Amazônia 112

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Especial COP27 e as Mudanças Climáticas 27 Ano 16 Número 112 dezembro/2022 ISSN 1809-466X 9 77180 94 6 600 72 1100 R$ 29,99 € 5,00

Muitas vidas dão vida a nossa história

Da vida que brota da terra tiramos nosso sustento desde 1982. E de lá para cá aprendemos, com as vidas que se multiplicam na floresta, a criar valor sem destruir. Nós escolhemos ir pelo caminho regenerativo: aproveitar, cuidar e desenvolver.

Nessa trajetória, muitas vidas se transformam junto com os frutos que colhemos. No campo, agricultores parceiros cultivam os sonhos de suas famílias. Nas fazendas, usinas e indústrias, nossos colaboradores extraem o melhor de suas carreiras. Nas comunidades, as pessoas enriquecem suas histórias com novas perspectivas de vida. No mercado, nossos clientes abastecem indústrias com soluções customizadas que impulsionam seus resultados.

Assim nos tornamos a maior produtora de óleo de palma sustentável das Américas. E, assim, continuaremos a trilhar nossa história de preservação da natureza, de valorização das pessoas, de desenvolvimento da comunidade, de excelência nos negócios e de evolução do mercado para tornar a palma sustentável uma referência brasileira.

Sabemos que o futuro nos reserva grandes desafios e estamos prontos para superá-los. Afinal, somos movidos pela potência que vem do que há de mais precioso: a potência da vida.

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Biscoito Ilustrações: Helô Rodrigues | Artista Paraense | @heloilustra_ desata conteudo.com.br
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COP27 E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Em Sharm el-Sheikh, no Egito, a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP27) reuniu representantes oficiais de governo e da sociedade civil para discutir maneiras de enfrentar e se adaptar às mudanças climáticas. Os debates tiveram como eixo principal, o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC, que analisou as vulnerabilidades, capacidades e limites do mundo e da sociedade para se adaptarem ao contexto de alterações climáticas decorrentes em larga escala, da interferência humana no meio ambiente. António Guterres disse na abertura Inicia-se uma “nova...

2022 marca o 30º aniversário do “Aviso dos Cientistas Mundiais à Humanidade”, assinado por mais de 1.700 cientistas em 1992. Desde esse aviso original, houve um aumento de aproximadamente 40% nas emissões globais de gases de efeito estufa. Isso apesar de vários avisos escritos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e um alerta recente de cientistas sobre

COP27: MUNDO A CAMINHO DE AUMENTAR AS EMISSÕES EM 10,6% ATÉ 2030 - RELATÓRIO DA ONU

Planos climáticos permanecem insuficientes: ações mais ambiciosas são necessárias agora. O novo relatório da ONU Climate Change mostra que os países estão dobrando a curva das emissões globais de gases de efeito estufa para baixo, mas sublinha que esses esforços permanecem insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius até o final do século. De acordo com o relatório, as promessas climáticas combinadas de 193 Partes sob o Acordo de Paris podem

COP 27 DISCUTIU FINANCIAMENTO PARA REDUÇÃO DE EMISSÕES FLORESTAIS E ADAPTAÇÃO

O Programa das Nações Unidas sobre Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (UN-REDD) e o Green Gigaton Challenge têm como objetivo mobilizar fundos para alcançar uma gigatonelada de reduções anuais de emissões de florestas até 2025, e anualmente depois disso. Este foi o foco de um evento paralelo na Conferência de Mudanças Climáticas de Sharm el-Sheikh (UNFCCC COP 27), que discutiu as conclusões do relatório intitulado “Making Good on the Glasgow Climate Pact: A Call to Action to Achieve...

COP27: OS CUSTO CRESCENTE DOS DESASTRES CLIMÁTICOS

A lista dos 10 eventos mais caros da última década fornecida pela empresa de modelagem de risco RMS, ocorreu nos últimos cinco anos. Embora as maiores perdas ocorram em países mais ricos com ativos mais caros, países em desenvolvimento como o Paquistão, que sofreram inundações este ano que custaram cerca de US$ 3 bilhões, muitas vezes sofrem o impacto de eventos climáticos prejudiciais. Como levar dinheiro para os países mais pobres após desastres climáticos tem sido um tema dominante nas negociações...

Brasil e nações com floresta

unem forças para

salvar

tropical

a selva

26 países nas negociações climáticas, lançaram na COP27 um grupo que, segundo eles, garantirá que se responsabilizem mutuamente pela promessa de acabar com o desmatamento até 2030 e anunciaram bilhões de dólares para financiar seus esforços. A primeira reunião da Forest and Climate Leaders’ Partnership, presidida por Gana e Estados Unidos, acontece um ano depois que mais de 140 líderes prometeram na COP26 na Grã-Bretanha acabar com o desmatamento até o final da década. Desde então...

PUBLICAÇÃO

Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158

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Joanna Wendel, Met Office, Mikayla Mace Kelley, Nilanjan Ghosh, Ronaldo G. Hühn, Tiina Vähänen, UNPCC, Universidade de Newcastle, Universidade do Arizona, Valeria Bursztein, Kian Mintz-Woo;

FOTOGRAFIAS

Aurélie Marrier d ‘Unienville/IFRC, Centro Climático, CIFOR-ICRAF, Connected Smart Cities, Daniela Luquini, Departamento de Agricultura dos EUA/Christina Reed), Denis Onyodi/KRCS, Divulgação, EPA/Jiji Press, FAO, Flickr/Spencer, Futurecom 2022, Global Carbon Project, IISD/ENB | Ángeles Estrada, IISD/ ENB | Mike Muzurakis, Jeff Vanuga/Getty, John Dal, Luis Fortes/MEC, Mahendra Parikh/Hindustan Times, Moniruzzaman Sazal/Climate Visuals Countdown, Momoko Sato/ UNIC Tokyo, NASA, ONU/Eva Fendiaspara, Price e Warren-2016, Reuters, REUTERS/Amit Dave/File, REUTERS/Mohammed Salem, RMS, Ruben Naftali\Divulgação Secom, Rudolph Hühn, Thomson Reuters, UNPCC, UNEP, Unsplash, Valeria Bursztein, Xinhua/Sui Xiankai, Wikipedia;

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NOSSA CAPA

Um lagarto monta guarda em seu território. Fotografado no planalto Chalkewadi de Satara, que é o local de um dos maiores parques eólicos da região. Foto de Sandesh Kadur, Índia. Primeiro Lugar – Clima, do Concurso de Fotografia da The Nature Conservancy. Não podemos manter o clima em limites seguros se não investirmos mais na natureza. Ao proteger, restaurar e administrar melhor nossas terras e pântanos, poderíamos obter 1/3 das reduções de emissões necessárias para limitar o aquecimento global. Concurso de Fotografia 2022, da The Nature Conservancy

uma emergência
15.000 signatários
158
[31] As alterações climáticas e a ameaça à Civilização [46] 22º Futurecom [49] 8ª Edição do Connected Smart Cities & Mobility [52] Transição verde por meio de finanças verdes: expectativa da COP27 [55] Para sobreviver em um clima em mudança, devemos olhar para as florestas [57] Relatório do Orçamento Global de Carbono [59] As mudanças climáticas atingem: os padrões de raios mudam com o aquecimento global [62] Buraco na camada de ozônio cresceu pelo terceiro ano consecutivo - mas os cientistas não estão preocupados [64] Mapas do passado podem lançar luz sobre nosso futuro climático
climática com quase
de
países (Ripple et al. 2020 )... ALERTA DOS CIENTISTAS MUNDIAIS DE UMA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA 2022
22 05 36 38 40 42 MAIS CONTEÚDO
DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Amy Duchelle, Connected Smart Cities, Daniel Steel, C. Tyler DesRoches, Global Carbon Project, Glória Dickie, IISD,
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COP27 e as mudanças climáticas

Em Sharm el-Sheikh, no Egito, a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP27) reuniu representantes oficiais de governo e da socieda de civil para discutir maneiras de enfrentar e se adaptar às mudanças climáticas. Os debates tiveram como eixo principal, o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC, que analisou as vulnerabilidades, capacidades e limites do mundo e da sociedade para se adaptarem ao contexto de alterações climáticas decorrentes em larga escala, da interferência humana no meio ambiente. António Guterres disse na abertura Inicia-se uma “nova era para fazer as coisas de forma diferente”. disse ainda, que o mundo está em estrada para inferno climático

Organizada pelas Nações Uni das (ONU), a conferência ocorreu em um cenário que abrangeu, também, uma crise de energia impulsionada pela guer ra na Ucrânia. Foi alertado que há dados que mostram, de forma cada vez mais clara, que “o mundo não está fazendo o suficiente para combater as emissões de carbono e proteger o futuro do planeta”.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, defendeu um “pacto de so lidariedade climática” entre os países participantes da Conferência das Par tes das Nações Unidas sobre Mudan ças do Clima (COP27). Segundo ele, essa é a alternativa que resta para evi tar, como consequência, o “suicídio coletivo” do planeta.

“Nosso planeta está se aproximando rapi damente do ponto de inflexão que tornará o caos climático irreversível. Estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé no acelerador”, disse Guterres no discur so de abertura das atividades no Egito.

Ele defendeu que, durante os trabalhos da COP27, seja feito um “pacto histórico de solidariedade climática” entre economias desenvolvidas e emergentes.

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Fotos: Daniela Luquini, Divulgação, IISD/ENB | Mike Muzurakis, Momoko Sato/ UNIC Tokyo, REUTERS/ Mohammed Salem, Ruben Naftali\Divulgação Secom, Rudolph Hühn, Unsplash, Xinhua/Sui Xiankai Chefes de Estado e de Governo na abertura da cúpula do clima COP27 em Sharm el-Sheikh, Egito, 7 de novembro de 2022

Esse pacto implica, disse, a am pliação de esforços para reduzir, na atual década, as emissões manten do, dessa forma, os países em linha com a meta de limitar o aquecimen to global a 1,5º acima das tempera turas pré-industriais.

Pacto

“Trata-se de um pacto no qual os paí ses mais ricos e as instituições finan ceiras internacionais deverão fornecer assistência financeira e técnica para ajudar as economias emergentes a ace lerarem sua própria transição de ener gia renovável”, afirmou.

De acordo com o secretário, o pacto buscará acabar com a depen dência de combustíveis fósseis e vi sar à eliminação do uso de carvão como combustível de usinas até 2040. “É também um pacto para fornecer energia universal, acessí vel e sustentável a todos e em que economias desenvolvidas e emer gentes se unam em torno de uma estratégia comum, combinando ca pacidades e recursos em benefício da humanidade”. Citando as duas maiores economias do mundo, Gu terres disse que os Estados Unidos e a China têm a responsabilidade de “juntar forças” para tornar esse pacto uma realidade.

“É a nossa única esperança de cumprir as metas climáticas. A hu manidade tem uma escolha: coo perar ou perecer. Ou faremos um pacto de solidariedade climática, ou teremos um pacto de suicídio coletivo”, argumentou.

“As atividades humanas são as causas dos problemas climáticos. Portanto, a ação humana tem de ser a solução, de forma a restabelecer mos ambições e reconstruirmos a confiança, em especial entre o Nor te e o Sul”, completou.

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Mundo na estrada para o inferno climático, diz chefe da ONU à COP27 António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), defendeu um “pacto de solidariedade climática” Vista da Plenária de Abertura

Adaptação

Para evitar um “destino terrível”, An tónio Guterres disse que todos os países do G20 [grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo] devem acelerar a transição já nesta década. “Os países de senvolvidos devem assumir a liderança, mas as economias emergentes são tam bém fundamentais para isso”.

Ele lembrou que, atualmente, há cerca de 3,5 bilhões de pessoas vivendo em paí ses “altamente vulneráveis aos impactos climáticos” e que, durante o encontro de Glasgow, os países desenvolvidos se com prometeram a dobrar seu apoio à adapta ção para US$ 40 bilhões por ano até 2025.

“Precisamos de um roteiro sobre como isso será implementado e devemos reco nhecer que é apenas um primeiro passo, porque as necessidades de adaptação ul trapassam US$ 300 bilhões por ano até 2030”, afirmou ao defender que metade do financiamento climático deve ser dedi cado a medidas de adaptação.

“As instituições financeiras internacio nais e os bancos multilaterais de desen volvimento devem mudar o modelo de negócios, fazer sua parte para aumentar o financiamento de medidas de adaptação e atuar como alavanca para mobilizar mais financiamento privado destinado à ação climática”, acrescentou.

Sistemas de alerta

O secretário-geral ressaltou que os países que menos contribuíram para a crise climática têm “colhido turbilhões semeados por outros países”.

Ele se referiu assim a desastres am bientais potencializados pelas mudan ças climáticas, causadas por outros países. “Em muitos casos, esses países são pegos de surpresa, impactados por eventos inesperados ou para os quais não haviam se preparado.

É por isso que estou pedindo a cober tura universal dos sistemas de alerta precoce dentro de cinco anos.

E é por isso que estou pedindo que to dos os governos tributem lucros das em presas de combustíveis fósseis”, disse.

Tributos

Segundo Guterres, os valores arre cadados por meio dessas tributações devem ser direcionado aos países que sofrem “perdas e danos causados pela crise climática”, à luta contra o aumento dos preços de alimentos e em favor do uso de energias renováveis.

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Presidente do IPCC, Hoesung Lee ; o secretário executivo da UN FCCC, Simon Stiell ; e o presidente da COP 26, Alok Sharma Durante início da Conferência Presidente da COP 27 Sameh Shoukry

“A boa notícia é que sabemos o que fa zer e temos as ferramentas financeiras e tecnológicas para realizar o trabalho.

É hora de as nações se unirem para a implementação. É hora de solidariedade internacional. Uma solidariedade que respeite todos os direitos humanos e que garanta espaço seguro para os defenso res do meio ambiente e para todos que venham a contribuir à nossa resposta climática. Não esqueçamos que a guerra contra a natureza é, em si, uma violação massiva dos direitos humanos”.

O Secretário Executivo da UNFCCC sublinhou três linhas críticas de ação para a Conferência:

1. Demonstre uma mudança de transformação para a implementação, colo cando as negociações em ações concretas.

2. Cimente o progresso nos fluxos de trabalho críticos – mitigação, adaptação, finanças e, crucialmente – perdas e danos.

3. Melhorar a entrega dos princípios de transparência e prestação de contas em todo o processo.

“Congratulo-me com planos detalhados sobre como entregamos o que prometemos”, disse ele aos delegados.Em palavras que foram ovacionadas na sala plenária, o chefe climático da ONU ressaltou que mulheres e meninas devem ser colocadas no centro das decisões e ações climáticas.

“O empoderamento deles leva a uma melhor governança e melhores resul tados”, disse ele, destacando também a importância das organizações da so ciedade civil e dos jovens no processo da COP27.

Guerras

Sobre os conflitos que estão ocorren do no mundo – entre eles a guerra na Ucrânia –, o secretário disse lamentar o derramamento de sangue e a violên cia praticada. Ele, no entanto, ressaltou que esses conflitos não podem preju dicar as ações e os planejamentos para os problemas que envolvem a questão climática, até por haver correlação en tre eles e o “caos climático”. “Não pode mos aceitar que nossa atenção não esteja voltada para as mudanças cdo clima. É claro que devemos trabalhar juntos para apoiar os esforços de paz e acabar com o tremendo sofrimento, mas a mudança climática está em uma linha de tempo e em uma escala diferente. Essa é a ques tão definidora de nossa era e o desafio central do nosso século. É inaceitável, ultrajante e autodestrutivo colocá-la fora das prioridades”, afirmou.

Para Guterres, muitos dos conflitos atuais estão ligados ao crescente caos climático. “A guerra na Ucrânia expôs os riscos profundos do nosso vício em com bustíveis fósseis, mas as crises de hoje não podem ser uma desculpa para retro cessos”, concluiu. A COP27 deve levar o mundo para a implementação de planos previamente acordados para enfrentar o maior desafio da humanidade, disse Si mon Stiell, o novo Secretário Executivo da Convenção do Clima da ONU (UN FCCC), na abertura da COP27.

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Secretário Executivo da UNFCCC Simon Stiell Ativistas de nações em desenvolvimento pressionando por um fundo para perdas e danos durante a COP27, a primeira realizada na África

“Hoje começa uma nova era – e come çamos a fazer as coisas de forma diferente. Paris deu-nos o acordo. Katowice e Glasgow nos deram o plano. Sharm el-Sheik nos des loca para a implementação. Ninguém pode ser um mero passageiro nesta jornada. Este é o sinal de que os tempos mudaram”, disse Stiell aos delegados reunidos na sala ple nária principal do Centro Internacional de Convenções Tonino Lamborghini.

O chefe do clima da ONU disse que os líderes – sejam eles presidentes, primei ros-ministros ou CEOs – serão respon sabilizados por promessas feitas no ano passado em Glasgow. “Porque nossas políticas, nossos negócios, nossa infraes trutura, nossas ações, sejam elas pes soais ou públicas, devem estar alinhadas com o Acordo de Paris e com a Conven ção [Clima da ONU]”, ressaltou.Reco nhecendo a atual situação geopolítica complexa, o Sr. Stiell disse que a COP27 é uma oportunidade para criar um espa ço político seguro, protegido de tudo o que está acontecendo “lá fora”, para tra balhar e promover mudanças mundiais.

“Aqui em Sharm el-Sheikh, temos o dever de acelerar nossos esforços internacionais para transformar pala vras em ações”, enfatizou.

Nova Presidência

O Sr. Sharma revisou as conquistas fei tas em Glasgow no ano passado, como a finalização do chamado Livro de Regras de Paris – as diretrizes de como esse Acor do é entregue – e o estabelecimento de compromissos financeiros mais fortes. “O secretário-geral da ONU disse que ‘nossos futuros compartilhados de longo prazo não estão nos combustíveis fósseis’, e eu con cordo com ele de todo coração”, disse ele. De acordo com o presidente da COP26, se todos os compromissos assumidos no ano passado, incluindo as promessas de zero líquido, fossem implementados, o mun do estaria a caminho de um aquecimento de 1,7 graus Celsius até o final do século. “Ainda não 1,5°C, mas progresso”, disse ele, reconhecendo a escala do desafio que o mundo está enfrentando.

Ecoando Stiell, ele pediu aos líderes que ajam, apesar dos atuais desafios geopolíti cos.“Por mais desafiador que seja o nosso momento atual, a inação é míope e só pode adiar a catástrofe climática, devemos en contrar a capacidade de focar em mais de uma coisa ao mesmo tempo”, pediu.

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Sameh Shoukry, o presidente da Cop27, fala no primeiro dia da conferência Entrada para a área de registro de mídia da 27ª COP27, em Sharm El-Sheikh, Egito

O Brasil na COP 27

No centro do Observatório de Torre Alta há uma torre de aço de 325 metros de altura, maior do que a Torre Eiffel, em Paris. A estrutura do centro de pesquisa para onde o visitante da COP 27 será levado também inclui duas outras torres de 80 metros de altura, além de diversos laboratórios em contêineres e um acampamento para acomodar os cientistas e técnicos que lá trabalham com o objetivo de expandir nosso entendimento da Floresta Amazônica e suas inte rações com o solo abaixo e a atmosfera. O estande do Brasil conta ainda com o espaço interativo Green Energy, uma área imersiva repleta de telões de led de última geração, onde será possível experimentar sensações ligadas às fontes de energia limpa amplamente utilizadas no Brasil -- vento (eólica), calor (solar) -- além do barulho do mar, para representar a eólica offshore, aquela gerada pelo vento que sopra em alto mar e que se configura em um campo de imenso potencial de geração de energia limpa para o país nos próximos anos.

Pautas principais

O exemplo brasileiro na geração de energia foi um dos principais te mas que a delegação nacional apre sentou durante a COP 27. O Brasil já se destaca por possuir uma das matrizes mais limpas do mundo e atualmente sua matriz elétrica atin ge 85% de fontes renováveis, contra uma média de 28% do restante do planeta. Em Sharm El-Sheik o país vai além e apresentará ao mundo sua vocação para a instalação de eólicas offshore, cujo potencial de geração de energia chega a 700 gigawatts. A força do país no campo da agricultura sustentável foi outro ponto de destaque na COP 27. Segundo dados da Companhia Nacional de Abas tecimento (Conab), o Brasil deverá bater mais um recorde na produção de grãos, com expectativa de atingir 312,4 milhões de toneladas na safra de grãos 2022/2023. O trabalho de tecnologia reversa também foi apresentado. O Brasil é o recordista mundial na reciclagem de latas de alumínio e se destaca também no trabalho desenvolvido com eletroe letrônicos, defensivos agrícolas, ba terias de chumbo, óleo lubrificante e medicamentos, entre outros

Painéis

Óculos especiais, levam os visitantes a uma viagem de realidade virtual a diversos pontos da Floresta Amazônica

A casa do Brasil na COP 27 abriga também uma área de recepção, um estú dio para a realização de palestras presenciais e online com interação direta com o Brasil, além da área onde serão realizados os painéis. Toda a estrutura dispõe de sistema de tradução simultânea para inglês e português.

No estande do Brasil teve vários pai néis realizados com os palestrantes e representantes do Governo Federal e outras entidades e organizações debateram a Integração do Mercado Global de Carbono, o Futuro Verde na Mobilidade Urbana, a Rede de Gover nança, o Aperfeiçoamento do Inven tário Nacional de Emissões e Remo ções de Gases de Efeito Estufa (GEE), o Mercado de Capitais e Ativos Ambien tais e o Projeto Escola +Verdes.

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Casa do Brasil na 27ª COP mostra o seu potencial verde ao mundo usando tecnolo gia que leva os visitantes a uma viagem de realidade virtual para a Amazônia
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O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresentou os avanços e potenciais do mercado global de carbono e mostrou que o Brasil é o primeiro país a transformar compromissos da COP26 em medidas concretas, com isenção de imposto federais, financiamento específico e criação do crédito de metano O governo federal lançou durante a COP27, a Agenda Brasil + Susten tável – apresentando mais de 800 ações adotadas nos últimos 4 anos, e alinhadas com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, para acabar com a pobreza e proteger o meio ambiente O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, chefe da delegação do Brasil na COP27) destacou os programas e políticas públicas implementadas nos últimos anos em seu discurso no plenário oficial da Conferência Brasil propõe a criação de um mercado global de créditos de metano – caminho para que a redução de 30% das emissões de metano seja alcançada até 2030

“Esta COP deu um passo importante em direção à justiça. Saúdo a decisão de estabelecer um fundo para perdas e da nos e operacionalizá-lo no próximo pe ríodo”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres , em uma mensagem de vídeo emitida no local da conferência no Egito, ressaltando que as vozes daque les que estão na linha de frente do crise climática deve ser ouvida. Os países em desenvolvimento fizeram fortes e repeti dos apelos para o estabelecimento de um fundo de perdas e danos, para compensar os países mais vulneráveis aos desastres climáticos, mas que pouco contribuíram para a crise climática. “Claramente, isso não será suficiente, mas é um sinal po lítico muito necessário para reconstruir a confiança quebrada”, ressaltou, enfa tizando que o sistema da ONU apoiará o esforço em cada etapa do caminho. Antes da ação sobre os textos, o presidente da COP27, Sameh Shoukry, que também é ministro das Relações Exteriores do Egi to, disse às delegações que os projetos de decisão eram “um portal que aumentará a implementação e nos permitirá trans formar o futuro do clima em neutralida de e clima desenvolvimento resiliente”.

Após dias de intensas negocia ções que se estenderam até o início da manhã de domingo 20/11, em Sharm el-Sheikh, os países participantes da Conferência so bre Mudança Climática da ONU, COP27, chegaram a um acordo so bre um resultado que adotou de cisões sobre financiamento e es tabelecimento de um mecanismo para compensar nações vulneráveis por ‘perdas e danos’ causados pelo clima desastres induzidos, o programa de trabalho de mitiga ção, o Objetivo Global de Adapta ção e as decisões abrangentes de cobertura, entre outros

Ao encerrar a 27ª Cúpula do Clima da ONU, Sameh Shoukry, o ministro das Relações Exteriores do Egito e presidente da cúpula do clima COP27 da ONU no Egito, disse: “Estamos à altura da ocasião. Trabalhávamos sem parar, dia e noite, mas unidos em trabalhar para um ganho, um propósito maior, um objetivo comum. No final, nós entregamos. Ouvimos os apelos da angústia e do desespe ro”. Sherry Rehman – ministra da mu dança climática do Paquistão, onde o sofrimento em enchentes recordes em setembro tornou-se emblemáti co da devastação que os países em desenvolvimento estão enfrentando – saudou o acordo “histórico” de perdas e danos sob aplausos na sala de conferências.“Não se trata de aceitar caridade”, disse ela. “Este é um adian tamento do investimento em nosso futuro e na justiça climática”. Simon Stiell, chefe do clima da ONU, disse aos delegados exaustos quando o mar telo foi batido no acordo final às 7h, após uma sessão de negociação que durou a noite toda: “Não foi nada fácil. Mas esse resultado beneficiará os mais vulneráveis em todo o mundo”.

“Peço a todos vocês que vejam esses projetos de decisão não apenas como palavras no papel, mas como uma men sagem coletiva para o mundo de que atendemos ao chamado de nossos líde res e das gerações atuais e futuras para definir o ritmo e a direção corretos para a implementação do acordo de Paris e a consecução de seus objetivos”.

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Sameh Shoukry, Presidente da COP 27, na Plenária de Encerramento
o Encerramento
Encerramento da COP27 com um acordo inovador para fornecer financiamento de “perdas e danos” para países vulneráveis duramente atingidos por desastres climáticos

Shoukry acrescentou: “O mundo está assistindo, apelo a todos nós para corres ponder às expectativas confiadas a nós pela comunidade global e, especialmente, por aqueles que são mais vulneráveis e ainda assim contribuíram menos para a mudança climática”. Depois de perder o prazo de sex ta-feira à noite, os negociadores finalmente conseguiram chegar a conclusões sobre os itens mais difíceis da agenda, incluindo uma facilidade de perdas e danos – com o com promisso de estabelecer uma estrutura de apoio financeiro aos mais vulneráveis até a próxima COP em 2023 – bem como a meta financeira pós-2025 e o chamado progra ma de trabalho de mitigação, que reduziria as emissões mais rapidamente, catalisaria ações impactantes e garantiria garantias de países-chave de que tomariam medidas ime diatas para aumentar a ambição e nos man ter no caminho certo. caminho para 1,5°C.

No entanto, embora o acordo sobre essas questões tenha sido visto como um passo bem-vindo na direção certa, parecia haver pouco avanço em outras questões importan tes, particularmente sobre a eliminação gra dual dos combustíveis fósseis e uma lingua gem mais rígida sobre a necessidade de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius. Ob servadores alertaram que uma nova lingua gem, incluindo energia de “baixas emissões” ao lado de fontes renováveis como as fontes de energia do futuro, é uma brecha significa tiva, pois o termo indefinido pode ser usado para justificar o desenvolvimento de novos combustíveis fósseis contra a orientação cla ra do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre o Clima Mudança ( IPCC ) e a Agência Internacional de Energia (IEA).

Guterres lembrou ao mundo quais conti nuam sendo as prioridades em relação à ação climática, incluindo a ambição de reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa e manter vivo o limite de 1,5 grau Celsius do Acordo de Paris e puxar a humanidade “de volta do precipício climático”.

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As vozes daqueles que estão na linha de frente devem ser ouvidas... Manifestante na COP27 segura uma placa pedindo o acordo de “perdas e danos” Sameh Shoukry “O mundo está assistindo, apelo a todos nós para corresponder às expectativas confiadas...” Manifestante na COP27 segura uma placa pedindo o acordo de “perdas e danos”
O combate às alterações climáticas continua

“Precisamos reduzir drasticamente as emissões agora – e esta é uma ques tão que esta COP não abordou”, lamen tou, dizendo que o mundo ainda preci sa dar um salto gigantesco na ambição climática e acabar com seu vício em combustíveis fósseis investindo “mas sivamente” em energias renováveis. O chefe da ONU também enfatizou a necessidade de cumprir a promessa há muito adiada de US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático para países em desenvolvimento, estabele cendo clareza e um roteiro confiável para dobrar os fundos de adaptação.

Ele também reiterou a importância de mudar os modelos de negócios dos bancos multilaterais de desenvolvi mento e das instituições financeiras internacionais. “Eles devem aceitar mais riscos e alavancar sistematica mente o financiamento privado para os países em desenvolvimento a cus tos razoáveis”, disse ele.

Nosso planeta ainda está na sala de emergência

O chefe da ONU disse que, embora um fundo para perdas e danos seja essencial, não é uma resposta se a crise climática apagar um pequeno Estado insular do mapa – ou transformar um país africano inteiro em um deserto. Ele renovou seu apelo por parcerias de transição energé tica justa para acelerar a eliminação gra dual do carvão e aumentar as energias renováveis e reiterou o apelo que fez em seu discurso de abertura na COP27: um pacto de solidariedade climática .

“Um Pacto em que todos os países fazem um esforço extra para reduzir as emissões nesta década em linha com a meta de 1,5 grau. E um Pacto para mobilizar – junta mente com instituições financeiras inter nacionais e o setor privado – apoio finan ceiro e técnico para grandes economias emergentes acelerarem sua transição para energias renováveis”, explicou, res saltando que isso é essencial para manter o limite de 1,5 grau ao alcance.

Compartilho sua frustração

O chefe da ONU também enviou uma mensagem à sociedade civil e aos ativis tas que tanto se manifestaram desde o dia da abertura da conferência: “Comparti lho sua frustração”. O Sr. Guterres disse que os defensores do clima – liderados pela voz moral dos jovens – mantiveram a agenda em andamento nos dias mais sombrios e devem ser protegidos. “A fonte de energia mais vital do mundo é o poder das pessoas. É por isso que é tão impor tante entender a dimensão dos direitos humanos na ação climática”, disse ele, acrescentando que a batalha pela frente será dura e que “será necessário que cada

um de nós lute nas trincheiras todos os dias… mal podemos esperar por um mi lagre.” Ecoando esse sentimento, a jovem ativista ambiental queniana Elizabeth Wathuti disse: “A COP27 pode ter acaba do, mas a luta por um futuro seguro não. Agora é mais urgente do que nunca que os líderes políticos trabalhem para chegar a um forte acordo global para proteger e restaurar a natureza na próxima Cúpula Global de Biodiversidade em Montreal. “ A Sra. Wathuti acrescentou: “A crise interconectada de alimentos, natureza e clima está afetando a todos nós – mas as comunidades da linha de frente, como a minha, são as mais atingidas. Quantos alarmes precisam soar antes de agirmos?”

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Isso não significa que 1,5 graus Celsius seja um futuro impossível

O tempo está se esgotando

Em sua mensagem em vídeo, Guter res destacou que a COP27 foi concluída com “muito dever de casa” a ser feito e pouco tempo para fazê-lo.

“Já estamos a meio caminho entre o Acordo Climático de Paris [2015] e o prazo de 2030. Precisamos de todas as mãos no convés para impulsionar a jus tiça e a ambição”, afirmou. O secretário -geral acrescentou que isso inclui a am bição de acabar com a “guerra suicida” contra a natureza que está alimentando a crise climática, levando espécies à ex tinção e destruindo ecossistemas.

“A Conferência de Biodiversidade da ONU no próximo mês é o momento de adotar uma estrutura de biodiversidade global ambiciosa para a próxima déca da, aproveitando o poder das soluções baseadas na natureza e o papel crítico das comunidades indígenas”, ele pediu.

Jovens

Os jovens, em particular, receberam maior destaque na COP27, com o Secre tário Executivo da ONU para Mudanças Climáticas prometendo instar os gover nos a não apenas ouvir as soluções apre sentadas pelos jovens, mas também in corporar essas soluções nas decisões e na formulação de políticas.

Os jovens fizeram suas vozes serem ouvidas por meio do primeiro pa vilhão do gênero para crianças e jo vens, bem como do primeiro Fórum do Clima liderado por jovens.

Mulheres

Embora todos os dias devam ser o dia do gênero na COP27, o dia 14 de novembro ofereceu uma chance de observar especificamente como mu lheres e meninas e os mais vulneráveis do mundo são desproporcionalmente afetados pelas mudanças climáticas.

A ActionAid aproveitou o dia para divulgar um relatório destacando as consequências para mulheres e me ninas das perdas e danos resultantes das mudanças climáticas, especial mente no aumento do risco de violên cia doméstica e sexual.

“A adaptação às mudanças climá ticas pode resultar em oportuni dades para as mulheres acessarem mais recursos e participarem da to mada de decisões devido à mudança das normas de gênero, e é por isso que adotar uma abordagem sensível ao gênero para desenvolver políti cas climáticas é crucial”.

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Cúpula Global de Biodiversidade em Montreal Mulheres e meninas também lutam pelas perdas e danos resultantes das mudanças climáticas Jovens globais pedem aos líderes mundiais que defendam o multilateralismo e empoderem os jovens

O que foi alcançado

Em seus comentários finais, o se cretário executivo da UNFCC, Simon Stiell, disse: “Na COP27… Entre outras medidas positivas, ele disse que no texto aprovado na manhã de domingo, “recebemos garantias de que não há espaço para retrocessos. Ele fornece os principais sinais políticos que indicam que a redução gradual de todos os com bustíveis fósseis está acontecendo”.

As negociações na COP27 não foram fáceis. “…Não foi nada fácil. Mas esse resultado histórico nos move e bene ficia as pessoas vulneráveis em todo o mundo”, afirmou. E com isso em men te, ele disse: “Não há necessidade de nos colocarmos em tudo o que acaba mos de passar se vamos participar de um exercício de amnésia coletiva no momento em que as câmeras se mo vem”, e pediu a todas as Partes e dele gações para responsabilizar-se mutua mente pelas decisões que acabavam de ser tomadas. O Sr. Stiell acrescentou que conduziria pessoalmente o avan ço das Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs , que estão no centro do Acordo de Paris e incorpo ram os esforços de cada país para redu zir as emissões nacionais e se adaptar aos impactos da mudança climática.

Ele continuou dizendo que a sociedade civil deve receber um crédito significati vo por trazer a comunidade internacio nal a este momento histórico no combate às mudanças climáticas.

Os maiores Beneficiados

Os países pobres e os ativistas climá ticos se alegraram. Sir Molwyn Joseph, ministro da saúde, bem-estar e meio ambiente de Antígua e Barbuda e presi dente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares, disse: “Hoje, a comunidade internacional restaurou a fé global neste processo crítico dedicado a garantir que ninguém é deixado para trás.

Os acordos feitos na Cop27 são uma vitória para o mundo inteiro. Mostra mos àqueles que se sentiram negligen ciados que ouvimos você, vemos você e estamos dando a você o respeito e o cuidado que você merece.

Devemos trabalhar ainda mais para nos manter firmes no limite de aqueci mento de 1,5°C, para operacionalizar o fundo de perdas e danos e continuar a criar um mundo seguro, justo e equita tivo para todos”. “Sem as vozes dos in divíduos, sejam eles ativistas, cientistas, pesquisadores, jovens ou povos indíge nas, não teríamos chegado tão longe…

A COP27 reuniu mais de 35.000 pes soas, incluindo representantes do gover no, observadores e sociedade civil. Os destaques da reunião incluíram, entre ou tros, o lançamento do primeiro relatório do Grupo de Especialistas de Alto Nível sobre os Compromissos de Emissões Lí quidas Zero de Entidades Não Estatais.

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Simon Stiell, secretário executivo da UNFCC Ao centro, Sir Molwyn Joseph, presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insu lares e ministro da saúde, bem-estar e meio ambiente de Antígua e Barbuda Menos da metade dos Países Menos Desenvolvidos e apenas um terço dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimen to têm um sistema de alerta precoce de perigos múltiplos

O relatório criticou o greenwashing – levando o público a acreditar que uma empresa ou entidade está fazendo mais para proteger o meio ambiente do que está – e fracos compromissos líquidos zero e forneceu um roteiro para trazer integridade aos compro missos líquidos zero da indústria, ins tituições financeiras, cidades e regiões e apoiar uma transição global e equi tativa para um futuro sustentável.

Ainda durante a Conferência, a ONU anunciou o Plano de Ação Executivo para a iniciativa Early Warnings for All , que prevê novos investimentos iniciais direcionados de US$ 3,1 bilhões entre 2023 e 2027, equivalente a um custo de apenas 50 centavos por pessoa por ano. Enquanto isso, o ex-vice-presidente dos EUA e ativista climático Al Gore, com o apoio do secretário-geral da ONU, apre sentou um novo inventário independen te de emissões de gases de efeito estufa criado pela Climate TRACE Coalition. A ferramenta combina dados de satéli te e inteligência artificial para mostrar as emissões em nível de instalação de mais de 70.000 locais em todo o mundo, incluindo empresas na China, Estados Unidos e Índia. Isso permitirá que os líderes identifiquem a localização e o es copo das emissões de carbono e metano lançadas na atmosfera.

Outro destaque da conferência foi o chamado plano diretor para acelerar a descarbonização de cinco grandes setores – energia, transporte rodoviário, aço, hi drogênio e agricultura – apresentado pela presidência egípcia da COP27.

A liderança egípcia também anunciou o lançamento da iniciativa Food and Agri culture for Sustainable Transformation ou FAST , para melhorar a quantidade e a qualidade das contribuições financeiras climáticas para transformar a agricultura e os sistemas alimentares até 2030.

Esta foi a primeira COP a ter um dia dedicado à Agricultura , que con tribui com um terço das emissões de gases do efeito estufa e deve ser parte crucial da solução. O acordo reafir mou a meta de manter o aquecimento global em 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.

No entanto, uma tentativa de abordar a maior fonte de emissões de aquecimen to do planeta que está causando a crise climática terminou em fiasco depois que várias nações, incluindo China e Arábia Saudita, bloquearam uma proposta im portante para eliminar gradualmente to dos os combustíveis fósseis, não apenas o carvão. “É mais do que frustrante ver as medidas atrasadas de mitigação e eli minação das energias fósseis sendo obs truídas por vários grandes emissores e produtores de petróleo”, disse a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, em comunicado.

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Climate TRACE Coalition Plano de Ação Executivo para a iniciativa Early Warnings for All Ativistas climáticos realizaram uma série de protestos, exigin do o fim dos combustíveis fósseis e o financiamento climático

O texto em 1,5 graus permanece

Cientistas globais alertam há décadas que o aquecimento deve ser limitado a 1,5 grau acima dos níveis pré-industriais –um limite que está se aproximando rapi damente, já que a temperatura média do planeta já subiu para cerca de 1,1 grau.

Além de 1,5 grau, o risco de seca extrema, incêndios florestais, inun dações e escassez de alimentos au mentará dramaticamente, disseram cientistas no último relatório do Pai nel Intergovernamental sobre Mudan ças Climáticas (IPCC) da ONU.

Mas enquanto os delegados da cú pula afirmaram o objetivo de manter o aquecimento global em 1,5 grau Celsius, os especialistas em clima expressaram consternação com a falta de menção aos combustíveis fósseis ou a necessidade de reduzi-los gradualmente para evitar que as temperaturas globais subam.

Como fez no ano passado na cúpula de Glasgow, o texto pede uma redução gradual da energia a carvão inabalável e a “remoção gradual dos subsídios ine ficientes aos combustíveis fósseis”, mas não vai além ao exigir a eliminação gra dual de todos os combustíveis fósseis. incluindo petróleo e gás.

“A influência da indústria de combus tíveis fósseis foi encontrada em todos os setores”, disse Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation.

“A Presidência egípcia produziu um texto que protege claramente os pe tro-estados de petróleo e gás e as in dústrias de combustíveis fósseis. Esta tendência não pode continuar nos Emi rados Árabes Unidos no próximo ano”.

Foi necessária uma ação dramática para manter o número de 1,5 graus atin gido em Glasgow no ano passado.

Logo pós o encerramento da COP

Dirigindo-se à cúpula na manhã de domingo, o chefe do clima da União Européia, Frans Timmermans, disse que a UE estava “desapontada” com o resultado final da cúpula.

“O que temos à nossa frente não é um passo à frente suficiente para as pessoas e o planeta… deveríamos ter feito muito mais”, disse Timmermans.

O acordo para ajudar os países mais vulneráveis do mundo a lidar com per das e danos representa um avanço, no entanto, no que tem sido um conten cioso processo de negociação.

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O primeiro-ministro da Inglaterra, Rishi Sunak, alertou que ‘mais deve ser feito’ e que ‘não pode haver tempo para complacência’ Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation

A definição de quem são os vulneráveis elegíveis consumiu grande parte da ne gociação. Por fim, o texto fala em países ameaçados pela subida do nível do mar, migrações em massa forçadas por desas tres naturais e efeitos diretos das mudan ças climáticas. Ele marca a primeira vez que países e grupos, incluindo redutos de longa data como os Estados Unidos e a UE, concordaram em estabelecer um fundo para nações vulneráveis a desas tres climáticos agravados pela poluição desproporcionalmente produzida por nações ricas e industrializadas. Negocia dores e organizações não-governamentais que observam as negociações elogiaram o acordo como uma conquista significativa, depois que nações em desenvolvimento e pequenos países insulares se uniram para aumentar a pressão. “Os acordos feitos na COP27 são uma vitória para o mundo inteiro”, disse Molwyn Joseph, presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insula res, em comunicado. “Mostramos àqueles que se sentiram negligenciados que ouvi mos você, vemos você e estamos dando a você o respeito e o cuidado que você me rece”. E enquanto os especialistas em cli ma comemoraram a vitória, eles também notaram a incerteza no futuro:

“Este fundo de perdas e danos será uma tábua de salvação para famílias po bres cujas casas foram destruídas, agri cultores cujos campos estão arruinados e ilhéus forçados a deixar suas casas an cestrais”, disse o CEO do World Resour ces Institute, Ani Dasgupta.

“Ao mesmo tempo, os países em de senvolvimento estão deixando o Egito sem garantias claras sobre como o fundo de perdas e danos será supervisionado”.

Ursula von der Leyen, chefe do executivo da EU

Ursula descreveu o acordo como “um pequeno passo em direção à justiça cli mática”, mas disse que muito mais é ne cessário para o planeta.

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Frans Timmermans, da UE, fala aos repórteres após o encerramento da COP Ativistas realizam protestos maciços na COP27 em Sharm El-Sheikh, exigindo que os líderes abordem questões vitais relacionadas à agricultura, adaptação e resiliência climática CEO do World Resources Institute, Ani Dasgupta*

“Tratamos alguns dos sintomas, mas não curamos a febre do pa ciente”, disse ela em um comu nicado. “Estou satisfeito que a COP27 tenha aberto um novo capítulo sobre perdas e danos financeiros e lançado as bases para um novo método de solida riedade entre os necessitados e os que podem ajudar. Estamos reconquistando a confiança. “A COP27 manteve viva a meta de 1,5C. Infelizmente, no entanto, não cumpriu o compromisso dos principais emissores do mundo de reduzir gradualmente os combus tíveis fósseis, nem novos compro missos de mitigação climática”.

EUA e China retomam negociações sobre clima

Além do acordo final, a cúpula trouxe vários outros desenvolvimentos signifi cativos, incluindo a retomada das nego ciações climáticas formais entre os EUA e a China – os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo. Depois que a China congelou as nego ciações climáticas entre os dois países neste verão, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping, concordaram em restabelecer as comunicações EUA-China quando se encontraram na semana passada na cú pula do G20 em Bali, abrindo caminho para Kerry e seu homólogo chinês, Xie. Zhenhua para se encontrar novamen te formalmente. “Sem a China, mesmo que os Estados Unidos estejam … cami nhando para um programa de 1,5 grau, … se não tivermos a China, ninguém mais pode atingir… essa meta”, disse Kerry à CNN na semana passada.

Os dois lados se reuniram ao longo da segunda semana da COP, tentan do retomar de onde pararam antes que a China suspendesse as negocia ções, segundo uma fonte familiariza da com as discussões.

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O enviado climático dos EUA, John Kerry, cumprimenta o enviado climático da China, Xie Zhenhua Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia

Eles se concentraram em pontos de ação específicos, como aprimorar o plano da China para reduzir as emis sões de metano – um poderoso gás de efeito estufa – e sua meta geral de emissões, disse a fonte.

O Acordo de Paris, também “deixou muito claro que a responsabilidade de fornecer financiamento... é dos paí ses desenvolvidos”. A questão estava no centro de um debate contencioso na COP27 sobre o estabelecimento

de um fundo de ‘perdas e danos’ para compensar os países mais pobres já devastados pelas consequências do aquecimento global. As inundações no Paquistão neste ano, por exemplo, deslocaram milhões e causaram US$ 30 bilhões em danos e perdas econô micas, segundo o Banco Mundial.

A União Européia argumentou que a China e outras nações em desenvolvi mento, como a Arábia Saudita, que fica ram mais ricas, deveriam estar entre os contribuintes financeiros.

A UE também insistiu que o fundo de perdas e danos fosse usado para ajudar os países mais “vulneráveis” – o que sig nifica que poderia excluir a China como receptora de ajuda. A grande dúvida: O fundo apoiará países que sofrem com os efeitos da mudança climática, como a Somália, onde mais de 7 milhões de pessoas passam fome devido a uma seca contínua; ou o Paquistão, onde as inundações deste ano causaram cerca de US$ 30 bilhões em danos.

Esperamos que possa ser fornecido primeiro aos países frágeis. Mas os des tinatários devem ser países em desen volvimento... Mas deem primeiro para aqueles que mais precisam!

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O fundo de “perdas e danos” será direcionado para nações em desenvolvimento que são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da mudança climática. Na foto, Uma criança no Iraque, um país fortemente impactado pela mudança climática e escassez de água, no leito seco dos pântanos do sul de Chibayish, tirada em agosto A COP28 está marcada para novembro de 2023, em Dubai

Alerta dos cientistas mundiais de uma emergência climática 2022

Estamos agora no “código vermelho” no planeta Terra. A humanidade enfren- ta inequivocamente uma emergência climática. A escala do sofrimento humano incalculável, já imenso, está crescendo rapidamente com o número crescente de desastres relacionados ao clima. Portanto, pedimos aos cientistas, cidadãos e líderes mundiais que leiam este Relatório Especial e tomem rapidamente as medidas necessárias para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas

2022 marca o 30º aniversá rio do “Aviso dos Cientistas Mundiais à Humanidade”, assinado por mais de 1.700 cientistas em 1992. Desde esse aviso original, houve um aumento de aproxi madamente 40% nas emissões globais de gases de efeito estufa. Isso apesar de vários avisos escritos do Painel Inter governamental sobre Mudanças Climá ticas e um alerta recente de cientistas sobre uma emergência climática com quase 15.000 signatários de 158 países (Ripple et al. 2020 ). As políticas atuais estão levando o planeta a um aqueci mento de cerca de 3 graus Celsius até 2100, um nível de temperatura que a Terra não experimentou nos últimos 3 milhões de anos (Liu e Raftery 2021).

As consequências do aquecimento global estão se tornando cada vez mais extremas, e resultados como o colapso da sociedade global são plausíveis e pe rigosamente pouco explorados (Kemp

et al. 2022 ). Motivados pela urgência moral desta crise global, aqui, rastrea mos os recentes desastres relacionados

ao clima, avaliamos os sinais vitais pla netários e fornecemos recomendações políticas abrangentes.

Fotos: Aurélie Marrier d ‘Unienville/IFRC, Centro Climático, Departamento de Agricultura dos EUA/ Christina Reed), Denis Onyodi/KRCS, John Dal, Moniruzzaman Sazal/Climate Visuals Countdown

Os impactos das secas relacionadas ao clima. Coluna da esquerda: “Crianças na tempestade de poeira” (Etiópia, 2016; fotografia: Anouk Delafortrie/EU/ECHO), um poço de água que pode ter ficado vazio devido à seca; Campo de milho afetado pela seca no condado de Paulding- Ohio (Estados Unidos, 2012); “Seca na bacia do rio Ewaso Ngiro no Quênia” (Quênia, 2017). Coluna da direita (de cima para baixo): As casas estão quase submersas pelas inundações (Bangladesh, 2020); “Uma garota, pato na mão atravessa a água em Ruangara” (Uganda, 2020); Duas crianças, um menino e uma menina na margem de um rio inundado” (Bangladesh, 2018); “Residentes percorrem ruas inundadas para escapar das águas das enchentes” (Reino Unido, 2008). Todas as fotos são licencia das sob Creative Commons e todas as citações são do projeto Climate Visuals ( www.climatevisuals.org ).

Clima extremo relacionado ao clima

As mudanças climáticas aumentaram a frequência e a intensidade de eventos climáticos severos em todo o mundo (Co ronese et al. 2019 ). Isso provavelmente se deve a uma variedade de processos in terconectados, incluindo uma tendência geral de aquecimento, mudanças nos pa drões de precipitação, aumento do nível do mar e mudanças nas correntes de jato.

Por exemplo, o rápido aquecimento do Ártico pode ter tornado a corrente de jato de verão no Hemisfério Norte mais pro pensa a serpentear e ficar bloqueada, cau sando ondas de calor, inundações, secas e outros desastres (Mann et al. 2017 ).).

Em vez de serem apenas mais frequentes, alguns eventos climáticos extremos ago ra são mais intensos ou às vezes ocorrem mais próximos no tempo e no espaço. Isso agrava os danos e diminui o tempo de recuperação. Pode aumentar a proba bilidade de riscos extremos, como falhas globais simultâneas nos rendimentos das colheitas em várias das principais regiões produtoras de alimentos.

Agora estamos vendo regularmente eventos e desastres que antes ocorriam apenas raramente. Tragicamente, esses desastres prejudicam desproporcional mente as pessoas pobres em regiões de baixa renda que tiveram contribuições mínimas para o acúmulo de gases de efeito estufa. Por exemplo, no verão de 2022, um terço do Paquistão foi inun dado, desalojando 33 milhões de pes soas e afetando 16 milhões de crianças. Outros desastres este ano incluem ter ríveis incêndios florestais na Europa, ciclones consecutivos e inundações sub sequentes no leste da Austrália, vários rios secando na China e na Europa, um furacão extraordinariamente intenso atingindo o sudeste dos Estados Uni dos, tempestades poderosas e extensas inundações em Bangladesh e Índia, me gaincêndios e uma continuação da seca decenal no oeste dos Estados Unidos, uma inundação maciça que fechou o Parque Nacional de Yellowstone, e on das de calor excepcionalmente severas ou “cúpulas de calor” em muitas partes do Hemisfério Norte. Esses impactos seriais e simultâneos estão testando os limites da sociedade, pois reduzem mui to a resiliência e a capacidade de lidar com outras crises. Para ilustrar esses impactos, fornecemos uma série de fo tos, documentando o custo humano dos desastres relacionados ao clima.

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Prazo Desastre climático

Janeiro a setembro de 2022

Fevereiro de 2022

Fevereiro a março de 2022

Fevereiro a julho de 2022

março de 2022

março a abril de 2022

abril de 2022

Muitos rios da Europa ficaram baixos ou secaram em parte por causa da pior seca em 500 anos e das intensas ondas de calor. A mudança climática provavelmente desempenhou um papel significativo nessa crise, aumentando a frequência e a intensidade das secas e ondas de calor.

La Niña e as mudanças climáticas contribuíram para o recorde de chuvas na costa leste da Austrália. Isso levou a inundações que danificaram milhares de propriedades e mataram oito pessoas.

Inundações recordes ocorreram ao longo da costa nordeste da Austrália, levando a água parada, o que, por sua vez, promoveu a disseminação de mosquitos que carregam o vírus da encefalite japonesa. Essas inundações provavelmente estão se tornando mais comuns por causa das mudanças climáticas.

O número de pessoas afetadas pela seca no Quênia, Somália e Etiópia que têm acesso limitado à água potável aumentou de 9,5 milhões para 16,2 milhões. Essa crescente severidade da seca pode ser, pelo menos em parte, devido às mudanças climáticas (Ghebrezgabher et al. 2016 ).

Uma seca severa nas planícies do sul dos Estados Unidos colocou em risco a safra de trigo de inverno. Embora as secas sejam fenômenos complexos com muitas causas possíveis, o aumento da intensidade da seca tem sido associado às mudanças climáticas (Mukherjee et al. 2018 ).

Uma onda de calor mortal ocorreu na Índia e no Paquistão, matando pelo menos 90 pessoas e contribuindo para perdas generalizadas de colheitas e incêndios florestais. Estimou-se que as mudanças climáticas tornaram este evento 30 vezes mais provável de ocorrer.

As mudanças climáticas provavelmente contribuíram para chuvas extremas no leste da África do Sul, que provocaram inunda ções e deslizamentos de terra que mataram pelo menos 435 pessoas e afetaram mais de 40.000 pessoas.

Abril a junho de 2022 Tempestades de poeira generalizadas no Oriente Médio levaram milhares de pessoas a serem hospitalizadas; essas tempestades de poeira podem estar aumentando em frequência por causa das mudanças climáticas.

Maio de 2022

Chuvas extremamente fortes no nordeste do Brasil resultaram em deslizamentos de terra e inundações que mataram pelo menos 100 pessoas. As mudanças climáticas podem ser responsáveis pelo aumento da frequência de chuvas extremas. Junho de 2022

Uma forte tempestade em Yellowstone (Estados Unidos) fez com que o rio Gardner e o rio Lamar transbordassem, destruindo partes de várias estradas no Parque Nacional de Yellowstone. Essas inundações extremas podem estar aumentando em frequência por causa das mudanças climáticas.

Junho de 2022

Vários países da Europa Ocidental experimentaram uma onda de calor recorde. Essa onda de calor contribuiu para grandes incên dios florestais na Espanha e na Alemanha. Muitas outras partes do Hemisfério Norte também experimentaram calor extremo; por exemplo, as temperaturas atingiram 104,4 graus Fahrenheit em Isesaki, Japão – um recorde histórico para o país. Da mesma forma, uma cúpula de calor nos Estados Unidos contribuiu para temperaturas recordes. Outros países afetados incluem Finlândia, Irã, Noruega e Itália. Em geral, o calor extremo está se tornando mais comum por causa das mudanças climáticas (Luber e McGeehin 2008 ).

Junho de 2022 Após o calor extremo, a China experimentou chuvas recordes, que podem estar ligadas às mudanças climáticas.

Junho de 2022 Bangladesh experimentou a pior inundação de monções em 100 anos, matando pelo menos 26 pessoas. Esta inundação é pro vavelmente, pelo menos em parte, devido às mudanças climáticas, fazendo com que as monções se tornem mais variáveis.

Junho a julho de 2022

Chuvas extremas levaram a inundações em algumas partes de Nova Gales do Sul, na Austrália. Atualmente, Sydney está a camin ho de experimentar o ano mais chuvoso já registrado. É provável que as mudanças climáticas tenham contribuído, pelo menos em parte, para essas chuvas e inundações.

As inundações mortais no Paquistão mataram mais de 1.000 pessoas e afetaram cerca de 33 milhões de pessoas, incluindo 16 milhões de crianças, desde meados de junho. Os impactos incluem taxas crescentes de dengue, infecções gástricas e malária. Essas inundações po dem estar, pelo menos em parte, relacionadas às mudanças climáticas, fazendo com que as chuvas de monções se tornem mais intensas. Junhoagosto de 2022

Junhoagosto de 2022

A China experimentou uma onda de calor extraordinária, que pode ser a mais severa já registrada globalmente. Esses eventos provavelmente estão se tornando mais comuns por causa das mudanças climáticas. O calor extremo contribuiu para quebras de safra em grande escala e incêndios florestais, além de agravar uma grande seca que causou a seca de 66 rios e levou a um declínio significativo na geração de energia hidrelétrica. agosto a setembro de 2022

A Califórnia e outras partes do oeste dos Estados Unidos enfrentaram temperaturas extremamente altas por causa de uma cúpula de calor, que fez com que sete bombeiros fossem hospitalizados com ferimentos relacionados ao calor. Os efeitos da cúpula de calor podem ter sido agravados pelas mudanças climáticas. setembro a outubro de 2022

Nos Estados Unidos, o furacão Ian causou danos em muitas partes da Flórida e das Carolinas, matando mais de 100 pessoas e deixando pelo menos 2,5 milhões sem energia elétrica. Ian é um dos furacões mais caros e mais fortes que já atingiu os Estados Unidos. A mu dança climática provavelmente está causando tempestades fortes e de rápida intensificação, como Ian, para se tornarem mais comuns.

* Aqui, listamos vários desastres recentes que podem estar, pelo menos em parte, relacionados às mudanças climáticas. Esta lista não pretende ser exaustiva. Devido à natureza recente desses eventos, nossas fontes geralmente incluem artigos da mídia. Para cada evento, geralmente fornecemos referências indicando que a probabilidade ou força de tal evento pode ter aumentado devido às mudanças climáticas antropogênicas. As referências a artigos científicos são fornecidas diretamente na tabela e os links para artigos de notícias são fornecidos no arquivo suplementar S1. Nota: Alguns desses desastres climáticos podem estar, pelo menos em parte, relacionados a mudanças nas correntes de jato (Stendel et al. 2021 , Rousi et al. 2022 ).

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Desastres climáticos recentes em 2022

Tendências recentes nos sinais vitais planetários

A atualização dos sinais vitais planetários publicados pela primeira vez por Ripple e colegas ( 2020 ) fornece uma maneira simples, mas poderosa, de rastrear mudanças em potenciais fatores climáticos (figura 2 ) e impactos (figura 3 ). No total, 16 das 35 variáveis que rastreamos estão em extremos recordes com base nos dados da série temporal (tabela complementar S1). Discutimos alguns desses sinais vitais abaixo.

Figura 2: Séries temporais de atividades humanas relacionadas ao clima. Os dados obtidos desde a publicação de Ripple e colegas ( 2021 ) são mostrados em vermelho (cinza escuro impresso). No painel (f), a perda de cobertura arbórea não contabiliza o ganho florestal e inclui a perda por qualquer causa. Para o painel (h), hidroeletricidade e energia nuclear são mostradas na figura suplementar S1. No painel (j), os ativos desinvestidos refletem o total de ativos sob gestão com base em compromissos institucionais.

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Os dados obtidos desde a publicação de Ripple e colegas ( 2021 ) são mostrados em vermelho (cinza escuro impresso)

Figura 3: No painel (f), a perda de cobertura arbórea não contabiliza o ganho florestal e inclui a perda por qualquer causa. Para o painel (h), hidroeletricidade e energia nuclear são mostradas na figura suplementar S1. No painel (j), os ativos desinvestidos refletem o total de ativos sob gestão com base em compromissos institucionais. Séries temporais de respostas relacionadas ao clima. Os dados obtidos após a publicação de Ripple e colegas ( 2021 ) são mostrados em vermelho (cinza escuro na impressão). Para a área queimada (l) e a frequência de inundações de bilhões de dólares (n) nos Estados Unidos, as linhas horizontais pretas mostram as estimativas do modelo de ponto de mudança, que permitem mudanças abruptas. Para outras variáveis com variabilidade relativamente alta, as linhas de tendência de regressão local são mostradas em preto. As variáveis foram medidas em várias frequências (por exemplo, anual, mensal, semanal). Os rótulos no eixo x correspondem aos pontos médios dos anos. A frequência de inundações de bilhões de dólares (n) provavelmente é influenciada pela exposição e vulnerabilidade, além das mudanças climáticas. Fontes e detalhes adicionais sobre cada variável são fornecidos no arquivo suplementar S1.

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A atualização dos sinais vitais planetá rios publicados pela primeira vez por Ri pple e colegas ( 2020 ) fornece uma ma neira simples, mas poderosa, de rastrear mudanças em potenciais fatores climáti cos. No total, 16 das 35 variáveis que ras treamos estão em extremos recordes com base nos dados da série temporal. Discu timos alguns desses sinais vitais abaixo.

Economia

De forma encorajadora, houve um for te aumento no desinvestimento global de combustíveis fósseis em 2022 (figura 2 j). Apesar de uma tendência geral de di minuição, os subsídios diretos aos com bustíveis fósseis aumentaram para US$ 440 bilhões em 2021, o que é um aumen to preocupante de níveis abaixo de US$ 200 bilhões. A porcentagem de emissões de gases de efeito estufa cobertas pela precificação do carbono foi relativamen te estável entre 2021 e 2022 (figura 2 m), assim como o preço médio pondera do das emissões globais por tonelada de dióxido de carbono (aproximadamente US$ 14,20 em 2022; figura 2 n). Tanto a proporção de emissões cobertas quanto o preço do carbono precisam aumentar drasticamente para serem eficazes na redução do uso global de combustíveis fósseis (Cramton et al. 2017 ).

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US$ 5 trilhões em subsídios a combustíveis fósseis (2010-2021) 10 países respondem por mais de 10 dessas ‘bombas de carbono’ e dois terços das potenciais emissões de carbono - lideradas pela China, Rússia e EUA

Energia

Por causa da pandemia de COVID-19, o consumo global de energia de combus tíveis fósseis diminuiu em 2020, jun tamente com as emissões de dióxido de carbono e as emissões de dióxido de car bono per capita (figura 2 h, 2k, 2l). No entanto, esses declínios foram de curta duração e, em 2021, todas essas variá veis aumentaram significativamente no vamente. Embora o consumo de energia solar e eólica tenha aumentado cerca de 18% entre 2020 e 2021, ainda é aproxi madamente 18 vezes menor que o consu mo de combustível fóssil (figura 2h).

Apesar da necessidade urgente de cessar imediatamente o desen volvimento de novos combustíveis fósseis e reduzir as emissões, os projetos de combustíveis fósseis continuam a ser realizados em grande escala. Existem atualmente 425 “bombas de carbono” – pro jetos de extração de combustível fóssil existentes ou planejados com pelo menos 1 gigatonelada de emis sões potenciais de dióxido de car bono – e suas emissões potenciais são aproximadamente o dobro do orçamento de carbono de 1,5 graus Celsius (Kühne et al. 2022 ).

Gases de efeito estufa e temperatura média global

Três principais gases de efeito estu fa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – estabeleceram novos recordes acumulados no ano para concentrações atmosféricas em 2022 (figura 3 a-3c). Em março de 2022, a concentração de dióxido de carbono atingiu 418 partes por milhão, a maior concentração média mensal glo bal já registrada. Além disso, 2022 está a caminho de ser um dos anos mais quentes já registrados (figura 3 d). O conteúdo de calor do oceano aumentou muito em 2021 e agora está em um recorde (figura 3 i).

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Os dados obtidos desde a publicação de Ripple e colegas (2021) são mostrados em vermelho (cinza escuro impresso)

Impactos climáticos

Os desastres associados, pelo menos parcialmente, às mudanças climáticas têm apresentado uma tendência ascen dente acentuada. As mudanças climáticas têm sido associadas a aumentos tanto na frequência quanto na intensidade de eventos extremos de calor. O número de dias extremamente quentes quase do brou desde 1980. Globalmente, cerca de 500.000 mortes entre 2000 e 2019 foram relacionadas ao calor, e a taxa de morta lidade em excesso relacionada ao calor aumentou significativamente de 2000–2003 a 2016–2019 (Zhao et al. 2021 ).

Os impactos podem não acompanhar linearmente o aquecimento global. À medida que nossas temperaturas glo bais aumentam, a frequência ou magni tude de alguns tipos de desastres climá ticos pode realmente aumentar (Calvin 2019 , Fischer et al. 2021 ). Nossos mo delos preliminares indicam que esse padrão de salto ou resposta de limiar pode ser o caso nos Estados Unidos tanto para a área queimada por incên dios florestais quanto para o número de inundações que causaram pelo menos US$ 1 bilhão em danos (ver arquivo suplementar S1, figuras 3 l, 3n, figuras suplementares S2–S3).

Além disso, a atividade global de in cêndios florestais parece estar exibindo um rápido aumento desde 2009 ( figura 3m). Devido ao aumento das tempera turas e outros fatores, como fortes tem pestades de vento, a propensão de cer tas espécies de mosquitos a transmitir o vírus da dengue aumentou substancial mente desde 1980 ( figura 3p ).

O aumento das temperaturas au menta os riscos de ciclos de feedback e pontos de inflexão serem acionados, incluindo potencialmente, por exem plo, o degelo do permafrost e a morte da floresta amazônica (consulte o ar quivo suplementar S1).

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Cerca de 500.000 mortes entre 2000 e 2019 foram relacionadas ao calor

Temperaturas mais altas aumenta rão o risco de efeitos em cascata, como doenças e conflitos, bem como aumen tarão a probabilidade e nossa vulnera bilidade a outras ameaças catastróficas (Kemp et al. 2022).

As chaves para conter o excesso eco lógico envolvem reduzir muito o consu mo excessivo e o desperdício pela classe média global e especialmente pelos ri cos, estabilizando e reduzindo gradual mente a população humana, fornecen do educação e direitos para meninas e mulheres, e implementando uma eco nomia ecológica sustentável que garan ta justiça social. Reis 2019 ).

A crescente frequência e intensida de dos desastres climáticos enfatiza a necessidade de mitigação e adap tação imediatas. Além de proteger a natureza, incluindo as florestas, e eliminar quase todas as emissões de combustíveis fósseis, esforços devem ser feitos para explorar o potencial de estratégias eficazes de remoção de dióxido de carbono, que podem aju dar a resfriar o planeta a longo prazo, combatendo as emissões históricas (figura complementar S4 ).

Um apelo à ação

Política climática

A maioria dos limites planetários que regulam o estado da Terra estão além de seu espaço seguro (Rockström et al. 2009 ; veja o material suplementar). Portanto, a mudança climática não é uma questão isolada. É parte de um problema sistêmico maior de superação ecológica onde a demanda humana está excedendo a capacidade regenerativa da biosfera (Wackernagel et al. 2002 ).

A humanidade não pode sustentar um crescimento ilimitado em um mun do finito. Precisamos abordar o excesso ecológico e, ao mesmo tempo, aumentar a ação climática. Portanto, continuamos nosso apelo por mudanças holísticas e transformadoras (por exemplo, Rees 2019 , Ripple et al. 2020).

Um preço de carbono suficiente mente alto pode reduzir as emissões em certos setores e estimular a remo ção de dióxido de carbono. Se bem projetado, também pode fornecer fi nanciamento para apoiar adaptações climáticas socialmente justas e com pensar perdas e danos relacionados ao clima, especialmente no mundo em desenvolvimento. Para promover ain da mais a justiça climática, isso pode ser feito devolvendo parte ou toda a receita do preço do carbono direta mente às pessoas, especialmente em áreas de baixa renda que são mais vul neráveis aos impactos climáticos.

De maneira mais geral, outros ins trumentos de política podem incluir investimentos em inovação e finan ciamento climático (figura suplemen tar S5), subsídios positivos e tarifas de alimentação que garantam um preço acima do mercado para produ tores de energia renovável.

Nos últimos anos, houve uma ten dência sem precedentes de cientistas falando sobre a crise climática. Aplau dimos essa tendência e a vemos como uma consequência natural de cien tistas serem cidadãos preocupados com a preservação do planeta para as gerações futuras (Nelson e Vucetich 2009). Quando apoiado por argumen tos científicos sólidos e transparentes, o potencial dos cientistas para educar o público e falar a verdade ao poder pode ser uma força motriz para as mu danças políticas necessárias. De fato, cientistas vocais e articulados desem penharam um papel fundamental em trazer à tona questões como a aniqui lação nuclear e a destruição da camada de ozônio. Nesse espírito, imploramos aos nossos colegas cientistas que falem sobre o clima e outras questões am bientais. Além de se manifestar, alguns pesquisadores argumentaram que a situação é tão terrível que estamos no ponto em que a desobediência civil pa cífica por parte dos cientistas é neces sária (Capstick et al. 2022 ).

Como foi demonstrado pelo aumento de desastres climáticos anuais, estamos agora em uma grande crise climática e uma catástrofe global com muito pior reservado se continuarmos com os ne gócios como de costume.

Como tal, há mais em jogo hoje do que em qualquer outro momento desde o advento do sistema climático estável que nos sustentou por mais de 10.000 anos. Aqui estamos no precipício, com a oportunidade de fazer uma imensa diferença para a vida na Terra. Apro ximadamente cem bilhões de pessoas viveram e morreram ao longo da histó ria de 2 milhões de anos dos humanos na Terra (Curtin 2007), e há potencial mente trilhões de seres humanos que um dia existirão cujo destino depende das escolhas que fazemos hoje.

O próprio futuro da humanidade depende da criatividade, fibra moral e perseverança dos 8 bilhões de nós no planeta agora. Em vez de perder a esperança, devemos reduzir equitati vamente o excesso ecológico e buscar imediatamente a mitigação e a adapta ção às mudanças climáticas em grande escala. Esta é a única maneira de limi tar os danos de curto prazo, preservar a natureza, evitar o sofrimento humano incalculável e dar às gerações futuras as oportunidades que merecem.

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Eliminar quase todas as emissões de combustíveis fósseis, esforços devem ser feitos para explorar o potencial de estratégias eficazes de remoção de dióxido de carbono Oportunidade de fazer uma imensa diferença para a vida na Terra

As alterações climáticas e a ameaça à Civilização

Em um discurso sobre as mudanças climáticas de 4 de abril deste ano, o secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou “as promessas vazias que nos colocam no caminho de um mundo inabitável” e alertou que “estamos no caminho mais rápido para o desastre climático”. Embora duras, as declarações de Guter res não eram novidade. Guterres fez comentários semelhantes em ocasiões anteriores, assim como outras figuras públicas, incluindo Sir David Attenborough, que alertou em 2018 que a inação sobre as mudanças climáticas poderia levar ao “colapso de nossas civilizações”. Em seu artigo, “World Scientists’ Warning of a Climate Emergency 2021” – que agora tem mais de 14.700 signatários de 158 países – William J. Ripple e colegas afirmam que as mudanças climáticas podem “causar interrupções significativas nos ecossistemas, sociedade e economias, potencialmente tornando grandes áreas da Terra inabitáveis”

Como a civilização não pode existir em lugares inabitáveis ou inabitáveis, todos os avisos acima podem ser entendidos como afirmando o potencial da mudan ça climática antropogênica para causar o colapso da civilização (ou “colapso climá tico”) em maior ou menor grau. No en tanto, apesar de discutir muitos impactos adversos, a literatura científica do clima, sintetizada, por exemplo, pelos relatórios de avaliação do Painel Intergovernamen tal sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tem pouco a dizer sobre se ou sob quais condições as mudanças climáticas podem ameaçar a civilização. Embora exista um corpo de pesquisa científica sobre casos históricos e arqueológicos de colapso, as discussões sobre os mecanismos pelos quais as mudanças climáticas podem cau sar o colapso das civilizações atuais têm sido principalmente o domínio de jorna listas, filósofos, romancistas e cineastas. Acreditamos que isso deve mudar.

Aqui apelamos para o tratamento dos mecanismos e incertezas associados ao colapso climático como um tópico criti camente importante para a investigação científica. Fazer isso requer esclarecer o que significa “colapso de civilização” e explicar como ele se conecta a tópicos abordados na ciência do clima, como o aumento dos riscos de eventos climáticos extremos de início rápido e lento. Esse tipo de informação, afirmamos, é crucial para o público e para os formuladores de políticas, para quem o colapso climático pode ser uma preocupação séria.

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As consequências das mudanças climáticas provavelmente serão terríveis – e, em alguns cenários, catastróficas. Os estudiosos precisam começar a discutir os mecanis mos pelos quais as mudanças climáticas podem causar o colapso real das civilizações por *Daniel Steel, C. Tyler DesRoches e Kian Mintz-Woo Fotos: Flickr/Spencer, Jeff Vanuga/Getty, Reuters, Unnsplash, Wikipedia As mudanças climáticas podem causar o colapso das civilizações atuais

Nossa análise se baseia nas pesqui sas mais recentes, incluindo Kemp et al. ‘s PNAS Perspective, que chamou a atenção para a importância de explo rar cientificamente as maneiras pelas quais os resultados climáticos podem impactar sistemas socioeconômicos complexos. Vamos mais longe ao for necer mais detalhes sobre o colapso social, por exemplo, distinguindo três cenários progressivamente mais gra ves. Além disso, enfatizamos evitar o viés de condenação e recomendamos estudar os mecanismos de colapso em conjunto com adaptação e resiliência bem-sucedidas, vendo-os como dois lados da mesma moeda.

Cenários de Recolher

Definimos o colapso da civilização como a perda da capacidade da socie dade de manter as funções essenciais de governança, especialmente a manuten ção da segurança, o estado de direito e o fornecimento de necessidades básicas, como comida e água.

O colapso da civilização nesse sentido pode estar associado a conflitos civis, violência e escassez generalizada e, por tanto, ter efeitos extremamente adver sos no bem-estar humano.

Esses colapsos podem ser de escopo mais amplo ou mais restrito, por isso consideramos três cenários represen tativos. Além disso, enfatizamos evitar o viés de condenação e recomendamos estudar os mecanismos de colapso em conjunto com adaptação e resiliência bem-sucedidas, vendo-os como dois la dos da mesma moeda.

No primeiro, a mudança climática causa colapso em locais específicos e vulneráveis, enquanto a civilização em outros lugares é amplamente capaz de se adaptar aos impactos climáticos. Chame isso de colapso local. A guerra civil síria foi sugerida como um exem plo de colapso climático em escala local. Simulações de modelo indicam que o tipo de seca implicado na guerra era duas vezes mais provável de acon tecer devido às mudanças climáticas antropogênicas. Este exemplo ilustra que o colapso climático não precisa ser determinado apenas por fatores ambientais: outras causas, como con flito político preexistente e governo incompetente, podem ser cruciais.

O exemplo também ilustra as terríveis consequências para o bem-estar humano que o colapso pode ter e que os colapsos locais podem contribuir para a instabili dade política em lugares não colapsados, como ilustrado pelo crescente populismo de direita na Europa em resposta ao in fluxo de refugiados sírios.

Em nosso segundo cenário, os colap sos urbanos e, às vezes, até nacionais são generalizados, mas alguns grandes cen tros urbanos e governos nacionais ainda existem. Esses centros existentes sofrem impactos climáticos negativos, como es cassez persistente de água e alimentos. Em seu livro que discute a ética e a po lítica de um mundo pós-apocalíptico em potencial, o filósofo Tim Mulgan se refe re a esse tipo de cenário como o mundo quebrado; adotamos seu rótulo aqui.

O mundo quebrado difere do colapso local em seu escopo mais amplo e no funcionamento prejudicado em todo o mundo de lugares não colapsados. Preocupações de que as mudanças cli máticas possam tornar “grandes áreas da Terra inabitáveis” sugerem um re sultado pelo menos tão ruim quanto o mundo quebrado.

Em nosso terceiro cenário, que cha mamos de colapso global, todas as grandes áreas urbanas em todo o mun do estão virtualmente abandonadas, os estados-nação em funcionamento não existem mais e a população mundial sofre um declínio significativo. Essa si tuação catastrófica é talvez o que a fra se “colapso da civilização” evoca para a maioria das pessoas.

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Colapso da civilização é a perda da capacidade da socie dade de manter as funções essenciais de governança A guerra civil Síria foi sugerida como um exemplo de colapso climático em escala local

No entanto, é útil ver o colapso global como uma extensão do mundo quebra do, em que os estados e centros urbanos restantes que não entraram em colapso, que então se tornaram altamente vul neráveis, são empurrados para o limite por mais impactos climáticos. O colapso climático, então, pode não ser um even to abrupto, mas sim um processo exten so que começa pequeno e se desenvolve ao longo de um século ou mais.

Representar o colapso climático como um processo extenso aumenta as com plexidades éticas e científicas. Do lado ético, alguns lugares estão em risco mais iminente de colapso do que outros. Assim, o que é considerado uma mu dança climática catastrófica pode diferir de acordo com a localização. Por exem plo, as Maldivas podem ver o aumento médio da temperatura global de 1,5°C como um risco de colapso intolerável, enquanto o Canadá não. Assim, embora o colapso climático possa ameaçar uma catástrofe global compartilhada, pode criar questões éticas difíceis sobre como equilibrar interesses conflitantes.

Do lado científico, os casos de co lapso estudados por historiadores e arqueólogos foram locais, enquanto cenários de colapso climático mais severos, como o mundo quebrado ou o colapso global, seriam fenômenos mundiais. Consequentemente,

Mecanismos de Recolhimento

Os cenários descritos acima não são previsões. Uma importante questão inicial é se existem mecanismos plau síveis pelos quais cenários como o mundo quebrado ou o colapso global podem ocorrer e, em caso afirmativo, o que pode ser feito para neutralizá-los. Vários mecanismos que podem causar colapso global ou um mundo quebrado foram discutidos. Nós os agrupamos em três tipos: impactos diretos, fee dbacks socioclimáticos e vulnerabili dade a choques exógenos.

Mecanismos de impacto direto levan tam a hipótese de que impactos climáti cos severos e compostos – elevação do nível do mar, seca, inundações, calor extremo e assim por diante – podem minar a agricultura, a disponibilidade de água e outras bases essenciais da civilização. Esses mecanismos geral mente envolvem feedbacks climáticos ou pontos de inflexão nos quais, por exemplo, um aumento da temperatura global de 2°C desencadeia o colapso rá pido e irreversível das camadas de gelo da Antártida, liberações de metano do permafrost ou morte das florestas.

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Aumento da temperatura global de 2°C desencadeia o colapso rápido e irreversível das camadas de gelo da Antártida Vulnerabilidade a choques exógenos

Em contraste, os mecanismos de fee dback socioclimático propõem que os impactos adversos das mudanças cli máticas, especialmente na produção de alimentos, podem causar conflitos e disfunções políticas que prejudicam a capacidade de adaptação ao mesmo tempo em que levam a ações, como proibições à exportação de alimentos ou guerras, que espalham a desestabili zação e aceleram colapso.

Por fim, os mecanismos de vulnerabi lidade a choques exógenos sugerem que as mudanças climáticas podem enfra quecer as capacidades adaptativas por meio de processos descritos nos dois primeiros tipos de mecanismos, deixan do a sociedade global vulnerável ao co lapso desencadeado por outros tipos de choques, como guerras ou pandemias.

Pesquisas históricas e arqueológicas sugerem que colapsos sociais passados raramente foram o resultado de per turbações climáticas diretas, mas fo ram mais comumente atribuídos a uma combinação de estressores.

No entanto, isso não significa que o risco de colapso climático seja exage rado. Ao contrário, sugere que o co lapso pode resultar de impactos cli máticos aos quais a civilização global pode ter se adaptado. Essa é, de fato, a mensagem dos mecanismos de fee dback socioclimático e vulnerabilida de de choque exógeno: o risco para a civilização não é apenas dos impactos climáticos diretos, mas sim dos im pactos que ocorrem em conjunto com feedbacks sociais disfuncionais e ou tros fatores desestabilizadores.

Finalmente, a raridade do colapso como resultado direto de mudanças cli máticas no passado pode ser um mau guia para um futuro fora do clima está vel do Holoceno médio.

As conexões profundas entre os me canismos de colapso climático e a lite ratura científica sobre aspectos sociais, econômicos e políticos das mudanças climáticas são bastante limitadas. Além disso, discussões sobre feedbacks socio climáticos e mecanismos de vulnera bilidade a choques exógenos tendem a se concentrar em riscos de colapso sem considerar casos históricos de adapta ção bem-sucedida a desafios ambientais de magnitude semelhante a alguns im pactos climáticos potenciais.

Casos de elevação do nível do mar rela tivo devido à subsidência, por exemplo, muitas vezes não resultaram no abando no de centros urbanos, mas na constru ção de grandes defesas marítimas e na extensão das costas. Da mesma forma, discussões sobre mecanismos de colapso raramente discutem fatores econômi cos, especialmente custos decrescentes de energia eólica e solar, que podem fornecer incentivos para uma rápida transição para longe dos combustíveis fósseis. Diante do exposto, oferecemos duas recomendações sobre como a pes quisa sobre o risco de colapso climático pode prosseguir de forma mais frutífera. Em primeiro lugar, sugerimos que mais esforços científicos sejam dedicados ao estudo de feedback socioclimático e me canismos de colapso climático de vulne rabilidade a choques exógenos.

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Futuro fora do clima estável do Holoceno médio Especialistas estimam que as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem precisam ser cortadas pela metade até o final da década e eliminadas até a metade do século, a fim de manter o aquecimento abaixo de 2 graus até 2100

Entre outras coisas, isso envolve maior atenção aos caminhos pelos quais os impactos climáticos diretos podem interagir com fatores sociais, econômicos e políticos para ameaçar o colapso da sociedade. Em segun do lugar, os mecanismos de colapso devem ser sistematicamente exami nados em conjunto com os proces sos causais envolvidos na adaptação bem-sucedida aos desafios ambien tais, bem como forças econômicas e políticas que podem impulsionar uma transição verde. Consideração da complexa interação de fatores sociais, ambientais. O desafio é trazer o estu do dos mecanismos que podem causar o colapso da civilização atual a esse padrão de rigor científico.

Riscos sérios?

Alguns podem objetar que níveis de aquecimento capazes de produzir cená rios de colapso severo, como o mundo quebrado ou o colapso global, não me recem consideração séria. Por exemplo, alguns argumentam que os cenários de emissões de alto nível considerados pelo IPCC pressupõem aumentos no uso de carvão ao longo do século 21 que são im plausíveis, dados os custos decrescentes das energias renováveis.

E um artigo publicado recentemente na Nature conclui que as atuais pro messas climáticas, se todos forem total mente implementadas dentro do crono grama, podem manter o aquecimento global abaixo de 2°C.

Embora os custos decrescentes das energias renováveis e as promessas de neutralidade de carbono sejam sinais bem-vindos, achamos que é muito cedo para deixar de lado as preocu pações sobre o mundo quebrado ou o colapso global. Ambas as vias de alta emissão consideradas no relatório mais recente do Grupo de Trabalho I do IPCC contêm aumentos de 4°C na faixa “muito provável” de 2081 a 2100, um nível de aquecimento que muitos cientistas consideram uma ameaça significativa para civilização. Além disso, a experiência passada sugere que as promessas climáticas podem não se traduzir em políticas efetivas e oportunas e, sem esforços conjuntos dos governos, não há certeza de que as forças do mercado levarão a uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis com rapidez suficiente para evitar o colapso climático.

Os mercados de energia são muitas vezes difíceis de prever, como ilustra o ressurgimento do uso de carvão para um recorde histórico em 2021. Enquan to isso, o caminho mais alto de con centração de gases de efeito estufa do IPCC, RCP 8.5, permanece próximo das observações e pode permanecer assim se os ciclos de feedback negativo, como as emissões do derretimento do per mafrost e a morte das florestas, ocorre rem mais cedo do que o esperado.

Finalmente, os cenários de baixa emissão considerados pelo IPCC en volvem mais do que uma eliminação progressiva dos combustíveis fósseis: eles também assumem emissões nega tivas sustentadas a partir de meados do século que podem não ser tecnologica mente ou economicamente viáveis.

Uma avaliação sóbria do risco de co lapso climático e dos caminhos pelos quais ele pode ser mantido sob contro le, sugerimos, pode ajudar a acalmar os nervos e estimular a ação.

Não há, em suma, nenhuma base sólida no momento para descartar o mundo quebrado e o colapso global como muito improváveis para mere cer uma consideração séria. Dada a importância moral e prática desses cenários, acreditamos que a ciência deve se esforçar para aprender mais sobre os mecanismos que podem levar a eles. Como um tema de preocupação urgente para a humanidade, o risco de

colapso climático exige uma investiga ção científica cuidadosa. E pesquisas sobre tópicos intimamente relaciona dos – como casos passados de colapso, limites à adaptação e risco sistêmico – tornam difícil argumentar que o co lapso climático é impossível de estudar cientificamente. Ainda assim, alguns podem se preocupar que a busca de es tudos científicos sobre o colapso climá tico cause ansiedade e incentive o de sengajamento emocional da ação sobre as mudanças climáticas.

Nós discordamos. Alertas sobre o colapso climático emitidos por cien tistas e figuras públicas cientificamen te informadas já estão presentes no discurso público, enquanto dados de pesquisas sugerem que as mudanças climáticas são uma fonte de preocupa ção e ansiedade pública generalizada. Contra esse pano de fundo, o estudo científico cuidadoso do colapso cli mático pode funcionar como um con trapeso às discussões sobre o colapso climático que são sensacionalistas ou tendenciosas para pressagiar a desgra ça. E, dependendo dos resultados da pesquisa, pode servir de refutação aos céticos que se recusam a levar a sério a possibilidade de um colapso climá tico. Uma avaliação sóbria do risco de colapso climático e dos caminhos pelos quais ele pode ser mantido sob contro le, sugerimos, pode ajudar a acalmar os nervos e estimular a ação.

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Emissões do derretimento do permafrost na região ártica de Svalbard, Noruega.

COP27: Mundo a caminho de aumentar as emissões em 10,6% até 2030 - relatório da ONU

Planos climáticos permanecem insuficientes: ações mais ambiciosas são necessárias agora. O novo relatório da ONU Climate Change mostra que os países estão dobrando a curva das emissões globais de gases de efeito estufa para baixo, mas sublinha que esses esforços permanecem insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius até o final do século. De acordo com o relatório, as promessas climáticas combinadas de 193 Partes sob o Acordo de Paris podem colocar o mundo no caminho certo para cerca de 2,5 graus Celsius de aquecimento até o final do século

Se os países cumprirem seus atuais compromissos climáti cos, as emissões globais de ga ses de efeito estufa aumentarão 10,6% até 2030 em comparação com os níveis de 2010, de acordo com um relató rio das Nações Unidas divulgado recente mente. O Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas diz que uma redução de 43% nas emissões até 2030 é necessária para limitar o aqueci mento a 1,5 graus Celsius acima das tem peraturas pré-industriais.

Este estudo esclarece a necessidade de abordagens abrangentes de mitiga ção de CO2 e não-CO2 para abordar o aquecimento de curto e longo prazo. Os gases de efeito estufa (GEEs) não-CO2 são responsáveis por quase metade de todas as forças climáticas de GEE. No entanto, a importância de poluentes não CO2, em particular poluentes climáticos de vida curta, na mitigação do clima tem sido sub-representada. Quando as emis sões históricas são divididas em fontes de combustível fóssil (FF) e não rela cionadas a FF, descobrimos que quase metade do forçamento positivo de FF e fontes de mudança de uso da terra de emissões de CO2 foi mascarado pela coemissão de aerossóis de resfriamento. Combinando descarbonização com medidas de mitigação visando não CO2 poluentes é essencial para limitar não ape nas o aquecimento de curto prazo (próximos 25 anos), mas também o aquecimento de 2100 abaixo de 2°C.

Comparação das emissões globais em cenários avaliados no Painel Intergovernamental sobre Relatório Especial de Mudanças Climáticas sobre o Aquecimento Global de 1,5°C com emissões globais totais de acordo com a contribuições determinadas nacionalmente

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Fumaça sai das torres de resfriamento de uma usina a carvão em Ahmedabad, Índia, 13 de outubro de 2021 por *Glória Dickie Fotos: REUTERS/Amit Dave/File, UNPCC, Unsplash

Com a expectativa de que os líde res mundiais se reúnam em Sharm el -Sheikh, no Egito, para a cúpula climáti ca da COP27 a partir de 6 de novembro, especialistas disseram que mais ações são necessárias com urgência.

Com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27) ao virar da esquina, Simon Stiell, secretário executivo da ONU Mudanças Climáticas, pediu aos governos que revisem seus pla nos climáticos e os tornem mais fortes, a fim de fechar a lacuna entre para onde as emissões estão indo e para onde a ciência indica que deveriam estar nesta década.

“A COP 27 é o momento em que os lí deres globais podem recuperar o impul so sobre as mudanças climáticas, fazer o pivô necessário das negociações para a implementação e avançar na transforma ção massiva que deve ocorrer em todos os setores da sociedade para enfrentar a emergência climática”, disse ele.

Stiell está pedindo aos governos nacio nais que venham à COP 27 para mostrar como eles colocarão o Acordo de Paris para funcionar em seus países de origem por meio de legislação, políticas e progra mas, bem como como eles cooperarão e fornecerão suporte para implementação. Ele também está pedindo que as nações avancem na COP 27 em quatro áreas prioritárias: mitigação, adaptação, perdas e danos e finanças.

“A COP27 será o divisor de águas do mundo sobre a ação climática”, disse Sa meh Shoukry, ministro egípcio das Rela ções Exteriores e presidente designado da COP27. “O relatório da ONU Mudanças Climáticas e antes do IPCC são um lem brete oportuno para todos nós.

Aumentar a ambição e a implementa ção urgente é indispensável para enfren tar a crise climática. Isso inclui cortar e remover as emissões mais rapidamente e em um escopo mais amplo de setores eco nômicos, para nos proteger de impactos climáticos adversos mais severos e perdas e danos devastadores”.

“O relatório de síntese é um testemunho do fato de que estamos fora do caminho para alcançar o Objetivo Climático de Pa ris e manter o 1,5 grau ao nosso alcance”, acrescentou Shoukry.

“Este é um momento preocupante e estamos em uma corrida contra o tem po. Vários daqueles que devem fazer mais estão longe de fazer o suficiente, e as consequências disso estão afetando vidas e meios de subsistência em todo o mundo. Estou consciente de que é e deve ser uma ação contínua até 2030 e depois 2050, no entanto, essas desco bertas alarmantes merecem uma res posta transformadora na COP27”.

O presidente da COP 26, Alok Sharma, disse: “É fundamental que façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para manter 1,5°C ao alcance, como prometemos no Pacto Climático de Glasgow. Esses rela tórios mostram que, embora tenhamos feito algum progresso - e cada fração de grau conta -, muito mais é necessário com urgência. Precisamos que os principais emissores intensifiquem e aumentem a ambição antes da COP27”.

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Simon Stiell, secretário executivo da ONU Mudanças Climáticas Sameh Shoukry, ministro egípcio das Relações Exteriores e presidente designado da COP27

COP 27 discutiu financiamento para redução de emissões florestais e adaptação

As florestas são uma poderosa solução baseada na natureza para a mudança climática com o potencial de absorver quatro gigatoneladas de carbono por ano. Evento do UN-REDD buscou mobilizar fundos para alcançar um gigatonelada de reduções anuais de emissões de florestas até 2025, e anualmente depois disso. Outro evento focado nas principais descobertas do Land Gap Report destacou que existe uma enorme lacuna entre a quantidade de terra necessária para atender às promessas da NDC e a terra disponível para esse fim

OPrograma das Nações Unidas sobre Redução de Emissões por Desmata mento e Degradação Flo restal (UN-REDD) e o Green Gigaton Challenge têm como objetivo mobilizar fundos para alcançar uma gigatonelada de reduções anuais de emissões de flo restas até 2025, e anualmente depois disso. Este foi o foco de um evento pa ralelo na Conferência de Mudanças Cli máticas de Sharm el-Sheikh (UNFCCC COP 27), que discutiu as conclusões do relatório intitulado “Making Good on the Glasgow Climate Pact: A Call to Action to Achieve One Gigaton of Emis sions Reduções de Florestas até 2025”. Durante o evento de 11 de novembro , Susan Gardner, do Programa Ambien tal da ONU (PNUMA), destacou que as florestas são uma poderosa solução baseada na natureza com potencial

para absorver quatro gigatoneladas de carbono por ano, citando a Declaração

50-100

dos Líderes Mundiais de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra .

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Cooperação climática internacional por meio de mercados de carbono que incluem florestas tropicais pode resultar em quase o dobro das reduções de emissões Desbloqueando o primeiro gigaton de abastecimento (etapa crucial), o objetivo do Desafio Gigaton Verde na próxima década, deve haver ampla oportunidade de entregar US$ bilhões em ações públicas e internacionais combinadas com apoio privado para REDD+ Fotos: IISD/ENB | Ángeles Estrada, Mahendra Parikh/Hindustan Times

Ela enfatizou a necessidade de se comprometer com um preço mais alto para o carbono e um financiamento jus to e baseado em resultados para estabe lecer um mercado de carbono funcional e garantir a integridade das reduções de emissões. Maggie Charnely, Departa mento de Negócios, Energia e Estraté gia Industrial, Reino Unido, destacou a criação da Forest and Climate Leaders Partnership na COP 27, que busca deter e reverter a perda de florestas e a de gradação da terra até 2030, ao mesmo tempo em que oferece desenvolvimento sustentável e promove uma transforma ção rural inclusiva.

Dirk Nemitz, Secretariado da UN FCCC, destacou três ações necessárias: criar impulso político para lidar com o desmatamento, traduzindo as promes sas de proteger as florestas em ação no terreno; uma perspectiva de longo pra zo sobre o financiamento baseado em

resultados, na qual os mercados têm certeza de que os pagamentos estarão disponíveis; e métricas que asseguram a prestação de contas das promessas. Os palestrantes também enfatizaram que os Povos Indígenas devem ser incluídos na formulação de políticas, programa ção e gerenciamento de projetos e im plementação, e que o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pro meteu proteger os Povos Indígenas.

Outro evento paralelo , organizado pela Griffith University, em colaboração com a Lund University, concentrou-se nas principais conclusões do Land Gap Report , que explora as lacunas entre os planos climáticos dos governos e a fal ta de terra para cumprir promessas e compromissos. O relatório mostra que as contribuições determinadas nacio nalmente (NDCs) refletem uma depen dência irreal da remoção de carbono baseada na terra e que existe uma enor

me lacuna entre a quantidade de terra necessária para cumprir as promessas da NDC e a terra disponível para esse fim, com a mudança de uso da terra já excedendo limites planetários.

A governança multinível como catali sadora do financiamento da adaptação no nível local foi o tema de um evento , convocado pela Secretaria da Rede Glo bal do NAP, que abordou as lições apren didas e as melhores práticas na criação de vínculos estratégicos com os proces sos do Plano Nacional de Adaptação (NAP) que apresentam uma oportunida de estabelecer mecanismos para canali zar o financiamento aos níveis locais.

Representantes da África e da Amé rica Latina compartilharam suas ex periências com planejamento e imple mentação de adaptação local.

Anne Hammill, Secretaria da Rede Global do NAP, Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), descreveu as áreas de trabalho da Rede Global do NAP , incluindo: su porte técnico de curto e longo prazo para os países; intercâmbio e aprendizagem entre pares Sul-Sul; e mobilização de conhecimento que inclui a plataforma NAP Trends , que fornece resumos das informações em documentos do NAP e análises de tendências entre os países.

Outro evento concentrou-se na ne cessidade e potencial de abordagens sensíveis ao gênero para construir re siliência climática em contextos de vul nerabilidade, insegurança alimentar e conflito entre mulheres agricultoras na África e na Ásia. O Grupo Consulti vo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) organizou o evento.

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Durante o Forests and Climate Leaders’ Partnership (FCLP) – novo fórum político com governos e parceiros para trabalhar na imple mentação de soluções que reduzam a perda florestal, lançado na Cúpula inaugural de Líderes Florestais e Climáticos, – uma parce ria voluntária de 26 países comprometidos com a entrega, responsabilidade e inovação sobre Florestas e Uso da Terra O Land Gap Report apresentado, analisa as lacunas entre os planos climáticos oficiais dos governos e a falta de terra para cumprir promessas e compromissos

COP27: Os custo crescente dos desastres climáticos

Alista dos 10 eventos mais caros da última década fornecida pela empresa de modelagem de risco RMS, ocorreu nos últimos cinco anos.

Embora as maiores perdas ocorram em países mais ricos com ativos mais caros, países em desenvolvimento como o Paquistão, que sofreram inundações este ano que custaram cerca de US$ 3 bilhões, muitas vezes sofrem o impacto de eventos climáticos prejudiciais.

Como levar dinheiro para os países mais pobres após desastres climáticos tem sido um tema dominante nas ne gociações do clima da COP27 no Egito, e o seguro é visto como uma maneira de fazer isso. Um plano liderado pelo G7 apelidado de “Escudo Global” para fornecer seguro pré-arranjado e fi nanciamento de proteção contra desas tres para países que sofrem desastres climáticos foi lançado na conferência do clima. Coordenado pelo presidente do G7, Alemanha, e pelo grupo V20 de países vulneráveis ao clima, o “Escudo Global” visa fornecer rapidamente se guro pré-arranjado e financiamento de proteção contra desastres após eventos como inundações, secas e furacões.

Desastres classificados por perdas econômicas, seguradas e não seguradas, com as mais caras em primeiro lugar

1. Incêndios na Califórnia em 2017-2018

Após uma seca de vários anos na Ca lifórnia, vários incêndios destruíram mais de 100 milhões de árvores.

Piores incêndios: Tubbs Fire outubro de 2017, Camp Fire novembro de 2018.

Prejuízo em 2017: US$ 180 bilhões. 2017 mortes: 40. Prejuízo em 2018: US$ 148,5 bilhões. 2018 mortes: 103. Perda total: US$ 328,5 bilhões

2. Furacões no Atlântico Harvey, Irma, Maria agosto -setembro de 2017

Os três furacões devastaram partes da Flórida, Texas, Porto Rico e Cari be. Perda de Harvey: US$ 125 bilhões. Mortes de Harvey 88.Perda da Irma: US$ 65 bilhões.

Mortes de Irma: 134. Perda de Ma ria: US$ 107 bilhões. Mortes de Maria: 4.600. Perda total: US$ 297 bilhões.

3. Incêndios florestais australianos 2019-2020

Quase 11 meses de incêndios afetaram 80% dos australianos e mataram ou deslo caram pelo menos três bilhões de animais. Mortes: 34 Perda total: US$ 110 bilhões.

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A mudança climática elevou o custo dos desastres naturais, já que o aumento do nível do mar e a seca aumentam a frequência e a gravidade de inundações e incêndios florestais, dizem seguradoras e especialistas em modelagem de risco
Fotos: Karen Robinson Tropas do Exército evacuam pessoas de área atingida por enchente em Ra janpur, distrito de Punjab, Paquistão, 27 de agosto de 2022. (Asim Tanveer/AP) O Camp Fire destruiu a cidade de Paradise, no norte da Califórnia, deixando para trás escombros onde antes ficavam casas e empresas. Noah Berge. Ass Press

4. Furacão Ian, Flórida, setembro de 2022

O furacão atingiu o sudoeste da Fló rida e a Carolina do Sul, com uma tem pestade de 4 metros de altura na costa oeste da Flórida. Mortes: 101. Perda to tal: mais de US$ 100 bilhões

5. Furacão Ida agosto de 2021

O furacão atingiu a Louisiana e tam bém trouxe fortes chuvas e inundações para Nova Jersey e Nova York. Mortes: 107. Perda total: US$ 75 bilhões

6. Inundações na Alemanha e na Bélgica em julho de 2021

Entre 12 e 15 de julho de 2021, chuvas intensas causaram níveis recordes nos rios e deixaram um rastro de destrui ção, principalmente na Bélgica e Ale manha, mas também na Áustria, Suíça e Holanda. Mortes: 230. Perda total: 40 bilhões de euros

7. Tufões Faxai e Hagibis no Japão de agosto a outubro de 2019

Os dois tufões atingiram o centro e o les te do Japão, com Faxai causando a perda de energia de 900.000 casas, enquanto mais de sete milhões de pessoas foram

instruídas a evacuar devido a Hagibis. Perda de faxai: US$ 9,1 bilhões. Perda de Hagibis: US$ 17 bilhões. Mortes de Hagi bis: 85. Perda total: US$ 26,1 bilhões

8. Onda de calor europeia no verão de 2022

A Europa Central sofreu três ondas de calor ao longo do verão, incluindo a temperatura mais alta até agora medida na Grã-Bretanha em 40,3 graus Celsius (104,54 ° F). Mortes: 1.500 por excesso de calor. Perda total: mais de 10 bilhões de euros (US$ 10,43 bilhões)

9. Onda de calor no noroeste dos

EUA e na Colúmbia Britânica, Canadá, de

junho a julho de 2021

Uma onda de calor extrema de 25 de junho a 1º de julho no oeste do Canadá e no noroeste do Pacífico dos EUA cau sou muitos incêndios florestais. Fatali dades: 1.400 como resultado do excesso de calor. Perda total: US$ 8,9 bilhões

10. Inundações no Paquistão de junho a agosto de 2022

As intensas chuvas de monção e o ca lor incomum nas montanhas Karako ram levaram a um derretimento glacial sem precedentes, iniciando inundações em 14 de junho. As enchentes nas pla nícies de inundação do Indo levaram meses para diminuir.

As inundações deslocaram oito mi lhões de pessoas. Mortes: 1.717. Perda total: US$ 3 bilhões

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Devastação em todo o Paquistão. Inundações em cidades, terras agrícolas, margens de rios e áreas rurais baixas. Aaj TV Um homem caminha entre os escombros de casas danificadas por um tornado causado pelo tufão Hagi bis em Ichihara, província de Chiba, leste de Tóquio, em 12 de outubro de 2019. Fotografia: EPA/Jiji Press Restos de casas destruídas são vistos quase um mês após a chegada do furacão Ian em Fort Myers Beach, Flórida, EUA, 26 de outubro de 2022. REUTERS/Marco Bello
[*] RMS

Brasil e nações com floresta tropical unem forças para salvar a selva

Países da COP27 se unem para cumprir promessa florestal

26 países nas negociações cli máticas, lançaram na COP27 um grupo que, segundo eles, garantirá que se responsabi lizem mutuamente pela promessa de acabar com o desmatamento até 2030 e anunciaram bilhões de dólares para financiar seus esforços.

A primeira reunião da Forest and Cli mate Leaders’ Partnership, presidida por Gana e Estados Unidos, acontece um ano depois que mais de 140 líderes prometeram na COP26 na Grã-Breta nha acabar com o desmatamento até o final da década.

Desde então, o progresso tem sido ir regular , com apenas alguns países ins tituindo políticas mais agressivas sobre desmatamento e financiamento.

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Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo anunciam aliança dos países detentores das maiores florestas tropicais do mundo Fotos: Thomson Reuters Levi Sucre, Coordenador de a Aliança Mesoamericana de Povos e Florestas (AMPB) e Co-Presidente do GATC, fez um apelo urgente à ação aos líderes mundiais durante a COP27

O novo grupo - que inclui Japão, Pa quistão, República do Congo, Reino Unido e outros - responde por cerca de 35% das florestas do mundo e pretende se reunir duas vezes por ano para acom panhar o progresso. Omissões notáveis do grupo são o Brasil com sua floresta amazônica e a República Democrática do Congo, cujas vastas florestas abri gam animais selvagens ameaçados de extinção, incluindo gorilas.

“Esta parceria é um próximo passo crítico para cumprir coletivamente essa promessa e ajudar a manter vivo o ob jetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C”, disse o britânico Alok Sharma, que presidiu as negociações da COP do ano passado, em comunicado.

As declarações diziam que cerca de 22% dos US$ 12 bilhões em dinheiro público prometidos para florestas até 2025, fundos comprometidos em Glas gow, até agora foram desembolsados.

Entre as novas fontes de financiamento,

a Alemanha disse que dobrará seu finan ciamento para florestas para 2 bilhões de euros (US$ 1,97 bilhão) até 2025.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também membro do grupo, disse na cúpula que o país gastará US$ 200 milhões anualmente nos próximos 20 anos para salvar a floresta amazônica, pedindo que outros países contribuam.

Dinheiro privado se ajuda

Empresas privadas anunciaram US$ 3,6 bilhões em dinheiro extra. Eles in cluem a empresa de investimentos Sou thBridge Group, criando um fundo de US$ 2 bilhões para esforços de restaura ção na África, a região com a maior flo resta tropical depois da América do Sul.

O Grupo Volkswagen (VOWG_p.DE) e o Grupo H&M assinaram uma iniciativa separada, The LEAF Coalition, lançada na COP26, na qual governos e empresas pagam países com florestas tropicais e

subtropicais pela redução de emissões. O Equador também se torna o primeiro país a assinar um memorando de acordo com a Emergent, coordenadora da coa lizão, que visa ver um acordo vinculante de pagamento de redução de emissões assinado até o final de abril de 2023.

Coreia do Sul também concordou em ser o primeiro governo asiático a fornecer financiamento para a coalizão, juntando -se aos fundadores Grã-Bretanha, No ruega e Estados Unidos. “A necessidade é urgente – pelo clima, pela biodiversidade e pelas pessoas que dependem das flores tas”, disse o executivo-chefe emergente Eron Bloomgarden. Outras iniciativas para cumprir o compromisso florestal de 2030 também anunciaram progres sos incrementais na abertura da COP27. Uma coalizão de 26 governos e institui ções de caridade disse que 19% dos US$ 1,7 bilhão prometidos às comunidades indígenas para promover direitos à terra e proteção florestal foram pagos.

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26 países e a União Europeia lançaram a Parceria dos Líderes Florestais e Climáticos na COP27

A parceria é copresidida pelos EUA e Gana, com os países membros se comprometendo a liderar nas áreas de ação do FCLP que são então apoiadas, lideradas, estabelecidas ou apresentadas pelo FCLP. Essas áreas de ação são:

☆ Colaboração internacional na economia de uso sustentável da terra e cadeias de suprimentos ☆ Mobilização de financiamento público e de doadores para apoiar a implementação ☆ Mudando o sistema financeiro privado

☆ Apoiar as iniciativas dos Povos Indígenas e das comunidades locais

☆ Fortalecimento e dimensionamento dos mercados de carbono para florestas

☆ Parcerias e incentivos para a preservação de florestas de alta integridade.

Neste primeiro evento da FCLP, foram anunciados progressos e novos compromissos para deter e reverter a perda florestal até 2030. Novos compromissos incluem a Alemanha dobrando seu financiamento para florestas de € 1 bilhão para € 2 bilhões até 2025, e mais US$ 3,6 bilhões de capital privado comprometidos na COP27.

Mas apesar da promessa de pagar a maior parte do dinheiro diretamente às comunidades locais, cerca de me tade dos fundos foram encaminhados através de organizações não governa mentais internacionais. Apenas 7% fo ram para grupos liderados pela comu nidade, que a coalizão disse que precisa ser corrigido. “Não deveria haver nada para nós sem nós”, disse Basiru Isa, se cretário-geral regional da organização indígena centro-africana REPALEAC, comentando o assunto.

Uma iniciativa separada de investi dores para pressionar as empresas a eliminar o desmatamento até 2025 dis se que a gestora de ativos suíça GAM Investments, a gestora de pensões do Reino Unido London CIV, SouthBridge e o Banco Estado de Chile se juntaram à aliança. Em setembro, a iniciativa anunciou padrões que as empresas de vem seguir para rastrear commodities e divulgar links para desmatamento.

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Nações com florestas tropicais unem forças para salvar a selva Vista aérea de região desmatada da floresta amazônica em Manaus

22º Futurecom

A22ª edição do Futurecom –maior evento de tecnologia, telecomunicações e transfor mação digital da América La tina, teve o 5G como grande protagonista das suas discussões. A palestra de abertu ra do Future Congress, com participação de Maximiliano Salvadori Martinhão, Secretário de Radiodifusão do Ministério das Comunicações, abordou o leilão 5G e os próximos passos na difusão da nova geração de internet no Brasil. “A minha ideia é falar sobre o impacto que isso vai causar nas telecomunicações do Brasil”, iniciou Maximiliano em sua palestra.

O representante do Ministério das Co municações defendeu o leilão não-arreca datório do 5G e a implementação do 5G standalone. Dentre os compromissos es tabelecidos estão 36 mil km de cobertura 4G nas rodovias brasileiras, cabos ópticos subfluviais implementados em rios do Amazonas, bem como a implementação de conexão de banda larga em escolas pú blicas.Maximiliano Martinhão apresen tou os macros números da Anatel, como 357,2 milhões de contratos de telecomu nicações (agosto/2022) e 43,7 milhões de acessos banda larga fixa. Sobre o último, o palestrante explicou: “Mais da metade dos usuários de banda larga são atendi dos por pequenos provedores de acesso.

A legislação brasileira tornou tão sim ples se tornar um ISP, que no Brasil te mos mais de 125 provedores de acesso”.

Quinta revolução industrial está chegando

Paulo Rufino, PhD Researcher em 6G na universidade de Aarhus, na Dina marca, afirmou que “Inovações promo vidas pelas novas gerações de telefonia móvel, a 5G e a 6G, a partir de 2030”. Em sua visão, a rede 6G apresenta rá atributos como hiperconectividade (IoB), sendo inteligente, onipresente e focada em energia verde e eficiência.

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Especialistas projetam a quinta revolução industrial. Debates despertam o ecossistema das TICs para as inovações promovidas pelas novas gerações de telefonia móvel, a 5G e a 6G, a partir de 2030
Durante a abertura do evento, o ministro da Educação, Victor Godoy, destacou que a Política de Recuperação das Aprendizagens, mundialmente reconhecida pelo Banco Mundial e utilizada como um modelo de referência para vários outros países Queremos uma Ferrari no 5G, não um Fusca, diz Maximiliano Martinhão Fotos: Futurecom 2022, Luis Fortes/MEC Para Paulo Rufino, PhD Researcher em 6G, a rede 6G apresentará atributos como hiperco nectividade (IoB), sendo inteligente, onipre sente e focada em energia verde e eficiência

Para o especialista, a tecnologia será humanizada, ultrarrápida, descentra lizada e segura, inteligente e cognitiva, com novas tecnologias, heterogênea e de orquestração múltipla. “O 6G parte de um princípio diferente das tecnolo gias anteriores, buscando considerar as pectos humanos prioritariamente. Essa tecnologia se inicia com base em propor cionar ajuda e auxílio para acelerar os desenvolvimentos sustentáveis designa dos pela ONU”, observa Rufino.

Future Jud

O segundo dia da 22ª edição do Future com foi marcado pela disrupção no siste ma judiciário a partir de novas tecnologias decorrentes do 5G, em tema debatido no painel “O 5G e a reinvenção do Judiciário Brasileiro”, durante o congresso Future Jud, que contou com a presença de re presentantes da Anatel, Embratel, OAB e especialistas do sistema judiciário. Abraão Balbino e Silva, superintendente-execu tivo da Anatel, explicou que o leilão do 5G trouxe um conjunto de obrigações de cobertura nos municípios, tanto do 5G, quanto do 4G.

A maior parte da população brasileira deve estar conectada em até 5 anos, e o acesso ao total ao 5G até 2029.

“A tecnologia não para”. O represen tante da Anatel apontou que as novas gerações de telecomunicação seguem um ciclo de 10 anos.

O 5G começou a ser discutido em 2010 e testado em 2020.

O mesmo acontecerá com o 5G, em que já foram iniciadas as discussões para a implantação em 2030.

Future Congress

Há alguns anos o Futurecom dedica-se a discutir a chegada do 5G ao País e, nes ta atual edição, com a tecnologia já em curso, o evento reservou grande parte da sua programação para tratar de diversas vertentes relacionadas a essa recente inovação implementada no Brasil.

Na abertura do segundo dia do Fu ture Congress, a propósito, os presen tes tiveram a oportunidade de acom panhar o painel “O jogo vai começar no Brasil inteiro? A liberação do 3.5 GHz e o início das operações 5G”. Mediado pelo presidente da Conexis, Marcos Ferrari, o painel contou com as presenças de Leandro Guerra, pre sidente da Entidade Administradora da Faixa (EAF);

Moisés Queiroz Moreira, presidente do GAISPI/Anatel; Eduardo Tude, presiden te da Teleco; Luciano Stutz, presidente da Abrintel e porta-voz do Movimento Ante ne-se, e Wilson Cardoso, CTO da Nokia.

Cidades Inteligentes à la brasileira

No painel de abertura da trilha Future GOV, o foco foi em “construir” as smart cities em todo o País, considerando as necessidades e entraves inerentes das pe quenas cidades. Participaram deste painel o gerente de Projetos do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Leonardo Luciano de Almeida Maia; o prefeito da cidade mineira de Caxambu, Diogo Curi; o prefeito de Santa Rita do Sapucaí (MG), Wander Wilson Chaves, e o seu secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Públio de Paiva Teles.

Em abril de 2021, o Inatel anunciou um projeto-teste em parceria com o BN DES, o Pilotos IoT & Cidades In teligentes, para levar projetos de smart cities para alguns municípios, incluindo ambas as cidades representadas no even to. Neste debate, foram apresentadas as primeiras impressões das aplicações de soluções inteligentes para iluminação, segurança e rastreamento de veículos. O principal objetivo do projeto é criar nas cidades envolvidas uma infraestrutura inicial para aplicação de tecnologias de sensoriamento e inteligência artificial, que facilite as decisões dos gestores pú blicos na utilização dos recursos.

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Painel do Future Congress debate os primeiros passos do 5G no Brasil e suas possibilidades futuras A discussão foi em torno dos desafios e caminhos para a fortalecimento do conceito de cidades inteligentes no Brasil Rodrigo Hühn, nosso diretor e assíduo participante do Futurecom

As possibilidades do 5G

Em sua fala durante o painel que abriu o segundo dia do Future Congress, o CTO da Nokia, Wilson Cardoso, enfatizou as por tas que serão abertas com a tecnologia de quinta geração, mencionando exemplos de novas possibilidades que contemplarão os cidadãos e as empresas. “Nosso futuro será melhor com o 5G, desde cuidar da nossa saúde, até termos uma logística toda inte grada. No campo, por exemplo, veremos novos métodos de controle de pragas. Ou tra questão envolve o advento dos gêmeos digitais, que trará um aumento de produti vidade incrível para as indústrias”, obser vou. O executivo ainda pontuou que, em 2025, o Brasil terá um crescimento incre mental de 1% em seu PIB, graças à entrada do 5G. “O edital, que criou um ambiente de crescimento e produtividade no Brasil, terá um impacto maior que a reforma da previdência. O 5G é uma maratona, que vai culminar com o 6G daqui a 10 anos e que precisa ser pensada desde agora”.

Encerramento

A 22ª edição do Futurecom encerrou -se com a certeza de que a transforma ção é definitiva. Como afirmou Paulo Rufino, pesquisador e keynote speaker do evento, 2030 é o ano previsto para o mundo presenciar a consolidação da quinta revolução industrial, que será estimulada por todas as possibilidades das aplicações a serem desenvolvidas em torno das redes móveis 5G e 6G.

Essas discussões vão se aprofundar na próxima edição do Futurecom, entre 3 e 5 de outubro de 2023. Rufino é PhD Researcher em 6G na universidade de Aarhus, na Dinamarca. Em sua visão, a rede 6G apresentará atributos como hi perconectividade (IoB), sendo inteligen te, onipresente e focada em energia verde e eficiência. “Será humanizada, ultrarrá pida, descentralizada e segura, inteligente e cognitiva, com novas tecnologias, hete rogênea e de orquestração múltipla.”

“O 6G parte de um princípio diferen te das tecnologias anteriores, buscando considerar aspectos humanos prioritaria mente. Essa tecnologia se inicia com base em proporcionar ajuda e auxílio para ace lerar os desenvolvimentos sustentáveis designados pela ONU”, observa Rufino.

O pesquisador foi a principal atra ção em painel com participação de José Marcos Câmara Brito, secretário Geral do Projeto 5G Brasil na TeleBrasil, e Wilson Cardoso, CTO Latam da Nokia, mediados por Hermano Pinto, diretor de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom.

Hermano comemora o que considera “o maior encontro de tecnologia, teleco municações e transformação digital da América Latina”. “Este ano, ratificamos a determinação do público brasileiro em retomar os eventos presenciais para networking e desenvolvimento de negó cios.” Foram mais de 30 mil visitantes nos três dias, 800 palestrantes do con gresso, mais de 200 horas de conteúdo e mais de 250 marcas expositoras. Fu turecom 2023 já tem data marcada: 3 a 5 de outubro de 2023

Sobre o Futurecom

O Futurecom é uma plataforma que impulsiona o ecossistema de tecnologia e telecomunicações, apresentando solu ções para o seu negócio, por meio de co nexões de comunidades, relacionamen tos e conteúdo de qualidade em todos os ambientes: digital, físico e híbrido. O Futurecom conta hoje com uma base de dados qualificada, com mais de 141 mil contatos de profissionais do setor e diversos canais, como plataforma de negócios, website, redes sociais e uma plataforma de conteúdo exclusivo. Fu turecom é o parceiro estratégico ideal para promover marcas, lançar produ tos, gerar leads qualificados e realizar ações personalizadas para obtenção de um melhor retorno de investimento, com mais foco e assertividade.

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Hermano Pinto, responsável pelo Futurecom, com Paulo Rufino e os representantes da TeleBrasil e Nokia Foram mais de 30 mil visitantes nos três dias, 800 palestrantes do congresso Futurecom 2022 Da esquerda para direita: Paulo Rufino, Aarhus University; José Marcos Câmara Brito, Inatel; Wilson Cardoso, Nokia

8ª Edição do Connected Smart Cities & Mobility

A8ª edição do Connected Smart Cities & Mobility (CSCM) promoveu dois dias intensos de deba te entre diversos atores que interagem no contexto das cidades inteligentes, mobilidade urbana e da conectividade. Realizado nos dias 4 e 5 de outubro, o evento atraiu mais de 3 mil profissionais, que se dividiram en tre os eventos de conteúdo – com apro ximadamente 400 palestrantes – e a área de exposição e networking, ocupa da por diversas empresas dedicadas ao desenvolvimento de soluções em tec nologias, equipamentos e serviços para o aprimoramento da conectividade e da mobilidade urbana.

“Depois desses dois dias aqui no Frei Caneca nesta verdadeira imer são no tema da mobilidade urbana e da conectividade foi possível iden tificar novas tendências este ano: é perceptível um maior comprometi mento das prefeituras em todo o país em favor de políticas que promovam a eficiência dos centros urbanos, me lhorando a oferta e a entrega de ser viços para os cidadãos, a gestão de recursos e a interação com a iniciati va privada e suas soluções.

Maior comprometimento com melho res práticas de governança pode também ser destacado. E finalmente, o empreen dedorismo em toda a sua pluralidade é outra das marcas desta edição do Con nected, o que é um indicativo claro que também o cidadão chamou para a si a sua parcela de participação e passou ao pa pel de agente de transformação”, analisa Paula Faria, CEO da Necta e idealizadora do Connected Smart Cities & Mobility.

Ranking Connected Smart Cities & Mobility 2022

Ainda na parte da manhã foi revela do o resultado do Ranking Connected Smart Cities & Mobility edição 2022. Este ano, o ranking coletou dados e in formações de todos os municípios bra sileiros com mais de 50 mil habitantes, totalizando 680 cidades e parametrizou os dados a partir de eixos temáticos de mobilidade, urbanismo, meio ambien te, tecnologia e inovação, economia, educação, saúde, segurança, empreen dedorismo, governança e energia.

No ano passado, São Paulo (SP) se manteve no primeiro lugar geral do ranking. Florianópolis (SC) foi a se gunda colocada, seguida de Curitiba (PR), Brasília (DF), São Caetano do Sul (SP), Rio de Janeiro (RJ), Cam pinas (SP), Niterói (RJ) e Salvador (BA). Também foram premiadas as cidades de Balneário Camboriú (SC), Belo Horizonte (MG), Barueri (SP), Palmas (TO), e Jaguariúna (SP).

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Comprometimento na Gestão Pública, Governança e Empreendedorismo. Evento tem recorde de público, em edição que reuniu por volta de 400 palestrantes e quase uma centena de marcas expositoras no Centro de Convenções Frei Caneca 8ª Edição do Connected Smart Cities & Mobility, durante a abertura A abertura do evento foi marcada por cerimônia e apresentação do Ranking Connected Smart Cities 2022 por *Valeria Bursztein Fotos: Connected Smart Cities, Valeria Bursztein

Este ano, a grande vencedora do ano foi a cidade de Curitiba (PR). Depois de figurar na terceira colocação no Ranking Geral do CSCM em 2021, a cidade superou São Paulo (SP) e este ano assumiu a liderança, passando a ser, em 2022, a cidade mais conecta da e inteligente do país. Na segunda colocação ficou Florianópolis (SC) e na terceira, a capital paulista.

Os curitibanos podem celebrar tam bém outras conquistas da cidade: além da liderança geral, Curitiba ocu pa a primeira posição entre as cida des da região Sul do Brasil e também entre as que têm população superior a 500 mil habitantes. Outra conquista neste ano é a primeira colocação entre os 680 municípios com mais de 50 mil habitantes mapeados pelo ranking no eixo de Empreendedorismo.

A cidade ganhou destaque também no eixo de Tecnologia e Inovação e ocupa a segunda posição.

A liderança nesta categoria foi da cidade de Fortaleza (CE). Já quando o recorte é Urbanismo, categoria lide rada pela cidade de Santos (SP), Curi tiba ficou na terceira posição, logo após Jaguariúna (SP).

Selo Connected Smart Cities 2022

Uma das novidades da edição 2022 foi o Selo Connected Smart Cities 2022 – Boas Práticas em Cidades Inteligentes, uma nova ferramenta para incentivar o de senvolvimento e reconhecer as boas práticas em cidades inteli gentes. A iniciativa é uma parce ria do Connected com a Spin –Soluções Públicas Inteligentes e a Urban Systems.

O selo avalia ações e nível de envolvimen to das cidades brasileiras em seis dimensões, sendo cinco de caráter autodeclarado e um considerando o resultado das cidades nas úl timas edições do Ranking Connected Smart Cities & Mobility, levantamento que identifi ca as cidades que melhor se posicionaram na avaliação de critérios por eixos de mobilidade, urbanismo, meio ambiente, tecnologia e ino vação, economia, educação, saúde, segurança, empreendedorismo, governança e energia.

As cidades que tiveram suas iniciativas e projetos reconhecidos pelo Selo foram: Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Cam pinas (SP), Belo Horizonte (MG), Santos (SP), São Paulo (SP) e Recife (PE) na categoria ouro; Mogi das Cruzes (SP), Tubarão (SC) e Goiânia (GO), na catego ria prata; Campo Grande (MS), Niterói (RJ), Caxias do Sul (RS), Foz do Iguaçú (PR), Lucas do Rio Verde (MT), Blume nau (SC), Jundiaí (SP), São Caetano do Sul (SP), Osasco (SP) e São Luís (MA), na categoria bronze e, Primavera do Leste (MG), Pato Branco (PR), Quatro Barras (PR), Amargosa (BA), Suzano (SP), Rio Branco (AC), Jaguariúna (SP), Palhoça (SC), na categoria aspiracional.

As dimensões analisadas no selo são as seguintes: planejamento da cidade inteli gente, avaliando boas práticas refletidas no planejamento municipal; governança da cidade inteligente, considerando boas práticas refletidas na governança da ci dade, ecossistema de inovação, avaliando boas práticas refletidas na regulação do ecossistema de inovação municipal; pla nejamento de infraestruturas e serviços de TIC, observando o impacto de boas práticas refletidas no planejamento do município; maturidade para parcerias, avaliando boas práticas refletidas na cola boração do poder privado na cidade, ten dência de evolução no ranking Connected Smart Cities, identificando o reflexo de boas práticas nos indicadores da cidade.

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O prefeito Rafael Greca recebeu os troféus concedidos a Curitiba de Cidade Mais Inteligente e Conectada do Brasil e mais Empreendedora do ranking Connected Smart Cities 2022 Selo Connected Smart Cities 2022 – Boas Práticas em Cidades Inteligentes O diretor-presidente da Prodam Johann Dantas e o secretário de Inova ção e Tecnologia Juan Quirós com os troféus da premiação por São Paulo

Prêmio Connected Smart Cities & Mobility 2022

Ainda durante o CSCM 2022 aconte ceu a premiação dos melhores projetos inovadores, orientados para a resolução de problemas das cidades e elaborados por pessoas jurídicas de direito público ou privado, com sede no Brasil. Na oitava edição, o prêmio é uma iniciativa da pla taforma Connected Smart Cities & Mobi lity, organizado pela Necta, em parceria com a Neurônio Ativação de Negócios e Causas. Este ano, o prêmio foi dividido em duas categorias: Negócios Pré-Ope racionais, referindo-se a iniciativas que ainda não atingiram o break even e que estão sendo financiadas por investimen tos e não pelo resultado das receitas e lucros gerados. A segunda categoria são Negócios em Operação, ou seja, produ tos ou serviços que já tenham gerado receita para suas empresas e que estão plenamente disponíveis no mercado.

Os premiados este ano na categoria negócios pré-operacionais foram, em pri meiro lugar, OTOH Monitoramento So noro Inteligente, da Harmonia, na segun da colocação ficou o projeto Almawave e The Data Appeal Company, da Almawa ve do Brasil e no terceiro lugar, o projeto Vi – Assistente virtual de saúde, TriVin cit – Tecnologia em Saúde e Movimento. Já na categoria Negócios em Operação, o projeto vencedor foi o projeto IPM Saú de, da IPM Sistemas, em segundo lugar ficou o CUBi Energia, da empresa que leva o mesmo nome, e o terceiro colocado foi o Claro Geodata, da Claro.

Vencedores por Eixo Temático

O primeiro lugar em Urbanismo foi para Santos (SP); Mobilidade e Acessibilidade: São Paulo (SP); Meio Ambiente: Balneá rio Camboriú (SC); Empreendedorismo: Curitiba (PR); Economia: São Paulo (SP); Tecnologia e Inovação: Fortaleza (CE); Saúde: Belo Horizonte (MG); Educação: São Caetano do Sul (SP); Segurança: São Caetano do Sul (SP); e Governança: Bal neário Camboriú (SC).

Connected Smart Cities & Mobility Digital

Depois do evento presencial, o CSCM 2022 continuou no dia 06 de outubro no ambiente digital, com uma jornada de painéis e discussões sobre cidades inteli gentes, conectividade e mobilidade

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BH recebe prêmio por ser a melhor cidade em prestação de serviços de saúde Connected Smart Cities & Mobility wwww

Transição verde por meio de finanças verdes: expectativa da COP27

A noção de uma “transição verde” até agora foi delineada, em grande parte do mundo, apenas por meio da transição energética. Isso implica uma mudança no

As ambições desenfreadas de desenvolvimento da huma nidade e a inclinação ineren te para o crescimento econô mico e a urbanização têm impulsionado a mudança do uso da terra do ecossis tema natural (por exemplo, florestas, pastagens e ecossistema costeiro) para a criação de infraestrutura física. Isso não apenas impede a capacidade desses ecossistemas naturais de sequestro de carbono adicional, mas também diminui sua capacidade de estocar carbono. Em vez disso, com a mudança no uso da ter ra, o carbono armazenado historicamen te é liberado, prejudicando um serviço crítico de regulação do ecossistema.

A maquinaria de formulação de po líticas (principalmente do Sul Global) parece alheia ao fato de que tais perdas não podem ser substituídas meramen te por meio de uma transição energéti ca. Em vez disso, a mudança irrestrita no uso da terra que substitui o capital natural pelo capital físico nega os im pactos positivos que de outra forma seriam obtidos através do movimento para as energias renováveis.

Portanto, os projetos de mitigação não devem ser vistos apenas por meio da mudança da matriz energética. Como tal, um dos problemas perenes das ne gociações climáticas globais é a falta de dimensão dos serviços ecossistêmicos (ou seja, serviços fornecidos pela natu reza sem custo para a sociedade huma na). Isso tem duas conotações.

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mix de combustíveis, mudando para fontes renováveis do uso tradicional de combustíveis fósseis. De alguma forma, o fato subjacente de que a transição energéti ca por si só não resolverá os problemas das mudanças climáticas espreita em algum lugar no fundo desse paradigma reducionista dominante de transição verde
por *Nilanjan Ghosh Fotos: UNFCCC COP26 Transição verde por meio de finanças verdes Lançamento global da Missão Vida na COP26

Parcela da superfície total da terra sem (variação líquida) e com consideração de múltiplas mudanças (variação bruta) entre seis categorias principais de uso/cobertura da terra (área urbana, terras agrícolas, pastagens/pastagens, floresta, grama/arbustos não gerenciados, não/escassamente terra vegetada) em 1960-2019. A extensão espacial da mudança de uso/cobertura da terra é exibida em amarelo (áreas com eventos de mudança única) e vermelho (áreas com eventos de mudança múltipla)

Em primeiro lugar, na mesa de nego ciações, há um desconhecimento da ca pacidade da natureza de regular o clima. Em segundo lugar, nenhuma das nego ciações reconhece o importante papel que o ecossistema desempenha na vida humana. A importância dos serviços ecossistêmicos foi destacada por Pawan Sukhdev em 2009 interpretando o mes mo como “PIB dos pobres”. O jornal re velou que 57% da renda dos pobres na Índia é proveniente da natureza. Estima tivas recentes da razão de dependência do ecossistema (relação entre o valor monetário dos serviços ecossistêmicos e a renda da comunidade) revelaram que, em certas partes do sul da Ásia, a razão é maior que a unidade. Isso implica que a comunidade pobre dependente do ecos sistema obtém mais benefícios do ecos sistema natural do que da economia.

Portanto, a extensa mudança no uso da terra causa prejuízos aos serviços ecossistêmicos, prejudicando assim o bem-estar dos pobres.

Por outro lado, as forças do aqueci mento global e das mudanças climáticas também impedem esses serviços ecos sistêmicos (por exemplo, a intrusão de água salina em áreas costeiras devido à elevação do nível do mar destrói a ferti lidade natural do solo).

Nesse contexto, outra preocupação deve ser destacada. Em muitas partes do Sul Global, as atividades de mitiga ção não ajudarão. Eles precisarão se adaptar. No entanto, embora haja am plo escopo para financiar projetos de mitigação, a oportunidade de financia mento de adaptação é limitada.

Isso criou um viés de financiamen to inerente em favor das atividades de mitigação. Portanto, o termo ‘financia mento verde’ tornou-se intimamente associado à ‘transição verde’ e está am plamente focado no financiamento de projetos de energia renovável.

A adaptação, então, parece ser uma atividade que é uma necessidade para o Sul Global, mas dificilmente é reco nhecida pelo Norte Global.

Esse viés de financiamento a favor da mitigação e contra a adaptação também pode ser atribuído a outros motivos. Primeiro, o investimento em projetos de mitigação (por exemplo, veículos elétri cos) gera retornos econômicos percep tíveis no curto prazo. Como exemplo, os custos de operação e manutenção podem ser reduzidos quando ocorrem investimentos em eficiência energética ou em projetos de energia renovável.

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Extensão espacial da mudança global de uso/cobertura da terra 57% da renda dos pobres na Ín dia são provenientes da naturez

Essas economias de custos ocorrem no nível muito privado. Em segundo lugar, os investimentos em projetos de adap tação têm natureza de “bem público”, e muitas vezes com longos períodos de gestação, cujos retornos são em grande parte imperceptíveis. Um exemplo pode ser as infraestruturas “acomodativas re sistentes ao clima”, onde os benefícios dos custos adicionais incorridos não se rão percebidos se eventos extremos não ocorrerem no curto prazo.

Um novo delineamento da transição verde

A razão para projetos de adaptação como “retiro estratégico” não encon trar tração suficiente encontra-se com altos períodos de gestação e impactos imperceptíveis. Em terceiro lugar, o financiamento do setor privado está olhando para taxas de retorno que muitas vezes não tornam o financia mento de “bens públicos”, como pro jetos de adaptação, investimentos viá veis. Uma das razões pelas quais, na COP27, a voz do Sul Global agora está sendo ouvida na direção do financia mento da adaptação é por causa das razões acima mencionadas.

A transição verde não pode ser vista apenas pela lente reducionista da tran sição energética. Em vez disso, precisa ser mais holística: deve ser vista como uma transformação para uma economia verde que implicará em uma vida melhor resiliente ao clima. O que isso implica? Isso implica uma mudança holística do nível macro para o nível individual.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (UNFCCC COP26), o primeiro-ministro indiano Narendra Modi anunciou a Mis são Vida, para alinhar comportamentos humanos individuais com a narrativa de ação climática global. Isso implicará um “modo de vida saudável e sustentável ba seado em tradições e valores de conserva ção e moderação, inclusive por meio de um movimento de massa”.

Essa mudança, no contexto indiano, equivale ao novo delineamento da tran sição verde. Isso implica uma retração do nosso consumismo habitual da so ciedade moderna que é marcada por altos níveis de consumo. Por outro lado, o consumo deverá ser o principal motor do crescimento indiano. Sob tais cir cunstâncias, para uma nação em cresci mento que também enfrenta desafios de distribuição e pobreza, torna-se impe rativo que a transição precise ser finan ciada de forma adequada para superar seus desafios de desenvolvimento.

Portanto, a preocupação importante aqui é que também precisamos de uma noção mais holística de finanças verdes para apoiar a transição verde. Para o Sul Global, a transição verde não é de for ma alguma um assunto sem custo, mas na verdade é muito “caro”, que pode até custar suas necessidades de desenvolvi mento. Todas essas preocupações devem ser colocadas adequadamente na mesa de negociação, mas com uma visão am pliada redesenhada tanto da transição verde quanto das finanças verdes. Isso pode ser um resultado da COP27 ou per manecerá como uma ilusão?

Os serviços ecossistêmicos e outros bens não comercializados representam entre 50% e 90% da fonte total de subsistência entre as famílias pobres rurais e que vivem na floresta - o

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chamado ‘PIB dos pobres’ Insights específicos sobre o que poderia significar para a eco nomia, para o emprego, para a receitas e gastos do governo

Para sobreviver em um clima em mudança, devemos olhar para as florestas

Florestas e árvores

e imprevisibilidade cada vez maiores

Ahistória mostra que em tem pos de crise, os seres huma nos podem aprender rapi damente a pensar e fazer as coisas de maneiras novas e melhores. Agora é um desses momentos.

O mundo está enfrentando uma crise existencial devido às mudanças climáti cas, e devemos aprender a proteger, res taurar e gerenciar os ecossistemas natu rais de forma sustentável para nos ajudar a nos adaptar e prosperar.

Como nos adaptamos às mudanças climáticas é uma parte fundamental da agenda da UNFCCC COP27 e dominará cada vez mais o debate global à medida que a janela de oportunidade para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C se fecha. No entanto, as estraté gias de adaptação tendem a se concentrar em soluções tecnológicas em vez daquelas que a natureza pode fornecer.

Florestas e árvores são amplamente re conhecidas por seu potencial de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, arma zenando carbono, tornando-as vitais para alcançar o ODS 13 (ação climática). Mas as florestas fazem muito mais do que isso.

As florestas são tão cruciais para garan tir nosso abastecimento de água quanto para reduzir as emissões de gases de efei to estufa (GEE). Eles regulam as chuvas, estabilizam os climas locais e protegem as terras costeiras da erosão. Eles tam bém fornecem alimentos, combustível, madeira e ração animal e reduzem os riscos e impactos de climas extremos nas comunidades locais. Florestas e árvores podem fornecer um sistema de suporte de vida para milhões de pessoas em todo o mundo.

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podem fornecer um sistema de suporte de vida para milhões de pessoas em todo o mundo. Essa função se tornará cada vez mais importante à medida que as temperaturas aumentam e o clima se torna mais volátil. É hora de investir em florestas e árvores – e nos Povos Indígenas e comunidades locais que as manejam – como parte fundamental de nossa estratégia de adaptação às mudanças climáticas e enfrentamento de riscos
Devemos aprender a proteger, restaurar e gerenciar os ecossistemas naturais de forma sustentável para nos ajudar a nos adaptar e prosperar Usar o poder das florestas para absorver CO2 para combater as mudanças climáticas e reduzir ainda mais sua pegada de carbono por *Tiina Vähänen **Amy Duchelle Fotos: CIFOR-ICRAF , FAO, ONU/Eva Fendiaspara O novo relatório da FAO

Essa função se tornará cada vez mais importante à medida que as temperaturas aumentam e o clima se torna mais volátil.

É hora de investir em florestas e árvores – e nos Povos Indígenas e comunidades locais que as manejam – como parte fundamental de nossa estratégia de adaptação às mudanças climáticas e enfrentamento de riscos e imprevisibilidade cada vez maiores. Proteger, restaurar e manejar flo restas de forma sustentável deve ser priorizado e financiado como parte vital das políticas nacionais de adap tação e resiliência, e apoiado pela co munidade internacional.

Parte disso deve ser uma estraté gia para ajudar as próprias florestas e árvores a se adaptarem aos riscos crescentes que enfrentam devido às mudanças climáticas na forma de incêndios florestais, pragas, surtos de doenças e secas. Devemos traba lhar com as comunidades locais para desenvolver formas inovadoras de manejar florestas e árvores em ante cipação a esses riscos. Investir em flo restas e árvores dessa maneira pode reduzir os riscos relacionados ao cli ma e os impactos negativos na vida humana. Isso também preservaria o poder das florestas de continuar a atuar como sumidouros de carbono.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Centro Internacional de Pesqui sa Florestal e Agrofloresta Mundial (CIFOR-ICRAF) trabalharam com os principais especialistas para ela borar dez princípios para orientar os tomadores de decisão sobre o uso de florestas e árvores para promover a adaptação transformacional, que são ilustrados por meio de estudos de caso em um novo relatório da FAO.

Um desses princípios orientadores se concentra na integração de políti cas – ou vincular o manejo florestal e arbóreo a outras políticas que abor dam os riscos relacionados ao clima.

Isso é ilustrado no relatório pela for ma como a Colômbia – um país onde metade das florestas está em territórios indígenas – promove o manejo flores tal comunitário como forma de atingir as metas de adaptação e mitigação. O financiamento gerado pelos esforços da Colômbia para reduzir o desmata mento é usado para fortalecer organiza ções florestais comunitárias, ajudá-las a acessar mercados para seus produtos e melhorar o monitoramento florestal local. Isso também permite que aqueles que protegem e manejam as florestas do país melhorem sua capacidade de adap tação às mudanças climáticas.

Em todo o mundo, os Povos Indí genas e as comunidades locais têm o conhecimento e a experiência para se tornarem agentes de mudança que aju darão a humanidade a prosperar dian te de adversidades extraordinárias.

“Florestas

e prosperar”, disse Tiina Vähänen, vice-diretora da Divisão Florestal da FAO.

Está claro que, com o apoio certo, os empreendimentos florestais comuni tários podem prosperar, as paisagens degradadas podem ser restauradas e os direitos tradicionais às florestas e às árvores podem ser garantidos e as florestas protegidas.Tais estratégias de adaptação lideradas localmente são essenciais para apoiar meios de sub sistência e florestas resilientes em um

[*] Diretora Adjunta, Divisão Florestal [**] Oficial Florestal Sênior, Organização para Agricultura e Alimentação da ONU

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mundo em mudança. Alguns exemplos de mortalidade florestal causada pelo estresse climático hídrico e térmico desde 1970, com base em uma revisão global de mais de 120 exemplos documentados A FAO na conferência do clima Lançado no evento Global Landscapes Forum Climate 2022 à margem da Conferência de Mudanças Climáticas de Sharm El-Sheikh - COP27, adaptação baseada na floresta: adaptação transformacional por meio de florestas e árvores destaca que as florestas têm um enorme potencial para sustentar a vida humana e reduzir os riscos e danos que a mudança climática traz. e árvores podem e devem ter muito mais destaque nas políticas e estratégias nacionais de adaptação para reduzir os riscos e impactos rela cionados ao clima e ajudar a humanidade a se adaptar

Relatório do Orçamento Global de Carbono

Emissões globais de CO2 aumentarão novamente, metas climáticas em risco

Aavaliação precisa das emissões antropogê nicas de dióxido de carbono (CO2 ) e sua redistribuição entre a atmosfera, oceano e biosfera terrestre em um clima em mudança é funda mental para entender melhor o ciclo global de carbono, apoiar o desenvolvi mento de políticas climáticas e projetar mudanças climáticas futuras. As emis sões globais de dióxido de carbono da queima de combustíveis fósseis estão a caminho de aumentar cerca de 1% este ano, disseram cientistas na COP27, alertando que isso tornaria mais difícil para o mundo evitar níveis desastrosos de das Alterações Climáticas.

Lançado durante a cúpula climática da COP27 das Nações Unidas, o relató rio do Orçamento Global de Carbono ( envolvendo uma equipe internacional de mais de 100 cientistas, foi produzido pelo Global Carbon Project) expôs a la cuna entre as promessas que governos, empresas e investidores fizeram para reduzir as emissões de aquecimento do planeta nos próximos anos e suas ações hoje – que fazem com que as emissões continuem aumentando.

Representação esquemática da perturbação geral do ciclo global do carbono causada por atividades antropogênicas em média global para a década de 2012-2021. Consulte as legendas para as setas e unidades corres pondentes. A incerteza na taxa de crescimento de CO 2 atmosférico é muito pequena ( ± 0,02 GtC ano −1 ) e é desprezada para a figura. A perturbação antrópica ocorre em cima de um ciclo de carbono ativo, com fluxos e esto ques representados em segundo plano e retirados de Canadell et al. (2021) para todos os números, exceto para os estoques de carbono nas costas, que são de uma revisão de literatura de sedimentos marinhos costeiros

Durante a apresentação na COP27 Fotos: Global Carbon Project, Price e Warren, 2016

Espera-se que os países emitam um total de 41 bilhões de toneladas de CO2 em 2022, disse o relatório de mais de 100 cientistas, com 37 bilhões de tone ladas da queima de combustíveis fósseis e 4 bilhões de toneladas de usos da terra como o desmatamento. O aumento deste ano foi impulsionado pelo maior uso de petróleo no transporte – principalmente na aviação – à medida que as economias continuavam a reabrir dos bloqueios du rante a pandemia do COVID-19.

As emissões da queima de carvão au mentaram, à medida que os países se voltaram para o combustível fóssil mais poluente depois que a Rússia restringiu o fornecimento de gás natural à Europa após a invasão da Ucrânia em fevereiro, o que elevou os preços globais do gás.

A produção de CO2 da China, o maior poluidor do mundo, caiu 0,9% à medida que os bloqueios do COVID-19 persis tiram. As emissões europeias também diminuíram ligeiramente.

As emissões aumentaram 1,5% nos Estados Unidos e 6% na Índia, se gundo e quarto maiores emissores do mundo, respectivamente.

O painel de ciências climáticas da ONU disse que os gases de efeito estufa globais devem diminuir 43% até 2030 para limi tar o aquecimento global a 1,5°C e evitar seus impactos mais graves.

A pandemia do COVID-19 causou uma queda recorde nas emissões glo bais de CO2 em 2020, mas as emissões agora estão ligeiramente acima dos ní veis anteriores ao COVID-19.

É difícil prever as emissões nos próxi mos anos devido às incertezas em torno da resposta de longo prazo dos países à pandemia e à crise de gás russa, por exemplo, se eles continuam queiman do carvão ou investem pesadamente em energia limpa. “É complicado”, disse o principal autor do relatório, Pierre Frie dlingstein, cientista climático da Univer sidade de Exeter. “Ainda não podemos dizer com certeza que as emissões da China estão diminuindo a longo prazo... o retorno ao uso de carvão na Europa, va mos torcer para que seja temporário”.

Uma análise da Carbon Brief mostra que os EUA liberaram mais de 509 GtCO2 desde 1850 e são responsáveis pela maior par te das emissões históricas, com cerca de 20% do total global. Com 2,4 tCO2e (tonelada equivalente de dióxido de carbono), as emis sões de gases de efeito estufa per capita da Índia ficaram muito abaixo da média mundial de 6,3 tCO2e em 2020, de acordo com os dados publicados pelo Pro grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente no mês passado.

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Emissões globais de CO2 de combustíveis fósseis atingiram recorde em 2022

As mudanças climáticas atingem: os padrões de raios mudam com o aquecimento global

As tempestades são a fonte mais comum de clima perigoso em esca las locais, mas são mal representadas nos mo delos climáticos convencionais, resul tando em alta incerteza em mudanças futuras. Como essas mudanças se ma nifestam em termos de raios é ainda mais incerto, com estudos anteriores dando projeções conflitantes.

Aqui, pela primeira vez, usamos um modelo em escala de km que resolve explicitamente a convecção em toda a Europa; sugerindo mais convecção em 2100 sob RCP8.5. Nosso esquema de raios baseado em gelo indica uma cli matologia de raios altamente alterada - a consequência de aumentos gerais na instabilidade, parcialmente limita da pela inibição convectiva, juntamen te com enormes aumentos na altura do

nível de fusão e menos gelo nas nuvens. Uma mudança para o norte em regimes climáticos favoráveis aumenta a fre quência de raios em latitudes mais altas e favorece mais tempestades sobre os Alpes, mas os relâmpagos diminuem em terrenos mais baixos em outros lugares e sobre o mar. Nossos resultados suge rem a necessidade de reavaliar o risco de raios para incêndios florestais, proprie dades e vida humana em toda a Europa.

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Novas pesquisas mostraram que as mudanças climáticas podem alterar os padrões de raios em toda a Europa. Isso poderia levar a mais raios nas montanhas e no norte da Europa e menos raios na Europa central
por *Universidade de Newcastle e Met Office Fotos: Environmental Research Letters, Met Office Science, Universidade de Newcastle Mudanças climáticas alteram os padrões de raios em toda a Europa

Os pesquisadores descobriram que essas mudanças podem levar a um au mento do risco de incêndios florestais nas montanhas e no norte da Europa, mas, como explicam os autores, nem tudo são más notícias.

O autor principal do estudo, Dr. Abdullah Kahraman, Pesquisador Sê nior em Tempo Severo e Mudanças Climáticas, Escola de Engenharia da Universidade de Newcastle e Cien tista Visitante – Entendendo as Mu danças Climáticas Regionais (URCC), Met Office Hadley Centre, disse: e no norte da Europa pode desencadear mais incêndios florestais em florestas de nível mais alto, veremos relativa mente menos riscos de raios em áreas mais populosas da Europa Central”.

Isso vem das últimas simulações climáticas do Met Office com os mais altos detalhes locais em característi cas meteorológicas e topográficas até 2 km, o que, ao contrário de estudos anteriores, permite que tempestades individuais e seus processos cruciais que resultam em raios sejam simu lados em toda a Europa. Esta é uma possível realização de um clima futu ro não mitigado (cenário RCP8.5), e existem incertezas especialmente em termos de mudanças de circulação.

O estudo liderado pela Universidade de Newcastle e pelo Met Office, publicado na Environmental Research Letters, descobriu que pode haver uma imagem de mudanças nos padrões climáticos, incluindo:

☆ Tempestades mais fre quentes com mais energia, mas localmente menos raios, principalmente devido a menos gelo nas nuvens e partículas congeladas nas nuvens de tem pestade, com aquecimento

☆ Mais relâmpagos em grandes altitudes – inclusive sobre os Alpes

☆ Menos raios em terrenos mais baixos na Europa central e sobre o mar – sujeito a mudanças de circulação, que são menos certas

Média (a) contagens de raios com base em observações ATDNet entre 2012 e 2021, (b) contagens de raios com base na simulação de controle para 1998–2007, (c) mudança na contagem de raios na simulação climática futura RCP8.5 (10 anos correspondentes a ∼2100) para dezembro, janeiro e feverei ro, (d)–(f) igual a (a)–(c), mas para março, abril e maio; (g)–(i) igual a (a)–(c), mas para junho, julho e agosto; (j)–(l) igual a (a)–(c), mas para setembro, ou tubro e novembro; (m)-(o) igual a (a)-(c), mas para todo o ano. As mudanças futuras são mascaradas em branco, onde os resultados não são significativos no nível de 10%, com base em 1.000 bootstraps.

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Com base nas observações da ATDNet de 2012–2021 e nas simulações pan -europeias de 2,2 km (1998–2007), toda a Europa é propensa a tempestades

Mudanças locais na densidade de raios ao longo do ano. ‘Atual’ refere-se a 1998–2007, e ‘Futuro’ é para ∼2100 sob RCP8.5. Mudanças latitudinais na densidade de raios para terra (laranja), áreas terrestres entre 0 e 500 m de altitude (amarelo), mar (azul) e todas as grades (preto) são mostradas à esquerda. Para o sul da Fran ça e norte da Itália, os aumentos na média de raios decorrem de alguns episódios de tempestades convectivas severas em um setembro da simulação futura; se esse ano em particular for excluído, o aumento futuro na média de relâmpagos de setembro nessa região seria de 1,47 × , comparado a 1,95 × quando incluído

A professora Lizzie Kendon, Met Offi ce Science Fellow e coautora do artigo, disse que “Essas novas projeções cli máticas de alta resolução, que têm uma resolução semelhante à dos modelos de previsão do tempo, estão fornecendo no vos insights sobre futuras mudanças nas tempestades convectivas. e seus perigos associados – como chuvas fortes, raios, granizo e rajadas de vento. As mudanças nos raios neste estudo estão em con traste com estudos anteriores. Isso nos mostra que representar os processos fí sicos fundamentais dentro das próprias tempestades é importante e pode levar a

mudanças futuras que são até mesmo do sinal oposto.” Os pesquisadores dizem que essas descobertas destacam a neces sidade de reavaliar o risco de raios para incêndios florestais, propriedades e vida humana em toda a Europa.

A coautora do estudo, a professora Hayley Fowler, professora de Impac tos das Mudanças Climáticas da Esco la de Engenharia da Universidade de Newcastle, acrescentou: “Esta é apenas mais uma má notícia para a infraes trutura nacional crítica no norte da Europa, após o relatório condenató rio ‘Pronto para tempestades à frente?

Infraestrutura nacional crítica em uma era de mudanças climáticas’ pelo Comitê Conjunto sobre a Estratégia de Seguran ça Nacional na semana passada. Nosso artigo destacou novos riscos de aumento de raios, anteriormente desconhecidos, que exigirão maior investimento em medidas de adaptação climática. É ne cessária uma análise mais aprofundada do impacto potencial desses aumentos de raios na energia e outros sistemas de infraestrutura crítica para permitir que políticas e medidas sejam produzidas lo calmente e setorialmente relevantes para o planejamento de adaptação”.

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Buraco na camada de ozônio cresceu pelo terceiro ano consecutivo - mas os cientistas não estão preocupados

O buraco de ozônio é o maior desde 2015, mas no geral ainda está diminuindo.

Uma equipe internacional de cientistas (Efi Rousi, Kai Kornhuber, Goratz Beobide-Arsuaga, Fei Luo, Dim Coumou) ana lisou dados observacionais dos últimos 40 anos e mostrou, pela primeira vez, que esse rápido aumento está ligado a mudanças na circulação atmosférica. Ventos de grande escala de 5 a 10 km de altura, a chamada corrente de jato, estão mudando na Eurásia.

Os períodos durante os quais a cor rente de jato é dividida em duas rami ficações – os chamados estados de jato duplo – tornaram-se mais duradouros.

Esses estados de jato duplo explicam quase toda a tendência ascendente das ondas de calor na Europa Ocidental e cerca de 30% no domínio europeu maior. “Embora as ondas de calor do verão não sejam um fenômeno novo, o que é novo é que os eventos extremos de calor na Eu ropa vêm ocorrendo com maior frequên cia e intensidade nos últimos anos.

Basta pensar nos verões quentes e se cos de 2018, 2019, 2020 e na atual onda de calor na Europa – e espera-se que isso piore”, diz Efi Rousi, do Instituto Pots dam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) e principal autor do estudo. a ser publicado na Nature Communications. “Nosso estudo mostra que esses extre mos de calor na Europa estão ligados a fluxos de jato duplos e sua crescente per sistência no setor da Eurásia”.

No estudo, os cientistas analisaram como a corrente de jato – uma corrente de ar de fluxo rápido que viaja de oeste para leste ao redor do hemisfério norte do globo a cerca de 10 km de altura – pode ter contribuído para as tendências obser vadas de ondas de calor. Para realizar a análise, os cientistas definiram ondas de calor persistentes como pelo menos seis

dias consecutivos durante os quais a tem peratura máxima do ar excedeu o limite dos 10% dos dias mais quentes em um determinado local. Eles examinaram da dos climáticos diários para os dois meses mais quentes da Europa, julho e agosto, durante um período de 42 anos.

Durante a primavera no Hemisfé rio Sul (agosto-outubro), o buraco de ozônio sobre a Antártida aumenta de tamanho, atingindo um máximo entre meados de setembro e meados de outubro. Quando as temperaturas altas na atmosfe ra (estratosfera) começam a subir no final da primavera do Hemisfé rio Sul, o esgotamento do ozônio diminui, o vórtice polar enfraquece e finalmente se rompe, e no final de dezembro os níveis de ozônio voltaram ao normal.

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O buraco de ozônio de 2020 cresceu rapidamente a partir de meados de agosto e atingiu um pico de cerca de 24 milhões de quilômetros quadrados no início de outubro. Agora cobre 23 milhões de km2, acima da média da última década e se espalhando pela maior parte do continente antártico. Assista o Youtube: www.youtu.be/Q15t5NQ1Aik O grande buraco de ozônio em 2020 foi impulsionado por um vórtice polar forte, estável e frio, que manteve a temperatura da camada de ozônio sobre a Antártida consistentemente fria por *Joanna Wendel Fotos: NASA, UNEP

Um papel importante para a dinâmica da atmosfera no abastecimento de mega-ondas de calor da Europa Ocidental

“Descobrimos que normalmente exis tem três estados da corrente de jato, sendo um deles o estado de jato duplo, consis tindo em dois ramos de corrente de jato com vento aumentado, um sobre o sul e outro sobre o norte da Eurásia”, coautor Kai Kornhuber, cientista na Universidade de Columbia em Nova York e PIK, explica.

Embora o número de eventos de jato duplo por ano não tenha mudado mui to, os eventos de jato duplo tornaram-se mais longos e, portanto, mais persisten tes. Essa persistência aumentada atua em cima dos aumentos de temperatura do aquecimento causado pelo homem para alimentar ondas de calor mais in tensas. Kornhuber explica: “Nossos no vos resultados destacam a importância de entender os processos dinâmicos da atmosfera para antecipar riscos futuros de calor extremo e identificar pontos crí ticos globais, como a Europa Ocidental”.

A crescente persistência de fluxos de jato duplos é especialmente relevante para a Europa Ocidental, descobriram os pesquisadores. “Nosso estudo mostra que a crescente persistência de jatos du plos explica cerca de 30% das tendências de ondas de calor em toda a Europa.

No entanto, se olharmos apenas para a região menor da Europa Oci dental, isso explica quase 100%”, diz Efi Rousi. “Nesta região, que coincide com a saída da trilha de tempestades que vem do Atlântico Norte em dire ção à Europa, os sistemas climáticos normalmente se originam do Atlânti co e, portanto, têm um efeito de res friamento – durante os estados de jato duplo os sistemas climáticos são desviados para o norte e as ondas de calor persistentes podem desenvolver na Europa Ocidental.

duplo?

“Os jatos duplos podem ser desencadea dos por uma variedade de razões, incluindo variabilidade caótica na atmosfera”, expli ca o coautor Dim Coumou, pesquisador do Instituto de Estudos Ambientais (IVM) da VU Amsterdam e do Instituto Meteo rológico Real da Holanda (KNMI). “Mas a questão interessante é o que torna os jatos duplos mais persistentes? Uma possível explicação é o aumento do aquecimento das altas latitudes, em particular em re giões terrestres como a Sibéria, o norte do Canadá e o Alasca. No verão, essas regiões se aqueceram muito mais rápido do que o oceano Ártico, pois sobre o oceano o exces so de energia é usado para derreter o gelo marinho”. A terra ao redor do oceano Ártico tem visto um aquecimento muito rápido no verão associado ao rápido recuo na cober tura de neve no final da primavera. “Esta crescente diferença de temperatura entre a terra e o oceano favorece a persistência de estados de jato duplo no verão”, diz

Coumou. Kornhuber acrescenta: “Os modelos climáticos tendem a subestimar os riscos climáticos extremos. Assim, pes quisas futuras precisam avaliar até que ponto as relações identificadas são cap turadas pelos modelos, pois as projeções de calor extremo sob emissões contínuas de gases de efeito estufa podem ser muito conservadoras”.Rousi conclui: “Embora isso precise de mais pesquisas, uma coisa é clara: fluxos de jato duplos e sua cres cente persistência são fundamentais para entender os riscos atuais e futuros das on das de calor na Europa Ocidental”.

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O que está favorecendo o aumento da persistência de eventos de jato
O buraco na camada protetora de ozônio da Terra sobre a Antártida em 5 de outubro de 2022. Em geral, está encolhendo, mas cresceu para um tama nho moderadamente grande este ano devido às condições climáticas Ligações entre os efeitos da destruição do ozônio estratosférico, mu danças climáticas e implicações para o ambiente e a saúde humana [*] NASA, UNEP

Mapas do passado podem lançar luz sobre nosso futuro climático

Mitigar as perturbações climá ticas a tempo: uma abordagem auto-consistente para evitar o aquecime Cerca de 56 milhões de anos atrás, os vulcões rapi damente despejaram grandes quantidades de dióxido de car bono na atmosfera, aquecendo a Terra rapidamente. Este período de tempo – chamado de Máximo Térmico Paleoceno-Eoceno, ou PETM – é frequentemente usado como um paralelo histórico para o nosso próprio futuro sob as mudanças climáticas , uma vez que os humanos também despejaram rapidamente dióxi do de carbono na atmosfera nos últimos 250 anos nto global a curto e longo prazo

de aquecimento global que ocorreu 56 Ma em resposta a um aumento no dióxido de carbono. Os dados geológicos do PETM estão disponíveis apenas em alguns lugares, o que dificulta uma visão global do ocorrido. Aqui, usamos uma técnica chama da assimilação de dados para criar mapas do clima do PETM. Achamos que as mudanças de temperatura e

Uma equipe de pesquisadores liderada pela Universidade do Arizona publicou um estu do na PNAS que inclui mapas de temperatura e precipitação da Terra durante o PETM para ajudar a entender melhor como eram as condições naquele período e quão sensível era o clima. níveis crescentes de dióxido de carbono.

A equipe, liderada pela professora de geociências do UArizona, Jessica Tier ney, combinou dados de temperatura publicados anteriormente e modelos cli máticos para confirmar que o PETM é, de fato, um bom indicador do que pode acontecer com o clima sob futuras proje ções de nível de dióxido de carbono.

às emissões de gases de efeito estufa à medida que aumentam.

“O PETM não é um análogo perfeito para o nosso futuro, mas ficamos um pouco surpresos ao descobrir que sim, as mudanças climáticas que recons truímos compartilham muitas seme lhanças com as previsões futuras, con forme descrito no último relatório AR6 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) . “, dis se Tierney.O período de muito tempo atrás e nosso futuro são caracterizados por um aquecimento mais rápido nos pólos do que no resto do globo – um

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Temperatura do ar de superfície reconstruída (esquerda) e quantidade de chuva (direita) durante o evento de aquecimento Máximo Térmico Paleoceno-Eoceno, 56 milhões de anos atrás. Os mapas foram criados combinando dados geológicos com simulações de modelos climáticos usando uma técnica chamada assimilação de dados paleoclimáticos por *Mikayla Mace Kelley, Universidade do Arizona Fotos: IPCC AR6, Jessica Tierney, PNAS, Universidade do Arizona O Máximo Térmico Paleoceno-Eoceno (PETM) é um evento precipitação durante o PETM são semelhantes às projeções futuras de mudanças climáticas. Também calculamos a “sensi bilidade climática” – o quanto a Terra aquece quando os níveis de dióxido de carbono dobram. Descobrimos que a sensibilidade do PETM é muito maior do que hoje, o que sugere que a Terra se torna mais sensível O Máximo Térmico Paleoceno-Eoceno (PETM; 56 Ma) é um dos nossos melhores análogos geológicos para entender a dinâmica climática em um mundo de “estufa”.

Localização

fenômeno chamado amplificação árti ca – bem como monções mais fortes, tempestades de inverno mais intensas e menos chuvas nas bordas dos trópi cos . Os pesquisadores também desco briram que, à medida que mais dióxido de carbono é bombeado para o ar, o clima se torna mais sensível do que os estudos anteriores previam. “No geral, nosso trabalho nos ajuda a entender melhor nosso futuro sob as mudanças

climáticas”, disse Tierney. “Isso dá alguma confirmação de que os fun damentos das mudanças climáticas – como amplificação polar, monções mais intensas e tempestades de in verno – são características de cli mas com altos gases de efeito estufa, tanto no passado quanto no futuro”. Tierney e sua equipe construíram seus mapas do PETM combinando o que é chamado de dados proxy de

temperatura com modelos climáticos. Paleoclimatologistas como Tierney podem deduzir temperaturas do pas sado analisando quimicamente certos tipos de fósseis de um determinado período de tempo. Esses dados pro xy de temperatura, combinados com a moderna tecnologia de modelagem climática, permitiram que Tierney e seus colaboradores criassem mapas de temperatura global do PETM.

Mudanças no ciclo hidrológico durante o PETM

Mudança na precipitação média anual menos a evaporação (P–E) no PETM-DA sobreposto a indicadores proxy para condições relativamente mais úmidas (verde) ou mais secas (marrom) em relação ao pré-PETM. As cores proxy são qualitativas e indicam apenas o sinal de mu dança. (B) Variação anual média zonal em P

zonal em δ D P . (E) A variação de dezembro a março (DJFM) na precipitação ( Δ P). (F) A mudança de precipitação de junho a setembro (JJAS).

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e tipos de proxies de temperatura que informam o PET M-DA. Os dados são plotados na reconstrução da placa da ref, que é usado nas condições de contor no do projeto deepMIP e para as simulações climáticas neste estudo. Os quadrados indicam locais apenas com dados pré-PETM, os triângulos indicam locais apenas com dados PETM e os círculos in dicam locais com dados tanto para o pré-PETM como para o PETM. δ 18 δ 18Oh, δ 18 δ 18O de foraminífe ros planctônicos; MB, MB5 ‘MeMe5’; Mg, Mg/Ca de foraminíferos planctônicos; TEX, TEX 86 . Padrões espaciais de mudança climática ao longo do Máximo Termal Paleoceno-Eoceno Todos os painéis representam anomalias PETM – pré-PETM. (A) – E. (C) Mudança na média anual δ D de precipitação ( δ DP) no PETM-DA sobreposto com alterações inferidas da cera da folha δ D. Os locais com alterações significativas durante o PETM são coloridos na mesma escala dos resultados do DA; sites sem alterações significativas são plotados como pontos brancos menores. (D) Variação anual média

Os modelos climáticos usados pelos pesquisadores para criar os mapas do passado são normalmente usados para fazer previsões climáticas futuras – in cluindo aquelas nos relatórios de ava liação do IPCC. Tierney e sua equipe os usaram para gerar simulações de como era a Terra há 56 milhões de anos.

“Nós movemos os continentes para cor responder ao PETM e, em seguida, execu tamos algumas simulações em vários ní veis diferentes de dióxido de carbono, de três a 11 vezes os níveis atuais - ou de 850 partes por milhão a um valor realmente

alto de 3.000 partes por milhões - por que esses são todos os níveis possíveis de dióxido de carbono que poderiam ter ocorrido no PETM”, disse Tierney. “Para contextualizar, o dióxido de carbono em nossa atmosfera hoje é de cerca de 420 partes por milhão e era cerca de 280 par tes por milhão antes da Revolução Indus trial. Ao adicionar a evidência geológica, reduzimos as simulações às que melhor combinavam com essa evidência.” Tier ney e sua equipe usaram esse método em estudos anteriores para reconstruir o cli ma em períodos de tempo mais recentes.

O novo estudo também estima com mais precisão quanto o globo aqueceu durante o PETM. Estudos anteriores sugeriram que o PETM era de 4 a 5 graus Celsius mais quente do que o pe ríodo imediatamente anterior.

A pesquisa de Tierney, no entanto, revelou que esse número é de 5,6 graus Celsius, sugerindo que o clima é mais sensível a aumentos de dióxido de car bono do que se pensava anteriormente.

A sensibilidade climática é o quanto o planeta aquece por duplicação de dióxido de carbonO

“Reduzir esse número realmente importa, porque se a sensibilidade cli mática for alta, veremos mais aqueci mento até o final do século do que se for menor”, disse Tierney.

“As previsões do IPCC AR6 abran gem 2 a 5 graus Celsius por duplicação de dióxido de carbono. Neste estudo, quantificamos essa sensibilidade du rante o PETM e descobrimos que a sensibilidade está entre 5,7 a 7,4 graus Celsius por duplicação, o que é muito maior.” Em última análise, isso signi fica que, sob níveis mais altos de dió xido de carbono do que temos hoje, o planeta ficará mais sensível ao dióxido de carbono , o que, segundo Tierney, “é algo importante para pensar em mudanças climáticas de longo prazo, além do final do o século”.

Resposta da temperatura da Terra (em graus C) a

pré-industriais (280

por milhão

(a) mostra as temperaturas globais previstas quando processos que se ajustam em escalas de tempo relativamente curtas (por exemplo, gelo marinho, nuvens e vapor de água) são incluídos no modelo; (b) inclui processos adicionais de longo prazo

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um aumento no dióxido de carbono atmosférico de níveis partes em volume) para níveis mais altos (400 partes por milhão em volume). Estimativa da função de densidade de probabilidade da ECS durante o PETM. Os valores de mediana e 95% são fornecidos no canto superior direito. A faixa de 90% dos valores relatados no relatório do IPCC AR6 Working Group I é indicada pela barra cinza
12 REVISTA AMAZÔNIA revistaamazonia.com.br O UNICEF lançou um monumento em homenagem à MasEducação. as estátuas dos alunos sumiram. Acesse unicef.org.br e saiba o que aconteceu. Saiba mais
12 REVISTA AMAZÔNIA revistaamazonia.com.br 05 www.paramais.com.br Pará+ O sistema é alimentado com resíduos orgânicos Bactérias decompõem o resíduo orgânico no biodigestor O biogás é armazenado no reservatório de gás para ser usado em um fogão O fertilizante líquido pode ser usado em jardins e plantações O sistema tem capacidade de receber até 12 Litros de resíduos por dia. O equipamento produz biogás e fertilizante líquido diariamente. Totalmente fechado mantendo pragas afastadas. Em um ano, o sistema deixa de enviar 1 tonelada de resíduos orgânicos para aterros e impede a liberação de 6 toneladas de gases de efeito estufa (GEE) para atmosfera. O QUE COLOCAR NO SISTEMA Carne, frutas, verduras, legumes e restos de comida. OBS: Máximo de duas cascas de cítricos por dia. O QUE NÃO COLOCAR NO SISTEMA Resíduos de jardinagem, materiais não orgânicos (vidro, papel, plástico, metais). Resíduos de banheiro, produtos químicos em geral. Desenvolvimento sustentavel Em parceria com Representante Autorizado ™ 91 99112.8008 homebiogasamazonia 92 98225.8008

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