovem cientista, cheio de conhecimentos e Marajó” (1896); “Viagem ao Rio Capim” (1897); esperança, aqui deitou raízes, constituiu família e “Viagem ao Ceará” (1897); “Viagem ao Ucaiali e permaneceu até ao final de sua frutuosa existência, Hualaga” (1898); “Viagem a Santarém e Monte ceifada, prematuramente, em pleno apogeu de seu Alegre, ao Salgado e ao Rio Guamá” ( 1898); “Viagem minitério, aos 47 anos. ao Rio Aramã (Marajó)” (1900); “Excursão a Sto. Huber viveu a fase esplendorosa da borracha, mas Antônio do Prata” (1903); “Viagem ao Rio Purus e pressentiu e viu ir-se configurando, paulatina e Baixo Acre” ( 1904); Aperçu Géographique de la inexoravelmente, a débâcle de nossa Hevea; mas lutou Region du Bas Amazone, ensaio; Sur lês Champs de denodadamente contra ela. O ardor com que defendia l'Amazone inférieur e leur origine, apresentado ao os interesses pátrios e regionais era de impressionar, Congresso Internacional de Botânica de Paris; La pelo que muitos que o viam argumentar criam-no por vegetation de la vallé du Rio Purus; “Contribuição à filho destas plagas. Após percorrer as plantações de geografia física dos furos de Breves”; Arboretum seringueiras asiáticas, foi ele o primeiro a constatar e Amazonicum; “Materiais para a flora amazônica”; noticiar que, em suas viagens de estudos por terras “Madeiras Amazônicas”. exóticas, comprovou que a borracha do Ceilão, Este o retrato, em pequenas dimensões, de um cientista Malásia, Sumatra e Java era idêntica à brasileira de escol, que amou e honrou o Pará e o Brasil. (Hevea brasilienais) registrando isso em relatório circunstanciado ao governo do Estado, o que fez * Excerto do discurso de posse do autor, da Cadeira nº 22 do Instituto deflagrar só então! o alarme e a reação. Demasiado Histórico e Geográfico do Pará, ocorrida a 14 de março de 2005. tarde compreendera-se a realidade. Representou o Pará na exposição de borracha de ** Da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
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Heloisa Hühn “a voz”
Novos Acadêmicos Os parabéns merecidos à Heloisa Hühn
Academia Paraense de Rádio, realizou solenidade no dia 30 de março, p.p, no Salão Nobre do Payssandu Sport Clube, quando 21 radialistas de gerações diferentes do Rádio Paraense tomaram posse como Imortais Acadêmicos. Ressalte-se que a Academia Paraense de Rádio - APR, não é tão somente inédita no Pará; em verdade, é a 1ª Academia de Rádio do Brasil, tendo sido criada em 05 de novembro de 2004 (Dia Nacional da Cultura); a APR adveio do sonho antigo de grandes radialistas do Pará, que sempre almejaram-na de forma implementa-la com entidade norteadora, disciplinadora, ética, e mantenedora do radialismo sadio, inteligente , alegre, informativo e educativo.. A APR também consagrou Figuras Beneméritas da Radiofonia Paraense que emprestam seus legados de forma patronal as 21 cadeiras da Academia. Assim, figuras desaparecidas como Roberto Camelier (Fundador do Rádio no Pará), Louruval Penalber, Frederico Barata, e Raul Ferreira são Patronos Acadêmicos; bem como, comunicadores falecidos como Paulo Ronaldo, Advaldo Castro, Vladimir Conde e J. Meninéa entre outros, são Patronais Acadêmicos. A Diretoria eleita para o Biênio 2005/2007 é composta pelos Radialistas Paulo Penha, Heloisa Hühn, Sandro Vale, Guilherme Tadeu que serão presididos por Fernando Moraes.
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O juramento
Soares), Virgínia de Moraes, (Edgar Proença), Oséas Silva, (Marina Matta), Paulo Ferrer, (Almir Silva), J. Serrão, (Clodomir Colino), Luís Araújo, (Paulo Ronaldo), José Maia (Frederico Barata), Iran Cruz, (Benjamim Pantoja), João Bosco Maia, (Vladimir Conde), Ronald Pastor, (Guiães de Barros), José Arteiro, (Haroldo Caraciolo), Ivo Amaral, (Advaldo Castro), e Cláudio Cardoso (Carlos Cidon). Fernando Moraes, o presidente em seu pronunciamento
Sandro Vale, Paulo Penha e Fernando Moraes A mesa diretora
ACADÊMICOS Os primeiros 21 acadêmicos do novo silogeu são os seguintes, com seus respectivos patronos: Heloisa Hühn, (Raul Ferreira), Guilherme Tadeu, (Amerina Teixeira), Sandro Valle, (Wilson Assunção), Fernando Moraes, (Roberto Camelier), Paulo Penha, (Antunes de Carvalho), Jaime Bastos, (Lourival Penalber), Costa Filho, (Kzan Lourenço), Contente Melo, (J. Meninéa), Edson Matoso, (Grimoaldo Edição 37
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A solenidade foi bastante concorrida a
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Amazônia Quebrando milho
... ou melhor dizendo, matança no crediário.
no Araguaia
recém-chegados aquinhoados com benesses do Estado inda está em plena ebulição a execução da brasileiro são do sul e do missionária norte-americana Dorothy sudeste do País. A irmã Stang em Anapu, na Amazônia brasileira, Dothy como era também ou mais precisamente, no Estado do Pará, o conhecida, enfrentou durante que talvez poderá acelerar a criação de novas unidades três décadas tropas de mercenários que faziam e federativas. Senador José Porfirio desfaziam o que bem entendiam como devastação Brasil Novo Área de colonização Vitória do Xingú Medicilândia acelerada, saque de bens naturais, fazendo sumir Uruará Pacajá m u i t o r e c e n t e , Aveiro Senador José Porfirio hectares sem conta de madeira nobre, grilagem de naquela região Rurópolis terras federais, trabalho escravo e infanto-juvenil, Anapu praticamente não Trairão alcançando níveis insuportáveis, prostituição existe nenhum acelerada tendo como suporte a corrupção em larga papa-chibé ou Itaituba Altamira escala, afora outros malfeitos que somente no futuro parauara que Jacareacanga caso haja interesse poderão vir à tona. tenha seu A estranha legião estrangeira dos mandantes que u m b i g o Novo Progresso eliminaram a irmã Dorothy, não contava com nenhum enterrado por lá. nativo ou eram em número insignificante. Parecendo O grosso dos terra sem lei e sem Deus, existiria entre os senhores de novos hileianos *Camillo Martins Vianna
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Negócios) de abril de 1986, que circulou em diferentes pontos do País, onde se lê: “Quebrar milho no Araguaia, ou mais precisamente no sul do Pará, significa matança organizada, e esse tipo de safra vem alcançando níveis inquietantes, sem que haja qualquer tentativa de se coibir essa eliminação no crediário, e o que é pior, mil vezes pior, ela vem se espalhando rapidamente por todo o Paraíso Silvestre”. Apesar de procurar identificar a tabela de preços no Araguaia só foi possível tomar
baraço e cutelo, espécie de consórcio, para quando necessário, fazer uma vaquinha ou como de diz por aqui, correr a cuia a fim de arregimentar alguns desamparados elevados à categoria de pistoleiros trazidos dos vizinhos Estados do Maranhão e de Goiás para abrir pastagens ou riscar alguém do mapa a preço de tabela o que vem sendo apresentado como fato recente na tentativa de imitar o que está acontecendo no Rio de Janeiro e São Paulo, onde existe espécie de guerra civil não declarada, mas que há muito existia por aqui fazendo lembrar crônica do autor na Revista Questão (Política, Pesquisa e
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BELÉM
ANAPU
relação das autoridades competentes na busca de solução definitiva, o que, aliás, já não é sem tempo. *SOPREN/SOBRAMES
COMENTÁRIO PUBLICADO RECENTEMENTE EM JORNAIS DE BELÉM:
conhecimento de que está variava: missionários, catequistas, líderes comunitários e em escala decrescente de importância, os que se opunham a esse pandemônio em que se tornou o processo histórico da integração da Amazônia, e que agora parece estar na
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“Essa Associação de Grileiros e Pistoleiros, criou um verdadeiro caos no Pará”. Do relatório da Comissão Especial do Senado que investigou a morte da missionária Dorothy Stang, apontando um Consórcio criminoso, (com pessoas acusadas de pertencer à “máfia da Sudam”) como responsáveis pelo assassinato. AS FOTOS DESTA MATÉRIA SÃO DE UM PASSADO RECENTE EM ANAPU
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S O L I D A R I E D A D E “ N O P R O F I T ” Natal - Depois da entrega dos presentes
O caso do CIFAMM
d a q u e l a s o rg a n i z a ç õ e s formadas por brasileiros... A maior parte, aposentados Dulce Rosa de Bacelar Rocque brasileiros. Ninguém sabe quantas são, A INTENÇÃO DESTA RUBRICA É SERVIR DE CAIXA DE RESSONANCIA DO nem as brasileiras nem as estrangeiras. Temos uma vaga TRABALHO DE TANTOS VOLUNTARIOS QUE SE DEDICAM, COM PAIXÃO E idéia do que fazem essas organizações, somente quando ABNEGAÇÃO A PROJETOS DE SOLIDARIEDADE VERSO O PRÓXIMO. chegam a TV ou aos jornais, coisa que não acontece APESAR DAS DIFICULDADES QUE ENFRENTAM CONTINUAM com a maioria delas. Uma boa parte trabalha em surdina INTREPIDOS. e geralmente são formadas por aposentados. Na ão tantas, em Belém e no Brasil inteiro, as ONGs e os verdade, aposentadas, pois são mulheres a grande Centros de Integração Familiar que, em troca de nada, maioria dessas pessoas que dedicam boa parte do se substituem ao poder publico em todos os setores em próprio tempo livre, ao próximo. que ele falha ou é ausente. Não quero falar das organizações estrangeiras que aqui se encontram, elas UM EXEMPLO Duas mulheres, Graça e Sabina, um lidam com dólares ou euros, cujos valores são bem dia se depararam com o povo de uma maiores que o do real. Quero falar
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invasão num terreno da familia, em Ananindeua. Tentaram salvar o que tinha sobrado e depois tomaram uma decisão: era muito mais útil fazer algo pelas 200 crianças daquelas 80 famílias que rodeavam o resto da propriedade. Professoras primárias, aposentadas, certas não dispunham de tantas possibilidades, mas tempo e disposição para o trabalho, sim. Iniciaram sem estardalhaço, como tantos outros o fizeram, antes delas. Começaram a fazer algo que não sabiam e depararamse com as primeiras dificuldades. A falta de transporte levava-as, depois de uma hora de ônibus da Cidade Velha a Coqueiro -, a andar mais meia hora a pé enfrentando chuva e sol. O sapato chegava pesado de tanta lama, sem falar dos assaltos que aconteciam ao longo do trajeto. A aproximação àquelas famílias foi, porém o problema principal. O fizeram através das crianças. A desnutrição foi o que as levou, com remédios e alimentos, a conquistar a confiança de algumas delas. Um dos motivos dessa desconfiança era medo que fosse “coisa de político”. Estavam escabreadas, diziam. A elas se uniu uma amiga, Leonice. Improvisaram salas de aula onde as crianças sentavam duas a duas em cadeiras de plástico. Faltava material didático, merenda, tudo enfim. O carinho e a dedicação tinham aumentado o numero de crianças que participavam das atividades do grupo que estava nascendo, conseqüentemente, aumentavam também as necessidades. Na festa de São João
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O primeiro Natal foi festejado com brinquedos abandonados A direção do CIFAMM na festa do e doados por Dia das Mães, ano passado colégios e pessoas amigas. Outras aposentadas se unem para ajudar: tinham convencido parentes e aderentes a entrar nessa empreitada. Maria Teresa, Manoel, Ivete, Elias, Maria José, juntos, descobrem a quantidade de coisas que eram necessárias para levar aquela tarefa em frente. Os Salesianos do Colégio do Carmo vieram em ajuda: doaram as primeiras carteiras. O grupo de trabalho resolve então procurar as instituições públicas nada conseguindo, pois não eram registrados. Começam a tomar conhecimento das dificuldades burocráticas. Decidem então formar uma ONG e descobrem que não era possível. Entre uma tentativa e outra acabam fundando um Centro de Integração familiar. Dia quatro de agosto de 2001 nasce o CIFAMM, com sede na Passagem Coimbra, Av. Independência s/n, no Coqueiro. A estrada ainda estava em construção. Telefone, nem falar... Até hoje.
E AGORA? Já
tendo constituído o Centro de Integração Familiar, voltam a bater nas portas das instituições: encontram-nas fechadas, novamente. Arregaçam as mangas e recomeçam a procurar ajuda. Novamente o Colégio do Carmo se mostra Hora de comemoração - os comes e bebes disponível: doa material para reciclagem e reaproveitamento. Organizam as classes e o horário de atendimento das o crianças: 1 turno das 08,00 às 11 horas; 2o. Turno das 14,00 às 17 horas. As atividades principais seriam: maternal e
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ensinar corte e costura. Assistentes sociais, psicólogos, nenhum. Esse serviço só se encontra a Confraternização na piscina pagamento e dinheiro não tem. E ainda hoje é assim. Outros amigos são contatados para ajudar: um açougueiro manda ossos para a sopa; Paulo procura órgãos públicos para doar moveis usados; Fernando doa compensado para cobrir a sala onde um dia vai ter um computador. As idéias aumentam e a quantidade de anônimos que colaboram, mesmo ocasionalmente, também. Cada um ajudando como pode, menos os órgãos públicos. Devo dizer que no período do Natal, muita gente está disposta a doar presentes. Chegam também livros, sapatos, roupas, brinquedos ainda em boas condições. Porém o material didático acaba, as enciclopédias precisam ser atualizadas (as que tem são do tempo da “União Sovietica”), as carteiras quebram e as crianças precisam de remédios, de roupa, de merenda e tantas outras coisas durante o ano inteiro. E as voluntáriasfundadoras tem que se virar para conseguir manter a tarefa que se deram. Esses cidadãos a quem o CIFAMM ajuda, vivem praticamente na miséria. Pouquíssimos pais trabalham. Algumas casas têm como porta e janela, uma bandeira, imaginem banheiro, se tem. A criança, às vezes, não tem nem roupa para ir a escola; outros chegam descalços porque sua sandália está com outro irmão. Dinheiro para a fotocópia da certidão de nascimento, necessária á inscrição ao Centro, nem pensar. Se essas pessoas de boa vontade não estivessem ali ajudando, teríamos duzentos pivetes a mais pelas ruas de Ananindeua e Belém...
Durante a inauguração do prédio da escolinha do CIFAMM em 2003
reforço da 1ª a 8ª série escolar. Criam também as Oficinas: futebol, capoeira, crochê, bordados, corte e costura, fuxico, pintura, trabalhos com jornais e teatro. As crianças e adolescentes inscritos já eram duzentos. Como fazer para dar merenda a todos eles? Os vizinhos das voluntárias começam a ser envolvidos. Pequenas doações em dinheiro ou alimentos começam a chegar. Algumas mães se revezam na cozinha e na limpeza do Centro. Notam a necessidade de dar mais atenção ao “reforço a escolar” pois a maioria dos inscritos, mesmo se na 4 ou a 6 séries, na verdade não sabem ler. Descobrem que os que conseguem ler, não entendem o que lêem. Procuram outras voluntárias, sem encontrar. Começam a usar os alunos mais velhos para ajudar os menores. O positivo começa a ser notado. O envolvimento de pais e adolescentes aumenta. A curiosidade aflora e muitas crianças começam a demonstrar interesse por outras atividades. As sócias fundadoras redobram o trabalho, cheias de satisfação. A medida que o trabalho aumentava, notavam porém que pessoas disponíveis a doar seu tempo livre se encontravam, principalmente entre os mais humildes. De fato, grande parte dos voluntários ali presente são pessoas que não nadam em dinheiro. O responsável da oficina de capoeira trabalha como vigia a noite e quando não consegue ir ao Centro manda seus alunos maiores substituí-lo. Para fazer funcionar as oficinas de crochê e pintura, Suely e Andréa, que tem seus filhos ali, se revezam. Felicina é cabeleireira e uma vez por mês, se dedica a cortar cabe-los de mães e filhos no Centro. Joana, aposentada, se des-penca da Cidade Ve-lha para
QUEM SÃO?
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SERVIÇO: Como não tem telefone nem conta em banco, quem quiser ajudar vai ter que ir lá, diretamente ou telefonar a: Teresa: 3244-8571 ou Ivete: 3233-2335.
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Efeito: Mequias Pinheiro
Check-Up Prevenir É o Melhor Remédio
Um número cada vez maior de pessoas tem procurado clínicas regularmente para saber como está seu corpo para evitar complicações futuras com a saúde.
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revenir é curar: cada vez mais pessoas estão
descobrindo a importância de se submeterem à exames periódicos completos para aferir a quantas anda a saúde. Afinal, só um check-up geral proporciona a chance de detectar eventuais problemas no início, o que multiplica consideravelmente as chances de um tratamento bem sucedido. A prevenção é a única proteção de que o ser humano pode dispor para conservar a saúde. Uma atenção permanente com a saúde serve não só para prevenir futuras doenças como para motivar pessoas a buscar uma melhor qualidade de vida. Em clínicas, a pessoa passa por exames clínicos a n g i o l ó g i c o s , c a r d i o l ó g i c o s , u ro l ó g i c o s , proctológicos, oftalmológicos, respiratórios, ultrasonográfico, radiológico e de exames laboratoriais, visando traçar um perfil metabólico individual. Para as mulheres, acrescentam-se os exames ginecológicos e de termografia cutânea (que diagnostica e qualifica a celulite). O check-up permite detectar alterações que, na maioria das vezes, com a adoção de medidas e tratamentos fáceis e econômicos, revertem ou controlam a situação antes de alguma complicação mais séria acontecer. Um dos grandes trunfos do check-up é conseguir desmascarar os fatores de risco para doenças cardiovasculares. É feito um estudo apurado da taxa de gordura no 46
sangue e da relação entre as frações do colesterol e das lipoproteínas, que fornecem importantes dados para aferir os perigos que o indivíduo corre. O homem é um ser biopsicossocial e a avaliação de seu temperamento e nível de estresse tem relação direta com a maior ou menor predisposição a doenças como angina, infarto, hipertensão arterial, arteriosclerose e acidentes vasculares cerebrais. É importante lembrar que os problemas coronários, há cerca de 10 anos, apareciam quase que somente em pessoas com 45 anos de idade. Hoje, por força de hábitos alimentares pouco saudáveis, estresse, tabagismo e vida sedentária, já são encontradas alterações coronárias em pessoas bem mais jovens. A realização de um teste de esforço também é fundamental para saber se a pessoa tem predisposição à angina e ao infarto. O exame deve ser feito de rotina para homens acima de 40 anos e mulheres com mais de 50, ou pessoas de qualquer idade antes de começar um programa de exercício. É um procedimento simples e muito eficiente, já que determinadas descompensações fisiológicas só se manifestam quando o indivíduo é submetido a uma carga de esforço. No check-up o corpo deve ser examinado como um todo pelos diversos especialistas envolvidos na bateria de testes. O cruzamento dos resultados dos exames, colocados no computador, é a chave para que os médicos conheçam as reais condições físicas do
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No check-up o corpo deve ser examinado como um todo pelos diversos especialistas envolvidos na bateria de testes.
próstata, associado à ultra-sonografia e exame de PSA no sangue (antígeno prostático específico), dá uma perfeita noção do tamanho e da benignidade da glândula. O diagnóstico prematuro de um câncer de próstata aumenta as chances de cura para até 80%. Nas mulheres, este exame é substituído pelo ginecológico que prevê doenças do colo do útero e das mamas. O check-up estimula a pessoa a mudar seus hábitos e de melhorar suas condições de vida. 38% das pessoas apresentam alterações no colesterol quando fazem o primeiro check-up. Já entre as que estão fazendo o segundo, esta taxa diminui para 27%. No terceiro o percentual é ainda menor. Em geral, o exame leva as pessoas a começarem a se exercitar e a eliminar hábitos nocivos à saúde. Enfim, um exame geral é o caminho para viver melhor por muito mais tempo.
indivíduo. Esse tipo de exame é importante por na ser invasivo, não doer, não emitir radiação e permitir a visualização dos órgãos abdominais em movimentos de funcionamento. A visualização permite, em muitos casos, a identificação de cálculos nos rins ou vesícula até então ignoradas. O exame oftalmológico é capaz de mostrar alterações no próprio olho e revelar ainda outras doenças. Alterações causadas pelo diabetes, pela hipertensão e pela arteriosclerose podem ser detectadas no exame de fundo de olho. É imprescindível o exame da pressão intra-ocular na prevenção do glaucoma. No check-up, também, a próstata é objeto de minuciosa análise. No exame urológico e no toque retal, pode-se saber a quantas anda esta glândula que preocupa todo o homem com mais de 45 anos. O exame clínico da
AV. GENTIL BITENCOURT N° 694, ENTRE RUI BARBOSA E QUINTINO. Edição 37
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Associação Brasileira de Agências de Viagens do Amazonas