Revista
Ano 7 Nº 34 Setembro/outubro 2012 ISSN 1809-466X
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Editora Círios
Ano 7 Número 34 2012 R$ 12,00 5,00
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RIO AMAZONAS
UMA DAS SETE MARAVILHAS NATURAIS DO MUNDO
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Mais do que uma das maiores manifestaテァoes religiosas do mundo, o Cirio de Nazare e uma experiencia transformadora em cada um de nos, mas que produz uma grande energia para todos. E a Eletrobras Eletronorte conhece a energia do povo paraense. Seja na preservaテァao da cultura indigena Parakana, seja na abertura de mais de sete mil vagas escolares em municipios da regiao da Usina Hidreletrica Tucurui, a gente sabe que investir nas pessoas e gerar energia para um Brasil cada vez mais forte. 2 REVISTA AMAZテ年IA
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06 Rio Amazonas, uma das sete maravilhas naturais do mundo
Os festejos aconteceram no Peru porque foi o governo da região peruana de Loreto quem promoveu a candidatura desse patrimônio natural, em distinção promovida pela fundação New 7 Wonders e compartilhada por Brasil, Bolívia, Equador, Suriname, Colômbia, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa...
12 Parque Montanhas do Tumucumaque e o dia da Amazônia
Como parte das comemorações do Dia da Amazônia e pela primeira década de existência do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, com o apoio da WWF-Brasil, realizou uma programação especial...
20 Carbono Verde: Comércio Negro
Entre 50 a 90 por cento da exploração madeireira nos principais países tropicais da Bacia Amazônica, África Central e Sudeste da Ásia está sendo realizada pelo crime organizado e ameaça os esforços para combater a mudança do clima, o desmatamento, a conservação da fauna e a erradicação da pobreza...
28 A reunião da ONU
sobre mudança climática A reunião preparatória em Bangcoc, na Tailândia, para a Convenção da ONU sobre Mudança Climática – CMNUCC, que será realizada no final do ano em Doha, no Catar, teve o objetivo de alcançar um pacto global de redução de emissões de gases poluentes...
38 O Amazonas e seus desafios
A petrolífera brasileira HRT acaba de informar ao mercado ter descoberto gás na bacia do Solimões, no Amazonas, na região batizada de Polo Gaseífero de Tefé. Esta descoberta, envolvendo dois poços, se junta aos três poços situados na mesma região onde, anteriormente, haviam sido identificados fortes indícios da presença de hidrocarbonetos...
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PUBLICAÇÃO Período (setembro/outubro) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Camillo Martins Vianna , Eduardo Braga, Dan Watson, José Augusto Moreira, Maria J. Costa, Michele Borges, Sarney Filho, Wanda R. Günter e Wilson Santiago Filho FOTOGRAFIAS Acervo PNMT, Antonio Cruz/ABr, Alciane Ayres, Arquivo IUCN, Arquivo RedLAC, Arquivo WindGEN3000, Alessandra Lameira, Beatriz Arruda, Carlos García Lazo, Dan Watson, Gustavo Trentin Prado, Jan Golinsf/UNFCC, Leslie Searles, Luis Nazzaferro Jr, Luc Viatour , Paulo Russo, Peter Betts, Rodolfo Oliveira/Ag.Pará, Rodrigo Rodrich, Rudolph Hühn, Universidade de Kiel, Karen Zárate, Valter Campanato/Abr, Yann Arthus-Bertrand, Wilson Dias/ABr e WWW/Y.J. Rey Millet. Ilustrações/Gráficos: American Chemical Society, EPE e Relatório PNUMA/Interpol. EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Mequias Pinheiro NOSSA CAPA Onça. A Amazônia ainda é um dos últimos refúgios da Terra para inúmeros animais, incluindo onças como esta. São fortes nadadoras e escaladoras, requerem grandes áreas para sobreviver. No entanto, de acordo com a WWF, a caça e a perda de habitat devido ao desmatamento, ameaçam a sobrevivência destes gatos maravilhosos. Foto de Niall Dunne
40 A biodiversidade está seriamente ameaçada
Mais conteúdo verde
[16] Internet vai mapear iniciativas de conservação da natureza na Amazónia [17] Defender a Floresta Amazônia é dever de todos [24] 5º Congresso Mundial da Natureza [34] É português e pode ser a solução energética para qualquer casa [35] A Vale está entre líderes no uso de energia renovável [36] Nano-engenharia: Aerografite, o ultraleve [37] Asas de borboletas – coletoras de energia solar [44] Árvores [46] A hidrovia Tapajós -Teles Pires [48] Designer inventa “saídas de emergência” nas redes de pesca [50] Amazônia abriga terceira corrida do ouro no Brasil [53] A Amazônia, o Brasil e o planeta estão perdendo... quem ganha? [54] Basic em Brasília, defende Protocolo de Kyoto [58] Fórum Nacional Especial [61] Furnas adere à agenda ambiental da administração pública [66] ECO Business 2012 [68] Benchmarking Brasil 2012 [70] 5ª FIBoPS [72] Coleta de lixo tóxico ainda é desafio para o Brasi [73] O correto descarte de pilhas e baterias [74] Exposição A Terra Vista do Céu mostra o mundo por meio de fotografias aéreas [76] Sairé 2012 [80] Recordações de onças da Amazônia
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ISSN 1809-4 66X
A biodiversidade de metade das áreas tropicais protegidas, entre as quais a Amazónia e florestas da América Central, está “seriamente ameaçada”. As áreas mais ameaçadas são aquelas nas quais o nível de proteção diminuiu nas últimas décadas, ou que acabaram prejudicadas por atividades econômicas, como a exploração florestal, a invasão dos terrenos, as queimadas para criar pastos e a mineração ilegal...
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UMA DAS AZONAS NATURAISSETE MARAVILH AS DO MUND O revistaamazonia
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Rio Amazonas, uma das sete maravilhas naturais do mundo Uma cerimônia celebrou a escolha do Rio Amazonas como uma das sete maravilhas naturais do mundo
Os festejos acon o governo da re teceram no Peru porque fo i promoveu a ca gião peruana de Loreto quem ndidatura dess e patrimônio na tural
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Fotos: Carlos García Lazo, Leslie Searles, Karen Zárate, Rodrigo Rodrich, Rudolph Hühn
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s festejos aconteceram no Peru porque foi o governo da região peruana de Loreto quem promoveu a candidatura desse patrimônio natural, em distinção promovida pela fundação New 7 Wonders e compartilhada por Brasil, Bolívia, Equador, Suriname, Colômbia, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa. O concurso começou em 2009 e a votação contou com a participação de milhões de pessoas na Internet.
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Houve um grande consenso em todo o mundo para escolher o Amazonas como uma das maravilhas da natureza mundial”, disse Bernard Weber
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As sete novas maravilhas da natureza mundial No total, o concurso recebeu mais de 450 candidaturas, mas apenas 77 foram selecionadas para a segunda etapa, das quais um painel de especialistas escolheu as 28 que chegaram à votação final. Das 28 finalistas, sete candidaturas procediam da América, cinco da Europa, duas da África, três da Oceania e 11 da Ásia. Junto com o Amazonas, entre as sete novas maravilhas da natureza mundial, estão a montanha da Mesa na África do Sul, as Cataratas do Iguaçu, a baía de Ha Long no Vietnã, a ilha Jeju, na Coreia do Sul, o Parque Nacional de Komodo, na Indonésia, e o Rio Subterrâneo de Porto Princesa, nas Filipinas. O Rio Amazonas, com uma extensão de 6,8 mil quilômetros, é o mais longo do mundo, sendo que sua bacia é considerada o pulmão verde do planeta por sua enorme biodiversidade. A nascente dele é o Rio Apurímac, na Cordilheira dos Andes, no Sul do Peru, e a foz no Rio Tocantins, no Norte do Brasil abrangendo territórios Brasil, Bolívia, Equador, Suriname, Colômbia, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa.
Embarcações participam de comemoração em Iquitos (Peru), após o rio Amazonas ser escolhido como uma das sete maravilhas naturais do mundo. A festa aconteceu no Peru porque foi o governo da região de Loreto quem promoveu a candidatura
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Rio Amazonas
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“Houve um grande consenso em todo o mundo para escolher o Amazonas como uma das maravilhas da natureza mundial”, disse Bernard Weber, diretor da organização suíça. “Com este reconhecimento, o rio se posiciona como parte da memória global no início do terceiro milênio”, acrescentou diante dos moradores da cidade de Iquitos. Durante a cerimônia e reconhecimento realizada em Loreto, no Peru, barcos e lanchas desfilaram no rio mostrando mitos e lendas da floresta amazônica peruana. Por meio de telas gigantes colocadas nas sete cidades localizadas na região, os moradores acompanharam a solenidade. O presidente Ollanta Humala participou da cerimônia disse que está orgulhoso por ter o Rio Amazonas em parte de seu território e convidou pessoas de “todas as partes do mundo” a conhecê-lo, e afirmou que a escolha da nova maravilha da humanidade terá um impacto significativo no turismo na floresta peruana. Ollanta Humala, anunciou planos para construir um Museu da Amazônia Nacional, a fim de agregar valor à região.
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O presidente prometeu ao Presidente do Congresso, Victor Island e presidente regional, Ivan Vasquez, para participar na construção do Museu Nacional da Amazônia, que terá como objetivo “reforçar a memória” da Amazônia.
Ollanta Humala, o presidente do Peru (à esquerda) com Bernard Weber, fundador-presidente da New7Wonders (direita), na inauguração da placa na cidade peruana de Iquitos – Amazônia, uma das Novas 7 Maravilhas da Natureza
“Temos de construir a memória, e esses belos mitos que ouvimos contada com paixão, fazem parte da memória que é transmitida de pai para filho e assim por diante”, disse o presidente. A festa terminou ao pôr do sol e, sob os olhares de centenas de habitantes locais, aconteceu um colorido desfile de embarcações e balsas alegóricas que representavam mitos sobre a origem do rio. Diversas etnias participaram dos festejos, muitos de seus integrantes com trajes típicos e dançando ao som da música que ecoava por todo o rio. As celebrações na cidade de Iquitos, capital de Loreto, se estenderam à praça, onde houve a apresentação de músicos e espetáculos artísticos. 10 REVISTA AMAZÔNIA
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Na capital de Loreto, Iquitos, houve um city tour nas principais áreas turísticas. Na prefeitura de Iquitos foi descerrada uma placa de bronze com a certificação oficial do Rio Amazonas como uma das maravilhas naturais do mundo.
Loreto em festa
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Parque Montanhas do Tumucumaque e o dia da Amazônia Foi inaugurado espaço para observação da natureza Fotos: Acervo PNMT, Alessandra Lameira e Paulo Russo
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omo parte das comemorações do Dia da Amazônia e pela primeira década de existência do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, com o apoio da WWF-Brasil, realizou uma programação especial envolvendo conselho consultivo, poder público e a sociedade civil dos municípios do entorno do Parque, tais como: Oiapoque, Laranjal do Jari, Serra do Navio, Pedra Branca do Amapari, Calçoene e Almerim. Durante essa data, foi inaugurado o Centro Rústico de Vivência (CRV) do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. O CRV é o “embrião” de um possível Centro de Interpretação da Natureza, que são espaços destinados a apresentar as características de uma unidade de conservação ou de áreas naturais para o público em geral. O
deslocamento dos convidados a participarem do aniversário de 10 anos de criação do PNMT primeiramente foi feita de Macapá para Serra do Navio (210 Km), no dia 04 de setembro. Chegando a Serra do Navio, os convidados puderam se confraternizar no Restaurante Dom Acácio, e logo após foram para a comunidade do Riozinho que
em seguida foram rumo ao o Centro Rústico de Vivência (CRV), enfrentando mais 45 km pelo rio Amapari, em “voadeiras”. O CRV foi montando na entrada da Unidade de Conservação por Serra do Navio. Durante a viagem, os convidados puderam observar as lindas paisagens e entender o difícil acesso ao Parque. Todos foram recebidos ao som do Marabaixo, apresentado pelo Grupo Raízes do Bolão. Em seguida, o ator Álvaro Braga fez uma apresentação teatral falando dos mitos da Amazônia, e, posteriormente, alegrou à todos os presentes cantando ao som do violão. No dia 5 de setembro foi feita uma reunião extraordinária alusiva aos 10 anos de criação da Unidade de Conservação, e foram abordados vários assuntos tais como: retrospectiva da gestão do PNMT, pesquisa em unidades de conservação, uso público, trilhas e educação ambiental. Os participantes fizeram uma trilha de 700 metros dentro do Parque e observaram como esta unidade de conservação possui aspectos únicos tanto na flora, quanto na fauna. Segundo o Tenente-Coronel do 34º Batalhão de Infrataria de Selva, Ricardo Quadros, a WWF e outras instituições com a mesma finalidade, de proteger a natureza, são os maiores aliados do exército brasileiro. Participaram da comemoração dos 10 anos de criação do Parque três analistas de conservação da WWF-Brasil: Luiz Coltro, Bruno Reis e Mariana Napolitano. “O importante da comemoração dos 10 anos do Parque é essa aproximação de quem vive o dia-dia a conservação com as pessoas que não trabalham no meio de preservação ambiental. Você vivenciar o espaço preservado, o Tumucumaque representa muito bem isso, vivenciando o pulsar da biodiversidade. A comemoração foi fundamental para apresentar para quem não vive a conservação in loco”, ressaltou o analista de conservação, Bruno Reis. “Para a WWF é superimportante participar deste momento, já que a organização vem apoiando em diCom uma área aproximada de 3.867.000 hectares, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), criado em 22 de agosto de 2002, está situado entre o estado do Pará e Amapá, é uma das maiores áreas de floresta tropical protegidas do mundo
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Percorrendo uma trilha de 700 metros, até as margens do rio Feliz
No PNMT, rica biodiversidade, árvores exuberantes, algumas superando 50 metros de altura e com troncos avantajados
ferentes formatos, em diferentes intensidades. E durante 1 ano e meio viemos apoiando o Parque com objetivo de aumentar a sua relação da Unidade de Conservação com seu entorno. Sobre o evento? Eu achei muito bom está dentro do Parque com diferentes pessoas, desde representantes do governo executivo, comunidades locais, aldeias e organizações governamentais, não só falando, mas vivendo o dia-dia e entendendo a dificuldade que é de deslocamento, de logística. Isso aproxima as pessoas da realidade do Parque”, afirmou Mariana Napolitano. “Esses 10 anos de comemoração são 10 anos que refletem uma equipe dedicada e uma parceira de sucesso com a WWF Brasil. Se não fosse a equipe, tínhamos certeza que as ações não seriam continuas. A equipe que tem a linha do tempo e de ação da Unidade de Conservação” citou Luiz Coltro. Para a realização deste evento o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque tem o apoio da organização não governamental, WWF Brasil, e do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA). O WWF-Brasil apoia a implementação do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque há vários anos e já realizou expedições científicas para esta Unidade de Conservação em duas ocasiões: em 2006 e 2011.
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Para conhecer melhor a flora e fauna do lugar
Turismo é prioridade O gestor do Parque Nacional, Cristoph Jaster, afirmou que o Tumucumaque vive hoje um momento de reflexão
sobre o seu futuro. “Muita coisa foi feita nestes 10 anos. Mas, com a conclusão do plano de manejo, passamos agora a uma fase mais ativa, de real implementação desta Unidade de Conservação. O desafio é promover ações que demonstrem os benefícios do Parque para as comu-
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e boa relação com as comunidades próximas. “O WWF-Brasil tem orgulho de apoiar o trabalho de uma equipe gestora tão competente, que vem desempenhando um papel muito importante para que o Parque conte hoje com os seus principais instrumentos de gestão”, afirmou. Representante do Exército Brasileiro, o tenente-coronel Ricardo Quadros fez uma referência especial às organizações não-governamentais que atuam na Amazônia. “Estamos atuando como aliados no mesmo trabalho, que é manter o espírito da conservação e a disposição de trabalhar em regiões distantes e isoladas do nosso País”, contou. Às margens do rio Feliz
nidades do entorno e para o Estado. Nesse contexto, o uso público – ou seja, a utilização turística - é uma de nossas prioridades, com dois pólos principais: as cidades de Serra do Navio e Oiapoque”, explicou na ocasião. O analista de conservação do WWF-Brasil, Luiz Coltro, contou que os eventos serviram para comemorar o sucesso do Tumucumaque – uma unidade de conservação que possui vários instrumentos de gestão ativos, como um conselho consultivo atuante, plano de manejo criado Estamos atuando como aliados no mesmo trabalho, que é manter o espírito da conservação e a disposição de trabalhar em regiões distantes e isoladas do nosso País O Parque do Tumucumaque abriga grande diversidade de flora e fauna endêmicas
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Chefe do PNMT desde 2003, Christoph Jester
Estruturas do Centro Rústico de Vivência
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Na opinião do chefe do PNMT, Christoph Jester, alemão naturalizado brasileiro que está chefiando a UC desde 2003, os 10 anos de existência do Parque é um motivo para se comemorar, mas também uma oportunidade para se fazer autocrítica e avaliação do que já foi feito. “Nós poderíamos comemorar se tudo estivesse as mil maravilhas, mas não está”, explica Christoph, “pois embora tenhamos o apoio de algumas Organizações Não-Governamentais (ONG’s) e estejamos numa situação boa, o número de integrantes da equipe que administra o Parque ainda é muito pouco. Esse sempre foi o nosso maior gargalo e de outras UC’s do Estado, que em alguns casos possuem apenas uma pessoa gerenciando-as”.
O grupo Raízes do Bolão, apresentou um número de Marabaixo, uma manifestação folclórica típica da região onde fica o Parque
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O projeto quer promover os projetos de conservação na região amazónica
Internet vai mapear iniciativas de conservação da natureza na Amazónia
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identificação de oportunidades de investimentos e a promoção de iniciativas de conservação da biodiversidade na Amazónia são os objetivos da plataforma na internet Ecofund, criada para monitorizar as iniciativas nos nove países amazónicos. O Ecofund está sendo desenvolvido desde 2008 e deve ter a sua versão final lançada 5 de Novembro, em Lima, no Peru, durante o congresso da Rede de Fundos Ambientais da América Latina e Caribe (RedLAC). Segundo Camila Monteiro, gerente de comunicação e redes do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), que irá administrar a iniciativa, a plataforma será aberta e reunirá dados de projetos dos 24 fundos ambientais de 15 países da América Latina e Caraíbas. “A ideia surgiu para comparar os investimentos que são feitos, as instituições que investem e encontrar uma forma de promover os projetos de conservação na região amazónica”, disse a representante do Funbio. Para Camila Monteiro, esta é uma ideia pioneira e deve servir de estímulo para “identificar os vazios de investimentos ou até mesmo a duplicidade de recursos que podem ser aplicados de uma forma mais eficaz e inteligente”. O foco inicial será na região amazónica, mas se a inicia-
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tiva provar ser duradoura, poderá estender-se a outros biomas do continente. “Queremos coordenar estratégias de investimentos e optimizar a atribuição de recursos aos projetos”, explicou. Outra novidade é que o portal online será georreferenciado, isto é, os utilizadores que terão livre acesso às informações de projetos na Amazónia poderão localizá-los no Google Maps. “Será uma espécie de montra de projetos ambientais”, acrescentou a representante do Funbio. Até agora, foram investidos 700.000 dólares (560.000 euros) e o número de projetos registados já ultrapassa os mil. Uma empresa norte-americana especializada em base de dados foi contratada para reestruturar o cadastro de projetos e uma empresa brasileira de tecnologia da informação está trabalhando numa nova versão da interface da plataforma. “Estamos organizando o banco de dados e fazendo a integração com o Google Maps. A ideia é saber onde os
recursos estão sendo aplicados”, explicou Rodrigo Teixeira, diretor comercial da QX3, empresa da área da Internet que está trabalhando com o Ecofund. Até Janeiro de 2013, a plataforma online estará em pleno funcionamento e poderá ser acedida por qualquer pessoa que tenha interesse em saber o que está sendo feito na Amazónia.
Para saber o que está sendo feito na Amazónia
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Defender a Floresta Amazônica é dever de todos
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om sete milhões de quilômetros quadrados, sendo cinco milhões e meio de florestas, a Amazônia é hoje um dos patrimônios naturais mais valiosos de toda a humanidade. Para conscientizar a população sobre a importância da floresta amazônica para o meio ambiente foi instituído em 5 de setembro de 1850 “O Dia da Amazônia”. A maior floresta tropical do mundo ocupa um território muito extenso e tem uma variedade de animais, plantas e rios tão grande que ajuda a controlar o clima na terra. Lá estão 50% de todas as espécies do planeta. Este domínio biogeográfico ocupa 60% do território brasileiro e possui uma área que abrange oito países como Brasil, Peru, Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Estima-se que no Brasil 30 milhões de pessoas vivem na Amazônia. Toda esta riqueza e beleza precisam ser preservadas para as futuras gerações. A exploração dos recursos da Amazônia devem ser retirados de forma sustentável, ou seja, sem agredir a natureza. A Amazônia tem importância ambiental incalculável para o planeta por possui a maior biodiversidade do mundo, e abriga uma infinidade de espécies animais, vegetais e arbóreas. A riqueza da flora na região compreende aproximadamente 30.000 espécies, cerca de 10% das plantas de todo o planeta. São cerca de 5.000 espécies de árvores. A Amazônia está sendo ameaçada por inúmeras atividades predatórias como a extração de madeira, a mineração, disputas pelo domínio de suas terras, caças e pesca sem controle e contrabandos de animais e plantas, obras de infraestrutura e a conversão da floresta em áreas para pasto e agricultura. Como parlamentar estou preocupado com a exploração ilegal na região da Amazônia, apresentei requerimento à Câmara dos Deputados para a realização do VI Simpósio Amazônia a ser promovido no dia 6 de novembro deste ano pela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional. O evento terá a participação da comunidade acadêmica, do público em geral e também a cobertura dos veículos de comunicação. O objetivo é despertar o debate de ações em proteção a Amazônia, buscar soluções, investigar e combater a revistaamazonia.com.br
por Wilson Filho*
Wilson Filho, presidente da CAINDR: Toda esta riqueza e beleza precisam ser preservadas para as futuras gerações
exploração ilegal de madeira e impedir o desmatamento que está resultando na destruição da vida dos animais e das árvores na região. A madeira é retirada e exportada para diversos estados e até para fora do País, os impactos são visíveis na floresta Amazônica, a vegetação nativa e algumas espécies estão desaparecendo por causa da exploração ilegal do homem. Estou lutando para proteger a floresta Amazônica e apresentei requerimento para a realização de audiência pública com o Presidente do IBAMA. O tema central será sobre a competência do órgão ambiental da União para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para apuração de contravenções à legislação ambiental cometidas na área da Amazônia.
O trabalho de fiscalização é de responsabilidade da União, a proteção do patrimônio nacional cabe ao Poder Público. Outra data importante celebrada em setembro é o “Dia da Árvore”. No Brasil, as homenagens são feitas em 21 de setembro, a data foi escolhida por ser próxima ao início da primavera, estação esta em que as flores aparecem em maior quantidade. Essenciais para a vida as árvores embelezam o planeta e são fundamentais para manter a umidade do ar. Além disso, ajudam a diminuir a poluição, porque dissolvem o gás carbônico, durante a queima de combustível, produzem oxigênio, mudam a direção dos ventos, firmam o solo das encostas e também as margens dos rios. No mês de setembro são comemorados duas importantes datas “O dia da Amazônia” e “O dia da Árvore”, são bens que têm valores imensuráveis para o nosso planeta. Como Presidente da CAINDR estou comprometido na luta em buscar soluções para a preservação dos recursos naturais do maior patrimônio ambiental do mundo que é a nossa floresta Amazônica. [*] Deputado Federal, presidente da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional – CAINDR e desenvolve trabalho que visam ações sustentáveis em proteção à Amazônia
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Carbono Verde: A exploração madeireira ilegal já responde por entre 15 e 30 por cento do comércio global a nível mundial
Fotos: Ilustrações do Relatório PNUMA/ Interpol
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ntre 50 a 90 por cento da exploração madeireira nos principais países tropicais da Bacia Amazônica, África Central e Sudeste da Ásia está sendo realizada pelo crime organizado e ameaça os esforços para combater a mudança do clima, o desmatamento, a conservação da fauna e a erradicação da pobreza. Em todo o mundo, a extração ilegal de madeira já responde por entre 15 e 30 por cento do seu comércio global, segundo um novo relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Interpol. As florestas do mundo capturam e armazenam dióxido de carbono e ajudam a mitigar a mudança climática. No entanto, o desmatamento, principalmente de florestas tropicais, é responsável por cerca de 17 por cento de todas as emissões de CO2 causadas pelo ser humano — 50 por cento maior do que aquela proveniente de navios, aviação e transporte terrestre juntos. O relatório “Carbono Verde: Comércio Negro” declara que o comércio ilegal, correspondente a um total de US$ 30100 bilhões por ano, dificulta a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (Iniciativa REDD) — uma das principais ferramentas para catalisar a mudança ambiental positiva, o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos e a redução de emissões de gases de efeito estufa. A Interpol também observou crimes associados ao aumento da atividade criminosa organizada, como a vio-
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Comércio criminoso ultrapassa US$ 30 bilhões de dólares e é responsável por até 90% do desmatamento tropical
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Comércio Negro Milhões de metros cúbicos de madeira ilegal é misturá-la com madeira legal
lência, assassinatos e atrocidades contra os habitantes das florestas indígenas. O relatório conclui que, sem um esforço coordenado internacionalmente, madeireiros ilegais e cartéis vão continuar controlando operações de um porto a outro em busca de seus lucros, em detrimento do meio ambiente, das economias locais e até mesmo da vida dos povos indígenas. O relatório foi divulgado na Conferência Mundial sobre Florestas, em Roma, em um evento do UN-REDD, uma coalizão do PNUMA com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Tanto o REDD quanto o REDD+ fornecem marcos legais nacionais e internacionais, incluindo acordos, convenções e sistemas de certificação, para reduzir a extração ilegal de madeira e apoiar as práticas sustentáveis. O relatório mostra que, para que o REDD+ seja sustentado a longo prazo, os pagamentos aos esforços de conservação das comunidades precisa ser maior do que os lucros provenientes de atividades que levam à degradação ambiental. “O financiamento para gerenciar melhor as florestas representa uma enorme oportunidade não somente para a mitigação da mudança do clima, mas também para reduzir as taxas de desmatamento, melhorar o abastecimento de água, diminuir a erosão do solo e gerar empregos verdes decentes no manejo de recursos naturais”, disse Achim Steiner, Sub-Secretário Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA. “A exploração madeireira ilegal pode, contudo, minar esse esforço, roubando as chances de um futuro sustenrevistaamazonia.com.br
tável de países e comunidades, caso as atividades ilícitas sejam mais rentáveis do que as atividades legais sob o REDD+”, acrescentou. Segundo o relatório, os grupos criminosos estão combinando táticas antiquadas como subornos com métodos tecnológicos, como por exemplo, hackeando sites do governo. Operações ilegais também estão se tornando
O relatório descreve 30 formas engenhosas de aquisição e lavagem de madeira ilegal. Métodos primários incluem falsificação de licenças de corte e suborno para obter licenças (que pode chegar a US$ 50.000 para uma única licença em alguns países), mas também registra novos meios criminosos como concessões e hackeamento de sites governamentais para obtenção ou alteração de licenças eletrônicas. Uma nova forma de lavar milhões de metros cúbicos de madeira ilegal é misturá-la com madeira legalmente cortada por usinas de serra, celulose, papel e cartão. Outro truque comum é a alegação falsa de que a madeira de florestas selvagens que está sendo vendida é proveniente de florestas plantadas. Em vários casos, a madeira ilegal transportada através de fronteiras e portos corresponde a um volume até 30
Imagem aérea de desmatamento divulgada pelo Pnuma
mais sofisticadas; madeireiros e comerciantes mudam suas atividades entre regiões e países para evitar esforços locais e internacionais de policiamento. REVISTA AMAZÔNIA 21
Valor anual da exploração madeireira ilegal
Causas de extração ilegal de madeira
vezes maior do que o oficialmente registrado. No entanto, essa lavagem de dinheiro e contrabando de madeira pode apoiar na aplicação de leis mais rígidas, considerando que a fraude fiscal é mais estritamente aplicada do que as leis ambientais, que muitas vezes são fracas. Grande parte da lavagem é possível graças a grandes fluxos de fundos de investimento em empresas envolvidas no crime que têm base na União Europeia, nos EUA e na Ásia, inclusive no estabelecimento de operações de plantio, com o único propósito de lavagem de madeira cortada ilegalmente. Em muitos casos, funcionários corruptos, militares e policiais locais obtêm um faturamento até dez vezes maior do que os obtidos em operações legais. Isso compromete seriamente investimentos em operações florestais sustentáveis e incentivos a alternativas de subsistência. O INTERPOL e o PNUMA, por meio de seu centro GRID-Arendal, na Noruega, criaram um projeto-piloto chamado LEAF (da sigla em inglês, Aplicação da Lei de Assistência para Florestas), financiado pelo Governo da Noruega para desenvolver um sistema internacional para combater o crime organizado em estreita colaboração com os principais parceiros.
Outros tipos de criminalidade estão ligados a extração ilegal de madeira, incluindo assassinato, corrupção, fraude e roubo
Maneiras de realizar extração ilegal de madeira
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Soy expansion in the Brazilian Amazon frontier A case study from Mato Grosso
Cuiabà
Brasilia
Sao Paulo
Matupá
Villa Rica Sao José do Xingu Canabrava do Norte
Confresa Sao Felix do Araguaia
Serra Nova Dourada Bom Jesus Querencia do Araguaia
Sinop
Sorriso Gaucha do Norte
Canarana Agua Boa
Tangarà da Serra
Biomes
Nova Olimpia
Forest Transition area Cerrado (savannah) Pantanal (swamp)
Diamantino Nobres
Barra do Bugres
Chapada do Guimaraes
Cuiaba
Paranatinga Santo Antonio do Leste Primavera do Leste Poxoréo
Santo Antonio do Leveger
Infrastructure
Nova Xavantina
Barra do Garcas
Rondonópolis
Interstate road National road
Agriculture Soy planted area Indigenous area (protected by the Federal Constitution of Brazil) Sources: IBGE and Mongabay, online databases accessed in 2010.
Madeira ilegal é vendida principalmente no mercado interno, mas até 30% seguem para exportação
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A expansão da soja na Amazônia brasileira fronteira. Um estudo de caso de Mato Grosso
Para complementar e expandir tais esforços, o relatório faz as seguin- 35 tes recomendações principais: • Fortalecer e considerar oportunidades de financiamento para o programa LEAF, em colaboração estreita com o REDD+, o Consórcio Internacional de Combate ao Crime da Vida Selvagem (ICCWC) e todos os parceiros relevantes. • Aumentar as capacidades nacionais de investigação e operação por meio de treinamentos sobre crime ambiental transnacional. • Centralizar todas as licenças de desmatamento em um registo nacional, o que poderá facilitar muito a transparência e investigação. • Classificar regiões geográficas com base no grau de suspeita de ilegalidade e restringir o fluxo de madeira e produtos de madeira dessas áreas. • Incentivar investigações de fraude fiscal com um foco particular em plantações e usinas. • Reduzir a atratividade de investimentos em empresas florestais ativas em regiões identificadas como áreas de extração ilegal de madeira por meio da implementação de um sistema de classificação internacional da Interpol de empresas de extração, operação e compra em regiões com um alto grau de atividade ilegal. REVISTA AMAZÔNIA 23
5º Congresso Mundial da Natureza Defende conservação como solução para problemas sociais
O
maior fórum mundial de preservação da biodiversidado na ilha sul-coreana de Jeju, na Coreia do Sul, e conhecido como “as Olimpíadas da Natureza”, foi realizado sob a sombra do alerta de que o modelo negligente de desenvolvimento está arruinando a saúde do planeta, empurrando milhares de espécies para a extinção. “Para salvar a Terra, todos os países devem trabalhar juntos, reconhecendo que compartilham um destino comum”, afirmou o presidente sul-coreano, Lee Myung-Bak, durante a cerimônia de abertura do Congresso. Lee afirmou que o estado do mundo natural foi “severamente comprometido” com o desenvolvimento desenfreado, que reduz a biodiversidade, levando quase 20.000 espécies à beira da extinção. “Nós não podemos imaginar formas de resolver as mudanças climáticas, a pobreza ou a falta de água, de comida e de recursos energéticos separadas da natureza”, acrescentou o presidente. Mais de 8.000 autoridades governamentais, membros de ONGs, cientistas e diretores de empresas de 170 países estavam no resort da ilha sul-coreana de Jeju para o congresso de 10 dias dedicado ao meio ambiente e à biodiversidade. A conferência quadrienal é realizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), cujo presidente, Ashok Khosla, reforçou a necessidade de uma abordagem holística socioeconômica dos esforços de conservação. “As políticas e as ações de preservação não podem ser bem sucedidas no longo prazo a menos que os países e as comunidades usem seus recursos de forma eficiente, distribuam os benefícios de forma justa e deem poder a seus cidadãos ativa e inclusivamente”, declarou Kosla. A conferência foi realizada tendo como pano de fundo alertas científicos de um risco de extinção em massa, quando espécies lutam para sobreviver em um mundo de habitats esgotados, afetadas pela caça e sufocadas pelas mudanças climáticas. Em um relatório publicado durante a cúpula Rio+20 sobre sustentabilidade, em junho, a IUCN informou que das 63.837 espécies analisadas, 19.817 correm risco de extinção. A atualização de sua “Lista Vermelha” da IUCN identificou como ameaçadas 41% das espécies de anfíbios, 33% dos corais construtores de recifes, 25% dos mamíferos,
20% das plantas e 13% das aves. Muitas delas são essenciais aos seres humanos, fornecendo alimento, trabalho e constituindo uma piscina genética para melhores cultivos e medicamentos, acrescentou o relatório da organização. Especialistas afirmam que apenas uma parte dos milhões de espécies da Terra, muitas delas microscópicas, foram formalmente identificadas. Nos últimos anos, biólogos descobriram novas espécies de rãs e aves em florestas tropicais, uma prova de que a biodiversidade do planeta é apenas parcialmente conhecida.
“Das espécies que conhecemos, centenas de extinções ocorreram entre aves e dúzias entre anfíbios; quanto aos invertebrados e aos insetos, realmente não sabemos quantos podemos ter perdido”, disse Tim Blackburn, diretor do Instituto de Zoologia da Sociedade Zoológica de Londres. Os países-membros das Nações Unidas se comprometeram, ao assumirem as Metas de Desenvolvimento do Milênio, reduzir a taxa de perda da biodiversidade em 2010, mas estão longe da meta. Após este fracasso, estabeleceram “um plano estratégico para a biodiversidade” segundo o qual prometeram evi-
Durante o 5º Congresso Mundial da Natureza
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O presidente sulcoreano Lee Myungbak, na cerimônia de abertura
Julia Marton-Lefèvre, parabeniza Zhang Xinsheng da China, eleito o novo presidente da IUCN, no Congresso Mundial de Conservação da IUCN
Zhang Xinsheng da China, o novo presidente da IUCN, em seu pronunciamento
Ashok Khosla, agora ex-presidente da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), na abertura do 5º Congresso Mundial da Natureza
tar a extinção das “espécies mais conhecidas”. A ambientalista brasileira e ex-senadora Marina Silva foi apontada como Membro Honorário da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) por sua contribuição inspiradora para a conservação da natureza. A nomeação foi anunciada em Jeju, Coreia, durante solenidade no Congresso Mundial de Conservação.
O encerramento O 5º Congresso Mundial da Natureza, terminou com a meta da conservação como solução aos problemas econômicos e sociais. Na declaração final do congresso, do qual participaram mais de dez mil pessoas, entre elas cinco mil especialistas de 153 países, foi decidido trabalhar rumo a “uma nova era de conservação, sustentabilidade e soluções baseadas na natureza”, informou a organização.
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Apelo pelas 100 espécies mais ameaçadas de extinção Os especialistas em preservação divulgaram uma lista das 100 espécies mais ameaçadas de extinção e alertaram que somente uma mudança de mentalidade pública e das autoridades poderia salvá-las da aniquilação iminente. A lista compilada pela Sociedade Zoológica de Londres (SZL) em um relatório intitulado “Inestimável ou Inútil?” (“Priceless or Worthless?”, no original) inclui 100 animais, plantas e fungos que encabeçam as fileiras dos ameaçados de sumir do planeta. Os fungos são cruciais para a vida cotidiana, nós os usamos para fazer a penicilina, pão, cerveja e molho de soja, e há três espécies de fungos na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN “Todas as espécies listadas são únicas e insubstituíveis. Se desaparecerem, nenhum dinheiro no mundo poderá trazê-las de volta”, disse a co-autora do estudo, Ellen Butcher. “Se agirmos imediatamente, podemos dar a elas uma chance de lutar pela sobrevivência. Mas isto exige que a sociedade apoie a posição moral e ética de que todas as espécies têm o direito inato de existir”, acrescentou Butcher. Os conservacionistas temem que as espécies incluídas na lisFungos
Braulio Ferreira de Souza Dias, secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, em sua exposição
Os Premiados
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Camaleão-tarzan de Madagascar
ta, como o camaleão-tarzan de Madagascar e a preguiça-anã de três dedos do Panamá, desapareçam porque não fornecem aos humanos benefícios evidentes. “O mundo todo se tornou mais utilitarista e observador do que a natureza pode fazer por nós”, explicou por telefone o diretor de conservação da SZL, Jonathan Baillie. “Os governos precisam assumir a responsabilidade e declarar se estas espécies são inestimáveis ou inúteis, se temos o direito de levá-las à extinção”, disse Baillie. “Se não podemos salvar as 100 mais ameaçadas, que esperança há para o resto da vida no planeta?”, acrescentou. Preguiça-anã de três dedos do Panamá
Nos diálogos dos líderes mundiais
Este grande evento, organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) a cada quatro anos, pediu também que governos, sociedade civil, empresas e outros atores diretos “reforcem seu compromisso com a sustentabilidade”. Neste sentido, solicitou sua ação através do crescimento econômico sustentado, o desenvolvimento social e a gestão integrada e sustentável dos recursos naturais e dos ecossistemas, na busca do “crescimento verde” mundial. Pensando no futuro, a declaração estabeleceu a criação do Fórum de Jeju de Líderes Mundiais para a Conserva-
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Abertura do Congresso Conferência de Imprensa
Por um mundo justo
ção, para manter encontros periódicos e potencializar as economias verdes nas políticas públicas e na conduta das corporações em nível local, regional e mundial, acrescentou o comunicado. A organização também pôs grande ênfase na necessidade de buscar a responsabilidade empresarial, ao mesmo tempo em que alcançou o compromisso de grandes corporações como Nespresso, Rio Tinto, Microsoft e Google para iniciar práticas sustentáveis em seus negócios. Além disso, durante o congresso, mais de oito mil cientistas identificaram as cem espécies mais ameaçadas entre Um dos belos shows apresentados
George Rabb entrega premiação à Yuan Xikun, Embaixador da Boa Vontade da IUCN
animais, plantas e fungos do planeta. O Congresso de Jeju serviu também para que a UICN nomeasse o chinês Zhang Xinsheng como novo presidente da organização. A UICN, criada em 1948, é a maior organização internacional dedicada à conservação dos recursos naturais e inclui mais de 200 governos locais e estaduais e quase mil ONGs, além de contar com o trabalho voluntário de quase 11 mil cientistas e especialistas de 160 países. Com 11.000 cientistas voluntários e mais de 1.000 funcionários pagos, a IUCN realiza milhares de estudos de campo ao redor do mundo para monitorar e ajudar a gerir os ambientes naturais. Na cerimônia de encerramento
Pela compensação de carbono
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A reunião da ONU sobre mudança climática Fotos: Jan Golinsf/UNFCC, Peter Betts e Rudolph Hühn
A
reunião preparatória em Bangcoc, na Tailândia, para a Convenção da ONU sobre Mudança Climática – CMNUCC, que será realizada no final do ano em Doha, no Catar, teve o objetivo de alcançar um pacto global de redução de emissões de gases poluentes. A reunião foi aberta após o tufão mortífero na Coreia do Sul e o furacão que atingiu Nova Orleans no sétimo aniversário do Katrina, como lembretes potentes da necessidade de reduzir as emissões de gás de efeito estufa (GEE)”, declarou Marlene Moses da ilha de Nauru, que preside a Aliança dos pequenos Estados insulares. “O que não podemos dizer é que um tufão em particular ou um furacão tenha sido necessariamente provocado pelas mudanças climáticas”, explicou Christiana Figueres, a secretária-executiva da CMNUCC. Mas “a frequência e a intensidade” destes eventos “são afetadas pelas mudanças climáticas”. A conferência pretende definir posições sobre o Protocolo de Kioto, que expira no final de ano, e sua substituição em 2015 por um novo acordo global sobre a redução de gases causadores do efeito estufa, que deve entrar em vigor em 2020. Representantes de 190 países participaram das negocia-
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ções, nas quais os países em desenvolvimento pressionam os mais ricos para que se comprometam a manter as contribuições anuais de US$ 10 bilhões em para as nações mais pobres, que expiram em 2012. Os países subdesenvolvidos, a maioria da África ou ilhas do Pacífico, temem que não se chegue a nenhum acordo que cubra suas necessidades até 2020, ano a partir do qual os países mais ricos se comprometeram a fornecer US$ 100 bilhões anuais. “Os governos prometeram reduzir as emissões e ajudar os mais pobres e vulneráveis a se adaptarem à mudança climática. Sabem que devem implementar plenamente
suas promessas, aumentar seu esforço até 2020 e redobrar após essa data”, disse a secretária-executiva da conferência, Christiana Figueres. A secretária-executiva admitiu que o financiamento foi uma das questões predominantes nas conversas de Bangcoc, mas descartou qualquer acordo político sobre o assunto até a conferência de Doha. No entanto, Figueres destacou o avanço que significou a primeira reunião do conselho executivo do Fundo Verde, organismo para a gestão e financiamento de projetos de redução de emissões em países emergentes a partir de 2013. Participantes chegando à Conferência sobre Mudança Climática em Bangcoc
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Durante a sessão plenária do AWG-KP - Compromissos Adicionais para as Partes do Anexo I do Protocolo de Quioto
Tradicionais dançarinos na recepção oferecida pelo Governo Real da Tailândia
O Fundo Verde foi aprovado na Cúpula de Cancún (México), em 2010, e ratificado na de Durban (África do Sul), no ano passado, sem que fosse acertado uma fórmula de financiamento até 2020. A conferência de Bangcoc teve três grupos de trabalho: O primeiro com o tema – o Protocolo de Kioto e as medidas para prolongar sua vigência a partir de 1º de janeiro de 2013 e introduzir novos compromissos por parte dos países signatários. O segundo grupo discutiu o plano de trabalho de Bali, aprovado em 2007, por meio do qual foram propostos vários acordos internacionais destinados a evitar que a temperatura global do planeta aumente mais de dois graus. Estas discussões tiveram como meta fixar objetivos de redução de emissões para os países industrializados e ações de diminuição da poluição por parte das nações em desenvolvimento. O terceiro grupo de trabalho, criado por causa dos acordos da Conferência sobre a Mudança Climática de Durban, no ano passado, iniciou o diálogo para a elaboração do novo acordo global, que entrará em vigor em 2020 e no qual se prevê cortes maiores das emissões. revistaamazonia.com.br
Especialistas alertam para risco de fracasso do mercado de carbono Um relatório publicado por grupo de especialistas advertiu que a queda do preço dos créditos de carbono põe “em perigo” os mecanismos de desenvolvimento limpo, através dos quais os países industrializados financiam
Plenária do grupo informal de mitigação dos países em desenvolvimento
projetos contra o aquecimento global em países em desenvolvimento. Recomendaram elevar os objetivos de redução de emissões de gases do efeito estufa. O objetivo seria evitar o fracasso do mercado global de carbono, que permite financiar tecnologia verde para os países em desenvolvimento. Este sistema concede aos países em desenvolvimento créditos comercializáveis pela redução de cada tonelada de CO2, que depois os países industrializados podem comprar para cumprir seus compromissos com o protocolo de Kyoto. Os especialistas atribuem a diminuição do preço dos créditos à queda da demanda e à incerteza sobre a demanda futura, diante do temor de que vários países industrializados não assinem a extensão do Protocolo de Kyoto, que expira no final do ano. Entre outras 50 recomendações, o painel propôs que os países aumentem seus objetivos de redução de emissões perante a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e adaptem as correspondentes medidas para dar garantias aos investidores, incentivando a demanda. “Os países devem, com toda a prioridade, restabelecer sua confiança nos mercados globais de carbono em geral e nos mecanismos de desenvolvimento limpo em particular”, disse o presidente do painel, Valli Moosa em comunicado. Moosa acrescentou que os mecanismos de desenvolvimento limpo “ajudaram a combater a mudança climática
AWG-LCA grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Ação Cooperativa no âmbito da Convenção, a longo prazo
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Mais de 130 das nações mais pobres do mundo pressionaram os países mais ricos a concordar com novas metas legalmente vinculantes para cortar as emissões de gases de efeito estufa No entanto, o chamado G77 de países em desenvolvimento e a China disseram aos delegados presentes às conversações da ONU na Tailândia que o acesso aos créditos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) deverá se limitar às nações que concordarem em cortar as emissões para o teto do Protocolo de Kyoto que começará no ano que vem. “Nosso ponto de vista, compartilhado por mais de 130 países em desenvolvimento, é de que os países industrializados não podem se beneficiar dos créditos e do comércio das emissões sob o Protocolo de Kyoto, se eles não estão dispostos a se comprometer com metas legalmente vinculantes”, disse Sai Navoti, o negociador chefe da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (Aosis, na sigla em inglês). “Não deixaremos que eles escapem, conversando apenas das coisas de que gostam”, disse ele. Os países em desenvolvimento planejam corrigir o Protocolo de Kyoto para implementar a proibição durante as conversações climáticas da ONU em Doha, que começarão em novembro. Austrália, Japão e Nova Zelândia - que até agora se recusaram a adotar uma segunda rodada de metas dentro do tratado de Kyoto de 1997 depois que as existentes expirarem este ano serão os mais atingidos pela proibição, pois planejam contar com os créditos baratos para cumprir as promessas voluntárias de cortes nas emissões até 2020. Junto com o Canadá e a Rússia, o Japão afirmou no ano passado que não adotaria uma segunda meta de Kyoto, alegando que isso não faz sentido, uma vez que outros grandes emissores não são limitados pelo tratado. Os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias do mundo e os dois maiores emissores mundiais, disseram que não adotarão uma limitação legal sobre as emissões antes de 2020. Em vez disso, preferem concentrar-se nas promessas voluntárias feitas na cúpula climática de Copenhague em 2009.
mobilizando o setor privado através dos mercados”. Segundo os especialistas, através deste sistema os países industrializados financiaram 4,5 mil projetos de redução de emissões e fixação de carbono em 79 países em desenvolvimento, que permitiram reduzir as emissões de gases estufa em mil toneladas durante a última década.
No AWG-LCA: Workshops discutindo várias abordagens sobre os novos mecanismos de mercado
Balanço da reunião preparatória em Bangcoc ONU satisfeita com negociações climáticas Um relativo avanço – foi o resultado das negociações da ONU sobre o futuro do Protocolo de Quioto e um novo tratado para o combate às alterações climáticas, em Bangcoc-Tailândia, as negociações foram preparatórias à Conferência de Doha, no Qatar – e da qual mais uma vez se esperam decisões centrais para travar o aquecimento global. André Aranha do Lago e Túlio Odenbreit Carvalho, Brasil
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Uma delas é sobre o futuro do Protocolo de Quioto – o acordo que obriga apenas os países desenvolvidos a reduzirem as suas emissões de CO2 – cujo primeiro período de cumprimento termina este ano. Em Doha, espera-se a aprovação de uma emenda, lançando um segundo período de cumprimento com efeito já a partir de Janeiro de 2013. A reunião de Bangcoc, resultou num “documento não oficial delineando os elementos de uma decisão final” sobre Quioto e fez um balanço do que separa os diferentes países em relação à duração do segundo período de cumprimento.. Sem a participação de alguns dos maiores emissores mundiais de CO2 – como os Estados Unidos, Rússia, Canadá e Japão – um segundo período de Quioto fará pourevistaamazonia.com.br
co, porém, pelo combate às alterações climáticas. O essencial está agora concentrado num novo acordo, mais abrangente, que também começou agora a ser discutido. Segundo uma decisão adoptada no final do ano passado, na conferência climática de Durban, na África do Sul, um novo “protocolo, instrumento legal ou resultado acordado com força legal” deverá ser aprovado em 2015, para entrar em vigor em 2020. Os primeiros passos neste sentido foram agora dados em Bangcoc, com as discussões
iniciais sobre o formato deste futuro novo acordo e sobre outras medidas a tomar antes de 2020. “Ainda há decisões políticas difíceis pela frente, mas agora temos um momento positivo e um maior sentimento de convergência que irá estimular as discussões antes de Doha e conferir um ritmo mais rápido ao trabalho quando a conferência começar”, afirma a secretária-executiva da ONU para as alterações climáticas, Christiana Figueres.
Durante o protesto
Manifestantes do Greenpeace e Oxfam
Com o objetivo de alcançar um pacto global de redução de emissões de gases poluentes
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Para a organização ambienta- Christiana Figueres, secretária Executivo lista internacional Greenpeace, da UNFCCC com Thongchai Panswad, a reunião de Bangcoc obteve presidente, Tailândia “algum progresso nos detalhes, Ciclismo Clube, organizador do mas sem que os governos mosBikeWalk trassem a ambição e a vontade necessárias para resolver a crise climática” – segundo um comunicado. O Greenpeace defende não só a adoção das medidas agendadas para a conferência de Doha – o lançamento de Quioto-2 e um roteiro claro para um novo tratado climático – como também a colocação imediata de pelo menos 15 mil milhões de dólares anuais (12 mil milhões de euros) no Fundo Verde Climático, criado em 2009 para ajudar os países mais pobres e que promete dispor, em 2020, de 100 mil milhões de dólares anuais (79 mil milhões de euros). O encontro de Bangcoc foi a última reunião antes da conferência de Doha, que acontecerá entre 26 de novembro e 7 de dezembro. “Em Doha deverão ser abertos os caminhos para se adotar um novo acordo universal sobre o clima em 2015. Os próximos três anos guiarão as duas décadas seguintes na questão da mudança climática”, argumentou Figueres.
O Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Compromissos Adicionais para as Partes do Anexo I do Protocolo de Quioto (AWGKP), em consultas informais
Abdullah Bin Hamad Al-Attiyah, do Qatar, presidente da COP18/ CMP8, no endereçamento das consultas abertas informais
Christiana Figueres com Abdullah Bin Hamad AlAttiyah, do Qatar, presidente da COP18/CMP8 Os manifestantes continuam a reunir pela justiça climática fora sede da ONU
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É português e pode ser a solução energética para qualquer casa É o microgerador eólico WindGEN3000
E
por José Augusto Moreira
sta é uma história de confiança e tenacidade. Apaixonados pela inovação e as tecnologias ambientais, dois jovens licenciados apostaram no desenvolvimento de um microgerador eólico que pudesse satisfazer as necessidades de uma família em qualquer lugar, de forma simples e com custos acessíveis. “É uma solução que serve para qualquer lugar, mas que se adapta na perfeição a países de grande dimensão como o Brasil ou Angola, onde a rede elétrica não chega a todo o lado”, explica Tomé Barreiro, o engenheiro mecânico, de 32 anos, que estudou e desenvolveu o modelo para a sua máquina. “A nossa ideia era apostar nas tecnologias ligadas ao ambiente e desenvolver produtos comercializáveis”, complementa Hilário Campos, 35 anos, que vem da área do Direito e se dedica às questões organizativas e burocráticas. A tecnologia não é nova, mas depois de uma análise aos custos e à produtividade das soluções existentes no mercado, ambos entenderam que o desafio passava por conceber um modelo que, além de mais acessível em termos econômicos, fosse também mais eficiente e simples de montar. “Antes tinha feito investigação na área eólica. O funcionamento da pá é idêntico ao da asa de um avião”, explica o engenheiro, acrescentando que outra das facetas que os levou a decidirem-se pelo aerogerador foi o
fato não ser comercializado nenhum de origem nacional. “Os que estão à venda vêm sobretudo dos EUA e da Holanda, mas há muito poucos instalados no nosso país”, assegura Tomé Barreiro. Desde 2008 e durante mais de dois anos desenvolveram estudos e investigação em ambiente virtual. “Todas as componentes foram desenvolvidas por nós para otimizar resultados e tudo apontava para a possibilidade de obter uma melhores perfomances”, explicam os dois jovens. Durante 2011 foi o tempo da concepção e desenvolvimento do produto. Surgiu a empresa, a Powering Yourself, Conceitos Energéticos, Ldª (www.poweringyourself. com) e o início do fabrico dos vários componentes. Foi construído o primeiro protótipo e instalado no quintal de familiares, em Famalicão, onde funciona há mais de seis meses com resultados que confirmam o previsto durante o período de investigação. Registado com o nome de WindGEN3000, o microgerador eólico concebido pelos dois jovens empreendedores é apresentado como “o primeiro do gênero a ser desenvolvido em Portugal e por iniciativa privada”. Além do recurso integral a tecnologia nacional, “destaca-se pelo seu alto rendimento, até 30% superior ao dos equipamentos existentes no mercado a nível mundial”. Segundo as características técnicas, tem uma potência nominal de 3,8 kw e pode produzir uma média de 450
a 500 kwh/mês, superior às necessidades de consumo médio de uma moradia. Embora estejam ainda à procura de financiamento, ou de parceiro, para avançar para a fase de produção em série, os índices de rendimento fazem prever um prazo de retorno de investimento inferior a três anos. A microprodução de energia está prevista em Portugal desde 2007, bastando ligar os aparelhos à rede elétrica, que faz depois o acerto de contas com o produtor/ cliente. Segundo os dados da Direção-Geral de Energia e Geologia, a microprodução eólica é ainda quase incipiente em Portugal, ao contrário do que acontece com os aparelho fotovoltaicos. Os números apontam apara uma potência instalada de 620 kw, o que corresponderá a cerca de 170 microgeradores. Uma das razões estará precisamente nas características dos aparelhos até agora existentes no mercado.
Fabrico em série: quando? O desenvolvimento do WindGEN3000, têm saído do esforço dos jovens empreendedores e o plano de investimento aponta para a necessidade 160 mil euros para pôr em andamento o processo de fabricação em série. O preço final será definido em função do modelo e dimensão do negócio que venha a ser criado. Quem se habilita?
WindGEN3000, o microgerador eólico Principais características técnicas: Peso e Dimensões: Diâmetro da turbina: 3000mm Comprimento: 1550mm Peso: 45kg Pás: 3 Performances: Potência nominal: 3800W@13m/s Cut-in: 64W@3,5m/s Voltagem: 0V - 445V Protecção contra ventos extremos: sistema de “furling” vertical Materiais: Turbina: Fibra de vidro reforçada Componentes: Aço Liga, Alumínio Liga Carenagens: Fibra de vidro 34 REVISTA AMAZÔNIA
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A Vale está entre líderes no uso de energia renovável
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studo realizado pela primeira vez no Brasil mostra que as empresas instaladas no País são as que mais consomem energias renováveis no mundo, com destaque para as companhias Vale, Alcoa Alumínio, Fibria Celulose, Duratex, Klabin, Faber Castell e Autometal. Num universo de 18 empresas pesquisadas no Brasil, 54% de todo o consumo de energia elétrica registrado em 2011 partiu de fontes limpas, informa a pesquisa elaborada pela Bloomberg New Energy Finance (Bnef), sediada em Londres, e encomendada pela Vestas, líder mundial na fabricação de turbinas eólicas. “Trata-se de um consumo brasileiro bastante expressivo, ainda mais se considerarmos o fato de que a energia oriunda de grandes hidrelétricas ficou de fora da composição do índice”, diz Maria Gabriela da Rocha Oliveira, executiva de pesquisa para a América Latina da Bnef. As PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) são a principal fonte renovável utilizada pelas empresas brasileiras participantes da pesquisa, respondendo por 49% do consumo de renováveis em 2011. No entanto, diz a executiva, nesse mesmo grupo de empresas pesquisadas, há relatos de consumo de energia eólica, solar, biomassa, entre outras fontes limpas. Na grande maioria dos casos, a energia renovável foi gerada pelas próprias companhias, ou seja, em projetos particulares de geração, embora haja uma tendência de au-
A Bloomberg New Energy Finance (Bnef) pesquisou 18 empresas e o consumo de energia de fontes limpas em 2011
mento de contratação de energia limpa no mercado livre. Criado em 2004, o Corporate Renowable Energy Index (Crex) tem como objetivo identificar a quantidade e a fontes de energias renováveis utilizadas por empresas em todo o mundo, com base em pesquisas detalhadas realizadas em 26 países, com mais de 300 empresas. En-
quanto no Brasil o índice Crex médio foi de 54%, nos Estados Unidos e Reino Unido, países onde essa pesquisa já é realizar por mais tempo, a taxa ficou bem abaixo disso – apenas 10% e 16%, respectivamente. O país que mais se ficou mais próximo ao índice brasileiro foi a Austrália, que registrou um índice Crex de 49% em 2011. Mais de 500 empresas receberam o relatório de perguntas relacionadas ao consumo de energia renovável, mas apenas 19 delas responderam à enquete. A baixa adesão é considerada normal, estando em linha com o perfil de respostas observado nos demais países contemplados pela pesquisa. “Muitas empresas optam em ficar de fora da pesquisa, ou porque não têm dados satisfatórios em relação ao uso de energia renovável, ou porque temem aparecer em posições muito inferiores às dos seus concorrentes diretos”. Entre as empresas situadas no Brasil que registraram a maior quantidade energia renovável consumida, destaque absoluto para a Vale, que utilizou 7,5 mil MWh em 2011, ou 52% de seu consumo total. “Com esse resultado, a Vale figurou-se entre os cinco maiores grupos consumidores de energia limpa do mundo”, afirmou Maria Gabriela. Chamam atenção também, os resultados registrados pelas empresas Faber Castell e Autometal, as únicas no Brasil a registrar 100% de consumo de energia elétrica gerado de fontes alternativas renováveis.
A Vale utilizou 7,5 mil MWh em 2011, ou 52% de seu consumo total
O Corporate Renowable Energy Index (Crex) tem como objetivo identificar a quantidade e a fontes de energias renováveis utilizadas por empresas em todo o mundo revistaamazonia.com.br
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Nano-engenharia: Aerografite, o ultraleve O aerografite negro como o carvão, repele uma gota de água vinda de uma pipeta
Fotos: Universidade de Kiel
O
material mais leve do mundo chama-se “aerografite”, um centímetro cúbico deste material pesa apenas 0,2 miligramas, ou seja, 175 vezes menos do que o mesmo volume de esferovite. Acaba de ser apresentado por um grupo de cientistas da Universidade de Kiel e da Universidade de Tecnologia de Hamburgo, na Alemanha. À escala microscópica, a sua estrutura é uma autêntica teia de tubinhos ocos de carbono, cujas paredes são mil vezes mais finas do que um cabelo humano. E uma das características que o torna tão leve é o fato desses tubinhos serem porosos, crivados de pequenos buracos, o que reduz a quantidade de carbono que entra na sua composição. Mas apesar desta quase insustentável leveza, o novo material possui, segundo os seus inventores, uma resistência fora de série, podendo ser comprimido até 95% do seu volume e a seguir esticado para retomar a sua forma inicial sem sofrer danos. Ainda mais: ao contrário do que acontece com outros materiais, o aerografite torna-se mais rígido nestas condições de compressão e tensão. A esta invulgar resistência mecânica juntam-se outras propriedades interessantes, como o fato de o aerografite ser flexível, condutor da electricidade e capaz de absorver quase totalmente a luz que incide sobre ele, sendo por isso do “negro mais negro que há”, como explica Karl Schulte, da Universidade de Kiel um dos autores do trabalho. Até aqui, o recordista dos “pesos-pluma” dos materiais era um composto à base de níquel que fora apresentado, em finais de 2011, pela equipa de Tobias Schaedler, da empresa californiana HRL. Agora, esse recorde foi largamente batido: não só os átomos de carbono têm uma massa atómica menor do que o níquel, como a porosiEste gráfico mostra um detalhe do aerografite, o material de mais leve do mundo
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dade dos microtubos de carbono acentua ainda mais a diferença de peso. Resultado: o aerografite é umas quatro vezes mais leve do que anterior detentor do título. O processo que permitiu fabricar o aerografite também tem o seu quê de elegante. Primeiro, os cientistas aqueceram, até 900 graus Celsius, um pó de óxido de zinco, transformando-o num cristal. A partir de aí, fabricaram uma espécie de pastilha onde o óxido de zinco cristalino formou diminutas estruturas, chamadas tetrápodes – em tudo semelhantes, a não ser na escala, aos tetrápodes de betão, aquelas estruturas com quatro “pés” utilizadas nas obras de engenharia costeira para dissipar a energia das ondas. O entrelaçamento dos microtetrápodes deu origem a uma matriz estável de base para fabricar o aerografite.
den Gate são incrivelmente leves e eficientes em termos de peso, devido à sua arquitetura. Estamos revolucionando os materiais ultraleves, levando esse conceito para as escalas micro e nano”, disse Rainer Abelung, outro elemento da equipe. Voltando ao aerografite, no passo seguinte, os cientistas alemães introduziram a pastilha de óxido de zinco num reator, dito de deposição em fase de vapor e aquecido a 760 graus Celsius, onde fizeram circular um gás de carbono. “Exposto a uma atmosfera enriquecida em carbono, o óxido de zinco vai ficando revestido de uma camada de grafite com uma espessura de apenas alguns átomos”, salienta Karl Schulte. “É isso que forma a teia emaranhada que constitui a estrutura tridimensional do aerografite.”
A revolução dos materiais Imaginem que o aerografite é uma planta trepadeira que se enrola à volta de uma árvore, a seguir, retirem o tronco. O “tronco” é, neste caso, a estrutura tridimensional formada pelos tetrápodes de óxido de zinco. Diga-se de passagem que a técnica de fabrico do material à base de níquel apresentado no ano passado nos EUA também fazia apelo à utilização de uma matriz que a seguir era retirada – ou “sacrificada”, como dizem os especialistas. “Edifícios modernos como a Torre Eiffel ou a Ponte Gol-
Um centímetro cúbico do aerografite pesa apenas 0,2 miligramas revistaamazonia.com.br
Asas de borboletas – coletoras de energia solar As asas de uma borboleta são tanto delicadas e complexas. Elegantes e funcionais
Fotos e gráficos: American Chemical Society
A
s asas das borboletas não são apenas bonitas: elas também são coletoras de energia solar sofisticadas, que contribuem para manter as borboletas aquecidas. Além disso, os pesquisadores afirmam que a estrutura em forma de escamas pode fornecer pistas valiosas para o desenvolvimento de tecnologias solares superiores. “A capacidade de manipular e coletar a luz é importante para a performance de dispositivos de energia solar”, afirmou Tongxiang Fan, cientista de materiais da Universidade de Shanghai Jiao Tong, na China, que está liderando a iniciativa. Ele e seus colegas relataram as descobertas na semana retrasada, no encontro anual da Sociedade Americana de Química, em San Diego. Os cientistas usaram um microscópio eletrônico para estudar a estrutura das asas de duas espécies de borboletas pretas. Eles escolheram as asas pretas porque elas absorvem o máximo de energia solar. Eles descobriram que as asas são compostas de escamas compridas e retangulares, que estão sobrepostas de maneira semelhante a telhas em um telhado. As escamas das duas espécies também possuíam sulcos pronunciados, com pequenos orifícios dos dois lados conduzindo até a camada seguinte. Essa estrutura direciona a luz para a próxima camada, o que contribui para a captura de uma grande quantidade de calor. Os pesquisadores também criaram um modelo para usar a energia solar da mesma forma que as asas das borboletas. “O protótipo é muito, muito eficiente”, afirmou Fan. Ele e sua equipe estão trabalhando agora na criação de um produto para comercialização que usa as asas como fonte de inspiração. “Este é apenas o primeiro passo”, afirmou Fan.
As asas têm um papel primordial como coletores solares para fornecer o calor necessário revistaamazonia.com.br
As asas são compostas de escamas compridas e retangulares, que estão sobrepostas de maneira semelhante a telhas em um telhado
As asas de uma borboleta são tanto delicadas e complexas. Elegantes e funcionais. E elas não são apenas um dispositivo de voo. Borboletas são incapazes de manter o calor da sua energia cinética sozinha, e suas asas têm um papel primordial como coletores solares para fornecer o calor necessário. Apesar dos pesquisadores estarem tentando descobrir como essas asas podem absorver a luz de forma eficaz, não é necessariamente uma tentativa de projetar o mais novo painel solar. Em vez disso, uso pretendido da luz do sol é de fato para catalisar uma reação química que irá dividir moléculas de água em seus componentes - hidrogênio e oxigênio. Por fim, o elemento de hidrogênio pode ser usado como um combustível ecológico limpo para motores de potência do veículo e dispositivos elétricos. Até agora, os resultados parecem promissores, “O catalisador composto da asa da borboleta-produzindo gás hidrogênio a partir de água é mais do que o dobro da taxa do catalisador composto desestruturada por conta própria.” Os cientistas usaram um microscópio de elétrons para estudar a estrutura da asa de duas espécies de borboletas negras. (Eles pegaram as asas pretas, porque elas absorvem a quantidade máxima de luz solar). A exploração de novas fontes de energia sustentáveis é de uma forma, um esforço para recuperar a harmonia com o nosso mundo natural. A pesquisa foi apresentada em um encontro da Sociedade Americana de Química. REVISTA AMAZÔNIA 37
O Amazonas e seus desafios A
petrolífera brasileira HRT acaba de informar ao mercado ter descoberto gás na bacia do Solimões, no Amazonas, na região batizada de Polo Gaseífero de Tefé. Esta descoberta, envolvendo dois poços, se junta aos três poços situados na mesma região onde, anteriormente, haviam sido identificados fortes indícios da presença de hidrocarbonetos. Foram constatados reservatórios com três intervalos portadores de gás na Formação Juruá, entre 2.740 e 2.780 metros de profundidade, com cerca de 30 metros de espessura líquida. A empresa indicou uma reserva entre 4,9 bilhões e 8,2 bilhões de metros cúbicos de gás recuperáveis, com potencial de vazão de até 53 milhões de pés cúbicos de gás natural por dia, quando atingida sua fase de desenvolvimento. Os papéis da companhia se valorizaram na Bolsa e agora seus dirigentes tratam de viabilizar a monetização do gás natural na Bacia do Solimões. Sabemos que além da diversificada biodiversidade existente dentro da floresta, que tem um valor econômico incalculável, talvez correspondente a muitos pré-sal, o solo do Amazonas abriga muitos recursos minerais, identificados a partir do Mapa Geológico do Amazonas, elaborado em 2006, por nossa determinação, quando exercíamos o Governo do Estado. São minérios de alta relevância econômica e tecnológica como a cassiterita, o nióbio, a bauxita, o urânio, o caolim, o ouro, o ferro, o tório, a xenotina, a criolita, a monazita, o topázio e outros. Considerando as reservas identificadas através do Mapa Geológico e do relatório Geologia e Recursos Minerais do Estado do Amazonas dele resultante, e calculando seu valor a partir dos preços praticados nas bolsas mundiais de minérios em 2008, num exercício feito pelo Instituto Brasileiro de Mineração, teríamos uma receita de R$ 4,3 trilhões, que certamente dobraria se forem considerados os reajustes nos preços das principais commodities minerais ocorridas nos últimos quatro anos. São 82 milhões de toneladas de nióbio, no Morro de Seis Lagos e em São Gabriel da Cachoeira; 25,3 milhões de toneladas de ouro em Humaitá, Manicoré, Maués e Apuí; reservas de potássio no valor de US$ 587, 8 milhões em
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por Eduardo Braga* Zona Franca de Manaus e do seu Polo Industrial
Nova Olinda; 3,4 bilhões de toneladas de caolim em Itacoatiara e Manacapuru; reservas de estanho calculadas em US$ 8,2 bilhões; 144 mil toneladas de urânio no valor de US$ 14,9 bilhões; 151,8 milhões de toneladas de bauxita em Presidente Figueiredo, Ucuracá e Nhamundá, no valor de US$ 5,3 bilhões e 65,7 milhões de toneladas de ferro. Toda essa riqueza potencial pode indicar que a economia amazonense assumirá nos próximos anos uma vocação predominantemente mineral? Acreditamos que não. Ao contrário dos demais Estados da Região Amazônica, não temos vocação para a utilização intensiva da agricultura, da pecuária, ou mesmo da extração mineral. A exploração das riquezas naturais e o legendário período da borracha foram dois efêmeros ciclos econômicos que dominaram a economia amazonense até o início da década de 20 do século passado. A vocação econômica do Amazonas – e também seu maior desafio – está claramente expresso no êxito inconteste da Zona Franca de Manaus e do seu Polo Industrial.
O modelo, que se delineou em 1957 e se formalizou dez anos depois, é uma área de livre comércio de importação e exportação, com o suporte de incentivos fiscais diferenciados, com a intenção de vencer os desafios da logística e criar, em plena floresta amazônica, uma das maiores estruturas industriais do continente latino-americano. Hoje a Zona Franca tem 600 empresas em seu polo industrial, que empregam mais de 100 mil pessoas e, no ano passado, faturaram US$ 41 bilhões. E o desafio, que estamos enfrentando e vencendo com muita disposição, é conciliar o crescimento econômico e social providos pela Zona Franca, com a preservação e a conservação da floresta. Tanto que, dizem as instituições especializadas, 98% da floresta no Amazonas estão preservados, 45 anos após a instalação da Zona Franca de Manaus. Temos plena confiança de que mais 45 anos serão vencidos, com a Zona Franca vivendo mais 50 anos de incentivo e espalhando-se pelos municípios da Região Metropolitana de Manaus, conforme decisão da Presirevistaamazonia.com.br
denta Dilma Roussef, que já encaminhou ao Congresso os respectivos projetos. É claro que esse êxito não foi conquistado sem muito trabalho e determinação. Costumo dizer que é muito fácil ser brasileiro na Avenida Atlântica ou na Avenida Paulista. Nestes locais, o Brasil surge lindo, consolidado, reluzente, mas nem sempre real. Difícil mesmo é ser brasileiro nas barrancas do rio Amazonas, nas fronteiras amazônicas ou nas comunidades encravadas no meio da maior floresta do Planeta, onde vivem e labutam os guardiães da floresta. Tendo exercido o Governo do Estado por dois mandatos consecutivos, tive a oportunidade de dar uma contribuição para não só consolidar a Zona Franca, mas transformá-la em instrumento de desenvolvimento econômico e social, criando emprego e renda e mudando para melhor a vida das pessoas. Para preservar a floresta, criamos em dezembro de 2004 unidades de conservação estaduais no sul do Amazonas que juntas totalizam mais de três milhões de hectares. São nove áreas que formam um mosaico com diferentes propostas de manejo, com o propósito de frear o desmatamento e a grilagem. Simultaneamente introduzimos o programa Bolsa Floresta, que concede ajuda financeira direta e sem burocracia a todas as famílias que se dediquem a buscar na mata seu sustento, conservando e preservando os recursos naturais. Tão importante é o Bolsa Floresta que a Presidenta Dilma Roussef decidiu ampliá-la a todo o País florestal, através da criação do Bolsa Verde, em tudo idêntico ao programa que criamos no Amazonas. Em Manaus, para onde afluíram milhares de pessoas atraídas pela Zona Franca, criamos o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus, o Prosamim, que desde 2006 já beneficiou 7.300 famílias, com a instalação de 22,4 mil metros de sistemas de drenagem, 58,2 Polo Gaseífero de Tefé
mil conexões de esgotos e 30 mil metros de ruas pavimentadas. Para financiar sua nova fase, o Prosamim terá recursos de US$400 milhões, dos quais US$ 280 milhões concedidos pelo BID. A forte presença da Zona Franca de Manaus no cenário econômico do Amazonas contribuiu para melhorar os índices sociais do Estado, principalmente a educação. O Amazonas tem escolaridade medida pela média de anos de estudos da população de 15 anos ou mais, maior do que a média dos Estados do Norte do País e maior do que a média nacional em todos os anos, de 2004 e 2009, conforme demonstrou recente pesquisa do IPEA. Em 2004, 8,6% dos amazonenses eram analfabetos, taxa que caiu para 7% em 2009 e certamente diminuiu ainda mais nos anos recentes. Mesmo entre a população rural do Amazonas, que vive nas entranhas da floresta, a taxa de analfabetismo caiu de 20,8% em 2004 para
Eduardo Braga nas obras do gasoduto, que atualmente já transporta gás de Urucu até o porto de Manaus, uma distância de 665 km
12,5% em 2009. Uma contribuição importante para esse resultado certamente foi dado por dois programas que desenvolvemos quando Governador do Estado: o programa Letramento Reescrevendo o Futuro, então considerado o maior programa de alfabetização do Brasil, e o programa de Ensino Presencial Mediado por Recursos Tecnológicos, alcançando os alunos em plena floresta, com tecnologia de IPTV, com sinal de satélite e completa interatividade. São resultados como esses que nos animam a persistir na defesa do modelo da Zona Franca. Sabemos das dificuldades que teremos de enfrentar, das resistências conhecidas de grupos de pressão que, a pretexto de defender os interesses da indústria nacional insistem, e não é de agora, em investir contra o regime diferenciado da Zona Franca de Manaus. Tais grupos esquecem, menos por ignorância e mais por má fé, de que tais vantagens mal compensam as enormes desvantagens que o Amazonas carrega por seu isolamento dos grandes centros de consumo, pela difícil logística para o acesso a esses mercados e pela ineficiência de sua limitada infraestrutura de transportes e comunicações com o resto do País. Mas estamos prontos para enfrentar os desafios. Infraestrutura, logística, dinamização do desenvolvimento regional, interiorização e governança institucional são alguns desses desafios, cujo enfrentamento é essencial para que a Zona Franca possa alcançar um maior equilíbrio em suas dimensões econômicas, sociais e espaciais. [*] Senador pelo PMDB do Amazonas e líder do Governo no Senado
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A biodiversidade está seriamente ameaçada
A
biodiversidade de metade das áreas tropicais protegidas, entre as quais a Amazónia e florestas da América Central, está “seriamente ameaçada”. As áreas mais ameaçadas são aquelas nas quais o nível de proteção diminuiu nas últimas décadas, ou que acabaram prejudicadas por atividades econômicas, como a exploração florestal, a invasão dos terrenos, as queimadas para criar pastos e a mineração ilegal. Os governos têm criado áreas protegidas, em parte, para atuar como reservatórios para a biodiversidade impressionante de nosso planeta, isto é mais verdadeiro do que as florestas tropicais do mundo, que contêm cerca de metade das espécies do nosso planeta. No entanto, um novo estudo com base em 262 entrevistas a cientistas/ biólogos e estudiosos, com experiência nos locais citados, à frente o biólogo William Laurance, conclui que a vida selvagem em muitos dos parques de floresta tropical do mundo continua a ser ameaçadas por pressões
Números globais da biodiversidade de espécies de plantas vasculares
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Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen, na sessão de gala que precedeu o Salão de Genebra 2012, anunciou uma reestruturação ecológica do grupo A biodiversidade de metade das áreas tropicais protegidas, entre as quais a Amazónia e florestas da América Central, está seriamente ameaçada
humanas dentro e fora das reservas, ameaçando prejudicar os esforços globais de conservação. Olhando para um representante de 60 áreas protegidas em 36 países tropicais, os cientistas descobriram que cerca de metade dos parques sofreram uma “erosão da biodiversidade” ao longo dos últimos 20-30 anos. “Essas reservas são como arcas de Noé para a biodiversidade. Mas algumas das arcas estão em perigo de naufrágio”, disse William Laurance, do James Cook University e do Smithsonian Tropical Research Institute. “Mesmo que eles sejam a nossa melhor esperança para sustentar as florestas tropicais e sua biodiversidade surpreendente, para sempre.” Laurance e seus colegas conduziram mais de 200 entrevistas detalhadas para examinar mudanças em mais de 30 grupos taxonômicos (como plantas, primatas e predadores de topo) nas áreas protegidas. Eles descobriram revistaamazonia.com.br
Entre os animais mais ameaçados estão predadores, como onças (jaguares) e tigres, e mamíferos grandes, como elefantes e rinocerontes. Para travar o problema, Laurence aconselha a usar o trabalho com as comunidades locais, para ensinar usos benignos da vegetação, e a criação de zonas de diminuição de impactos entre as áreas protegidas e os seus arredores. As florestas tropicais cobrem 6% da superfície terrestre, mas contêm mais de metade das espécies de fauna e flora do planeta. O estudo cobriu 36 países, ao longo dos trópicos de África, Ásia e América do Sul.
que muitos grupos importantes foram particularmente sensíveis às mudanças ambientais dentro e fora dos parques, incluindo a maioria dos animais de grande porte; anfíbios; lagartos, organizações não-venenosas cobras; peixes de água doce; epífitas; velho-crescimento de árvores com sementes grandes, e os predadores de topo . Espécies pouco menos vulneráveis incluídos os primatas, alguns pássaros, cobras venenosas e animais migratórios. Grupos de tais outras espécies invasoras, cipós, trepadeiras, e algumas borboletas – na verdade, foi melhor quando os ecossistemas dos parques foram degradadas. “A coisa mais assustadora sobre os nossos resultados é revistaamazonia.com.br
quão disseminada os declínios de espécies são as reservas que sofrem. Não é apenas a alguns grupos que estão sofrendo, mas uma série alarmante gama de espécies,” disse Carolina Useche do Instituto Humboldt. O estudo, a mais abrangente de seu tipo até esta data, descobriu que 80 por cento das reservas tinham alguma perda de biodiversidade, com cerca de metade mostrando sério declínio. Dentro das áreas protegidas dos maiores indicadores de perda de biodiversidade foi diminuindo a cobertura florestal, bem como um aumento no desmatamento, caça ou apanha de produtos não-madeireiros.
Onça (Jaguar) no Brasil. Um novo estudo descobriu que predadores, como a onça-pintada, são alguns dos mais sensíveis à degradação ambiental, tanto dentro como fora de parques florestais tropicais
“Quase tão importante é o que está acontecendo fora dela”, explica Serge Kadiri Bobo da Universidade de Dschang. “Oitenta e cinco por cento das reservas que estudamos perdeu um pouco da cobertura florestal próxima ao longo das últimas duas a três décadas”, disse Bobo. “Mas só dois por cento registou um aumento em torno da floresta.” Desmatamento, queimadas, caça e em perímetros uma área protegida se mostraram significativamente prejudiREVISTA AMAZÔNIA 41
Vida vegetal e a floração A floresta da Amazônia com seus milhões de insetos rangendo, cantando e zumbido, sapos pegajosos, aves vibrantes e peixes únicos pode dever sua diversidade principalmente para as flores, disse que os pesquisadores da Universidade de Chicago. E, dizem, assim como as plantas floridas formaram o bloco de construção da biodiversidade na região, sua remoção pode resultar em uma cascata de diversidade em declínio. Segundo os autores, se as plantas com flores da América do Sul tropical foram substituídas por plantas sem flores, as condições de chuva da floresta será reduzida em 20 por cento. As plantas com flores, como os cientistas descobriram, provavelmente tem causado um aumento da biodiversidade na bacia amazônica. As flores têm uma maior taxa de transpiração, o que leva a um aumento em vapor de água e, eventualmente, a precipitação. No entanto, como a degradação das florestas e com ela a destruição da floração de plantas, esse ciclo está em risco de quebrar. Isso não quer dizer que a Amazônia iria se transformar em um deserto – “ A sempre molhada floresta tropical existiriam, com ou sem as angiospermas, mas a área cada vez molhadas é dramaticamente aumentada com as suas presenças”, como os autores afirmam, sua fertilidade, é possível graças a abundância de vida vegetal a floração.
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Lea Maimone
Muitas espécies de rãs de árvore, que são muito sensíveis às mudanças ambientais estão ameaçadas
A rica biodiversidade de espécies de plantas está ameaçada
A anta está quase desaparecendo
cais à biodiversidade, dentro. “Por exemplo, se um parque tem um monte de incêndios e de mineração ilegal em torno dele, essas mesmas ameaças também podem penetrar no seu interior, até certo ponto”, acrescentou Useche. No lado positivo, o estudo constatou que a aplicação era a chave para melhor desempenho das áreas protegidas, segundo os pesquisadores: “Reservas em que os esforços sobre a terra de proteção tinha aumentado ao longo dos últimos 20 a 30 anos geralmente se saíram melhor do que aqueles em que a proteção havia diminuído, essa relação foi consistente em todas as três das mais importantes regiões tropicais do mundo “. As melhores reservas, no entanto, devem também combater as ameaças criativamente nas bordas 9 ao redor) do parque. Para fazer isso, os cientistas recomendam o estabelecimento de zonas tampão em torno dos parques existentes, criando corredores para conectar os parques, e trabalhando com os moradores para promover menor impacto de actividades. “O foco na gestão de ambas as ameaças externas e internas também devem aumentar a resiliência da biodiversidade nas reservas potencialmente graves de mudança climática”, escrevem os autores. Mais e mais inteligentes esforços de gestão são necessários se os parques florestais tropicais vão servir como arcas de biodiversidade em uma época de desmatamento em massa e mudança climática. As apostas são altas: uma vez que as florestas tropicais do mundo contêm tantas espécies, se as suas áreas protegidas vacilarem, a extinção em massa será inevitável.
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Luc Viatour
Macaco prego da Floresta Amazônica
As áreas tropicais possuem os maiores níveis de biodiversidade do mundo
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Árvores A
comemoração oficial do Dia da Árvore teve lugar pela primeira vez no estado norte-americano do Nebraska, em 1872. O seu mentor foi o jornalista e político JuliusmSterling Morton, que incentivou a plantação de árvores no Nebraska, promovendo o “Arbor Day”, conseguindo induzir toda a população a consagrar um dia no ano à plantação ordenada de diversas árvores para resolver o problema da escassez de material lenhoso. A Festa da Árvore rapidamente se expandiu a quase todos os países do mundo. O Dia da Árvore, no Brasil, coincide com a chegada da primavera no hemisfério sul, cuja estação representa a recuperação da vida que estava adormecida no inverno. Comemorado todo 21 de setembro, o dia marca um novo ciclo para o meio ambiente e simboliza um momento para reforçar os apelos quanto à conscientização da importância dos recursos naturais e, especialmente, das florestas. O objetivo da comemoração do Dia da Árvore é sensibilizar a população para a importância da preservação das árvores, quer em termos ambientais como da própria qualidade de vida dos cidadãos.
Importância Não se requer conhecimentos avançados para saber da importância que as árvores têm em nosso meio. Sabemos que uma árvore pode oferecer sombra e purificar o ar. Proporcionar frutos e ser a morada de animais. Das árvores, fabricamos produtos de madeira, papel, celulose. E das florestas obtemos água, alimentos e remédios.
Filtro de ar natural Árvores são condicionadores de ar naturais. Refrescam o planeta e, por isso, reduzem o consumo de energia. Vamos imaginar esse ciclo em grande escala: a floresta. Com a função de equilibrar a temperatura do planeta, florestas são grandes depósitos de carbono. Do ar, a árvore filtra poluentes atmosféricos. Poeira e dióxido de carbono - gás causador do efeito estufa. Através 44 REVISTA AMAZÔNIA
O objetivo da comemoração do Dia da Árvore é sensibilizar a população para a importância da preservação das árvores
da fotossíntese, retém a sujeira e libera ar puro em um processo conhecido por seqüestro de carbono. Sem isso, o aquecimento global se encontraria em grande avanço. As florestas regulam as chuvas, protegem os solos, rios, animais e plantas. O Brasil é um dos países que abriga a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. O Brasil, além de vender, consome grande parte da madeira proveniente de suas florestas. Por tudo isso, é de grande importância que o manejo florestal seja aplicado. Com ele, recursos da floresta são administrados em longo prazo. Isso favorece o país e as comunidades locais. São colocados em prática princípios de conservação e planejamento de corte - sem desperdícios. A floresta deve suprir de forma contínua e não ser exterminada.
Porque nossas Árvores são tão importante para o equilibrio do Planeta? A cada dia, mais árvores de nossas matas e florestas vêm sendo destruídas de forma descontrolada e irracional. O dia da Árvore nos faz lembrar da necessidade de preservar espécies que são importantes para o equilíbrio do planeta, e principalmente para a sobrevivência da nossa espécie. As florestas e matas são formadas de muitas espécies de árvores que harmoniosamente favorecem ao equilíbrio dos ecossistemas. Segundo estudiosos, o Brasil detém um terço da biodiversidade mundial. Essa biodiversidade está concenrevistaamazonia.com.br
O Dia da Árvore, no Brasil, é comemorado todo 21 de setembro
trada principalmente na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica. A Amazônia é metade das florestas tropicais existentes no mundo, ela é considerada o maior bioma da América do Sul. A Mata Atlântica, por sua vez, é mais degradada, vem sendo devastada desde os tempos da colonização brasileira, para se ter uma idéia em 1540 a espécie Pau Brasil já era quase extinta no nosso litoral. Atualmente resta menos de 8% da sua área primitiva. As conseqüências da perda das nossas florestas são bastante significativas. Quando algumas espécies de árvores são extintas de um determinado local, outras espécies correm o risco de ter o mesmo fim, pois muitas delas possuem uma inter-relação. Porém, são somente haverá perda de espécies da flora nativa (espécies de arvores/plantas do local, que algumas vezes são exclusivamente daquele local – chamadas de endêmicas), mas sobretudo perda de muitas
O Brasil é um dos países que abriga a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia
espécies de animais (fauna). A perda do habitat de algumas espécies, ou seja sua moradia (ocorre principalmente com as destruição das matas), deixam os animais desorientados, sem saber para onde ir, daí morrem ou são capturados para o trafico de animais. Com a perda de parte desta biodiversidade também há perda de outras espécies porque há uma ruptura da cadeia alimentar. É um verdadeiro circulo de destruição. A falta da cobertura vegetal causa, além do processo de destruição de habitat de algumas espécies, processo erosivo que pode levar à desertificação de uma área. A perda de áreas densamente florestadas causa ainda mudanças climáticas, uma vez que as áreas de matas e florestas influenciam diretamente na manutenção da temperatura, na incidência das chuvas e no ciclo dos ventos.
A Constituição Federal reza em seu Artigo 225: “Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, e reforça essa proteção no seu § 4° “A Floresta Amazônica Brasileira, a Mata Atlântica, A Serra do Mar, O Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e a sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro das condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto aos uso dos recursos naturais”.
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A hidrovia Tapajós Teles Pires Deve reduzir em R$ 2 bi custo de frete de grãos do MT
O
governo federal decidiu dar o primeiro passo para a construção da hidrovia Tapajós-Teles Pires, que escoará, pelo território do Pará, a produção de grãos do norte de Mato Grosso. A obra irá facilitar a chegada das cargas em mar aberto e, segundo estimativas de especialistas, poderá reduzir os custos com fretes em R$ 2 bilhões anuais. O Estado do Mato Grosso produziu 40 milhões de toneladas de grãos na safra 2011/2012, o equivalente a 25% do montante nacional. A hidrovia Tapajós-Teles Pires é um plano da década de 1990. A licitação recente foi para definir qual empresa fará os estudos de viabilidade e o projeto da obra. A partir desse material, o governo poderá partir para a obra física, ainda sem definição de custo e de modelo de operação. Só os estudos devem ficar em R$ 14 milhões. A obra vai eliminar obstáculos como rochas e trechos arenosos, tornando navegáveis pouco mais de 1.000 km, partindo do rio Teles Pires (MT) e seguindo pelo rio Tapajós até o porto de Santarém (1.443 km de Belém). Com isso, a produção de grãos em Mato Grosso, cuja principal rota de escoamento é por rodovia e ferrovia até o porto de Santos (SP), ganhará um novo caminho. A partir de Santarém é possível chegar ao oceano Atlântico pelo rio Amazonas e abastecer tanto o mercado internacional como os consumidores do Nordeste. A Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de MT) calcula que o custo de transporte de uma tonelada de soja cairia de R$ 227 para R$ 60 com a hidrovia. Em um ano, o setor economizaria R$ 2 bilhões. “A hidrovia será um marco para o Centro-Oeste, um modal de transporte barato e que não polui. O rio Tapajós vai estar para o Brasil como o Mississipi está para os Estados Unidos”, afirma Seneri Paludo, diretor-executivo da FaO porto de Santarém, no oeste do Pará, já planeja sua expansão
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A hidrovia Tapajós-Teles Pires é um plano da década de 1990
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mato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso). Segundo a entidade, a hidrovia atenderá principalmente as regiões oeste e médio norte de Mato Grosso, que concentram mais da metade da produção agrícola do Estado.
Em Santarém Com a perspectiva de aumento na movimentação de cargas, o porto de Santarém, no oeste do Pará, já planeja sua expansão. A ideia é quadruplicar a capacidade de transporte de grãos em Santarém. Será criado um novo terminal e a capacidade de movimentação deve subir para cerca de 8 milhões de toneladas por ano – hoje são cerca de 2 milhões. A maior parte das cargas chega a Santarém por meio de uma hidrovia no rio Madeira, em Rondônia. A conclusão das obras está prevista para o final de 2014, segundo Celso Lima, administrador do porto. Para isso, uma licitação deverá ser lançada até o fim do ano. A obra está orçada em cerca de R$ 150 milhões. O aumento na demanda do porto de Santarém deve se acentuar com a hidrovia Tapajós –Teles Pires e também em razão das obras de pavimentação da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém. A previsão é que até o final de 2014 a rodovia esteja totalmente pavimentada. Também há planos para uma ferrovia entre Cuiabá e Santarém, com prazo de cinco a dez anos. O porto de Itaituba (PA), que movimentou 63 mil toneladas em 2011, também deve ser expandido. revistaamazonia.com.br
Oceans Compact Iniciativa para proteger os oceanos
Apenas 0,7% dos oceanos do mundo são protegidos
O
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apresentou recentemente, uma nova iniciativa para proteger os oceanos da poluição, da pesca excessiva e da elevação do nível das águas que ameaça centenas de milhões de pessoas. A iniciativa, batizada de Oceans Compact, pretende tornar mais eficaz, dentro da ONU, a coordenação dos esforços para preservar os oceanos que estão em situação precária, ressaltou Ban Ki-moon. “Nossos oceanos se aquecem e estendem”, disse em um discurso em Yeosu, na região sul da Coreia do Sul, ao inaugurar uma conferência que recorda o 30º aniversário da assinatura da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. “Corremos o risco de mudanças irrevogáveis em processos que apenas compreendemos, como as grandes correntes que afetam a meteorologia. A acidificação dos oceanos destrói a base da vida nos mares; a elevação das águas ameaça mudar o traçado do mapa do mundo às
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custas de centenas de milhões de pessoas entre as mais vulneráveis do planeta”, advertiu. Uma comissão de alto nível será constituída para para elaborar um plano de ação. Será integrada por autoridades políticas, cientistas e oceanógrafos, representantes do setor privado e da sociedade civil, além de autoridades dos organismos relevantes da ONU. Até 2025, todos os países devem fixar objetivos de redução dos vazamentos de poluentes e pelo menos 10% das zonas costeiras e marinhas devem estar protegidas. A iniciativa também pede o reforço da luta contra a pesca ilegal, a reconstituição das reservas e a erradicação das espécies invasivas. A acidificação dos oceanos é provocada pela absorção de CO2. Isto diminui o PH da água e acarreta uma combinação de mudanças químicas. Desde o início da revolução industrial, o PH médio das águas na superfície dos oceanos diminuiu aproximadamente 0,1 unidade, passando de 8,2 a 8,1, elevando assim a acidez.
Ban Ki-moon, secretário-Geral da ONU, na conferência para assinalar o 30 º aniversário da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em Yeosu
Projeções feitas por computadores mostram uma redução do PH em 0,2 a 0,3 unidade adicional até o fim do século. O Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos prevê o aumento do nível das águas, em consequência do aquecimento global, de entre 8 e 23 cm até 2030, na comparação com o nível do ano 2000, de entre 18 e 48 cm até 2050, e de entre 50 cm e 1,40 m até 2100. A última estimativa está muito acima da projeção do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) no relatório de 2007, que previa uma alta de entre 18 e 59 cm até o fim do século. O objetivo da comunidade internacional é limitar o aquecimento a menos de dois graus centígrados na comparação com o período pré-industrial, levando em consideração que a temperatura global aumentou quase um grau.
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Designer inventa “saídas de emergência” nas redes de pesca A SafetyNet foi pensada para melhorar a sustentabilidade das pescas
Fotos: Dan Watson
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m designer britânico encontrou uma solução para as redes de pesca serem mais “seletivas” no que capturam. Criou a SafetyNet, uma rede de pesca com anéis sinalizados que vão funcionar como portas de emergência para os peixes sem valor comercial. A alimentação da população mundial depende em 40% da atividade pesqueira, porém todos os anos mais de 20 milhões de toneladas de peixe têm de ser devolvidas aos oceanos. Os peixes capturados ainda não tinham o tamanho suficiente para serem comercializados ou não eram sequer a espécie que se pretendia apanhar. Don Watson, aluno da Escola de Arte de Glasgow pode ter encontrado a solução para este problema – a SafetyNet. Projetada para ajudar a pesca de arrasto a capturar somente espécimes adultos ( inicialmente) da arinca e badejo, a rede evita que sejam capturados peixes com tamanho inferior para serem comercializados. “Os dispositivos encaixam-se nas redes de arrasto e
ajudam a reduzir a captura acidental de peixes juvenis e também a espécie errada de peixe”, explicou Don Watson. Estes anéis são aplicáveis a qualquer rede já existente e basta uma média de 20 dispositivos – representando um investimento de 630 euros. Estas “portas de emergência” são inseridas no fundo das redes – parte em que os peixes são mantidos –recolhem a sua própria energia através dos movimentos das redes.
Jogando fora (descartando), os indesejados “by-catch” peixe pequenos ou não desejáveis, na água, é ameaça à saúde dos rios e oceanos do mundo – meios de subsistência dos pescadores. O design inspirado SafetyNet incorpora “anéis de escape” em um sistema de rede de arrasto, dando uma chance aos peixe pequenos ou não desejáveis. 40% da população do mundo depende do peixe como sua principal fonte de alimento. Atualmente, as práticas de pesca insustentáveis, significa que estamos em perigo de esgotar nossas fontes de peixes e pesca de arrasto de muitas e várias espécies até em extinção. O SafetyNet é um novo sistema de arrasto que vai reduzir a captura acessória e descartando os peixes pequenos e ameaçados de extinção. O SafetyNet atende a todos os requisitos estabelecidos pela ONU em sua definição de desenvolvimento sustentável - que prevê as necessidades de hoje, enquanto a criação de uma situação melhor no futuro. 48 REVISTA AMAZÔNIA
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Para reduzir a captura acessória e descartando os peixes pequenos e ameaçados de extinção
Estes anéis são aplicáveis a qualquer rede já existente e basta uma média de 20 dispositivos
Isto significa que, uma vez colocadas, os pescadores não se precisam de preocupar mais em trocar as baterias. Já as luzes sinalização à volta dos anéis são ativadas assim que a rede atinge uma certa profundidade, fazendo com que fiquem mais visíveis e estimulem os peixes a atravessá-los. Uma outra vantagem é, sendo rígidos, os anéis conseguem mantêr-se abertos mesmo quando arrastados e sob tensão. Devido a esta inovação no campo da sustentabilidade, o designer britânico já ganhou um prémio de 1300 euros no Reino Unido e vai agora enfrentar os finalistas de 17 países pelo prémio internacional James Dyson – no valor de 13.000 euros. Independentemente do seu sucesso no concurso internacional, Don já anunciou publicamente que vai tentar lançar o produto para uso comercial da comunidade piscatória.
O SafetyNet, foi uma das finalistas da competição “tempo para cuidar” de Victorinox Swiss Army , para aumentar a consciência do design sustentável e inovação
Daniel Watson, inventor da SafetyNet revistaamazonia.com.br
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Amazônia abriga terceira corrida do ouro no Brasil No início deste ano, o preço por grama de ouro subiu 12%, chegando a valer R$ 106,49
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região brasileira que abrange 7 milhões de km², sendo 5,5 milhões de florestas, constitui-se em um dos patrimônios naturais mais valiosos da humanidade, a maior e mais diversa floresta tropical do mundo. O bioma ocupa 60% do território brasileiro e parte de outros oito países (Peru, Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa). No Brasil, a região abriga hoje pelo menos 30 milhões de pessoas. Levantamentos recentes mostram que a Amazônia abriga pelo menos 40 mil espécies de plantas, 427 de mamíferos, 1.294 de aves, 378 de répteis, 427 de anfíbios e cerca de 3 mil espécies de peixes. Seus rios comportam cerca de 20% da água doce do mundo e a floresta constitui importante estoque de gases responsáveis pelo efeito estufa. A Amazônia portanto, concentra a maior biodiversidade do mundo. Além de tudo isso, temos as riquezas minerais em seu Garimpo em área de difícil acesso
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Os garimpos mais problemáticos e irregulares, tanto por estarem em áreas proibidas, como por serem clandestinos Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen, na sessão de gala que precedeu o Salão de Genebra 2012, anunciou uma reestruturação ecológica do grupo
solo, como ouro e reservas de nióbio - utilizado em ligas metálicas e aços especiais -, estanho e gás natural. Esse tesouro, é cobiçado por todos, inclusive pelas grandes potências. A Amazônia é considerada por muitos especialistas o Eldorado do século 21, em alusão ao mítico país de construções de ouro e riquezas fabulosas que norteou o interesse dos exploradores espanhóis e portugueses no início da ocupação da América Latina.
Corrida pelas riquezas O que o resultado das operações de fiscalização de crimes ambientais sinalizava, e o governo temia, está sendo confirmado agora por especialistas em mineração e órgãos ambientais: começou, há quase cinco anos, a terceira corrida do ouro na Amazônia Legal, com proporções, provavelmente, superiores às do garimpo de Serra revistaamazonia.com.br
Na Amazônia, incluindo o norte de Mato Grosso, estão os mais problemáticos e irregulares, tanto por estarem em áreas proibidas, como por serem clandestinos
Pelada, no sul do Pará, no período entre 1970 e 1980. Nos últimos cinco anos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desativou 81 garimpos ilegais que funcionavam no norte de Mato Grosso, no sul do Pará e no Amazonas, na região da Transamazônica. O Ibama informou que foram aplicadas multas no total de R$ 75 milhões e apreendidos equipamentos e dezenas de motores e balsas. Recentemente, fiscais do Ibama e da Fundação Nacional do Índio (Funai) e agentes da Polícia Federal, desativaram três garimpos ilegais de diamante no interior da Reserva Indígena Roosevelt, em Rondônia. Dezessete Garimpo clandestino
Os garimpos mais problemáticos são os de ouro e diamante
motores e caixas separadoras usadas no garimpo ilegal foram destruídos, cessando o dano de imediato em área de difícil acesso.
Valorização do ouro A retomada do movimento garimpeiro em áreas exploradas no passado, como a Reserva Roosevelt, e a descoberta de novas fontes de riqueza coincidem com a curva de valorização do ouro no mercado mundial. No ano passado, a onça – medida que equivale a 31,10 gramas de ouro – chegou a valer mais de US$ 1,8 mil. Com a crise mundial, a cotação no mercado internacional, recuou um pouco este ano, mas ainda mantém-se acima de US$ 1,6 mil. No Brasil, a curva de valorização do metal continua em ascensão. No início deste ano, o preço por grama de ouro subiu 12%, chegando a valer R$ 106,49. “É um valor muito alto que compensa correr o risco da clandestinidade e da atividade ilegal. Agora qualquer Os índios Cinta Larga decidiram acabar de vez com as atividades de extração ilegal de diamantes na área da reserva do Roosevelt, no Brasil
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teorzinho que estiver na rocha, que antes não era econômico, passa a ser econômico”, afirma o geólogo Elmer Prata Salomão, presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Mineral e ex-presidente do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), ligado ao Ministério de Minas e Energia.
Garimpos Como a atual corrida do ouro é muito recente, os dados ainda são precários e os órgãos oficiais não têm uma contagem global. Segundo Salomão, que presidiu o DNPM na década 1990, depois da corrida do ouro de Serra Pelada, foram feitos levantamentos que apontaram cerca de 400 mil garimpeiros em atividade no Brasil. O secretário executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Onildo Marini, cita duas regiões em Mato Grosso consideradas estratégicas para o garimpo: o Alto Teles Pires, Balsas de garimpo
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Garimpos clandestinos devastam Amazônia A crescente presença dos garimpos na Amazônia brasileira, estimulada pelo aumento do preço do ouro no mercado nacional e internacional, traz à tona um alerta ambiental que vai além da visível degradação de solos e margens de rios. O uso de substâncias como mercúrio e cianeto na separação e limpeza do mineral transforma o garimpo de ouro em uma das atividades mais poluidoras, contribuindo para a contaminação de peixes e animais silvestres e afetando a saúde humana
no norte do estado, que já teve forte movimento da atividade e hoje está em fase final, e Juruena, no noroeste mato-grossense, onde o garimpo foi menos explorado. “Tem garimpos por toda a região e tem empresas com direitos minerários reconhecidos para atuar lá”, relata.
Como ainda há muito ouro superficial que atrai os garimpeiros ilegais, a área tem sido alvo de conflitos. As empresas tentaram solucionar o problema no final do ano passado, quando procuraram o governo de Mato Grosso e o DNPM. “A notícia que tive é que a reunião não
O terrivel mercúrio 52 REVISTA AMAZÔNIA
foi muito boa. Parece que o governo local tomou partido do garimpo”, disse ele. “Os garimpos mais problemáticos são os de ouro e diamante. Na Amazônia, incluindo o norte de Mato Grosso, estão os mais problemáticos e irregulares, tanto por estarem em áreas proibidas, como por serem clandestinos.” A Reserva Roosevelt, no sul de Rondônia, a 500 quilômetros da capital, Porto Velho, é outro ponto recorrente do garimpo ilegal. A propriedade de mais de mil índios da etnia Cinta-Larga, rica em diamante, foi palco de um massacre, em 2004, quando 29 garimpeiros, que exploravam clandestinamente a região, foram mortos por índios dentro da reserva. O episódio foi seguido por várias manifestações dos Cinta-Largas, incluindo sequestros, que pediam autorização para explorar a reserva. “Agora existe um grupo de garimpeiros atuando junto com os índios, ilegalmente. Agora, eles estão de mãos dadas. A gente viu fotografias com retroescavadeiras enormes”, diz o geólogo. Os garimpos na Reserva Roosevelt voltaram a ser desativados, quando o Ibama deflagrou mais uma operação na região, com o apoio da Polícia Federal. Marini explicou que ainda não é possível contabilizar os números da atividade praticada ilegalmente na região. “Não há registro. Na região do Tapajós, onde o garimpo está na fase final, falava-se em valores muito altos, em toneladas de ouro que teria saído de lá, mas o registro oficial é pequeno, a maior parte é clandestina. Ouro, diamante e até estanho, que é mais barato, na fase de garimpo, mais de 90% era clandestino”.
O terrivel mercúrio O mercúrio metálico Hg +2 e particularmente o metilado Hg ( CH3) + , é uma substancia tóxica para o organismo humano e animal. Por uma afinidade com o ouro, o mercúrio é usado para separá-lo do cascalho. Adicionado à areia, ele forma com o ouro, e só com ele, um amálgama. Ao ser aquecido a altas temperaturas, esse amálgama se separa em gás mercúrio e ouro líquido, que rapidamente se solidifica no recipiente da operação. Assim, o mercúrio entra no meio ambiente na forma gasosa, liberada para atmosfera, e na forma líquida, no descarte da areia contaminada. A quantidade de mercúrio metilado descartado no ambiente vai entrar na cadeia alimentar dos peixes. Convém notar que na Amazônia o nível natural de mercúrio em muitos rios é mais elevado que o permitido chegando a 70 ppm no Rio Negro, onde o máximo permitido pela OMS é de 50 ppm.A maior taxa de periculosidade ocorre em populações que se alimentam de peixes. O mercúrio se acumula no organismo e sua eliminação se dá de forma muito lenta.Assim, ao ingerir peixe contaminado diariamente, as taxas de mercúrio, no corpo, crescem muito. Estudos realizados no Rio Tapajós revelam distúrbios neurológicos e mutagênicos recorrentes nas populações ribeirinhas.” revistaamazonia.com.br
A Amazônia, o Brasil e o planeta estão perdendo... quem ganha?
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Amazônia tem importância ambiental incalculável para o planeta, como lar de uma infinidade de espécies animais, vegetais e arbóreas, conhecidas e desconhecidas, como reguladora no equilíbrio climático global e como fonte de matérias-primas alimentares, florestais, medicinais e minerais. Infelizmente, comemoramos este ano o Dia Nacional da Amazônia (5/9) e o Dia da Árvore (21/9) lutando mais uma vez contra retrocessos na legislação ambiental, que podem levar ao fim da Mata Atlântica, ao fim do Cerrado, ao fim do Pantanal e a ao comprometimento do bioma amazônico. Nos dias de hoje, em que se fala na consolidação da economia verde, cujo grande diferencial é justamente os serviços prestados pelos nossos biomas, não é possível que o Congresso Nacional fique sensível aos apelos de um segmento minoritário – a bancada ruralista – que insiste em efetivar retrocessos em nossa legislação, permitindo desmatamentos em reservas legais, em áreas de preservação permanente (APPs) e em outros espaços territoriais ambientalmente protegidos e anistiando quem desmatou ilegalmente. A luta contra as mudanças na legislação florestal de aplicação nacional tem sido difícil e desgastante. O texto aprovado pelo Congresso Nacional, ao ser sancionado pela presidente Dilma Roussef, sofreu uma série de vetos que suprimiram pontos inaceitáveis introduzidos pela bancada ruralista. Em seguida, o Palácio do Planalto encaminhou ao Congresso a Medida Provisória (MP) nº 571/2012, com o objetivo de preencher as lacunas deixadas pelos vetos. Vale salientar que a Lei 12.651/2012 e a mencionada MP, em nossa concepção, já não estavam adequadas aos padrões necessários para a proteção do meio ambiente. Somando-se a esse fato, a articulação política do Governo com a sua base não se mostrou suficiente - desde a indicação dos parlamentares que compuseram a Comissão Especial até a sua efetiva votação - para evitar que novos retrocessos fossem incorporados à proposta. Nota do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável enfatiza que estão prestes a serem aprovados por pressão da bancada ruralista: “reflorestamento de nascentes e matas ciliares com mono-
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por Sarney Filho* culturas de frutíferas; delegação aos Estados para definir, caso a caso, quanto os grandes proprietários devem recuperar de Áreas de Preservação Permanente - APPs ilegalmente desmatadas; diminuição das áreas de proteção para imóveis com até 15 Módulos Fiscais (1 mil hectare na Mata Atlântica e 1,5 mil hectares na Amazônia); a inclusão de emendas que permitem ainda mais desmatamentos na Amazônia e Cerrado são medidas totalmente desprovidas de fundamentos técnico-científicos e representam ampliação inaceitável de anistia”. A votação da matéria, na Comissão Mista, foi extremamente confusa e, sob a tutela de um pseudo-acordo, coordenado pelos ruralistas, do qual nos recusamos a participar, matérias já rejeitadas voltaram a integrar o texto, num total desrespeito ao devido processo legislativo. O resultado final redundou em mais uma agressão, não somente ao meio ambiente, mas também aos princípios que regem o Estado democrático de direito, uma vez que a forma como se construiu tal acordo, tratando a questão como um mero ajuste matemático de módulos a mais e faixas a menos a serem recompostas, desconsiderou, completamente, os efeitos maléficos da medida. Nossa expectativa, agora, é de que tal texto não seja aprovado pelos plenários da Câmara e do Senado. O futuro da Amazônia e de outros biomas está de fato ameaçado caso prevaleçam as mudanças que os ruralistas desejam na legislação florestal e em outros projetos em discussão. Retrocessos graves já foram concretizados com a aprovação da Lei 12.651/2012. É nossa obrigação questionar qual a racionalidade de um modelo de crescimento calcado na destruição da base de recursos naturais?!?! Terá a população amazônida alcançado melhores índices sociais com a destruição enfrentada pelo bioma até agora? Os problemas da Amazônia parecem tão grandes quanto sua geografia, mas podem ser gerenciados tendo a proteção do meio ambiente e a justiça social como parâmetros norteadores. A criação de Unidades de Conservação na Amazônia tem sido passo importante para proteção da sua biodiversidade. O Partido Verde comemora quando o governo faz isso. Mas o PV critica quando essas UCs são recortadas para que sirvam a megaprojetos que não atendem aos
Dep. Sarney Filho na Rio+20
interesses regionais ou nacionais e ainda provocam devastações ambientais. Além do que já abordei aqui, o maior desafio continua sendo como garantir qualidade de vida ao morador da Amazônia. Como fazer com que o Estado chegue ao ribeirinho, aos povos indígenas, aos moradores das cidades ou da floresta, dispondo educação de qualidade, um bom serviço de saúde, transporte, condições para geração de emprego e renda? Na verdade esse sempre foi o grande desafio amazônico. Talvez ele agora tenha se tornado mais evidente por conta da globalização e da visibilidade dada às mudanças climáticas, às queimadas, à chegada dos grandes empreendimentos. O Partido Verde defende o meio ambiente e o ser humano. Ciente de que esse meio ambiente é resultado da ação humana – seja de proteção ou de devastação. Ciente de que a relação ecológica sadia exige essa proteção do lugar em que se vive; para que o ser humano viva bem e melhor. Proteger a Amazônia é proteger o bioma, a região, o planeta; e as pessoas, todas as pessoas. [*] Deputado Sarney Filho. Presidente da Comissão do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, líder do Partido Verde na Câmara dos Deputados e Coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista REVISTA AMAZÔNIA 53
Basic em Brasília, defende Protocolo de Kyoto
Grupo formado por Brasil, África do Sul, Índia e China também defendeu adoção de metas mais ambiciosas na COP 18, em novembro, em Doha
Fotos: Antônio Cruz e Wilson Dias/ABr
O
Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China) reuniu em Brasília especialistas e representantes dos órgãos de meio ambiente dos quatro países , com a proposta de chegar a um documento comum para ser levado à 18ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP 18), que acontecerá em Doha em novembro. Criado em 2007, o Basic é um grupo informal de diálogo sobre as negociações para a Conferência das Nações Unidas para o Clima. Os representantes dos quatro países – a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Isabella Teixeira; ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota; ministra de Água e Assuntos Ambientais da África do Sul, Edna Molewa; vice-ministro da Comissão Nacional de Desenvol54 REVISTA AMAZÔNIA
Segundo Patriota, os resultados da conferência de Durban devem ser cuidadosamente implementados
vimento e Reforma da República Popular da China, Xie Zenhua; e o embaixador da Índia no Brasil, Bellur Shamarao Prakash – divulgaram um documento contendo 17 pontos considerados prioritários na agenda global.
Unidade Na visão dos representantes do Brasil, o primeiro ponto importante é a reafirmação do compromisso dos quatro países com a coesão do grupo chamado de G77– bloco que inclui países emergentes – além da China. Para o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, a conferência de Durban no ano passado (COP 17), conseguiu reunir os países para um acordo com metas importantes para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, com metas para países desenvolvidos e em desenvolvimento. “Os resultados da conferência das partes de Durban foram resultados cuidadosamente balanceados e devem revistaamazonia.com.br
ser cuidadosamente implementados”, disse Patriota. Nas reuniões entre os ministros, negociadores e técnicos dos quatro países do Basic prevaleceu a ideia de unidade. Na avaliação da ministra brasileira de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, estão no centro da agenda os desafios que esse grupo unido tem no âmbito do grupo do G77, de buscar soluções mais robustas em torno das ambições para lidar com a questão do clima, considerando a dificuldade imposta pela influência de questões políticas. Para Izabella Teixeira, o Basic defende a união entre as metas apontadas pelos cientistas e as metas adotadas, de fato, pelos países. “Buscamos posições mais ambiciosas sobre a redução de emissões particularmente pelos países que cumprem, ou deveriam estar cumprindo, aquilo que foi acordado na conferência das partes de mudança do clima que é legado de 92 e foi reiterado como um dos legados da Rio+20”, disse a ministra, ao criticar a falta de compromisso de alguns países no cumprimento das meras.
Novo período para o Protocolo de Kyoto Outra posição defendida pelo Basic é a necessidade de a Conferência de Doha definir um segundo período para o protocolo de Kyoto, que vence no final deste ano. Na posição do grupo, a definição desse segundo período é essencial para o sucesso da conferência de Catar. O grupo defende que um novo período se inicie em 2013 e vá até 2020, quando deve ser estabelecido um novo acordo do clima. Segundo o embaixador Luiz Figueiredo Machado, negociador brasileiro no encontro, alguns países defendem que esse novo período de Kyoto dure cinco anos, o que criaria um intervalo entre 2017 e 2020. “Isto gera problema, porque ao final de 2017 as metas dos países inscritos no protocolo acabarão e o próximo acordo só entrará em vigor em 2020. Deve-se evitar este hiato e a maneira mais simples é que o segundo período de compromisso siga até 2020”, disse em conversa com a imprensa. A ministra Izabella Teixeira afirma que este deverá ser o maior desafio da conferência de novembro. “O maior legado de Doha é assegurar o segundo período de com-
Representantes da Argélia, Argentina, Barbados e Catar também participaram das reuniões
promisso de Kyoto e garantir com isso caminhos mais objetivos para a negociação da plataforma Durban, que deve remeter a um novo acordo global após 2020”, disse. O vice-ministro da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, Xie Zenhua, disse que as expectativas para Doha são boas, mas que é preciso estabelecer metas mais ambiciosas para os países desenvolvidos. Ele lembrou que a taxa de redução [de CO2] dos países em desenvolvimento é maior que a dos países desenvolvidos e isso precisa mudar. “Os compromissos assumidos por cada país precisam ser revistos. Os países em desenvolvimento estão reduzindo em 70% e os desenvolvidos, em 30%. Achamos que isso não é suficiente. Para 2020, temos que negociar uma maneira de aumentar a taxa de redução dos países desenvolvidos”, afirmou.
Basic e a cooperação Sul-Sul Além dos representantes de Brasil, África do Sul, Índia e China, o Basic adota o formato ampliado e convida representantes de outros países. Também participaram das reuniões em Brasília representantes da Argélia (país que preside temporariamente o G77), da Argentina (recentemente presidente do mesmo bloco), de Barbados (que
EXPRESSO VAMOS + LONGE POR VOCÊ ! revistaamazonia.com.br
Para a ministra Izabella Teixeira, o maior legado de Doha é assegurar o segundo período de compromisso de Kyoto…
defende interesses específicos por ser um conjunto de pequenas ilhas) e do Catar (país que sediará a COP 18). O documento divulgado pelo Basic em Brasília reafirmou a importância desse modelo ampliado do grupo, que “nutre unidade entre os países em desenvolvimento, assim como a importância da Cooperação Sul-Sul.”
MATRIZ: ANANINDEUA-PA BR 316 - KM 5, S/N - ANEXO AO POSTO UBN EXPRESS ÁGUAS LINDAS - CEP: 67020-000 FONE: (91) 3321-5200
FILIAIS:
GUARULHOS-SP FONE: (11) 2303-1745
MACAPÁ-AP FONE: (96) 3251-8379 REVISTA AMAZÔNIA 55
Fórum Nacional Especial S
ob o título Novos Caminhos do Desenvolvimento Brasil: Visão de País e Impulso à Competitividade, para Avançar na Rota do Desenvolvimento e Viabilizar o Aproveitamento de Grandes Oportunidades, a edição especial do Fórum Nacional, encontro de debates com os grandes nomes da economia brasileira, foi organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE) O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, abriu o evento ressaltando a grande contribuição do Fórum Nacional para o desenvolvimento brasileiro e comentou os avanços da economia nacional nos últimos anos. “Queria sublinhar as mudanças estruturantes marcantes nos últimos tempos, sob base de uma estabilidade conquistada com muita dificuldade e mantida com políticas públicas, tais como a Lei de Responsabilidade Fiscal, criação de emprego formal e redistribuição de renda, a redução da Selic e taxa de câmbio menos apreciada. Tudo isso vai afetar o círculo econômico, criando mudanças no sistema de crédito no sentido positivo, estimulando poupança e mobilizando o mercado de capitais”, avaliou. Ele ressaltou o papel do investimentos público como indutor do desenvolvimento nacional, citando o Plano de Concessões de Logística, que, segundo Coutinho, vai modelar e alavancar a rede de logística brasileira, no que
chamou de “ o calcanhar de Aquiles do desenvolvimento brasileiro”. Ele citou ainda as recentes política governamentais para estimulo da economia, como a redução da tarifa de energia elétrica, as desonerações dos encargos patronais, as iniciativas no campo de ensino médio profissionalizante e o apoio à industria no fomento de complexos intensivos de conhecimento. “O Brasil tem todas as condições desenvolver software, tablets, semi-condutores, equipamentos para o complexo aeronáutico e de defesa”, detalhou. Por fim, ele citou o Inova Petro, programa que destinará R$ 3 bilhões para a cadeia produtiva de óleo e gás nacional, cujo edital foi lançado recentemente. “O grande conjunto de oportunidades rentáveis de investimento que precisamos construir podem nos levar a um ciclo de crescimento sustentável para o desenvolvimento do país. Claudio Frischtak, Luciano Coutinho e Ministro João Paulo dos Reis, na abertura do evento, quando o presidente do BNDES destaca avanços macroeconômicos e ressalta a importância da indústria do conhecimento
Novos Caminhos do Desenvolvimento – Nordeste e Amazônia Na apresentação do paper Novos Caminhos do Desenvolvimento – Nordeste e Amazônia, o diretor técnico do Fórum Nacional Roberto Cavalcanti Albuquerque mostrou que Nordeste e Amazônia, apesar de concentrarem 1/3 da população brasileira, representam menos de 20% do PIB do país. O problema seria a escassez de desenvolvimento. “Ainda assim, segundo indicadores, é uma região dinâmica, que cresce mais que o Brasil nos últimos 40 anos”. No caso do Nordeste, para impulsionar o crescimento econômico e desenvolvimento, é preciso quatro passos: construir uma competitividade sistêmica, ter economia baseada no conhecimento, expansão econômica voltada para novo perfil produtivo e modernização social. Para o desenvolvimento da Amazônia é necessário uma estratégia de ecodesenvolvimento para redução do hiato de competitividade. Extrativismo, agronegócio, bioindústria e ecoturismo estão entre as oportunidades na região. “Na Amazônia toda riqueza está na floresta”, disse Albuquerque.
Presidente do IPEA comemora os índices do crescimento chinês das classes baixas brasileiras Segundo palestrante do Forum Nacional, o presidente do Ipea, Marcelo Néri, falou dos contrastes ainda existentes no Brasil e no desafio de se fazer a transição do “Brasil velho para o Brasil novo”, conforme definiu. Com o tema Brasil, País de Classe Média , Neri chamou a atenção para 56 REVISTA AMAZÔNIA
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Marcelo Neri, presidente do Ipea, chamou a atenção para os avanços conseguidos sobretudo nas classes de baixa renda
José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
os avanços conseguidos sobretudo nas classes de baixa renda. “O crescimento chinês se encontra na base social brasileira”, disse. Ele comemorou, ainda, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011,que revela a continuidade da redução das desiguldades sociais no Brasil. A renda de negros cresceu 42% e brancos 21%, rural, 49%, grandes 16%, o Brasil velho cresceu muito. A mortalidade infantil caiu 46% em dez anos, o que pode ser mais importante do que isso? Os cursos técnicos cresceram 83% em três anos. Enfim, estamos trocando pneu com carro andando e o Brasil está se tornando um país normal”. Ele alertou, contudo, para a necessidade de haver, nas esferas sociais mais baixas, um fortalecimento do perfil empreendedor. “O brasileiro não é um pequeno grande empresário”, considerou.
Representante da CNI alerta para problemas com a falta de competitividade na geração de energia hidroelétrica no Brasil
A opção pela hidroeletricidade e outras fontes renováveis de energia foi o tema abordado por José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresentou, de ínicio, dados que atestam a potencialidade do Brasil no campo da geração de energia de fonte renovável. “Como é de conhecimento geral, o que mais destaca a matriz energética brasileira no panorama energético mundial é a participação das fontes renováveis de energia. Elas contribuem, em média, com apenas 14% da produção de energia no Mundo1, enquanto alcançam cerca de 45% da produção de energia primária no País”, detalhou. Contudo, foi a participação da força hidráulica na matriz de energia elétrica do Brasil que mereceu destaque na apresentação, pois, segundo o palestrante, ela alcança 74% do total no País. “Essa geração equivale à cerca da metade da geração sul-americana da mesma fonte. Assim, basicamente o Brasil não depende de combustíveis fósseis para atender à crescente demanda de eletricidade”, disse.
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Valter Cardeal de Souza, diretor de Geração da Eletrobras Luciano Coutinho, Ministro João Paulo dos Reis Velloso e Eliane Bahruth
Ele salientou, contudo, que os combustíveis de origem fóssil poderão se tornar imporantes dentro do cenário energético brasileiro, pois o montante das reservas nacionais conhecidas como hidrocarbonetos aumentarão a sua participação no conjunto de matrizes energéticas nacional. Ao falar sobre investimentos, ele informou que as linhas de transmissão são concedidas mediante leilões para construção e operação, tendo em contrapartida uma receita anual permitida. “Prevê-se a expansão de 40% dessa malha até 2020.Na ponta da rede, a distribuição é feita por 64 concessionárias. Esse segmento atende a quase 70 milhões de consumidores”.
Diretor da COPPE/UFRJ defende expansão do potencial hidroelétrico brasileiro O diretor da COPPE/UFRJ, Luis Pinguelli Rosa, participante da Mesa Redonda Opção Pela Energia Hidroelétrica (e outras energias renováveis), disse que o Brasil precisa expandir o seu potencial hidroelétrico. Segundo ele, esse tipo de energia representa uma grande vantagem para a população brasileira em geral, uma vez que o retorno socioambiental é maior, acrescido do preço final para o consumidor mais barateado. “A outras fontes de energia
ainda são muito caras, como a eólica e a solar”, explicou. “ Estamos atrás da Venezuela, Argentina, Uruguai e Chile. Precisamos pensar sobre a nossa posição e mudar esse quadro”.
Sem inovação científica não há inovação tecnológica Para o diretor científico do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CBTE-USP), professor Marcos Buckeridge, as duas práticas não podem andar dissociadas. Um exemplo é um dos projetos do laboratório, a Super Planta. “Em quatro anos, teremos a prova de conceito. A Super Planta cresce mais rápido e utiliza 60% menos água”, disse. Boas perspectivas para a energia eólica no Brasil. De acordo com Rosana Santos, vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), em 2016 a previsão é que a energia eólica seja responsável por 5,5% da matriz brasileira. Atualmente, sua participação é de 1,8%. “A energia eólica representa um aumento virtual da capacidade de armazenamento das hidroelétricas. São fontes complementares”, disse. Casa, estacionamento, estádios e até aeroportos solares. A geração fotovoltaica conquista cada vez mais espaço. Os veículos elétricos podem ser realidade na próxima REVISTA AMAZÔNIA 57
década. Apesar do potencial desta tecnologia, ainda há dúvidas. “Não sabemos se vamos participar da atividade produtiva”, ponderou o professor Ricardo Rüther, diretor-técnico do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina.
Altino Ventura, secretário de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME) : “A construção de grandes reservatórios é problemática, porque inunda áreas muito grandes”
Concessão por bacias e não por aproveitamento A situação brasileira no contexto internacional foi o tema da apresentação de Altino Ventura, secretário de planejamento estratégico do MME, na mesa-redonda Concessão por Bacias e não por Aproveitamento. “Nossa matriz energética é diferente do resto do mundo”, disse. Enquanto os combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás natural – lideram no planeta, com 81% , no Brasil esse índice é de 53%, “O país usa 45% de energias renováveis, sendo 17,5% de derivados energéticos da cana-de-açúcar. Isso só acontece aqui”, garantiu. De 2010 a 2020, a expectativa é de diversificação da matriz elétrica brasileira. A biomassa, por exemplo, irá dobrar sua participação. “A política energética qualificou nossa matriz ao longo dos anos”, completou.
Evandro Vasconcelos, Valter Cardeal de Souza, Mario Veiga Pereira, Ministro João Paulo dos Reis Velloso
Eletrobras prefere fazer usinas com reservatórios O diretor de Geração da Eletrobras, Valter Cardeal de Souza, defendeu a volta da construção de usinas hidrelétricas com reservatórios no Brasil. Cardeal diz que a estratégia da Eletrobras é fazer usinas de fontes renováveis. “A preferência sempre será de usinas com reservatórios”. O diretor da Eletrobras disse que 88% da matriz elétrica nacional provêm de fontes que não emitem gases de efeito estufa. A energia hidrelétrica, de acordo com estudo da Agência Internacional de Energia, é a que menos emite. “São 6 quilos de gás carbônico por megawatt-hora [MWh]. Depois, vem a eólica, com 13 quilos por MWh, chegando no carvão a quase uma tonelada”. Cardeal representou o presidente da estatal, José da Costa Carvalho Neto, na sessão especial do 24º Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. O diretor da Eletrobras explicou que não se trata de briga entre usinas a fio d’água e com reservatório, mas “de uma forma inteligente de discutir como se faz”. Ele disse que o lago formado pelos reservatórios é uma fonte de vida. “O lago produz mais alimentos que o rio. Obviamente, ele avança um pouco na bacia de acumulação e alaga algumas terras adicionais, mas, nesse lago, a aquicultura é uma realidade internacional. Podemos produzir proteína para o mundo todo”. Cardeal disse que a Usina de Tucuruí (PA) produz proteína que é levada para o Peru e, depois, para o Japão. “Produz mais peixe que o próprio rio”. Cardeal disse que a Eletrobras está estudando todos os rios. “Estamos estudando mais de 40 mil MW”. O diretor, entretanto, não quis citar quais os rios a estatal está avaliando. 58 REVISTA AMAZÔNIA
“Não quero provocar os ambientalistas, porque eles também são pessoas inteligentes e competentes. Estão preservando o lago, a natureza, e nós temos, de forma inteligente, que produzir energia limpa e renovável, hidrelétrica preferencialmente, sem agredir o meio ambiente. Ou seja, mitigar e compensar corretamente”. O diretor da Eletrobras esquivou-se de dizer que as usinas a fio d’água, sem reservatórios, como é o caso da Hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Rio Xingu, no Pará, foram um equívoco. “Não é que foi um erro. A vida é um aperfeiçoamento contínuo”. Cardeal disse que o Brasil se tornou um país com rígidas legislações socioambientais. “Tivemos que aceitar o que foi possível fazer, as usinas hidrelétricas a fio d’água”. O secretário de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Altino Ventura, também presente à sessão especial do fórum nacional, esclareceu, porém, que “para fazer [usinas com] reservatórios, é preciso que os locais físicos comportem reservatórios”. Por essa razão, ele descartou que usinas desse tipo sejam construídas na região norte amazônica, que é uma área de planície.
“A construção de grandes reservatórios é problemática, porque inunda áreas muito grandes”. Ventura admitiu que “o desejável” é que não se fizessem somente usinas a fio d’água. O secretário esclareceu que a não existência de reservatórios não tem implicação somente na energia elétrica produzida nessas bacias. “Tem implicação também no controle de cheia e na navegação do rio. Porque, para fazer o controle de cheia de uma bacia hidrográfica, é preciso ter reservatórios, locais onde possa armazenar à água”. Ventura disse que para permitir que o rio seja navegável durante todo o ano, é preciso que no período seco exista reservatório, “onde se possa soltar a cheia”. O secretário chamou a atenção que as usinas a fio d’água devem ser olhadas pela relação custo/benefício. O diretor de Geração da Eletrobras, Valter Cardeal de Souza, disse que é importante se fazer uma combinação de usinas hidrelétricas com reservatórios com energia eólica (dos ventos). “É isso que nós estamos pesquisando”, disse Cardeal. “Substitui integralmente [as usinas térmicas]. Se eu tenho uma hidrelétrica com reservatório e mais eólica, combinação melhor Deus não podia disponibilizar”. revistaamazonia.com.br
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Energias renováveis serão 45% da matriz brasileira em dez anos
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om crescimento estimado de 5,1% ao ano, as fontes renováveis de energia devem passar de 43,1% para 45% da matriz brasileira em 2021. A projeção está no Plano Decenal de Expansão de Energia, produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O documento, que fica em consulta pública no Ministério de Minas e Energia até o dia 31 de outubro, traz as metas para adaptação do setor conforme prevê o Decreto 7.390/2010 que regulamenta a Política Nacional sobre Mudança do Clima. De acordo com o presidente interino da EPE, Amilcar Guerreiro, a meta para o setor é não ultrapassar 680 milhões de toneladas de gás carbônico de emissões absolutas em 2020. Para que isso ocorra, foi feito o planejamento de crescimento de cada fonte de energia a longo prazo. “Para uma parte do horizonte os leilões já estão feitos e estão com uma probabilidade de ocorrência muito alta.
Amilcar Guerreiro, presidente interino da EPE
Mesmo com a previsão de aumento da participação do gás natural dos atuais 11% para 15,5% em 2021, devido à exploração na Evoluçao da oferta interna de energia no horizonte descenal camada pré-sal, o presidente interino da EPE disse que as metas de emissão de gases de efeito estufa no setor energético serão mantidas. De acordo com ele, o mais importante é que as emissões não cresçam em uma proporção maior do Claro que sempre tem a incerteza da demanda. Mas nos que o crescimento da economia do Brasil. primeiros cinco, seis anos, boa parte da oferta já está “Com a evolução da demanda, basicamente definida. Agora, para completar o horizonte com essa estratégia de oferta, de dez anos, aí você tem exatamente o plano e, portanto, você mantém, em 2020, a intensidade de carbono na ecotem metas a serem atingidas”. Um dos destaques é o aumento da produção de ener- nomia. Quer dizer, você não está gia eólica, que hoje não chega a 1.000 megawatts emitindo mais gás carbônico por (MW). A meta é chegar a 16 mil MW em 2021. Segun- unidade de PIB – Produto Interdo Guerreiro, uma parte já está leiloada e deve entrar no Bruto. A sua economia cresce, em operação a partir do ano que vem. Outra oferta em mas ela não fica emitindo mais ascensão é a das energias derivadas da cana-de-açú- do que proporcionalmente ao car, tanto o etanol como o bagaço, com crescimento de aumento da economia”, declarou. 8,1% ao ano. 60 REVISTA AMAZÔNIA
A meta é manter a intensidade de carbono na mesma proporção medida em 2005, ano em que foi feito o segundo inventário brasileiro de emissões de gás carbônico. O Plano Decenal da EPE prevê crescimento na capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional de 56% até 2021, com destaque para a geração hidrelétrica, com a entrada em operação da Usina de Belo Monte. A malha de transmissão deve chegar a 150,5 quilômetros. Guerreiro lembra que o nível de atendimento de energia elétrica atualmente está muito perto de 100% e o crescimento é de 1,5 milhão de ligações residenciais por ano. No setor de hidrocarbonetos, a produção de petróleo deve saltar de 2 milhões de barris por dia (bpd) para 5,43 milhões até 2021, com a entrada em operação de 90 plataformas de produção. Como a demanda projetada é de 2,89 milhões de bpd, o excedente de 2,54 milhões será destinado à exportação. A previsão é que a oferta de energia não-renovável cresça 4,7% ao ano, enquanto a de energias renováveis aumente 5,1%. Com isso, será possível suprir a demanda, que deve crescer 4,7% ao ano até 2021. O investimento total estimado para os próximos dez anos é R$ 1 trilhão.
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Furnas adere à agenda ambiental da administração pública Flávio Decat, presidente de Furnas e Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, na adesão de Furnas à A3P
Fotos: Wilson Dias/ABr
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Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), criada há 11 anos, ganhou recentemente a adesão da primeira empresa ligada ao setor elétrico. A empresa Furnas tornou-se a 161ª instituição a seguir as recomendações da agenda coordenada pelo governo, que define critérios de gestão ambientalmente sustentável. Entre as metas estipuladas pelo manual, estão a mudança nos investimentos, compras e contratação de serviços pelo governo e o manejo adequado dos resíduos e dos recursos naturais utilizados. “É uma sinalização do setor elétrico de que a discussão ambiental não passa só pela questão do licenciamento. É uma agenda que depende menos da gente [governo] e mais de Furnas”, avaliou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A ministra lembrou que todas as empresas que aderiram à iniciativa têm prorrogado os contratos. “Ninguém pediu para não aditar os contratos”, afirmou a ministra, destacando iniciativas de órgãos como Caixa Econômica Federal, Advocacia-Geral da União (AGU), Agência Nacional de Águas (ANA) e ministérios públicos Federal e estaduais. Levantamentos de um grupo do Tribunal de Contas da União (TCU), formado para acompanhar os resultados da iniciativa, apontaram que, com o cumprimento mínimo de regras, as empresas têm conseguido economizar cerca de R$ 240 milhões por ano em energia. Além da economia, o governo tem defendido o reflexo das ações em outros setores. Segundo Izabella Teixeira, com as mudanças incorporadas pelas empresas que aderiram à A3P, é possível influenciar cadeias produtivas e gerar negócios e empregos. Para a ministra, a agenda deve ser também usada como indicadores de boas práticas. “Os relatórios de sustentabilidade que o Ministério do Meio Ambiente recebe, a gente não pode fazer juízo de valor. Ou seja, faço juízo de valor sobre o negativo, mas não faço sobre o positivo. Sei dizer quem faz errado, mas não digo quem faz certo. E tem muito mais gente fazendo o certo.”
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O presidente de Furnas, Flávio Decat, adiantou que a empresa tem dois projetos que se enquadram à A3P. Uma das propostas em análise é a de adaptação de barcaças que vão rodar com motores a hidrogênio no Lago de Furnas, em Minas Gerais, abrangendo mais de 30 municípios do estado, formando lagos, cachoeiras, balneários e piscinas naturais. “As barcaças serão usadas para recolher o lixo nas cidades e queimar esse lixo em usinas próprias, produzir energia elétrica e vender essa energia de maneira que este processo seja sustentável e não dependa de verbas de prefeituras. Estamos desenvolvendo esse projeto. Já temos acordo com a Coppe [Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro] para usar os motores”, explicou Decat. Segundo ele, técnicos de Furnas e colaboradores estão estudando a melhor técnica para a queima correta do lixo e também a de menor custo, além de locais adequados para instalar as usinas. Decat acredita que, no final do ano, o projeto estará concluído para o início das licitações. O presidente de Furnas ainda destacou a proposta de coleta seletiva ampliada que está sendo adotada pela empresa. “A coleta seletiva não se limita às instalações de Furnas. Vamos distribuir coletores para mais de 5 mil empregados e colaboradores colocarem em casa e nos prédios”, acrescentou.
Durante a assinatura da adesão de Furnas à Agenda Ambiental na Administração REVISTA AMAZÔNIA Pública (A3P)61
Percepção das alterações climáticas Cientista da Nasa vê relação entre verões extremos e aquecimento global
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diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, James Hansen, considerado um dos cientistas que mais tem alertado ao longo dos anos sobre os impactos das mudanças climática, disse que o problema é maior do que se pensava. “Minhas projeções sobre o aumento da temperatura global demonstraram ser verdadeiras. Mas falhei em prever a rapidez (das mudanças)”, disse ainda Hansen: “A mudança climática está aqui e é pior do que pensávamos”, o cientista diz que, quando testemunhou diante do Senado americano, no verão de 1988, traçou “um panorama obscuro sobre as consequências do aumento contínuo da temperatura impulsionado pelo uso de combustíveis fósseis”. “Tenho uma confissão a fazer”, “Fui muito otimista.” O novo estudo teve sua publicação pela revista da Academia de Ciências dos EUA (Proceedings of the National Academy of Sciences).
James Hansen diz que mudança climática é pior do que se pensava
Verões extremos Segundo Hansen, os verões de calor extremo registrados recentemente em diversos pontos do planeta provavelmente são resultado do aquecimento global.
Entre os episódios atribuídos à mudança climática, ele cita a seca do ano passado nos Estados americanos do Texas e de Oklahoma, as temperaturas extremas registradas em Moscou em 2010 e a onda de calor que atingiu a França em 2003. As variações climáticas naturais podem ser muito amplas e a relação entre fenômenos extremos e aquecimento global é tema de intensa controvérsia. No entanto, Hansen afirma que as recentes ondas de calor estão vinculadas à mudança climática e que a nova análise estatística realizada por ele e outros cientistas da Nasa mostra claramente esse vínculo. Os cientistas da Nasa analisaram a temperatura média no verão desde 1951 e mostraram que em décadas recentes aumentou a probabilidade do que definem como verões “quentes”, “muito quentes”, e “extremamente quentes”. Os verões “extremamente quentes”, dizem, se tornaram mais frequentes. Desde 2006, cerca de 10% da superfície em terra (não sobre o mar) no hemisfério norte tem registrado essas temperaturas extremas a cada verão. Hansen disse que é necessário que o público entenda o significado do aquecimento global devido à ação humana. “É pouco provável que as ações para reduzir as emissões de gases alcancem os resultados necessários enquanto o público não reconhecer que a mudança climática causada pela ação humana está ocorrendo”, disse. “E perceber que haverá consequências inaceitáveis se não forem tomadas ações eficazes para desacelerar este processo.”
Reações O estudo de Hansen foi recebido com reações diversas pela comunidade científica: Andrew Weaver, da Universidade Victoria, no Canadá, disse que o estudo é um trabalho “excelente”, que requer uma pergunta diferente da feita por Hansen e seus colegas. Frequência de ocorrência (eixo y) de anomalias de temperatura locais (em relação à média 1951-1980) dividido pelo desvio padrão local (eixo x) obtido por gridboxes contando com anomalias em cada intervalo de 0,05. A área sob cada curva é a unidade 62 REVISTA AMAZÔNIA
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Os extremos das temperaturas
Junho-Julho-Agosto de anomalias de temperatura de superfície sobre a terra Hemisfério Norte em 1955, 1965, 1975, 2006-2011 e 1951-1980 em relação à base de período em unidades de desvio padrão local 1951-1980. Números acima de cada mapa são por cento da área da superfície coberta por cada categoria na barra de cores Áreas quentes e frias em Jun-Jul-Ago, anomalias de temperatura de superfície em 1955, 1965, 1975 e 2003-2011 1951-1980 em relação à temperatura média em unidades de desvio padrão local de temperatura
“Perguntar se isso se deve à mudança climática é equivocado”, disse Weaver. “O que podemos perguntar é o quão provável é que isso pudesse ocorrer na ausência do aquecimento global. É tão extraordinariamente improvável que a causa tem que ser o aquecimento global.” Mules Allen, professor da Universidade de Oxford, disse que o estudo concorda em linhas gerais com análises prévias, mas observa que a interpretação vai “além do que muitos cientistas aceitariam sem problemas”. Freqüência de ocorrência (eixo y) de anomalias de temperatura locais dividido pelo desvio padrão local (eixo x) obtido por gridboxes contando com anomalias em cada intervalo de desvio padrão 0,05. A área sob cada curva é a unidade. Os desvios padrão são para os períodos de base indicada
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Desafios para o Desenvolvimento Rural
Chefe da pasta de Sustentabilidade Ambiental do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aponta ausência de planejamento e gestão da propriedade rural como os principais entraves para o processo de desenvolvimento sustentável no campo.
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ustentabilidade refere-se a habilidade de sustentar ou suportar uma ou mais condições. É uma característica ou condição de um processo ou de um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo. Originalmente, este conceito surgiu como um princípio, segundo o qual o uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. Em geral, para que um empreendimento humano seja considerado sustentável, é preciso que seja: ecologicamente correto economicamente viável socialmente justo culturalmente diverso O que assistimos, agora, é a expansão do uso do conceito a ponto de se tornar quase uma unanimidade global e, por muitas vezes, a continuidade da ignorância relacionada à essência da questão. Para o Coordenador-Geral de Sustentabilidade Ambiental do Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Renato de Oliveira Brito, o uso do termo “sustentabilidade” difundiu-se rapidamente, sendo incorporado ao vocabulário politicamente correto de instituições, dos meios de comunicação de massa e das organizações da sociedade civil. Por outro lado, a abordagem do combate às causas da insustentabilidade parece não avançar no mesmo ritmo. “Não se muda um modelo de negócio sem mudar o modo como pensam e agem líderes, executivos, funcionários e colaboradores. Não se constrói uma empresa sustentável sem educar os seus públicos de interesse para novos olhares, novas abordagens e uma nova cultura, da mesma forma que não se constrói negócios sustentáveis no campo sem planejamento e gestão da propriedade”, afirma Renato. Segundo o gestor de política pública, é preciso entender a diferença entre concepção de agricultura e execução da
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por Michele Borges
Renato de Oliveira Brito, Coordenador-Geral de Sustentabilidade Ambiental do Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
agricultura, que requer a renovação constante de tecnologias que podem ser aplicadas no campo. “Percebe-se uma ausência de estímulo na identificação de oportunidades de negócio, que também é resultante da ausência da gestão sustentável, ou seja, da capacidade para dirigir o curso de um negócio, através de processos que valorizam e recuperam todas as formas de capital, humano, natural e financeiro”, analisa Renato. Em sua opinião, a Cooperação é outro fator que pode contribuir muito para o avanço no campo: “Há uma carência de articulações entre experiências regionais, inter-estaduais e também entre países. Em breve, vamos lançar um projeto que será um bom exemplo de cooperação e ainda irá preencher parte da lacuna que temos
Planejando a propriedade...
hoje no campo por meio de capacitações de gestão para o pequeno e médio produtor que irão beneficiar mais de oito mil propriedades rurais”. revistaamazonia.com.br
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ECO Business 2012 Reuniu em São Paulo as empresas mais sustentáveis e inovadoras no Brasil Fotos: Luis Mazzaferro Jr
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á alguns anos os brasileiros experimentam um momento de crescimento da economia nacional e aumento do poder de compra. Com isso, a população passou a consumir mais, gerar mais resíduos e demandar atitudes mais sustentáveis por parte das empresas e do governo. Cada vez mais, as companhias adotam medidas e estratégias para incorporar aspectos relacionados à sustentabilidade a sua operação, a fim de atender a essa nova demanda e também economizar recursos. Essas empresas estiveram presentes na ECO Business 2012, evento que reuniu as inovações que podem torná-las mais eficientes, em uma feira e um congresso, que aliou cases de sucesso de grandes companhias e especialistas acadêmicos, que mostraram que é possível realizar negócios sem perder a sustentabilidade de vista. “Durante os três dias do evento, pudemos munir os Gui Brammer, diretor de conteúdo do cogresso ECO Business, na abertura do evento
executivos e os tomadores de decisão de ferramentas para que desenvolvam estratégias para atender o novo consumidor brasileiro e a geração Y, que está cada vez mais exigente, com relação aos produtos que consome”, afirmou Guilherme Brammer, diretor de conteúdo do Congresso. As palestras do Congresso foram organizadas em três temas. No primeiro dia o foco foi o Perfil do Novo Consumidor Brasileiro, assunto debatido por especialistas como Johnny Wei, diretor da Locomotiva Negócios Emergentes e representante do C.K. Prahalad no Brasil e Carla Mayumi, diretora da agência BOX 1824, responsável pela pesquisa O Sonho Brasileiro. Além desses keynotes, o dia 66 REVISTA AMAZÔNIA
também contou com a participação de Gabriela Onofre (P&G), Claudia pires (PepsiCo), Denise Alves (Natura), Fabio Lavezo (Camargo Correa), Leandro Farina (Celulos Irani), Tatiana Correia (Diageo) e Elisson Dias (Owens Ilinois), que exibiram cases sobre como suas empresas estão se adaptando para atender as demandas deste novo consumidor. No segundo dia da ECO Business, o tema foi as Ferramentas para a Implementação de Sustentabilidade nas Empresas. Logo no início das atividades, Tião Santos (Limpa Brasil), que participou do documentário “Lixo Extraordinário” apresentou os benefícios que a coleta seletiva e reRicardo Guggisberg, presidente da ECO Business, na abertura do evento
ciclagem podem trazer para todos, cidadãos, empresas e meio ambiente. A seguir Fábio Cirilo (Espaço ECO/Basf), Luis Serafim (3M), Sérgio Cintra (Metalsinter), Alexander Van Paris Piergilli (Ecossistemas), Fabíola Grzybowski (MARS) e Bruno Pereira (Dow), apresentaram cases sobre como trazer inovações para sustentabilidade às companhias de maneira efetiva. Além dos executivos, a keynote Vivian Blaso, da Conversa Sustentável, palestrou sobre as tendências para o Brasil das construções verdes e os benefícios que estas podem gerar para as plantas industriais. O último dia do Congresso teve como centro das discussões o futuro das cidades brasileiras e como torná-las mais inteligentes, por meio de ações de consumo colaborativo e economia criativa. Personalidades como Gilberto Dimenstein (Folha e Catraca Livre), Rachel Biderman, Fernando Serra (HSM Educação), Lincoln Paiva (Mobilidade Urbana), Gui Brammer (Asap) e Fabio Mestriner (ESPM) falaram sobre como as empresas podem se adaptar a essas tendências. Os executivos que atuam com o conceito de consumo colaborativo, Bruno Massote (DescolaAi.com), Marcio Jhonny Wei, da Locomotiva NE
Em uma das palestras no auditório do Congresso
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Entrevistas ao vivo realizadas pela planeta 10
Tatiana Correa, Diageo
Daniella Dolme, ONG Um teto para meu pais
Elisson Dias, Owens-Illinois
Gabriela Onofre, P&G
Nigro (Caronetas), Fernando Fernandes (Sautil) e Felipe Barroso (ZazCar) também marcaram presença, discutindo como a população brasileira está aderindo a esse movimento. Outro destaque foi a mesa redonda sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, formada por Chicko Souza (WiseWaste), José Valverde (Instituto Cidadania Ambiental), Roberto Rocha (Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis) e Bruno Massote (TerraCycle). O encerramento ficou por conta da Esquadrilha da Risada, a primeira trupe de palhaços de aeroportos do mundo! “Hoje em dia muitas empresas já têm uma nova postura com relação aos modelos tradicionais de comércio e consumo, e ações como crowdsourcing, open innovation e consumo colaborativo fazem parte de seu cotidiano, por isso trouxemos à ECO Business 2012 essa discussão, buscando estimular que mais companhias adotem essas práticas”, afirmou Ricardo Guggisberg, diretor da ECOBusiness, “Foi um encontro entre as empresas lideres de Carla Mayumi, Box 1824, em sua exposição
amanhã”, completou. O evento contou ainda com o selo Ecotest, que avalia e reconhece a gestão de ações sustentáveis em toda a sua montagem e execução e suas emissões de CO2 foram neutralizadas pela Eccaplan. A 5ª edição da ECO Business foi realizada pela Mes Eventos com a direção de conteúdo da GreenBusiness Brasil.
Fabio Lavezo, Grupo Camargo Correa
VE 2012 - Salão Latino Americano de Veículos Elétricos e Componentes
Veículos Elétricos Paralelamente à ECOBusiness, foi realizado o VE 2012 Salão Latino Americano de Veículos Elétricos e Componentes, evento que, em sua 8ª edição, promove o debate sobre o desenvolvimento do mercado de veículos elétricos no país, intensificando o posicionamento do segmento no Brasil e na América do Sul. Feira e Simpósio marcam o VE, que visa também a ampliação do conhecimento do mercado sobre as oportunidades existentes nos negócios que envolvem veículos elétricos, modalidade de transporte que vem aumentando em todo mundo.
Vamos de Metrô
Feira e Simpósio marcaram o VE
Durante a ECO Business 2012
Para facilitar a locomoção de visitantes, expositores e palestrantes, a ECO Business e o VE contaram com o sistema “Vamos de Metrô”. Ônibus elétricos fizeram o translado gratuito dos participantes dos dois eventos do metrô Jabaquara até o Centro de Exposições Imigrantes. revistaamazonia.com.br
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Benchmarking Brasil 2012 Ranking das melhores práticas de sustentabilidade do país Fotos: Beatriz Arruda
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m comemoração aos 10 anos do Benchmarking Brasil, esteve no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateuabriand, com Mostra, Seminários, e a realização da 10ª edição do Dia Benchmarking, com a apresentação dos Legítimos da Sustentabilidade em 03 categorias: Benchmarking Junior que reconheceu os jovens talentos das Inovações Verdes, Benchmarking Brasil que certificou os Detentores das Melhores Práticas de 2012, e o Ranking da Década com os melhores da Gestão Socioambiental Brasileira dos ultimos 10 anos. Pela primeira vez Benchmarking Brasil homenageou 03 personalidades que fazem e fizeram a diferença com suas boas práticas. Benchmarking é uma ferramenta de gestão que trabalha com as melhores práticas. Para estar entre os rankeados ou homenageados do Benchmarking Brasil é imperativo a realização prática e efetiva em prol da sustentabilidade. Com metodologia própria e um time de mais de 100 especialistas de vários países, o Programa construiu e detém o maior banco de práticas de sustentabilidade de livre acesso do país. São 249 práticas organizadas em 10 diferentes temáticas, um rico acervo que serve de fonte
Guilherme Amaral, representando sua tia, a artista plástica Tarsila do Amaral, no momento da entrega do troféu Benchmarking 68 REVISTA AMAZÔNIA
Vencedores do Ranking Benchmarking Brasil 2012
de pesquisa e consulta para universidades, instituições representativas e demais interessados.
Quem é Quem da Sustentabilidade Legítimos da Sustentabilidade nas categorias: Benchmarking Junior, reconheceu 10 projetos de alunos de tecnologia das escolas técnicas SENAI SP, Centro Paula Souza e IFSP ((Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo), foram avaliado por 05 especialistas brasileiros; Benchmarking Brasil, certificou 23 práticas de empresas localizadas em território nacional, por 20 especialistas de 08 diferentes países, e, Benchmarking da Década, considerado o Ranking dos Rankings, reconheceu 13 instituições, das 139 já rankeadas no período 2003 a 2012. Pela primeira vez tivemos o Benchmarking Pessoas que homenageou 03 personalidades reconhecidas como pessoas que transformam realidades com suas boas práticas, resultado de pesquisa e enquete do Instituto Mais baseado nas realizações e práticas de seus homenageados. A metodologia de avaliação dos projetos e praticas ins-
critas, não permitem que os jurados tenham acesso ao nome de seus autores para total lisura do processo de avaliação. Benchmarking “Pessoas que Transformam Realidades com suas Boas Práticas” de 2012 foram para 03 artistas: Thiago Costackz, artista plástico que assinou os quadros da Mostra “Cultura de Sustentabilidade” inspiradas no movimento modernista de 1922 e que em 2012 completou 90 anos, Christiane Torloni, atriz e uma das fundadoras do movimento “Amazonia para Sempre”, e Tarsila do Amaral, artista plastica considerada um dos ícones do movimento modernista de 1922 que deixou um legado de extrema importância para a arte brasileira. Tarsila do Amaral foi representada pelo seu sobrinho neto, Guilherme do Amaral. Especialistas e Lideranças da Sustentabilidade, Diretores e responsáveis pela gestão de Meio Ambiente, Responsabilidade Social, Ética e Sustentabilidade das empresas vencedoras, Diretores, Professores e alunos das Escolas Técnicas de São Paulo, artistas e ativistas socioambientais estiveram presentes na Solenidade Benchmarking Brasil 2012. Nas comemoração dos 10 anos do Programa Benchmarking Brasil, mais de 1000 pessoas tiveram conrevistaamazonia.com.br
A solenidade foi aberta com uma apresentação de Taiko (Tambores Japoneses)
tato com as boas práticas de sustentabilidade e o espírito agregador e plural do programa Benchmarking Brasil. A solenidade foi aberta com uma apresentação de Taiko (Tambores Japoneses) e entre as apresentações dos Rankings, houve exibição de arte malabares. O Dia Benchmarking 2012 encerrou se com um coquetel de confraternização.
Mineração- RJ; 6º Programa Bióleo - Instituto Bióleo de Desenvolvimento Sustentável - SP. 7º Venda de Cinza Leve - ALUMAR - Consórcio de Alumínio do Maranhão – MG; 8º Gestão Socioambiental - Celulose Irani – SC; 9º Gestão de Emissões de GEE Braskem – BA; 10º Projeto Pituaçu Solar - Neoenergia – BA; 11º Bairro Ecológico - SABESP – SP; 12º Community Day - Firmenich & Cia – SP; 13º Biomassa de Casca de Aveia - Pepsico do Brasil – SP; 14º De bem com a Via - Ecovias - Concessionária Ecovias dos Imigrantes – SP; 15º Voluntários do Rio - Carbocloro Industria Química – SP; 16º Peixamento e Educação Ambiental - Duke Energy International - Geração Paranapanema – SP; 17º Internet Ilha da Marchantaria - Instituto Embratel 21 – RJ; 18º Projeto BipBop Brasil - Schneider Electric Brasil – SP; 19º UFRPE/ Gampe Solidário - Universidade Federal Rural de Pernambuco – PE; 20º Programa Nestlé Até Você - Nestlé Brasil – SP; 21º A Turminha da Reciclagem Aurora - AURORA – SC; 22º Evento de captação: Teleton/11 - AACD - Associação de Assistência à Criança
Atriz Christiane Torloni, agradecendo o troféu Benchmarking
ECOPOTE recipiente biodegradável; 6º Propriedades do resíduo da uva; 6º Lixeira Eletrônica Interativa, e 6º Bancada Sustentável
Ranking Benchmarking da Década 1° Itaipu Binacional; 2° AMBEV; 3° SABESP; 4° Celulose Irani; 4° PepsiCo do Brasil; 5° ArcelorMittal Tubarão; 6° Duke Energy; 7° Consorcio de Alumínio do Maranhão – ALUMAR; 8° Wal-Mart Brasil; 8° Instituto Embratel; 9° Firmenich & Cia; 9° Neoenergia, e 10° Basf.
Vencedores do Ranking Benchmarking Junior 2012
Abaixo o Ranking de cada categoria:
Ranking Benchmarking Brasil 2012 1º Gestão por Bacia Hidrográfica - Itaipu Binacional / PR; 2º Energia Limpa - AMBEV - Cia de Bebidas das Américas – SP; 3º Gestão de Mudanças Climáticas - ArcelorMittal Tubarão – ES; 4º Desmaterialização de Resíduos - PepsiCo do Brasil – SP; 5º Taboa Lagoa - Samarco
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Deficiente – SP, e 23º Semente ecológica - Verde Ghaia Consultoria e Educação Ambiental - MG.
Ranking Benchmarking Junior 2012 1º Monitor de energia em tempo real; 2º Tratamento de água agroindustrial; 3º Blocos de Gesso Reciclado; 3º Destino nobre para casca de arroz; 4º Reaproveitamento da água de PCIs; 5º Folhas geradoras de energia; 6º
Laura Wie, apresentadora de TV e Thiago Cóstackz, artista plástico, agradecendo o troféu Benchmarking
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5ª FIBoPS Fotos: Gustavo Trentin Prado
M
ais de 70 palestrantes compartilharam visões, reflexões e práticas sobre o tema, além de inúmeras atividades interativas voltadas a construção de valores que dão embasamento a formação da Cultura de Sustentabilidade. A 5ª FIBoPS foi visitada por mais de 3 mil alunos da Universidade Anhembi Morumbi, capacitou 200 interlocutores ambientais da Rede Publica de ensino do Estado de São Paulo, e além do tradicional público atuante e interessado no tema. A FIBoPS deste ano sediou o 1o Encontro Nacional de Profissionais de Sustentabilidade promovido pela ABRAPS - Associação Brasileira de Profissionais de Sustentabilidade que apresentou uma grade de temas relevantes aos profissionais da área.Um dos painéis mais
concorridos foi o da Educação para o Profissional da Sustentabilidade com a participação de representantes de 4 universidades. Entre os expositores, destaque para a empresa Itaipu Binacional, primeira colocada no Ranking Benchmarking Brasil de 2012 e também no Ranking da Década que em seu stand apresentava os cases de sustentabilidade que desenvolve há mais de uma década na bacia do Rio Paraná. Entre os palestrantes, nomes reconhecidos pela trajetória A FIBoPS reuniu a massa crítica da sustentabilidade, totalmente gratuita ao público visitante
profissional. Respeitados pesquisadores e profissionais da academia, instituições representativas, ONGs e empresas. Ricardo Young, Dra Consuelo Yoshida, João Paulo Capobianco, Lala Deheinzelin, Marcelo Furtado, entre outros participaram da 5ª FIBoPS. No pátio de exposição além das empresas, tivemos stands da Universidade Anhembi Morumbi, Centro Paula Souza, IDEC, Green Peace, Fundamental, e Ecolojas com 07 artesões que trabalham com material reciclado e com elementos da natureza (sementes, folhas, etc.) em seus produtos. A FIBoPS é considerada um dos eventos mais especializados de sustentabilidade do país e única pelo seu formato plural e agregador. Reune a massa crítica da sustentabilidade, é totalmente gratuita ao público visitante como forma de democratizar o acesso a conteúdos avançados em sustentabilidade, e se encontra em sua 5a edição. Pela primeira vez a FIBoPS foi realizada dentro de uma universidade como forma de aproximar o tema dos Vista geral do auditório
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Durante as inscrições, recepção do evento
jovens. Também pela primeira vez, foram convidados interlocutores ambientais como forma de difundir a temática junto aos professores da rede pública. São ações diferenciadas que fortalecem o espirito democrático, plural e agregador do evento que se torna a cada ano mais abrangente e por isto, mais legítimo em sua proposta de ajudar na construção da cultura de sustentabilidade junto a sociedade. Uma das propostas do Instituto MAIS realizador da FIBoPS é a cada edição agregar novos públicos para expandir o tema da sustentabilidade junto aos vários segmentos da sociedade. Entre as atividades paralelas a 5ª FIBoPS sediou o III Congresso Internacional de Boas Práticas de Sustentabilidade com o apoio do SEBRAE SP, a II Sala do Conhecimento com o apoio da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, o I Encontro Nacional dos Profissionais da Sustentabilidade, promovido pela ABRAPS, e o I Cultura Entre os expositores, destaque para a empresa Itaipu Binacional, primeira colocada no Ranking Benchmarking Brasil de 2012
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de Sustentabilidade com a Mostra “Arte que Revoluciona, Práticas que Transformam” em homenagem aos movimentos modernista e ambientalista com a exposição dos quadros de arte de Thiago Costackz que fez uma releitura das obras de Tarsila do Amaral, um ícone do movimento modernista e outras atividades lúdicas como o Jogão do Planeta, Workshops e lançamentos de livros. A realização foi do Instituto MAIS em parceria com Mais Projetos e patrocínio da Universidade Anhembi Morumbi no vão livre da Universidade Anhembi Morumbi, campus da Vila Olímpia, em São Paulo/SP. A 6ª FIBoPS acontecerá em agosto de 2013, em São Paulo. Atividades interativas no espaço Cultura de Sustentabilidade dentro da 5° FIBOPS
Profissionais da sustentabilidade mostrando as principais características de quem atua na área
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Coleta de lixo tóxico ainda é desafio para o Brasil
O
descarte de lixo passível de liberar substâncias tóxicas ainda é um problema para o país, apesar de já haver legislação regulamentando o assunto. De acordo com a Lei n°12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, os fabricantes, importadores e revendedores de produtos que podem causar contaminação devem recolhê-los. Mas dois anos após a regra estar em vigor, os cidadãos dispõem de poucos locais adequados para jogar fora pilhas e baterias; pneus; lâmpadas fluorescentes e embalagens de óleo lubrificante e de agrotóxicos. A lei recomenda que haja acordos setoriais e termos de compromisso entre empresários e o Poder Público para implantar o sistema de devolução ao fabricante no país, prática conhecida como logística reversa. O primeiro passo nesse sentido foi dado apenas no final do ano passado. Em novembro de 2011, o Ministério do Meio Ambiente publicou edital de chamamento para propostas referentes ao descarte de embalagens de óleo. No início deste mês, o órgão lançou mais dois editais: um diz respeito a lâmpadas fluorescentes e o outro a embalagens em geral. No caso das embalagens de óleo, as sugestões continuam sendo debatidas. Quanto aos outros dois editais, segue o prazo de 120 dias para que entidades representativas, fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores enviem propostas à pasta. Enquanto não há um sistema estruturado para destinação de resíduos perigosos, os consumidores continuam fazendo o descarte junto com o lixo comum ou são obrigados a recorrer a iniciativas pontuais de organizações não governamentais (ONGs) e empresas para fazer a coisa certa. “Alguns pontos comerciais se preocupam em fazer pequenos ecopontos para receber pilhas e baterias, mas é muito diminuto”, avalia João Zianesi Netto, vice-presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP). De acordo com Netto, houve um movimento da própria indústria no sentido de fazer o recolhimento antes de haver legislação específica, pois a maior parte dos produtos é reaproveitável e tem valor agregado. Mas, na opinião dele, a informação sobre como realizar a devolução não é satisfatoriamente repassada às pessoas. “Eu não estou vendo que estejam procurando instruir o cidadão”, avalia. A pesquisadora em meio ambiente Elaine Nolasco, professora da Universidade de Brasília (UnB), diz que as atitudes de logística reversa no Brasil são dispersas. “Está dependendo de algumas localidades. Geralmente são ONGs e cooperativas que têm esse tipo de iniciativa. Em alguns casos há participação do Poder Público, como no Projeto Cata-Treco, em Goiânia”, exemplifica ela, referindo-se a um programa da prefeitura daquela cidade em parceria com catadores de lixo. O governo do Distrito Federal também instituiu um sistema para recolhimento de lixo com componentes perigosos. O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) disponibiliza 13 pontos para entrega de pilhas e baterias, espalhados por várias regiões administrativas do Resíduos de Equipamentos DF, com relação de endereços dispoEletroeletrônicos (REEE) nível na página do órgão na internet. corretamente desmontados, recolhidos e armazenados Elaine Nolasco lembra que o risco 72 REVISTA AMAZÔNIA
Não há um sistema estruturado, nem locais para destinação de resíduos perigosos, podendo ocorrer contaminação do solo e do lençol freático
O descarte de lixo passível de liberar substâncias tóxicas
Um simples chip eletrônico, menor que a unha de um mindinho, exige 72 gramas de substâncias químicas e 32 litros de água para ser produzido
trazido pelo descarte inadequado de pilhas, baterias e lâmpadas está relacionado aos metais pesados presentes na composição desses produtos – desde lítio até mercúrio. “Pode haver contaminação do solo e do lençol freático”, diz. A Lei n° 12.305 estabelece, de forma genérica, que quem infringir as regras da Política Nacional de Resíduos Sólidos pode ser punido nos termos da Lei n° 9.605/1998, também conhecida como Lei de Crimes Ambientais. Assim, elas podem ser denunciadas às delegacias de meio ambiente das cidades ou ao Ministério Público. revistaamazonia.com.br
O correto descarte de pilhas e baterias P por Wanda R. Günther*
ilhas e baterias possuem em sua composição substâncias perigosas à saúde e ao ambiente, principalmente metais pesados que são tóxicos, persistentes e bioacumulativos em organismos vivos. Entre eles destacam-se o mercúrio, cádmio e chumbo. Por essa razão, pilhas e baterias não devem ser descartadas aleatoriamente no lixo comum, pois podem acabar em locais inadequados, vindo a contaminar o solo, a água e causando danos à saúde. Nos últimos anos, com a inserção de mais pessoas na classe C, que passaram a consumir mais eletroeletrônicos, e o surgimento de novos produtos tecnológicos, aumentou muito o uso de equipamentos sem fio. Esses equipamentos utilizam pilhas e baterias como fonte de energia. As baterias recarregáveis, por proporcionarem vida útil mais longa, podem ter menor impacto, porém ao final de sua vida útil acabam tendo o mesmo destino que as comuns.
Os fabricantes de pilhas e baterias (P&B) tem buscado atender às exigências da Resolução No. 401/2008 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que estabelece os níveis máximos de alguns metais presentes nestes componentes. Na maioria das P&B, a quantidade de metais danosos foi reduzida; pilhas AA, por exemplo, já não apresentam nenhum metal prejudicial, mas a maioria ainda contém metais. Por esta Resolução, fabricantes nacionais e importadores devem elaborar plano de gerenciamento de P&B, indicando o destino ambientalmente adequada destes comrevistaamazonia.com.br
Fabricante, importador, distribuidor, comerciante (as revendas) e os consumidores são responsáveis pelo correto descarte das pilhas e baterias usadas
ponentes pós-consumo, tendo a responsabilidade pelo tratamento final, que deverá ser adequado e obedecer à legislação. Deverão ainda informar aos consumidores sobre como proceder ao descarte adequado das P&B usadas, possibilitando a destinação separadamente dos aparelhos. As lojas que comercializam P&B, assim como a rede de assistência técnica autorizada, devem receber dos usuários as P&B usadas, para repasse aos respectivos fabricantes ou importadores. A Lei 12.305, aprovada em agosto de 2010 e que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelece os princípios da responsabilidade compartilhada sobre o gerenciamento dos bens e produtos ao final de sua vida útil. Um dos instrumentos da lei é – os sistemas de logística reversa, que deverão ser instituídos, priorita-
152 milhões de pilhas comuns e 40 milhões de pilhas alcalinas é o volume descartado anualmente, só em São Paulo, segundo dados da Cetesb
riamente, para seis fluxos de resíduos, entre eles as P&B. A logística reversa é o processo de retorno dos produtos pós-consumo para serem reutilizados, reciclados ou tratados de modo ambientalmente correto. Para definir as regras da logística reversa, o governo federal criou Grupos de Trabalhos Temáticos (GTTs) para alguns produtos. Há um GTT específico para P&B que discute estratégias de implantação da logística reversa e formas de recuperação adequadas para serem adotadas em todo o país. A responsabilidade compartilhada faz com que toda a cadeia envolvida na produção e consumo se responsabilize pela logística reversa, ou seja, no caso das P&B, o fabricante, importador, distribuidor, comerciante (as revendas) e os consumidores são responsáveis pelo correto descarte das pilhas e baterias usadas, cuidando para que não sejam lançadas no meio ambiente, sem controle. A ABINEE(Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), que reúne vários fabricantes, é uma fonte de consulta sobre descarte de materiais eletroeletrônicos. No Brasil, a reciclagem de P&B ainda é realizada por programas de responsabilidade social de algumas instituições, mas num futuro próximo deverá ser mantida por sistemas de gestão, agregando toda a cadeia envolvida nesta questão. [*] Associada da ABLP (Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública) e professora e pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública/USP
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Exposição A Terra Vista do Céu mostra o mundo por meio de fotografias aéreas A mostra, na capital do país e montada a céu aberto na Praça do Museu da República, coração da cidade
Fotos: Yann Arthus-Bertrand e Valter Campanato/ABr
A
fragilidade do planeta Terra em meio às mudanças climáticas e as alterações promovidas pelas mãos do homem na natureza é o foco das imagens expostas pelo fotógrafo e ativista francês Yann Arthus-Bertrand na exposição A Terra Vista do Céu. As fotografias, que já foram exibidas ao público carioca, agora podem ser vistas pelos moradores da capital federal. De Brasília, a exposição segue para São Paulo e Belo Horizonte. A exposição reúne 130 imagens feitas a partir de balões, helicópteros e aviões em diversas partes do mundo. As fotos têm 2 metros (m) de altura por 1,40 (m) de largura. Um dos destaques é o planisfério, uma espécie de mapa com 200 metros quadrados colocado no chão. A ideia é que as pessoas caminhem sobre ele e tenham a sensação de andar sobre o mundo, segundo os organizadores. O coordenador-geral da exposição, Christian Boudier, disse que o artista se inspirou, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco92, para produzir as fotos. “A necessidade de Yann de viajar vários países para mostrar não só a beleza como as ameaças surgiu na conferência”, disse o coordenador-geral. “Essa é uma exposição que vai até o público, que passa por ela, por exemplo, a caminho do trabalho”, disse Boudier.
As 130 fotografias que compõem a exposição foram clicadas pelo fotógrafo e ecologista francês Yann Arthus-Bertrand, que viaja há vinte anos, pelos cinco continentes retratando do alto de um balão, de um helicóptero ou de um avião, paisagens inusitadas do planeta
Um dos destaques é o planisfério, uma espécie de mapa com 200 metros quadrados colocado no chão 74 REVISTA AMAZÔNIA
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Barcos presos nos Jacintos-de-Água no Nilo, Egito
Casa inundada no Sul de Dacca, Bangladesh Tapetes de Marrakesh, Marrocos
Vacas pastando no Pantanal, Mato Grosso do Sul, Brasil
A exposição foi montada ao ar livre, próxima ao Museu da República – um caminho muito utilizado por quem sai da Rodoviária do Plano Piloto e vai para a Esplanada dos Ministérios. Na visita a Brasília, Arthus-Bertrand pretende fazer imarevistaamazonia.com.br
Videiras, região de Geria, Lanzarote, Ilhas Canárias, Espanha
Árvores no meio das águas próximas a Taponas, Ródano, França
Fardos de Algodão, Thonakaha, Costa do Marfim
Multidão na Praia de Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil
gens aéreas, utilizando um helicóptero que sobrevoará os principais pontos da capital. As fotografias serão incluídas no livro da exposição que estará disponível para o público enquanto o evento estiver na cidade Em 2000, o projeto foi apresentado pela primeira vez,
em Paris, na França. Depois disso, a exposição foi vista em 110 países por mais de 120 milhões de pessoas, até chegar ao Brasil, o que coincidiu com a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho deste ano. REVISTA AMAZÔNIA 75
Sairé Fotos: Alciane Ayres e Rodolfo Oliveira/Ag. Pará
O
Sairé é a mais antiga manifestação da cultura popular da Amazônia, em Alter do Chão, uma das mais belas praias do Brasil e também conhecida como o caribe amazônico, distante 30 km de Santarém, no oeste do Pará. A festa acontece há mais de 300 anos, mantendo intacto o seu simbolismo e essência. Sua origem remonta às missões evangelizadoras dos padres Jesuítas com os índios da Amazônia. O símbolo do Sairé é um semicírculo, de cipó torcido, envolvido por algodão, flores e fitas coloridas. No centro do semicírculo estão três cruzes e no topo dele uma outra, que juntas representam o mistério da Santíssima Trindade e no topo um só Deus. A imagem da pomba, que representa o Espírito Santo, também faz parte do adorno. O estandarte segue à frente da procissão, carregado por uma mulher, que na tradição é chamada da Sairapora. Nos dias de Sairé, ele é fincado na areia da ilha que se forma no período da seca na principal praia de Alter do Chão, certamente repetindo o que faziam os índios para saudar os portugueses. Até meados do século passado, o Sairé tinha significado puramente religioso. Hoje, a comemoração une o sagrado e o profano. O Sairé festejado no mês de setembro com um ritual religioso, durante o dia, culminando com a cerimônia da noite, quando são feitas ladainhas e rezas. Depois, vem a parte profana da festa, com shows artísticos e apresentações de danças típicas e pelo confronto dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, ponto alto da comemoração. Ao longo dos anos, o Sairé foi ganhando novos contornos, com outros valores folclóricos sendo acrescentados pelos moradores de Alter do Chão, que descendem dos índios Borari. Carimbó, puxirum, lundu, desfeiteira, camelu, desfeiteira, lundu, valsa da ponta do lenço, marambiré, quadrilha, cruzador tupi, macucauá, cecuiara e outras que marcam a riqueza de ritmos e a cultura da festa. Na festa do Sairé os elementos religiosos e profanos caminham lado a lado. Ela começa no hasteamento de dois mastros enfeitados, seguido de ritual religioso e danças 76 REVISTA AMAZÔNIA
2012
O símbolo do Sairé é um semicírculo, de cipó torcido, envolvido por algodão, flores e fitas coloridas
Apresentação do Boto Cor de Rosa durante o Festival do Sairé, na Vila de Alter do Chão Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen, na sessão de gala que precedeu o Salão de Genebra 2012, anunciou uma reestruturação ecológica do grupo
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Durante a apresentação do Boto Cor de Rosa
folclóricas desempenhadas pelos moradores da vila. No último dia, sempre uma segunda-feira, ocorrem a “varrição da festa”, a derrubada dos mastros, o marabaixo, a quebra-macaxeira e a “cecuiara”, espécie de almoço de confraternização. A programação termina à noite, com a festa dos barraqueiros.
Religião, cultura popular e música A abertura oficial constou de seis grandes momentos, com destaque para a celebração religiosa, a procissão da “Busca dos Mastros” e o hasteamento dos mastros por homens e mulheres. Na liturgia presidida pelo padre José Cortês, foi enfatizado que “o Sairé é a alegria, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas também da dança e da comida. É a verdadeira fraternidade entre os irmãos”. Em seguida, na noite de sexta-feira, na praça do Sairé, foi marcada por ladainhas e shows artísticos com músicos da região e do cantor Latino. No Lago dos Botos, as duas agremiações culturais, Botos Tucuxi e Boto Cor de Rosa apresentaram um espetáculo de cor, ritmos e beleza com os itens oficiais do concurso, para um grande público. O boto homem, o boto animal, a rainha do Sairé, a rainha do Lago Verde, a rainha do artesanato, a cabocla e o carimbó levaram o público ao delírio. O Boto Cor de Rosa apresentou o tema “A vida e a fé do povo Borari” e o Boto Tucuxi, “O imaginário Tapajó”. Cor de Rosa e Tucuxi levaram à arena cerca de 800 e 700 brincantes, respectivamente. Na noite de sábado, o Sairé 2012 prosseguiu com Passeio Fluvial ecológico, shows culturais ao por do sol, ladainhas e a disputa oficial dos botos. Depois a festividade
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Boto Tucuxi e o imaginário Tapajó
prosseguiu com shows do grupo Terra Samba e arrastão ao amanhecer de domingo pela orla da praia de Alter do Chão, uma das mais belas do Brasil.
Apresentação dos Botos exalta a cultura amazônica no Sairé 2012 Na disputa oficial entre as agremiações Boto Cor de Rosa e Boto Tucuxi. Cerca de 2 mil brincantes levaram ao Lago dos Botos (arena onde acontece a disputa) a defesa de seus temas em um grande espetáculo de cultura popular. O primeiro Boto a se apresentar foi o Tucuxi que, com 700 brincantes, defendeu o tema “O Imaginário Tapajó” em duas horas de apresentação. Tendo como foco central a lenda do boto, o Tucuxi realizou uma pesquisa profunda sobre o imaginário dos povos tapajônicos. Entre os ter-
mos desmistificados está o “Borari”, nome do povo indígena que habitava as margens do rio Tapajós, no lugar onde hoje se encontra a vila de Alter do Chão. Na versão apresentada pelo “Tucuxi”, Borari era o nome das flexas que eram envenenadas com o veneno de aranhas para matar o inimigo. Para apresentar o fato, a agremiação levou alegorias gigantes e belas fantasias de aranhas que surpreenderam o público. Um dos destaques do Boto Tucuxi foi a “Rainha do Lago Verde” representada pela professora de dança Mayanne Belo pelo segundo ano. A cantora santarena Maria Lídia também foi um dos destaques do “Boto Tucuxi”. Ela comentou que foi uma grande honra entrar como cantadora da agremiação, pois o Sairé, explica, “é um grande tesouro da cultura popular amazônica”. O Boto Cor de Rosa levou ao Lago dos Botos o tema “A Na apresentação do Boto Tucuxi
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Saida de Alter do Chão, uma das mais belas praias do mundo, para a busca dos mastros no lago dos macacos - o grupo espanta cão, catraieiros e moradores enfileirados, com catraias e barcos enfeitados com fitas coloridas ao som de músicas tradicionais do Sairé
vida e a fé do povo Borari” com 800 brincantes. O presidente da agremiação, Joel Coelho, comentou que o “Boto Cor de Rosa” levou à arena toda a riqueza da cultura popular do povo da região. O grande destaque da apresentação foi a reconstituição da parte religiosa da festa do Sairé, com todos os símbolos tradicionais da festividade.
Saraipora carrega o símbolo do Sairé
Apuração Cinco jurados julgaram 15 itens – cantador, apresentador, raínha do artesanato, rainha do lago verde, boto homem, boto animal, ritual, letra das canções, pajé, sedução do boto, alegorias, carimbó e torcida – que revelaram o vencedor do título máximo da cultura popular do Baixo Amazonas, o campeão do Sairé 2012. Em 11 edições da disputa, o Cor de Rosa já conseguiu sete títulos, contra quatro do Tucuxi. No domingo o Sairé continuou com passeios fluviais ecológicos, shows musicais e os ritos religiosos que só
findaram na segunda-feira, com a derrubada dos mastros e encerramento da festividade.. Para garantir a segurança, Polícia Militar, Detran, Polícia Civil e o Núcleo do Pro Paz Integrado estão presentes nos cinco dias da festa.
Após o resultado do Festival dos Botos, o encerramento da festa com a Derrubada dos Mastros do Juiz e da Juíza, quando todas as frutas, em oferenda, penduradas nos mastros são disputadas pela população, para atrair boa sorte e fartura à mesa o ano todo. Após a derrubada, houve muita festa na Praça do Sairé denominada de “Quebra Macaxeira”, marcada por danças e consumo de tarubá, que é uma bebida fermentada, extraída da macaxeira, uma espécie de mandioca. Todos os presentes participaram desse momento que significa o inicio da despedida do Sairé. E quem desconhecia a bebida, principalmente os visitantes, aprovaram o gosto afrodisíaco e totalmente indígena. À noite o Sairé 2012 encerrou com o Baile dos Barraqueiros no Lago dos Botos, animado pela Banda Pegada do Forró.
Os Mastros
Boto Cor de Rosa, Campeão do Sairé 2012
Boto Cor de Rosa, Campeão do Sairé 2012
No encerramento da festa com a Derrubada dos Mastros 78 REVISTA AMAZÔNIA
O Boto Cor de Rosa levou o público ao delírio
O Boto Cor de Rosa foi o grande vencedor do Sairé 2012, quebrando a série de três vitórias seguidas do Boto Tucuxi. Esta é a oitava vitória do Cor de Rosa, contra quatro do Tucuxi. Vitória em disputa acirrada, com 3 pontos de diferença. revistaamazonia.com.br
Ideias que se multiplicam.
Boas ideias elevam sua empresa no mercado. Para isso é preciso expandir a comunicação de sua marca de maneira inteligente e trabalhar com quem sabe. Invista em propaganda. Venda-se. Mas deixe que a gente tenha as ideias. Porque se seu objetivo é multiplicar, lembre-se: aqui, a gente faz tudo em dobro. www.duplla.com
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Recordações de onças da Amazônia por Camillo Martins Vianna*
Siriá, Meu bem, siriá. Mamãe traíra, Meu pai jacundá. O gato pintado uivando Na noite de lua cheia Bem distante do lugar Sozinho pra rafear Depois de algum tempo A fêmea terá que parir E assim continuar Pois outro filhote terá de vir Fato curioso está em evolução Com a floresta devastada As onças não têm para onde ir 80 REVISTA AMAZÔNIA
A solução é atacar os moradores do lugar. No furo e no igarapé Quando alguém passa de noite Aparece um gato ou outro Para também assustar O autor teve sorte Em sorteio em Altamira A prenda conseguida Era uma onça preta Que deu muito o que fazer Pois não havia nenhuma solução Para onde o bichano colocar Até ser doado ao IBDF que funcionava na região Em pequeno barraco de madeira forte Na contra costa da ilha do Marajó
Pois não é que um gato pintado Arrudiou a casa de noite só para assustar. Vítor “Mata Onça” gateiro que eliminou seis gatos pintados Só de uma vez em uma primeira sexta-feira grande Pois era pago para matar Fazia o serviço não sendo possível reclamar. Onça na Saca Era famoso em onça massacrar Depois de acabar com o bicho Metia numa saca para todo pessoal mostrar No rio Tacutu, no estado de Roraima Na ilha de Maracá Gipioca O vigia do governo exibia um grande couro de onça Sem se dar conta do absurdo que acabava de praticar. revistaamazonia.com.br
Em boieira de beira de estrada Na hora de engolir o rango A surpresa foi enorme chegando mesmo a assustar O principal prato da casa era carne de onça que veio pra agradar. A notícia correu a mata Sem ninguém para assuntar Uma onça chegou na serra E matou uma criança que brincava por lá No município de Capitão Poço No estado do Pará O esculápio da comunidade Fazia criação de onça até o IBAMA chegar Mesmo no Ver-o-Peso Em Belém do Pará Uma vez ou outra Aparece caboco vendendo gato pintado só pra variar
Que a mascote de bom tamanho do exército Era uma onça pintada que andava solta na área da corporação.
Na cidade de Manaus, capital do Amazonas É fato sabido e de muita aceitação
Usando artifícios É fácil encontrar
Turista estrangeiro querendo comprar Uma onça, um tucano para o seu país levar. Milhares de paraenses e outros brasileiros E mais um tanto de turistas estrangeiros Que aqui vinham para visitar Uma bela onça preta no Museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará. Na verdade as onças ainda podem ser encontradas Não só nas pontas de matas Como nas capoeiras Que ainda existem por lá. Estão criando onças no Amazonas A televisão mostrou no ar Em grandes jaulas com apoio de biólogos e médicos veterinários Para quem quiser admirar. Senhora Santana, Senhor São Joaquim, Na hora da morte lembrai-vos de mim.
[*] Sobrames.Sopren
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Empresa cria móveis de luxo com madeira da Amazônia
A
Tora Brasil surgiu em 2003, quando o agrônomo Cristiano Ribeiro do Valle foi viver na Amazônia e visualizou o potencial que a natureza, ou mais precisamente, a madeira oferecia. Observando o artesanato local, introduziu o design autoral, e trouxe a linha de produtos para São Paulo. Como resultado de uma preocupação que foi desde o inicio relacionada com a origem da matéria-prima e o respeito ao meio ambiente, em janeiro de 2007 a Tora Brasil conquistou o selo FSC - Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal), que inserido ao produto confere a garantia de que a matéria-prima utilizada provém de áreas de manejo florestal de acordo com critérios de mínimo impacto ao meio ambiente. A Tora Brasil tem como missão ser líder no segmento de móveis de madeira maciça certificada de luxo. A empresa é diferenciada e se dedica a criação de um design original e duradouro. Com suas características distintas de textura e forma, cada um dos móveis é único, uma peça de arte natural que dá um toque especial ao estilo de vida dos clientes. Da seleção da matéria-prima dos móveis até o seu destino final, a busca constante pela excelência é o principal objetivo da Tora Brasil.
Sustentabilidade A relação e a preocupação da Tora Brasil com a madeira acontece muito antes da compra da matéria-prima. Ocorre no respeito ao meio-ambiente, a fauna e a flora Brasileira. Esse zelo é refletido em todo processo de confecção das peças e nossa equipe é treinada sobre os conceitos do manejo florestal, cuidados e manutenções,
82 REVISTA AMAZÔNIA
Mesa da Tora Brasil
estrutura das madeiras, entre outros. A matéria-prima da Tora Brasil provém de floresta de manejo de impacto reduzido no norte do Pará. A principal diferença entre o manejo de impacto reduzido e o convencional é o planejamento, que engloba desde o mapeamento da floresta, estudos das espécies, catalogação das árvores, estudo sobre o corte, construção planejada das vias de acesso e equipamentos de corte e retirada da madeira com transporte específico, além do acompanhamento da recuperação da área após o corte. A empresa se preocupa em possuir os equipamentos mais modernos, capazes de oferecer a melhor qualidade e tecnologia no acabamento dos nossos móveis. Estes equipamentos também são selecionados respeitando o conforto, segurança e ergonomia de nossos artesãos, além de serem equipamentos que vão de encontro com a política ambiental da Tora Brasil, reduzindo o consumo de energia e, consequentemente a emissão de CO2. Para buscar um maior domínio e conhecimento da madeira, a Tora Brasil investe em pesquisas e estudos, e mantém um relacionamento próximo com os principais institutos de pesquisas da tecnologia da madeira. A empresa também busca a valorização
de seus artesãos. Para isso há um constante aperfeiçoamento de nossa equipe, através de treinamentos para que possamos produzir os nossos moveis com excelência e responsabilidade.
As peças As peças da Tora Brasil são voltadas para o mercado de luxo e estão espalhadas em hotéis, restaurantes e até na loja Luis Vuitton, na China. Os preços variam desde um bloco de madeira por R$ 1.275 até uma escultura de R$ 100 mil. O engenheiro conta que quando estava morando no Pará sua mãe contou sobre itens de decoração em madeira expostos no Soho, em Nova York. “Passei a obervar a madeira que muitas vezes era descartada para dar um fim mais nobre ao material”, conta. O próprio agrônomo desenha as peças. Quando foi se decidir sobre qual faculdade cursar, ficou na dúvida entre agronomia e arquitetura porque sempre gostou de desenhar. “Talvez se eu tivesse escolhido o caminho oposto a empresa não existiria”, diz o engenheiro. No começo, as peças eram vendidas na garagem da madrinha na Vila Madalena. Depois de algumas mudanças, o showroom está localizado no Campo Belo, em São Paulo, e a fábrica está em Vinhedo. Valle viaja de três a quatro vezes por ano para a Amazônia para “garimpar” peças. “Cada peça tem um projeto específico, é única”, diz. revistaamazonia.com.br
Revista
Ano 7 Nº 34 Setembro/outubro 2012 ISSN 1809-466X
R$ 12,00
Editora Círios
Ano 7 Número 34 2012 R$ 12,00 5,00
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RIO AMAZONAS
UMA DAS SETE MARAVILHAS NATURAIS DO MUNDO