Amazônia

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DECLARAÇÃO DE BELÉM

27 Ano 17 Número 121 setembro/2023 ISSN 1809-466X 9 77180 94 6 600 71 2100 R$ 29,99 € 5,00
BIOECONOMIA INCLUSIVA BENEFICIA FAMÍLIAS
FÓRUM DAS CIDADES AMAZÔNICAS

Acreditamos e provamos que é possível criar valor sem destruir.

DECLARAÇÃO DE BELÉM

A declaração, assinada durante o primeiro dia da Cúpula Amazônica, apresenta os pontos consensuais de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, tendo por base “aportes da sociedade civil” destacados durante o Seminário sobre Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, que ocorreu no mês de maio em Brasília, e de órgãos do governo federal. A Declaração de Belém contém 113 objetivos e princípios transversais, compromissados pelos países signatários. A OTCA exercerá papel central na execução da nova agenda... 10

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MAIS CONTEÚDO

Mais de 15 instituições estão envolvidas na organização do evento, entre elas, a Prefeitura de Belém. Durante coletiva de imprensa, o prefeito da capital Prefeitos, prefeitas e outras autoridades de cidades da Amazônia Legal estiveram reunidos no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia (Hangar), no Fórum das Cidades Amazônicas, para realizar um debate amplo sobre a região e propor políticas públicas...

IBRAM EXPÕE A IMPORTÂNCIA DO BRASIL NA OFERTA DE MINERAIS ESTRATÉGICOS PARA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA NO WMC 2023

O painel, que ocorreu na última segunda-feira (26/06) em Brisbane, na Austrália, contou com a participação do diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Rinaldo Mancin. “Há apenas uma resposta para uma nova era de energia limpa e renovável: minerais. Isso implica que teremos que minerar mais e não menos...

BIOECONOMIA INCLUSIVA NA AMAZÔNIA PODE BENEFICIAR 750 MIL FAMÍLIAS

Ações voltadas para a bioeconomia inclusiva são capazes de melhorar a vida de 750 mil famílias entre agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais que habitam a Amazônia brasileira. Essas podiam e os seus conhecimentos têm papel fundamental no desenvolvimento sustentável da região. São pendentes de uma série de dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ), pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ( Incra ), Embrapa e outras instituições, almejaram que é possível o desenvolvimento...

ÁRVORES GIGANTES DA AMAZÔNIA

É terrível. Chorei muito”, conta Eric Bastos Gorgens ao relembrar o dia em que teve que abandonar a busca para chegar à árvore mais alta conhecida na Amazônia. Sua equipe de pesquisa teria sido a primeira a pesquisar o gigante de 88,5 metros, que havia sido identificado apenas em dados coletados durante um levantamento aéreo. Ninguém nunca o tinha visto ou sequer sabia de que espécie era. Gorgens e sua tripulação de seis pessoas passaram dias caminhando pela densa e perigosa floresta tropical em uma parte remota do nordeste do Brasil, a cerca de 250 quilômetros da cidade mais próxima...

IA AJUDA CIENTISTAS A ESCUTAR GOLFINHOS AMEAÇADOS

As abelhas e outros polinizadores são essenciais para a sociedade humana. Eles fornecem cerca de um terço dos alimentos que comemos , um serviço com um valor global estimado em até US$ 577 bilhões anuais. Mas as abelhas são interessantes de muitas outras maneiras menos conhecidas. Em meu novo livro, “ What a Bee Knows: Exploring the Thoughts, Memories, and Personalities of Bees”, eu me baseio em minha experiência estudando abelhas por quase 50 anos para explorar como essas criaturas percebem o mundo...

[18] Coalizão Verde para o desenvolvimento sustentável e econômico da Amazônia [08] Países em desenvolvimento querem remuneração por serviços ambientais [12] “Diálogos” começa a levar a voz e as demandas da Amazônia além de suas fronteiras [14] Fórum das Cidades se encerrou com divulgação da Carta de Belém [15] Grupos de Trabalho e debates ambientais iniciam ‘Diálogos Amazônicos’ em Belém [16] Desenvolvimento Sustentável [20] A mineração de cristais presos no fundo do mar pode ajudar a combater as mudanças climáticas. Também pode destruir o último ecossistema intocado da Terra. O impulso para EVs destruirá o último ecossistema intocado da Terra? [36] Plantas possuem o “sentido do tato” sem nervos [38] Como as árvores morrem? [43] A ciência por trás das árvores mais antigas da Terra [48] Presença de árvores melhora qualidade da pastagem [52] O valor da natureza. Quanto vale o rio mais produtivo do mundo? [56] País teve 2,15 milhões de hectares queimados no primeiro semestre [57] Os rios atmosféricos do mundo agora têm uma classificação de intensidade como furacões [60] Emissões de gases de efeito estufa em nível mais alto de todos os tempos [62] NASA captura carbono sequestrado de 9,9 bilhões de árvores com aprendizado profundo e imagens de satélite [64] Camada de ozônio da Terra a caminho de ser curada em décadas

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RECICLE ESTAREVISTA

Viveiros instalados para a produção de mudas de espécies de culturas anuais, frutíferas e essências florestais, em propriedades de agricultura familiar, pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado (IdeflorBio). Integrantes do Prosaf, projeto do instituto que usa sistemas agroflorestais para recuperar áreas alteradas, as ações também são desenvolvidas no Programa Territórios Sustentáveis (TS), dentro da estratégia Amazônia Agora, do Governo do Pará. Foto Bruno Cecim/Agência Pará

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FÓRUM DAS CIDADES AMAZÔNICAS INICIA EM BELÉM PARA DAR VOZ AOS POVOS DA REGIÃO
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CÍRIOS

Coalizão Verde para o desenvolvimento sustentável e econômico da Amazônia

Trabalhar de forma integrada e conjunta para o desenvolvimento sustentável e o crescimento econômico da região amazônica. Este foi o principal objetivo do Encontro Coalizão Verde, realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e bancos de desenvolvimento dos países da Bacia Amazônica, reunindo 18 instituições financeiras que atuam na região

Aabertura do evento teve a participação dos presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, e do Banco de Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, representando os bancos proponentes do aglomerado financeiro.

“Hoje, unindo forças aqui, temos uma grande oportunidade de melhorar a vida das pessoas aqui, contribuindo para o desenvolvimento sustentável de toda a região. Não há forma de proteger a Amazônia sem o seu próprio desenvolvimento”, pontuou o presidente do BID, Ilan Goldfajn. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, em seu discurso afirmou que “precisamos de financiamentos dos bancos, mas também precisamos de doações dos países desenvolvidos para desenvolver a Amazônia. Queremos desmatamento zero já”.

Proposta

Presente à cerimônia de abertura do evento, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, destacou a importância de ser criado em Belém um escritório da Coalizão Verde: “Diante do protagonismo da nossa cidade levantar vários debates nacionais e internacionais e

sediar em 2025 a COP-30, apresento como sugestão a criação de um escritório da Coalizão Verde para intensificarmos ações para o desenvolvimento econômico e sustentável da Amazônia”.

O encontro financeiro encerrou com a assinatura do termo de cooperação entre as 18 instituições financeiras nacionais e internacionais que integram a coalizão.

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Fotos Mácio Ferreira/Agência Belém Na cerimônia de abertura do encontro das instituições financeiras, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, sugere a criação de um escritório da Coalizão Verde na capital paraense O presidente do BID, Ilan Goldfajn, o encontro é uma união de forças, oferecendo oportunidade para melhorar a vida das pessoas na Amazônia Ministro Aloizio Mercadante durante a assinatura do termo de cooperação entre as 18 instituições financeiras nacionais e internacionais que participaram do encontro Coalizão Verde

Declaração de Belém

Os presidentes dos países amazônicos divulgaram o documento que consolida a agenda comum entre os oito países signatários do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para a região

Adeclaração, assinada durante o primeiro dia da Cúpula Amazônica, apresenta os pontos consensuais de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, tendo por base “aportes da sociedade civil” destacados durante o Seminário sobre Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, que ocorreu no mês de maio em Brasília, e de órgãos do governo federal.

A Declaração de Belém contém 113 objetivos e princípios transversais, compromissados pelos países signatários. A OTCA exercerá papel central na execução da nova agenda de cooperação amazônica. Coube ao governo brasileiro, na condição de anfitrião da Cúpula, apresentar um texto-base, posteriormente analisado e ajustado pelos demais países.

Compromissos

Entre os compromissos apresentados, está a adoção de princípios transversais para a implementação da Declaração, “os quais incluem proteção e promoção dos direitos humanos; participação ativa e promoção dos direitos dos povos indígenas e das comunidades locais e tradicionais; igualdade de gênero; combate a toda forma de discriminação; com base em abordagem intercultural e intergeracional”.

O documento expressou também a necessidade urgente de conscientização e cooperação regional para evitar o chamado “ponto de não retorno” na Amazônia – termo usado por especialistas para se referir ao ponto em que a floresta perde sua capacidade de se autorregenerar, em função do desmatamento, da degradação e do aquecimento global.

Os oito presidentes assumiram o compromisso de lançar a Aliança Amazônica de Combate ao Desmatamento, a partir das metas nacionais, como a de desmatamento zero até 2030. A Declaração de Belém prevê, ainda, a criação de “mecanismos financeiros de fomento do desenvolvimento sustentável, com destaque à Coalizão Verde, que congrega bancos de desenvolvimento da região”.

O governo brasileiro se comprometeu a instalar o Centro de Cooperação Policial Internacional em Manaus para a integração entre as polícias dos oito países. Está previsto também o estabelecimento de um Sistema Integrado de Controle de Tráfego Aéreo para combate ao tráfego aéreo ilícito, o narcotráfico e outros crimes na região.

No âmbito da OTCA, está prevista a criação de algumas instâncias. Entre elas, o Mecanismo Amazônico de Povos Indígenas; o Painel Técnico-Científico Intergovernamental da Amazônia, que contará com as participações governamentais, de pesquisadores, da sociedade civil, bem como dos povos indígenas e de comunidades locais e tradicionais.

Ainda entre as instituições criadas está um observatório da situação de defensores de direitos humanos, do meio ambiente e de povos indígenas, para identificar

financiamento e melhores práticas de proteção dos defensores; o Observatório de Mulheres Rurais para a Amazônia, para fortalecer a mulher empreendedora rural; o Foro de Cidades Amazônicas; a Rede de Inovação e Difusão Tecnológica da Amazônia, com foco no desenvolvimento regional sustentável; e a Rede de Autoridades de Águas, para aperfeiçoar a gestão dos recursos hídricos entre os países.

Leia a íntegra da Declaração divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro www.bit.ly/47qkEAp

[*](*) Agência Brasil

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Presidente Lula durante reunião com a Secretária-Geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), María Alexandra Moreira López Fotos: iRicardo Stuckert/PR por *Pedro Peduzzi

Países em desenvolvimento querem remuneração por serviços ambientais

Nações com floresta sugerem alternativas econômicas sustentáveis

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, que os países em desenvolvimento com florestas tropicais estabeleceram duas frentes de ação importantes que deverão criar alternativas econômicas para a população ao mesmo tempo em que preservam a biodiversidade local. O objetivo é levar os temas para discussão em fóruns internacionais sobre meio ambiente e mudanças climáticas.

Uma delas é trabalhar pela definição de um conceito internacional de sociobioeconomia, que permita a certificação de produtos das florestas e geração de emprego e renda. Outra frente, segundo Lula, é criar mecanismos para remunerar “de forma justa e equitativa” os serviços ambientais que as florestas prestam o mundo.

Convergência

Em declaração à imprensa após reunião na Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), Lula explicou que foram identificadas “enormes convergências” do Brasil com os outros países em desenvolvimento que têm floresta tropicais.

“Estamos convencidos que é urgente e é necessária a nossa atuação conjunta em fóruns internacionais. Reivindicamos mais representatividade em discussões que nos dizem respeito. Defenderemos juntos que os compromisso

de financiamento climático assumidos pelos países ricos sejam cumpridos”, disse Lula. “Medidas protecionistas mal disfarçadas de preocupação ambiental por parte dos países ricos não são o caminho a trilhar”, reforçou o presidente.

Bloco

O governo brasileiro convidou para as discussões desse segundo dia do evento a Guiana Francesa, que não está na OTCA, mas detém territórios amazônicos, além da Indonésia, da República do Congo e da República Democrática do Congo, países com grandes florestas tropicais ainda em pé. Também participaram São Vicente e Granadinas, que têm

a presidência de turno da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), a Noruega, apoiadora do Fundo Amazônia, e organismos multilaterais e entidades financeiras internacionais. Os representantes discutiram as propostas convergentes de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável a serem levadas às negociações multilaterais sobre meio ambiente, a começar pela COP-28 de Mudança Climática e pela COP-16 de Biodiversidade. “Para que a gente possa dizer que não é o Brasil que precisa de dinheiro, não é a Colômbia que precisa dinheiro, não é a Venezuela.

É a natureza que o desenvolvimento industrial, ao longo de 200 anos, poluiu que está precisando, que eles paguem a sua parte agora para a gente recompor parte daquilo que foi estragado. É a natureza que está precisando de dinheiro, é natureza que está precisando de financiamento”, disse Lula à imprensa. Mais cedo, em discurso, Lula afirmou que os US$ 100 bilhões anuais, prometidos por países ricos em 2009, já não são suficientes para o financiamento climático.

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Presidente Lula ressaltando as “enormes convergências” do Brasil com os outros países em desenvolvimento que têm floresta tropicais Durante reunião que países em desenvolvimento com florestas tropicais discutiram as propostas convergentes de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável
[*] Agência Brasil
Fotos: Bruno Cecim/Agência Pará, Ricardo Stuckert/PR

Fórum das Cidades Amazônicas inicia em Belém para dar voz aos povos da região

Prefeitos, prefeitas e outras autoridades de cidades da Amazônia Legal estiveram reunidos no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia (Hangar), no Fórum das Cidades Amazônicas, para realizar um debate amplo sobre a região e propor políticas públicas para a maior floresta tropica l do mundo

Mais de 15 instituições estão envolvidas na organização do evento, entre elas, a Prefeitura de Belém. Durante coletiva de imprensa, o prefeito da capital

Anfitrião do Fórum das Cidades, que aconteceu no Hangar, o prefeito Edmilson Rodrigues informa que do evento vai sair a Carta de Belém, para ser apresentada na Cúpula da Amazônia

paraense, Edmilson Rodrigues, destacou o que significa o encontro ao povo amazônida.

“A Amazônia, que é floresta, é uma biodiversidade, também é o povo. Somos ainda uma região urbanizada, que necessita de políticas públicas específicas.

Então, este evento vai mostrar isso, na expectativa do encerramento dos debates ser redigida a Carta de Belém, onde vão estar os anseios das cidades amazônicas para que seja apresentada à Cúpula da Amazônia”, destacou o prefeito Edmilson Rodrigues.

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Fotos: Mácio Ferreira/Agência Belém

A iniciativa do evento é da Prefeitura de Belém, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), e em coordenação com o Governo do Estado do Pará, a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI/PR), Ministério das Cidades (MCID), Ministério do Meio Ambiente e Mudança de Clima (MMA), Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará (Famep) e Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei).

Prefeitos, prefeitas e outras autoridades de cidades da Amazônia Legal estiveram reunidos no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia (Hangar) no Fórum das Cidades Amazônicas

No evento, prefeitos da Amazônia Brasileira estão presentes para somarem com a elaboração das políticas públicas, com apoio da Frente Nacional de Prefeitos, uma das articuladoras da participação das cidades que compõem a região amazônica, que conta com prefeitos e seus representantes unidos para o desenvolvimento local.

O Governo Federal, que também faz parte da organização do evento, acompanha os debates no Fórum representado pelo Ministério das Cidades, com o secretário Nacional do Desenvolvimento Urbano e Metropolitano, Carlos Tomé; e pelo titular da Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República, André Luiz Ceciliano.

as suas vertentes: meio ambiente, saúde, recursos hídricos e povos indígenas

“O mundo está olhando para a Amazônia e a gente precisa ouvir os prefeitos da região, para apresentar soluções de políticas públicas adequadas. A Amazônia não é o problema, é a solução”, enfatizou Ceciliano.

Ao todo, oito países da América Latina participam do evento. A prefeita de Artures, na Venezuela, Mirabal Yamilet, ressaltou a diversidade de povos que acompanham os debates realizados no encontro, principalmente os dos indígenas, que, segundo ela, só enriquecem por apresentarem outros olhares para soluções de problemáticas da região.

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A abertura do Fórum das Cidades da Amazônia, no Hangar, ocorreu com a participação de representantes do governo federal, de cidades brasileiras e de países que fazem parte da região A prefeita de Artures, na Venezuela, Mirabal Yamilet, ressaltou a diversidade de povos que acompanham os debates realizados no Fórum e destaca a participação dos indígenas Carlos Lazary diz que a OTCA foi criada para juntar os oito países no esforço de cooperação, para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia em todas

“Diálogos” começa a levar a voz e as demandas da Amazônia além de suas fronteiras

O evento foi o início da preparação para a COP 30, a conferência sobre mudanças climáticas, e coloca o bioma amazônico e sua população no centro dos debates

Belém sediou a programação

“Diálogos Amazônicos”, o primeiro grande evento internacional na capital paraense nos últimos 14 anos, desde a última reunião da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). O evento reúne iniciativas da sociedade civil com o objetivo de formular novas estratégias para a região. As atividades, que ocorrem no Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, foram abertas oficialmente diante de autoridades dos governos federal e estadual, e milhares de participantes. O evento é preparatório à 30ª Conferência das Partes (COP 30), que trata sobre mudanças climáticas, e será realizada na capital paraense em 2025.

“Diálogos Amazônicos” é um evento que integra a programação da Cúpula da Amazônia, que ocorrerá nos dias 8 e 9, também no Hangar, e seus resultados serão apresentados por representantes da sociedade civil aos líderes reunidos na Cúpula. São esperados todos os presidentes dos países que compõem a OTCA - Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. A atriz e cineasta paraense Dira Paes falou na abertura, em meio a danças apresentadas por povos tradicionais.

Ainda na solenidade de abertura, o governador Helder Barbalho (MDB) recebeu de duas indígenas uma pintura.

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Governador Helder Barbalho: é preciso “ouvir as vozes do nosso povo” Durante a abertura dos “Diálogos Amazônicos”
Autoridades presentes à abertura solene do evento, primeiro grande evento internacional na região após 14 anos
por *Carol Menezes Fotos: Marco Santos/Agência Pará

Ele estava acompanhado da vice-governadora Hana Ghassan; do ministro das Cidades, Jader Filho; do ministro do Turismo, Celso Sabino; do senador Beto Faro; da deputada federal Elcione Barbalho; do presidente da Assembleia Legislativa do Pará, deputado Francisco Melo (Chicão) e da primeira-dama do Estado, Daniela Barbalho.

O governador ressaltou que é motivo de orgulho Belém ser, em 2025, a capital do mundo nas discussões sobre mudanças climáticas.

“A partir do ‘Diálogos Amazônicos’ chamamos a todos aqueles que debatem a Amazônia e falam sobre nós para que possam, com os pés no chão, ouvir as vozes do nosso povo, conhecer um povo lutador e que deseja ser escutado na construção de

uma sociedade melhor; uma região sustentável, próspera a partir da integração do maior bioma tropical do planeta aos seus 30 milhões de habitantes. Que tenhamos propostas e ideias que cheguem a todo o planeta”, afirmou Helder Barbalho.

Esperança

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva agradeceu ao governador pela recepção e por propiciar o espaço para um encontro tão importante.

“Faz 14 anos que os países que compõem a OTCA não se reuniam. Agora, estamos aqui após tempos de ameaça à democracia, às políticas públicas e tudo o mais que permite a defesa da justiça social, do meio ambiente e dos direitos humanos, para que todos os segmentos possam fazer esse diálogo e apresentar aos presidentes da República quais são as expectativas da sociedade brasileira para aqueles que vão compor a Cúpula da Amazônia. Daqui teremos uma declaração, e há uma expectativa muito grande que seja uma declaração de esperança”, disse a ministra.

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Dita Paes e representantes de etnias do Pará Ministra Marina Silva: expectativas da sociedade serão apresentadas aos participantes da Cúpula da Amazônia No Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, autoridades dos governos federal e estadual, e milhares de participantes
[*] SECOM

Fórum das Cidades se encerrou com divulgação da Carta de Belém

Fundada em 2008, a Portal Agro é fruto do sonho e da experiência de quem sempre viveu no campo. Com um profundo amor pela agricultura e uma visão clara do potencial produtivo da região Norte do país, os irmãos, Gilberto (47) e Gilson Maraschin (41), nascidos e criados na cidade de Medianeira, no Paraná, embarcaram juntos em uma jornada que, desde o início, tem como objetivo oferecer serviços agropecuários e soluções tecnológicas para pequenos, médios e grandes produtores do Pará, possibilitando a eles o acesso fácil e confiável aos melhores insumos disponíveis no mercado.

A carta foi assinada pelos gestores participantes do Fórum e a leitura do documento foi feita pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. Ele destacou os principais pontos, que têm o objetivo de criar um fórum permanente entre os prefeitos da região, dentro da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), para debaterem de forma livre o desenvolvimento da Amazônia.

Destaques

O conteúdo da carta destaca também, as peculiaridades da região, a participação ativa dos governos locais e da população para o crescimento sócio econômico e sustentável da Amazônia. “Amazônia é povo, são 30 milhões de pessoas. É uma região rica em biodiversidade. A criação de fórum permanente dentro da estrutura da OTCA é a principal proposta do documento, para que os prefeitos da Amazônia brasileira e

internacional possam dialogar e debater livremente políticas sustentáveis”, afirmou o prefeito Edmilson Rodrigues.

Além disso, o prefeito de Belém também entregará a carta aos presidentes dos oitos países da amazônicos, que participarão da Cúpula da Amazônia, nos próximos dias 8 e 9, na capital paraense.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva e o secretário Especial de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais do governo federal, André Ceciliano, também participaram do segundo dia do Fórum das Cidades Amazônicas.

“O intuito que é nossas cidades da Amazônia possam ser ouvidas.

É muito importante discutimos o clima, o desmatamento e biodiversidade, mas não devemos esquecer que a grande população da região vive em áreas urbanas. Precisamos ouvir os prefeitos e, a partir da carta, fazer com que o Fórum se fortaleça e suas decisões sejam levadas à frente para implementação de políticas públicas”, explicou o ministro das Cidades, Jader Filho.

Construção

A Carta de Belém foi construída por mais de 20 prefeitos e prefeitas de cidades da Amazônia brasileira e internacional durante o Fórum das Cidades, que tratou da estruturação e organização urbana em cidades com especificidades amazônicas, desenvolvimento sustentável, bioeconomia, fronteiras, gestão territorial e financiamento para projetos.

14 www.paramais.com.br Pará+
Texto *Victor Miranda Fotos Camila Dias/ Agência BelemTur, João
Gomes/NIS Comus
O Fórum das Cidades Amazônicas se encerrou com a assinatura da Carta de Belém, construída pelos prefeitos e prefeitas da Amazônia brasileira e internacional, que é composta por Brasil, Bolívia, Peru, Guiana, Equador, Peru, Venezuela e Suriname
Prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, lendo a Carta de Belém, elaborada pelos prefeitos da Amazônia brasileira e internacional O documento foi entregue pelo prefeito Edmilson Rodrigues aos ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha e das Cidades, Jader Filho A Carta de Belém propõe o crescimento socioeconômico e sustentável da Amazônia e a criação de um fórum permanente entre os prefeitos para integrar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica

Grupos de Trabalho e debates ambientais iniciam ‘Diálogos Amazônicos’ em Belém

Participam do encontro os ministros Jader Filho, das Cidades; Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais; entre outros

Foram estabelecidos, na manhã desta sexta-feira (4), os Grupos de Trabalho “Amazônia” e “Restauração de Áreas Degradadas” para a promoção de maior cooperação em prol da urbanização sustentável da Amazônia. O governador e presidente do Consórcio Amazônia Legal, Helder Barbalho, participou da mesa do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), ponto de partida para os “Diálogos Amazônicos”, com atividades preparatórias para a Cúpula da Amazônia, nos próximos 8 e 9 em Belém. “Festejo a escuta da diversidade. Que a nossa sociedade possa estar retratada nos anseios, expectativas e soluções que possam ser aplicadas por parte do governo federal e também dos estados que compõem a Amazônia Brasileira. Este é o pontapé inicial de um conjunto de agendas que estarão acontecendo nos próximos dias em Belém e que os “Diálogos pela Amazônia” seja um palco absolutamente fundamental de envolvimento da sociedade na construção para a nossa região, de soluções sociais e ambientais”, enfatizou o governador Helder Barbalho.

Governador: “os ’Diálogos pela Amazônia’ devem ser um palco de envolvimento da sociedade na construção de soluções”

O encontro contou com a presença dos ministros Jader Filho, das Cidades, Alexandre Padilha da Secretaria de Relações Institucionais, Paulo Teixeira do Desenvolvimento Agrário, Wellington Dias do Desenvolvimento

Acompanhado de perto por membros da sociedade civil e autoridades

Social e Marina Silva do Meio Ambiente. “Esse é um desafio que o Brasil colocou para si mesmo, de sediar um dos eventos mais importantes, de uma das políticas mais desafiadoras do mundo, que é o enfrentamento da mudança do clima, que nós temos que ter ações para evitar que a temperatura se eleve acima de 1,5 graus de temperatura média da terra. Evitando eventos extremos em todo o mundo, particularmente em nosso pais”, ponderou a ministra Marina Silva.

Participação popular

O diálogo entre as autoridades foi acompanhado de perto por membros da sociedade civil e autoridades locais. Hildete Costa, moradora da capital paraense, acompanhou toda a programação. Contou que é uma grande conquista esse tipo de debate ser feito na região berço do clima mundial.

“Debater a Amazônia é extremamente importante. O mundo precisa conhecer todas as nossas problemáticas. Todo o planeta fala de carbono, mas esquecem que há pessoas morando aqui. Temos comunidades tradicionais, rios, florestas e uma enorme biodiversidade. Eu acho que é importante ouvir o que as autoridades pensam e o que elas irão fazer sobre o tema”, concluiu a historiadora.

Governador Helder Barbalho ao lado de autoridades públicas dos governos federal, estadual e municipal, em Belém No Hangar Centro de Convenções & Feiras da Amazônia por *Evaldo Júnio Fotos: Bruno Cecim / Ag.Pará [*] SECOM

Desenvolvimento Sustentável

Desafios das áreas urbanas da Amazônia integram o debate do Fórum das Cidades, em Belém

do Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia; Michelle Muschett, diretora do PNUD para a América Latina; Gabriella Costa Ferreira, gestora de projetos; Cristina Scorza, diretora do Departamento de Estruturação do Desenvolvimento Urbano e Metropolitano; Adalberto Maluf, secretário Nacional de Qualidade Ambiental e Urbana( Ministério do Meio Ambiente); Bráulio Diaz, relações internacionais do ICLEI América do Sul; Sarah Habersack, diretora de Transformação Urbana na GIZ Brasil.

Financiamento de projetos sustentáveis para a Amazônia foi um dos principais focos do debate entre prefeitos, especialistas em meio ambiente e representantes de instituições federais, entre outras

Asessão temática “O papel das cidades para a conservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia” reuniu prefeitos, prefeitas e especialistas em meio ambiente, que debateram sobre como as cidades buscam trabalhar o desenvolvimento sustentável urbano. O prefeito de Riberalta, na Bolívia, Ciriaco Rodríguez Vázquez, falou da necessidade de apoio de toda a sociedade no cuidado com o meio ambiente. “Cuidar do meio ambiente tem de ser para todos. Ressaltando a necessidade de apoio tecnógico para preservação em conjunto da Amazônia

Na sessão “Financiamento da Transição

Climatica em Cidades da Amazônia”, os prefeitos elencaram as dificuldades das prefeituras de pequenas cidades da região amazônica para aprovação de financiamento de recursos para projetos de enfrentamento das mudanças climáticas. Apontaram também a necessidade de capacitação das entidades locais na busca do financiamento em instituições financeiras, como o BID e o Fonplata.

Protagonismo

Para a secretária de Mudança de Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, a realização do Fórum, em Belém, na Amazônia é um marco para quem trabalha com mudanças climáticas.

“A discussão nunca acontece na Amazônia. Quero muito celebrar esse protagonismo”.

Participaram das mesas temáticas: Rafael Lenzi, especialista sênior em Mudanças Climáticas do Fonplata; Ana Toni, secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente; Hélinah Cardoso, coordenadora

O Fórum das Cidades Amazônicas é organizado pela Prefeitura de Belém, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), e em coordenação com o Governo do Estado do Pará, a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI/PR), Ministério das Cidades (MCID), Ministério do Meio Ambiente e Mudança de Clima (MMA), Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará (Famep) e Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei). O evento se realizou no Hangar Centro de Convenções da Amazônia.

Secretária de Mudança de Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, ressaltou o protagonismo de Belém no debate sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia

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Gás de cozinha Resíduo orgânico

IBRAM expõe a importância do Brasil na oferta de minerais estratégicos para transição energética no

WMC 2023

O WMC promove uma importante integração entre executivos, profissionais da mineração e acadêmicos, bem como de importantes investidores internacionais.

Reunião do IOC define próximo destino do WMC

No domingo (25/06), o International Organizing Committee (IOC) organizou uma reunião para definir o próximo destino do WMC. O local escolhido foi o Peru, que receberá o evento em 2026.

O desafio de expandir a produção de minerais estratégicos no Brasil, fundamentais para a evolução da transição energética, foi tema de debate durante o 26th World Mining Congress (WMC) / Congresso Mundial de Mineração

Opainel, que ocorreu na última segunda-feira (26/06) em Brisbane, na Austrália, contou com a participação do diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Rinaldo Mancin. “Há apenas uma resposta para uma nova era de energia limpa e renovável: minerais. Isso implica que teremos que minerar mais e não menos.

Ao contrário do senso comum, a indústria mineral preserva o dobro de áreas que utiliza. Toda a mineração no Brasil ocupa apenas 0,6% do território”, afirmou Mancin. O evento reúne, a cada edição, uma área de exposição, um espaço para apresentação de trabalhos técnicos e o Congresso.

Países como Chile, Indonésia e China demonstraram interesse, durante a reunião, para se candidatarem como sede do congresso em 2029.

Sobre o WMC

Realizado a cada três anos, sob a liderança de um secretariado com status de associado à Organização das Nações Unidas, o WMC tem os objetivos de promover e apoiar, técnica e cientificamente, a cooperação para o progresso nacional e internacional nas áreas de mineração e o desenvolvimento de recursos minerais naturais; implantar uma rede mundial de intercâmbio de informações com relação à ciência mineral, tecnologia, economia, saúde e segurança nas operações de mineração e proteção ambiental.O Brasil recebeu, em 2012, a missão de organizar o WMC durante o 92º encontro do International Organizing Committee (IOC), responsável pelo evento. Coube ao Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) defender a candidatura brasileira após articulações junto ao governo brasileiro, entidades setoriais e mineradoras. A 24ª edição ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 18 e 21 de outubro de 2016.

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Fotos: Divulgação Rinaldo Mancin, diretor de Relações Institucionais do IBRAM
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A mineração de cristais presos no fundo do mar pode ajudar a combater as mudanças climáticas. Também pode destruir o último ecossistema intocado da Terra. O impulso para EVs destruirá o último ecossistema intocado da Terra?

Fotos: David McNew / Getty, Loke, Domínio Público, Nautilus Live / Ocean Exploration Trust, NOAA Office of Ocean Exploration and Research, 2019 Southeastern US Deep-sea Exploration: DeepCCZ: Universidade do Havaí (EUA), Museu de História Natural (Reino Unido), Per-Anders Pettersson/Getty, PNAS, Universidade de Gotemburgo (Suécia), Unsplash

Para evitar uma catástrofe climática, o mundo deve reduzir drasticamente suas emissões de carbono. Mas criar baterias suficientes para alimentar os veículos elétricos (EVs) necessários para um futuro livre de carbono exigirá um aumento maciço em nosso fornecimento de minerais como cobre, cobalto e manganês.

Os países estão lutando para extrair esses materiais preciosos da terra, cavando em todos os lugares, desde as florestas tropicais da República Democrática do Congo até a Indonésia . No entanto, esses esforços foram prejudicados por problemas ambientais e questões de direitos humanos. Por isso, algumas empresas voltaram seus olhos para outro lugar: o fundo do mar.

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Na busca pelos minerais necessários para as baterias dos carros elétricos, algumas empresas estão se voltando para o mar profundo. Mas a mineração desse ecossistema pode ameaçar sua própria existência
Close de uma estrela quebradiça encontrada durante uma expedição à Zona Clarion-Clipperton. Este ecossistema de águas profundas abriga um grande número de espécies até então desconhecidas pela ciência, mas também abriga um vasto estoque de minerais raros que as empresas desejam explorar

Milhas abaixo da superfície do oceano, bilhões de pedaços rochosos carregados de manganês, níquel, cobalto, cobre e outros minerais preciosos revestem o fundo do mar. Em algumas áreas, o cobalto também está concentrado em grossas crostas metálicas flanqueando montanhas subaquáticas.

Várias empresas e países estão se preparando para colher esses chamados nódulos polimetálicos do fundo do mar e extrair os tesouros dentro deles. Atualmente, a mineração do fundo do mar em águas internacionais é legalmente obscura e as empresas ainda não iniciaram as operações de exploração comercial. Mas as nações delegadas da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) - um órgão intergovernamental apoiado pela ONU - estão se reunindo em Kingston, Jamaica, pelas próximas duas semanas (10 a 28 de julho) para desenvolver regulamentos que possam abrir caminho para essa mineração.

Essa prática pode ter sérias consequências para os oceanos do mundo, disseram especialistas à Live Science.

Então, quão ruins são esses impactos ambientais? E é possível atingirmos nossas metas climáticas sem explorar o fundo do mar?

Devastação em alto mar

Evidências emergentes sugerem que a mineração em alto mar pode danificar os ecossistemas do fundo do mar.

Uma área-chave visada pelas empresas de mineração é um trecho do oceano do Havaí ao México.

Apesar de suas temperaturas frias e baixa disponibilidade de alimentos, este habitat de águas profundas, conhecido como Zona Clarion-Clipperton (CCZ), abriga um número impressionante de espécies, variando de pepinos-do-mar brilhantes a tamboril com dentes. Os cientistas recentemente catalogaram mais de 5.500 espécies de águas profundas no CCZ, cerca de 90% das quais eram desconhecidas da ciência.

A maior parte da mineração do fundo do mar exigirá grandes máquinas para coletar nódulos, trazê-los à superfície e depois descarregar os sedimentos desnecessários de volta ao oceano. Este método pode ter consequências catastróficas para os animais que vivem lá, “Eles efetivamente precisam escavar e triturar o fundo do mar para obter seus minerais”, disse Douglas McCauley , biólogo marinho da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, à Live Science. “Portanto, qualquer coisa que esteja vivendo naquele habitat será destruída.” Isso inclui animais que se ligam e vivem nos próprios nódulos , como esponjas do mar e corais negros.

Como a prática ainda não começou em escala industrial, os cientistas marinhos confiaram principalmente em modelos de computador e testes em pequena escala para prever os impactos da mineração em alto mar.

No entanto, em 1989, uma equipe de cientistas tentou imitar os efeitos da mineração do fundo do mar arando uma área do fundo do mar no Peru medindo aproximadamente 3,9 milhas quadradas (10,1 quilômetros quadrados) a cerca de 2,6 milhas (4,2 quilômetros) de profundidade.

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Nódulos de manganês, crostas de cobalto e sulfetos maciços em profundidades de até 4.000 metros Close de nódulos polimetálicos encontrados no fundo do mar. Esses nódulos são ricos em minerais raros, como cobalto e cobre, que são usados em baterias de veículos elétricos Pesquisadores a bordo do navio de pesquisa Nautilus avistaram este pepino-do-mar usando um ROV no Monumento Nacional Marinho das Ilhas Remotas do Pacífico, a sudeste de Honolulu. Esses ambientes do fundo do mar podem abrigar ricos depósitos de minerais raros, mas também são alguns dos ecossistemas mais primitivos da Terra, e minerá-los pode destruí-los, dizem os biólogos. Assista o GIF: www.bit.ly/3Y5LBoP

Muitas das espécies nesta área ainda não haviam retornado mais de 25 anos depois, e os rastros do arado ainda eram visíveis, de acordo com um estudo de 2019 publicado na Scientific Reports.

Os impactos negativos provavelmente não serão isolados no local de mineração original; máquinas podem causar poluição sonora que se estende por centenas de quilômetros através do oceano, sugerem modelos de computador. Esse ruído pode atrapalhar a capacidade dos animais de navegar, localizar presas ou encontrar um companheiro.

Mas talvez um dos subprodutos mais destrutivos da mineração do fundo do mar sejam as plumas de sedimentos que os veículos submarinos deixam em seu rastro , que podem agir “como tempestades de poeira submarinas que podem sufocar a vida lá fora”, disse McCauley.

Essas plumas de sedimentos podem prejudicar os habitats do atum, que estão mudando à medida que as temperaturas do oceano esquentam e se sobrepõem cada vez mais a áreas da CCZ rica em minerais, de acordo com um estudo de coautoria de McCauley e publicado em 11 de julho na npj Ocean Sustainability.

Algumas empresas estão trabalhando em tecnologia para reduzir essas plumas. Por exemplo, a empresa de minerais Loke , sediada na Noruega , adquiriu recentemente a UK Seabed Resources Ltd. , uma empresa de mineração em águas profundas com dois contratos de exploração que permitem à empresa começar a procurar minerais na CCZ, embora ainda não os extraiam comercialmente. Loke pretende iniciar operações de mineração em alto mar até 2030, disse Walter Sognnes, CEO da empresa.

“O que estamos tentando fazer é minimizar o impacto e maximizar a compreensão desse impacto”, disse Sognnes.

Loke está desenvolvendo veículos de mineração que gerarão plumas apenas quando se moverem pelo fundo do mar, e não ao despejar o excesso de sedimentos no oceano após a recuperação dos nódulos, disse Sognnes. No entanto, a tecnologia ainda é teórica.

Alguns pesquisadores estão céticos quanto à existência de uma maneira “sustentável” de explorar o fundo do mar.

“Acho que não há como fazer isso sem causar grandes danos ambientais locais, causando enormes danos em escalas de dezenas de milhares de quilômetros quadrados”, disse Craig Smith , ecologista de águas profundas da Universidade do Havaí em Manoa, à Live Science. “Simplesmente não é possível”.

Podemos atender à demanda mineral EV sem mineração em alto mar?

Ilustração da tecnologia imaginada por Loke para minerar esses minerais. Um barco na superfície liga-se a pequenos veículos (amarelos) que se deslocam pelo fundo do mar para extrair minerais. Loke está projetando veículos para desenvolver plumas apenas ao se mover pelo fundo do mar, não ao ejetar o excesso de sedimentos

Se quisermos cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris de 2015, os países devem aumentar sua produção mineral para veículos elétricos em 30 vezes até 2040, de acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). Essa necessidade urgente de materiais levanta uma questão: se não colhermos o fundo do mar, podemos obter minerais usados em veículos elétricos em outro lugar?

A resposta provavelmente é sim, mas acessar essas reservas minerais terrestres de maneira sustentável pode ser difícil. “Você pode obter todos os minerais necessários para todos os veículos elétricos do mundo ou qualquer outra coisa de depósitos terrestres, mas a

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Visual demonstrando os efeitos que as plumas de sedimentos e o ruído podem ter sobre várias criaturas oceânicas. Observe que esta imagem não está em escala

maneira de fazer isso com menor impacto ambiental pode ser usar alguns depósitos do fundo do mar de maneira responsável com boas regulamentação”, disse Seaver Wang , co-diretor de clima e energia do The Breakthrough Institute, um centro de pesquisa ambiental com sede na Califórnia. No entanto, ele acrescentou que regulamentos e diretrizes mais firmes da ISA devem estar em vigor antes do início de qualquer operação de mineração em alto mar.

As tecnologias emergentes de baterias podem ajudar a reduzir a pressão no mercado de minerais, dizem os especialistas. Atualmente, as baterias mais usadas em VEs são chamadas de NMC (que usam lítio, níquel, manganês e cobalto), mas os fabricantes de automóveis estão ávidos por tecnologias mais baratas que não exijam tantos desses minerais. Isso pode incluir baterias de íons de sódio ou baterias LFP feitas com lítio, bem como ferro (ferroso) e fosfato - materiais que são mais amplamente disponíveis e acessíveis do que o cobalto e o manganês. Em maio, a Ford anunciou planos para uma nova fábrica em Michigan que deve começar a produzir baterias LFP até 2026. No entanto, essas baterias atualmente têm densidades de energia mais baixas, o que pode limitar o alcance de um veículo elétrico, de acordo com a IEA .

“Uma transição substancial para EVs pode ser feita sem mineração em alto mar”, disse Kenneth Gillingham , um economista de energia da Universidade de Yale que estuda EVs, disse à Live Science, embora tenha acrescentado que a mineração do fundo do mar poderia potencialmente “tirar um pouco da pressão” sobre o mercado de metais críticos.

Apesar da abundância de recursos minerais críticos que a mineração em alto mar pode fornecer, alguns fabricantes de automóveis – incluindo BMW, Volvo

e Renault – e quase 20 países apoiaram publicamente uma moratória sobre a prática para que os cientistas tenham mais tempo para pesquisar seus possíveis impactos ambientais. Além disso, mais de 750 cientistas e especialistas em políticas assinaram uma declaração oficial pedindo a suspensão das atividades de mineração em alto mar.

Embora as regras que cercam a mineração em alto mar ainda não tenham sido finalizadas, a partir de 9 de julho, a ISA é obrigada a receber solicitações de mineração no fundo do mar devido a uma disposição obscura no tratado atual.

Isso não significa necessariamente que a mineração em alto mar ocorrerá em breve, porque o ISA não tem obrigação de aprovar esses aplicativos e a lei ainda é obscura. Um número crescente de especialistas diz que a chave para determinar se a mineração no fundo do mar é mais tempo – para pesquisar, criar novas tecnologias e avaliar os aspectos positivos da mineração do fundo do mar ao lado de suas armadilhas. “A compreensão dos benefícios e custos da mineração em alto mar requer uma avaliação extremamente cuidadosa que envolve muitas incertezas que não foram resolvidas neste momento”, disse Sergey Paltsev, economista de energia do MIT.

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[*]
Redatora da Live Science
Uma mina de cobre e cobalto a céu aberto na Mutanda Mining Sarl em Kolwezi, República Democrática do Congo. Especialistas dizem que existem depósitos terrestres de minerais raros suficientes para alimentar a crescente demanda por veículos elétricos, mas o acesso a essas fontes de maneira sustentável pode ser um desafio Sistema de riser de mineração submarina, garantindo viabilidade, segurança e desempenho operacional em águas ultraprofundas Lagoas de evaporação de sal em Bristol Dry Lake em Amboy, Califórnia, onde a Standard Lithium Ltd. está planejando extrair lítio de salmoura. O lítio é muito mais abundante que o cobalto e o manganês, portanto, uma mudança para baterias LFP poderia diminuir um pouco da pressão para extrair esses minerais mais raros, dizem os especialistas

Bioeconomia inclusiva na Amazônia pode beneficiar 750 mil famílias

Bioeconomia tem potencial para melhorar a qualidade de vida de 750 mil famílias entre agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais.

Produtos florestais não madeireiros geram mais de R$ 10,5 bilhões para famílias rurais de baixa renda, em 2021. São as cadeias da chamada sociobiodiversidade. Somente no Pará, 30 produtos da sociobiodiversidade geraram 224 mil empregos, 84% deles em estruturas produtivas de base familiar. Para o desenvolvimento da região é necessária a união entre o conhecimento científico e os saberes das comunidades tradicionais amazônicas. Enquete com especialistas incentivou que as tecnologias sociais para agregação de valor às cadeias produtivas e ao desenvolvimento de bioprodutos a partir da biodiversidade amazônica são os temas mais relevantes para os esforços de ciência e inovação

Ações voltadas para a bioeconomia inclusiva são capazes de melhorar a vida de 750 mil famílias entre agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais que habitam a Amazônia brasileira. Essas podiam e os seus conhecimentos têm papel fundamental no desenvolvimento sustentável da região. São pendentes de uma série de dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ),

pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ( Incra ), Embrapa e outras instituições, almejaram que é possível o desenvolvimento social e ambiental da Amazônia de uma forma inclusiva. Um dos estudos sobre o potencial da bioeconomia foi publicado este mês: “Visões sobre bioeconomia na Amazônia: Oportunidades

e desafios para a atuação da Embrapa ”, elaborado por oito especialistas da Empresa ( veja o quadro abaixo ). O documento ressalta que o bioma exige diferentes estratégias de bioeconomia, uma vez que ele é heterogêneo em suas características sociais, emocionais, ambientais e culturais, reunindo realidades distintas.

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Distribuição da área de vegetação nativa e do desmatamento até 2021 no bioma Amazônia. Elaboração: Embrapa Territorial/ GITE; Fonte dos dados: Prodes e Inpe (2021). *Fernanda Diniz **Fábio Reynol Fotos: Guilherme Noronha, Nasa, Ronaldo Rosa, Ronaldo Rosa VALE A Amazônia, por sua heterogeneidade cultural, ambiental, social e econômica, exige diferentes estratégias de bioeconomia. Na foto, a flor do cupuaçu, fruto típico do bioma

O estudo da Embrapa

Assinam o estudo do pesquisador da Embrapa: Daniela Biaggioni Lopes (Superintendência de Estratégia), que coordenou o trabalho; Ana Euler (diretora-executiva de Negócios); Joice Ferreira (Embrapa Amazônia Oriental), Judson Valentim (Embrapa Acre), Lucia Wadt (Embrapa Rondônia), Milton Kanashiro (Embrapa Amazônia Oriental), Roberto Porro (Embrapa Amazônia Oriental) e Susana Góis (Diretoria de Pesquisa e Inovação).

e estimular novos modelos de desenvolvimento que tenham como foco a redução do desmatamento e da degradação ambiental, a sustentabilidade da produção agrícola e florestal e a melhoria do bem-estar das populações amazônicas

“Um entendimento do que é, e do que pode se tornar, a bioeconomia no contexto amazônico é o ponto de partida para a atuação de instituições de ciência e tecnologia nos ecossistemas de inovação da região. Essa foi a premissa do trabalho,” conta Daniela Lopes , coordenadora do estudo da Embrapa, o qual conto ainda

com consultas a outros profissionais da Empresa e traz referências a documentos externos. Voltado a subsidiar as ações da Embrapa no bioma, o estudo reuniu informações que demonstraram que a bioeconomia é geradora potencial de benefícios sociais, ambientais e biológicos para a Amazônia. “Esse pode ser o caminho para

O que é bioeconomia na Amazônia?

se reverter o grande paradoxo da região amazônica, marcado pela riqueza e abundância de recursos naturais e pela extrema pobreza das populações e comunidades locais”, frisa o pesquisador Judson Valentim , responsável pelo Portfólio Amazônia , conjunto de projetos de pesquisa da Embrapa relacionada ao bioma.

Uma economia sustentável, focada no uso de recursos da biodiversidade, considerando conhecimentos tradicionais e aliada aos avanços tecnológicos em processos químicos, industriais e de engenharia genética.

Tem como objetivo a valorização das práticas regenerativas na região amazônica de modo a assegurar a inclusão social, a qualidade de vida, além da conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.

O que é sociobiodiversidade?

O conceito expressa a inter-relação entre a diversidade biológica e de sistemas socioculturais. Os produtos da sociobiodiversidade são bens e serviços (produtos finais, matérias-primas ou benefícios) gerados a partir de recursos da biodiversidade, voltados à formação de cadeias produtivas de interesse dos povos e comunidades tradicionais e de familiares, que promovem a manutenção e valorização de suas práticas e saberes, e assegurar os direitos decorrentes, gerando renda e esperança para a melhoria de sua qualidade de vida e do ambiente em que vivem.

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Portfólio Amazônia – visa desenvolver, expandir Meliponicultura, criação de abelhas sem ferrão

O Código Florestal determina que entre 50% e 80% da área desse bioma deve ser mantida com

vegetação nativa. “Para que esses recursos florestais se traduzam em desenvolvimento econômico e social

para a população, é preciso investir na geração de tecnologias de bases sustentáveis”, defende Valentim.

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Cupuaçu, açaí, bananeira Andiroba Bacuri Castanha do Pará Jambu Camu camu Cacau Caroços de açai

Ciência e conhecimentos tradicionais para manter a floresta

“A agregação de valor aos produtos florestais tem o potencial de beneficiar povos indígenas, comunidades tradicionais e produtores rurais que vivem na região. Integrar o conhecimento ancestral desses povos com a ciência é o principal caminho para manter a floresta em pé e promover o bem-estar humano e o desenvolvimento sustentável na Amazônia”, ressalta a diretora. “Criar oportunidades para as pessoas que moram na Amazônia é a melhor maneira de enfrentar os problemas atuais da região”, defende Euler. Valentim conta que há vários resultados de sucesso na pesquisa que nasceram da união entre os conhecimentos tradicionais e científicos das populações amazônicas.

Para a pesquisadora Ana Euler, diretora-executiva de Negócios da Embrapa e coautora do estudo, a bioeconomia da sociobiodiversidade deve orientar o desenvolvimento na região.

Ela diz ser necessário estruturar as cadeias de valor com investimentos em infraestrutura, formação de capital humano e tecnologias (sociais, digitais, biotecnológicas).

Entre eles, destacam-se os que comprovam o potencial de microrganismos do guaranazeiro para a agricultura e a saúde humana e do óleo de uma planta amazônica conhecida como pimenta-de-macaco (Piper aduncum) para controlar pragas, além de vários outros exemplos.

Economia da sociobiodiversidade

Um estudo da The Nature Conservancy ( TNC Brasil ) estimou que, em 2019, somente no estado do Pará, 30 produtos de cadeias da chamada sociobiodiversidade responderam por uma renda de cerca de 5,4 bilhões de reais, gerando 224 milhões de empregos, 84% eles em estruturas produtivas de base familiar.

“A oportunidade é contribuirmos, com conhecimento técnico-científico, para que modelos de bioeconomia apoiem o desenvolvimento regional, gerando competição para as comunidades amazônidas”, pontua Lopes. Em uma consulta a especialistas da própria Embrapa, os autores questionaram quais seriam os temas mais importantes associados à bioeconomia na Amazônia. Na percepção dos transmitidos, os dois temas considerados mais relevantes foram: “tecnologias sociais e agregação de valor às cadeias produtivas da

sociobiodiversidade” e “desenvolvimento de bioprodutos e bioativos, a partir da biodiversidade amazônica”.

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Estudo da The Nature Conservancy ( TNC Brasil ) Para os desejados, essas pautas devem nortear boa parte dos esforços da pesquisa científica na região.

A Embrapa na Amazônia

Os autores contam que o desenvolvimento de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação em prol da bioeconomia na Amazônia é uma prioridade da Embrapa desde 2014. Em 2023, a Empresa deu início a um projeto para diagnóstico e elaboração de um plano estratégico a fim de fortalecer essa nova economia na região. Para isso, a ideia é desenvolver soluções tecnológicas alcançadas às cadeias da sociobiodiversidade, que priorizem a sustentabilidade e a inclusão das comunidades locais. Para isso, a Empresa conta com investimentos da ordem de 20,5 milhões de reais, nove centros de pesquisa na Amazônia Legal, além de outros que apoiam o bioma desenvolvendo soluções em suas respectivas áreas. São mais de 300 pesquisadores e 140 projetos de pesquisa em andamento na região.

Um dos objetivos é ampliar os esforços em rede com instituições no Brasil e exterior para captar recursos e fortalecer a presença do País nos fóruns internacionais de biodiversidade e clima. Além disso, a Embrapa pretende fortalecer a sua participação na elaboração e articulação de políticas públicas que estimulem a produção sustentável na Amazônia.

Tecnologias geradas

Algumas das tecnologias geradas pela Embrapa com foco em bioeconomia inclusiva na Amazônia:

▶Manejo de açaizais nativos na Amazônia Oriental.

▶Boas práticas para produção de castanha-da-Amazônia em florestas naturais.

▶Boas práticas de processamento pós-colheita de açaí.

▶Manejo de abelhas nativas para a meliponicultura na Amazônia.

▶Novas cultivares de açaí, guaraná e cupuaçu.

▶Sistema de criação de tambaqui.

▶Modelos de sistemas agroflorestais para recuperação de áreas degradadas de produtores familiares, comunidades tradicionais e indígenas.

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Quanto valem as cadeias produtivas da sociobiodiversidade

O estudo da Embrapa traz ainda informações sobre os produtos florestais não madeireiros (PFNM) com maior valor de produção, entre os quais se destacam: o fruto do açaizeiro; a castanha do Brasil e as amêndoas da palmeira babaçu. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ), a soma do valor da produção nacional de açaí e cacau e dos demais PFNM obteve pelo extrativismo na região supera 10,5 bilhões de reais. Embora represente apenas cerca de 0,12% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, essa receita é significativa para as famílias de baixa renda na Amazônia, se detectada aos 2,9 bilhões de reais originários da geração de madeira em toras.

Hoje existem 94 espécies nativas de valor alimentar para fins de distribuição in natura ou derivados. Para os pesquisadores, a agregação de valor a esses produtos por processamento agroindustrial tem enorme capacidade de expansão.

Principais soluções para o bioma

O ecossistema de inovação da Embrapa na Amazônia Legal tem gerado soluções tecnológicas e sociais para os setores agropecuário, florestal e agroindustrial com foco, entre outros temas, em sistemas que integram lavoura e pecuária (ILP) e lavoura-pecuária e floresta (ILPF), manejo florestal sustentável (produtos madeireiros e não madeireiros), sistemas agroflorestais, sistemas de produção de pecuária de carne e leite, aquicultura, fruticultura e grãos.

Dos 34 portfólios (agrupamentos) de projetos dedicados a temas estratégicos para a agricultura brasileira, um é voltado exclusivamente para a Amazônia, com o objetivo de apoiar políticas públicas integradas para o desenvolvimento competitivo dessa região, com foco em bioeconomia.

O portfólio Amazônia conta com oito desafios para inovação sustentados a 28 políticas públicas. Entre esses desafios, três se destacam em relação à bioeconomia. Essas tecnologias já são adotadas em mais de 140 mil hectares com impacto econômico superior a 160 milhões de reais e impacto social incentivado, com a geração de aproximadamente 3 mil empregos.

As expectativas apontam para avanços técnico-científicos em temas como: domesticação de espécies nativas, principalmente plantas, agricultura de baixo carbono, restauração florestal e recuperação do passivo ambiental de forma econômica, piscicultura, pecuária sustentável, aproveitamento da biodiversidade local, benefícios derivados da manutenção da floresta em pé, inclusão dos locais em circuitos curtos de aceitação, sistemas agroflorestais e aprimoramento de técnicas silviculturais com espécies nativas.

O açaí, por exemplo, tem sido explorado para a produção de medicamentos, cosméticos e vários outros produtos.

Em 2019, a Embrapa disponibilizou tecnologia para a produção de produtos alimentícios à base de frutas da Amazônia. Eles são resultados de uma pesquisa que desenvolveu balas de gelatina de açaí, blends (sucos mistos) com misturas de frutas nativas do bioma, salgadinhos (salgadinhos) à base de farinha de pupunha e mandioca e barrinhas multifuncionais de tapioca, castanha e açaí.

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[*] Superintendência de Comunicação (Sucom) Embrapa

Árvores gigantes da Amazônia

Éterrível. Chorei muito”, conta Eric Bastos Gorgens ao relembrar o dia em que teve que abandonar a busca para chegar à árvore mais alta conhecida na Amazônia. Sua equipe de pesquisa teria sido a primeira a pesquisar o gigante de 88,5 metros, que havia sido identificado apenas em dados coletados durante um levantamento aéreo. Ninguém nunca o tinha visto ou sequer sabia de que espécie era. Gorgens e sua tripulação de seis pessoas passaram dias caminhando pela densa e perigosa floresta tropical em uma parte remota do nordeste do Brasil, a cerca de 250 quilômetros da cidade mais próxima. Mas durante a expedição em setembro de 2019, eles finalmente encontraram um terreno íngreme e passaram várias horas tentando caminhos ao redor e sobre ele. Com pouca comida e combustível - e sem meios de enviar uma mensagem ao acampamento base - os pesquisadores voltaram relutantemente. Eles estavam a apenas 5 quilômetros ou mais da árvore.

“Eu estava tão perto. Estávamos tão perto. Talvez mais um dia, talvez mais uma manhã, chegássemos lá”, diz Gorgens, engenheiro florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Diamantina, Brasil. Eles juraram voltar. Em setembro do ano passado, Gorgens e uma equipe de

19 outros retornaram, armados com as principais lições de sua primeira tentativa, melhores equipamentos e suprimentos para uma missão mais longa. Um fotógrafo da Nature os acompanhou em sua jornada. Sua expedição às vezes soa como um conto da ciência no século XIX - cortando a selva inexplorada com facões, esquivando-se de animais mortais, suportando chuvas torrenciais. Mas eles também tiveram a ajuda de ferramentas e dados do século XXI. Um drone forneceu vistas do alto do dossel da floresta, e a equipe tinha as coordenadas exatas de GPS para a árvore desconhecida.

Os pesquisadores estão explorando questões básicas sobre o que controla a altura das árvores. E os dados que eles coletaram podem ajudar a preencher detalhes sobre quanto carbono a Amazônia contém e se ameaças como mudança climática e desmatamento interromperão essa capacidade. Mas, além dessas questões, a expedição serve como um lembrete dos vastos reinos inexplorados do deserto e da ciência, mesmo em um mundo reduzido por telefones celulares, Internet e outras tecnologias modernas.

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Uma jornada épica para alcançar a árvore mais alta conhecida na Amazônia. Quando os pesquisadores identificaram indícios de que as árvores estavam crescendo em alturas recordes na floresta tropical, eles tentaram, falharam e tentaram novamente chegar ao local remoto
por *Richard Monastersky Fotos: Pablo Albarenga para a Natureza
Como em um conto da ciência no século XIX – cortando a selva inexplorada com facões, esquivando-se de animais mortais, suportando chuvas torrenciais ... Árvore mais alta conhecida na Amazônia, gigante de 88,5 metros

“É incrível quando você vê como somos pequenos naquele local fantástico”, diz Gorgens. “Não apenas a árvore. Todos. O rio, os desafios, o tamanho da floresta”.

Uma segunda chance

Durante a expedição de 2019, Gorgens e sua equipe conseguiram visitar um aglomerado de grandes árvores, mas o fracasso em alcançar a mais alta os deixou ansiosos para voltar.

Então a pandemia do COVID19 atingiu, e somente em 2022 os pesquisadores puderam fazer outra tentativa. Desta vez, eles tinham uma noção muito melhor do que encontrariam.

A primeira etapa seria uma viagem de 260 km subindo o rio Jari a partir da pequena comunidade de Laranjal do Jari, perto da foz do rio Amazonas. Isso levaria quatro dias.

Aí começava a parte difícil: uma caminhada de 20 km pelo mesmo terreno íngreme e selva densa que forçaram para voltar em 2019

Eles começaram a jornada no ano passado com 20 pessoas, incluindo 19 cientistas e tripulantes brasileiros e um pesquisador do Reino Unido.

Mas os problemas começaram quase imediatamente. Na primeira noite, um dos jovens membros da equipe da comunidade local teve febre e sua perna começou a inchar.

Pareciam sintomas de uma picada de aranha, mas ele insistiu que seria capaz de continuar. Na mesma noite, outro membro da tripulação descobriu que sua mãe havia morrido, então na manhã seguinte um barco o levou várias horas de volta à cidade e depois voltou. Isso lançou uma sombra sobre a expedição.

Várias vezes nos dias seguintes, o rio estava tão baixo que a tripulação teve que sair dos barcos e puxá-los pelas corredeiras. Por uma seção, todos descarregaram os barcos e os carregaram. Enquanto isso, o homem com a picada de aranha desenvolveu febre alta e sinais de infecção. “Ele começou a diminuir drasticamente nos primeiros dois dias”, diz Gorgens.

A tripulação quase se virou para evacuá-lo antes que ele respondesse a um novo curso de medicação. Finalmente, depois de quatro dias no rio, a equipe pôde iniciar a segunda etapa de sua busca.Os pesquisadores e a equipe de apoio montaram um acampamento-base à beira do rio, onde três pessoas permaneceram, incluindo o homem com a picada de aranha. Gorgens e sua equipe se debruçaram sobre mapas e passaram o dia planejando rotas e organizando suprimentos. Eles partiram para a árvore por volta das 6h, na esperança de aproveitar ao máximo a luz do dia.

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Começando na comunidade de Laranjal do Jari, uma equipe de pesquisa viajou mais de 240 quilômetros rio Jari acima de barco e depois caminhou por terra para alcançar a árvore mais alta conhecida na Amazônia. Cortesia da imagem da natureza Equipe no barco subindo o Rio Jari. Imagem de Pablo Albarenga/Nature

Capturado por laser

Nesse ponto, Gorgens estava na estranha posição de saber detalhes precisos sobre a árvore – sua altura e posição – sem tê-la visto. É possível que ninguém tenha. (Nenhum indígena vive a menos de 100 km da árvore e, mesmo que passasse, seria impossível ver o topo através da copa espessa). Foi uma descoberta casual que trouxe Gorgens a este lugar. Em 2018, ele estudava medições de altura da floresta coletadas por um avião Cessna que havia sobrevoado trilhas em diferentes partes da Amazônia entre 2016 e 2018.

O avião carregava um dispositivo Lidar que envia pulsos de laser e mede o tempo que leva os reflexos para retornar. Como os sinais refletem o solo e a folhagem, ele fornece um retrato 3D da floresta e medições extremamente precisas da altura das árvores. Mas alguns dos dados não faziam sentido para Gorgens. O topo da floresta na maioria das trilhas pelo Lidar atinge cerca de 40 ou 50 metros acima do solo. Mas em alguns lugares, o conjunto de dados incluía reflexões do dobro dessa altura.

Recurso

“Ao investigar esses outliers, vimos que eles são realmente árvores. Por isso iniciamos esse plano”, conta Gorgens.

O detentor do recorde no conjunto de dados atingiu 88,5 metros do nível do solo até a folhagem mais alta visível nos dados do Lidar. Isso é quase tão alto quanto a Estátua da Liberdade de Nova York (93 m) ou a Elizabeth Tower de Londres, popularmente conhecida como Big Ben (96 m). Esta árvore seria a mais alta conhecida na América do Sul, embora ainda muito aquém do recordista mundial, uma Sequoia sempervirens de 116 m de altura no Redwood National Park, na Califórnia. Gorgens e outros relataram sua descoberta de Lidar em 2019 (E. B. Gorgens et al. Front. Ecol. Environ. 17, 373 3 não era apenas um gigante. Perto da árvore mais alta, os dados mostraram várias outras atingindo 80 m ou um pouco mais.

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Dados do Lidar aerotransportados da árvore alta de diferentes ângulos. (Assista esse vídeo-não tem som: www.bit.ly/45T6kQ3 ) Vídeo cortesia da Nature Imagem de drone mostra algumas das corredeiras que a equipe teve que navegar na subida do rio Jari. Imagem de Pablo Albarenga/Nature Eric Bastos Gorgens, engenheiro florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Diamantina

Na Amazônia, os dados do Lidar revelaram cinco outros locais com árvores excepcionalmente altas. Quando os pesquisadores publicaram suas descobertas, incluindo uma imagem de perfil da árvore produzida pelo Lidar, eles chamaram a atenção em todo o mundo – especialmente no Brasil. Um partido político até usou a imagem fantasmagórica da árvore em alguns de seus trabalhos. “É um símbolo”, diz Gorgens. “Conectar as pessoas ao meio ambiente.” Para os cientistas, os dados do Lidar ajudaram a ressaltar o quanto ainda não se sabe sobre a Amazônia. “Esta descoberta, de apenas alguns anos atrás, mostra que ainda não sabemos tudo”, diz Jacqueline Rosette, especialista em sensoriamento remoto da Swansea University, no Reino Unido, que fez parte da expedição do ano passado.

Escrutínio constante

A primeira parte da caminhada foi visivelmente mais fácil porque Gorgens e sua equipe estavam seguindo a rota que haviam aberto na floresta três anos antes; tinha crescido apenas parcialmente. Então eles tomaram uma rota larga ao redor da colina íngreme que provou ser tão problemática durante a tentativa anterior. Com mapas melhores, eles conseguiram evitar muitos terrenos íngremes, diz Gorgens. Ainda assim, eles tinham que carregar mochilas pesadas cheias de comida,

barracas e equipamentos em condições quentes e úmidas por 10 a 11 horas por dia. Eles mediam cerca de um quilômetro por hora. “Isso é bastante estressante porque não sabemos o que virá”, diz ele. Eles nunca sabiam se poderiam encontrar algum novo obstáculo e estavam constantemente atentos a cobrasprincipalmente víboras. Uma mordida de uma das muitas espécies venenosas na área pode ser mortal. “Sinceramente, foi a coisa mais desafiadora e fisicamente árdua que já fiz”, diz Rosette. Por volta das 16h. no segundo dia de caminhada, chegaram ao destino.

E lá estava, um enorme tronco de árvore com cerca de 10 metros de diâmetro, exatamente nas coordenadas corretas do GPS. Ainda assim, inicialmente, Gorgens não tinha certeza. “A trinta, quarenta metros deste ponto, havia outras grandes árvores semelhantes a esta”, conta. Para confirmar a altura da árvore, eles precisariam de uma visão de cima da copa. Embora a equipe tenha trazido equipamentos de escalada durante a expedição de 2019, eles decidiram que não valia a pena o peso extra desta vez. Em vez disso, eles tinham um drone para fazer o trabalho.

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Jacqueline Rosette usa um dispositivo lidar portátil para capturar informações sobre a vegetação ao redor da árvore alta. Imagem de Pablo Albarenga/Nature Jacqueline Rosette usa um dispositivo lidar portátil para capturar informações sobre a vegetação ao redor da árvore alta. Imagem de Pablo Albarenga/Nature

Vista aérea

Uma vez acima do dossel, ficou claro que a árvore se eleva bem acima de suas vizinhas. Pertence à espécie Dinizia excelsa, também conhecida como angelim vermelho, que são algumas das árvores mais altas da América do Sul. As outras árvores de 80 metros de altura que Gorgens e sua equipe avistaram na região são da mesma espécie. Do ponto de vista do drone, Gorgens também pôde ver parte da topografia ao redor. Perto da árvore há uma grande colina.Elevando-se cerca de 200 m acima do topo da árvore, pode ser uma das razões pelas quais os gigantes prosperam aqui, talvez fornecendo alguma proteção contra o vento. “Acho que esta colina, perto da árvore – acho que ajuda a promover o crescimento da árvore”, diz Gorgens.

Essa é apenas uma possibilidade. Além disso, a região não chove muito e tem muitas nuvens, diz Gorgens. “Portanto, estamos propondo que, especialmente com [menos] vento e luz indireta, você crie um ambiente muito calmo, permitindo que as árvores cresçam por longos períodos sem perturbação.”

Eles suspeitam que a árvore tem pelo menos400 anos, mas não teve permissão para coletar uma amostra para conhecer sua idade com precisão.

A equipe coletou folhas para depositar em um herbário local, marcou o terreno ao redor da árvore para catalogar a vegetação ao redor e coletou também amostras de solo ao redor da árvore. Gorgens quer fazer análises genéticas nesses grandes espécimes de Dinizia para ver se eles carregam variantes genéticas que diferem de outras árvores de Dinizia na Amazônia.

Rosette também usou um dispositivo de Lidar portátil para escanear a floresta e obter uma estrutura 3D de alta resolução da vegetação ao redor da árvore.

A maior

Uma surpresa, diz ela, foi a falta de árvores Denizia menores nas proximidades que pudessem substituir a gigante depois que ela morresse. Outra descoberta só veio mais tarde, depois que a equipe voltou para casa. Quando os pesquisadores calcularam quanto carbono foi armazenado dentro e perto da árvore, eles estimaram que as árvores gigantes retêm cerca de 60 a 70% de todo o carbono no hectare ao redor.

As grandes árvores “são o grande chefe daquela área circundante”, diz Rosette.

“Na verdade, foi bastante preocupante ver que você não tinha os jovens surgindo, prontos para explorar quando essas árvores mais velhas e maduras sucumbiam à mortalidade natural”.

No entanto, o fato de que as árvores podem crescer tão altas nesta parte dos trópicos muda a forma como os pesquisadores entendem a região e sua capacidade de armazenar carbono que, de outra forma, contribuiria para o aquecimento global, diz ela.

“Esta é uma descoberta vital e nova.” A equipe acampou na base da árvore para continuar as medições na manhã seguinte, mas dormiu pouco porque uma forte tempestade varreu a área. Algumas pessoas passaram horas armando suas barracas, e formigas com ferrão invadiram o acampamento durante a noite. A certa altura, uma víbora deslizou e teve que ser morta.

Na manhã seguinte, terminaram as medições e fizeram as malas para a viagem de dois dias de volta aos barcos. Foi muito mais fácil ir porque eles seguiram o mesmo caminho de volta. E a viagem de barco rio abaixo levou um dia a menos porque eles viajaram com a corrente.

Aguardando descoberta

Gorgens sabe que nunca viu a árvore mais alta da Amazônia. “Tenho certeza de que encontraremos árvores maiores”, diz ele. As pesquisas lidar que eles fizeram há vários anos cobriram apenas 0,01% da Amazônia. Grande parte da bacia permanece inexplorada, e ele espera que eles possam fazer mais levantamentos aéreos. E os pesquisadores agora têm acesso a outro conjunto de dados que oferece pistas sobre onde procurar árvores mais altas. Entre março de 2019 e março deste ano, um instrumento Lidar chamado missão Global Ecosystem Dynamics Investigation (GEDI) coletou dados de sua posição na Estação Espacial Internacional.

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Eric Bastos Gorgens, segurando o mapa e Jacqueline Rosette, de amarelo, com membros da equipe planejando a caminhada até a árvore Membros da equipe mediram a circunferência da árvore com 9,9 metros de diâmetro

Produziu um mapa para toda a Amazônia, mas em resolução muito menor do que os dados coletados durante as pesquisas de avião.

“Definitivamente vemos árvores com mais de 80 m na Amazônia”, diz Ralph Dubayah, investigador principal do GEDI e cientista de sensoriamento remoto que estuda ecologia e clima na Universidade de Maryland em College Park.

Os dados do Lidar coletados do espaço até mostram algumas reflexões acima de 90–95 m na Amazônia, mas Dubayah diz que podem ser artefatos. Aerial Lidar seria o padrão-ouro, diz ele: “Você pode obter estimativas de altura altamente precisas – melhor do que de qualquer outra maneira”.

Dubayah acrescenta que o monitoramento remoto forneceu informações importantes. “Tem sido revolucionário em nos dar informações sobre onde estão esses importantes povoamentos de árvores individuais e o que podemos fazer para protegê-los”.

A questão da proteção da Amazônia é algo que os expedicionários pensaram durante a longa jornada de ida e volta da gigante Denizia. A árvore está em uma zona protegida, assim como muitas das outras grandes árvores. “Mas não é completamente remoto”, diz Gorgens. Há mineração ilegal perto de algumas das árvores altas, diz ele. “Precisamos estar atentos a essas agressões.” Durante o mandato do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de 2019 a 2022, as taxas de desmatamento dispararam na Amazônia enquanto o governo apoiava a expansão agrícola, enquanto a mineração ilegal e as operações de drogas se espalhavam.

Os defensores da floresta esperam que a administração do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva traga de volta as proteções e controle os distúrbios. Na semana passada, representantes do governo estadual começaram a discutir como proteger essas árvores altas, conta Diego Armando Silva da Silva, engenheiro florestal do Instituto Federal do Amapá em Laranjal do Jari, que era o líder local da expedição.

Essa é uma reação comum dos cientistas da equipe. Além de sua altura, Gorgens pensa em quanto tempo as árvores permaneceram na floresta.

“Eles estavam aqui quando os portugueses chegaram. Eles estavam aqui quando os índios tiveram que deixar suas terras. Eles estavam aqui quando as mudanças climáticas começaram a aumentar os distúrbios”, diz ele. “Nosso desafio é tentar entender o que dizem sobre nós. Para nos entendermos através dos olhos das árvores gigantes.”

[*] Editor-chefe de recursos da Nature em Washington DC. Mariana Lenharo contribuiu com as traduções. A viagem de Pablo Albarenga foi apoiada por uma bolsa do Pulitzer Center em Washington DC

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Na subida do Rio Jari, a equipe teve que puxar o barco por várias corredeiras. Imagem de Pablo Albarenga/Nature Da Silva diz que, quando ficou diante dessas gigantescas árvores amazônicas, “me senti como se estivesse diante de um monumento da natureza”.

Plantas possuem o “sentido do tato” sem nervos

As plantas demonstraram a capacidade de sentir quando são tocadas e quando o toque é liberado, mesmo sem a presença de nervos, de acordo com um estudo conduzido pela Washington State University

A pesquisa demonstrou que as células vegetais individuais responderam ao toque enviando ondas lentas de sinais de cálcio para outras células. Quando a pressão do toque era liberada, as células enviavam ondas muito mais rápidas. Embora os cientistas já soubessem que as plantas podem responder ao toque, este estudo revela que as células vegetais transmitem sinais diferentes quando o toque é iniciado e quando termina.

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por * Universidade Estadual de Washington Fotos: Nature Plants (2023). DOI:
10.1038/s41477-023-01418,
Washington State University, copyright Nature Plants Respostas evocadas não invasivamente do cálcio citosólico à estimulação mecânica em células pavimentosas da epiderme da folha abaxial de Arabidopsis

O estudo, publicado na Nature Plants, envolveu uma série de experimentos em 12 plantas, incluindo agrião e plantas de tabaco especialmente cultivadas contendo sensores de cálcio. Os pesquisadores usaram um bastão de vidro microscópico, semelhante em tamanho a um cabelo humano, para aplicar um toque suave nas células vegetais individuais.

Eles observaram respostas complexas dependendo da força e duração do toque, mas a distinção entre o toque e sua remoção era evidente. Dentro de 30 segundos após o toque, os pesquisadores observaram ondas lentas de íons de cálcio, conhecidas como cálcio citosólico, movendo-se da célula tocada para as células vegetais vizinhas. Essas ondas duraram aproximadamente de três a cinco minutos.

Após a remoção do toque, um rápido conjunto de ondas ocorreu, dissipando-se em um minuto. Os cientistas acreditam que essas ondas são provavelmente resultado da mudança de pressão dentro das células vegetais. Ao contrário das células animais, as células vegetais têm paredes celulares resistentes que não são facilmente penetradas. Portanto, mesmo um leve toque aumenta temporariamente a pressão em uma célula vegetal. Para testar essa teoria, os pesquisadores manipularam mecanicamente a pressão dentro de uma célula vegetal usando uma pequena sonda de pressão capilar de vidro.

Eles observaram ondas de cálcio semelhantes desencadeadas pelo início e término do toque, confirmando o papel da pressão na geração dessas respostas.

De acordo com Michael Knoblauch, autor sênior do estudo e professor de ciências biológicas na WSU, humanos e animais sentem o toque por meio de células sensoriais, enquanto as plantas parecem sentir o toque por meio da alteração da pressão celular interna.

Esse mecanismo não se limita a células específicas, pois qualquer célula da superfície da planta pode realizar essa função. Estudos anteriores demonstraram que quando uma planta é picada por uma praga como uma lagarta, ela inicia respostas defensivas, como a liberação de produtos químicos que tornam as folhas menos atraentes ou até tóxicas para a praga. Outro estudo revelou que escovar uma planta desencadeia ondas de cálcio que ativam vários genes.

Embora este estudo tenha diferenciado com sucesso as ondas de cálcio associadas ao toque e à liberação, a resposta exata dos genes da planta a esses sinais permanece incerta. No entanto, Knoblauch destacou que, com avanços em tecnologias como os sensores de cálcio usados nesta pesquisa, os cientistas podem investigar ainda mais esse mistério e entender melhor como os genes são influenciados por esses sinais. O estudo recebeu apoio de bolsas da National Science Foundation. A equipe de pesquisa incluiu cientistas da Universidade Técnica da Dinamarca, Ludwig Maximilian Universitaet Muenchen e Westfaelische Wilhelms-Universitaet Muenster na Alemanha, bem como da Universidade de Wisconsin-Madison e da Washington State University.

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As plantas podem distinguir quando o toque começa e para Uma visão microscópica do que acontece quando uma única célula de um agrião é tocada por um fino bastão de vidro. Quando o toque é aplicado pela primeira vez (01:33), a célula envia uma onda lenta de sinal de cálcio para outras células. Ao soltar o toque, cria-se uma onda mais rápida (06:53) Assista no YouTube: www.youtu.be/3pqnEX123JQ

Como as árvores morrem?

As árvores podem morrer repentinamente ou muito lentamente. Incêndio, inundação ou vento podem causar uma morte rápida, danificando gravemente a capacidade de uma árvore de transportar água e nutrientes para cima e para baixo em seu tronco.

Às vezes, um ataque grave de inseto ou doença pode matar uma árvore. Esse tipo de morte geralmente leva de alguns meses a alguns anos. Mais uma vez, uma árvore perde sua capacidade de transportar água e nutrientes, mas o faz em etapas, mais lentamente. Uma árvore também pode morrer do que se pode chamar de velhice. Sou um cientista que estuda as árvores e a teia de seres vivos que as cercam. A morte de uma árvore não é exatamente o que parece, porque leva diretamente a uma nova vida.

Diferentes árvores, diferentes tempos de vida

As árvores podem viver um tempo incrivelmente longo , dependendo de que tipo são. Alguns pinheiros bristlecone, por exemplo, estão entre as árvores mais antigas conhecidas e têm mais de 4.000 anos. Outros, como lodgepoles (Pinus contorta) ou choupos, terão expectativa de vida muito mais curta, de 20 a 200 anos. As maiores árvores do seu bairro ou cidade provavelmente estão em algum lugar nessa faixa. Você provavelmente já notou que diferentes seres vivos têm diferentes tempos de vida - um hamster geralmente não viverá tanto quanto um gato, que não viverá tanto quanto uma pessoa. As árvores não são diferentes. Sua expectativa de vida é determinada por seu DNA, que você pode imaginar como o sistema operacional embutido em seus genes.

As árvores que são programadas para crescer muito rapidamente serão menos fortes – e terão uma vida mais curta – do que aquelas que crescem muito lentamente.

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Eventualmente, o clima, as pragas e as doenças vão cobrar seu preço, mas a história não termina aí Um antigo pinheiro bristlecone ( Pinus longaeva ) em Patriarch Grove nas Montanhas Brancas da Califórnia Fotos: Emanuel David / 500px via Getty Images, Nicholas Turland/flickr , CC BY-ND, New York State Department of Environmental Conservation, Swen Pförtner/aliança de imagens através da Getty Photos As árvores evoluem ao longo de milhões de anos para evitar muitos estressores que mordem, queimam, matam de fome e apodrecem suas raízes, tronco, galhos e folhas. As árvores são criaturas verdadeiramente sociais que se ajudam até seus últimos dias

Mas mesmo uma árvore velha e dura acabará por morrer. Os anos e anos de danos causados por insetos e criaturas microscópicas, combinados com o abuso do clima, acabarão lentamente com sua vida. O processo de morte pode começar com um único galho, mas acabará se espalhando por toda a árvore. Pode demorar um pouco para um observador perceber que uma árvore finalmente morreu. Você pode pensar na morte como um processo passivo. Mas, no caso das árvores, é surpreendentemente ativo.

A rede subterrânea

As raízes fazem mais do que ancorar uma árvore no chão. Eles são o local onde os fungos microscópicos se fixam e agem como um segundo sistema radicular para uma árvore. Os fungos formam fios longos e superfinos chamados hifas. As hifas fúngicas podem alcançar muito mais longe do que as raízes de uma árvore . Eles coletam nutrientes do solo que uma árvore precisa. Em troca, a árvore retribui os fungos com os açúcares que produz a partir da luz do sol em um processo conhecido como fotossíntese .

Você deve ter ouvido falar que os fungos também podem passar nutrientes de uma árvore para outra. Quase todas as árvores que você vê estão conectadas a outras árvores por uma complexa rede subterrânea de fungos, que permite que as árvores se comuniquem e ajudem umas às outras . Muitos cientistas chamam essa rede subterrânea de “ Wood Wide Web ”.

Quando uma árvore velha começa a morrer, ela começa a distribuir seus nutrientes para as árvores próximas , incluindo as árvores jovens, por meio de sua rede de fungos.

Vida após a morte de uma árvore

Antes de cair, uma árvore morta pode permanecer por muitos anos, proporcionando um lar seguro para abelhas, esquilos, corujas e muitos outros animais. Uma vez que cai e se torna um tronco, pode hospedar outros seres vivos, como texugos, toupeiras e répteis.

Os troncos também hospedam um tipo diferente de fungos e bactérias, chamados decompositores.

Esses minúsculos organismos ajudam a quebrar grandes árvores mortas a ponto de você nunca saber que elas existiram. Dependendo das condições, esse processo pode levar de alguns anos a um século ou mais. À medida que a madeira se decompõe, seus nutrientes retornam ao solo e ficam disponíveis para outros seres vivos, incluindo árvores próximas e redes de fungos.

Uma árvore deixa um legado

Enquanto viva, fornece sombra, lar para muitos animais e uma tábua de salvação para fungos e outras árvores. Quando morre, continua a desempenhar um papel importante. Dá impulso a novas árvores prontas para tomar seu lugar, abrigo para um conjunto diferente de animais e, eventualmente, alimento para a próxima geração de seres vivos.

É quase como se uma árvore nunca morresse de verdade, mas apenas passasse sua vida para outras.

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Alguns fungos parecem teias de aranha frágeis, mas esses minúsculos tubos agem como superestradas subterrâneas Um dia os restos desta árvore desaparecerão completamente Quando morre, continua a desempenhar um papel importante. A decomposição da madeira é um processo de reciclagem essencial [*] Na série Curious Kids, em The Conversation

IA ajuda cientistas a escutar golfinhos ameaçados

Ouvir os botos do rio Amazonas pode nos ajudar a salvá-los

Pesquisadores usaram inteligência artificial (IA) para mapear os movimentos de duas espécies ameaçadas de golfinhos no rio Amazonas, treinando uma rede neural para reconhecer os cliques e assobios únicos dos animais.

As duas espécies de golfinhos de água doce estão lutando silenciosamente por sua sobrevivência nas partes remotas e muitas vezes inacessíveis da Bacia Amazônica. Em um novo estudo publicado na Scientific Reports , os pesquisadores têm investigado o comportamento e o movimento dos botos do rio Amazonas usando monitoramento acústico passivo.

O estudo faz parte de uma colaboração entre a Universidade Técnica da Catalunha e o Instituto Mamirauá de Desenvolvimento Sustentável em Tefé, Brasil, que visa usar essa tecnologia para monitorar a biodiversidade da Amazônia e as ameaças a ela.Ambas as espécies de golfinhos estão ameaçadas de extinção: estimativas sugerem que a população de botos está diminuindo 50% a cada dez anos, e a população de tucuxi a cada nove anos

O boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis) são vítimas de atividades humanas cada vez mais hostis.

Durante a estação chuvosa, de abril a agosto, o tucuxi e o boto-cor-de-rosa se aventuram nas florestas sazonais de várzea (várzea) em busca de alimentos, principalmente peixes de água doce.

No entanto, a densa vegetação e as planícies aluviais representam desafios significativos para os pesquisadores que tentam pesquisar esses golfinhos usando métodos tradicionais, como barcos ou drones.

Como o estudo foi conduzido

Os pesquisadores, liderados por Florence Erbs e Michel André, desenvolveram uma abordagem inovadora.

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Logo Instituto Mamirauá Botos (Inia geoffrensis) usam cliques e assobios para se comunicar e encontrar presas nas águas muitas vezes turvas do rio Amazonas Dois botos explorando as várzeas de Mamirauá Fotos: Izael Miranha, Marina Gaona – IDSM, ojeto Boto, Sylvain Cordier/Gamma-Rapho via Getty, Wezddy Del Toro - IDSM

A equipe implantou uma rede de cinco hidrofones, cada um submerso a profundidades entre três e cinco metros, cobrindo uma área de 800 quilômetros quadrados dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Brasil. Esta área marca a confluência dos rios Solimões e Japurá.

A equipe capturou dados sonoros em diversos habitats – canais de rios e baías de confluência, lagos de várzea e florestas inundadas. Esta coleta de dados foi realizada em diferentes intervalos durante as estações chuvosa e seca, de junho de 2019 a setembro de 2020. Os especialistas utilizaram algoritmos sofisticados de aprendizagem profunda, conhecidos como Convolutional Neural Network (CNN), para classificar os sons detectados. Os algoritmos, treinados em dados de som coletados manualmente de pesquisas de barco, foram capazes de distinguir entre cliques de eco localização de golfinhos, ruídos de motor de barco e som de chuva, com taxas de precisão notáveis de 95, 92 e 98 por cento, respectivamente.

O que os pesquisadores aprenderam

No decorrer de sua pesquisa, a equipe descobriu um padrão fascinante: a presença de golfinhos nas áreas pesquisadas aumentou significativamente de 10% para 70% do dia, conforme o nível da água subiu entre novembro e janeiro. Isso sugere que os golfinhos estavam usando esses canais para se aventurar na planície de inundação. Observou-se ainda que os botos adolescentes e as fêmeas com filhotes tendem a permanecer mais tempo nas várzeas do que os machos, possivelmente devido à abundância de presas ou como abrigo contra o comportamento agressivo dos machos.

Implicações da pesquisa

Os pesquisadores estão defendendo a adoção mais ampla dessa metodologia, enfatizando seu potencial para aumentar muito nossa compreensão das preferências de habitat e requisitos dos botos do rio Amazonas.

“Este estudo demonstra a adequação do uso da classificação baseada em CNN para detectar automaticamente os cliques de eco localização dos botos na complexa paisagem sonora dos habitats de água doce”, escreveram os autores do estudo.

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Michel André, engenheiro e biólogo da UPC em Mamirauá Michel André e Izaël Miranha, escutando novas estações de monitoramento acústico passivo Michel André, em Mamirauá, testando os hidrofones de eco localização de golfinho Boto cor-de-rosa exibindo comportamento aéreo na RDSM

“A eficiência e rapidez do método CNN permitem analisar a totalidade dos dados recolhidos sem ter de sub amostrar como habitualmente se faz para análises manuais, permitindo detetar grandes movimentações de golfinhos na área de estudo, e passagens raras em habitats específicos ou estações”.

Estratégias de conservação

Os pesquisadores disseram que o monitoramento acústico passivo em florestas de várzea pode ajudar os especialistas a entender as preferências de habitat e as necessidades dos botos, especialmente as fêmeas e filhotes de boto. Os especialistas também observaram que a previsão da resposta dos golfinhos à perda e degradação do habitat contribuirá para as estratégias de gestão da zona de transição aquático-terrestre, que é crítica para a manutenção da conectividade do habitat. “Outra área de aplicação é o desenvolvimento e implementação de protocolos padronizados para monitorar mudanças de distribuição em relação à recente amplificação de eventos de seca e inundação na bacia amazônica”, escreveram os pesquisadores. “Como espécie sentinela dos sistemas aquáticos que habitam, os botos podem constituir um sistema de detecção precoce do desequilíbrio do ecossistema”.

Mais sobre os golfinhos do rio Amazonas

Os botos do rio Amazonas, também conhecidos como botos ou botos cor-de-rosa (Inia geoffrensis), são uma das poucas espécies de botos de água doce do mundo. Como o próprio nome sugere, eles habitam o rio Amazonas e seus afluentes em vários países da América do Sul. Aqui estão mais algumas informações: Os botos são os maiores botos de água doce, com machos atingindo até 2,5 metros de comprimento. Eles são conhecidos por sua cor rosa distinta, que pode variar de um cinza opaco a um rosa vibrante, dependendo da idade, dieta e exposição à luz solar.

Comportamento e dieta

Estes golfinhos são geralmente solitários ou vivem em pequenos grupos. Eles são conhecidos por sua agilidade excepcional, permitindo que naveguem pelo complexo sistema fluvial da Amazônia e pelas florestas inundadas. Os botos têm uma dieta diversificada, consumindo mais de 40 espécies de peixes e, ocasionalmente, crustáceos. Os botos têm um longo período de gestação de 11 a 15 meses e, geralmente, nasce apenas um filhote por vez.

O jovem golfinho fica com a mãe por um longo período, aprendendo as habilidades de sobrevivência necessárias.

Tucuxi

O tucuxi (Sotalia fluviatilis), outra espécie que habita a bacia amazônica, é menor e de cor cinza.

Enquanto eles compartilham as mesmas ameaças que o boto, eles também enfrentam desafios adicionais de caça para isca e consumo humano.

Esforços estão em andamento para entender e conservar essas espécies únicas, e o uso de tecnologias como monitoramento de hidrofones e aprendizado de máquina oferece novas maneiras promissoras de ajudar em sua conservação.

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[*]Em Earth.com
Fêmea tucuxi com filhote Golfinhos são geralmente solitários ou vivem em pequenos grupos

A ciência por trás das árvores mais antigas da Terra

Como os especialistas determinaram que os pinheiros bristlecone, sequóias e baobás existem há milhares de anos

Como os especialistas determinaram que os pinheiros bristlecone, sequóias e baobás existem há milhares de anos

Quais são e onde estão as árvores conhecidas mais antigas do planeta?

Se você incluir plantas que podem se regenerar, o limite máximo de idade pode ser de dez mil anos ou mais. Esses superorganismos, incluindo o famoso bosque de álamos apelidado de “ Pando ”, são compostos de troncos geneticamente idênticos conectados por meio de um único sistema radicular que envia novos brotos ao longo do tempo. Essas colônias clonais são impossíveis de datar com precisão, porque a substância mais antiga se decompôs há muito tempo.

Muitas listas de árvores mais antigas se atêm a plantas de tronco único que produzem anéis de crescimento anuais.

Esses tipos de árvores são mais fáceis de datar. Cientistas chamados dendrocronologistas se concentram em atribuir anos civis a anéis de árvores e interpretar dados dentro desses anéis.

Usando uma ferramenta de manivela chamada broca de incremento, eles extraem amostras do núcleo sem privar a árvore de força e vigor.

Como regra, as gimnospermas – plantas sem flores com sementes nuas – crescem mais devagar e vivem mais do que as angiospermas, plantas com flores e frutos. Gimnospermas incluem ginkgo e todos os tipos de coníferas - incluindo teixos, pinheiros, abetos, abetos, cedros, sequoias, podocarpos, araucárias e ciprestes.

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Esta seção transversal de uma sequoia no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, tem marcadores que identificam as datas dos anéis das árvores Fotos: Chris Jones / Alamy Banco de Imagens, Cristian Kovadloff / Agência Anadolu via Getty Images, Ferdinand Reus via Wikimedia sob CC BY-SA 2.0, François Gohier / Gamma-Rapho via Getty Images, Jared Farmer, Jan Wlodarczyk / Alamy Banco de Imagens, Mark Ralston / AFP via Getty Images Bristlecone Pine (Pinus longaeva) nas Montanhas Brancas na Califórnia

Aproximadamente 25 espécies de gimnospermas podem viver 1.000 anos ou mais. A família dos ciprestes contém a maioria dos millennials, mas a espécie de vida mais longa é um pinheiro com um limite de idade efetivo de cinco milênios. Em contraste, oito séculos é extremamente antigo para um carvalho, uma angiosperma. E apenas um tipo de planta com flor, um baobá, foi datado positivamente além de um milênio. A árvore mais antiga já conhecida foi morta no ato do conhecimento. Até 1964, cresceu em um circo em Wheeler Peak, em Nevada’s Snake Range, no que hoje é o Great Basin National Park.

Depois que um pesquisador estudante de pós-graduação tentou e não conseguiu extrair uma amostra completa do núcleo, ele decidiu produzir um toco.

Essa profanação científica o perseguiu pelo resto de sua carreira, embora ele a tenha derrubado com a permissão de um guarda florestal. Originalmente rotulado como “WPN-114”, este pinheiro foi renomeado postumamente como “Prometheus”. O sobrevivente mais antigo com um nome é “Mathuselah”, que cresce na antiga floresta de pinheiros Bristlecone, nas montanhas brancas do leste da Califórnia. Este pinheiro foi originalmente extraído pelo cientista de anéis de árvores Edmund Schulman, que tornou os bristlecones famosos por meio de seu artigo de 1958 na National Geographic. Os anéis mais internos nas amostras do núcleo de Schulman são extremamente suprimidos e parcialmente erodidos, dificultando a datação. O anel extraído mais antigo de Matusalém pode ser de 2490 ou 2555 aC. Em qualquer caso, esta árvore tem mais de 4.500 anos hoje.A localização de Matusalém não é mais marcada pelo Serviço Florestal dos EUA, mas quem fizer a trilha estará perto dela e de muitos outros seres vivos tão antigos quanto as pirâmides de Gizé. Na mesma população, um bristlecone sem nome, ainda mais antigo que Matusalém, cresce e é conhecido apenas por um círculo interno de dendrocronologistas.

O sigilo fornece proteção contra vândalos que gravariam nomes nele, caçadores de relíquias que tirariam cones dele e fotógrafos que danificariam inadvertidamente o solo frágil. Em um sentido mais profundo, a identidade do verdadeiro bristlecone vivo mais antigo é simplesmente incognoscível. Isso não é apenas porque ninguém tem tempo – ou financiamento, ou a necessidade – de fazer uma busca exaustiva em toda a Grande Bacia.

O esforço seria inútil. Na maioria dos bristlecones antigos, a madeira mais antiga foi ablada há muito tempo, ponto por ponto, pelos ventos do deserto.

Alerce, Fitzroya cupressoides, ≥3.613 anos

Já na década de 1860, os cientistas chilenos sabiam que o alerce – um gênero de uma única espécie dentro da família dos ciprestes – poderia viver 2.500 anos ou mais. Isso não impediu que o estado chileno e os colonos patrocinados pelo estado desmatassem as florestas da Patagônia e tomassem as terras dos mapuches, habitantes indígenas do Chile e da Argentina. Evidências de que o alerce pode viver além de três milênios finalmente surgiram em 1993.

Árvore Tule

Uma pesquisa meticulosa de tocos revelou que o alerce mais antigo conhecido havia sido motosserrado em 1975, o último ano em que a extração de madeira era legal. A espécie agora está categoricamente protegida, embora ainda seja explorada ilegalmente.

Em 2022, um cientista chileno foi notícia mundial ao anunciar que a relíquia da planta antiga conhecida como Alerce Milenario ou Gran Abuelo (“Bisavô”) no Parque Nacional Alerce Costero pode ser a árvore viva mais antiga do planeta. A estimativa do cientista – 5.484 anos, com uma probabilidade de 80% de mais de 5.000 anos – foi derivada de uma amostra central parcial e de uma fórmula de crescimento baseada em modelagem estatística. Pelas convenções da dendrocronologia, o mais antigo conhecido deve ser absolutamente conhecido, razão pela qual o alerce permanece em segundo lugar por enquanto.

Seja qual for a sua idade exata, Gran Abuelo alcançou recentemente fama nacional ao lado de outras três árvores icônicas de antiguidade indiscutível, mas de idade desconhecida: El Árbol del Tule no México, Tāne Mahuta na Nova Zelândia e Jomon Sugi no Japão.

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Turistas visitam um alerce na região da Patagônia Argentina. Esta árvore, apelidada de “El Alerce Abuelo” (que significa “Avô Alerce”) tem 187 pés de altura e está localizada dentro do Parque Nacional Los Alerces em Oaxaca, no México, tem mais de dois mil anos de vida e é a mais larga do planeta

Seguiu-se uma rivalidade entre o condado de Fresno, lar dos Grant, e o condado de Tulare, lar dos Sherman. Em 1931, a Câmara de Comércio da Califórnia anunciou um veredicto não científico: embora Sherman fosse — e ainda seja — a maior árvore do mundo, Grant contaria como a mais velha do mundo. Confusamente, os turistas se referiam rotineiramente a outra árvore monumental, o Grizzly Giant do Parque Nacional de Yosemite, como o campeão da idade com base em sua aparência incomparavelmente retorcida.

Na década de 1990, um ecologista florestal criou uma fórmula matemática para estimar a idade de uma sequóia com base no volume de seu tronco, ou tronco abaixo da copa. Ele testou sua fórmula em centenas de tocos em Converse Basin, o único grande bosque de grandes árvores que havia sido devastado pela extração industrial de madeira. Aqui, muitos trimilenares, incluindo o mais velho já conhecido com 3.266 anos ou mais, foram nivelados para fazer estacas de uva e telhas.

O ecologista refutou definitivamente a velha suposição de que maior significa mais antigo. Por sua estimativa, o General Sherman tinha apenas 2.150 anos de idade, e o Gigante Pardo tinha chocantes 1.790 anos de idade.

A mais velha dessas árvores provavelmente não tem nome por causa de sua relativa pequenez. E pode estar morto recentemente. Em 2020 e 2021, mega incêndios devastaram o sul da Sierra, matando até 20% de todas as sequóias maduras . Mesmo para a superflora de sabugueiro, a mudança climática se tornou uma crise climática.

A angiosperma de vida mais longa Baobá africano, Adansonia digitata, ≥2.500 anos

Assim que os anglo-americanos encontraram as sequóias gigantes no meio da corrida do ouro na Califórnia, eles agiram de maneiras paradoxais: protegendo-as enquanto também cortavam espécimes-troféu para exibições itinerantes. Ao contar anéis em tocos, as pessoas sabiam definitivamente na década de 1850 que as sequóias podem viver por milhares de anos. Após a Guerra Civil, duas das maiores sequóias protegidas ficaram conhecidas como General Grant e General Sherman.

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Sequoia gigante, Sequoiadendron giganteum, ≥3.266 anos Um elefante sob um baobá africano em flor na Tanzânia A sequoia gigante chamada General Grant sobe ao céu no Kings Canyon National Park, na Califórnia

No século 18, um naturalista francês no Senegal especulou que os baobás poderiam viver até 5.150 anos – pouco menos que a idade da Terra, de acordo com as cronologias bíblicas.

Isso nada mais era do que uma estimativa baseada no diâmetro, altura e taxa de crescimento presumida. As enciclopédias francesas do período pós-revolucionário listaram com segurança o baobá como a “Árvore dos Mil Anos” ( L’arbre de Mille Ans ). Alexander von Humboldt - o naturalista mais estimado do século 19 - chamou o baobá de “um dos habitantes mais antigos do nosso globo”.

A validação da longevidade extrema no baobá africano apenas recentemente foi além das reflexões. Por causa de sua grande circunferência e tecido incomum - um material absorvente e elástico que mal se qualifica como madeira - os baobás não são adequados para datação em anéis de árvores.

A datação por radiocarbono – uma técnica que mede a quantidade de carbono-14, um isótopo que decai com o tempo – funciona melhor, desde que o tecido interno possa ser obtido. A evidência firme de que essas suculentas podem viver 1.000 anos surgiu em meados do século 20, quando duas coisas coincidiram: a calibração do método de datação por radiocarbono e a construção da barragem de Kariba no rio Zambeze, um megaprojeto que exigia o nivelamento em massa da megaflora.

Tal como acontece com bristlecone, alerce e sequóia, o conhecimento científico da longevidade se beneficiou do arboricida. Mais recentemente, um professor de química romeno garantiu financiamento para pesquisar a idade máxima das angiospermas.

O projeto decolou porque um dos baobás mais famosos – o Grootboom da Namíbia – havia acabado de desabar, permitindo o acesso à antiga madeira interna. A investigação parecia ser profética - ou amaldiçoada: onde quer que o professor fosse procurar os baobás mais antigos no sul da África, ele encontrava gigantes caídos. Em 2018, ele relatou que, dos 14 baobás milenares conhecidos, dez se dobraram ou morreramno século 21, incluindo espécimes icônicos na África do Sul e Botswana. A árvore atípica era conhecida como Panke e crescia em Mbuma, Zimbábue.

Tinha, antes de sua morte repentina em 2011, atingido aproximadamente 2.500 anos, uma ordem de grandeza mais antiga que as azeitonas datadas mais antigas. A principal razão para a morte do baobá é a seca. A África Austral está a ficar mais quente e seca.

O baobá africano vivo mais antigo conhecido, a árvore Dorsland do Parque Nacional Khaudum, na Namíbia, ainda vive, apesar de os caules mais velhos terem caído recentemente. Tem aproximadamente 2.100 anos.

A árvore propagada mais antiga Peepul, Ficus religiosa, ≥1.000 anos

Quando Siddhartha Gautama alcançou o nirvana, tornando-se o Buda Supremo, ele o fez - de acordo com os textos sagrados - ao pé de um peepul, uma espécie de figueira. Por causa dessa ligação com o Buda, a espécie ganhou o nome comum de “figo sagrado” e o nome científico Ficus religiosa. Como organismos, os figos não vivem muito, mas o mesmo material genético pode ser mantido vivo, uma árvore de cada vez, propagado a partir de estacas, ao longo dos séculos ou milênios. Essa prática básica de horticultura – vista com bananas, frutas cítricas e azeitonas – também pode ser devocional. As pessoas não cuidam do peepul por seus frutos. Dois supostos descendentes da árvore de meditação original do Buda – um em Gaya, Índia, outro em Anuradhapura, Sri Lanka – estão vivos hoje.

Ou melhor, é a mesma árvore em dois lugares, ambos hoje Patrimônio da Humanidade. Os escritores do século XIX distinguiram entre a “árvore bodhi” na Índia e a “árvore bo” no Ceilão. Hoje, este último convencionalmente atende pelo triplo título honorífico “ Jaya Sri Maha Bodhi ”. A árvore da ilha tem maior direito à antiguidade, porque o Sri Lanka foi o berço do Theravada, o mais antigo ramo existente do budismo, que chegou por volta de 300 aC, pressagiado pelas lendárias visitas do Buda através do Estreito de Palk.

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O peepul chamado “ Jaya Sri Maha Bodhi ” no complexo do templo em Anuradhapura , Sri Lanka

Anuradhapura serviu como capital real por um milênio antes de ser abandonada por um período de tempo quase igual. As crônicas do Sri Lanka pré-colonial são notavelmente completas e não registram a morte do venerável ficus. Essa evidência negativa pode ser interpretada como vida contínua, ou pelo menos cuidado contínuo. Parece provável que um grupo central de devotos budistas sempre resistiu em Anuradhapura, servindo como arboristas. Embora não possa ser datado com exatidão, esta figueira sagrada foi consagrada como “a árvore histórica mais antiga do mundo”.

O triplo produtor clonal mais antigo

Pinheiro Huon, Lagarostrobos franklinii, ≥ 1.000 anos (individual) e ≥10.000 anos (clonal) e ~10.000 anos (subfóssil)

O pinheiro Huon , nativo da ilha australiana da Tasmânia, não é um pinheiro. Seu parente mais próximo, um companheiro podocarpo - uma família de coníferas do sul - ocorre na Nova Zelândia. Apesar de ser um produtor extra-lento, aumentando sua circunferência um ou dois milímetros por ano, um pinheiro Huon pode atingir alturas bem acima de 100 pés em seu habitat típico de floresta ribeirinha de planície.

Quase todo o crescimento antigo foi derrubado no século 19 por madeireiros industriais, mas uma população anômala e disjunta persiste abaixo do cume do Monte Read , um pico vulcânico na encharcada costa noroeste da ilha. Apesar das atividades dos garimpeiros de ouro e cobre, esses pinheiros Huon de elevação média passaram despercebidos até a década de 1980, quando o governo encomendou um levantamento da espécie.

Os cientistas foram a Mount Read na década de 1990 e extraíram espécimes vivos com mais de 1.000 anos de idade.

Eles também observaram que todos os pinheiros Huon no Monte Read eram machos. Depois de determinar que essa população do tamanho de um hectare representava um único genet – um superorganismo clonal – eles tentaram medir sua idade. Pela datação por radiocarbono da madeira no local, bem como do pólen de um lago adjacente, eles reuniram fortes evidências de que o organismo vinha crescendo no local há pelo menos 10.000 anos. Jornais australianos exaltaram essa “árvore” como o “organismo vivo conhecido mais antigo do mundo”. O governo logo proibiu a extração de madeira na área e estabeleceu uma reserva estrita, o que significa que o público em geral não pode visitá-la.

O pinheiro Huon é uma das poucas espécies conhecidas por produzir produtores milenares tanto na escala individual quanto na escala clonal. Além disso, sua madeira resinosa é tão imune à podridão que troncos multimilenares em bom estado foram desenterrados de sedimentos ribeirinhos. Esse tipo de material preservado é chamado de “madeira subfóssil”. Assim, esta espécie da Tasmânia é um trio da velhice.

Adaptado de Elderflora: A Modern History of Ancient Trees de Jared Farmer. Publicado pela Basic Books.

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Um pinheiro Huon retorcido cresce à beira do rio Gordon, na Tasmânia, Austrália [*] Em Smithsonian Magazine Em 1995, descobriram um antigo pinheiro Huon que percorreu mais de um hectare, em direção ao lago glacial Lake Johnston, reproduzindo cópias masculinas geneticamente idênticas – clones – de si mesmo

Presença de árvores melhora qualidade da pastagem

Pesquisa conclui que um pasto sombreado tem características nutritivas superiores e produtividade semelhante às de uma pastagem a pleno sol manejada da mesma maneira. Árvores no pasto ainda promovem bem-estar animal e contribuem para absorver o carbono atmosférico. Manejo das árvores no sistema silvipastoril proporcionou aumento da produção da forragem. Teor de proteína bruta foi superior na pastagem integrada às árvores, o que significa melhor qualidade da alimentação animal. Sistema integrado ainda promove renda adicional com a madeira produzida

Uma pesquisa da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) comprovou que o manejo das árvores é estratégico para garantir o equilíbrio em sistemas de integração pecuária-floresta (IPF) ou silvipastoril. Além de manter a produtividade da pastagem e melhorar a qualidade da madeira remanescente, a forragem nesse sistema apresentou teor elevado de proteína bruta, quando comparado a um modelo pecuário tradicional, sem a presença do componente arbóreo, o que significa maior qualidade do alimento aos animais.

O avanço é importante porque manter a produção de forragem em sistemas integrados com árvores é um desafio para o produtor rural, uma vez que o desenvolvimento das pastagens depende da incidência de luz. A diminuição da radiação afeta o crescimento dessas plantas, podendo ocasionar menor produtividade na pecuária.

Os sistemas silvipastoris são opções sustentáveis para o pecuarista realizar a intensificação das pastagens.

Com as árvores integradas à pecuária, o produtor proporciona bem-estar animal e contribui para a remoção do carbono atmosférico e mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Sem contar que o componente arbóreo é uma boa aposta para garantir créditos de carbono no futuro, uma nova alternativa de renda.

O trabalho, publicado no The Journal of Agricultural Science, concluiu que um pasto sombreado tem características nutritivas superiores e produtividade semelhante às de uma pastagem a pleno sol manejada da mesma maneira.

De acordo com o pesquisador da Embrapa José Ricardo Pezzopane, o manejo das árvores no sistema silvipastoril proporcionou aumento da produção da forragem em comparação aos anos anteriores. Antes do desbaste, utilizando a média de duas estações – dois verões –, que a época mais produtiva da pastagem, a produção de forragem no silvipastoril foi 45% inferior ao sistema a pleno sol: 996 quilos por hectare contra 1,87 mil quilos por hectare, respectivamente.

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A forragem na integração pecuária-floresta (IPF) apresentou teor elevado de proteína bruta quando comparado a um modelo pecuário tradicional por *Gisele Rosso Fotos: Gisele Rosso, José Pezsopane, Juliana Sussai Pesquisador explica como as àrvores integradas à pecuária melhoram a qualidade do pasto Assista no YouTube: www.youtu.be/c0WnnaoojDI

Experimento

O estudo avaliou as características produtivas e nutritivas do capim-piatã ( Urochloa brizantha cv. BRS Piatã) após o desbaste do componente florestal do silvipastoril, formado por eucaliptos ( Eucalyptus urograndis clone GG100). Também foram analisados a produção de forragem e o valor nutritivo, com as variáveis do microclima, no sistema intensivo a pleno sol com capim-piatã. O experimento ocorreu na Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), de 2016 a 2018.

O sistema silvipastoril foi formado em 2011, com árvores plantadas em fileiras simples no espaçamento de 15 metros por 2 metros, totalizando 333 árvores por hectare. Antes do início do estudo, em 2016, foram retirados 50% dos eucaliptos em cada fileira e, assim, o espaçamento foi reduzido para 15 metros por 4 metros. Segundo dados da pesquisa, em outubro de 2017, as árvores tinham, em média, 27,8 metros de altura e 25,9 centímetros de diâmetro à altura do peito (DAP). Durante o período experimental, o valor nutritivo e a produção de forragem foram avaliados em cinco ciclos de pastejo representativos característicos das estações do ano de dezembro de 2016 a março de 2018: verão, outono, inverno e primavera de 2017 e verão de 2018.

Nos dois verões posteriores ao manejo, a produção foi bem diferente: quase 2 mil quilos por hectare no modelo integrado e 2,38 mil quilos por hectare a pleno sol.

Segundo Pezzopane, não há diferença estatística nesse caso. “Além de não ocorrer variação na produção, a forragem no silvipastoril apresentou teores de proteína bruta superiores, o que expressa maior qualidade do alimento aos animais.

Importante ressaltar que os dois sistemas foram manejados sob o mesmo tipo de pastejo, ou seja, rotacionado com adubação nitrogenada da pastagem”, explica o pesquisador. Práticas como o desbaste ou a desrama são opções para diminuir a competição por recursos entre o pasto e as árvores, garantindo uma produção equilibrada entre todos os elementos do sistema.

Resultados

O teor de proteína bruta foi maior no IPF do que a pleno sol na maioria das estações do ano.

Já o acúmulo de forragem nos dois sistemas foi semelhante. A produção de forragem foi favorecida pelo desbaste, principalmente próximo ao evento, enquanto sua qualidade foi consistentemente superior no IPF.

Assim, Pezzopane recomenda a adoção do desbaste de árvores em sistemas integrados para proporcionar produção de forragem semelhante a pleno sol e, ainda, com maior teor de proteína.

Quando o pecuarista consegue utilizar, na mesma área, pecuária e produção de madeira com eficiência, ele tem diversos benefícios. Além da renda alternativa com a madeira, há os serviços

ecossistêmicos como diversificação de espécies e fixação de carbono (C), que geralmente não são computados. No entanto, Pezzopane alerta que esse modelo é bastante complexo, porque ocorrem interações variadas entre os elementos: pastagem, árvores e animais. “Resultados positivos dependem da capacidade de garantir interações sinérgicas entre tais componentes”, afirma ele.

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A produtora Maria Fernanda Guerreiro, que trabalha com sistemas integrados em sua propriedade desde 2013, confirma os resultados da pesquisa da Embrapa na prática.

Ela conta que nunca teve problemas com o sombreamento das árvores, porque sempre fez o desbaste. Além de produtora, Guerreiro é engenheira-agrônoma.

“Eu tenho no sítio um medidor de radiação de luz fotossinteticamente ativa (PAR). Então, nunca tive problemas com o sombreamento da pastagem, pelo contrário, só tive benefícios. Eu trabalhei com desrama e desbaste dos eucaliptos. Quando o medidor apresentava sombreamento passando de 35%, a gente entrava com uma forma de manejo.

Tirava as plantas mais finas, as doentes, e, assim, não tive problemas”, conta.

De acordo com ela, é possível perceber visualmente quando manejar; não é necessário ter o equipamento de medição de radiação. É preciso observar e estar atento a todos os elementos.

O momento certo para o manejo é indicado pelo nível de retenção de luz pelas árvores. Pezzopane recomenda o monitoramento constante e, caso ultrapasse os 35%, deve-se fazer o desbaste. Verificar o crescimento do diâmetro e da altura também contribui para definição do ponto ideal de manejo.

Outros indicativos são a estabilização do crescimento das árvores, vigor das pastagens e as oportunidades de exploração da madeira para usos na propriedade ou para venda.

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A qualidade da pastagem no silvipastoril tem relação com a maior fertilidade do solo em comparação aos sistemas intensivos a pleno sol devido à diversificação da matéria orgânica do solo (MOS) e sua microbiota pelo desprendimento de raízes de diversas espécies e queda de serrapilheira. Segundo o estudo, a MOS e seu carbono resultam em taxa de mineralização de nitrogênio variada, beneficiando no longo prazo a suplementação de nitrogênio para as plantas.

“Este fator, com as mudanças fisiológicas causadas pelo sombreamento, geralmente resultam em espécies com maior teor de proteína bruta e digestibilidade in vitro da matéria seca em comparação com aquelas manejadas a pleno sol, o que explica o maior teor de proteína bruta da forragem na maioria das estações quando comparado às posições do intensivo a pleno sol,” detalha o pesquisador.

“Além disso, a presença de árvores reduz o escoamento superficial e permite explorar camadas mais profundas do solo para captação de água que, em condições de disponibilidade hídrica adequada, aumenta o uso total de água pelo sistema.

Ainda, a sombra reduz a radiação e o estresse térmico nos bovinos, o que pode reverter em maior desempenho animal”, indica o pesquisador no trabalho.

Sob sombra em ambientes com temperaturas mais baixas, as enzimas são menos eficientes do que em pastagens a pleno sol, no processo de fotossíntese. A diminuição da eficiência resulta em maior concentração de enzimas por massa foliar e, como grande parte do nitrogênio da folha está presente nas enzimas da fotossíntese, há maior teor desse nutriente no tecido foliar.

A maior digestibilidade (DIVMS) em pastagens do IPF pode ser parcialmente atribuída a temperaturas mais elevadas no sistema a pleno sol quando comparado ao integrado. O aquecimento frequentemente aumenta o teor de fibra das forragens, o que reduz qualidade e digestibilidade. Temperaturas altas também promovem o desenvolvimento mais rápido das forrageiras. Assim, é possível que a pastagem no silvipastoril foi fisiologicamente menos madura que o pasto a pleno sol. Isso, por sua vez, contribui para a maior digestibilidade, já que essa característica da pastagem em geral diminui com a idade da planta.

Manejo de árvores traz mais qualidade e produtividade

A produção equilibrada só vai ocorrer com práticas de manejo como desbastes e podas de acordo com a necessidade dos sistemas de produção. O estudo apontou que o desbaste no silvipastoril garante ao pasto características nutritivas superiores e produtividade semelhante às de uma pastagem a pleno sol. As pastagens no IPF têm menos energia disponível para o crescimento, em comparação com pastagens a pleno sol. Assim, as plantas sombreadas adaptam-se morfológica e fisiologicamente para um melhor aproveitamento da energia disponível. Plantas cultivadas sob baixa irradiação geralmente têm folhas mais finas com alta área específica foliar (AFE), o que aumenta a interceptação de luz. Isso é vantajoso para a planta em ambientes com pouca luz. O desenvolvimento de folhas mais finas é uma adaptação para diminuir a evapotranspiração, reduzindo a área foliar submetida à transpiração.

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[*] Embrapa Pecuária Sudeste Nunca teve problemas com o sombreamento das árvores

O valor da natureza. Quanto vale o rio mais produtivo do mundo?

Dezenas de milhões de pessoas dependem dela para sua subsistência

“Rios como o Mekong funcionam como sistemas de suporte de vida para regiões inteiras”, disse Rafael Schmitt, cientista líder do Projeto Capital Natural da Universidade de Stanford, que estuda o sistema Mekong há muitos anos. “Entender seus valores, em termos monetários, pode ser fundamental para julgar com justiça os impactos que o desenvolvimento da infraestrutura terá nessas funções”. Calcular esse valor não é simples, no entanto. A maioria dos benefícios naturais que um rio traz estão, naturalmente, debaixo d’água e, portanto, escondidos da observação direta. Os serviços ecossistêmicos podem ser difíceis de rastrear porque os rios geralmente correm por grandes distâncias e, às vezes, atravessam fronteiras nacionais.

Mas quão valioso é em termos monetários? É possível atribuir um valor monetário à multiplicidade de serviços ecossistêmicos que ela fornece, para ajudar a manter esses serviços saudáveis no futuro?

É isso que meus colegas de pesquisa e eu estamos tentando descobrir , concentrando-nos em dois países que possuem as áreas mais produtivas do rio para pesca e agricultura: Camboja e Vietnã. Compreender o valor de um rio é essencial para uma boa gestão e tomada de decisões, como onde desenvolver infraestrutura e onde proteger a natureza. Isso é particularmente verdade no Mekong , que sofreu enorme pressão nos últimos anos devido à pesca predatória, à construção de represas e às mudanças climáticas, e onde as decisões sobre projetos de desenvolvimento muitas vezes não levam em conta os custos ambientais.

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O Mekong do Sudeste Asiático pode ser o rio mais importante do mundo. Conhecida como a “mãe das águas”, abriga a maior pesca continental do mundo, e as enormes quantidades de sedimentos que transporta alimentam algumas das terras agrícolas mais férteis do planeta.
Estabelecer o valor financeiro do peixe de um rio é complicado quando muitas pessoas não vendem o peixe que pescam O rio Mekong serpenteia por seis países, ao longo de 2.700 milhas (cerca de 4.350 quilômetros) das montanhas ao mar por Bryan Keogh Fotos: Leisa Tyler/LightRocket via Getty Images, Observatório da Terra da NASA, Sergi Reboredo/VW PICS/ Universal Images Group via Getty Images, Tang Chhin Sothy/AFP via Getty Images, Tom Fawthrop, USGS

Entre na contabilidade do capital natural

A teoria do capital natural sugere que os serviços ecossistêmicos fornecidos pela natureza – como filtragem de água, controle de enchentes e matérias-primas – têm valor econômico que deve ser levado em consideração na tomada de decisões que afetam esses sistemas.

Algumas pessoas argumentam que é moralmente errado atribuir um preço financeiro à natureza e que isso prejudica a motivação intrínseca das pessoas de valorizar e proteger a natureza.

Os críticos dizem que as avaliações muitas vezes não captam todo o valor de um serviço natural.

Os proponentes sustentam que a contabilidade do capital natural destaca o valor dos sistemas naturais quando comparado com as pressões comerciais. Eles dizem que traz visibilidade aos benefícios naturais que, de outra forma, estariam ocultos , usando uma linguagem que os formuladores de políticas podem entender e utilizar melhor.

Vários países incorporaram a contabilidade de capital natural nos últimos anos , incluindo Costa Rica , Canadá e Botswana. Muitas vezes, isso levou a uma melhor proteção dos recursos naturais, como manguezais que protegem litorais frágeis. O governo dos EUA também anunciou uma estratégia em 2023 para começar a desenvolver métricas para contabilizar o valor dos ativos naturais subjacentes, como minerais críticos, florestas e rios.

No entanto, os estudos de capital natural têm se concentrado amplamente nos ecossistemas terrestres, onde os trade-offs entre as intervenções humanas e a conservação são mais fáceis de ver.

Ao avaliar rios, os desafios são muito mais profundos. “Se você derruba uma floresta, o impacto é diretamente visível”, ressalta Schmitt. “Um rio pode parecer puro, mas seu funcionamento pode ser profundamente alterado por uma represa distante”.

Contabilização de energia hidrelétrica

A energia hidrelétrica fornece um exemplo dos desafios na tomada de decisões sobre um rio sem entender seu valor total. Muitas vezes é muito mais fácil calcular o valor de uma represa hidrelétrica do que o valor dos peixes do rio, ou sedimentos que eventualmente se tornam terras férteis.

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As avaliações muitas vezes não captam todo o valor de um serviço natural Mais de um milhão de pessoas vivem ao redor do lago Tonle Sap, a maior área de pesca em águas interiores do mundo. As mudanças climáticas e as barragens podem afetar o nível da água e os estoques de peixes Os rios da Bacia do Mekong têm sido amplamente explorados para produção de energia

Os rios da Bacia do Mekong têm sido amplamente explorados para produção de energia nas últimas décadas, com uma proliferação de barragens na China, Laos e outros lugares. O Mekong Dam Monitor , administrado pela organização sem fins lucrativos Stimson Center , monitora barragens e seus impactos ambientais na Bacia do Mekong quase em tempo real.

Embora a energia hidrelétrica seja claramente um benefício econômico –alimentando residências e empresas e contribuindo para o PIB de um país –as barragens também alteram os fluxos dos rios e bloqueiam a migração de peixes e a distribuição de sedimentos.

As secas no Mekong nos últimos anos, ligadas ao El Niño e exacerbadas pelas mudanças climáticas, foram agravadas pelos operadores de barragens que retêm a água. Isso fez com que os níveis de água caíssem para níveis historicamente baixos, com consequências devastadoras para a pesca. No lago Tonlé Sap, o maior lago do Sudeste Asiático e o coração da pesca do Mekong, milhares de pescadores foram forçados a abandonar sua ocupação e muitos pesqueiros comerciais tiveram que fechar.

Um projeto sob escrutínio agora na bacia do Mekong é uma pequena barragem que está sendo construída no rio Sekong, um afluente, no Laos, perto da fronteira com o Camboja. Embora se espere que a barragem gere uma quantidade muito pequena de eletricidade, estudos preliminares mostram que ela terá um impacto dramaticamente negativo em muitas populações de peixes migratórios no Sekong, que continua sendo o último grande afluente de fluxo livre na bacia do rio Mekong.

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Barragens hidrelétricas como a das fotos acima no Camboja podem interromper os serviços naturais de um rio. O rio Sesan (Tonlé San) e o rio Srepok são afluentes do Mekong. Mova o controle deslizante para ver como a represa mudou o fluxo de água Um hotspot de biodiversidade, o Mekong é o rio mais produtivo da Terra, sustentando mais de 70 milhões de pessoas O baixo rio Mekong

Valorizando o “sangue vital da região”

O rio Mekong nasce nas terras altas tibetanas e percorre 2.700 milhas (cerca de 4.350 quilômetros) através de seis países antes de desaguar no Mar da China Meridional. As suas riquezas ecológicas e biológicas são claramente consideráveis.

O sistema fluvial abriga mais de 1.000 espécies de peixes, e a captura anual de peixes apenas na bacia inferior, abaixo da China, é estimada em mais de 2 milhões de toneladas métricas. “O rio tem sido a força vital da região há séculos”, diz Zeb Hogan, biólogo da Universidade de Nevada, Reno, que lidera o projeto de pesquisa Maravilhas do Mekong, financiado pela USAID, no qual trabalho.

“É o recurso renovável definitivo – se for permitido que funcione adequadamente.” Estabelecer o valor financeiro do peixe é mais complicado do que parece. Muitas pessoas na região do Mekong são pescadores de subsistência para quem os peixes têm pouco ou nenhum valor de mercado, mas são cruciais para sua sobrevivência.

O rio também abriga alguns dos maiores peixes de água doce do mundo, como arraias gigantes e bagres, além de espécies criticamente ameaçadas de extinção.

“Como você valoriza o direito de uma espécie existir?” pergunta Hogan.

Os sedimentos, que fertilizam as planícies aluviais e constroem o Delta do Mekong, têm sido relativamente fáceis de quantificar, diz Schmitt, o cientista de Stanford. Segundo sua análise, o Mekong, em seu estado natural, entrega 160 milhões de toneladas de sedimentos por ano. No entanto, as barragens deixam passar apenas cerca de 50 milhões de toneladas , enquanto a mineração de areia no Camboja e no Vietnã extrai 90 milhões, o que significa que mais sedimentos são bloqueados ou removidos do rio do que são entregues ao seu destino natural. Como resultado, o Delta do Mekong, que naturalmente receberia grande parte do sedimento, sofreu uma enorme erosão fluvial , com milhares de casas sendo arrastadas.

Uma potencial designação de “Património Mundial”

Os serviços naturais de um rio também podem incluir benefícios culturais e sociais que podem ser difíceis de atribuir valores monetários. Uma nova proposta visa designar um trecho bio-rico do rio Mekong, no norte do Camboja, como Patrimônio Mundial da UNESCO. Se bem-sucedida, tal designação pode trazer consigo uma certa quantidade de prestígio que é difícil de colocar em números. As complexidades do rio Mekong tornam nosso projeto um empreendimento desafiador. Ao mesmo tempo, é a rica diversidade de benefícios naturais que o Mekong oferece que torna este trabalho importante, para que futuras decisões possam ser tomadas com base nos custos reais.

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O Delta do Mekong no Vietnã é essencial para transporte, alimentação e cultura Camboja busca o status de Patrimônio Mundial da UNESCO para proteger um ponto crítico de biodiversidade do Mekong. Na foto, observação de golfinhos perto da piscina profunda de Kampi, na província de Kratie

País teve 2,15 milhões de hectares queimados no primeiro semestre

No primeiro semestre deste ano, 2,15 milhões de hectares foram queimados no Brasil, revela mapeamento feito pelo MapBiomas Brasil, uma rede colaborativa formada por organizações não governamentais (ONGs), universidades e empresas de tecnologia, que produz um relatório sobre a cobertura e uso da terra. Segundo o mapeamento, isso significou queda de 1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Se for considerada apenas a região da Amazônia, no entanto, as queimadas aumentaram 14% em relação ao último ano. De acordo com o MapBiomas, a Amazônia foi o bioma com a maior área queimada no semestre, com 1,45 milhão de hectares devastados em 2023, o que corresponde a 68% de toda a área queimada do Brasil nesse período.

Em segundo lugar, vem o Cerrado, com 639 mil hectares, o que representou 30% sobre o total de área queimada no país e aumento de 2% em comparação com o mesmo período de 2022.

“A área queimada no primeiro semestre de 2023 no Cerrado está dentro da média dos últimos anos, com destaque para ações de queimas prescritas que são realizadas nesse período como parte da estratégia de prevenção de incêndios florestais do MIF (Manejo Integrado do Fogo). Porém, a área queimada em junho foi maior do que nos meses anteriores, porque o período de seca no bioma está só começando. A situação pode se agravar ainda mais com a chegada do fenômeno El Niño”, diz, em nota, a coordenadora operacional do MapBiomas Fogo, Vera Arruda, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.

De toda a área queimada no primeiro semestre deste ano no país, 84% eram de vegetação nativa, a maioria em formações campestres. Segundo o MapBiomas, as pastagens se destacaram entre os tipos de uso agropecuário, representando 8,5% de toda a área queimada.

O relatório revelou ainda que, na Mata Atlântica (10.220 hectares) e no Pantanal (13 mil hectares), a área queimada no primeiro semestre deste ano foi a menor dos últimos cinco anos.

A Caatinga seguiu a tendência de queda, com a área queimada no primeiro semestre inferior à dos anos anteriores, com 818 hectares atingidos. Já no Pampa foram queimados 7 mil hectares.

Roraima

Quase metade da área queimada no país entre janeiro e junho deste ano esteve concentrada em um único estado da Amazônia: Roraima, principalmente nas cidades de Normandia, Pacaraima e Boa Vista. Só neste estado, foram queimados 1 milhão de hectares no primeiro semestre deste ano. Em seguida, apareceram os estados de Mato Grosso (258 mil hectares) e do Tocantins (254 mil hectares). Juntos, os três estados respondem por 82% da área queimada total no período.

Junho

Apesar de os dados semestrais terem mostrado relativa estabilidade, os números do mês de junho mostraram avanço nas queimadas em relação ao ano passado. Pelo relatório, os 543 mil hectares queimados no mês passado estão 203% acima da área queimada em maio de 2023. Segundo o relatório, a vegetação nativa respondeu por 81% da área queimada em junho.

O bioma com maior área queimada no mês de junho foi o Cerrado, com 425 mil hectares, seguido pela Amazônia, com 102 mil hectares.

As unidades de conservação que lideraram o ranking de áreas queimadas no mês de junho foram a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, o Parque Nacional dos Campos Amazônicos e o Parque Nacional do Araguaia.

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Biomas Amazônia e Cerrado foram os mais atingidos no período
Reduzir simultaneamente as emissões de ozônio de baixo nível e outros poluentes climáticos de vida curta, bem como o dióxido de carbono de vida longa, poderia reduzir a taxa de aquecimento global pela metade até 2050, mostra um novo estudo *Nádia Franco Fotos: MapBiomas Brasil, PrevFogo

Os rios atmosféricos do mundo agora têm uma classificação de intensidade como furacões

Os rios atmosféricos, que são faixas longas e estreitas de vapor d’água, estão se tornando mais intensos e frequentes com as mudanças climáticas. Um novo estudo demonstra que uma escala desenvolvida recentemente para a intensidade do rio atmosférico (semelhante à escala do furacão) pode ser usada para classificar os rios atmosféricos e identificar pontos críticos dos rios atmosféricos mais intensos, não apenas ao longo da costa oeste dos EUA, mas também em todo o mundo.

Os rios atmosféricos normalmente se formam quando temperaturas quentes criam pacotes úmidos de ar, que ventos fortes então transportam através do oceano; alguns atingem a costa.

A intensidade de um rio atmosférico depende de quanto tempo dura (normalmente 24 a 72 horas; eixo horizontal) e quanta umidade ele move ao longo de um metro a cada segundo (medido em quilogramas por metro por segundo; eixo vertical). Enquanto rios atmosféricos mais fracos podem fornecer a chuva necessária, tempestades mais intensas são mais prejudiciais e perigosas do que úteis

Os rios atmosféricos normalmente se formam quando as temperaturas quentes criam pacotes úmidos de ar, que ventos fortes transportam pelo oceano, alguns chegando ao continente. Os rios atmosféricos (ARs) são “rios no céu” que carregam uma enorme quantidade de vapor d’água. Considerados como o equivalente da costa oeste dos furacões, eles são os principais causadores de precipitação, produtores de inundações e destruidores de secas no oeste semiárido dos Estados Unidos. As pegadas e os impactos dos ARs em outras regiões do mundo também estão começando a ser reconhecidos. Uma escala AR de níveis 1 a 5, em analogia à escala de furacões, foi recentemente introduzida para o oeste da América do Norte para ajudar a comunicar a força potencial e o impacto dos ARs em terra firme.

A escala de intensidade classifica esses rios atmosféricos de AR-1 a AR-5 (sendo o AR-5 o mais intenso) com base em quanto tempo duram e quanta umidade transportam.

Em parte, porque alguns canais meteorológicos da Costa Oeste estão usando a escala de intensidade, “rio atmosférico” não é mais um termo meteorológico obscuro, mas traz à mente chuvas sem fim e inundações perigosas, disseram os autores.

A cadeia de rios atmosféricos que atingiu a Califórnia em dezembro e janeiro, por exemplo, às vezes chegava a AR-4. No início de 2022, o rio atmosférico que contribuiu para inundações desastrosas no Paquistão era um AR5, a classificação de rio atmosférico mais prejudicial e mais intensa.

A neve cai sobre os bancos de neve acumulados de tempestades anteriores durante outra tempestade atmosférica no rio, em março de 2023 em Mammoth Lakes, Califórnia. Dois invernos de neve já caíram..., tirando a Califórnia das profundezas da seca extrema para um dos invernos mais chuvosos de que há memória. causando rápido derretimento e prejudicando as cidades do Vale Central ainda encharcadas pelos dilúvios de janeiro

A escala ajuda as comunidades a saber se um rio atmosférico trará benefícios ou causará caos: as tempestades podem trazer chuva ou neve muito necessárias, mas se forem muito intensas, podem causar inundações, deslizamentos de terra e falta de energia, como aconteceu na Califórnia e no Paquistão.

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Fotos: AGU, após Ralph et al. 2019 (DOI: 10.1175/BAMS-D-18-0023.1), Mark Ross, NASA Worldview

Os rios atmosféricos mais severos podem causar danos de centenas de milhões de dólares em dias no oeste dos Estados Unidos; danos em outras regiões ainda não foram avaliados de forma abrangente.

“Os rios atmosféricos são os furacões da Costa Oeste quando se trata da consciência situacional do público”, disse F. Martin Ralph, cientista atmosférico do Scripps Institution of Oceanography e coautor do novo estudo.

As pessoas precisam saber quando estão chegando, ter uma noção de quão extrema será a tempestade e saber como se preparar, disse ele. “Esta escala foi projetada para ajudar a responder a todas essas perguntas”.

Ralph e seus colegas desenvolveram originalmente a escala para a costa oeste dos EUA. O novo estudo demonstra que os eventos atmosféricos fluviais podem ser comparados diretamente globalmente usando a escala de intensidade, que é como os pesquisadores identificaram onde os eventos mais intensos (AR5) se formam e desaparecem, e quantos deles atingem a costa.

Os pesquisadores usaram dados climáticos e seu algoritmo desenvolvido anteriormente para identificar e rastrear rios atmosféricos para construir um banco de dados de eventos de rios atmosféricos classificados por intensidade em todo o mundo ao longo de 40 anos (1979/1980 a 2019/2020).

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Rio Atmosférico. O termo rio atmosférico é usado para indicar corredores estreitos e alongados de transporte de umidade concentrada associados a ciclones extratropicais. Os rios atmosféricos são os maiores mecanismos de transporte de água doce na Terra. Esse transporte de umidade ocorre sob combinações específicas de condições de vento, temperatura e pressão. Imagens de satélite mostram um filete de vapor d’água conhecido como rio atmosférico saindo do ar úmido sobre os trópicos e se dirigindo para o oeste dos Estados Unidos e México Os rios atmosféricos são os maiores “rios” de água doce da Terra. Estudos de rios atmosféricos sobre o Pacífico descobriram que eles transportam vapor d’água a uma taxa igual a 7 a 15 vezes a vazão média diária do rio Mississippi

O estudo foi publicado no Journal of Geophysical Research: Atmospheres, que publica pesquisas que avançam na compreensão da atmosfera da Terra e sua interação com outros componentes do sistema terrestre.

“Este estudo é um primeiro passo para tornar a escala do rio atmosférico uma ferramenta globalmente útil para meteorologistas e planejadores de cidades”, disse Bin Guan, cientista atmosférico do Joint Institute for Regional Earth System Science and Engineering, uma colaboração entre a Universidade da Califórnia- Los Angeles e o Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, que liderou o estudo. “Ao mapear as pegadas de cada categoria de rio atmosférico globalmente, podemos começar a entender melhor os impactos sociais desses eventos em muitas regiões diferentes”. Os autores também descobriram que rios

atmosféricos mais intensos (AR-4 e AR-5) são menos comuns do que eventos mais fracos, com eventos AR-5 ocorrendo apenas uma vez a cada dois ou três anos quando a média global é calculada. Os rios atmosféricos mais intensos também têm menos probabilidade de atingir a costa e, quando o fazem, é improvável que mantenham sua força por muito tempo e penetrem mais para o interior. “Eles tendem a se dissipar logo após o desembarque, deixando seus impactos mais sentidos nas áreas costeiras”, disse Guan.

O estudo encontrou quatro “centros”, ou pontos quentes, onde os AR-5s tendem a morrer, no Pacífico Norte e Atlântico extratropical, Pacífico Sudeste e Atlântico Sudeste. As cidades nas costas desses pontos críticos, como São Francisco e Lisboa, têm maior probabilidade de ver intensos AR-5 atingirem a costa.

As latitudes médias em geral são as regiões com maior probabilidade de ter rios atmosféricos de qualquer nível.

Anos fortes de El Niño são mais propensos a ter mais rios atmosféricos, e rios mais fortes, o que é digno de nota porque a NOAA previu recentemente que uma condição de El Niño provavelmente se desenvolverá até o final do verão deste ano. Embora meteorologistas locais, agências de notícias e outros habitantes da Costa Oeste possam ter incorporado o “rio atmosférico” e a escala de intensidade em suas vidas, a adoção foi mais lenta em outros lugares, disse Ralph. Ele espera ver, dentro de cinco anos ou mais, meteorologistas na TV de todo o mundo incorporando a escala de intensidade do rio atmosférico em suas previsões, dizendo às pessoas se o rio atmosférico será benéfico ou se elas precisam se preparar para uma forte tempestade.

Saber quando as chuvas torrenciais cairão pode salvar propriedades e vidas

Emissões de gases de efeito estufa em nível mais alto de todos os tempos

As emissões de gases do efeito estufa atingiram “uma alta histórica” - e estão causando uma taxa sem precedentes de aquecimento global , alertou um estudo. Os cientistas calculam que 54 bilhões de toneladas de dióxido de carbono foram emitidas a cada ano na última década. O aquecimento global causado pelo homem continuou a aumentar em uma ‘taxa sem precedentes’ desde a última grande avaliação do sistema climático publicada há dois anos, dizem 50 cientistas importantes.

O fracasso em reduzir as emissões significa que, em menos de cinco anos, a Terra tem 50% de chance de exceder o limite de 2,7°F (1,5°C) de aquecimento global estabelecido pelo Acordo de Paris em 2015.

Escrevendo na revista Earth System Science Data, os cientistas revelaram como os principais indicadores mudaram desde a publicação do relatório do Sexto Grupo de Trabalho de Avaliação 1 do IPCC em 2021.

Os pesquisadores dizem que, embora tenha havido um afastamento positivo da queima de carvão, isso teve um custo de curto prazo, pois contribuiu para o aquecimento global ao reduzir a poluição particulada no ar, que tem um efeito de resfriamento. O Projeto Indicadores de Mudanças Climáticas Globais está sendo coordenado pelo Professor Piers Forster, Diretor do Priestley Center for Climate Futures em Leeds.

Ele disse: Esta é a década crítica para a mudança climática. “As decisões tomadas agora terão um impacto sobre o quanto as temperaturas vão subir e o grau e a gravidade dos impactos que veremos como resultado.

“As taxas de aquecimento de longo prazo estão atualmente em uma alta de longo prazo, causada pelos níveis mais altos de emissões de gases de efeito estufa. Mas há evidências de que a taxa de aumento das emissões de gases de efeito estufa diminuiu. ‘Precisamos ser ágeis diante das mudanças climáticas. Precisamos mudar políticas e abordagens à luz das evidências mais recentes sobre o estado do sistema climático. O tempo não está mais do nosso lado. O acesso a informações atualizadas é de vital importância’.

Uma das principais descobertas da análise é a taxa de declínio no que é conhecido como balanço de carbono remanescente - uma estimativa de quanto carbono pode ser liberado na atmosfera para dar 50% de chance de manter o aumento da temperatura global dentro de 2,7° F (1,5°C).

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Com 54 bilhões de toneladas de CO2 sendo emitidas todos os anos, as emissões de gases de efeito estufa estão causando uma taxa sem precedentes de aquecimento global. Em menos de cinco anos, a Terra tem 50% de chance de ultrapassar o limite de 1,5°C
Créditos/Fotos: : Indicadores de Mudança Global do Clima (IGCC) Principais Indicadores climáticos em 2022 em comparação com o último grande relatório sobre ciência climática do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado em 2021 (AR6) As emissões de gases do efeito estufa atingiram ‘uma alta histórica’ - e estão causando uma taxa sem precedentes de aquecimento global. Na foto, uma pilha de carvão em frente à usina elétrica de Duvah, nos arredores de Witbank, na África do Sul

Em 2020, o IPCC calculou que o orçamento de carbono restante era de cerca de 500 gigatoneladas de dióxido de carbono. Mas no início de 2023, o número era cerca de metade disso, cerca de 250 gigatoneladas de dióxido de carbono.

A redução no orçamento de carbono restante estimado deve-se a uma combinação de emissões contínuas desde 2020 e estimativas atualizadas de aquecimento induzido pelo homem.

O professor Forster disse: “Embora ainda não estejamos em [2,7 °F] 1,5 ° C de aquecimento, o orçamento de carbono provavelmente será esgotado em apenas alguns anos, pois temos um golpe triplo de aquecimento de emissões muito altas de CO2, aquecimento de aumentos em outras emissões de GEE e aquecimento de reduções na poluição”. “Se não quisermos ver a meta de [2,7 °F] 1,5 °C desaparecendo em nosso espelho retrovisor, o mundo deve trabalhar muito mais e urgentemente para reduzir as emissões”.

“Nosso objetivo é que este projeto ajude os principais participantes a fazer esse trabalho importante acontecer com urgência e com dados atualizados e oportunos na ponta dos dedos”. O balanço global será um dos principais focos das negociações sobre o clima da COP28 ainda este ano em Dubai – e como os países podem reduzir as emissões para impedir que o mundo queime o orçamento de carbono.

Os cientistas também anunciaram que liberariam emissões de gases de efeito estufa anualmente para resolver uma ‘lacuna de informação’.

Em uma iniciativa liderada pela Universidade de Leeds, os cientistas desenvolveram uma plataforma de dados abertos e ciência aberta - os Indicadores de Mudanças Climáticas Globais e o site.

Ele atualizará as informações sobre os principais indicadores climáticos todos os anos.

A professora Maisa Rojas Corradi, ministra do Meio Ambiente do Chile, autora do IPCC e cientista envolvida no estudo, disse que o Acordo de Paris acordou um ‘mecanismo de catraca’, onde os países aumentariam seus compromissos para reduzir as emissões de carbono.

Ela disse: “Precisamos de informações científicas sobre emissões, concentração e temperatura o mais rápido possível para manter as negociações climáticas

O Acordo de Paris

Um acordo global para limitar o aumento da temperatura através de metas de redução das emissões de carbono

O Acordo de Paris, assinado pela primeira vez em 2015, é um acordo internacional para controlar e limitar as mudanças climáticas.

Espera manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C (3,6°F) ‘e buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C (2,7°F)’. Parece que o objetivo mais ambicioso de restringir o aquecimento global a 1,5°C (2,7°F) pode ser mais importante do que nunca, de acordo com pesquisas anteriores que afirmam que 25% do mundo poderia ver um aumento significativo em condições mais secas.

O Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas tem quatro objetivos principais no que diz respeito à redução de emissões:

1) Uma meta de longo prazo de manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais

2) Visar limitar o aumento a 1,5°C, pois isso reduziria significativamente os riscos e os impactos das mudanças climáticas

3) Os governos concordaram com a necessidade de as emissões globais atingirem o pico o mais rápido possível, reconhecendo que isso levará mais tempo para os países em desenvolvimento

4) Realizar reduções rápidas posteriormente de acordo com a melhor ciência disponível

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O aquecimento induzido pelo homem está aumentando a um ritmo de mais de 0,36°F (0,2°C) por década Janela para manter o Clima habitável está se fechando rapidamente. Assista o Vídeo do IPCC em: www.youtu.be/Fd5IOeO6y7o

NASA captura carbono sequestrado de 9,9 bilhões de árvores com aprendizado profundo e imagens de satélite

Uma equipe de pesquisa liderada pela NASA usou imagens de satélite e métodos de inteligência artificial para mapear bilhões de copas de árvores discretas em uma escala de 50 cm. As imagens abrangeram uma grande faixa do árido norte da África, do Atlântico ao Mar Vermelho. Equações alométricas baseadas em amostragem prévia de árvores permitiram que os pesquisadores convertessem as imagens em estimativas de madeira, folhagem, tamanho da raiz e sequestro de carbono.

A nova estimativa da NASA, publicada na Nature, foi surpreendentemente baixa. Embora a estimativa típica do estoque de carbono de uma região possa depender da contagem de pequenas áreas e da extrapolação dos resultados para cima, a técnica demonstrada pela NASA conta apenas as árvores que realmente estão lá, até a árvore individual.

Jules Bayala e Meine van Noordwijk publicaram um artigo News & Views no mesmo jornal comentando o trabalho da equipe da NASA.

A expectativa inicial de contar todas as árvores espalhadas, em áreas que os modelos anteriores frequentemente representavam por valores zero, foi apagada por grandes superestimativas em outras áreas das avaliações anteriores. Em tentativas anteriores de usar satélites, terras cultivadas e vegetação terrestre afetaram adversamente as imagens ópticas. Se o radar fosse usado, a topografia, as zonas úmidas e as áreas irrigadas afetariam o retroespalhamento do radar, prevendo estoques de carbono mais altos do que as estimativas atuais da NASA.

a, Nosso estudo cobriu o sul do Saara, o Sahel e a zona norte do Sudão da África e mostrou a densidade de carbono agregada (folhagem + madeira + raiz) por hectare para 9.947.310.221 copas de árvores da área média de precipitação de 0 a 1.000 mm ano -1 . As isoietas marcam os anos 150, 300, 600 e 1.000 mm -1zonas de precipitação (de norte a sul). b, Exemplo mostrando o estoque de carbono lenhoso de cada árvore para uma área agroflorestal no Senegal. c, Densidade média de carbono da árvore nos percentis 5, 25, 75 e 95 ao longo do gradiente de precipitação para madeira, folhagem e raiz de carbono. d, Estoque médio de carbono de árvores individuais nos percentis 5, 10, 25, 75, 90 e 95 ao longo do gradiente de chuva. Nossa definição de árvore é uma copa de folhas verdes >3 m 2 com uma sombra associada

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Fotos: Cortesia de Martin Brandt, Natureza (2023), NASA, University of Copenhagen, Dinamarca Madeira, folhagem e carbono radicular de 9.947.310.221 árvores com área de copa >3 m 2 em 9,7 milhões de km 2 foram mapeados

Mapeamento baseado em aprendizado profundo

Os pesquisadores aplicaram o mapeamento de árvores baseado em aprendizado profundo, treinado manualmente em cerca de 90.000 árvores, a um conjunto de dados de quase 300.000 imagens de satélite para medir mais de 9,9 bilhões de plantas lenhosas que exibiam uma sombra e uma área de copa superior a 3 metros quadrados. Apenas feições que mostravam uma área de copa distinta e uma sombra associada foram selecionadas, o que permitiu à equipe excluir pequenos arbustos, aglomerados de grama, pedras e outras feições enganosas.

As regiões fotografadas foram correlacionadas para refletir quatro zonas

de chuva; hiperárido, árido, semi-árido e sub-úmido seco – pois a chuva afeta a absorção e o armazenamento de carbono. Enquanto a folhagem representa apenas 3% da massa seca total, ela foi utilizada como medida indireta para quantificar a massa total. A proporção da massa da raiz é, em média, 15-20% da massa total e também foi derivada com base na folhagem.

Deseja visualizar o grande conjunto de dados de mapeamento de árvore em um formato de navegador interativo?

Os pesquisadores também, então eles criaram um visualizador bacana para trabalhar e o disponibilizaram publicamente aqui: www.trees.pgc.umn.edu/app

A capacidade de rastrear a eficácia do sequestro de carbono pode assumir importância global na luta contra as mudanças climáticas. O reflorestamento é um método líder pelo qual as nações do mundo se comprometeram a compensar sua pegada de carbono.

No entanto, a praticidade desses compromissos está sob escrutínio de uma equipe de 20 pesquisadores que trabalham com a iniciativa de pesquisa climática interdisciplinar da Universidade de Melbourne. Eles somaram as obrigações e descobriram que seria necessário plantar árvores em quase 1,2 bilhão de hectares, uma área maior que a Europa ou os Estados Unidos e aproximadamente a quantidade de terra atualmente usada para cultivos globalmente.

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Reduzir simultaneamente as emissões de ozônio de baixo nível e outros poluentes climáticos de vida curta, bem como o dióxido de carbono de vida longa, poderia reduzir a taxa de aquecimento global pela metade até 2050, mostra um novo estudo Imagem estática - vista da região de estudo no norte da África com as zonas climáticas indicadas

Camada de ozônio da Terra a caminho de ser curada em décadas

Uma avaliação científica a cada quatro anos constatou que a recuperação está em andamento, mais de 35 anos depois que todas as nações do mundo concordaram em parar de produzir produtos químicos que destroem a camada de ozônio na atmosfera da Terra, que protege o planeta da radiação nociva ligada à pele. câncer, catarata e danos às colheitas.

“Na estratosfera superior e no buraco de ozônio, vemos as coisas melhorando”, disse Paul Newman, copresidente da avaliação científica.

O progresso é lento, de acordo com o relatório apresentado na segunda-feira na convenção da American Meteorological Society em Denver. A quantidade média global de ozônio de 30 quilômetros de altura na atmosfera não voltará aos níveis pré-desbaste de 1980 até cerca de 2040, disse o relatório. E não voltará ao normal no Ártico até 2045.

A Antártida, onde é tão fina que há um buraco anual gigante na camada, não será totalmente consertada até 2066, disse o relatório.

Cientistas e defensores do meio ambiente em todo o mundo há muito elogiam os esforços para curar o buraco na camada de ozônio – decorrentes de um acordo de 1987 chamado Protocolo de Montreal, que baniu uma classe de produtos químicos frequentemente usados em refrigerantes e aerossóis –como uma das maiores vitórias ecológicas da humanidade . .

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A camada protetora de ozônio da Terra está lentamente, mas visivelmente, se recuperando em um ritmo que consertaria completamente o buraco sobre a Antártida em cerca de 43 anos, diz um novo relatório das Nações Unidas. A maior parte da camada atmosférica que protege o planeta da radiação ultravioleta provavelmente será totalmente recuperada para a maior parte do mundo até 2040
Fotos: CAMS, MGN, NASA-JPL/Caltech, NASA Ozone Watch, NASA via AP/Arquivo, Reuters Relatório:Avaliação Científica da Destruição do Ozônio 2022

“A ação do ozônio estabelece um precedente para a ação climática. Nosso sucesso na eliminação gradual de produtos químicos que comem ozônio nos mostra o que pode e deve ser feito – com urgência – para fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis, reduzir os gases de efeito estufa e assim limitar o aumento da temperatura”, Secretário-Geral da Organização Meteorológica Mundial, Prof. Petteri Taalas disse em um comunicado.

Sinais de cura foram relatados há quatro anos, mas eram leves e mais preliminares. “Esses números de recuperação se solidificaram muito”, disse Newman.

Os dois principais produtos químicos que destroem o ozônio estão em níveis mais baixos na atmosfera, disse Newman, cientista-chefe da Terra no Goddard Space Flight Center da NASA.

Nesta imagem em cores falsas da NASA, o azul e o roxo mostram o buraco na camada protetora de ozônio da Terra sobre a Antártida em 5 de outubro de 2022. A camada protetora de ozônio da Terra está se curando lenta mas visivelmente em um ritmo que consertaria totalmente o buraco Antártida em cerca de 43 anos, diz o novo relatório da ONU

Rastreando a recuperação contínua do buraco de ozônio da Terra

Esquerda: Ozônio na estratosfera da Terra a uma altitude de aproximadamente 12 milhas (20 quilômetros) em meados de março de 2011, próximo ao pico da perda de ozônio no Ártico em 2011. As cores vermelhas representam altos níveis de ozônio, enquanto as cores roxa e cinza (sobre a região polar norte) representam quantidades muito pequenas de ozônio. Direita: monóxido de cloro – o principal agente da destruição química do ozônio na baixa estratosfera polar fria – para o mesmo dia e altitude. As cores azul claro e verde representam pequenas quantidades de monóxido de cloro, enquanto as cores azul escuro e preto representam quantidades muito grandes de monóxido de cloro. A linha branca marca a área dentro da qual ocorreu a destruição química do ozônio

Os níveis de cloro caíram 11,5% desde o pico em 1993 e o bromo, que é mais eficiente em consumir ozônio, mas está em níveis mais baixos no ar, caiu 14,5% desde o pico de 1999, disse o relatório.

Os níveis de bromo e cloro “pararam de crescer e estão diminuindo é uma prova real da eficácia do Protocolo de Montreal”, disse Newman. “Houve uma mudança radical na forma como nossa sociedade lida com as substâncias que destroem o ozônio”, disse o co-presidente do painel científico David W. Fahey, diretor do laboratório de ciências químicas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos.

Décadas atrás, as pessoas podiam entrar em uma loja e comprar uma lata de refrigerantes que corroem o ozônio, abrem um buraco nele e poluem a atmosfera, disse Fahey. Agora, não apenas as substâncias são proibidas, mas também não estão mais nas casas ou nos carros das pessoas, substituídas por produtos químicos mais limpos.

Padrões climáticos naturais na Antártida também afetam os níveis de buraco de ozônio, que atingem o pico no outono. E nos últimos dois anos, os buracos foram um pouco maiores por causa disso, mas a tendência geral é de cura, disse Newman. Isso está “salvando 2 milhões de pessoas todos os anos do câncer de pele”, disse o diretor do Programa Ambiental das Nações Unidas, Inger Andersen, à Associated Press no início deste ano em um e-mail.

Há alguns anos, as emissões de um dos produtos químicos proibidos, o clorofluorcarbono-11 (CFC-11), pararam de diminuir e estavam aumentando.

Emissões não autorizadas foram detectadas em parte da China, mas agora voltaram ao nível esperado, disse Newman. Uma terceira geração desses produtos químicos, chamada HFC, foi proibida há alguns anos, não porque corroeria a camada de ozônio, mas porque é um gás de efeito estufa que retém o calor. O novo relatório diz que a proibição evitaria 0,5 a 0,9 graus (0,3 a 0,5 graus Celsius) de aquecimento adicional. O relatório também alertou que os esforços para resfriar artificialmente o planeta, colocando aerossóis na atmosfera para refletir a luz do sol, afinariam a camada de ozônio em até 20% na Antártida. Pesquisadores da Organização Meteorológica Mundial, do Programa Ambiental das Nações Unidas, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço e da Comissão Européia contribuíram para a avaliação.

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O buraco na camada de ozônio acima da Antártida é visto em uma série de imagens de satélite durante um período de 21 ano Extensão máxima anual do buraco na camada de ozônio desde 1979 O buraco na camada de ozônio deve fechar totalmente, segundo a ONU

REALIZAÇÃO: PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO: COMUNICAÇÃO E MARKETING:

PROMOÇÃO: APOIO:

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