Amazonia 28

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Edição 28 R$ 10,00

ISSN 1809-466X

Ano 6 Número 28 2011

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Editora Círios

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AMAZÔNIA: DESAFIO BRASILEIRO DO SÉCULO 21 BRASIL SEM MISÉRIA NO NORTE SUSTENTÁVEL 2011 AMAZALERT


2 REVISTA AMAZテ年IA

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5ª Feira e Congresso Internacionais de Soluçþes Ecoeficientes

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Editora Círios

06 Amazônia: Desafio Brasileiro do Século 21

Pesquisadores, representantes do poder público, estudantes e professores estiveram reunidos durante o Fórum Amazônia: desafio brasileiro do século 21, realizado no dia 6 de setembro na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), interior de São Paulo, com o objetivo principal de fortalecer laços de cooperação em ensino...

12 Termo de pactuação do

Plano Brasil sem Miséria com os Governadores do Norte Em Manaus, a presidenta Dilma destacou os benefícios do Plano Brasil sem Miséria e do Bolsa Verde para a população. Com a presença de ministros, governadores, prefeitos, empresários e beneficiários dos programas sociais, foram anunciadas ações de transferência de renda...

18 Amazalert

O futuro da Amazônia O projeto AMAZALERT tem o potencial de fornecer aos tomadores de decisões políticas brasileiros informações e conhecimento científico para aprimorar as políticas atuais e delinear novas opções...

20 Sustentável 2011 O 4º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável. O Sustentável 2011, realizado no Rio de Janeiro, no Píer Mauá, reuniu recentemente, mais de 50 especialistas mundiais, mil participantes entre representantes de empresas, Ongs e sociedade civil em palestras e oficinas que debateram os principais temas do desenvolvimento sustentável como economia verde, energia, desenvolvimento humano, consumo e mobilidade...

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XPEDIENTE

PUBLICAÇÃO Período (setembro/outubro) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Alexandre Floriani Ramos; Camillo Martins Vianna; Census of Marine Life; Ciro Scopel ; Jacqueline Batista Silva; Josias Matos de Araujo; José Maria F.J. da Silveira; Sérgio Vale; Vivian Blaso; Wiliandro Derze FOTOGRAFIAS Antonio Cruz/Abr; Antônio Silva/Ag. Pará; Antoninho Perri; Antonio Scorpinetti; Ascom Unicamp; Assessoria SEF; Cecilia Österberg/Exray; Census of Marine Life ; Chen Xuefei; Cleiby Trevisan; Equipe Jacek Palkiewicz; Jefferson Rudy/MMA; Luciano Claudino; NASA/GSFC/JPL, MISR Team; Roberto Stuckert Filho/PR; Rudloph Hühn; Sílivo Ávila (MAA); Thiago Junqueira Roncon EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Mequias Pinheiro NOSSA CAPA Ribeirinhos a espera do futuro. Frente à Belém, região das Ilhas, no Pará Foto de Fernando Araujo

Sustentabilidade Para nós da Eletrobras Eletronorte, falar da Amazônia é como falar da nossa cidade, do nosso bairro e, porque não, da nossa casa. Não chegamos aqui por acaso. Uma decisão estratégica para ocupar uma região até então marcada pela ausência do Estado nos deu a missão de contribuir para gerar desenvolvimento...

40 A Conferência sobre

Mudança Climática da ONU A décima sexta sessão do Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Compromissos Adicionais para as Partes do Anexo I no âmbito do Protocolo de Quioto (AWG-KP 16) e a décima quarta sessão do Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre a longo prazo Ação Cooperativa no âmbito da UNFCCC (AWG-LCA 14), na Cidade do Panamá, Panamá... [34] Bambu vai erradicar pobreza [36] Iniciado os trabalhos de articulação para a Rio+20 [39] Contagem regressiva para COP17 - CMP7 [44] Bionegócio e bionergia: superando as fronteiras entre setores da economia [49] Manejo florestal sustentável do Acre [52] Greenbuilding Brasil discutiu construções verdes [54] Mapa do carbono armazenado nas florestas tropicais [64] Rio subterrâneo de 6 mil km embaixo do Rio Amazonas

Blog da Amazônia

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Amazônia:

Desafio Brasileiro do Século 21

Mais de 500 pessoas acompanharam programação realizada na UNICAMP no dia 6 de setembro

Foto: Antoninho Perri, Antonio Scarpinetti/ ASCOM UNICAMP, Divulgação UFOPA e Luciano Claudino

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esquisadores, representantes do poder público, estudantes e professores estiveram reunidos durante o Fórum Amazônia: desafio brasileiro do século 21, realizado no dia 6 de setembro na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), interior de São Paulo, com o objetivo principal de fortalecer laços de cooperação em ensino, pesquisa e extensão entre a UNICAMP e a Universidade do Oeste do Pará (UFOPA), e refletir sobre a geração de conhecimentos para o desenvolvimento da Amazônia, destacando a importância da região nas atividades preparatórias da cúpula mundial Rio+ 20 que acontece no Brasil, em 2012. No atual cenário onde, cada vez mais, a soberania do petróleo cede espaço para a economia verde, o Brasil desponta entre os favoritos para a gestão mundial de um fundo internacional de governança, que considere, sobretudo, a importância da Amazônia para o bem-estar do planeta terra. O posicionamento de lideranças brasileiras durante a Rio+ 20, nesse sentido, foi apontado durante o evento como crucial para que o pais assuma as discussões relativas à proteção internacional dessa imensidão verde.

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Realizado pela Pró-Reitoria de Graduação e o Instituto de Geociências da UNICAMP, como atividade dos Fóruns Permanentes da universidade sobre Meio Ambiente e Sociedade, o fórum apresentou discussões a cerca do ensino superior, pesquisas científicas, estratégias de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e história e cultura da região amazônica. Consenso entre os convidados, as investigações realizadas pela comunidade científica nacional, nas mais diversas áreas, despontaram entre as principais contribuições capazes de elevar o Brasil a potência mundial da biodiversidade no próximo século. Reitor Fernando Costa fala sobre importância das universidades para o desenvolvimento da região

“A Amazônia é um desafio estratégico para o nosso país e o seu desenvolvimento não pode prescindir às discussões em todas as universidades”, disse o Reitor da UNICAMP, Fernando Costa, durante a cerimônia de abertura do evento. O Reitor abre o evento explicando o principal objetivo dos fóruns permanentes organizados pela UNICAMP, que é a discussão de aspectos estratégicos para o país por pesquisadores, estudantes universitários e demais setores da sociedade, que possam apontar caminhos para o futuro. A organização buscou mesclar pesquisadores do sudeste e do norte do país para favorecer a troca de experiências e a realização de novos acordos. De acordo com a Agente de Comunicação da PRG/UNICAMP, Marilisa Rossilho, responsável por estruturar a programação do encontro, o principal desafio foi elaborar estratégias para atingir o maior número de pesquisadores e alunos de ambas as comunidades acadêmicas, que de alguma maneira estejam envolvidos com pesquisas, em qualquer área do conhecimento, sobre a Amazônia. E, indo mais além, atrair o interesse daqueles que ainda não desenvolvem atividades na região. “A discussão da Amazônia deveria estar presente em nossas vidas, não é apenas responrevistaamazonia.com.br


Reitor da UFOPA, José Seixas Lourenço, durante visita na UNICAMP

sabilidade do Estado e o conhecimento não deve ficar concentrado numa única região do país”, disse. Participaram do fórum, como palestrantes: o Secretário Adjunto da Secretaria de Ciência, Tecnologia & Inovação do Pará, Alberto Arruda; o Coordenador de Extensão do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Carlos Alberto Bueno; o químico, Lauro Barata, premiado em 2005 pelo Ministério do Desenvolvimento, pelos trabalhos realizados em Pesquisa & Desenvolvimento do óleo essencial das folhas do Pau Rosa; o Coordenador do Centro de Estudos Avançados da UNICAMP, Paulo Funari, o Coordenador de Curso de MBA em Gestão do Meio Ambiente e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Guimarães; o Pró-Reitor de Graduação da UNICAMP, Marcelo Knobel; o Reitor da UFOPA, José Seixas Lourenço e o Diretor do Instituto de Geociências da UNICAMP, Bernardino Figueiredo.

José Seixas Lourenço A floresta como oportunidade de cooperação universitária De um lado, a estrutura acadêmica de ponta, com pesquisadores renomados e laboratórios avançados de pesquisa. De outro, uma proposta ousada de formação interdisciplinar e um ambiente rico em biodiversidade, propício para a investigação científica. Muitos acordos de cooperação podem nascer a partir do encontro de universidades com características tão diferenciadas como a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade do Oeste do Pará (UFOPA). Esta foi a temática da palestra de abertura do Fórum Amazônia: desafio brasileiro do século 21, apresentada pelo Reitor da UFOPA, José Seixas Lourenço. Um dia antes, durante reunião com pesquisadores de diversos departamentos da UNICAMP, além de ressaltar o caráter inovador da universidade paraense, o reitor sugeriu caminhos para a cooperação entre à instituição e a UNICAMP, a partir do intercâmbio de estudantes, pesquisadores, professores e o desenvolvimento conjunto de programas. “Eu vejo nessa conexão, a possibilidade de criar uma instituição com características inovadoras como foi o caso a UNICAMP”, disse.

Fundada em 1966, a UNICAMP desponta como umas das instituições mais renomadas do país, ocupando hoje o primeiro lugar no ranking de patentes produzidas em todo o Brasil, além de desenvolver a melhor pós-graduação do país, com 70% dos cursos classificados no padrão internacional de alto desempenho pelo Ministério da Educação. A estrutura física abriga 6 campi, 22 unidades

Vista aérea UNICAMP

Vista aérea UFOPA

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Estudantes da UNICAMP no Instituto de Física Gleb Wataghin

de ensino e pesquisa, 2 colégios técnicos, 3 hospitais, 23 centros e núcleos interdisciplinares e 27 bibliotecas. São mais de 31 mil estudantes, cerca de 1800 professores, 66

como a inter-relação entre a pedrosfera, a biosfera e a atmosfera ou da geofísica aplicada com a arqueologia, por exemplos. O Reitor explicou que as universidades têm trabalhado para concretizar um programa de doutorado interinstitucional em educação, já aprovado pela Faculdade de Educação da UNICAMP e em análise na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (CAPES), e também, a cooperação entre doutorados interdisciplinares, o trabalho conjunto entre o Laboratório de Arqueologia Pública da UNICAMP e o Programa de Antropologia e Arqueologia da UFOPA, o intercâmbio de pesquisadores e estudantes da Geologia, Geografia e Política Científica e Tecnológica, o desenvolvimento e ampliação de pesquisas no campo da modelagem computacional e de compósitos e termoplásticos com fibras vegetais. Pesquisadores de diversas áreas viram com entusiasmo a possibilidade de firmar acordos de cooperação entre a

cursos de graduação e 138 de pós-graduação. Por sua vez, instalada no município paraense de Santarém, no interior da Amazônia, a UFOPA surge no cenário nacional em 2009, com uma proposta revolucionária de estrutura acadêmica, onde os estudantes ingressam no curso superior utilizando integralmente a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e onde eles deixam para escolher que carreira seguir somente após o terceiro ano de graduação. Diferente de todos os modelos universitários brasileiros, a UFOPA não estrutura os cursos de bacharelado nos institutos tradicionalmente conhecidos, como física, química e biologia. Nela, as disciplinas dividem-se em cinco grandes temas de interesse regional (Ciências da Educação, Ciências da Sociedade, Ciências e Tecnologias das Águas, Biodiversidade e Florestas, Engenharia e Geociências) com o objetivo de permitir o desenvolvimento integrado das disciplinas,

UNICAMP e a UFOPA. Para o Pró-Reitor de Graduação da UNICAMP, Marcelo Knobel, foi uma satisfação poder reunir tanta gente em torno desse assunto e de falar sobre possibilidades de programas de extensão e ensino. “A nossa perspectiva a partir do encontro, é pressionar o Governo Federal e os goverde Graduação da nos estaduais para que a gente Pró-Reitor UNICAMP, Marcelo Knobel, possa também ter programas sugere mobilidade estudantil de mobilidade estudantil entre entre universidades brasileiras as universidades brasileiras. Seria muito importante que os alunos da região amazônica pudessem vir aqui e que os nossos fossem para lá”, disse. A questão da interdisciplinaridade esteve no foco faz atenções durante o fórum, pelo

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Reitor José Lourenço Seixas fala sobre acordos de cooperação entre pesquisadores da UNICAMP e UFOPA

caráter inovador dos institutos temáticos da UFOPA, que dão mais tempo aos graduandos para escolher a formação que desejam. Para o coordenador do Centro de Estudos Avançados da UNICAMP (CEAv), Paulo Funari, o modelo de ensino superior brasileiro tem gerado um índice muito alto de evasão, ao passo em que muitos estudantes, ao sair do ensino médio, não estão preparados para escolher que carreiras seguir. “Você tem um desperdício muito grande de talentos, tanto de professores quanto de alunos. De tal maneira, que o sistema nacional de ensino superior, do jeito que está formulado, já começa a ser superado”, disse. De acordo com o professor, a estrutura acadêmica atual está baseada na ideia de que as carreiras são únicas, fixas e que o candidato precisa escolher de uma única vez, logo de início. “Isso tem se mostrado cada vez mais irreal na sociedade moderna. As pessoas vão mudando a sua trajetória”. Pensando nisso, a UNICAMP recentemente implantou um novo curso em sua grade. O Programa de Formação Interdisciplinar Superior (PROFIS) inclui áreas das ciências humanas, biológicas, exatas e tecnológicas. O objetivo é oferecer aos alunos uma visão integrada do mundo contemporâneo, capacitando-os para exercer as mais distintas profissões. Além deste, está em vias de implantação, programas similares que envolverão as ciências humanas e as engenharias. A disparidade de estrutura física entre as universidades, nem de longe é impedimento para a troca de experiência, pelo contrário, pesquisadores de ambas as instituições viram nas possibilidades que se abrem para a parceira, oportunidades significativas de crescimento, seja no campo da pesquisa, seja no campo do ensino ou da ex-

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“Sistema Nacional de ensino superior do jeito que está formulado, já começa a ser superado” – Paulo Funari, Coordenador do CEAv/ UNICAMP

tensão. Enquanto a UNICAMP pode ser fundamental para solidificar a massa crítica da UFOPA, por meio de programas que viabilizem a formação de novos doutores e o intercâmbio de pesquisadores, a universidade paraense, além de facilitar o acesso à biodiversidade local, permitirá que a comunidade acadêmica da UNICAMP entre em contato com um sistema de ensino interdisciplinar. Esse tipo de troca proposta entre as universidades já começa a ganhar contornos, a exemplo da cooperação firmada entre o Programa de Antropologia e Arqueologia da UFOPA e o Laboratório de Arqueologia Pública (LAP) da UNICAMP, que nasce com o objetivo de envolver jovens, comunidades indígenas tradicionais e instituições de ensino da região amazônica, trabalhando a divulgação científica, a veiculação na mídia e importância do patrimônio arqueológico. “Esse é um trabalho que nós temos uma preocupação muito grande, na medida em que eu acredito não haver uma consciência muito grande sobre a importância arqueológica. Pelo contrário, às vezes eu percebo que muitas autoridades do poder público encaram essa questão como um entrave ao desenvolvimento”, argumentou o Reitor José Seixas Lourenço, da UFOPA. O programa de Arqueologia UFOPA/UNICAMP terá duas vertentes: uma voltada para a divulgação científica, que envolve alunos, pais e professores para mostrar o que é e como se faz arqueologia, observando quais idéias essas pessoas têm sobre essa ciência, com o objetivo de trabalhar a construção do conhecimento de forma conjunta; e outra, dirigida aos pesquisadores, propondo o intercâmbio de alunos e professores entre as universidades, para trocar experiências culturais, teóricas e metodológicas. De acordo com a Coordenadora do LAP, Aline Carvalho, a proposta de intercâmbio é crucial para formar profissionais aptos tanto para trabalhar com arqueologia em si, quanto com aquela arqueologia chamada de pública e que está preocupada com a sociedade. “Não é a academia produzindo verdades, mas dialogando com a sociedade, vendo-a como parceira na construção do conhecimento”, disse. Não se trata de um programa simples. Para a pesquisadora, a proposta de cooperação UFOPA/ UNICAMP é mais complexa porque atua com divulgação científica, formação de profissionais e debates teóricos e metodológicos. Além disso, existe um estereótipo da arqueologia, muito fortalecido pelas mídias, o cinema de Hollywood, como a ideia do herói Indiana Jones ou da personagem Júlia, a paleontóloga de botas e colete, da novela Morde e Assopra. “Existe um imaginário sobre a revistaamazonia.com.br

arqueologia que é o fator do exótico, do distante, como se ela fosse possível somente no Egito. A gente tem trabalhado, e muito, para dizer que a Arqueologia existe no Brasil”, completou. Por meio da experiência do LAP, a UFOPA pretende também, atrair a atenção de estudantes do ensino fundamental e médio da região para a preservação do patrimônio arqueológico local, utilizando programas desenvolvidos pela UNICAMP, a exemplo do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC Jr.). Destinado a estudantes do ensino médio, o PIC Jr. tem duração de 12 meses. Durante esse período, é possível mergulhar no universo da pesquisa acadêmica, vivenciar o dia-a-dia dos pesquisadores, descobrir novas formas de aprender e quebrar mitos em torno da profissão. Recentemente, o Laboratório de Arqueologia Pública lançou um site para divulgar os trabalhos desenvolvidos, tanto para comunidades onde acontecem as escavações arqueológicas, quanto para estudantes do ensino fundamental e ensino médio, e participantes do PIC Júnior. Esse ano foi a primeira vez que o laboratório participou com um estande no programa Universidade de Portas Abertas (UPA) realizado nos dias 2 e 3 de setembro na UNICAMP, e que atraiu mais de 60 mil estudantes de todo o país. “É possível ser arqueólogo no Brasil? O que faz um arqueólogo? Existe um programa de ações para divulgar a arqueologia no Brasil. E sim, a arqueologia no Brasil é possível. Ela é um campo de trabalho, de construção de patrimônio”, exemplificou a pesquisadora sobre os tipos de questões a serem discutidas com os adolescentes.

o Coordenador de Extensão do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Carlos Bueno. Do mesmo modo, lembrou o pesquisador, na medida em que avançam as pesquisas científicas brasileiras relacionadas a esse gigantesco bioma, cresce o conhecimento das comunidades, nacional e internacional, sobre os desafios enfrentados pela floresta para continuar de pé. Bueno explicou ainda, que além do aquecimento global e da ação predatória do homem com o desmatamento, as queimadas, a retirada de madeira, as atividades de mineração e agropecuária e a emissão de gases nocivos, cresce a percepção em nosso país de que o Brasil precisa, com urgência, estimular o desenvolvimento de políticas públicas abrangentes não apenas de preservação, mas também de fomento a pesquisa, de cooperação técnico-científica entre os estados e de formação de pesquisadores na região, para garantir a soberania sobre a Amazônia e consagrar-se potência hegemônica da biodiversidade.

Alberto Arruda

O pobre estado rico chamado Pará s.m.] 1. Depósito onde se guardam e arrecadam objetos pertencentes a um estabelecimento público ou particular. Esta é uma das definições do dicionário da língua portuguesa para a palavra al.mo.xa.ri.fa.do. O Secretário Adjunto da SCT&I do Pará, Alberto Arruda

Carlos Alberto Bueno Brasil, país hegemônico da biodiversidade

Pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), o Coordenador de Extensão, Carlos Alberto Bueno, aproveitou a proposta de parceria sugerida entre a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), para dar continuidade ao Fórum Amazônia e falar dos desafios para desenvolver pesquisas na região, a escassez de doutores e o potencial amazônico para gerar novos produtos. “Ninguém mais dúvida da importância da Floresta Amazônica enquanto a maior biodiversidade de todos os continentes, com milhares de espécies catalogadas entre aves, insetos, peixes, mamíferos e plantas”, disse Coordenador de Extensão do INPA, Carlos Bueno, fala dos desafios da região amazônica para desenvolver pesquisas

verbete, no entanto, poderia ter sido utilizado para abrir a exposição do Secretário Adjunto da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pará (SCT&I), Alberto Arruda, ao falar das contradições do segundo estado brasileiro em extensão territorial, com 1.247.689,515 Km², que apesar de possuir grandes reservas de recursos florestais, minerais e hídricos, pouco sucesso obteve até o momento para reverter tais potencialidades para o desenvolvimento interno. “O Pará é um pobre estado rico”, criticou Arruda. Um paradoxo, considerando o fato de o estado ter respondido, em 2010, pela terceira posição na balança comercial das exportações brasileiras. O secretário levantou os principais desafios da SCT&I para conter o desmatamento e estimular iniciativas no campo do desenvolvimento sustentável no sentido de mudar o foco da economia estadual, desde a sua origem, baseada no extrativismo mineral. “O Pará tem sido, fundamentalmente, um estado almoxarifado, de onde se retira minério e se produz energia. Mas estes recursos REVISTA AMAZÔNIA 09


não geram impostos nem renda para o estado, já que a energia é taxada no consumo e o imposto do minério vai para o Governo Federal”, esclareceu. Diante da constatação de que o estado pouco tem ganhando com o atual sistema de exploração, que além de não trazer dinheiro, devasta os recursos naturais locais, um novo caminho se abre e o gigante que parecia adormecido parece acordar para a realidade de que é necessário proteger a biodiversidade, ou, a galinha dos ovos dourados do Pará. Nesse caminho, Arruda explica que programas como o BioPará, proposto pela SCT&I, surgem entre as iniciativas do poder público para minimizar os altos índices de desmatamento e estimular o uso sustentável da biodiversidade, com o objetivo de elevar o estado a posição de vanguarda no desenvolvimento de uma economia verde, com ações que possibilitem a interação entre todos os setores das cadeias produtivas. De acordo com Arruda, a proposta é criar condições técnicas e tecnológicas que permitam gerar produtos e processos de alta qualidade, com elevado valor associado e capacidade para disputar o mercado mundial. Seguindo o exemplo do que ocorreu na a cadeia do açaí, quando o valor agregado ao fruto superou o valor destinado ao palmito, fazendo com que o próprio caboclo passasse a defender a preservação do açaizeiro. “É muito lógico pra gente, que só valorizando é possível preservar. Não adianta criar lei, lutar para impedir o desmatamento, porque ele vai acontecer. No momento em que você gera riqueza e valoriza o produto você passa a ter preservação”, disse o secretário.

Márcio Souza Que tipos de interesse há na onda de preocupação, cada vez maior, de diversos setores da sociedade, que se abate sobre a região amazônica? Para quem vive muito longe da floresta, a pergunta certamente fará lembrar apreensões relativas ao meio ambiente, a importância de se preservar o maior patrimônio verde do planeta Terra e ações efetivas para o desenvolvimento sustentável. No entanto, para a comunidade local, a pergunta retoma discussões antigas a cerca da exploração econômica, da dominação colonial e do descaso do poder público. Para o escritor Márcio Souza, autor de diversos romances, contos e peças teatrais sobre a região amazônica, consagrados pela crítica especializada, o discurso da sustentabilidade não passa de um jargão publicitário que “A desgraça da Amazônia é a modernidade”, diz autor do romance Mad Maria, Márcio Souza

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Mesa redonda encerrou a programação do Fórum Amazônia: desafio brasileiro do século 21.

máscara o caráter perverso e espoliativo do sistema capitalista. Para ele, tais promessas de modernidade assombram a região amazônica desde o capitalismo da primeira Revolução Industrial, com Marquês de Pombal e a seus ideais civilizatórios, passando pelo capitalismo multinacional da ditadura militar e as propostas de internacionalização e, mais recentemente, este capitalismo inserido no contexto do desenvolvimento ecológico e da sustentabilidade. “O mais perverso é o que nós temos hoje porque resolve manter a região congelada como se fosse uma área primitiva, tribal, de maneira que a ecologia serviria como freio para o desenvolvimento da região”, afirmou. Ao falar de preservação e desenvolvimento sustentável, o autor sugeriu uma análise mais aprofundada que perpassa os interesses das indústrias biotecnológicas e dos grandes laboratórios farmacêuticos, por exemplo. Os interesses são conflitantes com as necessidades locais, na medida em que propõe a preservação de determinada espécie e limita o bem-estar da população. “Não pode ter a hidrelétrica porque vai matar o carapanã (espécie de mosquito) que só existe naquele ecossistema, vai matar o sapinho não sei de quê, e enquanto isso a população padece da falta de energia elétrica, quando nós sabemos que no século 21 civilização é eletricidade”, argumentou. Seguindo o raciocínio, Márcio Souza observou que a Amazônia não deve ser considerada como uma região destacada do Brasil. E que deve parar de ser tratada como uma colônia em desenvolvimento ou um espaço de fronteira econômica. “É preciso ouvir mais quem vive na região e não quem por lá permanece três meses e já passa a se considerar doutor em Amazônia”, disse. Existe massa crítica na região, com estudos e pesquisadores, lembrou.

Para especialistas

Abrindo a mesa, o Diretor do Instituto de Geociências da UNICAMP, Bernardino Figueiredo, falou sobre a missão do Brasil de apresentar ao mundo, a versão amadurecida da cúpula considerada, até hoje, marco da história sócioambiental mundial: a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco92), também realizada no Rio de Janeiro. O pesquisador lembrou aos participantes do Fórum sobre os objetivos gerais do encontro. Com o tema Desenvolvimento Sustentável, a Rio+ 20 pretende, além de fazer um balanço histórico de realizações e desafios enfrentados nas últimas duas décadas, renovar o engajamento dos líderes mundiais ao falar de governança internacional para o desenvolvimento sustentável, e sobre o papel da economia verde na erradicação da pobreza. No entanto, cientistas brasileiros temem que a Rio+ 20 pouco avance na tentativa de firmar acordos multilaterais entre os países, capazes de contribuir significativamente com a redução da emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa, que cresceram cerca de 40% em relação às quantidades emitidas em 1992. Após a publicação, em 2009, da resolução que aprovou a realização da Rio+ 20, diversos encontros, reuniões e debates temáticos como este realizado pela UNICAMP, começaram a acontecer por todo o país, movimentando setores do poder público, de organizações não-governamentais e da academia. As questões discutidas desde então, passaram a refletir apreensões tanto no que diz respeito à infraestrutura, burocracia e logística do evento, quanto aos assuntos possíveis para entrar na pauta da conferência, como segurança alimentar, manipulação genética, até então pouco explorados, e mais recentemente, a importância estratégica da Amazônia para Diretor do Instituto de Geociências da UNIAMP, Bernardino Figueiredo, abre mesa redonda

Rio+ 20 pode ser um fracasso “Existe o risco de que a Rio+ 20 seja apenas um fracasso, mas existe um risco ainda mais preocupante de ser também um retrocesso, não apenas em termos de ambiente, mas também em termos de Amazônia”, enfatizou o Coordenador do Curso de MBA em Gestão do Meio Ambiente e Sustentabilidade da FGV/IBS, Roberto Guimarães, na mesa redonda que encerrou o Fórum Amazônia: desafio brasileiro do século 21 e que, além do pesquisador, reuniu os palestrantes das sessões anteriores, Márcio Souza, Alberto Arruda, Carlos Bueno e José Seixas Lourenço. revistaamazonia.com.br


Para o coordenador do Curso de MBA em Gestão do Meio Ambiente e Sustentabilidade da FGV/IBS, Roberto Guimarães, a Rio+ 20 é a oportunidade para novos acordos internacionais

tornar o Brasil centro mundial da economia verde. “Se a Rio+ 20 não vai ser um processo de chegada para a assinatura de novos acordos, que ele possa ser um ponto de partida para suscitar essas discussões”, sugeriu Guimarães. Seguindo a proposta temática da cúpula sobre governança, o pesquisador acredita que o Brasil pode ser estratégico para ser tornar o centro mundial da economia verde, da mesma maneira que a África abriga discussões internacionais sobre o meio ambiente, e a Europa sobre o comércio. “Esta é a oportunidade para colocar os instrumentos de governança em um fundo independente internacional, mas dirigido pelo Brasil”, disse. Outras preocupações foram levantadas em relação à região amazônica, como a disparidade da produção científica e tecnológica nos diversos estados brasileiros, indicado pelo Coordenador de Extensão do Instituto Na-

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cional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Carlos Bueno, como um longo caminho a ser percorrido. “Há um total desequilibro e uma atenção muito pequena do poder público destinada a Amazônia em comparação ao restante do Brasil”, disse, evidenciando que a falta de doutores tem sido um dos maiores obstáculos para os pesquisadores do estado do Amazonas, inclusive, para conseguir recursos. Neste cenário, o Secretário Adjunto da Secretaria de Ciência, Tecnologia & Inovação do Pará, Alberto Arruda lembrou que o complexo caminho percorrido pelos pesquisadores brasileiros para acessar a biodiversidade é outro importante obstáculo a ser superado. O Fórum Amazônia: desafio brasileiro do século 21 teve mais de 500 inscritos entre estudantes, professores, pesquisadores e profissionais liberais. Para o químico

da UNICAMP e pesquisador associado da UFOPA, Lauro Barata, o evento foi positivo em dois aspectos: o primeiro diz respeito à cooperação que nasce entre as duas universidades e o segundo, aos preparativos da organização da Rio+ 20, considerada pelo pesquisador ainda embrionária. Segundo Barata, as universidades podem organizar as discussões sobre a presença da Amazônia na agenda da Rio+ 20. “A UNICAMP pode capitanear os estados mais ao sul do país e a UFOPA, os estados localizados mais ao norte”, disse. O caminho para que a região faça parte da cúpula mundial pode ser longo, mas as discussões levantadas pela comunidade acadêmica durante o encontro na UNICAMP sinalizaram os primeiros passos nesta trajetória. UNICAMP e UFOPA abrem caminho para discussões sobre a presença da Amazônia na pauta da Rio+ 20, avalia o químico Lauro Barata

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A presidente da República, Dilma Rousseff, discursa durante cerimônia de assinatura do Termo de Pactuação

Termo de pactuação do Plano Brasil sem Miséria com os Governadores do Norte Fotos: Antônio Silva/Ag. Pará e Roberto Stuckert Filho/PR

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m Manaus, a presidenta Dilma, destacou os benefícios do Plano Brasil sem Miséria e do Bolsa Verde para a população. Com a presença de ministros, governadores, prefeitos, empresários e beneficiários dos programas sociais, foram anunciadas ações de transferência de renda, fortalecimento da agricultura familiar, parceria com os supermercados e estímulo à preservação ambiental, que visam retirar da extrema pobreza 2,65 milhões de brasileiros que vivem na região. Segundo a presidenta, o Brasil sem Miséria está sendo expandido e o Bolsa Verde pagará R$ 100,00 por mês, por família, para aqueles que vivem em reservas e florestas nacionais. Além disso, Dilma Rousseff anunciou que as mulheres da região receberão qualificação e que os Centros de Referência de Assistência Social serão ampliados. Serão criados 13 centros de assistência geral e outros 15 centros especiais: “Nós vamos criar mais 13 centros gerais, que atendem

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à população extremamente pobre, e estamos fazendo 15 especiais, não só de deficientes, mas que cuidam de populações vulneráveis – a criança, por exemplo, a vítima de violência, a mulher vítima de violência. Eles fazem justamente um trabalho de apoio a essas populações que, por serem as mais pobres, são também as mais fragilizadas. Esses são os benefícios que, para o estado do Amazonas, nós trazemos hoje no Brasil sem Miséria”. A presidenta afirmou que a população indígena já está

recebendo atenção especial de seu governo. Destacou a criação da Secretaria Especial Indígena, no âmbito do Ministério da Saúde, e anunciou três programas específicos para essa população: o Brasil Sorridente indígena, a Rede Cegonha indígena e o programa de prevenção de câncer de mama e do colo do útero para a mulher indígena. Ao responder sobre os investimentos do governo federal para incentivar a competitividade da região, principalmente em relação à logística, a presidenta Dilma disse

O representante dos extrativistas da região Norte, Nelson Martins, da reserva Caeté Taperaçu, localizada em Bragança, no nordeste paraense, recebeu do governo federal o Título de Concessão Real de Uso revistaamazonia.com.br


Durante a cerimônia de assinatura do termo de pactuação do Plano Brasil sem Miséria

que a região tem um grande diferencial que a privilegia, que são as hidrovias. Ela garantiu que o prazo da Zona Franca de Manaus será prorrogado, e que em breve voltará à região para assinar as medidas necessárias para a prorrogação. Por último, a presidenta informou que estão sendo tomadas providências para que sejam evitados os apagões de energia na região e que já determinou à Eletrobrás a adoção das medidas necessárias para reforçar as linhas de transmissão e a construção de um anel na rede de distribuição de energia em Manaus.

Sistema de comunicação será utilizado para localizar famílias extremamente pobres na Região Norte Para agilizar o cadastramento e a atualização dos dados das famílias beneficiárias do Plano Brasil sem Miséria, a presidenta Dilma Rousseff anunciou a instalação de 166 antenas fixas de conexão com internet, via satélite,

“O sucesso do Brasil Sem Miséria só será viável se ficar acima das diferenças partidárias e se tivermos nossas cabeças, sentimentos e esforços voltados para a resolução desse grave problema de nosso País, que é a existência da população extremamente pobre”. O Brasil Sem Miséria é um grande instrumento combate de combate à crise, afirmou a presidenta. “Já que a nossa maior riqueza somos nós mesmos, 190 milhões de brasileiros e brasileiras, quando tiramos da miséria 16 milhões, nós estaremos contribuindo nós só para eles, mas para cada um dos empresários e trabalhadores, intelectuais, professores e médicos a melhorarem de vida”.

Presidenta Dilma Rousseff posa para foto oficial com os Governadores da Região Norte: Tião Viana (Acre), Omar Aziz (Amazonas), Camilo Capiberibe (Amapá), Simão Jatene (Pará), Confúcio Moura (Rondônia), José de Anchieta Júnior (Roraima) e Siqueira Campos (Tocantins) revistaamazonia.com.br

REVISTA AMAZÔNIA 13


Extrativistas da Amazônia Legal serão os primeiros a receber Bolsa Verde

Retirando o látex da seringueira

Já a partir deste outubro, famílias da região Norte em situação de pobreza extrema que vivem em áreas de preservação ambiental começam a receber o Bolsa Verde, benefício concedido pelo governo federal como ação do Plano Brasil Sem Miséria. O objetivo é estimular a preservação dos ativos ambientais em Unidades de Conservação, Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas e Projetos de Assentamento ambientalmente diferenciados, como Projetos de Assentamento Florestal, de Desenvolvimento Sustentável ou Agroextrativistas. O primeiro pagamento vai beneficiar 3.500 famílias de extrativistas, por serviços ambientais de conservação das áreas onde vivem e trabalham, com R$ 300 a serem pagos trimestralmente pela Caixa Econômica Federal. De acordo com a diretora substituta de Extrativismo e uma das coordenadoras do Bolsa Verde no MMA, Andréa Oncala, há atualmente mais 4.500 termos de adesão a serem assinados em assentamentos ambientalmente diferenciados que deverão receber o pagamento ainda este ano. Segundo ela, a meta do ministério é atender, em 2011, 18 mil famílias. Mas a proposta é ampliar para 75 mil o número de famílias atendidas pelo Bolsa Verde em todo o País até 2014. Neste primeiro momento, o programa vai atender somente aos beneficiários dos estados da Amazônia Legal. Para receber o benefício, as famílias de extrativistas terão de cumprir alguns requisitos, tais como estarem cadastradas no Bolsa Família; integrar o Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico); estar na extrema pobreza, ou seja, com uma renda familiar per capita de R$ 70; e exercer uma atividade de conservação.

situações de vulnerabilidade e risco social, oferta de serviços públicos próximo do local de moradia das famílias e identificação das que não recebem os benefícios a que têm direito, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O monitoramento do Bolsa Verde será feito por meio do satélite do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), que mapeará as áreas onde vivem as famílias atendidas. Também haverá visitas aos locais para avaliar o impacto da iniciativa. O programa não impede plantações, desde que feitas de forma sustentável. Simão Jatene assina em Manaus pacto por um Brasil sem miséria

em 160 municípios do Acre, Pará, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Roraima e Amazonas. Os equipamentos, que serão colocados por meio de acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), do Ministério da Defesa, possibilitam a identificação de comunidades que vivem em regiões mais isoladas, sem conexão à rede de computadores. A iniciativa compõe as diferentes estratégias do governo para localizar e cadastrar pessoas que ainda não acessam os programas sociais, a Busca Ativa. O objetivo é levar o Estado até a população mais pobre, com prevenção de 14 REVISTA AMAZÔNIA

A ministra Tereza Campello no lançamento do Programa de Apoio à Conservação Ambiental (Bolsa Verde)

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Para o governador do Pará, Simão Jatene, uma das virtudes do programa lançado é o convite a todos os governadores brasileiros a eliminar a miséria no País. Segundo o governador, a Amazônia tem enorme potencial mineral e hídrico e sua biodiversidade, assim como sua população, que também tem muito a contribuir. “Este é o momento de estender a mão a todos os estados, independentemente das diferenças”, disse o governador. Segundo Jatene, são dois os grandes adversários de todos: a pobreza e a desigualdade. E contra eles não existe fórmula mágica. “O Pará fica feliz em participar deste momento.” No Pará, 52% das famílias com renda per capita de até meio salário mínimo mensal estão inscritas no Cadastro Único e 37,2% recebem Bolsa Família; 92,5% das famílias beneficiárias têm renda mensal de até R$ 70. Com a ampliação do programa, o estado terá 116,5 mil novos beneficiários, o que representa R$ 3,7 milhões mensais.

Outra parceria também foi assinada com a Associação de Supermercados do Norte para o Brasil Sem Miséria, para garantir que a produção das famílias da Bolsa Verde seja comercializada nas redes de supermercados da região, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos Extrativistas (PAA).

A extrativista paraense Joaquina Magalhães Nascimento representou as mais de mil famílias que passam a receber, a Bolsa Verde

Bolsa Verde O Bolsa Verde, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), incentiva a conservação dos ecossistemas brasileiros e promove a cidadania dos moradores dessas áreas. O valor será transferido por meio do cartão do Bolsa Família. O governo capacitou técnicos de várias partes do País para atuarem no programa. Em outubro, 3,5 mil famílias já começam a receber o benefício. Para participar do Bolsa Verde, é preciso que o responsável pela família beneficiada se cadastre no programa. Atualmente, oito mil famílias já estão cadastradas e assinaram o termo de adesão. Dados do governo mostram que a criação e manutenção de unidades de conservação, onde estão 9% da água captada para consumo humano, impediram a emissão de 2,8 bilhões de toneladas de carbono.

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Para participar do Programa de Apoio à Conservação Ambiental, é preciso que o responsável pela família beneficiada se cadastre. Atualmente, mais de oito mil famílias já e assinaram o termo de adesão; outras 10 mil já estão cadastradas e assinarão o termo até dezembro de 2011. Dados do governo mostram que a criação e manutenção de unidades de conservação, onde estão 9% da água captada para consumo humano, impediram a emissão de 2,8 bilhões de toneladas de carbono.

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No Teatro Amazonas, em Manaus, o pacto por um Brasil sem miséria

Nos sete estados do Norte, 56% da população mais pobre estão na área rural. No País, a meta do Brasil Sem Miséria é atender 16,2 milhões de pessoas (17% deles na Região Norte), com transferência de renda, acesso a serviços públicos nas áreas de educação, saúde, assistência social, saneamento e energia elétrica, e inclusão produtiva.

EXPRESSO VAMOS + LONGE POR VOCÊ ! 16 REVISTA AMAZÔNIA

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6

Energia uma divisĂŁo do IQPC

Hydro

casos

prĂĄticos

Environment nvironment FĂłrum

FĂłrum de GestĂŁo de Impactos e Custos Ambientais em HidrelĂŠtricas 07 e 08 de dezembro de 2011 | Blue Tree Premium Paulista | SĂŁo Paulo

t &OUFOEB DPNP reduzir falhas OPT FTUVEPT EF JNQBDUP BNCJFOUBM t $POIFĂŽB B FYQFSJĂ?ODJB EBT QSJODJQBJT FNQSFTBT EP QBĂ“T FN gestĂŁo de reservatĂłrios t $PNQSFFOEB PT QSJODJQBJT SJTDPT F JNQMJDBĂŽĂœFT EBT usinas a fio d´agua t 4BJCB DPNP reduzir os custos ambientais EF FNQSFFOEJNFOUPT IJESFMĂ?USJDPT

PALESTRANTES CONFIRMADOS: CETESB IBAMA EPE ďšť EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA SENADO FEDERAL DUKE ENERGY FURNAS CAMARGO CORRĂŠA ďšť ENGENHARIA E CONSTRUĂ‡ĂƒO

WORKSHOPS PRÉCONFERÊNCIA:

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Elaboração de EIA/RIMA: Entenda como reduzir falhas e aumentar a confiabilidade dos estudos a fim de atender as exigências dos órgãos ambientais

CBDB ďšť COMITĂŠ BRASILEIRO DE BARRAGENS REDE ENERGIA AES TIETĂŠ

B

Desafios Ambientais e Segurança na Implantação e Operação de Barragens

CEMIG CESP

Keynote Speakers: Ana Cristina Pasini da Costa Diretora de Avaliação de Impacto Ambiental CETESB Thomaz Miazaki de Toledo Coordenador de Energia HidrelÊtrica e Transposiçþes IBAMA

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21.09.11 15:05:01


por

Celso von Randow *

Amazalert O futuro da Amazônia Um projeto de pesquisa sobre os impactos das mudanças climáticas e mudanças do uso da terra na Amazônia

O

projeto AMAZALERT tem o potencial de fornecer aos tomadores de decisões políticas brasileiros informações e conhecimento científico para aprimorar as políticas atuais e delinear novas opções. É um exemplo de cooperação entre a União Européia e o Brasil e um enriquecimento das trocas de conhecimento científico e tecnológico entre a América do Sul e a União Européia.

O projeto pode auxiliar na provisão de uma nova visão econômica para a Amazônia e um novo paradigma de desenvolvimento sustentável não apenas para a Amazônia mas também para outras regiões de florestas tropicais. Um novo paradigma de desenvolvimento, fortemente baseado em ciência e tecnologia, poderia por exemplo incluir elementos como: * sistemas de comunicações em toda a Amazônia baseadas em satélites * um grande parque tecnológico que possa incubar novas indústrias que agreguem valor a diversos recursos ambientais da região * usos racionais dos abundantes recursos naturais renováveis e da biodiversidade, reconhecendo que estes

podem mesmo ser a grande alavanca para o desenvolvimento. Durante a reunião inaugural do projeto, que ocorreu nos dias 03 a 05 de outubro, na sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos, os cientistas do projeto delinearam as atividades de pesquisas que serão executadas nos próximos 3 anos, e iniciaram o debate sobre quais possíveis cenários podem ser avaliados em cooperação com pessoas intervenientes e tomadores de decisões (“stakeholders”) da região. Ao longo do projeto, os cientistas vão avaliar possíveis direcionamentos de políticas e programas que sejam mais efetivas em trazer desenvolvimento sustentável. Representantes de vários grupos de stakeholders serão

Na reuniao de lançamento do projeto Amazalert, da esquerda para a direita: Dr. Marco Antonio Chamon, representando o diretor do INPE, dr. Carlos Nobre, Secretario de Politicas e Programas do Ministerio de Ciencia, Tecnologia e Inovação, e dr Bart Kruijt, coordenador do projeto AMAZALERT

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Dois principais aspectos positivos sobre o projeto AMAZALERT são: • Aprimoramento e integração de modelos computacionais detalhados da vegetação, ocorrência de queimadas, clima e hidrologia na Amazônia, • Incorporação de influências socioeconômicas e visão de desenvolvimento em modelo de uso e cobertura da terra. Durante a reunião, diversos participantes discutiram sobre como interligar os estudos do sistema climático global, projeções de mudanças de uso e cobertura da terra na Amazonia e hidrologia, com o objetivo de delinear um sistema de alertas

contatados para dar a opinião tanto em relação aos cenários quanto para informar quais serviços ambientais da Amazônia são importantes a eles. Os “serviços ambientais” da Amazônia podem ser pensados como relacionados a alguns grupos principais: serviços de regulação do clima local e global, preservação da biodiversidade, fornecimento de água, alimentação, suprimento de nutrição e fibras, energia, transporte, habitação, serviços de recreação, etc. A produção agrícola ou execução de caça ou pesca na região pode ser direcionada para uso da população local, por exemplo, ou para exportação para outros mercados. Uma das principais questões científicas atuais sobre a Amazônia é saber até que extensão - e em que localidades - as florestas tropicais úmidas podem se degradar e ser substituídas por florestas com características mais secas, de Cerrado ou savanas. A ocorrência de queimadas exerce um papel fundamental nesta possível degradação, e, uma vez que uma determinada área é degradada, os processos naturais de regeneração de florestas podem não ser capazes de recuperar totalmente a vegetação e biodiversidade. A umidade do solo, por sua vez, é um fator chave para determinar que tipo de vegetação pode se estabelecer e portanto pode formar um dos principais indicadores para integrar um sistema de alertas de perdas iminentes de alguns importantes serviços ambientais.

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[*] Pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

Dr. Carlos Nobre, Secretario de Politicas e Programas do Ministerio de Ciencia, Tecnologia e Inovação

Destaques e aspectos positivos O AMAZALERT entende que a Amazônia consiste não só de florestas, mas também de suas águas, de sua sociedade e de sua economia. Todos esses aspectos são integrados e respondem aos sistemas naturais e socioeconômicos de escala maior. O projeto tem, portanto, uma abordagem integrada e holística. Os membros da equipe têm acesso direto aos tomadores de decisão de alto nível com responsabilidades para a região amazônica, às ONGs importantes e aos principais intervenientes da comunidade internacional. O conhecimento e as perspectivas dos participantes irão: orientar o programa de trabalho; garantir a usabilidade dos resultados, e promover a adoção de meios promissores para garantir disponibilidade contínua dos principais serviços dos ecossistemas.

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por

Imp CEBDS

Sustentável 2011 destaca os desafios e as oportunidades

para o Brasil se tornar uma liderança do cenário global da Sustentabilidade Foto: Ismar Ingber e Publius Vergilius

O

4º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável. O Sustentável 2011, realizado no Rio de Janeiro, no Píer Mauá, reuniu recentemente, mais de 50 especialistas mundiais, mil participantes entre representantes de empresas, Ongs e sociedade civil em palestras e oficinas que debateram os principais temas do desenvolvimento sustentável como economia verde, energia, desenvolvimento humano, consumo e mobilidade. Organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o evento foi um aquecimento para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontece em junho de 2012, e uma oportunidade para reunir as propostas do empresariado brasileiro para o tema. Como declarou a presidente do CEBDS, Marina Grossi: “Conseguimos reunir em torno do tema as maiores empresas do País, bem como a sociedade civil, em uma reflexão ampliada que subsidiará a posição do Brasil para a Rio+20. Tenho a certeza que este pequeno ciclo – entre o Sustentável 2011 e a Rio +20 – deixará um legado bastante

Sônia Bridi, mediadora do evento, na cerimônia de aber20 AMAZÔNIA 2011 turaREVISTA do Sustentável

relevante para a agenda do desenvolvimento sustentável brasileiro e mundial nos próximos anos, avaliou. O Presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, esteve presente na abertura do evento. “A Petrobras é uma empresa integrada de energia. Nós atuamos em várias áreas e acreditamos fortemente na ideia de que podemos trabalhar para uma maior eficiência energética”. Na plenária de abertura, junto com Gabrielli e Marina Grossi estiveram presentes o vice-prefeito e secretário municipal de Meio-Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz; o Secretário Assistente e diretor executivo da ONU para Rio +20, Brice Lalonde; o subdiretor geral do Ministério do Meio Ambiente da Holanda, Hugo B. von Meijenfeldt; o diretor do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), Peter Paul Van Wijs; a secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Samyra Crespo; o CEO da Phillips e Chairman do CEBDS, Marcus Bicudo e a jornalista Sônia Bridi como moderadora. O Diretor Executivo da ONU para Rio +20, Brice Lalonde, enfatizou que o Brasil tem o papel de liderança no cenário global da Sustentabilidade. “O País deve aproveitar o fantástico momento que está vivendo e dar nova direção para as questões sustentáveis”. O Subdiretor geral no Ministério do Meio Ambiente da Holanda, Hugo Von Meijenfeldt acredita que é importante, como membro do governo, ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre sustentabilidade. O Ministro falou que as empresas devem continuar pensando no lucro, mas de uma forma diferente, inclusive utilizando elementos da sustentabilidade. “É mais fácil reutilizar materiais do que procurar novos”, alertou. A Secretaria da Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, Samyra Crespo, destacou o processo brasileiro de engajamento na Rio +20. Para ela, existem três desafios a serem enfrentados: honrar o legado da Rio 92, superar o pessimismo sobre o contexto internacional e mobilizar o Brasil em torno do tema. Sobre a esfera internacional, Crespo acredita que as barreiras a serem superadas são a segurança climática, energética, alimentar, hídrica e paz. Durante a cerimônia, a Secretária falou sobre o grande otimismo sobre a vinda da conferência ao Brasil. “Temos boas experiências em projetos sustentáveis, agora é a hora e a vez do nosso desenvolvimento, e que ele seja sustentável”, comentou.

Rio de Janeiro no foco sustentável O vice-prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz, destacou os projetos de adaptação da cidade às mudanças climáticas. “Estamos em parceria com o Governo e com o CEBDS para o engajamento de ideias sustentáveis. Queremos mostrar com eventos como o Sustentável 2011 que podemos produzir novos conceitos, através de incentivos de todos”. Carlos Alberto afirmou ainda que para os próximos grandes eventos, Copa e Jogos Olímpicos Rio 2016, já espera contar com novos elementos sustentáveis na cidade. Na plenária Mudança de Valores e Nova Economia, a secretária Municipal da Fazenda do Rio de Janeiro e economista, Eduarda La Roque, destacou a melhoria do ambiente de negócios da cidade e afirmou que o Rio quer assumir o posto de capital verde mundial. “Precisamos de mudança de valores na nova economia. Para se tornar a capital verde do mundo, o Rio de Janeiro precisa estabelecer o foco no papel dos investidores, dos governos e o empoderamento do consumidor. Para isso, estamos elaborando o primeiro relatório GRI da cidade, onde teremos um rigoroso ajuste fiscal, um planejamento estratégico pensando no Rio em 2020, e sustentabilidade fiscal”, disse. Iniciativas sustentáveis do empresariado e perspectivas para a Rio+20 dão o tom do Sustentável 2011 A crescente participação do empresariado brasileiro na área da sustentabilidade e a necessidade de envolver todos os setores da sociedade para uma mudança cultural foram temas abordados em diferentes espaços do evento. Outra questão que fez parte do debate foi a necessidade de gerar um arcabouço legal que promova e dê escala às revistaamazonia.com.br


Marcus Bicudo, CEO Philips Brasil

ações de sustentabilidade. O presidente-executivo da Global Reporting Initiative (GRI), Ernst Ligteringen, também palestrante do sustentável 2011, destacou a importância das empresas se posicionarem como parte da solução das questões sustentáveis e não do problema. “As empresas brasileiras investem em questões sustentáveis, mas devemos mostrar o que está sendo feito. O Brasil tem que apresentar um relatório com dados reais, ou explicar por que não apresenta”, comentou. Para Marcos Bicudo, chairman do CEBDS e CEO da Phillips Brasil, a participação do empresariado em iniciativas de sustentabilidade aumentou nos últimos vinte anos. Durante a Rio92 apenas um empresário do setor privado teve participação ativa na Conferência da ONU. “No momento atual temos uma maior participação no processo e iremos levar exemplos de ações já implementadas e compromissos para os próximos anos a serem apresentados na Rio+20. Hoje, por exemplo, o CEBDS conta com 64 empresas associadas, que já perceberam a importância de trazerem a sustentabilidade para os seus negócios”, garantiu o chairman. Outro consenso foi a necessidade de fortalecer a coalizão do empresariado nacional para promover mudanças práticas na maneira de gerar negócios. O Sustentável contou com a participação de 12 CEOs, o que , segundo Bicudo, demonstra o engajamento cada vez maior das lideranças acerca do assunto e influencia decisivamente o poder de transformação para uma realidade mais sustentável.

A presidente do CEBDS, Marina Grossi, completou que não só as empresas estão ganhando espaço na discussão, mas também todos os outros setores. “É necessário organizar a participação de todos os atores para darmos concretude ao tema”, avaliou. A Diretora e Representante do PNUMA para a América Latina e Caribe, Margarita Astralága, destacou ainda que as soluções sustentáveis foram encontradas e são conhecidas. A grande questão é como colocá-las em prática. Os esforços não devem ser concentrados só no meio ambiente, mas em elementoschave para o nosso futuro, para que o desenvolvimento seja sustentável com a participação de todos: governo, cidadãos, setores públicos e privados, ressaltou. O presidente do Instituto Ethos, Jorge Luiz Abrahão, enfatizou que ”o desafio não é somente da empresa, o governo também tem responsabilidade e a sociedade deve cobrar a postura de seus representantes”. O Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Antônio Herman Benjamin, também chamou a atenção para a necessidade de marcos legais para o desenvolvimento sustentável. Para ele este foi o motor ético da Conferência Eco 92, uma vez que não existiam leis que protegiam o meio ambiente e afirmou “que é necessário amarrar os debates às ferramentas legais, pois é fundamental deixar um marco legal que incorpore as diversas visões”.

Secretário assistente e diretor executivo da ONU para Rio +20, Brice Lalonde na abertura do Sustentável

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Marina Grossi, presidente-executiva do CEBDS e Marcos Bicudo, chairman do CEBDS e CEO da Philips Brasil

José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, esteve presente na abertura do evento

Vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz com José Gabrielli, Marina Grossi e Samyra Crespo ao fundo

REVISTA AMAZÔNIA 21


Open Space

No Open Space

Durante o Open Space

Nos três dias de evento, mais de 400 pessoas participaram do Open Space, um espaço para livre discussão de temas propostos pelos participantes do evento. Entre os principais temas, Mata Atlântica; Poluição dos Mares; Modelo de Negócios e Política; Brics e Sustentabilidade; O Poder das Redes Sociais; entre outros assuntos, foram discutidos pelos presentes. O Open Space contou com participações como a do Presidente da Fundação BrasiDa esq. para direita: Marcos Bicudo, chairman do CEBDS e CEO Philips Brasil; Marina Grossi, presidente-executiva do CEBDS ; Sônia Bridi, mediadora da abertura do Sustentável 2011; Samyra Crespo, secretária de articulação institucional e cidadania ambiental; Hugo Von Meijenfeldt, sub-diretor geral do Min. do Meio- Ambiente da Holanda; Carlos Alberto Muniz, vice-prefeito e secretário de Meio- Ambiente; José Sérgio Gabrielli, pres. da Petrobras

leira para o Desenvolvimento Sustentável, Israel Klabin, do surfista profissional Carlos Burle, do Líder da Área Costeira e Oceanógrafa de Engenharia da COPPE/UFRJ, Professor Paulo Cesar Rosman, entre outros.

Tendências de sustentabilidade para os próximos anos A última Plenária do Sustentável 2011 apresentou para o público as “Tendências para os próximos 40 anos”. A vice-presidente do CEBDS, Mariana Meirelles, moderou a apresentação em que Antônio Guimarães, CEO da Syngenta, falou sobre os riscos de escassez da produção agrícola para o futuro. O crescimento da população pode fazer com que os níveis de crescimento agrícola não suportem a demanda, o que provocaria o aumento das commodities. Para Guimarães, investimentos da indústria são neces-

sários para desenvolver produtos dentro dessa nova realidade, uma vez que com o aumento da população, a indústria terá o desafio de produzir o dobro. Segundo ele, outra meta a ser alcançada é manter um diálogo entre todos os setores. “O governo tem como papel incentivar e acelerar o desenvolvimento; o setor privado em investir sobre novas soluções sustentáveis; a sociedade com o consumo consciente”. Peter Paul, Diretor do World Business Council for Sustainble Developmente (WBCSD), também discutiu sobre o consumo consciente e falou sobre como cada setor pode ajudar com ideias e comprometimento em encarar as mudanças. Já o Co-presidente da Carta da Terra, Brendan Mackey, apresentou o que o planeta precisa. Entre os pontos, foram citados a proteção e cuidado ao meio ambiente, integridade ecológica, justiça social e econômica, democracia, não-violência e paz. Mackey também definiu os objetivos da economia verde como a integração de três Em uma das plenárias

Antonio Herman Benjamin, ministro do STJ, e Brice Lalonde

fatores: economia, sociedade, ecologia e ética. “As empresas precisam estar alinhadas a economia verde baseada em uma forte sustentabilidade”. O Co-presidente ainda encerrou a apresentação falando que as expectativas da comunidade estão crescendo junto com os valores propostos pela Carta da Terra. O Sustentável 2011 vai deixar como uma de suas contribuições a versão brasileira do relatório Visão 2050, do-

Espaço Aberto, entrada do evento 22 REVISTA AMAZÔNIA

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Oficina Fechada do Visão 2050 Brasil

cumento originalmente elaborado pelo World Business Council for Sustainable Development (WBSCD), que o CEBDS está “tropicalizando” e será entregue à presidente Dilma Roussef, no próximo ano, com as principais propostas das empresas para a conferência da ONU.

A “tropicalização” do Visão 2050 O Visão 2050 é considerado um dos mais importantes documentos já lançados sobre o futuro da sustentabilidade e tem inspirado o planejamento estratégico de inú-

Margaria Astrálaga, Diretora regional do PNUMA para América Latina e Caribe, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

meras empresas em todo o mundo. O relatório aponta o caminho para um mundo sustentável em 2050 e foi elaborado com base em debates realizados com cerca de 200 representantes de empresas, governos e especialis-

Oficina Fechada

tas de quase 20 países, entre eles o Brasil. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) percebeu a oportunidade de adaptar as análises e recomendações do documento para a realidade do Brasil, o que está chamando de “tropicalização”. O documento original expõe uma visão global mas cada país tem as suas peculiaridades, seus desafios e suas oportunidades. Um exemplo bem significativo: o relatório global aponta como cenário ideal que o planeta chegue a 2050 utilizando uma matriz energética composta por 50% de fontes renováveis. No Brasil de hoje, já temos uma matriz de mais de 45% de energia renovável, no entanto existem desafios que o país precisa enfrentar, como a erradicação da pobreza e o saneamento básico. Durante o Sustentável 2011, empresas, poder público e

Peter Paul van de Wijs, diretor do WBCSD, durante a Terceira Plenária Afrolata encerra o Sustentável 2011 que reuniu 900 participantes

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sociedade civil se reuniram com o intuito de contribuir para a criação dessa agenda comum da sustentabilidade no Brasil. Foram, realizadas 9 oficinas, que reuniram cerca de 500 especialistas, para debaterem os pilares que construirão o Visão 2050 Brasil, com os temas: Valores das pessoas, Desenvolvimento Humano, Economia, Agricultura, Biodiversidade, Energia e Eletricidade, Edifícios, Mobilidade e Consumo e Insumos. As contribuições realizadas durante o Sustentável 2011 estão sendo compiladas e vão ser discutidas por um Conselho Consultivo, formado por especialistas renomados nos nove temas do Visão, e depois validadas pelas empresas para serem entregues em 2012. O próximo Sustentável acontecerá em maio de 2012, também no Rio de Janeiro, um mês antes da Conferência da ONU Rio+20. REVISTA AMAZÔNIA 23


por

Josias Matos de Araujo *

Estamos numa região onde cerca de 24 milhões de brasileiros se orgulham de serem guardiões da maior biodiversidade do planeta. Um patrimônio mundial, mas antes de tudo, brasileiro

Amazônia e Sustentabilidade Foto: Marcello Casal Jr./ABr; Rony Ramos/Eletrobras Eletronorte; Valter Campanato/ABr

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ara nós da Eletrobras Eletronorte, falar da Amazônia é como falar da nossa cidade, do nosso bairro e, porque não, da nossa casa. Não chegamos aqui por acaso. Uma decisão estratégica para ocupar uma região até então marcada pela ausência do Estado nos deu a missão de contribuir para gerar desenvolvimento, preservar as fronteiras e garantir qualidade de vida para os moradores da Amazônia. Ao longo dos anos fizemos questão de ser aprendizes das leis da floresta. Ela nos disse onde poderíamos gerar energia, onde deveríamos passar as linhas de transmissão ou onde investir em programas específicos de mitigação de impactos ambientais. Hoje a energia que geramos na Amazônia chega a todos os cantos do País por meio do Sistema Interligado Nacional. Deixamos para trás a escuridão a que Belém se submetia quase que rotineiramente e contribuímos para que a indústria se desenvolvesse fora do eixo SulSudeste. Mais do que energia, levamos mais qualidade de vida para quem vive na Amazônia. Mesmo nos chamados Sistemas Isolados, onde gerar energia e abastecer as comunidades é um desafio, mantivemos nosso compromisso com a região. Assim como os rios que estudamos para cada aproveitamento hidrelétrico, aprendemos a trilhar os caminhos da floresta por meio do conhecimento. Aliamos nossos estudos ao chamado saber da floresta, aos centros de pesquisa da região e investimos no trabalho de pesquisadores que conhecem a Amazônia e sabem que é

preciso entendê-la para preservá-la. Temos orgulho de desenvolver ações como os programas Parakanã, no Pará, e Waimiri Atroari, no Amazonas, reconhecidos internacionalmente pela valorização da cultura, respeito às tradições e autonomia das comunidades indígenas. Há 20 anos essas etnias rumavam para a extinção e, depois da implantação dos programas, recuperaram não só suas

terras e sua dignidade, como também sua autonomia. Em parceria com essas comunidades, preservamos milhões de quilômetros quadrados de floresta, como é o caso do Corredor Ecológico da Amazônia Central, caracterizado pela alta diversidade biológica e sociocultural. Com 24 milhões de habitantes, a Amazônia mostra, a cada dia, que pode ser exemplo de desenvolvimento sus-

Fonte: ONS 24 REVISTA AMAZÔNIA

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tentável para o mundo. Cerca de 60% do potencial hidrelétrico do País está na região e precisamos saber usar essa capacidade. Por isso nossos estudos reúnem especialistas em engenharia, meio ambiente, antropologia, geólogos, pesquisadores, indigenistas e, mais do que isso, ouvimos as comunidades. São dezenas de audiências públicas em que as pessoas participam das discussões. Hoje a Eletrobras Eletronorte gera mais de 9,7 mil megawatts e contribui com 10 mil quilômetros de linhas de transmissão e 53 subestações para levar a energia de nossos empreendimentos a todo o Brasil. Temos sede no Distrito Federal e unidades nos nove estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Nosso parque gerador conta com quatro hidrelétricas: Tucuruí (PA) - a maior usina genuinamente brasileira e a quarta do mundo - Coaracy Nunes (AP), Samuel (RO) e Curuá-Una (PA), além de parques termelétricos. E toda nossa história foi um aprendizado com a floresta. Aprendemos que respeito ao meio ambiente e parceria com as comunidades são pilares do desenvolvimento sustentável. Não por acaso somos pioneiros em programas como o Navega Pará, por meio do qual milhares de paraenses tiveram acesso à internet que passa pela nossa rede de fibra ótica, ou o Banco de Germoplasma de Tucuruí, onde são produzidas sementes de espécies nativas da Amazônia para reflorestamento. Somos uma das 20 empresas mais inovadoras do Brasil, segundo a revista Época Negócios, num levantamento feito em parceria com a consultoria A.T. Kearney, que promove o prêmio Best Innovator em 15 países europeus

Josias Matos de Araujo

e nos Estados Unidos. Com universidades e centros de pesquisa da região, aprendemos que a Amazônia não é problema, e sim solução. Em mais um projeto de incentivo à produção sustentável, apostamos em ações de formação e de educação ambiental. Apesar do modelo do Setor Elétrico permitir que atuemos em qualquer região do Brasil, nossa história e o conhecimento das nossas equipes – boa parte formada por amazônidas – nos permite dizer que não somos visita na Amazônia. Estamos numa região onde cerca de 24 milhões de brasileiros se orgulham de serem guardiões

da maior biodiversidade do planeta. Um patrimônio mundial, mas antes de tudo, brasileiro. Para manter uma floresta como essa em pé, precisamos de alternativas de trabalho e renda que mantenham as pessoas na região e possam ter com ela uma parceria para sobrevivência com dignidade, qualidade de vida e cidadania. Nossa missão é atuar nos mercados de energia de forma integrada, rentável e sustentável. E levamos isso muito a sério. Por isso respeitamos e acreditamos nas pessoas que, todos os dias, lembram ao mundo que a Amazônia é um lugar de verdade. Como uma das maiores empresas do Setor, temos foco em resultados, empreendedorismo e inovação, valorização e comprometimento das pessoas, ética e transparência. Por tudo isso, atuar na Amazônia é, sobretudo, uma grande responsabilidade. Hoje temos orgulho de mostrar a recuperação de 97% das áreas impactadas durante a construção de Tucuruí. E tudo isso com espécies nativas da região. Ao contrário do que diziam, os peixes não foram embora. Pelo contrário, hoje mais de dez mil pescadores produzem seis mil toneladas de pescados por ano com apoio e orientação do Programa de Pesca e Ictiofauna. E quando falamos em meio ambiente é preciso lembrar que estão incluídas nesse conceito as pessoas. No entorno do reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí, no Pará, ações do Plano de Inserção Regional, o Pirtuc, resultaram na abertura de mais de sete mil vagas no ensino fundamental. O programa desenvolve ações compensatórias e estruturantes nos municípios de Breu Branco, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Goianésia do Pará, ItupiHoje a Eletrobras Eletronorte gera mais de 9,7 mil megawatts

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REVISTA AMAZÔNIA 25


Temos orgulho de desenvolver ações reconhecidas internacionalmente pela valorização da cultura, respeito às tradições e autonomia das comunidades indígenas, como os programas Parakanã, no Pará, e Waimiri Atroari, no Amazonas (na foto)

Centro de Tecnologia da Eletrobras Eletronorte, em Belém

Em junho deste ano, a Semana Eletrobras Eletronorte do Conhecimento e Inovação – SECI reuniu centenas de pesquisadores em Belém

No Banco de Germoplasma são produzidas sementes de espécies nativas da Amazônia para reflorestamento

A Empresa investe em pesquisa e inovação por meio de parcerias e da valorização das pessoas

Além de monitorar a qualidade da água dos reservatórios, as coletas e análises subsidiam novas pesquisas 26 REVISTA AMAZÔNIA

ranga, Jacundá e Tucuruí. As obras são definidas por um conselho gestor formado por 21 entidades da sociedade civil, representantes das sete prefeituras e órgãos da administração estadual e federal. Além do Pirtuc temos o Plano Popular de Desenvolvimento Sustentável da Região a Jusante da Usina Hidrelétrica Tucuruí - PPDJUS. Exemplo do pioneirismo da Eletrobras Eletronorte, primeira empresa do Setor Elétrico a reconhecer impactos socioambientais a jusante de uma hidrelétrica, o PPDJUS beneficia os municípios de Cametá, Baião, Mocajuba, Limoeiro do Ajarú e Igarapé-Mirim. O PPDJUS também tem suas ações definidas por um conselho gestor, do qual participam instituições de ensino e pesquisa, governos municipal, estadual

Coleta de sementes para o Banco de Germoplasma revistaamazonia.com.br


Primeira Turma de Formandos do Campus da UFPA, em Tucuruí

e federal, movimentos sociais e a Empresa. Juntos, esses programas prevêem investimentos de R$ 360 milhões em projetos de saúde pública, educação, meio ambiente, desenvolvimento urbano e agricultura familiar ao longo de 20 anos. Além disso, os royalties pagos aos municípios como compensação pelo aproveitamento de seus recursos naturais representam uma parcela significativa do orçamento dos municípios. Em 2009, as quatro usinas hidrelétricas da Eletrobras Eletronorte pagaram R$ 64,3 milhões em compensação financeira pela utilização de recursos hídricos, R$ 8,7 milhões a mais do que ano anterior. Os recursos são repartidos entre entidades da União, estados e municípios que hospedam os reservatórios. Porque conhecemos e nos orgulhamos da responsabilidade de atuar na Amazônia é que fazemos a diferença. Tanto quanto gerar energia, é importante para nós realizar a formatura da primeira turma de engenheiros em Tucuruí, por meio de parceria com a Universidade Federal do Pará. Tanto quanto transmitir energia, é importante levar energia para uma televisão e um chuveiro quente para comunidades isoladas no meio da floresta. Tanto quando ter foco em resultados, é essencial que tenhamos foco na vida. Por isso caminhamos junto com a Amazônia, e não contra a correnteza de seus rios. Quando vemos o trabalho de pessoas daqui, como simboliza a Revista Amazônia, temos ainda mais certeza de que estamos no caminho certo. Valorizar nossa cultura, nossas florestas, nossa gente, nossos recursos naturais, são compromissos que compartilhamos com os 24 milhões de amazônidas. E queremos que parceria, compromisso e respeito sejam as palavras de referência na Amazônia que surge como exemplo de que o desenvolvimento sustentável pode, e deve ser, uma realidade para todos. [*] Diretor-presidente da Eletrobras Eletronorte revistaamazonia.com.br

Usina Hidrelétrica de Tucuruí - Rio Tocantins, a maior usina genuinamente brasileira e a quarta do mundo

Criada em 1984, a ‘torre raquete’ foi uma das inovações da Eletrobras Eletronorte. Hoje são 8.489 estruturas do tipo em 3.702 quilômetros de linhas de transmissão

REVISTA AMAZÔNIA 27


Eduardo Leite, diretor de publicidade da Editora Globo com os premiados da Eletronorte: Josias Matos de Araujo, diretor-presidente e Wady Charone Junior, diretor de operações

Eletrobras Eletronorte, uma das empresas mais inovadoras do Brasil

P

ela terceira vez consecutiva a Eletrobras Eletronorte recebeu o prêmio “As Empresas mais Inovadoras do Brasil 2011”, promovido pela revista Época Negócios e a Editora Globo, em parceria com a AT Kearney Consultores, recentemente, no auditório da Editora Globo, em São Paulo. Logo na abertura da cerimônia, David Cohen, diretor de redação da Época Negócios, afirmou que ao inovar as empresas fogem da comoditização. “Por definição, inovar é fazer diferente dos outros. A forma mais barata de crescer é inovando”. Para Cohen, as empresas vencedoras são exemplo de inovação para gestores de todo o Brasil. “Conquistamos isso graças a uma força de trabalho apaixonada e motivada por uma política de inovação pautada pela valorização de ideias. Depois de competir com as 100 candidatas e ficar entre as 28 finalistas, recebemos a visita da equipe técnica da consultoria A.T. Kearney para mostrar nossa evolução em vários aspectos das quatro dimensões da inovação consideradas para a classificação: estratégia; organização e cultura; processos, estrutura e suporte; e resultado da inovação”, explica o diretor-presidente da Eletrobras Eletronorte, Josias Matos de Araujo. “Temos estimulado um processo de desenvolvimento das habilidades de cada um. Já vemos muita gente ‘saindo do seu quadrado’ e imaginando o que ninguém pensou. Estamos sistematizando um processo que consolida um looping infinito de melhorias”, afirma o diretor de Operação da Eletrobras Eletronorte, Wady Charone Junior. “Este prêmio representa o reconhecimento cada vez maior da nossa Diretoria de que a inovação é uma questão de ordem. Ou inovamos ou perecemos”, disse Neusa Lobato, superintendente de Gestão da 28 REVISTA AMAZÔNIA

Inovação Tecnológica e Eficiência Energética. Além dos investimentos em inovação tecnológica, a Eletrobras Eletronorte aposta no reconhecimento dos seus talentos. O Prêmio Muiraquitã de Inovação Tecnológica, por exemplo, incentiva a força de trabalho a realizar melhorias e inovações nos seus produtos e processos, alcançando uma dimensão econômica capaz de trazer retorno financeiro para a Empresa. Amuleto que guarda lendas e sorte na Amazônia, o Muiraquitã representa uma conquista para os chamados ‘inventores e inventoras da Casa’. Os contemplados, além dos respectivos troféus, recebem uma bonificação financeira. Até agora já foram premiadas 90 inovações, 45 projetos e 254 pessoas. Em 1999 a Empresa tinha um pedido de depósito de patente, duas marcas arquivadas e um contrato de transferência. Hoje o cenário é outro: são 94 projetos concluídos, 111 produtos, 31 soluções e 90 inovações de colaboradores nas plantas e, em seis anos, o número de pedidos passou de um para 39, o que deixa a Eletrobras Eletronorte como a segunda empresa energética em número de pedidos de patentes. Com o Prêmio Muiraquitã, a Empresa transformou um investimento de R$ 600 mil reais em premiações numa economia de R$ 84 milhões. revistaamazonia.com.br


ABSOLUTO - ANÚNCIO - 20,5X27 - FÓRUM NACIONAL DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA 2011.pdf 1 20/09/2011 23:13:53

2a Edição

NOVIDADES

9

22 a 24 de novembro de 2011

ESTUDOS DE CASO INÉDITOS DE GRANDES CONSUMIDORES

FÓRUM NACIONAL

DE COMERCIALIZAÇÃO

DE ENERG A 2011

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Conheça, por meio de cases consolidados e empresas de projeção, as tendências e perspectivas de preços, expansão do mercado livre, regras para migração, venda de excedentes, renovação de concessões, leilões e cenário macro-econômico para 2012

ABORDAGEM DO PROJETO BRIX: UMA NOVA ALTERNATIVA PARA O MERCADO LIVRE

RAZÕES PARA PARTICIPAR DO MAIOR EVENTO PARA CONSUMIDORES LIVRES NO BRASIL:

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REVISTA AMAZÔNIA 29


TerraClass: Áreas degradadas na

Amazônia serão prioridade

Áreas desmatadas podem ser usadas para produção Foto: Jefferson Rudy/MMA, Sílivo Ávila (MAA)

O

s resultados do projeto TerraClass, que mapeou e classificou a cobertura das áreas desflorestadas da Amazônia, vão ajudar na elaboração de projetos mais eficazes para a recuperação de áreas degradadas. O mapeamento, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cobriu os 18% do bioma Amazônico que já estão desmatados, gerando uma classificação dos diversos usos e situações, em cada um dos nove estados da região. As análises foram feitas a partir de informações resultantes do levantamento detalhado do desflorestamento ocorrido até 2008, obtidas pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), do Inpe.

tema em quatro milhões de hectares e evitar que entre 18 e 22 milhões de toneladas de CO2 equivalentes sejam liberadas. Além disso, o plantio de eucalipto e de pinus proporciona renda futura para o produtor e reduz a emissão de carbono por meio de captura e emissão de oxigênio pelas árvores. O governo espera aumentar a área de seis milhões de hectares para nove milhões.

mais forte que a do CO2 no agravamento do efeito estufa. Por isso, a fixação biológica de nitrogênio é uma das prioridades do programa ABC, que prevê aplicar a técnica de captar o nitrogênio do ar com bactérias em 5,5 milhões de hectares e reduzir a emissão de 10 milhões de toneladas de CO2 equivalentes.

Fixação biológica do nitrogênio

O tratamento de resíduos animais, previsto no Programa ABC, visa aproveitar os dejetos de animais para a produção de energia (gás) e de composto orgânico. O objetivo é tratar 4,4 milhões de metros cúbicos de resíduos da suinocultura e outras atividades, deixando de lançar 6,9 milhões de toneladas de CO2 equivalentes na atmosfera.

O nitrogênio, nutriente essencial para a produtividade da agricultura, é a causa da maior parte das emissões do setor globalmente. De acordo com os dados mais recentes sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE), a atividade agropecuária contribuiu com 13,8% do total emitido em 2005 (WRI, 2009). O óxido nitroso (N2O) responde por cerca de 45% das emissões do setor e a intensidade do N2O é 298 vezes

Metano

Projeto TerraClass Os resultados do projeto TerraClass, que mapeou e classificou a cobertura das áreas desflorestadas da Amazônia, vão ajudar na elaboração de projetos mais eficazes para

Tecnologia muda padrão histórico A expansão da agricultura no Brasil, historicamente, gera um rastro de área degradada, deixada para trás quando o solo deixa de ser rentável. Uma das vertentes do ABC é transformar essas terras empobrecidas em áreas produtivas para a produção de alimentos, fibras, carne e madeira. A pesquisa brasileira tem a tecnologia para tornar essa meta possível e rentável, porém, precisa ser mais difundida. A meta do ABC é recuperar 15 milhões de hectares e reduzir as emissões entre 83 e 104 milhões de toneladas de CO2 equivalentes. Na região amazônica, bem como outros biomas, pesquisadores brasileiros desenvolveram métodos de integração entre a lavoura, a pecuária e a floresta. O sistema tem vantagens em relação ao cultivo tradicional e busca alternar pastagem com agricultura e floresta em uma mesma área. Isso recupera o solo, incrementa a renda e gera empregos. A meta é aumentar a utilização do sis30 REVISTA AMAZÔNIA

Ministra Izabella Teixeira, Ministro Aloizio Mercadante e o Secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Erikson Camargo Chandoha, durante lançamento do Projeto TERRACLASS revistaamazonia.com.br


biente, Izabella Teixeira, e do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante. O Projeto TerraClass identificou, por meio de imagens de satélites, as áreas desmatadas e classificou as coberturas presentes na região – Pasto Limpo, Vegetação Secundária, Pasto Sujo, Regeneração com Pasto, Agricultura Anual, Agropecuária, Área Urbana, Mineração e Pasto com Solo Exposto. Com um custo de R$ 600 mil, as pesquisas contaram com apoio do Ministério do Meio Ambiente, por meio do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), financiado pelos sete países mais ricos do mundo, mais a Holanda e a Comissão Europeia, com gestão do Banco Mundial. Durante lançamento do Projeto TERRACLASS

O gráfico a seguir apresenta a distribuição percentual das classes temáticas mapeadas pelo TerraClass:

a recuperação de áreas degradadas. A avaliação é do secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Erikson Chandoha. O secretário representou o mnistro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, na cerimônia de apresentação do projeto, no Palácio do Planalto. O evento contou ainda com a presença da ministra do Meio Am-

Associação de pastagens com reflorestamento comercial aumentam a renda do produtor e permite a recuperação de área degradada

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Mapa da Amazônia Legal mostra o que ocorreu com a floresta desmatada até 2008

Áreas identificadas Das áreas identificadas, 62% são pastagens; 21%, vegetação secundária; 3,4%, ocupações; 4,9%, agricultura; 0,5%, área urbana; 6,3%, não foram identificados e os restantes 2% dividem-se entre desflorestamento, mineração e outros. O trabalho vai permitir um melhor aproveitamento do potencial produtivo dessas áreas e reduzir a pressão sobre a floresta.

Degradação

A figura abaixo apresenta a distribuição das classes temáticas por estado:

De toda a área mapeada, menos de 1% está em um nível de extrema degradação, o que provou a resistência do solo e sua capacidade de regeneração. Com base nos dados levantados, a expectativa da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo é utilizar recursos do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) também no bioma amazônico. O programa oferece crédito em condições favorecidas para a adoção de práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis. “Podemos

O projeto TerraClass restringiu-se a qualificar os 707.752,35 km² de desflorestamento acumulado até o ano de 2007, mapeados pelo PRODES, considerando as onze classes temáticas apresentadas anteriormente

Áreas identificadas no Projeto TerraClass Olhem como se faz … 32 REVISTA AMAZÔNIA

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Resultados inéditos sobre florestas e uso da terra na Amazônia mostram que a agricultura é responsável por 4,9% do desmatamento. Mais de 60% das matas foram derrubadas para a formação de pastagens. As áreas degradadas representam apenas 0,1%. Além disso, 21% são de vegetação secundária, o que significa processo avançado de regeneração. O estudo refina dados já conhecidos, como a ocupação das pastagens dentro das áreas desmatadas. Até 2008, a floresta perdeu por desmatamento o total de 719. 210 km² (uma área quase três vezes o tamanho do estado de São Paulo). Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 70% do que foi desmatado na floresta foi destinado aos pastos. Entretanto, o levantamento aponta que essas áreas correspondem a 62,2%, entre pastos limpos, pastos sujos e pastagens abandonadas.

70% do que foi desmatado na floresta foi destinado aos pastos

Os dados do PRODES para a Amazônia Legal apresentaram 3.214.300.37 km² de cobertura de floresta, 707.752,35 km² de desflorestamento acumulado até o ano de 2007, 11.458,64 km² em extensão de desflorestamento para o ano de 2008, 114.938,01 km² de hidrografia e 953.262,50 km² de áreas denominadas como não floresta.

0,3% 2,8% 17,5% PRODES 2008 Domínio de Floresta Tropical Floresta Desflorestamento acumulado

Desflorestamento 2008

Os resultados oriundos da quantificação das classes mapeadas pelo Terraclass são apresentados na tabela abaixo TOTAL

FREQUÊNCIA

FREQUÊNCIA ACUMULADA

Pasto Limpo

335.714,94

46,7%

46,7%

Vegetação Secundária

150.815,31

21,0%

67,6%

Pasto Sujo

62.823,75

8,7%

76,4%

Regeneração com Pasto

48.027,37

6,7%

83,1%

Área Não Observada

45.406,27

6,3%

89,4%

Agricultura Anual

34.927,24

4,9%

94,2%

Mosaico de Ocupações

24.416,57

3,4%

97,6%

3.818,14

0,5%

98,2%

730,68

0,1%

98,3%

Pasto com Solo Exposto

594,19

0,1%

98,3%

Outros

477,88

0,1%

98,4%

11.458,64

1,6%

100,0%

CLASSE

Área Urbana Mineração

Desflorestamentos 2008 TOTAL (Km2) revistaamazonia.com.br O gráfico a seguir

79,4%

Hidrografia

colaborar com a região, aplicando recursos já existentes e de alta tecnologia na evolução do Sistema Agropecuário”, explicou Chandoha.

Agricultura sustentável O mapeamento mostrou que apenas 5% da região foram degradados pela agricultura, o que aponta o avanço da agricultura sustentável. “Temos condições de aumentar a produtividade das áreas que já são desflorestadas, isso significa que não precisamos desmatar mais nenhum hectare para produzir”.

719.210,99

apresenta a distribuição percentual das classes temáticas mapeadas pelo TerraClass:

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Bambu vai erradicar pobreza

P

arte dos 80,25 milhões de hectares das terras produtivas ocupadas pelos 4,3 milhões de imóveis rurais de agricultores familiares, segundo Censo do IBGE de 2006, poderá ser dedicada ao manejo sustentável e ao cultivo do bambu com apoio do governo. É o que diz a Lei do Bambu (Lei nº 12.484/2011) publicada recentemente em 09/9, no Diário Oficial da União (DOU), a qual institui a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu (PNMCB). A Lei do Bambu vai incentivar o manejo sustentável e o cultivo somente das espécies nativas e entre os agricultores familiares. Apesar de definir apenas as diretrizes gerais da política ainda a ser regulamentada, a nova lei é considerada um avanço histórico e o primeiro passo do governo federal no sentido de regulamentar a produção da gramínea nativa e de transformá-la em ativo ambiental para de-

senvolvimento socioeconômico regional, de forma que efetive o aumento de renda dos agricultores familiares e funcione como um dos mecanismos para erradicação da pobreza nesse segmento social. Com a lei, o governo federal vai incentivar a transformação dos bambus brasileiros em floresta capaz de gerar emprego, renda e até créditos de carbono.

Usos/espécies/variedades No Brasil há cerca de duzentas espécies de bambu que vão garantir essa revolução no campo. De acordo com a engenheira florestal e técnica especializada em manejo do Departamento de Florestas da Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) Cristiane Pinheiro, a gramínea favorece a agricultura familiar e as políticas públicas de conservação e de

preservação do meio ambiente porque é uma espécie de fácil propagação, cresce rápido, neutraliza carbono, oferece simples manuseio e, além de servir como matéria prima para a indústria moveleira e a construção civil, ela compõe também a indústria alimentícia. A grande variedade de utilidades do bambu e suas potencialidades econômicas, sociais e ambientais foram as principais justificativas para a criação dessa política. “Acredita-se que o incentivo da cultura do bambu possa ser um instrumento importante para redução de desigualdades sociais e aumento no setor agrícola, em especial entre os agricultores familiares”, afirma Cristiane. Contudo, segundo ela, seu cultivo precisa de manejo sustentável porque, em virtude da fácil propagação, ela pode se tornar uma praga e ameaçar a vegetação natural das regiões. O agricultor familiar que enveredar pelo cultivo e manejo

De fácil propagação, cresce rápido, neutraliza carbono, oferece simples manuseio e, além de servir como matéria prima para a indústria moveleira e a construção civil, ela compõe também a indústria alimentícia

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Valorizando produtos artesanais, sustentáveis e brasileiros

Uma plantação de pinus leva sete anos para produzir 3.000 árvores, já o bambu precisa de três anos para produzir 10.000 árvores, no mesmo espaço, ainda dispensa o uso de pesticidas, não causa erosão e só requer água para crescer

sustentável do bambu poderá aumentar mais ainda a própria renda com a manufatura de sua produção. “Ele poderá não apenas plantar com o incentivo do governo, mas também produzir vários tipos de objetos e também alimentos com as varas do bambu. Desde uma cadeira, um biombo, um painel até estruturas para construção civil e brotos para a indústria alimentícia, tudo isso ele pode fabricar com essa vegetação”, explica a engenheira florestal. De acordo com as diretrizes definidas pela nova lei, o governo vai incentivar a produção de colmos, extração de brotos e obtenção de serviços ambientais, bem como à valorização desse ativo ambiental como instrumento de promoção de desenvolvimento socioeconômico regional. Deverá também valorizar o bambu como um produto agro-silvo-cultural e beneficiamento, em especial, nas regiões de maior ocorrência de estoques naturais da espécie. A lei determina também, dentre outras ações a ser regulamentadas por novas leis, os instrumentos da política e as competências, tais como o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico voltados para o manejo sustentado e cultivo, bem como à garantia de crédito rural para o agricultor familiar, o oferecimento de assistência técnica, a certeza da certificação, o estabelecimento

de parcerias, o estímulo ao comércio e o incentivo ao intercâmbio com instituições congêneres nacionais e internacionais. A Lei nº 12.484/2011 aprovada pela presidente da República, Dilma Rousseff, e assinada pelos ministros do Meio

Ambiente, Izabella Teixeira; da Fazenda, Guido Mantega; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Mendes Ribeiro Filho; e pelo ministro Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, é produto dos Projetos de Lei (PL) 326/2007 e do PL 1.180/2009 (da Câmara dos Deputados).

Um instrumento importante para redução de desigualdades sociais e aumento no setor agrícola, em especial entre os agricultores familiares

A Lei do Bambu vai incentivar o manejo sustentável e o cultivo somente das espécies nativas e entre os agricultores familiares

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Iniciado os trabalhos de articulação para a Rio+20 Brasil vai defender o desenvolvimento sustentável em conjunto com a erradicação da pobreza Foto: Antonio Cruz/ABr e Jefferson Rudy/MMA

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ealizou-se recentemente, no Palácio Itamaraty, a reunião de instalação da Comissão Nacional para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20. A reunião foi co-presidida pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Estiveram presentes ministros de Estado, senadores, autoridades do Governo Federal e da Prefeitura do Rio de Janeiro e representantes da sociedade civil. A Comissão Nacional, criada pelo Decreto 7.495, de 7 de junho de 2011, tem como objetivo promover a interlocução entre as diversas esferas de Governo e da sociedade civil com a finalidade de articular os eixos da participação do Brasil na Rio+20. É composta de órgãos da Administração Pública Federal, Estadual e Municipal, representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário, representantes do meio acadêmico, do empresariado, dos trabalhadores, de comunidades indígenas e tradicionais, de organizações não-governamentais e de movimentos sociais.

A Conferência será realizada de 28 de maio a 6 de junho de 2012, no Rio de Janeiro. Os dois temas estabelecidos pelas Nações Unidas são: * A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e * A governança internacional para o desenvolvimento sustentável. Para o Segmento de Alto Nível da Conferência (de 4 a 6 de junho), espera-se a presença de grande número de Chefes de Estado e de Governo dos países-membros das Nações Unidas. O evento será precedido pela última reunião do Comitê Preparatório, formado por representantes governamentais (28 a 30 de maio), e por uma série de 36 REVISTA AMAZÔNIA

A reunião foi co-presidida pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira

O Brasil deverá defender, na Rio + 20, o desenvolvimento sustentável em conjunto com a erradicação da pobreza, disse Izabella Teixeira

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o secretário executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, durante a reunião

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eventos temáticos com a participação da sociedade civil (31 de maio a 3 de junho). A proposta brasileira de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável foi aprovada pelos países-membros das Nações Unidas durante a 64ª Assembleia-Geral (2009-2010). Na qualidade de país-sede e presidente da Conferência, o Brasil poderá contribuir para a renovação do compromisso internacional com o legado da Rio-92, antecipando a agenda do desenvolvimento sustentável dos próximos anos. Cerca de 45 mil pessoas deverão estar envolvidas nas

Estiveram presentes ministros de Estado, senadores, autoridades do Governo Federal e da Prefeitura do Rio de Janeiro e representantes da sociedade civil

discussões e na organização da Rio+20. A conferência conta com o apoio e o comando da Organização das Nações Unidas (ONU). O secretário-geral do evento é o diplomata chinês Sha Zukang. A presidenta da conferência é Dilma Rousseff.

Rio+20 poderá gerar órgão mundial destinado à preservação do meio ambiente Autoridades de países que são alvos de críticas internacionais por causa da forma como tratam a preservação ambiental e o estímulo à economia verde, deverão participar da Conferência Rio+20, de 28 de maio a 6 de junho de 2012, na área do Porto do Rio de Janeiro. A expectativa, segundo os organizadores, é que a China, Índia e os Estados Unidos enviem emissários do primeiro escalão do governo para os debates. As discussões da cúpula poderão gerar a proposta de criação de um órgão específico internacional para a área ambiental. O órgão, em estudo, ficará subordinado à Organização das Nações Unidas (ONU), como ocorre com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) – comandada pelo brasileiro José Graziano da Silva.

Senadores participaram da reunião preparatória à Rio+20, no Palácio Itamaraty revistaamazonia.com.br

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Entidades da sociedade civil terão Cúpula dos Povos, na Rio+20

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rganizações da sociedade e movimentos ambientalistas se articulam para tentar influenciar as decisões da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A ideia é reunir entidades para instalar a Cúpula dos Povos da Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, que funcionará paralelamente à conferência. A cúpula também acompanhará os eventos preparatórios para a Rio+20. Cerca de 150 entidades de 27 país querem garantir a aprovação de propostas para o fim de problemas ambientais que acentuam desigualdades sociais, além de chamar atenção para o mito da “economia verde”, segundo o representante dos povos indígenas Marcos Terena. “Não vamos permitir que o argumento da ‘economia verde’ olhe para a Amazônia, as florestas, a natureza, como mais uma fonte mercadológica capaz de atender as mesmas pessoas que estão destruindo o ambiente: os grandes blocos industriais, econômicos e até estatais”, disse. Para Fátima Mello, que integra a Rede Brasileira de Integração dos Povos, os países têm dificuldades de assumir compromissos com medo de prejudicar as economias, mas a Rio+20 pedirá que comecem imediatamente um novo ciclo de economia comprometido com as novas realidades ambientais. Entre os debates mais importantes da Cúpula dos Povos está a necessidade de resgatar a noção de que há bens comuns da humanidade, o que é incompatível com a atual mercantilização da vida e da natureza. “Precisamos discutir essa ideia: água, terra, florestas, biodiversidade e também serviços públicos como educação e saúde não podem estar na mão dos mercados apenas para o lucro. A sociedade deve acessar tudo isso como bem público e universal, como condição principal para a justiça social e ambiental no mundo”, apontou Fátima. Além deste, outro eixo que deve orientar a cúpula é a

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apresentação de experiências concretas que se espalham pelo mundo e apontam para outra economia e outra maneira de organizar a sociedade. São exemplos, a economia solidária, que propõe circuitos mais curtos e

justos entre produção e consumo e a agroecologia, que aponta para modos de produção de alimentos baseados nas pequenas propriedades, de modo sustentável e sem o uso de insumos químicos, como os agrotóxicos. “Vamos afirmar que não haverá uma Rio+40. Nosso planeta não aguentará isso. Vamos dizer claramente que estamos cansados de conferências sem capacidade de implementação e de compromissos que não são condizentes com a crise do nosso planeta”, disse. Para organizar a Cúpula dos Povos, que deve promover debates, palestras e outros eventos durante a Rio+20, no Aterro do Flamengo, as organizações se reuniram na capital fluminense, com a presença de 500 pessoas de diversas organizações.

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Contagem regressiva para COP17 - CMP7

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17.a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 17), será realizada de 28 de novembro a 9 de dezembro de 2011 na cidade de Durban,

África do Sul. Com o desenvolvimento de um Programa Municipal de Proteção do Clima, bem como a institucionalização da mudança do clima pela Prefeitura, a cidade apresentou um quadro importante para a implementação de uma série de projetos de mudanças climáticas. Estes projectos incidem sobre as medidas de adaptação e mitigação para a cidade, assim fornecendo uma plataforma para gerar benefícios sócio-econômicos. A cidade-piloto do Telhado Verde e projetos de reflorestamento em larga escala da comunidade mostram como a biodiversidade da África pode se tornar uma ferramenta,

não apenas para a adaptação às alterações climáticas e mitigação, mas também para criar oportunidades de desenvolvimento econômico. Dentro do contexto Africano, energia renovável e projetos de mitigação de Durban das alterações climáticas são consideradas revolucionárias. O compromisso contínuo da Cidade para a ampliação do diálogo sobre as alterações climáticas com outras cidades sulafricanas, bem como sua reputação no cenário internacional sobre mudanças climáticas, tem garantido a sua posição como líder de mudanças climáticas. A COP 17 CMP 7 marcará um momento crítico no curso das negociações internacionais sobre mudança climática. À medida que os preparativos vão sendo finalizados, cresce a pressão para que um acordo para substituir o Protocolo de Quioto após 2012 seja firmado em Durban, principalmente após fracasso das negociações em Cope-

nhagen e em Cancún nesta questão. Pelo menos no que diz respeito à organização do encontro, o clima é de otimismo na delegação sul-africana. “O governo está trabalhando em colaboração com a ONU para garantir que a África do Sul receba um evento internacional que atinja as exigências da ONU”, declaram representantes da reunião. Mais de 20 mil leitos já foram garantidos e 2.662 quartos foram reservados para os participantes do evento, e a organização vai terminando a preparação do encontro. “Os preparativos de segurança estão prontos para lidar com uma ampla gama de possíveis ameaças e interrupções”, explicaram os organizadores.

De de 28 novembro à 09 de dezembro, delegados de 190 nações estarão em Durban, África do Sul para discutir as mudanças climáticas

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A Conferência sobre Mudança Climática da ONU AWG-KP 16 e AWG-LCA 14 Discurso do ministro Roberto C. Henriquez, na abertura da AWG-KP 16 e AWG-LCA 14

Reunião do grupo informal sobre as consequências potenciais Foto: Rudolph Hühn

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décima sexta sessão do Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Compromissos Adicionais para as Partes do Anexo I no âmbito do Protocolo de Quioto (AWG-KP 16) e a décima quarta sessão do Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre a longo prazo Ação Cooperativa no âmbito da UNFCCC (AWG-LCA 14 ), na Cidade do Panamá, Panamá. Logo no início os grupos informais de mitigação dos países desenvolvidos, incluindo os grupos de IET e países com circunstâncias especiais, convocados pelo AWGLCA, fizeram uma discussão especial na construção de capacidade. O AWG-KP grupo de spin-off sobre LULUCF também participou. A secretária executiva da ONU sobre Mudanças Climáticas, Christiana Figueres, reafirmou que essa reunião do Panamá é a última oportunidade dos 193 países membros conseguirem um consenso sobre a redução das emissões antes de Durban. Figueres garantiu que os representantes dos governos chegaram ao Panamá comprometidos e interessados em avançar nos pontos centrais, como o esboço do Fundo

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A cabine da COP 7 17/CMP

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Assinatura do acordo de país anfitrião para a COP 7 17/CMP entre Maite Nkoana-Mashabane, Ministro de Relações Internacionais e Cooperação da República da África do Sul e Christiana Figueres, da UNFCCC

Katia Simeonova, secretaria da UNFCCC; Plume Helen, Nova Zelândia, e Karine Hertzberg e José Alberto Garibaldi, Co-Facilitadores do grupo informal de mitigação dos países desenvolvidos

Verde do Clima, o Comitê Executivo de Tecnologia e de Adaptação, e o Sistema de Monitoramento, Reporte e Verificação. A África do Sul participou de uma seção informal no Panamá para contribuir ainda mais para um resultado equilibrado e credível em Durban. A União Européia fez um apelo para que todas as nações deixem claro como pretendem lidar com as mudanças do clima, alegando que o mundo precisa de um roteiro das ações futuras ainda este ano mesmo se um tratado internacional estiver fora de alcance. “O que precisamos produzir em Durban é um roteiro para o enquadramento jurídico global”, comentou o negociador-chefe da União Européia Artur Runge-Metzger completando que o bloco é responsável por apenas 11% das emissões globais de gases do efeito estufa. A 17º Conferência das Partes (COP 17) da UNFCCC e 7º COP das partes do Protocolo de Quioto serão realizadas em Durban, África do Sul, entre 28 de novembro e 9 de dezembro 2011.

A UNFCCC A Convenção Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) é o instrumento internacional marco das políticas e das negociações sobre mudança do clima. Assinada na Rio 92 e implementada em 1994, a UNFCCC é o acordo marco que estabelece disciplinas, objetivos e princípios comuns aos seus 196 países signatários sobre os compromissos internacionais na área de mudança do clima. A UNFCCC também estabelece a Conferência das Partes (COP), órgão supremo da Convenção que zela pela implementação de seus compromissos e quaisquer outros instrumentos legais que a COP venha a estabelecer dentro desse acordo.

Os dois grupos negociadores no âmbito da UNFCCC: Grupo Ad-hoc sobre Ações de Cooperação de Longo Prazo (AWG-LCA): órgão subsidiário da Convenção criado como foro negociador do BAP para implementação da Convenção Quadro. Grupo Ad-hoc sobre Compromissos Futuros para Partes do Anexo 1 no Protocolo de Quioto (AWG-KP): designado para negociar a revisão dos compromissos do Protocolo de Quioto, que deverá estabelecer os novos limites de emissões dos países listados no Anexo 1 para períodos pós-2012. Durante a cerimônia de abertura

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Na plenária de fechamento da AWG-LCA e AWG-KP, os delegados fizeram um minuto de silêncio pelo Nobel da Paz Wangari Maathai

O final da AWG-KP 16 e AWG-LCA 14 Kyoto sobreviverá a Durban?

Ao termino da reunião no Panamá, mais uma vez, os sinais foram desanimadores para aqueles que torcem por um acordo para cortar emissões de gases que provocam o efeito estufa e dessa forma limitar o aquecimento da Terra nas próximas décadas. Os dilemas continuam os mesmos - países ricos insistem em abandonar o Protocolo de Kyoto, exigem compromissos formais e mensuráveis dos grandes países em desenvolvimento (leia-se China e Índia), enquanto os países mais pobres insistem em manter Kyoto e exigem maiores investimentos para adaptar-se às mudanças do clima e se desenvolver de forma limpa. Para complicar vários motivos, veja dois: 1. Dinheiro. A expectativa de países pobres e em desenvolvimento, segundo o princípio acertado durante a Rio 92 de “responsabilidade histórica” (a responsabilidade é de todos, mas aqueles que mais poluíram têm que arcar com consequências maiores), é de novos financiamentos. O problema é que até o momento não se chegou perto de qualquer acordo a valer a partir de 2013, quando acabam os últimos compromissos assumidos (de 2010 a 2012). E que governo quer liberar novos fundos enquanto enfrenta desemprego e estagnação domesticamente?

2. O Protocolo de Kyoto. O único acordo internacional criado para combater as mudanças do clima vence no fim do ano que vem. Isso significa que, enquanto a ciência reforça cada vez mais a necessidade de se tomar medidas para coibir a emissão de gases do efeito estufa, o mundo - como um todo - caminha na direção oposta. E que político vai considerar adotar metas que poderiam ser classificadas pela oposição de “rédeas ao crescimento econômico”? O problema é que os Estados Unidos não ratificaram Kyoto, o que significa que só os outros países industrializados é que até hoje têm a obrigação internacional de reduzir as suas emissões. Ninguém, entre eles, quer que a situação continue assim. O Japão quase parou as negociações em Cancún, no ano passado, ao dizer que estaria fora de um segundo período de compromisso sob Kyoto, voltando atrás relutantemente. Até o momento, só a União Europeia aceita incluir as propostas de cortes de emissão apresentadas voluntariamente em Cancún em um documento formal. Mesmo assim, só se for com salvaguardas para evitar que fiquem presos a um acordo praticamente sozinhos entre os industrializados. A Austrália e a Noruega apresentaram no Panamá uma

Os grupos Informais AWG-LCA e AWGKP , discutindo cada parágrafo…

nova proposta de acordo que na prática acaba com Kyoto, criando um novo acordo a ser assinado em 2015, mas que já começaria a ser operacionalizado em Durban, com a oficialização das metas de redução apresentadas voluntariamente no ano seguinte. Com isso, cada país teria até 2018 para aprovar e instrumentalizar o acordo internamente. Até lá, todos torcem, a crise já terá passado. O único problema é saber como convencer os países em desenvolvimento a aceitar jogar Kyoto no lixo e recomeçar a partir do (pouco) que existe. O embaixador argentino Jorge Arguello, em nome do grupo dos países em desenvolvimento (G77 + China) disse, no Panamá, que “o único resultado significativo para Durban é a continuação de Kyoto”. Será que Durban vai marcar o fim de Kyoto ou o fim das negociações como um todo? Ou qual será a terceira via? A conferência anual das Nações Unidas sobre mudança climática começa no fim de novembro em Durban, na África do Sul.

Membros do G-77, inclusive o Brasil, durante o grupo informal sobre Finanças

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Questões relacionadas ao meio ambiente, incluindo as alterações climáticas e suas consequências, preocupam o suficiente para criar uma Organização Mundial do Meio Ambiente

França quer uma Organização Mundial para o Ambiente em 2012

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Conferência das Nações Unidas Rio+20, que marcará em Junho de 2012 os 20 anos da Cimeira da Terra de 1992, é a ocasião ideal para criar uma Organização Mundial para o Ambiente, defende a ministra francesa da Ecologia. “Já é altura de tirar ilações sobre as insuficiências do sistema actual, criando uma voz mundial forte para o Ambiente”, disse Nathalie Kosciusko-Morizet, na passada sexta-feira. Em comunicado, a ministra reafirmou o apoio da França à criação de uma tal organização. Actualmente, a pasta do Ambiente nas Nações Unidas está a cargo do PNUA (Programa das Nações Unidas para o Ambiente). A conferência que vai celebrar os 20 anos da Cimeira do Rio, prevista decorrer de 4 a 6 de Junho de 2012 naquela cidade brasileira, “é uma ocasião única para conseguir-

mos uma reforma simples, eficaz, pragmática e, ao mesmo tempo, ambiciosa, da governância internacional para o Ambiente”, acrescentou. A conferência de Junho de 2012 vai fazer o balanço das

medidas implementadas há 20 anos, nas áreas da segurança alimentar, acesso à água potável, energia, biodiversidade, clima, entre outras. Além disso, deverão ser traçadas novas directrizes.

Nathalie Kosciusko-Morizet, ministra francesa da Ecologia, pede uma reforma ambiciosa para o Ambiente revistaamazonia.com.br

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José Maria F.J. da Silveira*

Bionegócio e bionergia: superando as fronteiras entre setores da economia

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o último dia 15 de setembro, o Instituto de Economia da Unicamp promoveu o seminário Bioenergia: “Alternativas e Avaliação de Impactos no Brasil e nos EUA”. O Seminário foi organizado para receber os professores David Zilberman, da Universidade de Berkeley, e Madhu Khanna, da Universidade de Illinois, ambos profundamente envolvidos com alguns dos temas mais polêmicos da atualidade: as alternativas energéticas baseadas no poder da fotossíntese – a fotossíntese em tempo real, como fala Eduardo Trigo, renomado economista argentino – em comparação com o uso de combustíveis fósseis e outras fontes alternativas de energia. Os dois atuam no Energy Biosciences Institute (EBI), um instituto financiado pela British Petroleum e localizado nas duas universidades, com um orçamento de US$ 500 milhões para 10 anos de pesquisa, com foco em 2ª geração a partir de gramíneas. A idéia foi aproveitar a visita para estabelecer um diálogo franco e qualificado com os visitantes. Para tanto, convidamos três dos mais importantes professores na área e fomos felizes em contar com visões distintas e complementares: os professores Luiz Cortez, Arnaldo Walter e Hilton Silveira, os três da Unicamp. O professor Cortez, da Faculdade de Engenharia Agrícola

(Feagri) e da Fapesp, fez um panorama geral da agroindústria canavieira, mostrou dados sobre uso da terra e falou do zoneamento agroclimático da cana-de-açúcar no Brasil, passando a visão clara de que se deve superar a crítica fácil de que haja uma correspondência entre a expansão da bionergia e aumento de emissões de gases que contribuem para o aquecimento global. Apresentou a seguir a contribuição da Fapesp para a pesquisa em bioenergia, ressaltando os avanços do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), o que ficou claro para qualquer visitante do seminário BBest, ocorrido em Campos de Jordão, em agosto. O cenário apresentado pelo professor Cortez mostra que desenvolver novos mercados baseados em novas tecnologias, mesmo potencializando uma ampla organização prévia, demanda uma base ampla de conhecimento, da biologia aos estudos socioeconômicos. Uma questão salta aos olhos: apesar de os recursos alocados no Bioen próximos a US$ 10 milhões/ano (2008 a 2012) serem substanciais, seriam suficientes para dar conta da complexidade do programa, que contempla desde ciência básica em genética até pesquisas sobre o desempenho de motores, passando por estudos sobre etanol de 2ª geração? Uma comparação com o projeto do Energy Bioscience Institute sugere que os resultados do Bioen Uso adequado da terra e de como as trajetórias tecnológicas da agricultura passaram a depender da capacidade de utilizar a alta ciência…

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também dependem de boas parcerias e de cooperação internacional, o que vem ocorrendo, principalmente pelo apoio da Fapesp. A multidisciplinaridade dos temas e dos enfoques sobre a bioenergia foi reforçada pela apresentação do professor Arnaldo Walter, que respondeu à provocação do moderador sobre o modesto papel cumprido até pouco tempo atrás pelo governo federal na área de bionergia. Como resposta, apontou que o governo investiu 35 milhões de euros na montagem do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Etanol (CTBE), um centro de pesquisa de alto nível com 110 pesquisadores e com capacidade para contar com a “massa crítica” das universidades e centros de pesquisa localizados ao seu redor (USP, incluindo Esalq, Unicamp, Lorena, IAC, IPT, Embrapa). O mote de sustentabilidade guia a orientação dos trabalhos de pesquisa em várias áreas e não somente o conhecimento específico sobre impactos do cultivo da cana no ambiente. Isto coloca a visão estratégica do CTBE na categoria de ações que se voltam para gerar um conjunto de “tecnologias limpas” – dentro do possível e do aceitável, como diz o economista René Kemp, do Merit, na Holanda – ao invés de buscar soluções mitigadoras, aplicáveis no final do processo (poluidor). Isto não significa desprezar a busca de ganhos de produtividade, do melhor aproveitamento dos recursos por litro de etanol obtido: as agendas de pesquisa são paralelas, mas se encontram nos resultados: um melhor aproveitamento da matéria-prima, via hidrólise, viabiliza a cana-de-açúcar como matéria-prima do bioenegócio mais importante do Brasil, reduzindo seu impacto sobre a produção de alimentos. A pesquisa com uma nova colheitadeira torna ainda mais viável a política ambiental de eliminar a prática da queima da cana para fins de colheita, além de estabelecer o nexo entre pesquisa pública e empresas inovadoras. Em resumo, a apresentação do professor Arnaldo Walter revelou que a estratégia do CTBE é ao mesmo tempo clara e complexa. Opera realisticamente no campo da primeira e segunda gerações, buscando resultados em paralelo e também atua na viabilização das atividades agrícolas com foco na criação de meios e critérios para a implementação progressiva de etanol e outros produtos capazes de apresentar a condição de “produtos sustentáveis”. A clara definição das estratégias viabiliza a formação de parcerias com organizações internacionais e com os avanços realizados – principalmente no campo revistaamazonia.com.br


da pesquisa básica – pelos projetos da Fapesp. A articulação dos objetivos no tempo se dá pela ideia de que existe um conhecimento científico e tecnológico capaz de operar a transição da produção agrícola de cana para o bionegócio em energia. O professor David, em seu blog (http://blogs.berkeley. edu/author/dzilberman/), comenta que os brasileiros são orgulhosos de seu projeto bioenergético, ao mesmo tempo que em outro comentário, aponta que somos francos (ao ponto da ingenuidade) de admitir (como o assessor de Clinton) que o problema da difusão tecnológica depende “da economia, estúpido”. O Brasil, ainda que com muito menos intensidade, também procura tornar o carro flex mais eficiente, só que isto não anula o fato de que a competição dos velhos e novos usos da matéria-prima cana-de-açúcar com o uso como combustível líquido é crescente e que qualquer estratégia em bioenergia passa pela viabilidade do carro-chefe (sem trocadilhos) do consumo da energia verde. Gastos em P&D implicam riscos, mas quanto mais integradas as ações em C&T&I (menos modular) maior a necessidade de atenção com os pontos críticos, aqueles que podem colocar tudo a perder. Na década de 80, no início do Núcleo de Economia Agrícola da Unicamp, praticamente descartava-se a importância da terra como ativo para a produção agrícola: das fazendas à biotecnologia passava-se da questão agrária para o mundo admirável da intensificação dos fatores produtivos na agricultura, na forma de máquinas e in-

sumos. A lusitana roda e o mundo gira, como falava o bardo: o tema central tanto da apresentação da professora Madhu Khanna quanto do professor Hilton Silveira é o uso adequado da terra e de como as trajetórias tecnológicas da agricultura passaram a depender da capacidade de utilizar a alta ciência (dos equipamentos de medição aos modelos bioeconômicos simulados) para o melhor uso desse fator escasso. A professora Madhu, na lógica schumpeteriana, mostra o chamado “porrete”: o preço da falta de coordenação entre agentes produtivos no Brasil é o de perderem competitividade para tecnologias de 2ª e 3ª gerações que não Inovação tecnológica é parte de um processo amplo de busca de produção sustentável

dependem integralmente do uso da terra. Na suposta pátria do liberalismo econômico, energia e agricultura são estratégicos e isto significa utilizar de um conjunto combinado de políticas produtivas e ambientais, como obrigar a utilização de biocombustíveis (como também faz o Brasil) e impor taxas sobre emissão de gases que contribuem para o aquecimento global. Sem contar na Via hidrólise, a cana-de-açúcar é viabilizada como matéria-prima do bioenegócio mais importante do Brasil, reduzindo seu impacto sobre a produção de alimentos

Da esq. para a dir. Os professores Madhu Khanna, David Zukbernan, Luiz Cortez, Arnaldo Walter e Hilton Silveira: diálogo franco e qualificado

extensão do prazo para subsidiar o etanol de milho, ineficiente em seu início, hoje quase competitivo com outras fontes de matérias-primas. O professor Hilton apontou em sua apresentação que o incentivo, o bônus dado pela natureza do ciclo da fotossíntese da cana ser C4, CO2 amigável, em parte atenuaria o possível impacto do aquecimento global, fenômeno que recolocaria os países centrais (EUA, Canadá, Europa Central), como protagonistas da cena agrícola do futuro. O problema é fazer uma transição adequada. Agroindústria implica investimentos produtivos que em parte não podem ser deslocados: uma vez que a cana invada uma certa região produtora de alimentos, o custo da recuperação é alto, independentemente do fato de que seja possível “transportar” uma usina para outro local. A importância do zoneamento agroecológico da cana-deaçúcar e da agricultura de baixo carbono (ou agricultura verde) é tão grande quanto a estratégia de desenvolvimento sustentável da produção sustentável de biocombustíveis e outros produtos do complexo cana, tal como formulada pelo CTBE. A diferença é que o processo de coordenação, no caso do respeito ao zoneamento proposto pelos estudos do professor Hilton e seus colaboradores, é muito mais complexo: ainda se ouve de representantes dos usineiros que “da porteira para dentro decido eu”. O professor David não só apreciou o esforço do diálogo como contribuiu para divulgar melhor a pesquisa e a produção bionergética do Brasil. Característico de quem tem segurança na própria visão e nos trabalhos de pesquisa que coordenou, o professor David expande a teoria da difusão tecnológica na agricultura. Quando alguém reclama do hiato tecnológico entre a pesquisa e o campo, o professor de Berkeley acena com o fato de que o impacto da inovação na agricultura, ao contrário dos campos experimentais, gera efeitos encadeados sobre todo o ciclo produtivo da agricultura. Com base neste argumento, o professor considera injustificáveis as restrições impostas sobre a difusão da biotecnologia por supostos defensores da natureza: inovação tecnológica é parte de um processo amplo de busca de produção sustentável. [*] Professor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, atua no Núcleo de Economia Agrícola (NEA) do mesmo instituto e no programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen). No Jornal da UNICAMP

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Jacqueline Batista Silva*

A energia verde como um negócio A

maioria das considerações sobre a energia verde apresenta como motivador para a sua utilização a questão ambiental. Essa abordagem começa a ser substituída. Ao avaliar as possibilidades da economia verde na economia mundial em crise, é possível encontrar resultados interessantes. Por muito tempo, temas como “economia verde” ou “utilização de fontes renováveis de energia em processos produtivos” fizeram parte de uma abordagem sobre mudança climática ou manutenção da qualidade da vida humana no futuro. Dizia respeito a alguma utilização consciente de recursos energéticos, mas sem a devida análise do fator econômico. Para preencher essa lacuna a The Brookings Institution lançou em julho deste ano um relatório intitulado Sizing The Clean Economy, em que avalia do ponto de vista econômico – tomando como eixo a geração de empregos – o papel da economia verde nas regiões metropolitanas dos Estados Unidos. O relatório – um dos mais claros e atualizados desse setor econômico – menciona uma grande dificuldade em mensurar todo o alcance dos empregos gerados pela economia verde, mas ainda assim, nenhum setor da economia americana tem sido mais celebrado como fonte de renovação econômica e geração de empregos.

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O estudo abrange o período de 2003 a 2010 em todo o país, e seu detalhamento e categorização teriam como objetivo prover de informação econômica relevante às lideranças nacional, regional e estadual, a fim de que fa-

tores que ainda retardam esse setor econômico possam ser mitigados ou eliminados. Nosso objetivo aqui é transcrever os principais pontos do relatório e atentar para as recomendações que servem a todos os países dispostos a reconhecer o potencial da economia verde. As principais considerações sobre as regiões metropolitanas nos EUA são as seguintes: * A economia limpa, nos EUA, emprega 2,7 milhões de trabalhadores. O número parece pequeno, mas ele ganha maior proporção se considerarmos que isso é mais do que o número de empregos gerados pela energia fóssil e que consegue abarcar trabalhadores em todos os níveis de escolaridade/produção. * Apesar de um crescimento comparativo menor no período do estudo (2003 – 2010), o setor teve um crescimento maior que o da economia em geral durante a recessão. * A economia limpa é intensiva em produtos fabricados e exportação. Avalia-se que 26% de toda a economia limpa gera empregos em manufatura, enquanto a economia como um todo geraria apenas 9% de empregos nessa área. Isso representa um potencial de utilização de mão-de-obra importante para abarcar uma camada específica da porevistaamazonia.com.br


pulação. Outro ponto relevante apresentado é o de que os empregos relacionados à energia limpa exportam o dobro dos empregos tradicionais nos EUA. * A economia limpa oferece mais oportunidades e melhor pagamento para trabalhadores com baixa e média educação formal do que a economia como um todo. Os salários nos empregos de economia limpa são 13% maiores que os demais, quando observados os mesmos níveis de escolaridade. * A economia limpa permeia todas as regiões metropolitanas, mas se manifesta em configurações variadas. A economia limpa molda-se às características de cada região, de maneira que se apresenta mais desenvolvida ora no setor de serviços, ou industrial, no setor público ou de maneira mista. Assim, pode fazer parte de todos os planejamentos regionais, sem ter que descaracterizar a vocação econômica local. * Fortes clusters industriais contribuem para um maior desenvolvimento da economia limpa. No período observado, estabelecimentos integrantes de clusters industriais cresceram mais que os isolados: em média, 1,4 ponto percentual mais rapidamente. Apesar dos dados positivos, as opiniões não são unânimes. O principal entrave à energia verde está no valor a ser dedicado à pesquisa e aos subsídios necessários ao desenvolvimento e implantação das novas tecnologias limpas para obtenção de energia num Estado em crise. Esses receios não estão presentes apenas na economia americana. Investir em momentos de crise sempre dividiu opiniões. Essa é mais uma contribuição do estudo. A

adequada avaliação de um setor específico pode permitir ver um investimento como propulsor do desenvolvimento e, portanto, indispensável. O estudo apresenta uma análise do retorno que esse investimento tem trazido. Mostra a economia limpa como um negócio plausível dentro de uma ótica desenvolvimentista, e não apenas dentro de um aspecto ideológico-ambiental, alcançando também aqueles que consideram este um fator menos relevante. Não podemos deixar de pensar em qual seria a condição brasileira da economia verde, e seu potencial nos planos de desenvolvimento apresentados por nossas lideranças nacionais e regionais. Um relatório similar que nos possibilitasse mensurar o alcance do setor no Brasil, dentro da posição de destaque mundial que passamos a ter, pode ser de extrema relevância para que a economia verde ganhe maior fatia de projetos e para que os investimentos na área ganhem maior prioridade. O relatório apresenta também algumas recomendações, e elas não são prerrogativas do estado Americano. A primeira recomendação é a de fazer com que o Estado e as lideranças regionais promovam o uso de bens e serviços classificados como de baixo nível de emissão de carbono e ambientalmente orientados. Falamos aqui da taxação das emissões de carbono, da certificação de produtos ambientalmente responsáveis, e outras medidas que exigem uma atuação – e na verdade, intervenção – do Estado. Outra recomendação é a criação de garantias de financiamento à ampliação dos segmentos industriais da

economia limpa. A ampliação do capital voltado para o financiamento e consequente diminuição do risco para o investidor são fundamentais. Um setor relevante a considerar é o de pesquisa e desenvolvimento – a ser valorizado nos níveis nacional e regional. Inovação é matéria-prima da economia verde: abrange não apenas a criação de novas tecnologias, mas também o aprimoramento daquelas que utilizarão algo que já é considerado, por si só, um novo recurso: a eficiência energética. As recomendações e desafios apresentados no estudo podem ser vistos em nível global. Não são características tipicamente americanas. É bastante razoável que, diante de dificuldades orçamentárias, o setor de investimentos não receba a devida atenção. Talvez seja essa a maior importância de uma avaliação séria das implicações do crescimento da economia verde. Podemos, assim como os EUA, estar perdendo uma fatia importante do mercado global. Podemos, também, estar refreando o nosso próprio crescimento por considerar um gasto postergável o que seria um investimento de alto retorno. Enfrentamos duas grandes necessidades: a de valorar de maneira séria o alcance da economia verde, e a de mudar a concepção de que essa seria apenas uma fonte periférica de desenvolvimento. Um passo importante foi dado e ele reverbera globalmente. Cabe a nós atentar para a necessidade de não ficar para trás nessa caminhada e definir, desde agora, o papel que iremos desempenhar.

[*] Bacharel em Física pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com MBA em Economia e Gestão em Energia pelo Instituto COPPEAD de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. É pesquisadora do Grupo de Economia da Energia da UFRJ desde 2010

Energia limpa

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Manutenção de áreas florestais pode resultar em benefícios ambientais e econômicos Diagnóstico foi levantado durante pesquisa de mestrado defendida no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos Foto: Thiago Junqueira Roncon

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manutenção de áreas florestais não é sinônimo de prejuízo. Ao contrário, a atividade, além de representar benefícios ambientais, também pode oferecer vantagens econômicas. Isso é o que afirma Thiago Junqueira Roncon, que defendeu recentemente sua dissertação de mestrado “Valoração Ecológica de Áreas de Preservação Permanente” no Programa de Pós– Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural (PPGADR), do Centro de Ciências Agrárias (CCA), campus Araras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O trabalho foi orientado por Paulo Roberto Beskow, Luiz Antonio Corrêa Margarido, docentes do PPGADR, e Enrique Ortega, do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp. Durante o estudo, Roncon utilizou o conceito de valoração ecológica, este conceito se refere a uma abordagem transdisciplinar que busca uma relação entre as ciências econômicas, as ciências exatas, as ciências naturais e do conhecimento tradicional, na busca por uma relação de valor entre os fluxos de massa e energia da floresta com o indicador macroeconômico do País. A administração eficiente das regiões florestadas permitirá ao gestor medir esta relação econômica. A partir desse conceito, o pesquisador identificou que os valores econômicos obtidos destacaram a importância de áreas preservadas com vegetação nativa. Por meio dessa observação, Roncon aponta que estes valores devem ser considerados nos processos de tomada de Thiago J. Roncon

Estoque de carbono, conversão da energia solar, deposição de serapilheira, manutenção do micro-clima , abrigo para biota nativa e barreira física para o impacto da energia da chuva

decisão e formulação de políticas públicas relacionadas ao Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), ao uso e ocupação do solo e programas de restauração florestal. “A valoração ecológica das florestas desenvolvida na minha dissertação, de um modo geral, objetiva levantar argumentos econômicos, com bases ecológicas, para evidenciar a importância econômica das florestas, que no caso, estão em áreas de preservação permanente” afirmou o estudante. Roncon justificou seu estudo pela crescente desvalorização das florestas e pelo desafio de

Decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, teias tróficas,estoque de carbono no solo, melhora na estrutura do solo, barreira física para o escoamento superficial da água e aumento da infiltração de água, abastecendo o lençol freático

se estimar o valor econômico dessas áreas. Segundo o autor, no Brasil, existe uma carência de estudos sistêmicos que façam uma correlação entre valor econômico e o processo de sucessão natural de florestas. O pesquisador aplicou em seu trabalho os conceitos da Avaliação Emergética (estudo que comprova o quanto uma propriedade rural gasta ou economiza em recursos 48 REVISTA AMAZÔNIA

naturais e como pode ter mais renda com o uso racional dessas riquezas, levando em consideração a memória energética dos insumos e produtos) e da Avaliação Funcional dos ecossistemas para estimar o valor econômico de Áreas de Preservação Permanente (APPs) no Estado de São Paulo. Além disso, fez um levantamento de dados no campo (cinco áreas, uma com sistema de produção de tapetes de grama e quatro áreas em processo de sucessão natural secundária – todas com floresta), levantamento de dados na literatura (revisão bibliográfica) e, por fim, análise de dados com a elaboração de um software. Foram identificados valores econômicos relativos aos bens, serviços e danos ambientais de cinco áreas remanescentes da Serra da Mantiqueira – cadeia montanhosa situada entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – em diferentes tempos de sucessão natural secundária: 0, 7, 25, 75 e 200 anos. Na visão de Roncon, os apontamentos levantados na pesquisa podem ter impactos diretos e positivos na qualidade de vida da população que depende dos recursos naturais e serviços ambientais prestados pelas florestas. “Este estudo destaca que os benefícios trazidos pelo cumprimento das leis ambientais relativas às APPs, constantes do Código Florestal (1965), contribuem fortemente para a sustentabilidade tanto dos ecossistemas como dos agroecossistemas com efeitos sociais e econômicos positivos de grande significado” afirma Paulo Beskow, um dos orientadores do estudo. Os resultados da pesquisa podem servir também para a reflexão das ações dos Poderes Legislativo e Judiciário na tomada de decisões sobre assuntos ambientais, tendo em vista todos os aspectos positivos da valoração florestal.

Berçário e banco de sementes, manutenção do potencial edáficodo solo e dos ciclos silvigenéticos, recrutamento e seleção de novas espécies revistaamazonia.com.br


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Wiliandro Derze *

Manejo florestal sustentável do Acre Foto: Assessoria SEF

O

Acre é exemplo na atividade de Manejo Florestal Sustentável no Mundo”. Com essas palavras o Diretor Assistente da Organização Internacional de Madeiras Tropicais, Eduardo Mansour e outros engenheiros florestais do Japão, China, Estados Unidos e de outros países definiram os trabalhos que estão sendo realizados dentro da Floresta Estadual do Antimary. Os especialistas em manejo florestal passaram dois dias na reserva, localizada no município de Sena Madureira, distante 110 quilômetros de Rio Branco, e puderam verificar de perto os trabalhos de exploração sustentável na região. A visita dos engenheiros de vários continentes à Floresta Estadual do Antimary fez parte da programação do 2º Encontro Internacional de Manejo Florestal Sustentável, organizado pela Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), Secretária de Estado de Floresta (SEF) e Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO). Comemora também o ano Internacional da Floresta estipulado pela União das Nações Unidas (ONU). A abertura do encontro ocorreu na Biblioteca da Floresta e contou com a presença do Senador Jorge Viana, que também é engenheiro florestal. O encontro que seguiu uma extensa programação serviu para redefinir as diretrizes das políticas sustentáveis de manejo florestal criadas pela ITTO, já que as primeiras normas foram criadas em 1990 e é preciso que sejam revisadas.

De acordo com o Diretor do ITTO, antigamente as pessoas pensavam o manejo florestal só como um serviço madeireiro, somente com a retirada de madeira. “Hoje as pessoas entendem a floresta não somente como produtor de madeira, mas como uma fabrica de vários tipos de produto e serviços que são utilizados”, explicou Eduardo Mansour. Segundo o especialista, a floresta amazônica é muito rica e fornece a madeira e outros produtos, como a castanha, o Látex, açaí, óleos de todas as qualidades para a área cosmética, além de vários outros produtos como plantas e sementes medicinais. A visita até a Floresta Estadual do Antimary serviu como uma forma de proporcionar aos especialistas da ITTO, as condições necessárias para a verificação da atividade de exploração realizada na região. Foram mostradas as formas de derrubada e as normas para que isso ocorra, como a espessura das árvores, as estradas que devem ser construídas para a qualidade da retirada da madeira e a preservação da fauna na região explorada. Os membros da ITTO depois de analisar todas as atividades realizadas na floresta do Antimary definiram que o Acre continua sendo a região de melhor exemplo de manejo florestal sustentável em floresta nativa. A Secretaria de Estado de Floresta (SEF) que é responsável pela reserva florestal do Antimary reformou toda a estrutura do acampamento sede da região, ampliando os apoios e dando condições necessárias para as 54 famílias que vivem na reserva preservar e conservar a floresta. O Secretário de Floresta, João Paulo Mastrangelo, falou que a realização desse encontro, confirma que as políticas de manejo floresta sustentável no Acre estão dando

Durante a abertura do 2º Encontro Internacional de Especialistas em Manejo Florestal Sustentável revistaamazonia.com.br

As políticas de manejo floresta sustentável no Acre estão dando certo

certo. E acrescentou dizendo que tudo isso já mostra como as comunidades podem ter renda por meio da floresta, pois na Floresta Estadual do Antimary, todas as famílias recebem aproximadamente R$ 880 mensais do Manejo Florestal da reserva. [*] Assessoria SEF e Sérgio Vale/Secom

A visita dos engenheiros de vários continentes à Floresta Estadual do Antimary fez parte da programação do Encontro Internacional de Manejo Florestal Sustentável, organizado pela Fundação de Tecnologia do Acre REVISTA AMAZÔNIA 49


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Ciro Scopel *

Código Florestal e sustentabilidade urbana

A

questão da sustentabilidade está na pauta do setor imobiliário. As grandes empresas do mercado já estão bem avançadas nessa área. Com capital aberto em Bolsa de Valores, boa parte delas domina os princípios de governança e apresenta consistente trabalho no campo da responsabilidade social, enquadrando-se nos Indicadores de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Fundação Getúlio Vargas. Muitas certificaram empreendimentos com selos reconhecidos nacional e internacionalmente, atestando uma “construção verde”. Porém, a maioria das empresas do mercado é de pequeno ou médio porte, sem recursos ou mesmo oportunidade de operar a sustentabilidade em seus negócios. Aliás, raras são as que entendem que ser sustentável não é apenas atuar com respeito ao meio ambiente. Há, além deste, dois pilares fundamentais – o econômico e o social -, indispensáveis para que possamos oferecer às futuras gerações as mesmas condições de desenvolvimento que hoje desfrutamos. No sentido de orientar e transmitir conhecimentos à cadeia do setor imobiliário, o Secovi-SP elaborou o caderno “Condutas de Sustentabilidade no Setor Imobiliário Residencial”. O trabalho, realizado em parceria com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), traz de forma didática conceitos e premissas que podem ser adotados por todos, independente do status econômico. Em complemento, o Sindicato da Habitação realizou abrangente pesquisa que resultou na construção de “Indicadores de Sustentabilidade no Desenvolvimento Imobiliário Urbano”. Fruto de trabalho conjunto com a Fundação Dom Cabral, o estudo mapeia tudo o que é importante promover para cidades sustentáveis, envolvendo as empresas imobiliárias e o poder público, haja vista que muitas medidas dependem de

políticas governamentais. Percebe-se, ainda, que as autoridades começam a despertar para a questão da sustentabilidade. Em várias cidades, surgem ações de incentivo interessantes, como IPTU Verde, ICMS Ecológico e outras que, inclusive, deveriam ser amplamente imitadas. Aliás, já ventila no Congresso Nacional a possibilidade de atualização do Estatuto das Cidades, de forma a contemplar práticas sustentáveis. Se assim acontecer, a matéria terá de ser item obrigatório dos planos diretores. Enfim, há uma convergência de propósitos entre os setores público e privado, e o diálogo permanente entre as duas partes será decisivo para que se alcancem resultados concretos em benefício das cidades e seus habitantes. Todavia, um aspecto pode comprometer ou mesmo impedir muitas iniciativas no campo da sustentabilidade urbana. E essa ameaça tem nome: Código Florestal. Objeto de ampla discussão – e muitas polêmicas -, o projeto que estabelece o novo Código Florestal ignora a realidade urbana. O texto em análise não define claramente as intervenções necessárias em áreas consideradas de preservação permanente, tais como aquelas ao longo de cursos d´água, para implantação de infraestrutura pública destinada a esporte, lazer, atividades educacionais e culturais, captação e condução das águas pluviais e a sua transposição. Se o novo Código Florestal não se preocupar em diferenciar o meio ambiente urbano do rural, vai impedir avanços concretos no campo da sustentabilidade para os municípios brasileiros. Aliás, é importante lembrar que, hoje, 80% da população vive em cidades. Entretanto, o

espaço que estas cidades ocupam do território brasileiro não passa de 0,5%, enquanto a média mundial chega a 1% e os Estados Unidos está em torno de 3%. Se o projeto for aprovado sem a inserção desses dispositivos, haverá um imenso vazio regulatório. Nem governantes nem o setor imobiliário vão contar com um instrumento legal que permita as necessárias intervenções em área de preservação permanente. Enfim, estará inviabilizada a implantação de projetos urbanísticos planejados e com adequados controles ambientais. E sabemos que a ausência de regras é convite aberto a invasões e ocupações irregulares, absolutamente insustentáveis. Basta ver o que ocorre no entorno de nossas represas e mananciais. A saída possível é pensar definitivamente em um Código Ambiental Urbano, aplicável nas áreas urbanas, com critério e em conjunto com a sociedade civil organizada. [*] Vice-presidente de Sustentabilidade do Secovi-SP e presidente da Scopel Empreendimentos e Obras S/A

Para alcançar resultados concretos em benefício das cidades e seus habitantes

Em várias cidades, surgem ações de incentivo interessantes, como IPTU Verde, ICMS Ecológico e outras que, inclusive, deveriam ser amplamente imitadas 50 REVISTA AMAZÔNIA

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Greenbuilding Brasil discutiu construções verdes

O

principal fórum de discussão sobre construções verdes no País – o Greenbuilding Brasil, ocorreu no prédio da Fecomércio, no centro de São Paulo, com os mais importantes nomes do setor no Brasil. A diretora-executiva do GBC Brasil, Maria Clara Coracini, abriu a conferência destacando a importância do encontro entre empresas, profissionais e representantes do poder público para trocar informações e levar novas soluções para os empreendimentos do País. O fundador e presidente do Greenbuilding Council nos Estados Unidos, Rick Fedrizzi, abriu a seção de palestras. Ele destacou que o Brasil vive um momento de grande crescimento econômico e de avanços em construções sustentáveis, além de ser um dos líderes mundiais em energias renováveis. Segundo Fedrizzi, o País é o 5º em número de pedidos de certificações LEED, com mais de 270 empreendimentos certificados até maio deste ano. O presidente do GBC destacou o esforço brasileiro de tornar a Copa do Mundo e a Olimpíada “eventos verdes”, inclusive com a busca pela certificação LEED para todos os empreendimentos da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. A segunda palestra foi ministrada pelo arquiteto Colin Rohlfing, que destacou as soluções de design que podem ajudar a diminuir as emissões de gás carbônico. O arquiteto enfatizou que o Brasil tem grandes chances de diminuir a emissão de gás carbônico na produção de energia. Rohlfing mostrou uma série de exemplos

Colin Rohlfing, que destacou as soluções de design que podem ajudar a diminuir as emissões de gás carbônico 52 REVISTA AMAZÔNIA

de construções que usam o design como solução para aproveitar melhor a energia, a luz e a ventilação natural. Siegbert Zanettini, do escritório Zanettini Arquitetura e professor titular da FAU-USP, falou com a maestria e descontração de quem já assinou uma vasta gama de projetos ecoeficientes que há muito se faz no Brasil. Com mais de 40 anos de profissão e 50 de magistério, Zanettini apontou para o fato de no Brasil a construção civil não estar adequada para nossos recursos e reais necessidades. “Aqui no Brasil temos condições mais que propícias para resolver problemas de escassez das matrizes energéticas. Há anos faço uso de tecnologias limpas em empreendimentos no país, reduzindo o período de execução das obras e evitando desperdícios. Sustentabilidade não é uma coisa de agora, mas agora as questões são outras: é preciso unir investimento com conhecimento”, disse o arquiteto. Zanettini apresentou cases obtidos ao longo de 40 anos de experiência com eco-eficiência e sustentabilidade. Dentre os projetos, destaca-se o Fórum do Meio Ambiente construído em Brasília. O primeiro Fórum Verde no Distrito Federal, desenvolvido em parceria com a arquiteta Sandra Henriques, é considerada a primeira obra pública do Centro-Oeste a seguir critérios internacionais de construção sustentável, atualmente em processo de certificação LEED – Leadership in Energy and Environmental Design®.

Rick Fedrizzi, fundador e presidente do Greenbuilding Council nos Estados Unidos

Coca-cola reduziu 43% de água na fabricação de bebidas Josemar Picanço, Gerente de Meio Ambiente da CocaCola Brasil, falou sobre o tema “Plataforma Verde e Legado Sustentável para a Copa 2014”, o engenheiro explicou como as fábricas da empresa vêm se reestruturando através da Visão 2020, uma análise feita sobre o futuro da empresa e do mercado com enfoque no desenvolvimento sustentável de longo prazo. Ao lado dos gerentes de três fábricas localizadas em Manaus, Maceió e Paraná (todas em estágios finais do processo para obtenção do certificado LEED - Leadership for Energy and Environmental Design), Picanço falou sobre geração de eficiência e o retorno de investimento dessas fábricas nos estados que irão sediar a Copa do Mundo de 2014. De 2005 a 2011, houve 43% de redução do consumo de

Os stands foram muito visitados revistaamazonia.com.br


água na fabricação das bebidas e 31% de redução no uso de energia. “Cinco anos atrás, o consumo de água nas fábricas era em média de 5 litros por cada litro de bebida produzida. Atualmente, estamos na faixa de 2 litros e a meta é chegar a 1.8 litros em 2012”, afirma o executivo. A plataforma verde enfatiza o consumo consciente de água e energia, além da redução da produção de resíduos sólidos e aumento da reciclagem. Dentre as soluções aplicadas nas plantas da Coca-Cola Brasil estão: reuso da água da chuva para instalações de banheiros (mictórios e descargas), torneiras e chuveiros com acionamento automático, maior aproveitamento de luz natural na área de linha de produção e a implantação de telhados.

Rick Fedrizzi destacou que o Brasil vive um momento de grande crescimento econômico

Palestras internacionais mostraram cases de aproveitamento de luz natural e telhados frios O arquiteto e consultor Glenn D. Hughes, falou sobre otimização da luz natural e da luz elétrica em prédios comerciais e residenciais. Segundo ele, os prédios utilizam mais energia que os transportes e a indústria, por isso os devem concentrar a atenção. Glenn D. Hughes apresentou o projeto desenvolvido para o jornal The New York Times e como foi feito o aproveitamento de luz natural. Ele explicou que o maior custo para O arquiteto e consultor Glenn D. Hughes, falou sobre otimização da luz natural e da luz elétrica em prédios comerciais e residenciais

Maria Clara Coracini, diretora-executiva do GBC Brasil, abriu o Greenbuilding Brasil

manter um prédio é a energia elétrica e que, ao contrário da maioria das construções, a reforma do edifício do jornal custou menos do que o esperado e ajudou a gerar economia de energia. Os benefícios, segundo Hughes, vão além da economia com eletricidade, já que ele considera que o ambiente de trabalho fica mais agradável e a imagem da empresa que investe nessa otimização do uso da luz natural também é beneficiada. De acordo com Glenn D. Hughes, a mudança no ambiente com uso da luz natural ajuda a melhorar entre 4% e 7% a produtividade no trabalho. Outra presença internacional de destaque da Conferência foi do professor Hashem Akbari, da Universidade de Concórdia,

em Montreal. Akbari falou sobre os telhados frios e como eles podem diminuir a temperatura nas cidades. Ele explicou que, em alguns casos, é possível diminuir o uso de ar condicionado, o que diminui o gasto de energia elétrica. Hashem Akbari propôs evitar o uso de asfalto preto e usar um asfalto de cor mais clara para diminuir a temperatura nas cidades. Ele divulgou ainda um programa de instalação de telhados frios nas 100 maiores cidades do planeta e sugeriu que São Paulo participe dessa iniciativa.

O Brasil é o quinto país no ranking mundial de construções sustentáveis, com 33 empreendimentos certificados. São Paulo é o Estado campeão em certificações, com 26 projetos. No evento, empresas mostraram iniciativas inovadoras no setor. Sistemas que consomem menos eletricidade, telhados verdes e tintas menos poluentes estavam entre as estratégias apresentadas. Maria Clara Coracini, destacou a importância do encontro revistaamazonia.com.br

Mais informações no site expogbcbrasil.org.br REVISTA AMAZÔNIA 53


Mapa do carbono armazenado nas florestas tropicais Imagem: NASA/JPL-Caltech/UCLA/

Mapa-múndi do carbono

De forma nada surpreendente, a maior parte do carbono está armazenado na Floresta Amazônica, que se estende por vários países (OTCA) da América Latina. O mapa cobre apenas as florestas tropicais

U

ma equipe de pesquisadores coordenados pela NASA usou dados de vários satélites para criar uma espécie de mapa-múndi do carbono. O objetivo foi criar uma base de dados para o monitoramento de carbono – sobretudo, para o gerenciamento do dióxido de carbono em escala planetária. O mapa, contudo, é bem dirigido: ele retrata os dados de 75 países tropicais e suas florestas. De forma nada surpreendente, a maior parte do carbono, segundo a pesquisa, está armazenado na Floresta 54 REVISTA AMAZÔNIA

Amazônica, que se estende por vários países da América Latina.

Monitoramento do carbono Apesar dos extensos esforços para controle das emissões de gases de efeito estufa pelos países, em diversos acordos e tratados internacionais, ainda não há uma base científica para monitorar essas emissões. “Este é um mapa de referência, que poderá ser usado como uma base de comparação no futuro, quando a

cobertura florestal e seu estoque de carbono variarem,” propõe Sassan Saatchi, do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA, líder da pesquisa. “O mapa mostra não apenas a quantidade de carbono armazenado na floresta, mas também a precisão da estimativa.” Estima-se que o desmatamento e a degradação florestal contribuam com algo entre 15 e 20 por cento das emissões globais de carbono. As florestas tropicais armazenam grandes quantidades de carbono na madeira e nas raízes de suas árvores. Quando as árvores são cortadas e se decompõem ou são revistaamazonia.com.br


Imagem: NASA

Mapeamento do carbono nas florestas Depois do fracasso no lançamento de dois satélites artificiais voltados para o monitoramento do ciclo do carbono na Terra, os pesquisadores resolveram usar o chamado satélite do gelo, o ICESat, o mesmo que já havia servido para construir o mapa-múndi da altura das florestas. Com a ajuda de dados de campo, amostrados diretamente no solo, eles calcularam a quantidade de biomassa acima do solo e, assim, a quantidade de carbono contido. A equipe então extrapolou esses dados para a toda a variedade de terrenos e relevos ao redor do globo. O mapa revela que, no início dos anos 2000, as florestas

nos 75 países tropicais estudados continham 247 bilhões de toneladas de carbono - para comparação, são liberados anualmente para a atmosfera cerca de 10 bilhões de toneladas de carbono pela queima de combustíveis fósseis e pela agricultura. Segundo o mapa, as florestas da América Latina contêm 49 por cento do carbono de todas as florestas tropicais do mundo. Por exemplo, o estoque de carbono do Brasil sozinho, com 61 bilhões de toneladas, é quase igual a todo o estoque de carbono na África Subsaariana, de 62 bilhões de toneladas.

Mercado de carbono Esses números sobre o carbono, juntamente com informações sobre a incerteza das medições, são importantes para os países que pretendem participar do Programa

Mapa-múndi verde mostra altura das florestas da Terra

A maior parte do carbono, segundo a pesquisa, está armazenado na Floresta Amazônica Os pesquisadores descobriram que as florestas da América Latina possuem 49 por cento do carbono das florestas tropicais do mundo. Por exemplo, o estoque de carbono do Brasil sozinho é de 61 bilhões de toneladas, quase igual a todos do estoque de carbono na África Subsaariana, com 62 bilhões de toneladas

REDD+ (Reducing Emissions from Deforestation and Degradation - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). O REDD+ é um esforço internacional para criar um valor financeiro para o carbono armazenado nas florestas. Ele oferece incentivos para os países preservarem suas florestas, reduzindo as emissões de carbono e investindo em rotas de desenvolvimento de baixa emissão de carbono. Imagem: NASA

queimados, o carbono é liberado para a atmosfera. No ciclo de vida da floresta, contudo, ainda há controvérsias sobre os volumes da absorção e das emissões.

O satélite OCO seria um laboratório para comprovar um método de medição das emissões de CO2 que poderia vir a ser usado no futuro por uma constelação de satélites construídos para essa finalidade

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Investimento verde no setor hídrico poderia gerar grandes benefícios para a saúde humana, a segurança alimentar e o crescimento econômico O relatório Economia Verde descreve estratégias de investimento para a redução da escassez da água O Relatório sobre Economia Verde, foi lançado durante a Conferência da Semana Mundial da Água em Estocolmo

Foto: Cecilia Österberg/Exray e Chen Xuefei

S

egundo estudo lançado recentemente pelas Nações Unidas , um investimento de 0.16% do PIB mundial no setor hídrico poderia diminuir a escassez de água e reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso à água potável e a serviços de saneamento básico em um período inferior a quatro anos. Atualmente, a falta de investimentos em serviços hídricos, de coleta, tratamento e reutilização eficiente da água resulta na redução de reservas aquíferas em várias partes do mundo e contribui para uma situação em que a demanda global por água poderia ultrapassar a oferta num período de 20 anos. No capítulo dedicado à água no Relatório sobre Economia Verde, lançado durante a Conferência da Semana Mundial da Água em Estocolmo, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apontou que o investimento em saneamento e água potável, assim como o fortalecimento dos sistemas locais de abastecimento hídrico, a conservação dos ecossistemas vitais para o abastacimento de água e o desenvolvimento mais

eficiente de políticas, pode auxiliar na prevenção de altos custos sociais e econômicos resultantes do abastecimento inadequado de água. Camboja, Indonésia, Filipinas e Vietnã são alguns dos países cujas perdas causadas pela deficiência no serviço de saneamento básico alcançam cerca de US$ 9 bilhões por ano ou 2% do PIB total combinado.

Segundo Achim Steiner, Sub-Secretário geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA, “otimizar o acesso à água potável e serviços de saneamento básico é fundamental para uma sociedade mais sustentável e de uso mais eficiente de recursos”. “O Relatório sobre Economia Verde revela que o investimento na gestão e infraestrutura hídrica, assim como em Sem investimentos e reforma política, a crise de abastecimento de água será um fato generalizado

Na Semana Mundial da Água, em Estocolmo 56 REVISTA AMAZÔNIA

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ecossistemas dependentes de água, combinado a políticas eficientes, pode contribuir e garantir a segurança da água e dos alimentos, melhorar a saúde e fomentar o crescimento econômico”, concluiu Steiner. Caso não haja êxito na promoção do uso mais eficiente da água, a demanda por água pode ultrapassar a oferta em 40% até o ano de 2030. O Relatório sobre Economia Verde aponta que a otimização na produtividade de água, assim como o aumento no seu abastecimento (por meio de novas represas, plantas dessalinizadoras e reciclagem) pode diminuir essa lacuna em até 40%. No entanto, os 60% restantes deverão ser compensados a partir de investimentos na infraestrutura, reformas na política de recursos hídricos e desenvolvimento de novas tecnologias. Mike Young, da Universidade de Adelaide, principal autor do capítulo sobre água do “Relatório Economia Verde”, afirma que sem investimentos e reforma política, a crise de abastecimento de água será um fato generalizado.

Stephen R. Carpenter (L), Cientista e professor de Zoologia e Limnologia da Universidade de Wisconsin-Madison, recebe o Stockholm Water Prize 2011 das mãos do rei sueco Carl Gustaf XVI em Estocolmo, Suécia

Melhorar práticas agrícolas…

O acesso à água potável e serviços de saneamento básico é fundamental revistaamazonia.com.br

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Melhorar a eficiência e a sustentabilidade do uso da água também é vital para que a crescente demanda por energia seja abastecida. As passo que os países se tornam mais ricos e mais populosos, a demanda industrial por água deve aumentar. Na China, por exemplo, mais da metade do aumento da demanda por água nos próximos 25 anos deverá ser resultado de uma expansão significativa em seu setor industrial. Sob o cenário de investimentos verdes previsto no Relatório Economia Verde, o uso global da água pode ser mantido dentro de limites sustentáveis e o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir pela metade a proporção da população sem acesso sustentável à água potável e saneamento básico poderia ser alcançado até 2015. Com um investimento anual de US$ 198 bilhões, ou 0,16 por cento do PIB global até 2030, o uso da água poderia se tornar mais eficiente, permitindo um aumento sustentável da produção agrícola, de biocombustíveis e industrial. Sob esse cenário, o número de pessoas vivendo em regiões com carência de água seria quatro por cento menor do que no cenário habitual, e sete por cento menor em 2050. O relatório destaca vários estudos de caso onde os investimentos verdes em água estão produzindo benefícios econômicos e ambientais. Como parte de seu plano de cinco anos para o Crescimento Verde, a República da Coréia, por exemplo, anunciou, em 2009, um investimento de US$ 17,3 bilhões em seu Projeto de Restauração de Quatro Grandes Rios. Os cinco principais objetivos do projeto são proteger os recursos hídricos contra a escassez de água, implementar medidas de controle de enchentes, melhorar a qualidade

“A Economia Verde é aquela que resulta em melhorias humanas do bem-estar e equidade social, reduzindo significativamente a escassez ambiental e ecológica.”

Olhem como se faz … 58 REVISTA AMAZÔNIA

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da água e, ao mesmo tempo, restaurar ecossistemas de bacias hidrográficas, e desenvolver regiões locais e espaços de cultura e lazer em torno de grandes rios. No geral, espera-se que o projeto crie 340 mil empregos e gere um valor estimado em US$ 31,1 bilhões em efeitos econômicos positivos da restauração dos rios para a saúde.

Bioenergia bem planejada é chave para a Economia Verde O uso da água para produção de bioenergia é o assunto de outro novo relatório, também lançado na Semana Mundial da Água. O relatório trata da ligação entre bioenergia e água e foi produzido conjuntamente pelo PNUMA, a Oeko-Institut e a Agência Internacional de Energia. Fontes sustentáveis e renováveis de energia são uma parte essencial da transição para uma economia verde de baixo carbono e eficiência de recursos. Todas as formas de energia têm, em maior ou menor grau, um impacto sobre os recursos hídricos, e a relação entre a água e a bioenergia (energia renovável derivada de materiais orgânicos, como a biomassa, madeira ou subprodutos agrícolas) é particularmente complexa. Este relatório conclui que a demanda da bioenergia por água é em grande parte relacionada com o cultivo e processamento de matérias-primas, que por sua vez têm implicações importantes para a agricultura sustentável, o uso da terra e a produção de alimentos. Em um mundo onde mais de 70 por cento da água doce mundial é utilizada para a agricultura, o relatório diz que o desenvolvimento de bioenergia deve ser cuidadosamente planejado para evitar uma pressão maior que a já existente. Esse planejamento deve refletir a crescente necessidade por matérias-primas para usos como alimentos, rações e fibras, considerando a estimativa de que a população mundial deve chegar a nove bilhões de pessoas em 2050. Em alguns casos, essas considerações podem até argumentar contra o desenvolvimento da bioenergia. No entanto, o relatório descreve as circunstâncias em que o desenvolvimento bem planejado da bioenergia pode melhorar práticas agrícolas — incluindo a promoção da eficiência hídrica e uso de fertilizantes sustentáveis — e revistaamazonia.com.br

até mesmo melhorar o acesso à água, graças ao bombeamento de água e limpeza com uso de bioenergia, assim como segurança alimentar, no caso de sistemas combinados de produção de alimentos com bioenergia.

torar a concorrência entre os setores de uso da água. Promover o desenvolvimento tecnológico Novas tecnologias podem ajudar a aliviar a pressão sobre os recursos hídricos, mediante devida averiguação antes da implantação. Conduzir pesquisas mais amplas, preencher lacunas de dados, desenvolver ferramentas regionais - Apoiar a cooperação internacional em pesquisas sobre os impactos da bioenergia sobre a água; abordar questões emergentes e pouco exploradas como o potencial e o risco de zonas costeiras / microalgas, microalgas terrestres e organismos geneticamente modificados; monitorar necessidades diárias para preencher lacunas de dados e verificar a conformidade com os regulamentos de produção sustentável; considerar que avaliações de impactos são inadequadas sem ferramentas regionais que avaliem os impactos no local.

As recomendações do relatório incluem: Abordagem holística e perspectiva de longoprazo - Considerar o contexto para identificar o melhor uso para a água. Adotar uma abordagem de ciclo de vida, considerar interrelações com a necessidade de outros recursos e levar em conta toda a bacia hidrográfica. Basear decisões em avaliações de impacto para assegurar um manejo sustentável da água - analisar sistemas de bioenergia a partir de uma perspectiva socioecológica compreensiva. Promover o uso sustentável da terra e da água. Criar e implementar políticas efetivas relacionadas à água - Esses Um investimento de 0.16% do PIB programas devem prever a mundial no setor hídrico poderia diminuir a produção de matéria-prima e escassez de água e reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso à água potável conversão de energia e moniPrêmio Estocolmo da Água 2011 Junior. Vencedor Alison Bick e H.R.H, com a Princesa Victoria da Suécia

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Pesquisa aponta que o consumidor está mais sustentável

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e acordo com pesquisa global realizada pela Tetra Pak, os consumidores de todo o mundo estão cada vez mais conscientes e tomando atitudes para preservar o meio ambiente. O relatório, que comparou o comportamento das pessoas entre 2005 e 2011, mostra uma mudança positiva, principalmente no Brasil, na China, na França, na Alemanha e nos Estados Unidos. Escolhas conscientes e sustentáveis

O estudo destaca que quase 70% dos consumidores pesquisaram “questões verdes” nos últimos 12 meses. Um grande aumento se comparado com os menos de 40% dos pesquisados em 2005. O percentual de consumidores que descartam suas embalagens e resíduos para a reciclagem também aumentou, saltando de 70% em 2007 para 90% em 2011. Consumidores afirmam que vão comprar produtos em embalagens menos prejudiciais ao meio ambiente

60 REVISTA AMAZÔNIA

A pesquisa, realizada com mais de 6.600 consumidores e 200 formadores de opinião em 10 países, ainda aponta que a preferência por embalagens recicláveis tem crescido e já representa 88% do total. Cerca de 77% também afirmaram que compraram determinados produtos e não outros, porque a embalagem era melhor para o ambiente. O levantamento também analisou o comportamento dos fabricantes de alimentos e varejistas. Neste público, cerca de 83% dos entrevistados indicaram que consideram o impacto ambiental na escolha de soluções de embalagens, seguindo a tendência dos consumidores. Como o interesse pelo assunto sustentabilidade está aumentando, cerca de 60% dos entrevistados afirmam entender termos ambientais complexos como “pegada de carbono”, por exemplo. Mais da metade dos consumidores buscam por produtos que forneçam informações sobre o impacto ambiental e afirmam que a falta de dados e selos era um problema em seu comportamento de compra. “Estes resultados ressaltam a necessidade dos fabricantes de alimentos, varejistas e empresas de embalagens oferecerem produtos mais ecológicos e que permitam aos consumidores fazer escolhas conscientes e sustentáveis”. A pesquisa também mostra que os consumidores querem fazer escolhas mais “verdes”, sem comprometer o

Consumidores querem fazer escolhas mais “verdes”, sem comprometer o custo e qualidade

custo e qualidade. A maioria dos entrevistados, cerca de 78%, disseram que estariam dispostos ou extremamente dispostos a comprar alimentos ou bebidas em embalagens “verdes” se fossem o mesmo preço que os tradicionais. Além disso, cerca de 74% dos consumidores disseram que estariam dispostos ou extremamente dispostos a comprar produtos “verdes”se a qualidade fosse a mesma que os tradicionais. Já cerca de 28% dos consumidores afirmam que vão comprar produtos em embalagens menos prejudiciais ao meio ambiente, mesmo que custem mais.

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Biodiversidade melhora

a qualidade da água

A

excessiva carga de nutrientes das massas de água é uma das principais causas da poluição da água mundo e controlar os níveis de nutrientes em bacias hidrográficas é um objetivo primordial dos pesquisadores ambientais. Durante as duas últimas décadas, muitas pesquisas têm mostrado que os ecossistemas com mais espécies são mais eficientes na remoção de nutrientes do solo e da água que são ecossistemas com menos species. Isso levou alguns a sugerir que a conservação da biodiversidade pode ser uma ferramenta útil para gerir a absorção de e armazenamento de nutrientes, mas esta sugestão tem sido controversa, em parte porque os mecanismos específicos biológicos através dos quais a diversidade de espécies influencia a absorção de nutrientes não foi identificado. Aqui eu uso um sistema modelo de fluxo de biofilmes para mostrar que a partição de nicho entre as espécies de algas pode aumentar a captação e armazenamento de nitrato, um poluente nutrientes de interesse global. Eu manipulei o número de espécies de algas que crescem nos biofilmes de 150 mesocosmos em córrego que tinha sido criado para imitar o fluxo variedade de habitats e regimes de perturbação que são típicas de fluxos naturais. taxas de absorção de nitrogênio, como medido por meio de nitrato de 15N-rotulados, aumentou linearmente com a riqueza de espécies e foram expulsos por diferenças de nicho entre as espécies. Como as diferentes formas de algas passaram a dominar cada um habitat único em um córrego, as comunidades mais

Variedade de tipos de algas que removem os poluentes da água. Esta imagem de microscópio mostra várias espécies de algas semelhantes às utilizadas no estudo da biodiversidade da Universidade de Michigan

Rios sob ameaças globais para Rio Biodiversidade (BD)

Ameaças globais à segurança humana Água (HWS) contabilização de investimentos em infra-estrutura benéfica

diversificadas tem conseguido uma maior biomassa e maior absorção de 15N. Quando estas oportunidades de nicho foram removidos, tornando todos os habitats em um uniforme de fluxo, a diversidade não influenciou a absorção de nitrogênio e biofilmes., houve colapso de uma única espécie dominante. Estes resultados fornecem evidências diretas de que as comunidades com mais espécies de tirar o maior partido das oportunidades de nicho em um ambiente, e isso permite que diversos sistemas para capturar uma maior proporção de biologicamente recursos disponíveis, tais como nitrogênio. Uma implicação é que a biodiversidade pode ajudar a conter ecossistemas naturais contra os impactos ecológicos da poluição por nutrientes.

Biodiversidade é vital para limpeza dos rios Bennett Danuta

A biodiversidade é portanto, eficaz contra a poluição nos cursos d’água. Ambientalistas há muito tempo alertam que a diminuição da biodiversidade resulta na perda de serviços revistaamazonia.com.br

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Segurança da água doce e da biodiversidade em sistemas fluviais em todo o mundo

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Flow velocity (cm s–1)

ecológicos como a limpeza dos rios, controle de pragas e doenças e aumento da produtividade na pesca. O estudo mais recente, de Bradley J. Cardinale, da Universidade do Michigan, mostra como isso funciona, demonstrando que cursos d’água que contêm mais espécies de microorganismos, têm água de melhor qualidade do que aqueles com menos espécies. As espécies como as algas, que incorporam a seu corpo partículas de poluição. Quanto maior o número de tipos de algas, cada uma com um habitat minuciosamente diferente, melhor elas agem coletivamente na filtragem da poluição da água. “Se mantivermos os rios em seu estado naturalmente diversificado, esses cursos d’água que amamos por sua recreação, beleza, pesca, etc...terão o benefício tangencial de limpar nossa água para nós”, disse o autor do estudo,

Achnanthidium

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10

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20 30 40 Patch age (days since disturbance)

Bradley Cardinale. “Uma implicação (do estudo) é que, se nós deixarmos a natureza fazer suas coisas, não temos de correr para criar usinas muito caras de tratamento de água por todo o planeta”, afirmou Cardinale.

Rios em Miniatura

Niche partitioning by algae The ovals show the mean (centre of image) ± 95% confidence interval (boundary of image) of cell densities along two axes of a species niche (successional age of habitat and near-bed velocity). Filamentous algae that are susceptible to shear…

água em canais de imitar a variedade de condições de escoamento encontradas em correntes naturais. Ele usou entre um e oito espécies de algas em cada um dos minirios, medindo a capacidade de cada comunidade de algas para absorver nitrato, um composto de nitrogênio que é

Bradley Cardinale

Para chegar a essas conclusões, Cardinale usou 150 miniatura de (rios)córregos, que utilizam a recirculação de

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C

S p d b

Córregos e rios que têm mais espécies são mais capazes de remover poluentes da água 62 REVISTA AMAZÔNIA

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Cardinale usou 150 miniatura de (rios)córregos, com água circulando para imitar a variedade de condições de escoamento encontradas em correntes naturais

um poluente nutrientes de interesse global. Ele descobriu que a absorção de nitrato aumentou linearmente com a riqueza de espécies. Em média, a mistura de oito espécies removidas nitrato de 4,5 vezes mais rápido do que uma única espécie de algas que crescem sozinhas. “A primeira implicação deste estudo é que, naturalmente, diversos habitats são muito bons a limpeza dos poluentes que despejo no meio ambiente e perda da biodiversidade, através da extinção de espécies pode estar comprometendo a capacidade do planeta para limpar depois de nós”, disse Cardinale. . Porque são mais diversas correntes mais filtros poluente? Partição de nicho, disse Cardinale. Nos experimentos de fluxo, cada uma das espécies de algas foi melhor adaptada a um habitat particular no fluxo e gravitou para esse local - o seu nicho ecológico. Quanto mais espécies de algas foram adicionados, mais dos habitats disponíveis foram utilizados, eo fluxo tornou-se um grande esponja, mais absorvente para a absorção de nitrato e armazenamento … O estudo foi financiado pela Fundação Nacional da Ciência. Descobrir os benefícios da biodiversidade é importante porque os cientistas observam que a Terra entrará em um período de extinção em massa quando cerca de 75 por cento ou mais da vida no planeta desaparecer para sempre. Curso para você se dar bem no ano que vem: Só na Microlins você conta com um Exclusivo programa de Encaminhamento ao mercado de Trabalho que prepara você para se dar bem nas entrevistas de emprego.

EDUCAÇÃO & PROFISSÃO

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2 4 6 8 Algal species richness

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Proportion of density increase

a Algal biomass (μg chlorophyll a cm–2)

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Synedra Stigeoclonium Scenedesmus and Spirogyra

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0.2 2 4 6 8 Algal species richness

Cardinale disse haver poucas dúvidas de que essa tendência, amplamente causada pela destruição dos locais onde as espécies vivem, já começou. A taxa de extinção agora é de 100 a 1000 vezes mais rápida do que o normal e de 30 a 50 por cento das espécies poderão estar extintas até 2.100, disse Cardinale.

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Algal diversity effects on NO3−, algal biomass and final population sizes a–c, Heterogeneous streams, with flow varying spatially and habitats varying in successional age. d–f, Homogeneous streams, in which niche opportunities had been removed. Data are presented as mean ± s.e.m. of 24 replicates for monocultures,…

Bradley J. Cardinale, da Universidade do Michigan, expert em ecologia, biologia de água doce, biodiversidade e funcionamento dos ecossistemas

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Rio subterrâneo de 6 mil km embaixo do Rio Amazonas

P

esquisadores do Observatório Nacional (ON) encontraram evidências de um rio subterrâneo de 6 mil quilômetros de extensão que corre embaixo do Rio Amazonas a uma profundidade de 4 mil metros. Os dois cursos d”água têm o mesmo sentido de fluxo - de oeste para leste -, mas se comportam de forma diferente. A descoberta foi possível graças aos dados de temperatura de 241 poços profundos perfurados pela Petrobrás nas décadas de 1970 e 1980, na região amazônica. A estatal procurava petróleo. Fluidos que se movimentam por meios porosos – como a água que corre por dentro dos sedimentos sob a Bacia Amazônica – costumam produzir sutis variações de temperatura. Com a informação térmica fornecida pela Petrobrás, os cientistas Valiya Hamza, da Coordenação de Geofísica do Observatório Nacional, e a professora Elizabeth Tavares Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas, identificaram a movimentação de águas subterrâneas em profundidades de até 4 mil metros. Os dados do doutorado de Elizabeth, sob orientação de Hamza, foram apresentados na semana passada no 12º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica, no Rio. Em homenagem ao orientador, um pesquisador indiano que vive no Brasil desde 1974, os cientistas batizaram o fluxo subterrâneo de Rio Hamza.

Características

A vazão média do Rio Amazonas é estimada em 133 mil metros cúbicos de água por segundo (m3/s). O fluxo subterrâneo contém apenas 2% desse volume com uma vazão de 3 mil m3/s - maior que a do Rio São Francisco, que corta Minas e o Nordeste e beneficia 13 milhões de pessoas, de 2,7 mil m3/s. Para se ter uma ideia da força do Hamza, quando a calha do Rio Tietê, em São Paulo, está cheia, a vazão alcança pouco mais de 1 mil m3/s. As diferenças entre o Amazonas e o Hamza também são significativas quando se compara a largura e a velocidade

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Como o rio subterrâneo se formou

do curso d”água dos dois rios. Enquanto as margens do Amazonas distam de 1 a 100 quilômetros, a largura do rio subterrâneo varia de 200 a 400 quilômetros. Por outro lado, as águas do Amazonas correm de 0,1 a 2 metros por segundo, dependendo do local. Embaixo da terra, a velocidade é muito menor: de 10 a 100 metros por ano. Há uma explicação simples para a lentidão subterrânea. Na superfície, a água movimenta-se sobre a calha do rio, como um líquido que escorre sobre a superfície. Nas profundezas, não há um túnel por onde a água possa correr. Ela vence pouco a pouco a resistência de sedimentos que atuam como uma gigantesca esponja: o líquido caminha pelos poros da rocha rumo ao mar.

Temperatura Hamza e Elizabeth apontam a existência do que os pesquisadores chamam de “dois grandes sistemas de descargas de fluidos na Amazônia”: o Rio Amazonas, com seus 6.100 km de extensão, e o fluxo oculto das águas subterrâneas. Segundo os dados apresentados por Elizabeth, o fluxo subterrâneo é praticamente vertical – de cima para baixo – nos primeiros 2 mil metros. Depois, nas camadas mais profundas, muda de direção, tornando-se quase horizontal. Depois de atravessar as bacias do Solimões, Amazonas e Marajó, o rio alcança o fundo do mar, perto

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Figura ilustra esquema de fluxos de águas nas camadas sedimentares profundas no rio Amazonas

da foz do Amazonas. Hamza argumenta que as descargas do fluxo subterrâneo de água doce poderiam explicar os bolsões de baixa salinidade comuns no litoral da região. O geólogo Olivar Lima, da Universidade Federal da Bahia, assistiu à apresentação do trabalho e, na ocasião, mostrou aos autores mais dados, obtidos em outros poços perfurados pela Petrobrás na foz do Amazonas, que confirmam as conclusões do estudo. Porém, acha um exagero classificar a descoberta como um rio. “Os resultados são muito bons”, afirma Lima. “Só não acho correto propor a existência de um rio subterrâneo.” Ele argumenta que os dados permitem afirmar a existência de um imenso fluxo de água através das formações permeáveis da Bacia Amazônica. Mas a velocidade seria muito baixa para justificar a categoria de rio. Contudo, se por um lado a velocidade não se compara à de um rio convencional, o volume de água assume ordens de grandeza que tornariam compreensível tal comparação, reconhece o pesquisador. A descoberta, por enquanto, não mudará a vida das populações que habitam a Bacia Amazônica. Como o rio está a uma profundidade muito grande e há muita água doce na superfície, não seria economicamente razoável perfurar a terra para acessar o curso d”água. O estudo pode ajudar, no entanto, a prospecção de petróleo.

Recordando

Representação esquemática dos principais aqüíferos brasileiros

No Brasil, outra reserva de água subterrânea é o Aquífero Guarani, com 45 milhões de litros. A maior parte fica no Brasil, mas ele também se estende no Paraguai, Uruguai e Argentina.

Na edição nº 22 da revista Amazônia, veiculamos matéria sobre o Aquífero Alter do Chão, quatro vezes mail que o Guarani. Quem sabe, tenha a ver com a descoberta do subterrâneo de Rio Hamza? Com a palavra, os entendidos...

Aquífero Alter do Chão ou Aquifero Grande Amazônia A pouca evaporação da Província Amazonia, motivada pela elevada umidade do ar e a cobertura florestal, contribui também para uma maior absorção das águas superficiais pelas suas rochas.

Há dois anos, cientistas italianos descobriram um rio subterrâneo que corre embaixo de Roma, mais extenso que o Tibre – o terceiro maior da Itália, com 392 quilômetros. Assim como o brasileiro, o rio subterrâneo italiano foi encontrado graças a dados de perfuração de poços.

Limite da Amazônia Limite Cristalino/Bacia Sedimentar

1-Acre 2-Solimões 3-Amazonas 4-Foz do Amazonas

8 5 3 2

Batizado de Hamza em homenagem a um dos pesquisadores que participaram do estudo, rio corre a 4 mil metros de profundidade em meio a sedimentos; descoberta foi possível graças a dados de 241 poços perfurados pela Petrobrás nas décadas de 1970 e 1980

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Divisão geológica esquemática simplificada da Amazônia. Fonte: Inpe (2006) e Petrobrás (1994), modificados.

As águas amazônicas têm um valor estratégico para o Pais e para a humanidade ainda pouco

A pesquisa do pelos professo Montenegro D com a particip Itabaraci Cava necessita ter c tenta viabiliza buscadas em d Francisco de A em Geologia, P Federal do Par Geociências da do Plano Estad da Comissão d CREA/PA. Ex-co várias empresa de Especializaç famatos@ufpa Milton Antônio Hidrogeologia Federal do Par Geociências da Recursos Hídri Coordenador d envolvendo as


Nascente do Amazonas deve virar área protegida no Peru Foto: NASA/GSFC/JPL, MISR Team e Equipe Jacek Palkiewicz

O Amazonas começa com o gelo que derrete no espelho de água, localizado a cerca de 5.000 metros de altura, e começa a turnê pela Amazônia

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embros da expedição que localizou origem do rio, a mais de 5 mil metros de altura, querem proteger a região da mineração. Os expedicionários que encontraram a nascente do Rio Amazonas no desfiladeiro de Apacheta, no sul do Peru, em 1996, farão uma proposta para que a região seja declarada área natural de preservação pelo governo peruano. O objetivo é proteger a região da mineração. O estudo vai defender a importância geográfica e cultural da região. Para o grupo, a declaração de área protegida se justifica: trata-se de preservar a origem do maior rio do planeta e do maior sistema hidrográfico do mundo. Além disso, Novoa acredita que sua preservação estimulará o turismo, favorecendo os moradores da região.

O exato local de origem do rio Amazonas 66 REVISTA AMAZÔNIA

Jacek Palkiewicz, que liderou a expedição, aproveitou para lembrar que sua pesquisa foi confirmada no ano passado por informações do satélite coreano KOMPSAT-2, descartando a hipótese de que o rio tenha origem nas águas de uma lagoa ao pé do pico Mismi. As autoridades de Caylloma esperam que o estado declare como área natural de proteção um terreno de 47,5 mil hectares, com um conjunto de picos da cordilheira Chila, morros, vales glaciais e lagoas.

Os representantes da mineradora Bateas, filial da canadense Fortuna Silver Mines, que tem lotes nos arredores, afirmaram que deixarão a área desde que sua situação legal seja definida.

A expedição A expedição Amazon Source 96 encontrou a origem do Rio Amazonas no desfiladeiro de Apacheta, na cordilheira Chila, no Peru, a mais de cinco mil metros de altura. O grupo era chefiado pelo explorador polonês Jacek Palkiewicz e tinha integrantes da Sociedade Geográfica de Lima. revistaamazonia.com.br


Confirmada a origem do rio Amazonas através de imagens de satélite Segundo a Sociedade Geográfica de Lima, começa no desfiladeiro de Apacheta em Arequipa. Versão contraria a teoria da National Geographic. A confirmação da origem da Amazônia, no desfiladeiro de Apacheta Caylloma província (Arequipa), não só baniu a partir da teoria da revista National Geographic, que diz que o rio teria sua gênese no Mismi – neve Arequipa, mas que iria mudar a história porque o nosso principal afluente viria a ser o mais longo no mundo, com 7,062 km, superando o Nilo (6,671 km) em África. Isto foi revelado por Zaniel Goicochea Novoa, presidente da Sociedade Geográfica de Lima. “Após vários anos de pesquisas científicas, agora podemos confirmar os resultados da expedição “Amazon Source 96”, disse Goicochea Novoa. O especialista explicou que o gelo derrete no espelho d’água, localizado a cerca de 5.000 metros de altura, e em forma líquida começa a turnê da Amazônia por seus afluentes, entre os quais se o Apurimac, o Orinoco, o Maranon, Ucayali, entre outros. Ele acrescentou que esses estudos, apoiada por imagens de satélite dão peso às suas informações científicas, em comparação ao previsto pela revista National Geographic, que, segundo Novoa Goicochea, apenas com base em dados de mapas e em uma visita à América do Sul no Pico Mismi.

Governo peruano criação área protegida para conservar a região onde nasce o rio Amazonas, para a defender da exploração mineira

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Imagem de satélite do rio Amazonas

Jacek Palkiewicz, que liderou a expedição, mostra o local exato

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Census of Marine Life calcula que existam 8,7 milhões de espécies no planeta Há 6,5 milhões delas em terra e 2,2 milhões na água. No entanto, cerca de 90% delas ainda precisam ser catalogadas

O

planeta Terra terá 8,7 milhões de espécies, das quais 2,2 milhões vivem nos oceanos, mas a grande maioria ainda está por descobrir, descrever e catalogar, conclui um estudo publicado recentemente na PLoS Biology. A nova estimativa das espécies foi feita pelos cientistas (Camilo Mora, Derek P Tittensor, Sina Adl, Alastair G B Simpson & Boris Worm) que integraram um projeto de dez anos do Censos da Vida Marinha e baseia-se numa técnica de análise que permite uma estimativa mais precisa. Antes, apontava-se que o número de espécies existentes se situava entre os três e os 100 milhões. “A questão de quantas espécies existem intrigou os cientistas desde há vários séculos e a resposta é agora particularmente importante porque as várias atividades humanas estão acelerando as extinções”, disse em co-

Scolopendra sp. Foto de Eric Guinther

municado Camilo Mora, da Universidade de Dalhouise, no Canadá, um dos autores do estudo. “Muitas espécies podem desaparecer antes mesmo de sabermos da sua existência, da função nos ecossistemas ou da potencial contribuição para melhorar o bem-estar humano”.

Para chegarem a este número, os investigadores olharam para a árvore da vida, que faz agrupamentos artificiais cada vez maiores e mais gerais das espécies. Os humanos pertencem à espécie Homo sapiens, ao genero Homo, à família dos hominídeos (como o chimpanzé), à ordem dos primatas (juntamente com o lémure), à classe dos mamíferos (onde se inclui por exemplo o gato), ao filo dos cordados (que inclui peixes, aves ou répteis) e, finalmente, ao reino dos animais, como as formigas, as anémonas e as lombrigas. Cada espécie é ordenada desta maneira. Por isso, desde que o naturalista sueco Carl Lineu começou a sistematizar a vida natural, no século XVIII, a ciência construiu uma árvore da vida para os animais, que inclui um reino, 32 filos, 90 classes, 493 ordens, 5403 famílias e 94,240 generos. As espécies até agora descobertas são 953.434. Mas, quando a equipe do Canadá desenhou um gráfico

Kiwa hirsuta. Esta espécie de lagosta foi encontrada no Pacífico, em uma região próxima a Antártida. Foto: A. Fifis/IFREMER

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Estrela do mar, descoberta no chão do fundo do mar do Ártico.

Harpaphe haydeniana.

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Bathocyroe fosteri. Foto de Marsh Youngbluth

Vigtorniella sp Foto de Yoshihiro Fujiwara/JAMSTEC

Oryza officinalis

Os novos números apresentados pelo Censo da Vida Marinha 70 REVISTA AMAZÔNIA

Ainda a ser descoberto e catalogado, os cientistas estimam, são entre 74.000 e 90.000 espécies de plantas, algumas das quais podem ajudar a aumentar a produção mundial de alimentos. Este arroz selvagem, Oryza officinalis, fotografada nas Filipinas, inerentemente, resiste a pragas e doenças e tolera condições ambientais extremas. Os genes de tais espécies são utilizadas para melhorar as variedades de arroz cultivado. Imagem do International Rice Research Institute revistaamazonia.com.br


Histiophryne psychedelica. Peixe psicodélico, encontrado na Indonésia . Foto de David Hall

No novo Centro de Darwin no Museu de História Natural, em Londres. Fotografia: Linda Nylind

com o número de cada nível da árvore, verificaram que se formava uma curva bem desenhada que previa a existência de 7,77 milhões de espécies de animais. Foi assim que chegaram ao número total de espécies, depois de aplicarem a mesma estimativa a todas os reinos da Vida, o que inclui, entre outros, plantas e fungos. Ao todo, 91 por cento das espécies que povoam os oceanos e 86 por cento das que estão em terra ainda são desconhecidas. Ou seja, já estão catalogados 1,32 milhões de espécies. As estimativas obtidas em relação às bactérias e aos protozoários não são tão seguras. “Se não soubermos qual o número de pessoas de uma nação, como poderemos planear o futuro?”, questionou Boris Worm, outro membro da equipe, também da Universidade de Dalhousie, comparando o problema com a biodiversidade. “A humanidade comprometeu-se a salvar as espécies da extinção, mas até agora tínhamos apenas uma pequena ideia de quantas existem”, acrescentuou. Boris Worm refere que a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, recentemente atualizada, aponta para 59.508 espécies, das quais 19.625 estão classificadas como ameaçadas, ou seja, menos de um por cento das espécies de todo o mundo. O estudo sugere ainda que com as técnicas tradicionais para descobrir e descrever espécies só daqui a 1200 anos, através do trabalho de 300 mil especialistas, e gastando 364 mil milhões de dólares (252 mil milhões de euros) é que as 8,7 milhões de espécies entrariam no catálogo da vida. No entanto, os cientistas notam que as novas técnicas de ADN vão reduzir certamente o custo e o tempo desta empreitada.

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Chondrocladia turbiformis (Meliiderma). Esponjas carnívoras do Pacífico Archaeidae. Descoberto junto com outras nove novas espécies de aranhas em Madagascar. As espécies são caracterizadas por seus pescoços extraordinariamente longos e maxilares e que comer outras aranhas. Foto de Jeremy Miller

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A foto vencedora do Grande Prêmio, mostra uma águia-pescadora em ação. Foto: Peter Cairns

Concurso global de imagens da vida selvagem Imagens estão expostas no Museu Smithsonian, em Washington (EUA) 72 REVISTA AMAZÔNIA

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Premiada na categoria “Zoológicos e Aquários”, a foto acima mostra o encontro de um filhote de pato com um gorila no Zoológico do Bronx, em Nova York. Foto: Tom Warren

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Museu Smithsonian de História Natural, em Washington (EUA), está exibindo até 25 de setembro as fotos vencedoras do concurso anual Windland Smith Rice International Awards da revista Nature’s Best Photography, que escolhe as melhores imagens da vida selvagem ao redor do mundo . O concurso recebeu mais de 20 mil inscrições, de imagens que capturam momentos únicos da vida selvagem em 56 países. As fotografias capturam cenas do cotidiano de animais em florestas, geleiras, planícies, montanhas e oceanos de todo o mundo. A imagem vencedora do Grande Prêmio, do fotógrafo escocês Peter Cairns, mostra uma águia-pescadora em ação na Finlândia. Segundo o museu, o concurso almeja “reconhecer a paixão e a dedicação de fotógrafos da natureza”. Um júri formado por três profissionais escolheu as 147 melhores fotografias em 19 categorias, que incluem “Zoológicos e Aquários” e “Pessoas na natureza”. “A cada ano as imagens enviadas para a competição continuam a nos surpreender e impressionar. Na medida em que a tecnologia digital evolui, melhora também a qualidade das imagens produzidas”, diz Steve Freligh, fundador da revista Nature’s Best Photography e presidente do comitê da premiação.

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A melhor foto da categoria de Pássaros, acima, mostra duas águias carecas, uma mais velha e uma mais nova, no Estado do Alaska, nos Estados Unidos. Foto: Albert Valentino

Caranguejo da ilha de Madagascar, na África. Foto: Cristina Mittermeier

Serviço: Os produtos artesanais podem ser encontrados nas lojas de souvenirs dentro da RDSA. As encomendas são realizadas através da gerente de vendas, Nezimar Oliveira, pelo telefone (97) 9902-9392 ou (97) 8116-1908 e pelo e-mail tecumedaamazonia@gmail.com. Os preços das peças artesanais variam de R$ 5 a R$ 180. Para mais informações sobre a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Amanã, acesse www.mamiraua.org.br

Urso polar do Ártico se sacode para secar o pelo. Foto: Eric Coomes O sol do meio-dia ilumina a poeira dentro de uma caverna subterrânea do cânion Antelope, no Estado do Arizona, nos EUA. Foto: Peter Lik

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Durante a cerimônia de premiação no Museu Smithsonian

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Vencedora da categoria de Foto Digital Criativa, a montagem de fotos acima mostra a preparação pulo de um sapo entre duas plantas, na Espanha. Foto: Francisco Mignorance

Flamingos sobrevoam montanhas cobertas de neve na Patagônia chilena. Foto: Ben Hall Beija-flor se defende do ataque de uma víbora, na Costa Rica. Foto:Bence Máté

Os melhores fotógrafos da natureza na cerimônia de premiação revistaamazonia.com.br

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por

Alexandre Floriani Ramos *

Embrapa tem banco genético de espécies da AL Parceria entre Embrapa e Jardim Zoológico de Brasília para a conservação de recursos genéticos animais.

R

ecentemente o Banco Brasileiro de Germoplasma Animal- BBGA, recebeu, como fiel depositário, do Jadim Zoológico de Brasília, 604 palhetas de células somáticas criopreservadas referentes a 16 indivíduos de 14 espécies de animais silvestres existentes no referido Zoológico. Dentre as espécies estão a onça pintada, raposa, gato do mato, jaguarundi, tamanduá bandeira, macaco prego, quati, macaco aranha, bisão, lobo guará, cachorro do mato, leão, jaguatirica e tigre.

Esta parceria entre Embrapa e Jardim Zoológico de Brasília, além de assegurar a manutenção do material genético que foi depositado no BBGA, objetiva o desenvolvimento de pesquisas de reprodução assistida e de conservação de espécies nativas do Cerrado. Animais que morrerem no zoológico terão amostras de tecido coletadas para a criopreservação de células somáticas e de espermatozóides, trabalho que será realizado na Embrapa Cerrados sob coordenação do pesquisador Carlos Frederico Martins.

O material coletado será depositado no BBGA e poderá ser utilizado em futuras pesquisas que auxiliem na conservação desses recursos genéticos como: caracterização genética, auxílio no manejo genético e produtivo, clonagem, recuperação de animais feridos, entre outras. Além disso, Embrapa e Jardim Zoológico de Brasília pretendem trabalhar juntas no manejo de capivaras. Atualmente há uma superpopulação desta espécie no zoológico e entorno. A proposta é estudar o comporta-

Botijão Criogênico BBGA

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Lobo-guará

mento desses animais e traçar uma estratégia de manejo genético e de controle populacional desses animais. Este trabalho será realizado com apoio da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia através do pesquisador José Roberto Alencar Moreira. Esta parceria é um grande avanço para a conservação de recursos genéticos animais uma vez que o Jardim Zoológico possui uma grande diversidade de espécies e a Embrapa o conhecimento e a tecnologia necessária para assegurar a coleta, a multiplicação e a manutenção deste material genético. [*] Curador do Banco Brasileiro de Germoplasma Animal Pesquisador A da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Macaco-prego

Vista superior do BBGA Tamanduá

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por

Camillo Vianna * e Walter Chile **

Curiosidades do Reino das Amazonas II O grande chuveiro Que no Tapajós desabou Deixou debaixo d’agua O cemitério que de bubuia ficou Dois bichos cascudos Quando se põem a lutar Fazem barulho infernal Que parece nunca acabar O pássaro pega a cobra E no céu vão se atracar A luta leva bom tempo Até um deles finar Pirarucu peixe-cobra Coisa difícil de achar Quem topa com um deles Com certeza vai se assombrar

O peixe elétrico Quando quer se alimentar Dá choque em açaizeiro Para os caroços derrubar

A surucucu mudou de nome Por causa da devastação Na orla de Belém É chamada sucuri e veio para assombrar

O poraquê de 600wolts Está pronto para lutar Nem o jacaré se atreve Pois é capaz de se finar

A cobra Pepeua estufa o papo Como se fosse atacar Mas tudo é faz de conta Ela não tem veneno pra injetar

Os grandes gatos pintados Quando querem rafear Urram procurando a fêmea Até que a possa encontrar O pássaro pega a cobra

Quando a água é muito grande E a chuva vem encostar Começa o desbarrancamento Que acaba com a fauna e a flora Que existam no lugar No tempo da seca braba A terroada faz estrago Prejudicando tudo que é bicho Poucos conseguem escapar A peixarada também morre Desde a traíra, pirarucu, tamuatá Deixando com muita fome O pessoal do lugar A situação está piorando Não dá prá acreditar Os piratas estão retornando E danam-se a atacar, roubar e matar Os ribeirinhos com medo Começam a debandar Abandonam suas casas Levando o que podem carregar

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Pesca predatória mais recente Na Costa do Salgado e Amapá Tubarões são mortos Para suas barbatanas exportar A bio-pirataria Aumenta sem parar O meio-ambiente vai se acabando E ninguém consegue frear

Amazônia é mar aberto Para quem quiser pescar Todos fazem o que querem Sem pensar em preservar

Outra novidade acontece por aqui Ribeirinhos lanceiam botos Que correm o risco de acabar Isso não dá pra aceitar

O desperdício é imenso Não dá para avaliar A última secura do Amazonas Foi de amargar

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A mortandade foi grande não deu para contar Nem a corujinha do tabocal consegue escapar A água desaparece E a fauna tende a acabar A caça dos animais silvestres está indo a todo vapor É ingenuidade acreditar Que tudo está na Paz do Senhor Senhora Santana Senhor São Joaquim Na hora da morte Lembrai-vos de mim [*] SOPREN/ SOBRAMES [**] UFPA

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Índice de inovação: Brasil melhorou, mas ainda inova pouco À frente da Índia, mas atrás do Chile, inovação no Brasil ainda deixa a desejar. Apesar da produção científica ter dado um salto, país falha em transformar conhecimento em negócios, aponta Índice Global de Inovação

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novar é a chave do crescimento econômico e prosperidade, prega o Índice Global de Inovação (GII, na sigla em inglês), que acaba de lançar o ranking 2011. Saltando do 60º lugar, em 2010, o Brasil aparece este ano na 47ª posição, à frente de países como Rússia, Índia e Argentina, mas atrás de China (29º), Portugal (33º), Chile (39º) e Costa Rica (45º), numa lista de 125 países. As primeiras colocações não são de causar espanto: a Suíça lidera o GII, a Suécia vem logo em seguida, os Estados Unidos aparecem em sétimo e a Alemanha em 12º lugar. Se a inovação sempre foi responsável pelo relativo sucesso desses países, agora, numa realidade de crise e corrida pela estabilidade, “mais do que nunca, ela é ainda mais decisiva”, avalia Ben Verwaayen, do conselho do GII, que tem entre seus membros diversos órgãos das Nações Unidas e a Comissão Europeia. O Brasil tem um contexto bastante peculiar. Apesar da acelerada evolução do conhecimento científico no país,

toda essa sabedoria produzida em território nacional não foi transformada em riqueza na mesma proporção. O secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Mota, admite as dificuldades. “Os contrastes do imenso Brasil também se refletem no campo da ciência”, disse em entrevista à Deutsche Welle. Ainda assim, Mota se diz otimista quando considera o perfil do brasileiro. “Somos um povo criativo, mas isso não quer dizer inovador. Inovar é transformar esse potencial de criatividade em negócios. Associar isso à geração de produtos, processos, definir novas funcionalidades para produtos antigos. Há um espaço enorme para o Brasil crescer, temos potencial.”

Abismo e divórcio Nos anos de 1990, o Brasil era responsável por apenas 1% da produção científica global. No final da década de

2010, a participação cresceu para 2,7%. “Isso é muito bom. Significa que o país, em todas as áreas teve um crescimento significativo na sua capacidade de produzir conhecimento”, afirma Mota, acrescendo que a produção científica brasileira cresce em ritmo cinco vezes maior do que o mundial. Mas nem todo esse saber encontra um fim que impacte o sistema produtivo e ajude a nação a gerar riquezas. Esse abismo que separa o meio acadêmico do empresarial também se deve à desconfiança com que muitas instituições de ensino veem a presença de empresas nos campi universitários – é quase um divórcio, descontrai Mota. “Exatamente o que a Alemanha tem de mais interessante, que é a definição ou influência das suas linhas de pesquisa tendo em vista as demandas provenientes da sociedade, especialmente dos empresários, isso no Brasil ainda é uma cultura em implantação, numa velocidade que poderia ser mais acelerada”, comenta o secretário. O

Tecnologia + Meio Ambiente = Prosperidade para o Agronegócio

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maior exemplo dessa política alemã, que contribui para que o país inove sempre, é o Instituto Fraunhofer, que conta com 80 centros de pesquisa em todo o território alemão. Do lado empresarial brasileiro, Paulo Mol, gerente executivo de estudos e políticas industriais da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), admite que “a conversa entre indústria e universidade não é bem feita.” E talvez seja esse um dos grandes desafios que o Brasil tem à sua frente, rumo a um crescimento sustentável e permanente.

Um caso de sucesso Por outro lado, o agronegócio brasileiro conseguiu transpor esse vão e dar ao país a posição de liderança em muitos setores, como grãos, exportação de carne bovina e de sucos. E isso aconteceu não só porque o solo brasileiro é bom, como destaca Mota: “Mas essencialmente porque foi uma área em que soubemos transformar a tecnologia de ponta e inovação em negócios. Esse mesmo sucesso não repercutiu igualmente no setor industrial.” Por anos a fio, o setor industrial brasileiro se abasteceu de importações de tecnologia. O investimento no chamado setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) é relativamente recente. Segundo Paulo Mol, quando se compara com o resto da América Latina, o Brasil não está tão mal: o investimento em inovação chega a 1% do PIB brasileiro. No entanto, nos países ricos essa cifra chega a 3%. Sobre a diferença de resultados em comparação com o agronegócio, Mol comenta: “O nível de complexidade na indústria é muito maior.” Para inovar, o empresário brasileiro precisa vencer burocracia – e enfrenta atualmente ainda a questão dos altos custos. “O produto mais caro: recursos humanos. O custo de um pesquisador brasileiro, frente a outros países, é muito alto. Isso se deve também à valorização do real”, aponta Mol. Ainda assim, o representante da CNI se mostra animado quanto a um futuro mais inovador. “Estou otimista porque percebo um movimento de aproximação dos dois setores, acadêmico e industrial. Mas há muito trabalho pela frente.” Recentemente, a IBM instalou no Brasil seu centro de P&D, um pouco depois de GE e da Rhodia. A alemã Siemens também disse ter intenção de pesquisar e inovar em solo brasileiro. Agronegócio brasileiro: inovação e liderança mundial

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O investimento em inovação chega a 1% do PIB brasileiro

Inovação O SUCESSO para o agronegócio Inovar é a chave do crescimento econômico e prosperidade

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Edição 28 R$ 10,00

ISSN 1809-466X

Ano 6 Número 28 2011

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AMAZÔNIA: DESAFIO BRASILEIRO DO SÉCULO 21 BRASIL SEM MISÉRIA NO NORTE SUSTENTÁVEL 2011 AMAZALERT


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